Capítulo Único
Estávamos todos reunidos n’a Toca para comemorar mais um natal em família. Juntar todos os Weasley nem sempre era uma tarefa muito fácil. Não que eles não fossem unidos, muito pelo contrário. Na família Weasley sempre cabia mais um, mas como a família havia aumentado após os filhos se casarem, terem seus próprios filhos e trabalhos para cuidar, datas como essa era a melhor forma de ter todo mundo junto no mesmo lugar.
Eu não era uma Weasley de sangue, nem por união matrimonial, porém era considerada e tratada pela família como uma. E esse sentimento de pertencimento sempre fazia me sentir em casa, mesmo depois de tudo que havia perdido.
Enquanto os adultos conversavam entre si e as crianças brincavam após o delicioso banquete feito por Molly, aproveitei a distração de todos e subi para um dos quartos. Mais precisamente, o quarto dele. Olhei as coisas ao redor e sentei-me na cama que era sua, logo muitas lembranças me vieram à mente. Uma delas foi nessa mesma época, há aproximadamente 5 anos atrás.
Flashback on
– Você não faz ideia quem acabou de me convidar para ir ao baile! – Hermione disse com um tom surpreso e um sorriso de ponta a ponta.
– Julgando pela sua cara de surpresa eu acho que realmente não faço ideia. – Falei esperando-a sentar-se ao meu lado no salão principal. – Não me diga que Ron tomou coragem e te convidou?
– Não... – Ela respondeu diminuindo o sorriso.
– Oh, eu devia ter imaginado, aquele palerma. – Disse revirando os olhos. – Mas então quem foi? Sem suspense, por favor!
– Viktor Krum! – Ela falou voltando a abrir um grande sorriso.
– Não acredito! Sério? – Perguntei surpresa e recebendo um aceno de cabeça como sim. – Mione, você vai ao baile com um dos rapazes - se não O - mais lindo do Torneio! – Exclamei. – Só quero ver a cara do Ron quando souber! – Disse rindo e continuamos uma conversa animada sobre os preparativos do baile.
Às portas do salão principal, Fred, George e Lino vinham conversando.
– Cara, por que está insistindo tanto nisso? – Fred perguntou a seu irmão.
– Porque está na cara que você gosta dela, só não quer admitir. – George respondeu como se fosse óbvio e Fred abriu a boca para responder, mas acabou não falando nada. No fundo ele sabia que o irmão estava certo.
Fred conhecia null desde que Ron começou a estudar em Hogwarts e ela se juntou ao quarteto de amigos. Na época ele tinha uns 13 anos e, apesar de estar na puberdade e já achar as garotas bonitas e atraentes, não pensava muito nelas de maneira amorosa. Sua prioridade era tirar a paz dos professores e colegas com suas brincadeiras e travessuras inovadoras, juntamente com seu irmão. Mas, com o passar do tempo, o interesse amoroso pelas garotas começou a aflorar mais, especialmente quando se tratava de null. Ele a achava bonita, inteligente, engraçada e muito determinada. Admirava também sua lealdade e disposição em sempre ajudar os amigos. Coisas que começou a reparar ainda mais nos últimos anos em que tinham se aproximado.
Mesmo tentando disfarçar com seu jeito brincalhão de ser, seu irmão gêmeo já tinha percebido que a forma de olhar e falar com a amiga não era mais a mesma, então sempre o zoava e incentivava a contar o que sentia por ela, “você só saberá se é correspondido se tentar” dizia George. Porém Fred, o menino travesso que adorava quebrar regras e não tinha medo de nada, estava agora com medo de se declarar para uma garota e receber um não. Chegava a ser ridículo, mas algo o travava quando ele pensava em falar e simplesmente não conseguia.
– Concordo. E se eu fosse você fazia isso logo porque Dino Thomas me perguntou hoje se a null já tinha sido convidada, então ele provavelmente vai chamá-la. – Completou Lino. Tal comentário fez Fred sentir uma pontinha de ciúmes.
– Está bem, está bem, eu vou convidá-la hoje! – Fred concordou.
– Essa é sua chance, irmão. – George disse dando tapinhas nas costas de seu gêmeo antes de apontar para onde null e Hermione encontravam-se.
– Olá garotas! – Fred e George disseram em uníssono, aproximando-se da mesa, seguidos por Lino que nos cumprimentou com um oi e sentaram-se a nossa frente.
– Estão ansiosas para o baile? – George perguntou.
– Sinceramente? Não muito. – Respondi. – Nem par eu tenho ainda. – Completei dando de ombros como se não me importasse, mas no fundo eu estava me importando sim. Eu sabia que não era o tipo de garota que os meninos sonhariam em levar ao baile, mas não imaginei que iria demorar tanto assim, quase todos já tinham seu par e ninguém havia me convidado ainda. Será que eles já tinham pares também? Perguntei-me.
– Bem vinda ao time. – Um Ron cabisbaixo sentava-se a mesa juntamente com Harry, interrompendo meus pensamentos.
– Bom saber que não estou sozinha. – Dei um olhar cúmplice a eles.
Percebi que George olhou para Fred disfarçadamente como se quisesse dizer algo. Era como se eles tivessem conversando pelo olhar.
Eu gostava muito dos irmãos gêmeos de Ron, eles eram sempre bem humorados e divertidos. É claro que algumas vezes suas brincadeiras me davam nos nervos, mas era impossível ficar muito tempo zangada com os ruivos. Mesmo eu sendo mais nova, criamos um laço de amizade muito forte e sempre que eu queria relaxar ou dar umas boas risadas, ir até eles era uma das minhas primeiras opções. Confesso que eu até já fui cúmplice em algumas travessuras, Deus queira que Hermione nunca saiba disso.
A questão é que, com o decorrer do tempo, de alguma forma, um dos gêmeos passou a me chamar mais atenção... Fred Weasley. Nos últimos anos tínhamos nos aproximado bastante e eu comecei a sentir algo diferente por ele. Mas fazia de tudo para não deixar transparecer, afinal éramos só amigos e ele com certeza não me via de outra forma.
As únicas pessoas que sabiam que eu gostava de Fred era Mione e Gina, sendo que a última eu só contei porque ela ardia de ciúmes e me fuzilava com o olhar toda vez que me via com Harry.
Harry, juntamente com Mione e Ron, era um dos meus melhores amigos. Nossos laços se estreitaram ainda mais quando descobrimos que meu pai, Sirius, era padrinho de Harry. Infelizmente, depois que papai fugiu de Askaban, não podíamos nos ver regularmente, pois ele precisava se manter escondido. E, na verdade, em toda minha vida nunca tive muitos momentos com ele, já que havia sido preso quando eu ainda era bebê.
É uma longa história, mas resumidamente, quando eu ainda ia fazer 1 ano, houve a morte dos pais de Harry. Papai e mamãe, que se chamava Elisa, eram amigos dos Potter e suspeitaram de Pettigrew, o rabicho. Naquela mesma noite o rastrearam e foram a seu encontro. Ele estava em uma rua, cheia de trouxas e causou uma explosão, que, infelizmente, matou mamãe e vários trouxas presentes. Como papai foi achado na cena do crime, acabou sendo preso, injustamente.
Na época, fiquei sendo cuidada pela minha tia Ester, irmã da mamãe. Eu a tinha como mãe, afinal, eu era muito pequena quando tudo aconteceu e não possuía lembranças dos meus pais, mesmo que ela sempre me contasse histórias sobre eles e o quanto me amavam. Anos depois ela veio a falecer por conta de uma doença terminal e acabei ficando sem ter pra onde ir. Até que os Weasley nos acolheram. E foi em uma das férias que passamos juntos que eu fui obrigada a contar a Gina sobre Fred antes que ela me lançasse um feitiço de morte só com o olhar.
Percebi que Fred estava me olhando e encarei-o de volta. Ele desviou para George novamente. Eu conhecia aqueles olhares, eles estavam escondendo algo. – Por acaso os senhores estão querendo falar alguma coisa? – Franzi a testa para os gêmeos à minha frente.
Mas antes de obter uma resposta, Dino se aproximou da mesa dizendo que queria falar comigo. Pedi um momento e me virei para Fred incentivando-o a responder minha pergunta, na esperança de ser um convite para ir ao baile, mas ele disse que não era nada demais. Então me levantei para falar com Dino, que veio me convidar para ir ao baile com ele. Olhei para Fred antes de responder como se esperasse que ele ainda falasse algo, mas ele apenas deu uma olhadela rápida para mim e desviou. Senti-me uma idiota por ainda estar alimentando expectativas e logo aceitei o convite de Dino.
– Bom, acho que acabei de sair do time, Ron. – Disse quando voltei a sentar-me, fazendo Ron debruçar-se sobre a mesa murmurando algo com indignação. Tentei captar alguma reação de Fred, percebi que ele ficou mais calado e vez ou outra ele, George e Lino se entreolhavam durante o jantar. Será que ele queria me convidar para ir ao baile naquela hora?
Alguns dias depois
O tão aguardado dia do baile chegou. Já arrumadas, saímos ao encontro de nossos pares. Mione estava incrivelmente deslumbrante, nunca tinha visto minha amiga tão linda como naquele dia. Ri ao pensar em Ron literalmente babando ao vê-la.
Eu provavelmente não estava tão deslumbrante quanto ela, mas estava me sentindo linda, usando um vestido longo azul claro com delicados apliques de renda, que pedi para papai comprar e enviar-me por correio. Foi uma situação um tanto engraçada, creio que era estranho pra ele não ter aproveitado a filha quando pequena e já pegar a fase em que ela vai ao baile com um garoto.
Dino elogiou-me quando me viu. Corei por não estar acostumada a receber elogios assim, mas agradeci e logo seguimos para o baile. Dino era um ótimo rapaz, após o convite já havíamos conversado e deixei claro que íamos somente como amigos, para ele não confundir as coisas. Ele pareceu um pouco decepcionado, mas aceitou a condição respeitosamente.
Assim como havia previsto, pude ver a cara de Ron ao longe quando viu Hermione e ri. O decorrer do baile estava sendo legal, dançamos bastante. Estava feliz ao ver Mione se divertindo e Dino era uma ótima companhia, porém não conseguia deixar de olhar vez ou outra para Fred que estava dançando com Angelina. Em dado momento, numa música mais lenta, olhei para os dois e senti meus olhos marejarem. Pedi licença a Dino e fui ao banheiro.
Olhando-me no espelho limpei as lágrimas que teimavam cair e me segurei para não chorar mais. Fiquei ali alguns minutos para me recompor e logo saí. Resolvi pegar uma bebida antes de voltar e quando estava servindo-me, ouvi uma voz. Aquela voz.
– Você está excepcionalmente linda hoje. – Fred comentou um tanto perto do meu ouvido. Corei instantaneamente. Fiquei sem saber o que falar a princípio, mas logo que saí do meu transe respondi.
– Ham-ham... – Limpei a garganta. – Obrigada, Weasley. Você também está muito elegante. – Elogiei olhando brevemente para o mesmo. Ele estava verdadeiramente lindo. Agradeceu e riu baixo percebendo que eu ainda estava sem jeito.
– Está se divertindo com Dino? – Ele perguntou especulativo.
– Sim, muito! Ele é uma ótima companhia. – Falei sorrindo convincente. Não estava mentindo, Dino era muito legal, mas infelizmente não era com ele que eu gostaria de estar e sim com aquele babaca que estava na minha frente. Urgh. – E você com Angelina?
– Também, ela é uma garota legal. – Senti um pouco de ciúmes ao ouvir. – Mas confesso que queria ter vindo com outra garota, só que ela já havia sido convidada...
Na hora coloquei a taça sobre a mesa e olhei para Fred. Eu tinha ouvido aquilo mesmo? Meu cérebro não demorou muito para raciocinar. Ele queria ter vindo com outra garota? Ou será que essa garota era eu? Fiquei literalmente parada o olhando. Como ele era um babaca, se queria vir comigo por que não me convidou logo? Tivemos tantas chances. Nessa hora me subiu uma raiva tanto por ele não ter tomado iniciativa quanto pela possibilidade de ele estar se referindo a outra garota.
– null? Planeta terra chamando. – Ele chamou balançando a mão em frente ao meu rosto trazendo-me para a vida real.
– Se você quisesse realmente ter vindo com outra garota, teria chamado ela antes de qualquer outro e não a deixado como última opção! – Respondi brava e saí deixando um ruivo confuso sem entender exatamente o que tinha acabado de acontecer. Mas Gina, que estava próxima e viu a cena, logo o faria entender.
Voltei ao salão de dança soltando fumaça pelas ventas e alguns pingos de lágrimas caindo pelo rosto. Antes de entrar, respirei fundo e sequei as lágrimas, decidida a não chorar mais. Ao longe avistei Harry, Ron e uma garota ao seu lado e fui até eles. Sentei do lado de Harry ainda com cara de choro e brava.
– Aconteceu alguma coisa, null? – Harry perguntou receoso. Ele sabia que quando eu estava brava não era muito amigável.
– Nada. – Cruzei os braços e ele decidiu não insistir. Poucos minutos depois, Mione se aproximou, tentei mudar minha feição e não encará-la muito, pois se ela percebesse ficaria preocupada. Ela chegou sentando ao meu lado contando como estava se divertindo e convidou-nos a juntar-se a ela e Krum. Ron respondeu estupidamente e Hermione, chateada, saiu indo se encontrar novamente com seu par. Olhei para Ron e disse ainda mais furiosa.
– Fico me perguntando se todos os garotos são babacas assim ou se isso é mal de Weasley! – Levantei-me e fui procurar Dino (que já devia estar me procurando também) deixando Ron e Harry confusos.
Tentei aproveitar o resto da festa, mas já não estava no clima. Falei com Dino e ele se ofereceu para me levar ao salão comunal, mas agradeci e pedi que ele continuasse na festa, incentivando-o a chamar uma garota que estava sozinha no canto do salão para dançar. Tirei os sapatos e subi as escadas. Quando ia falar a senha para entrar, ouvi aquela bendita voz chamando meu nome.
– O que você quer Weasley? – Perguntei antes de me virar em sua direção. Ele se aproximou.
– Me perdoa. Eu realmente fui um babaca. – Ele falou olhando fixamente em meus olhos. – Devia ter te convidado quando tive a chance.
– E por que não me convidou? – Interroguei-o deixando uma lágrima involuntária cair.
– Eu não tinha certeza se você aceitaria e estava com medo...
– Medo de que? Por Merlin, Fred, o que te fez pensar que eu não aceitaria? – O interrompi.
– É que... Vai além de um convite... – Ele passou a mão entre os cabelos enquanto parecia procurar as palavras. – Eu não queria apenas te convidar para o baile, null, eu queria dizer o que sinto por você, mas estava com medo de não ser correspondido, medo de estragar a nossa amizade. – Ele respondeu com um semblante triste.
– Vo-você sente algo por mim? – Soltei a pergunta quase que num sussurro.
– Sim. – Fred respondeu. – Quando você sorri, quando olha pra mim, é como se tudo ao redor parasse. Eu amo ouvir o som da sua risada, principalmente quando sou eu quem te faz rir. Pareço um bobo falando isso, mas quando estamos juntos até aquela coisa de borboletas no estômago eu sinto. – Ele riu. – Você me faz sentir coisas que eu nunca senti por nenhuma garota antes, null.
– Fred, – Dessa vez eu quem procurava palavras, – mesmo se não fosse correspondido, eu nunca deixaria de ser sua amiga por isso. – Passei a mão em seu braço. – Mas, a verdade é que você também me faz sentir coisas que eu nunca senti antes, eu gosto de você, muito mais que um amigo. – Confessei. – Me desculpa por ter falado com você daquela forma... Acho que também tive um pouco de culpa por não ter dito nada, nem dado sinais mais claros. – Ele concordou avidamente com a cabeça. Rimos e encarei seus olhos castanhos mais uma vez.
– Gina me contou. Ela me viu com cara de tonto depois que você saiu soltando fumaça de tanta raiva. – Fred riu e eu o acompanhei. – No final, acho que nós dois erramos em não admitir o que estávamos sentindo. –
Acenei concordando. – Pelo menos agora eu tenho certeza de que o que sinto por você é recíproco. – Minhas pernas bambearam por um momento. – null Black, a senhorita me daria a honra de uma dança? – Ele perguntou fazendo um gesto como se estivesse me convidando para uma dança.
– É claro que sim. – Respondi sorrindo, soltei os sapatos no chão e coloquei minha mão sobre a dele. E ali iniciamos uma dança, ouvindo bem baixo o som que vinha do salão de festas. Algum tempo depois, Fred olhou em meus olhos mais uma vez e depois para minha boca, como se estivesse pedindo permissão. Aproximei meu rosto como resposta e ele selou nossos lábios em um beijo calmo, mas cheio de sentimento. Pude ouvir o suspiro apaixonado da Mulher Gorda, que com certeza estava nos assistindo desde o começo. Separamo-nos lentamente.
– Temos que repetir isso mais vezes. – Ele disse sorrindo.
– Sim. – Concordei com a cabeça, sorrindo envergonhada. – Mas não aqui. – Olhei para o quadro da Mulher que rapidamente fingiu não estar prestando atenção em nós. Fred percebeu e também riu. – Bom, acho que já vou dormir, estou realmente cansada.
– Tudo bem, eu imagino que esteja, dançou muito com Dino, não é? – Ele falou e eu pude jurar que senti um resquício de ciúme em sua fala.
– Tenho que admitir que sim. Mas percebi que você também dançou muito com a Angelina. Ou ainda quer voltar lá pra mais uma dança? – Eu disse provocando-o.
– Não, a partir de hoje eu tenho um par definitivo, não troco mais. – Ele piscou pra mim e eu sorri. – Será que já posso considerar a digníssima senhorita como minha namorada?
– Não me lembro de ter recebido nenhum pedido formal... – Disse colocando a mão no queixo como se estivesse tentando lembrar algo.
– Digníssima null, a senhorita aceita namorar comigo? – Ele perguntou ajoelhado e segurando uma de minhas mãos. Ri com a cena.
– Hm deixe-me pensar... Eu aceito. Agora só falta pedir para meu pai. – Ele engoliu seco enquanto se levantava, parece que não tinha pensado nesse detalhe. – Relaxa, ele não morde, quer dizer, só às vezes. – Brinquei e ri da cara assustada de Fred. – Boa noite, namorado. – Abracei-o e peguei meus sapatos.
– Ainda temos que ver isso sobre seu pai morder às vezes. – Ele disse fingindo estar preocupado, mas riu. – Boa noite, namorada. – Falou depositando um beijo em minha testa.
Quando eu ia informar a senha, mais uma vez fui interrompida por outra voz conhecida.
– Own quanta melação, quase atacou minha diabetes agora. – George falou com uma cara enjoada.
– Cala a boca, George. – Eu e Fred falamos ao mesmo tempo e rimos.
George ainda fez umas piadinhas conosco, mas logo nos despedimos e eu fui para o dormitório feminino.
Uma noite que eu achei que terminaria em choro, acabou terminando em sorrisos. Ri com o pensamento. Ainda não conseguia acreditar que Fred gostava de mim e estávamos namorando, de verdade. Apesar de ainda ser nova, algo me dizia que não seria apenas um namoro adolescente, mas sim para a vida inteira. Meu coração não se continha de tanta felicidade. Deitei-me para dormir e quando já estava pegando no sono, Hermione entra no quarto chorando, me fazendo levantar para consolá-la. “Por que ele tinha que estragar tudo?” ela dizia se referindo a Ron. Ah, esses Weasleys.
Flashback off
Aquele dia, assim como muitos outros, ficaria marcado em minha mente e coração para sempre. Mesmo sendo muito jovens, passamos por muitas coisas juntos. Os anos seguintes em Hogwarts não foram fáceis pra ninguém, com a volta de Voldemort, sabíamos que a segunda guerra bruxa estava se aproximando. Tivemos muitas perdas. Umas delas foi meu pai. Aquele com quem não tive chance de conviver na infância, mas os poucos momentos que passamos juntos me fizeram o amar. Mesmo ele sendo um tanto carrancudo às vezes, por consequência de tudo o que passou, ainda era um maroto por essência e tanto eu quanto Harry sentíamos o quanto ele nos amava e se importava conosco. Perdê-lo me deixou profundamente abalada, ele era minha família e agora eu estava, mais uma vez, sozinha.
Mas Fred estava lá comigo e me deu não só o seu ombro para chorar, mas também me deu uma família, um motivo pelo qual ainda lutar, coisa pela qual eu serei eternamente grata.
Pude o ver realizando o início de seu sonho com George, a loja Geminialidades Weasley, sua alegria era radiante. Cada conquista sua, também se tornou a minha. Já tínhamos começado a planejar nosso futuro, assim que a guerra acabasse, pretendíamos nos casar, eu terminaria os estudos e tentaria uma vaga no Ministério e ele continuaria cuidando e inventando novos produtos para a loja com George. Mas infelizmente, todos esses sonhos foram destroçados no dia 2 de maio de 1998. Mal havia me recuperado da morte de meu pai e agora havia perdido o amor da minha vida.
Já havia tido muitas perdas ao longo da vida, mas essa, com certeza, foi a mais dolorosa e devastadora. Foi como se o chão houvesse sumido dos meus pés, não tinha mais nenhuma motivação ou propósito pelo qual continuar. Passei dias, meses pensando em desistir de tudo, mas mesmo depois de partir, algo de Fred ainda ficou em mim e isso que me fez voltar a ter motivos pra lutar.
Aproximadamente 3 meses após a guerra, descobri que estava grávida após muitos dias passando mal e com enjoos. E no inicio desse ano eu estava com Fred Black Weasley II nos braços, a personificação do nosso amor.
Esse era o segundo Natal que passávamos sem Fred e o primeiro com nosso filho. Ganhei uma família que sempre estava lá por nós e nunca deixariam nosso filho crescer desamparado e sem saber do pai incrível que ele tinha. Mas, aceitar que Fred cresceria sem o pai, assim como eu, partia meu coração, pois eu sabia o quanto a presença paterna fazia falta para uma criança.
Lágrimas corriam dos meus olhos enquanto pensava em todas essas coisas. Me deitei na cama abraçando o travesseiro que ainda tinha seu cheiro e fechei os olhos, tentando aliviar a dor que sua ausência trazia. Eu faria qualquer coisa para tê-lo aqui conosco novamente. Mas não era possível.
Ainda chorando, de olhos fechados, senti alguns passos se aproximando. Abri os olhos, embaçados pelas lágrimas e vi a silhueta de um homem na porta, parecia Fred. Seria possível?
– Mama – Ouvi a vozinha que eu reconheceria em qualquer lugar.
Esfreguei os olhos tentando secar as lágrimas que embaçavam minhas vistas para ter certeza do que estava vendo e olhei mais uma vez, enquanto me punha sentada na cama. Era George com Fred em seu colo. O pequeno chamou novamente. Abri os braços fazendo George se aproximar e trazê-lo até mim.
– Oi, meu amor. – Disse segurando meu filho e o abraçando com ternura. – Mamãe tá aqui. – Beijei-o na testa e ergui o olhar para encontrar um George com olhos e nariz vermelho, parecia ter chorado também. Fitamos-nos com cumplicidade, sabia que a dor de George era tão dilacerante quanto a minha, a conexão entre eles era inexplicável. Levantei-me com Fred no colo e coloquei um braço em volta de George, que retribuiu envolvendo-nos em um abraço. Ficamos ali por alguns minutos, chorando.
– Eu sabia que você estaria aqui – George disse se separando do abraço. - Será que algum dia essa dor vai passar? – Ele perguntou secando as lágrimas do rosto.
– Sinceramente? Eu não sei, George. – Respondi com franqueza. – Mas eu sei que Fred não gostaria de nos ver assim, então precisamos continuar tentando, um dia de cada vez. – Conclui.
– Um dia de cada vez... – Ele repetiu baixo. – Não sei se já te agradeci por isso, mas obrigada por me ajudar a ter forças nos momentos mais sombrios. Você e esse molequinho são os melhores presentes que Fred poderia ter deixado pra mim. – Disse George.
– Somos uma família, não é? Estaremos sempre aqui, um pelo outro. – Dei um pequeno sorriso para o gêmeo a minha frente que sorriu de volta e perguntou.
– Está se sentindo bem pra voltar lá pra baixo? Falei pra mamãe que iria ver como você estava, mas se demorarmos muito logo ela aparece aqui e vamos cair no chororô novamente. – George fez uma careta me tirando um riso.
– Realmente, se Molly subir aqui há uma grande probabilidade de alagarmos o quarto. – Respondi rindo. – Acho que estou melhor. – Funguei e passei a mão no rosto pela última vez. Olhei para Fred que se encontrava quieto e sereno, como se estivesse entendendo toda a situação. – Vamos descer com o tio Feorge, meu amor? – Falei para o pequeno ruivo que me olhou esboçando um sorriso banguela.
Esse sorriso era tudo que eu precisava para tomar fôlego e seguir. Era a lembrança diária de que o amor que sinto por Fred nunca teria fim. Que a felicidade poderia ser encontrada mesmo nas horas mais sombrias, se eu me lembrasse de acender a luz.
Olhei mais uma vez para a cama e lembrei-me de uma das cartas que havia escrito para Fred, mesmo após sua morte. Escrever sempre me ajudou a expressar e lidar melhor com as emoções. Sorri e segui após George em direção as escadas.
Final da carta:
Sei que talvez um dia eu ainda tenha sorte de encontrar alguém para compartilhar a vida, mas você nunca será substituído, nem esquecido, pois a minha maior sorte foi poder amar e ser amada por você, meu Fred. E eu serei eternamente sua, afinal, aquilo que amamos sempre será parte de nós.
Fim.
Nota da autora: Olá, meninas! Espero que gostem da história e façam uma boa leitura ❤️
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.