Entre Sonhos

Última atualização: 14/12/2020

Único

O baile de inverno tinha chegado ao final, mas Ronald Weasley estava possesso de raiva. Suas orelhas queimavam e tudo o que ele ouvia era a voz irritada de Hermione Granger em seus ouvidos reclamando sobre ele implicar com Viktor Krum. Tudo bem que o búlgaro era um astro no Quadribol e o campeão de Durmstrang, mas ele ainda era o inimigo ali. E ela logo cairia em si. Aí sim Ron poderia respirar aliviado por ter ajudado a amiga. Não tinha nada a ver com ciúmes, ela não tinha entendido nada.
Depois de se trocar rapidamente no banheiro e — finalmente — tirar aquele traje a rigor medonho, o ruivo aproveitou o tempo que teria sozinho no dormitório para se acalmar e respirar com mais tranquilidade. Harry ainda não tinha subido e os outros garotos certamente curtiam o final do baile, mas o ruivo não estava afim de esperar ninguém. Ele não sabia bem que horas eram, só se deitou para apreciar o silêncio. Era tão raro ficar sozinho ali e a quietude fazia sua raiva se abrandar. Se Hermione queria continuar tão amiguinha de Krum, que ficasse. Ele tinha mais o que fazer.
Ron se aconchegou nos lençóis e, mesmo que seus olhos insistissem em procurar falhas no dossel vermelho acima da sua cama, ele se forçou a fechá-los. Suas orelhas continuavam quentes, mas agora seus ouvidos pareciam zumbir uma música que ele desconhecia. Provavelmente alguma das que As Esquisitonas tocaram no salão e ele não sabia a letra. Ele não percebeu, mas não demorou para pegar no sono e estava sendo transportado para um lugar bem diferente do dormitório da Grifinória.
Weasley piscou umas duas vezes até que pudesse se acostumar com a escuridão. Ele sentia um cheiro muito forte no ar que era bem difícil de reconhecer, mas que lembrava suor. O garoto até tentou olhar pros lados, mas parecia sozinho ali, ninguém estava por perto. Até que uma batida ritmada se fez presente. Foi ficando mais alta. O zumbido nos ouvidos parecia fichinha agora, Ronald não conseguia discernir nem seus próprios pensamentos.
Ele seguiu andando por mais alguns metros, tateava às cegas o espaço à sua frente na esperança de encontrar alguma coisa, mas nada parecia chegar nas suas mãos. Agora a batida tinha virado uma música, mas ele não entendia uma palavra do que estava sendo dito. Que língua era aquela? Parecia até que semelhante ao francês falado pelas alunas de Beauxbatons, mas ele não saberia dizer.
Foi quando ele viu, quase no final do tal lugar, um pequeno facho de luz e resolveu seguir para ver onde daria. Já que sua audição estava bastante prejudicada pela tal música ensurdecedora, Ronald resolveu apurar seus outros sentidos e aspirou o ar com cuidado. O cheiro de suor ainda estava ali, mas ele também sentia cheiro de álcool. Parecia muito Whisky de Fogo que Fred e George tinham contrabandeado para dentro do castelo no mês anterior. Parecia, mas era diferente. Provavelmente mais fraco. Ele respirou fundo de novo e agora o cheiro parecia impregnado em suas roupas.
Espera, ele estava de roupas, certo?! Tocou apressado o próprio corpo e suspirou aliviado quando sentiu o pijama. Pelo menos ele não corria o risco de ser pego pelado fora do dormitório enquanto dormia. Porque sim, aquilo era um sonho. O que mais poderia ser?!
O garoto continuou andando na direção da luz e, quanto mais se aproximava, mais a música ao seu redor diminuía de volume e ele passou a ouvir risadas. Quando ele chegou na fonte de luz, percebeu que era um pequeno buraco na parede. Como aquele buraco conseguia deixar passar tanta claridade ele não fazia ideia. Talvez Hermione soubesse explicar se estivesse ali. Mas ela não estava e Ronald estava curioso.
Ele chegou perto do tal buraco na parede e aproximou um olho. Foi o máximo que conseguiu. Weasley não via muito além de um quarto bastante arrumado e diferente. O garoto só sabia que era um quarto, porque tinha uma grande cama no centro do espaço. Outras caixas bizarras estavam espalhadas pelo cômodo, mas ele não sabia o que eram e não deu muita atenção.
Uma cama, um tapete e alguns livros. Foi só o que ele conseguiu distinguir de tudo o que via. O resto era tão estranho. Tão diferente do que ele tinha em casa ou em Hogwarts.
— Por que está me espionando? — Uma voz feminina falou bem estressada às suas costas e Ron se virou assustado. Ele não conseguia ver o rosto da garota, talvez até uma mulher pelo timbre, mas percebera as curvas de seu corpo. Suas orelhas queimavam agora de vergonha.
— E-eu, eu não estava espionando. Só não sei onde estou. — Ele tentou se justificar, mas ela não lhe deu ouvidos.
— Eu sei quem você é, quer dizer, eu acho que sei. — Ela falou meio incerta — Mas como você veio parar aqui?
— Só vim andando. E você? — Ele arriscou perguntar, mas ela riu. O que essa garota estava pensando?! Por que rir dele?!
— É muito estranho ter você aqui. — Ela ignorou a pergunta que ele fizera — Até pouco tempo você estava nas minhas páginas e não era real.
— Como assim eu não era real? Ora, eu sou muito real se quer saber. — o ruivo se irritou com a audácia dela, mas outra risada escapou da garota. Ele não sabia o que era tão engraçado assim pra ela rir à toa, mas não era um som ruim. Com certeza muito melhor do que a música ensurdecedora que lhe atormentara minutos atrás.
— Talvez eu tenha tomado uma taça de vinho a mais pra isso estar acontecendo. — Ela comentou pensativa como se não tivesse escutado os resmungos do garoto.
Em um ímpeto de coragem Grifinória, ele tateou a mão dela e segurou firme ali. Pelas calças de Merlin, ele era real! Com quem ela achava que estava conversando então? Quando suas mãos se tocaram, a garota ofegou assustada e logo se soltou. Ela disse baixinho algo em uma língua que ele não conseguia entender.
— O que você disse? — Quis saber curioso e ouviu a respiração dela falhar de novo. Estava tão quieto agora que qualquer movimento podia ser escutado.
— Você não entendeu? — Ela devolveu e ele negou — Não é possível que eu esteja falando inglês esse tempo todo sem ter percebido! — Disse surpresa, mas logo bateu palminhas extasiada — Espera só até eu contar pros meus amigos. Eu sabia que cursinho de internet tinha o seu valor! — Festejou, mas Ron não tinha compreendido do que ela falava. Internet?! O que era aquilo?!
— Quem é você? — Ron perguntou curioso e se aproveitou da luz vinda do buraco na parede para tentar enxergar mais do que simples curvas. Ele não conseguiu ver muito da mulher à sua frente, mas seus olhos se encontraram por poucos segundos antes que ela os desviasse. O ruivo não conseguiu distinguir a cor, mas sentiu um calor gostoso dentro do peito.
— De que adianta eu falar meu nome se você não vai lembrar de mim depois. — Ela parecia conformada e, dessa vez, tomou a iniciativa de segurar a mão do garoto. Era estranho pra ele. Ronald Weasley nunca tinha segurado a mão de uma garota desse jeito. Era um “estranho” confortável.
— Nós vamos nos ver de novo? — Ele não conseguiu se segurar. Estava escuro, ela não poderia ver sua cara de idiota enquanto fazia essa pergunta. Pelo menos isso.
— Não era nem pra estarmos nos vendo agora, eu acho. Talvez isso queira dizer alguma coisa ou também pode não querer dizer nada e eu só exagerei na Jurupinga.
Jurupengra? — Ele tentou repetir o nome com dificuldade, mas ela entendeu e deu uma risadinha de leve. O sotaque britânico dele era tão forte que tinha ficado adorável.
— Deixa pra lá! — Ela deu de ombros e ele assentiu. Os dois ainda não conseguiam se ver muito bem, mas ela apertou a mão do ruivo que ainda segurava — Eu preciso ir.
— Isso é um adeus? — Ele questionou e sentiu que entrelaçavam seus dedos por poucos instantes antes que ela se soltasse.
— Aqui no meu país a gente não fala “adeus”, a gente diz “coé, valeu, valeu”. — Ela explicou em português, mas ele não entendeu uma palavra da expressão final.
— Que língua é essa e o que isso quer dizer? É algum tipo de xingamento?
— Não é um xingamento — ela gargalhou da confusão dele, mas logo se recompôs. Não queria que ele pensasse que ela estava rindo dele — Mas eu só vou te explicar o que significa caso a gente se encontre de novo.
— Eu vou cobrar!
— Você não vai precisar fazer muito esforço, Ronald Weasley. — Disse suavemente e o ruivo sentiu as mãos suarem só por ouvir seu nome na voz da garota desconhecida. Era tão bom. — Ron. — A voz dela parecia diferente — Ron. — Ela estava mais grossa e bem mais irritada — Rony. Ronald Weasley! — O ruivo acordou no susto com Harry Potter lhe chacoalhando repetidas vezes.
— O que aconteceu, cara?! — Resmungou pro amigo enquanto ele tentava focalizar direito onde estava. O dormitório que dividia com os garotos na Torre da Grifinória parecia o mesmo de sempre. Simas, Neville e Dino pareciam dormindo muito bem, obrigado. Só Harry que estava acordado e lhe tirando da companhia da garota mais legal que ele já tinha conhecido. Tudo bem, não tinha visto o rosto dela, mas a voz era o suficiente, assim como o toque.
— Você estava falando demais durante o sono, achei que estivesse tendo um pesadelo e achei melhor te acordar. — o moreno deu de ombros e voltou a se sentar na própria cama.
— Que horas são?
— Umas três da manhã, você pode voltar a dormir. — Harry riu e logo se deitou sem falar mais nada pro ruivo.
Ronald se remexeu por alguns minutos, mas não demorou pra voltar aos braços de Morfeu. Ele bem que tentou, mas não conseguiu voltar a encontrar com a tal garota. Nem naquele dia, nem em nenhum outro que passou. Talvez ela estivesse certa e tudo não tivesse passado de um sonho. No entanto, boa parte dele torcia para estar errado.




FIM.



Nota da autora: E lá vou eu embarcar em outra fanfic do universo de Harry Potter. Espero que vocês tenham gostado desse comecinho e que me acompanhem nessa nova empreitada. Nos vemos na atualização temática de Natal com mais desses dois!
Beijos ❤



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Nota da Scripter: Não sei vocês, mas já estou ansiosa para essa Att de Natal!!

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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