Year 3000
por Thais Stagni | betada por Leeh Rodriigues
revisada por Lelen


A televisão estava ligada no noticiário, e ele assistia à mesma, enquanto comia seu miojo instantâneo no copo de plástico. Estava cansado, desligado, desorientado. Já não agüentava mais ouvir as mesmas tragédias: assaltos, assassinatos, prisão, loucura, previsão do tempo e, claro, política. Porém, o que mais irritava o rapaz de cabelos era a indiferença da apresentadora infeliz, velha e gorda, ao citar cada notícia.
- Hoje foi confirmado o término da máquina que esteve sendo construída nos últimos trinta anos – anunciou a mulher calmamente, causando aflição no rapaz. – Existe cerca de 30% de chance da máquina ter o resultado inverso, de acordo com a ONU. O objetivo principal desse projeto seria desenvolver uma máquina para o passado, mas é capaz de que a máquina resulte na criação de uma cratera que nos levaria ao futuro, que talvez nos levasse adiante demais, até um lugar aonde todos nós pudéssemos morrer carbonizados com o calor causado pelo aquecimento global que o ser humano anda causando nos dias de hoje. A repórter Lauren tem mais detalhes sobre o acontecimento, vamos conf--
Click, ele desligou a televisão. "Máquina do tempo... Até parece", ele pensava consigo mesmo, rindo baixo. Ouviu um estrondo e sua última lembrança foi um clarão adentrando sua janela aberta, fazendo-o prender a respiração com o susto, imaginando que estivesse morrendo.

Capítulo 1 – We drove round in a time machine like the one in the film I've seen.

Acordei assustado, como se tivesse acabado de ter um pesadelo horrível. Levantei-me com cuidado e percebi que não estava na minha cama king-size ou no luxo do meu quarto. Eu estava jogado numa sala de estar bem estranha, diga-se de passagem. Tinha uma televisão do tamanho da parede, literalmente, prateada. O piso era de um tecido esquisito, uma madeira que cheirava como maresia. Tirei o cabelo do rosto e passei a mão sobre o mesmo, espreguiçando-me. Onde eu estava? Ao ficar de pé, olhei para os lados e vi um espelho. Aproximei-me calmamente do mesmo e fiquei me encarando, pensando que era um sonho e tentei tocar o espelho. Quando eu estava apenas há poucos milímetros de distância do espelho com meu dedo, uma voz estranha disse:
- Não toque seu dedo imundo em mim! – Fui para trás assustado. Quem disse isso? O que era aquilo?
- Quem está aí? – perguntei desesperado.
Olhava para todas as direções; meus olhos não iriam parar até eu achar a dona daquela voz, que saía como se ela estivesse falando sob a água.
- Você é novo por aqui? – essa mesma voz perguntou. – Como você não sabe quem eu sou?
No mesmo segundo, eu ouvi passos e me virei rapidamente, tendo uma visão de uma garota passando de toalha pelo aposento, com seus cabelos encharcados d'agua. Calma, deixe-me reformular: de toalha. E ela era bonita, dude. Sério, eu não via uma garota que ficasse bonita com aquele olhar assustado há muito tempo.
- AAH! – E sinceramente, também não ouvia grito histérico que nem o dela há muito tempo. Por alguns segundos, eu achei que estivesse surdo. – QUEM É VOCÊ E O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO NA MINHA CASA? – ela gritava. Até desesperada e com medo ela era bonita...
- D-Desculpa, é que eu tava dormindo e acordei aqui, do nada...
- Até parece! – ela interrompeu. – Deixe-me ver se eu entendi: Você estava na sua casa, seja lá aonde é, foi dormir e acordou aqui ACIDENTALMENTE? – ela perguntou, sarcástica.
Algo me dizia que ela não tinha acreditado. Ela era tão bonita... Acho que já mencionei isso, né?
- Mais ou menos isso... – comecei. - Afinal, eu posso saber onde eu estou ou você vai preferir ficar aí de toalha parada na minha frente?
Já tinha entendido o jogo dessa garota: ela se fazia de corajosa sem demonstrar um pingo de medo, quando, na verdade, tenho certeza que ela estava assustada com a minha presença. Isso eu podia ver em seus olhos. Eram . Bonitos...
- Você está na minha casa, e eu quero que você vá embora – ela respondeu friamente.
Voltou-se para outro aposento, onde colocou a mão sobre uma peça de metal vermelho, que abriu uma porta também de metal ou alumínio, não sei bem, e entrou. A porta começou a se fechar lentamente assim que a garota dos olhos passou por ela.
- Eu só preciso saber umas coisas... – comecei eu, então, indo na direção do aposento onde se encontrava a garota.
Percebi que seu sotaque inglês não era como o meu. Será que ela estava fazendo intercâmbio? A voz estranha e desregulada falou logo atrás de mim.
- É melhor não entrar aí. – Que susto do caralho. – Ela vai ficar muito brava se souber que o senhor estava espiando ela se trocar.
- MAQUEPORRA! – gritei. - Pra começar: quem é você que fica falando comigo? – perguntei, irritado. E com razão.
- O espelho, idiota – a voz respondeu calmamente e, ao virar para o mesmo, percebi um rosto congelado no espelho. Ao falar, movia somente a boca. No mesmo momento, eu senti o medo dominar meu corpo, e o desespero arregalar meus olhos.
- O e-espelho? – tremi, virando-me para o espelho e vendo uma cabeça flutuante.
- Na verdade, meu nome é Misty, eu sou a irmã da .
- Irmã? De quem? Oi? Alguém pode me explicar direito? Quem é aquela menina? – eu questionei, apontando para a porta fechada.
Um nó estava se formando na minha cabeça, e eu nunca fora tão burro assim, se você me permite dizer.
- – ela respondeu. – E eu sou a irmã dela, Misty.
- Por que você tá no espelho? – perguntei assustado. A cabeça flutuante riu, como se mal se importasse com esse 'mero' fato.
- Cara, de qual mundo você veio? – ela perguntou rindo. – Eu morri e vim pra cá ué, simples assim. – Arregalei meus olhos, de maneira que ela provavelmente percebeu que eu não havia entendido absolutamente nada. Bufou e continuou. – Lá pra 2510, algum médico desgraçado adivinhou um espelho capaz de captar a alma da pessoa ao morrer e prendê-la no mesmo, ou seja, continuar vivendo, mas não no seu corpo. É caro comprar um desses, mas se você fizer isso, você pode colocar todos da sua família aqui dentro. É como um portal de ancestrais.
- Peraí, um médico achou melhor poupar a morte, te colocando num lugar onde você vira uma cabeça flutuante?
- Ei! – Misty disse, aparentemente ofendida. – É, foi exatamente o que você entendeu. E a minha família achou muito melhor, assim nós poderíamos conhecer nossos ancestrais e sabermos de onde viemos. Sinceramente? Acho que eu preferiria a morte.
- Alguém me tira daqui! – Foi a única coisa que pude dizer, antes de olhar para a janela e ver o céu cinza repleto de nuvens pretas, avisando que a chuva estava prestes a chegar.


Capítulo 2 – Se você quiser o meu mundo é seu, se parece confuso eu mudo, preciso de alguém aqui.

Eu estava sentado no chão da sala, ainda sentindo aquele cheiro de maresia, em silêncio. Lá fora, chovia sem parar, e isso estava começando a me deixar com medo. Eu sabia que a tal da Misty provavelmente ainda estaria olhando para mim, desconfiada que eu decidisse fazer alguma coisa de ruim e ela teria que gritar (já que não tem mãos para me segurar) para que a sua querida irmãzinha de olhos pudesse correr a tempo para me impedir, seja lá do que eu fosse fazer.
- Quer assistir à televisão? – a garota, que agora estava vestida, perguntou simpática. Eu ainda conseguia perceber o sotaque dela, não era como o meu. – Sabe, você parece realmente perdido. – Ah, obrigada por só perceber agora, moça. – Se você precisar de ajuda...
- Obrigado – eu disse, simplesmente. – Eu não sei onde eu estou, não sei como vim parar aqui e...
Levantei os olhos e, sem querer, acabei encontrando os olhos dela. Senti-me atraído, penetrado. Ela me encarava de uma maneira delicada, encantadora, se me permite a mísera ousadia.
- E...? – ela perguntou, abrindo um sorriso tímido sem parar de me olhar.
Seu sorriso também era bonito. Seu sorriso e seu olhar. Acordei da minha transe, balançando um pouco a minha cabeça e aproveitando para coçar um dos olhos com uma das mãos.
- E... E é isso ué, eu não sei onde eu tô e não sei o que eu vou fazer da minha vida daqui pra frente – terminei, com um último suspiro. Ela sorriu novamente, calmamente. Ela não percebia que eu estava desesperado?
- Vamos ligar a televisão, aí você esfria um pouco a cabeça e depois a gente decide o que fazer com você – ela disse, pegando um controle remoto e apertando um botão que aumentou ainda mais o tamanho daquela televisão prateada que vi antes de encontrar , a . Fiquei boquiaberto e ela riu de mim, obviamente. – Eu sei que o meu modelo é meio antigo, mas eu gosto dele, ok?
- Antigo? Meu, em qual século eu estou? Até mês passado uma televisão de tela plana devia custar umas quinze mil libras! – afirmei, chocado.
- Libras? Eu aprendi sobre moedas no sexto ano – ela falou, olhando para mim. – Meu amigo, acho que você tá um pouquinho atrasado... O mundo inteiro, hoje em dia, só usa uma moeda: O Wormoney.
- Wormoney? – perguntei. – Como assim?
- Vou ter que te ensinar história? – ela perguntou, sarcástica. – Em 2157, o presidente Jacob Schinger, americano de nascença, concordou com os antigos presidentes de todos os antigos países em fazer uma só moeda para todos. Aos poucos, tudo começou a mudar e, de repente, o inglês se tornou a língua mundial. Era proibido falar espanhol, alemão, francês, japonês... O inglês virou, literalmente, a língua falada no mundo.
Eu estava estarrecido. COMO ASSIM? Era impossível! Em dois segundos, eu estava em 2008 e agora eu estava em... sei lá qual ano! Sabe, eu sempre tive a curiosidade de saber se o mundo ainda seria mundo após um século. Mas eu nunca disse que eu queria viver nesse século.
Ao ligar a televisão, a tela literalmente pulou cinco centímetros para frente como uma tela 3D, e eu consegui ver a mulher que anunciava o noticiário apontando o dedo para fora da tela.
- Estamos transmitindo essa reportagem ao vivo, direto de nossos estúdios locais para dizer que estrangeiros estão em nossas terras – começou uma mulher extremamente bonita. Eu precisava admitir que seus cabelos, além de lindos, eram muito lisos e castanhos. – Após a globalização, todos nós achávamos que não existiria outro dialeto que não fosse o inglês. Mas houve uma explosão no centro da cidade de Berlim, na Alemanha, e de repente, pessoas começaram a aparecer como teletransporte em todos os lugares do mundo. Veja a reportagem com mais detalhes.
No mesmo minuto, senti meu coração disparar. Eu era uma dessas pessoas! Eu sabia que não estava maluco, eu tinha certeza! Olhei para a e a vi pálida, olhando para a tela, sem desgrudar seus olhos da mesma.
- Eu disse que não foi por querer que eu vim pra cá... – comecei, mas ela nem me olhava. E eu não conseguia parar de olhá-la.
Dei uma rápida olhada para a televisão, que parecia mais um cinema, e via diversas cenas de pessoas sendo teletransportadas em através de cada célula se reconstituindo, cada osso, cada membro. Era nojento. Mas enfim, eu via o desespero das pessoas ao ver outras pessoas que nem ao menos falavam a mesma língua fazendo isso. O bom é que eu era inglês, porque os que não eram mal podiam se comunicar com o resto do mundo. E foi aí que uma cena me chocou profundamente: um asiático, que não falava e não entendia inglês, sendo morto por outros asiáticos que só falavam inglês e matando o mesmo apenas porque o pobre coitado não podia se comunicar.
- Aparentemente... – ela murmurou, ainda olhando para a televisão – você vai ficar aqui até darem um jeito de vocês voltarem.
E se levantou, saindo do aposento. Eu imaginei que ela fosse me expulsar, gritar, chorar... Mas não. Ela simplesmente saiu do aposento, o que me deixou pensando o que estava acontecendo para a garota ficar tão fria em tão pouco tempo.


Capítulo 3 – You say we got no future, we're living in the past.

Já estava quase anoitecendo, e o cheiro de maresia ainda reinava naquela sala, o que para mim era muito bom. Eu nunca fui de ir muito à praia, mas eu adorava ver o mar. Entrar no mar não, porque apesar de parecer bem gay, deixava o meu cabelo ruim. Mas o fato de ver o mar, ver as ondas quebrando, e o fato de ele ser tão grande e me deixar simplesmente insignificante era o que me fazia bem.
A não tardou a aparecer e apertou uns botões bem legais que estavam ao lado da janela. Um tipo de vidro começou a abaixar sobre toda a casa, o que me deixou realmente assustado.
- Que merda é essa? – eu perguntei sem a menor discrição ou delicadeza. Ah vai, você teria a mesma reação.
- É a conseqüência que o seu mundo fez para nós – ela respondeu, apertando outro botão que levantou a parede, transformando-a num teto.
E foi até que eu vi que o que estava por fora de nós não era rua, carros ou nada disso. Era água. A casa ficava bem no meio do oceano.
- Você mora no oceano? – perguntei, sentindo meus olhos se arregalarem. Ela assentiu com simplicidade. – Mas... Como?
- Foi o que eu disse: conseqüência que o seu mundo fez. O aquecimento global derreteu parte do gelo nos Árticos e agora, quando começa a anoitecer, a maré começa a subir - ela explicou, encostando a mão no vidro, que a separava do mar que já estava quase à sua altura, apesar de ela não ser muito alta. – E o mais engraçado é que... eu tenho um diário que era de minha tataravó, e seu sonho sempre foi ir para a Califórnia. E agora que eu tô na Califórnia, eu mal posso esperar para ir embora daqui. E isso porque a maré só tá começando a subir... À noite, minha casa fica completamente coberta pelo mar. – Nesse momento, eu pude ver que ela não parecia feliz com a situação. Ela ficou olhando para o nível do mar, que subia periodicamente, aos poucos. – Eu consigo ver os peixes passando para outros lados... Isso sem contar no cheiro horrível que chega por causa da poluição.
Naquele momento, senti vergonha da minha própria era. Como pudemos estragar tantas coisas que a natureza nos deu e deixamos nossos filhos, netos, bisnetos, tataranetos sofrerem com tudo isso? Eu queria consertar tudo, mas depois de ouvir o que a mulher do noticiário disse após esse meu pensamento conscientizado, acabei mudando de idéia.
- O presidente mundial acabou de decidir, junto aos conselheiros de todos os outros países, que quem encontrar pessoas que não falem a língua mundial, iremos aniquilá-los para que não aja problemas interpessoais e tentativas de homicídio vindo da parte deles. Por favor, se você encontrou algum dos mesmos, traga-os aqui e nós iremos tomar conta disso. Vamos ver agora uma entrevista mundial feita com o presidente sobre o que iremos fazer a respeito.
Nesse momento, eu senti meu coração acelerar, meu estômago embrulhar e uma vontade imensa de estar em casa. , a que estava ao meu lado, olhou para mim com um olhar significativo, penetrante e indecifrável. Por um momento, achei que ela ia pegar o telefone e ligar para a polícia ou algo do tipo. Foi quando ela se levantou e se virou para mim, dizendo apenas:
- Você vai ter que dormir aqui essa noite, não?
- Você vai me entregar para eles? – perguntei.
Estava assustado, isso era óbvio. Se em mil novecentos e alguma coisa Hitler matava as pessoas numa câmera de gás, imagina como eles devem matar nos dias de hoje? Te dão uma balinha com gosto de chocolate que tem algum tipo de veneno mortal, aposto.
- Lógico que não – ela respondeu, simplesmente. – Eu já odeio o mundo que eu vivo hoje... Por que eu entregaria a minha única chance de fugir daqui, ou qualquer coisa do gênero? Além do mais, eu te achei bonito. – Ela sorriu. E eu senti meu rosto esquentar, provavelmente corei. – Vou arrumar sua cama. – E saiu.
Era impossível ela ser assim, tão boazinha. Quero dizer, ela não seria presa por guardar um “fora da lei” como eu? Ainda mais porque eu tenho quase certeza que o presidente só queria matar todo mundo porque eles não falavam inglês, e logo podiam acabar promovendo uma revolução e cada mundo voltar a falar seu próprio idioma novamente e ele não ganharia todo o dinheiro pela exportação que agora seria inexistente, já que não haveria para onde exportar. [n/a: gente, acho que essa fic tá ficando muito histórica e cheia de matéria de escola AIHASDIOHSADI].
Preciso admitir que eu estava ficando extremamente cansado, a viagem fora definitivamente longa. Haha, eu sei que eu não sou engraçado. Quando eu fico com medo, tento fazer piadas para descontrair e, bem... nunca consigo. Para a minha sorte, a voltou rapidamente, interrompendo meus momentos de reflexão sobre mim mesmo e o mundo.
- Pronto, já arrumei tudo lá pra você. Se precisar de alguma coisa me avisa, eu ainda vou jantar e... – Ela pensou um pouco e bateu a mão na testa. – Nossa, você ainda não comeu, né?!
- É... Não – respondi sincero, porque, na verdade, eu estava morrendo de fome.
Então, ela segurou a minha mão e me levou até uma cozinha realmente legal. Sabe aquelas que você vê em loja de móveis que você fica dizendo “caramba, tem que ser milionário pra ter tanta coisa”? Então, tipo essas. Ela abriu uma espécie de congelador – bem legal, por sinal – e tirou um cubinho plástico roxo e um azul de dentro do mesmo.
- Você prefere queijo ou frango?
- Ahm... Queijo – respondi, sem saber o motivo da pergunta. E foi aí que ela jogou em cima da mesa o cubinho azul e disse: – Pode atacar. – E abriu um sorriso.
Eu fiquei só encarando o negócio enquanto eu a via fazendo um suco de saquinho amarelo.
- Espero que você goste de suco de maracujá. – Pelo menos, isso era algo que havia. – Você sabe que a gente conseguiu acabar com metade da água potável, então você já tomou suco de maracujá com água reutilizável?
Ok, agora chega. Que nojo, cara! Nem os pés do , que cheiram a salgadinho, são tão ruins! A menina era tão linda, tinha um olhar tão... indecifrável, e tinha que viver naquele lugar? Meu Deus, como eu queria poder levá-la para o mundo quando ele ainda não era assim. Enfim, fingi que não sentia nojo algum e bebi o suco, mas não sabia nem como comer o cubo azul. Quando estava prestes a colocá-lo na boca ela gritou assustada:
- O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?
- Ahm... Eu ia comer – eu disse, indiferente. Olhava para o cubinho azul, achando que seria uma fonte de energia com todos os ingredientes possíveis para uma dieta balanceada, mas me olhava como se eu fosse um completo insano. – O que foi?
- Você quer que seu estômago exploda ou queimar sua língua com gelo? – ela perguntou retoricamente. – Acho que, na sua época, ainda não existia comida congelada em cubos, mas você devia saber que quando o cubo esquenta 5 ºC, ele explode e vira comida. Isso, sim, é comida embalada à vácuo – terminou ela, abrindo um sorriso.
No mesmo momento o cubinho realmente fez um som parecido com POP! e se abriu por completo, mostrando um sanduíche de três andares de queijo, um prato (sim, um prato) de salada com uns pães de queijo do lado. Fiquei altamente impressionado, mais impressionado ainda quando fui pegar um pão de queijo e queimei a mão porque estava quente. Pois é.
- É... Bom... – Estava estarrecido, sem palavras. – Eu não sabia disso. Obrigado.
- De nada – ela disse sorrindo, mas logo seu sorriso desapareceu de seu rosto. – É melhor comermos rápido.
- Por quê?
- Porque vão apagar as luzes das casas daqui há... – ela olhou no relógio, que pelo menos era a única coisa que não tinha mudado até agora – vinte minutos.
- Quem vai apagar as luzes?
- O governo, lógico – ela começou, mais uma vez. – Como a luz hoje em dia, além de cara, é difícil de ser produzida, à noite, nós usamos velas... como no passado. A sorte é que elas são recicláveis e são de graça. Ganhamos uma por semana, e ela ilumina tão bem como uma lâmpada, por ser muito potente. Preciso, não? – ela disse, pegando seu cubinho e o soprando, fazendo com que ele explodisse e virasse a mesma variedade de alimento que a minha.
- Hoje em dia, tem muito assalto? – eu perguntei, enquanto comia.
Olha, vou te contar, essa comida é muito boa. Mas o que devia ter de gordura e todas aquelas coisas que faziam mal... Não duvido nada.
- Assalto? – ela disse, rindo, e tomando um gole de suco de maracujá logo em seguida. – Meu filho, hoje as coisas são muito diferentes. A pena de morte é legalizada, a maconha é legalizada, as drogas são legalizadas...
- Coca cola? – perguntei, na esperança que ela perguntasse de volta “o que é isso?”.
- Ilegalizada – ela disse com simplicidade. – Assim como o café, o guaraná, o cachorro quente e a Playboy.
- PLAYBOY? – gritei, levantando a batendo a mão na mesa, que provavelmente assustou a menina. Como assim a Playboy?! O que a Playboy tinha de errado? Achei melhor me acalmar, me sentei novamente e continuei. – Por que a Playboy?
- Todas as revistas pornográficas são proibidas agora. Nós só podemos ter relações sexuais para reprodução e a maioria das pessoas tem muito medo disso porque... bem... O índice de pessoas com AIDS cresceu muito desde... sua época – ela disse, abaixando os olhos.
Sinceramente? Tinha alguma coisa aí no meio. - Ainda não inventaram uma cura? – perguntei perplexo.
- Não... Além do preço das cápsulas ter aumentado muito, já que muitas pessoas possuem o vírus da HIV, fica difícil com eles querendo lucrar em cima disso. [n/a: por isso usem camisinha *-*] Além do mais, eles estão mais preocupados em continuar dominando o mundo, ao invés de cuidar do povo – ela respondeu, revoltada. Sabe aquelas pessoas que odeiam o mundo onde vivem e não fazem nada para mudá-lo? Essa era .
- Posso perguntar uma coisa?
- Tá, tanto faz. – Ela já parecia entediada com aquela conversa. E bem desanimada, cansada, se você quer saber.
- Você conhece uma banda chamada McFly?
Ok, pode me bater. McFly é a minha banda. É que eu simplesmente não resisti saber que eu estou no ano dois mil e alguma coisa e saber se a minha banda realmente teria dado certo já àquela hora.
- Lógico! – ela disse. – Eles venderam mais álbuns do que o Michael alguma coisa...
- Jackson? – eu perguntei.
- Esse mesmo! – ela exclamou, surpresa. – É uma pena que eles tenham morrido de uma forma tão trágica, você não acha?
- Ahm... Como?
Droga, não devia ter perguntado isso. E outra: ela não estava reconhecendo que um dos integrantes do McFly estava ali BEM NA FRENTE DELA?!
- Foram assassinados... – ela disse dando de ombros. Isso mesmo, ela deu de ombros. Ela não estava nem aí que eu fui assassinado. – Ninguém descobriu quem foi. Foi o assassinato do século.
Pronto, era o que me faltava. E foi naquele momento que eu acabei entendendo que eu só queria nunca ter vindo para cá.


Capítulo 4 – Seems like we should be getting somewhere, somehow I'm neither here nor there.

Já havia se passado cerca de uma semana desde que eu tinha sido absorvido para aquele fim de mundo. Ou melhor, para aquele “novo” mundo. E preciso admitir, se eu estivesse em casa agora, acho que eu nunca mais usaria nada que não fosse reciclável e... Meu Deus, isso tá entrando na minha cabeça de vez. Eu já havia me acostumado com o piso cheirando maresia e tudo mais; o tecido “diferente” era um tipo de carpete mega absorvente. Por morar perto da praia, quando a maré aumentava muito, de vez em quando, a água entrava na casa dela quando ela abria a porta. Horrível, não? Só o quarto dela que não era feito com aquele carpete. Eu nunca havia entrado lá, mas já andava espiando de longe há um certo tempo. Eu não posso dizer que me sentia em casa, confortável e feliz como eu era antes de vir para cá, mas até que, comparado à quando eu cheguei, estava indo muito bem. Eu sei que não podia sair de casa em nenhuma possibilidade, mas e daí? Sinceramente, eu não ia fazer muita questão de sair no meio de poluição, caos e tudo mais. Aqui nem tem mais carro, sabia? O governo proibiu (também) o uso de carros por causa do uso e liberação desnecessária de gás carbônico. No lugar disso, “gastam” tudo com fábricas, usinas e coisa e tal... Era tão bom quando podíamos correr pelas avenidas de carro e sentir o vento, e que nada pode nos parar de ser quem queremos ser... Se existe algo que eu me arrependo mais do que tudo é o fato de que apenas poucas pessoas tinham consciência sobre o futuro. E agora estamos “pagando o pato” por ele. Até porque a maioria de nós estava realmente no futuro agora. E sendo mortos. Governo idiota.
Fui interrompido por meus pensamentos, olhando para a maré que estava começando a subir, (sendo que agora barcos eram o novo carro) e o congestionamento de barcos com um peso enorme de culpa sobre mim, vendo os estragos feitos em... pouco menos de mil anos. entrou em casa correndo e fechou a porta com o pé, já que tinha suas mãos cheias de sacola (de papel reciclado), onde era provável que tivesse comida. Por falar nisso, ela me ensinou a cozinhar! Não que fosse muito difícil, preciso e coisa e tal, mas como ela trabalhava (dentro de casa, mas mesmo assim) achei melhor aprender a me virar. À noite, eu e ela assistíamos juntos ao noticiário, e preciso admitir que eu estava começando a ficar cada vez mais deprimido ao ver policiais militares matando pessoas sem o menor dó. A também, mas guardava sua dor para si mesma. E isso, se me permitem o abuso, chegava a ser chato. O bom de rir de mulher (pelo menos as do meu século) era que elas não calavam a boca, não fechavam a matraca, como você preferir. E isso sempre era um bom motivo para quando queríamos terminar o namoro, mas isso a gente ignora. Eu não namoro desde meus catorze anos. É, exatamente. Tive uma desilusão amorosa quando era adolescente, e a filha da mãe da minha namoradinha me traiu com o meu melhor amigo, mas isso não influenciou na minha amizade com , só provou o quanto uma mulher pode ser desgraçada se não cuidarmos de nós mesmos. E, desde então, passei a ser feliz... Solteiro. Só na “pegação”, se é que vocês me entendem.
Enfim, assim que ela entrou no aposento, eu fui ajudá-la com as compras, o que era, no mínimo, meu agradecimento por não ter me delatado para o governo, que me mataria imediatamente. E mesmo ela sabendo quem foi o McFly, ela não sabia que eu fazia parte dele! O que, se me permite, era bem melhor... Sabe, eu nunca gostei muito de cantar na frente de muitas pessoas quando estou sozinho, porque a atenção volta (quase) toda para mim. E por mais que eu não pareça, sou tímido. O fato é que, às vezes, eu sentia muita falta dos meus amigos, e eu nem podia falar deles e das loucuras que fazíamos constantemente.
Sim, ela sabia meu nome... Só não sabia que meu sobrenome é . Quero dizer, para que ela iria querer saber meu sobrenome se a minha linhagem é completamente diferente? Eu estava na Califórnia! Isso mesmo! Por isso seu sotaque era diferente do meu. Eu era inglês... britânico. E ela era americana... da Califórnia. E pensar que as garotas “californianas”, pelo o que eu percebi em , não mudaram nadinha. Continuavam lindas desde a última vez que vim para cá. Quero dizer, só vi duas: e Misty (apesar de Misty não ser exatamente uma garota, e sim uma cabeça flutuante). Mas era bem engraçado, porque eu já estava amigo delas. Estava, inclusive, gostando um pouco de . Sabe? De querer cuidar de uma pessoa e se importar com o fato de que ela é mais do que “mais uma garota do futuro”.
- Hoje eu não vou trabalhar – ela disse calmamente, guardando as coisas no freezer.
Eu já comentei o quanto é ruim comer comida congelada durante uma semana? É que nem tomar suco de laranja por dois meses. Você enjoa a ponto de não conseguir mais ver a comida sem ter nojo. Agora, imagine as pessoas dessa geração, que comem isso todos os dias e desde que nasceram?!
- Por quê? – perguntei atencioso, tirando toda a comida que ela havia comprado e colocando o saco reciclável num canto, junto com os outros.
- Estou de folga. Meu chefe está no hospital, porque teve uma parada cardíaca, e nos deu folga por isso – ela respondeu como se não fosse nada de mais.
Outra coisa que também me irrita é que, na minha geração, as pessoas já estavam começando a ficar obesas pelo excesso de McDonalds e coisa e tal. Mas nessa geração, as pessoas têm um colesterol, uma pressão e um peso muito maior do que antigamente. Fico até chocado quando vejo algumas das poucas pessoas que ainda andam pela rua e mal podem passar por uma porta. As magras que eu vejo hoje em dia são bem poucas: modelos, magras por culpa da genética (que aposto que nem gostam de ser tão magra assim), anoréxicas e meninas como ... Gostosas e preocupadas com a alimentação, apesar do consumismo e da comida gordurosa e nojenta que comem por aqui. Eu devia ter engordado uns dois quilos já, não estou brincando. Na minha época, nós perdíamos peso jogando WII, e naquele ano era um outro jogo que, eu preciso admitir, não era tão legal. Sabe aquele jogo de tapete de dança? AINDA EXISTE! Não é brincadeira, ainda existia! É um dos poucos brinquedos que o governo nos deixava jogar. Qualquer jogo relacionado a armas, lutas e tudo mais, naqueles dias, eram altamente proibidos.
- Ah, sim... Bom, o que você quer fazer hoje, então?
Eu esperava que ela fosse dizer alguma coisa do tipo “dormir”, ou “assistir a TV até meus olhos doerem”. Mas não, ela deu de ombros e disse:
- Você escolhe. – E sorriu.
Eu já comentei o quão lindo era o sorriso dela? Era como ver uma lua no meio de muitas estrelas. É como ver uma luz no meio da escuridão. É como ver a felicidade no meio de um cemitério. O sorriso que tinha era mais bonito do que qualquer outro sorriso que eu já havia visto antes. Até mesmo quando ela sorria e estava triste era bonito.
- Eu queria sair... – arrisquei.
Da última vez que eu pedi, ela fez o maior escândalo, chamando-me de ingrato por querer sair naquelas condições que estávamos. Ou melhor, que ainda estávamos. Mas eu tinha um bom motivo para querer sair. Pelo menos, para poder dizer que eu era um idiota, que não percebia que o lugar onde eu vivia era nada mais nada menos do que um lixo e que agora estava vendo a conseqüência do que tudo isso causou.
– Mas se você não quiser... Tudo bem – terminei, suspirando.
Era óbvio que ela ia brigar comigo. A minha falta de consciência ecológica e a minha falta de respeito com o próximo ajudaram no que eu estava vivendo. Eu me odeio, isso era um fato que estava ficando cada vez mais evidente.
- Tem certeza? – ela perguntou. Pronto, agora seria a parte onde ela pularia no meu pescoço e perguntasse se eu tenho algum problema na cabeça. Assenti. Então ela sorriu e... – Tudo bem, então. Mas a gente tem que voltar antes do anoitecer, senão a maré vai subir muito.
HÃ? Ela não me matou? Tem alguma coisa muito errada acontecendo aqui. Mas já que ela deixou, achei melhor ficar na minha. Já tinha conseguido o que queria. Mas... espera aí. Antes ela não queria que eu saísse porque eu podia morrer. E agora ela deixava? Será que ela não se importava mais comigo? Será que ela queria que eu morresse para ter sua casa de volta? No momento em que fiz essa pergunta para mim mesmo, senti uma náusea em meu estômago e uma vontade imensa de chorar. Mas... por que? Contenha-se, , você é homem! Quero dizer, por que eu deveria me importar? Ela é só uma garota que está sendo gentil comigo. Além do mais, eu não preciso de uma mulher. Mesmo ela sendo bonita... e legal... e... Ah, se eu não me conhecesse, admitira estar apaixonado. E, bom, eu não me apaixonava já fazia um bom tempo.
- Ahm... Melhor a gente ir amanhã, né? – inventei.
A verdade é que eu estava com um certo medo de sair, e se a gente saísse, ia ser bem difícil de conversar e eu... Ok, eu queria saber se ela gosta de mim. Não que eu gostasse dela, mas só para ter uma idéia, sabe?
– Porque já tá meio tarde. A gente podia ficar vendo televisão... que nem sempre – terminei, e ela continuava sorrindo, mas, dessa vez, de uma maneira diferente. Vitoriosa.
- Tudo bem... Então, hoje eu comprei uma coisa diferente para nós comermos – ela começou, tirando algo da sacola. – Você já comeu mariscos?
Que merda. Odeio mariscos. Na verdade, não é só ódio. É pânico. Desde pequenininho, tenho um bloqueio e não consigo comer mariscos.
- Sou alérgico – menti.
Pude ver a tristeza se instalar nos olhos de , provavelmente pelo fato de que ela queria me fazer uma surpresa e eu nem podia (ou não queria) comê-la. Eu não sei qual é o problema dessas mulheres de hoje em dia de quererem fazer surpresas toda hora. Não que eu não goste, mas... algumas surpresas nem são tão secretas assim.
– Que tal se a gente comer pipoca?
Ela sorriu. Ou seja, ela conhecia pipoca! Segui com o olhar, enquanto ela abriu seu armário e tirou um pacote de pipoca instantâneo. Colocou no aparelho, que eu não sei o que é, uma mistura de forno com microondas, e disse calma como sempre:
- É proibido... Mas eu não ligo, vou preparar a pipoca. – Mano, tem alguma coisa nessa merda de lugar que não seja proibido?
- Por que é proibido? – perguntei possesso.
- Você já ouviu o barulho que faz quando começa a estourar? A merda do meu governo acha que influencia ao barulho de tiros! Aonde já se viu isso, me diz?! – ela rufou, brava. Respirou lentamente e continuou: – Escolhe um canal ou algum filme que eu já vou lá.
Esse governo exagera demais. Vê se pode! Pipoca é o que marca a infância, é a graça de ir ao cinema, e eles simplesmente proíbem isso?! Aposto que eles assistem aos filmes antes, censuram algumas partes e se o filme for mais do que 30% revolucionário, eles matam o diretor.
Fui até a grande sala e liguei a televisão para escolher um filme que e eu pudéssemos assistir juntos. Eu já contei como que a gente escolhia filme? Na verdade, eu já disse como era o controle? Era que nem um teclado! Não, você não leu errado. Sabe aqueles tipos de um teclado de computador? Exatamente! Você escrevia o nome do canal que você quer nesse teclado e ele aparecia! A mesma coisa com filmes. Você escreve o nome do filme, aperta a tecla “assistir” e ele começa a passar. Eu fico chocado com essa tecnologia dos dias de hoje. Se bem que eu já ficava meio chocado com a tecnologia de “antigamente”, agora imagine de agora?! Eu me sentia um peixe fora d’água, um alucinado, coitado, desastrado, desinformado, e tudo o que você possa imaginar.
Não demorou muito para chegar com o pote de pipoca e se sentar ao meu lado. Ela digitou um filme muito estranho que eu nem sei direito o nome e de repente começou a passar um filme que eu nunca tinha visto. Chamava-se “Ano 2000”.
Peguei um pouco de pipoca e, de repente, começou a passar uma coisa parecida com a Idade Média. Ao longo do filme, pude ver que os roteiristas que fizeram o script desse filme não sabiam porr* nenhuma de história quando fizeram o roteiro do mesmo. Fiquei chocado como era ruim.
- Em que ano foi lançado esse filme? – perguntei incrédulo, pegando mais um pouco de pipoca.
- 2200, por quê? – ela perguntou. Aparentemente, não tinha a mínima idéia do que estava acontecendo.
- Meu mundo nunca foi assim – eu disse, sentindo minha visão ficar meio embaçada. Sabe, eu nunca choro, não sei o que deu em mim. – Esse filme é ridículo! Meu mundo NÃO É ASSIM! – gritei, levantando do sofá e colocando a mão sobre meu próprio rosto.
Tudo estava muito ruim para mim. Eu queria matar o diretor desse filme, queria matar o governo, queria matar quem nunca foi ecologicamente correto, queria me matar. É. Eu queria me matar. Não sabia o que eu estava fazendo naquela merda de lugar, a única coisa que eu queria naquele momento era ir para o conforto da minha casa. Por que comigo?
- Calma aí, cara – disse Misty, do outro lado. – Você me acordou!
- D-Desculpa – eu falei.
Estava arrasado. Joguei-me no chão, no carpete com tecido estranho, e comecei a chorar. Chorar é a coisa mais ridícula que um homem pode fazer na frente de uma mulher, pelo menos, na minha pobre e inútil opinião. Mas eu comecei a chorar. Que nem um bebê. se levantou do sofá e se sentou ao meu lado, apenas me encarando, me vendo chorar. Que merda! Por que eu estava chorando mesmo? Naquele momento, eu achava que nada poderia fazer eu me sentir melhor. Foi quando ela chegou mais perto de mim e me abraçou.


Capítulo 5 – You leave me speechless when you talk to me.

Você já teve a impressão de que você conhece uma pessoa extremamente bem e, de repente, ela faz algo que você apostaria tudo o que você tem achando que ela não faria? Bom, eu já.
Após me abraçar, eu não tinha a mínima noção do que fazer. Quero dizer, eu estava extremamente sem graça com aquela situação. Eu nunca tive problema algum com garotas, isso é um fato, mas o que houve entre e eu não foi só um abraço. Eu sei que teve uma conexão entre nós dois naquele momento, e pode me chamar de boiola, viado, efeminado, gay, porque você vai (infelizmente) ter razão. Mas é... que eu nunca senti todos os meus pêlos do braço se eriçarem ao abraçar uma garota qualquer. E foi exatamente isso que aconteceu quando tocou em mim. Não que era fosse uma garota qualquer, mas... Ah, você me entendeu.
Depois daquele abraço, não trocou mais nenhuma palavra comigo. Nenhuminha. Mas também, a gente não tinha mais o que conversar. Não sei se foi porque ela não gosta de abraço, porque ela deve estar me achando um viado por ter chorado na frente dela ou porque ela percebeu que gostava de mim da mesma maneira que eu gostava dela. Se bem que... eu não sei de que maneira eu gosto dela. Não é amor, isso eu sei... E não é amizade. Mas tá crescendo a cada dia, esse é o problema. Controle-se, , não pode ser tão difícil, porra.
e eu sabemos muito bem que aquele abraço não foi um abraço qualquer, só não sabemos por quê. Mesmo sem trocar ao menos uma sílaba sobre o assunto, nós sabemos muito bem que não foi um abraço qualquer. Um abraço de amigo, de namorado... Acho que é mais um abraço de... família. É isso. Aquele abraço reconfortante, que você se sente bem, se sente protegido. é a minha família agora. é a minha nova amiga agora. é o motivo de eu continuar sorrindo. Acho que é o meu amor. Eu não a amo, mas ela é o meu amor.
Falando nela, no mesmo momento, eu ouvi a porta de metal/alumínio se abrindo rapidamente e uma visão da despenteada saindo da mesma. Eu já estava bem acostumado em dormir no sofá-cama. Ele era até bem confortável. passou por mim e sorriu, mexendo no cabelo e voltando a andar, se trancando no banheiro.
Uma coisa que não mudou no ano em que eu estava era que meninas ainda demoravam muito tempo se arrumando no banheiro, o que se me permitem, nunca chegou a me irritar muito, ao contrário de outros meninos. Gosto de meninas vaidosas. Quer dizer, prefiro uma garota arrumada e cheirosa a uma menina que não tem o mínimo de higiene pessoal. Bom, ignoremos essa parte. Naquele dia, e eu iríamos sair como havíamos combinado anteriormente. Assim que ela saiu do banheiro, já vestia com uma roupa normal, ao invés de pijama. Linda.
- Oi... – eu disse, abrindo um sorriso bobo.
A única coisa que eu queria naquele momento era abraçá-la que nem eu a abracei ontem. Mas onde estava minha coragem para isso? Provavelmente embaixo da cama.
- Oi! – ela disse com bom humor, o que sinceramente, quase nunca acontecia.
Não sabia qual era o problema dela, mas ela acordava com um mal humor de ameaçar sua vida todos os dias. E naquele dia, não. Naquele dia, ela estava sorrindo de um jeito diferente. Não era um sorriso falso, apenas para me agradar. Ela estava sorrindo de felicidade.
– Então, se apronta para a gente ir.
É lógico que eu tomei banho durante todos esses dias, e por incrível que pareça, tinha roupas de homem (bem estranhas, provavelmente do pai dela) guardadas. Então eu estive me vestindo com camisas sociais e calças jeans durante cerca de duas semanas, sem saber de quem era. Desde a minha época, a água era cara em alguns lugares da Europa, e o chuveiro ligava e desligava sozinho. Aqui não era diferente. Era uma das poucas coisas que restaram do meu século.
Fui até um armário perto da dispensa de comida, no fim do corredor perto da cozinha, e abri, pegando roupas. Reparei pela primeira vez que ali também havia roupas de cama e uma gaveta grande, na altura da minha cintura. Inocentemente, abri a gaveta só por curiosidade e me deparei com lingeries. Olhei para trás, para ver se estava me observando, e comecei a reparar com mais concentração nas roupas de baixo que estavam emboladas umas sobre as outras. Cara, que gostosa. Eu nunca fiquei reparando em roupas de baixo, eu sempre preferi tirá-las o mais rápido possível, sabe. Mas aquelas roupas estavam me deixando louco. Não resisti novamente, coloquei minha mão bem no fundo da gaveta e puxei qualquer coisa, pegando uma calcinha. Bonitinha. Era branca, não tinha nada na parte da frente e atrás dizia ‘I wanna rock you’ com uma guitarra. Sinceramente? De todas as calcinhas que eu já vi e... Bom, você sabe mais o que eu devo ter feito, aquela era a mais sexy. E era pequena! Tenho certeza que ela devia usar para provocar os homens. ? O que você está pensando? Meu Deus, homem, contenha-se!
Mas agora já era tarde. já estava em meus pensamentos de todas as formas possíveis. E agora eu sabia que era improvável que fosse virgem, mas quem se importa? Eu não gosto dela. Quero dizer, gosto como amiga e nada mais do que isso. Tá, mentira, eu gosto um pouco mais do que isso. Mas bem pouco.
- , você tá pronto? – ela perguntou da sala.
Assustei-me, jogando a calcinha novamente na gaveta e fechando, tentando conter o surto psicológico que eu estava prestes e ter.
- Quase! – gritei de volta, pegando uma camisa qualquer e uma calça jeans qualquer, me trocando ali mesmo.
Fui até bem rápido. Passei pelo banheiro e ajeitei meu cabelo, o que era algo que eu nunca fazia, e apertei o passo para encontrar . Coloquei uma das meias que havia comprado para mim alguns dias depois que cheguei e coloquei meu tênis de alguns anos atrás.
– Pronto, vamos?
Ela sorriu e assentiu calmamente, pegando sua bolsa e saindo de casa. Fui atrás dela, sentindo meu coração disparar fortemente e cada dedo das minhas mãos formigarem. Eu estava mais do que nervoso. Depois de muito tempo, eu estava saindo de casa pela primeira vez, e isso era completamente estranho, devido ao fato de que eu fiquei trancado numa casa, como as princesas em contos de fadas. Mas de ‘princesa’ eu não tinha nada. Não mesmo. E por motivos até bem óbvios que vou deixar você imaginar sozinho.
- Preciso te falar três coisas... – começou a com um sorriso. – Não é nada como era na sua época, então, por favor, tente não falar com esse seu sotaque extremamente puxado, ok? Não que eu não ache bonito, mas, você sabe, as pessoas podem perceber.
Assenti calmo, enquanto passávamos por um corredor meio escuro, com apenas alguns candelabros acesos. Lembrava-me muito filmes de terror sobre vampiros. A verdade é que eu não entendi muito bem o porquê desse corredor.
- Outra coisa: Tente ficar quieto em relação às coisas que existem lá fora, ou podem te reconhecer. E têm muitos militares lá fora, praticamente um por esquina, então nós temos que tomar o máximo de cuidado, está bem?
- Nós? – perguntei. – Quero dizer... O problema não é só meu? E por que estamos passando por esse corredor? – Minha mente estava cada vez mais confusa, apesar de isso acontecer constantemente desde os últimos tempos.
- Claro que não, ! – ela exclamou. – Se acontecer alguma coisa com você, eu não vou me perdoar... – ela disse corando. Ela corada me lembrava minha prima... que eu peguei e... Deixa. – E estamos no corredor porque é muito difícil deixar sem entrar água quando a maré sobe muito. E assim não inunda. – E sorriu. Ela sorriu ao contar o começo de uma tragédia porque estava acostumada com que isso acontecesse.
Foi então que chegamos ao fim do túnel e eu pude ver sobre uma janelinha ao lado de um quadro de botões: caos. Eu podia ver pessoas andando pela rua, apesar de não estar muito movimentada, e nunca foi como eu imaginei. Eu imaginava carros voando, pessoas com roupas descoladas e coloridas, e cabelos bagunçados e volumosos. A verdade é que as pessoas estavam vestidas exatamente ao contrário: todos de roupas pretas, brancas ou amarelas, andando olhando para o chão, em silêncio. Enquanto isso, milhões de carros ou barcos com rodinhas andavam a mil por hora na pista. Todos com cara de tédio, mortos, porém vivos. Chegava a fazer eu me sentir mal tanta solidão que havia no olhar de cada pessoa.
- Pronto? – ela perguntou.
- Não. – respondi sincero.
Ela riu, achando que era uma brincadeira, sendo que não era, e apertou um botão embaixo da janelinha que eu encarava deprimido, abrindo o portão de baixo para cima. Foi aí que eu ouvi: silêncio.
Apesar do trânsito infernal e tudo mais, não havia buzinas, pessoas gritando, pessoas pedindo dinheiro e nada disso. Era estranho ver isso, já que na minha época, as pessoas entravam na contramão, as pessoas sem querer cortavam outras e as pessoas “cortadas”, por assim dizer, buzinavam até nossa décima terceira encarnação. Apesar de eu não ouvir mais as buzinas de treze décadas atrás e... Ah, você entendeu a expressão.
Barcos com rodinhas passavam rápido e sem fazer barulho, as pessoas não se olhavam na cara e logo pude avistar cinco policiais do lado de fora de um carro parecido com o jipe de tão grande. Eles estavam com óculos escuros, e seus uniformes eram exatamente como o uniforme de policiais brasileiros. Cinza, com tiras vermelhas e azuis. Fiquei os observando até que uma mulher, policial, reparou que eu a olhava e disse algo para os amigos policiais, que também olharam para mim. Ela foi até o porta-malas do carro e pegou uma arma. Gigantesca; na hora eu quase desmaiei de medo. Senti minhas pernas trêmulas e revirei os olhos.
- ! – sussurrou. – Não encare os policiais, eles não gostam e... – Ela, então, reparou que eles vinham em nossa direção. – Fodeu. – Olha! Descobri que os palavrões não mudaram muito desde a minha época até agora.
Foi aí que a policial colocou aquela merda de arma bem na minha jugular e falou:
- O que você estava olhando? – Droga, era isso: ou eu falava e ela percebia meu sotaque e me matava, ou eu ficava quieto e olhava para ela, ela achava que eu a estava encarando e me matava. Mãe, eu amo você.
- Ahm, na verdade, a culpa foi minha – disse, pondo-se na minha frente e abaixando a arma da moça com calma. – é estagiário no meu trabalho e ele nunca veio para esse lado da cidade. Na zona norte, como você deve saber, o uniforme da polícia não é com tiras vermelhas e azuis e sim com tiras amarelas e azuis – ela explicava séria. – Eu prometo que ele não causará problemas e não sairá da lei novamente. É que ele ficou impressionado com a senhora, inclusive por você ficar bonita nessa roupa, o que nunca acontece.
- Não tente me bajular, , eu sei muito bem qual é o seu tipo – ela falou, dessa vez, colocando uma arma na jugular de . QUAL É O PROBLEMA DESSA MERDA DE POLICIAL? Eu precisava impedi-la... Como ela sabia o nome de ?
- Fica calma, Karla, não vou sair de novo da linha. Você sabe que eu jamais faria isso, depois do que seus amigos fizeram comigo numa sexta à noite – ela disse séria, com um tom de voz irônico.
A policial sorriu com malícia e tirou a arma de perto, afastando-se aos poucos. olhou para mim, me fuzilando.
– Jamais olhe para um policial. Jamais olhe para qualquer pessoa. Mantenha seus olhos no CHÃO. Entendeu? – E voltou a andar.
Segui a com medo, até que ela entrou em um café. Pareci um bar da minha época, mas era um café. Não tinha álcool, bebida e muito menos música. Isso deixava o aposento bem tranqüilizador. As pessoas falavam quase a sussurrar e ninguém olhava para os lados, o máximo que eles faziam era olhar para quem estava em sua mesa. Ela se sentou numa mesa, eu me sentei bem à sua frente e peguei um cardápio que já estava ali. As comidas eram estranhas: um sanduíche natural custava doze wormoneys. Já um ‘sanduíche comum’ custava três. Chegava a ser engraçado ver as pessoas cochichando entre si e encarando amedrontada de vez em quando para as pessoas ao seu redor. Eu aparentava ser o mais tranqüilo do local, já que a maioria das pessoas ficavam um pouco encurvada para frente para que o parceiro pudesse escutar mais nitidamente.
- O que você vai querer? – perguntou.
- Não sei, – eu disse, arriscando chamá-la pelo apelido. Ela nunca deixou que eu a chamasse de tal maneira, mas eu sempre tentava apenas para poder me sentir mais íntimo.
- Ahm... – Ela corou. – Já disse para você não me chamar assim. Só Misty pode me chamar assim e você sabe muito bem disso, . Quer experimentar uma das melhores coisas do meu mundo?
- O que é? – perguntei aterrorizado e com razão. Afinal, eu já não sabia mais o que esperar daquele novo mundo.
- É um doce. Bom, eu juro. – Ela olhou para mim e abriu aquele típico sorriso que me assegurava de que havia o mínimo de bondade naquele lugar.
Ela acenou para algo que eu não havia reparado até agora: uma espécie de mutante. Um homem verde com cabelo azul, vestido inteiramente de rosa choque. Ela pediu um doce que eu não fazia idéia do que era, sem ao menos ligar para a aparência daquele bicho. Nunca tinha ouvido falar de algo tão assustador.
Não demorou muito para o garçom/monstro chegar com dois doces gigantescos, azuis, com granulado verde enquanto um tipo de granulado vivo rosa de mexia. Vivo porque ele ficava escorregando de um lado para o outro, praticamente dançando sobre o sorvete, que saía fumaça de frio.
- É tipo sorvete? – perguntei, olhando o granulado rosa se mexer.
pegou uma colherada bem grande e colocou inteira na boca, desajustada. Tá aí uma coisa que eu jamais imaginei que veria: perdendo o controle. Fiquei apenas a encarando, com um sorriso bobo no rosto, enquanto eu ficava olhando o granulado dançar.
- Tá esperando o quê? – ela perguntou com a boca cheia, sem aparentar estar envergonhada. – Come.
Peguei uma colher pequena, enquanto o granulado rosa dançava, mas focalizei no granulado verde, parado. Ao prestar extrema atenção, percebi que tinham carinhas felizes desenhadas nele. Fiquei observando calmamente, até que revirei os olhos com cuidado e vi o monstro me encarando. Ou melhor, o garçom. Ele tinha uma aparência horrível! Suas olheiras verdes mais escuras eram profundas, seus lábios eram finos, como se praticamente não tivesse uma boca e o pior de tudo: seu sorriso era amedrontador. Branco como cristal, mas de uma maneira de me arrepiar os pêlos das costas.
Deixei a frescura de lado: coloquei de vez o bagulho na boca. Senti cócegas no céu da boca no começo, formigando, e logo senti uma sensação enorme de prazer e felicidade. Comecei a rir, e logo me tornei tão obsessivo quanto . Aquele doce era gelado, mas não tão gelado. Era doce, mas não tão doce. Mas era bom. Muito bom. Eu devo ter acabado com ele em cerca de cinco minutos, de tão bom que era. Assim como . Mas quando eu acabei, a única coisa que eu conseguia fazer era rir alto, desesperadamente. Olhei para a e percebi que ela fazia o mesmo.
- Qual é o nome disso? É muito bom! – eu disse entre risadas, devido ao doce que eu havia comida, que provocou tais reações em mim, enquanto pousava finalmente a taça do doce sobre a mesa.
- Palhacitos Mutantes! – ela respondeu, gargalhando. Cara, que risada boa de escutar. – Você come e ri! Nosso mundo precisa disso de vez em quando.
Aos poucos as risadas foram sumindo, o tempo foi passando e ficamos estáveis. tirou umas cinco notas da carteira e entregou para o rapaz-mutante, que pegou calmamente e agradeceu por irmos lá. Saímos calmamente e disse:
- Eu concordei em sair porque estamos perto do Natal, e nós precisamos comprar algo para você.
Foi quando eu ouvi alguém chamando meu nome. Devia ser loucura minha. Mas os gritos foram ficando maiores, maiores e maiores, até que desviou seus olhos de mim e pousou em outro ser. Virei-me pronto para mandar o infeliz embora, quando percebi que não era um infeliz qualquer: Era .
- ! – gritei e saí correndo, abraçando meu amigo como se não tivesse o visto há muito tempo. E de certa forma, era verdade. – Você tá vivo! – eu disse, entusiasmado.
- É, dude! Você não tem noção! Um cara ia me denunciar, mas quando ele me reconheceu, ele quase teve um ataque cardíaco. Ele é um dos maiores fãs do McFly.
- McFly? – perguntou . – Você também conhece essa banda? Eu gosto muito das músicas, mas só sei o nome de um integrante.
- Quem? – eu perguntei, já esperando a resposta. O cara que roubou minhas namoradas desde... Bom, desde a única vez que eu namorei.
- – ela respondeu, sorrindo. Harry e eu nos entreolhamos, com o mesmo pensamento: que original.
- Eu sou do McFly também – disse Harry, acenando para ela e abrindo um sorriso de galã.
- SÉRIO? Eu adoro suas músicas! Eu queria conhecer os outros integrantes...
- Ué, o não tem contou?
Rapidamente. fui para as costas de e comecei a mexer meus lábios e as mãos na intenção de dizer: NÃO CONTA NADA! Mas foi em vão.
– Ele também é um dos integrantes.
se virou rapidamente para mim, me fuzilando com seus lindos olhos e me deixando extremamente amedrontado.
- O QUE? VOCÊ É DO MCFLY E NUNCA ME CONTOU? – ela gritava. Foi quando um policial ouviu e chegou mais perto, pegando a mesma arma que quase nos matou aquele dia. – NÃO ACREDITO!
- ... Fica calma – eu dizia, tentando fazê-la abaixar o tom de voz para que o policial não ouvisse coisas que me condenassem.
- CALMA? VOCÊ ESCONDEU ISSO DE MIM, ! EU NUNCA ESCONDI NADA DE VOCÊ! – Ela estava histérica. E me dando medo.
- Gente, – começou – vamos sair daqui. Eu preciso te contar uma coisa, , e aquele policial está olhando feio para cá.
Fomos andando até um beco e, durante o caminho, não deixou que eu a tocasse. Foi quando se virou sério para mim e disse:
- Eu arranjei um jeito de voltar para casa.



Capítulo 6 - Tomorrow holds such better days, days when I could still feel alive.


Voltar para casa. Nunca esperei tanto ouvir essas três palavras. Nada fazia mais sentido para mim, quando diziam isso, pelo menos na minha época. Era só “legal, estou indo para casa. Será que está passando boxe?”. Mas nesse momento, quando eu ouvi essas palavras, senti meu coração pular para fora de meu peito e minhas mãos ficarem trêmulas. Casa. Essa palavra que me dava tais calafrios. Olhei para e a vi sorrindo de um jeito extremamente feliz. Não sei se era porque ela estava cansada de mim ou porque ela queria o meu bem. Como uma irmã, claro, ela nunca seria capaz de sentir qualquer coisa a mais por mim que não fosse amor de irmão.
Aquele beco em que nos encontrávamos agora cheirava extremamente mal, e não era muito luminoso, então eu não podia ver se havia um rato morto ali ou coisa do gênero. Foi quando eu ouvi um barulho gigante, temeroso, estranho. Olhei dessa vez para que olhou para o céu repleto de nuvens negras e disse num tom de preocupação imediata:
- É melhor irmos para algum lugar coberto.
- Qual é, ? – Eu comecei. – É só chuva. E banho de chuva é uma das melhores coisas que tem, quando você sente saudade de alguma coisa. Meio que lava a alma...
- Não aqui. – Disse . – A poluição é tanta, que a chuva está ácida.
- Más já era ácida no meu tempo. – Falei, achando-a completamente neurótica.
- É, seu imbecil. Mas era assim na nossa época. Imagina como é agora! A poluição cresceu um monte. – Começou . Odeio quando ele tem esses ataques “Greenpeace”, e isso acontece desde sempre. Eu lembro que no segundo colegial, disse para uma das professoras que perguntou o que seguiríamos na faculdade, que se ele não ficasse famoso com a banda, que ele se juntaria ao Greenpeace para salvar as focas. – E a chuva está muito mais ácida. Quando eu vim para cá, eu por sorte caí na casa de um cara, o viciado lá em McFly. E ele tem uma irmã que você tem que ver dude, ela é o máximo! Enfim, continuando... Quando eu cheguei eles me reconheceram e me deixaram ficar lá. Eles moram juntos. E aí começou a chover, e como eu sentia falta de chuva, eu coloquei a mão para fora para encostar em alguns pingos. Antes que ...
- Você disse ? – interrompeu imediatamente, abrindo um sorriso. – Ela era a minha melhor amiga!
- Não é mais? – Perguntei, interessado, fingindo que não sabia o quanto odiava ser interrompido.
- Não, antes de Misty morrer, ela e Josh tiveram um caso escondido, porque o governo não deixa namoro, só se casar antes, e quando eles terminaram a polícia idiota se intrometeu e declarou que não podíamos mais ter nenhum contato com a família e vice e versa.
- Quem é Josh? – Perguntei novamente.
- O irmão dele. – Respondeu , impaciente – Posso continuar? - e eu assentimos e ele sorriu satisfeito, tirando uma luva que usava na mão direita, revelando uma parte da palma de sua mão em carne viva. Foi tão aflitivo que em dois segundos eu vi vomitando no canto do beco. Dude, aquilo foi nojento. – É o que aconteceu antes que a Alessandra me impedisse de colocar a mão na chuva. Uma gota de chuva corroeu meu tecido celular, chegando quase ao meu osso. Isso foi há um bom tempo, ainda está se cicatrizando. Agora imagine um temporal.
Não gostei do que imaginei. Não mesmo.
- Vamos embora. – Eu disse, começando a andar e a apertar o passo – Mas... Como não corrói as casas?
- Casas são feitas de materiais bem mais fortes, por isso são tão difíceis de arrombar ou qualquer coisa do gênero. – Ela falou, andando rapidamente junto à e eu. Olhei para o lado discretamente e vi uma armada de policiais se aproximando de nós, vindo em nossa direção. também percebeu, então disse baixinho para nós dois. – Olhem para o chão, fiquem calados e andem mais rápido. Eles não podem nos chamar a atenção de maneira alguma. Vocês não vão querer ver como é a delegacia por aqui. E olha que eu moro em um dos lugares mais ricos e seguros da Califórnia.
Não deu tempo de fugir, quando olhamos para frente, vimos mais uma armada de policiais vindo em nossa direção, com o olhar fixo em nós três. Agora não tem mais jeito.
- ! - Gritou um dos policiais. – Nós sabemos o que você está fazendo. Você já foi para a delegacia uma vez, quer ir presa agora?
se virou, respirando fundo e dizendo numa voz irônica e destemida, apesar de eu perceber dentro de seus olhos o pavor que a tinha.
- E o que eu estou fazendo, Stephen? – Ela olhava para o policial que ia se aproximando dela. Ele colocou um sorriso malicioso em seu rosto pálido, quase albino, e pegou pela nuca, fazendo a garota subir ambos os ombros em resposta da dor que sentia.
- ME LARGA! – Ela gritou.
- Você sabe o que está fazendo, e pare de tentar parecer não ter medo de mim. Eu sei que eu sou a pessoa que você mais teme, e acho que você sabe porquê. – Seu sorriso malicioso continuava em sua face, e a única coisa que eu sentia vontade era de lhe meter um soco. Mas eu não podia fazer isso. Porque eu sabia que podia piorar a situação. Então me mantive imóvel, apertando o punho ao lado de meu corpo, me controlando. – Seus amiguinhos são novos por essa região né? – continuou o policial, olhando para e eu.
- ME LARGA! VOCÊ TÁ ME MACHUCANDO, SEU MONSTRO! – Era a única coisa que ela conseguia responder. Olhei para os outros policiais. Ao olhar para alguns deles, era possível perceber a culpa que sentiam por fazer isso à , e outros... Sorriam. Sádicos.
- Você sabe que isso é fora da lei . Você sabe que eles deviam ser aniquilados há muito tempo. E a pergunta que fica é: POR QUE VOCÊ NÃO OS DELATOU? – Opa. Eles tinham nos descoberto.
- Muitas coisas estão fora da lei por aqui. – Disse ela, já mais calma, ainda com expressões de dor, enquanto o imbecil do policial à segurava. – Ou você acha que o governo permite POLICIAIS ESPANCANDO PESSOAS INOCENTES? – Vi uma lágrima cristalina caindo dos olhos de . Nesse momento, a única coisa que eu queria era abraçá-la, cuidar dela, e fazê-la sorrir daquele jeito que me encantava. Ver chorando era como ter canivete cortando meu corpo, e as gotas de sangue escorriam como lágrimas do rosto de . – Você me bateu uma vez, e quando eu fui reclamar para outras quatro delegacias, ninguém pôde me ajudar. E você vem me dizer que eu que não cumpro as leis por aqui?
- É assim que é, . Você nunca se acostumou com regras. Não era à toa que você vivia sendo expulsa da classe, levando advertências e coisa e tal. Você nasceu para ser o que você é hoje. Ninguém.
- A única pessoa que não é ninguém por aqui é VOCÊ, Jake! Eu, pelo menos, sou alguém que trabalha por um mundo melhor. Eu sou alguém que não quer que cada dia seja desperdiçado, que não quer que essa MERDA DE GOVERNO que manda na gente, continue roubando o que a gente paga. – Olha! Isso acontece desde o meu tempo! – Você trabalha para um bandido, Stephen. Eu trabalho para o bem.
O tal Jake estava devastado. Eu sempre soube que sabia dar bons discursos, já que uma vez ela ligou numa seguradora de casas para eles baixarem o preço do seguro, já que ela mora num lugar praticamente impossível de ter assaltos. Mas esse que ela havia dado agora, uau, conseguiu me deixar praticamente boquiaberto. Foi quando Jake deu uma gargalhada e disse apenas:
- Levem-nos. Todos eles. Vamos ver o que o chefe acha de , sua ex namorada, estar escondendo dois fugitivos do passado dentro de sua própria casa. – WHAT? EX NAMORADA? Ok, calma ... Você nem gosta dela de verdade! Ela é só como uma irmã. É, uma irmã. Mas irmãos têm ciúmes uns dos outros, né? Certo. Eu posso ter ciúme dela.
Então dois caras do tamanho da dispensa da minha antiga cozinha pegaram meu braço, um de cada lado, e foram me puxando para sabe Deus onde. Olhei para . Ele estava tranqüilo, com mais dois gigantes ao lado dele, segurando-o. Olhei para , e ela sim, estava apavorada. E lá se foi minha chance de voltar para casa. Bom, já que eu vou morrer de uma vez, eu tenho dez coisas à admitir:
1 - Eu repeti a segunda série porque eu corrigi a professora quando ela disse ‘mindingo’, em vez de ‘mendigo’.
2 - Meu maior medo sempre foi levar uma bolada de futebol naquele lugar, por isso nunca joguei futebol.
3 – Baratas sempre me deram calafrios.
4 – Meu primeiro amor não foi um amor de verdade, porque amores de verdade não se esquecem. E eu a esqueci em duas semanas. Bem, na verdade, eu a esqueci assim que a roubou de mim.
5 – Ao contrário de muitos caras, eu não ligo se a garota rói unha.
6 – Meus pais se separaram quando eu tinha oito anos, meu pai se casou com um de seus empresários (Isso mesmo, ele virou gay) e a minha mãe entrou em depressão.
7 – Meus pais se casaram novamente quando o empresário-namorado de meu pai o trocou por Rodrigo Santoro, um ator brasileiro estranho.
8 – Eu gostava de ver as garotas brincando de boneca para tentar entender como era o garoto perfeito para elas.
9 – Eu sempre fui bom em física, mas fingia que não para não me torrar a paciência e me chamar de nerd.
E a última, mais atual e provavelmente mais importante: Eu estava perdidamente apaixonado por .

Capítulo 7 - I never saw it coming. No oh, I need an ending. So why can't you stay just long enough to explain?


Durante todo o caminho dentro do carro, onde me colocaram em carro-navios separado de e , eu fui olhando para o céu. Na minha época o céu ficava azul, cinza, azul escuro, amarelo... Mas o céu desse século, cheio de poluição e tudo mais, era vermelho sangue. Horrível. Aquela frase fofinha e romântica que fazia qualquer garota se derreter de “você é o motivo pelo qual o céu é azul” já não era mais verdade. Agora é “você é o motivo porque o céu é vermelho”. Isso mesmo, podem chamar suas namoradas de poluição.
Chegamos na delegacia, que pelo menos por fora, não tinha mudado muito. Eles me tiraram do carro com força, e eu tinha razão: só por fora que não tinha mudado. Aquele lugar era um caos. Eu podia ver ferramentas de torturas presas na parede ao lado da mesa do delegado, que se levantou, apertou um botão e alguns segundos depois uma tela não tão grande quanto a da sala de desceu pelo teto e um rosto apareceu, com o fundo de uma sala.
- Moura ... - Ele começou. Olhei para o lado e estava junto a mim, com um filete de sangue ao lado da boca. Senti um tremor de ódio dentro de mim, mas me segurei. - Tanto você quanto a sua irmã sempre tiveram um desprezo com as minhas regras, certo? Você não teme a mim, isso eu já sei. Mas, por que?
- Ditadores como você merecem apodrecer no inferno. – Ela tinha surtado, só podia ser isso. Perdeu o amor pela vida e estava confrontando o presidente universal. Era quase implorar pela morte, se você quer saber o que eu acho.
- Você achou que teria chance de esconder esses rapazes por quanto tempo mais? Seu castigo só aumentaria.
- Eu não tenho medo de você, nunca tive, e nunca vou ter. Pessoas que têm amor pelo próximo não fazem o que você faz. Você odeia o próximo. Você tem problemas, isso eu já sabia.
“CALA A BOCA, !” Era o que eu queria gritar. Ela estava piorando sua própria situação. Me diz como e eu iríamos voltar para 2008 se não nos ajudasse? Era tarde para gritar, ou tentar confrontar alguém. Essa guerra devia ter ocorrido quando não era sequer um feto. E eu, pó de ossos.
Puxaram pelos cabelos sem piedade ou delicadeza, até uma cela azul com neon. No começo me lembrou um laboratório, mas então percebi que parecia um daqueles raios que dentistas usam para branquear os dentes.
- Pronta para implorar pelo perdão? – Disse um policial ao lado da cela. Aparentemente, já sabia o que ia acontecer, pois olhou para mim amedrontada, e piscou com força, respirando fundo. Não era o presidente que tinha problemas, e sim ela. Completamente sádica de fazer tal coisa, apesar de eu nem saber o que estava prestes a acontecer.
- Vamos começar com um pouco de constrangimento? Lembra-se da outra vez, ? Quando admitiu sua virginidade ao dizer a besteira de que queria “alguém especial”? Não se encontra mais alguém especial nessas terras. Ou nesse mundo. - era virgem? VIRGEM? Com aquelas roupas de baixo? Impossível. Ela me olhou horrendamente assustada, e olhou para a televisão, que assentiu para um policial, ligando um quadro de forças ao lado da cela. gritou com uma expressão de dor e caiu de joelhos no chão. - Diga-me... Desde aquele dia você finalmente encontrou alguém especial?
- S-Sim... – Ela gaguejou, com as mãos no ouvido. Eu não podia ouvir nada, mas parecia ouvir um ruído horrível dentro da cela.
- Mesmo? - Perguntou o homem. - Quem? - imediatamente tirou as mãos de seu ouvido e as colou em sua boca. Negou que diria com a sua cabeça. - RESPONDA! - Ele gritou.
- Da última vez... – Ela começou, com a voz tremida. – Que eu te contei a única pessoa no mundo que eu amava, você a matou. Bem na minha frente. E colocou a culpa no seu namorado, o que me fez perder minha única amiga. Matou o irmão da minha amiga.
- Hum... Eu me lembro. , não? Era a sua amiga. Por me relembrar essa história, mande lembranças à sua irmã. Eu sou alguém que ela nunca vai esquecer. Você quer fazer companhia a ela? Quem é a sua nova pessoa especial, ?
Imediatamente, aconteceu algo inesperado. Com ambas as mãos sobre a boca, olhou para mim. E o presidente percebeu.
- Qual é o seu nome, rapaz? - Ele perguntou gentilmente. Olhei para e ela negava desesperadamente para que eu não respondesse. Olhei para ele com desprezo e continuei calado. - Não vai responder? Que tal se juntar à sua querida amada então?
Pegaram-me pelos braços e me jogaram contra , dentro da cela azul. Abracei-a uma ultima vez, imaginando que agora seria a hora de minha morte.
- Vamos testar você, garoto sem nome. - Ele assentiu para um policial. Ele apertou um botão e... Não senti nada. Olhava para chorando desesperadamente, pedindo que parassem, mas eu não sentia absolutamente nada. - Merda, esqueci que ele não tem o chip! Bom, vamos ter que fazer da forma mais difícil, então. Vamos ver, Srta. , quando o seu amor se sacrificaria por você.
- Chip? – Perguntei. – Não se atreva a fazer nada com ela. Você não precisa fazer isso. Liberte-a e eu direi tudo o que você precisa saber.
- Ah, querido rapaz. – Disse então uma voz, de um canto da sala. Foi quando vi o presidente mundial parado bem à minha frente, com apenas algumas grades azuis nos separando. – Mas a graça é torturar aqueles que me desobedecem. – Ele tinha um sorris sádico no rosto. Macabro. – tem um certo desprezo pelas minhas leis. Sua irmã também tinha. E está morta. Mas Misty era fraca demais para agüentar minhas pequenas... brincadeiras.
Olhei para , se contorcendo no chão, chorando e gritando o mais alto que podia.
- O que você está fazendo?
- Ela está passando por um simples momento de nostalgia... Relembrando os piores momentos de sua vida. Diga seu nome, e ela não vai mais sofrer.
- NÃO! – Ela gritou para mim, com o pouco de força que lhe restava.
- . – Respondi. – Agora solte-a. Tire-a daqui.
- , ... Você acha que será tão simples assim? Eu não sei. Foi preciso tanta chantagem apenas por um nome. Agora como vou fazer para saber o resto?
- Basta perguntar, não machuque . Ou se não eu não contarei nada.
O velho olhou para mim impressionado com a minha capacidade de fingir uma confiança que eu não tinha. Ele olhou para o policial, que entediado desligou a cela. Olhei para e vi cicatrizes em seu braço, seu joelho repleto de hematomas. Sentei-me ao lado dela e tomei a em meu colo.
- Você vai ficar bem, eu prometo. – Sussurrei.
- Eu te amo, . – Ela disse, com o mínimo de força que tinha em seu corpo, antes de desmaiar em meus braços. Senti minhas pernas ficarem bambas e agradeci por estar sentado.
- Como você veio parar aqui, ?
- Eu não sei. Acordei um dia na rua, e eu não sabia onde estava. Fui até a primeira casa que eu vi, e era a de . Ela me acolheu bem no começo, mas quando soube que tinha de me delatar, eu que a convenci a não fazê-lo. Não foi culpa dela.
Menti deslavadamente, mas me amava. E eu a amava. Não a deixaria morrer.
- Hum, sei. Eu poderia não acreditar em você, mas todos os outros também disseram isso. – Disse o velho, com um sorriso amargo. Seu cabelo grisalho e curto o deixava mais velho do que devia ser. – Você não tentou voltar para casa?
- Como eu ia fazer isso? – Retruquei, revoltado. – Se eu soubesse ao menos aonde eu estava, lógico que teria. Tentei me adaptar aqui. Era melhor do que morrer.
Olhei para do outro lado das grades, tenso com a situação. Foi quando me lembrei que ele disse que havia achado uma maneira de voltarmos para casa. Fiquei em silêncio, tentando seguir o plano até que ele libertasse .
- Você se apaixonou por ?
Pronto, me fudi.
- Não. – respondi frio. olhou para mim decepcionada, sem conseguir apenas se mover, ainda em meus braços.
- Você está mentindo. – Ele disse, rindo sarcasticamente. – Sua voz estava fria demais para a verdade.
- Eu era casado em minha época. – mentira. – Eu nunca vou esquecê-la.
- Que bonitinho. – disse uma policial. – Nem se você morrer antes?
- CALA A BOCA. – gritou o presidente.
- Eu sei que eu vou morrer. – admiti. – Eu só quero que vocês não matem . Ela me salvou quando eu pedi, só peço que retribuam o favor. Sobre a minha morte eu não ligo. Já me acomodei sobre isso.
O presidente olhou para os policiais à sua volta, os reprimindo e voltou seus olhos negros para mim, com seu sorriso sádico.
- Matem-na. – ordenou ele.
No mesmo instante, diversos policiais se aglomeraram na porta da cela, e um deles abriu a mesma. Dois tiraram de meus braços, enquanto eu gritava e xingava o presidente de todos os nomes que me vinham à cabeça. Eu vi a acordar e seus olhos me encararem.
- Fique calmo, . – ela começou, com a voz ainda fraca. Deu um sorriso, tentando mostrar que estava calma. – Vai ficar tudo bem, eu te prometo.
- NÃO! – eu gritava. Foi quando ouvi um barulho, e olhei para a porta. Havia um rapaz de cabelos e olhos azuis, em cima de uma moto. A moto não havia mudado, isso eu tinha percebido. A não ser que... Ele fosse da minha época. Ele acelerou e puxou a para cima da moto. No mesmo segundo, todos os policiais pegaram suas armas gigantescas. O cara ligou uma espécie de celular, que começou a soltar ondas sonoras horríveis. Todos no local, inclusive e eu, nos jogamos no chão com as mãos no ouvido.
- , ... Meu nome é Peter. Pega isso. – E jogou uma chave no chão, perto de mim. Segurei firmemente. – Eu vou levar a para... sabe para onde. Vocês me encontrem lá.
Saímos correndo, tentando evitar o barulho incontrolável que vinha em nossa direção. Chegamos ao carro-navio e entramos no mesmo.
- Você sabe dirigir isso, ? – me perguntou, enquanto eu ficava encarando os trinta mil, novecentos e noventa e nove botões que estavam bem à minha frente. – Sem querer te apressar, mas temos pouco tempo.
- Eu aprendo. – Disse por fim, ligando o motor, e saindo correndo, sem direção nenhuma, com um carro-navio que eu jamais havia tentado dirigir antes. Minha morte estava próxima, isso era um fato. Mas se eu consegui escapar dela algumas vezes, eu não perderia a chance de escapar uma última vez.

Capítulo 8 - Longe daqui, longe tudo. Meus sonhos vão te buscar. Volta pra mim, vem pro meu mundo, eu sempre vou te esperar.

Eu não sabia como dirigir aquela coisa, mas até que era bem parecido com um carro do meu século. Sorri calmamente enquanto dirigia. me explicou que Peter queria que fôssemos para a casa de , e assim foi me dizendo o caminho até a casa. Enquanto isso, ele fazia questão de prestar atenção para ver se algum policial vinha atrás de nós. Chegamos rapidamente numa casa quase igual à de por fora, e tocamos a campainha.
- Quem é? - disse uma voz robotizada, completamente diferente de qualquer coisa humana.
- e . – respondi.
Assim que eu disse nossos nomes, a imensa porta de metal destravou e e eu entramos apressados. Ficamos num corredor com pouca iluminação como o da casa de , e começamos a seguir por ele, correndo. Assim que chegamos à outra porta uma garota abriu a mesma e disse apressada:
- Entrem logo.
Fiz o que ela ordenou, enquanto parou à sua frente e lhe abraçou forte.
- Você não tem idéia do susto que você me deu, . – pude ouvi-la pronunciar com a voz chorosa, meio de criança. Andei um pouco e vi a dos meus sonhos, a mulher que finalmente pude amar sem medo, deitada com a barriga para cima, dormindo serena.
- Não vou mais fugir de você, , eu te prometo. – respondeu. Odeio cenas de romances quando não ocorrem comigo.
Me aproximei de , sentindo minhas pernas ficarem um pouco tremulas, enquanto eu reparava que ela estava mais pálida do que normalmente, e com certeza não era porque ela tinha ficado enjoada com a comida. Queria que ela acordasse, agora.
- Ela não vai acordar tão cedo – disse Peter atrás de mim. Ah, valeu por estragar minha esperança, amigo. – É muito complicado ressuscitar alguém que ainda não morreu. Se ressuscitar quem já morreu é difícil, com ela vai ser pior ainda. Não sei como e conseguiram fazer isso.
- Quem eles ressuscitaram? – perguntei, perplexo com o pessimismo de Peter.
- Eu mesmo.
- Como? – Olhei para , que vinha em minha direção, também com a mesma expressão pálida de todos naquela cidade.
- Minha família sempre foi comunista, revoltada, revolucionária. Ao passar das décadas era um novo movimento liderado por eles. Eles odiavam pessoas alienadas. Enfim, meu tatara-tatara-tatara-tataravô, James foi um cientista. Um físico, pra falar a verdade. Quando criaram “O Espelho”, ele percebeu o quanto era idiota não deixar uma alma descansar e criou uma maneira de voltar no tempo para ressuscitar as pessoas de nossa família. Minha mãe achava muito perigoso e nunca me deixou e usar, mas me ajudou a ter fé para ressuscitar meu irmão.
- ? Seu irmão? – Foi a única coisa que eu consegui responder naquele momento. – Você tem uma arvore genealógica por aqui ou algo do gênero?
riu da minha cara.
- Pra que uma árvore genealógica se quase todos os meus ancestrais estão naquela droga? – Ela disse e apontou para um espelho idêntico ao de , mas que de longe mostrava apenas nossos reflexos. Me aproximei do mesmo rapidamente e bati nele três vezes como se fosse uma porta.
- AH! – uma voz gritando. – Quem é o infeliz que ta fazendo isso?
- Eu, e eu quero falar com James .
No mesmo momento uma cabeça flutuante de um homem velhinho de cabelos grisalhos apareceu e disse, rabugento.
- Quem é você e o que você quer?
- Quem foi seu pai? – perguntei.
- Peter . – ele respondeu.
- E seu avô?
- , integrante do McFly – ele disse, orgulhoso de si mesmo.
- SOU EU! – eu gritei, histérico pela primeira vez em muito tempo. Virei para e disse, chocado. – EU SOU SEU PARENTE!
me olhou, com olhos esbugalhados de pavor enquanto houve um silêncio no recinto. começou a tossir, e por um instante achei que ela fosse acordar. Foi quando olhei para ela, que tossia com vontade, e de repente ela parou, junto com seu peito. Ela parou de respirar.
- . – eu pronunciei. Senti meus olhos ficarem marejados e meu nariz fazer cócegas. Me aproximei da , desesperado, e a beijei. Como num daqueles filmes aonde ela acordaria e diria algo parecido com “My hero”. Mas ela estava morta. Por minha causa.
Vi o escuro ar minha visão e me deixei levar pela força que me trazia ao chão.

“QUEM É VOCÊ E O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO NA MINHA CASA?”

“Você mora no oceano?”

“Por que eu entregaria a minha única chance de fugir daqui, ou qualquer coisa do gênero?”

“Acho que é o meu amor.”

“Se acontecer alguma coisa com você eu não vou me perdoar...”

“Eu arranjei um jeito de voltar para casa.”

“Palhacitos Mutantes!”

“Eu estava perdidamente apaixonado por .”

“Quem é a sua nova pessoa especial, ?”

“Eu te amo, .”

“Você se apaixonou por ?”


Acordei com e olhando para mim preocupados. Sentia minha cabeça latejando, enquanto estava deitado num tapete, bem ao lado do sofá onde estava a pessoa mais importante do mundo.
- Que susto que você deu na gente, cara. – disse . – Você desmaiou do nada, a gente achou que você tivesse tido um ataque psicótico ou algo do tipo.
- Foi um sonho, né? está acordada e saudável, eu ainda estou querendo voltar para casa, eu ainda odeio esse lugar. – Senti meus olhos se encherem de lágrimas mais uma vez e coloquei minhas mãos sobre meu rosto, para esconder o que sentia.
- Não foi um sonho, . – disse , com um olhar de pesar. – Mas agora está mais fácil de ressuscitá-la do que quando ela estava “morta viva”, se você me deixa dizer dessa maneira.
- Você quer salvá-la? – Peter se intrometeu.
- Quais são os riscos? – Perguntei.
- Grandes. – ele respondeu com sinceridade.
- Então vamos, antes que descubram que nós estamos fazendo um complô por aqui.
Limpei as lágrimas na manga da camiseta, me levantei, olhando para , lhe beijei na testa e sorri confiante.
- Ela salvou a minha vida, agora é a minha vez de salvar a dela. – Foi o que eu disse, antes de seguir para uma sala escura e esquisita, como o quarto de , que eu jamais havia entrado antes.

Capítulo 9 - I’m coming home, I’m coming home, did you take off while I was gone?

Dentro do quarto onde todos nós estávamos, vi apenas um papel cinza, provavelmente reciclável e uma caneta prateada, linda. Fiquei olhando para a mesma, enquanto pegou ela e escreveu com extrema calma “08/09/3001, ”. Foi quando tudo a nossa volta começou a girar rapidamente e quando olhei para mim mesmo, eu estava na casa de .
- O que estamos fazendo aqui? – perguntei.
- Hoje faz exatamente um dia antes de te conhecer. E ela não sabe quem é você, mas você precisa convencê-la a vir conosco. Você não pode puxá-la nem nada. Você tem apenas vinte e quatro horas. Se você não conseguir e o seu outro chegar aqui, você, o outro e provavelmente ficarão loucos. Está pronto? – perguntou . Loucura. Isso sim parecia bem reconfortante. Assenti e bati na porta de .
- Quem é? – disse uma vez robótica.
- , eu preciso falar urgentemente com .
- Seu burro – disse . – E , antiga amiga dela. – ela disse para a voz robótica.
A porta destrancou apenas depois de ouvir a voz de . Entramos pela porta que eu havia saído apenas uma vez, mas jamais voltado a passar por ela. Chegamos ao fim do corredor e abriu a porta. Senti uma onda de felicidade invadir meu ser, e eu a abracei fortemente. Mas ela não correspondeu. Foi quando me lembrei que ela não sabia quem eu era.
- Quem é você e por que você ta me abraçando? – ela perguntou.
- ... – começou Peter. – veio te salvar.
- P-Peter? – ela perguntou. – Mas você estava...
- Eu sei. Por isso eu estou dizendo que veio te salvar – ela interrompeu, e olhou para mim.
Ela olhou para mim com seus imensos olhos , confusa com tudo o que ocorria naquele momento.
- ... – comecei. – Amanhã você me conheceria. Nós ficaríamos amigos, porque você se recusaria a me entregar para a polícia militar. Eu viveria dentro de sua casa até eu encontrar uma maneira de sair. Você me mostraria aquele seu filme preferido aonde retratam meu mundo da maneira mais distorcida possível e eu choraria feito uma criancinha, com saudades de casa. Eu te convenceria a sair, para conhecer novos lugares, você compraria um daqueles Palhacitos Mutantes para me fazer experimentar. Nós encontraríamos , que me diria que achamos uma maneira de voltar para casa – olhei para que assentiu. Olhei novamente para ela.
- Espera, espera... Tudo isso aconteceu de verdade? – ela perguntou. Assenti, e ela riu. – É mentira.
- Não é – respondi confiante.
- É sim. Se você sabe tudo isso sobre mim, diz o que eu to pensando agora.
- Que eu tenho algum problema mental, mas que eu sou bonito. – abri um sorriso ao ver sua cara de pânico. – Mas não é lendo seu pensamento que eu vou te convencer a seguir comigo. , eu sei que você odeia esse lugar. Sei que você odeia o fato de comer a mesma comida de cubos todos os dias, que você tem pipoca escondida porque o governo proibiu, que você é da Califórnia, que você tem uma irmã chamada Misty. Sei tudo isso porque eu convivi com você. Por favor, acredite em mim. Eu posso te salvar.
Ela olhava para mim com uma mistura de medo, confiança e alívio. Era perfeito para mim, saber que ela estava finalmente ao meu lado. Estava viva.
- Temos que esperar até exatamente 09:09 da manhã para podermos partir. – disse , olhando o relógio da sala de . – Você vem conosco, ?
Nesse momento, a desabou a chorar a abraçou a melhor amiga, que antes estava proibida de vê-la. Foi a cena mais engraçada que eu já vi: duas garotas chorando enquanto se abraçavam e três marmanjos em volta, sem ter se quer uma palavra para pronunciar.
Passamos o resto do dia assistindo a grande televisão de e conversando, como um monte de adolescente comum. Nós ríamos, brincávamos, tudo parecia como na minha época. Mas percebemos que não era quando bateram à porta de e olhamos pela câmera. Eram os policiais e o presidente.
- Como eles chegaram aqui? – perguntou .
- Eles devem ter chantageado James – respondeu .
- Que neto frouxo que eu fui arranjar – comentei.
- Vamos embora – disse , puxando , e levando todos nós para seu quarto.
- Sabia que você nunca me deixou entrar aí? – perguntei à ela.
- Você vai ver porque, .
Ao entrar fiquei estarrecido com tudo o que havia naquele quarto: Num canto do quarto havia um mural com milhões e milhões de fotos do e do , notícias, recortes de revistas, tudo sobre McFly. Mas na maioria das coisas não apareciam ou eu.
- Por que eu não apareço nesse mural? – disse , lendo meus pensamentos.
- Você é do McFly? – ela perguntou. Deja vu.
- Sim, e eu.
- É que... – ela começou.
- Vocês dois foram os únicos que foram assassinados – Peter interrompeu. Que droga, ele nunca podia deixar falar, não? – Ninguém sabe quem matou vocês dois, mas quem conhece vocês hoje em dia, não sabem sobre você e , apenas sobre os que ficaram vivos.
Não foi só isso que me impressionou no quarto de , mas também uma parede com milhões de botões. Fiquei encarando aquela parede.
- Casas automáticas são sempre mais legais que a minha – comentou . – Aonde nós vamos?
- Fugir – disse , apertando um botão que abriu um alçapão de metal bem no canto do quarto. – Pulem aí, a gente vai passar pelo oceano por um FanFusion.org. Ele agüenta 24 horas rondando no mar, quanto tempo a gente vai ficar lá?
- Umas dez horas – respondeu .
- Ótimo, então vamos rápido.
Pulei e automaticamente saí num imenso puff preto. O FanFusion.org inteiro era preto e branco, xadrez, listrado... Eu gostei. saiu correndo, apertou alguns botões na rede de comando e zarpamos por debaixo d’água.
- Não tem risco de algum animal perseguir a gente? – perguntou.
- Todos morreram com a poluição das marés – comentou .
- Ah claro, por que eu fui pensar que tivesse alguma esperança nesse mundo? - disse retoricamente, com uma expressão de ironia.
- Tem dois quartos. Eu posso dormir no quarto de e vocês três dividem o outro – disse. Nenhum de nós gostou disso, mas preferimos ficar em silêncio. – Gente, existe alguma chance de salvarmos Misty? – ela perguntou.
- Acho que não, – disse Peter. – Só quando voltarmos para o ano 2000.
- 2008 – corrigiu Judd.
- Tanto faz – ele disse por fim, revirando os olhos.
Passamos o resto do dia como estávamos antes de os policias chegarem: conversando, rindo, essas coisas. Anoiteceu no oceano e a maré subiu, o que fez o FanFusion.org balançar um pouco durante esse tempo.

- Estou com sono – afirmou . – Vou dormir gente, boa noite – E foi para o quarto.
Algum tempo depois, disse a mesma coisa, mas antes que ela pudesse ir para o quarto, a puxou de canto para a cozinha.
- Deixa eu dormir no seu quarto? Por favor. Peter dorme no sofá e você dorme com o .
- Mas eu nem conheço o – ela afirmou. disse que ela só se lembraria de tudo quando voltássemos para a data certa. – Eu durmo no sofá então.
- Claro que não , você é uma menina. E vai fazer de tudo para virar a noite te vendo dormir no sofá se for necessário – respondeu. Amigo da onça. – Ele passou por um momento horrível.
- Por que?
- Ele te viu morrer. Ele salvou a sua vida. Ele sacrificou tudo o que ele sabia por você. Ele não vai perder a chance de te ver dormir uma última vez antes de voltarmos. Sabe, você e se amavam, é uma pena que você não se lembre – e deu à uma pedrinha azul. olhou para mim e sorriu.
Eu que me escondia atrás da bancada não podia ver o que era exatamente, mas aparentemente sabia.
- Você tirou isso de mim enquanto eu dormia?
- Por isso que você morreu, eu acho. Me desculpe, mas nós sabíamos que viríamos te salvar depois.
- Você pode me ajuda a colocar de volta? – ela perguntou, sorrindo.
- Acho que sim, desde que não veja. Seria demais para ele.
Sentei no sofá e fiquei vendo televisão quando e entraram no quarto vazio. Alguns segundos depois ouvi um grito e entrei lá correndo, batendo a porta.
- O que foi isso? – Perguntei.
- Ela precisa descansar quinze minutos ok? – disse. – me ensinou a tirar aqueles chips que o presidente implantava na cabeça das pessoas. Eu tirei o dela, e agora o de .
- O que foi isso que ela estava segurando? E como você tirou? – perguntei, confuso. Nesse momento um mar de perguntas invadiu a minha mente, o que era bem irônico, já que estávamos no meio do oceano.
- Pelo umbigo... Lembra de Matrix, quando tiram o negócio da barriga do Neo pelo umbigo? Então, com os chips são as mesmas coisas, mas são tão pequenos que nem devem doer tanto. Quero dizer, as pessoas desmaiam quando fazemos isso, mas não deve doer como no Matrix.
- E o que ela estava segurando? – perguntei. – Aquele negócio azul.
riu.
- Eu sabia que você estava escutando a conversa. Enfim, quando eu tirei o chip de antes de morrer, transferi toda a sua memória para aquele negócio azul que eu também não sei o nome. É um tipo de jelly beans, não sei muito bem. Mas isso a impede de esquecer tudo o que aconteceu com ela, James que inventou também. Daí ela comeu a coisa lá, e quando ela acordar ela vai se lembrar de tudo.
- Até de mim? – perguntei, esperançoso.
- Sim, até de você.
Então havia uma esperança. se lembraria de mim, me amaria e seríamos felizes para sempre. Ok, saiu meio fantasioso e cheio de coisinhas de menina como contos de fada. Mas era assim que ia ser.
Esperei os exatos quinze minutos que disse, sentado ao lado de deitada na cama. Eu queria que ela acordasse e dissesse novamente “Eu te amo” como havia feito antes. Foi quando ela lentamente abriu seus olhos.
- Amor... – eu disse. MERDA, COMO VOCÊ FALA AS COISAS SEM SENTIDO! – Ahm... .
- – ela disse, abrindo um sorriso do tamanho do universo. – Eu te amo.
Dessa vez quem abriu um sorriso do tamanho do mundo fui eu. Meu coração disparou, minhas mãos começaram a suar e a única coisa que consegui responder foi:
- Eu também te amo, .
Ela parecia cansada, nem queria se levantar, então me restou deitar ao seu lado e ficar acariciando seu rosto enquanto ela olhava para mim, morrendo de vergonha, como era perceptível pelo seu rosto corado.
Até que ela adormeceu deitada em meu colo. Então deitei-me ao seu lado, a abracei por trás, e esperei que ela deixasse que eu pudesse aquecê-la naquela noite.

Capítulo 10 - You're the direction I follow to get home. When I feel like I can't go on, you tell me to go.

Acordei com um barulho vindo do lado de fora do FanFusion.org. já estava acordada, então me levantei e segui para o painel de controle, onde todos estavam.
- , coloque o cinto no sofá junto com o resto das pessoas – disse seriamente. – Eles estão nos seguindo. E já são nove horas.
Fiz o que ela mandou enquanto ela “dirigia”, prestando atenção ao máximo. Sentei ao lado dos outros, que me olhavam maliciosamente. O típico olhar de “eu sei o que você fez noite passada”.
- Uma coisa nós demos sorte – disse Peter. – Assim que chegarmos poderemos voltar à dois mil e oito sem esperar se quer um minuto. James escondeu durante muitos e muitos anos a máquina de voltar no tempo, então é óbvio que ele me disse quando eu entrei no espelho.
E foi então que fez uma manobra bruta e girou o FanFusion.org, de forma que fiquei extremamente enjoado.
- Estamos sendo atacados – informou ela. – Cuidado. Quanto tempo falta, ? – ela perguntou.
- Três minutos – anunciou a amiga. Estávamos ferrados, se você me permite o palavreado.
- Vou arranjar tempo para nós. Apertem os cintos – ela disse, aumentando a velocidade do FanFusion.org. Do lado de fora eu podia ver raios vermelhos passando por nós, errando a mira. Sentia meu estômago revirar a cada pirueta que dávamos com o FanFusion.org. – Quanto tempo? – ela perguntou novamente.
- Dois – respondeu de prontidão.
- Quando der exatamente nove e nove eu vou soltar o “volante” – ela começou. – E vou saltar para trás. Então vocês fazem o que tem que fazer e nós vamos. O FanFusion.org vai começar a ir em frente sem direção até eles nos acertarem. Mas precisamos ser rápidos, não vou agüentar muito tempo. , você consegue me avisar a hora exata?
- Eu não – ela disse amedrontada. – Mas consegue.
- Eu consigo – confirmou Judd.
O clima estava tenso a cada segundo que passava. Foi quando gritou.
- AGORA! – E (literalmente) pulou para o banco de trás. Peter abriu uma coisa que parecia com um tipo de celular. Apertou uma seqüência de números qualquer, ouvi um estrondo que provavelmente significava que fomos atingidos pelo governo, explodindo o FanFusion.org e quando abri os olhos, me vi jogado no chão da casa de . Havíamos escapado.
Abri meu olhos e olhei para o sofá. E lá estava , deitada no mesmo, na mesma posição em que me lembro de tê-la visto antes de partir. Ou de achar que eu havia partido. Será que foi apenas um sonho? Cada uma das pessoas no aposento começou a acordar e se levantar, começando por Peter. Todos, menos ela.
- Será que funcionou? – perguntou ao olhar para adormecida. – Nós temos pouco tempo até descobrirem que nós não estávamos no FanFusion.org.
Foi quando ela começou a despertar e todos nós: Eu, , e Peter nos aglomeramos em sua volta.
- ? – perguntei.
- Nós escapamos! – ela disse, alegre. Ela estava lá viva, linda, saudável, sorridente, perfeita.
- Nós não temos tempo, vamos logo com isso.
Peter tirou uma espécie de celular do bolso e disse confiante:
- Prontos para voltar para casa e levar a gente junto? – e abriu um sorriso estonteante.
Sorri e assenti, abraçando pela cintura enquanto Peter se adiantou e apertou uma seqüência de números no “celular”. Por alguns segundos ainda pensei que eu fosse sentir falta da comida industrializada de cubinhos, das coisas proibidas, do Ano 3000. Mas olhei para e ela sorriu para mim. Ah, claro que eu iria sentir falta desse lugar. Até parece.
De repente, eu vi um clarão chegando em minha direção, como o que me trouxe para essa droga de lugar. Eu estava indo para casa. Finalmente.

Abri meus olhos e me encontrei deitado em minha cama king-size. Minha primeira reação ao perceber que eu estava onde eu deveria estar foi chorar de emoção. Me chame de gay uma última vez, mas dessa vez eu tive motivos suficientes para chorar, ok? Sentei-me e fiquei apenas apreciando meu antigo quarto. Era bom estar de volta. Melhor ainda foi quando olhei para meu criado mudo de madeira verdadeira, e não sintética, e vi um retrato meu e de juntos. Ambos sorrindo com roupas de frio, abraçados, com montanhas cobertas de neve atrás de nós. Não tinha a mínima idéia de onde era, mas não me importava. Essa foto mostrava que tinha voltado, junto comigo.
Levantei de vez da cama e saí do quarto, reparando que alguns móveis estavam diferentes dos que eu comprei. Fui para a cozinha e me deparei com uma figura acabando de colocar uma pilha de waffles sobre a mesa.
- Aleluia você acordou, . – ela disse, abrindo um sorriso. – Você foi dormir muito tarde ontem? Nem te vi entrando no quarto.
- AMOR! – gritei sem medo. Corri e a abracei o mais forte que pude, sentindo seu calor em contato com o meu. – FUNCIONOU! Você está aqui!
Ela olhou para mim como se eu fosse doente mental e riu. Seu sorriso era ainda mais bonito quando ela estava feliz. Eu via em seus olhos que ela estava feliz. Seus olhos que me encantaram na primeira vez em que os vi.
- ... Querido, eu estou aqui há um ano. – ela afirmou ainda sorrindo, mostrando a aliança de ouro em sua mão. – Ou só agora você percebeu que está casado comigo?
CASADO?
- ... – comecei. – Desculpa perguntar, mas... Você não se lembra de nada? Quero dizer, de como nós nos conhecemos?
- Você e foram salvos pelo meu cunhado, lógico que me lembro. Uma tal de Jamie, que era uma fã descontrolada de vocês começou a perseguir a sua banda e seqüestrou todos vocês. Dizem que teria sido o assassinato da década, era muito bem bolado. Não sei como Peter soube que vocês estavam no meio daquela floresta, era imensa. E depois eu fui te entrevistar para a minha matéria para o blog do Greenpeace. Como você acha que eu não iria lembrar? Peter até recebeu uma medalha de policial do ano e foi promovido para sargento. Por que você acha que eu não lembrava?
- Ahm... P-Por nada – respondi. – Eu te amo.
Então eu a beijei como sempre quis fazer. Desde que ela gritou comigo pela primeira vez. Desde que eu olhei seus olhos. Desde que nos abraçamos. Desde que ela disse que me amava.
Passamos o dia inteiro fazendo coisas fofas e românticas, e dessa vez eu não tinha medo que ela achasse que estávamos indo muito rápido. Porque nós estávamos casados. E essa palavra nunca me pareceu tão reconfortante. era minha e só minha.
Ela tinha acabado de sair do banho, com nada mais do que uma camiseta minha quando ela entrou em nosso quarto e viu a surpresa que eu havia preparado: velas separadas em cantos do quarto, iluminando o recinto de uma maneira romântica (e não como se fosse macumba, se você me permite a piada), a cama forrada com roupas de cor creme, uma bandeja repleta de morangos e potinhos com diversos complementos ao lado.
Assim que ela viu tudo o que eu fiz por ela, liguei o som na música “She Falls Asleep”. Era uma de suas músicas preferidas. Descobri isso enquanto ela tomava banho e eu lia seu diário secreto. O achei debaixo da cama, sem querer. E mesmo sem ela saber, eu li.
Ela abriu um sorriso gigante em sua linda face e se aproximou de mim. Segurei sua cintura enquanto ela enroscou seus braços em volta de meu pescoço e começamos a dançar lentamente.
- Eu estava esperando o dia em que você finalmente mudasse, – ela disse sem parar de sorrir.
- Como assim? – perguntei.
- Houve uma época em que você estava muito frio comigo. Desde que nós casamos você só parecia se distanciar mais e mais. Mas hoje você está... Diferente.
- Eu acordei diferente. Mudei enquanto sonhava – eu sorri e ela sorriu junto, aproximando seu rosto do meu.
- Eu preciso te contar uma coisa. Então eu deixo escolher: Você foge de mim agora, ou você não foge mais.
- Nem em três mil anos, – ela jamais entenderia a ironia, apesar de ser a mais pura verdade. Lutei por naquele mundo de desgraça, voltei uma parte do tempo para ressuscitá-la e a trouxe comigo para 2008. Eu jamais a deixaria partir.
- , você vai ser pai – pisquei, incrédulo e ela continuou. – Eu estou grávida.
Os momentos que passei com foram inesquecíveis. Cada dia, cada briga, cada conversa, cada besteira que eu fiz valeu a pena. Tudo fez com que eu me apaixonasse ainda mais pela garota dos meus sonhos. Sabe, talvez fosse até melhor que não soubesse a minha versão da maneira como nos conhecemos.
Lendo o diário dela eu descobri cada lugar que visitamos juntos, todas as brigas sérias que tivemos, todas as surpresas que eu fiz para ela, como eu a pedi em casamento e até mesmo que ela estava grávida antes de me contar. E a verdade é que tanto a do Ano 3000 quanto a de 2008, eu sabia que as duas eram na verdade uma, e essa uma era a mulher da minha vida.
Quero viver o resto da minha vida ao lado dela, e agora gerei uma prova disso: um filho.

"Months are going strong now, and no goodbye, inconditional, unoriginal, always by my side. Meant to be together, made for no one but each other, you love me, I love you harder."


Fim.


N/a: Bom gente, é o fim da Year 3000. :) Eu espero que voces tenham gostado tanto quanto eu gostei, porque foi dificil ouvir as criticas quea ficera muito viajada. Eu espero do fundo do coraçao que voces tenham aprendido a conviver com o meio ambiente de uma maneir na qual podemos ajudar o mundo a ser melhor.
Vou agradecer especialmente ao Guiga, à Bia Pagamisse, à Lele, à Becky e à Antonio Pedro Santos Carvalho de Castro.
Voces lembram quando eu disse que um dia eu ia dizer quem ele era? Pois bem, ele é o unico cara que conseguiu me fazer suspirar. O unico que me fez chorar de rir, e rir de chorar.
Peter, eu te amo pra sempre e sempre, nao importa se nao somos mais namorados. Pra mim eu sepre vou ter uma parte de voce comigo.
Quero agradecer à lari, que foi a minha primeira beta e teve uns problemas, e a Leeh que é uma linda e quis betar o final pra mim. Leeh, voce é muito fofa e muito (muito mesmo) paciente. Brigada por tudo.
E especialmente às minhas leitoras fiéis. Giovanna B, Gabi B, Juuuh F e todas as outras que são muito, muito especiais.
Amo vocês.
Se quiser, leiam a Nerdy, que tambem ta no fim :)

N/b: Qualquer erro na fic, mande para leeh.rodriigues@gmail.com :) Agradeço desde já.

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