Ain't Blind

Finalizada em: 05/05/2019

Capítulo Único

O par de meias ¾ que usava junto ao vestido preto só aumentava a imagem de esquisita que alguns tinham dela. Não é como se ela não fosse esquisita, estava certa de que todo mundo tem suas esquisitices, mas ser rotulada não era tão legal assim. Ao menos ela gostava do jeito que se vestia, seus amigos e o namorado dela também gostavam então não se importava com o resto.
Saiu de casa encontrando parado, encostado no carro velho que ganhou do pai. nunca diria em voz alta mas adorava aquela charanga. Embora tivesse aquele visual todo largado que ela amava, percebeu que outras também passaram a gostar do mesmo e como o histórico do garoto antes de namorá-la já não era dos melhores, estava focada em eliminar quaisquer chances dele lhe plantar um par de chifres. E essa paranóia só aumentou quando o garoto insistiu que ela ficasse em casa ao invés de sair com ele. Como a teimosa que era, agora mesmo o casal iria para a casa de Jonas. Sorriu para o namorado e os dois entraram no carro, prontos para a festa de boas vindas aos calouros.
já estava no quinto shot de tequila e esperava que Fang parasse de beijar um estranho qualquer para dançar com ela. Metade das amigas dela já estavam muito ocupadas curtindo a festa de maneiras diferentes mas odiava ficar sozinha.
Pegou o celular para tirar uma selfie e recebeu uma mensagem do garoto que havia conhecido num aplicativo de namoro, semanas antes. Estava surpresa por conseguir a atenção do garoto quando se conheceram, já que ele parecia ser muito diferente dela.
Ao que parecia, ele também estava na festa então teve a ideia de se encontrarem em algum momento oportuno para os dois — mais para ele, já que ela não estava fazendo nada que considerasse no mínimo importante.
O vestido rosa — por mais que fosse bem colado em seu corpo, lhe trazia certo frescor e ela agradeceu, já que a parte de dentro da casa parecia estar pegando fogo. Seja lá quem fosse o dono da casa, teria um enorme trabalho caso algo desse errado ou até mesmo para limpar o lugar no dia seguinte.
Já estava ali por volta de vinte minutos, sentada no balcão da cozinha e bebendo. Avistou um dos jogadores lhe encarando e sorriu sem graça. Ainda que fizessem parte do mesmo círculo social, para ela era esquisito simplesmente se aproximar e tentar qualquer tipo de contato, fosse amizade ou algo mais.
Encheu mais um copinho e virou sem hesitar, chupando a fatia de limão em seguida.
Olhou novamente para o jogador, lembrando que o mesmo se chamava Mason e não o encontrou. Dando de ombros, decidiu procurar algo para comer no armário da cozinha.
parecia impaciente, notou. Ela não estava o sufocando, como imaginou no começo. Sabia que tinha algo errado mas preferia aguardar para ter certeza, e parecia que sua resposta viria mais rápido que o esperado. O celular dele tocou pela segunda vez, alto o suficiente para — que estava a seu lado — ouvir e cutucar o namorado.
— Atende logo isso — ela apontou para o celular no colo do garoto, encarando o número desconhecido na tela. novamente rejeitou a chamada.
— Deve ser engano. — o garoto sorriu para a namorada e antes que caísse em seu charme, o aparelho voltou a tocar — Tudo bem, é melhor eu atender e descobrir quem é.
Ele se afastou alguns passos do grupo de amigos para atender uma ligação, os olhos de acompanhando cada movimento do garoto.
Tentando mas não conseguindo ser discreto, olhou em volta parecendo procurar alguém.
Voltando para a mesa onde os amigos conversavam, se aproximou de , que o encarava desconfiada. Não seria a primeira vez que aquele mesmo número ligava e estar perto de descobrir quem era.
— E então, resolveu o problema? — a namorada questionou e se fez de desentendido — A ligação, . Explicou que o número não é de nenhuma companhia de TV a cabo?
— Ah, isso! — ele sorriu, se aproximando mas não voltou a sentar onde estava antes — Estavam procurando uma tal de Maya mas avisei que o número é meu. — ele pegou um dos copos perto de e bebeu o que havia nele. — Vou buscar mais cerveja, você quer um pouco?
— Não, eu tô bem — respondeu já sabendo que aquela era uma desculpa para sair dali. Às vezes, achava que estava sendo paranóica. Mas após tantos relacionamentos fracassados, o melhor que poderia fazer era se prevenir para que não se machucasse novamente. O celular de tocou, ele rejeitou a chamada novamente e então se levantou, indo pegar mais bebida.
bufou decidindo largar o celular por alguns minutos e pensando em realmente aproveitar a festa, pelo menos uma vez na vida ela queria não ser a careta do grupo. Desceu da bancada, trazendo consigo uma garrafa de vinho que minutos atrás encontrou bem no fundo do armário da cozinha. Virou-se contra a bancada, alcançando uma taça por ali e sentiu uma mão segurar firmemente em sua cintura. Pegou a taça e virou-se para descobrir quem estava ali, tendo uma grande surpresa ao encarar aqueles olhos verdes que até agora não havia visto pessoalmente.
— Ei, você me encontrou. Eu estava te ligando — disse trocando o peso de uma perna para a outra, agora encostando na bancada enquanto encarava o sorriso dele. Cacete, ele com certeza era melhor do que ela esperava.
— Não achei necessário atender porque já estava a caminho. — ele explicou — E você 'tá muito gata, se me permite dizer — ele deu um passo para trás, assim pôde olhar para a garota de cima a baixo. Voltou para sua posição anterior, a menos de um passo de distância dela quando seu celular tocou. O nome de apareceu na tela e rejeitou a ligação, fazendo sorrir ao pensar que a ligação poderia não ser tão importante.
— Aproveitando a festa? — perguntou, levando sua mão direto ao ombro do garoto e deixando-a ali, levemente acariciando o local.
O celular dele tocou novamente, desta vez atraindo o olhar de também. Mais uma vez ele rejeitou a chamada e, pelo que ela pôde ver, deixou o aparelho em modo silencioso. "Finalmente", ela pensou.
— Não tanto quanto queria. — as palavras dele carregadas de malícia fizeram se arrepiar involuntariamente — O que acha de irmos para um lugar mais calmo?
Não precisaria de muito para convencer e minutos depois, o casal já estava afastado de todos da festa. Por conhecer o dono da casa, conhecia cada pedacinho do lugar e isso foi muito útil naquele momento, quando ele abriu uma porta que dava na área da piscina. se animou ao ver não só por ver a piscina mas também por saber que naquela parte da casa ela teria silêncio.
Após tentar ligar duas vezes para , tentou se manter otimista e distraiu-se com a conversa dos amigos. Alguns até notaram a ausência de ao lado da garota e sabendo que o outro provavelmente estaria dando um perdido na namorada, tentaram incluir a garota no assunto para que ela pudesse não pensar nele até que o mesmo voltasse.
Luther, um dos garotos que costumava encontrar o grupo de amigos em festas, vez ou outra encarava a garota. poderia não ser a garota mais linda do mundo aos olhos dos outros, mas ele gostava dela. O cabelo curto, o jeito que a garota deixava a franja quase cobrir seus olhos, o piercing no septo, as argolas gigantes e a ausência de maquiagem. não gostava de usar nada além de batom, e todo mundo sabia disso. Percebeu a garota inquieta e virou o rosto a tempo de não notar que ele estava encarando-a.
ligou novamente para e quando caiu na caixa postal, desistiu de tentar dar um voto de confiança ao namorado.
Tomou um pouco do que havia no copo de uma amiga que estava sentada a seu lado e olhou em volta, vendo algumas pessoas dançando a música que tocava. Se levantando, tomou mais um pouco da bebida e se juntou aos outros no meio da sala, que — graças ao dj — aos poucos se tornava uma pista de dança. Ele estava testando sua paciência mas que fosse para o inferno, não ficaria ali com cara de enterro enquanto ele se divertia em algum outro canto da casa. Ele achava mesmo que ela era tão cega assim para não enxergar o que estava debaixo de seu nariz o tempo inteiro?
no momento tinha os pés na água e a cabeça nas nuvens. e ela se beijando, nem um pouco preocupados em se conhecer. Ela achava desnecessário ficar falando, visto que já haviam feito isso durante uma semana inteira.
Suas mãos estavam espalmadas no peitoral de , que tinha uma de suas mãos no pescoço da menina enquanto a outra passeava despreocupadamente pela perna dela. Ela não se importava de estar ali sozinha com ele, mesmo que as coisas pudessem fugir do controle, havia bebido demais para fugir agora. Ele estava deixando-a louca. Um barulho na porta denunciou alguém tentando acessar aquela parte da casa, fazendo os dois se afastarem.
já se aproximava novamente quando o garoto se levantou devagar, oferecendo a mão para ajudá-la a levantar também.
se viu obrigado a dar um fim a noite, a mesma que ele não imaginava acabando daquele jeito.
— Eu preciso ir, meus amigos devem estar atrás de mim. — ele sorriu e voltou a juntar os lábios aos da garota num selinho rápido — Isso não pode terminar aqui e não vai. Eu te ligo.
Assentindo, não conteve um sorriso com as palavras do garoto, o que fez com que ficasse orgulhoso de si por ter a situação no controle.
Combinaram que ela sairia alguns minutos depois dele e trancaria a porta, guardando a chave onde pediu.
saiu cerca de dois minutos depois, indo ao banheiro, imaginando que aquela fosse a última vez que veria durante toda a noite.
Ao contrário do que ele pensava, ao chegar na mesa dos amigos, não encontrou sua namorada sentada junto a eles. estava dançando no meio das outras pessoas e sorriu, pelo menos até ver dois caras encarando sua namorada, não muito longe de onde ele estava. Ele não tinha moral nenhuma para sentir ciúmes, mas sentiu. Se aproximou de , que se afastou sutilmente ao notar a presença do garoto e mais especificamente algo novo no pescoço dele.
— Qual é, . — O garoto se aproximou novamente, tocando a cintura dela. desejou poder quebrar o braço dele. — Você vai começar com essas paranóias de novo?
— Não tem paranóia e também não tem namoro, . Acabou.
— Isso é sério? Você vai terminar comigo sem motivo algum? — perguntou irritado e parou de dançar, soltou uma risada amarga e encarou o ex.
— Esse chupão no seu pescoço por acaso serve como justificativa ou é pouco pra você? — falou um pouco mais alto do que pretendia e revirou os olhos, provavelmente pensando em qual desculpa iria inventar.
— Isso nem é um chupão, eu devo ter batido em algum lugar — rebateu antes de esbarrar em alguém que vinha passando atrás dele.
molhou o rosto e ajeitou a maquiagem. Pela milésima vez já estava se perguntando o motivo de ter ido à festa além de , principalmente devido ao fato de que o garoto nem ficou com ela durante a festa. Apenas escondido, longe de todos, como todos faziam com ela. Suspirou cansada e saiu do banheiro, precisava encontrar Fang e ir embora.
Encontrou a amiga no meio daquele aglomerado dançando incansavelmente, andou até lá e para variar, tropeçou em seus próprios pés, acabando por esbarrar na última pessoa que imaginou que veria aquela noite.
! — gritou animada, sem notar a outra garota por perto, praticamente soltando fumaça pelos ouvidos.
assistia àquela cena com ainda mais nojo do que imaginou que sentiria. Imaginou que a pobre garota provavelmente nem sabia que tinha uma namorada.
Sorriu, até mais decepcionada do que queria, era com aquele cara que ela queria passar o resto da vida? Nem morta. Cruzou os braços esperando mais uma de suas desculpas, enquanto o outro sorria sem graça para a outra.
— Eu tô atrapalhando você, né? — falou alto o suficiente para ouvir também — Vou te deixar em paz, nos encontramos outro dia pra terminar o que começamos hoje — continuou animada, começando a estranhar o corpo tenso dele. Algumas pessoas pararam de dançar para observar aquela cena estranha que acontecia no meio. Alguém teve a ideia de diminuir o volume da música, louco para entender a situação também.
— Oi, tudo bem? — sorriu para a garota, ainda que sem vontade nenhuma. Qualquer uma de suas amigas diria que ela estava confraternizando com o inimigo, sabia que seu suposto inimigo não era a garota e sim o ex namorado babaca. — Acho que o não te falou que ele tem namorada, certo? — observou a expressão surpresa da garota e logo fechou a cara. Porque diabos ela sempre se envolvia com os caras errados? — Mas fica tranquila, eu sei que você é só mais uma vítima aqui. — continuou e pegou um copo na mão de alguém que passava, tomando dois goles seguidos e devolvendo o mesmo, encarando o ex logo em seguida. Era engraçado o quanto sempre falava sem parar quando estava errado, era mais fácil quando não tinha provas contra ele. Agora tinha uma prova viva e bem ao lado dele, poderia dizer o que quisesse e ainda continuaria com sua decisão. Talvez tenha sido por saber que não havia volta que ele apenas ficou calado enquanto tudo acontecia. Agora ele sabia que poderia ter enganado uma vez, mas não o faria duas vezes. — Se quiser ficar com ele, ele até que beija bem. Mas se estiver procurando um relacionamento com esse cara, o que eu realmente não recomendo, acho que você encontra coisa melhor em qualquer lugar. E você pode ficar a vontade, . Porque pra mim você está morto.
mal podia acreditar no que estava ouvindo, mas ela sentia a verdade em cada palavra da outra garota. Antes que a menina se afastasse, tomou coragem e se aproximou dela.
— Eu sinto muito por ter colaborado com essa palhaçada — pôs a mão no ombro direito de e sorriu, tentando mostrar um pouco de solidariedade. Em segundos, pôde notar uma mudança radical na expressão da garota. se virou depressa, antes que pudesse se aproveitar daquele momento de distração e fugir dali. Ela o encarou, segundos depois sentindo um ardor em sua mão, e ouvindo a risada da garota atrás dela. Assistiu passar a mão na bochecha, agora avermelhada e se aproximar dela. Assim que ele deu um passo para frente, deu outro para trás. Com um sorriso presunçoso, deu mais um passo para perto da garota, mal prevendo o que aconteceria a seguir.
puxou a garota para trás de si e levou o punho fechado até o rosto de , que não conseguiu desviar por ter sido pego de surpresa. Antes que ele pudesse reagir, mais dois socos vieram em seguida e um chute entre as pernas.
Sentiu alguém tentar segurar seu corpo e a última coisa que viu antes de ser arrastado para fora, foi o rosto de , sorrindo vitoriosa.
— Me chamo esticou a mão para cumprimentar a outra.
sorriu, aceitando a mão da outra.
, mas pode chamar de .

Fim.

Nota da autora: Olá! Obrigada por ler Ain't Blind. Se gostou, deixa aquele comentário super gostoso aqui e eu vou adorar responder. Se não gostou, deixa uma crítica construtiva bem linda que eu vou adorar também. Espero que tenham gostado da história — por mais curta que tenha sido, eu amei escrever. Beijos e até a próxima!





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