Coffee4Two

Finalizada em: 11/12/2022

Capítulo Único

Cat&Coffee, Londres.


estava na sua primeira pausa do dia, entretanto, um alívio para o seu espírito agitado. Era quase 11 horas da manhã, a cafeteria estava vazia após o horário de pico, por isso era o seu momento de descanso. Ela pedia à Cat, sua chefe e dona da cafeteria mais maravilhosa de todas, sua bebida favorita do cardápio que era um café mocha. Sentava-se na mesma mesa, onde tinha uma visão privilegiada e lia o capítulo da sua fanfic favorita do momento: Coffee4Two. Preferia os dias mais ensolarados, entretanto, eram difíceis já que a cidade vivia mais acinzentada do que iluminada pela beleza do Sol. Mesmo assim, não conseguia arrancar o brilho nos olhos da garota brasileira que um dia sonhou estar ali.
Tinha três empregos para dar conta de pagar suas contas e não ter que retornar ao Brasil. Sentia a solidão de morar tão longe da sua família e amigos? Sim, mas a felicidade em morar naquele lugar era o conforto do seu coraçãozinho. Tomou um gole do seu café e quase cuspiu a bebida ao queimar sua língua. Lá fora, a enorme vidraça do lugar estava molhada pelo chuvisco que caía naquela manhã. Colocou o celular na mesa junto com sua xícara, levou as mãos aos cabelos e prendeu-os num coque frouxo, uma escolha prática para afastar os fios rebeldes de seus olhos.
Pegou novamente o celular, a ansiedade em ler o novo capítulo da fanfic era tão grande que quando abriu e viu que não tinha uma atualização, xingou baixinho inconformada.
Seu momento de folga foi estragado com sucesso.
CharlieXxx estava de parabéns! A jovem bufou frustrada e largou o aparelho. Fazia seis meses que ela acompanhava a fanfic, devorou os cinco capítulos em um único dia e passou a acompanhar semana após semana, todos os capítulos que a autora postava no site.
Soprou o café novamente, tomou um gole e fez uma careta ao observar a rua. Sentia-se abandonada, não, não tinha uma palavra correta para definir o sentimento, a única coisa que queria mais do que tudo no mundo, era ler o capítulo mais aguardado de todos. Ela queria descobrir como reagiu ao saber da paixão de Robert. Só desejava isso e nada mais para começar o seu dia bem, o que custava a autora atualizar a fanfic? Quem precisa trabalhar? Comer ou dormir? Ela não poderia sentar na frente do computador e escrever como se não houvesse mais nada no mundo? E se ela sumisse do mapa e nunca mais postasse o capítulo? E se a história de e Robert jamais fosse concluída?
E se eles caíssem no limbo para onde os personagens abandonados vão e nunca mais tem sossego em suas pobres almas fictícias? O que seria dela? E pelo visto apenas dela, já que não havia nenhum comentário na fanfic de 25 capítulos. Seria a única leitora? Será que somente ela estava sofrendo?
Ela pegou o celular, abriu a aba da fic, respondeu às perguntas com o seu nome e o nome de Robert Pattinson, afinal, ainda sonhava em esbarrar com o seu ator favorito pelas ruas da cidade.
Rolou a página até o final. Nada. Nadinha. Nada, nada, nada.
Bufou em frustração e bebeu mais café, os olhos grudados na telinha. Foram segundos assim ou apenas um minuto, mas foi suficiente para o estalo vir em sua cabeça feito a faísca de um isqueiro.
Será que foi a falta de comentários? Pensou.
Descartou a ideia.
Ela deve saber que tem leitores, não é mesmo? O contador no início da página é prova suficiente que milhares de pessoas acessam a história… Não é?
Decidiu clicar na caixinha de comentários, mordeu o lábio inferior, num gesto de incerteza.
Iria comentar pela primeira vez? Questionou-se insegura.
Refletiu por mais alguns segundos e tomou a decisão de deixar o seu comentário. O clique na caixinha foi como abrir o seu ansioso coração, recheado com a sua empolgação, curiosidade, opinião, revolta e amores pela história. Terminou com um comentário enorme, quase uma redação e, no final, deixou um pedido desesperado por mais.
- Oi. - A voz masculina cumprimentou-a desanimada.
Ela largou o celular e ergueu o olhar, franziu a testa ao observar o rosto dele.
- Oi, . - Observou o rapaz que segurava uma caixa em suas mãos, tinha uma expressão desanimada, algo incomum. - Aconteceu alguma coisa? - Olhou para a caixa de papelão que guardava um vaso de planta de plástico, alguns cadernos, dois porta-retratos.
Ele suspirou tristemente.
- Fui demitido esta manhã.
- Ah, caramba! Sinto muito! - Ela levantou-se num pulo, puxou uma cadeira para ele.
- Obrigado. - Agradeceu ao colocar a caixa na mesa, tirar sua mochila das costas e colocá-la no chão; Ocupou a cadeira oferecida, o desânimo estampado em sua expressão.
- Só um momento. - Ela pediu. Apressou-se até o balcão, rodeou-o e pegou uma caneca. Aproximou-se da máquina e fez um café expresso com todo carinho para o amigo. Quando ia deixar o balcão, decidiu pegar um donut recheado por conta da casa e seguiu a passos rápidos até a mesa. Serviu-o com os itens e sentou-se novamente em seu lugar.
- Obrigado. - Ele sussurrou num muxoxo, assoprou o líquido quente e bebeu um longo gole.
- Como isso aconteceu?
Ele deu de ombros.
- Corte de custos.
- Corte de custos? - Ela repetiu incrédula.
- Esqueceu-se que os empresários acham que demitir um percentual do seu quadro de funcionários opera um milagre nas finanças da empresa? - Ironizou.
Ela apoiou o rosto na mão, observando-o com tristeza.
- O que vai fazer?
deu de ombros desolado.
- Beber o meu café favorito… - Parou a xícara antes de encostar nos lábios e encarou-a. - Vai ser de graça, né?
- Por conta da casa, afinal, nada como um café para curar a dor da demissão.
Ele suspirou tristemente, o olhar se perdeu na xícara.
Samara decidiu respeitar o silêncio do amigo, permaneceram assim por um longo momento até que Cat saiu da pequena cozinha e parou atrás do balcão.
- Que cara de enterro é essa, ? - Perguntou curiosa.
adiantou-se e respondeu.
- Foi demitido.
- Ah. - Cat abriu a boca, mas não disse mais nada. Observou-o pensativa, o olhar se iluminou do nada e virou-se para . - Isso é ótimo, ! - Soltou animada.
Ambos olharam para a mulher incrédulos.
Ela agitou as palmas das mãos na frente do corpo, sem jeito.
- Vocês entenderam errado! Triste que ele perdeu o emprego, mas isso tem um lado bom.
- Lado bom? - perguntou numa mistura de incerteza e curiosidade.
- Sim, você não disse que o seu sonho era ser autor?
- Ah. - Ele soltou sem palavras e depois, deu uma olhadela para .
- Você escreve? - Perguntou confusa.
- Ah… - Ele inconscientemente, levou uma das mãos para a nuca e coçou-a. - Eu escrevo algumas coisas, nada bom o suficiente que valha compartilhar com as pessoas.
- Isso é maravilhoso! - O seu rosto se iluminou. - E por que nunca me contou? Você sabe que eu adoro ler! Eu iria amar ler sua história! É sobre o quê? - Empolgada, metralhou-o com várias perguntas.
- Ih, está ferrado, ! Essa daí adora uma fanfic! - Ela virou-se para , agora séria. - Sua pausa acabou! Vou para o escritório, quando estiver indo, me avise, por favor. - Pediu com um sorriso e saiu, sem aguardar uma resposta.
- Não sabia que você lia fanfics. - Ele comentou surpreso, entretanto, algo estranho brilhou em sua expressão, mas a jovem não conseguiu identificar. Pensou que seria normal ele ficar estranho, já que acabou de sofrer um golpe.
- Eu amo! Tem muitas autoras de qualidade! Mas tem seus pontos negativos…
- Como assim?
- Ah. - Deu de ombros. - Estou lendo uma fanfic muito, muito, muito boa! Só que está em andamento, a autora não posta tem um mês e estou surtando querendo saber o que vai acontecer comigo e Robert! - Riu.
Ele fez uma cara como se não estivesse entendendo.
riu sem graça.
- É que eu leio num site que posso colocar qualquer nome nos personagens.
- Não me diga que você lê com o Robert Pattinson? - Perguntou e riu alto.
Ela ficou envergonhada, não respondeu.
- É sério, ?
- Ei, você deveria me entender já que é um autor. - Falou ofendida.
Ele riu.
- Desculpa, mas é muito esquisito saber disso. Só falta me dizer que a personagem é uma garçonete em Londres. - Riu.
Ela pareceu que queria sumir naquele instante, previu a risada do amigo, mas não veio. apertou os lábios fechados, pareceu empalidecer. não entendeu a reação do amigo.
- Algo errado?
- Não, não, tudo bem. - Apressou-se em garantir.
- Você parece que viu um fantasma. - Comentou, preocupada.
- Estou bem. - Garantiu.
- Tudo bem, então. - Soltou um suspiro resignado, deu de ombros e virou o restante do líquido frio em sua xícara. Ela colocou a xícara na mesa e franziu a testa confusa. - O que foi?
- Não sei como você consegue beber essa porcaria. - Fez uma careta de nojo e tomou o próprio café.
- Com licença? - Murmurou ofendida.
- Café se bebe puro, sentindo as nuances do sabor do grão, o cheiro fresco e puro. Não aguado com leite e doce feito uma colmeia de tanto chocolate. - Sorriu provocativo.
Ela mirou-o diretamente, os olhos tão pequenininhos que os raios lasers poderiam fatiar o rosto de .
Ele deu-se por vencido e ergueu as mãos num gesto de trégua.
- Não consigo acreditar que você é um autor, tendo um gosto tão horrível para o café. - Provocou-o. Ela levantou-se da cadeira, recolheu sua xícara.
- Acredite, sei fazer os meus personagens muito felizes, mesmo que a minha vida seja amarga. - Confessou com um sorrisinho de canto.
- Só acredito lendo.
Ele riu.
- Quem sabe um dia.
aproximou-se dele, tão próximo que ele foi capaz de sentir o perfume adocicado da garota. Prendeu a respiração, o coração bateu mais forte em seu peito, quando viu-a abaixar mais e mais a cabeça na direção da sua. A sua mente gritou que ela iria beijá-lo e que ele deveria erguer a sua boca em direção a dela, mas ele apenas ficou congelado no lugar. Foi quando os lábios quentes e com certeza adoçados de , encostaram no topo de sua cabeça, tocando os fios castanhos dos cabelos do rapaz com carinho.
Os pensamentos dele giravam, implorando para que ele se mexesse e tomasse uma atitude, mas não foi capaz de se mover. Permaneceu ali, estático.
- Eu sou sua amiga, . - Ela soou sincera na forma tão direta que encarou-o ao erguer novamente sua cabeça, pronta para partir de volta ao seu trabalho. Uma frase tão cheia de sentimentos, mas que foi uma facada no coração do rapaz. Conheceu naquela cafeteria num dia de folga, quando decidiu tomar um bom café. Ela comentou a sua escolha, criticou que o açúcar trazia um pouco de alegria e ambos entraram numa discussão interminável mesmo um ano depois. Na verdade, era apenas implicância de uma amizade entre eles. apaixonou-se por no momento que ouviu o comentário através daqueles lábios tão sedutores. Depois disso, ele nunca teve coragem de admitir o que sentia por ela, afinal, não queria perdê-la. O risco era grande demais.
Viu-a seguir para o balcão e começar a mexer em algumas coisas.
Ele tomou o restante de seu café e encarou a xícara vazia.
Levantou-se, acenou em despedida, um sorriso resignado em seu rosto e partiu com a caixa em suas mãos.

xXxXx


Assim que entrou em seu pequeno apartamento, colocou a caixa na mesa de centro onde estava o seu computador, depositou a planta de plástico ali junto com os porta-retratos. Pegou a foto que foi tirada um mês atrás, tinha um sorriso de orelha a orelha, um chapeuzinho de papel no formato de cone, enfeitava o topo de sua cabeça. Segurava um moedor de grãos de café manual que havia presenteando-a. Ainda se recordava da mistura de sentimentos daquela noite.
Devolveu a fotografia para a mesinha, olhou o móvel que estava arrumado como sua antiga mesa no trabalho e suspirou tristemente. Aquele seria o seu novo escritório. Ele iria continuar escrevendo as suas histórias e quem sabe viver disso…
Ligou o seu notebook, abriu a página da sua fanfic no site que publicava suas histórias e rolou até o final, congelou com o primeiro comentário que havia recebido desde que começou a contar a história de amor entre Samara e Martin. A leitora xgdjcnenkdfn deixou uma redação que arrancou muitos sorrisos e risadas de , sentiu-se mais motivado a continuar a contar mais o enredo.
Trocou para a página do Word que tinha rascunhado o capítulo mais importante de todos e continuou a escrever, mesmo que o caminho fosse doloroso, entretanto, o casal pedia por aquele destino desde o início.

“Martin secou as palmas das mãos no jeans surrado, a boca seca de nervoso pela espera da resposta de Samara. Ele criou coragem e contou o que realmente sentia pela amiga. Ela o encantou desde a primeira vez que a viu numa cafeteria, o amor pelo café construiu uma amizade e consequentemente, ele apaixonou-se. Foi preciso muita coragem para abrir o seu coração e correr o risco de perdê-la, mas ele precisava disso. Precisava colocar tudo para fora e o fez.
Agora, lá estava com uma expressão incerta em seu rosto.
- E então? - Ele perguntou sem conseguir disfarçar a ansiedade em seu rosto.
Ela respirou fundo, os ombros caíram e o olhar, aquele olhar que ele tanto temia, surgiu em seu rosto. Aproximou-se dele, estavam frente a frente na entrada da cafeteria, ele não queria imaginar a plateia que eles tinham ou tudo ficaria pior. Conforme ela se aproximava, a esperança de que tinha interpretado errado atingiu-o, mas despedaçou-se ao ver o rumo dos lábios da garota. Encostou-os quentes em sua bochecha por poucos segundos e afastou-se, deixando um rastro de formigamento que precisou de muito autocontrole para não tocar.
- Eu sou sua amiga, Martin.”





FIM.



Nota da autora: Oie! Sofri para encaixar essa história em apenas cinco páginas, mas amei esses dois e meu coração está triste pelo nosso pp. Espero que tenham gostado!
ORGANIZADORAS DO FFOBS, DEIXO CLARO MINHA REVOLTA COM ESSAS CINCO PÁGINAS!!! É SOFRIDO DEMAIS!!!!!! QUE DESAFIO, DESAFIADOR RESUMIR EM CINCO PÁGINAS! HAHAHA
Beijos e até a próxima!!!


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