W R A P S
por Ananda C. e Fernanda F. | betada por Bella Furtado
revisada por Lelen



Era mais um sábado de manhã. havia acordado de bom humor e decidiu tomar seu café da manhã fora de casa. Andava pela rua tranquilamente, analisando os lugares por onde passava... Ela tinha acordado cedo e ainda faltava bastante tempo até ter que ir trabalhar:
Eu sou uma chef de cozinha bem sucedida, e sempre fico horas dentro do restaurante, atendendo alguns clientes apressados e as vezes até chatos, me pressionando para terem seus pratos na mesa rápidos e gostosos. Apesar de toda a correria, é gratificante e eu gosto do que faço, mas quando tenho tempo, gosto de sair por aí e andar sem rumo pela cidade.
Olhei um letreiro simples mais a frente: “Mocha Coffe”; aquilo me atraiu e eu acabei entrando. Pedi meu café e após pega-lo em um balcão, me sentei em uma mesa no canto do lugar. Era um lugar bem iluminando e aconchegante, com pequenas mesas e algumas pessoas conversando e bebendo seus respectivos cafés.
Fiquei sentada olhando algumas pessoas passarem, sem muita graça, dando alguns goles em meu café, quando um rapaz me chamou atenção. Era alto, bonito, tinha um bom gosto para roupas. Passou pelo balcão, pegou seu café e se sentou em uma mesa perto da minha.
Da forma que ele se sentou, ficou de frente para mim e depois de alguns olhares (in)discretos, arrisquei um sorriso para o tal bonitão desconhecido, que devolveu com um olhar super sexy, levantando uma das sobrancelhas e formando um meio sorriso. Ele levantou seu copo de café na minha direção, como se quisesse brindar comigo. Brindei com ele a distância, também sorrindo. Continuamos algum tempo nisso, nos olhando e sorrindo.
Decidi que iria ao banheiro, mas o fiz mais para passar perto dele. Levantei de minha mesa e ele sorriu mais, na certa pensando que eu estivesse indo me juntar a ele... Pensou errado. Passei direto por ele com um sorriso provocante, sentindo seu olhar em mim. Tinha certeza que me olhava fixamente, me analisando. Aquilo estava começando a ficar interessante.
Segui vitoriosa para o banheiro e fiquei tempo suficiente para não demorar muito, mas também o suficiente para ele sentir minha falta. Dei uma última olhada no espelho e saí. E foi o que aconteceu. Assim que fechei a porta do banheiro atrás de mim, me deparei com o homem da mesa encostado com as costas na parede e apoiado em apenas um pé, enquanto o outro estava com a sola na parede. Parecia um cowboy. Um cowboy bem hot, na minha opinião.
Ele olhou para mim e sorriu malicioso, e na hora eu não lembrei de ter visto olhos tão azuis e brilhantes da mesa onde estava sentada. Achei até, por um momento, que fosse deixar cair meu café, mas consegui manter a postura de mulher séria e misteriosa.
Mas antes mesmo que eu pudesse dar as costas para o estranho, senti sua mão pegar meu braço e me virar. Ele me encostou na parede oposta a que ele estava e ficou com um braço de cada lado de mim, apoiando as palmas das mãos também na parede.
Ele me olhava como se estivesse analisando cada traço de meu rosto e eu, a esta altura, não conseguia olhar para outro lugar, a não ser para aqueles olhos azuis. Ele não perdeu tempo a colocar uma das mãos em minha nuca, e começar a se aproximar devagar, me deixando totalmente arrepiada. Ele continuava a aproximar seu rosto do meu, com os olhos focados em minha boca. Quando ele já estava perigosamente perto e eu sentia sua respiração, fechei meus olhos esperando que o melhor acontecesse, mas percebi que ele tomou outro rumo e foi em direção ao meu ouvido. Ele chegou a encostar sua boca em minha orelha e disse, sussurrando:
- Prazer, Harry! – Ouvi uma risadinha e ele saiu andando com aquele mesmo sorriso malicioso, misturado com vitória estampado no rosto. Fechei meus olhos ainda encostada na parede, com as pernas bambas. “Pára , se recomponha, é só mais um bonitão te dando mole! Mais um, igual a todos os outros.” Após esse pensamento, arrumei minha postura, respirei fundo e sai andando, voltando para minha mesa.
Ele continuava lá, na cadeira dele, a me olhar. “Maldito olhar! Por que ele não para com isso e tira também esse sorriso bobo (e lindo) da cara?” Eu não podia dar esse gostinho de vitória a ele: a guerra estava armada!
Antes de me sentar, pensei no caminho, em uma resposta ao ato provocador dele. “Provocar”, está aí uma palavra que eu sei usar, e não é a toa que conseguia a maioria dos homens que queria. Na hora em que fui colocar minha bolsa no encosto da cadeira, a deixei cair no chão, discreta e propositalmente, só para ele perceber. Abaixei o mais sexy que consegui, sempre olhando para ele, e percebendo que ficava aos poucos desconfortável na cadeira. Tinha caprichado no visual aquele dia. Peguei a bolsa e finalmente sentei no meu lugar, com um sorriso sapeca no rosto, cruzando as pernas, atraindo a atenção de outros, e principalmente do meu alvo. Alguns minutos se passaram com encaradas e goles de café (que a essa hora já havia acabado, mas para fazer um charme, continuei fingindo que tinha algum líquido ali...), quando Harry – e por sinal, QUE NOME – resolveu ficar mais a vontade.
MAIS A VONTADE? Ele estava de brincadeira com a minha cara. Começou a se acomodar mais na cadeira de encosto confortável, passando as mãos pelo cabelo. O olhei com cara de dúvida e ele só sorriu. Desviou seu olhar do meu e começou a passar uma das mãos na barriga, sob a pólo que usava. Não era algo vulgar, mais eu consegui, de longe, ver o começo de sua barriga definida, e vi também que usava uma bela de uma boxer preta. “Maldito inglês”; Pensei. “Isso já é golpe baixo” estava olhando-o quase boquiaberta.
A essa hora a cafeteria já estava começando a encher e como era um questão de honra, eu tinha que pensar em um jeito de me comunicar com ele ou o meu horário de trabalho chegaria e eu só ficaria com o seu nome e a lembrança de seu perfume e o belo par de olhos azuis. Tive uma idéia que talvez funcionasse. Levantei arrumando minhas coisas, deixando bem claro que estava indo embora. Ele me olhou confuso, parecia decepcionado. “Inglês safado! Estava gostando da brincadeira!” Passei ao lado de sua mesa e continuei caminhando. Parei atrás da cadeira dele, me curvei e falei ao pé de seu ouvido, roçando suavemente minha boca em sua orelha, percebendo que ele havia arrepiado:
- Restaurante Wraps! – Falei sussurrando, e depois continuei meu caminho até a porta. Antes de sair, dei um último sorriso pra ele, mostrando que por enquanto, quem estava ganhando aquela guerra de provocação, era eu. Tomei um táxi e fui direto ao meu restaurante; Além de chef de cozinha, sou a sócia majoritária de lá. Cheguei lá totalmente confiante, afinal, provocar e ser provocada por um homem daquele em uma cafeteria logo pela manhã, levantada a auto-estima de qualquer mulher. Entrei cumprimentando a todos, e fui direto para a cozinha checar se estava tudo bem. Abriríamos em uma hora. E se tudo ocorresse como planejado, ele viria, com certeza viria.
Coloquei meu típico avental e chapéu de chef, prendendo meus longos cabelos em um belo coque. Estava confiante. Lá dentro da cozinha, eu andava de um lado para o outro, verificando os pratos, mas com os pensamentos na cafeteria. Às vezes, olhava pela janelinha que dava para a mesa dos clientes, mas nada dele. Se tivesse o hábito de roer as unhas, com certeza todas já estariam no toco.
Neste dia, fui chamada várias vezes por clientes satisfeitos, que queriam me agradecer pela comida, e apesar de ser sempre simpática, meus olhos pareciam dois radares loucos atrás de Harry, prontos para apitar ao menor sinal dele ali dentro. Aquela expectativa estava me matando, principalmente por não ser o tipo que se preocupa tanto com homens. Eu sempre tinha o que eu queria, mesmo. Mas aquele cara tinha me deixado desnorteada.
O horário de almoço acabou e junto com ele, minhas esperanças. Será que tinha sido muito difícil com ele? Impossível, ele também foi. Será que nunca mais o veria? De que importa, não o conhecia direito mesmo. Mas, e toda aquela provocação?
Fiquei com esses pensamentos o resto da tarde e durante todo o turno da noite. Às vezes, sentia que ele ainda poderia chegar, mas logo voltava à realidade, quando alguma família ou casal de namorados, entrava pela porta.
O turno da noite havia acabado. Como sempre eu era a última a sair e fechar o restaurante. Checava se o gás estava fechado e se tudo estava devidamente limpo e no lugar, para o dia seguinte. Peguei as chaves em cima do balcão, e suspirei fundo: estava cansada e frustrada. “Por que será que ele não veio?” Esta pergunta ecoava em minha mente. Saí de meus devaneios e finalmente estava fechando a última porta. Me virei para meu carro e fiquei surpresa ao ver que Harry estava parado, encostado nele. Não pude deixar de sorrir, ao pensar que ele tinha vindo atrás de mim, afinal. Passei olhando-o de cima a baixo e mordendo meu lábio inferior. Continuei andando, dando a volta no carro e entrei nele, sem ao menos dizer um oi a ele.
- Acho que mereço pelo menos saber seu nome. – Ele disse virando-se de frente para o carro, olhando pelo vidro. Abaixei ele, dando espaço para Harry se apoiar e colocar a cabeça para dentro, sorrindo.
- Por que acha que merece? – O olhei, esperando para ver qual seria sua resposta. Ele ficou me olhando por alguns segundos, sem responder nada.
- E por que não? – Ele me respondeu com outra pergunta, sorrindo vitorioso. Ele realmente tinha me deixado sem resposta. Ficamos nos olhando por mais alguns segundos, dessa vez teria que ceder:
- ! – Falei voltando minha atenção ao volante. – Agora, se não se incomoda, eu vou embora. – Liguei o carro, e ele continuou lá debruçado, parado, me olhando.
- Na verdade, eu me incomodo sim. Não vim até aqui para ser largado na calçada. – Ele continuava me olhando sorrindo.
- Ninguém mandou demorar. – Falei decidida. Aquele atraso tinha me deixado frustrada durante o dia todo.
- Não me atrasei, cheguei na hora certa. Na hora em que você pode me dar atenção exclusiva. – Falou, sorrindo pervertido e me olhando fixamente. Malditos olhos azuis! Ele estava pegando pesado, muito pesado.
Como eu podia ser eu, ser a controladora, com aquele homem dizendo aquelas coisas? Mas mesmo aquelas palavras me irritando, ele tinha razão. Não poderia dar atenção a ele, diante de tantos pedidos e clientes.
- Então, será que podemos conversar agora? – Ele disse quebrando o silêncio. – Eu cansei de ficar só te olhando de longe hoje de manhã.
Eu continuava petrificada, olhando para o volante e ele tomou a liberdade de destrancar o carro pelo lado de fora, e se sentar no banco de carona.
- Que foi? O gato comeu sua língua? – Ele perguntou, divertido, virado pra mim no banco.
- É que... – Comecei a dizer. – Eu achei que você não viesse mais...
- E eu achei que você não fosse me deixar lá sentado, sem ao menos saber seu nome. – Ele me disse no mesmo tom que eu. – Foi apenas uma vingancinha. – Ele finalizou.
- E você é bem vingativo, hein? – Sorri de lado, e virei no banco de frente para ele. Olheis os olhos finalmente. AH! Os olhos, que saudades deles.
- E você sabe como provocar... – Ele piscou e se aproximou um pouco, apoiando um de seus braços no meu banco. BINGO! Pelo menos como esse meu dote eu ainda posso contar.
- Eu sei... – Sorri de maneira convencida -... Você também é bom nisso, só não melhor que eu! – Deu uma risadinha, tinha que descontrair o clima de alguma forma, estava focada demais nos olhos dele e aquilo estava ficando... Se eu ficasse daquele jeito mais um segundo, não responderia por mim.
Ele parecia estar tendo o mesmo tipo de reação:
- Para onde vamos? – Me perguntou divertido, desviando o olhar de mim, e se endireitando no banco.
- Como assim, “nós”? – Olhei pra ele sem entender. Na verdade eu tinha entendido, e entendido bem, mas não custa nada me fazer de desentendida.
- Nós, ué! Eu e você, somos duas pessoas por isso somos “nós”! – Falou como se fosse obvio.
- Isso eu já sei. Mas EU vou para a minha casa e você, provavelmente para a SUA casa. Por isso não tem nada de “nós”. – Falei parecendo mais óbvio ainda.
Ele suspirou, e ficou pensativo por um instante. Eu fiquei brincando com meus dedos esperando ele falar ou fazer alguma coisa, RÁPIDO. Ele estava me olhando desde manhã e não fez nada ainda? Ele espera que eu tome uma atitude? ELE QUE SE ATRASOU! Eu estou cheia de atitude aqui, só esperando ele tomar a iniciativa. E ele fica olhando para o nada, olha para mim e me enche de esperança, mas volta a olhar para o nada, como se ele fosse mais interessante que eu. NUNCA ME SENTI ASSIM! Como ele ousa? ‘Tá, chega de drama, se ele não me agarrar agora, eu vou pular em cima dele. 1...2...
- Tive uma idéia! – Ele disse. O QUE? Logo agora que eu ia pular em cima do bonitão? ‘Tá, respira... – Fecha os olhos, vou fazer uma coisa... – Atendi a ele com a cabeça, e fechei os olhos. Escutei um barulho de chave e um movimento do meu lado. Logo em seguida a porta do passageiro se fechou. AH NÃO, era só o que me faltava. Primeiro: quase levo um bolo de um super gato; segundo: é a primeira vez que eu estou desesperada por um cara e, terceiro: ele acabou de me prender dentro do MEU carro. E ainda por cima o chaveiro que ele levou tinha TODAS as minhas chaves; de casa e do restaurante. Estou perdida, sem teto, sem emprego e sem o Harry... E o que eu estou fazendo de olhos fechados ainda, mesmo? ‘Tá, eu vou abrir no 3, e começar a gritar. 1... 2...
- Não abre ainda! – Ele interrompeu minha contagem DE NOVO, mas pelo menos sei que ele está aqui fora ainda. [...] Que droga, eu odeio não ter o controle da situação. Eu SEMPRE estou no controle. É por isso que eu sou chef, sócia majoritária de um mega restaurante, meu apartamento é tudo o que alguém podia querer, e eu sempre consigo o homem que eu quero. E nesse caso, ele está me enrolando. E isso está parecendo um testamento...
Bem no meio da minha crise existencial, ouvi a porta ao meu lado se abrir e o vento entrar no carro. Harry pegou minha mão e disse:
- Ainda não abre os olhos. Vou te levar em um restaurante muito bom que tem aqui perto.
- Mas não seria melhor pegar o carro? – Perguntei. Tudo bem a surpresa e tal, mas a única que dirige meu carro sou EU.
- Não, não... Nós vamos chegar mais rápido do que você pensa. – Ele ainda segurava minha mão.
- ‘Tá... – Me rendi. Andamos uns dez passos e paramos. – O que foi agora? – Perguntei impaciente.
- Chegamos!
É, WHAT?! Era impressão minha ou estávamos entrando no MEU restaurante, que ele abriu com as MINHAS chaves?
- Você não está me levando para jantar no meu próprio restaurante, está?
- É ótimo, você já provou da comida deles? – Ele ainda falava animado. Ele realmente não sabe quem eu sou.
- Lógico que já provei, realmente espetacular. Dizem que a chef é muito boa. – Entrei no joguinho dele.
- É hilário saber que eu vou cozinhar na cozinha dela e... – Ele me puxava para dentro da cozinha.
- Você não sabe quem eu sou, não é? – O interrompi.
- Você trabalha aqui. Administradora, ou algo assim?
- Não.
- Secretária? Ou garçonete?
- Não. – Calma, ele disse mesmo que eu tenho cara secretária e garçonete? Prefiro pensar que é alguma fantasia, e ele está querendo ser simpático.
- FAXINEIRA? – Harry começou a rir.
- O QUE? Agora você me ofendeu, sai AGORA da MINHA cozinha!
- Sua cozinha? – O cara burro from hell.
- É! MINHA COZINHA, MEU RESTAURANTE. EU sou a chef dessa cozinha, feliz? Dá as minhas chaves e some! Vai cozinhar para a sua faxineira! – Por que eu estou tão brava com ele? Faxineira não é tão ruim. Ele é que lerdo.
- CARA, que brexa! Nem sabia disso. Mas relaxa que eu não vou quebrar nada. – Ele ainda ria. – Ah, - Por que ele mudou o tom de voz para rouco e sexy MODE ON? – Sua comida é muito boa!
- Está ficando folgado, você não me conhece direito... Não sabe do perigo.
- UI, eu gosto de correr o risco. E é engraçado ver como você fica, quando não está no controle da situação.
Calei. Fiquei sentada na banqueta, ouvindo o desastrado do Harry bater alguma coisa no fogão.
- Cuidado com o fogão, viu? Foi caro!
- Cala a boca. Você só abre a boca para reclamar?
- Não só para isso... – Eu murmurei, mas parece que ele ouviu.
OBS.: Eu continuo de olhos fechados. Estou me sentindo um cachorrinho (porque cachorrinha iria ficar muito vulgar). Ele pede e eu faço.
Após algumas batidas de panela, e gritos de Harry, admito que a comida começava a cheirar bem.
- O que você está fazendo, aí?
- Nada comparado a uma das suas super receitas, mas deve estar bom. A vovó que me ensinou. – Ouvi ele colocar alguma coisa na minha frente. Não pude deixar de sorrir. Um marmanjo desses aprendendo receitinhas com a vovó. Me arrumei na cadeira. Finalmente a situação ia ficar ao meu favor de novo. Porque até agora, eu só obedeci.
- Está pronto. Abre a boca e prova... – Ele começou.
- NÃO! Como eu vou saber se não está envenenada? – Falei de forma manhosa.
- Você vai ter que confiar em mim.
- WOW, ‘tá bom, então, “Sr. Eu-Sou-Digno-De-Confiança”. - Criei coragem e abri a boca um pouco. Ele colocou a colher com o caldo que ele tinha feito. Estava divino! Os temperos faziam uma combinação perfeita. Tenho que reconhecer que ele tinha talento na cozinha. Se abrir uma vaga, já sei quem chamar pra cozinhar e outras coisas... Deixa quieto, ele vai dar outra colherada.
- E aí, o que achou? – Ele perguntou animado e com voz de criança curiosa.
- Está muito bom... Sua avó te ensinou bem. Posso abrir os olhos agora?
- Não, aprecie mais um pouco do caldo. – ‘Tá, eu cedi de novo, dei um sorriso e abri um pouco a boca. Ele colocou a ponta da colher na minha boca, parecia que ele estava me provocando para ir atrás da colher, quando fui pra frente procurando a colher, não foi bem isso que encontrei. Harry colocou a colher sob a bancada, apoiou-se com um dos cotovelos, passou a mão que sobrou em meu rosto e me beijou.
Eu me surpreendi com aquilo e do jeito que estava, há vários minutos atrás, continuei, de olhos fechados, aproveitando o momento. Era um beijo calmo no começo. Eu cheguei até a sentir borboletas no estômago e Maroon5 de fundo, tocando Harder to Breathe. O beijo se intensificou com o passar dos minutos, e eu já estava com as duas mãos na nuca de Harry, passando-as em seu cabelo.
Quando partimos o beijo e abrimos os olhos, eu me deparei com os olhos azuis dele. E essa vez, superou todas as outras. Eu já não estava mais brava com nada, nem se quer lembrava que ele tinha demorado um dia inteiro pra vir me ver no restaurante, e de ter me feito ficar horas (sim, pereceram horas) de olhos fechados. O poder que ele tinha sobre mim, era de outro mundo, fato. Enquanto umas precisam de um mundo de carícias para se sentirem satisfeitas, aquele curto (longo, eu não sei, perdi a noção do tempo na hora) beijo dele, já me deixou desconcertada e com um sorriso de orelha a orelha.
- Nossa. – Quebrei o silêncio entre nós. – Já provei muitos caldos quentes... Mas esse, – Dei um selinho nele. – assim, - Outro selinho. – foi o melhor de todos.
Ele, assim como eu, parece que não conseguia tirar o sorriso do rosto.
- O que foi? O gato comeu sua língua? – Eu disse em tom irônico, imitando o jeito que ele havia falado aquilo para mim no carro.
- Quem sabe uma gata! – Ele sorriu e me deu um selinho demorado.
Ficamos o resto da noite dentro do restaurante trocando caricias, mas ao contrario do que sua mente poluída deve estar pensando, nada demais aconteceu.
Depois daquele ensaio de jantar, eu resolvi tomar as rédeas da minha cozinha novamente e fiz um jantar descente. De uns tempos pra cá, nós temos repetido essas idas ao restaurante à noite.

FIM


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