Attraction's Theory Chronicles

Última atualização: Outubro/2024

Prólogo

Em filmes de romance em que dois personagens se encontram depois de longos anos sem contato, existem alguns cortes de cena muito especiais. Jogos de luz em que um personagem está iluminado em uma cor fria e outro quente. Cortes de câmera com foco nas expressões. A lenta mudança de ângulo onde o todo vira somente os dois protagonistas para representar o quão presos estão na atmosfera um do outro.
É lindo. Romântico. E absurdamente falso.
Quando vi Tanaka pela primeira vez após três anos sem contato algum, eu quis me jogar na frente de um caminhão e mudar para sempre o curso de vida dele. Simples assim.
Essa é a parte engraçada sobre guardar rancor: você pode passar uma vida toda sem dar a mínima para aquilo que te magoou. Mas, basta uma gota. Um simples sorriso. E todas as lembranças retornam como um maldito tsunami, pronto para te levar por completo e deixar somente restos que levarão anos para retornar ao seu estado normal.
Eu era apaixonado por ele, sabia? Anos e anos dedicados à uma fantasia alimentada por livros e mais livros, acreditando que em algum momento ele me veria como algo além. Tentando compreender sinais que nunca de fato existiram. Sempre colocando ele em primeiro lugar em qualquer aspecto da minha vida.
Acho que isso era o esperado, de qualquer forma. Duas crianças que haviam sido criadas juntas como consequência da proximidade de seus pais. Nós éramos uma tragédia. E eu estava fadado a viver uma vida inteira me lembrando de cada um dos erros que resultaram no nosso fim. Mas, para que minhas palavras façam sentido, eu preciso voltar alguns anos no tempo.
Senhoras e senhores, minha história com Tanaka começou assim:



Capítulo Um



I call you up when I know he's at home
I jump out of my skin
When he picks up the phone
(Eu te ligo quando sei que ele está em casa
Eu fico nervoso
Quando ele atende o telefone)
Best Friends Brother, Victoria Justice

Nova York, NY
Antes



As primeiras notas de alguma música do Ne-Yo invadiram meus ouvidos, me fazendo dar um pequeno pulinho de susto. Sebastian estava viciado na música e, quando estava junto com seus amigos, fazia questão de explodir os tímpanos de qualquer pessoa na casa junto com ele. Revirei os olhos, colocando meus fones com isolamento de ruído, voltando minha atenção para a tela do computador novamente.
Eu estava focado em resolver um bug que estava impedindo que meu personagem fosse capaz de atacar um maldito mob sem flutuar pela tela pelas últimas três semanas e tinha quase certeza de que, a qualquer momento, eu iria ter um ataque de raiva e atravessar minha mão em meu próprio monitor. Senti meu celular vibrar em minha mesa, respirando fundo antes de pegá-lo e ler a mensagem que aparecia na tela.

Summer: Ei, seu irmão está em casa?
Sabe se está com ele?


Franzi o cenho, encarando a tela por vários segundos. Que Sebastian estava em casa, isso não era dúvida. Agora, se o acompanhava, isso era algo que merecia a minha atenção. Tanaka . Ou , como eu costumava chamá-lo, era o irmão de Summer e, como consequência, o melhor amigo do meu irmão. E, diferente dele, era uma visão. Um dos garotos mais bonitos e inteligentes que eu já conheci.
Com seus quase um e oitenta de altura, cabelos pretos que escorriam até pouco acima das orelhas em uma franjinha adorável e um sorriso ridiculamente alinhado, ele havia capturado meu coração desde que eu aprendi a diferenciar o que eram sentimentos.
E esses sentimentos também eram completamente unilaterais, já que era dois anos mais velho que eu e dificilmente me olharia de uma forma diferente de amor fraternal, principalmente quando crescemos juntos.
Mesmo assim, eu ainda me lembrava de cada pequena coisa que ele já havia feito em todos estes anos. Como quando eu menstruei pela primeira vez e ele fez questão de me emprestar roupas dele para que eu não ficasse com as machadas. Ou quando ele me apoiou logo que me assumi quanto não binário, ou quando ele me levou, junto com Sebastian, para renovar meu guarda-roupas para algo menos feminino do que eu sempre tive.
Ponderei por alguns segundos antes de tirar os fones de ouvido e me levantar, colocando meu celular no bolso da bermuda antes de prender meus cabelos no topo de minha cabeça e ajustar a camiseta larga que usava. Sai do quarto, fechando a porta atrás de mim antes de andar pelo corredor até o quarto de Seb. Bati na porta duas vezes, sabendo que ele não iria escutar antes de abrir e colocar somente minha cabeça para dentro de seu quarto.

— Ei, Seb. - gritei, chamando sua atenção - SEBASTIAN!
— Jesus! - ele murmurou, pegando o celular e abaixando o volume da música - Que foi?
— Summer quer saber se o tá aqui. - eu justifiquei, tirando o celular do bolso e mostrando a mensagem - Não sei o porquê, ela não disse mais nada.
— Estou. - a voz de invadiu meus ouvidos - Acabei me distraindo e não vi a mensagem dela. - ele se levantou da cadeira, parando ao lado da porta de braços cruzados com um sorriso de canto, que não mostrava uma unidade dos dentes ridiculamente alinhados - Você não sabe cumprimentar as visitas?
— Nós dois sabemos que você deixou de ser uma visita e se tornou um hospedeiro nessa casa. - franzi uma das sobrancelhas, cruzando os braços assim como ele.
— Justo. - ele deu de ombros - Mas, acho que mereço um abraço pelo menos, não? - ele sorriu com todos os dentes à mostra e foi como se uma corrente elétrica passasse por cada centímetro do meu corpo. Merda.
— Claro. - eu sorri, andando até ele para abraçá-lo. Ele retribuiu de imediato, me tirando do chão por alguns segundos antes de bagunçar meus cabelos. O cheiro do seu perfume invadiu meu olfato e eu resisti ao impulso de fechar os olhos e esconder meu rosto contra a curva de seu pescoço. Por Deus, ele era ridiculamente bonito. - Okay, okay, já chega. - eu ri, me afastando o suficiente para voltar a arrumar meus cabelos - Só vim pra confirmar se você estava aqui. Vou voltar para minha caverna.
Eu balancei a cabeça, desbloqueando o telefone e saindo do quarto de Sebastian enquanto digitava a resposta para Summer.

Romero:
Os dois estão.
Acho que estão estudando.


A resposta de Summer veio poucos depois de eu fechar a porta atrás de mim.

Summer:
Ok, mamãe queria saber se ele viria para o jantar, mas acho que não.

Summer:
Aliás, posso ir até aí? Posso voltar com ou levar roupas para passar a noite.
Preciso de ajuda com alguns termos para o exame de espanhol.


Ponderei por alguns segundos. Eu estava tentando focar no meu pequeno projeto, mas algo me dizia que ele não seria muito produtivo. E também não seria realmente uma prioridade, se eu considerasse que ainda teria mais dois ou três anos para finalizá-lo. Me sentei em minha cadeira, encostando-me contra o estofado da cadeira quando duas batidas na porta chamaram minha atenção. Me apressei em responder Summer.

Romero:
Sim, pode vir.
Traz roupas e comida, a gente pode assistir algo.
E traz as coisas de cabelo, preciso de você pra fazer algo nele.


— Pode entrar. - murmurei, antes de colocar o celular na mesa e voltar a focar em achar o erro nas linhas de código.
— Ainda está tentando achar o erro? - se aproximou, apoiando-se entre a minha mesa e o encosto da minha cadeira. Os dedos longos com as veias saltadas no topo de sua mão me deixando desconcentrado por alguns segundos. Puberdade maldita.
— Sim. - cruzei as pernas em cima da cadeira, passando as mãos pelo meu rosto. - Eu juro que a qualquer momento eu vou atravessar minha mão nesse monitor e nunca mais mexer com design de jogos novamente. Eu vou mudar minha carreira e desistir dessa bosta.
— Estamos sendo um pouco dramáticos hoje, não estamos? - ele soltou um risinho, me encarando sem que o sorriso deixasse seus lábios. - Vamos lá, boy wonder, qual é o problema? - ele se levantou, puxando minha cadeira para o lado e pegando o banquinho ao lado da minha mesa para sentar ao meu lado.
— Você não tinha que estar estudando com Sebastian?
— Ele disse que você estava estressado com os códigos há algum tempo e que todo o tempo que você tem livre, você está preso no quarto tentando resolver. - ele justificou - E que ele já não aguenta mais te ver estressado e a ponto de cometer um assassinato. Seb me pediu para dar uma olhada e te dizer o que está errado.
— E você aceitou?
— Claro, eu gosto. - ele deu de ombros - e você tem uma curva melhor de aprendizagem que a porta do seu irmão, mas não conta pra ele.
— EU OUVI ISSO, SEU BABACA. - Sebastian gritou do outro lado do corredor.
— ERA A INTENÇÃO. - ele gritou de volta, me encarando - Voltando ao ponto, pode me mostrar o erro?
— Certo. - eu concordei - Summer está vindo pra cá, aliás. Você vai passar a noite aqui?
— Não tinha planos de fazer isso, mas quem sabe. - ele deu de ombros, enquanto observava o personagem flutuar pela tela com a falta de gravidade.
— Nem fodendo. - ele começou a rir - Essa merda está parecendo um balão de hélio, puta merda. - ele jogou a cabeça para trás, fechando os olhos em meio ao processo e eu o observei. O maxilar marcado, a sobrancelha falhada graças à uma queda de skate quando ele tinha quatorze anos, os cabelos escorrendo para trás e a veia levemente saltada em seu pescoço. E o seu maldito perfume invadindo meus sentidos. Por favor, Deus, me deixe beijar este garoto e eu juro nunca mais cometer qualquer pecado. Por favorzinho.
— É, eu tenho plena noção que está ridículo - eu forcei um suspiro, sabendo que era mais por ele ser tão bonito quando ria do que por cansaço - Por favor, não faça piadas.
— Okay, okay. - ele balançou a cabeça - Já cometi um erro semelhante. Geralmente deve ter faltado algo de pontuação ou uma linha de comando que você esqueceu de adicionar, fica tranquilo. Posso? - ele apontou para o computador.
— Fique à vontade.
Ele assentiu, pegando o mouse e o teclado para revisar os comandos. Não levou mais que alguns minutos para que ele identificasse o erro e escrevesse uma linha de comando extra antes de colocar o script para rodar novamente. Simples assim, o jogo voltou a ser funcional e com gravidade enquanto o personagem conseguia pular de um ponto a outro sem flutuar para o meio da tela. Eu encarei, sem palavras.
— Eu poderia te beijar agora em agradecimento. - eu murmurei, testando os controles do personagem, que estavam perfeitamente funcionais. - Obrigado, . - eu o encarei enquanto ele sorria orgulhoso, como se tivesse acabado de descobrir a cura para o câncer.
— Sem beijos, ia ser meio esquisito. - ele me soltou uma piscadela, bagunçando meus cabelos - Agora, você pode focar em desenvolver ele e tentar aplicar para o programa de verão da UCLA no próximo ano ou no seu último ano. As vagas são acirradas, mas eu passei nele esse ano e consigo te ajudar com os requisitos, se precisar.
— Você passou pro programa da UCLA? - eu pausei o jogo, o encarando - Quando ficou sabendo?
— Faz uns dois dias, eu acabei esquecendo de comentar e só lembrei agora. - ele deu de ombros, como se aquilo fosse um mero inconveniente e não como se fosse um dos seus maiores sonhos, depois de entrar na MSU. Como se eu não tivesse escutado ele falar sobre isso pelos últimos três anos.
— Você precisa começar a deixar as coisas anotadas em um quadro em algum lugar visível para começar a se lembrar das coisas, .
— Eu funciono bem assim.
— Você esquece até de ir ao banheiro quando está focado em programar alguma coisa, eu sei porque já vi acontecer. Você precisa disso.
— Já te disseram que às vezes você parece mais velho que o seu irmão? - ele cutucou minhas costelas, me fazendo rir. - Vou lembrar disso.
— Não vai, não. Mas, fica tranquilo porque seu aniversário está chegando e vou arrumar um pra você. - eu sorri, batendo em seu ombro. - Vou ajudar Summer a estudar para o exame de espanhol que temos na segunda. Você vai ficar pra ajudar?
— Vou voltar pro meu projeto. - ele bocejou - Preciso terminar isso antes de dormir.
— Então, você vai dormir aqui.
— Não sei, depende do quão cansado vou ficar depois de acabar. Seu pai disse que ia ficar no trabalho até mais tarde hoje resolvendo algumas entregas que eles precisam fazer para um cliente estrangeiro, então, acho que vou acabar ficando pra evitar que vocês comam qualquer coisa esquisita que Bash possa tentar cozinhar.
— Certo. Se precisar de algo, me avise. - eu sorri de canto e ele apenas assentiu, se levantando do banquinho antes de bagunçar meu cabelo mais uma vez.
— O mesmo vale pra você.
Ele me mandou um sorriso de canto, saindo do quarto no exato momento em que Summer me avisou que havia chegado. Eu me levantei da cadeira, saindo do quarto e descendo as escadas do apartamento para abrir a porta de entrada para a caçula dos s.
Summer estava mexendo no celular quando eu abri a porta e ela me abraçou. Seus cabelos estavam soltos e caiam sobre seus ombros com as pontas pintadas em rosa.
Ela carregava uma mochila em suas costas e algumas sacolas cheias de comida e coisas de cabelo.
— Minha mãe disse que está a ponto de comprar um apartamento no seu prédio porque nós ficamos mais aqui do que em casa.
— Seria uma boa ideia.
— Não é? Mas, acho que ela está evitando fazer isso porque em três anos vamos estar em Michigan.
Ela entrou, encostando a porta atrás de si antes de me acompanhar até meu quarto enquanto tagarelava sobre odiar ter uma dificuldade tão grande com o espanhol quando sua segunda mãe era argentina. Eu soltei uma risada sincera enquanto entrávamos em meu quarto.
— Calma, você vai aprender. Você lembra da dificuldade que foi quando eu comecei a aprender japonês, não lembra?
— E hoje você só não fala melhor que eu porque eu viajo todo o ano pra lá. - bufou, jogando as coisas em cima da minha cama. - Eu trouxe sneakers, milky way, algumas balas de goma e salgadinhos. O que você tem aqui?
— Depende… - eu sorri enviesado antes de fechar a porta atrás de mim - Meu pai comprou algumas bebidas novas para o bar, podemos furtar uma garrafa. A menos que você queira ficar tomando suco.
— Olha bem pra minha cara, , você acha mesmo que eu quero beber suco na sexta-feira? - ela me pegou pelos ombros, me chacoalhando.
— Amanhã temos a festa de aniversário da Daisy, de qualquer forma. Vamos beber de qualquer jeito. - murmurei, pegando as coisas de cima de casa e tirando-as da sacola, organizando tudo no centro da cama.
— Justo.
Ela sorriu, sentando-se no chão e tirando o iPad, canetas e um caderno de dentro da bolsa. Summer digitou algo no iPad antes de abrir a folha de exercícios e me passar.
— Essas são as coisas que vão cair no exame de espanhol.
— Okay. - eu peguei o aparelho, estudando as questões. Em teoria, eram coisas simples. Artigos definidos e indefinidos, artigo neutro Lo e contração de artigo. Eu compreendia a dificuldade de Summer. Eram temas complicados quando não havia equivalências nas línguas maternas de Summer.
— Se eu falar em espanhol, você vai me entender?
— Sim. - ela assentiu - Consigo falar e compreender, só não consigo entender a lógica por trás desses pontos.
— Certo. Bueno, vamos a empezar con los artículos definidos e indefinidos, ¿eh?
— Vale.

Summer murmurou e eu peguei minhas anotações digitais para explicar com mais facilidade. Me sentei ao lado dela e comecei a explicar, tentando ao máximo dar exemplos ridículos porque eu sabia que assim, as chances de Summer memorizar as pequenas regrinhas eram maiores que apenas explicar a definição.
Após longas três horas, Summer foi capaz de diferenciar cada um dos pontos e fazer os exercícios de revisão com facilidade, sorrindo orgulhosa quando eu corrigi todos os exercícios, a parabenizando por acertar todos eles após algumas tentativas.
Puedes decir lo que quieras, pero aunque tome un poco de tiempo, tengo un flujo de aprendizaje buenísimo, eh? - ela se gabou, jogando os cabelos rosa-choque no ar. - Aliás, o que você tá querendo fazer no cabelo?
— Claro que tem, Sum. - eu sorri - Estava pensando em pintar a nuca de azul. O que acha?
— Eu acho uma boa, ficaria bonito. - ela se levantou, depois de organizar os materiais da escola em sua mochila - Eu tenho um azul índigo aqui que sobrou da primeira vez que pintei. O que acha? - ela pegou a caixinha levemente manchada, me mostrando. - Mas, ainda acho que deveríamos marcar de fazer isso em um salão.
— Não, fazer no banheiro da minha casa me parece mais confortável. - dei de ombros, pegando a caixinha de sua mão e a analisando com atenção. - Aceito esse. Podemos pintar a nuca e fazer uns fios na laterais, o que acha?
— Oh, meu bem, depois que você passar por essas mãos, este cabelo nunca mais vai ser o mesmo.
Summer deu pulinhos de alegria, pegando a sacola e me arrastando até o banheiro com uma alegria que somente ela seria capaz de oferecer.











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¹ Bom, vamos começar com os artigos definidos e indefinidos, sim?
² Pode falar o que quiser, mas ainda que leve tempo, eu tenho um fluxo de aprendizagem bem bom, né?



Continua...



Nota du autore: Sem nota.



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