Ainda Lembro de Nós

Finalizada em: 17/05/2019

Capítulo Único

— Espera, cadê o ?
Liz, Marina e eu paramos no momento em que chamou a nossa atenção. Ela estava a poucos passos de nós, olhando para o portão da escola, na ponta dos pés.
— Ele alcança a gente. — eu disse. Voltei, então, a fazer o meu caminho, mas percebi que Liz e Marina ficaram para trás, esperando que, por sua vez, estava esperando por .
Mas onde aquele moleque estava?!
conhece o caminho, ele não precisa que nós esperemos por ele. — tentei novamente apenas para, mais uma vez, ser ignorado. Eu estava com fome, caramba!
Por sorte, logo apareceu, correndo pelos portões da escola e esbarrando nas pessoas, com dois livros enormes embaixo dos braços.
Revirei os olhos. Não precisei ouvir a sua explicação, tinha certeza de que se tratavam de livros emprestados por professores. sempre fazia isso, sempre estudava por livros fornecidos pelos professores. Típico do aluno nerd que ele era.
— Podemos ir agora? — perguntei mal humorado, simplesmente porque não conseguia manter a good vibes quando estava de estômago vazio.
Dessa vez, quando tomei a frente da caminhada, fui seguido pelos meus amigos. logo ficou ao meu lado, comentando sobre como aqueles livros seriam úteis para o trabalho que faríamos naquela tarde. Fingi que estava tão animado quanto ele, mesmo tendo certeza de que as minhas anotações seriam mais do que suficientes para que alcançássemos a nota máxima - como sempre conseguimos.
Veja bem, eu não era um grande fã das aulas e dos professores. A escola, por outro lado, era um ambiente que eu gostava de frequentar, principalmente por conta do time de futebol, no qual fazia parte, e dos alunos. Sim, eu gostava dos alunos, e os alunos gostavam de mim. Costumava me dar bem com as pessoas, mantinha um bom relacionamento com o pessoal da minha sala e, até mesmo com o pessoal mais velho, que já se encontrava no ensino médio. Para a minha surpresa, até os mais novos faziam questão de acenar com a mão quando passavam por mim pelos corredores da escola.
Mas o fato de eu não gostar das aulas não significava que era um péssimo aluno. Pelo contrário. Costumava me sair muito bem nas provas - o que sempre acabava por surpreender a minha mãe - e dificilmente não sabia responder alguma pergunta feita em sala de aula - o que sempre surpreendia os professores. Acho que era um cara sortudo, no final das contas.
Ao entrarmos na rua de casa, segui para o caminho de casa, mas meus amigos foram mais adiante.
— Ei, onde vocês estão indo? — perguntei confuso.
— Vamos para a casa da e da Marina hoje. — respondeu como se fosse algo óbvio, o que não era, já que sempre fazíamos os trabalhos da escola na minha casa. — ganhou o novo Just Dance.
Ah, claro, isso explicava tudo. Se tinha algo que meus amigos gostavam mais do que um dia sem aula, era de poder jogar Just Dance a tarde toda. Particularmente, não via graça nesse jogo, preferia vídeo game. E foi por esse motivo que, após terminarmos de fazer o nosso trabalho - usando somente as anotações que tínhamos em nossos cadernos, sem precisar dos livros pesadíssimos de - tentei convencê-los a jogarmos o novo jogo da FIFA, mas nem mesmo tive tempo para argumentar.
e Marina já estavam em frente à televisão, balançando os braços para que o vídeo game as localizasse. Mal começaram a dançar a música escolhida, e já havia se colocado atrás das meninas, alegando que seria o próximo a dançar com Marina.
— Você disse semana passada que faria dupla comigo da próxima vez, ! — disse imediatamente, se distraindo do jogo e errando os próximos passos.
pode ser sua dupla hoje. — ele falou dando de ombros, como se todos os problemas estivessem resolvidos.
— Não quero dançar de novo com !
— E quem disse que eu quero dançar com ? — perguntei para ele, em defesa ao que havia dito.
— Não me chame de ! — ela disse nervosa. E continuando nervosa até o final da dança, perdeu para Marina, a qual teve muitíssimos pontos a mais que a irmã.
veio até o sofá bufando.
— Não quero mais jogar esse jogo estúpido.
— Você só diz que é estúpido porque perdeu. — eu disse.
Em resposta, apenas bufou novamente, e foi se sentar em outro sofá, enquanto assistia Marina escolher uma música junto de .
Observei a cena em silêncio.
claramente fazia tudo o que estava em seu alcance para chamar a atenção de Marina. Sinceramente, nunca acreditei que ele teria, realmente, alguma chance com ela. Além de Marina ser mais velha, havia comentando, algumas semanas atrás, que a irmã estaria saindo com um garoto mais velho que ela, um que já estava na faculdade. jamais poderia competir com um cara que já estivesse na faculdade, enquanto ele ainda nem havia se formado no ensino fundamental.
, por outro lado, não sabia disfarçar sua intenção em se aproximar de . Quer dizer, não era possível que eu fosse o único ali que já havia percebido que o via como alguém além de um amigo.
Não que eu entendesse o motivo para isso.
não era engraçado, tampouco inteligente. Ele não era o tipo esportista, e não dava a mínima para os esforços de . Por que alguém iria gostar dele?
Uma vez que ainda mantinha a cara emburrada, me aproximei dela.
— Se quer a minha opinião, você é a melhor jogadora daqui. — eu disse. continuou na sua tarefa de me ignorar. — Não sou o maior fã desse jogo, mas não me importo em ser sua dupla, já que as chances de ganharmos são grandes.
Ela bufou novamente, revirando os olhos. estava sem paciência para lidar comigo, mas não tirava a atenção de , que errava os passos de propósito, a fim de deixar Marina passar na sua frente - não que ele precisasse se esforçar, era realmente muito ruim dançando.
— Nós podemos jogar logo depois deles, se você quiser.
— Eu não quero. — ela disse direta, com os dentes cerrados. — Por que você não vai jogar com Liz?
Tive um sobressalto naquela hora. Por um momento havia me esquecido da presença de Liz. Ela estava tão quieta, imersa na leitura de suas revistas, que poderia passar despercebida, facilmente.
— Tenho certeza de que Liz está se divertindo à maneira dela. — eu disse, me aproximando mais de . — Vamos… Eu sei que você quer jogar de novo comigo. — disse lhe cutucando o braço.
— Já disse que não quero! — e então se levantou novamente, sentando-se longe de mim.
tinha os braços cruzados e a testa franzida. Ela não era o tipo de pessoa que se irritava, que recusava jogar Just Dance ou que discutia com os amigos. Pelo contrário, era o espírito animado de qualquer reunião que fazíamos. Nosso grupo de amigos tinha como elo, mesmo que ela não se desse conta disso.
Era sempre ela quem marcava as reuniões e quem nos convencia a comprar salgadinhos nos finais de semana, mesmo que não tivéssemos uma data comemorativa. Era ela também quem sempre pedia para realizarmos grupos de estudos, dizendo que várias cabeças juntas pensavam melhores do que sozinhas. E, apesar de eu não precisar de várias cabeças pensantes, uma vez que minhas notas sempre foram suficientemente boas, eu era o primeiro a ajudá-la a convencer o restante de nossos amigos.
, apesar de ser o queridinho dos professores, não conseguia tirar as melhores notas, então não costumava recusar uma boa tarde de estudos, desde que esta acontecesse na casa de , onde a possibilidade dele se encontrar com Marina, “acidentalmente”, era grande. Liz costumava reclamar do fato de que iria perder seus programas da tarde se ficasse estudando o tempo todo, mas acabava aceitando no final - eu era bom em convencê-la. E Lucas fugia de qualquer atividade que lhe exigisse estudar além do horário reservado para a aula, mas sempre aparecia nas nossas tardes de estudos, desde que pedíssemos uma pizza no final da tarde.
E era por esses e outros motivos, que eu costumava me empenhar em mostrar para que sim, eu estava do seu lado, independente do que fosse.
— Beleza, fica aí sozinha então, garota chata! — confesso que talvez eu não fosse muito bom em demonstrar a ela o meu suporte. mandava a minha paciência para o espaço, e eu nem mesmo sabia como ou porquê.
Marina e terminaram a sua segunda dança e vieram se sentar no sofá em que eu estava.
— Que dia vamos visitar Lucas? — perguntou depois que sua irmã desligou o vídeo game e colocou em algum filme qualquer da televisão.
— Podíamos ir amanhã depois da aula. — eu sugeri.
Lucas havia caído da bicicleta e quebrado a perna. A queda havia sido tão feia, que ele precisou passar por cirurgia, e precisaria ficar em casa por vários dias. Quando fomos visitá-lo no hospital, na semana passada, pensamos que Lucas poderia estar chateado de ter que ficar de repouso por tanto tempo, mas o garoto estava radiante, comemorando o fato de que não precisaria ir para a escola por, pelo menos, um mês. Sua felicidade, contudo, diminuiu quando ficou sabendo que, mesmo que não fosse para a aula, teria que fazer as tarefas de casa.
— Acho que amanhã é bom… E então podemos aproveitar e levar para ele as tarefas da semana toda. — concordou, o que acabei achando um milagre, já que ela nunca concordava com as minhas sugestões.
— Vocês podem dar um abraço nele por mim? — Marina pediu. — Amanhã irei me reunir com o pessoal da minha sala e não poderei ir com vocês visitar Lucas.
— Podemos ir outro dia, então, um dia que você esteja livre.
Não, essa sugestão não partiu de mim ou de , e muito menos de Liz. Essa sugestão veio de , e veio tão rápido, que ninguém mais teve tempo de falar mais nada.
Novamente percebi bufando, e aquilo me deixou irritado. Quer dizer, por que diabos se importava tanto com o fato de ser - claramente - apaixonado por Marina? Por que queria tanto chamar a sua atenção e ficava chateada quando não conseguia? não era o único garoto da escola e, definitivamente não era o cara certo para ela, simplesmente porque era burro o bastante para não perceber o quanto gostava dele, e o quanto Marina não dava a mínima para as investidas - especialmente agora que ela estava namorando.
— Esse filme é muito chato, vamos ver outro. — eu disse, já pegando o controle remoto e trocando os canais.
— Esse filme parece ser legal. — comentou, quando parei em algum canal.
— E é mesmo! Assisti no cinema com Lucas, quando estreou, acho que você vai gostar…
E então, mesmo que estivéssemos sentados em lados opostos no sofá, engatamos em uma conversa sobre como eu nunca lia os livros que ela me recomendava, mesmo que ela assistisse todos os filmes que eu sugeria.
A nossa conversa, contudo, durou pouco, já que passou a se interessar em conversar com sobre os livros chatos que ela lia, enquanto Marina foi atender a ligação do seu namorado no seu quarto.
— Acho que vou para casa. — eu disse. Liz foi a única que prestou atenção em mim, falando que também iria embora. e ainda estavam imersos demais em sua conversa particular. Não me dei ao trabalho de me despedir deles, apenas peguei minhas coisas e bati a porta da frente.
Alguns passos depois, bati outra porta de entrada, dessa vez da minha casa. Fui direto até meu quarto, encontrando outra porta para bater - o que foi exatamente o que fiz.
— Parece que alguém está de mal humor hoje.
Não tentei disfarçar a cara emburrada que eu sabia que carregava. Minha mãe me conhecia bem demais para saber quando eu tentava disfarçar alguma emoção.
— Quer conversar?
— Não. — respondi, ainda de costas para ela, enquanto esvaziava minha mochila. Entre os cadernos, encontrei um livro que havia me emprestado mais cedo. “Acho que finalmente encontrei uma história que vá te agradar”, ela dissera. Diferentemente dos meus cadernos, os quais coloquei em cima da escrivaninha, joguei o livro de no chão.
— Você não deveria tomar um pouco mais de cuidado com as coisas que não são suas?
Sim, eu deveria. Minha mãe me ensinou a ser cuidadoso com os meus pertences, e mais cuidadoso ainda com os pertences das outras pessoas.
vai ficar chateada se você amassar o livro dela.
— Então que ela fique! — respondi. — Não é como se ela se importasse com os meus sentimentos.
E então percebi o quão piegas soou a minha frase. A careta que se sucedeu à minha fala foi automática.
— Quer dizer…
— Vocês brigaram, ?
— Não. — respondi automaticamente. Nós não havíamos brigado. Nossas discussões diárias não podiam ser chamadas de brigas, certo?
— Mas alguma coisa aconteceu. — não foi uma pergunta.
— Não. — disse de novo, mesmo sabendo que minha mãe acreditaria em mim.
— Hum… — minha mãe entrou no quarto e se aproximou de mim, indo para o outro lado da minha cama. Quando estávamos frente a frente, ergui a cabeça, olhando-a. — Então essa irritação toda é porque você queria que alguma coisa tivesse acontecido, e não aconteceu.
Novamente, não foi uma pergunta.
— Não sei do que está falando.
Tentei passar por ela e chegar até o guarda-roupa, mas minha mãe nem se mexeu. Novamente a encarei.
— Não sabe mesmo? — e diante da minha negativa silenciosa, por meio de um balançar de cabeça, ela continuou. — Porque para mim você está parecendo um rapaz que acabou se irritando porque a garota que ele gosta não demonstrou o mesmo sentimento por ele.
Foi impossível minha boca não abrir pela surpresa. E indignação. Quer dizer, fala sério!
— Eu não gosto dela!
— É mesmo? E de quem você gosta, então?
— Ninguém!
Eu não gostava de nenhuma menina. Nenhuma das meninas da minha sala eram legais, a ponto de eu querer namorá-las. Muito menos ! Quer dizer, era… Bem, .
— Nem mesmo das garotas que te mandam bilhetinhos?
Agora sim eu fiquei indignado. Muito indignado.
— Você os leu?! — como assim minha mãe andava mexendo nas minhas coisas? Fala sério!
— Não, eu não os li. — ela disse séria. — Mas já tive a sua idade e sei o que eles significam.
Minha mãe mudou sua expressão de séria para quase humorada, como se ver o meu desespero misturado com vergonha, lhe divertisse horrores e ela estivesse apenas tentando não rir da minha cara.
— Você vai responder algum? — ela perguntou de forma despretensiosa, sentando-se na minha cama, tentando fingir que não se importava realmente com a minha resposta.
Minha mãe fazia essas coisas. Sempre fomos bem próximos, mas desde que descobrimos sobre a traição do meu pai, e então meus pais se divorciaram, tem sido, basicamente, somente minha mãe e eu. E ela sempre fez o possível para que fôssemos mais do que mãe e filho, mas que fôssemos também amigos. E tem dado certo desde então. Quero dizer, minha mãe sabe que saio com algumas garotas da escola, mas nunca me perguntou diretamente sobre elas. Acho que por esse motivo fiquei tão surpreso com suas perguntas sobre os bilhetinhos românticos que venho recebendo de algumas colegas de classe.
— Não. — respondi de novo.
Minha mãe balançou a cabeça, em sinal positivo, como se dissesse “é, eu já sabia que você falaria isso”.
— E se você mandasse um?
Franzi a testa, não entendendo o que ela queria dizer. Não tive tempo de pedir para que me explicasse, contudo. A campainha tocou e minha mãe foi abrir a porta, encontrando uma Liz muito sorridente, ainda segurando suas revistas nas mãos.
— Hey, . — ela me cumprimentou.
— Oi.
Fiquei meio confuso por um momento. Liz não tinha ido embora há, sei lá, uns 10 minutos?
— Posso passar a tarde com você aqui? Minha mãe não está em casa e, como não quero ficar sozinha, pensei que poderia ficar aqui com você.
— Hm… Por que não volta para a casa de ?
A única coisa que separava minha casa da eram 10 metros de distância.
— Por que não posso ficar aqui na sua?
A verdade é que eu apenas queria tomar banho e jogar vídeo game - nada de Just Dance - mas não queria magoar Liz.
Aprendi, com os anos de amizade, que Liz costumava se ofender muito fácil, e eu sempre era o culpado por magoá-la, o que acabava fazendo com que eu me sentisse culpado no final. E então Liz acabava me convencendo a levá-la ao shopping para tomarmos um sorvete, alegando que essa era a única forma dela se sentir bem de novo. E como minha mãe me ensinou que não se deve magoar uma garota e, se o fizer, deve-se buscar pelo seu perdão, eu sempre acabava gastando a minha mesada em casquinhas do McDonald’s.
— Você pode, ué. — foi o que eu respondi.
Liz ficou na sala, enquanto tomei banho rápido. Depois que me juntei a ela no tapete, coloquei meu jogo da FIFA no vídeo game, ao passo que Liz voltou a folhear suas revistas, perguntando, vez ou outra, o que eu achava dos vestidos das fotos.
— Preciso decidir qual vestido vou mandar fazer… O baile é daqui algumas semanas. — ela explicou.
Particularmente, eu não me importava muito com vestidos de bailes de formatura, mas tentei dar uma opinião útil a ela:
— É legal. — eu disse sobre um vestido azul que ela havia acabado de mostrar. — Sinceramente, não entendo porque temos que ter um baile de formatura, se ainda iremos ter mais três anos de colegial pela frente para, só depois, irmos para a faculdade.
— É uma tradição, .
— Bem, eu não gosto dessa tradição. — especialmente se eu tiver que colocar um terno idiota e ficar parecendo um pinguim.
— Nós deveríamos combinar as nossas roupas, sabe.
Não contive uma risada.
— Você também vai de terno, por acaso?
— É claro que não. Podemos combinar o meu vestido com a gravata que você vai usar.
Acho que devo ter feito uma careta, mas não saberia dizer ao certo.
— E por que eu faria isso?
— Minha irmã combinou o vestido de formatura dela, quando se formou na faculdade, com a gravata do namorado dela.
— Mas nós não somos namorados! — disse automaticamente.
Foi a vez de Liz fazer uma careta à minha fala.
Ficamos alguns minutos em silêncio, apenas ouvindo o som que vinha da TV a cada passe certo que eu dava na bola.
— Aposto que e vão com as roupas combinando. — ela disse em determinado momento.
— E por que eles fariam isso?
— Bem, eles vão juntos, não é?
Larguei o controle do vídeo game no chão. Pensei por alguns segundos no que tinha ouvido, para então responder:
— Nós vamos todos juntos, você sabe.
Lucas havia tentado convidar uma garota mais velha para ir ao baile com ele, mas é claro que Lucas levou um belo fora da garota. Naquele dia, combinamos que iríamos todos juntos, assim não precisaríamos nos preocupar em convidar alguém para ser nosso par, correndo o risco de levar um grande “não” na nossa cara.
— Além disso, duvido que ligue para essas coisas de combinar roupa.
— Acredite, todas as garotas se importam.
Não voltamos a falar sobre o baile ou sobre roupas de cores iguais.
Liz recebeu uma ligação de sua mãe no celular, e disse que teria que ir embora. Não contestei, nem tentei convencê-la a ficar mais um pouco. Eu realmente queria ficar sozinho por um tempo. Por algum motivo, minha mente estava cheia de coisas para pensar…

Uma semana depois e minha mente ainda estava cheia de questões. Ou, melhor dizendo, tinha uma questão que me atormentava dia e noite, e eu nem mesmo entendia o porquê.
Toda vez que via e conversando, longe do restante do grupo, tinha certeza de que estavam combinando que roupa usariam no baile. E então, imediatamente depois de ter esse pensamento, dizia a mim mesmo o quão idiota estava sendo.
— Hey, !
parou na porta da sala, esperando que eu o alcançasse.
— E aí? — ele me cumprimentou.
— E aí… Então, é… Só para confirmar… Ainda vamos todos juntos para o baile de formatura, certo?
— Ah, sim, com certeza. — ele disse. Me surpreendi com o fato de que precisei controlar a vontade de suspirar de alívio. — Caso contrário, eu nem iria nesse baile.
— Certo, certo… E onde vamos nos encontrar? No salão de festas?
pensou por um segundo antes de responder.
— Não pensei nisso, a formatura ainda está longe… Mas imagino que vou até à casa de buscá-la.
Engasguei com a água que estava bebendo. até precisou dar alguns tapinhas nas minhas costas para que eu parasse de tossir.
— Por que você vai buscar ?
Quer dizer, e eu somos vizinhos. Se alguém teria que buscá-la em casa e lhe dar uma carona até a festa de formatura, essa pessoa seria eu.
— Marina disse que vai me ajudar a dar nó na minha gravata. Sabe como é, minha mãe não sabe fazer isso e meu pai acha que é besteira gastar dinheiro com um baile de formatura do ensino fundamental. Então, como já vou estar lá, vou acabar indo junto com .
Aquilo que disse fazia sentido… Bem, isso não significava que eles estariam indo junto, juntos, significava?
— Posso encontrar com vocês na casa dela, e então podemos ir todos juntos.
— Claro, cara, essa é uma boa ideia. — ele disse dando mais um tapinha nas minhas costas.
Confessava que aquela conversa com havia acalmado, momentaneamente, meus pensamentos conturbados. Mas a calmaria teve fim assim que encontrei com na saída da escola.
Por sermos vizinhos, costumávamos ir embora juntos. Quer dizer, nós iríamos, literalmente, para o mesmo caminho, certo? E isso nunca havia sido um problema. Às vezes nós conversávamos o caminho inteiro, e às vezes ficávamos longos minutos sem trocar uma palavra e aquilo nunca havia incomodado a nenhum de nós dois. Com exceção daquele dia.
Apesar de serem apenas três quarteirões que separavam nossas casas da escola, o silêncio daquele dia estava me incomodando. Sentia a necessidade de falar alguma coisa. Queria dizer que eu não queria que ela fosse com para o baile, e que não queria que ela combinasse suas roupas com as de .
Também não queria que ela continuasse sendo parceira de nas aulas de ciência - aquilo era importante para se falar. Sempre que sentavam perto, e ficavam de conversinha a aula toda e, mesmo que conversassem baixo, seus sussurros atrapalhavam os outros alunos. Bem, atrapalhava a mim, pelo menos.
Nunca havia pensado muito nisso, nessas… “Questões”. Sobre e , digo. Mas a verdade é que desde que tivera aquela conversa com Liz, a possibilidade de ver e , lado a lado, talvez até mesmo de mãos dadas, me deixando para trás, enquanto riam juntos por errar os passos da dança que teriam juntos no baile de formatura, estava sendo uma ideia nada agradável.
E foi pensando nisso que tive um ímpeto de coragem.
?
— Sim?
Ela me olhou e eu travei. Talvez não tivesse tanta coragem assim.
— Hum… Já sabe que faculdade vai querer fazer?
pareceu pensar por alguns segundos antes de responder.
— Estava pensando em Direito, mas não acredito que consiga passar em uma universidade pública, pelo menos não logo que terminar o ensino médio. — ela disse. — Não sou tão inteligente quanto você. — ela brincou, batendo seu ombro no meu. — E você?
— Não sei ainda. Falta muito tempo. — respondi. — Quero pensar nisso depois.
Ficamos em silêncio de novo. Um silêncio confortável para ela, eu tinha certeza, mas incômodo para mim.
Novamente fui tomado por uma onda de coragem. Tinha certeza de que agora eu conseguiria falar…
?
— O quê?
Paramos de andar. A fala ficou presa na minha garganta ao perceber onde estávamos: em frente à casa de .
— Me empresta o seu caderno de ciências?
Quis me dar um soco naquele momento. Mas não é como se eu pudesse chamá-la para ir ao baile comigo quando estávamos ali, em frente à casa dela, lhe dando a chance de correr para dentro de casa a qualquer momento, me deixando plantando na calçada sem uma resposta.
— Claro… Apesar de não saber o que você poderia precisar no meu caderno. Digo, você é o melhor aluno da classe.
Precisei dar uma risadinha daquilo, uma que acabou soando sem graça.
— Acho que acabei cochilando na aula e perdi algumas anotações.
não questionou minha desculpa - a qual também poderia ser chamada de “a pior desculpa da história das desculpas” -, e me entregou seu caderno.
Vi entrando na sua casa, acenando a mão para mim, enquanto dava mais alguns passos até à minha própria casa.
Chegando ao meu quarto, joguei a mochila em cima da cama e coloquei o caderno de em cima da escrivaninha. Fiquei encarando o caderno por alguns minutos, até liberar a minha frustração em um grunhido e alguns puxões de cabelo.
Eu não precisava daquele caderno. O que eu precisava era falar para o que estava pensando - mesmo não tendo ideia do que aqueles pensando significavam.
Ainda bufando por conta da minha completa incompetência em falar com garotas - ou, melhor dizendo, em falar com - comecei a esvaziar minha mochila. Quando mais cedo terminasse o dever de casa, mais cedo poderia voltar a me atormentar.
Joguei meus livros e estojo em cima da escrivaninha, deixando alguns bilhetinhos caírem no chão. Revirei os olhos. Por acaso mandar bilhetinhos às pessoas tinha virado algum tipo de moda na escola?
Recolhi os papéis que estavam no chão, sem me dar ao trabalho de os ler, jogando-os no lixo. E foi nesse momento que tive uma ideia. Bem, para ser sincero, a ideia não tinha sido exatamente minha, mas da minha mãe. Quer dizer… Era isso que ela queria falar aquele dia, não era?
Mas… Eu não poderia fazer isso, poderia? Até porque aquela ideia era completamente idiota, e eu nunca, nem em um milhão de anos, poderia imaginar a mim mesmo fazendo isso. Especialmente por se tratar de uma ideia que, com certeza, algum personagem faria em algum dos livros de comédia romântica que lia.
Olhei em volta, como se procurasse algum sinal de que aquela ideia poderia, de alguma forma dar certo. O caderno de estava bem ali, na minha frente, quase pedindo para que eu o abrisse. Bem… Não é como se eu tivesse muita escolha, não é? Afinal, falar com ela não parecia ser uma opção.
Comecei, então, a escrever um bilhete para .

, espero que não fique brava comigo por estar escrevendo no seu caderno. Tentei falar pessoalmente, mas não encontrei as palavras certas. Pra ser sincero, ainda não as encontrei.

A primeira coisa que pensei foi que as chances dela não entender uma só palavra daquilo eram grandes. Isso porque a minha letra, que já era feia, estava péssima. Provavelmente por conta da tremedeira das minhas mãos. Pensei, então, em riscar aquilo, ou arrancar a folha e começar do zero, mas tinha certeza de que nunca me perdoaria por isso, então apenas continuei de onde tinha parado.

Eu acho que gosto de você. Acho que gosto um pouco mais do que gosto dos nossos amigos, e muito mais do que gosto das outras meninas da escola. Elas não dançam
Just Dance como você. E eu sei que combinamos de ir todos juntos ao baile de formatura, mas gostaria de saber se você quer ir combinando comigo. Digo, com roupas da mesma cor. Como um casal.
Se a sua resposta for sim, pode me responder com um bilhete. Se não for, não precisa responder. Irei entender a sua escolha.

.


No dia seguinte, esperei a aula terminar para, finalmente, falar com . Não queria correr o risco dela abrir o caderno durante a aula. Acho que não estava pronto para a sua resposta, especialmente para recebê-la em público.
— Hey, , seu caderno. — disse lhe entregando.
— Te ajudou de alguma forma?
— Ah, sim. Muita ajuda. Muito esclarecedor.
Ela pareceu ficar um pouco confusa com a minha escolha de palavras, mas não comentou nada.
— Certo… Se quiser ir embora na frente, pode ir. Vou esperar por Marina.
— Claro, sem problemas.
Dei as costas para ela, ouvindo chamar o nome de e perguntar se ela poderia lhe emprestar suas anotações para estudar naquela tarde.
— Claro… Liz também pediu meus cadernos. Aparentemente todo mundo tem dormido nas aulas esses dias. — ela disse rindo.
Ri comigo mesmo. Se tinha uma coisa que eu não fazia nos últimos dias, era dormir. Mas isso iria mudar hoje, afinal, estava satisfeito comigo mesmo. Eu tinha conseguido. Tinha, finalmente, falado para o que eu sentia.
Agora eu estava ansioso por sua resposta, a qual, eu tinha quase certeza de qual seria.




Fim.



Nota da autora: Oi, oi, gente! Ta aí uma amostrinha de como foi a pré-adolescência de e , e de como foi o processo dele se descobrindo apaixonado pela nossa pp! O que vocês acharam do bilhetinho? ♥ Qual vocês acham que teria sido a reação dela se tivesse recebido esse bilhetinho, será que teria dito sim ou não? Façam uma autora feliz, e deixem um comentário cheio de amor! ♥



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  • MV: Hola Hola (MV: Kpop)


    Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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