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A Outra


última atualização: 30/01/2017





Capítulo único


23/10/2014

– Eu preciso ir , é uma ótima oportunidade de emprego, mas, lembre-se, eu volto, serão só seis meses! Deixe de drama. – sempre me dizia que eu era dramático, mas qual o problema de fazer drama quando se vai ficar longe da mulher da sua vida? Ela finalmente conseguiu a vaga de emprego que tanto se preparou pra conquistar, mas eu, um cara que estava inseguro naquele momento, não queria aceitar. Estava feliz por ela, mas não a queria longe. Demorei tanto para tê-la em meus braços pra agora ela ficar longe? Eu não tinha muito o que fazer, sempre quis ser cantora e conseguiu entrar pra banda de um cantor e será backing vocal dele. Sei muito bem como é isso porque também canto e possuo duas na minha banda. E, confesso, já olhei com maldade pra elas, quem nunca?
– Eu só não quero você longe de mim... – abaixei a cabeça.
– Você se esquece de que quem fica longe de mim é você. Quem é o cantor que mais faz shows por esse Brasil, hein? – alisou meus cabelos olhando em meus olhos. Até se despedindo ela consegue ser meiga e linda.
– Não é a mesma coisa, eu sei que você vai estar aqui me esperando de braços abertos, mas pra quem eu vou voltar agora? Você também vai estar na estrada. Sabe a probabilidade da gente se encontrar pela estada? Zero! – joguei meu corpo no sofá, olhando para o nada.
, meu amor, nós teremos férias, para de dificultar as coisas! Você não está me ajudando, docinho – Não me chama de docinho que você me amolece mulher! Pensei apenas, não queria dar o braço a torcer. Mas a olhei suplicando piedade. – Quem foi que me ensinou que só quem sonha consegue alcançar? – replicou.
– Você podia muito bem ser minha funcionária. Era só eu falar com meu pai e as coisas aconteceriam pra você.
– Pra que? Pra eu ouvir de todos que só estava lá por ser sua namorada? Não, obrigada. Eu prefiro conseguir as coisas por esforço e merecimento. Amor – olhou-me nos olhos –, eu amo você, mas eu preciso seguir meu sonho. Poderemos nos ver se realmente quiser, sabe que farei de tudo pra estar com você – ela completou, mas algo me dizia que aquilo não ia dar certo.


29/05/2015

E não deu, cinco meses depois e por telefone, ela terminou comigo dizendo que foi efetivada no emprego que seria temporário e que estavam com um novo projeto de DVD e que não sobraria tempo pra nós dois. Como assim? Gravei um DVD ano passado e tivemos tempo um para o outro, como agora ela não terá tempo pra mim? Ok, nos vimos poucas vezes e ainda menos na época de produção do meu DVD, mas ela entendia meu trabalho, sabia como me dedicava aos meus fãs e tudo o que fazia para eles. Nosso último encontro foi na minha casa e não fazia nem um mês. Seu cheiro ainda estava lá. Não era justo.
Desde então não tinha dormido direito, minhas noites, que já eram praticamente em claro, tornaram-se realmente assim, eu troquei a noite pelo dia. Tentei voltar minha vida de solteiro, a mídia caiu em cima de mim, inventavam vários affairs, nenhum era verdade, mas eu deixei rolar. Não impedia e nem desmentia os boatos. Eu não podia mostrar fraqueza, minhas fãs surtaram e outras até comemoraram, mas por elas eu tinha que estar bem. Não comentava muito nas entrevistas sobre o assunto – depois de um ano de namoro, todos a conheciam, principalmente quando ela começou a trabalhar como vocal de um famoso cantor. Nos últimos dias soube por pessoas do meio, sim eu tento sempre ter notícias dela, que ela poderia estar envolvida com outra pessoa. Alguém da produção. Como pode um cantor deixar seus funcionários se envolverem? E desde então eu simplesmente não estava conseguindo dormir. Meus pensamentos estavam uma bagunça, mais um fim de noite acordado. Não era problema pra mim, mas quando eu estava em turnê... Dias de folga eram pra descansar, certo? Pois é, não era toda noite de folga que eu conseguia dormir tranquilamente, demorava pra pegar no sono. Hoje, por exemplo, era uma delas.
Decidi chamar meu amigo pra sair, porém mal ficou na boate e o canalha já se deu bem. Deixei a chave de casa com ele e disse que iria de taxi depois. Que se dane que as pessoas me reconheceriam, seria apenas uma distração pra mim, um motivo pra não pensar nela. Cheguei em casa de manhã, tomei um banho demorado a fim de relaxar e me joguei na cama. O sono, por incrível que pareça, me tomou por completo e eu apaguei.


17/06/2015

Senti uma mão afagar meus cabelos, inclinando seu corpo de encontro ao meu, nossos lábios quase se tocaram, com as mãos delicadamente a afastei para o lado, virando-me de costas para ela que sorriu.
– Não entendo – o som daquela voz chegou ao meu ouvido.
– Não quero compromissos. Nem tão pouco me apegar. Desculpe.
– Ela é tão importante assim pra você? – mais uma vez o som daquela voz chegou aos meus ouvidos, causando-me arrepios.
– Sim – não queria prolongar a conversa.
– E por que você não vai até ela? – senti mais uma vez seu afago. Ultimamente era a companhia de todas as noites.
– Medo talvez, ela parece tão bem sem mim – fechei meus olhos com o coração acelerado só de imaginar a cena.
– Então vai continuar assim pra sempre, ou até você tomar coragem. – Quem diria um cantor que fala de amor com medo de amar...
Apertei mais uma vez os olhos e meu coração parecia não caber mais no peito de tão forte que batia. Acordei assustado olhando para o lado encontrando a cama vazia. Era assim que eu me encontrava. Vazio sem ela. Eu não aguentava mais aquilo, dormir naquela cama me lembrava ela e o que tanto me agradava, hoje não fazia bem pra mim.


23/06/2015

O sol ultrapassando a minha janela não me agradava em nada. Maldita hora que decidi sair da minha cama e vir dormir na sala. E, pra ajudar, uma preguiça maior de fechar as cortinas, me fez acordar com o sol na cara. Ouvi passos pelo corredor e como queria que fosse ela, mas não era. Era apenas meu amigo vindo tentar mais uma vez me consolar.
– Cara, tu ainda tá dormindo? Vamos levanta daí, o dia tá lindo! – Pedro chegou à sala sorrindo, no mínimo sua noite tinha sido boa. Ao contrário da minha.
– Não, eu to bem aqui. Me deixe dormir mais um pouco, boi. E fecha essa cortina. – respondi ríspido.
– Eita, mal humor, achei que sua noite tinha sido boa, ouvi umas coisas... – coçou a nuca.
– Que coisas? Eu fico ouvindo o que você faz por acaso? – eu realmente estava mal humorado.
– Nada, por um instante achei que você estivesse acompanhado, mas não ouvia as respostas, deixe pra lá. – Meu amigo levantou do sofá rodeando o colchão que eu trouxe pra sala, vendo a garrafa de whisky que me acompanhou por toda noite, agora vazia.
– O que é, não se pode nem ficar bêbado em casa mais? – agarrei a garrafa vazia. Eu ainda estava bêbado.
– Claro que pode, a casa é sua. To indo fazer um café o farei mais forte hoje pra você curar essa ressaca! – Meu amigo saiu pisando firme até a cozinha. E esse era eu pisando na bola...
Tínhamos saído à noite pra relaxar e meu amigo garanhão ganhou uma garota linda, que me causou inveja, tentei me ajeitar também, não consegui. Não conseguia me envolver, era sempre algo superficial, mas nenhuma valia levar pra minha casa. Como cheguei depois do meu amigo deitei na cama exausto, mas a cama estava vazia e os lençóis ainda com o cheiro dela. Não ia conseguir dormir e decidi ir para a sala, tomei uma dose de Whisky e mais outra e mais outra. Quando dei por mim, era mais uma noite em claro por causa dela. Droga, mais uma noite...

Pedro me chamou para o café e eu sem graça corri para a cozinha, fiquei sem graça ao ver meu amigo se despedir da escolhida da noite. Quando Pedro retornou, eu já tomava meu café. O olhei de soslaio. Ele ria feito criança, ao contrário de mim.
– Você está precisando de mulher, caro amigo! – Pedro pegou uma das minhas torradas.
– Eu sei muito bem, mas não quero me envolver.
– Não precisa se envolver, você sabe muito bem disso. Vai ficar até quando nessa fossa?
– Tô tentando... – mordi minha torrada e tomei meu café em silêncio e o mesmo continuou a falar, ele não atendeu meu singelo pedido.
– Ei, descobri ontem que sua amada fará um show aqui na cidade. Vamos?
– Ela não faz show, ela é backing – resmunguei e ele riu. Ele até estava certo, mas eu estava chato e resmungão.
– Não interessa, o que importa é que ela está na mesma cidade que você, o que já é milagre e você pode ir, você é o , quem vai negar sua entrada no show? – só levantei meu olhar, ele não estava falando sério, estava?
– Não acho boa ideia – tentei negar. Só de imaginar vê-la e não poder tocá-la, ou simplesmente ter a certeza de que ela já estava com alguém, me doía o coração.
– Já era, irmão, falei com um pessoal aí e nós vamos. Não aguento mais você aí sem ninguém, se lamentando, se fazendo de forte pra mídia. Vocês podem sim estar juntos.
– Não acredito nisso – meu coração acelerou com a possibilidade.
– Eu acredito e nós vamos. Quer que eu chame umas modelos pra nos acompanhar? Ela vai morrer de ciúmes e vai vir falar com você.
– Não vou fazer ciúmes a ela, nem vou vê-la. Vou te acompanhar ao show.
– E vamos ao camarim, ela estará lá. Vamos, boi, deixa de ser cabeça dura! – Pedro insistiu.
– Eu já disse que vou – respondi escondendo minha animação. Eu tinha um plano.

***


Após o show, Pedro me carregou até o camarim para falar com algumas pessoas, a imprensa estava por lá e com certeza especulariam sobre uma reaproximação entre mim e . Mas não me importava, vê-la cantando naquele palco me deixou estonteado, eu conhecia seu talento, mas presenciar foi estarrecedor, como ela evoluiu desde o dia que a vi pela última vez. Realmente, se o cara não a contratasse, eu a contrataria. E o corpo dela? Mudou tanto, de minha menininha para uma cantora. Em tão pouco tempo... Ela realizou o sonho dela.
Chegamos ao camarim e eu suava frio. Ali eu não era o , era apenas um cara de vinte e poucos anos querendo reconquistar sua ex-namorada e que queria loucamente matar a saudade dela. Cumprimentamos a todos que estavam no recinto, deixei por último propositalmente, ela me olhava espantada, não esperava minha presença ali, garanto. Aproximei-me dela sorrindo, não terminamos com problemas, eu achava. Aceitei numa boa, não foi? Acredito que não faria mal algum falar com ela.
– Oi, ! – sorri.
– Oi, , tudo bem? – não foi uma boa pergunta.
– A verdade? – respirei fundo.
– Sempre – ela estava receptiva, seria minha chance.
– Então a resposta é não. Não tô nada bem.
– Não é o que a mídia diz – desdenhou.
– E você ainda acredita no que ela diz? – ela me olhou sem graça, parecia saber que a mídia nem sempre diz a verdade, quantas vezes discutimos por causa de mentiras ditas por ela. – Seu perfume ainda paira sobre meus lençóis, como conviver com isso, ? Depois que você foi embora eu só tenho tido uma companhia... – ela bufou e praguejou um “sabia”, mesmo não querendo demonstrar, duvido que não fosse ciúmes, mas tinha curiosos por perto, ela não daria o braço a torcer. Ignorei sua insatisfação e continuei provocando, eu a conhecia, era ciúmes, seria arriscado, mas eu continuaria... – Toda noite eu tenho medo de acordar com ela me olhando, ela sempre me lembra tanto você, mas eu não a quero, eu quero você – ela parecia não prestar mais atenção ao que eu dizia, estava funcionando. – O que foi? Você não acredita mais em mim? – segurei em seu queixo elevando seu olhar até o meu.
– Eu até queria, mas se você mesmo disse que tem tido uma companhia, não entendi o porquê de você estar aqui me contando tudo isso – ela não olhava mais em meus olhos, percebi que queria chorar, não deixaria uma lágrima sequer rolar.
– Sei que você está curiosa e louca pra me perguntar de quem estou falando... – continuou a afastar seu olhar de mim. – Ei, olha pra mim. Você quer saber?
– Acho que não ia conseguir conviver com essa informação, . Vamos fazer o seguinte, eu vou viver a minha vida e você pode continuar a sua com quem quer que seja, está bem? Eu preciso ir agora, a van está lá fora me esperando – mentira dela, todos ainda estavam ali. Ela ia fugir de mim, não ia deixar.
– Deixa de ser boba. Vou te contar – finalmente olhou em meus olhos, os dela estavam marejados, parecia se preparar para a pior notícia da sua vida. – Quem está no seu lugar, quem roubou meu coração, se chama solidão. – Ela sorriu não acreditando no que acabara de ouvir, estava estampado em seu rosto. Não contive a vontade e a puxei para meus braços a apertando forte. – Eu não consigo mais ficar longe de você, . Eu suporto passar alguns dias sem te ver porque tenho a certeza que nos veremos em outros. Mas saber que não a veria mais, não a teria em meus braços foi o fim pra mim – ela chorava em meus braços. – Tive que me manter forte, seguir em frente.
– Seus fãs me matariam se você ficasse sofrendo por aí – riu de si mesma.
– Provavelmente, mas eu sofreria duplamente. Não posso mais ficar sem você – se soltou de meus braços olhando em meus olhos e sorriu.
– Então tá esperando o que pra matar a saudade que eu to de você? Eu também não posso viver sem você, . Eu tentei voltar atrás, mas as notícias me reprimiram. Se você estava bem, não faria sentido eu querer voltar, faria? – minha vez de sorrir.
– Claro que faria! – Segurei sua nuca e delicadamente a puxei pra mais perto, cedendo ao seu pedido de matar a saudade. Ouvi palmas, alguns gritos e assobios pelo camarim e inclusive som de flashes, com certeza seríamos noticia no jornal e revistas de fofocas. Mas, quem liga?
Nos beijamos apaixonados sem nos importar com o que viria a seguir. Éramos só os dois outra vez.

Fim



Nota da autora: Meu Deus, eu escrevi essa fic há um ano! E sim só agora estou postando. Eu precisava de uma cena pro final, mas ao reler não achei mais necessário. Espero não ter decepcionado vocês. ;)
Fiquem a vontade pra comentar. Não sejam timidas!
Muito obrigada por ter lido até aqui. Bjos da Cherry. (13/12/16)




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