Always on my mind

Última atualização: 03/06/2024

Prólogo


estava sentada no chão do banheiro. Não acreditava no que lia, e ainda não conseguia se lembrar como chegara àquele ponto.
O palito entre seus dedos, com um enorme positivo, parecia cegá-la cada vez mais. As lágrimas já molhavam sua regata preta e suas mãos tremiam, mal conseguindo segurar o palito. Sua voz parecia ter sumido, e ela podia jurar que desmaiaria a qualquer momento.
. Como vou contar isto a ?
Era apenas o que passava na cabeça da jovem, e ela torcia para arrumar um bom discurso, mesmo sabendo que não seria fácil.


Capítulo 1 - Novo ano, com lembranças do passado.


4 semanas antes...
e não poderiam estar mais felizes, estavam a caminho de um dos lugares que as duas mais amavam ir juntas: Rio de janeiro.
Era dia 30 de dezembro. Pegaram um certo trânsito em determinado ponto da estrada, pela insistência de de ir de carro por medo de avião, mas não tinha problema, porque a esta altura as duas ouviam a melhor playlist de músicas da Disney e cantavam “A whole new world” o mais alto que conseguiam.
Eram amigas desde que se entendiam por gente, se tornaram vizinhas aos 2 anos, e seus pais criaram uma grande amizade, o que contribuiu muito para as duas se tornarem melhores amigas anos depois. Fizeram o ensino fundamental juntas, e no ensino médio mudou de escola, o que fez com que ambas conhecessem pessoas diferentes, mas nunca se separarem. Aos 15 anos, as duas tiveram a grande ideia de fazer uma festa para unir os dois grupinhos, o que fez com que conhecesse e conhecesse .
Quando completou 17 anos, em seu terceiro ano do Ensino Médio, seus pais se divorciaram, o que a mesma nunca entendeu. Meses depois, perdeu seus pais em um acidente de carro, deixando todos extremamente abalados e as duas completamente devastadas.
ainda era menor de idade, e a parente mais próxima era a tia, que sequer tinha condições de cuidar da garota por ninguém nem saber onde a mesma se localizava. Com medo de que fosse para um abrigo, Viviane, a mãe de , deu entrada em um processo de adoção, o que não demorou muito já que já tinha seus 17 anos e grande convívio com Viviane.
Foi um sonho para e . Elas dividiam o quarto, brigavam por coisas bobas e sempre voltavam a se falar como se nada houvesse acontecido.
Então, ambas começaram a faculdade. quis cursar Moda e Comércio Exterior. 4 anos depois, aos 22 anos de ambas, elas se formaram. começou a trabalhar em uma grande empresa, o que foi promissor para que morasse sozinha. , com muito apoio dos pais, abriu uma joalheria virtual, que carregava seu sobrenome: .
Meses passaram e, de uma hora para outra, a joalheira se tornou um sucesso e também resolveu morar sozinha, em um apartamento em frente ao de . Foi quando Viviane tomou a decisão de morar na Argentina, o que foi muito apoiado por , que queria a felicidade da mãe.
E agora, aos 24 anos de ambas, trabalhava em uma grande empresa e se dedicava à , que crescia cada dia mais.

Há quilômetros dali, sentia uma dor de cabeça enorme. Por Deus, por que havia bebido tanto na noite anterior? Ele precisava de analgésicos e paciência para aguentar quase uma hora em um avião para o Rio.
o buscaria no aeroporto quando chegasse, e juntos iriam para casa alugada por seus amigos para o ano novo.
Seria o quarto réveillon que todos passavam juntos. Ele não podia negar que sempre era muito divertido.
nasceu em São Paulo. Quando ele tinha 6 anos de idade, sua mãe engravidou novamente de sua irmã, Victória, mas ele conseguia ver que o relacionamento de seus pais não era o mesmo. Seu pai sempre fazia questão de destacar os piores pontos de sua mãe, e quando sua irmã nasceu as coisas só pioraram. Sua mãe era agredida por seu pai diariamente, e ele pedia todas as noites para que aquilo acabasse, mesmo sendo tão novo.
Essa rotina durou 3 anos, e um dia, após um surto, seu pai foi embora e nunca mais voltou. Ele não soube muito bem como reagir a isto, mas todos seguiram em frente.
Aos seus 15 anos, se tornou modelo de revistas juvenis, o que contribuiu para adquirir um pouco de fama.
Aos 17 anos, não sabia qual faculdade cursar, mas gostava muito de trabalhar com plataformas digitais, foi então que ele criou sua própria marca de roupas, chamada Sunset, com o dinheiro dos cachês de modelo. se tornou seu sócio.
As seguidoras fiéis de se duplicaram e triplicaram, até atingirem mais de 3 milhões em seu instagram.
Aos poucos, a empresa foi expandindo, e agora, aos 23 anos (quase 24), ele podia jurar estar na melhor fase de sua vida.

já estava com as malas na frente da saída do aeroporto, com um óculos de sol no rosto e a jaqueta pendurada em seu braço. A camiseta lisa preta havia sido uma péssima escolha, e ele se repreendia por ser tão burro e esquecer do calor do Rio de Janeiro.
Discou os números de seu melhor amigo enquanto revirava os olhos impaciente. Onde havia se enfiado? Era bom ter uma ótima desculpa. Pensou.
— Caralho, aonde você tá? — disse grosso ao telefone e escutou um longo riso do outro lado da linha. — Qual a graça, ?
— Tá de TPM? Ou é ansiedade pra ver a ? — brincou e ajeitou o óculos no rosto, secando o suor da testa pela décima vez.
— Aonde você tá? — Perguntou novamente, quase se rendendo a pegar um táxi e mandar para puta que pariu.
— Tô atrás de você, deixei o carro no estacionamento.
então se virou, encontrando seu sócio com um sorriso enorme no rosto. A situação se tornou engraçada, e os dois se abraçaram em meio ao riso.
— Vamos logo, preciso urgente de um analgésico. — afirmou, fazendo uma careta, e assentiu com uma risadinha. Ele imaginou que chegaria de ressaca, era engraçado como podia prever seu melhor amigo.

2 horas e alguns minutos depois.
e finalmente chegaram em Angra dos Reis na casa escolhida por Rachel e Clara, e cada um contribuiu com parte das despesas. Elas esqueceram de mencionar que a casa era quase uma mansão: cinco suítes, duas salas, uma cozinha enorme, sala de jogos e uma piscina gigante.
Eles estariam em 9 pessoas: , , Rachel, Clara, , , Lucas, Ana e Gabriel. Ana e Gabriel ficariam com um quarto, já que eram um casal. Clara e Lucas dividiriam outro. Rachel iria ficar sozinha, e dividiriam a quarta suíte, e a última.
A realidade é que eles sabiam que, não importava a divisão de quartos, teriam dias que cada um acordaria em um canto, principalmente Rachel, que sempre amava dormir em qualquer sofá.

Algumas horas mais tarde.
dirigia orando pra chegar logo. Por Deus, que viagem longa. Quando a placa de Angra dos Reis atingiu seus olhos, ela deu um grito.
— O QUE ACONTECEU? — acordou, pulando no banco do passageiro, e se arrependeu de não ter filmado sua reação.
— CHEGAMOS! — Gritou e a sua melhor amiga a acompanhou.
colocou o endereço da casa no GPS, e as duas seguiram atentamente a voz irritante do mesmo até à porta da enorme casa.
Assim que entraram, deram de cara com Rachel com uma latinha de refrigerante na mão. As três garotas correram para se abraçar, e foi engraçado o quanto gritavam, se abraçavam e pulavam ao mesmo tempo.
De tanta gritaria, Clara e Lucas apareceram na sala da casa, e riram ao perceber que se tratava das três. cumprimentou o casal de amigos, que raramente via pela correria do dia a dia, e riu quando Clara mordeu sua bochecha levemente.
— Caralho, eu tava com saudade de vocês! — disse, pegando o refrigerante da mão de Rachel, que riu da atitude da amiga.
— Cade o resto do pessoal? — perguntou e todos a olharam com um sorriso malicioso, sabendo que ela queria saber de uma pessoa especificamente. — Argh, eu odeio vocês! — Disse e riu logo em seguida.
e saíram para comprar umas cervejas, Ana e Gabriel estão arrumando as coisas deles lá em cima. — Respondeu Clara.
Conversaram um pouco mais sobre como tinha sido a longa viagem até o Rio e sobre como as duas estavam cansadas. Logo, afirmaram que iriam subir para arrumar as coisas no quarto e, assim que adentraram o local, pularam como duas malucas em cima das camas.
— Já sabe as regras né? — perguntou a , que se jogou para trás, ficando esparramada na cama.
As regras sobre a divisão de quarto haviam sido criadas quando ambas tinham 9 anos e viajavam juntas com suas famílias. Conforme o passar dos anos, elas acrescentaram algumas, como: Não trazer garotos para dormir enquanto a outra estiver; Não deixar a chapinha ligada em cima da cama; Colocar as toalhas penduradas no banheiro; Dividir sempre o shampoo e as maquiagens... E a regra principal: Não acordar a outra, se não for algo grave!
— Óbvio, é nossa milésima viagem juntas. — respondeu e gargalhou, confirmando.
Depois de alguns minutos das duas se acomodando no quarto, a porta foi aberta, revelando Ana e Gabriel bem sorridentes, e as duas foram abraçá-los. O casal era pouco visto por elas pelo fato de morarem no Rio. Algumas vezes, quando vinha a trabalho, ela arrumava um jeitinho de vê-los.
— Os meninos fizeram hambúrguer, desçam pra comer! — Avisou Gabriel.
— Já vamos! — afirmou.

Minutos depois, as meninas haviam tomado banho a fim de tirar um pouco da exaustão causada pela viagem. vestiu um short com uma camiseta qualquer, e decidiu descer descalça mesmo e com os cabelos úmidos.
Quando terminou de descer o último degrau, suspirou por um segundo, encontrando ele, sem camisa, com uma bermuda verde água, e os cabelos despenteados. ria de uma coisa qualquer com , escorado no balcão da cozinha.
! — disse, animado, assim que percebeu a presença da mesma na cozinha, assustando , que olhou para direção da garota.
— Oi, ! — Respondeu e em seguida deu um abraço em .
adentrou a cozinha, abraçou e passou reto por que estava ali, indo diretamente aos hambúrgueres.
se virou e abraçou rapidamente , e logo foi na mesma direção de .


Capítulo 2 - O primeiro flashback.


Passava das duas da manhã, e estavam deitados em suas camas, olhando o teto e ambos pareciam estar perdidos em seus pensamentos. tentava se lembrar o porquê de não falar com ele, e se arrependia por ser tão babaca com . Se pudesse voltar no tempo, pensava.

Flashback (três anos antes).
Era o dia da festa de comemoração de 3 anos da Sunset, marca de roupas de e . A festa seria sofisticada, dentro de um espaço alugado por eles. Algumas peças de coleções famosas da marca estavam expostas em manequins pelo salão e luzes escuras tomavam conta do lugar, deixando o foco apenas nas peças e no palco.
estava emocionado. Jamais imaginara que, com três anos de loja, teriam tanto sucesso a ponto de proporcionar uma festa daquelas.
Eram 20h quando ambos adentraram o salão, vestindo a coleção exclusiva de aniversário da marca e sorrindo. Cumprimentaram algumas pessoas e foram em direção ao bar. tinha prometido a si mesmo que encheria a cara após o discurso, que seria às 22. No momento, ele tomaria apenas uma dose.
Pediram whisky com gelo e logo os copos foram colocados no balcão, levou aos lábios e sentiu o gosto forte do whisky. Desejava mais dez, e teve a certeza quando seus olhos encontraram os dela.
— Parece que viu um fantasma! — Disse , e, quando olhou na direção de , entendeu o motivo da expressão do sócio. — A ... Tá loira? — Perguntou.
estava decidida a provocar, ninguém a tratava daquele jeito. Ele achava que ela era o quê? Um passatempo? era mais, e ela sabia disso.
Naquela noite, colocou uma blusa frente única prateada, com uma saia preta justa e um salto alto preto. Deixou o cabelo solto, com cachos na ponta, havia feito algumas luzes na semana anterior que haviam dado um efeito radiante. O esfumado preto nos olhos completou o look da garota, que prometeu a si mesma mostrar o que ele havia perdido.
Quando adentrou o salão, seus olhares não demoraram a se encontrar. Ela fez a melhor cara de deboche que poderia fazer, caminhando até ele, que estava sentado no bar.
— Oi. — Deu um abraço em e em seguida abraçou .
— Achei que não viesse. — Confessou no ouvido da garota, que riu de leve.
— Só pelo que você disse sobre nunca sermos um casal? Eu nunca achei que seríamos. — Respondeu baixo.
O abraço se desfez, o garoto ficou completamente em choque. Havia feito merda e sabia disso. Teria de arcar com as consequências a noite toda, vendo ela linda, mas com raiva dele.
— Eu quero uma vodka, por favor. — Pediu ao barman, que logo a entregou. — Obrigada! — Piscou para o mesmo, que ficou com as bochechas coradas.
saiu pisando duro dali, indo em direção aos outros amigos, cumprimentando um por um. Enquanto do outro lado, sorria, escondendo o sentimento de tristeza e raiva por ter ouvido aquelas palavras de .
Tomou mais três doses de vodka enquanto conversava com uma mulher que se sentou ao seu lado. Respirou uma, duas, três vezes. E levantou, a fim de ir para perto do palco ouvir o discurso de e .
— Boa noite. — Começou . — Somos gratos por termos todos vocês aqui! — Sorriu, abraçando de lado.
— E, além de tudo, somos gratos por ter tanta gente que apoia nosso sonho. — Continuou e jurava que ele choraria ao fim do discurso.
— A Sunset foi a minha salvação e a de , e espero que tenhamos muitas festas para comemorar muitos aniversários de sucesso! — Finalizou .
— 3 ANOS DE SUNSET! — disse por fim, e confetes começaram a cair.
e se abraçaram, descendo do palco e cumprimentando alguns fotógrafos presentes na festa. Quando finalizaram algumas fotos, foi atrás de e para o bar.
No caminho do bar, ouviu o riso familiar e por reflexo virou a cabeça, encontrando conversando com um de seus amigos, Noah.
Noah era o estilo de cara que conquistava qualquer uma. Tinha um papo legal, era bem bonito, e fazia todos rirem em momentos aleatórios.
gostava muito de Noah, e já viu ele saindo com algumas garotas. Mas, por Deus, era a ali! Ele se sentia mal por ter dito que ambos nunca seriam um casal, e sabia que ela fingia ter lidado bem com aquilo. Ele queria acreditar que ela estava fingindo.
Quando percebeu, seus passos o guiavam em direção aos dois, e quando chegou, Noah o abraçou.
— Caralho, , Parabéns! — Disse Noah e não conseguiu conter um sorriso.
— Obrigado! Fico feliz que tenha vindo! — Agradeceu e revirou os olhos. — , vamos comigo até o bar? — Olhou para garota, que o fuzilava com olhar.
— Não. — Respondeu , já sem paciência.
— Por favor? — Tentou , mais uma vez observando a garota bufar.
— Volto já, Noah. — deu um beijo na bochecha de Noah, que parecia não estar entendendo nada daqueles dois.
Pegou na mão de com força e o arrastou até o bar. Ela estava puta da vida, ele sabia disso. Quando chegaram, pediu outra vodka, e outro whisky.
— Qual é? Quem você acha que é? A porra do meu dono? Acorda! — Disparou , após tomar um longo gole da vodka que fervia em seu sangue.
— Não acho nada, caralho! Só... — Começou.
— Só o quê? Só não consegue elevar isto né? Eu tenho que te esperar, até você decidir o que quer da vida. Mas isso — Fez um gesto indicando os dois. — Acabou. Independente do que seja. Eu cansei de jogar o seu joguinho!
virou o resto da vodka e sem nem dar tempo para falar, saiu da festa sem olhar para trás, o deixando com a verdade e com a sensação ruim do arrependimento.
Flashback off.


— Tá aí? — chamou a atenção de .
— Oi, que foi? — Respondeu , ainda olhando para o teto.
— Você tava longe, huh? Tava pensando em quê? — Perguntou .
— Eu sou um merda. — bufou.
— Um dia vendo a e você já tá assim? — riu e sentiu vontade de sufocar o melhor amigo.
— Você tá todo bobão porque não quer saber de você! — Respondeu.
— Ok, somos dois idiotas. — Confessou e foi a vez de rir. — Mas, sério, , já tá na hora de você e a seguirem em frente, vocês dois parecem não cansar de sofrer... — Deu uma pausa. — Eu sei que eu e não somos exemplo, mas vocês já passaram muito mais coisas juntos do que nós. Tá na hora de parar de sofrer, cara, uma hora isso vai acabar com vocês! — Finalizou .
— Eu sei, mas não consigo. — passou às mãos pelo cabelo, irritado. — Eu gosto dela, eu sei que ela gosta de mim, e todas as vezes que tentamos romper... seja lá o que temos, algo nos une.
— Cara, uma hora vai acontecer algo sério e vocês vão ter que decidir se vão ficar juntos ou não. — Disse e atirou um travesseiro em sua direção. — Outch! O que foi? — Reclamou.
— Você parece a Raven. — começou a gargalhar.
— Raven? — Perguntou confuso.
— É, de ‘As visões da Raven’, tá prevendo o futuro, sócio. — atirou o travesseiro de volta em , que resmungou.
— Boa noite, Chelsea. — Respondeu , entrando na onda do melhor amigo, e os dois riam ainda mais.


Capítulo 3 - Escolhas.


A manhã não poderia estar melhor. Era dia 31 de dezembro e já estava de biquíni por baixo do short, já havia tomado café da manhã e agora terminava de arrumar suas coisas para encontrar os outros que já estavam na praia.
Colocou por fim o protetor solar na bolsa, chamou Rachel e agora as duas caminhavam animadas até a praia, que não era longe por sinal.
— Tomara que tenha uma budweiser bem gelada naquele cooler, sério! — Rachel disse e riu levemente.
— Não beba muito, temos a noite ainda! — Avisou .
— Pode deixar, baby, beberei o suficiente para entrar no mar e caçar meu tritão! — Piscou Rachel para , que gargalhou.
Quando chegaram, rapidamente acharam seus amigos, estendeu sua esteira ao lado de Clara e Ana, e estava decidida a pegar um bom bronzeado, enquanto tomava uma cerveja gelada que ofereceu.
As três engataram uma longa conversa sobre seus trabalhos, as suas rotinas, e logo a conversa caiu para casamento. não conversava frequentemente sobre seu ponto de vista em relação a isto, mas gostava de saber os planos de cada uma de suas amigas. Achava engraçado as perspectivas sobre como a vida deve ser: Casar; comprar uma casa; engravidar.
Das três, Ana era quem estava mais próxima do trajeto, fora pedida em casamento dois meses antes, e estava animada para o evento. Clara estava morando com Lucas, e esperava ansiosamente seu pedido de casamento.
— Não tenho planos para casar, mas é meu sonho! — Clara anunciou e riu. — Qual é? Fico emocionada só de pensar em um vestido branco!
— Eu não quero uma enorme cerimônia, só quero oficializar! — Disse Ana. — Algo simples e bonito. Não queremos casar na igreja. E você, ? Quais seus planos? — Perguntou e riu levemente.
— Não sei, não quero casar, é só um título pra mim. — Suspirou. — Não muda nada no relacionamento, certo? Digo, se você já mora com a pessoa. — Deu uma pausa. — Acho que só me casaria se estivesse muito apaixonada.
— Credo, você é fria! — Ana disse e todas riram. — Quero uma madrinha bem sorridente! — Continuou e os olhos de se arregalaram.
— Madrinha? Jura? — Perguntou, se sentando na esteira, e Ana a acompanhou.
— Claro! Vocês todas! , vocês são nossa família, e isso nunca vai mudar. — Ana finalizou e as duas se abraçaram, puxando Clara também.
— Assim eu choro. — disse baixinho, arrancando risadas das duas amigas.
— O gelo está derretendo! — Clara respondeu e todas riram.
Após o momento de carinho entre as amigas, terminou sua cerveja e caminhou até o cooler, que estava ao lado de . Levantou a tampa e logo a voz que ela não queria ouvir atingiu seus ouvidos.
? — Chamou o garoto. suspirou, contou até dez e olhou para o mesmo.
— O quê? — Perguntou enquanto pegava a garrafa de cerveja e fechava o cooler.
— Podemos conversar? — Perguntou o garoto, apreensivo, e por um momento pensou em negar o pedido, entretanto a curiosidade era maior.
— Podemos. — Respondeu, pegando o garoto de surpresa. — Vou daqui a pouco pra casa, se quiser, podemos conversar no caminho.
— Ok. — Assentiu .
Ambos estavam apreensivos sobre como a conversa prosseguiria. Da última vez que conversaram, as coisas terminaram piores do que antes da conversa. sabia que logo o “casal prometido” teria de acabar, ou acabaria com os dois.
sentou-se novamente entre as garotas, que agora conversavam sobre seus planos para o próximo ano. Começou a sentir falta da , que não estava entre as amigas e nem entre os meninos, procurou e ele não estava em canto algum, imaginou o que havia acontecido...

Um pouco mais tarde, e trocaram olhares cúmplices, era a hora. levantou primeiro, e em seguida.
— Ei, já volto, esqueci meu celular e, vocês sabem, fico apreensiva de alguém importante me ligar. — Avisou e os amigos riram.
— Quando voltar, traz a minha toalha? — Pediu Rachel e assentiu.
— E você, ? — Perguntou Lucas e todos caíram no riso quando os olhos dele se arregalaram, entretanto ninguém questionou mais nada.
rapidamente vestiu o short, deixou a bolsa com as meninas e começou a caminhar com em seu encalço, o caminho de volta seria mais longo e ela sabia disso.
— Sobre o que você quer conversar? — Perguntou, apreensiva.
— Eu sei que o que aconteceu da última vez não foi legal, nem pra mim, nem pra você. — riu, irônica, enquanto prendia seu cabelo em um coque. — Mas não precisamos trazer isso pra essa viagem, nem pra esse ano. Não somos as melhores pessoas um para o outro, , e eu não aguento mais nos ver sofrendo. Precisamos ser diferentes. — Suspirou, sentindo o peito doer.
— Eu quero que seja diferente também, precisa ser diferente. — respondeu, sentiu o coração apertado ao final da frase. Não haviam sido as melhores pessoas nos últimos anos, era tempo de mudar.
— Eu sei que tenho sido um idiota, mas eu me importo, , me importo muito. Nunca quis que as coisas tivessem que terminar. — Suspirou, e só queria que aquela conversa acabasse logo, antes que as lembranças a machucassem ainda mais.
— Tudo bem, vamos fazer diferente.
Concordou , se virando para e estendendo a mão, como se selassem um acordo. arqueou uma sobrancelha e ela quis rir, mas não fez. O garoto a puxou para um abraço e ela sentia que ia derreter a qualquer momento. Um sentimento de término rodeava os dois e eles tentavam se convencer que necessitavam daquilo, necessitavam do fim.
O abraço se desfez, e perceberam que estavam em frente à casa. Entraram juntos, ouvindo um estrondo vindo de cima.
— EU TE ODEIO! SAI! — A voz de era ouvida e os dois subiram correndo.
— Mas que porra tá acontecendo aqui? — disse, adentrando o quarto que e dividiam, encontrando desesperado enquanto a garota gritava.
— Viemos conversar e ela só sabe gritar e me jogar as coisas. — respondeu e sentou na cama com os braços cruzados.
— Vai se foder! Ele veio me pedir um aval, não conversar! — Disse .
— Você falou da Júlia pra ela, não é? — perguntou pra , que assentiu. — Puta que pariu, , sai daqui vai!
— Júlia? — olhou para , que balançou a cabeça, dando a entender que explicaria depois.
Os garotos saíram do quarto, deixando as duas. foi em direção ao criado mudo, encontrando o celular. Apertou o botão power e as notificações começaram, haviam algumas mensagens que ela leu por cima, nada de importante, provavelmente sua mãe ligaria mais tarde. As fãs de , começaram a seguir , era toda vez assim, os números de seus seguidores dobravam quando estavam juntos, estava acostumada.
Colocou o celular no bolso e voltou a atenção para , que agora chorava de raiva e um pouco de tristeza por . Odiava ver a irmã daquele jeito, sentou-se na cama ao lado de e a abraçou.
— Ei, estamos no Rio! Amamos aqui! O ano novo é mais tarde, eu trouxe um colar da lindo pra você. Depois de amanhã ficamos tristes, hoje não! — Disse e secou as lágrimas.
— Tudo bem, conversamos sobre isso depois. — Forçou um sorriso e , que já estava com o coração apertado, sentiu-o apertar ainda mais.


Capítulo 4 - Retrocesso?


se encarava no espelho com um sorriso. Tinha amado sua roupa, seu cabelo estava natural e as bochechas rosadas pelo sol. Tinha decidido não usar maquiagem alguma, e as joias douradas da com seu vestido branco contrastavam com a vermelhidão de sua pele causada pelo sol.
Mesmo com tudo “perfeito”, sabia o quanto doía lá no fundo, e o sorriso, que antes brilhava em seu rosto, murchou. Uma lágrima quis cair ao lembrar da conversa de horas antes, mas ela respirou fundo e prometeu entrar no novo ano com pensamentos felizes. Vai ficar tudo bem, pensou.
Abriu a porta do banheiro dando de cara com , ela estava animada com o Ano Novo. sabia que era para tentar esconder o fato de estar com outra pessoa, mas não falaria nada à irmã, que por sinal, estava linda. Usava um vestido rose longo, os cabelos estavam soltos em ondas que a mesma havia feito com babyliss, a maquiagem era leve mas com alguns brilhos.
— Ei? Cadê seu sorriso? — Questionou , sorrindo, e sorriu no mesmo momento. — Senta aqui! — Puxou pelo braço, sentando-se uma de frente à outra na cama. — Você está linda! E eu sei que não é um momento pra falar disso, mas esse ano vai ser diferente. Eu sei que vai! — olhou pra cima enquanto respirava fundo, controlando as lágrimas. — Vai acontecer algo muito bom em nossas vidas, a melhor coisa! Vai ser o ano da decisão, .
— Ano da decisão? — Questionou com a sobrancelha arqueada.
— Sim, ano da decisão. O ano em que vamos saber se é pra ficarmos com eles, ou não. — Respondeu , e achava aquela conversa muito estranha. — Eu sinto que é este ano!
— Credo, ! Tô toda arrepiada! — Brincou , e riu.
— Minha mãe conversou comigo em um sonho! — Contou .
sabia que, quando a sua tia de consideração aparecia em alguns sonhos de , algo sempre acontecia em seguida. Ela não era ligada em religião alguma, mas acreditava que era uma forma de ter um contato com a mãe, e ambas sempre tentavam seguir os conselhos da mãe de .
— O que ela disse? — Perguntou.
— Disse que algo muito bom vai acontecer, que precisamos ter calma, principalmente você! — terminou de contar e sorriu. — O ano da decisão, fui eu que senti.
— Algo bom... O que será que é? — Questionou.
— Sei lá, mas, quando é algo bom, é algo bom! — As duas riram.
— Temos que ir. — Alertou , levantando e puxando . — Vamos ser firmes!
— Isso, firmes! — Bateram as mãos e fecharam a porta do quarto.

Era 22h00 quando chegaram na praia, haviam comprado alguns drinks e conversavam enquanto esperavam o horário da queima de fogos chegar. tinha trocado alguns olhares com , mas ambos tentavam evitar o contato visual. conversava com Rachel animadamente, ouvindo as histórias malucas da amiga sobre uma noite em Noronha. Enquanto estava animado conversando com Lucas e Clara sobre algo aleatório, e torcia para ter tido uma boa conversa com ele.
estava no quarto drink, tudo estava meio embaçado e ela ria abraçada a Rachel quando iniciaram a contagem regressiva.
Dez... — A multidão começou e abraçou de lado, bêbada e saltitante.
— Eu amo vocês! — Rachel abraçou as amigas.
Nove...
— Eu odeio os homens! — fez uma careta e gargalhou.
Oito...
— Eu vou morrer solteira! — Comemorou Rachel.
Sete...
— Eu quero pelo menos um filho pra não ser tão sozinha, ou uns cachorros. — Disse .
Seis...
— É, filho não! Talvez daqui uns 10 anos. — Repensou.
Cinco...
— Gato, ! — Lembrou .
Quatro...
— Tenho alergia! — Lembrou . — Acho que cachorros.
Três!
— Vou estar com você pra qual você quiser! — Lembrou e as três formaram um abraço estranho.
Dois!
— Eu queria que ele também estivesse. — Sussurrou , de modo imperceptível para as duas amigas.
Um! Feliz ano novo!
As três correram para o mar, molhando os pés e fazendo uma “mini” guerra de água, o que não durou muito, já que voltaram para abraçar seus amigos.

(Super Trouper – Abba)
I was sick and tired of everything
Eu estava cansada de tudo
When I called you last night from Glasgow
Quando te liguei ontem a noite de Glasgow
All I do is eat, and sleep, and sing
Tudo que eu faço é comer, dormir e cantar
Wishing every show was the last show
Desejando que cada show fosse o último show
So imagine I was glad to hear you're coming
Então imagine como eu fiquei feliz em saber que você está vindo
Suddenly it feels alright
De repente sinto que está tudo bem
And it's gonna be so different
E tudo vai ser tão diferente
When I'm on the stage tonight
Quando eu estiver no palco esta noite

se sentia animada pelo álcool, e a falta que sentia dele era inevitável. Era a bebida e estava certa disso, mas não pensou muito no minuto seguinte. estava distraída com Rachel bêbada, quando aos poucos se aproximou de , ficando lado a lado a ele, que encarava o mar com um copo na mão.
— Eu odeio você. — Disse a garota e riu no mesmo momento que terminou a frase.
— Me odeia? — Questionou o garoto, irônico.
— Sim, odeio. — Respondeu firme, cessando a risada e encarando o mar.
— Posso perguntar a razão? — respondeu.
— Tudo. — Colocou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.
— Nem tudo foi minha culpa. — Disse, e então virou a cabeça e encarou a garota.
— Eu sei, e isso me deixa com mais raiva ainda. — Bufou e bebeu mais um gole de bebida.

Lights are gonna find me
Luzes vão me encontrar
Shining like the sun
Brilhando como o sol
Smiling, having fun
Sorrindo e me divertindo
Feeling like a number one
Me sentindo a número um
Tonight the
Esta noite
Super Trouper
Super trouper
Beams are gonna blind me
Raios vão me cegar
But I won't feel blue
Mas eu não me sentirei triste
Like I always do
Como sempre me sinto
'Cause somewhere in the crowd
There's you
Porque em algum lugar da platéia, está você.

— Podemos conversar amanhã, se quiser, eu e você estamos bêbados. — Disse e a garota o encarou de volta.
— Bêbado quanto? — Arqueou a sobrancelha, maliciosa.
— Não, , eu te respeito! — Disse e a garota gargalhou.
— Era pra entrar no mar, pervertido. — Riu e puxou a mão do garoto.
— A água tá gelada! — Reclamou .
— Deixa as coisas com os chinelos. E vem! — Disse colocando os pés na água, que encharcava o vestido.
!
— Se você não entrar comigo, vou entrar sozinha! — Pirraçou e arrumou as coisas na areia, tirando a blusa e acompanhando a garota de vestido no mar.

Facing twenty thousand of your friends
Enfrentando vinte mil dos seus amigos
How can anyone be so lonely?
Como alguém pode ser tão solitário?
Part of a success that never ends
Parte do sucesso que nunca acaba
Still I'm thinking about you only
Ainda estou pensando somente em você
There are moments when I think I'm going crazy
Existem momentos que penso que estou ficando louca
But it's gonna be alright
Mas tudo vai ficar bem
And it's gonna be so different
E tudo vai ser tão diferente
When I'm on the stage tonight
Quando eu estiver no palco esta noite

sentia o coração pulsar mais forte vendo a menina sorridente adentrar o mar como uma doida em seu vestido longo. Ele sorria bobo, olhando como ela era linda em um momento tão aleatório. Quando chegaram em um ponto onde a água batia em seu ombro e no peito de , pararam de caminhar, ficando um de frente ao outro.
— Feliz ano novo, Nemo. — Sussurrou.
— Pra você também, Dory. — Respondeu.
puxou a garota para mais perto e a mesma entrelaçou as pernas em sua cintura quando os olhares se cruzaram. O rosto de a milímetros do seu o fez se perder, e logo ambos não resistiram e seus lábios se encontraram.
O que seria doce, aos poucos explodiu, se tornando algo mais quente. segurava o rosto de com força, e a mesma puxava seus cabelos.
— Ei. — Disse , interrompendo o beijo, o que fez a garota sussurrar algo em protesto. — Conversamos hoje cedo sobre isso, não podemos...
— Você que sabe, então. — o soltou e foi caminhando em direção à areia sem se lembrar do seu vestido branco.
— Ai, meu Deus. — correu rapidamente em direção à sua blusa, vestindo a garota rapidamente. Que bom que ela é baixinha, pensou. — Você faz muita pirraça bêbada. — Afirmou e a garota gargalhou.
— Tenho que tomar banho. — fez uma careta e assentiu.

pensou em avisar os amigos, mas sabia que metade já deveria ter ido pra casa e a outra metade estava completamente bêbada. Segurou na mão de , que, mesmo depois de entrar no mar, ainda não estava sóbria, e juntos seguiram até a enorme casa.
Quando chegaram, caminhou tranquilamente com até a escada, ouviram alguns gritos da piscina e deduziram que provavelmente alguns de seus amigos estavam lá. Ajudou a garota a subir degrau por degrau, e então chegaram à porta do quarto da .
— Entra e toma banho, ok? Vou buscar água pra você. — Disse e assentiu de uma forma engraçada, e adentrou o quarto.
Entretanto, começou a pensar na possibilidade da garota tomando banho sozinha e, mesmo com o arrepio percorrendo sua espinha, achou melhor esperá-la no quarto, caso algo acontecesse. Já havia dado banho em inúmeras vezes, principalmente quando eram mais novos e estava sempre presente na noite da tequila.

Flashback (5 anos antes).
— Você sempre me leva embora na melhor parte! — bufou como uma criança quando colocou a garota no sofá.
— Não me irrita, , levei um soco por sua causa! — Retrucou , nervoso, tirando as botas de , que ria.
— Levou por se meter onde não foi chamado. — revirou os olhos.
— Ah, é? Você estava em cima da mesa de três caras tirando a roupa, com certeza você vai me agradecer amanhã. — Piscou para garota, que mandou um beijo.
— Ciúmes.
— Ache o que quiser, vem, vamos tomar banho. — Puxou pela mão e a mesma tirou a saia.
está aqui? — Perguntou.
— Não, estamos na minha casa. — Disse enquanto a ajudava a tirar a blusa dentro do banheiro. — Ok, agora vamos entrar no chuveiro.
ligou o chuveiro no frio, sabia que na hora ela reclamaria, mas precisava ajudá-la a melhorar naquele momento. fez uma cara feia quando encostou na água, pulando rapidamente ao lado de .
— Eu não vou entrar aí! — Reclamou, cruzando os braços.
— Por favor, . — Pediu.
— Não, porra! — A garota retrucou.
— Você não ajuda! — revirou os olhos e deixou escapar uma risadinha.
— Nossos filhos vão te odiar se você for chato assim. — Gargalhou e o garoto não aguentou e acabou rindo junto.
— Vamos ter filhos? — Questionou e assentiu seriamente.
— Claro, a Luísa e o Sky. — Afirmou. — Talvez Stella. Eu era ela das Winx.
— Já temos até os nomes? Vem, vamos entrar no chuveiro. — Tentou puxar a garota mais uma vez e riu quando ela puxou o braço dele.
— Entra comigo? — Pediu e fez uma careta. — Pela Luísa e pelo Sky!
— Tudo bem, vamos. — Concordou.
e entraram no chuveiro abraçados, de roupa mesmo, e de calcinha e sutiã. Ele auxiliou no banho e, quando saíram, deu uma camiseta e uma de suas cuecas pra ela, que vestiu. Ambos deitaram na cama de , mas ele sabia que logo teria que acordar para ajudá-la quando ela estivesse vomitando.
Flashback off.


Naquele momento, não daria banho na garota. As coisas eram diferentes de quando tinham 19 anos, eram bem diferentes.
Ele riu levemente com a lembrança e decidiu descer rapidamente para buscar água. Quando voltou, já tinha saído do banho e estava de toalha e com os cabelos molhados em pé.
— Trouxe água pra você. — Disse.
— Obrigada. — Agradeceu e sentou-se na cama, levando as mãos ao rosto.
— Ei, o que foi? — Perguntou , sentando ao lado de .
— Eu fui atrás de você — começou a gargalhar e arqueou a sobrancelha, sem entender. — Eu prometi que nunca mais iria atrás de você. — Continuou a gargalhar, parando para respirar entre algumas palavras. — Você... você partiu meu coração, e agora estamos aqui...
... — Interrompeu-a.
— Não, não. — A garota recuperava o fôlego. — E nós nos beijamos.
não tinha reação, apenas a encarava sem entender. Ele estava um pouco bêbado e já achava tortura cuidar da garota, mas ouvir dela que ele havia partido seu coração, também partia o dele.
— Tudo bem, chega. — cessou o riso e olhou nos olhos de .
— Você é impossível. — Disse, se levantando da cama.
— Eu? — perguntou, se levantando também.
— Sim, você. — Debateu.
— Qual é? Eu só bebi, você já fez coisa pior. — Disse a garota e arregalou os olhos.
— Quer saber? Já chega pra mim! JÁ CHEGA! — saiu batendo a porta do quarto.
bufou e sentou na cama. Precisava de um roupa, lembrou. Caminhou até a mala, pegando o primeiro pijama que viu e vestiu-o logo em seguida. Não foi um processo rápido, já que mal conseguia se equilibrar.
Logo após, deitou em sua cama, fechando os olhos e adormecendo rapidamente. Álcool, claro.


Capítulo 5 - A última noite.


acordou se sentindo um pouco tonta, olhou para o lado e não havia chego ainda, então deduziu que não havia dormido muito tempo. Ainda se sentia um pouco alterada, e o que fez no segundo seguinte só confirmou isto. Saiu de seu quarto e foi até o fim do corredor, abrindo a porta do quarto de e se jogando na cama dele em seguida. Sentia o perfume do garoto em suas narinas, e isto fazia seu peito apertar levemente.
A porta do banheiro se abriu e o garoto tomou um susto quando a viu deitada em sua cama. Como ela tinha parado ali? E como podia ser tão bonita em momentos tão simples?
— Porra, , você não tem jeito. — Disse e deitou ao lado da garota, colocando um travesseiro entre os dois.
O olhar dos dois se encontrou no segundo seguinte. Ambos estavam alterados, um pouco menos, mas ainda estavam. E levantou o olhar, encontrando os olhos dele.
— Odeio quando você bate a porta. — Disse baixo.
— Eu sei, e eu odeio quando você enche a cara assim. — Retrucou e a garota revirou os olhos.
— Não odeia não, e por que o travesseiro? Tá com medo de mim? — Perguntou e riu em seguida.
— Sim, vai que você me agarra do nada. — Respondeu, rindo.
— Hm... — olhou, maliciosa, e sentiu um frio na espinha. Ela jogou o travesseiro no chão, aproximando seu rosto do garoto.
— Nem pense, , o dia foi longo pra nós, conversamos hoje. — Disse e a garota revirou os olhos, e em seguida, fingiu não ouvir.
Foi distribuindo beijos no pescoço do garoto, que estava em uma guerra com si mesmo, mas, quando os beijos de chegaram a boca dele, ele não se conteve. Sentia e mesma sensação de como foi a primeira vez que dormiram juntos, e, se não fosse pelo caminho que a relação deles seguiu após isso, poderiam ter algo melhor hoje em dia.
O resto da noite foi apenas dos dois, em um momento deles. Quando o dia começou a amanhecer, e sentiram o peito apertar, e prometeram que aquela seria a última vez que dormiriam juntos e que deveria ser esquecido. Mas como poderiam esquecer, se a única coisa que conseguiam sentir era uma sensação de término e saudade?

Dois dias depois...
e haviam acabado de chegar em São Paulo. A volta tinha sido tranquila e, agora, estavam jogadas no sofá da sala de esperando uma pizza chegar. Ainda não tinham conversado sobre o acontecido de duas noites atrás, mas sabia que logo teria de contar detalhe por detalhe pra .
Enquanto a pizza não chegava, decidiu tomar um banho, e ficou na sala procurando algo para assistirem. Quando retornou de cabelos molhados e pijama, observou assistindo um episódio de Grey’s Anatomy com um pedaço de pizza na mão, sorriu e se juntou à garota.
— Ei, tá na hora de conversarmos sobre o que aconteceu no ano novo... — Disse , encarando , que pegava um pedaço de pizza.
... — olhou para garota, que revirou os olhos.
— Anda, ! — Pediu e estremeceu.
— Você sabe o que aconteceu, e, pra ser bem sincera, eu nem lembro direito. — Respondeu indiferente, dando uma mordida na pizza.
— Pode até não lembrar de tudo, mas de alguma coisa você lembra. — Retrucou , já irritada.
— Ok. — Disse e respirou fundo. — Acho que fui atrás dele, mas não lembro o que eu disse, entramos no mar, isso eu sei porque meu vestido estava encharcado no outro dia. Lembro de voltarmos pra casa, e eu aparecer no quarto dele e transarmos. É tudo que eu lembro, não lembro nem das nossas conversas. — Balançou a cabeça, envergonhada. — Depois de transarmos, voltei pro nosso quarto e dormi!
— E como você está se sentindo com isso? — perguntou.
— Não sei... — Confessou. — Estou brava comigo mesma por ter ido até ele, e estou triste porque agora parece que é o fim mesmo, sabe? Eu só não quero pensar.
— Sei, isso significa que não podemos beber perto deles. — Riu e a olhou com a sobrancelha arqueada. — Não, não! Não aconteceu nada entre nós, ele tá com aquela tal de Júlia, e eu fiquei cuidando da Rachel, que vomitou no quarto dela inteiro...
As duas riram, era típico de Rachel o vexame de ano novo, e era sempre engraçado.
— Vou focar na . — Afirmou .
— Mas, , não fica adiando seu sofrimento, porque eu te conheço e sei que, quando você realmente se tocar do que aconteceu, vai sofrer o dobro. — Alertou e bufou, mordendo mais um pedaço da pizza.

e haviam chego no hotel, teriam de passar mais dois dias no Rio para um evento de publicidade. entrou em seu quarto e se jogou na cama, respirando fundo. Tentava apagar as memórias da noite de ano novo para evitar a tristeza de saber que acabou. Se convencia que conheceria outra pessoa, as coisas seriam mais leves e quem sabe até se casariam. Mas era estranho imaginar um futuro sem ela.

Uma semana depois.
— Eu vou jogar essa merda na parede! — Resmungou .
O celular da garota tinha apitado a manhã inteira, a maioria das notificações era do instagram da garota, com fotos dela e de , com diversas legendas, que ela revirava os olhos só de lembrar.
“O fim de e , o casal prometido”
e cortam relações”
“Uma fonte afirmou que ambos não se falam mais”

A garota, irritada, pensou em desligar o celular, mas logo pensou na e soube que não poderia desligá-lo. Então desligou as notificações do instagram rapidamente e voltou a atenção à arrumação de seu closet. Tinha decidido tirar algumas roupas que não usava para doá-las, e foi quando puxou um de seus casacos que uma caixa preta caiu, espalhando fotos, cartas, e algumas bugigangas.
havia esquecido completamente daquela caixa. Curiosa, pegou uma das fotos que estava caída e quis rir ao ver ela e com cinco anos de idade fantasiadas de princesas. estava de branca de neve e de Cinderella. Ela lembrava vagamente daquele dia, mas lembrava da briga com para ser a Cinderella. Atrás da foto, a letra da mãe de dizia: e , dia de fantasia na escola.”
Colocou a foto de volta na caixa e guardou as outras, que incluíam uma de com a mãe, uma do pai de dormindo com ela, outra dos pais, uma do porquinho da índia que tivera na infância, outra dela e de em uma piscina de plástico, e, quando achou que havia acabado, a última era dela e de , dois anos atrás.
A foto mostrava rindo e olhando pra ela segurando o riso. Ela lembrava perfeitamente deste dia e de como a foto tinha sido espontânea, Clara havia tirado enquanto os dois provocavam um ao outro. Atrás da foto havia um pequeno trecho de uma música escrito na letra de :
“I know times are getting hard
(Eu sei que os tempos estão ficando difíceis)
But just believe me, girl
(Mas apenas acredite em mim, menina)
Someday I'll pay the bills with this guitar
(Um dia pagarei as contas com este violão)
We'll have it good
(Nós vamos ter tudo de bom)
We'll have the life we knew we would
(Nós vamos ter a vida que sabíamos que teríamos)

Foi a primeira vez desde o ocorrido que sentiu vontade de chorar. Respirou fundo, contendo as lágrimas, e colocou a foto novamente na caixa. Começou a recolher as cartas, algumas eram de , outras de sua mãe, e uma parecia nunca ter sido aberta. respirou fundo e abriu a carta.

“Filha,

Sei que deve estar brava comigo por ter ido sem me despedir, mas espero que entenda até o fim desta carta. Vou explicar o porquê de eu ter ido.
Antes de começar, saiba que te amo independente do que ocorreu entre mim e sua mãe, você é a coisa mais importante da minha vida, e sempre vai ser prioridade em minhas escolhas. Sempre!
Eu e sua mãe nos conhecemos quando tínhamos apenas 16 anos, eu me apaixonei assim que a vi e, bom, acho que ela também. Aos 17 anos, sua mãe engravidou de você, e não foi fácil.
Éramos novos, nossos pais estavam furiosos e nos forçaram a casar. Eu era apaixonado pela sua mãe, mas casar era algo surreal pra nós dois naquele momento, mas, no fim, acabamos nos casando. Fomos morar juntos, e você nasceu. Quando vimos você pela primeira vez, parecia um sonho, você era linda, e só sabíamos agradecer.
Meses depois, começamos a perceber que o casamento havia sido precipitado. Nos amávamos, mas não o suficiente para um casamento. Não podíamos pedir o divórcio, tínhamos você para criar ainda, nossos pais não permitiriam, e aquilo nos deixava irritados um com o outro.
Mesmo com a irritação, fomos amadurecendo e percebendo que nem tudo sempre seria como um conto de fadas, e nosso relacionamento foi melhorando. Éramos ótimos amigos, tão amigos que nem nós demos conta quando o tempo passou e que já não tínhamos mais a preocupação com nossos pais. E foi aí que decidimos seguir em frente e ir em busca da nossa felicidade.
Eu conheci alguém especial, seu nome é ngela, e ela é com certeza o amor da minha vida. Não quero que pense que eu traí sua mãe, ou algo assim, foi uma escolha nossa, de nós dois. Ela sabia sobre a ngela e sua mãe sempre vai ser minha melhor amiga.
Não quero que fique sempre com raiva ou triste por termos nos separado! Quero que pense nisso de outra forma, que leve como uma lição sobre o amor.
Não se precipite. O amor vem na hora certa, em um tempo bom. O amor é leve, você não deve ficar por obrigação, nunca. Você sabe quando é amor, mas nem sempre isso quer dizer que o amor é fácil, porque não é.
Você é especial, , e eu sempre soube. Tenho muito orgulho de você, e sempre terei.

Papai.”


chorava sentada no chão do closet. Lembrava do dia que pegou a carta da cômoda de seu quarto, tinha percebido que sua mãe estava diferente aquele dia, como se quisesse agradá-la de alguma forma. Não havia lido por puro medo, medo do que seu pai pudesse dizer sobre a situação. Horas depois de esconder a carta, sua mãe lhe contou que seu pai havia ido morar em outro lugar, mas que estava tudo bem, não era necessário ficar triste por isso, seu pai nunca deixaria de amá-la, muito menos de ser seu pai.
O pai de sempre foi muito carinhoso, até os dias atuais, entretanto não se viam muito pela rotina de ambos. Ele realmente tinha se casado de novo, com ngela, e tinha uma relação boa com a mesma.
Discou rapidamente o número do telefone de seu pai, que atendeu alguns minutos depois.
— Alô. — Ouviu o homem dizer.
— Pai! — disse com a voz chorosa.
? Tá tudo bem? — Perguntou.
— Amo você, eu tô com muita saudade! — Respondeu e imaginava o sorriso de seu pai do outro lado do telefone.
— Eu também te amo, filha. Vem almoçar aqui semana que vem, temos novidades. — Disse e sorriu.
— Eu vou, que novidades? — Questionou e seu pai riu levemente do outro lado da linha.
— Terá que vir pra saber. — Brincou e soltou uma risada indignada.
— Tá bom então, eu vou! — Concordou por fim, sorrindo.

corria na esteira, tinha ido à academia do prédio pela primeira vez e notava o quanto ela era vazia. Ele não tinha costume de fazer academia sempre, mas algumas vezes na semana saía para correr em um parque que tinha ali perto. O barulho da esteira ao lado chegou aos ouvidos do garoto, que, por puro reflexo, virou a cabeça para olhar, encontrando uma garota loira de olhos castanhos. Assim que seus olhares se encontraram, ela sorriu, e retribuiu. Ele já sabia no que aquilo resultaria, e estava bom para o momento, precisava mesmo de alguma forma pra tentar tirar a garota da sua cabeça.


Capítulo 6 - Gravidez?


Estava atrasada, mais uma vez.
estava saindo correndo de casa, havia acordado atrasada e precisava ir para casa do seu pai, para o almoço.
Ligou o carro e uma música qualquer tocava no rádio, nem prestava atenção, estava morrendo de curiosidade sobre a novidade de seu pai. Ela o conhecia, e, para não ter contado algo por telefone, era porque realmente era importante.
A casa de seu pai era a 30 minutos exatos da casa da garota, e ela não via a hora de chegar logo. Além da saudade, estava morrendo de fome.
Estacionou em frente à casa e logo seu pai veio recepcioná-la. Ambos não conseguiam conter o sorriso de se verem pela primeira vez no ano. Deram um longo abraço, e logo Ângela apareceu atrás de seu pai e abraçou a mulher em seguida.
— Como vão as coisas? A ? — Perguntou o pai de enquanto caminhavam para dentro da casa.
— Tudo indo, estamos correndo com a nova coleção. — Afirmou e seu pai sorriu, orgulhoso.
A casa do pai de era enorme, ela nunca entendeu o porquê de uma casa tão grande se apenas os dois viviam ali. Não podia negar o quanto adorava a casa, que era super aconchegante mesmo contendo alguns traços modernos. Ângela e seu pai tinham bom gosto.
— Vou colocar a mesa! — Disse Ângela com um sorriso nos lábios.
— Quer ajuda? — Perguntou e a mulher negou com a cabeça.
— Pode ficar tranquila! Conversem, vocês dois! — Respondeu e sumiu pela porta da cozinha.
— E ? Por que não veio? — Perguntou o homem enquanto se sentava no sofá.
— Ela estava ocupada com o trabalho, mas mandou um beijo. — Respondeu e seu pai assentiu.
O pai de era bem parecido com ela, muitos diziam que ela era a cópia dele, mas ela sabia que era só fisicamente. Tinham temperamentos bem diferentes, ela nunca vira o homem levantar a voz uma vez sequer, ele tinha uma calma que às vezes achava de outro mundo. Ele ia em todas as reuniões de escola da garota, penteava seu cabelo, a colocava na cama, e sempre deixava um chocolate em sua mochila. Eram unha e carne, e sempre teve confiança de contar tudo pra ele, que sempre ouvia e tentava dar os melhores conselhos possíveis. Além de tudo, ele ajudou muito, financeiramente, quando decidiu abrir a , emprestou uma boa quantia, que pagara conforme os anos.
— Você vai ver a delícia que está a comida que preparamos!! — Disse Victor e riu.
— Eu imagino! — Disse, sorrindo. — Senti sua falta! — Afirmou e o homem a puxou para um abraço.
— Eu também, filha. — Disse e deu um beijo no topo da cabeça da garota. — Você parece triste, o que está acontecendo? É , não é?
— Não tem mais , pai. Acabou, pra sempre. — Respondeu , se soltando do pai e o olhando nos olhos.
, só vocês dois não veem. — Riu, lamentante. — Vocês se gostam, meu amor, esse não é o fim. — Afirmou e arqueou as sobrancelhas.
— Você e a mamãe se conheceram aos 17, se amaram, foram casados 17 anos e se separaram. Você achou que era amor, mas não era. Seu amor é a Ângela, pai. Por que seria diferente pra mim? — Perguntou.
— Filha, nosso caso foi diferente, nós tivemos que casar logo, sua mãe estava grávida, não podíamos não casar. — Afirmou e a assentiu. — Eu sempre soube que com vocês era amor. Você sempre falava dele de um jeito diferente, e, mesmo com os anos, as coisas não mudaram...
— Não mudaram? — Questionou.
— Vocês continuam brigando, mas você sempre fala dele de um jeito carinhoso. Repara, ! Não é porque é amor que vai ser fácil. — Afirmou e ficou pensativa.
— Prontinho, o jantar está na mesa! — Disse Ângela, passando pela porta e beijando a bochecha de Victor.
Os três se dirigiram à sala de jantar e o cheiro de lasanha se espalhava pelo ambiente, cutucando o estômago de , que estava morrendo de fome. Se sentaram e se serviram.
— Antes de comermos, queremos te contar uma coisa. — Disse Victor, segurando a mão de Ângela, e sorriu, o encorajando a contar. — Vamos ter um bebê!
mantinha a boca aberta por minutos e seu pai começara a ficar preocupado. Ela não entendia como isso podia estar acontecendo. Era seu pai! Seu pai ali! Tudo bem que ele tinha 41 anos apenas, e Ângela 36, mas ela nunca imaginaria que os dois teriam um filho nesta fase da vida. O choque estava presente na expressão da garota, que logo pareceu acordar.
— No-nossa... Parabéns! — Disse, desconcertada. — Você está de quanto tempo? — Perguntou à Ângela, que sorriu.
— Três meses! — Respondeu, animada, e sorriu com o entusiasmo. Queria apenas a felicidade do pai e, se isso o fizesse feliz, a faria também.
— Estou muito feliz por vocês! — Disse, sincera, e seu pai mal continha o sorriso.
comeu em meio às conversas sobre o bebê e mal podia esperar para segurar a criança em seus braços. Ela não tinha o sonho de ser mãe, como algumas mulheres tem, ela não se via trocando fraldas ou levantando no meio da noite. Entretanto, tinha curiosidade de sentir o amor incondicional que toda mãe diz sentir.
Foi embora com um sorriso de orelha a orelha, seu pai era merecedor de toda felicidade que pudesse sentir, e ela amava vê-lo tão feliz assim. Teria um irmão, e daria todo o apoio que ele precisasse.

Dias depois...
Eram 8 da manhã quando saíra de casa, era o dia da tão esperado da primeira prova de vestido das madrinhas para o casamento de Ana. Ela estava ansiosa, já que a noiva havia feito surpresa para todas sobre a cor que usariam, prometendo revelar apenas na primeira prova dos vestidos.
Assim que chegou, sorriu ao ver Rachel, e Clara sentadas, enquanto Ana estava de pé roendo as unhas e andando de um lado para o outro.
— Finalmente a princesa da disney chegou! — Bufou Rachel, ajustando os óculos escuros no rosto.
— Eu também estava com saudade, Rachel. — Disse , o que fez todas rirem.
— Ela está de ressaca, como sempre. — Disse , se referindo a Rachel, e riu, sentando-se ao lado da garota.
— Não me surpreende. — Disse e Rachel mandou o dedo. — Dia feliz, Rachel, dia feliz!
— Verdade, desculpa, Ana! — Respondeu, mandando um beijo pra Ana, que riu e revirou os olhos.
— Vocês são inacreditáveis! Mas eu estou muito feliz que vocês estejam aqui, sério!
— O prazer é nosso, amiga! — disse de forma carinhosa, segurando a mão de Ana.
— Assim eu choro! – Respondeu Ana com os olhos marejados. Emoção de noiva, pensou .
— Não, sem choro! Vamos falar sobre as coisas do casamento! — Respondeu Clara e todas se animaram.
— Está tudo caminhando, inclusive, já sabemos os padrinhos.
— E quem são? — Questionou .
— Amiga, olha, eu preciso me desculpar com você e com a , mas foi Gabriel que escolheu, e eu não posso impedir isto.
Quando Ana finalizou, já sabia do que se tratava, teria de ser par de e de . Entretanto, tinha em mente não questionar as decisões de Ana e Gabriel, teria de entender, afinal era o dia deles e não precisavam de um problema.
— Tá tudo bem, Ana, é seu dia! — Respondeu , tentando afastar as lembranças que insistiam em tomar sua mente.
— Sim, e faremos esse sacrifício! — Disse e todas riram.
— Vocês são as melhores madrinhas que eu poderia ter! — Sorriu. — Bem, antes de entrarmos na sala, a cor do vestido é azul serenity, o famoso azul bebê.
— Amiga, você tem muito bom gosto, sério! — Disse Rachel, sorrindo e batendo palma.
O resto da manhã as garotas provaram diversos vestidos. havia se apaixonado por um vestido em específico; era ombro a ombro, longo, com a parte de baixo franzida e levemente rodado, era aquele! Alguns ajustes seriam feitos e ela poderia buscá-lo dois dias antes do casamento, quando eles ligassem.
Logo, as garotas seguiram para o McDonalds, mas, por algum motivo, quando entrou o cheiro a deixou enjoada logo, o que era estranho, já que a garota comia sempre ali. Pediram os lanches e se sentaram, esperando que o número do pedido fosse chamado. Alguns minutos depois, estavam todas com seus lanches, mas não conseguia nem olhar para seu lanche direito.
— Tá sem fome, ? — Perguntou Clara e fez uma careta.
— Estou um pouco enjoada, sei lá. — Respondeu. — Devo ter comido algo que me fez mal.
— O que você acha que pode ter sido? — Questionou .
— Não sei, você sabe que minha alimentação não tem sido das melhores. — Disse, sincera, e deu de ombros.
, você tem certeza que não é outra coisa? — Perguntou Rachel, visivelmente preocupada, e franziu as sobrancelhas, confusa. — Gravidez.
ficou pálida, começou a pensar na sua última menstruação e percebeu que estava atrasada, começou a contar as semanas desde o ano novo e se assustou quando notou que já estavam em fevereiro.
? — Ana chamou sua atenção e ela acordou do transe.
— Eu não estou grávida. Isso é impossível! — Respondeu, visivelmente tensa.
— E o no ano novo, vocês usaram camisinha? — Questionou Rachel.
— Eu não lembro, Rachel, mas acho que sim! — começara a ficar impaciente. — Eu não estou grávida, tirem isso da cabeça de vocês!
Todas ficaram em silêncio, sabiam que estava em negação, mas logo a dúvida a levaria a realizar um teste, entretanto naquele momento o melhor era não questiona-lá mais.

Mais tarde, quando chegou em casa, tomou um longo banho e deitou em sua cama, com os cabelos molhados mesmo. Ligou a televisão e colocou em um dos seus filmes favoritos: Grease, nos tempos da brilhantina.
Entretanto, não conseguia se concentrar no filme. Sua cabeça só pensava na possibilidade de estar grávida de e em como aquilo soava surreal pra ela.

estava em um lugar todo branco, não sabia dizer onde. Ouvia um choro bem alto e sentia necessidade de segui-lo. Seus pés pareciam não obedecer seu comando e, quanto mais andava, mais se aproximava do choro. Passou pela primeira cortina, que ela nem sabia ao certo de onde havia surgido. Assim que a atravessou, , vestido de branco, sorria. Parecia estar lhe esperando, e a garota não tinha reação alguma.
— Até que enfim você chegou, tem alguém que quer te conhecer. — Disse e não entendia. — Vem.
O garoto segurou sua mão e juntos atravessaram a segunda cortina, onde deram de cara com uma criança que aparentava ter três anos de idade. Era uma mistura maluca de e , os olhos verdes como o do garoto e os cabelos escuros como os dela. não sabia ao certo se era um menino ou uma menina, mas sentia seu coração transbordar de amor, amava demais aquela criança, que, assim que a viu, estendeu os braços pedindo colo. Ela segurou a criança em seus braços e a abraçou, sentindo uma lágrima escorrer por seus olhos.
— Mamãe.


acordou assustada, olhando para os lados, pensando em como estava ficando maluca. Precisava tirar aquela dúvida, antes que enlouquecesse com outro sonho.


Capítulo 7 - Are you lonesome tonight?


Quando acordou, sentia que o dia estava diferente. Colocou uma regata preta e um short, escovou os dentes e prendeu o cabelo em um rabo de cavalo alto. Sua feição não estava das melhores, e ela não sabia o que sentir sobre si mesma. Calçou seus chinelos, pegou a carteira e saiu do apartamento.
Não estava certa do que ia fazer e sua cabeça estava longe enquanto caminhava até a farmácia mais perto de sua casa. Quando adentrou o local, pegou quatro testes de gravidez de marcas diferentes, respirou fundo e, quando se virou para o caixa, observou uma mulher, que aparentava ter em torno de 30 anos, com um bebê em seu colo. Só pode ser pegadinha, pensou.
Pagou os testes, e caminhava até sua casa lentamente. Sabia que quando chegasse teria os minutos mais tensos de toda sua vida, por mais que estivesse tentando colocar na cabeça que não estava grávida, algo dentro da garota dizia o contrário.

(Are you lonesome tonight? — Elvis Presley)
Are you lonesome tonight?
Você está solitária hoje?
Do you miss me tonight?
Sente minha falta essa noite?
Are you sorry we drifted apart?
Sente por nós termos nos distanciado?
Does your memory stray to a brighter summer day
Sua memória te leva para um dia claro e ensolarado
When I kissed you and called you sweetheart?
Quando lhe beijei e lhe chamei de querida?

A noite havia chego e a garota que estava jogada no sofá com o celular desligado, sentia que era a hora de fazer o que havia evitado o dia todo. Quando chegou da farmácia horas antes, evitou fazer os testes. Ela estava nervosa e com medo, nunca teve o sonho de ser mãe. Lembrava das noites da tequila quando tinha 19 anos, das baladas aos 20, festas da universidade, das ressacas aos domingos e de puxando sua orelha. Lembrava dele, e de todas as vezes que cuidavam um do outro em seus porres.
Sempre que era mencionada em papos sobre filhos, dizia sempre um talvez, que era mais para o não do que para o sim. Afirmava que seu sonho era o mundo, liberdade, a qual, de certa forma, sentia que já havia conquistado uma parte.
Pegou os testes e foi para o banheiro de seu quarto.

Do the chairs in your parlor seem empty and bare?
As cadeiras da sua sala parecem vazias e sem propósito?
Do you gaze at your doorstep and picture me there?
Você olha para porta e me imagina ali?
Is your heart filled with pain, shall I come back again?
Seu coração está cheio de dor? Será que voltarei?
Tell me, dear, are you lonesome tonight?
Diga-me, querida, você está solitária essa noite?

Quando terminou os quatro testes, andava de um lado para o outro, esperando os cinco minutos. Pareciam os minutos mais longos de sua vida e, quando finalmente o tempo acabou, ela virou o primeiro teste e, assim que leu positivo, as lágrimas vieram aos seus olhos imediatamente. O positivo a cegava, e ela se sentou encostando as costas na parede do banheiro.

I wonder if you're lonesome tonight
Eu me pergunto se você está solitária essa noite
You know someone said that the world's a stage
Sabe, alguém disse que o mundo é um palco
And each must play a part
E cada um deve atuar seu papel
Fate had me playing in love you as my sweet heart
O destino me fez atuar tendo você como minha amada
Act one was when we met, I loved you at first glance
O primeiro ato foi quando nos conhecemos, te amei à primeira vista
You read your line so cleverly and never missed a cue
Você leu suas falas tão brilhantemente e nunca perdeu nenhuma deixa
Then came act two, you seemed to change and you acted strange
Então veio o ato dois, você parecia diferente e atuou estranhamente
And why I'll never know
E o porquê, nunca irei saber

Sua regata preta começava a molhar por conta das lágrimas. A garota levantou rapidamente e virou os outros testes, que continham o mesmo positivo. Jogou seu perfume que estava em cima da pia contra a parede do banheiro, o observando partir e exalar o cheiro por todo local. Foi então à procura de seu celular, tentando respirar fundo e se acalmar, o que parecia improvável, já que não conseguia parar de chorar.

Honey, you lied when you said you loved me
Querida, você mentiu quando disse que me amava
And I had no cause to doubt you
E eu não tinha razão para duvidar de você
But I'd rather go on hearing your lies
Mas eu prefiro continuar ouvindo suas mentiras
Than go on living without you
A continuar a viver sem você
Now the stage is bare and I'm standing there
Agora o palco está inutilizado e eu estou aqui parado
With emptiness all around
Com o vazio à minha volta
And if you won't come back to me
E se você não vai voltar pra mim
Then make them bring the curtain down
Então faça com que abaixem as cortinas

Quando achou o celular, digitou rapidamente os números de , que atendeu no terceiro toque.
Oi, , fala! — Disse e soluçou. — Você está chorando? O que está acontecendo?
— Preciso que você venha pra cá! — Disse. — Rápido!
Estou saindo daqui.
, sentou-se no sofá, suas pernas tremiam, e ela não conseguia parar de balançá-las.

Is your heart filled with pain, shall I come back again?
Seu coração está cheio de dor? Será que eu voltarei?
Tell me, dear, are you lonesome tonight?
Diga-me, querida, você está solitária essa noite?

Alguns minutos depois, adentrou o apartamento, jogando a bolsa em qualquer canto, e, quando olhou para , seus olhos arregalaram.
— O que houve? — Perguntou e sentou-se ao lado da garota, a abraçando. — ...
— Eu estou grávida. — Respondeu, observando a feição de surpresa da sua amiga e de leve tristeza, mas tristeza por isso não era muito o perfil de .
— É de , não é?
— Sim. — Respondeu , assentindo.
, isso não é algo ruim!
— Como não, ? — A garota se levantou, colocando as mãos na cabeça. — Eu nunca quis engravidar! Ainda mais agora... Isso é surreal demais pra mim!
— E o que você pretende?
— Eu não quero ter esse filho. — Respondeu a garota e entendeu completamente o sentido da frase, entretanto sua feição era de espanto e tristeza. — Eu não estou pronta!
, você tem certeza disso? — Questionou , ficando de pé em frente a amiga.
— Eu não sei, ! — Disse em meio ao choro. — Eu estou com medo.
— Eu sei que está, mas não é uma decisão que possa ser tomada assim, você precisa pensar.
— Você é minha irmã, a pessoa que mais me conhece no mundo inteiro, eu preciso da sua ajuda. O que eu faço?
— No seu lugar, eu teria o bebê. — Suspirou. — Mas, , essa decisão não é de ninguém além de sua.
— E se eu for uma péssima mãe? Francamente, eu não sei trocar uma fralda! — Respondeu e riu levemente.
— Vem cá! — Disse, abrindo os braços, e logo as duas se abraçavam. — Você é a melhor pessoa que eu conheço, é impossível você ser uma péssima mãe. Eu vou estar com você, pra tudo, independente do que você escolha.
— Eu não poderia ter uma irmã melhor!

Dois dias depois...
e , depois de passar quase o dia todo dentro do apartamento de , resolveram sair para jantar. Estavam exaustas das maratonas de séries, que se dividiam em Grey’s Anatomy e Gossip Girl, mesmo com a insistência de para assistirem American Horror Story, que morria de medo. Não haviam conversado muito sobre a gravidez, e o pouco que conversaram foi suficiente para entender que sua melhor amiga estava evoluindo aos poucos no processo de aceitação, e que, uma hora, ela começaria a se animar com a ideia de ser mãe.
As garotas se arrumaram rápido, estavam famintas, e não demoraram a sair de casa e ir andando até a pizzaria ali perto. Sentaram-se e escolheram o sabor da pizza, estavam animadas, já que fazia algum tempo que não comiam ali.
— Quero te perguntar uma coisa. — Começou , e já imaginou do que se tratava. — Não me olhe com essa cara! — Repreendeu e riu levemente. —
Quando você vai contar para o ?
A garganta de secou e a garota respirou fundo, tentando se imaginar dando essa notícia ao garoto. Depois de tudo que já passaram, a promessa sobre não sofrer mais, como ela contaria que esperava um filho dele?
— Por que ele precisa saber? — Disse, jogando o cabelo para o lado casualmente. — O que faria?
— Será que por ele ser o pai? — Respondeu , arqueando a sobrancelha, como se fosse uma resposta óbvia. — Você sabe que ele jamais rejeitaria essa situação.
— E se ele rejeitar? — A feição de era triste, e a amiga sentiu o coração apertar.
— Você conhece melhor do que qualquer um, ele pode surtar no começo, mas não vai te deixar sozinha nessa.
, meu sonho nunca foi ser mãe, eu nem sei como reagir a isto. Você consegue me imaginar comprando roupas de bebê? Amamentando?
— Questionou , triste, e adotou a mesma feição da garota. — Eu preciso aceitar isso primeiro, preciso pensar. Eu prometo que vou contar pra ele, mas não agora.
— Eu sei, , me desculpe. — Respondeu e segurou na mão da amiga. — Eu vou respeitar seu tempo.
Logo a pizza chegou e as duas comiam enquanto conversavam sobre assuntos aleatórios. Ainda era confuso para elas imaginar que em alguns meses a vida da mudaria completamente, e a dúvida que ficava na cabeça das garotas era: Será que aguentaria tamanha mudança?


Capítulo 8 - Um macacão de zebra.


, você está de 6 semanas, meus parabéns! — O médico sorria de orelha a orelha e a garota não tinha reação alguma. — Bem, é um ótimo passo iniciar o pré-natal bem no começo, você fez muito bem. Você fará alguns exames, incluindo o ultrassom que faremos essa semana ainda, onde já poderemos escutar os batimentos cardíacos do bebê! Marcarei as datas e nos vemos logo. Parabéns, mamãe!

dirigia repassando as falas do médico. havia marcado a primeira consulta para ela, mas com a correria de seu trabalho não conseguiu acompanhar a garota, que acabou indo sozinha. As duas semanas desde que descobriu que estava grávida haviam sido um tanto complicadas; Não podia sentir cheiros fortes e os enjoos matinais eram terríveis. A ideia de ser mãe ainda não a agradava muito, entretanto ela já tinha aceitado sua condição atual e prometia dar o seu melhor para sua gravidez.
Um blog de fofocas anunciou que estava saindo com uma garota, e era a única notícia que havia tido dele, o que apertava seu coração. Não queria imaginar qual seria sua reação ao saber que seria pai, esperava que fosse positiva, mas tinha suas dúvidas quanto a isso.

Alguns quilômetros dali.
andava pelo shopping à procura de , já que haviam combinado de almoçarem juntos antes de irem para a empresa. O garoto havia focado no trabalho, decidido a não pensar nela. Mesmo que saísse com uma garota ou outra durante esse período, algo dentro dele dizia que havia alguma coisa diferente, que ele não conseguia descobrir o que era, mas torcia para descobrir logo.
Estava quase chegando na praça de alimentação quando avistou entrando em uma loja de roupas infantis, e não pensou duas vezes antes de seguir a amiga. Assim que adentrou a loja, tinha um macacão de bebê cinza com uma zebra desenhada em mãos e a vendedora lhe mostrava outro. Tocou no ombro da garota e, assim que ela se virou, deu um grito e arregalou os olhos, o fazendo rir brevemente.
? O que você...
— Te vi entrando aqui, quis te dar um oi. — Interrompeu e riu em seguida, quando a feição da garota relaxou.
— Que susto! — Respondeu , o abraçando em seguida. — Que bom te ver!
— É bom te ver também, mas... — Deu uma pausa, olhando em volta. — Aqui? Não me diga que você...
— Não! — respondeu rapidamente e riu. — É para... para uma amiga! — Finalizou, desconcertada.
— Ah, sim. Só te chamei para te dar um beijo, tenho que encontrar . — Disse. — Mas felicidade para sua amiga. — Finalizou, dando um beijo na bochecha da amiga e saindo da loja.
Por pouco, pensou .

resolvia algumas coisas da empresa pelo seu computador. Estava levemente atrasada com a nova coleção, e tentava resolver o máximo de coisas que conseguia para que fosse liberada logo. Logo a noite chegou e adentrou o apartamento com algumas sacolas na mão. Deu um beijo na testa de , que fechou o notebook, colocando-o de lado, e voltou a atenção à amiga, que mexia nas sacolas.
— Fiz algumas compras para sua alimentação, e... Tcharam! — tirou o macacãozinho de zebra da sacola e sorriu. — Não é a coisinha mais linda que você já viu?
— Você é incrível. — Respondeu, se levantando do sofá.
— Como foi a consulta de hoje? — Questionou , indo até a cozinha com as sacolas de compras.
— Estou de seis semanas e depois de amanhã será o primeiro ultrassom, vamos ouvir o coração do bebê. Tenho alguns exames que ele pediu. — fez uma careta enquanto observava começar a guardar as compras.
— Ótimo! — sorriu. — Você não sabe quem eu encontrei na loja de roupinhas de bebê!
contou detalhe por detalhe do seu encontro com e ouvia atentamente a história, ficava com o coração acelerado só de se imaginar contando pra ele sobre a gravidez, mesmo sabendo que esse momento estava cada dia mais próximo.
— Caraca, parece coisa de filme! — Respondeu.
— É melhor a senhorita se apressar, antes que chegue nele de alguma forma!
— Ainda não sei qual o melhor momento para contar, não é simples, você sabe.
— Eu acho que você vai virar a Donna, de Mamma Mia, isso sim. — Disse , com tom de brincadeira.
— Impossível, meu filho só pode ter um pai! — Respondeu , entrando na onda de , que riu alto.
— Não nesse sentido. Você só vai revelar que é pai do seu bebê quando o seu filho estiver se casando. — finalizou e gargalhava.
— Vou começar um diário, pra ser como o filme.
— Você é maluca!
As duas riam alto e conversaram mais um pouco antes de obrigar a jantar, e logo após ir embora. Agora, estava deitada em seu quarto, mas se sentia inquieta, o que a obrigou a levantar de sua cama e caminhar em direção à sala. Assim que acendeu as luzes, observou o pequeno macacão que comprara. A garota sentou-se no sofá, e pegou a pequena peça de roupa, olhando-a de perto. Sua melhor amiga tinha bom gosto, só era um pouco difícil imaginar o filho ou filha de e ali dentro.
Sorriu, segurando a peça, e caminhou até o quarto em frente ao seu no corredor. Raramente entrava ali, ela dizia que era o quarto de , já que tinha algumas coisas da garota no espaço. O quarto era simples, tinha uma cama de casal, uma escrivaninha, um espelho e uma cômoda. Mas agora ele seria diferente, era o quarto de seu bebê. Colocou o macacãozinho de zebra esticado em cima da cama e saiu dali, fechando a porta.

acordou com o celular tocando. Abriu os olhos devagar, tateando a cama em busca do aparelho. Quando achou, forçou os olhos para enxergar quem estava ligando e o nome de Ana piscava na tela, e atendeu rapidamente.
? — Ouviu a voz da amiga do outro lado da linha.
— Oi, Ana!
— Oi, madrinha de casamento! — Ana respondeu, empolgada, e as duas riram juntas.
— Amei! — disse, entrando na onda. — Mas então, noivinha, como estão os preparativos?
— Estão quase prontos, falta pouco. Te liguei porque faremos um ensaio amanhã, sei que é chato, mas é necessário, e precisamos de você lá! — Quando Ana terminou de falar, sentiu o coração acelerar, teria de encontrá-lo.
— Ah, sim. Não, tudo bem! Eu estarei lá, pode deixar. — Respondeu.
— Então até amanhã às 11h, te espero!
Quando desligou o telefone, passou as mãos pelos cabelos, preocupada, respirou fundo e se levantou da cama. Era o dia de experimentar seu vestido de madrinha para últimos ajustes e ela precisava se trocar para sair.
Tomou um rápido café da manhã, colocou um short preto com uma camiseta qualquer, calçou seus tênis, pegou a chave do carro e seu celular, e saiu de casa.
Ao chegar no ateliê, conversou com Lúcia, que era responsável pelo seu vestido, e logo iniciou a prova. Seu vestido estava lindo, um pouco longo demais, algo que seria ajustado em breve, e ela temia pela sua barriga até a data do casamento.
— Lúcia, está incrível, mas temos um pequeno detalhe. — Disse enquanto encarava sua barriga escondida no vestido.
— Qual? — Questionou Lúcia, prendendo um alfinete na parte traseira do vestido.
— Eu... Bem... Eu estou grávida. — Respondeu, e pelo espelho conseguiu observar Lúcia abrir um enorme sorriso, o que a fez sorrir amarelo.
— Meus parabéns, ! — A mulher a abraçou e ainda sorria amarelo. — Que ótima notícia!
— Ah, obrigada! — Agradeceu, se soltando do abraço. Lúcia encarou a barriga de , que estava a mesma coisa de sempre, e sorriu.
— Eu gostaria de saber se o vestido ficará bom até a data do casamento, já que vão sofrer algumas alterações em minhas medidas.
— Vai ficar, sim! — Lúcia disse prontamente e sorriu. — Bem, não diminuiremos muito o comprimento, por conta da barriga até lá. Mas, de qualquer maneira, teremos a prova final do vestido para eliminar qualquer dúvida.
— Ah, Lúcia, você é incrível! E ainda é segredo, você é a segunda a saber!
— Seu segredo está guardado, ! — Lúcia respondeu, rindo, e a acompanhou.


Capítulo 9 - My way.


cutucava , que se recusava a levantar da cama. Eram 8h00 da manhã e a garota detestava acordar cedo. Resmungou algumas vezes, e se levantou apenas quando ameaçou jogar um balde de água em seu rosto se não levantasse.
Era o dia do ultrassom, e logo após haveria o ensaio no salão onde seria o casamento de Ana, o que deixava tensa. Havia pedido muito para não ter enjoos ou qualquer sintoma que pudesse denunciar sua gravidez antes do tempo.
As duas tomaram um rápido café da manhã com a palestra de sobre se alimentar adequadamente durante a gravidez. Quando terminaram, vestiu sua calça jeans clara rasgada no joelho e uma camiseta branca. Pegou sua bolsa e saiu rapidamente, já que podia ouvir os gritos de ansiosa no corredor.
Quando chegaram à clínica onde seria feito o exame, se sentaram aguardando serem chamadas, o que não demorou muito, e logo estava deitada na maca com chorando ao seu lado.
— Por que você tá chorando? — Sussurrou e limpou as lágrimas.
— Eu estou emocionada, só isso! — Respondeu, limpando as lágrimas.
O ultrassom havia sido iniciado e ria de , que não parava de chorar. Estava distraída quando o som do coração do bebê começou a ser ouvido. Ela gelou, olhando para a tela onde o médico indicava ser o saco gestacional, os olhos dela encheram de lágrimas, e sua ficha parecia ter caído naquele momento. A garota fechou os olhos e as lágrimas escorreram, continuou ouvindo o som do coração de seu bebê e, logo, sentiu a mão de segurar a sua.

Flashback (4 anos antes)
e estavam em um momento bom. Ambos estavam jogados no tapete da sala de , assistindo Velozes e Furiosos, o filme preferido do garoto. Entretanto, sentia que ele estava quieto demais, e em alguns momentos o pegava distraído, como se ponderasse sobre algo importante. Cansada do silêncio entre os dois e da preocupação, sentou-se em frente a ele, que nem percebeu a manifestação da garota. Apenas quando ela passou a mão em seus cabelos, ele acordou de seu devaneio e seus olhares se encontraram.
— O que está acontecendo? — Questionou , com a voz doce, o observando sorrir de lado.
— Está tudo bem. — Respondeu, mas a garota sabia que não era verdade.
— Você sabe que pode contar tudo pra mim, não sabe? — O garoto assentiu. — Então, o que está havendo?
...
, eu sei que está acontecendo algo, não adianta negar, eu não vou acreditar. — A garota o interrompeu e o observou assentir e sentar-se em seguida.
— Aconteceu algo sim. — O olhar de era triste, o que fazia o coração de apertar. — Meu pai me ligou.
— Seu pai.... — A garota franziu a testa, confusa.
— Sim, nos abandonou. Eu, minha irmã e minha mãe. Mas, de alguma forma, ele conseguiu meu número, acho que ele sabe sobre a Sunset, me pediu dinheiro emprestado. Disse que está passando por uma crise financeira séria, que tinha vergonha de pedir pra mim, mas não tinha outro jeito. — Os olhos de encheram de lágrimas e segurou sua mão, o encorajando a terminar de falar. — Eu vi ele batendo na minha mãe, vi ele nos deixando quando eu tinha nove anos e a Victoria, três. E ele ainda tem coragem de me pedir dinheiro?
— E o que você disse? — Questionou e algumas lágrimas escorreram dos olhos de , que ela prontamente enxugou.
— Eu pensei em xingá-lo, em mandá-lo pra puta que pariu e dizer pra nunca mais me procurar. — Deu uma pausa. — Mas eu lembrei do único momento que eu lembro dele sendo um bom pai, lembrei dele jogando bola comigo quando eu tinha, sei lá, uns quatro anos. Então, eu disse que o ajudaria, desde que ele jamais me procurasse novamente. — soluçava e podia sentir o quanto aquilo era difícil para ele. — Ele concordou, e eu depositei uma boa quantia na conta dele, ele não vai passar fome tão cedo.
— Eu faria o mesmo. — Respondeu e abraçou o garoto, que enterrou o rosto na curva de seu ombro.
— Por Deus, eu não quero filhos, não quero ser como ele. — Disse e levantou seu rosto, o fazendo encará-la.
— Eu te conheço mais do que conheço a mim mesma, você não é como ele, você é bom.
nunca o via chorar, era raro, e aquilo com certeza havia mexido com ela. Suas histórias eram diferentes, e ela se sentia egoísta por ter sentido raiva quando seu pai saiu de casa, até porque ela sabia que, mesmo com a saída dele, seu pai continuaria presente na sua vida, ele se esforçava por , era carinhoso. A garota nem imaginava sua vida sem seu pai. havia tido uma infância difícil, mas ainda assim era uma ótima pessoa, e isto era perceptível pela sua relação com Victoria.
Ele sempre mandava dinheiro para irmã, a enchia de roupas da Sunset, levava-a para viajar, era carinhoso e, de alguma forma, sempre arrumava tempo para ela, o que sempre admirou.
— Eu estou aqui, ok? — Sussurrou no ouvido do garoto enquanto estavam abraçados e sentiu-o a abraçando mais forte.
— Não queria que fosse outra pessoa.
Flashback off.


Saíram da clínica e não havia dito uma palavra desde que escutaram o coração do bebê, o que começava a incomodar . Entraram no carro e estavam a caminho do ensaio de casamento de Ana, a garota parecia distraída, e sua melhor amiga começava a ficar preocupada.
— O que você está pensando? — Questionou , quebrando o silêncio.
— Minha ficha acaba de cair. — respondeu, com a voz baixa.
— E como você está se sentindo com isso?
— É a primeira vez que me sinto tranquila. — sorriu e a acompanhou. — E eu já sei o que você quer me perguntar. ‘Quando você vai contar pra ele?’ — Brincou , imitando a voz de , que riu e revirou os olhos. — Eu vou contar logo, prometo, vou chamá-lo e conversar com ele. Por mais que eu esteja com medo da reação dele, eu sei que é uma ótima pessoa e eu preciso parar de pintá-lo como alguém diferente do que ele é. O problema é que agora é tudo novo pra nós, e, se ele rejeitar isso, não vai existir perdão. — Finalizou , suspirando.
— Você realmente acha que ele é capaz de rejeitar isso? — perguntou e deu de ombros.
— A primeiro momento eu rejeitei, mas agora eu sinto que estou aceitando aos poucos.
— Eu estou muito orgulhosa de você. — sorriu e sorriu junto. — Você vai ser uma ótima mãe!
— Você podia engravidar também, aí seríamos parceiras de barriga! — Disse e engoliu seco, o que a fez estranhar a reação da amiga. — Ei, o que foi?
— Er... nada. — desconversou, fazendo franzir a testa, mas não insistir no assunto. — Estamos chegando!

Logo, estacionou o carro em frente à casa de Clara e as duas desceram do mesmo, indo em direção à porta. se sentia tensa em encontrar , mas tentava ao máximo disfarçar a situação. Foram recebidas por Ana, que parecia muito animada com a situação.
Ela e Gabriel haviam decidido fazer o casamento em São Paulo, e estavam hospedados na casa de Clara e Lucas.
— Só faltavam vocês! — A garota disse, abraçando as duas amigas em seguida. — Entrem!
Assim que entrou, cumprimentou cada um de seus amigos, e congelou ao vê-lo encostado no batente da porta da cozinha. Acenou levemente e o garoto retribuiu com um olhar compreensivo.
— Agora que estão todos aqui, posso explicar como vai ser nosso ensaio! — Disse Ana e todas as amigas pareciam animadas.
esforçava-se para se manter calma e concentrar nas palavras da amiga, mas parecia impossível, já que agora, além da sua cabeça voltada para o segredo que escondia de , um enjoo surgia, fazendo a garota respirar fundo mil vezes, a fim de não vomitar no meio de todos..
— Ok, estou entendendo Ana, mas tenho uma pergunta. — Ouviu a voz de Clara assim que Ana terminou de explicar, o que a fez acordar de seu leve transe. — está com , eu com Lucas, e ... E quem é o par de Rachel?
— Meu irmão! — Respondeu Gabriel, chamando atenção de todos.
— E cadê ele? — Rachel perguntou.
— Aqui! — Um garoto alto, moreno, dos olhos castanho-claros adentrou a sala, e quis rir com a cena que parecia um filme. Rachel mantinha a boca aberta, nenhuma das garotas imaginava que o irmão de Gabriel era tão bonito.
— Eu estarei bem acompanhada. — Disse Rachel e todos gargalharam quando ela piscou para o rapaz.
Foram ensaiadas as entradas de cada um, e, quando chegou a vez de e , a garota estava receosa de levantar-se do sofá e colocar todo café da manhã para fora. Levantou-se devagar, indo na direção de e entrelaçando seu braço ao dele. Olhou para , que mexeu os lábios em um “está tudo bem?”, o que a fez assentir disfarçadamente e dar início à sua parte do ensaio.
Andavam devagar pelo espaço que Ana determinou ser a entrada do salão até o altar, e continuava a mentalizar que não iria vomitar, como se fosse um mantra.
— Está ótimo, mas, , cadê seu sorriso? — Questionou Gabriel e a garota deu um sorriso forçado que arrancou risadas de todos.
— Ótimo, agora vem, Rachel! — Chamou Ana e soltou seu braço do de , que sentou-se ao lado de enquanto ela ia em direção ao banheiro disfarçadamente.
Assim que chegou ao local, trancou a porta correndo e colocou o café da manhã para fora. Só pode ser brincadeira, pensou.
Jogou uma água no rosto, lavou a boca rapidamente e saiu dali, voltando à sala e agindo como se nada houvesse acontecido. Ela e evitavam se olhar, o que, de certa forma, parecia impossível. Ela sentia o peito apertar sempre que olhava para o garoto de soslaio, e para ele as coisas não eram diferentes.
se esforçava para lembrar da promessa de ano novo, mas as lembranças não davam sossego à garota.
O ensaio logo acabou, Ana estava chorando pela segunda vez no dia, era a emoção de saber que logo se casaria. abraçou a amiga e logo se despediu, afirmando estar ansiosa e tudo incrível.
a deixou na porta de seu prédio e estava exausta. Já eram 16h00 da tarde e o dia havia sido cheio. Adentrou o apartamento e jogou a bolsa em um canto qualquer, estava morrendo de fome e foi direto para cozinha.
Preparou um rápido sanduíche e encheu um copo de suco de maracujá, e em seguida sentou-se no sofá. Quando estava prestes a morder seu lanche, a campainha tocou, fazendo-a levar um breve susto e resmungar antes de levantar para atender à porta.
Assim que a mesma foi aberta, se arrependeu de abri-la. Em frente a ela, o pai do seu bebê mantinha uma expressão séria, que a garota viu pouquíssimas vezes. Sentia um frio na espinha enquanto o olhar do casal não desviou um segundo sequer.
— Sei o que combinamos no ano novo, mas algo está acontecendo e você não pode negar. — disse e abria e fechava a boca tentando respondê-lo.


Capítulo 10 - 7 Things.


— Não tem nada acontecendo! — Respondeu , dando passagem ao garoto, que entrou, ficando parado no meio da sala, enquanto a garota fechava a porta. — De onde você tirou que algo está acontecendo? — Questionou, caminhando até e sentando-se no sofá, o observando sentar-se ao seu lado.
— Achei que não mentíssemos um para o outro. — Disse , fazendo rir, irônica.
— Você acha isso desde quando? Porque eu me lembro de uma história, de um cara que...
— Por que sempre temos que voltar ao passado? — Interrompeu-a. — Algo está acontecendo, a última vez que te vi quieta como hoje foi na semana que sua mãe foi pra Argentina! — suspirou e encarava o chão, como se ponderasse sobre algo.
— Por que isso importa pra você? — Questionou com a voz baixa.
— Porque, mesmo que você não acredite, eu me importo com você. Cometemos erros no passado, mas eu me importo. — Respondeu , com o mesmo tom de voz.
— Não está acontecendo nada. — disse mais uma vez e bufou. — Nós conversamos no ano novo, prometemos fazer tudo diferente, e agora você está aqui e estamos cometendo os mesmos erros!
, aquela promessa já foi quebrada no mesmo dia que foi feita! — O garoto respondeu, levantando do sofá aparentemente irritado. — Não dá pra fingir que nada aconteceu!
— Eu sei que não, até porque eu estou...
Ao perceber o que ia dizer, gelou, encerrando a frase imediatamente e observando a olhar de forma curiosa. Ela não contaria, precisava pensar, precisava se preparar para os dois tipos de reações possíveis que o garoto poderia apresentar.
— Está.... — incentivou.

(7 things — Miley Cyrus)
I probably shouldn't say this
Eu provavelmente não deveria dizer isso
But at times I get so scared
Mas às vezes eu fico tão assustada
When I think about the previous
Quando eu penso sobre o último
Relationship we shared
Relacionamento que compartilhamos

, esquece. — Disse e o garoto bufou mais uma vez. — Olha, eu sei que já quebramos a nossa promessa uma vez, mas temos que lembrar o motivo de ela ter sido feita. — a encarava e a expressão que antes era séria agora se tornava triste. — Desde meus 16 anos tudo se resume em nós dois, e no que sentimos. Foram momentos bons, e eu jamais vou esquecer, porque o que eu sinto por você, , é surreal. — Os olhos de estavam marejados e ela se segurava para não deixar uma lágrima teimosa escorrer.

It was awesome, but we lost it
Foi incrível, mas perdemos
It's not possible for me, not to care
Não é possível pra mim, não me importar
And now we're standing in the rain
E agora, estamos em pé na chuva
But nothing's ever gonna change until you hear, my dear
E nada vai mudar até você me ouvir, meu querido

— É tão surreal que me dói, e não é só o fato de que não vamos ficar juntos, são coisas pequenas. — Deu uma pausa. — É ver você é não poder dizer algo sem cair sempre nas lembranças de tudo que vivemos, é encontrar uma foto idiota nossa e não poder te mandar, é lembrar de todas as promessas que já fizemos e pensar que, não importa o que aconteça, você sempre vai ter uma parte dentro de mim!
não conseguia segurar as lágrimas que já escorriam livremente por seu rosto. estava estático, seu peito doía ao ver a garota daquele jeito, e ele não conseguia dizer nada.

The 7 things I hate about you
As 7 coisas que odeio em você
The 7 things I hate about you, oh, you
As 7 coisas que odeio em você, oh, você
You're vain, your games, you're insecure
Você é vaidoso, seus jogos, você é inseguro
You love me, you like her
Você me ama, você gosta dela
You make me laugh, you make me cry
Você me faz rir, você me faz chorar
I don't know which side to buy
Eu não sei de que lado comprar

...
— Não! — A garota interrompeu. — Me deixa terminar. — Pediu e assentiu, observando-a levantar e ficar frente à frente com ele. — Eu cansei de agir como se não estivesse sentindo nada, ou como se estivesse superando isso, porque eu não estou! E eu....
Antes de terminar, o garoto a beijou. No primeiro instante, ela tentou se desvencilhar daquele momento, mas depois acabou cedendo e envolveu os braços em torno do pescoço do garoto, que segurava firmemente em sua cintura.

Your friends they're jerks
Seus amigos, aqueles idiotas
When you act like them, just know it hurts
Quando você age como eles, só saiba que dói
I wanna be with the one I know
Eu quero estar com quem eu conheço
And the 7th thing I hate the most that you do
E a sétima coisa que mais odeio que você faz
You make me love you
Você me faz amar você

O beijo era diferente para , parecia algo mais apaixonado e sem pressa do que o último que ela se lembrava. Ela acreditava ser uma maneira do garoto dizer que o que ela sentia era recíproco, mas, por um momento, teve um estalo.
Parou o beijo, deixando sem entender. Sentou-se no sofá e limpou suas lágrimas, voltando o olhar para ele.
— Não pode sempre terminar assim. — Disse e voltou a fitar o chão.

It's awkward and silent
É estranho e silencioso
As I wait for you to say
Enquanto espero você dizer
What I need to hear now
O que eu preciso ouvir agora
Your sincere apology
Seu sincero pedido de desculpa
When you mean, it I'll believe it
E quando você disser isso, eu vou acreditar
If you text it, I'll delete it
Se você escrever isso, eu vou apagar
Let's be clear
Vamos ser claros
Oh, I'm not coming back
Oh, eu não estou voltando
You're taking 7 steps here
Você está dando sete passos até aqui

passou as mãos pelos cabelos e suspirou, aparentemente pensando no que responder a , que, neste ponto, queria apenas sair daquele momento.
— Sei que não pode ser pra sempre assim, e te peço desculpas por vir aqui e quebrar mais uma vez a ‘promessa’ — O garoto fez aspas com as mãos, frisando a última palavra. — E vou me esforçar para lembrar o motivo dela existir.

And compared to all the great things
E comparado com todas as grandes coisas
That would take too long to write
Isso levaria muito tempo para escrever

caminhou até a porta, mas, antes de girar a maçaneta, olhou pela última vez no sofá, que ainda fitava o chão parecendo absorver as últimas palavras de .
— E, ... — Chamou-a por fim, que olhou para o garoto com os olhos marejados mais uma vez. — É recíproco.
Finalizou, saindo pela porta, a deixando sozinha depois do momento embaraçoso. Ele ainda sentia que algo estava acontecendo com , mas sabia que não era hora de insistir no assunto, após tantas palavras dolorosas para os dois.
Quando fechou a porta, pareceu um baque para , que levantou-se e andava de um lado para o outro em sua sala. Não era momento em pensar nos dois como um casal, era momento de pensar no filho que teriam e, por alguns minutos, a garota havia esquecido disso, deixando-se levar por sua emoção.
Logo, a porta se abriu novamente, fazendo a garota levar uma das mãos ao peito devido ao susto.
, olha o que eu trouxe pra gen... — parou de falar assim que avistou a feição de . — O que houve? — Questionou, colocando as sacolas na mesinha ao lado do sofá.
me fez uma visita. — Respondeu e viu os olhos da melhor amiga se arregalarem.
— Você contou?
— Não, eu... Eu não sei o que deu em mim! — Suspirou, sentando-se no sofá. — Parecia que eu só conseguia lembrar do passado, e então ele me beijou e foi embora.
— Mas por que ele veio aqui?
— Me achou estranha mais cedo, ele está desconfiado que tem algo acontecendo. — Respondeu, passando as mãos pelos cabelos.
— Isso está virando uma bola de neve, e logo ele não vai gostar da maneira que descobrir. — Disse , agarrando uma das sacolas. — Trouxe lanches pra nós!
— Pelo menos algo bom no meio dessa loucura! Já sabe o que eu estou pensando, né?
— H2O meninas sereias, por favor! — juntou as mãos, fazendo rir e assentir.
— Me passa meu lanche!

Há alguns quilômetros dali.
— Algo não está certo, eu sei que não está! — Dizia enquanto andava de um lado para o outro no escritório de na sede da Sunset.
— Pra mim, você está caçando algo inexistente, a está bem, cara. — respondeu, enquanto encarava inquieto.
— Porra, quando você viu a tão quieta como hoje? Algo está acontecendo, tenho quase certeza, sócio! — bufou e o olhou com um olhar dramático.
— Sinceridade? — assentiu prontamente. — Vocês estão fazendo o de sempre, começa a se afastar, você surta e vai atrás dela, se envolvem e sofrem. É o mesmo ciclo, !
— Dessa vez não, eu sinto que tem algo estranho. — O garoto disse e sentou-se na cadeira à frente de .
— Cara, você escolhe se quer continuar o ciclo, mas realmente acho que você está colocando coisas na sua cabeça. — Finalizou e viu revirar os olhos, mesmo sabendo que o melhor amigo tinha razão. — Vamos, temos uma reunião.
— Obrigada pela ajuda. — Ironizou e riu alto, puxando o sócio pelo braço.


Capítulo 11 - Pai.


estacionava na frente da casa do pai, as mãos suavam e ela se sentia apreensiva. Havia marcado na semana anterior de ir à casa dele, alegando precisar contar algo importante.
Desceu do carro e tocou a campainha. Não demorou para Victor aparecer com um sorriso enorme no rosto, abrindo a porta e dando um longo abraço na filha.
— Espero que a senhorita não tenha aprontado algo sério. — Brincou e riu levemente seguindo o mesmo para dentro da casa.
— Onde está ngela? — Perguntou, se sentando no sofá acompanhada do pai.
— Ela foi visitar a mãe, mas logo está de volta.
— Ah sim, como ela está?
— Está bem filha, logo descobriremos se é menino ou menina, estamos ansiosos. — Os olhos de Victor brilharam ao falar da criança e sorriu, sentindo-se feliz pelo pai.
— Espero que seja um menino! — Desejou e Victor assentiu animado. — Bem, marquei com a mamãe uma chamada de vídeo agora, nós temos que conversar!
A garota ligou para mãe, que atendeu, cumprimentando Victor e alegando sentir saudade da filha.
— Mas então, o que nos traz a essa reunião importante? — Viviane brincou, arrancando risadas de Victor. — Espero que não seja algo grave, !
— Não é algo grave, mas é importante. — respondeu, sentindo um frio na espinha enquanto observava a feição atenta dos pais. — Não vou enrolar, vocês me conhecem, odeio fazer rodeios. Eu estou grávida.
A princípio, Victor sorriu, mas a feição de Viviane espantava a garota. Ela sabia o que viria a seguir, e custava a querer acreditar.
, francamente... Você tem 24 anos! — A mulher começou.
— Justamente, eu tenho 24 anos, tenho uma formação, tenho um apartamento, uma empresa! — Retrucou.
— Ter filho não é brincar de boneca, é responsabilidade, é cuidado! Você vai largar suas baladas? Vai se casar? — Viviane disse ríspida e a garota riu incrédula.
— Eu não estou ouvindo isso. — Deu uma pausa. — VOCÊ ENGRAVIDOU COM 17 ANOS, EU TENHO 24, E NÃO ESTOU LIDANDO COM MINHA AVÓ!
— ESTÁ LIDANDO COMIGO! — A mãe de tinha o mesmo tom da filha. — E TE GARANTO, TER UM FILHO NÃO É FÁCIL!
— E O QUE VOCÊ QUER QUE EU FAÇA? — Gritou, observando a mãe ficar vermelha. — Não vou ficar discutindo com alguém que foi morar na Argentina e lembra que tem filha uma vez no mês.
Finalizou, desligando o celular e colocando as mãos no rosto. Sentiu a mão de seu pai acariciar suas costas, e a garota levantou o olhar, encontrando seu pai emocionado. Os dois se abraçaram e um sentimento forte preenchia a garota, que deixava algumas lágrimas escorrerem.
— Você pode contar comigo, eu sei que vai dar conta, filha. — O homem sorria como forma de conforto. — Sua mãe vai voltar atrás, fica tranquila.
— Obrigada, pai, eu te amo muito. — Respondeu, se ajeitando no sofá e limpando o rosto. — E eu sei o que você quer saber. — Brincou, soltando uma leve risada, observando a feição brincalhona de seu pai. — É de , e, não, ele ainda não sabe.
— É um recomeço, , só não vê quem não quer. — Victor respondeu.
— Estou de 8 semanas, ainda tem tempo, não acha?
— Esse tempo passa mais rápido do que qualquer outro , não demore.

Alguns quilômetros dali.
trabalhava arduamente na nova coleção da Sunset, estava trancado em seu escritório durante a semana toda, era o modo que tinha de evitar o “ciclo” de que havia o alertado.
Já havia passado das cinco da tarde quando ouviu a porta do escritório ser escancarada revelando a irmã de , Victoria, sorridente e animada. Assim que a viu, o garoto levou um breve susto, e se levantou, recebendo um abraço apertado da mesma.
— Você não estava em Cancún até ontem? — Questionou, sentindo-a o apertar mais forte.
— Estava, voltei hoje!
Victoria levava uma vida agitada desde seus 16 anos, quando decidiu se tornar modelo. A garota possuía traços fortes, e não demorou a conseguir bons trabalhos com algumas marcas conhecidas. , por trabalhar um tempo na área quando novo, conseguiu ajudar a irmã no comecinho, mas ele sabia que ela era dedicada quando se tratava de algo que queria e que logo conseguiria estar onde sonhara.
Com a correria da empresa e da agenda conturbada de Victoria, era raro os dois conseguirem se ver por mais de duas horas, e sentia falta da irmã todos os dias.
— Caraca, vocês expandiram mesmo isso aqui, custei para achar seu escritório! — A garota disse se sentando na cadeira a frente do irmão.
— Te contei os planos que tínhamos! — Respondeu. — Como foi Cancún?
— Incrível! — Os olhos de Victoria brilharam levemente ao lembrar de viagem, o que fez sorrir junto. — E você, como estão as coisas? Pra você estar trancado em um escritório sexta-feira, algo está errado. E eu aposto que tem a ver com a .
— Por aqui está TUDO bem, e a senhorita deveria parar de achar que tudo que faço tem o dedo de ! — respondeu, fazendo Victoria gargalhar.
— Triste mesmo é ela ter razão. — Disse adentrando a sala.
! — A garota o abraçou, que riu, se divertindo com a cara de diante da cena.
— Sua língua não cabe dentro da boca mesmo, fofoqueiro. — Disse e observou o sócio fazer cara de ofendido, enquanto Victoria voltava a se sentar.
— Nem tente me esconder nada, você sabe que sempre descubro! — A garota piscou pra e gargalhou. — Agora chega de trabalhar e vamos comer pizza!
— Você não muda mesmo, pirralha! — Brincou, sorrindo largamente.

, e Victoria jantavam na pizzaria favorita dos três, no centro da cidade. A briga entre os garotos para decidir entre calabresa ou escarola fez a menina rir durante longos minutos, a ponto de sentir a barriga começar a doer. Agora, esperavam a pizza de pepperoni, que foi a decisão final, onde apenas Victoria opinou.
— Senti tanta falta de vocês dois no dia a dia, não importa quanto tempo passe, vocês não mudam. — A garota sorriu apertando a bochecha de e respectivamente.
— Nem a senhorita, e não posso negar que estou achando muito estranho você estar aqui, e ainda dizer que vai passar um tempo em São Paulo. — arqueou uma de suas sobrancelhas e a irmã suspirou, revirando os olhos. — O que está havendo?
— Podemos conversar sobre isso depois? — Victoria desconversou, fazendo ficar ainda mais intrigado.
— Não desconverse, Victoria, conheço cada truque seu, o que está havendo? — Insistiu, e a garota bufou.
— Não queria esfregar isso na sua cara, mas, bem, estou noiva!
ficou pálido ao observar sua irmã estender a mão revelando um anel de noivado em seu dedo. Poderia jurar que fosse qualquer outra coisa, menos esta. Nunca nem imaginara que ela estivesse em um relacionamento, quanto mais que fosse noivar aos 18 anos.
— Você tem 18 anos, Victoria, como pode estar noiva de uma hora para outra? A gente nem conheceu o cara! — O garoto estava incrédulo e a irmã já começara a perder a paciência.
— Não é porque você tem quase 24 anos e está encalhado, que eu tenha que estar. — Respondeu, observando começar a ficar vermelho.
— Você não vai se casar!
— Não venha dar uma de irmão mais velho a esta altura, eu vou me casar e você não tem nada a ver com isto. — Respondeu batendo uma de suas mãos na mesa.
— A mamãe sabe? — O garoto estava soltando faíscas, mal sabia o que viria a seguir.
— Sim, e o papai também.
— Papai? — questionou com a voz elevada, fazendo a menina bufar. — VOCÊ PROCUROU AQUELE IDIOTA?
— Não, , ele me procurou. — Victoria tinha o mesmo tom de , e estava tão nervosa quanto ele. — Não tenho mágoas dele, e você não tem que se meter nisso!
— Eu não passei minha adolescência inteira cuidando de você, enquanto a mamãe trabalhava, pra ouvir isso. — se levantou, visivelmente magoado. — Você pode ignorar o fato de ele ter ido embora, mas eu nunca vou esquecer.
O garoto saiu da pizzaria, deixando Victoria com os olhos marejados. Caminhou em direção ao seu carro, entrando e arrancando com raiva. Dirigia até seu apartamento, enquanto lembranças que ele tentava se livrar atingiam sua mente. Sua mãe era enfermeira, trabalhou muito durante a infância das crianças para que tivessem o máximo de coisas que ela pudesse oferecer. Estudaram em escolas boas, ganharam sempre presentes bons de aniversário, mas ele podia perceber o olhar cansado da mãe, e a tristeza toda vez que Victoria questionava o porquê da ausência do pai.
Quando chegou ao seu apartamento, discou os números da mãe, que atendeu rapidamente.
?
— Oi, mãe, como a Victoria tem contato com meu pai? — Despejou, ouvindo a mãe suspirar do outro lado da linha.
Ele a procurou, você sabe que não posso impedir isso. — A mulher respondeu, com a voz calma e paciente.
— Como não pode impedir? O que esse cara fez por nós a vida toda? Ele não tem direito de aparecer de uma hora pra outra!
Filho, quem pode e tem que decidir isso é a Victoria.

Eram 2h00 da manhã quando levantou da cama assustada com seu celular vibrando sem parar. Assim que o pegou, seu coração acelerou levemente, o nome de Victoria brilhava na tela, e fazia meses que nem ouvia falar da garota.
— Alô? — Atendeu, ouvindo um suspiro de alívio do outro lado da linha.
, desculpa o horário! — A mais nova começou. — está aí? Discutimos mais cedo, estou no apartamento dele e ele não está. Estou tentando ligar e ele não atende, estou ficando preocupada! — A voz de Victoria denunciava a preocupação da garota e, para ligar para , era porque realmente ela não fazia ideia de onde o irmão poderia estar.
— Ele não está aqui, mas fica tranquila que eu já imagino onde ele possa estar. Estou indo pra lá, te ligo assim que o encontrar. — Respondeu, ouvindo um Ok de Victoria do outro lado da linha, e desligou o telefone logo em seguida.
O frio de São Paulo fazia a garota querer matar , vestiu uma calça jeans preta, com o primeiro moletom que achou, calçou seus tênis e saiu de seu apartamento, indo em direção ao estacionamento.
Dirigiu por alguns minutos, chegando a um lugar que sempre costumava ir, não apenas quando estava nervoso, mas quando se sentia exausto da vida urbana.
Era uma espécie de praça, que, em seu ponto mais alto, dava para um pequeno bosque. E era ali que o garoto gostava de ficar. Sentado em um banco específico, encarando as árvores.
se aproximou devagar, sentando-se levemente ao lado de e encarando as árvores, como ele.
— Victoria te ligou? Ou ? — Ouviu-o questionar sério.
— Sua irmã, mas seu lugar continua secreto — Respondeu e assentiu. — O que está havendo?
— Aparentemente minha irmã irá se casar, e um dos convidados será meu pai. — Riu irônico.
— Eles estão se falando? — Questionou receosa e assentiu.
— E a única pessoa que vê um problema nisso sou eu.
— Você precisa ficar calmo e conversar com sua irmã depois, não adianta brigar com ela e vir pra cá, assim nada se resolve. — Respondeu e encarou a garota pela primeira vez, e ela pode perceber seus olhos inchados e vermelhos, indicando que ele havia chorado há pouco tempo.
Em um gesto de carinho, o abraçou, sentindo-o retribuir e enterrar o rosto na curva do ombro da garota, que acariciava seus cabelos.
Era fato que, quando algo sério relacionado a Victoria acontecia, isto afetava completamente , já que ele praticamente criou a irmã. Ele tinha um amor inexplicável pela garota e sabia que, mesmo não admitindo, ele se sentia mal por não se verem frequentemente.
— Vem, vamos embora. — disse, alguns minutos depois, e levantou, seguindo a garota até o carro dela e observando-a dirigir até o prédio da mesma.


Capítulo 12 - Minha coragem e sua irmã.


— Pode dormir neste quarto. — Disse , estendendo a xícara de chá de camomila para o garoto, que pegou, levando aos lábios logo em seguida.
Estavam no quarto de hóspedes do apartamento de , que achou melhor levá-lo para sua casa, pelo estado em que se encontrava. Havia ligado para Victoria, avisando que o irmão estava bem e que dormiria na casa dela.
— Vou pegar uma coberta pra você. — Afirmou, virando-se e pegando uma coberta dentro da cômoda, e, quando se virou novamente, seu coração parou ao vê-lo segurando o macacãozinho de zebra dado por .
Para sua surpresa, ele não disse nada a respeito, apenas esticou a mão entregando o item a garota, que sentia o coração no ouvido pelo susto. Pegou o macacão, receosa, e o colocou dentro de uma das gavetas da cômoda. Estava prestes a sair do quarto quando sentiu o garoto segurar sua mão, e, como reflexo, se virou pra ele, olhando em seus olhos.
— Obrigado. — Disse e assentiu, saindo do quarto em seguida.
Ao deitar na cama, não conseguia dormir, imaginava que pudesse estar assim no quarto ao lado, mas não queria imaginar demais. Sentia uma vontade desesperada de contar que o quarto em que ele dormia, em menos de 7 meses se tornaria o quarto do filho deles, mas ela sabia que aquele não era o melhor momento de dar esta notícia, precisava ter paciência e, de certa forma, criar coragem.
Levantou da cama devagar, caminhou até o espelho, e levantou a blusa encarando sua barriga. Parecia a mesma coisa de sempre, mas sabia que, em alguns meses, estaria completamente diferente, e só o pensamento deixava a garota tensa.
Ouviu um soluço vindo do outro quarto e, sem pensar, abaixou a blusa e caminhou até lá, abrindo a porta e encontrando andando de um lado para o outro no quarto enquanto lágrimas escorriam por seu rosto. nunca o viu chorar daquela forma, mas sabia que, quando se tratava de Victoria, o garoto era outro.
— Eu vi ele saindo com o carro quando nos deixou, eu vi ele batendo na minha mãe enquanto eu me escondia com Victoria de dois anos no colo. Ele não pode voltar como se nada tivesse acontecido. — despejou, sentando-se na cama.
não disse nada, apenas subiu na cama devagar, indo em direção ao garoto e o abraçando por trás. suspirou, limpando as lágrimas.
— Tá tudo bem. — A garota sussurrou e, de certa forma, ali com ela, ele sentia que estava. — Vamos dormir, já são 4 da manhã.
assentiu e então se deitaram. O garoto abraçava a cintura de , que acariciava seus cabelos, o observando fechar os olhos aos poucos. Era um péssimo dia para falar sobre pais, e ela refletia sobre a briga com a mãe mais cedo, o que, de certa forma, fazia seu coração apertar. Ela amava Viviane, mas não podia negar que a relação da duas sempre fora um tanto conturbada, principalmente na adolescência.
Victor, pai de , dizia que era por serem parecidas, mas a garota sempre achou o contrário disto. Sentia que algo sempre esteve oculto na relação das duas, mas nunca soube o quê.

acordou com um peso sobre sua barriga, e, assim que abriu os olhos, a mão de estava pousada sobre a mesma, enquanto o garoto ainda estava adormecido. Ficou observando a cena por alguns minutos, mas logo o enjoo matinal se fez presente e a garota levantou devagar, indo em direção ao banheiro e colocando tudo o que pôde pra fora.
Escovou os dentes e tratou de atravessar o corredor, entrando no apartamento de e indo em direção ao quarto da melhor amiga, que estava acordada mexendo em seu celular.
está em meu apartamento. — Suspirou, se jogando ao lado de na cama.
— Veio visitar o filho? — brincou e mandou o dedo. — O que aconteceu pra ele estar aí? Não me diga que...
— Não! — Interrompeu. — Problemas familiares de madrugada, Victoria me ligou, fui atrás dele, ouvi ele chorar de madrugada e dormimos juntos no quarto de hóspedes.
— E você não contou? — questionou com a sobrancelha arqueada jogando o celular ao lado.
— Não, mas ele viu o macacão de zebra e nem questionou nada. — A garota levou uma das mãos na testa. — E agora? Será que ele vai perguntar?
— Não acha que talvez seja melhor você contar? De uma vez?
— Depois de ontem, acho melhor esperar um pouco, pelo menos até os problemas dele com a irmã se resolverem. — afirmou e deu de ombros.
— Quanto mais você enrola, maior sua bola de neve fica.
— Você conhece quando se trata de Victoria, e o que rolou ontem mexeu muito com ele. Não acho que seja o momento. — finalizou colocando uma de suas mãos no rosto. — Eu não sei mais o que fazer. O que você faria?
Ao fazer a pergunta, notou uma certa tristeza no olhar de , o que a deixou levemente confusa.
? — Chamou e a amiga balançou a cabeça, como se acordasse do transe.
— Bom... Eu contaria! — Afirmou. — Contaria de uma vez, e lidaria com as consequências. É um filho, , ele merece saber, é algo pra vida inteira.
— Eu estou com medo. — Confessou e sentou-se na cama.
— Sinceramente, eu não te reconheço! — se levantou, parando em frente à amiga. — Você nunca teve medo de NADA. Se lembra quando fizemos a viagem pra colônia de férias no verão, e todas as noites você nos encorajava a fugir pra baladinha? No meu aniversário de 18 que você lotou a casa da sua mãe e levamos a maior bronca, mas, ainda sim, você teve coragem de dizer que a ideia era sua!
— Não sei onde está minha coragem. — Respondeu e suspirou.
— Está aí, e você precisa encontrá-la, porque sem sua coragem não é ! — finalizou e sorriu abraçando a amiga.

Ao voltar para seu apartamento, respirou fundo, caminhando até o quarto de hóspedes onde passara a noite com o garoto. Ao entrar, notou a cama vazia, com uma folha de papel em cima.

“Obrigada por tudo, mais uma vez. Você sempre me salva, e eu nunca serei grato o suficiente por isso.
XxX


Suspirou, colocando a carta em cima da cômoda, estava mais uma vez guardando seu segredo e sua coragem.

Ao adentrar seu apartamento, observou sua irmã mais nova, que parecia avoada diante um filme qualquer que passava na televisão. Ao notar a presença do irmão, suspirou, enquanto ele sentava-se ao seu lado no sofá.
— Não vou mais discutir com você sobre... Bem, sobre você sabe quem. — Começou e a garota assentiu atenta. — Você tem razão, já é maior de idade, e eu não tenho mais o direito de querer que você faça o que eu acho melhor. Mas sou seu irmão mais velho, e não vou admitir que ele te faça sofrer. — Finalizou, observando os olhos da garota marejarem.
— Me perdoe, , não pelo papai. — Victoria se levantou.
— O quê? — Franziu a testa, sem entender.
— Meu noivo é o .
não tinha reação, se levantou em pulo, levando as mãos à cabeça enquanto andava de um lado para o outro. Victoria já chorava, o que fazia achar a situação mais surreal ainda. Por Deus, eram como irmãos, como isso pôde acontecer?
— VOCÊ É INACREDITÁVEL! — Gritou olhando para garota. — ISSO É DEMAIS, VICTORIA, DEMAIS!
— Aconteceu! — A garota soluçava, mas ele já estava vermelho de raiva.
— COMO ACONTECEU? NÃO ERA PRA ACONTECER!
— Calma, ! — Pediu, tentando se aproximar do irmão, que desviou bruscamente.
— NÃO ME PEDE CALMA, ELE NÃO É UM DOS SEUS ROLOS, VICTORIA! — Respondeu e a garota fechou os olhos. — ELE É MEU SÓCIO, MEU MELHOR AMIGO!
— EU GOSTO DELE E, VOCÊ QUEIRA OU NÃO, EU VOU ME CASAR COM ELE! — Victoria disparou, fazendo bufar nervoso, estava incrédulo.
— Por isso a cara de sonso enquanto você falava sobre seu noivado ontem, e ainda a história do idiota que você cisma em chamar de pai. — soltou uma risada incrédula.
— Eu não tenho mais 7 anos de idade pra ouvir com quem eu devo ou não falar. — Retrucou, tão nervosa quanto o irmão.
— Quanto tempo vocês estão juntos? Você sabia que ele se envolve com uma tal de Júlia?
— Eu era a Júlia! — Admitiu baixinho, olhando para o chão, envergonhada.
— Vocês são dois mentirosos, e eu não quero mais olhar pra cara dos dois, NUNCA MAIS! — Respondeu, caminhando até seu quarto e se trancando no mesmo.


Capítulo 13 - A verdade dói!


“Parece que há um casal novo. Um dos donos da Sunset com a irmã do outro. Confuso, não?
Será a quebra de uma sociedade de 6 anos?
Aguardamos por mais notícias.
@Webfofocas”


estava incrédula, não apenas por Victoria e , mas por e por . Correu até o apartamento da melhor amiga, do outro lado do corredor, e, ao entrar, viu atirar o celular na parede.
— EU ODEIO ELE! — Gritou, fazendo levar uma de suas mãos no peito.
— Calma!
Fazia exatos três dias que havia dormido na casa de e, desde então, não teve notícias do garoto. Ela entrava no terceiro mês de gravidez, e tinha medo da barriga começar a crescer antes de contar, entretanto, sabia que as coisas estavam mais delicadas do que o normal.
— Aquela garota tem 18 anos! — retrucou e bufou em seguida. — Ele só pode estar louco!
— Só mesmo, vai matá-lo. — Completou, mas logo em seguida começou a pular. — Sem tempo ruim! Amanhã é o casamento de Ana, precisamos buscar nossos vestidos! — afirmou, batendo palminhas, animada.
— Eu vou ter que entrar com aquele idiota. — revirou os olhos, segurando uma risadinha ao ver saltitante.
— Vou me trocar e quando voltar quero você pronta pra sairmos daqui e resolvermos as coisas pra amanhã! — Ordenou, fazendo rir.
— Ok, mamãe do ano, já vou.

Uma hora depois, e faziam a última prova do vestido. Ao se olhar no espelho, sentiu vontade de chorar, o vestido era perfeito e o resultado estava incrível, estava ansiosa para ver a produção completa, e mais ansiosa ainda para o casamento de seus amigos.
Após provarem seus vestidos, as garotas decidiram ir ao shopping para escolha do sapato. Ao chegarem, comprou um salto prateado, e , um nude.
Decidiram almoçar no shopping, e, por mais que estivesse se divertindo com , era inevitável não pensar em como ele se sentia, queria que as coisas fossem como quando tinham 18 anos, sem problemas e sem um pingo de juízo. As coisas haviam mudado, e começava a temer a proporção da mudança.

X


A manhã do casamento de Ana estava ensolarada. As madrinhas e a noiva se reuniam no salão de beleza para iniciar a preparação para o evento. e Rachel recebiam uma massagem, enquanto Clara, Ana e faziam as unhas. O dia prometia ser emocionante e as garotas estavam animadas.
— Sempre achei que Clara fosse casar primeiro. — Confessou Rachel.
— Eu achei que você fosse chegar de ressaca aqui hoje. — Ana respondeu.
— Quero estar sóbria até o casamento para encontrar meu par. — Brincou e todas as meninas gargalharam. — Amiga, como você se sente? Tipo, você vai casar HOJE.
— Eu sei, parece surreal. Eu tô anestesiada ainda, mas eu me preparei muito pra isso, sempre foi meu sonho, vocês sabem. Eu tô muito feliz, e mais feliz ainda por dividir isso com vocês! — Os olhos de Ana encheram de lágrimas, fazendo todas ecoarem um “Onw”.
— Só não vale casar e sumir no Rio, você tem que vir pra cá também! — alertou e Ana assentiu sorrindo.
— E não pode esquecer das noites das garotas! — Rachel lembrou, e todas riram.
— Sinônimo de Rachel sempre vai ser álcool, não adianta! — Clara brincou.

A noite havia chego, se admirava no espelho, observando o vestido azul bebê, com as joias da e o salto prateado. O cabelo com tranças em uma lateral da cabeça, e os cachos que caiam perfeitamente. Se sentia deslumbrante, e com um desejo enorme de algodão doce. Era só o que me faltava, pensou.
Ao chegar no salão, cumprimentou algumas pessoas e, de longe, o avistou. Estava distraído, conversava com o pai de Gabriel, mantinha uma expressão terna, mas o olhar não enganava .
De relance, olhou para , que pode perceber ele pedir licença para o homem e caminhar em sua direção. A cerimônia começaria em poucos minutos e as pessoas começavam a entrar no salão e se posicionar nas cadeiras do local.
— Hey. — Deu um beijo na bochecha da garota. — Ansiosa?
— Um pouco. — Confessou. — E você, pronto?
— Nasci pronto. — Brincou e riu.
Ao se posicionarem para entrada, a tensão entre , e era presente, forçando os três a olharem apenas para frente, sem nem sequer cruzarem os olhares por um segundo.
Clara e Lucas foram os primeiros a entrar, logo após, Rachel e o irmão de Gabriel, e , e, por fim, e .
A caminhada até o altar foi tranquila para , que sorria e vez ou outra cutucava para que sorrisse também. Logo, a entrada de Ana se iniciou e podia sentir a emoção dos noivos, o que a fez derramar umas lágrimas também.
— É a primeira vez que te vejo chorando em eventos assim. — disse e limpou algumas lágrimas.
— Não é qualquer evento, é Ana e Gabriel, e somos os padrinhos! — Retrucou e o garoto sorriu.
Quando a cerimônia acabou, todos se dirigiram para festa e sugeriu um brinde dos padrinhos com os noivos, o que fez estremecer.
— O brinde não é um brinde comum, é pra simbolizar que agora a gente finalmente cresceu, e não somos mais os adolescentes que fugiam para as festas, sempre tiveram as férias mais loucas, puxavam a orelha de por sempre ser a mais maluca... — Deu uma pausa e todos gargalharam. — Acho que todos estamos muito felizes por vocês. Agora sim, saúde! — Finalizou , e o encontro de taças foi feito.
Disfarçadamente, colocou sua taça em cima da mesa, enquanto todos pareciam distraídos.
— Ei, , não vai beber? — Questionou Lucas e arregalou os olhos, devido ao susto.
— Eu... eu já bebi. — Mentiu, recebendo olhares de todos. — O que foi?
— É a primeira vez que não vejo você virar a taça. — Clara brincou e riu, na tentativa de disfarçar a tensão.
Em alguns minutos, todos se dispersavam pela festa, deixando apenas , , , e Rachel na mesa. Era claro que o clima não estava dos melhores, mas as meninas tentavam disfarçar conversando sobre o nervosismo da caminhada até o altar.
. — chamou e ignorou, fazendo as meninas cessarem a conversa na hora. — Cara, a gente tem que conversar, você me evitou a semana inteira. — Insistiu.
— Temos conhecimento na arte de evitar. — debochou. — Veja, você evitou contar que está noivo da minha irmã, e eu evitei falar com você. Somos bons nisso, né?
— Noivo? — frisou, levantando-se da mesa no segundo seguinte.
... — Rachel a seguiu, mas não conseguia se mover com medo de pular no pescoço do sócio.
— Pode lidar com isso como uma criança, mas uma hora teremos que conversar, não se trata apenas de mim e da sua irmã, se trata da nossa empresa, da nossa amizade! — lembrou e riu, incrédulo.
— Eu só não encho você de porrada porque respeito muito Ana e Gabriel, e, quanto à Sunset, resolveremos depois. — Rebateu.
, você acha mesmo que eu planejei me apaixonar pela sua irmã? — questionou e podia observar serrar os punhos.
— Você pediu minha irmã em casamento pelas minhas costas e quer vir com seu discursinho de merda sobre eu ser criança? Sobre não ter planejado? — O garoto começava a ficar vermelho. — Vai tomar no cu!
— Cara, eu não...
— Você é criança, você é covarde por não ter me contado, é um filha da puta por ter pedido alguém que você se envolve há pouco tempo em casamento! E, além de tudo, fingia pra mim que ainda gostava de . — se levantou e também. — Inventar uma tal de Júlia? O quão baixo você consegue chegar? E ainda acha mesmo que existe alguma chance de eu voltar a falar com você? Você quebrou minha confiança, , da pior forma possível.
— Você devia pensar na sua irmã.
Com essa frase de , agarrou o melhor amigo pelo colarinho, estava vermelho de raiva, e sabia que a situação tinha chegado em seu ápice. Correu para o lado do garoto, segurando suas mãos e suplicando para não abrir a boca.
, solta ele. — Pediu e mantinha as mãos segurando . — Não faça isso, Ana e Gabriel já virão aqui e ficarão chateados.
soltou , o olhando com desaprovação. Bufou, e por fim agarrou um copo de whisky da bandeja do garçom que passava, indo até o jardim, do lado de fora do salão.
— O que você fez com é triste, mas nem se compara com o que fez com . — A garota disse olhando pra .
— Ela terminou comigo, , há dois anos atrás. E tenho certeza que você nem imagina o porquê. — Respondeu arisco. — Sua amiga te contou o motivo do nosso término? Se eu estou noivo hoje, é por ter superado o que aconteceu.
A garota não entendia sobre o que falava, nunca havia explicado o motivo do término exato, e, no fim, não cobrou, já que via o sofrimento da melhor amiga. Não respondeu , apenas balançou a cabeça negativamente, indo atrás de .
Ao chegar, virava o copo de uma vez, enquanto olhava uma fonte que havia no local. estava receosa do que fazer, se sentia péssima por ter presenciado a discussão dos dois.
, eu realmente não quero ouvir sobre isso. tirou o resto da minha paciência. — O garoto disse, sem desviar o olhar da fonte.
— E você vai tirar a minha se me tratar assim. — Respondeu. — Preciso te contar uma coisa.
— O quê? — se virou, olhando nos olhos da garota, que estremeceu. Sua boca abria e fechava, quando a valsa foi anunciada.

(July — Noah Cyrus)
I've been holding my breath
Eu ando segurando meu fôlego
I've been counting to ten over something you said
Eu ando contando até dez por algo que você disse
I've been holding back tears
Eu ando segurado as lágrimas
While you're throwing back beers, I'm alone in bed
Enquanto você bebe cervejas, eu estou sozinha na cama

? — chamou e balançou a cabeça, acordando do transe rápido, enquanto observava Ana e Gabriel caminharem para o meio da pista.
— Temos que ir, é a valsa. — Saiu, puxando o garoto pelo braço, entretanto, parou.
— Não, eu quero saber, o que está havendo? Se isso for a resposta para você estar tão diferente, eu realmente preciso saber. — Afirmou e a garota engoliu seco.

You know I, I'm afraid of change
Você sabe que eu, eu tenho medo de mudanças
Guess that's why we stay the same
Acho que é por isso que ficamos na mesma
So tell me to leave
Então me diga para ir
I'll pack my bags, get on the road
Vou empacotar minhas malas, pegar a estrada
Find someone that loves you
Encontre alguém que te ame
— Euestougravida. — Disparou e o garoto franziu a testa.
— Você o quê? — Questionou, sem entender.
— Estou grávida. — Ela respondeu e parecia ter ficado sem ar. — Em fevereiro fiz o teste e deu positivo, fui ao médico e ele me disse que eu estava de 6 semanas de gravidez, sim, eu deveria ter contado de uma vez, mas eu fiquei com medo. Na verdade, eu estou com medo. Eu estou apavorada pra falar a verdade, nunca foi meu sonho ser mãe, você mais do que ninguém sabe.... — Disparou e seus olhos começavam a marejar.
— Eu fui na sua casa e você me falou sobre o acordo do ano novo, lá você já sabia? — mantinha a voz calma e assentiu. — E você não contou? Preferiu falar todas aquelas coisas pra mim?
— Na hora eu estava extasiada, , eu só pensei em nós dois, e em tudo. — As lágrimas já corriam dos olhos de e o garoto mantinha o olhar perdido em algum ponto atrás dela.
— Eu dormi na sua casa, peguei uma roupa de criança, e você também não lembrou? — Questionou mais uma vez e abria e fechava a boca, sem saber o que dizer.
, eu...
— Francamente, isso não é algo que se esqueça de falar.
Antes que pudesse responder, saiu andando, e a garota estava imóvel. Não conseguia mover um milímetro sequer do seu corpo, mas pôde observar quando ele deixou a festa, sem nem olhar para trás.

Feels like a lifetime
Parece o tempo de uma vida
Just trying to get by while we're dying inside
Tentando me virar enquanto morro por dentro
I've done a lot of things wrong
Eu fiz muitas coisas erradas
Loving you being one, but I can't move on
Te amar é uma delas, mas não consigo seguir em frente


Capítulo 14 - Promessas.


dirigia atordoado. Imagens da infância dolorida passavam na sua mente. As brigas de seus pais e o choro de Victoria. A adolescência cuidando da garota, que todas as noites pedia para dormir com o irmão. A vida adulta, as brigas com , a volta de seu pai, a traição de , e, agora, um filho.
Sentia vontade de gritar, de fugir, de sair daquela cidade para sempre. Ele não aguentava mais ser surpreendido.
Não queria um filho, não queria o sangue de seu pai, não queria que Victoria fosse tão cabeça dura e tão covarde. Mas, de certa forma, era o que tinha.
Ao chegar em seu apartamento, pegou a garrafa de whisky guardada no armário, removendo o lacre e colocou a bebida em um copo, enquanto arrancava a gravata borboleta com uma das mãos e em seguida tirava o paletó.
Se jogou no sofá e seu olhar parou em uma foto dele e de , em um evento da Sunset. Sem pensar duas vezes, atirou o copo na mesma, mas, pela péssima mira, acabou acertando a televisão.
Estava com raiva, mas ainda precisava da bebida, precisava esquecer seus problemas por algumas horas, para lidar com tudo depois. Praticamente se arrastou até a cozinha, pegando outro copo e o enchendo com o líquido amargo.
Ao ouvir o som da campainha, não se surpreendeu. Ele sabia quem era, e sabia no que aquilo resultaria. Não precisou caminhar até a porta para abri-la, já que a mesma estava destrancada e foi aberta no segundo seguinte, revelando , com os olhos vermelhos e com o salto em uma das mãos.
— Já tivemos inúmeras discussões, mas essa é diferente. Você não pode me deixar plantada, sem falar uma palavra, depois do que te falei. — A garota disse e virou o copo de whisky sem expressar emoção alguma.
— Não sei o que esperava de mim. — Respondeu, buscando a garrafa de whisky na cozinha, despejando mais líquido no copo.
— Esperava que você não fosse um idiota! — Retrucou, caminhando até ficar frente a frente com o garoto.
— Esperou demais.
— OLHA PRA MIM! — Ela gritou, arrancando o copo de de sua mão, colocando-o em cima da mesa de centro. — PODE GRITAR COMIGO, ME MALTRATAR, AGIR COMO O MAIOR BABACA, MAS EU TE CONHEÇO. — As lágrimas rolavam pelo rosto da garota, enquanto aderia uma expressão triste. — Eu te conheço, e eu sei que você não é assim. Você está com medo, está triste, está angustiado, se sente perdido.
... — Ele interrompeu, mas ela negou com a cabeça.
— Não adianta me pedir pra sair daqui, pra te deixar, ou dizer coisas horríveis pra mim. Eu não vou. Eu vou ficar, vou cuidar de você, e vou te ajudar. — Afirmou, limpando o rosto e abraçando garoto, que retribuiu, deixando algumas lágrimas escaparem.
Achava incrível como ela conseguia descrever exatamente o que ele sentia e como conseguia ser compreensiva, era algo que ele sempre admirou nela.
Desde que conheceu , ele nunca conseguiu sentir o mesmo por outra garota. Mesmo que tivessem mil e uma brigas, algo os trazia de volta, e olha que ele nem acreditava em destino.
Alguns minutos depois, se soltaram, foi para o quarto, tirando as últimas peças do smoking, colocando uma calça de pijama qualquer. Quando voltou, trouxe uma camiseta e um short para , que pegou as roupas, indo para o banheiro e se trocando. Teve um pouco de trabalho para sair do vestido, mas conseguiu. Aproveitou para lavar o rosto, já que a maquiagem estava borrada.
Quando voltou para sala, estava deitado no sofá, encarando a televisão quebrada. se aproximou e o garoto deu espaço para que ela se deitasse ao seu lado. Ao deitar-se, afundou o rosto na curva de seu ombro, abraçando sua cintura, enquanto ela acariciava seus cabelos.
— E aí, quer assistir um filme? — Brincou, vendo-o rir baixinho.
— Ele chamou, levantando a cabeça, encontrando o olhar da garota. — Obrigado. — Agradeceu baixo com as bochechas levemente rosadas.
sorriu, passando o nariz pelo dele devagar, e logo seus lábios se encontraram. Ambos pareciam querer sentir a presença um do outro, a calmaria era presente, mas partiu o beijo, o que deixou perdido. Ela não queria que a situação se complicasse mais ainda entre os dois, precisavam evitar o máximo de problemas possíveis.
— Acha que daremos conta? — Ele questionou, desviando o olhar para a barriga dela rapidamente.
— Espero que sim. — Respondeu. — Pizza? — Sugeriu e ele assentiu, rindo.
Alguns minutos depois, a pizza chegou, e comeu 4 pedaços sozinha, o que era inédito, já que nunca havia conseguido passar de dois, e gerou algumas risadas entre ela e . Quando terminaram, não demorou muito para acabarem pegando no sono e irem dormir.
Ambos sentiam a calmaria do mundo deles, haviam algumas coisas para lidarem, mas estava tudo bem, eles sentiam que tinham um ao outro, e isso parecia suficiente.

Na manhã seguinte, acordou sozinha na cama. Caminhou até a cozinha, encontrando preparando uma espécie de café da manhã.
— Comprei pão, bolo, pão de queijo e cookie. — Apontou para sacolas e ela riu, dando um beijo na bochecha dele.
— Está ótimo. — Afirmou sorrindo e o ajudando a levar as coisas para pequena mesa da varanda.
Sentaram-se e mordia um pedaço de cookie enquanto admirava o céu azul. Ele não estava diferente, a manhã realmente estava bonita, talvez fosse para compensar os acontecidos da noite anterior, pensava.
— Ainda não conversamos. — mencionou, receosa.
— Não vou fugir disto. — Respondeu, encarando a garota.
— Não é só o fato de fugir, é ser. Preciso de uma promessa. — Ela olhou nos olhos de , que assentiu para que ela continuasse. — Vamos prometer, que, mesmo que a gente brigue, não vamos deixar que o afete.
— Prometo. — Respondeu e estendeu o dedo mindinho, o que o fez gargalhar, mas selar a promessa. — Eu fiquei com raiva, fui um idiota, e ainda não caiu minha ficha, mas eu vou fazer de tudo pra ser alguém melhor, porque agora não depende só de nós dois. — Afirmou e estava pasma com as palavras do mesmo.

Flashback (1 ano antes)
— VOCÊ PROMETEU! — gritava no rosto de , que estava vermelho de raiva, e não acreditava que estava acontecendo de novo.
— QUAL É, PORRA, EU NÃO CONSIGO ENTENDER VOCÊ! — Respondeu e bufou, fazendo bico em seguida.
— A GENTE TINHA UM COMBINADO, , UM! — Ela continuou, dando tapas no peito do garoto, que segurou suas mãos.
— EU SEI, , EU SEI. MAS NÃO ESTAMOS JUNTOS, NÃO TE DEVO SATISFAÇÃO.
estremeceu, estavam na porta de uma balada, chamavam um pouco de atenção, mas não importava. Soltou bruscamente suas mãos das dele, o empurrando levemente para trás.
— Não é porque não estamos juntos, que eu não vá sentir nada ao ver você agarrado com duas garotas. Existem coisas que me machucam, e o mínimo que você podia ter era respeito e consideração.
— Você fala como estivesse sozinha. — Retrucou e a garota sentia o sangue ferver ainda mais.
— Não queira virar essa situação pra mim.
— CHEGA, ! — Ele pediu e ela assentiu com indiferença. — EU CANSEI!
— Quem cansou fui eu, cansei de te ver esfregando mulher atrás de mulher na minha cara. Cansei de tentar. Cansei de te pedir para parar. Cansei de sempre ser a mesma coisa. Cansei de imaginar que um dia vamos nos acertar, porque não vamos. Você nunca vai mudar, eu nunca vou mudar, e nós nunca vamos dar certo. — Finalizou, deixando o garoto para trás, assustado com as palavras dela, e com medo que ela estivesse certa.
Flashback off.


— Tudo vai mudar. — Afirmou, observando-o assentir. — Talvez fique bravo, mas vou perguntar do mesmo jeito. E quanto a e sua irmã?
suspirou, como se ponderasse rapidamente. Pegou um pão de queijo, mordendo em seguida e voltando o olhar para garota.
— Não sei... — Confessou. — Não estou puto por estarem juntos, é meio estranho, porque sempre esteve entre a gente, digo, como irmão, mas não estou bravo por isso. Estou bravo pelas mentiras! Porra, eles mentiram demais. Inventar uma garota aleatória, insistir que ainda gosta de ...
— Sei que está chateado, e tem todo o direito de estar, foi errado o que eles fizeram. Mas vocês tem a Sunset, anos de amizade, e a Victoria é sua irmã. — Respondeu e deu de ombros. — Além de que, os sites de fofoca estão a mil, logo você vai ter que se pronunciar.
— Essa é a pior parte. — Revirou os olhos. — Vou tratá-lo como sócio, nada além. Não quero ser um dos padrinhos daquela merda, muito menos ver meu pai entrando na igreja com minha irmã.
— É estranho imaginar os dois se casando. — fez careta. — Sempre imaginei com , e sempre achei que os dois voltariam. — Deu uma pausa. — !
— O que tem?
— Não liguei pra ela desde o casamento! — A garota colocou uma de suas mãos na testa. — Caramba, ela deve estar preocupada, meu celular está sem bateria alguma.
— Usa o meu.
desbloqueou o celular rapidamente, entregando para , que pegou, indo até os contatos e ligando para , que não demorou a atender.
Alô. — Ouviu a voz da melhor amiga do outro lado da linha.
— Oi, , sou eu.
! Eu vou te matar! quis rir ao imaginar a feição de , que deveria estar surtando. — O que aconteceu? Você sumiu do nada no casamento! Você contou?
— Vou te contar tudo depois, e, sim, contei. — Respondeu, olhando para , que devorava um pedaço de bolo.
Quero saber tudo, vem logo!
— Pode deixar, meu mel, já já estou de volta! — Brincou e ouviu rir do outro lado da linha. — Te amo, se cuida.
Também te amo, cuida do meu sobrinho.
Desligou o celular e devolveu para , que revirou os olhos ao ver algo no mesmo. Virou a tela para , que leu rapidamente o trecho de um site de fofocas.

“Parece que há uma tempestade no mundo da moda. Nosso foi visto saindo de um casamento nervoso, e, segundos depois, a garota das jóias o seguiu e sua feição não era das melhores.
Fontes afirmam que o garoto não quer perdoar o novo cunhado, mas o que tem a ver com isso? Seria um novo segredo?”


— E ainda tem essa! — afirmou.
— Só vamos anunciar mais pra frente, agora nem pensar. — completou. — Deixe que especulem.
Um pouco mais tarde, afirmou que precisava ir para casa. Precisava realmente ver e de um bom banho acompanhado de uma roupa limpa. ofereceu para levar a garota, que aceitou. Ao deixar na porta de seu prédio, ele agradeceu mais uma vez por tudo, e pediu para que o deixasse informado sobre tudo relacionado a gravidez, afirmou que não demorariam a se ver. Ela estava completamente perplexa com a mudança repentina de , e sentia-se, pela primeira vez desde que descobriu estar grávida, segura.
Se despediram e ela subiu, com o vestido azul e o salto prateado em suas mãos.


Capítulo 15 - Nosso lugar.


— Então você contou tudo? Caraca!
e estavam jogadas com as pernas para o alto no sofá do apartamento de . Fazia quase uma semana desde que havia contado tudo para , e ambos pareciam estar bem melhores após os acontecimentos da semana anterior.
— Agora que contei me sinto aliviada. — Confessou. — Como você está em relação a e Victoria?
— Não sei. — torceu a boca, incerta. — Estou triste, mas não é como se ele fosse me esperar a vida toda. Sem falar que tem algo que precisamos conversar.
sentou-se e franziu a testa. O assunto era sério, já que a expressão de sua melhor amiga era séria. Ela sentou-se, aguardando começar a falar.
— Fui promovida!
— E você fala assim? Precisamos comemorar! — sorriu, mas continuava séria. — O que foi?
— É pra empresa do Rio de Janeiro.
abriu a boca, formando um O. Estava chocada, nunca pensou nas duas morando em cidades diferentes, entretanto, ela não seria egoísta de pedir para deixar uma oportunidade grande passar.
— É o que você quer? Se for, eu estarei feliz, e te visitarei em todos os feriados. — Respondeu, segurando uma das mãos de , que sorriu.
— É o que eu preciso. Recomeçar. — A garota respondeu, deixando uma lágrima cair, e a abraçou.
— Quando você vai?
— Na próxima semana. — Ouviu responder e respirou fundo, impedindo algumas lágrimas teimosas de caírem.

X


sentia se irritado só de olhar pra , o que o obrigou a marcar uma reunião com urgência, para decidir o futuro da Sunset.
Por mais que amasse a empresa, ele sabia que aquela não era sua única renda, e que, com algumas ideias novas, ele poderia começar outra coisa tão boa quanto.
Adentrou a sala de reunião da sede da Sunset, cumprimentando algumas pessoas presentes no local, e sentou-se em uma das cadeiras, encarando com cara de poucos amigos.
— Precisamos falar sobre o futuro. — Afirmou e todos ficaram calados, aguardando as próximas falas do garoto. — Não vou ficar de enrolação. Quero vender a minha parte pra você. — Finalizou, olhando .
A expressão do sócio era de completo choque, assim como a de todos presentes na mesa. Ele se levantou, bufando e encarando .
— Nossos problemas pessoais não deveriam chegar aqui, isso é ridículo! — Deu uma pausa, incrédulo. — Eu não vou deixar que faça isso.
— Bem, não estou pedindo sua permissão. — Retrucou, se ajeitando na cadeira. — Criamos isso com um propósito, que não é o meu de hoje em dia.
— Você não pode deixar uma história de 7 anos, assim.
— 7 anos. — frisou e se levantou, caminhando até a máquina de café do espaço e se servindo. — 7 anos atrás eu não imaginei que você fosse casar com minha irmã.
As pessoas presentes na sala, mais precisamente o setor administrativo da empresa, estavam chocadas. Mantinham-se em silêncio, enquanto mantinha um olhar raivoso para , que se mantinha calmo, enquanto tomava seu café.
— O que você está fazendo é a coisa mais ridícula e tosca que já te vi fazer. — Cerrou os olhos. — Se você quer vender sua parte, ótimo. Eu compro!
— Então temos um negócio. — sorriu sarcástico. — Cuidado pra não acabar gastando parte da sua festa de casamento, Victoria ficaria chateada.
— Eu não sou a pra aguentar seu joguinho. — respondeu, mas se arrependeu assim que viu caminhar em sua direção, agarrando novamente sua blusa.
— Não toca no nome da , nunca mais. — Disse, vermelho de raiva. — O que acontece entre nós não te diz respeito, e não cabe a você julgar nós dois, depois do que fez com . — Finalizou, empurrando o sócio e saindo da sala.
Por mais que se sentisse nervoso, ele havia marcado com de almoçarem juntos em um restaurante que gostavam. Era uma ótima oportunidade pra se acalmar e tirar um tempo daquela loucura toda.
Se encontraram na porta do prédio de , que desceu com um vestido verde escuro soltinho e seu adidas. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo desarrumado, e ela ajeitava o óculos de sol no rosto.
— Hey! — Ela sorriu, adentrando o carro do garoto, dando um beijo em sua bochecha.
— Oi. — Forçou um sorriso e franziu a testa:
— Dia ruim? O meu está péssimo. — Suspirou, colocando o cinto, e deu partida no carro.
— Então estamos na mesma. — Ele fez uma careta. — Vou vender minha metade da Sunset pra .
— O quê? — A garota questionou chocada, levantando o óculos. — Esse é o seu sonho, você está maluco?
— Não é loucura, , é recomeçar. — Ele afirmou, e desviou o olhar por um momento, como se pensasse em algo.
— Todo mundo quer recomeçar hoje, o que tá acontecendo? — Ela questionou e franziu a testa, sem entender. — vai morar no Rio.
— O quê? — Foi a vez de ele ficar chocado, e riu levemente.
— Recebeu uma proposta de emprego, é a chance dela recomeçar, e eu estou feliz por ela. — Confessou — Só vai ser estranho não vê-la todos os dias.
merece. — O garoto afirmou. — Ela lutou muito pra ter tudo que tem.
— Você também. É injusto ceder!
— Não é questão de ceder, .
, você e investiram anos das suas vidas ali! — A garota olhou pra ele, que mantinha os olhos fixos na estrada. — Vocês têm muita gente que acompanha o trabalho de vocês, se um dos dois sair, vai perder a magia.
— É hora de olhar pra frente, tá acontecendo tanta coisa! — suspirou.
— Você está querendo fugir, e eu não vou te apoiar nisso.
— Chegamos! — O garoto comemorou e quis rir. — Tinha esquecido como você era insistente.
Adentraram o restaurante, sentando-se em uma mesa próxima a uma janela que havia no local. O garçom trouxe os cardápios e notou , inquieta.
— Ei, tá tudo bem? — Perguntou e os olhos da garota encheram-se de lágrimas.
— Eu não posso me imaginar comendo nada disso. — Ela respondeu, choramingando. — Só de pensar nesses pratos, eu já quero correr pro banheiro e colocar tudo pra fora. O que é triste, porque eu amo comer aqui.
— Ei, não precisa chorar por isso! — Respondeu, calmo, e ela negou com a cabeça, colocando as mãos no rosto. — Podemos ir em outro restaurante, tem milhares aqui perto.
— Eu quero um pastel. — A garota levantou o rosto, limpando as lágrimas, e ele assentiu.
— Tudo bem, vamos comer um pastel então.
tentava entender que aquilo eram os hormônios da gravidez falando, o que ainda era estranho pra ele, já que ainda não havia caído sua ficha que teriam um filho.
Saíram do restaurante e estava mais calma. Entraram no carro novamente, e, quando chegaram a uma feira, pararam, sentando-se em uma barraquinha.
— Você quer do quê? — Perguntou e a garota abriu o maior sorriso que ele já havia visto.
— Queijo!
Pediram os pastéis, e devorou o dela em menos de 5 minutos, o que fez rir e tirar uma foto da menina com a boca suja.
Ao terminarem, resolveram ir até a praça de , e, juntos, estavam sentados no banco, encarando as árvores.
— Quando a gente vem pra cá, eu me sinto com 17 anos. — Ela confessou, e riu. — E me sentir com 17 anos me lembra muita coisa.
— Tipo?
— Era nossa praça antes de se tornar sua praça. — Ela sorriu triste, e ele a encarou. — Nosso primeiro beijo foi aqui.
— A chamávamos de código 14. — Ele riu levemente e o acompanhou. — Ela não se tornou minha, continua sendo nossa.
— Eu não venho pra cá com tanta frequência quanto você. — A garota o encarou, e ele deu de ombros, fazendo seus olhares se encontrarem.
— Eu não venho sempre. — Afirmou. — Venho quando está tudo tão sufocante, que só preciso de ar. Então, eu sento nesse banco, e vejo tudo que esse lugar já fez por mim, olho as árvores, e, de certa forma, isso me acalma. — Sorriu e a garota passou uma das mãos por seu rosto.
— Aonde foi que nos perdemos? — Disse baixinho, mas não o suficiente para que ele não ouvisse e a abraçasse.
Se soltaram, mas ainda estavam bem próximos. Tão próximos, que ela podia sentir a respiração dele batendo em seu rosto. Ele mantinha os olhos fechados, enquanto ela acariciava seu rosto. chegou mais perto, e eles deram um selinho demorado, que logo se tornou um beijo.


Capítulo 16 - Our last summer.


, você me surpreende cada dia mais. — Rachel dizia, se jogando no tapete da sala de estar de , que devorava um balde de pipoca.
— Vocês duas me surpreendem! — afirmou, enchendo a mão de pipoca. — grávida, você saindo com o irmão de Gabriel. Qual é, a vida de vocês parece uma novela!
— Não é como se a sua não parecesse. — Rachel rebateu e riu. — Você vai amanhã para o Rio de Janeiro, receber uma fortuna com sua promoção.
— Que seja! — deu de ombros. — Conte sobre sua relação com o irmão de Gabriel!
— Ahhh, Augusto é inexplicável. — Suspirou. — Pela primeira vez em anos, eu sinto que isso possa evoluir, e, de certa forma, não quero sair correndo, o que já é um grande passo pra mim.
— Com certeza. — brincou e Rachel mandou o dedo. — Eu fico feliz, de verdade.
— E você, grávida? Está quieta demais. — Rachel chamou atenção de , que balançou a cabeça, voltando a atenção às amigas.
— Eu tô bem... — Sorriu levemente.
— E ? Como está com tudo isso? — Questionou e deu de ombros.
— Ele reagiu melhor do que eu, pra falar a verdade. O que está pegando é a briga entre ele e . — fez uma careta. — Ele está pensando em vender a parte dele da Sunset. — Ao finalizar, viu a expressão chocada de Rachel, assim como a sua, quando deu a notícia na semana anterior.
— Aquela loja vende pra caralho, não é possível que realmente venda pra .
— No começo eu duvidei, mas agora ele está com uns papos de seguir em frente, arrumar um novo rumo. Eu acho muito provável que ele faça isso.
foi um filho da puta com , e as fofocas estão começando a correr pela internet. — acrescentou e assentiu.
— Não vou mentir que acho um pouco de exagero vender metade de uma empresa por isso. — afirmou e Rachel concordou. — Mas, por outro lado, não conseguiria conviver com depois de tudo isso. Ele é rancoroso, principalmente em questões familiares.
— É complicado, mas logo as coisas vão melhorar. O primeiro bebêzinho do grupo vem aí! — Rachel sorriu, passando a mão pela barriga de . — Quem diria, depois de tantas idas e vindas, barracos, porres, viria um bebê do rolo de vocês?

Mais tarde
, e Rachel terminavam de arrumar a última mala de para o Rio. Ela não tinha um prazo para voltar, o que deixava tensa, entretanto, ela havia prometido que estaria em São Paulo quando o bebê nascesse, o que era, de certa forma, um conforto para .
A última vez que haviam se separado por tanto tempo foi dois anos atrás, antes de terminar de vez com , e passar quase dois meses viajando com ele.
Fora isso, nunca haviam ficado mais de alguns dias sem se ver.
Mesmo com o coração apertado, sabia que a melhor amiga precisava disto, e, independente da demora a se ver, ela estaria feliz por qualquer decisão de .
— Ok, agora vamos tomar um refrigerante, por favor. — Rachel pediu e as amigas riram, caminhando até a cozinha.
Rachel bebia uma coca-cola, enquanto e bebiam um suco de laranja integral, que era um vício para as duas há um tempo.
Quando terminaram, estavam exaustas. Tiveram a ideia de ver um filme, que acabou com as três dormindo na cama de , em dez minutos.

Quando o dia amanhecia, as três se levantaram, preparava o café, enquanto tomava banho e Rachel arrumava a cama.
iria com seu carro, e todas sabiam que o caminho seria longo, o que as obrigou a levantar enquanto o sol nascia.
Um sentimento de tristeza e saudade já começava a ocupar , que prometia a si mesma não chorar, o que parecia um pouco difícil com os hormônios da gravidez, mas ela fazia o possível.
O café foi tomado com um sentimento estranho entre as garotas, que, assim que terminaram, desceram até o estacionamento, acompanhando . Era inevitável não começar a chorar, e já se debulhava em lágrimas, quebrando sua promessa em pouco tempo.
puxou as amigas para um abraço, deixando algumas lágrimas teimosas escorrerem.
— Ei, eu prometo que venho quando o bebê nascer. — Afirmou, segurando a mão de , que assentiu. — E, por favor, valorize o que você está tendo, ok? Lembra do que minha mãe disse? No meu sonho? Precisamos manter a calma! Sei que já está aceitando bem melhor o que está passando, mas você ainda precisa olhar isto com outros olhos. Eu te amo muito, e, por favor, não faça besteiras. — Finalizou, dando um beijo na bochecha de , a abraçando em seguida.
Ao se soltarem, suspirou, limpando as lágrimas, e caminhou até Rachel dizendo algumas palavras e a abraçando. Em seguida, entrou em seu carro lotado de coisas, e acenava para as amigas, saindo da garagem, deixando Rachel e abraçadas lado a lado.
Subiram alguns minutos depois, e, como ainda era cedo, voltaram a dormir.

X


— Porra, não acredito que tenha deixado a caixa de fotos aqui. — Rachel disse, segurando a enorme caixa lilás, que continha fotos de diversos momentos da adolescência do grupo. — Olha essa! — Pediu, entregando a foto que continha ela, e , no acampamento de férias que iam todos os anos.
Acontece que as meninas ficaram com o papel de organizar o apartamento de , que ainda tinha dúvidas se venderia ou não o local, já que não sabia se havia possibilidade de voltar para São Paulo.
O som estava no máximo, e e Rachel estavam no meio de uma pilha de coisas que haviam sido jogadas por , em um dos quartos do seu apartamento, durante a mudança. Já estavam ali havia algumas horas, e já não aguentava mais.
— Essas férias foram boas. — Respondeu, segurando a foto e sorrindo.
— Todos os anos desse acampamento, fugimos pra baladinha, que saudade.
— E, neste dia especificamente, afundou o pé na lama e teve que ficar descalça durante toda a festa. — Finalizou, rindo, e Rachel a acompanhou.
devolveu a foto para a amiga, cantarolando a música que tocava, enquanto sem querer esbarrou o cotovelo em uma das milhares de caixas, que se abriu ao cair, revelando alguns documentos. A garota se ajeitou, tentando segurar os papéis, e, sem querer, rolou os olhos para uma carta, que tinha a letra idêntica de sua mãe.
Curiosa, abriu. Como aquilo poderia estar com ?


“Alisson,

Sei que as coisas não estão boas, tudo parece bem confuso pra ser sincera. Eu te espero, precisamos conversar sobre nossa situação.
Nunca vou me perdoar por isto, mas ainda temos tempo para reverter.

XxX Viviane.”



— Que foi, ? — Rachel questionou e ainda mantinha a testa franzida, sem entender.
— Minha mãe deixou uma carta para o pai de , mas eu não estou entendendo nada. — Respondeu, entregando o papel, que a amiga leu rapidamente. — Por que ela não iria se perdoar?
— Não faz sentido algum.
procurou mais alguma coisa que pudesse dar alguma resposta dentro da caixa, mas havia apenas documentos dos pais de , e nada que pudesse explicar aquela carta.
, quem procura no passado nem sempre acha boas respostas. — Rachel orientou, deixando a garota mais perdida do que estava.


Capítulo 17 - Fora do controle.


se sentia apreensiva enquanto dirigia até o ultrassom da décima quinta semana de gravidez, era a primeira vez que a acompanharia em uma consulta relacionada ao filho deles, e ela não imaginava qual seria sua reação.
Depois que ela contou que estava grávida, não houve grandes alardes, conversavam casualmente, e ela sentia o esforço do garoto para entender ao máximo a situação em que se encontravam.
Embora ela tivesse dito que ele não precisava ir, o garoto fez questão, e o coração dela se acendeu um pouquinho, lembrando que ele era , e que as coisas seriam diferentes.
Para , a ficha ainda não tinha caído completamente, embora ele tentasse todos os dias convencer parte de si que teria um filho, ele se sentia confuso.

Flashback (Um ano antes)
está
noiva. — Contou , e o mundo de desabou por um momento.
— FILHO DA PUTA! — Gritou, atirando o copo de suco que tinha nas mãos na parede, observando o líquido escorrer pela pintura branca.
... — Insistiu, mas o garoto já andava de um lado para o outro, no pequeno escritório da Sunset.
— Noah sabia, ele sabia! — Passou as mãos pelo cabelo nervoso. Sua garota iria se casar. — Ela nunca quis casar, sempre me disse que achava que era um rótulo idiota!
— Eu sei, , mas em um relacionamento temos que abrir mão de algumas coisas. Ela cedeu. — Informou, mas mantinha os olhos perdidos na parede. — Cara, antes de tudo, vem a felicidade de vocês. Dela!
— Papo furado, eu queria ver se fosse . — Rosnou, e revirou os olhos.
nunca vai chegar até o altar se você ter essa atitude perto dela. — Bufou. — Chega de insistir em algo que acaba com vocês! — encarou o melhor amigo, que mantinha um tom sério. — Ela vai seguir em frente, e, se eu fosse você, faria o mesmo. Ela vai se casar, vai ter um filho, e ser feliz. Sei que é duro, mas é a realidade.
As imagens de , sozinho, fazendo o máximo possível para se sentir feliz por ela, invadiam sua mente, fazendo o garoto apertar os olhos com força.
— Não vou ser egoísta, quero o melhor pra ela. — Afirmou, saindo do escritório, deixando confuso.
Flashback off.


estacionou ao lado do carro de , e, ao descer, notou a feição séria do garoto. Abraçou-o rapidamente, e ao se soltarem deu uma risadinha nervosa.
— Ei, se você não quiser entrar, tá tu...
— Vou entrar! — afirmou, interrompendo , que assentiu de forma silenciosa.
Caminharam em meio ao silêncio incômodo até a recepção da clínica, a recepcionista sorria para os dois, e podia jurar que ela conhecia da internet.
A garota os encaminhou até o consultório, mantinha uma expressão tensa, e , séria.
— Olá, , como vão as coisas? — O médico sorriu, assim que a porta foi aberta, e retribuiu educadamente, enquanto mantinha os olhos perdidos no consultório cheio de imagens de grávidas, fetos e bebês.
— Tudo ótimo, tirando os enjoos! — Riu levemente, desabafando, e o médico acompanhou.
— É uma fase, creio que você irá sentir saudade! Agora, vamos ver esse bebê? — Sugeriu, e repreendeu com um olhar, ao perceber que ele estava perdido, e o garoto se ajeitou, saindo de seu transe e posicionando-se ao lado dela.
tirou o casaco que vestia e, ao levantar a blusa, arregalou um pouco os olhos, ao perceber a pequena barriga. Claro que a barriga vai crescer, se repreendeu, sentindo-se um idiota.
A garota deitou-se, ajeitando os cabelos, e o médico aplicou o gel, fazendo-a fazer uma careta, pela temperatura do mesmo. Logo, o ultrassom foi iniciado, exibindo o pequeno bebê, fazendo morder o lábio inferior e focar na tela à sua frente.
— Bom, você está no segundo trimestre, logo vocês poderão saber o sexo do bebê, óbvio, se quiserem. — O Dr. Elias alertou, e sorriu simpática. — Já está na hora de pensar nos nomes, e agora já saímos do período de risco! O tamanho está adequado e, aparentemente, tudo está se desenvolvendo muito bem por aqui.
, se perdeu na tela também, e não conseguia ouvir o que o médico e conversavam. Sua mente parecia travada e ele não sabia o que pensar. Pela primeira vez, sua ficha havia caído e ele estava perdido.

Flashback (Um ano antes)
— Eu não quero machucar você. — afirmou, enquanto as lágrimas rolavam por seu rosto. — A decisão não é só minha.
— Não quero interferir nos seus planos de casar e ter uma vida feliz, não vou ser egoísta com você. — respondeu, com a voz embargada. — Você está tendo a chance de algo que eu não te dei, nem nunca propus.
— E nunca fiz questão! — levantou-se, indignada. — Eu nunca quis casar, nunca quis ter filhos, ou melhor,
NÓS nunca quisemos.
— Não posso e nem vou te pedir pra não casar, pra deixar ele, quando eu não te ofereci nada. Nunca. — Afirmou, e bufou.
— Você me deu tudo, menos um rótulo. — Respondeu, soluçando em seguida.
— Você vai ser feliz com ele, eu tenho certeza. O que eu posso te oferecer é a minha felicidade por você. — Insistiu, e sorriu triste, caminhando até a porta enquanto limpava as lágrimas.
— Não é o suficiente. — Finalizou, deixando a casa e completamente transtornado
Flashback off.


acordou do transe quando o coração do bebê preencheu o pequeno consultório, e observou que sorria, ouvindo atentamente.
— Bem, tudo certo, o bebê está ótimo, meus parabéns! — O mais velho sorriu, e sentou-se na maca, abaixando a camiseta.
— Que bom! — Comemorou, e logo os dois conversavam brevemente sobre as próximas consultas e, vez ou outra, sorria educadamente.
Saíram do consultório, e praticamente correu pra fora, ouvindo a garota dizer um ‘até mais’, para a recepcionista.
Quando o ar úmido atingiu seus pulmões, ele agradeceu mentalmente, puxando o ar o mais fundo que conseguia.
— O que tá dando em você? — Ouviu perguntar, e, em uma tentativa frustrada, relaxou os ombros.
— Preciso de um tempo. — Afirmou baixinho, ouvindo a risada irônica da garota em seguida.
— Só pode ser brincadeira! — Murmurou. — Você é bipolar, só pode!
— Não, . — Respondeu, surpreendendo-a, enquanto ela arqueava as sobrancelhas. — Você veio pra mim com aquele papinho de “eu te conheço”, em um momento que eu estava vulnerável, aquilo mexeu comigo, porra! Eu não estou pronto, não estou pronto pra ser pai!
— Você é um idiota! — A garota gritou, o encarando. — VOCÊ ACHA QUE EU ESTOU?
— Você parece bem realizada com a história de ser mãe. — Retrucou, com o tom elevado, e ela arregalou os olhos, rindo incrédula.
— Nossa, você consegue ser mais babaca do que eu imaginei. — Bufou, passando uma das mãos pelos cabelos. — Só falta falar que eu engravidei de propósito!
— Você que foi no meu quarto aquela noite! — respondeu, arrependendo-se em seguida, ao vê-la murchar os ombros.
— Eu ia me casar, se lembra disso? EU IA TER A PORRA DE UM CASAMENTO! — Gritou, sentindo os olhos arderem. — Eu queria muito que o filho fosse de Noah, ele seria um pai de verdade, não estaria dando essa merda de chilique, porque viu a imagem do bebê. — , arregalou os olhos, incrédulo. — Se eu tivesse sido um pouquinho mais inteligente, não teria que estar aqui, brigando pra você assumir algo que é sua responsabilidade também.
— EU ESTAVA PRESSIONADO! — Gritou, surpreendendo , que mais uma vez limpou as lágrimas.
— E EU? — Gritou de volta. — Você pode se dar ao luxo de pensar em não assumir sua responsabilidade, mas eu não, porque quem carrega sou eu. Mas tudo bem, vou dar o seu tempo, quando você se der conta de que está virando o seu pai, não venha atrás de mim, já cansei de aceitar suas merdas.
Antes mesmo de responder, já tinha entrado em seu carro, dando partida para o mais longe dali, as lágrimas preenchiam seu rosto, fazendo seu soluço ecoar pelo local.
demorou para entrar em seu carro e sair dali, as palavras de apertavam seu coração, o que o fez dar um soco no volante e gritar, antes de sair dali, acelerando o máximo que podia.
Estavam se perdendo, mais uma vez.


Capítulo 18 - Vida embelezada.


Fazia uma semana que e não se falavam e nem sequer tinham notícias um do outro. Nos primeiros dias, encheu a cara, e nem soube quantas garrafas de whisky ele havia bebido em tão pouco tempo.
trabalhou em casa, o máximo que podia, falou com algumas vezes na semana, omitindo a briga, a história de seus pais e o caos que sua vida adquiriu nas primeiras semanas da sua melhor amiga no Rio.
Era segunda-feira, 7 dias haviam passado exatamente, e ela havia marcado um jantar com seu pai. Victor tinha preparado uma grande mesa, e a avó de também estaria presente, o que a animou, já que fazia tempo que não a via.
Colocou um vestido longo, verde água, a noite estava quente e seu cabelo estava preso em um coque bagunçado. A pequena barriga havia esticado consideravelmente na última semana, o que a fez tirar uma foto no espelho, para guardar de recordação. Calçou uma rasteirinha branca, que não fazia muito o estilo da garota, mas parecia ser a melhor opção para quem estava com os pés inchados.
Por fim, pegou o celular e a chave, saindo de casa.
Ao chegar, ngela abriu a porta, exibindo a barriga de 7 meses de gravidez, que fez os olhos de arregalarem. Ficaria daquele jeito?, pensou.
— Hey! — A mulher a abraçou, e retribuiu, um pouco desajeitada. — Como você está linda! — Afirmou, e a garota agradeceu, educadamente. — Vem, seu pai está ansioso para te ver!
Adentrou a casa, e logo seu pai apareceu, abraçando fortemente.
— Parece que meu neto cresceu! — Comemorou.
— Ou neta! — A avó de disse, chamando a atenção da garota, que correu para seu braços. — Como eu estava com saudade da minha !
— Eu também estava, vovó! — Disse, enquanto abraçava a mais velha.
— Deixa eu ver! — Lídia se afastou, para encarar a barriga da neta. — Essa barriguinha te deixou mais linda!
— Obrigada. — Sorriu, sem jeito.
Tiveram mais alguns minutos de conversa, antes de se sentarem na mesa. Lídia lembrava de sua infância, além de dar alguns conselhos para a gravidez da garota.
Ao se sentarem, começaram a se servir, e quis rir da expressão de seu pai, ao ver o tamanho de seu prato. Estava comendo bastante nos últimos dias.
— Vocês já sabem o sexo do bebê? — Questionou, e ngela e Victor trocaram um olhar cúmplice, antes de assentirem.
— É menino! — A mulher respondeu, fazendo Lídia e comemorarem.
— Quando vocês vão descobrir o sexo? — ngela perguntou, e a garota travou.
Vocês. Mal sabiam que, ao que tudo indicava, ela descobriria sozinha, e talvez, fosse mãe solteira.
Victor pigarreou em meio ao silêncio, fazendo acordar do transe e sorrir amarelo.
— Queremos descobrir só no parto, eu acho. — Afirmou, omitindo mais uma vez a bagunça de sua vida.
— Você devia ter o trazido, faz tempo que não vejo . — A mais velha afirmou, fazendo quase engasgar.
— Ele teve uma viagem importante, vovó. — Afirmou, e Lídia assentiu.
é um garoto muito bom, fico feliz que estejam se ajeitando. — Afirmou.
— Eu sei. — Suspirou, voltando o olhar para o prato.
Terminaram o jantar em uma conversa agradável. Logo, estava sentada com seu pai no sofá, enquanto ngela e Lídia conversavam na cozinha.
— Tem algo que quero te perguntar. — Começou e seu pai assentiu, incentivando-a. — Encontrei um bilhete da mamãe para Alisson. — Assim que terminou, Victor tinha uma feição preocupada, o que fez a garota retrair um pouco, mas continuar firme. — É o que eu penso? Ela tinha um caso com ele?
... — Insistiu, mas arregalou os olhos, incrédula.
— Vocês não separaram porque não se gostavam, vocês se separaram porque ela não te amava. — Finalizou, observando o pai suspirar. — Por que toda aquela história toda romantizada?
— Você era nova! — Victor respondeu, calmo como sempre.
— Não, pai, eu tinha dezessete anos, eu era capaz de entender! — Retrucou. — Ela tinha um caso com o pai da minha melhor amiga, e ainda teve a coragem de acabar comigo quando eu engravidei!
, antes disso, ela é sua mãe! — Alertou, e a garota riu incrédula.
— Ela é a mesma egoísta de sempre, nunca mudou! — Bufou, passando uma das mãos pelos cabelos. — Controlou toda minha vida, minha empresa! Por Deus, eu não conheço a minha mãe!
— Isso foi há anos atrás, , não tem porque reviver essa história! — Insistiu, mas a garota negou com a cabeça.
— Você devia ter me contado, é sobre os pais de , sobre a minha mãe! — Bufou. — Não sei porque vocês mentiram tanto, me tratando como se eu fosse desabar, por descobrir que minha mãe é a mesma bruxa que ela sempre foi!
— O que eu e sua mãe fizemos, você vai entender quando seu filho nascer. — Victor respondeu, um pouco impaciente. — A gente sempre quer embelezar a vida para nossos filhos, e foi o que fizemos pra você!
— Você tá defendendo a minha mãe? — Questionou, incrédula. — Você foi embora no meio da noite, sem nem se despedir, e agora quer vir falar que fez o que era melhor pra mim? Eu nunca vou fazer isso com meu filho, não vou mentir e esconder meus podres, porque assim que ele crescer, ele não vai precisar passar por revelação atrás de revelação, porque teve a vida embelezada!
... — Murmurou, mas a garota negou com a cabeça, se levantando do sofá.
— Vocês continuam escondendo tudo sobre mim, sobre a vida de vocês. Eu cansei! — Finalizou, se levantando do sofá e caminhando até a porta. — Quando você resolver contar tudo sobre o passado conturbado de vocês, me chama. — Bufou, passando pela porta.


Capítulo 19 - Arcando com as consequências.


teria de lidar com a pior bronca que poderia levar, mas, àquela altura, ele precisava de um conselho de mãe.
Ele estava um trapo.
O cabelo mal cortado, a barba rala, e olheiras enormes.
“Você está virando seu pai.”
Era esta frase que o torturou durante todos os dias desde sua discussão com . Ele aceitava qualquer coisa, menos estar se tornando a pessoa que era o motivo de todo seu desgaste emocional.
Bateu na porta de sua mãe, duas vezes. E quando ela finalmente abriu a porta, notou os olhos da mulher se arregalarem.
... — Murmurou, dando passagem para o garoto entrar.
A dor de cabeça de era surreal. Nem se ele tomasse dez analgésicos de uma vez, ele sentiria alívio. Aquilo de consciência pesada era verdade, e ele havia aprendido.
Jogou-se no sofá desconfortavelmente, a casa de sua mãe tinha o mesmo cheiro de sempre, o que o trazia um pouco de paz.
A mais velha sentou-se na poltrona à frente dele, o encarando com o olhar que ele chamava de: “conte logo qual a merda da vez", e em outro momento, ele riria, mas, no momento atual, tudo que pôde fazer foi passar uma das mãos pelos fios de cabelo desalinhados.
— Tudo bem, meu filho, eu sei que você aprontou algo, agora preciso que você me fale o que foi, pra resolvermos. — Lívia disse, preocupada, e o garoto bufou. — Bufada seguida de silêncio, aposto que foi . Certo?! — Levantou uma de suas sobrancelhas, e assentiu.
está grávida. — Respondeu, como se tirasse o curativo de uma vez só, e viu Lívia aderir uma expressão de choque. — É meu filho. — Finalizou, e a mulher relaxou levemente.
— Não me diga que...
— Eu surtei, sim. — Interrompeu. — Eu nunca quis ter um filho, mãe!
— Pelo o que eu me lembre, também não. — Repreendeu. — Vocês não se protegeram para evitar, e eu sinto muito, mas você vai atrás de e vai tratar de resolver tudo isso!
Ao ouvir as palavras da mãe, se afundou mais ainda no sofá, sentindo-se um lixo.
— Depois que ela já engravidou, não se torna opcional pra você. É o que é, e pronto! — Afirmou Lívia, se levantando. — Você vai atrás, vai sentar com ela, perguntar o que ela quer para o filho de VOCÊS, e assim, vocês resolverão os seus problemas. Ou você quer que daqui a 20 anos, você esteja tentando recuperar seu filho e se desculpar? Não haja como o seu pai com Victória.
— Eu não sei como fazer isso. — Uma lágrima escorreu sem que ele percebesse.
— Filho, agora você precisa fazer tudo que estiver ao seu alcance. — Finalizou, e fungou, sentindo-se perdido.

X


Depois de um sermão enorme de sua mãe sobre assumir responsabilidades e de como o uso da camisinha é importante não apenas para prevenir uma gravidez, sentia-se exausto. Mentalmente e fisicamente.
Dirigir da casa de sua mãe até seu apartamento nunca pareceu demorar tanto, principalmente para o garoto, que sentia-se impaciente até para si mesmo.
Ao descer do carro, percebeu que sua vaga estava ocupada, claro que estava. Não era seu dia, e isto era uma confirmação.
Estacionou o carro em uma vaga qualquer do prédio, estava pouco se lixando se mais tarde o síndico o ameaçasse com uma multa. No momento, ele só precisava de um banho e da sua cama.
Adentrou o elevador, murmurando um ‘boa tarde' para um homem presente no elevador.
Estava distraído em seus pés quando uma voz fininha surgiu entre os dois.
— Papai, a gente pode jogar bola hoje? — Um menininho com os cabelos e olhos escuros surgiu de trás do pai, e a enrolação para falar uma frase simples fez sorrir, abobalhado.
— Temos que buscar a mamãe ainda, e a Maria também, mas amanhã nós vamos, o papai promete! — O homem, que aparentava ter em torno de 35 anos, respondeu carinhoso, o que fez o garoto abrir um sorriso enorme, e também.
— Tem filhos? — O homem questionou, mudando a atenção de , que travou por um momento.
— Não. — Respondeu prontamente, se arrependendo em seguida. — Na verdade, estou esperando um. — Sorriu sem jeito. — Você tem dois, certo?
— Isso. — O homem respondeu, orgulhoso. — A propósito meu nome é Marco, e o seu é...
. — Completou, e os dois deram as mãos, como um cumprimento.
Logo, a porta do elevador se abriu, e Marco pegou a mão do menininho, parando bem na porta, antes de sair.
— Ei, você parece meio desanimado, quer tomar uma cerveja enquanto esperamos o tempo de buscar minha esposa? — Questionou, e parecia confuso.
— Certo. — Aceitou, alguns segundos depois.

X


— Ter dois filhos parece ser um pouco complicado. — admitiu, dando um gole na cerveja, em seguida, enquanto se ajeitava no sofá do apartamento de Marco.
— Eu e a Luísa casamos aos 20, e sempre conversamos que teríamos filhos apenas quando tivéssemos nossa casa. Quando a casa estava pronta, ela parou de tomar a pílula, e começamos a tentar. Foi uma frustração enorme quando percebemos que já tentávamos há 3 anos. — Marco torceu o lábio, entregando um copo de suco para o filho. — Então, foi quando Luísa surtou, e começamos a tentar diversas formas de ter um bebê. Fizemos baterias e baterias de exames, e realmente tínhamos um problema. Recorremos a fertilização, e as três primeiras não deram certo, na quarta, conseguimos e veio a Maria. — Sorriu. — A Maria foi nosso sonho realizado, e a gente sabia que não podíamos forçar mais a barra de tentar outro filho, já havíamos sofrido demais no processo da Maria, então decidimos nos contentar. E quando menos esperávamos, Lucas resolveu dar o ar da graça, de um método totalmente natural, o que no começo nos deixou um pouco irritados, já que havíamos gastado rios com as fertilizações, mas, depois, percebemos que a Maria não seria nossa Maria se ela não tivesse vindo do jeito que ela veio. — Os olhos de Marco brilharam, e ele sentou-se ao lado do filho, no sofá em frente a . — E mesmo que seja cansativo, ter meus filhos é bem menos cansativo do que foi todo o processo de tentar. — Finalizou, e sentia-se pior ainda.
— Eu nunca quis ser pai. — Confessou. — Aconteceu, e eu não sei como reagir, nem o que pensar.
— E a mãe do seu filho?
— A gente se gostou. — Suspirou, com as lembranças atingindo sua mente. — Mas nunca nos rotulamos. Passamos por poucas e boas juntos, e eu sei que não importa o que aconteça, a sempre vai ser uma parte minha, e eu tenho medo de acabar com nosso rolo mais ainda. Mais do que já acabei sendo um idiota com essa história do bebê.
— Nos conhecemos há pouco tempo, mas essa garota fez seu olho brilhar, e você deveria se esforçar. — Aconselhou. — Não vou te julgar por não querer um filho, nem vou pedir pra você se sensibilizar com minha trajetória para ter os meus, mas pense só, um dia você vendo que perdeu a vida toda do seu filho, porque não soube como agir.
— Não é que eu esteja completamente arrependido e pensando em fugir, eu só me sinto assustado. — Afirmou.
— Ser pai é ter medo, . — Marco riu levemente. — Mas eu te garanto que mesmo com todos os medos, é a melhor coisa que pode acontecer com um homem.
— O que eu faço pra convencer que eu não sou um idiota?
— Mostre que você está mais pronto do que nunca para arcar com sua responsabilidade.


Capítulo 20 - A chave.


Desde que descobriu que estava grávida, imaginou que teria de deixar alguns planos para trás.
Entre eles, o sonho de expandir sua joalheria virtual, para uma joalheria física.
E era isso que martelava em sua cabeça durante aquela semana.
O problema não era financeiro, a questão era o seu tempo.
Como se administrava um bebê e duas joalherias?
— Ok, vamos lá, , pense! — Murmurou, na frente de seu computador, enquanto tentava imaginar sua vida depois do nascimento do bebê.
— Não consigo entender qual o problema em ter uma joalheira e um bebê. Existem pessoas que conciliam a faculdade com um filho, não é como se fosse impossível. — Rachel exclamou, sentada à frente de , na mesa de jantar.
— Aí é que tá! — Respondeu, fechando o computador. — Eu quero poder dedicar meu tempo ao meu filho cem por cento. Eu tenho minha equipe, claro, e já passo a maioria dos meus dias no computador, fazendo pagamentos para funcionários, pagamentos de impostos, resolvendo coisas da empresa, além de, claro, conversar com parceiros. Agora, você imagina tudo isso em dobro, com um bebê. É claro que não dá! — Bufou. — Eu me dediquei dois anos pela minha empresa, todo meu tempo. Eu não posso arriscar que tudo vá pelos ares.
— Bem, eu trabalhei pra você um tempo, e eu sei como você é em querer estar por dentro de tudo, e eu acho isso incrível, claro. — Sorriu, e acompanhou. — Mas ter um filho não é você deixar o sonho totalmente para trás, mas esperar o tempo certo. Talvez daqui um ano, ou dois. Vai ser melhor! — Afirmou, vendo a amiga suspirar.
— Talvez seja, talvez não. — Torceu a boca. — Tenho medo de não conseguir fazer a empresa progredir depois do bebê. — Confessou.
— Você vai conseguir, . E também, você não fez filho sozinha...
— É como se tivesse feito. — Riu, sem humor.
— Tem uma coisa que eu preciso te entregar antes de ir embora. — Rachel admitiu, enquanto procurava algo na bolsa. — Aqui! — Exclamou, ao levantar um envelope.
— O que é isso? — Questionou, franzindo a testa.
— Uma carta, ora. — A amiga respondeu, colocando o envelope em frente a .
— Rachel... — Suspirou.
— Sabe, , diferente de e de , nós não temos histórias tristes com nossos pais. — Deu uma pausa, cruzando os braços em cima da mesa. — Nós tivemos um pai pra nos confortar, nós tivemos um pai para ter ciúme do primeiro namorado, tivemos um pai que nos levasse na escola e que nos buscasse na primeira balada. também teve, mas infelizmente não por tempo suficiente. não teve, e pior, ainda criou Victória praticamente sozinho.
— Isso não quer dizer que ele possa surtar quando ele quiser. — Retrucou, irritada.
— Claro que não, . — Rachel respondeu, suspirando. — Só quero te dizer, que ele está passando por coisas demais ao mesmo tempo. A volta de seu pai, o noivado de Victória e , a venda da Sunset e um bebê que o faz lembrar da infância complicada.
não respondeu, ela não sabia o que dizer a respeito de tudo que estava acontecendo nos últimos tempos. Pegou a carta, dando uma rápida espiada no envelope, voltando o olhar para Rachel, que tinha uma feição paciente.
— Vamos lá, meu coraçãozinho de pedra, amoleça um pouquinho. — As duas riram, e Rachel depositou um beijo na testa da amiga. — Estou indo, qualquer coisa me ligue, certo!?
— Certo, maluca, você também. — Sorriu, vendo a garota se dirigir até a porta.
— E, ... — Rachel parou, olhando ainda sentada com a carta em mãos. — Ele está realmente arrependido. — Finalizou, vendo o sorriso de se desmanchar enquanto ela passava pela porta.
Ao ficar sozinha, a garota levantou-se, encarando a pequena barriga que estava cada vez mais notável. Com o envelope em mãos, sentou-se no sofá, cruzando as pernas em cima do mesmo.
Com todo cuidado, rasgou o envelope, retirando a folha que estava preenchida pela letra de .
Estava um pouco receosa do que leria, mas sua curiosidade estava matando-a, então, a garota desdobrou a carta, prendendo o ar enquanto começava a ler.

(Back to december — Taylor Swift)
Estou tão feliz que você arranjou tempo para me ver
I'm so glad you made time to see me
Como vai a vida, me diga, como vai a sua família?
How's life, tell me, how's your family?
Eu não os vejo faz um tempo
I haven't seen them in a while
Você esteve bem, mais ocupado do que nunca
You've been good, busier than ever
Nós jogamos conversa fora, falamos sobre o trabalho e o clima
We small talk, work and the weather
Você está na defensiva, e eu sei o motivo
Your guard is up and I know why

“Quando tínhamos nossos 16 anos, eu me lembro que cheguei à festa de . Não tinha um motivo específico pra ela estar dando uma festa, o que sempre foi típico de adolescentes como nós.
Eu estava cansado, tinha feito uma sessão de fotos na noite anterior e, durante o dia, fui pra escola e cuidei de Victória.
Prometi que não ficaria muito naquela festa, eu precisava de uma noite de sono.
Caminhei até a pista de dança, sem motivo algum, e ali, eu nunca mais fui o mesmo.
Lembro que você dançava sozinha, com um vestido preto, e o cabelo solto que era longo até a cintura (seu cabelo era enorme). Você sorria, pulava, e nossos olhares se encontraram pela primeira vez.
Depois de algumas horas de conversa, a gente foi pela primeira vez na nossa praça, e foi ali que demos nosso primeiro beijo.
Com 17 anos, nosso mundo desmoronou aos poucos, e acho que foi uma das fases mais difíceis de toda nossa vida. Mas parece que, mesmo em tempos difíceis, não deixamos nossas mãos se soltarem.
Eu lembro que te contei os planos da Sunset, você foi a primeira a saber de tudo, e sua reação foi a melhor que eu poderia esperar.”


Porque a última vez que você me viu
Because the last time you saw me
Ainda está queimada no fundo da sua mente
Is still burned in the back of your mind
Você me deu rosas e eu as deixei lá para morrerem
You gave me roses and I left them there to die

“Quando meu pai me pediu dinheiro, você estava comigo. Você me compreendeu, e fez de tudo pra que eu me sentisse melhor.
Quando eu surtei no casamento de Gabriel e Ana, você mais uma vez me deu a mão, e mesmo eu sendo o maior idiota, você se mostrou compreensiva, me dando todo o apoio que eu precisava.
Quando eu te contei sobre a quebra da sociedade, você foi carinhosa, tentando me dar os melhores conselhos e esticando mais uma vez a mão pra mim.
E este é o ponto.
Quando você precisou da minha mão, e da minha compreensão, eu virei as costas.
E isso vem me torturando há dias.”


Então essa sou eu engolindo meu orgulho
So this is me swallowing my pride
Em pé na sua frente dizendo que sinto muito por aquela noite
Standing in front of you, saying I'm sorry for that night
E eu volto para dezembro todo o tempo
And I go back to December all the time
Acontece que a liberdade não se mostrou nada além de saudades suas
It turns out freedom ain't nothing but missing you
Desejando ter percebido o que eu tinha quando você era meu
Wishing I'd realized what I had when you were mine
E eu volto para dezembro, dou meia volta
I go back to December, turn around
E faço tudo ficar bem
And make it all right
Eu volto para dezembro todo o tempo
I go back to December all the time

“Eu acho que com todo esse turbilhão acontecendo ao mesmo tempo, eu esqueci de me dar conta de como eu estava agindo.
E me arrependo muito.
Você é parte de mim, .
E será uma parte maior ainda, quando o bebê nascer.
Dentro do envelope, tem uma chave, na chave está pendurado um endereço.
Sei que é pouco pra tudo que eu fiz, mas é com todo meu coração.
XxX


Capítulo 20 - No fundo do baú.


Um fato que e sempre aceitaram era de que a vida é muito imprevisível e que, mesmo que um momento feliz esteja prestes a acontecer, algo sério e mais importante pode acontecer antes…


“Boa noite, leitores,

Sigam essa linha do tempo…
Recentemente, um noivado entre e Vitória foi assumido publicamente nas redes sociais.
Fato que acarretou muitas opiniões, afinal, segundo uma fonte confiável, os sócios não se falam desde o ocorrido e até uma quebra de contrato havia sido proposta.
Mas voltemos há dois anos atrás…
estava com e a mesma havia descoberto uma gravidez não planejada pelo casal. Entretanto, os dois seguiram firmes na ideia de serem pais e, quando se planejavam para revelar aos amigos, a garota acabou perdendo o bebê.
Com todo sofrimento da situação, terminou com e o casal escondeu a história no fundo do baú.
Dois meses atrás…
Um jornalista entrou em contato com , ameaçando expor toda verdade, então o sócio da promissora Sunset trocou uma informação por outra, criando um noivado falso com a irmã de .
Confuso, não?
@webfofocas”



estava incrédula, a chave que estava em suas mãos havia caído sem que ela percebesse.
havia perdido mais um membro da família, o próprio filho, e não conseguia imaginar o peso da dor que a melhor amiga carregava.
A garota, que estava prestes a ir para o endereço mandando por , deu meia volta, agarrando o celular e ligando o mais rápido possível para .
, tá tudo uma confus…
— Te espero no meu apartamento, agora! — Interrompeu, passando uma das mãos pelos cabelos nervosamente.

X


O barulho da campainha, 30 minutos depois, acelerou o coração de , que abriu a porta depressa encontrando parado com a feição séria e preocupada.
A garota abriu os braços e não demorou muito para que a abraçasse fortemente.
— Um noivado falso?
— Não contei pra ela que era falso.
— Você o quê? — questionou, eufórica, afastando-se do garoto para olhá-lo nos olhos.
— Foi melhor que ela não soubesse, , quando eu te contar os detalhes você vai entender o quanto isso foi traumático pra nós.

Dois anos antes…
O teste de gravidez positivo estava nas mãos de , que tremia, ansiosa e nervosa para dar a notícia a .
Quando ele chegou na praia e o céu estava alaranjado, foi o momento que contou. A princípio, ele arregalou os olhos, afinal poucas pessoas têm o sonho de se tornarem pais aos 22. Mas, depois de um tempo, ele a abraçou fortemente e ali juraram que tentariam ser os melhores pais do mundo.
Dias depois, já em São Paulo, era a época do ano em que viajava para Argentina para visitar a mãe, então passava mais tempo no apartamento de .
Aquela manhã estava estranha, o céu estava nublado e a garota não se sentia nada bem. tinha saído horas mais cedo, para uma reunião com o departamento de marketing da Sunset, então ela estava sozinha.
Com uma tontura muito forte, a garota apagou e, quando abriu a porta, a encontrou no chão com uma poça de sangue em sua volta.
Mais tarde, a confirmação, o bebê dos dois não havia sobrevivido.
chorou três dias sem parar e fez o garoto prometer que não contaria pra ninguém.


— Dias depois ela terminou comigo e eu aceitei, eu nunca tinha visto ela daquele jeito, mesmo quando os pais dela morreram… — Deu uma pausa, suspirando. — Ela estava fria, , no quarto dia, ela limpou as lágrimas e parecia outra pessoa.
— Eu estou grávida, . — Disse, em voz baixa, mas o garoto ouviu e arregalou os olhos. — E o bizarro é que agora, com toda ideia de ser mãe, não consigo me imaginar sem a ansiedade de ter meu filho nos braços. Não consigo imaginar o que e você sentiram nisso tudo.
sabe? Como ele está? — perguntou.
— PUTA MERDA! — gritou, levantando-se rapidamente do sofá. — Me promete que vai atrás de , preciso ir!
— Aonde, sua maluca? — Questionou, rindo da garota se ajeitando.
— Promete?
— Prometo, vai! — Respondeu, vendo-a voar pela porta.

Capítulo 22 - Reencontro.

estava deitada no sofá de sua casa, com uma camiseta de , enquanto tomava uma garrafa de vinho tinto sozinha.
Ela já tinha vivido o luto há dois anos e não queria se lembrar de como havia sido difícil.
Às vezes, quando ela sentia que a ferida estava se abrindo novamente, ela respirava fundo e lembrava-se das pessoas importantes que tinha no seu caminho e de como nem todos os jovens que perdem os pais cedo tem a sorte de continuar tendo a mesma criação que ela tinha.
Viviane e Victor deram todo o apoio e carinho que ela precisava, ajudando-a em toda sua jornada universitária, abrindo suas casas…
Achar as cartas e descobrir toda a história de Alison com Viviane a fez entender tamanha preocupação da mulher em adotá-la. Afinal, quem deixaria a própria filha ir para um orfanato?
Era fato que ela sempre se sentia como uma coadjuvante nessa história e não como a peça principal que unia um assunto ao outro. Ela admirava sua mãe e Victor, por tratarem a situação da melhor forma possível e não da forma brutal que ela lidou quando descobriu.
Pensando em todo seu passado, abriu mão da taça, levando a garrafa em direção a boca. Ela precisava de um belo porre e de muito trabalho na empresa, era isso que iria movê-la naquela semana.
Assim que tirou a garrafa dos lábios, ouviu a campainha tocar e caminhou lentamente em direção a porta, não se lembrava de ter autorizado ninguém a subir.
Suspirou, girando a maçaneta e quase caiu para trás, quando viu com uma mochila nas costas e uma feição preocupada.
Com o susto, a garrafa que estava nas mãos da garota, foi ao chão, quebrando e sujando todo o piso de madeira clara.
- Cuidado! – alertou, vendo dar um passo para o lado, assustada.
- O que você está fazendo aqui? – Perguntou, com um tom irritado.
- Fazendo o que eu deveria ter feito há dois anos atrás, quando você fechou a porta na minha cara dizendo que não queria mais me ver.
- , são quase quatro da manhã. – Retrucou.
- Eu te amo, . – Afirmou, vendo os olhos da garota de arregalarem. – E me dói muito que você queria ter vivido todo o luto sozinha. Você nunca precisou ser forte pra mim e você foi, você terminou nosso relacionamento e nem quis ouvir o que eu tinha pra te falar.
- Eu estava quebrada! – afirmou, com o tom de voz alterado. – Eu estava em casa e quando eu acordei, eu estava em um hospital com você chorando. E o pior, com chances mínimas de engravidar de novo. A vida não podia ser tão injusta comigo! - Gritou, sentindo as lágrimas escorrerem livremente.
- Você vê o que você quer ver. – respondeu, com a voz trêmula. – Eu também perdi um filho, eu te encontrei na poça de sangue e tive o cuidado de me trocar antes de te encontrar. Eu tentei por dois anos entender o que você sentia, mas eu acho que está na hora de você começar a me entender também.
- Te entender? – puxou o ar com força. – Eu terminei com você pra você não se sentir preso a toda aquela dor que eu estava sentindo. – A garota balançou a cabeça, quebrando o contato visual, visivelmente abalada.
- No fundo, éramos muito imaturos pra tudo aquilo. – O garoto deu um passo para trás. – Eu sinto muito por toda a história com Victória, você merecia saber do jornalista e eu deveria ter lidado com isso por meios legais, não achando que eu poderia dar conta de tudo. Ela é a irmã de Léo e é como se fosse a minha também, então ela acabou topando e aceitando ver nossas vidas viradas de ponta cabeça. Geralmente eu não sou aquele baba…
- , eu sei que você não é um babaca. E eu te amo por tudo que você tem feito por mim, desde sempre. – Suspirou, limpando as lágrimas. – Desculpe por não retribuir da forma que você merece, mas eu prometo…
- E se nos casarmos? – sugeriu, rindo da expressão da garota.
- Casamento?
- Sempre quisemos nos casar. – Lembrou, antes dos dois caírem em uma gargalhada que preenchia o som do corredor do prédio. – Algo só nosso, sem fotógrafos, sem uma grande festa nos esperando… Só eu e você. – Finalizou, entrelaçando os braços na cintura da garota que sorriu.
- Só eu e você.

X


suava loucamente enquanto encarava a portaria do prédio de .
Olhou mais uma vez para a portaria, antes de suspirar e encostar a cabeça no volante.
- Lá vamos nós. – Disse, antes de descer do carro, segurando a chave com certa força entre seus dedos.
Antes de tocar o interfone, o porteiro abriu o portão e a garota puxou o ar com força, caminhando em passos lentos até o elevador.
Quando chegou no andar do garoto, notou a porta entreaberta e com as pontas dos dedos, empurrou a mesma, dando de cara com um apartamento completamente escuro, com apenas um feixe de luz que vinha do fim do corredor.
Seguiu o mesmo, empurrando a segunda porta do apartamento e levou uma das mãos aos lábios assim que notou do que se tratava.
O escritório de não era mais seu escritório. Parecia uma retrospectiva de todos os momentos importantes que já viveram, incluindo até uma pista de dança bem no centro da sala, que era idêntica a da festa de , quando se conheceram.
Milhares de fotos coladas na parede, algumas com história não tão felizes quanto às outras, mas ali, uma se conectava a outra de uma forma especial.
No canto, a foto que a garota havia tirado uma semana antes, com o vestido verde água e com uma das mãos na barriga. Assim que viu, ela teve a certeza que aquilo havia sido tramado por Rachel também.
Algumas lágrimas escorriam pelo rosto de , involuntariamente, enquanto a garota sorria olhando para cada objeto presente na sala.
- Sinto muito por ter sido um idiota, mais uma vez. – adentrou a sala, fazendo virar-se com uma das mãos no peito, devido ao susto. – Você é a parte mais importante e difícil da minha vida, , se vamos ter um filho, não quero que ele cresça nos vendo como dois desequilibrados. Quero que ele tenha as coisas que não tivemos, quero que ele conheça nossa história e saiba como foi incrível o caminho até a chegada dele, quero que ele se sinta amado por nós desde sempre e que nunca tenha que lidar com a rejeição de nenhuma de nossas partes. E acima de tudo, quero que você saiba, que eu não queria que nossa história fosse diferente em nenhum sentido. – Finalizou, dando um passo à frente.
- Eu estou magoada ainda, . – Afirmou, passando uma das mãos pelo rosto. – Mas vou me jogar nos seus braços e chorar pelos próximos cinco minutos, porque isso foi lindo demais. – Finalizou, cumprindo exatamente o que havia prometido.

Capítulo 23 - O próximo passo.

Três meses depois…

afirma estar ansiosa para chegada do primeiro filho.”
é visto em loja para bebês”
“Fontes afirmam que o casal está mais unido que nunca!”
“Casal afirma que não querem descobrir o sexo antes do nascimento”


Após o turbilhão de notícias dos últimos meses, e , haviam se afastado da mídia. Era um combinado dos dois, não queriam que o bebê fosse exposto ou ligado a algo negativo. Eles queriam apenas que as emoções dos últimos meses ficassem um pouco menos turbulentas e mesmo depois de tanta tempestade, tanta chuva de informação, sabia que era só o começo.
- Sua mãe te ligou? – questionou, sentando-se ao lado de no sofá da casa da garota.
- Por enquanto, não. Mas pelo menos me resolvi com meu pai, por hora. – A garota respondeu, colocando o celular de lado.
- Você não quer ela lá, na hora do parto?
- Acho que ela não iria querer estar lá. Mas não é algo que eu me importe também. – Respondeu, passando uma das mãos pela barriga saliente. – O que importa é que nós estaremos lá.
- me ligou ontem. – O tom de era neutro, mas notou certa chateação em sua voz. – A abertura da filial no Rio está dando mais trabalho que o normal, isso vai exigir uma viagem pra lá daqui uns dias.
- Não posso viajar agora, faltam menos de dois meses pra nascer, você vai ter que ir sozinho.
- Eu sei, eu tentei adiar, mas isso atrasaria demais todo processo. – suspirou, acariciando a barriga exposta de . – Chutou, sentiu? Essa criança já me ama demais.
- Ele chuta o dia todo, isso não quer dizer nada. – Brincou, gargalhando da feição de descrença de .
Poderia até parecer brincadeira de , mas o bebê parecia ter uma conexão divina com o pai. Era só ele se aproximar, fosse pra falar, ou acariciar o filho, que a criança parecia estar em festa. O que achava incrível e em algumas vezes, sentia-se um pouco enciumada da relação tão bonita dos dois. Aquela criança o amaria muito, ela tinha certeza.
- Tudo bem pra você ficar por aqui esses dias? Com certeza Rachel não vai sair daqui. – questionou, levantando o olhar para , que assentiu.
- Pode ir , ficaremos bem! – Afirmou, sorrindo.

X


Uma das coisas que não se orgulhava era do fato de estar no oitavo mês de gestação e não ter um quarto pronto para seu bebê. A garota e compraram muitas roupinhas, mas a maioria foram por acharem engraçadinho ou fofo demais. Era engraçado imaginar um bebê vestido com um macacão de pato dali dois meses.
Com esse pensamento, a garota decidiu que estava na hora de montar o quarto, nem que isso lhe custasse algumas horas de sono.
- Ok, temos um quarto de bebê pra montar. Você tem alguma referência? Geralmente nossa especialidade é escolher um bom open bar, não um berço. – Rachel brincou, rindo da feição preocupada de .
- Não tenho referência pra marcas, mas eu queria algo parecido com aquele quarto de juntos pelo acaso. Nuvens, parede lilás.
- Aquele quarto era lindo mesmo, concordo. Mas, não consegue pintar uma parede, quem dirá uma nuvem.
- Pintamos nós. – sugeriu, rindo da cara de desespero de Rachel.
- Isso vai dar mais trabalho do que eu imagino.
e Rachel rodaram três shoppings até conseguirem encontrar algo que fosse realmente do agrado das duas, parecia uma missão impossível, visto que quartos de bebês por algum motivo estranho, eram sempre compostos por ursos ou safaris.
Agora, depois das quatro da tarde, ambas estavam com três latas de tinta espalhadas pelo quarto, enquanto se preparavam para pintar um teto e uma parede pela primeira vez.
- Qual a probabilidade de dar merda? – Rachel questionou, rindo.
- Alta, mas aí colocamos um papel de parede e fica tudo certo.
- Vou pegar o plástico pra forrarmos o chão.
Assim que Rachel saiu do quarto, o telefone de tocou e o nome de piscou na tela. Em alguns segundos, o garoto dizia um alô animado do outro lado da linha.
- Tudo bem? Rachel não está te dando álcool grávida? Está? Meu Deus, deixar Rachel com você é motivo de preocupação. Calma, estou voltando.
- Para de ser maluco, não está me dando álcool. – gargalhou. – Estamos pintando o quarto do bebê.
- E vocês já pintaram um quarto antes?
- Claro que não, mas vai dar certo, eu já vi meu pai pintando algumas vezes, não pode ser impossível.
- Hm, certo. respondeu, gargalhando baixo. – Boa sorte, cuidado com o cheiro da tinta.
- Compramos uma sem cheiro, tudo certo por aqui. – Respondeu, encarando o quarto completamente vazio.
- Espertas. Boa pintura pra vocês, chego logo.
- Boa viagem, assine bastante coisas e deixe nosso bebê rico antes de nascer.
- Esse é o plano.

Assim que desligou o celular, aproveitou para olhar suas notificações e uma bem específica chamou sua atenção.

“Parabéns pelo bebê, vi algumas fotos, seu olho está brilhando. Estou muito feliz por ver você tão bem.

Com carinho,
XxX Noah”


(Flashback – 1 ano antes)

- Você se ilude se acha que ele é o cara da sua vida, eu fui, eu estava sendo e você está me fazendo passar como um fracassado cancelando nosso casamento dois dias antes! – Noah gritava no rosto de , que a cada minuto que passava, pensava ter um treco.
- Eu sinto muito, Noah.
- Você é uma vadia sem coração, . Apaixonada por um cara que te trocaria por qualquer rabo de saia!
- Talvez eu seja, talvez ele troque. Não te julgo por estar com raiva de mim, eu também estaria. – A garota suspirou, deixando uma lágrima cair. – Eu estou fazendo a escolha de viver na incerteza, Noah.
- A incerteza um dia vai te sufocar e você vai querer uma certeza, algo fixo, algo que tenha potencial para durar. Sinto muito, isso nunca vai acontecer entre ele e você.
- A certeza que eu tenho, é que eu tenho a mim, qualquer outra coisa, é pequena demais comparado a isso. Mais uma vez, eu sinto muito, por tudo, espero que um dia você possa me perdoar por estar fazendo isso.
Finalizou, saindo da sala, com o coração na mão, deixando o seu ex noivo para trás.
(Flashback off)


Capítulo 24 - O quarto céu e o casamento.

- Esquecemos o plástico no carro, desci até lá pra buscar. Preparada? – Rachel adentrou o quarto, dando um leve susto em .
- Ok, vamos fazer isso. – Respondeu, colocando o telefone de lado e se preparando.
Após quase três horas dentro do quarto, e Rachel sentiam a tinta até nos dedos dos pés. Não haviam prestado atenção no tempo, o que fez o trabalho parecer mil vezes mais rápido.
- Acho que está bom, não está? – A amiga questionou empolgada, checando cada cantinho do quarto.
- Eu não acredito que isso deu certo. – Afirmou, caindo na gargalhada em seguida.
- Agora precisamos de um banho, urgente! – Deu uma pausa pensativa. – Que tal pedirmos comida? – Questionou, vendo Rachel assentir animada.
- Você lê a minha mente, .

X


Rio de Janeiro.

- Duas reuniões, mil assinaturas. Parece que eu passei quinze horas aqui dentro. – Afirmou , suspirando com uma pasta na mão.
- Nem tivemos tempo de conversar. – suspirou, dando um tapinha no ombro do amigo. – Vem, vamos tomar alguma coisa.
Em poucos minutos, estavam em um bar na orla da praia, pediram duas cervejas e sentaram-se sentindo a brisa fresca do mar atingir seus rostos.
- E então, pai do ano? – brincou, vendo rolar os olhos e rir em seguida.
- Falta um mês pra ele chegar. – Suspirou, sorrindo levemente. – Não posso dizer que não estou ansioso, porque porra, é meu filho. Mas eu ainda estou um pouco nervoso. Principalmente com o que ele pode acarretar nas nossas vidas. – Deu uma pausa encarando a bebida. – A e eu nunca estivemos tanto tempo juntos. Estamos movendo nossas vidas, nos obrigando a nos dar bem por conta dele e isso que me assusta um pouco.
- Isso não é horrível. Na verdade, parece ser o que faltava pra vocês, algo que unisse. – afirmou, com a voz neutra. – Meu filho me uniu com , de uma forma não tão boa, mas uniu.
- Eu estou muito feliz por vocês dois. – Léo sorriu, dando um tapinha no ombro de . – Meu homem agora é casado, que orgulho! A propósito, quando vem o melhor amigo do meu bebê?
- Isso soou estranho. – Gargalhou. – E sem planos para bebês, por enquanto.
- Você vai pra São Paulo quando meu filho nascer, não vai?
- me mataria caso não fôssemos. – Enfatizou, vendo arregalar os olhos e rir em seguida.
- É definitiva a mudança pra cá?
- Pelo visto sim, eu sou feliz aqui.
- Eu sei que é.
O celular de vibrou e seu coração acelerou levemente ao ver o nome de na tela.

“Falei que ia dar certo. As nuvens mais bonitas que você vai ver na vida!

XxX


A foto do quarto pintado fez o garoto rir e sentir-se um pouco enciumado por não estar presente neste momento, mas ele sabia que haveriam outros e estava feliz por ver a garota animada.
- Pode passar o tempo que for, seu olho nunca vai deixar de brilhar por ela. – afirmou, em um tom carinhoso, que fez o encarar, sem jeito. – Bom, mas eu sei que você não quer expor sua relação conturbada. – Gargalhou, vendo o sócio revirar os olhos.
- Ok, blog de fofoca, você falou sobre um assunto pessoal na última reunião, o que era? – Questionou, tomando um longo gole de cerveja em seguida.
- Bom, em conversa com nossa equipe de marketing e a equipe de marketing da , eles acham conveniente que a abertura da filial daqui seja com uma coleção junto com a marca da , mas isso, você já sabe. – se mantinha sério, observando a feição compreensiva de . – está por dentro, ela amou a ideia, só ficamos de confirmar sobre a pré coleção, queremos que seja algo marcante, estamos expandindo para outro estado. Sei que vocês não querem expor a gravidez de forma exagerada, mas seria um grande bolão de marketing se o nome fosse relacionado a algo do bebê. Que nem a gravidez da Kylie Jenner, quando uma das maquiagens tinha o sexo do filho dela. É algo de se pensar, já que as duas marcas aumentaram muito as vendas desde que descobriram sobre o bebê. – Finalizou, vendo assentir um pouco pensativo.
- O marketing seria perfeito com toda certeza, não sei se aprovaria. – respondeu, um pouco confuso, levando o copo aos lábios.
- Vocês são casados com separação de bens? – questionou, vendo engasgar-se com a cerveja.
- Quem te falou sobre isso? – Questionou, tentando se recuperar.
- Assinamos muitos documentos com muitas informações sobre nós hoje. – Afirmou, com o tom compreensivo. – Você escondeu isso por um ano, estou bem surpreso.
- Nos casamos naquele fim de semana do casamento dela com Noah, um dia depois de ela desistir. – Lembrou, um pouco sem jeito e incomodado com o assunto. – Não preciso falar sobre o desfecho, você já sabe. – O garoto desviou o olhar.
- Vocês estão movimentando algum processo de divórcio? – questionou, vendo negar com a cabeça.
- Nunca mencionamos nos divorciar. – Deu uma pausa, vendo a feição confusa do sócio. – , eu daria todo meu dinheiro por , não casamos com separação de bens por escolha minha. Conta em banco, cartão de crédito, empresa… Eu amo e não me importo com nada disso, casaria de novo e esconderia de novo.
- Uau, acho que você deveria falar isso pra ela. – afirmou, vendo passar uma das mãos pelo cabelo.
- Chegamos em um ponto que nossa relação é a última coisa que querermos lidar, só queremos que o bebê saiba que é amado de ambos os lados. – Finalizou, enchendo o copo mais uma vez.

X


“Ficou lindo, sabia que vocês conseguiriam.
Saudade já.

XxX Léo”


jogou-se para trás na cama, suspirando.
Sua barriga pesava, o que a obrigava a se arrastar quase toda vez que ia se deitar.
Endireitou-se na cama, ajeitando as cobertas e pegando seu telefone novamente.
Releu a mensagem de Noah e pensou em diversas formas de responder, digitando e apagando até decidir que não responderia. Talvez não fosse tão educado agir assim, mas no momento, ela não se importava.
Colocou o celular na mesinha de canto, fechando os olhos e sentindo o sono atingi-la.

Capítulo 25 – Algumas coisas estão destinadas a acontecer.

Era em torno de duas da tarde, o sol brilhava firmemente enquanto assistia pela milésima vez Querido John e sempre se emocionava nos mesmos trechos.
Estava distraída quando seu celular tocou, despertando sua atenção. A garota levantou-se um pouco mais devagar do que o costume, já que a barriga começara a impedi-la de fazer as coisas de forma rápida como antes.
- Filha?
- Oi pai. – Cumprimentou, sentindo a voz calorosa de Victor do outro lado da linha.
- Como estão as coisas? já voltou de viagem?
- Ainda não, na verdade ele chega hoje à noite. – Respondeu, distraída. – Está tudo bem.
- Que bom, . – Deu uma pausa. – Eu e a Ângela temos um jantar importante hoje, a irmã dela vai se casar. Pensamos se você não podia ficar com o bebê essa noite, seria uma boa oportunidade pra você treinar para quando o seu bebê chegar.
- Claro que sim, pai! – Respondeu animada. – Que horas?
- Passaremos às 18h.
- Certo.
- Obrigado filha, te amo.
- Te amo pai. – Respondeu, desligando o telefone em seguida.
sentia saudade Victor, mesmo com todos os acontecimentos dos meses anteriores, ela ainda sentia o pai como algo perdido naquela história passada, o que fazia seu peito apertar pensando em todo sofrimento vivido por ele quando a mesma o questionava incessantemente sobre o passado.
Após um longo banho, resolveu tirar um cochilo até seu irmão chegar, afinal, a noite poderia ser longa com um bebê de quatro meses em casa.

X


- Você tem todos os telefones, né, ? Qualquer coisa pode nos ligar. – Ângela disse carinhosa, beijando a testa de seu bebê e entregando para garota em seguida.
- Consigo cuidar do Arthur, Ângela. – afirmou, vendo o bebê dar um sorriso desdentado. – Fica tranquila, ok? Qualquer coisa eu ligarei com certeza.
- Você é incrível! – A mulher deu um pulinho animado, dando um abraço desajeitado na garota.
- Obrigado, filha. – Agradeceu Victor, beijando a bochecha de .
- Bom passeio, nos divertiremos muito, prometo! – Brincou, vendo o casal passar pela porta de seu apartamento.
O bebê era lindo, ele lembrava muito , o que a fez imaginar seu próprio bebê ali. A garota sentou-se no sofá com Arthur no colo, ele estava aparentemente calmo e cantarolou uma canção de ninar, vendo-o fechar os olhos lentamente. Talvez ela tivesse jeito para aquilo, afinal.

X


estava aos prantos tanto quanto Arthur.
- Você já mamou, já troquei sua fralda, eu não sei porque você está chorando ainda. – Murmurou, vendo o bebê se contorcer em seu colo. – Shhhhh.
A garota balançava o neném de um lado para o outro enquanto sentia uma leve dor no pé da barriga e isso começava a preocupa-la.
Estava prestes a chorar, quando ouvir uma chave girando na maçaneta.
- Você teve nosso bebê e não me ligou? – brincou, adentrando o apartamento. – Ufa, você ainda está grávida. Então, espera, de quem é essa criança?
- É meu irmão, ! – Retrucou, irritada, enquanto o garoto se aproximava. – Vem aqui e me ajuda, estou desesperada, ele está chorando há vinte minutos.
- Deixa-me ver…
Lentamente se aproximou, pegando o neném dos braços de e colocando a chupeta na boquinha da criança, que pareceu se acalmar. começou a cantarolar uma melodia que conhecia muito bem: Can’t help falling in love de Elvis Presley. Aquela canção era icônica para os dois e eles trocaram um olhar confuso, enquanto a criança parecia se acalmar completamente.
- Aí! – gritou, levando uma das mãos até a a barriga.
- O que foi? – questionou, preocupado, assistindo a garota se sentar.
- Essa dor, parece que está piorando. , faltam duas semanas ainda, não pode nascer agora! – Respondeu, irritada.
- Vou ligar para o seu pai! – Afirmou, vendo a garota negar com a cabeça.
- Nada disso! – Murmurou. – Meu pai me pediu esse vale night, não posso devolver o bebê agora!
- Pode se você for ter um bebê agora! – Retrucou, vendo revirar os olhos e franzir as sobrancelhas em seguida.
- Não!
- Então vamos levá-lo para o hospital!
- Pega minha bolsa, eu dirijo. – Respondeu, levantando-se com dificuldade. – Caralho, isso dói muito!
- Você não vai dirigir, vamos de uber. Estou chamando! – Disse , enquanto mexia no celular.
- Justo.
Em dez minutos, e estavam descendo o elevador enquanto a garota sentia a dor piorar cada vez mais.
O uber chegou rapidamente e carregava o bebê adormecido em seus braços, o que dificultava para ajudar a se mover também.
Em dez minutos, estavam na porta do hospital e gemia de dor. Rapidamente uma enfermeira trouxe uma cadeira de rodas e a garota foi levada para enfermaria para dar início aos exames de gestante.
não imaginava como seria sua vida dali algumas horas, mas uma coisa era certa: ele estava com medo.

(Flashback – 1 ano antes)

- Não acredito que você está me fazendo casar de jeans e camiseta! – murmurou, dando um tapinha no ombro de .
- Você está linda! – O garoto respondeu, beijando a têmpora da garota. – Eu tô de bermuda.
- Agora vou ter direito a metade de tudo, quero seu carro!
- E eu quero seu apartamento, baby. – Brincou e os dois gargalharam.

(Can’t help falling in love – Elvis Presley)

Homens sábios dizem
Wise men say
Que só os tolos se apaixonam
Only fools rush in
Mas eu não consigo evitar
But I can't help
Me apaixonar por você
Falling in love with you


cantarolava essa música enquanto conduzia no cartório, ele não acreditava que em menos de vinte minutos seria um homem casado.
- Eu amo quando você canta essa música. – admitiu, sorrindo.
- Vou cantar todas as noites pra você. – Prometeu, dando um selinho na garota. – Temos a eternidade agora.
- Ainda não, .
- Já já, Sra .

Eu devo ficar?
Shall I stay?
Seria um pecado
Would it be a sin
Se eu não consigo evitar
If I can't help
Me apaixonar por você?
Falling in love with you?


- Eu os declaro, casados!
- Agora sim, Sra ! – sorriu, beijando a garota enquanto a carregava.
- Quieto, Sr . – Brincou, beijando o garoto de volta.

Como um rio que corre
Like a river flows
Certamente para o mar
Surely to the sea
Querida, é assim
Darling, so it goes
Algumas coisas estão destinadas a acontecer
Some things are meant to be


- Para onde vamos agora? – questionou, colocando o cinto.
- Lua de mel, é claro. – respondeu, dando partida no carro.
- E onde vai ser?
- Calma querida, temos muito tempo pra decidir ainda.
- Tanto quanto tivemos para tomar a decisão de nos casar hoje.
- Que dia é hoje? – questionou.
- 20 de outubro.


X



- Ela já está lá dentro? – Victor questionou, assim que avistou na recepção e Ângela se aproximou, pegando o bebê adormecido dos braços de .
- Já, está lá tem trinta minutos, estão fazendo os exames.
- Vai dar tudo certo, . – Ângela disse, sincera, sorrindo em seguida.
Enquanto conversavam rapidamente, a médica de se aproximou, chamando .
- Sr , fizemos os exames, o bebê está ótimo, porém teremos que fazer uma cesárea. A criança não está na posição correta e será muito perigoso arriscar um parto normal. Peço para que o senhor entre e se prepare, já está a caminho da anestesia. – Afirmou, conduzindo , que acenou para Victor.
Assim que o garoto adentrou o centro cirúrgico paramentado, estava deitada com os braços esticados e uma expressão de medo. sentou-se ao seu lado, acariciando seus cabelos e beijando sua testa.
- Vai ficar tudo bem. – Disse, vendo uma lágrima escorrer pelos olhos da garota.
- Não temos um nome. – respondeu, vendo assentir.
- Se for menino, podemos colocar Victor. – Disse, vendo concordar e sorrir.
- Se for menina, pode ser Sofie.
- Igual a Sofie de Mamma Mia?
- Sim. – sorriu, lembrando que foi o primeiro filme que viram juntos.
- Certo Donna, você já fez um diário?
- Claro e os outros dois possíveis pais estão a caminho. – Brincou, vendo gargalhar.
- Esperta. – Retrucou. – Você sabe que dia é hoje?
- Um ano de casados. – respondeu e assentiu.
- Você sabe que mesmo que não estejamos casados cem por cento, você sempre vai ser a mulher da minha vida, não sabe? Você é tudo que eu tenho, , e eu não me arrependo de nada. – Declarou e a garota suspirou, derrubando mais uma lágrima.
- Mesmo que a gente nunca dê certo, você é parte de mim, . Eu não faria nada diferente.
- Nem eu. – Finalizou, dando um selinho na garota.
Ambos ficaram em silêncio quando um chorinho leve foi ouvido e o casal arregalou os olhos.
- É menina! – A médica anunciou, sorrindo.
Em alguns minutos o bebê foi trazido em direção ao casal, o choro foi imediato de ambas partes. A menina era linda, os olhos e boca eram de , o cabelinho loiro e a boca de . Sofie era uma mistura perfeita dos dois, que choravam, enquanto a médica entregava a bebê nos braços do pai, que segurou imediatamente, sussurrando palravas bonitas para filha que pôde reconhecer a voz e se acalmar.
- Ela é linda, . – Afirmou e assentiu, chorando com a cena. – Eu amo vocês mais do que minha vida.
- Eu também.

Capítulo 26 - Karma.



Dois meses que minha vida havia mudado da água para o vinho. Dois meses que eu não me lembrava da sensação de dormir uma noite completa. Dois meses que eu me pegava cochilando até no banho. Dois meses que e eu travávamos uma discussão sobre contratar ou não uma babá. Dois meses que me via chorar por minha mãe ainda não ter falado sobre conhecer a neta. Dois meses que eu firmava uma das decisões mais difíceis que já tomei: vender a .


X



Com os dois meses de Sofie, eu finalmente podia sentir um pouco de liberdade de volta em minha vida. Eram duas da tarde, quando sai de uma reunião com minha equipe da , depois de quase três meses fora, senti saudade da minha empresa e de trabalhar, mesmo que agora minha volta significasse algo que eu nunca imaginei fazer.
Pedi há duas semanas para minha equipe jurídica pesquisar possíveis compradores para minha joalheria, meu coração estava pesado e durante esse tempo, vi lágrimas brotarem nos meus olhos. Minha mente estava uma bagunça e meu coração parecia pesado. Me vi anos atrás conquistando meu sonho, com noites mal dormidas, criando coleção atrás de coleção.
As minhas prioridades haviam mudado completamente e era hora de finalmente colocar novos projetos no caminho.

Durante a reunião desta manhã, foi citado que um empresário dono de uma joalheria recém inaugurada havia demonstrado interesse, mas que antes de fechar o negócio, ele queria uma reunião em particular comigo afim de entender os motivos da venda de uma joalheria em ascensão. Concordei, afinal, a proposta de valores havia realmente me interessado e marcamos o encontro para o dia seguinte.

Havia um único detalhe dessa história toda: Eu não havia contado para ninguém sobre a venda da minha empresa.

X


Cheguei em casa e fui recebida por um sorriso desdentado da minha filha no colo do pai. Sem pensar, estiquei meus braços para pega-la. Agora eu entendia o desespero das mães quando ficam longe de seus bebês. Nas duas horas que fiquei fora, eu senti uma saudade imensa.
- Boa reunião? – questionou, beijando minha bochecha e colocando Sofie em meu colo.
- Ótima, mas quase morri de saudade. – Brinquei, beijando a bochecha da minha filha.
- Você perdeu duas fraldas bem cheias e nosso banho matinal. – Ele brincou, alcançando o celular na mesinha de centro. – Minha mãe ligou, ela me lembrou que o natal é semana que vem.
- Meu Deus, já é quase natal! – Arregalei os olhos, eu havia esquecido completamente.
- Minha mãe nos convidou para passar na casa dela, falei que falaria com você primeiro. É o primeiro natal de Sofie, sei que você não gostaria de passar longe do seu pai.
Uma das coisas que eu mais tinha admirado em mim e nos últimos dois meses, era o fato de não termos misturado nossa relação com nossa filha. Havíamos agido como dois pais criando um bebê sem nenhum tipo de compromisso. Não havíamos falado sobre nosso casamento, sobre nossas brigas durante a gestação e muito menos sobre nosso passado. Porém, nós não éramos de ferro, algumas vezes ele passou a noite em meu quarto e nos animamos com alguns beijos durante a madrugada, mas nunca havíamos passado do ponto para qualquer tipo de briga ou conturbação que interferisse em nossa relação familiar. Talvez estivéssemos finalmente amadurecendo.
- Meu pai ainda não falou nada e o último natal, passei com na casa da Vó Lídia. Ele sempre me convida para passar na casa da família de Ângela e eu sempre recuso. – Afirmei e Sofie resmungou em meu colo. – Acho que podemos fazer diferente esse ano, podemos fazer o natal aqui e chamamos nossas famílias. É o primeiro natal dela, talvez eles queiram participar.
- É uma ótima ideia, mas vamos ter que comprar tudo pronto ou contratar alguém para cozinhar. Sinto muito, baby, mas cozinhamos muito mal. – Ele respondeu e eu ri, me fazendo de ofendida em seguida.
- Achei que você tivesse gostado do meu macarrão semana passada.
- Eu pensei que fosse sopa. – Ele respondeu e não consegui conter o riso.
- Podemos contratar alguém. – Afirmei, colocando Sofie na cadeirinha. – Vou ligar para o meu pai e para .
- Certo, vou avisar minha mãe.
- Amanhã tenho uma reunião de manhã, você vai estar em casa, certo?
- Eu tenho que ir ao escritório, estamos finalizando um projeto, preciso estar lá. – Ele respondeu e eu já sabia o que viria a seguir. – Marco nos indicou uma babá de confiança.
- Não! – Retruquei, revirando os olhos. – Ela só tem dois meses, não vamos deixá-la com uma babá.
- Não vamos discutir sobre isso de novo, mas você deveria pelo menos pensar a respeito. – Ele respondeu pacientemente. – Ficarei fora o dia todo, você consegue remarcar sua reunião de amanhã?
- Não, acho que vou levá-la. De qualquer forma, não acho que vou demorar.
- Certo.

X


A manhã estava ensolarada e eu sorri com a visão de Sofie em seu macacão florido e um pequeno chapéu, se houvesse uma visão mais fofa, eu me recusaria a acreditar.
Depois de meses, testei minha calça jeans favorita e pulei de alegria quando ela deslizou pelos meus quadris ficando exatamente como ficava antes da gestação.
Aquela manhã tinha tudo para ser promissora.
No caminho até o restaurante onde marquei de encontrar o misterioso empresário, Sofie havia adormecido. Peguei seu bebê conforto com cuidado, caminhando até a recepção e me dirigindo à mesa reservada.
A manhã não seria definitivamente promissora quando identifiquei o possível comprador.
Minhas mãos começaram a suar e minha boca estava seca.
Noah pareceu reconhecer minha reação e se pôs de pé prontamente com um sorriso de orelha a orelha. Filho da puta.
– Como é difícil me comunicar com você. – Ele disse, ainda com aquele sorriso macabro no rosto. – Sente-se, não vai me deixar esperando, não é?
– Você deveria entender que quando alguém não responde suas mensagens, é porque ela não quer falar com você. – Frisei, sentando-me apenas para não chamar atenção no restaurante, com cuidado, posicionei a cadeirinha de Sofie ao meu lado.
– A cara de , até mesmo os fios de cabelo. – Ele respondeu, olhando para minha filha. Instantemente quis cobrir seu rostinho, como alguma forma de proteção, mas eu sabia que já era tarde demais.
- A genética é realmente impressionante. Mas então, vamos pular para a parte em que eu afirmo que não vou vender minha empresa pra você. – Respondi, sem me preocupar se fui rude ou não, ele realmente estava me estressando mostrando todos aqueles dentes.
- Eu me interessaria pela , mas não é o caso. – Noah remexeu seu copo com o que parecia ser whisky. – Estou aqui por outro motivo.
- Estou casada. – Afirmei e ele revirou os olhos, como se aquilo fosse pouco demais para ele.
- Remexa em seu passado, , tem muitas gavetas nas quais você ainda não revirou. Há mais segredos do que você imagina. – Ele deu uma pausa.
- O passado não me interessa mais, não é minha prioridade e isso não deveria ser da sua conta, aliás, eu nem deveria estar aqui ainda. – Me levantei, segurando a alça da cadeirinha de Sofie.
- Você cairia para trás de saber a maior verdade sobre a mentira que a pessoa que você mais confia guarda de você. Remexa suas gavetas, .
- Meu passado com já está para trás. – Afirmei, trocando o mesmo sorriso irônico.
- Quem disse que eu estou falando sobre ele? – Ele retribuiu e eu podia explodir de raiva. – Sua vida é uma mentira.
- Antes que eu me esqueça: VÁ PARA O INFERNO! - Praguejei, saindo em passos apressados do local.
Quando cheguei ao carro, coloquei o bebê conforto de Sofie de volta ao banco enquanto ela dormia. Suspirei, entrando no veículo e encostando a cabeça no volante. Tudo só podia ser uma piada.

X


Após um longo passeio no shopping, finalmente estava na porta do meu apartamento com Sofie dormindo em meu colo.
Abri a porta com cuidado, encontrando sentado no sofá com um copo de whisky na mão. Por Deus, todo mundo estava bebendo hoje?
- Hey – Cumprimentei baixo, enquanto caminhava até o quarto de Sofie para colocá-la no berço.
Quando retornei, encarava firmemente a tv desligada, sua feição não era das melhores e se eu bem o conhecia só podia ser uma coisa: Raiva.
- Você teve um encontro hoje? – Ele questionou, ainda sem me olhar e pude sentir meu coração palpitar.
- Não, eu não tive um encontro, estive com Sofie o tempo todo. – Respondi, sentando-me na poltrona.
- Noah esteve perto da minha filha? – Dessa vez, ele me encarou e então eu percebi, ele estava transbordando raiva.
- , é o seguinte…
- , você pode sentar aqui e me falar vinte mil motivos pra Sofie estar no mesmo ambiente que aquele psicopata e nenhum deles vai ser o suficiente pra mim. Eu não entendo você, você fala que o problema foram as minhas mentiras e quanto as suas?
Quando ele terminou a última frase, minha própria raiva aumentou e vi meu peito palpitar cada vez mais rápido.
- Eu jamais colocaria Sofie em perigo, olha o que você está falando! – Respondi e Leo soltou um riso irônico. – Você pode me questionar como esposa, mas você não pode me questionar como mãe. Ou eu te questiono como pai?
- O que te fez sentar em um restaurante com seu ex noivo? – Ele questionou, me encarando firmemente.
- Cai em uma armadilha, eu não sabia que ele estaria lá, se você tivesse todas as informações, saberia que eu não fiquei nem dez minutos naquele restaurante. – Ótimo, agora eu estava transbordando raiva.
- Por que você caiu em uma armadilha? – Ele questionou, procurando brechas na minha história é aquilo estava me irritando.
- Questões minhas e da minha empresa, nada que te diz respeito. – Retruquei, me colocando em pé.
- Comunhão de bens, esposa. – Ele bebeu um gole do copo e eu queria atirar o líquido na parede.
- Uau, agora vamos viver o dilema de que tudo que é seu, é meu? Portanto, marido, sua BMW na garagem pode se fundir contra uma parede qualquer dia desses. – Touché, ele amava o carro dele.
- Bom, vamos voltar um ano, com os mesmos joguinhos e pirraças de sempre.
- Você que começou! – Suspirei, irritada. – Não me faça terminar isso.
- Vai me colocar pra fora?
- Eu tenho minhas questões com você, mas temos Sofie e eu nunca vou permitir que ela sofra com nossos problemas, eu te respeito como pai. – Finalizei, indo para meu quarto e batendo a porta. Poucos minutos depois, ouvi a porta da frente bater. De volta à estaca 0.

Capítulo 27 - Nós.

(2h00 PM)

Sofie não queria dormir. Com certeza ela tinha alguma conexão telepática com o pai e sabia que ele estava fora de casa.
Eu já havia cantado todas as cantigas de ninar conhecidas na face da terra e balançado ela de um lado para o outro. Mesmo com todas as possíveis soluções, nem por um segundo ela havia fechado os olhinhos. Com muita frustração, aceitei que não dormiria esta madrugada e acabei trazendo-a para o meu quarto e me deitando com ela em meu peito.

Enquanto eu encarava o teto, tive uma brilhante ideia. Lentamente, coloquei Sofie em minha cama e fui até meu escritório pegar meu computador. Quando voltei, ajeitei-o na mesinha de canto e liguei a gravação de quatro anos atrás, então, comecei a embalar minha filha.

- Ei , hoje eu ouvi essa música e sabe em quem eu pensei? Você, é claro. Eu estava em um bar com os caras e ela começou a tocar. Pensei em te enviar, mas seria simples demais. Pensei em recitar, mas acho que não representaria todos os sentimentos que ela me traz. – Um suspiro. – Eu sei que nem sempre sou tão romântico quanto você merece, mas espero que um dia possamos mudar tudo isso. Sei que conversamos sobre rótulos e o quanto não gostamos deles mas se um dia for pra ter um, eu quero que seja com você. Não me imagino dividindo a vida com outra pessoa e sinto muito por não proporcionar a história de amor que você sempre sonhou, talvez com o tempo nós possamos amadurecer e viver o que tanto queremos e ainda não sabemos expressar. Pensando nisso, acho que cantar é mesmo a melhor opção. Por favor, não mostre essa gravação pra ninguém, nesse momento eu estou até cogitando não enviar com medo de vazar. Bom, eu ainda tenho uma foto sua vomitando na noite da tequila, então pense bem.

(Hey There Delilah – Plain Withe T’s)

Olá, Delilah
Hey there, Delilah

Como são as coisas aí em Nova Iorque?
What's it like in New York City?

Eu estou a mil milhas de distância
I'm a thousand miles away

Mas menina, esta noite você está tão bonita
But girl tonight you look so pretty

Sim, está sim
Yes, you do

Times Square não consegue brilhar tanto quanto você
Times Square can't shine as bright as you

Eu juro que é verdade
I swear it's true


Sofie começava a fechar os olhos ouvindo a voz do pai e eu sentia meus olhos marejarem com a gravação. Estávamos mesmo amadurecendo, mas não o suficiente, nunca o suficiente para expressarmos.

Olá, Delilah
Hey there, Delilah

Não se preocupe com a distância
Don't you worry about the distance

Eu estou bem aí, se você se sentir sozinha
I'm right there if you get lonely

Ouça esta canção novamente
Give this song another listen

Feche seus olhos
Close your eyes

Escute minha voz, ela é o meu disfarce
Listen to my voice it's my disguise

Eu estou ao seu lado
I'm by your side


No dia em que recebi a gravação, eu estava na Argentina visitando minha mãe. Havíamos brigado, como sempre. Mas dessa vez ele havia me surpreendido. Lembro de chorar igual um bebê e passarmos a noite inteira em ligação pensando em um possível futuro.

Oh é o que você faz comigo
Oh it's what you do to me

Oh é o que você faz comigo
Oh it's what you do to me

Olá, Delilah
Hey there, Delilah

Eu sei que os tempos estão ficando difíceis
I know times are getting hard

Mas apenas acredite em mim, menina
But just believe me girl

Um dia eu pagarei as contas com este violão
Someday I'll pay the bills with this guitar

Nós vamos ter tudo de bom
We'll have it good

Nós vamos ter a vida que sabíamos que teríamos
We'll have the life we knew we would

Minha palavra é boa
My word is good


Ouvi o barulho da porta da frente e passos no corredor. Eu sabia que era ele e sabia exatamente seus próximos passos.

Olá, Delilah
Hey there, Delilah

Eu ainda tenho tanto pra dizer
I've got so much left to say

Se cada simples canção que eu escrevi para você
If every simple song I wrote to you

Pudesse tirar seu fôlego
Would take your breath away

Eu ia escrever tudo
I'd write it all

Ainda mais apaixonada por mim você ficaria
Even more in love with me you'd fall

Nós teríamos tudo
We'd have it all

Oh é o que você faz comigo
Oh it's what you do to me

Oh é o que você faz comigo
Oh it's what you do to me


Segundos depois, a porta do meu quarto se abriu e ele entrou, olhando no fundo dos meus olhos.
- No dia em que discutimos, quando você estava grávida, você me disse que queria Noah como pai para Sofie e isso me machucou, porque eu te amo e nunca poderia imaginar você vivendo tudo isso com outra pessoa. Então, depois de meses, eu tenho uma foto sua com nossa filha em um restaurante com ele, como você acha que eu me senti?
- Eu sinto muito, eu ia te contar, mas você não me deu nem chance de falar. – Respondi com a voz baixa, então levantei e me desprendi de Sofie devagar, a gravação ainda tocava ao fundo e ela já começara a adormecer.

Mil milhas parecem bem longe
A thousand miles seems pretty far

Mas eles têm aviões e trens e carros
But they've got planes and trains and cars

Eu andaria até você se não houvesse outra maneira
I'd walk to you if I had no other way

Todos nossos amigos iriam rir de nós
Our friends would all make fun of us

Mas nós vamos rir junto porque nós sabemos
And we'll just laugh along because we know

Que nenhum deles já se sentiu assim
That none of them have felt this way

Delilah, eu posso te prometer
Delilah I can promise you

Que pelo tempo que passamos juntos
That by the time that we get through

O mundo nunca mais será o mesmo
The world will never ever be the same

E você é a responsável
And you're the blame


- Eu cansei dos jogos, cansei das nossas brigas, cansei de sentir medo. Um ano atrás, eu achei que quando estivéssemos casados, o medo acabaria. Mas dois dias depois do nosso casamento, você disse que não tinha certeza do que queria e me largou em um hotel em outro país sozinho. Mas sabe o mais estranho dessa história? Você nunca me pediu o divórcio e eu te pergunto, por quê? – Ele disparou e eu senti minha garganta secar. Por Deus, eu sentia como se o chão fosse desmoronar aos meus pés a qualquer momento. – Então, depois de você me largar no hotel eu resolvi te dar um gelo e nos encontramos no ano novo, um mês e meio depois, você ironicamente também estava sem falar comigo. Nós fizemos uma promessa e então veio Sofie. Às vezes, parece que a culpa é somente minha, mas nós dois erramos.

Olá, Delilah
Hey there, Delilah

Seja boa e não sinta minha falta
You be good and don't you miss me

Mais dois anos e você terá terminado a escola
Two more years and you'll be done with school

E eu estarei fazendo história como eu faço
And I'll be making history like I do

Você sabe que tudo isto é por sua causa
You know it's all because of you

Nós podemos fazer o que quisermos
We can do whatever we want to

Ei, Delilah aqui está pra você
Hey there Delilah heres to you

Essa é pra você
This one's for you

Oh é o que você faz comigo
Oh it's what you do to me

Oh é o que você faz comigo
Oh it's what you do to me


- A culpa nunca foi só sua, eu também te machuquei e sinto muito por isso. – Respondi, cruzando meus braços. – Quatro dias após o ano novo, eu entrei em contato com meu advogado para dar início ao divórcio, mas não consegui prosseguir. No dia que ele te enviaria os papéis de notificação, eu pedi para revogar o processo.
arqueou as sobrancelhas, confuso e impressionado ao mesmo tempo.
- Todos as vezes que penso que te larguei no hotel, eu me arrependo um pouco mais. , eu te amo e a Sofie te ama muito mais, ela só dormiu ouvindo sua voz. Eu sei que ela não gostaria de outro pai, na verdade, ela odiaria. – Eu ri levemente e ele sorriu. – E eu não gostaria de dividir isso com mais ninguém, eu teria mais dez filhos com você só pra ver você olhar para eles como você olha para Sofie. Eu não faria nada diferente no passado se tudo que vivemos nos trouxesse para esse momento. Eu amo dividir isso com você e nunca me arrependeria do nosso casamento.
- Seus discursos sempre são melhores, que droga. – Ele respondeu, caminhando até mim e me puxando para seus braços. – Dez filhos, huh?
- Certo. – Pressionei minhas mãos em seu peito, sorrindo. – Engravidar agora não é uma opção e talvez possamos negociar essa história de dez filhos.
- Menos de dez possíveis tentativas para o próximo, não são negociáveis. – arqueou uma de suas sobrancelhas, sugestivo, então colou seu corpo ao meu antes de selar nossos lábios.

Capítulo 28 - O destino é uma piada!



O natal havia chego a todo vapor.

Havíamos preparado uma mesa linda no apartamento, junto com uma árvore de natal e Sofie vestida de boneca de neve.
Eu passei uma hora me arrumando. O vestido preto, longo e com uma fenda até a coxa fez com que eu me sentisse realmente sexy, como não me sentia há muito tempo.
Deixei meu cabelo solto caindo pelos ombros e fiz uma maquiagem leve. Por fim, calcei meus scapins pretos e coloquei meu colar com pingente brilhante.
havia colocado uma calça preta e uma camisa vermelha com a mesma estampa de boneco de neve da roupa de Sofie e eu quis chorar quando vi os dois juntos.
Se me descrevessem esta cena há dois anos atrás, eu gargalharia alto. O destino era uma piada.

- Papai do ano, sem dúvidas. – Brinquei, encarando-o com nossa filha no colo.
- Perfeitamente perfeita. – Ele respondeu, selando nossos lábios rapidamente.
- Perfeitamente perfeitos. – Retruquei, olhando em seus olhos e ele sorriu. – Consegue ficar de olho na porta? Tenho que fazer uma ligação.
- Claro, mas sem ligações para ex namorados. – Ele piscou e eu ri.
- Droga! – Brinquei e foi a vez de ele rir.

Caminhei até o quarto que antes era de e que há poucos dias se tornara de hóspedes novamente. Sentei na cama e cliquei em um contato não tão recente. Era hora de ser sincera, tanto com ela quanto comigo.

- Alô – Ouvi minha mãe dizer através da linha.
- Oi mãe, é a , lembra de mim? – Suspirei, sentindo o nó se formando em minha garganta. – Estou te ligando para te contar que sua neta nasceu. Ela nasceu dia vinte de outubro, libriana, como você. Quando eu a vi pela primeira vez, senti um amor tão forte que mesmo que eu queria te explicar, não consigo. Nos últimos dois meses, eu e ela evoluímos juntas. Ela como um bebê e eu como mãe. As vezes eu me pergunto se vou conseguir ser uma boa mãe, não ter conseguido amamentar me fez sofrer, mas eu tive ao meu lado e o papai também. O nome dela é Sofie, ela é incrível, carinhosa e muito apegada ao . – Dei uma pausa, sentindo uma lágrima escorrer pela minha bochecha. – Você pode nunca querer conhecê-la e eu sinto muito mãe, mas esse azar será somente seu. Você tem a oportunidade de fazer parte da vida da minha filha e se você não quiser, eu te respeitarei, mas quero que você saiba que quando fizer a escolha de não ser avó, você também fará a escolha de não ser mais a minha mãe.
- Fico feliz em saber que você está bem, eu acompanhei algumas notícias. Não posso ir para o Brasil a hora que quero e sinto muito por não ter te ligado. Você será feliz com a sua família. As coisas não são fáceis, , na verdade, tudo é muito complicado.

Pensei em gritar com ela, mas quis nos poupar de mais discussão. Sempre seria Viviane com seu jeito áspero de sempre, até para a família.

- Não sou a melhor pessoa para te dar dicas de como ser mãe, temos as provas disso no passado. Eu sei que você será ótima com seu jeito carinhoso e compreensivo de sempre. Eu quero sua felicidade e torço por ela todos os dias, mesmo de longe. Feliz natal.

E então, ela desligou.
Era isso. Feliz natal, mamãe.

X


Em uma hora, estávamos sentados na sala de estar com papai e Ângela, a mãe de , e .
Victoria estava na Europa para um evento e não conseguiria voltar para o natal. disse que Livia ficou um pouco chateada por não ter a filha mais nova presente, mas que ao mesmo tempo ela compreendia que era o trabalho que Victoria havia escolhido e respeitava.

- Agora que vocês estão juntos oficialmente, podemos falar, até que enfim! – Meu pai desabafou e todos rimos.
- Foi preciso Sofie dar o ar da graça para esses dois tomarem juízo. – Livia complementou.
- E o casamento? – Foi a vez de Angela questionar e todos nos olharam curiosos.
- Ainda estamos pensando nisso. – Eu respondi e assentiu, concordando comigo.
- e o seu apartamento daqui? Já vendeu? – questionou, curioso.
- Por hora, ainda estamos decidindo se iremos vendê-lo ou não. – Ela respondeu. – Eu amo as memórias daquele apartamento, mas nós sabemos que não vamos voltar a morar aqui.
- Nós compramos uma casa no Rio, bem pertinho da praia e enorme, como estávamos procurando. – explicou e pude ver seus olhos brilharem. Eles também estavam felizes.
- Vocês merecem! – Livia respondeu, sorridente como uma mãe orgulhosa.
- Temos que brindar! – Sugeri. – , vamos buscar as taças!

Em poucos segundos, enchemos todas as taças de vinho branco e nos posicionamos para o brinde.

- Vamos fazer nosso brinde? – sugeriu e eu concordei, assentindo animada. – O nosso brinde é assim, um por vez levanta a taça e fala seu motivo para brindar hoje.
- Amei! – Ângela respondeu, animada. – Quem começa?
- ?
- Certo. – Respondi e ergui minha taça. – À Sofie, que me trouxe alegria neste ano e iluminou nossas vidas e caminhos.
- Aos novos caminhos traçados com antigas rotas. – ergueu sua taça e mandou um beijo em minha direção.
- À família. – Meu pai ergueu sua taça.
- Ao nosso natal. – Ângela foi a próxima a erguer sua taça.
- À toda felicidade que eu pensei que nunca pudesse sentir. – Livia sorriu com os olhos brilhando.
- Ao amor. – sorriu para .
- Ao nosso futuro! – finalizou nosso brinde, erguendo sua taça.

X




Após a ceia, eu estava sentado no tapete com ao meu lado. Aproveitamos para tomar cerveja e tirar um tempo para conversamos a sós, já que nos últimos tempos, só trocávamos mensagens pelo celular e ligações de negócios. Nossas famílias já haviam ido embora e então, nossas esposas se enfiaram em algum lugar da casa, provavelmente para fofocarem.
Sofie estava esparramada no colo do padrinho e ao mesmo tempo em que queria preservar seu sono o máximo que pudesse, eu estava tentado a pega-lá em meus braços. Enfim, o ciúmes que nunca imaginei que teria.

- Você e fizeram um ótimo trabalho. – brincou, olhando para Sofie. – Nunca pensei em passar um natal com sua filha no colo e te vendo com essa blusa ridícula.
- Emocionado? – Brinquei e nós dois rimos.
- Você sabe que eu sempre fico.
- Eu sei. – Retruquei, fazendo beicinho e me mandou o dedo.
- Como é viver isso? – Meu sócio me encarou com uma feição um tanto quanto quebrada e eu suspirei.
- Eu poderia te falar mas cada um tem a sua experiência. – Respondi, sincero. – Você vai ter a sua. Como andam as coisas? Você já conversou com ?
- Fomos em um médico especialista em fertilidade, não conseguiremos engravidar de forma convencional, só através de fertilização in vitro. Por mim, já começaríamos amanhã com os processos, mas não sente que é o momento e eu tenho respeitado. – A voz de era tensa. – Existe uma coisa que ocorreu no passado de e , eu poderia te contar mas isso pode te colocar em uma posição errada.
- Se você contar, estaremos no mesmo barco e conseguirei te ajudar a lidar com isso. – Respondi. Mal sabia no que estava me metendo.

X


O passado

Viviane


O positivo naquele teste havia me cegado. Desde quando acordei naquela manhã e resolvi fazê-lo, o dia havia passado mais lentamente até o momento do resultado.
Eu tinha dezesseis anos e estava grávida. DEZESSEIS!
Eu nem queria imaginar a reação dos meus pais quando soubessem que seriam avós. Na verdade, eu não queria ser mãe.
Fui até a casa de Alisson e despejei tudo, que em nossa primeira vez, na qual aparentemente não sabíamos o que era camisinha, havíamos feito uma criança. A reação dele foi mais tranquila do que eu esperava. Ele já tinha dezessete e estava terminando o ensino médio. Nós não namorávamos, havia sido algo casual que nos colocara em uma furada.
Naquela noite, pensei em um milhão de coisas. Pensei em talvez não ter o bebê, pensei em fugir de casa, pensei em arrumar um emprego e tentar nos sustentar, mas eu ainda só tinha dezesseis.

Três meses depois…

Fui ao hospital escondida e consegui fazer alguns exames. Eu estava grávida de uma menina e fiquei feliz. Alisson foi junto e comemorou comigo. Ele estava sendo um ótimo amigo.
Meus pais não sabiam e o pouco que minha barriga aparecia, eu escondia com camadas de blusas ou roupas largas. Eu ainda não tinha coragem de contar.
Dizer que eu não queria aquele bebê naquela altura, já seria mentir pra mim mesma.

Dois meses depois…

Acordei com uma dor forte na parte inferior da minha barriga, cada segundo que se passava a dor aumentava e então, sem conseguir me conter, soltei um grito que trouxe meus pais para o meu quarto.
A dor havia me preenchia em tal nível, que nem percebi o momento em que demos entrada no hospital e me colocaram em uma maca fria, me levando direto para uma sala de cirurgia.

- Eu estou grávida! – Consegui dizer de forma arrastada para um médico que conduzia minha maca e ele assentiu, mostrando que sabia.

Com seis meses e meio de gestação, dei a luz há uma bebê prematura. Ela era pequena, pesava 1kg e carregava fortemente as características do pai. Não pude sequer segurá-la. Ela foi direto para a incubadora e UTI neonatal. Se tudo desse certo, ela seria um milagre em vida.
Fui para o quarto depois de algumas horas e a feição dos meus pais, era de pura decepção.

- Você sabe que não tem condição de nenhuma de termos esse bebê em casa, não sabe? – Meu pai me questionou e de longe, vi minha mãe olhar para cima, tentando conter as lágrimas. Ela queria o bebê, ela me ajudaria, mas o que meu pai decidisse, ela acataria.
- É a minha filha. – Respondi, com a voz embargada.
- Eu sei, Viviane. Mas não podemos criá-la. Você foi irresponsável e não posso deixá-la com um bebê aos dezesseis anos.
- Pai, eu te imploro!
- Falei com o Alisson, assim que a menina sair do hospital, ela vai ficar com ele. Os pais dele concordaram, fique feliz que você poderá visitá-la.
- Não! – Respondi, agarrando as cobertas com força, enquanto as lágrimas rolavam livremente.

Alisson entrou no quarto minutos após meus pais saírem, informou que a bebê estava estável, mas passaria um tempo considerável no hospital até não correr mais risco de vida.

- Viviane, eu já encontrei a minha futura esposa e eu sei que ela vai ajudar muito com os cuidados com a bebê. Você vai visitá-la e ela sempre será sua filha. – Alisson afirmou, me encarando. Eu estava feliz por ele, ele tinha sido um bom amigo durante a gestação.
- O nome dela será . – Afirmei e ele sorriu.
- É um nome lindo.

3 meses depois…

tinha saído do hospital e ido para casa de Alisson, como meu pai havia mandado.
Eu estava começando a sair com Victor e já tinha meus dezessete anos tão esperados. Meu pai aprovava minha relação e nunca havia conhecido a neta, diferente da minha mãe, que até bordara algumas roupinhas.
Esta seria minha terceira visita à e quando cheguei até porta, uma cena me congelou. Clara, a noiva de Alisson, embalava minha filha em seus braços, cantarolando alguma canção. Alisson, chegou segundos depois e plantou um beijo na cabeça da bebê, sorrindo para Clara.
Minha filha tinha uma família.
As lágrimas borraram minha visão e tomei uma decisão.
Eu a amava, a amava tanto que desejava que ela fosse criada em um lar com amor, em uma família completa, como ela merecia.


Um ano depois…

Sempre ouvi dizer que um filho não substitui o outro. Eu amava , mas deixou um buraco tão grande em meu peito que dez filhos não seriam capazes de supri-lo.
Eu amava Victor, eu sabia que teríamos uma ótima vida. Ele sabia sobre e com o tempo, nos tornamos bons amigos de Alisson e Clara, o passado estava enterrado.
Victor me aconselhava, me respeitava e supria minha falta para , que era apenas um bebê. Eu simplesmente não conseguia ser a mãe que ela merecia, mesmo que eu tentasse.
Um mês atrás, Alisson me chamou para uma conversa e me convenceu a deixar Clara adotar . Não neguei. Minha filha já tinha ela como mãe, ela seria feliz, tudo que eu sempre desejei.
Um ano atrás, quando eu visitei , eu havia conversado com ele e nós concordamos em diversos pontos. Um deles, era deixar minha filha crescer como filha de Clara e enterrar o passado, a adoção era o plano perfeito.
< Um mês após completar meus 17 anos e deixar , eu engravidei. Eu planejei isso. Eu sabia que se pedisse para sair de casa, meu pai não iria aprovar nunca e eu amava a minha mãe para ficar longe para sempre. Então, engravidei e ele concordou em me deixar casar com Victor. Irresponsável, eu sei. No fundo, eu queria tentar suprir a sensação de abandono da minha filha.
Torci dia e noite para que fosse um menino. Uma menina, traria as lembranças que eu sempre quis esquecer, porém o destino era uma piada e nasceu, diferente da irmã, saudável.
Me comprometi com passar em uma universidade e trabalhar muito. Eu e Victor, alcançamos uma vida estável cedo e após nossas formaturas, fomos apenas formando a vida que sonhávamos. Uma casa espaçosa ao lado de Alisson e Clara, nossos carros, em uma das melhores escolas do bairro e eu ainda tinha uma reserva secreta no banco.
Nesta altura, dizer que meu casamento era perfeito era a mais pura mentira. Nossa maior diferença era o jeito seco que desenvolvi com o passar dos anos.
A grande questão era que mesmo quando engravidei de , eu já não sentia que seria uma boa mãe. E mesmo tentando com ainda não era o suficiente.

Eu sentia culpa. Culpa por minhas duas filhas.


Capítulo 29 – O minuto posterior ao caos.

Ainda no passado…

Viviane


com cinco anos e com seis.

Meu foco era cem por cento no meu trabalho. De manhã, eu levava para escola e ia trabalhar. Quando voltava no fim da tarde, eu ia direto para o escritório trabalhar mais.

E assim eu estava. Finalizando um projeto quando Victor entrou no escritório e fechou a porta atrás de si. Meu marido tinha uma feição cansada, mas isso não me incomodava há muito tempo. Ambos estávamos exaustos.

- Terminando? – Ele questionou com a voz cansada e eu assenti, sem olhar em sua direção. – Viviane, precisamos conversar sobre .
- O que há com ? Problemas na escola? – Questionei, ainda com meu foco nos papéis.
- Ela precisa de uma mãe. Você mal olha para ela, ela é uma criança e sente sua falta. – Victor respondeu, visivelmente chateado com a situação.
- Victor, eu estou trabalhando. Meu trabalho toma muito meu tempo. Podemos falar sobre isso depois?
- É sempre depois. Você tem uma filha e ela precisa de você. O dentinho dela caiu ontem, você nem sequer notou, ela ficou chateada, sabia?
- Vou colocar uma nota embaixo do travesseiro dela hoje.
- Eu já coloquei Viviane, ontem.
- Ótimo, então o que você quer mais? Eu tenho que trabalhar!
- Quando você estava grávida, antes de saber que era uma menina, você sonhava com esse filho. Quando você descobriu que era , os seus sonhos como mãe, acabaram. está crescendo com amor e todo mundo vê o jeito que você a olha. implora por seu carinho e atenção enquanto você a ignora. Ela também é sua filha e também é digna do seu amor. O passado é passado. Você escolheu o futuro de e o seu, além disso…
- Basta! – Gritei e me pus de pé. – Eu não pude escolher meu futuro, eu aceitei o que me deram. não podia ficar comigo e eu não tinha o que fazer. Eu queria que ela fosse amada e ela é.
- E não merece ser amada? – Victor questionou e eu suspirei.
- Eu amo .
- Então mostre a ela.

Meu marido finalizou, saindo do escritório após me entregar um bilhete da escola. Olhei para cima, tentando conter as lágrimas. O que eu me tornei?

“Queridos pais,

Hoje não quis comer em nenhuma das refeições. Quando questionado o motivo, ela nos disse que a mamãe repararia em seu dente caído após receber um bilhete do colégio.”


O passado justificava o presente.

Rapidamente rabisquei uma carta para Alisson. Talvez se eu pudesse ter um espaço na vida de , eu teria meu coração em paz para minhas filhas.

“Alisson,

Sei que as coisas não estão boas, tudo parece bem confuso para ser sincera. Eu te espero, precisamos conversar sobre nossa situação.
Nunca vou me perdoar por isso, mas ainda temos tempo para reverter.

XxX Viviane.”


Recomeçar.

Dias depois…

A resposta que tive de Alisson quando conversamos pessoalmente, foi desanimadora.
Eu tinha permissão para viver como tia de , trazer o passado de volta, só traria complicações para todos os lados.
Até uma ameaça de briga judicial surgiu da parte de Alisson caso eu tentasse reaver meus direitos como mãe. Minhas filhas não podiam ficar separadas e eu não podia lidar com o risco de nunca mais vê-la. Minhas chances de vencer qualquer processo, eram mínimas, já que eu mesma havia assinado os papéis para ceder a guarda da minha filha.
Nesta altura, minhas mãos estavam atadas.


X





Eu estava paralisado.

As últimas palavras de se repetiam em um looping infinito na minha mente. Porra, se sonhasse que eu sabia sobre isso e não contara imediatamente, eu estaria assinando um divórcio nos próximos dias.

- Porra cara, você quer que eu me divorcie? Se eu não contar, vai me matar quando descobrir. – Afirmei, com a voz baixa.
- , nossas esposas vão passar por um turbilhão nos próximos meses. – respondeu, com a voz séria, conseguindo me assustar mais ainda. – Viviane está chegando no Brasil depois de amanhã.
- Puta que pariu!
Foi a única coisa que consegui verbalizar. Minha cabeça começou a doer instantaneamente. era forte, mas será que ela se recuperaria de tantas histórias escondidas no seu passado?
- O processo de adoção de quando os pais dela morreram nunca pôde ser finalizado porque Viviane já é mãe biológica. Ela precisa resolver uma documentação aqui no Brasil e Victor sugeriu que eles conversassem com .

Assim que terminou a frase, Sofie soltou um resmungo estrangulado antes de começar uma crise de choro. Talvez ela estivesse sentindo o quão reviradas nossas vidas iriam ficar.
O choque estava presente em cada minúscula veia do meu corpo, o que parecia me travar de tomá-la em meus braços.

- Se souber que te contei antes da hora, quem vai assinar o divórcio será eu. – me deu um tapinha na cabeça e eu bufei, irritado.
Peguei minha filha de seus braços e beijei sua têmpora em uma promessa silenciosa de que tudo ficaria bem.
O silêncio pairou entre nós dois e segundos depois um barulho de vidro estilhaçado nos colocou de pé prontamente.

X




O natal havia sido ótimo, um dos melhores dos últimos tempos.
Enquanto e olhavam Sofie na sala, eu e aproveitamos para colocar todas nossas fofocas em dia.
Contei tudo para ela, desde meus acertos e erros com meu marido, venda da e minha rotina como mãe.
- Não posso acreditar que você vai vender a , sério! É o seu bebê, sua preciosidade!
- Quero investir em outra coisa. Com Sofie, eu mal tenho tempo para tomar banho, quem dirá administrar uma empresa. – Suspirei e estiquei um dos braços para agarrar a taça de vinho.
- E ?
- e eu dividimos as tarefas, na maioria das vezes ele que tem mais facilidade em acordar durante a noite e ficar com ela, então conseguimos uma boa divisão. Mesmo assim, nossas vidas estão uma loucura.
- Talvez a venda seja a melhor opção mesmo, não apenas por falta de tempo, mas para você descobrir uma nova paixão. – sorriu e bebeu um gole de sua taça.
- Talvez. – Afirmei e dei de ombros. – E como estão as coisas no Rio?
Enquanto me contava sobre ela e com seu processo de fertilidade, senti meu celular vibrar. Sem pensar muito, abri a mensagem e franzi a testa ao ver o número desconhecido.
Uma foto estava carregando.

“Mande um beijo para e . Eu os avisei.

Feliz natal!

XxX Noah”


- ? – me chamou, parando a história por um momento.
- Eu recebi uma mensagem estranha.
Respondi, antes de dar zoom na foto que acabara de carregar.
Ótimo, o maluco havia me enviado uma certidão de nascimento.
E foi então que eu percebi o detalhe. O nome de em cima e o da minha mãe embaixo.
Então eu entendi, eu não era filha única.
Arregalei os olhos sentindo uma onda de eletricidade passar por mim, involuntariamente minha mão se abriu e a taça que eu segurava espatifou no chão do quarto, o que fez o barulho de vidro quebrando reverberar por todo o espaço. Com o susto, dei um pulo da cama e senti o caco de vidro rasgar meu pé. Não senti a dor. A única coisa que eu sentia era meu coração batendo nos ouvidos e querendo pular do meu peito.
O minuto antes do caos era sempre silencioso, agora veríamos o que viria a seguir.

Capítulo 30 – Ano novo, de novo?



- Merda! – Resmunguei, sentindo a ardência do corte.
- O que está acontecendo? – apareceu na porta, com uma feição preocupada. – Porra, quanto sangue!
O sangue havia feito uma poça que começara a chegar em meu outro pé. Levantei o olhar, encontrando os olhos de marejados e meu celular em sua mão.
- Eu sinto muito. – Ela disse.
- Você não deveria ter escondido isso de mim. – Respondi, uma dor alarmante começando no fundo do meu coração. – Eu quero saber tudo, cada mínimo detalhe. – Exigi.
- , revelar isso pra você não é meu papel…
- O seu papel também não era esconder e você fez isso muito bem.
A feição de dor nos olhos de fez meu peito apertar. Ignorei todos meus sentimentos e aguardei pacientemente ela tropeçar nas próximas palavras.

Nós próximos segundos, minutos, horas talvez, uma história de dor, angústia e raiva se desenrolou. Parte de mim, sentia muita pena da minha mãe e a outra parte, sentia raiva. Eu me sentia usada. Eu havia sido planejada, mas aparentemente não fui a escolhida e essa era a parte que mais doía.
Minha mãe amava , amava mais do que qualquer coisa no mundo. Eu? Eu era mais como um algo crescendo pelos cantos da casa. Nos poucos minutos que passávamos juntas, ela me repreendia por algo ou me cobrava para ser sempre mais. Mais esperta, mais educada, mais inteligente…
Não era justo. Nada disso era.

- Isso é tudo. – finalizou, os olhos transbordando. – Eu juro , me dói cada segundo que tenha sido assim.
- Ela está ficando pálida. – alertou, caminhando em minha direção. – , você está bem? ? Porra!

No segundo seguinte, tudo escureceu.


X


(Flashback – 15 anos antes)

Aos dez anos de idade, meu maior hobby era andar pela casa e principalmente ouvir minha mãe trabalhar através da porta. Era bobo, eu sei, mas quando meu pai não estava em casa e nem vinha pra cá, era meu único passatempo além da tv.
Minha mãe sempre trabalhou com a porta fechada, algumas vezes até trancada. Segundo ela, era uma forma de manter a concentração.
Caminhei ao redor da sala, encarando o mais recente porta-retrato que eu e meu pai havíamos colocado na estante perto da tv. Era uma foto de nós dois em frente a árvore de natal do ano passado. Mamãe como sempre não quis participar, ela disse que não saia bem em fotos, eu fiquei triste, mas meu pai me disse que precisávamos ter paciência com a mamãe.
Na ponta dos pés, girei meu corpo observando o vestido azul esvoaçar ao meu redor. Sorri, era meu vestido predileto.
Lentamente, passei pela porta do meu quarto e caminhei na ponta dos pés até o escritório da minha mãe, segurando o ar, encostei meu ouvido na madeira.
- Este não é o ponto, você está indo para um caminho errado. – Ela bufou, acho que estava irritada. – Doutor, eu preciso saber se tenho alguma chance neste processo, eu não quero anular os direitos dele ou da esposa, eu quero apenas reaver os meus…
Ultimamente, eu havia escutado muito a palavra “processo” através da porta.
- Eu entendo. – Uma pausa. – Quase onze…
Um suspiro.
- Eu não quero deixar para trás! – Ela gritou e eu me assustei. – Eu a amo!
Lembro das poucas vezes em que ouvi minha mãe falar sobre amor. Era estranho. Era como se a palavra não se encaixasse em sua voz e tão pouco o sentimento em seu coração.
Nós próximas dias, passei horas tentando ouvir algo que pudesse revelar mais sobre quem ela amava. A revelação nunca veio.


X


Acordei com o quarto escuro e uma coberta enrolando meu corpo. Senti uma dor de cabeça latente se iniciar e me forcei na posição sentada. No segundo seguinte, a porta se abriu. Era sem camisa e a feição preocupada.
- Você está bem? – Ele questionou, baixo. Então o flashback do que tinha acontecido me atingiu rapidamente. Lágrimas inundaram meus olhos e meu peito doía. Meu marido deu a volta na cama e se encaixou ao meu lado, me puxando para o seu peito. – Eu sei que dói, já vivemos tantas dores juntos. Eu te amo , temos Sofie. Temos que deixar o passado no lugar dele.
- Todos ao meu redor sabiam, ninguém me contou! – Respondi em meio ao soluço. – , eu passei anos da minha vida pensando que eu era o problema, que ela não conseguia me amar. Eu tentei tanto!
Ao mesmo tempo que a dor consumia meu peito, uma rajada de alívio me atingia. Os fantasmas do passado haviam acabado. Pelo menos, assim eu esperava.
- Aonde ela está? – Perguntei, me afastando para encarar seu rosto.
- Depois que você desmaiou, conseguiu levá-la para casa. Eles estão voltando para o Rio. Nós concordamos que você precisa de um tempo. Ela estará pronta para conversar quando você quiser. – Ele respondeu e Deus, eu amava esse homem. Ele me compreendia como ninguém. – Sofie está com a minha mãe, ela concordou em ficar com ela uns dias.
Assenti, concordando. Nossa filha seria bem cuidada.
- E agora? – Perguntei, sem rumo.
- Agora, eu terminei nossas malas e pedi para assumir meu papel na empresa nos próximos dias. Temos uma viagem para fazer.
- Não temos como viajar agora, você sabe. – Respondi limpando algumas lágrimas.
- Nosso voo já está marcado. Estamos indo.
- E nós vamos para onde? – Perguntei e ele abriu um sorriso.
- Para nosso lugar.

X


Dias depois…

O mar tempestuoso enchia meus olhos. Eu estava sentada na varanda do quarto de hotel, encarando as ondas quebrarem bruscamente enquanto eu saboreava meu café.
tinha escolhido o hotel da primeira vez em que viajamos sozinhos. Era lindo, espaçoso e tranquilizante.
Minha cabeça ainda processava tudo que havia acontecido e meu pé era uma lembrança constante do nosso natal traumático. Sofie estava sendo mimada de todas as formas na casa da avó. Eu amava receber fotos das duas juntas em qualquer momento do dia.
não havia tentado contato e isso era ótimo, já que eu não fazia ideia de como abordaríamos esse assunto da próxima vez que conversássemos.
Por vários momentos do dia, eu sentia raiva dela. Minha mãe entregou para um lugar onde ela foi amada incondicionalmente. Seus pais, nunca deixaram de colocá-la na cama ou dizer que a amavam, no mínimo, uma vez ao dia. Ela tinha sido feliz. Sua história após a morte de seus pais, era complicada, mas minha mãe a amava, então mais uma vez, ela parecia ter tido mais sorte que eu.
Eu não conseguia pensar no meu pai no meio dessa situação, também me irritava o fato da omissão ao passado. Ele me deixou acreditar que minha mãe era amante de Alisson ao invés de contar a verdade dos fatos.
Por fim, a minha mãe. Raiva e dor.
Ela teve a oportunidade de fazer diferente comigo e preferiu me tratar a vida toda como um objeto perdido. Ela não conhecia a minha filha e por várias vezes, me fez ter o pior sentimento do mundo: culpa.
- O mar está agitado. – me assustou e eu pulei da cadeira. – Desculpe por te assustar. – Ele riu levemente e selou seus lábios com os meus. – Seu pé está melhor?
- Sim, eu tive o melhor enfermeiro. – Pisquei e ele riu.
- Uau, você fica tão sedutora quando está doente. – Ele brincou e sentou-se ao meu lado, encarando a imensidão á nossa frente. O silêncio se estabeleceu entre nós e eu suspirei.
- Como você lida com sua raiva sobre seu pai? – Perguntei e ele ponderou por um momento.
- Eu já carreguei muita raiva comigo, principalmente quando ele estava se aproximando da minha irmã. Hoje ele é apenas um pedaço do passado, é irrelevante.
- Você acha que pode perdoar ele? Se acaso ele quiser mudar?
- Não sei. Eu acho que ele tem os fantasmas da vida dele sempre por perto. Ele já pagou boa parte do que fez com a gente. Quando ele me pediu dinheiro, eu tive raiva, mas agora, eu penso o quanto deve ter sido humilhante pra ele vir atrás do filho que sempre renegou para pedir dinheiro.
- Nunca vamos fazer o que nossos pais fizeram com a gente com os nossos filhos, eu quero que eles cresçam felizes, com amor.
- Isso eu te prometo. Eles serão as crianças mais amadas do mundo.
Encarei mais uma vez o mar. Parecia que ele sentia o mesmo que eu.
- Eu te amo, você é a minha melhor escolha. Você e a nossa família. – Eu disse, encarando meu marido.
- Eu sempre te amei, . – Ele respondeu, me beijando ferozmente.

X


- Ei Sofie, olhe o papai e a mamãe! – A voz de Lívia era carinhosa e minha filha estava em um vestido branco com um olhar manhoso.
- Ei meu bebê, estamos morrendo de saudade! – Afirmei e vi Sofie procurar minha voz. – Logo estaremos de volta e vou te encher de beijos!
- Ela está ótima , nada como uma casa de vó. – Minha sogra sorriu na chamada e eu retribui.
- Amamos você, Lívia. Obrigada por cuidar dela tão bem.
- Vocês me deram o maior presente que eu poderia querer. Sofie, deseje feliz ano novo para os seus pais! – Ela virou novamente a câmera para minha filha e eu senti meus olhos lacrimejarem.
- Filha, feliz ano novo. Sei que você nem irá se lembrar, mas nós te amamos muito e você é o nosso maior incentivo para continuar sobrevivendo á essa loucura de vida. É sua primeira virada de ano e mesmo que não estejamos juntas, eu desejo que você cresça o mais feliz possível e que nós possamos acompanhar todos os seus passos. – Sorri, vendo Sofie abrir um sorriso leve, como se entendesse todas as minhas palavras.
- Ela te ama muito, tenho certeza. – sussurrou em meu ouvido e eu assenti. – Mãe, feliz ano novo! Nós te amamos e amanhã estaremos aí para buscar Sofie.
- Meu coração já está partido. Feliz ano novo, crianças. Amo vocês. Me deem mais um neto!
- Esse último pedido ainda está em processamento. – brincou e nós gargalhamos.

Após desligar a chamada, fui colocar meu vestido de ano novo. Era simples, havíamos comprado em uma lojinha perto da praia. Era branco e curto. Eu precisava de paz para esse ano.
Não me maquiei e meu cabelo estava enrolado da praia, estava ótimo. Eu estava feliz.
Antes de caminharmos em direção a varanda, encarei meu reflexo no espelho. Neste ano, eu havia gerado minha filha, havia tido descobertas sobre mim mesma e sobre meu passado, havia finalmente encontrado meu caminho com e estávamos prestes a começar nossa vida juntos oficialmente. Eu tinha dores, eu ainda sentia meu peito apertar quando pensava excessivamente sobre os acontecimentos dos últimos dias, mas eu merecia ser feliz e merecia estar feliz.
Com a mente mais tranquila, decidi colocar um ponto final no passado e olhar para frente. Cuidar do que era importante e valioso e abrir novas portas para um futuro diferente, um futuro onde somente verdades fossem plantadas e onde eu fosse sincera comigo e com todos ao meu redor. O passado não poderia ser alterado, os erros da minha mãe comigo não eram minha culpa, era dela.
- Dois minutos para a virada, vamos? – me encarou através do espelho e eu assenti, sorrindo.
Caminhamos até a varanda que dava vista para queima de fogos e para a imensidão do mar. Hoje, ele estava calmo, as ondas que ontem quebravam bruscas, hoje eram apenas uma marola leve. Esse ano seria bom, eu tinha certeza.
- Dez segundos! – Alguém gritou, provavelmente um hóspede do quarto vizinho.
me encarou, de costas para a queima de fogos e eu franzi a testa.
- Ei, os fogos irão começar! – Eu disse e ele sorriu, puxando uma caixinha de veludo do bolso.
- Estamos quase dois anos atrasados, mas acho que é o momento. – Ele abriu, duas alianças finas de ouro brilhavam e se iluminaram ainda mais quando os fogos começaram. – Queria que tivesse sido assim desde o início, mas eu sei que não era pra ser. É pra ser como está sendo agora. Já somos casados e podemos fazer uma cerimônia se você quiser, mas acho que é o momento de oficializarmos. É como se casássemos de novo. Eu te amo e eu não mudaria uma vírgula da nossa história.
E foi então que eu entendi tudo. Aos olhos dele, eu jamais seria um personagem secundário, eu sempre seria a protagonista.
Naquele momento, todo o passado ficara para trás e eu só olharia para frente, para minha família.

Capítulo 31 – Tempo

Alguns dias depois…



Algumas pessoas costumam dizer que o tempo cura todas as feridas.
Que o tempo é o melhor remédio para situações difíceis.
O tempo nunca foi meu aliado.

Quando eu colocava Sofie em seu berço, ou quando estava grávida, eu sempre pedia para que o tempo passasse mais devagar. Ele, com todo seu egoísmo, passava mais rápido.
No meu último dia do ensino médio, eu chorava enquanto pegava minha mochila e passava pela porta pela última vez. Foi um dos dias mais rápidos da minha vida e sempre senti como se não tivesse aproveitado o suficiente.
Quando me casei com , viajamos para o México, eu o deixei na manhã seguinte, sozinho naquele enorme quarto de hotel. Enquanto eu o olhava dormir, o tempo parou naquele instante.

Estas são apenas algumas vezes em que o tempo revelou seu egoísmo e seu amargor.
O que nos cura, não é a velocidade com que a situação é esquecida ou superada, mas sim, as pessoas que estão dispostas a ficar ao nosso lado independente do tempo.
Em todas as situações, tive minha melhor amiga para ligar e chorar em seu ombro. sempre foi minha aliada e sempre fez com que a velocidade do tempo não importasse. Ela sempre esteve ali, para qualquer situação.
Agora, será que o tempo toparia um acordo comigo?

X


Sofie havia acabado de tomar uma mamadeira inteira, agora, ela resmungava em sua cadeirinha me observando enquanto eu admirava algumas fotos em meu colo.
Em uma delas, eu e tínhamos 15/16 anos. Ela estava montada em minhas costas e estávamos em frente ao mar, em nossa última viagem com nossos pais.
- Sabe qual a coisa que mais desejo para você? – Olhei para Sofie que resmungou. – Uma melhor amiga incrível.

(Chiquitita – ABBA)

Chiquitita, tell me what's wrong
Pequenina, me diga o que há de errado

You're enchained by your own sorrow
Você está acorrentada em sua própria tristeza

In your eyes
Em seus olhos

There is no hope for tomorrow
Não há esperanças para o amanhã


A próxima foto, estávamos sujas de tinta e fazíamos careta. Tínhamos 12/13 anos e era aniversário de . Havíamos feito uma verdadeira guerra de tinta no quintal de casa, quase ficamos de castigo.
Suspirei, admirando a foto e sorrindo com a lembrança.

How I hate to see you like this
Como eu odeio te ver desse jeito

There is no way you can deny it
Não há como você negar

I can see
Eu posso ver

That you're, oh, so sad, so quiet
Que você está, oh, tão triste, tão quieta


Eu estava prestes a pegar a próxima foto, quando ouvi o barulho da campainha. Pensei estar imaginando, até que ouvi novamente.
- Já volto, filha – Disse, tocando o nariz de Sofie, que sorriu.
Caminhei até a porta, abrindo-a em seguida. Tomei um susto, quando vi parada ali, me encarando.
Pensei estar sonhando e quis me beliscar, porém, continuei ali, sem entender o que estava acontecendo.
- Achei que você estivesse no Rio. – Disse e ela assentiu.
- Eu estava. – Afirmou com a voz tensa – , eu me afastei, esperei você me procurar, mas eu sei que você não iria. Eu quero dizer que sinto sua falta e tudo que eu mais quis nesses últimos dias, foi te ligar. Eu sei que você está com raiva de mim e que eu deveria ter te contado, mas eu quis te proteger, era uma situação dolorosa e eu jamais quis que fosse assim.

Chiquitita, tell me the truth
Pequenina, me diga a verdade

I'm a shoulder you can cry on
Sou o ombro em que você pode chorar

Your best friend
Sua melhor amiga

I'm the one you must rely on
Sou aquela com quem você pode contar


- Nós tínhamos quinze anos. – Respondi, me encarava confusa, franzindo a testa. – Eu estava deitada em seu quarto, havíamos fugido para uma festa durante a noite. Seus pais não sabiam que eu estava lá e você estava tomando banho. Eu levantei da cama e ouvi as vozes deles, eles falavam sobre uma verdade tinha chances de aparecer. Eles estavam preocupados. Eu pensei ser algo sobre empresa, dinheiro, carro, alguma mentirinha boba. Foi quando a palavra ‘adoção’ foi dita. Eu coloquei os fones e decidi que nunca tinha ouvido aquela conversa. – Dei uma pausa, sentindo minha garganta arder. – Eu também escondi coisas para te proteger e sei exatamente o que você sentiu.
- Espera, você ouviu que eu era adotada e decidiu que não tinha ouvido? – Questionou e eu respirei fundo, assentindo – Isso é um pouco pior, não é?
- Eu não sabia se era sobre você. Podia ser qualquer coisa, um cachorro, um gato, um peixe… Não sei! – Respondi, nervosa.
- Isso é ridículo!
- Concordo!

You were always sure of yourself
Você sempre foi tão segura de si

Now I see you've broken a feather (how it hurts to see you cry)
Agora vejo que você está mal (como machuca ver você chorar)

(And how it hurts to see you sad)
(E como machuca te ver triste)

I hope we can patch it up together
Espero que possamos reparar tudo isso juntas


- Quer saber? Vir aqui foi um erro! – grunhiu, com a voz elevada.
- Quando é sobre você, as coisas ficam sérias, não é? – Respondi, com a mesma entonação. – Então faça o que você faz de melhor, vai embora!
- E sabe o que você faz de melhor? Ser mimada! – Retrucou e eu arregalei os olhos. – Isso mesmo, você é mimada! Sua mãe é uma bruxa? Ok. Mas ela te ama, mesmo com o jeito insuportável dela! Agora, seu pai? Ele te amou e sempre arrumou desculpas para suas burradas! Se eu tivesse só um dos meus pais, eu seria grata.
- E quanto aos seus defeitos? – Questionei e ela riu, incrédula, enquanto cruzava os braços. – Você é uma egoísta!
- Egoísta? – Debochou.
- Isso mesmo, ! Eu estava grávida, eu precisava da minha melhor amiga e você foi embora! Dias depois, rejeitou Sofie e eu nunca me senti tão sozinha. Eu não pude te ligar, você estava sofrendo com toda situação de e Victoria. E quando Sofie nasceu e você demorou um mês pra conhecê-la? Quando você chegou, descobriu que eu não podia amamentar, eu disse que estava tudo bem, mas eu estava um caco!

Chiquitita, you and I know
Pequenina, você e eu sabemos

How the heartaches come and they go, and the scars they're leaving
Como as dores do coração vêm e vão e as cicatrizes que elas deixam

You'll be dancing once again and the pain will end
Você vai dançar mais uma vez e a dor acabará

You will have no time for grieving
Você não terá tempo para o luto


- É fácil pra você subir nesse pedestal e apontar o dedo pra mim, como se só eu errasse! – Gritou, com as bochechas vermelhas. – Mimada!
- Ótimo, sua egoísta! – Estiquei meu braço, agarrando o vaso com água da mesa e joguei em sua direção.
- Você não devia ter feito isso! – Disse, entre dentes e no segundo seguinte agarrou meus cabelos.

Tudo foi tão rápido quanto um piscar de olhos. agarrou meus cabelos, eu agarrei os dela, ela me deu um tapa no ombro e eu chutei sua perna. Caímos no chão, subi em sua cintura e dei um tapa em seu rosto, ela retribuiu. Entre chutes e tapas, senti que estava sendo puxada para cima, também.
- O que há de errado com vocês? Vocês estão loucas? – questionou, segurando a esposa.
- Sofie está em casa! – afirmou, me segurando pela cintura.
- Ela que começou! – gritou e eu revirei os olhos.
- Você me deu um tapa na cara! – Retruquei.
- Estamos quites, você me deu um também.
- Você escondeu que era minha irmã!
- Você escondeu que eu era adotada!
- Ok, já chega disso, vocês duas precisam se resolver. – afirmou, soltando .
- Como adultas – completou, me soltando também.
Nós bufamos ao mesmo tempo, olhando para baixo. Quando levantei o olhar, tinha o cabelo bagunçado e o rosto vermelho. Eu quis rir, mas não fiz. Ela me encarou, querendo rir também. Devíamos estar um desastre.
- Sinto muito por te chamar de mimada. – Ela disse e eu assenti.
- Sinto muito por te chamar de egoísta e por jogar água em você.
- Eu senti sua falta! – Disse.
- Eu também – Respondi, abraçando-a fortemente em seguida.

Chiquitita, you and I cry
Pequenina, você e eu choramos

But the Sun is still in the sky and shining above you
Mas o Sol ainda está no céu e está brilhando sobre você

(Even though you cry, the Sun is shining in the sky)
(Mesmo que você chore, o Sol está brilhando no céu)

Let me hear you sing once more (so let me hear you sing some more)
Me deixe te ouvir cantar mais uma vez (então me deixe te ouvir cantar mais um pouco)

Like you did before (the way you used to do before)
Como você fez antes (do jeito que você costumava fazer antes)

Sing a new song, chiquitita
Cante uma nova canção, pequenina


Enquanto nos abraçávamos, voltou para sala com Sofie dormindo em seus braços.
- Estamos saindo, vamos dar uma volta. Vocês podem conversar melhor. – Afirmou e nós assentimos.
- Por favor, sem tapas, socos ou puxões de cabelo – completou e nós rimos.

X


- Não acredito que nos batemos. Foi a primeira vez – Disse e eu ri, enquanto devorávamos um pote de sorvete que estava entre nós.
- Acontece nas melhores famílias. – Brinquei
- Você tem falado com meu pai? – Questionei e me encarou com a feição séria.
- Ele anda preocupado com você. – Respondeu, sem jeito. – Viviane também.
- Ela ainda está aqui? – Perguntei, fingindo não me importar.
- Sim, na casa. Ela me ligou perguntando sobre você e disse que não vai embora até que vocês conversem. – Afirmou, com um olhar preocupado e eu suspirei. – Eu sei que é a última coisa que você quer, mas talvez seja o que você precisa. Viviane foi difícil por anos e eu não te culpo por sentir coisas ruins em relação à ela, porém, é uma oportunidade de obter respostas por você mesma.
- Vou pensar. – Respondi, forçando um sorriso.
- Cuidado para não esperar tempo demais.
- O tempo que vá mais devagar. – Debochei.

Tempo.

Capítulo 32 - Entre o fim e o recomeço.

Dias depois…



Um fato: Eu odiava reuniões longas.

Esta reunião já durava quase quatro horas e meus olhos começavam a pesar.
Levantei calmamente da cadeira e fui em direção à máquina de café da sala, ouvindo meu advogado discutir mais uma cláusula do contrato.
Após meses recebendo propostas ridículas para venda da , havíamos encontrado uma compradora disposta a pagar um valor aceitável. Tudo aconteceu tão repentinamente, que eu mal tive tempo de comprar roupas sociais novas. Hoje de manhã, tive de revirar meu closet em busca de uma camisa branca e a única que encontrei estava tão justa que fiquei com medo de um botão estourar ao decorrer do dia.
Tomei um longo gole de café antes de retornar à minha cadeira. Por baixo da mesa, disfarçadamente, enviei uma mensagem para .

Ei gato, como está Sofie?

XxX


Em menos de um minuto, a resposta veio com Sofie em seu vestido verde oliva no colo de lherme). Eles estavam no escritório da Sunset, já que meu marido também estava repleto de reuniões.
Aparentemente, a filial no Rio de Janeiro estava com data marcada para inauguração e eles precisavam resolver os últimos detalhes. Além de claro, muitos imprevistos com as obras.

Voltei minha atenção para a reunião e vi Helena, a compradora da empresa, revirar os olhos durante a leitura de mais uma cláusula.
- A última coleção pertence a , por que os direitos não estão inclusos na venda? – Questionou, irritada.
- Porque esta coleção foi uma edição limitada. É a ‘Sofie’. Toda essa coleção foi feita em parceria com a Sunset, empresa do marido de . Ela não pode ser relançada. – Edgar, meu advogado, respondeu.
- Isto não parece justo. Foi uma das coleções mais vendidas. Os números estão todos aqui! – Helena retrucou, apontando para os papéis.
- Helena, perdão. Esta coleção foi lançada dias após o nascimento da minha filha, foi uma homenagem a ela. Mesmo que eu te dê os direitos, não será coerente relançá-la. – Respondi, tentando parecer o mais tranquila possível.
- , quero o direito das peças, das criações. Podemos relançá-la com outro nome, assim como a empresa terá outro nome. – Afirmou e eu assenti.
- Edgar, podemos editar esta cláusula. Ela terá os direitos às peças, mas não ao nome. Está certo assim, Helena?
- Está ótimo. – Respondeu, voltando os olhos ao contrato.
Eu juro que estava disposta a ceder tudo que ela desejasse, só para esta reunião ser encerrada. Entretanto, eu estava lidando com minha empresa, meu trabalho que me sustentou durante anos e que eu investi muito mais do que dinheiro.
Quando fundei a , nós trabalhávamos apenas com semijoias. Era uma equipe pequena e lidávamos apenas com um site.
O crescimento foi absurdamente rápido e aos poucos conseguimos investir em metais nobres e pedras preciosas. Assim, revendíamos para joalherias de toda capital, o que tornou nossa empresa maior e lucrativa.
Com uma empresa com altas demandas, criam-se o dobro de responsabilidades, mesmo que muitas fossem apenas online.
Eu passava horas resolvendo burocracias e isso tornou meu trabalho muito chato.
Antes, eu sonhava em abrir a em um espaço legal, com uma loja bonita, este foi meu plano por muito tempo antes de engravidar. Assim como Léo e fizeram com a Sunset.
A grande diferença, era que eu precisaria de mais pessoas na equipe e lidaria com mais papéis.
Depois de Sofie, eu não me via mais enfurnada dentro de um escritório e tão pouco deixando de viver sua infância. Como minha mãe fez.
Eu entendia que uma empresa precisava crescer, buscar novas áreas e se aprimorar, porém, eu não era mais a pessoa certa e tão pouco disposta para a função.
Então, chegamos à Helena que tinha trinta anos e ao conversarmos pela primeira vez, pude sentir sua animação para investir na . Ela queria aquilo e sabia muito bem como lidar. Ela era uma excelente empresária.
Em menos de duas semanas, ela me contatou e eu analisei cláusula por cláusula do contrato, antes de marcarmos a reunião.
Então estávamos aqui.
Há quase quatro horas.

- Podemos fazer uma pausa? – Sugeri, surpreendendo a todos. – Acho que todos precisamos de um ar e um tempinho. 20 minutos?
Helena fez uma careta, mas eventualmente acabou cedendo. Ela e seu advogado foram para o canto da sala conversar.
Eu me levantei da cadeira e acenei para Edgar, informando que eu sairia rapidamente.
Desci as escadas do pequeno prédio comercial e passei pela porta de entrada, sentindo o sol quente beijar meu rosto.
Caminhei até uma pequena praça na esquina da rua, em busca de um banco para ligar para Léo. Eu iria avisa-lo que provavelmente não chegaria tão cedo quanto imaginei.
Assim que avistei um banco perto do playground, vi uma pequena placa ao lado de uma mesa onde havia uma mulher de turbante pink.

“Vidente Tiffany, venha conhecer seu futuro!”

- Ei menina, estou vendo sua curiosidade. – A mulher me encarou e eu sorri sem jeito.
- Estou sem tempo hoje, mas posso tentar voltar outro dia. – Respondi, em uma tentativa de driblar a situação.
- Outro dia seu futuro pode mudar. Que tal você tentar hoje? – Sugeriu e me senti intrigada.
- Certo, mas tenho apenas quinze minutos. – Respondi e me sentei à sua frente.
A tal ‘vidente’, aparentava estar em seus sessenta anos. Isso porque, alguns fios brancos escapavam seu turbante e sua feição continha algumas rugas.
Ela me encarou, olhando bem fundo em meus olhos e eu resisti a vontade de desviar o olhar.
- Custa apenas cinquenta. – Afirmou e eu assenti, procurando alguma nota em meu bolso da calça.
- Aqui – Disse, entregando-lhe o dinheiro.
- Vamos começar.
A senhora espalhou algumas cartas pela mesa e ordenou que eu retirasse apenas três delas. Deixei minha intuição me guiar, tentando focar que ela conseguiria ver algo ali. Em poucos segundos, ela virou as cartas, revezando o olhar entre mim e suas mãos.
- Filhos? – Questionou.
- Uma menina. – Respondi, franzindo a testa. – Por que?
- Três parece ser seu número da sorte. – Respondeu, rindo em seguida. Qual era a graça?
- Mais três filhos, então?
- Ou três casamentos.
- Acho difícil.
- Pode ser três trabalhos.
- Ok, a senhora não está ajudando. Três, o que? – Questionei, irritada.
- Um S, um L e um E. – Respondeu.
- Isso não forma nem uma palavra. – Murmurei – Você me prometeu descobrir o futuro.
- E quem disse que esse não é?
- Me dê algo concreto. – Exigi e ela riu.
- Você já tem sua alma gêmea, mas nem sempre é um homem, exceto que no seu caso tem grandes chances de ser. Três é seu número da sorte. Você tem um grande problema para resolver e precisa ser logo.
- O tempo me odeia. – Respondi irônica e ela franziu a testa, me encarando profundamente.
- Não odeia não. Ele está sendo generoso com você.
- Acontece que eu não sei como isso pode ser resolvido. – Resmunguei, baixo.
- Vejamos, você tem dinheiro, é casada e parece ter uma filha saudável. O que te falta parece ser coragem. Você tem medo, menina.
- Medo?
- Ser ignorada mais uma vez.
- Ok, isso é bobagem. Eu não estou com medo. – Respondi e ela riu, debochando.
- Você tem muito medo. Dessa vez não precisa ter, você tem todas as chaves para resolver e ela está disposta.
- Espera, como você sabe que é ela? – Questionei e ela colocou as cartas com força na mesa.
- Acabou a consulta. – Afirmou. – Pode ir, estou avistando outro cliente chegando.
- A senhora não é boa em seu trabalho! – Retruquei, me colocando em pé. – Não tem nada de específico nisso, você fala coisas aleatórias e torce para que se encaixe!
- Sério, ? – Debochou. – A propósito, o número da sorte da sua irmã é dois.
- Dois, o que?
- Dois maridos. Dois empregos. Pode ser qualquer coisa.
- A senhora é maluca!

Voltei para o prédio, irritada. Subi as escadas me arrependendo de ter perdido meu tempo.
Quando cheguei ao último degrau, congelei.
Em que momento eu disse meu nome?

X


- Eu juro, ! Ela disse meu nome e eu não tinha dito!
- E ela não tinha dito nada coerente até então? – Ele questionou, bebendo um gole de água.
- Ela disse umas letras, disse que três é meu número da sorte e que preciso resolver meu problema. – Respondi, deitando a cabeça em seu colo.
- Você acha que está pronta para resolver? – Léo me encarou, visivelmente preocupado e acariciou meus cabelos.
- Não posso passar a vida inteira sem falar com meus pais. – Afirmei.
- Sabe, minha mãe me disse uma vez que nem sempre o perdão é para quem errou. Às vezes, ele é bem mais importante para nós mesmos. – Disse, distraído com uma mecha do meu cabelo.
- Tenho certeza que sim.

Era hora de fazer uma visita para os meus pais.

Capítulo 33 - Do meio para o fim.



estacionou o carro em frente à casa da minha mãe e foi impossível não reviver cada segundo que vivi ali.
A janela do meu antigo quarto no segundo andar, estava aberta. As cortinas brancas esvoaçavam com o vento fresco da tarde quente.
Era estranho. Era como se todo passado fosse em outra vida de tão distante que parecia.
Enviar uma mensagem para os meus pais, pareceu a parte mais fácil de todo processo. Liguei para e ela concordou em vir, afinal, todos nós fazíamos parte do mesmo passado.
- Vai dar tudo certo. – Disse , me tirando de meus devaneios.
Sorri para ele, tentando não demonstrar meu nervosismo. Neste momento, Sofie resmungou algo de sua cadeirinha e olhamos para o banco de trás, encontrando-a sorrindo.
- Hora de ver seus avós.
Hora de olhar nos olhos do problema.

Desci do carro enquanto tirava Sofie de sua cadeirinha. Ajeitei a camiseta preta que usava, sentindo que agora ela parecia um pouco sufocante demais.
Caminhei devagar até a porta e toquei a campainha, sentindo a mão de em minhas costas.
Poucos minutos depois, Viviane apareceu.
Os mesmos olhos escuros, agora um pouco mais cansados. O cabelo castanho caindo em volta de seu rosto magro e o nariz igualzinho de . Como eu nunca reparei nisso?
O vestido longo preto, caia pelo seu corpo, ela sempre gostou de roupas escuras e elegantes, mesmo que fosse apenas para ficar em casa.
Encarando seus olhos, enxerguei a dor por trás deles pela primeira vez.
Agora, como mãe, senti vontade de abraçá-la. Como filha, senti apenas a dor da rejeição.
- Oi. – Cumprimentei, sem jeito.
Seus olhos automaticamente foram para Sofie no colo de . Minha filha pareceu estudar a avó e abriu um sorriso, sem motivo algum.
Em vinte e seis anos, posso contar nos dedos as vezes que vi minha mãe chorar. A última vez, foi durante o enterro dos pais de .
Por alguma razão estranha, hoje, seus olhos marejaram enquanto olhava para nós três e eu não soube como reagir.
- Vamos entrar. – Disse, puxando ar em seguida.
Entramos na sala com chão de madeira clara.
Os móveis e decorações permaneciam iguais.
Durante os anos da minha mãe na Argentina, havia uma vizinha que cuidava da manutenção da casa, deixando-a limpa e sempre checando cada detalhe.
No sofá de canto, embaixo da grande janela, meu pai e conversavam baixo. Parecia algo casual, já que o clima de tensão se expandia por cada centímetro da casa.
- Oi filha. – Ele se colocou em pé e eu sorri.
- Oi pai. – Respondi.
- E olha só quem está aqui! – Meu pai sorriu, aproximando-se de e Sofie. – Como está nossa princesinha?
Minha filha sorriu e meu pai beijou sua bochecha antes de cumprimentar .
rapidamente nos cumprimentou, sorrindo amarelo e aparentando estar sem jeito com a situação. Bom, todos nós estávamos.
Sentei no sofá do meio e minha mãe na poltrona do lado oposto. Todos nos encaramos e Léo tossiu, sem graça.
- Vou fazer uma ligação. – Concluiu, indo em direção ao jardim.
O clima tenso estendeu-se.
Parecia que todos nós não nos conhecíamos. Era bizarro.
- Não sei o que dizer. – Confessei, encarando minhas mãos em meu colo.
- Você não tem que dizer nada, . Eu tenho. – Viviane respondeu, me surpreendendo. A voz sútil como nunca antes. – Quando eu era mais nova e fiquei grávida de você, eu achei que a melhor forma de esquecer o passado, era enterrando-o da forma mais profunda que eu conseguisse. Ao contrário de tudo que você pensa, eu quis você. Eu não quis que você fosse uma substituta de . Eu desejei a , desejei você. Eu escolhi seu nome e trabalhei até o último minuto de gravidez para que você tivesse tudo o que precisasse…
- E o que aconteceu? – Questionei, baixo, interrompendo-a.
- Culpa. – Respondeu. Nossos olhos conectados. – Eu não achava justo ter lutado tanto por você e não ter feito o mínimo por .
- Só que você fez muito por mim, tia. – respondeu, a voz carinhosa. – Você fez mais do que imagina. Você me deu meus pais e me deu um lar quando eles se foram. Você me deu e essa foi a maior prova de amor que vocês quatro fizeram por nós duas.
- Sem dúvidas. – Respondi, minhas pálpebras pesadas e minha vista embaçada.
Merda, eu ia chorar.
- Eu sei que passei anos sendo uma mãe desprezível para você, . Pode até ser tarde para tentar compensar qualquer dor que já te fiz sentir. Não peço para que você se coloque em meu lugar ou que me perdoe. – Minha mãe disse, a voz embargada. – Só quero que saiba, que eu te amo tanto que faria qualquer coisa para voltar ao passado e não te fazer sentir nada do que você sentiu. Eu tenho orgulho de você ser a mulher que você é hoje e admiro a mãe que você se tornou.
Encarei seus olhos. Olhos que muitas vezes eram frios demais para esboçar qualquer sentimento. Dessa vez, os mesmos olhos avelãs que cobraram tanto de mim, eram apenas um único marasmo de dor. Talvez, ela pensasse que eu jamais concederia o perdão a ela.
Minha mente estava brigando com meu coração.
A vida era incerta.
A vida era confusa.
Eu nunca acreditei em mudanças.
Exceto que dessa vez, tudo que eu sempre quis e sempre desejei, sem ao menos me dar conta, estava acontecendo na minha frente.
Ela estava ali, com o coração escancarado e pedindo por uma chance.
Passamos a vida acreditando que nossos pais sabem de tudo.
Quando você se torna um, você percebe todos os erros que você está propenso durante o percurso de criar e educar seus filhos.
Se eu não acreditava no perdão em sua forma mais sincera, por que eu marcaria de vê-los?
Levantei do sofá ao mesmo tempo que ela.
Em vinte e seis anos, foi o abraço mais forte e verdadeiro que já senti na vida.
Meu pai e se juntaram segundos depois.
As lágrimas lavaram meu rosto, a última vez que chorei assim, foi quando Sofie nasceu.
Eu tinha uma família novamente.
Este era o meu recomeço.


Continua...



Nota da autora: Sem nota




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