CAPÍTULOS: [1]









Última atualização: 14/07/2017

Capítulo 1


Junho era definitivamente seu mês favorito. Era friozinho, tinha festinhas todo fim de semana, as comidas eram deliciosas e podia vestir suas camisas xadrez a hora que quisesse, pois sua mãe não iria reclamar dela estar saindo totalmente desmantelada. Não entendia porque as pessoas não usavam àquilo todos os dias, era confortável e ainda não havia conhecido um ser humano que não ficasse bem vestindo uma delas.
Aquele também era o mês dos apaixonados. Por onde andava tinha um casal exalando amor pelos quatro cantos do mundo. Parecia muito real se ela não soubesse que a maioria só estava junto para não passar o dia dos namorados sozinho e que assim que o mês acenasse dizendo “até ano que vem”, o amor ia junto no mesmo trem. Era uma paixão com data de validade. Mas ela não podia reclamar. Também tinha seus amores à curto prazo. E em junho, tinha um mais especial.
Há alguns anos atrás, o grêmio da escola em que estudava tivera uma ótima ideia. Durante o mês do São João, toda a sexta-feira teria uma oficina de forró. Infelizmente (ou talvez, felizmente), o colégio não tinha como pagar um professor pra todas as semanas, então a oficina acontecia desse jeito: os alunos que já sabiam dançar se voluntariavam a ensinar e cada um ficava como tutor de um outro aluno que gostaria de aprender. Então, nas sextas-feiras, todas as duplas se reuniam na quadra para que a aula acontecesse.
No primeiro ano que teve, a intenção de era realmente aprender a dançar. Ela já sabia de alguns passos, mas queria saber o que estava fazendo e não apenas ser conduzida como estava acostumada. Quando teve que escolher seu tutor, fez um “x” na opção de “sem preferência” no papel de inscrição, afinal, não conhecia nenhum deles. Mas o acaso foi muito gentil com ela.
Lembrava-se exatamente de quando o havia visto pela primeira vez. Quando chegou à quadra para o primeiro dia de aula, lhe entregaram um papelzinho com o nome de seu tutor. , 9ºA. Não fazia a menor ideia de quem era aquele menino. Sabia que ele era um ano mais velho, então isso poderia ser um grande problema. Tímida do jeito que era, capaz de não conseguir dizer uma palavra ao garoto.
Como não sabia quem era, ficou parada no meio da quadra esperando que ele soubesse reconhecê-la e viesse procurá-la. Passou uns 10 minutos plantada e quando já estava prestes a desistir, ouviu uma voz atrás dela.

- Você que é a do 8ºB?

Se virou com uma vontade de dizer que não era, já consumida pela timidez. Mas quando viu o sorriso de lado, fazendo a covinha mais fofa que já vira, e o rosto corado do menino, percebeu que ela não era a única que estava com vergonha daquela situação. Então só sorriu, acenou afirmativamente com a cabeça e o perguntou se ele iria ser seu par naquele dia.

- Eu mesmo. A senhoria me da à honra desta dança? – O garoto, visivelmente mais desinibido, fez uma pequena reverência, que fez a menina rir e repetir o gesto, segurando a barra de um vestido imaginário.

Aqueles noventa minutos de aula foram os mais divertidos que já tivera antes dançando. Depois de perder a timidez, se soltou e foi realmente notório o quanto ele levava jeito com a dança e em conduzi-la. Algumas esbarradas e pisadas de pé depois, começou a perceber que aquilo era mais fácil do que parecia e pensou que ele só poderia ser um ótimo professor pra conseguir fazer com que ela aprendesse tão rápido. No final da aula, o menino repetiu a reverência que tinha feito no início e disse sorrindo:

- Ainda bem que deixei os meninos me convencerem a fazer isso, não achei que seria tão divertido. E você foi a aluna mais aplicada que eu já tive. Não que eu tenha tido qualquer outra aluna antes, mas você entendeu. - Eles riram, ela agradeceu e ele lhe deu um beijo na bochecha antes de pegar sua mochila e ir embora.

Soube naquele momento que alguma coisa tinha acontecido, pois, assim que ele se virou, ela soltou um suspiro carregado. Então, depois daquele dia, ela passou a pegar o caminho mais longo para ir à sua sala de aula, só para passar pelas salas do nono ano e ver o garoto conversando com os amigos encostado a porta e abrindo aquele sorriso de criança ganhando presente de natal quando à via passar.
Porém, aquela magia toda acabou quando o mês de junho foi embora. Depois que teve a festa de São João do colégio e a oficina terminou, ela ficou com vergonha demais para fazer todo aquele caminho todos os dias e os dois voltaram à suas rotinas como se nada tivesse acontecido.
Nos anos posteriores, era a mesma coisa. Durante todo o ano, era como se eles nem se conhecessem, mas era só chegar à última semana do mês de maio e abrir as inscrições para a oficina, que a garota fazia questão de ser a primeira a chegar ao colégio para poder escolher ele como tutor antes que qualquer outra pessoa o fizesse. E tudo acontecia de novo. As brincadeiras durante as aulas, os olhares nos corredores. Até que chegava a festa de São João. Eles a passavam todinha conversando e no final, a chamava para dançar a quadrilha improvisada.
Mas quando a dança acabava, ele dava um beijo em sua bochecha e falava que precisava ir pra casa. E ela só dava um suspiro, o observando partir e torcendo para que o próximo mês de junho não tardasse a chegar, porque aquelas borboletas dançando em seu estômago só apareciam no final do arraiá.

↞∗∗∗↠

- , se eu fosse você, entrava na página do grêmio do colégio agora! praticamente gritou no telefone.

Eram quase dez horas da noite e já estava na cama, pois no dia seguinte começavam as inscrições da oficina de forró e ela tinha que pegar o ônibus cedo. Mas aparentemente sua melhor amiga não se importava com sua tradição anual e estava atrapalhando seu sono. Contrariada, ela se levantou da cama e ligou o computador, rezando para ser algo muito importante ou ela seria obrigada a castrar sua própria amiga.

- Calma, calma, to abrindo – ela respondeu sonolenta.

Enquanto abria o Facebook, a garota tentava imaginar o que o grêmio tinha postado que era tão urgente que não podia esperar até o dia seguinte para contá-la. Ou simplesmente ter mandado uma mensagem. Uma ligação àquela hora dizia que a coisa era séria. Mas foi só quando a página carregou que percebeu a seriedade do problema. Fora divulgada a lista dos tutores da oficina daquele ano.
A garota passou os olhos umas três vezes para ter certeza que tinha visto certo. Recarregou a página umas cinco vezes para ver se eles não tinham consertado. Porque aquilo só podia ser um erro. Esqueceram-se de colocar o melhor professor naquela lista.

- , por que o nome dele não ta aparecendo aqui?? – Agora ela era quem estava gritando.
- Eu disse que era importante. Assim que eu vi, corri pra te contar. Acho que ele não se inscreveu esse ano.
- Ele não pode “não se inscrever”. Isso vai contra todas as leis da natureza! – Ela dizia enquanto ainda apertava descontroladamente botão “F5” do computador.
- Oh, tadinha. Isso é pra você aprender a falar com ele em outros dias do ano. Esse “amor de junho” já passou da hora, né amiga? Já faz três anos!
- , você não entende todo esse processo... – ela falou já meio desanimada – Mas é isso... Acho que não vou ter meu “amor de junho” esse ano.
- Oh, amiga, fica tristinha não. Vai ver foi melhor assim e na festa tu encontra um boy que te dê atenção todos os meses do ano.
- Tá certo, vou pensar nisso – ela deu um sorriso de lado – Vou indo nessa, , ainda preciso dormir. Até amanhã!
- Até amanhã, bebê. Vai sonhar com seus novos boys, vá. - Ela deu uma risada e desligou o celular.

Já sem o menor sono, ficou fuçando o Facebook por um tempo até notar um nomezinho na área de amigos online. Nunca mandara uma mensagem pra ele, em todos aqueles anos, todo o contato que tiveram foi pessoalmente. Abriu o chat e começou a digitar algumas coisas, mas sempre acabava apagando. Depois de alguns minutos repetindo esse ato, em um ímpeto de coragem, apertou no botão de enviar.

: Como assim tu não vai participar da oficina esse ano, ?

Sentiu o arrependimento bater no mesmo instante, mas já era tarde demais. Estava se deslogando da rede social quando reparou que sua mensagem havia sido visualizada. Jurou que seu coração parou de bater por uns segundos até que viu aquelas reticências no chat, indicando que o garoto estava digitando.

: Eita, . É que essa vida de terceiro ano tá tão corrida que esse ano eu achei melhor nem ir... Além do mais, você nem precisa das minhas aulas mais, já arrasa dançando sem nem precisar de um par.

Ficou meio envergonhada pelo elogio e sorriu involuntariamente. Não sabia se gostava ou odiava aquela sensação que o garoto a causava.

: Mas vai ser legal! É bom que te distrair dessa rotina de estudos. Eu faço todo ano porque acho divertido, não necessariamente por ter dois pés esquerdos kkkk.

: Kkkkk mas que exagerada, eu sei que você é na verdade uma tremenda pé de valsa.
: Mas vou pensar no seu caso, acho que vai mesmo me fazer bem participar da oficina. Mas só vou com uma condição.
: Que condição?

: Que você seja minha aluna. Não me divertiria tanto com outra pessoa kkkkk
: Fechado! Não aprenderia nada com outro professor kkkk

: Então ta combinado, amanhã eu vou ao grêmio e peço pra eles me colocarem como tutor. E a senhorita corra pra lá também, pra eu não acabar tendo que ensinar alguém que eu nem conheço.
: Opa, desse jeito eu vou ser a primeira a chegar ao colégio amanhã então.
: Mas vou ter que ir dormir agora pra poder fazer isso, né? Tenho que ir, a gente se vê amanhã.

: Kkkkk ok, eu tenho que ir também.
: Até amanhã, menina. Beijo.
: :*

A garota desligou o computador sem acreditar na conversa que acabara de ter. Não conseguiu conter uns pulinhos de alegria no caminho para cama e foi incapaz de pegar no sono sem imaginar pelo menos três histórias diferentes sobre como aquele mês seria inesquecível.

↞∗∗∗↠

Depois de todo aquele desespero para conseguir seu tutor na oficina, a primeira sexta-feira do mês chegou e com ela veio aquele frio na barriga de que não conseguia deixar que ela se concentrasse em nada naquele dia ou em qualquer outro que o antecedeu. Estava mais ansiosa do que nos anos anteriores. Naquele em especial, ela prometeu a si mesma que iria deixar a timidez de lado e tentar flertar (oh meu Deus, nunca fizera isso na vida. Todos os – poucos – garotos com quem ela ficou chegaram nela e ela não precisou fazer basicamente nada) com . Tinha que tomar coragem, afinal àquele era o último ano dele na escola. Depois daquele São João, ela já podia dar adeus ao garoto.
Então fez questão de chegar mais cedo na quadra, pois sabia que os tutores sempre faziam uma reunião antes da aula no primeiro dia pra confirmar que todos sabiam a quem iriam ensinar e se tinham alguma dúvida. Só burocracia mesmo, todo mundo ali sabia exatamente o que fazer.
Entrando lá, viu a reunião acontecendo na arquibancada oposta a que ela estava, mas não foi difícil de encontrar no meio do restante dos alunos. Não era difícil encontrá-lo em qualquer lugar. Ele também notou a presença de e deu um daqueles sorrisos que a faziam ficar de pernas bambas. , que estava ao lado da amiga na hora, percebeu e comentou.

- Cuidado pra não se estabacar no chão, hein? Não iria pegar bem você caindo na frente de tooodo mundo. – Ela riu e lhe deu uma cotovelada de leve rindo também.

Elas se sentaram onde estavam mesmo e ficaram conversando besteiras até a reunião acabar.

- Amiga, o boy ta vindo pra cá, aja naturalmente – sussurrou e começou a rir como se elas estivessem falando de alguma coisa muito engraçada.

Mas como ela falou muito baixo, não entendeu do que se tratava e só olhou de cenho franzido para a amiga, sem fazer ideia do que estava acontecendo. rolou os olhos pensando no quão lerda ela era e apontou discretamente com a cabeça para o garoto que estava se aproximando. se virou para ver o que era e acabou levando um susto ao ver tão perto. Como estava sentada na ponta da arquibancada, ela acabou tropeçando nos próprios pés e caindo em cima do menino.

- Opa, cuidado, menina – falou enquanto a erguia - Não vai dar pra dançar com a perna quebrada.

Ela riu, mas a verdadeira vontade era de cavar um buraco no chão e fingir que nada daquilo tinha acontecido. “Boa, , cai em cima dele mesmo, é desse jeito que você vai conseguir conquistar ele”, ela pensou e se controlou para bufar apenas em pensamento.

- Então, eu vou indo nessa, meninos. Aproveitem por mim – disse já se afastando.
- Não vai ficar pra aula? – o garoto perguntou.
- Não, não, eu tenho curso daqui a pouco. Só vim pra ter certeza que não iam colocar a minha amiguinha com qualquer um – ela fez uma voz fininha e apertou a bochecha de . – Mas “coincidentemente”, todo ano ela acaba com você, não é mesmo? Acho que eu não preciso me preocupar então.

Naquele momento, já estava tão vermelha quanto um tomate. E percebendo a “leve” indireta que havia deixado no ar, sorriu e respondeu:

- Pois então, se depender do destino, ela vai estar sempre em boas mãos.

arregalou os olhos, sem ter certeza que entendeu direito o que o garoto dissera, mas não teve muito tempo para ter certeza, pois o restante dos alunos começaram a chegar e foi embora, a deixando ser arrastada por até o meio da quadra.

↞∗∗∗↠

- Breaking news! gritou no telefone. Era só o que ela sabia fazer.
- Boa noite pra senhorita também – respondeu enquanto colocava o celular de volta no ouvido.
- Primeiro eu quero saber como foi a aula. Não é possível que você tenha simplesmente deixado passar o que ele disse antes de eu sair.

O pior era pensar que sim, ela tinha deixado passar. Até tentou trazer o assunto de volta quando a aula terminara e ele ficou com ela na entrada do colégio, esperando a mãe da menina chegar para buscá-la. Mas a timidez falou mais alto e só conseguiram falar de assuntos do colégio e em como ambos odiavam o novo professor de geografia.

- Ah, , você sabe como eu sou péssima com essas coisas – escutou a amiga bufando do outro lado da linha.
- Ta, não é como se eu já não tivesse imaginado. Mas sim, eu tenho uma notícia sobre seu boy. - A garota, que antes estava deitada na cama, se sentou bruscamente imaginando que notícia poderia ser.
- Desembucha.
- Aparentemente ele disse pra um amigo que está se interessando por uma menina – começou a dar um gritinho extremamente agudo, mas antes que pudesse concluir, a amiga a interrompeu – Calma, eu disse uma menina, não sei se é você. Eu acho que sim, né, porque, na minha sincera opinião, ele não ia gastar o tempo de terceiro ano dele com qualquer uma. Mas como ele não disse quem era a tal criatura pro amigo, ninguém sabe. Além de que, esse amigo falou que achava que era alguém da sala dele...
- Calma aí, . Primeiro de tudo, quem é esse amigo? – a garota perguntou com uma voz maliciosa. Sabia que a amiga tinha um caso mal acabado com , um dos meninos do 3ºA.
- Essa informação é irrelevante para a história.
- Hm... Parece que eu não sou a única com crush no terceiro ano. – ela riu enquanto bufava.
- Ta, , se não quer saber, o problema é seu.

E ela desligou, fazendo a amiga gargalhar e ter certeza de que ela estava falando de . Ficou preocupada que ela poderia estar realmente chateada, mas conhecendo , ela provavelmente já teria esquecido no dia seguinte.
Ficou alguns minutos mexendo no celular só para passar o tempo até que estivesse com sono o suficiente para ir dormir. Até que escutou um barulho de notificação vindo do computador. Achou estranho, pois já era tarde da noite e, com exceção da amiga, não sabia de ninguém que lhe mandaria mensagem àquela hora. Sem muita coragem, se levantou para saber do que se tratava e seu coração palpitou ao descobrir quem era.

: Quais são as chances de você estar acordada agora?

“Ah! Ele me mandou uma mensagem! Ele nunca tinha me mandado uma mensagem antes. Só respondido, mas nunca iniciado uma conversa. Aaaah.... E agora? O que eu faço? Respondo agora e deixo ele pensando que estou sempre a postos quando ele querer falar comigo ou espero alguns minutos e corro o risco dele ir dormir achando que eu estou dormindo? Aah, eu não sei fazer isso!”, seus pensamentos estavam a mil. Ela realmente tinha sido pega de surpresa e não sabia como agir naquele momento. Mas o receio de que ele acabasse dormindo e esquecendo o que iria lhe dizer no próximo dia pareceu eclodir em sua mente, então resolveu acabar logo com aquilo. “Pra qualquer efeito, eu só estou acordada agora porque estava terminando um trabalho. Ou pelo menos é isso que ele vai saber.”

: Bem poucas, na verdade. Mas acho que hoje é seu dia de sorte.

: Ufa! Achei que ia levar um vácuo kkkk
: Kkkkk

: Mas sim, tava aqui aproveitando o único tempo livre que eu tenho na semana pra pensar na nossa próxima aula.
: Mas já? A gente teve uma aula hoje, .

: Eu sei, eu sei, mas eu fico empolgado kkkk

“Ele fica empolgado pra me dar aula!”, ela pensou. Provavelmente tinha mais a ver com a dança em si do que a companhia da garota, mas ela preferia acreditar na própria versão.

: kkkkk conte-me suas ideias.

: Então, já que toda vez a gente fica dançando a mesma música, porque depende do som da quadra, eu pensei que próxima sexta, podíamos falar com o grêmio e pedir pra irmos para a sala dos professores pra tentar umas músicas diferentes.
: Porque a gente só treina com forró pé de serra, mas o que tu provavelmente vai dançar mais é sertanejo, que é um pouco mais rápido. O que tu acha?

“O que eu acho de passar uma tarde trancada numa sala sozinha com ele? Eu seria completamente louca se dissesse não.”

: Seria ótimo. É bom que a gente sai daquela quadra, que eu morro de vergonha de dançar na frente de todo mundo...

: kkkkk besteira, menina, o resto das pessoas é que deviam ficar com vergonha de ter que dançar na sua frente.

Ela ruborizou.

: Mas procura umas músicas e me manda pra eu levar na sexta.

Lendo o pedido do garoto, lhe veio uma ideia. Poderia aproveitar pra ver se conseguia mandar uma música que falasse mais um pouquinho do que deveria. Talvez ele nem notasse, mas não custava nada tentar. Antes de responder, abriu uma nova aba no computador e começou a pesquisar músicas sertanejas.
Definitivamente, mandar indiretas não era seu ponto forte. Não conseguia decidir qual mandar e se mandasse várias, ele acharia que ela só estava dizendo as primeiras que estavam vindo à sua cabeça. Depois de cinco minutos fuçando a internet, ela decidiu mandar logo uma antes que ele achasse que ela só tinha visualizado e ignorado.

: Tem uma que eu gosto muito. Te Procurava de Novo, de Maiara e Maraísa. Dá uma ouvida pra ver se dá pra dançar.

Prendeu a respiração enquanto o via digitar alguma coisa e escutava a música saindo da sua caixinha de som.

Aonde é que você estava esse tempo todo?
Se eu não tivesse te encontrado, eu juro que te procurava
De novo, de novo, de novo

As reticências no chat apareciam e sumiam repetidamente, como se ele estivesse escrevendo e apagando as mensagens. Talvez tivesse sido direta demais e ele notara com facilidade. Ou talvez ele só estivesse procurando um jeito educado de dizer tchau, afinal, ele já tinha lhe dito o que queria.

: Ah, conheço essa. Tá ótima. Agora eu tava pensando em Antídoto, do Matheus e Kauan, também. Escuta que você vai gostar.
: Presta atenção no ritmo, na letra... Ela é bem boazinha.

“Opa, opa, opa, ele disse na letra??”. Ela sabia que não deveria ta imaginando aquelas coisas. Sabia que ia acabar quebrando a cara no final, mas quem se importava? Aquela sensação de que seu coração ia pular pra fora de sua boca era inexplicável. E, por mais trouxa que parecesse ser, era incapaz de tirar o sorriso de seu rosto.
Foi rapidamente procurar que música era aquela e seu sorriso só se alargou.

Ô menina, ô menina, ô menina
Até nossa loucura combina
Traz o seu abraço, eu levo o meu
Sorte é de encontrar e azar de quem perdeu vocês

Passei o dia todo pensando em você, ei, ei
Ainda não encontrei um antídoto pra te esquecer
Como que eu faço pra te tirar da cabeça
Se deu xeque-mate no meu coração?

Não era possível que ele não estava querendo dizer nada mandando aquela música. Até combinava com a mania dele em chamá-la de menina o tempo inteiro. Mania essa que ela achava a coisa mais fofa desse mundo valia ressaltar. Respondeu o garoto dizendo que iria escutar, mas que precisava ir dormir agora, porque já estava ficando tarde. Ela não conseguia mais continuar uma conversa. Seu coração batia rápido demais para ser capaz de falar algo com sentido. Então preferiu só deixar aquele assunto no ar, pois desse jeito era mais fácil voltar a ele quando estivessem sozinhos. E, ela agradeceu, não demoraria muito a acontecer.

↞∗∗∗↠

já estava um pouco impaciente. Tentava não roer as unhas enquanto seu pé balançava freneticamente demonstrando o quanto inquieta ela estava. Não era possível! A aula já tinha começado há mais de cinquenta minutos e nada de aparecer. Aquilo tudo estava muito estranho. Ele nunca tinha se atrasado antes e agora parecia que ele não ia nem aparecer.
O pior é que não tinha como simplesmente voltar para casa, pois tinha combinando com sua mãe que ela iria lhe buscar e, mesmo tentando lhe telefonar várias vezes, ela não tinha dado nenhum sinal de vida. Para não acabar dando um perdido na mãe e não ter que ouvir um sermão quando chegasse em casa, preferiu esperar. Ele podia acabar aparecendo no final das contas, não é?
Não tinha seu número, então a única coisa que pôde fazer foi enviar uma mensagem pelo Facebook e rezar para que ele estivesse com internet para pelo menos avisá-la que não tinha conseguido ficar à tarde no colégio. Porque ela sabia muito bem que estivera na escola naquele dia. Esbarrara com ele “acidentalmente” diversas vezes. A única coisa que lhe restava fazer era assistir o restante dos alunos dançando sentada na arquibancada enquanto esperava a hora passar.
Quando já havia perdido as esperanças, avistou o garoto adentrando o local esbaforido. Ele estava ofegando e suas bochechas, vermelhas.

- , mil desculpas – ele falou quando se aproximou da garota – Eu estava a caminho da quadra quando a Laurinha me chamou pra resolver uns perrengues de um trabalho que estamos fazendo. É sério, desculpa mesmo, não queria ter te feito esperar esse tempo inteiro.

Só quando ele falou no nome da garota, foi que percebeu que Rachel, uma menina da sala dela, vinha andando atrás do garoto. Ela disse alguma coisa sobre a culpa do atraso dele ser inteiramente dela, mas não prestou muita atenção. Sem conseguir disfarçar a decepção, ela só deu um sorriso de lado e respondeu que estava tudo bem.

- A gente pode ir pra aula, então? Ainda temos um tempinho antes que fechem a escola – ele lhe estendeu a mão e deu um daqueles sorrisos que fazia com que ela ficasse incapaz de negá-lo qualquer coisa. Então, só segurou na mão dele e seguiram para a sala dos professores enquanto se despediam de Rachel.

↞∗∗∗↠

- Ok, talvez eu tenha uma quedinha por falava no telefone enquanto a amiga gargalhava.
- Tá, agora conta uma novidade, . – colocou o celular no viva voz, o jogou na cama e voltou a pintar as unhas do pé.
- Você não ta entendendo o meu desespero. Isso é uma coisa horrível!
- Por quê?
- Porque o é todo tabacudo! Ele não consegue chegar em ninguém. A única razão pela qual conversamos é porque a gente pega o mesmo ônibus pra ir pro cursinho toda sexta-feira e porque eu que puxo assunto! Se dependesse dele, íamos o caminho inteiro, mudos.

riu enquanto terminava de passar o esmalte. Conhecia aquela história muito bem. Desde o ano passado, quando a amiga conheceu o garoto, era a mesma coisa. Ela dizia que estava a fim dele, tentava demonstrar, ele não percebia e ela acabava desistindo. Até a próxima sexta, quando eles passavam a tarde juntos de novo e ela voltava a dizer que estava a fim de . O pior de tudo é que o garoto não fazia a menor ideia e não entendia nenhuma indireta que mandava.

- Você já tentou dizer pra ele? Tipo, na lata?
- Você é louca? Primeiro, que é provável que nem mesmo assim ele entenda. Segundo, que se ele entender, é capaz de nunca mais olhar na minha cara de vergonha. – ela continuou dizendo razões para aquilo ser uma péssima ideia, mas ambas sabiam que com aquela era a única solução se ela queria ter ao menos uma chance – Mas chega de falar de mim, como foi sua aula, senhorita ? – ela disse com uma voz maliciosa.
- Ah, nem fala esse nome que eu estou completamente frustrada – voltou a pegar o celular, tirando do viva voz e o colocando de volta no ouvido.
- Ué, por quê?
- Porque hoje ele simplesmente chegou faltando meia hora pro horário da aula acabar e quinze minutos depois minha mãe ligou perguntando se eu podia sair mais cedo porque ela já tinha chegado. Eu não ia falar que não, né? Ela já faz um sacrifício enorme pra conseguir me buscar – ela bufou se lembrando dos acontecimentos do dia.
- Mas por que ele chegou tão tarde?
- Parece que ele teve que terminar um trabalho com aquela Rachel da sala dele. Ela até foi lá me pedir desculpa pelo atraso dele.
- Rachel, é? falou com um tom meio esquisito e a amiga estranhou.
- Ela mesma. Algum problema?
- Problema nenhum...
- Conta outra, . Eu te conheço, vai, o que tem de errado?
- Você não vai gostar de saber, ...
- Desembucha
- Tá bom, tá bom. Mas não diga que eu não avisei, hein? Lembra que tinha me dito que tava gostando de uma garota... E que ele desconfiava de uma... fez um “uhum” com a boca, sem gostar muito do rumo daquela história – Então, acha que ele tá a fim de Rachel.

mordeu o lábio inferior, tentando digerir o que a amiga tinha acabado de contar. Não era possível, não podia ser. Eles só estavam fazendo um trabalho juntos, não tinha nada de mais entre aqueles dois. Ponderou um pouco, mais com medo da resposta do que pelo que qualquer outra coisa, mas resolveu perguntar logo.

- Hm... E por que ele acha isso?
- Bom... De acordo com , eles vivem grudados agora. Passam todas as aulas conversando, chegam e vão embora juntos... Não sei, ... Mas eles podem ser só amigos, né?
- Uhum... – ela respondeu já murchinha. Não queria acreditar, na sua cabeça aquilo era tudo imaginação da amiga. Em todos aqueles anos ela nunca soube de nenhuma garota que pudesse estar interessado e estava muito bem daquele jeito. Nunca passara pelos seus pensamentos que um dia iria descobrir isso. Muito menos que iria ficar tão destruída com a notícia.
- Ta tudo bem, amiga? Ta vendo, sabia que não era pra ter te contado. Não liga pra isso, , é só o que acha. Ele não precisa tá certo. tentou lhe consolar, mas não foi muito efetivo.
- Eu to ótima, . Não é nada de mais mesmo... – ela mentiu – Enfim, acho que vou indo nessa. Amanhã preciso acordar cedo pra fazer compras com minha mãe.
- Okay... Qualquer coisa me liga, beleza?
- Beleza. Tchauzinho, baby.
- Tchauzinho, baby.

Bufando, jogou o celular na cama e passou uns dez minutos o encarando. A bad começou a chegar e, diferente do que costumava fazer quando isso acontecia, ela só se deitou e deixou que aquela sensação ruim lhe atingisse. Era horrível, ela sabia. Mas também sabia que nada que fizesse tiraria aquilo da sua mente.
Quando estava quase dormindo, ouviu um som de notificação vindo do computador. Na hora, resolveu apenas ignorar, podia ver no outro dia. Mas o barulho, por mais curto que tivesse sido, havia espantado seu sono e mesmo revirando algumas vezes na cama, não conseguiu recuperá-lo. Já que não ia dormir mesmo, se levantou para ver o que era, mas se arrependeu no mesmo instante que descobriu.

: Oh, , me desculpa por hoje, de verdade. Não queria te deixar na mão. Uma pena que sua mãe chegou mais cedo, e a gente ficou com menos tempo ainda :/. E o pior de tudo é que semana que vem já é a última aula, porque a próxima é a festa... Mas juro que vou fazer o possível pra te compensar. Desculpa mesmo.

Ela visualizou, mas não conseguiu pensar em nada pra responder. Normalmente se forçaria a dizer qualquer coisa só para ele saber que ela não a estava ignorando, mas naquele momento não estava com cabeça pra formular uma resposta qualquer, principalmente pra ele. Então só fechou a tela do computador e voltou pra cama, desejando nunca ter tido aquela conversa com .

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não apareceu na última aula.
Isso mesmo, pode chamá-la de infantil ou de qualquer variação de imatura. Mas não fez isso por vingança. Ela só não sabia se conseguia passar uma tarde inteira com ele, era tortura demais. Principalmente porque tirou a semana pra observar se era verdade o que havia dito. E era.
Sabe quando você gosta de uma pessoa e quando a encontra no meio do corredor, parece que todo o resto some e você só consegue enxergar ela? Então, ela descobriu que isso podia ser um grande problema, pois como você não vê mais nada, não consegue ver justamente quem está do lado da pessoa.
E Rachel estava. O tempo inteiro. Quando chegava, quando saía, na hora do intervalo. Pôde jurar que teve um dia que ela o estava esperando do lado de fora do banheiro masculino.
Depois disso e da ignorada que lhe deu no Facebook, não conseguia encará-lo. Então inventou uma dor de cabeça pra mãe na sexta-feira e nem apareceu no colégio. Não sabia se alguém iria avisá-lo nem se ele pensaria que ela estava fazendo aquilo para lhe dar o troco, mas preferia que ele achasse isso que soubesse a verdade.
De noite, pensou em mandar uma mensagem dizendo que tinha ficado doente, só para lhe dar uma explicação. Percebeu que estava online e passou uns quarenta minutos, no mínimo, com seu chat aberto, pensando em alguma coisa pra digitar. Em um momento, viu as reticências aparecerem do lado do nome dele e fechou o computador instantaneamente, com medo de receber uma mensagem e visualizar na mesma hora.
Mas mesmo abrindo a tela, minutos depois, não recebeu nenhuma notificação. Ele devia ter desistido. Então, ela desistiu também.

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A semana passou se arrastando, quase parando. Mas finalmente chegou de novo a sexta-feira e com ela a tão esperada festa de São João. As aulas pela manhã eram canceladas, pois desse jeito o grêmio e alguns alunos poderiam decorar o colégio para que de tarde, todos pudessem aproveitar.
O humor de ainda não era dos melhores, então passou pela sua cabeça faltar naquele dia. Mas lhe deu um sermão com aquela sua vozinha fina, que aparece quando ela está indignada, e para fazer ela se calar, concordou em ir.
Se olhando no espelho, depois de se arrumar, até ficou feliz por um momento por ter cedido aos pedidos da amiga. Gostava muito daquela festa para faltar por um garoto e, não era por nada, mas estava se sentindo bonita demais com aquela camisa xadrez aberta e aquela bota que chegava perto do joelho.
Chegando a escola, se juntou com alguns colegas de turma e ficaram conversando enquanto ela olhava ao redor para ver a decoração, mesmo sabendo internamente que seus olhos procuravam uma pessoa e não as bandeirinhas do lugar. Tentou prestar atenção na conversa que estava rolando, mas sentiu alguém a cutucando.

- Oii, – quando se virou, viu uma menina do terceiro ano sorrindo pra ela, lhe estendendo um papelzinho na forma de um coração.

Todo ano, o terceiro ano ficava encarregado de cuidar da barraquinha do correio elegante, desse jeito eles podiam arrecadar dinheiro para a formatura deles. Era ótimo quando se era mais nova e não conhecia ninguém do último ano. Mas naquela altura do campeonato, todos eles já sabiam pelo menos que ela existia, então era um pouco constrangedor saber que quem tava entregando sabia justamente quem tinha mandado.
Ouviu os amigos zombando de sua cara por ter recebido um bilhetinho e suas bochechas ruborizaram enquanto ela pegava o papel da mão da menina.

Se tu quiser
Poemo um poema bem cheio de rima
Acendo a estrela mais bonita lá de cima
Faço tudo que puder pra tu ficar
Mais eu

- O quem te escreveram? – perguntou maliciosa.
- É só uma música – ela respondeu guardando o papel no bolso e olhando pra amiga com uma cara como se dissesse “eu sei que foi você”.
- Ei, eu tava do seu lado o tempo todo, nem olhe pra mim.

Encarou a amiga por alguns segundos, percebendo que realmente não poderia ter sido ela e tentando pensar em quem estaria tentando tirar uma com sua cara.
Não teve muito tempo para chegar a uma conclusão, pois quando olhou para a barraca do correio, encontrou quem estava procurando desde que tinha chegado. Um sorriso começou a se formar involuntariamente no seu rosto, mas ele murchou assim que virou seu olhar um pouquinho pro lado. não estava sozinho.
Balançou a cabeça, tentando pensar em outra coisa e chamou para irem ao banheiro. Mas no caminho, outra menina do terceiro ano lhe parou.

- Eita, alguém ta mesmo querendo seu coraçãozinho, hein, baby? - brincou enquanto lia o que tinha escrito nesse.

Veja só, você é a única que não me dá valor
Então por que será que esse valor é o único que eu quero ter?

- Outra música... E é a mesma letra – ela disse colocando o papel junto do primeiro depois de ter mostrado a amiga.
- Você não acha meio estranho, não? – lhe olhou como se duvidasse. – Tipo, eu sei que a maioria desses bilhetinhos é de zuação, mas quem pararia pra mandar dois?
- Alguém que está com muitas moedas e não conseguiu pensar em outro nome pra escrever.
- Mas, amiga, você não ta entendendo. Quem manda isso, escreve umas cantadas quaisquer. Essa pessoa escreveu letras fofinhas de músicas, e não de músicas aleatórias. Músicas de forró.
- Ta, detetive, onde você ta querendo chegar? – cruzou os braços sem entender.
- Oh, baby, você já foi mais esperta, hein? Quem é que você conhece que adora forró??

Ela ainda não estava entendendo. Franziu a testa enquanto sua mente vagava pelos rostos de todos os alunos da sua sala, procurando um que pelo menos gostasse de forró e que poderia se interessar minimamente por ela, mas não conseguiu pensar em nenhum. Até que veio um estalo na sua cabeça.

- , você só pode estar louca – ela saiu caminhando para fora do banheiro enquanto sentia a amiga a seguir.
- Bem, pode não ser verdade, mas faz sentido. Eu estou apenas juntando os fatos.
- Que fatos? – as meninas ouviram uma voz conhecida e se viraram para ver quem era. No mesmo momento, sentiu as bochechas esquentarem.
- , meu querido, que bom que você está aqui. – falava enquanto recebia um olhar de reprovação da amiga - tava falando que por sua causa, ela não pôde faltar o curso nas últimas semanas e não teve como ir pras oficinas. Agora ela ta aqui sem querer dançar, porque disse que não aprendeu nada.

O garoto riu e falou que já que a culpa era dele, ele podia tentar ensinar uns passos pra ela pra se redimir. A garota ficou ainda mais vermelha e antes de dizer qualquer coisa, só sentiu um empurrão de para ela ir logo. só deu de ombros e estendeu a mão, que a segurou prontamente. Enquanto ele a arrastava para o meio da improvisada pista de dança, olhou para a amiga cruzando os dedos como se dissesse “me deseje sorte” e a viu repetir o gesto.
riu balançando a cabeça. Quando percebeu que estava do lado da barraca do correio elegante, pensou em mandar alguma coisa. Mal não iria fazer e ela estaria contribuindo com o terceiro ano no final das contas.
Pegou um papel e uma caneta, mas não sabia exatamente o que escrever. Receosa que alguém notasse o nome que já tinha escrito na frente do coração, só colocou a primeira coisa que veio à sua cabeça e entregou junto com o dinheiro.
Resolveu voltar para o grupo de amigos que estava no início da festa, mas foi parada no meio do caminho.

- Tá disputada, hein ? – a garota disse enquanto lhe entregava outro papel em forma de coração.

Sem saber o que dizer, só segurou o bilhete e esperou a menina se afastar para abri-lo.

Como que eu faço pra te tirar da cabeça
Se deu xeque-mate no meu coração?

- Recebeu muitos bilhetinhos hoje? – ela escutou aquela voz rouca perto do seu ouvido e sentiu o corpo inteiro arrepiar. Era indescritível o poder que só aquela voz tinha sobre ela.

Se virou pra falar alguma coisa, mas perdeu o fôlego no mesmo instante quando percebeu o quão próximo ele estava e o quão bonito ele estava também. O garoto usava uma calça jeans meio surrada, uma camisa preta e uma camisa xadrez azul praticamente da mesma estampa da dela aberta. Foi difícil segurar um suspiro.

- Nem tanto assim – ela respondeu olhando pros próprios sapatos.
- Eu recebi um só, mas não faço ideia de quem tenha mandado – ele mexeu um pouco nos bolsos procurando o bilhete e a entregou como se perguntasse se ela sabia de quem era.

Queria que você fosse mais do que um amor de junho...

Reconheceu sua própria caligrafia, mas só respondeu dizendo que não sabia lhe ajudar, lhe devolvendo o papel. Ele balançou a cabeça e voltou seu olhar para a pista de dança. Sem saber o que fazer, ela só olhou para o mesmo lugar e um silêncio reinou entre eles, até quebrá-lo.

- Você não apareceu sexta... – ele estava encarando algum casal dançando, mas ela conseguiu ver pelo canto do olho que ele segurava um sorriso.
- É, eu não tava me sentindo muito bem... – ela mentiu.
- E CHEGOU A HORA MAIS ESPERADA DA TARDE, GALERA! AGARREM SEU PAR E SE JUNTEM AQUI PORQUE A QUADRILHA JÁ VAI COMEÇAR – algum integrante do grêmio falou no microfone e vários casais foram para o meio da pista, formando um círculo e esperando a música começar.

Ela se virou para , vendo o mesmo repetir o resto. Se encararam por um instante e sorriram.

- Então, menino... Você vai ser meu par nesse dia? – ela perguntou se aproximando.
- Eu mesmo. A senhoria me da à honra desta dança? – o garoto fez uma reverência, lembrando-os do dia em que se conheceram.

fez o mesmo e ele pegou em sua mão, a levando pro meio da pista. A música se iniciou e os casais começaram correndo em um círculo, até que quem estava no microfone, comandando a quadrilha, gritar balancê e os casais virassem um de frente para o outro, para dançarem.
Estava tudo muito divertido e até viu e dançando juntos. Mas em certo momento, que até hoje não se sabe ao certo se foi proposital ou não, mesmo jurando que foi um acidente, que no meio da dança, os dois tropeçaram nos próprios pés, caindo para fora do círculo da quadrilha. O garoto, que caiu por cima, se apoiou pelas duas mãos para não fazer peso nela e a encarou nos olhos. Nessa hora, todo o fôlego de já tinha ido embora e tudo o que ela conseguiu fazer foi olhar para a boca de quando ele fez o mesmo.
Ninguém pareceu notar ou ao menos se importar de ter um casal se beijando no chão da pista de dança. Afinal, quem eram eles pra falar qualquer coisa se tudo o que eles mais queriam era um par?
E o mês de junho chegava ao fim. Era a hora de muitos casais se despedirem. Mas não aquele. Aqueles dois viraram a prova de que amores de junho podem dar certo. E virar o amor de todos os meses do ano.

Fim.



Nota da autora: (14/07/2017) Aaaaah, e acabou gente! Eu espero que vocês tenham gostado da minha primeira short. Sempre quis escrever alguma coisa relacionada ao São João, que é uma das minhas épocas preferidas do ano, mas nunca tinha parado. Aí quando saiu o aviso do especial, eu pensei “essa é minha chance, agora eu não tenho mais desculpa”. Enfim, é isso. Qualquer crítica ou sugestão, podem falar comigo e se quiserem, eu ainda tenho outra fic aqui no site (They Don’t Know About Us), deem uma olhada lá. Beeeeeejo <3.




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