Prólogo
Detetive Ben não sabia a quanto tempo estava olhando a foto daquele menino. Tudo o que ele queria era um dia tranquilo no seu trabalho, antes de finalmente ter suas tão sonhadas férias, mas o que recebeu foi mais trabalho. O garoto da foto em suas mãos tinha apenas dezessete anos, um futuro pela frente, uma vida inteira ainda para viver, sonhos para se realizarem, decisões para tomar. Tudo que um jovem deveria fazer na vida.
Mas estava morto!
Ben não entendia como ir a uma festa entre amigos, do último ano do colégio, poderia acabar em morte. Ele já havia visto e até trabalhado em casos semelhantes, mas esse era o primeiro em meses com uma vítima tão jovem. Agora o Detetive Benjamin tinha como seu objetivo, descobrir quem estava por trás desse homicídio e faria de tudo para que o culpado pagasse por esse crime.
Caminhando pelo corredor daquele colégio, em direção a sala dos suspeitos, Ben sabia que teria muito trabalho pela frente. Ele passou a manhã analisando as fichas dos alunos e tentando os conhecer, não teve muito tempo para isso, mas o pouco que leu sobre os suspeitos foi de tamanho esclarecimento para lhe ajudar no caso.
Ao bater na porta e entrar na sala, chamou o nome de todos os envolvidos um por um, e já do lado de fora da sala, falou:
— Boa tarde, eu sou o Detetive Benjamin Walter, e sou o responsável pela investigação do assassinato de null null. — Todos se olharam, alguns com mais medo que outros e Benjamin estava pronto para continuar quando um dos gêmeos perguntou:
— Nossos pais sabem que você vai falar com todos nós? — apenas pelo tom de sua voz, Ben sabia que aquele era o gêmeo Harly.
— Sabem, e inclusive já estão a caminho da delegacia — o detetive falou com sua voz calma, olhando nos olhos verdes do garoto. — Então peguem suas coisas e encontrarei vocês lá! — completou olhando para todos.
A expressão no rosto de alguns era medo e outros conseguiam disfarçar melhor.
Eles tinham medo de algo.
Ao ouvir o Detetive chamar seus nomes, Harry olhou para o seu irmão, que estava sentado na fileira ao lado, com John. Em seu olhar, Harry encontrou conforto e segurança de que tudo ficaria bem. Ao lado do garoto de moletom rosa, estava Zen que segurava sua mão e apertava levemente, dizendo através do gesto que ele estava ali e que nada aconteceria com ele.
Harly era bom em esconder suas emoções, então ele conseguiu deixar suas feições neutras, como se estivesse até entediado com tudo. Sua única preocupação e prioridade era Harry. Sabia que seu irmão estaria nervoso, mesmo não tendo motivos pra isso. Harry e Harly eram gêmeos idênticos. Os mesmos olhos verdes, o mesmo sorriso de covinhas e os mesmos cachos castanhos. Suas únicas diferenças estavam em como se vestiam; Harry gostava de coisas coloridas e mais femininas, já Harly era do básico, cores escuras e neutras, todas bem masculinas. A outra diferença era que Harry era gay e namorava o Zen, enquanto Harly era hetero e não namorava ninguém, mas ficava com muitas garotas.
Zen segurou mais forte na mão do seu namorado e juntos seguiram para fora da sala. Ouviram o que o detetive tinha a dizer e seguiram para o estacionamento do colégio com o irmão gêmeo do cacheado.
Zen era calmo e sempre de boa, tranquilo era a palavra que definia ele, então não viu motivos para se preocupar. Na verdade tinha algo que o preocupava sim... Harry ter uma, possível, crise de pânico.
Harry era mais sensível que qualquer outra pessoa que Zen já havia conhecido, e esse foi um dos motivos por se apaixonar pelo garoto, que ama pintar as unhas de rosa e amarelo. Zen sabia que Harry era prioridade de Harly também, então os dois não deixariam merda nenhuma respingar no sol deles.
— Vamos no meu carro. — disse Harly, tirando as chaves do bolso e destravando o seu carro. — Zen, senta atrás com o Harry, ele precisa de você.
Zen concordou e se acomodou no banco de trás e puxou Harry, o acomodando nos seus braços. Harry fungou e escondeu o rosto no vão do pescoço de Zen.
— Você acha que quem matou o null, é um desses que o detetive chamou? — Zen perguntou para Harly, enquanto fazia carinho nos cabelos de Harry.
— Talvez... Não sei mesmo — Harly falou e olhou pelo espelho retrovisor, avistando o cunhado dando um beijo nos cabelos do irmão. — Como você está, Sun, mais calmo?
— Acho que sim... Porque me chamaram também, H? Eu não fiz nada… — Harry perguntou em um sussurro trêmulo.
— Nós sabemos, meu amor, mas faz parte do trabalho deles conversar com as pessoas que estavam na festa. — Zen falou olhando naqueles olhos verdes que ele tanto amava.
— Isso mesmo, Sun. Não fique preocupado, ok?! Só responda o que você souber, e tudo ficará bem. — Harly queria acreditar muito em suas próprias palavras, mas a verdade era que nem ele sabia do porquê eles tinham sido chamados.
Será que todos eles eram culpados?
Foi a última coisa que pensou quando de mãos dadas com o irmão, que estava abraçado ao Zen, entraram na delegacia.
Todos ficaram desesperados, apesar de que muitos estavam fingindo não se preocupar tanto, mas qualquer um poderia sentir o nervosismo deles.
Anddy se levantou apressadamente e caminhou em direção a porta, ele estava distraído com seus pensamentos, tanto que no meio do caminho acabou esbarrando em alguém e o derrubando, que por sinal era a Alev, ele ficou a encarando por longos segundos e dava para ver a indignação nos olhos da garota.
— Ah, é você! Olha por onde anda idiota! — a loira fala mal-humorada, mas mesmo assim Anddy estende a mão para a garota, que se recusa a segurar e se levanta sozinha.
— Como um pedido de desculpas, vou te dar uma carona, topa? — Era visível que o garoto estava com medo de chegar sozinho e também pensou que seria uma boa ter alguém para conversar um pouco durante o caminho.
— Claro... Que não! Eu consigo muito bem ir sozinha! — Alev fala com sua voz cheia de deboche e um pouco irritada pela situação e simplesmente vira as costas para ele e revira os olhos.
Até parece que ela precisaria de carona quando se tem uma moto como a dela.
Não contente com a resposta da loira, Anddy vai atrás dela e segura o seu braço, fazendo-a se virar rapidamente para ver quem a tinha segurado.
— Vamos, por favor, não estou afim de ir sozinho até a delegacia.
— E eu não estou afim de ir com você, simples. Agora, me solta! — Alev puxa o braço com força fazendo Anddy soltá-la, ela já estava claramente ficando irritada.
— Alev! Ontem na festa você não achou ruim ter minha companhia, não é? — falou em tom provocativo, olhando nos olhos azuis da garota.
— Ah, por favor, Anddy! Eu estava bêbada, se eu estivesse consciente pode ter certeza que eu nunca beijaria você — ela diz com desgosto, olhando o garoto de cima a baixo.
— Fala sério Alev, deixa de marra e vem comigo! — Tentou mais uma vez e sorriu para ela, talvez acreditando que ela cairia em seu sorriso conquistador.
— Mas que porra, Anddy! Que merda eu ganho com isso? — esbravejou.
— Um beijo meu. — ele manteve o sorriso nos lábios.
— Prefiro lamber o asfalto! — foi direta e sincera em suas palavras.
— Tá, eu te dou um maço de maconha. — tentou barganhar com a loira e seu sorriso convencido ocupou espaço em seu rosto, pois sabia que a garota não diria não.
— Hmm… E vai conseguir com quem? Hein? Porque até onde eu sei, você tem uma dívida bem grande com o John. — Alev o olhava com tédio, parecia que seu dia só piorava a cada minuto.
— Relaxa, eu dou um jeito.
— Acho bom, vamos logo antes que eu me arrependa ainda mais. — suspirou cansada daquela conversa e se Anddy não cumprisse com a promessa, ele com certeza pagaria caro por mentir para ela.
Eles seguiram o caminho para o estacionamento, e logo adentraram o carro de Anddy.
— Olha não vou mentir, estou um pouco nervoso com isso, mas não é medo de ser preso ou algo do tipo. É por que provavelmente os meus pais sabem, então talvez eu fique sem o meu carro ou algo assim. — o garoto liga o carro mas antes de dar partida ele vira para Alev. — Mancada isso que aconteceu com o null, né?! Tão novo, e eu ando pensando que poderia ter acontecido com qualquer um de nós. — Anddy dá partida no carro seguindo caminho para delegacia. Aquele pensamento assustava o garoto.
— Verdade, mas sinceramente, eu acho que ele deve ter aprontado uma das grandes para ter acabado assim... Mas será que dá para irmos em silêncio?! — Alev já estava de saco cheio de ouvir a voz do moreno, então ambos imersos em seus pensamentos, seguiram o caminho em total silêncio.
Quando chegaram na delegacia, viram já dois carros estacionados, o do Miguel e o outro que era do Harly.
Eles desceram calmamente do carro após Anddy o estacionar, um deles estava nervoso, o outro nem tanto. Caminhavam pela calçada da delegacia e logo a adentraram, e na sala de espera viram Harly, Zen, Harry, Vitor e Miguel. Alev trocou um olhar rápido com seu melhor amigo, Zen, e em silêncio se juntaram aos cinco jovens na sala de espera.
Vitor e Miguel estavam sentados juntos e conversavam baixinho, para não chamar a atenção do professor, que nem perceberam o detetive parado diante da sala toda. Ao ouvirem seus nomes, foi quando ambos se deram conta de que estava acontecendo algo. Vitor levou alguns segundos para entender sobre o que se tratava, enquanto Miguel percebeu na hora em que viu o detetive os chamando.
Vitor apertou a mão do namorado, pois estava nervoso, mas seu corpo relaxou quase que instantaneamente quando Miguel tocou seu queixo com o polegar e sussurrou que ele não precisava se preocupar. Vitor sempre amou ir a uma boa festa, mas estava começando a achar que nesse último final de semana tomou a decisão errada, ao ir a festa da Stacey. Mas o que amava ainda mais que uma boa festa, era seu namorado Miguel, então se Miguel queria ir em uma festa, ele fazia tudo pelo seu namorado.
Miguel tinha muitos problemas com seu pai, e aprendeu a esvaziar sua mente em uma boa festa com certas substâncias. Se livrar de todos os problemas com ajuda de drogas, festas e principalmente Vitor, era seu melhor refúgio. Mas ali, no carro com sua mão na mão de Vitor, enquanto dirigia a caminho da delegacia, parecia que essa saída já não funcionava mais.
— Você acha que o detetive pensa que temos algo a ver com o que aconteceu com aquele garoto... Qual era mesmo o nome dele? — Vitor perguntou com certo receio para seu namorado.
— Relaxa, meu amor, eles não tem nada que nos ligue ao assassinato do null. — Miguel não sabia se estava tranquilizando Vitor ou ele mesmo.
Ele precisava parecer calmo para deixar seu namorado tranquilo. Vitor não tinha o que temer, mas não conseguia não se preocupar com a situação.
— Isso! null! — Vitor falou, como se tivesse acertado a resposta de uma prova importante. — Eu sei, mas depois que você usou, sei lá o que, com a Alev, a propósito eu já te falei que não gosto muito dela, mas enfim, você ficou sumido por mais de meia hora.
— Já te falei isso, eu estava com o Harly na frente da casa, e a Alev é legal. Amor, você precisa parar de implicar com a garota. — Miguel falou enquanto travava seu carro e segurava a mão de Vitor para juntos entrarem na delegacia. Vitor revirou os olhos e trocou um selinho rápido com Miguel antes de entrarem.
Ele sabia da amizade de alguns anos entre o seu namorado e o gêmeo Eidan, junto com a garota loira, mas era impossível Vitor não se preocupar, ainda mais quando estavam dentro de uma delegacia esperando para serem interrogados.
Mas também confiava em Miguel e se o moreno afirmava que estava com Harly e Alev na festa, Vitor acreditava nele.
O clima na sala de espera estava tenso. Todos os olhares se voltaram para o casal, assim que entraram pela porta. Miguel queria trocar uma palavra com Harly, mas Victor o aconselhou a não ficarem sentados e esperar para não dar motivos de suspeita para eles.
O garoto demorou a sair em direção a delegacia.
John estava nervoso e não queria que o detetive soubesse do seu meio de trabalho, mas também não queria mentir. John caminhou em direção ao estacionamento e ficou encarando sua moto por longos segundos.
— Ah que merda! — ele arremessou o capacete no chão, não utilizando tanta força a ponto de quebrar. O garoto não tinha cabeça para pilotar, na verdade, John não tinha cabeça para ser interrogado.
Mesmo de cabeça quente, ele subiu na moto. Aquela moto… Era a única coisa que John tinha controle em sua vida, ele se sentia livre, com o ar batendo forte contra seu corpo, algo que ele conquistou sozinho, da maneira que ele queria, sem ajuda de ninguém.
Pilotar aquela moto, era sem dúvidas o sinônimo de liberdade, e ele não queria jamais abrir mão do que tinha e talvez por isso estava relutante em ir até a delegacia. Não era realmente medo de ser interrogado pelo tal assassinato, mas sim de que alguma pergunta entregasse tudo aquilo que ele queria esconder do detetive.
Já avistando a delegacia, o garoto começou a ficar nervoso, nem sua moto era capaz de acalmá-lo naquele momento, o que era de fato uma coisa com a qual ele não sabia lidar.
Estacionou a moto e respirou fundo e entrou. Seguiu em direção a todos os adolescentes sentados naqueles bancos de espera, nenhum deles tinha ânimo para conversar. John se sentou no chão, dobrando seus joelhos e abaixou sua cabeça a apoiando em seus braços. Ignorou a sensação de estar sozinho, já que seu melhor amigo ainda não tinha chegado. Tom deveria estar a caminho, e se xingou por não ter pensado em vir com ele porque assim, ambos teriam a companhia um do outro e tudo seria mais suportável.
Depois que o detetive disse para os doze jovens o encontrarem na delegacia, ele saiu, e os doze se entreolharam nervosos. Todos se levantaram saindo da sala de aula, alguns andando ansiosos, outros andando devagar para digerir o que estava acontecendo, e Stacey foi uma dessas.
A garota loira andava tão calmamente que conseguia esconder perfeitamente todo o seu nervosismo, mas por dentro era o completo oposto do que demonstrava, e assim ninguém perceberia que estava com medo de algo.
Ela andou até o seu carro no estacionamento e pode notar os gêmeos e Zen indo no mesmo carro, e logo em seguida Anddy e Alev saírem juntos, e ela estava sozinha.
Stacey olhou em volta a procura de uma companhia, e pensou que ter a presença de Olliver era melhor do que nada e antes que o moreno chegasse ao seu carro, Stacey andou rapidamente até ele, com um único objetivo
— Ei, Olliver?! — ela o chamou em voz alta, e acenando com uma mão para ele a vê-la.
— Oi, Stacey! — ele se aproximou da mesma com seu sorriso divertido nos lábios. Ele gostava da loira e fazia tempo que não se falavam.
— Está afim de ir comigo? Sabe, para nos distrairmos um pouco durante o caminho... — Stacey sugere com um pequeno sorriso, tentando soar normalmente e tratar o rapaz como seu velho amigo.
— Aí eu super aceito a carona! — Olliver falou empolgado e logo os dois foram em direção ao garro da garota. — Amiga, amei o seu gloss novo, onde foi que comprou? Achei ele maravilhoso! — Ele gesticulava alegremente enquanto entrava no carro.
Ele achou que uma boa conversa sobre maquiagem era melhor do que o assunto que pairava sobre suas cabeças, então seria bom aproveitar o pequeno tempo que tinham e também seria quase que impossível ele não reparar na boca cintilante da loira.
Sorriu animado quando Stacey fez um biquinho quando ouviu seu comentário que ele retribuiu o sorriso, e assim ela começou a dirigir.
— Ah, sabe aquela loja do shopping, que a gente sempre ia nos finais de semana?! Então, lá mesmo! É uma linha nova que eles lançaram. — Stacey informa, claro, que ela preferia falar sobre gloss e shopping do que sobre o garoto que estava morto.
— Então é pra ontem que eu preciso ir comprar um para mim. — e agora foi a vez do garoto fazer um biquinho para a loira. — Posso escolher uma música?!
Olliver não esperou a resposta da garota e ligou o som do carro, aumentando o volume e sorriu travesso para Stacey assim que ouviu qual música estava tocando.
O que você
What you know?
O que você sabe?
They say my lip gloss popping
Eles dizem que meu gloss está arrasando
My lip gloss is cool
Meu gloss é legal
All the boys keep jocking
Todos os garotos continuam flertando
They chase me after school
Eles me perseguem depois da escola…”
Eles riram enquanto cantavam, e por alguns segundos tudo pareceu normal novamente, mas a sensação durou pouco, pois em alguns minutos Olliver e Stacey se encontravam entrando ansiosos na delegacia.
Era evidente que a brincadeira tinha ficado para trás, pois ambos não riam e nem mesmo se olhavam mais. A atenção estava totalmente voltada para a situação real em que se encontravam.
Stacey tentou se aproximar de Harly, mas o garoto de olhos verdes fez um sinal de que não queria ela perto, já que a atenção dele estava toda voltada para o irmão gêmeo, que chorava baixinho nos braços do namorado.
Tom estava sentado na sala de aula quando ouvi o nome de Anne ser chamado, tudo passou em sua cabeça em questões de segundos.
Semana passada ele era apenas o garoto bagunçeiro e encrenqueiro que estava afim da menina mais tímida da escola, e agora, depois de ter tido coragem de chamá-la para uma festa, ele escuta seu nome sendo chamado logo depois do dela, para um interrogatório de um assassinato que ocorreu justamente na festa que ele e Anne tanto se divertiram.
Após escutar o que o detetive falou, Tom rapidamente decidiu ir até a garota, pois sabia que ela não teria com quem ir. Anne estava parada um pouco mais a sua frente, provavelmente decidindo o que fazer e foi aí que o rapaz de dreads chamou em voz alta.
Anne olhou para trás e viu Tom caminhando em sua direção. Para ela era quase impossível acreditar que um rapaz tão bonito estivesse mesmo interessado nela, mas não podia negar que era muito bom ter a companhia dele. Os dois seguiram lado a lado em direção ao estacionamento, e palavras naquele momento não eram necessárias, já que eles pareciam se entender pelo olhar.
Anne não conseguia parar de pensar em como eles estavam próximos, a garota sabia que não era hora para isso, mas queria perguntar o porquê de Tom se aproximar dela, mesmo que uma grande parte dela estivesse gostando muito.
A maioria das pessoas a classificavam como estranha, mas talvez isso não tivesse efeito em Tom, pois a olhava como se ela fosse algo misterioso a se desvendar.
— Hmm... Tom. — falou toda tímida, ainda criando coragem para perguntar. Assim que o garoto olhou para Anne, ela desistiu completamente de falar.
— Sim?! — Ele esperou que ela falasse o que queria, mas notou que ela estava pensativa.
— Ah… Deixa quieto, não era nada, bom nada importante. — a garota tenta desviar do assunto mas não dá muito certo e eles ficam se encarando por longos segundos. Era nítida a curiosidade de Tom, Anne desejava não ter falado nada naquele momento, só que era tarde demais.
Com uma coragem que ela desconhecia, as palavras saíram por sua boca, como se tivessem vontade própria e apenas ouviu sua voz ecoar ao redor deles.
— Por que você ficou próximo do nada? Não que eu esteja reclamando, mas é diferente para mim.
Eles chegaram no estacionamento e caminharam em direção a moto de Tom.
— Sinceramente, eu sempre te via pelos corredores e sempre te achei uma pessoa legal... tipo, você é bem quietinha, no seu canto, não arruma briga com ninguém, e aparentemente não faz nada ilegal. Bem diferente de mim — ele falou e até riu no final da sua fala, enquanto colocava o seu capacete e pegava o outro para Anne, a ajudando a colocar.
Ele pôde notar que a garota estava um pouco envergonhada, e achava fofo como suas bochechas coraram enquanto ela não se decidia se olhava ele nos olhos ou para o chão.
— E sabe… Eu já vinha criando coragem a um tempinho para te convidar para sair, achei que seria da hora te ter como companhia, se sinta privilegiada, porque eu preferi ficar com você do que andar por aí com o John. — Um sorriso travesso aparece em seus lábios, enquanto ele terminava de prender o capacete da mais nova e assim, subindo na moto.
A garota o encarava envergonhada, seus batimentos aceleraram assim que ouviu seu tom de voz. Anne sorri timidamente e segurou no ombro de Tom antes de subir na moto.
Achou melhor que não falar nada era melhor do que acabar falando alguma bobagem, suas mãos saíram do ombro dele e foram para sua cintura, mas ela segurou de leve, quase com medo de tocar do garoto.
— Se segura! — Ele a avisa para que ela se segurasse firme nele, já que ela não estava segurando do jeito certo.
Eles saíram rapidamente do estacionamento e o vento batendo em seus corpos era uma coisa nova que Anne estava vivendo e por um segundo, desejou ter mais momentos na garupa da moto de Tom, abraçada a ele.
Alguns minutos depois estavam na delegacia.
Anne estava assustada, mesmo não tendo feito nada de errado, ainda assim sentia medo, e Tom começou a se sentir nervoso por ter sido chamado, ele sabia que não havia feito nada de ruim ou errado naquela noite, mas só pelo fato de estar lá para ser interrogado era algo que ele não estava familiarizado e isso era um pouco apavorante, mas mesmo assim, ele não demonstra como realmente estava se sentindo.
Passaram pela porta e mesmo que quisesse ficar com a morena, Tom seguiu para o lado do seu melhor amigo. John estava de cabeça baixa e Tom soube na hora que ele não estava muito bem, então se abaixou e se sentou ao lado do John, passando seu braço pelos ombros do amigo, e não precisou dizer nada. John sabia que sempre poderia contar com o Tom.
Já Anne, caminhou incerta até uma cadeira vaga e se sentou, decidindo que encarar suas unhas pintadas de preto, era muito melhor do que olhar para aqueles que estudavam a um bom tempo com ela e que nunca se esforçaram para se aproximar.
Capítulo 1 - Stacey
Em sua sala, o detetive pegou a ficha de cima, e viu que era da menina que deu a festa, Stacey, e iria começar por ela. Talvez fosse meio óbvio demais começar pela anfitriã, mas de qualquer forma teria que interrogar a todos e precisava de um ponto de partida para seu trabalho se iniciar.
— Stacey?! — o detetive chamou, e uma menina loira se levantou. Ela olhou para todos os colegas, mas ninguém a olhou de volta.
Aquela cena foi um tanto quanto curiosa se levarmos em conta que todos estavam na festa da garota.
— Pode se sentar, Stacey, e vamos conversar — Ben não deixou transparecer suas opiniões em relação à loira, pois já havia lido sobre ela.
— Ai meu Deus, eu juro que eu não fiz nada de errado! Apenas dei a festa, não batizei o ponche e nem fui eu quem comprou as bebidas alcoólicas, e muito menos foi eu que levei as drogas! — Stacey diz desesperada apertando suas mãos em cima da mesa.
— Calma, só vamos conversar — Ben tentou acalmar a garota, então se levantou e pegou um copo com água, entregando a ela em seguida. — Beba, vai ajudar — ele deu um curto sorriso e olhou nos olhos da garota. — Você dá muitas festas, né?!
Não era bem uma pergunta, já que ele sabia a resposta, mas estava disposto a começar por um assunto que a garota ficasse mais à vontade.
— É... Sim, algumas — após beber um pouco de água, Stacey respondeu com a voz trêmula, com receio de isso não ser algo muito bom.
O detetive anotou tudo o que era falado, em seu bloco de papel, tanto suas perguntas quanto as respostas que recebia.
— E porque você faz tantas festas, tem algum motivo especial? — perguntou pacientemente.
— É que eu não tenho muito o que fazer nos finais de semana e meus pais sempre estão viajando, então… — ela deu de ombros, parecendo mais calma. — E isso também ajuda a aumentar a minha popularidade — completou como se fosse algo importante na vida dela.
Benjamin concordou com a fala dela, pois ele sabia que os pais de Stacey ficavam dias fora da cidade e que a garota ficava sob os cuidados da avó e da governanta da casa deles. Com pais que trabalhavam como representantes de uma grande companhia aérea, era realmente raro estarem por perto e isso parecia ser o que a loira gostava. Liberdade e zero supervisão.
— Você era amiga do null? — vendo que a garota estava mais calma, decidiu falar do que realmente importava. — Você mesma o convidou para a sua festa?
— Não! Éramos apenas colegas de classe. As notícias das minhas festas costumam se espalhar rápido, alguém deve ter o chamado — Stacey suspirou e então terminou de beber sua água, deixando o copo descartável de lado. — Ele era recluso e não se misturava com ninguém, embora todos sabiam que ele sempre estava de olho nos rapazes do time de futebol — acrescentou olhando para o que o detetive anotava, curiosa para saber se ele estava anotando o que ela falava ou algo sobre ela.
— Entendo… e durante a festa, você viu ou falou com ele? — suas perguntas eram baseadas em tentar conhecer mais dos suspeitos, além do que dizia em suas fichas.
— Não, não que eu me lembre, mas eu só falei com ele quando lhe entreguei uma bebida e disse para ele aproveitar a festa... Ah mas eu lembro de ter visto ele falando com o John mais tarde, parecia que estavam discutindo sobre algo.
Uma bebida e uma rápida troca de palavras. Benjamin anotou aquilo.
— John... — repetiu e anotou aquele nome. — Você tem muita afinidade, digo, amizade com o grupo que está lá fora?
— Não muito, não sou de me misturar com gente como eles — Stacey falou com um certo desdém em sua fala, empinando seu nariz fino e arrebitado.
— E, o que você é do Harly, Eidan? Amigos? — o gêmeo Eidan era uma peça importante nesse caso e ele queria saber o seu envolvimento com todos os suspeitos.
Ben desconfiava que ela não estava falando toda a verdade, e, viu que seus olhos se arregalaram ao mencionar o gêmeo. Desde quando os chamou na sala de aula, ele viu as trocas de olhares entre os dois, sabendo que eles eram mais que colegas de classe.
— Ah... É e-eu… — Stacey gaguejou ao tentar falar, assim ficando nítido que ela tinha algo a dizer. — Ok, eu e Harly, nós estamos ficando a alguns meses, mas nada muito sério — ela suspirou ao admitir.
— Mas porquê manter em segredo, ou todos sabem sobre vocês? — o detetive não perdia nenhuma das reações da garota, até mesmo seus "dar de ombros", ele havia anotado.
Ele era um bom observador, e analisava até mesmo quando ela gesticulava, enquanto falava e principalmente cada vez que ela desviava seus olhos dos dele.
— Com certeza é um segredo, o único que sabe é o irmão gêmeo dele, o Harry — agora mais calma, Stacey tinha mais confiança no que dizia, mas ainda com certo receio. — Embora, eu acho que o namorado dele também saiba, já que não se desgrudam — ela revirou os olhos ao mencionar o relacionamento dos garotos.
— Decidi manter em segredo, porque Harly não quer nada sério e sei que ele tem outras garotas, então não queria ser falada como mais uma que ficou com ele, e também meus pais jamais aceitariam que o cunhado do Harly é de uma gangue.
O detetive olhou para ela e não entendeu porque uma garota como ela precisava correr atrás de um rapaz que visivelmente não a queria, mas negou levemente com a cabeça, espantando esse pensamento, pois seu objetivo era outro e não servir de conselheiro amoroso para adolescentes.
— Ok.. — o detetive anotou a resposta da garota, e colocou em letras maiusculas, "GANGUE". — Estamos quase acabando — afirmou olhando nos olhos verdes dela. — Qual sua relação com o Olliver?
— Eu e Olliver somos amigos há anos, mas ultimamente estamos um pouquinho afastados, talvez seja o estresse do último ano ou porque não dividimos mais o mesmo círculo de amigos, e também tem o fato de ele não ser mais tão popular como era antes e se eu continuasse a andar com ele, isso com certeza afetaria a minha e em um colégio como aquele, ser popular é muito importante — falou, seus dedos sobre a mesa, voltaram a se apertar em um tipo de tique nervoso o que deixou o detetive mais atento.
— Então para você o que vale realmente é ser popular? — perguntou como se não fosse nada.
— Mas é claro! Isso é o mais importante, ainda mais quando se está no último ano — falou convicta de que sua resposta era certa. — Falei para Harly que se ele ficasse apenas comigo, transformaria ele em um tipo de rei dentro daquele colégio, mas ele só pensa em curtir e trocar de garota toda semana — Stacey revirou os olhos ao falar do gêmeo Eidan, como se ele fosse burro de negar algo como aquilo que ela lhe ofereceu. — Mas pelo menos eu sou a única que ele já ficou mais de uma vez.
Ela sorriu como se fosse um troféu ou algum tipo de vitória que merecia ser compartilhada com todos, já Ben, desviou rapidamente seus olhos para o relógio na parede atrás da garota, fazendo as contas mentalmente de quanto tempo ainda teria que ficar ali na delegacia ouvindo aquele tipo de relato.
Mas mesmo se sentindo cansado, Walter fez suas anotações, concentrado em cada palavra, em cada detalhe que pudesse ajudar naquele caso.
— Só tenho mais uma pergunta. Me conte tudo que você fez na festa, e com quem tanto falou, e o que falou. Você consegue me contar? — perguntou extremamente sério. — Qualquer detalhe que você viu ou ouviu, ajudará muito — o detetive já preparava a nova folha do seu bloco, porque era agora que ele teria um pouco do que, supostamente, ocorreu naquela festa.
— Bom, a festa foi marcada para começar às 20:00 horas. O pessoal começou a chegar lá pelas 20:15, alguns com garrafas de vodka, whisky, cerveja entre outras bebidas. Eu lembro de ter ouvido a Alev Carson dizer para o Miguel que ela havia conseguido drogas. A música estava alta, e lembro de ver alguém batizando o ponche, tanto que no momento em que vi logo fui atrás da pessoa, mas não consegui ver quem era. Logo depois disso, eu desci pro porão para pegar mais alguns acessórios de festa, só que quando eu ia descer eu vi Zen Moorens saindo do porão, não sei se ele estava se pegando com alguém ou seja lá o que estava fazendo lá embaixo, pois quando cheguei no porão tudo estava onde deveria estar.
O detetive ouvia com muita atenção o que a menina falava, cada detalhe contava e ele não deixaria nenhum passar. Seu objetivo era finalizar aquele caso, e se possível, naquele mesmo dia.
— Eu desci, peguei as coisas e voltei para festa, e foi quando voltei que vi null null e John discutindo, eu não lembro em que momento null chegou na festa, mas durante a discussão deles acabei vendo Olliver esbarrar no John e certeza que vi o copo de John borbulhar logo após Olliver se afastar, como se tivessem jogado algo dentro. Mas ignorei esse fato e voltei para dançar, lembro de alguma garota dizer que tinha gente no meu quarto, e todos que vão nas minhas festas sabem que o andar de cima é restrito para convidados, então eu fui até lá. Quando cheguei lá, vi Alev inalando alguma droga, então expulsei ela do meu quarto e fui verificar o quarto dos meus pais, Vitor e Miguel estavam se pegando próximos a cama, mas depois de expulsar eles de lá, verifiquei se tudo no quarto estava no lugar. Mais tarde vi Zen e Harry se pegando no banheiro, Alev e Anddy se beijando no sofá, e depois eu fui ficar um pouco com Harly. Depois disso a festa seguiu normal, vi Harly discutir com alguns meninos por terem falado do Harry. Tom estava bebendo whisky junto com a Anne, eles riam e cochichavam bastante. Olliver estava aparentemente cantando null, digamos que ele tem um gosto meio peculiar para homens. E foi basicamente isso o que eu vi, o restante da festa eu passei com Harly.
Ben ouvia atentamente a história da garota, e fez várias anotações para ver se iria bater com os demais que esperavam do lado de fora da sala. Tudo parecia estar se encaminhar como deveria, e embora ainda estivesse no começo de ligar os fatos, estava verdadeiramente otimista. Lidar com adolescentes talvez fosse mais fácil do que lidar com assassinos velhos e perigosos.
— Ok... Obrigado pelo seu tempo Stacey, nos ajudou muito — Ben agradeceu educadamente, dando para a loira um sorriso amigável, sem deixar de encarar seus olhos.
Agora seria a hora que iria ver quem falava a verdade, quais histórias iriam se cruzar, quais versões fariam sentido e se estariam ligadas umas nas outras.
Stacey se sentia confiante, falou tudo o que sabia e acreditou, fielmente, que havia contribuído com o caso. Tudo o que ela queria era poder ir embora e tomar um bom banho relaxante e talvez mais tarde fazer compras com suas amigas no shopping, ou talvez implorar pela companhia do Harly, o garoto de olhos verdes.
Ben a conduziu para fora da porta, e voltou a pegar uma nova ficha, colocando a da Stacey Gillbert em sua gaveta. Antes de caminhar até a porta, Ben jogou o copo que a garota havia usado no lixo e serviu de um pouco de água também.
Ele precisava de alguns segundos, as falas da loira ainda estavam frescas em sua mente e Ben conseguia imaginar com perfeição o que ela descreveu, claro que ele viu que teve algumas lacunas na história dela, mas sabia que possivelmente outros dos adolescentes as completariam, e tudo se encaixaria no final.
Jogou o seu copo no lixo e voltou para sua mesa, pegando a nova ficha e finalmente caminhando até a porta para chamar o próximo a ser interrogado.
Capítulo 2 - John
O detetive parou na porta da sua sala, e por segundos olhou como aqueles jovens estavam. Era sem dúvida um grupo peculiar que eles formavam, curiosamente diferente de qualquer caso em que ele trabalhou.
— John... Poderia me acompanhar? — Ben olhou para os adolescente restantes, e viu Harry chorando nos braços de Zen, e seu irmão segurando suas mãos, enquanto sussurrava alguma coisa.
Muitos tinham cara de medo, mas tinha uns com pura indiferença estampada no rosto.
— Ok, vamos lá — John tentava dar uma de durão, mas por dentro estava extremamente nervoso.
John tinha medo de acabar revelando com o que trabalhava, sabia que o detetive não iria o compreender. Ele era sozinho e não podia contar com mais ninguém, além é claro, do seu melhor amigo e irmão, Tom. Eles não eram irmãos de sangue, mas John o considerava mais do que a própria família.
— Pode se sentar, John, você aceita um copo de água? — Ben viu nos olhos de John, o seu nervosismo e estava ansioso para descobrir o motivo.
— Não, não, eu tô de boa. Pode prosseguir. — John desconfiava do que poderia haver naquele copo com água. Muitas coisas poderiam ser encontradas em um simples copo de água e por esse motivo, ele sempre estava em alerta.
— Tudo bem... Como quiser — o detetive não perdeu o olhar desconfiado de John, no copo de água, e teve que segurar sua vontade de rir do jovem. O que ele achou que poderia ter na água? Como se fosse algo costumeiro a polícia sair por aí drogando adolescentes através de um copo de água.
— Vamos começar pelo básico. — Ben encarou os olhos claros do John e prosseguiu. – Você era amigo de null null?
- Eu não era amigo dele, o conhecia mais de vista, sabe?! Quase nunca troquei ideia com ele. — John tentava ao máximo manter sua boca fechada, sabia que acabaria se complicando se falasse demais, mas aquele nervosismo ainda iria ferrar com ele.
— Sei sim, e com a Stacey? Você estava na festa dela, certo? São amigos? — o detetive notou como as mãos do garoto tremeram levemente ao responder uma simples pergunta e anotou isso em seu bloco.
— Amigos seria uma palavra muito forte, ela é metidinha demais e não gosta de andar com pessoas como eu, então o máximo que temos é coleguismo. — Dessa vez John ficou mais à vontade para falar a verdade sem rodeios.
O loiro conseguia sentir a pressão dos olhos do detetive Ben sobre ele, e aquilo estava o incomodando um pouco. Mas mesmo assim parecia impossível desviar seu olhar.
Ben anotou tudo com atenção, e pensou com cuidado na sua próxima pergunta, pois não poderia deixar passar a reação do rapaz ao ouvi-la.
— Mesmo você quase nunca ter falado com o null, tinha algum motivo em especial para justo naquela noite de festa, ter discutido com ele? — O detetive encarou John, e se atentou em suas feições, e em seu corpo ao ouvir a pergunta.
Ao ouvir aquilo o rapaz começou a mover as pernas freneticamente embaixo da mesa. Responder aquela pergunta seria a coisa mais difícil que ele faria.
— Olha não me entenda mal, por favor. — como explicaria o que realmente aconteceu sem se comprometer? Essa era a sua dúvida infernal. — Inicialmente não era uma discussão, null se aproximou e ele aparentava estar um pouco nervoso ou assustado, não sei bem qual era o sentimento, ele tentou negociar comigo. Ele queria comprar a minha mercadoria por um preço menor. Eu acabei me exaltando um pouco com ele, só isso. — o rapaz loiro esperava que o detetive não tivesse entendido do que se tratava a mercadoria.
— Nervoso ou assustado? Negociar? Sobre o que seria esse negócio entre vocês? — Ben sabia muito bem sobre o que era a tal "mercadoria" e poderia até fazer algo a respeito, mas seu foco era outro, então se fingiu de desentendido. E prosseguiu com as perguntas.
Mas deixou uma anotação em especial para verificar em outra oportunidade. John era um rapaz muito jovem para estar metido com essas coisas.
— Olha eu não sei exatamente o que ele estava sentindo, mas parecia mais assustado do que nervoso. Eu já disse, ele queria comprar por um preço menor. — John evitou falar sobre as drogas, não cairia bem para ele e muito menos para o falecido.
John agora tinha certeza que ele sabia do que se tratava, então não explicaria a não ser que seja realmente forçado a fazer aquilo.
— Ok John, entendi — Ben fez uma anotação sobre o nervosismo do rapaz, estar ligado a drogas e prosseguiu com a pergunta final.
— Quero que me conte tudo que viu e ouviu durante a festa. Desde quando você chegou até quando foi embora, e com quem tanto você interagiu durante aquela noite. Você consegue, John? — O Detetive iria anotar a partir de agora, os furos que não tivessem sentido com o relato da Stacey.
É claro que ele sabia que não seria a mesma história, pois ambos, talvez, nem tivessem se visto durante a festa. Mas mesmo assim, Ben anotaria tudo com cuidado.
— Ok vamos lá, cheguei na festa mais ou menos umas 20:18, por aí. Atrasei um pouco porque fui entregar uma encomenda para Alev, assim que entrei fui direto pegar uma bebida e acabei pegando um pouco do ponche, que por sinal estava batizado. A casa estava cheia, muita gente mesmo ao ponto de ser difícil andar, então fiquei por ali mesmo e conversei um pouco com o Tom, meu melhor amigo que estava ali também, mas o null me chamou para conversar. Falei para Tom que depois eu voltava para ficar com ele, mas ele me avisou que eu poderia ficar de boa porque ele havia marcado de encontrar uma garota na festa e até zoei ele por finalmente desencalhar. null e eu, tratamos do assunto e eu acabei me exaltando com ele, e enquanto estávamos "discutindo", alguém esbarrou em mim, não deu para ver quem era, porque se eu tivesse visto, teria ido atrás para tirar satisfação. Os malucos não respeitam e nem sabem pedir desculpas.
Falou indignado. olhando nos olhos azuis do detetive e Ben apenas concordou com o garoto, registrando o seu relato.
— null insistiu tanto que acabei cedendo uma quantidade pequena da mercadoria, estava me sentindo um pouco tonto desde que terminei aquele copo de ponche. Não liguei muito para a tontura pois sempre que fumava e depois bebia, a brisa sempre batia e fui tentar aproveitar a festa, estava dançando e pulando animado quando fui atrapalhado por Anddy, que veio encher o meu saco querendo que eu esquecesse a dívida dele. Não dei a mínima para ele, tanto que ele foi atrás da menina que fiz a entrega mais cedo.
John respirou fundo recuperando o fôlego, pois estava falando muito rápido e naquele momento até pensou em pedir um pouco de água, pois até sua boca estava seca.
— Fui pegar mais uma bebida e acabei esbarrando com Anne completamente descabelada e com uma garrafa de whisky quase seca, ao lado de Tom. Me matei de rir deles e debochei do Tom, por ter que embebedar a garota para ela conseguir aturar ele, mas ele sabia que eu estava brincando e até ajudei eles a procurar outra garrafa, já que as condições deles estavam piores que as minhas. Passei pela sala novamente e vi o null conversando com alguém, ignorei completamente pois não queria que ele viesse atrás de mim novamente pedir mais coisas e passei o resto da festa próximo a piscina, às vezes vinha alguém falar comigo, pois sou bem conhecido no colégio e não tenho inimizade com ninguém, então isso é normal para mim.
John falou tudo o que sabia de uma vez, parecia até que queria se livrar logo disso. Mas era realmente isso que ele queria e não via a hora de sair daquela sala.
O Detetive Benjamin ouvia tudo com extrema atenção e fez todas as anotações que eram novas para ele, e as que batiam com o relato de Stacey.
Ele percebeu que provavelmente o rapaz, Olliver, tinha realmente batizado o copo do garoto. Alev realmente tinha as Drogas. Anne e Tom estavam mesmo juntos, e null estava conversando com alguém... Mas quem seria esse alguém? Provavelmente alguém que teria muito mais para contar do que Benjamin já havia ouvido naquela manhã.
O Detetive anotou o nome de Olliver, pois Stacey tinha mencionado ter visto os dois conversando. Mas antes de chamar Olliver, ele precisava ter mais uma confirmação.
— Obrigado John, por ter me contado tudo que sabia sobre a noite da festa, mas antes que você vá... Como você descreveria o null?
— Eu o descreveria como misterioso, sempre que via ele no dia a dia, ele estava no telefone, boa parte do tempo sozinho. Às vezes ele me procurava quando queria fumar, mas nunca fumava comigo. Eu o acho misterioso por isso, ele nunca foi de falar comigo mas dava para perceber que era alguém que tinha problemas.
O Detetive fez suas últimas anotações sobre o depoimento de John, o agradeceu de novo por toda colaboração do rapaz e o conduziu até a porta da sala, a abrindo e deixando John sair.
Ben voltou para dentro e separou a ficha de Olliver, mas antes de chamar o rapaz, ele queria conversar com um dos gêmeos. Eles pareciam ser peças importantes e além de que quase não foram vistos na festa, a não ser pela Stacey, que mencionou no seu depoimento os dois gêmeos.
Com a ficha em mãos, o Detetive Walter, andou em passos firmes e decididos até a porta, encarando mais uma vez aqueles garotos e olhando para John que estava conversando baixinho com o rapaz dos dreads.
Seus olhos foram para os gêmeos Eidan e então chamou...
Capítulo 3 - Harry
— Harry Eidan! — quando Harry ouviu seu nome, sentiu seu corpo todo tremer. Uma angústia tomou conta do seu peito e parecia que o cacheado não conseguia respirar direito.
Zen imediatamente o abraçou apertado, sussurrando palavras que iriam tranquilizar seu namorado, reforçando o quanto ele o amava e que depois disso, seria só os dois, fazendo seus planos para o futuro.
Harry tinha lágrimas nos olhos, estava em pânico, pois nunca tinha se envolvido em confusão, não por vontade própria pelo menos. Mas as palavras do namorado conseguiram acalmar ele.
Zen deixou um selinho suave em seus lábios e sussurrou que tudo ficaria bem.
Foi acreditando no que seu namorado disse, que Harry teve forças para entrar naquela sala e se sentar diante do detetive. Seus olhos curiosos percorreram a sala, reparando nos detalhes e nas coisas que estavam sobre a mesa. Os olhos verdes do cacheado se ergueram e encararam os tons azuis do detetive, quando ouviu sua voz ressoar pela sala.
— Olá Harry, como você está? — Ben pensou em uma abordagem diferente, era nítido o quão apavorado o rapaz se encontrava. Então precisava fazer ele se acalmar, e Benjamin havia notado como o gêmeo era sensível e frágil.
— Eu... Eu não sei — Harry desviou seus olhos dos olhos do detetive, eles eram tão intensos que chegava a deixá-lo mais nervoso. Sentiu que seus olhos embaçaram novamente, por estar tentando segurar suas lágrimas. — Só quero ir embora — murmurou, sua voz fraca e baixa.
— Você logo vai, Harry. — Ben colocou na frente de Harry um novo copo com água, e indicou com a cabeça para ele beber.
Harry bebeu e só então percebeu o quanto sua garganta estava seca. Sentia seu coração tão desamparado que acreditou fielmente que ele pararia a qualquer instante. Agradeceu ao detetive e ouviu ele fazer a primeira pergunta.
— Você gosta muito de ir em festas Harry? — a voz do detetive era calma, e um pequeno sorriso surgiu no canto dos seus lábios.
— Na verdade não… — Harry suspirou cansado. — Eu vou porque meu irmão não gosta de me deixar sozinho em casa com nossa mãe. Eu também sempre acompanho o Zen... — Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios, ao falar do namorado e o quanto seu irmão o protegia de tudo. — Ele gosta de festas, e eu gosto de estar com ele, não importa aonde, então acabo frequentando algumas delas. Harly também gosta muito, e quando o meu namorado não vai nas festas, Harly me deixa na casa dele e vai sozinho.
— Ok, entendi. — Ben já havia começado a fazer as anotações em seu bloco de papel, assim que Harry se sentou diante dele. Nada passava despercebido pelos olhos azuis de Benjamin Walter — Você poderia dividir comigo o porquê do seu irmão não gostar de deixar você sozinho com sua mãe?
Harry se sentiu cansado e já não conseguiu mais segurar suas lágrimas. Tocar naquele assunto deixava ele extremamente sensível, com seu coração doendo e tudo que ele queria era seu namorado ali e seu irmão, para ele poder ser abraçado. O Detetive Ben lhe ofereceu uma caixinha de lenços e Harry lhe agradeceu com um sorriso fraco.
— Minha mãe não aceita muito bem que um dos "meninos" dela seja assim como eu, afeminado. — Harry fez aspas com seus dedos ao falar e mais lágrimas escorreram pelo seu rosto. Toda essa rejeição de sua mãe o magoava muito, mas Harly jamais o fez se sentir menos que especial e depois que conheceu Zen, ele se juntou com Harly para fazer o cacheado se sentir único e muito mais que especial; amado.
— Sinto muito por isso, Harry. — tinha sinceridade nas palavras do detetive, sua voz era baixa e compreensiva — Mas fico feliz por saber que seu irmão cuida bem de você.
Harry sorriu fraquinho para o detetive e secou suas lágrimas, se sentindo pronto para continuar a responder. Benjamin percebeu que o garoto estava um pouco melhor e seguiu com suas perguntas.
— Como você descreveria o relacionamento do seu irmão com a Stacey? — perguntou enquanto fazia suas anotações.
— Harly não mantém relacionamentos, ele só sai com garotas, mas sempre avisa que nunca vai passar disso. Stacey parece não entender isso, e sempre está atrás do meu irmão para continuarem a sair. Harly sai com ela, mas também sai com outras — Harry falou naturalmente, sua voz baixa e sincera. — Ele sempre foi assim e gosta do jeito que é.
O detetive anotou as palavras do garoto de olhos verdes e assentiu com a resposta que ouviu, voltando a erguer seus olhos para olhar o garoto.
— Você e null eram amigos? — Ben perguntou, chegando no assunto principal.
— Acho que não diria amigos, mas ele era minha dupla em biologia, no colégio. Fora da sala, nunca falamos mais do que "oi" quando nos encontrávamos nos corredores — Harry falou a verdade. Não tinha contato com o null, além das aulas de biologia.
— Tudo bem. Na festa, você chegou a falar com ele?
— Quando cheguei com o Harly, encontramos ele na calçada em frente a casa, onde meu irmão tinha deixado o seu carro. Mas falei somente um "olá" para ele, e ele retribuiu com um aceno de cabeça. Depois disso ele sumiu no meio das pessoas que estavam chegando.
Ben ouvia com atenção e estava grato pelo menino ter se acalmado e estar conseguindo falar sua versão. Anotou tudo, pontuando fatos importantes e acrescentando alguns pensamentos seus em relação a Harry, e também sobre a vítima.
Ben não sabia dizer o porquê daquilo, mas sua intuição lhe dizia que Harry apenas estava na festa errada, ele via sinceridade nos olhos verdes, agora levemente vermelhos, devido ao choro. E uma coisa que o detetive Benjamin Walter se orgulhava, era da sua intuição.
Ele se levantou e buscou mais um pouco de água para o rapaz, e um café para si. Quando voltou a se sentar na sua cadeira, decidiu que não tomaria mais do tempo de Harry Eidan e sabia que era o certo. O detetive poderia riscar o nome do garoto da sua lista de suspeitos porque claramente ele não teria ferido aquele outro garoto.
— Certo, Harry, pra finalizar você poderia me contar tudo o que viu e ouviu durante a festa? — Ben se preparou para anotar o relato final de Harry e sabia que esse seria o mais verdadeiro que ele poderia ter em comparação a todos os outros.
Harry puxou o ar com força e soltou lentamente. Fechou seus olhos por breves segundos e voltou a abri-los, falando enquanto olhava o detetive nos olhos.
— Como já falei, cheguei com meu irmão, e ele me acompanhou até o interior da casa. Já tinha bastante gente quando chegamos, era por volta das 20:35. Meu irmão me ajudou a olhar em volta para ver se conseguiríamos achar o Zen, mas logo desistimos por ter muita gente. Um grupo de rapazes passou por mim e um deles me chamou de "viadinho"... Isso foi o suficiente para irritar Harly. Eu o vi mandando uma mensagem pro Z, e então ele me falou para esperar pelo meu namorado no sofá da sala. Enquanto caminhava até a sala, eu passei por John e null, que estavam conversando ou brigando perto da porta, que levava até a sala. Quando cheguei lá o Tom estava deitado no sofá grande, e em uma das poltronas estava a Anne, mas eles nem perceberam minha presença. Fiquei esperando por Zen na outra poltrona e demorou uns 5 minutos até ele me encontrar.
Harry bebeu mais um gole de água, deixando sua memória daquele dia dominar sua mente, parecendo tudo tão fresco ainda e voltou a falar:
— Assim que Zen me viu, ele me chamou e saímos da sala, então ele me levou para a cozinha para procurar por refrigerante. Eu não bebo bebidas alcoólicas, e Zen falou que na mesa onde tinha as bebidas e o ponche, não tinha refri. Enquanto estávamos ali, Alev, melhor amiga do Z, chegou e falou que tinha arrumado algo do "bom" e queria saber se ele tinha visto o Miguel. Zen contou a ela que tinha visto Miguel e o namorado subir as escadas, antes de entrarmos na cozinha. Depois disso falei pro Z que queria dançar, e ele me levou até onde todos estavam dançando, mas então a Stacey passou rápido por nós, indo em direção as escadas, mas esbarrando em mim no caminho, me fazendo derrubar todo meu refrigerante na minha camisa. Quis ir embora na mesma hora, mas o Zen me levou ao banheiro, tirou minha camisa e a lavou na pia. Íamos secar ela com o secador que tinha no armário do banheiro, mas acabamos nos beijando e só paramos quando Stacey abriu a porta e nos flagrou. Ela nos olhou por alguns segundos e então fechou a porta logo em seguida. Pedi a Zen que me levasse embora, e fomos até o seu carro, me pediu para que eu esperasse, porque precisava avisar o Harly antes de irmos. Fiquei alguns minutos esperando ele voltar jogando no celular dele e quando ele voltou, fomos embora pra casa dele.
Benjamin estava contente. Até agora, os três depoimentos que ele pegou se encaixavam. Todos tinham se cruzado em algum momento durante a noite da festa. Era raro depoimentos assim se encaixarem, e isso deixou o homem de olhos azuis animado.
— Harry, enquanto vocês caminhavam para fora da festa, você viu algo de diferente?
— Tinha muitas pessoas, e a maioria eu não conhecia. Estava rolando de tudo, mas no canto da varanda, Vitor falava e apontava com as mão para o Tom, como se estivesse o acusando de algo. Tom estava meio de lado, e eu não consegui ver seu rosto, então não sei o que poderia estar acontecendo com os dois.
Fazendo suas últimas anotações, o detetive sorriu e agradeceu pela colaboração do Harry, e o conduziu até a porta da sala. Por segundos, desejou mentalmente que o garoto de olhos verdes e unhas pintadas de lilás, ficasse bem e sempre tivesse alguém por perto para o apoiar e proteger de pessoas escrotas e de mente pequena.
Harry passou pela porta e correu para os braços do namorado e do irmão, que estavam em pé o esperando, assim que viram a porta se abrir... Harry voltou a se sentir seguro de novo e o detetive Ben sorriu com aquela cena.
Capítulo 4 - Olliver
A cada jovem que passava pela sala do detetive, aumentava a sua vontade e determinação de descobrir a verdade sobre aquele caso. Já com outra ficha em mãos, ele olhou e passou seus olhos pelo nome que estava destacado na capa.
Seus passos certeiros rumaram até sua porta e quando a abriu, o silêncio da sala de espera era quase incômodo.
— Olliver, poderia me acompanhar? — Ben o chamou e avistou o rapaz se levantar.
Olliver caminhou nervoso em direção a sala que o detetive o esperava, como se estivesse caminhando em direção a sua própria morte.
— Pode se sentar, Olliver. Você aceita uma água? — Ben perguntou enquanto se movia pela sala, analisando todas as expressões do rapaz. Sentia que ele poderia estar escondendo algo, mas também poderia estar errado.
— Não, obrigado! — ele se sentou e começou a ficar desesperado, como se o detetive pudesse ver sua alma e tirar conclusões precipitadas.
O Detetive percebeu o desespero de Olliver, não demorando para ocupar seu lugar atrás da mesa e iniciar suas anotações.
— Você está bem, Olliver? Algum problema que queira dividir comigo?
— Não! — o garoto não estava bem, o detetive notou o leve tremor em sua voz e nas mãos do moreno. — Estou desesperado! Porque acham que eu matei ele?! Eu jamais mataria alguém! Essas fofocas crescem mais a cada dia… — o garoto se exaltou com o detetive, sentindo seu peito quase explodir com a velocidade que seu coração batia.
— Se acalme, por favor. Ninguém aqui está te acusando de nada disso, então não precisa gritar, ok?! — Ben não entendeu o surto do rapaz, manteve seu tom baixo e calmo, mas iria até o fim para saber qual era o motivo do desespero dele. — Por que você acha que estão te acusando de ter matado o null?
— É o que eu quero entender, porque eu só conversei com ele por meros sete minutos na festa inteira, e já estão achando que eu sou o assassino! — Olliver falou incrédulo, cruzando os braços e suspirando com uma expressão chocada em seu rosto, não acreditando no que estava acontecendo.
— Até agora ninguém te acusou de nada, Olliver. Você está aqui para conversarmos sobre o que aconteceu naquela festa — O detetive usou seu tom de voz mais calmo que conseguiu, precisava acalmar o rapaz para ter respostas válidas. — Você era amigo do null?
O garoto respirou fundo, concordando em seguida com um balançar da sua cabeça. Seus olhos castanhos encontraram os do detetive e ele tentou controlar seu medo.
— Não muito... Estávamos mais para colegas. Ele sentava ao meu lado nas aulas de espanhol, às vezes tínhamos que fazer trabalhos juntos — contou, começando a aceitar o fato de que não adiantava fazer tanto drama, porque aparentemente, eles não iriam liberá-lo sem antes passar por aquela conversa.
Benjamin ainda não tinha entendido o porquê do rapaz havia tido aquele pequeno surto, se aparentemente ele nem era amigo de null. Mas iria ao máximo tentar entender o que se passou naquela festa que levou esses doze jovens a virem ser suspeitos.
— Entendi Olliver, e quem está te acusando de ter matado o null? Você pode me contar?
— Ninguém me acusou diretamente, mas todos ficaram me olhando torto, e o fato de eu estar aqui, mesmo sem ter feito NADA, só piora as coisas! — ele estava apavorado, não entendia o motivo de todos estarem o olhando estranho, mais certamente o fato de ele estar sendo interrogado só faria aumentar os rumores.
— Você precisa manter a calma... E o que te levou a festa? Você é amigo da Stacey? — com as sobrancelhas juntas, em uma expressão fechada em seu rosto, o detetive fez a pergunta.
Ben estava começando a achar que tinha chamado os alunos errados. Mas ele confiava em seu parceiro, e foi ele que interrogou outros alunos, que deram os nomes desses que ele tinha em suas pastas.
— Eu e a Stacey costumávamos ser mais próximos, mas a algumas semanas atrás ela começou a ficar diferente... Porém, ela continua me chamando para as festas incríveis dela — ele deu de ombros, dando um pequeno sorriso após mencionar as festas.
— Sério? Tudo bem — Ben deixou anotado que Stacey provavelmente mentiu, quando disse que não tinha amizade com ninguém do grupo, que está na sala ao lado. — Você não suspeita do por que ela ter se afastado de você?
— Sinceramente não muito, a Stacey é bem... Como posso dizer... Imprevisível. Mas nos afastamos também pelo fato dela parecer estar sempre me escondendo algo — agora mais calmo, Olliver conseguiu se expressar de uma maneira mais civilizada. Relatando o que teria acontecido em sua amizade com Stacey.
Provavelmente o que Stacey escondia do amigo, era o relacionamento com Harly, e foi isso que Ben anotou em seu bloco, mas mesmo assim, ele fez uma anotação extra.
— Olliver, vejo que está mais calmo, então poderia me descrever, o que você viu e ouviu na festa, desde a hora que você chegou? Não precisa ter pressa, pode ser no seu tempo, ok?
— Ah, tudo bem... Eu cheguei na festa da Stacey 20:15, e ajudei a terminar de colocar o ponche e os copos na mesa. Quando a Alev chegou, eu fui conversar um pouco com ela, afinal não somos tão próximos mas ainda assim somos amigos. Estávamos na sala, eu estava sentado no braço do sofá e ela na poltrona do meu lado. Conversei o básico de toda conversa com ela, tipo "oi, tudo bem?" Coisas assim, aí ela me contou que havia se encontrando um pouco mais cedo com John para pegar umas "mercadorias" com ele, se é que você me entende... E então ela me entregou um pequeno comprimido de ecstasy, e disse para eu me divertir muito, então ela virou as costas e saiu, disse que queria encontrar com o Miguel.
Sua fala estava calma, e Olliver nem parecia aquele rapaz assustado e desesperado de quando havia entrado na sala de Benjamin.
— Guardei o comprimido no meu bolso, e fui até a mesa de bebidas e peguei um ponche, decidi que iria dançar um pouco, aproveitar a festa pois eu não havia me produzido todo para ficar sentado. Eu fui ao banheiro antes de dançar e vi que a Stacey e o Zen tinha se esbarrado quando ela estava descendo as escadas para o porão, e o Zen estava saindo, com certeza algo estranho, tipo, quem vai em uma festa e entra em um porão sem motivos?!
O detetive fazia todas as anotações, e se divertia com os comentários de Olliver no meio do relato, achando um pouco de graça como o rapaz gesticulava bastante enquanto falava. Mas por fora, seu rosto permanecia sério.
— Quando o meu ponche acabou eu fui em busca de mais, só que no caminho eu encontrei null e John discutindo, e foi quando eu tive uma péssima ideia e me arrependo de ter feito... Eu simplesmente achei que seria muito legal drogar o próprio vendedor, sabe, pra ver se animaria ainda mais a festa, e foi quando eu passei por eles, esbarrando de propósito em John e joguei o comprimido de ecstasy no copo dele. Eu sei que eu não deveria ter feito isso, mas na hora pareceu algo realmente tentador...
O ar de arrependimento acompanhou o suspiro que escapou dos lábios com gloss de Olliver, e em seu olhar, Benjamin conseguia ver a verdade por trás das suas palavras.
— Quando eu entrei na sala, o Harry estava sentado em uma poltrona, provavelmente esperando por alguém, e Tom estava deitado no sofá conversando com Anne, que estava sentada na poltrona do outro lado e ela bebia alguma coisa, provavelmente o ponche, só que parecia que ela estava começando a ficar um pouco bêbada, e então eu notei que provavelmente tinham batizado o ponche. Eu tirei algumas fotos antes que eu ficasse bêbado, e logo fui para a cozinha pegar uma bebida mais forte. Na cozinha eu encontrei Harry e Zen conversando, eu sinceramente fiquei tão focado nas fotos que nem vi o momento que Harry saiu da sala. Depois de encher o meu copo com uma bebida, que eu nem lembro qual era, só sei que era boa, eu voltei a dançar, eu vi o John parecendo irritado com Anddy, mas nem dei bola, já que aqueles dois vivem brigando.
O rapaz contava tudo de maneira rápida, mal fazendo pausas para respirar, mas o detetive conseguia acompanhar e estava cada vez mais satisfeito com como as histórias pareciam se completar.
— Eu vi que null também estava dançando, então eu resolvi me aproximar dele para me divertir um pouco, comecei a passar algumas cantadas para ele, só que era mais para darmos risadas, o que realmente deu certo, e enquanto eu e ele conversávamos, ele me disse que estava se sentindo meio mal depois de ter bebido o copo do ponche batizado, mas eu lhe disse que provavelmente o estômago dele não deveria ter digerido direito e ele só concordou. Voltamos a nos divertir, até ele dizer que iria pegar mais bebida, o problema é que ele foi e não voltou mais, eu imaginei que ele tivesse ido fazer outra coisa, por isso eu nem me importei em procurá-lo, e decidi ir um pouco na parte de fora, mais especificamente na piscina para pegar um pouco de ar fresco, já que a casa estava fedendo a baseado. Eu encontrei John sentado na beira da piscina, e ele parecia um pouco zonzo, enquanto falava com umas pessoas. Eu não quis me aproximar deles então apenas me deitei na espreguiçadeira e fiquei mexendo no celular, vendo as publicações que o pessoal da festa estava fazendo. E mais tarde eu voltei para dentro dançar e beber mais um pouco, e acabei dando de cara com a Anne super bêbada na sala, enquanto Tom tentava cuidar dela, eles estavam com umas duas garrafas de whisky vazias, e pelo o meu ver tava rolando um clima entre eles, aí eu decidi não atrapalhar e voltei para a cozinha beber mais um pouco.
Olliver terminou de falar sentindo sua garganta seca, e com isso, ele aceitou aquele copo de água que o detetive havia oferecido mais cedo.
— E foi isso! Eu não encontrei com todos eles na festa e alguns eu só vi de relance, eu estava mais ocupado em beber e dançar a noite toda — Olliver descreve tudo o que ele fez e o que se lembrava antes de ter ficado completamente bêbado, mas ele estava mais tranquilo quando terminou de contar tudo ao detetive, ele já até estava se sentindo como se estivesse fofocando com as suas amigas.
Ben se segurou para não interromper o que o mais novo falava, mas sua vontade era enorme, principalmente pela brincadeira com John. Mas o Detetive viu, que ele não tinha intenções de fazer mau, somente criar uma confusão. Mas mesmo assim foi errado e ficou aliviado do garoto ter tido consciência que seu ato foi errado.
Anotou todos os pontos importantes e confirmando o que outros haviam relatado também. Com suas últimas anotações em mão, Ben se levantou e falou olhando para Olliver.
— Obrigado Olliver! Foi de grande ajuda seu depoimento. Não saía do prédio da polícia, certo? Quando todos tiverem contribuído, eu os liberarei pessoalmente.
— Disponha, detetive Walter! Foi ótimo fofocar com o senhor, e pode deixar que não irei sair — Antes que o detetive falasse algo, Olliver se levantou e saiu da sala, caminhando até seus colegas como se estivesse em um desfile de moda da Victoria Secrets.
Após Olliver sair, Ben negou com a cabeça e se permitiu sorrir com a fala do garoto.
Separou as fichas dos que ainda faltavam conversar com ele, colocando ao lado direito da sua mesa, e os que já haviam passado pela sua sala, colocou no lado esquerdo.
Pegou em mãos a nova ficha, olhando com atenção o nome que estava escrito sobre ela, e andou até a porta para chamar...
Continua...
Nota do autor: Esperamos que todos gostem dessa história o mesmo tanto que gostamos de escrever. Foi algo novo e divertido e é maravilhoso saber que mais pessoas vão poder conhecer esses personagens, além de nós três.
Com carinho,
Bruna, Luh e Bia
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Com carinho,
Bruna, Luh e Bia