Última atualização: 01/03/2018

Capítulo Único

’s POV
Sinalizei para os rapazes, mandando que eles se mexessem e fossem logo para o outro lado da porta ficar de guarda. Respirei fundo, buscando meu foco mais profundo, e vi a imagem da minha família na cabeça. Eles eram meu foco, eles eram o meu motivo de voltar para casa todo santo dia.
Thomas e Anthony afirmaram com um aceno sobre a minha ordem e logo passaram para onde eu tinha mostrado, carregando mais três agentes consigo. Puxei a fivela do colete, deixando-o ainda mais firme em meu corpo, e enquanto armava a pistola de pressão com os braços esticados para baixo e mirando-a no chão por pura segurança, olhei por cima do ombro para meu cunhado, que estava tão concentrado quanto eu.
– Tudo certo? – perguntei baixo e o vi me olhar de uma vez.
– Tudo certo! – disse, focado, muito focado, e naquelas pequenas operações que fazíamos juntos, eu sabia que ele sentia falta de trabalhar na ativa. Era bem perceptível. – Pode entrar. – o escrivão metido a investigador disse, também armando a pistola de pressão, e afirmei.
Olhei para meus agentes, que mantinham a atenção em minha ordem de invasão, e sinalizei com os dedos das mãos uma contagem regressiva até três. Apontei para a frente, posicionando-me na frente da porta, e, com os braços esticados para a frente e minha arma mirada para evitar qualquer transtorno, tomei impulso em um dos pés e literalmente dei uma pesada com força na porta de madeira velha daquela casa mais velha ainda. Eu tinha, sim, noção da força que eu possuía e sabia que o trinco daquela droga iria para o inferno assim como aconteceu.
– Vai! Vai! Vai! – gritei, mandando meus agentes entrarem naquela droga de lugar que mais parecia um mausoléu, mas era um dos maiores distribuidores de drogas da região, e entrei logo depois, junto com , em todo alerta possível.
E foi ali que nós vimos o caos se instalar, meus cinco agentes se mexeram de forma rápida e sincronizada, mas também eficaz, contendo e prendendo o rapaz barbudo de no máximo 25 anos que queria correr, mas foi prensado de cara no chão como um tapete, enquanto Thomas e Anthony estavam em cima dele como se ele fosse um touro raivoso e Michael revistava a casa em busca do merda que encabeçava aquilo tudo.
– Cadê o Hérnanez? – gritei na cara do moleque quando ele foi levantado e algemado, enquanto a equipe revistava a casa minúscula sem uma mísera saída de ar que prestasse e recolhia as armas mantidas por ali, assim como os quilos de drogas que estavam bem divididas em cocaína e maconha. – Eu fiz uma pergunta e eu quero a resposta! – enrijeci ainda mais a minha postura, quase enfiando o dedo na cara dele, mas o filho da puta apenas deu um sorriso sarcástico e tentou se soltar em uma tentativa muito frustrada. – RESPONDE, RESPONDE O QUE EU PERGUNTEI! – gritei, com os olhos arregalados, querendo mesmo intimidar aquele merdinha que estava dificultando o meu trabalho, mas adivinha? Ele continuou calado.
Passei a mão pelo rosto, respirando fundo e, aos poucos, via meus agentes trazendo para sala tudo de droga que eles achavam dentro daquela casa.
– Achou mais alguma coisa, dois? – perguntei ao , que estava metido com os policiais dentro daquele cubículo a procura de mais armas, drogas, ou qualquer artefato que ao enquadrasse em mais alguma infração.
– Três pistolas de pressão, sete pentes*, duas calibres 22, uma foice, uma faca, quatro celulares e, pelas minhas deduções, uns seis a sete quilos de maconha e cinco de cocaína. – meu compadre disse em modo de alerta quando os rapazes traziam tudo para sala de estar.
– Merda. – bufei, frustrado. – Nem sinal do Hérnanez, cinco? – gritei por Niccolas e logo ele apareceu, negando com um aceno.
– Nada dele, delegado. Vasculhamos a casa toda. – o homem respondeu e afirmei com um aceno de cabeça.
– Então recolham o armamento, as drogas e levem o meliante para a viatura. – meu cunhado disse, apontando para cada coisa que falava, e os dois que seguravam o barbudo afirmaram, posicionando-se para sair da casa.
– Que cacete. Nem sinal do Hérnanez, e prender esse é o mesmo que nada. – grunhi, frustrado, e acenei, mandando eles andarem com a ordem do .
– Onde inferno ele se meteu? – o perguntou, indignado e até confuso, mas a única coisa que eu fiz foi negar com a cabeça e dar uns passos para trás antes de sentir algo encostar em minhas costas, e, no mesmo momento, meus colegas de trabalho arregalarem os olhos.
É, tinha fodido.
– SOLTA A ARMA! – o grito veio junto com o susto, e, ao mesmo tempo que senti a ponta da faca no meu ombro esquerdo, eu sabia que ia me matar, porque no mínimo eu ia sair com a camisa rasgada daquela droga. – Solta a arma, vagabundo! – ali sim eu respirei fundo para não disparar as 15 balas do pente no pé daquele merda filho da puta. Ele era o vagabundo dali, e não eu!
– Calma, calma! – eu tentei apaziguar a situação, colocando as mãos em rendição, mesmo que minha vontade fosse de dar uns bons socos nele.
– Eu estou mandando soltar a arma! – ele gritou, sacudindo-me, e senti de leve a ponta da faca fazer pressão no ombro, mas ao mesmo tempo procurava um jeito de me sair daquela situação. Não era nada difícil. – SOLTA ELE! – o filho da puta cheio de sotaque gritou, mandando livrarem o comparsa, e os meus dois agentes policiais me olharam, neguei minimamente.
Olhei para o , e ele junto com mais três dos policiais estavam mirando a pistola bem no idiota que me segurava.
– Ajoelha no chão e solta a porra da arma! – ele gritou mais uma vez no meu ouvido e a vontade era de berrar que eu tinha entendido o caralho da ordem e não precisava falar daquele jeito.
E, antes que eu ajoelhasse direito, o enviado das profundezas do inferno chutou a junção traseira dos meus joelhos, fazendo-me cair de joelho no chão. Bufei, indignado, e soltei a pistola bem longe dele, impedido que o vagabundo aumentasse seu poder de fogo contra mim.
– Solta ele, ou eu mato esse policialzinho de merda! – ele pressionou ainda mais a merda da faca em meu ombro, mas eu estava indignado demais para retrucar qualquer dor, porque sinceramente, meu amigo, policialzinho de merda era a puta que te pariu. Sem falar que matar era uma palavra tão forte e não deveria ser repetida de forma tão banal, principalmente porque eu tinha prometido a que voltaria inteiro para casa. E, se eu tinha prometido, eu voltaria.
Aproveitei enquanto ele berrava em desespero que iria me matar se não soltassem o outro merdinha, focado em olhar demais para meus agentes e de menos para mim, e levantei as mãos como se fosse em rendição. Esperei o vacilo e o segurei pelo pescoço de uma forma rápida, trazendo-o para frente, no alvoroço senti uma cotovelada bem na maçã do rosto. Aquele merda ia me pagar, porque ia me matar se eu parecesse machucado, e a única certeza que eu tinha era que ia inchar em poucos minutos. Aumentei minha força e o derrubei de costas no chão, pisando no punho com o coturno, o que o fez largar a faca e, ao mesmo tempo, prendi-o no chão, pelo pescoço, com o antebraço.
O cinco e o três correram, ajudando-me a algemar aquele vagabundo dos infernos e logo o pus de pé de forma nada delicada.
– Uma faca? Você queria me matar com uma faca? – perguntei, incrédulo, chutando a arma branca para perto do . – E para você, é delegado!
– Eu vou te ferrar, delegado! – eu estava muito sem moral mesmo, sinceramente.
– Vai, vai, leva, leva, leva para viatura! – apontei para a porta da casa sem dar ouvidos às recorrentes ameaças que me eram feitas e passei a mão no rosto, sentindo o local da cotovelada dolorido.
Os agentes saíram, levando os dois meliantes e parte das drogas. Suspirei, em parte aliviado por ter resolvido a operação com sucesso e apenas um machucado no rosto. Livramos o quase infarto pela ameaça de morte, já que tinha sido apenas um susto para calibrar o coração.
– Conseguimos. – comemorei com um sorriso, desarmando a pistola, ao mesmo tempo que meu cunhado, e logo a coloquei no coldre.
– Vamos delegado. – o irmão da minha esposa debochou na cara dura e deu um tapa sustento nas minhas costas.
– Vai à merda, ! – ri, sacudindo a cabeça, e o empurrei de lado. – Vamos logo para a delegacia resolver a papelada e a burocracia. – ajeitei o coldre no corpo e vi meu amigo de longa data fazer uma careta de descontentamento.
– Olha, , você vai é para o hospital. – ele disse, convicto, tentando me empurrar para perto da viatura.
– Eu não vou para o hospital por causa de uma cotovelada, não fode, ! Quer que sua irmã me cape? – ah sim, minha mulher era maravilhosa, mas brava na mesma proporção.
– Você está com o ombro cortado, cacete! – ele arregalou os olhos e na mesma hora arregalei os meus, torcendo-me a todo custo para encontrar o tal machucado e dizer que era mentira, mas infelizmente eu estava cortado e sangrando, inclusive.
– Oh, merda, a vai me matar! – passei a mão na cara e respirei fundo.
Eu ia mesmo ter que encarar a fera que era minha mulher?
– Você acha mesmo que eu quero te levar lá? De jeito nenhum, compadre, a minha mulher vai me matar! – ele apontou, desesperado, para o peito, mas ao menos não estava sangrando.
– Sua mulher? Nós estamos falando da doida da minha mulher nesse exato momento! – gritei em um esganiço fora do normal.
Não, eu não ia para hospital nenhum! Principalmente sabendo que era quem poderia me atender e me matar também.
*Como é chamado o refil das munições das pistolas por pressão.


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Quando abrirem a boca para dizer que cunhado não presta, acreditem! Com toda a certeza do mundo, acreditem, porque essa é a mais pura realidade. Cunhado não presta, e principalmente um como o meu, que tinha medo da mulher. Não que eu não tivesse, mas ao menos um tinha que ser menos cagão naquele bolo todo.
– Você vai apanhar, está sabendo né? – o mesmo filho da mãe que dizia que eu era da família riu claramente da minha cara, e rolei os olhos.
Não era segredo que nós tínhamos um certo receio de enfrentar as patroas, mas declarar aquilo em voz alta dentro de um carro que estavam três agentes policiais era pedir para ser zoado o resto da vida. Só que, como eu já estava na chuva, eu ia me molhar.
– Claro que eu sei! – respirei fundo, segurando uma atadura dobrada que eu tinha achado fechada dentro do carro para cobrir o ferimento. – Eu quero voltar para o combate, sério! – soltei uma risada morta e tudo que eu ouvi foram gargalhadas.
– Eu entendo, eu juro que entendo! – tentou respirar, mas mesmo assim ainda ria. – Só não tem outra escolha! – foi o suficiente para as risadas ficarem mais altas.
Bando de desocupado, não era como se todos ali não fossem controlados pelas namoradas, esposas ou fosse lá o que tivessem.
– Não ri, caralho! – ouvi as risadas serem engolidas e, sim, eu estava irritado mesmo. Já não bastava eu ter virado chacota, a porra do ferimento estava começando a doer. Eu ia matar pelo tapa que ele tinha me dado. – Vocês não conhecem a minha mulher! Os bandidos são fichinha!
– Vai ter que enfrentar a patroa, campeão! – mas era muito amigo da onça, mesmo, o .
– Eu não vou enfrentar nada! – apontei o dedo para ele. – Quantas vezes você veio quebrado para cá e eu salvei sua pele? – se era o drama que me restava, era para o drama que eu partiria.
– VÁRIAS! – ele soltou um gritinho fino e logo pigarreou quando viu que estávamos gargalhando. – Mas acontece que a maluca da sua mulher é chefe do trauma, ! é impossível, porra! Até parece que não conhece! – foi o momento que eu engoli todas as minhas risadas, porque infelizmente o estava certo.
– Pede por um residente qualquer, eu não sei, é só costurar. Não precisa chamar a chefe do Trauma! – respirei fundo, tentando enfiar na cabeça do meu cunhado que, tanto eu quanto ele, estávamos bem ferrados na situação, mas o parecia ser surdo. – Só especifica que não. Por favor, cara!
– E você acha mesmo que eu consigo segurar a minha irmã? – foi a vez dele esganiçar e me dar a certeza que estávamos perdidos. – A minha sorte é a estar em cirurgia. – ele bateu de leve na direção da viatura e suspirei, sentindo a merda da dor no braço aumentar.
– O delegado é pau mandado! – Michael abriu a boca e eu preferia que ele tivesse ficado calado.
Rolei os olhos e em um ato de pura infantilidade, mesmo em um homem beirando os 42 anos, mostrei o dedo do meio a ele. Qualquer coisa eu colocaria a culpa no desespero e na dor.
– Eu tenho é respeito pela minha mulher! – retruquei, rolando os olhos. – E medo de morrer. – sussurrei a última parte, o que não foi suficiente. – Não diz que sou eu! – remexi-me no banco e tirei a atadura para ver a situação.
Droga, tinha sangue demais nela, era certo que eu morreria sem ver meus coelhinhos antes.
– Ninguém conhece tua cara! – a ironia do me irritava, às vezes.
Era óbvio que eu sabia que todo mundo naquela droga de hospital me conhecia, era óbvio que, se duvidasse, eu era mais conhecido do que minha mulher ali, mas me proteger de levar ralhada era uma opção.
– Eu vou tentar salvar tua pele dessa! – apontou para mim e respirei um pouco mais aliviado. – Mas, sim, admita para os rapazes que você está pelando-se de medo! – estava demorando.
– Você me deve! – apontei sobre o favor. – Falou o cara que desistiu do trabalho de rua por causa de medo da mulher. – abri meu melhor sorriso falso.
– Você não está em muita posição de deboche, compadre. Dizendo que prefere bandido a minha irmã? – o tom de voz do tapado que eu chamava de amigo era bem reprovadora, e fiz uma careta, mexendo-me no banco. – Que feio! – ele repreendeu e negou com um aceno de cabeça.
– Para enfrentar? Prefiro mesmo! – respirei fundo e ouvi as risadas. Eu já tinha virado chacota mesmo. – Você nunca gostou do trabalho burocrático, tapado!
– Mas eu amo minha mulher, meu casamento, minha família, meus meninos e inclusive meu "amigo" que ela prometeu cortar se eu nãoo trocasse de cargo. Então... – ele ergueu levemente as sobrancelhas e todos rimos dentro do carro, as gargalhadas, até ele estava rindo.
Talvez tivesse percebido que ir contra os deboches era perda de tempo. – Chegamos. Pronto? – meu cunhado perguntou após estacionar o carro próximo a entrada de emergência do hospital e suspirei.
Pronto para encarar ? Eu não estava nunca.
, você finge que não existe. Vocês três... – ele apontou para os três homens no banco de trás. – Misturem-se, nada de dar na cara ou nós cinco morremos. – naquilo meu cunhado estava bem certo, mais do que certo. – Dá para sair? – dirigiu a pergunta para mim.
– Dá sim, tudo certo. – respondi, abrindo a porta do carro, e logo já estávamos a caminho da minha sentença de morte, mais conhecida como a emergência do hospital.
– Eu vou tentar dar a volta na tua mulher, mas se finge de morto. – meu cunhado disse, rindo, e dando-me suporte, mesmo que não precisasse, e me fez rir junto.
– Estou é morto já. – sacudi a cabeça e rimos alto.
Por mais que eu exigisse que ele desse a volta na minha esposa, eu sabia que ela ia descobrir que estávamos ali, nem que fosse na saída, então ralhada eu tomaria e de sobra, só esperava que não fosse durante os pontos. Entramos na emergência do hospital e me esgueirei pelos cantos das paredes, sentando-me em uma das cadeiras que estava na fileira e, graças aos céus, o lugar estava calmo e sem sinal da minha linda esposa, menos mau. parecia bem concentrado explicando a uma das enfermeiras o que tinha acontecido, e vi a moça afirmar, parecendo entender bem. Tomara que ela tivesse entendido que não era para chamar , ou eu estaria bem ferrado.
– Vamos, ela disse que vai bipar um residente. – meu cunhado me estendeu o braço, ajudando-me a levantar, e eu respirei imensamente aliviado pela notícia.
– Obrigado, cara, mesmo! – agradeci pelo companheirismo que nos acompanhava desde sempre e seguimos com Michael, Thomas e Anthony no encalço para onde a moça tinha informado, uma das macas da enfermaria que, pela graça divina, era acompanhada de um biombo, ou seja, eu poderia me esconder muito bem.
Sentei na maca e suspirei um pouco nervoso até, não por estar ferido, não por ter sido ameaçado de morte, ou por ter estado na mira de uma faca, mas nervoso em pensar qual poderia ser a reação da minha esposa. O meu maior medo era que ela não me xingasse, ameaçasse, ou quisesse me bater, o meu maior medo era vê-la entrar em surto como tinha acontecido há alguns anos com minha concunhada. Eu sabia que um corte no ombro não se comparava ao fato de ser baleado, mas a e a vivem em uma alerta tão grande pela minha profissão e a do que me deixava com medo do que poderia acontecer.
– Vem um rapaz. – ouvi falando e sai dos meus devaneios, dando-me conta de que estávamos escondidos e espremidos em um biombo, enquanto meu amigo espiava pela brecha. Quantos anos tínhamos? – Tem cara de residente! – a animação na voz dele era até engraçada, e o pior era eu me animar junto.
– Graças a Deus! – soltei, aliviado, e suspirei, passando a mão na testa, ouvindo mais uma leva de risadinhas. – É sério, eu já estava achando bom demais para ser verdade a não ter...
– Que palhaçada é essa? – engoli minha frase todinha e me tranquei mais ainda de susto quando vi o biombo quase ser partido ao meio por uma mulher raivosa. Linda para caralho, porém raivosa.
Até nossos agentes policiais tinham sidos pegos de surpresa pelo grito dela. Prazer, essa é .
– Oi, anjo! – respirei fundo, tentando apaziguar a situação, e ela me olhou com as sobrancelhas vincadas e os grossos lábios amassados em uma linha fina.
Merda, eu ia morrer sem ver meus coelhinhos antes.
– Hey, , minha irmãzinha! – o tentou puxar a atenção para ele, abrindo os braços para abraçar a irmã mais velha, como se minha mulher fosse um felino pronto para o ataque, e eu deveria me sentir grato, mas não foi bem assim.
– Não encosta, ! – ela esticou a mão para ele num grito cortante, e vi meu cunhado dar um passo para trás como se nada tivesse acontecido. Touchdown! – E você não vem com anjo para cima de mim, ! – tapa na minha cara.
– Não deu. – resmungou, encolhendo-se no canto, e os rapazes nem sequer abriram o bico.
Ah, parece que alguém viu que eu não estava exagerando.
– O que foi dessa vez? – ela suspirou, passando a mão no rosto, e puxou um banquinho para perto da maca. – Eu trabalhando e você me aparece machucado, ? – a indignação na voz da minha esposa era reconfortante, ao menos eu sabia que tudo estava dento do controle.
– Isso? Isso foi nada, amor. Só um cortezinho. – abri meu melhor sorriso forçado, encolhido na maca como se fosse um dos trigêmeos depois de aprontarem qualquer coisa errada, e me lançou o mesmo olhar severo que lançava para eles.
Eu só esperava pelos gritos.
– CORTEZINHO? – a minha mulher gritou, indignada, fazendo-me encolher mais no canto. – VOCÊ ESTÁ COBERTO DE SANGUE! – sacudiu as mãos, fazendo-me entender que ela estava apavorada e não mediria esforços para demonstrar. – ISSO É CULPA SUA! – ela apontou para o irmão, e meu cunhado apontou para o peito em completo pavor.
– MINHA?
– Eu falei que não era para te chamar! – soltei, desesperado, sem pensar duas vezes, e senti a palma da mão dela em contato com a minha cabeça. – Outch, anjo! – esfreguei o local com uma careta, e ela respirou fundo.
Por certo era para não me matar.
– NÃO ERA PARA ME CHAMAR? Qual a merda do seu problema? Você tem cinco filhos, não dá para morrer! – gritava, de olhos arregalados, e eu sentia meu ar faltar em vê-la desesperada.
– Anjo! Eu não estou morrendo, calma! – estiquei meus braços, tentando puxá-la para perto de mim, mas se esquivou, passando a mão no rosto. – Amorzinho, sempre sangra, mas é nada. – tentei explicar mais uma vez e a mulher soltou uma risada irônica na minha cara.
– Amorzinho é a puta que pariu! – ela estreitou os olhos, possessa com o apelido no diminutivo, e fiz uma careta.
Mancada.
Se tinha uma coisa que odiava era qualquer tratamento carinhoso no diminutivo, e eu sempre usava para irritá-la. Por quê? Porque minha esposa só faltava soltar fogo pelas ventas e, por mais estranho que parecesse, ela ficava mais gostosa ainda estando irada. Mas naquele bendito dia tinha simplesmente pulado da minha boca sem minha permissão.
– Tira o colete, tira a camisa, tira essa merda toda, porque eu vou olhar isso aí! – ela respirou fundo, sacudindo a cabeça e buscou o álcool em gel no bolso do pijama cirúrgico, como costumava chamar.
Depois de passá-lo nas mãos e voltar com ele para o bolso, minha esposa calçou as luvas, deixando-me encantado com a precisão que ela fazia aquilo, ainda bem descontente com minha postura.
Tirei o colete, sentindo o corte incomodar, e o coloquei ao meu lado na maca, depois a camisa, e fiz uma careta ao ver o quanto ela estava suja de sangue, mesmo sendo escura. De todo modo, tinha razão em estar brava e preocupada.
– E não era para te chamar para não te preocupar e nem te ocupar com algo simples assim. – tentei mais uma vez colocar na cabeça dela que não era nada demais, mas minha mulher era teimosa demais, e a única coisa que eu ganhei foi uma olhada mortal.
– Simples? Simples, ? – ela bufou, possessa, e com um gesto me mandou virar para que ficasse melhor para ela. Eu, como um bom marido, fi-lo. – Você me aparece com a merda de um corte no ombro e me diz que é simples? – a estava muito possessa, e eu, dividido entre ficar calado e rir, mas não dar um pio era a melhor solução. – LAURA, ME TRAZ UM PACOTE DE SUTURA! – minha esposa virou a cabeça, gritando por alguém que a ajudasse e depois soltou o ar pelo nariz, começando a limpar meu ferimento. – E você, ? – eu tinha certeza que ela tinha olhado para ele.
– Bem. Bem! Ótimo! – meu cunhado respondeu num sobressalto.
Medroso!
– Como foi isso? – ouvi a pergunta da e fiz uma careta de leve ao sentir ela limpando o corte. – Obrigada! – minha mulher agradeceu provavelmente a moça que tinha trazido o tal pacote de sutura.
– Eu fui desarmar o cara e me machuquei um pouquinho, anjo. – suspirei, sentindo ela parar de mexer em minhas costas. – Mas eu só vi depois.
– Vocês são dois tapados! – ela ralhou, xingando-nos e vi meu cunhado prender a risada. – Ah, anjo, Delegacia é mais tranquilo, o combate é mais perigoso. – ela tentou imitar meu discurso e abri a boca meio indignado, fazendo com que apenas e os agentes vissem.
– Geralmente é tranquilo. – ressaltei, transbordando obviedade, e ganhei um cutucão na cabeça. – Ai! – reclamei, ouvindo as risadinhas. – Eu falei para não chamar. – arregalei os olhos, reclamando ao . – E geralmente é tranquilo, amor. – tentei convencê-la mais uma vez, embora soubesse que ia ser complicado.
– E se tivesse empalado? O que eu ia fazer com um marido esfaqueado? Já não bastou o incidente com o há três anos? – ela perguntou, apavorada, e suspirei agoniado por não conseguir acalmar a fera. – Ah, , nós duas passamos ordem de avisar quando qualquer um de vocês chegasse. Você não escapa da moça. – minha mulher falou com uma astúcia incrível.
– Ai merda! – meu cunhado resmungou baixo.
– E você, Mr. , é bom parar de ser afoito desse jeito, meu coração agradece. – fiz uma careta ao sentir uma pontada no corte, mas infelizmente ela tinha razão.
– Prometo que eu vou tomar mais cuidado, anjo. – suspirei, sentindo a dor ir desaparecendo e entendi que a tinha anestesiado o corte.
– Pegaram o vagabundo que fez isso com meu marido? – ela ralhou indignada e abri meu sorriso mais largo. Ah, sim, eu tinha me inflado todo. O que seria de mim sem uma mulher daquela na minha vida? – Porque, se eu encontrar, eu mato!
– Pegamos, sim, senhora! – os três, os três mesmo, responderam num corinho quase parecendo da idade dos meus trigêmeos, e olhei para , que prendia a risada, assim como eu.
– Eu estou bem, prometo, amor! – tentei mais uma vez e a ouvi rir baixo.
– Eu sei. – a ouvi responder e logo senti um beijo na cabeça. – Vou começar. Se doer, me diz. – disse, afirmei com um aceno.
– Quem olha para a cara, não diz que estava cagado! – meu cunhado debochou, bem descarado, da minha cara e estreitei os olhos, projetando o corpo para frente de uma vez.
! – gritou.
– Ok, desculpa! – arregalei de leve os olhos e ouvi risadas. – Eu já enfrentei, sua hora vai chegar, !
– Eu não estou estraçalhado, já é um avanço! – meu cunhado disse, rindo.
– Mas está com medo! – retruquei como se fosse a Sarah, minha filha do meio, no auge dos seus oito anos.
– Sempre! – disse numa convicção tão grande que pude ouvir a gargalhada espontânea da minha mulher. Suspirei, aliviado. – O pior não é nem não a ver, o pior é vir aqui e sair antes dela aparecer, aí a encrenca estava armada. – ele disse, rindo, e rimos juntos.
– Terminei aqui. Algum outro machucado, amor? – perguntou, tirando as mãos de mim, e ouvi o estalo da luva, o que significava que ela estava livrando-se do material.
– Não, anjo. Tudo isso. – voltei a sentar de um jeito que eu conseguia vê-la e sorri aliviado por ter passado tudo bem. – Mais alguma coisa que eu deva fazer?
– Tomar o reforço da antitetânica. – ela suspirou de leve e pegou mais um par de luvas. – Sobre o machucado, eu não confio em você, mostra-me. – bateu de leve o látex na palma da mão e abri a boca para protestar que eu já estava sem camisa. – Eu não confio em você. Mostra-me!
– Ela vai demorar a descer, ? – meu cunhado interrompeu a loucura da irmã.
– Ela já desce, . Estava em uma craniotomia. – ela sorriu para o irmão, e meu cunhado afirmou com um aceno de cabeça. – Licença, meninos. – minha mulher pediu de forma educada e os quatro afirmaram, encaminhando-se para sair do biombo. Das duas, uma: ou eu morreria, ou ela me faria ficar imensamente culpado com as reclamações. – Olha o que você faz comigo! Nós temos cinco filhos, eu não consigo cuidar deles estando sozinha! – não disse?
Mas eu não tirava a razão dela. Soltei um suspiro, cansado, e abri os braços, chamando-a para um abraço.
– Amor, vem cá! – chamei-a e em poucos segundos senti se fundir em mim, abraçando-me com força como se eu pudesse fugir a qualquer momento, mesmo ela sabendo que eu nunca faria aquilo, e a abracei com a mesma força, encostando a boca na testa dela. – Isso não vai acontecer, ok? Eu sei que não posso prometer, mas mesmo assim eu prometo. – beijei-a na testa mais uma vez, sentindo um conforto maravilhoso ao ter o calor dela tão perto.
– Você não pode prometer nada, safado! – ela me xingou com um deboche imenso na voz e deu um tapa na minha cintura, fazendo-nos rir alto.
– Mas mesmo assim eu prometo, porque eu me recuso a ficar sem você e os nossos coelhinhos. – beijei-a no nariz, vendo um sorriso lindo nos lábios mais lindos ainda da minha linda esposa. – Simplesmente é uma coisa que eu não vou conseguir.
Minha mulher suspirou, um tanto frustrada, e eu tinha certeza que era pelo meu trabalho, não o trabalho, mas os perigos que eu me metia trabalhando.
– Você está todo machucado, olha seu rosto. – segurou meu rosto entre as mãos, como se analisasse o quanto eu estava machucado. – Isso foi uma cotovelada, não foi?
– Foi, mas não dói. Prometo, isso é normal. – ri baixo e roubei um beijinho como se ainda fossemos dois adolescentes no colegial. Era como se eu ainda fosse o garoto bobo apaixonado pela monitora de química, e aquilo nunca iria mudar. – Eu geralmente não me machuco e você sabe, mas prometo que vou me cuidar. – abracei-a com um pouco mais de força pela cintura.
– Claro que sei! – o gritinho saiu esganiçado e a beijei mais uma vez. – Mas que merda foi essa hoje? Cheio de hematoma e dez pontos no ombro. Deus, os meninos vão querer saber de absolutamente tudo. – arregalou os olhos de leve, fazendo-os ficarem bem redondinhos, e abri um sorriso encantado.
– É, hoje foi uma loucura. E já me vejo horas sentado no chão da sala continuando tudo com detalhes inventados. – falei com a mesma empolgação, fazendo-a rir e negar com um aceno, escondendo o rosto em meu pescoço em seguida. – Os trigêmeos vão enlouquecer! “Conta, conta, conta, pai!” – tentei imitá-los, o que só fez rir mais, e ali eu sabia que tinha conseguido meu perdão.
– Ah, vão! Desse jeitinho! – minha mulher soltou uma leve risada, de olhos fechados, e deu alguns leves beijinhos em minha bochecha, enquanto ainda me abraçava com força.
– Desculpa pelos cabelos brancos, anjo. – pedi, de certa forma arrependido por todas as preocupações que eu vinha dando a ela há um bom tempo.
– Faz parte! – ela deu de ombros com um sorriso travesso abrigado naqueles lábios tão lindos e convidativos. – Você tem bem mais! – riu de forma espontânea quando viu minha cara de indignação e me beijou.
Abracei-a com força pela cintura, sentindo as mãos dela subirem em meus ombros e finalmente se agarrarem em meu cabelo escuro, completando de vez o que eu esperava. Apertamo-nos com mais força, enquanto sentia o ombro começar a incomodar, o de menos na situação. Senti que eu estava vivo, sentir que eu tinha comigo e saber que eu encontraria meus coelhinhos em poucas horas era o que mais me confortava, sabendo que a missão tinha sido cumprida.

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’s POV
Michael, Anthony, Thomas e eu saímos do biombo onde ainda cuidava do ferimento no ombro de e verificava a existência de possíveis outros, mesmo que tivéssemos dito várias vezes que, fora o machucado no ombro, ele estava bem, e fomos para o corredor. Michael e eu ficamos de costas para a secretaria do hospital, enquanto os outros dois se mantiveram de frente para o local, observando toda a movimentação que acontecia no ambiente. Alguns minutos depois, os quais foram preenchidos por conversas amenas, vi meus dois companheiros soltarem risadinhas nervosas enquanto olhavam para um ponto mais à frente. Franzi o cenho, mas não precisei de muito tempo para descobrir o motivo de suas reações, pois logo pude sentir um perfume muito conhecido por mim preencher o ambiente, fazendo-me arregalar os olhos e me virar com cuidado para a direção de onde o som, que agora havia cessado, vinha e constatar o óbvio. Era minha vez de levar ralhada. Talvez morrer, nunca se sabe.
– Bom dia, meninos! – saudou com a voz alegre e calma. Até demais.
E, juntando isso ao fato de que ela ainda não havia olhado para mim, dava-me a certeza de que a situação não estava bonita para o meu lado também, na realidade estava bem feia. Eu havia entrado no hospital sem machucados, mas não tinha certeza que o deixaria no mesmo estado.
– Oi, amor da minha vida! – Comecei, com tom de animação em minha voz, abrindo os braços e dando um dos sorrisos mais trincados e culpados que eu já tinha dado na vida.
Minha esposa levantou a sobrancelha, desconfiada até o último fio de cabelo, completamente desconfiada de minha atitude, essa era minha maior certeza.
– Não vem com “amor da minha vida”, ! – Ralhou.
Era agora que eu corria?
– Mas é porque você é o amor da minha vida! – Atrevi-me a dar um passo em sua direção, depositar um beijo em sua cabeça e a abraçar rápido.
Ela não retribuiu, mas também não tirou uma arma do jaleco e me deu tiro na cabeça, coisa que, nas atuais circunstancias, poderia ser considerado como uma coisa ótima, um avanço muito grande.
– Sei bem como sou. Larga, larga, sem abraço. – Pediu, com a voz em um tom irritado.
Suspirei pesado, levantando as mãos em rendição, e voltei para a posição anterior, ouvindo os amigos da onça, mais conhecidos como meus companheiros de trabalho, rirem de mim. Impedi meus olhos de se rolarem. Se eles não respeitam suas mulheres, o problema é inteiramente deles, eu respeito. Não é medo, é respeito. Ok, talvez um pouquinho de medo. Não me julguem!
– Por que vocês estão aqui fora? – A médica perguntou para Anthony, voltando ao tom normal.
– Porque o delegado se feriu em combate, senhora . – Anthony respondeu, sério e obediente.
Sabia que em algum ponto eles baixariam a crista. Minha mulher arrasa, sociedade!
está atendendo ele? – voltou a perguntar, após soltar um suspiro que eu não sabia o que significava, mas torcia do fundo do coração que fosse de alívio e a acalmasse um pouco.
– Sim, está lá. Mas está tudo bem, prometo! – Tomei a frente na resposta, mordendo a boca para não rir diante da preocupação de minha esposa, que mantinha a cara fechada, não escondendo o quanto reprovava nossas atitudes, ou o fato de e eu sermos “fora da casinha”, como ela mesma dizia. Poxa, amor, não é isso. A gente só gosta de trabalhar nas operações! – Foi um corte no ombro, mas ele está bem!
– Não ouse rir, ! – A neurologista me ralhou, encarando-me como se a qualquer minuto fosse me fuzilar com os olhos.
No mesmo momento engoli o riso e arregalei os olhos.
– Amor! – Reclamei, fazendo-me de ofendido.
E vocês acham que ela se importou? Acertou quem disse não. Um grande e gordo não na minha cara. Oh, mulher complicada, viu?
– Não vem com amor para cima de mim, ! – Xingou mais uma vez, nervosa, e decidi que era a hora de me fechar, ou eu tinha quase certeza que corria risco de apanhar da baixinha. – E eu não acredito em vocês! – Decretou sobre o fato de eu ter dito que estava bem. Se eu não soubesse que sobraria para mim, poderia até me sentir ofendido. caminhou até o biombo e ergueu os pés para ficar mais alta. Com certeza era para falar com a cunhada e saber como o tapado do meu compadre estava.
? Tudo bem com o tapado 2? Nenhum indicativo neurológico? Dor de cabeça? – Não falei? Mas espera... tapado 2? Poxa, amor, assim magoa!
– TUDO CERTO! está inteiro, porém com dez pontos no ombro. – Ouvi minha irmã gritar de volta e vi minha esposa assentir, finalmente convencendo-se de que havia sido apenas um pequeno acidente de trabalho, bem normal para a profissão de policial.
– Estou bem! – Um que terminava de vestir a camisa garantiu, saindo do biombo com os olhos levemente arregalados. – Eu não caí, foi durante a briga!
– Volta lá, eu não sei até onde posso confiar em vocês! – apontou para o biombo com o dedo indicador, claramente indicando que o delegado deveria entrar novamente no ambulatório para que ela pudesse examiná-lo.
Mulher teimosa, viu? Era apenas um corte de raspão, mais nada. Ele não iria morrer ou algo do tipo. Mas eu sabia que não poderia reclamar muito, pois ela só havia se tornado assim, tão preocupada, por minha culpa, desde que eu fora baleado alguns anos atrás. Ela estava grávida dos nossos gêmeos, e foram meses de uma complicada recuperação que culminou com o pedido dela para que eu largasse o trabalho de rua e me tornasse Escrivão de Polícia. Na época reconheço que odiei a ideia, mas não tinha muitos argumentos de contestação, então acabei tendo que acatar.
– Tudo bem! Eu não mando em nada mesmo! – respondeu, levantando os braços em rendição e dando de ombros.
– Ainda bem que você sabe! – Minha irmã mais velha declarou, rindo, dando um tapa no ombro sadio do marido, que resmungou um “ai, anjo!”, encolhendo-se após o tapa e fazendo todos os nossos companheiros de trabalho rirem. Eu devia tê-los deixado na delegacia antes de vir trazer meu cunhado para cá, esse circo todo era um prato cheiro para zoações futuras!
– Amor, eu te falei. Esse caso era um dos mais complicados, e a gente ia fechar ele hoje! E conseguimos! – Exclamei bem feliz, com os olhos um pouco arregalados, demonstrando e tentando passar para ela toda a animação e empolgação que eu sentira naquele momento.
Qual é, o ferimento foi apenas um erro de percurso! Mas claramente minha tentativa de acalmá-la foi frustrada, pois ela me encarou com a expressão fechada, como se quisesse dizer que não estava de brincadeira. E não estava mesmo. Deus, eu sabia que REALMENTE não estava para brincadeira. É hoje que eu morro, sem escapatória. Adeus, mundo cruel! Foi bom enquanto durou!
– Eu vou examinar o seu amigo e depois a gente conversa, . – A mulher apontou para mim, séria, e eu arregalei os olhos, engolindo em seco audivelmente. E foi o que bastou para que eu ouvisse as risadas atrás de mim. Gargalhadas! Altas! Mas, sinceramente? Naquele momento não me importava. A única coisa que eu queria era sair daquele hospital sem machucados. E não tão desmoralizado, se não fosse pedir demais. – E nem pense em ir embora!
– Eu não vou embora! Dá para acreditar em mim? – Pedi, fingindo uma certa decepção, mesmo sabendo que aquilo teria efeito zero sobre minha esposa. – Eu vou ficar aqui! Só vou embora quando você liberar! – Garanti, como se estivesse com um machucado grave que precisasse ser examinado pela neurologista, e não sem um arranhão.
E não precisou de mais nada para que as risadas recomeçassem, aliás, intensificassem-se. Meus companheiros riam alto, chorando de rir, até mesmo apoiando-se uns nos outros. Rolei os olhos. Ótimo, eu era motivo de chacota! Obrigado, esposa!
– Cala a boca, bando de desocupado! – Xinguei, rolando os olhos, apontando para os tapados que riam escandalosamente da minha cara. Ninguém sabe que isso aqui é um hospital e não se pode ter essa gritaria toda? Gente desrespeitosa!
– Eles não têm culpa das coisas que você faz! – os defendeu, xingando-me, levando-os a rir mais da minha cara e meu queixo a quase bater no chão.
! Não tira a pouca moral que eu tenho! – Esganicei, mas minha adorável esposa não pareceu se abalar em nada, visto que apenas se virou para , fazendo um gesto para que ele entrasse no consultório e, depois que ele passou por ela, fechou a porta.
Certo, agora era certeza. Minha moral naquela delegacia seria negativa daqui para frente.
Bufei, frustrado, passando as mãos pelo rosto e depois descendo para a nuca, buscando aliviar um pouco da tensão daquele dia. Caminhei até o outro lado do corredor e sentei em posição de índio, apoiando as costas na parede clara e a sentindo doer um pouco. Mas eu não reclamaria desse pequeno detalhe, ou a situação pioraria ainda mais para mim.
– Se essa história sair daqui, é suspensão para todo mundo! – Ameacei, mesmo sabendo que adiantaria de nada. Mesmo que minha moral não estivesse tão destruída, eles sabiam que eu nunca faria isso, eu não era o tipo de chefe que achava que era mais do que seus subordinados. Aliás, eu abominava isso com todas minhas forças. – Enfim, vocês estão dispensados. Nós não vamos sair daqui tão cedo. – Suspirei, frustrado, e eles saíram em fila após se despedirem de , rumando para fora do hospital para voltar a delegacia.
Respirei fundo. Eu ia matar Hérnanez por ter ferido , ia mesmo. Promessa! Se não fosse por ele, eu não estaria aqui, poucos minutos de ser levado para a forca!
– Clinicamente ele está bem, mas os neurônios estão claramente queimados! – Ouvi rir, zoando o fato de e eu gostarmos tanto de trabalhar nas ações, de estar na rua garantindo a segurança de toda a população da cidade. Eu só não conseguia entender como diabos elas não viam isso! Mesmo assim, suspirei, aliviado. Era muito bom saber que tinha sido apenas um susto mesmo no final das contas. – Liberado! Só cuidado! – Ela sorriu, esticando-se para dar um beijo na bochecha do amigo.
– Pode deixar! A comandante aqui já me passou o plano de cuidado! – Meu cunhado riu, abraçando minha irmã de lado e depositando um beijo em sua cabeça.
– Eu sei! Você tem a melhor do seu lado! – sorriu, elogiando , que sorriu de volta.
– Eu sei. E o tapado do seu marido também! – Ouvi minha esposa rir, um pouco envergonhada, como ela sempre ficava quando elogiavam seu trabalho.
Mas eu concordava sem tirar nem pôr, eu tinha as melhores médicas do mundo ao meu lado e me sentia muito honrado por poder dizer que ambas faziam parte da minha família.
girou os calcanhares, virando em minha direção, e eu prendi a respiração.
– Minha conversa é com você agora, ! – Anunciou, calma.
E foi justamente essa aparente calma que me fez quase mijar nas calças. Respirei fundo, soltei o ar devagar.
– Boa sorte, compadre! – me deu uma tapinha nas costas, como se fosse para me passar força para enfrentar o estava por vir.
Afirmei e sorri amarelo. Suspirei, passando as mãos pelos meus cabelos, seguindo minha esposa pelo caminho que eu sabia ser de seu consultório. Conversa privada, merda. Definitivamente aquela era a minha hora.
Entramos na pequena sala branca de móveis escuros e eu passei os olhos pelo local, ainda que o conhecesse bem demais pelo tanto de vezes que já havia estado lá ao longo dos anos. As prateleiras abarrotadas de livros de medicina e as paredes claras ganhavam vida com as fotos que as preenchiam, fotos que ilustravam os quase doze anos do meu relacionamento com . Fotos desde o tempo em que éramos apenas namorados, até os dias de hoje, com nossos três filhos. Aquelas quatro pessoas eram tudo para mim, sem sombra de dúvidas, e não há nada que eu não faça por elas.
Desviei o olhar das imagens para focá-lo na mulher a minha frente, sentada em sua mesa de trabalho e encarando-me com cara de poucos amigos.
– O quê? – Provavelmente não era a melhor forma de iniciar a conversa, visto que a mulher estava realmente brava, mas mesmo assim arrisquei.
Sim, eu já fiz muita merda na vida, dado muita mancada e me arriscado muito pela minha profissão, mas já não era mais assim, não era assim há muito tempo! Agora eu era responsável, inteiramente responsável, e minha maior preocupação era voltar bem para casa, como tivesse sido hoje. Eu estava bem, sem um mísero arranhão.
– O quê, ? Jura? – ralhou, irônica, rindo sem um pingo de humor, e brava, bem brava.
Merda, eu estava ferrado para caramba.
– Sim! Eu estava trabalhando! Eu não fiz nada! – Argumentei, nervoso.
Rezando para todas as divindades que eu conhecia e algumas até que eu não conhecia, pedindo para que ela entendesse de uma vez por todas que eu estava bem, que tudo estava bem. Tudo que eu queria era tirar dela esse medo de que fosse acontecer alguma coisa comigo toda vez que eu saísse para uma ação. Medo esse que infelizmente eu era o responsável em ela cultivar.
– Você por acaso mudou de cargo? Porque, a última vez que eu chequei, você era escrivão. Escrivão, . Sem trabalho de rua. E principalmente sem arriscar morrer! – exclamou, nervosa, passando as mãos pelos cabelos, e vacilou no final da frase.
me pediu uma força. Eu tenho experiência, eu fui! Sem contar que eu gostava do que eu fazia antes. Era uma operação grande, ele não ia conseguir sozinho, e eu não ia arriscar deixar minha irmã viúva, eles têm cinco filhos! Mas eu tomei cuidado, prometo! Eu não me arrisquei! – Garanti, com a voz em tom baixo e calmo, tentando passar para ela toda a segurança em minhas palavras. Caminhei até onde ela estava e segurei suas mãos, entrelaçando nossos dedos.
– Você sempre se arrisca, amor! – Ela falou baixo, encarando nossas mãos unidas. Ri baixo, pois sabia que o que ela dizia era verdade, eu tinha uma tendência incrível de achar que eu era invencível quando era mais novo. E até hoje ás vezes ainda era um pouco inconsequente. Mas uma coisa era boa, já parecia mais calma, ou menos disposta a me matar, como preferirem. – E eu posso arriscar ficar viúva?
– Não, não pode e nem vai! – Garanti com a maior certeza do mundo, apertando com um pouco mais de força suas mãos. – Eu sei que eu me arrisco, mas é parte do meu trabalho! Isso é para tentar proteger as pessoas, tentar deixar essa cidade melhor para a gente viver! Te dar segurança e qualidade de vida. É por isso que eu faço tudo isso, amor!
– Você não sabe! Quantas vezes você já veio para o hospital todo quebrado e matando-me de preocupação? – Argumentou, ainda encarando nossas mãos, e suspirei, sentindo-me mal por ver ela daquele jeito por minha causa. Muito mal, na verdade.
– Mas não é mais assim! Agora eu me cuido! Pode olhar, estou inteirinho! – Garanti mais uma vez, brincando, apontando para meu peito, para mostrar que eu estava, sim, bem. Aproximei-me mais, dando um beijinho em sua bochecha, para a minha sorte, ela não recuou. – Eu preciso ficar inteiro para ver vocês no final do dia! – Garanti, com toda a sinceridade do mundo, segurando o rosto da minha esposa com cuidado, fazendo com que ela olhasse para mim, nos meus olhos, e visse que eu estava sendo completamente honesto.
– Dessa vez! Mas poderia ter acontecido alguma coisa! – A neurologista falou mais uma vez.
Se o momento fosse outro, com certeza eu brincaria dizendo que ela parecia um disco riscado.
– Mas não aconteceu! Não comigo! Calma! – Sorri, encarando-a, e quase explodi de alegria quando a vi retribuindo meu gesto, mesmo que minimamente e ainda parecendo um pouco triste e preocupado.
Não esperei um só segundo para puxá-la para meus braços, abraçando-a forte e da forma mais protetora que eu conseguia. Eu só queria mostrar que ele sempre teria o meu abraço. Que, se dependesse de mim, era ali ela ficaria para sempre, protegida de tudo que pudesse machucá-la.
– Não consigo! – disse com a voz abafada e baixa, pois seu rosto estava enterrado em meu peito, e eu ri.
– Consegue, porque você é a melhor!
– Não consigo, porque eu casei com um louco! – Preciso dizer que essa frase foi o que bastou para me fazer gargalhar alto? Acho que não.
– Ninguém é certo nessa família! – Ri, referindo-me aos dois casais, e ela bateu no meu peito fingindo protestar. O que só serviu para me fazer soltar outra risada alta e baixar a cabeça para depositar um beijo em seus lábios. – Você casou comigo, querida, não tinha como ser!
– Justo! – Minha esposa se deu por vencida, rindo e aconchegando-se melhor em meus braços. Respirei fundo, inspirando o cheiro do shampoo que ela usava. – Certeza que você está bem? Às vezes a adrenalina engana!
– Toda a certeza do mundo! Seu abraço melhora meu dia em 500%! – Sorri, beijando de leve a cabeça da minha mulher, sentindo-a suspirar.
– Eu ainda estou brava com você, . – Sabe aquela coisa de você falar uma coisa, mas querer dizer outra? Essa era a situação do momento. Eu tinha certeza de que não estava mais brava, e isso era bom, muito bom para mim!
– Sinal que eu voltei vivo para casa. – Declarei, dando um beijo em sua testa e sentido apertar um pouco mais os braços ao redor do meu corpo.
– Você não poderia ser um péssimo policial? Eu agradeceria! – resmungou e soltei uma gargalhada. Essa mulher me mata, Senhor! – Não ri! É sério!
– Não, não dá para ser ruim quando você gosta do que faz! – Ri, beijando-a. – E eu sei que você gosta! – Pisquei, galante.
Eu sabia que, lá no fundo, gostava do fato de eu ser policial e sentia orgulho de mim, da mesma forma que eu sinto um imenso orgulho dela. Definitivamente eu sou o cara mais sortudo de todos!
– Vergonha eterna de mim! – Outro resmungo, seguido de um muxoxo, e novamente eu ri.
Sabia! Eu disse ela gosta, não disse?
– Orgulho eterno da minha incrível esposa!
– Tem certeza que você não está machucado? É elogio demais! – A neurologista mais linda do mundo me olhou, desconfiada, e eu apertei suas bochechas, fazendo-a rir.
– Tenho, mulher! Quer que eu tire a roupa para você conferir? Eu tiro! – Zoei, arrancando uma gargalhada gostosa da minha médica preferida.
– Ninguém quer te ver sem roupa! – quase gritou, rindo.
Poxa, amor, assim magoa....
– Então me libera! – Beijei-a. – Eu quero ir para casa ver meus meninos!
– Liberado! – sorriu abertamente.
O sorriso mais lindo do mundo, sem sombra de dúvidas, e o meu preferido para sempre.
– Obrigado! Te espero em casa! – Beijei outra vez e a abracei de novo.
– Eu devo demorar um pouco, tenho outra cirurgia. – fez careta desgostosa e eu ri.
– Todo tempo do mundo para a melhor cirurgiã do planeta! – Fiz reverência exagerada, acarretando outra gargalhada de minha esposa. – Pode deixar, cuido de tudo lá em casa!
– Obrigada! – A mulher se esticou para me beijar e eu sorri, acenando e logo saindo de sua sala.
Finalmente estava indo para casa!

-x-x-x-

Depois de sair do hospital, passei no supermercado para comprar os mantimentos necessários para cozinhar o jantar e depois busquei meus meninos na casa da avó, minha sogra, que ficava com eles toda vez que e eu precisávamos até mais tarde, como o caso de hoje. Eu teria plantão noturno, e nem preciso comentar que ela surtou e me fez contar a história sobre o que tinha acontecido mais ou menos vinte vezes, não é mesmo? Pois foi isso mesmo que aconteceu. Perceberam que a preocupação exagerada é de família, não perceberam?
Enfim, depois que chegamos em casa, deixei os meninos no quarto que eles dividiam e me dirigi à cozinha para iniciar o preparo do jantar. Alguns minutos, coloquei a torta salgada no forno e voltei para onde meus pestinhas estavam, quase destruindo o quarto, como de costume. Dei banho neles, vesti-os, depois jantamos – eles fizeram a maior bagunça com a espuma, enquanto eu lavava a louça, outra coisa bem típica na residência dos –, e depois juntei os três na minha cama de casal para assistirmos um filme infantil no qual os três pirralhos estavam obcecados. Missão Pai cumprida com sucesso!
Pouco tempo depois, os mais novos adormeceram, sobrando apenas Thomas e eu concentrados nos carros falantes que, de uma forma um pouco esquisita, para dizer a verdade, comportavam-se como seres humanos. Após de o que eu acreditava ser o décimo bocejo, desviei os olhos da televisão e o que encontrei encostado no batente da porta me fez abrir o sorriso mais gigante do mundo. Minha linda esposa olhava para nós com um sorriso iluminado. Linda como sempre, mesmo por trás da cara de cansaço devido às horas de trabalho. Senti a movimentação no colchão, e, segundos depois, Thomas, meu primogênito, já se encontrava sentado na cama, todo agitado e com certeza pronto para gritar pela mãe.
– Sem barulho! – Adverti com os olhos levemente arregalados e o dedo indicador em riste em frente a boca, indicando que a criança não podia fazer muito barulho ou corria o risco de acordar os mais novos.
– Mamãe! – Thomas falou em um tom baixo, porém mais do que animado, e em seguida desceu da cama e correu até a mãe, abraçando suas pernas.
– Oi, filho! – A mulher cumprimentou, erguendo a criança no colo e depositando um beijo em sua bochecha.
Tom cruzou os bracinhos pelo pescoço da mãe e a apertou no abraço, retribuindo o beijo logo em seguida.
– O papai nos contou uma história muito legal antes do filme! – Tom se agitou, arregalando os olhinhos azuis que eu tinha muito orgulho em dizer que eram iguais aos meus.
– Mesmo? – Minha mulher retribui a animação, parecendo bem ansiosa para o nosso filho a contasse a tal história bem legal, mesmo que ela já soubesse qual era. – Conta-me!
– Ele, o tio e mais os tios da delegacia prenderam um cara mau hoje! Ele contou enquanto fazia o jantar! – Meu filho contou um pouco embolado, mas extremamente animado, contente e por que não dizer orgulhoso do que os “tios” e eu tínhamos feito, o que me fez rir baixo enquanto levantava e pegava com cuidado os gêmeos para levá-los para o quarto.
– Que legal! Que bom que o papai, o tio e o os tios da delegacia prendem os caras maus, não é mesmo, Tom? Que sorte a nossa! – Minha esposa estava pagando pau para mim? É isso mesmo, produção? Uau! Abri o maior sorriso do mundo, completamente satisfeito com aquelas palavras. Era bom ver os papeis invertidos, para variar.
– Sim! Aí ele contou que foram no hospital e você estava usando seus superpoderes para curar o cérebro de alguém! – O menino de sete anos exclamou bem animado e beijou a bochecha da mãe, que retribuiu o gesto, rindo do que o filho tinha dito.
e sua velha mania de achar que não é tão boa quanto ela, na verdade, é. olhou para trás, vendo-me com os pequenos no colo e sorriu, perguntando se eu precisava de ajuda. Neguei.
– Não, não, você está cansada. Deve estar destruída. – Beijei sua bochecha e ri quando a vi afirmar com uma careta desgostosa. – Fica com o grandão aí, eu já volto. – Ri mais uma vez, beijando a bochecha da minha criança mais velha e deixando o quarto para acomodar os pequenos em suas camas. Antes de deixar de vez o quarto, ouvi contar para um Thomas extremamente animado sobre como a havia curado o machucado de e como agora ele já estava bem e pronto para outra. Claro, claro, como se elas realmente acreditassem nisso.
– Você está cansada, mamãe? – Tom perguntou para a mãe, abraçando-a forte pelo pescoço, e a mulher riu e mediu um espaço pequeno com os dedos, como se quisesse dizer que estava apenas um pouco cansada, o que eu sabia que não era verdade. Foram duas cirurgias grandes apenas hoje! Entrei novamente no quarto e abracei minha mulher e filho em um bolo só, depositando beijos na cabeça da neuro godess e do mini . – Quer que eu e o papai preparemos seu banho? Que nem você faz para a gente?
– Quer, mamãe? – Reforcei a pergunta, sorrindo largamente e beijando-a a bochecha.
– Gente, como recusa isso? – fez uma careta, como estivesse sofrendo, e Tom e eu rimos alto. Simples, amor, não recusa!
– Vamos preparar um banho quente e cheiroso! – Thomas se animou, fazendo uma dancinha, bem animado, no colo da mãe, balançando os braços.
se contagiou e começou a dançar junto, fazendo nosso filho rir alto. Para mim não havia melhores sons no mundo do que as risadas da minha família. Isso que me movia a voltar para casa são e salvo todos os dias.
– Ai, estou velha! – Minha esposa riu, colocando a mão no joelho, que com certeza estava dolorido por causa das horas em que ela havia ficado em pé operando seus pacientes.
– Que nada! Seu rosto está lisinho, velho é o papai! – Tom zoou, com carinha de travesso.
Arregalei os olhos. É o que, criança?
– Thomas! – Fingi ultraje e ouvi as risadas descontroladas dos dois integrantes da minha amada família. chegava a estar vermelha de tanto rir. Muito bem, , a sua moral realmente está negativa. E o problema maior é que eu estava longe de me importar com isso. – Vai ligar a água da banheira, vai, moleque! – Tentei me fingir de bravo, mas minhas risadas entregavam completamente o estado contrário.
Tom bateu a mão com a da mãe em um high five e depois desceu do colo, carregando para o banheiro fazer o que eu tinha pedido. virou para mim, sorrindo com o sorriso mais lindo do mundo, o qual eu havia me apaixonado mais de doze anos atrás, e continuava me apaixonando a cada dia mais. Era indiscutível o amor que eu sentia por ela e que eu faria tudo que ela me pedisse.
– Velho! – Ela me zoou, sorrindo travessa.
Nesses momentos, eu via traços de em Thomas, ainda que, sem dúvidas, nosso mais velho fosse o que mais se parecia comigo.
– Não posso deixar de concordar. Sou velho mesmo, mas o velho mais feliz do mundo com a família que eu tenho! – Afirmei com a maior convicção do mundo, apertando-a em meu abraço e a beijei a cabeça.
Senti se aninhar em meu peito, com os braços circundando minha cintura, e sorri.
– Está cheio de espuma já! Bem bonito! – Thomas gritou, completamente animado, voltando correndo do banheiro. A criança começou a pular como se tivesse molas nos pés, fazendo-nos rir. sorriu, agradecida pelo belo trabalho que o filho havia feito na preparação do banho.
– Passou a hora de dormir, mocinho. Vamos para a cama? – Sugeri para meu filho depois de olhar para o relógio e constatar que já estava bastante tarde, havia passado muito da hora em que as crianças iam dormir normalmente.
Tom fez um bico gigante, digno de dar pena a toda a população mundial. Meu filho era muito, muito dramático.
– Eu não quero dormir, mamãe! – Choramingou, com os olhos grandes, parecendo o gato de botas.
– Mas precisa, meu amor. Está bem tarde. – argumentou, com um bico gigante também. Outra coisa que Thomas havia herdado dela, o dom para a dramaticidade.
– Eu não posso ficar acordado? – Thomas tentou mais uma vez, tentando nos convencer a deixar que ele ficasse mais alguns minutos acordado.
– Hoje não dá, Tom. Tem escola amanhã. – Entrei para o ‘Clube dos bicudos e dramáticos da família ’.
Tom aumentou ainda mais o bico.
– Promete que amanhã você vai me buscar? – Thomas perguntou para a mãe, referindo-se ao colégio em que ele estudava, com os olhinhos ainda maior e mais pidões do mundo.
– Claro! Claro que eu vou buscar. E levar também! E depois da escola a gente vai sair! – piscou, sorrindo largamente.
Tom imediatamente começou a pular, instantaneamente animado. Será que eu poderia pedir folga da delegacia e me juntar a eles? Porque honestamente era o que eu mais queria. Acho que a possibilidade de uma tarde de diversão ao lado da mãe e dos irmãos convenceu Thomas a respeito do fato de que ele precisava dormir, pois ele veio se despedir de nós e em seguida correu para o quarto que dividia com os irmãos mais novos.
– O banho, Mrs. ! – Sorri, abraçando minha esposa de lado e beijando sua cabeça.
– Meu banho! – exclamou, como se de repente se lembrasse do banho, e vi seus olhos brilharem, fazendo-me sorrir.
ficou nas pontas dos pés para dar um beijo estalado em meus lábios e correu para nosso closet, pagando uma camisola bem solta, porém bonita para usar depois do banho. Mandou-me outro beijo alado e entrou no banheiro em seguida. Caminhei até a penteadeira de e peguei o banquinho estofado dela, que usava para se maquiar quando saímos para alguma festa ou jantar ou quando ela se sentia “inspirada” para ir maquiada para o hospital, como ela mesmo dizia. Peguei o banquinho e entrei no banheiro de nossa suíte. De início, pareceu um pouco confusa sobre o motivo de eu estar lá, mas quando coloquei o banquinho ao lado de sua cabeça e iniciei a massagem em seus ombros, ela relaxou.
– Como foram as cirurgias? – Perguntei e a ouvi suspirar, cansada.
– Complicadas. – fez uma careta desgostosa. Eu sabia que ela amava ser médica, neurologista, mas assim como o meu trabalho, às vezes exigia bastante e acabava sendo complicado de lidar.
– Nada é complicado para a super ! Aposto que você tirou de letra! – Elogiei, esticando-me para beijar levemente seu pescoço.
– Menos, bem menos. Você é o super da família! – Eu? Jamais, mulher! Você que arrasa a coisa toda!
– Era investigação do quê? – Minha esposa perguntou, referindo-se à operação que havia nos levado para o hospital naquele dia.
– Tráfico de drogas. Estouramos uma boca de fumo, a primeira de mais alguns da mesma teia, aliás. Foi revigorante entrar em campo outra vez, sabe? Ir a fundo, descobrir as coisas. Sentir que eu faço alguma coisa mais diretamente. Foi ótimo poder acompanhar a operação. – Finalizei com um sorriso no rosto.
Eu realmente gostava daquilo tudo. Ser policial realmente era a profissão certa para mim.
– Você gosta bastante disso, né? – perguntou e eu afirmei com a cabeça, mesmo que ela não pudesse ver.
– Sempre gostei.
– Você falando tão feliz sobre tudo isso e eu me sinto uma vaca. – Ela tentou fazer graça, mas não foi efetiva.
Suspirei, sabendo exatamente do que ela estava falando. Eu odiava saber que ela ainda sentia qualquer tipo de culpa pela minha mudança de cargo.
– Nunca mais diga isso, amor. Eu mudei de posição por que eu quis, se não quisesse, eu não tinha mudado. E eu entendo perfeitamente que você só quer minha segurança! – Garanti, beijando sua cabeça e a ouvi suspirar frustrada. Mulher doida essa minha, viu? Doida! Linda, maravilhosa, mas doida.
, não mente para mim! Você sempre odiou burocracia! – bufou, frustrada e eu quase ri, só não o fiz porque faria com que ela se sentisse pior ainda e isso era a última coisa que eu queria.
– Não estou mentindo! – Garanti, subindo os dedos pelo pescoço de , pressionando com um pouco mais de forças os pontos que pareciam estar mais tensos.
– Você pode ter acostumado, mas odeia. O que você ama é trabalho em campo! – continuou argumentando e eu suspirei. Ela não poderia estar mais errada com o que havia acabado de afirmar. Sim, eu adorava ser policial, adorava contribuir para garantir a segurança das outras pessoas, mas a palavra amor não definia nem de longe o sentimento por minha profissão.
– Amar mesmo, não. Sabe o que eu realmente amo? – Depositei uma série de beijinhos em seu pescoço e ombros e ela murmurou, incentivando-me a dizer o que eu queria. – Você! Por ter me dado uma família linda, meninos lindos. Eu sou pai e tenho que procurar o melhor para a minha família, não apenas para mim. Eu amo vocês, o que mais importa para mim é ver minha família bem. Se vocês estiverem felizes, eu vou estar feliz. Fim da história.
– Eu também amo vocês. – confessou, baixinho, beijando minha mão.
Sorri com o ato de carinho. Admito, eu sou o romântico da relação, isso é bem visível, mas são essas pequenas coisinhas que me ganham completamente e me fazem sentir o homem mais feliz da face da terra!
– Eu sei. – Garanti, esticando-me para beijar sua cabeça.
– Amor? – me chamou com a voz ainda em tom baixo.
– Oi? – Sorri, incentivando-a a falar o que ela queria dizer.
– Gostei de te ver todo paramentado outra vez, sabia? – OPA! OPA! OPA! Informação importantíssima sendo revelada, produção!
– É fetiche? Eu visto agora mesmo! – Exclamei, rindo e fingindo levantar para ir vestir o meu uniforme de trabalho, que parecia ter se tornado o mais novo fetiche de . Ponto para !
– Você é uma praga, sabia? – fingiu reclamar, enquanto ria alto.
– Mas sou gostoso! – Fazendo pose, piscando.
– Não poderia concordar mais! – OPA, OPA, OPA, OPA! Agora gostei!
– Mulher, você teve três filhos e é muito mais gostosa que muitos padrões de beleza que tem por aí. Acredita em mim, você é a gostosa dessa relação! – fez pose exagerada, fazendo-me rir alto.
– Eu vou entrar aí! – Declarei, apontando para a banheira.
arregalou os olhos e soltou um gritinho esganiçado, como se estivesse surpresa com o que eu havia acabado de falar, coisa que eu tinha plena consciência de que ela não estava. Não era a primeira vez que acontecia e com certeza não seria a última. Não se dependesse de mim.
– Não vai! Pode ficar aí! – nem ao menos tentava ser convincente no que ela falava.
Aliás, conhecendo-a como eu conhecia, sabia que ela nem pensava em ser convincente, aquilo era pura zoação. Levantei do banquinho e parei em entre a minha esposa, constatando que ela estava vermelha de rir.
– Com ou sem dancinha? – Zoei sobre tirar o restante de minhas roupas.
riu alto e cobriu o rosto com as mãos como se estivesse constrangida e fazendo-me rir também. Eu disse, ela é doida!
– Sem público? Uma pena! – Fingi um bico e ri ao ouvi a gargalhada de , que me observava por entre os dedos afastados em sua face.
Ri mais uma vez e tirei a calça e depois a cueca, depois entrei na banheira, abraçando uma que a esse ponto já ria descontroladamente e me contagiava, enchendo meu peito de uma felicidade que só ela sabia me proporcionar.

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’s POV
– Vou buscar os meninos na casa da Jessie. Tudo certo aí? – perguntou na porta do banheiro, com uma expressão mais preocupada que o normal, e ri baixo.
– Tudo certo, anjo! – respondi da forma mais sincera que pude, enquanto tirava o shampoo debaixo do chuveiro, e minha esposa fez uma careta, uma daquelas em que ela duvidada até que meu nome era . – Sim, eu tenho certeza. Só dói quando eu me estico muito, prometo, está tudo bem! – pisquei, respondendo todas as suas perguntas, e rimos baixo.
– Eu sei! – ela passou a mão pelo cabelo molhado, pelo banho primeiro que o meu, e logo em seguida, como um costume que a acompanhava sempre, amassou os cachos mais lindos do mundo, assim como os da nossa mais velha e de um dos gêmeos. – Enxuga direitinho, quando eu chegar faço um curativo, ok?
– Ok, anjo! – ri baixo e fechei o registro do chuveiro, puxando a toalha do suporte. – E estou bem, prometo! – saí do box, enrolando a toalha na cintura, vendo-a suspirar um pouco mais aliviada. – Vai buscar os coelhinhos, eu me viro aqui. – sorri.
– Já volto! – ela segurou meu rosto com as duas mãos e me deu um beijo rápido. – Vou levar o celular.
, é a três casas daqui! Relaxa, mulher! – segurei em sua cintura, sacudindo-a, e a fiz rir, depois me beijar mais uma vez.
– Tchau! – ela sorriu e ganhei mais um beijo. Céus, como eu amava aquela mulher!
Entrei no quarto, enxugando o cabelo com outra toalha, peguei uma cueca e uma bermuda na gaveta e vesti logo, afinal sabia que o silêncio e o sossego não seriam por muito tempo. Coloquei as duas toalhas no banheiro para evitar mais uma reclamação naquele dia, dessa vez por toalha molhada em cima da cama, e abri o armário procurando uma caixinha que mantinha sempre abastecida com gaze e mais algumas coisas as quais ela jugava serem para emergências. Com um pouco de dificuldade, consegui ver o corte no espelho e fiz uma careta pelo tamanho, mas ao mesmo tempo ri com a loucura de ter minha mulher costurando-me. A vida era bem louca na maioria das vezes. Assim que terminei o projeto de curativo mais esquisito que eu já tinha visto, guardei as coisas e abri um sorriso ao ouvir a movimentação tão familiar dentro de casa.
– PAPAI! – ouvi meu coral preferido gritar e corri para sala, abrindo meus braços para abraçar meus cinco coelhinhos, Lanna, de 12, Sarah, de 8, Pedro, Piero e Pietro, os três com cinco anos, o maior trava-línguas que eu enfrentava quando precisava reclamar alguma coisa.
– COELHINHOS! – gritei com os olhos arregalados e logo uma enxurrada de crianças correram em minha direção. Minhas duas mais velhas me abraçaram pela cintura e os trigêmeos se agarraram em minhas pernas, quase me derrubando no chão e fazendo-me rir alto. – Tudo bem, tropa? – perguntei, esticando-me para beijar a cabeça de todos eles.
– Tudo sim! – Sarah respondeu com um sorriso faltando alguns dentes, que me fazia ter vontade de esmagá-la em abraços.
– Como foi o dia hoje? – Pedro perguntou com os olhos arregalados em curiosidade, esperando mais alguma história, e ganhei um beijo na bochecha de Lanna, beijando a cabeça dela em seguida.
– Foi bem divertido. – ri e ouvi minha mulher gargalhar. – E o de vocês? Brincaram muito na Jess?
– E põe divertido nisso! – deu uma cutucada que me fez rir.
– A minha turma vai dançar no colégio! Você vai? – minha banguelinha preferida perguntou tão animada quanto os irmãos.
– Foi MUITO divertido! – os trigêmeos arregalaram os olhos, todos falando ao mesmo tempo. – Corremos e pulamos e brincamos de polícia!
– Eu e a Sarah passamos a tarde desenhando! – Lanna falou ao mesmo tempo e respirei, colocando meus pensamentos em ordem para responder todos eles, fazendo-os rirem.
– Sobre a apresentação, o papai vai estar lá na primeira fila! – pisquei para Sarah, morto de orgulhoso, e ela me abraçou com mais força. – Não acredito que vocês estavam enlouquecendo a Jess, pestinhas! – mostrei-me surpreso para os trigêmeos e eles riram. – Quero ver esses desenhos, minhas meninas! Vou levar e pregar na minha parede na delegacia! – beijei a cabeça das duas, abaixando-me e aproveitei para abraçar os cinco com força, mesmo que soubesse que o ombro ia reclamar.
– O que é isso? – Lanna perguntou, espantada, e a mãe dela riu alto. – Você se machucou?
– Foi um pequeno acidente, princesa. – falei, rindo, e ela aumentou ainda mais a careta, maior semelhança com a mãe impossível.
– Tem gaze. Gaze não parece pequeno! – ela foi, convicta, e os outros quatro me olharam, curiosos.
– Você se machucou?
– Foi um acidente! – reforçou mais uma vez, com os olhos claros levemente arregalados. – Não foi nada demais. Querem ver a mamãe fazendo o curativo? Daí o papai vai contando como tudo aconteceu.
– SIIIM! – os gritos foram conjuntos, fazendo-me rir.
– Isso, vamos, vamos sentar no chão, enquanto a mamãe vai buscar a caixinha mágica dela. – pisquei para meus meninos e eles riram. – Eu tentei fazer um curativo, saiu tão ruim que parece que eu estava na guerra. – falei para ela e gargalhou.
– Não vou mentir que está bem feio, amor. – ela sacudiu a cabeça, tentando parar de rir, mas ao invés disso só fez a gente rir ainda mais. – Você como médico é um delegado maravilhoso!
– Cada um com suas habilidades. – mandei beijo, fazendo os meninos rirem.
– Você brigou com alguém, papai? – virei a atenção para Lanna quando ouvi a pergunta.
– Quase isso! – fechei um dos olhos, fazendo-a rir. – Eu tentei impedir que ele fizesse coisa errada! Ele queria fugir! – arregalei de leve os olhos para fazer drama e apareceu, rindo, sentou no sofá atrás de mim e tirou o curativo que eu tinha feito.
– Você foi desarmar, certo? – minha filha mais velha perguntou, curiosa e entendida do assunto. Ela, sim, eu sabia que ia seguir carreira na polícia, e morria de orgulho toda vez que ela fazia questão de confirmar aquilo.
– Fui! – soltei uma risada baixa, mas inflado de orgulho. – E aí meninos... Pulei em cima dele! – imitei um urso raivoso, ouvindo gritos dos menores.
– Você pulou nele? – Sarah arregalou os grandes olhos claros da mãe.
– SIM! E aí eu machuquei no ombro! – disse, ainda com os olhos arregalados, e eles estavam do mesmo jeito olhando para mim.
– Querem ver os pontos? – perguntou, animada, e foi questão de segundos até eu ter três crianças em cima de mim, pendurados para ver, enquanto as outras duas estavam do lado.
– Nossa, pai! – Pedro exclamou. – Doeu muito?
– Na hora não. – falei, rindo. – Dói um pouco se eu me mexer rápido. – suspirei ao ganhar um beijo na cabeça, da minha esposa, informando-me que já tinha terminado com o curativo que, mesmo sem eu ver, eu tinha certeza que havia ficado bem melhor que o meu.
– Eu disse que o papai pulava nas pessoas? – Pedro rolou os olhos como se fosse um adulto, e me deu vontade de rir. – Você disse que não, Piero!
– Quando precisa, eu pulo! – ri um pouco mais, encantado com o jeito que eles prestavam atenção em tudo que eu dizia. – E o dia foi salvo graças à mamãe! Ela quem fez meus pontos.
– Ela não brigou com você? – minha pequena e sagaz Sarah perguntou, apertando a boca, e eu sabia que ela prendia uma risada escandalosa.
– Não brigou? – fiz um teatro grande e os vi rirem. – Eu estou até agora secando-me da ralhada! – não preciso dizer que minhas cinco crianças gargalhavam. – Mas uma coisa é certa, o dia foi salvo graças à mamãe superpoderosa! – ergui meus braços, recitando uma frase bem conhecida de um dos desenhos que eu mais assistia com eles, fazendo as crianças rirem.
– O pai de vocês é um exagerado! – levantou do sofá e a chamei com um aceno para sentar perto de mim, mas a vi negar com um aceno leve. – Vou fazer alguma coisa para a gente comer.
– Conta mais, pai! – Lanna interrompeu.
– O tio estava junto? – Pietro fez mais uma pergunta e o olhei, sendo encarado por cinco pares de olhos curiosos.
– Eu te ajudo com o jantar! – só consegui responder a e, quando fiz menção de levantar, ela reclamou:
– Não, não. Seu dia foi pesado, fica com os meninos. Eu já venho.
– O seu também, anjo. O banho é comigo, então! – falei, bem convicto, e a vi sorrir, mostrando que seria bem o contrário.
– Não dá para você dar banho no trio desse jeito. Aquieta o facho! – minha linda esposa riu baixo. – Cuida dos cinco, eu me viro por hoje! – ela piscou e andou para nossa cozinha enorme.
– Pai, o tio estava junto? – Pietro perguntou mais uma vez e sacudi a cabeça, voltando a organizar as ideias para o assunto.
– Sim, ele estava! Ajudou-me a prender os caras maus. – baguncei o cabelo de Piero, que estava bem concentrado a minha frente, depois abracei Sarah de lado, apertando-a no abraço, e Lanna riu.
– Ele também se machucou? – Pedro parecia bem curioso.
– Não, não se machucou! Ele me levou para o hospital. – pisquei para meus pestinhas.
– Papai, o que o homem mau fez? – fez uma careta que deixava suas bochechas maiores e sempre gritava quando via.
Mordi a boca, tentando pensar em algo que eu pudesse dizer para convencê-los e finalmente arregalei os olhos.
– Uhm... ele vendia coisas que fazem mal para saúde. – afirmei, bem convicto, e ouvi Lanna rir por entender mais o que eu queria dizer, beijei-a na cabeça.
– NOSSA! Igual aquele episódio do homem aranha! – o grito foi conjunto e bem abismado.
– EXATAMENTE! – eu parecia um deles. – E eu disse que era errado, aí ele ficou bravo!
– VAMOS COBRIR ELE DE TAPAS! – os trigêmeos gritaram, indignados, e em vez de eu repreender, dizendo que violência não era o melhor caminho, eu só consegui rir com a indignação deles, assim como Lanna, Sarah e a .
– Para de rir, Sarah chata! – Pietro xingou a irmã e eu engoli as risadas.
– Chato é você! – a garota rebateu e fez uma careta para ele.
Respirei fundo. Briga àquela hora não!
– Ei, ei, sem briga! – fui firme e os dois continuaram de bico.
– Deve ter sangrado bastante! – Lanna fez uma careta e meneei a cabeça, mostrando que mais ou menos. – A gente te ajuda para não doer, papai! – ela deu um sorriso lindo que, segundo , parecia com o meu, mas mesmo que parecesse, era o meu em uma versão incrivelmente linda e encantadora.
Eu estava bem ferrado quando aquela garota começasse namorar.
– Obrigado, amores meus! – Sorri e sai, esticando-me para beijar a bochecha de cada um.
– Vocês conseguiram prender ele, ou a mamãe bateu nele porque ele te machucou? – Pedro perguntou, curioso, enquanto trazia consigo uma bacia que eu sabia estar cheia de sanduíches em uma das mãos e equilibrava o suco e os copos na outra, rindo muito com a pergunta.
– A vontade foi essa! – minha mulher arregalou os olhos e desabracei as meninas para ajudá-la com o nosso jantar. – Mas o seu pai e seu tio prenderam o cara mau! – ela piscou e logo colocamos o chão para o jantar, distribui os sanduíches, enquanto ela enchia os copos.
Éramos uma dupla e tanto, para ser sincero.
Depois de distribuir os sanduíches, sabendo que cada um deles estavam comendo, bati do meu lado, chamando para sentar lá, estiquei-me por cima de Sarah, que estava entre nós dois, e beijei minha esposa na bochecha.
– PAPAI É O MELHOR POLICIAL! – o grito foi conjunto, e confesso que me inflei todo, fazendo rir.
Sarinha saco sem fundo engatinhou até a bacia com sanduíches e pegou mais um, ficando por lá mesmo junto com os irmãos, aproveitei o espaço e puxei para mais perto de mim, abraçando-a com força. Deitei a cabeça em seu ombro e senti meu corpo relaxar instantaneamente quando ela fez carinho em meus cabelos. Deus, como eu amava aquela mulher.
– Você não vai me mandar para área administrativa, não é? – perguntei baixo e estiquei a mão, pedindo um sanduíche, Lanna foi mais rápida e me entregou.
– Claro que não! – soltou um gritinho incrédulo e beijou minha cabeça. – Onde teríamos essas historias tão boas para contar antes de dormir? – ela piscou e sorri grande, voltando a prestar atenção na empolgação dos meninos.
A conversa acabou estendendo-se bastante, e nela eu descobri que, além de Lanna, Piero também queria trabalhar na polícia, segundo ele como investigador. Pedro queria ir para o FBI, mas a melhor coisa foi ver ele falar todo empolgado e ainda errar uma das letras, Pietro alegou querer ser cirurgião que nem a mãe, e aposto que Sarah iria pender para o lado do balé, ou até Broadway, se duvidasse. Mas uma coisa que eu não duvidava era que eles conseguiriam tudo que mais quisessem no mundo, aquela turminha do barulho era o motivo do meu maior orgulho. O maior motivo para que eu fizesse de tudo para manter nossa cidade um lugar melhor, com mais segurança, um lugar para que eles, assim como outras crianças pudessem ter livre arbítrio para sonharem.


Fim.



Nota das autoras:

Cam L.: Primeiramente obrigada Fernanda pela a ideia incrível que gerou tudo isso aqui!
Segundamente (?)... mais uma vez nós sendo loucas e escrevendo um POV masculino e mais uma vez eu adorando o resultado. Esses dois com medo das esposas linha dura foi a coisa mais engraçada do mundo de escrever KKKKKKK
O escrivão metido a investigador que nao consegue se aquietar na vida e vive se metendo em confusão? Nossa, mas ele já deu uma baita dor de cabeça! E o delegado mais badass da cidade que morre de medo e vira um menininho de cinco anos perto da chefe do trauma?
Espero que vocês tenham gostado de mais essa aventura!
Beijinhos e até a próxima!

Tatye: Socorro! Primeiramente vamos agradecer a Fernanda por ter dado a ideia incrível! Obrigada Nanda!
Depois... Gente o que foi isso? Eu adorei escrever em POV masculino –mais uma vez-, essa ação policial do começo, esses dois com medo das esposas linha dura, sem falar nas crianças mais encantadoras! KKKKKKK
O delegado precisa trabalhar muito pra sustentar as cinco crias que comem até as paredes e andar na linda com essa chefe do trauma! E o investigador mais fofo da face da terra? Nossa, mas ele já deu uma baita dor de cabeça!
Espero que vocês tenham gostado de mais essa aventura!
Beijinhos!





Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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