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Última atualização: 07/02/2022

Prólogo

— O nome dela é . - A mulher disse fraca, olhando para o bebê no colo do homem. — Ela verá o mundo, conhecerá as pessoas, terá uma vida normal… , seja feliz.
— Lília… - O homem apertou a mão da mulher. As mãos de Lília eram suaves, mas por causa da doença pareciam mais apenas ossos.
— Hades… - Ela olhou nos olhos pretos do homem. - Obrigada, muito obrigada. Ela é tudo que eu tenho… Cuide bem dela.
Aquelas foram as últimas palavras de Lília Diehl, ela faleceu minutos após dar à luz a sua única filha, . Hades ficou com o bebê nos braços. dormia tranquila, ela não herdará os cabelos dourados da mãe, muito menos os olhos esmeralda. Os olhos vermelhos de pareciam dois rubis e os cabelos tão escuros quanto a noite brilhavam à luz da lua.
— Obrigado, Lília. Eu vou cuidar bem da , durma tranquila. - Hades prometeu passando a mão pálida pelo rosto corado da mulher e então deu passos para trás, desaparecendo com o bebê.


Capítulo 1

Talvez um dente de leite não tenha sido suficiente.


Está escuro, não consegue ver nada, nem ela mesma. Ela anda, ouvindo seus passos que ressoavam por todo lugar. Não tinha começo, muito menos fim, não era um labirinto, muito menos um caminho reto. Ela está confusa, então se agacha com as mãos sob o joelho, tinha andado bastante.
"Eu quero sair daqui" choramingou.
Um ponto de luz se acende, embaixo de um poste de luz está uma garotinha conversando com uma pessoa que está no escuro. se aproxima se dando conta de que aquela criança era ela, estava segurando as mãos de uma pessoa e olhava nos olhos.
", essa é a sua nova casa."
Atrás dela tinha uma casa modesta, ela não conseguia ler o que estava escrito. Sua visão embaçou.
"Quero que viva uma vida normal, querida. A sua mãe queria isso também." O homem disse apertando de leve as mãos da criança. " Você não irá se lembrar, mas eu te amo muito."
"Eu também te amo muito, papai." respondeu junto da criança. Ela não sabia o porquê. "Sempre vou amar você."
"…" O homem hesitou.
"Hum?"
"Me desculpe."


!
acordou se pondo de pé, ela olhou em volta percebendo que estava na sala de aula no meio da aula história sobre a mitologia grega. Limpando uma baba seca no queixo dirigiu o olhar para o professor furioso a sua frente. ao lado segurava o riso, igual a grande maioria dos seus colegas.
— Me desculpa, professor. Isso não vai se repetir! - Assegurou envergonhada.
— Essa é a quarta vez nesta semana, senhorita . - O homem barrigudo disse sério. - Se está com tanta saudade assim do seu pai, então deveríamos chamá-lo.
— N-não, não é necessário! - nervosa tentou se desdobrar. Ela não queria atrapalhar o trabalho de seu pai com algo tão trivial. - Ele está muito ocupado por causa da nova exposição, ent...
— Com certeza irá arranjar um horário neste exato momento para poder conversar com o diretor. Fora! - Apontou para a porta.
— Por favor, por favor, professor. Eu não posso ir para a sala do diretor. - implorou desesperada. - Eu faço qualquer coisa, por favor.
O professor suspirou, não era uma má aluna, ela tinha notas boas o suficiente para entrar nas faculdades mais conceituadas do país. Mas nas aulas de mitologia grega sempre a pegava dormindo ou matando aula. Ela é filha de um pintor em ascensão, , ele tem bastante voz no colégio, além de fazer doações generosas.
— Muito bem. Se conseguir responder às seguintes perguntas corretamente, não irá para a detenção.
— Obrigada! - comemorou e, quando o professor virou, trocou olhares com .
Na frente da classe, olhou para todos enquanto o professor pegava uma folha contendo perguntas. Richard, esse é o nome do professor, ele tem 40 anos, Calvo, aproximadamente 1,74 não tendo muita diferença dos 1,72 de . Não tem filhos, muito menos esposa. Ele é o típico professor que gosta de ficar no pé do aluno por qualquer coisa, ainda mais no de , ela não tem mais dedos para contar o quanto ele já tentou a deixar na detenção.
— Primeira pergunta. - Ele disse alto e claro, enquanto andava pela sala. - Quais são os três deuses principais da Mitologia Grega.
— Zeus, Poseidon e Hades. - respondeu dando um sorrisinho. Apesar de ela dormir nas aulas, seu pai a faz estudar a parte em casa. Ele diz que é conhecimento essencial para ela.
— Correto. - Richard respondeu contra gosto. - Próxima.
Ele deixou um sorrisinho escapar por seus lábios finos. olhou para que parecia preocupada com algo.
— Por qual motivo Ártemis se tornou a protetora dos recém-nascidos.
— Pois ela ajudou no parto de seu irmão gêmeo, Apolo. - Respondeu confiante e agradeceu mentalmente seu pai.
— Quem decapitou a Medusa? - Tentando manter o controle de sua paciência, Richard continuou sem aviso prévio.
— Perseu. - deixou um sorrisinho escapar.
— Engoliu seus filhos após nascerem?
— Cronos. - A cara de triunfante estava estampada no rosto de , se sentia invencível.
— Muito bem, Senhorita . - Ele suspirou.
O sinal do fim da aula tocou. Todos se levantaram para sair e foi ao encontro de que logo agarrou o braço da garota e elas rumaram para fora da sala no meio dos outros.
***

colocou seus livros na mochila, não tinha mais tantos alunos no corredor já que as aulas já haviam terminado. tinha ido atrás do professor de Álgebra implorar para mudar a nota para B-.
— Sobrevivi. - Ela suspirou fechando o armário vermelho.
— AAAAAAAAAARGH!
escutou um grito no outro corredor, ela não percebeu, mas já estava correndo em direção do grito. Era normal para ela ajudar quem precisa, ela nunca se perdoaria se virasse as costas para alguém em apuros.
Ao chegar, viu três garotos do último ano e um deles ela reconheceu. Um garoto magrelo do primeiro ano está encostado no armário verde perplexo, uma de suas bochechas está ficando vermelha,
— Elliot! - Chamou se aproximando. – Deixe-o em paz!
Elliot e sua dupla de encrenqueiros são conhecidos no colégio desde o fundamental.
, já tem bastante tempo. - Ele debochou ficando frente a frente com ela. - Veio bancar a heroína?
Elliot é bem mais alto que , mas ela não deu passos para trás.
— Não cansa de atormentar os novatos?
— Hum… Não. É bem divertido na verdade. - Sorriu se abaixando para olhar nos olhos dela.
— Você! - Ela disse para o garoto encostado no armário. - Vai embora.
Ele apertou a mochila contra o peito e correu dizendo obrigado para a morena. voltou sua atenção para Elliot que tinha um sorrisinho no rosto.
colocou a mão nos bolsos da jaqueta branca e se virou para ir embora. Elliot segurou o braço dela, a virando para o encarar.
suspirou bem alto
— Não somos mais crianças. - Ela disse cansada e tentou se soltar do aperto dele, mas sem sucesso. - Elliot!
— Isso me traz boas lembranças do fundamental. Eu te empurrei da escada no sétimo ano, você quebrou a perna. Foi hilário ver a sua cara de quando ninguém acreditou em você quando disse que era eu. Mas então, , você criou força e autoestima o suficiente para me enfrentar.
sentiu algo, como se não tivesse que ter feito aquilo. Os olhos de Elliot, tinha algo nele, e esse sentimento é algo que nunca tinha sentido na vida.
com a outra mão segurou o braço de Elliot, o sangue fervia em suas veias, ela olhou de forma tenebrosa mostrando seus olhos cor de sangue através das lentes de contato verde. Ela não seria intimidada por ele, nunca mais.
— Me solta. - Ela disse fria ainda olhando bem fundo nos olhos dele.
— Eu te achei. - Ele disse e os olhos tomaram outra cor, um amarelo.
sentiu como se o mundo estivesse desabando. Um tremor chacoalhou a escola, as paredes vibraram, as luzes piscaram, enquanto os dois garotos da gangue de Elliot caíram no chão lá estava ela e o intimidador Elliot de olhos amarelos em pé. A batalha que tinha sido encerrada quando arrancou um dente — felizmente de leite — da boca de Jones. Talvez um dente de leite não tenha sido suficiente.
Durante anos ele vinha a ignorando mesmo que a garota defendesse a grande maioria de suas vítimas, ele nunca tinha esses olhos, ódio.
pensou nas mais malucas explicações, sendo uma delas: Talvez esse não seja Elliot?
'Não, isso é impossível!' constatou.
Elliot largou o braço dela, então cobriu com a mão o sorrisinho de felicidade. Passando a mão sob seus cabelos castanhos claros, ele riu e disse.
— Nos veremos em breve.
O garoto deu a volta e, assim que ele sumiu virando em outro corredor, se sentiu sem ar, ela procurou em sua mochila sua bombinha de asma. Achando o objeto, ela colocou na boca e aspirou.
Um alívio passou pelo seu corpo. Desde pequena ela tem problemas respiratórios, seu pai fica constantemente preocupado, pois o efeito diminuía cada vez mais.
Se virando para trás, ela viu pálida. Ela não se movia, apenas suava frio, parecia perdida em seus pensamentos.
, tudo bem? - colocou a mão sob o ombro dela.
— S-sim! - Ela respondeu sem olhar nos olhos de . - Você pode ir na frente, seu pai já chegou. Eu tenho que falar com o sr. Patrick, ele disse que vai mudar a minha nota.
e se conhecem desde o fundamental, foi a própria que a ensinou a se defender e não deixar que Elliot Jones pisasse nela. não gagueja, sob hipótese nenhuma. Então ver a garota daquele jeito foi totalmente novo para a morena.
— Que bom! Vou pedir comida chinesa pro jantar, sua favorita. - sorriu, mesmo que a outra não tenha visto. - Não se atrase.
Então a deixou, todos têm um dia ruim, e para não é diferente. Foi o que pensou.
Ela estava extremamente equivocada.


Capítulo 2

O fantasma do banheiro não me assusta.


Já tinha duas semanas desde o acontecimento. planejava evitar Elliot essa última semana do semestre, mas nem precisou. Elliot Jones tinha desaparecido, ninguém no colégio tinha o visto. Não que se importe com isso, ela até acha bom, porém, algo a incomoda bem lá no fundo. Aqueles olhos amarelos não eram humanos, não eram de Elliot, não daquele Elliot.
passou a noite inteira pensando nisso e foi nessa conclusão que chegou.
Era hora do almoço, ela estava sentada em uma mesa redonda com outras colegas de classe. não se fez presente, ela deu a desculpa que precisava fazer algo na sala dos professores.
está com a cara colada na mesa tentando tirar um cochilo, mas todo aquele barulho de conversa não a ajuda.
— Você ouviu falar do fantasma do banheiro? - Uma menina cochichou para a outra.
A morena levantou a cabeça, se espreguiçando e, então, prestou atenção na conversa das garotas que ela mal lembrava o nome.
— Do que vocês estão falando? - cochichou brincando.
— Você não sabe? - A garota A olhou surpresa para .
negou com a cabeça, ela não ligava muito para fofocas, mas de certa forma aquelas garotas tinham muitas informações, como aquela.
— No banheiro feminino no fim do corredor, as meninas disseram que tem um fantasma. Elas dizem que as luzes se apagam do nada, as portas ficam balançando, o espelho embaça e, quando se percebe, tem algo escrito. - A garota C contou com certo temor.
— Mas o banheiro não tinha sido interditado? - perguntou entediada fechando os olhos pensando.
— Sim. - A garota se levantou inclinando o corpo para chegar perto de que abriu novamente os olhos, prestando atenção na garota. Ela cochichou. - Dizem que o banheiro foi interditado por causa desse fantasma. Parece que uma garota da turma D se machucou.
— O quê? - perguntou incrédula.
— Eu ouvi que o nome dela é Madson Travis, aquela novata das líderes de torcida.
tentou controlar sua ansiedade tomando um pouco de seu suco de morango.
— Você adora histórias de fantasma, não é? - A garota B perguntou ao lado de .
Para , quando criança, os fantasmas eram mais como gasparzinho, porém, ao longo dos anos, ela aprendeu que existem fantasmas bons e ruins. Não é ruim pregar peças e assustar os outros, são coisas de fantasma normais. No entanto, é diferente quando ele machuca alguém, isso quer dizer que ele vai se tornar um fantasma maligno e ter poder o suficiente para machucar mais pessoas.
— Sim, de certa forma.
Ela consegue ver fantasmas desde que se conhece por gente. O pai de ficava assustado quando ela conversava com um ou queria apresentar o fantasma para ele. Afinal, tem medo de fantasmas. Mas a pequena não sabia naquela época.
A morena parou de conversar com fantasmas na frente do pai depois de crescer mais, além de também os ajudar a atravessar para o outro mundo, ela tem esse poder e só tomou consciência aos 12 anos.
Foi nessa época que Ariadna recebeu uma adaga totalmente preta e com um rubi incrustado de presente de aniversário. disse que era presente de uma pessoa muito importantes, mas ela nunca soube quem era.
, o horário do almoço acabou. - A garota B tocou o ombro de que estava descoberto pela jaqueta. - Você está um gelo, está tudo bem?
— Sim, sim. Não se preocupe. - deu um sorriso se levantando e ajeitando a jaqueta. - Vocês vão na frente, eu preciso ir em um lugar.
— Tem certeza? Hoje é aula de Latim. - A garota A disse. deu um sorrisinho como modo de pedir desculpas. - Tudo bem, nós vamos dar uma desculpa para o professor, mas só dessa vez!
— Vocês são as melhores!
— Nos falamos na aula de artes. - A garota C disse.
— Tudo bem. - deu um tchauzinho com a mão para as garotas antes de ir no caminho contrário do que elas foram.
Ariadna foi até o corredor onde fica o banheiro. As salas que ficam próximas são a D e a E. Felizmente todos estavam no laboratório de ciências no 3º andar. A morena ficou de frente a porta do banheiro trancada com fitas amarelas de plástico atravessadas nela com as palavras 'Não ultrapasse'. Sem pensar duas vezes arrebentou as fitas e entrou, deixando a porta aberta.
O banheiro não era tão grande, tem cinco cabines e as pias ficam de frente fixas ao mármore branco. O enorme espelho na parede se estende até próximo a janela que fica perto da última cabine. As paredes vermelhas combinavam com a cor das cabines ou vice-versa.
— Ugh! - tampou o nariz ao sentir o fedor daquele lugar. Tinha tanto tempo assim que não limpavam? Talvez nem o pessoal da limpeza queira entrar aqui.
Ela foi até a janela perto do último box e a abriu, o vento fresco entrou dissipando um pouco o odor. se virou e olhou para baixo sentindo seu tênis molhado, o chão estava molhado e a água parecia vir da cabine a sua frente. Respirando fundo, a morena se aproximou empurrando a porta ouvindo o barulho das dobradiças que pareciam não ver óleo a um tempo.
A água vasava para fora do vaso, mas o que aquilo queria dizer? Ela não conseguia entender. Então, ela escutou a porta de entrada fechar e logo ser trancada.
As luzes do banheiro explodiram, ela viu o teto rachar, de lá saiu um fio que logo reconheceu ser de eletricidade. Ela subiu para cima do balcão de mármore onde ficam as pias. O chão cheio de água agora estava carregado com eletricidade, ele conseguiu limitar o espaço dela.
não conseguia ver o fantasma, isso quer dizer que ele não quer se mostrar. Mesmo fantasmas podem controlar para quem aparecer, pessoas sensíveis como a garota conseguem sentir a presença deles.
— Meu nome é Ariadna. - Ela começou. - Ariadna Lily , você está preso nesse mundo e ainda mais nesse banheiro, deve ser horrível e solitário. Se você me permitir posso lhe ajudar a atravessar para o outro mundo que é um lugar melhor.
Silêncio.
Um tremor na bancada da pia. Ariadna olhou para a primeira torneira da fileira vendo-a tremer.
O único chuveiro do banheiro abriu, a água quente saindo começou a encher o local com vapor. A morena ouviu a janela que tinha aberto fechando brutalmente ficando com uma enorme rachadura no vidro.
'Ótimo!' Pensou cansada, tentando. Aquela situação era totalmente diferente de todas as que ela já tinha vivido.
O espelho ficou totalmente embaçado por conta do chuveiro de água quente aberto, e com dificuldade palavras foram escritas.
'Fuja. Saia daqui'
olhou para todos os lugares, mas nada foi visto, só ficava cada vez mais difícil de respirar. Tirou sua jaqueta branca e enrolou em seu punho. Antes que ela pudesse quebrar a janela, um barulho agudo de algo arranhando o vidro do espelho soou, ela cobriu os ouvidos com as mãos e olhou para trás, as palavras de antes foram apagadas do espelho dando lugar a novas.
'Eu vou te matar'
Escrita, pegando metade do espelho e letras grandes.
Ariadna quebrou a janela sem pensar duas vezes, ela não tinha rota de fuga a não ser aquela. Aquele é o segundo andar, mas a distância até o chão era enorme. Era suicídio.
Batidas violentas foram ouvidas vindo da porta. Alguém queria desesperadamente entrar.
O chão estava cheio de água carregada de eletricidade, Ariadna estava coberta de suor por conta da quentura vinda do chuveiro. Ela jogou a jaqueta para baixo, não tinha ninguém naquele lado do colégio, ainda mais àquela hora. Sentindo o ar fresco do lado de fora, a morena escutou passos vindo em sua direção, ela se apressou ficando no batente olhando para baixo.
— Senhorita, vá! - Ela olhou para trás, vendo um fantasma lutando contra si mesmo. Metade do seu corpo é coberto por algo preto que parecia doloroso. - Fuja!
Ariadna estendeu a mão esquerda para o fantasma, ela precisa tocar nele para poder livrar esse mal temporariamente. Ela disse para o fantasma se aproximar em sua forma atual, ele levantou a mão trêmula. Está a centímetros.
— Vamos!
Ele segura a mão de agonizando. A garota profere as palavras que vinham em sua mente em grego.
— Libertar! - Ela disse e o lado tomado por uma mancha preta subiu no ar. O fantasma arfou aliviado como se tivesse sido liberado de um estrangulamento.
Antes que a morena pudesse contar vitória, aquela mancha preta se transformou em uma sombra. Foi tudo muito rápido, a sombra tocou o braço esquerdo dela, deixando a marca de uma mão, aquilo queimou a pele de como lava, ela perdeu o fôlego por alguns minutos. Sentiu seu corpo tentar ser tomado, mas um estranho colar que estava envolto ao seu pescoço, pulou para fora de sua camiseta preta. O colar provocou uma luz, afastando a coisa, porém se desequilibrou e caiu.
Tudo passou rápido, mas antes que chegasse ao chão algo segurou seu pulso. Ela ouviu a pessoa gemer de dor, olhou para cima vendo uma mão marrom e então, cabelos cor de mel cacheados, era…
!
… Agarre! – , com toda a força que tinha, começou a trazer a garota para mais perto da janela. Ela tinha colocado quase todo seu corpo para fora para poder salvar .
, mesmo com dor no outro braço, alcançou a parte de baixo da janela, com o resto da força e ajuda da amiga, conseguiu subir e caiu no chão gelado. Sentiu seu coração bater tão alto e tão rápido que com certeza conseguia escutar.
A garota riu alto e descontroladamente, lágrimas desceram de encontro ao azulejo branco. Tudo era surreal demais, parecia impossível e interessante. Um fantasma sendo possuído por algo, ela nunca tinha visto algo daquele tipo antes. Em sua lista mental de coisas para fazer antes de morrer esse tópico foi adicionado, era o começo de uma batalha.
***


— Ariadna Lily , você é maluca! Doida! Pirada! - brigava enquanto limpava os cortes feitos por vidro na mão de . - E se eu não tivesse te pegado?!
, calma! - ainda tinha um sorriso no rosto e um pouco de adrenalina em seu sangue. - Eu já te falei muitas e muitas vezes, eu não tenho medo de morrer, muito menos tenho medo de algo.
— Esse é o problema, Ariadna! Se você não tem medo, como vai evitar de fazer essas loucuras que faz?! Se o tio sabe dessa…
, você tem que me prometer que não vai contar para o papai. - olhou sério nos olhos cor de mel de . A cacheada baixou a cabeça concordando a contragosto. - Ótimo, obrigada.
— Mas, , você tem que me prometer que não vai fazer uma loucura dessas, de novo. - colocou gases e então enfaixou a mão da mais nova. - Me prometa, !
— Tudo bem, tudo bem. - cedeu irritada.
Bem, aquilo era meio mentira, tinha que voltar lá e enfrentar aquilo de um jeito ou de outro. Sentindo a marca em seu braço arder ela olhou, estava ficando pior que antes. Ela se afastou de antes que a garota tocasse na marca com o algodão ensopado de soro fisiológico.
— O que é isso? - perguntou vendo a marca no braço da garota.
— Eu não sei. Ele me tocou e essa marca ficou. - Ela respondeu enquanto olhava melhor para a marca. - Nunca tinha visto isso antes.
— Você tem que começar a tomar mais cuidado, . - falou guardado o kit de volta ao armário de vidro.
Elas estão na enfermaria, é um pouco maior que a sala, tem várias camas com lençóis brancos, cortinas de divisão, um armário cheio de remédios e acessórios médicos. O professor de Álgebra com o qual estava, conhecido como senhor Fawley, permitiu que as duas ficassem lá para evitar escândalos maiores. Apesar de não ser fã de Matemática, tinha certeza de que o professor é gentil e se preocupa com elas. Mesmo que quem o veja mais é .
As paredes totalmente brancas deixavam tonta, como se tivesse sido pega em um redemoinho. Se levantou sendo amparada por , mais uma vez.
— Deuses. - disse apoiando da melhor forma que conseguia. - Você precisa descansar.
— Eu estou bem! - sentada na cama protestou. - Aliás, eu preciso de um favor.

***


Ariadna se sentia estranha, o seu estômago se remexia e a dor no braço parecia não desaparecer. Ela gemeu de dor, felizmente ninguém escutaria, está sozinha no quarto depois de dar a desculpa para a governanta que estava cansada.
— Isso não é nada bom. - Disse a si mesma.
Ela se sentou na cama, apenas a luz do abajur iluminava o quarto da garota. olhou em volta, parecia vazio. Já tinha três anos que se mudou para outro quarto, já que as garotas cresceram, disse que seria melhor elas terem quartos separados. Ariadna gostava de ter o quarto só para si, mas sentia falta da companhia da mais velha.
Atrás de tem várias fotos grudadas na parede branca, muitas delas são da garota e o pai, e outras com . As fotos de quando era criança são poucas, ela só tem de quando tinha oito anos em diante, talvez seja pelo fato dela ter sido adotada com essa idade. A garota não se lembra dos seus pais, não sabe quem são e muito menos quer saber quem são, eles a abandonaram na frente do orfanato com apenas uma pequena placa de identificação onde tinha seu primeiro e segundo nome e idade. Sua data de nascimento estava um pouco apagada, então seu pai tentou ao máximo descobrir quando era.
E bem, ele descobriu, pelo menos metade.
"Primeiro de Abril, o ano presumido é 1990."
Ela pegou a foto em cima da sua escrivaninha ao lado da cama, é a primeira foto que ela tirou com o pai. Foi no dia que ele comprou a casa em que eles moram até hoje, em College Points. Eles estão na frente da casa, carrega a pequena no colo que está com um enorme sorriso no rosto.
Essa foi a primeira memória em seus oito anos de vida.
'Toc Toc'
Duas batidas foram ouvidas de sua porta, ela se levantou, pegando um cardigã para cobrir a marca e então abriu a porta.
— Pai! - exclamou surpresa. Ele não devia estar em casa esse horário.
, apesar de seus quase 40 anos, seu rosto não mostra nada disso, suas leves rugas nos olhos apenas denunciavam que era mais velho. Seus cabelos curtos são tão escuros quanto de , olhos verdes como um campo no verão, a pele branca que, apesar de passar mais tempo dentro de um ateliê, ainda é mais escura que a de .
Apesar da diferença no tom de pele, se Ariadna colocar as lentes verdes ela se parece com o pai.
? - Ele perguntou virando a cabeça de lado para olhar nos olhos da filha. - Tudo bem, querida?
— Hã? Sim, sim. - Ela respondeu, tirando aquele pensamento de sua mente. Deu passagem para o pai entrar, então fechou a porta atrás de si. - O senhor não costuma chegar tão cedo em casa, algum problema?
— Hum… - Ele, com as mãos atrás das costas, andou pelo quarto da garota observando tudo. Pegou em mãos uma medalha dourada que estava pendurada junto a um troféu. - Lembra de quando ganhou essa medalha?
— Foi na competição de Artes no fundamental. Eu desenhei um jardim muito bonito. - Ela lembrou do que era, mas não como era.
— E esse troféu? - Ele apontou para o enorme troféu dourado.
— Primeiro lugar no campeonato juvenil de Arte. Mas acredito que o senhor não está aqui para ver meus prêmios, eu sei que a grande maioria fica no seu ateliê.
— Você me pegou. - Ele riu fraco logo sorrindo sem jeito para a garota. - Eu sei que você talvez não queira me contar algumas coisas... E eu respeito seu espaço pessoal. Só que às vezes me pego pensando no seu futuro.
— Meu futuro?
… - Ele se aproximou e tocou o ombro da garota. - me disse que esse ano nas férias de verão, ela vai voltar para o acampamento.
— Ah... Ela não me disse nada disso. - respondeu triste. Quando elas eram crianças, disse a garota que sua mãe é instrutora em um acampamento de Verão em Long Island, mas por causa de várias situações, a mais velha teve que vir para o Queens estudar e a acolheu todos esses anos. - Já tem muitos anos que elas não se veem, então fico feliz por ela.
— Você vai com ela. - disse por fim. - O acampamento vai ser bom para você.
— Mas eu não quero ir. Por que não vamos visitar a vovó nessas férias? Ela sempre liga perguntando quando vamos ver ela e o vovô. - Tentou mudar de assunto aflita.
— Não é um pedido, Ariadna, é uma ordem.
— Mas.... Por quê?
— Quando chegar lá, você vai entender. - Ele respondeu melancólico. – Por favor, obedeça a seu velho pai, só dessa vez.
— Mas a exposição… O senhor estava tão animado em me levar!
— A situação mudou! – Berrou, mas logo baixou a cabeça pedindo desculpas. – Querida, não estava nos meus planos, mas…
— …Tudo bem. – Ela respondeu baixo.
Beijando o topo da cabeça da filha, saiu do quarto, enquanto ainda pensava em tudo que estava acontecendo. Estranho, tudo aquilo era estranho, algo em sua mente gritava que tinha algo errado. Seu pai sempre fez de tudo para ficarem juntos, encontrar um colégio a poucos metros de seu trabalho, colocar seu ateliê em um enorme quarto no 2º andar da casa que é onde o quarto dela fica, passarem as férias juntos em algum lugar dos estados unidos, mas agora, ele a quer mandar para um acampamento de verão em Long Island?
Que situação tinha mudado? Como ela entende algo em um acampamento? Se tinha algo que ela odiava era acampamentos.
Voltando a se sentar na cama com uma dor latejante em sua cabeça.
"Acampamento…"
Mais dor.
— Argh! - Segurou sua cabeça entre as mãos.
"Me desculpe."
Alguém disse fazendo seus tímpanos doerem.
— Não…
Ela estava conseguindo suprimir a voz.
"Acampamento Meio-Sangue"
Ela fechou os olhos sentindo o sangue escorrer por seu nariz. Então contou, aquilo sempre funcionava.
— 1...
""
— 2...
""
— 3...
"4"
Ela abriu os olhos, não reconhecendo onde estava, tinha muitas árvores enormes e mato. A sua frente uma grande faixada escrita Acampamento Meio Sangue. Sentiu um aperto em sua pequena mão, olhou para cima vendo um homem de cabelos pretos médios e pele pálida.
"" Ele começou, se virando e ajoelhando de frente para a garotinha. "Esse é o acampamento Meio Sangue."
"Acampamento Meio Sangue?" A garotinha perguntou, alternando o olhar entre a grande entrada e o homem.
"Eu espero que você nunca precise vir para cá, querida. Mas, se um dia, isso acontecer, não deixe ninguém te fazer mal."
"Certo!" A garotinha respondeu com convicção. "Mas se eles me tratarem muito mal, eu posso voltar para casa?"
O homem abraçou a pequena bem forte.

***


não conseguiu dormir, aquele pesadelo a fez suar frio e pensar a noite inteira. Era algo recorrente, dormir para ela é um luxo do qual não pode desfrutar. Ela não conseguia entender seus pesadelos, e o porquê de eles serem pesadelos.
“Um homem. É sempre esse homem, essa pessoa. Quem é? Por que eu sonho com ele?”
Muitas perguntas rodavam sua mente e toda vez que tentava lembrar de algo específico sua cabeça doía como se quisesse explodir. A bolsa escura embaixo de seus olhos vermelhos é o resultado de uma semana sem dormir direito. tem a sorte de que seu cérebro não aguenta a falta de sono, então ela aproveita quando ele a desliga.
Ou seja, ela desmaia de cansaço.
Mensagem —
pegou seu celular de cima da escrivaninha, ela estava sentada na ponta da cama olhando para o lado já tinha cinco minutos.
“Não vou questionar o porquê de você ter me pedido para vigiar a Madson, mas nada de anormal aconteceu com ela. Me deve um café da manhã completo.”
não respondeu, talvez ter mandado a amiga vigiar a garota tinha sido demais. Seu cérebro parecia não querer funcionar direito, tudo estava escuro, fora de atividade.
— Eu estou enlouquecendo de verdade dessa vez. - Se levantou ouvindo o barulho do cordão em seu pescoço, ela segurou com força sentindo algumas lágrimas em seus olhos querendo descer por sua bochecha gelada. - Louca e chorona, ótimo…
Momentos como esse, não mostraria para ninguém, seu coração não a deixava ser tão fraca na frente de outra pessoa.

***


Era cedo, bem cedo, mas o colégio já estava aberto. saiu de casa sem falar com seu pai, ela estava chateada por causa do que ele tinha dito, apesar do que o homem tinha dito, ela não queria ir a um acampamento de verão.
“Acampamento de Verão...”
Uma pontada em sua cabeça. Ela parou de pensar e olhou para seu café da manhã: um suco de laranja, panquecas feitas na hora e com melado por cima, uma torta de morango para acompanhar e melhorar seu humor.
“Torta de morango, a minha favorita!”
Tomou um gole de seu suco geladinho, sentindo sua mente clarear. Um bom dia, sim, será um bom dia. Não tinha muita gente na cantina naquele horário, apesar dos alunos que moram longe geralmente chegam cedo e tomam café lá mesmo por um preço aceitável. O espaço é bem grande para acomodar grande parte dos estudantes, além de ter várias mesas do lado de fora também.
... - A garota sibilou, sentando-se de frente para a mais nova, puxando o prato de panquecas e o suco para si.
— Ah… - Triste, olhou para a sua frente. - Eu também não tomei café da manhã ainda.
— Eu mereço depois de ficar a noite toda na casa da árvore da Madson ouvindo-a falar baboseira com as amigas. - Cortou um pedaço grande da panqueca e então apontou para com o garfo. - Para que os óculos?
tinha colocado óculos escuros enquanto seus olhos não desincharam por ter chorado mais cedo. Claro, não teria problema saber, mas ela não queria falar sobre.
O longo silêncio de foi o suficiente para a cacheada saber que a morena não responderia, muito menos falaria sobre. Se ela aprender algo com Ariadna , é não forçar a barra, ela vai contar quando sentir que precisa.
— Como é o acampamento?
terminou de mastigar e então ponderou olhando para a amiga.
— É bem grande, tem muitas crianças e enormes chalés. - disse, não é como se fosse descobrir só com essas especificações. - Tem várias atividades, um lago bem grande e um campo de morangos.
— Campo de Morangos?
— Sim, eu sei que você gosta de morangos, vou roubar alguns para você. - Sorriu rindo.
sempre teve um enorme sorriso no rosto, mas aquele é bem diferente, os olhos de sua amiga brilham quando fala do acampamento. não fazia ideia de que ela sentia tantas saudades da sua casa. Aquela seria a primeira vez em anos que a garota voltava para seu lar, não queria ser estraga-prazeres, nunca acabaria com a alegria de uma das pessoas que ela mais preza. Enquanto a cacheada continuava contando sobre seu lar, escutava e fazia algumas perguntas vez ou outra.
— Eu costumava correr de um lado para o outro com os outros, subia nas árvores, desafiava outros chalés. Espero poder dividir o chalé com você.
— Em que chalé você ficava?
— Chalé 15, meus primos o dividem comigo.
— Primos?!
Apesar de serem amigas há anos, nunca comentou sobre ter primos, na verdade não fala muito sobre sua família. não sabe o que é ter primos, a família dela se constitui por apenas seus avós, seu pai e ela. É bem pequena.
— Quatro, o mais velho é o Clóvis, o segundo é o David apesar de ser apenas alguns dias mais velho que o Willie. O mais novo é o Levi, ele foi contra eu sair do acampamento já que eu era muito nova, mas já faz cinco anos. - riu terminando o suco e olhando para o relógio em seu pulso. - Eu tenho que ir.
— Treino de basquete? - perguntou.
— Sim, apesar de não ter dormido, me sinto com bastante energia. - Se levantou pegando a bandeja em mãos. - Não esqueça que o jogo é hoje à noite.
— Como eu poderia esquecer? - riu nervosa. Ela tinha esquecido completamente. – Vão, Queen Bee!
A morena se levantou, sentindo sua cabeça rodar, se segurou na mesa, fechando os olhos. Respirou fundo. Desde a noite passada, sentia um grande vazio em seu coração, como se ela tivesse perdido algo muito importante, mas o que?
Sua mente estava confusa, aquilo são memórias? Não… Impossível!
Memórias…
"Memórias perdidas"
Uma voz disse em sua mente, ela se assustou abrindo os olhos. Ainda estava no refeitório quase vazio, as cozinheiras conversavam sobre algo animadas. voltou a se sentar, com sua cabeça latejando.
Ela alcançou o colar dentro de sua camisa e o puxou para fora o apertando.
— Memórias perdidas. - Repetiu.
"Perigo".
"Perigo".
"Perigo".
"Perigo".
— O que está fazendo? - Ela sentiu um arrepio subir sua espinha ao ouvir a voz.
Era como se tivesse uma enorme sirene de alerta em sua cabeça, estava apitando cada vez mais alto. Ela se virou, vendo Elliot, já tinha tempo que não o via, o ar ao redor dele parecia diferente.
"Olhos castanhos…"
— Está tudo bem? - Ele perguntou sentado no banco ao lado.
— O que você quer? - perguntou, sentindo a sirene em sua mente ainda a incomodar. Aquilo estava piorando seu humor.
— Eu estava te procurando. - Ele disse sem olhar nos olhos. Aquilo de fato é incomum. - Aquele dia no corredor… Me desculpa.
deixou um riso debochado escapar, aquilo realmente era sério? Elliot Jones estava mesmo se desculpando com ela? Se levantou, sentindo sua cabeça doer mais. Elliot a olhou assustado.
— Quem é você? - Ela perguntou, batendo a mão na mesa, se aproximando do rosto dele.
Algo mudou no rosto do garoto por uma fração de segundos, ela pode ver claramente. Elliot nunca pediu desculpas por ter feito bullying com ela no fundamental e muito menos quando quebrou a perna dela. Se ele tivesse consciência pediria perdão por essas duas coisas e não por aquela besteira.
— Eu sou eu. - Ele respondeu.
As pessoas dizem que os olhos são a chave para a alma e naquele momento, ela comprovou isso. A alma do garoto estava deturpada.
"Perigo"
— Tenho que ir. Adeus. – Ela se afastou sentindo como se algo a repelisse de perto do garoto naquele momento.
Se virou, indo até a saída, estava a poucos metros à sua frente.

Elliot era arrogante e violento, mas não mentiroso. Nunca mentiroso. Mas por que sua alma estava daquele jeito?
Ela foi até a saída de emergência e se sentou na escada, pegou a bombinha de dentro de sua jaqueta de couro e levou até a boca conseguindo respirar. Algo estava acontecendo as suas costas, ela não conseguia raciocinar direito por causa da maldita dor em sua cabeça. Felizmente a sirene tinha parado, mas algo em seu coração a fazia hesitar, ela sente como se estivesse encurralada.


Capítulo 3.1

Porque você me escolheu.


— Eu sabia que você viria, . - disse com um sorrisinho no rosto e a expressão calma de sempre. - Mas esperava vê-la na frente do meu ateliê, não aqui.
estava andando de um lado para outro na frente do quarto de já tinha bastante tempo. Ele tinha um pressentimento de que queria falar com ele, mas não esperava encontrá-la na frente de seu quarto, a garota sempre o procurava no ateliê, então a ver na frente de seu quarto fez seu coração doer, ele tinha certeza de que era algo relacionado a .
— Tio, como sabia? - Ela perguntou se aproximando, ele tinha duas xícaras de chá nas mãos e uma entregou a garota.
— É seu chá favorito. - Respondeu.
— Obrigado.
— A já saiu, mas acho que não seria bom conversar no corredor.
Ele passou pela garota e então abriu a porta do quarto, entrou, era a primeira vez que ela entrava lá. Estava fascinada com o tamanho do armário que cobria metade da parede completamente cheio de livros, era dos mais variados gêneros. Entre todos aqueles livros, um grande álbum de fotos chamou a atenção de , ela o pegou em mãos, era bem pesado.
Ela voltou sua atenção para seu tio que quieto tomava seu chá sentado em uma poltrona que ficava perto da enorme porta de vidro que dava para o quintal. Ela, por anos, viu aquela porta do quintal, mas não conseguia ver o que tinha dentro, apenas alguém de dentro do quarto conseguia ver o que estava fora. Com o álbum em mãos, se sentou no sofá branco que fica de frente para , e colocou o objeto em cima da mesa de vidro.
— Esse álbum… - olhou para .
— Tem todas as fotos que foram tiradas ao longo desses cinco anos em que estivemos todos juntos. - Ele respondeu sereno. - É um dos meus tesouros.
Tio…
pensou triste. Ela abriu encontrando a primeira foto que eles tiraram juntos logo quando ela chegou, e estavam sérias enquanto sorria, a babá de , senhora Smith, também participou da foto, ela era bem velhinha, então quando fez 12 anos, ela se aposentou. sentia falta da senhorinha, ela era gentil e ajudou a garota a se aproximar de .
— Eu encontrei a senhora Smith esses dias, ela perguntou por vocês duas e se ainda brigavam como antes. - Ele riu
— A vovó Smith me ajudou muito naquela época, nunca foi muito aberta, então foi difícil me aproximar dela. Devo muito a ela. - Contou com um pequeno sorriso nos lábios.
Ela passou para outra folha, era uma foto de família que parecia um pouco antiga, nela estão um jovem de terno preto, Beatrice, mãe de , estava sentada em uma cadeira luxuosa usando um vestido branco que parecia bem caro, Trevor, pai de , usa um terno cinza e está sentado em outra cadeira que está em diagonal a de sua esposa. levanta uma sobrancelha, tem um homem atrás de Trevor que ela nunca viu antes, está vestindo um terno azul marinho com listras brancas, um sorriso e tem uma pose de superior, ele parecia um modelo. sentiu seus olhos marejarem.
olhou para a foto que a adolescente estava vendo, ele sentiu um aperto em seu coração, não sabia que aquela foto estava ali. Puxou com delicadeza o álbum e então o fechou, ele não queria ter que lembrar, mas não achava certo guarda esse segredo de .
— É meu irmão mais velho. - Ele disse cruzando as pernas tentando controlar o tremor em suas mãos.
— Entendi. - Ela disse com um sorriso, fazendo com que toda ansiedade de se esvaísse, ele soltou um riso baixo e sentiu seu coração mais leve. Ela nunca o forçaria a contar algo que não queira, apesar de ela ter sentido uma estranha dor em seu peito assim que viu o homem.
finalmente tomou um gole de seu chá, ainda estava morno e com um gosto esplêndido, ninguém supera as habilidades de seu tio em fazer chá.
— Eu…
Ela não sabia por onde começar, então respirou fundo tentando organizar sua mente. Na verdade, ainda não tinha decidido se contava ou não, havia prometido a que não falaria nada, era a primeira vez que ela dava um passo sem a mais nova e sentia que estava a traindo.
não tinha pressa, ele poderia ficar ali a manhã toda, mas não podia, ela tinha que ir para o colégio, então, vendo que a garota estava presa em seus pensamentos, talvez se questionando se contava para ele ou não, se sentou mais a ponta da poltrona e apoiou os cotovelos nas coxas. Tinha noção de que era muito leal a e estar ali ia contra todos os princípios de amizade que tinha. Ele sabia, mesmo que a adolescente não dissesse nada para ele, no fundo, aquela dor incômoda que sentiu ao ver a mão enfaixada de sua filha e as enormes olheiras que tomavam conta de seu rosto pálido, ele sabia que não poderia a segurar mais que aquilo, era o limite.
— O tempo passou muito rápido, um dia vocês eram garotinhas que brigavam por qualquer coisa e no outro… Vocês são adolescentes… Vocês são apenas adolescentes…
— O mundo é cruel, não é mesmo tio? - disse melancólica.
— Sim, ele é muito cruel. - ajeitou sua postura e olhou para o chão. - Eu queria poder segurar a mão de vocês para sempre, queria poder protegê-las de tudo que há de mal. Vocês são o meu tesouro mais precioso, se eu pudesse, trocaria tudo que tenho apenas para poder ficar junto de vocês.
— Então, o senhor sabia. - Ela sussurrou mais para si mesma, mas escutou.
— Sim, eu sabia. Apesar de ser minha filha, ela nunca foi de contar o que acontecia, então sempre estive de olho. De uns tempos para cá, ela tem tido insônia severa, desmaios e dores de cabeça, o médico da nossa família me assegurou que não havia nada de errado com a saúde dela, então, eu ouvi uma voz me dizendo que ela tinha que ir, mas fui egoísta, ignorei e prolonguei o sofrimento dela até esse momento. Eu não sei o que vai acontecer com ela assim que sair da minha vista, então tive medo… Medo de que nunca mais ela voltasse para mim, que nunca pudesse ver o rosto dela, de conversar com ela e até mesmo de abraçá-la.
— Tio …. - sentia todo aquele medo e angústia nas palavras do tio, aquilo partiu seu coração.
, por favor, tome conta dela. - Ele pediu. Era a primeira vez que ele pedia algo para , o peso que a garota sentiu sob seus ombros pareceu pesar ainda mais. - A é tudo que eu mais amo nesse mundo.
— Sim, não se preocupe, tio. Garanto que nada de mal acontecerá com ela enquanto eu estiver ao lado dela. - Ela disse confiante e determinada. passou por muita coisa desde que chegou à casa dos , primeiro pensou que não a receberia e que a destrataria, mas foi tudo ao contrário, ele a acolheu e a tratou como uma filha. Esses 5 curtos anos que passaram, ela pode sentir como é o amor de uma família pela primeira vez. Ela só tinha a agradecer. - Muito obrigado por tudo que fez por mim, Tio .
, a minha casa estará sempre aberta para você.

***


Flying to the Moon tocava na mente cansada e entediada de naquele momento, é horário do almoço, mas ela não sentia nenhuma vontade de se juntar à multidão de alunos no refeitório e talvez dar de cara com Elliot. Ela andava pelos corredores na esperança de esbarrar com a melhor amiga, mas parecia quase impossível, tinha saído cedo do treino de basquete, então onde ela estava se escondendo? Ela perguntou para algumas garotas do time, mas ninguém fazia ideia de onde ela estava.
virou o corredor dando de cara no peito de alguém, ela cobriu o nariz que começou a doer por causa da batida, olhou mal-humorada para a pessoa, e talvez, aquele não fosse o seu dia de sorte, não mesmo.
— Foi mal. - Elliot se desculpou, mas não pareceu ser sincero. não se importou.
não sentiu sua cabeça doer, era esquisito, mas então parecia que talvez não fosse culpa de Elliot a sua dor de cabeça repentina mais cedo. A garota não tinha muita dificuldade em olhar nos olhos de Elliot Jones com seus 1,72 de altura, apesar do garoto ter 1,77 de altura, eram apenas cinco centímetros de diferença.
Elliot parecia confuso com a repentina ação de em começar a encará-lo, estava começando a se sentir desconfortável. Ele sentiu que precisava falar algo.
— Está procurando por alguém? - Perguntou para quebrar o silêncio.
— Isso não é da sua conta. - respondeu seca cruzando os braços.
— Se está procurando por , eu a vi entrando na sala do professor de Álgebra.
— Por que ela está sempre com esse professor? - perguntou a si mesma.
Poderia estar apaixonada pelo senhor Fawley? Não, não, impossível, ele tem quase 50 anos e é professor de álgebra, odeia álgebra, também. conhecia o gosto da mais velha para homens, ela perguntou uma vez, e o senhor Fawley não chegava nem perto do Johnny Depp ou do Bradd Pitt. Então chantagem? Será que ele pegou fazendo algo que não devia? Se esse for o caso, ela não deixará aquele velho chantagear sua querida amiga .
Voltou a realidade quando sentiu uma mecha do seu cabelo ser tocada por Elliot, um arrepiou esquisito passou por todo seu corpo, ela se afastou sentindo seu coração bater que nem louco, ela sentiu sua mão tremer um pouco.
— O que pensa que está fazendo? - perguntou arisca com as sobrancelhas franzidas e os olhos vermelhos atrás da lente queimando.
— Você tem um cordão muito interessante. - Comentou, o ar ao redor dele parecia diferente.
sentiu uma pontada em sua cabeça, ela pegou o colar e olhou bem para ele, uma corrente fina de ouro que segura um pingente que tem na frente um bidente com um círculo dentro, parecia ter algo dentro, mas ela não conseguiu abrir. Deixando de lado a súbita curiosidade a respeito daquele esquisito cordão que apareceu em seu pescoço de repente e ela acabou não dando nenhuma atenção. Havia muitos problemas e dores na sua cabeça para ela se preocupar com um simples cordão por mais esquisito que ele seja.
— Você pode ter muito tempo livre para se preocupar com o cordão dos outros, mas eu não tenho. - Ela passou esbarrando no ombro dele de propósito.
Apressando o passo e tentando tirar a cara irritante de Elliot de sua mente, logo se viu em frente a sala do senhor Fawley, era esquisito, mas ele tinha uma sala só para ele. Ela não sabia o que fazer, deveria entrar com tudo ou apenas espiar? Se aproximou da porta colando o ouvido contra a mesma.
— Quem imaginaria, acho que nem mesmo pensou nessa pessoa.
Ela escutou a voz do professor de Álgebra, ele parecia sério. Sobre o que eles estão conversando e por que o nome de seu pai está no meio?
— Ela é filha de um dos três grandes. - Ele concluiu.
O quê? Três grandes, o que ele quer dizer com isso?
— Senhor! Como isso é possível?! - disse alto, pareceu bem surpresa.
não gosta de chamar atenção e nem mesmo se destacar, ela sempre viveu para se misturar. , você alguma vez se perguntou do porquê de nenhum sátiro quis virar guardião de ? Tanto que você, uma semideusa, teve que fazer este trabalho?
Sátiro? Guardião? Semideusa? Trabalho?
se sentia cada vez mais confusa, ela não estava entendendo nada com nada, por que eles estavam falando sobre ela, por que estavam dizendo coisas estranhas? Será que eles sabiam que ela estava escutando e estavam se comunicando em códigos, mas por que eles se comunicavam com códigos? Eles se conheciam? Desde quando?
— Ninguém quer arriscar a vida por alguém que não deveria existir.
se afastou da porta assustada sentindo como se todo o ar tivesse saído de seu pulmão. Começou a andar para longe dali, mas não foi muito longe, apertou os punhos sentindo a dor em sua cabeça voltar, ela segurou no corrimão ao sentir suas pernas falharem caindo de joelhos no chão, sentiu então o sangue escorrer pelo seu nariz e logo lágrimas molhavam seu rosto. Ela não conseguia entender o misto de sentimentos que se desencadearam por causa de uma simples frase. Sentiu que algo dentro de si tinha se quebrado.

***


A biblioteca era o lugar que mais gostava, depois da enfermaria, claro. No horário do almoço dificilmente se via alguém por lá, então era o local ideal para sentar e esfriar a cabeça. Depois de ter enfiados lencinhos de papel no nariz para parar o sangramento e voltar a usar os óculos escuros por causa dos olhos inchados de tanto chorar, ela se forçou a andar até a enfermaria, e depois foi até a biblioteca, apesar de não estar com fome, sua barriga reclamava. Com a cabeça deitada contra a mesinha de madeira, estava na área mais afastada dedicada ao estudo solitário nos cubículos, ela gostava de estudar tudo que não envolvesse álgebra, era a típica estudante do ensino médio.
Reclamou de dor no estômago e logo viu uma mão deixar um suco de morango em caixinha e um embrulho contendo uma fatia de pizza, ela se virou vendo a garota que sempre se juntava a ela no almoço. É uma das garotas que ela não lembra o nome, mas especificamente a que fazia aula de artes com ela. Cabelos loiros escuros, pele alva e sardas cobrindo sua pele junto de um grande óculos redondo, nunca tinha percebido direito a aparência de nenhuma daquelas garotas, apesar de elas sempre estarem ao seu redor. Ela fez um esforço e puxou de dentro da sua mente, o nome esquecido daquela garota que em filmes americanos comuns em que ela seria a protagonista, as garotas populares fariam bullying com ela por causa da aparência. Após ficar encarando a garota por longos minutos, lembrou.
— Jane?! - disse, apesar de ser soado um pouco sugestivo.
— Sim, você lembrou. - Jane disse com um sorrisinho feliz no rosto e parece que uma grande luz apareceu atrás dela. O que era aquele tipo de efeito especial? Talvez ela tenha perdido muito sangue e agora estava começando a delirar? - Você tem um problema muito sério se não consegue lembrar o nome das pessoas que estão ao seu redor.
Ela estava sorrindo, aquilo definitivamente era um sorriso, mas então por que sentiu como se tivesse levado um soco no estômago?
nunca deu muita atenção, mas Jane tinha uma língua afiada, por isso não tinha muitos amigos no colégio. foi a primeira pessoa a não ligar para isso, mas era porque a garota não entendia direito suas indiretas.
— Tudo bem, me desculpe, prometo que vou consertar esse meu péssimo hábito. - disse depois de dar uma risada forçada, enquanto aquela maldita luz não saia de trás de Jane, se não estivesse de óculos escuros ela poderia muito bem ter ficado cega. - Mas, Jane, o que faz aqui?
— Você pode não notar, mas não é só que se importa com você. A gente também fica preocupada.
— O quê?
— Você não apareceu para almoçar, e o almoço é seu horário sagrado! Mesmo que não queira comer nada, você sempre está no refeitório, é assim desde o fundamental.
Uma engrenagem na mente de pareceu começar a se mover depois de muito tempo, aquelas garotas que não fazia questão de lembrar o nome sempre estiveram ao seu lado. Se conheceram nos últimos anos do fundamental e se reencontraram no ensino médio, apesar de só ter olhos para , elas não ligavam, a companhia da garota era suficiente.
— Não estou com raiva ou algo do tipo. - Jane esclareceu vendo que abaixou a cabeça, então sentou na cadeira vazia ao lado da garota. - As meninas nunca exigiram nada, nem nunca reclamaram das múltiplas vezes que você esqueceu o nome delas, elas são pessoas muito boas. O que eu estou querendo dizer é que a gente sempre vai estar aqui para te ajudar, desde que não seja algo muito absurdo, claro. Sim, talvez, eu esteja dizendo isso para você se sentir um pouco culpada, as meninas já me silenciaram por muito tempo a respeito disso, não somos a , mas somos suas amigas também.
— Desculpa. - Foi tudo que ela conseguiu dizer, tinha um grande vazio na mente dela. Se sentia culpada, extremamente culpada, Jane pontuou algo muito importante. - Jane, você vai me ajudar?
— Claro. - Jane juntou as mãos geladas de as dela que tinham uma temperatura acima do normal. - No que posso ajudar?
— Pode me dizer qual é o nome das outras? - tirou os óculos escuros revelando os olhos inchados.
— Claro… Mas acho que você precisa de um pouco de gelo nos olhos agora. - Jane colocou as mãos geladas de sob os olhos sentindo que aquilo faria o inchaço desaparecer. - Talvez isso resolva.
— Obrigada, Jane. - disse com um sorrisinho no rosto.
— Então agora me escute, vou te ajudar com os nomes e aparências, mas o resto é com você, tudo bem? - concordou com a cabeça e as mãos sob os olhos.

***


tinha os olhos desinchados e a cabeça no lugar, elas mataram as seguintes aulas permanecendo na biblioteca, apenas as duas. Já tinha algumas horas que ela e Jane conversavam sobre filmes e pintura.
— Jane, você sabe o que são os três grandes? - perguntou nervosa.
— Hum? Que mudança abrupta de assunto. Se é na mitologia grega, não seriam os três deuses principais? Zeus, Poseidon e Hades.
— Zeus, Poseidon e Hades…. - A morena pensou.
— Por que está perguntando isso? - Jane curiosa tentou olhar nos olhos de , mas a mesma parecia não querer dizer nada. - Não posso te ajudar se não disser o que é.
— É que… Eu ouvi a conversar com o senhor Fawley sobre eu ser filha de um dos três grandes. - olhou séria esperando a reação de Jane, mas a loira não disse nada - É uma besteira absurda, deixa para lá.
riu sem graça, mas Jane continuava a encarar.
— Não é um total absurdo, na verdade, segundo a mitologia grega, os nascidos entre um deus e uma humana se chamavam semideuses.
— Jane, você acredita mesmo nisso?
— O que seria da vida sem um pouco de fantasia? Um completo tédio. Aliás, não seria legal se você fosse mesmo? Tipo, tirando a parte do abandono parental, o resto parece legal, poderes e tudo mais. Não me olhe assim!
realmente parecia surpresa com a animação de Jane, os semideuses sempre foram os que mais sofriam por serem meio deus, não tinha nada de legal nisso. Ela poderia contar nos dedos os semideuses que não morreram por serem semideuses.
— Qual é! Vamos pensar positivo, estamos na era moderna, o que de mal poderia acontecer a um semideus?
Jane e pararam ao sentir um leve arrepio na espinha, em filmes esse seria o momento que algo de ruim aconteceria, então elas esperaram por cinco minutos em silêncio. nunca sentiu tanta ansiedade em sua vida.
— ENTÃO, - Jane nervosa suspirou aliviada voltando a olhar para a morena. - que poderes você tem? Pode soltar raio pelas mãos, respirar debaixo d'água ou sei lá, ressuscitar cadáveres?
— Eu nunca soltei raio pelas mãos ou algo do tipo, não sei nadar e tenho medo de água, e não consigo ressuscitar os mortos, posso vê-los.
— Wow! - Jane disse animada, com os olhos verdes brilhando, mas que logo se apagaram. - Não, isso é legal, mas não nos diz nada, sabe, tem muitas pessoas no mundo que conseguem ver também. Mas algum dia podemos encenar aquela cena do sexto sentido.
riu, pela primeira vez naquele dia e foi como respirar de novo, toda aquela sensação de sufocamento sumiu.

***


Sala do Professor de Álgebra, horas antes —
— Senhor Fawley, a hora chegou.
estava sentada no sofá de frente para um homem de cadeira de rodas de aparência sofisticada com óculos redondo, camisa social branca e um colete marrom xadrez. Ela tomou um gole de chá, típico daquela hora do dia, era a hora do almoço.
— O que quer dizer com isso? - Perguntou Fawley deixando a xícara adornada em ouro e flores em cima da mesa de centro de madeira.
— O Tio quer que a gente leve a para o acampamento Meio-Sangue. - revelou apertando os dedos nervosa.
— É por causa daquele garoto? Qual era o nome dele… Elliot?
— Elliot Jones, senhor. Ele tem agido de maneira estranha nessas últimas semanas, eu mesma o tenho vigiado. também tem agido estranho.
— Sim, é verdade. - Respondeu calmo e preocupado. - Eu tenho observado vocês três durante todos esses anos, e me parece que a situação começou a tomar o caminho que não queríamos.
— Então as minhas suspeitas estavam certas, estão atrás dela. Fui muito descuidada, me perdoe, eu devia ter parado ela aquele dia, mas… Eu simplesmente paralisei de medo. Foi uma sensação horrível, nunca senti tanto medo na minha vida.
— Quem imaginaria, acho que nem mesmo pensou nessa possibilidade. - Pegou a xícara. - Ela é filha de um dos três grandes.
— Senhor! Como isso é possível?! - disse alto sentindo suas mãos tremerem.
não gosta de chamar atenção e nem mesmo se destacar, ela sempre viveu para se misturar. , você alguma vez se perguntou do porquê de nenhum sátiro quis virar guardião de ? Tanto que você, uma semideusa, teve que vir? - Fawley tomou um gole de chá e olhou para os olhos amendoados da garota. - Ninguém quer arriscar a vida por alguém que não deveria existir.
sentiu o ar sair de seus pulmões, toda a determinação dela estava saindo que nem as suas lágrimas. -
— Eu não concordei em adiar este dia por causa das inúmeras súplicas de , mas sim porque eu percebi algo.
— O que seria? - limpava as lágrimas com a palma da mão.
— Ele tem uma enorme presença protegendo-o. Foi por causa disso que dei ela liberdade, eu sabia que nada ia acontecer com ela se eles estivessem juntos. No entanto, essa presença está desaparecendo aos poucos.
— O senhor está dizendo que o Tio está sendo guardado por um dos três grandes? E agora que essa presença está desaparecendo, os monstros vieram atrás dela? - estava tensa, ela nunca tinha ouvido falar de algo daquele tipo ter acontecido antes.
— Não, é uma força que parece muito maior, mas não tão poderosa quanto os três grandes. Algo está acontecendo no Olimpo ou no Submundo, mesmo que não tenhamos sido informados sobre isso, algo me diz que a paz que está vivendo esse tempo todo, acabou.

***


— Nós estamos atrasadas, muito atrasadas! - Jane corria pelos corredores segurando o pulso de , mas então fez uma parada abrupta, Jane quase caiu para trás. - O que foi? Não podemos parar agora, o jogo já vai começar!
olhava para o final do corredor, estavam paradas de frente para a escada de descida do primeiro andar. Ela cruzou olhares com o fantasma de antes, ele parecia aterrorizado quando passou voando e logo atrás dele vinha Elliot com uma cara de poucos amigos. tirou a mão de Jane de seu pulso e então correu sem dar mais explicações.
— Aquele não é o Elliot? Ei! , o jogo! - Jane gritou nervosa. - Droga!
não estava se sentindo bem, ela tinha perdido Elliot de vista assim que piscou, decidiu pegar a escada lateral que dava para o segundo andar, ele tinha voltado para lá, com certeza. Tinha corrido muito, ela parou pegando sua bombinha de asma e respirou, mas parecia não funcionar.
— Porcaria! - Irritada jogou o recipiente vazio no chão. - Maldita asma!
Ela seguiu andando até chegar na porta aberta do banheiro, tinha que voltar lá, mas era cedo demais para isso, tinha pouco oxigênio em seus pulmões. Adentrou vendo Elliot parado olhando para o espelho com as mãos no bolso do colete do colégio. Tinha algo muito errado com ele, mesmo sem os olhos amarelos, o garoto que ela conhecia não agia dessa forma.
Se aproximou dele, sua cabeça não doía, então parecia seguro por enquanto.
— O que faz aqui?
— Eu que deveria estar perguntando isso. - Elliot olhou de relance para ela que permanecia com a expressão séria. - Já não pedi desculpas?
— Isso não quer dizer que eu aceitei.
— Hahaha - Riu leve - Parece que você não quer que as coisas mudem, ou você só é muito rancorosa?
— Sim, eu sou muito rancorosa, especialmente com você. Acha mesmo que os dois anos que você fez a minha vida um inferno vão desaparecer? Toda vez que eu olho para sua cara detestável minha perna começa a doer, então pare de me dar motivos para estar sempre atrás de você.
— Parece que além de ter quebrado a perna, perdeu um pouco dos neurônios também. Não é só porque você pediu para parar de agir desta forma que vou, quem você pensa que é? A sua existência nesse mundo é insignificante, acha que eu gosto de olhar na sua cara também? Ultimamente temos nos encontrado tantas vezes que meu estômago embrulha e tenho vontade de vomitar.
— Você é o ser mais detestável, repugnante e falso que existe nesta terra. Você nunca me enganou com essa ladainha toda de pedir desculpas, essa é a sua verdadeira natureza, e ninguém nunca vai me convencer do contrário. E pensar que já fomos amigos.
Eles foram amigos, no começo do fundamental quando entrou no colégio, Elliot era muito carismático e se dava bem com todos, até mesmo com ela. Com o passar do tempo, ele começou a agredi-la fisicamente e psicologicamente, a pequena se culpava pensando que tinha feito algo de errado e aceitava tudo aquilo sem reclamar. Ela tinha dito a seu pai para não se meter, que ela estava bem, porém, um dia no intervalo quando todos estavam no refeitório, Elliot tinha chamado para conversar. Como uma idiota, ela ficou feliz e o seguiu até a chegarem na escada. O garoto de cabelos claros a humilhou na frente de sua gangue e quando menos esperou, empurrou a pequena escada abaixo com um sorrisinho no rosto. Ela lembra disso vividamente como se fosse ontem, a garota nunca tinha visto tão irado quanto naquele dia, foi uma longa disputa judicial entre os pais de Elliot, que não acreditavam que seu pequeno e precioso filho tivesse feito algo como aquilo, e o dela, que tinha muito ódio e dinheiro acumulado, não foi fácil, pois Elliot tinha ameaçado seus colegas que tinham visto. Felizmente, quem estava naquele dia também era que falou a favor dela. precisou fazer uma cirurgia na perna e muito tratamento psicológico. Ela tinha prometido a si mesma que não abaixaria mais a cabeça para Elliot Jones e o deixaria fazer bullying com alguém novamente.
Como uma bala, algo passou voando entre os dois que se afastaram. tossiu um pouco, estava difícil respirar.
— O que foi isso? - Elliot perguntou assustado.
— DÁ O FORA DAQUI!! - gritou para ele.
— Dá o fora você, não grita comigo!
Ela realmente pensou em sair dali e deixar a existência do loiro desaparecer, mas não era só a vida dele que estava em jogo ali. resolveu deixar ele ali mesmo, o que ele visse ou deixasse de ver, não era problema dela. Aliás, se descobrissem, ninguém era corajoso o suficiente para mexer com ela.
O braço marcado dela ferveu, ela viu a aparição totalmente preta a sua frente, não tinha forma, era totalmente distorcida e estava a encarando. apertou o punho tentando controlar a dor no braço.
— Você consegue ver? - Ela perguntou a Elliot que parecia mais assustado que o normal.
— E-estou vendo. - Respondeu engolindo seco controlando as mãos trêmulas.
Um fedor tomou conta das narinas da morena, mas ela não se moveu um centímetro, tinha muitas coisas que ainda não sabia sobre aquela situação e por causa do garoto alguns metros a sua frente, ela tinha feito tudo com o pé direito.


Capítulo 3.2 - Por que você me escolheu?

— Como isso foi acontecer? - se perguntou segurando suas lágrimas, ele já tinha chorado demais aquele dia.
— Me desculpe, Tio. Isso foi culpa minha, eu deveria ter prestado mais atenção… - estava de cabeça baixa apertando suas mãos trêmulas, mas então ela sentiu uma mão sob a sua.
— Não, ... Isso tudo é minha culpa. De ninguém mais, apenas minha. - Ele disse sentindo sua garganta doer. - Você e a devem ter sofrido muito por causa do meu egoísmo. Se eu tivesse largado a mão dela, deixado ela ir mais cedo, nada disso teria acontecido.
— Tio, eu sei o quanto o senhor ama a e o mundo dos semideuses é um lugar assustador e perigoso. Acho que nenhum pai deixaria seu filho correr perigo. Então, eu entendo como o senhor se sente.
Eles ficaram ali em silêncio, olhando para deitada na cama de hospital com a máscara de oxigênio sob seu nariz e a cabeça enfaixada. não conseguiu dormir, ela ficou vendo a respiração da mais nova e aquele sentimento de culpa não abandonou sua mente em nenhum momento. Ela faria melhor, tinha que fazer, iria proteger a qualquer custo dessa vez.
***

abriu os olhos sentindo um cheiro doce invadir suas narinas. Ela sentou sentindo algo mole abaixo da palma de suas mãos, ela olhou, era grama e puxou um pouco sentindo a areia em sua mão. É de verdade, ela pensou. Aquilo era estranho. Olhou ao redor vendo um jardim enorme com diversas flores que ela nunca tinha visto na vida. Se levantou batendo em seu vestido amarelo bordado para limpar da sujeira, olhou para cima, aquilo eram estalactites? O lugar parecia um castelo, era muito bonito. Andou pelo jardim com seus pequenos pés descalços, curiosa para saber o que mais tinha naquele local. Uma enorme árvore, flores esquisitas que ela não ousou se aproximar e outras normais.
?!
Ela escutou uma voz rouca familiar a chamar. Olhou vendo seu meio-irmão, Zagreus, se aproximar rápido com preocupação em seus olhos pretos.
O que faz aqui? A mãe não vai gostar nada disso...
Eu odeio ficar presa naquele quarto! É chato! Não tem ninguém para brincar comigo. - Ela disse emburrada fazendo bico. - O papai… Ele não vem mais me visitar. Ele me odeia!
Ela olhou para baixo emburrada agarrando seu vestido amarelo e sujando um pouco de terra.
Isso não pode ser verdade, o pai te adora mais que qualquer um no submundo. - Zagreus disse fazendo a garotinha olhar e suave secou algumas lágrimas que percorriam a bochecha fria da pequena . - Onde está seu sapato?
Deixei no quarto, ele está muito apertado. - Ela respondeu ainda emburrada.
— Você está crescendo muito rápido, minha pequena irmã. - Zagreus disse com um sorrisinho triste no rosto. - Por favor, cresça mais devagar.
— Za, eu não posso impedir isso! - Ela respondeu rindo. - Aliás, eu quero crescer bem rápido! Assim, não vou mais precisar ficar presa no meu quarto. Vou andar por todo tipo de lugar, posso pedir para o papai nos levar para fora do submundo!
Eles agora estavam andando para fora do jardim de mãos dadas, Zagreus acompanhava os passos da criança enquanto a ouvia falar de seus sonhos.
— Você vai comigo, certo, Za? - Com seus olhos vermelhos pidões, olhou para Zagreus.
— Claro, como eu viveria sem você?! - Ele respondeu com um sorriso sincero deixando ainda mais animada. - Você quer que eu leia aquele livro de princesas para você de novo?
Quero! - Animada, não escondeu o enorme sorriso em seu rosto e não largou um minuto da mão de seu irmão mais velho. - Vamos ficar juntos para sempre, Za!
Então o cenário mudou. Ela está em seu quarto, tinha muito rosa, livros, bonecas e coisas das quais ela atualmente não gosta. Estava sentada em um banquinho olhando para o enorme relógio pendurado na parede vendo a hora, Zagreus tinha prometido fazer uma visita, mas estava atrasado. A grande porta de seu quarto foi aberta. Seu pai com suas típicas roupas entra e olha bem nos olhos vermelhos da garotinha. se pôs de pé indo até o homem de longo cabelo preto e barba rala. Ela segura seu vestido vermelho com desenho de morangos.
Papai! - Ela com um sorrisinho no rosto se agarra nas roupas do Deus. - Papai, eu posso sair só um pouquinho? Zague disse que viria me visitar hoje, mas acho que ele esqueceu.
. - Ele deu um passo para trás se agachando e tomando as mãos de nas suas. - , o Zagreus não poderá mais vir te visitar.
Por quê? Por quê? Eu fiz algo de errado? - A garotinha ansiosa perguntou sentindo seus olhos marejarem. - A malvada brigou com ele de novo? Papai, por favor, eu só tenho o Zague!
, minha pequena e preciosa filha. Eu primeiro quero que você me perdoe, por causa de mim, você não poderá mais ver o Zagreus.
Papai, eu não estou entendendo. Onde está o Zague?
, Zagreus está morto.
— Morto? - encarou seu pai, sua mente parando por um momento. - Papai, onde está o Zague? Ele disse que ia ler o meu livro favorito para mim de novo. Ele deve ter se perdido no castelo… Isso mesmo! Ele se perdeu, nós precisamos procurar por ele!
! - Hades segurou os pequenos ombros da criança ao ver seus olhos vermelhos perdendo a vida.
O Za prometeu... Quando eu crescesse nós íamos viajar juntos... Ele prometeu que íamos ficar juntos para sempre!
Tudo ficou borrado naquele momento, ela sentiu um abraço que, apesar da pele fria, pareceu bem caloroso.
acordou sentada na cama, ela levou a mão à cabeça sentindo doer. Não conseguiu conter as lágrimas que desceram por seu rosto sem aviso prévio, ela chorou alto, soluçou e sentiu seu coração se despedaçar. Ela não entendia aquele sentimento, mas acabou sendo tomada completamente por ele. A imagem do garoto ainda permanecia em sua mente, fresca, como se ela ainda estivesse com ele. Duas pessoas entraram em seu campo de visão, era seu pai e , a garota não conseguia entender o que eles estavam dizendo. Sentiu um abraço caloroso de seu pai a envolver, ela abraçou o homem deixando suas lágrimas molharem a camisa social vermelha de cetim do mesmo.
— Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem. - repetia para afagando o cabelo da garota. - Está tudo bem, minha filha.
***
abriu os olhos sentindo seu corpo pesado, ela não lembra o que aconteceu, então encarou o teto tentando buscar algo em sua mente. Nada. Ela só se lembra de estar triste, mas pelo quê? por quem? Nada fazia sentido naquele momento, que lugar era aquele?
Ela olhou em volta vendo ser um quarto de hospital, para ser mais específico era o quarto do hospital da sua família. Colocou os pés para fora da cama sentindo o piso frio, olhou para o relógio na parede, eram 3:00 da madrugada. Foi até a janela, abrindo as enormes cortinas, conseguia ver tudo do lado de fora, familiares entravam e saíam do hospital e havia muita movimentação de carros.
Uma luz incômoda se fez presente no local, alguém tinha aberto a porta do quarto que estava mergulhado no escuro. A enfermeira adentrou o local se assustando ao ver de pé, a garota cobriu seus olhos ao sentir a luz incomodar sua visão.
! - A garota escutou aquela voz cansada e doce, ela olhou e ficou incrédula ao ver sua avó. - Chame algum médico, ela finalmente acordou.
A avó de tem cabelos curtos grisalhos, a pele clara e um pouco enrugada, olhos verdes que nem os de seu pai e um sorriso no rosto que era contagiante. Já tinha dois anos que não via seus avós, eles tinham mudado para uma mansão bem longe de NY já que sua avó tinha saudades do campo. A história de seus avós é como uma história de romance clichê muito longa, então é melhor deixar isso para outra hora.
— Você não deveria estar de pé e descalça, está muito frio. - A mais velha brigava enquanto cobria a garota com seu xale sedoso. - Meu deus, que susto você nos deu, minha querida. Seu pai estava a ponto de ter um ataque do coração, por Deus, não parava de chorar.
— O papai às vezes pode ser bem sentimental. - contou sorrindo enquanto segura as mãos grisalhas de sua avó. - Ele disse que a senhora o criou assim.
— É verdade, eu tenho uma parcela de culpa nisso. Seu avô dizia que garotos tem que ser firmes e não mostrar seus sentimentos, o que eu discordo, os garotos têm que mostrar seus sentimentos também. Seu pai sempre teve muitos sentimentos para mostrar, assim como você, nisso vocês são muito parecidos.
— Obrigada, vovó. - muitas vezes se viu triste por não parecer com seu pai, então ouvir aquilo da sua avó a fazia muito feliz.
— Venha sentar, você mal acordou. - A avó guiou até a cama, onde a mais nova se sentou. - Como está se sentindo?
— Eu estou bem? Não sei bem… Vovó, você já teve a sensação de que está faltando algo?
— Sim... E apesar de ser difícil de conviver com isso, não há nada que eu possa fazer a respeito. - A senhora sentou na cama ao lado de pegando na mão gelada da adolescente. - , tudo o que nós temos nessa vida são memórias e às vezes, é preciso que deixe certas lembranças trancadas no fundo da sua mente, senão você enlouquece.
— Você tem razão, vovó. Eu acho que tudo isso é demais para minha mente e eu estou ansiosa. Muito ansiosa.
— Minha querida, minha . Minha neta. Nós te amamos muito e sempre vamos estar ao seu lado. Você é a joia mais preciosa da nossa família e quero que não se esqueça disso - A avó disse com um tom triste, mas acariciando as mãos da garota. descansou sua cabeça no ombro de sua avó. - Vai ficar tudo bem. Estou aqui se precisar conversar.
— Eu te amo, vovó.
fechou os olhos sentindo sua mente esvaziar, como se todos os seus problemas tivessem desaparecido naquele momento. Ela se sentia abençoada por ter a família que tem, não poderia pedir nada melhor. Não queria nada além de sua família, então tomou uma decisão e isso afetaria muitas coisas em sua vida.
***
O sol brilhava no céu, as nuvens flutuavam e a cidade se movia como de costume. Nada havia mudado. precisava ficar acordada por ordens médicas, o que estava sendo difícil, seu cérebro estava insistindo em fazê-la dormir. A mão de se movia pela tela, ela não sabia ao certo o que estava fazendo, sentiu a urgente necessidade de pintar algo. Apesar da relutância da enfermeira, exigiu que trouxessem seus materiais de pintura e assim sua vontade foi feita.
— O médico disse para descansar. - Ela escutou a voz de seu pai, mas não se virou, não queria perder sua concentração. - O que está fazendo?
— Não sei. - Respondeu com os olhos focados para onde o pincel em sua mão fazia o traço.
A televisão estava ligada, gostava de escutar algo enquanto pintava, o silêncio não é bem a sua maneira de trabalhar. O repórter no jornal falava sobre a longa carreira de seu pai e logo a exposição exclusiva foi mencionada, assim como a nova pintura. A garota viu seu pai durante o processo de criação do novo quadro, apesar de ele não ter deixado ela ver o quadro em si. tinha prometido mostrar para ela na exposição, seria uma ocasião especial já que seria a primeira vez em que vai a uma exposição dele.
— Como está indo a exposição? - perguntou parando por um momento. Ela se sentiu um pouco tonta.
— Eu… Pedi para cancelarem a exposição.
— O que?! - se virou surpresa. - Por quê?
— Você é minha prioridade, . Nenhuma exposição é mais importante que a sua saúde.
— Pai! Não foram semanas, foram meses de planejamento, um investimento enorme em cima! - Ela bateu com o pincel no cavalete. - Eu estou bem!
— Você não está!
— Eu estou sim! Então, ligue para o Sam e diga que vai continuar com a exposição.
Ela se pôs de pé mesmo um pouco tonta, estava determinada a fazer seu pai mudar de ideia.
— Isso não vai acontecer, se sente. - Calmo e sereno como sempre, apenas olhou sério para aquela que ainda em sua visão ainda era sua pequena criança.
— Não. - cruzou os braços com raiva. - Não vou deixar um planejamento todo cair por água abaixo por besteira!
— Sua saúde não é besteira! … - se levantou para olhar bem nos olhos de sua filha. - Querida, escute, enquanto você estiver comigo sua saúde e felicidade é a minha prioridade máxima.
— Enquanto eu estiver com o senhor? O que está querendo insinuar? - sentiu seu coração começar a bater mais rápido, suas mãos estavam trêmulas.
Flashes de memórias começaram a borrar a sua visão. Aquela sensação devastadora começou a tomar conta de todo o seu corpo. Ela deu alguns passos para trás sentindo seu peito doer.
— Vai me abandonar? É por isso que quer me mandar para o acampamento?? - Ela questionou, seus olhos marejando exibindo um desespero e medo incomum.
— Não, , querida. - tentava dizer enquanto se aproximava da garota.
— Não chegue perto! - gritou sentindo sua cabeça começar a doer. Suas mãos estavam trêmulas. Ela não entendia aquele novo sentimento. - Quantas malditas vezes eu vou ter que passar por isso? Se for me abandonar, me diga logo!
, minha filha...
— Pare! Pare! - As lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto, ela não conseguia conter. - Não sou mais uma criança, vocês não podem mais se desfazer de mim como bem querem! Eu não vou sentar sozinha em um canto como uma menina boazinha e esperar que alguém vá me buscar! ELE NUNCA FOI ME BUSCAR! Ele não foi me buscar… Ele me deixou sozinha… Ele me abandonou como todas as outras pessoas.
Ela caiu de joelhos no chão sentindo seu peito doer, algo estava sendo dilacerado por dentro. não queria chorar, ela não gostava de chorar. Sentiu um abraço quente a envolver, a adolescente abraçou seu pai o mais forte que conseguia.
— Eu nunca abandonaria você! Nunca! Você é minha única e preciosa filha, . Tudo que eu faço é pensando na sua segurança, é pensando em você. - Ele disse de maneira calorosa passando a mão sob o cabelo da garota.
A primeira vez que viu foi no orfanato. Ela nunca foi uma criança tagarela ou social, a garota não conseguia interagir com as outras crianças. Não tinha muito tempo que havia sido devolvida pelo último casal que a havia adotado, eles eram legais, mas como sempre não a aceitaram como ela era, então prometeu a si mesma que mudaria, que ela não falaria com fantasmas e que não atrairia má sorte para a casa, só assim ela poderia finalmente ter uma família.
Estava brincando sozinha com um graveto no parquinho que fica dentro do orfanato quando viu o homem bem trajado passar para adentrar o local, os olhos deles se encontraram e se encararam por alguns segundos até o homem ao lado de o chamar.
naquele milésimo de segundo se escondeu no arbusto abraçando seu graveto contra o peito. Ela não conseguia entender, mas queria chorar. Quando sua respiração começou a querer parar, ela puxou a bombinha de asma de dentro do bolso da saia vermelha e colocou na boca, respirando. Ela desejou não ver mais aquele homem de novo.
Passou algum tempo desde aquele incidente. estava na sala de pintura com um pincel na mão traçando linhas no quadro. Tinha recebido a notícia de que seu único amigo naquele lugar havia sido adotado, pelo menos foi o que a professora disse. Henry tinha feito 18 anos e é muito difícil se achar uma família com essa idade. Ela estava preocupada, não queria duvidar da palavra dos adultos, mas não conseguia, foi adotada diversas vezes para entender que os adultos mentem e são cruéis. Devia ter falado isso para Henry, ele nunca tinha sido adotado então não deve saber desse fato.
— Henry… - Percebeu que as linhas traçadas no quadro tomavam o formato do rosto de Henry. - Por que não falou comigo antes de ir? Sinto sua falta.
— Onde ela está? - A garota escutou uma voz melódica soar pelo corredor. se virou para olhar para a porta fechada.
— Senhor, por favor, se acalme. - Ela escutou a voz de uma das professoras.
, o que está procurando? - A voz fraca perguntava com certo desespero.
A porta da sala foi aberta. se manteve em seu assento olhando para o homem alto de alva, cabelo longo que chegavam a seu ombro, o corpo esguio e olhos verdes que pareciam um campo no verão, era caloroso e confortável.
— É ela. - O homem de olhar caloroso falou com um sorriso no rosto. - Essa é a minha filha.
sentiu todos os pelos de seu corpo se arrepiarem com a frase. Ela olhou confusa para todos ali presentes, a professora se aproximou se agachando para poder tocar na mão de . A garotinha se assustou com o gesto por alguns segundos, ainda estava um pouco surpresa com toda aquela situação.
, este homem se chama e ele quer adotar você. - A professora falou com todo cuidado.
— Eu não quero. - Ela disse firme e então olhou para o homem. - Senhor, se o motivo do Senhor querer me adotar é por causa dos meus olhos, então a minha resposta é não. Se não me disser o motivo verdadeiro para me escolher, então não perca tempo, pois minha resposta continuará imutável.
deixou o pincel no cavalete e se levantou tirando seu avental branco. A maioria das pessoas que a adotavam era por causa de seus olhos ou apenas curiosidade. Quando descobriam o que ela fazia, a devolviam e diziam que era um monstro. Apesar de querer ser adotada, a garota ainda precisava de um tempo para poder pensar em como ela poderia mudar.
O homem que veste roupas casuais se aproximou e se agachou olhando para a criança.
— Então seu nome é , é um nome muito bonito. - Ele começou com um sorriso no rosto. - , eu não posso te dar uma resposta, não agora, mas saiba que eu nunca vou te machucar, você terá tudo que quiser, vou estar ao seu lado até você não me querer mais e não vou te devolver. Então, se o seu pequeno coração machucado permitir, pode me dar uma chance?
dobrou seu avental e o segurou em seus braços, ela olhou para a professora e até para o diretor do orfanato que também estava lá. Ela não tinha visto ele. Por um minuto, ela quase aceitou, mas lembrou de tudo que havia acontecido com as outras famílias. Ele não parecia uma má pessoa, mas ainda não estava pronta. Ela apertou o avental contra seu peito e olhou para baixo.
— Não. - Ela disse firme e foi até a professora segurar a mão da mulher pedindo para ir para o seu quarto.
— Está tudo bem, . - falou com tristeza na voz. - Quando estiver pronta, estarei aqui.
saiu com a professora naquele dia e passou o dia no quarto olhando para o teto.
visitava o orfanato todos os dias para ver , apesar da criança não falar muito. Eles brincavam no parquinho, tocavam piano na sala de música e pintavam várias telas na sala de pintura, ele estava lá todos os dias para a surpresa de que sentia um calor em seu pequeno coração. conseguiu adotar depois de alguns meses, ela queria tentar mais uma vez com ele e, se ele a jogasse fora como todos os outros, ela se perderia no escuro.
Foram 7 anos. 7 longos anos. Não havia outro homem que pudesse ser seu pai senão . É ele e apenas ele. O único. Ela queria ficar ali por mais tempo, por bastante tempo junto dele, não queria largar aquela felicidade, pois apesar de seus repentinos pensamentos tenebrosos, ela é feliz.
Mas, havia um sentimento desgastante que a puxava para outro lado. Um lado em que não estava e ela tinha medo. Tinha medo de que se seguir aquele caminho, ela não possa mais alcançar .
— Você acordou. - Escutou ao seu lado. Os cabelos cacheados estavam amarrados para cima, era visível as olheiras embaixo de seus olhos e suas roupas escuras combinavam com sua pele e com o tempo lá fora. - ? Oi?
havia se perdido em seus pensamentos de novo. Ela focou os olhos em e deu um leve sorriso.
, o que tem de errado comigo? - perguntou com sua voz fraca. - Sabe, ultimamente eu não tenho me sentido bem. Não tenho conseguido dormir direito e de vez em quando minha cabeça dói.
— Não tem nada de errado com você. Vai ficar tudo bem, não se preocupe. - A mais velha assegurou com um olhar triste.
— Sabe, eu estava lembrando do dia em que eu conheci o papai. - contou rindo fraco. - Eu era uma criança que não conseguia socializar com as outras. As pessoas eram hostis ou curiosas, eles me levavam e ficavam comigo até a curiosidade se tornar em medo. Amaldiçoada, filha do demônio, possuída, era o que eles diziam para mim todas as vezes. Eu rezava todas as noites a qualquer deus que me escutasse pedindo para que a cor dos meus olhos mudasse, mas isso nunca aconteceu, até que ele chegou, meu pai, e me disse que meus olhos são os mais lindos que ele já viu na vida. A cor dos meus olhos não mudou, mas eu comecei a ver como na verdade eles são a coisa mais preciosa que eu tenho. Meu pai me fez ver isso, ninguém além dele.
… - segurou a mão da adolescente.
— O que eu estou tentando dizer é: eu não vou. Semideus, deuses, acampamento, eu não vou fazer parte de nada disso. - apertou a mão de enquanto olhava para os olhos dourados da mesma. - Eu ouvi a sua conversa com o sr. Fawley. , você é minha melhor amiga, é como uma irmã para mim, mas eu passei por muita coisa para chegar até onde cheguei. Eu não quero mais sofrer, e isso que passa na minha mente, eu não quero lembrar. A minha família é os e apenas eles.
, você não está entendendo… É perigoso ficar por aqui. - contou com certo desespero no olhar. - Ser um semideus é perigoso mesmo se for de um Deus menor. Se você for de um Deus maior, o perigo triplica.
— Eu estive vivendo neste mundo por quase oito anos e nada de anormal aconteceu nesses tempos. Talvez, o meu pai seja alguém tão insignificante que o perigo nem ligue.
… Não é assim que funciona. Me escuta, por favor…
— Eu não vou escutar. E a minha decisão não mudará também, você não pode me forçar, .
Cortava o coração de ver aquelas lágrimas molharem o rosto de sua amiga. Havia muitas coisas em jogo, tinha que de algum jeito convencer e se não conseguisse a convencer, teria que a levar a força. espera que a segunda opção não tenha que ser aplicada.
decidiu que por hora não insistiria no assunto e falaria com Fawley a respeito. Ele com certeza tinha um plano, senão teriam que deixar tudo nas mãos de .
— Tudo bem. Vou respeitar sua decisão, . - falou passando a mão por seu cabelo cacheado suspirando. - Você é muito teimosa.
— Olha quem fala, a teimosia em pessoa. - Retrucou, rindo.
Uma enfermeira entrou no quarto e informou que havia visitas para . Não era o que esperava, todas as pessoas importantes estavam lá, então quem a visitaria?
Quatro pessoas adentraram o quarto com balões, ursos e presentes tragos pelas mesmas. Jane que estava à frente chegou perto com três garotas se escondendo atrás dela.
— Vocês… - encontrou o olhar de Jane, ela franziu a sobrancelha e então sabia o que fazer. - Karina, Olívia e Charlotte.
Cada uma saiu de trás de Jane no momento em que ouviu seu nome. Elas tinham olhos marejados e uma expressão triste.
nunca tinha reparado muito naquelas garotas, os cabelos ruivos de Karina pareciam chamas, o rosto pequeno de Olivia era fofo e as sardas no rosto de Charlotte eram muito bonitas. Estava percebendo cada detalhe daquelas garotas pela primeira vez. Jane claro com seus óculos redondos enormes e cara de nojenta encarava a morena orgulhosa.
— Como está se sentindo? - Karina perguntou se aproximando e assim as outras se aproximaram também.
sorriu fraco ao ver as garotas a encherem de perguntas. Jane brigava com as três enquanto Karina segurava a mão de , Olivia estava sentada a ponta da cama bombardeando de perguntas e Charlotte chorava como um bebê. Jane deu um leve tapa no ombro da loira para a garota se segurar.
— O que estão fazendo aqui? - perguntou.
— Como assim "o que estão fazendo aqui?". - Jane dizia ainda com a sobrancelha franzida e fazendo o sinal de aspas com os dedos. - Somos suas amigas, é claro que viemos te ver.
— É verdade, . Entramos em pânico quando soubemos que você estava internada. - Karina falou de maneira doce.
— Você está bem? Está com algum problema? Precisa de algo? - Olivia perguntava com certa urgência na voz.
… - Charlotte agora fungava dizendo o nome da garota.
— Não chore, Charlotte. Está tudo bem. - tocou na mão da garota a confortando e olhou para Olivia. - Estou bem Olívia, não se preocupe.
— Mas, - Jane cruzou os braços de repente. - O que aconteceu? não me contou tudo.
olhou para , ela não sabia que Jane e eram próximas. desviou o olhar fingindo ver um vaso com flores na janela.
— Bem… - começou, ela estava tão absorta em diversos sentimentos que havia esquecido o que tinha acontecido para estar no hospital. Ela lembra de estar com Elliot, estavam discutindo quando o Poltergeist apareceu. Todo o resto não passava de um enorme borrão em sua mente.
— ARIA! - gritou com ambas as mãos segurando o rosto da mais nova.
Sangue. A morena sentiu o gosto amargo em sua boca assim que escutou a voz de sua amiga. Ela não lembra do que aconteceu, sua mão foi direto na ferida em sua cabeça, esse era o motivo. A memória estava lá, ela só precisava se forçar a lembrar.
— Para! Está tudo bem você não lembrar.
Não, , não está tudo bem. Ela precisa se lembrar. A mente de começou a divagar, ela perdeu a noção do tempo enquanto tentava se lembrar do que havia acontecido.
, querida. - De repente os olhos vermelhos da garota encontraram os verdes de . Por que ele estava lá?. olhou ao redor vendo todos que conhecia ali presentes.
— O que está acontecendo? - A adolescentes perguntou ao pai.
— Faremos mais alguns exames para tentar descobrir o que aconteceu.
— Você não respondeu, então eu chamei o seu pai. - explicou, estava sentada na cadeira do outro lado da cama. - Seu avô ameaçou derrubar o hospital se os médicos não descobrissem o que estava acontecendo.
— Vovô. - repetiu e viu o senhor de idade se aproximar.
— Não se preocupe, minha neta. Você vai ficar bem. - O homem mais velho assegurou.
— Não, vovô. Estou bem. Só preciso de um pouco de ar.
, você está em uma condição crítica. - O avô insistiu. - Precisamos descobrir o que você tem o mais rápido possível.
— Pai! - disse alto chamando atenção de todos os presentes. se assustou com o tom de voz de seu pai, ela nunca tinha visto ele levantar a voz antes. - disse que está bem, então vamos respeitar a vontade dela.
olhou de seu pai para seu avô, eles não tinham um bom relacionamento. Era a única coisa que a garota sabia. Mas seu pai sempre foi respeitoso com seu avô, ela pode ver a expressão surpresa do mais velho.
— Vamos. Todos para fora, precisa descansar. - A matriarca da família disse para todos os presentes. O único que ficou no quarto foi de cabeça baixa.
— Pai.
— Vamos. - Ele ficou de pé e estendeu a mão para a garota. - O tempo está bom lá fora.
tocou na mão do pai, se levantando. Com auxílio de uma enfermeira, ela conseguiu se livrar daquele soro e andou ao lado de seu pai até a área verde. Tinha bastante pessoas lá naquela hora, achou um banco para eles se sentarem e observaram a área. Pacientes, médicos, enfermeiros, visitantes, estavam todos lá passeando, conversando ou apenas aproveitando o sol, assim como a adolescente.
ainda estava de cabeça baixa, a garota não sabia no que o pai estava pensando, as mãos do homem estavam sujas de tinta seca, o suéter azul que usava foi um presente da garota, mas o tempo ainda estava quente para usar. levantou o olhar e pode notar as rugas no rosto de seu pai mostrando que o tempo havia passado rápido, ela ainda lembra o quão novo ele parecia quando a adotou.
— Eu sonhei com o dia que eu vi o senhor pela primeira vez. - Contou, esticando as pernas. - O tempo passou rápido demais.
— Você era uma criança muito fofa.
— Foi por isso que você me escolheu? - perguntou sentido animação e curiosidade.
nada disse. A garota se sentiu frustrada, ela tinha essa curiosidade há anos. Naquele orfanato havia diversas crianças inteligentes, até mesmo mais talentosas, carismáticas ou mais bonitas que ela. Então, por quê?
— Por que o senhor me escolheu?
— Eu não sei.
— O que? - sentiu seu peito doer, essa não é a resposta que ela queria ouvir.
— Eu fui até o orfanato naquele dia, depois da sua avó me obrigar. Ele é financiado pela nossa família, caso não saiba. Eu não estava lá para adotar uma criança, muito menos naquela época eu pensava em me casar ou ter filhos. Naquele momento, quando nossos olhos se encontraram, senti algo em meu peito apertar. Foi mais um ato irracional da minha parte. Eu não deveria ter adotado você, .
— Você não me queria… - apertava os punhos, ela não queria mais ouvir o que seu pai tinha a dizer.
… Eu...
— Parece que você está bem, afinal. - escutou aquela voz detestável, ela olhou para o garoto que não tinha nada além de um curativo na testa.
— Eu não sabia que o vovô tinha transformado aqui em um hospital veterinário. É desagradável ver este animal na minha frente.
Ela pode ver uma veia saltar da testa de Elliot. Os cabelos loiros acastanhados agora estavam mais curtos, os olhos castanhos mostravam a raiva de sempre. Ela ainda não lembrava o que havia acontecido aquela noite no banheiro, mas parece que estava em um estado pior que Elliot, talvez ela tenha salvado ele?
começou a se sentir falta do ar presente, estava hiperventilando colocando a mão em seu pescoço e um flash de memória passou por sua mente.
estava sendo segurada no alto por algo, sua mente está nublada, o ar não entrava em seus pulmões, havia começado a sufocar.
— Se eu soubesse…. - Ela disse antes da sua mente escurecer.
— Filha! - a chamou desesperado, ele segurava um lenço branco abaixo do nariz que não parava de sangrar da adolescente.
— Estou bem! - Ela pegou irritada o lenço da mão de seu pai e se levantou para ficar de frente a Elliot que deu passos para trás. - Você! O que aconteceu naquela noite?!
— Você está perguntando para a pessoa errada. - Ele disse aproximando da orelha de - Por que não consegue se lembrar, ?
O sangue de ferveu, os olhos amarelos do garoto se mostraram por alguns segundos. o segurou pelo colarinho olhando bem para o rosto malicioso do mesmo, ela queria poder socar ele, queria quebrar o nariz dele, fazê-lo sangrar. Uma fúria obscura tomou conta do corpo de , levantou a mão fechando o punho, mas não socou o garoto. segurava a mão da morena e fez com que a garota soltasse o garoto, e então se colocou entre os adolescentes, Elliot ainda estava com um sorrisinho convencido no rosto.
— Já chega, Elliot Jones. - exigiu olhando o adolescente de cima irritado.
— Certo, certo. - Ele se afastou colocando as mãos para cima se rendendo. - Não vim aqui para brigar, só queria falar que vou estar na exposição de amanhã. Talvez possamos conversar melhor lá, .
continuava com uma névoa de ódio cobrindo sua mente, algo dentro de si dizia para acabar com a existência de Elliot naquele momento. Infelizmente, ela não conseguia sair do aperto de .
— Até mais. - O garoto acenou antes de ir embora como se nada tivesse acontecido.
Uma coisa tinha certeza, ela tinha que estar na exposição de qualquer jeito.
— Vamos entrar, estão todo olhando. - pediu conduzindo a garota para dentro do Hospital juntamente de .
***
— NÃO. - disse firme para . A garota havia exigido ir para a exposição com ele. - Não cancelei ou adiei a exposição como você queria, então faça o que estou te dizendo.
estava preocupado, a saúde de parecia estar se deteriorando a cada vez mais, o estresse de ter que lidar com Elliot só pioraria a situação. Ele a protegeria pela última vez.
— Eu não estou pedindo, pai. Só estou avisando, eu vou para a exposição com ou sem o senhor. - Os olhos vermelhos determinados não pareciam abalar a postura de .
sabia mais do que qualquer um como podia ser persistente, mesmo se ele falasse não, ela faria. Colocou a mão sob a testa sentindo sua cabeça latejar, ele também estava no limite.
— Mesmo assim. - Ele disse cruzando os braços, a postura inabalável. - Você não irá, .
estava seguindo seus instintos, Elliot não parecia nada de bom e, apesar de não estar na melhor das condições, poderia auxiliar o homem caso o adolescente fizesse algo. Ela tinha um sentimento latente dentro de si, sua mente gritava que ela tinha que matar Elliot Jones a qualquer custo.




Continua...



Nota da autora: Oi, oi para todos que me acompanham ou melhor, que acompanham a , eu nunca escrevi nada aqui, mas achei melhor agora para esclarecer algumas coisas. A atualização da Fanfic é Mensal, vou tentar manter desse jeito, pois só escrevo aos fins de semana por causa do meu trabalho, então não desistam da por causa da demora . Obrigado a todos que deixaram um comentário, isso me anima muito e me deixa mais motivada a continuar.

Ei, leitoras, vem cá! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso para você deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.




Nota da beta: VAMOS COMEÇAR A FESTA! <3 Ah, saudades de PJO!
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