Attraction's Theory Chronicles

Última atualização: Fevereiro/2024

Prólogo

Em filmes de romance em que dois personagens se encontram depois de longos anos sem contato, existem alguns cortes de cena muito especiais. Jogos de luz em que um personagem está iluminado em uma cor fria e outro quente. Cortes de câmera com foco nas expressões. A lenta mudança de ângulo onde o todo vira somente os dois protagonistas para representar o quão presos estão na atmosfera um do outro.
É lindo. Romântico. E absurdamente falso.
Quando vi null Tanaka null pela primeira vez após três anos sem contato algum, eu quis me jogar na frente de um caminhão e mudar para sempre o curso de vida dele. Simples assim.
Essa é a parte engraçada sobre guardar rancor: você pode passar uma vida toda sem dar a mínima para aquilo que te magoou. Mas, basta uma gota. Um simples sorriso. E todas as lembranças retornam como um maldito tsunami, pronto para te levar por completo e deixar somente restos que levarão anos para retornar ao seu estado normal.
Eu era apaixonado por ele, sabia? Anos e anos dedicados à uma fantasia alimentada por livros e mais livros, acreditando que em algum momento ele me veria como algo além. Tentando compreender sinais que nunca de fato existiram. Sempre colocando ele em primeiro lugar em qualquer aspecto da minha vida.
Acho que isso era o esperado, de qualquer forma. Duas crianças que haviam sido criadas juntas como consequência da proximidade de seus pais. Nós éramos uma tragédia. E eu estava fadado a viver uma vida inteira me lembrando de cada um dos erros que resultaram no nosso fim. Mas, para que minhas palavras façam sentido, eu preciso voltar alguns anos no tempo.
Senhoras e senhores, minha história com null Tanaka começou assim:



Capítulo Um

null

I call you up when I know he's at home
I jump out of my skin
When he picks up the phone
(Eu te ligo quando sei que ele está em casa
Eu fico nervoso
Quando ele atende o telefone)
Best Friends Brother, Victoria Justice

Nova York, NY
Antes



As primeiras notas de alguma música do Ne-Yo invadiram meus ouvidos, me fazendo dar um pequeno pulinho de susto. Sebastian estava viciado na música e, quando estava junto com seus amigos, fazia questão de explodir os tímpanos de qualquer pessoa na casa junto com ele. Revirei os olhos, colocando meus fones com isolamento de ruído, voltando minha atenção para a tela do computador novamente.
Eu estava focado em resolver um bug que estava impedindo que meu personagem fosse capaz de atacar um maldito mob sem flutuar pela tela pelas últimas três semanas e tinha quase certeza de que, a qualquer momento, eu iria ter um ataque de raiva e atravessar minha mão em meu próprio monitor. Senti meu celular vibrar em minha mesa, respirando fundo antes de pegá-lo e ler a mensagem que aparecia na tela.

Summer: Ei, seu irmão está em casa?
Sabe se null está com ele?


Franzi o cenho, encarando a tela por vários segundos. Que Sebastian estava em casa, isso não era dúvida. Agora, se null o acompanhava, isso era algo que merecia a minha atenção. null Tanaka null. Ou null, como eu costumava chamá-lo, era o irmão de Summer e, como consequência, o melhor amigo do meu irmão. E, diferente dele, null era uma visão. Um dos garotos mais bonitos e inteligentes que eu já conheci.
Com seus quase um e oitenta de altura, cabelos pretos que escorriam até pouco acima das orelhas em uma franjinha adorável e um sorriso ridiculamente alinhado, ele havia capturado meu coração desde que eu aprendi a diferenciar o que eram sentimentos.
E esses sentimentos também eram completamente unilaterais, já que null era dois anos mais velho que eu e dificilmente me olharia de uma forma diferente de amor fraternal, principalmente quando crescemos juntos.
Mesmo assim, eu ainda me lembrava de cada pequena coisa que ele já havia feito em todos estes anos. Como quando eu menstruei pela primeira vez e ele fez questão de me emprestar roupas dele para que eu não ficasse com as machadas. Ou quando ele me apoiou logo que me assumi quanto não binário, ou quando ele me levou, junto com Sebastian, para renovar meu guarda-roupas para algo menos feminino do que eu sempre tive.
Ponderei por alguns segundos antes de tirar os fones de ouvido e me levantar, colocando meu celular no bolso da bermuda antes de prender meus cabelos no topo de minha cabeça e ajustar a camiseta larga que usava. Sai do quarto, fechando a porta atrás de mim antes de andar pelo corredor até o quarto de Seb. Bati na porta duas vezes, sabendo que ele não iria escutar antes de abrir e colocar somente minha cabeça para dentro de seu quarto.

— Ei, Seb. - gritei, chamando sua atenção - SEBASTIAN!
— Jesus! - ele murmurou, pegando o celular e abaixando o volume da música - Que foi?
— Summer quer saber se o null tá aqui. - eu justifiquei, tirando o celular do bolso e mostrando a mensagem - Não sei o porquê, ela não disse mais nada.
— Estou. - a voz de null invadiu meus ouvidos - Acabei me distraindo e não vi a mensagem dela. - ele se levantou da cadeira, parando ao lado da porta de braços cruzados com um sorriso de canto, que não mostrava uma unidade dos dentes ridiculamente alinhados - Você não sabe cumprimentar as visitas?
— Nós dois sabemos que você deixou de ser uma visita e se tornou um hospedeiro nessa casa. - franzi uma das sobrancelhas, cruzando os braços assim como ele.
— Justo. - ele deu de ombros - Mas, acho que mereço um abraço pelo menos, não? - ele sorriu com todos os dentes à mostra e foi como se uma corrente elétrica passasse por cada centímetro do meu corpo. Merda.
— Claro. - eu sorri, andando até ele para abraçá-lo. Ele retribuiu de imediato, me tirando do chão por alguns segundos antes de bagunçar meus cabelos. O cheiro do seu perfume invadiu meu olfato e eu resisti ao impulso de fechar os olhos e esconder meu rosto contra a curva de seu pescoço. Por Deus, ele era ridiculamente bonito. - Okay, okay, já chega. - eu ri, me afastando o suficiente para voltar a arrumar meus cabelos - Só vim pra confirmar se você estava aqui. Vou voltar para minha caverna.
Eu balancei a cabeça, desbloqueando o telefone e saindo do quarto de Sebastian enquanto digitava a resposta para Summer.

null Romero:
Os dois estão.
Acho que estão estudando.


A resposta de Summer veio poucos depois de eu fechar a porta atrás de mim.

Summer:
Ok, mamãe queria saber se ele viria para o jantar, mas acho que não.

Summer:
Aliás, posso ir até aí? Posso voltar com null ou levar roupas para passar a noite.
Preciso de ajuda com alguns termos para o exame de espanhol.


Ponderei por alguns segundos. Eu estava tentando focar no meu pequeno projeto, mas algo me dizia que ele não seria muito produtivo. E também não seria realmente uma prioridade, se eu considerasse que ainda teria mais dois ou três anos para finalizá-lo. Me sentei em minha cadeira, encostando-me contra o estofado da cadeira quando duas batidas na porta chamaram minha atenção. Me apressei em responder Summer.

null Romero:
Sim, pode vir.
Traz roupas e comida, a gente pode assistir algo.
E traz as coisas de cabelo, preciso de você pra fazer algo nele.


— Pode entrar. - murmurei, antes de colocar o celular na mesa e voltar a focar em achar o erro nas linhas de código.
— Ainda está tentando achar o erro? - null se aproximou, apoiando-se entre a minha mesa e o encosto da minha cadeira. Os dedos longos com as veias saltadas no topo de sua mão me deixando desconcentrado por alguns segundos. Puberdade maldita.
— Sim. - cruzei as pernas em cima da cadeira, passando as mãos pelo meu rosto. - Eu juro que a qualquer momento eu vou atravessar minha mão nesse monitor e nunca mais mexer com design de jogos novamente. Eu vou mudar minha carreira e desistir dessa bosta.
— Estamos sendo um pouco dramáticos hoje, não estamos? - ele soltou um risinho, me encarando sem que o sorriso deixasse seus lábios. - Vamos lá, boy wonder, qual é o problema? - ele se levantou, puxando minha cadeira para o lado e pegando o banquinho ao lado da minha mesa para sentar ao meu lado.
— Você não tinha que estar estudando com Sebastian?
— Ele disse que você estava estressado com os códigos há algum tempo e que todo o tempo que você tem livre, você está preso no quarto tentando resolver. - ele justificou - E que ele já não aguenta mais te ver estressado e a ponto de cometer um assassinato. Seb me pediu para dar uma olhada e te dizer o que está errado.
— E você aceitou?
— Claro, eu gosto. - ele deu de ombros - e você tem uma curva melhor de aprendizagem que a porta do seu irmão, mas não conta pra ele.
— EU OUVI ISSO, SEU BABACA. - Sebastian gritou do outro lado do corredor.
— ERA A INTENÇÃO. - ele gritou de volta, me encarando - Voltando ao ponto, pode me mostrar o erro?
— Certo. - eu concordei - Summer está vindo pra cá, aliás. Você vai passar a noite aqui?
— Não tinha planos de fazer isso, mas quem sabe. - ele deu de ombros, enquanto observava o personagem flutuar pela tela com a falta de gravidade.
— Nem fodendo. - ele começou a rir - Essa merda está parecendo um balão de hélio, puta merda. - ele jogou a cabeça para trás, fechando os olhos em meio ao processo e eu o observei. O maxilar marcado, a sobrancelha falhada graças à uma queda de skate quando ele tinha quatorze anos, os cabelos escorrendo para trás e a veia levemente saltada em seu pescoço. E o seu maldito perfume invadindo meus sentidos. Por favor, Deus, me deixe beijar este garoto e eu juro nunca mais cometer qualquer pecado. Por favorzinho.
— É, eu tenho plena noção que está ridículo - eu forcei um suspiro, sabendo que era mais por ele ser tão bonito quando ria do que por cansaço - Por favor, não faça piadas.
— Okay, okay. - ele balançou a cabeça - Já cometi um erro semelhante. Geralmente deve ter faltado algo de pontuação ou uma linha de comando que você esqueceu de adicionar, fica tranquilo. Posso? - ele apontou para o computador.
— Fique à vontade.
Ele assentiu, pegando o mouse e o teclado para revisar os comandos. Não levou mais que alguns minutos para que ele identificasse o erro e escrevesse uma linha de comando extra antes de colocar o script para rodar novamente. Simples assim, o jogo voltou a ser funcional e com gravidade enquanto o personagem conseguia pular de um ponto a outro sem flutuar para o meio da tela. Eu encarei, sem palavras.
— Eu poderia te beijar agora em agradecimento. - eu murmurei, testando os controles do personagem, que estavam perfeitamente funcionais. - Obrigado, null. - eu o encarei enquanto ele sorria orgulhoso, como se tivesse acabado de descobrir a cura para o câncer.
— Sem beijos, ia ser meio esquisito. - ele me soltou uma piscadela, bagunçando meus cabelos - Agora, você pode focar em desenvolver ele e tentar aplicar para o programa de verão da UCLA no próximo ano ou no seu último ano. As vagas são acirradas, mas eu passei nele esse ano e consigo te ajudar com os requisitos, se precisar.
— Você passou pro programa da UCLA? - eu pausei o jogo, o encarando - Quando ficou sabendo?
— Faz uns dois dias, eu acabei esquecendo de comentar e só lembrei agora. - ele deu de ombros, como se aquilo fosse um mero inconveniente e não como se fosse um dos seus maiores sonhos, depois de entrar na MSU. Como se eu não tivesse escutado ele falar sobre isso pelos últimos três anos.
— Você precisa começar a deixar as coisas anotadas em um quadro em algum lugar visível para começar a se lembrar das coisas, null.
— Eu funciono bem assim.
— Você esquece até de ir ao banheiro quando está focado em programar alguma coisa, eu sei porque já vi acontecer. Você precisa disso.
— Já te disseram que às vezes você parece mais velho que o seu irmão? - ele cutucou minhas costelas, me fazendo rir. - Vou lembrar disso.
— Não vai, não. Mas, fica tranquilo porque seu aniversário está chegando e vou arrumar um pra você. - eu sorri, batendo em seu ombro. - Vou ajudar Summer a estudar para o exame de espanhol que temos na segunda. Você vai ficar pra ajudar?
— Vou voltar pro meu projeto. - ele bocejou - Preciso terminar isso antes de dormir.
— Então, você vai dormir aqui.
— Não sei, depende do quão cansado vou ficar depois de acabar. Seu pai disse que ia ficar no trabalho até mais tarde hoje resolvendo algumas entregas que eles precisam fazer para um cliente estrangeiro, então, acho que vou acabar ficando pra evitar que vocês comam qualquer coisa esquisita que Bash possa tentar cozinhar.
— Certo. Se precisar de algo, me avise. - eu sorri de canto e ele apenas assentiu, se levantando do banquinho antes de bagunçar meu cabelo mais uma vez.
— O mesmo vale pra você.
Ele me mandou um sorriso de canto, saindo do quarto no exato momento em que Summer me avisou que havia chegado. Eu me levantei da cadeira, saindo do quarto e descendo as escadas do apartamento para abrir a porta de entrada para a caçula dos nulls.
Summer estava mexendo no celular quando eu abri a porta e ela me abraçou. Seus cabelos estavam soltos e caiam sobre seus ombros com as pontas pintadas em rosa.
Ela carregava uma mochila em suas costas e algumas sacolas cheias de comida e coisas de cabelo.
— Minha mãe disse que está a ponto de comprar um apartamento no seu prédio porque nós ficamos mais aqui do que em casa.
— Seria uma boa ideia.
— Não é? Mas, acho que ela está evitando fazer isso porque em três anos vamos estar em Michigan.
Ela entrou, encostando a porta atrás de si antes de me acompanhar até meu quarto enquanto tagarelava sobre odiar ter uma dificuldade tão grande com o espanhol quando sua segunda mãe era argentina. Eu soltei uma risada sincera enquanto entrávamos em meu quarto.
— Calma, você vai aprender. Você lembra da dificuldade que foi quando eu comecei a aprender japonês, não lembra?
— E hoje você só não fala melhor que eu porque eu viajo todo o ano pra lá. - bufou, jogando as coisas em cima da minha cama. - Eu trouxe sneakers, milky way, algumas balas de goma e salgadinhos. O que você tem aqui?
— Depende… - eu sorri enviesado antes de fechar a porta atrás de mim - Meu pai comprou algumas bebidas novas para o bar, podemos furtar uma garrafa. A menos que você queira ficar tomando suco.
— Olha bem pra minha cara, null, você acha mesmo que eu quero beber suco na sexta-feira? - ela me pegou pelos ombros, me chacoalhando.
— Amanhã temos a festa de aniversário da Daisy, de qualquer forma. Vamos beber de qualquer jeito. - murmurei, pegando as coisas de cima de casa e tirando-as da sacola, organizando tudo no centro da cama.
— Justo.
Ela sorriu, sentando-se no chão e tirando o iPad, canetas e um caderno de dentro da bolsa. Summer digitou algo no iPad antes de abrir a folha de exercícios e me passar.
— Essas são as coisas que vão cair no exame de espanhol.
— Okay. - eu peguei o aparelho, estudando as questões. Em teoria, eram coisas simples. Artigos definidos e indefinidos, artigo neutro Lo e contração de artigo. Eu compreendia a dificuldade de Summer. Eram temas complicados quando não havia equivalências nas línguas maternas de Summer.
— Se eu falar em espanhol, você vai me entender?
— Sim. - ela assentiu - Consigo falar e compreender, só não consigo entender a lógica por trás desses pontos.
— Certo. Bueno, vamos a empezar con los artículos definidos e indefinidos, ¿eh?
— Vale.

Summer murmurou e eu peguei minhas anotações digitais para explicar com mais facilidade. Me sentei ao lado dela e comecei a explicar, tentando ao máximo dar exemplos ridículos porque eu sabia que assim, as chances de Summer memorizar as pequenas regrinhas eram maiores que apenas explicar a definição.
Após longas três horas, Summer foi capaz de diferenciar cada um dos pontos e fazer os exercícios de revisão com facilidade, sorrindo orgulhosa quando eu corrigi todos os exercícios, a parabenizando por acertar todos eles após algumas tentativas.
Puedes decir lo que quieras, pero aunque tome un poco de tiempo, tengo un flujo de aprendizaje buenísimo, eh? - ela se gabou, jogando os cabelos rosa-choque no ar. - Aliás, o que você tá querendo fazer no cabelo?
— Claro que tem, Sum. - eu sorri - Estava pensando em pintar a nuca de azul. O que acha?
— Eu acho uma boa, ficaria bonito. - ela se levantou, depois de organizar os materiais da escola em sua mochila - Eu tenho um azul índigo aqui que sobrou da primeira vez que pintei. O que acha? - ela pegou a caixinha levemente manchada, me mostrando. - Mas, ainda acho que deveríamos marcar de fazer isso em um salão.
— Não, fazer no banheiro da minha casa me parece mais confortável. - dei de ombros, pegando a caixinha de sua mão e a analisando com atenção. - Aceito esse. Podemos pintar a nuca e fazer uns fios na laterais, o que acha?
— Oh, meu bem, depois que você passar por essas mãos, este cabelo nunca mais vai ser o mesmo.
Summer deu pulinhos de alegria, pegando a sacola e me arrastando até o banheiro com uma alegria que somente ela seria capaz de oferecer.











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¹ Bom, vamos começar com os artigos definidos e indefinidos, sim?
² Pode falar o que quiser, mas ainda que leve tempo, eu tenho um fluxo de aprendizagem bem bom, né?


Capítulo Dois

null

“It’s all about the “he says, she says” bullshit’”

(É tudo sobre essa merda de “diz que me diz”)
— Break Stuff, Limp Bizkit


Nova York, NY
Antes



— E então, ela me puxou para um dos armários de limpeza e me deu o melhor boquete que já recebi em toda a minha vida. O. Melhor. Boquete. - Sebastian sussurrou, gesticulando animadamente contra a superfície de metal enquanto eu procurava o livro de álgebra III em meu armário.
Sebastian estava saindo com alguma garota da turma dos seniores que eu não havia feito questão de pegar o nome e, pelas palavras de animação e detalhes que eu tampouco fazia questão de me inteirar, eu estava certo em ignorar boa parte das palavras que saiam da boca de Sebastian Romero null.
— Quer um cartão de “parabéns” ou algo assim? - o encarei, colocando o livro em minha bolsa antes de fechar o armário e trancar a porta - Honestamente, você deveria tomar um pouco mais de cuidado com as palavras, não é como se as fofocas nesses corredores não tomassem proporções estrondosas a troco de nada, né?
Eu murmurei, deixando a mochila cair contra minhas costas enquanto andávamos pelos corredores até a sala que teríamos o próximo horário. Eu brincava com o amarrador de cabelos como se minha vida dependesse disso. O corredor lotado e barulhento me deixava ansioso ao ponto de me fazer sentir dores físicas com o som de metal sendo batido contra si mesmo diversas vezes. Ainda assim, isso não impediu Sebastian de soltar uma risadinha. Me limitei a balançar a cabeça negativamente. Não precisei dar mais detalhes quando a história ainda estava fresca.
Rumores na Horace Mann tomavam proporções gigantescas desde que havíamos entrado no colégio, ainda crianças. Nos primeiros anos de fundamental, já haviam rumores de alunos do penúltimo ano saindo do estado para ter abortos legalizados em segredo quando, na realidade, haviam tido uma cirurgia de remoção de apêndice. v No ano anterior, null havia sido alvo de um rumor que envolvia a professora da eletiva de música e toques que nem de longe seriam considerados aceitáveis considerando a idade dos envolvidos. O rumor tomou proporções absurdas depois de um aluno ter alegado que havia visto ambos se abraçando e a professora em questão dar um beijo na bochecha de null durante o recesso de verão em um shopping.
O que, de fato, seria uma interação suspeita se a mulher não fosse a tia de null e Sebastian e eles não estivessem em um almoço de família.
As consequências do rumor acabaram em uma suspensão de três dias. Tudo porque Sebastian caçou o responsável por espalhar o rumor como uma caça às bruxas e, quando descobriu, fez questão de resolver isso de forma muito madura. Ele provocou uma fratura exposta na perna de Joshua Miller durante uma partida de futebol no interclasse.
— Se eu não contar pra alguém, vou explodir. - ele riu - Não consigo guardar segredos, null. Eu conto pra você porque assim eu não preciso sair contando pra qualquer outra pessoa.
— Uma cruz que eu não tenho a mínima vontade de carregar. - eu balancei a cabeça negativamente, vendo Summer e null do outro lado do corredor conversando animadamente.
null havia pintado seus cabelos de azul na noite passada e ainda tinha algumas manchinhas de cor em sua nuca. Ele ria animadamente sobre algo que Summer havia dito antes de fechar o rosto completamente quando a imagem de Braeden Smith se materializou há poucos metros dos dois.
Braeden Smith era um babaca e havia ficado pior após perder o posto de capitão do time de futebol da Horace para Sebastian. Ele era absolutamente todos os estereótipos de atleta escolar, do bullying até a forma como ele se parecia. Eu nutria uma piada interna com Sebastian de que ele provavelmente batia punheta para o hino nacional dos Estados Unidos e ficava de pau duro sempre que via uma águia-de-cabeça-branca. Ele era um merda e havia nutrido um interesse especial em Summer e eu nos últimos meses. As provocações começaram leves, uma bolinha de papel ou bilhetes jogados em minha cabeça durante as aulas. Uma marcação agressiva e carrinhos nos treinos.
E nas últimas semanas, haviam escalado para empurrões e xingamentos, quando ele finalmente percebeu que as provocações leves não eram o suficiente para me tirar a paciência. Logo depois, ele resolveu que Summer seria uma boa forma de me desestabilizar e começou a fazer da vida dela um inferno.
Observei a interação, colocando o braço em frente a Sebastian e impedindo-o de andar, somente para apontar para o grupinho que estava ao fim do corredor.
— Se ele chegar perto dos dois, eu vou dar fim nisso. - Seb ralhou, encarando.
— Não. Vai dar merda se o capitão do time estiver socando o vice-capitão.
— Que se foda, null. Braeden está enchendo minha paciência faz meses. Você não quer lidar com isso na base da violência? Beleza, direito seu. Mas, ele já cruzou limites quando começou a fazer isso com Summer. E se ele sonhar em falar qualquer merda para o null, eu vou trucidar as chances dele conseguir uma bolsa de atleta em qualquer universidade, assim como fiz com Joshua.
Sebastian me encarou e eu respirei fundo. Eu poderia ter acabado com essa merda na primeira vez em que ele havia me provocado, mas prometi a mim mesmo que seria alguém melhor esse ano e não iria voltar para a pessoa que era logo que as coisas com Danielle acabaram.
— Ele sabe que null está fora dos limites, ele não é estupido, Sebastian.
— Acho que é, porque nessa altura do campeonato Summer e null são a mesma pessoa.
Sebastian apontou com a cabeça para o irmão, que rolava os olhos e fechava o punho com força contra a alça de sua mochila, como se aquilo fosse a única coisa o impedindo de pular em cima de Braeden. E Braeden não foi inteligente o suficiente para entender o recado implícito em null. As coisas após isso escalaram em níveis estratosféricos segundos depois.
Braeden disse algo para Summer assim que se aproximou dela, apoiando-se com a mão espalmada contra a cabeça de minha irmã de forma em que ela se encolheu contra o armário, mas não sem antes me encarar com um sorriso cínico. No momento seguinte, eu larguei minha mochila no chão e corri em direção a Summer, ao menos avisando Sebastian e apenas sentindo meu coração palpitando de adrenalina e mandando para o inferno toda a paciência que eu havia construído.
null, entretanto, tinha um fio de paciência muito menor que o meu. E antes mesmo que eu pudesse alcançá-los, ele tomou as rédeas da situação e deu o primeiro empurrão em Braeden, afastando-o de Summer antes de jogar sua mochila no chão e avançar em direção à Braeden.
Quem caralhos você pensa que é?
A voz estridente de null invadiu meus ouvidos junto com o barulho de corpos batendo contra armários. null havia pego Braeden pelo colarinho e o jogado com força contra a superfície de metal. null tinha apenas cinco centímetros de diferença na altura de Braeden, mas a fúria em seus olhos denunciavam que ele estava próximo de ter um ataque de raiva.
— Tira as mãos de mim, spic. - Braeden cuspiu, empurrando null.
null deixou um sorriso brincar em seus lábios antes de dar o primeiro soco no nariz de Braeden, que começou a jorrar sangue instantaneamente.
E BRAEDEN SMITH ESTÃO BRIGANDO! - um dos calouros gritou e um círculo começou a se formar ao redor do corredor enquanto os alunos gritavam como animais em favor da briga.
Braeden tirou a mão do rosto e avançou para cima de null, acertando um soco em seu supercílio direito e um outro em seu olho. O sangue começou a jorrar, escorrendo pelo rosto de null, que revidou com um chute no joelho lesionado de Braeden. Ele caiu no chão e ao menos teve tempo de reagir quando null chutou sua costela e subiu em cima dele, desferindo socos em seu rosto.
Decidi que já havia visto demais quando empurrei as pessoas que estavam à minha frente e puxei um null furioso pela cintura.
— ME SOLTA, EU VOU ACABAR COM ESSE ESCROTO. ME LARGA. - null se debatia contra meu peito, gritando com a voz rouca.
null, sou eu. Se acalma, você vai matar o Braeden se continuar assim, se acalma, caralho.
Ele continuou se debatendo por alguns segundos, finalmente se dando conta de quem havia o segurado ao parar de se mexer e finalmente me deixar tirá-lo de perto de Smith. Seu rosto estava coberto com o sangue do corte em sua sobrancelha e suas roupas estavam com respingos.
— O que está acontecendo aqui? - uma das professoras, Sra. Bower, cortou entre os alunos, vendo Smith se levantando com dificuldade no chão antes de ver a imagem ensanguentada de null contra meu corpo. - Smith, Tanaka e Romero, vocês vão para a enfermaria imediatamente e depois diretamente para a sala do Sr. Coleman.

💻💻💻💻💻


null encarava o teto com um saco de gelo contra sua têmpora enquanto sentávamos na sala de espera do diretor Coleman. Ele balançava os pés ansiosamente contra o piso, mordendo o lábio enquanto ouvíamos as vozes abafadas dentro da sala do diretor. Nossos pais haviam sido chamados graças à briga. Agora os senhores Smith, null e null discutiam calorosamente.
Isso é um absurdo! - a voz de minha mãe invadiu meus ouvidos - Meus filhos estavam sendo vítimas de bullying há meses! MESES, JORDAN. - minha mãe se referiu ao Sr. Coleman. Era estranho vê-la se referir a ele com tanta informalidade, mesmo sabendo que eles haviam se conhecido durante a faculdade. Mas, novamente, era realmente uma surpresa quando o mesmo acontecia com a maioria dos pais dos alunos da Horace?
Eu compreendo, Connie. Entretanto, a Horace Mann tem um código de conduta contra violência que eu não posso simplesmente ignorar.
Certo. E bullying não entra neste código? Nossos filhos têm sido vítimas do senhor Smith por alguns meses e, até agora, nada foi feito para resolver o problema. Meu filho voltou pra casa com um olho roxo no mês passado. O que é exatamente você fez para evitar que isso acontecesse?
— Isso aconteceu? - o encarei.
— Sim. - ele enrubesceu - Foi no último dia das aulas de verão e você já estava no Japão para passar as férias.
— Por isso você não quis aceitar minhas chamadas de vídeo? - eu franzi minhas sobrancelhas - Por que você escondeu isso de mim?
— Eu consigo resolver meus problemas, null. Viu? - ele piscou em minha direção e apontou para o olho que começava a tomar uma tonalidade roxa e eu apenas rolei os olhos.
Aconteceu fora dos limites escolares, não havia nada que eu pudesse fazer.
Ah, compreendo. Muito bom, Jordan. Muito bom mesmo. - Liam null riu, amargo - Ele estava apenas se defendendo. Todos os alunos que você interrogou disseram que null não deu o primeiro soco. Como exatamente você justifica que ele pegue uma suspensão maior que o responsável por ter começado a briga?
A sua filha quebrou duas costelas e deslocou o joelho do meu filho. Isso parece como um comportamento de uma vítima para você? - Sr. Smith ironizou e eu tive que juntar toda a minha força de vontade para não invadir a sala e fazer com que Ferdinand Smith saísse pelos portões da Horace em uma ambulância da mesma forma que seu filho.
Não confunda a reação de null com violência gratuita quando ele está há meses reclamando dos episódios de agressão verbal que o seu filho provocou. E eu sugiro que escolha muito bem suas palavras, Ferdinand, porque eu tenho dois FILHOS. null não é uma garota e isso já deveria ter sido esclarecido há muito tempo. Mas, creio que eu não deveria esperar muito de você, visto a criação que deu ao seu filho, certo?
— Ele realmente disse ‘’Direitos Trans’’, huh? - sussurrei em direção à null, empurrando-o levemente com o cotovelo. Ele soltou uma risadinha.
— E se o pai do Braeden continuar, meu pai vai sair daqui com pelo menos três processos abertos contra ele. - null riu - Me desculpa.
— Por?
— Por isso. - ele apontou ao redor - Meio que poderia ter sido evitado se eu não tivesse sido impulsivo. Você nem fez nada e agora está correndo risco de ser suspenso também.
— Relaxa, null. - eu o tranquilizei, apertando levemente seu ombro - Se você não tivesse agido antes de mim, eu estaria aqui de qualquer forma. Eu estava atravessando o corredor pra acabar com isso de uma vez quando você acertou o primeiro soco.
— Mesmo assim - ele se encostou contra a parede - Eu me sinto mal. Você não deveria ser penalizado pelas minhas ações e vou me certificar de deixar claro caso eles tentem te suspender.
— Eu não te mereço, sabia? - eu escorreguei minhas mãos por cima da dele, tomando cuidado para não tocar os nós machucados de seus dedos - E eu definitivamente não preciso que você lute minhas batalhas por mim, idiota.
— E o que mais eu faria? Seus bracinhos de macarrão não conseguiriam dar um bom soco nem se sua vida dependesse disso. - null sorriu, me cutucando com seu cotovelo.
Mesmo quando ele estava completamente machucado depois da briga, null ainda sorria como se tudo não passasse de um mero inconveniente. Eu senti meu peito errar algumas batidas quando o sol passou pelas janelas e atingiu seus rosto, transformando seus olhos âmbar em uma cor muito semelhante à um pote de mel. Ele era lindo. E a porra de uma ameaça, ao mesmo tempo.
— Eles estão começando a crescer, olha. - eu flexionei meus músculos contra a manga da camisa social branca - Ficarei maior que você logo, logo.
— Assim espero, é sua obrigação moral visto que seu corpo produz algo que o meu não produz. - ele respondeu, rolando os olhos antes de encarar o teto novamente - Minha mãe vai me matar quando ela descobrir.
— Não acho que vá. Paola é bem compreensiva e, como seu pai costuma dizer…
— Legítima defesa é legítima defesa, então nunca dê o primeiro soco. - null repetiu, sorrindo momentaneamente - Advogados.
— Advogados de merda.
Eu concordei ao entrelaçar meu mindinho contra o dele. Um pequeno hábito que havia surgido entre nós desde que éramos crianças. null quem havia começado. A primeira vez que tive que me despedir do meu pai antes que ele se mudasse para o Japão graças ao trabalho dele como CEO de uma marca de cosméticos, null entrelaçou seus dedos contra os meus enquanto eu chorava e ele me dizia que tudo ficaria bem. E que poderia ver meu pai durante as férias e feriados prolongados.
A segunda vez que fizemos isso, foi quando ele decidiu que era hora de contar aos pais dele que na realidade, ele era trans. Seus pais não levaram isso da melhor forma possível de início e ele passou uma semana na minha casa enquanto evitava falar com seus pais. Sebastian, Summer, null e eu passamos todo o tempo dormindo juntos até que Paola e Liam entendessem que ele não estava passando por uma fase rebelde. Ou que ele era jovem demais para saber o que identidade de gênero era.
Eu escutei o barulho da porta finalmente sendo aberta e virei minha cabeça para ver minha mãe, Liam e Ferdinand Smith saindo da sala com Sr. Coleman em seu encalço. O pai de null se abaixou, analisando seu rosto para ter certeza de que somente o tratamento da enfermaria do colégio seria o suficiente para os machucados em seu rosto, ao mesmo tempo em que minha mãe se sentava ao meu lado.
— Oi, mãe. - eu sorri quando ela passou seus braços ao meu redor em um abraço apertado - O que foi isso?
— Eu só estou feliz que você está bem. - ela sorriu, antes de se inclinar em direção a null - Mas, nós vamos conversar sobre isso mais tarde, tudo bem? Nós quatro.
— Tudo bem, tia. - null olhava para baixo como se estivesse completamente envergonhado de suas ações. Mas, eu o conhecia o suficiente para não confiar em suas habilidades de atuação. O mesmo acontecia com a expressão irritada que tomava conta do rosto de minha mãe.
— Já que estamos todos aqui, Braeden Smith será suspenso de suas atividades escolares durante a semana e terá que participar da detenção por duas. Ele também perderá seu posto como Vice-Capitão do time de futebol da Horace para servir de exemplo aos outros estudantes de que o bullying não será tolerado no perímetro escolar. - Sr. Coleman encarou o Sr. Smith - Quanto a Sr. null e Sr. null, vocês serão liberados das aulas de hoje, visto que não estão em condições para participar delas sem que isso cause um alvoroço nos demais alunos e mais uma semana de detenção a partir de amanhã. Esse prazo pode ser estendido de acordo com seu comportamento, mas visto que vocês são alunos exemplares e essa foi a primeira violação do código de conduta escolar, creio que não vamos ter mais problemas, certo?
— Não, senhor. - null e eu concordamos em uníssono.
— Ótimo, vocês estão dispensados.
O Diretor Coleman nos deu as costas e voltou para a sua sala. Ferdinand Smith ao menos se importou em olhar para trás enquanto pisoteava com força para longe da sala do diretor.
Nós seguimos o mesmo caminho logo após para o interior do carro dos null, em completo silêncio pela viagem toda até a casa de null. Eu permaneci com meu mindinho entrelaçado no dele, esperando que a bomba estourasse no mesmo segundo em que sentamos contra o sofá e nossos pais pararam em nossa frente, nos encarando.
— Eu poderia dizer que estou muito desapontada com as ações de vocês dois hoje. - Minha mãe começou, mas um pequeno sorriso foi aos poucos se formando em seus lábios - Mas, eu estaria mentindo. E eu me conheço bem o suficiente para saber que eu tive minha quantidade de brigas escolares na idade de vocês e que seria uma questão de tempo até que vocês trouxessem isso para a discussão, caso eu comentasse algo. Então, eu vou deixar isso para Paola.
— Exatamente. - Liam concordou - Mas, ainda assim, eu preciso dizer que fiquei preocupado. Quando a secretária do colégio entrou em contato com a gente dizendo que um dos alunos havia sido encaminhado para o hospital, nós esperamos o pior. E, como vocês bem sabem, quando chegamos vocês ainda estavam na enfermaria então ficamos bem apreensivos. Eu estava preparado para ligar para os meus sócios para começar a juntar evidências para o processo contra Smith.
— Meu deus, pai. - null murmurou - Você é muito dramático.
— Um dia, quando você tiver filhos, vai saber do que estou falando. - Liam rebateu.
— Então, vocês não estão bravos? - eu encarei minha mãe.
— Não. - ela sorriu - Um pouco preocupados em como isso pode influenciar em seu histórico acadêmico? Sim. Mas, não estamos bravos. Só precisamos que vocês não arrumem mais brigas daqui pra frente.
— Exato, conseguimos tirar vocês de uma suspensão por ser a primeira infração de vocês, mas vai ser complicado repetir o feito se isso virar um hábito. - Liam cruzou os braços.
— Nós não iremos. - null se certificou em tranquilizá-los - Me desculpa, tia. Não queria que null tivesse sido penalizado por isso, ele só separou a briga.
— Não precisa se desculpar. - minha mãe sorriu - Eu hoje em dia não aprovo condutas violentas, mas Deus sabe o quanto aquele garoto mereceu os bons socos que você deu nele.
— E ainda que eu também não ache que isso tenha sido a melhor forma de lidar com a situação, eu estou orgulhoso que você defendeu seus amigos dessa forma, tenho certeza que Connie compartilha do mesmo sentimento. - o pai de null concordou.
— Isso. - minha mãe sentou ao lado de null - Agora, quanto a Paola e seu pai. - ela me encarou.
— Eu sabia que isso iria chegar nesse ponto. - null murmurou - Ela vai me matar.
— Nós conversamos sobre isso no caminho até a Horace e decidimos que estamos de acordo em não comentar isso com Paola e Daizen se vocês prometerem que isso não vai se repetir. Foi apenas uma infração menor que pode nem entrar no histórico escolar de vocês, então é possível que eles não tenham acessos a esses registros se não contarmos. - Liam se sentou ao meu lado.
— Não vai se repetir. - eu me certifiquei em dizer - Prometo não deixar as coisas escalarem nesse nível caso algo similar volte a acontecer.
— Duvido muito que alguém vá tentar algo depois do que aconteceu com Braeden. - null concordou - Ele virou um exemplo, as coisas na Horace não são esquecidas tão facilmente.
— Eu quem o diga.
Liam concordou. Não era segredo que ele havia sido um aluno da Horace há bons anos atrás. Havia um mural com todas as conquistas dos alunos através dos anos e Liam null estava em pelo menos cinco fotos emolduradas como atleta olímpico de futebol, assim como Sebastian.
Mas, antes esse fosse o único feito de Liam null durante seus anos estudantis. Como consequência da maioria dos alunos do colégio serem legados de estudantes, não era difícil saber dos rumores relacionados à época de ouro da Horace. Daizen e Liam haviam sido responsáveis por criar a lista dos seniores que era repetida ano após ano no colégio. Uma lista que envolvia desde boquetes nos armários de limpeza até menáges com garotas da faculdade.
Era um acordo silencioso entre Sebastian e eu nunca de fato deixarmos claro para nossos pais o quanto sabíamos do histórico deles. Entretanto, isso não impedia que Sebastian tivesse acesso a lista e começasse a trabalhar para que ela fosse completada até o fim daquele ano letivo, quando iríamos para Michigan.
— Com isso resolvido, vou até a galeria. Tenho algumas exposições para organizar com minha agente e eu saí no meio de uma reunião para ir até a Horace. - minha mãe se levantou - Você se importaria de ficar de olho neles, Liam? Acho que ambos sabemos que Summer e Sebastian ficarão ansiosos se chegarem e null não estiver aqui.
— Pode ir. Mas, não garanto que ficarei o dia todo, preciso voltar para o escritório para resolver alguns trâmites relacionados à vinda da MSFT para os Estados Unidos.
A MSFT ou MISFIT, era a empresa de cosméticos em que papai e Paola null dividiam sociedade. A mãe de null era a principal engenheira de produtos da marca e meu pai, era seu CEO. Como consequência, ambos haviam se mudado para o Japão e desde então haviam começado a tramitação para trazer a marca para os Estados Unidos, assim eles finalmente poderiam voltar para as suas famílias e nós poderíamos deixar de vê-los somente duas vezes ao ano.
— Quer uma carona? É caminho, tenho certeza que eles vão se comportar enquanto estiverem aqui. - minha mãe pegou a bolsa, alisando seu vestido.
— Provavelmente vamos voltar para o projeto de programação de null. - eu confirmei.
— Então, irei aceitar a carona. - Liam sorriu, pegando a maleta em cima da mesa de centro antes de depositar um beijo no topo da cabeça de null. Minha mãe fez o mesmo comigo - Até mais tarde, se comportem.
— Nós vamos. Até mais, pai.
null se despediu e eles saíram do apartamento. Ele permaneceu por alguns segundos, como se estivesse considerando um mundo de opções antes de me encarar.
Mario Kart?
— Eu vou te trucidar.
Eu respondi, antes de me levantar com null e irmos diretamente para a sala de jogos. Eu me apressei em arrumar tudo enquanto null enchia algumas tigelas com salgadinhos e pegava duas latas de refrigerante na geladeira para deixar próximos dos puffs.
Nos sentamos e eu passei o controle para ele ao mesmo tempo em que pegava a lata de Coca-Cola e a deixava ao meu lado. Eu selecionei o Bowser como meu personagem enquanto null escolheu Yoshi.
— Então - puxei assunto enquanto o jogo iniciava e esperávamos a largada -, o que Braeden disse pra vocês?
— Nada demais, não vale a pena repetir. - ele deu de ombros, acelerando quando foi dada a largada.
null.
null.
— Eu tô falando sério. - murmurei, focando em pegar o primeiro item disponível na tela. Eu sorri satisfeito quando o item de bomba de tinta apareceu em meu inventário.
— Não foi nada, é sério.
— Você não teria aquela reação se tivesse sido nada. - eu pausei o jogo, forçando sua atenção para mim - Qual é, achei que contássemos tudo um para o outro.
— Ele disse que poderíamos fazer um a três. E que eu só era esquisito daquele jeito porque não tinha provado um pau ainda. - null me encarou e eu senti a raiva voltar a se acumular em meu corpo.
— Eu vou matar aquele desgraçado.
— Não vai, não. Fizemos uma promessa de não criar problemas de novo e eu não quero ter que lidar com o esporro da minha mãe.
— Eu prometi não criar problemas no ambiente escolar. Fora dele, já é outra história. Sr. Coleman disse que ele não pode fazer nada fora do perímetro escolar.
— Eu juro por deus que vou me matar na sua frente, null. - null disse com seriedade - Esquece isso, eu já resolvi o problema, tá tudo bem.
Ele voltou a encarar a tela, esperando silenciosamente para que eu tirasse a pausa do jogo. null tinha só quinze anos, a mesma idade de Summer. E Braeden tinha dezoito. Uma diferença não muito grande, mas incômoda suficiente para que os alarmes soassem em minha cabeça. Por que caralhos nós éramos cercados por esse tipo de gente?
— Olha, null, o que ele fez merece bem mais do que só uma surra. Ele assediou vocês, isso é sério pra caralho, Braeden precisa ser expulso.
— Eu sei. - null bufou - Eu sei de tudo isso, null. Mas, não é como se eu pudesse falar muita coisa, né? Quase fui suspenso por bater nele, se eu disser que foi porque ele me assediou, vão dizer que estou perseguindo ele e que passei dos limites. Nós dois sabemos como as pessoas me veem naquele lugar, eu não estou afim de jogar mais palha na fogueira. Não conta nada pro Sebastian, tá legal?
— Não posso prometer isso, null. - eu o encarei - Ele merece o mesmo tratamento de Joshua. E eu não vou passar pano pra uma merda dessas de novo.
— Como foi com Danielle?
Eu pausei. Danielle era um assunto complicado desde o último ano e raramente conversávamos sobre ela. null não sabia metade das coisas que ela havia feito, apenas pequenos rumores aqui e ali. Ele havia me visto ficar completamente apaixonado e depois me viu completamente destroçado por ela.
Eu evitava citar seu nome ou até mesmo pensar nela, porque isso me levava a lugares em que eu não gostaria de lembrar ou estar. Era uma espiral de merda que eu ainda estava lutando para sair. E que havia sido esfregada na minha cara no exato momento em que as palavras saíram da boca de null.
— É, exatamente como foi com ela. - eu murmurei, voltando minha atenção para a tela. null suspirou, tirando o controle de minhas mãos para chamar minha atenção.
null.
— O que foi?
— Olha pra mim. - ele pediu e eu obedeci - Passei dos limites aqui, me desculpa. O que eu queria dizer é que eu não quero que vocês se metam mais do que já estão nessa história. Eu não sou você e ele não é Danielle. Vou me certificar de que ele não saia sem consequências disso, tá? A história com a Danielle não vai se repetir, mesmo que eu não saiba de tudo. Isso eu posso prometer.
— Você é só uma criança.
— Temos dois anos de diferença e os mesmos contatos. - ele sorriu de canto -, Não queima a cabeça com isso. Você precisa garantir que vai estar na MSU no próximo ano e eu também. E pra isso acontecer, precisamos ficar longe de problemas.
— Okay. - eu assenti, me dando por vencido - Mas, tem que me prometer que isso não vai te afetar.
— Prometo. - ele me garantiu - Mas, você sabia que o Braeden fuma maconha embaixo das arquibancadas durante os intervalos das aulas? Seria uma pena se alguém tivesse contado isso para o Sr. Coleman.
Três semanas depois, a notícia de que Braeden Smith tinha sido transferido para um colégio na Inglaterra tomou os corredores. Ninguém sabia ao certo o que havia acontecido e algumas teorias diziam que ele tinha sido expulso depois de ser pego em condutas sexuais com uma professora do corpo docente.
Entretanto, quando passei por null e ele me deu uma piscadela, eu sabia que ele tinha cumprido com sua promessa de não deixar com que mais uma Danielle andasse pelos corredores de uma Universidade com seu histórico e futuro intactos.
E, por um segundo, eu me senti um pouco melhor do que já havia me sentido no último ano.



Capítulo Três

null

“Favorite friend
And nothing’s wrong when nothing’s true
I live in a hologram with you”
(Amigo favorito
E nada está errado quando nada é verdade
Eu vivo em um holograma com você)
— Buzzcut Season, Lorde


Nova York, NY
Antes



Após o inferno das semanas anteriores e da expulsão de Braeden, eu me sentia como se pudesse finalmente respirar novamente e voltar aos meus hábitos.
Acordar de manhã, revisar os conteúdos das aulas e voltar a programar o jogo que seria responsável por me colocar no programa de verão da UCLA. Eu estava ansioso, de certa forma. A cada dia que passava, era um a menos até que eu finalmente pudesse ir para a Universidade Estadual do Michigan e deixar todo o inferno do ensino médio para trás. Começar minha vida do zero, como uma folha em branco.
— Ei, ouviu a novidade?
Summer parou ao meu lado no armário enquanto eu pegava meu livro de biologia e checava minhas anotações para a prova que aconteceria ao fim do período. Eu iria aproveitar para fazer uma revisão durante meu horário de almoço, mas algo dizia que Summer estava animada demais para alguém que planejava estudar.
— Não realmente, o que aconteceu?
— Temos uma aluna nova, começou hoje e estamos dividindo algumas disciplinas.
— Acho que vou me arrepender da pergunta, mas como isso está relacionado comigo? - a encarei.
— Ela é a filha do Peter Jones. - Summer sorriu, animada - O Peter Jones.
— O marido da Savannah Carter?
Summer conseguiu capturar minha atenção e pareceu bastante satisfeita com isso. Savannah Carter e Peter Jones foram nossas obsessões por toda a sexta série. Eu havia descoberto Savannah em uma playlist aleatória e entrei em uma toca de coelho para saber tudo sobre ela. Foi uma surpresa agradável quando, alguns anos depois, eles assumiram seu relacionamento de forma pública com uma demonstração de amor que subiu meus parâmetros de relacionamento de forma irreversível. Eles tinham talento, química e beleza. E, enquanto eu era completamente obcecado por Savannah, minha melhor amiga mantinha o mesmo nível de obsessão por Peter e sua banda, a Rowdy.
null, precisamos ser amigos dela. - Summer murmurou, enquanto andávamos em direção ao refeitório - Tipo, sério. Nós seríamos um trio incrível e eu divido algumas cadeiras com ela, então temos coisas em comum.
— Você acha mesmo que metade da escola não pensou a mesma coisa? Eles são famosos pra caralho, não é como se ninguém quisesse ser amigo dela também.
Entrei na fila da cantina para comprar meu almoço e após avaliar as opções, decidi ir na opção de pizza de brócolis e suco de morango. Fizemos nosso caminho em direção a nossa mesa e nos sentamos.
— Ela parece meio perdida, na real.
Summer mexeu com a cabeça em direção à Cassandra Jones, que estava parada no meio da cantina decidindo onde iria se sentar. Ela parecia perdida e isso foi o suficiente para que Summer levantasse seu braço para chamar sua atenção em um convite para que ela se sentasse conosco. A novata lhe deu um sorriso de canto e começou a se dirigir em nossa direção, mas não sem antes ser parada por Daisy Moreau.
— Acho que você perdeu essa, Sum. - eu ri, dando uma mordiscada na pizza.
— Ou não.
Poucos segundos depois, Cassandra estava se sentando ao lado de Summer na mesa com sua bandeja que trazia uma maçã, duas fatias de pizza de brócolis e uma garrafa de suco de abacaxi.
— Obrigado por isso, eu estava meio perdida. - Cassandra agradeceu, timidamente.
— Relaxa, já tive meu primeiro ano de aulas em um lugar novo também. - Summer a tranquilizou - Esse é null, a pessoa que comentei com você hoje mais cedo na aula de artes.
— Oi, eu sou Cassandra Jones. Mas, pode me chamar de Cassie, todo mundo me chama assim. - ela riu fraco, estendendo sua mão em minha direção. Eu retribui o cumprimento.
null null, é um prazer conhecer você. - eu sorri em sua direção. De perto, Cassie parecia incerta em como exatamente prosseguir com uma interação - Só por curiosidade, você realmente é a filha do Peter?
— Sim. - ela riu fraco - Mas, por favor, não precisa me tratar como se meu pai fosse aparecer aqui e surtar caso você faça uma brincadeira. Eu juro que tive pelo menos quatro pessoas me perguntando se meu pai colocou algum segurança para me acompanhar.
— Ele colocou? - eu provoquei e ela abriu um sorriso divertido.
— Talvez ele esteja me esperando na sala do diretor caso as coisas fiquem tumultuadas. - Cassie me respondeu - Vocês são fãs?
null é mais fã de Savannah do que da banda. - Summer explicou e eu concordei - E eu espero que você nunca visite o meu quarto porque senão eu vou ter que tirar os posteres da Rowdy da parede.
— Relaxa - Cassie riu, balançando a cabeça - Eu não vou usar isso contra vocês, meus pais são bem fodões mesmo. Aliás, quais matérias vocês fazem? Seria bom ter um rosto conhecido aqui.
— Além das disciplinas que compartilhamos, acho que você vai ter aulas com o null.
— Você faz álgebra III, Biologia II e Literatura? - questionei. — Sim. Mas, também tenho História Mundial II, Espanhol III e Japonês I. — Vamos compartilhar boa parte das disciplinas, menos Japonês I. - eu concordei - História Mundial e Espanhol você vai ter com o meu irmão. - expliquei - Ele deve aparecer aqui daqui a pouco, geralmente almoçamos juntos. Posso te apresentar pra ele, assim você não fica sozinha. Álgebra III nós estamos juntos com o irmão da Summer. Geralmente escolhemos as mesmas cadeiras porque assim é mais fácil quando estudamos.
— Vocês estão salvando minha vida, sério. - Cassie sorriu, mordiscando sua pizza - Você está na eletiva de música? Summer comentou sobre e eu estava pensando em adicionar na minha grade, tenho até o fim da semana para informar a secretária.
— Sim, podemos fazer juntos.
— Perfeito, obrigado. - agradeceu.
— Eu juro que eu estou próximo de me matar na frente do treinador. - Sebastian se sentou ao meu lado e null fez o mesmo. - Ele atrasou meu almoço de novo.
— Bom dia, Sebastian. - eu o encarei - Você poderia não assustar a novata com seu drama?
Sebastian encarou Cassie com um sorriso envergonhado antes de roubar um pedaço da minha pizza.
— Eu sou Sebastian, irmão do null e aquele ali é o null. - ele apontou - E você é?
— Cassandra Jones, pode chamar de Cassie. - ela sorriu - Acho que vamos dividir algumas disciplinas.
— Seu nome é familiar. E seu rosto também. - null comentou, abrindo seu suco de morango.
— É, eu sou a filha do vocalista da Rowdy. - Cassie murmurou.
— Legal, a empresa do meu pai fez uma colaboração com a Rowdy uns dois anos atrás. - null fez o seu melhor para que Cassie não se sentisse tão desconfortável.
— Qual delas? Meu pai fez algumas colaborações nos últimos anos. - Cassie franziu o cenho.
— UN/DN, a linha de esmaltes e maquiagens.
— Eu me lembro dessa! É a MSFT, né? A marca japonesa.
— Exato. - null concordou - Summer e null ficaram malucos e completaram a coleção dos esmaltes.
— E ainda estamos esperando pelas novas cores. - Summer concordou.
— Meu pai estava decidindo a nova paleta junto com o tio Donnie essa semana. Ele me pediu algumas opiniões.
— Você já está em casa, então. - Sebastian sorriu - Se qualquer um te encher o saco, me avise que eu cuido disso pra você, tá? - meu irmão lhe deu uma piscadela e eu pude jurar que vi Cassie começar a corar.
— Vou me lembrar disso. - ela sorriu - Então, o que exatamente eu perdi nesse semestre?
— Oh, meu bem. - Summer sorriu, enviesada - Vamos precisar de horas para te atualizar em todas as fofocas desse lugar. Então, o que exatamente você tem planejado depois do horário da detenção?

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Estar em uma casa de músicos não era novidade para mim. Estar na casa de Savannah Carter e Peter Jones, entretanto, era.
A decoração da casa dos Carter-Jones era muito melhor do que eu havia sonhado nos meus sonhos mais distantes. Logo que entramos na cobertura, fui recebido pelos prêmios de ambos, categorizadamente organizados no topo de uma estante com diversos livros. Uma estatueta de Oscar marcava o nome de Melhor Soundtrack Original do ano de 2021 por Judas e o Messias Negro, com guitarras penduradas em ambas as paredes ao redor da estante e um enorme piano de calda branco no centro da sala.
— Se eu estiver vivendo um sonho, por favor, não me acorde. - eu murmurei e Cassie soltou uma risadinha.
— Você vai desmaiar se eu chamar minha mãe para conhecer vocês? - ela me encarou.
— Eu não prometo nada.
Eu fui honesto enquanto Sebastian, Summer e null analisavam cada aspecto da decoração junto comigo. Eu ainda me lembrava de sofrer ao som de Hard Place como se fosse ontem.
Cassie balançou a cabeça, rindo ao deixar a mochila em cima do sofá e adentrar algum cômodo que não fiz questão de acompanhar. Minha atenção estava completamente desviada para a Stratocaster customizada com vitrais da Fender que havia sido utilizada por Savannah na adaptação musical de Bela e a Fera.
— Mãe, pai, gostaria de apresentar meus novos amigos. - eu ouvi Cassie falar e minha atenção foi carregada para a presença imponente do casal mais ridiculamente bonito que eu já havia visto.
Savannah Carter e Peter Jones estavam ao lado de Cassie e sorriam alegres ao nos encarar. Ele usava uma regata branca, calças de moletom pretas e um converse da mesma cor. Os cabelos loiros caiam por seu rosto junto com a barba por fazer. E Savannah Carter tão bonita pessoalmente quanto das vezes em que havia ido em seus shows. Mais bonita, até. Seus cabelos estavam soltos e ela trazia óculos de grau arredondados em seu rosto. Ela usava um conjunto de moletom cinza e um par de jordans clássicos. E, eu sentia que estava próximo de ter um ataque quando meu coração batia descontrolado contra o meu peito.
— Esses são null e Sebastian null - Cassie apontou em nossa direção - E esses são null e Summer Tanaka.
— É um prazer conhecê-los. - Savannah sorriu, se aproximando o suficiente para nos dar um abraço. Quando ela me envolveu em seus braços, eu senti como se tivesse morrido e alcançado os céus. - É bom saber que Cassie já fez novas amizades, era um medo nosso.
— Uma dúvida, vocês são filhos do Daizen? - Peter questionou, encarando Summer e null.
— Isso. - Summer concordou.
— Imaginei, ele tem fotos de vocês quatro espalhadas pelo escritório dele em Tóquio. Foi ele quem me recomendou a Horace quando decidimos vir para Nova Iorque e disse que Cassie estaria menos sozinha se vocês estivessem lá. - Peter comentou - Ele também disse que os null eram ótimas pessoas e que minha filha iria se dar bem com null, algo como vocês terem gostos semelhantes.
— Nós temos. - Cassie concordou - Estamos dividindo boa parte das aulas.
— Isso é ótimo, filha. - Pete sorriu, tão amavelmente que eu não conseguia imaginar como metade das coisas que os sites de fofoca diziam eram reais.
— Mãe, null gosta muito do seu trabalho. - Cassie me denunciou e eu repentinamente me senti como se estivesse próximo de uma síncope - Ele faz a eletiva de música comigo.
— Sério? - Savannah sorriu - Você toca?
— Um pouco. - eu finalmente consegui responder - É mais um hobby que qualquer outra coisa, pretendo seguir na carreira de desenvolvedor.
— Sério? Acredita que considerei isso antes de ir estudar música na Julliard? - ela pareceu animada.
— Nós perdemos esse. - Summer brincou.
— Não é? - Cassie riu - null, você pode nos encontrar no estúdio depois, se quiser.
— Não, eu não quero incomodar. - eu neguei.
— Não incomoda, eu adoro falar sobre. - Savannah riu - Vou fazer algo para vocês comerem enquanto ficam confortáveis e levo null quando for levar as comidas, se estiver tudo bem por ele.
— Posso te ajudar. - eu concordei e meus amigos simplesmente acompanharam Cassie até o estúdio com Peter logo atrás.
— É por aqui.
Savannah liderou o caminho e eu apenas a segui, ainda observando cada aspecto da decoração até o caminho para a cozinha.
— Você comentou que toca, é guitarra ou algum outro instrumento?
— Eu toco alguns, mas eu sou melhor no baixo. É o que eu comecei e estudo com mais frequência. - eu expliquei.
— Eu comecei com o piano por conta da minha mãe. - disse - Podemos tocar algo se você estiver com tempo. Pode sentar.
— Obrigado - eu obedeci - Eu juro que não sou um fã maluco, tá?
— Relaxa - ela riu -, se te fizer sentir melhor, eu tive essa mesma reação quando a Halsey disse que poderíamos trabalhar em algo juntas e ainda fico assim quando conheço artistas que sou fã.
— Me sinto menos pior.
— É normal, sério. - Savannah me tranquilizou, pegando um bolo e cortando algumas fatias para colocar em um prato. - Então, você não pretende seguir carreira na música?
— Não - balancei a cabeça - Eu gosto de música, mas sempre tive mais afinidade com programação. Eu produzo algumas coisas, mas só Summer sabe. null e Sebastian são muito emocionados e acho que fariam um tumulto. E eu gosto de poder ter um hobby sem compromissos.
— Eu te entendo bem. - Savannah pausou - Eu já tinha alguns anos trabalhando como roadie quando comecei a trabalhar como performer, mas acho que você já sabia disso.
— Pode me contar como se eu não soubesse, eu realmente não me importo. - eu ri e Savannah retribuiu.
— Bom, eu costumava compor uma coisa ou outra, mas isso tudo começou mesmo por um hábito que eu tinha com a Cassie. Vira e mexe, antes de eu começar a me relacionar com o Pete, eu era a pessoa que cuidava dela. Então, eu ajudava ela a praticar no piano quando o pai dela estava trabalhando. E aqui é a parte onde as coisas ficam interessantes. - ela sorriu, pegando algumas frutas na geladeira e cortando contra a tábua - Eu tinha medo de palco e não cantava com frequência para outras pessoas por alguns motivos. Mas, quando Cassie me pedia? Eu corria para agradá-la, porque eu sempre fui completamente manipulável por aqueles grandes olhos e sorriso fofo. - Savannah riu, separando as frutas em algumas tigelas - De começo eu fazia isso porque tinha medo de ser demitida, não vou mentir. Mas, acabei gostando.
— Ela é realmente muito legal, nós a conhecemos hoje e eu sinto como se já nos conhecêssemos há anos. - eu disse.
— Cassie tem esse poder sobre as pessoas. E ela é tão ridiculamente inteligente. - Savie suspirou -, Enfim, em uma das vezes em que eu cantei pra ela, Peter acabou vendo e eu juro, esse homem fez da minha vida um inferno por meses. Meses! - Savannah encostou contra a bancada - Pete não é conhecido por ser uma pessoa que desiste fácil das coisas e ele encheu tanto meu saco para ajudar no Bloom que em determinado momento, eu só cansei de negar. Ele me ganhou pelo cansaço.
— Esse é um dos meus álbuns preferidos da Rowdy, só perde para o Hotel Diablo. O que vocês fizeram nesse álbum foi histórico, de verdade.
— Obrigada - Savannah sorriu - Eu tenho um puta orgulho desse álbum, nós fizemos ele durante a pandemia e tivemos que nos isolar juntos para que ele saísse. Eu fiquei com medo de acabar brigando com todos eles na época, mas eu saí dele uma pessoa diferente e três anos depois eu e Peter nos casamos, então acho que isso foi algo bom.
— Sim, foi - eu concordei, sorrindo -, mas eu acho que teria medo disso também. Sebastian e eu brigávamos feito gato e rato nessa época. - eu balancei a cabeça, me lembrando das brigas -, foi bem difícil para o papai.
— Eu imagino. - Savannah sorriu -, Sebastian é o mais alto, certo? Desculpa, ainda não me adequei com os nomes, Peter teve mais contato com seus pais do que eu.
— Isso, ele é o careca alto. Ele é meu irmão mais velho.
— Vocês não tem uma diferença muito grande, né?
— Não. Sebastian e null são do mesmo ano. Sebastian faz dezoito no começo de novembro e null faz em setembro. São dois anos e alguns meses de diferença, eu faço dezesseis em dezembro, junto com Summer. Nós nascemos no mesmo dia.
— Isso é legal. Eu sou a segunda mais velha entre a Rowdy, perdendo para o Tommy por seis meses.
— Como é ser a irmã mais velha?
— Irmã? Por Deus, eu quase pareço mãe daqueles cavalos. - Savannah riu - Eu tive que dar banhos neles mais vezes do que eu poderia contar, em ambas as mãos, quando ainda trabalhava como roadie. E isso inclui Peter também.
— Eu te deixo cinco minutos sozinha e você começa a me expor para o novo amiguinho de Cassie? - Peter entrou na cozinha, depositando um beijo na bochecha de Savannah, que abriu o sorriso mais brilhante do universo - Precisa de ajuda?
— Você fala como se eu não soubesse que você fez o mesmo. - ela riu - Pega o suco pra mim, por favor.
— Fui pego no pulo. - ele balançou a cabeça, puxando andando até a geladeira - Então, null, Savannah já te traumatizou o suficiente?
— Não, de maneira alguma - eu ri -, ela me contou como foi o processo de produção de Hotel Diablo e como foi estar em isolamento para a produção dele.
— Oh, essa época foi complicadinha. - Peter concordou, pausando por um tempo - Vocês têm preferência de suco?
— Sem preferências, mas null é alérgico à abacaxi.
— Okay, então o de abacaxi vai para a Cassie. - Peter pegou o de abacaxi e mais três de cores diferentes - Aqui, estrelinha.
— Obrigado, Raio de Sol - Savannah agradeceu -, voltando ao ponto. É bom que você tenha o apoio deles, fez uma diferença imensa pra mim ter os meninos e Sabrina quando eu comecei. Se você achar que é uma boa, tenho certeza que eles vão te apoiar, mesmo que insistam como Peter fez.
— Não sei exatamente qual era o assunto, mas concordo com Savie. Ela geralmente sabe do que tá falando.
— Obrigado. - eu sorri - Eu ainda sou bem novo, então pode ser que as coisas mudem daqui pra frente. Mas, por agora, vou continuar estudando para entrar na MSU no meu último ano.
— Você vai sozinho? - Peter puxou a cadeira para se sentar ao meu lado.
— Sebastian e null estarão lá, eles receberam as cartas de admissão para o semestre de outono. Nós sempre quisemos ir para a MSU porque foi onde nossos pais conheceram nossas mães. Somos alunos legados. - expliquei - Mas, vamos todos para cursos diferentes, com exceção de null e eu.
— O que planejam estudar? - ele questionou.
— Eu e null vamos para design de jogos e mídias visuais, Summer vai Bioquímica e Sebastian vai seguir os passos do meu pai e ir para Direito. Ele quer abrir uma firma junto com Gianna, a irmã mais velha dos null. Acho que você chegou a conhecer ela, ela é a advogada responsável pelos contratos das colaborações da MSFT.
— Alta, ruiva e com olhos verdes?
— Ela mesmo. - concordei - Ela puxou mais a mãe do que o tio Daizen.
— Acho que eles vão fazer uma boa dupla. Sebastian estava discutindo com Summer sobre como ele achava que a professora de química estava dando em cima de algum colega de turma e ele teve argumentos bem convincentes.
— Meu deus. - eu ri, balançando a cabeça - Por favor, ignorem o meu irmão. Ele tem dessas de criar teorias malucas que não fazem o mínimo sentido e fica defendendo a ideia até alguém provar que ele está errado.
— E ele geralmente está? - Savannah arqueou uma sobrancelha.
— Vocês não têm nem ideia do quanto.
Eu ri e eles me acompanharam. Depois de conversar um pouco com ambos, eu pude notar que eles eram tão normais quanto qualquer casal na faixa dos trinta e poucos anos. Era visível o quanto eles gostavam um do outro, quase como se eles vivessem em um mundo só deles, mesmo quando estavam cercados por outras pessoas. E eu me peguei invejando cada segundo da relação deles, secretamente rezando para poder ter exatamente o que eles tinham.
— Eu acho que já tomei tempo o suficiente. - eu ri, me levantando - Quer que eu leve as coisas?
— Fica tranquilo, posso levar e Peter me ajuda, você é uma visita, afinal.
Eu assenti, deixando que o casal me guiasse pela cobertura enorme até o estúdio. Não levou muito tempo e, quando cheguei, Cassie chorava de rir com algo que Summer dizia. null apenas balançava a cabeça negativamente, observando tudo como se estivesse presenciando um podcast ao vivo.
— Nós trouxemos algumas coisinhas para vocês. - Savannah sorriu, colocando uma bandeja com frutas, bolo e alguns salgadinhos em cima da mesa de centro do estúdio enquanto Peter colocava os sucos em cima do porta-copos.
— Obrigado, mãe. - Cassie sorriu em agradecimento e se esticou para pegar o suco de abacaxi.
— Nos avisem se precisar de mais alguma coisa.
Peter sorriu, entrelaçando seus dedos nos de Savannah enquanto eles saiam para fora do estúdio, fechando a porta atrás de si. Eu desenhei meu caminho até null, pegando duas garrafas do que pareciam ser suco de morango e entregando uma para ele quando me sentei ao seu lado.
— Pode me falar sobre o que eles estão conversando? - murmurei.
— Summer estava contando de quando nós tomamos aquela chuva durante um dos jogos do time e você voltou pra casa parecendo um monstro de filme de terror. - ele sorriu, abrindo a garrafa.
— Obrigado.
— E então, como foi com Savannah?
— Foi incrível. - eu sorri, me sentando de frente para null para encará-lo - Ela é muito legal e nós conversamos sobre música, sobre irmãos e um pouco sobre o processo de gravação do Hotel Diablo. Foi realmente bem legal. Como foi com o Peter?
— Eu acho que eu posso estar apaixonado pelo cara, honestamente. - null riu - Ele é super divertido e deu algumas risadinhas com os absurdos que o Sebastian estava falando. Ele genuinamente é o adulto mais legal que já conheci.
— Sim. - concordei.
— Então, Mitch - Cassie chamou minha atenção e eu a encarei - Qual é a história por trás de Braeden Smith? Summer disse que preferia que você contasse.
— Essa é uma longa história, mas tudo começou há uns dois meses, depois que o Sebastian pegou o posto de capitão do time de futebol.



Capítulo Quatro

null


”Oh, you make me feel
Like I’m alive again”

(Oh, você me faz sentir
Como se eu estivesse vivo de novo)

- Adventure of a Lifetime, Coldplay


Nova York, NY
Antes



A gravata fina e preta caía nos dois lados do meu ombro enquanto eu avaliava no espelho. A calça de alfaiataria servia perfeitamente e combinava com os Converses brancos. Eu suspirei, aceitando que havia perdido a guerra contra o nó de gravata. Puxei o celular do meu bolso, digitando uma mensagem rápida para que Summer me ajudasse com essa tarefa impossível.
Não demorou para que ela batesse duas vezes na porta do quarto, esperando por minha permissão antes de entrar. Summer me olhou dos pés à cabeça, sorrindo orgulhosa antes de andar até mim.
— Você precisa aprender a fazer isso sozinho, ano que vem você vai para a MSU, como pretende usar gravatas se não sabe dar nós?
— Não pretendo usar. - dei de ombros quando ela me deu um tapa fraco contra meu peito. Summer pegou as duas pontas da gravata, ajustando-as antes de seguir dando o nó com uma destreza que escapava da minha compreensão. - Prontinho, null.
— Obrigado, pirralha. - sorri em agradecimento, me encarando no espelho uma vez mais antes de virar em direção à ela com ambos os braços repousando ao lado de meu corpo. - E então? O que acha?
— Acho que você está bonito. - ela sorriu, sincera - Me pergunto como não arrumou uma namorada ainda. Ou um namorado.
— Estou focando em meus estudos e você deveria fazer o mesmo. - tirei o celular do bolso, digitando uma mensagem para Sebastian.

null null:
Já estão vindo?

Não levou mais que trinta segundos para que a resposta chegasse.

null:
Eu sim
null:
null ainda está se arrumando com a Cass, os pais dela vão trazer os dois.



Eu respirei fundo, tentando esconder minha frustração diante de Summer. Não que eu estivesse triste com null tendo mais amigos, longe disso. Mas ele e Cassie haviam se tornado tão próximos nos últimos tempos que ele ao menos parecia se lembrar de minha existência.
Era frustrante. Principalmente quando eu iria me mudar para o Japão pelo resto do ano letivo e ainda não havia reunido coragem o suficiente para contar à pessoa que mais sofreria com minha ausência.
Girei o elástico de cabelo contra meu pulso, preso demais em meus pensamentos que sequer me lembrei que Summer estava ao meu lado, me observando com atenção.
— O que foi? - ela franziu o cenho, se sentando ao meu lado.
— Vou te dizer algo e eu preciso que não me julgue, tá? - encarei Summer.
— Okay? - minha irmã franziu o cenho.
— Eu estou me sentindo como se null estivesse me deixando de lado e isso é uma merda, porque na próxima semana eu vou estar do outro lado do mundo e queria passar esses dias com meus melhores amigos.
— Seus melhores amigos ou null? - Summer tombou a cabeça para o lado.
— Você disse que não ia me julgar.
— Não estou te julgando, null. - ela garantiu - Eu só estou perguntando porque Sebastian já sabe que você vai para o Japão faz um tempo. E você fez questão que todos nós não contássemos nada a null porque você queria fazer isso. E logo você tá indo e nada de ter contado isso pra ele.
— Eu vou contar isso pra ele hoje. - justifiquei.
— Acho meio escroto da sua parte saber disso por meses e decidir contar logo quando você está embora, mas tudo bem. - ela deu de ombros - Eu acho que você poderia ter só conversado com ele se o fato dele estar tão próximo de Cassie te incomodou tanto, não é como se ele pudesse adivinhar.
— Eu não queria que ele achasse que eu estava com ciúmes da nova amiga dele.
— E você não está? - Summer arqueou uma sobrancelha.
— Esse não é o ponto. - eu bufei.
— Então qual é? Isso tá soando como se você estivesse com ciúmes dos dois.
— Você é outra que fica junto com ela o tempo todo. - rolei os olhos.
— Aí, null, eu cansei de tentar te entender. Use as palavras e me explica direito o que tá acontecendo antes que eu comece a tirar conclusões sozinha e te julgar.
— Eu acho que null está me evitando desde que conversamos sobre o que Braeden realmente fez, tá? E eu não queria ficar em cima dele, revivendo o assunto.
— Ben… - ela suspirou - Você é a pessoa mais burra que eu já conheci em toda a minha vida.
— Precisava descer o nível? - eu me senti atacado.
— É a verdade. - Summer rebateu - Sei lá, já pensou na possibilidade de que null e Cassie estão próximos por algum motivo além de amizade?
— O que quer dizer? - tombei a cabeça.
— Eles estão se pegando, jamin).
— Nem fodendo, null é uma criança.
— Oh, é mesmo?
Summer ironizou, digitando algo na tela antes de virar em minha direção. Era uma foto de null com Cassie sentada em seu colo. As mãos dela envolviam o rosto dele enquanto ela o beijava.
— Quando foi isso?
— Semana passada, quando nos juntamos para ensaiar o tema da apresentação de inverno.
Summer explicou e eu franzi o cenho. null não havia me contado nada sobre estar com Cassie e eu não pude deixar de me sentir levemente traído por ser o último a saber de toda a situação.
— Eu só não entendo o porquê dele não ter me dito isso, sabe? Achei que nós contássemos tudo um para o outro.
— Eu não sei, null - Summer suspirou -, mas você pode realmente exigir isso dele quando ele teve que descobrir tudo sobre Danielle através de rumores porque você nunca chegou a contar pra ele tudo o que tava acontecendo?
— São casos diferentes.
— São mesmo? - minha irmã arqueou uma sobrancelha - Não é como se ele ou qualquer um de nós pudesse falar qualquer coisa sobre, você nunca contou pra gente o que aconteceu entre vocês. Um dia você estava super feliz e logo depois, você mudou da água pro vinho e se tornou uma pessoa completamente diferente. E sempre que a gente perguntava sobre, você fechava a cara e mudava de assunto. Até hoje é assim.
— Sebastian sabe o que aconteceu.
— E desde quando ele é o null?
Eu permaneci em silêncio, me recusando a sequer responder aos comentários de Summer. Principalmente quando ela estava certa e eu não tinha coragem suficiente para contar para ela o que realmente aconteceu entre Danielle Wilson e eu. Ainda me sentia como se essa fosse uma ferida recente demais e que jorrava sangue se eu a ousasse tocá-la novamente.
— Você tá certa.
— Eu sei disso. - ela sorriu de canto - De qualquer forma, acho que você deveria conversar com ele. - minha irmã se levantou - null não tem como adivinhar o que te incomoda se você não for sincero com seus sentimentos.
— Vou tentar, tá?
— Okay. - Summer sorriu, dando batidinhas em meu ombro antes de sair do quarto e me deixar com meus próprios pensamentos.
Alguns minutos depois, senti meu celular começar a vibrar com uma notificação de Facetime de Paola null tomando conta de toda a minha tela. Eu sorri, arrastando o dedo pela tela para conseguir atender a chamada.
Feliz aniversário, null. - Paola sorriu, deixando o celular apoiado em algum lugar da mesa do que eu só poderia considerar como sendo seu escritório. - Como você está?
— Obrigado, tia. - eu sorri - Estou bem, um pouco ansioso mas fora isso, tudo bem. E você, como está?
Estou bem. - ela assentiu - Contando os dias para que você venha pra cá. Faz muito tempo desde a última vez que nos vimos. Como estão as coisas?
— Corridas, na verdade. Estou arrumando tudo para ir nos próximos dias e parece que as coisas que preciso levar nunca acabam. - eu sorri.
Como null está? - Paola parecia preocupada.
— Ele está bem, pelo menos desde a última vez que conversamos. - estranhei a pergunta, franzindo o cenho - Por que? Aconteceu algo com ele?
Ele estava meio para baixo quando conversamos da última vez, mas sabe como null é. Ele nunca realmente me conta as coisas até estar fugindo de seu controle. - ela tentou me acalmar - Pode ser só algo relacionado a escola ou aos projetos dele. Acredito que não é nada demais.
— Certo. Então eu vou descer e ver se eles estão aqui ou não. - eu suspirei, sorrindo de canto para a mulher do outro lado da tela.
null? Antes de você desligar, queria te dizer algo.
— Claro, pode dizer.
Isso não é algo que eu deveria te dizer, mas acho que null talvez esteja lidando com sentimentos em relação a alguém. Ele não me contou nada, mas sabe como nós, mães, somos.
— Sei, sim. - eu ri fraco, lembrando de como minha mãe tinha a capacidade de saber o quão apaixonado eu estava há alguns anos atrás, antes de todas as coisas caírem por terra e eu ficar com um coração quebrado e tantos temas para terapia que eu poderia facilmente escrever um livro.
Não quero tomar conclusões, mas converse com ele, sim? null pode se abrir melhor com você do que com qualquer outra pessoa. E, caso você seja o alvo desses sentimentos e eles não forem recíprocos, o rejeite com delicadeza, sim?
As palavras de Paola me deixaram estático por vários segundos. null era somente um adolescente, tínhamos quase três anos de diferença. Não era possível que eu fosse o responsável por seus sentimentos, era? Principalmente quando eu só o enxergava como um irmãozinho e o tratava como tal. Em um ano, eu já não estaria mais em Nova York. Dali uma semana, eu estaria no outro lado do mundo. E, apesar de tudo, ainda tinha toda a situação com Cassie.
— Eu não acho que sou eu, mas tentarei descobrir - eu assenti positivamente -, te aviso se souber de algo.
Sem problemas. - Paola sorriu - Mais uma vez, feliz aniversário, null.
— Obrigado, tia. - sorri, clicando na opção de desligar.
Guardei meu celular no bolso lateral da calça, me encarando uma vez mais no espelho e mexendo em meu cabelo antes de sair do quarto. As palavras de Paola ainda estavam reverberando em minha cabeça. Se null sentia algo por mim, ele me diria, certo? Certo?
Eu respirei fundo, deixando o pensamento no fundo de minha cabeça enquanto descia as escadas somente para ver uma quantidade ridícula de rostos conhecidos e desconhecidos, que me paravam para me desejar feliz aniversário. E nenhum dos rostos era o que eu procurava.
Andei até o bar, pedindo ao barman por uma cerveja e ele imediatamente me passou uma longneck aberta. Agradeci com um menear de cabeça, passando por diversas pessoas até atravessar a porta que dava em direção à parte externa da cobertura de meus pais. A brisa refrescante da noite me fez sorrir e fechar os olhos por um momento, sentindo a paz de escutar a música abafada dentro da cobertura, longe dos meus ouvidos.
Andei um pouco mais, tomando distância o suficiente da porta e vendo um conhecido par de Doc Martens envernizados com cadarços rosa neon de null.
Ele estava sentado em uma das cadeiras, com os pés apoiados no parapeito, dando goles em uma latinha de Coca-Cola. Ao seu lado, dois pacotes de presente descansavam em cima da mesa.
— Achei que estava se arrumando com Cassie e demoraria mais pra chegar. - eu tombei minha cabeça para o lado fingindo confusão.
— Ficamos prontos pouco tempo depois de Sebastian avisar que já estava vindo. - ele sorriu de lado, encarando o relógio em seu pulso antes de me encarar - Dez minutos de festa e você já foi se esconder, foi um recorde dessa vez.
— Odeio o barulho, sabe disso. E eu ainda não estou bêbado o suficiente para interagir tanto. - dei de ombros, passando por trás de null e me sentando na cadeira ao seu lado.
— Comprei duas coisas porque já havia dado uma prévia do que te daria um tempo atrás, espero que goste. - ele sorriu, dando mais um gole em sua Coca-Cola antes de empurrar os dois pacotes cuidadosamente embrulhados em minha direção.
— Vou gostar. - o tranquilizei, deixando minha garrafa de cerveja de lado para abrir a caixinha menor.
Usei as chaves em meu bolso para descolar as fitas cuidadosamente, tirando a caixa de dentro do embrulho. Li as letras da caixinha. Era um pedal Fender de reverb e delay que deveria custar, no mínimo, 300 doláres. Eu havia falado sobre precisar de um novo na semana anterior. E o maldito havia guardado a informação de formas ridiculamente específicas.
— Sabia que você ia comprar de qualquer forma, só acelerei o processo. - null só sorriu de canto.
— Obrigado, boy wonder, eu gostei muito.
Eu não consegui evitar sorrir, deixando a caixa de lado para focar no segundo presente. Eu já sabia do que se tratava antes mesmo de terminar de abrir. null não estava brincando quando disse que iria me arrumar um quadro para que eu pudesse anotar todas as coisas importantes.
Era um quadro magnético e haviam alguns imãs em um saquinho separado do quadro. Eu ri quando notei as palavras escritas em japonês, com um pequeno desenho que parecia muito comigo, tombando a cabeça com alguns pontos de interrogação ao lado. O título levava os dizeres “quadro de memórias importantes de null null”.
— Você é inacreditável. - null sorriu mais ainda, orgulhoso. Mas eu ainda conseguia dizer que algo o incomodava - O que foi, boy wonder?
— Nada. - ele deu de ombros - Estou feliz por você. Feliz aniversário, null.
— Ei, você parece meio triste. - tombei minha cabeça, confuso. Agora eu entendia o que Paola queria dizer com null estando esquisito nos últimos tempos - Vamos lá, me diga o que anda acontecendo.
— Eu só estou cansado, fiquei estudando e lendo até tarde, só isso. - ele justificou - Relaxa, null.
— Eu estou relaxado, só conversei com sua mãe e ela parecia preocupada. Disse que você estava diferente da última vez que conversaram. O que aconteceu?
— Deus do céu. - ele reclamou, se levantando - Está tudo bem, null. Eu só estou lidando com disforia e ficar em casa só focando em projetos não ajuda, tá legal? Não sei o que minha mãe te disse, mas é isso que aconteceu.
— Ela disse que achava que você estava passando por alguma desilusão amorosa e me pediu para conversar contigo.
— Claro, porque eu realmente vou falar sobre quem quero beijar pra você, null.
— Você poderia, quero dizer - tentei me justificar, gaguejando em meio ao processo - digo, eu tenho mais experiência, caso não queira falar com seu irmão sobre. Eu não sei o quão confortável vocês estão pra conversar sobre isso. Tem a questão dos preservativos também e…
Mexi no elástico de cabelo em meu braço, me atrapalhando em minhas próprias palavras. null era um adolescente de quinze anos e em alguns meses faria dezesseis. Era uma questão de tempo até que eventualmente ele quisesse experimentar coisas. Principalmente dali alguns meses, quando ele poderia começar com a transição hormonal, algo que já havia sido estabelecido por seus pais no último ano. A situação com Cassie era só a ponta do iceberg se considerássemos tudo que poderia estar por trás disso.
— Sem ofensas, null, mas eu não vou ter a conversa dos preservativos com você. - ele bufou, dando uma golada em seu refrigerante - E, definitivamente, não vou falar sobre quem ando querendo beijar.
Eu o encarei, incrédulo demais para formar qualquer pensamento coerente para defender a ideia de que estava tudo bem ele ter interesse em outras pessoas. Que era comum na adolescência e que ele não deveria ter vergonha de sentir as coisas quando a voz de Sebastian invadiu meus ouvidos.
null! - Seb riu, vindo em minha direção e me abraçando de lado - Daisy deu a ideia de jogar o jogo da garrafa. Aliás, feliz aniversário, garanhão. - ele bateu contra meu peito.
— Valeu. - eu ri fraco - Vim pegar os presentes do null.
— Já terminou ou precisa de mais tempo antes de ir jogar?
— Pode ir na frente. Vou ter que levar os presentes do null lá pra cima antes. - eu expliquei, tomando cuidado para pegar os presentes sem deixar qualquer um deles cair no chão.
— Beleza. Vou voltar lá pra dentro e ir acertando com a galera. Mas não demora, tem algumas universitárias da NYU que estão doidas para conhecer o Big null.
Sebastian deixou um sorriso gigantesco, apontando em minha direção antes de sair correndo em direção ao lado de dentro. Eu balancei a cabeça negativamente em meio a um riso descrente, só então voltando minha atenção para null, que havia travado os dentes olhando para frente.
Ele respirou fundo, dando um último gole em seu refrigerante antes de bufar frustrado por ter acabado. Tombei a cabeça para o lado, confuso com a reação repentina.
null?
— Vou pegar outro. - ele me direcionou um sorriso forçado, balançando a latinha vazia ao girar em seus próprios calcanhares e começar a fazer o mesmo caminho que seu irmão.
null!
O chamei uma vez mais, o que foi inútil já que ele acelerou os passos em direção ao interior da cobertura. Mordi o lábio em frustração, suspirando antes de pegar os presentes em cima da mesa e tentar o meu melhor para subir até o meu quarto e deixá-los em cima da minha cama.

💻💻💻💻💻


Os gritos animados e visivelmente alterados encheram o ambiente, me fazendo fechar os olhos com força e fazer uma careta com o incômodo causado pelas vozes estridentes. Algum dos calouros da NYU que Sebastian havia comentado tinha dado um beijo um tanto quanto quente em uma de suas colegas, levando a sala inteira à loucura em meio ao Jogo da Garrafa que acontecia há pouco mais de trinta minutos.
Sebastian havia beijado pouco mais de três pessoas no curto espaço de tempo em que eu levei para subir até meu quarto, deixar os presentes de seu irmão, passar no bar para pegar uma bebida e me incluir no círculo para participar do jogo.
Summer estava sentada em um dos sofás, conversando algo com um Cassie e null que parecia estar perdido em seus próprios pensamentos enquanto bebericava sua latinha de Coca-Cola. Ela apontou para a roda, dando um sorriso cheio de segundas intenções. Algo pareceu instantaneamente se iluminar nos olhos de null, que retribui o sorriso antes de se levantar e parar entre Daisy e Elliot Moreau, que também participavam da brincadeira.
— Vamos jogar também. - ele finalmente se pronunciou, me fazendo franzir o cenho.
— Não vão, não. - me apressei em dizer e Sebastian deu uma risada ao meu lado - Eu e Sebastian estamos jogando e vocês são jovens demais, corta essa.
— Cale a boca, null. - Summer rolou os olhos, o que despertou provocações dos demais participantes - Se meter esse papo de idade pra cima de mim, eu vou contar as coisas que você fez com a minha idade e tenha certeza que foram muito piores que um jogo da garrafa. Agora, abre a roda porque eu vou sentar.
Summer fez um gesto com as mãos, pedindo para que a roda abrisse um pouco mais enquanto atravessava a roda para se sentar entre mim e Sebastian. null, entretanto, não seguiu Summer. Ele sussurrou algo no ouvido de Daisy, que o respondeu com um menear de cabeça após ponderar por alguns segundos qualquer fosse as coisas que ele havia dito em seu ouvido. Ela abriu espaço ao seu lado e null se sentou, passando o braço através de seus ombros e depositando um beijo estalado em sua bochecha. Cassie, diferente dos outros dois, se limitou a sentar-se atrás de null, sem realmente integrar a roda para participar do jogo.
— Aniversariante, é sua vez. - Sebastian sorriu, apontando para a garrafa - Gira a garrafa.
— Você realmente está de boa com essa ideia? - eu apontei para null e Summer.
— Fizemos pior na idade deles. - ele deu de ombros - É só jogo da garrafa, se fosse verdade ou consequência a história seria outra. - justificou. - Gira a garrafa.
— Seb…
— Deus pai todo poderoso, null. Gira. A. Porra. Da. Garrafa. - null passou a mão por seu próprio rosto, rolando os olhos.
Eu respondi com um bufar, me deixando levar por vencido ao me inclinar em direção ao centro do círculo, girando a garrafa vazia no chão, que rodou várias vezes antes de parar com a parte do bocal em uma das calouras da NYU.
Ela tinha olhos esverdeados, pintados com um esfumado carregado em preto e cabelos escuros com um sidecut platinado na lateral direita. Algumas mechas azuis estavam escondidas entre o escuro dos cabelos e, se eu espremesse os olhos o suficiente, conseguiria enxergar um rosto familiar de um certo alguém que parecia estar puto comigo. Eu levantei uma sobrancelha, questionando silenciosamente se poderia ir até ela e ela apenas assentiu.
Eu me levantei da roda, andando em direção à ela enquanto berros e o tamborilar de mãos animadas contra o piso invadiam meus ouvidos. Eu sorri enviesado, esquecendo por alguns momentos os olhos de todos em mim ao me agachar em frente a ela, que não tardou em pegar a gravata que pendia no ar e me puxar em sua direção, como se eu fosse um maldito cachorrinho em uma coleira. Com o canto do olho, eu consegui ver null trincando seus dentes antes de ocupar sua boca com um gole longo de refrigerante.
A desconhecida me puxou uma vez mais e eu encaixei uma de minhas mãos na curva de seu pescoço, puxando-a pra mim para encostar meus lábios nos seus. O beijo começou contido, mas logo escalou para algo um pouco mais quente quando minhas mãos envolveram sua nuca e bochechas, ao mesmo tempo em que as dela me puxaram mais para perto pela gola da camisa social. Abri meus olhos pouco antes de finalizar o beijo, dividindo minha atenção para encarar null, que ria de algo que Elliot havia sussurrado para ele e Daisy. Voltei minha atenção para a caloura contra meus lábios, mordiscando seus lábios antes de me afastar com os gritos e um incômodo crescente entre minhas pernas. Eu me tornava um imbecil por pessoas como ela.
— Certo, quem é o próximo? - eu sorri, me levantando e voltando ao meu lugar.
— Summer.
Sebastian apontou para minha irmã, que assentiu positivamente e engatinhou até o centro da roda, girando a garrafa, que deu três voltas completas antes de parar apontada para null, que sorriu como a criança endiabrada que era.
— Você pode girar novamente se for estranho. - Elliot explicou para Summer, sorrindo gentilmente.
— Tá brincando? Eu não vou perder a chance de saber se ele beija bem.
Summer deu de ombros, se levantando em meio às risadas e berros da roda para ir até null. Eu massageei minhas têmporas, sentindo o desgosto tomar conta de mim a medida em que a ideia de ver minha irmã se pegando com qualquer pessoa se tornava cada vez mais real.
null esticou suas pernas, em um convite silencioso para que Summer se sentasse. Claro que ele faria isso. E assim Summer o fez, sentando-se em suas coxas antes de passar as mãos por seus cabelos e colocá-los para o lado. Ela disse algo direcionado a Cassie, que eu chutei como sendo um pedido de desculpas antes de colocar uma de suas mãos contra a bochecha de null, que sorriu a encarando ao murmurar algo que não fui capaz de decifrar antes de minha irmã acabar com o espaço entre eles. E eu sentia que estava próximo de vomitar a qualquer momento.
Principalmente quando a mão com a tala no pulso de null repousou contra a cintura de minha irmã, puxando-a em sua direção depois de enlaçar a mão livre na nuca de Summer. O beijo parecia interminável e então null abriu os olhos, me encarando pouco antes de separar seus lábios dos de Summer. Ele a encarou com um sorriso ladino que logo foi substituído por uma risadinha quando ela deu um beijo estalado em sua bochecha.
— Você tem muita sorte que eu gosto de mulheres, porque eu definitivamente ficaria rendida com um beijo desses. - Summer brincou, usando os ombros de null como apoio para se levantar de seu colo em meio a euforia da roda.
— Obrigado, linda. - ele respondeu - Sempre as ordens.
Summer deu-lhe o dedo do meio, voltando para seu lugar ao meu lado ao mesmo tempo em que limpava o gloss que inevitavelmente havia se espalhado por sua boca. Ela se sentou ao meu lado, me fazendo sentir mais náuseas. E eu sinceramente não sabia como Sebastian conseguia lidar com a imagem de null beijando alguém na sua frente sem sentir o mesmo.
E assim o jogo seguiu, comigo vendo Sebastian mudar o foco de sua atenção sempre que null estava próximo de beijar alguém. Acabei fazendo o mesmo para evitar a imagem nojenta de minha irmã beijando qualquer pessoa no meio do processo.
Após pouco mais de duas horas e muitos beijos, o jogo terminou e todos seguiram para o lado de fora da cobertura onde uma pista de dança havia sido montada. Summer dançava alguma música de Selena Gomez alegremente com Elliot Moreau, que a girava e a abraçava vez ou outra. Sebastian se dividia entre duas universitárias e null dançava com Cassie de uma maneira bem diferente que a maioria.
Era quase como se eles estivessem dançando em um ritmo de tango. null puxava Cassie contra seu corpo pela cintura enquanto ela se inclinava para trás, confiante entre os braços dele antes de se levantar e escorregar sua perna pela dele, deixando-a levantada na altura de sua coxa. Ele tinha um sorriso ladino pendendo nos seus próprios lábios quando as últimas notas da música terminaram.
Ambos estavam ofegantes e eu conseguia ver uma pequena gota de suor escorregar pelo rosto de Cassie quando ela prendeu seus cabelos em um coque desajeitado no topo de sua cabeça, deixando algumas tranças soltas emoldurando seu rosto, o que fez com que ela ficasse ainda mais parecida com Savannah. Ela murmurou algo para null, que assentiu positivamente antes de soltá-la e depositar um beijo casto no canto de sua boca. A atitude fez Cassie sorrir ainda mais abertamente, pegando o rosto dele entre sua mão para um selinho rápido em seus lábios, saindo de perto dele e se afastando em direção a Sebastian.
null passou a mão por seus cabelos, jogando-os para trás ao sair da pista de dança e andar em minha direção.
— Vai ficar parado só observando?
— Eu não danço. - dei de ombros.
— É um ótimo momento pra tentar, vamos lá, eu te ensino.
Ele estendeu a mão sem a tala em minha direção quando as notas de guitarra de uma música do Coldplay começaram a tocar. Eu aceitei, me deixando ser levado para energia elétrica de null até o centro da pista de dança. Ele começou a balançar de um lado a outro, me fazendo rir ao mesmo tempo em que imitava seus movimentos.
Em algum momento no processo, ele passou por trás de mim, me empurrando para o lado oposto ao que ele deslizava. Levou algum tempo para que eu acertasse os passos, finalmente rindo quando ele ia para um lado e eu acertava, indo para o lado oposto. Eu me sentia completamente feliz, nem mesmo a música alta me incomodava quando Sebastian e Summer se juntaram a nós, repetindo nossos movimentos.
Permanecemos dançando juntos por um bom tempo, até a pista ir se esvaziando, com a maioria das pessoas se despedindo e indo para suas casas, até que somente eu e null ficássemos juntos na pista de dança.
Uma música lenta começou a tocar e ele fez uma careta, se preparando para sair de perto de mim. O segurei pelo braço, em um convite silencioso para que ele continuasse dançando comigo. null aceitou e eu passei as mãos por sua cintura. Ele apoiou seus braços em meus ombros, enlaçando suas mãos contra minha nuca. Só ficamos ali, em silêncio, nos movendo de um lado a outro lentamente. E, naquele momento, nada no mundo era mais bonito que null.
— Você e Summer? - indaguei, sorrindo de canto - Isso foi inesperado.
— Já te disse que não vou falar sobre quem quero ou não beijar. - ele riu.
— Minha irmã? - franzi o cenho.
— Não, meu deus. - null fez uma careta - Só melhores amigos. O que aconteceu foi só um jogo.
— Vou acreditar na sua palavra.
— Com todo o respeito, se eu pudesse escolher beijar algum dos irmãos null, Summer estaria em segundo na minha lista.
Uma luz se acendeu em minha cabeça. Se Summer era uma segunda opção, isso tornava as possibilidades um tanto quanto escassas. Eu ou Gianna. E Gianna era doze anos mais velha que null, logo…
— Eu? - tombei a cabeça para o lado.
null. - ele me encarou, como se estivesse implorando para que eu deixasse passar.
null.
null suspirou, fechando os olhos antes de soltar os dedos enlaçados de minha nuca. Eu segurei a mão imobilizada contra a minha nuca com delicadeza, em uma súplica para que ele não se afastasse.
— Precisamos conversar. Fica. - null franziu o cenho, assentindo antes de voltar a posição que estávamos antes - Isso meio que foi uma festa de despedida.
— Mas você só vai para a MSU no próximo ano.
null, eu tô indo pro Japão. - ele parou, me encarando como se estivesse esperando por uma pegadinha - Meu pai quer passar o ano comigo antes que eu vá para a faculdade.
— Mas… - ele murmurou - E o programa de férias na UCLA?
— Começa pouco antes do ano letivo na MSU, volto para o programa e depois vou para Michigan.
— Desde quando você sabe disso?
— Há algum tempo. Eu só adiei contar porque não queria deixar você triste antes do tempo. Sebastian já sabe e eu pedi para que ele não dissesse nada.
— Eu me sinto traído. - null murmurou, encostando sua testa contra o meu peito. O senti começar a tremer e tinha quase certeza de que ele conseguiria ouvir o barulho do meu coração começando a estilhaçar caso se esforçasse o suficiente. - Eu estou feliz por você, mas tô cansado de perder as pessoas que amo porque elas resolvem ir para um país na casa do caralho.
— Você já ficaria longe de mim e de Sebastian ano que vem, não faria diferença.
— Um estado é diferente de um hemisfério inteiro, null, eu esperava mais dos seus conhecimentos de geografia. - ele murmurou, deixando seus braços caírem até minha cintura, me abraçando.
— Vamos conversar sempre, não vai nem sentir a diferença. E podemos nos ver nas suas férias.
— Eu sei. - ele me encarou, os olhos avermelhados e as bochechas levemente molhadas - Só vai ser estranho não ter você em casa.
— Mas isso não vai ser pra sempre. Logo você e Summer estarão em Michigan também e eu prometo visitar vocês com mais frequência do que aqui.
— Eu espero que sim. - ele sorriu de canto - Mas isso não torna as coisas mais fáceis, null. Quem vai me ajudar com meus códigos? Com minha aplicação para o programa de férias da UCLA?
Os olhos de null se encheram de lágrimas de novo e dessa vez ele não foi capaz de impedi-las de escorrer por suas bochechas. Eu me sentia incapaz e completamente culpado por ser o motivo de suas lágrimas.
Eu havia visto null chorar muitas vezes durante os últimos anos. Essa era a primeira vez que eu era o motivo de suas lágrimas. E a sensação era algo que eu nunca gostaria de repetir.
— Ei, ei. - eu levei minhas mãos até seu rosto, o segurando pelas bochechas e limpando as lágrimas que caiam com meus polegares - Eu não vou te abandonar, null. Eu prometo virar a noite para te ajudar sempre que precisar. Você vai passar no programa da UCLA nem que eu tenha que mover montanhas para isso, tá legal? É uma promessa, null. Sabe como sou com minhas promessas.
— Vou acreditar em você.
Ele riu fraco, passando os braços por minha cintura em um abraço apertado, afundando seu rosto contra meu peito enquanto se debulhava em lágrimas.
Eu apenas retribui, acariciando seus cabelos como se isso fosse capaz de livrá-lo de toda a tristeza que ele sentia. Algo em meu peito implorava para que null me olhasse nos olhos e me pedisse para ficar. Para que eu desistisse da ideia de ir para o Japão e ficasse em Nova York.
E algo em meu coração tinha certeza que se null me pedisse, eu desistiria de tudo e ficaria ali, abraçado com ele. Se ele me pedisse, eu tentaria curar cada pequena ferida em seu peito até que ele se sentisse melhor, porque pela primeira vez em dezoito anos, eu me sentia mais em casa estando em seus braços que em qualquer lugar em Nova York.



Capítulo Cinco

null


“Yes, I know that he's my ex
But can't two people reconnect?
I only see him as a friend
The biggest lie I ever said”

(Sim, eu sei que ele é meu ex
Mas duas pessoas não podem se reconectar?
Eu vejo ele apenas como amigo
A maior mentira que já contei)

— bad idea right?, Olivia Rodrigo


Nova York, NY
Antes



Tomar decisões puramente baseadas em carência e fantasias completamente descoladas da realidade eram, oficialmente, a pior coisa que eu já havia feito. Mas, quem poderia me julgar, não?
Quem poderia me julgar quando cabelos escuros, olhos grandes e castanhos, com um sorriso carregado de segundas intenções me olhava como se eu fosse um maldito pedaço de carne? Certamente ninguém que estivesse na sala no momento.
Por isso eu me deixei levar até o andar de cima da casa dos Wayne. Em meio à uma festa que já havia passado dos limites, para ter os dedos habilidosos de Dezmond Walker adentrando minhas calças, enquanto eu ridiculamente fantasiava com a imagem de um cara que estava há 6,726 milhas de mim.
Era fácil fingir que Dez era null. E essa era uma das principais razões pela qual eu havia o namorado por pouco menos de um ano. E também a principal razão para eu ter terminado com ele.
A realidade era que, apesar de eu ser completamente obcecado com null, eu ainda tinha um pouco de caráter e bom senso o suficiente para compreender que estar com uma pessoa pensando em outra não era o que seria considerado saudável. E eles definitivamente não eram a mesma pessoa.
Dez era mais alto, mais forte. E sua personalidade era tão nociva quanto estar em uma sala fechada com uma bomba de gás lacrimogêneo. Dezmond não era gentil como null, não entendia meus limites e tão pouco era um bom suporte emocional quando minhas crises de disforia ficavam insuportáveis o suficiente para que eu ao menos me sentisse confortável em usar algo diferente de moletons que tinham o dobro do meu tamanho. Ele era irônico e hostil em todos os pontos em que null era adorável e gentil.
Mas o sexo? Era razoável o suficiente para que eu seguisse repetindo as mesmas escolhas ruins. Quando Dez se colocava entre minhas pernas e me chupava como se sua vida dependesse disso, eu me permitia sentir algo além de tédio. Quando ele puxava meus cabelos ao me foder por trás, eram meus momentos favoritos. Porque eram em momentos como esse que eu me permitia imaginar null. Entretanto, isso sumia com facilidade quando ele resolvia abrir a boca para fazer comentários que não eram minimamente excitantes.
— Porra, null, você é apertada pra caralho.
Dezmond murmurou ao me colocar de quatro e colocar seu pau contra a minha boceta e eu não consegui segurar o pequeno gemido que escapou pelos meus lábios. E, então, eu me reservei a apenas ignorar qualquer palavra que sairia de seus lábios pelos próximos dez minutos pelo bem do meu próprio prazer.
Esse era mais um dos problemas de Dezmond. A sua incapacidade de me ver como algo diferente de uma mulher, apenas pelo que existia entre minhas pernas. E a sua necessidade escrota de ressaltar o quão apertado eu era. Primeiro porque seu pau era pequeno e fino demais para que isso fosse algo possível. Segundo porque Dezmond, além da personalidade insuportável, era tão interessante como a porta do banheiro do meu quarto: branca, sem personalidade e que só servia para uma única função.
— Dezmond, cala a porra da boca e só me fode, não tô com paciência pra suas observações sobre minha boceta agora.
Eu me virei o suficiente para que ele conseguisse perceber que o desdém não era algo que estava presente somente em minha voz. Ele apenas obedeceu e eu me prendi na fantasia com null.
Em minha fantasia ridícula, eu diria a null que queria beijá-lo na sua festa de despedida. E ele aceitaria de bom grado, me beijando até que eu ficasse sem ar. Em minha fantasia, ele me levaria até seu quarto e me foderia do mesmo jeito que Dez estava fazendo agora. Ele me foderia delicadamente no começo, somente para me colocar de quatro e puxar meu cabelo enquanto ele metia com força o suficiente para reorganizar cada maldito orgão em meu corpo.
Eu levei uma de minhas mãos até meu clitóris, massageando a parte sensível enquanto Dez estocava com força. Eu fechei meus olhos, sentindo o suor descer por minha testa ao mesmo tempo em que a temperatura do quarto subia cada vez mais.
Eu mordi meus lábios, sentindo o orgasmo aos poucos se aproximando da base do meu ventre. Me segurei com mais força contra o lençol da cama, empinando mais a bunda ao encostar o rosto contra o colchão quando o orgasmo me preencheu por completo, me fazendo tremer até a ponta dos dedos. Dezmond gozou logo após, saindo de mim e tirando a camisinha de seu pau antes de amarrá-la para descarte. Me deixei cair contra a cama, tentando normalizar minha respiração.
— Foi bom? - escutei a voz de Dez invadir meus ouvidos e eu tive que me segurar para não rolar os olhos, entediado.
— Foi o suficiente. - eu me virei em sua direção e ele bufou, como se estivesse frustrado.
— Você pareceu bem satisfeito trinta segundos atrás.
— Disse que foi o suficiente, não que foi ruim. - eu me levantei, subindo a cueca junto com a bermuda que usava. Eu fechei os botões de minha camisa, ajeitando a gravata para que ficasse um pouco menos solta.
— Suficiente é o mesmo que ruim, null. - Dez me encarou e eu conseguia sentir a raiva em seu tom de voz - Se vai me usar pra sexo, poderia ter ao menos a decência de ser menos babaca.
— Se você acha. - eu ri fraco, terminando de abotoar minha camisa - Não vou mentir para massagear seu ego, Walker. Nunca fiz isso antes, não vou fazer agora. Isso é o que tenho a oferecer. Vai de você aceitar ou não.
— Sabe que ninguém vai te tratar como eu te trato, null.
As palavras doeram mais do que eu poderia admitir. Há alguns meses atrás, logo no começo, eu acreditaria nas palavras de Dez. Acreditaria que dificilmente alguém me trataria melhor que ele, que ninguém me enxergaria como algo além do meu corpo e que ele era a melhor opção. Mas, eu sabia quem me trataria melhor. null me trataria melhor que isso. E se null era capaz de fazê-lo, alguém no mundo também o faria.
— Que bom, Walker. - eu o encarei, inexpressivo e sem qualquer reação. Ele estava tentando me atingir? Ótimo. Eu conseguiria jogar mais baixo - É o que eu espero, alguém que não me trate como você e consiga me fazer gozar sem que eu precise me esforçar. - eu me virei, me preparando para sair do quarto quando sua voz invadiu meus ouvidos uma vez mais.
— Vadia do caralho.
— Obrigado. - eu murmurei - É, só pra constar: seu melhor amigo tem um pau maior do que o seu.
Eu sorri em sua direção quando seu semblante caiu e ele me encarou, puto e sem qualquer capacidade de reação antes que eu saísse do quarto.
Desviei das pessoas paradas no corredor, descendo as escadas calmamente enquanto procurava pelos fios rosa de Summer. Não levou muito tempo para que eu a identificasse, conversando animadamente com Cassie Jones e Jeremy Coleman. Desenhei meu caminho até eles, abraçando Summer pela cintura ao chegar até ela.
— Transou? - Summer me encarou, tombando a cabeça para o lado. - Está com cara de quem transou.
— E isso é relevante? - arqueei uma de minhas sobrancelhas.
— Muito. - Cassie sorriu, seus cabelos cacheados envolvendo seu rosto de uma forma tão etérea quanto uma fada.
— Sem comentários.
— Alguém está descendo as escadas bem puto - Jeremy apontou com um menear de cabeça e eu ao menos virei para trás para confirmar a cara de Dezmond -, Você precisa variar seus brinquedinhos, null. Transar com o ex não é uma boa quando ainda rola sentimentos em um dos lados.
— Ele pode enfiar os sentimentos no rabo dele e girar. - dei de ombros - Ele veio com o mesmo papo de ninguém me tratar como ele me trata e me chamou de vadia. Deve estar frustrado porque retribui dizendo que o pau do melhor amigo dele é maior.
— Você realmente sabe como acabar com a autoestima de um homem, você é maligno para um caralho, null. - Jer riu, bebericando de seu copo.
— Ele mereceu.
— Ele merecia um soco como o que você deu em Braeden, isso sim. - Summer passou um dos braços por meus ombros.
— Tô tentando ser uma pessoa melhor e correr riscos de suspensão não está na minha lista de afazeres para esse ano.
— Enfim, estava falando para Cassie e Jer que deveríamos fazer uma viagem para os Hamptons antes de eu ir para o Japão. Queria um dia só nosso, nada de festas.
Summer sorriu e eu senti uma pontada de tristeza se fazer presente em meu peito. Ainda faltavam alguns meses para que ela fosse para o Japão, mas isso não tornava as coisas mais fáceis. Dez meses atrás, meu melhor amigo havia ido e não havia um dia sequer em que eu não sentisse sua falta. Mais alguns meses e Summer seguiria o mesmo destino. Ainda que fosse somente um ano, a ideia de passar meu último ano longe de minha melhor amiga me deixava apreensivo.
— Eu disse que toparia completamente a ideia. Preciso de praia e sol. Eu nasci para isso, sabe? - Cassie suspirou.
Cassandra Jones amava tudo o que envolvia o litoral. Não era por acaso que sua primeira escolha era a UCLA. Ela sonhava em voltar para o sol californiano com tanta intensidade que eu suspeitava que ela nem ao menos tivesse mais opções de universidades. Ela era uma Bruin até o fim. Da mesma forma que eu e Summer éramos Espartanos. Cassie amava Los Angeles com todo o seu coração e, mesmo que ela gostasse de Nova Iorque desde que havia se mudado no nosso segundo ano de ensino médio, ela ainda sentia falta do cheiro de maresia e das praias. Por isso, fazia questão de sempre passar as férias na casa que seus pais mantinham na cidade.
— Por mais que eu odeie praia, tenho que admitir que eu ando precisando disso. - eu concordei, sentindo meu celular vibrar em meu bolso.
— Então podemos ir, certo? - Summer sorriu.
— Por mim, definitivamente. - Jeremy concordou.
— Por mim também.
— Eu nem preciso responder. - Jones sorriu.
— Ótimo. Vou falar com meus pais para incluir vocês, - Summer riu - null vai estar junto com a gente. Papai vem para os Estados Unidos e null vem junto para o programa da UCLA.
— Porra, finalmente vou conhecer o lendário null Foster.
— Ele estudou com a gente, Jeremy. - eu franzi o cenho.
— Eu nunca conversei direito com o cara, null. - Jeremy riu - Eu só o via andando nos corredores e falando com vocês às vezes nas festas. E, caso você não se recorde, nós não éramos exatamente amigos até pouco tempo atrás. Sempre achei que você fosse me quebrar no soco.
— Oh, você é tão adorável. - eu ri, saindo dos braços de Summer para segurar as bochechas de Jeremy entre minhas mãos - Como eu poderia te quebrar no soco? Você parece um cachorrinho peludo e cacheado.
— Vai se foder. - Jeremy rolou os olhos.
— Vocês precisam parar de endeusar o null, ele vai ficar com o ego do tamanho desse prédio. - Summer ralhou - E ele já tem um ego grande o suficiente.
— E ele não é nem metade do que dizem. - me afastei de Jeremy - ji) é quase um golden retriever. Grande e desajeitado.
— Ele tá mais pra um São Bernardo com aquele tamanho e aquela aparência. - Cassie riu.
— Não é? - eu concordei, rindo - Total a energia dele.
Eu tirei o celular do bolso da bermuda, iluminando a tela somente para ver o nome de null na barra de notificações. Desbloqueei meu celular, abrindo o aplicativo de mensagens. Era uma hora da manhã, o que significava que já deveria ter passado do meio-dia em Tóquio.
— E eu ainda me pergunto como ele nunca percebeu que você tinha uma queda por ele. - Summer sussurrou em meu ouvido, encarando a tela de meu celular.
— Pare de bisbilhotar.
— É meu irmão, tenho direitos como a apoiadora número um dessa relação. Você deveria tomar uma atitude quando formos para os Hamptons. Aproveitar que vamos passar a semana.
— Pelo amor de deus, toma uma atitude, null. - Cassie me encarou - Você tem tanta atitude pra tanta coisa, mas chegar no null que é bom…
— Ele nem me vê assim, gente. Prefiro manter as coisas como estão do que ter que lidar com ele me falando o quanto eu sou novo demais para ele e toda essa merda.
null pegou pelo menos três pessoas do nosso ano. E você não está longe do tipo dele.
null não tem um tipo.
— Oh, ele tem. - Summer riu - E você se encaixa perfeitamente. Dito isso, tome uma atitude para que eu possa finalmente fazer nossa família se juntar. Como eu gosto de mulheres, cabe à você a missão de juntar as duas famílias.
— Estamos na era medieval? Você basicamente descreveu um casamento por tática de guerra agora.
— Tenho uma tática e ela se chama fazer de você meu irmão por meios legais. - Summer riu.
— Certo, certo.
Eu ri fraco, voltando minha atenção para a mensagem de null no aplicativo de mensagens. Era uma foto de um biscoito da sorte e o papel com a frase estava desdobrado logo ao lado.

‘’Todos os dias organiza os seus cabelos, por que não faz o mesmo com o coração?’’


null Tanaka:
Esses biscoitos da sorte estão ficando certeiros demais. Não gosto disso.



Balancei minha cabeça negativamente, soltando uma risadinha que foi alvo de olhares suspeitos de meus três amigos. Eu apenas rolei os olhos.

null Romero:
É um sinal divino para você começar uma terapia.

null Tanaka:
Você se acha muito engraçadinho, né?


null Romero:
O mais engraçado de todos.

null Tanaka:
Sinto sua falta.



— Ele disse que sente sua falta. - Cassie sorriu, bisbilhotando a tela do meu celular - Sério, null, toma uma atitude.
— Nós sempre fomos amigos, isso é normal.
— Pelo amor de deus, null. - Summer bufou - Toma uma atitude. O não você já tem, o máximo que pode acontecer é o null dizer que não está afim. Ele não vai te humilhar ou algo do tipo. É melhor você falar o que sente, pelo menos se você for rejeitado, você supera os sentimentos por ele e segue em frente. O melhor jeito de superar sentimentos não retribuídos é dizer o que sente e seguir em frente.
— Por que isso funcionou bem para você, né?
— Funcionou muito bem, Cassie e eu somos melhores amigas agora. - Summer deu de ombros.
— Ela não mentiu, os sentimentos passaram e só ficou a amizade.

null Tanaka:
Vai mesmo me deixar falando sozinho? ):
Achei que significasse mais pra você.



A tela do meu celular se iluminou com sua mensagem e eu o amaldiçoei mentalmente, porque algo me dizia que ele fazia biquinho ao encarar a notificação de mensagem lida. null era ridículo. E eu beijaria cada centímetro do rosto dele se pudesse.
— Ele está flertando. - Jeremy riu.
— Não está.
null, eu sou homem. Eu sei como a nossa cabeça funciona, ele definitivamente está flertando. - Jer encarou Summer como se buscasse por uma confirmação.
— Deixa eu ver. - Summer encarou a tela do meu celular - null definitivamente está flertando. Ele flerta sendo manhoso e pedindo por atenção.
— Vocês são um inferno. - rolei os olhos, digitando a resposta para null.

null Romero:
Está tão desesperado por minha atenção que não consegue esperar alguns minutos?

— Ele tá flertando de volta, meu garoto. - Jeremy sorriu, bagunçando meus cabelos.
— Se fode.
— Ele está digitando.
Voltei minha atenção para a tela enquanto os três pontinhos apareciam na parte inferior. Mais alguns segundos depois e sua resposta chegou, seguindo por mais uma.

null Tanaka:
Sabe que você é a melhor parte dos meus dias, null.
null Tanaka:
Mas você parece estar pior. Acabei de enviar a mensagem e você já visualizou.



— O homem é uma máquina de flerte e vocês ainda têm a coragem de me dizer que os rumores não são reais? Até eu estou considerando dar pro cara. - Jeremy franziu o cenho - E eu sou completamente hetero.
— Eu tenho a quem puxar, por favor. - Summer rolou os olhos.
— Sem ofensas, mas eu não quero vocês olhando minhas mensagens de texto. Vou lá fora fumar, já volto.
— Você é um puta estraga-prazeres. - Cassie ralhou.
Desliguei a tela do meu celular, desenhando meu caminho até o lado de fora da cobertura para me sentar em uma das mesas. Tirei a carteira de cigarros de couro do bolso de minha camisa, pegando um dos cigarros de maconha e prendendo-o entre meus dentes para acendê-lo. Dei uma longa tragada, sentindo a sensação relaxante tomar conta de meu corpo. Voltei a desbloquear a tela do meu celular, abrindo a mensagem de null para cogitar o que eu responderia.

null Romero:
Estamos cheios de si hoje, não estamos?

Eu deixei meu celular descansando contra a minha coxa ao apoiar meus pés contra a cadeira que descansava vazia a minha frente. Traguei novamente o cigarro, sentindo o celular vibrar.

null Tanaka:
É meu melhor traço de personalidade, sabe disso.



Eu respirei fundo, lendo a mensagem pela barra de notificação, rindo com o convencimento de null. Eu conseguia visualizar o sorriso bobo tomando conta de seus lábios. Típico null.

null Romero:
Se você acha.
Boa tentativa, entretanto.

null Tanaka:
Você ficou malvado de um tempo pra cá.
Combina com você.

null Tanaka:
Vai para os Hamptons com a gente?


null Romero:
Por que?

null Tanaka:
Queria te dar um abraço antes de ir para Los Angeles.



Eu avaliei a mensagem por um bom tempo, encarando a tela do celular como se a qualquer momento, null pudesse sair de dentro do aparelho e se materializar na minha frente. Fazia quase um ano que null havia se mudado para o Japão e eu sentia tanta falta de sua presença que a saudade beirava a dor física.
Apertei meus lábios, abrindo o facetime e conectando meus fones no celular antes de apertar o nome de contato de null. A tela permaneceu refletindo meu rosto por alguns segundos antes de null aparecer. Sem camisa e com os cabelos molhados caindo por seu rosto.
— Oi, null. - encarei a tela quando seu rosto apareceu com um sorriso gigantesco em seu rosto.
Um minuto, vou te colocar encostado no banco.
Ele murmurou e eu consegui escutar o barulho do celular sendo movido antes de ser apoiado contra alguma coisa que não pude identificar, me dando uma visão completa de seu corpo ridiculamente definido enquanto ele fazia exercícios com halteres. O maldito estava treinando.
Pode falar.
— Você disse que estava com saudades, então aqui estou.
Por um segundo, achei que você me deixaria sem resposta alguma - ele tombou a cabeça para o lado - Você mudou, null. Nem parece que éramos inseparáveis, já achou alguém pra me substituir?
— Cala a boca, null - eu ri, encarando a tela -, você é insubstituível. Mas eu estou em uma festa, é falta de educação ficar no celular toda a hora.
Tão substituível - null dramatizou, fazendo uma careta -, vou descontar a dor da perda em cinco horas de esteira.
Ele apoiou os halteres no chão, andando até o banco e puxando o celular até mais próximo de seu rosto. Sua sobrancelha estava franzida e algumas gotas de suor escorriam por seu cabelo. Ele jogou os cabelos para trás, voltando a me encarar.
— Sinto sua falta também.
Por um segundo eu fiquei muito preocupado, fico feliz de não ser o único. - ele colocou a mão em seu peito, sorrindo em seguida. - Isso é maconha?
— Uhum.
Seu irmão sabe disso?
— Quem você acha que me ensinou a bolar um beck? Fumamos juntos vez ou outra.
Seu irmão tá sendo um exemplo de bosta, huh?
— Por favor, você fala como se vocês não fizessem a mesma coisa. - eu ri - A primeira coisa que Seb me disse quando fumamos juntos foi que ele sentia falta de fazer isso contigo.
Fui pego no pulo sendo hipócrita, merda. - ele riu, se levantando - Vou subir pra casa.
— Tudo bem. Aliás, eu vou para os Hamptons com seus pais, Summer disse que não queria uma festa de despedida, apenas algo tranquilo com amigos.
Ótimo, assim podemos fumar um na beira da praia durante a noite. É incrível. - ele sorriu, vestindo a camiseta antes de prender os cabelos em um coque no topo da cabeça.
— Achei que você estivesse desapontado demais pra isso.
Está me zoando? Você tá entrando na vida adulta, precisa aprender a ter boas experiências pra não acabar se sentindo deslocado na faculdade. Antes comigo e com Sebastian que com alguém desconhecido.
— Você soou muito como um pai agora. - eu ri fraco, sentindo meu peito apertar. Deus, como eu sentia falta dele.
Alguém precisa se certificar que você não vai fazer merda. - ele apertou o botão do elevador.
— Você é péssimo.
Pelo menos assim você vai se lembrar da minha cara de desgosto e pensar duas vezes antes de fazer algo inconsequente. - null riu fraco, saindo do elevador para entrar no apartamento que dividia com Gianna, sua irmã mais velha.
— Não sou inconsequente.
Nem você acredita nisso, null. Preciso te lembrar da briga com Braeden ou você esqueceu?
— Eu sou uma pessoa diferente agora. - me defendi -, estou ocupado demais tentando a bolsa programa da UCLA.
Já terminou seu projeto? - null se jogou contra algo que parecia uma cama, me encarando.
— Já sim. Com sorte, consigo passar para o programa no próximo semestre e colocar isso na minha aplicação para a MSU.
Mais um ano e estaremos todos juntos em Michigan de novo, huh?
— Sinto que passou rápido ao mesmo tempo que demorou pra caralho. - suspirei - Parece que faz uma eternidade que você se mudou pro Japão. Mas ao mesmo tempo é como se você nunca tivesse ido embora.
Me sinto assim o tempo inteiro. Eu vou fazer dezenove daqui dois meses e parece que nada mudou. É muito esquisito. - ele suspirou - Eu perdi coisa pra caralho nesse meio tempo.
— Quase nada, eu juro. Quando a gente for pros Hamptons, te atualizo. Mas acho que eu te contei tudo que tinha pra contar. - menos a parte em que eu namorei Dezmond Walker, pensei.
Espero que sim. - ele suspirou - Enfim, vou deixar você aproveitar a festa. Se quiser conversar, me liga mais tarde, vou estar acordado muito provavelmente.
— Pode deixar - eu sorri de canto, sentindo meu peito murchar.
Até mais, Boy wonder.
— Até.
null encerrou a chamada de vídeo com um sorriso no rosto. Eu rolei meus olhos, fazendo meu melhor para não suspirar sozinho como o adolescente apaixonado que era.




Continua...



Nota du autore: Mais uma att dupla e eu só queria dizer publicamente que MEU DEUS DO CÉU, que homem gostoso.
Defino o Benjamin carinhosamente como o homem mais gostoso que já escrevi, eu fico balançando os pezinhos e fico todo coradinho escrevendo qualquer interação que tenha ele no meio. Ele flerta com tanta naturalidade que nem percebe, particularmente? Acho isso lindo demais.
E o Alex, então? Ele tem esse jeitinho de não-binário malvado que me diverte horrores, ele é desbocado, direto e ~levemente~ vingativo. É um deleite entrar na cabeça dele e ver a nuance da personalidade que ele meio que esconde de quem não é muito próximo dele. Genuinamente? Ele é o personagem mais protetor que já escrevi, mas também consegue ser mesquinho e rancoroso por bosta. É divertido pra cacete.
Dito isso, espero que tenham gostado dessa att, venho construindo essa história com a ideia de ser um romancinho banho-maria porque isso é algo que sempre gostei muito e sempre quis explorar um pouco mais nas histórias que escrevo. A química não é suficiente. Eu quero que o Benjamin se arraste pelo Alex porque eu acho que é isso que nosso não-binário merece depois de uma vida toda se arrastando pelo Benji. Quero um nível de cadelagem nível Hozier porque é isso que eu admiro em personagens masculinos.
E, como a Gabi diria: eu quero tatuar esses twinks na minha testa.
Nos vemos na próxima att.
Até logo.

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CADA DIA QUE PASSA ME ENCONTRO MAIS APAIXONADA POR ATC! Obrigada por essa obra-prima incrível, Carter!

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