Doctor

Enviado em: 05/02/2021

Capítulo Único

O sistema nervoso prega peças àqueles que não se mantêm sob controle. Um pequeno ponto desconexo na mente ressoa como uma folha de árvore caída ao chão. Ao minúsculo movimento do ar, a folhagem inicia uma dança até que ela se perca na imensidão do ambiente, tal qual as diretrizes que escondemos de nós mesmos em busca do autocontrole.
Fugir de si mesmo é como perceber que, ao ser levado pelo movimento do ar, a solidão se mostra visível e crua, expondo partículas de momentos negros que se puxam com ímãs, levando a construção de uma bolha gigante, ocasionando aquela sensação que fora escondida com um certo... entusiasmo.
Eu sempre me qualifiquei como a folha já seca, sem vida, buscando por alguma oscilação que pudesse deliberar a construção de uma nova perspectiva, ao mesmo tempo disposta a deixar à mostra tudo o que fora jogado junto à sujeira, embaixo de um tapete felpudo e de cores escuras.
A perna balançava de um lado para o outro. Meus olhos se perdiam na imensidão do relógio redondo e torto, com detalhes prateados, que se mantinha preso no papel de parede com listras claras, que determinavam uma tranquilidade que não se mantinha presente na minha mente. Hora ou outra, eu torcia meus dedos em nervosismo. A mente não se sustentava tranquila um segundo sequer, e, por maior que fossem as objeções nas quais eu encontrava ao me manter sentada naquela poltrona confortável e espaçosa o bastante para duas pessoas, aguardando por uma única chamada, a necessidade se fizera presente, e quem seria eu para modificar tal construção.
Necessitar de algo significava justificar algumas atitudes deploráveis, tal qual acontecimentos mais corriqueiros. Os braços de madeira clara da cadeira eram largos e confortáveis, meu corpo havia se moldado tranquilamente, e, movimentando a cabeça de um lado para o outro, observei as pessoas que se mantinham no aguardo, assim como eu.
Ergui o corpo num solavanco, e eis a tal necessidade deplorável em ação.
O sobressalto não havia passado despercebido para os presentes. Então, percorrendo a mão pela nuca, movimentei o pescoço de um lado ao outro. O corpo flamejava, as faíscas se tornavam frequentes diante a minha indisposição a aguardar qualquer coisa que fosse. Aquele diagnóstico havia sido dado a tempo o suficiente para que eu já pudesse gerenciar, e, caminhando de um lado a outro, percebendo o olhar incomodado de algumas pessoas sob o meu corpo, eu poderia afirmar com total certeza: não havia comando, e não somente eu havia percebido.
A secretária localizava-se sentada na sua cadeira acolchoada. Ela girava de um lado para o outro, tal qual uma criança de cinco anos diante o trabalho dos pais. O barulho das rodinhas se fez presente, e eu senti a nuca arrepiar.
A mistura do som do relógio e das rodinhas da cadeira ressoavam como uma música na qual eu não poderia deixar tocar. Meus olhos se encontraram com os olhos da mulher, que se mantinham fixos ao meu rosto, e sorri fraco. Meus cabelos balançaram de um lado a outro tal qual a minha cabeça, e eu busquei por algum tipo de interlúdio que pudesse me delimitar como uma mulher tranquila e pacata se comportaria.
Algo que eu nunca havia sido.
— A senhora pode... — Pigarreei, levando a mão aos cabelos, bagunçando-os. — Pode... parar de se balançar?
A secretária piscou seus cílios quilométricos algumas vezes antes de levar uma caneca repleta por desenhos animados aos lábios, iniciando um sopro ainda mais inquietante. Ela deixou o objeto de lado, ainda me desafiando ao segurar a tampa de uma caneta, mordendo-a ao erguer uma sobrancelha. Ela vestia um terno lilás e, por dentro, uma t-shirt branca com um crachá indicando o seu nome. Noelle. O que combinava extremamente com a mulher, que se mantinha debochada à minha frente.
Eu tentei expor um sorriso, não fora fácil, admito. A mulher, já com a sobrancelha no lugar, piscava deliberadamente, expondo uma indignação enquanto se balançava de um lado para o outro, tornando ainda presente o barulho das rodas, que rodopiavam no chão de mármore, interferindo na minha tranquilidade, talvez. Com a mão na alça da bolsa, voltei a torcê-la mais algumas vezes, buscando um equilíbrio que talvez não fosse possível.
— A senhora deseja alguma coisa? — Sua voz era fina e cortante. Eu não conseguia me manter disposta a ser simpática com ela, aquilo nunca havia sido estipulado nas breves ocasiões em que estivemos juntas no mesmo ambiente.
As idas naquele consultório eram evitadas o máximo que fosse possível e, quando o turno dela ainda se encontrava vigente, os fones de ouvido com uma boa música me faziam acalmar.
Objetos pequenos que eu esqueci completamente de pôr na bolsa.
Culpa dele.
Respirei fundo, pronta para respondê-la, mas minhas palavras se perderam. A porta de vidro foi aberta e um homem alto e excepcionalmente bonito adentrou com um semblante sério. Ele mexia no celular compenetrado, e, num breve instante no qual nossos olhos se encontraram, senti o coração disparar e, em contrapartida, percebi um sorriso de lado e extremamente sexy se formar nos seus lábios.
Eu esqueci do barulho que me incomodava naquela sala de espera e, tal qual a voz da mulher irritante se fizera presente, seus saltos ecoaram ao chão e ela se manteve caminhando atrás dele até a porta de número 01, consultório que me levava a debruçar-me em lembranças que enlouqueciam a mente.
E o corpo também.
, você pode me seguir, por gentileza?
ordenou diante de todos os presentes, e eu senti o corpo tremular. Ele encontrava-se com a porta da sua sala aberta, sua mão direita se mantinha presa na maçaneta e a secretária caminhava apressada para o seu lugar de origem. Por um instante, observei tudo o que acontecia ao redor e, quando meus olhos se voltaram para os do , meu coração acelerou. Ele havia mesmo chamado por mim num primeiro instante.
O galho, que anteriormente eu havia estipulado como um ponto que fora carregado pelo ar, varrendo o chão e deixando-se ir para um lugar sem precedentes, havia se estabilizado na superfície.
A dificuldade que eu tinha ao tentar me mover era avassaladora e, quando percorri os dedos nervosos pelas mechas em desalinho do cabelo, percebi que o aguardava pela minha movimentação. O que eu não demorei muito tempo para fazer.
Abrindo espaço por entre as cadeiras que ornamentavam a sala de espera, me mantive submersa nas imagens que interromperam o raciocínio lógico. Percorri a mão pela nuca ao caminhar, passando pelo seu corpo, fechando os olhos ao sentir o perfume amadeirado que se apossava pelas minhas narinas sem pedir permissão.
Neguei com a cabeça ao adentrar, rápido o suficiente para sentar-me no sofá em que outrora eu havia me sentido à vontade, voltando meus olhos para os movimentos de , que acomodava seus pertences na sala de móveis antigos, contrastando com o restante do local. Pigarreei uma vez, e ele me encarou. Eu havia analisado aquele rosto por tempo o suficiente para saber detalhadamente cada traço. Seus semblantes desconfortáveis, sua risada aconchegante e extremamente rara. Não era difícil analisar a camisa de botões brancos que escondiam o peitoral bem definido, tampouco o blazer, que ressoava por entre os seus ombros uma masculinidade na qual eu não saberia lidar.
Nunca.
Remexi o corpo, incomodada, e, quando ele enfim se aproximou, percebi que, talvez, a ideia de que ele havia sido impaciente em nada tivesse a ver com o que havia acontecido conosco. A mente costumava pregar peças, às vezes.
— O que você está sentindo? — Sua voz encontrava-se sóbria. Séria, cortante. Durante alguns segundos, mordi o lábio inferior, de maneira a reunir dentro de mim todas as verdades as quais eu gostaria de jogar-lhe o mais rápido possível. Talvez, até mesmo a bela peça de cerâmica que se encontrava ao lado do meu corpo, acima de uma pequena mesinha, que guardava uma garrafa de vidro repleta por água, fosse arremessada numa boa distância, diretamente no seu belo rostinho.
Negando com a cabeça, tentei memorizar suas palavras de conforto que outrora escutei com tanto afinco. Minhas mãos foram em direção ao tecido da calça que eu usava e, voltando meus olhos para tal movimento, percebi de forma vergonhosa que minhas mãos suavam, e aquela reação se dava pela visão dos ombros largos, que se mantinham calmamente encostados na poltrona de couro marrom. Na lateral esquerda do divã, eu me sentava de maneira desajeitada e extremamente constrangedora.
Respirei fundo e levei minhas mãos à nuca, massageando-as ao sentir a tensão que se mantinha presente, tal como a necessidade de agulhas penetrando a minha pele em busca de pontos-chaves nos quais eu pudesse voltar a sentir a tranquilidade que talvez ele sentisse ao encarar-me, com o profissionalismo que ele sempre demonstrara conhecer ao se manter próximo ao meu corpo.
usava uma camisa social branca. O primeiro botão encontrava-se aberto, e suas costas, quase que deitadas sob a poltrona. Seus lábios mantinham-se fechados e seus olhos, tal qual qualquer outro espaço de tempo, mantinham-se fixos em cada pequeno detalhe do meu corpo ou da minha expressão.
A caneta tamborilava no encosto do móvel, e ele não desviara os olhos um segundo sequer. O ar começou a falhar. Em distintos instantes, tive a nítida sensação de que a qualquer minuto seria imprescindível arregaçar as janelas de vidro, que se mantinham fechadas pelo ar quente que circulava lá fora, buscando um ar que aqui dentro começava a falhar. Algumas expressões definiam-se como uma espécie de masmorra prestes a receber um prisioneiro.
Eu conseguia me alinhar perfeitamente a um prisioneiro, que percebia em si mesmo o eloquente desejo em talvez arranhar o pescoço pálido e extremamente perfeito que ele expunha à minha frente. Minhas mãos poderiam encontrarem-se presas por algemas para que a ânsia por o possuir fosse embora, tal qual o desejo que esquentava o meu corpo e gradativamente ia subindo, alastrando-se como uma pecadora diante seus desejos obscuros.
Endireitei a lombar e busquei por um sorriso. Seus olhos piscavam, e ele não demonstrava nenhuma reação que não fosse me estudar, uma reação tipicamente masculina e dominadora. Uma sistemática abordada que o qualificava como um homem o qual ele sempre se deixou transparecer.
Algo que não facilitava a minha vida naquele instante.
Pigarreei, voltando meus olhos para o chão, encarando os sapatos bem engraxados que escondiam meus dedos dos pés, antes de voltar-me para ele, deixando mais uma vez nosso contato silencioso em evidência, não por muito tempo.
— Você gostaria de saber o que eu estou sentindo por você ou no geral? São perguntas bem diferentes.
— Que nos levam a uma única problemática.
— Que seria... — Juntei as sobrancelhas, movimentando o pescoço de um lado para o outro. Escutei o Kim pigarrear e não consegui esconder um sorriso sorrateiro e esperto brotando nos meus lábios. — Um psiquiatra me disse uma vez que grandes problemáticas eram derivadas a pequenos lapsos da mente. Eles se misturam, se agregam, possuindo-se... — Percebi o tom da minha voz enrouquecer, vendo-o erguer uma sobrancelha ainda imóvel, e dei de ombros, antes de continuar. — Tornando-se um só.
— Inteligente, ele. — deixou um sorriso brotar nos seus lábios, e eu senti o coração disparar por longos segundos nos quais me mantive em silêncio. O medo que ansiava no peito havia sido escancarado e a inconstância que eu conseguia observar no seu semblante em se deparar comigo voltara à tona, e eu não soube como prosseguir imediatamente. — Uma frase ambígua que pode certamente referenciar outro ponto.
Com os olhos fechados, tentei não perguntar a dúvida idiota que se mantinha presa na minha cabeça, brilhando como luzes de Natal festejando diante à necessidade em expor um ponto que eu já havia entendido o que significava. Eu somente gostaria de fingir que não para que ele se deixasse sorrir, acabando ainda com o que restava da minha paciência, controle e até mesmo sanidade.
Clichê seria afirmar que eu me resumi a mais uma das inúmeras mulheres que se tornam sexualmente interessadas pelos terapeutas. Psiquiatras conseguem reunir numa carcaça repleta por egocentrismo e soberania o desejo de muitas dessas pessoas, que não se encontram em si mesmas e se perdem em corpos extremamente bem esculpidos que necessitam de uma língua percorrendo por toda a extensão, até mesmo quando a verdade só ressoava acolhedora na mente delas ou na minha.
Ligações até tarde com as minhas amigas, mulheres bem sucedidas com problemas de ansiedade e até mesmo com problemáticas maiores referenciavam a mim a construção de detalhes que eu expunha diante de cada pequena minúcia do corpo dele, tal qual o seu rosto, levando-me a diversas garrafas de vinho e masturbações diárias. Ter que explicar a perfeição que semanalmente se sentava à minha frente como um psicólogo ou terapeuta, estudando-me muito mais do que ele deveria, consistia numa excitação a qual eu não conseguia controlar, e eis a grande motivação para as minhas consultas.
— Não estou conseguindo dormir à noite desde... — Engoli em seco e rapidamente busquei o copo com água que estava sobre a mesinha de vidro, levando aos lábios e engolindo todo o conteúdo com pressa e ânsia por esquecer a data exata a qual todas as minhas noites começaram a se perder. — Não estou dormindo à noite.
Ponderei as palavras que eu desejei jogar diante a ele naquele instante e as deixei guardadas por mais um tempo. se mexeu. Ele percorreu as mãos pelo tecido da calça jeans, e eu mordi a bochecha, percebendo o nervosismo que se encontrava presente no seu corpo, intenso e desconcertante tanto quanto o meu.
Minha respiração acelerou, e eu estudei os seus movimentos em câmera lenta. Por alguns segundos, a sensação que tive foi de observar uma fantasia bem à minha frente, realizando os desejos mais obscuros que eu costumava mergulhar. Ele possuíra conhecimento do poder atrativo, não era possível.
Suas mãos percorreram as mechas de cabelo e eu fechei minha mão, forçando minhas unhas na palma, canalizando a necessidade de interromper o ato somente para puxá-lo pelo cabelo para mim, beijando-o intensamente, perdendo-me naquela imensidão de homem, que ainda confundia a minha realidade, deixando-me lutando contra as confusões que pairavam.
— Sua medicação se encontra em dia? — cruzou os braços na altura do peitoral, e meus olhos descansaram ali. Impulsionei a cabeça para o lado e me deixei imaginar como seria tocar-lhe o peitoral sem aquele tecido inquietante que atrapalhava os meus pensamentos naquele instante.
— Eu não estou negligenciando nada, doutor. — Respondi, interrompendo meus pensamentos, erguendo o copo do acolchoado e iniciando um caminhar impaciente. — Não sei qual o motivo pelo qual as pessoas sempre acreditam que a culpa de crises e insônia é a falta da medicação. Eu não sou irresponsável.
— Não?
Pela primeira vez desde que voltamos a nos encontrar, nossos olhos se mantiveram presos um no outro. ergueu o corpo, ficando a milímetros de distância do meu rosto. Não consegui formar palavras por um tempo, a minha voz fora para o espaço, tal qual a disposição que eu tinha para confrontá-lo.
Não existia fôlego diante aquela aproximação, tampouco explicações plausíveis que poderiam referenciar a escolha de nós dois em nos mantermos paralisados, encarando um ao outro como lobos famintos, observando o alimento à frente, prestes a se deixar levar pelo instinto de alimentação e, enfim, devorar um ao outro.
Vencendo a luta interna que se desenhava dentro de mim, recuei alguns passos e voltei a percorrer os dedos nervosos pelo rosto. Desviei nossos olhos, sabendo e sentindo que ele ainda me estudava com a ânsia que anteriormente eu havia notado, mas, diante a um resquício de controle que pairava pelo ar, tentei sorrir sem jeito, antes de voltar a me aproximar.
— Acho que esse tipo de brincadeira é um pouco pesada, não? — Minhas palavras ressoaram como um sussurro e, quando eu pude observá-lo sorrir, um arrepio invadiu o meu corpo, lembrando-me do poder o qual ele possuía. Filho da puta.
— Que brincadeira, ? — Ele questionou, e eu tive um lapso de memória devorando-me e sem controle. Voltei-me para trás, cambaleante, tropeçando na cadeira, tendo o corpo jogado na poltrona, deixando-me ali sem nenhuma movimentação posterior.
Minha respiração ofegante não foi suficiente para que ele se mantivesse longe e, observando-o, pude notar os passos dados em minha direção. O sorriso que brotava nos seus lábios significava que aquela áurea profissional havia ido embora, tal qual a minha pacata simulação de puritanismo... E como eu desejava que ele me prensasse na parede o mais rápido em que ele pudesse. Como eu queria.
— Eu preciso de... — Abaixei a cabeça, escondendo-me de mim mesma, focalizando os meus sapatos com um interesse inexistente, aguardando somente o instante no qual ele se aproximaria ainda mais naquele jogo perigoso e excitante. — , não.
— Não? — Ele questionou e, mesmo com os olhos baixos, notei seus braços apoiando-se sobre as laterais da poltrona, encurralando a presa a qual ele gostaria de traçar.
Voltei-me àquelas memórias mais uma vez, deixei-me saborear outra construção, na qual eu me encontrava na posição de autoritarismo e dominação. Minhas pernas sempre à mostra se qualificavam numa grande base de envolvimento a qual ele não conseguia se concentrar e, diante à inocência exposta nas minhas atitudes, a luta diária na qual ele se deparava entre me desejar e não poder consistia numa brincadeira que eu nunca me vi controlando.
Envolver homens numa teia de sedução sempre fora uma construção a qual eu nunca consegui resistir. Em grandes proporções, nunca fora necessário muito além de sorrisos frágeis e histórias assustadoras. Mulheres submissas sempre culminaram na grande objetificação da espécie feminina e a fragilidade consistiu em todas, o grande desejo no qual eles alimentam diariamente.
Um robô moldado aos desejos da carne. A obscuridade sem pudor. O autoritarismo sem precedentes. Uma construção social refletida em sorrisos pacatos e mulheres domadas na cama. O desejo do proibido que os levava ao embate entre o certo e o errado. Até onde iria o limite masculino?
Algumas mulheres sentiam-se livres o suficiente para adicionar a mente, o desejo por mais, não somente se enquadrar aos desejos do parceiro, e não é sobre igualdade a que ando me referindo, é sobre algo maior do que isso.
O que faríamos ao ter um homem subordinado aos nossos desejos? Andando com vestes compridas para que não haja nenhum tipo de sexualização, mantendo-se na linha para que não sejam julgados como homens fáceis? Evitando determinada vestimenta para não ter o corpo violado? O que seria projetado na sociedade se fôssemos nós as provedoras de assassinatos? As senhoras do nosso próprio destino? Sem a linha que nos inferioriza, exposto numa sociedade hipócrita e machista?
Neguei com a cabeça, voltando à realidade. me estudava com bastante interesse, e eu neguei com a cabeça. Enfim o desejo havia sido jogado de lado, pelo que pude perceber.
— Eu não ando dormindo muito bem, estou tendo algumas dificuldades relacionadas ao sono, porque... Eu não... É. Eu estou muito emotiva.
— E você não costuma acreditar nesse tipo de sentimentalismo, certo?
— Isso é o que você repete sempre, em toda consulta. Eu não costumo concordar com suas palavras, doutor. — Neguei com a cabeça e percebi um sorriso sorrateiro brotar dos seus lábios. Cruzei as pernas uma vez, descruzei e novamente voltei a cruzá-las. Iniciei um balançar ansioso da perna direita e tentei manter-me imóvel somente para que ele mais uma vez não expusesse todos os meus anseios de maneira despretensiosa e tranquila.
Como se as minhas limitações fossem referentes a um doce de criança roubado, não uma vida destruída.
— Podemos voltar à pergunta de praxe? — Ele questionou, percorrendo os dedos pela camisa, e eu observei o poder daqueles dedos quando enfiados num lugar proporcionando prazer. Pigarreei baixo e fixei meus olhos no seu rosto, vendo-o sentar-se na cadeira, cruzando as pernas extremamente profissional ao me encarar. — O que te levou a cometer um assassinato?
E ele iniciou.
A pergunta que me carregava pelos ombros e que não culminava meu sono regrado por muito tempo. Movimentei o corpo de um lado para o outro, mordi o lábio inferior e logo tentei sorrir, uma construção que foi eliminada no instante em que as lembranças me voltaram à mente com uma exatidão horripilante. Estalei meus dedos de um a um, escutando o barulho e sentindo-me incomodada com ele. Os ponteiros do relógio na pequena sala em que ele atendia não rodavam até formar um minuto, e o alívio sentido diante o silêncio existente conseguia enumerar os preceitos os quais eu deveria seguir.
nunca havia demonstrado medo. Seu desejo por curiosidade sempre fora muito maior do que os vestígios que me embalavam, e eu conseguia determinar uma perfeita sincronia dos meus pensamentos e sentimentos com as suas reações. O ponto referente ao proibido que eu havia pensado anteriormente pairava pelo ar, e eu conseguia sentir em cada pequeno gesto feito por ele. Não foi difícil para que ele fosse até o corpo da frágil e a abraçasse diante uma crise de choro.
Tampouco foi questionável a aproximação diante os grandes acontecimentos os quais eu fui deixada viver e sofrer. Suspirei antes de fechar os olhos, deixando-me enlouquecer por breves instantes ao visualizar as imagens que me derrubavam a cada novo instante de tortura diante a sociedade em que eu me encontrava inserida.
— Legítima defesa não é assassinato.
— Sadomasoquismo não é tentativa de feminicídio, ou é? — questionou, e eu ergui meus olhos de qualquer lugar para onde eu estava focalizando, abrindo-os e o encarando, séria.
— O que você está insinuando, doutor? — Perguntei, erguendo o corpo num sobressalto. deu de ombros, anotando algumas palavras no bloco de notas que se encontrava em sua mão, e eu ergui uma sobrancelha. — Fala logo, merda, o que você está insinuando?
Sem muitas delongas, ele deixou os objetos que segurava ao lado do seu corpo e posicionou suas mãos nos botões da camisa, abrindo-os um por um com uma tranquilidade angustiante. Meus olhos arregalaram diante ao peitoral, que foi aos poucos se mostrando. Perante a necessidade de passar a língua ou as mãos por ali, limitei-me em morder a bochecha para que ele não percebesse minha reação quase que imediata e extremamente avassaladora pela exposição do seu corpo à minha frente.
Seus olhos mantinham-se presos aos meus, e ele deixava que um sorriso brotasse a cada nova investida. A camisa ia aos poucos sendo retirada e o coração acelerou por um minuto. Tal qual o ardor tomou conta do meu corpo, talvez afirmando para mim mesma tudo o que eu estava escondendo.
— O que você está...
— Olha o meu peitoral, . — Desviei meus olhos para que não fosse tão evidente a baba que certamente escorreria pelos meus lábios, mas não durou nem dois segundos o autocontrole o qual eu gostaria de ter. Suspirei ao negar com a cabeça, voltando-me para o peitoral dele repleto por arranhões, menos avermelhados do que eu conseguia reunir nas lembranças da mente. — Você sabe o que significa isso.
— Um gato? — Debochei, vendo-o revirar os olhos.
— Uma gata, caso você continue nesse humor — Ele deu de ombros, erguendo o corpo. Tive uma certa dificuldade em me situar. era tão confuso quanto eu, lutava suas batalhas todos os dias e, talvez, eu conseguisse encontrar nele pontos os quais eu não gostava de cogitar até mesmo em mim mesma. — Você deixou o meu pescoço vermelho também, . Sabe o que isso significa?
— Que você pode perder a licença médica? — Questionei, e o semblante divertido que outrora se encontrava presente foi esquecido e, involuntariamente, ao menos eu gostava de raciocinar de tal forma, ele puxou o meu corpo, aproximando-nos rapidamente, num susto que eu tive uma certa dificuldade em lidar. — Você sabe aonde nós chegaremos com esse tipo de abordagem, doutor. — Sussurrei a última palavra no seu ouvido. Minha voz encontrava-se rouca, e ele possuía total absorção do que significavam as minhas palavras.
afrouxou o aperto e seus dedos dedilharam o meu braço. Senti o corpo responder automaticamente e, quando dei por mim, minhas mãos já se localizavam percorrendo pelos machucados expostos no seu peitoral.
— Eu machuquei você? — A voz próxima ao meu ouvido não foi facilmente entendida. Neguei com a cabeça, sem perceber sobre o que ele verdadeiramente estava falando, e, logo após alguns segundos, cogitei a possibilidade dele se encontrar comentando sobre o puxão que deu no meu braço.
Não, eu não me incomodei.
nunca foi do tipo violento, eu poderia afirmar com toda a certeza. Nos quase sete meses em que nos deparamos com visitas quase que diárias, pude perceber e estudar suas reações. A ideia de que genuinamente não conhecemos ninguém não seria invalidada diante um rostinho bonito e um corpo espetacular, a decepção não seria exagerada ao ser encontrada, mas semana passada fora bastante interessante para um estudo mais aprofundado sobre as suas especiarias, e ele não fazia parte daqueles que se excediam.
Tão diferente de mim.
— Você... Digamos que foi muito além do que tinha imaginado que seria. — As palavras ditas pelos lábios convidativos dele influenciaram as minhas próximas ações. Sem cerimônia alguma, percorri minhas unhas pela sua nuca com uma delicadeza duvidosa, afundando-as em determinados lugares, observando seus olhos se fecharem e seus lábios entreabrirem. — Um demônio, alguém já te disse isso? — Ele sussurrou suas últimas palavras próximo demais. Seus lábios foram em direção à minha orelha e ele mordeu o lóbulo delicadamente, afastando qualquer dúvida que pairava pela minha mente ante suas reais intenções comigo naquele instante.
O desejo anda lado a lado ao proibido, e nós sabíamos disso. Não seria difícil para mim, uma mulher repleta por limitações, me deixar sucumbir ao único homem bonito que pairava ao meu redor. A ânsia para que ele me desejasse se mantinha acesa pelo meu corpo, e até mesmo depois de tudo o que se desenvolveu nas nossas consultas, a sensação só fazia aumentar, desconstruindo a minha narrativa que o transformava numa simples gozada e tchau.
Talvez eu estivesse fora de controle, mais uma vez.
— Doutor, essa aproximação pode ser perigosa, você não acha? — Sussurrei com os olhos fechados, ele ainda brincava com a minha orelha. Suas mãos foram em direção à minha cintura e ele a apertou, fazendo-me sorrir, sem controlar um gemido baixo e tímido. — Um homem centrado como você não deveria se deixar levar por uma mulher como eu...
— Uma mulher como você? — questionou, e eu senti suas mãos deslizarem, firmando-se nas minhas nádegas, apertando-as, levando-me a ficar na ponta dos pés, sentindo seu membro roçar na minha intimidade com um certo entusiasmo. — O que você teria de diferente das outras?
Ele continuou a brincadeira, percorrendo suas mãos de um lado a outro, ora apertando-as, logo em seguida puxando mais para si. Eu já não conseguia conter a necessidade que se mantinha dentro de mim por abrir as pernas e jogá-lo com fúria sentado numa poltrona, somente para que eu cavalgasse sem pudor algum, mas, antes de realizar meu desejo, afastei-me bruscamente do seu corpo, virando de costas para ele ao caminhar de um lado a outro com um sorriso preso nos lábios.
— Além de estar respondendo em liberdade pela morte do meu marido? Não sei o que eu tenho de tão diferente das outras mulheres. — Dei de ombros, divertida, encostando o corpo na mesa dele, cruzando os braços — O que te fez quebrar a conduta e o juramento perante todos os seus professores e a sua tão amada universidade, doutor?
— Eu não... — abaixou a cabeça. Seu semblante? Desesperado. Nas suas vestes? A certeza de um homem que não conseguia manter-se em completa compostura em frente a uma mulher, e, mordendo o lábio inferior, controlei a necessidade em jogá-lo mais uma vez no chão e ir para cima. Ele travava uma batalha entre o bem e o mal. Eu me encontrava com chifres de um demônio, tal qual sua descrição anterior, e ele queria deixar de lado as limitações de um homem repleto por princípios para jogar-se para uma mulher que não traria nada além de um bom sexo para ele e, certamente, muitos problemas.
— Quando nos conhecemos, você afirmou que nunca havia acompanhado uma paciente que tivesse alguns conhecidos em comum. Você explicou com o jaleco sobre o corpo e o seu nome escrito em letra cursiva no bolso direito que aceitar trabalhar comigo fugia completamente de tudo aquilo que você já experimentou na vida, e não temos ninguém em comum. Qual seria o problema?
negou com a cabeça, depositando suas mãos nos bolsos antes de caminhar a passos despreocupados até a mim. Prendi a respiração, e o nervosismo voltou a incomodar. Eu costumava me definir como uma mulher segura de si, quando medicada, e extremamente racional. Nunca habituei me deixar abalar diante a homens que se mostravam tão difíceis de serem estudados quanto o , mas, de alguma maneira, ele aparecia transparente e ao mesmo tempo, alguém que eu não conseguia entender, por maior que fosse a certeza das suas possíveis reações.
Ele cessou seus movimentos, encarando-me com uma sobrancelha erguida. A camisa aberta e o peitoral definido, prestes a me deixar com as pernas bambas e sem força alguma. Virei o rosto para o lado, encerrando o nosso contato e tentando não sucumbir tão facilmente às suas investidas, até o instante em que ele tocou o meu queixo, trazendo meu olhar para os seus lábios, ansiando por mordê-los.
— TPN é um grande problema, sabia? — A voz rouca do refletia nos membros do meu corpo, e eu senti instantaneamente a minha intimidade reagir positivamente à provocação. — Transtorno de personalidade narcisista.
— Eu sei o que significa.
Fechei os olhos. se aproximou ainda mais, suas mãos se voltaram para os meus ombros e ele começou a afastar as alças da blusa em viscose que eu usava. Minha respiração voltou a acelerar e, por impulso, inclinei o pescoço para trás, deixando-me sorrir ao sentir os lábios dele se deliciarem com ele.
— Você sabe que eu tenho um belo diagnóstico que pode acabar com a sua vida, não sabe? — As palavras dele ressoaram como uma espécie de droga, e eu não tive segundos para calcular o seu significado até puxá-lo para mais perto de mim, percorrendo minhas unhas pelo seu pescoço com uma força desnecessária, punindo-o, mantendo o controle das minhas ações intactas, ao menos na minha mente ressoava tudo sob controle.
Neguei com a cabeça, inclinando-a para frente no intuito de morder o seu pescoço, voltando a escutar mais um gemido que ecoava no ambiente. Meu corpo em ebulição se chocou com o dele, e eu logo me pressionei até que nossos olhos se mantivessem na altura. me encarava, submerso naquelas águas turvas, e eu não tive dificuldade em encostar as nossas testas, arrepiando-me por completo.
— Seria muito bom que você fosse capaz de arruinar a minha vida. Eu já não me importo tanto, mas você não consegue, doutor.
— Por que você não se importa, ? — percorreu os dedos pelos meus braços, abaixando as alças finas da minha blusa por completo, e eu senti a intimidade pulsar pela sua atitude. Remexi o corpo e observei o sorriso sacana brotar dos seus lábios. Ele percorreu o queixo pelo meu pescoço, e eu mordi com força a língua para não expor um gemido tipicamente meu. Alto, sem pudor e extremamente descontrolado. — A vida não acabou, assassina.
Num sorriso divertido, não consegui controlar a necessidade de segurá-lo pelo pescoço e puxá-lo para mim. Nossos lábios chocaram-se, mas, antes que eu pudesse reagir ou aprofundar o beijo, o qual eu ansiava desde o primeiro instante, ele afastou-se, me encarando seriamente.
— O que foi?
balançou a cabeça de um lado para o outro em negativa, e eu ergui uma sobrancelha, desentendida. Afastei meus braços do seu corpo e, roçando-me para provocá-lo, caminhei para a sua lateral, vendo-o encostar o tronco na mesa, cruzando os braços.
— Somente um homem sem nenhum tipo de limite transaria com você sem questionamentos e lutas internas, .
— Isso é cansativo e entediante. Nem sempre existe a paciência para esse tipo de coisa. — Respondi, revirando os olhos ao voltar para a poltrona em que ele encontrava-se sentado anteriormente. — Você lembra quando você pediu para que eu fizesse o que se passava pela minha mente — Gargalhei, sem conseguir me segurar. — Nunca vou superar o desespero de “, desce essa saia, eu sou seu médico”. — Cruzei as pernas, dedilhando a minha coxa ao encarar a sua pele descoberta pelos botões abertos. — Você, no final das contas, se tornou... meu. Bons dias, aqueles.
— O paciente com TPN costuma acreditar em verdades inexistentes. Cultivando relações amorosas as quais ela sequer teve em algum momento. — Ele deu de ombros. — Você se caracterizar como um bom sexo não te qualifica como minha dona, da mesma maneira que eu não sou o seu dono.
— Aí é que você se engana. — Respondi com a voz baixa para escutar uma gargalhada sonora, sentindo o estômago embrulhar, fazendo-me baixar os olhos até os meus pés para talvez cogitar alguma frase de efeito que se qualificasse naquele instante, pontos os quais eu sabia que não aconteceriam.
Mediante os seus olhos que faiscavam, entreabri minhas pernas ao percorrer meus dedos pelo tecido da calça. desfez o sorriso que se mantinha soberano e, quando eu subi um pouco minhas mãos até o botão da calça, não tive a certeza do que vi, mas poderia fantasiar o semblante assustado que se desenvolveu em pânico pelo o que eu poderia fazer mais uma vez.
. — Sua voz ríspida ressoou como música. Uma orquestra repleta por notas de extrema fascinação e pânico. Melodias recheadas por acordes impactantes e destruidores. Sistemáticas de um filme em preto e branco, mudo, prestes a aniquilar qualquer perspectiva de autoridade. — Não faz isso.
— Acho que o meu transtorno se encontra sem limites no momento, sabia? — Perguntei, abaixando o zíper. Concentrada no barulho feito, percorri a minha mão pela calça, percebendo a umidade que transcendeu todo o tecido até se tornar presente nos meus dedos. Diante um sorriso sacana, ergui meus olhos para encará-lo, alçando meus dedos até os lábios para chupá-los com tamanha desenvoltura. — O que uma mulher como eu tem a oferecer a um homem como você além de sexo, não?
... — sussurrou, o mais baixo que ele pôde. Quase deixei de escutar sua voz, não fosse pela percepção aguçada que se fazia presente e o silêncio absoluto no qual nos mantínhamos presos dentro daquela sala.
Um ambiente com poucos móveis, discreto, impessoal e extremamente frio, tal qual Doutor .
— Você aceitou o tratamento para estudar a minha mente, buscar por uma personalidade inquietante, uma mulher sem empatia. Eu seria o seu caso de prestígio, você se qualificaria entre o hall de psiquiatras bem estruturados e recomendados. Tudo pela mulher assassina. — Com o zíper ainda aberto, ergui o corpo e me pus em pé. Adentrei minha mão por dentro da calcinha e percorri meus dedos pela intimidade molhada, assegurando-me de todos os motivos pelos quais eu não poderia cogitar recuar. — Só existia um único detalhe no meio de tudo isso.
— E o que seria?
— Você.
Não demorou muito tempo até que o caminhasse até o meu corpo, puxando-me pela nuca, chocando nossos lábios com bastante fúria. Minhas pernas fraquejaram, e ele me puxou ainda mais, apertando minhas nádegas ao esfregar-se junto a mim. Eu senti meu corpo responder. Um tremor percorreu a minha intimidade e, tão diferente do que eu costumava sentir diante a estímulos, mais uma leva de excitação tomou conta de mim. Entreabri os lábios, fechando meus olhos, tal qual ele se manteve fazendo.
Não existia pudor entre nós dois, tampouco uma sensação de que aquela ação fosse incorreta. Enquanto ele me beijava intensamente, explorando a minha boca com a língua como se aquela ação nunca tivesse sido feita anteriormente, a minha mente se mantinha a 220 por hora, calculando seus próximos passos, desejando que tudo não tivesse fim.
Como eu aguardei por aquele instante.
mordeu meu lábio com uma certa sensualidade, e eu me deixei gemer baixinho. Ele paralisou todos os movimentos, encarando-me com bastante luxúria presa aos olhos. Suas mãos ágeis retiraram de uma vez a blusa do meu corpo e, percorrendo seus dedos, percebendo o arrepio que se fizera presente, ele inclinou os lábios para frente, mordendo a pele desnuda ao lado do sutiã.
— Não sabia que gemer era um atributo seu. — Ele sussurrou com a voz rouca, e eu revirei os olhos, puxando-o de volta para mim, voltando a pressionar o meu corpo junto ao dele e percebendo o barulho da risada sexy que ele deixava à mostra somente para me enlouquecer ainda mais.
Caso fosse possível.
— Você parece uma mulherzinha falando esse tipo de coisa, sabia? — Revirei os olhos, sabendo o nível da provocação exposta. Temendo sua reação, me inclinei para trás, deixando que ele tivesse uma imagem perfeita do meu colo. Não demorou muito tempo até que ele se mantivesse preso ali, negando com a cabeça, antes de voltar a me beijar.
Eis um segredo o qual eu não costumava afirmar nem para mim mesma. Beijos ressoavam como portas de entrada do meu corpo. Homens com beijos calmos e, ao mesmo tempo, intensos me deixavam completamente disponível para que eles desvendassem a minha alma e, assim, descobrir cada parte do meu corpo e mente. havia sido o pior de todos eles. A maneira com que a sua língua não pedia passagem, mas não se apressava, o saborear de cada pequeno segundo. Os toques das suas mãos envolvendo o meu corpo, reconhecendo território, percebendo que cada tecido pertencia a ele sem que fosse necessário esforço aparente.
A pressa que se fazia presente ressoava como um estímulo e uma batalha a ser vencida. Ele cessou o beijo, percorrendo seus lábios por toda a extensão do meu pescoço, mantendo-se preso ao meu colo como se fosse a primeira vez. Escutei seus passos para trás, ficando confusa diante o que havia acontecido. Quando eu finalmente abri os olhos, percebendo a distância a qual ele deixava presente dos seus lábios ao meu corpo, deparei-me com uma imagem que poucas vezes puderam me chocar.
A fome que eu conseguia perceber no seu semblante era avassaladora. Ele estudava o meu peito arfar naqueles instantes ofegantes e, sem desviar-se deles, , cambaleou com passos trôpegos até a poltrona, sentando-me à sua frente, antes de ajoelhar-se na altura do meu corpo e voltar a encarar os meus seios, ainda pouco cobertos.
A lingerie preta havia sido propositalmente usada naquele dia, conversas ao pé do ouvido haviam sido pontos cruciais em cada linha de sensualidade construída naquela ocasião e, diante os inúmeros desejos que transbordavam dos olhos do , cada novo detalhe ressoava como provocante, deliberando-o a necessitar por mais.
Percebendo a exposição sem maiores precedentes, percorri meus dedos pela alça do sutiã, descendo-o pelos meus ombros. A respiração ofegante dele deixava-me um pouco atordoada e, ao encarar seu peitoral, tive um pouco de lerdeza nas minhas atitudes, focalizando em tudo o que encontrava-se à minha frente, necessitando deixar a provocação de lado.
Fechei meus olhos para melhor concentração e desci a outra alça do sutiã. Na imagem que se fazia presente diante aos meus olhos, ele mantinha-se preso na imensidão que se mostrava no que ele via. não tocava o meu corpo, minhas pernas estavam abertas e ele localizava-se ao meio delas. Sua altura se mostrava ainda mais presente em se tratando da necessidade em que ele transparecia por liderança, mas eu não conseguia delimitar até onde ia a minha submissão e o seu autoritarismo. Levei minhas mãos até o fecho do sutiã e o soltei. O barulho atingiu em cheio a minha concentração e, ao abrir os olhos, me deparei com os dele, presos nos meus seios soltos, prontos para a sua atuação.
— Precisa de outro estímulo? — Sussurrei com a voz rouca, e ele negou com a cabeça, deixando-se sorrir. Num movimento brusco, jogou o meu sutiã ao chão. Prendi a respiração, aguardando o momento em que ele abocanharia os meus seios, algo que não aconteceu imediatamente.
Ergui uma sobrancelha ao vê-lo aproximar-se lentamente. Ele colocou a língua para fora e iniciou lambidas pelas laterais dos meus seios. Um tremor me atingiu de modo avassalador e eu me remexi, buscando sanar a necessidade em ir mais rápido pelo o que ele se mostrava tão concentrado em fazer. Com pequenas mordidas, ele iniciou uma trilha até os meus seios, mantendo-se preso no mamilo. mordiscou, e eu gemi. As palavras não eram ditas, eu não precisava delas. A cada nova investida dos seus lábios sobre a minha pele, uma nova ebulição se apresentava e, cada vez mais, minha intimidade ia molhando-se somente para ele.
— Eu gosto da falta de controle em que você se coloca — Ele sorriu, e eu encarei seus olhos seriamente. — É excitante perceber que a cada toque você fica mais... — Suas palavras foram ditas enquanto ele direcionava a mão pela minha cintura, descendo-a pouco a pouco, chegando à minha intimidade para roçar seus dedos ao perceber a umidade exposta. — Poucas mulheres são como você, .
— Como... como eu?
— Sim. — ergueu as mãos e segurou o cós da calça, abaixando-a com força, levando-me a dar um gritinho diante o susto pela sua ação repentina. — A necessidade em manter-se pura envolve as mulheres, e elas não conseguem... expor o que sentem no sexo. — Ele afirmou, puxando a calça pelas minhas pernas, deixando-as nuas e levantando-as na altura dos seus ombros, mantendo-as ali. — Você é boa demais, .
Ele afirmou com a voz rouca, e eu me encontrei perdida, com as pernas sobre os seus ombros e suas mãos dedilhando toda a extensão das minhas coxas, levando-o a manter-se concentrado na lingerie preta, que se localizava próxima demais aos seus lábios.
Os beijos intercalados com lambidas na parte interna das minhas coxas foi uma cena a qual eu poderia desligar a mente e me deixar ali pelo tempo no qual ele desejasse. Mordi o lábio com uma força exagerada para que ele não tivesse a certeza do meu descontrole ao gemer a cada nova investida.
Eu conseguia sentir a maciez do seu toque. Ele interpolava mordidas nos seios com sua língua percorrendo o meu mamilo, sugando-os com um aprimoramento que foi impossível não gemer.
A minha entrega se dava a ele tal qual o nosso primeiro momento, mas, tão diferente daquela primeira vez, ele não buscava penetrar-me com sagacidade, tampouco descontrole. me envolvia com maestria e, perante as suas mãos, que acariciavam minhas coxas sobre o seu ombro, toquei o seu queixo somente para que ele me encarasse por alguns instantes.
Sua respiração ofegante me mostrou uma face dele que eu não havia entendido até ali, não estávamos provocando-nos para um sexo casual e repleto de luxúria, devorávamos com a exatidão de amantes que, diante a sensualidade, travavam uma luta por controle.
— Eu queria que você me fodesse. — Sussurrei com uma voz trêmula. Recebi um sorriso sorrateiro e, logo depois, seu rosto afundou-se no meio das minhas pernas, e eu não consegui mais respirar. mordiscou a lateral da minha virilha uma vez, e eu movimentei os quadris, sem conseguir manter-me quieta. Logo em seguida, ele repetiu o gesto com uma lambida, suas mãos apertavam as laterais externas das minhas coxas, e eu fechei os olhos. Inclinei o corpo para frente e senti-me tal qual uma serpente, remexendo-me ao sentir as contrações vaginais que determinavam a exatidão do sucesso dos seus movimentos. — Para com isso, . Me fode, porra.
A risada que ecoou pelo consultório indicou que o martírio ainda se arrastaria por algum tempo e, quando ele finalmente foi subindo os beijos e mordidas até a minha intimidade, voltei a gemer um pouco mais alto diante à brincadeira que se dava, paralisando logo em seguida, ocasionando o deslumbramento e ódio ao perceber que eu não queria esperar por mais tempo até que ele me penetrasse.
Neguei com a cabeça e levei a mão até seus cabelos. Embrenhei-a por entre eles e trouxe-o para junto a mim. Minhas pernas foram ao chão e ele foi puxado, colando seu peitoral aos meus seios, tão desnudos quanto os dele, evidenciando a nossa respiração ofegante e o cheiro feminino que se fazia presente nos seus lábios.
— O que foi, não consegue segurar mais? — Ele questionou com um sorriso, e eu abri os olhos, fechando-os repetidas vezes, buscando por uma resolução rápida dos meus conflitos, que me colocaram numa posição submissa àquele homem. — Fala, , tá difícil? — Deixando-se roçar o nariz na lateral do meu pescoço, senti seus beijos tranquilos se intercalarem com as mordidas. Aquelas repetições não influenciavam positivamente na minha concentração e, ao negar com a cabeça, escutei uma risada baixa próxima ao ouvido, voltando a olhá-lo, perdida. — Eu queria chupar você, sabia? Deixa, vai.
Diante de um tom de voz suplicante, neguei com a cabeça, meu coração disparou e eu pisquei deliberadamente. havia caminhado até uma porta, que talvez nunca tenha sido aberta, e, por suas investidas, eu sabia que aquele seria o meu fim.
Sem afirmar uma palavra que fosse, empurrei o seu corpo para trás, pegando-o de surpresa ao cambalear desnorteado. Antes que ele pudesse retrucar, ergui meu tronco, retirando a calcinha e encarando seu rosto. Logo depois, fiz o mesmo com a sua boxer, agachando à sua frente, percorrendo os lábios pelo seu membro até que ele fechasse os olhos em deleite. Abocanhei o máximo que eu pude, sentindo um arrepio interromper os meus pensamentos, mantendo-me num torpor causado somente por ter, entre os meus lábios, quase que o seu membro por completo.
E, mais uma vez, tentei atingir o controle das nossas reações. Cessei o movimento, erguendo-me do chão, vendo-o gemer alto o suficiente para acelerar meu coração mais uma vez e beijando os seus lábios delicadamente. Novamente senti sua língua adentrar a minha boca. negou com a cabeça no meio do beijo, e suas mãos foram em direção ao meu cabelo. Ele os puxou com força, e eu arregalei os olhos quando ele entreabriu os dele.
Ainda em silêncio, tive o meu corpo suspenso pelas pernas e fui jogada ao sofá. Um sorriso foi exposto no meu rosto e, quando eu entreabri-me para que ele tivesse uma visão privilegiada do que ele tanto almejava, não tive tempo de falar nenhuma palavra. tateou a calça, buscando uma camisinha e colocando no seu membro antes de vir para cima de mim, penetrando-me de uma única vez.
Gemi o mais alto que pude, interrompendo o grito ao morder o seu pescoço com uma fúria que atingia o limite. Eu não queria expor tanto que sentia, mas os seus movimentos ao penetrar-me não consistiam em normalidades as quais eu conseguia lidar facilmente.
percorreu seus dedos pelas minhas pernas, erguendo-as na altura dos seus ombros, e eu sorri, mantendo-me livre para morder meu lábio inferior ao senti-lo dentro de mim, juntando duas peças que necessitavam uma da outra.
O encaixe referenciava a certeza de que a largura e o cumprimento do seu membro carregavam a perfeição que o meu corpo desejava sentir. A lubrificação natural, que havia sido proporcionada com maestria pelas suas preliminares, voltou a minha memória para a nossa primeira transa e a sensação de tê-lo dentro de mim sem a camisinha para atrapalhar.
Neguei com a cabeça ao vê-lo com os olhos abertos ao manter-se fixo em mim. Em câmera lenta, percebi o peitoral dele ir e vir, tal qual suas mãos e seu corpo. As investidas arrepiavam a cada nova estocada, e minhas pernas perdiam a força, assim como a minha mente. apertava-me ao segurar-me pelo calcanhar, e eu tive a sensação de que aquilo poderia durar por uma eternidade.
Fechei meus olhos com força e percebi que minhas amarras iam pouco a pouco sendo tiradas. Os gemidos já não ressoavam como uma luta interna e, junto aos dele, eu conseguia escutar as repetições não como barulhos os quais eu não suportava, mas como pequenos sons que me deixavam ainda mais molhada do que eu já me encontrava ali.
O corpo avisou quando eu iria gozar e eu não queria. Não naquele instante.
— Minha voz ressoou trêmula, e ele paralisou os movimentos imediatamente. Suspirei, ainda mais nervosa, e, sem falar alguma coisa, senti quando ele se afastou, saindo de dentro de mim, quase que entendendo que eu queria prolongar aquilo tão quanto ele. Talvez ele também desejasse silenciosamente.
afastou-se do sofá e sentou-se na poltrona que ele se encontrava antes. Seu corpo chamava pelo meu e, quando ele percorreu as mãos pelo membro, eu soube que aquilo era um convite, algo que eu não recusaria.
— Fecha os olhos — Sussurrei, erguendo-me do lugar, percorrendo as mãos pelo corpo e sentindo-me completamente quente, aguardando por ele, que fechou os olhos, ainda com as mãos brincando com seu membro. Aquela imagem poderia ficar emoldurada na parede do meu quarto e ela certamente se encontraria presa num quadro na minha mente. Aquele homem espetacular se perdia com um sorriso sacana nos lábios, os olhos fechados e as mãos masturbando-se somente para me provocar.
O seu pescoço foi inclinado um pouco para trás, e eu senti meus lábios repletos por saliva, meus olhos se fixaram nas pequenas veias saltadas pela movimentação e engoli em seco. Não demorei muito tempo analisando tal situação e encurtei nossa distância até me sentar no seu colo com uma perna de cada lado. paralisou seus movimentos, percorrendo suas mãos pelas minhas pernas, cessando nas nádegas, apertando-as.
Quando voltei a senti-lo dentro de mim, percebi espasmos excitantes afundarem o meu corpo naquela sistemática que somente nós dois possuíamos. Levei minhas mãos até o seu pescoço e, mais uma vez, a saliva se tornou presente. Aos poucos, fui apertando-o, observando o instante em que o abriu os olhos, que brilhavam ao me encarar.
Ele fixou os olhos aos meus lábios e, inclinando o rosto para frente, mordiscou forte o suficiente para que eu não segurasse a necessidade em aumentar as quicadas. Subi e desci algumas vezes, mantive meus quadris num rebolado intenso e sorri a cada nova investida dele nos meus lábios. O gemido que interrompia o roçar dos nossos corpos influenciava diretamente na minha libido e, a cada nova investida dele, eu reagia cavalgando com uma velocidade ainda maior.
Inclinei meu tronco para trás, fechando os olhos. Minhas mãos apertaram ainda mais o seu pescoço, a sensação de plenitude sentida foi algo que eu nunca havia vivido anteriormente.
Os gemidos se mantinham cada vez mais altos e o barulho das tapas que ele direcionava às nádegas se tornaram tudo o que eu mais precisava escutar naquele momento. A imagem que eu conseguia ver na imaginação referenciava duas pessoas que se encontraram apesar das adversidades. A junção de duas vertentes que se baseavam na complexidade. O cru evidenciado em gestos de agressividade, a plenitude diante as batalhas vividas.
Por um instante, movimentou seus dedos próximo ao meu ânus. Neguei com a cabeça instantaneamente. Mesmo que o meu corpo gritasse para que ele desse mais um passo no que pretendia, eu estava concentrada em outro ponto, até que senti a mão do tocar o meu braço, apertando-me no pulso, talvez referenciando uma construção a qual eu sequer houvesse me dado conta.
Abri meus olhos, cessando as investidas, e ele me encarou. Minha respiração ofegante aumentou o fluxo sanguíneo, e eu retirei rapidamente as mãos do seu pescoço. À minha frente, a pele alva de encontrava-se completamente vermelha, e seus olhos, arregalados. A minha reação, já aguardada, foi tentar afastar-me, mas ele me impossibilitou. Seus lábios buscaram pelo meu, e eu me deixei ser beijada. Outro tremor invadiu meu corpo e ele segurou minhas mãos, que haviam se soltado dele, puxando-as para os seus cabelos.
Aos poucos, fui deixando-me levar. orquestrou nosso beijo com uma delicadeza que eu não soube explicar, e, quando dei por mim, nossos corpos encontravam-se novamente grudados, e eu não queria nada além de sentir o toque da sua pele sobre a minha. Meus olhos encheram-se de lágrimas e, quando ele percorreu as mãos pelos meus braços, dedilhando meu corpo até chegar aos meus quadris para direcionar minhas investidas, que haviam parado, percebi o quanto aquela aproximação havia saído do controle.
Muito mais do que a batalha a qual eu havia travado comigo mesma.
— Não se culpe, não se culpe, minha assassina linda. — Ele sussurrou por entre meus lábios, intercalando o nosso beijo com suas palavras. Voltei a sentir-me tremular diante a ele e, quando cogitei retrucar seu apelido, deixei de lado pelo fim daquela frase, que havia sido iniciada muito antes do som da sua voz. — Em alguns casos, a paixão se encontra com um semelhante. Em outros instantes, ela se perde no abismo representado. Eu sou o seu abismo, . Você é o meu.
Eu me neguei a acreditar. Voltei a beijá-lo com fúria, as lágrimas caíam pelos meus olhos, meus movimentos se tornaram rápidos e sôfregos. Eu gemi, sussurrei o seu nome incontáveis vezes, tentei não pensar no que sua afirmação representava, busquei por auxílio sexual perante um coração que batia descompassado. Ele já não batia nas minhas nádegas, minhas mãos não apertavam o seu pescoço para que lhe faltasse o ar. Nosso beijo ainda se mantinha presente, e eu buscava por delimitar o sexo naquele ato, uma construção falida desde o seu início.
ergueu o corpo, segurando as minhas pernas. Enquanto eu cavalgava acima do seu membro, levando-o a adentrar e sair repetidas vezes, proporcionando a nós dois um prazer imediato, ele cambaleava para o lado, jogando-se no sofá para que eu não tivesse nenhuma limitação ou machucasse os joelhos ao roçar nos braços da poltrona.
Acelerei, tal qual a batida do meu coração ou o tremular do meu corpo. Busquei por câimbras, que certamente se mostrariam presentes. Exigi que a mente se fizesse fria e sem nenhum resquício de empatia. Necessitei por uma esperança diante a alguém completamente novo fincando raízes dentro de mim, sentimentos estranhos e diferentes os quais eu sequer possuía o conhecimento.
Suas mãos intercalavam por partes do meu corpo, e eu queria gozar o mais depressa possível. Sentia seu membro pulsar, ele encontrava-se prestes ao término daquele ato e, buscando esconder de mim mesma aquele clímax, o qual eu somente tive o conhecimento com um homem uma única vez, eu também estava prestes a pertencer a ele.
gemeu alto. Cessando nosso beijo, segurando-me pelo pescoço com uma mão, apertando a minha nádega direita ao gozar diante dos meus olhos. Ele me encarou, seus olhos afirmavam muito mais do que eu estava pronta para escutar e eu sabia, de algum jeito, que ele havia sentido que não havia gozado sozinho.
Escondi meu rosto na curva do seu pescoço, e ele beijou a minha testa. Nossos corpos suados ofegavam, nossos corações acelerados silenciavam nossas palavras e, sem nenhum aviso prévio, ele jogou-se para o lado, arrastando os ombros pelo sofá ao deitar-se, soltando-me o pescoço, segurando-me pela cintura ao me acomodar junto ao seu corpo.
Não sei por quanto tempo ficamos paralisados, apenas escutando nosso corpo voltar à normalidade diante daquela exibição de sexo cru. Não foi difícil acostumar-me com as batidas do seu coração junto ao meu ouvido. Fechei os olhos e tentei não sorrir, mas foi impossível, assim como foi impraticável perceber o que tudo aquilo representava.
— E aí? — puxou ainda mais o meu corpo para o dele, mantendo-me por cima das suas pernas, ainda entregue. Meus olhos mantinham-se fechados e o barulho da sua respiração ressoava como uma melodia calma e tranquilizante a ser apreciada. — Tão bom quanto da primeira vez, assassina?
Seus dedos dedilhavam minhas costas e, depois de um suspiro cansado, busquei levantar-me aos poucos, porém, antes que eu conseguisse efetuar o movimento, ele puxou-me pelo braço, voltando com o meu rosto até o seu peitoral. Por cima do meu corpo, a camisa de botão branca guardava pedaços expostos que eu não sentia pudor algum em deixar à mostra, tão diferente dele.
— Você acha bonitinho me chamar assim? Às vezes não é nada sexy. — Revirei os olhos aos sorrisos, vendo-o acompanhar a minha risada ao dar de ombros, despreocupado. — Eu tô falando sério. Nem sempre uma brincadeira ressoa como engraçada.
— Não quis que você se sentisse mal, . — Senti seus dedos dedilharem mechas do meu cabelo e fechei os olhos, entorpecida. — Desculpa se pareceu inconveniente e perturbador.
Eu assenti. A capa de mulher segura de si foi deixada de lado por alguns segundos e um arrepio percorreu a minha nuca. A sensação não resultava em algo deliberadamente prazeroso, tampouco constituía numa sistemática reflexiva por suas palavras de carinho. Eu havia corrido para longe.
Meus pés descalços e o corpo banhado em sangue ressoava como uma espécie de malabarismo sacana o qual as minhas memórias gostavam de expor. Sempre que instantes de pouca harmonia se faziam presente, logo, ao meu redor, tudo perdia a cor, e eu em seguida me encontrava diante de espectros de um passado que não havia ido embora e se mantinha à minha frente, assombrando-me e trazendo para perto uma que eu gostava de fingir que não existia, uma mulher que todos os dias lutava com uma outra parte que não possuía o desejo em assassinar alguém.
Neguei com a cabeça, mordendo o seu peitoral próximo ao mamilo, escutando o gemido fraco vindo dos seus lábios, levando-me a erguer a cabeça ao encará-lo com uma sobrancelha erguida.
— Quer mais, doutor? — O tom da minha voz condizia com a tranquilidade a qual eu me forçava a sentir.
A brincadeira com um apelido que as pessoas haviam se acostumado não ressoava como uma ameaça, também não me deixavam cabisbaixa ou amedrontada. Eu não costumava me importar, aliás, quase nada possuía o poder para tirar-me da normalidade do cotidiano, apenas alguns transtornos identificados quando criança, o que me fazia manter-me confusa diante a sensação de descontentamento mediante àquele apelido relativamente carinhoso e íntimo, o qual o psiquiatra, que poderia facilmente perder a licença, lançava ao se dirigir a mim.
Tal qual todos os meus estereótipos que necessitavam da sua aprovação.
Somente sua.
Gozar não era uma tarefa fácil, mas, diante a todas as suas investidas e concepções em prol das minhas necessidades, eu nunca admitiria, mas ele conseguia a proeza de me levar a um contentamento e êxtase extremamente aconchegante e tranquilizante.
Uma droga oriunda de alucinógenos que a pessoa que ingere se permite deixar levar por sensações de curta duração, mas intensa ao ponto de a mente manter-se absorta e livre de questionamentos e pontos que destroem sensações de alívio.
Voltei a me posicionar para que meus lábios se encontrassem próximos ao seu corpo e iniciei uma trilha de beijos, intercalando com lambidas e mordidas somente para vê-lo fechar os olhos e entreabrir os lábios. Satisfeito com o que havia comido, mas talvez expondo uma gula a qual eu não conseguia lidar.
— Eu tenho um paciente daqui a vinte minutos. — Escutei sua voz rouca e, no meio da minha provocação, ergui os olhos até os seus, percebendo que ele já não se mantinha tão absorto no que eu estava fazendo. — Melhor você ir embora, acho que nossa sessão acabou.
Talvez qualquer outra mulher no meu lugar se manteria na posição anterior, buscaria uma grande provocação até levá-lo ao descontrole, mas, comigo, as coisas não se davam daquela maneira.
Ergui o tronco e senti o seu olhar inspecionando cada detalhe do meu corpo nu. Não me demorei por muito tempo naquela atitude. Joguei a camisa no seu peitoral, e ele arrastou o corpo pela poltrona, sentando-se ao segurar a camisa sobre o peitoral extremamente machucado, repleto por arranhões e manchas roxas as quais eu tinha total domínio. Com os olhos, procurei as peças de roupa que se mantinham jogadas pelo chão e fui segurando-as de uma por uma, até que comecei a vestir-me.
Ele me olhava, ainda paralisado no tempo, e eu não tive nenhum interesse do que verdadeiramente se passava em sua mente. Coloquei a calcinha rápido, tal como o sutiã, e logo depois subi a calça pelo corpo com uma certa dificuldade nos quadris. As manchas vermelhas não se encontravam somente no seu corpo, eu tinha o pescoço vermelho e algumas manchas que resumiam aqueles minutos de puro deleite no qual eu ainda possuía vivos em cada partícula do meu corpo, assim como ele.
Depois de completamente vestida, percorri os dedos pelos meus cabelos e o olhei. ainda continuava sentado na poltrona estudando as minhas reações e eu não soube explicar o que pairava pela minha mente, além de uma série de novas sensações as quais eu não tinha sentido anteriormente por ninguém.
— Tenha um bom dia de trabalho, doutor.
Caminhei até o seu corpo, inclinando-me para frente, assustando-o e levando-o a arregalar os olhos. Não consegui conter um sorriso ao negar com a cabeça, puxando a minha bolsa, que se mantinha no encosto ao seu lado. Voltando a realidade, percebi quando ele piscou algumas vezes ao desviar os olhos do meu rosto e se voltar para o que eu realmente havia ido fazer ali.
Não havia sido por ele, afinal.
— Estou indo embora, doutor. — Respondi, seca. Meu coração encontrava-se descompassado, e eu não conseguia definir a confusão que se mantinha o meu corpo ainda em ebulição. A tranquilidade pós-sexo foi embora no instante em que processei suas palavras. Ou a palavra, para ser sincera comigo mesma.
— Não quis soar rude com você.
Eu me encontrava de costas para ele. Os passos dados anteriormente em direção à porta de madeira branca do consultório cessaram, e eu tive alguns segundos para pensar na resposta que eu daria. se mantinha ainda sentado com a camisa branca sobre o corpo completamente nu. Eu não conseguia entender e tampouco tentaria, por ora.
A necessidade por voltar e apertar-lhe o pescoço ou talvez beijá-lo se mantinha presente, e eu engoli em seco ao negar com a cabeça, fechando meus olhos.
— Você conseguiu o que queria, não é má educação falar a verdade.
— Nem sempre a minha verdade é a mesma que a sua, .
Eu me deixei sorrir. Aquela frase fez parte do nosso primeiro encontro. Num belo dia, tive a sorte de receber de um pai corrupto uma educação privilegiada. Vivendo numa cidade pequena e miserável, onde um pedaço de filet à mesa diariamente representava muito mais do que mais de 70% da população poderia comprar, eu fui apresentada a um psiquiatra de fora.
Um rapaz de ombros largos, sorriso simpático e bastante sério. Aluno laureado até a sua formação, um tesouro em forma de homem, repleto por testosterona e com fortes indícios de corrupção embrenhados por entre as suas veias.
não me julgou, tampouco acreditou que eu deveria deixá-lo para outra hora. Sempre solícito diante às crises, esteve presente nas piores noites ou nos dias ensolarados. Apesar do número da sua CRM, pude perceber o quanto aquela aproximação ia além de um estudo clínico. Suas brincadeiras em horas de lazer referenciavam sempre o fascínio em psicopatas americanos e suas histórias assustadoras. Um interesse maior do que o meu, alguém cujo diagnóstico sambava por entre aquela realidade.
Eu costumava acreditar nos seus embasamentos diariamente. No início, ele estudou a minha mente através de exames laboratoriais, constatando pequenos resquícios de transtornos mentais.
Momentos de extrema dificuldade, os quais eu tive que desdobrar-me para deixar que ele se mantivesse alheio.
O hospital psiquiátrico que eu deveria ser mandada não ressoava como um spa. Por maior que fosse o meu desejo, eu também não poderia fugir.
se tornara um objeto de diversão. Seus olhos sempre buscando humanidade, sucumbindo a sorrisos jogados ao vento, sentindo uma grandiosidade de sentimentos ao me ver a cada nova consulta. Um homem digno diante de uma mulher... manipuladora.
Suspirei, voltando a caminhar. Eu sabia que ele aguardava minhas palavras de acalento, talvez lágrimas por um desapontamento da minha parte, e a verdade ressoava como um vulcão em ebulição. Eu precisava correr dali o mais rápido que fosse possível.
— Você não pode buscar pelo meu olhar a cada nova investida, doutor. Meus olhos não possuem brilho, meu rosto não tem cor, minhas mãos estão cheias de sangue e eu não consigo sentir nada.
Aquela frase me remetia a um passado não muito distante e, logo em seguida, a risada dele mais uma vez ecoou aquele consultório repleto por cortinas brancas, num piso gélido de mármore e poeira por cada móvel antigo e usado. O contraste do prédio desfavorecia sua arquitetura moderna. Um cemitério para a grande tradicionalidade. Uma morte para todo o povo local.
costumava procurar resquícios a todo o tempo, obtendo resultado positivo em sua grande maioria, mantendo, nos próprios olhos, um brilho conhecido.
O de vitória masculina.
— Estamos num daqueles instantes nos quais você afirma um punhado de palavras sem nexo? Achando interessante se definir sem nenhuma empatia?
— O grande problema dos homens é que vocês costumam acreditar que somente vocês podem exercer papéis de crueldade na sociedade, vamos lá! Existe um corpinho nojento por aqui. — Voltei meus olhos para ele, que já se mantinha de pé e vestido. Juntei as sobrancelhas, buscando pelos sons feitos sob a influência dos seus movimentos, mas não consegui captar, dando de ombros ao virar-me completamente, cruzando os braços. — Estatísticas apontam que mulheres cresceram gradativamente no número de assassinatos. — Deixei um sorriso de lado brotar no meu rosto, e ele revirou os olhos.
— Graças a você. A assassina. — Num tom zombeteiro, atacava os botões na altura do peitoral enquanto eu somente me neguei a acreditar novamente no que o meu corpo sentia ao escutar mais uma vez aquela afirmação. — A contrariedade da sua personalidade voltou em cena?
Torcendo a alça da bolsa, eu ponderei. O seu pescoço, alvo com algumas veias expostas, me deixava com água na boca, tal qual os olhos, que se mantinham presos aos meus, diante de uma nova perspectiva implantada. Ele não gritaria, tampouco se deixaria expor sofrimento. fazia o tipo de que faria tudo para manter sua masculinidade intacta e, movimentando a cabeça de um lado para o outro, espremendo meus olhos para o analisar cruamente, o pulso acelerou.
Aquela não havia sido a primeira vez, muito menos a última. As provocações eternas sempre me levariam a questionar como seria manchar as cortinas de sangue, ou talvez... Somente talvez... Deixar tudo para lá e somente beijar seus lábios.
Neguei com a cabeça mais uma vez, tornando-me repetitiva e entediante. Voltei meus passos até a porta e, segurando a maçaneta, regressei a encará-lo. O homem dentro daquele consultório havia se transformado no meu alvo.
Cada pequeno detalhe que nele habitava referenciava tudo o que eu conseguia construir com empolgação. A excitação de tê-lo dentro de mim deixava-me angustiada por tentar controlar tudo o que eu sinto, ocasionando instantes desesperadores, somente por não me encontrar acostumada a... sentir.
— Vou explicar ao papai que preciso mudar de psiquiatra, talvez voltar ao hospital. Acho melhor assim. — Respondi, apertando o fecho da porta com uma certa urgência, mantendo-me em pé ao encarar seus olhos, deliberando bastante suor pelas minhas entranhas somente para não sucumbir à tentação. — Acho melhor. — Finalizei a minha sentença e observei a sua cabeça movimentar-se assentindo.
Sorri fraco ao suspirar, buscando algum vestígio que pudesse informar as sensações estranhas de que ele não queria aquilo, mas não houve nenhum tipo de questionamento.
. — sussurrou meu nome como num sopro, e eu fechei meus olhos fortemente. As lágrimas falsas não se mostraram presentes, mas o aperto no peito, que eu costumava achar graça nos outros, não foi embora de maneira alguma. — Você sentiu tanta necessidade assim?
Suas palavras ressoaram como uma navalha, cortando-me de pouco a pouco enquanto eu enxergava o sangue sendo jorrado num balde de alumínio parado ao chão. Neguei com a cabeça inicialmente, mas, logo em seguida, afirmei sem uma única palavra.
Nós dois sabíamos o que estava acontecendo. Ele havia entendido absolutamente tudo.
— A excitação tomando conta invadiu o meu corpo e, quando eu dei por mim, a imagem não pareceu tão assustadora, e eu desejei por tudo. Quis sentir como seria com você.
— Acho melhor você procurar ajuda de outro psiquiatra.
Eu assenti, respirando fundo, mas, antes que pudesse ir embora, cambaleei até o seu corpo, soltando-me da bolsa, jogando-me nos seus braços. Meus lábios famintos buscaram pelos dele e, quando o beijo se iniciou, voltei a sentir aquela necessidade por mais. apertou a minha cintura, e mais uma vez senti colado ao meu corpo seu membro pulsar. Aquele desejo que se misturava entre nós dois causaria algum colapso. O beijo não se prolongou por muito tempo. As carícias sem pudor somente foram elevadas a uma situação a qual já conhecíamos. Ele percorria seus dedos sobre as minhas vestes, intercalando dos meus seios até a minha intimidade, explorando, apertando, marcando território, como se ele nunca tivesse feito aquilo antes.
Como se fosse a primeira vez.
Afastei-me tão rápido quanto me aproximei, e ele se apresentava zonzo. Sorri fraco antes de percorrer o caminho até a porta, negando-me a enxergar o que quer que fosse até conseguir voltar a respirar com facilidade. Voltei-me uma última vez, encarando o seu rosto, suspirando ao fechar os olhos por um instante.
— Talvez, indo embora, eu tenha salvado a sua vida. Nunca saberemos.
Girando o corpo em direção à porta, atravessei-a e sorri, encarando as pessoas que se encontravam ali. Alguns olhares curiosos se mantiveram presentes sob o meu corpo até que eu desaparecesse pelo corredor. Eu já não me importava.
Eu havia virado as costas para ele, o que ocasionaria o caos.


Fim



Nota da autora: O QUE VOCÊS ACHARAM? Gente, tanto tempo que não escrevo uma cena restrita que nem sei se ficou boa? E AÍ? A história seria bem pequena, mas quando vi, arranjei um cronograma de uma long cheia de conflito mental. HAHAHAHAH Espero que vocês tenham gostado, certo? ME AVISEM QUALQUER COISA (L)



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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