Última atualização: 17/01/2019

Capítulo Único

Who would think that love took the time to see
We'd be better together, you and me
Who would think that love let us find the way
Never found nothing better, no, baby
Now United – Who Would Think That You Love

- Você poderia por favor levantar esse pescoço, Manuel! – A fotografa suspirou, já tinha alertado no mínimo cinco vezes ao goleiro que a inclinação da sua cabeça não saia num ângulo favorável. Estava impossível trabalhar com o camisa um do Bayern München e apesar dos demais jogadores estarem fazendo a maior algazarra no set de fotografias, era Manuel que deixava a mulher irritada.
- E você bem que poderia ser um pouco menos cavala! Está aprendendo a ser uma mal-educada com seu querido marido, Anelise? – Manuel retrucou. Encontrava-se absorto em seus pensamentos conflituoso e não lhe saia da cabeça que precisava reagir de alguma maneira, caso contrário, estar confuso seria o menor de seus problemas.
Os segundos pareciam que não passavam e os flashs desconfortáveis não paravam de ser disparados naquele grande estúdio de fotografia no centro de Munique. Sempre fora um homem reservado e detestava ser o centro das atenções, como estava sendo naquele momento, mas eram seus ossos de ofício e não poderia simplesmente se negar a realizar algo relacionado ao seu trabalho.
- Não me ponha no meio de suas idiotices, Neuer. – Thomas se defendeu – Ninguém aqui tem culpa se você está mais desligado que o idiota do Lewandoswki, que perdeu um belo gol na partida contra o BVB por sinal. – Zombou o amigo, que se encontrava do seu lado com uma cara nada amigável.
Todos os jogadores se encontravam vestidos com ternos da grife Hugo Boss, era dia de fazer publicidade e o calendário anual de uma das marcas patrocinadoras do Bayern München. Os amigos pareciam extasiados e absortos com as brincadeiras realizadas por cada jogador e pela fotografa, mas Manuel Neuer parecia completamente alheio a tudo o que se passava e isso era algo que fugia completamente do usual.
- A questão não é essa! – Anelise interrompeu o marido – O que aconteceu com você, Manuel? Sei que você não é lá a pessoa mais carismática do planeta, mas estou sentindo falta de você sendo sarcástico com alguém!
- Está tudo bem, só estou pensando numas bobagens. – deu de ombros, não queria falar da sua vida pessoal, mesmo estando cercado por amigos e pessoas que significavam muito para o goleiro – E eu não sou sarcástico! – Voltou a sentar-se no banco que antes era ocupado por outra pessoa a qual ele não lembrava. Tudo que importava naquele momento era a confusão que tinha causado em sua cabeça.
Desde a última discussão com sua namorada, havia parado para pensar acerca de sua relação. Sabia que tinha razão em lhe questionar diversas vezes sobre o futuro dos dois, afinal, tinham cinco anos de namoro e o goleiro sempre tentava desviar do assunto “compromisso sério” quando a namorada lhe questionava sobre. Ele a amava incondicionalmente, mas casamento soava como algo tão distante, como se fosse algo que não fosse necessário para que ela soubesse que o goleiro a amava.
Além disso, ainda vinha vinculado com isso o medo de não ser o marido a qual a mulher desejava, afinal, ele ainda era o cara desajeitado, tímido com aqueles que não conhecia e tinha o dom de ser incrivelmente sarcástico em ocasiões em que não lhe cabia empregar esse pequeno “talento”. Não se achava bom o suficiente para a garota.
- Aposto que brigou com a , ele fica boladão quando isso acontece – Joshua bagunçou o cabelo do mais velho, deixando – o extremamente irritado. – Ops...
- Brigamos sim! – Olhou atravessado para o lateral, que engoliu seco – E acredito que dessa vez ela não quer me olhar nem pintado a ouro.
- Você está sendo um pouco dramático. – James o encarou com a sobrancelha arqueada – Não é possível que a briga tenha sido tão séria assim.
- Como assim, o que você fez? – Thomas olhou preocupado para o amigo. Sabia que o casal tinha leves discussões, mas nada que levasse ao goleiro a acreditar que a namorada não quisesse o ver. – Casamento, outra vez?
- Sim. – Neuer muxoxou. Os jogadores demonstravam expressões de interrogação, não sabiam o porquê do mais velho sempre ter uma cautela tão grande ao falar sobre o assunto, afinal, era nítido que e Manuel eram extremamente apaixonados. – E dessa vez eu acho que ela está certa!
- Claro que está, Manu! – Anelise, a esposa de seu melhor amigo, se afastou do tripé em que a câmera estava posicionada e se aproximou do goleiro – Não entendo o porquê de você relutar tanto, é apenas um momento em que vocês vão oficializar o amor que eu sei que sentem. Não tenha uma visão tão dramática do que é um casamento, olhe para mim e para Thomas. – apontou para o camisa 25. – Sei que estamos longe de sermos o casal perfeito, mas somos tão felizes do nosso jeito. – abraçou o atacante, que lhe deu um rápido selinho e um sorriso escancarado.
- Faço minha as suas palavras, schatz. – Müller sorriu abobalhado para a mulher, fazendo com que os amigos rissem da cara de paspalho que o atacante fazia – Mas a questão é que você sabe que isso é algo importante para ela, você pode ter passado a impressão que só quer curtir ela e não a leva a sério!
- Mas isso não é verdade! – Manuel arregalou os olhos com a possibilidade da mulher achar que ele estava apenas usando-a, aquilo era um absurdo – Eu amo aquela mulher!
- Eu sei que a ama. – Anelise assentiu – Mas as vezes as mulheres precisam um pouco mais de ação do que palavras, Manu. – o olhou serena – Somos complexas.
- Eu quem diga. – Müller suspirou, levando um tapa de sua mulher – Mas o que eu fiz dessa vez?
- Você deveria estar encorajando seu amigo e não colocando mais dúvidas na cabeça dele. – revirou os olhos.
- Desculpe-me, mein liebe. – ele abraçou a mulher de lado, beijando sua bochecha – Você tem toda razão.
Manuel olhava a cena embasbacado, turbilhões de ideias rondavam por sua cabeça e o deixavam ainda mais confusos. Aquele momento de epifania era tudo o que ele mais precisa para clarear a mente e o guiar em rumo da melhor medida a ser adotada, ele só precisava de um espelho. Vendo o casal de amigos à sua frente, pode perceber que era aquilo que ele queria ter com : um relacionamento estável, onde as brigas existiriam, mas que dariam espaço para momentos de carinho e companheirismo, sendo um complemento sem igual.
Ao perceber que já tinha tomado uma decisão coerente - a qual já deveria ter tomado há séculos - Levantou-se bruscamente da cadeira em que estava sentado e pôs-se a puxar a gravata borboleta que o deixava mais sufocado a cada segundo que se passava.
- Espera aí! - Anelise Müller falou num susto – O que pretende fazer? Estamos no meio de um photoshoot para uma das marcas mais famosas do globo! Tenho certeza que não vai se importar se chegar 30 minutos mais tarde e além disso, você não pode simplesmente sair desgovernado pela cidade!
- Não posso faze-la esperar mais, Na. – jogou a gravata em qualquer lugar, não tinha tempo para observar esses pequenos detalhes – Me desculpe, mas tenho que ir.
- Mas para onde você vai? – Kimmich perguntou, atordoado pela reação brusca do amigo – Você está bem? – Olhou preocupado para o goleiro, afinal, o mais novo o tinha como exemplo e sentia um grande apreço pelo loiro mais velho.
- Não seja tonto, Joshua. – Lewandowski estapeou o lateral – Não é obvio que ele finalmente vai pedir em casamento?! – Gargalhou, deixando todos boquiabertos com a conclusão.
- Você vai mesmo? De verdade? – Kimmich perguntou maravilhado, afinal, adorava finais felizes e o amigo certamente merecia um – É por isso que eu adoro os Neuer’s! – falou empolgado, recebendo um olhar confuso do goleiro.
- É... –Manuel coçou a nuca, estava tão eufórico com a revelação que se esqueceu de um pequeno detalhe, não tinha planejado nada e a namorada certamente estava enfurecida demais para o ver – Não sei o que fazer. – suspirou
- Só vai, meu amigo. – Hummels o encorajou – Você certamente a ama e casar com será a única coisa útil da sua existência. – zombou, fazendo Manuel rolar os olhos.
- Concordo com isso. – An encorajou o amigo – Vai lá, eu cubro por aqui, só não ande desembestado pelas ruas!
O goleiro sorriu agradecido e sem esperar nem mais um segundo, Manuel saiu do estúdio de fotografia ao som de gritos de empolgação dos amigos e reclamações da equipe que tinha preparado todo o cenário para realização das fotografias. Sabia que tinha tomado uma decisão certa e ficava extremamente grato por contar com o apoio dos amigos.
Correu eufórico pelo estacionamento do estúdio e nem ao menos se lembrou de retirar a roupa emprestada pela marca, tinha coisas mais importantes a fazer. Acionou o carro na velocidade da luz – deixando de lado o aviso que Anelise tinha o alertado - e partiu em direção ao consultório de psicologia da namorada, sabia que ela estaria em pleno horário de expediente, mas não podia mais esperar para vê-la.
Não sabia em que estado a encontraria, após uma longa noite de discussão, era quase certo que se ela não o matasse quando o visse, no mínimo ele sairia com alguns hematomas. Aquela era , uma mulher que sabia o que queria e nunca se deixava abater por ninguém, mas além disso, era também a mulher mais compreensível e sábia que ele já tinha conhecido.
Enquanto esperava ansiosamente para abertura de mais um sinal vermelho – que pareciam não tem fim naquela cidade -, Neuer se pegou pensando em como tinha conhecido , certamente tinha sido o momento mais aleatório e sem nexo de sua existência. Com essa consideração, Manuel começou a rir ao lembrar da espontaneidade e graça da mulher que mais amava em sua vida.
Flashback On

20 de Julho de 2014. Munique, Alemanha.
O goleiro estava muito ofegante, corria mais de 10 quilômetros e a vontade de gritar lhe consumia. Ele era campeão do mundo, nem mesmo se ele repetisse aquela frase diversas vezes acreditaria que aquilo era realmente verdade. Tinha chegado de terras brasileiras a poucos dias e as festas na Alemanha o deixavam eufórico, tanto que tinha que achar maneiras para descarregar toda sua euforia, fazer trilhas em territórios bávaros distantes tinha sido uma delas.
Sorria à toa e se alguém o visse naquela situação, certamente o julgaria como louco. Eram tantos sentimentos bons que o consumiam que ele até cantava com todo seu folego – algo que ele nunca faria se estivesse em seu estado normal. Deu mais algumas passadas e sentiu algo se chocando contra suas costas, fazendo que que perdesse o equilíbrio rapidamente e caísse no chão.
- Mas que por... – O loiro falou confuso, certamente tinha ralado no mínimo o joelho.
- Aí meu Deus, você anda muito devagar! – Uma voz feminina soou, fazendo com que ele se virasse em direção da mulher, muito bonita por sinal. – Isso não teria acontecido se não fosse uma lesma.
- Você esbarra em mim e eu sou culpado? – Perguntou transtornado com a audácia da morena a sua frente – Acho que as coisas estão um pouco distorcidas por aqui.
- Claro que não. – gargalhou, deixando-o confuso – Você precisa aprender a levar as coisas menos a sério, goleiro. – deu uma piscadela e um leve sorriso.
- Sabe quem eu sou? – Perguntou atordoado e envergonhado com o sorriso que tinha recebido. Ele estava mais do que acostumado de receber sorrisos – e algo a mais – de mulheres de toda parte do globo, mas alguma coisa naquela mulher de cabelos longos e negros e aquela franja curta que destacava seus cintilantes olhos azuis, o faziam se sentir intimidado.
- Mas é claro. – falou num tom óbvio – Não é todo dia que seu país ganha uma copa do mundo, não é mesmo? – Riu.
Só então ele se tocou o quão idiota tinha sido, era claro que ela o conhecia. Não queria soar prepotente, mas a repercussão da copa do mundo e seu excelente desenvolvimento no Bayern München tinham o tornado uma espécie de ícone em todo território Alemão. Ele estava tão embasbacado que se esquecido de todos os títulos e prêmios que possuía, deixando-o tentado a descobrir um pouco mais sobre a personalidade peculiar da morena a sua frente.
- Parece que sabe meu nome, posso saber o seu? - Perguntou de forma acanhada, geralmente não tinha muito jeito com mulheres e sempre ficava sem saber o que fazer.
- Gertruida. – olhou séria para Manuel, que fez uma leve careta em seu rosto, certamente o nome não condizia com tão bela mulher – Estou brincando, me chamo – riu ao se apresentar, recebendo um suspiro aliviado do goleiro, que logo após riu ao notar que ela tinha dito seu nome completo – Mas qual o problema se meu nome fosse esse? – Questionou de modo a arquear levemente a sobrancelha.
- Nenhum! – Respondeu de modo afobado – Mas essa não é a questão, o que faz no meio dessa floresta sozinha?
- Eu meio que me perdi. – riu sem graça – Estava em uma competição da corrida de cinco quilômetros de Munique com o pessoal da faculdade e terminei desviando um pouco do caminho.
Manuel a olhou embasbacado, como alguém poderia desviar tanto de sua rota inicial e aparentar tanta plenitude? Ele certamente estaria em pânico e com o pensamento de que nunca voltaria para sua casa, tendo que viver como uma espécie de Tarzan alemão.
- Posso perguntar por que está tão calma? Eu estaria temeroso se tivesse desviado tanto de meu percurso.
- Não adianta entrar em pânico, não é mesmo? – Deu de ombros – E você apareceu, pode muito bem me situar para que eu volte para casa. – riu do olhar vidrado que recebeu do recém vencedor da luva de ouro.
- Posso fazer muito melhor. – sorriu de lado – Eu te levo para casa.
End of flashback


Manuel sorriu ao lembrar daquele especifico momento, tinha tido muita sorte em encontrar no meio daquela floresta. A simples carona para casa da mulher tinha evoluído para inúmeras noites de conversas, encontros e finalmente, um pedido de namoro.
Ao lembrar da convicção que tinha ao pedir em namoro, Manuel suspirou. Tinha sido um completo idiota quando se quer tinha duvidado que se casar não seria algo bom, claramente seria a coisa mais certa que faria.
Passou por mais alguns sinais vermelhos, quando finalmente avistou o grande prédio na qual se encontrava o consultório da mulher. Estacionou o carro no estacionamento privativo do prédio e correu até o elevador - que estava em sua capacidade máxima - dando apenas um “boa tarde” para todos os presentes e se calando no canto mais afastado do mesmo. Notou que as pessoas cochichavam seu nome, algo que já estava acostumado, tendo em vista que era muito famoso em seu país natal.
Ao notar que tinha parado no andar desejado, Manuel correu pelo hall de estilo clássico de modo a assustar todos no local – não saberia dizer se pelo fato de ter entrado bruscamente ou por ser um famoso jogador de futebol.
- Bom dia, senhor Neuer. - Alexia, a recepcionista do consultório de sua namorada o saudou. – A senhorita está com um paciente no momento, deseja deixar algum recado?
- Deixa que eu mesmo dou o recado, não posso esperar nem mais um segundo. – falou rapidamente, procurando a sala da namorada, abrindo rapidamente quando encontrou um enorme – Psicóloga estampado na porta. Ao adentrar na sala de maneira afobada, observou a namorada dando um abraço de despedida em um garotinho de aparentemente nove anos de idade.
- Manuel, o que caral... – o olhou aborrecida, se repreendendo rapidamente ao perceber que falaria palavras de baixo calão na frente Noah, seu paciente mais querido e de apenas nove anos – Nos vemos semana que vem, Noah? – Sorriu sem graça para o menor
- Você é o Manuel Neuer? – O menino olhou vidrado para o goleiro, não dando muita importância ao que foi dito pela psicóloga.
- Erm... – Manuel sorriu sem graça para o menino, recebendo um olhar explosivo da namorada – Sou sim, e você deve ser o Noah.
- Você sabe meu nome? – O menino continuou com o olhar abobalhado, Manuel Neuer era simplesmente seu ídolo e o ver em sua frente parecia um sonho.
Manuel sorriu para o garotinho, sempre ficava feliz em ser reconhecido por seu trabalho e ver o olhar genuíno da criança o deu forças para encarar a namorada, que deu um leve suspiro ao perceber que mais uma vez se encontrava perdida pelos encantos do homem a sua frente.
- me falou muito bem de você, pequeno. – sorriu para o menino – Você gostaria de uma foto?
- SIM! – O menino gritou de felicidade, entregando seu celular para a psicóloga, que rapidamente se prontificou em tirar a foto. – Você é o melhor jogador do mundo, Neuer. – o pequeno falou ao ver a foto recém-tirada pela psicóloga – Vou mostrar para todos os meus amigos. – sorriu e abraçou sua psicóloga, saindo eufórico do consultório.
O clima pareceu pesar assim que o garotinho saiu da sala, ele não sabia como iniciar a conversa sem ser atacado pela psicóloga, parecia tão covarde
- O que faz aqui? – quebrou o silencio existente na sala, suspirando ao se sentar na mesa de mármore, na qual uma bela foto dos dois estava estampada em um porta-retratos. Ainda havia esperanças para Manuel.
- A gente precisa conversar. – a mulher revirou os olhos ao escutar o que Neuer dizia. – Estou falando sério, !
- Você diz isso todas as vezes e eu realmente estou ocupada. – mexeu em uma pasta de modo aleatório, estava obvio que ela só usava aquilo para o afastar.
- Não está fazendo nada! – Manuel deu um olhar acusatório – Por favor, preciso que venha comigo, prometo que não irá se arrepender – suplicou
- Onde quer que eu vá? – Falou derrotada – Eu quero ir para casa, Manuel!
- Não vamos demorar, só venha comigo, por favor. – estendeu a mão para a mais nova – Eu só preciso de um pouco do seu tempo, não podemos ficar do jeito que estamos. - ao perceber que o namorado estava sendo sincero, aceitou sua mão ainda relutante deixando-o aliviado.
Fizeram o caminho até o carro do goleiro de maneira silenciosa e continuaram naquela quietude por longos segundos. A cabeça de Manuel estava fervilhando, estava extremamente nervoso com o que faria daqui há alguns minutos, mas tinha certeza que era o melhor a ser feito. continuava pensativa e sem emitir nenhum som, não sabia o porquê de Neuer ter entrado de maneira tão atrapalhada e impreterível em seu trabalho, mas tinha um leve pressentimento que algo importante se passava na mente de seu até então namorado.
Ao avistar a imensa Olympiaturm e a vegetação verde ao se redor, Manuel parou o carro em uma esquina próxima ao local, deixando a mulher curiosa com o ponto escolhido. Saiu do carro rapidamente e abriu a porta de , oferecendo seu braço para que ela saísse cuidadosamente do carro.
- O que estamos fazendo aqui? – A mulher perguntou desconfiada ao notar que ele aumentava o ritmo das passadas
- Você é muito curiosa. – a olhou de lado – Só me acompanhe. – não pode evitar rir da careta nada agradável que a mulher o lançou, ela estava curiosa demais para saber o que ele planejava e todo aquele mistério a deixava incrivelmente indignada.
Ao se aproximarem do térreo da imensa torre da cidade de Munique, trataram de subir de maneira silenciosa até o topo da mesma, não demorando mais do que dois minutos para que o trajeto fosse concluído. Ambos adentraram no estabelecimento, de modo a contemplar e majestosa vista de Munique.
- Teríamos mais sorte se viéssemos ao pôr do sol. – o goleiro se lamentou.
- Pode me dizer porque realmente me trouxe aqui? – ignorou o que tinha dito anteriormente, passando a encarar o goleiro com o semblante neutro – Você me tirou do meu consultório do nada, acho que o mínimo que mereço é uma explicação, Manuel!
- Mas a vista continua linda. – ignorou a mulher, puxando pela mão até a sacada da torre, onde a visão panorâmica agraciava os olhos de quem a observava – Te trouxe aqui por que precisamos conversar. – suspirou – Aqui não te faz lembrar algo? – Perguntou esperançoso, acariciando a mão da morena.
- É claro que faz... – deu um pequeno sorriso – Foi aqui que me pediu em namoro.
- Sim, te trouxe aqui para nos lembrarmos de um dos dias mais felizes da minha vida. Nunca tive tanto medo de ter um pedido negado quanto tive nesse dia, você me apavorou com jeito, . – ambos riram ao se lembrar do dia mais constrangedor e feliz de ambos como casal.

Flashback On

17 de Julho de 2014. Olympiaturm, Munique, Alemanha.
- O senhor tem certeza que sua acompanhante virá? – O garçom perguntou, olhava para Manuel com um semblante pesaroso, afinal, o goleiro estava naquela mesa sozinho há mais de 45 minutos um indicativo obvio que tinha levado um bolo.
- Ela já deve estar chegando. – sorriu envergonhado, todo no local observa e ele tinha vontade de se jogar daquela torre de tanta vergonha.
Estava começando a duvidar se a garota realmente viria e não pode evitar se sentir decepcionado, tinha tudo planejado para que aquela noite fosse inesquecível para . Eles estavam saindo há três meses – os mais incríveis de sua vida – e a ligação entre os dois só crescia a cada dia que se passava, tudo aquilo só dava a certeza que Manuel precisava ter aquela garota para sempre em sua vida.
Suspirou pesaroso, afrouxando o nó de sua gravata e dando mais um gole no vinho que tinha escolhido com todo o cuidado do mundo para agradar a mulher. Quando finalmente decidiu que ir embora seria a ação mais sensata a ser feita, Neuer observou a mulher saindo rapidamente do elevador com o cabelo desordenado e sua respiração ofegante. – deu um longo suspiro de alivio ao constatar que ela realmente tinha vindo ao seu encontro.
- Ai meu Deus, me desculpe! – falou esbaforida – Foi meu primeiro dia no estágio e aquele hospital estava uma loucura, quando cheguei em casa, percebi que não tinha uma roupa decente para vim e fui para casa de uma amiga para pegar um vestido emprestado. – a mulher falava rapidamente, totalmente angustiada por ter deixado o loiro a esperando por tanto tempo – Quando eu estava prestes a pegar um táxi, uma mulher simplesmente me empurrou e entro no meu lugar, tive que esperar uns 15 minutos para conseguir outro e vim correndo feito louca até chegar aqui. – Respirou fundo ao terminar de contar seu dia terrível.
- Calma... – levantou-se da cadeira, acariciando os ombros da mulher – Você precisa respirar
- Não, estou muito triste com o que aconteceu, por favor me desculpe não foi minha in...
- , não precisa se desculpar por ter tido um dia ruim! Eu entendo o que aconteceu e na verdade.... Me sinto até culpado por não ter pensado em te oferecer um carona. – deu um tapa em sua testa, como sempre, tinha estragado tudo! Parabéns pelo prêmio de pior possível futuro namorado, Manuel Neuer!
- Não foi culpa sua, Manu. – ela sorriu para o rapaz – Eu poderia ter avisado que ia demorar.
- Não vamos mais falar sobre isso, o importante é que você veio. – apreciou a beleza da mulher, que mesmo descabelada, ainda era a mulher mais bonita de toda a Alemanha – Espero que goste da vista. – apontou para a paisagem em volta da torre.
- É realmente muito bonita. – falou surpresa, nunca tinha tido uma visão tão bela de sua cidade natal – Acredita que em toda minha existência, nunca tinha vindo para um dos pontos turísticos mais famosos daqui?
- Não acredito. – ele falou surpreso – Que bom que fui o primeiro a te mostrar. – aproximou os lábios dos dois, dando um selinho e em seguida, um beijo na testa da mulher – Fico feliz em compartilhar esse momento com você.
- Também sou muito feliz por estar aproveitando uma noite tão bonita ao seu lado, goleiro. – acariciou a mandíbula do jogador – Você pensou até nos mínimos detalhes. – apontou para a gravata torta em seu pescoço, fazendo com que ele se envergonhasse por estar desalinhado.
- Sou um homem de muitos talentos. – se gabou – Mas fiz isso tudo pensando em você. Aliás... Ando pensando demais em você, . – a mulher sorriu envergonhada, estava tão apaixonada pelo goleiro que escutar que possivelmente ele retribuía o sentimento encheu seu coração de felicidade – E é por isso que eu preciso te perguntar algo muito importante.
- Estou escutando. – o encorajou, sendo esse o gatilho que o homem precisava para fazer a pergunta que tanto sonhava em proferir para a mulher.
- Quer ser minha namorada, Gertruida? – A olhou esperançoso, observando o sorriso da mulher tomando espaço em seu rosto.
- É claro que sim, goleiro. – arrancou um sorriso de Manuel, que lhe deu um beijo na frente de todos que observavam atentamente a cena – Seria maluca se dissesse o contrário. – comentou assim que se separaram do beijo
- Que sorte a minha que você é uma mulher extremamente lúcida. – ambos gargalharam, aproveitando a noite da melhor maneira, afinal, eram o mais novo casal de namorados da cidade de Munique.
End of flashback


- Eu estava tão horrorosa. – a mulher gargalhou ao se lembrar do estado deplorável que se encontrava naquela noite – Não sei como tive a coragem de sair de casa daquele jeito!
- Você estava doidinha por mim, não perderia nunca a oportunidade de me ver. – o loiro sorriu presunçoso, levando um peteleco na testa da mulher.
- Não seja convencido, acho que era você que estava louquinho para que eu aceitasse namorar com você, contratou até um violinista para tocar no meio do nosso encontro!
- Ainda sou louco por você. – acariciou a bochecha rosada da mulher, que tentou desviar os olhos do dele, falhando miseravelmente em sua missão.
- Não sei se você está certo disso. – acariciou seu próprio braço, tentando afastar os pensamentos nada agradáveis que rondavam por sua mente.
- Mas é claro que estou, wünschen! - Falou indignado – Como pode duvidar do que eu sinto por você?!
- Não vamos discutir no meio de um ponto turístico, Manuel! – O repreendeu – As pessoas estão começando a olhar.
- Que se fodam as pessoas. – falou em um tom mais alto, deixando alguma delas surpresas com o palavreado – Tudo que me importa aqui é você e apenas você!
- Vamos embora, por favor. – ela sussurrou, já estava envergonhada dos olhares que recebiam das pessoas ao redor.
- Vamos, mas não vou te levar para casa. – entrelaçou as mãos e foi em direção do elevador – Preciso te relembrar o quanto eu te amo e como você está sendo cega por não notar!
Caminharam mais uma vez de forma silenciosa até o carro do jogador e dessa vez, o clima estava completamente diferente do da primeira vez. Não existia mais o sentimento de raiva provindo de , mas ambos ainda não estavam em seus perfeitos termos. Manuel não conseguia acreditar que a mulher realmente duvidava de seus sentimentos e sentia a necessidade de lhe mostrar que ficava apaixonado por ela cada dia mais e mais.
Os minutos pareciam não passar dentro do gelado carro. O único som audível era o de dois corações acelerados e ansiosos, na qual não tinham ideia do que fariam dali por diante. O pôr do sol começava a dar vida no céu sempre nublado da capital da Baviera e a cada segundo que se passava, notava que se afastavam cada vez mais da cidade.
Manuel começou a desacelerar quando percebeu que estavam próximos do local desejado. Ao avistar as grandes árvores e vasta vegetação da Floresta Bávara, estacionou o carro em um local estratégico, respirando fundo e criando coragem para olhar a mulher ao seu lado.
- Chegamos. – falou num tom baixo e receoso, saindo rapidamente do carro para abrir a porta do lado de .
- Você me trouxe para o meio do mato para conversar? – Perguntou incrédula – Eu estou usando um salto, Manuel! Não vou conseguir andar sem atolar na lama.
- Não seja por isso. – o loiro suspirou, pegando rapidamente a mulher no colo e se pondo a caminhar, esquecendo até mesmo de fechar a porta do carro.
- Você está? Me coloca no chão, goleiro! – A mulher berrou, arrancando algumas gargalhadas de Manuel ao perceber que tinha o chamado pelo antigo apelido – Estou te avisando, se não me colocar no chão agora, vou me jogar!
- Você ganhará um belo de um hematoma, Gertruida. – riu do desespero da mulher. sentiu seu coração bater rapidamente ao escutar o nome que tinha dito ser seu quando se conheceram e de repente lançou um quase sorriso que foi rapidamente capturado pelos olhos azuis de Manuel. Ah... Aqueles malditos olhos azuis! – Chegamos, senhora reclamona – deixou a mulher pousar ao chão delicadamente, voltando ao seu semblante nervoso de antes.
- Acho que mereço explicações, não é mesmo?! – falou num tom mais ameno, aos poucos sua indignação ia se dissipando.
- Lembra-se daqui? – Manuel olhou ansioso para mulher, que tirou seus olhos do mesmo e olhou para o ambiente ao seu redor.
- Como poderia me esquecer? – Suspirou. Aquele era o lugar em que uma mulher acidentalmente trombou em um homem tímido, que viria a se tornar o seu grande amor – Foi onde tudo começou. – ele assentiu.
- Te trouxe aqui porque precisava falar algumas coisas que sempre quis te dizer, mas por ser extremante estupido, não disse. – a mulher o olhou apreensiva – Posso não ter deixado claro algumas vezes, mas sou perdidamente e enlouquecidamente apaixonado por você, . Estive relutante por muito tempo, pois tinha medo de não ser o suficiente para você, olhe só para mim, sou um completo idiota e você é tão maravilhosa que custo a acreditar que realmente está comigo
- Manu... – ia falando e o homem colocou dois dedos delicadamente nos lábios da mulher, impedindo que ela continuasse sua frase.
- Não, meine Liebe, estou falando a verdade. – suspirou – O pior de tudo é que sou tão idiota que só percebi que te quero para sempre quando quase te perdi. Te quero hoje, amanhã e todos os dias da minha existência. Quero sempre ter por perto uma mulher que é mais do que meu amor, é minha melhor amiga e confidente. É aquela que está comigo em todos os momentos, é aquela que está comigo nas minha vitórias e momentos em que eu sou um tremendo pé no saco quando odeio de pegar algum gol. Quero construir uma família com você, que nossos filhos tenham orgulho de ter uma mãe especial quanto você. Te quero para sempre ! E é por isso que te trouxe aqui, para te fazer o pedido mais importante de toda a minha vida. Casa comigo, Getruida?
olhava embasbaca para Manuel Neuer, ela não parecia acreditar no que tinha acabado de escutar. Em um milésimo de segundo, várias cenas se passavam por sua mente: todos os momentos que partilharam a juntos e se pegou imaginando tudo aquilo que ainda poderiam passar. Seus olhos começaram a lacrimejar e ela deu um sorriso escancarado para o loiro, que deu lhe olhou com olhos um pouco marejados.
Mas como um passe de mágica, seu sorriso sumiu e ela passou a olhá-lo de maneira séria.
- Você não precisa fazer isso só por que brigamos. – suspirou, entristecida por achar que o pedido se resumia a uma tentativa de fazerem as pazes e que Manuel se sentisse obrigado fazê-lo.
- Você escutou o que eu acabei de dizer? – Ele a olhou desesperado – Não foi por obrigação que te fiz esse pedido! Porra... Eu quero tanto construir uma vida com você, ... E só fui tolo demais para perceber isso tarde demais – Seus olhos azuis emanavam tristeza, ele não queria imaginar a possibilidade dela negar seu pedido. Não saberia o que fazer se não tivesse mais a mulher em sua vida.
Horas pareciam se passar diante os olhos do goleiro e a mulher o encarava atônita, nunca tinha visto sua expressão tão triste quanto naquele momento. Como era tola! Era obvio que ele estava sendo sincero e que suas palavras eram tão verdadeiras quanto o amor que sentiam, e ele era muito grande
- Manuel Neuer... – ela o chamou voltando a se emocionar com toda a situação – Eu seria muito idiota se não aceitasse, meine liebe. – deu um sorriso com todos os brilhantes dentes.
Manuel suspirou aliviado e abraçou a mulher, tirando-a imediatamente do chão. Ele estava eufórico, aquilo era mil vezes melhor do que ganham qualquer campeonato, sentiu-se mais feliz até que no dia que ergueu a taça de campeão do mundo. Ele era um campeão do mundo, mas não por ter ganho uma copa ou a Bundesliga, ele era campeão do mundo por ter como sua futura esposa e companheira por toda a sua vida.
- Você me fez tão feliz, liebe. – sorriu ao encostar suas testas, fechando os olhos ao sentir o aroma cítrico da pele da mulher. Estava tão extasiado que esqueceu de um pequeno – não tão pequeno detalhe: as alianças!
Ao perceber o deslize, Manuel estapeou a testa e passou a procurar a qualquer coisa que pudesse substituir o anel até que pudesse comprar o mais bonito para sua noiva. Achou um arbusto próximo aos dois e arrancou algumas folhas, a qual usou como uma espécie de barbante no dedo da mulher, que gargalhou ao notar o que ele tinha feito.
- Erros na programação. – riu sem graça – Prometo que comprarei o anel mais bonito quando chegarmos na cidade.
- Não se preocupe com isso, liebe. – ela acariciou a bochecha com alguns fios de barba recém-nascidos – Esse pedaço de costela-de-Adão foi mais especial do que qualquer anel que tivesse me oferecido. – riu – O guardarei para sempre.
- Te guardarei para sempre. – ele sorriu para a mulher.
- Te amo infinitamente, goleiro. – deu um selinho
- Te amo infinitamente, Gertruida.
Who would think that love let us find the way.
Never found nothing better, no, baby.


Glossário:
Schatz: tesouro, preciosa.
Mein Liebe: meu amor, meu bem.
Olympiaturm: em termos literais, é a torre olímpica que serve como observatório na cidade de Munique. Nesse observatório é possível ter uma vista de 360 graus de toda a cidade.
Wünschen: desejo, almejada.





FIM



Nota da autora: Oi, gente! Projeto novinho saindo do forno e finalmente depois de um bom tempo, decidi escrever essa série de contos com os meus jogadores favoritos do Bayern München, espero que vocês gostem tanto deles como eu gostei de escrever. Ao todo serão 10 contos contando um pouco da história de cada um e estou bastante ansiosa para escrevê-los. O que acharam do Manu? Sou suspeita em falar, visto que foi meu primeiro crush nesse time de maravilhas (em todos os sentidos kkkk). Então é só isso, vejo vocês em breve com mais Bávaros <3.


Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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