Finalizada em: 28/11/2019

1. Flashback

Não me leve a mal
Mas você não me tem
Eu não sou um chapéu
No armário de alguém
Não valho um real
Também não valho cem
Eu sou problema meu.
– Clarice Falcão (Eu sou problema meu).

Quinze dias, era exatamente esse tempo que eu não dormia direito, revirava na cama, sonhava, acreditava e desacreditava. Agradecia a Deus pela ótima fase na minha vida. Desde que saiu as especulações da lista para copa do mundo feminina na Nova Zelândia, por onde eu passava alguém comentava algo, gritava desejando sorte.
– As convocadas vão se socializar antes da viagem? – Perguntou uma prima minha.
– Não. – Disse. – Segundo as conversas, a goleira que sempre é convocada, vai organizar algo antes da apresentação a imprensa do país. – Respondi sem tirar os olhos da televisão.
– E se você não for convocada? – Perguntou uma tia.
– Haverá outras vezes. – Respondeu minha mãe. Eu queria que esse momento fosse apenas entre meus pais e meus avós, porém o restante da família se auto convidou e apareceram, o que me deixava desconfortável era a negatividade, como se eu não fosse capaz de conseguir.
– Silêncio que vai começar. – À medida que a lista ia sendo lida pela treinadora Pia, a euforia e ansiedade me faziam tremer, se meu nome não estivesse ali, eu realmente ia me sentir frustrada, mas isso significaria que eu teria que me esforçar mais.
– Atacantes. – Anunciou na televisão. – Andressa Alves – Barcelona (Espanha); Cristiane – São Paulo (Brasil); Debinha – North Carolina Courage (EUA); Geyse – Benfica (Portugal);Ludmila – Atlético de Madrid (Espanha); Marta – Orlando Pride (EUA); Raquel – Sporting Club Huelva (Espanha).– Faltava apenas um nome quando me bateu um ligeiro desespero, as convocadas na parte atacantes coincidentemente bateram com os da copa de 2019, aquilo indicava que meu nome não poderia estar naquela lista. – E (Sport Club Corinthians Paulista – Brasil.). – Foi o suficiente para gritos, confetes e abraços serem estourados naquele cômodo. Eu ainda permanecia estática vendo o meu rosto na televisão. Eu seria atacante da seleção brasileira.



2. Coletiva

Se eu quiser o relógio que você está usando
Eu comprarei
A casa onde eu moro
Eu comprei
O carro que estou dirigindo
Eu comprei
Eu dependo de mim.
–Destiny’s Child (Independet Women).

Não era minha primeira coletiva, toda apresentação de clube se tem uma, mas desse modo era a primeira.
– Bom vamos começar? – Perguntou o diretor, recebendo um aceno da treinadora.
– Boa tarde, Pia Sundhage, as nossas meninas da seleção, a todos os companheiros e a todos os dirigentes. – O primeiro repórter se pronunciou. – Pia, foi difícil montar esse time?
– Non, todas mostraram un ótimo desenvolve mento. – Tentava o português. – São a cara da seleção.
– A Marta é a veterana da seleção. – Olhou para ficha. – Seis vezes eleita melhor jogadora pela FIFA, e a primeira mulher entre tantos homens a ter seus pés na galeria do Maracanã. – Concluiu. – Qual a sensação?
– Foi um momento muito emocionante quando pude eternizar meus pés no Maracanã. – Respondeu.
– Na sua última entrevista com a seleção, você disse. – Foi a vez da representante da Globo. – Abre aspas, “Não vai ter uma Formiga para sempre, uma Marta, uma Cristiane. Pensem nisso, valorizem mais. Chorem no começo para sorrir no fim”, fecha aspas. – Olhou para a jogadora. –Vocês agora estão sem a Formiga, e ainda resta a Cristiane, é o momento das outras se destacarem?
– Desde os últimos jogos, outras meninas vêm se destacando, naquele momento eu me referi, ao fato de sermos veteranas, lutando para o reconhecimento, tentando fazer história. Me chateia o fato de não termos conseguido esse título com a Formiga.
– Sobre o preconceito em mulher jogar futebol, alguma de vocês teve algum na própria família? – A representando da SPN
– Eu já falei uma vez sobre isso para uma revista. – Começou Camilinha. – Quando eu tinha por volta de uns 6 ou 7 anos de idade, morávamos atrás da casa do meu tio. Então, ficávamos na parte de trás e ele tinha um pátio muito grande na frente da casa dele. Neste pátio, a gente brincava de tudo. Meu irmão andava de bicicleta, minha irmã também brincava e eu estava lá também. Eu gostava muito de jogar bola. Eu ficava lá com a bola de futebol o dia inteiro e, nessas brincadeiras que eu fazia diariamente, teve um dia que eu estava jogando bola sem camisa na frente da casa dele, ele foi para a janela do quarto e falou: “Pezão, vai colocar uma camisa e pare de jogar bola”. Foi desta forma que ele falou. A minha mãe ouviu isso e se sentiu muito ofendida. Eu era muito nova, não entendia nada e não sabia dessas coisas, então, eu continuei brincando. Já a minha mãe ficou muito chateada com isto. Ficou muito brava. Durante alguns anos, a minha mãe não teve mais contato com o meu tio por conta disto. Foi por conta deste preconceito, por me chamar de “pezão” e pelo fato de eu ser uma menina jogando bola. Eu só queria brincar e me divertir! Meu tio estava sendo preconceituoso comigo…– Fez uma pausa. –Ao longo desses anos, depois que eu entendi o preconceito que ele teve comigo, não consegui tratar o meu tio da mesma forma que eu tratava antes. Nós mudamos de residência, fomos para outro lugar, e eu não tive mais vontade de voltar na casa do meu tio e não tinha mais vontade de conversar com ele. Ele sempre duvidou da minha capacidade, de onde eu podia chegar e em qual momento da minha vida eu chegaria no patamar que estou hoje. Ele nunca acreditou nisso. Então, eu não conseguia levar ele a sério e nem conseguia ficar perto dele, pois eu lembrava da cena, lembrava do quão triste a minha mãe ficou com aquilo e isso me chateava muito. Depois de alguns anos, quando eu fui para a seleção brasileira sub–20 em 2013, ele não falou nada comigo. Em 2014, que eu ainda estava nas categorias de base e fui jogar no profissional, o meu tio quis ter um contato comigo. Perto do final de 2014, ele me pediu desculpa por tudo que tinha feito e pela forma que tinha falado, né? Ele sabia que estava errado, mas ele falou que sempre acreditou em mim e sabia que eu ia chegar longe porque meu pai e minha mãe me apoiam muito. Eu sabia que ele tinha preconceito e não acreditava em mim, mas são coisas que a gente acaba relevando e eu sou adulta o suficiente para esquecer essa mágoa e ter uma relação tranquila com o meu tio. – Sorriu. – Hoje, somos melhores amigos e ele é da minha família. Ele me pergunta muito como que eu estou jogando, se eu estou bem, se eu estou chutando com as duas pernas ou não, como está a minha vida nos Estados Unidos e como está a seleção brasileira. Inclusive, há fotos minhas espalhadas pela casa dele. Mudou muita coisa. De um tio que tinha preconceito comigo há um tio que agora me admira e está feliz por mim.”
– Marta, você acha que desde a última copa, com o seu discurso, mudou alguma coisa? – Aproveitou o gancho da pergunta do colega.
– Pouca coisa. – Começou. –Ainda teve piadinhas sobre a minha fala. – Ajeitou o microfone. – Sobre as estrelas na nossa camisa ser do futebol masculino, e que agora já foi resolvido. – Apontou para nova camisa da seleção, aguardando a primeira estrela. –Os homens não aceitam o fato da independência da mulher, a sociedade ainda é voltada para o esporte masculino, o que eu espero que daqui para frente fique para trás como o desastre governamental do país.
– O que vocês acham do termo bastante usado para dizer que a mulher joga futebol. –Band perguntou.– Macho fêmea? – A primeiro momento a pergunta não fez nenhum sentido.
– São termos taxativos. – Atrai a atenção de todos. – Já está taxado o que é de homem o que é de mulher, esse esporte é de homem, essa faculdade é para menina. – Tentei explicar. – Muita gente diz que se um homem faz um curso de moda, é estilista, isso quer dizer que ele é homossexual, assim como nós, se jogamos futebol somos as “macho fêmeas”. – Fiz aspas pelo termo usado. – Vem da imposição do que querem que fazemos e agimos.
– Você vê algum problema em ser chamada assim? – Retrucou.
– Primeiro que isso é uma falta de respeito, uma profissão não vem com a escolha sexual, a profissão vem do coração, aquilo que você ama fazer. – Esclareci.– Por que quando um menino pede uma boneca aos pais, não pode ser levado em conta que ele quer ter uma filha, ser o pai de uma boneca, assim como uma menina é mãe? –Questionei. – Quando uma criança pede uma panelinha para mãe, para poder brincar, muitos taxam e condenam a atitude dos pais se for positiva, mas se vocês olharem programa de culinária, olhar pelos grandes Chefs de cozinha, a grande maioria são homens e a mulher sofre preconceito ali. – Disse. – Além de não fazer nenhum sentido a frase “lugar de mulher é na cozinha”, essas atitudes reforçam essa ideia sem pé e sem cabeça. Podemos dizer que mudou alguma coisa desde dois mil e dezenove, todo pequeno passo que seja, é um avanço, mas ainda temos muito para frente.
– Vou aproveitar a última pergunta e continuar com você . – Arranhou a garganta. – Você por ser de uma geração mais nova já sofreu muito para ser do mundo da bola?
– De onde eu vim, não se acha time de futebol feminino, você joga com os meninos e aguenta todas aquelas piadinhas que diz mais sobre a criação da criança, ou você acha algumas pessoas que queiram treinar, mas quando acha é para o futsal. – Respondi. – Eu desde novinha gostei de futebol, meu irmão nunca gostou, meu pai comprava coisas para ele, levava para o jogo, igual os companheiros de time, mas ele não gostava. Então meu pai viu que eu gostava e investiu em mim. – Sorri.– Não houve uma distinção por parte dele, agora na escola, na educação física ou recreio, mulher não podia “atrapalhar” os meninos a jogarem, ou jogava vôlei na quadra com sol quente, ou peteca, dama e essas coisas, porque se não tinha que fazer prova para não reprovar.
– Agradecemos a presença de todos. – O dirigente falou.
– Boa sorte e boa viagem a todas. – Desejou a repórter da Band News.



3. Nova Zelândia/Wellington

Que um homem não te define
Sua casa não te define
Sua carne não te define
Você é seu próprio lar.
–Francisco, El Hombre.
(Triste, Louca ou Má).

- Vamos estar nessa mesa, meninas, qualquer coisa aqui é o ponto de encontro. – Avisou Marta.
Segui algumas meninas para pista de dança com um copo na mão, eu era muito tímida sóbria para querer dançar e socializar com qualquer outra pessoa que não fizesse parte de um grupo. A voz sensual da Shakira começou a sair pela caixa de som, e meu corpo acompanhou em uma perfeita sincronia, enquanto as outras faziam uma roda entre elas em uma tentativa de dança. Meus olhos percorreram até uma mesa mais afastada e com pouca claridade, fitando um par de olhos azuis que parecia não acompanhar o assunto na sua mesa, sorri, mas me repreendi em seguida na tentativa de ser sexy.
- Posso te pagar uma bebida? – Perguntou. Mostrei meu copo ainda cheio, em forma de uma negação. – . – Se apresentou.
- . – Respondi de volta. Nossos corpos se encaixaram como a letra na melodia da música. Segurei em sua nuca e não demorou para que eu o beijasse. Já era a terceira música que estávamos dançando.
- No segundo andar tem uns quartos, podemos ficar a sós. – Mordeu meu lábio inferior. Concordei. Contive na pergunta de como ele sabia desse detalhe, ele foi até o bar cochichando algo e voltou com uma chave, me guiando até a porta de númerotreze, o meu número.
Então nossos lábios se encontraram, iniciando um beijo lento e calmo que foi ganhando forma em urgência, minhas mãos foram até sua blusa, puxando para cima e se livrando, não demorou e meu vestido foi ao chão. Afastei um pouco de seu colo para desabotoar sua calça.
– Não tão rápido, jogadora. – Em um instante passou em minha cabeça que um estrangeiro poderia me reconhecer, mas certamente que não. Fui colocada deitada de barriga para cima, sua boca descia do meu pescoço, passando por meus seios enquanto sua mão fazia todo o contorno de minha cintura. Com uma de suas mãos ele foi abrindo minhas pernas, massageando meu órgão por cima da calcinha e sem esforço algum a rasgou. Se eu tivesse com plena consciência brigaria por ter que ir embora sem.
– Nem começamos ainda. – Sua voz no pé de meu ouvido arrancou arrepios. – Preciso que você empine a bunda. – Me levantou, fazendo ficar de quatro na cama. Começou a passar os dedos por um caminho até minha bunda, depositando um tapa ali, me arrancando um gemido.

Me esquenta com o vapor da boca e a fenda mela.
Imprensando minha coxa na coxa que é dele
Dobro os joelhos e imploro o seu líquido
Me quer, me quer, me quer, e quero ver seu nervo rígido.

Seus lábios enfim tocaram minha vagina, chupando-a.
– Puta merda. – Gemi. Seus dois dedos me penetravam, após alguns movimentos espasmos começaram a passar por todo meu corpo, fazendo-o parar, urrei em reprovação. Com minha mão livre segurei seu pênis levando minha boca até ele, ajudando no movimento, começou a guiar meus movimentos segurando minha cabeça, fazendo com que eu colocasse tudo que podia na minha boca. Ele foi em direção de sua calça jogada no chão e abriu sua carteira pegando um preservativo. Sua boca foi de encontro com a minha, deslizando sua língua por meus lábios, pedindo passagem, sua mão direita apertava meu seio brincando com seu bico, desceu seus lábios ao meu pescoço, deixando um chupão ali e um rastro de saliva quente. Abriu a camisinha com os dentes e colocando em seu membro, deslizando na minha entrada, forcei meu quadril, enlaçando minhas pernas em sua cintura. Após algumas investidas naquela posição novamente, fui colocada de quatro, levou sua mão até meus cabelos, unindo-os em sua mão, os puxando enquanto investia com rapidez em mim. Curvou seu tronco sobre o meu, largando meus cabelos e levando sua mão até meu pescoço, o segurando, seus movimentos ficaram mais fortes, eu estava chegando lá. Seus gemidos em meu ouvido me incentivavam a rebolar, sai daquela posição puxando-o para cama e me sentando em cima, comecei a cavalgar, sentindo sua respiração pesada em minhas costas. Não demorou muito e atingimos nosso limite.
- Preciso ir. – Falei me vestindo. – Minhas amigas devem estar me procurando.
- Até mais, . – Acenou. Sai daquele quarto seguindo reto pelo corredor, tentando achar a saída para o bar.
- Onde você estava, Thaisa? – Perguntei disfarçando.
- Estava na cobertura. – Mostrou o telefone. – Minha família me ligou, para falar que deu problema nas passagens, mas que eles conseguem chegar para o jogo de estreia. – Falou. – Caminhamos até a mesa encontrando as outras.
- Até que enfim vocês apareceram. – Debinha.
- Onde vocês estavam? – Perguntou Geyse.
- Estava procurando a Thaisa para irmos embora. – Menti.
- Estava resolvendo um problema. – Respondeu a meia.
- Vamos embora então. – Olhei para trás e nem sinal daquele homem, ótimo.



4. Oitavas

Eu estou prestes a te dar todo o meu dinheiro
E tudo o que eu estou pedindo em troca, docinho,
É dar–me o que é meu por direito
Quando você chegar em casa (só um, só um, só um, só um)
Sim, querido (só um, só um, só um)
Quando você chegar em casa (só um pouquinho)
Sim (só um pouquinho)
De respeito.
–Aretha Franklin – “Respect” (1967)

A oitava para nossa seleção tinha um peso maior, a nossa adversária era a dona da casa, a poucos centímetros em fila estavam duas seleções com necessidades distintas dessa vitória, quem saísse vitoriosa desse conflito enfrentaria a seleção Holandesa, e se dependesse das jogadoras e técnica não seria a nossa.
O jogo estava muito travado, prendido a dois sistemas defensivos fortes, quem conseguisse entrar na grande área do outro, esse já teria uma grande chance da vitória. Aos trinta e oito do segundo tempo, ânimos a flor da pele, a torcida gritando e técnicos exaltados. Bola rebatendo de um lado para outro até achar os pés de Rosie White que dribla Thaisa e cruza para Hassett na entrada da pequena área, Yaya chega correndo em uma tentativa de carrinho, mas acaba derrubando a jogadora.
Penalidade máxima a favor da Nova Zelândia, enquanto as jogadoras decidiam quem iria bater, o arbitro anota o cartão amarelo de Yaya. Riley se prepara para bater, ajeita a bola, toma distância e apita a juíza, a bola com força foi para cima da trave para a arquibancada.
Tiro de Meta para nossa seleção, Mônica sai com a bola e passa para Thaisa que tenta jogar para Marta, mas White corta. Lateral para o Brasil, Joyce é chamada discretamente por Pia, que cochicha algo em seu ouvido, e em seguida ela corre em minha direção pedindo para invertermos de posição. Lateral cobrado de Debora para Cristiane, Cristiane passa para Joyce que recua o passe para mim, uma tentativa de cruzamento para dentro da área que bate na coxa da jogadora da Neozelandesa, mas Marta domina e corre livre para área, chutado direto para o gol, a bola vai leve e rápida, balançando a rede entre as pernas da goleira. O gol de misericórdia. Os próximos nove minutos restantes demoraram mais que os oitenta e três. Faltando apenas um minuto para o jogo se encerrar, o perigo se instalou em um contra-ataque inesperado, Ali Riley roubou a bola quase na saída da área da Barbara, Passou para Sara Gregorius, nessa hora não tinha nada que eu podia tentar fazer, apenas fechei meus olhos, sussurrando Pênalti não, para os pênaltis não... Escutei apenas o apito final, quando abri meus olhos a nossa goleira estava caída no chão com as outras jogadoras em cima. Era oficial, estávamos indo para as quartas.



5. Redes sociais

Vamos dirigir pela cidade em meu Cadillac
Meninas na frente, meninos atrás
Livres, leves, soltas e estamos à procura de diversão.
–Kesha – “Woman”

Desde um dia antes do jogo, as redes sociais estavam fervendo com declarações polêmicas de algumas jogadoras e da própria técnica da Holanda, elas narraram o nosso jogo pelo twitter particular, e depois do final do jogo ainda continuaram. A nossa treinadora Pia tinha pedido para que não entrássemos na pilha delas. Muitas de nós tínhamos desinstalado as redes sociais, deixando apenas um meio de conversar com nossa família.
– Dá uma vontade de responder um “vai tomar banho” para esse povo. – Cristiane falava entretida no celular.
– Você ainda tem esse aplicativo? – Perguntei.
– Recebi esse print de algum grupo. – Respondeu.
– Já disse para vocês non caírem nas provocações delas. – Pia chegou. – Ainda mais perto do confronto.
– Vou encaminhar para vocês. – Recebi a notificação. – Pode ficar sossegada, treinadora, estamos concentradas.

Seleção feminina é fraquinha.... se fossem os homens tinham goleado esses holandeses #WorldCup⚽ 
— Erik (@erik38563)

Todos nós sabemos que foi na sorte essa classificação do Brasil.#WorldCup
⚽ 
— Jill Roord #19 (@roordjill)

Goleira frangueira, já sabemos por que passaram!!#WorldCup
⚽ 
—Jansen (@reantejansen)

Reply:@reantejansen“Goleira frangueira, já sabemos por que passaram!!#WorldCup
⚽”
Vão voltar sem o título.
—Sarina Wiegman (@coachsarinawiegman)

Às quartas estão aí, e pelo histórico, já sabemos quem passará.#WorldCup
⚽ 
—Sarina Wiegman (@coachsarinawiegman)

Eu não sei por que elas ainda insistem em jogar#WorldCup⚽ 
—Karolzinha (@karolpikena)

Reply: @karolpikena “Eu não sei pq elas ainda insistem em jogar#WorldCup

Já começara a fraquejar kkkk
— Carlos (@silva.silvacarlos)

Bom dia povo dos Países Baixos, cheiro de vitória no ar.#WorldCup
⚽ 
—Lize Kop (@LizeGR)

Lugar de mulher é com a barriga no tanque. #WorldCup
⚽ 
—Nothin (@Ellizz)

Reply: @Ellizz “Lugar de mulher é com a barriga no tanque”
Lugar de mulher é onde ela quiser, #Brilhaseleção#WorldCup
⚽ 
—Louise (@MandsY_)

–O que mais me desanima, é que ainda tem gente que invés de torcer por nós, ficam debochando. – Falou Camilinha.
– Eu fico me coçando para não sair respondendo. –Cristiane coçou a cabeça
– Por isso que eu desinstalei todos aplicativos de redes sociais do meu celular. – Falei. – E, silenciei todos os grupos no WhatsApp. – Acrescentei.
– Já até vejo falando que é mais do que nossa obrigação esse título. – Bufou Debora.
– Não aguentei e tive que dar rt no último tweet do print. – Disse Debinha.
– Meninas. – A treinadora começou a bater palmas chamando nossa atenção. – Vamos, vamos, deixem isso, treino.



6. Quartas

Disfarça e segue em frente
Todo dia até cansar
E eis que de repente ela resolve então mudar
Vira a mesa, assume o jogo.
–Pitty – “Desconstruindo Amélia”

O frio na barriga e a tensão era inevitável, não era a primeira vez da seleção em uma quarta de final, mas não podíamos dizer que existia a calma ali. No vestiário predominava o silêncio, todas com seus uniformes azuis celeste.
- Preparadas? – Pia entrou perguntando. – Eu não estou aqui para dizeres que estamos apenas para nos divertir, estamos em una competicíon, carregamos uma grande bagagem, preocupações, obrigações, expectativas e cobranças. Viemos com time comprometido, mostrando o nosso futebol. Sabemos que não foi fácil chegar até aqui, não será, em nenhum momento eu quero colocar pressão em vocês. – Falou. – Eu quero que vocês joguem com o coração, que carreguem nele apenas a esperança, esperança de quem em algum lugar, em algum momento tudo isso será lembrado. Somos um time? – Perguntou.
- Somos o Brasil. – Gritamos.
- Está na hora, vamos. – Saímos do vestiário em direção ao túnel, as Holandesas já se encontravam em fila.
- Pia Sundhage. – Chamou Sarina. – Vim apenas desejar boa sorte.
- Te desejo o mesmo, Sarina. – Sorriu saindo de perto.
- Chegamos até aqui e não foi em vão, vamos mostrar o que é uma seleção. –Veenendaal puxou um canto.
- Chegamos até aqui e não foi em vão, vamos mostrar o que é uma seleção. – Repetiu o restante da equipe.
- Boa tarde a todas. – A equipe de árbitros e auxiliares chegou. – Queremos um jogo limpo, com respeito, sem provocações. – Aquele juiz parecia tão familiar. Assim que seus olhos encontraram com os meus um arrepio passou por minha espinha, era o cara da balada. Suas sobrancelhas arquearam enquanto ele me encarava, seu relógio apitou chamando sua atenção. – Está na hora.
Noventa minutos era possivelmente o tempo mínimo que eu ficaria dentro de campo, a cada lance perto da grande área ele estaria por perto.
O Hino nacional brasileiro terminou de tocar, Barbara puxou a fila dos cumprimentos a equipe de arbitragem e as adversárias, apertei a mão de brevemente sem olhá-lo. Tentei não prestar atenção nenhuma em alguma provocação que poderia ser dita por qualquer uma das onze.
Apesar da Seleção Neerlandesa possuir o melhor ataque da competição, a marcação estava muito cerrada, quase trinta minutos de jogo, muitas faltas e poucos cartões, apenas conversas. Em um contra-ataque com uma bola roubada por Spitse, uma base de calcanhar para Groenen, que foi desarmada pela Fabiana, mas logo em seguida recuperada pela Miedema, cruzamento no lado esquerdo para Sanden, a bola encobriu a goleira Barbara no seu canto direito. Holanda 1 x Brasil 0.
Em dez minutos após levarmos um gol, não conseguíamos nos aproximar do gol da adversária, aos quarenta três minutos Sanden novamente balança as redes da nossa goleira. Holanda 2 x Brasil 0.
Primeiro tempo encerrado, seguimos para o vestiário não dando espaços para os jornalistas.
- Mantenham o foco e a calma, meninas. – Gritou Pia. – Alterações, Bruna no lugar de Kethellen. A defesa tem que apertar mais, só que temos que aproveitar o momento de confiança e roubar a bola. – Rabiscava um pequeno quadro branco. – Precisamos de três gols para não irmos aos pênaltis.
De volta aos gramados com apenas uma modificação feita por nós, o jogo mal tinha começado e em um tiro de meta Veenendaal falha no chute e a bola fica nos pés de Marta, que dribla a goleira e faz Brasil 1 x Holanda 2. A marcação teria que ser severa, elas, com certeza, iam querer buscar aumentar a diferença, as faltas começaram a ficar mais duras, alguns cartões amarelos começaram a aparecer, mas haviam lances que mereciam o vermelho. Aos vinte e dois minutos, Cristiane se infiltra na pequena área neerlandesa, em uma tentativa de passe para Joyce, que estava livre, a bola bate nas coxas de Roord e entra por baixo das pernas de Veenendaal.
Saída de bola holandesa, Van Es passa bola para Jackie que articula com Spitse que tenta o passe, mas acaba tendo que recuar pata Lunteren, chega Mônica e faz o corte.
Yaya abre na lateral passando, Bruna tenta ganhar velocidade chega Miedema no corte e pega o calcanhar da zagueira. Miedema já possui cartão amarelo, os comentaristas esperariam outro cartão amarelo e a expulsão dela, mas teve apenas advertência verbal e uma ameaça de que na próxima seria um cartão vermelho. Bruna ainda está caída no gramado, a equipe de primeiros socorros entra para passar um spray para dor. Enquanto isso algumas de nós vamos perto da treinadora, aproveitando para beber água e escutar alguma orientação.
- Cuidado com o empurra, empurra. – Aconselhou. – Yaya, tenta ficar próxima da Bruna, com essa pancada.
Cobrança de falta para o Brasil, Thaisa cobra, cruza para Tamires e acha Yaya, que procura para quem jogar, Sandem me marcando e puxando minha camisa, me desvencilho dela tentando ficar livre, recebo passe com o caminho livre para tentativa de cruzamento, Miedema chega na divisão corpo a corpo e acerta uma cotovelada em meu rosto, que caio no chão sentindo um líquido quente descer.
O Juiz se aproxima repreendendo a jogadora e se agacha do meu lado para saber o que aconteceu, começa uma pequena confusão entre jogadoras enquanto sou atendida. Levanto-me, retiro o gelo e enxugo o meu rosto em uma toalha úmida, Miedema está do outro lado do campo conversando com a treinadora e sorrindo. Nessa hora sinto o meu sangue esquentar e vou na direção do árbitro cobrar o cartão vermelho.
- Eu não acredito que você não expulsou aquela estúpida. – Soltei.
- , fica calma. – Pede Marta.
- Fica na sua, brasileira. – Jackie aproxima.
- É inadmissível essa sua atitude. – Aponto o dedo. – Se você é um incompetente que não sabe apitar, nem deveria ter aceitado a convocação. – Rosno.
- Juiz , esse lance nem era para acontecer, era para essa jogadora ter sido expulsa quando pegou a perna da Bruna. – Cristiane falou. Ele tira o cartão amarelo do bolso e aponta para minha direção. Viro as costas xingando-o ainda, quando Miedema vem correndo na direção da aglomeração, paro no lugar da falta cometida e fico observando, enfim ela ganha o segundo cartão amarelo recebendo o vermelho. Provavelmente pela minha atitude pelo cartão, Pia não me colocaria em um próximo jogo se houvesse.
Fabiana pede para cobrar a falta vou em direção a área com um gosto de sangue na boca, cuspo em seguida. Falta cobrada em chute forte direto para área e GOOOOOOOOOOOOL. Brasil 3 x Holanda 2.
Saio para lavar o nariz, enquanto jogo ainda rola.
- , quero conversar com você depois. – Avisa a treinadora.
- Falta quanto tempo? – Pergunto para o auxiliar.
- Dois minutos para os quarenta e cinco. – Olhou no cronômetro.
- Vou enrolar um pouco aqui. – Avisei.
- Acho melhor uma substituição, ele deve dar uns cinco minutos de acréscimo. – Alertou.
Após os três minutos volto para o jogo, e surpreendendo a todos, o jogo é encerrado sem nenhum acréscimo. Brasil classificado.
- uma palavrinha sobre o jogo? – Pedia um repórter brasileiro. – Como continuou a jogar e sobre a vitória.
- O jogo foi bastante tenso, nós tentamos a todo momento conseguir nosso espaço, e quem conseguiu ficar mais com ele obteve a vitória. – Falei. – Na força do ódio, porque ainda está latejando e escorrendo um pouco.
- O jogo foi levado para um lado muito agressivo, vai lá garota cuidar desse nariz. – Se despediu.



7. Vestiário

Faz questão de se cuidar
Nem serva, nem objeto
Já não quer ser o outro
Hoje ela é um também.
–Pitty – “Desconstruindo Amélia”

– Que jogo. – Suspirou Andressa antes de entrar no chuveiro.
– Meu pé parece estar dormente. – Comentou Marta.
– Ainda não me acostumei com esse pé feio. – Barbara caçoou. – Demorou no banho, , pensei que eu ia ficar sem água.
– Aproveitar a água quente nos músculos. – Respondi ainda secando o cabelo com a toalha.
– No hotel te empresto o meu gel para dor muscular, é um grande alívio. – Debinha apareceu de toalha.
– Esse nariz precisa de um gelo. – Marta me avisou.
– Obrigada. – Agradeci. – Vou esperar vocês com a Pia. – Avisei. Meu nariz estava uma mistura de dormência com latejo, eu nem queria tocá-lo.
– Ela está furiosa com o seu comportamento. – Geyse que ficou no banco comentou.
– Provavelmente não vou jogar na semifinal. – Estava saindo do vestiário sozinha, quando sinto uma mão em meu braço.
– Você não pode entrar aqui. – Alertei quando reconheci.
– Eu precisava falar com você. – Respondeu. – Você não comentou nada com ninguém? – Perguntou com um sussurro.
– Achei que pela indiferença no campo você tinha entendido o recado. – Disse seca.
– Eu não posso me complicar, se a FIFA descobre algo, estou perdido. – Passou a mão pelos fios de cabelos desalinhando.
– Primeiro, eu não comentei com ninguém sobre algo que não tem relevância. – Enumerei. – Segundo, que isso não prejudicaria apenas ao senhor, seu árbitro, assim como minha seleção. – Encarei. – E terceiro, essa sua atitude sim nos prejudicaria, pois além de ser no descaramento, a seleção adversária tem uma grande rixa com a gente e as atletas estão a pouca distância.
– Eu me certifiquei antes de vir. – Me cortou. – Estão todas no ônibus.
– Se era só isso. – Apontei para o corredor. – Pode se retirar antes que alguém chegue.
– Eu congelei, eu não sabia que você era jogadora de futebol e muito menos que tinha sido convocada para copa. – Falou. – Fiquei com medo de alguém me acusar de estar facilitando o jogo para o Brasil por sua causa. – Tentou se justificar.
– Se fôssemos olhar por um breve histórico desse jogo, daria uns quarenta minutos que eu fiquei apanhando, boa parte do jogo. – Soltei ácida.
– O que você queria que eu fizesse? – Perguntou. – Na minha cabeça estava passando um filme de alguém ter visto a gente.
– Você deveria ter punido as jogadoras como qualquer outro juiz, mas não só de conversinha enquanto eu cheia de hematomas. Além de ter me dado um cartão amarelo.
– Você me xingou e me deu o dedo do meio, . – Tentou argumentar.
– Ela socou o cotovelo com força na minha cara. – Apontei para o meu nariz, que por si só chamava atenção. – E você só a expulsou porque caímos matando em cima de você.
– Eu não podia deixar você me desrespeitar também, né? – Bufou. – E eu já iria expulsá-la, antes do seu bando me rodear, e você começar a me xingar e gritar.
– Se você ficou desconcertado por me ver, o problema é todo seu. – Respondi. – O mínimo que você tinha que ter sido, era profissional dentro daquele campo como eu fui. – Tentei manter a calma. – Só de saber que não será você na final, já me sinto aliviada.
– Está impossível de manter o diálogo com você. – Soltou o ar. – Eu não vim aqui só para perguntar isso, eu vim pedir desculpas, você está certa eu não agi como um profissional.
– Anda logo que as outras já estão vindo. – Comecei a escutar as vozes.
– Não antes disso. – Senti seus lábios tocarem os meus, em um beijo rápido. – Boa sorte na semifinal, brasileira. – Saiu pelo grande corredor. Eu não poderia encontrar esse homem em nenhum lugar, eu não ia arriscar estragar o título da minha seleção por causa de um homem de uniforme preto, com cabelos alinhados e engomados.
– O que faz parada aqui? – Levei um susto.
– Pensando na nossa trajetória. – Balancei a cabeça. – Vamos? – Comecei a caminhar na frente para fora dali.



8. Semifinal

Eu hoje represento o segredo
Enrolado no papel
Como luz del fuego
Não tinha medo
Ela também foi pro céu, cedo!
–Rita Lee “Luz Del Fuego”.

- Bem amigos da rede globo, sejam bem-vindos a semifinal da copa do mundo feminina. – Apresentou. – Fernanda Gentil e Walter Casagrande.
- Boa tarde, Galvão, Casagrande e pessoal de casa. – Desejou. – Essa semifinal promete.
- Você acha Casão, que a mudança da Geyse no lugar da , vai mudar o esquema tático? – Perguntou o comentarista.
- A entrada da Geyse é por causa do cartão amarelo que a tomou de modo irresponsável.
- Foi no impulso. – Interrompeu Galvão. – E a Pia está apostando muito no 4-3-3.
- No caso ali houve toda uma situação e que pedia calma. – Respondeu.
- Ela já estava a tempo levando pancada, a jogadora adversária Miedema estava entrando duro, com intenções de machucar. E teve o lance a poucos minutos com a Bruna. – Cenas do jogo começou a passar. – Exatamente aí, ela consegue se desvencilhar de uma puxada de camisa, recebe a bola, a jogadora vem atrasada em um giro e acerta com tudo o cotovelo no nariz dela.
- Na maldade mesmo. – Comenta o veterano.
- A gente entende a revolta dela, porque a princípio o cartão deveria ter sido dado na hora, mas como mostra nas imagens, ela xinga o juiz, aponta dedo. É uma grande jogadora, mas tem que ter o controle emocional. – Completou Casagrande.
- Vai começar o hino nacional.
- As brasileiras saem com a bola, Monica, Erika que encontrou Thaisa tenta avançar, mas aparece Ellie que acha Kennedy sozinha. Bruna tira a bola. Kathellen sai jogando pela esquerda, Yaya, Thaisa se estica, mas é arremesso lateral.
- As jogadoras do Brasil conseguem ficar com a bola mais tempo. – Comenta Casagrande.
- A Pia já percebeu que esse sistema do 4-3-3 está funcionando perfeitamente na seleção. – Disse Fernanda. - E Galvão, a Bruna está se movendo normal, tornozelo está zero. – Observou.
- Vinte e cinco minutos do primeiro tempo. Gema, Tamika que manda para Fowler, que ainda não tinha aparecido no jogo, Allen arrisca o chute e na trave. – Gritou o comentarista. Barbara chuta para o meio campo, Thaisa domina, passe para Kathellen, Erika, Yaya se movimenta para receber, a bola bate nas pernas de duas australianas, rebate no pé da Geyse, Geyse chuta de esquerda e a bola fica com Mackenzie.
- O jogo está equilibrado, as duas equipes atacando e se defendendo. – Comenta Casagrande.
- O que não pode é o Brasil facilitar o ataque. – Fernanda.
- Olha a chance, olha a chance, e ela escorrega, Emily Van Egmond, escorrega e perde a chance de abrir o placar.
- É essa surpresa que eu falo, uma piscada e quase que as adversárias abrem vantagem.
- Mackenzie para Kennedy, Cristiane rouba a bola e GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL. – Solta seu famoso grito. – É do Brasil, da artilheira, Cristiane é o nome do gol.
- A seleção agora tem que começar a defensiva, são lances imprevisíveis os ataques de ambos os lados.
- Gema para Ellie, que devolve e sai jogando Gema, cruza para Alana, mas Monica cabeceia, domina Raso, Sam, Raso no meio de três, e é travada por Geyse, recebendo a falta. Cobrança perto da grande área. Essa cobrança pode ser perigosa, Fernanda. – Comenta.
- Aos quarenta minutos pode vir um empate, mas estamos torcendo para que não.
- As meninas têm que ter cuidado nas marcações para não começar a ter muitas faltas.
- Na cobrança da falta duas jogadoras, Fowler e Raso e apenas duas na barreira brasileira, Yaya e Thaisa. Apita a arbitra, Fowler corre, mas Raso bate e, espalma a goleira, que defesa da Barbara, no canto, foi no canto direito.
- Galvão. – Chama Nivaldo.
- Vamos ter quanto de acréscimo no primeiro tempo? – Perguntou.
- Ajuíza fez sinal para a quarta arbitra que não terá acréscimos, um jogo teoricamente tranquilo, apenas duas faltas, uma para cada lado.
- Apita Melissa Borja, fim do primeiro tempo. Brasil um, gol da Cristiane, Austrália zero. É a Globo no esporte feminino. Vamos para intervalo e voltamos já. – Show do intervalo Fernanda.
- São poucos lances escolhidos Galvão, mas todos bons. – Analisa. – Tem esse lance Hayley Raso, eu achei que tinha entrado essa bola.
- A própria Raso achou isso. – Acrescenta Casagrande.
- Esse lance do chute da Geyse não foi tão perigoso assim, a bola encaixou nas mãos da goleira.
- Que infelicidade da Van Egmond. – Casagrande. – O momento era dela, mas por um escorregão.
- Escorregão estranho esse, talvez uma poça de água no meio da grama.
- A! Esse lance. Que inteligência da Cristiane. – Elogia.
- E que vacilo da Kennedy. – Acrescenta. – Cristiane foi muito inteligente e feliz nesse lance, e quem não gostou nada disso foi o Ante Milicic, que puxou a orelha da Alana Kennedy.
- Essa cobrança de falta da Raso, ela fica meio apagada no jogo, mas quando pega a bola vira um bombardeio na área.
- Galvão. – Chama o repórter de campo.
- Fala, Nivaldo.
- Os times estão voltando para o gramado e tem algumas mudanças previstas. Não foi informado trocas de jogadoras, deve ser entre elas em posições.
- Eu esperava uma mudança no time da Austrália. – Fernanda interrompe.
- E a Emily Van Egmond vem de chuteira trocada.
- Começa o segundo tempo, Ellie chuta para Emily, que sai jogando com a Gema, que perde para Thaisa, Luana não achou ninguém, tenta o chute, ganha o lateral. Yaya cobra, Marta cabeceia domina, Kathellen corta Teignen, Fowler ganha espaço. Tamika para Sam, tenta para Emily, recebe, dribla Monica, cruzamento, espalma Barbara. Escanteio para Austrália. Quinze do segundo tempo. Clare para cobrança, cobrança liberada, chuta para área cabeceia Kennedy e gol da Austrália. Não valeu, não valeu.
- A bandeirinha está dando falta da Kennedy, na goleira Barbara. O Técnico Ante está pedindo o Var. – Casagrande.
- Marwa Range, está conversando com a quarta árbitra, ele vai pedir o VAR. – Galvão.
- Uma curiosidade, Galvão, os árbitros escolhidos pela fifa, apenas dois homens. que apitou as quartas do jogo do Brasil com a Holanda, e o Queniano Marwa, que coincidentemente apita outro jogo da nossa seleção.
- A quarta árbitra chega na cabine do var para analisar, Galvão. – o microfone do Nivaldo foi aberto.
- Eles estão discutindo se houve ou não houve a falta. – Galvão.
- Para mim analisando as imagens pelo var, houve sim, não sei se o Casa concorda comigo.
- A Clare cobre para Kennedy, que está na dividida com a goleira, ela pula para cabecear a bola e com a mão direita apoia no ombro da goleira impedindo uma defesa.
- O gol segue anulado. – Avisa Nivaldo.
- Cobra a falta Barbara, pro meio campo, Yaya para Kathellen, recuo para Erika, para Luana, toma a bola Ellie, Tamika,Teignen tenta sair mais é travada, Marta para Cristiane, encontra Bruna no meio do caminho, Thaisa, chega na dividida Clare, e leva a melhor. Alana, Gema, Teignen para ajudar, trinta e quatro do segundo tempo. Fowler está pedindo na direita, Kennedy recebe e cruza. Fowler domina, ensaia um chute, corta e na trave. – Surpreende o narrador.
- Essa inversão da Clare com a Ellie, está surtindo resultado, em vinte minutos de jogo, o Brasil teve pouca posse de bola. – Fernanda observa.
- Talvez seja hora de a Pia fazer alguma mudança. – Casagrande.
- Talvez a entrada da Fabiana no lugar da Luana, fazendo as duas funções.
- Mônica para Erika, Bruna recebe encurta o passe para Kathellen, acha Luana livre no meio, cruza para Geyse na entrada da grande área, posição irregular.
- Fabiana vem aí, Fernanda. – Nivaldo avisa. – No lugar da Thaisa que está com cãibras.
- Cinco minutos. – Fala o repórter.
- Vamos até cinquenta minutos, mais dez minutos de jogo. Luana, Fabiana já recebe, Erika pedindo. Van Egmond, para Teignen, Gema domina mal a bola, recupera Emily, passa por três, sai correndo para pequena área, mano a mano com Marta, Marta fica pelo caminho, chega Cristiane no corte e prende os pés da meio campista, que vai ao chão. As australianas reclamam, penalidade máxima, Casagrande.
- Marcação correta do Range, a jogadora consegue se desvencilhar de toda marcação pelo caminho, encontra com a Marta, que perde um pouco do fôlego, e a Cristiane numa tentativa desesperada de tirar a bola, dá um carrinho atrasado e pega o pé da Emily Van Egmond.
- Esse pode ser o último lance do jogo, e complicar a situação. – Comenta Fernanda.
- A capitã Sam Ker vai cobrar. O juiz marca com spray onde a bola tem que ficar, faz sinal para o apito, empurra, empurra de jogadoras. Ele vai lá conversar com elas. Marcação para um possível rebote de bola. Autoriza o arbitro, Sam para cobrança, corre para a bola, na trave, Fowler fica com a bola, chuta para o gol e espalma Barbara, pega o rebote um pouco mais atrás Tamika, Egmond, Raso chuta e para fora. Apita o juiz e se encerra a partida. Faz festa a seleção brasileira, dezesseis anos depois o Brasil volta a disputar uma final de copa do mundo feminina. Faz a festa a treinadora Pia, os dirigentes e auxiliares. Merecida a vitória, toda trajetória sofrida e amarga, choram as jogadoras, se abraçam deitadas no gramado.



9. Final

Eu quero ver
Você pular, você correr
Na frente dos vizinhos
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim.
– Elza Soares “Maria da Vila Matilde”.

- Boa tarde, amigos da rede globo. – Comentarista Galvão inicia. –Em instantes irá começar a final da copa do mundo feminina. Ao meu lado os comentaristas, Fernanda Gentil, Walter Casagrande, Nivaldo de Cillo perto dos gramados.
- Olha, Galvão, eu estou muito feliz que a seleção feminina tenha chegado até aqui. - Começa Fernanda. – A trajetória, todo trabalho da Pia.
- Jogão difícil, a Rússia só foi para copa do mundo duas vezes, o que podemos esperar, Casão?
- Com essa, se torna a terceira vez, sem nenhum título, o jogo promete. – Responde.
- Toda a equipe da arbitragem é feminina e está composta por duas brasileiras, são elas as bandeirinhas Neuza Back e Tatiane Saciolatti. De uniforme azul vem a seleção. Apenas em quatro jogos foi usado o verde e amarelo que é o oficial. Luz na passarela, que lá vem elas. – A imagem das duas seleções entrando no gramado, sorridentes e todas de batom vermelho.
- Galvão. – Chama Nivaldo. – Eu não sei se vocês ai de cima já viram, mas a jogadora Formiga, que foi convidada a fazer parte da equipe técnica, está no banco e ficará ao lado da treinadora.
- Estamos recebendo aqui imagens, de casaco preto bem tímida ali.
- Um grande reconhecimento, e agradecimento, é esse o significado do lugar da Formiga. Ela não estará dentro do campo, mas estará com elas perto do campo.
- E que uniforme esse da seleção, no meião hashtag jogue como uma garota e no calção escrito por vocês. – Observa Casagrande.
- Essa final chegou para dar seu recado. Vamos aos hinos nacionais.
- As brasileiras saem com a bola, Monica, Erika que encontrou Fabiana, mas aparece Kseniya e toma a bola, que acha Anastasia. Bruna retoma a bola. Kathellen sai jogando para Debinha, Fabiana tenta alcançar, mas é arremesso lateral.
- O técnico da Rússia apostou no quatro, quatro, dois, para tentar barrar a seleção. – Comenta Casagrande.
- Dez minutos do primeiro tempo. Yulia, Sofiya que manda para Ksenia, nesse time tem duas Ksenia, a Kseniya com ípsilon com sobrenome Kovalenko, e Ksenia sem ípsilon de sobrenome Tsybutovich.
- Galvão e tem duas Ekaterina também. – Disse Fernanda. – A meio campista Sochineva, e a atacante Pantyukhima.
- E a coincidência entre as Ksenias, é que as duas são zagueiras. – Casagrande.
- Bruna chuta para o meio campo, Fabiana domina, passe para Debinha, Erika, Luana recebe, , Geyse chuta para Marta, que é cortada. Marina para Elena, cruza para Karpova, domina Nadezhda Karpova e chuta para fora.

***

- Cinco minutos de acréscimo, vamos até os cinquenta. Luana, Fabiana já recebe, Erika pedindo. Marina, para Elena, Ekaterina, passa por três, sai correndo para pequena área, mano a mano com Marta, perde a bola para Marta, Bruna no meio do caminho, Fabiana, chega na dividida com Anastasia, leva a melhor, tenta na Cristiane, foi desarmada pela Nadezhda. Recua a bola para goleira, Elvira, Yulia para Sofiya, chuta para frente, e apita Gladys, termina o primeiro tempo em Wellington.

***

- Inicia o segundo tempo, bola das russas. Marina, para Elena, Ekaterina sai correndo para receber, corta Luana, Bruna, Fabiana, para Cristiane, chega na dividida com Anastasia, Yulia fica com a bola. Sofiya para Kseniya, recebe a outra Ksenia, a bola sai em lateral.

***

- Trinta e cinco minutos, várias jogadas para área, mas nenhum gol. – Fernanda.
- Mônica, Bruna, Debinha pela direita leva dribla, para Luana, recua para Erika, encontra Cristiane, mas ela está em posição irregular, joga para que avança para o gol, consegue jogar para Cristiane agora em posição legal, tenta chutar, duas na marcação. Vê a Marta livre, Marta entra na área, aparece Ekaterina Pantyukhima, leva um chapéu, vibra a torcida, opa, opa, levanta a bandeira a bandeirinha, pode isso sua juíza, tira a bola da Marta Ekaterina com o truque da mão santa. Pede pênalti Marta. Marta pede pênalti, Gladys que estava do lado marca. As Russas se aproximam, Ekaterina tenta argumentar.
- Muito bem marcado, a jogadora não dá conta de dominar a bola, leva um chapéu da Marta e tenta tirar a bola com a mão. – Fernanda.
- Totalmente intencional. – Casagrande. – A juíza estava acompanhando o lance de perto e nem precisou de var, reclama as russas e o Sergei Lavrentyiv.
- Marta pega a bola para bater, mas a Pia está gritando na beira do gramado, Erika vem correndo passar o recado.
- Ela quer que a bata o pênalti. – Fernanda.
- Não entendi o raciocínio, a Marta está acostumada a bater, é a maior artilheira da seleção. A teve grande participação nessa copa, mas nada que fizesse isso. – Casagrande.
- Autoriza a arbitra Gladys Lengwe, para cobrança, encara a goleira Elvira, parte para o chute e GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL É DO BRASIL, É O NOME DELA. Ela que chegou discreta ao time, que brigou com o juiz nas quartas, ficou sem jogar a semifinal, abre o placar para o Brasil, aos trinta e oito do segundo tempo, a escolhida da Pia Sundhage. Dá a chance ao troféu ser brasileiro.
- O primeiro gol dela na copa, gol que ela fez questão de comemorar com a Formiga e aquece o nosso coração, eu estou toda arrepiada. – mostra o braço para os companheiros.
- Como o banco brasileiro reagiu, Nivaldo? Você que vê aí de pertinho. – Pergunta Galvão.
- Faz a festa as jogadoras, a Formiga que de formiga não tem nada, é uma gigante, vibrou bastante, abraçando as companheiras, estão emocionadas.
- Saída de bola das russas, que parecem baqueadas com esse gol.
- Elas não esperavam esse pênalti, suspeito a falar que queriam disputar nos pênaltis final.
- Com a bola Yulia, cruzamento para Sofiya, encaixe para Kseniya Kovalenko, Kseniya, encobre o gol. Tiro de meta. Barbara chuta para o meio, Fabiana domina. Debinha, Kathellen chuta nas mãos da goleira Todera. Elena para Anastasia recebe Marina Keskonen, Nadezhda na trave.
- O desespero delas estão fazendo com que qualquer chegada na grande área elas chutem para o gol, talvez funcione colocando as possibilidades em estatísticas, mas tem que elaborar essa entrada melhor.
- Monica, passa pela Kovalenko, cruza para Erika que desvencilha da Anastasia, Luana intercepta para , olha para Cristiane, Marta faz sinal, recebe. Parte para gol, limpa, sai do gol Elvira e fica com a bola. Encerra a partida Gladys Lengwe, aos quarenta e seis minutos. Comemora as brasileiras, as campeãs da copa do mundo de dois mil e vinte e três. Recebem os aplausos das torcidas, cumprimentam as russas, o abraço do grupo na técnica. Formiga no campo abraçada com a Marta. Sai para o vestiário as jogadoras. De Cillo, consegue falar com alguém aí?
- Estão todas muito emocionadas, estou aqui com a Barbara, Debinha, Yaya, Luana, Geyse, Cristiane, Thaisa e a autora do gol da vitória . Eu sei que vocês estão muito emocionadas, que querem ir para o vestiário antes da entrega do troféu, mas queremos uma palavrinha. O que foi esse jogo? – Pergunta.
- Foi um jogo difícil, mas limpo, com respeito, na humildade. – Fala Barbara.
- O que foi para você, , cobrar o pênalti a pedidos da Pia? – Pergunta.
- Foi uma surpresa muito grande, porque a Marta que cobra e muito bem, meus ânimos ficaram à flor da pele, o medo de perder aquela chance e a responsabilidade que estava nos meus pés.
- Antes de irem, qual o recado vocês deixam sobre essa vitória, para todas as meninas que sonham em estar aqui? – Pergunta.
- Tem uma música muito bonita que escutamos nos trajetos para os estádios. – Disse Debinha. - Quem mandou largar a rede, quem mandou você parar. Volte para o mar alto no lugar da tua vergonha eu vou te honrar.
- Meus parabéns pela conquista. É com vocês, Galvão, Fernanda e Casagrande.
- Vamos para intervalo e voltamos com o show do segundo tempo, enquanto eles preparam o gramado para a entrega das medalhas e troféus.

***

- Vem aí a seleção, de uniforme novo. – Fernanda.
- Que blusa é essa, Casagrande, que linda, poderia ser o terceiro uniforme. – Galvão.
- Que homenagem linda que essa geração está prestando, blusa branca estampando os rostos de Formiga, Pretinha, Sissi, Roseli, Katia Cilene entre outras.
- Uma bela homenagem, agora sim a frase do calção faz todo sentido. Esse título é por toda a geração que chegou até aqui, que fez esse momento acontecer, por toda trajetória.
- Por vocês. Vem aí a seleção para receber as medalhas. Presente o presidente da FIFA, o presidente da república brasileira e russa, a ministra brasileira. Se prepara para levantar o troféu a jogadora Marta, se posiciona as jogadoras. É delas, é delas. Levanta o troféu e comemora muito o Brasil, faz a festa no gramado. Vão trazer para casa, elas foram lá, na paciência, na insistência, na humildade, apanharam, se exaltaram, mas ele veio, na raça das meninas.
- Parabéns a todas as meninas e que seja o primeiro de muitos. – Casagrande.
- Nos despedimos da copa, nos despedimos de vocês ai de casa, com essa imagem, levanta o troféu Formiga no meio de um círculo criado pelas outras jogadoras, bate palma a torcida. Rede Globo de comunicação é você na copa do mundo feminina.





FIM.



Nota da autora: Olá leitores (as), espero que tenham gostado dessa Oneshot, e que eu tenha passado de modo correto, o sentimento que todas nós temos. Foi um grande desafio ser uma das representantes (autora de uma das estórias) desse especial, um especial que retrata a força da mulher, e a força das nossas brasileiras. Obrigada por lerem, não se esqueçam de deixar seu comentário, de ler as outras fanfics do especial e de também comentarem nelas como um incentivo para continuarmos nesse caminho. Bjs até a próxima.
Não se esqueçam de ler outras fanfics minhas, digite Louise Young na busca do site!
*O depoimento da Camila jogadora é real, e pode ser encontrado no google.
** Para ouvir as músicas em trecho de cada capitulo, clique em GRLPWR







Nota da beta: Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.


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