Encontro Inesperado

Última atualização: 20/07/2024

Capítulo 1 - Um erro, um café e um convite.

A vista de Paris coberta pela neve acabou de se tornar a minha visão favorita. Olhando ao redor, tenho o privilégio de contemplar a neve que cai no lado de fora do quarto do hotel que eu aluguei – com a ajuda dos meus pais –, no centro da cidade. Não é tão grande, mas também não é tão pequeno; é aconchegante, cabendo uma cama de casal e um pequeno roupeiro branco onde eu posso deixar minhas roupas; as paredes são brancas, combinando perfeitamente com a neve que cai através da janela de madeira.
Eu e minha melhor amiga, , planejamos essa viagem para Paris durante anos, juntamos todas as nossas economias – que iriam para a formatura da faculdade – para essa viagem. Duas garotas recém-formadas em Psicologia, optamos por não fazer formatura, mas sim uma viagem para a França, no inverno, onde tem neve, já que nunca vimos neve por morarmos em um país tropical, especificamente no nordeste brasileiro.
Eu e optamos por ficar em quartos separados – que, por incrível que pareça, saiu bem mais barato do que se dividíssemos o quarto –, mesmo que sejamos grandes amigas, acho legal ter nossa própria privacidade, eu gosto da minha, ainda mais por ser reservada.
Decidi não desfazer minhas malas, o famoso jet lag estava tão forte que eu apenas me joguei na cama e dormi sem nem saber ao certo que horas eu apaguei. Quando olhei para o relógio já passava das 18:30, meu estômago estava implorando por comida, me fazendo lembrar que a última vez que comi foi no avião. Levantei rapidamente, calçando meus chinelos que estavam ao lado da cama, avistei um bilhete perto da porta escrito com a letra de .

“Fui dar uma volta, prometo não demorar e nem me perder. gatinha.”

Ri com o bilhete da minha amiga, gatinha teve origem depois de irmos a uma festa e um rapaz chamá-la assim de forma bem galanteadora e brega, acabamos rindo na cara dele, que claramente não gostou e saiu resmungando. Soltei o bilhete em cima da cama, indo em direção à minha mala, procurei uma roupa bem agasalhada para que eu não sentisse tanto frio. Optei por um casaco meio grosso e um sobretudo vermelho, minha calça preta de tecido grosso e minhas amadas botas.
O corredor do meu andar não estava frio, muito menos o elevador, mas o salão estava um pouco e por não estar acostumada, me arrependi amargamente de não ter colocado mais um agasalho. Busquei algo que me agrade, mas com certeza a comida francesa não tem uma cara tão apetitosa quando visualizada assim tão de perto. Optei apenas por um macarrão, suco de laranja e um bolinho tipo um cupcake de chocolate, como ainda não tinha tantas pessoas ali, me sentei em uma das várias mesas vazias comendo tranquilamente.
Com o celular em minhas mãos, desbloqueio, indo direto para o meu Instagram. O perfil de era o primeiro a dar destaque, então sem delongas apertei na bolinha colorida, dando de cara com uma foto postada por nos stories, uma foto da Torre Eiffel.
— Imaginei que a primeira coisa que ela faria seria ir atrás da torre. — Murmuro para mim mesma, rindo baixinho.

“Sabia que tinha ido atrás da torre.”, respondi seu story.

Um grito.
Levei minha mão ao peito ao tomar um susto após ouvir um grito. Meus olhos buscaram o autor, ou autora, do grito. Um grupo de mais ou menos oito rapazes estão entrando no local, todos eles usam máscara, me fazendo franzir o cenho já que percebi que não é algo comum entre os franceses. Mas logo descobri o motivo, eles tem traços orientais, não dá para ver bem o rosto, mas é possível ver os olhos, alguns cobertos por óculos de grau e outros não; o cabelo de todos também está a mostra, eles parecem o arco-íris, fios cor de rosa, preto, azul, vermelho, loiro, castanho. Um desses rapazes ria escandalosamente – acredito que tenha sido o dono do grito que estrondou o salão –, era um dos de cabelo preto.
Dei de ombros e levantei ,apenas levando meu bolinho, passando pelo grupo sem sequer olhar para eles, e entrei no elevador, apertando no quinto andar. Não demorou muito para que eu finalmente estivesse em meu quarto no ambiente aquecido pelo aquecedor e comendo meu bolinho enquanto assisto a um filme na televisão posta na parede.
Duas batidinhas foram dadas na porta do meu quarto, levantei-me preguiçosamente e fui até a porta, a abrindo, revelando minha melhor amiga cheia de casacos e com um gorro na cabeça, ri da situação dela, que tremia um pouco.
— Paris é linda! — Foi a primeira coisa que disse ao me ver.
— Eu sei. — Ri do seu entusiasmo e dei passagem para a garota passar. — Que horas você saiu?
— Sei lá, umas cinco e meia. — Deu de ombros ao passar para dentro do meu quarto, sentando-se em minha cama. — Nem te contei, sabe quem vai fazer show esse final de semana aqui? — Perguntou animada e eu neguei com a cabeça. — Ateez! — balançou os braços com as mãos fechadas e eu ri novamente do seu entusiasmo.
— E você vai, não é? — Perguntei entortando os lábios.
— Errou, gatinha. Nós vamos! — Disse mostrando dois ingressos e eu neguei com a cabeça. — Vamos, ! Por favor. — Pediu manhosa e eu revirei meus olhos.
— Já não basta ter aprendido todas as músicas deles, todas as coreografias, até a falar a língua deles por sua causa, tenho também que ir para um show deles? — Joguei meu corpo para frente, suspirando cansada.
— Eu fui com você para o show da One Direction, cantei as músicas e surtei com você. — Levantei, a olhando incrédula, enquanto a garota tentava segurar o riso.
— Você era tão fã quanto eu e nós tínhamos quinze anos! — Retruquei indignada, fazendo a mais nova rir.
— Vamos, por favor. — Pediu manhosa novamente, juntando suas mãos e cruzando seus dedos. — Vai ser divertido, se não estiver gostando, a gente vem embora. — Bufei, eu não sei por que eu insisto em dizer não já que ela sempre consegue me persuadir.
— Tá, ! A gente vai. — A mais nova soltou um gritinho comemorando.
— Será no sábado, às 19:30, iremos sair daqui às 16:00. — Assenti, revirando os olhos. — Nem adianta revirar os olhinhos, vai ser divertido. — Disse se levantando, vindo até mim. — Eu posso não ter outra chance igual essa. — Me segurou pelos ombros, olhando em meus olhos com aquele olhar de súplica.
Eu vou me arrepender tanto, pensei, balançando a cabeça.
xxx

Nove e meia da noite, pus café em minha cafeteira e segui para o banheiro. acabou de ir para o seu quarto para tomar um banho, então decidi tomar um também enquanto o café é preparado.
A água quente do chuveiro cai de forma gentil em minhas costas, o vapor deixa os vidros completamente embaçados, se eu pudesse, ficaria ali para sempre, mas, infelizmente, eu preciso sair para tomar meu café e dormir, já que a soneca da tarde não resolveu muito essa questão.
Desliguei o registro do chuveiro, pegando minha toalha e me secando. Como trouxe minha roupa para o banheiro, logo a vesti. O barulho da maçaneta da porta do quarto ecoou no banheiro, já devia ter voltado. Saí rapidamente do banheiro, dando de cara com um homem totalmente desconhecido por mim, de costas, apenas mostrando suas vestimentas escuras.
— Q-quem é você? — Perguntei em inglês, extremamente nervosa, com a voz trêmula, assim como meu corpo.
— O que...? — O rapaz virou tão assustado quanto eu. Ele usava uma máscara, me dando apenas a visão de seus olhos – assim como os meus – arregalados. — Annyeonghaseyo. — Ele diz em... coreano?
— Annyeonghaseyo. — Respondi em sua língua nativa, e ele me olhou de forma curiosa.
— Você sabe falar coreano? — Perguntou de forma curiosa.
— Quem é você? — Repito a pergunta, sem gaguejar dessa vez. — E-eu vou gritar.
— Aqui não é o 605? — Nego com a cabeça freneticamente, ainda assustada. O rapaz baixa sua máscara, me dando a visão completa de seu rosto. Ele é extremamente familiar. — Oh! C-calma, moça, eu... Me perdoe, eu... Foi falta de atenção minha, eu sou . — Disse atropelando em suas palavras.
. — Sem dizer meu sobrenome, me apresentei ao rapaz. Franzi o cenho, enquanto o rapaz me olhava com curiosidade.
— Só ? — Perguntou com expectativas.
— Você não me é estranho... — Falei sem ligar para sua pergunta. Eu, com certeza, já tinha visto esse rapaz alguma vez na vida. — Sinto que te conheço de algum lugar.
, seu nome é tão conhecido assim como seu rosto. Mesmo que a beleza asiática não me atraia muito, confesso que o rapaz à minha frente é muito, muito bonito. Seu rosto possui traços finos, seus fios de cabelo não eram possíveis de serem vistos por conta do gorro e isso me deixou extremamente curiosa para saber a cor; suas maçãs rosadas apenas realçavam sua beleza natural, não sei ele estava com frio ou com vergonha de ter entrado no quarto errado; seus lábios bem desenhados e vermelhos completam seu rosto, combinando perfeitamente com seus olhos e nariz.
— Ah. — Ele coçou a nuca. — É... Bem...
— Espera. — O interrompi, pegando meu celular, abri a guia do Google, pesquisando pelo grupo favorito da minha melhor amiga.
— Será que ela vai me deixar terminar alguma frase sem me interromper? — O mais alto murmura, mas ainda assim eu ouço, porém ignoro.
— Eu sabia que te conhecia de algum lugar. — Mostrei meu celular ao rapaz, que sorriu sem graça. — O que um membro do Ateez faz em meu quarto? Está fugindo de algo? — Cruzei meus braços, esperando sua explicação.
— Bem... Eu queria ser alguém normal por um momento, sair um pouco sozinho, livre de todos, os rapazes me deram cobertura, mas aí uma staff me viu no meio do hall e percebeu que eu ia sair sozinho, então eu corri para o elevador e, supostamente, apertei no seis. Que andar é esse? — Perguntou confuso.
— 505, quinto andar.
— Eu me confundi, foi falta de atenção e desespero por estar fugindo. — Explicou. — Eu agradeceria se pudesse me deixar ficar um pouco, prometo que não vou mexer em nada, eu só quero esperar eles pararem de me procurar para eu sair.
— Você ainda quer sair depois de tudo isso? — Assentiu e eu balancei a cabeça.
OK, talvez, só talvez, eu estivesse louca em deixar um homem em meu quarto, sozinha. Tudo bem, ele é famoso, muito conhecido, idol favorito da minha melhor amiga, mas ele continua sendo homem. Não que se fosse uma mulher seria menos desconfiável, mas vamos colocar as coisas na balança, não dá para se confiar em desconhecidos, porém se ele quisesse me atacar, seria muito mais fácil, mesmo que ele estivesse desarmado.
Mas ele parecia não querer me atacar, ou algo do tipo, e eu poderia gritar antes que ele fizesse algo. Eu fiz aulas de jiu-jitsu quando era mais nova, pode ser que isso me ajude de alguma forma se ele tentar algo.
— Tudo bem... — Falei meio a contragosto. — Hm... Você quer um café? — Ofereci por educação e ele assentiu.
— Estou com muito frio e... Um café cairia bem. — Assenti, peguei mais uma xícara e servi um café para o mais alto, o entregando logo em seguida. — Obrigado!
— Hm... vocês farão um show sábado, não é? — Tentei puxar assunto, após beber um gole do meu café.
— Sim. — Aquiesceu. — Ficaremos aqui na Europa por mais ou menos um mês e meio. — Deu outro gole, tirando seu gorro mostrando seus fios cor de rosa desbotado.
— Seu cabelo... Então era você que estava entrando hoje no salão com aquele escandaloso? — Perguntei e ele juntou as sobrancelhas, mas logo suavizou lembrando de algo.
— Ah... Sim! Um dos membros costuma rir daquela forma em qualquer situação que seja engraçada para ele. — O rapaz deu uma risada nasal. — Você nos viu?
— Sim. Todos vocês, pelo menos eu acho que estavam todos. — Dei outro gole em meu café.
— Você comentou sobre o show. — Deu uma pausa. — Você vai? — Perguntou formando um micro bico em seus lábios, fazendo minhas bochechas corarem.
— Ah sim! — Dou uma risada sem graça. — Eu irei, minha amiga é uma grande fã sua... digo, do grupo. Ela me persuadiu. Chegou aqui com dois ingressos, fez o que ela sempre faz para conseguir algo de mim e eu, por fim, aceitei, como sempre. — Entortei meus lábios.
— Você faz tudo o que ela quer? — Perguntou, estendendo a xícara vazia para mim.
— Não tudo, falando assim parece até que eu sou cadelinha dela. — Bem, não era total mentira, eu não faço tudo o que quer, mas a maioria das coisas, então... Talvez eu seja dominada por ela, mesmo que eu não aceite esse fato. — Quer mais café? — Ele negou com a cabeça, me fazendo assentir.
— Vocês estão aqui a trabalho? — Neguei com a cabeça. — São americanas?
— É, somos. — Balancei a cabeça. — Somos brasileiras, estamos aqui a passeio, ficaremos por um mês mais ou menos. — Revelei, fazendo o rapaz levantar as duas sobrancelhas.
A minha conversa com rendeu mais do que eu imaginava. Ele começou a me tranquilizar, até chegar um momento que me permitir me aproximar um pouco mais do mais alto sem medo. Ele me passou até seu Instagram pessoal, que, segundo ele, quase ninguém sabia, além de seus familiares e amigos mais próximos. Confesso que fiquei um pouco contente por ele me dar esse privilégio.
Em seu Instagram pessoal tinham poucas fotos, as mesmas que ninguém jamais havia visto, ele me contou a história de cada uma delas. Tinha uma foto com um cachorrinho – muito fofo, por sinal –, ele disse que esse cachorrinho é de uma ex-namorada que até hoje vai visitar periodicamente para vê-lo, já que criou um grande laço com o cachorro, confesso que achei fofo ele dizer que se sente pai do pequeno animalzinho, ele parece amar de verdade o cachorro. Ele contou também que essa ex-namorada foi o namoro mais longo que tivera, ele até chegou a cogitar pedir sua mão em casamento, mas ela terminou com ele por perceber que eles já não faziam bem um ao outro.
Haviam fotos em vários países, em diversos lugares, com amigos, familiares – que por sinal, ele parece muito com sua mãe –, ele me mostrou até suas fotos arquivadas, a maioria com sua ex-namorada, que por sinal é muito bonita assim como ele; eles pareciam ser o exemplo de casal perfeito. Ele me contou que ainda tinha muito carinho pela moça e que o carinho era recíproco, mas que não sentia mais aquele amor, a necessidade de estar perto; foi difícil, mas ele havia conseguido superá-la.
— Mas e você? Eu te contei uma boa parte da minha vida, principalmente a que eu não costumo falar muito sobre. — O mais alto disse, se ajeitando na cama, onde estava sentado.
— An... não tenho muito o que dizer sobre minha vida. Eu nasci no Brasil, acabei de me formar em Psicologia, e ao invés de fazer formatura, eu e minha amiga fizemos essa viagem para cá. Eu morei minha vida toda no interior com minha família, mas aos dezoito me mudei com para a capital do estado para estudarmos.
— Então estou conversando com uma psicóloga? Agora entendo como consegui te contar tudo isso de forma tão natural. — Comecei a rir do seu comentário. — Sua amiga também é psicóloga? — Aquiesço com a cabeça.
— Hm... Bem... Eu namorei duas vezes, meu último relacionamento acabou há cinco anos, ficamos um ano juntos, desde então não me relacionei com mais ninguém sentimentalmente e emocionalmente falando. — Expliquei fazendo gestos com as mãos. — Por enquanto, estou desempregada, provavelmente quando voltarmos para o Brasil, teremos que voltar para a casa dos nossos pais até pegarmos nossa licença, porém não pretendo morar lá definitivamente, quero voltar para a capital.
— Já pensou em morar fora? — Perguntou e eu neguei com a cabeça. — Iria te contratar para ser minha psicóloga. — Demos uma gargalhada. — Por que não se envolveu com mais ninguém após seu último relacionamento?
— Não é que eu não tenha me envolvido, eu até cheguei a ter dois ficantes, que duraram poucos meses, quatro no máximo. — Expliquei. — Não sentia nada por eles, então preferi apenas ficar sozinha. Tudo bem que cheguei a ficar com alguns amigos, com algumas pessoas em festas, mas não cheguei a me entregar como eu fiz com o meu último relacionamento.
Desviei meus olhos para a janela, vendo que a neve havia cessado, apenas prevaleciam as luzes de Paris. Eu podia sentir os olhos de sobre mim, estávamos calados, mas não um silêncio desconfortável. Por uma obra divina, eu não me senti desconfortável em momento nenhum com o mais alto. Quando nossos olhos se encontraram, o rapaz sorriu, fazendo com que seus olhos se tornassem menores, de uma forma adorável, e aquilo me fez sorrir junto.
— Oh, céus! Está tão tarde e eu tomei seu tempo, você deve estar com sono. — Ele disse ao olhar para o relógio, já passava das 23:50. Nós conversamos isso tudo?
— Você ainda vai sair uma hora dessa? — Ele riu negando com a cabeça. — Paris é linda, mas é perigosa como todos os lugares. — Arqueio as sobrancelhas.
— Bem, isso é verdade... — Fez um micro bico, ele é tão adorável. — OK, eu já vou indo, não irei mais tomar seu tempo. — O rapaz se levantou, colocando seu gorro e sua máscara de volta.
— Não se preocupe com isso, não tomou meu tempo, mas se quer ir... tudo bem. — Levantei-me, o acompanhando até a porta.
— Escuta, é... Bem... É muito cedo para convidá-la para um café? — Perguntou acanhado. Imediatamente senti minhas bochechas queimarem. — Ai, desculpa eu só...
— Eu aceito. — Sorri, tentando confortá-lo.
— Sério? — Aquiesci com a cabeça rindo e ele respirou aliviado. — Bem, eu conheço um café aqui perto, ele é bem discreto, podemos ir lá.
— Tudo bem. — Dei de ombros.
— É... se importa se tivermos staff nos vigiando? — Agora que a minha ficha caiu: eu vou tomar um café com um famoso. Isso significa que teremos que tomar cuidado e sermos discretos, terá alguém nos vigiando, digo não só o staff que irá acompanhá-lo, mas também fãs.
— Não, é pela sua segurança. — Dou um meio sorriso.
— Eu falo com você e a gente marca, se possível antes do show de sábado. — Aquiesci com a cabeça. O mais alto abre a porta com cuidado, olhando para os lados. — Essa é minha deixa. Muito obrigado pelo café. — Vi seus olhos formarem uma linha, indicando que ele estava sorrindo. Gostaria de poder ver seu sorriso. — Bem... Até mais. — Estendeu sua mão. Não demorei para que a segurasse, cumprimentando-o. O rapaz fez uma reverência e seguiu até o elevador, me olhando e lançando uma piscadela antes de entrar no cubículo.
xxx

Segunda, terça, quarta. Três dias haviam se passado desde que conheci um famoso pessoalmente, em meu quarto, e conversamos durante horas. O rapaz ainda não falou comigo, e mesmo que eu estivesse tentada a falar com ele, eu não sabia como, então preferi esperar e dormir no ponto, como sempre. ainda não sabe dessa pequena aventura com seu idol, ela nem sonha que eu tive um contato tão próximo com ele e eu preferi deixar assim para que ela não surte. Pretendo contar, mas não acho que seja a hora certa para dizer: Oi, . Então, esteve em meu quarto depois que você foi para o seu quarto. Conversamos por horas e eu sei o apartamento que ele está, inclusive eu vi todos os membros do seu grupo favorito bem de pertinho.
Nesses dias, saí todos os dias acompanhando em diversos lugares. Várias fotos foram tiradas, principalmente na Torre Eiffel e nas margens do Rio Sena. Algumas foram postadas em meus stories e em meu feed do Instagram. viu tudo, curtiu tudo, mas não comentou nada, não falou nada, e isso talvez tenha me deixado desapontada. Não que eu esperasse algum comentário seu em minhas fotos, mas eu ainda esperava que ele me chamasse.
Mas por que estou sentindo isso? É uma pergunta que até agora não consegui responder.
Deixei um bilhete no quarto de avisando que iria dar uma volta. Resolvi sair um pouco sozinha, tentar esquecer essa sensação completamente estranha, precisava esquecer que estava sentindo algo que eu nem sei ao certo definir o que é. O motorista do aplicativo não havia demorado para chegar ao hotel, nem para chegar ao meu destino: Pont des Arts.
Caminhei pela extensa ponte, dedilhando alguns cadeados trancados ali. Tantos segredos, tantas promessas guardadas naqueles pequenos cadeados. Infelizmente fui tirada dos meus devaneios ao sentir meu celular vibrar no bolso da minha calça, peguei o aparelho, desbloqueando, e baixei a barra de notificação.
Era ele. Uma mensagem dele. Imediatamente apertei, abrindo a conversa pelo direct do Instagram.

“Perdoe-me pelo sumiço, eu deveria ter falado antes, mas fiquei tão ocupado e não queria que pensasse mal de mim por estar indo rápido. Você ainda aceita tomar o café?”

“Não se preocupe quanto ao seu sumiço, eu entendo. E sim, eu aceito!”, respondi sua mensagem.

Respondi rapidamente e assim que enviei a mensagem ele visualizou e em poucos segundos passou a digitar, me fazendo começar a roer minhas unhas, a ansiedade me consumia esperando por sua resposta.

“Ótimo! É... Está livre? Poderíamos ir agora.” Meu coração disparou com sua proposta.

“Não estou no hotel, estou na Pont des Arts.”

“Chego em quinze minutos para te fazer companhia.”

Paralisei. Não é possível que ele esteja vindo mesmo. Meu corpo formigava por dentro e tremia por fora. Fiquei olhando para a tela do meu celular pensando no que responder, mas não consegui, então guardei o aparelho em meu bolso novamente e voltei a olhar o Rio Sena de cima da ponte.
Não acreditei quando o mais alto apareceu ao meu lado com sua costumeira máscara e seu gorro – vermelho dessa vez. Seus olhos puxadinhos estavam cobertos por um óculos de Sol; ele vestia um sobretudo vermelho e uma calça preta de couro, em seus pés estavam suas botas que reconheci por serem as mesmas que usou no dia que ele entrou em meu quarto por engano. Quem o olhasse assim, não reconheceria, acho que nem o reconheceria.
— Não acreditei que viesse mesmo. — Falei desacreditada, dando uma risada nervosa.
— Eu costumo cumprir com meus compromissos. — Disse retirando seus óculos escuros, me dando a visão de seus olhos puxadinhos formando uma linha, indicando que sorria por trás da máscara.
A droga do sorriso que eu nem conseguia ver, mas imaginava, e só de imaginar eu já ficava eufórica.

Capítulo 2 - Tudo começa com café.

— Então... — Dissemos juntos e caímos na risada logo em seguida.
— Pode dizer. — Eu pedi.
Estávamos em uma cafeteria, perto da Pont des Arts, o local estava praticamente vazio, pouquíssimas mesas estavam ocupadas devido ao horário. O staff que havia acompanhado estava em uma mesa mais afastada – o que me deixou um pouco aliviada por não estar invadindo nosso espaço. Ele observava todo o local para que ninguém invadisse a privacidade de tirando fotos comprometedoras.
O mais alto já estava sem touca e sem a máscara, me dando a completa visão de seu rosto. Eu tentava evitar ao máximo seus olhos e eu sei que ele percebeu isso, pois ele tirou seu olhar em poucos momentos, apenas para olhar o cardápio, ou olhar o ambiente à nossa volta.
— Você disse que sua amiga é fã do grupo. — Levantei as sobrancelhas rapidamente, mordendo o lábio inferior.
. Eu não havia contado sobre ainda, nem sobre ter esbarrado com o grupo enquanto eu comia tranquilamente no salão enquanto ela estava contemplando a Torre Eiffel.
— Ah, ! Sim, ela é muito fã de vocês. — Respondi, dando uma risada anasalada. — Só não me pergunte qual o favorito dela, eu não vou saber.
— Tudo bem, se você diz! — A verdade é que eu sabia, eu sabia que era ele. Eu sabia que era ele simplesmente por seu papel de parede do aplicativo de mensagens é a foto dele, e como eu descobri isso? Ontem ela me enviou um print de uma conversa dela e eu vi que era o na foto de trás, ele estava com o cabelo azul, mas eu o reconheci. — Mas não era isso que eu ia falar... Perguntar, na verdade. — Aquiesci com a cabeça, indicando para ele continuar. — Ela sabe que a melhor amiga dela conheceu um dos membros do grupo e que aceitou tomar um café com ele?
— Então... É meio complicado isso, eu não sei bem como dizer isso a ela. — Respondi, sentindo minhas bochechas corarem. — Eu nem sei como ela reagiria diante de uma notícia dessa. — O meu frapuccino foi colocado à minha frente assim que o expresso de foi colocado à frente dele. — Obrigada. — Agradeci a atendente em inglês.
— Você só vai saber se contar. — Disse, logo em seguida deu um gole em seu expresso.
— Eu vou contar, eu só não sei como fazer isso. — Dei um gole em meu frapuccino.
— Escuta... — Deu um gole em seu expresso antes de continuar. — Como você sabe, no sábado teremos um show e... — Deu uma pausa para molhar os lábios, me fazendo derreter com a cena. Foco! — E, bem, você gostaria de ficar no backstage?
— Eu? No backstage? — Dei uma risadinha nervosa. — Como eu iria? Não tem como eu chegar lá e subir no palco.
— Ah, perdoe-me. Prazer, , um dos componentes do grupo. — Disse fazendo graça, enquanto estendia sua mão. — É só chegar lá e dizer o seu nome, eles vão saber que você é minha convidada.
— Não vai ter problema? — Ele negou com a cabeça. — Então, tudo bem... Eu acho. — deu um sorrisinho vitorioso e aliviado. Sinto que isso vai dar um baita problema.
xxx
Nós nem vimos o momento que escureceu. Quando caímos em consciência, percebemos que era hora de voltar para o hotel. fez questão de me acompanhar até a porta do meu quarto, segundo ele: “minha mãe sempre diz que quando convidamos alguém para ir a algum lugar, devemos sempre acompanhar a pessoa até seus aposentos”. Eu achei super fofo.
Assim que entrei em meu quarto, meu celular apitou anunciando uma nova mensagem de . Preferi tomar um banho primeiro e foi o que eu fiz. Sequer percebia que estava com um sorriso bobo no rosto só de lembrar a tarde agradável que passei com , me senti tão bem como eu não me sentia há tempos. Eu estava o deixando entrar e não estava ligando para as consequências disso, eu estava apenas vendo os prós e não estava ligando para os contras.
Quando saí do banho, peguei meu celular para checar as mensagens. me perguntava se eu já tinha chegado e ... Me marcou em um story? Tremi por completo, óbvio que abri primeiro a notificação de e lá eu encontrei a foto que ele tinha tirado sem eu ao menos perceber. Eu estava de perfil, mas o ângulo não mostrava meu rosto, apenas meu cabelo coberto por seu gorro; por isso ele estava tão calado quando eu estava distraída com os cadeados.
“A modelo só favoreceu a foto.” Era o que ele tinha escrito, eu não achei meu user, sinal que ele diminuiu e camuflou em algum lugar. Esperto. Sorri tão boba olhando para aquela foto, realmente a foto tinha ficado ótima, ele era um bom fotógrafo.
Fui na minha galeria e busquei a nossa foto. Ele sorria tão radiante e eu apenas coloquei a língua. Ele estava tão lindo e eu completamente... Estranha?!
Duas batidinhas na porta me tiraram dos meus devaneios. Imediatamente bloqueei o aparelho em minhas mãos e corri para abrir. estava com seu amado pijaminha de ursinho, de manga e calça comprida, e foi impossível não rir das vestes da minha melhor amiga.
— Eu te mandei um monte de mensagens. Onde estava? Me preocupou. — disparou enquanto entrava em meu quarto.
— Calma, eu fui dar uma volta, acabei perdendo a noção do tempo. — Dei uma risada abafada.
— Estava sozinha? — Juntei as sobrancelhas, olhando para , que me olhava com ar de riso. — Você tá diferente...
— Ah... — Foi a única coisa que saiu dos meus lábios. De repente, o pânico me atingiu, eu precisava contar. — , eu preciso te contar uma coisa e talvez você queira me agredir por não ter contado antes, é que ele não mencionou se eu podia dizer algo, mas hoje conversamos sobre e...
! Fala logo, para de enrolar. — Ela me interrompeu, começando a ficar nervosa vendo o meu nervosismo.
— Eu conheci um famoso... — Ela me olhou com o cenho franzido enquanto cruzava os braços.
— Ah tá, ! Conta outra. — A garota riu, se jogando na cama.
— É sério, . — Protestei.
— Tá bom, quem era o famoso? — Ela me olhou com uma sobrancelha arqueada em um ar de deboche.
. — Assim que acabei de falar, ela caiu na gargalhada. Mas o que era tão engraçado?
— Ah tá, você encontrou na rua? Amiga, eles nunca saem assim, são muito reservados. — Revirei os olhos, bufando pela incredulidade dela.
— Eu sei, ... Quer saber? OK. — Peguei meu celular e abri a foto com o asiático que vem mexendo com meus sentidos. Virei para a garota que me olhou sem acreditar.
Ela manteve a expressão surpresa por um bom eu ri. Ela me olhava com as sobrancelhas juntas, suas mãos estavam trêmulas e sua respiração desregulada.
— C-como? — Me perguntou com a voz baixa.
— Bem... Já faz uns dias, especificamente, três dias. — Respondi meio receosa, esperando seu surto.
não conseguia dizer nada, ela apenas estava em choque e aquilo estava me deixando nervosa, ela nunca entrou em um estado de choque assim tão forte onde sequer esboçava reação, pois ela, geralmente, gritava, pulava, mas nunca ficava estática, dessa forma, olhando apenas para um ponto fixo.
...
— Senta aqui, você vai me contar isso agora!
xxx
Sábado. O tão aguardado sábado. Eu não havia visto mais desde o dia do café, o mesmo que surtou e me xingou de todos os nomes possíveis por não ter contado, sobre o ocorrido antes. Ela quis vê-lo antes, assim como quis nos encontrar com o resto do grupo antes do prazo, mas tudo deu errado, já que a agenda deles estava lotada até o dia do primeiro show na capital francesa.
stalkeou absolutamente todas as fotos de pelo meu celular, fotos, stories, comentários, seguidores, absolutamente tudo. Minha melhor amiga não parava de falar sobre isso e muito menos o quanto seu utt é lindo, que vai abraçar ele e não soltar mais, enquanto eu estava ficando completamente enjoada só de tocar no assunto.
Meu estômago estava revirando e a cada quilômetro que o carro andava até o local do show, meu coração vacilava uma batida. estava calada, mas eu sabia que, por dentro, ela estava explodindo de tanta felicidade. havia me mandado mensagem antes de sair de casa, me perguntando se eu já estava indo; por sorte, foi no momento que entrei no táxi e avisei que chegaria em poucos minutos.
Mal sabia ele que eu estava quase desistindo.
O staff que havia acompanhado no dia que “saímos”, rapidamente me localizou e nos entregou as credenciais. segurou minha mão tão forte que eu achei que ela fosse quebrar; eu quis rir, mas eu entendia seu surto, afinal, ela estava a poucos minutos de conhecer seus ídolos.
, estamos tão perto. — Ela disse baixo e eu sorri amarelo. — Não imaginaria outra pessoa no seu lugar.
, somos melhores amigas há anos, eu me sentiria mal se não estivesse com você agora. — Respondi entre risadas, não ligamos muito para as expressões do staff ao ver que conversávamos uma língua totalmente desconhecida por eles. — Calma, eles, aparentemente, são educados, porém um deles é bem escandaloso.
— Você disse sobre . — Ela riu.
— Irei ver se eles estão prontos e aí quando eu voltar, vocês podem entrar, OK? — Assentimos e o staff desapareceu do nosso campo de visão.
— Confesso que até eu estou um pouco nervosa. — Falei baixo, arqueando as sobrancelhas.
— Está nervosa por quê? Você já conhece eles, principalmente . — rebateu.
— Eu conheci apenas , não os outros integrantes. — Revirei os olhos. conseguia ser tão chata e incompreensível quando queria.
Peguei meu celular, abrindo a câmera e chequei meu cabelo e meu rosto, com bem pouca maquiagem e um batom talvez um pouco chamativo por ser vermelho; meu cabelo estava preso em um coque que eu sabia que mais cedo ou mais tarde iria se soltar. Desbloqueei o aparelho e abri meu Instagram, haviam diversas mensagens dele perguntando se eu tinha desistido, se tinha acontecido algo pela minha demora; eu apenas ri das hipóteses, praticamente nulas, de e guardei o celular.
— Me acompanhem. — O sotaque coreano no inglês do staff se tornou presente no momento em que coloquei o celular no bolso.
agarrou minha mão e nós começamos a seguir o staff a passos lentos. Tudo estava em câmera lenta para mim; haviam pessoas ali correndo de um lado para o outro, com expressões preocupadas, outras com a expressão neutra, outras sorrindo. De repente, nós paramos em frente a uma outra porta, e o barulho que faziam atrás dela era bem notável e audível de longe.
Engoli seco.
A porta foi aberta por um rapaz de cabelos pretos, divididos ao meio. Ele tinha um sorriso enorme no rosto e quando nos viu, seu sorriso cresceu ainda mais.
— Olá! Eu sou Woo...
, eu nem acredito que é você! — Minha amiga disse com a voz embargada. O staff apenas fez reverência e seguiu seu caminho contrário à porta.
Então era esse o escandaloso? Bem... Realmente, ele é muito, muito bonito.
— Como vocês estão? — disse de maneira calma, sem tirar seu sorriso dos lábios. Ele esticou sua mão para que a pegasse primeiro e assim a garota fez.
— Estou ótima. — soluçou e eu ri baixo por aquilo ser uma cena extremamente adorável.
— Não precisa chorar, senhorita.
a olhava com carinho, jamais pensei que alguém pudesse olhar dessa forma para algum desconhecido, ele acariciava os fios de , a confortando.
— Pode entrar, eles estão esperando você. — logo passou pelo rapaz de fios pretos, pedindo licença e indo à procura dos outros membros do grupo. — Você deve ser . — disse meu nome, de forma engraçada por conta do seu sotaque, e meu coração deu uma vacilada.
Ele sabia quem eu era. Mas eu não precisava me iludir com isso, já que sabia que eu não era fã e sim minha amiga.
me falou que uma moça chamada viria com a amiga fã do nosso grupo. Só que ele não disse que as duas eram tão gatas a esse ponto. — Olhou-me dos pés à cabeça, me fazendo corar violentamente enquanto ele caía na gargalhada. — Suponho que a moça que entrou é a fã e você a nossa mais nova sorteada. — Franzi o cenho. Como assim sorteada? — Ele não mentiu quando disse que era uma linda moça, com todo respeito.
— Ahn... Sim, eu sou a garota que falou para você. — Sorri sem jeito — E obrigada. — Baixei a cabeça, sentindo minhas bochechas ficarem ainda mais vermelhas e ele soltou uma risada baixa. — E a minha amiga é .
— Vamos lá antes que ele tenha um infarto achando que você não veio. — Comecei a rir nervosa pelo comentário de e a cada passo que eu dava, ficava mais nervosa.
conversava animadamente com todos eles. Os sete rapazes tinham um sorriso tão lindo no rosto, tão carinhoso quanto o de , ao conversarem com ela sobre algum assunto que eu nem me dei o trabalho de prestar a atenção. Eles riam de algo que ela havia dito, estavam tão concentrados que nem haviam me visto ali.
Observei todo o local, todos os rapazes até parar nele. Só de ver seu sorriso tão sincero e feliz me dava frio na barriga, eu queria ficar ali apenas observando seus movimentos, seus traços, mesmo que toda aquela atenção não fosse direcionada a mim.
Confesso que essas sensações que me traz me assustam de certa forma. Não é como se eu estivesse apaixonada por ele, afinal, faz tão pouco tempo que nos conhecemos, faz tão pouco tempo que nós conversamos; mas eu consigo assumir para mim mesma que ele mexe comigo de certa forma e fazia tempo que ninguém provocava tais sensações.
Eu pretendia ficar ali, escondida, apenas observando eles conversarem com sua fã, e darem e receberem toda a atenção que merecem. Mas como tudo sai como eu não planejo, algo, ou melhor, alguém me cutuca nos ombros, me fazendo sobressaltar pelo susto.
— Apreciando a vista? — perguntou num tom de sarcasmo e eu sorri, revirando os olhos.
— Olha como eles falam com ela. — Observei-os rapidamente, mas logo voltei meus olhos para o . — Foi a mesma forma que você a olhou quando chegamos, é lindo de ver.
— É porque você não viu como fala de você. — Recuei dois passos para trás, engolindo seco. Baixei meus olhos totalmente sem graça, fazendo soltar uma risada não tão alta, mas o suficiente para chamar a atenção dos outros. — Olha, , eu não sabia que era tão fácil deixar a mocinha aqui tão envergonhada e sem saber o que dizer, já você mesmo disse que ela sempre sabe o que dizer.
— Eu achei que eu fosse ter que te buscar. — levantou e veio em minha direção, com o mesmo sorriso iluminado, contente.
Foi então que ele fez algo que eu não esperava, acho que nem os meninos e esperavam: ele me abraçou. Me abraçou tão forte, tão firme, tão aconchegante.
— Não dê ouvidos ao . Na maioria das vezes, ele não sabe o que diz. — Ele disse após se soltar e me encarar ainda com o mesmo sorriso, sem diminuir, tirando completamente meu fôlego. — Vem, quero que conheça os outros. — Encarei os outros rapazes, me sentindo envergonhada novamente. — Pessoal, essa é a . — Os seis rapazes levantaram, fazendo reverência, e eu repeti o ato.
— Olá, rapazes! — Falei com a voz um pouco baixa.
— Olá! — Responderam uníssono e eu olhei para , que me encarava com uma expressão alegre.
As cores dos fios de cabelo ficaram mais nítidas ao vê-los tão de perto. As cores ficavam extremamente chamativas de perto; disse que só havia um escandaloso, porém eu contei três, eles eram engraçados e piadistas; a cada vez que conversávamos, mais eu me impressionava com o talento do grupo e como eles tinham uma química inigualável, eles realmente nasceram para fazer parte do ATEEZ juntos.
Personalidades tão diferentes, mundos tão diferentes, essências tão diferentes, mas que se completam, vejo no olhar deles que eles se amam e amam o que fazem. É um sonho mais do que realizado para eles. Eles se encaixam igual um quebra-cabeça e é realmente lindo ver como eles se tratam, agem um com o outro.
— Sua amiga é um amor de pessoa. — se virou para mim e logo em seguida para , que sorriu timidamente. — Lamento por não termos nos conhecido antes. — Tentei não diminuir o sorriso ao ouvir as palavras de , um incômodo se fez presente em meu peito. Olhei para o rapaz que tinha o sorriso ainda mais encantador e apaixonante nos lábios, balanço a cabeça, e engoli seco, voltando a olhar para minha amiga.
— Sim, ela é. — Olhei para minha amiga sorrindo, tentando ignorar o incômodo que eu sentia. — Inclusive, você é o favorito dela. — Falei um pouco mais baixo para que só ele ouvisse. me olhou com uma expressão engraçada, me fazendo rir. — Vai lá, não faz essa desfeita. — Continuei no mesmo tom e lhe lancei um sorriso tentando passar conforto, mesmo que eu estivesse desconfortável com me olhando daquela forma totalmente ameaçadora e estar dividindo sua atenção entre nós duas.
Acorda, ! Ela é fã deles e o favorito dela está meio abraçado com você.
Senti um vazio no momento que saiu do meu lado e foi para o lado de , que o recebeu com o maior sorriso que eu já vi na vida.
— Então é você a garota do 505? — me perguntou e eu comecei a rir, assentindo com a cabeça.
— Sim, sou eu a garota do 505, quarto que o Sr. entrou achando que era o dele e quase me matou de susto. — Cruzei os braços, passando a língua nos lábios. — Já estava pronta para jogar a cafeteira nele, mas, para a sorte dele, eu o reconheci, então minha cafeteira ficou intacta, sem nenhum arranhão. — Dei de ombros.
— E eu sem queimaduras e ainda tomei um cafezinho. — disse alto, fazendo todos caírem na risada.
— E eu, provavelmente, depois iria me sentir culpada por sujar seu lindo casaquinho. — Cruzei os braços, sorrindo debochada.
— Ah, meu casaco não pode ser sujado, mas eu posso ser queimado? — Balancei a cabeça, confirmando a teoria de .
— Gostei dela. — disse, dando sua risada escandalosa, fazendo todos na sala rirem.
— Eu tinha esquecido que sua risada era tão escandalosa. — Todos riram, menos que ficou sério.
, eu vou te matar. — O acastanhado ameaçou, me fazendo rir.
— Ele nem precisou me falar nada, eu mesma ouvi sua risada quando passei por vocês no salão do hotel no dia que cheguei. — Balancei a cabeça, dando de ombros.
— Era você? — arregalou os olhos, me fazendo encará-lo confusa — Eu te vi, toda retraída, cara fechada, parecia que tinha comido e não tinha gostado, era a mais diferente no salão inteiro, claramente você não era francesa naquele meio de tanto francês.
Os olhares curiosos dos outros rapazes caíram sobre e eu, me deixando totalmente sem graça, principalmente quando percebi que fiquei encarando-o tempo demais.
— Uma ótima definição para mim. — Meu tom nervoso era visível assim como minha risada. — Retraída e alguém que vive com a cara de quem comeu e não gostou. — Sorri amarelo e encarei de maneira quase desesperada. Suspirei e encarei , enquanto puxava assunto e fazia uma tentativa de distrair os outros membros, mas era claro que ali não havia mais distrações.
— E como você percebeu ela e a gente não? — O tom inocente de ecoou pelo ambiente, obtendo um tapa de como resposta. — Ai. — o mais novo colocou seu indicador nos lábios, em um pedido de seu silêncio.
Os olhos de faiscavam sobre , fazendo-me ficar ofegante, todos percebiam a tensão entre nós três, era notória. Quando a voz do staff soou dentro daquele cubículo com dez pessoas, eu pude suspirar aliviada por certo tempo.
Porém o que não me saiu da cabeça foi o olhar de , sem motivo aparente... Ou talvez com motivos bem explícitos e só eu fingi não acreditar que são reais.
Não! Ele não pode. Eu não posso. Realidades diferentes.
Suspirei frustrada e ri sozinha, discretamente, sabendo que meu conto de fadas jamais seria como os livros que li na adolescência, eu não iria viver um romance com alguém que invadiu meu quarto por engano. E pior... Eu não poderia nem estar pensando nele dessa forma.
xxx

chorou o show inteiro, talvez ela tenha tirado toda a água do corpo dela durante esse show. Nem quando Felipe terminou com ela, a menina chorou tanto assim.
Estávamos no camarim novamente, cada um com seus devidos banhos tomados e arrumados para seguirem para o hotel, o que impediu a nossa saída foi a minha ida ao banheiro, porém não demorei muito e logo saí daquele espaço, desligando o interruptor. Caminhei calmamente pelo camarim, acreditando que já não havia mais ninguém ali, porém eu estava enganada: as vozes de e eram baixas, mas ainda audíveis.
— Você pode ir a hora que quiser, vou estar esperando. — Era , soltando uma risadinha soprada no final de sua frase.
— Tem certeza que não vai ter problema? — disse em tom preocupado, eu não podia vê-los, mas sentia o tom de cada um. — De verdade?
— Claro que não, bobo, ela é bem tranquila e se brincar vai estar lá também. — Ela... se referia a mim?
— Tudo bem. — Por fim, concordou e cedeu. — Terei a tarde livre amanhã, mas não poderei ficar muito tempo, tenho um compromisso com o grupo à noite.
— Ótimo! — disse e comemorou, e eu quase pude ver seu sorriso, o que me fez suspirar e baixar a cabeça — Tudo bem, não se preocupe. Você gosta de pizza? Para eu fazer o pedido antes que você chegue lá no quarto. — Então é isso?
Dei alguns passos para trás até encontrar novamente a porta do banheiro e abri-la. Meu coração estava em ritmo descompassado e minha respiração desregulada, o reflexo do espelho mostrava que, mesmo com a maquiagem cobrindo meu rosto, eu estava pálida, meu olhar baixou rapidamente, deixando meus olhos um pouco mais fundos. Eu imaginava que isso fosse acontecer, afinal, ela não iria deixar de passar essa, eu só não queria acreditar. Ele é uma pessoa inalcançável e a prova disso é que vai conseguir o que quer e eu novamente vou ficar apenas olhando de fora.
Um sentimento estranho e bizarro me deixou atordoada e ofegante. Eu não sou de me atrair fácil por alguém, mas ELE me traz um sentimento diferente de todos o que eu já senti na vida.
O ar entrou em meus pulmões, mas rapidamente o soltei pela boca; lavei as mãos novamente e saí daquele cubículo, fechando a porta sem muita força, mas o suficiente para que ouçam caso ainda estejam aqui, porém eles já não estavam lá, então segui para fora do camarim, encontrando todos conversando animadamente.
— Finalmente, achei que eu fosse precisar ir lá te buscar. — disse em tom brincalhão, na nossa língua nativa, mas seu sorriso orgulhoso e convencido no rosto a entregava, e eu a conhecia muito bem para perceber que mesmo ela “sem saber” que eu sei o que ela planejou, ela tinha algo para me contar e se gabar disso.
Falando dessa forma, parece que é uma pessoa ruim, mas ela não é, porém se eu estiver interessada em alguém e não contar, e ela também ficar interessada, ela vai fazer de tudo para ter. E claro! Quase todos já caíram na dela e eu não posso fazer nada sendo que a culpa é minha.
Afinal, eu raramente falava sobre meus sentimentos.
— Você sabe que eu não sou acostumada com tanto luxo e aquele banheiro é o auge do significado de luxo. — Respondi na minha língua nativa e olhei para os meninos em seguida, que nos olhavam com expressões de riso e confusa ao mesmo tempo. — Ela estava falando sobre minha demora. — Expliquei na língua nativa deles, que logo suavizaram as expressões confusa.
— Vocês querem jantar conosco? — perguntou e minha amiga me olhou. Sorri amarelo para os oito rapazes e dei de ombros, assentindo, fazendo pular em comemoração.
Meus dedos batucavam na mesa, enquanto eu olhava ao redor do espaço alugado por algumas horas pela equipe do grupo. As nove pessoas que eu acompanhava conversavam animadamente entre si algum assunto sobre o qual eu não entendia, então decidi respeitar esse momento de fã e ídolo, apenas observando de fora e saboreando meu suco de laranja recém-colocado em nossa mesa.
— Por que está tão quieta? — Tomei um susto quando ouvi uma voz baixa, tão próxima de mim.
— Não quero atrapalhar o momento de vocês. — Respondi no mesmo volume que se dirigiu a mim.
— Você sempre faz isso? — Franzi o cenho, o encarando. — Coloca sempre os outros acima de você?
— Não é isso. — Me defendi, acanhada.
— Entendi... Então é só com ela? — Ri baixo, negando com a cabeça. — É a segunda vez que te vejo no canto, vendo ela tentar tirar o cara que, claramente, mexe com você. Me desculpe, sei que ela é sua amiga e que você quer ver ela bem e feliz, e eu a adoro pois ela é nossa fã, mas... Ela não está agindo como sua amiga.
— Eu... A gente só se conhece há três dias. — Tentei soar convencida.
— E você acredita que precisa de muito tempo para se sentir atraída por alguém? — Rebateu, me deixando totalmente sem palavras.
— O que vocês tanto cochicham aí? — perguntou, interrompendo nossa interação na hora que eu iria responder, me salvando de uma possível vergonha.
— Nada demais, só tentando fazer com que ela se interesse por mim e não por esses dois aqui. — apontou para e , respectivamente, fazendo ambos nos encararem com expressão de tédio e o restante da mesa cair na risada.
— Cara, você está insinuando que eu sou um conquistador barato? — perguntou indignado para o amigo, colocando a mão no peito, fingindo estar ofendido.
— Não estou insinuando isso, irmão. — O deboche de arrancava boas risadas de todos da mesa.
— Olha, , você foi tão convincente que eu quase caí. — Falei sorrindo, olhando para , fazendo o garoto cair na gargalhada. — O precisa decidir, não pode ficar paquerando eu e a , e quanto ao , ele nem olharia para mim dessa maneira, ele está interessado na mesa ao lado.
— Não me coloca no meio disso. — disse rindo, fingindo indignação.
— Nossa, eu fui rejeitado assim? Na frente de todos? — Colocou sua mão em seu peito, na região do coração, com a expressão de choro.
— Acho que nós três fomos rejeitados de forma sutil. — ditou, com uma risadinha sem graça.
— Você é muito exibido, fica dando em cima da menina sem nem saber se ela namora. — disse, negando com a cabeça.
— Oh, não! A não tem namorado, inclusive, ela está precisando sair com alguém para parar esse mau humor que ela anda. Se alguém aqui estiver interessado, pode vir falar comigo depois do jantar que passarei todas as informações. — disse, me deixando totalmente sem graça. Minha forma de esconder a vergonha foi colocar o canudinho na boca, sugando o suco do copo, enquanto o pessoal começou a tentar contornar a situação, principalmente .
O jantar seguiu com todos tentando me incluir na conversa, nem vimos a hora passar e já passava de uma da manhã. Eles fizeram questão de nos deixar na porta dos nossos respectivos quartos, nos despedindo com um abraço.
— Nos falamos depois? — disse após nos separar do abraço, me fazendo assentir enquanto o encarava.
— Claro... Bem, sabe onde me encontrar. — Ri baixo, franzindo o nariz.
— Boa noite, . — Sorriu, se afastando.
— Boa noite, . — Acenei com a cabeça para o rapaz, o vendo ir embora após desejar boa noite para minha amiga, que me encarava. — Estou morta, preciso de banho e da minha cama.
— Eu também! — disse com a voz cansada — ... vem para cá amanhã, você se importa? — Meu estômago revirou.
— Por que eu me importaria? — Cruzei os braços, engolindo seco. — Você é fã dele, não eu.
— É que... Eu pensei que pudesse estar a fim dele. — Riu nervosa, me fazendo sorrir sem graça.
“Conta para ela! Ela vai entender!”
— Ah... Não... — Respondi, insegura. — Você me conhece, sabe que não me atraio fácil assim pelas pessoas.
“É sério isso?”
— Certeza? — Assenti, tentando sorrir mais confiante para a garota à minha frente. — Tudo bem... Eu vou entrar que eu tô morta.
— Nem me fale.

me deu seu número e depois de muito insistir e convencer que você é todinha dele (risos). Ele disse que você, sua amiga e ele vão assistir filme amanhã, posso ir? Todos vão sair e eu vou ficar com , e ultimamente ele anda muito chato.” [02:03]
“A propósito, aqui é o .” [02:03]

Ri baixo com as mensagens do garoto, não demorando a salvar seu número.

“Oi .” [02:05]
“Então... O filme foi apenas para e para , antes de entrarmos no quarto ela me contou e perguntou se eu estava a fim dele.” [02:05]

“E o que você disse?” [02:05]

“Que eu sou apenas uma amiga.” [02:06]

“Você sabe que é bem mais que uma simples amiga.” [02:08]

, não! Realidades diferentes, países diferentes, e também é como eu disse no restaurante... Pouco tempo, eu mal o conheço.” [02:09]

“Se você conhecesse tão pouco assim, não teria se interessado por ele, assim como ele por você. Mas tudo bem... A intimidade não é minha.” [02:09]
“Bem, podemos sair no sábado, eu, você e o chato do .” [02:10]

“Tudo bem, podemos almoçar juntos, se quiser.” [02:10]

“Ótimo.” [02:10]
“Boa noite, dorme bem, gatinha” [02:11]

“Boa noite, dorme bem você também.” [02:11]

Com o coração acelerado e os pensamentos em , adormeci com um sorriso triste pela verdade dura que batia na porta sempre que eu pensava sobre meus sentimentos, recém-despertados, por ele.




Continua...



Nota da autora: Sem nota.



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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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