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Última atualização: 15/06/2021

Capítulo Único


Alô?
— Olá. Quem é? — a voz feminina questionou, em dúvida.
Saul Goodman disse que pode me ajudar — prosseguiu o homem, sem responder à primeira pergunta. Ela respirou fundo.
— Depende do problema — afirmou.
Meu nome é Heisenberg — disse, após minutos em silêncio. A moça ficou surpresa, mas nem tanto. — Está aí?
— Estou.
Ótimo. Agora... preciso dos seus serviços.
— É mesmo, Sr. White? — ela devolveu, encostando-se no armário, sorrindo. — É, eu sei quem você é. Não fique surpreso, é parte do meu trabalho saber quem é que vai me contatar... ou quem precisa dos meus serviços. É apenas... precaução.
Válido — concordou. — E então? Posso contar com os seus serviços?
Mas ela não respondeu de imediato. Heisenberg, o pseudônimo de Walter White, é um homem altamente procurado. Dono do maior esquema de tráfico de metanfetamina da história dos Estados Unidos e, claro, dono de um imenso império acumulado ao longo dos anos, além dos inimigos. Bem, ela realmente fez o seu trabalho de casa. Saul Goodman é o cara que conhece um cara que conhece um cara. Neste caso, ele é o cara que conhece um cara que conhece .
— Do que precisa? — perguntou.
Me disseram que você tem contato com Skinny Pete e Badger.
— Talvez — prosseguiu.
Jesse Pinkman — Walter continuou e tudo o que a moça fez foi fechar os olhos, mordendo o lábio inferior.
— Boatos que se mudou para o Alasca — respondeu.
Não — o homem disse com certa hesitação. — Eu sei onde ele está, por isso preciso dos seus serviços.
— O que propõem, Sr. White? — ela questiona.
Preciso que me encontre na minha antiga casa. Presumo que saiba onde é, já que me conhece — disse. — Explicarei o plano.
— Bom, se você me contatou através de Saul Goodman, sabe que meus serviços custam...
Eu estou disposto a pagar — Walter diz.
— E alguém aqui falou em números? — ela perguntou, antes de desligar o telefone.
Já fazia um bom tempo desde a última vez em que ouvira o nome de Jesse Pinkman. Os dois haviam tomado rumos opostos desde o momento em que Jesse se tornou outra pessoa; talvez ele sequer se lembre do seu rosto, o que é algo bom. Vai facilitar o seu trabalho da melhor maneira possível. Sem comprometimento emocional; sem problemas. se perguntou várias vezes se deveria, de fato, aceitar o trabalho.

Três anos antes.
Albuquerque, Novo México.

— Qual é, Pete! Você tem que parar com essa merda, sério — exclamou, vendo-o preparar a droga.
— Só mais um teco, prometo — disse ele.
— Aham, sei — rolou os olhos, levantando. — Tem algo de comestível nessa casa ou vocês só se entopem de porcaria?
— Ah, sei lá — foi a vez de Badger responder. — Ei, yo, Skinny...
— Que foi? — perguntou o outro.
— Não era para o Jesse já ter chego? — indaga, preocupado.
— Daqui a pouco ele estará aqui, relaxa — deu de ombro.
Talvez Pete e Badger não soubessem, mas e Jesse tinham algo, mesmo que não fosse do conhecimento geral. Na verdade, ela estava começando a ficar de saco cheio de tudo. Ouviram o barulho do carro de longe e não foi necessário espiar a janela para saber que era Pinkman. Não deu outra; ele entrou na casa com sacolas de compras.
— Finalmente alguma coisa decente e comestível — ela reclamou, indo ajudá-lo com as compras.
— Eles só te deixaram com porcaria? Meu Deus! — Jesse exclamou, dando risada.
— Vou cozinhar alguma coisa que preste — murmurou, retirando algumas latas da sacola.
— Eu te ajudo — disse, dando um beijo rápido nela.
— Espera aí — Badger os encara. — Tá rolando o que eu penso que tá rolando? Vocês dois? Sério?
Mas nem Jesse ou responderam à pergunta.
— É sério mesmo que vocês dois vão ficar de joguinho? Dude, é tão óbvio... vocês disfarçam tão bem quanto a minha avó de palhaça — Pete exclamou.
— Acredito que não há nada para dizer — deu de ombro.
— Desiste, Pete — Badger riu. — É mais fácil um dos dois morrer a admitir o que está rolando.
— O que, exatamente, vocês dois querem que eu admita? Como a disse, não tem nada para admitir aqui — Jesse perguntou, ajudando a mulher a picar a cebola.
— Que vocês têm um lance — Pete provocou, dando um gole na cerveja.
— E por que teríamos? — devolveu.
— E por que não teriam? — Badger sorriu, fazendo high five com Pete.
— Só admitam, pelo amor de Deus — Pete continuou, rolando os olhos.
— Ok, beleza — Jesse concordou, para a alegria dos dois amigos. — Eu tenho uma queda na .
— Só isso? — Badger questionou, meio frustrado.
também tem uma queda no Jesse — ela riu, falando de si na terceira pessoa.
— E Jesse e estão tentando ver se dá certo — Jesse continuou, voltando sua atenção à comida que estava preparando.
Badger e Pete se entreolharam, agora satisfeitos. Sempre souberam que os dois tinham algo em comum, então se perguntavam quando eles iriam largar de frescuras e iriam oficializar a relação. Demorou um bom tempo, mas aconteceu. Dava para ver nos olhos de Jesse o quanto ele amava e faria de tudo por ela. Inclusive largar de vez com a fabricação de metanfetamina.
— Dá para vocês pararem de olhar assim? — perguntou, pegando alguns pratos limpos.
— Assim como? — Pete perguntou, intrigado.
— Como dois cachorros abandonados, credo — respondeu ela, rindo.
— É que vocês dois são tão fofinhos juntos, yo — Badger respondeu antes, dando de ombro.
— Dois pombinhos apaixonados — Pete gargalhou alto.
— Eu já estou me arrependendo de ter falado para eles, honestamente — Jesse reclamou para , que apenas riu.
— Se reclamar, é pior — disse. — O melhor que você pode fazer é ignorar.
— Como se vocês pudessem ignorar essas duas beldades aqui — Badger comentou, fazendo poses.
— Ignorar é fácil, eu estava fazendo isso — ela os encarou, piscando.
— Outch! — Pete exclamou, soando falsamente ofendido.
— Viu? Dois pombinhos — Badger murmurou para Pete.
Jesse riu divertido, mexendo a panela com o molho. retirou o macarrão do fogo, colocando-o no escorredor, enquanto Pinkman continuou mexendo o molho até o ponto ideal. arrumou a mesa bagunçada da casa de Skinny Pete, deixando-a menos desajeitada do que antes. Apesar de o lugar ser uma bagunça, e Jesse ainda fazem o possível para torná-lo mais habitável.
— Vocês deveriam manter isso aqui um pouco mais limpo, sabe? — reclamou, colocando a toalha sobre a mesa.
— Eu já tentei convencê-los, é pura perda de tempo — Jesse disse, despejando o conteúdo vermelho da panela sobre o espaguete. — É mais fácil aceitar essa imundícia toda aqui.
— Yo, dude, não precisa ofender, né? — Pete o encarou, agora verdadeiramente ofendido.
— Ok, retiro o que eu disse — Pinkman rolou os olhos.
— Vocês parecem crianças — Badger comentou, risonho.
— Alguém aqui me entende — complementou, passando com os pratos.
Assim que se sentaram para comer, Jesse ficou em silêncio, apenas encarando a mulher ao seu lado. Por um momento, por um breve momento, pareceu que só tinha ela ali. Tudo soou em câmera lenta; os cabelos dela balançando lentamente, a sua risada gostosa e contagiante e seus olhos. “Deus, como eu a amo", pensou. Havia um fato que ele teria de aceitar; não tinha muita certeza a respeito do seu futuro, mas sabia que queria nele.


Atualmente.
A casa está completamente abandonada. Seu interior não é nada comparado ao que foi antigamente, quando ainda havia habitantes. Quando Walter White ainda era apenas um professor de química. Nada de Heisenberg, nada de metanfetamina. Nada de câncer. O papel de parede está descascado, não há móveis e as janelas estão cobertas. Não há uma iluminação sequer e, bem, ninguém vive ali há meses. olhou para as paredes desbotadas e descascadas, respirando fundo.
— Você não é muito fácil de achar, Srta. .
— É o meu trabalho permanecer assim, Sr. White — respondeu, cruzando os seus braços. — Por que voltou? Não seria mais fácil ter permanecido no seu endereço com a sua nova identidade e longe dos problemas que causou aqui em Albuquerque?
— Negócios inacabados — respondeu, simples.
— Ah, sei — assentiu. — Você se lembra de mim, pelo menos?
Walter não respondeu. Ele encarou bem a mulher à sua frente, procurando em sua memória os traços de seu rosto; os olhos, os lábios, os cabelos. Sim, ele se recorda. No entanto, ela já não usa mais os cabelos longos, nem mesmo as roupas coloridas de antes.
— É, eu me lembro — White assentiu, após minutos em silêncio.
— Que bom — murmurou, seca. — Antes que eu faça qualquer coisa, eu preciso saber... o que aconteceu com ele?
Walter respirou fundo.
— Ele tentou fazer acordo com o meu ex-cunhado, agente de DEA. No encontro, as coisas deram errado e a gangue do Jack apareceu. Hank e Gomez morreram, então levaram Jesse junto deles. Eu disse a eles que deveriam matá-lo, mas fizeram ao contrário; Jack resolveu que iria deixá-lo vivo, como uma vantagem, então o mantiveram com eles e o colocaram para cozinhar — Walter a encarou.
— Então você admite a sua culpa nisso? — prosseguiu.
— Eu fiz o que precisava fazer — rosnou.
— Entregar Jesse a uma gangue neonazista e deixá-lo para morrer depois? É, muito legal da sua parte! — devolveu. — Você era como um pai para ele, okay? Você era tudo o que ele tinha, quem ele mais confiava!
Mas o homem não respondeu.
— Se ele te traiu, você bem que mereceu, Walter White — cuspiu as palavras, irritada. — Mas nada do que ele passou na vida dele foi merecido. E você vai ter que viver com o fato de que é culpa sua.
— É por isso que eu te liguei — suspirou. — Nós vamos buscar o Jesse.
— Vai me explicar como diabos pretende fazer isso? Vejamos... ele está com o Jack, certo? Aquele nazista de merda... se, e é um grande se, Jesse estiver vivo... quais as probabilidades de o tirarmos de lá com vida, huh? — o encarou.
— Eu tenho um plano, você só precisa fazer a sua parte — Walter insistiu.
— Uhum — assentiu. — O que eu preciso saber?
— Estou com uma M60 modificada, vou encontrar Lydia e Todd, propor um novo acordo sobre metanfetamina — explicou o ex-professor. — Não, eles não vão querer negociar, mas o importante é que a informação chegue ao Jack. Ele me chamará para ir lá, eu darei um jeito de que ele traga Jesse também.
— A sua informação está errada, White — afirmou com calma, deixando-o surpreso.
— Perdão?
— Você acha que Jesse está cozinhando como se fosse um sócio de Jack — afirmou, andando pelo cômodo vazio. — Mas a verdade é que eles fizeram Jesse de refém. Ou ele cozinha, ou eles matam o filho da ex-namorada dele. Andrea era o nome dela.
— Desde quando você sabe disso? — Walter questiona, se sentindo irritado.
— Desde quando você me ligou, uma semana atrás — revelou a mulher, satisfeita com a reação do mesmo. — Acha que eu não fiz a minha pesquisa? Por favor, que tipo de serviço você acha que eu faço? Por que acha que Saul me indicou para você, meu querido? Eu não faço qualquer coisa. Se eu aceito o serviço, você pode apostar com mil diabos que eu vou concluir.

Dois anos antes.
Albuquerque, Novo México.

— Para mim já chega! — exclamou, ajeitando as suas coisas.
— Para onde você vai? — Jesse perguntou, desesperado.
— O mais longe que eu puder — respondeu ela, jogando as roupas dentro da mala sem se importar como caíram.
, por favor... — ele implorou, segurando-a pelo braço.
— Me solte, Pinkman — puxou o braço com força, soltando-se bruscamente. — Eu falei para você que não teria volta. Você escolheu isso, não eu!
Jesse estava sem reação. Tudo o que ele pôde fazer naquele momento foi assistir ir embora, sabendo que seria incapaz de impedi-la. Assim que ela partiu, o rapaz sentou ao chão, com as lágrimas rolando pelo seu rosto sem pudor algum. Ele apoiou a sua cabeça em suas mãos e permaneceu sentado, chorando. De repente, começou a soluçar. Jesse não chorava daquela maneira desde que acordou um dia apenas para ver Jane morta ao seu lado.
As horas começaram a passar, então tornaram-se dias que se arrastaram de forma lenta, então foram semanas. De repente, meses. Jesse já não era mais a mesma pessoa de antes; sempre que Skinny ou Badger iam visitá-lo, ele parecia cada vez pior. Haviam olheiras roxas abaixo de seus olhos, consequências de noites mal dormidas e o consumo de substâncias ilícitas. Talvez ele realmente estivesse definhando aos poucos, querendo aproveitar cada minuto que ainda tivesse. O problema é que os rapazes não queriam mais vê-lo daquela maneira, embora estivessem de acordo que não poderiam fazer nada.
Era quinta-feira, o dia estava cinza e frio, nada muito fora do comum. Jesse estava em casa, o apartamento virado do avesso – já que não tinha mais sentido mantê-lo organizado agora que não estava mais lá. Ele estava sentado na cama, encarando a parede e ouvindo a televisão, embora não estivesse, de fato, prestando atenção no noticiário, ou no filme, ou no que diabos estivesse passando. Ouviu batidas na porta, mas não se preocupou em levantar para abrir, já que não estava trancado. Ouviu as vozes de Badger e Skinny Pete falando sobre como o local estava, e eles estavam soando preocupados.
— Ei, Jesse... — Pete o chamou, suave. — Como você está, dude?
— Bem — respondeu Pinkman, vago.
— Você tem certeza? Dude... o que está acontecendo? — Badger questionou, preocupado.
— Estou bem — Jesse os encarou, um pouco seco.
Os dois se entreolharam. Jesse estava longe de estar bem, mas não iria admitir de forma alguma. Era mais fácil morrer do que falar como estava se sentindo.
— Teve notícias dela? — Pete perguntou, sentando ao lado de Jesse.
— Não... eu... ela foi embora, cara — respondeu o garoto, com a voz trêmula. — Acho que ela cansou de tudo e...
— Sinto muito, cara — Badger se aproximou, mas Jesse apenas balançou a cabeça.
— Acho que ela vai ficar mais segura assim, longe — suspirou, levantando da cama.
Jesse estava perdido, isso era fato. era a única pessoa que ainda era capaz de mantê-lo na linha; no entanto, agora que ela havia ido embora de vez, as coisas pareciam estar fora do lugar. Ele não se importava tanto com alguém desde Jane e, assim como a outra, ele também havia perdido .
— Foi melhor assim — Jesse continuou.
— Será que é por causa do... Heisenberg? — Badger indagou, curioso.
— Talvez — deu de ombro. — Ela... ela não queria isso para ela.
— Então era ela, não? — Pete o encarou. — Aquela que foi embora.
— É — Jesse balançou a cabeça.
Jesse já havia passado por muita coisa antes de conhecer . Ela parecia ser aquela pessoa que o colocaria no lugar certo; estava prestes a largar tudo para começar de novo com ela, mas não foi o que aconteceu. Ele optou por insistir nos negócios com Walter White e isso acabou impactando seu relacionamento. escolheu ir.
— E o que você vai fazer agora, Jesse? — Pete continuou.
— Acho que... o de sempre — respondeu, dando de ombro. — Continuar.
— Bom... tem certeza? — Badger questionou.
— Não me sobraram muitas opções — disse. — É isso ou...
Jesse não iria terminar a frase. Não, ele realmente não tinha opções, então iria continuar fazendo aquilo que sabia fazer de melhor. Escolheu um caminho sem volta. Já sabia quais seriam as consequências, mas agora precisava lidar com elas e, entretanto, jamais imaginava que as suas escolhas iriam custar .
— Ou talvez ir para o Alasca, como sempre planejei — disse em um tom mais baixo, quase inaudível.
— O quê? — Badger o encarou, confuso.
— Nada, eu só estava pensando alto — desconversou, balançando a cabeça.
Pinkman estava mais perdido do que cego em tiroteio, diga-se de passagem. Ainda estava processando a informação de que ela tinha realmente cumprido a sua promessa, o deixando para trás com o desejo de seguir a sua vida longe dos problemas causados tanto por Jesse quanto pelo próprio Walter. Quando lhe disse que não ficaria para vê-lo se afundar, ele não acreditou. Jesse escolheu pagar para ver o que aconteceria; escolheu ir ao limite.
Mas não era o tipo de pessoa que gostava de ser testada.


Atualmente.
— Eu sei que o que estou pedindo é uma absoluta loucura, mas você é a minha última opção — Walter disse, quase inaudível.
— Você chama o seu plano de absoluta loucura? Eu chamaria de total suicídio — ela respondeu, cruzando os braços. — O que está me propondo vai muito além do que eu posso fazer.
— E é precisamente por isso que liguei — White afirmou, calmamente. — Ninguém iria desconfiar de você, muito menos Jack.
— Ele não é problema — murmurou. — Mas Todd, sim.
— Todd te conhece? — o mais velho indagou, surpreso, ao passo em que apenas assentiu. — Quando?
— Antes de Jesse. Antes de vocês e é só disso o que precisa saber. Quer o meu serviço? Tudo bem. Vão ser as minhas regras, vai ser do meu jeito — o encarou, séria.
— Não farei objeções... eu só tenho um único pedido a fazer... — Walter concordou.
— Manda ver.
— Sei que o fim do seu relacionamento com Jesse também é culpa minha, que eu deveria ter insistido para que ele fosse embora com você — Walter prosseguiu. — Vocês vão precisar chegar ao outro contato, aquele que fará vocês dois desaparecerem daqui. Você precisa dizer a ele que quer um Hoover Max Extract Pressure Pro Model 6’. E, ... quando fizermos isso, quando Jesse estiver seguro com você... não o deixe sozinho. Ele vai precisar de você depois.
Ela não respondeu. Mordeu o lábio inferior e concordou com um gesto afirmativo.
— Não vou abandoná-lo.
— Ótimo. Tem outras coisas que você precisa saber...
— Eu já sei tudo — ela o interrompeu. — O que mais você quer?
— É tarde demais para isso, mas eu gostaria que me perdoasse — Walter a encarou, pegando-a de surpresa.
— Realmente é tarde demais — devolveu, amarga. — Mas, se é tão importante assim, eu te perdoo, Walter White. Só não sei se Jesse seria capaz de fazer o mesmo.

O plano era absurdamente suicida, como descreveu. Todavia, ela tinha recursos e uma certa história com Todd Alquist. Não seria difícil, era uma pessoa de boa lábia; o problema seria chegar até Jesse. Passaram três ou dois anos desde o dia em que ela partira, não sabe como ele está e muito menos como o mantiveram durante os meses passados. Uma coisa é certa, o tratamento não deve ter sido muito bom, já que Andrea, a ex-namorada de Jesse, morrera recentemente.
— Vai me contar como vai chegar no Jesse? — Walter perguntou, acompanhando para dentro do apartamento dela.
— Tudo o que precisa saber é que você receberá um sinal.
— E o que eu faço até lá? — indagou outra vez.
— Espere.

[...]


está se odiando por completo.
Não, ela realmente não queria ter que sujeitar ao que está prestes a fazer, mas sabe que precisa. Faz um bom tempo desde a última vez em que precisara agir com o respectivo disfarce e, no entanto, se não fizer isso, talvez Jesse não seja capaz de sair com vida do complexo de Jack. está, mais uma vez, se sacrificando. Jurou para si mesma que iria abandonar o serviço, que iria parar antes que acabasse morta; mas é sobre Jesse e ele precisa dela.
Foi por isso que ela não recusou o pedido de Walter White.
Ela jamais passaria por cima de toda a história que um dia teve com Jesse Pinkman. Por mais que tenha superado e seguido em frente com a sua vida, ele ainda é o seu ponto fraco. Um dia, eles foram algo, e foi algo muito bonito até o ponto em que chegou ao fim; contudo, jamais imaginou que anos mais tarde receberia uma ligação pedindo ajuda para salvá-lo. Como ela poderia negar?
Existem possibilidades e implicâncias. Todd Alquist, por exemplo, é uma implicância; já é sua velha conhecida e, embora ela tenha tido uma breve relação com o rapaz, não sabe dizer se isso afetará o que precisa fazer. Tudo depende do seu desempenho e a garota está contando com a sorte. O dia que escolheu não é por acaso; é domingo e, segundo as suas fontes, Jack e sua gangue não estão no complexo. É perfeito.
Através de informantes, descobriu que Jack comprara uma lancha e levou seus rapazes para um fim de semana de lazer. Todd, todavia, não foi. Ele ficou com Jesse no complexo, afinal, caso não fique, quem irá cuidar do rapaz? Ninguém. Seja qual for a forma que estejam tratando Jesse, sabe que não é de uma forma boa. Foi por isso que, quando a mulher ligou para Todd, ela sequer hesitou. Disse a ele que o vira no centro e que estava com saudade, que queria vê-lo, em nome dos bons tempos.
E, é claro, ele não recusou.
O local em si é afastado, é um complexo protegido por câmeras, cercas com arames farpados e, é claro, armas. levou algum tempo até encontrar o complexo do Tio Jack. Seu coração apertou no momento em que viu Todd retirar as grossas correntes do portão de entrada, então ela entrou e estacionou, seguindo para dentro da sala com o rapaz loiro ao seu lado. Seu vestido é curto e justo, suas coxas estão à mostra e seus saltos agulha cintilam. Ela retirou o casaco de pele e jogou o rapaz para o sofá, que caiu sentado. o encarou de forma sensual e sorriu. Teria que ser rápido.
— Todd Alquist — sorriu largamente, andando até ele de forma sexy. — Quanto tempo, docinho.
— Wow... ! — ele exclamou, surpreso. — Quando você me ligou, não achei que realmente fosse aparecer.
— Você está tão lindo! O tempo é generoso quando quer, não? — perguntou, sentando no colo do rapaz. — Obrigada por ter aceito o meu convite, não tinha certeza de que o faria, mas enfim...
— Aconteceu alguma coisa? Você parecia um pouco... tensa — Todd a encarou.
— Não, nada demais — ela desconversou, dando de ombro. — O que me conta de bom?
— Bom... eu trabalho com o tio Jack agora e... só — disse ele, vago.
— No mesmo negócio? — indagou ela, o qual Todd assentiu. — Lucrativo.
— Agora que Heisenberg está fora de cena... as coisas ficam mais fáceis — explicou o garoto.
— Heisenberg? — questiona, fingindo desconhecer o homem.
— O maior produtor e traficante de metanfetamina da região — respondeu.
Os primeiros minutos foram de conversa jogada fora; precisava garantir intimidade com o rapaz antes que pudesse tomar qualquer atitude. De repente, quarenta minutos passaram como se fossem dez e, naquele instante, ela sabia que tinha de agir.
— O que me diz de recordar os velhos tempos, hein?
— Ah... eu... eu não posso — o rapaz murmurou, desconcertado. — Tio Jack saiu, mas preciso ficar de olho em alguém. Tentou fugir uma vez, então preciso ficar atento...
— Ah, é? Mas garanto que ele não tentará de novo, seja lá quem seja o coitado — disse, mordendo o lóbulo da orelha de Todd. — E você parece estar precisando de uma diversão. Me deixe fazer esse favor, sim?
deu-lhe um selinho e levantou, indo pegar bebidas.
— Que tal uma música para relaxar? — perguntou ela, de costas.
— É, acho que seria uma boa — concordou, levantando e indo em direção ao rádio. abriu o compartimento do seu anel, despejando o pó na bebida de Todd, então voltou para ele e o entregou o copo. — Acho que tem razão, preciso mesmo me distrair.
— Então vamos começar — sorriu, brindando com ele.
Depois da bebida, pulou para o colo de Todd e deixou que ele começasse a beijá-la, então o puxou direto para o quarto. Contanto que seus lábios não se tocassem – que era uma regra clara –, tudo estaria certo. jogou o vestido para longe, assim como Todd, que retirou as suas roupas. No entanto, quando o ato estava prestes a começar, ele começou a pegar no sono. o deixou de cueca e o cobriu, então roubou as chaves do seu bolso e foi direto ao carro trocar de roupa. Não foi difícil achar a lona que esconde uma jaula no solo. Ela puxou a mesma para longe, vendo o rapaz algemado ao chão, dormindo.
— Jesse? — o chamou. — Jesse, está acordado?
— Quem... quem está aí? — perguntou, rouco.
abriu a jaula, colocou a escada para dentro e então, desceu. Assim que Jesse colocou seus olhos sobre ela, instantaneamente eles brilham. — ...
Os cabelos de Jesse estão bagunçados, sua barba cresceu, o seu rosto está marcado por cicatrizes e sujeira. Suas roupas estão amassadas e imundas, mas o que mais atraiu a atenção de foram as correntes. Uma delas está em seus tornozelos, enquanto a outra está em sua cintura, prendendo as suas mãos. Os olhos azuis de Jesse, que outrora brilhavam de felicidade, agora transbordam em lágrimas. o abraçou, deixando com que o rapaz repousasse a cabeça em seu ombro, chorando.
— Está tudo bem, okay? Eu estou com você — ela sussurrou, acariciando os cabelos de Pinkman. — Shh... isso tudo vai acabar logo.
— Eu sinto muito... eu nunca quis que você fosse... — Jesse continuou, ainda soluçando. — Me perdoe... por favor, me perdoe...
— Jesse, eu preciso que você preste atenção em mim agora, okay? — ela levantou o rosto dele, notando as lágrimas rolando. — Walter White está vindo. Eu preciso que você faça um último sacrifício.
Jesse fungou, assentindo.
— Eu preciso que você diga a Jack que Walter é a única pessoa que sabe produzir metanfetamina sem utilizar metilamina, caso eles te perguntem algo sobre isso — explicou, com calma. — Você não sabe, ele nunca te ensinou e você nunca disse antes porque estava com medo de que fizessem coisa pior. Entendeu?
— Por que... por que ele vai voltar? — perguntou, sem se mover, quando limpou seu rosto.
— Não importa agora. Jesse, você entendeu o que eu disse? Preciso que faça o que eu pedi, exatamente como expliquei. Você pode fazer isso? — questiona, um pouco dura. Ele assentiu depressa. — Quando Walter estiver aqui, não reaja. Não importa o que aconteça, você tem que fazer o que for necessário. Se tiver de matar, então mate. Outra coisa... as chaves do El Camino de Todd... você precisa pegá-las. Eu estarei esperando você no carro, então seja rápido, não vamos ter muito tempo.
Jesse absorveu tudo o que ela lhe disse, memorizando cada palavra.
— Eu vou tirar você daqui, eu prometo. Walter vai se livrar deles, então você estará livre — ela sussurrou, o abraçando outra vez. — Depois disso, depois que você estiver livre, eu vou te levar para um lugar seguro. Ninguém vai te achar, nem te machucar.
Se pudesse, ela o levaria embora ainda naquela noite, mas precisava seguir o plano. deitou Jesse no colchão velho e fedido ao chão, acariciando os cabelos do rapaz até que ele ficasse mais calmo. Apesar da hesitação nos primeiros toques, ele acabou cedendo aos poucos até o momento em que estivesse confortável com a presença e com o carinho de sua então ex-namorada.
— Só precisa aguentar mais um pouco — sussurrou, cobrindo-o até a altura dos cotovelos. — Vou ficar aqui até você dormir, então vou voltar lá para cima.
— Não me deixa sozinho — Jesse pediu, com a voz baixa.
— Logo estaremos juntos, prometo — ela afirmou, acariciando o rosto do rapaz. — Não vou deixar você sozinho, nunca mais.
Jesse entrelaçou a sua mão à mão de , encarando-a. Suas pálpebras pesam, mas ele não quer dormir, porque sabe que, assim que acordar, ela não estará mais lá e ele terá caído de volta ao seu pesadelo. No entanto, foi inevitável. Aos poucos, cansado, ele acabou dormindo e , ao invés de voltar para cima, permaneceu por mais um tempo. Não, ela não queria ter que ir embora, não queria ter que deixar Jesse à mercê de Jack e sua família neonazista. Foi o segundo momento mais difícil da sua vida. Relutante, beijou Jesse, que apenas se remexeu sobre o colchão, então se despediu e voltou para cima.

As horas seguintes foram as mais agonizantes. deixou as roupas dentro do carro, colocando apenas as roupas íntimas e deitando ao lado de Todd. Não conseguiu dormir. Ver Jesse no estado em que ele se encontra é doloroso; não tem nada do rapaz que outrora conheceu. Tudo o que ela pôde ver foi a mágoa, a dor, o medo e o sofrimento. O barulho das correntes de Jesse lhe atormentou durante o resto da madrugada e de manhã, ela se vestiu e deixou uma nota falando o quão maravilhoso e selvagem Todd fora na noite passada, antes de voltar para um de seus vários apartamentos.
— Você precisa ser rápido — disse, transtornada, ao entrar em seu apartamento. — Eles estão o tratando feito um animal!
— Hoje à noite, — Walter levantou. — Será hoje à noite.
— Não tem ideia do que fizeram com ele! — exclamou, sentindo seus olhos arderem. — Não tem ideia!
Walter abraçou , mesmo recebendo tapas e socos de ódio. A verdade é que ela estava segurando o choro desde o momento em que se despedira de Jesse, mas, naquele momento, em que só havia ela e White, não tinha motivos para segurar o que estava preso em sua garganta. Por mais que tivesse feito acordo com a DEA, Jesse não merecia estar naquele lugar, trancado como um animal hostil e sendo obrigado a cozinhar metanfetamina. Os seus olhos carregados em desespero não saíram da cabeça de ; não foi necessário dizer “me ajude, eu imploro". Ele só precisou olhar para ela.

As horas passaram e sabia que aquela seria a última vez que veria Walter. Ela dirigiu o seu Chevrolet Camaro, modelo de 1969, que herdou do pai, para alguns quilômetros de distância do complexo de Jack conforme as instruções recebidas e que eram parte do plano; Walter apareceu depois, com um veículo mais simples e vermelho, puxando o estofado do banco onde a garota entrou e permaneceu escondida; a M60 customizada está ao porta-malas e pronta para disparar assim que White acionar o alarme.
E ele dirigiu.
ouviu quando ele deixou o veículo e ela permaneceu lá, em silêncio, aguardando o momento. De repente, ela ouviu as correntes de Jesse se arrastando ao chão e soube, naquele momento, que o desfecho da história estava prestes a acontecer. Walter iria eliminar a gangue de Jack e daria outra oportunidade para Jesse.
Foi tudo tão rápido.
Num instante, estava sozinha e em completo silêncio; no outro, a M60 disparou toda a sua fita. empurrou o estofado falso e saiu do veículo, vendo a parede da casa completamente furada em uma linha reta. Seu coração disparou e começou a doer em seu peito, talvez temendo a hipótese de que Jesse fosse uma das vítimas. Ouviu gritos, a voz dele e em seguida, a voz de Walter. A mulher caminhou em direção ao El Camino de Todd e encostou-se ao porta-malas, aguardando.
— Onde está a ? — ouviu Jesse questionar, com a voz trêmula.
Os dois saíram da casa em silêncio e, assim que a viu, Jesse correu até a mesma, a envolvendo em um abraço. Ele treme como nunca antes e sua respiração ofega; tudo o que ele quer no momento é chorar, mesmo não sabendo o motivo ao certo. tomou as chaves do carro e apenas assentiu para White, que retribuiu o gesto. Ela abriu a porta para Jesse, contornando o veículo e entrando no assento do motorista, dando a partida e levando o rapaz para longe.
Um misto de alívio e pânico invadiu o peito de Jesse. Ele começou a chorar e gritar, incrédulo de que realmente havia escapado. dirigiu até o deserto, para onde havia deixado o seu camaro. Nada naquele momento foi capaz de descrever como ela estava se sentindo; a adrenalina pulsando em suas veias, a alegria por estar com Jesse depois de tanto tempo e por ter sido capaz de salvá-lo.
— Para onde estamos indo? — Jesse questionou em meio às lágrimas.
— Todd tem um rastreador nesse carro — ela explicou, estacionando ao lado do camaro. — Amanhã a polícia vai estar feito louca atrás dele e, bom, não podemos arriscar que te encontrem. Venha... está um frio de lascar e você sequer está agasalhado.
retirou uma manta do camaro, que havia deixado sobre o banco do passageiro, então colocou a mesma sobre os ombros de Jesse, o levando para dentro do seu carro. Em seguida, enterrou as chaves do El Camino e entrou no outro, notando a expressão vazia do homem ao seu lado.
— O que eles fizeram com você? — perguntou ela, de repente.
Jesse não respondeu. Estava traumatizado demais para falar no assunto e qualquer menção do seu período no cativeiro era capaz de lhe fazer chorar. A feridas ainda estão abertas e sabe-se Deus quanto tempo isso irá levar para curar; notando que ele não iria dizer nada, apenas respirou fundo e deu partida no camaro, dirigindo para longe. Foram árduos minutos em silêncio, nem mesmo o rádio fora ligado. Ela não disse nada quando ouviu o choro baixo de Jesse, apenas deixou que ele tivesse esse momento; afinal, foram seis longos meses trancafiado na jaula e tratado feito um animal hostil. Pinkman não tinha apenas cicatrizes no rosto.

Ela dirigiu por quase uma hora, mesmo sabendo que poderia ter levado metade do tempo, sabia que tinha que dar um momento a Jesse.
Chegou na frente da casa de Skinny Pete e não ficou muito surpresa por ver que a fachada continua a mesma, talvez até um pouco mais organizada. Puxou o freio de mão do carro e ficou calada, olhando para a rua deserta e escura; se encostou mais confortável no banco e assim permaneceram os dois.
— Acho que é isso — disse quase dez minutos depois.
— Você não vem? — Jesse a encarou.
— Por quê?
E, novamente, ele não respondeu.
— Eu fiz isso porque não suportaria viver com a ideia de que fui responsável por deixar você morrer. Não seria capaz de viver com esse peso nos meus ombros, me assombrando para o resto dos meus dias — prosseguiu. — Quando eu fui embora quase três anos atrás, eu prometi que jamais iria me envolver com isso de novo... eu segui em frente, refiz a minha vida do zero... até Walter me ligar. Quando ele mencionou o seu nome, eu sabia que as coisas tinham dado errado. Quantas vezes não falamos sobre onde isso o levaria, Jesse? Você teve tantas chances... tantas oportunidades de se livrar dessa merda e começar de novo... e o que ganhou com isso?
não se importou com as lágrimas rolando pelo rosto do rapaz. Ela precisava dizer aquilo, ela precisava soltar tudo o que estava entalado na sua garganta há anos. Ele, todavia, não disse nada.
— Eu cumpri com a minha parte. Eu te trouxe para um lugar seguro, mas eu nunca disse que iria ficar — disse ela, por fim.
Mais uma vez, ela aguardou por uma resposta. Estava esperando que não houvesse alguma, já que Jesse parecia estar sem palavras. Todavia, ela ficou surpresa quando percebeu que ele respirou fundo e abriu a sua boca; ele também tinha coisas a dizer.
— Não tive coragem de parar porque estava ganhando mais e mais a cada dia. Walter e eu estávamos seguros de que jamais seríamos pegos, que jamais iriam descobrir nosso esquema, então eu quis ficar porque me dava prazer — confessou, a encarando. — Eu gostei daquilo, gostei de todas as coisas que me trouxe e eu estava pouco me fodendo para o que seria dali em diante... perdi muitas coisas, mas compensei com o que estava fazendo. O meu único arrependimento foi ter sacrificado você. Isso eu jamais conseguiria compensar ou repor.
— E de que adianta agora? — ela questionou, com a voz falha.
— Não quero pedir para que fique, — Jesse continuou. — Se o que tivemos no passado ainda vale algo, eu quero pedir para começar de novo. Do zero.
A mulher ponderou. Ela poderia ter sido inúmeras pessoas no passado, com os seus joguinhos e seus trabalhos, mas ela ainda sim era uma pessoa honesta, principalmente consigo. Os olhos de Jesse cintilam, mesmo que de tristeza e alívio, mas há algo a mais naquilo. Uma expectativa. nada disse, ela apenas abriu a porta do carro do lado de Pinkman. Ele saiu, sem dizer mais nada, então a fechou e caminhou para a porta da casa de Skinny Pete. Olhou pela janela, então colocou as mãos no batente, respirando fundo. Bateu algumas vezes e esperou.
— Dude, se perdeu? — Skinny perguntou assim que abriu a porta, não o reconhecendo. Assim que levantou a cabeça, Pete empalideceu.
— Quem é? — Badger questionou ao fundo, se aproximando.
— Jesse? — Pete sussurrou, chocado.
— Eu o trouxe — ouviram a voz de logo atrás, se aproximando. Badger e Pete a encararam, igualmente surpresos. — Se vocês não se importam, eu preciso tirar o meu carro da rua.
levou Jesse para dentro, indo pegar qualquer coisa que fosse comestível no meio da bagunça; deixou tudo na mesa e foi ao banheiro. Lavou o rosto e se encarou por instantes, avaliando se iria se arrepender da decisão de ficar. Respirou fundo pela milésima vez, secou o rosto e então destrancou a porta. Encontrou-se com Badger e Pete, que estavam olhando assustados para Jesse. O homem come com uma velocidade surpreendente, dando a entender que faz dias desde a última vez que comeu algo.
— Onde é que tem um quarto? — sussurrou para Pete.
— No final do corredor — respondeu ele, com o olhar fixo em Jesse.
caminhou até o mesmo, abrindo a porta e olhando ao redor. Ajeitou algumas cobertas e as deixou sobre a cama, retornando para a sala em seguida. Dobrou a manta que havia dado a Jesse e a deixou sobre uma das poltronas dos rapazes, então se sentou no braço da mesma, cruzando os braços.
— Acho que... você precisa descansar um pouco — tornou a falar, olhando para Pinkman. — Eu deixei o quarto arrumado, quer ir deitar? — questionou, vendo-o assentir. Ela o acompanhou até o cômodo, sendo seguida por Pete. Jesse caiu sobre a cama e adormeceu na hora, visivelmente esgotado. Skinny apagou a luz e os dois ficaram o encarando.
— Vocês precisam ver a televisão — Badger se aproximou, sussurrando.
— Mas que porra? Eu não vou ver TV agora — Pete ralhou.
— É o noticiário — insistiu o outro, ainda em tom baixo.
— Pode ir... eu vou tomar um banho, depois conversamos — os encarou.

Foi o banho mais tenso da vida de . De repente, todos os acontecimentos começaram a vir de uma só vez, fazendo-a refletir sobre tudo o que fez ao longo dos seus vinte e cinco anos. E, como se fosse o final daquela viagem, sua história com Jesse chegou feito um brinde, a cereja do bolo. O momento em que se conheceram, o início do relacionamento, quando começaram a morar juntos e as brigas, até o momento em que ela desistiu e o deixou. Todas as suas escolhas a levaram para aquele momento, para o reencontro e para a montanha russa de emoções que ela havia enterrado.
— O que aconteceu com o Jesse? — Pete perguntou assim que apareceu, enxugando os seus cabelos na toalha escura.
— Jack e a sua gangue tinham uma espécie de acordo com Walter. Eles iriam assassinar Jesse, mas não foi o que fizeram. Eles o levaram como refém e o obrigaram a cozinhar a metanfetamina que vocês estavam comprando, achando que era Heisenberg — explicou, deixando a toalha sobre a cadeira. — Não sei como fizeram Jesse colaborar com isso, mas quando eu o encontrei... bom, ele estava preso em uma jaula no chão, preso em correntes feito um animal.
Pete e Badger não disseram mais nada. Ficou claro como cristal o porquê Jesse estava tão calado e estranho; talvez fosse por estar completamente traumatizado com o que passou.
— Eu achei que ele tinha ido para o Alasca — os dois sussurram.
— Foi o que todos achavam — deu de ombro. — Mas ele estava aqui o tempo todo, sendo praticamente escravizado.
— Dude, ele não está nada bem — Pete diz, com pesar. — O que você vai fazer?
ponderou por instantes.
— Ele não disse que iria para o Alasca? É exatamente para onde vamos.

[...]


Na manhã seguinte, Pete e Badger estavam assistindo ao noticiário e estava ocupada demais tentando contatar a pessoa que Walter mencionara quando ouviram barulhos do quarto onde Jesse estava dormindo. Os três correram em direção ao mesmo e gritaram assustados quando Pinkman apontou o revólver em suas respectivas direções, apavorado.
— Jesse, está tudo bem... somos nós — Badger disse, se escondendo da mira do homem.
— Abaixe essa arma... ninguém vai te machucar — pediu, levantando as mãos e ficando de frente para ele, adentrando o quarto.
Jesse começou a chorar outra vez, abaixando a arma. Badger e Pete entraram logo atrás, preocupados. o ajudou a levantar, então ele se sentou na ponta da cama, encarando o chão. Pete caminhou até o closet, abrindo-o em seguida.
— Acho melhor você tomar um banho... você parece estar necessitado disso — Pete disse.
— Verdade seja dita, sem ofensa — Badger sussurrou.
— Tenho um monte de roupas novas aqui, somos do mesmo tamanho, vai caber certinho — Skinny continuou, separando uma jaqueta de couro marrom. — Já que as do grandão ali não servem.
— Meu tamanho é perfeito para o amor — Badger se defendeu.
— Aham, você pode ficar com as girafas... eu e Jesse ficamos com as gostosas — disse o outro.
— Vocês podem nos dar licença? — pediu, os interrompendo. Os dois se entreolharam e concordaram, saindo do quarto, os deixando a sós.
fechou a porta, voltando e se agachando na frente de Jesse, fazendo com que ele o encarasse.
— Ontem à noite, você me pediu para começarmos do zero. Eu não sabia se iria, se ficaria ou o que diabos as coisas seriam se eu te deixasse sozinho aqui — ela disse. — Mas eu fiquei. Jesse, nós dois podemos fazer isso... juntos... mas eu preciso que você fale comigo. Eu preciso que me diga como você está, o que aconteceu... não precisa ser agora, nem amanhã... tome o seu tempo.
Ela levantou, mas foi impedida de continuar porque Jesse segurou a sua mão, a fazendo parar. Levantou o seu rosto, encarando a mulher parada à sua frente, seus olhos mais uma vez cintilando. Ele levantou, com a sua respiração ofegante.
— Obrigado — sussurrou, com a voz completamente falha.
E tudo o que fez foi sorrir, o abraçando. Os dois deixaram o cômodo bagunçado e seguiram ao banheiro, com Pete explicando sobre a sua recente coleção de perfumes e desodorantes, os sabonetes e toalhas limpas que Jesse poderia usar. Ele concordou, entrando no banheiro ainda em silêncio e, quando estava prestes a fechar a porta, Badger o interrompeu.
— Jesse... — sussurrou o mais velho.
— O quê?
— Eles... eles realmente te deixaram numa jaula? — Badger questionou, receoso. Jesse não respondeu.
Pinkman fechou a porta, enquanto foi abrir o registro do chuveiro. O dia está nublado e frio, isso já não é novidade. O banheiro ficou cheio de vapor depressa e Jesse deixou a banheira encher antes de entrar. sentou ao chão, encostada na parede, observando-o. O homem abaixou a cabeça, cobrindo-a com as mãos, deixando que a água limpasse toda a sujeira do seu corpo.
— Alasca — ele disse baixo, evitando encarar .
— Desculpa, o que disse?
— Alasca — repetiu mais alto, a encarando. — Ouvi você dizer ontem.
— É... vou te levar para lá — disse, balançando a cabeça. — Começar do zero, certo? Nós dois.

Depois do banho, Jesse pediu para que raspasse o seu cabelo. Ela o fez e, assim como as madeixas do cabelo se foram, a barba também. Não havia mais nada que lembrasse os meses trancafiado, com exceção das marcas das cicatrizes. O processo de recuperação seria longo, árduo e iria precisar de muita paciência, mas estava disposta a enfrentar tudo aquilo. Eles juntaram o dinheiro acumulado e então, partiram.
Depois de terem cruzado a fronteira do Alasca, com suas novas identidades, dirigindo para a sua nova casa, foi a primeira vez que viu Jesse sorrir.
Um novo começo.


Continua...



Nota da autora: Sem nota.



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