Última atualização: 01/09/2017

A trilha sonora completa da fanfic se encontra neste link , boa leitura! :D


01 - Chegada

Forks. Uma cidadezinha terrível comparada à Phoenix.
Até mesmo para Isabella Marie Swan que nunca fora fã do entusiasmo natural de Phoenix. Nunca imaginei que pudesse existir um lugar tão monocromático. Erick e eu terminávamos a arrumação de toda a minha mudança. Conheci Erick precisamente há umas três semanas. Ele estagia na delegacia da cidade, muito cortês e gentil começamos a nos tornar amigos. Ou um pouco mais do que isso, mas ainda é cedo para transformar isso em uma narrativa apaixonada.
Quando eu recebia as poucas notícias de Bella por e-mail, ela sempre citara a monotonia de Forks de uma forma exagerada. Talvez até fosse, o fato é que, em cidades pequenas novos moradores tornam-se uma atração. Em alguma época distinta, Bella citou poucas vezes um lugar chamado La Push, do qual me parecia deixá-la muito à vontade. Estou ansiosa para conhecer então a tal reserva quileute. Erick disse-me ser uma reserva indígena e muito antiga, talvez até mais antiga do que a própria cidade. Eu não consigo imaginar Bella em um lugar como esse. Na verdade não consigo assimilar nada que pudesse atraí-la para uma reserva indígena.
Estava um sábado de tarde fria. Erick não trabalharia e havíamos combinado de sairmos à tarde, se não fosse um chamado de emergência de seu chefe Charlie Swan, que atrapalhou o combinado. Eu gostaria de conhecê-lo, o pai de minha amiga, mas isso teria de ser iniciativa dela. Então Erick saiu e eu peguei as chaves do carro e dirigi até a casa de Bella. Eu não tinha o endereço, mas as pessoas da cidade indicaram o lugar.
Chegando lá ansiosa para reencontrá-la fui me aproximando cautelosamente da casa. Subi as escadas da varanda e bati à porta. Uma, duas, três vezes, mas ninguém atendia. Fui às janelas fechadas assim como as cortinas tentando observar o lugar. A casa apesar de organizada – não como se ali existisse uma família constituída por mulher, filha e marido, mas organizada como se fosse inabitada – estava de fato vazia. Estranhei e voltei ao meu carro. Sem ter muito o que fazer, afinal, eu não conhecia nada e ninguém pedi a população discreta pelo caminho, indicações de como chegar à praia de La Push.
O lugar apesar de inóspito e descolorido tinha um ar paradisíaco e sombrio. Chamou-me atenção algumas rochas na areia, próximas ao mar. Caminhando distraída bati em algo que me cativou ainda mais a atenção. Grande com peitoril largo, pele incendiada tanto na cor quanto temperatura, cabelos curtos negros, um homem me fitou parado e surpreso. Talvez não tivesse me visto, o que não era surpresa, ele era realmente enorme. Fiquei encarando o peitoril atraente à minha frente hipnotizada e as mãos dele seguravam-me firmes pelos braços, então ele deu uma risada abafada e discreta ao perceber minha hipnose. Embaraçada não consegui formular uma frase que fizesse sentido.

– Desculpe. Distraída com o mar, é lindo aqui. Não vi à frente. – disse tudo muito rápido, sem ponto ou vírgula. Vergonhoso. 
– Como? – ele me perguntou indiferente no olhar, mas sem parecer hostil. Em seguida me soltou.
– Ãhn... Eu estava distraída com a beleza do mar e não o vi se aproximando. Desculpe. – eu parecia sufocada, mas consegui parecer normal.
– Claro. La Push é realmente linda. – sua voz melodiosa trovejava apesar de não ser assim tão grossa.
– Não se preocupe, na verdade a culpa é minha, eu devia olhar para baixo, você é relativamente baixinha. 
– Não te passa pela cabeça que você seja grande demais? Tipo, acima da média? – eu não costumava ser grosseira, mas foi ele quem me insultou primeiro.

Claro que ele não mentia, mas ainda assim.
– Tem razão. Desculpe. – ele disse sem sorrir ou demonstrar a menor simpatia.

Ficamos nos encarando curiosos, como se um analisasse o outro.
– Tudo bem. – eu disse sorrindo fraco, a fim de descontrair o clima denso entre nós. – Bedingfield. – eu falei estendendo a mão.
– Jacob Black. – ele apertou minha mão ainda sem sorrir.

Mas reconheci o nome.
– Jacob Black? – eu fitava-o duvidosa tentando me recordar porque aquele nome era-me tão familiar. – Jacob, Jacob, Jacob... 
– Sim. Me conhece? –  ele estava curioso.
– Não diretamente. Mas sinto já ter escutado o seu nome. 
– Bom, deve tê-lo escutado por aí. Todos nos conhecemos em La Push.
– Não, não foi aqui. Eu acabei de chegar à cidade e é a primeira vez que venho aqui. 

Um silêncio torturante se estendeu. Novamente o clima denso entre nós, talvez fosse apenas uma impressão minha por causa do frio e do clima ainda mais denso das nuvens misturadas ao ar e maresia. Falando em frio, aí está algo que Jacob não deveria sentir, afinal como ele consegue ficar sem camisa enquanto eu estava abarrotadamente agasalhada? Com certeza ele tem alguma peculiaridade, mas por minha vez, eu nunca fora também um exemplo da normalidade.

– Bem, de qualquer forma seja bem-vinda à La Push. – ele disse se virando e saindo sem mais nenhuma formalidade.

As pessoas daqui deviam ser educadas, pois ele fora educado, mas bem antissociais. Agora começo a assimilar porque Bella gostava tanto daqui, ela era a pessoa mais antissocial que eu conhecia. Epa... Era isso! Bella me falou dele.
Enquanto ele andava eu gritei:

– BELLA! – rapidamente ele se virou, com expressão de raiva e desconforto. – Isabella Swan me falou de você. Sabia que seu nome era familiar! 
– Argh! – ele resmungou ou rosnou, na verdade não entendi bem, me deu as costas e saiu ainda mais apressado. De repente voltou.
– Há quanto tempo ela falou sobre mim? – agora ele estava desconfortável, curioso e ansioso, e seu corpo tremia um pouco. 
– Há alguns anos. Dois ou três. Não nos falamos há muito tempo. Mas... – antes que eu pudesse terminar ele saiu correndo pelo pequeno bosque atrás das rochas e à margem da estrada.

Não compreendi nada do que ocorrera ali, estava zonza. Fui até as rochas e sentei-me. Adormeci involuntariamente ali. Acordei com outro rapaz me chamando, alto e bonito também como Jacob. Bastante parecido fisicamente. O frio gélido cortava meu rosto e o sussurro do mar uivava o princípio de noite. Me senti assustada. Não conseguia abrir meus olhos. Ainda sentia-me cansada e exausta, afinal eu havia trabalhado muito em casa naquela manhã e não descansei depois disso. Então o homem se pronunciava sacudindo-me levemente:

– Ei. Moça? Você está bem? – abri os olhos com certa dificuldade e pude ver nitidamente seu rosto após algumas piscadelas.

Um belo rosto e olhos profundos. 

– Sim. Estou bem. 
– O que faz aí há essa hora? 
– Eu andava pela praia e sentei-me nas rochas. Não me percebi adormecer. Quais as horas?
– É um pouco tarde. Beirando às oito horas da noite. 
– Certo. Preciso ir embora agora mesmo! – então notei a escuridão e somente a lua fraca refletindo o mar. – Céus! Como vou encontrar meu carro nessa escuridão? 
– Acalme-se. Eu ajudo. Primeiro temos que descer, venha. – o rapaz pegou minha mão, me guiando por entre as rochas.

Descemos à areia e ele perguntou:
– Consegue ter alguma ideia de onde deixou seu carro? 
– Não andei muito. Estava há uns cinco metros das rochas quando encontrei Jacob.
– Jacob? Conhece-o? 
– Não exatamente. Trombamos mais à frente e acabamos nos conhecendo.
– Certo, vamos. – ele foi me puxando e eu não enxergava nada.

De repente estávamos ao lado do meu carro. Como ele podia enxergar algo naquele breu?
– Esse é seu carro? 
– Sim... Mas como? ... Enfim, obrigada. – desisti de perguntas inúteis.

Era tarde e eu estava com um estranho, até simpático, mas ainda assim precisava ir para casa. 
– Consegue encontrar o caminho de volta?

Olhei em volta, a estrada era reta, mas eu não tinha mais certeza de como voltar. Afinal eu fui até lá seguindo indicações, talvez se estivesse mais claro... 
– Na verdade eu ficaria grata se pudesse me explicar... – sorri sem graça e o rapaz riu.
– Tudo bem, eu te levo de volta. Importa-se? 

Poderia ser perigoso afinal eu não o conhecia, mas eu não tinha muitas opções. Ou aceitava ou corria o risco de me perder na estrada e passar a noite com o carro no meio do nada, e isso me assustava muito mais.

– Claro que não, fico muito grata. 

Entramos em meu carro. A luz de meu automóvel deixou as características físicas do estranho ainda mais evidentes. Era tentador, não tanto como Jacob, mas perdia por décimos para ele. Para piorar a minha situação ele também estava sem camisa. As pessoas de La Push não têm roupas? Não sentem frio? Eu devia vestir uns dois casacos grossos de lã! Isso incentivou o retorno da minha hipnose. Não posso voltar à La Push se for dar de cara com tantos peitoris como aqueles! Seria demasiadamente vergonhoso. Percebendo o meu devaneio –  o que fica muito perceptível tratando-se da minha careta –  ele dispôs a mim sua mão e apresentou-se.

– Prazer, meu nome é Embry Call. – indiscutivelmente simpático e bonito, com dentes brancos e afiados como de cães. 
Bedingfield. Muito obrigada pela ajuda. – sorri simpática e um pouco sem graça.
– Não há de quê. Nota-se que você é nova na cidade. – afivelamos os cintos e ele ligou o motor. – Se lembra pelo menos do seu endereço? 

Ele ria divertido pedindo desculpas em seguida. Eu também ri afinal que espécie de pessoa sou eu que sei ir aos lugares mais não sei voltar? Isso se chama falta de atenção, algo não muito comum a mim.

– Então Embry... Moro em um lugar bem inóspito. Sabe a estrada sul saindo da cidade? 
– Sim, estamos nela. – eu olhei-o confusa enquanto ele abafava uma risada. – Esta é a estrada sul. Estamos a 80 km da saída da cidade. – agora ele ria debochado de mim, ainda confusa.
– Bem, eu sei disso. – disse tentando parecer menos ridícula. – Eu só queria te falar para pegar o norte da estrada sul. – tem coisa mais patética de se dizer? 
– Ah sim! – ele dizia tentando ficar sério. – Desculpe, mas você é realmente engraçada.
– Certo. Acho que estou mais para patética. – ele olhou-me em sinal de reprovação, como se não gostasse do que eu dissera.
– Então... Sabe a casa do delegado Swan? 
– Mora perto? 
– Não muito na verdade. Uns 15 km. 
– É sei onde é. Você mora no antigo bairro Kalil. O que te fez comprar uma casa em um lugar tão abandonado? Não sei se você sabe, mas é a única moradora de lá agora.
– É eu percebi isso desde que cheguei. Infelizmente foi o único bairro onde eu pude comprar uma casa. O fato de não ter habitação me fez pagar uma mixaria por ela. Mas por quê é desabitado?
– Bem... Forks tem muitas lendas... Logo você saberá. – ele dizia tranquilo. – E então , há quanto tempo chegou?
– Comprei a casa há umas quatro semanas, mas somente há três me mudei de fato. 
– E você mora sozinha? 

Fiquei receosa de responder. Pensei que talvez pudesse não ser adequado responder isso a um estranho. Mas, Embry já não era estranho. Pelo menos eu sabia seu nome e onde encontrá-lo. E depois, se fosse para ele me fazer algo ruim, bom... Essa informação seria ridícula, ele estava me levando à minha casa! Uma atitude muito irresponsável da minha parte. Porém eu não sentia que Embry fosse alguém do qual eu devesse correr, isso me parecia sentir por Jacob.

– Sim. Mas Erick me faz companhia e estou providenciando um bom cão de guarda.
– Eu sou um ótimo cão de guarda. – não entendi o que ele quis dizer, Embry gargalhava alto e aquilo me assustava. – Piada interna. Um dia quem sabe, eu te explico? – ficou sério em seguida.
– O que me denunciou? – perguntei de supetão.
– Como? – ele me olhou de esguio confuso. 
– Quando você disse "nota-se que você é nova na cidade" o que me denunciou? Quero dizer... Foi só pelo fato de eu não saber onde estou, de onde vim e para onde vou? – ri discreta e ele olhou-me com ternura sorrindo. 
– Seria o suficiente. Mas na verdade quando eu disse isso, ainda não tínhamos descoberto que você está completamente perdida. Eu percebi pelo fato de nunca antes tê-la visto em La Push ou dentro da reserva. Eu com certeza não deixaria você me passar em branco. – senti meu rosto arder e propus estar corando, algo muito comum a mim.
– E eu percebi ainda mais, na verdade primeiramente, pela sua pele. – fiquei boquiaberta.
– Como assim? 
– Com exceção de nós quileutes, os habitantes de Forks não são muito bronzeados. – ele dizia parecendo óbvio.
– Ah sim. Isso é porque a reserva de vocês tem privilegiadamente uma praia em seus territórios?
– Hmmm. Não. – ele ria. – Não sei se percebeu, mas Forks não é muito quente, o sol se esconde daqui. 
– Bem, ainda estamos no inverno. – eu disse convincente.
– Ele se esconde. Você verá. – rimos. – De onde você vem ? É bem diferente das garotas daqui, vai perceber logo isso.
– Posso considerar isso um elogio? Sou de Phoenix.
– Com certeza! Os rapazes vão confirmar o que eu digo. – ele disse piscando sedutoramente e eu corei novamente. – De onde disse conhecer Jacob?
– Da praia mesmo. E eu não o conheço de fato. Uma amiga me falou dele.
– Uma amiga? – Embry parecia deslumbrado e tinha um olhar sacana. – Muito interessante! 

Embry ia dizer algo, mas eu o interrompi antes. Foi mal educado, mas espontâneo, quando percebi já havia feito e me desculpei por isso.

– Vocês são parentes? – eu disse como uma repórter.
– Hmmm. Sim. Na reserva a maioria de nós somos parentes. 
– Vocês são irmãos?
– Praticamente. 
– Praticamente? Isso não soa muito afirmativo.

Então eu me indaguei internamente: Praticamente? Usa-se esse termo quando queremos dizer que é, mas não se é de fato. Deduzi que talvez fosse algo do tipo "de consideração".

– Tem razão. Sim somos irmãos. – ele disse dessa vez, convicto.

Arqueei uma sobrancelha a ele em tom de dúvida, mas não dei muita importância a isso. Ele sorriu e continuou.

– Essa sua amiga... Qual é o nome dela? Talvez eu a conheça.
– Com certeza deve conhecer, pelos emails que ela me mandava parecia que Bella estava quase se tornando uma residente da reserva! – eu ria.
 
Embry então arregalou os olhos e ficou impossivelmente pálido. 

– Algum problema? – perguntei.
– Como disse que ela se chama?
– Isabella Swan. Filha do delegado Swan... Charlie não é?
– Eu a conheço sim. Veio por causa dela? – olhava-me de soslaio mais contido.
– Quase isso. Talvez eu possa dizer que "praticamente" isso. Nosso último contato foi há uns dois anos se não me falha a memória, por e-mail. Desde que ela mudou-se de Phoenix, não a  vi mais. Só podíamos nos comunicar pela internet. Ela deu uma sumida sabe? Então eu fui mandando emails para ver se algo havia acontecido e vez ou outra ela passou a me mandar também. Muito raramente. Como terminei minha faculdade ano passado, e fiquei bem curiosa para conhecer a "Forks" que sequestrara Bella, vim em um rápido passeio. Conheci uma senhora chamada Sue, na cidade. Conversando descobri que havia vagas de emprego aqui para meu cargo e então reuni minhas coisas e aqui estou. Tenho muita vontade de rever Bella. Sabe onde posso encontrá-la? Fui à casa dela, mas ela não estava lá.
– Nem vai estar. Bella se mudou. Há algum tempo que ninguém mais a vê.
– Nem Charlie?
– Ele não gosta nem de falar. 
– Ela voltou a morar com Renée? 
, Bella se casou. Foi embora com a família do noivo. É como se ela nunca estivera em Forks.

As palavras de Embry... "como se ela nunca estivera em Forks"  fizeram um arrepio correr em minha espinha.

– Jacob não gostou quando falei dela. – fui cavando sobre as pistas.
– Bom... É melhor você não falar mais nela. Pelo menos não com ele. É doloroso. 
– Acho que sim... Ele saiu correndo e rosnando. 
– Rosnando? – Embry mantinha o olhar fixo na estrada, mas um pouco intrigado.
– Resmungando é lógico, mas – comecei a rir – parecia um rosnado, como um lobo.

Eu continuava rindo e Embry muito sem graça, acompanhou-me com um breve riso.

– Ele... Hãm... Como posso dizer... – vi o rosto de Embry empalidecer um pouco, muito imperceptivelmente. E suas sobrancelhas se unirem como se ele estivesse pronto para ouvir alguma reprovação, isso fez com que eu ficasse ainda mais sem jeito. – Bem, esquece! 
– Fale! Pode falar. Ele o quê? Ele fez algo?
– Não exatamente. – antes mesmo de eu poder continuar a falar, em um súbito Embry me interrompeu. 
– E então? – seus olhos eram aflitos.
Fico pensando o que ele esperava que eu dissesse.

– Bem, me desculpe afinal ele é seu irmão. Mas, Jacob me parece ser antissocial.

Embry aliviou-se por completo. Pude perceber pelas suas mãos que soltaram levemente o volante e por seus braços que antes estavam enrijecidos, com os músculos contraídos.

– Sabe , Jacob sente amargura. Ele era apaixonado por Bella, mas então... As coisas tomaram rumos diferentes. Ela deve ter te comentado algo sobre isso, não?
– Na verdade não. Bella nunca fora o tipo de garota que falava em namoradinhos ou paixões. Mesmo com sua única amiga.
– Única? – fitou-me ele surpreso.
– Bem... Bella é bem antissocial, por isso que eu achei que ela tivesse se sentido tão atraída por La Push. Seu irmão me pareceu assim e imaginei que todos por lá fossem igual.
– Acho que não conheci a mesma Isabella que você. Ela era quieta, mas era sociável do jeito dela.
– Com certeza a mudança para Forks mudou muito a personalidade da minha amiga. E La Push deve tê-la feito muito mais feliz que o de costume, imagino.
– Sim. Bella mudou muito por aqui, mas não acho que a reserva a fez feliz... Eu diria talvez, apenas confortável.

Sorrimos um para o outro, tímidos e havíamos chegado à minha casa. Não percebemos o tempo passar. Embry abriu a porta e desceu não me deixando abrir minha porta. Ele mesmo fez isso e ainda me deu sua mão para sair. Um cavalheiro. Eu esquecera as luzes da varanda apagadas, pois saí ainda cedo e não imaginava demorar. Embry olhou em volta e como se estivesse esperando algo passou o braço a minha frente, pedindo para eu esperar.

– Eu acho melhor eu ir à frente se não se importa. Está muito escuro e bem... Você sabe que estamos a sós. Ou pelo menos devíamos estar.

Embry olhou-me de uma forma que não me dava opções. Como se fosse uma ordem e assim eu não contestei.

– Pode me dar a chave da casa? 
– Hãm... Sim. – eu procurava em minha bolsa o meu chaveiro de cãezinhos. Ao achá-lo entreguei-o a Embry um pouco nervosa. – Aqui está.

Ele deve ter percebido que eu estava um pouco apreensiva.

– Desculpe parece que estou te assustando. Eu só quero mesmo verificar se não há perigo para você. – disse segurando minhas mãos e eu apenas assenti. – Olha fique dentro do carro está bem? Eu irei lá, acenderei as luzes e volto para te acompanhar.
– Certo.

Enquanto eu observava Embry avançar percebi que ele cheirava o ar. Achei aquilo deveras estranho. Talvez estivesse apenas respirando fundo. Ele mantinha-se contraído da cabeça aos pés, como em posição de guarda. Entrou, acendeu as luzes da casa, demorou um pouco, voltou e abriu a porta do carro para mim.

– Está tudo certo! Nem cheiro de... Quer dizer, nem sinal de perigo. 
– Aceita um café? 
– Aceito. Em outra ocasião. Agora eu preciso ir. 
– É verdade está ficando tarde... Espera... Como você vai voltar? 
– Isso não é problema! Eu sou bem rápido e conheço bem a região. – ele sorria.

De repente ele ergueu uma sobrancelha, me fitou por um minuto e abriu a boca:

– Onde está o tal Erick? Seu namorado... Você não disse que ele a fazia companhia?
– Ah é! Bem ele deve estar na delegacia. Talvez em casa. Talvez haja algum recado na minha secretária. Ele me faz companhia de vez em quando.

Imaginei que o fato de ter colocado Erick como meu namorado pudesse ter sido uma estratégia de Embry para tirar tal dúvida, mas acho que não.

– Nós não somos namorados, só amigos. – deixei claro, pois não éramos.
Talvez estivéssemos nos tornando um pouco mais que amigos, mas bem menos que namorados.

– Se quiser posso ficar aqui. Claro, não quero que pense mal...
– Tudo bem, eu agradeço! É melhor você ir. Mas pode ser perigoso, então vai com meu carro!
– Não precisa . Ainda assim, fico grato.
– Tem certeza? Não precisarei mais dele por hoje.
– Tenho!
– Sendo assim eu te acompanho até lá fora.
– Sendo assim você me acompanha até a porta, tranca a casa toda e vai descansar! Vou deixar meu telefone com você pode ser?
– Claro! – peguei uma agenda e caneta ao lado do telefone no balcão. 
– Bem, é isso. Caso precisar pode me ligar a qualquer hora. E eu falo sério. Fico um pouco... Preocupado com você aqui só. Parece muita loucura para quem acabou de te conhecer?
– De forma alguma. Até porque se for, então estamos ambos loucos. 

Ficamos nos olhando sorridentes. Embry beijou minha testa e eu o acompanhei até a porta como ele fez questão. Verifiquei mesmo todas as trancas da casa, não queria admitir a ele, mas tenho medo de ficar sozinha aqui. É realmente um lugar ótimo para um crime silencioso. Isso me lembra que preciso descobrir sobre as tais lendas, que Embry não quis me contar, sobre esse lugar.
Fiquei pensando em Bella, nas coisas que eu descobri hoje. Eu quero procurá-la, mas talvez fosse melhor não. Se ela fez questão de sumir sem dar explicações, talvez eu não fosse importante para ela. Isso me magoa, mas devo pensar na minha nova vida em Forks. Na vaga de emprego que pretendo preencher segunda feira. Espero. Agora eu vou dormir. Se eu conseguir é claro, estou olhando o teto há algum tempo e não consigo parar de pensar no dia mais bacana que tive desde que cheguei. Será pela linda reserva La Push ou por ter um novo amigo tão legal como Embry? Será que ligo para saber se ele chegou bem? Amanhã. Amanhã cedo faço isso. Sem dúvidas, Embry é cativante e começo a achar que será difícil andar distante dele. E isso significa muitas visitas à reserva. Um tempo apegada bastante à praia de La Push. Bella tinha razão, coisas maravilhosas estão escondidas por lá.


02 - Descobrindo a reserva

Acordei descansada o bastante, devo isso ao cochilo nas rochas que aliviou um pouco. Após toda minha higiene matinal arrumei minha cama e desci à cozinha. Esquentei a água para o café, enquanto discava o número de Embry. Uma voz trovejante atendeu.

– Alô? Bom dia, o Embry se encontra? – perguntei sem graça e só então percebi no relógio da cozinha que ainda eram 7 horas em ponto!
Já não era tão cedo assim para mim, mas vai saber!
– Ele está dormindo. Quem deseja? – disse a voz trovejante do outro lado.
– Hãm... Desculpe-me por incomodar, mesmo! Eu não percebi o horário. Eu sou , só estou ligando para saber se ele chegou bem ontem à noite. Fiquei preocupada. – pude ouvir uma risadinha sem graça e abafada do outro lado.
? Ele chegou bem sim, pode ficar tranquila. E tudo bem ligar a essa hora, nós acordamos bem cedo aqui. Embry deve estar exausto da noite de vocês, por isso ainda não acordou. – do outro lado a voz trovejante sussurrava "Shh! Fica quieto, para com isso".

Senti-me envergonhada, acho que ele não entendeu muito bem o que eu era para Embry.

– Bem, de qualquer forma desculpe o incômodo. Com quem eu falo?
– Sam Uley.
– Certo Sam. Poderia dizer ao Embry que a amiga dele ligou?
– Claro . Mais algum recado?
– Não, não. Obrigada.

Sam respondeu e eu me despedi em seguida desligando o telefone.
Bem educado ele. Seria esse Sam outro irmão? Se bem que a voz dele parecia muito mais velha, talvez o pai dele. Havia outros garotos também. Pude notar!
 Após a ligação tomei meu café. Antes de terminar meu celular tocou. Era Erick.

– Bom dia Lu! Como está? – ele dizia animado.
– Bom dia Erick, estou ótima! Como foi a tarde de ontem? 
– Argh! Eu poderia tê-la passado com você, seria muito mais divertido. Só papéis e mais papéis! – ele dizia com timbre contrariado. – Me desculpe por isso, sei que combinamos...
– Não tem que se desculpar, foi um chamado de hora. Como você está?
– Bem. O que você fez ontem?

Animei-me para contá-lo. 

– Ah Erick, foi ótimo! Você nem pode imaginar. Fui até a casa do Senhor Swan, mas Bella não estava lá. Depois fui à praia de La Push. Conheci Embry Call.
– Hmmm. Legal. Divertiram-se? – a voz de Erick não parecia feliz e nem mesmo interessada.

Acho que ele não curtiu muito a ideia de eu ter conhecido alguém da reserva, ou ele tinha algum problema com o Call.

– Foi bem rápido. Até que eu gostaria de ter passado mais tempo com ele. É uma ótima pessoa. – eu realmente acho isso, mas quis instigá-lo a dizer algo contra para ter certeza se ele não aprovava a ideia de Embry sendo meu amigo.
– Olha eu tenho que desligar. Antes... Charlie Swan me convidou a uma pescaria, acho que não te agrada muito, mas não custa perguntar... Quer nos acompanhar? Com vara e tudo? – deu uma risadinha sem graça.
– Hum... Erick, eu vou recusar, me desculpe. Quem sabe outro dia. Tenho outros planos para hoje.  

Ele me chamou de , desde que nos aproximamos ele só me chamava de . Isso não poderia ser tão legal.

– Vai novamente à reserva quileute? – como imaginei, ele parecia não gostar da reserva.
– Talvez. Mas minha urgência é outra. Bom, tenho que ir. Até mais Erick. Beijo. 

Ele respondeu e nós desligamos. Mais tarde vou conversar com ele sobre essa impressão que tenho dele desaprovar La Push. Hoje o que eu pretendo fazer é procurar informações sobre Sue. A mulher que me indicou o emprego. Infelizmente não me recordo de seu sobrenome, mas não é um nome muito comum. Espero que não tenham muitas "Sues" em Forks.
Tomei um banho, coloquei um jeans boyfriend surrado, uma camiseta branca, jaqueta jeans e cachecol. Calcei minha sneaker preta e pegando as chaves do carro fui ao centro da cidade. O sol batia fraco no para-brisa, o reflexo nos meus olhos me atrapalhava um pouco. Puxei minha bolsa no banco do carona e entre uma batida e outra das músicas no rádio eu cantarolava Beatles. Tateei meus óculos escuros na bolsa, então me lembrei de que estavam no porta-luvas. Ao me esticar para pegá-los desviei a atenção da estrada. Pegando-os coloquei no rosto e de repente houve um estrondo antecedido de uma freada brusca e de 200 batidas mais aceleradas no meu coração. Havia batido o carro em uma árvore. Praguejei, ainda sabendo que foi pura irresponsabilidade minha. Desci do carro desesperada, e como em cenas de filme americano eu chutava o meu para-choque e gritava comigo mesma.Vagarosamente um Rabbit vermelho se aproximava na estrada. Parou atrás do meu carro com certa distância. Peguei minha bolsa no carro, puxei as chaves da ignição e meu celular. Para minha surpresa o homem que desceu do Rabbit parecia-me muito familiar e era. Jacob Black se aproximou devagar e parou na minha frente. 

– Tomando umas rasteiras da estrada? – me olhou de lado sem sorrir. 

Oi? Era para ser uma piada? Primeiro não gostei, eu estava estressada e segundo, se era piada porque ele não riu?  "Mestre do humor" , pensei.

– Na verdade não. Desviei a atenção. – eu disse ainda olhando os estragos do carro, em seguida tentei ligá-lo, o estrago era grande, mas ele poderia aguentar chegar à cidade, ou eu devesse levá-lo de volta para casa, já que havia dirigido uns 10 metros. 
– Porque fez isso? – ele abaixou analisando melhor os amassados.
– Ah, sei lá, estava a fim de bater o carro na mata. Sabe como é né? Tédio. – eu disse olhando-o incrédula.

Ele me olhou confuso e pensou um pouco.

– Hãm... Vou supor que está sendo irônica. – levantando virou-se para mim sem demonstrar expressão alguma.
– Tanto faz.
 
O carro ligava, mas o motor morria. Eu já ia discando no meu celular para o Erick.

– Posso perguntar para quem está telefonando? – ele disse meio sem graça, eu acho.
– Para um amigo, ele deve conhecer algum reboque ou mecânico. 
– Abre o capô. – Jacob ordenou puxando o aparelho do meu ouvido e desligando-o, em seguida me estendendo-o de volta.
– Você é mecânico? – perguntei mais interessada depois de fazer o que ele pediu. 

Ele analisava minha máquina por dentro e fazia umas caretas.

– Praticamente. –  "Praticamente. Ótimo, um amador" eu pensei. – Olha seu carro não vai mais a lugar nenhum sem alguns pequenos reparos. 
– Tem certeza?
– Tenho. 
– Dá para eu pelo menos empurrá-lo de volta para casa? Fica há... – ele interrompeu-me.
– Vou rebocá-lo até lá para você. Entra aí. – ele disse dando as costas e correndo em direção ao seu Rabbit.

Seguiu os procedimentos e quando já ia rebocá-lo eu falei:

– Você vai me deixar explicar onde moro? – parei na frente dele séria e irritada. Ele era irritante, um ótimo antissocial.
– Há uns 10 metros. No casarão abandonado. – ele falou arqueando uma sobrancelha convencido. 

Dei às costas a ele e olhava-o por sobre o ombro com cara de brava enquanto andava para porta do meu carro. Abri-a bruscamente e entrei emburrada, ele ficou observando-me indiferente e saiu andando até seu carro. Pude ver pelo retrovisor que ele sorria vitorioso. Enquanto ele guiava o meu carro, eu controlava-o. Ao chegar a casa guardei-o na garagem, que na verdade não era uma garagem. E sim um galpão no quintal dos fundos. As casas de Forks eram bem diferentes das casas de Phoenix. Em Phoenix tudo é muito colorido, em Forks monocromático, as casas de lá tem garagens anexadas às laterais já aqui em Forks, poucas tem garagens. Depois que Jacob estacionou meu carro na minha "garagem" descemos e eu tranquei-o.

– Deixe-me adivinhar, táxi aqui só em televisão não é? – eu disse desanimada.
– Você pode esperar um ônibus. – ele disse e eu ia me animando – Claro... Não é muito comum passar algum por aqui.

Ele ria da minha cara. E pela primeira vez eu o vi sorrir ou rir. Não posso definir muito bem porque era como se o rosto dele fosse travado, como alguém que desaprendeu como se faz para alargar um sorriso bonito.

– Certo. Como vocês fazem por aqui? – indaguei curiosa.
– A maioria dos moradores de Forks tem seus carros, quando não têm eles pegam carona. Sabe como é, todo mundo se conhece e uma mão lava a outra. – fizemos uma pausa. Ele me encarava e eu olhando o chão pensava. – Eu poderia te dar uma carona, já que estou indo à cidade. Mas... 
– Mas?
– Você não está sendo muito gentil para alguém que está te ajudando, então você poderia reverter a situação.
– Não estou sendo gentil? Olha quem fala. – petulante não?

Revirei os olhos, coloquei as mãos à cintura olhei para baixo ergui a cabeça para o céu com os olhos fechados, bufei e disse:

– Hum... Está certo. Senhor Jacob Black, poderia, por favor, me dar uma carona até a cidade? Eu ficaria muito grata. – sorri sem graça. 
– Senhor Jacob Black? Muito formal.
– Certo, que tal... Jake? 
– Bem... Então vamos, não posso demorar e acredito que você esteja atrasada. – ele voltou a ser rude e antissocial virou as costas e foi andando.

Eu o segui surpresa e calada. Ele seria bipolar? Ou apenas não gostou do apelido? Mas pessoas normais apenas responderiam "Não gostei". Qual o problema dele? Entrei calada e permaneci calada por um bom trajeto, assim como Jacob também. Por hora achei até que ele havia se esquecido da minha presença, encarava a estrada pensativo, porém tranquilo. Quebrei o silêncio.

– Jacob. Por acaso você conhece alguma senhora chamada Sue? 
– Talvez. Por quê? 
– Nada importante. Preciso agradecê-la, porém não consigo me recordar do sobrenome dela.
– Como ela é?
– Morena de cabelos longos, e muito simpática.
– Muito esclarecedor.
– Ah, qual é? Não devem ter muitas "Sues" por aqui! 
– Sue Clearwater. Seria essa?
– SIM! – gritei e ele se assustou. – Desculpe... É essa senhora mesmo! Onde posso encontrá-la?
– Na reserva. – fizemos silêncio. – Agradecê-la pelo o quê? 
– Não sei se deveria contar. – fiz cara de indiferente, ele ficou sem graça. – Brincadeira Jacob... Graças a ela eu fui admitida no meu novo emprego.
– Sue é muito generosa. Você vai gostar de conhecê-la melhor. 
– Tenho certeza disso.

Sorrimos um para o outro. Jacob é realmente lindo. Dúvidas passavam na minha cabeça como um turbilhão. Afinal o que Bella fez com ele para deixá-lo tão amargurado? Era engraçado, ora ele era simpático e descontraído, até lançava suas piadas frias que me agradavam, ora ele emburrava e era como se eu não estivesse ali. De alguma forma Jacob havia colocado uma barreira entre nós. Uma barreira invisível, que não impedia que nos ouvíssemos e falássemos um com outro, mas impedia que nos aproximássemos. Isso me incomodava muito. Até mais do que eu poderia explicar.
Meu celular tocou e era Erick. Ele me perguntou onde eu estava e eu disse que estava a caminho da cidade com Jacob Black e que depois iria à reserva falar com Sue Clearwater. Erick calou-se e depois de pronunciar "Hum... Tá. Até mais" desligou na minha cara.

– Grosso! – eu falei olhando meu celular.
– Aconteceu algo? 
– Erick Jones. Isso que aconteceu.
– Espera... ELE? Você o namora? – Jacob não pareceu muito satisfeito e frisou bem o "ele".
– Por quê?
– Embry não disse que você namorava. Muito menos com ELE. – fez de novo.
– E não namoro. É só um amigo. Escuta, vocês tem algum problema com ele?
– Digamos que ele tem um problema conosco.
– Hum... Posso saber qual é?
– Pergunte a ele. E se descobrir, me conte. Chegamos à cidade.
– Engraçado, parece que demorou né? 
– Um pouco. – ele riu.

Sim, novamente o sorriso de alguém que desaprendeu a sorrir.

– Você vai fazer o quê aqui? Sem querer ser intrometido.
– Algumas compras para casa e algo para preparar de almoço.
– Bem, o mercado da família Carter é o mais barato e tem de tudo. Aconselho a ir lá. 
– Bem, obrigada Jacob. Mesmo. Pelo carro, a carona e... Pelas conversas. 

Nessa parte eu fiz cara de dúvida, pois nós não conversamos assim conversando, tivemos breves diálogos eu diria. E minha expressão deve ter sido engraçada porque ele riu de mim. Riu mesmo, divertido. Corei admirada.

– Você acha que demora aí? – ele me disse apontando para o mercado.
– Não sei... Talvez uns 15 minutos sem fila.
– Se eu estiver por aqui, te dou uma carona. Pode ser? – certo o que fizeram com o Jacob antissocial, emburrado, amargurado e idiota que esteve comigo por momentos e há pouco?
– Eu vou adorar. – sorri simpática e surpresa. – Até mais. 

Dando as costas, corada, e sorrindo simpática eu olhava para trás por sobre o ombro de vez em quando e acenava para Jacob parado encostado no Rabbit. Entrei no mercado observando as pessoas simpáticas, que sorriam para mim como quem dá boas-vindas. Era um mercado grande para Forks. Enquanto comprava as coisas eu pensava na risada de Jacob com a minha careta. Ali pela primeira vez ele  demonstrou a gargalhada mais sonora e linda que eu já havia escutado. Os olhos dele se apertavam miudinhos e sua boca alargava-se mostrando seus dentes brancos e belos. Ele era como um sol escondido por nuvens. Todo nosso "bate-papo" passou pela minha mente em flashback. Os momentos que ele travava, como se lembrasse da barreira invisível que ele mesmo pusera entre nós, e em outros, tão displicente entregando suas minúcias sutis e encantadoras.
Ao chegar ao caixa, as pessoas me observavam tanto que me senti obrigada a cumprimentá-las. Muito felizes me responderam de volta e conversavam comigo em como eu iria adorar Forks, como eu era bela e como tinha uma cor de pele linda. Uma senhora falou:  "– Você é a namorada do jovem Erick Jones?" . Respondi que não, que éramos apenas amigos e que ele me ajudou muito nas primeiras semanas de mudança e ainda ajuda-me. E a senhora respondeu: "– Erick é um excelente rapaz!" . Ri da situação, pois pareceu que ela queria "promover" o rapaz.
Então um senhor, aproximou-se se apresentando:

– Seja bem vinda senhorita. Sou Junior Carter. Dono do mercado e patriarca da família. – apresentou-me a esposa, que era a senhora da pergunta sobre Erick, os filhos Scott e Peter. – Pode contar conosco para o que precisar aqui na cidade.
– Muito obrigada Senhor Carter. É muita gentileza de todos vocês, meu nome é
– Desculpe-me ... Você é por acaso parente de algum quileute?
– Não senhor, mas... Por que perguntas?
– Você é bem bronzeada. – disse Peter, o filho mais novo, me olhando admirado.

Acho que Embry estava certo quando disse  "É bem diferente das garotas daqui, vai perceber logo isso (...). Os rapazes vão confirmar o que eu digo.". O irmão mais velho, Scott chamou-lhe atenção dizendo que ele estava sendo indelicado. Peter desculpou-se.

– Tudo bem Peter. Eu sou bronzeada mesmo, mas é porque eu venho de Phoenix. Espero não perder essa característica, adoro o tom da minha pele. Acho de um dourado lindo.
– E é querida. – falou a senhora Eva Carter, mãe dos meninos. 
– Com certeza, você é linda . – Scott disse me fazendo corar. 

Então o Senhor Carter continuou, já que Peter interrompeu-o.

– Bem , pergunto por que de fato você parece uma quileute. Mas se não é parente de nenhum ainda, logo será. Estou enganado? – ele sorria apontando para a porta e me olhando curioso. 

Jacob andava de um lado a outro na porta do mercado esperando-me. Então ele olhou para dentro e viu que todos o observavam. Acenou sem graça e se direcionou a entrada do estabelecimento.

– Jacob me deu uma carona apenas. Meu carro quebrou na estrada e nos conhecemos hoje. – sorri sem graça em resposta.
– Algo me diz que tem alguma coisa na reserva quileute esperando você . Pode não ser Jacob, mas há algo ou alguém lá a sua espera. 

Jacob havia chegado e pegava minhas compras enquanto Sr. Carter falava. Ele ouviu a toda a "premonição", calado e sorrindo torto. Após pegar todas as sacolas pesadas e com uma agilidade incrível, ele sorriu para a família do mercado, cumprimentou-os.

– Bom dia Carters. – todos o responderam, Scott e Peter pareciam amigos de Jacob, pois deram um soco cúmplices em cada ombro dele. – Sr. Carter, tem mesmo alguém esperando na reserva. – ele disse sorrindo e despedindo-se.
– Foi um prazer. Espero revê-los brevemente. – eu disse seguindo Jacob.

No lado de fora, eu olhava discretamente para o vidro da vitrine do mercado com as mãos no bolso da minha jaqueta e todos ainda nos observavam. Jacob guardava as sacolas no banco traseiro. Virando-se para mim, parou na minha frente.

– Você quer ver Sue ainda hoje?
– Não sei se vai dar... Tenho que ir para casa. Ainda tenho que preparar o almoço e até chegar à reserva...
– Sue te espera para o almoço. – dizia rindo e abrindo a porta para mim. – Vamos? 
– Jacob... Eu não sei. Eu realmente pretendo falar com ela, mas tenho tanta coisa para organizar em casa...
– Seu namorado está te esperando para o almoço? – ele falava olhando para o lado e ainda segurando a porta.
– Eu já disse que Erick não é meu namorado. E não, ele não está me esperando para nada. – ele me olhou apontando com os olhos para o banco do carro.
– Tudo bem! Mas eu não posso demorar! 
– É to sabendo. – ele bateu a porta e me assustou, pelo retrovisor vi que ele dava a volta no carro sacudindo a cabeça e sorrindo para o chão. Acenou para os Carters que ainda nos espiavam.
– Cidades pequenas! – ele disse entrando no carro e sorrindo para mim.
– Sou a atração. – eu disse sem graça. – Acontece muito por aqui?
– Já tem algum tempo desde a última grande atração. – Jacob pigarreou e ficou sério.

A barreira estava erguida novamente. 
Ele não era de escutar músicas enquanto dirigia, e apesar de todo aquele silêncio me incomodar muito, eu não me atrevi a pedir que ligasse o rádio. O caminho seguiu silencioso. Algumas vezes nós nos olhávamos e sorríamos sem graça. Apreciei a paisagem todo o percurso, ao passar pela minha casa, Jacob perguntou se eu gostaria de parar para guardar as compras. Nós estacionamos na entrada e ele agiu da mesma forma que Embry, na noite em que me trouxe em casa. Quando eu perguntei o que ele estava fazendo, respondeu-me  "Apenas verificando". Tudo estava normal, como eu sabia que estaria. Ele colocou as compras sobre o balcão da cozinha, elogiou minha casa e foi me empurrando de volta para o carro.

– Céus, qual o seu problema?
– Você não vai querer perder as melhores partes não é? – ele sorriu novamente aquele sorriso solar e tímido.

Ao chegar à reserva, muitas pessoas, muitas mesmo, estavam conversando alto e sorrindo uma para as outras. Os quileutes me pareceram pessoas muito felizes. Avistei Sue colocando travessas em uma mesa enorme de madeira, esculpida a mão e que se encontrava ali no meio do "pátio" se assim posso dizer, abaixo de um enorme carvalho. Era como um piquenique no meio da floresta. Eu adorava as cenas, lamentei não estar com a minha câmera. Seriam fotografias lindas. Enquanto eu olhava-os de dentro do carro, aos poucos eles nos perceberam. Jacob então tocou meu braço, como se quisesse me acordar de um sonambulismo.

– Você está bem?
– Ótima. É tudo tão perfeito aqui. – ele sorria.

Todos do lado de fora ainda nos observavam curiosos, calados e sorridentes. Aquela recepção toda era para mim ou eles eram assim mesmo?

– Eu não trocaria esse lugar por nenhum outro no mundo. – Jacob disse, também admirando todos à nossa frente. – Certo, vamos! Já estamos parecendo dois loucos. – ele disse e nós gargalhamos. 

Jacob abriu a porta para mim. Ao descer avistei Embry vindo em minha direção como um urso, me abraçando forte. Eu gargalhava.

– Ei, Embry! Não me envergonhe. Tem muitas pessoas aqui!
– Relaxa. Eles estão acostumados.

Eu sorri para ele, dando um soco fraquinho no seu ombro. As pessoas começaram a se aproximar e a se apresentar. Sue sempre muito simpática e sorridente me abraçou e me parabenizou pelo trabalho. Retribui o gesto carinhoso.

– Eu quem devo agradecê-la, se não fosse por você eu não teria o emprego e nem estaria aqui!
– Nesse caso, viva a Sue! – Embry dizia alegre me fazendo corar.
– Está apavorando-a Embry. – a mesma voz trovejante que falara comigo no telefone se pronunciou. – Seja bem-vinda . Sou o Sam Uley. Já nos falamos, lembra?
– Sim, foi nessa manhã. É um prazer conhecê-lo. 
– Olá , eu sou Billy Black. Venha, deve estar com fome.

Observei Billy por um tempo enquanto o acompanhava. Devia ser o pai de Jacob, suponho pela idade, porém eu não observei nenhuma característica comum entre eles. Talvez tivessem alguma, mas de fato eu não conseguia perceber. Sou bem fraca com essas coisas. Jacob estava sentado em um toco, um pouco afastado da grande mesa, ao lado do carvalho gigantesco. Ele estava de costas para a mesa absurdamente grande e magnificamente esculpida à mão.

– Ei , Jacob comportou-se direitinho com você? – Embry perguntou e todos riam, menos Jacob que o olhou de soslaio.
– Bem, ele se comportou como deveria eu acho. – sorri fraco.
– Tudo bem querida, esses meninos gostam de piadinhas, mas não acreditam quando dizem a eles que eles não têm a menor graça. – disse Sue sendo abraçada em seguida por Jacob que havia se levantado.

Ele disse a ela: "É por isso que eu te adoro Sue".
Ele me olhou e eu sorri sem graça. Sue olhou para ele e para mim discretamente. Eu percebi.

– Posso ajudá-la? – me ofereci.
– Tudo bem querida, Emily e as meninas já me ajudaram bastante. Fique a vontade. – ela sorria.
– Ok. – eu sorria meio sem graça. Me senti inútil e paparicada, e odeio me sentir assim.
– Ei ! – Embry gritava. – Vem cá! Tem uns bobões querendo conhecê-la! 
– Você está transformando a garota em uma atração Embry. – disse Emily, sendo acompanhada pelas risadas de todos. 

Eu fiquei sem graça novamente. Mas decidi falar algo para não parecer uma patricinha fresca.

– Embry é muito animado. E tudo bem ser uma atração, não acontecem muitas novidades por aqui não é? E depois, não pode ser pior do que foi no mercado Carter. 
– Você é muito gentil. – dizia Emily. 

Ela tinha uma cicatriz bem grande no rosto, e evitava falar comigo olhando totalmente de frente. Talvez por receio de alguma atitude minha. Fingi que nem percebi.

– Obrigada Emily, você também é. – dei uma risada divertida e isso a deixou mais à vontade comigo, eu acho. Abraçando Embry de lado, eu resolvi me soltar um pouco mais. – E então, onde estão os bobões Embry Call?

Todos riam. Embry apresentou-me mais alguns garotos da reserva incluindo Quil Ateara, outro irmão que eu não conhecia. Fomos almoçar assim que Billy nos chamou. Ajudei a organizar tudo depois da comilança. Confesso que os quileutes tem mesmo um apetite e tanto. Embry me convidou para descer à praia. Nessa hora Jacob surgiu ao lado dele e sussurrou:  "Pode não ser uma boa ideia"  . Então Embry disse em sussurro que não teríamos problemas. Fomos descendo em uma trilha escorregadia e com algumas pedras até a praia. Eu caí algumas vezes e a cada tombo morríamos de rir. Como sou muito estabanada, ao chegarmos à parte mais pedregosa, Embry parou.

– O que houve? – eu perguntei.
– Como você está? – ele perguntou me olhando de cima a baixo.
– Apenas alguns hematomas. Nada grave, por quê? O que houve? 
– Nesse caso, peço-lhe desculpas e licença, mas eu preciso fazer isto. – dizendo isso ele me pegou no colo.

Com o susto agarrei-me ao seu pescoço. Ele olhou para mim e novamente minha careta devia estar cômica, pois Embry começara a rir. Eu ri junto. Embry era muito rápido e ágil, conseguia andar sobre as pedras como se os seus pés já tivessem as medidas certas das duras figuras. Entre um pulo e outro conversávamos, porém eu sentia um pouco de constrangimento com aquela situação.

– Está confortável? – ele dizia zombeteiro.
– Bastante. – eu falei sorrindo e encarando seu peitoral – Obrigada pela carona. Você me livrou de alguns hematomas mais sérios e um longo tempo sem poder me sentar. – Embry gargalhava.
– Ah não. – ele disse após parar de rir. 
– O que foi? – eu perguntei olhando para frente.
– Já chegamos. – olhei-o confusa e ele continuou a falar. – Infelizmente! – olhava-me atrevido e eu ainda não entendia nada. – Estava me sentindo muito bem em carregá-la.

Eu sorri envergonhada quando ele disse isso.

– Bem, você pode fazer isso mais vezes, se quiser. – eu disse evitando olhar Embry nos olhos.
– Certo, então eu acho que eu deveria continuar, afinal nós vamos subir nas rochas para nos sentar e como você mesma disse, melhor evitar hematomas mais sérios. 

Eu sorri, mas fiquei apreensiva. Achei que não pudesse ser uma boa ideia já que me carregar enquanto se escala rochas parecia muito arriscado. Será que era disso que Jacob falava? Será que ele sabia que Embry inventaria de escalar o montinho de rochas comigo nos braços? Foi tudo premeditado? Achei melhor afastar esses pensamentos e me concentrar em cair o mais seguramente possível. Embry conseguiu subir comigo nos braços sem o menor esforço. Ele tinha cola nos pés? Ele estava quente. Na verdade Embry é quente. Eu senti um friozinho gostoso com a brisa do mar, novamente pensei em como ele poderia estar sem camisa em um tempinho tão arrogante como aquele. No topo, me colocou sentada sobre as rochas e se sentou ao meu lado. Beijou meu rosto gelado.

– Está com frio. – ele disse.
– Vamos confessar que está de fato, frio. Vou fingir que você se veste de vez em quando.
– Eu me visto. Estou de calças, não é o suficiente? – ele olhava travesso e rindo.
– Sério? Tá legal, diga que todos na reserva não estão vestidos apenas por minha causa!
– É complicado... Basicamente nosso metabolismo deixa a nossa temperatura corporal quente. – ele falava como se fosse a coisa mais comum do mundo.

Eu poderia começar a congelar a qualquer momento, tamanho era o frio que eu sentia e ele lá com  "Eu sou hot baby" . O problema era comigo? Acho que ele percebeu que não era uma situação muito comum para mim.

– Claro que, nós sentimos frio e nos agasalhamos, mas... Enfim, você deve ter algum problema. Nem está tão frio! – ele olhou-me de soslaio com um sorriso de canto zombeteiro.

Sorri, olhei para baixo e pensei  "Sim, claro, eu e toda a cidade".

  – Está com frio? – ele perguntou amigável.
– Sim, parece que o tempo está virando. – eu brincava com algumas conchinhas na rocha. – Te liguei mais cedo. – eu disse.
– Eu soube. 
– Seus amigos estão enganados a nosso respeito.
– É eu sei. – ele disse rindo. – Não ligue para eles tá?

Embry me abraçou aninhando-me em seu peito. Ele pediu desculpas e perguntou se podia, apenas para me esquentar um pouco. Lógico que eu não recusaria. Coloquei minhas mãos nos bolsos de minha jaqueta. Um silêncio absurdo pousou naquela praia sendo desafiado pelo rumor das ondas furiosas.


– Hum?
– Por que você disse lá em cima que nossas reações não poderiam ser piores do que foram no mercado Carter? – eu ergui minha cabeça à altura de seu queixo para espiá-lo. 

Embry fitava o horizonte com olhar enrugado, aquele olhar que molda rugas na testa.

– Não foi nada de mais, por quê? Eu ofendi o pessoal?
– Não. Só que... Eu falava sério quando perguntei se o Jacob havia se comportado. Ele é bem instável sabe? Eu não fui o único a ficar apreensivo com o quê ele poderia fazer com você quando soube que ele socorreu seu carro e a traria para cá.
– O que ele poderia fazer comigo? – perguntei curiosa.
– Nada. Eu quis dizer, com o quê ele poderia dizer... Jacob pode ser bem rude quando quer. 
– É eu já percebi. Não que ele tenha sido rude, mas Jacob é um mistério. Ao mesmo tempo em que ele se aproxima ele se afasta, não sei se não gosta de mim, se tem medo das pessoas ou os dois. – eu falava voltando a olhar o mar e ainda abraçada com Embry.

Eu não o soltaria por dois motivos: aquela situação era deliciosa e estava aconchegante e quente.

– Impossível não gostar de você. – ele falou acariciando os meus cabelos. – Jacob vai se soltar assim que te conhecer melhor. Não se preocupe. 
– Certo. – lembrando da pergunta, que parecia que eu tentava evitar, o respondi. – Respondendo sua pergunta... É que lá no mercado dos Carters, insinuaram que Jacob e eu tivéssemos algum tipo de relacionamento parentesco. – começara a chuviscar.
– Como assim?
– O Sr. Carter perguntou se eu era uma quileute, pois parecia muito pelo tom da minha pele. Quando eu esclareci tudo ele viu Jacob me esperando na porta do mercado e insinuou que se eu não era parente de alguém da reserva em breve eu me tornaria. Então quando eu esclareci as coisas novamente, ele meio que – parei e comecei a rir lembrando-me – Profetizou que havia alguém me esperando aqui na reserva, ainda que não fosse o Jacob. 
– Você deveria levar um pouco mais a sério as "premonições" do Sr. Carter. É só um conselho. Costumam funcionar. – a chuva tornava-se levemente maior e mais grossa.
– Sério? 
– Bem, de fato esperávamos você aqui não é? – novamente Embry gargalhava divertido. O humor dele era contagiante.
– Seu bobo! Você entendeu! Sr. Carter falou como se tivesse algum tipo de namorado para mim por aqui. – eu disse voltando a erguer meu rosto para o queixo dele e falei com ele óbvia.
– Talvez tenha. – Embry disse baixando o rosto dele a ponto de me olhar nos olhos.

Nossos rostos estavam muito perto e a chuva começava a nos encharcar. Embry pousou sua mão quente no meu queixo e nos beijamos. Um beijo calmo, tranquilo e harmonioso. A forma como Embry me prendia em seu corpo era delicada, eu me sentia confortável para tocá-lo e abandonar-me nos braços musculosos e fortes dele. Paramos o beijo e começamos a rir. Ele, novamente me colocou em seu colo. Agarrei-o dando risadas divertidas enquanto ele fazia caretas fingindo não aguentar meu peso.

– Ei mocinha, esse beijo te engordou. – disse piscando saliente.
– Esse beijo te enfraqueceu você quis dizer! – eu sorria cada vez mais largo.
– É... Ou isso. – ele disse fazendo uma cara engraçada. – Agora vamos, já estamos muito molhados.

Subíamos na mesma trilha pedregosa. Ao chegar ao topo da trilha, ainda na mata e um pouco afastados do acampamento quileute, Embry  me colocou no chão. Jacob estava ali ofegante e observava-nos. Ao percebermos ele desenrolei meus braços do pescoço de Embry.

– E aí Jake? Aconteceu alguma coisa? – pude perceber que a reação de Jacob ao ouvir Embry pronunciar aquele apelido foi bem diferente da forma como ele reagiu comigo. Era como se ele não ligasse, fosse indiferente ouvir aquele nome sendo dito por Call.
– Não. – rígido e seco. – Eu estava indo atrás de vocês. Parece que vem uma tempestade por aí. 
– Tudo bem, nós estamos bem. – Embry disse.
– Vamos, a vai precisar se trocar.

Eu sorri para Embry como se fossemos duas crianças que haviam feito travessuras. Jacob deu-nos as costas e saiu. Seguimos ele e ao chegarmos Jacob foi direto para a casa de Billy, que estava sentado na varanda. Billy falou algo para ele, mas ele não deve ter ouvido. Apenas entrou molhado e sendo seguido por Billy. Sue e Emily estavam deitadas em umas redes na varanda da casa de Sam, suponho. A maioria das pessoas que estavam na reserva haviam ido embora. Junto com as senhoras, sentados na varanda estavam Quil e Sam.

– Para onde foram todos? – eu perguntei ao Embry enquanto nos aproximávamos dos meus novos amigos.
– Acredito que, para suas casas. – ele disse apontando para o norte da mata da reserva – Outras cabanas afastadas um pouco mais a frente.

Assenti sorrindo. Ao nos avistarem Quil e Sam se olharam e riram discretos. Sue toda preocupada entrou para pegar uma toalha e Emily puxou-me para dentro da casa.

– Emily eu vou molhar todo o assoalho. – evitei entrar.
– O assoalho seca já uma gripe são litros e litros do chá caseiro da Sue, que apesar de ser uma ótima cozinheira e muito boa pessoa... Bem, é melhor você evitar aquele chá. – ela disse sorrindo. – Vamos! Empresto algumas roupas a você.
– Obrigada. Você mora aqui então? – Sue apareceu me entregando a toalha sorrindo, em seguida foi à cozinha.
– Desde que Sam e eu nos casamos.
– Eu não sabia que vocês... Bem, formam um casal lindo, de verdade! – eu disse simpática entrando no quarto, ainda cautelosa.
– Obrigada. – Emily dizia muito confortável com o que eu disse e olhando para trás me viu na porta. – Ora vamos! Entre. Não precisa se preocupar com o chão. – voltou a olhar seu guarda-roupa enquanto eu entrava tímida. Namorou um vestido e erguendo-o perguntou: – Esse está bom para você?
– Está mais do que ótimo! – eu disse pegando-o.
– Não, é sério! Tenho outros, pode escolher se não te agradar. 
– Esse é lindo, Emily. Está muito bom. – afirmei com o vestido em mãos.
– Bom, então o banheiro é ali, pode trocar-se. Caso esse não sirva, deixarei outros aqui na cama para você escolher. Vou descer e volto já. 
– Certo. Obrigada.

A casa de Emily e Sam era acolhedora e linda. O tipo de casa que me agradava muito: cabaninha rústica, simples, feminina e alegre. Minha casa não estava assim tão perfeita. Precisava de algumas pinturas e reformas, logo eu conseguiria deixá-la totalmente ao meu gosto. Porém, o que fazia a cabana de Emily perfeita era a sua localização. Eu me encantei pela reserva, pela praia de La Push e irrevogavelmente pela vizinhança. Se meu casebre fosse ali, com certeza seria perfeito.
O vestido coube como uma luva. Um pouco justo, pelo tipo de tecido dele, mas nada vulgar. Porém eu sabia que sentiria frio. Contudo, como eu iria recusar uma gentileza e ainda fazer exigências? Talvez Emily não percebesse que ao contrário dos quileutes, eu era fria. Comecei a rir lembrando das explicações de Embry sobre o metabolismo hot deles.
Dobrei minhas roupas molhadas e peguei meus sapatos. Ao entrar novamente ao dormitório, os vestidos estavam lá como Emily dissera. Pensei em guardá-los para ela, porém era melhor perguntar se poderia. Eu não gostaria que uma estranha mexesse no meu closet. Abri a porta do quarto e topei de cara com Embry.
Ele enxugava os cabelos desgrenhados e ainda estava sem camisa, com "a roupa" molhada. Meus cabelos também estavam molhados e desgrenhados.

– Uau! Alguém deveria dizer à Emily que esse vestido cai muito melhor em você do que nela. – senti um rubor apoderar-se de minhas bochechas. 
– Obrigada. – eu disse encarando o chão visivelmente sem graça.

Emily apareceu atrás de Embry. Ficamos nos olhando e nem percebemos ela chegar.

– Vai se trocar Embry! Antes que Sue te veja ainda molhado e corra para preparar o chá.

De fato aquele chá tão falado (ou mal falado) deveria ser muito ruim. Ele saiu esfregando os cabelos em direção a outro quarto.

– Eu já ia te chamar. Pode guardar seus vestidos e muito obrigada. Acho que ficou bom não é? – eu dei uma voltinha tímida para ela.
– Sim ficou ótimo! – ela disse animada puxando-me de volta para o quarto. – E se disserem o contrário é só você olhar para o rosto de Embry e ficará certa disso. – ela sorriu e eu corei, mais uma vez. – Vocês também formam um casal lindo. Fico muito contente por vocês. – ela me abraçou deixando-me confusa.
– Hãm... Eu agradeço Emily, mas somos apenas amigos.
– Mais alguns beijos, e tudo ficará certo. – ela falou. Eu arregalei os olhos e ela gargalhou.
– Ele não disse nada, eu só percebi que vocês voltaram diferentes. – ela tocou minhas mãos, muito animada. – Me desculpe ! Nem nos conhecemos direito, mas, por favor, me conte! – ela dizia enquanto me puxava para sentar na cama dela.
– Ah tudo bem. Vai ser bom ter uma boa amiga para contar segredos! – eu disse e ela batia as palmas como uma adolescente. – Foi só um beijo, um pouco antes de subirmos. Mas foi ótimo. Embry é... Como dizer... Hãm...
– Delicioso? – Emily falou e eu a olhei surpresa. – Bem, Sam é delicioso. Eu só dei um palpite. – ela gargalhava e eu também.
– Acho que eu poderia dizer isso, mas não é a palavra certa... Só sei que eu me senti muito confortável com ele. 
– Isso é lindo! – Emily disse sorrindo. – Olhe, desça com sua roupa. Sue vai colocá-la na secadora.
– Não é preciso, eu já vou embora. Antes que a tempestade me pegue.
– De forma alguma! Ficará aqui mais um pouco. Embry ou Jacob levam você para casa. Enquanto eu arrumo aqui vai descendo, o café de Sue já está cheirando! Sente? 

Fiz que sim com a cabeça. Abri a porta do quarto e novamente esbarrei em Call. Ele me cobriu com um enorme casaco, que supus ser dele.

– É claro que ninguém vai se ligar que você é uma friorenta até começar a ficar roxa. 
– Eu pensei a mesma coisa. Tenho sorte de você ser esperto não é?
– É eu sou esperto.
– Tenho sorte também de você estar por perto, certo?
– Você eu não sei, mas eu tenho muita sorte de tê-la aqui.– Embry segurou meu queixo e novamente perdi o ar, me imobilizei. Nos beijamos graciosos. A porta se abriu e era Emily que fez uma careta engraçada por ter atrapalhado. 
– Ah não! – ela disse quando viu que nos afastávamos. – Continuem! Por favor, eu nem estou aqui! – ela disse piscando para mim e descendo.

Embry e eu descemos atrás dela. Entreguei as roupas à Sue peguei uma bandeja e, depois de muito implorar para parecer útil, consegui convencê-la a deixar que eu servisse todos. Ao chegar à varanda Jacob estava lá. Os rapazes perguntavam de Billy e ao que entendi, ele descansava na sua casa. Todos pegaram suas canecas e quando chegou a vez de Jacob, ele colocou a mão na caneca e sem retirá-la da bandeja começou a encarar meus trajes. Ergueu a sobrancelha em dúvida para o meu casaco. Quil fez uma piada sobre "o defunto ser maior". Nós rimos e então eu expliquei que era de Embry. Sam zombou divertido:  "Hummm... Já estão dividindo as roupas? Quanto até chegarem às escovas de dente?" . Eu corei novamente sem perder o senso de humor. Embry não gostou muito da piada e jogou uma almofada nele mandando-o se calar. Jacob continuava sério, perdido em outros mundos. 
Passamos o fim de tarde sentados ali conversando. Os meninos contando piadas e eu na maioria das vezes rindo. Vez ou outra eu era instigada a contar alguma também e fazia certo sucesso. Até o Jacob estava se divertindo. Começou a chover mais forte e meu frio aumentava. Embry ao perceber me abraçou e aquilo gerou uma confirmação geral de que "algo" estava rolando. Nem ele e nem eu confirmamos nada de fato, porque não tinha nada a confirmar. Ou tinha? Então eu me pronunciei a eles sobre ter que ir embora, pois já era tarde.
Antes de obter qualquer resposta, Billy apareceu na porta da casa de Sam e chamou os garotos com certa urgência. Sue e Emily se olharam cúmplices. Acredito que ninguém ali tenha percebido a minha boa percepção para o que me envolta. Então Embry aproximou-se e disse que teria que sair com os rapazes, pois havia uma matilha de lobos solta na mata e eles precisavam afastá-los.

– Mas como vocês vão fazer isso? – eu disse um pouco preocupada.
– Tudo bem, nós estamos acostumados, eles sempre aparecem. Nós não os matamos porque é contra nossas tradições e regras quileutes. Todos ficarão bem. Relaxe. – ele disse sorrindo. – Jake levará você de volta tudo bem?
– Claro! – eu sorri em resposta. 

Jacob e os outros conversavam, incluindo as garotas. Sue entrou em seguida.

– Nos vemos depois? – Embry dizia um pouco desconcertado. 
– Se você não ligar, eu ligo. – falei convincente.
– Eu vou ligar. – ele disse e me beijou.

Aquilo foi suficiente para que os rapazes soltassem gritinhos de aprovação e zombaria.
Eles partiram mata adentro e Billy se aproximou de mim. Disse para eu não me preocupar, que todos ficariam bem. Sue trouxe minhas roupas secas em uma sacola. Despedi de Emily e Sue, agradeci imensamente pelo dia maravilhoso. Jacob me acompanhou até seu carro, abriu a porta para mim e seguimos em silêncio durante todo o percurso, a menos por um pequeno diálogo.

– Esses lobos... – ele interrompeu antes que eu terminasse.
– Ficarão todos bem. Principalmente Embry, ele é sagaz. – rude como Embry havia me dito. 

Encolhi-me no banco tamanho era o medo que senti. A voz de Jacob soava muito mais trovejante e bravia. 

– Não se preocupe . – ele falou tentando amenizar o clima, mas eu nem mesmo o olhei. 

Continuei observando a mata à minha janela. No caminho deparamo-nos com o carro de Charlie Swan. A viatura parou e Jacob também. Ele desceu do carro e foi falar com Charlie. Conversaram uns pequenos instantes e logo voltaram aos seus cursos. Jacob não me dissera nada e também preferi não perguntar.
Ao chegar em casa a tempestade estava alta. Muitos relâmpagos e trovões. Eu não parava de pensar nos rapazes no meio da floresta e do risco que corriam com os lobos e o mau tempo. Jacob seguiu aquele mesmo ritual de "verificar se tudo está bem". Eu sentia muito medo, tudo parecia horrendo com o cenário do meu casebre isolado e a tempestade. As luzes fracas dos postes da rua se apagaram. Abri a porta e tentei acender as luzes de casa.

– Ótimo. Faltou energia. – eu disse.

Jacob me seguiu fechando e trancando a porta. Eu o avisei que tinha algumas lanternas na cozinha. Peguei-as e as acendi. Ouvimos um estrondo no meu telhado. Jacob correu até as janelas e ficou imóvel e cauteloso observando do lado de fora. Enquanto eu procurava a caixa de interruptores ouvi um rosnado alto e próximo. Depois um silêncio. Corri em direção à sala, onde Jacob estava e perguntei o que era aquilo. Ele falou que era um lobo na porta, mas que já havia ido embora. Black se ofereceu para ficar comigo aquela noite, pois sem energia e com lobos à solta, uma casa isolada e aparentemente inabitada poderia ser perigoso que eu ficasse só. Eu de fato estava apavorada e não pensei em recusar por nenhum momento. Levei ele ao quarto de hóspedes, para que soubesse onde ficava e entreguei algumas roupas de cama.
Depois descemos e ele se ofereceu para olhar a minha instalação elétrica. Espalhei velas na casa. O interruptor geral ficava na cozinha, Jacob analisava-o com a lanterna. Com um pouco de dificuldade comecei a guardar as compras que ele me impedira de guardar mais cedo.  "Deixa isso, eu te impedi de guardar mais cedo então te ajudo assim que acabar por aqui" , ele disse. Deixei tudo de lado e preparei um café rápido. Sentei na banqueta do balcão com a minha xícara de café pousando a xícara dele ao lado da minha. 

– Tudo bem Jacob, acho que o problema foi geral. Senta aqui, seu café vai esfriar. – eu mordiscava uns biscoitos que consegui servir.
– Você está certa. O problema não é na sua instalação, porém ela precisa de uma revisão. – ele disse fechando a caixa e dirigindo-se para meu lado.

Sentou no banco ao meu lado ficando de frente para mim, e eu estava de frente para ele.

– Café a luz de velas. – ele disse erguendo a xícara para um brinde comigo.
Sorri sem graça e brindei com ele: 

– Ao escuro. – eu falei.
– Ao escuro? – ele ria confuso.
– Você consegue pensar em algo melhor para brindarmos? – eu disse bebericando minha bebida e o olhando por cima da xícara, de uma forma travessa.
– À minha companhia, é lógico. – ele disse indiferente.
– Sua companhia? O que o faz pensar que isso é algo do qual eu deva brindar?
– Não gosta de ficar perto de mim?
– Eu? Imagine! Não sou o tipo de mulher que se retrai pelos outros. Pelo contrário, você é que não gosta muito de pessoas.
– Tudo bem, se você diz. – ele sorria e continuava bebendo e comendo. 

Continuamos conversando aleatoriamente coisas sem nexo. Para mim qualquer coisa que eu conversasse com ele, seria sem nexo. Eu sentia Jacob tão distante, tão perto, tão igual a mim apesar de ver o contrário! Ele me confundia e isso não era nada, absolutamente nada bom tratando-se de um ser meticulosamente curioso como eu. Então observei uma tatuagem no braço dele e fiquei olhando-a silenciosamente.

– É coisa de irmãos e clã. – ele dizia olhando frio para mim.
– Ah – eu disse envergonhada. – É muito bonita. 

Falei sincera, Jacob riu entre as narinas abaixou a cabeça a fitar o chão. Levantou-a e olhou para mim diretamente enquanto eu fingia observar qualquer objeto na sala. Algo impossível, apesar da fraca luz das velas minha visão não poderia ser assim tão excelente, como a de um felino.

– Você é muito curiosa. – ele dizia fazendo com que eu voltasse a olhá-lo.
– É? Como sabe?
– Percebo as coisas. Isso eu percebi no dia em que nos conhecemos em La Push.
– Como?
– Só percebi.

Inteiramente enigmático. Um tipo intrigante de pessoa que toca em um assunto para depois distanciá-lo. Após beber duas xícaras de café conversando em quase silêncio com o galante Black decidi guardar as compras, ou pelo menos aliviar o número de sacolas espalhadas na cozinha.
Levantei retirando as xícaras e levando-as à pia para lavar, porém Jacob interviu segurando meu braço e dizendo amistoso  "Eu faço isso". Respondi com um sorriso e fui às minhas sacolas. Logo ele veio ajudar. Ele estava completamente perdido em minha cozinha e eu não consegui conter uma boa risada ao vê-lo andar atrás de mim com as coisas na mão pronto para me entregá-las, batendo nos armários e esbarrando nas banquetas. Alguns itens ficavam em um armário alto. Abri a porta dele e com a lanterna fui atrás de algo para subir. Jacob se ofereceu para guardá-los dizendo que seria bom eu evitar acidentes, pois ele percebera que eu tinha um declínio para tombos e que eu fazia o tipo de menina desajeitada. Eu virei para pegar algumas coisas sobre o balcão abaixo do armário alto e iria entregá-lo, mas a mão de Jacob foi mais rápida do que a minha. Ele estava atrás de mim, e com sua agilidade surpreendente ele colocou os itens no armário. Fiquei meio presa entre ele e o balcão do armário. Quando ele havia terminado de guardar eu pude olhá-lo novamente, sem graça, estávamos muito perto. Jacob se aproximou mais a ponto de sentir a minha respiração, que começaria a se alterar a qualquer momento. Achei que ele me beijaria, porém ele apenas esticou o corpo para pegar uma última lata de conserva que estava mais distante sobre o balcão. Olhei para baixo quando ele a pegou e guardou. Fechando as portas se distanciou. 

– Acho que acabaram. Não vejo mais nenhuma sacola. – ele olhava em volta. – Se bem que, nessa iluminação...
– Sim, sim. Já guardamos tudo. – ficamos nos olhando em silêncio, as luzes da vela iluminavam nossas faces de um modo terrorista. – Você quer mais alguma coisa Black? – eu perguntei.
– Não obrigada, estou bem. E você quer alguma coisa?
– Não... – eu falei absorta a olhá-lo. – Tá. Eu vou subir... Tomar um banho e descansar, mas fique a vontade!
– Eu também prefiro me recolher se você não se importa.
– Certo, certo. – eu dizia ainda desconcertada, mas não consegui assimilar uma razão disso. 

Instantes antes, estávamos falando como duas pessoas comuns e à vontade. Era culpa da barreira talvez. Eu não posso me desacostumar com ela tratando-se de Jacob Black. 

– Pegue uma lanterna então. Apagamos as velas e se no meio da noite você quiser descer...
– Tudo bem. – ele disse pegando o objeto e apagando as velas da cozinha nos deixando totalmente no escuro.
– Hã... Jacob eu não enxergo. – ao dizer isso senti uma respiração muito próxima à minha. Ele estava na minha frente e muito, muito perto. 
– Desculpe. – ele disse pegando minha mão e acendendo a lanterna sob nossos rostos. 

Eu senti medo, ele parecia um psicopata, mas ao mesmo tempo me senti bem. Jacob me guiou pelo caminho. Peguei minha lanterna e fomos apagando as velas espalhadas nos outros cômodos. Subimos as escadas e ao chegar à porta do meu quarto paramos.

– Bem, você conhece o caminho. – eu disse.
– Boa noite . Durma bem. – ele disse parecendo gentil pela primeira vez.

Ele já demonstrou gentilezas comigo, porém desta vez foi com palavras. E isso fez uma grande diferença.

– Você também. – eu sorria alegre. Ele deu-me as costas. Chamei-o e ele virou novamente. – Obrigada pela companhia e pelas compras... – eu disse fazendo uma das minhas caretas ridículas. 

Pela terceira vez ele deu o sorriso travesso de quem não sabe sorrir. Eu começava a me apegar àquele sorriso.

– Não tem que agradecer por nada. – ele falou voltando-se ao quarto.

Entrei em meu aposento simples e principesco. Peguei uma das minhas camisolas, meu hobbie, lingerie e toalha. Abri a porta e fui para o banheiro. Tomei meu banho tranquilo e frio, muito frio. Sou acostumada a banhos frios, porém não vamos esquecer da tempestade que corria lá fora. Em meu corredor havia uma janela coberta com uma cortininha caipira. Ao sair do banho, distraída dei de cara com uma figura alta e gritei assustada. Os reflexos dos relâmpagos que incidiam pela janelinha, iluminaram o rosto à minha frente. Era Jacob, ele segurava minha mão tentando me acalmar.

– Tudo bem , sou eu. Só vim ao banheiro. – ele falava me olhando assustado ou aflito, não sei bem.
– Isso está parecendo um filme de terror! – eu disse ofegante.
– Você está bem? – ele falava me analisando de cima a baixo.
– Sim. Agora sim. 
– Certo, então eu posso entrar?
– Claro. 

Nos esbarrávamos tentando passar, até que ele parou e me deu passagem. Olhei para trás e ele já tinha entrado. Ele estava sem camisa, novamente indaguei-me da capacidade que os quileutes tinham em não sentir frio.
Tentei dormir, com certa dificuldade. Pensei no beijo e nos momentos com Embry. Nos rapazes atrás de lobos. Um lobo na porta da minha casa. Em Jacob e eu na cozinha, com as compras, com as velas, e finalmente na porta do banheiro. Desci a fim de beber um copo de água e me acalmar.
Chegando à cozinha vi um vulto passar pela minha janela do lado de fora, decidi me aproximar. Com passos leves e tímidos fui andando até a janela. Então um homem apareceu por trás de mim, prendendo-me pela cintura e com outra mão silenciando-me. Era Jacob. 

– Sobe! Eu vou lá ver. – sussurrou. Parecia nervoso e agitado, tinha uma feição enojada.

Teimei com ele, mas ele venceu. Subi meia escada, então ele olhou na minha direção e apontou para que eu subisse, fiz o que ele pediu. No topo da escada vigiei. Jacob saiu, ouvi um rosnado forte por alguns minutos. Depois silêncio. Quando decidi descer ele apareceu na sala. Trancou a porta, conferiu todos os trincos, foi à cozinha, demorou uns minutos. Quando eu iria atrás dele, ele apareceu com uma jarra de água e um copo. Pediu que eu subisse e obedeci sem saber por quê. Ele me seguiu. Paramos novamente no corredor.

– Jacob! – eu falei como alguém que exige explicações. 

Ele abriu a porta do meu quarto entrando. Fui atrás dele. Colocou a jarra em meu criado-mudo. Ficamos nos olhando, eu incrédula e curiosa.

– Os lobos estão agitados essa noite. E estão por perto, não sei bem por que. Não se preocupe que ao cair do sol eles somem.
– Lobos? – fiz uma pausa. – Escuta, o que eu vi foi um vulto humano.
– Bom, realmente era um lobo. Você deve ter se confundido.
– Jura? 
– Você não o ouviu rosnar para mim? – ele falou esnobe.
– É... Eu ouvi. Como se livrou dele? – eu continuei duvidosa.
– Tinha uma vassoura perto da porta. Não será problema se não vier em bando. De qualquer modo aqui dentro estamos seguros, ele não vai assoprar sua casinha como fez com os três porquinhos. – ele falava humorado.
– Tudo bem.

Jacob saiu do meu quarto fechando a porta sorrindo. Depois de tudo aquilo, eu fechei os olhos e não consegui mais acordar. Pelo menos, até o sol queimar meu rosto.


03 - Os segredos começam

Amanheceu. Escovei os dentes, senti o cheiro do café e desci. Jacob estava na cozinha mexendo na geladeira. Parei na bancada da cozinha sorrindo.

– Bom dia Black. – ele sorriu.
– Bom dia. Belo penteado. – ele ainda ria. 
– Desculpe te decepcionar, não sou como as donzelas de filme que acordam belas, maquiadas e penteadas. – eu disse em um tom divertido, peguei uma xícara e me servi daquela bebida quentinha e cheirosa. 

Jacob fechando a geladeira e pousando o queijo no balcão olhava para mim, quase que admirado. Com um olhar indecifrável e um sorriso de canto tímido e ainda assim, ousado.

– Corrigindo. Você só não acorda penteada e maquiada. A outra parte é verdade. – ele falou pegando uma xícara.

Sorri sem graça, novamente ele foi gentil. Percebi que Jacob tinha olheiras fortes, observei por sobre o ombro dele, sua camiseta estava no sofá.

– Não dormiu ou dormiu no sofá?
– Dormi um pouco. Na cama. Acordo cedo. – ele falou preparando um sanduíche. – A propósito, perdoe-me por invadir sua cozinha e mexer em suas coisas.
– Ai fala sério. Não tem que se desculpar. – eu disse revirando os olhos. 

Apoiava-me de braços cruzados no mesmo balcão do armário alto. Jacob à minha frente de costas.

– Bom apetite. – ele falou entregando um sanduíche aparentemente apetitoso.
– Obrigada Black, mas eu não sou de comer de manhã. Fique à vontade.
– Por isso está assim, um gravetinho. – ele me encarava sério.
– Acha mesmo que estou magricela? – eu disse dando uma volta.
– Se quiser ser forte como eu, trate de não me fazer essa desfeita.
– Tudo bem, eu não quero ficar forte como você. – eu disse zombando dos grandes e extensos músculos dele.

Comemos, sorrimos, conversamos. Combinamos que ele levaria meu carro para a reserva e faria os consertos necessários por um preço camarada. Jacob também se ofereceu para me ajudar com a reforma de minha casa. Após arrumarmos a bagunça do café, ele prendeu meu carro ao dele e pegou sua camiseta e chaves. Na porta de casa nos despedíamos quando outro carro chegou. Uma viatura da delegacia. Erick desceu aproximando-se muito contrariado. Pude perceber que Jacob revirou os olhos ao vê-lo, tratou-o com desdém.

– Estou atrapalhando? – disse Erick alterado.
– De forma alguma, eu já fiz tudo o que eu vim fazer – disse Jacob para ele piscando para mim em seguida.

Pensei que ele estivesse provocando Erick. E estava.

– Eu já estava de saída. 
– Então tenha um bom dia. – Erick dizia grosseiramente.
– Erick!? Qual o seu problema? – eu adverti pela falta de educação. 

Ele ignorou subindo os degraus da varanda, vindo até mim e parando do meu lado.

, se precisar pode me ligar. Deixei meu telefone no seu quarto. – Erick se exaltou ao ouvi-lo e me puxou para entrar, mas eu soltei-o e olhei reprovadora. – Vou analisar melhor seu carro e qualquer coisa eu te aviso. 
– Certo, também pode me ligar quando quiser. Depois combinamos a reforma pode ser?
– Com certeza! – Jacob disse animado.

Erick estava parado atrás de mim de braços cruzados observando a tudo muito contrariado. Black subiu os degraus se aproximando. Parou na minha frente me encarando. Passou as mãos em meu rosto. Fiquei confusa e olhei-o em dúvida. Ele sorriu travesso. Percebi que ele pretendia irritar ainda mais o Erick. Então segurando o meu queixo beijou minha face, de um jeito demorado. Abraçou-me carinhoso em seguida, piscou e foi até o carro.
Erick entrou em casa pisando fundo e bufando. Revirei os olhos e acenei para Jacob no carro. Esperei o carro se distanciar e entrei. Ao passar pela porta lembrei do que Jacob dissera sobre o lobo, não enxerguei vassoura alguma, eu olhei fora da casa e dentro, na sala. Não havia nada com o que ele pudesse defender-se de um lobo. Erick estava na cozinha e me distanciou desses pensamentos com uma série de perguntas.

– O que ele fazia aqui? Ele dormiu aqui né? Tomaram café juntos? Fala Luna! Explique-se! – ele dizia percebendo a recém-arrumação de um café da manhã a dois em minha cozinha.
– Em primeiro lugar, não devo explicações da minha vida a você. – eu disse enraivecida com a arrogância de Jones.
– Ah não? E o que nós temos? – ele falou se aproximando.
– Não temos compromisso algum um com o outro Erick! Você é um amigo.
– Vai negar que existem sentimentos entre nós?
– De forma alguma. Mas eu não considero um ou mais beijos um compromisso. Pelo menos não sem um diálogo que nos leve a essa conclusão. Eu sempre deixei muito claro isso Jones, que nós somos amigos.
– Considero isso o quê? Um intimato de que você e esse quileute esnobe estão juntos?
– Não estamos juntos! Não fale dele e de nenhum outro quileute assim na minha frente! – eu gritava. – Jacob dormiu aqui sim. A energia acabou, estava escuro e a casa circundada por lobos! – Erick ficou perplexo.
– Lobos? Billy Black esteve na delegacia ontem à noite dizendo que haviam espantado novamente os lobos das proximidades de Forks. 
– Sim, mas havia lobos aqui.
– Está vendo? Sempre tem alguma coisa errada! Os quileutes estão sempre atrapalhando com as tradições estúpidas deles! Atrapalha o serviço de todo o regimento e nada resolvem. Ninguém vai tirar da minha cabeça que eles são os causadores de todos os ataques que vêm acontecendo! Entende agora porque eu não gosto da ideia de você metida com eles? Eles não são boa gente
– Para! Para! Espere! Que história é essa? Que tradições? Que ataques?
– Esquece. Fiz plantão a noite toda e vim passar o dia com você, mas eu entendi que não significo nada não é? Melhor eu ir para casa.
– Erick pare com isso! – eu disse segurando as mãos dele. – Suba, tome um banho. Pode ir dormir um pouco se quiser. Eu preparo algo para você comer. Sem drama okay? Somos amigos e não namorados. Você sempre soube disso.
– Está interessada em outra pessoa? Jacob? Outro cara de La Push? 

Eu deveria ser sincera. Em momento algum eu pretendi magoá-lo. Agi errado não deixando as coisas totalmente claras, talvez. Erick e eu estávamos ficando, desde uma semana depois do que eu cheguei à cidade. Eu o adorava e queria muito tê-lo sempre por perto, mas as coisas estavam seguindo intensas e rapidamente. O beijo com Embry me deixou muito confusa. Meu coração estava revirado, minha mente confusa e minha alma parecia ter fugido para outro lugar distante do meu corpo. Nada obedecia e a situação tornava-se sufocante.

– Erick... Tem outra pessoa da reserva sim. 
– É! Depois de vê-lo sair daqui, não era de se assustar! – ele bufava.
– Não é o Jacob!  
– Isso ajuda muito. – ele disse irônico com mágoa nos olhos e saindo violentamente.

Passaram-se três semanas e Erick não me telefonava, não mandava notícia nenhuma. Os Carter me perguntavam sobre ele, mas eu sempre inventava alguma desculpa. Scott Carter demonstrava interesse em mim e eu estava incomodada com aquilo. Fiquei amiga tanto de Peter quanto de Scott. A rotina estava tranquila  e as coisas seguiam em busca de um eixo. Embry e eu não estávamos namorando,mas nos curtindo. Apesar de gostar muito dele e de saber que era recíproco, eu sentia que faltava algo, e Embry também não demonstrava qualquer necessidade de firmarmos algum relacionamento sério.
Jacob e Embry apareciam lá em casa duas vezes na semana, eles se empenharam mesmo em me ajudar com a obra. Charlie Swan passava em frente a minha casa todos os dias na volta do trabalho, nós não nos falávamos até então, mas ele sempre acenava educado. Algumas vezes, os garotos quileutes estavam lá e eles iam até Charlie conversar. Eu servia um café, mas não passávamos dos cumprimentos "leis" da boa ética.
Meu carro ainda estava na reserva, nas mãos do instável Black. Tive que ir ao mercado pela semana e o único jeito era ir a pé e tentar encontrar uma carona para a volta, ou por força da raridade, um táxi. Eu saí cedo de casa com um carrinho de feira. Andava tranquilamente na estradinha não muito fria, aproximava-se o verão. Ouvi um som baixo de carro e um "bip" de sirene. Olhei para trás e era uma viatura. Até imaginei ser Erick, mas pelo caminho que fazia a probabilidade maior era de ser Charlie. E era. Ele foi diminuindo a velocidade, eu diminui os passos.

– Bom dia senhorita. Quer uma carona?
– Sr. Swan, eu não vou recusar. Poupará muito meu tempo.

Ele desceu do carro, pegou meu carrinho de compras guardando-o no porta-malas.Abriu a porta do carona para mim e seguimos silenciosos. Ambos estávamos desconfortáveis. Então ele iniciou um diálogo inesperado.

– Erick, falou que você era amiga de Bella. – olhou apreensivo para mim.
– Sim. Há algum tempo. Estudamos juntas em Phoenix, mas depois que ela veio para Forks, nunca mais nos vimos e pouquíssimas vezes nos falamos.
– Já deve saber que ela não está mais aqui, não é?
– Sim, eu sei. – muitas coisas eu gostaria de perguntar, claro que eu me calei.– Erick... Como ele está?
– Vocês não tem se falado?
– Briga boba. – eu sorri sem graça e desviei o olhar.
– É por causa dos rapazes da reserva certo?
– Erick não aprova minha convivência com os quileutes. – eu falei vazia olhando a mata pela janela. – E nem tem um motivo decente para isso. – concluí olhando para Charlie.
– Ele é um bom rapaz . A birra dele com os quileutes está além de ciúmes. Erick é um policial muito dedicado e desconfia até da própria sombra.
– Sim, eu sei disso, mas isso não implica nele desrespeitar minhas escolhas.
– Ele só quer protegê-la. Ainda que não tenha percebido que o pessoal da reserva não é inimigo. – ele fez uma pausa. – Você e Bella... Qual era o grau de amizade? – eu sorri e vagueei por minha mente, buscando na memória indícios de nossa amizade antiga, surda e aparentemente escondida, já que aparentava que ela nunca falara sobre mim, ninguém sabia da minha existência como amiga,única, aliás.
– Bella não era o tipo de garota que sabia lidar com pessoas. Ela sempre foi muito reservada. Um dia eu a defendi de alguns garotos que a paqueravam... Não sei se o senhor sabia, mas ela sempre foi péssima em lidar com paqueras. Enfim,ficamos amigas. Melhores amigas. Eu cuidava de Bella o tempo todo e gostávamos da companhia uma da outra. Depois que ela se foi... Bem, a vida às vezes nos joga por rumos diferentes não é? – eu disse com mágoa. 

Eu amava Bella como uma irmã e sofri por não encontrá-la, sofri pelo afastamento repentino dela. Charlie ficou emocionado. Não chorou, mas pude perceber sua alteração de humor.Eu sorri agradecida a Charlie e ele me encarava com extrema ternura. Ao chegarmos à cidade descemos do carro e ele entregou o meu carrinho. 

– Obrigada. Muito obrigada pela companhia
– Imagine, eu quem agradeço.
– Espero que vá me visitar. – ele pedia ternamente e eu sorrindo sem graça disse que sim. – Sue me falou muito sobre você. 
– Sue Clearwater? Não sabia que eram amigos... – eu disse confusa, pois eu realmente não imaginava.
– Somos noivos. – ele disse feliz e sem graça.
– Bem, de qualquer forma não haveria como eu saber ainda. Mas fico feliz, Sue é uma pessoa maravilhosa e o senhor com certeza também é. Vou querer acompanhar essa felicidade de perto! – eu falei amigável.
– E nós vamos querê-la por perto também. E, por favor, não precisa me chamar de senhor. 
– Tudo bem, Charlie! – eu disse engraçada e rimos. 
– Eu espero mesmo, que você possa me visitar. Eu adoraria conhecer uma amiga de minha filha que... Enfim, estou ansioso para conhecê-la! 
– Irei visitá-lo com certeza! – eu falei fazendo uma careta amiga e apontando o dedo de forma marota.

Entrando no mercado, Eva Carter e seus filhos, Peter e Scott cumprimentaram-me  como sempre muito sorridentes. Segui em direção às minhas compras parando em  frente à prateleira de enlatados. Scott estava atrás de mim e disse me  surpreendendo:

– Posso ajudar senhorita? 
– Olá! Muito obrigada Scott, mas eu não vou atrapalhar seu serviço. Já estou  familiarizada com o mercado. – eu disse  simpática, porém na hora de pegar uma das latas da prateleira, eu acabei  derrubando mais algumas. 
– Eu acabei de arrumar isso aí. – ele disse de olhos fechados, brincalhão  desviando-se de observar a bagunça no chão. Não era grande, mas ainda assim, eu  havia derrubado algumas latas e era muito chato.
– Eu disse que não atrapalharia seu serviço? Que mentirosa! – eu disse zombando  e me abaixando junto com ele para pegar os itens caídos. – Me desculpe.
– Tudo bem pode deixar. Peter me ajuda com isso. – ele falou sorrindo e se  levantando.

Eu sorri totalmente sem graça me levantando junto. Uma mulher aparentemente esnobe nos interrompeu.

– Olá Scott. – ela disse sorrindo para ele e olhando-me de esguelha.
– Olá. – ele sorriu para ela cumprimentando-a e depois voltou à palavra para mim. – , essa é Daniela Parker. Dani, essa é Bedingfield. – ele falou apresentando-nos.

Estendi a mão e Daniela cumprimentou-me indiferente.

– Sei quem ela é. É a namoradinha do "nosso" Erick  Jones. – ela enfatizou a palavra "nosso" e olhou para Scott convencida.
– Está enganada. Eu não sou namorada de ninguém. – eu disse já antipática. 
– Hmm. Nesse caso, é bem pior. – ela falou me olhando grosseira. Eu dei uma risadinha esnobe e cínica.
– Foi um prazer conhecê-la queridinha. – eu disse muito, mas muito nojenta. Dei um "soquinho" no ombro de Scott e sorrindo me despedi – Falou Scott, mais uma vez me desculpe aí pela bagunça na sua prateleira organizada. – ele me abraçou de lado e beijou minha testa.

Nem me dei ao trabalho de olhar para Miss  Antipatia.
Acredito que Daniela Parker não gostou muito de me associar ao Erick, ou até mesmo a Scott. De uma coisa eu sei, eu não gostei nada da forma como ela me tratou. Contudo isso não será problema, afinal as pedras que entram em meu  sapato eu sacudo até serem jogadas para longe.
Me aproximando do caixa vi que Peter organizava as latas que derrubei. Ele cantarolava todo alegre. Peter tinha 20 anos e era muito engraçado. Scott conferia alguns preços das prateleiras em sua tabela de mão e aparentemente  ignorava à Daniela que não parava de segui-lo. Eva Carter sorriu e iniciou um diálogo comigo.

– Como está ?
– Muito bem obrigada. E por aqui?
– Tudo como sempre! Junior falou que você está atendendo na farmácia agora.
– Sim, mas só de vez em quando. Continuo com os trabalhos de pesquisa no  laboratório.
– E está gostando de trabalhar para os irmãos Vincent?
– Sim, o emprego é ótimo! Já saí do período de experiência e agora sou  contratada. Estou muito feliz. 
– Parabéns! Eles quase não aparecem, mas são ótimas pessoas. 
– Sim! Sim! Muito simpáticos. 
– Olha, não pude deixar de perceber o que houve ali. – ela disse apontando para o corredor onde derrubei as latas. – Não ligue para a senhorita Parker. 
– Ah, imagina! Eu costumo ignorar essas coisas. – eu falei sorrindo.
– Me desculpe por entrar nesse assunto, mas... Scott está bastante encantado  com você. – ela me olhou como se esperasse alguma resposta que eu provavelmente  não daria. 

Senti como se estivesse naqueles comerciais de festa surpresa, onde os balões estão suspensos esperando a hora de serem jogados em cima da  vítima com muitos aplausos depois.

– Eu gosto muito do Scott, é muito divertido e solícito. Um grande amigo! – eu disse sorrindo sem encarar Eva, mas então olhei para ela sem ação. Ela me  encarava. – Bem, eu nem sei o que dizer, só posso agradecer o carinho. – fiquei realmente desconcertada com aquela declaração. Coisa mais nada–a ver!
, você tem sido o assunto de muitos rapazes na cidade. É comum por ser nova por aqui. Eu temo que Scott se apegue muito a você, e apesar de saber que  você não faz nada para que ele crie esperanças, eu gostaria que deixasse claro  o que sente por meu filho. Já falei para ele, que você tem muito apreço pelos  quileutes.

Certo, agora me soa um crime ser amiga dos quileutes. Estão  sempre associando a minha imagem a deles. Qual é, eu nem tenho a tal tatuagem  dos clãs. Cidades pequenas!

– Hãm... Eva, eu realmente não permiti que Scott criasse expectativas. Porém eu  deixarei mais claro para ele nossa amizade. Não quero magoá-lo e adoro muito  estar com ele. Prezo nossa amizade. Assim como também prezo pela minha amizade  com os quileutes.
– Não precisa se explicar querida, apenas estou dizendo isso para que esteja  preparada.

Me despedi dela pegando minhas compras e ainda pensando no motivo ilógico pelo  qual ela disse aquelas coisas. Proteger o filho de desilusões? Pode ser, mas ainda assim, não vi necessidade dessa abordagem naquele momento. Chegando à porta de saída do mercado, a moto de Jacob estava estacionada beirando acalçada à minha frente. Olhei para os lados e vi Seth Clearwater distraído.

– Seth? 
– Ei ! – ele veio andando na minha direção.

Seth tem 20 anos e é tão lindo quanto seus irmãos de tribo.

– Te ajudo com as sacolas. – ele  disse e eu entregando algumas, agradeci.
– É a moto de Jacob? – eu perguntei admirando, aquela bela motocicleta, um  pouco velha, mas admiravelmente conservada.
– É sim! Estive na sua casa, mas como estava tudo fechado imaginei que você  estaria aqui na cidade. Embry me falou uma vez que você costuma fazer compras  as quartas e eu associei as ideias – Seth sorria muito alegre. Como sempre. – Jake pediu para eu te buscar e deixou que eu viesse no "bebê" dele.– nós rimos pela comparação. 
– Pilotando na moto do Black? Que honra hein! – eu pisquei e ele sorriu  orgulhoso. – Mas, o que ele quer comigo?
– Seu carro está pronto. 
– Já? Que rápido. Tem o quê... – eu parei pensativa contando o tempo  mentalmente – Umas quatro semanas que eu o bati? – eu falei espantada.
– Jake tem esse hobby e ele andou se empenhando no seu carro dia e noite. Na  verdade ele tem se empenhado com seu carro, sua casa... Há tempos não o víamos assim. – Seth olhou-me com ternura.
– Hmm... Bom eu vou, mas e as compras? 

Scott apareceu para pegar umas caixas que estavam na porta do mercado, ao ver Seth foi cumprimentá-lo.

– Rapaz! Você não para de crescer? – ele disse olhando-o e rindo para nós. 

Eles  conheciam-se desde muito novos, afinal todos se conhecem em Forks, e Scott  estudou com os meninos da reserva com a mesma faixa etária de Jacob. Peter e Seth estudaram juntos também, sendo os mais novos.

– Nem de crescer, nem de ser lindo. – nós rimos com o comentário de Seth apesar  de ser uma verdade.
– Ei Scott, vocês fazem entregas? – eu perguntei.
– Sim, mas hoje estamos sem moto e não dá para eu ir fazer as entregas. Peter  também não, é um risco, ele pode não chegar vivo ou inteiro. – fez uma pausa  rindo descrente – Por que perguntou?
– Preciso ir à reserva com Seth, mas de moto e com essas compras não dá. Posso  deixá-las aí e pegar depois?
– De jeito nenhum. Eu te dou uma carona até sua casa, de lá você segue com o Seth.
– Mas você disse que não poderia fazer entregas... – Seth tirou as palavras de  minha boca.
– Sim, entregas, no plural. Uma saída rápida não tem problema. Vou pegar o meu  carro. Esperem aqui. – ele disse sorrindo e saiu.
– Tão solícito para a  "senhorita  diva da cidade" . – Seth falou me fazendo rir.

Seguimos então como o combinado. Deixei minhas compras em casa. Agradeci e me  despedi de Scott. Chegando à reserva, cumprimentei Sue que logo me apresentou  sua filha Lia, a qual eu ainda não conhecia.

– Esta é Lia minha filha mais velha, . Ela está fazendo faculdade de medicina um pouco distante e nos visita quando pode. – disse Sue muito feliz.

Fomos apresentadas e Lia pareceu não gostar muito de mim. Eu já estava achando que tinha algo errado comigo, era a segunda garota naquele dia que não foi coma minha cara. Comentei com Sue sobre a carona de Charlie enquanto esperava Black,que havia saído com Paul e Sam. Ela ficou feliz por termos nos falado e por Charlie ter comentado sobre o noivado. Sue contou que iniciaram um relacionamento sete anos atrás após o falecimento do pai de Seth e Lia, o qual era melhor amigo de Charlie. Disse que no início foi difícil, sentiu culpa pela memória do esposo, mas que com o apoio de Seth ela conseguiu lidar com as dificuldades impostas também por Lia.

Segundo Sue, Lia não cogitava a ideia desse casamento e nem apoiava, pois imaginava que ela e Bella deveriam se tornar mais próximas. Ao que me deu entender, Lia não gostava nada, nada, de Isabella Swan. Estranho falar assim de uma pessoa que era como uma irmã para mim. Continuamos conversando até Jacob aparecer ao lado de Paul, Sam e Billy.

– Ora, ora! está de volta! – disse Paul sorridente.
– Olá rapazes. – eu respondi. 
– Estou incluído no "rapazes"? – Billy perguntou. 
– Claro que sim! – eu disse sorrindo largo fazendo os meninos e Sue rirem. Lia  ainda estava distante e séria.
– Fico lisonjeado. – Billy respondeu simpático. – Hora do meu chá. Aceita
– Sim, claro. 

Antes de eu responder os meninos: Seth, Quil, Paul, Sam einclusive Black, acenavam reprovadores e quando eu respondi Billy, eles abaixaram acabeça fazendo cara feia.
Jacob me olhou e sorriu. Era a primeira vez que ele fazia isso tão  espontaneamente. Perguntei a eles onde estava Embry e disseram que ele havia  ido para o extremo sul de Silverdale, uma cidadezinha um pouco maior que Forks  e um pouco mais colorida, que fazia divisa com outros centros urbanos e é mais próxima da rodovia federal de Seattle. Segundo Black, Embry foi visitar uns  amigos antigos da tribo.
Todos foram fazer suas coisas, Seth conversava com Lia e Quil Ateara. Eu olhei de longe para ela, e um pouco chateada por que eu realmente gostaria de entender  que mal há em falar comigo, em gostar de mim. Jacob se aproximou, segurou meu braço e sorrindo solidário falou: "Ela vai te aceitar. Ela é assim mesmo, leva um tempo". Eu sorri em agradecimento. Jacob começava a trincar aos poucos a barreira invisível entrenós e eu me sentia mais confortável com isso. Ele me dava medo e isso não é  nada legal e nem combina com uma figura bonita, galante e sinceramente amigável  como a dele.

– Então já acabou com meu carro? 
– Pois é eu tenho um dom. – ele disse e sorriu convencido.

Jacob estava aprendendo de novo como sorrir, eu podia ver alguns raios tímidos de luz em seu sorriso.

– Vamos, está lá no galpão. – fomos andando. Ele então olhou para mim com um olhar curioso e falou continuando a olhar e seguir para frente: – Quer dizer que pilotar minha moto é uma honra? – falou olhando de soslaio e travesso.
– Seth te contou.
– Era segredo? Ele não é muito bom com segredos, já aviso. 
– Não, não era. Mas sim, para ele é uma honra.
– Você pilota?
– Sim.
– Depois de ver o que fez com seu carro... Céus, você deve ser suicida em cima  de uma moto. – ele falou rindo.
– Eiii! Qual é!? 
– Pobre moto... – ele ainda ria divertido e zombador. Dei um soco no braço dele afim de que ele parasse. – Ai! Nem doeu, sua fracote! – ele continuou zombando.
– Pode zombar! Só porque é maior do que eu.
– E mais forte. 
– Anormalmente, mais forte. – eu respondi.
– E mais bonito também. – ele falava.
– Tá legal, aí você já está sonhando. – eu zombei dele.
– Estou? – me encarou surpreso como se o fato de ser lindo fosse a coisa mais óbvia do mundo. 

E era, mas eu não precisava falar.

– Claro! Você não é mais bonito do que eu. Eu sou linda! – eu disse rindo divertida.
– É você é. – ele falou sério e fez uma pausa pensativa. – Mas temos de convir  que eu também sou lindo.
– Certo, entraremos em acordo: eu sou linda e você é legal. – eu disse óbvia e desinteressante, ele me empurrou se esquivando de mim em seguida.
– Preparada para isso? 
– Sempre e para tudo.

Black mostrou meu carro, novinho em folha! Era mesmo o meu carro? O que ele fez?

– Uau. Esse aí não é meu carro!
– Bom, eu dei uma polida e um trato na pintura também. – Jacob olhava o carro  admirado com o trabalho que havia feito.
– Black... Não sei se com o meu pequeno salário de bióloga e farmacêutica  conseguirei pagar... – ele interrompeu.
– Garota, o que tínhamos combinado era um preço camarada. Eu não sou de quebrar  minhas promessas. Foi um passatempo cuidar do seu Mustang. E cá para nós seu salário não é tão ruim! Mas o dinheiro  não me importa mesmo. Não se preocupe com isso.
– Certo, mas você não fez promessa alguma para mim. 
– Luna. Você vai deixar eu te mimar um pouco ou não? – ele largou a capa do carro em um canto e veio até mim com a mesma expressão séria que me amedronta  por vezes.
– Mimar-me? Posso saber que papo é esse agora?
– Considere um pedido de desculpas por toda a minha grosseria.
– Não. Eu não posso aceitar isso Jacob! – falei apontando meu próprio carro.
– Quer deixá-lo comigo? – ele ria.
– Não. Lógico que não, mas eu vou pagar. O valor justo.
– Nesse caso, me vejo obrigado a recusar.  

Ficamos nesse bate-rebate até Seth aparecer nos chamando.

. Billy está chamando. – disse Seth.
– Depois resolvemos isso . – disse Jacob, guiando para fora do galpão.

Fomos andando até a varanda da cabana de Billy. Ele estava lá com um sorriso simpático no rosto e uma caneca na mão. Quil, Paul, Lia, Seth, Sam, Emily e Sue estavam na varanda da cabana de Emily e Sam. As cabanas dos quileutes eram uma de frente para outra no seu espaço 'reservado' da mata. Dividiam-se em grupos dentro da reserva. Eram todos integrantes de uma só tribo, porém o grau de parentesco influenciava nessas separações. Um exemplo nem tão claro, mas que talvez funcione: a família de Quil morava mais ao norte da reserva, porém o próprio Quil permanecia com Embry e Paul na cabana de Sam. Jacob residia com o pai na mesma cabana, mas todos eram uma só família. Confuso. Aqui entra aquela história de Embry dizer que era "praticamente" irmão de Jacob. É e não é. Algo como consideração ou a ideia ainda mais confusa de clãs que Jacob me falara superficialmente.

Todos me olhavam apreensivos. Eu começava a me observar procurando algum problema aparente. Lia olhava para mim, de maneira desafiadora. Ouvi um comentário dela falando para Paul "ela não vai conseguir" e ele respondendo "caso 10 dólares com você como consegue". Jacob sussurrou no meu ouvido "você consegue" e riu em seguida. Sentou-se ao lado do pai que esticou outra caneca para ele. Então consegui compreender o quê todos esperavam ou duvidavam de mim: beber o tal chá de Billy.

, o que achou do seu carro? – disse Billy muito simpático, mais do quê ode costume. Seria aquilo era algum tipo de jogo?
– Perfeito demais. Mesmo para mim. – eu disse e nós três ríamos. 

O restante da "plateia" continuava a nos olhar, porém disfarçavam com conversas. Eu sou bem perceptível para algumas coisas e bem lenta para outras.E o divertido é que as pessoas nunca conseguem atinar para o quê eu me alerto  ou faço-me de desentendida. Sentei em um banquinho rústico e muito bonitinho em frente à cadeira de Billy. Mas antes fiquei admirando o banco.

– Jacob que fez. Não é maravilhoso? – disse o pai orgulhoso.
– Pai... – Jacob resmungou revirando os olhos.
– É sim. Você tem muitos dons não é Black? 
– Nada demais .
– Bom, eu não conseguiria. – eu disse me sentando. 
– Qualquer dia ele te ensina . – Billy falou sorridente.

Sim, eu começava a me assustar com o modo como o Sr. Billy Black comportava-se.

– Se ela quiser pai. Não esqueça. – Jacob bebia vagarosamente seu chá olhando-me por cima da caneca com a sobrancelha arqueada. Aquilo me soou desafiador. E eu não recuso desafios.
– Eu vou adorar! – eu disse tão desafiadora quanto ele.
– Agora beba seu chá, senão vai esfriar mais. Ou não quer? – Billy disse  divertido.

Peguei a caneca enquanto todos me olhavam aflitos. Céus, o quê havia naquele  chá? Veneno? Era a hora, eu não iria dar para trás, até porque eu estava bastante curiosa. As conversas cessaram na cabana ao lado e o silêncio dominou a floresta. Eu podia escutar o cricrilar dos grilos e algumas risadinhas dos meninos. Jacob me encarava confiante, tão confiante como eu mesma não poderia  confiar, e pareceu-me divertido.
Então olhei para a bebida, dei de ombros, sussurrei um "Hum!" e virei a bebida. Era péssimo, mas consegui engolir sem caretas. Todos arregalavam os olhos. Os  meninos na cabana de Sue riam e exclamavam meu nome como uma plateia diante um  gladiador herói. Não pude deixar de me divertir com tudo aquilo e comecei a rir alto. Paul virou-se para Lia e disse: "São 10 pratas baby!" e ela exclamou: "Duvido que ela beba mais!". Todos me olharam e eu novamente dando de ombros, virei tudo em um só gole. Já não estava mais tão quente e tornou-se uma  questão de honra diante a atitude de Lia! Black abaixou a cabeça e começou a  rir como alguém que diz: "Eu  sabia!" . Billy olhou para ele e entregou cinco dólares. 

– Entendi agora. Alguém mais apostou por aqui? – eu falei olhando a todos e  rindo.
– Valeu . O velho não queria me pagar essas cinco pratas há algum tempo. – Jacob disse sorrindo e colocando a mão sobre o ombro do pai que riu desanimado.
– Você é corajosa. Gostei ainda mais de você. – disse Billy completando – É das  minhas!

Eu comecei a rir e brindei novamente outra caneca que ele me serviu. A bebida  era muito ruim, mas eu estava acostumada a chás como aquele. Enquanto me servia  Billy explicava:

– É uma bebida de ervas medicinais que Sue e eu, cultivamos. Tomo há muito  tempo, desde que tinha a idade de Jacob. Meu avô passou para meu pai, que passou para mim.
– É amarga e picante. O gosto picante lembra o de um tempero que utilizo  muito. O que são?
– Ocimum Basilicum e Aloe Vera. Como bióloga deve conhecer não?
– Claro! Babosa e Manjericão. Conheço muito. As propriedades nutricionais do manjericão e da babosa são excelentes. Grandes remédios. Principalmente o Aloe Vera que cura ferida interna, previne tumores, reduz colesterol e outras  infinidades de propriedades!
Babôssa? Mândiéricao? – Billy perguntou com sotaque carregado por não  conseguir pronunciar como eu.

Engraçado até, mas eu sou educada e não gargalhei  como queria. Pude perceber tanto nele, quanto em Black que os nomes que dei eram desconhecidos na tribo.

– Bem, acho que está na hora de vocês saberem um pouquinho mais sobre mim. – eu  falei sorrindo enquanto eles se encontravam atenciosos. Chamei os outros para  ouvirem também de uma vez.
– Só falta Embry... Mas depois eu conto a ele. Bem... Eu não conheci minha mãe, ela faleceu no parto e meu pai conviveu pouco tempo comigo. Mas chegamos a fazer uma viagem à terra de nossos ancestrais, como dizia meu  pai. No Brasil. Meu avô não nascera lá, mas meu pai sim. Algum tempo depois da morte dele que meu pai voltou para os Estados Unidos. Nessa viagem, conheci um  pajé da tribo. Eu também tenho sangue indígena sabiam?
– Eu desconfiava. – Billy falou sendo assentido por Sue que disse "É evidente aos olhares experientes".

Eu sorri e todos pareciam bem interessados na minha história, inclusive  Jacob.

– Pois é, meu pai nascido na tribo Bororo ou também chamada de Coxiponé. E meu  avô nascido por descendentes da tribo Cheyenne. É uma tribo completamente  extinta hoje. – Billy e Sue se entreolharam curiosos. – Fomos à tribo Coxiponé no Brasil  e conhecendo um pajé amigo dele aprendi muitas coisas lá. Inclusive sobre   plantas de cura. Foi onde me interessei por biologia.
– Seu avô era um Cheyenne? – Jacob perguntou.
– Pouquíssimas vezes minha tia e eu conversamos sobre essas coisas. Não tenho certeza se ele era Cheyenne ou apenas conviveu com eles. Ela disse uma vez que ele passou muito tempo em outra tribo. Nessa outra tribo ela nasceu e viveram até os cinco anos de idade dela, depois todos foram para o Brasil. E meu pai nasceu lá.
– Sua tia? – Quil perguntou confuso.
– Meu pai faleceu quando eu tinha 10 anos e fui criada por minha tia. Aos dezesseis anos eu voltei por curiosidade à tribo no Brasil. Quase morri, diga-se de passagem, não me reconheceram. Convivi um pouco mais com o pajé e aprendi um pouco mais.
– Essa tribo onde seu avô passou um tempo até sua tia nascer... Você não sabe mais nada sobre isso?
– Não me lembro de muita coisa Sue. Eu era mais nova quando minha tia me contou e raras vezes nós voltamos a falar do assunto. Mas engraçado... – fui interrompida por Sam que se levantou bruscamente atraindo toda a atenção.

Ele olhava para o vazio à frente. Jacob se levantou em seguida imitando os gestos dele e logo todos os meninos fizeram o mesmo. Parecia uma hipnose. Billy estava apreensivo e disse forte e sério "Entrem!" e os meninos seguiram-no. Lia também foi atrás. Fiquei naquela varanda sem entender muita coisa, quando Emily e Sue chamaram minha atenção para uma conversa. Eu não sei o que elas diziam e nem mesmo respondi, eu olhava para dentro da casa de Billy ansiosa e curiosa.
Todos os meninos vieram novamente à varanda e olharam aflitos na minha direção. Encaravam uns aos outros silenciosos. Sue levantando-se disse que iria tirar os biscoitos que assava do forno e traria para nós. Eles não falavam nada e Billy puxou uma conversa aleatória da qual eu não consegui entender nada. Eu apenas olhava para os meninos. Todos visivelmente nervosos e aflitos. Os músculos enrijecidos,olhares ansiosos.
Quil, já percebi, é o mais estressado ou nervoso; ele sempre  fica inquieto e parece explodir. Seth tocou o ombro dele, como se pedisse a ele  para se controlar. Então eu encarei Jacob, que passou do estado de "desinibido" para "altamente fora de aproximação". Aquela barreira que eu começava  fervorosamente a odiar se ergueu.
Seth resolveu falar: "Então , o que achou do chá?" . Isso descontraiu um pouco e todos riram, eu respondi: "Fichinha". Novos risos. Seth zombou com "Uuuh.  Ela é linha dura gente!". Billy então disse que prepararia algo mais  forte para saber se eu era linha dura mesmo. Eu disse que estaria aguardando.Pedi licença e permissão ao Billy para levar as xícaras à cozinha da casa dele. E mais do que rapidamente ele agradeceu e permitiu. Lógico, eu não queria me afastar, afinal eu tenho faro, mas eu sabia que era por minha causa que nada era pronunciado. Uma retirada estratégica. Lia, assim que voltou de dentro da casa estava distante da varanda. De repente  ela bufou e saiu correndo, havia entrado na mata como um furacão. Algo ali  estava me intrigando muito. E esta impressão não era surpresa. Na verdade, os  quileutes desde que topei com Jacob na praia tornaram-se uma espécie de  necessidade para mim. Eu precisava ficar perto e não era apenas por Embry ou  qualquer outra coisa. Eu me sentia confortável com eles. Ousaria dizer até...Parte deles. Lavei as xícaras muito atenta aos burburinhos que eu esforçava ouvir.Assim que acabei fui dando passos calmos e silenciosos até a varanda de volta.Talvez me vissem e  se calassem ou na melhor das hipóteses, estariam tão  concentrados na conversa que não notariam minha chegada. Batata. Cheguei  próxima à porta e escutei Sam exclamando baixo: "Ela não pode saber! Embry precisa de ajuda agora"

– O que houve com Embry? O que eu não posso saber? – eu sou bem impulsiva às  vezes.

Jacob pegou meu braço um pouco alterado. Aquilo foi suficiente para eu me  assustar e me calar.

– Jake! Calma aí! – Paul dizia.
– Eu resolvo isso! – Jacob gritou para eles me arrastando para o galpão.
– Black me solte agora! O que você está pensando? Está me machucando seu louco!

Ele nada dizia, entrou comigo no galpão e puxou a imensa e pesada porta do lugar. Pegou as chaves do meu carro no seu bolso e me entregou.

– Tá. Estou sendo expulsa. Entendi! Só que não saio daqui sem saber o que está acontecendo com Embry! – eu parecia uma ursa raivosa.
– Não ! – ele estava nervoso mesmo, mas não bravo, apenas nervoso com algo.– Você não está sendo expulsa. Não queremos que pense isso. – ele pousou as mãos  no meu rosto fazendo eu olhá-lo nos olhos.
– Desculpe ter machucado você. – afastou e pegou meu braço para analisar.
– Tudo bem, então o que foi tudo isso? – eu estava confusa e estressada por ser culpa dele me deixar daquele jeito. Estava tudo tão bem até a crise de bipolaridade dele!
– Eu não posso lhe explicar direito. É coisa de clã. Embry está bem, apenas saiba disso.
– Coisa de clã... Entendo, eu não tenho esse direito mesmo... Peça desculpa aos outros pela minha intromissão. 
... 

Dei as costas a ele entrando no meu carro e saindo da reserva sem olhar para trás. Avistei Seth correr até ele que já no meio da floresta olhava meu carro partir. Então de repente ele saiu olhando por cima do ombro devagar. Eu chorava. Não esperava ser tão íntima deles, mas achei que merecia alguma consideração. Eu não pedi nada além de notícias do Embry. O que estava acontecendo com ele que eu não poderia saber? De uma coisa eu tive certeza: se Embry considerasse-me como dizia, eu acabaria sabendo das coisas. 


04 - Onde estará Embry?

Algum tempo, do qual não contei se passou desde que saí revoltada da reserva. Eu não passava por lá e não recebia notícias. Adiantei algum dinheiro da minha poupança e nem deveria mexer nela, pois estava juntando para o projeto do meu laboratório, mas parte dele seria para Black. Eu tinha de pagá-lo e tornou-se uma questão de honra seríssima, após nosso mal entendido. Se é que foi um "mal entendido".
Eu estava contente com o trabalho na farmácia, embora fosse algo de meio período, pois meu foco era o laboratório dos irmãos Vincent. Eles foram muito solícitos comigo por esses dois empregos e pelo o quê entendi Sue teve alta participação nisso. Ela foi responsável tempo atrás por algumas descobertas de ervas locais aos irmãos Vincent, que trabalharam em um novo projeto de flora medicinal a partir dessas plantas. Esse novo composto medicinal que eles criaram, com a ajuda dos conhecimentos indígenas de Sue, rendeu-lhes muito prestígio no âmbito da ciência e lógico, o início de carreiras de sucesso no ambiente fármaco. Eu seria realmente, eternamente grata à Sue porque sem a ajuda dela, meus primeiros passos nessa cidade não seriam dados. 
Em um dia que eu conversava com Julian Vincent, ele contou que Sue dissera-lhes que tinha ótimos pressentimentos por mim desde o momento em que eu, visitando a cidade, a abordei para uma conversa sobre o lugar. Sue nunca comentara comigo sobre essas ótimas impressões. Julian havia me dito isso um pouco depois de eu ter saído da reserva com a minha "pá virada". Eu devia desculpas à Emily, Sue e acredito que ao Seth, que sempre me soou tão ingênuo, por aquele incidente. Entretanto quando me enraiveço o melhor mesmo é me afastar.
Eu estava no laboratório fazendo a distribuição dos químicos nas cápsulas a pedido de uma nova encomenda de Julian e Hernando quando os mesmos chegaram.

– Bom dia . – disse Julian.
– Bom dia Julian. – eu o olhei e procurei por seu irmão – Eu aguardava-os mais tarde. – continuei o trabalho e então sorri para ele.– Hernando não veio?
– Veio sim, está descarregando uma caixa. O que faz aqui tão cedo?
– Tenho andado tensa e trabalhar me faz bem... Ocupar a mente.
– Não tem receio de sair da sua casa às seis horas sozinha? É um pouco escuro não? – nesse momento Hernando chegou dando-me bom dia. Respondi a ele e continuei a conversa com Julian sem distrair-me das cápsulas.
– Hm... Nos primeiros dias eu estive mesmo receosa com os lobos. Eles têm acampado na entrada da minha casa, eu acho. Pelo cheiro. – então eles se viraram para mim interessados e curiosos – Mas acredito que essa minha movimentação matutina tem afastado eles. 
– Tenha cuidado . Ouvimos relatos bem sérios sobre os ataques. 
– Acredite Hernando, eu tenho escutado muito mais.

Todos rimos e terminando meu trabalho fui cumprimentá-los com um abraço. Voltei aos armários do laboratório para pegar as caixas de dispensação. Dispensando as cápsulas e bulas eu entreguei os pedidos a eles, enquanto os irmãos trabalhavam no outro lado do laboratório.

– Rapazes? Aqui está o pedido das cápsulas de ácido valérico. 
– Obrigada , pode deixar na recepção? 
– Claro. Vocês querem mais alguma coisa ou posso ir para a farmácia?
– Na verdade, nós gostaríamos de conversar com você. Pode nos esperar um pouco? – Hernando disse.
– Sim. 

Eu caminhava até a recepção ansiosa para saber o que eles gostariam de falar comigo. Peguei minha bolsa e tirando o jaleco, dobrei-o e guardei na bolsa. Já agitava as chaves do meu carro na mão. Julian e Hernando chegaram e sentamos no sofá da recepção vazia para conversarmos.

– Temos uma proposta a você, . – Hernando sempre muito direto. – Está difícil e corrido para Hernando e eu sairmos de Seattle para vir à Forks apenas dirigir os pedidos a você e lidar com a administração da farmácia. Nosso laboratório não é aberto ao público, servindo apenas para que você faça as formulações. Então temos pensado em transformá-lo em uma sede de um novo projeto. 
– Temos trabalhado com cosmetologia e perfumaria. Nosso laboratório em Seattle tem crescido e pensamos em focar apenas nesses estudos. Temos muitos planos.
– Portanto a área medicinal é algo que aos poucos iremos nos desligando. Porém, você é ótima com tudo isso e não podemos findar com a farmácia, já que somos os únicos da cidade.
– Então propomos a você que gerencie a farmácia e fique com ela em horário integral, quanto ao laboratório não há necessidade de continuar nele, pois como dissemos estamos estudando se enviamos alguma equipe para cá ou simplesmente o transformamos em uma loja com nossos produtos já concluídos. O que acha?
– Bom, eu desejo muita sorte a vocês. Acredito que terão muito êxito com cosmetologia, pois a última amostra do creme que me apresentaram é realmente muito boa. Agora, eu realmente não esperava por isso.
, realmente confiamos muito em você. E no seu trabalho claro, não queremos perdê-la.
– E eu fico honrada e sempre muito agradecida. Vocês deram um impulso fora de sério para mim aqui em Forks. Porém, farmácia não é o meu foco. Eu disse isso no início, não me levem a mal. 
– De forma alguma. O que te incomoda nisso tudo? – Hernando disse simpático como sempre são os dois irmãos.
– Não é questão de incomodar. Longe disso. Acontece que eu tenho estudos de biologia próprios e o fato de ter seguido farmácia é justamente para o desenvolvimento desses estudos. Com isso assumir a farmácia em tempo integral seria um pouco inviável para mim. Há algum problema em Steve continuar comigo?
– Não. – eles disseram olhando-se e sorrindo juntos.  – Mas você assume a gerência da farmácia para nós?
– Bem, eu não vejo problema com isso Julian.
– Ótimo! Nós mandaremos a documentação toda para você ler e analisar se quiser. Não muda muita coisa, apenas não precisaremos mais vir aqui tratar de alguns assuntos. Você fará por nós.
– Sim. Mas... Quanto ao laboratório... Vocês poderiam me emprestá-lo enquanto não tomam alguma decisão sobre ele? – eu disse um pouco temerosa da reação deles.
– Emprestar? Posso perguntar para o quê? – Hernando pareceu calmo assim como Julian.
– Justamente por esses estudos que citei. Eu ainda não tenho todo o dinheiro para iniciar a construção do meu pequeno laboratório e seria de muito auxílio que eu pudesse continuar tendo acesso a ele.
– Bem, . É um assunto delicado. – Julian pronunciou-se. – Você poderia nos dizer quais são esses estudos?
– Estudos com plantas. Estudos medicinais.
– Nesse caso não vejo problema, desde que nós possamos acompanhar os resultados enquanto estiver utilizando o nosso laboratório. Apenas por formalidades se é que entende. Não queremos nos envolver nos seus estudos. Fique tranquila com isso. – Julian afirmou olhando para Hernando.
– Eu também não. – Hernando disse sorrindo.
– Eu sou imensamente grata. 

Despedimo-nos e eu fui para meu carro. O laboratório ficava na parte de trás do centro de Forks. Uma parte menos movimentada, não isolada. Os irmãos Vincent entregaram um convite antes que eu saísse. Passariam à tarde na farmácia e eu não estaria mais por lá. Ainda naquele dia partiram para Seattle novamente.
No caminho até a loja pude ver os Carter cumprimentando-me do mercado. A localização do mercado deles era próxima à loja dos Vincent. Na verdade, o centro de Forks tem seus pequenos estabelecimentos próximos. Com exceção da escola municipal e da delegacia que não se enquadram naquele aglomerado de comércios. Cumprimentei-os de volta com um sorriso largo.
Daniela Parker estava na porta do mercado, ao lado de Peter. Creio que conversavam, antes de Scott me vir e acenar. Pude ver o desgosto na face dela. Confesso que eu não sou de me preocupar com repulsas alheias, mas comecei a achar aquilo um tanto quanto precipitado. O que afinal, eu teria feito a ela? Seria pela revelação que Eva me prestou ao dizer que Scott interessava-se por mim? Seria por Erick e eu? 
Erick... Ele de fato desaparecera. Talvez eu devesse procurá-lo. É também verdade que esses tempos mais próximos à cidade e mais afastados da reserva evidenciaram o quão eu estava mexendo com as pessoas da cidade. E isso simplesmente por respirar. Murmúrios sobre o quê eu teria vindo fazer ali passavam ligeiros aos meus ouvidos com frequência, e pareceu que ser "amiga" de Bella não era um bom presságio.
Abri as portas da farmácia e pendurei minha bolsa na saleta aos fundos. Algumas caixas tinham chegado. Acredito que os irmãos Vincent teriam deixado-as ali antes de irem ao laboratório. Enquanto eu me preparava para levá-las ao mesmo quarto dos fundos, Scott apareceu na porta da farmácia.

– Bom dia ! – ele disse escorado na porta.
– E aí Scott! Bom dia. – disse indo cumprimentá-lo. Ele me abraçou forte.
– Como está?
– Estou bem e você?
– Um pouco mais calmo. Hoje estou mais absolvido do mercado.
– Como assim?
– Ganhei uma folga. – ele riu dando menos importância àquilo.
– Pobre Peter. – eu olhei por sobre os olhos iniciando o sistema do balcão.
– Ah, pois é. Acredita que ele cobrou por me cobrir hoje?
– Scott aproximou do balcão e ficou bem próximo olhando. Escorava seu queixo nas mãos. Os cotovelos no balcão.
– Hm... E o que ele pediu em troca? Alguns telefones? – eu sorria fazendo insinuações sobre as garotas que viviam correndo atrás de Scott pela cidade. Ele é um bom partido de Forks. Interesseiras.
– Na verdade... – Scott pôs-se a rir tampando o rosto com as mãos. De um jeito muito fofo, vale citar. – Ele está me fazendo um grande favor. Pediu o telefone da Daniela.
– A Parker? 
– Sim.
– Ela é afim de você? – perguntei mais interessada parando de digitar no teclado.
– É sim. Por quê?
– Acho que agora entendo porque ela não me engole.
– Tá falando precisamente do quê? – ele ficou sério e... Esperançoso, eu diria.
– Acho que... Ela me vê como uma ameaça.
– Qualquer uma dessa cidade deve te ver como uma ameaça. Você tem tudo para isso.
– Hm, por quê?
– Algumas garotas correm atrás daqueles que consideram bons partidos da cidade. E você é uma forasteira que tem tudo para atrapalhar os golpes delas.

Eu fiquei sem graça com a atitude do Scott talvez pela primeira vez.

– Mas acha que Daniela aceitaria sair com Peter? – eu disse sorrindo em dúvida.
– Não. Mas acho que ela faria qualquer coisa para chegar em mim de alguma forma.
– Entendi. – nós começamos a rir. – Deve alertar o Peter, não acha?
– Ele é novo, mas não é bobo. Sabe muito bem de tudo isso.

Depois disso ele se ofereceu para me ajudar com as caixas que eu tinha que guardar. Limpei a farmácia, atualizei o sistema e Scott se despediu, dizendo que aproveitaria o dia em outra cidade. Desejei-lhe diversões e na porta ele me abraçou apertado e beijou o meu rosto demoradamente. Lógico, aquilo foi o suficiente para que Parker&Cia pudessem olhar para mim, de onde estavam com sangue nos olhos.
Liguei para Sue assim que terminei os primeiros preparativos na loja. Desculpei-me com ela, que me perguntava quando eu voltaria para vê-los. Eu respondia dizendo apenas um "Ah Sue, é que estou meio ocupada agora". Pedi a ela para falar com Seth.

– Você está com raiva de mim? – assim mesmo ele atendeu.
– Não Seth, isso seria impossível. Eu queria ver você inclusive...
– Sério? 
– Pode vir à farmácia? 
– Eu pego a moto do Jake.
– Não! Quero dizer... Não diz a ele que vem me ver, pode ser?
– Segredinho nosso gata. – Seth disse com uma voz propositalmente sexy, que eu nem sabia que ele tinha.
– Não esquece as mudas que Sue preparou para mim, ela disse que vai mandar por você.

Eu pedi a Sue em um telefonema, depois da minha "briga" com Black que ela fizesse uma muda de manjericão e babosa para mim. Eram objetos do meu estudo. Assim que Seth chegou entreguei o envelope com o dinheiro a ele pedindo para que o entregasse nas mãos de Black. Ele me abraçou convidando-me novamente para voltar à reserva. Então nos despedimos.
Ao chegar a hora do almoço esperei por Steve, para a troca de turnos. Ele chegou e eu voltei para casa. Quando eu ia dar partida no carro, a viatura da polícia parou na lanchonete badalada da cidade. Avistei Erick sair dela sozinho. Tranquei o carro e fui até ele. 
A lanchonete tem uma daquelas sinetas que fazem barulho quando abrimos as portas. Não estava vazia e todos olharam para ver quem chegava. Inclusive Erick que me olhou de soslaio da mesa onde estava. Ao ver de quem se tratava percebi a rigidez dele. 

– Erick. Como está?
– Bem. E você?
– Indo. Eu posso me sentar?
– Eu não posso demorar.
– Eu não pretendo alugar você. – eu disse já me sentando. Ele olhou sério e desconfortável. – Até quando vamos ficar sem nos falar?
– O que você quer ?
– Conversar com você. Mas aqui não é hora e nem lugar. Quando podemos nos ver?
– Vai estar em sua casa hoje à noite?
– Como todas as noites. – assim que o respondi ele se afeiçoou de uma expressão de sarcasmo.
– Passo lá. – falou seco, frio e voltando-se a garçonete: – Até mais então.

Eu despedi e levantei. Abri a porta do carro com raiva de Erick. Precisava ser tão ridículo? O que eu fiz a ele? Então parei um tempo para pensar, com a cabeça presa ao volante. Eu achava exagero dele e culpa do próprio por ter se iludido, mas de um jeito ou outro sendo culpa diretamente minha ou não, eu magoei os sentimentos de alguém. E aquilo devia desculpas. É assim que funciona: você tem que mandar o orgulho pular do barco para a humildade navegar nele.
Em casa após o almoço fui fazer novas mudas através daquelas que Sue tinha me dado. E a tarde seguiu assim: eu plantei as novas mudinhas no quintal dos fundos e cuidei do meu jardim da frente da casa. E quando o sol se pôs... – ironia, o sol nunca se põe em Forks, ele nem mesmo dá o ar de sua graça – quando o relógio marcava aquilo que deveria ser um fim de tarde eu guardei meus aparatos de jardinagem e tomei um banho.
Desci já vestida com um moletom e uma camiseta dos Ramones ansiosa para ler o convite que Vincent havia me dado. O convite consistia em um jantar na casa do Hernando, às 20 horas e no fim de semana próximo. Na casa dele em Seattle. Fiquei honrada e imaginei ser algo sofisticado apenas pela aparência do convite.
Bebericando um pouco de suco na cozinha escutei um estrondo de tábuas caindo. Os lobos continuavam rondando a minha casa durante aqueles tempos e eu sabia disso pelo cheiro. Algumas noites os uivos eram bem fortes, como se eles estivessem se comunicando. Um deles dormia na minha porta, pois todas as manhãs havia pêlos na entrada da minha casa. Eu estava acostumada a barulhos como aqueles, mas eu pensava: "Será que os quileutes sabem que lobos ainda estão rondando minha casa?". A considerar as atitudes dos rapazes, ou melhor, de Black quando soube dos lobos eu poderia jurar que seria um fato preocupante para eles. Mas os quileutes não me procuravam e não davam notícias sobre Embry, muito menos sobre esses assuntos. Eles estariam caçando-os como naquela vez? Eles estariam tentando controlá-los? E seria por isso que os lobos estavam acampando em minhas terras?
Coloquei o copo na pia após esses pensamentos e fazendo pela primeira vez algo impulsivo em relação a esses barulhos, eu abri a porta da cozinha e fui aos fundos da casa. Aquela deveria ser a hora que os lobos chegavam, mas eu não pensei nisso. Eu pensava em Embry. Na última vez que nos vimos, antes dele sair para caçar. Quando dei por conta do que estava fazendo eu já estava no meio do quintal dos fundos sem nada nas mãos e longe da porta da cozinha. O que quer que pudesse acontecer ali, eu teria que ser ágil. Algo se mexia nos arbustos da floresta que dava para o fundo da minha casa. Eu impulsivamente dei passos a frente. Onde eu estava com a cabeça? Então uma buzina tocou na entrada da minha casa. Corri para dentro dela. Enquanto eu corria pela casa até a porta, eu caí na realidade do que eu fiz e imaginei muitas coisas. Eu pensava aleatoriamente em como eu pude comprar aquela casa abandonada com fundos para uma floresta em um lugar que ninguém habita. Pensei que era hora de ter um cão de guarda. E pensei ser a maior besteira fazer isso. Imagine a loucura em ter um cão de guarda em uma casa cercada de lobos.

No quintal dos fundos da casa de ...


– Ela é louca! Não, não, ela é corajosa muito corajosa!
– Ela não sabia o que estava fazendo. 
– Sim, mas mesmo assim cara, ela sabe dos lobos! Achei que ela iria para os arbustos.
– Anda, vem. Vamos ver quem chegou aí.


Na entrada da minha casa, assim que saí pela porta vi Charlie vindo até mim acompanhado por Erick.

– Boa noite
– Ei Charlie, que surpresa! – eu disse lhe dando um abraço. – Vim saber como estava. Afinal, não tenho notícias de você há tempos.
– Ah eu estou bem, tenho trabalhado bastante.
– Sue está preocupada. Você não aparece mais na reserva há quase um mês.
– Ela é adorável. Diga que você me viu inteira. Ela não acredita pelo telefone. 
– Certo, eu digo sim. – ele sorriu e me deu outro abraço – Precisamos marcar um almoço de fim de semana lá em casa hein?
– Ah com certeza, estou devendo-lhe isso e eu não gosto de dívidas. 
– Eu te ligo querida. Até mais. Até amanhã Erick.
– Eu vou aguardar o telefonema. Até mais Charlie. Abraços a todos.

Charlie entrou na viatura e eu olhei para Erick sorrindo. Convidei para entrar, mas novamente passei um olhar meticuloso pelos arredores, os arrepios que tive nos fundos de minha casa amedrontaram-me como há algum tempo não acontecia. Erick chamou pelo meu nome e eu entrei.

Em algum ponto escondido da varanda de ...



– Certo cara, vamos nessa. O policial está aí.
– Sim, vamos. Escuto os outros nos chamarem.


Entrei e Erick percebeu imediatamente o meu nervosismo.

– Está tudo bem ? Está pálida... Parece nervosa.
– Antes de vocês chegarem eu estava lá no fundo e tive impressão de ter algo na mata... – rapidamente ele empunhou sua arma e seguiu para a cozinha até os fundos. – Erick... – fui atrás dele.

Chegando lá o encontrei já a caminho daquela moita. Fiquei parada sob a porta sem nada dizer. Nada havia ali, ele adentrou um pouco mais a frente da mata e olhando em volta sem nada pressentir, deu meia volta até mim. Acariciou meu rosto já à minha frente na varanda perguntando se eu estava bem. Eu respondi agradecida e entramos à cozinha.

– Sente-se. Vou preparar um jantar.
– Não posso demorar. Tenho compromissos .

. Ouvir Erick chamar pelo meu nome e de forma tão áspera mutilava minha consciência. Orgulho perverso esse meu, que em todos os momentos impróprios se voltava contra mim. O que há cerca de minutos atrás me pareceu uma trégua, com a preocupação dele, ao ouvir meu nome pronunciado como ele o fez, me puxou de volta à situação real. Eu chamei Erick para eu pisar no meu ego e pedir perdão. Ainda que eu não aceite que estivesse errada.

– Um café então?
– Pode ser. – ele sentou incomodado por estar ali.

Olhei para Erick e pela expressão dele, talvez eu tenha clamado trégua pela minha forma de olhar para ele. Eu estaria disposta a mostrá-lo como de repente soávamos dois estranhos. Rapidamente, ele tentou puxar algum assunto. 

– Então você não vai à reserva há quase um mês?
– Sim. Tenho andado ocupada.
– Ou se cansou de brincar de índio.
– Como é? – Erick tem o dom de irritar-me, ou é manha.
– Eles te excluíram não é? – olhava convincente e piedoso. – Eu te avisei ! Os quileutes não são boas pessoas! Eles nunca irão te aceitar, por mais linda, interessante e parecida com eles que você seja! São apenas índios egoístas com seus rituais de fogueira extremamente suspeitos!
– Eu não te chamei aqui para pedir a sua opinião. Eu te chamei para pedir desculpas Erick.
– Sei disso. E é por isso que te falo tudo isso. Por que mais você me pediria desculpas a não ser por eu estar certo sobre esses índios estúpidos?
– Índios estúpidos? – eu gritava. – Eu te chamei aqui para conversar sobre a forma como eu te magoei seu idiota! E não por causa de quileute algum, mas sim por ter expressado mal os meus sentimentos por você! Erick! Você é tão estúpido! Eu nem devia pedir desculpas a você! Estou aceitando um erro que não cometi!
– Não cometeu? Como você é hipócrita . Você começa a se envolver com um índio atropelando nós dois e o errado sou eu.
– Cala a boca! Eu não atropelei nada. O que nós tínhamos? Saímos duas vezes e ainda assim você nunca deixou claro que pretendia algo sério. Eu me interessei pelo Embry assim como você poderia ter se interessado por qualquer outra!
– Ah, por favor, você quer que eu peça desculpas? – eu estava assustada por estar diante daquela parte mimada que eu não conhecia, triste por ver que o quê interessava para ele não era o bem estar da nossa relação, mas a briga infundida dele com os quileutes. 
– Não. Não quero suas desculpas Erick. Sabe por quê? Porque você quer que eu me desculpe por gostar de pessoas nas quais você odeia sem motivos, e não por tê-lo magoado. Sua birra não é por mim. É por eles.
– Você não sabe o que fala. – ele começou a rir ironicamente e muito nervoso. – Você defende aqueles marginais!
– Eles não são marginais! – gritei já avançando para cima de Erick jogando coisas nele entre tapas e socos infantis.

Ele estava certo sobre ter sido excluída, mas eu ainda defendia os quileutes. Essa maldita sensação de me sentir uma deles! E lógico, não devo julgá-los por seus segredos, afinal eu nada sei sobre eles.

– Eu preciso realmente ir. Minha namorada me espera e não quero perder tempo com você. – ele frisou bem a pronúncia "namorada"  segurando meus braços com olhar desprezível.
– Melhor você ir mesmo. Antes... Eu peço desculpas a você por tê-lo iludido involuntariamente. Somente por isso.
– Se é do meu perdão que você precisa para viver... Eu te perdoo.
– Não! Eu tenho a minha consciência tranquila, minhas desculpas são apenas um favor que lhe faço, já que sua consciência é surda e cega suficientemente ao ponto de te fazer não aceitar os seus defeitos.
– Não preciso da sua aceitação ou favores. É você quem precisa daqueles índios... Olha para você. Totalmente dependente deles.

Ele estava certo. Eu precisava das pessoas daquela tribo, daqueles ares, daqueles olhares e urgentemente dos seus mistérios. Eu não seria falsa em retrucar contra isso, mas eu precisava ainda saber de uma coisa...

– Porque você pronuncia o nome "índios" com tanto desprezo?
– Por que este é o único sentimento que tenho por eles.
– Cuidado com isso. Seu chefe logo será um deles.
– Se o senhor Swan não sabe escolher suas esposas eu não tenho nada a ver com isso, mas não tenho a menor obrigação de ser simpático com essa gente.
– Essa gente... – eu repeti da mesma forma com que ele pronunciou, mas para mim mesma, a fim de entender o que eu presenciava. 

Que Erick era aquele? Fora por culpa minha que aquele ódio todo veio à tona ou eu estava sendo muito prepotente?

– Adeus . Jessica já deve estar preocupada com minha demora.
– Adeus senhor Erick.

Pude perceber com o susto que ele levara que tratá-lo por "senhor" mostrou claramente nosso distanciamento. Ele sofria com aquilo. Aproximou-se de mim, eu o olhava decepcionada e acariciando meu rosto ele se despediu.

– Se cuida . Eu só quero o seu bem e essa gente... Enfim, você não precisa se misturar com um povo tão desprezível... – beijou minha testa e quando já estava na porta eu chamei por ele. Ele não se virou. 
– Só para você saber... Eu sou filha de índios. – Erick então, olhou para mim inexpressivo e saiu parecendo atordoado.

Fechei a porta trancando-a. A água para o café estava quase seca, então optei por utilizá-la apenas para uma caneca de chá. Um forte chá de capim limão.

Na reserva...


– Ela vai ficar bem Jacob. Não precisa ir!
– Pai, eu vou. Paul, Seth! Vocês vêm comigo?

Eles olhavam-me indecisos. Meu pai insistira naquela ideia de que eu deveria ficar fora daquilo tudo, mesmo sendo aquela uma noite aturdida.
– Eu vou com ele Billy! – disse Seth.
– Lia também pode ir, Paul e Quil ficam comigo Billy. – disse Sam passando confiança ao meu pai que às vezes agia como se eu ainda tivesse 16 anos. Eu estava prestes a liderar e ele ainda agia daquela forma tão irritante.
– Certo, então vamos antes que a princesinha fique em apuros. – disse Lia, esnobe.

Saímos sobre os olhares preocupados de todos. Ouvimos os urros altos do perigo, olhamos para trás preocupados.

– Vão! Nós damos conta disso! – disse Sam sendo seguido para a mata junto com o restante da matilha.
– Não sei por quê estamos nisso! Ela não corre perigo! 
– Lia! Você ouviu o que Billy disse.
– Seth brigava com a irmã, e realmente a garota estava dando nos nervos agindo daquela forma. Lia fazia com que eu me recordasse de tempos atrás. Tempos infelizes. 
– Jacob... E o policial? – perguntou Seth preocupado.
– Ele não deve estar mais lá.
– Como sabe? Eles podem estar juntos.
– Lia continuava sendo irritante diante daquilo tudo e eu controlei-me para não mordê-la. Pelo menos ela notou isso e se calou.
– Ainda que ele esteja lá nenhum deles está fora de perigo. – concluiu inteligentemente, Seth.



Bebi meu chá e já mais calma liguei o computador para procurar desvendar algumas das minhas dúvidas. Meu telefone tocou.

– Boa noite . É o Steve.
– Boa noite Steve, aconteceu algo?
– Não. Primeiramente, parabéns pela promoção senhora gerente. 
– Ah, obrigada. Não muda muita coisa.
– Certo. – ele riu. 
– E então?
– Então... Você vai ao jantar dos Vincent?
– Claro, já é neste fim de semana, certo? – conferi pegando o convite e lendo o dia e horário. – E você?
– Sim, também irei. Que tal se fôssemos juntos?
– Acho ótimo. Até porque eu não sei andar muito por Seattle.
– Eu passo aí as oito horas então, pode ser?
– Se importa, se nós formos com meu carro?
– Não. Por mim tudo bem.
– Até lá então Steve, e não se esqueça: qualquer problema com a loja, você pode me ligar. 
– Entendido chefinha. – Steve disse brincalhão e desligamos.

Ele é um amor de pessoa.
Voltando ao meu laptop, digitei nas pesquisas do Google "Bairro Kalil, Forks" . Fiquei abismada com a quantidade de manchetes e notícias trágicas envolvendo o nome "Forks". Notícias sobre mortes misteriosas, rituais sobrenaturais, ataques a turistas, campistas e alpinistas que não obtiveram respostas a não ser suspeitas de provirem de animais selvagens desconhecidos. Contudo, sobre o bairro Kalil, eu precisei de uma procura mais detalhada e minha resposta fora que ali, exatamente ali naquele bairro inóspito, muitos destes corpos foram encontrados. 
Então era isso, eu morava em um cemitério antigo. Então se ali ocorria a maioria dos ataques eu estava mesmo correndo muito perigo! Por isso nenhuma outra casa, nenhuma outra alma habitava os arredores e consequentemente esta era a razão do preço baixíssimo pelo qual paguei naquele casebre. Assustada e evitando esses pensamentos tentei dormir, porém os lobos pareciam cada noite mais agitados e naquela precisamente, eu temia muito por mim. Nunca pensei tanto em Embry e Jacob como naquela noite. Em consequência disso, sonhei com eles.
Ao amanhecer após toda a preparação matutina rotineira, não havia mais sinais de perigo. Porém minha alma ainda gelava. Decidi que não faria pesquisa alguma no dia, estava muito exausta.
Assim que segui à porta para sair em direção ao meu turno da farmácia avistei um envelope conhecido, no chão à beira dela. Peguei e abrindo a porta para enfim sair, nem mesmo precisei abri-lo. Havia um bilhete pregado nele dizendo "Nada de pagamentos, esse foi o combinado". Black devolvera meu dinheiro. Entrei no carro desanimada com o fato de ter que insistir naquilo. Ele não facilitaria nunca? Que ótima convivência nós teríamos.
Já na cidade estacionei na vaga de sempre. Avistei Black sair do mercado e antes mesmo de olhar para a loja, tranquei meu carro e corri até ele. 

– Black! – gritei ao vê-lo subir na motocicleta irrevogavelmente perfeita. – Espera! – ele me olhou retirando o capacete, ainda sentado. 

Andei até ele parando bem em frente ao corpo que refletia exaustão e nenhuma postura elegante sobre as duas rodas.

– Bom dia. Parece cansado.
– Bom dia. Realmente preciso de um bom descanso. O que aconteceu? – ele respondia desatento a mim. Até que arregalou os olhos ao me ver estende-lo o envelope. – Não vou aceitar.
– Ora, Black. Não dificulte as coisas. O combinado foi um pagamento justo.
– Eu não quero. Você precisará para montar seu laboratório.
– Como? – ele abaixou a cabeça como se tivesse falado demais.
– Hm... Sue e eu, estivemos conversamos sobre você.

Black tem uma particularidade: quando não gosta do assunto ou não quer falar, quando não quer estar em alguma situação, mas é obrigado a isso, ele conversa sem olhar para a pessoa. Fica analisando em volta com o olhar trancado e as sobrancelhas juntas. É sexy, devo confessar e engraçado.

– Conversando sobre mim. O que? E por quê?
– Nenhum motivo direto. Ela apenas comentou que você planejava isso. Então pegue seu dinheiro de volta.
– De qualquer forma eu insisto.
– Façamos assim... – ele estava cansado demais para discutir. – Você fica me devendo um favor. – ele concluiu já se preparando para partir.
– Não, espera. – depositou um beijo em minha testa e piscou para mim. – Jacob! 
, não. Depois nós conversamos. Preciso mesmo ir.
– Está tudo bem? Porque essas olheiras tão fortes? Você não tem dormido. O que está acontecendo? É com o Embry?
– Está tudo bem. – ele disse e saiu veloz.

Mais uma vez, sem notícias, sem vestígios, sem explicações. Se eu ficasse pensando nessas coisas que vinham ocorrendo eu surtaria, então pensei no jantar dos Vincent, no quê eu usaria para ir precisamente. A farmácia sempre monótona pelas manhãs decidiu surpreender. Primeiramente com a visita insossa de Jessica Parker. Infeliz a coincidência de ser irmã de Daniela? Bom, coincidências como essas são muito comuns por aqui.

– Bom dia. – eu disse.
– Um remédio para dor de cabeça. – educação não era o forte dela.
– Alguma preferência?
– Não.
– O neoflex está custando cincos dólares, caixa com vinte comprimidos. Temos o genérico. 
– Esse mesmo. E os testes de gravidez ficam onde?
– Algum laboratório específico? 
– Não. Pode ser qualquer um. – peguei um dos mais vendidos e entreguei a ela.
– São vinte e cinco dólares no total. 
– Aqui está. – ela pagou toda esnobe. 
– Boa sorte. – eu disse sorridente olhando para o exame. 
– Obrigada. Erick vai ficar muito feliz. Eu tenho certeza da gravidez. 
– Sei que tem. – eu continuava sorrindo falsamente simpática e aquilo a deixou imensamente, nervosa.  

Após a visita nada agradável de uma, veio a visita da outra, porém Daniela nada consumiu. 

– Bom dia, em que posso ajudar?
– Onde está o Scott?
– Oi? Por que eu deveria saber?
– Sei que você está de caso com o meu Scott sua vadia. – "Ah fala sério!" foi o que eu pensei já entediada.
– Não sei onde ele está primeiramente porque não tenho nenhum caso com ele, depois porque ao contrário do que você deseja, ele não me deve satisfações e terceiro... Não perca seu tempo. Ele com certeza deve estar fugindo de você como sempre. Aliás, deveria perguntar à mãe dele em qual setor ele estaria. É no mercado que Scott trabalha e não na farmácia. 
– Sua ridícula! Scott! Scott!

A louca saiu invadindo o balcão da farmácia tentando entrar na sala reservada. Eu a impedi e assim que percebi que aquilo só iria piorar a situação, eu fiz questão de acompanhá-la por cada cômodo da loja. Ao ver que estava surtando, ela saiu sem dizer mais nada. Com o nariz bem empinado.  
Para piorar a minha situação, Erick também apareceu por lá um pouco mais tarde naquela manhã. 

– Bom dia . Estou um pouco enjoado, o que você tem aí? – como se eu trabalhasse em uma lanchonete dos comprimidos!
– Você tomou café? 
– Sim.
– Têm sentido esses enjoos com frequência?
– Um pouco. Nada muito contínuo.
– Eu sugiro que você passe no posto ou no hospital. Não posso vender nada sem receita.
– Eu não posso . Aliás, eu sempre tomo uns comprimidos para enjoo, me dê esses mesmo. O nome é... – ele retirou um papel do bolso – Bromoprin.
– Erick, eu não sou médica. Não posso vender esse tipo de medicamento sem receita. Você terá que ir ao médico. 

E de repente, sem o menor preparo da minha parte, Erick me assustou. Correu dando a volta no balcão e estando à minha frente me puxou pela cintura e enlaçando um de seus braços no meu corpo, com uma das mãos na minha nuca, beijou-me tão desesperadamente como se a melhora dele dependesse daquilo. Eu fiquei tão sem ação que não reagi. Eu torcia mentalmente para que ninguém visse aquilo. Ao partir o beijo e separar nossos corpos, o encarei com medo, dúvida, raiva, surpresa e sabendo que eu lhe pediria respostas ele saiu depressa.
Fiquei ali estatelada sem qualquer esclarecimento do que havia ocorrido. Erick não voltou naquela manhã e acabado o meu turno, fui novamente para casa. Nada de interessante aconteceu à tarde, senão as minhas pesquisas que dei um pouco de continuidade em casa mesmo. Aproveitei o tempo com mais folga para uma limpeza doméstica. Embora minha casa sempre estivesse organizada e de certo modo limpa, resolvi ajeitá-la com mais afinco e consegui descartar de minhas varandas uma sacola cheia de pelos. Dos lobos, óbvio. 
Ao tardar da noite tudo continuava normal. É absurdo declarar um bando de lobos, muitos uivos e rosnados como "normal", porém aquela era a minha realidade corriqueira e eu me espantaria se por acaso não encontrasse sinal de meus "amiguinhos" por ali.
Entretanto, foi ao acordar que toda a "falsa calmaria" da minha mente obteve algumas de suas respostas. Eu acordei mais cedo do que o de costume e ao passar em frente à janela da minha sala, resolvi dar uma espiada. Afastei minha cortina e avistei pernas estendidas. Alguém estava escorado na minha porta. Antes de abrir, agi com sensatez e olhei novamente pela janela. 
Black. Jacob Black. Ele dormira na minha porta. Mas por quê? Quando pensei em abrir, avistei Quil Ateara vindo em nossa direção. Fechei rapidamente as cortinas e me escondi silenciosamente.  Ele acordou Black e os dois saíram correndo em direção à estrada. Black ainda sonolento olhou para trás, talvez se certificando de que estava tudo certo e de que eu não estaria acordada. Após aquilo eu fiquei raivosa e abismada. Por que ele faria aquilo? E há quanto tempo? Mas e os lobos? Erick estaria certo em dizer que os quileutes domavam e treinavam os lobos para atacar as pessoas? E o pior de todos os pensamentos... Os lobos estariam me cercando por causa dos quileutes? Embry. O que aconteceu com ele? Porque eu não tinha respostas sobre ele? Porque ele se afastou tão repentinamente? 
Enquanto eu tomava um banho buscando frustradamente, me acalmar, minha mente vagueava nas lembranças das vezes que estive com Embry. O almoço na tribo, o passeio na praia, o beijo nas rochas, o corredor da casa de Emily, o casaco dele, finalmente a caça aos lobos. E não o vi mais, nem seu sorriso, nem seu olhar, nem ouvi a sua voz. 
Embora ele fizesse falta, o que eu sentia por Embry era tão superficial! Não de um jeito pejorativo, mas era como se eu apenas me preocupasse com ele por tê-lo como um bom amigo, um companheiro, um irmão, eu até ousaria dizer. Sempre estive certa de que não o amava, afinal, nunca fui do tipo de garota sonhadora que em um beijo se declara apaixonada pelo homem da sua vida. É insano e estranho. Infantil. Mas eu tinha muita consideração pelo Call, e o curtia. Estávamos iniciando algo muito bacana. Eu queria seguir em frente com ele, mas como? Como, se ele não demonstrava querer o mesmo? Como se estávamos sendo afastados por tudo? Como se Black tomava mais espaço nos meus pensamentos com suas atitudes misteriosas do que o próprio desaparecimento de Embry?
Céus! Black não deveria surtir tanto espaço assim! Que droga! Ele tornava-se um tormento. Saí do banho e me vesti tão rapidamente que se existisse um concurso assim, o ouro era meu.  
Pobre do meu carro, ele iria engasgar com o tanto que eu iria acelerar para chegar naquela reserva. E assim o fiz. Ao chegar à reserva estacionei de qualquer jeito e deixei o motor ligado, inclusive. Eu personificava em meu corpo e semblante, a raiva, o desespero e o medo. Sentimentos mistos dos quais eu não controlava naquele momento.
Ainda que Billy estivesse em casa, eu não deixaria de agir como agi. Abri de súbito a porta da cabana dele e adentrei-a buscando o quarto de Black. Um dos quartos estava arrumado, e nem sinal de Billy na casa. Encontrei outra porta semicerrada e avistei Black deitado em sua cama. Vestia apenas uma boxer e tinha o corpo perfeito descoberto. Embora a visão fosse tentadora, os sentimentos que havia na minha alma eram bem maiores. Comecei a batê-lo e gritar para ele acordar. Do nada, ele segurou meus punhos e girou-me em sua cama se colocando por cima de mim. Segurava minhas pernas com as suas pernas fortes, com suas mãos largas e grandes prendia meus punhos cruzados sobre o meu abdômen.

– O que é isso ? – dizia desesperado. 

Minha blusa estava toda bagunçada e minha barriga à mostra. Diante toda a pele dele descoberta, minha pele não era nada apenas, do que um pontinho descoberto próximo a toda a nudez daquele quarto.

– CALADO! Explique-me agora, o que você fazia na porta da minha casa! Por que dormiu lá? – eu gritava.

Billy, Sue, Paul e Quil apareceram no quarto de Jacob nos deixando constrangidos com a situação. Paul e Quil deram risadas discretas e espantadas. Eu me contorcia tentando me desvencilhar de Jacob que lutava contra mim, ainda vencendo e me deixando presa por seu corpo. Enquanto gritávamos um com o outro e lutávamos, as pessoas presentes olhavam, sem nada entender.

! O que faz aqui? – disse Billy finalmente.
– Eu quem quero saber, porque Jacob dormiu na porta da minha casa e o que ele fez, ou faz com os lobos à noite!? – gritei enfurecida e Sue tapou a boca com as mãos. Parecia assustada pela minha dedução e todos então ficaram sérios.
– Jacob! – Billy gritou com ele.
– O que foi? Ela quem invadiu e começou a me agredir! – ele estava nervoso e incrédulo.
– Não é isso! – Billy disse colocando as mãos sobre as têmporas, em sinal de impaciência. – Saia de cima dela e vá se vestir! – Billy olhou para ele como se tratasse da coisa mais óbvia.
– Ah. Claro! – ele me soltou e levantou bastante constrangido. – Desculpe Sue. – falou para ela imensamente envergonhado. 

Abriu o guarda-roupa de um jeito atrapalhado e puxando uma bermuda vestiu-a. Eu ainda encarava-o séria escorada na cama dele.

– Será que pode olhar para lá? – ele me disse.
– Eu vou acabar com você se não começar a se explicar logo! – eu disse raivosa para ele desconsiderando a presença de outras pessoas. Então Black olhou para minha barriga descoberta e sorriu travesso. 
se acalme querida. – disse Sue. 

Fazendo o que ela pedia ajeitei a roupa no meu corpo. Levantei e me desculpei com todos, inclusive com Billy por invadir a casa dele.

– Tudo bem . Melhor, você e Jacob conversarem, nós estaremos lá fora. Acalme-se. – Billy disse para mim e antes de sair olhou sério para Jacob.
– Ei, gatinha feroz poderia me emprestar a chave do carro? Você deixou o motor ligado lá fora. – disse Paul. Sorri sem graça e joguei as chaves para ele.
– Até mais . Tenha paciência com o nosso amigo. – disse Quil abraçando-me e sorrindo travesso para a figura irritada de Jacob.

Depois que todos saíram, Black sentou-se em sua cama. Esfregando a face e encostando os cotovelos nos próprios joelhos depositou as mãos no queixo a me olhar.

– Estou esperando suas explicações, Black.
– Precisava mesmo disso tudo?
– Limite-se às explicações.
– Estou pensando.
– Está pensando? Ora, faça-me o favor! Diz logo Black! O que fazia lá? – ele ergueu um pouco o corpo me encarando sério, mas ainda sentado. 
– Eu estava vigiando sua casa.
– Como é? – ele me puxou pela mão e me jogou sentada ao seu lado na cama. Virou-se para mim e segurando minhas mãos continuou a falar olhando profundamente o castanho urgente dos meus olhos.
– É tão complicado ... Você não faz ideia de como eu gostaria de contar tudo o que sei, mas não posso. Eu estava te protegendo. Passei todas as noites possíveis dormindo à porta da sua casa.
– Black... Não insulte minha inteligência. Lobos rondam minha casa todas as noites e todas as manhãs tem pêlos espalhados pela varanda. Quer me convencer de que dormiu do lado de fora com eles?
– Lembra-se quando os rapazes saíram para espantar os lobos?
– Lógico.
– Nós conseguimos controlá-los...
– Certo, mas eles estiveram nervosos uivando noites e noites, agitados. Ora Black! Eu não sou idiota! Erick é quem esteve certo o tempo todo!

Soltei-me de suas mãos e saí do quarto, furiosa. Billy estava sentado na varanda e quase derrubei Sue com uma bandeja de café. Jacob veio correndo até mim pedindo para eu esperar e ouví-lo. Foi aí que eu parei de respirar. Parei de pensar. Todo o meu corpo parou. Embry estava saindo da casa de Sam. Embry estava lá!

– O quê? – sussurrei. 

Uma mão forte segurou o meu braço. Era o braço forte de Jacob que me virou para ele e segurando meu rosto para encará-lo começou a explicar.

– Acalme-se. Eu tenho muitas coisas para te falar. Vamos até o galpão?
– Há quanto tempo? – eu disse correndo até Embry indagando-o pela resposta. 

Mentalmente eu torcia para que ele dissesse "Agora há pouco ". Todos estavam parados e olhavam para nós assustados.

– Não faz muito tempo. , você precisa se acalmar.
– Me acalmar Embry? ME ACALMAR ? – gritei.
– Você não tem ideia de como eu tenho tentado me acalmar desde que você desapareceu! Tem uma cidade inteira me odiando por sei lá... Eu existir! Tem um policial enchendo a minha cabeça de coisas a respeito de todos vocês, nas quais eu os defendo sem nem mesmo conhecer nada de cada um! Lobos circundam minha casa o tempo todo! Descobri que moro em um lugar perigoso, que Forks é um lugar perigoso! Escolhi um lugar terrível para viver! Você desaparece e ninguém me dá notícias! Black dorme na porta da minha casa e fica inventando coisas sem nexo, e de repente como se nada acontecesse você está aqui na minha frente! E está bem! ME ACALMAR É O QUE  EU VENHO TENTANDO FAZER TODO ESSE TEMPO! ESTOU SOZINHA, NESSA CIDADE MONÓTONA TENTANDO ENTENDER O MÍNIMO OU APENAS ME CONFORMAR EM NÃO PROCURAR RESPOSTAS! E DE REPENTE BELLA É A PIOR COISA QUE ME ACONTECEU NA VIDA! NÃO PEÇA PARA EU ME ACALMAR. 

Nenhum som era ouvido. Os quileutes encaravam-me muito espantados por não saberem de todas as coisas que vinham me acontecendo, por não saberem tudo aquilo o que eu sentia e os únicos olhares confortantes que recebi no meio de todos eles foram de Lia Clearwater e Emily. Saí correndo de volta para o meu carro. Sue veio até mim juntamente com Charlie que eu nem havia visto. Parando ao meu lado e segurando meu braço ele me abraçou como um pai.

– Billy! – Sue gritou para ele com a voz embargada, de um modo suplicante. 

Não percebi se ele respondeu ou fez algum gesto para Sue. Apenas afundei nos braços paternos de Charlie.

... O que eu posso fazer por você? – Charlie chorava me olhando preocupado.
– Apenas me desculpar, pela forma como falei de Bella... 
– Não tem que me pedir desculpas por isso. Eu te entendo. – abraçamo-nos novamente.

Jacob iniciou uma breve discussão com o pai dele e Sue, na varanda. Ela pedia para que eles falassem em tom baixo e eu olhava-os sem entender.

– As coisas vão se esclarecer, eu te prometo. – Charlie disse. – Você terá que ser forte e esperar um pouco mais. Confia em mim?

Não sei por que, mas eu confiava em Charlie. Não consegui me soltar daquele abraço tão paterno que há muito tempo eu não recebia parecido. Billy se aproximou de mim pedindo para que eu ficasse por lá aquele dia, pois segundo ele, eu tinha muito a conversar e ouvir. Liguei para Steve, pedindo para que me cobrisse na farmácia no meu turno. Felizmente, ele poderia.
Jacob se aproximou e parou à minha frente, calado, cabisbaixo e triste. Charlie entrou na casa de Sue. Ela e Emily vieram me abraçar sorridentes e envergonhadas. Não sei se elas deviam sentir vergonha de algo. Eu apenas sabia que Embry deveria. Seth também tentou me reconfortar com um sorriso e um "Que bom que está aqui" sussurrado em meu ouvido. Lia apenas sorriu de longe. Pelo menos alguma coisa estava evoluindo para melhor. Embry se aproximou. Estava visivelmente abatido, cansado, mais forte e não era mais o mesmo que conheci.

– Desculpe. Eu não estive bem. – ele disse. 

Nos encaramos um tempo e deixando as lágrimas escorrerem eu o abracei.

– Seu idiota. – eu apertava-o. – Porque não me mandou notícias? Eu estive tão preocupada. 

Abri os olhos, ainda abraçada a ele, e Black estava em minha frente com uma expressão muito irritada e não nos olhava. Eu sabia que algo o incomodava.

– Eu não queria que se preocupasse. Só tentamos te proteger... – Embry disse nos separando. 

Ele não estava bem, não sorria, não tinha o mesmo brilho nos olhos, nem a mesma alegria.

– O que houve com você? – eu acariciava sua face. 

Bruscamente ele retirou minhas mãos do seu rosto e afastou-se. Eu sofri com aquilo por saber que perdi o velho Embry. Eu sabia que ele estava mudado e não seria mais como antes. Sou sensitiva com essas coisas. Black repugnava cada momento ali.

– Eu já estou bem. Vou descansar. 
– Como? – eu estava novamente furiosa, aquilo era maneira de me tratar?

Jacob olhou imensamente irritado para Embry quando esse passou por ele. Black já estava me conhecendo um pouco mais, pois quando olhou para a expressão em meu rosto prevendo que eu novamente surtaria veio à minha direção passando seu braço por minha cintura. Foi me empurrando de ré para a direção da praia.

– Black! 
– Ei, se controla certo!? Vem comigo. – continuou me arrastando.

Então eu me virei para frente decidida a acompanhá-lo. Olhei para trás e não vi mais Embry. Eu bufava nervosa. Jacob riu e disfarçou o olhar para frente.

– Já pode soltar minha cintura. Estou indo com você, não está vendo?

Então sorrindo torto com a minha birra, Black me colocou em seu colo.

– Me coloca no chão Black! – eu me sacudia em seus braços.
– Para com isso garota! Estou só te carregando pra você não escorregar nas pedras! 
– Não precisa!
– Embry não fez isso da última vez? – ele encarou meus olhos, e estava  bravo. 

Esta afirmação dele denunciou que Jacob andou espionando Embry e eu no dia em que ficamos. Talvez ele estivesse nos espreitado o tempo todo.

– O quê? Mas é diferente! Black!
– Entendi! Ele pode né? – disse ainda mais bravo me colocando no chão.
– Oi? Black, qual o seu problema? – eu não entendia nada e fui andando mais rápido até ele. Contudo, ele estava certo e eu caí. Ao ouvir meu grito, Black correu até mim preocupado.
– Tudo bem? Machucou? 
– Não foi nada. Você também pode Black. – eu disse muito sem graça.
– Agora posso? – ele arqueou as sobrancelhas, irritado. – Chama o Embry.
– Black... Você está irritado com o quê precisamente? – eu perguntei ainda sentada no chão. 

Ele revirou os olhos e me pegou no colo continuando a andar. Coitado, tentativa frustrada de me calar. 

– E então? Responda!
– Não estou irritado com nada.

"PUUUUFFF"! Desceu a barreira antiga. Impenetrável e transparente, mas eu já aprendi e dessa vez eu estava com um martelinho imaginário, pronta a quebrar aquela porcaria.

– Black... – comecei a rir. – Você está com ciúmes?
– Ciúmes do quê? 
– Não sei... De eu ter deixado Embry me carregar?
– Eu estou te carregando, não estou?
– Sim, mas é diferente. – nos olhamos discretamente atordoados e envergonhados. 

A sensação daquele instante era de fortes palpitações no meu peito. Por motivos distintos: o primeiro, a frieza de Embry; o segundo, o corpo de Jacob tão perto.

– Você, precisava mesmo entrar no quarto daquele jeito ?
– Eu estava descontrolada... Desculpe por isso. – ele sorriu. 

Black começava a esboçar um sorriso de verdade, ele reaprendeu a sorrir. Mas ainda sem mostrar os dentes.

– Nas rochas né? Seu lugar favorito. – ele perguntou ainda me carregando até o amontoado de pedras na areia. 
– Sim... Porque estamos aqui Black?
– Quero conversar com você. – ele disse se sentando ao meu lado na pedra. 

Eu namorava o mar... Fechei os olhos e senti a brisa amiga e gélida cortando meu rosto devagar. Ao abrir os olhos, Jacob me encarava admirado.

– E então Black? Pode falar.
– Primeiro... Porque Black?
– Ah... Não sei. Eu nunca senti que pudesse te chamar abertamente de Jacob e... Da primeira vez que o chamei por um apelido parece que você não gostou. – ele abaixou a cabeça como se recordasse exatamente do que eu dizia.
– Eu gosto da sua voz pronunciando "Black"... – ele me olhou cúmplice sorrindo fraco. – Acho que eu também deveria poder chamá-la de algum outro nome.
– Quando eu era menor, minha tia dizia que eu parecia uma ursa quando ficava zangada...
– Não... Eu prefiro... Loba. – olhei admirada para ele que reagiu com um sorriso solar. O primeiro sorriso verdadeiramente tímido e solar que Black dera.
– Gosto de loba...
loba... Preciso te contar algumas das nossas lendas. – disse sério.
– Estou mais do que preparada.

Black contou da relação íntima que os quileutes têm com os lobos. O quanto os lobos são importantes para eles. E que eles conseguem se comunicar com esses animais de forma muito amigável. Daí por isso ele estava vigiando minha casa.

– Black... Como... – interrompeu-me antes de eu terminar.
– Eu não estava perto dos lobos. Fiquei observando de longe. Eles estão nervosos ultimamente por causa das mudanças da lua. Isso é verdade, embora todos pensem ser mito. Então eu fico observando se eles não irão tentar invadir sua casa. Naquele dia, que você me viu, eles foram embora antes de amanhecer, como sempre fazem. Quando eu acordei, eles não estavam lá, então me aproximei para olhar direito e peguei no sono na porta da sua casa. Foi só isso.
– Por isso tem dormido tão mal?
– Sim.
– Mas teve um dia, que você me disse que espantou um deles com uma vassoura e não havia vassoura alguma lá na varanda Black.
– É... Eu disse isso para que você entendesse que eu consegui espantá-lo. Você não sabia ainda que nós nos comunicamos com eles.
– Entendi... Você podia me ensinar, assim eu não precisaria ter medo nem incomodar vocês. – ele ria divertido.

A história toda me soou confusa, mas eu mantive a tese de que procurar entender aquele povo, não traria bons resultados.

– Vem, vamos subir. – estendeu a mão e levantou. Descemos e fomos de volta às cabanas.
– Ei Black, você poderia ter me avisado antes. Pode dormir na minha casa! É melhor do que ficar escondido.  

Jacob me envolveu com seu braço dando um peteleco na minha testa, já estávamos na reserva. Charlie aproximou-se com sanduíches para nós.

– Belo sanduíche Charlie. – eu disse brincalhona, ele sorriu e voltou a ajudar Sue com os copos.

Estavam todos reunidos na grande mesa do pátio. Embry não me olhava e eu entrei no jogo decidindo fingir que não o conhecia, por mais que aquilo me doesse. Jacob apertou minha mão e disse para mim "Vai ficar tudo bem". Charlie me convidou para pescar com ele no dia seguinte.

– Como estão as coisas com Erick? – a maioria prestava atenção assim que ele disse.
– Ele é um idiota. – os meninos da reserva riram discretos. – Mas eu sei lidar com os idiotas. 
– Essa é a nossa . – Seth falou beijando meu rosto indo sentar perto da mãe, todos riam de nós.
– Então você topa ir conosco? 
– Claro Charlie! Estou mesmo lhe devendo uma.
– Está me devendo sua presença em um almoço. A propósito almoçaremos na minha casa após a pescaria. 
– Tudo bem. Eu vou adorar, só não poderei demorar. Amanhã à noite eu tenho um jantar em Seattle.
– Hum... Algo importante querida? 
– Sim Sue, será na casa do Hernando.
– Ah, você irá adorar! – ela disse sorrindo.
– Durma por aqui , Charlie e eu saímos cedo para pescar. – disse Billy.
– Ah Billy, eu não trouxe roupas. 
– Isso não é problema. – Emily disse sorrindo para mim.
– Também posso te emprestar algumas roupas... – Lia falou tímida e todos a olharam surpresos. Então ela fechou a cara.
– Obrigada Lia, é muita gentileza sua. – eu disse e ela olhou sorrindo. – Obrigada mesmo.

Ao acabarmos de almoçar levantei para recolher os pratos e Jacob chegou atrás de mim brincando, "O que você fez com a Lia?" ele sussurrou. 

– Pare com isso. Fico feliz por ela estar me dando uma chance. – eu sorri pegando alguns pratos.

Ele ajudou e quando estávamos na cozinha de Emily ele puxou minhas chaves no bolso da minha calça. Olhei-o assustada prestes a brigar e ele continuou andando porta a fora.

– Black! – gritei.
– Vou dar uma volta. – ele respondeu sorrindo e piscando.

Passamos a tarde conversando, Lia, Sue, Emily e eu. Fui servir um café recém-passado e Lia me chamou para uma conversa. Pediu desculpas pelo modo como me tratou e declarou que sentiu medo, pois quando Bella se aproximou de todos como eu estava fazendo, foi muito doloroso para todo mundo. Não perguntei mais nada, porque eu estava disposta a não saber mais nada de Bella. Toda vez que o nome dela era tocado, o ar mudava e eu ficava nervosa. Maus presságios me sufocavam quando eu recordava da imagem da minha antiga amiga. Lia também disse que sentiu ciúmes. Achei bobeira da parte dela sentir ciúmes logo de mim, mas depois de um bom diálogo fizemos as pazes.
Assim que nos reunimos todos na varanda de Emily, eu servi o café e Embry olhava distante para mim, outras vezes apenas encarava a paisagem. Ninguém tocou em nenhum assunto em relação a ele. Entrei para pegar outras xícaras e ao voltar, Jacob levava meu carro para o galpão.

, como vão os trabalhos na farmácia?
– Muito bem Charlie. Fui promovida à gerência.

Entre assuntos e assuntos, piadas e piadas, implicâncias dos garotos uns com os outros, Quil se aproximou com uma garota ao seu lado. Ela era nova. 

, essa é Bruh Ateara. Minha irmã caçula.
– Não fala assim Quil. – ela resmungou.
– Olá! Muito prazer. – eu disse.
– Prazer. – a garota não parava de olhar para Jacob que conversava com Paul.

Acho que ela não gostou muito de mim, ou não deu muita atenção para mim por estar ocupada demais observando Jacob. Bruh tem 16 anos e é tão bonita, quanto qualquer quileute. Jacob estava com uma camisa fina de longas mangas, calça preta, e descalço. Apoiava um dos braços no joelho, nessa mão segurava sua xícara vazia, a sua outra perna estava cruzada. Sentado, apoiando o corpo no outro braço que estava no chão. Virado para Paul conversando distraído. Eu percebi o quanto Bruh analisava cada milímetro de Jacob. Será que eles teriam alguma coisa? Black não me parecia o tipo que se interessa por garotas muito novas... Mas esses quileutes têm tantas curiosidades, vai saber! 
Paul percebeu a presença da garota e sorriu para ela em seguida fizeram um toque de mãos. Só então Jacob notou-a. Ele sorriu para ela e repetiu o toque de mãos. Ela sorria muito marota para ele. 

– Bruh consegue ser mais insuportável do que eu e só tem 16 anos. – Lia sussurrou para mim sentando-se ao meu lado e analisando o tipo da garota. – Ela é fissurada no Jacob, embora ele não dê a menor confiança. Para ele, ela ainda é uma criança.

Eu apenas sorri para Lia, afinal o que eu iria dizer?

– Ela não vai gostar nada de você. Se prepare. 
– Sério? Será que eu nunca conseguirei que alguém goste de mim de primeira? – Lia sorria.
– Tudo bem, também não gosto dela. Ela é atrevida. Adoro o Quil, mas às vezes nem ele suporta a irmã. Se ela mexer com você, estou do seu lado. – nós rimos depois de nos encararmos sérias.
– Sério Lia? Ela é só uma garota. – eu ria.
– Uma garota que arruma problemas de gente grande quando quer. Você vai ser uma pedra no sapato dela.
– Por quê? 

Lia sorriu misteriosa se levantando. Eu a acompanhava com os olhos e durante seu trajeto, ela olhou para mim e Jacob e riu. Sério que Lia estava insinuando que aquela menina  sentiria ciúmes de mim por causa do Black? Isso é ridículo! 

– E aí chata. – Lia disse para a garota ao passar esbarrando nela.
– Já vai embora logo não é? – a garota respondeu no mesmo tom.
– Para minha felicidade sim. – Lia arqueou uma sobrancelha e tanto Quil quanto os garotos riam da rincha das duas.

Enquanto eu olhava as duas birrentas, discretamente, Jacob me olhava. 

– O que foi? – eu disse olhando de volta.
– Você vai ter problemas. – ele sorriu estendendo-me a xícara que estava na mão dele. 

Será que todos ali previam coisas? Ou era muito óbvio?
Levantei para lavar as xícaras. Bruh olhou curiosa e antipática. Talvez eu tivesse problemas mesmo. Ficamos todos conversando mais algumas horas. Escurecia cedo na reserva, porém acredito que já estava bem tarde quando Charlie e Sue se recolheram. Billy já havia ido se deitar a algum tempo também. Quil e Bruh foram embora primeiro. Na hora que a garota iria se despedir de Jacob, ele e eu conversávamos sobre como eu estava me sentindo com toda a distância e falta de pronúncia de Embry durante toda noite. Embry se recolheu após Lia ter ido dormir. Bruh beijou o rosto de Jacob e ele não gostou nada daquilo.

  – Você precisa ter uma conversa com a sua irmã sobre educação e sobre quando um cara não está afim dela Quil.
 
Black foi um grosso em dizer aquilo, mas eu não posso julgar a situação, pois pela forma como Quil reagiu, e como os presentes entre nós riram, Jacob talvez estivesse certo. A menina não se despediu de mim. Então Emily se levantou. Paul e Sam também. Finalmente eu me levantei e Jacob repetiu meu gesto. Somente naquela hora eu pensei: onde eu dormiria? Qualquer coisa eu iria para o meu carro.

... – Emily começou a falar.
– Ela vai dormir lá em casa Emy. – Black se pronunciou. 

E disse de uma forma tão convincente que ninguém contestou. Eu poderia contestar, mas Embry dormia na casa de Emy. E talvez eu estivesse curiosa demais com a reação do Black, para discutir e contestar algo. E como eu pensava: eu ainda tinha meu bom carro para dormir. Todos saíram assim que Black falou, ficando nós dois ali na varanda de Sue silenciosos.

– Vem . – ele pegou minha mão me levando para a casa dele. 

Eu gelei com aquilo. Para quem havia trincado a barreira com um martelinho, na praia, de repente tudo havia desaparecido. O vidro havia se estilhaçado sem muito esforço. Quando entramos tentei fazer o mínimo de barulho, Billy dormia. Não avistei nenhuma cama feita na sala. Jacob entrou em seu quarto me dando passagem. Fiquei tão sem graça de entrar ali, pois me lembrei da forma como o abordei naquela manhã.

– Deixei suas coisas em cima da minha cama. Fui até sua casa buscar roupas para você. – ele colocou as mãos no bolso um pouco desconcertado.
– Obrigada... Então foi esse o seu passeio? – eu dizia sorrindo mexendo nas minhas coisas.
– Pois é... – ele sorriu e tirou a camiseta. – O banheiro é no fim do corredor. Fique a vontade... Eu vou estar na varanda... – ele disse saindo, encostou a porta e eu comecei a formar um sorriso frenético no meu rosto.

Não entendia porque, mas eu estava muito feliz como se finalmente eu fosse parte de tudo aquilo. Ali percebi, que a única coisa que impedia de sentir-me totalmente bem vinda era a barreira que Jacob impunha entre nós. Se até Lia estava me aceitando, Jacob também aceitaria. E ele conseguiu. Éramos amigos então e eu não podia estar mais feliz. Até poderia, se Embry estivesse como antes. De repente os papéis se inverteram. Lia aproximou e Embry distanciou-se. Nada é perfeito. Pensando naquilo eu desanimei um pouco. A chuva que caía lá fora tão mansinha, do nada desabou. Porque sempre que Black e eu estávamos próximos em alguma noite, a chuva caía em sua forma mais esplêndida de castigo?
Fui buscar alguma roupa para dormir e para meu espanto, Black trouxera uma camisola para mim. Seria de propósito? Lógico que seria! Pois se ele conseguiu trazer roupas para o dia da pescaria, poderia trazer algo mais decente com a situação! Eu peguei a minha camisola, roupas íntimas. E que horror, que vergonha! Jacob mexeu nas minhas roupas! Por isso ele foi para a varanda, pois sabia que eu ficaria envergonhada e furiosa. Mantive o controle e peguei a toalha. Ele pensou em tudo... Preparou uma mala com toalha, roupas para pescaria, roupas para o almoço após a pescaria, tênis, chinelo... Até absorvente ele trouxe. Eu não precisava, mas ele não sabia não é? Ele até que era bem preparado.
Confesso que nunca estivera tão atordoada em um curto espaço de tempo como naquele momento... Jacob... Ele... Bem, por isso, ele demorou. A única coisa na qual ele não pensou, foi nas roupas de cama. Trouxe até meu creme corporal. É eu estava assustada.
Tomei banho e fui em direção ao quarto. Pouco depois ele bateu na porta. 

– Entre.
– Com licença ... – ele não me olhava. – Precisa de alguma coisa? 
– Só irei precisar de roupas de cama. Você pensou em tudo, menos nisso. Pensou até demais eu diria. – eu sorri erguendo o pacote de absorventes. Jacob estava muito constrangido.
– Dê um desconto... Eu fiz um grande esforço. – ele disse sorrindo.
– Está de parabéns, trouxe inclusive meu creme corporal. – sorri.
– Hum... É... Escute, eu vou tomar um banho, você quer comer alguma coisa? Pode ficar a vontade.
– Tudo bem, obrigada. – eu disse e ele saiu. 

Peguei meu creme e comecei a passá-lo nas pernas. Jacob entrou de repente e quando viu o que eu fazia pediu inúmeras desculpas. 

– Esqueci a roupa. – ele disse.  

Passou rápido pelo quarto sem me olhar. Continuei o que eu fazia rindo do jeito como ele ficou. Ao contrário do que se pensa Jacob envergonhado não se encolhe, mas estufa o corpo tanto quanto quando está bravo ou sério. Saiu de cabeça erguida sem me olhar.
Fiquei analisando o quarto dele até ele voltar. Eu não sabia onde dormiria. Comecei a sentir muito frio, relâmpagos, trovões e raios castigavam o céu. A chuva era barulhenta ao ponto de minha respiração tornar-se inaudível. Nada de roupas de frio na mala, e eu nem as esperaria visto que ninguém ali era tão friorenta quanto eu. Sendo assim, Black nunca pensaria no frio. Chega ser engraçado. Ele pensou em coisas tão pequenas e no mais provável, ele não pensou... Embry pensaria. Talvez, se Black me conhecesse como Embry ele também percebesse, mas o quê exatamente Embry sabia sobre mim? Cheguei à conclusão de que Embry Call nada sabia a meu respeito. Se não fosse a nossa conversa sobre o corpo dele ser quente, ele não perceberia minha temperatura. Analisando melhor, Jacob sabia muito mais de mim somente pelo dia em que eu contei a minha história para a tribo. Um dos dias em que Embry não estava presente.
Quando Black entrou no quarto eu não ouvi por causa da chuva. Eu mexia nas pequenas miniaturas de madeira que ele esculpiu. Então senti uma borrifada no meu pescoço e virei assustada.

– Eu me esqueci do seu perfume...
– E quem disse que eu gosto do seu perfume?
– Ninguém disse, mas agora está borrifado. – ele aproximou de mim cheirando-me levemente. – E sinceramente... Está ótimo assim.

Black virou-se de volta ao seu guarda-roupa, secando os cabelos. Fiquei de frente para suas costas largas e perfeitas. Minha mente começava a beirar a insanidade e eu travei uma batalha interna comigo mesma. Mordi meus lábios e de olhos fechados, eu mentalizava "Não! Ele Não! Não pense em nada !". Quando abri os olhos, Black me encarava curioso.

– Tudo bem? – ele vinha se aproximando. 
– Sim. – eu tremia por frio e nervosismo. Então ele me tocou, e eu prendi a respiração.
– Está gelada. 
– Convenhamos... Está muito frio.
– Vá se deitar. Quer que eu te prepare um chá? 
– Não obrigada. Onde eu durmo?
– Na minha cama. – olhei-o inerte. E ficamos nos olhando assim por um instante. 
– Eu vou dormir no chão . – ele começou a rir.
– Tem certeza?
– Quer que eu durma com você? – perguntou de um jeito atrevido.
– Não, mas eu posso dormir no chão.
– Cala a boca. – ele fechou os olhos e abaixou a cabeça.  

Jacob jogou sua toalha em cima de uma cadeira. Foi até o armário, pegou um cobertor forrou um colchonete no chão e jogou uma almofada por cima. Depois trocou as fronhas de sua cama e preparou-a para eu me deitar.

  – Muito cavalheiro da sua parte.
– Vou pegar um cobertor para você. 
– Não precisa! Eu me cubro só com o lençol mesmo.
, você está gelada.
– Eu estou bem. Obrigada.
– Então tá... Eu não gosto de dormir com muita roupa, você se importa?
– Percebi pelas roupas que você me trouxe. – eu disse apontando minha camisola – Não me importo não, fique a vontade. 

Ele tirou a calça de moletom ficando apenas de boxer preta. Socorro! Ele continuou falando comigo, que por sinal desviava qualquer olhar para ele. Sem nem mesmo olhar eu me lembrava da cena que nos encontrávamos de manhã naquele quarto, então imagine se eu o olhasse.

– O que há de errado com a camisola que eu te trouxe? É a mesma do dia que eu dormi na sua casa. 

Então olhei para mim e só então percebi o fato. Realmente era ela. Ele gravou a camisola que usei naquele dia.

– E olha que havia algumas roupinhas bem provocantes por lá. Fui até educado. – ele disse me olhando e sorrindo sacana.
– Black! – fiquei desconcertada e então me deitei. Ele se aproximou.
– Eu sou um bom rapaz... Boa noite loba. – ele disse em meu ouvido e beijou meu rosto. Virei-me para ele sorrindo encantada, confesso.
– Boa noite Black. 

Beijei seu rosto e fui dormir. O observei se deitando no chão tão desconfortável. Sem nenhum cobertor. Nem precisaria afinal ele tem a pele mais quente de todos os quileutes. Eu havia notado isso, ou talvez, eu que estivesse quente. Demorei a pegar no sono. Fiquei olhando suas costas largas até que não me lembro de mais nada a não ser do meu despertar na manhã seguinte.


05 - Um novo Embry, um novo Jacob

Quando acordei Jacob não estava mais dormindo. Espreguicei e após escovar os dentes, retornei ao quarto. Mal entrei e Black surgiu com uma bandeja em mãos.

– Bom dia. – ele disse.
– Bom dia. – eu disse sorridente com a cena.
– Senta aí. 

Sentei na cama e ele se sentou na minha frente. Colocou a bandeja entre nós. Comecei a analisar a bandeja de madeira delicada, também esculpida à mão. Lindos os detalhes.

– Você gosta mesmo disso não é? – eu o perguntei tocando os detalhes do artesanato.
– Sim. E consigo ganhar dinheiro com isso também.
– É verdade...! O que você faz para trabalhar Black?
– Além de consertos mecânicos faço marcenaria. Os Carters vendem meus artesanatos no mercado e eu também os disponho em alguns outros pontos da cidade. Entretanto, os consertos mecânicos rendem mais, porque faço para as cidades dos arredores também. 
– E você não quer aceitar o meu dinheiro? Está vendo!
– Coma. – ele me serviu rindo, uma torrada com geleia, uma xícara de café e comeu junto comigo. – Você me deve dois favores por causa dos serviços com o carro.
– Tudo bem... Mas, eu quero pagar alguma coisa. Afinal você também ajudou com a reforma da minha casa.
– Vou te contar uma coisa: estou terminando de construir a minha oficina na estrada. Então como pagamento você me ajuda com a pintura e decoração. 
– Sério Jacob? Nossa, isso é incrível.
– Demorou um pouco, mas consegui com meu dinheiro suado e economizado.

Tive uma ideia então decidi não insistir com o dinheiro.

– Tudo bem, eu aceito.
– Ótimo!
– Alguém mais acordou?
– Não. Você madrugou.
– E você não? – nós rimos.
– Como está o café?
– Está ótimo.
– Jacob fez uma careta como se não acreditasse.
– Está brincando? Olha isso Black! – eu apontei para a bandeja cheia de comidas. – Você caprichou. Está lindo e... Fofo. – medi bem as palavras antes de dizer qualquer outra coisa.
– Fofo? – ele me encarou apelativo.
– Bem, eu não encontrei outra palavra apropriada.
– Eu entendi. Sei qual palavra você pensou. Eu também pensei nela. – ele piscou. 
– Sim, em outra situação eu até a usaria – nós rimos.
... – ele abaixou a cabeça com um jeito mais sério. – Como você está em relação ao Embry?
– Triste por não entender o que houve com ele. Ele se transformou em alguém que não reconheço... Fico lembrando o sorriso dele Jacob... O brilho do olhar... Ele perdeu tudo isso. No que ele se transformou? – algumas lágrimas fracas escorreram em meu rosto.

Jacob afastou a bandeja entre nós, se aproximou de mim e, meio sem jeito me abraçou.

– Desculpe por isso ... – ele apertava forte aquele abraço e eu estava quase me fundindo com ele.

E para minha surpresa era tão bom estar ali com aquele Jacob. Daquele modo.

– Você não tem que desculpar-se por nada. 
– Eu sei como é triste e doloroso ver alguém que você tanto gosta se transformando em algo diferente... Em algo que você não gosta.  

As palavras dele eram profundas e dolorosas. Jacob sabia exatamente do que estava falando e eu não tinha a certeza de que falávamos da mesma coisa.

– Você o ama? – ele disse ainda abraçado a mim. 

Diante àquela pergunta eu fiquei sem entender algumas coisas. Por que aquela pergunta? Por que logo o Jacob estava me perguntando aquilo? Eu sabia que não amava Embry, mas era tão difícil responder isso ao Black. Eu não entendia porque era difícil fazê-lo. E principalmente, que sensação estranha era aquela em ouví-lo perguntar isso para mim? Que receio era aquele de responder?
Afastei-me do abraço de Black e fiquei olhando em seus olhos de boca aberta.

– Não precisa responder... Desculpe.
– Não... Tudo bem. Eu quero que você saiba. 
– Tudo bem... – continuamos nos olhando silenciosos. – Eu não amo Embry como homem. Tenho um profundo carinho por ele como um amigo, companheiro... Nós não tivemos nada concreto a ponto de nos apaixonarmos, eu acho. Mas eu estava curtindo conhecê-lo e ficar com ele, mas Embry está tão distante... Ele se coloca tão além do meu alcance agora que eu não vejo mais nós dois como antes...  

Black me abraçou ainda mais forte e beijou a minha cabeça. Após aquele início de manhã tão agradável, Billy bateu na porta do quarto e Jacob e eu nos assustamos. Ele continuou abraçado comigo, porém se preocupou em jogar um lençol nas minhas costas. Não entendi nada.

– Entre. 
– Bom dia... Ah. Desculpe.
  – Tudo bem pai.
– Black revirou os olhos.  

Eu sorria da situação e continuava abraçada com Black assim como ele comigo. Acenei para o Billy, um pouco tímida. Afinal, o que ele pensaria?

– Vou preparar o café, se arrumem.
– Pai... – Jacob sorria observando o pai voltar – Eu já fiz tudo. 
– Ah, então desculpe... Não vou mais atrapalhar. Vocês fiquem à vontade.  

Foi inevitável rirmos assim que Billy saiu. Nos soltamos e novamente ele bateu à porta.
Imediatamente Black me abraçou de novo, me deixando ainda mais desentendida àquela situação.

– Ér... ... Ainda está de pé a pescaria? – Billy perguntou e Jacob fez uma careta zangada para ele. – Tá, desculpe... Tchau.

Ele fechou a porta e continuamos rindo. Então finalmente, ou infelizmente, nos soltamos.

– Porque fez isso?
– Meu pai sempre me deixa sem graça, é bom vê-lo sem graça também. Desculpe, mas tive que aproveitar, eu não tenho muitas chances assim.

Não tem muitas chances assim? Concluí que Jacob não é de muitos namoros, ou de namoros sérios em casa.

– Entendo, mas você vai desfazer o mal entendido... Imagina o que ele deve estar pensando agora. – dizendo isso arregalei os olhos e tampei o rosto me jogando de costas na cama. 

Black se levantou, me puxou fazendo eu ficar de pé em frente a ele.

– Ele deve estar pensando que nós nos amamos. Só isso. – me puxou para mais perto e me abraçando beijou meu ombro. – Vamos! Você tem um longo dia, lobinha.

Após um bom banho, roupas apropriadas e todos os aparatos de pescaria em mãos, Charlie, Billy, Erick e eu seguimos à praia. Pescamos em uma encosta um pouco afastada da reserva. Erick e eu não havíamos conversado, até porque ele teria de me esclarecer o beijo roubado.

Até que eu pesquei bastante. E isso me rendeu o título de "anzol de ouro". Eu ria divertida com tudo aquilo. Um pouco antes de irmos embora decidi parar a minha pesca. 

– Certo, eu vou dar uma parada e deixar um pouco de peixe para vocês, senão vocês irão passar um vexame quando voltarmos.
– Muito humilde da sua parte, querida. – disse Charlie brincalhão.

Eu fui andando pela encosta e no meio de algumas pedras onde as ondas arrebentavam avistei um tipo de alga diferente. Algas laranjadas presas às pedras. O lugar não era de muito fácil acesso, mas devagar conseguir chegar lá. Era perigoso, pois as ondas arrebentavam fortes ali, a maré estava baixa e eu não conhecendo o tempo de intervalos de altos e baixos dela, decidi ser rápida para não sofrer nenhum mal. Consegui com um pouco de dificuldade arrancar algumas amostras da alga pela raiz. Saí rapidamente dali e ao voltar para os pescadores eu depositei a planta em um recipiente com água do mar. A raiz da planta se mexia como se estivesse viva, então fazendo um teste joguei uma pedra dentro do recipiente, e quando as raízes a encontraram agarraram-se à ela. Não era uma planta marinha, era uma espécie de Rhodophyta. Uma planta animal. Voltei ao local onde as encontrei, e percebi que elas se nutriam do limo que ficavam nas pedras, raspei aquele limo e joguei no recipiente. 

Ao fim da manhã voltamos à reserva. Erick não iria ficar por lá, segundo Charlie, Erick pensava que seria uma pescaria somente com o delegado. Ou seja, ele martirizou em ficar próximo ao Billy, e o quileute também não gostou nada. Antes mesmo de chegarmos à reserva, Erick se desculpou comigo pelo ocorrido na farmácia alegando, que ainda nutria sentimentos por mim e agiu por impulso. Prometeu que aquilo não iria acontecer novamente e pediu desculpas pela forma como tem agido comigo. Uma trégua finalmente. Contudo, eu sabia que não acabaria ali. Estava fácil demais.

Charlie decidiu preparar o almoço na casa de Sue. Enquanto eu limpava os peixes e ajudava Sue com o almoço ele admirava nós duas. Sue revelou que Charlie via em mim, uma figura filial. Gostaria de se aproximar de mim como um pai. Deduzi que para ele sentir tanta falta desse tipo de relacionamento, Bella de fato o abandonara ou algo muito grave os afastara.

O almoço foi ótimo, tranquilo e todos ficaram sabendo do meu posto de "anzol de ouro" cujo Billy e Charlie fizeram questão de espalhar. Era sempre tão magnífico estar com os quileutes. Após o almoço sentei atrás do grande carvalho e fiquei pensando em como minha vida fora tediosa nas semanas em que me afastei deles. Decidi nunca mais fazer algo assim, por mais difícil que fosse. Até porque Jacob agora se tornara um amigo especial, e eu não me afastaria dele. Essa era a chance de conhecer o mesmo Jacob Black que foi relatado nos emails para mim há alguns anos atrás. Aquele ser tão adorável. Estranhamente eu não sentia essa possibilidade de conhecer a mesma pessoa, porém eu estava gostando daquele ser atual. Do meu tipo de Black e ainda que o tipo descrito por Bella soasse mais encantador, o meu Jacob, era da minha maneira muito mais incrível.

Então esse ser magnífico e misterioso, de pele avermelhada, olhos profundos, sorriso tímido, corpo tentador, toques pecaminosos, costas largas como um papel virgem em que eu desenharia as minhas melhores rasuras se aproximou sentando ao meu lado.

– Pensando em quê?
– Em como eu consegui ficar todo esse tempo longe da energia desse lugar... Entre outras coisas que você não precisa saber...
– Por quê? – ele olhou curioso e sorridente.
– Porque são coisas íntimas. – nessa hora Lia descia para a praia de La Push. 

Ela nos olhou sorrindo e abaixou a cabeça, depois lançou um olhar cúmplice para mim. Acenei de volta para ela com um sorriso.

– Porque ela te olhou desse jeito? 
– Não sei... Ela está sendo gentil.– Black olhou para mim em dúvida e rimos.
– Olha o que eu tenho para você. – Jacob disse me estendendo uma caixinha.

Ao abri-la, era uma escultura em miniatura, de um rádio feita em madeira. Tinha até uma anteninha de metal.

– Que coisa mais legal e fofa...
– Argh... Fofa... – ele ria. Sorrindo orgulhoso revelou: – E funciona tá?
– Jura? Mas como? É de madeira.
– Só por fora, eu instalei um pequeno esquema de som dentro, os botões funcionam e você escolhe as estações aqui. – girou um dos botões. – Mas não pega muito bem, porque a frequência é baixa. – nós rimos. 

Escolhi uma estação que tocava músicas brasileiras, das minhas favoritas. Comecei a cantar, mas Jacob não entendia nada, então eu fui recitando para ele. 

"Talvez não seja nessa vida ainda, mas você ainda vai ser a minha vida. Então a gente vai fugir para o mar, eu vou pedir pra namorar, você vai me dizer que vai pensar, mas no fim vai deixar. Talvez não seja nessa vida ainda, mas você ainda vai ser a minha vida. Sem ter mais mentiras pra viver, sem amor antigo pra esquecer, sem os teus amigos pra esconder. Pode crer que tudo vai dar certo..."



– É linda. –  ele disse.
– Sim, as canções brasileiras são lindas. 

Jacob ficou me olhando de uma forma tão diferente... Ele colocou a mão no meu rosto e continuou olhando em meus olhos. Tive a leve impressão de que estávamos muito perto, então Bruh Ateara apareceu chamando por ele. Sue observava de longe e ao ver que ela nos percebia, eu sorri sem graça.

– Fazendo o quê escondido aí Jacob? – disse a Bruh.
– Tentando passar despercebido por você. Não vai cumprimentar a ?

Ela simplesmente foi andando. Eu não conseguiria ficar muito tempo ali com aquela garota sendo chata e má educada. E ainda tinha que me preparar para o jantar à noite. Fui até Sue que balançava na rede em sua varanda me olhando desde o momento que a flagrei nos espiando.

– Sue...
. – ela sorria doce e amigável e aquilo me deixava ainda mais constrangida.
– Venha aqui, quero conversar com você.
– Claro. – "Droga", eu pensei.
– Billy me contou sobre você e Jake. E eu estou muito feliz, eu sabia que... 
– Sue! – interrompi – Jacob fez uma pegadinha com o pai dele...
– Como? 
– Estávamos apenas tomando café e conversando sobre minha situação com Embry. Black tem sido muito amigável. Eu me descontrolei um pouco e ele me abraçou, foi só. Mas quando o Billy bateu na porta ele quis deixar o pai constrangido e decidiu não me soltar. Uma brincadeira dos dois.
– Ah... Desculpe eu estava vendo vocês e pensei que finalmente...
– Não...– dando conta do que eu ouvira, perguntei: – Finalmente o quê Sue? 
– Nada. Bobagem... O que você queria me dizer?
– Eu vou embora. Ainda tenho o jantar de hoje e...Está na hora de ir.
– Não dê importância para a Bruh. Ela ainda é só uma garota com um amor platônico de adolescência. 
– Lia já me falou. 
– Fico tão feliz por Lia ter se dado bem com você... Olha , sei que tudo ainda está muito confuso. Sei que não é esse o Embry que você queria ver, ele tem passado por momentos difíceis e precisará da sua ajuda, mas não agora. Tudo vai se resolver. Nós estamos tentando ser... Sutis.
– Sue, falando assim você só me preocupa mais...
– Não se preocupe, concentre-se em seu jantar.
– Obrigada. – nos abraçamos carinhosas. 

Sue me recordava muito o modo como eu imaginava a minha mãe... Toda vez que minha tia falava sobre ela, era do jeito de Sue que eu moldava. Doce, sincera, amiga, enérgica, forte, e muito amorosa.

– Embry está lá dentro. Vá se despedir. Garanto que ele está sofrendo tanto quanto você. 
– Está certo. – eu sorri.

Fui até o quarto onde Embry estava e o encontrei sentado na janela observando a mata. Soava tão triste e não pude deixar de chorar quando o vi. O que fizeram com ele? Assim que me viu, Call veio até mim. Parou em minha frente, acariciou meu rosto e me deu um abraço forte.

– Desculpe! Eu vou te pedir desculpas por toda a eternidade... 
– Pare com isso Embry. Eu só quero entender o por quê... Assim eu vou saber como te ajudar, seja lá o que for.
– Não tem como ajudar ... Mas, eu quero que você se recorde sempre de tudo o que eu te disse. Quero que se recorde do Embry que você conheceu. Quero ver você feliz.
– Porque está falando assim? Eu não estou gostando do seu tom de voz... Embry...
– Eu não entendia nada antes, mas agora entendo tudo... , você não veio aqui à toa... Você é muito importante para todos nós. Você é a chave de tudo... E eu te amo tanto... – ele disse e me abraçou novamente.
– Embry... 
– Escuta... Eu quero, preciso e vou te proteger, mas por enquanto eu não posso ficar por perto. prometa para mim que você vai deixar a pessoa certa te amar?
– Porque está dizendo isso?
– Porque você não acredita no amor, .
– Não acredito no amor? O que você está dizendo?
– Se eu dissesse que te amo aqui e agora, assim como o Erick, o que você diria?
– Só acho que amor é uma palavra muito forte para pessoas que não se conhecem direito.
– É exatamente disso que estou falando... O amor, na maioria das vezes se manifesta imediatamente , pelo menos é assim conosco, quileutes... E você tem que deixá-lo se aproximar de você...
  – E como vou saber quem é a pessoa certa? O amor também fere Embry.
– Você saberá...
– Você está querendo dizer que... ? 
– Não te amo dessa forma . Mas a amo como alguém muito importante da qual eu deva cuidar.
– Eu também Embry. Então me deixe cuidar de você?
– No momento certo você poderá... Tenha calma e confie na intuição do seu coração. Você é forte garota, e muito especial.

Eu ainda não compreendia nada daquela conversa com Embry, mas não tinha mais a necessidade pela urgência das respostas. Ele falara tão sinceramente, ainda que enigmático... Eu confiava nele e sabia que deveria descobrir tudo na hora certa, seja lá o que fosse esse "tudo". As palavras dele sobre eu não acreditar no amor caíram, como um tapa de realidade. Será que eu me precipitei com os sentimentos de Erick e ele realmente me amasse? Será que eu não acredito no amor? Ou fujo dele?
O que acontecera com Embry afinal? Ele nunca mais seria o mesmo! Tive certeza quando ele pediu para nunca esquecer dele como o conheci. Depois de dar a ele, um abraço dos mais fortes que já dei em alguém, eu saí dali. As lágrimas vinham quase compulsivas e rapidamente entrei na casa de Billy. Graças aos céus passei despercebida por todos. 
No quarto de Jacob eu deixei todo aquele líquido ocular derramar-se por minha face quente e vermelha. De repente o medo encobriu meu corpo, minha alma e recordei dos noticiários que li sobre aquela cidade. Peguei minhas coisas, mas eu não conseguia sair dali. E nem deveria, não com aquela cara. Black abriu a porta agressivamente e me assustei largando a mala no chão. Ele me abraçou de forma desesperada e rápida. 

– O que aconteceu?
– Nada. Eu só fiquei emocionada. Eu tive uma conversa muito bonita com o Embry e... Jacob é tão complicado me conter apenas com as perguntas. Estou com medo do que irá acontecer, do que está acontecendo que eu desconheço... Estou me sentindo acuada... Sozinha...
– Você não está sozinha.
– Eu sei... Eu sei. É só uma sensação tola.

Enquanto estávamos abraçados pensei no que Sue quis dizer com "finalmente" ao falar de Jacob e eu. Eu me sentia um brinquedo nos braços dele por causa da diferença de tamanho entre nossos corpos. Eu começava a sentir um passarinhar no meu estômago toda vez que ele me abraçava daquele jeito e pressentia que aquilo não era boa coisa.

– Tenho que ir... Ainda vou a Seattle.
– Eu te levo.
  – Não precisa Black, como você vai voltar?
– Eu faço questão.
– Não. Fique aqui com seus amigos.
  – Agora que Bruh vai começar a frequentar mais nosso lado da reserva, eu quero mesmo é me distanciar.
– Por que ela vem para cá? 
– Coisas do Quil... – ele disse um pouco nervoso pigarreando.
– Ela te admira. Só isso.
– Não, ela imagina coisas. É diferente. – ficamos em silêncio. – Como você vai para Seattle?
– Steve vai me buscar, nós iremos com meu carro.
– Steve? – ele desconhecia o nome.
– Ele pega o turno da tarde na farmácia. – eu ri com a falta de atenção de Black.
– Ah! É... – ele sorriu sem graça. – Vocês estão juntos? 
– Black, que tipo de garota pensa que sou? Eu estava envolvida com Embry!
– Estava? – ele olhou surpreso.
– É... Estava. – ele ficou cabisbaixo. – Está tudo bem Black, tudo esclarecido.
– Então tá... Eu te acompanho até o galpão. 

Saímos e assim que eu me despedi de todos, inclusive de Bruh, a menina sem educação. Black e eu fomos para o galpão. A caçula Ateara não gostou nada de ver Jacob em minha companhia. Abracei Jacob fortemente uma última vez e agradeci por tudo o que ele fez. Beijei o rosto dele com aquele passarinhar estranho e novo que invadia o meu estômago sempre que nos aproximávamos. Ele segurou-me a nuca e beijou o meu rosto demoradamente. Em seguida cheirou meus cabelos levemente.

– O que está fazendo?
– As melhores lembranças guardam os cheiros.

Sorri envergonhada e entrei no carro partindo. No caminho eu olhava para meu chaveiro de cãezinhos e lembrava da reserva, de Embry e de Jacob. Não consegui compreender de início, mas recordei da história dos lobos e de como eles eram importantes para os quileutes. Então em um flashback recordei de Jacob dizendo "Não... Eu prefiro... Loba" quando ele escolhia um nome para me chamar.
Eu percebi a indireta... Jacob dizia que eu era importante para ele. Dizia? Ou simplesmente assimilou o nome com a minha personalidade? Não sei por que, eu preferia acreditar na primeira opção. 
Já em casa descansei e preparei-me para o jantar. Quando pronta aguardei Steve chegar.
Ele chegou no horário combinado, eu entreguei-lhe as chaves do carro e partimos para o jantar.
Assim que chegamos à casa de Hernando fomos muito bem recebidos por ele e seu irmão, Julian. Fomos apresentados às suas esposas. Embora achássemos que o jantar reuniria muitas pessoas, apenas estavam lá, as famílias de Julian, Hernando e nós. Os irmãos tinham lindíssimos filhos. Famílias lindas. Estranhamos a elegância do jantar tão particular, mas não poderíamos esperar menos de pessoas tão elegantes.
Nós conversamos sobre os negócios, sobre coisas corriqueiras, jantamos e os filhos deles muito bem educados, também interagiram conosco. Crianças muito simpáticas. Conhecemos a casa de Hernando e, Julian logo se apressou a marcar um jantar em sua casa para que também a conhecêssemos. No terraço da casa que era composto por um jardim sustentável lindíssimo, escutamos uivos de lobos. Uivos muito altos e desesperados.

– Há lobos por aqui também?
– Não, nunca. Até hoje. – disse Ashley, esposa de Hernando. As crianças brincavam dentro da casa. 
– Vieram no cheiro da . – brincou Hernando com o fato desses animais sempre me circundarem. 

Todos riram, mas estávamos assustados com aquilo. Eu principalmente.
Descemos novamente à casa e então os irmãos contaram uma novidade que mudaria minha vida. Eles se prontificaram a investir no meu laboratório com uma única condição: que eu continuasse fazendo parte da equipe deles nos estudos laboratoriais. Uma parceria. Como eles continuavam mexendo com a cosmetologia, eu iria estudar e desenvolver as fórmulas para eles de produtos cosméticos medicinais para pele. A patente seria minha. Era um bom negócio e eu topei. 
Estava radiante com toda a agradável noite, com o "presente" dos irmãos que sempre confiaram no meu trabalho, e com a entrega das papeladas da gerência da farmácia. Ficamos combinados de que assim que meu laboratório estivesse pronto, Steve pegaria turno integral. Eu ainda iria ajudá-lo nas manhãs, porém com menor frequência. Julian, disse para preparar o projeto arquitetônico do laboratório e contatar a construtora e assim que possível avisá-los. Eles estavam me apoiando muito!  Eu não bebi naquela noite nada além de uma taça de vinho, por cortesia, pois teríamos de voltar dirigindo, mas Steve esqueceu disso e tomou mais de duas taças de vinho. Não ficou bêbado, porém não poderia dirigir. No meio da noite, enquanto todos conversávamos agradavelmente na sala de estar, meu celular tocou e era Sue. 

– Sue o que houve?
– Diga aos Vincent que sua casa sofreu um início de incêndio já controlado. Charlie passava em frente e rapidamente evitou maiores estragos e agora precisa de você no flagrante para prestar depoimentos enquanto a perícia investiga.
– O quê? – eu não entendia nada e todos começavam a prestar atenção em mim.
– Seth e Quil estão indo buscá-la. Venha com eles imediatamente. Sem perguntas , é urgente! Encontre-os fora da casa.
– Certo, eu estou indo.
– O que aconteceu ? – perguntou Hernando.

Eu fiz tudo como Sue pediu e após me desculpar inúmeras vezes com os anfitriões consegui convencê-los de que eu poderia ir embora sozinha com meu carro. Também tive de convencer Steve a ficar para aproveitar o jantar. Julian prontificou-se a levá-lo se ele quisesse. Não dei tempo, para que Steve, não decidisse prontamente a vir comigo. Saí rapidamente. Embora tudo tenha sido muito veloz, todos pareciam ter engolido a história. Enquanto eu me direcionava ao meu carro avistei Quil vigilante. Seth parado na porta do motorista. Joguei a chave para ele.

– O que está acontecendo?
– Entre . – disse Quil fechando a porta do carona assim que entrei. – Eu distraio ele. Vai direto Seth!  

Quil desapareceu e eu estava assustada. Seth dirigia rapidamente sem falar nada apenas vigilante ao redor.

– O que está acontecendo Seth? 
– Embry. As coisas se complicaram, ao chegarmos você vai entender tudo. Ou não. 
– Para onde o Quil foi?
– Distrair Embry.
– Embry? Como assim? Que lobos são esses por aqui? O Vincent disse que não é comum! Ficamos todos assustados.
– É um lobo só, . E é o Embry.

O resto da sanidade que habitava em mim começou a entrar em crise. Propositalmente eu não assimilei as palavras de Seth. Ele me dizia que o lobo no qual eu falei era o próprio Embry? Que tipo de chá eles andaram bebendo aquela noite? Cannabis? Eu certamente estava desesperada internamente, por fora tentei transparecer uma falsa calma. Eu respirei fundo algumas vezes. Pisquei incrédula e extremamente confusa.
Olhei para Seth nervoso e concentrado. Seu pé afundava no acelerador. Previ uma morte que felizmente não ocorreu. O velocímetro encostava nervoso aos 200 km. Decolaríamos a qualquer instante. Embora fosse arriscado instigar diálogos com Seth diante a forma com a qual ele conduzia o automóvel, eu precisava falar. Precisava tentar entender o mínimo do que acontecia. Avistei uma placa na estrada, mas não consegui lê-la. A estrada também não compunha o caminho de volta à Forks.

– Para onde estamos indo? – perguntei.
– Silverdale. Lembra-se que Embry estava lá? É o lugar mais seguro para você por enquanto. 
– Seth... Estou com medo. 

Seth segurou minha mão e sorriu.

– Estaria assustado se você não estivesse... Faz parte do show gata. Você vai ver o grande espetáculo em que se meteu.

Quando Seth disse aquilo, um frio percorreu a minha espinha. Envolver-me com eles seria realmente motivo de preocupação e eu ponderava que Erick poderia estar correto. Ainda assim, eu não sentia medo de estar naquela situação. Eu sentia medo do que eu poderia descobrir e, de acabar não obtendo respostas que me satisfizessem. 
A estrada ia se tornando cada vez mais escura obrigando os faróis altos do meu Mustang a darem o melhor de si. Também se tornava estreita à medida que aprofundávamos nela. Eu estava absorta em meus pensamentos, que envolviam tudo o que eu havia passado desde que cheguei àquela cidade. Não me arrependi de nada, porque eu pressentia muitas emoções. Emoções maiores do que a frenética batalha de Seth com as curvas da estrada. Eu gosto de emoções, adrenalina e desafios. O problema é quando nos vemos imersos nisso tudo, às cegas. 
Seth era muito habilidoso com o volante. Apertei meu olhar nele e repuxei da minha recente memória as características de cada quileute. Todos eles são lindos, hábeis, ágeis, inteligentes, quentes, com físicos fortes e extremamente grandes.
Eu deveria ter procurado respostas sobre essas coincidências? 
Os olhos do jovem belíssimo de vinte anos que se encontrava concentrado ao meu lado, fitavam a estrada sem nem mesmo piscar, como uma hipnose. Chamei por ele em sussurros a fim de saber se ele realmente prestava atenção no que fazia, mas ele não me olhou. Seth previa as curvas antes de chegar nelas. Era assustador. Quando eu pensava que cairíamos desfiladeiro abaixo, ele surgia na curva. As pupilas dele estavam dilatadas e eu pensei ter visto suas córneas mudarem de cor.
Ah! E o desfiladeiro! Desde quando chegamos tão alto? Eu não tinha noção de tempo, espaço, de absolutamente nada. Decidi que o melhor era parar de pensar. Desligar meu cérebro e vigiar tudo o que estava acontecendo, inclusive o caminho onde seguíamos. Seth jogou o carro para dentro de uma estrada no meio da mata e começamos a subir floresta a dentro. Ainda estávamos em uma serra, mas o desfiladeiro desaparecera. Dirigia mais calmo como se estivesse em território seguro e próprio. A urgência de chegar a algum lugar de repente não existia. Engano meu, fora apenas uma impressão. Ele ainda tinha urgência.

– Temos que chegar rápido, mas posso desacelerar um pouco. – olhou nos meus olhos e sorriu.
– Estou preocupada com o Quil...
– Ele está bem! – disse sorrindo como se soubesse daquilo piamente. – Logo se unirá a nós. Não se preocupe.
– Seth, por favor... O que está acontecendo? 
– Já estamos quase chegando , mantenha a calma. Você está bem?
– Assustada... Chegando onde?
– Na reserva Whitonn. 
– Outra tribo?
– Sim. – ele sorria amigável. – Já não deve estar gostando tanto de tantos índios de uma vez só, não é? – ele tentou ser bem humorado, mas senti uma pontada de tristeza na voz dele. 

Seth imaginava que tudo aquilo me espantaria deles, atitude que demonstrava que, definitivamente ele não me conhecia.

– Eu nunca me cansarei de vocês. Até porque vocês me fazem querer estar cada vez mais inteirada no meio, mesmo com essas fugas, mistérios e prováveis perigos. 
– Minha mãe estava certa. – ele olhou admirado e sorridente para mim – Você é mesmo, uma de nós.

Sorri para ele contente em ouvir aquilo. Tudo o que eu queria era ser considerada por eles. E aquela fuga demonstrava isso. 
Vi de relance, uma fumaça escura e azul subindo ao alto das árvores. Seth disse que estávamos chegando. Passamos por algumas árvores grandes de troncos espessos e alguns homens nos aguardavam, Seth abaixou o vidro e mostrou-lhes o braço com o símbolo do clã quileute. Os homens foram andando em frente e nós continuamos devagar com o carro. Adentramos uma tribo parecidíssima com a reserva quileute. A mesma distribuição de cabanas. As pessoas eram parecidas com eles, porém tinham pinturas por todo o corpo seminu. Não avistei nenhuma mulher, apenas homens.
Seth deixou meu carro escondido, com outro que reconheci como sendo o rabbit de Jacob e duas motocicletas. Uma era de Lia, a outra a que Black havia mostrado guardada no galpão. Ele nunca tocara nessa, e pretendia dá-la ao Seth se conseguisse convencer Sue disso. Ao que me deu entender, ele convenceu.     
Depois que desceu do carro, Seth abriu a porta para mim, abraçado me acompanhou até o centro de um círculo onde os índios se encontravam sentados proclamando frases em um idioma desconhecido. O mais velho deles, gritava entre frases e outras, algumas palavras ainda mais ininteligíveis e jogava um pó escuro na imensa fogueira do centro fazendo subir aquela fumaça azul escura. Restringi-me a apenas observar. O homem que supus ser o líder daquele povo aproximou de Seth e eu. 

          "Aiwaiko tundara yêshumute."


Ele disse algo parecido com isso.
Seth apenas acenou afirmativo. O homem passou os dedos com tinta negra na testa de Seth formando algo parecido com o Sol. Após isso nós dois saímos do centro do círculo.

– Você deve ficar na cabana junto com as mulheres. Eu não posso entrar lá. Lia já vem.
– Como sabe que ela vem? – Lia surgiu atrás de mim.
– Olá . Venha comigo. – Lia abraçou o irmão e me puxou pela mão até a cabana onde estavam Emy, Sue, Bruh e outras mulheres não quileutes.
– Você não deve estar entendendo nada não é? – perguntou Emily enquanto me dava um abraço vendo meu espanto.
– Vamos prepará-la. – disse Sue sorrindo e me levando para um quarto.

Dentro dele, ficamos apenas as quileutes e uma única senhora mais velha da outra tribo. Ela pronunciou coisas em outra língua olhando em meus olhos. Depois conversou em tom baixo e separada com Sue falava nossa língua. Pude perceber. A mulher voltou a mim e com a mesma tinta que o homem pintou a testa de Seth, ela pintou meu corpo.
Pintou meu rosto com uma linha vertical pontilhada que seguia da testa ao queixo. Fez outra linha pontilhada horizontal na minha testa. No meu colo, passou os dedos com tinta de outra cor fazendo rajados que desciam a partir de meus ombros. Ao acabar, sorriu simpática e saiu.  A pintura do meu corpo era tão bela quanto tantas outras que vi naquele povo diferente, porém a minha consistia um desenho único. Eu diria que próprio para a ocasião. Sue, Emy, Bruh, Lia e eu, ficamos dentro daquele quarto. 

– Vou pegar um chá para você. – Lia levantou-se sorrindo.

Bruh olhava desprezível para mim, em um canto afastado do quarto. Sentou-se na janela. Emy e Sue seguraram minhas mãos e disseram então que era hora de eu descobrir o inevitável. A história verdadeira das Tradições Quileutes.


06 - Acredite se puder

– História verdadeira? Tudo o que Jacob contou era falso?
– Nem tudo. 
– Nós temos mesmo uma proximidade com lobos, . Mas está muito além do que você possa imaginar. 
– Nós somos os lobos . – disse Emy concluindo a fala de Sue.
– Espera... Por isso que Seth disse que Embry era o lobo, quero dizer... Ele se transformou mesmo em um lobo?

Apesar de soar muita loucura, e ainda mais louco o fato de eu estar acreditando naquilo tudo, eu não poderia me render à razão. Eu sentia que vivia tudo aquilo e segui as minhas emoções. 

– Há muito tempo nos primórdios de nosso povo, um líder quileute se transformou em lobo para defender sua tribo. Ele teve filhos e assim perpetuou-se o segredo. Não são todos que tem o dom de se transformar. Emily e eu, por exemplo, não nos transformamos. Sam é o líder temporário da nossa matilha. Ele foi o primeiro da nova geração quileute a se transformar. Contudo, Jacob é por herança o líder. Ele é neto de Efraim Black. O primeiro líder. Billy também foi líder e assim segue-se sucessivamente. 
– Mas... Jacob não estava preparado e era muito novo. Então Sam assumiu o posto por ser o primeiro e ter como preparar o restante da matilha que surgiria. – Emy concluiu.
– Mas porque Billy não continuou?
– Em uma luta Billy acabou ferido seriamente. 
– Entendi... A cadeira de rodas. Então Sam assumiu para ele...
– Exatamente. Os garotos só afloram seus dons a partir dos quinze anos. Os últimos foram Embry, depois Jacob, Quil e por último Seth. A mais recente na matilha é a Bruh. – Sue disse olhando a garota que nos dava as costas.
– Você está bem ? Está tão quieta ouvindo essas coisas todas... – Emily disse preocupada.
– Estou. Continue Sue, por favor.
– Os meninos foram treinados por Sam desde então. Aprenderam a controlar seus extintos, conhecer uns aos outros e... A defender a tribo de outros perigos. 
– Que outros perigos?
– Existem muitos mistérios dos quais, você vai conhecer . Por enquanto, você deve apenas saber o essencial sobre nós. – Emy confortou-me meiga afim de que eu me acalmasse e aceitasse apenas o que escutava naquele momento.
– No início é muito difícil. A primeira transformação é dolorosa e eles devem ser isolados. A maioria não aceita o fardo. Foi assim principalmente com Jacob, que descobriu que o seu era muito maior. Eles conseguem transformar-se a qualquer hora, mas precisam controlar a raiva, pois dependendo da tensão em seu corpo o extinto fala mais alto. Hoje eles já estão mais íntimos com seus próprios dons. 
– Contudo Bruh... – Emily disse em tom mais baixo olhando-a. – É tudo muito novo para ela ainda.
– Sue... Então os lobos na minha casa...
– Eram os meninos te protegendo.

Aquilo foi como uma faca dentro do meu peito. Eu os desprezara na reserva por não me contarem nada do que acontecia com Embry e, no entanto, eles me defendiam o tempo todo... Jacob... Por isso ele dormia tão mal! Mas aquela noite na porta da minha casa... Se aquilo era um lobo porque eles brigaram? Era muita informação!

– Sue... Espera... – respirei fundo.
– Sei que é muita coisa e você não terá a resposta para tudo agora.
– Mas do que eles defendiam-me?
– Chegamos ao ponto crucial. – Emily disse tentando parecer humorada.
... Tudo isso tem ocorrido porque algo inesperado surgiu. Até pouco tempo os garotos podiam controlar suas transformações, mas... Recentemente, Embry se tornou algo mais perigoso e incontrolável. Quando aconteceu o trouxemos para cá, pois os Whitonn têm conhecimentos vastos sobre isso. Tivemos que isolar Embry, por isso não teve notícias dele. Nós sabemos muito pouco dessa nova transformação e temos tido contato direto com esta tribo para poder conhecer da mesma sabedoria que eles têm sobre o assunto. 

Eu estava assustada e Lia surgiu com o chá. A filha mais velha perguntou a Sue se preferia que ela continuasse me contando para a mãe descansar, mas Sue permaneceu firme. Emily ponderou se não fosse melhor dar um tempo para a minha cabeça. Eu nada pronunciava. Bebia o chá na busca de que ele fosse um entorpecente para o meu desespero interno.

– Ela deve saber de tudo logo! – disse Bruh raivosa.

Emily a chamou para fora do quarto a fim de que ela se acalmasse e eu ficasse mais confotável com Sue e Lia. Após as duas terem saído continuamos.

– Como você está reagindo? – perguntou Lia.
– Eu não sei. Sinceramente. Tudo treme por dentro, mas... Sinto-me apenas anestesiada. 
– Devo continuar? – perguntou Sue.
– É óbvio! – elas entreolharam-se em dúvida quando exclamei.
, naquela noite em que os meninos saíram para acalmar os lobos e Jacob te levou para casa... Bem, os lobos na nossa reserva não eram da nossa tribo. Eram daqui e levavam notícias de novas feras, muito piores em poder de destruição. Na sua casa... Jacob disse-nos que viu um vulto.
– Sim! Ele insistiu que era um lobo, mas eu vi que não era! Andava como uma pessoa e agora sabendo disso, sei que ele lutou com aquilo! 
– Não era uma pessoa apenas, era uma mistura de lobo e homem.
– Espera... Um lobisomem? Mas, isso não existe Sue. – Lia riu da minha afirmação.
– Você é engraçada! Acredita que nos transformamos em animais, mas lobisomens não existem? – perguntou Lia divertida, e daí eu percebi que a minha insanidade era muito séria. – Luna... Respire e apenas ouça tudo bem? Vai ser melhor assim. – Lia pediu.
– Naquela noite, um lobisomem de uma tribo antiga e agora extinta veio para as proximidades de Forks. O chefe dos Whitonn surgiu na nossa reserva contando-nos que há poucas semanas um homem apareceu lhes pedindo abrigo, pois toda sua gente havia sido dizimada. Ele era um lobisomem, como alguns da tribo onde estamos. 
– Há lobisomens aqui? – eu me assustei.
– Sim, o velho índio foi um e o chefe também. Eles não se transformam mais por causa do veneno que tomam, a vida deles teve de ser sacrificada para que isso que eles considerem "um mal", não continue. Eles não devem ter muito tempo e nem tiveram filhos. Se empenharam a descobrir mais coisas e com o passar dos anos, Billy e eu tivemos muitas informações dadas por eles. Eles sabiam sobre nós e vigiavam-nos por pensarem que seríamos da mesma espécie. Billy e eu nunca acreditamos nisso, pois já nos transformávamos há sete gerações. Esse homem que lhes pediu abrigo transformou-se e fugiu para caçar. Essa era a noite que você estava conosco. Os Whitonn acreditam que a única forma de acabar com isso, é matando a fera, e assim fizeram com aquele último índio lobisomem da antiga tribo desconhecida. Ainda naquela noite, Embry se transformou também. Foi um choque para todos nós, nunca esperaríamos que acontecesse com um de nós. Entretanto, os meninos correspondem à sétima geração e pelo o que sabemos agora, os homens lobos só se transformam na sua real figura, à sétima geração. – Sue chorava.
– Então todos estão condenados a...
– Sim ... O que nos espantou é que por ordem, Sam deveria ser o primeiro, mas fazendo as contas somente a partir de Embry que de fato houveram as sétimas transformações. Sam e Lia, estão fora. 
– Mãe, antes de continuar... Ela deve saber mais de nossos dons.
– Tem mais? – eu dizia assustada.
– Tem. Nós podemos ouvir os pensamentos uns dos outros. Por isso temos essa ligação tão forte e somos como irmãos. A matilha defende um ao outro com a própria vida. Somos habilidosos, temos excelente visão, escutamos uns aos outros a distâncias longas e... – interrompi Lia.
– Isso explica um bocado. Como a leve mudança de cor, nos olhos de Seth agora a pouco e puxa...
– Pois é. O chefe Kwyto disse que um lobisomem pode ou não guardar suas memórias enquanto está transformado. Embry é um dos que podem. E segundo o chefe isso nunca aconteceu com nenhuma fera que ele tenha conhecido, nem mesmo com ele. E aí está mais uma dificuldade que enfrentamos. Pois, até onde um lobisomem é controlado se sua memória estiver preservada? Um lobisomem é capaz de matar em alto grau. Embry guardou você na memória dele e por isso temos protegido-a dele. Na primeira noite, na porta de sua casa, era o Embry que Jacob tentou impedir de avançar e não o outro lobisomem desconhecido. Ele sente seu cheiro a distâncias e vai atrás de você, como fez hoje. Ele não quer matá-la, mas a proximidade de um lobisomem com alguém ainda que ele nutra boas memórias é perigosíssimo. 
– Começo a entender melhor...
– A estadia dele por essa tribo foi de muita ajuda. 
– Ah claro, isso porque impedimos que ele morresse! – resmungou Lia. 

Olhei ainda mais assustada, se é que era possível, para Sue.

– Lia veio com Sam trazê-lo para cá. Não deixaram que nenhum de nós ficasse aqui, mas Lia se escondeu e como Sam não concordava em deixá-lo sozinho, ele deixou-a aqui. No meio da noite ela percebeu que iriam matar Embry e os impediu. Eles acham que somos demônios e não há outra forma de cura a não ser matando o lobisomem. Mas, nós acreditamos que podemos controlar isso! E Embry tem se empenhado muito nisso!
– O que eles estavam fazendo lá fora Sue, quando eu cheguei e o porquê destas pinturas? 
– Eles estão fazendo o ritual da grande Lua. Acreditam que essa fumaça e com as rezas que fazem, o Deus da Lua irá enganar o lobo-homem escondendo a lua. 
– A lua os transforma?
– Sim. Por isso é tão complicado controlar.
– E no que consiste a pintura que fizeram em Seth e em mim?
– A pintura de Seth é uma defesa espiritual para o provável lobisomem que há nele. Pintaram um Sol. O contrário da lua. E a sua pintura é uma defesa para o lobo que há dentro de Embry. Ainda que ele se lembre de você, ao se aproximar é como se você fosse um espírito ruim para ele. Ele se afastaria.
– E eu acho isso tudo uma bobagem. – Lia sussurrou para mim. – Se isso funcionasse, o chefe e o velho Whitonn não teriam que sacrificar suas vidas com o tal veneno.
– Que veneno é esse Sue?
– Eu ainda não sei. Eles não contam. Só sei que é uma mistura de várias ervas que eles injetam diretamente na veia. 
– Há quanto tempo fazem isso?
– Desde que o chefe se transformou aos seus quinze anos. O velho índio foi o primeiro, mas tanto ele quanto a tribo, nada sabiam a respeito. O velho se isolava toda a vez que chegava a temporada da grande Lua. Ele serviu de estudo para a tribo, tem cortes por todo o corpo e só não o mataram, por medo de acontecer com outro deles. Eles achavam que era um castigo dos Deuses e tiveram medo de matá-lo. Como eu te disse essa transformação só acontece de novo na sétima geração. Foi quando aconteceu com o chefe, filho do cacique da sétima geração. Nessa época, depois do velho ter sido objeto de estudos, eles já haviam descoberto esse veneno que isola as células mutativas deles aumentando o número de anticorpos que as combatem e destroem. É uma morte lenta. O chefe apenas se transformou uma vez, e não foi em lobisomem, foi em lobo, mas ainda assim o veneno não o impediu de aos vinte três anos virar a fera. Daí eles perceberam que aplicar o veneno uma só vez, ainda na juventude do lobo, não bastava e passaram a drogar-se sempre.
– Mas se o velho índio foi o primeiro e único, porque o filho do cacique herdou a genética? Eles têm alguma ligação?
– Qualquer um deles pode se transformar, mesmo que os pais não se transformem. Assim como nós. Paul, por exemplo, não é filho de lobos, mas transforma-se em um. Está no sangue , não no gene.
– O que aquela índia te disse Sue? Digo, antes de vir me pintar.
– Ela... Acha que há algo dentro de você que guarda o espírito de um lobo... Mas não acredite nisso, querida.
– Seth disse que você pensa o mesmo.
– Não... Eu disse que você é parecida com nós, uma guerreira como nós.
– A minha pintura também consiste em me defender do meu suposto espírito lobo? 
– Sim... Mas não se ligue a isso Luna. Se você tivesse um espírito lobo nós já saberíamos.
– É! Que loucura! Eu não sei o que dizer...
– Fico abismada de você acreditar em nós. – disse Lia.
– Vocês se esquecem de que eu sou indígena também... Eu já ouvi sobre muitos mistérios dos meus antepassados Coxiponés.

Sue olhou-me curiosa. Até demais.

– Numa outra ocasião... Eu adoraria saber também. –  ela disse.
– Claro! Onde está o Quil? 
– Ele acabou de chegar! – disse Bruh entrando novamente ao quarto e com o semblante mais satisfeito. 
– Ele precisava distrair Embry até amanhecer. – Emily falou assim que Bruh saiu porta a fora.

Olhei pela janela e o dia amanhecia. Ficamos a noite toda ali e eu nem percebera. Tive de continuar dentro do quarto até que alguém dissesse que eu poderia sair. Jacob entrou.

? – olhei para trás ainda sentada na cama e sorri. Ele veio até mim e agachando na minha frente sorriu. Estava cansado.
– Black! – abracei-o forte. 

Eu nunca tinha abraçado Black daquele jeito, mas era tão forte a minha felicidade em vê-lo bem e tão grande meu medo que, o alto desespero interior que eu estava escondendo se transpareceu.

– Acabou... Acabou ... Foi a última noite confusa de Embry. – ele afagava meus cabelos enquanto minhas lágrimas jorravam em seus grandes ombros.
– Como ele está? Onde você esteve?
– Ele está bem, cansado e um pouco machucado... Eu tive de caprichar em algumas mordidas... – Jacob riu sem graça. 
– Vocês tiveram que brigar?
– Somente lá em Seattle quando Quil e Seth foram te pegar, eu tive que dar cobertura e Embry estava bem disposto...
– Como foi? 
– Esquece isso... Como você está?
– Acho que bem...
– Ainda acha que somos uma boa companhia depois dessa noite?
– Agora mesmo é que eu não largo mais vocês. Eu sou uma de vocês agora... Não sou?
– É sim... Esse é o preço por se envolver demais conosco... Nunca dá para esconder por muito tempo quando se aproximam demais. – nós rimos nos olhando profundamente. – Gostei da maquiagem! – ele disse zombando da minha pintura e eu bati em seu ombro. – Ei! É sério! É linda... A pintura...

Jacob se levantou estendendo a mão para me levantar também. Assim que estávamos de frente um com o outro ele me abraçou novamente, eu repeti o gesto com a mesma força, mas ele gemeu de dor. As costelas dele estavam machucadas. Olhei-o e ele fez que "não" com a cabeça. Insisti e mal humorado Black, ergueu sua camisa possibilitando-me ver o ferimento. Uma imensa marca de mordida. Dentes cravados em sua pele linda na altura de suas costelas. Não sangrava mais.

– Você... Você tem que tratar esse ferimento Black! – o adverti alteradamente nervosa.
– Eu sei, eu sei! Está tudo bem, não foi nada grave... Eu só queria te ver primeiro. Lobinha. – ele olhou-me tenro passando uma das mechas do meu cabelo para trás da minha orelha. – Vamos?

Seguimos até fora da cabana e a tribo estava tranquila.
Me ver primeiro? Jacob pensava em mim antes até de seu machucado?
Apesar da dor que aquela mordida monstruosa poderia estar proporcionando a ele?
Então, mais uma vez ele demonstrou que eu era importante. O apelido "loba" que eu duvidava se era uma indireta foi desvendado. Eu era importante. Não sei em qual grau, nem em que intensidade, mas isso já não interessava.
Chegando ao pátio, a grande fogueira já estava apagada, os índios que participavam do ritual dirigiam-se às suas cabanas. As mulheres começavam a sair dos seus esconderijos e retomar suas rotinas. As crianças acordavam saindo para brincar. Billy e Sue conversavam com os precurssores da sabedoria daquele povo a cerca dos lobos-homens. Seth veio até mim abraçando-me e elogiando minha pintura assim como Black fez.

– Quer vê-lo? – Seth me perguntou.
– Eu posso? 
– Vamos, ele está arrasado por você... 

Entramos em uma cabana maior onde estavam: o Quil cuidando de alguns ferimentos, abraçado à sua irmã, Paul tomava uma sopa conversando com Emily e Sam, e finalmente Lia fazendo os curativos em Embry, que se mantinha cabisbaixo ainda deitado em uma maca improvisada. Jacob estava ao meu lado. Beijou minha testa e tirando a camisa sentou-se em outra maca onde Bruh rapidamente foi até ele tentar cuidar de seus ferimentos. Eles discutiam. Seth abraçou-me ainda mais forte e fomos até Embry.

– Você é incrível. – Seth sussurrou para mim sorrindo, antes de chegarmos até ele.
– Não... Vocês é que são. – eu disse e Lia se virou para mim.
. – ela falou sorrindo e Embry desviou sua atenção para nós. Ele tinha os olhos marejados a me olhar. – Vê Embry? Ela está bem! – Lia disse tentando confortá-lo.
– Não por minha causa.   

Olhei para os irmãos Clearwater e eles nos deram licença para conversar.

– Eu fiquei muito preocupada com você... Como você está?
– Você é muito gentil... Mas deveria se preocupar em estar perto de mim.
– Eu nunca irei me afastar de nenhum de vocês... Eu sou uma de vocês! Assim como Emily... 
– Se não fosse por Jacob, Quil e Seth... Você não estaria aqui.
– Não! Não! Pelo o que eu sei ninguém sabe o que você teria feito comigo... Você me guarda em suas boas memórias e isso não significa que você me faria mal.
– Quando se é um monstro de mais de dois metros o mal sempre acontece, mesmo que não seja intencional.
– Embry... Para de falar assim tá? Eu te amo. E nada vai me afastar de você. A não ser que você não queira mais ser meu amigo.
– Não é questão de querer... Eu não posso mais ser.
– Essa noite depois de descobrir tudo, eu juntei algumas peças soltas e... Emily... A cicatriz dela, não foi um urso não é? Foi o Sam.
– Sim.
– Eles se casaram e estão juntos apesar disso.
– Mas você não sabe dos sentimentos dele.
– Sem dúvidas ele tem medo! Fica vigiando para que não a faça nenhum mal, mas o amor dos dois é muito maior...
– Ela é o imprinting dele, . É muito diferente.
– Imprinting? 
– Não te contaram?
– São muitas coisas a se saber.
– Imprinting é algo como... O grande amor da vida de um lobo. Nenhum outro lobo pode fazer mal a pessoa de um imprinting, porque é como atingir o próprio lobo. Sam vive por Emily, não mais por ele. 
– Todos os lobos têm isso?
– Em algum momento de nossas vidas acontece, nunca é igual e não tem um tempo definido. Acontece de repente. Lembra que eu te disse que o amor acontece de imediato pelo menos para nós quileutes? E você não é meu imprinting , o que significa que eu não sei até onde eu posso me segurar... Nem mesmo Sam conseguiu em determinada vez... – ele disse e nós olhamos para Sam e Emily. 

Sam nos olhava como se soubesse do que falávamos. Talvez soubesse.

– Você também me disse recentemente: "Quero que se recorde do Embry que você conheceu... Quero ver você feliz.". Recorda-se?
– Sim, e quero mesmo que você seja feliz. Eu não sou mais o Embry Call que você conheceu na praia...
– Para mim, sempre será.
– Eu tenho medo do que eu possa te fazer ...
– Eu também. Não vou mentir! Mas eu acredito muito no seu coração, nos seus sentimentos e sei que você é muito mais forte do que tudo isso. Você sempre soube controlar seus extintos não é? Então ainda que essa tribo Whintonn diga o contrário, não é porque você se tornou um lobo maior e mais poderoso – nós rimos com os meus elogios – que signifique que você não se conheça.

Embry abraçou-me e percebi que ele precisava ouvir aquilo de mim, não era a transformação dele que o assustava ou que o revoltava, mas sim as pessoas quem ele teria que se afastar e as limitações novas que teria de impor. Mas agora ele sabia, assim como eu e todos os quileutes pensávamos, que poderia ser apenas uma questão de tempo para ele ter novamente o controle em suas mãos.

– Embry... Você também me disse que não entendia nada antes, mas que agora entende tudo, que eu não vim para a vida de vocês à toa. Que eu sou a chave de tudo... O que você quis dizer?
– Esses tempos na reserva Whitonn me ajudaram bastante. Ajudaram a ver que você tem um papel fundamental entre nós. , eu não teria me transformado se não fosse você.
– Claro que teria... Sue me explicou.
– Sim, o que eu quero dizer é que eu não teria me transformado por agora. É algo ligado às sensações, à energia que você trouxe...
– Então eu sou culpada?
– Não! Nada a ver! Você entendeu mal... É complicado. Como muitas coisas que estão para vir. Você descobrirá aos poucos. É algo da sua alma. E não se esqueça! Eu também disse que eu quero, preciso e vou te proteger. Sempre. – nos abraçamos sobre os olhares de Jacob, ele parecia feliz por nós.
– Agora entendo a primeira piada que você fez quando eu te conheci...
– Não me lembro...
– "Sou um excelente cão de guarda!".
Dito aquilo caímos na gargalhada. Sam, Paul, Lia e Black também. Obviamente eles escutavam toda a nossa conversa. Bruh era a única que não esboçava nenhuma reação, a não ser olhar para Jacob nos encarando, e tentar atrair a atenção dele de volta para ela.
Voltamos para a reserva naquele dia, com exceção de Embry que precisou ficar. Lia ficou com ele, ela ainda não confiava em deixá-lo lá, sozinho. Depois de semanas, Embry estava mais confiante com ele mesmo e as esperanças de todos nós sobre o autocontrole dele ficavam cada vez maiores. Os meninos treinavam com ele e o treinamento também era útil para toda a matilha. Afinal, todos estavam predestinados àquilo.  
Depois da minha descoberta algumas coisas começaram a ser esclarecidas. Como o dia em que Jacob me levava para casa, o exato dia do lobisomem solto na mata; Charlie parou a viatura no caminho para falar com Black. Não sabia o que eles conversaram, mas perguntei um pouco depois para Black. Assim como, Charlie, sempre soubera dos lobos, afinal ele é noivo de Sue. Será que sabia mesmo? Seria por isso que ele não tomava atitudes deixando Erick cada vez mais intrigado com os quileutes? E se Erick descobrisse?
Decidida a falar sobre esses assuntos parti até a reserva. Era mais ou menos meio-dia e eu nem mesmo havia almoçado. Saí direto da farmácia para minha casa. Tomei um banho e como o dia estava mais abafado vesti uma camiseta e um casaco fino por cima.
O sol não queimava por Forks. O Sol fugia de Forks. Ele teria medo? Se o ritual Whitonn estivesse certo, o Sol contrário à Lua defenderia o homem do lobo e... Vendo a falta de Sol em Forks cheguei à conclusão do porque havia lobisomens por lá. Muitos.
Eu pensava essas sandices no meu Mustang a caminho de La Push.
Engraçado... Sandice... O que é sandice para mim?
Eu já descobri o improvável e sinto que descobrirei coisas tão maiores que nem conseguirei mais me assustar.
Quando adentrei à reserva ela estava vazia. Fui até o galpão de Jacob e lá o encontrei. Sem camisa, bermuda rasgada, e descalço. Sujo de graxa. Mexia em uma moto. Bati levemente na imensa porta surtindo um inútil som oco que ele obviamente não ouviria. 

– Black? – eu chamei já entrando e ele virou para mim abrindo um sorriso e limpando as mãos.

Black aprendera novamente a sorrir já fazia algum tempo. Mas ainda não era o sorriso descrito por Bella. Não era o sorriso que eu esperava e imaginava ser digno dele. Mas era um sorriso que só quando ele me avistava, ele esboçava. 

! – ele parou o que estava fazendo vindo até mim e eu fui abraçá-lo.
– Não! Eu estou todo sujo! 
– Não me prive disso, por favor. – eu disse encarando-o decisiva e o abracei em cumprimento. 

Quando nos soltamos do breve abraço, ele fez um dos seus gestos que era o meu favorito.
Olhou para baixo rindo e bufando pelo nariz, depois olhou para o lado direito como se pensasse em algo que, pensava se falaria ou não, e seguidamente olhou-me fixamente gesticulando com os lábios um tímido formar de palavras ou sussurros.
Ele faz isso constantemente e é uma das imagens que passa em minha mente, principalmente quando eu estou só. Passa sempre e automaticamente, algo incontrolável por mim. É como um vídeo caseiro que meu cérebro recua, adianta, para, reinicia e quando eu fecho os olhos... Eu consigo ver cada milímetro de Jacob nessa cena. Então, as palavras gesticuladas em mímica ganharam voz:

– Por que ?
– Por quê? Por que o que?
– Por que não quer que eu te prive de me abraçar?

E o que falar se eu não conhecia respostas?

– Por que... Não sei Black, mas... Faz bem para mim. Eu gosto. Acho que depois de tanto tempo sem um olhar sincero teu... Agora que somos amigos qualquer toque é um troféu.

E os olhos dele arregalaram discretos. Fingiu bem. 

– Entendo... Veio nos visitar?
– Também.
– Também?
– Tenho alguns assuntos pendentes dentro de mim e que precisam ser desabafados... Mas antes... Essa moto é aquela que eu vi na reserva Whitonn?
– É! Ela mesma! Não está linda?
– Você faz um trabalho realmente magnífico! Ela parece tão mais nova...
– Não era para tê-la levado, mas na emergência... Eu dei uma polida nela e ajeitei a pintura também... Falta apenas trocar os pneus, que farei brevemente, eu espero.
– Conseguiu convencer Sue a deixá-lo dar ela ao Seth?
– Ãn... Ainda não. E acho que vai demorar um pouco mais para que ela mude de ideia.
– Do jeito que o vi dirigir ela está certíssima. – eu disse e nós rimos.
– Verdade. Mas eu nunca vi Seth cometer nenhum erro em cima de uma moto ou em um volante. Ele é muito bom em pilotar.
– Interessante... E porque está reformando-a? Algum motivo especial? – eu disse analisando a moto e andando em volta dela com as minhas mãos no bolso.
– Não... – Black começou a rir alto.
– O que foi? Eu disse algo errado?
– Não, mas vendo você assim nessa pose... Até parece uma motoqueira rebelde com esses jeans rasgados e tênis. 
– E quem disse que eu não posso ser uma motoqueira rebelde?
– Nossa... – ele disse aproximando e se encostando ao banco da moto de frente para mim encarando profundamente os meus olhos – Agora eu fiquei curioso!

Nós passamos um tempo nos olhando predadoramente. Finalmente eu sacudi a cabeça desfazendo a linha do olhar e rindo.

– E então Black, você pode parar um pouco para conversar?
– Claro! Vamos para a minha casa. – ele cobriu a moto e fomos em direção ao portão do galpão.  

Conversávamos na breve mata que levava o caminho de volta ao pátio das cabanas.

– Onde estão todos?
– Eu não sei... Estavam todos aí mais cedo.
– Não vi ninguém quando cheguei. 

Eu terminei de falar e havíamos chegado. Black olhou em volta vendo todas as cabanas fechadas.

– Ah! Lembrei! Foram todos à festa de aniversário do primo de Quil. 
– Ah... E porque você não foi?
– Não temos contato. – Jacob abria a porta de sua cabana me convidando a entrar.
– Billy também foi?
– Não, ele foi pescar. Meu pai não é muito social. – ele disse rindo.
– Percebi. Igual a você. – Jacob me direcionou um olhar óbvio.
– Vem, pode entrar. – ele seguiu até seu quarto, mas eu fiquei parada na porta.
– Não vai entrar?
– Não. Tudo bem. 
– Você dormiu aqui. Ou já se esqueceu?
– Nem um pouco.

Ele sorriu e eu entrei sentando-me em sua cama. Jacob tirou a camisa e eu desviei o olhar. Quando ele virou de costas para pegar outra roupa eu me atrevi a admirar seus músculos. Rapidamente parei, pois eu sabia que logo a minha hipnose surtiria.

– Porque vocês não se dão bem? Você e o primo do Quil? – eu me distraí da imagem dele com perguntas.
– Besteira dele.
– Que tipo de besteira? – e então Jacob tirou as calças ficando apenas de boxer e eu corei.
– Você se incomoda? – ele perguntou ao ver minha vergonha.
– Não tudo bem... Finja que eu não estou aqui... – eu disse e ele arqueou uma sobrancelha.
– Só não exagere! – nós rimos – Que tipos de besteiras Black?
– Black... – ele sorria – Gosto disso. – nos olhamos e eu cada vez mais sem graça pela semi nudez dele – , você já deve ter percebido que Bruh é um problema constante que eu tenho não é? O primo dela me odeia por isso.
– Ah... Mas a Bruh ainda é muito nova e ela te admira, eu já te disse isso.
– Não. Ela imagina coisas. E eu também já te disse isso.
– Que tipo de coisas?

Eu levantei andando pelo quarto dele até a janela apoiando-me nela. Ele estava de costas e então veio até mim com um olhar estranho. Aproximou-se cada vez mais parando a centímetros. Contive apenas em encarar os olhos dele.

– O que você sente quando ficamos perto assim? – ele perguntou seriamente encarando meu olhar atônito.
– Black... Ah... Eu não sei. – eu sabia: eram os turbilhões no estômago, mas eu não arriscaria dizer nada.
– Quando Bruh faz isso comigo... Eu sinto raiva. Não sei por que, mas eu não gosto da ideia de tê-la tão perto. – ele dizia a tudo imóvel e encarando-me invasivamente nos olhos. Eu sentia como se Jacob pudesse enxergar a minha alma – Não é como quando ficamos assim, você e eu... Eu sinto-me bem desse jeito e você?
– Acho que... Também me sinto bem... É estranho...  

Então ele sorriu e tocou meu rosto. Encostou nossas testas.

– E quando Bruh faz isso eu tenho vontade de afastá-la...
– E agora? – ele não respondeu a minha pergunta, apenas cheirou meu pescoço devagar.
– Quando eu faço isso você não se sente... Invadida?
– Black... – eu apenas sussurrava o nome dele, não consegui pensar em frases coesas e completas.

Ele então uniu nossos corpos em um laço com seus braços em minha cintura e subindo a cabeça falou em meu ouvido: 

– Isso tudo não te faz pensar que eu vou beijá-la ou algo mais? – disse tudo pausadamente e eu nada respondi. Meu coração batia frenético. – Esses tipos de coisas, ... São coisas que a Bruh costuma tentar fazer. – ele afastou-nos e mantínhamos o olhar, eu uni minhas forças para suportar a fraqueza de minhas pernas – E ela faz isso imaginando muitas coisas que eu não quero que aconteça... Mas tenho medo .
– Medo?
– Quando se fecha o coração e a alma para o amor... Nos enfraquecemos por muito pouco e principalmente diante a carne. – dando as costas e sorrindo ele se afastou em direção à porta – Vou tomar um banho. Fique a vontade eu não demoro.

Ele saiu e eu desabei recostando-me à janela. Já estava abafado e depois do que ocorrera eu estava ainda mais quente. Tirei meu casaco fino deixando meu ombro à mostra, pois a camiseta tinha alças finas. Eu entendi o que ele quis dizer. Há muito ele não se permitia amar e Bruh o provocava como ele fez comigo. Jacob tinha medo de cair em tentação, por isso sentia raiva dela. Tinha raiva por se deixar abalar por uma garota tão nova e desimportante.
Assim que recuperei o fôlego fui à varanda. Novos banquinhos haviam sido feitos. Fiquei algum tempo ali, de olhos fechados pensando no momento passado no quarto e ouvindo o chacoalhar das folhas na copa das árvores. E Black retornou.

– Pensando em que, ?
– Em nada... Apenas escutando o farfalhar das folhas... Sente isso? Eu sinto como se o vento pudesse me tocar e como se as folhas me falassem coisas que eu não consigo entender. – eu dizia tudo ainda de olhos fechados.

Jacob tirou uma mecha do meu cabelo mal preso do meu rosto e colocou-a atrás da orelha. Abri os olhos sorrindo e deparando-me com um olhar admirado.

– Olha... Desculpe-me por aquilo ... – ele dizia se referindo às provocações no quarto.
– Tudo bem... Acho que eu consegui entender perfeitamente. – ele sorriu e estendeu-me uma caneca de café que havia depositado ao lado assim que chegou – Como você consegue tão rapidamente esculpir novas coisas?
– É uma terapia que faço quando estou nervoso ou quando muitas coisas estão me perturbando.
– Foi uma semana difícil de treinamentos com Embry e a alcatéia?
– Sim, mas não foi isso que me incomodou. Tem muitas coisas me incomodando há algum tempo desde a transformação do Embry.
– Se quiser conversar sobre.
– Obrigado. E quando eu conseguir mais lenhas eu vou chamá-la para esculpir comigo, que tal?
– Acho ótimo. – sorrimos bebericando o café.
– Fale . Você disse que precisava desabafar, então vamos lá.
– Charlie sempre soube de tudo?
– Somente a partir de algum tempo depois que ele e Sue uniram-se.
– E aquele dia na estrada... Quando você dormiu lá em casa. O que ele disse a você na estrada?
– Ele havia parado para me cumprimentar, mas eu aproveitei para alertá-lo sobre o lobo. O que mais?
– Nossa... São tantas coisas... Bem, e lembra quando Embry e eu fomos à praia de La Push pela primeira vez? 
– Hunf. Desculpe, mas não há como eu esquecer aquele dia.
– Por quê?
– Esquece... Prossiga.
– Tá, mas depois eu vou querer saber mais sobre isso... 
– Bem depois. – ele riu e eu me fiz curiosa.
– Porque você não achou boa ideia nós irmos até lá?
– Quem lhe disse isso?
– Ouvi vocês sussurrando.
– Que bela audição. Foi por causa do perigo. Lembra que esse foi o mesmo dia do ataque do lobo?
– E nesse mesmo dia, eu vi um vulto na janela e Sue disse que era o lobisomem, porém pelo que percebi um lobisomem é bem maior do que isso. E eu escutei apenas um urro. O seu urro quando desceu...
– Você insiste nessa ideia... O que mais seria?
– Tenho lido notícias antigas de Forks e não são os lobos os primeiros a serem acusados de assassinatos, principalmente no bairro onde moro. – Jacob ficou estático e sério.
– Foi um lobisomem. 
– E porque a sua feição enojada ao perceber o vulto? Você não age daquele jeito diante de um lobo.
, aonde você quer chegar?
– Eu não sei. O que falta a você me dizer?
– Nada.
– Está certo... Por enquanto acho que é só. – eu sorri para amenizar o clima denso que ficou entre nós – Posso ir lá pegar mais café? 
– Claro. 

Eu saí em seguida e fiquei me esgueirando cuidadosamente a olhar Jacob. Ele pôs as mãos na cabeça como se estivesse aliviado de sair de alguma furada. Entrei na cozinha e servi os cafés. Quando retornei à sala ouvi a voz de Bruh Ateara e fiquei escondida escutando.

– Jake! – a menina gritava.
– Já disse para não me chamar assim. Está fazendo o quê aqui?
– Eu soube na festa que você estava sozinho e dei um jeitinho de vir fazê-lo companhia. 
– Não precisa. – a menina se aproximou sedutoramente dele e eu relembrando o que ocorreu no quarto sai do esconderijo e apareci na varanda, ao lado de Jacob.
– O que ela faz aqui?
– Boa tarde Bruh.
– Jacob? – perguntava a ele contrariada e ignorando-me como sempre.
– Eu te disse que não precisava. Eu não estou sozinho.

Ela saiu disparada e raivosa. Jacob rapidamente se levantou, se pondo à minha frente, pois como a menina ainda era nova com o controle da transformação ele temia que ela pudesse me machucar.

– Obrigada.
– Tudo bem, você precisa ficar mais tempo por aqui... Ela nunca se afastou tão rápido.
– Você não é um pouco rude com ela, Black?
– Não. Sou muito compreensivo até.

Nós ficamos conversando várias coisas diferentes e Jacob me chamou para andar na praia. Fomos. Quando estávamos lá eu fui andando à frente dele para o mar. Ele não entraria. Apenas molhei os pés e contemplei as ondas um pouco. Quando voltei, Jacob me virou de costas para ele e tocou na parte de trás do meu ombro esquerdo. Eu sorri sem graça ao olhá-lo. Ele descobriu a minha tatuagem. Ninguém nunca havia visto, pois eu nunca a tinha deixado à mostra desde então.

– Que oportuno... Um índio tatuado no ombro?
– É... Um Cheyenne. Dos meus antepassados. – eu ainda estava sem graça.
– Porque de repente você surge tão perfeita em nosso caminho?
– Eu não sou perfeita Black...
– Tente me provar o contrário qualquer hora.
– Você é que não tem percebido, mas se analisar bem...
– Eu te analiso muito bem. – ele disse e instaurando um silêncio enorme em minha alma – Me conte um pouco mais da sua história?
– Sim, claro! Mas... Está escurecendo e acho melhor eu ir. Pode ser outro dia?
– Claro. Já aviso que não vou desistir disso.
– Estamos quites, porque eu também não vou desistir de descobrir muitos mistérios que você tem.

Jacob sorriu depois de fazer o meu gesto favorito: aquele de olhar para baixo, lados e gesticular palavras tímidas dessa vez, não pronunciadas. Começava a esfriar.

– Eu deixei meu casaco no seu quarto...
– Vamos lá. – ele me guiou para dentro do cômodo quando já estávamos na reserva.

Mantivemo-nos silenciosos. Cúmplices em sorrisos tímidos e olhares predadores. Eu abaixei para pegar o casaco na cama dele e ele repetindo o meu gesto fez nossas mãos se tocarem. Levantamo-nos ao mesmo tempo. Ele às minhas costas. Fechei os olhos e senti as mãos de Jacob passando por meus braços vestindo meu casaco em mim. Viramo-nos.

– Obrigada.
– Não há de quê.
– Eu... Acho que já vou então...
– Antes...

Ele aproximou devagar. Abraçou-me e afundou seu rosto na curvatura do meu pescoço. Cheirava meus cabelos e me apertava forte. 

– Você disse para eu não privá-la de me abraçar...
– Nunca – eu disse também o abraçando. 

Ele puxou mechas do meu cabelo e cheirou após cheirar meu pescoço.

– Você tem um cheiro... Tão... 
– Os cheiros guardam as memórias. Eu lembro. – então ele riu jogando seu peso cada vez mais em mim.
– As melhores lembranças guardam os cheiros... É o contrário.
– Dá no mesmo. – nós rimos.  

Infelizmente nos soltamos e Jacob acompanhou-me até o Mustang. 

– E aí, vai dormir na porta da minha casa hoje? – eu ri sacana.
– Não, mas quem sabe se você me convidar...
– Convite feito. E não precisa ser na porta.

Ríamos como adolescentes bobos. Voltei para casa radiante e me sentindo diferente de tudo o que eu já havia sentido desde que chegara a Forks. Naquela tarde, Jacob e eu demos um salto de quinze andares na nossa relação sempre tão... Enigmática.


07 - Uma indígena muito próxima

Os trabalhos estavam cada vez mais agitados e após a descoberta que eu fizera sobre aquela planta na pescaria, eu dedicava meu tempo cada vez mais ao laboratório e à botânica. 
Em uma dessas minhas tardes solitárias eu recebi um buquê de flores, lindas. Não tinha cartão. Guardei-as em um vaso muito bonito. Passei a contemplá-las todas as tardes me perguntando quem as teria enviado. Uma semana se passou e eu cada vez mais trancafiada no laboratório e em minha casa estudando plantas e planejando a construção do meu laboratório.
Desde que Hernando e Julian fizeram a proposta naquele jantar, eu pensava no meu laboratório. Localização e projetos. Uma noite eu estava na sala desenhando um esboço do que eu desejava ser a planta da construção, quando observei uma sombra humana refletida no chão ao meu lado. Assustada olhei para trás, mas não havia ninguém dentro da casa. Respirei fundo e olhei para a porta, e por baixo dela eu pude ver uma sombra. A pessoa estava disposta a entrar na minha casa a qualquer instante. Por sorte, meu celular estava no meu bolso e o puxei ligando para Jacob. Eu estava morrendo de medo. Enquanto o aguardava, eu fui atrás de algum objeto que permitisse que eu me defendesse. Todos os noticiários estranhos e misteriosos que eu havia lido sobre aquele lugar passavam em minha mente e eu tinha cada vez mais raiva por ter comprado aquele casebre.
Jacob chegou e eu ouvi alguns rosnados altos. Seria o Embry? Mas não parecia que ele estava transformado. Era uma pessoa! E como Jacob chegou tão rápido? Ah, é! Coisas de lobos... Ainda bem que ele veio rápido. Ele bateu na porta minutos depois, cerca de uns vinte minutos eu acho, e tudo já estava silencioso. Eu andei até a porta para espiar quando ele bateu nela me assustando ainda mais.

! Abra, sou eu Jacob!  

Abri imediatamente reconhecendo a voz e assim que ele entrou lancei meu corpo sobre o dele em um forte abraço. Ele também parecia desesperado e me protegia.

  – Quem era Jacob?
– Vamos! Suba e faça uma mala, eu te levarei para a reserva!
– Por quê? Quem era Jacob?!
– Era uma... Um... Eu não posso lhe dizer agora. Vamos logo, porque eu estou sozinho.
– Qual o problema de você estar sozinho?
... Por favor, sem perguntas por enquanto.

Nós fizemos poucas malas e em uma pasta eu guardei meus escritos para levar comigo.
Todos estavam me aguardando na reserva.
Embry correu até mim assim que eu desci do carro e me abraçou fortemente.

– Como você está?
– Muito assustada.  

Eu ficaria hospedada na casa de Sue, mas Lia olhou para ela estranhamente e então Billy dispôs me hospedar se Jacob concordasse.
E assim foi. Eu passei novamente uma noite com ele.
Ao entrar em sua cabana ele levou minhas malas para seu quarto e nos olhamos divertidos.

– Deja vú? – perguntou ele.
– Deja vú. – afirmei.
– Pode tomar um banho se quiser.
– Obrigada. Eu vou sim! – eu saí em direção ao banheiro com tudo em mãos.

Ao voltar para o quarto, a cama dele me esperava e ele fazia uma cama no chão.

– Black, de novo não! Eu não posso concordar... – ele pôs a mão em minha boca mandando eu me calar.
– Eu jamais a deixaria dormir no chão. É anticavalheiro!
– Tudo bem. 
– Está com fome? 
– Um pouco.
– Tomarei um banho. Fique à vontade na cozinha. – ele saiu e em seguida voltou advertindo – É sério, fique confortável para fazer o que quiser. Sem frescuras. Você é de casa.  

Eu sorri concordando. Na cozinha eu preparava uma bandeja como aquela que Jacob preparou para mim, porém com menos comida. Fervi um chá e fiz algumas torradas. Billy apareceu.

– Como você está, ?
– Assustada Billy. Por que Jacob não quis contar para mim quem era?
– Tudo ao seu tempo. – olhou para a bandeja e a chaleira.
– Chá de cidreira com hortelã e torradas. Aceita?
– Com certeza. 
– Será que meu chá é tão bom quanto os seus?
– Sem dúvidas que é! – nós rimos – Sue e os outros estão lá fora. Estaremos lá te esperando, Jacob e eu. 
– Certo. Eu não demoro.

Aumentei o chá e a quantidade de torradas e fui para varanda.

– Não sei se o meu chá é tão bom quanto o de Billy, mas sirvam-se. Não é ruim, eu garanto.  

Todos sorriam servindo-se. Lia e Embry estavam muito calados e distantes de mim. Bruh Ateara também estava lá, pois ela agora morava desse lado da reserva.

, Jacob falou que você queria nos contar um pouco mais da sua história. – Black sorriu travesso e divertido.
– Ah... É. Pois é Billy...
– E ele me disse que você tem um índio tatuado no ombro. – disse Seth.

Jacob olhou-o contrariado.

– Ele é péssimo com segredos, lembra-se Jacob? – eu falei fazendo ele rir comigo e somente nós sabíamos do que se tratava.
– Às vezes me esqueço. – Black respondeu mantendo fixo o nosso olhar.

Sue percebeu, eu acho. Na verdade todos perceberam.

– Sim Seth, eu tenho uma tatuagem de um cacique Cheyenne. 
– Podemos ver? – Quil perguntou.   

Tirei o meu casaco e afastei meus cabelos soltos para meu lado direito depositando-os sobre o ombro. Abaixei a alça de minha blusa e a tatuagem no ombro esquerdo estava completamente visível. Virei de costas para todos e eles analisaram cada milímetro do desenho.  
Sue se levantou e tocou a tatuagem, um tanto quanto surpresa.

– É alguém em especial? – ela perguntou tendo os olhares cúmplices de Billy para ela. 

Ambos pensavam em algo e era a mesma coisa.

– Meu avô. Lembram que eu contei que ele era um descendente de Cheyenne? Não tenho certeza disso também, porque eu não sei qual a tribo natural dele. Se era mesmo um Cheyenne ou se apenas conviveu com eles. Nunca soube.
– Sim. – assentiu Sue, ela estava assustada.
– Minha tia tinha este desenho dele... Ela disse uma vez que ele passou muito tempo em outra tribo. Foi nessa outra tribo que ela nasceu, e viveram até os cinco anos de idade dela, depois todos foram para o Brasil. Meu pai nasceu lá. Lembram que eu disse isso também?
– Sim. – assentiram.
– Ela contava que, como era muito pequena, pediu uma recordação do rosto dele. Meu avô desenhou o próprio rosto refletido no rio e entregou a ela. Muitos anos depois, minha tia levou a caricatura a um artista e pediu que ele a aprimorasse recriando a imagem em um quadro. E aí ela me deu a imagem da folha. Com dezoito anos eu fiz a tatuagem. 

Todos se mantinham atentos ao que eu dizia e alguma coisa nostálgica surgiu no meu olhar levando-o para muito longe daquele momento.

– Bella sempre me mandava emails sobre vocês e apesar de distante, apenas lendo eu sentia que alguma coisa realmente mágica estava aqui. Algo que me deixava ansiosa em conhecê-los. E bem... Nossa! Vocês são lobos e homens!
– Realmente ! Todos nos assustamos com a forma como você se encaixa nas nossas tradições. – pronunciou Quil.
– Como assim? 
– Como se você fosse uma de nós, perdida por aí. – concluiu Paul.
– Acho que Bella acreditou que eu me interessaria muito em conhecê-los... E ela não errou.

Todos nos entreolhávamos curiosos e admirados.

– Você também havia dito sobre seu avô conviver em outra tribo... O que você sabe sobre isso ? – Lia perguntou como se escutasse Sue e Billy mentalmente. 

Eles olharam-se curiosos. Sam observava a tudo, calado.

– Não sei muita coisa. Minha tia... Engraçado, ela tinha um livro que... – olhei-os surpresa.
– Que? – indagou Billy.
– Um livro de histórias, lendas sobre homens que se tornavam cães gigantes. – eu fiquei ofegante e os outros ainda mais curiosos. 
, sua tia te deu este livro? – Billy perguntou.
– Não. Ela... Nas poucas vezes que conversamos sobre isso, ela contou que essa tribo onde conviveu com seu pai até cinco anos era mágica. Tinha segredos que ela e o pai adoravam. Ela não entendia nada, mas quando cresceu e releu o livro de lendas que o próprio pai dela fez, compreendeu tudo. Ela dizia que vovô de todos os lobos era o mais sensível. Nossa... Agora eu... Meu avô não era um Cheyenne. Agora eu entendo... Ele era um lobo! Eu achava que era uma forma de apelido de tribo, mas... Céus...
se acalme. – Jacob veio até mim e abraçando-me tentava me acalmar daquela súbita suspeita.
– Billy há chance de o meu avô ser um quileute? – perguntei.

Calma era algo impossível de ter naquela hora!
De repente eu compreendi tudo sobre a minha vida! Todas as conversas com a minha tia, os curtos momentos com meu pai e suas manias... Papai cheirava o ar, andava sempre descalço como um selvagem e quando fomos ao Brasil, ele parecia um animal tamanho o descuido com a aparência... Ele se tornava um índio como os outros!
Eu comecei a me recordar de algumas tradições que os Coxiponés tinham comigo... O selo no meu umbigo, as pinturas na minha cabeça... Aquilo tudo teria a ver com o meu avô ser um lobo?
Meu pai era um lobo como meu avô?
Eles seriam quileutes?

– Sue o que você acha? – Billy perguntou e eu novamente me atentei à conversa apesar de estar abraçada a Jacob de uma forma capaz de descontrair qualquer coisa.
– É ele. Eu tenho quase certeza. – ela passava as mãos em meu ombro e observava cada detalhe da tatuagem.
aproxime, por favor.  

Eu fui para perto de Billy e olhando a tatuagem ele concluiu a minha dúvida.

– Satade Ratara. – ele falou.
– É. É o nome do meu avô, mas eu não falei... – arregalei os olhos e comecei a chorar.
– Ele conviveu conosco, . Satade não era um quileute, nem um Cheyenne. Não tenho certeza de qual era a tribo em que nasceu, mas ele era um nômade. Conheci o seu avô quando eu ainda era um menino. A mãe dele era uma Cheyenne e o pai um Quileute. Seu pai e eu fomos amigos, eu acho...
– John Mani Ratara. – eu disse o nome do meu pai.
– É... eu conheci o seu pai. Eu conheci seu avô por um curto tempo. Depois dos Cheyenne do norte terem sido dizimados, ele conviveu conosco por muito tempo. Mas foi embora sem dizer para onde. Anos depois voltou com seu pai e sua tia, infelizmente morreu aqui um tempo depois. Foi quando eu nunca mais vi seu pai e sua tia. Sua avó partiu daqui da mesma forma como Satade, sem dizer nada.

Os meninos riam da feliz coincidência.

– Isso explica muita coisa! Afinal, alguém tem mesmo um pé aqui! – dizia Quil divertido enquanto o rosto de Bruh ficava avermelhado e raivoso. 
– Pois é! Agora sabemos por que nos sentimos tão íntimos de você quando a conhecemos . – Paul abraçou-me como se me desse às boas vindas.
– Eu sempre soube que era uma de nós! – Seth sorria alegre.
– Cala a boca Seth. Quem sempre diz isso é a Sue!
– Sam! Eu sempre concordei! Até já tinha dito à não é, ?
– Sim Seth, não briguem. – eu ainda estava anestesiada com tudo aquilo.
– Estou curioso com uma coisa... Como é o seu nome? – Jacob do nada abordou uma pergunta que no instante, não me soou ter nexo algum.
– Luna Mani Bedingfield. Por quê?
– Porque nunca se apresenta pelo nome do seu pai?
– Tenho muito orgulho do nome dele, não pense o contrário. Não há um motivo, desde a escola sempre fui apresentada por Luna Bedingfield.
– Lembra que eu procurava um nome para só eu chamá-la? – Jacob falou me encarando profundamente nos olhos com um sorriso admirado, e me deixou constrangida pela atitude e pela proximidade diante os olhares de todos.
– Lembro Black... O que tem a ver?
– Mani. – ele sorria de um jeito diferente de todos os que já tinha me mostrado – Minha Mani.

Eu sorria de lado, surpresa e envergonhada. Alguma coisa estava acontecendo ali e eu não tinha ideia do que era, mas era bom. Os tremores da minha barriga reapresentavam-se e não me lembro desde quando, mas as mãos dele seguravam as minhas. Se fosse um momento a sós, Deus sabe o que eu teria feito, mas acordei assim que Paul e Seth - os gozadores - soltaram uivos salientes. Black e eu: o show assistido, calorosamente e atenciosamente. Olhei para os meninos, desconcertada e sorri.

– Lobos no cio... – eu brinquei com Seth e Paul e olhando sacana para o Black nos soltamos ao som de gargalhadas gerais.
– Ela sabe ofender! – brincou Paul surpreso.
– Acha que é uma patricinha indefesa? Você não sabe de nada! – retrucou Jacob explorando cada vez mais, olhares maldosos e piadas.

E então não sei quando aconteceu, mas Sam estava transformado à minha frente defendendo-me e à frente dele outro lobo. Corri os olhos em volta e estavam em guarda para se transformar caso fosse preciso: Seth, Quil, Lia, Paul e ao meu lado Jacob, com o braço à frente do meu corpo. Billy impedia Embry desse esforço. Pensei um pouco encarando a cena e percebi: Sam estava me defendendo de Bruh. A loba negra à frente de Sam, parecida com ele, era Bruh Ateara. A menina tinha problemas em controlar a raiva e depois do que aconteceu entre Jacob e eu, já era de se esperar.
Embry me levou para a casa de Black. Será que ela era tão incontrolável assim, para terem de formar uma redoma de guarda à minha volta? 

- Fique aqui. Eu vou lá ver como está a situação. 
– Espera Embry!
– O que foi? Você está bem?
– Sim, mas fica aqui. Eu... Quero conversar com você.
– Sobre o quê? – ele pareceu incomodado com minha fala.
– Você e Lia, estão me evitando desde que cheguei. O que houve?
– Impressão...
– E quando cheguei a ideia de eu dormir na casa de Sue não foi confortável não é? Você e Lia, olharam estranhos para Sue. Não adianta mentir Embry.
– Você quer mesmo falar disso agora?
– Eu não pedi para conversar depois, pedi?
– Senta aí. – olhou para mim como se não quisesse que aquele momento chegasse – Eu preferia que Lia estivesse conosco...
– Não Embry. Se for preciso ela fala comigo depois. – eu estava sendo grosseira – Olha desculpe, mas não faça rodeios tudo bem? Você sabe que gosto das coisas bem claras.
– Você se lembra de quando estávamos na reserva Whitonn e conversamos na tenda?
– Sim.
– Lembra quando te contei sobre o imprinting de um lobo?

Imediatamente surgiu em minha mente a conversa daquele dia:

"– Imprinting?" 
"– Imprinting é algo como... O grande amor da vida de um lobo. Nenhum outro lobo pode fazer mal a pessoa de um imprinting, porque é como atingir o próprio lobo (...). Em algum momento de nossas vidas acontece, nunca é igual e não tem um tempo definido. Acontece de repente. Lembra que eu te disse que o amor acontece de imediato pelo menos para nós quileutes? E você não é meu imprinting Luna, o que significa que eu não sei até onde eu posso me segurar...".


– É eu me lembro, sim.
– Lia teve um imprinting há algum tempo... Por isso ela voltou para nos visitar... – ele olhava-me óbvio.
– Por isso que ela não gostou de mim no início.
  – Depois daquela noite, eu passei aquele tempo na reserva Whitonn e ela estava comigo. Eu também tive um imprinting há pouco tempo . E aí eu descobri a parte dela.
– Entendi. Você e Lia são o imprinting um do outro.
– Nós íamos te falar, mas...
– Por que não me contaram? Quer dizer... Nós não temos mais nada um com o outro, não é?
– Sim, mas achamos que você poderia ficar magoada... Pelo menos era o que eu achava até minutos atrás.
– Como assim?
– Lia comentou comigo, mas eu não acreditei que você teria entendido tão cedo o que eu te disse.
– Do que você está falando?
– Você e Jake lá fora... Alguns minutos atrás.
– Como? Ah! Não! Não, Embry! Black é só um amigo, nós não temos absolutamente nada um com o outro... 
– Eu disse a Lia que ela estava enganada. – ele me analisava para ver se eu mentia. 
– O quê exatamente você quis dizer com "não acreditei que você teria entendido tão cedo o que eu te disse" ?

Embry não pode responder, pois Black surgiu na sala da casa com os olhos arregalados.

– Está bem Luna? – perguntou aflito.
– Sim, sim. E Bruh?
– Já está mais calma. 
– Vou deixá-los conversando. – Embry disse levantando e novamente ignorando minha pergunta.   

Ele saiu e Black sentou ao meu lado no sofá. 

– Desculpe por aquilo. 
– Relaxe. Não foi sua culpa. 
– E desculpe por isso também – ele apontou para o lugar onde Embry estava e para mim – Por ter atrapalhado alguma coisa.
– Não atrapalhou nada.
– Bem... Todos já foram para suas casas, menos Sue e meu pai que ainda estão lá fora conversando. Eu já volto.
– Tá.     

Black beijou minha testa e entrou. Eu fui até o quarto e separei minhas coisas.
Repensei no que havia ocorrido em minha casa. Black teria que me contar, afinal o que estava acontecendo. Peguei minha pasta e terminei as anotações do projeto do meu laboratório e liguei para Julian.

! Como está?
– Bem Julian, e por aí?
– Também! E então, a que devo a deliciosa ligação? – eu sorri. 

Julian é o mais extrovertido e simpático. Não que Hernando seja antipático, pelo contrário, é um doce, mas sempre muito sério.

– Eu acabei as minhas anotações. Quero dizer, o projeto do laboratório está pronto. Como você disse-me que entraria em contato com a construtora que vocês contratam eu liguei para dizer que por mim já está tudo pronto.
– Ótimo! Vou agendar a visita deles com você para segunda-feira que vem, pode ser?
– Claro! 
– Já encontrou um terreno?
– É... Eu tenho pensado em... La Push.
– Sério?
– Bom, é só uma ideia, eu teria que conversar com o pessoal da reserva, Charlie, prefeitura... Não sei. Eu gosto daqui, mas até segunda-feira estará resolvido. Prometo.
– Bem, se você não conseguir avise para eu remarcar com a construtora. Eles irão exatamente para conhecer o terreno.
– Certo. Eu avisarei. E Julian...
– Sim?
– Muito, muito obrigada. A você e ao Hernando. Vocês não tem ideia de como tem sido importantes e generosos comigo.
– Nós apenas sabemos quem você é.
– E quem eu sou?
– Alguém com um futuro brilhante que nós queremos muito bem. Você tem grandes coisas à sua frente, .
– Obrigada. De coração, Julian.
– De nada. Não precisa agradecer. Fazemos o certo.
– Mesmo assim... Eu tenho que ir agora. Um grande abraço. Mande um beijo à família. – Black entrava em seu quarto.
– Abraços , até outra hora.

Eu desliguei e sorri para Black.

  – Sabe... Forks tem sido tão... Não sei... 
– Especial? Surpreendente?
– Os dois.
– Era o policial? – se referiu ao Erick sem olhar nos meus olhos.
– Não. Julian Vincent. – então ele sorriu ameno e eu fui para o banheiro.

Não que eu devesse explicações ao Black, mas e se fosse Erick? E se eu dissesse que era ele? E o que Embry dizia com todas aquelas entrelinhas?
Um banho frio e sombrio me encobria apesar do frio natural de Forks. De olhos fechados, com água gélida escorrendo a face e dando à cada gota impressão de navalhas afiadas, aquele banho congelou meus pensamentos em um tempo atrás. Um tempo não tão distante.


"– Algo me diz que tem alguma coisa na reserva quileute esperando você . Pode não ser Jacob, mas há algo ou alguém lá a sua espera". 

A premonição do senhor Carter veio em um flash rápido que desencadeou uma corrente de outros flashes seguintes.

"– Você deveria levar um pouco mais a sério as "premonições" do Sr. Carter. É só um conselho. Costumam funcionar.".
"– Jake tem esse hobby e ele andou se empenhando no seu carro dia e noite. Na verdade ele tem se empenhado com seu carro, sua casa... Há tempos não o víamos assim.".
"– . Você vai deixar eu te mimar um pouco ou não?".
"– Não preciso da sua aceitação ou favores. É você quem precisa daqueles índios... Olha para você. Totalmente dependente deles.".
"– Obrigada. Erick vai ficar muito feliz. Eu tenho certeza da gravidez.".
"– É tão complicado ... Você não faz ideia de como eu gostaria de contar tudo o que sei, mas não posso. Eu estava te protegendo. Passei todas as noites possíveis dormindo à porta da sua casa.".
"– Eu sei como é triste e doloroso ver alguém que você tanto gosta se transformando em algo diferente... Em algo que você não gosta.".
"– Eu não entendia nada antes, mas agora entendo tudo... , você não veio aqui à toa... Você é muito importante para todos nós. Você é a chave de tudo... E eu te amo tanto...".
"– (...) prometa para mim que você vai deixar a pessoa certa te amar? (...) você não acredita no amor, (...). O amor, na maioria das vezes se manifesta imediatamente , pelo menos é assim conosco, quileutes... E você tem que deixá-lo se aproximar de você (...). Tenha calma e confie na intuição do seu coração. Você é forte, garota, e muito especial.".
"– As melhores lembranças guardam os cheiros.".
"– Minha mãe estava certa... Você é mesmo, uma de nós.".
"– Existem muitos mistérios dos quais, você vai conhecer . Por enquanto, você deve apenas saber o essencial sobre nós.".
"– Ela... Acha que há algo dentro de você que guarda o espírito de um lobo... Mas não acredite nisso, querida.".
"– Agora mesmo é que eu não largo mais vocês... Eu sou uma de vocês agora... Não sou?".
"– Por que... Não sei Black, mas... Faz bem para mim. Eu gosto. Acho que depois de tanto tempo sem um olhar sincero teu... Agora que somos amigos qualquer toque é um troféu.".
"– O que você sente quando ficamos perto assim? (...) Quando Bruh faz isso comigo... Eu sinto raiva. Não sei por que, mas eu não gosto da ideia de tê-la tão perto. Não é como quando ficamos assim, você e eu... Eu sinto-me bem desse jeito e você? (...) Isso tudo não te faz pensar que eu vou beijá-la ou algo mais? Esses tipos de coisas, ... São coisas que a Bruh costuma tentar fazer. E ela faz isso imaginando muitas coisas que eu não quero que aconteça... Mas tenho medo . (...) Quando se fecha o coração e a alma para o amor... Enfraquecemos-nos por muito pouco e principalmente diante a carne.".
"– Sim, mas não foi isso que me incomodou. Tem muitas coisas incomodando-me há algum tempo desde a transformação do Embry.".
"– Tenho lido notícias antigas de Forks e não são os lobos os primeiros a serem acusados de assassinatos, principalmente no bairro onde moro.".
"– Por que de repente você surge tão perfeita em nosso caminho?".
"– Isso explica muita coisa! Afinal, alguém tem mesmo um pé aqui!".
"– Pois é! Agora sabemos por que nos sentimos tão íntimos de você quando a conhecemos .".
"– Eu sempre soube que era uma de nós!".

Recordei-me de tudo atordoada. Oscilações de sentimentos mútuos, variantes do medo ao desejo, da dúvida à certeza, da confiança à curiosidade.
Ao vestir minha roupa e sair do banho fiquei alguns minutos parada à porta do quarto de Black afastando todos esses pensamentos e com uma única certeza: esclarecer o episódio ocorrido no início da noite na porta da minha casa. 

– Tudo bem ? – perguntou Billy quando se dirigia ao seu quarto e me encontrou no corredor.
– Sim! Eu só estou... Pensando. – eu sorri e ele balançou a cabeça, negativo e rindo.

Não perguntei nada sobre o que ele pensava. Se fosse para saber ele falaria.

– Boa noite... – ele virou sua cadeira entrando em seu cômodo e antes de fechar a porta terminou: – Índia.

Recordei-me da grande descoberta até agora. Eu realmente poderia ser uma quileute. Meu avô era um lobo. Eu poderia ser uma loba. Ao fim das contas, a velha índia Whitonn estava certa: há algo dentro de mim que guarda o espírito de um lobo.


08 - Será que estou me apaixonando?

Eu nunca me senti tão feliz por algo como me sinto aqui.
Entrei ao quarto de Jacob e ele estava escorado na janela observando a noite. Andei até ele devagar e quando eu iria por a minha mão em seu ombro ele se virou rápido e a pegou. Ficamos nos olhando silenciosos e então eu sorri.

– O que você admira lá fora? – perguntei.
– Na verdade não há nada que eu possa admirar lá fora. 
– Exagero. Há belas coisas por aí.
– Não consigo pensar em nada melhor para se admirar se não, este momento. 

Eu não reconhecia o Jacob. Ele tinha se transformado em outra pessoa tão rapidamente que penso que eu não estava por perto quando isso aconteceu. Ele era alguém que eu não conheci.

– No que pensa? – ele perguntou acordando os meus devaneios.
– Penso no dia de hoje... Meu avô era um lobo... Você... Eu não sei em que pensar. – enquanto eu falava ele me puxava para nos sentarmos na cama dele.
  – Você é uma loba afinal. Eu sempre desconfiei. Não somente eu, mas todos.
– Acho que até eu desconfiava... Mas Black, talvez eu não seja.
– Pode ser, mas você é uma alma quileute. Sempre foi, mesmo que seu avô nunca tivesse sido você seria. – olhávamos um para o outro indecifravelmente – ... Você já pensou que o fato de você vir para cá pode não ter sido a Bella? – era a primeira vez que eu o via falar nela, sem aquela repulsa de sempre.
– Mas se não fosse ela...
– Não ! Ela não tem nada a ver com isso. Ela foi só... Um elo que o destino usou. Até a coincidência do seu nome: Luna significa Lua. Você nasceu para nós.
– Eu estive me lembrando da premonição do Sr. Carter no banho.
– Acho que nunca o vi dizer algo tão coerente. – nós rimos. 

Finalmente o que ele havia dito fazia algum sentido.

– Black... Tem algo que eu também estava pensando.
– É sobre o que aconteceu hoje na sua casa?
– Sim.
– Eu não posso dizer. Espera mais um pouco, é só o que eu te peço. Sei que você deve estar cheia de dúvidas ainda, mas pouco a pouco, nós vamos juntos responder a todas estas perguntas.
– Não precisa dizer o que era. Só diz por que você estar sozinho era tão perigoso?
– A matilha unida é mais forte.
– Alcateia.
– Como? – eu comecei a rir antes de explicar.
– O coletivo de lobos é alcateia... Matilha é coletivo de cães.
– Você... – ele também começou a rir – você é incrível e implicante! 

Ele passava a mão em meus cabelos colocando para trás e eu comecei a analisar aquele homem à minha frente. Não era o mesmo Jacob. 

– O que está acontecendo? – eu perguntei abaixando a cabeça. 

Perguntei mais para mim do que para ele, mas Black ergueu meu rosto para que nos olhássemos sinceros e então após nossos olhos entenderem o que pensávamos ele respondeu.

– Não sei. Eu... Nunca passei por isso, mas todos dizem que eu estou melhor.
– Confesso que sinto falta das suas oscilações de humor... Seus mistérios e sua instabilidade – ele olhou para as próprias mãos, desapontado – Mas uma única coisa nisso tudo não mudou: seu olhar intenso, frio e amargurado. 
– Então resumindo... Eu me tornei mais repulsivo do que já fui? – ele começava a se irritar e eu ri.
– Não. Você perdeu um pouco do seu ar sombrio... Mas seu olhar tão repulsivo continua o mesmo. – ele apertou o maxilar e seus olhos diminuíram formando rugas na testa, ele estava contrariado – E o problema é que eu gosto de coisas repulsivas, como o seu olhar. 
– O quê? – ele então sorriu tímido sem me encarar, abaixando a cabeça e foi a minha vez de erguer seu rosto para nos olharmos.
– Tem mais uma coisa que mudou em você que eu gosto muito.
– E o que seria? – a cumplicidade do nosso olhar era intensa. – Você aprendeu a sorrir de novo. Eu não sei por que você não sabia, mas escondia um sorriso solar, incrível e lindo dentro das suas trevas. Um sorriso que eu quero para mim. 

Eu não acreditava no que eu acabara de dizer, mas era a verdade mais impulsiva que eu já havia dito.
Black se aproximou devagar até as minhas costas e sentando por trás de mim abraçou-me. Recostei-me em seu tórax.

– Você está gelada.
– E você... É irritante esse calor quileute. – nós rimos.
– Está com frio?
– Acho que eu me esqueço de sentir frio de tanto que me sinto uma de vocês.

Ele ajeitou-se melhor na cama e aninhou-me confortavelmente em seu corpo. Nossos rostos tão próximos e os olhares tão diretos. Eu já não tinha aquele pudor de antes com Jacob. Encarei seus lábios claramente sinalizando o que eu tanto desejava. E aquela barreira invisível... Ela realmente existiu? Porque ele quebrou qualquer coisa que poderia nos afastar! A cada dia ele quebrava.

– Eu te aqueço. – ele sussurrou me encarando e eu fechei os olhos abraçando-o mais.

Dormimos. E durante toda noite, Black era uma caverna enfogueirada onde eu me mantive presa. Por uma noite, eu me dei o direito de pertencer a ele. E ele atendendo ao meu pedido, não me privou de abraçá-lo. Por toda a noite. Eu não sabia o que viria de manhã, o que aconteceria depois, mas não importava. E pensar nos fantasmas que atormentavam minha mente era uma injúria maligna para alguém que recebeu a graça tão grandiosa de ter, o seu próprio lobo selvagem, domesticado.
Ao amanhecer, aquilo que eu pensei ser um sonho não era. Acordei com calor. Olhei para cima e avistei o rosto de Jacob que, mesmo dormindo, parecia tenso, pesado... Como se ele estivesse sempre alerta. Talvez. Lobos selvagens não têm sono profundo, pois é preciso estar atentos. Com os quileutes também deve ser assim.
O fato é que eu me assustei ao me ver tão próxima de Jacob. Quando nós tínhamos nos aproximado daquele jeito? E o que teria acontecido na noite passada? Meu sonho era uma lembrança? Comecei a me apavorar com o teor dos pensamentos que surgiam. 
Encarei o peitoril atlético e perfeito à minha frente, sem perceber minhas mãos pousadas sobre ele, o acariciei fechando os olhos. Subitamente pensei em algo que para uma dama naquela ocasião não convinha pensar. Mas, eu também não sou lá uma dama como se deve.
Abri os olhos, assustada, e olhei rapidamente por baixo dos lençóis. Ele estava como eu esperava: de boxer. Está certo que um homem como ele de cueca agarrado a mim não é algo tão apropriado, mas se tratando de Black, eu surtaria se o encontrasse sem aquela bendita boxer. Eu também estava bem composta. Composta não, vestida.
Aliviada, furtivamente o olhei de novo e ele ainda mantinha sua expressão séria e desacordada.
Devagar me desenrosquei do aperto quente dos braços de Black. Vesti meu hobbie por cima da camisola e sai do quarto a fim de despertar afastando aquele... Ânimo incomum.
Escovei os dentes lavei o rosto e prendi meus cabelos em um coque. Preparei um café da manhã em agradecimento ao Billy e ao Black pela tão simpática hospedagem... E claro, eu também estava agradecida ao Black pela noite incrível com ele, mas ele não precisaria saber disso.
Billy acordou e encontrou-me na cozinha.

– Bom dia .
– Bom dia Billy. Como passou a noite?
– Bem. E você? – ao me perguntar isso, Billy sorriu e ergueu uma das sobrancelhas do mesmo jeito travesso que Jacob costuma fazer. Essa foi a primeira semelhança que eu pude notar em ambos. 
– Bem. – respondi tentando não demonstrar nenhuma reação que me constrangesse. 
– Que ótimo. Espero que Jacob não tenha roncado muito em seu ouvido esta noite. – Billy disse sorrindo e complementou: – Vou buscar alguns ovos.
– Eu posso ir. Eu preparei todos os que tinham mesmo. 
– Não, tudo bem. Não é longe.

Billy disse e saiu. Fiquei observando-o por cima do basculante da cozinha e descobri onde era o pequeno galinheiro: atrás da cabana, um pouco afastado. Não tinham muitas galinhas, via-se que era uma produção para consumo. Fiquei pensando, enquanto terminava de preparar a mesa do café, o que o senhor Black quis dizer com "espero que Jacob não tenha roncado muito em seu ouvido". Será que ele nos viu dormindo juntos? Ou ele pensava que aconteceu algo? Ou pior... Jacob teria transmitido pensamentos a respeito do assunto, para seu pai? Eu me enfureci levemente com a última probabilidade, mas decidi não acreditar que Jacob fosse capaz de algo assim. Eu estava distraída e me assustei quando Black surgiu atrás de mim acordado. Ele me abraçou por trás e beijou meu pescoço dando-me bom dia. Onde é que nós tínhamos parado, mesmo?

– Bom dia Black.
– Como passou a noite? – perguntou ainda abraçado comigo e virando-me de frente a ele.
– Bem... E você? – eu estava desconcertada.
– Ótimo. – disse com um sorriso sacana e encantador em seu rosto.

A cena era cômica e constrangedora: Jacob e eu abraçados como um casal, em poucas roupas. Na verdade, eu estava muito mais vestida com aquele hobbie do que ele, que insistia em se aproximar de mim apenas de boxer. Ainda o olhava e ele ainda sustentava o sorriso quando à porta da cozinha surgiu Billy flagrando nós dois naquela aproximação bizarra. Billy olhava a cena curioso. Certamente perguntando a si, em que momento nós deixamos de brigar e decidimos avançar tanto. Pelo menos eu, perguntava-me isso. De repente Billy abaixou a cabeça e riu discretamente. Ao me ver olhando para onde Billy estava Jacob também olhou.

– Já acordou pai? – ele arregalou os olhos e pela primeira vez, presenciei Jacob Black, totalmente envergonhado. Até mais do que eu. 

Ele soltou-me finalmente deixando eu terminar de pôr a mesa. 

– Não. É só uma miragem sua. Ainda estou dormindo. – Billy dizia sorrindo para mim na cozinha.

Jacob mantinha-se à porta, rígido e sem ação.

– Não se preocupe, acho que você não é o único tendo miragens, filho. Acho que tenho tido algumas...– Billy disse olhando Jacob nos olhos. – Já volto . Sua mesa de café está realmente chamativa. 

Ele disse para mim saindo em seguida com sua cadeira de rodas sempre silenciosa demais.

– Obrigada Billy. – respondi.
– Desculpe por isso. – Black desconcertado disse saindo em seguida, atrás do pai, eu suponho.  

Fofo ver Jacob daquele jeito, e cada vez mais, eu me encantava por suas peculiaridades. Segui em direção ao quarto de Black e no corredor eu pude escutar pai e filho conversando:

– Não é nada disso o que você está pensando, pai.
– Não? É uma pena. Eu não me incomodo nem um pouco.
– Do que está falando?
– É a , Jacob.


No momento em que Billy terminou de falar, Sue surgiu à porta chamando. Corri para o cômodo de Jacob, mas ainda espreitei lá de dentro, atrás da porta.
– E já está na hora filho.

Billy disse para Jacob no corredor saindo em seguida.
Black estava sério e assim que o vi se aproximar me afastei da porta. Eu mexia em minha mala quando ele entrou calado.

– Está tudo bem?
– Sim. – ele dizia observando-me mexendo nas minhas coisas, sentado em sua cama – O que vai fazer?
– Tomar banho e depois do café ir para casa.
– Você não pode ir para casa.
– Por que não?
– É perigoso.
– Então você decidiu contar sobre ontem. – eu afirmei me aproximando. 
– Ainda não – ele se colocou de pé à minha frente.

Mexeu em meus cabelos sorrindo e com olhar distante falou:

– Mani.
– Nunca soou melhor. – eu disse.
– Tenho certeza disso... Minha Mani. – ele divertia-se com isso. 
– Eu vou acabar me acostumando – eu afirmei sorridente, suspirando e fechando os olhos.

Eu senti um calor aproximando-se do meu rosto, mas não quis abrir meus olhos. O hálito refrescante de Jacob bateu ao meu ouvido em forma das palavras "é para se acostumar" e os lábios quentes de Jacob pousaram em minha face. Tudo executado o mais lentamente possível. Abri os olhos e ele me olhava invasivo. Distanciei-me pegando minhas coisas e indo para o banho.

– Até logo. – eu disse deixando um Jacob indecifrável jogado a própria cama.

Após o meu banho, Jacob foi ao banho e eu guardei as minhas coisas. Revisei se meus projetos estavam todos na pasta e algumas chamadas perdidas piscavam no visor do meu celular. 
"Cinco chamadas não atendidas de Erick Jones"


 O que o Erick queria comigo? Liguei para ele, mas o número não atendia.
Jacob surgiu no quarto inteiramente molhado e enrolado em uma toalha. Sorri para ele e olhando para a janela tentei falar novamente com Erick. Eu não consegui. Fiquei observando meu celular, em busca de alguma mensagem e preocupada com a insistência de Jones. O que teria acontecido?

– Aconteceu alguma coisa? – perguntou Jacob já vestido e aproximando-se.
– Não.
– Parece aflita com seu celular. Alguém ligou? – insistente ao assunto ele me encarava, mas como eu iria dizer a ele que minha aflição chamava-se Erick? E se ele se irritasse?
– Não, só alguns telefonemas desconhecidos. – disfarcei guardando o celular.  

Black sorriu e me puxou para fora do quarto. Passamos de mãos dadas pela sala, onde estavam Sue e Billy conversando à porta. Paramos. 

– Bom dia Sue. – eu disse sorrindo simpática.
– Bom dia minha querida. – ela acenou sorridente e discretamente olhou para minha mão presa à de Black. – Bom dia Jake.
– Bom dia Sue. – ele soltou nossas mãos indo até ela e depositando um beijo filial e muito carinhoso em seu rosto.

Sue intercalava os olhares dela para Billy, eu e Jacob, bem rapidamente, mas eu notei o que ela imaginava. Novamente recordei de uma de nossas conversas passadas onde ela pronunciou um "finalmente" a cerca de Jacob e eu, do qual eu não tenho certeza se remete ao que eu penso. Black também não ajudou muito em seguida. Soltando-se do abraço com Sue veio até mim, novamente pegando minha mão e me levando até a cozinha. Então ele voltou novamente à sala, ainda me segurando.

– Tome café conosco Sue! quem preparou tudo. – ele me deu um abraço de urso, todo feliz e orgulhoso. Sorri sem jeito, para Sue.
– Obrigada Jake, mas tem três lobos em minha casa para eu alimentar e logo, eles acordam. Desculpe
– Ah, tudo bem. Eu entendo. – eu disse quase sufocada por Jacob.
– Fica para outra vez. Sem dúvidas não faltarão oportunidades. – Sue completou olhando para Jacob e eu.

E entendendo o que ela disse, Black pigarreou e soltou-se de mim. Billy e Sue olharam cúmplices e despediram-se.

– Até mais garotos! 
– Até mais, Sue. – Jacob e eu dissemos uníssonos.  

Assim que ela saiu Billy, Jacob e eu fomos à cozinha tomar café. Na mesa não tínhamos muito, o que falar. Billy olhava-nos de um modo sorridente que me assustava e Jacob olhava sério para o pai e revirava os olhos. Sem dúvidas, eles conversavam mentalmente. Assim que acabei, quebrei o silêncio.

– Sem querer ser má educada. Muito obrigada Billy e Jacob, mas eu preciso ir.   

Eles olharam-se em dúvida. Não! Jacob trocou um olhar duvidoso com Billy.

– Tudo bem . Jacob a leva para casa. Mas tem certeza que não quer ficar mais um pouco?
– Eu agradeço, mas eu tenho que ir para a farmácia e terminar alguns estudos... Ah... Isso me lembra de que... Billy...
– Sim?
– Eu pensei em... Quero dizer, eu gostaria de saber se é possível que eu construa meu laboratório pelos arredores de La Push... Entendo perfeitamente se não puder.
... Lamento, mas... Isso implicaria em... Imagine se eu a deixo construir dentro da reserva e outras pessoas saibam... Eu já impedi muitas pessoas de trazer qualquer tipo de comércio para cá, e embora eu confie em você isso me faria perder a razão diante outros.
– Entendo. Eu imaginei isso também, mas não custava ter certeza.
– Por que quer construir seu laboratório por aqui? – Billy perguntou.
– Eu me sinto muito bem em La Push. Seria incrível trabalhar por ali, e eu estaria mais próxima a vocês... – eu sorri sem graça – Estou ficando um pouco dependente dos ares da reserva. – eu fiquei ainda mais sem graça e Jacob sorria sem me olhar.
– É compreensível, afinal você é tão solitária onde mora... – Billy sorridente me depositou um olhar compreensivo e tentando ser discreto olhou para Jacob que parecia querer perguntar algo.
– Por que não se muda para cá? – Black falou.
– Seria legal, mas não dá Black. Eu comprei um elefante branco.  

Billy e Jacob olharam-se e então Black levantou.

– Bem, então eu vou pegar as suas coisas. Tem certeza que não quer ficar por aqui mais um pouco?
– Se você me falasse o que eu quero saber, quem sabe. Fora isso, eu não vejo problema de voltar para casa. 

Jacob bufou contrariado e seguiu ao seu quarto para pegar minhas coisas. Um pouco depois já estávamos a caminho da minha casa. 

– Como chegou tão rápido à minha casa ontem? 
– Por coincidência, eu estava por perto.
– Fazendo o que?
– Então agora eu te devo explicações? – ele disse divertido.
– Você me deve muitas explicações Black. – eu falei óbvia.
– Eu voltava de uma entrega. Fui à Silverdale entregar uma mesa que esculpi.
– Ah... E a oficina?
– Com os últimos acontecimentos eu dei uma parada, mas a obra já está pronta. Falta só a pintura e a decoração.
– E onde ela fica?
– A dez quilômetros da saída de Forks. 
– E quando você vai me levar lá?
– Quando você quiser. – ele disse feliz e encantador. – Quer que eu a deixe em casa ou na cidade?
– Estou atrasada, mas preciso pegar meu carro antes de ir para a cidade.
– Não tudo bem. Não precisa se incomodar.
– Não é incômodo. Vou fazer isso, tudo bem?
– Sim. Eu agradeço.  

Entreguei a chave da minha casa para Black e ele me deixou na cidade. Abri a farmácia.
Eu tirava a poeira da vitrine de vidro quando avistei Erick entrando na lanchonete. Certamente iria tomar café da manhã. Lembrei-me das ligações dele e novamente retornei.

– Alô Erick. Bom dia. É a . Aconteceu alguma coisa?
– Bom dia . Por quê?
– Você me ligou várias vezes...
– Ah é. Eu gostaria de conversar com você. Pode ser?
– Claro. Estou na farmácia.
– Daqui a pouco passo aí.  

Um pouco depois ele saiu da lanchonete e veio calmo até a farmácia.

– Olá . Como vai?
– Bem, e você?
– Indo...
– E então, o que houve?
– É que... Ontem houveram alguns ataques nas proximidades de Kalil e eu te liguei porque estava preocupado. Fui à sua casa, mas você não estava.
– É eu fui para a reserva. Aconteceu algo estranho ontem e eu liguei para o Jacob que por sorte estava por perto.
– O que aconteceu?
– Acho que iam assaltar ou invadir minha casa. Eu não sei bem, não deu tempo. Eu me desesperei e o Jacob chegou há instantes.
– Sabe que pode me chamar se precisar.
– Obrigada Erick... Eu não te liguei por que... As coisas estão estranhas conosco não é?
– Bem... Sobre isso... Eu peço desculpas. Tenho sido muito idiota com você. Mas eu ainda sou policial, e seu amigo. Pode me telefonar em ocasiões como essa.
– Tudo bem... E o bebê?
– Que bebê?
– Achei que sua namorada estava grávida.
– Jessica? Desde quando?
– Já faz tempo que ela me falou.
  – Ela te procurou? – Erick a essa altura estava visivelmente nervoso.
– Não necessariamente. Ela veio comprar um teste de gravidez.
– O que? Mas... Quando? 
– Ah não lembro. Foi no mesmo dia em que você veio aqui e me beijou. Acho que já se passou um mês. Desculpe Erick... Eu achei que soubesse.
– Tudo bem deve ter sido engano dela. Ela me falaria se estivesse grávida.
– É. Falaria! Com certeza!
– Nós terminamos há algum tempo.
– Sinto muito.
– E você, o que achou das flores?
– Flores? Espera... Foi você quem mandou aqueles arranjos?
– Sim. Gostou?
– Claro. São lindas. Mas... Por quê?
... – ele se aproximou de mim devagar e segurou minha nuca – Não consigo ficar longe de você. É torturante. – ele iria me beijar.
– Não Erick. Por favor. – eu disse me afastando. 
– Desculpe. Espero que... 

Antes que Erick terminasse de falar Jacob apareceu na loja. Ele não viu, por sorte, que Erick tentou me beijar. Entrou e os dois ficaram se encarando com desprezo. O lobo e o homem. 

– Suas chaves. – Jacob estendeu as chaves do meu carro e da minha casa – Nos vemos depois? 
– Claro que sim. – eu sorri abertamente para Black. 

Jacob retribuiu-me com um abraço apertado e um beijo no pescoço.
Que mania era aquela agora? Era para me enlouquecer? E eu aderindo àquela louca atitude, mordi o ombro dele. Parecíamos dois selvagens. Ele olhou para mim sorrindo provocante. Acho que ele gostou. 

– Passe bem. – ele disse para Erick e saiu.

Erick demorou um pouco para voltar a me olhar. Não foi bacana obrigá-lo a presenciar aquela cena, mas eu agi no ímpeto do momento. Eu jamais impediria Jacob de me abraçar ou beijar na frente de quem quer que fosse. Talvez antes, eu até impedisse. Porém depois da noite passada, isso seria um crime. Eu queria muito mais daquela nova relação com ele. 

– Espero que as flores possam tê-las convencido a me perdoar. – Erick falou depois de encarar a rua por um tempo silencioso.
– Tudo bem. Acho que podemos recomeçar do zero. Não gosto de parecer uma ingrata com você. 
– Ingrata não. Apenas ingênua com suas escolhas.
– Erick...
– Tudo bem. Eu fico calado. 
– Sobre o ataque... Pode me dizer o que era?
– Não sabemos. Essa vítima apresentava os mesmos sinais no corpo que a maioria das vítimas de anos atrás. 
– Como assim? 
– Foi assassinada como todas as outras vem sendo, mas dessa vez o corpo estava inteiro. Não parece que um urso ou lobo selvagem possa ter feito algo. É coisa de gente.
– Então, esse ataque, diferente dos outros não foi por um animal? 
– Não tem nenhuma pista que leve a isso. A perícia dirá.
– E quem foi o atacado?
– Marcos Stwehood. Um rapaz de dezessete anos. Poucos conheciam. Dessa vez não era turista, nem alpinista. O pai disse à polícia que ele estava voltando da praia com a moto.
– Bem... Eu ficaria satisfeita de que me mantivesse informada sobre esses assuntos. Por precaução.
– Certo. Bom, tenho que ir. Tenha um bom dia. 
– Até mais Erick. 

Abraçamo-nos despedindo.

– Bom poder falar com você novamente. – ele disse em meu ouvido e saiu.

O dia seguiu como tantos outros: pacato. Steve pegou o turno da tarde e eu fui para casa. Concentrei-me no meu laboratório e pela internet encontrei um lugar ótimo para construí-lo. Fui atrás do vendedor, mas o terreno havia sido vendido. Liguei para Julian e disse para não marcar a visita da construtora.
Depois de muito procurar e nada encontrar eu comi um lanche rápido. Cuidei do meu jardim que não estava indo bem. Eu não tinha tempo para me dedicar a ele, as lagartas acabavam com tudo. Insetos que pareciam monstros. Tudo em Forks lembra a monstros? As plantas morriam. Com exceção das minhas plantas de estudo, as quais eu dedicava-me sempre, sem me descuidar. E dos arranjos de Erick. Um vaso de begônias e um de flores do campo que eu fiz, retirando mudas do buquê que Erick me dera. 
Depois de regar flores mortas fiquei um tempo analisando a fachada da minha casa. Por mais que a pintura fosse nova, tudo ali era sombrio. Um jardim fraco que não floria um casebre velho que em tudo rangia, ventos solitários e assustadores. Nem o cheiro de lá era bom. Uma mistura de floresta e bolor. Parecia que a vida não gostava de se manter em Kalil. E eu começava a sentir uma repulsa forte por aquele lugar. 
Onde será que ocorreu o ataque? Seria perto demais da minha casa? Aquele homem na minha porta teria alguma coisa a ver com o assassinato? Era um homem? O que Jacob viu? E qual era o nível de perigo que eu corria agora?
Entrei, tomei banho e retornei aos estudos da minha alga marinha. Descobri há algum tempo que a planta continha um poder muito alto de antídoto para veneno. Eu fiz alguns testes de reação com os venenos e a maioria deles, o sumo da planta combatia. Eu desenvolveria no laboratório, uma fórmula medicinal com o sumo dela. E a própria alga recém-retirada da água em contato com a pele produzia enzimas capazes de acelerar a cicatrização de queimaduras e cortes na pele humana. Era uma excelente, valiosa e revolucionária descoberta! Se Hernando e Julian sabiam disso eu não tinha conhecimento. Diziam eles que Sue ajudou-os muito em seus estudos, mas Sue não reconheceu a alga quando eu a mostrei no dia que recolhi.  
Cerca das sete da noite Jacob ligou para minha casa.

– Oi Black.
– Posso dormir aí? Estou preocupado com você.
– Não aconteceu nada até agora, mas pode vir sim. 

O ataque que Erick disse ter acontecido perto da minha casa me apavorava. Logo Jacob chegou.


09 - Scott Carter?


– E aí, como você está? – Jacob me perguntou assim que entrou em casa.
– Confesso que a cada dia que passa, eu tenho mais vontade de sair desse casebre.
– Aconteceu algo?
– Ontem teve um ataque. Aqui por perto. Erick veio à noite para saber como eu estava. Ele estava me contando mais cedo.
– Falando nisso... Vocês dois... – Jacob buscava as palavras.
– Nós?
– Voltaram?

Eu fiquei brava com aquela pergunta. Tudo bem que eu não dissera que o amava. Na verdade, eu não sabia bem o que eu sentia por Jacob, mas estava claro que alguma coisa mexia com nós dois. 

– Como pode me perguntar isso?
– Ele tentou te beijar.

Arregalei os olhos. Black olhava-me sério. Eu tive um pequeno temor de que a barreira antiga se erguesse novamente, mas isso era algo que eu não deixaria acontecer.

– Você viu...
– É. Por que não deixou ele te beijar?
– Queria que eu tivesse deixado?

Silêncio. Olhares. Ciúmes. Medo das respostas. Eram coisas que pairavam entre Black e eu naquela hora. E nos mantínhamos intactos. Sem mover um músculo.

– Só quero saber se não o beijou porque me viu, ou se há outro motivo.
– Não o beijei porque eu não quis!

Eu disse e me levantei indo até a escrivaninha da minha sala, ou "meu escritório". Comecei a guardar as minhas pastas, irritada, e já não falava nada. Ouvi os rumores dos passos pesados de Black, a meu caminho. Não desviei, não fiz absolutamente nada além de organizar minha escrivaninha.

... – ele sussurrou bem próximo a mim.

Ainda zangada com ele, eu parei tudo e fiquei imóvel. Não me virei para olhá-lo. Minha respiração era raivosa.

– Mani. – ele disse. 
– O que foi Black? – eu perguntei um pouco grosseira apoiando as mãos na mesinha e respirando fundo.
– Eu... Falei alguma coisa errada? 
– O QUÊ? – eu me virei ainda mais eufórica – Você não pode estar falando sério!
, se acalma! Você está tendo uma atitude exagerada! Foi só uma pergunta.
– Não Black! Não foi só uma pergunta! Foi a pergunta mais cretina que você poderia ter feito à mim! 
!? – ele estava assustado e tentou pegar minha mão, mas eu esquivei e fui andando até a cozinha.
– Olha aqui seu lobo peludo e irracional! Se você não sabe o que disse de errado, então esquece! Não quero falar sobre isso! 

Andei até a cozinha segurando-me para não ter a ridícula atitude de bater em Black. Não adiantaria nada. Ele veio atrás de mim.

– Peludo e irracional? – ele perguntou rindo, mas eu continuei séria e concentrada nas panelas que eu usaria.

Ao perceber que alguma coisa muito estranha estava acontecendo, Black me puxou pelo braço virando-me de frente a ele.

? O que houve?
– Nada. Desculpe.

– Ai, tá certo! Por que você me fez uma pergunta daquelas?
– Eu... Precisava saber.
– E?
– Não sei! Não sei! Eu vi os dois lá... Eu achei que... Não sei, me desculpe!

Já não estávamos tão próximos, Black andava de um lado para outro evitando o olhar. Nós não tínhamos nada um com o outro, nem mesmo declarações. Mas tínhamos uma noite passada. Um noite onde ficou bem claro que não existia apenas o Jacob e, a . Depois daquela noite, onde apenas compartilhamos a temperatura de nossos corpos e nada mais, eu achei que deu para notar que agora se tratava de Jacob e . Juntos. Dois. Dupla. Não era como antes, duas pessoas separadas e distantes. Alguma coisa nos unia, se não a proximidade, a amizade, alguma outra coisa. E eu tinha certeza que aquilo tudo precisava ser esclarecido.

– Black... O que está acontecendo conosco?
– Do que você está falando precisamente?
– Da noite passada. Nós dormimos juntos e não podemos negar que nossa relação mudou. Por que você agiu comigo daquela forma? Por que essa manhã tudo estava tão... Diferente!?
– Eu não sei, sinceramente. E não quero saber, não por enquanto.

Eu fiquei estática.
Então para ele nada mudou?
Que resposta era aquela?
Eu esperava no mínimo o silêncio! "Não quero saber"? Aquilo era algo positivo? Aquele era o mesmo Jacob?
Eu não emiti som algum, não demonstrei feição alguma. Agi, no máximo que pude, naturalmente. Se ele não demonstrara importância ou interesse nas oscilações que havia entre nós, eu também não!
Talvez eu estivesse errada e devesse insistir no assunto, mas naquela hora, eu não teria outra atitude se não a indiferença. Doía. Eu nem sabia por quê. Mas doía e eu suportaria a dor. 
Ao perceber meu silêncio, ele se pronunciou, mas eu relevei. Fingi uma distração com qualquer coisa desimportante.

?
– Sim?
– Está tudo bem?
– Está! 
– Luna, eu não quis parecer um cafajeste... Ontem foi... Maravilhoso.
– Black, tudo bem. Não temos que falar nisso. 
– Temos sim... É que eu tenho um vínculo com uma pessoa, mas eu não sinto mais nada... Nem sei se senti. É confuso é que... Você é especial, desde você eu já não sei qual a razão desse sentimento antigo, e tantas coisas foram mudando...
– Black! Eu não tenho a menor ideia do que você está falando. Não precisa explicar. Até porque nem mesmo você sabe o que dizer. – ficamos um tempo em silêncio nos olhando – Vou preparar logo, algo para comermos. Alguma preferência?
– Não... Eu te ajudo.

Fomos fazer o jantar. Durante todo aquele período ficamos em silêncio. Até nós comermos. Enquanto estávamos à mesa, o passado momento confuso desaparecera, ainda que por instantes.

– Eu preparei uma coisa para nós amanhã... – ele disse.
– O que? 
– Se lembra que você prometeu me mostrar seus dotes de motoqueira rebelde? Que tal amanhã? 

Ele sorriu e eu também.

– Seria uma boa, mas... Não tenho uma moto.
– Mas eu tenho. Duas. E amanhã bem cedo nós vamos pilotar. 
– Eu tenho turno na farmácia às oito.
– Prometo ser pontual.

Sorrimos e depois disso, nada mais foi falado. Passamos o jantar inteiro nos encarando. Depois arrumamos a cozinha juntos. E eu percebi o quanto tudo aquilo era torturante, pois antes, havia uma barreira e nós mal nos falávamos, era suportável. Mas ali, naquele instante onde já sabíamos da importância um do outro... Todo aquele afastamento era dilacerante. No corredor indo aos quartos para dormir, nós paramos em frente à porta do meu quarto. Eu cheguei a pensar que dormiríamos juntos. Mas não. Seria muita loucura e hipocrisia. Estávamos frente a frente. 

... 
– Boa noite Black. – eu me virei para entrar.
espera! – ele me segurou – Eu estraguei tudo não é?
– Não. Está tudo bem, boa noite. – eu tentei sair, mas ele ainda segurava meu braço.
. – eu já conhecia aquele tom de voz dele. Não adiantaria mentir ou fingir. 
– É Black... Você bagunçou bastante sim. – eu disse séria e controlando para não deixar lágrimas revoltadas caírem.
– Deixa, eu me explicar melhor? 
– Não. Não Black. Eu estou cansada, com sono. Amanhã nós conversamos.

Eu disse, beijei seu rosto e entrei no meu quarto. Depois de tudo aquilo, eu só queria dormir. Não pensar em dúvida alguma.
Embora eu tentasse dormir, não obtive sucesso imediato. A pergunta "Por que, Black?" martelava em minha cabeça e assombrava-me como a um fantasma. 


Ao amanhecer eu levantei junto com os primeiros raios solares. Torci para que Jacob estivesse muito cansado e não acordasse antes de mim, não sei se teria cara para encará-lo. Por sorte, eu acordei primeiro. Desci e antes mesmo de ir à cozinha, abri a porta da sala.
A entrada daquele casebre naquele horário proporcionava uma bela visão do nascer solar sobre a copa dos pinheiros. Como se o Sol se ocultasse na densa mata à frente. Enquanto eu inspirava a brisa matutina –  com agradável cheiro de orvalho e uma pequena pontada desagradável de bolor – recordei que raras vezes eu apreciara aquele momento lindo, na minha "mansão dos horrores". Então olhei para o chão da varanda. E era engraçado repetir um gesto que eu sempre fazia, mas que agora já não causava as mesmas sensações. As sensações da misteriosa proximidade dos lobos. Agora, eu já sabia de tudo. E ali, observando meu piso coberto de poeira e nenhum pêlo, eu imaginava qual seria a razão dos quileutes não mais me protegerem, se ainda havia perigos. Perigos do tipo que fazem Erick me procurar de madrugada para me alertar e, eu ter que pedir socorro ao Jacob. 

Jacob... Por que ele não falava logo o que ocorria? Talvez fosse mais fácil. 

Saí dali preparada para iniciar a manhã com uma deliciosa xícara de café. Ao chegar à cozinha, preparei o café da manhã de Black. Enquanto eu terminava o sanduíche com pasta de amendoim, que Jacob tanto gostava, ele surgiu à porta da cozinha. Nós não sabíamos como agir. Ficamos nos olhando silenciosos e era como se a noite passada não houvesse passado. Entretanto, eu estava mais tranquila.

– Bom dia.
– Bom dia .
– Dormiu bem?
– Sim. E você?
– Mais ou menos.

Terminei de falar e ele se aproximou da bancada sentando na banqueta ao me lado. De frente para mim. Fiquei de pé, meio que entre as pernas dele. E Jacob não parava de me observar. Eu me sentia incomodada. 

– Coma. – eu disse, apontando para a mesa posta.
– Pasta de amendoim? Meu favorito. – ele falou pegando o sanduíche e, eu ainda fugia do olhar dele servindo-me de mais café. 
– É eu sei. – eu concordei e então me sentei.  

Eu não sei dizer o motivo, mas era difícil olhá-lo. Principalmente por sentir os olhos fulgurantes dele sobre a minha silhueta.

... Sobre ontem...
– Black. Não sei se quero falar disso. – finalmente o olhei.
– Mas eu quero explicar. Eu preciso.
– Mas eu não quero ouvir! Não agora! 
– Nós temos que falar! – ele também aumentou a voz.  

Olhávamos com olhos arregalados e histéricos um para o outro, e assim que percebemos aquilo abaixamos a cabeça. 

– Já estamos discutindo de novo. – ele disse sem me olhar.
– É isso que estou querendo dizer... Não estamos preparados... Na verdade, nós não temos nem mesmo motivo para isso tudo. Temos? – eu falava ainda encarando o chão.
– Temos. – ele falou erguendo meu rosto. – Mas concordo que podemos esperar para esclarecer qualquer coisa.
  – Ótimo.  

Tomamos café e esquecemos todos os ocorridos. Éramos a e o Jacob tomando café, como se nada houvesse desestruturado a paz entre ambos.

– E então... Perdemos a hora não é? – ele disse sorrindo.
– Nossa! É mesmo! Eu me esqueci do passeio... Desculpe.
– Tudo bem. Acho que nós dois fomos dormir tarde.
– Quando pode ser?
– Quando você quiser.
– Amanhã? É sábado e eu não vou trabalhar.
– Às sete?
– Pode ser.
– Até lá então. – ele disse beijando a minha testa e levantando.
– Espera! Onde você vai?
– Embora. – ele disse calmo.
– Ah... Tá.

E de novo estávamos como dois paspalhos. Ele começou a rir balançando a cabeça negativamente e veio até mim, eu o olhava confusa. 

– Você me perturba tanto... – ele disse.

Era para eu considerar uma ofensa? Por que eu considerei e o xingaria se ele não tivesse me puxado pela mão, levantando-me e me apertando em um abraço forte. Beijou meu pescoço. Mordi seu ombro. Havíamos nos despedido. Sempre daquele jeito. Levei Jacob até a porta e fui arrumar tudo para mais um dia de trabalho.
Na farmácia tudo seguiu na "mesmice" de sempre. Eu ainda procurava um bom terreno para o laboratório. Erick surgiu na farmácia para deixar espalhados alguns cartazes de "procura-se".

– São suspeitos dos ataques? – perguntei.
– Não. Esses são assaltantes que tem importunado os alpinistas.

Assim que ele terminou de falar, a senhorita nojenta Parker entrou na farmácia.

– Bom dia Erick. – ela foi abraçá-lo – Sumiu lá de casa por quê? 
– Daniela... Você sabe que não faz muito sentido não é?
– Jessica está desesperada para falar com você. 
– Aconteceu alguma coisa?

Meu cérebro parou ali. Eu não os olhava, mas encarava a tela do meu computador. Parei o que fazia. "Desesperada para falar com você", "aconteceu alguma coisa". Ela estaria grávida ? Iniciei as contas mentalmente do dia que ela foi à farmácia e... Despertei de meu transe. 

– Aconteceram muitas coisas não é Erick?
– Ela pode me ligar.
– Bem... Porque não passa lá em casa? Essas conversas devem ser feitas pessoalmente, não acha?

Eu já estava novamente concentrada no meu trabalho, e atenta à conversa.

– Tudo bem Daniela. Diga à Jessica que pela noite ao fim do meu expediente eu passo lá.
– Claro!  

Assim que terminou de falar ela me olhou vitoriosa. Era o que faltava! Ela estava tentando me deixar mal com aquilo tudo? Coitada. 
Erick ficou parado à porta nos observando enquanto ela vinha em minha direção.

– Bom dia, Daniela. – eu disse.
– Bom dia. Tem esses medicamentos? – ela disse desprezível entregando uma receita.
– Só um minuto.   

Conferi o CRM do médico que assinou a receita, e as dosagens passadas e entreguei à ela a medicação. Ela pagou e saiu despedindo-se somente de Erick.

– Qual é o problema de vocês duas? – ele me perguntou.
– Eu não sei. Desde que eu cheguei aqui que implicam comigo.
– É porque você é muito bela, diferente e atraente,

Eu sorri sem graça. E agradeci pelo elogio.

– Será que a Jessica está grávida? – ele me perguntou.
– Bem, eu não sei.
– O que ela poderia querer falar comigo?
– Juro que também não sei. Apesar de sermos amigas íntimas. – falei ironicamente com cara de óbvia para ele. Erick riu.  – Fique tranquilo. Não deve ser nada grave. – falei tentando despreocupá-lo.
– É. Tomara. – ele me beijou no rosto e despediu-se – Fique atenta aos cartazes! 
– Pode deixar! 

Depois do meu turno acabar, eu fui ao mercado.

– Boa tarde Carters! – eu disse aos rapazes parados ao lado de uma prateleira e fui entrando. 
– E aí ! – Peter gritou.

Acenei e continuei minhas compras. No caixa estava, apenas Scott.

– Olá Scott!
– Tudo bom, ? – disse sempre muito simpático.
– Sim, e você?
– Indo. 
– Parece cansado.
– Um pouco.
– Está mesmo tudo bem, Scott?  

Então ele parou de passar as compras e olhou para mim, amargurado.

– Pode confiar em mim, Scott. – eu disse.
– Aceita sair à noite? Para conversamos? 

O tom dele era sério. Incomum para a figura descontraída e galanteadora de Scott Carter.

– Claro! Que horas? 
– Pode ser às oito?
– Pode.
– Combinado. – ele sorriu forçadamente.
– E seus pais? – perguntei.
– Minha mãe foi acompanhar meu pai em uma consulta lá em Seattle.
– Está tudo bem com ele?
– Só rotina.
– Ah... – terminei de empacotar as compras e me despedi – Até mais tarde então, Scott. 
– Até lá. Se cuide.
– Você também! – olhei para Peter mais afastado arrumando algumas coisas e acenei – Até mais Peter!
– Beijão Luna! – ele gritou.

Eu saía descontraída do mercado e até pensativa sobre o comportamento de Scott. O que estaria acontecendo com ele? De repente esbarrei em alguém.

– Oh, me desculpe! – eu disse erguendo os olhos à pessoa. 

Bruh. Bruh Ateara era a pessoa em quem esbarrei. Ela ficou me encarando sempre diretamente e com aqueles olhos de predadora. Entretanto eu também agi da mesma forma. Passamos lado a lado devagar, e nos olhando desafiadoras.

– O que foi indiazinha? Quer lutar? – ela perguntou zombeteira. – Olha que eu faço um estrago hein!
– Não me subestime, criança! – zombei também – Posso não ter as mesmas táticas que as suas, mas eu também sei ferir. Onde mais dói.

Olhei-a ainda mais confiante e ela entendeu o que eu quis dizer com "onde mais dói"

– Você acha mesmo? – ela falou furiosa – Não deu certo para ele uma vez, e não dará de novo! Ele já sabe que garotas como você não podem curá-lo!

Ela disse e saiu sorrindo torto. O que ela queria dizer com aquilo? Do que Bruh falava? Curá-lo? Garotas como eu? Não dar certo de novo?                Eu saí dali furiosa e dirigi ainda mais rápido para casa.

– Lobinha ridícula! Cachorra de meia-tigela! Quem ela pensa que é? Aquela pirralha!!! 

Eu xingava Bruh enquanto entrava furiosa em minha casa e de repente um lampejo me veio à mente. Eu não sei como eu poderia estar pensando em outra coisa ao ponto de imaginar outra ideia naquele instante, mas sim... Obtive uma análise que eu torcia para ser engano.  As palavras dela ressoaram como se a cena repetisse.

"Você acha mesmo? Não deu certo para ele uma vez, e não dará de novo! Ele já sabe que garotas como você não podem curá-lo!".
"(...) É que eu tenho um vínculo com uma pessoa, mas eu não sinto mais nada... Nem sei se senti. É confuso é que... Você é especial, desde você eu já não sei qual a razão desse sentimento antigo, e tantas coisas foram mudando..."


Jacob teve outra pessoa. Ou ainda tinha. Alguém que não deu, ou não estava dando certo. Bruh? Não, ele garantiu-me que não a suportava! E depois... "sentimento antigo" ele disse...
De repente outro insight de outra conversa, mais antiga, entre eu e Embry:

"Sabe , Jacob sente amargura. Ele era apaixonado por Bella, mas então... As coisas tomaram rumos diferentes. Ela deve ter te comentado algo sobre isso, não?"


Bella. A minha antiga amiga. Era isso, então! Jacob falava de Bella. A garota como eu de que a Bruh dissera, o sentimento antigo... Era a Bella! Jacob não conseguiria se relacionar por causa dela? E... Seria por ela também, que ele me evitou tanto no início? Algumas coisas pareciam começar a fazer sentido, mas em todo o caso, eu não tinha a menor segurança sobre aquela hipótese. Não senti que fosse Bella, a lembrança que se colocava entre nós. 
Fiz tudo o que pude para afastar aqueles pensamentos. Eu estava começando a perder o controle sobre o que eu sentia. Jacob começava a ocupar uma parcela grande demais dos meus desesperos e tornava-se cada dia mais, o motivo maior de minha insônia. Talvez, eu começasse a nutrir alguma coisa forte por ele, mas não era amor. Não poderia ser amor. Pois, pelos clichês, não é assim que o amor começa.
Entre minhas flores, minhas fotografias amadoras, meus projetos com o laboratório, a construção e a biologia, eu dividia o meu tempo. Impressionante, ainda havia espaço para os lobos uivarem na minha mente.
Às seis horas parei com tudo o que fazia e fui separar a roupa que usaria para sair com Scott.  Preocupava-me vê-lo daquele jeito.
Apesar da bela aparência e da excelente personalidade, Scott parecia ser muito solitário. O que é muito controverso para alguém no qual a aura acarreta simpatias inúmeras, principalmente do público feminino. Daniela Parker que o diga! Scott parecia não ter amigos, sempre ocupado, sempre solícito, como alguém que cuida de tudo para os outros, mas não para ele.
Tomei banho e me arrumei casualmente. Preparei um chá e fui ler um livro enquanto o aguardava. E não demorou muito.

– Boa noite! – eu disse assim que abri a porta e o vi. 

Ele estava muito bonito. Simples, mas irremediavelmente bonito. O que me fez pensar se ele realmente tinha planos somente para uma "conversa".

  – Boa noite. Você está linda.
– Ah obrigada, mas estou o mais natural possível.
– Eu sei disso.   

Ele ainda conseguia me encabular com a serenidade na qual me depositava elogios tão singelos.
– Entre, entre. 
– Como consegue ficar tão só? – ele me disse.
– Como assim?
– Esse bairro... Me dá arrepios, confesso. E a sua casa tão solitária... Você não teme ?
– Temo. Muito. – eu ri – Mas eu a comprei não é? Não vejo como me livrar dela, e depois, eu não tenho para onde ir. É o único bairro disponível em Forks. Parece que as pessoas não querem sair daqui, mesmo apesar de tudo o que acontece. 
– É... Tem razão. Mas você precisa de uma companhia. 
– Poderia me dar um exemplo? – eu disse curiosa. 

Ele estaria sendo malicioso? Não sei. Scott é sempre muito discreto e, educado como um príncipe. 

– Sei lá – ele riu – Alguém para não ficar tão só... Um parente. Ou algo que a protegesse como um cão, ou um marido.
– Eu tinha os lobos, mas parece que eles saíram de temporada.
– Os lobos não deveriam te causar tranquilidade. 
– E... Um marido? Fala sério, Scott! Casar?
– Não quer casar?
– Talvez um dia... Por enquanto, tenho outros planos.
– Entendo... Vamos?
– Claro. – peguei minha bolsa, apaguei as luzes e tranquei a porta – Aonde iremos? 
– Nada público. Não queremos fofocas, não é? No seu caso... Mais fofocas.
– Sim! – eu concordei rindo – Algum lugar secreto?

Ele ainda estava menos animado do que o normal. 

– Um vilarejo próximo. Meia-hora de viagem. Mas, garanto que não irá se arrepender.
– Tudo bem, eu gosto de vilarejos, lugares simples...
– E aldeias indígenas. – ele disse sem emoção.
– É. Você tem algum problema com isso? – perguntei sem parecer estúpida.
– Não. Também gosto.

Fiquei observando Scott dirigir. O cenho do rosto pesado, a boca rígida, os olhos sem foco. Transparecendo uma alma assombrosa, perturbada, um fantasma interno. E eu estava tão desconfortável com aquilo! Eu precisava ajudá-lo. Aquele não era o Scott.

– Scott. O que está acontecendo? Você está tão triste, e eu estou realmente preocupada.
– Está preocupada comigo?
– Sim.
– Por quê?
– Porque você é meu amigo. E eu sei que tem algo o incomodando muito... Conta comigo?
– Desculpe , eu não quero te preocupar, ou fazê-la achar que estou sendo um imbecil de propósito... Fazê-la me desprezar ainda mais...  

Desprezá-lo ainda mais? Oh não...

– Desprezá-lo? Eu nunca o desprezei Scott. Nós já saímos tantas vezes não é? Eu, você e o Peter. Menos vezes do que eu gostaria, mas em todas, acho que deixei claro o quanto gosto de você...
– Sim, deixou. Desculpa ... Talvez seja melhor esperarmos chegar, para conversamos sobre isso.
– É por mim que você está assim, não é?    

Ele me olhou de soslaio incomodado. E bastou. Será possível que eu sempre estou incomodando? Entre os lobos e entre os homens? Tem algum lugar só meu, feito só para mim?
–Posso ligar o rádio? – perguntei.
– À vontade. – ele sorriu.

E no meio daquela música entorpecente e frenética, "From Now On" dos The Features, eu observava pela janela os pinheirais de Forks correndo como se tivessem vida própria. Começava a pensar no que dizer ao Scott. Estava claro que o assunto dele era sobre o que sentia por mim. A minha mente traíra e cruel, me importunava em distrair-me com Jacob, ao invés de formular uma desculpa decente para Scott.
Jacob, Jacob, Jacob... Quando eu me livraria daquele nome na minha cabeça? Nem percebi quando chegamos, porque como eu dissera, eu travava uma luta interna comigo mesma, segurando lágrimas, ódio e desejo por Jacob. Scott me chamava já há algum tempo.

– Você está bem? Chamei umas três vezes... 
– Desculpa Scott... Estava distraída. 
– Hum... – ele olhou em meus olhos como se soubesse no que, ou em quem eu pensava – Vamos?
– Sim.

Ele abriu a porta do carro para mim e ao descer eu me deparei com um lugar incrível.
Uma cabana com lâmpadas amarradas em cordas que se uniam cabaninha por cabaninha. No meio uma grande rua que levava a uma cabana maior ao fundo. Pessoas sentadas em suas varandas, crianças correndo na rua, casais de namorados sentados nas escadarias das cabanas e ao fundo da cabana à nossa frente muito som alto, barulho de vozes e risos. Era um bar. Típico "Saloon" de faroeste.

– Que lugar é esse Scott? – eu disse maravilhada em presenciar uma cena tão antiga de filme.
– Vilarejo Menitt Howa. 
– Indígena?
– Sim, mas não tão mais indígena há muito tempo... Alguns costumes foram mudados com o tempo.
– É um lugar incrível.
– É... Mas só tem isso. – ele disse me olhando e sorrindo – As cabanas dos moradores e o velho bar.   

Scott abriu a porta para que eu entrasse no bar enquanto eu olhava ao redor.

– "Tá" brincando?
– Não. É um esconderijo perfeito não acha?
– É sim! – eu disse sorrindo.      

Sentamos em uma mesinha ao fundo. O lugar parecia muito com os velhos salões de bebidas do faroeste. A não ser pela decoração cheia de carrancas, artesanatos de tribos e muitos rostos simpáticos. Scott fez sinal para uma garçonete. Devia ter seus oitenta e alguns anos, um cabelo negríssimo, com poucas mechas grisalhas que media até os joelhos todo trançado. Alguns penachos decorando seu penteado, olhos pequenos e puxados. Lembrava o rosto dos asiáticos, mas a pele era vermelha, como da maioria das tribos americanas antigas.

  – O que vai querer beber ?
– Não sei, o que vai beber? – eu dizia admirando a mulher sorridente, que me olhava como se me conhecesse há anos.
– Eu estou dirigindo. Quer cerveja?
– É, pode ser. – eu ainda encarava a mulher de forma encantada. Ela era linda. Transmitia uma paz...
– Silakan melayani kita bir dan kaiak.  – ele disse à mulher.
– Ya pak. – ela respondeu sorridente saindo em seguida.
– Mas o que foi isso? – eu perguntei surpresa.
– É a língua que eles adotaram ao virem da Ásia.
– Como sabe dessas coisas?
– Frequento aqui há bastante tempo... Eu trago a mercadoria para que eles vendam.
– São seus fregueses?
– Não. São meus amigos. Ninguém sabe desse lugar.
– Além de mim?
– É. – ele disse rindo.

O astral de Scott começava a mudar. O que era totalmente compreensível estando naquele lugar.

– Eu vendo para eles por um preço pequeno, só vendo porque a mercadoria é do meu pai, se fosse minha eu os doava. Vivem com tão pouco. Distantes de tudo. Eles também fazem os trabalhos manuais deles que são vendidos na estrada e têm suas receitas próprias aqui na cabana.
– Eu acho que você não poderia ter me trazido a um lugar melhor... 
– É perturbador presenciar a forma como você fica diante situações como essa.
– O que quer dizer?
– Seus olhos... Transmitem uma alegria que não vejo em você quando está na sua rotina. É como se você pertencesse a esse mundo.
– Seu pai estava certo quando me viu e perguntou se eu era quileute. - Scott espantou-se com o que eu disse. – Quero dizer... Eu não sou uma quileute, mas eu tenho sangue indígena. 
– Sério? Isso explica algumas coisas.
– Meus pais... Eram filhos de indígenas. 
– Você é realmente a pessoa mais surpreendente que Forks já vira... Nem mesmo os Cullen causaram tanto alvoroço nas pessoas. 
– Cullen?
– Uma família estranha que morou por aqui. Há alguns anos eles se foram. E Bella foi com eles, ela casou-se com um deles.
– Porque nunca me disse isso?
– Não sei, talvez não tivéssemos falado de nada que me levasse a comentar...    

A senhora chegou com a bebida 'kaiak' e a minha 'ber'. Quando ia saindo disse outras coisas para Scott e olhando para mim sorriu.

– Dia benar-benar indah. Tapi masa depan mereka tidak menyeberang.
– O que ela disse? – eu o perguntei.
– Não entendi... – ele havia compreendido, mas não queria me contar.
– Por que eu causo tanto alvoroço nas pessoas Scott?
– Eu não consegui compreender ainda, mas... Papai disse que, grandes mudanças vieram com você.
– Por que as pessoas se importam tanto com o que o seu pai diz... Quero dizer, é como se elas confiassem na certeza das palavras dele.
– Meu pai nunca diz algo que não acontece. Ou que não tenha coerência. 
– Ele é um tipo de profeta?
– Não. – ele riu – Mas sempre acerta, na grande maioria.
– E que mudanças são essas?
– Ele não diz. Acho que não sabe. Mas toda a cidade sente.
– Como assim?
– As pessoas sentem-se atraídas por você, mas não sabem se isso é bom... Não percebe isso?
– Medo?
– Não... É algo maior...

Ficamos nos olhando silenciosos. 

– Seu olhar Luna... Ele é fulgurante. Anunciador de alguma coisa além do que podemos compreender.  

Eu ri assustada.

– Sou um mostro? – eu disse fazendo Scott rir.
– Não. Só não é alguém comum. Nem surgiu para pequenas coisas. Conte-me sobre suas relações com as pessoas.
– Ah... Nós começamos a nos relacionar mesmo na adolescência não é, e eu sempre fui rodeada de amigos. Algumas intrigas também, mas normal.
– Sempre foi popular, não é?
– É, acho que posso dizer isso.
– Ninguém consegue imaginar você e Bella como amigas. Principalmente porque Bella era... Apagada. O contrário de você. Eu por exemplo, sentia algo de sombrio nela. Acho que é por isso que algumas pessoas te evitam, por saber que Bella trazia um desconforto para nós e quando se uniu aos Cullen isso ficou maior. Eles não eram más pessoas. Mas, eram muito distantes de todos, um pouco estranhos. E acho que as outras pessoas querem ficar perto de você por achar serem poupadas desse mesmo desconforto de Bella.
– Bella não tem sido o melhor ponto de referência para mim desde que cheguei. Ninguém fala nada que possa explicar isso. Mas acho que ninguém sabe de fato sobre alguma coisa que poderia resolver a situação.
– Só os quileutes. Eles devem saber. – Scott estava diferente de novo.
– Por que diz isso?
– Eles são conhecedores de todos os mistérios da cidade. É o povo mais antigo. Os primogênitos de Forks. É por isso que você é tão apegada a eles?
– Não. Eu realmente gosto deles.
– Outra? – perguntou-me desviando o assunto para a minha bebida. 
– Sim, por favor. 
– Quer experimentar uma comida típica deles? 
– Hum, claro! 
Rasa Tanah. Rasa significa sabor e Tanah, terra. É meu favorito.

Scott chamou a velha índia e fez os pedidos.

– Você parece à vontade aqui.
– Sim. É meu refúgio. Surya sempre foi uma grande amiga, uma ótima conselheira.
– Surya... É o nome da senhora que nos serviu?
– Sim. Ela é a Ibu pemimpin keluarga da vila. A matriarca. É a mais velha viva. 
– Qual a idade dela?
– Esse ano completará cento e quinze anos. Mas tem alma e carinha de oitenta.

Olhei-o assustada e nós rimos da piada dele. 

– Ela é linda.
– Sim. O povo diz que Surya foi a mais bela mulher da aldeia. Desejada por todos. Mas casou-se com o filho do cacique. 
– E ele?
– Morreu em uma batalha. Ela não era apaixonada por ele e quando ele descobriu propôs ao homem que ela amava a disputa por ela. É um dos costumes da vila, que já não existe mais. Aqui o que manda é o sentimento das mulheres. Os homens devem zelar pela felicidade delas.
– Que incrível!           

Aquele Scott era até mais encantador do que o outro. 

– Por que está me olhando assim? – ele perguntou.  

Outro indígena veio nos servir enquanto Surya apenas nos olhava cautelosa do balcão.

– Como você pode ser outra pessoa tão encantadora quanto a que eu conheci no mercado? Eu jamais... Imaginaria você com tudo isso. – eu apontei para nossa volta.
– Então eu acertei. Eu sabia que quando eu a trouxesse aqui você iria gostar mais desse Scott.
– Não. Não gosto mais. Eu continuo gostando de você da mesma forma Scott. Só a minha admiração que aumentou.
– Que pena. Eu achei que conseguiria.
– Scott... Vamos voltar ao ponto que paramos no carro... O que você está sentindo, além de tristeza por ter sido desprezado, embora não tenha sido? – eu disse sorrindo, tentando mostrá-lo serenidade e conforto.
– Eu te amo. Evitei dizer todo o tempo. Mas acho que sempre deixei claro o meu interesse, não é?
– Amor? Isso é tão inconsistente Scott...
– Por quê?
– Porque para amar a gente tem que conhecer.
– Embry já havia me dito que você não acredita no amor imediato.
– Embry? Quando falaram sobre isso?
– Já tem algum tempo. Nós também somos amigos. Eu contei a ele o quanto eu sentia a necessidade de estar mais perto de você, mas eu sabia que você não se interessava por mim. Então o procurei para perguntar se você estava com alguém da reserva. Tomei um susto quando ele me disse que vocês estavam juntos, mas já haviam terminado. Então ele disse que eu deveria ser sincero com você, mas só falar quando eu realmente estivesse preparado, pois você não acredita na capacidade de amar de repente.

Eu estava mais do que surpresa. Estava confusa. Guardei cada palavra. Tudo mereceria uma análise quando eu chegasse em casa.

– Estive me preparando essa semana para te dizer o que sinto e receber um não, bem grande. Mas confesso que por mais que eu já saiba o que você vai me dizer, está sendo difícil me conformar.
– Como sabe o que eu vou dizer?
– Que no momento você não está preparada. Que está confusa com algumas coisas, com outra pessoa. E que espera que possamos continuar amigos, e irá dizer também para eu pensar um pouco mais no que eu sinto. Porque não quer me magoar e não quer que eu me confunda.
– Você é bom. – eu disse envergonhada – Isso é... Constrangedor. Eu já sabia que o assunto era mais ou menos isso e que eu teria que dizer alguma coisa, mas não consegui pensar em nada para te dizer. Nem mesmo nisso tudo o que você disse. É que... Eu estou em uma escuridão interna e a única coisa que tenho procurado é uma luz. E não sei de onde ela virá, que forma tem ou quando acontecerá. Só estou armazenando todas as possibilidades dentro de mim para só depois dá-las um rumo.
– Isso significa que?
– Não deve ter esperanças. Não estou dizendo nem sim, nem não. Pode ser que um dia sei lá, as coisas me levem a nós, mas não confie nisso. Eu nunca vou tomar alguma atitude até que eu tenha certeza dos riscos. Na verdade, isso é mentira. Eu tenho me arriscado muito ultimamente e não consigo refrear esses atos impensados, mas sei que quando o risco não virá para mim, e sim para alguém importante a mim, eu analiso com cuidado. Eu não arriscaria nem um fio de cabelo de quem eu amo.
– De quem ama... Como pode dizer isso? Há pouco falou que para amar a gente tem que conhecer... – ele desafiou-me de um jeito calmo e sereno. O jeito de Scott.
– Eu... Scott... A questão não é essa! Eu amo você, amo o Peter, o Erick, os quileutes... Os poucos amigos que tenho aqui como iguais. Mas o amor ao qual você se refere, não é amor. É paixão. Não estou dizendo que você não pode me amar, só estou dizendo que o que você sente ainda não pode ser amor.

Scott me olhava apoiando a cabeça nas mãos em cima da mesa. Bebia seu kaiak e fitava-me como se tentasse invadir meu interior.

– Que cara é essa? – eu perguntei aflita.
– Estou tentando decifrar você... – ele me fez sorrir sem graça descontraindo-me do meu desconforto – Então quer dizer que... Eu posso não perder a esperança, mas não acreditar em nós?
– Scott... Só vamos deixar que aconteça se tiver que acontecer.
– Tudo bem. Eu sei que não sou eu. Sei que não vai acontecer, mas uma única vez... Você vai ser minha . Porque não existe outra. E nem vai existir. 

Eu não sabia o que dizer. Olhei para ele de olhos arregalados e ele continuava calmo, com um grande sorriso. Ele me levara lá, para despejar aquilo tudo em mim? A velha senhora aproximou-se de nós e encostando a mão no ombro de Scott disse:

– Gadis itu bingung. Dan kau membodohi diri sendiri. Gadis itu bukan milik tujuan Anda.
– Dia mungkin bukan milik, tapi melalui itu.


Fiquei confusa observando a conversa e algo me dizia que Scott não me diria o que era. Então eu peguei meu celular e gravei escondido o que eles falavam.

– Jangan kejam terhadap Anda. Ini tidak akan berlangsung dan hanya apa yang akan menjadi tanda yang.
– Tapi tanda-tanda ini bisa menjadi hal yang baik, dan saya ingin.
– Hal ini bukan untuk Anda. Terimalah.
– Saya telah menerima. Dan itu tidak berarti tidak dapat setiap bagian dari diriku.
– Jika seperti yang Anda katakan, maka mudah-mudahan benar-benar siap.
– Saya siap untuk waktu yang lama.
– Jalur tidak kembali, dan hanya sampai dia untuk memilih.
– Dan aku tahu apa yang dia akan memilih.
– Anak laki-laki riang, tidak tersesat. Dan aku akan selalu berada di sini untuk apa pun yang Anda butuhkan.
– Aku tahu Nenek itu.


A senhora sorriu para nós e saiu.

– Eu vou arriscar... Vou saber o que ela disse?
– Não. É melhor não.
– Tudo bem.  

Continuamos conversando e nada mais sobre aquele assunto foi tocado. Eu conheci todo o vilarejo. Scott e eu andávamos como bons amigos de braços dados. Ele apresentou-me a muitos moradores da vila, e embora fossem dez horas da noite, não parecia que eles iriam dormir tão cedo. Um povo muito animado. Todos se referiam a Scott como "Anak laki-laki riang". As crianças da tribo gostaram do meu cabelo, talvez pela mistura dos tons negros e castanhos, para elas incomum. 

– O que significa "Anak laki-laki riang"
– Menino alegre, menino despreocupado... Mais ou menos isso.
– Puxa, era mais fácil que eles falassem apenas Scott. Tão menor! – e nós rimos.  

Um pouco depois nos despedimos da vila, e prometi que voltaria. Entramos no carro e enquanto Scott dirigia indo embora, as crianças da vila corriam atrás do nosso carro. Fiquei observando-as sorridente. Scott acenou para elas da janela. 

– Acene senão elas virão atrás de nós até você acenar.  

Eu ri acenando e logo as crianças acenaram de volta e pararam. Uma experiência muito inusitada. Não mais que outras que eu havia vivido em Forks, mas era tão especial quanto. Eu gargalhava tão feliz, que segurei a minha barriga. Não era risada de graça, era risada de deslumbramento, alegria. E Scott observava-me sereno. Logo ele começou a rir junto comigo. Então parei e olhei-o como quem diz "o que foi aquilo?".

– É minha culpa. – ele começou a explicar – Acostumei a acenar para elas quando corriam atrás do carro e acho que elas pensam ser um ritual... Tornou-se um ritual de despedida. Só param de correr quando aceno. E como você estava comigo, elas esperavam você acenar também...  

Ele sorriu e eu sorri para ele encantada.

– Obrigada. 
– Pelo quê?
– Por dividir isso comigo. Você disse que nunca ninguém mais além de você viera aqui. 
– Eu ainda posso dividir muitas coisas com você

Olhei-o sorrindo sem jeito. 

– Agora... Responde uma coisa?
– O que você quiser.
– Eles não são apenas seus amigos. 

Scott olhou-me derrotado.

– Você percebeu.
– É. Percebi o quanto você faz parte daquilo tudo... Seu pai não é?
– É. Ele é neto de Surya. Mas meu pai não vem aqui. Por causa da morte dos meus avós. 
– O que houve com eles?
– Quando os índios começaram a serem caçados pela América, os Menitt Howa perderam muitos indígenas. Meus avós estavam lá, os poucos que restaram fugiram para esses lados, como algumas outras tribos. Esse vilarejo é o que restou da tribo.
– Por que nunca ouvi falar dessa tribo?
– Porque não é legitimamente americana. A aldeia mesmo era toda de povo indonésio, ao virem para a América os povos misturaram-se. Apaches e Menitt
– Como você pode esconder isso tudo de mim?
– Era a minha última cartada. Tive que esperar o momento certo.
– Mas você é completamente diferente... Seu pai, Peter...
– É... Não tinha como sermos idênticos não é?
– Só na personalidade,  Anak laki-laki riang.     

Ríamos. Eu acabei adormecendo no caminho de volta. Acordei com Scott carregando-me. 

 – Ei... – ele sussurrou. 

Levantei minha cabeça recostada em seu peito e olhei ao redor. Já estava dentro de casa.

– Acorda. – ele sussurrou de novo – Desculpe , tive que pegar a chave em sua bolsa. Não quis acordá-la, dormia tão tranquila. – ele terminou de falar colocando-me no meu sofá.
– Tudo bem. Obrigada Scott e desculpe por ter dormido todo o caminho.
– Tirando os roncos, está tudo bem. 
– Roncos? – arregalei os olhos.
– Estou brincando. – ele disse rindo e acariciando meu rosto.     

Fiquei olhando para Scott. Calada. Quantas revelações sobre ele naquela noite. O tempo todo havia alguém como eu à minha frente. Enquanto nos olhávamos estudando um ao outro ele colocava uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha.

– O que você está estudando em mim? – ele perguntou.
– Como a vida é engraçada. Eu achando que estava cometendo algum crime desviando-me para os quileutes, e sozinha. Porque por mais que eu os adore, eles não conseguem me compreender... Quero dizer, eles me acolhem, me tratam como uma deles, mas não compreendem os lamentos da minha alma tão confusa e aí... Você. Você é igual a mim. – ele riu e abaixou o olhar como quem pensa distante – E você, o que estava analisando?
– Desde que a vi eu já te conhecia. Meu pai já a conhecia, mas falou, não foi? E aí eu guardei cada traço de antes dessa noite, e agora eu pensava... Analisava, ou melhor tentava analisar o quanto mudou a sua direção. Porque, seus olhos sobre mim já não são os mesmos.
– Isso é ruim?
– Não. Só me pergunto se fiz as coisas no tempo certo.
– Não quero tempos marcando as coisas... Isso não faz diferença.
– Mas é assim que as coisas são. O tempo organiza. É necessário até mesmo para desorganizar.

E a cada palavra de Scott Carter, eu descobria um novo ser. Um novo amigo. Um novo homem.  
Um novo alguém que talvez, fosse capaz de compreender-me. 

– Boa noite . Tenho que ir.
– Tudo bem. Eu te acompanho até a porta.  

Fomos andando até a porta e no meio do caminho ele parou de andar. 

– O que foi?
– Agora eu fiquei com medo.
– Medo? Medo de que Scott?
– De acordar amanhã e tudo não ter as mesmas proporções... 
– Como assim?
– Eu vou ter que fazer uma coisa ... Só para que eu possa seguir. Porque se eu não fizer, tanto posso retroceder como seguir, mas eu quero arriscar.
– Do que está falando? – eu me aproximei de Scott curiosa. 

E foi estranho. Eu não senti meus pés se aproximarem dele. Eu só sentia os olhos dele. E faltavam dois corpos, os nossos. Só existiam dois olhares. Coloquei minhas mãos sobre o rosto dele.

– Scott? – eu disse. 

E assim nos beijamos. Um beijo calmo e curioso. Um beijo bem típico de Scott Carter.  Assim que nos separamos olhamos um para o outro indecifráveis. Ele, satisfeito. Eu, assustada por minha atitude.

– Desculpe por isso. – ele disse.
– Não tem que se desculpar.

E não tinha mesmo.  

– Tenho que ir. – ele sorria.

Abri a porta para ele, e nos abraçamos despedindo. Acenei e assim que ele entrou no carro fechei a porta. Apaguei a luz da sala e fui ao andar de cima. Acendi a luz do meu quarto e espiando pela janela, vi que o carro dele continuava parado na frente de casa. Ele fitava o volante. Estava pensativo. Quando olhou para cima, me viu na janela e acenou. Eu sorri. Ele foi embora e eu fui tomar banho. Depois deitei na cama sem saber o que havia acontecido. Sem ter a menor ideia de qualquer coisa. E muitas, muitas perguntas. Mais um lote de boas indagações junto com tantas outras.


10 - Naufrágio em um coração de pedra

Na manhã seguinte, era sábado. E acordei com batidas na porta da minha casa, mas não me levantei da cama. Meu telefone tocou.

– Alô? – eu disse com a voz cansada.
? Está tudo bem?

Eu reconhecia aquela voz, mas meu cérebro sonolento ainda não assimilara quem era o dono da voz.

? Alô? – um trovão. E então despertei. Era o Black.
– Jacob?
– Sim. Está tudo bem?
– Sim. O que houve?
– Eu estou aqui na sua porta... O passeio. – ele disse confuso.

Levantei correndo e deixei o telefone cair. Desci as escadas às pressas.

– O passeio! Esqueci do passeio com o Jacob! Como pude esquecer?. – eu sussurrava desesperada.

Peguei várias chaves ao mesmo tempo no porta-chaves. Com vários chaveiros em mãos eu ia jogando longe aqueles que eu via, não serem da porta. Ao abrir a porta dei de cara com um Jacob confuso e assustado, segurando o celular na orelha.

– Oi! Bom dia! – eu disse ofegante e desesperada.

Ele me olhou dos pés à cabeça. Estava assustado.
Então eu me olhei. Fechei a porta na cara dele. Como já havia a destrancado, ele girou a maçaneta e entrou. Continuou com a mesma expressão me vendo correndo pelas escadas em direção ao meu quarto.

– Espere na sala! Espere na sala! – eu gritei.

Eu estava descabelada, sem escovar os dentes, e apenas de calcinha e sutiã. Fiquei tão assustada por me lembrar que havia esquecido o passeio que desci correndo sem pensar. Escancarei a porta do banheiro e escovei os dentes. Ao sair encontrei Jacob já no topo da escada adentrando o corredor, depois corri para meu quarto.

– Eu falei para esperar na sala! – eu gritei.

Não bati a porta do meu quarto, mas corri para o meu guarda-roupa. Ele não poderia me ver naquele estado! De repente, Jacob abriu a porta violentamente e olhou para minha cama. Fiquei olhando para ele assustada. Olhou pela janela, olhou debaixo da cama... Ele estaria procurando alguém? Olhou atrás da porta e até dentro do meu guarda-roupa.

– Ninguém. Está sozinha? – ele perguntou desconfiado.

E lá estava eu: envergonhada pela forma como abri a porta da sala e por ainda estar apenas de lingerie na frente dele, assustada com a maior cara de maluca e ao mesmo tempo enraivecida por aquela atitude dele.

– Estou. Claro que estou! Por quê? Ficou louco?
– Suas atitudes foram suspeitas. – ele disse aliviado.
– E?
– E o que?
– E quem te deu o direito de vir vasculhar meu quarto atrás de alguém? – eu já estava brava com ele. De novo.
– Como é?

Apontei o dedo indicador andando até ele ameaçadoramente.

– E se eu estivesse com alguém? Quem te deu o direito de se meter?

Ele me olhou assustado. Segurou a minha cintura. A musculatura de seu corpo estava rígida. Parecia uma pedra fervendo, de tão quente.

... – ele disse me olhando e ainda com as mãos na minha cintura me afastou – Não faz isso comigo, por favor. Se vista, gatinha.

Disse desconfortável e sorriu fraco. Só então fui perceber o que ele olhava. Eu, de calcinha e sutiã.

– Isso é bom pra você ver o que eu passo! – falei sem pensar. De novo.
– Então é assim que você se sente? Bom saber... – ele falou sacana.
– Pode dar licença do meu quarto Black?

Ele saiu rindo e eu fui pegar as minhas roupas.
Fala sério! Como eu pude não vestir a camisola? Como eu pude não me lembrar disso ao acordar? Como eu pude capotar de sono sem mais nem menos?
Então me recordei da noite anterior, e eu não "capotei sem mais nem menos". Na verdade custei dormir. Por causa de Scott. Não! Por causa da minha atitude impensada com Scott. E ao perceber aquilo, eu já não tinha cara de encarar o Jacob. Tomei banho e desci mais apresentável. De cabelos penteados, shorts jeans, tênis, camiseta e jaqueta pretas.

– Ora, ora. Agora sim mocinha! – Jacob exclamou ao me ver chegar à cozinha. 

Ele havia preparado o café.

– Podemos nos cumprimentar devidamente agora?
– Devemos. – ele disse vindo até mim.

Beijou meu pescoço:

– Bom dia Mani.

E eu mordi seu ombro:

– Bom dia Black.

Olhei para o relógio e ainda eram seis e meia.

– SEIS E MEIA? VOCÊ ESTÁ MALUCO? NO SÁBADO?
– Nós marcamos às sete.
– Eu sei disso! Que horas você chegou?
– Dez para as seis.
– Você está de brincadeira comigo?
– Não pude esperar para revê-la, e depois que acordei não dormi mais, então vim logo para te acordar.
– ESSE É O PROBLEMA! Você me fez pensar que eu estava atrasada! – olhei incrédula e ele ria ­ Tenho que me lembrar de não marcar mais nada com você às sete da manhã.

Eu disse mordendo uma torrada.

– O que aconteceu por aqui ontem? – ele perguntou e eu engasguei.
– Como assim?
– Para achar que perdeu a hora e acordar daquele jeito, aconteceu alguma coisa. Combinou algum outro compromisso?
– Compromisso? – aquela palavra dita por ele naquela hora não estava ajudando – Não...
– Não dormiu bem?
– Dormi sim. Só que... Acordei de madrugada e não dormi mais.

Ele não havia engolido. Estava ficando complicado disfarçar as coisas para o Black, ele estava me conhecendo mais do que deveria.

, a verdade.
– Estou falando sério Jacob.
– Foi aonde ontem à noite?
– Como assim?
– Foi aonde ontem à noite? Você não estava em casa.
– Por que está dizendo isso?
– Porque eu estive aqui.
– Desde quando te devo explicações?
– Não é explicação, é só uma pergunta. Por que está tão nervosa? – me olhava desconfiado, mas calmo.
– Não estou. Por que não me ligou?
– Justamente porque você não me deve explicações. – arqueou uma sobrancelha vitorioso.
– Hum... Vamos logo. – eu disse me levantando.

Peguei as chaves que joguei pela casa no desespero em abrir a porta. Jacob estava encostado na parede de braços cruzados, me analisando. Eu procurava meu celular entre as almofadas do sofá. Ainda parecia uma maluca.

– Você ainda não me respondeu. Não é que seja sua obrigação, mas se não quiser falar é só avisar.
– Hã... Eu fui beber.
– Sozinha?

Olhei para Jacob como quem diz "o que é isso?".

– Desculpe... – Jacob percebeu que eu não queria mesmo falar do assunto.

Quando encontrei meu celular no meio das almofadas, o visor denunciava uma mensagem de Scott. Assustei-me ao ver e olhei para Jacob desconfortável.

– Aconteceu alguma coisa? – ele perguntou.
– Ãh... Não... – eu disse, parecendo uma babaca, e olhei para o visor do celular.
– Eu vou dar licença para você ligar para... Enfim, para alguém. – ele já havia mudado o astral.
– Não Jacob, pode ficar. Não é nada. – sorri para ele, mas não adiantou muito.

Eu também ficaria de "pá virada" se ele agisse como eu. Apertei o "ok" no visor e li a mensagem:
"Ei Luna, obrigado pela companhia maravilhosa, e pela noite incrível. Espero que nada tenha mudado. Boa noite... Até depois, beijos ."


Sorri involuntariamente ao terminar de ler. Jacob me olhava sério e desanimado.

– Vamos? - eu disse.

Ele saiu andando até a porta. Entrou na camionete Ford 1990 preta, as motos estavam na carroceria. Eu entrei logo depois de trancar a casa. E eu já sabia que "alguém" estava irritado.
Assim que entrei liguei o rádio. Já me sentia íntima para isso. Jacob permanecia mudo.

– De onde saiu essa camionete? – eu perguntei.
– Da oficina.
– Emprestada?
– Não.
– Argh... – resmunguei – Desculpa Black. Eu agi estranhamente não é?
– Você não querer me contar o que faz ou deixa de fazer da sua vida não é o problema. O problema é você agir como se eu não devesse saber bem na minha frente. Como se me escondesse algo.
– Não estou te escondendo nada, mas não sei se eu deveria falar o que fiz ontem, porque eu não sei como nós estamos e o que nós temos de fato.
– Podemos falar disso depois? É melhor esclarecermos tudo.
– Depois? Não pode ser agora?
– Eu prefiro estar parado para poder olhar nos seus olhos.
– Tudo bem.

Olhei para minha janela e segui admirando, a paisagem.

– Desculpa Jacob, não é minha intenção magoar você. Nunca.
– Não precisa pedir desculpas, eu que estou errado.

A música continuava tocando como fundo musical calmante. E nós conversávamos coisas desimportantes vez ou outra. Na minha cabeça, aquelas hipóteses após o encontro com a Bruh na cidade, ainda pipocavam para eu falar. Mas é como Scott disse: o tempo organiza as coisas e é necessário até para desorganizar. Então eu aguardaria o tempo certo para as minhas conversas esclarecedoras com Black. Por mais que elas nunca chegassem.
Descemos aos arredores de La Push, em uma grande estrada vazia. Ao redor, nada além de poeira. Jacob olhou para o lugar como se tivesse alguma memória dali se mostrando em sua mente.

– Tudo bem?
– Sim... – ele respondeu fitando o nada. Olhou para mim e sorriu. – Preparada?
– Sempre e para tudo.
– Que perigo. – disse zombeteiro.

Subi na caçamba do carro para entregar as motos a ele. E ele tirou a camisa, meio que "do nada", de repente.
– O que é isso agora? – eu perguntei.
– Nada. Estou com calor. – sorriu traidor – Eu até te devo uma, mas assim está muito fácil.
– Cala essa boca. – eu sorri sem graça e desci.

Pensei "pronto, agora eu me meti numa boa!" e o encarei predadora.

– Qual a minha? – perguntei.
– Eu te indicaria a vermelha, a capacidade é melhor para iniciantes.
– Então ela é sua. – falei.

Puxei a chave da mão dele e fui até a moto preta. Coloquei o capacete, pisquei para ele e já ia me preparando para sair.

é sério. Você pode se machucar...
– Nos encontramos onde? No fim da estrada? – eu disse e acelerei partindo.

Jacob me observava surpreso pelos meus zigue-zagues na pista. De braços cruzados sorria todo bobo. Não demorou muito a me alcançar. Emparelhou ao meu lado, e nos olhamos. Continuamos o percurso batalhando alguns metros a frente um com o outro. Fiz uma manobra de retorno inesperada e os pneus cantaram. Eu gargalhava do quanto aquilo teria o assustado. Quando cheguei de volta ao nosso ponto de partida, desci retirando o capacete e Jacob parava ao meu lado eufórico. Encostei-me na lataria da frente da camionete e coloquei os meus óculos "aviador", como uma garota marrenta e rebelde tirando sarro dele. Jacob veio apressado até mim, e me prendeu com seus braços fortes, entre ele e a camionete.

– Está louca? Quer me matar? – disse tranquilamente, me encarando bem próximo.
– Por quê? – eu ria.
– Que manobra foi aquela?
– Se não sabe brincar, não começa.
– Quer brincar mesmo? Então tá. Eu só não imaginava que você sabia mesmo pilotar.
– Eu avisei. – gargalhei dele.
– Tenta não me matar ok, motoqueira selvagem?
– Matar? – ajeitei minha postura o fazendo endireitar-se reto – Não... Enlouquecer, quem sabe? – eu falei acariciando o abdômen de Jacob e saindo rápida de volta para moto.

Ele ficou inerte, mas logo veio atrás. Andamos bastante e até saímos da pista levantando um pouco de poeira. Quando paramos de volta à camionete, ríamos muito, sem ter motivos aparentes. Aquilo era felicidade.

– Você é mesmo muito boa. É sempre boa em tudo?
– É um dom. Mas você não sabe nem da metade.
– Estou me preparando inteiramente para conhecer todos os seus dons.

Já não sorríamos, mas encarávamos um ao outro, ardilosos. Poderíamos nos beijar naquele momento, como em tantos outros que tivemos. Poderíamos? Não o fizemos. No entanto, Black me abraçou protetor, me colocando sentada no capô do carro. Ficamos silenciosos ali. Ele em pé entre as minhas pernas enlaçando a minha cintura. Eu sentada no capô abraçada a ele, com a minha cabeça em seu ombro. Talvez estivéssemos ambos pensando no que dizer, ou melhor, em como começar um para o outro.

– E agora? – eu disse.

Contudo eu não sabia se me referia a nós, ou ao passeio.
– Conheço uma estrada de cascalhos... É bem radical. Mas você não vai pilotar.

De tantos "talvez", talvez aquele entendimento dele sobre a minha pergunta, fosse o melhor para o momento.

– Por mim tudo bem. – eu disse.

Nos separamos e guardamos as motos na carroceria indo em direção à estrada. O dia começou a esquentar. E Jacob permaneceu sem camisa, dirigindo. Tirei minha jaqueta e agradeci por não estar de calças.

– Puxa... Está quente! Acho que depois de vir pra cá, qualquer temperatura mais abafada me incomoda. – eu falei.

Jacob sorriu e me olhou de soslaio.

– Eu disse que estava quente.
– Você não sabe o que é quente ou frio.
– Claro que sei. – olhei-o descrente – Só não sinto na maioria das vezes.

Nós rimos.
De repente, sem ele perceber o abordei dando algumas encaradas nas minhas pernas. Sorri de canto. Chegamos a uma estrada bem sinuosa, com altos, baixos e poeira. Muita poeira. Ainda estávamos em Forks?
Após descermos novamente e prepararmos a moto dele, Jacob deu o veredicto:

– Vem. – ele disse montando na moto preta e batendo às suas costas.
Sorri animada e fui. Nunca que eu perderia uma oportunidade daquelas, não pelas motos ou pela aventura, mas sim por Jacob, é óbvio.
– Segura direitinho. – ele disse rindo e piscando.
– Assim? – perguntei me agarrando bem forte a ele.
– Huh... – ele resmungou.

Partimos. Praticamente aquilo tudo foi um MotoCross "leve". Muita adrenalina, muita sensação de liberdade, muitos ventos nos corpos, mas eu ainda queria abusar um pouco mais. Causar alguns arrepios. Então, dei leves mordiscados nas costas de Black e sorri malévola a cada novo: ", para. É sério!".

Então decidi que era mesmo hora de parar com as torturas. Para os dois. E à medida que Jacob acelerava e a poeira transitava entre nós, a sensação de liberdade era incontestável. Eu olhei para o rosto dele no retrovisor e apesar dos óculos escuros, não senti que ele estivesse ali. Quero dizer, a mente dele parecia devanear. Então encostei meu queixo em seu ombro e ele virou levemente a cabeça para o retrovisor e sorriu. Foi uma das cenas mais lindas dele que eu já havia visto. E graças ao meu Ray-ban, ele não notaria o quanto aquilo me agradou. Sem olhos nos olhos, sem desvendar de sensações.
O sol queimava forte e se pendurava no topo do céu, como um lustre do cristal mais cristalino. Aos poucos Jacob desacelerava e a camionete se aproximava ainda mais. Assim que parou a moto, Black virou o rosto para mim rindo. Eu não havia o soltado.

– Só para constar... Já estamos parados. – ele disse pigarreando falso.
– Eu sei.
– Ah... Sabe, sem problemas você ficar assim agarradinha em mim, mas é que... Podemos pelo menos ir para o carro?
– Quer que eu te agarre dentro do carro? – falei manhosa.
– Ah... É... Não, é que... ... O sol está queimando. – ele riu fraco pelo nariz.

Diante a reação da resposta dele cheia de pausas e do corpo rígido, percebi algo encantador:

– Te deixei sem graça Black?

Eu levantei e desci da moto parando em pé na frente dele. Com braços cruzados eu sorria observando Jacob fugitivo. Eu adoro a forma como ele olha para os lados, encara o chão e me olha abrindo a boca para falar sem emitir nenhum som. E ele fez aquilo de novo. E eu estava milimetricamente pronta a atacá-lo.

– Não acredito que consegui deixar Jacob Black visivelmente sem graça. Sério? A muralha? – eu falei me aproximando dele e me sentando na frente da moto.
– Não é nada disso sua boba. – ele falou sem jeito e ainda fugitivo.
– E então, o que é? – foram as minhas últimas palavras antes de tentar beijá-lo.

Eu acabei de falar e fui até aqueles chamativos lábios. Para variar ele estava sem camisa, e eu poderia ser insana o quanto eu quisesse. Porém, eu me detestei com todas as forças logo em seguida. Jacob fugiu do meu beijo. Levantou-se da moto me deixando como uma vadia otária e perplexa.
Olhei-o confusa e séria. Ele, nervoso, encarava o chão com uma das mãos sobre as têmporas e outra na cintura. Acho que nem ele acreditava no que havia feito.

– Ãh... – ele começou a falar, mas eu o interrompi.
– Vamos? – eu disse já a caminho do carro.

Entrei e, enquanto ele guardava a moto na caçamba eu olhava pela minha janela, para a estrada. Olhei para o retrovisor e ele estava fechando a carroceria me olhando também pelo retrovisor. Desviei novamente meo olhar para frente.
Ele entrou afivelou os cintos, e ligou o carro, deu a marcha e segurava o volante. Não fez menção de pisar no acelerador. Continuou imóvel encarando o volante. E eu? Eu não o olhava. De repente fingir que do lado de fora da minha janela havia algo mais atrativo, fosse uma boa saída. E como eu iria encará-lo depois daquilo? Seria torturante ver a rejeição nos olhos cortantes dele. Eu não queria encarar Jacob, não podia, não devia e tinha medo.

? – ele disse finalmente se virando para mim, ainda com o carro ligado – Você está bem?
– Por que não estaria? – falei ainda sem encará-lo e segurando a denúncia de decepção que poderia vir da minha voz – Algum problema com o carro?
– Não... – ele abaixou novamente a cabeça, olhando para o volante, decepcionado, e deu partida.

Continuamos o percurso, calados. Logo estávamos na estrada de Forks e a poeira trocou de lugar com os pinheirais e a densa mata. Em certo ponto teríamos que nos falar, mas eu evitava, até porque eu não tinha nada mais para dizer. E creio que ele também não necessitaria argumentar. A minha resposta já havia sido dada. Ele não me queria. De algum modo, o passado interno dele, era muito mais vivo do que eu pensava. Subestimei as lembranças de Bella, ou seja lá quem fosse. Eu já não queria nem mesmo ouvir falar sobre aquelas hipóteses.
Por mais que eu me calasse. Por mais que eu fizesse greve de voz, eu não poderia impedi-lo de falar. A voz trovejante dele ecoaria. E ecoou. Para o meu desprazer, pois aquele timbre conseguia arrancar lágrimas dos meus olhos. Dois sentidos opostos tão conectados!

. É melhor que nós conversemos logo. Eu sei que só estou piorando as coisas e... – eu segurei as lágrimas e para isso era necessário desligar minha audição. Foi o que eu fiz.
– Black, eu não preciso conversar. Só me deixa em casa. Por favor.

Ele parou o carro bruscamente na estrada fazendo eu me assustar e encará-lo. Seu olhar era fulgurante e forte. Seu corpo estremecia.

– Você não pode me evitar de tentar explicar!

Jacob estava mais irritado do que o normal. Como se estivesse lutando com algo internamente.

– Jacob? Você está bem?
– FICA AQUI! – ele gritou.

Gritou e saiu do carro batendo a porta. Eu me assustei com o estrondo. Assimilei aquela atitude e percebi que algo de errado ocorria. Olhei para trás pela janela da cabine. Black segurava a cabeça com as duas mãos e andava de um lado para o outro descontrolado. Parecia sentir dor.
Eu sou uma pessoa inteligente. Sou sim. Mas na maioria das vezes, sou mais impulsiva do que inteligente. E há alguns tempos eu estava totalmente inclinada a me entregar às insanidades à minha volta. Saí do carro e fui até ele. Com a Bruh não foi daquele jeito, eu nem mesmo havia piscado, então ele não deveria estar prestes a se transformar. Do contrário eu nem sei se estaria indo até ele. Jacob caiu de joelhos no chão e então eu já não andava lentamente, mas corria até ele.

– Jacob! O que foi?

A respiração dele era ofegante. Ainda mantinha a cabeça pressionada entre as mãos e os olhos voltados ao chão. Toquei nele e sua pele incendiava, ele suava muito também. Com o susto da queimadura tirei minhas mãos rapidamente de cima dele.

– Jacob! – tentei levantar seu rosto e ele urrava – Jacob olha pra mim!

Eu gritei e então ele me olhou. Seus olhos estavam diferentes. A íris oscilava reflexos de dourado a vermelho. Era tão assombroso passar por aquilo! No entanto, eu não poderia deixá-lo. Não conseguiria.

– Sai daqui! Vai embora ! – a voz grave e trêmula dele, só fazia eu querer ficar – VAI EMBORA! SAI!

Ele gritou, me empurrou ao chão se levantando e fugindo para a floresta. Eu não entendi nada. Corri para a cabine do carro e me sentei no lugar do motorista. As ideias que vinham em minha mente me fizeram chorar compulsivamente. Aquilo não poderia estar acontecendo com o Jacob! Mas eu também sabia que ele era um dos sete. Dei partida no carro em direção à reserva. Disquei o número de Embry rapidamente. Não sei como a sequência numérica do celular dele surgiu, tão de repente, após algum tempo sem falar com ele.

? Tudo bem? – Embry parecia um pouco agitado.
– O JACOB! EMBRY! – eu soluçava – ELE... PRECISA DOS LOBOS!
– Vocês estão onde? Se afaste dele, !
– Ele saiu pela mata. Eu estou indo para a reserva. – o meu choro compulsivo e assustador também espantava a Embry.
! Eu sei... Eu senti! Sam, Paul, Quil e eu estamos atrás dele! Não se preocupe! Ele vai ficar bem, agora só se controla e vem pra cá! Se acalme! A Sue e o Billy, estão te esperando.
– Tá, tá... Embry... Por favor...
– Eu cuido dele. Fica calma.
– Cuidado.

Eu desliguei e fui desesperada à reserva. Passei pela minha casa com tanta velocidade que me surpreendi ao ver Charlie com a viatura atrás de mim. Parei o carro e aguardei a viatura. Provavelmente, pela camionete "nova" de Black ser desconhecida.

– Onde pensa que vai a essa velocidade senhor...

          Charlie dizia enérgico e parou de falar ao me reconhecer.

? O que aconteceu? Por que está chorando? E por que corria desse jeito? De quem é esse carro?
– Calma, Charlie... Desculpa... O Jacob.
– O que tem ele? – Charlie perguntou abrindo a porta do carro e percebendo o meu estado, desafivelou meu cinto e me deu a mão para sair do carro. – Estávamos juntos no carro, a caminho de casa quando ele... Surtou, sei lá, acho que é a transformação... – eu chorava de novo compulsivamente e Charlie me abraçou consolador.
– Se acalma, .

Assenti que sim com a cabeça e tentei explicar.

– Ele saiu de controle. Foi assustador! Correu pra floresta e eu liguei para o Embry. Os rapazes foram atrás dele e Billy e Sue me esperam na reserva. Pelo visto a coisa é séria. – eu chorava de novo.

– Tudo bem querida. Ele vai ficar bem.

Olhei para Charlie, agradecida e ele sorriu.

– De quem é o carro?
– É do Black.
– Esse garoto não cansa de trocar de carro? – Charlie falou na tentativa de me fazer rir, eu apenas sorri e respondi:
– Faz bem a ele.
– Vamos. Eu te levo para a reserva. Você não deve dirigir neste estado.
– Mas o carro...
– Eu reboco. Agora, vamos.

Peguei minha bolsa e entrei na viatura aguardando Charlie. Por mais que eu tentasse me controlar era impossível. Charlie se manteve calado por um tempo, dando espaço para eu me acalmar. Uma culpa corroía meu interior. Eu não sabia exatamente por que, mas senti que tudo o que acontecia com Jacob tinha ligação a mim. Como se eu despertasse a fera. Um flash rápido me veio à mente:

"– É a , Jacob (...) E já está na hora filho".


? Tudo bem? – Charlie perguntou.
– Ah... Sim. – eu sorri inconvincente.
– Quer conversar sobre mais alguma coisa?
– Ãn... Sobre?
– O que você e Jake foram fazer hoje?

          Jura? Sério que ele iria falar dele?

– Ele me levou até umas estradas desconhecidas e andamos de moto.
– Ah! E se divertiram?
– É... – eu respondi incomodada.
– Eu não estou ajudando muito não é?
– Desculpe Charlie... Quem sabe se mudarmos o assunto?
– Tudo bem, filha! – ele ria.

Filha? Fiquei o olhando sem graça e ao se dar conta do que dissera, ele me pediu desculpas.

– Desculpe... Não é que eu esteja te comparando a ela.
– Tudo bem, eu sei que você sente falta.
– Sim. Mas não é por isso que eu gosto de você. Você é muito diferente dela, tem o seu jeito próprio de cativar. Eu me sinto ligado a você de alguma forma.
– O que houve com ela Charlie?

Ele me olhou com dor nos olhos e sorriu.

– Logo você saberá.

De novo! Logo, logo, logo! Esse logo nunca chega!
– Tudo bem. – eu sorri e voltei a encarar os pinheirais.
– Posso te fazer uma pergunta um pouco indiscreta?
Franzi o cenho tentando imaginar o que seria, e concordei.

– Pode.
– O que está acontecendo entre você e o Jake?
– Nossa. Que direto. – e então eu comecei a rir.
– O que foi? – Charlie perguntou desentendido.
– Nada, desculpe, é que... Eu nunca tive alguém próximo de uma figura paterna me perguntando sobre as minhas paqueras ou namoros... Foi estranho.
– Figura paterna?
– Como você acabou de dizer, eu também sinto uma ligação com você Charlie. E embora não seja o meu pai, eu gosto de imaginar como seria.
– Fico honrado. – ele riu e arqueou uma sobrancelha – Então... Pelo que entendi vocês estão de paquera ou de namoro?

Eu ri sem graça o olhando travessa por ter me "pego".

– Não... Nem um, nem outro.
– Tem certeza?
– Não. – olhei para ele cúmplice, triste e direta – Até essa manhã eu achei que fosse diferente, mas... Acho que foi só ilusão minha o tempo todo.
– Tenho certeza de que não foi. De alguma forma, Jacob está sempre se apaixonando pelas minhas meninas, acho que é fixação dele querer ser meu genro... Então não foi ilusão sua.

Nós gargalhamos com aquilo.

– Fala sério! – eu disse rindo.
... Sei o quanto é complicado para você, porque também foi para mim. Mas uma hora todas as peças vão se encaixar, inclusive Jacob. Você só precisa ter um pouco mais de paciência. Se não for demais para você...
– Não é. Eu suporto. Tenho suportado até mais do que eu imaginei poder suportar.
– E conte comigo para o que precisar.
– Obrigada Charlie.
– E por favor, não dirija mais daquele jeito.

Rimos.

– Pode deixar.
– Chegamos. – ele disse entrando à reserva.

Estacionou o carro de Jacob, enquanto eu cumprimentava Sue, na varanda de Billy, com um forte abraço. Billy caminhou com sua cadeira silenciosa até mim. Charlie logo se colocou ao meu lado, e beijou Sue em cumprimento.

, você está bem?
– Um pouco melhor Billy, obrigada. E os meninos?
– Se acalme. Eles estão bem.
– Já deram notícias?
– Não querida, mas fique calma. Estão bem! Eles sabem o que fazem. – disse Sue para mim.
– Nem todos Sue, nem todos. – eu disse olhando para Charlie que entendeu meu comentário.

Charlie despediu-se de nós, pois ainda estava em serviço.

, querida, tem mais alguma coisa que eu possa fazer por você? – Charlie perguntou abraçando-me.
– Tem.
– Pode falar.
– Não me multar por excesso de velocidade seria muito bom. – eu ri.
– Eu não vi nada. – ele piscou e saiu, deu meia volta apontou o dedo para mim e disse: – Ah! Só dessa vez, certo?
– Não teremos outra. – eu disse firme.

Assim que ele saiu, sentei no banquinho da varanda da casa de Billy. Fiquei de olhos fixos encarando a mata.

– Aceita um chá com bolo? – Sue perguntou, sentando ao meu lado.
– Não precisa se incomodar Sue. Estou sem fome. Obrigada.
– Tudo bem, melhor guardar a fome para o almoço que já, já, sai.

Apesar de Sue, simpática tentar me confortar, eu não tirava os olhos fixos da mata. Atenta ao menor sinal, no aguardo de boas notícias. Aliás, boas notícias essas que iriam apenas me acalmar para que eu pudesse ir embora para minha casa. Não havia motivos de comemorar nada. Apenas me tranquilizar do susto.

– Conte-me o que houve . – disse Billy ao meu lado.

Então percebi que Sue não estava mais lá.

– Ele parou o carro e começou a tremer. Mandou que eu ficasse na camionete e saiu descontrolado. Eu fui atrás dele, ele caiu de joelhos no chão e começou a urrar. Sentia dor e a pele dele incendiava.

Então mostrei a palma a minha mão avermelhada, com pequenas marcas de queimaduras, para Billy que se espantou discretamente. Pegou minhas mãos e as analisou. Continuei a falar.

– Ele segurava a cabeça como se evitasse alguma coisa em sua mente. E os olhos dele... Estavam dourados, mas no reflexo avermelhavam e ... Não sei Billy ele saiu correndo.

Olhei para o lado e avistei Bruh escorada na cerca da varanda escutando o que eu dizia. Olhei-a com raiva e ela revidou o olhar. Billy pigarreou e então eu voltei minha atenção a ele.

– Entendi... Mas não era sobre isso que eu estava perguntando. – ele olhou para mim, calmo e ergueu a sobrancelha.
– O quê? – eu disse e ouvi passos pesados. Bruh havia saído de perto com raiva.
– Eu me referia ao "o que aconteceu" para deixá-la assim tão desapontada?
– Nada... Foi o susto – desviei meus olhos para a mata novamente.

Billy era astucioso e manter contato visual com ele, assim como com Black, era perigoso.
– Vocês não conversaram sobre vocês?

Respirei fundo. E me controlei. Ter a toda hora, perguntas de todos os lados, sobre Jacob e eu, começavam a me irritar demasiadamente.
– Não. – eu disse firme e me levantei – Billy, obrigada, mas... Eu vou pra casa. Preciso descansar disso tudo... Só não deixa de me avisar, tá?
– Não. Você vai ficar. Não pode ir ainda.
– Por que não?
– Porque a primeira coisa que Jacob vai querer ver é você e saber se está bem.
– Ele pode me ver outro dia. – eu disse nervosa.
– Então vocês brigaram.
– Billy...
– ALMOÇO! – Sue apareceu na porta da casa dela gritando para nós.
– Vamos, . Não farei mais perguntas.
– Eu não estou com fome. Obrigada.
– Deixe disso . Não vou falar mais nada. – Billy disse amigável.
– Eu não vou embora Billy. Só não estou com fome...
– Tudo bem. Qualquer coisa, nós estaremos lá dentro.

Ele disse saindo em direção à casa de Sue e eu voltei a me sentar no banquinho de madeira.  Tudo o que eu mais queria naquele momento, era a possibilidade de enxergar em um raio de dez quilômetros à minha frente. Assim, ao menor sinal dos garotos eu sairia correndo até eles. Entretanto, eu só podia aguardar. E aguardei.
Sue surgiu me convidando novamente para o almoço. Agradeci e neguei. Ela insistiu que iria trazer a mim, um prato, mas eu neguei novamente. E Sue entendeu. Ela sempre entendia.
Aos poucos, acredito que após terem almoçado, as pessoas surgiam. Emy e Lia, vieram falar comigo. Bruh manteve-se na rede de pano, na varanda da casa de Sue, junto a ela.

– Não se preocupe, eles chegarão bem. – disse Billy parando à minha frente – Vou preparar um chá para você. Tudo bem?
– Obrigada Billy. – eu disse sorrindo e ele entrou em casa.
– Como está ? – Emy me abraçou e em seguida Lia fez o mesmo.
– Estou bem. Eu acho. – ri fraco.
– Eu posso garantir que essa sua cara azeda não é por preocupação apenas. Afinal, já vi você em situações piores com a maior tranquilidade.
– Está se referindo ao episódio da tribo Whitonn? – perguntei.
– Exato. – Lia disse sorrindo.
– Se quiser conversar, pode contar conosco . – Emy me olhava com carinho – Somos suas amigas!
– Até a Lia? – eu disse a olhando com uma sobrancelha arqueada.
– Er... Por falar nisso... Eu te devo um pedido de desculpa e algumas explicações.
– Não, Lia! Eu e Embry já conversamos e não há nada para ser explicado ou desculpado. Está tudo certo!
– Não, mas eu gostaria que você soubesse que eu não tive a intenção de magoá-la.
– Fala sério Lia! Magoar? Não me magoou. Eu posso não ter, ou não ser, o imprinting de alguém, mas o Embry exagera quando diz que eu "não acredito no amor".
– É ele sempre diz isso!

Nós rimos.
– Pois é! O que me lembra que preciso ter uma conversa com ele sobre isso...
– Ele não está errado. Vai dizer que você não é do tipo que acredita que o amor se conquista aos poucos? – perguntou Emy.

Olhei para a caçula Ateara, Bruh. Ela me encarava. Certamente escutava nossa conversa.
E com aquela pergunta de Emy eu percebi que talvez fosse aquilo: Jacob havia sido conquistado pouco a pouco por Bruh.
Será? Eu sustentava o olhar dela, e ela compreendeu de alguma forma o que eu pensava. Sorriu de canto, vitoriosa. Ou pela real vitória, ou por tentar me causar uma pressão psicológica. Lia também notou o que eu pensava e foi logo falando, sempre muito direta.

– Ah fala sério! Acha mesmo que a Bruh conquistou o Jake? – Lia me olhou incrédula e eu a encarei – Aquela pirralha?

Assim que terminou de falar, olhou para a Bruh de uma forma desafiadora. As duas brigavam silenciosas. Talvez até gritassem! Não posso ouvi-las. É mais uma coisa entre lobos...
– Não quero acreditar nisso. Porque seria nojento. Jacob seria nojento. Ela é só uma criança. – eu disse e não tive a intenção de ofendê-la. Mas ela realmente era uma criança para Jacob.
– Se acalma aí! Nem tenta! – gritou Lia para Bruh quando terminei de falar.

Bruh entrou para a casa de Sue e Lia voltou à sua posição de antes: encostada na madeira da varanda de frente para mim, e continuamos conversando.
– Ela está nervosinha. – Lia disse de um jeito que nos fez rir.
– Isso é bullying. – eu disse arrancando gargalhadas de nós três.
... Não se preocupe com a Bruh! Eu já te disse isso.
– A encontrei na porta do mercado um dia destes. E nós meio que discutimos.
– E VOCÊ NÃO NOS CONTA? FALA LOGO! – disse Lia animada com o fato .
– Bem, ela me encarou e me desafiou para uma briga. Então eu disse: "Não me subestime, criança! Posso não ter as mesmas táticas que as suas, mas eu também sei ferir. Onde mais dói".
– ISSO! – Lia berrou.

Emy e eu a olhamos assustadas.
– Qual é? Não gosto dela mesmo! – Lia se explicou e nós rimos.
– Espera... Ela te chamou para brigar? E vocês caíram na pancadaria? Tipo, isso? – Emy falou assustada.
– Não! Não que se fosse necessário, eu evitaria brigar com ela, mesmo ela sendo uma loba estúpida...
– EI! – Lia me repreendeu.
– Foi mal. – eu disse e ri – Enfim, se tivesse que lutar eu lutaria. Cravava dentes e unhas mesmo que não sobrasse nenhum pedaço meu, porém eu não sou de ficar brigando por qualquer coisa.
– Mas também não é de fugir. Por isso que eu simpatizo com você. – Lia disse sorridente.
– Simpatiza é? Quem queria comer o fígado da Luna e mastigá-la entre os dentes como se ela fosse um pedacinho de carne inútil, mesmo? – Emy perguntou debochada.
– Ah, mas... Ela estava com o Embry e sendo amiga da Bella eu achei que a história toda se repetiria!
– Caramba. Escapei de uma boa por pouco... – eu fiz cara de medo para Lia – E sabe... As pessoas precisam "desassimilar" a imagem de Bella, porque isso não tem funcionado! Não mesmo!

Nós rimos.
– Continua a história, . – disse Emy.
– Então... Aí ela me disse: "Você acha mesmo? Não deu certo para ele uma vez, e não dará de novo! Ele já sabe que garotas como você não podem curá-lo!". E ponto para ela.
– Como assim ponto para ela? – Lia perguntou confusa.
– Quando eu disse que sabia fazer doer, onde era mais doloroso para ela, eu falava do Black.
– Acho que a está pensando na Bella. – Emy disse me olhando confiante.
– E não era para pensar nela? Ainda que o Jacob tenha tido outra namorada, o único tipo de "garota como eu" que posso assimilar a tudo o que Bruh disse, é a Bella!
– Bella não era como você. E nunca será. – Lia me disse firme com desprezo aparente.
– Sim, eu sei. Não somos parecidas mesmo. Mas, ela também é uma garota que não se transforma em lobo. – eu disse óbvia.
– É. Ela se transformou em algo muito pior. E isso te faz muito melhor do que ela. – Lia disse e entrou na casa de Billy, pois ele a chamava.
– Não entendi Emy. – eu disse.
– Você vai entender quando te contarem toda uma longa história.
– Tenho tempo. – eu disse sorrindo.
– Ainda não. – ela falou e Lia chegou com meu chá.
– Então, voltando ao raciocínio inicial – dizia Lia, muito alegre – O que aconteceu com você e o Jake?
– Saímos para andar de moto.
– E? - as duas perguntaram juntas.
– E... Que quando voltávamos ele surtou.
– Ah cala a boca! Você entendeu onde nós estamos querendo chegar! – disse Lia.
– Nada de beijos. Eu até tentei, mas ele fugiu.
– ELE O QUÊ? – Emy e Lia, gritaram.
– Ei! Falem baixo!
– Como assim? Não entendo! Ele disse que... – Lia falava e de repente parou.

Ela olhou para frente e Emy e eu fizemos o mesmo. Os garotos começaram a surgir devagar, pela mata. Jacob estava com eles. Sério.
Larguei minha caneca em um canto do chão ao lado do meu banquinho e fui até eles. As meninas vieram logo atrás.
– E aí? – perguntei.
– Tudo bem. – Seth disse sorridente.
– E? – perguntei.

Os rapazes olharam para Jacob que me olhou sério. Andou devagar até mim.
– Você está bem? – Jacob perguntou em tom baixo.
– Estou. E você? – perguntei fria.
– Vou ficar. Machuquei você? – ele perguntou ainda sério.
– Não como você pensa. – eu disse e me virei para os outros garotos – E vocês? Estão todos bem?
– Só alguns arranhõezinhos. Tem certo lobo que gosta de se esconder no meio dos espinhos. – Sam falou abraçando Emy.
– Bem, sendo assim... Eu vou para casa.
– Eu te levo. – Jacob disse.

Lia nos olhava muito atenta. Todos ali, na verdade, nos olhavam atentos. Fui em direção à varanda de Billy e pegando minha caneca entrei. Jacob vinha logo atrás.

– Não precisa Jacob. – eu falei sem olhá-lo.
– E você vai a pé? – ele disse em tom arrogante.
– Vou até voando se eu quiser! – respondi no mesmo tom e dei as costas para ele.

Jacob me puxou pelo braço e nos encaramos.

– Eu te levo! – disse enérgico e pausadamente.

Soltei meu braço de suas mãos de um jeito rude e saí andando. Quando nós havíamos voltado à estaca zero? Por que tanta estupidez entre nós?
Ao chegar lá fora, Lia entrou correndo na casa. Seth, Quil e Paul se despediram de mim, dizendo que iriam comer e dormir. Estavam todos exaustos. Provavelmente Black teria dado muita canseira neles. Embry ficou do lado de fora sentado, como se me esperasse.

– Ei. – eu disse me aproximando dele.
– Estava com muitas saudades de você. – ele respondeu me abraçando apertado – Por que mesmo, não nos vemos há algum tempo?
– Eu não sei. Mas é normal quando um amigo começa a namorar. – eu disse rindo e o olhando cúmplice.
– É... Mas você também não apareceu mais na reserva, bonitinha!
– Estou meio enrolada com algumas coisas no trabalho...
– Lia, disse que você precisa conversar comigo.
– Disse? Sobre o quê?
– Ela não sabe, mas eu acho que faço ideia.
– E então?
– Scott Carter?
– Acertou. Anda lendo pensamentos?
– Não. – ele riu – Encontrei com ele hoje cedo e fiquei sabendo.
– Eu não sabia que vocês eram tão amigos assim.
– Confesso que já fomos mais próximos.
– Hum... Interessante. E o que ele disse para você?
– Tudo.
– Tudo?
– Tudo. – ele disse me olhando desafiador.

Eu corei. Embry saberia daquele beijo?
– É... Pois é, ele se declarou. Assim posso dizer. E disse que você andou dando umas dicas.
– Não. Eu só o adverti da verdade.
– Você precisa tirar da sua cabeça essa ideia de que eu não acredito no amor.
– Não é isso que eu digo. Você sabe! Responde, : acredita no amor a curto tempo? – ele me olhava desafiadoramente como se já tivesse ganhado.

Assim que ele terminou de falar Jacob apareceu na porta da frente. Olhou-nos e foi até a casa de Sue.

– Eu não sei. – respondi ao Embry que havia percebido meu olhar para o Black.

Lia apareceu logo atrás de Black e parecia contrariada. Ela olhou para direção que ele havia tomado e entrou novamente, nervosa.
Embry e eu nos olhamos curiosos.

- Embry... Eu já volto. – eu disse.

Ele escancarou um sorriso de confiança e eu fui atrás de Jacob.
Entrei pela sala de Sue e não havia ninguém. Subi as escadas imaginando que Jacob tivesse no quarto do Seth. Caminhei pelo corredor devagar, o quarto de Seth era o primeiro. Bati e ninguém atendeu. Caminhei um pouco mais a frente e encontrei uma porta entreaberta. Abri. E morri. Pude ver meus pedaços caindo lentamente. Como se uma metralhadora me perfurasse por inteira. Mas não havia sangue, havia sombras. Faltou todo o ar em meus pulmões e lá estava eu sufocada.
Bruh e Jacob. Jacob e Bruh. Minhas hipóteses confirmadas. A loba e o lobo. Eles se beijavam. Jacob não a segurava, mas a beijava. Ele não parecia entender, mas a beijava. E ela. Ela estava feliz. Ela estava certa.
Nenhum deles me viu. Ao me virar de volta para o corredor, Lia estava chegando. Olhei para ela como se não a enxergasse. Vago, vazio. Eu saí silenciosamente. Deixando pedaços de mim pelo caminho. Passando surda, muda e cega por Lia na escada. Ela andou mais depressa pelo corredor e eu me tornei um furacão passando pela porta da sala.
Entrei correndo na casa de Billy e peguei a chave da camionete de Jacob que eu havia deixado pendurada atrás da porta. Embry me encarava duvidoso e de pé, próximo ao tronco que antes estávamos sentados.
Corri até o carro que Charlie havia rebocado.

– Embry! VEM! – gritei e ele veio, sem entender nada.

Eu entrei no banco do motorista e bati a porta ao mesmo tempo em que pisava no acelerador dando partida. O carro deu um arranque e Embry se pendurou na porta entrando pela janela assustado.

! Deixa eu dirigir!
– CALA A BOCA EMBRY! ME DÁ UM TEMPO!
– Tudo bem. – ele disse me olhando assustado já sentado ao meu lado. Olhou para frente, respirou fundo e disse : – Só tente não nos matar!

Eu não sentia o meu pé.

...

Eu não sentia a velocidade.

...

E eu não enxergava a estrada. Eu só enxergava a cena de antes.

! – Embry gritou.
– Ele e Bruh se beijaram! – eu respondi o olhando firme e voltei os olhos para a estrada.

O carro corria tanto que ao passar pela casa de Charlie eu me lembrei de que uma multa viria logo. Porém nem sinal de viatura. Talvez os pneus não tivessem cantado tanto quanto deveriam. Cheguei em casa e estacionei de qualquer jeito na entrada. Saí do carro batendo a porta e joguei as chaves para Embry. Ele veio atrás de mim.

espera.

Entrei tempestiva pela sala e fui até a cozinha beber água.

– Quer conversar? Acho que vai te fazer bem desabafar. – Embry disse calmo e parado na soleira da cozinha.
– Não. Não precisa. Tudo foi esclarecido. Quase tudo, na verdade, mas não quero saber de mais nada. Nada de respostas. Nada de perguntas.
, você está com raiva... Olha...
– Você queria saber se eu acredito no amor? – eu o interrompi gritando – Não Embry! Eu não acredito em nenhum sentimento que venha do Jacob, mas do Scott... Do Erick... Eu tenho duas opções que poderiam me fazer acreditar! Uma foi descartada!
– Você está nervosa . Não fala besteira!
– O Scott te disse que nós nos beijamos? – eu continuei falando e andando de um lado para o outro descontroladamente.
– Não. Eu joguei verde com você.
– Pois é! Beijamos e eu nunca havia tido um beijo como aquele! – eu peguei um copo do uísque que havia na minha sala, até aquele momento, "de enfeite" – Scott te contou que ele fez um estrago em mim?
– Como assim? Do que você está falando? – Embry disse assustado. Talvez eu tenha me expressado mal.
– Ele é igual a mim! Foi só um beijo, mas foi intenso o suficiente! – virei o uísque quente e sem gelo – ELE SABIA DISSO! SABIA QUE DEPOIS DAQUELA NOITE TUDO MUDARIA!
se controle, por favor! Você está surtando! – Embry disse vindo me abraçar.

Retribui o abraço e o empurrei em seguida.

– Vai Embry! Depois nos falamos! Obrigada! Agora leva essa merda de camionete daqui. Eu não quero NADA do Black!
– Eu vou. Mas eu vou voltar!


11 - Abstinência

Eu fiquei tão absorta à realidade com o que  eu havia presenciado, que não consegui fazer mais nada. Desde que Embry foi embora, eu estava jogada em meu sofá abraçada à garrafa de whisky, com uma caixa de lenços e aos prantos. Então finalmente eu poderia confirmar, caso ainda negasse, que eu estava completamente apaixonada por Jacob. A escuridão da casa foi aumentando, e após uma dia quente como aquele, a chuva que caía no fim de entardecer não era uma surpresa.
Aos poucos eu fui adormecendo pelo efeito de muito choro sim, mas também pelo entorpecente álcool, que aliviava no momento a tristeza, mas que traria muita dor de cabeça ao despertar. Portanto, o melhor era me entregar ao doloroso sono, pois o irremediável viria a seguir.
Na manhã seguinte, acordei com o despertador estridente tocando. Aquela prevista dor de cabeça estava lá, se fazendo companheira no meio da solidão. Esfreguei os olhos e me sentei na cama.
Para meu espanto eu estava em minha cama, ainda com as roupas de ontem, mas não me lembrava de ter ido ao meu quarto para dormir. E tudo estava organizado demais. Ao lado, no criado mudo um bilhete dizia:

"Não consegui deixar de vir vê-la, e espero que acorde melhor amanhã... Se bem que após uma garrafa de whisky... Não se maltrate assim Luna. Te amo, boa noite!"



Quem o teria escrito? Embry? Era melhor acreditar nisso, pois seria muita falta de vergonha própria se, Jacob aparecesse aqui na surdina. No entanto, eu ainda sentia o seu cheiro. Resolvi acreditar ser tudo coisa da minha cabeça.
Levantei da cama, com aquela miserável ressaca zombando de mim. Apertava a cabeça no intuito de fazer a dor parar, mas o banho gelado confortou um pouco mais. Me vesti e descendo as escadas, lentamente fui preparar um café. Forte. Quente. Amargo. Afinal, a amargura era visitante minha e não sabia por quanto tempo. Sempre dou a volta por cima das perdas, mas curtir aquela fossa poderia encerrar um ciclo. O ciclo Black.
Assim que iria beber o meu primeiro gole de cura, o telefone tocou irritantemente.

– Alô?
– Bom dia, . Aqui é Julian. Tudo bem?
– Bom dia, Julian. Sim... Aconteceu algo?
– Aconteceu sim. Estamos dando uma folga a você e ao Peter. Uma semana de luto em nossa família, nenhum estabelecimento nosso funcionará. Aproveite para descansar e seguir seus projetos mais tranquila.
– Julian... Meus sentimentos. Se quiser conversar, sabe que pode contar comigo não é? Como você está?
– Obrigada querida, sei disso. Estou ainda triste, mas Hernando está mais magoado. Foi nosso avô. Eles eram bem mais próximos. Já estava idoso e doente. A lei natural da vida... Sabe como é. Hoje quem amamos está ao nosso lado, amanhã de repente, vai embora.
– Sei. Sei muito bem como são essas perdas. E por saber quero que para o que precisarem, seja uma distração, um conselho ou companhia, não hesitem em me chamar.
– Obrigada. Fique bem, e tenha uma boa semana.
–  Obrigada. Beijo.

Desligado o telefone, não demorou muito a tocar novamente.

- Sim Julian?
– Não. Não é o Julian... É o...
– Sei que é você Black. E eu não quero...
espere! Por favor, me deixe te explicar!?
– Não há nada a ser explicado, já entendi tudo!
– Não, você não entendeu! Nós ainda não conversamos! Foi tudo um engano.
– Foi sim Jacob. Tudo um engano. E eu te peço que por favor, me deixe em paz. – eu disse e desliguei na cara dele.

Novamente aos prantos, eu estava afundada em meu sofá. Eu iria aproveitar aquele meu tempo de uma semana para ficar sozinha, pensar em muita coisa e organizar tudo o que eu já deveria ter organizado. Após uma hora jogada no sofá decidi que ficar ali prostrada não resolveria nada.
Fui ao jardim, e não me lembrava de terem acabado todos meus suplementos de jardinagem. Eu teria que ir à cidade. Subi ao meu quarto a fim de maquiar aquela face anônima. Aquela expressão denunciante.
Ainda chovia. Engraçado como o tempo parecia compartilhar da minha tristeza. Saí correndo com bolsa e chaves na mão até entrar no meu carro. E embora houvesse algum tempo que Black não entrasse nele, eu ainda sentia seu cheiro ali. Ligar o rádio não iria ajudar, pois eu tinha certeza de que alguma música inimiga tocaria. Lembranças surgiriam. Aliás, tudo e qualquer momento era passível de me trazer alguma recordação.
Aspirei silêncio, enquanto dirigia devagar – algo que não é costume meu – e olhava à frente atenciosa ao gotejo fracos das nuvens.
Cheguei na cidade, que como sempre encontrava-se monótona. Algumas pessoas pulando poças, alguns acenos, agradecimentos, sorrisos, cordialidades e meu espírito continuava sombrio.
"Gardens and Earths" . Lia-se a simples frase em um letreiro de madeira esculpido à mão acima da porta da cabana pequena.

– Bom dia.
– Bom dia senhora.
– O que vai querer hoje querida?
– A senhora teria estes utensílios todos? – estiquei a ela uma pequena lista, com caligrafia rápida.

Terra escura – 4 sacos de 10 kg
Pá de mão – 1 pequena
Garfo de mão – 1 médio
Lascas de lino – 5 sacos de 20 kg
Sementes de girassol – 1 pacote de 300 gr
Sementes de margaridas – 1 pacote de 500 gr
Composto polivitamínico para plantas: (nitrogênio, zinco, cálcio e glicose) – 1 vidro de 200 ml



Enquanto a senhora procurava os meus pedidos, eu passeava entre as gardênias e gerânios de estimação que ali eram cultivados.

– Hoje não está sendo um bom dia? – ela me perguntou tímida.
– Não. Mas logo irá passar. – respondi sorrindo fraco.
– Aqui estão, apenas a terra e o lino que eu pedirei para você pegar nos fundos da loja comigo querida, estou sem meus ajudantes hoje.
– Claro, sem problemas! Pode deixar que eu pego.

Carreguei os sacos até meu carro de forma rápida pois a chuva estava gelada. Retornei à porta da loja entregando o dinheiro e pegando minha sacola às mãos da vendedora de setenta e poucos anos.
Corri de volta ao carro, até que ouvi a sineta do Coffee & Bar tocar. Olhei pensativa, e decidi que um pouco de waffles com mel, e um café quente poderiam complementar o meu café da manhã mal feito.
Encontrei Erick sentado aos fundos do bar, mas decidi fingir não tê-lo visto. Para minha sorte ele não havia me visto. Sentei ao balcão, e coincidentemente ao meu lado estava Scott.

– Bom dia, waffles com mel e um café forte por favor.
– Bom dia ! – Scott sorria muito feliz em me ver.
– Olá Scott! Bom dia... Tudo bem? – respondi cumprimentando e abraçando-o.
– Sim... Mas você não me parece muito bem. O que houve?
– Nada que não possamos falar um outro dia.
– Tudo bem. – ele sorriu.

Erick foi ao caixa pagar sua conta e voltando para o balcão cumprimentou a mim e ao Scott.

– Ele ainda está interessado em você...
– Ah Scott, eu prefiro apenas tê-lo como um bom amigo. Não daria certo entre Erick e eu. Já descobri sermos diferentes demais.
– Que bom que você está decidida quanto a isso, mas ele ainda está interessado. Embora...
– Embora?
– Ele voltou a sair com a irmã da Dani.
– Eu espero realmente que eles sejam felizes.
– Eu também. Só queria que a Daniela saísse do meu encalço.

Rimos.

– Ela ainda insiste?

A garçonete entregou o meu café da manhã e Scott aproveitou para pedir outra panqueca e mais uma caneca de chocolate quente.

– Acho que ela não desistirá nunca. E eu nem sei porquê! – ele sorria surpreso.
– Você é um cara encantador Scott. Aceite isso.
– Vindo de você... Como não aceitar?

Sorri e pensei em uma forma de mudar o assunto.

– O mercado fechado?
– Sim, o avô dos Vincent faleceu. Não soube?
–  Soube, claro. Mas o que tem a ver?
– Meus pais sempre foram muito amigos da família Vincent. Eu não quis ir. Planejei uma trilha hoje, mas choveu, talvez seja tristeza e luto.
– O restante dos comércios fechados tem alguma associação com o falecimento dele?
– Sim! Acho que não te contaram... A família Vincent tem muito prestígio aqui, pois eles descendem dos fundadores de Forks. O avô deles foi um grande médico, que fundou o hospital de Forks. Até então, um posto de saúde pequeno é o que dava conta dos atendimentos.
– Uau. Eu sempre soube que os Vincent eram pessoas amáveis e admiráveis, e lógico, muito discretos, mas ninguém me contou sobre o legado deles.
–  Forks tem muitos segredos .
–  É... Já deu para perceber... E o que você fará hoje?
–  Ainda não sei. Peter quer ir até a tribo... Mas eu não sei. Se a chuva piorar, podemos acabar ilhados por lá.
– Bem, mande abraços meus às crianças, à sua avó...
–  Sinta-se convidada a ir, caso nós formos.
–  Hoje não Scott, mas outro dia quem sabe...
–  Tem certeza que não quer conversar?
– Tenho sim, e na verdade eu preciso ir agora Scott.

Abraçamo-nos apertado e agradeci ao carinho. Paguei e saí.
No horário do almoço, eu já havia terminado parte da minha jardinagem. Tomei um banho quente, tomei um antigripal, pois já sentia uma leve coriza.
Bateram à minha porta assim que desci as escadas.

–  Olá!
–  Lia! Emy! – abracei-as forte.
–  Embry está a caminho, ele foi à cidade.
–  Mas o que estão fazendo aqui?
–  Ei! Quer que vamos embora?
–  Não Lia! Não, por favor não interpretem assim. Fiquem à vontade.
–  Sua casa é aconchegante.
–  Não tanto quanto a sua Emy. Ainda deixarei ela do meu jeito, algum dia, eu acho...
–  Já estou abrindo a geladeira! Eu posso né? Você disse para ficar à vontade.
–  Claro que pode Lia. – eu sorri.
–  Lia! É a primeira vez que viemos aqui!
– Não Emy, tudo bem! Apesar de nunca terem vindo, é como se estivessem sempre por aqui. Obrigada por virem, meninas.
–  Sem mi-mi-mi por favor! – Lia sempre muito seca ao seu modo – Agora, escute mocinha! Faremos um almoço italiano aqui! E nada da senhorita reclamar!
–  Almoço italiano?
–  Lia e Embry pensaram em massas, você adora não é?
–  Sim! – eu sorri – Obrigada pela atenção gente.

Novamente eu queria chorar.

-  E não viemos só para comer! Viemos para conversar também, e saber como você está.
–  Eu não estou muito bem... Gostaria de estar melhor... Mas é uma fase necessária.
–  Eu também vim para lhe contar algumas coisas! – disse Lia da cozinha.
–  Se for sobre ele, Lia... Não me conte. Eu não quero saber de mais nada.


12 - Outros segredos

– Primeiramente senhorita "eu não quero mais saber, mentira, conte tudo!"... Eu não vim defender Jacob. Se é o que está pensando...
– As coisas tem tomado proporções maiores , e embora Sue e Billy achem que você ainda não deva saber... Lia e eu, pensamos ser o momento de começar...
– Ouça bem: começar! – Lia interrompeu Emy, que fez uma cara desaprovadora.
– Como eu dizia... Começar a te deixar mais à parte das histórias.

Quando as duas terminaram de falar e se entreolharam, um estrondo foi escutado da varanda da frente. Era apenas Embry, limpando os pés e abrindo a porta da sala com as mãos cheias de sacolas de compras.

– Você deveria manter essa porta trancada, . Não é nada difícil entrar sem ser convidado.
– Seu idiota! Que susto me deu!
– Idiota é você! Que se encheu de whisky na noite anterior... Tomando um porre, ? Não conseguiu pensar em nada menos clichê?
– Consegui sim, eu pensei em pegar meu carro e sumir de Forks... Mas me lembrei que minha vida agora é aqui e não vai ser tão fácil me livrar dessa cidade.
– Não vai ser tão fácil é se livrar de nós, garota! - disse Lia, sempre muito autoritária.

Embry foi tomando posse da cozinha e preparando nossos pratos italianos, enquanto as meninas e eu nos sentávamos na bancada da cozinha.

– Bem ... Não vamos retroceder muito à histórias antigas. Acho que tudo o que temos que lhe dizer, deve ser começado pela chegada de Bella..
– Ei, ei! Emy! O que vai fazer?
– Embry! Já está na hora de conhecer um pouco mais desse assunto que tanto mexe na vida dela, sem que ela tenha consciência!
–  Billy deixou claro que não podíamos falar nada ainda Lia!
– E não vamos! É Emy que vai contar tudo.

Embry não fez uma cara aprovadora, mas quando se tratava de um embate com Lia Clearwater, a loba era bem forte. 

– Bella chegou aqui em Forks e as coisas de imediato começaram a mudar drasticamente... - Emy começara a me contar o que de fato aconteceu. – Era para ela seguir a vida dela sem muitas novidades, mas ela própria era uma grande novidade para as pessoas da cidade que conheceriam a filha do delegado Swan. Na verdade, entre a juventude local mesmo. O restante das pessoas não se importavam muito. Billy e Charlie sempre foram muito amigos, e Jake já conhecia Bella de infância, e de alguns poucos verões que ela passou com o pai. E bem... Ele se encantou com ela, logo que a viu novamente.
– Só falava nela. O tempo inteiro... Um saco. Nunca gostei dela.

Embry e Emy riam do comentário ciumento de Lia.

– Os Cullen eram uma família muito antiga e peculiar aqui em Forks...
– Scott me falou deles. Comentou que eram estranhos...
– Scott? Você vai nos contar a sua historinha depois garota! Mas, Scott estava errado. Estranhos somos nós. Os Cullen são... ameaçadoramente desprezíveis. - Lia novamente com seu humor negro se pronunciava.
– Os Cullen só andavam e socializavam entre eles...
– Tipo vocês?
– NUNCA nos compare! Eles jamais chegarão aos nossos pés! - bravou Embry sendo abraçado por sua namorada.
– Identifiquei uma desavença forte.
– Sim ... Olha gente, não me interrompam mais, ok? Antes que eu desista de contar tudo e...
– NÃO NÃO! Calados Embry e Lia! Eu quero ouvir tudo o que Emy tem a dizer!
– Os Cullen tinham hábitos incomuns... Que você vai entender depois.. Aconteceu que Edward Cullen, um dos filhos se apaixonou por Bella e ela, por ele. Pasme. Jacob e Bella nunca tiveram algo tão sólido quanto o que ela teve com o "frio"... E fora Edward quem Bella escolheu. O ponto chave de tudo é que os Cullen, eram um outro tipo de ser, do qual nós quileutes devemos defender a todos de Forks. Não são pessoas . São monstros. São vampiros. E nosso dever era mantê-los bem longe de todos, mas há muitos anos atrás, um acordo entre o Carlisle Cullen e o chefe de nossa tribo fora feito, onde eles prometiam não fazer mal a nenhum humano local, e poderiam viver aqui misturados entre todos. 
– Cara! Para! Vampiros? Sugadores de sangue e tal? Olha, isso é muita viagem!
– Assim como é muita viagem nós sermos lobos né moça!? - Dizia Embry humorado.
– Ela é maluca, ela escolhe acreditar no que quer! - Lia falou espantada. – Escuta , eu vou resumir! Bella apaixonou-se pelo vampiro, e engravidou, aí o bebê monstro nasceu e para que ela não morresse no parto, o vampiro transformou-a em um deles, o Jake queria matar todo mundo, e quando iria fazer isso, pasme! Ele teve um imprinting com o bebê monstro! E NOS IMPEDIU DE FAZER A FESTA MATANDO AQUELA CORJA DE SUGADORES. Fim.
– LIA! 
– Ai Emy, você demorou demais!
– OK. Estou catatônica! E depois?
– Depois , achávamos que ia ficar tudo bem com a recente ligação entre Jake e Renesmeé, a filha de Bella, mas os Cullen eram ameaçados pelos Volturi...
– Que são...?
– Um outro clã de sugadores, que acham ser os reis entre eles, mas são todos uns covardões!
– Lia! Deixe Emy falar logo... – Dizia Embry sempre rindo dos comentários da amada.
– Os Volturi sempre estiveram esperando um momento oportuno de condenar os Cullen por algo, pois tinham interesse em Edward, Alice e Bella pelos poderes extraordinários que tinham como vampiros. Um dia, Jake e Renesmeé estavam na praia, e ... O instinto dela foi maior. Não caçava há algum tempo. Renesmée atacou algumas pessoas que vinham para a praia, e no meio de outros que viram tudo. Para consertar o que havia feito, ela teve que matar os restantes. E Jacob, apesar do imprinting tinha o dever com seu clã, de defender as pessoas dos frios. Somente ele poderia fazer algo contra seu próprio imprinting , e ele pôs fim em Renesmée. Isso causou uma grande confusão entre os Cullen e os Quileutes novamente.  E um novo acordo fora feito... Exílio de Forks para os Cullen. Bella tentou assassinar Jake, várias vezes depois disso... Mas por algum motivo que ainda não temos certeza ela se foi para sempre. Abandonou Forks e tudo que havia aqui e que ainda pertencia a história pregressa dela, incluindo Charlie.


13 - Trincando o passado

Depois de descobrir todas aquelas coisas sobre o passado de Bella, eu fiquei ainda mais confusa e preocupada. Embry, ao contrário das meninas, não estava nenhum pouco confortável em desacatar as ordens de Billy. Portanto, após Emily contar tudo o que achava ser necessário - por hora - continuamos nosso dia. Em momento algum tocamos no assunto "Jacob". Até porque, eu estava bastante irritada ainda com o ocorrido do beijo, entre ele e Bruh Ateara. E o que mais me irritava era a consciência de que, eu, me encontrava perdidamente apaixonada por ele. 
Ao despertar do dia seguinte voltei minha atenção, aos meus trabalhos em laboratório. E algo que eu descobrira sobre aquelas algas marinhas um tempo antes, se confirmavam agora. Despertou minha curiosidade e antes de ir até a única pessoa que poderia me ajudar, eu precisaria de anotações coerentes. Passei toda a manhã analisando fatos, fórmulas, textos antigos, autores conhecidos, conceitos e mais artigos acerca da minha nova pesquisa. Tudo apontava para a mesma direção.  E como se algo dentro de mim me guiasse às descobertas, eu fui reunindo as informações das histórias que Emy me contara no dia anterior, e remontando peças em minha mente. Mas, o que a minha pesquisa teria a ver com tudo aquilo? Não havia certeza, ainda. No entanto, bons agouros me estimulavam a cavar ainda mais. Eu precisava continuar a trincar aquele passado de Forks.
Estava decidida a ir até Sue, e arrancar o máximo de informações que pudesse. E desta vez, Billy também abriria o jogo comigo. Estava farta de mentiras, de omissões. Era direito meu estar ciente de tudo, afinal eu estava inserida no meio daquela confusão. Não era certo que não soubesse a verdade completa.
Tomei um banho e descia as escadas quando meu telefone tocou com uma mensagem de Scott:

"Espero que esteja melhor hoje... Confesso que fiquei pensando em você aquele dia, e mal consegui dormir. Queria conversar. Tudo bem se nos encontrarmos hoje à noite?"


Respondi ao Scott que gostaria de vê-lo mais tarde, mas como estava ocupada, eu mandaria uma mensagem combinando um horário melhor. Pegando as chaves do meu carro, saí apressada até a reserva. Por ser hora do almoço, todos estavam reunidos em volta de grande mesa no pátio. E assim que parei o meu carro, as atenções se voltaram para mim. A maioria dos rostos sorriam, mas entre eles, lá estava a expressão de susto e esperança no rosto de Jacob. E Bruh, também estava lá, com sua raiva de sempre estampada num sorriso vadio. Respirei fundo controlando o ódio iminente. Saí do carro com um largo sorriso em meu rosto. Eu provaria ter superado aquela decepção. E Black sentiria amargamente o meu desprezo.

— Eu não acredito! Olha quem decidiu lembrar que tem amigo! – disse Seth com ar de deboche e alegria.
— Desculpe gracinha, eu andei muito ocupada. Não justifica o sumiço, eu sei. - eu depositei um beijo em seu rosto e um forte abraço.
— Mas... Para a alegria de todos: I'M BACK! - eu bradei um pouco mais alto e todos riam.
— Venha , sente-se. O almoço está servido.
— Sue... Senti saudade de suas comidas tão gostosas!  

Abracei Sue recebendo seu maternal abraço de volta. Charlie também estava lá, e sentou-se ao meu lado. Abraçou-me e beijou minha testa.

— Como você está? 
— Estou bem, bastante atarefada apenas.
— Me preocupei com você.
— Por quê Charlie, aconteceu algo?
— Não quero ser invasivo, mas eu soube do ocorrido com o ... - ele inclinou a cabela para o lado onde Jacob estava sentado.
— Pelo que sei, não é destino das suas meninas ficarem com ele. 
— Eu estarei sempre disposto a ouvir. Basta me chamar.
— Eu sei. E agradeço muito. Nós iremos conversar mesmo, logo mais.

Charlie e eu sorrimos um para o outro e continuamos nosso almoço. Após colocar as fofocas em dia com todos à mesa, e auxiliar Sue com a limpeza - coisa que ela sempre evitava de nos permitir fazer - Emy, Lia e eu fomos à varanda da cabana de Sue. Seth estava deitado na rede. Nós três nos sentamos nos banquinhos próximos a ele.

— Sabe ... Se bem me recordo, alguém ia contar o que estava rolando com um tal rapaz da cidade! - disse Lia, sorrateira.
— É verdade! Você nos deu a volta ontem, mas pode ir contando tudo! 
— Então você e Scott estão finalmente juntos? - pronunciou Seth olhando para mim com um sorriso atrevido em seu rosto.
— Ei gracinha, o que você sabe que eu não sei?
, você sabe que eu e Scott somos amigos...
— Espera! Meu irmão caçula sabe de tudo e eu não? Qual foi índia branca? Pode ir falando!

Rimos com o comentário de Lia.

— Bem... Scott e eu saímos algumas vezes, mas não temos nada além de amizade.
— Não é bem assim... - cantarolou Seth.
— Bem... Ele gosta de mim, mas você sabe muito bem que eu não dei falsas esperanças a ele Seth!
— E o beijo que aconteceu entre vocês?
— NÃO ACREDITO! - bradou Lia, arrancando alguns sorrisos bobos.
— Foi só um beijo. Não conversamos mais sobre isso... Mas talvez você esteja certo Seth. Não posso deixar de conversar sobre este beijo com Scott, até porque ele nutre algum tipo de sentimento. Não quero magoar ninguém.
— Você deveria dar uma chance a ele. Está solteira, e pelo que sei não tem mais nenhum interesse no policial. Não é?
— Não sei se deveria.
— Scott é um cara legal. Fora da reserva, talvez o mais legal que você tenha conhecido. E vocês formam um par bonitinho.
— Quanto ele te pagou para convencer a , hein Seth? - Emy dizia rindo.
— Ele não me pagou nada. O pior é isso. - Seth levantou-se da rede adentrando a casa.

Eu e as meninas ficamos um tempo em silêncio olhando para onde o Seth teria ido. 

— Talvez o pirralho esteja certo
— Concordo com a Lia. E com Seth. Você está solteira, não existe mais possibilidades entre você e o Erick. Ou existe?
— Não Emy! Torço todos os dias para que ele e Danielle se acertem.
— E pelo que sabemos, você não está disposta a perdoar o Jake... Não é?
— Emy, eu não quero nem mesmo ouvir a voz do Black, para não dar brecha de enfiar um soco na cara dele.
— Bem, entao é isso... , ouça de alguém que viveu a solidão por muito tempo e não recomenda a ninguém. É muito triste viver sozinha. E você é muito sozinha aqui em Forks. Tirando a sua ligação conosco, o que mais você tem? Pense bem, talvez criar vínculos mais sólidos e menos complicados do que nós... Seja o melhor para você.

Lia sorriu, colocou a mão em meu ombro e entrou na casa. Emy e eu ficamos na varanda mais um pouco, em seguida eu contei que precisava falar com Sue e entrei também.

— Sue... Eu preciso da sua ajuda.
— Claro querida! Tem a ver com Jacob? 

Lia que estava na cozinha conosco, se retirou dizendo que nos deixaria a sós. Charlie apenas observava minhas reações sentado tomando café.

— Não. Absolutamente nada a ver com ele.
— Me desculpe, achei que sua vinda era por isso.
— Não precisa se desculpar. Sei que a maioria aqui na reserva estão ansiosos por essa história. Mas creio desapontá-los. Eu vim até aqui porque preciso conversar com vocês três. 
— Nós três? - disse Charlie.
— Onde está o Billy? - perguntei.
— Está na cabana. Eu vou preparar o chá de Billy. Enquanto isso você pode ir chamá-lo.
— Não demoro. 

Saí da cabana de Sue, em direção à cabana de Billy. Torcia para não encontrar Jacob. Mas como todo o azar que eu vinha tendo, ele esbarrou em mim no meio de sua sala. Seus cabelos molhados e bagunçados denunciavam que acabava de sair do banho. Seu cheiro era ainda mais gostoso, com o acentuado amadeirado ainda maior. E eu sentia falta daquele cheiro. Nos encaravámos assustados. 

— Mani...
— Eu preciso falar com Billy. Onde ele está? - disse seca e ríspida.
— No quarto. Olha... Nós precisamos conversar.
— Não. Você precisa é chamá-lo para mim, é urgente. - me virei indo em direção a porta até que Jacob segurou meu braço.
— Por favor. Todo mundo tem direito a se explicar.
— Eu não quero explicações Black. Você escondeu seus sentimentos o tempo todo. Quando eu decidi me abrir à você, recebi a sua negação. E o que mais me deixa irritada é a sua incapacidade em ser franco. Era só dizer que estava envolvido com a Bruh... O que me faz lembrar que além de tudo você me fez de idiota! 
, não é nada disso.
— Mentiu quando disse que não tinha interesse nela, por ser muito jovem. Mentiu sobre não estar preparado para se envolver. E me fez de trouxa o tempo inteiro...
! Me escuta!
— Por favor, vá chamar seu pai.

Eu disse me distanciando, então Jacob me puxou novamente e me enlaçou num abraço apertado. 

— Me solte Black... - eu dizia furiosa olhando seus olhos.
— Eu não estou envolvido pela Bruh. Nunca estive. Ela me atacou aquele dia! Eu não queria que você tivesse se magoado e por isso evitei tanto tempo que nos envolvessemos. Você é a última pessoa a qual eu faria sentir a dor da rejeição. Me perdoe, mas foi tudo um engano.
— Belo discurso. Agora chame o seu pai, por favor. Estamos aguardando ele na cabana de Sue.

Eu disse finalmente me soltando dos braços fortes de Jacob e indo impassiva à cabana de Sue. Aguardamos Billy e assim que ele chegara fomos para a casa de Charlie. Concordamos que era melhor ter a conversa em um lugar afastado da reserva, por privacidade. Ao sair com meu carro, observei a figura amarga de Black na varanda de sua cabana, e seu pai ao meu lado no carona, apenas tristonho a nos observar. Assim que chegamos à casa de Charlie, e era a primeira vez que eu entrava lá, não fomos adiando ainda mais a conversa. Coloquei meus papéis sobre a mesa e fui logo ao assunto.

— Vocês devem saber, que eu já sei a história sobre Bella, os frios, e a reserva.
— Não era pra saber. - Billy retrucou um pouco irritado.
— Me desculpe Billy, mas era sim. Eu estou no meio disso tudo. Posso não estar envolvida com nenhum Cullen, mas estou envolvida com vocês. E já sei o bastante para não ter mais segredos entre nós. Acredito que a confiança é recíproca, não é mesmo?
— Claro. - disse Charlie.
— Concordo com ela Billy, há algum tempo eu já vinha dizendo que precisava saber onde estava se metendo. 
— Ok Sue. Já sei de suas colocações há muito tempo. Mas e você Charlie? Preparado para desenterrar o passado? 
— Billy, pode não sentir o mesmo, mas eu sinto que ela é como uma filha. Uma filha que eu não tenho como perder. Tudo que eu quero é que ela saiba a verdade, para que assim possa decidir se viver entre nós é realmente o que ela quer.
— Certo... Então . O que você quer saber?
— Eles voltaram? 
— Não. Não temos ideia de onde os Cullen estão, desde a morte de Renesmeé. Você já sabe?
— Sim, o imprinting de Jacob que ele matou para defender a tribo. Por que Bella, sendo mãe de Renesmeé e furiosa com Jacob, partiria sem vingar-se?
— Isso querida, é algo que todos nós ainda tentamos entender. Os lobos são muito fortes, mas não é mentira que se ela quisesse, teria travado uma grande batalha para se vingar de Jake.
— Acreditamos , que minha filha, motivada pelos sentimentos de amizade e amor que tinha pelo Jacob... Tenha ido embora para poupar que a vingança destruísse o que restava desse sentimento. 
— Os Cullen conhecem nossa história . Bella sabia que o único que pode ferir um imprinting de um lobo, é o próprio lobo. E por isso, nós acreditamos que Bella sabia o quão difícil foi também para Jake.
— Me desculpe Billy, mas não acredito nisto. Pelo que entendi, Bella não teve receio algum de abandonar sua vida, seu pai, seus sentimentos humanos para se unir aos Cullen. Estas desculpas, para mim, não passam de uma retirada estratégica.
— O que quer dizer com isso, querida?
— Sue... A Bella não é mais a menina que veio para Forks morar com o pai. Ela não relutou não foi?
... Já se passou tanto tempo desde que tudo aconteceu. Minha filha não teria porque voltar agora.
— Exato Charlie. Muito tempo se passou. Ninguém se lembraria. Porque iriam se proteger? Como Sue mesma disse, ela poderia reunir forças para se vingar.
, você não é de rodeios como eu. Então, onde quer chegar?
— Há um tempo atrás Billy, antes da transformação final de Embry. Eu era recém chegada e não sabia de nada ainda. Jacob dormiu na minha casa uma noite, e de madrugada eu desci para beber água. Vi uma sombra humana rondando minha casa, foi a primeira vez. Jake desceu e me calou, mandou que eu subisse e saiu pela porta. Ouvi rosnados, e na época ele dissera que eram lobos. Não acreditei, porque sei o que vi, mas não tive como contestá-lo. Nunca me esqueci deste fato. Após descobrir a verdade sobre os quileutes, muitas coisas  se encaixaram, mas esse era o único fato que ainda não se encaixava em nada. Outras vezes pude ver humanos rondando minha casa. Não contei a ninguém, mas sei o quão insegura é a minha casa. E por um tempo tendo a casa vigiada por lobos, em seguida disfarçando que estivesse muito movimentada sempre, eu consegui afastar essas visitas. Mas seja lá o que forem, não são burros e podem voltar a qualquer momento. Temo pelo que sejam. Conheço as lendas do Kalil. 
— Billy! Você sabia disso? - Sue dizia um pouco desesperada.
— Jacob me contou sobre o ocorrido uma vez, mas como não aconteceram mais após a patrulha dos lobos, acreditamos que não havia mais riscos para .
— Billy, isso era algo que você deveria ter me dito, ainda mais sabendo os motivos pelos quais me mudei para a reserva!
— Como assim Charlie? Você não mora mais na sua casa?
, desde que Sue e eu nos casamos, decidimos continuar na reserva, é mais seguro. Como você mesma sabe, Kalil não foi um bairro dos mais tranquilos. E há pouco tempo em minha casa também haviam rondas, de seres humanos estranhos. Não os abordei por recomendações da reserva, posso ser o delegado Swan, mas a morte de um humano para um vampiro é como tirar doce de criança.
— Então, eu realmente não estou segura.
, as coisas mudaram muito agora. Diante de tudo o que você diz... Lembra da oferta sobre morar na reserva?
— Sim Billy. 
— Junte suas coisas, você volta conosco hoje mesmo. E amanhã bem cedo começaremos a construção da sua cabana. Até lá você fica em minha casa, que é a mais vazia. E não tem discussões.

Billy se retirou em direção à cozinha de Charlie, acompanhado de Sue. Eu estava atônita. Não falei nem mesmo metade do que pretendia, mas em poucos minutos perdera com poucas informações a autonomia de minhas decisões. Se eu queria me mudar para a reserva? Lógico. Sempre quis. No entanto, não era o que eu desejava no momento. Meus planos de me desligar dos quileutes, em especial de um deles, iriam por água abaixo. Eu encarava a mesa em frente ao sofá atônita e sem reação, quando Charlie se pronunciou:

— Venha , vamos pegar algumas das suas coisas em sua casa. Eu te acompanho.


14 - Uma nova moradora na reserva

— Certeza de que pegou tudo filha?
— Sim Charlie, por hora é o que preciso.
— Então vamos?
— Charlie, sinceramente, não sei se isto é uma  boa ideia.
— Boa ideia ou não , não deixaremos você sozinha aqui. É direito seu não querer ir para a reserva, mas é dever nosso deixar alguns dos meninos aqui com você.

Pensei um pouco sobre o que Charlie disse.

— Não. Não quero tirar ninguém da reserva, do seu lar para proteger a princesinha aqui. Eu vou com vocês. Mas, de todo modo estou sendo um peso.
— Você nunca é um peso. Gostamos muito de você, e todos ficarão felizes com a notícia. Você sabe disso.
— Nem todos, acredite.
— Jacob? Tenho certeza de que ele será o mais feliz de todos.
— Não, não é ele. O que me lembra que... Não tem mesmo um lugarzinho noutra cabana qualquer? Numa casinha de cachorro?

Parei pra pensar no que havia dito, enquanto Charlie gargalhava divertido. Balancei a cabeça em negação com um sorriso constrangido no rosto. Peguei minhas bagagens, e Charlie repetindo meu gesto e parando de rir, pronunciou: 

— Você vai ficar bem acomodada na casinha do seu cachorro. Afinal, parece que você adestrou ele muito bem, não é mesmo? - me lançou um olhar desafiador.
— Não conte com isso.

Dito, fechamos a porta da casa e entramos no carro em direção à antiga casa do delegado Swan. E assim que chegamos, Sue e Billy apressavam-se para seguir à reserva, então interrompi a todos:

— Esperem. Meu motivo de conversar com vocês, não contava com essa mudança de planos. Eu ainda gostaria de falar algumas coisas.

Enquanto os três me olhavam curiosos, acomodei-me ao sofá e abri meus papéis e anotações sobre a mesa de Charlie até que os presentes à cena se aproximaram.

— Há algum tempo enquanto pescávamos, eu colhi algumas algas marinhas e vinha estudando-as. Por isso precisava de sua ajuda Sue. O que tem a me dizer dessa planta?

Estiquei alguns papéis com anotações e fotos da alga para a índia. Sue pensava um pouco, mostrou os papéis a Billy.

— Querida, é uma alga antiga. Quase não encontrada em abundância nas encostas de Forks, como antigamente. Preparei muitos xaropes com ela, e distribui às famílias da reserva, para darem aos seus filhos ainda pequenos. É um tônico forticante, e estimulante ao apetite.
— Nós utilizávamos , em bastante quantidade, mas foi ficando escassa. Sem ter muita noção de como replantá-las, pois elas são típicas das encostas mais difíceis, nós paramos de colhê-las. Com o tempo voltou a brotar, mas é apenas mais um tipo das muitas ervas medicinais que nossa tribo utiliza.
— Exatamente Billy. Medicinal. Descobri um teor bem alto de regeneração na planta, e aproveitei para fazer alguns experimentos. O insumo é forte contra infecções, inflamações, é cicatrizante. Mas o mais curioso não é isso... Recordei de quando estive na tribo Whitton com vocês, e os pajés locais utilizavam uma planta de aspecto parecido, porém seca. Foi o que deram para Embry. Pensando um pouco, eu consegui chegar à conclusão que esta alga apresenta poderes curativos. Ou talvez retardativos. 
— Você acha querida, que a utilização que fiz desta alga na infância pode ter retardado a transformação dos meninos?
— Sim. Faria muito sentido. Não há nenhuma comprovação científica a respeito. Mas tenho estudado esta alga há bastante tempo, e lendas envolvem os poderes curativos quase mágicos dela. Em relatos mais antigos, encontrei uma assimilação do uso desta alga, como "a regeneração da vida", ou "ressurreição dos frios". O que vocês podem me dizer sobre isso?
— Eu desconheço qualquer fato. Billy? - Sue olhou para Billy, tão curiosa quanto eu e Charlie.
 — Há muitos anos atrás, meu avô contava histórias sobre uma cura. Não era a cura que nós lobos procurávamos para nós. Mas era algo que poderíamos fazer uso para o bem. Mas, ele falava de magia. Nunca mencionou o uso de nenhum insumo ou planta.
— Bem... Fiz uso desta erva por um tempo. E realmente, testando em mim pude notar que a regeneração de feridas é bem rápida. Não sei se provém dela uma cura definitiva para os lobos. Mas pelo que vi na reserva Whitton, ela apenas funciona como um... Controle. Nada definitivo. Embry continua se transformando. Mas retardou um processo mais grave a ele. E quanto aos frios... Bom eu continuarei a estudar, mas é um pouco difícil sem algum deles para que eu possa testar.
— Acredite . Contente-se com suas anotações, você não iria gostar de testar nada em algum frio. São repugnantes.

Neste momento, após esta fala conclusiva de Billy, Charlie pigarreou e se levantou para que pudessémos voltar a reserva. No caminho, não falamos sobre nada do que havíamos conversado anteriormente. Sue tagarelava da felicidade de me ter morando na reserva. E Charlie também. Assim que chegamos à reserva, Sue e Charlie saíram do carro. Charlie auxilou Billy a descer enquanto eu dava a volta em direção a eles. Nos deixando a sós, Charlie seguiu para sua cabana.

— Antes de entrarmos , eu gostaria de conversar com você.
— Tudo bem... Quer ir até a praia?
— Vamos apenas caminhando... 

Seguimos em direção ao imenso toco de carvalho, próximo à entrada da trilha para a praia. No mesmo toco onde Jacob me presenteara com um rádio de madeira.

— Sei que está zangada com meu filho. E não irei me meter na relação de vocês dois. Jacob é cabeça-dura como o pai, então acredito que ele possa tê-la magoado muito com suas atitudes confusas. 
— Você conhece bem seu filho.
— E por conhecê-lo entendo as suas limitações em dar chance a um novo amor. No entanto, desde que você chegara, meu filho é outro homem. Você conseguiu restaurar muitas coisas em Jacob, . E sabe disso. Assim como sabe que restaurou aos quileutes a confiança em alguém que não seja como nós.
— Não pode dizer isso Billy. Bem sabemos que as semelhanças que tenho com vocês, e toda a afinidade é grande.
— Claro. Mas também é a mesma afinidade com os Carter. 
— O que você está querendo dizer?
— Não estou recriminando, ou me intrometendo na sua relação com o filho mais velho dos Carter, mas soube que já conheceu a tribo de sua família. E você realmente é fascinada por culturas indígenas, não é? O que me faz retomar que a sua felicidade, ao contrário do que eu pensava no início, pode não estar junto a nós. Entretanto , quero que saiba  da minha profunda admiração por você. E da nossa alegria em recebê-la aqui. Entre nós, você sempre terá um lar. E apesar da minha esperança infindável de que é com o meu filho que você deva ficar, eu desejo que você encontre alguém que realmente lhe complete. Ainda acredito em você  e em Jacob. E, saiba que pode conversar comigo quando quiser. Jacob pode ser indecifrável, e ninguém melhor que o seu pai, para que você tenha ajuda nisto. Claro, se é que você ainda quer decifrá-lo.
— Billy, tudo isso é... Agradeço as palavras, o acolhimento e a compreensão. Não sei se há um nós entre Jacob e eu, assim como com Scott. Mas fico feliz em saber que posso confiar em você. Principalmente nestes difíceis momentos que virão com a minha estadia em sua cabana.
— Oras, não se preocupe com isso! Você é forte e decidida, tenho certeza que não será tão ruim quanto pensa. Jacob não vai amolar você, se você assim desejar. Ele ficou trancado dentro de si por muito tempo antes de você chegar, e se você o colocar naquele lugar novamente, ele saberá lidar com isso. 

As palavras de Billy me fizeram sentir certo remorso. E creio eu que era exatamente o que o velho índio pretendia. Causar-me arrependimento pela forma como julguei Black. Billy sorriu para mim, e eu sorri de volta a ele. E arrastando sua cadeira, sempre surpreendemente silenciosa, Billy se retirou. Segui atrás dele, e então pude ouví-lo:

— Ah! E estava me esquecendo, como você sabe, não temos muitos cômodos então você vai dormir no quarto de Jacob.
— Billy! Não precisa incomodar Jacob com isso. Eu durmo na sala.
— De forma alguma . Somos cavalheiros.

Conhecendo Billy como eu conhecia, continuar a discussão não adiantaria nada. Tão turrão quanto o filho, tão teimoso quanto eu. E não esquecendo que eu era uma hóspede de favor, não cabiam reclamações. Segui atrás de Billy adentrando a casa e Jacob vinha em nossa direção. Saiu da casa de Sue com uma feição um tanto quanto alegre. 

— Então você vai morar aqui! - ele dizia com um sorriso largo.
— Pois é. Parece que eu vim mesmo para ficar. 
— Vamos filho, temos que acomodar no seu quarto. 
— Eu vou pegar minhas coisas no carro. - eu disse e Black veio logo atrás de mim.
— Eu te ajudo.

Enquanto tirávamos as malas do carro, e íamos levando para o quarto, não falamos um com o outro. Era estranho estar novamente naquele quarto, diante as atuais circunstâncias. Após a última leva de bagagens, olhamos um para o outro com dúvida sobre o que fazer a partir dali.

— Bem, eu vou pegar umas roupas de cama limpas para você. 
— Obrigada Black.
— Sabe que não precisa me agradecer. Eu é quem devo. - ele sorriu - E vou preparar também, o meu acampamento na sala.
— Black, eu ainda estou muito magoada com você. Estar aqui não significa que as coisas mudaram. Contudo, nós teremos um convivência pacífica e tranquila se depender de mim.
— Eu já sabia que não havia mudado nada, mas não me peça para não demonstrar o quanto estou feliz. Entendo seus sentimentos e irei esperar o tempo que for preciso até você me perdoar. Eu já espero por você há muito tempo, não seria diferente agora.

Assim que terminou de falar, Black saiu pela porta de seu quarto deixando uma ainda mais confusa sobre seus sentimentos. Eu já não tinha tanta certeza se não teria chances de uma reaproximação entre nós. Na verdade, começava a me indagar se Jacob não era mesmo apenas uma vítima. Assim como eu. Tentando afastar estes pensamentos voltei minha atenção ao quarto, e às minhas coisas que eu teria que colocar no lugar. 


A fanfic foi dividida.
Leia: PARTE DOIS.


Nota da autora: Meninas, a fanfic agora, está com uma playlist babado dando um ar de série para a história! Não sei vocês, mas adorei as músicas! Escrevi a fanfic ouvindo tudo isso, e decidi compartilhar!
Leitoras lindas, vamos subir a hashtag da campanha #COMENTEMAIS e deixar uma autora super feliz em saber a sua opinião! Estou SUPER ansiosa para saber o que vocês acharam deste último capítulo, da primeira parte!
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