Daydreamer

Última atualização: 26/12/2017

Capítulo Único

There's no way I could describe him
What I'll say is
Just what I'm hoping for


But I will find him sitting on my doorstep, waiting for a surprise
And he will feel like he's been there for hours
And I can tell that he'll be there for life


Fazia meia hora que eu e minha mãe discutíamos e eu já tinha esquecido o motivo inicial do bate-boca. Mas nunca variava muito... Era sempre sobre eu não saber o que eu queria fazer da vida, não me empenhar nos estudos... As aulas do próximo semestre em Economia começariam em duas semanas e ela queria que eu me inscrevesse em estágios relacionados a minha área. Eu queria continuar trabalhando na confeitaria, onde finalmente tinha encontrado algo que eu gostava de fazer.
“Fazer bolo não dá futuro, criatura, enfeitar cupcake é só um passatempo! Eu tinha tanta esperança que você fosse tomar jeito depois que começou a namorar o filho da Miranda!”
Quando seus argumentos acabavam, ela jogava a culpa em . Ou melhor, dividia com ele a frustação com a minha falta de rumo.
“Isso não tem nada a ver com o , mãe!” – Respondi, talvez pela milésima vez, revirando os olhos.
Ela soltou uma respiração pesada, se dando por vencida naquele dia, e voltou para a cozinha sem dizer mais nada. Levantei do sofá e vesti meus tênis jogados por ali, como se nada tivesse acontecido. Nossas brigas eram sempre assim... Acabavam do nada, do mesmo jeito que se iniciavam. A próxima provavelmente começaria como se essa nunca tivesse acabado. E assim nós íamos...
Abri a porta para sair de casa e sorri ao observar minha varanda. , o garoto mais lindo do mundo inteiro, meu namorado, estava sentado nas escadas da entrada, de costas para mim, e pelo jeito estava absorto no livro que lia. Segurei a porta para que ela se fechasse suavemente e caminhei até ele sem fazer barulho, colocando as mãos sobre seus olhos quando o alcancei.
“Se for a senhora , isso é muito inapropriado!” – Ele zombou, tirando minhas mãos de seus olhos e se virando para me olhar. Eu ainda ria do que ele tinha acabado de dizer, mas não pude deixar de notar mais uma vez como seus olhos e seu sorriso eram incríveis e como ele parecia cada dia mais bonito.
e eu sempre fomos amigos. Numa cidade tão pequena, era difícil crianças da mesma idade não conviverem desde pequenos. Ele ainda tinha espinhas por todo o rosto, um cabelo estranho e não esbanjava metade do charme que tinha hoje quando me apaixonei por ele. Foi seu senso de humor desde o começo. E a tranquilidade que ele me passava quando sorria (mesmo quando seu sorriso era só aparelho). Qualquer que fosse a ocasião, se eu estava com ele, estava em paz.
se sentiu muito sortudo quando percebeu que estava interessada nele, mas quem havia ganhado na loteria mesmo tinha sido eu. Desde então, nós dois crescemos juntos e eu vi aquele adolescente esquisito se transformar no garoto mais bonito da cidade... Mas para mim sua aparência era um mero detalhe. Seu rosto perfeito era só uma reflexão de sua alma. Essa sim era indescritivelmente bela.
Me sentei ao seu lado e o trouxe para mais perto, segurando em seu rosto para beijá-lo. colocou de lado o livro em seu colo e se virou para mim, para ficarmos numa posição melhor. Eu poderia ficar ali com ele por horas... Por dias... Seu beijo e seu toque eram tudo que fazia mais sentido na minha vida. Quando nos separamos, ele passou o polegar pela minha bochecha, observando o caminho que seu dedo fazia e sorrindo. Eu sempre me sentia especial quando ele me admirava assim.
“Você demorou...” – Comentou. Seus olhos passeavam pelo meu rosto como se ele fosse capaz de escanear cada pensamento que eu havia tido naquele dia só de me observar. Havia muitas coisas entre nós que nem precisavam ser ditas. – “, tá tudo bem? O que houve?”
Dei de ombros, ficando um pouco chateada de novo ao me lembrar da briga com a minha mãe.
“Só o de sempre...” – Falei vagamente, mas não queria conversar sobre aquilo com ele. Me levantei e fui me sentar no degrau de baixo da escada onde estávamos, me ajeitando entre as pernas de . Ele me abraçou e eu segurei em seus braços em volta de mim, me apoiando para trás em seu peito. – “Mas não quero falar sobre isso, me conta sobre o livro que você tá lendo, !”
E então ele começou a descrever a história e eu fechei os olhos, me perdendo no som maravilhoso de sua voz. Aquele era um dos últimos dias de verão e o tempo estava ótimo, o que na Inglaterra era um milagre. A história que me contava se passava na praia e eu me lembrei do lugar que meus pais me levavam quando era criança. Não ficava longe dali e eu nunca mais tinha voltado. Abri os olhos para dizer a o que estava pensando, mas me distraí observando duas meninas mais novas que passavam do outro lado da rua. Elas não tiravam os olhos de e uma delas quase trombou com um poste, enquanto tentava dar uma última olhada nele antes de virar a esquina. Minha risada baixinha coincidiu com meu namorado mudando de assunto:
“Seu cabelo tá cheirando chocolate! Shampoo bom esse... Do que... Do que você tá rindo, ?”
“Você não viu?” – Perguntei, me virando para olhá-lo. – “As garotas olhando pra você?”
“Que garotas?”
Não era possível.
“As duas que acabaram de passar, oras! Não precisa mentir, pode me dizer que você viu!” – Eu ainda ria.
“Não vi, juro! Não estava olhando pra rua!”
“E tava olhando pra onde então?”
“Pra você...” – Ele disse, dando de ombros, como se fosse óbvio.
Eram coisas assim que aconteciam e me faziam amá-lo ainda mais. Terminei de virar o corpo completamente e, ajoelhada na escada, o beijei de novo.
“Posso te levar a um lugar?” – Perguntei, quando partimos o beijo. Ele deu um de seus sorrisos serenos que eram meus preferidos.
“Pra onde vamos?” – Perguntou, me observando enquanto eu me levantava e parecia agitada com a ideia.
“Surpresa!” – Falei animada, e corri para dentro pegar as chaves do carro.
Seria mais um motivo para minha mãe brigar comigo depois, mas valeria a pena!

***


Apesar das nossas brigas constantes, meus pais eram pessoas muito boas e eu me sentia muito culpada por não ser como eles desejavam. Eu queria saber o que fazer da vida, eu queria gostar da faculdade, eu queria que eles se orgulhassem de mim... E mesmo que eles achassem que não, eu nunca parava de pensar sobre o futuro. E me estressar. E me frustrar. E me estressar de novo. E pensar mais e mais e mais...
Mas naquela tarde, sentindo o mar molhar meus pés descalços, observando passarinhos se aninhando em um pier velho mais a frente e enquanto o sol se punha no horizonte, eu não estava pensando em nada disso. Eu estava 100% naquele momento.
Bom... Talvez não 100%, porque ao observar aquele pier, eu tive uma ideia. Me virei para dizer a no que estava pensando, mas parei sem dizer uma palavra.
Ele parecia uma pintura. Sentado nas pedras mais para trás, o pequeno livro branco ao seu lado, enquanto o sol que se punha iluminava seu rosto. estava de olhos fechados, mas sorria como se aquele momento fosse o melhor de sua vida. Ele tinha esse dom que eu admirava tanto (e invejava um pouco também) de viver o presente completamente.
Como se pudesse me ver mesmo de olhos fechados, ele piscou e se virou para mim, sorrindo ainda mais ao perceber que eu o olhava.
“Que foi?” – Perguntou, se sentando direito.
Sorri também e fui até , que abriu os braços e me aninhou em seu colo.
“Vamos nos casar na praia?” – Indaguei, voltando a pensar no pier. Eu podia imaginá-lo todo enfeitado com flores e luzes.
“Nessa praia?” – Ele quis saber, virando o rosto para analisar o pier também.
“Bom, se eu continuar trabalhando na confeitaria, é só o que vai dar pra pagar...” – Zombei, mas me levou a sério.
“Você pode ter sua própria confeitaria!”
Dei uma risadinha triste.
“Minha mãe acha que eu não posso abrir nada por minha conta...”
torceu o nariz, mas não disse nada. Ele não gostava de falar mal da minha mãe para mim, era muito educado. Ficamos um tempo em silêncio, mas um silêncio incômodo. Levantei o rosto para ele, então, e dei um beijo em sua bochecha. Seu semblante carrancundo se transformou em um sorriso instantaneamente.
“Um shot de tequila por seus pensamentos!” – Brinquei. Era uma coisa nossa querer trocar bebidas alcoólicas por vislumbres dos pensamentos um do outro.
Ele riu e me lançou um de seus olhares ternos, que me aqueciam e me faziam tão feliz.
“Meu pai me ligou hoje...” – Contou. Ele estava propositalmente mudando de assunto, mas me sentei direito porque aquilo parecia importante.
“Seu pai? Dos Estados Unidos? O que ele queria?”
Ele deu de ombros.
“Conversar... Nada de mais. Me perguntou sobre a faculdade.”
“Ele vem te ver?” – Mordi os lábios, preocupada com . Aquele assunto era delicado para ele, os dois só se viam uma ou duas vezes por ano. Cheguei mais perto e fiz carinho em seu braço. Queria que soubesse que eu estava ali pra ele tanto quanto ele estava ali para mim.
“No Natal, como sempre. Disse que precisa conversar comigo sobre uns planos que ele tem feito.”
Franzi a testa.
“Planos?”
não discutia planos com seu pai com frequência. Mas ele também não parecia nem um pouco preocupado.
“Acho que ele vai se casar de novo e tá ensaiando pra me contar... Algo assim. Nada importante, provavelmente...” – Falou, dando de ombros. Ele então me abraçou mais forte e deu um beijo no topo da minha cabeça. – “Falando em casamentos... Você quer me contar o que tem em mente para o nosso casamento na praia?”

***


Quando o sol se pôs e começou a ficar frio, me emprestou seu casaco e nós voltamos para o carro. Na viagem para casa, enquanto eu cantava alguma música pop que ele odiava, abaixou o som e se virou para mim.
“Me promete uma coisa?” – Disse.
Eu não podia olhá-lo porque estava dirigindo, mas parecia sério.
“Claro... O que houve?”
“Me promete que vai ser o que quiser quando crescer, que não vai deixar sua mãe decidir por você!” – Ele falou, me pegando de surpresa. Sorri com a sua doçura e a sua preocupação. Eu o amava tanto! E eu amava como ele não escondia que me amava na mesma intensidade. E em dias como aquele eu me lembrava porque nós éramos amigos, parceiros no crime e namorados. Me permiti virar a cabeça brevemente para olhá-lo.
“Mas eu não sei o que eu quero ser, ...”
“Mas quando você descobrir, me promete que não vai pensar duas vezes, ! Que vai ser feliz independente do que eles digam.”
Fiz que sim com a cabeça e ofereci a ele meu dedo mindinho.
“Eu prometo!”
Ele passou seu dedo mindinho pelo meu e riu satisfeito, sua risada alta enchendo o carro todo (e a mim) de alegria. Naquele momento, eu tinha tudo o que queria. Porque eu tinha .
E porque era... .




Fim



Nota da autora: Adele disse numa entrevista que acredita em trilogias e por isso o 25 seria seu último CD entitulado com a sua idade.
Com isso na cabeça, e porque quando terminei When We Were Young ainda senti que faltava alguma coisa, decidi que a história de Liv e Sully (os nomes originais dos protagonistas), seria contada em três songfics – Todas com músicas da Adele.
Voltar no tempo e apresentar os personagens na adolescência – quando eles eram jovens e apaixonados – parecia ser o caminho mais lógico. E enquanto eu escrevia WWWY e ouvia música, um dia ouvindo Daydreamer percebi que elas pareciam falar do mesmo rapaz (meu sonho é perguntar pra Adele se é mesmo, hahahaha), e então ela virou a alma da segunda fic.
E é isso... Mais uma fic para nos apaixonarmos pelo protagonista e entendermos mais um pouquinho por que a Liv não o superou. Nós também entendemos por que ela é infeliz na vida profissional. Espero que vocês gostem... Não se esqueçam de comentar!
Até a próxima!

Outras fics minhas:
When We Were Young (Outros/Finalizada) - 1ª parte dessa trilogia
Someone Like You (Outros/Finalizada) - 3ª parte dessa trilogia
On The Third Floor (1D/Em Andamento)
Trap (1D/Finalizada)
While My Guitar Gently Weeps (Outros/Finalizada)
06. Glasgow (Ficstape Catfish and the Bottlemen/Finalizada)
08. Sound of Reverie (Fictape Lovely Little Lonely/Finalizada)



Nota da beta: Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando essa fic vai atualizar, acompanhe aqui.


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