Circus Akatsuki

Finalizada em: 01/05/2018

Capítulo Único

Depois de um dia cheio na faculdade, eu só queria uma coisa. Me jogar na cama e dormir até às 12h do dia seguinte. Cheguei em casa, deixei minha bolsa e fichário em cima do sofá, e fui caçar alguma coisa na cozinha para ir em direção do meu lugar favorito no momento, minha cama. Meus planos começaram a ruir quando a campainha começou a tocar, suspirei e fui atender e qual não foi a minha surpresa ao encontrar duas criaturas loiras na minha porta.

- Ino, Tema... – eu disse dando passagem para elas.
- Hina, sua linda, pronta para festejar essa linda sexta-feira? - Ino perguntou animada.
- Não me pergunte como ela consegue ficar animada. - Temari disse deitando no sofá e cobrindo os olhos com um dos braços.
- Ino, passei o dia fazendo prova na faculdade, não tenho ânimo pra sair de casa. - Comecei sentando em uma das poltronas. - Se não fosse a fome eu teria ido direto para a cama entrar em coma.
- É exatamente por isso que vocês deviam querer sair hoje. - Ino começou séria, andando de um lado para o outro. - Tivemos um dia de cão e merecemos nos divertir um pouco!
- Ino a última vez que você veio com esse papo, por algum motivo desconhecido, fomos parar em uma boate vestidas de odaliscas. - Temari disse com um careta. - Nem pense nisso!
- Eu prometo que não vamos parar em uma boate. - Ino disse balançando a mão como se estivesse afastando idéias. - E nem vamos nos fantasiar.

Ela parou no meio da sala sorrindo.

- Então, o que vamos fazer? - perguntei suspirando. - Nossas opções são boates ou algum barzinho.

Ainda sorrindo ela pegou três ingressos vermelhos da bolsa.

- Vamos ao cinema? - Temari perguntou ficando interessada.
- Muito melhor! Vamos ao circo! - ela respondeu sorrindo.

Uma hora depois

- Hina como foi que ela me convenceu a vir? - Temari perguntou ao pegar o saco de pipoca. Entrarmos na área das atrações do circo.
- Tema isso não é importante no momento. - Ino retrucou me pagando pela mão e seguindo em frente.

Quando ela nos disse, iríamos ao circo, eu pensei que fosse um daqueles circos pequenos que passam pela cidade de vez em nunca. Esse circo não é apenas grande e movimentado, como tem mais atrações que o normal. Passamos ao lado de algumas barracas de comida, e de um homem em cima de pernas de pau. A tenda principal ficava no centro de tudo, nos dando a sensação que tudo convergia em sua direção.

- Ela disse que ia pedir pra Gaara hackear seu computador, para falar com o Shikamaru... - comecei, mas ela me interrompeu.
- Ah, verdade... - resmungou mais alguma coisa que não ouvi, toda a minha concentração foi para o cenário ao nosso redor.

O lugar é fantástico, com shows menores ao ar livre, de um lado um cara faz malabarismo com bolas pegando fogo, no outro lado outro um cara engolia uma espada, e mais para frente uma contorcionista fazia posições pouco humanas.
Continuamos andando na direção da barraca do show principal, já devia estar para começar. Ao chegarmos a uns 5 metros da tenda principal, vimos um homem todo de preto com uma máscara laranja, ele estava em cima de um palco improvisado ao lado da abertura da tenda principal. Com um megafone, ele atraia as pessoas.

- Venham! Nosso show está para começar!

Ino não esperou um segundo para nos puxar para a tenda, escolhemos os lugares mais próximos que encontramos.

- Demos sorte de conseguir a terceira fileira. - Ino disse animada. Olhei para ela e sorri, feliz por termos concordado em vir e por ter esse momento com minhas amigas. Alguns minutos se passaram, então as luzes foram diminuindo até quase se apagarem. Uma luz no centro surgiu iluminando o mesmo homem que estava do lado de fora anunciando o início do show.

Sua voz saia um pouco abafada por causa da máscara laranja.

- Bem vindos! Senhoras e senhores, meninos e meninas. - começou animado, se curvando ligeiramente. - Espero que estejam todos bem acomodados e animados... Meu nome é Tobi e essa noite lhes apresentarei uma experiencia única! Veremos alguns mistérios inimagináveis e coisas surpreendentemente belas. - ele dizia ao andar pelo espaço olhando na direção da plateia, gesticulando animado.

Com um pulo e uma cambalhota, retornou ao centro.

- Quando lhes for solicitado sigam nossas instruções para que o espetáculo fique ainda mais divertido. Sem mais delongas, ao nosso primeiro número. Ele recuou parando próximo a cortina que tinha na outra extremidade da tenda.
- Saúdem Kisame, nosso homem tubarão.

O chão começou a se abrir e um tanque ficou visível, as luzes aumentaram o suficiente para que pudéssemos enxergar melhor.
Algo se movia muito rápido dentro do tanque, ainda mais rápido veio à superfície e com um salto voltou à água.

- Conseguiram ver algo? - Temari perguntou baixinho se inclinando um pouco, ouvi as outras pessoas cochichando ao redor.
- Não, foi muito rápido. - Ino respondeu no mesmo tom, ameaçando se levantar.

Antes que pudéssemos ter outra reação uma prancha foi colocada próxima a beirada do tanque, alguns instantes depois vimos voltar rapidamente e com outro salto caiu sobre a ponta da prancha.
Prendi a respiração ao observar os poucos detalhes que conseguia ver desse homem vestido com apenas um calção de banho. A pele azul, cabelos curtos e marcas no rosto e nos ombros.

- São guelras? - Temari perguntou ainda inclinada.
- Acho que sim. - respondi tentando enxergar melhor.
- Acho que eu esperava um pouco mais... - Ino murmurou para nós enquanto ele parecia se preparar para algo.

Por um momento nada aconteceu. Então um estalo alto veio e os cotovelos dele se alongaram e mais guelras surgiram, algo surgiu em suas costas e percebi ser uma barbatana como um tubarão. Seu rosto se alongou um pouco e seus olhos se separaram e por fim, um rabo surgiu.
Pisquei tentando entender o que eu via, se não estivesse acontecendo bem na minha frente eu nunca acreditaria em algo assim.

- Fala sério! - Temari sussurrou ainda com os olhos fixos no homem. Concordei com um aceno.

Ele olhou ao redor e sorriu, seus dentes afiados brilharam por um momento quando a luz ficou um pouco mais forte e uma música intensa começou. A água no tanque começou a ficar agitada e algo como um redemoinho se formou, ele pulou na água novamente. O tanque subiu mais, nos permitindo vê-lo mergulhar ainda mais fundo como se estivesse pegando impulso. Então subiu rápido e se pendurou no trapézio, balançou-se por um instante e pulou para o outro se segurando com o rabo. Então voltou para o anterior que ficava mais próximo ao centro da tenda, e ficou em pé nos observando. A água no tanque ficou menos agitada, para então começar a subir como bolhas refletindo a luz, voltei a olhar para o trapézio e Kisame parecia controlar a água que subia.
As bolhas se alongaram e giraram ao nosso redor, nos assustando quando tomaram a forma de tubarões. Eles se moveram ao nosso redor calmamente. Em um piscar de olhos eles ficaram agitados, e ao baterem uns nos outros explodiram em milhares de gotas, me preparei para ficar encharcada, mas nenhuma gota caiu. Elas ficaram suspensas, quase congeladas no ar. No meio delas Kisame voltou a pular de um trapézio para o outro girando e fazendo cambalhotas em pleno ar, nos fazendo prender a respiração quando vinha a sensação de que ele não conseguiria terminar o pulo.
Com um giro maior ele caiu no tanque e sumiu de vista, as gostas ainda no ar brilharam momentaneamente como diamantes, e sumiram. Todos aplaudiram, o tanque fechou-se e o chão voltou a ser algo estável, as luzes voltaram a diminuir.

- Agora, para que se encantem, lhes apresento Konan, nossa mulher de papel.

As luzes se apagaram completamente. O silêncio reinou. Prendi a respiração esperando. Alguns segundos se passaram e alguns pontos azuis e roxos começaram a surgir pela tenda, um azul apareceu bem próximo e percebi que era um origami, uma borboleta de papel. Mais pontos foram surgindo, começaram a flutuar indo para o que presumir ser o centro, eles foram se agrupando até começar a tomar a forma de uma pessoa. Os tons ficaram mais fortes, voltaram a diminuir deixando no lugar das borboletas uma mulher alta de cabelos azuis, vestida com um vestido preto pelo que eu podia ver, espartilho, uma saia rodada e sapatilhas.
Ela fez uma leve reverência e começou a dançar uma música suave, um tanto hipnótica. Conforme ela se movia, partes de seu corpo se soltavam e se tornavam borboletas para voltar a formar seu corpo, ela prosseguiu. A cada passo, giro e nota musical, sentia minha cabeça mais leve e uma vontade de me juntar a ela na dança apareceu, sacudi a cabeça e me concentrei na apresentação, mas conforme me concentrava, mais me sentia hipnotizada.
Aos poucos o tom da música foi mudando, senti um arrepio com o tom mais sinistro. Os passos pareciam mais complexos, e de alguma forma, mais delicados. Mesmo com o rumo que a música tomava.
Fechei os olhos sentindo, deixando todas as sensações que a música me trazia fluírem. Me senti mais desperta, sensível e ao mesmo tempo era como se eu me desfizesse exatamente como ela ao se desfazer em borboletas de papel. Senti pela primeira vez que poderia ser nada e ser tudo ao mesmo tempo.
Antes que eu pudesse de fato me entregar a isso e me juntar a ela, a música terminou. Abri os olhos surpresa com a pontada de decepção e angústia pelo fim.
Pisquei ainda mais surpresa por me encontrar em pé, outras duas pessoas estavam a meio caminho do picadeiro.

- O que foi isso? - Temari perguntou enquanto eu voltava a sentar. Senti meu rosto quente, provavelmente estava vermelha.
- Não sei. - murmurei em resposta voltando a me concentrar na apresentação, ignorando meu coração acelerado e todas as sensações que corriam pelo meu corpo.

Konan fez outra reverência em agradecimento aos aplausos, em uma explosão de luz azul ela se desfez novamente em borboletas de origami, que voaram como um furacão até sumir no nada. Todos permaneceram aplaudindo por mais alguns instantes. Tobi se aproximou da luz central novamente acompanhando-nos nos aplausos.

Maravilhosa como sempre! - Ele disse animado - Agora, se surpreendam com Sasori, nosso ventríloquo.

As luzes mudaram de tom indo para um vermelho escuro, um homem com roupas de tons escuros entrou, parou próximo ao centro e levantou os braços. Nos assustamos quando alguém nas fileiras mais altas começou a se levantar, olhei atentamente e percebi que era uma marionete feminina em tamanho real que começou a descer as fileiras como se fosse uma bailarina, pulando e fazendo piruetas.
Parou alguns metros à frente de seu mestre e fez uma singela reverência. Senti um calafrio quando percebi que com aquele conjunto de detalhes, traços, era como se estivesse viva, como se pudesse iniciar uma conversa a qualquer momento.
Olhos escuros, o detalhe perfeito dos cílios, o nariz levemente torto como se tivesse quebrado quando criança e pela forma como as luzes estavam, quase podia ver um sorriso discreto nascer.

- Caos¹ - começou, sua voz ressoando por todo o espaço hipnótica.
- Não sei se rasgo de vez, ou se costuro.
Se desmancho tudo ou se decoro.

A bailarina recomeçou a dança, uma batida intensa começou, me lembrando as batidas de um coração, cada verso ressoando, fazendo minha mente disparar.

- Se aumento o espaço ou se levanto o muro.
Desajuste.
Se eu tirar a goma, a folha entorta.
Mas se eu a deixar, é folha morta.

Os passos desaceleraram em sintonia ao ritmo que diminuía, como se o coração estivesse parando, para então voltar ao ritmo anterior.

- Se eu limpar o trilho, fica liso.
Mas se deixar ficar, perde-se o brilho.
Um pouco de emoção, um pouco de loucura.
A roda passa, a vida dura.
Até o dia em que a poesia se desmanche.
E de uma vez para sempre, a música se canse.
A pedra do chão então se abre ao meio,
e vira-se recheio de uma terra em transe.

A marionete finalizou na posição de adagio² com um leve balançar, como se estivesse em transe de fato. O silêncio permaneceu por alguns instantes. Todos tentando absorver cada palavra do poema citado, pelo menos eu estava. Algo em meu interior havia despertado e como nas apresentações anteriores senti que algo me chamava. Balancei a cabeça e voltei a realidade quando os aplausos começaram.

- Wow. - Temari disse aplaudindo animada. - Ino, acho que pela primeira vez você acertou.
- Claro que acertei, sou eu lembra? - Ino retrucou aplaudindo tão animada quanto. - Espera aí, como assim pela primeira vez?

Antes que as duas pudessem começar a discutir, Tobi voltou a se aproximar.

- Agora teremos uma pausa rápida, fiquem a vontade para sair. Retornaremos em 10 minutos. - disse animado.
- Vamos pegar algo para comer. - eu me intrometi antes que elas pudessem voltar a discutir.

Seguimos o fluxo que saia da tenda.

- Vamos comer o que? - Temari perguntou olhando ao redor. - E onde... Vocês lembram onde...
- Por aqui... - Ino interrompeu e saiu andando ainda meio emburrada pelo comentário anterior.

Olhei para Temari que suspirou.

- Nem precisa dizer nada, eu já sei. - disse, e saiu atrás resmungando alguma coisa sobre se sentir culpada.

Sorri e segui as duas. Passamos pelas atrações ao ar livre e chegamos em uma área menor, onde vários carrinhos de comida tinham sido montados.

- Tem muitas opções. - comentei olhando ao redor, tentando decidir.
- Seguir a dieta ou comer batata frita... Seguir a dieta ou comer batata frita... - Ino dizia olhando fixamente para um carrinho vendendo lanches.
- Ino, vai pegar a batata, depois você vai ficar reclamando que devia ter pego. - Temari disse suspirando. - Eu vou pegar mais pipoca. Temari se afastou indo na direção contrária.
- Ino. - chamei, ela olhou na minha direção pronta para começar a reclamar. - Vou pegar batata, vem comigo? - perguntei antes que ela me interrompesse.
- Claro. - ela murmurou.

Entramos na fila longa e ficamos em silêncio.

- Quando você vai começar a brigar comigo? - Ino perguntou ansiosa.
- Ino..
- Eu não sei o que é pior, o seu sermão ou o silêncio.
- Ino, calma. - disse antes que ela começasse a falar e não parasse mais. - Não vou brigar, você e a Temari sabem o que eu acho dessas discussões de vocês. Passar sermão não vai adiantar de nada, vocês são adultas e sabem o que fazem.
- Por que eu sinto que isso é um sermão? Até quando você não quer se envolver eu me sinto culpada! - Ela disse cruzando os braços. - Isso é tão injusto.
- Ino, só conversa com a Temari, tudo bem? - respondi suspirando e olhando para ao redor procurando por ela. - Você sabe que ela fala da boca pra fora, só para provocar.
- Ok. - ela resmungou, então me abraçou de lado.

Retribui o abraço e voltei a procurar por Temari. Olhei para a direção que ela seguiu e a vi voltando, senti uma sensação estranha, como se estivesse sendo vigiada. Voltei a olhar ao redor e vi o apresentador meio escondido observando, ele inclinou a cabeça como se estivesse pensando, então recuou e sumiu.
Pisquei voltando a atenção ao que acontecia ao meu redor, quando Temari se aproximou reclamando da fila da pipoca. Por sorte nossa vez chegou e fizemos nosso pedido.
Quando conseguimos sair da bagunça e chegar na tenda principal ouvimos um barulho de explosão.

- O que foi isso? - Temari perguntou assustada.
- Será que alguém se machucou? - Ino perguntou, olhando ao redor procurando algo que indicasse confusão ou acidente.
- Acho que veio da tenda. - disse entrando, e eu estava certa. A tenda estava cheia de fumaça, todos que tinham voltado estavam em pé aplaudindo. - Acho que estamos atrasadas.
- Droga! perdemos uma das apresentações. - Ino disse um pouco alto demais, acabamos passando despercebidas com a bagunça.

Procuramos um lugar e achamos um próximo de onde estávamos anteriormente, nos sentamos e esperamos enquanto limpavam o picadeiro.

- O que será que aconteceu? - Ino perguntou aos sussurros.
- O que quer que seja foi realmente bom, olha como todo mundo está agitado. - Temari respondeu no mesmo tom.
- Agora, fiquem atentos e caso vejam algo se mexer não se assustem. - Tobi voltou ao centro do picadeiro. - Lhes apresento Zetsu, o homem planta.

Tobi se afastou. As luzes diminuíram e esperamos olhando para os lados procurando o que quer que fosse surgir. Um barulho estranho surgiu. Me assustei quando vi algo se movendo no espaço entre os assentos que estavam na nossa frente, olhei ao redor e o mesmo acontecia, algo escuro se movia conforme elas se alongavam indo para o picadeiro. Notei que eram raízes. Olhando para cima, vi galhos descendo e se enroscando nos pilares da tenda. As raízes se enroscaram no chão, umas sobre as outras e os galhos fecharam-se como uma segunda tenda. Algo começou a surgir no meio das raízes tomando a forma de um homem, pelo que pude perceber com a pouca luz ele era metade branco e metade preto, e uma espécie de planta carnívora saia de seus ombros. Apenas a parte superior do corpo ficou visível.

- Olá para vocês! - duas vozes diferentes disseram ao mesmo tempo, eles se dividiram parcialmente ao meio.

Abri a boca surpresa e olhei para as meninas que estavam tão surpresas quanto eu, ouvi sussurros por toda tenda. Eles se curvaram e não disseram mais nada. Aos poucos as raízes e galhos voltaram a se mexer, se enroscando mais. E no meio delas outras espécies de plantas surgiram. No alto, diversas flores nasciam logo se soltando fazendo a tenda se encher com pétalas que pareciam flutuar sem nunca atingir o chão.
As pétalas se juntavam no ar tomando diversas formas, indo desde animais a humanas, movimentando-se como em um teatro, histórias rápidas. Em um momento um casal dançava apaixonado, no outro uma garotinha corria em meio as raízes, para no instante seguinte as pétalas saírem voando como borboletas ao nosso redor.
Um galho se elevou e parou na altura dos meus olhos, uma flor vermelha com muitas pétalas desabrochou. Por um momento pensei que fosse uma rosa, mas o tom era um tanto diferente. Pisquei quando a flor se aproximou e hesitando a puxei, ela se soltou com facilidade e o galho retrocedeu enquanto todos aplaudiam.

- Só você ganhou! Meio injusto isso. - Temari comentou e riu quando senti meu rosto ficando vermelho.
- Essa flor é linda. - murmurei abaixando a cabeça.
- É uma Camélia vermelha. - Ino disse baixinho quando parou de aplaudir. - Significa reconhecimento.

Os aplausos terminaram junto com os últimos galhos que sumiram no alto. Tobi voltou a se aproximar.

- Agora nosso grand finale, lhes apresento Itachi, senhor das sombras. - dessa vez ele se retirou da tenda, em vez de apenas se afastar.

A luz diminuiu muito mais do que nas outras vezes, nos permitindo enxergar apenas as silhuetas uns dos outros. Senti um arrepio como se meu subconsciente me avisasse que algo estava vindo. Algo se moveu e ouvi um crocitar, olhei para o alto e olhos vermelhos brilhavam nos observando. Segurei no pulso de Ino que me puxou para mais perto, o crocitar ficou mais alto e os corvos voaram quase como um vendaval indo direto para o centro do picadeiro. Bateram com tudo até sumirem e um homem surgir como fumaça.
A luz ficou um pouco mais forte, e consegui enxergá-lo melhor. Alto, olhos e cabelos escuros, o cabelo comprido amarrado em um rabo de cavalo baixo e a pele clara. Ele fez uma leve reverência em reconhecimento e sorriu como se soubesse algo que nenhum de nós poderia sequer imaginar.
Meu coração disparou quando vi as sombras por toda a tenda se movendo. Não consegui ver nenhuma forma específica, mas elas se moviam quase em sincronia com meu coração disparado. Senti uma pressão quando as sombras começaram a se aproximar e fiquei paralisada, não de medo, mas por meus próprios sentimentos controversos, não era apenas um calafrio de susto com essa aproximação, mas uma excitação que aumentava a cada batida. Ouvi sussurros e murmúrios, passos e talvez um soluço, por um instante me perguntei se todos estaríamos vendo a mesma coisa. Mas esqueci, conforme senti uma pontada no velho vazio interior que me forcei a conviver e aceitar a tanto tempo, senti essa dor intensa por um instante e então tudo que senti ao longo dessa noite o preencheu, pisquei deixando um suspiro escapar.
Sem me dar conta me levantei e fiquei observando as sombras se movimentando, pulsando, seu ritmo diminuindo até que Itachi surgiu. Me deixando consciente de sua altura, ficamos próximos o suficiente para eu notar um tom avermelhado em suas íris escuras, um brilho surgiu ao se curvar. Ele me estendeu a mão como em um convite para dançar, sem hesitar ou pensar aceitei.

Saí da tenda me sentindo desnorteada com tudo o que tinha visto, principalmente com a última apresentação, o que quer que esse circo tenha despertado dentro de mim não me parece algo ruim.

- O que acham de irmos em uma das apresentações ao ar livre? - Ino perguntou quase pulando de animação.
- Por mim tudo bem. - Temari disse sorrindo. - Esse circo é fantástico, vamos ver mais um pouco e vamos embora.
- Ok. - concordei sorrind. Espero que elas não percebam o quanto estou abalada com o que senti.

Fomos em direção as apresentações procurando algo que chamasse nossa atenção.

- Achei que só tivesse uma tenda. - comentei observando a tenda próxima das apresentações ao ar livre.
- Estranho, eu não lembro de ter visto essa tenda antes. - Temari disse olhando na mesma direção. - O que será que é?
- Vamos lá. - Ino disse nos pegando pela mão.

Nos aproximamos e vimos uma certa movimentação, uma placa acima da entrada indicava como a tenda do profeta.

- Deve ser bom. - Ino disse observando as pessoas que saiam da tenda.
- Vamos? - perguntei um pouco receosa, mas depois de tudo que senti essa noite o que mais pode acontecer?

Elas concordaram animadas e nos aproximamos. Um homem de sobretudo preto, uma máscara cobrindo seu rosto deixando apenas os olhos de fora, estava parado na porta cobrando a entrada.

- Quanto... - Temari começou a falar e ele a interrompeu.
- Você pode entrar, vocês duas esperem aqui. - disse apontando para mim.

Olhei para as meninas que pareciam tão surpresas quanto eu me sentia.

- Ele está te esperando. - disse em resposta a minha expressão confusa.
- Certo.
- Hina, vai. Qualquer coisa você grita ou usa o spray de pimenta que te dei. - Ino disse me cutucando.

Concordei e entrei na tenda me sentindo ainda mais receosa, olhei ao redor, a tenda é bem maior do que aparenta ser, mas mais vazia do que eu esperava, com apenas uma mesa redonda, uma toalha de cor escura e duas cadeiras.

- Finalmente você nos encontrou. - Pisquei focando meu olhar sobre o homem sentado à minha frente, avancei e parei atrás da cadeira vazia.

Cabelos brancos penteados para trás, olhos escuros e pele clara, usando um sobretudo aberto sem camisa por baixo, me permitindo ver as cicatrizes espalhadas.
Me observando com um sorriso desdenhoso.

- Sente-se.
- Encontrei vocês? - perguntei ao me sentar.

Ele me observou em silêncio por alguns instantes antes de voltar a falar.

- Foi o que eu disse Hyuuga. - ouvir meu sobrenome sair tão naturalmente me fez ter um sobressalto.
- C-como..? - comecei a torcer minhas mãos ansiosa.
- Sei exatamente o que está pensando. - Ele disse levantando o braço e passando a mão pelos cabelos. - Pode acreditar nisso ou não, mas tenho observado você a algum tempo, não pelo motivo que está pensando.

Ele parou prestando atenção em mim, senti todos os sentimentos novos que surgiram ao longo da noite se remexendo ainda mais, pisquei e desviei o olhar.

- E-eu...
-Você está com medo, se tornou a ratinha assustada que queriam que se tornasse. - disse levantando-se me fazendo voltar a encará-lo. - Eu não..
- Não é um ratinho assustado, deixando alguém ditar tudo que deve fazer? - continuou contornando a mesa e se aproximando. - Escolhendo as opções mais seguras, evitando conflitos, se obrigando a esconder-se de si mesma?

Abri a boca para dizer que não eu não fazia isso, minhas escolhas eram minhas e apenas minhas, mas parei meus sentimentos e sentidos entrando em conflito.

- Vi tudo que você pode ser Hyuuga, você só tem que se permitir. Ficamos em silêncio olhando nos olhos um do outro. Deixei toda a mistura de sentimentos se acalmarem e organizarem, finalmente aceitando e entendendo o que ele me dizia, mesmo as palavras nas entrelinhas. Minha mente se aquietou e me senti verdadeiramente bem pela primeira vez em muito tempo.
- Agora que entendeu... - ele voltou a falar inclinando-se em minha direção. - Diga-me como se sentiu essa noite?
- Viva.

- x -
Queridas Ino e Temari,
Vocês são duas das pessoas mais maravilhosas que existem no mundo e as amo muito, mas não posso continuar
como se minha vida não tivesse mudado de alguma forma. Quando fomos ao circo naquele dia algo despertou em mim
e não consigo mais ignorar, acho que tinham razão quando diziam que eu precisava de uma aventura que me tirasse
do estupor que minha vida era. Espero que entendam, amo vocês. Assim que possível, mando notícias.
- Hinata.


Caos¹ - Poema do livro Chão de Vento de Flora Figueiredo.
Adagio² - Passo do balé clássico. Este nome é atribuído aos passos em que se utiliza a sustentação das pernas no ar. São normalmente movimentos suaves e lentos.





Fim



Nota da autora: Sem nota.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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