você olhando para mim"
— Mirroball, Taylor Swift.
Prólogo
Abril 2015 — Quatro anos antes
Exausta. Rosie se sentia exausta. Sozinha. Nem mesmo a luz do sol a fazia companhia a oito dias, as janelas que sempre foram fechadas agora tinham cortinas que impediam de perceber o céu claro. Havia chegado a pouco tempo em São Francisco, mal tinha visto a cidade e estava bem perto de perder o emprego pelo qual havia se mudado de país. Saiu tão apressada de Sheffield que não pode se despedir de Hanna, sua melhor amiga, tudo somente para não precisar assistir ele batendo em sua porta com outro pedido de desculpa.
Como todas as manhãs Rosie Duran se levantou calmamente de sua cama. O caminho até o banheiro parecia mais distante do que realmente era, alguns calmantes que foram derrubados na noite anterior ainda estavam por todo o chão. Se olhou no espelho quebrado em uma das muitas noites difíceis e mal se reconheceu, sentia que ter deixado a Inglaterra foi talvez seu segundo maior erro. Se tivesse insistido poderia agora estar rindo de todo o motivo que agora a deixava tão aborrecida, ou será que estaria ainda pior? Tudo parecia uma grande confusão em sua cabeça, é tão difícil saber o que é o certo e errado quando toda a sua felicidade foi arrancada de você. Odiava ter se entregado tanto a algo que sabia que não seria para sempre, mas odiava ainda mais não poder estar com ele agora.
O barulho incessante do telefone a fez questionar o por que infernos aquilo não estava no silencioso. As mensagens de George eram frequentes, afinal espera-se que seu funcionário recém contratado apareça nos primeiros dias de trabalho, como das outras vezes Rosie se desculpou e prometeu ir no dia seguinte. Olhou para as horas e deduziu que já deveria ser quase uma da manhã em Sheffield e se perguntou o que Lucas estaria fazendo. Se já estaria na cama ou olhando para a cidade pela janela de seu apartamento, ele estava dando duro no trabalho então estaria cansado e provavelmente se preparando para dormir, rezava para que ele as vezes se lembrasse dela.
Lucas Campbell tinha os olhos grudados no teto do quarto ainda tentando dormir, mas nos últimos dias parecia ser um trabalho árduo descansar. Quem disse que o tempo cura não deveria ter sofrido por amor, porque para Lucas o tempo não passou, somente fez com que ele ficasse mais deprimido que antes. O que era o amor então senão uma dor incessante que aperta o coração e faz você sentir que está prestes a morrer. Os raros sonhos que conseguia ter estavam ficando cada vez mais vividos, o toque dela era tão real que fazia com que acordar fosse um pesadelo, sua voz tão calma o pedindo para que ficasse e tentassem novamente.
O anel ainda guardado na caixinha de veludo vermelha estava no lado aonde ela dormia. Poderia agora estar planejando o resto de sua vida com Rosie, mas o seu egocentrismo obrigou com que ela fizesse suas malas e o deixasse. Poderia comprar sua passagem e viajar para os Estados Unidos novamente, se ajoelhar e implorar que nunca mais virasse as costas para o amor dos dois, mas o horror de ouvir mais um "adeus" vindo de seus lábios fazia tudo ficar impossível. O primeiro poderia ter sido terrível, mas o segundo certamente o mataria lentamente, era melhor se contentar com a foto no porta retrato em cima da escrivaninha do que arriscar encontra-la agora feliz e com outro. Ela agora provavelmente o odiava, suas mensagens sem resposta o comprovavam dessa teoria, não a culpava. Ele fez uma grande bagunça na vida da mulher e não se perdoaria tão cedo por ter sido o causador do choro incessante que foi obrigado a ver no momento que Rosie decidiu terminar tudo.
Aquele dia ficaria preso em sua memória para sempre, as cenas constantes passando em um eterno loop e todas as decisões que poderia ter tomado para evitar que ela fosse embora. Lucas não iria desistir, prometeu a si mesmo que a teria de volta não importaria o quanto tempo passasse, era tão injusto ter a pessoa com que o fazia se sentir tão completo ter o deixado daquela forma e então não morreria antes de poder se sentir vivo novamente.
Capítulo 01
Outubro 2019 — Atualmente
Apesar de sua sala ser no fim do corredor, Rosie conseguia ouvir o som do salto da delegada Green batendo forte contra o chão de mármore, ela se levanta de sua cadeira e se encaminha até a porta da sala de sua chefe.
— Você sabe o motivo de Campbell não vir hoje a delegacia? — a delegada entra no lugar sem ao menos olhar para a detetive.
— O detetive disse que iria tirar o dia para ir a formatura de sua namorada. — Rosie disse enquanto se aproximava da mesa da delegada.
— Campbell enlouquece a cada dia. — Lilian se sentou na cadeira com as mãos no rosto e respirando pesado.
— E ele também disse que amanhã não poderá vir porque vai passar o dia com ela.
— Passar o dia com ela — a delegada olhou com desdém para a moça a sua frente — Sendo assim, você ficará responsável pelos casos.
— Mesmo? — os olhos de Rosie brilharam e ela abriu um sorriso de orelha a orelha.
— Sim, hoje e amanhã, mas não se empolgue muito. A empolgação pode diminuir seu desempenho.
— Irei dar o meu melhor.
Rosie saiu da sala e fechou a porta atrás de si, ela nunca se sentiu tão motivada, não era comum a delegada passar a ela os casos que aparecem, já que Campbell era o seu favorito. Odiava não ser a primeira escolha da mulher para os casos mais importantes que chegavam, mas sabia que tinha sua parcela de culpa no não-favoritismo de Lilian por ela. O dia se foi rapidamente sem que a detetive percebesse e ao chegar à noite, já se preparava para ir embora e descansar, quando a delegada apareceu na porta de sua sala.
— Duran, preciso que faça hora extra, é véspera de feriado e não teremos tantos policiais hoje, e como você mostrou gosto no que faz, pensei em deixar você aqui essa noite.
— Tudo bem.
— Ótimo — a delegada fez menção em sair, mas voltou e olhou ao redor da sala da detetive — Meu Deus isso aqui é minúsculo.
— É... Foi o que conseguiram arrumar para mim depois que voltei de São Francisco.
— Não sabia que sua sala era tão pequena. Amanhã pode escolher uma das salas livres para mudar suas coisas para lá se quiser.
— Obrigada. — Lilian saiu com um pequeno sorriso e com seus saltos batendo no chão, Rosie nunca gostou tanto de ouvir aquele som.
Era sexta à noite, e ela gostaria de poder ir para um bar e se embebedar um pouco, mas se quisesse retornar ao seu legado deveria trabalhar dobrado, principalmente agora que tem alguém para competir os méritos. Rosie caminhou até a cozinha e se serviu com o café ainda quente dentro da garrafa, preferia seu bom e velho chá, mas com a longa noite iria precisar ficar acordada. Voltou para a sua sala e ficou bisbilhotando os casos em aberto no computador.
Ela se perdeu no meio dos casos e foi tirada dos seus pensamentos quando ouviu o sininho da porta da delegacia que indicava que alguém havia entrado, ela olhou para o relógio que marcava três e quarenta. Caminhou até o hall e encontrou o detetive Campbell embriagado e com uma roupa de gala.
— Lucas, achei que estaria na festa de formatura de sua namorada. — Rosie disse.
— Eu estava. — ele foi caminhando de encontro a ela, mas cambaleou e quase caiu, Rosie e um policial que estava na porta o segurou pelo braço e o levou até um pequeno sofá que tinha ao lado da bancada
— Eu tô de boa... — o detetive se sentou no sofá e deixou a cabeça cair para trás.
— Ainda não me respondeu.
— Ah claro...Os pais dela estavam na formatura.
— E...?
— E que eles não gostam de mim e fazem questão de deixar isso bem claro.
— Ficou emburrado por isso? — Rosie cruzou os braços.
— Esse não é o único problema, tem um amigo de infância dela que aproveita para jogar umas cantadas nela, COMIGO DO LADO — Lucas gritou a última frase liberando o seu bafo da bebida alcóolica.
— Eles são amigos há muito tempo, as vezes é somente uma brincadeira.
— Brincadeira — ele riu ironicamente — Eu quero é socar a cara dele — Rosie segurou uma pequena risada fazendo com que Lucas desse um sorriso também — Já é tarde o que está fazendo aqui?
— Cobrindo aqueles que estão se divertindo nas festas.
— Ah... — um silencio constrangedor reinou no meio dos dois, hoje são somente colegas, tanto Rosie quanto Lucas tentavam esquecer o passado. Em vão.
— E por que você decidiu vir para cá? Por que não foi para casa?
— Eu gosto de ficar aqui, e além do mais que tem café de graça — ele deu uma piscadinha para ela que apenas sorriu.
Com toda a negação Rosie ainda o amava, mas como não amar? Ele era lindo da cabeça aos pés, o rosto parecia ter sido esculpido por anjos, a gentileza e a inteligência do rapaz só agregavam a beleza dele, porém quando descia os olhos para a mão dele havia uma aliança entre seus dedos, mas não hoje. Sabia que se caso tocasse no assunto, ele perguntaria sobre seu ex-noivo. Ela não estava preparada para responder o porquê haviam terminado, apesar de todos já terem notado a falta do anel de diamante que ela sempre fez questão de mostrar a todos.
E claro que com o detetive não era diferente, mesmo que tentasse se enganar o seu coração saltitava todas as vezes em que ouvia a voz dela pelos corredores, sabia que se um dia precisasse somente o toque de Rosie o faria despertar de qualquer coma. Todas as vezes que o sol ou até mesmo a luz da lâmpada iam de encontro com os olhos azulados da mulher fazia todo brilho de diamante desaparecer. Lucas pode notar que ela já não usava tanta maquiagem o que o fez lembrar dos dias em que ainda acordava ao seu lado e seu rosto o fazia sentir vontade de permanecer ali para sempre.
— Não vou te atrapalhar mais, só vim pegar um pouco de café — o detetive se levantou e foi até a máquina de café e apertou o botão "expresso", pegou um copo que havia do lado e deixou debaixo da cafeteira, o líquido escuro começou a cair dentro do copo de plástico, assim que terminado Campbell deu um longo gole no café e deixou o copo na bancada.
— Você deixou cair — Rosie apontou para uma pequena quantidade de café derramado no balcão, Lucas revirou os olhos e passou a manga do paletó no local, ele odiava a organização em excesso que Duran tinha, sem nenhum único fio de cabelo fora do lugar.
— Bem... Foi proveitoso conversar com você — Campbell cambaleou um pouco por conta da bebida alcoólica que tinha tomado mais cedo, ele se ajeitou e foi até a porta — Até depois Rosie.
— Detetive Campbell.
— Rosie — ele disse seu nome o enfatizando.
Ela o observou ir embora andando pela rua escura de Sheffield, balançou a cabeça negativamente e voltou para sua sala e tentou se concentrar no que estava fazendo, mas seu pensamento continuava voltando para o passado a impedindo de trabalhar.
Rosie acordou com batidas fortes na porta de sua sala, ela tinha dormindo na delegacia sem perceber, suas costas doíam e a luz forte do computador fazia com que ela fechasse fortemente os olhos, a detetive se levantou, arrumou a roupa amassada e abriu a porta.
— Você tem um caso, estão na sala 5 — a delegada a avisou enquanto terminava de mandar uma mensagem no telefone, olhou para Rosie e se assustou — E pelo amor de Deus, se arrume antes de encontra-los.
Rosie foi até o banheiro e viu que seu rosto estava com a marca de sua pulseira, ela retirou a pouca maquiagem borrada lavou o rosto e aplicou novamente a maquiagem, penteou os cabelos tentando deixá-los com um ar mais apresentável. Duran saiu do banheiro e foi para a sala onde a esperavam. Assim que abriu a porta encontrou uma mulher e um homem de costas.
— Bom dia, sou a detetive Duran, em que posso ajuda-los? — a detetive se sentou na frente do casal com as mãos grudadas umas nas outras se apoiando em cima da mesa.
— Nossa filha desapareceu — a mulher falou com a voz chorosa e limpado as lágrimas que caia — Ela bebeu muito... depois saiu da festa.
Rosie entregou um copo com água para a mulher a sua frente e esperou a mesma se acalmar para poder começar as perguntas.
— Tudo bem, eu preciso que vocês me deem algumas informações importantes — o casal assentiu — Há quanto tempo ela está desaparecida?
— Deve ter umas 8 horas — não era muito tempo para um desaparecimento, mas quanto mais cedo a queixa é prestada maior é a chance para que a pessoa seja encontrada.
— Qual o nome de vocês? — a detetive pegou um bloco de notas dentro da bolsa
— Debbie e Henry Edwards — a mãe disse.
— Tudo bem... — Rosie anotou os nomes no bloco — Não quero que me entendam mal ou algo do tipo, mas vocês não acham que ela apenas dormiu na casa de algum amigo e esqueceu de avisar?
— Não — agora o pai falava — Já ligamos diversas vezes para ela, para os amigos e ninguém a viu desde que saiu da festa! Quantos casos já não vi de detetives que demoram para começar suas buscas e quando encontram o pior já aconteceu — o homem se levantou da cadeira exaltado.
— Senhor sei que você tem todo o direito de estar zangado, mas nesse momento precisamos de calma. Vamos colocar nossos policiais atrás dela e para que tudo seja feito da forma correta precisamos eliminar qualquer possibilidade.
— A nossa filha n-não é de fazer essas coisas — a mulher retirou o celular do bolso e procurou por alguma foto — Essa foto foi tirada ontem na sua festa de formatura — a mão da mulher estava tremendo. Assim que Rosie bateu os olhos na foto ficou em choque. Aquela era a namorada de Lucas, que por sinal, estava com ele na foto.
— Bonnie...
— Você a conhece? — apareceu um leve sorriso nos lábios de Debbie.
— É a namorada de um dos nossos detetives — Henry revirou os olhos — Sinto muito — ela entregou o celular de volta a mulher — Nome completo da vítima por favor.
— Bonnie Arlene Edwards, ela tem 24 anos. A formatura foi em Hill’s Park, na Lux — Rosie anotava em seu bloco o que o pai falava.
— Por favor, façam algo coisa, minha filha é muito preciosa para mim — Debbie estava implorando para a detetive com os olhos marejados.
— Faremos o possível para encontrá-la, ok? — o casal afirmou com a cabeça — Antes que vocês retornem para casa — Rosie abriu uma das gavetas da mesa e procurou pelos papeis de orientações de desaparecimento — Precisamos que nos deem todas as informações dela, redes sociais, amigos, grupos de igreja, celular, escola e tentem lembrar de alguma informação que possa nos ajudar com as buscas.
— Tudo bem — a mãe de Bonnie preencheu o formulário e se levantou junto ao seu marido e o abraçou de lado caminhando para fora da delegacia.
Rosie relutou em ligar para Lucas, afinal um detetive desesperado não ajudaria em nada, mas ele tinha o direito de saber o que estava acontecendo. Discou o número do detetive e aguardou alguns toques até que ele finalmente atendeu.
— Você sabe que horas são? — a voz do rapaz ainda estava embargada de sono.
— Na verdade não.
— Eu te conto, são 9 horas da manhã.
— Bom tecnicamente já é bem tarde. Preciso que você venha até a delegacia.
— Rosie, eu disse que não iria trabalhar hoje, eu tenho o dia de folga.
— Lucas eu realmente preciso conversar com você.
— Tudo bem. Vou tentar chegar o mais rápido que puder.
— Obrigada — ela desligou o telefone e colocou em seu bolso, foi até sua sala e chamou alguns policiais — Temos um caso de desaparecimento, Bonnie Edwards. Ela desapareceu ontem por volta da uma da manhã — Rosie mostrou a foto dela para os policiais — Ela estava em uma festa de formatura em Hill’s Park na Lux. Vão pra lá e vasculhem tudo, pergunte para vizinhos, acesse câmeras de segurança.
Os policiais se retiraram de sua sala deixando-a sozinha, ela se sentou jogando seu peso contra a cadeira. A notícia que ela iria dar para seu colega de trabalho não seria fácil.
Depois de alguns minutos o detetive Campbell chega na delegacia com suas longas passadas e vai diretamente para sala de Rosie.
— O que aconteceu? — ele parecia preocupado.
— Lucas, preciso que se acalme — ela o levou até a cadeira e lhe entregou um pouco de água — Irei direto ao ponto — respirou fundo — Os pais de Bonnie estiveram na delegaria para dar entrada no desaparecimento dela — o rapaz a olhou profundamente, parecia não entender o que ela falava, e por alguns segundos Rosie podia jurar que ele iria chorar ali mesmo.
— O que vamos fazer? — ele deu longos goles no copo de água.
— Mandei nossos policiais até o local da festa e pedi para que procurassem por qualquer pista.
— Ela não iria sair da festa sozinha. Algo aconteceu ou alguém.
— Alguém? Você acha que alguém está envolvido nisso?
— Eu não acho Rosie, eu tenho certeza. Foi aquele amigo de infância dela. Ele passou a noite inteira a chamando pra sair de lá, falando que tinha um lugar melhor para leva-la, sabia que deveria ter acabado com ele quando tive chance.
— Sem ciúmes agora Campbell. Essa não é a melhor hora para acusar o rapaz sem provas.
— Sem provas? Você me escutou? — ele se levantou e ficou em frente a moça — Eu sei que foi ele Rosie!
— Abaixe o tom comigo Campbell! — a mulher o encarou duramente — Nós iremos investigar ele, vamos interrogar a todos.
— Eu irei com você a casa dele.
— Você não vai colocar um pé dentro desse caso Lucas. Seu desespero não nos ajudará em nada, seu envolvimento emocional pode atrapalhar as investigações.
— Você se esquece que assim como você eu tenho ética e integridade para separar minha vida pessoal da minha vida profissional — a moça fechou os olhos e respirou fundo.
— Lucas Campbell, você vai começar a levar isso para o lado pessoal.
— É a vida da minha namorada que está em jogo, eu não vou cometer erros.
— Reunião, agora! — a voz da delegada foi ecoada pelos corredores da delegacia impedindo a resposta de Duran.
Os dois seguiram para a sala de reuniões e encontraram seus colegas de trabalho já em seus devidos lugares. Rosie se sentou ao lado de sua amiga Hanna, que havia voltado de Londres há alguns meses, mas não haviam se falado muito, apenas "bom dia" aqui "boa noite" ali. Rosie sentia sua falta, assim como Hanna sentia a sua também, mas as duas eram orgulhosas demais para voltarem a conversar, então, decidiram por deixar a amizade daquele jeito.
— Bom dia. Tenho dois comunicados — Lilian colocava algumas pastas em cima da mesa — A primeira: Temos uma nova cientista forense. Então deem boas-vindas à Zara Jones — algumas pessoas sussurram um "bem-vinda". A garota era bonita, deveria ter uns 26 anos, era ruiva, os olhos apesar de grandes pareciam estar cansados e tinha um rosto envergonhado. Rosie percebeu que a maioria dos homens estavam encantados com ela. Lucas mostrou estar incomodado com a presença da mulher ali.
— Zara, essa é Hanna — a delegada apresenta a cientista — A nossa cientista forense chefe, ela ficará encarregada de lhe ajudar no seu primeiro ano aqui na delegacia. Certo Hanna?
— Claro delegada — Hanna deu um sorriso, e como Rosie a conhecia muito bem, aquele não foi um sorriso verdadeiro.
— O segundo comunicado é sigiloso, a família não quer um escândalo sendo compartilhado — todos encararam Lilian — A filha dos Edwards está desaparecida.
Capítulo 02
Todos começaram a conversar entre si, afinal sabiam que Bonnie era namorada de Lucas e aquela família era conhecida pelo seu baixo nível de escarcéu. Era inevitável que os cochichos na sala se espalhassem.
— Essa daí não é a sua namorada Campbell? — um dos policiais tocou de leve o ombro de Lucas.
— Silêncio! — a delegada falou mais alto fazendo com que os demais se calassem — Como eu disse, a notícia é sigilosa, então nada de saírem espalhando isso por aí. A detetive Duran já está encarregada do caso, mas os pais pediram total atenção de todos.
— Vou visitar os amigos presentes na formatura, eles podem me dar algumas pistas — Rosie se pronunciou.
— Ótimo, Campbell acompanhe Duran no caso — Lucas sorriu e olhou para a detetive que revirou os olhos.
— Acho que consigo fazer isso sozinha, delegada.
— Mas eu estou ordenando para que Campbell vá com você. Algum problema senhorita Duran?
— Não, senhora Green — sorriu, sabia que a delegada seria capaz de tirar ela do caso para que Campbell participasse.
— Ótimo, Reunião encerrada! Voltem para seus trabalhos. — Lilian pegou sua bolsa e saiu da sala seguido pelas outras pessoas presentes, sobrando apenas Lucas e Rosie.
— Não disse que eu iria com você? — ele a encarou.
— Aja como um babaca e eu te coloco para fora desse caso antes mesmo de perceber que entrou — ela retirou um pedaço de papel do bolso da calça e entregou a ele — Esses são os lugares onde vamos passar hoje, é o endereço de todas as amigas dela e inclusive o de Benjamin.
— O amigo de infância.
— Esse mesmo. E quando fomos até ele você não vai entrar comigo, irei sozinha, você espera no carro — ela não aguardou pela resposta e caminhou até a sua sala, pegou seu casaco e a chave do carro.
Quando chegou na entrada da delegacia Lucas já a esperava com as mãos dentro do bolso. Rosie caminhou até seu Impala, adentrou e esperou para que o detetive fizesse o mesmo.
— E lá vamos nós com a caranga velha de Rosie.
— Bom, se está reclamando peço que vá a pé — Rosie abaixou o vidro para que pudesse responde-lo.
— Ha ha, muito engraçada — quando ele foi até a porta do passageiro para abrir a moça havia trancado — Rosie, sem gracinha, abre logo essa porta.
— Você chamou meu carro de caranga velha e quer entrar nele?
— Tá bom — ele se agachou na altura do vidro — Me desculpe, o seu carro é... vintage. Isso! Ele é muito vintage.
— Peça desculpas ao carro, não a mim.
— Está bom, descul...
— Meu Deus garoto estou brincando, entra logo — ela abriu a porta do passageiro e ele entrou.
O dia havia sido longo, ainda sem sucesso. Eram quatro e meia e eles já haviam passado por todas as casas, mas nenhuma das amigas forneceram qualquer informação útil para o caso, na verdade a maioria parecia realmente não se importar com o sumiço de Bonnie.
Duran e Campbell trocaram poucas palavras, apesar do afeto que obviamente tinham um pelo outro, as ironias eram os escudos perfeito para mascarar o sentimento. O telefone de Rosie começou a tocar, mas ela sequer deu ao trabalho de olhar quem era, depois de alguns segundos ele parou de tocar, mas voltou novamente.
— Não vai atender? — Lucas pegou o telefone da mulher dentro da bolsa.
— Não é importante.
— Como pode saber? — ele olhou para o telefone e leu o nome na tela — Link. Não vai atende-lo?
— Se atender esse telefone eu juro que te jogo fora desse carro — ele desligou a chamada e colocou o telefone no mudo.
— O que aconteceu entre vocês? Eu sei que não quer falar sobre isso, mas é estranho tanto amor acabar assim de uma hora para a outra.
— Amor não é a única coisa que sustenta um relacionamento, deve se lembrar disso Campbell.
— Então qual foi o motivo por todas as outras coisas acabarem?
— Podemos por favor não falar sobre isso? — ela suplicou.
— Tudo bem, me perdoe — o silêncio que veio depois deixou todo o clima pesado.
— Então — Duran tentou mudar de assunto — Não pareceu gostar da nova cientista.
— Ah, Zara — ele respirou fundo — Uma longa história.
— Então a conhece?
— Há alguns anos eu e ela...nós tivemos um pequeno caso, de uma noite só.
— Não acabou bem? — Rosie perguntou.
— Bom ao final do nosso encontrou eu sai apressado e ela ajoelhada na sala de sua casa, acho que isso responde.
Rosie assentiu e continuou dirigindo, tentou desvencilhar seus pensamentos dele. Link. Ela nunca gostou de conversar sobre seus sentimentos e não seria agora que ela iria se abrir, principalmente com Lucas, em um carro no meio de um caso. A vida pessoal podia esperar até que ela resolvesse o desaparecimento de Bonnie. Ela estacionou o carro na frente da casa de Benjamin e pegou seu bloco de notas. Deu uma última olhada para Lucas e ele levantou as mãos em sinal de rendição, com a confirmação que ele não sairia do carro ela saiu e caminhou em direção a porta da casa. Tocou a campainha, mas ninguém atendeu, bateu forte na porta e ouviu alguém cochichar algo dentro da casa.
— Polícia de Sheffield, abra a porta! — uma garotinha abriu a porta e encarou Rosie — Seus pais estão em casa? — ela não respondeu, apenas correu para dentro de casa deixando a porta aberta. Um jovem rapaz desceu as escadas e deu de cara com a detetive — Benjamin Lewis?
— Sou eu sim
— Sou a detetive Rosie Duran, você teria alguns minutos para conversar comigo?
— Claro, fique à vontade. É sobre o que? — ele fez a menção para que ela entrasse
— Bonnie Edwards — a detetive entrou na casa e ele fechou a porta atrás de si — Ela está desaparecida e preciso de detalhes sobre o que aconteceu ontem à noite.
— Como assim desapareceu?
— Esta manhã o senhor e a senhora Edwards vieram até a delegacia prestar queixa do desaparecimento de Bonnie. Fui informada que você seria um grande amigo da vítima e que talvez tivesse algo para nos ajudar.
— Por favor sente-se — ele apontou para a cadeira da cozinha — Fez certo em vir até mim, Bonnie nunca contava nada para as amigas — a detetive se sentou enquanto ele pegava algumas xícaras e um bule — Ela sempre foi mais próxima a mim.
— Creio então que deva ter alguma informação.
Ele despejou o chá na xicara, entregou para a detetive e sentou-se à frente da mulher. Benjamin ficou por algum tempo com a cabeça baixa e alguns soluços tomaram conta do ambiente. Rosie nunca foi muito boa em consolar os amigos ou parentes das vítimas, então permanecia em silêncio.
— Ela é minha melhor amiga — disse entre os soluços — Nunca achei que fosse perde-la — algumas lágrimas caíram e ele as limpou com a manga da blusa.
— Você não a perdeu. Vamos encontrá-la.
— Espero que seja rápido. Não sei viver sem ela comigo, detetive — o homem pegou a mão de Rosie — Por favor a encontre logo.
— Prometo traze-la de volta. Mas para isso, eu preciso que você me dê algumas informações. Quando a viu pela última vez, a última conversa. Qualquer coisa — ele olhou para cima em busca de alguma memória.
— Ela estava dançando com a gente, então seu namorado disse que estava indo embora. Os dois brigaram e ele saiu da festa e ela foi atrás. Vi que ela estava demorando então fui procura-la. E... — Benjamin fez uma pausa — Não a encontrei. Achei que tivesse indo embora com ele, se soubesse que ela tinha sumido eu nunca teria voltado para a festa.
— Tudo bem, consegue se lembrar de mais alguma coisa? Talvez tenha mencionado que queria viajar para algum lugar? Alguém que não goste dela.
— Não... Bonnie era amada por todos. Claro que tinha algumas meninas com inveja da beleza dela — Rosie revirou os olhos — Mas ninguém nunca faria mal a ela, tenho certeza.
— Certo, muito obrigada senhor Lewis — Rosie terminou de anotar em seu bloco e se levantou — Caso lembre de qualquer coisa que possa nos ajudar a encontrá-la — ela retirou um cartão do bolso — Esse é o meu número, qualquer informação será útil.
— Talvez você devesse interrogar o namorado — encarou a detetive.
— Por que diz isso?
— Não é obvio? Quantos casos já não deve ter presenciado onde o namorado raivoso faz alguma loucura.
Rosie saiu da casa e andou até o carro, assim que entrou Lucas a olhou esperando por respostas. A moça colocou as mãos no volante a baixou a cabeça. É claro que não havia nem passado por sua cabeça interrogar Campbell.
— O que aconteceu quando você saiu da festa? — a pergunta assustou Lucas, ele gaguejou e não conseguiu responder — Lucas Campbell, para onde você foi quando saiu da festa?
— Eu fui para a delegacia.
— Do local da formatura até a delegacia você gasta quase 45 minutos a pé. Bonnie desapareceu por volta de uma e meia da manhã, você chegou à delegacia as três e quarenta.
— Você está me acusando?
— Já fez isso sozinho.
Ela poderia estar cometendo um erro e talvez perdendo tempo, mas Lucas sem dúvidas era um suspeito. Era o namorado, eles brigaram, ela saiu atrás dele e ele demorou duas horas para fazer um percurso de quarenta minutos? Desejava que fosse somente uma coincidência e que Lucas tivesse um álibi, porque se não, ele seria um dos principais suspeitos.
Assim que chegaram à delegacia Rosie levou Lucas para o interrogatório. Ele se sentou e cruzou os braços.
— É uma perda de tempo e você sabe disso.
— Não, eu não sei se é uma perda de tempo — ela se sentou à sua frente — Aonde você estava no momento do desaparecimento de Bonnie Edwards?
— Na formatura dela, brigamos e eu sai da festa por volta de uma e vinte. Caminhei até um bar, tomei algumas doses de Whiskey e então resolvi passar pela delegacia.
— Por que decidiu passar na delegacia?
— Eu te disse, tinha café de graça e é caminho para minha casa.
— Existe alguém que possa confirmar que você esteve no bar essa hora?
— O garçom. Conversei com ele enquanto bebia.
— Alguém mais?
— Rosie! Pelo amor de Deus, você está perdendo tempo comigo! Tem câmeras de segurança no bar, veja com seus próprios olhos.
— Enquanto as câmeras são checadas você está fora do caso por razões obvias. O nome do bar.
— Central Pub.
Rosie saiu da sala o deixando sozinho. Ela poderia fingir que toda aquela situação não a magoava e que ele era só mais um suspeito, mas eles já se amaram. Amantes da vida, amantes. Que sorte tiveram de encontrar o amor na vida, mas que infelicidade deixa-lo ir embora. Amor que queima, amor que deixa mais leve, amor que ajuda a respirar, amor que tira a respiração, amor que faz a gente sorrir, amor que faz a gente chorar de felicidade, mas um amor que acabou. Rosie se livrou de seus pensamentos e dirigiu-se até o bar.
Quando chegou a porta estava fechada, mas ela conseguiu avistar um garçom ao fundo lavando alguns copos, a detetive bateu forte na porta de vidro fazendo ele se assustar e olhar para a porta, ela mostrou seu distintivo e ele guardou o copo que estava lavando, enxugou as mãos e caminhou em direção à porta e a destrancou.
— Posso ajudar? — ele parecia assustado com a presença dela ali.
— Detetive Rosie Duran, polícia de Sheffield. O responsável pelo bar está presente?
— Claro — ele gaguejou — Por favor sente-se eu vou chamar o gerente — Rosie assentiu e se sentou em uma das cadeiras ali perto.
Queria acreditar que Lucas não tinha envolvimento no desaparecimento de Bonnie, mas não podia simplesmente ignorar os fatos. Policiais também comentem erros, detetives também são assassinos. Rosie esperava do fundo do coração que Lucas não fosse um desses, doeria mais nela do que nele.
— Detetive Duran, eu sou Levi Garrett o gerente do bar. No que posso ajudar?
— Preciso das imagens da câmera de segurança das uma e meia até as três e quarenta dessa madrugada e falar com o garçom responsável pelo bar essa hora.
— Tudo bem, me acompanhe até a sala de segurança — o homem levou Rosie até a sala no fim do corredor, o lugar era escuro composto somente pelas luzes dos computadores e um segurança dormindo na cadeira, o gerente pigarreou e o homem acordou assustado — Essa é a detetive Duran, ela deseja ver as câmeras de segurança dessa madrugada.
O segurança se arrumou na cadeira e começou a procurar os vídeos, Rosie se aproximou do computador vendo as diversas câmeras espalhadas na tela. As câmeras de segurança já estavam em três e cinquenta da manhã e Lucas não havia aparecido em nenhuma delas. A mulher sentiu o aperto no coração aumentar e a angústia ficar cada vez mais forte. Ele havia mentindo para ela, ele não apareceu no bar, não tinha nenhum álibi.
— Me mande as gravações por favor, o laboratório policial irá revisar — o segurança assentiu — E esse garçom, como ele se chama? — ela olhou para o gerente
— Patrick, ele é um substituto. O nosso garçom estava doente e então contratamos ele.
— Preciso do endereço, telefone qualquer coisa que me leve até ele.
O segurança entregou o pen-drive com os vídeos para Rosie e Levi anotou em um papel o endereço do garçom. A detetive saiu do bar e olhou no relógio, seis e dez. Havia aprendido a sempre marcar o horário no relógio, isso poderia ajudar nos casos, então, mentalmente os guardava. Rosie colocou o endereço no GPS e foi até a casa de Patrick, era relativamente distante do bar, talvez até distante demais para que ele quisesse trabalhar por apenas um dia em um bar e talvez ganhar 30 libras. A casa era bem grande e parecia ser de uma família rica, o que fazia menos sentido ainda. Rosie tocou a campainha e uma empregada abriu a porta.
— Detetive Rosie Duran, procuro por Patrick.
— Não existe nenhum Patrick aqui, querida — a detetive olhou novamente para o número colado a porta e o endereço anotado no papel, aquela era a casa certa.
— Quem é o responsável pela casa?
— O senhor Jackson.
— E ele está em casa? — Rosie já perdia a paciência.
— Está sim, mas pediu para não ser incomodado pelo resto do dia.
— Diga a ele que se não vier até aqui eu o levo para a delegacia para um interrogatório — a mulher pareceu entender o recado e entrou na casa sumindo nos corredores. Enquanto Rosie tentava arranjar alguma boa razão para tudo o que estava acontecendo ela viu um homem caminhar até seu encontro.
— Detetive, qual o motivo da sua visita?
— Preciso que me responda sobre alguns clientes que atendeu nessa madrugada — o homem parecia confuso — O bar aonde você trabalhou ontem, como barman.
— Acho que a senhora bateu na porta errada. Eu não sai de casa desde anteontem. Meus empregados e o porteiro do condomínio pode te confirmar isso. E eu nunca trabalhei como barman — Rosie pegou o telefone e olhou o garçom do vídeo e ele definitivamente não se parecia com a pessoa que estava em sua frente. O garçom do vídeo possuía uma grande tatuagem no braço direito, o cabelo estava amarrado e a barba por fazer, já o homem à sua frente tinha os dois braços limpos, muita barba e o cabelo quase raspado.
— Sinto muito por incomodar — o homem se aliviou ao contrário de Rosie que só ficava mais confusa — Peço desculpas pelo mal-entendido — ela forçou um pequeno sorriso e voltou para o carro.
Bateu com força as mãos no volante, gostava de ter o controle sobre tudo e saber exatamente o que fazer, mas estava perdida. Todas as pistas que ela recebeu não a levou a lugar nenhum. O único álibi que Lucas poderia ter simplesmente havia dado o endereço errado, as câmeras de segurança não provaram que ele havia ido ao bar, todos os convidados e formandos viram ele sair da festa e logo em seguida Bonnie ir atrás dele. Ela poderia mandar prender Lucas ou tentar encontrar algo mais, sentia que precisava encontrar uma evidência. Ela iria provar. Ela ia.
Rosie chegou na delegaria e foi até o laboratório forense. A única pessoa que poderia ajuda-la é Hanna, elas não estavam conversando isso é fato, mas ela ainda era sua amiga, sua melhor amiga. E aquele orgulho já tinha ido longe demais. Rosie entrou no laboratório e encontrou Hanna de costas olhando por um microscópio e mais ao fundo Zara estava com fones de ouvido e trabalhando em algo que a detetive não conseguiu enxergar. O cheiro forte daqueles produtos químicos ainda enjoava Rosie, ela nunca entendeu como Hanna conseguia passar o dia inteiro dentro daquela sala gelada e tão fedorenta.
— Hanna — a voz de Rosie saiu mais baixa do que ela esperava, talvez era o medo que ela estava de conversar com a amiga. Ainda assim a mulher conseguiu ouvir a baixa voz da detetive e virou para a porta e a encontrou com sua feição preocupada — Eu preciso de você.
Hanna sabia que a amiga era orgulhosa o suficiente para pedir ajuda em qualquer coisa, então se ela estava precisando de ajuda ela realmente precisava. A cientista assentiu e apontou para uma cadeira que estava ao seu lado.
— Sei que não conversamos mais e vou entender caso não queira ser envolver, afinal esse não é o seu trabalho — Rosie disse.
— É só me contar que vamos tentar resolver, juntas — a detetive abriu um pequeno sorriso, estava feliz por ainda tê-la como amiga, aquilo era importante para ela. Rosie contou todo o caso para a amiga que escutou fielmente.
— Por que não envia o vídeo para o laboratório de tecnologia? Eles entendem disso melhor que qualquer uma de nós.
— Eu não queria que as pessoas ficassem sabendo sobre isso. Lucas preza demais a dignidade que tem.
— Parece alguém que conheço — Hanna disse.
As duas conversaram, mas pareciam não chegar em lugar nenhum, qualquer teoria sempre levava direto para Lucas, e talvez o pior, levava para que Campbell realmente tivesse a sequestrado. Tinham um carinho grande por Lucas, e sabiam que ele não sequestraria a namorada por ciúme ou talvez era só o seu sentimento tentando a enganar sobre alguém que ela já conheceu. A cada segundo Rosie ficava mais preocupada.
— Eu vou conversar com ele de novo, talvez agora ele fale algo — a voz dela não parecia nada feliz, afinal, ela não estava.
— Você está com a gravação aí? — Rosie entregou o pen-drive para a amiga — Não faz parte do meu trabalho, mas posso tentar achar algo útil aqui — Rosie assentiu e saiu do laboratório e voltou para a sala do interrogatório.
— Finalmente — Lucas se levantou — Posso sair daqui?
— Não, sente-se.
— Você só pode estar brincando comigo — ele se sentou novamente.
— O tanto que é ruim para você também é para mim. Fui até o local e as câmeras de segurança não mostraram você nem entrando nem saindo, fui até a casa do garçom da noite e aparentemente ele deu o endereço errado para o gerente do bar. Então não, você não tem um álibi.
Lucas ficou em silêncio, o que machucava mais a detetive, ele poderia ter gritado, tentado a todo custo lutar pela sua liberdade, mas não. Ele ficou ali, parado, quieto, apenas jogou a cabeça para trás e encarou o teto. Ela sabia o que estava por vir, logo precisaria pedir a prisão preventiva e ele ficaria preso até que encontrasse um outro suspeito ou provas que comprovasse que ele não tinha envolvimento.
¬— Aonde você estava? — Rosie perguntou e não teve respostas — Lucas eu quero acreditar em você, mas se não disser nada eu não consigo te ajudar.
— O que quer que eu diga?
— A verdade!
— Já disse, mas não acreditou — respondeu com desdém.
— Como poderia? Você não apareceu nas câmeras — Rosie respirou fundo — Se está com Bonnie a melhor coisa a se fazer é se entregar de uma vez...
— Eu não estou com ela! Pra que infernos eu a sequestraria?
— Eu não sei! Pessoas fazem coisas estranha as vezes.
Lucas riu abafadamente e desviou seus olhos para o canto da sala.
Enquanto o olhava ela lembrou dá risada do rapaz e dos seus olhos se fechando porque eram muito pequenos e o sorriso fazia com que as bochechas tampassem, se lembrou da sua feição séria quando algum comentário maldoso era feito sobre ela, se lembrou do sabor quente dos seus beijos. Os minutos em que ela ficou o encarando pareciam horas, ela não queria que aquilo fosse verdade e sabia que estava cometendo um erro, mas não tinha outro jeito, deveria fazer isso.
Ela precisava preencher alguns formulários para a sua prisão, se levantou lentamente e caminhou até a maçaneta, deu uma última olhada e pode ver uma lágrima escorrer dos olhos do detetive. Aquilo certamente a atormentaria por toda a noite, se retirou da sala e ficou ali parada no corredor, a maioria das pessoas já tinha ido embora, olhou o relógio a sua frente, oito horas em ponto. Andou até a sua sala e se sentou na cadeira. Estava tão abalada que não conseguia se mover.
— Rosie! — Hanna apareceu a sua porta ofegante — Acho que consegui encontrar algo.
Sem pensar duas vezes a detetive se levantou e as duas se encaminharam para o laboratório.
— Olha isso — a cientista apontou para o computador — Zara observou os movimentos do garçom. Ele pega o copo embaixo do balcão e enche com whiskey, coloca em cima da mesa e dez segundos depois ele pega o mesmo copo joga o liquido na pia e guarda exatamente onde ele pegou e então a câmera trava.
— Meio estranho, mas o que isso pode nos ajudar?
— Ele repete o mesmo movimento por duas horas. Em um loop infinito, o mesmo copo, a mesma garrafa de whiskey que por sinal não esvazia nunca.
— Você acha que alguém manipulou as câmeras então?
— Talvez, essa pode ser a única chance de livrar Lucas dessa. Liguei para um amigo de faculdade, Scott. Ele pode nos ajudar a encontrar esse garçom.
— E ele é de confiança? — Rosie perguntou.
— É sim, Scott não contará para ninguém sobre isso.
A detetive assentiu e cruzou os braços, Hanna voltou para sua atenção ao vídeo. Duran olhou para o fundo da sala e Zara ainda permanecia do mesmo jeito de antes, ela caminhou até a mesa da mulher.
— Zara, não é?
— Ah — ela tirou os fones — É sim.
— Hanna me disse que foi você quem viu o loop no vídeo.
— Ah sim, não foi difícil perceber. Qualquer um que olhasse para aquele vídeo por mais de dez minutos veria.
— Ainda assim, obrigada — Rosie percebeu uma mancha no canto da mão da mulher, não parecia ser de nascença — E o que aconteceu aí? — apontou para a mão de Zara.
— Ah — ela esfregou o lugar e o escondeu — Me queimei com a prancha.
Rosie assentiu ainda encarando o lugar que agora estava tampado.
— Bom, espero que melhore logo — sorriu.
A porta do laboratório foi aberta e um homem por volta de seus trinta anos entrou carregando uma mala.
— Do que precisam? — Scott colocou seu computador na mesa.
— Encontre a verdadeira identidade desse garçom. Ele deu o endereço errado para o gerente do bar.
— Isso pode levar a noite inteira, está disposta a esperar?
— Se isso for levar até ele, eu espero — Rosie respondeu.
— Essa daí não é a sua namorada Campbell? — um dos policiais tocou de leve o ombro de Lucas.
— Silêncio! — a delegada falou mais alto fazendo com que os demais se calassem — Como eu disse, a notícia é sigilosa, então nada de saírem espalhando isso por aí. A detetive Duran já está encarregada do caso, mas os pais pediram total atenção de todos.
— Vou visitar os amigos presentes na formatura, eles podem me dar algumas pistas — Rosie se pronunciou.
— Ótimo, Campbell acompanhe Duran no caso — Lucas sorriu e olhou para a detetive que revirou os olhos.
— Acho que consigo fazer isso sozinha, delegada.
— Mas eu estou ordenando para que Campbell vá com você. Algum problema senhorita Duran?
— Não, senhora Green — sorriu, sabia que a delegada seria capaz de tirar ela do caso para que Campbell participasse.
— Ótimo, Reunião encerrada! Voltem para seus trabalhos. — Lilian pegou sua bolsa e saiu da sala seguido pelas outras pessoas presentes, sobrando apenas Lucas e Rosie.
— Não disse que eu iria com você? — ele a encarou.
— Aja como um babaca e eu te coloco para fora desse caso antes mesmo de perceber que entrou — ela retirou um pedaço de papel do bolso da calça e entregou a ele — Esses são os lugares onde vamos passar hoje, é o endereço de todas as amigas dela e inclusive o de Benjamin.
— O amigo de infância.
— Esse mesmo. E quando fomos até ele você não vai entrar comigo, irei sozinha, você espera no carro — ela não aguardou pela resposta e caminhou até a sua sala, pegou seu casaco e a chave do carro.
Quando chegou na entrada da delegacia Lucas já a esperava com as mãos dentro do bolso. Rosie caminhou até seu Impala, adentrou e esperou para que o detetive fizesse o mesmo.
— E lá vamos nós com a caranga velha de Rosie.
— Bom, se está reclamando peço que vá a pé — Rosie abaixou o vidro para que pudesse responde-lo.
— Ha ha, muito engraçada — quando ele foi até a porta do passageiro para abrir a moça havia trancado — Rosie, sem gracinha, abre logo essa porta.
— Você chamou meu carro de caranga velha e quer entrar nele?
— Tá bom — ele se agachou na altura do vidro — Me desculpe, o seu carro é... vintage. Isso! Ele é muito vintage.
— Peça desculpas ao carro, não a mim.
— Está bom, descul...
— Meu Deus garoto estou brincando, entra logo — ela abriu a porta do passageiro e ele entrou.
O dia havia sido longo, ainda sem sucesso. Eram quatro e meia e eles já haviam passado por todas as casas, mas nenhuma das amigas forneceram qualquer informação útil para o caso, na verdade a maioria parecia realmente não se importar com o sumiço de Bonnie.
Duran e Campbell trocaram poucas palavras, apesar do afeto que obviamente tinham um pelo outro, as ironias eram os escudos perfeito para mascarar o sentimento. O telefone de Rosie começou a tocar, mas ela sequer deu ao trabalho de olhar quem era, depois de alguns segundos ele parou de tocar, mas voltou novamente.
— Não vai atender? — Lucas pegou o telefone da mulher dentro da bolsa.
— Não é importante.
— Como pode saber? — ele olhou para o telefone e leu o nome na tela — Link. Não vai atende-lo?
— Se atender esse telefone eu juro que te jogo fora desse carro — ele desligou a chamada e colocou o telefone no mudo.
— O que aconteceu entre vocês? Eu sei que não quer falar sobre isso, mas é estranho tanto amor acabar assim de uma hora para a outra.
— Amor não é a única coisa que sustenta um relacionamento, deve se lembrar disso Campbell.
— Então qual foi o motivo por todas as outras coisas acabarem?
— Podemos por favor não falar sobre isso? — ela suplicou.
— Tudo bem, me perdoe — o silêncio que veio depois deixou todo o clima pesado.
— Então — Duran tentou mudar de assunto — Não pareceu gostar da nova cientista.
— Ah, Zara — ele respirou fundo — Uma longa história.
— Então a conhece?
— Há alguns anos eu e ela...nós tivemos um pequeno caso, de uma noite só.
— Não acabou bem? — Rosie perguntou.
— Bom ao final do nosso encontrou eu sai apressado e ela ajoelhada na sala de sua casa, acho que isso responde.
Rosie assentiu e continuou dirigindo, tentou desvencilhar seus pensamentos dele. Link. Ela nunca gostou de conversar sobre seus sentimentos e não seria agora que ela iria se abrir, principalmente com Lucas, em um carro no meio de um caso. A vida pessoal podia esperar até que ela resolvesse o desaparecimento de Bonnie. Ela estacionou o carro na frente da casa de Benjamin e pegou seu bloco de notas. Deu uma última olhada para Lucas e ele levantou as mãos em sinal de rendição, com a confirmação que ele não sairia do carro ela saiu e caminhou em direção a porta da casa. Tocou a campainha, mas ninguém atendeu, bateu forte na porta e ouviu alguém cochichar algo dentro da casa.
— Polícia de Sheffield, abra a porta! — uma garotinha abriu a porta e encarou Rosie — Seus pais estão em casa? — ela não respondeu, apenas correu para dentro de casa deixando a porta aberta. Um jovem rapaz desceu as escadas e deu de cara com a detetive — Benjamin Lewis?
— Sou eu sim
— Sou a detetive Rosie Duran, você teria alguns minutos para conversar comigo?
— Claro, fique à vontade. É sobre o que? — ele fez a menção para que ela entrasse
— Bonnie Edwards — a detetive entrou na casa e ele fechou a porta atrás de si — Ela está desaparecida e preciso de detalhes sobre o que aconteceu ontem à noite.
— Como assim desapareceu?
— Esta manhã o senhor e a senhora Edwards vieram até a delegacia prestar queixa do desaparecimento de Bonnie. Fui informada que você seria um grande amigo da vítima e que talvez tivesse algo para nos ajudar.
— Por favor sente-se — ele apontou para a cadeira da cozinha — Fez certo em vir até mim, Bonnie nunca contava nada para as amigas — a detetive se sentou enquanto ele pegava algumas xícaras e um bule — Ela sempre foi mais próxima a mim.
— Creio então que deva ter alguma informação.
Ele despejou o chá na xicara, entregou para a detetive e sentou-se à frente da mulher. Benjamin ficou por algum tempo com a cabeça baixa e alguns soluços tomaram conta do ambiente. Rosie nunca foi muito boa em consolar os amigos ou parentes das vítimas, então permanecia em silêncio.
— Ela é minha melhor amiga — disse entre os soluços — Nunca achei que fosse perde-la — algumas lágrimas caíram e ele as limpou com a manga da blusa.
— Você não a perdeu. Vamos encontrá-la.
— Espero que seja rápido. Não sei viver sem ela comigo, detetive — o homem pegou a mão de Rosie — Por favor a encontre logo.
— Prometo traze-la de volta. Mas para isso, eu preciso que você me dê algumas informações. Quando a viu pela última vez, a última conversa. Qualquer coisa — ele olhou para cima em busca de alguma memória.
— Ela estava dançando com a gente, então seu namorado disse que estava indo embora. Os dois brigaram e ele saiu da festa e ela foi atrás. Vi que ela estava demorando então fui procura-la. E... — Benjamin fez uma pausa — Não a encontrei. Achei que tivesse indo embora com ele, se soubesse que ela tinha sumido eu nunca teria voltado para a festa.
— Tudo bem, consegue se lembrar de mais alguma coisa? Talvez tenha mencionado que queria viajar para algum lugar? Alguém que não goste dela.
— Não... Bonnie era amada por todos. Claro que tinha algumas meninas com inveja da beleza dela — Rosie revirou os olhos — Mas ninguém nunca faria mal a ela, tenho certeza.
— Certo, muito obrigada senhor Lewis — Rosie terminou de anotar em seu bloco e se levantou — Caso lembre de qualquer coisa que possa nos ajudar a encontrá-la — ela retirou um cartão do bolso — Esse é o meu número, qualquer informação será útil.
— Talvez você devesse interrogar o namorado — encarou a detetive.
— Por que diz isso?
— Não é obvio? Quantos casos já não deve ter presenciado onde o namorado raivoso faz alguma loucura.
Rosie saiu da casa e andou até o carro, assim que entrou Lucas a olhou esperando por respostas. A moça colocou as mãos no volante a baixou a cabeça. É claro que não havia nem passado por sua cabeça interrogar Campbell.
— O que aconteceu quando você saiu da festa? — a pergunta assustou Lucas, ele gaguejou e não conseguiu responder — Lucas Campbell, para onde você foi quando saiu da festa?
— Eu fui para a delegacia.
— Do local da formatura até a delegacia você gasta quase 45 minutos a pé. Bonnie desapareceu por volta de uma e meia da manhã, você chegou à delegacia as três e quarenta.
— Você está me acusando?
— Já fez isso sozinho.
Ela poderia estar cometendo um erro e talvez perdendo tempo, mas Lucas sem dúvidas era um suspeito. Era o namorado, eles brigaram, ela saiu atrás dele e ele demorou duas horas para fazer um percurso de quarenta minutos? Desejava que fosse somente uma coincidência e que Lucas tivesse um álibi, porque se não, ele seria um dos principais suspeitos.
Assim que chegaram à delegacia Rosie levou Lucas para o interrogatório. Ele se sentou e cruzou os braços.
— É uma perda de tempo e você sabe disso.
— Não, eu não sei se é uma perda de tempo — ela se sentou à sua frente — Aonde você estava no momento do desaparecimento de Bonnie Edwards?
— Na formatura dela, brigamos e eu sai da festa por volta de uma e vinte. Caminhei até um bar, tomei algumas doses de Whiskey e então resolvi passar pela delegacia.
— Por que decidiu passar na delegacia?
— Eu te disse, tinha café de graça e é caminho para minha casa.
— Existe alguém que possa confirmar que você esteve no bar essa hora?
— O garçom. Conversei com ele enquanto bebia.
— Alguém mais?
— Rosie! Pelo amor de Deus, você está perdendo tempo comigo! Tem câmeras de segurança no bar, veja com seus próprios olhos.
— Enquanto as câmeras são checadas você está fora do caso por razões obvias. O nome do bar.
— Central Pub.
Rosie saiu da sala o deixando sozinho. Ela poderia fingir que toda aquela situação não a magoava e que ele era só mais um suspeito, mas eles já se amaram. Amantes da vida, amantes. Que sorte tiveram de encontrar o amor na vida, mas que infelicidade deixa-lo ir embora. Amor que queima, amor que deixa mais leve, amor que ajuda a respirar, amor que tira a respiração, amor que faz a gente sorrir, amor que faz a gente chorar de felicidade, mas um amor que acabou. Rosie se livrou de seus pensamentos e dirigiu-se até o bar.
Quando chegou a porta estava fechada, mas ela conseguiu avistar um garçom ao fundo lavando alguns copos, a detetive bateu forte na porta de vidro fazendo ele se assustar e olhar para a porta, ela mostrou seu distintivo e ele guardou o copo que estava lavando, enxugou as mãos e caminhou em direção à porta e a destrancou.
— Posso ajudar? — ele parecia assustado com a presença dela ali.
— Detetive Rosie Duran, polícia de Sheffield. O responsável pelo bar está presente?
— Claro — ele gaguejou — Por favor sente-se eu vou chamar o gerente — Rosie assentiu e se sentou em uma das cadeiras ali perto.
Queria acreditar que Lucas não tinha envolvimento no desaparecimento de Bonnie, mas não podia simplesmente ignorar os fatos. Policiais também comentem erros, detetives também são assassinos. Rosie esperava do fundo do coração que Lucas não fosse um desses, doeria mais nela do que nele.
— Detetive Duran, eu sou Levi Garrett o gerente do bar. No que posso ajudar?
— Preciso das imagens da câmera de segurança das uma e meia até as três e quarenta dessa madrugada e falar com o garçom responsável pelo bar essa hora.
— Tudo bem, me acompanhe até a sala de segurança — o homem levou Rosie até a sala no fim do corredor, o lugar era escuro composto somente pelas luzes dos computadores e um segurança dormindo na cadeira, o gerente pigarreou e o homem acordou assustado — Essa é a detetive Duran, ela deseja ver as câmeras de segurança dessa madrugada.
O segurança se arrumou na cadeira e começou a procurar os vídeos, Rosie se aproximou do computador vendo as diversas câmeras espalhadas na tela. As câmeras de segurança já estavam em três e cinquenta da manhã e Lucas não havia aparecido em nenhuma delas. A mulher sentiu o aperto no coração aumentar e a angústia ficar cada vez mais forte. Ele havia mentindo para ela, ele não apareceu no bar, não tinha nenhum álibi.
— Me mande as gravações por favor, o laboratório policial irá revisar — o segurança assentiu — E esse garçom, como ele se chama? — ela olhou para o gerente
— Patrick, ele é um substituto. O nosso garçom estava doente e então contratamos ele.
— Preciso do endereço, telefone qualquer coisa que me leve até ele.
O segurança entregou o pen-drive com os vídeos para Rosie e Levi anotou em um papel o endereço do garçom. A detetive saiu do bar e olhou no relógio, seis e dez. Havia aprendido a sempre marcar o horário no relógio, isso poderia ajudar nos casos, então, mentalmente os guardava. Rosie colocou o endereço no GPS e foi até a casa de Patrick, era relativamente distante do bar, talvez até distante demais para que ele quisesse trabalhar por apenas um dia em um bar e talvez ganhar 30 libras. A casa era bem grande e parecia ser de uma família rica, o que fazia menos sentido ainda. Rosie tocou a campainha e uma empregada abriu a porta.
— Detetive Rosie Duran, procuro por Patrick.
— Não existe nenhum Patrick aqui, querida — a detetive olhou novamente para o número colado a porta e o endereço anotado no papel, aquela era a casa certa.
— Quem é o responsável pela casa?
— O senhor Jackson.
— E ele está em casa? — Rosie já perdia a paciência.
— Está sim, mas pediu para não ser incomodado pelo resto do dia.
— Diga a ele que se não vier até aqui eu o levo para a delegacia para um interrogatório — a mulher pareceu entender o recado e entrou na casa sumindo nos corredores. Enquanto Rosie tentava arranjar alguma boa razão para tudo o que estava acontecendo ela viu um homem caminhar até seu encontro.
— Detetive, qual o motivo da sua visita?
— Preciso que me responda sobre alguns clientes que atendeu nessa madrugada — o homem parecia confuso — O bar aonde você trabalhou ontem, como barman.
— Acho que a senhora bateu na porta errada. Eu não sai de casa desde anteontem. Meus empregados e o porteiro do condomínio pode te confirmar isso. E eu nunca trabalhei como barman — Rosie pegou o telefone e olhou o garçom do vídeo e ele definitivamente não se parecia com a pessoa que estava em sua frente. O garçom do vídeo possuía uma grande tatuagem no braço direito, o cabelo estava amarrado e a barba por fazer, já o homem à sua frente tinha os dois braços limpos, muita barba e o cabelo quase raspado.
— Sinto muito por incomodar — o homem se aliviou ao contrário de Rosie que só ficava mais confusa — Peço desculpas pelo mal-entendido — ela forçou um pequeno sorriso e voltou para o carro.
Bateu com força as mãos no volante, gostava de ter o controle sobre tudo e saber exatamente o que fazer, mas estava perdida. Todas as pistas que ela recebeu não a levou a lugar nenhum. O único álibi que Lucas poderia ter simplesmente havia dado o endereço errado, as câmeras de segurança não provaram que ele havia ido ao bar, todos os convidados e formandos viram ele sair da festa e logo em seguida Bonnie ir atrás dele. Ela poderia mandar prender Lucas ou tentar encontrar algo mais, sentia que precisava encontrar uma evidência. Ela iria provar. Ela ia.
Rosie chegou na delegaria e foi até o laboratório forense. A única pessoa que poderia ajuda-la é Hanna, elas não estavam conversando isso é fato, mas ela ainda era sua amiga, sua melhor amiga. E aquele orgulho já tinha ido longe demais. Rosie entrou no laboratório e encontrou Hanna de costas olhando por um microscópio e mais ao fundo Zara estava com fones de ouvido e trabalhando em algo que a detetive não conseguiu enxergar. O cheiro forte daqueles produtos químicos ainda enjoava Rosie, ela nunca entendeu como Hanna conseguia passar o dia inteiro dentro daquela sala gelada e tão fedorenta.
— Hanna — a voz de Rosie saiu mais baixa do que ela esperava, talvez era o medo que ela estava de conversar com a amiga. Ainda assim a mulher conseguiu ouvir a baixa voz da detetive e virou para a porta e a encontrou com sua feição preocupada — Eu preciso de você.
Hanna sabia que a amiga era orgulhosa o suficiente para pedir ajuda em qualquer coisa, então se ela estava precisando de ajuda ela realmente precisava. A cientista assentiu e apontou para uma cadeira que estava ao seu lado.
— Sei que não conversamos mais e vou entender caso não queira ser envolver, afinal esse não é o seu trabalho — Rosie disse.
— É só me contar que vamos tentar resolver, juntas — a detetive abriu um pequeno sorriso, estava feliz por ainda tê-la como amiga, aquilo era importante para ela. Rosie contou todo o caso para a amiga que escutou fielmente.
— Por que não envia o vídeo para o laboratório de tecnologia? Eles entendem disso melhor que qualquer uma de nós.
— Eu não queria que as pessoas ficassem sabendo sobre isso. Lucas preza demais a dignidade que tem.
— Parece alguém que conheço — Hanna disse.
As duas conversaram, mas pareciam não chegar em lugar nenhum, qualquer teoria sempre levava direto para Lucas, e talvez o pior, levava para que Campbell realmente tivesse a sequestrado. Tinham um carinho grande por Lucas, e sabiam que ele não sequestraria a namorada por ciúme ou talvez era só o seu sentimento tentando a enganar sobre alguém que ela já conheceu. A cada segundo Rosie ficava mais preocupada.
— Eu vou conversar com ele de novo, talvez agora ele fale algo — a voz dela não parecia nada feliz, afinal, ela não estava.
— Você está com a gravação aí? — Rosie entregou o pen-drive para a amiga — Não faz parte do meu trabalho, mas posso tentar achar algo útil aqui — Rosie assentiu e saiu do laboratório e voltou para a sala do interrogatório.
— Finalmente — Lucas se levantou — Posso sair daqui?
— Não, sente-se.
— Você só pode estar brincando comigo — ele se sentou novamente.
— O tanto que é ruim para você também é para mim. Fui até o local e as câmeras de segurança não mostraram você nem entrando nem saindo, fui até a casa do garçom da noite e aparentemente ele deu o endereço errado para o gerente do bar. Então não, você não tem um álibi.
Lucas ficou em silêncio, o que machucava mais a detetive, ele poderia ter gritado, tentado a todo custo lutar pela sua liberdade, mas não. Ele ficou ali, parado, quieto, apenas jogou a cabeça para trás e encarou o teto. Ela sabia o que estava por vir, logo precisaria pedir a prisão preventiva e ele ficaria preso até que encontrasse um outro suspeito ou provas que comprovasse que ele não tinha envolvimento.
¬— Aonde você estava? — Rosie perguntou e não teve respostas — Lucas eu quero acreditar em você, mas se não disser nada eu não consigo te ajudar.
— O que quer que eu diga?
— A verdade!
— Já disse, mas não acreditou — respondeu com desdém.
— Como poderia? Você não apareceu nas câmeras — Rosie respirou fundo — Se está com Bonnie a melhor coisa a se fazer é se entregar de uma vez...
— Eu não estou com ela! Pra que infernos eu a sequestraria?
— Eu não sei! Pessoas fazem coisas estranha as vezes.
Lucas riu abafadamente e desviou seus olhos para o canto da sala.
Enquanto o olhava ela lembrou dá risada do rapaz e dos seus olhos se fechando porque eram muito pequenos e o sorriso fazia com que as bochechas tampassem, se lembrou da sua feição séria quando algum comentário maldoso era feito sobre ela, se lembrou do sabor quente dos seus beijos. Os minutos em que ela ficou o encarando pareciam horas, ela não queria que aquilo fosse verdade e sabia que estava cometendo um erro, mas não tinha outro jeito, deveria fazer isso.
Ela precisava preencher alguns formulários para a sua prisão, se levantou lentamente e caminhou até a maçaneta, deu uma última olhada e pode ver uma lágrima escorrer dos olhos do detetive. Aquilo certamente a atormentaria por toda a noite, se retirou da sala e ficou ali parada no corredor, a maioria das pessoas já tinha ido embora, olhou o relógio a sua frente, oito horas em ponto. Andou até a sua sala e se sentou na cadeira. Estava tão abalada que não conseguia se mover.
— Rosie! — Hanna apareceu a sua porta ofegante — Acho que consegui encontrar algo.
Sem pensar duas vezes a detetive se levantou e as duas se encaminharam para o laboratório.
— Olha isso — a cientista apontou para o computador — Zara observou os movimentos do garçom. Ele pega o copo embaixo do balcão e enche com whiskey, coloca em cima da mesa e dez segundos depois ele pega o mesmo copo joga o liquido na pia e guarda exatamente onde ele pegou e então a câmera trava.
— Meio estranho, mas o que isso pode nos ajudar?
— Ele repete o mesmo movimento por duas horas. Em um loop infinito, o mesmo copo, a mesma garrafa de whiskey que por sinal não esvazia nunca.
— Você acha que alguém manipulou as câmeras então?
— Talvez, essa pode ser a única chance de livrar Lucas dessa. Liguei para um amigo de faculdade, Scott. Ele pode nos ajudar a encontrar esse garçom.
— E ele é de confiança? — Rosie perguntou.
— É sim, Scott não contará para ninguém sobre isso.
A detetive assentiu e cruzou os braços, Hanna voltou para sua atenção ao vídeo. Duran olhou para o fundo da sala e Zara ainda permanecia do mesmo jeito de antes, ela caminhou até a mesa da mulher.
— Zara, não é?
— Ah — ela tirou os fones — É sim.
— Hanna me disse que foi você quem viu o loop no vídeo.
— Ah sim, não foi difícil perceber. Qualquer um que olhasse para aquele vídeo por mais de dez minutos veria.
— Ainda assim, obrigada — Rosie percebeu uma mancha no canto da mão da mulher, não parecia ser de nascença — E o que aconteceu aí? — apontou para a mão de Zara.
— Ah — ela esfregou o lugar e o escondeu — Me queimei com a prancha.
Rosie assentiu ainda encarando o lugar que agora estava tampado.
— Bom, espero que melhore logo — sorriu.
A porta do laboratório foi aberta e um homem por volta de seus trinta anos entrou carregando uma mala.
— Do que precisam? — Scott colocou seu computador na mesa.
— Encontre a verdadeira identidade desse garçom. Ele deu o endereço errado para o gerente do bar.
— Isso pode levar a noite inteira, está disposta a esperar?
— Se isso for levar até ele, eu espero — Rosie respondeu.
Capítulo 03
Rosie voltou até o interrogatório e liberou Lucas para ir para casa, ela o avisou que não deveria voltar a delegacia enquanto fosse um suspeito, o detetive apenas concordou e saiu da sala. Rosie voltou para o laboratório e encontrou Hanna ao lado de Scott ainda vidrado na tela do computador.
— Ela só fica assim? — Rosie perguntou olhando para o fundo da sala.
— Ela quem? — Hanna olhou para o fundo e encontrou Zara trabalhando — Pois é, desde de manhã ela só fica naquele canto com os fones de ouvido, trocou pouquíssimas palavras comigo.
— Deve ser tímida.
— Sabia que ela e Lucas já tiveram um caso?
— Zara? Não faz muito o tipo dele.
— E qual é o tipo dele? — a detetive a encarou.
— Você — a cientista riu.
— Muito engraçadinha — Duran fez uma pausa — Eu senti a sua falta. Sinto muito por não ter me despedido naquela época, fiquei tão desesperada que mal lembrei de mim mesma.
— Tudo bem, eu também não deveria ter ficado tão brava. Você estava passando por um momento difícil.
— Então isso significa que podemos sair pra tomar vinho e conversar sobre sua viajem para Londres? — Duran sorriu.
— Estava esperando esse momento desde que voltei — Hanna chegou mais perto da amiga e a cheirou — Credo você está fedendo. Vá para casa tomar um banho.
— Agradeço pela honestidade. Eu estou desde ontem sem ir para casa.
— Então vá. Você ficar aqui não vai te ajudar, tome um banho e descanse um pouco
Apesar de querer ficar Rosie sabia que era verdade, ela estava morta por dentro. Se despediu de Hanna e Scott e dirigiu até a sua casa, assim que chegou tirou os sapatos, se jogou na cama. Sua cabeça rodava, conseguia escutar o coração bater mais calmamente, o sangue quente correndo pelo seu corpo, a respiração serena. Era provavelmente a adrenalina abaixando, a detetive fechou os olhos e não escutou mais nada.
Os raios do sol estavam batendo forte no rosto da mulher, o que por uns minutos ela achou estranho afinal quase nunca abria as cortinas, mas deveria ter aberto sem perceber. Caminhou até o chuveiro e deixou a água quente cair sobre seu corpo e teria definitivamente ficado um bom tempo lá se não fosse pelos apitos incessantes do seu telefone, com um grande esforço Rosie saiu do banho e viu quinze mensagens de Lilian mandando que a detetive a ligasse o mais rápido possível.
— Você está fora de si?! — a delegada gritou assim que atendeu a ligação.
— Eu responderia se soubesse do que se trata.
— Como você pode acusar Campbell de ser o sequestrador de Bonnie e ainda por cima deixa-lo fora da investigação?
— Com todo o respeito Senhora Green, meu trabalho é investigar os casos e acusar aqueles que me parecem suspeitos, independentes se são meus amigos ou não. O detetive Campbell está fora da investigação pois é impossível que ele atue em algo que está sendo acusado.
— Você vai retirar a acusação dele e o trazer de volta para o caso. AGORA!
— Não! Esse é o meu caso e ele ficará fora até eu conseguir provar que ele não tem nada com isso. Passar bem senhora Green.
Rosie desligou a ligação e jogou o telefone em cima da cama, ela com toda certeza estava fora de si, falar assim com sua chefe era tipo dar um tapa na cara da rainha em frente aos policiais. Duran se arrumou, pegou uma torrada em cima da mesa da cozinha e dirigiu para a delegacia. Ela não iria descansar até conseguir provas o suficiente para comprovar a inocência de Lucas.
Entrou na delegacia e avistou Hanna dentro da sua sala, rezou para que ela estar ali fosse um bom sinal.
— Scott encontrou um cara que pode ser quem a gente está procurando — as duas caminharam às pressas para o laboratório — Ele se chama Angelo Jiordano e mora em Woodseats.
— É dez minutos daqui. Eu vou pra lá.
Ela poderia dizer que estava cansada de dirigir, seu velho Impala já não aguentava mais, porém ela não iria parar, pelo menos não agora. O trânsito de Londres estava infernal, um caminho que demoraria dez minutos levou meia hora para que a detetive finalmente chegasse ao seu destino.
A casa parecia bem velha, alguns pedaços da escada na entrada estavam rachados e o piso rangia conforme os passos que ela dava, Duran tocou a campainha, mas não ouviu barulho nenhum, certamente não funcionava mais, então bateu duramente na porta e ouviu os passos de alguém se aproximando. A porta foi aberta e um rapaz com grandes olheiras a olhou assustado.
— Rosie Duran, detetive de Sheffield. O senhor é Angelo Jiordano?
— S-sim. Sou eu sim — ela conseguiu ver o rapaz engolindo em seco.
— Gostaria de fazer algumas perguntas a você se possível — ele apenas assentiu — Aonde você estava na madrugada de domingo do dia vinte de outubro?
— Eu estava trabalhando. Estava cobrindo um dos garçons.
— Trabalhando no Central Pub correto? — ele assentiu novamente — Por que mentiu o seu endereço para o dono do bar?
— E-eu...Eu menti porquê...
— Devo alerta-lo que está conversando com uma detetive da polícia. Qualquer falsa informação pode acarretar em um boletim de ocorrência e consequentemente à sua prisão.
— Está bem. Eu menti porque se dissesse ao dono onde morava ele não iria me contratar. Ele só queria pessoas da alta sociedade trabalhando no bar, e eu precisava muito desse emprego. Foi só isso eu juro, não tem motivos para mentir, você mesma pode ver nas condições onde moro.
— Eu acredito em você — Angelo parecia mais calmo depois de desabafar — Você se recorda de ter atendido a esse homem? — Rosie mostrou uma foto de Lucas.
— Sim, ele chegou por volta da uma da manhã se não me engano. Tomou boas doses de Whiskey e falou sobre a vida amorosa.
— Não se recorda a que horas ele saiu do bar?
— Sinto muito eu não consigo me lembrar, mas sei que ele ficou um tempo bebendo.
— Tudo bem, muito obrigada. — a detetive estava caminhando para seu carro quando o ouviu.
— Por favor não conte ao gerente do bar.
— Isso é uma coisa em que você e ele devem discutir — o rapaz deu um leve sorriso e voltou para dentro da casa.
Ótimo, essa era a prova de que ela precisava para trazer Campbell de volta, ainda estava com o pé atrás por conta de toda a história, mas não teria mais motivos para afasta-lo da investigação. Agora ela tinha um longo e cansativo dia pela frente e não queria enfrenta-lo sozinha, entrou no carro e pegou seu telefone, discou os números e esperou até o outro lado da linha atender.
— Ótimas notícias para você — Rosie estava mais empolgada do que deveria.
Só havia se passado quarenta minutos do momento em que Rosie ligou para Campbell e o avisou que estaria livre para voltar às investigações e ele já estava entrando pela delegacia e caminhando até a sala da mulher, que estava sentada na cadeira escrevendo em alguns papéis.
— Eu deveria te odiar agora — o detetive adentrou a sala e sentou na frente de Rosie.
— Já não me odiava antes?
— Por que fez aquilo comigo?
— Apenas fazendo meu trabalho.
— Me interrogando? Quem você pensa que eu sou?
— Eu não sei — ela finalmente olhou para ele — Não te conheço mais senhor Campbell.
— Qual é, pare de fingir que não temos uma história juntos.
— Tivemos Lucas, essa história já fazem cinco anos e ela acabou — Rosie voltou a preencher os papeis.
Lucas achou melhor não contestar, afinal, ela tem todos os motivos do mundo para estar zangada com ele. Mas ele também tinha, não seria capaz de fazer algo contra a própria namorada. O silêncio entre os dois naquele momento foi ensurdecedor, ele estaria esbravejando toda magoa que sentira da detetive por duvidar dele e ela estaria apontando o dedo para ele e gritando que o seu trabalho é duvidar de todos.
— Estava esperando você chegar para ir visitar a casa de Bonnie — Rosie guardou os papéis dentro da gaveta e se levantou. Lucas, no entanto, continuava sentado — Você vai ficar aí sentado? — ele abriu e fechou a boca algumas vezes, mas nada saiu. Se deu por vencido e acompanhou a detetive.
Bonnie morava em Greenhill, na saída de Sheffield para Dronfield, isso significaria que eles teriam um tempo dentro do carro. Poderia ser um bom lugar para se reconciliarem e resolverem brigas do passado. Teria sido se Campbell não tivesse feito uma pergunta, aquela pergunta que até então Rosie preferiria não responder.
— Por que terminou com o Link?
— Por Deus Lucas, tem que trazer isso à tona todas as vezes?
— Eu te contei sobre Zara — ela ficou em silêncio e Lucas viu a detetive apertar o volante.
— Ele tinha outra. Na verdade, ele tinha muitas amantes. Foi por isso que terminamos — em partes a história era verdadeira e é claro que Campbell se arrependeu profundamente da pergunta. Ele não sabia o que falar.
— Sinto muito — foram as únicas palavras que ele pronunciou.
— Não tem que sentir.
— Como descobriu? Você conheceu a menina?
— Link nunca foi bom em esconder nada, e eu, bom eu sou detetive, o meu trabalho é descobrir as coisas. E sim, eu acabei conhecendo uma das várias. Agora, só não toca mais no assunto ta bom? — ele assentiu.
— Ele parecia ser um cara legal.
— Claro — riu ironicamente — Vocês sempre brigavam quando se encontravam.
— Tá, tudo bem sempre achei ele um pé no saco, mas na maioria das vezes era só o ciúme.
— Ciúmes?
— É sabe... tipo quando... ele ficava meio que... — fez uma pausa — entende?
— Na verdade, não — olhou para Campbell mas ele somente desviou o olhar e os dois permaneceram em silêncio o restante do caminho.
Os Edwards eram da classe alta. O pai fazia parte de um dos grandes empresários de todo o condado e a mãe uma renomada e conhecida cirurgiã plástica, eram conhecidos como a família perfeita. Bonnie era filha única e muito mimada pelos pais, dava pra entender o porquê não gostavam do relacionamento dela com Lucas, ele era um problema para a vida imaginaria que criaram, queriam um advogado ou médico para continuar com a boa vida.
Rosie estacionou em frente à casa de Bonnie e pode ver Lucas respirar mais fundo assim que chegaram. Os dois saíram do carro e caminharam até a entrada tocando a campainha. O senhor Edwards abriu a porta e assim que viu os detetives o sorriso que esboçava se transformou em um rosto sério.
— Detetives — ele abriu a porta e deu passagem para eles entrarem.
— Nós viemos dar uma olhada no quarto de Bonnie — Lucas se pronunciou olhando friamente para o sogro.
— Acho que você já deu muitas olhadas lá dentro, não é? — ele deu um passo à frente ainda encarando o detetive.
— Senhor Edwards, aqui o detetive Campbell não é o namorado da sua filha. Ele é o um dos investigadores para encontrá-la, e um dos melhores detetives da cidade, diga-se de passagem, então se eu estivesse no seu lugar eu aceitaria qualquer tipo de ajuda — a mulher parecia tão segura no que dizia que fez com que Henry baixasse a guarda e caminhasse até a sala sem dizer uma palavra — Aonde é o quarto dela? — Lucas apontou para as escadas, eles subiram e adentraram a terceira porta.
O quarto tinha uma decoração nos tons de amarelo e laranja. A cama era de casal e ficava grudada à parede, ao lado estava uma escrivaninha. A penteadeira estava repleta de maquiagens e alguns papeis e em uma das paredes estava um mapa com alguns círculos em países e cidades.
— Procure nas gavetas da escrivaninha — Lucas assentiu e abriu as gavetas lendo cada papel que ali estava.
Rosie caminhou até a cama e encontrou o tablet de Bonnie, quando ligou ele pedia uma senha.
— Sabe a senha? — Campbell olhou para a detetive com o tablet nas mãos.
— Não tenho ideia. Tenta meu nome.
— Eu duvido que a senha dela seja seu nome — ainda desconfiada Rosie digitou, mas aquela, obviamente, não era a senha — Não adianta tentar, não vamos adivinhar.
Ela deixou o tablet na cama e foi até a escrivaninha abrir as pequenas gavetas que tinham. A maioria eram de maquiagens, unhas postiças e qualquer coisa relacionada a esse universo. A última gaveta, por surpresa da detetive, tinha uma caixa vermelha e por cima dela algumas fotos. Nas fotografias tinha ela com as amigas, umas com os pais e uma única com o namorado. Rosie deixou as fotos de lado e pegou a caixa, Campbell viu a caixa e se pronunciou.
— Ela odiaria saber que você tá mexendo aí.
— O que? — a mulher olhou confusa para o parceiro.
— Essa caixa, ela sempre escondeu de mim.
— O que tem aqui dentro?
— Não sei, sempre quando ia olhar ela implorava pra não. Dizia que são presentes que ainda vai me dar.
— E você nunca ficou curioso para abrir? — Rosie questionou.
— Eu não sou esse tipo de pessoa e você sabe disso. Se não quer me mostrar então não vou abrir.
A caixa tinha um cadeado com 4 números, seria mais uma evidência que ela não conseguiria ter acesso. Quando foi guardar as fotos percebeu que a única cortada tinha quatro número atrás. Pegou novamente a caixa e tentou eles com o cadeado.
— Zero, cinco, zero, seis — Rosie sussurrou.
A detetive abriu a caixa e encontrou alguns presentes dentro, algumas cartas, flores, e objetos de decoração e uma foto virada para baixo. Rosie pegou e se assustou com a foto em suas mãos.
— Realmente são presentes — ela disse calmamente.
— Não disse? Ela iria me dar conforme o ano ia passando — o detetive sorria.
— Mas não para você.
— Claro que são — Rosie virou a foto para Lucas.
A foto tinha Link e Bonnie dando um selinho, com a moça segurando um buquê de flores. A sensação de descobrir que seu relacionamento era uma farsa era algo que Rosie já havia experenciado, mas aquilo era novo para Lucas. O rapaz continuou estático por alguns segundos até caminhar até a foto e pega-la. Rosie olhou os presentes na caixa e todos pareciam ter sido dados pelo próprio amante, todas as cartas tinham a frase "Sempre Nós". As pétalas de flores já estavam murchadas e escuras, mas ainda assim guardadas.
Rosie sabia que o melhor a fazer no momento era simplesmente esperar para que Campbell digerisse tudo e voltasse a vida. Mas claro ela também estava surpresa, esperava que o ex-noivo a traísse com uma qualquer não com a namorada de Lucas. Ela tentava se lembrar de como os dois poderiam ter se conhecido, talvez em uma das festas que os policiais da delegacia insistiam em dar em datas comemorativas.
— Os pais dela sabiam — a voz de choro era inegável.
— Como sabe disso? — Rosie caminhou até o lado do detetive.
— Aqui — ele apontou para a metade do rosto um homem ao lado deles — É o pai dela. Eles apoiavam que ela me traísse com ele, mas não me apoiavam — quem agora estava sem palavras era Rosie, afinal qual conselho se dá para alguém nessa situação?
— Pode ir embora se quiser.
— Não, ela ainda é uma vítima — ele limpou algumas lagrimas que caíram lentamente.
— Oh, Becca... — uma luz parecia ter atingido a memória de Rosie.
— O que? — Lucas perguntou.
— Quando descobri uma das traições de Link ele conversava com uma Becca, mas curiosamente somente as letras B e E estavam em maiúsculo. Agora sei porque.
— Bonnie Edwards.
— Exatamente — Rosie assentiu.
A detetive pegou o tablet e escreveu "Link", mas o acesso foi negado, tentou mais uma vez escrevendo "Sempre Nós". O tablet desbloqueou e um pequeno sorriso foi visto por Lucas que agora olhava curioso para Rosie.
— Eu descobri a senha. Bom na verdade sua namorada é péssima para escolher senhas. Sem ofensas.
— Por que? Sua senha é algum código?
— Claro que sim. Acha que eu escolheria algo bobo como isso? Ou o nome do meu cachorro, meu aniversário? Eu não sou idiota.
— Ei! A senha do meu celular é o nome do meu primeiro cachorro.
— Como eu disse, idiota — Rosie continuava com sua atenção ao tablet.
— É ex.
— O que?
— Você disse namorada. É ex-namorada.
— Você não pode terminar com alguém sem que ela saiba.
— Ela terminou comigo assim que me traiu pela primeira vez — Rosie não queria discordar dele naquele momento então apenas assentiu.
Ela entrou nos e-mails e encontrou algumas mensagens trocados com o próprio Link. Então essa era B.E em que o ex-namorado trocava e-mails de amor e que fazia planos para o futuro. A detetive olhou para Lucas que parecia vidrado com cada palavra escrita.
— Você não precisa ver isso, sério. Eu procuro sozinha.
— Não precisa me tratar como uma criança Duran. Sei lidar com meus sentimentos.
— Ei calma aí garotão, só estou tentando ajudar.
— Desculpe — ele sussurrou.
A detetive entrou no álbum e viu diversas fotos de Bonnie e Link. Algumas poucas fotos com Lucas e amigos.
— Entra nas mensagens com o Benjamin, ela pode ter falado algo.
Rosie entrou na conversa com o rapaz e uma das últimas mensagens era Bonnie dizendo que estava planejando uma viagem com o amante só não sabia como despistar o namorado, o amigo por sua vez estava dando dicas e fazendo um planejamento para ajuda-los. Eles tinham comprado as passagens para Los Angeles e passariam duas semanas em um hotel cinco estrelas.
— Por que? — Lucas se afastou do tablet e colocou as mãos no cabelo.
— Link dizia que era pela adrenalina. Talvez seja o mesmo com ela, ou você realmente só seja bem chato — o detetive a fuzilou com os olhos — O que? Eu só estou brincando.
— Eu fui traído Duran.
— Bem-vindo ao clube amigo. Você aceita ou passa o resto da vida dentro de um quarto chorando e comendo chocolate.
— Talvez seja hora de você retornar à ligação.
— Que ligação?
— Com Link. Acho que deve ligar para ele.
— Nem nos meus piores pesadelos eu vou conversar de novo com ele.
— Rosie essa é a nossa chance para descobrir onde Bonnie está. Os dois tinham um caso, quem sabe ele não tenha levado ela.
— Ou ela tenha ido por vontade própria.
— Ligue para Link e converse com ele — Duran tinha jurado para si mesma que nunca mais iria ouvir a voz daquele que desestabilizou seu psicológico, mas a vida as vezes prega grandes peças para aqueles que planejam demais, e Rosie, ela planejava demais.
Recolheram as fotos e alguns dos presentes que estavam dentro da caixa, desceram as escadas e encontraram Debbie na ponta da escada andando para um lado e para o outro.
— Vocês já encontraram alguma pista? — a mulher estava com o nariz avermelhado e os olhos marejados
— Sinto muitíssimo senhora Edwards, mas ainda não encontramos nada. Poderíamos ter mais resultados se vocês permitissem a divulgação do desaparecimento dela.
— De jeito nenhum! — o pai se pronunciou abraçando a esposa — Não vamos deixar que nossa vida vire uma página de jornal.
— Senhor e senhora Edwards, a visibilidade de um sequestro pode fazer com que as pessoas reconheçam Bonnie pelas ruas e acionem a polícia local.
— Você não sabe o que é o melhor para nossa família.
— É a filha de vocês! É a vida dela que está em jogo e vocês estão preocupados com sua reputação? — Rosie se alterava, Lucas puxou o braço da detetive e sussurrou para que ela se acalmasse.
— Quanta audácia mocinha! — o pai se aproximou da mulher em um sinal de superioridade — Você está dentro da minha casa.
— Henry já chega — a mãe ainda com a voz chorosa colocou a mão no peito do marido — Talvez o melhor a se fazer é divulgar para os jornalistas.
— Eu não vou fazer isso com a nossa vida. Você tem noção do quanto essa publicidade acaba com qualquer um?
— Tudo bem — Rosie já dizia sem paciência — Façam o que achar melhor, continuaremos com nosso trabalho.
Os detetives saíram da casa e andaram até o carro de Rosie, a mulher estava visivelmente estressada com a discussão, afinal um casal que se importa mais com a própria imagem do que com a filha é algo de pura indignação.
— Eu disse que eles eram pessoas detestáveis — Lucas colocou o cinto e olhou para Duran.
— Eu não consigo imaginar pais tão egocêntricos. Isso poderia literalmente salvar a vida dela.
— Bem vinda a família Edwards — ela esboçou um pequeno sorriso e por milissegundos Lucas se sentiu vitorioso, arrancar qualquer expressão de felicidade de Rosie era como chegar ao fim do arco-íris — Agora você tem que fazer sua ligação — ele entregou o celular para a detetive.
— Por que você mesmo não faz isso? Agora mesmo disse que ele parecia um cara legal.
— Literalmente dois segundos depois eu disse que ele era um porre. E acha mesmo que ele vai querer falar sobre Bonnie comigo? Com você ele pode entregar alguma coisa.
A detetive revirou os olhos e discou o número de Link, alguns toques foram necessários até que ela ouvisse a voz rouca do outro lado da linha.
— Rosie Duran — ele disse.
— Infelizmente — Lucas pediu para que a detetive colocasse no viva voz.
— Achei que nunca mais iria ouvir de você.
— O sentimento é mutuo.
— Curta e grossa. Senti saudades.
— Preciso que você me encontre na delegacia.
— Tão formal assim? Ah não eu prefiro que venha até a minha casa, vamos jantar, o que prefere?
— De maneira alguma. Me encontre na delegacia.
— Eu estarei te esperando aqui as oito querida. Traga o vinho.
— Não me faça emitir um mandado para te tirar de casa — as veias da testa de Rosie já estavam saltando.
— Eu sei que você não faria isso. Não é mulher suficiente. Estarei te esperando — ele desligou sem ouvir a resposta.
Poucas vezes a detetive quis tanto espancar alguém, não que ela fosse do tipo que resolve os problemas com briga, mas quando se tratava de Archer ela honestamente repensava seus conceitos. Respirou fundo por algumas vezes até se acalmar.
— Não vai acontecer nada, é só um jantar e você descobre tudo o que precisa pra investigação.
— É só um jantar? — ela o encarou — Para Link não existe só um jantar. Eu passei meses da minha vida evitando ouvir o nome dele e agora eu sou obrigada a ter um encontro com ele?
— O que ele fez pra você? Entendo que ele tenha te traído, mas você não é assim. Ele deve ter feito algo mais.
— Não importa agora.
— Então ele fez algo mais.
— Campbell por favor, agora não.
— Tudo bem. Apenas pense que é para o trabalho — ele colocou as mãos no ombro da detetive — Eu sinto muito e entendo que não queira encontra-lo, mas é necessário.
— Eu sei. Se não consigo fazer uma simples investigação então não deveria trabalhar na polícia não acha?
— Acho que é mais forte do que pensa — ela apenas deu um pequeno sorriso de canto e dirigiu até a delegacia.
— Ela só fica assim? — Rosie perguntou olhando para o fundo da sala.
— Ela quem? — Hanna olhou para o fundo e encontrou Zara trabalhando — Pois é, desde de manhã ela só fica naquele canto com os fones de ouvido, trocou pouquíssimas palavras comigo.
— Deve ser tímida.
— Sabia que ela e Lucas já tiveram um caso?
— Zara? Não faz muito o tipo dele.
— E qual é o tipo dele? — a detetive a encarou.
— Você — a cientista riu.
— Muito engraçadinha — Duran fez uma pausa — Eu senti a sua falta. Sinto muito por não ter me despedido naquela época, fiquei tão desesperada que mal lembrei de mim mesma.
— Tudo bem, eu também não deveria ter ficado tão brava. Você estava passando por um momento difícil.
— Então isso significa que podemos sair pra tomar vinho e conversar sobre sua viajem para Londres? — Duran sorriu.
— Estava esperando esse momento desde que voltei — Hanna chegou mais perto da amiga e a cheirou — Credo você está fedendo. Vá para casa tomar um banho.
— Agradeço pela honestidade. Eu estou desde ontem sem ir para casa.
— Então vá. Você ficar aqui não vai te ajudar, tome um banho e descanse um pouco
Apesar de querer ficar Rosie sabia que era verdade, ela estava morta por dentro. Se despediu de Hanna e Scott e dirigiu até a sua casa, assim que chegou tirou os sapatos, se jogou na cama. Sua cabeça rodava, conseguia escutar o coração bater mais calmamente, o sangue quente correndo pelo seu corpo, a respiração serena. Era provavelmente a adrenalina abaixando, a detetive fechou os olhos e não escutou mais nada.
Os raios do sol estavam batendo forte no rosto da mulher, o que por uns minutos ela achou estranho afinal quase nunca abria as cortinas, mas deveria ter aberto sem perceber. Caminhou até o chuveiro e deixou a água quente cair sobre seu corpo e teria definitivamente ficado um bom tempo lá se não fosse pelos apitos incessantes do seu telefone, com um grande esforço Rosie saiu do banho e viu quinze mensagens de Lilian mandando que a detetive a ligasse o mais rápido possível.
— Você está fora de si?! — a delegada gritou assim que atendeu a ligação.
— Eu responderia se soubesse do que se trata.
— Como você pode acusar Campbell de ser o sequestrador de Bonnie e ainda por cima deixa-lo fora da investigação?
— Com todo o respeito Senhora Green, meu trabalho é investigar os casos e acusar aqueles que me parecem suspeitos, independentes se são meus amigos ou não. O detetive Campbell está fora da investigação pois é impossível que ele atue em algo que está sendo acusado.
— Você vai retirar a acusação dele e o trazer de volta para o caso. AGORA!
— Não! Esse é o meu caso e ele ficará fora até eu conseguir provar que ele não tem nada com isso. Passar bem senhora Green.
Rosie desligou a ligação e jogou o telefone em cima da cama, ela com toda certeza estava fora de si, falar assim com sua chefe era tipo dar um tapa na cara da rainha em frente aos policiais. Duran se arrumou, pegou uma torrada em cima da mesa da cozinha e dirigiu para a delegacia. Ela não iria descansar até conseguir provas o suficiente para comprovar a inocência de Lucas.
Entrou na delegacia e avistou Hanna dentro da sua sala, rezou para que ela estar ali fosse um bom sinal.
— Scott encontrou um cara que pode ser quem a gente está procurando — as duas caminharam às pressas para o laboratório — Ele se chama Angelo Jiordano e mora em Woodseats.
— É dez minutos daqui. Eu vou pra lá.
Ela poderia dizer que estava cansada de dirigir, seu velho Impala já não aguentava mais, porém ela não iria parar, pelo menos não agora. O trânsito de Londres estava infernal, um caminho que demoraria dez minutos levou meia hora para que a detetive finalmente chegasse ao seu destino.
A casa parecia bem velha, alguns pedaços da escada na entrada estavam rachados e o piso rangia conforme os passos que ela dava, Duran tocou a campainha, mas não ouviu barulho nenhum, certamente não funcionava mais, então bateu duramente na porta e ouviu os passos de alguém se aproximando. A porta foi aberta e um rapaz com grandes olheiras a olhou assustado.
— Rosie Duran, detetive de Sheffield. O senhor é Angelo Jiordano?
— S-sim. Sou eu sim — ela conseguiu ver o rapaz engolindo em seco.
— Gostaria de fazer algumas perguntas a você se possível — ele apenas assentiu — Aonde você estava na madrugada de domingo do dia vinte de outubro?
— Eu estava trabalhando. Estava cobrindo um dos garçons.
— Trabalhando no Central Pub correto? — ele assentiu novamente — Por que mentiu o seu endereço para o dono do bar?
— E-eu...Eu menti porquê...
— Devo alerta-lo que está conversando com uma detetive da polícia. Qualquer falsa informação pode acarretar em um boletim de ocorrência e consequentemente à sua prisão.
— Está bem. Eu menti porque se dissesse ao dono onde morava ele não iria me contratar. Ele só queria pessoas da alta sociedade trabalhando no bar, e eu precisava muito desse emprego. Foi só isso eu juro, não tem motivos para mentir, você mesma pode ver nas condições onde moro.
— Eu acredito em você — Angelo parecia mais calmo depois de desabafar — Você se recorda de ter atendido a esse homem? — Rosie mostrou uma foto de Lucas.
— Sim, ele chegou por volta da uma da manhã se não me engano. Tomou boas doses de Whiskey e falou sobre a vida amorosa.
— Não se recorda a que horas ele saiu do bar?
— Sinto muito eu não consigo me lembrar, mas sei que ele ficou um tempo bebendo.
— Tudo bem, muito obrigada. — a detetive estava caminhando para seu carro quando o ouviu.
— Por favor não conte ao gerente do bar.
— Isso é uma coisa em que você e ele devem discutir — o rapaz deu um leve sorriso e voltou para dentro da casa.
Ótimo, essa era a prova de que ela precisava para trazer Campbell de volta, ainda estava com o pé atrás por conta de toda a história, mas não teria mais motivos para afasta-lo da investigação. Agora ela tinha um longo e cansativo dia pela frente e não queria enfrenta-lo sozinha, entrou no carro e pegou seu telefone, discou os números e esperou até o outro lado da linha atender.
— Ótimas notícias para você — Rosie estava mais empolgada do que deveria.
Só havia se passado quarenta minutos do momento em que Rosie ligou para Campbell e o avisou que estaria livre para voltar às investigações e ele já estava entrando pela delegacia e caminhando até a sala da mulher, que estava sentada na cadeira escrevendo em alguns papéis.
— Eu deveria te odiar agora — o detetive adentrou a sala e sentou na frente de Rosie.
— Já não me odiava antes?
— Por que fez aquilo comigo?
— Apenas fazendo meu trabalho.
— Me interrogando? Quem você pensa que eu sou?
— Eu não sei — ela finalmente olhou para ele — Não te conheço mais senhor Campbell.
— Qual é, pare de fingir que não temos uma história juntos.
— Tivemos Lucas, essa história já fazem cinco anos e ela acabou — Rosie voltou a preencher os papeis.
Lucas achou melhor não contestar, afinal, ela tem todos os motivos do mundo para estar zangada com ele. Mas ele também tinha, não seria capaz de fazer algo contra a própria namorada. O silêncio entre os dois naquele momento foi ensurdecedor, ele estaria esbravejando toda magoa que sentira da detetive por duvidar dele e ela estaria apontando o dedo para ele e gritando que o seu trabalho é duvidar de todos.
— Estava esperando você chegar para ir visitar a casa de Bonnie — Rosie guardou os papéis dentro da gaveta e se levantou. Lucas, no entanto, continuava sentado — Você vai ficar aí sentado? — ele abriu e fechou a boca algumas vezes, mas nada saiu. Se deu por vencido e acompanhou a detetive.
Bonnie morava em Greenhill, na saída de Sheffield para Dronfield, isso significaria que eles teriam um tempo dentro do carro. Poderia ser um bom lugar para se reconciliarem e resolverem brigas do passado. Teria sido se Campbell não tivesse feito uma pergunta, aquela pergunta que até então Rosie preferiria não responder.
— Por que terminou com o Link?
— Por Deus Lucas, tem que trazer isso à tona todas as vezes?
— Eu te contei sobre Zara — ela ficou em silêncio e Lucas viu a detetive apertar o volante.
— Ele tinha outra. Na verdade, ele tinha muitas amantes. Foi por isso que terminamos — em partes a história era verdadeira e é claro que Campbell se arrependeu profundamente da pergunta. Ele não sabia o que falar.
— Sinto muito — foram as únicas palavras que ele pronunciou.
— Não tem que sentir.
— Como descobriu? Você conheceu a menina?
— Link nunca foi bom em esconder nada, e eu, bom eu sou detetive, o meu trabalho é descobrir as coisas. E sim, eu acabei conhecendo uma das várias. Agora, só não toca mais no assunto ta bom? — ele assentiu.
— Ele parecia ser um cara legal.
— Claro — riu ironicamente — Vocês sempre brigavam quando se encontravam.
— Tá, tudo bem sempre achei ele um pé no saco, mas na maioria das vezes era só o ciúme.
— Ciúmes?
— É sabe... tipo quando... ele ficava meio que... — fez uma pausa — entende?
— Na verdade, não — olhou para Campbell mas ele somente desviou o olhar e os dois permaneceram em silêncio o restante do caminho.
Os Edwards eram da classe alta. O pai fazia parte de um dos grandes empresários de todo o condado e a mãe uma renomada e conhecida cirurgiã plástica, eram conhecidos como a família perfeita. Bonnie era filha única e muito mimada pelos pais, dava pra entender o porquê não gostavam do relacionamento dela com Lucas, ele era um problema para a vida imaginaria que criaram, queriam um advogado ou médico para continuar com a boa vida.
Rosie estacionou em frente à casa de Bonnie e pode ver Lucas respirar mais fundo assim que chegaram. Os dois saíram do carro e caminharam até a entrada tocando a campainha. O senhor Edwards abriu a porta e assim que viu os detetives o sorriso que esboçava se transformou em um rosto sério.
— Detetives — ele abriu a porta e deu passagem para eles entrarem.
— Nós viemos dar uma olhada no quarto de Bonnie — Lucas se pronunciou olhando friamente para o sogro.
— Acho que você já deu muitas olhadas lá dentro, não é? — ele deu um passo à frente ainda encarando o detetive.
— Senhor Edwards, aqui o detetive Campbell não é o namorado da sua filha. Ele é o um dos investigadores para encontrá-la, e um dos melhores detetives da cidade, diga-se de passagem, então se eu estivesse no seu lugar eu aceitaria qualquer tipo de ajuda — a mulher parecia tão segura no que dizia que fez com que Henry baixasse a guarda e caminhasse até a sala sem dizer uma palavra — Aonde é o quarto dela? — Lucas apontou para as escadas, eles subiram e adentraram a terceira porta.
O quarto tinha uma decoração nos tons de amarelo e laranja. A cama era de casal e ficava grudada à parede, ao lado estava uma escrivaninha. A penteadeira estava repleta de maquiagens e alguns papeis e em uma das paredes estava um mapa com alguns círculos em países e cidades.
— Procure nas gavetas da escrivaninha — Lucas assentiu e abriu as gavetas lendo cada papel que ali estava.
Rosie caminhou até a cama e encontrou o tablet de Bonnie, quando ligou ele pedia uma senha.
— Sabe a senha? — Campbell olhou para a detetive com o tablet nas mãos.
— Não tenho ideia. Tenta meu nome.
— Eu duvido que a senha dela seja seu nome — ainda desconfiada Rosie digitou, mas aquela, obviamente, não era a senha — Não adianta tentar, não vamos adivinhar.
Ela deixou o tablet na cama e foi até a escrivaninha abrir as pequenas gavetas que tinham. A maioria eram de maquiagens, unhas postiças e qualquer coisa relacionada a esse universo. A última gaveta, por surpresa da detetive, tinha uma caixa vermelha e por cima dela algumas fotos. Nas fotografias tinha ela com as amigas, umas com os pais e uma única com o namorado. Rosie deixou as fotos de lado e pegou a caixa, Campbell viu a caixa e se pronunciou.
— Ela odiaria saber que você tá mexendo aí.
— O que? — a mulher olhou confusa para o parceiro.
— Essa caixa, ela sempre escondeu de mim.
— O que tem aqui dentro?
— Não sei, sempre quando ia olhar ela implorava pra não. Dizia que são presentes que ainda vai me dar.
— E você nunca ficou curioso para abrir? — Rosie questionou.
— Eu não sou esse tipo de pessoa e você sabe disso. Se não quer me mostrar então não vou abrir.
A caixa tinha um cadeado com 4 números, seria mais uma evidência que ela não conseguiria ter acesso. Quando foi guardar as fotos percebeu que a única cortada tinha quatro número atrás. Pegou novamente a caixa e tentou eles com o cadeado.
— Zero, cinco, zero, seis — Rosie sussurrou.
A detetive abriu a caixa e encontrou alguns presentes dentro, algumas cartas, flores, e objetos de decoração e uma foto virada para baixo. Rosie pegou e se assustou com a foto em suas mãos.
— Realmente são presentes — ela disse calmamente.
— Não disse? Ela iria me dar conforme o ano ia passando — o detetive sorria.
— Mas não para você.
— Claro que são — Rosie virou a foto para Lucas.
A foto tinha Link e Bonnie dando um selinho, com a moça segurando um buquê de flores. A sensação de descobrir que seu relacionamento era uma farsa era algo que Rosie já havia experenciado, mas aquilo era novo para Lucas. O rapaz continuou estático por alguns segundos até caminhar até a foto e pega-la. Rosie olhou os presentes na caixa e todos pareciam ter sido dados pelo próprio amante, todas as cartas tinham a frase "Sempre Nós". As pétalas de flores já estavam murchadas e escuras, mas ainda assim guardadas.
Rosie sabia que o melhor a fazer no momento era simplesmente esperar para que Campbell digerisse tudo e voltasse a vida. Mas claro ela também estava surpresa, esperava que o ex-noivo a traísse com uma qualquer não com a namorada de Lucas. Ela tentava se lembrar de como os dois poderiam ter se conhecido, talvez em uma das festas que os policiais da delegacia insistiam em dar em datas comemorativas.
— Os pais dela sabiam — a voz de choro era inegável.
— Como sabe disso? — Rosie caminhou até o lado do detetive.
— Aqui — ele apontou para a metade do rosto um homem ao lado deles — É o pai dela. Eles apoiavam que ela me traísse com ele, mas não me apoiavam — quem agora estava sem palavras era Rosie, afinal qual conselho se dá para alguém nessa situação?
— Pode ir embora se quiser.
— Não, ela ainda é uma vítima — ele limpou algumas lagrimas que caíram lentamente.
— Oh, Becca... — uma luz parecia ter atingido a memória de Rosie.
— O que? — Lucas perguntou.
— Quando descobri uma das traições de Link ele conversava com uma Becca, mas curiosamente somente as letras B e E estavam em maiúsculo. Agora sei porque.
— Bonnie Edwards.
— Exatamente — Rosie assentiu.
A detetive pegou o tablet e escreveu "Link", mas o acesso foi negado, tentou mais uma vez escrevendo "Sempre Nós". O tablet desbloqueou e um pequeno sorriso foi visto por Lucas que agora olhava curioso para Rosie.
— Eu descobri a senha. Bom na verdade sua namorada é péssima para escolher senhas. Sem ofensas.
— Por que? Sua senha é algum código?
— Claro que sim. Acha que eu escolheria algo bobo como isso? Ou o nome do meu cachorro, meu aniversário? Eu não sou idiota.
— Ei! A senha do meu celular é o nome do meu primeiro cachorro.
— Como eu disse, idiota — Rosie continuava com sua atenção ao tablet.
— É ex.
— O que?
— Você disse namorada. É ex-namorada.
— Você não pode terminar com alguém sem que ela saiba.
— Ela terminou comigo assim que me traiu pela primeira vez — Rosie não queria discordar dele naquele momento então apenas assentiu.
Ela entrou nos e-mails e encontrou algumas mensagens trocados com o próprio Link. Então essa era B.E em que o ex-namorado trocava e-mails de amor e que fazia planos para o futuro. A detetive olhou para Lucas que parecia vidrado com cada palavra escrita.
— Você não precisa ver isso, sério. Eu procuro sozinha.
— Não precisa me tratar como uma criança Duran. Sei lidar com meus sentimentos.
— Ei calma aí garotão, só estou tentando ajudar.
— Desculpe — ele sussurrou.
A detetive entrou no álbum e viu diversas fotos de Bonnie e Link. Algumas poucas fotos com Lucas e amigos.
— Entra nas mensagens com o Benjamin, ela pode ter falado algo.
Rosie entrou na conversa com o rapaz e uma das últimas mensagens era Bonnie dizendo que estava planejando uma viagem com o amante só não sabia como despistar o namorado, o amigo por sua vez estava dando dicas e fazendo um planejamento para ajuda-los. Eles tinham comprado as passagens para Los Angeles e passariam duas semanas em um hotel cinco estrelas.
— Por que? — Lucas se afastou do tablet e colocou as mãos no cabelo.
— Link dizia que era pela adrenalina. Talvez seja o mesmo com ela, ou você realmente só seja bem chato — o detetive a fuzilou com os olhos — O que? Eu só estou brincando.
— Eu fui traído Duran.
— Bem-vindo ao clube amigo. Você aceita ou passa o resto da vida dentro de um quarto chorando e comendo chocolate.
— Talvez seja hora de você retornar à ligação.
— Que ligação?
— Com Link. Acho que deve ligar para ele.
— Nem nos meus piores pesadelos eu vou conversar de novo com ele.
— Rosie essa é a nossa chance para descobrir onde Bonnie está. Os dois tinham um caso, quem sabe ele não tenha levado ela.
— Ou ela tenha ido por vontade própria.
— Ligue para Link e converse com ele — Duran tinha jurado para si mesma que nunca mais iria ouvir a voz daquele que desestabilizou seu psicológico, mas a vida as vezes prega grandes peças para aqueles que planejam demais, e Rosie, ela planejava demais.
Recolheram as fotos e alguns dos presentes que estavam dentro da caixa, desceram as escadas e encontraram Debbie na ponta da escada andando para um lado e para o outro.
— Vocês já encontraram alguma pista? — a mulher estava com o nariz avermelhado e os olhos marejados
— Sinto muitíssimo senhora Edwards, mas ainda não encontramos nada. Poderíamos ter mais resultados se vocês permitissem a divulgação do desaparecimento dela.
— De jeito nenhum! — o pai se pronunciou abraçando a esposa — Não vamos deixar que nossa vida vire uma página de jornal.
— Senhor e senhora Edwards, a visibilidade de um sequestro pode fazer com que as pessoas reconheçam Bonnie pelas ruas e acionem a polícia local.
— Você não sabe o que é o melhor para nossa família.
— É a filha de vocês! É a vida dela que está em jogo e vocês estão preocupados com sua reputação? — Rosie se alterava, Lucas puxou o braço da detetive e sussurrou para que ela se acalmasse.
— Quanta audácia mocinha! — o pai se aproximou da mulher em um sinal de superioridade — Você está dentro da minha casa.
— Henry já chega — a mãe ainda com a voz chorosa colocou a mão no peito do marido — Talvez o melhor a se fazer é divulgar para os jornalistas.
— Eu não vou fazer isso com a nossa vida. Você tem noção do quanto essa publicidade acaba com qualquer um?
— Tudo bem — Rosie já dizia sem paciência — Façam o que achar melhor, continuaremos com nosso trabalho.
Os detetives saíram da casa e andaram até o carro de Rosie, a mulher estava visivelmente estressada com a discussão, afinal um casal que se importa mais com a própria imagem do que com a filha é algo de pura indignação.
— Eu disse que eles eram pessoas detestáveis — Lucas colocou o cinto e olhou para Duran.
— Eu não consigo imaginar pais tão egocêntricos. Isso poderia literalmente salvar a vida dela.
— Bem vinda a família Edwards — ela esboçou um pequeno sorriso e por milissegundos Lucas se sentiu vitorioso, arrancar qualquer expressão de felicidade de Rosie era como chegar ao fim do arco-íris — Agora você tem que fazer sua ligação — ele entregou o celular para a detetive.
— Por que você mesmo não faz isso? Agora mesmo disse que ele parecia um cara legal.
— Literalmente dois segundos depois eu disse que ele era um porre. E acha mesmo que ele vai querer falar sobre Bonnie comigo? Com você ele pode entregar alguma coisa.
A detetive revirou os olhos e discou o número de Link, alguns toques foram necessários até que ela ouvisse a voz rouca do outro lado da linha.
— Rosie Duran — ele disse.
— Infelizmente — Lucas pediu para que a detetive colocasse no viva voz.
— Achei que nunca mais iria ouvir de você.
— O sentimento é mutuo.
— Curta e grossa. Senti saudades.
— Preciso que você me encontre na delegacia.
— Tão formal assim? Ah não eu prefiro que venha até a minha casa, vamos jantar, o que prefere?
— De maneira alguma. Me encontre na delegacia.
— Eu estarei te esperando aqui as oito querida. Traga o vinho.
— Não me faça emitir um mandado para te tirar de casa — as veias da testa de Rosie já estavam saltando.
— Eu sei que você não faria isso. Não é mulher suficiente. Estarei te esperando — ele desligou sem ouvir a resposta.
Poucas vezes a detetive quis tanto espancar alguém, não que ela fosse do tipo que resolve os problemas com briga, mas quando se tratava de Archer ela honestamente repensava seus conceitos. Respirou fundo por algumas vezes até se acalmar.
— Não vai acontecer nada, é só um jantar e você descobre tudo o que precisa pra investigação.
— É só um jantar? — ela o encarou — Para Link não existe só um jantar. Eu passei meses da minha vida evitando ouvir o nome dele e agora eu sou obrigada a ter um encontro com ele?
— O que ele fez pra você? Entendo que ele tenha te traído, mas você não é assim. Ele deve ter feito algo mais.
— Não importa agora.
— Então ele fez algo mais.
— Campbell por favor, agora não.
— Tudo bem. Apenas pense que é para o trabalho — ele colocou as mãos no ombro da detetive — Eu sinto muito e entendo que não queira encontra-lo, mas é necessário.
— Eu sei. Se não consigo fazer uma simples investigação então não deveria trabalhar na polícia não acha?
— Acho que é mais forte do que pensa — ela apenas deu um pequeno sorriso de canto e dirigiu até a delegacia.
Capítulo 04
Setembro 2018 — Um ano antes
— Você pode simplesmente calar a porra da boca?! — Link encarou a mulher assustada.
— Eu só estou tentando ajudar.
— Ajudar Rosie? Mas que inferno você sempre tenta se meter nos meus assuntos.
— Desculpe, achei que estava com dificuldade — ela abaixou a cabeça.
— Sabe qual a minha dificuldade? Acordar e olhar pra sua cara. Essa é a minha dificuldade. Então me faça um favor pega essa sua cara de bebê chorão e saia daqui.
Rosie saiu do escritório ainda de cabeça baixa. Talvez ela estivesse fadada a não ter sorte no amor. Ou talvez ela só fosse muito exigente e isso fosse o amor de verdade. Era ela que não deveria ter entrado no escritório, deveria ter esperado na sala até que ele saísse. Ela estava errada, certo? Sim claro que sim, Link só estava estressado, acontece com todos.
Duran estava caminhando para a sala, mas decidiu entrar no quarto, a cama que antes sempre esteve impecável agora estava por fazer. Ficou algum tempo sentada olhando para a parede quebrada, Link podia ser agressivo quando queria. Sua atenção foi tirada quando a tela do celular piscou, sabia que era de Archer então receosa desbloqueou e clicou nas mensagens recebidas.
(8:47 p.m) BEcca: Quando te verei novamente?
(8:49 p.m) Link: Isso significa que gostou do nosso encontro?
(8:50 p.m) BEcca: Aquela foi uma das noites mais incríveis que já tive.
(8:51 p.m) Link: Você é incrível.
(8:51 p.m) Link: Disse a Duran que terei uma reunião amanhã, estou reservando nosso hotel agora.
(8:53 p.m) BEcca: Morrendo de saudades!
(8:53 p.m) Link: Sempre nós, querida.
(8:54 p.m) BEcca: Sempre nós, te amo.
A mulher digitava mais alguma coisa, mas o celular foi brutalmente arrancado da mão de Rosie. Link a encarava furioso, e ela sabia o que viria agora.
— Que porra fazia com isso na mão?! Eu já disse que odeio que pegue minhas coisas — o tapa que ele deu no rosto de Duran foi mais forte que os outros. Havia tido outros.
— Me desculpe — ela colocou as mãos no rosto que ardia.
— Caralho eu vou ter que repetir? Para de se meter nos meus assuntos — o celular foi jogado na cama. Link apertava o braço da namorada e a levava para fora do quarto — A próxima vez que encostar em qualquer coisa minha você vai precisar mais do que um corretivo para tampar esse machucado — ele a jogou no chão da sala.
— Eu não irei — ainda ao chão ela passava a mão no braço que antes era apertado pelo homem.
— Ótimo.
Estava tudo bem, era só um dia ruim. Ele é um ser humano, tem seus dias ruins, ele a amava é claro. Não fez por mal, não viu o que estava fazendo, não é? Link foi para a cozinha e assim que conseguiu se levantar Rosie fez o mesmo. Ele estava cozinhando e cantarolando uma música qualquer. Duran se sentou e observava cada movimento que ele fazia. Alguns minutos depois ele serviu o prato, Cottage pie. Talvez a única coisa que soubesse fazer.
— Seu preferido — ele disse.
— Obrigada.
Aquele não era o seu prato preferido, mas como poderia não aceitar afinal ele fez especialmente para ela. Com um sorriso forçado ela começou a comer, Rosie ainda sentia o rosto queimar e sabia que precisaria de uma boa maquiagem para tampar as marcas do dedo que definitivamente surgiriam. Link continuava a conversar normalmente com a mulher que não associava as palavras que ouvia, ouvia Archer em um volume mais baixo enquanto seu cérebro trabalhava mais do que antes.
Assim que a refeição terminou Duran retirou os pratos e tentou achar algum espaço na pia. Foi até o quarto e viu Link sentado na cama com o celular na mão, preferiu não atrapalhar dessa vez e se deitou de costas para ele, tinha aprendido chorar em silêncio desde que a relação começou. E como muitas das outras noites dormiu com as lagrimas escorrendo pelo rosto.
Capítulo 05
Outubro 2019 — Atualmente
O carro foi estacionado em frente à delegacia, Rosie esperou pacientemente para que Lucas saísse e adentrasse no local, mas ele não o fez.
— Vai — ela o olhou.
— O que?
— Sai daqui.
— Você não vem?
— Preciso de um tempo para me preparar psicologicamente para encontrar Link.
— Eu irei com você.
— Você vai ficar aí, eu vou sozinha — ele tentou discutir, mas Rosie foi mais rápida — Vai, vai, vai.
Ele saiu do carro e bateu com força a porta do passageiro, sabia que aquilo iria irrita-la profundamente. Lucas entrou na delegacia e foi em direção a sala da detetive, Rosie tinha uma grande mania de arrumação, cada coisa em seu devido lugar, mas o rapaz acreditava que qualquer detetive que se preze não tem a sua mesa organizada (ou talvez só acreditava nisso para não ter que arrumar sua sala).
No canto da sala havia o quadro de suspeitos e bem no meio dele uma foto de Bonnie, a foto de Lucas e alguns amigos dela rodeiam o quadro. Caminhou até o computador e procurou alguma foto de Link. O detetive teria gosto em colocar o amante como suspeito. Imprimiu uma foto qualquer que achou do rapaz e prende-o com um alfinete, ficou por alguns segundos encarando o quadro até sentir uma presença atrás de si. Virou-se para a porta e encontrou uma moça com um longo cabelo ruivo e de cabeça baixa, com um pouco de dificuldade conseguiu distinguir quem era a tal mulher, Zara.
— Que susto que me deu Jones — ele tentou dar uma risada.
— Sinto muito, estava procurando pela detetive Duran — a mulher ainda de cabeça baixa prosseguiu — Conseguimos achar algumas provas.
— Que maravilha! Quais são?
— O san... — Zara foi brutamente interrompida por Hanna que apareceu atrás dela.
— O sangue de Bonnie foi encontrado em uma rua perto da Lux, agora temos uma pequena noção de qual lugar ela estava quando foi atacada.
— Ótimo. Agora temos ao menos uma direção.
— E isso tudo graças a Zara — Hanna a abraçou de lado — Ela que encontrou o vestígio de sangue na rua.
— Fico feliz em tê-la com a gente — as bochechas da moça se avermelharam rapidamente.
— Por que não vai na frente e prepara os resultados para mostrar para o detetive? — Zara assentiu e foi até o laboratório — Fico feliz em tê-la com a gente — North imitou a voz do detetive e ele riu.
— O que?
— Você dando em cima dela.
— Só agradeci, Hanna.
— Eu sei que já ficou com ela.
— Uma única vez e o que é isso? Rosie começou a sair espalhando meus segredos para qualquer um agora.
¬— Ah agora eu sou qualquer uma? — ela o empurrou — Nunca mais peça para que eu traga bolo para você.
— Pare de ser dramática — Lucas abraçou de lado a cientista.
— Agora entendi por que ela fica tão envergonhada perto de você, ainda deve sentir alguma coisa.
O detetive parecia surpreso com o comentário de Hanna, depois de tantos anos ela ainda poderia ainda sentir algo por ele? Preferiu acreditar que aquilo era somente imaginação de North. A única coisa que Lucas sabia era que somente uma pessoa mexeu com seus sentimentos, somente ela havia feito ele sentir as tão famosas borboletas no estomago e o coração disparar.
— Para de criar teorias — Lucas disse — Deve fazer quase três anos que eu e Zara não nos vemos.
— Ainda tem sentimentos por Rosie e vocês terminaram a quatro anos.
— Que sentimento Hanna? O único sentimento que tenho pela detetive Duran é de raiva — ele caminhou para fora da sala.
— Raiva por não querer sentir o amor? Sabia que o amor e o ódio andam juntos? — Hanna acompanhou o detetive — Você é muito orgulhoso, é só se abrir comigo como ela se abriu para mim.
— Se abriu para você? Vocês nem conversando estão.
— Então você notou? — ela arqueou a sobrancelha.
— Eu e toda a delegacia.
— Acha que o policial Evans me notou? Tô dando mole pra ele a semanas e nada.
— Tudo bem — o detetive parou de andar e encarou a cientista — O que ela disse?
— Disse que ainda sente algo muito forte por você — mentira, ele pensou — E que sente sua falta. Ela não queria sentir, mas sente — outra mentira.
— Você está mentindo.
— Claro que não! Por que eu mentiria? — Lucas cruzou os braços e chegou perto do rosto da mulher e a olhou nos olhos. Hanna tinha olhos castanhos claro, o detetive conseguia ver a íris escurecer e a pupila aumentar gradativamente.
— Suas pupilas se dilataram. Seu cérebro está trabalhando demais para pensar no que responder. Sabia que isso acontece quando mentimos? — ele voltou a caminhar.
— Sabia que isso também acontece quando estamos interessados em um assunto? — ela novamente estava ao seu lado.
— Prefiro acreditar que é porque está mentindo — ele entrou no laboratório e foi até onde Zara estava.
— Eu só quero juntar duas pessoas que se amam — o detetive encarou-a com raiva e voltou sua atenção para o resultado que estava a sua frente.
O computador mostrava uma foto do chão e um resquício de sangue esparramado. Era quase imperceptível para olhos dispersos, ficara surpreso que Zara tenha o notado, olhos de águia. O cotonete com o sangue estava embalado e o teste para o DNA estava positivo.
— Aonde encontraram isso?
— Estava à oitocentos metros da Lux, na rua Rhodes. Talvez ela tenha ido encontrar alguém.
— Eu imagino quem seja — o detetive voltou a sua expressão de raiva — Não conseguiram nenhuma testemunha?
— Os policiais disseram que teve uma senhora que viu ela com um homem alto, mas que não prestou atenção. Pode tentar conseguir algo dela, mas acho que não será nada útil — Hanna disse.
— Não custa tentar, sabe aonde a senhora mora? — ela deu o endereço da mulher, ele anotou em seu bloco e caminhou para fora. Quando estava já na porta ouviu Hanna o chamar.
— Onde está Rosie?
— Ela vai encontrar Link hoje, disse que precisava se preparar psicologicamente para isso.
— Ah Deus, de novo não.
— Por que? Você sabe de alguma coisa?
— Eu sou mulher Campbell, claro que sei.
— Então o que é? Por que ela parece tão assustada quando fala dele?
— Não é minha história Lucas, se ela ainda não te contou é porque não se sente confortável.
Campbell assentiu e saiu do laboratório. O detetive tinha mais coisas do que necessário passando por sua cabeça, a enxaqueca estava mais forte do que nunca. Dirigiu até a casa da testemunha e bateu levemente à porta.
— Polícia de Sheffield — ele anunciou.
Alguns instantes depois a porta foi aberta lentamente e uma senhora com os cabelos longos e branco apareceu.
— O que aconteceu?
— Eu gostaria de conversar com a senhora sobre o desaparecimento de uma jovem. Disse a alguns policiais que a viu passar por aqui com um homem.
A feição amigável que ela tinha transformou para um semblante assustado. A mulher pegou o braço do detetive e o puxou para dentro de casa.
— Ele pode ver você aqui — ela olhou pela janela e fez com que as cortinas tampassem a vista.
— Ele quem?
— O homem.
— De que homem está falando?
— Ele me pagou para que eu não falasse nada — ela sentou na poltrona e apontou para o sofá a sua frente — Sente-se.
— Sei que isso pode ser assustador para algumas pessoas, mas se a senhora viu algo que pode ajudar nas investigações suplico que me conte.
Ela balançou negativamente a cabeça, as mãos estavam entrelaçadas em cima do joelho, fazia movimentos de vaivém com o corpo. Olhou novamente para a janela e voltou o olhar para o detetive.
— Você pode me contar. Ele não vai saber que foi você.
— Se eu contar, ele me mata — a senhora passou o dedo na garganta e se levantou — Quer um chá? Eu estava fazendo antes de você chegar.
— Não será necessário, eu só preciso que você me conte o que viu.
A mulher saiu da sala e caminhou para a cozinha. Lucas se levantou e foi atrás. Em cima da mesa viu algumas correspondências com o nome de "Corina Amato". Pelo menos agora a senhora tinha uma identidade para o detetive. A mulher colocou duas xicaras em cima da mesa e despejou o chá cuidadosamente
— Você gosta com açúcar? — Corina colocou uma tigela com cubos de açúcar na mesa.
— Não, obrigado.
Os dois beberam em silêncio. Lucas sabia que quanto mais perguntasse, menos ela responderia. O detetive observou sua cozinha e pode notar alguns post-its colados na geladeira e por algumas prateleiras. Em cada um estava escrito o seu devido nome. O que estava colado na pia estava escrito "Pia", um prato tinha o mesmo escrito "Prato" e assim por diante. Talvez ela tivesse Alzheimer e escrevera aquilo para se lembrar. Seria perda de tempo conversar com ela.
— Ela parecia muito calma com a pessoa — o comentário da senhora tirou o detetive de seus pensamentos.
— O que?
— A jovem que eu vi, ela parecia tranquila com quem estava.
— Acha que talvez ela conhecesse a pessoa?
— Tenho certeza. Apenas a mulher que a causou medo.
— Mulher? — ele sabia que talvez só estaria ouvindo uma mulher falar sobre suas alucinações, mas era a única coisa que tinham.
— Sim, uma mulher de branco. Ela tinha cabeça de panda. O homem tinha uma cabeça de cavalo.
— Como sabia que era um homem e uma mulher?
— Bom o homem estava com um terno e a mulher com um vestido muito bonito.
— Consegue se lembrar de como era o vestido?
— Era um...vestido rosa e um desenho de unicórnio.
— Disse agora a pouco que ela parecia estar tranquila com o homem, por que acha isso?
— Ela estava rindo com ele e com seus braços entrelaçados — Lucas anotava tudo em seu bloco.
— E sobre a cabeça que estavam usando, parecia com aquelas de fantasias?
— Não! Aquelas eram a cabeça deles. Gigantes.
Lucas olhou em seu relógio. 17:40. Sabia que tudo o que estava ouvindo não passava de alucinações da senhora. Ela estava visivelmente alterada contado o que havia visto na noite. Seus olhos se abriam e a gesticulação excessiva com as mãos só comprovavam mais o delírio que ela estava tendo.
— Eu agradeço o seu tempo. Foi muito útil para a investigação. Eu vou até a delegacia anexar o seu testemunho.
— Não pode ir! Agora ele já viu que esteve aqui. Vai me matar! Ele disse que se eu contasse algo viria para me matar.
— Fazemos assim. Ligo para alguns policiais e peço para que façam uma ronda na sua rua essa noite. O que acha?
Ela sorriu e agradeceu. Corina o acompanhou até a porta. Lucas agradeceu novamente e foi até o carro. Fez algumas ligações para o departamento e pediu uma ronda na casa da senhora, como prometido. Agora, ele teria duas opções: Ir para delegacia e pesquisar por alguma pista ou acompanhar Rosie até a casa de seu ex-namorado. Assim como todas as vezes, ele a escolheu. Lucas parou em frente a porta da detetive. 19:30. Tinham marcado para as oito e como sabia, ela estaria pontualmente na porta de Link.
Capítulo 06
Rosie saiu do banho e ficou encarando seu armário, se escolhesse se arrumar ele acharia que ela queria algo mais e aquilo certamente era a última coisa que a detetive desejava. Parou na frente do espelho e ficou por ali algum tempo. Se arrumou demais? Parecia que queria ele de volta? Ela estava mais nervosa do que esperava. Não sabia se era pelo ódio que ainda tinha dentro de si ou o medo de o ver novamente. Pegou sua bolsa em cima do sofá e saiu de casa.
— Que demora! — Lucas saiu do carro — Nossa — fazia alguns meses que o detetive não a via tão arrumada — Você está linda.
— O que você está fazendo aqui?
— Eu vou te levar.
— Eu tenho habilitação Campbell, posso ir sozinha — ela caminhou até seu carro, mas ele se posicionou em frente a porta.
— Não vou deixar você ir sozinha.
— Acha que eu não consigo? — ela arqueou a sobrancelha.
— Não distorça minhas palavras Duran, por favor — ele suplicou — Eu só estou pedindo para que me deixe te levar até a casa dele.
Rosie respirou fundo e entrou na Ranger Rover do detetive. Lucas se sentiu vitorioso, vencer algo com ela era impossível. Duran sempre ganhava.
— Obrigada — ela quebrou o silêncio
— Pelo que?
— Pelo o elogio. Obrigada — sussurrou.
Tinha prometido para si mesma nunca mais ver o rosto daquele homem, e ela detestava descumprir promessas. O caminho que normalmente levaria vinte minutos para Rosie levou cinco. O coração batia fortemente, quase conseguia ouvi-lo. As mãos frias e suadas se entrelaçaram e foram apertadas com força. A detetive sentiu a boca secar e o estômago revirar.
— Fico aqui até você sair. Leve o tempo que precisar — Lucas pegou a mão direita de Rosie — Você é a melhor detetive com que eu já trabalhei. Eu sei que consegue fazer isso.
Rosie saiu do carro e foi lentamente até a porta da casa. O cérebro a impedia de tocar a campainha, mas a mão já havia feito o trabalho.
— Está atrasada — Link olhou para o relógio — Dois minutos, até parece outra pessoa.
— Me atraso quando o ambiente é tão desagradável — ele deu passagem para que ela entrasse em casa.
— Eu disse para trazer o vinho.
— E eu fingi não escutar.
— Senti sua falta — ele a abraçou por trás.
— Por Deus, tire essas mãos nojentas de mim — bruscamente tirou os braços dele ao seu redor.
— Está mais áspera — ele sorriu — Gosto assim.
Link a levou até a sala de jantar. Rosie se sentia enjoada com cada toque que recebia, antes que ele encenasse sua educação ao puxar a cadeira para que ela sentasse Duran a puxou primeiro e o fuzilou com os olhos. Ele foi até a cozinha e voltou com dois pratos.
— Fiz o seu preferido, Cottage pie.
— Não é o meu preferido — seu rosto era de desgosto.
— Então você mudou? Sempre gostou.
— Eu nunca gostei. Fazia porque você gostava.
— É porque não se lembra o quão espetacular era — ele pegou um dos vinhos do bar e serviu as taças.
Rosie ainda o encarava. Ele deu a primeira garfada e ela não havia mexido um músculo. Todo o nervosismo que Rosie sentira antes de entrar passou e somente sentia o ódio. A mesma raiva de quando tomou coragem e terminou com ele.
— O que sabe sobre Bonnie? — o rapaz se engasgou com a comida — Precisa de uma batidinha nas costas?
— O que tem ela?
— O que sabe sobre o desaparecimento dela? — ela deu um gole no vinho.
— Não sei do que está falando.
— Não minta para mim. É pior — a voz da detetive engrossou.
Ele poderia fugir, responder à pergunta ou apenas ignorar.
Aquilo não era um interrogatório, ele não precisava responder. A detetive bateu a mão na mesa o assustando, ela nunca havia levantando a voz para ele. A feição séria que Rosie tinha virou um sorriso.
— Não me faça perder a paciência. Onde ela está?
— Ela sumiu?
— Você ficou surdo?
Link engoliu em seco e deixou de lado os talheres. As respiradas fundas estressavam mais a detetive. Ele colocou as mãos no cabelo puxando para trás apoiando o cotovelo na mesa de vidro.
— Olha eu não sei tá bom? Eu não a conhecia direito.
— Mandava mensagens de amor para quem não conhecia?
— Da onde você tirou isso? Foi daquele merda do namoradinho dela, não é? Agora que ela sumiu você finalmente pode estar com ele.
— Eu não acredito que você teve a ignorância de falar isso. Eu não sou como você, Archer!
— Você nunca me amou de verdade!
— Ah meu Deus você vai transformar tudo isso em uma briga sobre eu não te amar?
— Esteve a todo momento atrás do seu namoradinho filho... — ela o interrompeu.
— Acho melhor pensar bem no que você vai falar.
— NAQUELE FILHA DA PUTA! Vocês foram feitos um para o outro, são dois desgraçados egocêntricos. E você quer saber? Eu tô com ela sim! Ela é melhor em tudo do que você é!
— Eu nunca duvidei — as palavras ríspidas de Rosie causavam ódio em Link.
— Ela sim se importa comigo! Você vai apodrecer sem ninguém, sabe por que? Porque ninguém NUNCA vai te amar como eu amei. Eu sou o melhor. Eu era o melhor para você. Agora, sou o melhor para Bonnie.
— Se você realmente fosse o melhor, seria o namorado não o amante.
Ele se levantou depressa da mesa jogando a cadeira para trás.
O copo com vinho foi arremessado para longe pelo próprio. E ali estava o homem que Rosie conhecia muito bem. Descontrolado. Ela se levantou e o encarou. Os olhos dele pegavam fogo, o rosto avermelhado e as veias no pescoço davam a ele o ar demoníaco que a detetive conviveu por algum tempo.
— Aonde está Bonnie?
— EU NÃO SEI PORRA!
— Dentro de uma cela talvez você se lembre de onde ela está.
— Você é uma vadia arrogante! Não passa de uma fraude, se finge de durona, mas aqui dentro se ajoelhava diante de mim.
— Hitler também teve pessoas para se curvar diante dele, isso não significava que ele era uma boa pessoa.
Ao caminhar até a porta o homem a puxou pelo braço. A respiração pesada frente a detetive um dia já fizera ter medo, mas não hoje. Hoje ela estava parada e o encarava fixamente, não abaixaria a cabeça ou demostraria fraqueza.
— Você não pode fazer isso comigo — Link apontou o dedo no rosto de Rosie — Você não é mulher suficiente para isso.
— Saberá que eu sou mulher o suficiente quando a algema prender os seus pulsos.
— Eu era bom para você — Rosie sentiu falta das encenações de bom menino que ele fazia, os olhos marejados do homem poderiam convencer a qualquer um, ou talvez convenceria — Você não sabe viver sem mim — ela o olhava com desdém.
— Nem se minha vida dependesse de você eu recorreria para sua salvação — Ela abriu a porta e saiu em seguida. Ouviu o som estridente de algo sendo quebrado dentro da casa.
Alguns metros diante viu Lucas dentro do carro com os vidros fechados e cantarolando alguma música. Ele não deveria ter escutado a discussão. As batidas na janela do carro assustou o detetive que ouvia à rádio quase no último volume, assim que viu Rosie na porta do passageiro destravou a porta e a detetive entrou rapidamente.
— Foi rápida, achei que demoraria mais.
— Ele não disse nada e não haveria motivos para continuar com aquele jantar. Prefiro chama-lo para depor na delegacia.
— Não está mentindo para mim? — Rosie sabia que Campbell era bom para descobrir mentiras.
— Claro que não — para sorte de dela, Lucas nunca conseguiu detectar mentiras dela.
— O que acha de a gente ir comer algo? Tá bem cedo, deve estar com fome porque eu estou morrendo de fome.
— Eu estou bem cansada. Prefiro ir para casa.
— Qual é, vamos lá. Ir em um fast food e comer porcaria.
— Sua namorada está desaparecida, não acho que seja uma boa ideia saímos para nos divertir ou algo do tipo.
— Então vamos fazer assim, nós vamos para conversar sobre o caso, pode ser?
— Promete ser rápido?
— Como quiser.
Ele deu partida no carro e fez o caminho que conhecia muito bem. Por um bom tempo Campbell comia somente fast-foods. O trabalho o impedia de ter refeições saudáveis, fazia com que sua rotina fosse algo prático e rápido. Rosie preservava sua saúde, sua rotina sempre foi administrada e não saia da linha. Nunca fazia algo que não estivesse na agenda. A psicóloga sempre disse que ela deveria se libertar das correntes e viver um pouco, mas, para ela sempre foi difícil se desfazer de suas manias.
O detetive estacionou e eles caminharam em silêncio até o estabelecimento. O barulho do sininho na porta soou por todo o ambiente. As pessoas comiam alegremente, as risadas eram altas e as conversas se misturavam entre si.
— O que vai comer? — o detetive pegou o cardápio que estava em cima do balcão.
— Já me trouxe até aqui. Me surpreenda — o detetive riu e assentiu.
— Escolha um lugar para sentarmos que eu faço o pedido.
A detetive passou os olhos pelo restaurante e viu uma mesa ao fundo vazia. Caminhou até a mesa e sentou-se. Alguns minutos depois Campbell trouxe a bandeja com um grande balde de frango frito e dois copos de refrigerante.
— É pra comermos tudo isso? — os olhos de Rosie ainda estáticos olhavam fixamente para o balde.
— Se você vai comer tudo eu não sei. Mas eu vou — ele pegou o primeiro pedaço e deu uma grande mordida — Qual é, come. É bom.
— Se eu morrer, a culpa vai ser sua — ela pegou o primeiro pedaço e deu uma leve mordida.
— Não vai morrer por conta de um frango frito.
Os dois comeram grande parte dos frangos e conversaram por bons minutos. Até que finalmente o silêncio surgiu e o detetive resolveu tomar a iniciativa.
— Desculpe — ele disse com a cabeça baixa.
— Pelo o que?
— Te decepcionei enquanto estávamos juntos. Nunca foi a minha intenção. Não queria ter terminado daquela maneira com você.
— Isso já é passado. Nós dois seguimos a vida depois disso.
— E a vida nos trouxe até aqui — Rosie abaixou a cabeça e não respondeu — Acha que se ainda tivéssemos juntos teríamos sofrido tanto?
— Eu não sei — o celular de Campbell apitou diversas vezes seguidas.
— Desculpe — ele pegou o telefone e viu as mensagens incessantes do Policial Peterson — É o Aaron. Disse que receberam uma ligação sobre um assassinato no Weston Park e perguntou se podemos ir até lá.
— Diga a ele que estamos a caminho.
— Que demora! — Lucas saiu do carro — Nossa — fazia alguns meses que o detetive não a via tão arrumada — Você está linda.
— O que você está fazendo aqui?
— Eu vou te levar.
— Eu tenho habilitação Campbell, posso ir sozinha — ela caminhou até seu carro, mas ele se posicionou em frente a porta.
— Não vou deixar você ir sozinha.
— Acha que eu não consigo? — ela arqueou a sobrancelha.
— Não distorça minhas palavras Duran, por favor — ele suplicou — Eu só estou pedindo para que me deixe te levar até a casa dele.
Rosie respirou fundo e entrou na Ranger Rover do detetive. Lucas se sentiu vitorioso, vencer algo com ela era impossível. Duran sempre ganhava.
— Obrigada — ela quebrou o silêncio
— Pelo que?
— Pelo o elogio. Obrigada — sussurrou.
Tinha prometido para si mesma nunca mais ver o rosto daquele homem, e ela detestava descumprir promessas. O caminho que normalmente levaria vinte minutos para Rosie levou cinco. O coração batia fortemente, quase conseguia ouvi-lo. As mãos frias e suadas se entrelaçaram e foram apertadas com força. A detetive sentiu a boca secar e o estômago revirar.
— Fico aqui até você sair. Leve o tempo que precisar — Lucas pegou a mão direita de Rosie — Você é a melhor detetive com que eu já trabalhei. Eu sei que consegue fazer isso.
Rosie saiu do carro e foi lentamente até a porta da casa. O cérebro a impedia de tocar a campainha, mas a mão já havia feito o trabalho.
— Está atrasada — Link olhou para o relógio — Dois minutos, até parece outra pessoa.
— Me atraso quando o ambiente é tão desagradável — ele deu passagem para que ela entrasse em casa.
— Eu disse para trazer o vinho.
— E eu fingi não escutar.
— Senti sua falta — ele a abraçou por trás.
— Por Deus, tire essas mãos nojentas de mim — bruscamente tirou os braços dele ao seu redor.
— Está mais áspera — ele sorriu — Gosto assim.
Link a levou até a sala de jantar. Rosie se sentia enjoada com cada toque que recebia, antes que ele encenasse sua educação ao puxar a cadeira para que ela sentasse Duran a puxou primeiro e o fuzilou com os olhos. Ele foi até a cozinha e voltou com dois pratos.
— Fiz o seu preferido, Cottage pie.
— Não é o meu preferido — seu rosto era de desgosto.
— Então você mudou? Sempre gostou.
— Eu nunca gostei. Fazia porque você gostava.
— É porque não se lembra o quão espetacular era — ele pegou um dos vinhos do bar e serviu as taças.
Rosie ainda o encarava. Ele deu a primeira garfada e ela não havia mexido um músculo. Todo o nervosismo que Rosie sentira antes de entrar passou e somente sentia o ódio. A mesma raiva de quando tomou coragem e terminou com ele.
— O que sabe sobre Bonnie? — o rapaz se engasgou com a comida — Precisa de uma batidinha nas costas?
— O que tem ela?
— O que sabe sobre o desaparecimento dela? — ela deu um gole no vinho.
— Não sei do que está falando.
— Não minta para mim. É pior — a voz da detetive engrossou.
Ele poderia fugir, responder à pergunta ou apenas ignorar.
Aquilo não era um interrogatório, ele não precisava responder. A detetive bateu a mão na mesa o assustando, ela nunca havia levantando a voz para ele. A feição séria que Rosie tinha virou um sorriso.
— Não me faça perder a paciência. Onde ela está?
— Ela sumiu?
— Você ficou surdo?
Link engoliu em seco e deixou de lado os talheres. As respiradas fundas estressavam mais a detetive. Ele colocou as mãos no cabelo puxando para trás apoiando o cotovelo na mesa de vidro.
— Olha eu não sei tá bom? Eu não a conhecia direito.
— Mandava mensagens de amor para quem não conhecia?
— Da onde você tirou isso? Foi daquele merda do namoradinho dela, não é? Agora que ela sumiu você finalmente pode estar com ele.
— Eu não acredito que você teve a ignorância de falar isso. Eu não sou como você, Archer!
— Você nunca me amou de verdade!
— Ah meu Deus você vai transformar tudo isso em uma briga sobre eu não te amar?
— Esteve a todo momento atrás do seu namoradinho filho... — ela o interrompeu.
— Acho melhor pensar bem no que você vai falar.
— NAQUELE FILHA DA PUTA! Vocês foram feitos um para o outro, são dois desgraçados egocêntricos. E você quer saber? Eu tô com ela sim! Ela é melhor em tudo do que você é!
— Eu nunca duvidei — as palavras ríspidas de Rosie causavam ódio em Link.
— Ela sim se importa comigo! Você vai apodrecer sem ninguém, sabe por que? Porque ninguém NUNCA vai te amar como eu amei. Eu sou o melhor. Eu era o melhor para você. Agora, sou o melhor para Bonnie.
— Se você realmente fosse o melhor, seria o namorado não o amante.
Ele se levantou depressa da mesa jogando a cadeira para trás.
O copo com vinho foi arremessado para longe pelo próprio. E ali estava o homem que Rosie conhecia muito bem. Descontrolado. Ela se levantou e o encarou. Os olhos dele pegavam fogo, o rosto avermelhado e as veias no pescoço davam a ele o ar demoníaco que a detetive conviveu por algum tempo.
— Aonde está Bonnie?
— EU NÃO SEI PORRA!
— Dentro de uma cela talvez você se lembre de onde ela está.
— Você é uma vadia arrogante! Não passa de uma fraude, se finge de durona, mas aqui dentro se ajoelhava diante de mim.
— Hitler também teve pessoas para se curvar diante dele, isso não significava que ele era uma boa pessoa.
Ao caminhar até a porta o homem a puxou pelo braço. A respiração pesada frente a detetive um dia já fizera ter medo, mas não hoje. Hoje ela estava parada e o encarava fixamente, não abaixaria a cabeça ou demostraria fraqueza.
— Você não pode fazer isso comigo — Link apontou o dedo no rosto de Rosie — Você não é mulher suficiente para isso.
— Saberá que eu sou mulher o suficiente quando a algema prender os seus pulsos.
— Eu era bom para você — Rosie sentiu falta das encenações de bom menino que ele fazia, os olhos marejados do homem poderiam convencer a qualquer um, ou talvez convenceria — Você não sabe viver sem mim — ela o olhava com desdém.
— Nem se minha vida dependesse de você eu recorreria para sua salvação — Ela abriu a porta e saiu em seguida. Ouviu o som estridente de algo sendo quebrado dentro da casa.
Alguns metros diante viu Lucas dentro do carro com os vidros fechados e cantarolando alguma música. Ele não deveria ter escutado a discussão. As batidas na janela do carro assustou o detetive que ouvia à rádio quase no último volume, assim que viu Rosie na porta do passageiro destravou a porta e a detetive entrou rapidamente.
— Foi rápida, achei que demoraria mais.
— Ele não disse nada e não haveria motivos para continuar com aquele jantar. Prefiro chama-lo para depor na delegacia.
— Não está mentindo para mim? — Rosie sabia que Campbell era bom para descobrir mentiras.
— Claro que não — para sorte de dela, Lucas nunca conseguiu detectar mentiras dela.
— O que acha de a gente ir comer algo? Tá bem cedo, deve estar com fome porque eu estou morrendo de fome.
— Eu estou bem cansada. Prefiro ir para casa.
— Qual é, vamos lá. Ir em um fast food e comer porcaria.
— Sua namorada está desaparecida, não acho que seja uma boa ideia saímos para nos divertir ou algo do tipo.
— Então vamos fazer assim, nós vamos para conversar sobre o caso, pode ser?
— Promete ser rápido?
— Como quiser.
Ele deu partida no carro e fez o caminho que conhecia muito bem. Por um bom tempo Campbell comia somente fast-foods. O trabalho o impedia de ter refeições saudáveis, fazia com que sua rotina fosse algo prático e rápido. Rosie preservava sua saúde, sua rotina sempre foi administrada e não saia da linha. Nunca fazia algo que não estivesse na agenda. A psicóloga sempre disse que ela deveria se libertar das correntes e viver um pouco, mas, para ela sempre foi difícil se desfazer de suas manias.
O detetive estacionou e eles caminharam em silêncio até o estabelecimento. O barulho do sininho na porta soou por todo o ambiente. As pessoas comiam alegremente, as risadas eram altas e as conversas se misturavam entre si.
— O que vai comer? — o detetive pegou o cardápio que estava em cima do balcão.
— Já me trouxe até aqui. Me surpreenda — o detetive riu e assentiu.
— Escolha um lugar para sentarmos que eu faço o pedido.
A detetive passou os olhos pelo restaurante e viu uma mesa ao fundo vazia. Caminhou até a mesa e sentou-se. Alguns minutos depois Campbell trouxe a bandeja com um grande balde de frango frito e dois copos de refrigerante.
— É pra comermos tudo isso? — os olhos de Rosie ainda estáticos olhavam fixamente para o balde.
— Se você vai comer tudo eu não sei. Mas eu vou — ele pegou o primeiro pedaço e deu uma grande mordida — Qual é, come. É bom.
— Se eu morrer, a culpa vai ser sua — ela pegou o primeiro pedaço e deu uma leve mordida.
— Não vai morrer por conta de um frango frito.
Os dois comeram grande parte dos frangos e conversaram por bons minutos. Até que finalmente o silêncio surgiu e o detetive resolveu tomar a iniciativa.
— Desculpe — ele disse com a cabeça baixa.
— Pelo o que?
— Te decepcionei enquanto estávamos juntos. Nunca foi a minha intenção. Não queria ter terminado daquela maneira com você.
— Isso já é passado. Nós dois seguimos a vida depois disso.
— E a vida nos trouxe até aqui — Rosie abaixou a cabeça e não respondeu — Acha que se ainda tivéssemos juntos teríamos sofrido tanto?
— Eu não sei — o celular de Campbell apitou diversas vezes seguidas.
— Desculpe — ele pegou o telefone e viu as mensagens incessantes do Policial Peterson — É o Aaron. Disse que receberam uma ligação sobre um assassinato no Weston Park e perguntou se podemos ir até lá.
— Diga a ele que estamos a caminho.
Capítulo 07
Havia uma grande roda de pessoas atrás da faixa amarela. Alguns policiais cobriam a vista das pessoas. Rosie e Lucas apresentaram seus distintivos para o policial que os deixou ultrapassar. Duran viu o legista conversando com o colega e caminhou até os dois.
— Senhor Becker, detetives Duran e Campbell — Rosie mostrou seu distintivo para o médico — O que temos aqui?
— Margaret Gordon, vinte e três anos. Ela estava enterrada, a testemunha disse que só via os pés da moça.
— Já sabe qual foi a causa da morte?
— A moça foi esfaqueada sete vezes, tem marcas de estrangulamento e uma cicatriz bem grande na testa — o médico levou os detetives até o corpo da vítima — os braços tem alguns hematomas e arranhões, ah e temos um dedo faltando.
— Santo Deus — Lucas levou a mão até os cabelos.
— Conhece a moça?
— É uma das amigas de Bonnie — Lucas agachou e se aproximou do corpo — Era uma das únicas que gostava de mim.
— O corpo não está tão danificado, provavelmente morreu no sábado ou na madrugada de domingo — o médico se pronunciou.
— Isso explica o vestido. É o mesmo dia da formatura — Rosie pegou seu bloco e começou a escrever — Conseguiram achar o dedo que foi cortado?
— Não — o legista respondeu — A pessoa deve ter levado consigo.
— Acha que foi a mesma pessoa que levou Bonnie? — Lucas questionou a detetive.
— Pode ser, talvez Margaret tenha visto quem a levou.
— Quando tiver com o resultado da autópsia nos ligue — o médico assentiu.
— Quem é a pessoa que encontrou o corpo?
— A moça com roupa de academia — o médico apontou para a mulher que chorava compulsivamente ao lado de alguns civis.
— Impar — Lucas estendeu a mão.
— O que?
— Você tem que falar par.
— Pra que?
— Para saber quem vai falar com a mulher.
— Por que não podemos ir os dois? — a detetive questionou.
— Por que iriamos os dois? Um vai enquanto o outro olha a cena do crime — Rosie revirou os olhos.
— Par — eles estenderam as mãos — Há! Ganhei.
— Tudo bem, você vai checar a cena do crime — ele se virou e estava andando até a testemunha.
— O que? Isso não faz nem sentido! Eu ganhei eu vou falar com ela.
— Eu não disse que quem ganhasse iria falar com ela — ele piscou para a detetive e foi até a mulher.
Ela chorava copiosamente, poderia ser uma amiga ou talvez o choque de encontrar um corpo tenha feito isso com ela. Lucas percebeu que debaixo das unhas da moça havia terra. Ela deve ter escavado para verificar o que era. O detetive se sentou ao lado da mulher e esperou até que finalmente ela olhou para ele.
— Quem é você?
— Sou o detetive Campbell. Preciso te fazer algumas perguntas. Se estiver tudo bem — ela apenas assentiu — Pode me descrever o que viu exatamente?
— Eu estava...Caminhando pelo parque. O meu cachorro começou a se afastar de mim, e ele nunca faz isso. Então eu fui atrás dele. Ele começou a farejar até que... — ela voltou a chorar — Eu vi...Vi os pés da moça.
— Vejo que as suas unhas estão sujas de terra. Imagino que tenha cavado para encontrar o corpo.
— A-Achei que ela talvez estivesse viva.
— Encontrou algo mais perto do corpo?
— Não cheguei a procurar.
— Tudo bem, senhora...?
— Austin.
— Senhora Austin — ele tirou um cartão e o entregou — Se caso lembrar de algo. Me ligue.
Rosie acompanhava algum dos peritos que fotografavam a cena e recolhiam os materiais. O corpo estava afastado de todo o movimento do parque, dificultado que alguém o encontrasse. Duran foi alguns metros depois do corpo e conseguiu ver algo brilhando no chão. Agachou-se e viu uma faca com algumas partes a mostra. A chuva deve ter abaixado a terra e descoberto o que estava enterrado.
— Senhor Becker — o legista foi de encontro a detetive — Quando analisar a faca, peço que tente combinar as digitais com a de um suspeito.
— Quem seria?
— Link Archer. Ele é um dos suspeitos do desaparecimento da amiga de Margaret, talvez ele tenha envolvimento com o assassinato.
— Assim que tiver os resultados levo à sua mesa.
A detetive agradeceu e continuou a examinar o local. Quase nada foi encontrado, a chuva apagou qualquer vestígio e pista. Além do mais, qualquer pegada ainda restante poderia ser descartada, a quantidade de pessoas que caminharam pelo parque não ajudaria nas investigações. Rosie passou por algum dos estabelecimentos que tinham ali, alguns deles tinham câmera de segurança na entrada.
A detetive entrou em um dos bares que tinha a câmera virada para a entrada do parque. Apesar de ser noite de segunda-feira o bar comportava várias pessoas que bebiam enquanto cochichavam a morte de Margaret, qualquer nível de empatia havia passado longe daquelas pessoas.
— Com licença — Rosie chamou a atenção do barman — Detetive Duran — ela mostrou o distintivo para o homem que quase não a olhou— Posso dar uma olhada nas suas câmeras de segurança?
O homem mal a notou, talvez por ignorância ou apenas desprezo, ele não a respondeu. A detetive continuou a encara-lo, ele apenas continuava a enxugar os copos e ouvir atentamente as notícias da televisão.
— O senhor me ouviu?
— Ouvi sim senhora. Não sei onde guarda isso — a resposta ríspida enfureceu a mulher.
— A não ser que o senhor queira ser cúmplice de um assassinato, eu exijo que me mostre as câmeras de segurança.
— Olha, minha senhora, eu já falei. Eu não sei onde fica isso.
— Descubra!
— Se acalme Rosie — Campbell apoiou a mão no ombro de Rosie — Tenho certeza que esse senhor entendeu o recado e vai nos mostrar os vídeos.
O homem colocou o copo em cima da mesa e passou pela porta da cozinha, visivelmente assustado.
— Você ta bem?
— Aconteceu a merda de um assassinato na frente desse lugar e o cara simplesmente não quer ajudar!
— Eu sei, mas precisa controlar as emoções.
— Desculpe, hoje tem sido estressante demais.
— Logo poderemos ir para a casa.
— É por aqui — o barman apareceu na porta.
Rosie e Lucas passaram pela cozinha e ao fundo uma porta que dava para ao porão do estabelecimento. O homem entrou primeiro seguido dos detetives. A luz dos dois computadores era a única fonte de iluminação para o pequeno quarto. Nas duas telas havia cinco imagens das respectivas câmeras do bar.
— Precisamos das imagens da madrugada do dia 17 — ele procurou em algumas das pastas do computador.
O barman deu play no vídeo e avançou as horas até que Bonnie e Margaret finalmente apareceram. Elas estavam sendo carregadas por duas pessoas. Margaret era empurrada para dentro do parque por um homem com uma cabeça de cavalo enquanto Bonnie permanecia na entrada sendo segurada por uma mulher que usava uma cabeça de panda.
— Meu Deus — Lucas apontou para a mulher — A senhora tinha me falado.
— Que senhora?
— Corina. Eu fui pegar o testemunho dela, mas achei que ela estivesse delirando quando disse sobre as cabeças.
— Por que acharia que ela estava delirando?
— Ela disse que não era fantasia era a cabeça de verdade deles. Desconsiderei tudo o que ela havia falado.
— A que horas foi isso? — Rosie perguntou ao barman.
— Chegam as duas e vinte — ele acelerou o vídeo até o momento em que vão embora — E saem as três da manhã.
— Precisaremos de uma cópia desse vídeo — o barman procurou por um pen drive dentro das gavetas. Quando terminou o entregou para Lucas.
Os detetives saíram do bar. Alguns policiais ainda estavam no parque, mas o corpo já havia sido retirado do local. Os murmurinhos ainda não haviam terminado. Nunca foi comum Sheffield ter assassinatos tão brutais, aquilo certamente assustava a população.
— Te deixo em casa, vamos.
Eles caminharam até o carro do detetive e ele levou Rosie até sua casa em silêncio. Lucas ainda queria a resposta da mulher, se estivessem juntos teriam sido mais felizes? Campbell estacionou em frente ao apartamento de Rosie e esperou que ela dissesse algo, mas não o fez.
— Ainda quero ouvir sua resposta.
— Sobre o que?
— Nós. O que acha que teria acontecido conosco.
— Acho que isso não é mais importante, Lucas.
— Eu só preciso ouvir de você, porque eu já tenho a minha resposta — ela suspirou.
¬— A gente pode falar sobre isso outro dia? Estou realmente muito cansada.
— Tudo bem — Lucas respondeu cabisbaixo — Nos encontramos amanhã.
Rosie sorriu e saiu do carro. Entrou em casa se deitando no sofá, queria ter uma noite tranquila, mas os questionamentos não saiam de sua cabeça. Por que ele queria tanto saber sua resposta? Por que aquela pergunta só apareceu cinco anos depois? E por que seu coração desejava tanto que ele batesse na sua porta e nunca mais fosse embora? O motivo pelo qual terminaram agora parecia ser tão bobo. Seria muito errado tentar de novo? Afinal eles haviam amadurecidos estavam com quase trinta anos talvez dessa vez ninguém saísse machucado.
O despertador tocava longe de onde ela dormia, mas graças ao seu sono leve conseguiu escuta-lo. Ao chegar em seu quarto percebeu um papel dobrado em sua cômoda, mas não havia nada escrito nele. Por que ela deixaria uma papel em branco em cima de sua cômoda? Rapidamente trocou de roupa e antes de sair de casa pegou o pedaço de papel e guardou no bolso da calça. Lucas a esperava em sua porta.
— Aqui de novo Campbell?
¬— Estava aqui por perto e pensei em irmos juntos.
— E o que estava fazendo para estar por aqui?
— Te...esperando?
— Não vai nem tentar mentir? — ela sorriu.
— Não teria sucesso de qualquer jeito.
Ele abriu a porta para que ela entrasse. Ao chegarem à delegacia um dos policiais esperava Rosie na porta.
— Detetive Duran, uma testemunha do caso de Edwards te espera na sua sala — ela agradeceu e se dirigiu para o local.
Uma testemunha. Isso. Era o que precisava, alguma pista, dica ou qualquer coisa que pudesse dar uma luz para ela. Quando abriu a porta de sua sala uma jovem olhou para a detetive assustada.
— Detetive eu preciso contar uma coisa que deixei escapar — a mulher falou de uma vez.
— Tudo bem — Rosie sentou-se à frente dela — Você é uma das amigas de Bonnie certo? Me lembro de ter ido a sua casa, Heidi, não é?
— Eleanor Heidi. Isso.
— Tudo bem Eleanor. Se acalme e me conte o que se lembrou.
— Quando eu estava caminhando pela festa os pais de Bonnie me pediram para avisa-la que eles estavam indo embora. Não achei ela na pista de dança, então deduzi que ela teria saído para fumar — fumar? Isso era novo, ninguém havia dito isso — E então eu a achei conversando com alguém. Achei que fosse o namorado, mas ele era bem mais alto. E então eu me lembrei de alguém.
— Link Archer.
— Vocês sabem?
— Sabemos que ele era o amante dela. Por que não disse isso a primeira vez que visitamos você?
— O namorado dela estava com você. Eu não poderia contar isso para ele.
— Tudo bem. Então o que aconteceu depois?
— Eu o vi gritando com ela. Não consegui entender o que dizia por conta da música. Mas ele estava claramente alterado. Apontava o dedo para ela. Fiquei assistindo até que ele a puxou pelo braço e a levou pra outro lugar.
— Sabe para qual direção ele pode ter levado ela?
— Eles viraram na rua Rhodes e então não vi mais nada.
— Se lembra de ter visto Lucas?
— Eu só vi quando ele saiu da festa.
— E então ela foi atrás dele.
— Não — a resposta fez a detetive se apoiar na mesa.
— Bonnie não foi atrás dele?
— Na verdade não, ela dançou mais algumas músicas com a gente, sai um pouco da rodinha para me despedir de uns parentes, foi quando os pais dela me chamaram.
Era uma outra versão da história. Uma versão que incriminava mais Link. Ainda assim ela não poderia prender ele. Precisaria da resposta do laboratório sobre as digitais da faca encontrada.
— E Margaret? Você viu quando ela saiu?
— Não, quando voltei para a festa Margaret e Benjamin já haviam saído.
— Não tem alguma ideia para onde?
— Os dois tinham um caso, provavelmente deveriam ter saído para...você sabe.
Rosie agradeceu a jovem por ter ajudado e a acompanhou até a porta. Foi até a sala de Lucas e o encontrou com os olhos vidrados ao computador.
— Uma amiga de Bonnie veio falar sobre a noite da formatura.
— O que ela disse?
— Disse que viu ela sendo puxada pelo Link para a rua Rhodes.
— Foi onde Zara encontrou o sangue.
— Sangue?
— Ah sim claro, esqueci de contar. Zara encontrou o sangue de Bonnie na rua Rhodes, foi quando eu fui visitar a senhora que disse ter visto as cabeças de panda e cavalo.
— Mais provas, ótimo.
A detetive voltou para sua sala e pegou uma folha para poder criar a cronologia dos acontecimentos. Link estava na festa de formatura e ele a levou exatamente para onde haviam descoberto o sangue. Aonde Margaret entra na história? Quem era a outra mulher que poderia ter aceitado se meter nesse crime com Link e por que?
O dia se passou rápido, Rosie já estava com sua quinta folha rabiscada e ainda sem direções para seguir. As mãos no rosto demostravam a insatisfação que tinha, nada a levava para qualquer resposta apropriada. As batidas na porta a tirou de suas teorias.
— Ocupada? — o detetive perguntou.
— O que acha? — ela mostrou as folhas que escrevia — Estou em uma rua sem saída com milhares de perguntas que não tem respostas.
— Logo receberemos o resultado das digitais e com ela teremos o assassino.
— Assim espero — ele se sentou à frente da mulher.
— Podemos ter nossa conversa hoje?
— Tudo bem — Rosie se levantou — Vamos para minha casa, assim temos mais privacidade.
O detetive assentiu e caminharam para fora da delegacia. O nervosismo daquela conversa impedia os dois de iniciar uma conversa dentro do carro. Qualquer palavra dita errada poderia acabar de vez com as expectativas que Lucas ainda guardava para si. Estacionou frente ao prédio de Rosie e a acompanhou até seu apartamento, o lugar não estava tão diferente de como o detetive lembrava. A organização impecável, talvez pela limpeza de Rosie ou pelo pouco tempo que ela passava lá.
— Algo para beber?
— Não, obrigado — ele se sentou ao sofá e ela ao seu lado.
— O que quer saber? — Rosie se virou para o detetive.
— Acha que se tivéssemos insistido no nosso relacionamento teríamos sofrido tanto quanto sofremos?
— Talvez não — ela respondeu — Mas tanto eu quanto você precisávamos disso. Erámos muito jovens Lucas, nossa relação era baseada em trabalho. Chegávamos em casa e falávamos sobre o dia cansativo que tivemos no trabalho e então quando estávamos lá brigávamos por discordar um do outro, talvez o melhor a se fazer na época era nos separarmos ou não iriamos conseguir olhar um para a cara do outro hoje.
Não era essa resposta que Lucas gostaria de ouvir, mas dentro de si se convenceu que poderia a ter de volta, assim como ela disse na época eram jovens, mas talvez agora teriam uma chance. Ele sentia que havia estragado algo que as pessoas almejavam. O amor. A ignorância e o ego afetaram suas decisões, o deixou cego para o que realmente importava. Havia amado Bonnie com toda certeza, isso é fato. Mas o amor que havia vivido com Duran tinha algo a mais, não era a paixão que se encontra nas esquinas, era o amor que se passava a vida procurando. Pensou em voltar com ela diversas vezes, se ajoelhar e implorar pelo perdão. Mas quando ela voltou de viagem de São Francisco já era tarde, ela se apaixonara por um outro alguém, iria se casar com esse outro. Aceitou a derrota e se entregou ao amor de Bonnie, que o fez bem e lhe passou tanta segurança. Mas a cada vez que a via, o coração batia fortemente, ele poderia mentir por fora, mas por dentro sabia muito bem o que desejava.
Ela por sua vez, acreditava que a culpa era sua. Acreditava que se não tivesse sido tão rude e fria eles ainda estariam juntos. Rosie o amava, é claro, o amor que lhe faz sorrir ao lembrar do doce cheiro do perfume. Tinha ficado magoada, e com razão, pela atitude do companheiro. Ele poderia ter mostrado mais seus sentimentos e ela poderia ter dado abertura para que pudessem gritar seu amor. Quando Lucas apareceu com sua namorada ela sabia que era melhor desistir do que lutar, aceitou o pedido de casamento de um homem que a fez tão mal somente para não se sentir sozinha. Apesar de querer muito lutar por Lucas, mostrar que ela sim era a pessoa ideal, Rosie não o fez. Ela desistiu. Se sentia arrependida com toda certeza.
O barulho alto vindo do quarto de Duran tirou os dois de seus pensamentos. Se assustaram e foram até o local e nada acharam.
— Deve ter sido uma árvore — Rosie falou.
— Eu duvido que alguma árvore seja capaz de reproduzir o som que ouvimos.
— Não tem nada aqui. Só pode ser a árvore — o detetive sentiu a brisa do ar gelado passar pela janela. As cortinas se balançavam tranquilamente.
— Desde quando abre suas janelas? — Lucas apontou para a janela.
— Não sei, não lembro de ter aberto.
— É porque você não abre — ele olhou para fora e viu uma corda escondida perto da janela — Tinha alguém no seu quarto.
— O que? — ela foi até a janela e conseguiu enxergar algumas pegadas no chão de terra.
— Não acho bom você dormir aqui hoje. Durma na minha casa, eu fico no quarto de hóspedes.
— Lucas, não...eu prefiro ir para um hotel.
— Tudo bem. Qualquer lugar onde se sinta segura. — ela deu um pequeno sorriso — Enquanto você arruma algumas roupas eu vou tirar fotos das pegadas. Amanhã pedimos para que Hanna dê uma analisada neles.
Ela assentiu e ele saiu do apartamento. Tirou a corda da janela e colocou em um saco. Por alguns instantes ela ficou aterrorizada, tinha visto as janelas abertas, mas não tinha se importado. Sabe-se lá a quanto tempo essa pessoa estava olhando-a. Arrumou uma mala pequena e deu uma última conferida no quarto, não faltava nada. A pessoa não havia entrado para roubar um pertence, mas para observa-la, o que só a deixava ainda mais com medo.
Saiu do apartamento e viu Lucas ainda tirando algumas fotos pelo local. O quanto aquilo era terrível para ela era também para Campbell. Aquela mulher é a coisa mais importante para ele, não iria deixar com que alguém a ferisse. O detetive percebeu a presença de Rosie e andou até o seu carro.
— Vamos, eu te levo até um hotel — ele pegou a mala de Rosie e colocou no porta malas.
O clima entre os dois estava mais leve, calmo. Fazia tempo em que não se sentiam confortáveis com o outro. O namoro dos dois impedia que eles tivessem alguma conexão mais profunda. Saiam os quatro para jantar ou ir para uma festa, mas quase nunca conversavam. Link e Bonnie cansados de estarem presos a uma falsa relação com seus parceiros, fez com que se aproximassem sem a percepção de Rosie e Lucas. Os dois estavam tão cegos de amor pelo o outro que não perceberam seus companheiros se apaixonarem e decidirem ficar juntos. Estavam magoados é claro, foram traídos, mas um alívio tomou conta de Duran e Campbell, estavam livres. O relacionamento de Lucas e Bonnie não ia bem, mas, a coragem de terminar nunca apareceu então seguiram namorando mesmo que aquilo machucasse.
— Pronto — Lucas estacionou em frente ao hotel.
— Talvez esse hotel esteja além das minhas economias Campbell.
— E quem disse que você vai pagar por ele? Eu pago para você.
— Lucas olha...
— Por favor, é o mínimo que eu posso fazer já que recusou dormir na minha casa, me deixe ganhar somente essa vez.
Ela assentiu e saiu do carro. Ele pegou as malas de Rosie e a acompanhou até o hall. Lucas fez o check-in e entregou o cartão para a detetive.
— Por que não entra comigo? Só para...ver o quarto — Rosie deu seu melhor sorriso.
— Como dizer não para ma chérie? — ela riu — Logo após a senhorita — Ele apontou para o elevador.
— Quanto cavalheirismo — ela caminhou até o elevador e sentiu a mão do detetive ao redor de sua cintura.
Eles entraram em silêncio e Rosie apertou o número 19. Ele ainda tinha a mão na cintura da mulher que poupou movimentos bruscos para que ele não retirasse a mesma. A porta se abriu e eles andaram lado a lado até o quarto 357. Rosie colocou o cartão na maçaneta que piscou algumas luzes verdes, ela abriu a porta adentrando no quarto seguida de Lucas.
— É um puta quarto — ele riu olhando em volta.
— Realmente — ela colocou a mala perto da cama — Olha essa vista. Deve ter sido muito dinheiro, eu não me importo em dividir.
— De jeito nenhum, eu não te traria aqui se não tivesse condição. Eu quero que você fique confortável.
Lucas foi até a sacada e se apoiou na grade, Rosie fez o mesmo. A cidade parecia mais iluminada, talvez seja porque eles nunca observaram atentamente, mas agora isso não fazia diferença. O importante mesmo era a presença um do outro.
— Senti sua falta — a voz de Lucas saiu mais baixa do que ele esperava.
— Eu também — ela respondeu.
— Pensei que nunca mais iria olhar na minha cara.
— Era isso que queria?
— Não. De jeito nenhum. Me senti muito mal pelo que fiz.
— Nós dois erramos, já passou.
— Não, sério — Lucas a olhou — Foi uma das coisas mais estúpidas que eu já fiz, escolhi o trabalho ao invés da mulher da minha vida.
— Bom eu também escolhi o trabalho.
— Por que eu a obriguei a fazer essa escolha, eu nem lutei para que ficasse, deveria ter me jogado seus pés e implorado que não fosse.
— Sabe que eu não teria ficado de qualquer maneira.
— Sei, mas pelo menos eu teria tentado. Nem isso fui capaz de fazer, um verdadeiro covarde.
— Eu não te culpo.
— Mas eu sim, quebrei dois corações sem ao menos perceber.
— Não importaria em ter meu coração quebrado de novo.
— O quer dizer com isso?
— Eu... — ela ficou alguns instantes olhando para os olhos confusos do rapaz — Que se foda.
Rosie puxou o rosto do detetive e o beijou, Lucas não poderia dizer o quanto esperou por esse momento, foram quatro anos com um coração apertado todas as vezes que a via. A culpa ocupava sua mente e não o deixava dormir. Rosie queria aquele momento de volta, as borboletas tinham acordado depois de tanto tempo, eles se sentiam como adolescentes. A detetive separou os lábios e Lucas a puxou delicadamente e encostou suas testas. Ele conseguia sentir a respiração acelerada de Rosie. Ela sentia o hálito quente que tomava conta do seu rosto.
Ele apertou a cintura de Rosie e a beijou novamente. Lucas sentia o coração dela acelerado, o dele não estava diferente. A mão da mulher agarrou com força o seu cabelo puxando para si. Seria o maior erro das suas vidas separar aquele beijo, a intensidade não atrapalhava a sincronia que os seus rostos mexiam. A falta de ar fez com que aquele momento fosse encerrado.
— Agora que eu estava gostando — ele comentou rindo.
— Precisa ir pra sua casa — Rosie sussurrou e ele mordeu o lábio apertando mais forte a cintura dela.
— Eu prefiro ficar aqui. Não vou deixar com que fuja de mim de novo.
— Prometo estar aqui quando voltar.
Ele suspirou e assentiu. Deu um beijo na testa de Rosie e permaneceu abraçando a mulher por uns instantes. Ela não queria sair dos braços que sempre a confortou, precisava daquele abraço mais do que qualquer coisa. Ele não queria soltar ela, na verdade nunca deveria ter soltado. Queria ter a poupado de toda a dor e sofrimento que passou.
— Eu passo amanhã aqui para irmos para a delegacia, certo?
— Tá bom.
Rosie o acompanhou até a porta e deu um último beijo no rapaz. Ela o assistiu caminhar até o elevador e viu um grande sorriso no rosto do mesmo enquanto as portas se fechavam. Ela se sentou na cama e passou as mãos pelo corpo lembrando de cada pequeno toque. Duran adormeceu com um belo sorriso no rosto.
Ela acordou com batidas leves na porta do quarto. Olhou no relógio que marcava oito e meia, atrasada. Abriu a porta e viu Lucas sorrindo para ela.
— Senhorita Rosie Amelia Duran atrasada? Não é de seu feito — ele riu e entrou no quarto.
— Eu sei, perdi a hora. Não tomei banho nem troquei de roupa ainda.
— Lilian não vai gostar do atraso mocinha — ele se sentou na cama.
— Eu estou indo com você, ela vai me perdoar — Rosie pegou algumas roupas dentro da mala — Vou tomar um banho rápido — ela entrou no banheiro com as roupas na mão.
Lucas pegou o telefone e pediu para que Hanna o avisasse caso a delegada chegasse primeiro que os dois. Uma notificação de um e-mail apareceu em sua tela, ele clicou e não conseguiu identificar o remetente. O e-mail gerava um vídeo que foi salvado no telefone. Campbell apertou o play e só via uma tela preta.
Alguns segundos depois ele pode ver uma silhueta deitada em uma cama, parecia o apartamento de Rosie, a pessoa se aproximou da silhueta e filmou o rosto adormecido da detetive. Uma mão tocou o rosto da mulher que não se mexeu. Lucas estava à beira do ódio, se pudesse teria entrando na gravação e espancado quem quer que fosse. O vídeo continua com a mesma mão de luva passando por todo o corpo de Rosie, um pouco antes de encerrar o vídeo a mão desaparece, mas logo volta apontando uma arma para o corpo de Duran, o vídeo termina.
— Senhor Becker, detetives Duran e Campbell — Rosie mostrou seu distintivo para o médico — O que temos aqui?
— Margaret Gordon, vinte e três anos. Ela estava enterrada, a testemunha disse que só via os pés da moça.
— Já sabe qual foi a causa da morte?
— A moça foi esfaqueada sete vezes, tem marcas de estrangulamento e uma cicatriz bem grande na testa — o médico levou os detetives até o corpo da vítima — os braços tem alguns hematomas e arranhões, ah e temos um dedo faltando.
— Santo Deus — Lucas levou a mão até os cabelos.
— Conhece a moça?
— É uma das amigas de Bonnie — Lucas agachou e se aproximou do corpo — Era uma das únicas que gostava de mim.
— O corpo não está tão danificado, provavelmente morreu no sábado ou na madrugada de domingo — o médico se pronunciou.
— Isso explica o vestido. É o mesmo dia da formatura — Rosie pegou seu bloco e começou a escrever — Conseguiram achar o dedo que foi cortado?
— Não — o legista respondeu — A pessoa deve ter levado consigo.
— Acha que foi a mesma pessoa que levou Bonnie? — Lucas questionou a detetive.
— Pode ser, talvez Margaret tenha visto quem a levou.
— Quando tiver com o resultado da autópsia nos ligue — o médico assentiu.
— Quem é a pessoa que encontrou o corpo?
— A moça com roupa de academia — o médico apontou para a mulher que chorava compulsivamente ao lado de alguns civis.
— Impar — Lucas estendeu a mão.
— O que?
— Você tem que falar par.
— Pra que?
— Para saber quem vai falar com a mulher.
— Por que não podemos ir os dois? — a detetive questionou.
— Por que iriamos os dois? Um vai enquanto o outro olha a cena do crime — Rosie revirou os olhos.
— Par — eles estenderam as mãos — Há! Ganhei.
— Tudo bem, você vai checar a cena do crime — ele se virou e estava andando até a testemunha.
— O que? Isso não faz nem sentido! Eu ganhei eu vou falar com ela.
— Eu não disse que quem ganhasse iria falar com ela — ele piscou para a detetive e foi até a mulher.
Ela chorava copiosamente, poderia ser uma amiga ou talvez o choque de encontrar um corpo tenha feito isso com ela. Lucas percebeu que debaixo das unhas da moça havia terra. Ela deve ter escavado para verificar o que era. O detetive se sentou ao lado da mulher e esperou até que finalmente ela olhou para ele.
— Quem é você?
— Sou o detetive Campbell. Preciso te fazer algumas perguntas. Se estiver tudo bem — ela apenas assentiu — Pode me descrever o que viu exatamente?
— Eu estava...Caminhando pelo parque. O meu cachorro começou a se afastar de mim, e ele nunca faz isso. Então eu fui atrás dele. Ele começou a farejar até que... — ela voltou a chorar — Eu vi...Vi os pés da moça.
— Vejo que as suas unhas estão sujas de terra. Imagino que tenha cavado para encontrar o corpo.
— A-Achei que ela talvez estivesse viva.
— Encontrou algo mais perto do corpo?
— Não cheguei a procurar.
— Tudo bem, senhora...?
— Austin.
— Senhora Austin — ele tirou um cartão e o entregou — Se caso lembrar de algo. Me ligue.
Rosie acompanhava algum dos peritos que fotografavam a cena e recolhiam os materiais. O corpo estava afastado de todo o movimento do parque, dificultado que alguém o encontrasse. Duran foi alguns metros depois do corpo e conseguiu ver algo brilhando no chão. Agachou-se e viu uma faca com algumas partes a mostra. A chuva deve ter abaixado a terra e descoberto o que estava enterrado.
— Senhor Becker — o legista foi de encontro a detetive — Quando analisar a faca, peço que tente combinar as digitais com a de um suspeito.
— Quem seria?
— Link Archer. Ele é um dos suspeitos do desaparecimento da amiga de Margaret, talvez ele tenha envolvimento com o assassinato.
— Assim que tiver os resultados levo à sua mesa.
A detetive agradeceu e continuou a examinar o local. Quase nada foi encontrado, a chuva apagou qualquer vestígio e pista. Além do mais, qualquer pegada ainda restante poderia ser descartada, a quantidade de pessoas que caminharam pelo parque não ajudaria nas investigações. Rosie passou por algum dos estabelecimentos que tinham ali, alguns deles tinham câmera de segurança na entrada.
A detetive entrou em um dos bares que tinha a câmera virada para a entrada do parque. Apesar de ser noite de segunda-feira o bar comportava várias pessoas que bebiam enquanto cochichavam a morte de Margaret, qualquer nível de empatia havia passado longe daquelas pessoas.
— Com licença — Rosie chamou a atenção do barman — Detetive Duran — ela mostrou o distintivo para o homem que quase não a olhou— Posso dar uma olhada nas suas câmeras de segurança?
O homem mal a notou, talvez por ignorância ou apenas desprezo, ele não a respondeu. A detetive continuou a encara-lo, ele apenas continuava a enxugar os copos e ouvir atentamente as notícias da televisão.
— O senhor me ouviu?
— Ouvi sim senhora. Não sei onde guarda isso — a resposta ríspida enfureceu a mulher.
— A não ser que o senhor queira ser cúmplice de um assassinato, eu exijo que me mostre as câmeras de segurança.
— Olha, minha senhora, eu já falei. Eu não sei onde fica isso.
— Descubra!
— Se acalme Rosie — Campbell apoiou a mão no ombro de Rosie — Tenho certeza que esse senhor entendeu o recado e vai nos mostrar os vídeos.
O homem colocou o copo em cima da mesa e passou pela porta da cozinha, visivelmente assustado.
— Você ta bem?
— Aconteceu a merda de um assassinato na frente desse lugar e o cara simplesmente não quer ajudar!
— Eu sei, mas precisa controlar as emoções.
— Desculpe, hoje tem sido estressante demais.
— Logo poderemos ir para a casa.
— É por aqui — o barman apareceu na porta.
Rosie e Lucas passaram pela cozinha e ao fundo uma porta que dava para ao porão do estabelecimento. O homem entrou primeiro seguido dos detetives. A luz dos dois computadores era a única fonte de iluminação para o pequeno quarto. Nas duas telas havia cinco imagens das respectivas câmeras do bar.
— Precisamos das imagens da madrugada do dia 17 — ele procurou em algumas das pastas do computador.
O barman deu play no vídeo e avançou as horas até que Bonnie e Margaret finalmente apareceram. Elas estavam sendo carregadas por duas pessoas. Margaret era empurrada para dentro do parque por um homem com uma cabeça de cavalo enquanto Bonnie permanecia na entrada sendo segurada por uma mulher que usava uma cabeça de panda.
— Meu Deus — Lucas apontou para a mulher — A senhora tinha me falado.
— Que senhora?
— Corina. Eu fui pegar o testemunho dela, mas achei que ela estivesse delirando quando disse sobre as cabeças.
— Por que acharia que ela estava delirando?
— Ela disse que não era fantasia era a cabeça de verdade deles. Desconsiderei tudo o que ela havia falado.
— A que horas foi isso? — Rosie perguntou ao barman.
— Chegam as duas e vinte — ele acelerou o vídeo até o momento em que vão embora — E saem as três da manhã.
— Precisaremos de uma cópia desse vídeo — o barman procurou por um pen drive dentro das gavetas. Quando terminou o entregou para Lucas.
Os detetives saíram do bar. Alguns policiais ainda estavam no parque, mas o corpo já havia sido retirado do local. Os murmurinhos ainda não haviam terminado. Nunca foi comum Sheffield ter assassinatos tão brutais, aquilo certamente assustava a população.
— Te deixo em casa, vamos.
Eles caminharam até o carro do detetive e ele levou Rosie até sua casa em silêncio. Lucas ainda queria a resposta da mulher, se estivessem juntos teriam sido mais felizes? Campbell estacionou em frente ao apartamento de Rosie e esperou que ela dissesse algo, mas não o fez.
— Ainda quero ouvir sua resposta.
— Sobre o que?
— Nós. O que acha que teria acontecido conosco.
— Acho que isso não é mais importante, Lucas.
— Eu só preciso ouvir de você, porque eu já tenho a minha resposta — ela suspirou.
¬— A gente pode falar sobre isso outro dia? Estou realmente muito cansada.
— Tudo bem — Lucas respondeu cabisbaixo — Nos encontramos amanhã.
Rosie sorriu e saiu do carro. Entrou em casa se deitando no sofá, queria ter uma noite tranquila, mas os questionamentos não saiam de sua cabeça. Por que ele queria tanto saber sua resposta? Por que aquela pergunta só apareceu cinco anos depois? E por que seu coração desejava tanto que ele batesse na sua porta e nunca mais fosse embora? O motivo pelo qual terminaram agora parecia ser tão bobo. Seria muito errado tentar de novo? Afinal eles haviam amadurecidos estavam com quase trinta anos talvez dessa vez ninguém saísse machucado.
O despertador tocava longe de onde ela dormia, mas graças ao seu sono leve conseguiu escuta-lo. Ao chegar em seu quarto percebeu um papel dobrado em sua cômoda, mas não havia nada escrito nele. Por que ela deixaria uma papel em branco em cima de sua cômoda? Rapidamente trocou de roupa e antes de sair de casa pegou o pedaço de papel e guardou no bolso da calça. Lucas a esperava em sua porta.
— Aqui de novo Campbell?
¬— Estava aqui por perto e pensei em irmos juntos.
— E o que estava fazendo para estar por aqui?
— Te...esperando?
— Não vai nem tentar mentir? — ela sorriu.
— Não teria sucesso de qualquer jeito.
Ele abriu a porta para que ela entrasse. Ao chegarem à delegacia um dos policiais esperava Rosie na porta.
— Detetive Duran, uma testemunha do caso de Edwards te espera na sua sala — ela agradeceu e se dirigiu para o local.
Uma testemunha. Isso. Era o que precisava, alguma pista, dica ou qualquer coisa que pudesse dar uma luz para ela. Quando abriu a porta de sua sala uma jovem olhou para a detetive assustada.
— Detetive eu preciso contar uma coisa que deixei escapar — a mulher falou de uma vez.
— Tudo bem — Rosie sentou-se à frente dela — Você é uma das amigas de Bonnie certo? Me lembro de ter ido a sua casa, Heidi, não é?
— Eleanor Heidi. Isso.
— Tudo bem Eleanor. Se acalme e me conte o que se lembrou.
— Quando eu estava caminhando pela festa os pais de Bonnie me pediram para avisa-la que eles estavam indo embora. Não achei ela na pista de dança, então deduzi que ela teria saído para fumar — fumar? Isso era novo, ninguém havia dito isso — E então eu a achei conversando com alguém. Achei que fosse o namorado, mas ele era bem mais alto. E então eu me lembrei de alguém.
— Link Archer.
— Vocês sabem?
— Sabemos que ele era o amante dela. Por que não disse isso a primeira vez que visitamos você?
— O namorado dela estava com você. Eu não poderia contar isso para ele.
— Tudo bem. Então o que aconteceu depois?
— Eu o vi gritando com ela. Não consegui entender o que dizia por conta da música. Mas ele estava claramente alterado. Apontava o dedo para ela. Fiquei assistindo até que ele a puxou pelo braço e a levou pra outro lugar.
— Sabe para qual direção ele pode ter levado ela?
— Eles viraram na rua Rhodes e então não vi mais nada.
— Se lembra de ter visto Lucas?
— Eu só vi quando ele saiu da festa.
— E então ela foi atrás dele.
— Não — a resposta fez a detetive se apoiar na mesa.
— Bonnie não foi atrás dele?
— Na verdade não, ela dançou mais algumas músicas com a gente, sai um pouco da rodinha para me despedir de uns parentes, foi quando os pais dela me chamaram.
Era uma outra versão da história. Uma versão que incriminava mais Link. Ainda assim ela não poderia prender ele. Precisaria da resposta do laboratório sobre as digitais da faca encontrada.
— E Margaret? Você viu quando ela saiu?
— Não, quando voltei para a festa Margaret e Benjamin já haviam saído.
— Não tem alguma ideia para onde?
— Os dois tinham um caso, provavelmente deveriam ter saído para...você sabe.
Rosie agradeceu a jovem por ter ajudado e a acompanhou até a porta. Foi até a sala de Lucas e o encontrou com os olhos vidrados ao computador.
— Uma amiga de Bonnie veio falar sobre a noite da formatura.
— O que ela disse?
— Disse que viu ela sendo puxada pelo Link para a rua Rhodes.
— Foi onde Zara encontrou o sangue.
— Sangue?
— Ah sim claro, esqueci de contar. Zara encontrou o sangue de Bonnie na rua Rhodes, foi quando eu fui visitar a senhora que disse ter visto as cabeças de panda e cavalo.
— Mais provas, ótimo.
A detetive voltou para sua sala e pegou uma folha para poder criar a cronologia dos acontecimentos. Link estava na festa de formatura e ele a levou exatamente para onde haviam descoberto o sangue. Aonde Margaret entra na história? Quem era a outra mulher que poderia ter aceitado se meter nesse crime com Link e por que?
O dia se passou rápido, Rosie já estava com sua quinta folha rabiscada e ainda sem direções para seguir. As mãos no rosto demostravam a insatisfação que tinha, nada a levava para qualquer resposta apropriada. As batidas na porta a tirou de suas teorias.
— Ocupada? — o detetive perguntou.
— O que acha? — ela mostrou as folhas que escrevia — Estou em uma rua sem saída com milhares de perguntas que não tem respostas.
— Logo receberemos o resultado das digitais e com ela teremos o assassino.
— Assim espero — ele se sentou à frente da mulher.
— Podemos ter nossa conversa hoje?
— Tudo bem — Rosie se levantou — Vamos para minha casa, assim temos mais privacidade.
O detetive assentiu e caminharam para fora da delegacia. O nervosismo daquela conversa impedia os dois de iniciar uma conversa dentro do carro. Qualquer palavra dita errada poderia acabar de vez com as expectativas que Lucas ainda guardava para si. Estacionou frente ao prédio de Rosie e a acompanhou até seu apartamento, o lugar não estava tão diferente de como o detetive lembrava. A organização impecável, talvez pela limpeza de Rosie ou pelo pouco tempo que ela passava lá.
— Algo para beber?
— Não, obrigado — ele se sentou ao sofá e ela ao seu lado.
— O que quer saber? — Rosie se virou para o detetive.
— Acha que se tivéssemos insistido no nosso relacionamento teríamos sofrido tanto quanto sofremos?
— Talvez não — ela respondeu — Mas tanto eu quanto você precisávamos disso. Erámos muito jovens Lucas, nossa relação era baseada em trabalho. Chegávamos em casa e falávamos sobre o dia cansativo que tivemos no trabalho e então quando estávamos lá brigávamos por discordar um do outro, talvez o melhor a se fazer na época era nos separarmos ou não iriamos conseguir olhar um para a cara do outro hoje.
Não era essa resposta que Lucas gostaria de ouvir, mas dentro de si se convenceu que poderia a ter de volta, assim como ela disse na época eram jovens, mas talvez agora teriam uma chance. Ele sentia que havia estragado algo que as pessoas almejavam. O amor. A ignorância e o ego afetaram suas decisões, o deixou cego para o que realmente importava. Havia amado Bonnie com toda certeza, isso é fato. Mas o amor que havia vivido com Duran tinha algo a mais, não era a paixão que se encontra nas esquinas, era o amor que se passava a vida procurando. Pensou em voltar com ela diversas vezes, se ajoelhar e implorar pelo perdão. Mas quando ela voltou de viagem de São Francisco já era tarde, ela se apaixonara por um outro alguém, iria se casar com esse outro. Aceitou a derrota e se entregou ao amor de Bonnie, que o fez bem e lhe passou tanta segurança. Mas a cada vez que a via, o coração batia fortemente, ele poderia mentir por fora, mas por dentro sabia muito bem o que desejava.
Ela por sua vez, acreditava que a culpa era sua. Acreditava que se não tivesse sido tão rude e fria eles ainda estariam juntos. Rosie o amava, é claro, o amor que lhe faz sorrir ao lembrar do doce cheiro do perfume. Tinha ficado magoada, e com razão, pela atitude do companheiro. Ele poderia ter mostrado mais seus sentimentos e ela poderia ter dado abertura para que pudessem gritar seu amor. Quando Lucas apareceu com sua namorada ela sabia que era melhor desistir do que lutar, aceitou o pedido de casamento de um homem que a fez tão mal somente para não se sentir sozinha. Apesar de querer muito lutar por Lucas, mostrar que ela sim era a pessoa ideal, Rosie não o fez. Ela desistiu. Se sentia arrependida com toda certeza.
O barulho alto vindo do quarto de Duran tirou os dois de seus pensamentos. Se assustaram e foram até o local e nada acharam.
— Deve ter sido uma árvore — Rosie falou.
— Eu duvido que alguma árvore seja capaz de reproduzir o som que ouvimos.
— Não tem nada aqui. Só pode ser a árvore — o detetive sentiu a brisa do ar gelado passar pela janela. As cortinas se balançavam tranquilamente.
— Desde quando abre suas janelas? — Lucas apontou para a janela.
— Não sei, não lembro de ter aberto.
— É porque você não abre — ele olhou para fora e viu uma corda escondida perto da janela — Tinha alguém no seu quarto.
— O que? — ela foi até a janela e conseguiu enxergar algumas pegadas no chão de terra.
— Não acho bom você dormir aqui hoje. Durma na minha casa, eu fico no quarto de hóspedes.
— Lucas, não...eu prefiro ir para um hotel.
— Tudo bem. Qualquer lugar onde se sinta segura. — ela deu um pequeno sorriso — Enquanto você arruma algumas roupas eu vou tirar fotos das pegadas. Amanhã pedimos para que Hanna dê uma analisada neles.
Ela assentiu e ele saiu do apartamento. Tirou a corda da janela e colocou em um saco. Por alguns instantes ela ficou aterrorizada, tinha visto as janelas abertas, mas não tinha se importado. Sabe-se lá a quanto tempo essa pessoa estava olhando-a. Arrumou uma mala pequena e deu uma última conferida no quarto, não faltava nada. A pessoa não havia entrado para roubar um pertence, mas para observa-la, o que só a deixava ainda mais com medo.
Saiu do apartamento e viu Lucas ainda tirando algumas fotos pelo local. O quanto aquilo era terrível para ela era também para Campbell. Aquela mulher é a coisa mais importante para ele, não iria deixar com que alguém a ferisse. O detetive percebeu a presença de Rosie e andou até o seu carro.
— Vamos, eu te levo até um hotel — ele pegou a mala de Rosie e colocou no porta malas.
O clima entre os dois estava mais leve, calmo. Fazia tempo em que não se sentiam confortáveis com o outro. O namoro dos dois impedia que eles tivessem alguma conexão mais profunda. Saiam os quatro para jantar ou ir para uma festa, mas quase nunca conversavam. Link e Bonnie cansados de estarem presos a uma falsa relação com seus parceiros, fez com que se aproximassem sem a percepção de Rosie e Lucas. Os dois estavam tão cegos de amor pelo o outro que não perceberam seus companheiros se apaixonarem e decidirem ficar juntos. Estavam magoados é claro, foram traídos, mas um alívio tomou conta de Duran e Campbell, estavam livres. O relacionamento de Lucas e Bonnie não ia bem, mas, a coragem de terminar nunca apareceu então seguiram namorando mesmo que aquilo machucasse.
— Pronto — Lucas estacionou em frente ao hotel.
— Talvez esse hotel esteja além das minhas economias Campbell.
— E quem disse que você vai pagar por ele? Eu pago para você.
— Lucas olha...
— Por favor, é o mínimo que eu posso fazer já que recusou dormir na minha casa, me deixe ganhar somente essa vez.
Ela assentiu e saiu do carro. Ele pegou as malas de Rosie e a acompanhou até o hall. Lucas fez o check-in e entregou o cartão para a detetive.
— Por que não entra comigo? Só para...ver o quarto — Rosie deu seu melhor sorriso.
— Como dizer não para ma chérie? — ela riu — Logo após a senhorita — Ele apontou para o elevador.
— Quanto cavalheirismo — ela caminhou até o elevador e sentiu a mão do detetive ao redor de sua cintura.
Eles entraram em silêncio e Rosie apertou o número 19. Ele ainda tinha a mão na cintura da mulher que poupou movimentos bruscos para que ele não retirasse a mesma. A porta se abriu e eles andaram lado a lado até o quarto 357. Rosie colocou o cartão na maçaneta que piscou algumas luzes verdes, ela abriu a porta adentrando no quarto seguida de Lucas.
— É um puta quarto — ele riu olhando em volta.
— Realmente — ela colocou a mala perto da cama — Olha essa vista. Deve ter sido muito dinheiro, eu não me importo em dividir.
— De jeito nenhum, eu não te traria aqui se não tivesse condição. Eu quero que você fique confortável.
Lucas foi até a sacada e se apoiou na grade, Rosie fez o mesmo. A cidade parecia mais iluminada, talvez seja porque eles nunca observaram atentamente, mas agora isso não fazia diferença. O importante mesmo era a presença um do outro.
— Senti sua falta — a voz de Lucas saiu mais baixa do que ele esperava.
— Eu também — ela respondeu.
— Pensei que nunca mais iria olhar na minha cara.
— Era isso que queria?
— Não. De jeito nenhum. Me senti muito mal pelo que fiz.
— Nós dois erramos, já passou.
— Não, sério — Lucas a olhou — Foi uma das coisas mais estúpidas que eu já fiz, escolhi o trabalho ao invés da mulher da minha vida.
— Bom eu também escolhi o trabalho.
— Por que eu a obriguei a fazer essa escolha, eu nem lutei para que ficasse, deveria ter me jogado seus pés e implorado que não fosse.
— Sabe que eu não teria ficado de qualquer maneira.
— Sei, mas pelo menos eu teria tentado. Nem isso fui capaz de fazer, um verdadeiro covarde.
— Eu não te culpo.
— Mas eu sim, quebrei dois corações sem ao menos perceber.
— Não importaria em ter meu coração quebrado de novo.
— O quer dizer com isso?
— Eu... — ela ficou alguns instantes olhando para os olhos confusos do rapaz — Que se foda.
Rosie puxou o rosto do detetive e o beijou, Lucas não poderia dizer o quanto esperou por esse momento, foram quatro anos com um coração apertado todas as vezes que a via. A culpa ocupava sua mente e não o deixava dormir. Rosie queria aquele momento de volta, as borboletas tinham acordado depois de tanto tempo, eles se sentiam como adolescentes. A detetive separou os lábios e Lucas a puxou delicadamente e encostou suas testas. Ele conseguia sentir a respiração acelerada de Rosie. Ela sentia o hálito quente que tomava conta do seu rosto.
Ele apertou a cintura de Rosie e a beijou novamente. Lucas sentia o coração dela acelerado, o dele não estava diferente. A mão da mulher agarrou com força o seu cabelo puxando para si. Seria o maior erro das suas vidas separar aquele beijo, a intensidade não atrapalhava a sincronia que os seus rostos mexiam. A falta de ar fez com que aquele momento fosse encerrado.
— Agora que eu estava gostando — ele comentou rindo.
— Precisa ir pra sua casa — Rosie sussurrou e ele mordeu o lábio apertando mais forte a cintura dela.
— Eu prefiro ficar aqui. Não vou deixar com que fuja de mim de novo.
— Prometo estar aqui quando voltar.
Ele suspirou e assentiu. Deu um beijo na testa de Rosie e permaneceu abraçando a mulher por uns instantes. Ela não queria sair dos braços que sempre a confortou, precisava daquele abraço mais do que qualquer coisa. Ele não queria soltar ela, na verdade nunca deveria ter soltado. Queria ter a poupado de toda a dor e sofrimento que passou.
— Eu passo amanhã aqui para irmos para a delegacia, certo?
— Tá bom.
Rosie o acompanhou até a porta e deu um último beijo no rapaz. Ela o assistiu caminhar até o elevador e viu um grande sorriso no rosto do mesmo enquanto as portas se fechavam. Ela se sentou na cama e passou as mãos pelo corpo lembrando de cada pequeno toque. Duran adormeceu com um belo sorriso no rosto.
Ela acordou com batidas leves na porta do quarto. Olhou no relógio que marcava oito e meia, atrasada. Abriu a porta e viu Lucas sorrindo para ela.
— Senhorita Rosie Amelia Duran atrasada? Não é de seu feito — ele riu e entrou no quarto.
— Eu sei, perdi a hora. Não tomei banho nem troquei de roupa ainda.
— Lilian não vai gostar do atraso mocinha — ele se sentou na cama.
— Eu estou indo com você, ela vai me perdoar — Rosie pegou algumas roupas dentro da mala — Vou tomar um banho rápido — ela entrou no banheiro com as roupas na mão.
Lucas pegou o telefone e pediu para que Hanna o avisasse caso a delegada chegasse primeiro que os dois. Uma notificação de um e-mail apareceu em sua tela, ele clicou e não conseguiu identificar o remetente. O e-mail gerava um vídeo que foi salvado no telefone. Campbell apertou o play e só via uma tela preta.
Alguns segundos depois ele pode ver uma silhueta deitada em uma cama, parecia o apartamento de Rosie, a pessoa se aproximou da silhueta e filmou o rosto adormecido da detetive. Uma mão tocou o rosto da mulher que não se mexeu. Lucas estava à beira do ódio, se pudesse teria entrando na gravação e espancado quem quer que fosse. O vídeo continua com a mesma mão de luva passando por todo o corpo de Rosie, um pouco antes de encerrar o vídeo a mão desaparece, mas logo volta apontando uma arma para o corpo de Duran, o vídeo termina.
Capítulo 08
Abril 2015 — Quatro anos antes
Rosie sabia que não havia mais como adiar o inevitável. Em seu coração, ela sabia que aquela poderia ser a última conversa entre eles, então respirou fundo e caminhou lentamente até a sala onde Lucas estava. Conseguia ouvir o coração bater mais rápido e com alguma dificuldade abriu a porta.
— Podemos ir para casa? — disse quase sem forças.
— Querida, estou muito ocupado ainda com esses relatórios, preciso enviá-los até na sexta. Vai na frente, nos encontramos para o jantar — ele respondeu, sem ao menos olhar para o rosto da namorada.
— Lucas! Da para pelo menos olhar pra mim? — respondeu Duran, um pouco sem paciência. Afinal, ela estava cansada daquela situação, havia cinco meses que nada ia bem no relacionamento, mas aparentemente só ela quem percebeu.
— Tá tudo bem? — ele olhou fixamente para ela, como não fazia a tempos
— Eu quero ir pra casa, precisamos conversar — Lucas pareceu entender então se levantou, pegou seu casaco na cadeira do lado e seguiram para o carro.
O caminho até em casa nunca foi tão longo. Enquanto Duran balançava repetidamente suas pernas, Campbell dirigia em silêncio com um olhar confuso e perdido, Lucas agradeceu que finalmente poderiam conversar, há poucos dias sentiu que tinha acontecido alguma coisa, Rosie estava mais sem paciência que o normal, mas com tanto trabalho na cabeça tinha deixado essa preocupação de lado. Eles entraram em casa, e por um segundo pareciam dois estranhos, sentiram essa sensação pela primeira vez.
— O que está acontecendo Rosie?
— Eu não sei por onde começar, eu só queria que as coisas fossem mais fáceis — sem perceber, Rosie estava com lágrimas nos olhos.
¬— O que aconteceu? — ele foi em direção a ela — Eu odeio te ver assim.
— Por favor, não — Rosie se afastou — Não conseguirei falar se você estiver tão perto de mim.
— Pelo amor de Deus, que merda está acontecendo?
— Eu simplesmente não consigo mais ficar aqui. Eu tentei continuar e fingir que está tudo bem, mas não posso mais. Eu não me reconheço, tudo que eu faço gira em torno das suas escolhas — as palavras saiam de forma confusa e as lágrimas eram incontroláveis, rolavam mais rápido que ela pudesse secá-las.
— Como assim? — ele passou a mão entre os cabelos e ficou de paralisado por um momento. Era possível sentir a sensação de dor por todo corpo. O que ele tinha feito de errado? E se ela fosse embora, como ele iria viver?
Ele sentava lentamente no sofá cabisbaixo, os pensamentos passavam tão rápido pela sua cabeça que ele mal conseguia ouvir o que Rosie estava dizendo, ou melhor gritando, enquanto lhe dava as costas.
— VOCÊ NÃO SE LEMBROU DA PORRA DO MEU ANIVERSÁRIO! — Rosie falava e viu que ele não parecia prestar atenção — POR UM MOMENTO VOCÊ PODE ME ESCUTAR? — ele levantou num estalo, como se tivesse acordado com as duras palavras da detetive, caminhou até ela e a puxou suavemente pelo braço para perto dele e lhe deu um forte abraço.
— Me perdoa, eu só não esperava por isso. Ouvir você dizendo isso é como se tudo perdesse o sentido — dentro daquele abraço, as coisas pareciam ser tão mais simples, a sensação era de que tudo podia ser resolvido, mas não aquilo.
— Esse é o problema! Você não consegue ver o que está bem na sua frente. Desde que Emma foi transferida e surgiu a vaga para detetive na delegacia você não pensa em outra coisa, não faz outra coisa, senão trabalhar. Todas as vezes que me toca eu só consigo sentir uma dor por todo meu corpo. Nós tínhamos planos… — Rosie reuniu todas as suas forças para se separar daquele abraço, ela precisava ser forte.
— Você foi a pessoa a me incentivar lutar pela vaga.
— Eu sei, mas eu não achei que você simplesmente esqueceria que eu existo! Eu estou cansada porra!
— Mas isso é passageiro, logo será a seleção e tudo isso estará terminado e vamos poder retomar de onde paramos — tentou um sorriso, queria acreditar em suas palavras.
— Certo, ISSO vai passar, mas e depois? — questionou ela — Depois virão outras preocupações, outros desejos, outros sonhos e tudo vai se repetir porque você não consegue me colocar completamente na sua vida, aliás, você me coloca atrás da sua carreira e eu não quero viver assim! Não quero ser a sua segunda opção! Nós deveríamos estar um ao lado do outro para enfrentar o mundo, como prometemos — quase sussurrou a frase.
— Eu não consigo te entender, você sempre enxerga problema onde não tem Rosie. Nada disso que está falando é verdade — ele não parecia entender qual era o problema ainda.
— Ah, claro. Estou criando histórias na minha cabeça. Como no dia em que você não apareceu para o nosso jantar de namoro, eu fiquei plantada naquela merda de restaurante por TRÊS HORAS! Qual foi a última vez que tivemos uma conversa digna? Somos dois estranhos desde a mesa de jantar até a cama.
— Mas você disse que estava tudo bem! — ele interrompeu a namorada — Em todos esses acontecimentos me disse que não tinha problema, por que isso agora?
— PORQUE EU TE AMO! Tentei ver o seu lado e criar desculpas para seus erros. Errei em dizer que estava tudo bem, porque realmente não está. Cancelei uma viagem que estávamos planejando por meses porque você decidiu SOZINHO que não queria mais ir, pra poder ficar mais tempo na delegacia. Eu sei, eu deveria ter dito, mas realmente acreditei que tudo iria melhorar com o tempo, eu estava errada.
— Nós podemos consertar isso Rosie, eu vou fazer diferente. Por favor, não me diga que tudo está perdido.
— Eu te amo Lucas, mais do que eu pensei ser possível amar alguém, mas eu não consigo fazer isso, não dessa forma, preciso pensar em mim primeiro — o choro dificultava suas falas — Eu comecei a escrever uma história que não é minha, deixei meus sonhos para viver o seu — passou a mão por seus olhos secando algumas lágrimas — Semana passada, George Thompson da polícia de São Francisco, me convidou para atuar junto com sua equipe, durante o afastamento do detetive chefe deles.
— Você não tinha me contado — as palavras cortavam sua garganta.
— Eu tentei! Mas conversar com você recentemente é como conversar com essas paredes, eu recusei o primeiro convite, não queria ter que passar tanto tempo longe de você — Campbell olhou confuso, enquanto Rosie não tinha coragem de olhar para ele, porque sabia que no final dessa conversa todos sairiam destruídos — Ontem ele veio pessoalmente reforçar o convite…e eu aceitei.
— Você ta brincando, não é? — ele tentava se convencer que toda essa conversa iria acabar bem. Sem a resposta de Rosie ele continuou — Você vai mesmo ir embora? — Lucas não podia, ou melhor não queria acreditar que aquilo estava realmente acontecendo. Em um instante foi tomado pela de culpa de não ter sido o suficiente pra ela e uma onda de raiva, como ela poderia simplesmente deixa-lo? — Você está sendo egoísta Rosie, eu preciso desse cargo, você deveria estar ao meu lado e não me cobrando por coisas irrelevantes — ele se arrependeu, mas o que foi dito, não poderia mais ser mudado.
Rosie sentiu o chão se esvair, não tinha mais porque continuar aquela discussão, tudo que tinha que ser dito, foi dito, ela não precisava escutar mais nada. Levantou a cabeça, com os olhos cheio de dor e decepção, se aproximou dele, era possível sentir sua respiração.
— Eu te amo tanto Lucas, mas eu tenho certeza que fiz a escolha certa — Rosie aproximou seus lábios e o beijou calmamente, as lagrimas davam aquele último momento juntos o sabor da tristeza. Afastou seu rosto do dele e sentiu o beijo em sua testa, Duran virou as costas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, foi em direção a porta e ao abrir, olhou pela última vez para ele, paralisado com o rosto cheio de lágrimas. Não foi capaz de dizer nenhuma palavra. A porta bateu mais forte do que esperavam.
Lucas sabia que tinha cometido um grande erro, mas ele não conseguia pedir para que ela ficasse, nem ao menos podia culpa-la pelos seus erros. A vontade era de ajoelhar aos seus pés e dizer o quanto sentia muito e o quanto a amava, ao invés disso, assistiu o amor da sua vida ir embora pela porta da frente, sem nem ao menos lutar. Os sentimentos tão confusos e dolorosos, o consumiu naquela noite e muitas outras que viriam.
Rosie mal conseguiu chegar em casa e quando chegou foi direto para a cama, sentia que não tinha forças para nada. Um milhão de coisas passavam pela sua cabeça, o que havia acabado de acontecer parecia um pesadelo. A todo momento tentou se convencer de que isso era o melhor a se fazer, mas se era o melhor por que doía tanto?
Capítulo 09
Outubro 2019 — Atualmente
O que aquilo deveria significar? O que era aquele vídeo? Por que ele foi enviado para o detetive? Lucas se levantou e andava de um lado para o outro dentro do quarto. Ele deveria contar a Rosie? Ele tinha que contar, era ela que estava em perigo.
Alguém entrara dentro do seu quarto e a detetive não sabia. Havia tantas coisas passando pela cabeça do mesmo que ele não viu quando a mulher saiu do banheiro e ficou assistindo ele andar para um lado e para o outro.
— O que aconteceu? — a voz suave assustou o detetive.
— Você tem um problema.
— Eu?
— Eu acabei de receber um vídeo. É você na sua cama enquanto alguém aponta uma arma para seu corpo — ele não havia planejado o que falar então somente jogou as palavras sem ao menos escuta-las.
— Que vídeo é esse? Me deixe ver.
Lucas entregou o telefone para a detetive que via o vídeo com a mão no peito. Ela não conseguia falar nada. Ver alguém apontando uma arma para o seu corpo enquanto dormia não é tão fácil de digerir. Ela poderia estar morta. Estava em mais perigo do que poderia imaginar.
— Scott! — Campbell tirou Rosie de seus pensamentos — Vou pedir para que ele consiga encontrar a pessoa que me mandou o vídeo.
Enquanto Lucas dirigia para a delegacia ele apertava o volante. Sentia raiva de si mesmo. Como pôde deixa-la sozinha? Deveria ter estado ao lado dela. Por algum motivo a culpa tomava conta de seu corpo.
Quando chegaram a delegacia viram vários câmeras e jornalistas em frente à delegacia. Alguns policias tentavam impedir a entrada deles. Isso é novo. Talvez estivessem lá por Margaret, um assassinato brutal fazia com que a população pedisse por justiça. Rosie e Lucas caminharam até a entrada e foram assediados por alguns jornalistas, os policiais que tentavam impedir a entrada de alguns deles agora ajudava os detetives para que eles pudessem entrar a delegacia. Lilian estava a porta esperando pelos dois.
— Atrasados.
— O trânsito estava péssimo — Lucas tomou a frente. Sabia que Lilian não iria discutir com ele.
— O que eu disse sobre deixar o caso de Bonnie Edwards abafado até que os pais aprovassem a divulgação? — ela estava estressada.
— Não demos nenhum indicio que ela estava desaparecida — Lucas continuou.
— Então como eles podem saber o que aconteceu? Vocês devem ter falado algo para um civil qualquer que espalhou por aí.
— Não foi a gente. Não tivemos tempo para respirar ainda — Rosie se pronunciou.
— Mas para namorar vocês dois conseguiram tempo — os detetives se entreolharam — Acham que eu sou estúpida?
— Não é isso que está pensando.
— Eu não quero saber sobre isso Duran. Eu quero que encontrem a porra da garota desaparecida antes que os pais dela matem todos nós.
A delegada foi para a sua sala e bateu à porta ecoando pelos corredores.
— Eu vou ligar para Scott — Lucas saiu deixando Rosie sozinha no hall. A detetive foi para sua sala e ficou um tempo olhando para o quadro com os suspeitos.
Bonnie sai da festa e encontra com Link. Ele está bravo com alguma coisa. Isso não seria novidade, Rosie sabia muito bem disso. Eles discutem e ele a puxa para a rua Rhodes ela se estressa e talvez ele bata nela. Mas e a as fantasias de cavalo e panda? Aonde Margaret entrava nisso tudo? Quem era a mulher que usava a cabeça de panda? De onde ela surgiu? Nada se encaixava, nada fazia o menor sentido. Ela estava deixando alguém faltar. Uma mulher faltar. A ideia de prender Link ainda rondava sua cabeça, quanto mais tempo perdia Archer poderia estar planejando uma maneira de sair do país junto a Bonnie. Era possível que ele tivesse algo em sua casa que pudesse incrimina-lo. Ela saiu de sua sala e foi de encontro a Lucas.
— Vou pedir um mandado de busca para a casa de Link. Se ele tiver mesmo envolvido com a morte de Margaret e o desaparecimento de Bonnie deve ter algo em sua casa que vai incrimina-lo
— Um mandado? Sabe que isso vai demorar não sabe?
— Sei que vai, mas não tem nada que eu possa fazer. Eu não tenho pista nenhuma a não ser ele.
— Eu vou tentar acelerar o processo de busca domiciliar. Não garanto que vai adiantar, mas posso tentar.
— Será o suficiente — Rosie olhou para Lucas que ainda permanecia com os olhos no computador — Sabia que Margaret e Benjamin estavam juntos?
— Estavam? Pois ele parecia bem mais interessando em Bonnie.
— Foi o que a amiga dela disse. Não sei, toda essa história é tão confusa. Se Benjamin estava com Margaret como ela foi pega pelo assassino? — Rosie levou a mão até a boca e começou a roer a unha do polegar. Ela não havia percebido o que estava fazendo até o detetive a chamar.
— Pare de roer a unha — Lucas a olhou. Ela abaixou a mão.
— O que está fazendo?
— Tentando ajudar Scott com o vídeo.
— Vamos resolver o caso de Bonnie primeiro, depois damos um jeito no vídeo.
— Não, Rosie. Eu não vou me arriscar ter que investigar o seu sequestro ou pior, a sua morte. Eu vou te proteger enquanto ainda está perto de mim.
— Eu não vou morrer.
— Não mesmo, eu não vou deixar — ela revirou os olhos.
— Com licença — um dos policiais bateu na porta — Chegou isso para a senhora — Ele entregou uma correspondência para Rosie.
— Obrigada — Ele se retirou enquanto Lucas a olhava vidrado. Duran abriu a carta e retirou uma foto de lá.
— O que é? — Campbell se levantou.
— Nós — ela virou a foto para o detetive — Ontem na sacada do hotel.
— Mas que inferno...? — ele pegou a correspondia e olhou o remetente — Não tem nome de ninguém.
— Eu preciso de um tempo — Rosie sentia sua mão formigar.
— Sente-se aqui, eu vou pegar um pouco de água — Lucas puxou a cadeira para que ela se sentasse.
— Estou bem, só preciso ficar sozinha — a detetive deu um sorriso e voltou para sua sala.
Rosie estava sentada com as mãos sobre a cabeça. Ela olhava para cima com os olhos fechados tentando imaginar alguma situação para tudo isso. O telefone tocando assustou a mulher, o número era privado.
— Alô? — ninguém respondeu — Quem é? — uma respiração pesada e alta assustava Rosie. Ainda sem resposta ela continuou com o telefone ao ouvido até ouvir um grito e jogar o telefone na mesa.
Um vídeo. Uma ligação. Uma foto. Sua casa sendo invadida. Toda a ansiedade que Rosie já havia superado voltou à tona. O ar não conseguia passar e ela estava ficando tonta. Ela nunca foi de chorar, principalmente quando alguém a ameaçava ou algo do tipo, Duran sempre teve tudo no controle. Então por que agora ela estava com tanto medo?
Ela não poderia comentar com Lucas, o apavoraria ainda mais. Decidiu guardar o que aconteceu somente para si mesma. Sentou-se em sua cadeira e respirou fundo algumas vezes. Quando finalmente se acalmou Hanna apareceu em sua porta.
— Tá tudo bem?
— Sim, eu só estava pensando em Bonnie.
— O que te perturba?
— O homem eu sei que era Link, mas a mulher...É ela que me deixa confusa. Eu não tenho a menor ideia de quem ela seja.
— Uma amiga de Archer talvez?
— Mas por qual motivo ela o ajudaria a sequestrar a namorada? E ainda por cima matar a amiga da namorada.
— Eu tenho certeza que a melhor detetive de Sheffield vai conseguir desvendar — Rosie sorriu — Enfim, vim para dizer que o perito que analisou a cena onde Margaret foi encontrada me mandou um e-mail. A faca deu positivo para a digital de Link.
— Ótimo, se ele está ligado a Margaret também está ligado a Bonnie.
— Já é um bom caminho andado — antes de se retirar a cientista ficou um tempo na porta olhando para Rosie.
— O que foi?
— Por que não conta ao Lucas sobre Link?
— Não tem necessidade.
— Sabe que uma hora ou outra ele vai descobrir e nessa hora espero que Link já esteja na cadeia ou vai ser Campbell que vai pra lá.
— Quando chegar o momento certo eu contarei. Não vou apressar as coisas.
Hanna suspirou e balançou a cabeça negativamente saindo da sala. Rosie tinha o suficiente para prender Link, a faca encontrada perto do corpo tinha suas digitais, foi visto com a amiga da vítima poucas horas antes. Antes de ir de encontro a Lucas ela abriu uma de suas gavetas e tirou de lá um calmante, assim que tomou criou coragem para encontrar o detetive. Ela o encontrou sentado em uma das mesas da cozinha tomando seu café, ele olhava fixamente para o chão.
— A faca que foi encontrada perto de Margaret tem as digitais de Link — Rosie disse.
O detetive sabia o que isso significava. Levantou-se e acompanhou a moça. Enquanto iam para a entrada da delegacia Lucas chamou alguns policiais para que os acompanhassem. Os jornalistas ainda estavam em frente ao local, Campbell dessa vez pode ouvir as perguntas incessantes deles, "É possível que Bonnie já esteja morta?", "Vocês têm alguma ideia de onde ela está?" "Você como namorado está apto para atuar no caso? Isso não é ilegal?"
Entraram no carro de Lucas ainda sufocados com os jornalistas. Rosie sentia-se aliviada, havia dado um grande passo para o caso. Enquanto os detetives iam na frente três carros da polícia acompanhavam atrás. Alguns jornalistas decidiram seguir o carro policial para conseguirem as notícias de primeira mão.
Capítulo 10
Quando finalmente chegaram à casa de Link, a detetive saiu do carro e firmemente bateu na porta de Link. Ninguém respondeu. Ela bateu mais forte e então ele abriu.
— Que porra é essa? — Archer olhou em volta e viu os carros da polícia estacionado frente à sua casa.
— Link Archer, você está preso pelo assassinato de Margaret Gordon — Rosie virou o homem de costas e colocou as algemas — Tem o direito de permanecer calado, tudo o que disser pode e será usado contra você no tribunal. Tem o direito a um advogado, se não puder pagar o tribunal lhe designará um. Sabendo desses direitos, está disposto a falar sobre a acusação contra você? — ele não disse nada, sabia que qualquer coisa que dissesse ela mesma faria questão de usar contra o mesmo — Eu disse que era mulher suficiente para prender você — Rosie sussurrou.
Ela o levou até o carro policial e o empurrou para dentro. O estado de choque do homem dava uma certa paz para a detetive.
— Leve ele para delegacia, procurarei por evidências na casa e assim que acabar vou para o interrogatório — o policial assentiu e levou-o para a delegacia.
Lucas esperava a detetive na porta da casa, percebeu que fazer a prisão de Archer significava muito para ela, então somente a deixou fazer sozinha.
— Vamos? — ela apontou para dentro da casa.
Ele assentiu e seguiu a mulher a sua frente. Alguns policiais e peritos já estavam pelo local. Tiravam fotos de toda a casa. Rosie sabia que Link possuía um conjunto de facas no balcão da cozinha, foi até lá e notou que um dos espaços estava vazio, provavelmente era a que usou em Margaret. Lucas subiu para o quarto principal e andou por todo o lugar. Em um dos cantos o detetive percebeu que uma mesa tentava disfarçar o carpete que estava mal colado. Campbell retirou a mesa e puxou o carpete encontrando uma madeira solta, tirou o pedaço da madeira e achou uma caixa enferrujada. Ele colocou as luvas e pegou a caixa, abriu a mesma e viu algumas fotos.
— O que achou? — Rosie surgiu atrás do detetive.
— Uma caixa escondida. Olha isso — ele entregou uma das fotos para Rosie. Era Margaret e Bonnie, as duas estavam almoçando e provavelmente não viram a foto ser tirada. As outras fotos eram somente Margaret andando pela rua.
— Temos mais provas contra ele — Lucas sorriu para a detetive.
— Detetives — um dos peritos os chamou — Achamos sangue embaixo da pia. Faremos um exame de DNA para verificarmos se é o sangue da vítima.
— Voltaremos para a delegacia para interrogar o assassino. Assim que tiver o resultado leve para mim tudo bem? — ele assentiu e voltou para o banheiro.
— Não quer olhar um pouco mais?
— Essa casa me dá arrepios.
— Espero que um dia me conte o que houve aqui — o detetive respondeu preocupado.
O dia seria longo e cansativo. Interrogar o suspeito ou assassino é uma das partes mais difíceis e ela sabia que Link não facilitaria. Aquilo poderia levar duas horas caso ele resolvesse confessar ou talvez vinte horas se ficasse em silêncio. Archer já seria acusado pelo assassinato de Margaret e do sequestro de Bonnie, ele precisava confessar os dois. Se Rosie bem conhecia Archer, ele já teria contratado o melhor advogado da cidade, ele não iria falar, não iria confessar e isso seria resolvido nos tribunais. Não importava, ela só queria que ele fosse preso e passasse bons anos na cadeia, talvez o resto da vida. Os repórteres ainda cercavam a entrada da delegacia quando o detetive se pronunciou.
— Acho melhor entrarmos pelos fundos, esses caras não vão nos dar descanso — Rosie assentiu e os dois entraram pela porta de emergência, despercebidos pelos jornalistas.
Os policiais ainda pegavam as digitais de Link. Tiraram sua foto e finalmente o levaram para o interrogatório. Ele já havia feito sua ligação para sua advogada. Kendall Hart. Se havia alguém que poderia tira-lo daquele inferno seria ela. Hart demoraria algumas horas para chegar, então não poderia o interrogar, ainda.
— Podemos conversar? — Lucas chamou a mulher que andava de um lado para o outro em frente à sala do interrogatório.
— Sobre o que? — ela ainda andava.
— O que ele fez com você?
— Sério? Essa pergunta de novo?
— Sim Amelia, essa pergunta novamente.
— Por que acha que ele fez algo?
— Você se treme todas as vezes em que precisa conversar com ele e olha, eu entendo que ele tenha quebrado o seu coração, mas eu também. Então que merda ele fez pra você ter medo?
Rosie ficou em silêncio e parou de andar. Talvez não fosse o melhor momento para falar, seria melhor inventar uma desculpa qualquer.
— Nada, ele só me traiu.
— Olha pra mim — Lucas virou a detetive para que ela ficasse a sua frente e pousou suas mãos sobre o ombro da mulher — Essa é a primeira vez a que vejo mentir pra mim. Por favor, me conte — mentir de novo? Não, Rosie sabia que ele iria perceber. Talvez fosse a hora de finalmente falar sobre.
— Ele me batia — Rosie falou friamente.
— Ele o que? — seria mais fácil se ela tivesse mentido.
— Feliz agora? — ela tirou as mãos de Lucas do seu ombro.
— Eu quero muito que você esteja mentindo pra mim agora Rosie.
— Queria estar mentindo — ele fechou os olhos e passou a mão no cabelo.
— Sinceramente? Ele tá morto — Lucas tentou entrar dentro da sala, mas foi impedido por Rosie que colocou as mãos em seu abdômen.
— Por Deus, não seja idiota! — o empurrou — Quer ir pra cadeia junto com ele?
— Se for para ficar na mesma cela que esse merda eu quero, ele não vai durar uma hora.
— E vai me deixar sozinha de novo? — ele finalmente a olhou.
Os olhos dele indicavam todo o ódio que sentia e ao ouvir as palavras de Rosie, se afastou da porta.
— Por que você não o entregou a polícia a primeira vez? Por que não contou para ninguém?
— Eu achava que o amava Lucas, que o que ele fazia para mim era amor, era a demonstração dele de amor. Não me culpe!
— Eu não estou! Estou me culpando. Porra era por isso a merda do cachecol, o roxo no braço e o inferno do cabelo solto, caralho você odeia quando ele não está preso. Achei que não fosse nada, mas eu deveria saber, sou muito idiota.
— Não, ele é idiota — ela apontou para a sala — Foi ele que causou isso, a mim, a Margaret e a Bonnie. Ele é o culpado.
— Preciso de ar. Quando a advogada dele chegar me chame — ele foi para a pequena área de lazer que havia na delegacia.
A culpa consumia os pensamentos do detetive. Se ele não tivesse sido tão egoísta, se não tivesse focado tanto no trabalho e olhado para quem realmente importava Duran nunca teria sofrido, ela estaria bem, eles estariam provavelmente casados. Era o que ele mais queria, casar com o amor da sua vida. O coração apertava cada vez mais que imaginava as mãos sujas de Archer encostando em alguma parte do corpo de Rosie, ele poderia entrar naquela sala e acabar com ele em poucos segundos. Ele queria e faria Link pagar por cada vez que a mulher teve que esconder os braços, o rosto. Ela não merecia isso, ninguém merecia isso.
O tempo parecia ter parado, as horas não passavam. Rosie ainda andava de um lado para o outro, Leicester ficava a uma hora de Sheffield, mas parecia que ela estava do outro lado do mundo. Duran finalmente ouviu o salto ecoando pela delegacia. As luzes dos corredores faziam a pele escura de Kendall reluzisse ainda mais.
— Kendall Hart — a advogada estendeu a mão para a detetive.
— Rosie Duran.
— Antes de interrogarem meu cliente gostaria de conversar um pouco com ele.
— Claro, chamarei o outro detetive enquanto isso.
A advogada assentiu e entrou na sala. Rosie ficou alguns segundos ainda parada na porta, imaginou Link nessas condições por outro motivo, não assassinato. Enfrentar aquele que te amedrontou por anos não era fácil. A detetive foi até uma das poucas áreas verdes dentro da delegacia e encontrou Lucas sentado na cadeira observando o escuro céu da Inglaterra.
— Aonde perderam o sol? — Lucas se pronunciou ao ouvir os passos da detetive
— O que?
— O sol nunca chega aqui.
— Achei que era você que tinha dito que saiu dos Estados Unidos pelo sol quente.
— Não pode usar minhas palavras contra mim — Rosie sorriu — Venha apreciar a escuridão comigo — ele bateu na cadeira ao lado.
— Sheffield tem seus dias ensolarados ta bom? — ela se sentou.
— Sim claro...dois dias de sol e trezentos e sessenta e três de chuva.
— Para com isso — ela o empurrou de leve — Advogada de Link acabou de chegar.
— Não vai adiantar muito.
— Para o assassinato de Margaret não, mas ele ainda pode escapar do sumiço de Bonnie.
— Eu duvido.
Eles ficaram um tempo em silêncio. Aquele silêncio que não incomoda, pelo contrário te deixa calmo e aliviado.
— Eu queria tanto ter evitado tudo isso — a voz de Lucas saiu falha, quase chorosa.
— Não podemos ser heróis Lucas, as vezes pessoas que amamos sofrem mesmo que façamos de tudo para impedir.
— Você não merecia isso — os olhos esverdeados do detetive estavam mais escuros.
— Ninguém merece — acariciou o rosto dele — Estou bem agora, nada que alguns anos de terapia não resolva.
Lucas riu e deu um selinho demorado em Rosie. O barulho da porta rangendo afastou os detetives.
— Eu não queria atrapalhar — Zara carregava alguns papeis embaixo do braço.
— Não atrapalhou querida — Rosie se levantou — O que houve?
— Trouxe suas pastas para o interrogatório do senhor Archer.
— Obrigada — Duran pegou a pasta que a cientista carregava.
— E eu também vim dar os parabéns aos dois pela prisão de Link, achei que o caso de Bonnie seria extenso.
— Bom tecnicamente ainda não acabou. Temos provas que ele matou Margaret, mas pode escapar do sequestro de Bonnie.
— Bom, mas se ele matou Margaret, ele é o único suspeito.
— Concordo, mas isso não será o suficiente. Precisamos de mais provas e descobrir quem era a outra pessoa com ele.
— Ah, ainda assim. Parabéns aos dois — ela sorriu para os detetives e deixou-os sozinhos.
— Vamos? — Rosie apontou para a porta.
— Sim, chefe — Lucas se levantou e acompanhou a detetive.
Rosie e Lucas entraram no interrogatório e sentaram-se frente a Link e Kendall. A advogada tinha algumas de suas pastas espalhadas pela mesa, enquanto Link balançava a perna compulsivamente, era a primeira vez que Duran o via nervoso.
A detive colocou seus papeis na mesa e apertou o botão de gravação.
— Agora são 13:45 do dia vinte e dois de outubro 2019, detetives Duran e Campbell juntamente com o suspeito Link Archer e sua advogada Kendall Hart. Senhor Link Archer sabe o porquê de estar aqui?
— Você inventou uma história que eu matei uma mulher que nunca vi na vida.
— O senhor está aqui por ser o assassino de Margaret Gordon e o principal suspeito pelo sequestro de Bonnie Edwards.
— Isso é loucura! — Link bateu na mesa e sua advogada colocou suas mãos na do rapaz.
— O que conversamos agora pouco? — Hart lançou um olhar furioso para o homem.
— Então — Lucas tomou a frente — Aonde o senhor estava no dia dezenove de outubro?
— Em casa.
— Algumas testemunhas disseram ter visto você em uma formatura na Lux.
— Tá bom, eu fui até lá. Mas fiquei pouco tempo.
— Como eu havia dito — Kendall olhou para Link — Não é preciso responder todas as perguntas.
Rosie pegou a foto da faca encontrada perto ao corpo.
— Reconhece essa faca? — ele não disse nada — É a mesma faca faltando na sua cozinha — a outra foto era o faqueiro de Link com um espaço vago.
— Essa faca foi encontrada ao lado do corpo de Margaret — Lucas olhou fixamente para ele — Com suas digitais.
Ele ainda assim ficou calado. Kendall deveria o ter instruído a ficar quieto.
— Temos um vídeo, a última vez que Margaret foi vista viva — Duran procurou as fotos na pasta — E nele, existem quatro pessoas. Bonnie, Margaret, uma mulher e um homem — ela mostra a foto para Link — Sabemos que o homem é você.
— Não, não sabem — Hart se pronunciou — Não tem nenhuma prova que seja ele.
— É a última vez que a senhorita Gordon foi vista e onde seu corpo foi achado. O objeto utilizado para matar a mulher foi a faca onde tem as digitais de Link Archer.
— Você pode dar a sua versão dos acontecimentos daquele dia — Lucas disse — Ou pode ficar em silêncio e assistir sua condenação.
— Sem comentários — a voz baixa de Link mal foi ouvida.
— Mais alto para a gravação.
— Sem comentários — Dessa vez ele disse olhando profundamente aos olhos da detetive.
— Que porra é essa? — Archer olhou em volta e viu os carros da polícia estacionado frente à sua casa.
— Link Archer, você está preso pelo assassinato de Margaret Gordon — Rosie virou o homem de costas e colocou as algemas — Tem o direito de permanecer calado, tudo o que disser pode e será usado contra você no tribunal. Tem o direito a um advogado, se não puder pagar o tribunal lhe designará um. Sabendo desses direitos, está disposto a falar sobre a acusação contra você? — ele não disse nada, sabia que qualquer coisa que dissesse ela mesma faria questão de usar contra o mesmo — Eu disse que era mulher suficiente para prender você — Rosie sussurrou.
Ela o levou até o carro policial e o empurrou para dentro. O estado de choque do homem dava uma certa paz para a detetive.
— Leve ele para delegacia, procurarei por evidências na casa e assim que acabar vou para o interrogatório — o policial assentiu e levou-o para a delegacia.
Lucas esperava a detetive na porta da casa, percebeu que fazer a prisão de Archer significava muito para ela, então somente a deixou fazer sozinha.
— Vamos? — ela apontou para dentro da casa.
Ele assentiu e seguiu a mulher a sua frente. Alguns policiais e peritos já estavam pelo local. Tiravam fotos de toda a casa. Rosie sabia que Link possuía um conjunto de facas no balcão da cozinha, foi até lá e notou que um dos espaços estava vazio, provavelmente era a que usou em Margaret. Lucas subiu para o quarto principal e andou por todo o lugar. Em um dos cantos o detetive percebeu que uma mesa tentava disfarçar o carpete que estava mal colado. Campbell retirou a mesa e puxou o carpete encontrando uma madeira solta, tirou o pedaço da madeira e achou uma caixa enferrujada. Ele colocou as luvas e pegou a caixa, abriu a mesma e viu algumas fotos.
— O que achou? — Rosie surgiu atrás do detetive.
— Uma caixa escondida. Olha isso — ele entregou uma das fotos para Rosie. Era Margaret e Bonnie, as duas estavam almoçando e provavelmente não viram a foto ser tirada. As outras fotos eram somente Margaret andando pela rua.
— Temos mais provas contra ele — Lucas sorriu para a detetive.
— Detetives — um dos peritos os chamou — Achamos sangue embaixo da pia. Faremos um exame de DNA para verificarmos se é o sangue da vítima.
— Voltaremos para a delegacia para interrogar o assassino. Assim que tiver o resultado leve para mim tudo bem? — ele assentiu e voltou para o banheiro.
— Não quer olhar um pouco mais?
— Essa casa me dá arrepios.
— Espero que um dia me conte o que houve aqui — o detetive respondeu preocupado.
O dia seria longo e cansativo. Interrogar o suspeito ou assassino é uma das partes mais difíceis e ela sabia que Link não facilitaria. Aquilo poderia levar duas horas caso ele resolvesse confessar ou talvez vinte horas se ficasse em silêncio. Archer já seria acusado pelo assassinato de Margaret e do sequestro de Bonnie, ele precisava confessar os dois. Se Rosie bem conhecia Archer, ele já teria contratado o melhor advogado da cidade, ele não iria falar, não iria confessar e isso seria resolvido nos tribunais. Não importava, ela só queria que ele fosse preso e passasse bons anos na cadeia, talvez o resto da vida. Os repórteres ainda cercavam a entrada da delegacia quando o detetive se pronunciou.
— Acho melhor entrarmos pelos fundos, esses caras não vão nos dar descanso — Rosie assentiu e os dois entraram pela porta de emergência, despercebidos pelos jornalistas.
Os policiais ainda pegavam as digitais de Link. Tiraram sua foto e finalmente o levaram para o interrogatório. Ele já havia feito sua ligação para sua advogada. Kendall Hart. Se havia alguém que poderia tira-lo daquele inferno seria ela. Hart demoraria algumas horas para chegar, então não poderia o interrogar, ainda.
— Podemos conversar? — Lucas chamou a mulher que andava de um lado para o outro em frente à sala do interrogatório.
— Sobre o que? — ela ainda andava.
— O que ele fez com você?
— Sério? Essa pergunta de novo?
— Sim Amelia, essa pergunta novamente.
— Por que acha que ele fez algo?
— Você se treme todas as vezes em que precisa conversar com ele e olha, eu entendo que ele tenha quebrado o seu coração, mas eu também. Então que merda ele fez pra você ter medo?
Rosie ficou em silêncio e parou de andar. Talvez não fosse o melhor momento para falar, seria melhor inventar uma desculpa qualquer.
— Nada, ele só me traiu.
— Olha pra mim — Lucas virou a detetive para que ela ficasse a sua frente e pousou suas mãos sobre o ombro da mulher — Essa é a primeira vez a que vejo mentir pra mim. Por favor, me conte — mentir de novo? Não, Rosie sabia que ele iria perceber. Talvez fosse a hora de finalmente falar sobre.
— Ele me batia — Rosie falou friamente.
— Ele o que? — seria mais fácil se ela tivesse mentido.
— Feliz agora? — ela tirou as mãos de Lucas do seu ombro.
— Eu quero muito que você esteja mentindo pra mim agora Rosie.
— Queria estar mentindo — ele fechou os olhos e passou a mão no cabelo.
— Sinceramente? Ele tá morto — Lucas tentou entrar dentro da sala, mas foi impedido por Rosie que colocou as mãos em seu abdômen.
— Por Deus, não seja idiota! — o empurrou — Quer ir pra cadeia junto com ele?
— Se for para ficar na mesma cela que esse merda eu quero, ele não vai durar uma hora.
— E vai me deixar sozinha de novo? — ele finalmente a olhou.
Os olhos dele indicavam todo o ódio que sentia e ao ouvir as palavras de Rosie, se afastou da porta.
— Por que você não o entregou a polícia a primeira vez? Por que não contou para ninguém?
— Eu achava que o amava Lucas, que o que ele fazia para mim era amor, era a demonstração dele de amor. Não me culpe!
— Eu não estou! Estou me culpando. Porra era por isso a merda do cachecol, o roxo no braço e o inferno do cabelo solto, caralho você odeia quando ele não está preso. Achei que não fosse nada, mas eu deveria saber, sou muito idiota.
— Não, ele é idiota — ela apontou para a sala — Foi ele que causou isso, a mim, a Margaret e a Bonnie. Ele é o culpado.
— Preciso de ar. Quando a advogada dele chegar me chame — ele foi para a pequena área de lazer que havia na delegacia.
A culpa consumia os pensamentos do detetive. Se ele não tivesse sido tão egoísta, se não tivesse focado tanto no trabalho e olhado para quem realmente importava Duran nunca teria sofrido, ela estaria bem, eles estariam provavelmente casados. Era o que ele mais queria, casar com o amor da sua vida. O coração apertava cada vez mais que imaginava as mãos sujas de Archer encostando em alguma parte do corpo de Rosie, ele poderia entrar naquela sala e acabar com ele em poucos segundos. Ele queria e faria Link pagar por cada vez que a mulher teve que esconder os braços, o rosto. Ela não merecia isso, ninguém merecia isso.
O tempo parecia ter parado, as horas não passavam. Rosie ainda andava de um lado para o outro, Leicester ficava a uma hora de Sheffield, mas parecia que ela estava do outro lado do mundo. Duran finalmente ouviu o salto ecoando pela delegacia. As luzes dos corredores faziam a pele escura de Kendall reluzisse ainda mais.
— Kendall Hart — a advogada estendeu a mão para a detetive.
— Rosie Duran.
— Antes de interrogarem meu cliente gostaria de conversar um pouco com ele.
— Claro, chamarei o outro detetive enquanto isso.
A advogada assentiu e entrou na sala. Rosie ficou alguns segundos ainda parada na porta, imaginou Link nessas condições por outro motivo, não assassinato. Enfrentar aquele que te amedrontou por anos não era fácil. A detetive foi até uma das poucas áreas verdes dentro da delegacia e encontrou Lucas sentado na cadeira observando o escuro céu da Inglaterra.
— Aonde perderam o sol? — Lucas se pronunciou ao ouvir os passos da detetive
— O que?
— O sol nunca chega aqui.
— Achei que era você que tinha dito que saiu dos Estados Unidos pelo sol quente.
— Não pode usar minhas palavras contra mim — Rosie sorriu — Venha apreciar a escuridão comigo — ele bateu na cadeira ao lado.
— Sheffield tem seus dias ensolarados ta bom? — ela se sentou.
— Sim claro...dois dias de sol e trezentos e sessenta e três de chuva.
— Para com isso — ela o empurrou de leve — Advogada de Link acabou de chegar.
— Não vai adiantar muito.
— Para o assassinato de Margaret não, mas ele ainda pode escapar do sumiço de Bonnie.
— Eu duvido.
Eles ficaram um tempo em silêncio. Aquele silêncio que não incomoda, pelo contrário te deixa calmo e aliviado.
— Eu queria tanto ter evitado tudo isso — a voz de Lucas saiu falha, quase chorosa.
— Não podemos ser heróis Lucas, as vezes pessoas que amamos sofrem mesmo que façamos de tudo para impedir.
— Você não merecia isso — os olhos esverdeados do detetive estavam mais escuros.
— Ninguém merece — acariciou o rosto dele — Estou bem agora, nada que alguns anos de terapia não resolva.
Lucas riu e deu um selinho demorado em Rosie. O barulho da porta rangendo afastou os detetives.
— Eu não queria atrapalhar — Zara carregava alguns papeis embaixo do braço.
— Não atrapalhou querida — Rosie se levantou — O que houve?
— Trouxe suas pastas para o interrogatório do senhor Archer.
— Obrigada — Duran pegou a pasta que a cientista carregava.
— E eu também vim dar os parabéns aos dois pela prisão de Link, achei que o caso de Bonnie seria extenso.
— Bom tecnicamente ainda não acabou. Temos provas que ele matou Margaret, mas pode escapar do sequestro de Bonnie.
— Bom, mas se ele matou Margaret, ele é o único suspeito.
— Concordo, mas isso não será o suficiente. Precisamos de mais provas e descobrir quem era a outra pessoa com ele.
— Ah, ainda assim. Parabéns aos dois — ela sorriu para os detetives e deixou-os sozinhos.
— Vamos? — Rosie apontou para a porta.
— Sim, chefe — Lucas se levantou e acompanhou a detetive.
Rosie e Lucas entraram no interrogatório e sentaram-se frente a Link e Kendall. A advogada tinha algumas de suas pastas espalhadas pela mesa, enquanto Link balançava a perna compulsivamente, era a primeira vez que Duran o via nervoso.
A detive colocou seus papeis na mesa e apertou o botão de gravação.
— Agora são 13:45 do dia vinte e dois de outubro 2019, detetives Duran e Campbell juntamente com o suspeito Link Archer e sua advogada Kendall Hart. Senhor Link Archer sabe o porquê de estar aqui?
— Você inventou uma história que eu matei uma mulher que nunca vi na vida.
— O senhor está aqui por ser o assassino de Margaret Gordon e o principal suspeito pelo sequestro de Bonnie Edwards.
— Isso é loucura! — Link bateu na mesa e sua advogada colocou suas mãos na do rapaz.
— O que conversamos agora pouco? — Hart lançou um olhar furioso para o homem.
— Então — Lucas tomou a frente — Aonde o senhor estava no dia dezenove de outubro?
— Em casa.
— Algumas testemunhas disseram ter visto você em uma formatura na Lux.
— Tá bom, eu fui até lá. Mas fiquei pouco tempo.
— Como eu havia dito — Kendall olhou para Link — Não é preciso responder todas as perguntas.
Rosie pegou a foto da faca encontrada perto ao corpo.
— Reconhece essa faca? — ele não disse nada — É a mesma faca faltando na sua cozinha — a outra foto era o faqueiro de Link com um espaço vago.
— Essa faca foi encontrada ao lado do corpo de Margaret — Lucas olhou fixamente para ele — Com suas digitais.
Ele ainda assim ficou calado. Kendall deveria o ter instruído a ficar quieto.
— Temos um vídeo, a última vez que Margaret foi vista viva — Duran procurou as fotos na pasta — E nele, existem quatro pessoas. Bonnie, Margaret, uma mulher e um homem — ela mostra a foto para Link — Sabemos que o homem é você.
— Não, não sabem — Hart se pronunciou — Não tem nenhuma prova que seja ele.
— É a última vez que a senhorita Gordon foi vista e onde seu corpo foi achado. O objeto utilizado para matar a mulher foi a faca onde tem as digitais de Link Archer.
— Você pode dar a sua versão dos acontecimentos daquele dia — Lucas disse — Ou pode ficar em silêncio e assistir sua condenação.
— Sem comentários — a voz baixa de Link mal foi ouvida.
— Mais alto para a gravação.
— Sem comentários — Dessa vez ele disse olhando profundamente aos olhos da detetive.
Capítulo 11
Havia se passado sete horas e Link continuou em silêncio. Os detetives ainda estavam na sala mostrando suas provas contra o mesmo.
— Eu fico me perguntando o porquê de matar Margaret — Lucas olhou para a detetive.
— Ele já tinha Bonnie, por que assassinar a mulher, não é?
— Sem comentários — a frase já fora repetida muitas vezes por Archer.
— Nós queremos saber aonde está Bonnie. Diga e você sairá dessa mais rápido — Lucas disse.
— Sem comentários.
— Tudo bem — Rosie se ajeitou na cadeira — Deixe-me explicar o que aconteceu naquele dia, ou pelo menos o que eu creio ter acontecido. O senhor Archer aparece na formatura de sua amante, Bonnie. Ela diz que quer terminar e você se estressa, como de costume. Você decide dar um fim em tudo isso, chama uma outra mulher que por algum motivo aceita...
— Tudo isso é invenção sua — Kendall interrompeu Rosie.
— Será que é? — Duran mal olhou para a advogada — Continuando, você e essa tal moça sequestram Bonnie. Margaret vê a amiga em apuros decide te confrontar e você a mata.
— Sem comentários.
— Quem era essa outra mulher? — ele não respondeu — Aonde está Bonnie?!
— Eu já disse porra — Link aumentou a voz.
— Não, você não disse nada até agora. Por isso estou perguntando.
— Eu não fiz nada com Bonnie. Não tenho motivos para isso.
— Podemos ficar aqui o tempo que for necessário Link — Rosie apoiou seus braços na mesa — Eu e meu parceiro não temos nenhuma pressa — Archer segurou as mãos da detetive.
— Eu não fiz isso — Ela se soltou das mãos do homem.
— Toque em mim de novo e não importa o que aconteça comigo eu faço você ir para o hospital.
— Vocês querem a verdade? — Link se arrumou na cadeira — Querem que eu fale o que aconteceu? — Kendall parecia assustada com a atitude do cliente, qualquer coisa que ele falasse poderia complicar muito seu trabalho.
— É para isso que estamos aqui, pela verdade.
— Eu fui até a formatura de Bonnie pois ela não havia me convidado. Ela ainda estava namorando o bonitão ai — ele olhou para Lucas — Mas eu queria ir, então fiquei nos fundos da Lux e mandei uma mensagem para ela dizendo que estava lá — ele parou e bebeu um pouco da água que ainda estava intocável — Ela brigou comigo e me mandou embora. Foi isso.
— Uma testemunha disse ter visto você levar Bonnie para a rua Rhodes, onde coincidentemente o sangue dela foi encontrado.
— Tinha muita gente olhando nós dois brigarmos então a levei para uma rua menos movimentada. Depois da nossa briga eu fui embora, sem ela.
— E você tem algum álibi para provar sua história? — Lucas perguntou e ele negou com a cabeça baixa.
— Então essa história que o senhor acabou de dizer somente você tem conhecimento dela? — a detetive perguntou
— Sim.
— Não será fácil convencer o júri com sua versão.
— Essa é a verdade! Vocês têm que encontrar quem é o verdadeiro culpado — Link dizia assustado.
— Lucas — Rosie chamou a atenção do homem — Podemos conversar em particular? — ele assentiu — Interrogatório suspenso às 20:37 — Duran parou a gravação.
Os detetives se levantaram e deixaram a sala.
— O que foi? — ele estava impaciente.
— E se ele estiver falando a verdade?
— Você está honestamente comprando essa história? É mentira Rosie.
— Eu preciso pensar nos dois lados Lucas.
— A faca usada para matar Margaret tinha as digitais dele.
— Eu sei, mas quantas vezes já vimos isso? Acha que ele seria burro o suficiente para deixar a arma do crime perto do corpo?
— Eu honestamente acho — Rosie suspirou — E a porra das fotos escondidas no quarto dele?
— Kendall vai alegar que ele é um pervertido e só.
— Ainda não é prova suficiente Rosie? Que tipo de prova você quer? Uma foto dele matando Margaret?!
— Cuidado com a maneira em que fala comigo, eu ainda sou a responsável por esse caso — Duran fechou seu semblante — Eu vou esperar até que o sangue encontrado na casa dele seja comprovado que é de Margaret.
— E se não for? Vai deixa-lo sair impune por isso?
— Ele não vai sair impune, eu vou provar que foi ele. Mas eu não posso colocar a minha carreira em jogo.
— Eu não acredito nisso — Lucas passou a mão entre os cabelos — Que porra você ta fazendo?! Só prenda esse verme.
— Recomponha-se Lucas Campbell! — ela aumentou a voz — Eu sei o que eu estou fazendo!
— Não você não sabe. Está agindo pela emoção, está protegendo-o.
— A última coisa que eu estou fazendo é protegendo Link Archer.
— Achei que você queria justiça por Margaret.
— Quero e vou fazer justiça, mas do jeito certo Campbell. Eu comando essa investigação e estou dizendo que vou esperar até as provas se concretizarem.
— Eu acho que você ainda está apaixonada por ele — as palavras saíram sem pensar, mas Lucas sabia que havia dito algo ruim. A mão de Rosie agiu sozinha e deu um tapa no rosto do detetive.
— Nunca mais abra a porra da boca pra falar isso.
— Que se foda — o detetive saiu e deixou Rosie sozinha.
A atitude infantil de Lucas estressou Duran, ele sempre foi profissional, o caso de Bonnie estava deixando os dois exaustos. Era difícil não deixar os sentimentos se misturem, mas ele aceitou participar então teria que ser o mais racional possível, mesmo que difícil.
Duran decidiu voltar para sua sala por alguns minutos e colocar a cabeça no lugar. Sua sala normalmente era impecável, mas com os últimos dias o ambiente estava uma confusão. Talvez era aquilo que estava a tirando de sua sanidade, a bagunça atrapalhava o trabalho. Ela pegou alguns papéis e pastas espalhadas pela sala e os juntou em uma mesinha perto do pequeno sofá. Rosie encarou o quadro com as fotos dos suspeitos.
— Desculpa — a voz grave de Lucas tomou conta do ambiente — Eu fui criança, não deveria ter agido daquela maneira com você.
— Que bom que reconheceu.
— Eu fui tomado pelo ódio de Link, eu não pensei direito.
— Se formos trabalhar em equipe, preciso que confie em mim — ela finalmente se virou para ele — Eu sei o que eu estou fazendo.
— Eu só...Eu não consigo acreditar que estávamos tão próximos de finalmente colocar ele na cadeia e agora vai deixa-lo ir embora.
— Eu não estou absolvendo-o Lucas, eu estou protegendo nossas carreiras. Eu já o deixei acabar com a minha vida pessoal, não vou deixa-lo acabar com a minha profissional também.
— Então o que vai fazer?
— Vamos voltar para lá e dizer que ele, por enquanto, é somente um suspeito.
Lucas com certa dificuldade assentiu e seguiu a detetive de volta para a sala. Link tinha as mãos trêmulas e as pernas balançando. Rosie apertou novamente o botão da mesa.
— São 21:12 e voltamos com o interrogatório, todos ainda presentes. Senhor Link Archer, vou precisar passar tudo mais uma vez.
— Já não tem tudo gravado senhora Duran? — Kendall certamente estava ali para infernizar a vida de Rosie.
— É para não deixar dúvidas senhorita Hart — Rosie voltou sua atenção para os papéis na mesa — O que o senhor tem a dizer sobre as fotos de Margaret encontradas em sua casa?
— Dentro da caixa só tinha fotos de Bonnie, minha namorada, não acho que isso seja ilegal.
— Não, de jeito nenhum — Rosie continuou — Qual foi o horário em que chegou e saiu da Lux.
— Cheguei as uma e dez e devo ter ido embora dez minutos depois.
— Por onde passou para ir embora?
— Eu fui pela Rhodes pois já estava lá.
— Quanto tempo gastou?
— Quinze minutos no máximo.
— Como acha que sua faca foi parar perto do local do assassinato.
— Sem comentários.
Rosie terminava de anotar as informações em seu bloco, o que deixava Link ainda mais nervoso. A detetive respirou fundo e colocou a caneta em cima da mesa. Ela não queria fazer isso, gostaria de deixa-lo apodrecer na cadeia, mas ela tinha ética e iria fazer aquilo do jeito certo.
— Tudo bem — Duran tirou o silêncio da sala — Eu e meu parceiro — Rosie olhou para Lucas — Nós entramos em um acordo sobre o que faremos a sua versão da história.
— A versão da verdade.
— Por favor, não me interrompa. Decidimos que vamos... — as batidas na porta interromperam Rosie.
— Me perdoem — Zara parecia ofegante — Eu preciso conversar com a senhora Duran.
— Eu estou no meio de um interrogatório Zara, isso pode esperar.
— Não senhora Duran, não pode — relutante Rosie se levantou e saiu da sala.
— Primeiro, você nunca entra na sala de interrogatório se estiver com um suspeito dentro.
— Me desculpe, mas isso era muito importante — ela entregou uma folha pra detetive — É o resultado do sangue encontrando no banheiro de Link.
— Obrigada — Duran entrou novamente para o interrogatório — Acabei de receber o resultado de DNA do sangue encontrando em seu banheiro.
— Sangue no meu banheiro?
— É o sangue de Margaret — Lucas não disfarçou o sorriso que deu ao ouvir as palavras de Rosie.
— Isso é impossível! Eu não a matei!
— As provas dizem ao contrário — Link olhava desesperado para a advogada — Agora que tenho a certeza que foi você. Aonde está Bonnie?
— Rosie porra me escuta! Eu não fiz isso.
— Se você nos ajudar nas investigações quem sabe você não ganhe uma pena menor por colaboração.
— Pensei que não seria burro pra deixar a arma do crime para trás, mas aparentemente você é sim burro para isso. Nunca viu filmes policiais? — Lucas falou.
— Precisa disso tudo? — Kendall encarou Rosie.
— Lucas — Rosie chamou a atenção do detetive que ergueu os braços em rendição — Vamos pular para o final. Link Archer nós o acusamos pelo assassinato de Margaret Gordon e consequentemente pelo sequestro de Bonnie Edwards. Ficará preso sob custódia ou será solto sob fiança, sua advogada lhe explicará melhor a sós — ela recolheu suas pastas — E eu quase acreditei em você.
— Esse é o maior erro da sua vida.
— Não, meu maior erro foi por um segundo achar que estava dizendo a verdade.
Rosie encerrou a gravação e viu Link ser levado para fora da sala. Ainda assim ela não sentia que aquilo era o certo. No fundo Duran estava convicta que não foi ele que havia sequestrado Bonnie, mas se ela tivesse o soltado com a quantidade de provas que têm a teriam chamado de incompetente.
Seguida de Lucas, Rosie pegou as provas e os levou para sua sala, jogou em cima de sua mesa e encarou o quadro com as fotos dos suspeitos, ela ainda não arquivaria esse caso, ainda precisava saber quem era a mulher.
— E agora? O que vai fazer? — o detetive perguntou.
— Agora vou arrumar minhas coisas e mudar de sala.
— Lilian finalmente notou o tamanho da sua sala?
— Aparentemente sim, ela me disse para mudar para a sala do Ramsey há dias atrás, mas não tive tempo.
— Então irei te ajudar com a mudança — Rosie sorriu para o detetive.
Duran colocou suas pastas dentro de uma caixa enquanto Lucas recolhia os livros que a detetive deixava pela sala. Eles pegaram o que conseguiram e foram até a sala que agora seria de Rosie. Ela abriu a porta e colocou a caixa no chão.
— Agora minha sala é maior que a sua.
— Você merece mais do que eu — o detetive piscou para a mulher.
— Olha essa vista — Rosie foi até a grande janela ao fundo da sala.
— Qual? A cidade ou você? — Lucas abraçou a mulher por trás.
— Não começa.
— Com o que?
— Essa sua melação — ela riu — Você sempre faz isso.
— E eu vou continuar fazendo, já deveria ter se acostumado.
— Foi por isso que terminamos.
— Ah qual é — ele virou a detetive — Me deixa aproveitar você um pouco. Foram quatro anos sem poder te tocar — ele beijou o pescoço da detetive — Quatro anos sem poder te beijar — Rosie colocou as mãos no rosto do homem e o beijou.
Lucas apertou a cintura de Rosie a puxando para perto, ainda a beijando, ele a levou para a mesa ao centro da sala. Campbell levantou a mulher e a sentou em cima da mesa. Ele separou seus lábios e a olhou. Estava com saudade daquele sentimento, as borboletas no estômago, a excitação correndo por todo o seu corpo. Campbell distribuiu beijos molhados pelo pescoço da mulher. As mãos dela passeavam pelo abdômen do detetive, suas pernas entrelaçaram a cintura do rapaz.
— Alguém vai nos ver — sussurrou.
— Essa é a graça — ele beijou o seio de Rosie.
Duran puxou o rosto de Lucas e o beijou novamente, suas mãos que ainda estavam no abdômen do homem desabotoou a camisa e a jogou para o canto da sala. Ele fez o mesmo com o blazer preto da mulher e a blusa foi arrancada segundos depois. Lucas calmamente tirou a calça de Rosie e beijou a coxa da mulher. O toque dele fazia coisas com o corpo de Duran, ela não poderia esconder mesmo que quisesse, as mãos, a respiração, tudo o que aquele homem fizesse tiraria a sanidade da detetive.
— Achei que iria morrer quando me deixou — ele sussurrou ao ouvido de Rosie e pode ver o corpo da mesma se arrepiar.
— Viveu bem sem mim — ela arranhou as costas de Lucas.
— Diferente, eu sobrevivi sem você — a mão de Lucas segurou o pescoço de Duran — Porque sabia que iria te tocar mais uma vez — com a mesma mão passou pelo corpo da detetive.
— Então faça com que eu me sinta viva — Rosie sussurrou.
Lucas puxou o rosto de Rosie e a beijou fervorosamente, a rapidez do beijo poderia atrapalhar a coordenação, mas não para eles. Os dois sabiam exatamente o que estavam fazendo, Campbell pegou Rosie e a colocou delicadamente ao chão.
— Gelado — ela riu.
— Sei que não vai querer sujar sua mesa nova — ele piscou para Duran.
— Eu fico me perguntando o porquê de matar Margaret — Lucas olhou para a detetive.
— Ele já tinha Bonnie, por que assassinar a mulher, não é?
— Sem comentários — a frase já fora repetida muitas vezes por Archer.
— Nós queremos saber aonde está Bonnie. Diga e você sairá dessa mais rápido — Lucas disse.
— Sem comentários.
— Tudo bem — Rosie se ajeitou na cadeira — Deixe-me explicar o que aconteceu naquele dia, ou pelo menos o que eu creio ter acontecido. O senhor Archer aparece na formatura de sua amante, Bonnie. Ela diz que quer terminar e você se estressa, como de costume. Você decide dar um fim em tudo isso, chama uma outra mulher que por algum motivo aceita...
— Tudo isso é invenção sua — Kendall interrompeu Rosie.
— Será que é? — Duran mal olhou para a advogada — Continuando, você e essa tal moça sequestram Bonnie. Margaret vê a amiga em apuros decide te confrontar e você a mata.
— Sem comentários.
— Quem era essa outra mulher? — ele não respondeu — Aonde está Bonnie?!
— Eu já disse porra — Link aumentou a voz.
— Não, você não disse nada até agora. Por isso estou perguntando.
— Eu não fiz nada com Bonnie. Não tenho motivos para isso.
— Podemos ficar aqui o tempo que for necessário Link — Rosie apoiou seus braços na mesa — Eu e meu parceiro não temos nenhuma pressa — Archer segurou as mãos da detetive.
— Eu não fiz isso — Ela se soltou das mãos do homem.
— Toque em mim de novo e não importa o que aconteça comigo eu faço você ir para o hospital.
— Vocês querem a verdade? — Link se arrumou na cadeira — Querem que eu fale o que aconteceu? — Kendall parecia assustada com a atitude do cliente, qualquer coisa que ele falasse poderia complicar muito seu trabalho.
— É para isso que estamos aqui, pela verdade.
— Eu fui até a formatura de Bonnie pois ela não havia me convidado. Ela ainda estava namorando o bonitão ai — ele olhou para Lucas — Mas eu queria ir, então fiquei nos fundos da Lux e mandei uma mensagem para ela dizendo que estava lá — ele parou e bebeu um pouco da água que ainda estava intocável — Ela brigou comigo e me mandou embora. Foi isso.
— Uma testemunha disse ter visto você levar Bonnie para a rua Rhodes, onde coincidentemente o sangue dela foi encontrado.
— Tinha muita gente olhando nós dois brigarmos então a levei para uma rua menos movimentada. Depois da nossa briga eu fui embora, sem ela.
— E você tem algum álibi para provar sua história? — Lucas perguntou e ele negou com a cabeça baixa.
— Então essa história que o senhor acabou de dizer somente você tem conhecimento dela? — a detetive perguntou
— Sim.
— Não será fácil convencer o júri com sua versão.
— Essa é a verdade! Vocês têm que encontrar quem é o verdadeiro culpado — Link dizia assustado.
— Lucas — Rosie chamou a atenção do homem — Podemos conversar em particular? — ele assentiu — Interrogatório suspenso às 20:37 — Duran parou a gravação.
Os detetives se levantaram e deixaram a sala.
— O que foi? — ele estava impaciente.
— E se ele estiver falando a verdade?
— Você está honestamente comprando essa história? É mentira Rosie.
— Eu preciso pensar nos dois lados Lucas.
— A faca usada para matar Margaret tinha as digitais dele.
— Eu sei, mas quantas vezes já vimos isso? Acha que ele seria burro o suficiente para deixar a arma do crime perto do corpo?
— Eu honestamente acho — Rosie suspirou — E a porra das fotos escondidas no quarto dele?
— Kendall vai alegar que ele é um pervertido e só.
— Ainda não é prova suficiente Rosie? Que tipo de prova você quer? Uma foto dele matando Margaret?!
— Cuidado com a maneira em que fala comigo, eu ainda sou a responsável por esse caso — Duran fechou seu semblante — Eu vou esperar até que o sangue encontrado na casa dele seja comprovado que é de Margaret.
— E se não for? Vai deixa-lo sair impune por isso?
— Ele não vai sair impune, eu vou provar que foi ele. Mas eu não posso colocar a minha carreira em jogo.
— Eu não acredito nisso — Lucas passou a mão entre os cabelos — Que porra você ta fazendo?! Só prenda esse verme.
— Recomponha-se Lucas Campbell! — ela aumentou a voz — Eu sei o que eu estou fazendo!
— Não você não sabe. Está agindo pela emoção, está protegendo-o.
— A última coisa que eu estou fazendo é protegendo Link Archer.
— Achei que você queria justiça por Margaret.
— Quero e vou fazer justiça, mas do jeito certo Campbell. Eu comando essa investigação e estou dizendo que vou esperar até as provas se concretizarem.
— Eu acho que você ainda está apaixonada por ele — as palavras saíram sem pensar, mas Lucas sabia que havia dito algo ruim. A mão de Rosie agiu sozinha e deu um tapa no rosto do detetive.
— Nunca mais abra a porra da boca pra falar isso.
— Que se foda — o detetive saiu e deixou Rosie sozinha.
A atitude infantil de Lucas estressou Duran, ele sempre foi profissional, o caso de Bonnie estava deixando os dois exaustos. Era difícil não deixar os sentimentos se misturem, mas ele aceitou participar então teria que ser o mais racional possível, mesmo que difícil.
Duran decidiu voltar para sua sala por alguns minutos e colocar a cabeça no lugar. Sua sala normalmente era impecável, mas com os últimos dias o ambiente estava uma confusão. Talvez era aquilo que estava a tirando de sua sanidade, a bagunça atrapalhava o trabalho. Ela pegou alguns papéis e pastas espalhadas pela sala e os juntou em uma mesinha perto do pequeno sofá. Rosie encarou o quadro com as fotos dos suspeitos.
— Desculpa — a voz grave de Lucas tomou conta do ambiente — Eu fui criança, não deveria ter agido daquela maneira com você.
— Que bom que reconheceu.
— Eu fui tomado pelo ódio de Link, eu não pensei direito.
— Se formos trabalhar em equipe, preciso que confie em mim — ela finalmente se virou para ele — Eu sei o que eu estou fazendo.
— Eu só...Eu não consigo acreditar que estávamos tão próximos de finalmente colocar ele na cadeia e agora vai deixa-lo ir embora.
— Eu não estou absolvendo-o Lucas, eu estou protegendo nossas carreiras. Eu já o deixei acabar com a minha vida pessoal, não vou deixa-lo acabar com a minha profissional também.
— Então o que vai fazer?
— Vamos voltar para lá e dizer que ele, por enquanto, é somente um suspeito.
Lucas com certa dificuldade assentiu e seguiu a detetive de volta para a sala. Link tinha as mãos trêmulas e as pernas balançando. Rosie apertou novamente o botão da mesa.
— São 21:12 e voltamos com o interrogatório, todos ainda presentes. Senhor Link Archer, vou precisar passar tudo mais uma vez.
— Já não tem tudo gravado senhora Duran? — Kendall certamente estava ali para infernizar a vida de Rosie.
— É para não deixar dúvidas senhorita Hart — Rosie voltou sua atenção para os papéis na mesa — O que o senhor tem a dizer sobre as fotos de Margaret encontradas em sua casa?
— Dentro da caixa só tinha fotos de Bonnie, minha namorada, não acho que isso seja ilegal.
— Não, de jeito nenhum — Rosie continuou — Qual foi o horário em que chegou e saiu da Lux.
— Cheguei as uma e dez e devo ter ido embora dez minutos depois.
— Por onde passou para ir embora?
— Eu fui pela Rhodes pois já estava lá.
— Quanto tempo gastou?
— Quinze minutos no máximo.
— Como acha que sua faca foi parar perto do local do assassinato.
— Sem comentários.
Rosie terminava de anotar as informações em seu bloco, o que deixava Link ainda mais nervoso. A detetive respirou fundo e colocou a caneta em cima da mesa. Ela não queria fazer isso, gostaria de deixa-lo apodrecer na cadeia, mas ela tinha ética e iria fazer aquilo do jeito certo.
— Tudo bem — Duran tirou o silêncio da sala — Eu e meu parceiro — Rosie olhou para Lucas — Nós entramos em um acordo sobre o que faremos a sua versão da história.
— A versão da verdade.
— Por favor, não me interrompa. Decidimos que vamos... — as batidas na porta interromperam Rosie.
— Me perdoem — Zara parecia ofegante — Eu preciso conversar com a senhora Duran.
— Eu estou no meio de um interrogatório Zara, isso pode esperar.
— Não senhora Duran, não pode — relutante Rosie se levantou e saiu da sala.
— Primeiro, você nunca entra na sala de interrogatório se estiver com um suspeito dentro.
— Me desculpe, mas isso era muito importante — ela entregou uma folha pra detetive — É o resultado do sangue encontrando no banheiro de Link.
— Obrigada — Duran entrou novamente para o interrogatório — Acabei de receber o resultado de DNA do sangue encontrando em seu banheiro.
— Sangue no meu banheiro?
— É o sangue de Margaret — Lucas não disfarçou o sorriso que deu ao ouvir as palavras de Rosie.
— Isso é impossível! Eu não a matei!
— As provas dizem ao contrário — Link olhava desesperado para a advogada — Agora que tenho a certeza que foi você. Aonde está Bonnie?
— Rosie porra me escuta! Eu não fiz isso.
— Se você nos ajudar nas investigações quem sabe você não ganhe uma pena menor por colaboração.
— Pensei que não seria burro pra deixar a arma do crime para trás, mas aparentemente você é sim burro para isso. Nunca viu filmes policiais? — Lucas falou.
— Precisa disso tudo? — Kendall encarou Rosie.
— Lucas — Rosie chamou a atenção do detetive que ergueu os braços em rendição — Vamos pular para o final. Link Archer nós o acusamos pelo assassinato de Margaret Gordon e consequentemente pelo sequestro de Bonnie Edwards. Ficará preso sob custódia ou será solto sob fiança, sua advogada lhe explicará melhor a sós — ela recolheu suas pastas — E eu quase acreditei em você.
— Esse é o maior erro da sua vida.
— Não, meu maior erro foi por um segundo achar que estava dizendo a verdade.
Rosie encerrou a gravação e viu Link ser levado para fora da sala. Ainda assim ela não sentia que aquilo era o certo. No fundo Duran estava convicta que não foi ele que havia sequestrado Bonnie, mas se ela tivesse o soltado com a quantidade de provas que têm a teriam chamado de incompetente.
Seguida de Lucas, Rosie pegou as provas e os levou para sua sala, jogou em cima de sua mesa e encarou o quadro com as fotos dos suspeitos, ela ainda não arquivaria esse caso, ainda precisava saber quem era a mulher.
— E agora? O que vai fazer? — o detetive perguntou.
— Agora vou arrumar minhas coisas e mudar de sala.
— Lilian finalmente notou o tamanho da sua sala?
— Aparentemente sim, ela me disse para mudar para a sala do Ramsey há dias atrás, mas não tive tempo.
— Então irei te ajudar com a mudança — Rosie sorriu para o detetive.
Duran colocou suas pastas dentro de uma caixa enquanto Lucas recolhia os livros que a detetive deixava pela sala. Eles pegaram o que conseguiram e foram até a sala que agora seria de Rosie. Ela abriu a porta e colocou a caixa no chão.
— Agora minha sala é maior que a sua.
— Você merece mais do que eu — o detetive piscou para a mulher.
— Olha essa vista — Rosie foi até a grande janela ao fundo da sala.
— Qual? A cidade ou você? — Lucas abraçou a mulher por trás.
— Não começa.
— Com o que?
— Essa sua melação — ela riu — Você sempre faz isso.
— E eu vou continuar fazendo, já deveria ter se acostumado.
— Foi por isso que terminamos.
— Ah qual é — ele virou a detetive — Me deixa aproveitar você um pouco. Foram quatro anos sem poder te tocar — ele beijou o pescoço da detetive — Quatro anos sem poder te beijar — Rosie colocou as mãos no rosto do homem e o beijou.
Lucas apertou a cintura de Rosie a puxando para perto, ainda a beijando, ele a levou para a mesa ao centro da sala. Campbell levantou a mulher e a sentou em cima da mesa. Ele separou seus lábios e a olhou. Estava com saudade daquele sentimento, as borboletas no estômago, a excitação correndo por todo o seu corpo. Campbell distribuiu beijos molhados pelo pescoço da mulher. As mãos dela passeavam pelo abdômen do detetive, suas pernas entrelaçaram a cintura do rapaz.
— Alguém vai nos ver — sussurrou.
— Essa é a graça — ele beijou o seio de Rosie.
Duran puxou o rosto de Lucas e o beijou novamente, suas mãos que ainda estavam no abdômen do homem desabotoou a camisa e a jogou para o canto da sala. Ele fez o mesmo com o blazer preto da mulher e a blusa foi arrancada segundos depois. Lucas calmamente tirou a calça de Rosie e beijou a coxa da mulher. O toque dele fazia coisas com o corpo de Duran, ela não poderia esconder mesmo que quisesse, as mãos, a respiração, tudo o que aquele homem fizesse tiraria a sanidade da detetive.
— Achei que iria morrer quando me deixou — ele sussurrou ao ouvido de Rosie e pode ver o corpo da mesma se arrepiar.
— Viveu bem sem mim — ela arranhou as costas de Lucas.
— Diferente, eu sobrevivi sem você — a mão de Lucas segurou o pescoço de Duran — Porque sabia que iria te tocar mais uma vez — com a mesma mão passou pelo corpo da detetive.
— Então faça com que eu me sinta viva — Rosie sussurrou.
Lucas puxou o rosto de Rosie e a beijou fervorosamente, a rapidez do beijo poderia atrapalhar a coordenação, mas não para eles. Os dois sabiam exatamente o que estavam fazendo, Campbell pegou Rosie e a colocou delicadamente ao chão.
— Gelado — ela riu.
— Sei que não vai querer sujar sua mesa nova — ele piscou para Duran.
Capítulo 12
Deitados no chão, os corpos suados dos detetives estavam descompassados, Rosie estava deitada sobre Lucas. Ele passava gentilmente a mão pelo cabelo de Duran enquanto a mulher fazia desenhos com a mão no peito do detetive.
— Eu preciso de um banho — Rosie se levantou e pegou suas peças de roupa.
— Quer ir para o hotel? Tem mais uma diária reservada para você.
— O que acha de irmos para sua casa dessa vez? — ela deu um selinho nele.
— Eu acho uma ótima ideia — ele sorriu entre os beijos.
— Então se vista — Rosie pegou a calça de Lucas que estava em cima de uma das caixas e jogou para ele. Um pedaço de papel e o bloco de anotações da detetive caiu.
— O que é isso? — ele apontou para o papel. Rosie o pegou e leu.
— É o depoimento de Benjamin — Lucas percebeu que em um determinado momento a mulher fechou o rosto.
— O que foi?
— Ele mentiu pra mim.
— Mentiu como? — Lucas ainda terminando de se vestir ficou ao lado de Rosie.
— Quando Eleanor veio até mim contar sobre Link — ela abriu o bloco de notas — Ela me disse que Bonnie não saiu da festa, ficou um bom tempo dançando com eles até Link chegar — mostrou o depoimento de Eleanor — Mas Benjamin me disse que assim que você saiu da festa ela foi atrás e não voltou.
— E como sabe que não é Eleanor que está mentindo?
— Link confirmou que foi até a festa depois de você sair, Eleanor disse que viu Bonnie conversando com ele. A única pessoa que pode estar mentindo é Benjamin.
— Por que ele mentiria?
— Não sei, ele deixou bem claro para mim quando o fui visitar que Bonnie era a melhor amiga dele e vice versa. Me disse com todas as letras que quando você saiu da festa, Bonnie foi atrás.
Rosie voltou para sua antiga sala e parada em frente ao quadro ela colou o depoimento de Benjamin. Abriu seu bloco novamente e releu o que as amigas de Bonnie haviam dito sobre a festa.
— Como eu não vi isso? — Duran entregou seu bloco à Lucas — Todas as amigas disseram que Benjamin estava com Margaret, os dois não se desgrudaram um minuto.
— Não faria sentido ela ser sequestrada e ele não perceber.
— Exatamente! A gente precisa ir até a casa dele.
— Rosie são quase uma da manhã.
— Lucas, cada segundo é precioso pra Bonnie.
Os detetives se dirigiam para o carro de Campbell. Enquanto eles iam para casa de Benjamin a detetive possuía a mão no rosto e as pernas balançavam. Estava decepcionada consigo mesma, qualquer outra pessoa teria visto isso, certo? Tudo estava logo embaixo do seu nariz e ela deixou escapar. Erros não faziam parte do vocabulário de Duran, ela não admitia erros seus ou dos outros, se cobrava demais e não se permitia deslizar principalmente no trabalho.
— Não precisa ficar assim — Lucas colocou a mão sobre a perna da detetive — Não é sua culpa.
— Claro que é. Fui eu que não percebi.
— Rosie, eu teria prendido Link em dois segundos e teria fechado o caso. Eu não procuraria por mais provas. Ninguém percebeu que algo estava errado.
— Eu percebi, mas ainda assim me deixei levar — ela bateu a mão sobre a cabeça algumas vezes.
— Rosie Amelia Duran, pare com isso — ele pegou a mão da mulher — Não pode ficar assim todas as vezes que comete um erro. Acontece com todos — Rosie permaneceu em silêncio.
Lucas sabia que ela não tinha controle sobre suas crises. A criação da detetive foi assim, erros são inaceitáveis e pedir ajuda é fraqueza. Havia ficado muito feliz quando finalmente conseguiu a convencer ir à um psicólogo, mas ela parou de ir assim que terminaram. Partia seu coração não poder ajudar, não poder mostra-la que estava tudo bem e que ele estava ali.
Assim que chegaram à casa de Benjamin viram que todas as luzes estavam acesas. Rosie bateu forte na porta.
— Polícia de Sheffield! — sem respostas a detetive bateu mais uma vez. A porta foi aberta lentamente.
— O que houve? — uma senhora apareceu assustada.
— Precisamos conversar com Benjamin Lewis.
— O meu neto está viajando.
— Viajando? Para onde?
— Eu não sei, ele não me disse.
— Não é comum você viajar quando sua melhor amiga está desaparecida e sua namorada morta. Isso dificultaria mais as investigações.
— Vamos precisar de um mandado para procurar alguma prova dentro da casa — Lucas sussurrou.
— A gente não tem tempo.
— Não é você que quer fazer do jeito certo? — Rosie revirou os olhos.
— Tudo bem — Ela voltou a atenção para a senhora — Como se chama?
— Adeline Lewis.
— Senhora Lewis, eu e meu parceiro vamos voltar daqui uns dias para uma busca, tudo bem?
— E gostaríamos de pedir que não informe seu neto que viemos aqui.
— Mas ele fez alguma coisa?
— Estamos fazendo isso com todos os amigos de Margaret, acho que a senhora sabe o que, infelizmente, aconteceu com ela.
— Ah sim, ela era uma boa menina.
— Sabe dizer a relação dela com seu neto? — Rosie perguntou.
— Sempre foram bons amigos, mas de uns dias pra cá eles brigavam muito.
— Sabe o por que das brigas? — A detetive pegou seu bloco de anotações.
— Eu não gosto de me meter nos assuntos de Benjamin, sinto muito.
Rosie e Lucas agradeceram a mulher e voltaram para o carro. Não tinha o que fazer no momento, teriam que pedir pelo mandado e isso poderia demorar já que Link já fora acusado.
— Quanto tempo acha que vai demorar? — Lucas deu partida no carro e foi em direção ao hotel onde Rosie estava.
— Podemos pedir para que Lilian exija urgência, mas no mínimo demoraria dois dias. É muito tempo para alguém sequestrado.
Campbell recolheu as malas que Rosie havia deixado no hotel e seguiu para sua casa. Era a primeira vez em quatro anos que ela entraria novamente naquele lugar que uma vez chamou de casa.
— Bem vinda ao lar — Lucas abriu a porta para a detetive.
— Ah você trocou o sofá, eu amava o mofo do antigo — Ela riu.
— Me lembrei que você vivia brigando comigo e então comprei outro.
— Depois que terminamos? Não adiantaria muito.
— Claro que sim. Eu sabia que iriamos voltar — Ele a beijou.
— Não se acha muito convencido?
— Nós fomos feitos um para o outro Amelia, como a chuva é para a Inglaterra — Ele se ajoelhou.
— Meu Deus. Eu juro que se você não parar eu saio e nunca mais volto.
Ele a abraçou e se deitaram no sofá. Rosie se perdeu na conversa e adormeceu, Lucas ainda acordado ficou um tempo olhando a mulher dormir, sentiu falta de a ter nos braços, de vê-la dormir e sentir a respiração leve que ela tinha, o sono o venceu e Campbell dormiu abraçado a Rosie.
O som estridente acordou a detetive. Já era de manhã e Lucas não estava mais ao seu lado. Duran foi até a cozinha e encontrou Campbell ajoelhado ao chão recolhendo as panelas caídas, foi daí que veio o barulho. Ele ainda não tinha notado a presença da moça.
— Quanta bagunça Campbell — Lucas a olhou assustado.
¬— Ah não, era pra ser uma surpresa — Ele mostrou a mesa da cozinha com o café da manhã.
— Com o barulho foi difícil não acordar — Rosie riu e se sentou na mesa — Não precisa disso tudo. Você já me conquistou uma vez.
— Vou conquistar quantas vezes for necessário — a beijou na testa — E para não a deixar preocupada ou com pressa, já liguei para senhora Green e pedi o mandado para a casa de Benjamin, ela vai tentar conseguir o mais depressa possível.
Enquanto Rosie comia o café da manhã ficou por um tempo olhando para o homem à sua frente. Aquilo era amor, não o que tinha vivido com Link. Tudo o que aconteceu naquela época era caótico, ela não se sentia suficiente, sentia-se presa e sem ar. Tinha medo de tudo e todos, teve o seu pior desempenho no trabalho pois preferia ficar na sala do que sair para as ocorrências. Foi nessa mesma época que Lilian entrou para delegacia o que fez com que a delegada achasse a detetive incapaz, ela se recusava a dar qualquer caso para alguém que não tinha experiência no campo. Lucas era o prefiro da mesma, ele se dispunha para ir aonde fosse necessário. Quando finalmente terminou com aquele que ameaçava seu psicológico era tarde demais, Lilian já tinha criado sua imagem da detetive, mas isso não a parou. Duran estava disposta a mostrar à delegada que ela era capaz e que estava na carreira certa.
Lucas trazia o melhor de Rosie à tona. Era suave e calmo. Ela não precisava fingir ser alguém que não era, podia ser aquela mesma mulher forte e independente que sempre foi. O mundo parecia ter voltado a ter cor e sentido. E felizmente tudo isso não era graças somente a Campbell, mas a detetive que voltou a querer se olhar no espelho e a gostar de tudo que via. O melhor sentimento que uma mulher pode ter é se sentir a mulher maravilha e era exatamente assim que Rosie se via.
Duran já havia se trocado e esperava Lucas na sala de estar. Ele sempre foi quem se atrasava. Campbell finalmente desce as escadas e os dois vão até a delegacia. Parecia não ser capaz, porém de alguma maneira mais jornalistas cercavam a entrada do local, impedindo que qualquer um ultrapasse. Com certa dificuldade os detetives entram à delegacia e são urgentemente chamados à sala de reunião.
— Detetives — Lilian aponta para algumas cadeiras vagas na sala. Rosie percebe que os pais de Bonnie estavam presentes, isso nunca acontecia — O senhor e a senhora Edwards vieram para conversar com vocês.
— Nós pedimos expressamente que não divulgassem o caso de nossa filha para a mídia — o pai de Bonnie estava alterado.
— Não fomos nós que chamamos eles. Provavelmente vieram após o assassinato de Margaret — Lucas rebateu.
— Não importa! Era a obrigação de vocês manter segredo!
— Não é fácil fazer uma investigação de desaparecimento com tanto sigilo senhor Edwards — Rosie falou calmamente.
— E que história é essa que Link é o suspeito? Ele não machucaria uma mosca — Debbie olhou para Rosie — É um dos homens mais respeitosos que já conheci.
— Senhora Edwards, encontramos provas suficientes para acreditar que ele é o assassino de Margaret e o sequestrador de sua filha.
— Isso é um absurdo Lilian! Eu quero outros detetives para o caso de Bonnie.
Pela primeira vez Rosie viu a delegada a olhar com compaixão. Ela respirou fundo e olhou para o homem a sua frente.
— Henry, esses são os melhores detetives que eu já tive o prazer de trabalhar. Não convocarei outros policiais para esse caso, a não ser que não queiram encontrar sua filha — eles permaneceram em silêncio — Foi o que eu imaginei — a delegada se levantou — Duran, Campbell — pegou uma folha dentro de sua pasta — Aqui está o mandado de busca que me pediram.
— Mas já? Achei que demoraria muito — Rosie pegou a folha.
— Sou muito respeitada na minha área senhorita Duran — sorriu e se virou para os pais de Bonnie — Peço perdão por vocês terem gastado o tempo de vocês. Se quiserem podem passar o caso da filha de vocês para outra delegacia, mas digo com certeza que vocês não terão tanto sucesso se tirarem das minhas mãos.
Os detetives saíram antes de ouvir qualquer resposta dos Edwards. Lucas chamou alguns policiais para acompanha-los até a casa de Benjamin.
— Eu preciso de um banho — Rosie se levantou e pegou suas peças de roupa.
— Quer ir para o hotel? Tem mais uma diária reservada para você.
— O que acha de irmos para sua casa dessa vez? — ela deu um selinho nele.
— Eu acho uma ótima ideia — ele sorriu entre os beijos.
— Então se vista — Rosie pegou a calça de Lucas que estava em cima de uma das caixas e jogou para ele. Um pedaço de papel e o bloco de anotações da detetive caiu.
— O que é isso? — ele apontou para o papel. Rosie o pegou e leu.
— É o depoimento de Benjamin — Lucas percebeu que em um determinado momento a mulher fechou o rosto.
— O que foi?
— Ele mentiu pra mim.
— Mentiu como? — Lucas ainda terminando de se vestir ficou ao lado de Rosie.
— Quando Eleanor veio até mim contar sobre Link — ela abriu o bloco de notas — Ela me disse que Bonnie não saiu da festa, ficou um bom tempo dançando com eles até Link chegar — mostrou o depoimento de Eleanor — Mas Benjamin me disse que assim que você saiu da festa ela foi atrás e não voltou.
— E como sabe que não é Eleanor que está mentindo?
— Link confirmou que foi até a festa depois de você sair, Eleanor disse que viu Bonnie conversando com ele. A única pessoa que pode estar mentindo é Benjamin.
— Por que ele mentiria?
— Não sei, ele deixou bem claro para mim quando o fui visitar que Bonnie era a melhor amiga dele e vice versa. Me disse com todas as letras que quando você saiu da festa, Bonnie foi atrás.
Rosie voltou para sua antiga sala e parada em frente ao quadro ela colou o depoimento de Benjamin. Abriu seu bloco novamente e releu o que as amigas de Bonnie haviam dito sobre a festa.
— Como eu não vi isso? — Duran entregou seu bloco à Lucas — Todas as amigas disseram que Benjamin estava com Margaret, os dois não se desgrudaram um minuto.
— Não faria sentido ela ser sequestrada e ele não perceber.
— Exatamente! A gente precisa ir até a casa dele.
— Rosie são quase uma da manhã.
— Lucas, cada segundo é precioso pra Bonnie.
Os detetives se dirigiam para o carro de Campbell. Enquanto eles iam para casa de Benjamin a detetive possuía a mão no rosto e as pernas balançavam. Estava decepcionada consigo mesma, qualquer outra pessoa teria visto isso, certo? Tudo estava logo embaixo do seu nariz e ela deixou escapar. Erros não faziam parte do vocabulário de Duran, ela não admitia erros seus ou dos outros, se cobrava demais e não se permitia deslizar principalmente no trabalho.
— Não precisa ficar assim — Lucas colocou a mão sobre a perna da detetive — Não é sua culpa.
— Claro que é. Fui eu que não percebi.
— Rosie, eu teria prendido Link em dois segundos e teria fechado o caso. Eu não procuraria por mais provas. Ninguém percebeu que algo estava errado.
— Eu percebi, mas ainda assim me deixei levar — ela bateu a mão sobre a cabeça algumas vezes.
— Rosie Amelia Duran, pare com isso — ele pegou a mão da mulher — Não pode ficar assim todas as vezes que comete um erro. Acontece com todos — Rosie permaneceu em silêncio.
Lucas sabia que ela não tinha controle sobre suas crises. A criação da detetive foi assim, erros são inaceitáveis e pedir ajuda é fraqueza. Havia ficado muito feliz quando finalmente conseguiu a convencer ir à um psicólogo, mas ela parou de ir assim que terminaram. Partia seu coração não poder ajudar, não poder mostra-la que estava tudo bem e que ele estava ali.
Assim que chegaram à casa de Benjamin viram que todas as luzes estavam acesas. Rosie bateu forte na porta.
— Polícia de Sheffield! — sem respostas a detetive bateu mais uma vez. A porta foi aberta lentamente.
— O que houve? — uma senhora apareceu assustada.
— Precisamos conversar com Benjamin Lewis.
— O meu neto está viajando.
— Viajando? Para onde?
— Eu não sei, ele não me disse.
— Não é comum você viajar quando sua melhor amiga está desaparecida e sua namorada morta. Isso dificultaria mais as investigações.
— Vamos precisar de um mandado para procurar alguma prova dentro da casa — Lucas sussurrou.
— A gente não tem tempo.
— Não é você que quer fazer do jeito certo? — Rosie revirou os olhos.
— Tudo bem — Ela voltou a atenção para a senhora — Como se chama?
— Adeline Lewis.
— Senhora Lewis, eu e meu parceiro vamos voltar daqui uns dias para uma busca, tudo bem?
— E gostaríamos de pedir que não informe seu neto que viemos aqui.
— Mas ele fez alguma coisa?
— Estamos fazendo isso com todos os amigos de Margaret, acho que a senhora sabe o que, infelizmente, aconteceu com ela.
— Ah sim, ela era uma boa menina.
— Sabe dizer a relação dela com seu neto? — Rosie perguntou.
— Sempre foram bons amigos, mas de uns dias pra cá eles brigavam muito.
— Sabe o por que das brigas? — A detetive pegou seu bloco de anotações.
— Eu não gosto de me meter nos assuntos de Benjamin, sinto muito.
Rosie e Lucas agradeceram a mulher e voltaram para o carro. Não tinha o que fazer no momento, teriam que pedir pelo mandado e isso poderia demorar já que Link já fora acusado.
— Quanto tempo acha que vai demorar? — Lucas deu partida no carro e foi em direção ao hotel onde Rosie estava.
— Podemos pedir para que Lilian exija urgência, mas no mínimo demoraria dois dias. É muito tempo para alguém sequestrado.
Campbell recolheu as malas que Rosie havia deixado no hotel e seguiu para sua casa. Era a primeira vez em quatro anos que ela entraria novamente naquele lugar que uma vez chamou de casa.
— Bem vinda ao lar — Lucas abriu a porta para a detetive.
— Ah você trocou o sofá, eu amava o mofo do antigo — Ela riu.
— Me lembrei que você vivia brigando comigo e então comprei outro.
— Depois que terminamos? Não adiantaria muito.
— Claro que sim. Eu sabia que iriamos voltar — Ele a beijou.
— Não se acha muito convencido?
— Nós fomos feitos um para o outro Amelia, como a chuva é para a Inglaterra — Ele se ajoelhou.
— Meu Deus. Eu juro que se você não parar eu saio e nunca mais volto.
Ele a abraçou e se deitaram no sofá. Rosie se perdeu na conversa e adormeceu, Lucas ainda acordado ficou um tempo olhando a mulher dormir, sentiu falta de a ter nos braços, de vê-la dormir e sentir a respiração leve que ela tinha, o sono o venceu e Campbell dormiu abraçado a Rosie.
O som estridente acordou a detetive. Já era de manhã e Lucas não estava mais ao seu lado. Duran foi até a cozinha e encontrou Campbell ajoelhado ao chão recolhendo as panelas caídas, foi daí que veio o barulho. Ele ainda não tinha notado a presença da moça.
— Quanta bagunça Campbell — Lucas a olhou assustado.
¬— Ah não, era pra ser uma surpresa — Ele mostrou a mesa da cozinha com o café da manhã.
— Com o barulho foi difícil não acordar — Rosie riu e se sentou na mesa — Não precisa disso tudo. Você já me conquistou uma vez.
— Vou conquistar quantas vezes for necessário — a beijou na testa — E para não a deixar preocupada ou com pressa, já liguei para senhora Green e pedi o mandado para a casa de Benjamin, ela vai tentar conseguir o mais depressa possível.
Enquanto Rosie comia o café da manhã ficou por um tempo olhando para o homem à sua frente. Aquilo era amor, não o que tinha vivido com Link. Tudo o que aconteceu naquela época era caótico, ela não se sentia suficiente, sentia-se presa e sem ar. Tinha medo de tudo e todos, teve o seu pior desempenho no trabalho pois preferia ficar na sala do que sair para as ocorrências. Foi nessa mesma época que Lilian entrou para delegacia o que fez com que a delegada achasse a detetive incapaz, ela se recusava a dar qualquer caso para alguém que não tinha experiência no campo. Lucas era o prefiro da mesma, ele se dispunha para ir aonde fosse necessário. Quando finalmente terminou com aquele que ameaçava seu psicológico era tarde demais, Lilian já tinha criado sua imagem da detetive, mas isso não a parou. Duran estava disposta a mostrar à delegada que ela era capaz e que estava na carreira certa.
Lucas trazia o melhor de Rosie à tona. Era suave e calmo. Ela não precisava fingir ser alguém que não era, podia ser aquela mesma mulher forte e independente que sempre foi. O mundo parecia ter voltado a ter cor e sentido. E felizmente tudo isso não era graças somente a Campbell, mas a detetive que voltou a querer se olhar no espelho e a gostar de tudo que via. O melhor sentimento que uma mulher pode ter é se sentir a mulher maravilha e era exatamente assim que Rosie se via.
Duran já havia se trocado e esperava Lucas na sala de estar. Ele sempre foi quem se atrasava. Campbell finalmente desce as escadas e os dois vão até a delegacia. Parecia não ser capaz, porém de alguma maneira mais jornalistas cercavam a entrada do local, impedindo que qualquer um ultrapasse. Com certa dificuldade os detetives entram à delegacia e são urgentemente chamados à sala de reunião.
— Detetives — Lilian aponta para algumas cadeiras vagas na sala. Rosie percebe que os pais de Bonnie estavam presentes, isso nunca acontecia — O senhor e a senhora Edwards vieram para conversar com vocês.
— Nós pedimos expressamente que não divulgassem o caso de nossa filha para a mídia — o pai de Bonnie estava alterado.
— Não fomos nós que chamamos eles. Provavelmente vieram após o assassinato de Margaret — Lucas rebateu.
— Não importa! Era a obrigação de vocês manter segredo!
— Não é fácil fazer uma investigação de desaparecimento com tanto sigilo senhor Edwards — Rosie falou calmamente.
— E que história é essa que Link é o suspeito? Ele não machucaria uma mosca — Debbie olhou para Rosie — É um dos homens mais respeitosos que já conheci.
— Senhora Edwards, encontramos provas suficientes para acreditar que ele é o assassino de Margaret e o sequestrador de sua filha.
— Isso é um absurdo Lilian! Eu quero outros detetives para o caso de Bonnie.
Pela primeira vez Rosie viu a delegada a olhar com compaixão. Ela respirou fundo e olhou para o homem a sua frente.
— Henry, esses são os melhores detetives que eu já tive o prazer de trabalhar. Não convocarei outros policiais para esse caso, a não ser que não queiram encontrar sua filha — eles permaneceram em silêncio — Foi o que eu imaginei — a delegada se levantou — Duran, Campbell — pegou uma folha dentro de sua pasta — Aqui está o mandado de busca que me pediram.
— Mas já? Achei que demoraria muito — Rosie pegou a folha.
— Sou muito respeitada na minha área senhorita Duran — sorriu e se virou para os pais de Bonnie — Peço perdão por vocês terem gastado o tempo de vocês. Se quiserem podem passar o caso da filha de vocês para outra delegacia, mas digo com certeza que vocês não terão tanto sucesso se tirarem das minhas mãos.
Os detetives saíram antes de ouvir qualquer resposta dos Edwards. Lucas chamou alguns policiais para acompanha-los até a casa de Benjamin.
Capítulo 13
Rosie e Lucas foram os primeiros a chegar à casa de Benjamin. A detetive bateu fortemente a porta até que a mesma mulher do dia anterior abriu a porta.
— Detetives.
— Senhora Lewis, eu tenho um mandado de busca para os pertences de seu neto, Benjamin Lewis.
— Achei que havia dito que voltaria daqui alguns dias.
— Temos pressa para resolver o caso.
A senhora apenas assentiu e deu espaço para que os detetives e os outros policiais entrassem. Em poucos segundos a casa já estava repleta de oficiais procurando por qualquer pista. Rosie foi até o quarto de Benjamin e percebeu o grande mapa na parede, alguns lugares estavam marcados com alfinetes, se parecia um pouco com as mesmas marcações que Bonnie tinha. Ela se aproximou e anotou todas as cidades que estavam em destaque. Campbell adentrou o local com um notebook em suas mãos.
— Adivinhe — ele se sentou na cama.
— O que? — ela se virou para o detetive.
— Ele comprou uma passagem para três, poucos dias antes da formatura.
— Ele, Bonnie e a tal mulher.
— Provavelmente. Eles foram para Glasgow.
— Escócia? Ele foi para a Escócia?
— E para nossa sorte eu sei aonde ele está hospedado. No histórico dele tem uma conversa com um host do Airbnb — Rosie se aproximou de Lucas para ler a conversa.
(2:17 p.m.) Benjamin L.: Boa tarde. Eu gostaria de alugar a sua casa por ao máximo um mês.
(3:20 p.m.) Richard: Para quando as estádias?
(3:32 p.m.) Benjamin L.: Para o dia 20 de outubro.
(3:44 p.m.) Richard: Tudo bem, para quantas pessoas?
(3:51 p.m.) Benjamin L.: Três pessoas.
(4:02 p.m.) Richard: Precisarei do nome completo de todos os hóspedes.
(4:21 p.m.) Benjamin L.: Benjamin Lewis, Bonnie Edwards e Naomi Clark.
(4:30 p.m.) Richard: Certo. Você poderá pegar as chaves comigo um dia antes.
— Você conhece alguma Naomi Clark? — Rosie perguntou.
— Não lembro de nenhuma amiga de Bonnie com esse nome.
— Talvez seja conhecido de Benjamin — ela escreveu o nome em seu bloco — Bom, pelo menos temos um nome para aonde começar.
Rosie continuou as buscas pela casa e encontrou uma porta emperrada dentro do banheiro. Ao tentar girar a maçaneta ela percebeu que estava trancada, tentou forçar, mas foi em vão. Com alguns chutes a porta foi arrombada e então pode entrar.
— Ele é doente — Duran sussurrou para Lucas quando o detetive apareceu ao seu lado.
O quarto era coberto de fotos de Bonnie por todos os lados. Algumas roupas femininas estavam jogadas pelo local. A pouca luz impossibilitava a visão completa de toda a bagunça, mas ainda assim era possível ver algumas calcinhas penduradas pela parede.
— Que porra — Lucas ficou ao lado da detetive.
— Nojento — Rosie andava pelo quarto olhando cada objeto.
— Meu Deus olha isso — Lucas pegou uma jarra cheia de unhas cortadas.
— Eu vou vomitar — a detetive colocou as mãos na boca.
Ainda encontram embalagens de chocolate e fios de cabelos
— Que merda é essa? — Duran se aproximou de uma jarra ao escuro e ligou a lanterna — Santo Deus.
— O que é isso?
— É xixi — Rosie disse.
— Porra — Lucas pegou uma outra jarra — o dedo de Margaret.
— Bonnie está correndo muito perigo.
— Precisamos correr contra o tempo.
Os detetives saíram da casa, deixando os policiais continuarem suas buscas. Não era acostumada a se sentir tão mal até nas piores cenas de morte, mas aquilo em específico mexeu com a detetive. Rosie estava sentada no banco do passageiro enquanto observava os policiais e peritas entrando e saindo da casa.
— Quando vamos atrás dele? — a detetive chamou a atenção de Lucas.
— Calma aí chefe. Eles estão em outro país.
— Mas ainda é um lugar do Reino Unido.
— Vamos conversar com Lilian primeiro.
— Lucas isso é importante. Cada...
— Eu sei, cada minuto é precioso para Bonnie — com a voz relutante ele continuou — Tudo bem, eu vou tentar comprar as passagens o mais rápido possível.
— Obrigada — ela sorriu — E daqui pra frente pare de me chamar de chefe.
— Tudo bem chefe — ele piscou para a mulher. De longe a detetive viu um perita ir caminhando para a direção dos dois com um saco na mão.
— Encontramos um vestido com sangue, acredito que possa ser de Bonnie — Lucas se aproximou do saco aberto pelo perita.
— É o vestido da formatura.
— Obrigada — Rosie se levantou do banco — Não que seja preciso, mas assim que tiver mais provas que Bonnie está com Benjamin nos notifique — ele assentiu e voltou para a casa — Ele parecia tão verdadeiro.
— Quem?
— Benjamin. No depoimento.
— Psicopatas são assim Rosie.
— Ele não é um psicopata.
— Sério? O cara tinha a porra do xixi da Bonnie em um quarto secreto junto com pedaços de unhas e fotos.
— Tecnicamente psicopatas não sabem muito bem sentir amor e pelo que vimos lá, ele a ama. Muito.
— Posso então chama-lo de doido?
— Isso pode. Agora vamos, você precisa comprar as passagens para Glasgow e eu preciso procurar mais sobre essa tal Naomi Clark.
Assim que chegou à delegacia, Rosie se dirigiu para sua nova sala, se sentou frente ao computador e procurou por Naomi no site da polícia, os resultados não puderam ajudar a detetive. Quem quer que fosse Naomi, conseguira esconder sua identidade perfeitamente. Os últimos registros da mulher eram de 2013, cartões de crédito e algumas contas que não foram pagas. A escolaridade era desconhecida, mas a detetive teve uma pequena esperança quando encontrou o último emprego da mulher.
Ela havia trabalhado como garçonete no Pan’s Waffle em 2012. A data em que começou a trabalhar era antiga, mas Rosie poderia trabalhar com isso. Anotou o endereço e antes de se dirigir para a padaria resolveu dar as atualizações para a delegada. Ela bateu levemente a porta e pode ouvir a voz de Lilian permitindo a entrada.
— Rosie Duran. No que posso ajudar? — Lilian parou o que estava fazendo e a olhou.
— Eu vim dizer que talvez tenhamos encontrado quem sequestrou Bonnie e onde ela está.
— Ótimo, isso é muito bom. E onde ela está?
— Aparentemente em Glasgow, eu e Lucas iremos nos dirigir para lá o mais cedo possível.
— Tudo bem, avisarei alguns policias de Glasgow sobre sua chegada — Rosie sorriu e assim que se dirigiu para sair ouviu a delegada a chamar — Duran, eu sempre gostei de você.
— O que?
— Sabia que tinha potencial — ela se levantou e foi à frente da detetive — Eu queria muito ver você trabalhando. E vê-la tão dedicada a esse caso me faz ter certeza que estava certa sobre quem é. Não sei o que aconteceu com você assim que entrei na delegacia, mas saiba que estou muito orgulhosa de a ter na minha equipe.
— Sinto muito pelo início. Eu realmente não estava bem, mas agora eu voltei a ser o meu melhor — a delegada sorriu.
— Então volte ao serviço, quero ver esse caso ser encerrado por você.
Rosie nunca foi o tipo de pessoa que precisava de elogios para se sentir bem, mas receber aquele foi como recuperar todas as energias. Agora mais do que antes ela estava pronta para ir fundo com o caso, não iria descansar. Ao sair da sala da delegada passou pelo laboratório e ouviu a voz de Hanna.
— Rosie! — a cientista exclamou assim que viu a amiga abrir a porta.
— Boas notícias! Eu e Lucas descobrimos onde Bonnie está, aparentemente o melhor amigo e uma tal de Naomi a sequestraram e mataram Margaret.
— Ah Deus, não me diga que finalmente estamos no fim.
— Felizmente, estamos — continuou — Algumas evidências da casa de Benjamin vão chegar ainda hoje para você examinar, tenho certeza que são de Bonnie, mas como sabe preciso de provas cientificas para isso.
— Sim senhora.
— Obrigada, de novo — antes de se retirar Hanna a chamou.
— Ei! Não pode vir aqui sem me contar o que eu já sei. Não pense que não andei vendo você e o senhor Campbell chegando juntos pelos últimos dias.
— Ele só me deu uma carona.
— Transar ganhou outro nome?
— Hanna!
— O que? — a cientista riu.
— Se precisar de algo, só me ligar — North assentiu.
Duran deixou a sala, entrou em seu carro e foi em direção ao endereço da padaria.
— Detetives.
— Senhora Lewis, eu tenho um mandado de busca para os pertences de seu neto, Benjamin Lewis.
— Achei que havia dito que voltaria daqui alguns dias.
— Temos pressa para resolver o caso.
A senhora apenas assentiu e deu espaço para que os detetives e os outros policiais entrassem. Em poucos segundos a casa já estava repleta de oficiais procurando por qualquer pista. Rosie foi até o quarto de Benjamin e percebeu o grande mapa na parede, alguns lugares estavam marcados com alfinetes, se parecia um pouco com as mesmas marcações que Bonnie tinha. Ela se aproximou e anotou todas as cidades que estavam em destaque. Campbell adentrou o local com um notebook em suas mãos.
— Adivinhe — ele se sentou na cama.
— O que? — ela se virou para o detetive.
— Ele comprou uma passagem para três, poucos dias antes da formatura.
— Ele, Bonnie e a tal mulher.
— Provavelmente. Eles foram para Glasgow.
— Escócia? Ele foi para a Escócia?
— E para nossa sorte eu sei aonde ele está hospedado. No histórico dele tem uma conversa com um host do Airbnb — Rosie se aproximou de Lucas para ler a conversa.
(2:17 p.m.) Benjamin L.: Boa tarde. Eu gostaria de alugar a sua casa por ao máximo um mês.
(3:20 p.m.) Richard: Para quando as estádias?
(3:32 p.m.) Benjamin L.: Para o dia 20 de outubro.
(3:44 p.m.) Richard: Tudo bem, para quantas pessoas?
(3:51 p.m.) Benjamin L.: Três pessoas.
(4:02 p.m.) Richard: Precisarei do nome completo de todos os hóspedes.
(4:21 p.m.) Benjamin L.: Benjamin Lewis, Bonnie Edwards e Naomi Clark.
(4:30 p.m.) Richard: Certo. Você poderá pegar as chaves comigo um dia antes.
— Você conhece alguma Naomi Clark? — Rosie perguntou.
— Não lembro de nenhuma amiga de Bonnie com esse nome.
— Talvez seja conhecido de Benjamin — ela escreveu o nome em seu bloco — Bom, pelo menos temos um nome para aonde começar.
Rosie continuou as buscas pela casa e encontrou uma porta emperrada dentro do banheiro. Ao tentar girar a maçaneta ela percebeu que estava trancada, tentou forçar, mas foi em vão. Com alguns chutes a porta foi arrombada e então pode entrar.
— Ele é doente — Duran sussurrou para Lucas quando o detetive apareceu ao seu lado.
O quarto era coberto de fotos de Bonnie por todos os lados. Algumas roupas femininas estavam jogadas pelo local. A pouca luz impossibilitava a visão completa de toda a bagunça, mas ainda assim era possível ver algumas calcinhas penduradas pela parede.
— Que porra — Lucas ficou ao lado da detetive.
— Nojento — Rosie andava pelo quarto olhando cada objeto.
— Meu Deus olha isso — Lucas pegou uma jarra cheia de unhas cortadas.
— Eu vou vomitar — a detetive colocou as mãos na boca.
Ainda encontram embalagens de chocolate e fios de cabelos
— Que merda é essa? — Duran se aproximou de uma jarra ao escuro e ligou a lanterna — Santo Deus.
— O que é isso?
— É xixi — Rosie disse.
— Porra — Lucas pegou uma outra jarra — o dedo de Margaret.
— Bonnie está correndo muito perigo.
— Precisamos correr contra o tempo.
Os detetives saíram da casa, deixando os policiais continuarem suas buscas. Não era acostumada a se sentir tão mal até nas piores cenas de morte, mas aquilo em específico mexeu com a detetive. Rosie estava sentada no banco do passageiro enquanto observava os policiais e peritas entrando e saindo da casa.
— Quando vamos atrás dele? — a detetive chamou a atenção de Lucas.
— Calma aí chefe. Eles estão em outro país.
— Mas ainda é um lugar do Reino Unido.
— Vamos conversar com Lilian primeiro.
— Lucas isso é importante. Cada...
— Eu sei, cada minuto é precioso para Bonnie — com a voz relutante ele continuou — Tudo bem, eu vou tentar comprar as passagens o mais rápido possível.
— Obrigada — ela sorriu — E daqui pra frente pare de me chamar de chefe.
— Tudo bem chefe — ele piscou para a mulher. De longe a detetive viu um perita ir caminhando para a direção dos dois com um saco na mão.
— Encontramos um vestido com sangue, acredito que possa ser de Bonnie — Lucas se aproximou do saco aberto pelo perita.
— É o vestido da formatura.
— Obrigada — Rosie se levantou do banco — Não que seja preciso, mas assim que tiver mais provas que Bonnie está com Benjamin nos notifique — ele assentiu e voltou para a casa — Ele parecia tão verdadeiro.
— Quem?
— Benjamin. No depoimento.
— Psicopatas são assim Rosie.
— Ele não é um psicopata.
— Sério? O cara tinha a porra do xixi da Bonnie em um quarto secreto junto com pedaços de unhas e fotos.
— Tecnicamente psicopatas não sabem muito bem sentir amor e pelo que vimos lá, ele a ama. Muito.
— Posso então chama-lo de doido?
— Isso pode. Agora vamos, você precisa comprar as passagens para Glasgow e eu preciso procurar mais sobre essa tal Naomi Clark.
Assim que chegou à delegacia, Rosie se dirigiu para sua nova sala, se sentou frente ao computador e procurou por Naomi no site da polícia, os resultados não puderam ajudar a detetive. Quem quer que fosse Naomi, conseguira esconder sua identidade perfeitamente. Os últimos registros da mulher eram de 2013, cartões de crédito e algumas contas que não foram pagas. A escolaridade era desconhecida, mas a detetive teve uma pequena esperança quando encontrou o último emprego da mulher.
Ela havia trabalhado como garçonete no Pan’s Waffle em 2012. A data em que começou a trabalhar era antiga, mas Rosie poderia trabalhar com isso. Anotou o endereço e antes de se dirigir para a padaria resolveu dar as atualizações para a delegada. Ela bateu levemente a porta e pode ouvir a voz de Lilian permitindo a entrada.
— Rosie Duran. No que posso ajudar? — Lilian parou o que estava fazendo e a olhou.
— Eu vim dizer que talvez tenhamos encontrado quem sequestrou Bonnie e onde ela está.
— Ótimo, isso é muito bom. E onde ela está?
— Aparentemente em Glasgow, eu e Lucas iremos nos dirigir para lá o mais cedo possível.
— Tudo bem, avisarei alguns policias de Glasgow sobre sua chegada — Rosie sorriu e assim que se dirigiu para sair ouviu a delegada a chamar — Duran, eu sempre gostei de você.
— O que?
— Sabia que tinha potencial — ela se levantou e foi à frente da detetive — Eu queria muito ver você trabalhando. E vê-la tão dedicada a esse caso me faz ter certeza que estava certa sobre quem é. Não sei o que aconteceu com você assim que entrei na delegacia, mas saiba que estou muito orgulhosa de a ter na minha equipe.
— Sinto muito pelo início. Eu realmente não estava bem, mas agora eu voltei a ser o meu melhor — a delegada sorriu.
— Então volte ao serviço, quero ver esse caso ser encerrado por você.
Rosie nunca foi o tipo de pessoa que precisava de elogios para se sentir bem, mas receber aquele foi como recuperar todas as energias. Agora mais do que antes ela estava pronta para ir fundo com o caso, não iria descansar. Ao sair da sala da delegada passou pelo laboratório e ouviu a voz de Hanna.
— Rosie! — a cientista exclamou assim que viu a amiga abrir a porta.
— Boas notícias! Eu e Lucas descobrimos onde Bonnie está, aparentemente o melhor amigo e uma tal de Naomi a sequestraram e mataram Margaret.
— Ah Deus, não me diga que finalmente estamos no fim.
— Felizmente, estamos — continuou — Algumas evidências da casa de Benjamin vão chegar ainda hoje para você examinar, tenho certeza que são de Bonnie, mas como sabe preciso de provas cientificas para isso.
— Sim senhora.
— Obrigada, de novo — antes de se retirar Hanna a chamou.
— Ei! Não pode vir aqui sem me contar o que eu já sei. Não pense que não andei vendo você e o senhor Campbell chegando juntos pelos últimos dias.
— Ele só me deu uma carona.
— Transar ganhou outro nome?
— Hanna!
— O que? — a cientista riu.
— Se precisar de algo, só me ligar — North assentiu.
Duran deixou a sala, entrou em seu carro e foi em direção ao endereço da padaria.
Capítulo 14
Existia a grande possibilidade de a detetive não obter qualquer informação relevante sobre a mulher, mas poderia pelo menos conseguir qualquer descrição física. A padaria estava cheia, assim que entrou no estabelecimento foi direto para o caixa e ouviu as reclamações dos clientes que esperavam na fila. Ela retirou o distintivo da blusa e o levantou mostrando para os presentes, eles se calaram e Rosie voltou sua atenção para o atendente a sua frente.
— Polícia de Sheffield, gostaria de conversar com algum funcionário que trabalhe aqui desde 2012.
— A única pessoa que trabalha aqui a mais tempo é o senhor Harris.
— E onde posso encontra-lo? — o atendente apontou para dentro da cozinha — Posso ir até lá?
— Claro — o homem deu passagem para que ela entrasse — É o chef principal.
Assim como fora, a cozinha estava cheia e movimentada, os cozinheiros caminhavam para todos os lados. Com facilidade Rosie encontrou o chef e caminhou de encontro ao senhor.
— Senhor Harris? — o chef ainda cozinhando a olhou rapidamente.
— O que posso fazer pela bela moça.
— Estou procurando por Naomi Clark, o senhor poderia conversar comigo por um momento?
— Eu adoraria minha jovem, mas eu estou cheio de pedidos para fazer.
— Senhor Harris estamos tratando de um sequestro e um assassinato — o chef a encarou — Tenho certeza que alguém pode te substituir por alguns segundos.
— Claro — ele chamou outro cozinheiro que assumiu o seu lugar — Vamos a um lugar mais calmo — o homem a levou até a sala dos funcionários e apontou para uma das cadeiras — O que precisa saber?
— Acredito que Naomi esteja envolvida em um sequestro e provavelmente ela mudou de nome pois não consegui encontrar nenhuma atividade atual.
— Naomi Clark... — o senhor levou a mão ao queixo e os olhos se perderam na sala — Eu acho que me lembro dela.
— Ela começou a trabalhar aqui em 2012.
— Ela era muito carinhosa. Os clientes gostavam bastante dela.
— Consegue me dar alguma descrição da aparência dela?
— Ela tinha o cabelo castanho, olhos azulados. O rosto era bem delicado e se me lembro bem tinha uma tatuagem ao canto da mão.
— Se lembra como era essa tatuagem?
— Acho que era uma borboleta. Muito bonita.
— Tem mais alguma coisa que acha que poderia me ajudar?
— Sinto muito detetive. Foi a sete anos e minha cabeça não ajuda muito — Rosie assentiu e agradeceu ao chef.
Ao sair do lugar sentiu-se observada, olhou pela rua e não encontrou ninguém, mas a sensação ainda estava presente. Ela entrou ao carro e permaneceu no mesmo lugar por um tempo. Tentou procurar alguém que a estivesse olhando, mas tudo parecia normal, talvez estivesse começando a imaginar coisas, relutante ela voltou para a delegacia.
A detetive olhou para o relógio em seu pulso. 20:25. Rosie não viu o dia passar, ficara sentada em sua cadeira procurando amigos ou qualquer sinal de Naomi, em vão. Ela se levantou e foi até a sala de Lucas, ele também mantinha os olhos presos ao computador.
— Já está tarde, vamos embora — Rosie falou.
— Por que isso tinha que ser tão difícil?
— É um sequestro Lucas, não acho que é pra ser fácil — a detetive entrou na sala.
— Não, isso — ele virou a tela para a mulher. Estava jogando campo minado.
— É sério?
— O que? Eu já acabei meu trabalho e estava esperando você acabar o seu. Achei esse jogo e esqueci o quanto sou ruim.
— Não é tão difícil. Cada número mostra a quantidade de bombas que tem no espaço de oito quadros.
— Rosie, será que você poderia não ser boa em tudo? — a detetive riu.
— Vamos logo.
Ele desligou o computador e acompanhou Rosie até o estacionamento. A pequena discussão para onde iriam durou alguns minutos, mas com alguma insistência decidiram ir para a casa da mulher. Lucas não se sentia confortável em voltar para lá, não haviam descoberto quem era a pessoa que espionava Duran as noites, cada vez que se lembrava da arma apontada para o corpo da detetive, Lucas arrepiava.
Assim que entrou no apartamento Campbell trancou todas as janelas, ele não iria deixar que acontecesse qualquer coisa para aquela mulher. Já havia a perdido uma vez e prometeu a si mesmo que não iria cometer o mesmo erro. Deitar novamente na cama de Rosie o trazia nostalgia, o cheiro doce que emanava dos lençóis e do travesseiro acomodava o detetive. Ele a abraçou fortemente e olhava a respiração calma, o rosto de Duran parecia tranquilo. Passou as mãos em seu rosto e beijou a ponta do nariz da mulher, ela sorriu.
O despertador soou alto no ambiente fechado, Lucas encontrou o celular ao chão e o desligou. Ainda com dificuldade olhou para o lado e não encontrou Rosie, foi até o banheiro, mas não a encontrou. O coração dele começou a bater mais forte, desceu para a cozinha, porém nenhum sinal dela. Voltou às pressas para o quarto e pegou o telefone, discou o número da detetive e ele caiu na caixa de mensagem.
Lucas se vestiu o mais rápido que conseguiu, estava sentido a mesma dor de quando ela decidiu terminar tudo, havia prometido não deixar com que nada acontecesse a Rosie e agora se sentia tão impotente. Ele não percebeu dirigir por todo o caminho, estava completamente perdido. Ainda com esperanças correu até a sala de Duran, mas ela estava vazia.
— Chegou cedo Campbell — Hanna o chamou enquanto ele caminhava pelos corredores.
— Rosie sumiu — o olhar desesperado assustou a cientista.
— O que?
— Eu não sei aonde ela está!
— Calma — ela o acompanhou até o laboratório — O que aconteceu?
— Estávamos dormindo na casa dela e quando eu acordei ela não estava lá.
— Ela não poderia ter saído para comprar algo?
— Por que infernos ela sairia para comprar algo antes das oito da manhã?
— Vamos continuar ligando para o telefone dela — Lucas levantou um celular — É o celular de Rosie? — ele confirmou — Porra.
— Eu sabia que não deveríamos ter dormido lá. O vídeo me avisou!
— Que vídeo?
— Eu recebi pelo e-mail — ele pegou o celular — Uma arma é apontada para o corpo dela — Lucas mostrou o vídeo — Não conseguiu nada daquelas fotos de pegada que te enviei?
— É um sapato masculino tamanho 42. Foi feito na Itália, mas pode ser qualquer um.
— Acha que foi Benjamin?
— Rosie me disse que ele estava em Glasgow, acho impossível ele ter descoberto qualquer atualização do caso — Lucas se levantou e andou pelo lugar.
— Você ainda tem o computador dele?
— Está apreendido como uma prova, não pode usar ele.
— Eu não me importo é a vida de Rosie e de Bonnie — ainda receosa ela abriu um dos armários do laboratório e retirou um notebook.
— Não ferre as provas ta bom? E se alguém perguntar você o pegou sozinho.
— Não vou foder com as provas, eu vou encontra-las.
Lucas levou o computador para a sua sala. Descobriu que o telefone de Benjamin ainda estava conectado ao notebook, ele poderia ter acesso a algumas mensagens. Por azar o último dia de atualização foi há dois dias, mas com um pouco de busca ele sabia que iria encontrar algo.
— Polícia de Sheffield, gostaria de conversar com algum funcionário que trabalhe aqui desde 2012.
— A única pessoa que trabalha aqui a mais tempo é o senhor Harris.
— E onde posso encontra-lo? — o atendente apontou para dentro da cozinha — Posso ir até lá?
— Claro — o homem deu passagem para que ela entrasse — É o chef principal.
Assim como fora, a cozinha estava cheia e movimentada, os cozinheiros caminhavam para todos os lados. Com facilidade Rosie encontrou o chef e caminhou de encontro ao senhor.
— Senhor Harris? — o chef ainda cozinhando a olhou rapidamente.
— O que posso fazer pela bela moça.
— Estou procurando por Naomi Clark, o senhor poderia conversar comigo por um momento?
— Eu adoraria minha jovem, mas eu estou cheio de pedidos para fazer.
— Senhor Harris estamos tratando de um sequestro e um assassinato — o chef a encarou — Tenho certeza que alguém pode te substituir por alguns segundos.
— Claro — ele chamou outro cozinheiro que assumiu o seu lugar — Vamos a um lugar mais calmo — o homem a levou até a sala dos funcionários e apontou para uma das cadeiras — O que precisa saber?
— Acredito que Naomi esteja envolvida em um sequestro e provavelmente ela mudou de nome pois não consegui encontrar nenhuma atividade atual.
— Naomi Clark... — o senhor levou a mão ao queixo e os olhos se perderam na sala — Eu acho que me lembro dela.
— Ela começou a trabalhar aqui em 2012.
— Ela era muito carinhosa. Os clientes gostavam bastante dela.
— Consegue me dar alguma descrição da aparência dela?
— Ela tinha o cabelo castanho, olhos azulados. O rosto era bem delicado e se me lembro bem tinha uma tatuagem ao canto da mão.
— Se lembra como era essa tatuagem?
— Acho que era uma borboleta. Muito bonita.
— Tem mais alguma coisa que acha que poderia me ajudar?
— Sinto muito detetive. Foi a sete anos e minha cabeça não ajuda muito — Rosie assentiu e agradeceu ao chef.
Ao sair do lugar sentiu-se observada, olhou pela rua e não encontrou ninguém, mas a sensação ainda estava presente. Ela entrou ao carro e permaneceu no mesmo lugar por um tempo. Tentou procurar alguém que a estivesse olhando, mas tudo parecia normal, talvez estivesse começando a imaginar coisas, relutante ela voltou para a delegacia.
A detetive olhou para o relógio em seu pulso. 20:25. Rosie não viu o dia passar, ficara sentada em sua cadeira procurando amigos ou qualquer sinal de Naomi, em vão. Ela se levantou e foi até a sala de Lucas, ele também mantinha os olhos presos ao computador.
— Já está tarde, vamos embora — Rosie falou.
— Por que isso tinha que ser tão difícil?
— É um sequestro Lucas, não acho que é pra ser fácil — a detetive entrou na sala.
— Não, isso — ele virou a tela para a mulher. Estava jogando campo minado.
— É sério?
— O que? Eu já acabei meu trabalho e estava esperando você acabar o seu. Achei esse jogo e esqueci o quanto sou ruim.
— Não é tão difícil. Cada número mostra a quantidade de bombas que tem no espaço de oito quadros.
— Rosie, será que você poderia não ser boa em tudo? — a detetive riu.
— Vamos logo.
Ele desligou o computador e acompanhou Rosie até o estacionamento. A pequena discussão para onde iriam durou alguns minutos, mas com alguma insistência decidiram ir para a casa da mulher. Lucas não se sentia confortável em voltar para lá, não haviam descoberto quem era a pessoa que espionava Duran as noites, cada vez que se lembrava da arma apontada para o corpo da detetive, Lucas arrepiava.
Assim que entrou no apartamento Campbell trancou todas as janelas, ele não iria deixar que acontecesse qualquer coisa para aquela mulher. Já havia a perdido uma vez e prometeu a si mesmo que não iria cometer o mesmo erro. Deitar novamente na cama de Rosie o trazia nostalgia, o cheiro doce que emanava dos lençóis e do travesseiro acomodava o detetive. Ele a abraçou fortemente e olhava a respiração calma, o rosto de Duran parecia tranquilo. Passou as mãos em seu rosto e beijou a ponta do nariz da mulher, ela sorriu.
O despertador soou alto no ambiente fechado, Lucas encontrou o celular ao chão e o desligou. Ainda com dificuldade olhou para o lado e não encontrou Rosie, foi até o banheiro, mas não a encontrou. O coração dele começou a bater mais forte, desceu para a cozinha, porém nenhum sinal dela. Voltou às pressas para o quarto e pegou o telefone, discou o número da detetive e ele caiu na caixa de mensagem.
Lucas se vestiu o mais rápido que conseguiu, estava sentido a mesma dor de quando ela decidiu terminar tudo, havia prometido não deixar com que nada acontecesse a Rosie e agora se sentia tão impotente. Ele não percebeu dirigir por todo o caminho, estava completamente perdido. Ainda com esperanças correu até a sala de Duran, mas ela estava vazia.
— Chegou cedo Campbell — Hanna o chamou enquanto ele caminhava pelos corredores.
— Rosie sumiu — o olhar desesperado assustou a cientista.
— O que?
— Eu não sei aonde ela está!
— Calma — ela o acompanhou até o laboratório — O que aconteceu?
— Estávamos dormindo na casa dela e quando eu acordei ela não estava lá.
— Ela não poderia ter saído para comprar algo?
— Por que infernos ela sairia para comprar algo antes das oito da manhã?
— Vamos continuar ligando para o telefone dela — Lucas levantou um celular — É o celular de Rosie? — ele confirmou — Porra.
— Eu sabia que não deveríamos ter dormido lá. O vídeo me avisou!
— Que vídeo?
— Eu recebi pelo e-mail — ele pegou o celular — Uma arma é apontada para o corpo dela — Lucas mostrou o vídeo — Não conseguiu nada daquelas fotos de pegada que te enviei?
— É um sapato masculino tamanho 42. Foi feito na Itália, mas pode ser qualquer um.
— Acha que foi Benjamin?
— Rosie me disse que ele estava em Glasgow, acho impossível ele ter descoberto qualquer atualização do caso — Lucas se levantou e andou pelo lugar.
— Você ainda tem o computador dele?
— Está apreendido como uma prova, não pode usar ele.
— Eu não me importo é a vida de Rosie e de Bonnie — ainda receosa ela abriu um dos armários do laboratório e retirou um notebook.
— Não ferre as provas ta bom? E se alguém perguntar você o pegou sozinho.
— Não vou foder com as provas, eu vou encontra-las.
Lucas levou o computador para a sua sala. Descobriu que o telefone de Benjamin ainda estava conectado ao notebook, ele poderia ter acesso a algumas mensagens. Por azar o último dia de atualização foi há dois dias, mas com um pouco de busca ele sabia que iria encontrar algo.
Capítulo 15
A cabeça de Rosie doía como nunca, parecia que alguém havia acertado uma pedra e pelo sangue ao chão era o que provavelmente aconteceu. O quarto onde estava era escuro, porém ela conseguia ver uma silhueta deitada em uma das camas ao canto do quarto. Ela levou a mão a cabeça e sentiu o corte na testa, o sangue ainda saia, com dificuldade ela se levantou e foi até a pessoa.
— Precisa de aju... — Rosie finalmente viu conseguiu ver o rosto — Bonnie — a mulher despertou assustada.
— Rosie!
— Você está bem? — a detetive passava as mãos no rosto de Bonnie.
— O suficiente... Como veio parar aqui?
— Eu não sei, estava dormindo em casa. Não senti nada.
— Se você está aqui, então nunca vão nos achar.
— Fique calma, nós vamos sair daqui.
— Não dá! — ela a olhou nos olhos — Estamos presa aqui.
— Temos sua localização e sabemos que está com Benjamin.
— Sabem que foi ele? — Rosie confirmou — Graças a Deus.
Rosie olhou em volta pelo quarto escuro e perguntou:
— E como isso aqui funciona? Com que frequência tem contato com Benjamin? — voltou o olhar para ela.
— Ele vem aqui de quatro em quatro horas para me trazer comida.
— Já tentou sair daqui?
— Não dá — ela aponta para a porta — Tem duas portas, quando ele abre uma à outra automaticamente fecha. Ele coloca a comida no corredor entre as duas, fecha a porta dele para que eu possa pegar a comida e aí depois deixa a dele aberta novamente.
— Então a porta dele sempre está aberta?
— Sim, assim a minha sempre está fechada.
— Porra — Rosie se levantou e andou pelo quarto — Não tem nada aqui?
— Tudo que tinha eu já usei para tentar sair então ele as tirou.
A detetive andou pelos quatro cantos do quarto. O teto era de madeira, parecia bem velho. Ela subiu em uma das cadeiras e bateu ao teto, algumas lascas caíram em cima dela, mas não ao ponto de causar algum dano. A estante perto das duas camas estava repleta de livros, tentou empurrar sem sucesso estava pesada demais.
Rosie se sentou ao chão novamente com as mãos no rosto, aquilo só podia ser o inferno.
— Disse que ele vem aqui de quatro em quatro horas certo? — Bonnie assentiu — Se lembra quanto tempo falta?
— Não tenho certeza, mas ouvi a voz de uma mulher e sei que ela só vem antes do café da manhã.
— Naomi?
— Sim, ouvi ela conversando com Benjamin. Disse que você havia começado a descobrir sobre ela então te trouxe para cá também.
— E como ela é?
— Benjamin nunca me deixou a ver — Rosie bufou.
— Como eu não senti? Como ela pode ter me trazido sem que Lucas percebesse.
— Lucas? Não disse que estava dormindo em casa? — por um momento Rosie se esqueceu que ela ainda era namorada dele.
— Eu posso explicar — a risada irônica de Bonnie soou alta.
— Eu sou sequestrada, fico presa nessa porra e o meu namorado começa a foder outra.
— Eu sinto muito, não era para acontecer.
— Mas é claro que aconteceu, não é? — Duran ficou sem resposta.
***
Em poucos minutos metade da delegacia sabia do desaparecimento de Rosie, alguns policias voltaram a casa da detetive para encontrar alguma digital. Lilian fez questão de participar e tomou a frente ao caso.
— Já enviou o vídeo para o setor de informática? — Lilian estava apressada.
— Sim senhora, eles já estão analisando.
— Me fale mais uma vez o que aconteceu — ela se sentou a frente dele.
— Eu não sei, estávamos dormindo e ela simplesmente sumiu.
— E você não ouviu nada? Ela estava ao seu lado.
— Acha que eu queria isso? Eu nunca deixaria isso acontecer senhora Green.
— Me dê o telefone dela — ele o entregou. A delegada ficou um tempo procurando por qualquer pista — Esse número, reconhece? — ela mostrou um número privado.
— Não, um spam talvez?
— Vamos descobrir — ela discou os números e ligou. No terceiro toque a chamada foi desligada — Seja quem for, ainda está com o telefone.
— Como sabe?
— Uma chamada normalmente tem quase dez toques, a pessoa desligou no terceiro. Mande rastrear o número — a delegada se levantou se dirigiu para ir embora.
Ele jogou todo o corpo contra a cadeira e o rosto foi coberto pelas mãos. O computador de Benjamin ainda estava em cima de sua mesa, ele entrou novamente nas mensagens, mas ainda o computador não fora atualizado. Algumas batidas na porta o tiraram de sua atenção.
— Detetive — Zara carregava algumas pastas na mão — Acho que posso ter encontrado algo para achar Rosie.
— Ótimo! Muito obrigado — a mulher abriu uma das pastas e colocou em cima da mesa.
— Um dos policiais que investigou a casa da detetive conseguiu achar uma digital diferente na porta. Eu procurei no nosso banco de dados e achei um homem, Samuel Espósito e ele tem uma irmã chamada Naomi.
— Samuel? Quem sequestrou Bonnie e Rosie não são a mesma pessoa?
— É o que parece, nada indica que foi Benjamin que a pegou também — Lucas olhava profundamente aos olhos de Zara.
— E de onde esse homem é? Onde mora?
— Ele nasceu na Itália e não tem nenhum imóvel aqui.
— Está me dizendo que o único lugar que ele pode estar é na Itália?
— Acho que você deveria ir até lá. Rosie pode estar em perigo.
— Primeiro vou até Glasgow, depois para Itália.
— Mas e a detetive? Acho que Bonnie pode esperar alguns dias até que Duran seja encontrada.
— Fique tranquila Jones, as duas serão encontradas — a mulher assentiu e saiu da sala.
Lucas nunca foi fácil de ser enganado. Aprendeu alguns truques com o pai sobre como conseguir distinguir alguém que estava mentindo e falando a verdade e agora ele não sentiu nenhuma verdade sobre as digitais encontrada. Alguém incriminou esse tal italiano e ele sabia muito bem quem era.
***
Rosie não sentia mais seu relógio no pulso, algum dos dois havia tirado. Bonnie, ainda sentada, brincava com um colar em sua mão. A detetive olhou fixamente para a joia nas mãos da mulher e o reconheceu.
— Era meu.
— O que? — Bonnie a olhou.
— O colar com a rosa desenhada. Link havia me dado no nosso primeiro ano de namoro.
— Acho que você está confundindo com outro.
— Atrás do colar, estará gravado a letra "A".
— Sim, é para Arlene, meu nome do meio.
— É para Amelia o meu nome do meio — Bonnie colocou o colar no chão e abraçou as pernas — Termine com ele, enquanto ainda tem tempo.
— Ele não é ruim para mim.
— Não era para mim no início também, mas ainda assim ele acabou com a minha vida, não desejo isso para a sua.
Ela permaneceu calada, não queria acreditar em Rosie, mas tinha medo de que ele se tornasse o que ela tanto falava. Vendo o seu colar com Bonnie a detetive se lembrou o motivo pelo qual tirou ele e nunca mais colocou de volta. Mais tarde, agradeceu profundamente por aquele dia.
— Precisa de aju... — Rosie finalmente viu conseguiu ver o rosto — Bonnie — a mulher despertou assustada.
— Rosie!
— Você está bem? — a detetive passava as mãos no rosto de Bonnie.
— O suficiente... Como veio parar aqui?
— Eu não sei, estava dormindo em casa. Não senti nada.
— Se você está aqui, então nunca vão nos achar.
— Fique calma, nós vamos sair daqui.
— Não dá! — ela a olhou nos olhos — Estamos presa aqui.
— Temos sua localização e sabemos que está com Benjamin.
— Sabem que foi ele? — Rosie confirmou — Graças a Deus.
Rosie olhou em volta pelo quarto escuro e perguntou:
— E como isso aqui funciona? Com que frequência tem contato com Benjamin? — voltou o olhar para ela.
— Ele vem aqui de quatro em quatro horas para me trazer comida.
— Já tentou sair daqui?
— Não dá — ela aponta para a porta — Tem duas portas, quando ele abre uma à outra automaticamente fecha. Ele coloca a comida no corredor entre as duas, fecha a porta dele para que eu possa pegar a comida e aí depois deixa a dele aberta novamente.
— Então a porta dele sempre está aberta?
— Sim, assim a minha sempre está fechada.
— Porra — Rosie se levantou e andou pelo quarto — Não tem nada aqui?
— Tudo que tinha eu já usei para tentar sair então ele as tirou.
A detetive andou pelos quatro cantos do quarto. O teto era de madeira, parecia bem velho. Ela subiu em uma das cadeiras e bateu ao teto, algumas lascas caíram em cima dela, mas não ao ponto de causar algum dano. A estante perto das duas camas estava repleta de livros, tentou empurrar sem sucesso estava pesada demais.
Rosie se sentou ao chão novamente com as mãos no rosto, aquilo só podia ser o inferno.
— Disse que ele vem aqui de quatro em quatro horas certo? — Bonnie assentiu — Se lembra quanto tempo falta?
— Não tenho certeza, mas ouvi a voz de uma mulher e sei que ela só vem antes do café da manhã.
— Naomi?
— Sim, ouvi ela conversando com Benjamin. Disse que você havia começado a descobrir sobre ela então te trouxe para cá também.
— E como ela é?
— Benjamin nunca me deixou a ver — Rosie bufou.
— Como eu não senti? Como ela pode ter me trazido sem que Lucas percebesse.
— Lucas? Não disse que estava dormindo em casa? — por um momento Rosie se esqueceu que ela ainda era namorada dele.
— Eu posso explicar — a risada irônica de Bonnie soou alta.
— Eu sou sequestrada, fico presa nessa porra e o meu namorado começa a foder outra.
— Eu sinto muito, não era para acontecer.
— Mas é claro que aconteceu, não é? — Duran ficou sem resposta.
Em poucos minutos metade da delegacia sabia do desaparecimento de Rosie, alguns policias voltaram a casa da detetive para encontrar alguma digital. Lilian fez questão de participar e tomou a frente ao caso.
— Já enviou o vídeo para o setor de informática? — Lilian estava apressada.
— Sim senhora, eles já estão analisando.
— Me fale mais uma vez o que aconteceu — ela se sentou a frente dele.
— Eu não sei, estávamos dormindo e ela simplesmente sumiu.
— E você não ouviu nada? Ela estava ao seu lado.
— Acha que eu queria isso? Eu nunca deixaria isso acontecer senhora Green.
— Me dê o telefone dela — ele o entregou. A delegada ficou um tempo procurando por qualquer pista — Esse número, reconhece? — ela mostrou um número privado.
— Não, um spam talvez?
— Vamos descobrir — ela discou os números e ligou. No terceiro toque a chamada foi desligada — Seja quem for, ainda está com o telefone.
— Como sabe?
— Uma chamada normalmente tem quase dez toques, a pessoa desligou no terceiro. Mande rastrear o número — a delegada se levantou se dirigiu para ir embora.
Ele jogou todo o corpo contra a cadeira e o rosto foi coberto pelas mãos. O computador de Benjamin ainda estava em cima de sua mesa, ele entrou novamente nas mensagens, mas ainda o computador não fora atualizado. Algumas batidas na porta o tiraram de sua atenção.
— Detetive — Zara carregava algumas pastas na mão — Acho que posso ter encontrado algo para achar Rosie.
— Ótimo! Muito obrigado — a mulher abriu uma das pastas e colocou em cima da mesa.
— Um dos policiais que investigou a casa da detetive conseguiu achar uma digital diferente na porta. Eu procurei no nosso banco de dados e achei um homem, Samuel Espósito e ele tem uma irmã chamada Naomi.
— Samuel? Quem sequestrou Bonnie e Rosie não são a mesma pessoa?
— É o que parece, nada indica que foi Benjamin que a pegou também — Lucas olhava profundamente aos olhos de Zara.
— E de onde esse homem é? Onde mora?
— Ele nasceu na Itália e não tem nenhum imóvel aqui.
— Está me dizendo que o único lugar que ele pode estar é na Itália?
— Acho que você deveria ir até lá. Rosie pode estar em perigo.
— Primeiro vou até Glasgow, depois para Itália.
— Mas e a detetive? Acho que Bonnie pode esperar alguns dias até que Duran seja encontrada.
— Fique tranquila Jones, as duas serão encontradas — a mulher assentiu e saiu da sala.
Lucas nunca foi fácil de ser enganado. Aprendeu alguns truques com o pai sobre como conseguir distinguir alguém que estava mentindo e falando a verdade e agora ele não sentiu nenhuma verdade sobre as digitais encontrada. Alguém incriminou esse tal italiano e ele sabia muito bem quem era.
Rosie não sentia mais seu relógio no pulso, algum dos dois havia tirado. Bonnie, ainda sentada, brincava com um colar em sua mão. A detetive olhou fixamente para a joia nas mãos da mulher e o reconheceu.
— Era meu.
— O que? — Bonnie a olhou.
— O colar com a rosa desenhada. Link havia me dado no nosso primeiro ano de namoro.
— Acho que você está confundindo com outro.
— Atrás do colar, estará gravado a letra "A".
— Sim, é para Arlene, meu nome do meio.
— É para Amelia o meu nome do meio — Bonnie colocou o colar no chão e abraçou as pernas — Termine com ele, enquanto ainda tem tempo.
— Ele não é ruim para mim.
— Não era para mim no início também, mas ainda assim ele acabou com a minha vida, não desejo isso para a sua.
Ela permaneceu calada, não queria acreditar em Rosie, mas tinha medo de que ele se tornasse o que ela tanto falava. Vendo o seu colar com Bonnie a detetive se lembrou o motivo pelo qual tirou ele e nunca mais colocou de volta. Mais tarde, agradeceu profundamente por aquele dia.
Capítulo 16
Julho 2019 — Três meses antes
Os olhos de Rosie ardiam pelo tempo que passou na frente do computador, suas costas gritavam por um descanso. Sem forças saiu do carro e lentamente se arrastou para dentro de casa. Colocou sua bolsa em cima do sofá e sentou-se, ela se remexeu quando percebeu um tecido diferente. Se levantou e encontrou uma calcinha vermelha. Não era dela. Duran foi até o quarto que tinha a porta fechada, colocou o ouvido perto e ouviu os gemidos que vinham de lá, sem pensar duas vezes ela a abriu.
— Na minha cama, na minha casa — Rosie mantinha o rosto calmo.
— Merda — Link olhou para a detetive, a mulher que o acompanhava tentou se cobrir com o lençol da cama.
— Inacreditável — ele ainda estava deitado com os braços atrás da cabeça — Saia daqui — Rosie mal olhou para a mulher, ela rapidamente juntou suas peças de roupa e saiu da casa.
— Vai me pagar outra? — tentou alcançar seu maço de cigarro na cabeceira, mas Duran foi mais rápida e pegou para si.
— Não sei porque me levou tanto tempo para dizer isso, mas vá pro inferno Archer! Você é um merda!
— Eu? — ele se levantou — Você não sai da porra do seu serviço! Eu estava entediado — vestiu a cueca que estava jogada à cama.
— Entediado?! — ela riu — Chega, estou farta de tudo isso.
— O mesmo minha querida.
— Como eu pude ser tão burra? — caminhava pelo quarto com as mãos em seu cabelo — Realmente achei que era algo momentâneo, mas não, sente prazer em fazer isso comigo.
— Ah pare de drama — revirou os olhos — Não é como se isso fosse o fim do mundo.
— Mas é o nosso fim, acabou Link.
As palavras ditas pareciam ser um sonho, ou melhor era como ser acordada de um pesadelo que não parecia ter fim.
— Eu digo quando acabou! Você tinha que me agradecer por eu estar com você tanto tempo. Ninguém te aguentaria.
— Não faça isso ser um problema meu, porque não é.
— É claro que o problema é você — ele se aproximou dela — Você é sempre o problema.
— Eu cansei dos seus joguinhos Link Archer, cansei de ter que mentir para mim mesma que você homem de verdade — Rosie se aproximou ainda mais dele — E como dona da minha própria casa eu estou te EXPULSANDO daqui! — a voz grossa da detetive fez o homem à sua frente recuar alguns passos.
— Você está blefando — riu abafadamente.
— Me teste Link, pela última vez eu te desafio a me testar —com os braços cruzados ele continuou olhando fixamente para a mulher — SAIA DAQUI!
— Ah Rosie, faça o favor foi só sexo.
— Não importa! Eu quero que você e o seu sexo caia fora daqui o mais rápido possível — Duran foi até o armário e retirou todas as roupas de Link, a janela aberta facilitou o trabalho para que elas fossem jogadas.
— Você está louca?!
— Eu nunca estive mais sã — ela arrancou o colar e entregou em suas mãos — Não quero nada seu.
Como uma última tentativa ele se ajoelhou e forçou um choro alto em uma tentativa de fazê-la mudar de ideia.
— Não faça isso comigo — abraçou as pernas de Rosie — Por favor, eu sei que não tenho sido o meu melhor. Vou melhorar e sabe disso, só preciso de tempo e um pouco mais de paciência.
— Me solta — tentava empurra-lo, mas cada vez mais ele a segurava mais forte.
Rosie levantou a mão e lhe bateu no rosto, não imaginava que poderia ser tão tranquilizante.
— Pise novamente na minha casa e eu juro por Deus que você não sai daqui vivo — ele se levantou com as mãos no rosto e os olhos carregados de ódio, apertou o braço direito de Rosie.
— Eu tentei ser legal, tentei ser o cara perfeito para você, mas eu vou te contar é impossível. Você é uma vadia arrogante — ele aproximou os rostos — Não sabe viver sem mim e o dia em que chegar se rastejando aos meus pés saiba que eu já estarei com outra — levou as mãos ao pescoço dela e cuspiu no rosto da detetive — Perdi meu tempo tentado te consertar — Link forçou o beijo que a mulher não retribuiu. A detetive aproveitou o espaço que tinha para chutar a genital do homem, a dor o fez ajoelhar.
— Não se atreva a tocar em mim novamente.
— Sua vagabunda! — se levantou — Eu espero que você queime no inferno!
— Eu já vivi o meu inferno, você o comandava.
Ele terminou de se vestir e bateu à porta da frente. Duran foi até o banheiro e limpou o rosto, a ânsia de vomito veio logo em seguida e ela não conseguiu segurar. Se ajoelhou ao vaso e sentia sua garganta arder. A vergonha, o constrangimento tomaram conta dela, gostaria de nunca o ter conhecido.
Durante algum tempo o choro havia se tornado algo comum para Duran, mesmo após terminado com Link, ela não chorava por que sentia saudades ou o queria de volta, chorava de medo. Ele a consumia por dentro, a matava lentamente. O coração acelerava todas as vezes que precisava sair da delegacia para as investigações. Rosie não sabia o motivo do medo, afinal, aquele que a torturava já não poderia fazer mais nada com ela, ou poderia? O medo de encontra-lo em sua casa ou na saída do trabalho. O que ela faria? Estava assustada demais para denuncia-lo, ele poderia se irritar como todas as outras vezes e bater nela, mais forte do que as outras vezes.
No banheiro da delegacia Rosie jogava a água gelada da pia em seu rosto fazendo com que se arrepiasse. Ela preferia não olhar no espelho então pegou alguns papeis e secou as mãos e as gotas na face. Tudo naquele momento parecia difícil, distante ou impossível. Rosie se acostumou a ficar sozinha, viver sozinha e fazer tudo o que quisesse por si só, mas ultimamente tudo o que ela mais queria era alguém, um ombro amigo ou qualquer coisa que a conforte. Ela dependia das pessoas.
Era isso, ela não amava Link, nunca amou, ela dependia dele. A dependência é um vício, não percebeu no início que aquilo era nocivo, somente se entregou. Duran queria poder dizer que tudo estava acabado, que ela estava livre e finalmente feliz, mas essa não era a realidade. Estava triste, com raiva e o principal, ela estava com medo.
— Detetive Duran? — a nova delegada batia a porta de Rosie.
— Sim senhora — ela acordou dos pensamentos sombrios que ainda estavam ao seu redor.
— Tenho alguns casos para serem arquivados e finalizados na minha sala, pode fazer isso pra mim?
— Claro — Rosie respondeu com a voz baixa.
Preferia assim, trabalhar dentro de sua sala era mais seguro. Ela se dirigiu a sala de Lilian e encontrou Lucas colocando uma pasta em cima da mesa da delegada.
— Duran, quanto tempo, nem parece que trabalhamos no mesmo lugar — riu.
— É... — a cabeça baixa da moça impediu Lucas de ver o rosto dela.
— Eu nunca mais vi você em campo, aconteceu algo?
— Não — ela esperou um pouco e terminou a frase — Eu preciso das pastas se puder me dar licença.
— Você está cuidando das papeladas? Isso é serviço para os policiais.
— Campbell por favor! — ela finalmente levantou o rosto
Os olhos de Rosie eram preenchidos por algumas lagrimas que ela se esforçou em disfarçar. O curto passo para o lado que Lucas deu permitiu a detetive pegar as pastas na mesa e antes de se retirar Lucas a chamou.
— O que aconteceu? — o olhou pelo ombro e ele gesticulou apontando para o roxo no braço.
— Nada — tampou o lugar — Devo ter batido na maçaneta.
— Rosie Duran sendo estabanada? O que, ficou desequilibrada quando viu que perdeu posto de melhor detetive? — ele riu, mas ela permaneceu com a mesma expressão de tristeza.
Sem responder voltou para sua sala e se sentou na cadeira desconfortável. A dor que ela sentia era diferente, era profunda e parecia não ter fim, não importava a hora ou o lugar aquilo nunca parava. Tinha perdido anos de tanto trabalho duro e dedicação, tudo que um dia já havia feito por aquela delegacia foi jogado no lixo. Mais do que tudo estava decepcionada, como que foi se meter naquela situação e por que não foi a mulher forte que pensava ser.
Capítulo 17
Outubro 2019 — Atualmente
Bonnie ainda tinha os olhos arregalados, a história que Rosie acabará de contar mexeu com ela, não imaginava que Link poderia ser tão cruel. Edwards se levantou e abraçou a detetive.
— Eu sinto muito — Bonnie tinha a voz chorosa.
— Não é sua culpa, não tem porquê chorar. E além do mais o chute que ele levou não foi fraco — as duas riram.
— Ainda assim, ninguém merece passar por isso. Ele me dizia que você era muito exigente e descontrolada.
— Agora sabe quem é o descontrolado.
— Eu tenho inveja de quem você é Rosie.
— Mas não deveria, eu sou exatamente como você.
Ficaram em silêncio por alguns segundos.
— Posso te perguntar algo? — Rosie se pronunciou.
— Claro.
— Por que quis ficar com Link? — Bonnie respirou fundo.
— A primeira vez que eu acompanhei Lucas para uma das confraternizações da delegacia, eu vi como você olhava para ele e vice versa. Amigos não olham assim para o outro. Todas as vezes que íamos para uma festa e ele sabia que você estaria, ele te procurava, discretamente claro, mas mulher sempre percebe, eu me senti sozinha. Um dia enquanto esperava por ele na delegacia Link apareceu para te buscar, enquanto você não chegava ele me beijou. Eu senti a adrenalina, me senti desejada e desde então nós ficamos.
— Ele pode parecer o senhor perfeitinho no começo, mas eu garanto a você, Link não vale a pena — Rosie disse.
— Acho que estou fadada a ter azar no amor, todos que me amam são psicopatas e aqueles que eu amo são apaixonados em outra.
— Talvez seja melhor se benzer um pouco — Bonnie riu — Mas sinto muito por Lucas, eu realmente não queria colocar você no meio disso.
— Não, por favor não sinta. Vocês dois se amam de verdade e isso é algo que ninguém poderia separar eu só tenho inveja por não ter o que vocês têm.
As duas permaneceram em silêncio. Os passos ecoaram até que viram Benjamin, ele carregava dois pratos com comida. Lewis tinha um grande sorriso no rosto, parecia bem feliz com a situação.
— Meu amor — ele deixou os pratos no chão — Senti sua falta — apoiou uma das mãos na porta de vidro.
— Vá pro inferno — Bonnie caminhou até a porta.
— Sinto muito você ter que passar por tudo isso, mas foi o único jeito de entender o quão eu posso te fazer feliz. Eu sei que um dia ainda vai me amar.
— Isso nunca vai acontecer.
— Você VAI — ele bateu na porta.
— Pode fechar a sua porta? Estou com fome.
— O que eu preciso fazer para ao menos olhar para mim? Eu sinto tanta falta da minha melhor amiga — ele respirava fundo.
— Podemos começar com você me tirando desse lugar mofado.
— Me obrigou a te colocar ai, a te castigar.
— Eu só quero a minha vida de volta.
— Não precisava ser tão difícil assim — Benjamin disse.
Ainda decepcionado fechou primeira porta possibilitando que Bonnie pudesse abrir a outra para pegar a comida. Ela pegou os dois pratos e entregou um para a detetive, antes de sair ele deixou a primeira porta aberta.
— Ele disse que você o obrigou a te colocar aqui, o que aconteceu? — Rosie pegou o prato e o colocou de lado.
— No primeiro dia ele me deixou sozinha na casa para voltar a Sheffield, provavelmente para dar o depoimento. Então quando ele estava chegando me viu tentando fugir, ele ficou furioso fez as malas e me trouxe aqui.
— Espera, ele mudou para outra casa?
— Sim, por que?
— Eu e Lucas encontramos a casa onde você estava, mas agora que ele mudou não sei como vão nos encontrar — Bonnie não respondeu — O que aconteceu na noite que te levaram?
— Enquanto Link ia embora depois da nossa briga Benjamin apareceu com aquelas cabeças de animais sabe? Naomi estava junto também, me disseram que me levariam para uma outra festa, mas eu neguei, ele insistiu e começou a me puxar pelo braço, Margaret apareceu e tentou me ajudar, mas... — ela não conseguia terminar.
— Eu sei. Tá tudo bem — Bonnie forçou um pequeno sorriso e começou a comer. Rosie permaneceu a olhando. Queria ter ajudado a mulher, mas agora estava presa junto a ela.
Lucas balançava as pernas esperando a chamada de seu voo ser anunciada. Tinha as mãos suadas e geladas, tentava mantê-las aquecidas, mas era em vão. Duran não saia de sua cabeça, queria saber se ela estava bem, se estava viva. Finalmente ele ouviu a voz anunciar pelos autos falantes que os passageiros poderiam embarcar para o avião, se levantou e pegou a pequena mala que levava e andou o mais depressa que conseguia até o portão de entrada, sentia que era mais fácil ter ido de carro.
Campbell foi até o seu assento e retirou o computador de Benjamin da mochila e recebeu uma notificação, ele havia sido atualizado. Entrou nas mensagens, mas nenhuma foi encontrada, a aeromoça chamou a atenção do detetive para que ele desligasse o computador. Quando iria fechar um e-mail surgiu ao canto da tela, Lucas clicou na mensagem.
(6:20 p.m.) Naomi: Mate Rosie!
(6:20 p.m.) Benjamin: O que? Está louca?
(6:21 p.m.) Naomi: Conseguiu matar Margaret, mas não tem coragem de matar a detetivezinha? Se não a matar eu mesma acabo com a sua vida.
— Senhor, nós já iremos decolar por favor desligue o computador.
— Eu só preciso de mais um segundo — Campbell pegou o telefone e mandou uma mensagem para Hanna.
(6:22 p.m.) Campbell: Sei quem é Naomi!
Rosie e Bonnie estavam deitadas na cama. Não tinha o que dizer, a detetive ainda tentava pensar em algum modo para saírem de lá. O teto parecia ser resistente, o chão era impossível, a única chance era que uma das paredes fosse oca para que ela pudesse quebrar. Enquanto batia em cada canto do quarto uma luz surgiu em sua mente.
— E se a gente fingir que você está passando mal?
— O que? — Bonnie olhou para ela.
— Se você fingir que não está bem ele vai abrir as portas e então a gente pode sair.
— E se ele não abrir?
— Bonnie, ele ama você. Eu tenho certeza que se você fingir que está mal ele vai entrar sem dúvidas — Rosie se levantou — Mas precisamos de algo para acertar ele.
— Um dos pratos?
— Ele é meio grande, não sei se um prato será suficiente, mas podemos tentar.
— Eu não sei Rosie, isso pode dar muito errado.
— Sei que tudo isso pode ser muito assustador, mas realmente preciso que confie em mim.
— Tudo bem — ainda receosa Bonnie respondeu.
— Escuta, eu prometo tirar você daqui e te levar pra casa — a detetive se ajoelhou ao lado da cama — Combinado?
— Combinado.
Rosie se levantou e foi até a porta, ela precisaria entender como elas funcionavam. Qual era mecânica que Benjamin usou para que somente uma porta abrisse por vez. Colado na parede do outro lado havia um tipo de sistema com nove números, quatro deles pareciam estar mais apagados, deveria ser os números para que a porta abrisse, mas qual era a ordem? Ele precisaria deixar a primeira fechada para que a segunda fosse aberta, precisariam ser rápidas já que se as duas portas fossem fechadas qualquer uma poderia ser aberta.
— Quando faremos isso? — Bonnie perguntou.
— Não sei, deve faltar duas horas para que ele venha trazer a última refeição, fazer agora pode ser arriscado. Sabe o que você poderia fazer agora? — a detetive sentou em frente a ela — Tente ser mais carinhosa com ele.
— Carinhosa?
— Entre no jogo. O trate de uma maneira mais amorosa, assim amanhã quando você fingir estar mal ele vai acreditar mais facilmente.
— Não sei se vou conseguir, a única coisa que eu sinto por ele agora é nojo.
— Eu sei, mas eu preciso da sua ajuda — Rosie colocou as duas mãos nos ombros de Bonnie — Vai nos tirar daqui — Duran sorriu.
Capítulo 18
Benjamin agora tinha o cabelo molhado e uma toalha ao ombro. Trazia uma bandeja com copos algumas frutas e os pratos com comida. Assim que a colocou no chão deu leves batidas na porta, Bonnie se levantou e foi até ele.
— Oi — Bonnie tentou soar a mais delicada que pode.
— Olá meu amor — ele sorriu — Trouxe sanduiches, sucos de laranja e frutas.
— Poderia fazer um favor para mim?
— Claro, o que quiser.
— Ao invés do suco de laranja poderia me trazer um de morango — ela se aproximou mais da porta fechada — Por favor.
— Com certeza — ele retirou um dos copos — Eu vou fazer e trago para você — Bonnie sorriu e viu os olhos do rapaz brilhar.
Benjamin voltou para dentro da casa, tinha deixado a primeira porta aberta então elas ainda não poderiam pegar a comida. Bonnie olhou para Rosie.
— Convincente? — Bonnie perguntou.
— O suficiente.
Após o barulho do liquidificador parar ele voltou para o quarto com o copo cheio e colocou na bandeja.
— Obrigada — ela sorriu de novo.
— Senti tanta falta do seu sorriso — ele colocou a mão na porta — O que aconteceu para que eu pudesse o ver novamente?
— Rosie me disse que Lucas não me ama mais, percebi que só você me ama de verdade.
— Sim — sorriu — Eu te amo, mais do que você pode imaginar.
— Desculpe ter tentado fugir aquela vez, achei que iria me matar.
— Eu nunca faria isso com você. Bonnie, eu só quero o seu bem.
— Acho que Rosie está com fome.
— Tudo bem, fico feliz de você finalmente ter percebido que ninguém nunca vai te amar o tanto que eu te amo.
Benjamin novamente esperou para que ela pegasse a comida e pudesse deixar a porta aberta. Ele saiu do lugar com um largo sorriso no rosto.
— Para abrir a primeira porta é preciso de uma senha, os números mais apagados, obviamente, são os mais usados.
— Como saberemos qual é a senha?
— Vamos ter que tentar.
— São inúmeras combinações Rosie!
— Eu sei, mas se quisermos sair daqui vamos precisar tentar.
Bonnie terminou de comer e se deitou. Não havia muito o que fazer ou ver, nem mesmo os livros pareciam chamar sua atenção. A única janela do quarto era alta demais e pequena. Rosie não conseguia dormir, ficou olhando para o lugar que estava. Quem quer que tenha criado aquilo havia passado muito tempo ali. O banheiro era bem construído, poucos metros à frente uma bancada e uma pia com uma geladeira velha que só estava ali de enfeite. A detetive se sentou na cama e olhava a mulher que mesmo dormindo tinha uma expressão preocupada.
***
Lucas jogou a mala em cima da cama do hotel. As mensagens incessantes de Hanna ocuparam todo seu celular.
(10:32 p.m.) North: Por que acha que é ela? O que descobriu?
(10:40 p.m.) Campbell: Preciso que confie em mim Hanna.
(10:43 p.m.) North: É claro que confio. O que tenho que fazer?
(10:51 p.m.) Campbell: Avise a Lilian e fique com o olho aberto.
O detetive se sentou na cama e abriu o computador. Pegou o número do dono aonde Benjamin havia feito a reserva e ligou para ele. Alguns toques e caiu para caixa de mensagem. Tentou mais uma vez e alguém atendeu.
— Senhor Richard?
— Ele mesmo.
— Eu sou o detetive Campbell da polícia de Sheffield.
— Sheffield? Na Inglaterra? O que aconteceu?
— Senhor eu acredito que um dos seus locatários tenha sequestrado duas mulheres.
— Santo Deus! Qual o nome dele?
— Benjamin Lewis, se recorda?
— Como iria esquecer? Eu sabia que tinha algo de estranho naquele garoto.
— O que houve?
— Quando entreguei as chaves da casa para ele, havia uma menina dentro do carro ela parecia estar tampando a boca de uma outra.
— A mulher que estava tampando a boca era ruiva?
— Era sim.
— Tudo bem, eu preciso do endereço da casa alugada.
— Não vai precisar, o rapaz cancelou a estadia três dias depois que chegou à casa.
— Tem alguma chance de saber para onde ele pode ter se mudado?
— Sinto muito detetive, eu não sei.
— Muito obrigado senhor Richard — Lucas desligou a chamada.
Estava frustrado, era como ter dado dez passos para trás depois de finalmente ter conseguido dar um. Pegou o computador de Benjamin e olhou pelas mensagens antigas com Naomi, boa parte parecia ter sido apagada já que algumas estavam sem sentido. Uma troca de mensagens chamou a atenção de Lucas.
(1:20 p.m.) Benjamin: Bonnie quase conseguiu escapar.
(2:00 p.m.) Naomi: Golden
(2:21 p.m.) Benjamin: Ainda não está pronto Naomi.
(2:21 p.m.) Naomi: Quer que ela fuja novamente?
(2:22 p.m.) Benjamin: Não
(2:23 p.m.) Naomi: Então faça o que estou mandando.
O que ainda não estava pronto? E por que nesse lugar ela seria incapaz de fugir? Pesquisou pelo nome "Golden" e para a infelicidade de Lucas a quantidade de apartamentos e condomínios com o mesmo nome era extensa, mas sabia com certeza que deveriam estar em algum deles. Anotou os endereços e pela manhã iria investigar cada um deles, tentou dormir, mas seus pensamentos o impediam de descansar. Optou então por pesquisar sobre a falsa identidade de Naomi.
Campbell acordou com os toques incessantes do telefone na mesa, levantou o rosto rapidamente com uma folha grudada em sua bochecha. Suas costas doíam por ter dormido sentado na cadeira. Pegou o celular e atendeu a chamada.
— Lucas acho que estava certo — Hanna mal esperou o detetive atender.
— O que descobriu?
— Ela realmente trocou de nome, criou essa outra identidade pouco mais de cinco anos atrás.
— Então tudo que ela comprou recentemente tem o seu nome atual.
— Com certeza, se ela utilizasse o verdadeiro facilmente a acharíamos.
— Tudo bem, obrigado. Tome cuidado, Bonnie e Rosie foram sequestradas não sei o que ela pode tentar fazer quando ver que a descobrimos.
— Tenho tudo sobre controle. — Hanna desligou.
Lucas olhou para o relógio, 8:20. Pegou uma das roupas da mala e se trocou. Antes de sair ele escreveu em um papel e guardou no bolso, precisaria daquilo mais tarde. Chamou um taxi e deu um dos endereços para o motorista.
O primeiro prédio visitado possuía duas residentes chamadas Naomi, uma idosa e a outra uma menina de quinze anos. Os endereços seguintes também não tiveram nenhum sucesso, ainda estava em uma rua sem saída.
***
Rosie tinha os olhos grudados nas portas, ao se ajoelhar percebeu que logo após a escada havia uma terceira porta, essa era de madeira provavelmente era a que dava para a entrada do porão. Precisava saber se ela também ficava trancada e se ficasse aonde conseguiriam as chaves. O corredor que separava as duas portas de vidro era um quadrado pequeno, mal caberia as duas ali ao mesmo tempo. Ouviu os passos perto da porta então se afastou.
— Ele deve estar trazendo o almoço — sussurrou para Bonnie — Lembre-se do que ensaiamos.
Ela assentiu e esperou até o momento onde ouviu a voz dele a chamando, estava parado com um largo sorriso.
— Benjamin, não estou me sentindo bem — enxugava um pouco da água que havia jogado no rosto — Acho que estou febril.
Lewis chegou mais perto da porta fechada e percebeu que o nariz avermelhado de Bonnie estava escorrendo.
— Deve ser algo que comeu no café — disse ainda analisando a mulher.
— Acho que é a pouca ventilação no quarto.
— Não — se afastou — Não vai sair daí!
— Querido, não estou pedindo para sair — colocou uma das mãos no vidro já um pouco embaçado — Talvez só um ventilador, qualquer coisa que faça o ar circular melhor.
Ele não respondeu, fechou sua porta e quando a comida foi retirada a abriu novamente. Rosie permaneceu concentrada até o momento onde a porta do porão foi fechada, não ouviu nenhum barulho de tranca então provavelmente aquela ficava aberta.
— E o que acontece agora? — Bonnie perguntou.
— Agora vem a parte mais difícil, porém a mais importante de toda essa mentira — ela prestava atenção em cada palavra da detetive — Vai precisar forçar um vomito.
— Não, sem chances — Edwards se afastou e começou a comer.
— Você quer sair daqui? — Rosie se estressou
— Acho que está indo longe demais.
— Bonnie quer ficar presa aqui dependendo da policia nos achar? Precisamos agir por nós mesmas, por favor.
— Tem certeza que vai dar certo?
— Eu não posso garantir isso, mas pode nos dar ao menos uma chance de sair.
Edwards queria discordar ou bolar um outro plano, mas aquele parecia ser o mais rápido e tudo que queria era sair dali. Rosie deu seu prato de comida para que ela comesse, precisaria estar forte para o que faria a noite.
***
Lucas terminava de visitar o último condômino e não teve nenhum sucesso durante todo o dia. Voltava para seu quarto estressado e com uma grande dor de cabeça, se sentou na cama e encarou a mensagem que Naomi havia mandando para Benjamin sobre a mudança de casa. Se lembrou do que Rosie havia dito sobre a maneira como Link tinha escrito o nome de Bonnie em seu telefone, somente as iniciais dela estavam em destaque. Talvez aquele nome fosse algo do tipo, uma maneira de esconder o verdadeiro lugar. Escreveu repetidamente "Golden" no papel e tentou formar uma outra palavra e todas encontradas não tinham significado nenhum. Jogou todo seu peso contra a cadeira enquanto as mãos cruzadas tampavam seus olhos.
Voltou sua atenção para o papel e dessa vez tentou cortou algumas letras até chegar em "Eldon", pesquisando encontrou dois condomínios com o mesmo nome, ambos fechavam as oito horas. O relógio em seu pulso já marcava quase nove horas e para entrar em qualquer uma das casas precisaria de um mandato, mas se fizesse isso Naomi descobriria, o mais inteligente a se fazer agora era ir no outro dia somente como um visitante.
***
Duran não conseguia ver, mas ouvia Bonnie forçar o vomito, aquilo precisava ir mais rápido ele provavelmente já estaria quase descendo com a janta. Quando finalmente ela conseguiu a voz de Benjamin soou baixa.
— Bonnie?
— Ela está vomitando — Rosie o avisou.
— O que? — ele carregava um ventilador em uma das mãos e a bandeja com comida na outra — Chame ela aqui.
— Você me ouviu? Bonnie está passando mal.
Edwards tinha improvisado mais do que o ensaiado, ela apareceu com o moletom sujo, o cabelo solto e um pouco molhado pela a água no pescoço e rosto.
— Deus — Lewis soltou o que segurava e se aproximou — Você está terrível.
— É só o ar, agora com o ventilador devo melhorar — forçou um sorriso — obrigada querido.
Ele permaneceu ainda a olhando enquanto ela se deitava na cama, estava paralisado.
— Pode nos dar licença? — Rosie o chamou — Bonnie claramente não está bem, o ventilador pode ajuda-la.
Mesmo depois de ter pegado tudo e a porta fechada Benjamin ainda estava acompanhando cada passo que Edwards dava. Somente as deixou sozinha quando um barulho na parte de cima da casa o obrigou a sair.
— Graças a Deus — Bonnie retirou a camisa suja.
— Você foi incrível, amanhã vai ser mais fácil do que esperado.
— Espero, passar por tudo isso em vão me deixaria mais louca que já estou.
— Não foi em vão, prometo.
Rosie mal conseguia comer por conta da ansiedade que a impedia sabia que precisava, mas nada parecia descer. Ligou o ventilador que realmente parecia ter feito uma grande diferença no ar abafado. Os pratos foram lavados e colocados debaixo da cama, aquilo não iria desacorda-lo somente o atordoar, seria o suficiente para escapar. Deitou na cama e esperou que o sono viesse, tinha esquecido o quão angustiante é não conseguir dormir por ansiedade.
Não sabia se tinha realmente dormido ou somente cochilado por dez minutos, mas sentia-se preparada para qualquer coisa. Ouviu passos vindo do andar de cima e deduziu que ele já tivesse acordado. Colocou a mão no ombro de Bonnie a acordando.
— Ele já acordou, está quase na hora.
— Não sei se estou preparada, acho que não vou conseguir.
— Claro que vai — olhou para a mulher assustada — Vai nos tirar daqui.
Enquanto Bonnie jogava água no rosto Rosie pegou os dois pratos e os escondeu melhor, ela só teria uma chance. Se não conseguissem sair hoje ele nunca mais confiaria nelas, precisaria ser rápida. Focou para que sua respiração acelerada diminuísse, ela se ajoelhou e Edwards deitou em seu colo. Uma luz distante bateu na porta, estava na hora.
— BONNIE! — Rosie gritou.
***
Lucas acordou antes mesmo do despertador tocar e esperando para dar a hora ficou andando de um lado para o outro, ligou para Lilian a avisando sobre o condomínio que poderiam estar e ela lhe disse que pediria reforços de alguns policiais de Glasgow. Quando o relógio marcou oito horas chamou um táxi e avisou sobre o endereço.
Ao chegar ao lugar agradeceu o motorista e saiu do carro. Foi até o segurança que barrava a entrada para o condomínio. Antes mesmo de se apresentar mostrou seu distintivo para ele.
— Campbell, polícia de Sheffield. Preciso investigar uma das casas do condomínio, preciso saber se uma das residências está no nome de uma possível suspeita de sequestro.
— Qual o nome do proprietário?
— Naomi Clark — Lucas tentou o verdadeiro nome por via das dúvidas. O segurança repetiu o nome para o rádio em suas mãos.
— Sinto muito senhor, não existe nenhuma Naomi no condomínio.
— Então tente Zara Jones — o homem repetiu mais uma vez.
— Casa número 21, detetive — então Lucas teve a confirmação que realmente era ela. Antes de entrar o detetive entregou o papel que escreveu no hotel para o segurança.
— Oi — Bonnie tentou soar a mais delicada que pode.
— Olá meu amor — ele sorriu — Trouxe sanduiches, sucos de laranja e frutas.
— Poderia fazer um favor para mim?
— Claro, o que quiser.
— Ao invés do suco de laranja poderia me trazer um de morango — ela se aproximou mais da porta fechada — Por favor.
— Com certeza — ele retirou um dos copos — Eu vou fazer e trago para você — Bonnie sorriu e viu os olhos do rapaz brilhar.
Benjamin voltou para dentro da casa, tinha deixado a primeira porta aberta então elas ainda não poderiam pegar a comida. Bonnie olhou para Rosie.
— Convincente? — Bonnie perguntou.
— O suficiente.
Após o barulho do liquidificador parar ele voltou para o quarto com o copo cheio e colocou na bandeja.
— Obrigada — ela sorriu de novo.
— Senti tanta falta do seu sorriso — ele colocou a mão na porta — O que aconteceu para que eu pudesse o ver novamente?
— Rosie me disse que Lucas não me ama mais, percebi que só você me ama de verdade.
— Sim — sorriu — Eu te amo, mais do que você pode imaginar.
— Desculpe ter tentado fugir aquela vez, achei que iria me matar.
— Eu nunca faria isso com você. Bonnie, eu só quero o seu bem.
— Acho que Rosie está com fome.
— Tudo bem, fico feliz de você finalmente ter percebido que ninguém nunca vai te amar o tanto que eu te amo.
Benjamin novamente esperou para que ela pegasse a comida e pudesse deixar a porta aberta. Ele saiu do lugar com um largo sorriso no rosto.
— Para abrir a primeira porta é preciso de uma senha, os números mais apagados, obviamente, são os mais usados.
— Como saberemos qual é a senha?
— Vamos ter que tentar.
— São inúmeras combinações Rosie!
— Eu sei, mas se quisermos sair daqui vamos precisar tentar.
Bonnie terminou de comer e se deitou. Não havia muito o que fazer ou ver, nem mesmo os livros pareciam chamar sua atenção. A única janela do quarto era alta demais e pequena. Rosie não conseguia dormir, ficou olhando para o lugar que estava. Quem quer que tenha criado aquilo havia passado muito tempo ali. O banheiro era bem construído, poucos metros à frente uma bancada e uma pia com uma geladeira velha que só estava ali de enfeite. A detetive se sentou na cama e olhava a mulher que mesmo dormindo tinha uma expressão preocupada.
Lucas jogou a mala em cima da cama do hotel. As mensagens incessantes de Hanna ocuparam todo seu celular.
(10:32 p.m.) North: Por que acha que é ela? O que descobriu?
(10:40 p.m.) Campbell: Preciso que confie em mim Hanna.
(10:43 p.m.) North: É claro que confio. O que tenho que fazer?
(10:51 p.m.) Campbell: Avise a Lilian e fique com o olho aberto.
O detetive se sentou na cama e abriu o computador. Pegou o número do dono aonde Benjamin havia feito a reserva e ligou para ele. Alguns toques e caiu para caixa de mensagem. Tentou mais uma vez e alguém atendeu.
— Senhor Richard?
— Ele mesmo.
— Eu sou o detetive Campbell da polícia de Sheffield.
— Sheffield? Na Inglaterra? O que aconteceu?
— Senhor eu acredito que um dos seus locatários tenha sequestrado duas mulheres.
— Santo Deus! Qual o nome dele?
— Benjamin Lewis, se recorda?
— Como iria esquecer? Eu sabia que tinha algo de estranho naquele garoto.
— O que houve?
— Quando entreguei as chaves da casa para ele, havia uma menina dentro do carro ela parecia estar tampando a boca de uma outra.
— A mulher que estava tampando a boca era ruiva?
— Era sim.
— Tudo bem, eu preciso do endereço da casa alugada.
— Não vai precisar, o rapaz cancelou a estadia três dias depois que chegou à casa.
— Tem alguma chance de saber para onde ele pode ter se mudado?
— Sinto muito detetive, eu não sei.
— Muito obrigado senhor Richard — Lucas desligou a chamada.
Estava frustrado, era como ter dado dez passos para trás depois de finalmente ter conseguido dar um. Pegou o computador de Benjamin e olhou pelas mensagens antigas com Naomi, boa parte parecia ter sido apagada já que algumas estavam sem sentido. Uma troca de mensagens chamou a atenção de Lucas.
(1:20 p.m.) Benjamin: Bonnie quase conseguiu escapar.
(2:00 p.m.) Naomi: Golden
(2:21 p.m.) Benjamin: Ainda não está pronto Naomi.
(2:21 p.m.) Naomi: Quer que ela fuja novamente?
(2:22 p.m.) Benjamin: Não
(2:23 p.m.) Naomi: Então faça o que estou mandando.
O que ainda não estava pronto? E por que nesse lugar ela seria incapaz de fugir? Pesquisou pelo nome "Golden" e para a infelicidade de Lucas a quantidade de apartamentos e condomínios com o mesmo nome era extensa, mas sabia com certeza que deveriam estar em algum deles. Anotou os endereços e pela manhã iria investigar cada um deles, tentou dormir, mas seus pensamentos o impediam de descansar. Optou então por pesquisar sobre a falsa identidade de Naomi.
Campbell acordou com os toques incessantes do telefone na mesa, levantou o rosto rapidamente com uma folha grudada em sua bochecha. Suas costas doíam por ter dormido sentado na cadeira. Pegou o celular e atendeu a chamada.
— Lucas acho que estava certo — Hanna mal esperou o detetive atender.
— O que descobriu?
— Ela realmente trocou de nome, criou essa outra identidade pouco mais de cinco anos atrás.
— Então tudo que ela comprou recentemente tem o seu nome atual.
— Com certeza, se ela utilizasse o verdadeiro facilmente a acharíamos.
— Tudo bem, obrigado. Tome cuidado, Bonnie e Rosie foram sequestradas não sei o que ela pode tentar fazer quando ver que a descobrimos.
— Tenho tudo sobre controle. — Hanna desligou.
Lucas olhou para o relógio, 8:20. Pegou uma das roupas da mala e se trocou. Antes de sair ele escreveu em um papel e guardou no bolso, precisaria daquilo mais tarde. Chamou um taxi e deu um dos endereços para o motorista.
O primeiro prédio visitado possuía duas residentes chamadas Naomi, uma idosa e a outra uma menina de quinze anos. Os endereços seguintes também não tiveram nenhum sucesso, ainda estava em uma rua sem saída.
Rosie tinha os olhos grudados nas portas, ao se ajoelhar percebeu que logo após a escada havia uma terceira porta, essa era de madeira provavelmente era a que dava para a entrada do porão. Precisava saber se ela também ficava trancada e se ficasse aonde conseguiriam as chaves. O corredor que separava as duas portas de vidro era um quadrado pequeno, mal caberia as duas ali ao mesmo tempo. Ouviu os passos perto da porta então se afastou.
— Ele deve estar trazendo o almoço — sussurrou para Bonnie — Lembre-se do que ensaiamos.
Ela assentiu e esperou até o momento onde ouviu a voz dele a chamando, estava parado com um largo sorriso.
— Benjamin, não estou me sentindo bem — enxugava um pouco da água que havia jogado no rosto — Acho que estou febril.
Lewis chegou mais perto da porta fechada e percebeu que o nariz avermelhado de Bonnie estava escorrendo.
— Deve ser algo que comeu no café — disse ainda analisando a mulher.
— Acho que é a pouca ventilação no quarto.
— Não — se afastou — Não vai sair daí!
— Querido, não estou pedindo para sair — colocou uma das mãos no vidro já um pouco embaçado — Talvez só um ventilador, qualquer coisa que faça o ar circular melhor.
Ele não respondeu, fechou sua porta e quando a comida foi retirada a abriu novamente. Rosie permaneceu concentrada até o momento onde a porta do porão foi fechada, não ouviu nenhum barulho de tranca então provavelmente aquela ficava aberta.
— E o que acontece agora? — Bonnie perguntou.
— Agora vem a parte mais difícil, porém a mais importante de toda essa mentira — ela prestava atenção em cada palavra da detetive — Vai precisar forçar um vomito.
— Não, sem chances — Edwards se afastou e começou a comer.
— Você quer sair daqui? — Rosie se estressou
— Acho que está indo longe demais.
— Bonnie quer ficar presa aqui dependendo da policia nos achar? Precisamos agir por nós mesmas, por favor.
— Tem certeza que vai dar certo?
— Eu não posso garantir isso, mas pode nos dar ao menos uma chance de sair.
Edwards queria discordar ou bolar um outro plano, mas aquele parecia ser o mais rápido e tudo que queria era sair dali. Rosie deu seu prato de comida para que ela comesse, precisaria estar forte para o que faria a noite.
Lucas terminava de visitar o último condômino e não teve nenhum sucesso durante todo o dia. Voltava para seu quarto estressado e com uma grande dor de cabeça, se sentou na cama e encarou a mensagem que Naomi havia mandando para Benjamin sobre a mudança de casa. Se lembrou do que Rosie havia dito sobre a maneira como Link tinha escrito o nome de Bonnie em seu telefone, somente as iniciais dela estavam em destaque. Talvez aquele nome fosse algo do tipo, uma maneira de esconder o verdadeiro lugar. Escreveu repetidamente "Golden" no papel e tentou formar uma outra palavra e todas encontradas não tinham significado nenhum. Jogou todo seu peso contra a cadeira enquanto as mãos cruzadas tampavam seus olhos.
Voltou sua atenção para o papel e dessa vez tentou cortou algumas letras até chegar em "Eldon", pesquisando encontrou dois condomínios com o mesmo nome, ambos fechavam as oito horas. O relógio em seu pulso já marcava quase nove horas e para entrar em qualquer uma das casas precisaria de um mandato, mas se fizesse isso Naomi descobriria, o mais inteligente a se fazer agora era ir no outro dia somente como um visitante.
Duran não conseguia ver, mas ouvia Bonnie forçar o vomito, aquilo precisava ir mais rápido ele provavelmente já estaria quase descendo com a janta. Quando finalmente ela conseguiu a voz de Benjamin soou baixa.
— Bonnie?
— Ela está vomitando — Rosie o avisou.
— O que? — ele carregava um ventilador em uma das mãos e a bandeja com comida na outra — Chame ela aqui.
— Você me ouviu? Bonnie está passando mal.
Edwards tinha improvisado mais do que o ensaiado, ela apareceu com o moletom sujo, o cabelo solto e um pouco molhado pela a água no pescoço e rosto.
— Deus — Lewis soltou o que segurava e se aproximou — Você está terrível.
— É só o ar, agora com o ventilador devo melhorar — forçou um sorriso — obrigada querido.
Ele permaneceu ainda a olhando enquanto ela se deitava na cama, estava paralisado.
— Pode nos dar licença? — Rosie o chamou — Bonnie claramente não está bem, o ventilador pode ajuda-la.
Mesmo depois de ter pegado tudo e a porta fechada Benjamin ainda estava acompanhando cada passo que Edwards dava. Somente as deixou sozinha quando um barulho na parte de cima da casa o obrigou a sair.
— Graças a Deus — Bonnie retirou a camisa suja.
— Você foi incrível, amanhã vai ser mais fácil do que esperado.
— Espero, passar por tudo isso em vão me deixaria mais louca que já estou.
— Não foi em vão, prometo.
Rosie mal conseguia comer por conta da ansiedade que a impedia sabia que precisava, mas nada parecia descer. Ligou o ventilador que realmente parecia ter feito uma grande diferença no ar abafado. Os pratos foram lavados e colocados debaixo da cama, aquilo não iria desacorda-lo somente o atordoar, seria o suficiente para escapar. Deitou na cama e esperou que o sono viesse, tinha esquecido o quão angustiante é não conseguir dormir por ansiedade.
Não sabia se tinha realmente dormido ou somente cochilado por dez minutos, mas sentia-se preparada para qualquer coisa. Ouviu passos vindo do andar de cima e deduziu que ele já tivesse acordado. Colocou a mão no ombro de Bonnie a acordando.
— Ele já acordou, está quase na hora.
— Não sei se estou preparada, acho que não vou conseguir.
— Claro que vai — olhou para a mulher assustada — Vai nos tirar daqui.
Enquanto Bonnie jogava água no rosto Rosie pegou os dois pratos e os escondeu melhor, ela só teria uma chance. Se não conseguissem sair hoje ele nunca mais confiaria nelas, precisaria ser rápida. Focou para que sua respiração acelerada diminuísse, ela se ajoelhou e Edwards deitou em seu colo. Uma luz distante bateu na porta, estava na hora.
— BONNIE! — Rosie gritou.
Lucas acordou antes mesmo do despertador tocar e esperando para dar a hora ficou andando de um lado para o outro, ligou para Lilian a avisando sobre o condomínio que poderiam estar e ela lhe disse que pediria reforços de alguns policiais de Glasgow. Quando o relógio marcou oito horas chamou um táxi e avisou sobre o endereço.
Ao chegar ao lugar agradeceu o motorista e saiu do carro. Foi até o segurança que barrava a entrada para o condomínio. Antes mesmo de se apresentar mostrou seu distintivo para ele.
— Campbell, polícia de Sheffield. Preciso investigar uma das casas do condomínio, preciso saber se uma das residências está no nome de uma possível suspeita de sequestro.
— Qual o nome do proprietário?
— Naomi Clark — Lucas tentou o verdadeiro nome por via das dúvidas. O segurança repetiu o nome para o rádio em suas mãos.
— Sinto muito senhor, não existe nenhuma Naomi no condomínio.
— Então tente Zara Jones — o homem repetiu mais uma vez.
— Casa número 21, detetive — então Lucas teve a confirmação que realmente era ela. Antes de entrar o detetive entregou o papel que escreveu no hotel para o segurança.
Capítulo 19
Benjamin não se importou com a comida que derramou no chão, só queria chegar até ela. Rosie passava a mão no rosto de Bonnie esperando para que ele entrasse no quarto. Benjamin correu até a mulher e a tomou em seus braços a balançando. As duas portas estavam fechadas.
— Meu amor, fale comigo — ele a abraçou.
Rosie pegou os dois pratos embaixo da cama e atirou na cabeça do homem que soltou Bonnie caindo em cima dela.
A detetive puxou Edwards debaixo dele. Elas correram até a porta que dava para dentro da casa. Rosie tentava fazer algumas das combinações que havia anotado.
— Espera — Bonnie tomou a frente — Acho que é o meu aniversário — ela digitou a data e o sistema avisou que havia sido desligado, mas a porta ainda não foi aberta — Ela está trancada, precisa de uma chave.
Duran correu novamente até o homem caído, colocou sua mão em um dos bolsos dele e encontrou um bolo de chaves, as levou até Bonnie que tentava todas que tinham ali.
— Anda logo! — Rosie a apressou.
— Eu estou tentando!
O homem começa a se mexer deitado no chão, o sangue de sua cabeça espalhava pelo chão. Com dificuldades ele conseguiu se levantar e caminhar devagar até as duas. Bonnie abriu a porta e levou um empurrão da detetive. Rosie tinha ficado dentro do quarto, enquanto Benjamin a puxava pelos braços.
— Rosie! — Bonnie bateu na porta.
— Saia daqui! — Duran a viu desaparecer pelo corredor escuro. Em um puxão conseguiu livrar seu braço das mãos de Lewis — Vamos resolver isso, está bom?
— RESOLVER? VOCÊ ARRUINOU A MINHA VIDA! EU A TINHA NAS MÃOS.
— Você nunca a teria por completo — ela se afastava dele.
— E como sabe disso?! Ela poderia ver que me ama verdadeiramente! — ainda cambaleando ele pegou um dos estilhaços do prato no chão.
— Benjamin, solte isso.
— Ela demorou muito para planejar isso — ele jogou o pedaço, mas a detetive desviou.
— Naomi demorou muito?
— ZARA!
— Zara? — ela perguntou.
— Ela vai me matar! Depois de tudo o que eu fiz — Benjamin foi em direção a detetive a acertou um soco no rosto dela.
Bonnie saiu do porão da casa e correu até a porta principal. Ela estava trancada com mais de cinco fechaduras diferentes, olhou para as janelas e todas estavam trancadas. Tentou gritar por socorro enquanto batia na porta, mas pareceu em vão, decidiu por tentar abrir a porta com as chaves que tinha na mão.
A detetive ainda caída no chão colocava a mão na boca sagrando. Benjamin andava de um lado para o outro com as mãos na cabeça. Duran se levantou e pegou uma das cadeiras perto da mesa e acertou as costas do homem, ele se virou furioso para ela.
— Eu tentei ser gentil — Benjamin apertou os ombros da mulher — Devia a ter matado quando pude — ele a jogou para uma das paredes.
— Todo esse plano — Rosie dizia ofegante — Nunca daria certo.
— Você não sabe o que é amar alguém que não te corresponde! EU AMO ELA HÁ 20 ANOS!
— Nós não forçamos o amor da outra pessoa!
— EU ESPEREI, ANOS!
— Ela poderia ter te amado, se você deixasse.
— Não me venha com essa — ele se virou para a detetive — Ela nunca me amaria, independente do que eu fizesse.
— Então por que fez isso?
— Eu... — ele ficou em silêncio — Eu não sei!
— Não é assim que pessoas normais amam — Lewis tentou enforca-la, mas Rosie pegou seu braço e o torceu para trás do homem — Eu não queria fazer isso — ela o empurrou para o chão e sentou em cima de seu braço imobilizado as costas.
Lucas andava apressadamente pelas ruas do condomínio, todas as casas eram distantes umas das outras. Parecia ruas sem finais. Seu coração batia rapidamente e as mãos suavam, quando finalmente chegou à casa ouviu o barulho de alguém tentando a abrir a porta.
— Benjamin? — o detetive perguntou.
— Lucas?
— Bonnie? É você?
— Sim! Graças a Deus! Estou tentando abrir a porta! — ela terminava de abrir a penúltima fechadura. A porta foi aberta e o detetive entrou apressadamente — Eles estão no porão — Bonnie o acompanhava.
— Eu fiz tudo para demonstrar meu amor para ela — Benjamin choramingava — Mas só a fez me odiar.
— Bonnie não te odiava, você a forçou para que ela se sentisse assim.
— Eu a via sofrer por todos esses outros enquanto eu estava lá, pronto para dar a minha vida se ela pedisse.
— E acha que isso é uma justificativa?! — ela puxou o outro braço dele — Eu tentei acreditar que você poderia ter sido manipulado por Zara, mas não você é um monstro. Eu não acredito que foi capaz de fazer isso com alguém que diz tanto amar.
— Eu precisava abrir os olhos dela para quem realmente a ama!
— ISSO NÃO É AMOR SEU DOENTE! — Rosie bateu a cabeça dele contra o chão — Não sairá tão cedo da cadeia — sussurrou em seu ouvido — E quando sair, sua mãe não irá te reconhecer, me ouviu?! — puxou mais o braço — Em que parte Zara entra nessa história?
— A ideia foi dela.
— Por que ela quis fazer tudo isso?
— Para que ela pudesse ficar com Lucas.
— Vocês são doentes!
Duran ouviu os passos vindo do corredor, olhou para porta e viu Lucas e Bonnie. A distração da detetive fez Benjamin conseguir ficar por cima de Rosie e lhe dar mais um soco, ele teria dado mais um quando Campbell agiu mais rápido e bateu no homem consecutivamente, o girou e colocou as algemas no braço de Benjamin.
— Para constar, você não me salvou — Lucas ajudava Rosie a se levantar.
— Droga, iria usar como desculpa caso nós dois brigássemos — ele riu.
— Eu iria ganhar a discussão de qualquer jeito — riu e se virou para a mulher parada na porta — Bonnie, poderia ligar para a polícia?
— Não precisa — o detetive interrompeu — Eu já pedi para o segurança chamar.
Enquanto Lucas levava Lewis para fora do quarto, Bonnie permaneceu lá dentro, a detetive foi até ela.
— O que foi?
— Achei que iria morrer aqui — ela falou baixo.
— Eu não deixaria isso acontecer a você — Duran disse — Prometi te salvar e era isso que eu ia fazer — Edwards a abraçou com força.
— Desculpe, se eu tiver te feito algum mal.
— Não — Rosie respondeu — Foi você que me salvou.
— Então acho que estamos quites.
— Estamos — Duran sorriu — Quando voltarmos para Sheffield será levada para um hospital, tudo bem? — Bonnie assentiu.
Uma memória voltou para a detetive, ela se apressou em ir de encontro com Lucas, ele colocava Benjamin em um dos carros da polícia que estava ali.
— Zara — Rosie falou.
— Eu sei.
— Como você descobriu?
— Ela tentou colocar um outro suspeito no caso e quase estava implorando para que eu não viesse para Glasgow. Eu vi que não fazia sentido nenhum e então juntei uma coisa à outra e descobri que ela estava no meio.
— Acho que seria bom avisarmos para Lilian.
— Já falei com Hanna, ela está tomando conta do recado.
Um dos policiais se ofereceu para leva-los de volta para Sheffield, Lucas se sentou ao lado do motorista enquanto as duas iam ao banco traseiro. Bonnie deitou aos braços da detetive, ela finalmente se sentia aliviada e segura fora daquele porão. Edwards se ajeitava no abraço que era recebido da mulher ao seu lado, aquele simples gesto a deixava mais calma e gostaria nunca de sair dali. Rosie de vez em quando olhava para trás certificando-se que aquele homem não escapasse.
A viagem de quatro horas fez Bonnie cochilar e não perceber o caminho. O policial parou a frente da delegacia, os jornalistas foram limitados a permanecer a mais de cinco metros da entrada. Duran cobriu o rosto de Bonnie que manteve a cabeça baixa até entrarem.
— Daqui alguns minutos a ambulância vai chegar e você poderá ir ao médico — Rosie avisou.
— Você não vem comigo?
— Preciso ficar aqui e tomar conta de Benjamin.
— Por favor — Bonnie suplicou.
— Tudo bem, vou a minha sala para arrumar algumas coisas e prometo te acompanhar — Edwards assentiu — Seus pais já foram avisados, eles logo devem aparecer.
— Obrigada — Rosie deu um sorriso e saiu.
A sala da detetive era no mesmo corredor que o laboratório, ela resolveu checar se a amiga estava bem. Abriu a porta e encontrou a cientista caminhando de um lado para o outro.
— Você voltou! — ela abraçou Rosie — Estava com tanta saudade.
— Ah Hanna, eu mal fiquei dois dias fora.
— Qualquer minuto sem você parece uma eternidade.
— Aonde está Zara? — Duran perguntou.
— Ela não apareceu hoje. Deve ter descoberto que a farsa dela acabou e resolveu fugir.
— Tudo bem, vou emitir um alerta sobre ela — Rosie a abraçou uma última vez — Preciso ir, mas depois nós conversamos.
A detetive foi até sua nova sala e ficou por um tempo olhando pela janela. Apesar do sol o frio era predominante mesmo com as janelas fechadas. Aquilo ainda não havia acabado, Zara estava solta e provavelmente fugindo do país. Rosie pegou todas as pastas sobre o caso e entregou para um dos policiais pedindo para que ele os arquivasse.
Bonnie estava na cozinha tomando o chá que lhe ofereceram, Lucas estava sentado ao seu lado a olhando. O silêncio daquele lugar fazia com que pudessem ouvir os pássaros cantando. Ele queria pedir desculpas e ela também, se desculpar por não a ter tratado da maneira que ela merecia, se desculpar por não ter conversado e decidir ter um amante. Com a respiração pesada Edwards colocou a bebida na mesa e falou:
— Me desculpe, não queria fazer isso com você.
— A culpa foi minha — ele pegou a mão dela — Merecia mais do que alguém que não olhava para você, eu fui o causador de tudo isso.
— A amava, não escolhemos com quem nos apaixonamos. Eu agi de mal caráter.
— Gostaria tanto de ter resolvido isso da melhor maneira possível.
— Eu também — Bonnie disse.
Lucas beijou a mão que segurava da mulher e permaneceu ali a segurando por um tempo. Não queria ter quebrado o coração de Bonnie, queria não ter a envolvido na sua vida tão bagunçada, esperava que pudessem ser amigos pois sabia que ninguém o apoiaria como ela iria. Estavam destinados a amizade, não ao amor. Edwards ouviu a voz da mãe atrás de si e se levantou rapidamente.
— Minha princesa — a mãe abraçou a filha amorosamente — Estava com tanto medo de te perder.
— Eu também mãe — Bonnie a apertou mais forte.
O pai se juntou ao abraço e ficaram ali por alguns segundos, era como renascer de novo estar dentro daquele calor. Os beijos molhados da mãe na testa da mulher junto com as lágrimas que escorria aos olhos do pai.
— A ambulância está lá fora — Debbie avisou.
— Rosie disse que iria comigo — o olhar de reprovação apareceu no rosto do homem.
— Para que minha filha? Estamos aqui com você.
— Pai, por favor — sem vontade de questionar o pedido dela, Henry consentiu e a abraçou novamente.
A detetive foi de encontro com Bonnie que ainda tinha em seu pescoço o colar que lhe foi dado, ela segurava o pingente com força. Edwards viu que a mulher olhou diretamente para sua mão e a viu com o colar.
— Ainda não consegui jogar fora — Bonnie disse.
— Se não quiser, não precisa. É o seu colar agora.
— Não faz sentido usá-lo mais.
— Faça o que sentir que é melhor — a detetive sorriu.
— Link ainda está preso?
— Sim, ainda vão preparar os papeis para solta-lo.
— Quando ele for solto, eu gostaria de estar aqui — Bonnie disse.
— Tem certeza?
— Sim, quero resolver tudo isso o mais rápido possível.
— Tudo bem, será avisada — a detetive a acompanhou até a ambulância.
Rosie voltava para casa junto a Lucas, já era noite e os dois estavam exaustos, o apartamento do detetive parecia ser o mais seguro para que eles passassem a noite. Duran estava na sentada ao sofá esperando o detetive terminar seu banho, quando sentiu um cheiro forte de gás. Rapidamente ela se levantou e foi em direção para o lugar, ao empurrar a porta da cozinha viu Zara ao lado do fogão e com uma arma apontada para a mulher.
— Se fizer qualquer barulho eu atiro.
— Meu amor, fale comigo — ele a abraçou.
Rosie pegou os dois pratos embaixo da cama e atirou na cabeça do homem que soltou Bonnie caindo em cima dela.
A detetive puxou Edwards debaixo dele. Elas correram até a porta que dava para dentro da casa. Rosie tentava fazer algumas das combinações que havia anotado.
— Espera — Bonnie tomou a frente — Acho que é o meu aniversário — ela digitou a data e o sistema avisou que havia sido desligado, mas a porta ainda não foi aberta — Ela está trancada, precisa de uma chave.
Duran correu novamente até o homem caído, colocou sua mão em um dos bolsos dele e encontrou um bolo de chaves, as levou até Bonnie que tentava todas que tinham ali.
— Anda logo! — Rosie a apressou.
— Eu estou tentando!
O homem começa a se mexer deitado no chão, o sangue de sua cabeça espalhava pelo chão. Com dificuldades ele conseguiu se levantar e caminhar devagar até as duas. Bonnie abriu a porta e levou um empurrão da detetive. Rosie tinha ficado dentro do quarto, enquanto Benjamin a puxava pelos braços.
— Rosie! — Bonnie bateu na porta.
— Saia daqui! — Duran a viu desaparecer pelo corredor escuro. Em um puxão conseguiu livrar seu braço das mãos de Lewis — Vamos resolver isso, está bom?
— RESOLVER? VOCÊ ARRUINOU A MINHA VIDA! EU A TINHA NAS MÃOS.
— Você nunca a teria por completo — ela se afastava dele.
— E como sabe disso?! Ela poderia ver que me ama verdadeiramente! — ainda cambaleando ele pegou um dos estilhaços do prato no chão.
— Benjamin, solte isso.
— Ela demorou muito para planejar isso — ele jogou o pedaço, mas a detetive desviou.
— Naomi demorou muito?
— ZARA!
— Zara? — ela perguntou.
— Ela vai me matar! Depois de tudo o que eu fiz — Benjamin foi em direção a detetive a acertou um soco no rosto dela.
Bonnie saiu do porão da casa e correu até a porta principal. Ela estava trancada com mais de cinco fechaduras diferentes, olhou para as janelas e todas estavam trancadas. Tentou gritar por socorro enquanto batia na porta, mas pareceu em vão, decidiu por tentar abrir a porta com as chaves que tinha na mão.
A detetive ainda caída no chão colocava a mão na boca sagrando. Benjamin andava de um lado para o outro com as mãos na cabeça. Duran se levantou e pegou uma das cadeiras perto da mesa e acertou as costas do homem, ele se virou furioso para ela.
— Eu tentei ser gentil — Benjamin apertou os ombros da mulher — Devia a ter matado quando pude — ele a jogou para uma das paredes.
— Todo esse plano — Rosie dizia ofegante — Nunca daria certo.
— Você não sabe o que é amar alguém que não te corresponde! EU AMO ELA HÁ 20 ANOS!
— Nós não forçamos o amor da outra pessoa!
— EU ESPEREI, ANOS!
— Ela poderia ter te amado, se você deixasse.
— Não me venha com essa — ele se virou para a detetive — Ela nunca me amaria, independente do que eu fizesse.
— Então por que fez isso?
— Eu... — ele ficou em silêncio — Eu não sei!
— Não é assim que pessoas normais amam — Lewis tentou enforca-la, mas Rosie pegou seu braço e o torceu para trás do homem — Eu não queria fazer isso — ela o empurrou para o chão e sentou em cima de seu braço imobilizado as costas.
Lucas andava apressadamente pelas ruas do condomínio, todas as casas eram distantes umas das outras. Parecia ruas sem finais. Seu coração batia rapidamente e as mãos suavam, quando finalmente chegou à casa ouviu o barulho de alguém tentando a abrir a porta.
— Benjamin? — o detetive perguntou.
— Lucas?
— Bonnie? É você?
— Sim! Graças a Deus! Estou tentando abrir a porta! — ela terminava de abrir a penúltima fechadura. A porta foi aberta e o detetive entrou apressadamente — Eles estão no porão — Bonnie o acompanhava.
— Eu fiz tudo para demonstrar meu amor para ela — Benjamin choramingava — Mas só a fez me odiar.
— Bonnie não te odiava, você a forçou para que ela se sentisse assim.
— Eu a via sofrer por todos esses outros enquanto eu estava lá, pronto para dar a minha vida se ela pedisse.
— E acha que isso é uma justificativa?! — ela puxou o outro braço dele — Eu tentei acreditar que você poderia ter sido manipulado por Zara, mas não você é um monstro. Eu não acredito que foi capaz de fazer isso com alguém que diz tanto amar.
— Eu precisava abrir os olhos dela para quem realmente a ama!
— ISSO NÃO É AMOR SEU DOENTE! — Rosie bateu a cabeça dele contra o chão — Não sairá tão cedo da cadeia — sussurrou em seu ouvido — E quando sair, sua mãe não irá te reconhecer, me ouviu?! — puxou mais o braço — Em que parte Zara entra nessa história?
— A ideia foi dela.
— Por que ela quis fazer tudo isso?
— Para que ela pudesse ficar com Lucas.
— Vocês são doentes!
Duran ouviu os passos vindo do corredor, olhou para porta e viu Lucas e Bonnie. A distração da detetive fez Benjamin conseguir ficar por cima de Rosie e lhe dar mais um soco, ele teria dado mais um quando Campbell agiu mais rápido e bateu no homem consecutivamente, o girou e colocou as algemas no braço de Benjamin.
— Para constar, você não me salvou — Lucas ajudava Rosie a se levantar.
— Droga, iria usar como desculpa caso nós dois brigássemos — ele riu.
— Eu iria ganhar a discussão de qualquer jeito — riu e se virou para a mulher parada na porta — Bonnie, poderia ligar para a polícia?
— Não precisa — o detetive interrompeu — Eu já pedi para o segurança chamar.
Enquanto Lucas levava Lewis para fora do quarto, Bonnie permaneceu lá dentro, a detetive foi até ela.
— O que foi?
— Achei que iria morrer aqui — ela falou baixo.
— Eu não deixaria isso acontecer a você — Duran disse — Prometi te salvar e era isso que eu ia fazer — Edwards a abraçou com força.
— Desculpe, se eu tiver te feito algum mal.
— Não — Rosie respondeu — Foi você que me salvou.
— Então acho que estamos quites.
— Estamos — Duran sorriu — Quando voltarmos para Sheffield será levada para um hospital, tudo bem? — Bonnie assentiu.
Uma memória voltou para a detetive, ela se apressou em ir de encontro com Lucas, ele colocava Benjamin em um dos carros da polícia que estava ali.
— Zara — Rosie falou.
— Eu sei.
— Como você descobriu?
— Ela tentou colocar um outro suspeito no caso e quase estava implorando para que eu não viesse para Glasgow. Eu vi que não fazia sentido nenhum e então juntei uma coisa à outra e descobri que ela estava no meio.
— Acho que seria bom avisarmos para Lilian.
— Já falei com Hanna, ela está tomando conta do recado.
Um dos policiais se ofereceu para leva-los de volta para Sheffield, Lucas se sentou ao lado do motorista enquanto as duas iam ao banco traseiro. Bonnie deitou aos braços da detetive, ela finalmente se sentia aliviada e segura fora daquele porão. Edwards se ajeitava no abraço que era recebido da mulher ao seu lado, aquele simples gesto a deixava mais calma e gostaria nunca de sair dali. Rosie de vez em quando olhava para trás certificando-se que aquele homem não escapasse.
A viagem de quatro horas fez Bonnie cochilar e não perceber o caminho. O policial parou a frente da delegacia, os jornalistas foram limitados a permanecer a mais de cinco metros da entrada. Duran cobriu o rosto de Bonnie que manteve a cabeça baixa até entrarem.
— Daqui alguns minutos a ambulância vai chegar e você poderá ir ao médico — Rosie avisou.
— Você não vem comigo?
— Preciso ficar aqui e tomar conta de Benjamin.
— Por favor — Bonnie suplicou.
— Tudo bem, vou a minha sala para arrumar algumas coisas e prometo te acompanhar — Edwards assentiu — Seus pais já foram avisados, eles logo devem aparecer.
— Obrigada — Rosie deu um sorriso e saiu.
A sala da detetive era no mesmo corredor que o laboratório, ela resolveu checar se a amiga estava bem. Abriu a porta e encontrou a cientista caminhando de um lado para o outro.
— Você voltou! — ela abraçou Rosie — Estava com tanta saudade.
— Ah Hanna, eu mal fiquei dois dias fora.
— Qualquer minuto sem você parece uma eternidade.
— Aonde está Zara? — Duran perguntou.
— Ela não apareceu hoje. Deve ter descoberto que a farsa dela acabou e resolveu fugir.
— Tudo bem, vou emitir um alerta sobre ela — Rosie a abraçou uma última vez — Preciso ir, mas depois nós conversamos.
A detetive foi até sua nova sala e ficou por um tempo olhando pela janela. Apesar do sol o frio era predominante mesmo com as janelas fechadas. Aquilo ainda não havia acabado, Zara estava solta e provavelmente fugindo do país. Rosie pegou todas as pastas sobre o caso e entregou para um dos policiais pedindo para que ele os arquivasse.
Bonnie estava na cozinha tomando o chá que lhe ofereceram, Lucas estava sentado ao seu lado a olhando. O silêncio daquele lugar fazia com que pudessem ouvir os pássaros cantando. Ele queria pedir desculpas e ela também, se desculpar por não a ter tratado da maneira que ela merecia, se desculpar por não ter conversado e decidir ter um amante. Com a respiração pesada Edwards colocou a bebida na mesa e falou:
— Me desculpe, não queria fazer isso com você.
— A culpa foi minha — ele pegou a mão dela — Merecia mais do que alguém que não olhava para você, eu fui o causador de tudo isso.
— A amava, não escolhemos com quem nos apaixonamos. Eu agi de mal caráter.
— Gostaria tanto de ter resolvido isso da melhor maneira possível.
— Eu também — Bonnie disse.
Lucas beijou a mão que segurava da mulher e permaneceu ali a segurando por um tempo. Não queria ter quebrado o coração de Bonnie, queria não ter a envolvido na sua vida tão bagunçada, esperava que pudessem ser amigos pois sabia que ninguém o apoiaria como ela iria. Estavam destinados a amizade, não ao amor. Edwards ouviu a voz da mãe atrás de si e se levantou rapidamente.
— Minha princesa — a mãe abraçou a filha amorosamente — Estava com tanto medo de te perder.
— Eu também mãe — Bonnie a apertou mais forte.
O pai se juntou ao abraço e ficaram ali por alguns segundos, era como renascer de novo estar dentro daquele calor. Os beijos molhados da mãe na testa da mulher junto com as lágrimas que escorria aos olhos do pai.
— A ambulância está lá fora — Debbie avisou.
— Rosie disse que iria comigo — o olhar de reprovação apareceu no rosto do homem.
— Para que minha filha? Estamos aqui com você.
— Pai, por favor — sem vontade de questionar o pedido dela, Henry consentiu e a abraçou novamente.
A detetive foi de encontro com Bonnie que ainda tinha em seu pescoço o colar que lhe foi dado, ela segurava o pingente com força. Edwards viu que a mulher olhou diretamente para sua mão e a viu com o colar.
— Ainda não consegui jogar fora — Bonnie disse.
— Se não quiser, não precisa. É o seu colar agora.
— Não faz sentido usá-lo mais.
— Faça o que sentir que é melhor — a detetive sorriu.
— Link ainda está preso?
— Sim, ainda vão preparar os papeis para solta-lo.
— Quando ele for solto, eu gostaria de estar aqui — Bonnie disse.
— Tem certeza?
— Sim, quero resolver tudo isso o mais rápido possível.
— Tudo bem, será avisada — a detetive a acompanhou até a ambulância.
Rosie voltava para casa junto a Lucas, já era noite e os dois estavam exaustos, o apartamento do detetive parecia ser o mais seguro para que eles passassem a noite. Duran estava na sentada ao sofá esperando o detetive terminar seu banho, quando sentiu um cheiro forte de gás. Rapidamente ela se levantou e foi em direção para o lugar, ao empurrar a porta da cozinha viu Zara ao lado do fogão e com uma arma apontada para a mulher.
— Se fizer qualquer barulho eu atiro.
Capítulo 20
— Eu não irei.
— Me entregue sua arma — a detetive retirou seu revólver da cintura colocou ao chão e chutou para a mulher. Ainda a encarando Jones se abaixou e pegou a arma.
— Como devo chama-la?
— De que isso importa?
— Eu quero saber o nome verdadeiro da pessoa que irá me matar.
— Me chame de Naomi.
— Tudo bem, Naomi. Por que não abaixa a arma e nós conversamos?
— Conversar? Nós duas não temos nada para falar.
— Por que está fazendo isso? — Rosie mantinha as mãos levantadas.
— Era para ter sido eu! Eu deveria estar ao lado dele — ela apontou a arma para a própria cabeça — O que você tem que eu não tenho?
— Naomi, você tem tudo o que eu tenho. Não somos diferentes.
— Então por que ele te escolheu? DUAS VEZES!
— Não sei, sou tão ingênua quanto você.
Naomi caminhou até a detetive, colocou o revólver na cabeça da mulher, as mãos de Clark tremiam e suavam. Ela queria apertar o gatilho e correr dali, mas não queria fugir dele, não queria perder ele da sua vida. Rosie não havia se mexido, estava estática olhando no fundo dos olhos de Naomi.
— O que você quer?
— Que ele me olhe como olha para você. Eu quero viver o que você vive! Eu quero ser você! Eu quero que você morra! Eu quero ser amada droga! É difícil entender isso? Por que você merece ter tudo isso, mas eu não?
— Naomi, por favor abaixe essa arma.
— CALE A BOCA! EU NÃO AGUENTO MAIS A SUA MALDITA VOZ.
Ela ainda mantinha o revólver na cabeça da detetive, sentia ódio pela sua coragem não estar mais ali. Planejou aquilo por anos e estava com medo de finalizar o trabalho, por que naquele momento era tão difícil simplesmente acabar com aquela vida? Mas Lucas estava lá também, ela o mataria se atirasse em Rosie, a cozinha explodiria e os três seriam mortos e por poucos segundos Naomi acreditou que talvez aquilo fosse até poético.
— Era você na minha casa? — Rosie perguntou, mas a mulher não respondeu — Era?
— Era.
— Por que não simplesmente puxou a merda do gatilho?
— Não sou uma assassina — ela sussurrou.
— É exatamente o que é, olhe para o que está fazendo agora.
Naomi acreditava que não tinha nada a perder, era somente questão de tempo até ser pega pela polícia. Assim nem ela nem ninguém poderia ficar com ele.
— Link deveria ter acabado com você quando pode — Naomi disse com desdém.
A voz de Lucas foi ouvida pelas mulheres, Clark fez um sinal de silêncio para a detetive, mas ela não seguiu.
— Querida? Está sentindo esse cheiro de gás?
— Sou eu Lucas, só me de um minuto para comprar meu macarrão — Duran conseguiu ver a confusão no rosto de Naomi.
— Tudo bem, vou te esperar — ele respondeu.
— O que quer dizer isso? — Naomi perguntou.
— Sabe quantos anos eu trabalho como detetive? — Rosie chegava mais perto da mulher que recuava.
— Eu não quero saber.
— São oito anos e nesse tempo eu aprendi muita coisa,
como lutar para me defender — a detetive olhava aos olhos da mulher — Aprendi a maneira certa de agir com um criminoso, mas a lição mais valiosa que eu aprendi foi a ter conexão com meus parceiros — Rosie agora estava ao lado do fogão enquanto a mulher estava de costas para a porta.
— E isso significa o que?
— Significa que acabou o seu jogo Naomi Clark.
Lucas havia aberto a porta silenciosamente, os braços da mulher foram puxados para trás e algemados. Ela não teve tempo para perceber o que estava acontecendo até que finalmente a ficha caiu.
— Naomi Clark, você está presa pelo assassinato de Margaret Gordon e pelo sequestro de Bonnie Edwards. Tem o direito de permanecer calada, tudo o que disser pode e será usado contra você no tribunal. Tem o direito a um advogado, se não puder pagar o tribunal lhe designará um. Sabendo desses direitos, está disposto a falar sobre a acusação contra você? — Lucas perguntou, mas ela não respondeu.
Os detetives a prenderam em uma das cadeiras até que a polícia acionada chegasse, ela não havia falado uma única sequer palavra. Com o semblante enfurecido encarava Rosie que não se mostrava ameaçada. Lucas a entregou para o policial que estava parado a porta.
— Agora você me salvou — Duran disse.
— Finalmente poderei me gabar que salvei Rosie Duran? — Eles riram — Já disse que te acho incrível?
— Hoje não — Lucas beijou a testa da detetive.
— Sempre merece.
— Me entregue sua arma — a detetive retirou seu revólver da cintura colocou ao chão e chutou para a mulher. Ainda a encarando Jones se abaixou e pegou a arma.
— Como devo chama-la?
— De que isso importa?
— Eu quero saber o nome verdadeiro da pessoa que irá me matar.
— Me chame de Naomi.
— Tudo bem, Naomi. Por que não abaixa a arma e nós conversamos?
— Conversar? Nós duas não temos nada para falar.
— Por que está fazendo isso? — Rosie mantinha as mãos levantadas.
— Era para ter sido eu! Eu deveria estar ao lado dele — ela apontou a arma para a própria cabeça — O que você tem que eu não tenho?
— Naomi, você tem tudo o que eu tenho. Não somos diferentes.
— Então por que ele te escolheu? DUAS VEZES!
— Não sei, sou tão ingênua quanto você.
Naomi caminhou até a detetive, colocou o revólver na cabeça da mulher, as mãos de Clark tremiam e suavam. Ela queria apertar o gatilho e correr dali, mas não queria fugir dele, não queria perder ele da sua vida. Rosie não havia se mexido, estava estática olhando no fundo dos olhos de Naomi.
— O que você quer?
— Que ele me olhe como olha para você. Eu quero viver o que você vive! Eu quero ser você! Eu quero que você morra! Eu quero ser amada droga! É difícil entender isso? Por que você merece ter tudo isso, mas eu não?
— Naomi, por favor abaixe essa arma.
— CALE A BOCA! EU NÃO AGUENTO MAIS A SUA MALDITA VOZ.
Ela ainda mantinha o revólver na cabeça da detetive, sentia ódio pela sua coragem não estar mais ali. Planejou aquilo por anos e estava com medo de finalizar o trabalho, por que naquele momento era tão difícil simplesmente acabar com aquela vida? Mas Lucas estava lá também, ela o mataria se atirasse em Rosie, a cozinha explodiria e os três seriam mortos e por poucos segundos Naomi acreditou que talvez aquilo fosse até poético.
— Era você na minha casa? — Rosie perguntou, mas a mulher não respondeu — Era?
— Era.
— Por que não simplesmente puxou a merda do gatilho?
— Não sou uma assassina — ela sussurrou.
— É exatamente o que é, olhe para o que está fazendo agora.
Naomi acreditava que não tinha nada a perder, era somente questão de tempo até ser pega pela polícia. Assim nem ela nem ninguém poderia ficar com ele.
— Link deveria ter acabado com você quando pode — Naomi disse com desdém.
A voz de Lucas foi ouvida pelas mulheres, Clark fez um sinal de silêncio para a detetive, mas ela não seguiu.
— Querida? Está sentindo esse cheiro de gás?
— Sou eu Lucas, só me de um minuto para comprar meu macarrão — Duran conseguiu ver a confusão no rosto de Naomi.
— Tudo bem, vou te esperar — ele respondeu.
— O que quer dizer isso? — Naomi perguntou.
— Sabe quantos anos eu trabalho como detetive? — Rosie chegava mais perto da mulher que recuava.
— Eu não quero saber.
— São oito anos e nesse tempo eu aprendi muita coisa,
como lutar para me defender — a detetive olhava aos olhos da mulher — Aprendi a maneira certa de agir com um criminoso, mas a lição mais valiosa que eu aprendi foi a ter conexão com meus parceiros — Rosie agora estava ao lado do fogão enquanto a mulher estava de costas para a porta.
— E isso significa o que?
— Significa que acabou o seu jogo Naomi Clark.
Lucas havia aberto a porta silenciosamente, os braços da mulher foram puxados para trás e algemados. Ela não teve tempo para perceber o que estava acontecendo até que finalmente a ficha caiu.
— Naomi Clark, você está presa pelo assassinato de Margaret Gordon e pelo sequestro de Bonnie Edwards. Tem o direito de permanecer calada, tudo o que disser pode e será usado contra você no tribunal. Tem o direito a um advogado, se não puder pagar o tribunal lhe designará um. Sabendo desses direitos, está disposto a falar sobre a acusação contra você? — Lucas perguntou, mas ela não respondeu.
Os detetives a prenderam em uma das cadeiras até que a polícia acionada chegasse, ela não havia falado uma única sequer palavra. Com o semblante enfurecido encarava Rosie que não se mostrava ameaçada. Lucas a entregou para o policial que estava parado a porta.
— Agora você me salvou — Duran disse.
— Finalmente poderei me gabar que salvei Rosie Duran? — Eles riram — Já disse que te acho incrível?
— Hoje não — Lucas beijou a testa da detetive.
— Sempre merece.
Capítulo 21
Junho 2016 — Três anos antes
Zara estava sentada com a perna direita balançando freneticamente, a mão esquerda na boca roendo uma das unhas, estava ansiosa era obvio. Ele finalmente iria se encontrar com ela. Só poderia estar sonhando afinal aquilo era bom demais para ser verdade. Sentada na última mesa da lanchonete Jones esperava para que ele chegasse. O coração da mulher parou quando o viu entrar pela porta, mas ele parecia triste.
— O que aconteceu? — ela perguntou assim que Lucas se sentou.
— Rosie voltou — as palavras cortaram o coração de Zara como uma faca.
— Achei que ela ficaria por São Francisco.
— Eu também...
— E vocês vão voltar? — ela perguntou rezando pela resposta.
— Não, sem chances — Campbell passou as mãos pelo rosto. Jones pode voltar a respirar um pouco melhor. Rosie podia ter voltado, mas ele não estava com ela.
— O que quer comer? — entregou o cardápio.
— Nada, perdi a fome. Desculpe — Lucas segurou as mãos dela.
— Tudo bem, podemos ir embora se quiser — ele assentiu e se levantaram.
O caminho até a casa da mulher foi silencioso, ele dirigia com os pensamentos longe enquanto ela mantinha o sorriso no rosto. Lucas estacionou em frente ao apartamento e a encarou por alguns segundos, não sabia o que havia acontecido então somente a beijou e se arrependeu logo em seguida.
— Eu sinto muito, não sei o que deu em mim— ele disse voltando ao seu banco.
— Não me importo — Zara pegou a mão dele — Fique comigo, uma noite.
Ainda triste pela volta de Duran ele a beijou novamente, queria esquecer que ela tinha voltado, queria fingir que Zara era ela. Não sabia ao certo, mas pretendia não pensar no que estava fazendo. A mulher o levou para seu quarto e trancou a porta, se aquilo era o paraíso ela não queria nunca sair dali. Campbell tirava a roupa dela rapidamente, os beijos eram distribuídos por todo seu corpo enquanto a deitava na cama.
Lucas acordou com a sensação de estar sendo observado, olhou para o lado e encontrou Zara o olhando enquanto acariciava seu cabelo, ela tinha um sorriso amoroso, estava apoiada em um só braço. Ele se sentia péssimo, não queria ter feito o que fez porque sabia que foi errado. Se levantou e vestiu as roupas ao chão.
— Me desculpe — ele sussurrou — Não queria fazer isso com você.
— Você não fez nada — ela o abraçou por trás.
— Zara...Eu usei você, eu não costumo fazer isso.
— Mas eu gostei — Jones sorria.
— Olha, vamos conversar — a puxou para sentar na cama — Acho que seja melhor nós sermos só amigos ta bom? Eu gosto muito de você e te acho maravilhosa, mas — Zara colocou um dos dedos na boca do rapaz.
— Mas nada, vamos só aproveitar o momento.
Para ela o que Lucas tinha dito era que a amava, e aquilo era o suficiente não importava da maneira que tenha sido ele estaria para sempre ligado a ela. Ele não conseguiu se segurar, aquilo estava indo longe demais.
— Eu preciso ir — tentou o mais rápido possível sair dali.
— Fique! Por favor, vamos tomar café e conversamos — ela tentava o segurar pelo braço.
— Está tarde, tenho que ir trabalhar. Nós conversamos depois — Lucas estava já em frente a porta de entrada quando ela resolveu dizer o que sentia.
— Eu te amo!
— Zara... — ele a olhou — Eu sinto muito se em algum momento pareceu que eu queria algo mais que amizade, mas eu honestamente não sinto nada por você
— Nós podemos consertar isso — ela se ajoelhou — Fique comigo!
O detetive pareceu muito assustado, não imaginou que poderia chegar naquele momento. Ela era linda isso é claro, seria mentira dizer que não tinha uma beleza incrível, mas o coração dele ainda tinha nome. Mesmo que negasse não adiantaria fugir do amor que sentia por Rosie ela sempre estaria ocupando sua mente. Não queria magoar Zara pois gostava demais dela, teve que tomar uma decisão para acabar com tudo aquilo.
— Acho melhor nós não nos vermos mais — ele ajudou a mulher se levantar — Eu não estou preparado para um novo relacionamento. Se continuarmos amigos será pior.
— Não por favor! NÃO ME DEIXE!
Lucas sussurrou por desculpas e saiu da casa. Zara estava descontrolada, ela queria correr atrás dele, mostrar que estava errado e que ela era quem iria o fazer feliz. A mesa ao lado do sofá foi jogada ao chão junto ao vaso de flores espalhando caco de vidro por toda a casa. A mulher puxava os cabelos tirando os fios da cabeça com força, sentia ódio de Rosie e queria faze-la pagar por todo o sofrimento que estava sofrendo. Havia desistido de matá-la quando finalmente terminaram, mas agora era a hora de voltar a planejar como fazer isso. Não permitiria que alguém ficasse com seu amor.
Ela estava com dor, o coração parecia estar sendo esmagado, a dor do amor era a pior. Como poderia sobreviver sem ele? O que seria da vida se não o tivesse por perto se não puder compartilhar com seu amor sobre o seu dia. Preferia morrer se tivesse que viver sem os toques e as risadas que ele lhe proporcionava. O choro de Zara era alto e sufocante, não conseguia parar mesmo que tentasse. As mãos suadas e dormentes fazia parecer que ela estava realmente morrendo e desejou profundamente que estivesse.
Capítulo 22
Outubro 2019 — Atualmente
A detetive caminhava para sua sala quando ouviu os saltos da delegada atrás de si.
— Eu sabia que conseguiria — Lilian disse — Você era a pessoa certa para esse caso.
— Obrigada — ela sorriu — É realmente importante ter o seu apoio.
— Eu reconheço uma boa mulher de longe senhorita Duran.
— Sinto muito pelo nosso início, coincidentemente quando você entrou eu estava passando por um momento muito difícil.
— Eu sei, eu vi. E fico extremamente feliz de saber que eu não estava errada ao seu caráter. Sabe como eu sou, não gosto de errar.
— Obrigada por confiar em mim.
A delegada não respondeu, deu um sorriso e deixou Rosie sozinha na sua nova sala. Agora finalmente ela poderia olhar pela janela em paz. O respiro fundo a deixava mais calma aos poucos, trabalhou duro para ter o reconhecimento que merece e quando ele finalmente chegou parecia não ser verdade. Tinha sentido falta disso, de perder a conta dos dias pois o trabalho a deixava tão anestesiada que mal via a hora passar, sentia falta de ter um caso fechado. Lucas bateu levemente na porta.
— Naomi está te esperando.
— Obrigada — Rosie sorriu.
— Tem certeza que quer fazer isso?
— Sim, tenho muito o que conversar com ela.
A detetive estava em frente a porta aonde aquela que tentou a matar a esperava, respirou fundo e abriu a porta. Por algum motivo Clark tinha um sorriso ao rosto, achou que estaria com raiva ou algo do tipo, mas a felicidade estampada em sua cara não deixava dúvidas que ela não tinha nenhum arrependimento.
Duran sentou-se frente a mulher que ainda tinha as mãos algemadas, a detetive se sentou frente a ela e olhou para o espelho ao lado esquerdo da sala e sabia que Campbell estaria ali ouvindo tudo.
— Por que estou aqui se sabe que eu fui a culpada de tudo.
— Essa é uma conversa informal senhora Clark, o que disser não será usado no tribunal.
— Melhor assim — ela sorriu.
— Tudo bem. De onde surgiu o plano de sequestrar Bonnie?
— Lucas Campbell.
— Como o conheceu?
— Ele apareceu no estabelecimento que eu trabalhava a sete anos atrás e então eu decidi começar a segui-lo.
— Por que não somente se aproximar dele ao invés de o seguir?
— Medo da rejeição. Quando vocês terminaram e ele começou a conversar comigo, viramos amigos. Um dia transamos e ele decidiu que não queria mais nada e tentou sumir de mim. Claro, não adiantou.
— Então fez tudo o que pode pela sua paixão por ele.
— Não é uma paixão — ela interrompeu a detetive — Eu o amo. Ele é o amor da minha vida é por ele que eu vivo e eu faria tudo isso de novo se no final ganhasse ele me olhando pela aquela janela — ela olhou para o espelho — Eu te amo.
— Tudo bem. Me conte sobre sua identidade falsa — Rosie chamou a atenção da mulher.
— Um pouco antes de Lucas começar a conversar comigo eu mudei meu nome para Zara Jones com a ajuda de um amigo que faz identidades falsas.
— Por que não usar seu nome verdadeiro?
— Porque eu sabia que iria matar alguém — Naomi sussurrou.
— Então quando ele começou o relacionamento com Bonnie você resolveu sequestra-la?
— Não — Naomi respondeu — Era para ser você. Mas quando eu iria colocar meu plano em ação vocês terminaram. Sorte a sua pois naquele tempo você não teria sido somente sequestrada — ela se aproximou da detetive — Estaria morta.
Rosie se arrepiou, se não tivesse acabado com Lucas provavelmente estaria morta agora. Bonnie somente sobreviveu pois Benjamin estava junto a ela. Como alguém poderia ir tão longe pelo amor? Como uma pessoa pode ser tomada por esse desejo insano de querer ter o outro para si? Era doentio pensar que Naomi seria capaz de matar outra pessoa somente para ter o amor de sua vida para si.
— Ok — Rosie tentou se concentrar — Como Benjamin entra no seu plano?
— Quando estava procurando sobre Bonnie percebi que Lewis a amava e ela só a via como amigo, foi fácil convence-lo a participar do meu plano. Ele é muito influenciável.
— Como planejaram o sequestro?
— Benjamin levou Bonnie e Margaret para fora da festa, eu estava o esperando com nossas máscaras.
— Se seu desejo era somente sequestrar Bonnie, por que matou Margaret Gordon?
— Precisava de alguma coisa para tirar o foco dos policiais e matar ela parecia a melhor opção — Naomi respondeu calmamente.
— Por que incriminou Link Archer?
— Não é obvio? O amante que já tinha um histórico abusivo enlouquece e sequestra a amada.
— E como você fez isso?
— Um dia antes da festa, Benjamin foi até a casa de Link e pegou uma das facas na cozinha dele, os dois eram amigos. Ele passou um pouco de sangue no banheiro para que ele fosse trazido para o laboratório e feito o teste de DNA.
— E você manipularia o resultado confirmando que o sangue era de Margaret.
— Exatamente — Naomi sorriu — Não é tão burra assim.
Rosie sabia que não havia sido ele, agora entendia seu sentido mandando não o prender. A detetive começara a ficar com raiva de si por não ver tudo isso, porém com calma percebeu que fora enganada, ela não poderia ter visto o que estava errado pois fora manipulada para não ver.
— Desde quando planeja esse sequestro? — a detetive olhava fixamente para a mulher na sua frente.
— 2014 — o ano em que Rosie e Lucas começaram a namorar — Em 2015 desisti do meu plano pois vocês terminaram, e quando Bonnie entrou na vida de Lucas eu dei continuidade ao plano. Eu me inscrevi no curso para cientista forense. Trabalhando aqui seria mais fácil manipular as provas.
— E conseguiria saber os passos e mudar seus planos se necessário. Me lembro que Lucas foi incriminado no início, se o amava por que fez isso?
— Eu não fiz isso. Benjamin alterou as imagens do bar sem me consultar, na verdade ajudei Lucas a se livrar dessa.
— Avisando a Hanna que as imagens estavam em um loop.
— Exatamente.
— Como fez para levar Bonnie para Glasgow? Pois me lembro que no mesmo dia que os pais dela vieram denunciar o desaparecimento o senhor Lewis ainda estava em Sheffield. Onde a colocaram?
— Assim que terminamos o serviço com Margaret a levamos para lá, Benjamin deve ter algemado ela em algum canto da casa, ele voltou para o depoimento e eu voltei para ser apresentada aos colegas de trabalho — sorriu.
— Vamos falar sobre as fotos de Margaret encontradas na casa de Link, por que fez aquilo?
— Não seria a cereja no bolo? O cara já estava fedido a merda até a cabeça e com aquelas fotos poderiam comprovar que ele era o pervertido que a matou.
— E como sabia daquela caixa?
— Eu era uma das amantes de Link. Foi fácil entrar lá — ela fez uma pausa — Acho que não se lembra de mim, mas se recorda do dia que pegou ele na cama com outra?
Duran já não se impressionava mais com a quantidade de amantes que ele teve durante todo esse tempo, mas ficara incrédula que não reconhecera que Naomi era aquela mulher. Apesar do cabelo hoje ser ruivo o rosto dela era marcante, os olhos azuis iguais e o maxilar marcado com as bochechas saltadas. Talvez Rosie estivesse completamente cega quando encontrou Archer que mal olhou para a acompanhante.
— Ah e claro — Naomi voltou a falar — Deveria sempre fechar suas janelas.
Era ela, a detetive ficou sem saber se sentia aliviada por ser ela ou se ficava ainda mais apreensiva lembrando da arma apontada para o seu corpo. Ela olhou para o espelho imaginando Lucas do outro lado a olhando de volta. Sabia que ele seria capaz de entrar na sala se percebesse que Rosie não estava se sentindo bem. Ela voltou sua atenção ao largo sorriso de Naomi a sua frente.
— Para finalizarmos — Rosie juntou as mãos e colocou em cima da mesa — Como me tirou da minha casa sem que eu ou Lucas acordasse?
— Eu o observei dormir por cinco anos, sei muito bem o que acorda e o que não acorda ele. Entrei calmamente pela janela e coloquei clorofórmio para que você cheirasse, obviamente não o suficiente para te matar, mas o bastante para não acordar.
— E trabalhando em um laboratório teria acesso facilmente para esses produtos.
— Claro — ela sorriu.
— Acho que já tenho todas as minhas respostar — Rosie se levantou.
— Conseguiu o que quis não é mesmo? — Naomi disse.
— Sim, você atrás das grades.
— Eu o amava! Roubou ele de mim!
— Você quis assim, fez com que seu destino se tornasse o que ele é agora.
— Eu ainda não acabei.
Naquele momento Rosie percebeu como ela estava doente. Para Naomi, Lucas era a vida daquela mulher. Sentiu-se triste por ver ela ser tomada por uma doença que destruiu sua vida, poderia ser uma grande cientista, porém a condição psicológica dela a impossibilitou. A detetive bateu na porta e os mesmos policias que trouxeram Clark a levaram de volta para sua cela. Campbell apareceu no corredor ao lado da detetive.
— Você está bem? — ele perguntou.
— Nós dois precisamos urgentemente rever as pessoas com quem nos relacionamos.
— Não será necessário, agora seremos somente eu e você.
— Espero.
O detetive a beijou carinhosamente e permaneceu em seu abraço. Puderam finalmente respirar e sentir a presença um do outro sem a preocupação de que alguém estaria os perseguindo.
Epílogo
Lucas, Rosie e Bonnie estavam ao corredor esperando Link ser solto. Os detetives estavam alguns metros distante da mulher que tinha as mãos suadas. Edwards iria dar o ponto final em tudo e seguir em frente. Os passos fortes vindo do corredor fez com que Bonnie se levantasse. Archer teve os lábios sérios transformados em sorriso quando a viu.
— Meu amor, você está bem! — ele colocou as mãos no rosto dela.
— Nós precisamos conversar — ela gentilmente tirou as mãos.
— Não podemos fazer isso longe daqui? Esse lugar me dá arrepios e aqueles dois estão olhando para nós — Link apontou com a cabeça para Duran e Campbell que os olhavam de longe.
— Prefiro que seja aqui e agora.
¬— Mas por que? Vamos resolver isso na minha casa — ele passava a mão no corpo de Bonnie.
— Link, por favor isso é sério.
— Senti tanto a sua falta — Archer beijou o pescoço da mulher que o empurrou.
— Acabou.
— Sim acabou toda essa perseguição, agora poderemos ser felizes.
— Não, acabou entre nós — a frase paralisou o homem que manteve a boca aberta — Quando me contava as histórias com Rosie achei que ela era a namorada louca, mas descobri que na verdade era você o tempo todo — entregou o colar para ele.
— Só pode estar brincando — Ele jogou o colar ao chão.
— Você não é um homem Link, é um monstro.
— E acha que você é a melhor do mundo? Tem sorte de ter tido alguém como eu para ficar com você.
— Link, nada que disser vai me atingir.
— Sua vadia arrogante. Eu fiz tudo por você, te dei tudo o que queria e até as coisas que não merecia! É assim que você me retribui?
— Você não consegue aceitar nada? — Bonnie estava perdendo a paciência.
Link olhou fixamente a detetive.
— Foi você! Envenenou a cabeça dela com suas mentiras — tentou partir para cima de Rosie, mas foi impedido pela mão de Lucas, Link rapidamente as tirou dali.
— Encoste um dedo nela e você está morto.
— Claro — Link disse — Vai ficar atrás do detetivezinho de merda! Se estivesse sozinha...
— Ela não está! — Lucas o interrompeu — Nenhuma das duas está! E eu juro por Deus que se der mais um passo perto de qualquer uma será eu que vou para a cadeia — Rosie puxou o braço do detetive para trás.
— Saia daqui e nunca mais apareça Link Archer — Rosie o olhou nos olhos.
Ainda fuzilando Duran, que não abaixou sua cabeça como as outras vezes, Link saiu da delegacia. Bonnie respirou fundo e olhou para o casal do seu lado.
— Eu não tenho como agradecer tudo o que fizeram por mim. São meus anjos da guarda.
— Só fizemos nosso trabalho — Lucas disse.
— Não, vocês foram além disso — sorriu — E eu agradeço profundamente por isso.
— Sempre estaremos aqui por você — Rosie sorriu.
— E claro eu quero ser a madrinha se você permitir — Bonnie falou e viu Lucas balançar a cabeça negativamente.
— O que? — A detetive perguntou.
— Nada — Edwards respondeu — Acho que eu já falei demais — ela riu — Eu preciso ir, tenho um voou para pegar. Quando voltar eu venho te visitar — abraçou Duran e Campbell e saiu com os passos rápidos da delegacia.
— O que ela quis dizer com madrinha? — Rosie olhou para o homem.
— Eu não sei — deu de ombros.
Lucas agradeceu pela mulher não conseguir identificar que estava mentindo e a abraçou. Não queria sair dali nunca, gostaria de ficar daquele jeito até envelhecer e para sempre ficar ao lado daquela mulher que ainda fazia o seu coração disparar e o estomago revirar.
— Eu pedi a Lilian que pudéssemos ter o dia de folga e ela topou. O que acha de irmos para casa e assistir um bom filme? — o detetive perguntou enquanto beijava a testa de Rosie.
— Acho uma ótima ideia — sorriu.
Duran queria poder aproveitar o tempo que perdeu. Sofreu demais e merecia tudo de bom que a vida poderia lhe dar e era isso o que iria fazer. Não sabia o que iria acontecer dali para frente, mas só de ter seu amor ao seu lado tinha certeza que seria muito feliz.
— Meu amor, você está bem! — ele colocou as mãos no rosto dela.
— Nós precisamos conversar — ela gentilmente tirou as mãos.
— Não podemos fazer isso longe daqui? Esse lugar me dá arrepios e aqueles dois estão olhando para nós — Link apontou com a cabeça para Duran e Campbell que os olhavam de longe.
— Prefiro que seja aqui e agora.
¬— Mas por que? Vamos resolver isso na minha casa — ele passava a mão no corpo de Bonnie.
— Link, por favor isso é sério.
— Senti tanto a sua falta — Archer beijou o pescoço da mulher que o empurrou.
— Acabou.
— Sim acabou toda essa perseguição, agora poderemos ser felizes.
— Não, acabou entre nós — a frase paralisou o homem que manteve a boca aberta — Quando me contava as histórias com Rosie achei que ela era a namorada louca, mas descobri que na verdade era você o tempo todo — entregou o colar para ele.
— Só pode estar brincando — Ele jogou o colar ao chão.
— Você não é um homem Link, é um monstro.
— E acha que você é a melhor do mundo? Tem sorte de ter tido alguém como eu para ficar com você.
— Link, nada que disser vai me atingir.
— Sua vadia arrogante. Eu fiz tudo por você, te dei tudo o que queria e até as coisas que não merecia! É assim que você me retribui?
— Você não consegue aceitar nada? — Bonnie estava perdendo a paciência.
Link olhou fixamente a detetive.
— Foi você! Envenenou a cabeça dela com suas mentiras — tentou partir para cima de Rosie, mas foi impedido pela mão de Lucas, Link rapidamente as tirou dali.
— Encoste um dedo nela e você está morto.
— Claro — Link disse — Vai ficar atrás do detetivezinho de merda! Se estivesse sozinha...
— Ela não está! — Lucas o interrompeu — Nenhuma das duas está! E eu juro por Deus que se der mais um passo perto de qualquer uma será eu que vou para a cadeia — Rosie puxou o braço do detetive para trás.
— Saia daqui e nunca mais apareça Link Archer — Rosie o olhou nos olhos.
Ainda fuzilando Duran, que não abaixou sua cabeça como as outras vezes, Link saiu da delegacia. Bonnie respirou fundo e olhou para o casal do seu lado.
— Eu não tenho como agradecer tudo o que fizeram por mim. São meus anjos da guarda.
— Só fizemos nosso trabalho — Lucas disse.
— Não, vocês foram além disso — sorriu — E eu agradeço profundamente por isso.
— Sempre estaremos aqui por você — Rosie sorriu.
— E claro eu quero ser a madrinha se você permitir — Bonnie falou e viu Lucas balançar a cabeça negativamente.
— O que? — A detetive perguntou.
— Nada — Edwards respondeu — Acho que eu já falei demais — ela riu — Eu preciso ir, tenho um voou para pegar. Quando voltar eu venho te visitar — abraçou Duran e Campbell e saiu com os passos rápidos da delegacia.
— O que ela quis dizer com madrinha? — Rosie olhou para o homem.
— Eu não sei — deu de ombros.
Lucas agradeceu pela mulher não conseguir identificar que estava mentindo e a abraçou. Não queria sair dali nunca, gostaria de ficar daquele jeito até envelhecer e para sempre ficar ao lado daquela mulher que ainda fazia o seu coração disparar e o estomago revirar.
— Eu pedi a Lilian que pudéssemos ter o dia de folga e ela topou. O que acha de irmos para casa e assistir um bom filme? — o detetive perguntou enquanto beijava a testa de Rosie.
— Acho uma ótima ideia — sorriu.
Duran queria poder aproveitar o tempo que perdeu. Sofreu demais e merecia tudo de bom que a vida poderia lhe dar e era isso o que iria fazer. Não sabia o que iria acontecer dali para frente, mas só de ter seu amor ao seu lado tinha certeza que seria muito feliz.
FIM
Nota da autora: Sem nota.
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