Are U Mine?



Finalizada em: 17/12/2016



A noite quase o abandonava, ele sentia um desconforto nas costas, acreditava que o tapete da sala já foi bem mais aconchegante. Abriu os olhos lentamente e seus braços tremiam, o frio do amanhecer gelava todo o ambiente. Não queria acordar, tudo que gostaria era continuar sonhando. Ela estava no sonho. Apenas nele. Já era tarde demais, seu consciente já havia despertado e ela o abandonava mais uma vez.
Levantou do tapete fino e direcionou-se a janela, fechando-a. Sentia seu rosto inchado, os cabelos negros caírem sobre os cílios e se lembrou daquele sorriso que ela tinha nos lábios ao dizer que ficava lindo quando acordava. As lágrimas voltaram a marejar os olhos castanhos esverdeados. Voltou sua atenção para dentro da casa bagunçada, as fotos dos dois estavam por todos os lados e todo o lugar tinha o cheiro enjoativo de álcool e sexo. Encarou as próprias mãos e o peitoral nu sentindo-se sujo, havia transado com outras garotas. Mas, caralho! Ele precisava tentar esquecê-la e tudo que pensou era que se envolver com outras mulheres traria o velho de volta. Pelo contrário, adquiriu um enorme peso na consciência. Já havia se passado nove meses desde que ela se foi e tudo porque não queria amar ninguém, era como um pássaro incapaz de ficar preso em uma gaiola. Não queria ser de ninguém além, dela mesma. Porém, não possuía a mesma habilidade de não conseguir amar ninguém –acreditava que sim antes de conhecê-la-, mas era quase impossível não se apaixonar pela doce . caminhou até a geladeira, pegou mais um litro de whisky e abriu. Levou a garrafa aos lábios, enquanto as lágrimas contornavam seu rosto relembrando quando a conheceu.

Era sábado à noite e solitário no cubículo que chamava de bar. As prateleiras possuíam pó excessivo e o piso rangia, ele só queria descansar após uma semana agitada naquele escritório de advocacia. Tinha plena consciência que seu chefe ainda o perturbava por ser novo demais para o serviço, mas adorava ver a cara do velho James quando trazia mais uma causa ganha, era o melhor da cidade com apenas vinte e quatro anos. A pequena caixa de som espalhava a voz melodiosa de Bon Jovi por todo o ambiente enquanto saboreava a sangria no pequeno copo, algumas moças o observavam de longe, sentindo o olhar caloroso das três jovens sobre ele, tinha seu ego alimentado dessa forma. sabia lidar com algumas mulheres, não poderia ser chamado de garanhão porque poucas iam realmente parar na sua cama, mas adorava sentir o assédio que era bem frequente por ser exageradamente bonito, dono de uma pele pálida e bem cuidada. Possuía cabelos negros e um físico de tirar o fôlego, mas nada disso chamava atenção mais do que os grandes olhos castanhos esverdeados e os cílios invejados por muitas mulheres. era a personificação de um Deus e sabia muito bem disso. As risadas e os comentários das três garotas começaram a aumentar quando ele cumprimentou-as, levantando o copo e lançando seu melhor sorriso. Era um filho da puta gostoso! Provocava as garotas alisando o copo com o dedo indicador e levando-os aos lábios, olhando por cima do objeto de vidro, em um gesto similar a um ato sexual, brincando com as mentes das pobres coitadas que caiam no jogo de sedução. Era divertido, pois não ficaria com nenhuma delas. Deixou o copo sobre o balcão e seus lábios se curvaram em um sorriso mínimo.
—Você não pretende levar nenhuma delas para casa, não é mesmo. — Uma voz feminina invadiu seus ouvidos em um tom divertido e irônico. Virou-se para mesa na lateral do balcão e se deparou com a bela imagem de uma morena. A pele parda era iluminada pela luz fraca acima da mesa, possuía cabelos negros e cacheados com um volume selvagem, a linha fina de da boca era pintada por um batom vermelho e um sorriso irônico, os olhos castanhos escorriam uma luxuria natural e o decote do vestido preto marcava os seios pequenos e redondos. C-A-R-A-L-H-O! A mente de brilhava em um letreiro neon rosa chiclete e ele sentia seu jeans fica desconfortável.
— Como você sabe? — Respondeu se recompondo, sua boca havia se aberto enquanto reparava os detalhes.
— Se você quisesse já teria feito, elas estão te dando mole há muito tempo e você só está brincando com a mente de cada uma delas. — Ela riu e mordeu o lábio inferior. riu junto e respirou fundo, tentando espantar os pensamentos impuros de foder aquela boca.
— Permita que eu te pague uma bebida por descobrir o meu jogo particular. — Foi tudo que conseguiu dizer.
— Amor, isso é clichê demais para mim, sente-se deixa que eu te pegue uma bebida, porque você merece uma para relaxar. — Ela deixou os olhos caírem sobre o corpo do rapaz, parando no volume do jeans que agora era bem visível, um pequeno sorriso maldoso se formou. sentindo o choque do efeito que a mulher tinha sobre ele puxou a camiseta azul escuro para baixo, numa tentativa frustrante de esconder o que não dava para ser escondido. Ela fazia com que elese sentisse um adolescente virgem no colegial. Intimidante. Caminhou até a mesa e sentou-se na cadeira a frente.
, prazer. — Estendeu a mão.
, e o prazer é todo meu, com certeza. — Sorriu e apertou a mão de firmemente fazendo seu jeans apertar seu membro.


As lágrimas se intensificaram enquanto desejava voltar a aquele momento. era um misto de mistério e luxuria, de amor e ódio, uma trégua entre Deus e o Diabo e tudo que mais queria naquele momento. A dor consumia seu corpo e ele tombou no sofá da sala escutando a chuva começar a cair, e com mais um gole de álcool fechou os olhos e voltou para os braços de .

—Stevie, tráz dois whisky com red, põem na minha conta. — A morena pediu ao jovem no balcão que assentiu com a cabeça. —, me fale um pouco de você.
— Não tem muito o que falar. Eu sou advogado e tenho vinte e quatro anos. Trabalho demais e não me resta muito tempo para fazer outras coisas. — se sentiu a pessoa mais desinteressante do mundo ao ver que não tinha muito o que falar, mas a garota ouviu atentamente com uma expressão divertida no rosto.
— Advogado? Isso é ótimo, já tenho você caso eu precise.
— Você pretende entrar em alguma confusão para precisar de algum advogado? — Sorriu curioso.
— Acredito entrar em uma confusão bem grande, talvez eu precise de um sim. — O tom de malicia invadiu a conversa. Seus olhos brincavam pulando entre o peitoral e as mãos entrelaçadas do rapaz sobre a mesa. sentia-se queimar internamente, especificamente entre as pernas.
— Ah, querida! Conte comigo para o que você precisar. Estou louco para te defender de um júri, te faço inocente. — A tensão que eles tinham era palpável, os olhos grudados como imã e metal, tão intenso e quente. Ambos podiam sentir.
— Inocente? Tenho certeza que é mais complicado do que você imagina. — passou a língua entre os lábios. Se ele era a personificação de um Deus, ela era a de um demônio, o mais sexy e maldoso deles.
— Acredite, sou muito bom no que faço. — sorriu. Stevie parou ao lado da mesa e serviu os dois copos sobre a mesa.
— Stevie, já é o fim do seu expediente? — ainda mantinha os olhos fixos em .
— Daqui cinco minutos, querida. Por quê? — O jovem moreno com olhos acinzentados respondeu.
— Leve os whiskys para dentro, acrescente mais um copo na minha conta e sirva para as três meninas na última mesa, diga que é por sua conta e pode escolher qualquer uma das três para passar a noite. Eu e o meu amigo aqui estamos de saída.


O som da garrafa se partindo em mil pedaços sobre a parede. passou a mão no rosto em desespero se lembrando da primeira noite que estiveram juntos, seus corpos eram as duas últimas peças do quebra-cabeça. Não tinha mais lágrimas e nem força. Sua mente era um telão com todas as lembranças.

eu não sabia que você sabia desenhar tão bem. Deveria ter me dito. — folhava um caderno repleto de retratos e paisagens assinados por .
— Para de mexer no meu armário. Têm arquivos confidenciais aí, como esse caderno. — O moreno entrou no quarto com um sorriso radiante e se sentou tapete da sala à frente da garota, que contemplou a obra de arte que era sem camisa e calça moletom.
— Por que você nunca me disse? — Ela perguntou curiosa.
— Eu estava no colégio, costumava desenhar as meninas que eu me apaixonava. — Ele disse e encarou , levou a mão no próprio queixo e cerrou os olhos como se a analisasse.
— Apaixonado? Isso soa assustador. — Ela gargalhou.
— Fique parada. — correu até o quarto.
— Espero que eu esteja enganada sobre o que estou pensando. — A voz desconfiada ecoou no cômodo. voltou com um estojo nas mãos. —, já conversamos sobre isso de ....
— Fique quieta, não é nada disso. — retirou o quadro da grande parede branca atrás do sofá e colocou no chão. — Fique parada, eu quero guardar esse momento.
— Não vai me desenhar, eu estou horrível. Olha meu cabelo. — Ela apontou para o coque no alto da cabeça e retirou o pequeno cacho da frente dos olhos. empurrou o sofá para o lado deixando apenas o tapete no centro da sala.
— Você está linda, por favor, faz tanto tempo que eu não faço isso. — Ele desprendeu o cacho da orelha de e beijo-a nos lábios. O sol fraco iluminava parte do rosto da menina enquanto achava graça da situação.
pegou o lápis preto e começou a riscar o esboço dos olhos e do coque no alto da cabeça no grande espaço. Os olhos dele saltavam da parede para a morena sentada na famosa posição de indiozinho.
— Não consigo, se você continuar me olhando assim tão sexy, vai ter que parar o seu desenho e vai ter que começar a pintar outra coisa. — Mordeu o lábio inferior e balançou a cabeça de forma negativa, foi uma comparação ruim. Muito ruim.
— Prometo que se você ficar quietinha eu pinto, bordo, grafito, tudo que você quiser. — Ele riu. —Você é uma tarada.
— E você adora. — Ela gargalhou.


Lá estava observando os olhos irônicos e o coque no cabelo que ele tanto amava. O desenho parecia encará-lo e debochar de toda sua dor. Ele se perguntava o porquê dela ter partido sem dizer adeus, não se importou com ele e muito menos com o que ele sentia, talvez, para ela não tenha significado nada.

— Feliz aniversário, vovó. — brincou ao chegar ao quarto com uma bandeja de café da manhã, com todos os itens que mais gostava.
— Vovó seu rabo! Vinte e seis anos de pura sedução, querido. — Ela se espreguiçou sobre os lençóis brancos da cama de casal e logo em seguida se sentou.
— Vovó mais sexy do mundo. — O advogado sorriu e abriu os apoios da bandeja colocando sobre o colo dela.
— Melhorou, tirando a parte da vovó. Caraca, nutella e creme de paçoca logo de manhã, olha eu posso me acostumar com isso. — Agarrou os dois pequenos potes e uma colher sorrindo.
— Tem outra coisa que eu quero te dar antes de ir para o trabalho. — tirou uma pequena caixinha preta do bolso da calça social. ficou pálida e seus olhos se arregalaram, seu coração pulsava forte e um nó se formou a sua garganta. Não! Não podia ser o que ela estava pensando, eles já haviam conversado sobre não ter relacionamento sério e deixar as coisas rolarem.
— O.Que. É.Isso? — Falou pausadamente.
— Uma surpresa, amor. — Ele foi abrindo a caixinha lentamente, Maize largou os potes e a colher e cobriu os olhos com as mãos.
— NÃO! Eu não quero ver, não fala nada, . Não fala! — Suplicou enquanto começou a gargalhar alto. Escutando a risada escandalosa, abriu os dedos, confusa, olhando entre as frestas e viu dentro da pequena caixa um pingente de saturno, com o globo de prata e o anel do planeta de ouro.
— Você precisava ver sua cara! — O advogado limpava algumas lágrimas que caiam, seus pulmões faltavam oxigênio e tinha um incomodo na barriga. Retirou o pingente da caixinha e uma gargantilha prateada do bolso da calça, juntou as duas peças, era lindo.
— Eu deveria te dar um soco, mas essa gargantilha é tão linda. — suspirou fundo, relaxando a tensão causada pelo quase infarto.
— Eu sei que você adora esse lance de planetas,estrelas e tudo mais. — Abriu o pequeno fecho e fez um sinal para ela se curvar.
— Eu adorei, é maravilhoso. — Estendeu o pescoço para que o colocasse e assim ele fez.


Chega! Era tortura demais para uma noite só. Nada pode matar um homem mais do que sua própria mente e era exatamente isso que sentia, podia sentir a dor matá-lo por dentro a cada frase, cada lembrança e cada imagem. Sua cabeça girava, sua visão era embaçada pela quantidade de álcool ingerida. Um banho! Ele precisa de um banho. Subiu as escadas e caminhou até o quarto, lá era onde ela se fazia mais presente, esse era o real motivo para dormir muitas vezes na sala. Apoiou-se no batente da porta e tirou a calça jeans e a cueca, deixando ambas as peças jogadas ao chão. Abriu o box de vidro e ligou o chuveiro, a água era um refresco para o cansaço do corpo, entretanto sua mente ainda viajava pelo vale da tortura, levando-o para última vez que a viu.

Estavam estirados na cama, tentando recompor a falta de ar nos pulmões e se acostumar com a ausência do toque um do outro. O quarto estava em silencio, diferente de poucos minutos atrás onde as paredes eram o limite dos gemidos e palavras sem nexo. Saciados. Essa era realmente a palavra certa, mesmo depois de quase um ano juntos o sexo ainda tinha gosto de primeira vez, porém dessa vez algo foi diferente. tinha os olhos fechados, saboreando o descanso e os músculos relaxados, a observava, o peito subir e descer já lentamente e o rosto vermelho voltar a cor natural. Instintivamente a puxou para perto, fazendo com que ela deixasse em seu peito. Afagou os cachos e beijou o topa da cabeça da menina.
. — Chamou baixo.
— Sim. — Ela respondeu quase em um sussurro.
— Eu sei que eu não posso. —Começou a falar sem jeito, seu coração voltava a acelerar, mas agora o medo tomava seu corpo. — Mas, Porra! Eu não consegui.
, não diga! — Ela pediu baixo e ele sentiu algumas lágrimas molharem seu peito.
— Eu preciso dizer! — Um exército de sentimentos se formava dentro dele e entre todos os sentimentos estava o que ele menos queria. — Eu te amo, .
O amor.


Lembrou-se da solidão da manhã seguinte de acordar e não vê-la ao seu lado. Saiu do banho e pegou o roupão estendido no suporte ao lado do box. Vestiu a peça e deitou-se na cama, não queria mais chorar, só queria ser o forte quando o sol raiasse. Relaxou o corpo ainda úmido e cochilou.
Um sino irritante se misturava ao som da chuva impiedosa. Abriu os olhos e encarou o despertador que marcava cinco e quinze da manhã, mas novamente o sino tocou, era a campainha.
—Maldição. — Esperava que alguém tivesse morrido para ter um ser a essa hora na sua porta. Os relâmpagos estrondavam forte enquanto ele descia as escadas. Suspirou fundo e olhou no pequeno olho mágico. Sua boca secou e sua mente ganhou um branco absoluto, fechou os olhos por um minuto e respirando fundo sussurrou:
—Não seja um sonho, por favor. — Levou a mão na maçaneta dourada, abriu os olhos e girou. Ela estava toda molhada, seus jeans e sua camiseta estavam colados ao corpo, os cabelos escorridos e o olhar cabisbaixo. sorriu fraco.
—Oi, , posso entrar?



Fim.





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