Postada em: 24/10/2020

Capítulo Único

Ninguém nos ensina a estar preparados para amar. Ou como lidar com uma grande questão: o trono ou o amor.
Era um caminho difícil de trilhar. Minha vida na corte italiana era fundamental. Cada decisão sobre o que deveria fazer, como me portar, como agir… Inúmeras e infinitas amarras eram impostas a apenas um garoto. O trono me aguardava quando atingisse a maturidade dos ensinamentos, se meu pai não decidisse passá-lo antes disso.
O fato era que estava cansado de seguir ordens, de acatar decisões tomadas sem meu consentimento. Era sufocante!
No entanto, a bela donzela que me fitava era como uma brisa fresca do mar Mediterrâneo. Seu sorriso me fazia lembrar dos primeiros raios da manhã. E sua risada tímida… era o som mais belo que já ouvira em toda minha vida!
A bella ragazza pertencia à corte francesa. E, assim como eu, assumiria o trono um dia. Por agora, estava em frente ao palácio, admirando as ondas do oceano quebrarem contra os rochedos abaixo do palácio. Era um dia típico de verão, porém a familiaridade que sua presença me trazia era assustador.
Meus pais haviam selecionado algumas possíveis candidatas para que eu me casasse. Entretanto, tendo aquela dama, despreocupada, observando-me em um misto de confusão e afeto, indicava que qualquer fosse a mulher além dela, o enlace seria um fracasso.
A monarquia francesa possuía regras rígidas em não se unir com qualquer outro reino que lhe fosse vizinho, assim como a monarquia italiana. Porém, ali estávamos, observando-nos em silêncio, tantas palavras querendo escapar, e, as que não eram possíveis serem ditas, sendo expostas em nossos olhares.
Minha irmã me odiaria pela decisão que tomava. O amor me daria liberdade, mas poderia perder tudo o que amava também.
Fratello?
Pérola surgiu da entrada oeste. Suas vestes indicavam que chegara de um passeio a cavalo. Seus cabelos estavam presos, e suas orbes inteligentes perscrutavam-me de forma invasiva. Ela era minha melhor amiga, era meu dever protegê-la, porém ela detinha algo que eu almejava: liberdade. Pérola era intensa, como uma tempestade marítima. Sua paixão sempre fora os oceanos.
Os sete mares exerciam uma atração nela de forma semelhante como a lua exercia sobre o mar. Eu sabia que o lugar dela era comandando as frotas marítimas que protegiam nosso país e exploravam novos territórios. Era cruel arrancar isso dela, contudo, pela primeira vez, havia algo que desejava mais do que a mim mesmo.
Sorella, temos que conversar. Me encontre em alguns minutos no terraço. — Falei calmamente, mas de modo firme. Pérola me olhou de forma inquisitiva, se perguntando sobre o que desejava falar.
Fratello... O que está acontecendo? — Ela questionou-me, preocupada. Sua aproximação foi repentina, o que fez ter de se afastar bruscamente.
— Está tudo bem. — Garanti a ela enquanto beijava o nó de seus dedos com delicadeza. A sagacidade em notar exatamente a situação em que me colocaria indicava o quão bem me conhecia.
— Você não fez nada a ele, sua malle... — A cortei antes que ela causasse uma comoção.
— Isso se trata de nós, sorella. Me encontre no terraço, per piacere. — Sussurrei antes de voltar minha atenção para .
Resignada, Pérola se afastou, seguindo a passos firmes para dentro do palácio. Meus olhos vagaram pela figura feminina, que esperava, de modo paciente, meu pronunciamento. Me aproximei de forma a poder tocá-la.
Catherine Heroux III, aceita ser minha esposa? — A questionei, segurando-lhe ambas as mãos. Meus olhos estavam fixos em suas íris . Um dos meus joelhos estava apoiado sobre o chão. Por aquela mulher, eu deixaria o direito ao trono.

Três anos atrás…

Meus olhos estavam atentos nas frotas marítimas. Era primavera, o ar estava mais agradável. Ainda havia uma leve brisa gelada, o inverno intenso. Estradas ficaram intransponíveis, o que fizera toda a minha família permanecer com os monarcas franceses. Foram dias difíceis para todos. No entanto, houvera algo acalentador em meio ao frio.
Os dias foram marcados pela presença da futura rainha daquele país. Ambos passávamos horas presos com conselheiros. Como futuro rei da Itália, deveria criar conexões com monarcas, lordes, duques e entre tantos outros... Durante essas aulas, havia encontrado familiaridades com .
A jovem princesa herdeira detinha uma paixão e respeito pelos seus súditos. Ela os admirava. Em seus olhos, havia uma melancolia subestimada. Aquela tristeza camuflada por gentileza me intrigava ao ponto de observá-la durante qualquer oportunidade.
Seu irmão me fazia companhia nas raras vezes em que detinha algum momento livre. Pierre possuía a mesma idade que Pérola, minha irmã, porém ambos se detestavam. Era realmente curiosa a forma que ele conseguia irritá-la, embora desconfiasse que Pierre nutrisse sentimentos que Pérola abominava, o tão famigerado amor.
Com opiniões fortes e espírito livre, Pérola era desafiadora. Detestava qualquer amarra, fosse um laço emocional ou uma responsabilidade que comprometesse sua atração pelos mares. Não havia um único cavalheiro que domasse um coração tempestuoso como dela, e, para a infelicidade de Pierre, Pérola detestava sua natureza calma, contemplativa, a qual fazia com que Pierre aceitasse seu lugar e executasse tudo o que lhe fosse pedido. Além do fato de haver um rival: Vincent Western, o melhor amigo de minha irmã. Ele era apaixonado por ela desde sempre, e duvidava que um dia deixasse de amá-la.
No entanto, minha estadia no palácio francês durante aquela estação fria era agradável justamente por ter a herdeira do trono sempre por perto. era gentil, calma, resiliente, porém determinada. Ela dirigia discussões com maestria, sempre as conduzindo para um fim que a agradasse.
Sempre quando a observava, notava que estava cansada, e a melancolia estava recoberta em seu olhar. A verdadeira era encoberta por uma farsante perfeita. Sua atuação era exacerbada e, indiretamente, revelava sua fraqueza. Bem, isso era uma suposição, que parecia óbvia para mim.
Desde muito novo, fui ensinado a ler pessoas.
“Um bom observador consegue prever catástrofes antes que surjam.”
Bem, era o que sempre mio papa dizia. Um conselho valioso, que mantinha sempre em mente. Evitar conflitos era uma das outras habilidades que me fora ensinada. O fardo de comandar uma nação pesava em meus ombros desde o meu nascimento. Havia regras e protocolos que deveria seguir, esses que iam muito além de criar relacionamentos saudáveis para o reino, auxiliar meu povo… Eram imposições determinadas a controlar minhas escolhas. Estava sob uma prisão invisível, ligada diretamente a quem deveria ser, e não ao que desejava me tornar.
E parecia passar por algo semelhante. Essa fora nossa ligação, a ponte para uma aproximação entre herdeiros. Nossas conversas secretas em meio às madrugadas daquela estação. Olhares trocados em situações incomuns, e algo diferente sendo explorado naquela ligação inesperada.
Então, ali estava, desfrutando de uma comemoração em respeito ao aniversário do príncipe. Monarcas de diferentes lugares haviam se deslocado para comparecer à festa. Pierre, no entanto, encobria o desagrado com cordialidade. Sua paciência se fora após inúmeros reis o questionarem sobre estar em segundo plano, se tratando especificamente do fato de subir ao trono, ignorando a legitimidade da primazia de um homem comandar o reino.
— Esses abutres não o deixarão em paz durante o tempo que a festividade durar. — Pérola comentou com desdém, atraindo minha atenção para ela. Até então, não havia notado sua presença. — Seus olhos são reflexos de seus pensamentos, fratello.
— Há quanto tempo está parada ao meu lado? — A questionei com divertimento.
De fato, minha irmã estava ficando cada vez mais afiada em suas análises. Seu passatempo era observar o ambiente à sua volta, porém, naquele lugar, seu tédio revelava o quão enfadonho estava sendo para ela aturar nobres que buscavam criar laços com o nosso reino. Frequentemente, ela recebia ofertas de matrimônio e, com a mesma frequência, negava todos. Nosso reino expandia consideravelmente, visto que papa e Pérola não descartavam as possibilidades ligadas à exploração de territórios distantes. Mama sempre os lembrava da importância das alianças com reinos e nações, mas ambos, papa e Pérola, percebiam algo muito maior do que o poder de aliar-se a um outro reino.
— Há um tempo considerável. — Sua franqueza denotava o quão irritada estava. Minha irmã certamente tivera de optar por permanecer ao meu lado a fim de ter um repouso sobre a constante solicitação de sua atenção. — estava te procurando, porém, quando lhe viu ao meu lado, mudou de direção e decisão. Ela parecia estranhamente agitada esta manhã. — Pérola comentou de forma casual, buscando encobrir seu divertimento. Ela decifrara algo que, no momento, parecia uma lâmina de dois gumes.
Sorella... — Iniciei em tom de aviso.
— Ela está no salão principal junto à rainha Annabeth e suas damas de companhia. — Pérola sugeriu, com um pequeno sorriso brincalhão despontando em sua boca. Minha irmã desfrutava de provocações, principalmente quando se tratava do objeto de minha atenção: .
— Não arranje nenhuma confusão, sorella. — A adverti, beijando o nó de seus dedos antes de me afastar, em direção ao local em que estava.
— Pierre fará isso por mim, fratello. — Pérola comentou antes que eu me afastasse.
Com passadas determinadas, atingi o salão. Como era de se esperar, todas as paredes encontravam-se recobertas com tapeçarias e quadros, exibindo a longa linhagem de reis e rainhas franceses. Havia castiçais espalhados por todos os cantos, e, iluminada pela luz das chamas, estava . Sua figura destacava-se entre todas as damas do salão. Seus fios estavam presos em um penteado e joias, que certamente uma rainha usaria. Seu vestido esmeralda ressaltava sua tez pálida, e seus lábios estavam pintados de um tom que estava entre carmim e rosa. No entanto, conseguia apenas admirá-la do local em que estava. Meus olhos eram atraídos para cada movimento que fizesse.
Embora houvesse seguido até ali com o objetivo de descobrir o que ela queria me dizer, havia me deparado com um sentimento completamente diferente.
Enquanto meus olhos estavam sobre ela, havia batimentos irregulares de meu coração, um leve formigamento em minhas mãos, que desejavam tocar sua pele descoberta, e um torpor ao contemplá-la.
Atravessei o salão, cumprimentando rostos vagamente familiares. Conversas rasas e rápidas foram travadas enquanto realizava o trajeto. Conversei com duques, lordes, monarcas e, até mesmo, cada um dos meus pais, até que, enfim, atingi sua figura.
ergueu sua face graciosamente, encontrando meu olhar. Aqueles orbes me faziam perder por alguns segundos o fôlego. Estendi minha mão, em um convite mudo para uma dança. Convenientemente, os músicos iniciaram uma valsa. Contive o sorriso diante dessa combinação de ações e ignorei meus pensamentos ao sentir a suavidade de sua mão colocar-se sobre a minha.
Com passos calmos, seguimos em direção ao centro do salão. Paramos de frente um para o outro. De forma cuidadosa, segurei sua mão e, com o outro braço, envolvi sua cintura. Ao soar das notas do piano, saímos deslizando pelo salão. Seus olhos buscavam me dizer algo desesperadamente. Aproximei meus lábios de seu ouvido, a fim de questioná-la.
— O que lhe aflige, mia bella? — Sussurrei suavemente.
— Viajarei para a Noruega para conhecer o príncipe Ystköīëk. — respondeu-me num tom ameno, encobrindo sua aflição.
— Eles desejam que se case com ele, mia bella? — Meus pés a conduziam com graciosidade pelo salão.
— Eu não sei, ! — Sua expressão alterou-se por breves segundos, antes que a máscara da perfeição lhe recobrisse a face novamente.
— Case-se comigo, então. — Soltei de modo intempestivo, porém, num tom baixo, para que ela apenas ouvisse.
— Pare com seus gracejos, . — repreendeu-me, irritada.
Contive o impulso de calá-la com meus lábios. Sua irritação provocava-me a demonstrar-lhe os sentimentos cultivados durante as longas horas passadas ao seu lado. fora uma ótima companheira durante as torturantes aulas e reuniões de que éramos obrigados a participar.
Nossa relação fora fundamentada no sentimento fraternal e de admiração. Nos conhecíamos devido à proximidade entre nossos reinos. No entanto, apenas desvendamos a verdadeira natureza um do outro quando tivemos de passar mais do que algumas horas juntos.
A via com frequência, fosse nos jantares, aulas, reuniões ou durante a madrugada, onde dividíamos nossos mais profundos pensamentos.
Encarei-a seriamente. Havia destruído minha máscara quando enfim entendi a melancolia de seu olhar: se sentia fraca para assumir o trono. Duvidava de sua capacidade para arcar com uma responsabilidade tão grande, além de que temia qualquer enlace. Um matrimônio faria com que perdesse o poder.
— Se não acredita em minhas palavras, deixe-me provar-lhe que sou digno de tê-la ao meu lado. — Meu aperto era firme, porém gentil em sua cintura. A sensação que me invadia era que parecia estar escapando entre meus dedos. Seu olhar fugia do meu enquanto ela buscava manter a compostura. Sua respiração batia diretamente na pele descoberta de meu pescoço, e suas mãos estavam notavelmente frias, mesmo que o salão estivesse fresco.
— Não é de bom tom brincar com os sentimentos de uma dama. — , por fim, me respondeu, exatamente quando a música se findou. Ela fez uma breve mesura antes de se afastar, e meus olhos a acompanharam desaparecer diante meus olhos.
Não era o maior entusiasta dentro da realeza. Minhas ações eram sempre bem controladas. Previsíveis! No entanto, ao acompanhar a silhueta da herdeira da coroa francesa desaparecer, senti o impulso de segui-la, embora as palavras por mim proferidas já fossem, por si mesmas, a prova de meus reais sentimentos. Respirei profundamente algumas vezes antes de seguir na direção contrária à qual havia seguido. Precisava de espaço, clarear minha mente confusa era necessário.
Enquanto seguia para fora do palácio, buscava focar em meus sentidos, ignorando a tempestade de sentimentos e pensamentos. Lutar por uma princesa que claramente havia declinado seus sentimentos,era perda de tempo.
A razão era minha melhor escolha. Enquanto caminhava pelos longos corredores, sem ter em mente um lugar para ir, acabei por adentrar a biblioteca particular do pai de , encontrando minha irmã mais nova aos beijos com Pierre. Meus olhos absorveram a cena com surpresa. Pigarrei, fazendo com que eles notassem minha presença. A distração que procurava havia chegado de modo perfeito. Contive uma gargalhada ao notar as vestes amassadas e o rumor tomando a face de ambos.
— Não conte isso a ninguém, fratello! — Pérola exclamou, de modo que sua fala soasse como uma ordem.
— Entendo seus motivos… Porém, necessito acatar seu pedido, sorella. — A respondi calmamente, me sentando sobre a poltrona de modo despreocupado, observando a surpresa tomar o olhar de minha irmã.
Em qualquer situação, não hesitaria em protegê-la. Ela era minha melhor amiga, contava-lhe tudo o que pensava, e o mesmo ocorria a ela. Minha irmã mais nova era dependente da minha proteção. Eu a acobertava em aventuras que nossa mãe certamente desaprovaria. No entanto, naquele exato instante, estava procurando me divertir um pouco, esquecendo por alguns minutos a rejeição.
Pérola se afastara de Pierre e, naquele momento, me observava calada e pensativa. Sua face era como um livro aberto para mim. Não havia nada nela que não pudesse reconhecer. Pérola era tudo o que não poderia ser e o que almejava: livre. A liberdade me parecia algo fora do meu alcance.
Direcionei meu olhar a Pierre, de modo a assustá-lo. Minha irmã podia ser tempestiva, porém minha mãe massacraria o jovem príncipe se soubesse de seus reais sentimentos. Dona Graziela era como uma leoa, imbatível, feroz e extremamente protetora.
— Eu lhe peço que não revele o que ocorreu neste lugar. Entenda, , sua irmã... — O cortei, me levantando e parando a poucos metros do jovem príncipe.
— Você está sem um único hematoma graças à minha cordialidade, Pierre. Não ouse sequer citar qualquer situação na qual minha irmã saia humilhada. Acredite em mim: você teria muito mais a temer do que se vangloriar. — Pausei a fala para me inclinar levemente em sua direção, antes de finalizar com algo que o afetaria. — Ela não sabe que você a ama, e você não gostaria de ter seu ego pisado por um Espossito, não é mesmo?! — Pisquei e me afastei de Pierre, oferecendo meu braço a Pérola para deixarmos a biblioteca.
— Você não ousaria fazer isso. — Pierre exclamou exatamente quando estava com a mão sobre a maçaneta.
— Existem tantas coisas que seria capaz de fazer, mio caro! Você não tem ideia! — Soltei a sentença com seriedade antes de tirar minha irmã do ambiente.
Caminhei pelos corredores em silêncio enquanto deixava Pérola absorver o que havia acontecido. Havia o impulso de gargalhar por tê-la visto com alguém que costumeiramente maltratava. Pierre não seria capaz de lidar com nenhum dos Bianchi Espossito. Éramos como forças da natureza: impossíveis de sermos controlados, e, quando colocávamos algo em mente, não havia alguém que pudesse fazer com que pensássemos o contrário.
Enquanto seguia em direção a um canto afastado do palácio com minha irmã, avistei pela fresta, dentro de um cômodo, uma dama sentada sobre seus joelhos, apoiando sua cabeça em seus braços. Os ombros da desconhecida subiam e desciam, revelando que a mesma estava em prantos.
— Você está diferente. — Pérola comentou, distraída, sem saber o que observava.
— Você não tem ideia do quanto, sorella. — Meus olhos pareciam incapazes de abandonar a figura feminina daquela sala. A saia de seu vestido parecia um leque a rodeando.
— O inverno foi uma estação difícil para todos. — Pérola comentou, ainda sem perceber o que meus olhos observavam.
— O inverno foi uma bênção, sorella. — Voltei meus olhos para minha irmã, segurando suas mãos com delicadeza. — Foi uma estação dura, terrível, porém, ainda assim, eu pude encontrar alívio desse fardo. — Soltei a sentença com seriedade e sinceridade.
. — Pérola pareceu se perder em pensamentos enquanto absorvia o que havia lhe dito.
— Exatamente. — Deixei um sorriso triste permear meus lábios.
— Ela o entende, não é mesmo?! — Pérola me abraçou com força antes de prosseguir sua fala. — Tenho sido uma irmã frígida e egoísta. Scuza, mi famiglia.
— Não precisa se desculpar, bambina. — Beijei o topo de seus cabelos. — Tenho de fazer algo, mia cara. — A soltei antes de seguir até o cômodo em que a figura desconhecida pranteava, completamente alheia à minha proximidade.
Meus passos eram encobertos pela grossa tapeçaria que revestia o piso. O ambiente se tratava de um salão particular, provavelmente um dos quais a realeza francesa utilizava para se reunir. No entanto, a dama, que parecia exprimir sua dor, me parecia extremamente conhecida. Mesmo com a face encoberta, havia a familiaridade das vestes, o penteado perfeito havia se desfeito e, agora, os longos fios caíam como cascata, encobrindo seus braços e nuca como um manto. Me ajoelhei ao lado dela, tocando vagarosamente seus ombros e fazendo com que ela notasse minha presença.
ergueu sua face, assustada por ter sido descoberta. A fragilidade em seu olhar enterrava nas profundezas de minha mente o amargor da rejeição, substituindo-o por um intuito de protegê-la e consolá-la, independentemente do motivo que levara a ficar daquela forma.
, eu... — A interrompi de modo suave, a envolvendo em um abraço carinhoso.
— Não preciso de justificativas. — Beijei o topo de seus cabelos, ouvindo-a continuar a chorar. Suas mãos agarravam o tecido das minhas vestes formais.
— Eu preciso falar… — Ela se afastou o suficiente para que pudesse olhar em meus olhos.
— Tudo o que quiser, mia bella. — Levei uma de minhas mãos até sua face, secando-a com suavidade.
— Eu não posso tirar o seu povo de você, . — proferiu as palavras em um tom grave.
— Tirar o quê? — Indaguei, sem conseguir assimilar o que ela estava tentando me dizer.
— Tenho o observado muito antes de sequer notar o quão cativada estou por você, Espossito. — falou num tom suave, sem desviar seus olhos dos meus. — Sua natureza sempre segura foi o princípio da minha curiosidade. Você é um príncipe gentil, atencioso, bom ouvinte e sempre preparado para fazer qualquer coisa pelo seu povo. — prosseguiu com sinceridade em seu olhar, a voz ficando cada vez mais suave. — Seu modo de agir, sempre seguro e leal, demonstra um caráter firme e honesto. Você me trata como igual, e não como se pudesse quebrar feito porcelana. Seus olhos, sempre atentos e rápidos em captar situações difíceis, sua fala, firme e decidida, resolve qualquer conflito, seu raciocínio e modo de pensar em busca das melhores soluções... — dizia tudo como se derramasse seus pensamentos mais profundos. Enquanto ela se abria, me sentia incapaz de interrompê-la. A verdade brilhando em seus olhos a tornava ainda mais bela. — Se aceitar o matrimônio, terá de abdicar o trono. Você deixará o que mais ama por minha causa... … Eu não seria capaz de fazer você sacrificar o que mais ama.
Após ela findar sua fala de modo frágil, envolvi cuidadosamente sua face com minhas mãos. Meu olhar estava completamente perdido no dela. As íris exibiam medo e fraqueza e, ainda, um amor, que sabia que meus olhos exprimiam.
Amava aquela mulher, detinha a compreensão deste fator. Era uma complicação, visto que ambos amávamos nossos reinos. Porém, seria incapaz de fazê-la sacrificar sua vontade de comandar seu país. merecia um esposo que a aceitasse em totalidade, lhe desse suporte e que fosse capaz de qualquer sacrifício.
— A escolha não é sua, mia bella. — Sorri de modo singelo antes de prosseguir. — Essa decisão cabe a mim tomá-la. Quando se trata de você, sacrificaria a mim, mesmo para que houvesse um sorriso sempre presente em seus lábios. — Aproximei minha face da dela, deixando meus lábios suficientemente perto dos dela. — Saber que sou objeto de observação é agradável, mas não mais de saber a intensidade de seus sentimentos. — Me silenciei por breves segundos, deixando meus sentimentos serem absorvidos por . — Você me tem por inteiro, mia bella. Eu aceito ser aquele que deixa o trono para trás. Você vale todo e qualquer sacrifício!
Então, a beijei, silenciando qualquer objeção quanto ao que havia dito. Seria um desafio comandar um reino diferente, porém meu amor por aquela jovem mulher me dava certeza de que estava fazendo a escolha correta. valia qualquer risco. A imposição idiota de abandonar o trono causava uma leveza em meu ser. O fardo pesado em meus ombros se foi após tomar minha decisão.

Atualmente…

— Seria uma honra. — exibiu um sorriso largo enquanto a erguia e girava em meus braços. Sua gargalhada ecoava pelo pátio, e muitos guardas nos observavam com curiosidade e certa felicidade.
Não era nenhuma novidade o pedido feito a ela. Porém, fiz a corte enquanto analisava todas as complicações que minha abdicação causaria ao reino. Havia passado três anos dividido entre deixar tudo preparado para Pérola tomar meu lugar e, enfim, unir-me àquela mulher.
Havia um grande número de candidatos pela mão de que havia enfrentado; não havia me deixado abalar por nada. Estava perdidamente apaixonada por ela. Quando pensava em meu futuro, a via como minha rainha, minha esposa e mãe dos nossos filhos.
Io ti amo mais que as estrelas do céu. — A beijei em seguida, sentindo a maciez de seus lábios nos meus.
Je t'aime, mon beau. — Ela sussurrou de encontro aos meus lábios.
Preocupações ou qualquer outra coisa estavam longes dos meus pensamentos. Havia somente ela. . Minha amada futura rainha...


Fim?



Nota da autora: Vou começar a nota indicando as palavras usadas em italiano e francês:

  • Sorella: irmã.
  • Fratello: irmão.
  • Bella ragazza: bela donzela.
  • Mia cara: minha querida.
  • Io ti amo: eu te amo.
  • Je t'aime: eu te amo.
  • Mon beau: meu querido.
Sou grata a cada leitora, vocês são o principal motivo de nós existirmos, antes de sermos autoras já estivemos nesse lado portanto seja legal e me diga o que achou?
Brincadeiras à parte gostaria de agradecer à todas que leram After Forever, é um spin-off de Write Your Name. Vocês poderão conhecer a história que inspirou After Forever quando o ficstape Star Dance entrar no site.
Quero agradecer à minha irmã que nunca me deixa desanimar, à equipe maravilhosa do ffobs que sempre está disposta à nos ajudar com qualquer coisa e a equipe do especial.
Atenciosamente, Karoline Pereira.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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