Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

Sua postura intimidante expressava a autoridade necessária naquele departamento, seus subordinados o ouviam com atenção e era como se todos os presentes não conseguissem desviar os olhos de sua figura. Carros e viaturas, o movimento na delegacia parecia não ter fim. Me mantive em silêncio, distante. Apreciava o observar, era como se descobrisse novas coisas sobre ele a cada nova observação. Poderia dizer que era um velho hábito, um pouco irritante para o meu melhor amigo.
— Senhor policial, você deixou cair isso…
Anunciei minha presença com uma brincadeira tosca, mas que ele sempre caia. Antes de atingir o estacionamento, "tropecei" em sua figura, e ao me levantar me pronunciei, deixando uma caixinha em sua mão antes que ele erguesse seu olhar e me reconhecesse. A caixinha tinha um palhaço que pulava assim que a tampa era removida, uma chuva de papeizinhos coloridos voou no ar assim que ele a destampou.
— o timbre grave, baixo e com indícios de irritação, virou sua face para mim. — Comece a correr.
— Ela te pegou de volta, — primeiro sargento Pérez gargalhou ao lado dele. Meu melhor amigo, famoso por seu mau humor, deu-lhe um olhar em aviso antes de desviar sua atenção para seus subordinados.
— Admita, cara, ela é boa demais em te surpreender — segundo sargento Gutier acompanhou Pérez em sua gargalhada.
— Não fique tão irritada com ela, — tenente Molina riu, mas discretamente.
Enquanto eles riam, eu corria por entre os carros evitando a figura irritada de meu amigo de infância. pulava os capôs, tentava bloquear minha passagem enquanto as risadas dos outros policiais aumentava gradativamente conforme outros se juntavam para ver o que estava acontecendo. O motivo para estar tão irritado não era só porque o havia surpreendido - na caixa não foram somente papeizinhos que voaram no ar, mas um pouco de tinta em pó que coloriu a face, pescoço e um pouco da sua farda em um tom de verde azulado. Ele estava hilário e eu não conseguia parar de rir enquanto fugia dele. O sol do meio-dia não facilitava muito as coisas naquele dia atípico de outono escosês.
— Vamos lá, , foi só uma brincadeirinha — me escondi atrás de um camburão, olhando para ele através dos vidros. Tentei não gargalhar da expressão "amigável" que tomou a face dele quando ele olhou o próprio reflexo no retrovisor do automóvel.
— Eu estou azul feito um maldito smurf, ! — seu tom não precisava ser alto para expressar que zangado era pouco perto de como ele se sentia.
— Combina com seus olhos, veja, eu te deixei mais agradável de se olhar — tentei persuadi-lo enquanto girava pelo carro, estávamos dando a volta no camburão.
— Decida se está me ofendendo ou me elogiando — ele pulou o capô em um movimento rápido, segurou o meu pulso e me colocou de costas para ele.
— Não, as algemas de novo, não — comecei a resmungar tentando soltar meus pulsos das mãos fortes dele.
— Você tem sido uma menina má, , quantas vezes preciso te pedir para não repetir isso a cada aniversário! — passou as algemas em um movimento rápido, seu corpo emanava calor e sua voz grave em meu ouvido me deixou arrepiada de uma maneira boa, o que eu me bati mentalmente por achá-lo sexy!
— É o seu aniversário, poxa! — tentei desconversar enquanto ele nos levava de volta para o pátio em frente à delegacia, onde seus colegas e subordinados gritavam e assobiavam em comemoração.
— Esse é o meu ambiente de trabalho, , fica difícil eu manter o controle quando você começa toda essa confusão! — ele me respondeu se mantendo resoluto atrás de mim.
— Quinze minutos e trinta e cinco centésimos, você o fez correr mais esse ano do que o anterior. Parabéns, — Comandante Fiodor nos saudou com sua voz alta e animada, ele estava se divertindo.
— Eu tento, Comandante — dei-lhe uma piscadela, o fazendo rir mais e ouvindo meu melhor amigo bufar.
— O que adianta eu a desencorajar e vocês prosseguirem parabenizando pelas artimanhas e pegadinhas, Comandante?! — respondeu, rabugento, seu olhar se tornou ainda mais irritado quando teve de passar as mãos pelos cabelos e a tinta espalhou no ar.
— Não seja tão azedo, , ela está apenas tentando animar esse seu espírito ranzinza — Comandante Fiodor riu bagunçando os fios de meu melhor amigo, vendo seu semblante se fechar um pouco mais. — Não a deixe ficar tempo demais nessas algemas.
— Ei, eu pensei que você estava do meu lado, comandante! — exclamei, surpresa e levemente ofendida.
, eu adoro suas pegadinhas, mas você não dá folga ao pobre rapaz — ele riu antes de se dirigir para dentro da delegacia.
— Também não está convidado para a festa, velhote — resmunguei, mas contendo um sorriso. me fez sentar numa das cadeiras de baixo do toldo.
— Você adora testar policiais , não vai descansar até passar a noite atrás das grades ?! — me perguntou seriamente, ele tentava encobrir sua impaciência e irritação com a preocupação pela minha falta de filtro.
— Tecnicamente, eu já passei a noite em uma cela. Você não gostou da minha última surpresa, lembra, era o seu plantão e eu… — ele cobriu minha boca com sua mão limpa, respirando fundo, e parecia que teria um ataque cardíaco a qualquer instante.
— Verdade, nossa já esteve por aqui a noite… garota, suas ideias são geniais! — o segundo sargento Gutier, o qual estava mais próximo, acabou ouvindo a nossa conversa.
— Você quer calar a boca, Gutier, não incentive quem já possui um parafuso a menos! — o respondeu exasperado.
— Não ligue para ele, Thomas, meu amigo odeia o quão imprevisível posso ser — pisquei para ele, rindo da expressão zangada na face de .
— Ninguém tire essas algemas dela até que eu retorne, caso contrário… — os ameaçou antes de entrar na delegacia para se limpar antes de eu o levar para casa.
Os subordinados de o esperaram se afastar, tendo Pérez o seguindo para confirmar que ele havia seguido até o vestiário antes que dessem um jeito de me soltar. Eles eram policiais, conheciam um truque e outro. Enquanto se livrava da tinta, eles me interrogaram sobre o que havia preparado quanto à festa de aniversário do rabugento do meu melhor amigo. Eu os lembrei de manter em segredo antes de ir dando detalhes da comemoração daquela noite. Meu amigo era quase um eremita fora do seu ambiente de serviço, todo ano era uma verdadeira batalha arrastá-lo de sua casa até o local da festa. Com o passar dos anos, apenas adaptei a estratégia e, ao invés de fazê-lo sair de sua casa, o obrigava a passear pela cidade num jogo de caça ao tesouro antes de ir para o local onde seria sua festa de aniversário; afinal, as Terras altas de Inverness tinham muitos lugares para se planejar uma boa aventura. Conseguia não repetir os lugares das pistas do caça tesouro, a menos que o monumento tivesse relevância! Com alguns jogos e desafios, era muito competitivo. Todos os seus amigos e nossas famílias conseguiam chegar à festa no horário, assim ele passava a data com as pessoas que amava. Eu não me importava em organizar tudo, provocar era muito fácil e eu adorava vê-lo fora de sua zona de conforto. Crescemos juntos, numa vizinhança calma, apesar de algumas ocorrências aqui e ali, sendo uma criança exemplar, bem comportada. Aquilo me intrigou, até a chegada de sua família no bairro todos os garotos que havia conhecido eram o pesadelo das professoras em nossa pré-escola. A criança reservada, adorada por todos, me deixou curiosa. não teve um só dia de paz após ser apresentado a nossa turma, eu não podia ser culpada se havia apenas garotos no bairro e, entre todos eles , era o mais quieto, reservado - e todos na mesma faixa etária que a minha eram o pesadelo de qualquer adulto! A Sra. , mãe de , ficou mais do que feliz pelo filho ter a vizinha que estudava na mesma sala que ele; minha mãe adorou assim que o conheceu, implorando aos céus para que ele pudesse me influenciar para que assim eu pudesse repetir o mesmo bom comportamento que ele tinha. Não é necessário dizer que o contrário aconteceu, escapou de mais castigos que todos no bairro por sua boa fama, o filho da mãe sempre teve uma carinha de anjo para os adultos do bairro.
voltou com a típica expressão taciturna, olhando para os meus pulsos. Antes que ele retornasse, Pérez havia nos avisado, assim as algemas voltaram para os pulsos. Ele falou brevemente com seus subordinados antes de me levar até o banco do passageiro de meu próprio carro. apenas ajustou as algemas para que meus braços ficassem na frente do corpo, passou o cinto pelo meu corpo e naquele instante eu tentei disfarçar o quanto sua proximidade me afetava, e então se sentou no banco do motorista.
— Tire as algemas — quebrei o silêncio, eu estava constrangida por permanecer daquela maneira.
— Não, agora me diga qual o primeiro lugar para qual devemos ir — ele me respondeu em seu tom autoritário.
— Meu carro, minhas regras — respondi no mesmo tom.
— Isso se aplica ao meu trabalho, mas você ainda faz o que quer quando pisa por lá, não vejo qualquer razão que me impeça de dirigir o seu carro, — seus olhos pareciam ver além da superfície.
— Por que você é tão ranzinza?! — grunhi revirando os olhos antes de me render com um suspiro e indicar o GPS no painel do carro. — Basta seguir as instruções, eu me preparei para uma situação parecida como essa surgisse.
— As vantagens e desvantagens de nos conhecermos há tempo demais — ele piscou sorrindo pela primeira vez no dia, o que me deixou sem reação.
era lindo, não era uma hipótese, mas um fato. A única razão de não haver mulheres o rodeando se dava por seu péssimo humor, sua natureza rabugenta afastava as mais persistentes. Além de seus companheiros de esquadrão, não havia muitos corajosos que se aproximavam do Capitão . Meu melhor amigo era mais sociável na infância, sua timidez foi sendo deixada de lado enquanto crescíamos e seu humor ranzinza tomou o lugar durante a adolescência. Eu não sabia se agradecia ao universo por ele ser daquela maneira ou se tentava lutar contra o mau humor de . Eu estava apaixonada por ele desde a adolescência, ficar com nossos companheiros de pegadinhas se mostrou infrutífero em tentar esquecer e afugentar tal sentimento. Nossos amigos de infância se espalharam pelas terras escocesas, os víamos em alguns feriados específicos, mas nunca todos ao mesmo tempo.
Enquanto tentava disfarçar os efeitos de seu sorriso surpresa, virei minha face para janela. Estava há tempo demais na zona amiga para saber como lidar com atitudes como essa. O grande problema era justamente que sorrisos como esses eram tão raros que me pegavam com a guarda baixa.
— O que você planejou esse ano, ? — quebrou o silêncio, seus olhos permaneciam na estrada. Eu me odiei um pouco por me demorar a respondê-lo por passar um tempo analisando seu perfil, o modo como sua mandíbula se projetava, os lábios avermelhados… Eu tinha que encontrar alguém que me distraísse dessa atração por meu melhor amigo. Desde o momento em que nos conhecemos na pré-escola até o instante atual, eu o conhecia melhor do que ninguém e não poderia arriscar perder a sua amizade por culpa dos teimosos sentimentos que tomavam meu tolo coração.
— Siga as instruções do GPS, você vai descobrir ao longo do dia — tentei ser o mais concisa; quanto mais tempo eu me demorasse, mais ele descobriria. Ainda abalada por seu sorriso, virei minha face para o lado oposto, precisava por meus pensamentos no lugar!
— Você ainda está brava por estar usando as algemas? — ele me indagou em um tom provocativo, ainda distraído com a direção do automóvel.
— Sim, agora estaciona e me solte — respondi sem paciência, ele riu e ligou o rádio em resposta, deixando num volume em que pudesse ouvir o GPS.
— Você consegue disfarçar muito bem — me respondeu em seu tom habitual e naquele instante meu coração errou uma batida. Olhei para ele, surpresa e, ao mesmo tempo, confusa.
— Sobre o que você está falando?— indaguei, vendo-o estacionar o carro. se virou no banco me olhando diretamente nos olhos.
— Não se faça de desentendida, , eu sei reconhecer quando está escondendo algo de mim — ele me respondeu sem alterar seu tom de voz. Meu coração soava como tambores em meus ouvidos. Engoli em seco, tendo a conversa que mais temia acontecendo no pior momento do ano: no aniversário dele!
— O que eu estou mantendo em segredo, ? — questionei. Mesmo que soubesse a resposta, queria ter certeza se era sobre isso mesmo que ele estava falando.
— Já faz algum tempo que eu sei sobre a sua atração por mim — quando ele disse com todas as letras como eu me sentia, desejei que a terra se abrisse e me tragasse.
— E por que você não falou nada?! — questionei sentindo minhas bochechas vermelhas, eu não sabia se eram de vergonha ou raiva, poderia ser o misto das duas coisas.
— Eu não podia forçá-la a admitir — sua voz baixou uma oitava, era como se ele mesmo contivesse um sentimento.
— Como se não o estivesse fazendo isso agora?! Me diga, , você se divertiu assistindo meu conflito enquanto o via sair com algumas mulheres, você pode não ser o mais agradável dos homens, mas sua maldita aparência compensa esse seu humor de merda! — não me preocupei em ser gentil, não havia motivos para esconder como me sentia quando ele sabia reconhecer quando estava mentindo.
— Você é a única que se manteve cega, ! — ele se inclinou para frente, seus olhos me fisgando em seu oceano de gelo. — Todos puderam ver o quão malditamente apaixonado estou por você todo esse tempo… , eu não tinha certeza de como você se sentia até me arriscar em te perguntar, eu sou a droga de um policial e não um leitor de mentes! — ele segurou minhas mãos, me trazendo para mais perto dele, sua respiração pesada se misturando a minha. — Como eu poderia arriscar nossa amizade sem ter qualquer certeza… eu não dou um tiro no escuro, sou racional demais para agir com base nos instintos, você é a impulsiva de nós dois.
— Você gosta de mim? — ignorei toda a sua fala, querendo que ele admitisse outra vez. Era mais pessimista do que imaginava.
— Sim, sua idiota desatenta! — riu, me erguendo com facilidade e colocando-me sobre suas coxas firmes e musculosas. — Eu te amo, e já faz algum tempo que venho te dizendo e você não fazia ideia, . Você precisa dar um jeito nesse seu jeito avoado — ele capturou meus lábios nos dele enquanto eu ria, suas mãos seguravam minha cintura enquanto eu coloquei os meus braços em volta de seu pescoço, limitada por estar usando as algemas ainda.
— Você me ama, o temível Capitão tem um coração — provoquei, cantarolando as palavras e observando meu melhor amigo conter um sorriso.
— Você não tem jeito! — ele rolou os olhos antes de unir nossas bocas novamente.
O primeiro beijo havia sido suave, exploratório, com uma pitada de medo e êxtase; a segunda vez, no entanto… o que o primeiro tinha de gentil, o segundo possuía de animalesco, instintos, voracidade e intensidade eram as palavras para descrevê-lo. Suas mãos subiram por minhas costas, me trazendo para mais perto, envolvendo meu tronco, segurando meu cabelo. Eu sabia que terminaria toda bagunçada, mas pela primeira vez em muito tempo meu coração podia bater tranquilamente. Não precisava temer pelo dia em que encontraria alguém que suportasse seu péssimo humor, estivesse disposta a tirá-lo de sua zona de conforto e o levasse em aventuras no seu aniversário… alguém que o compreendesse e pudesse ver além da superfície, que ofereceria seu ombro para que ele descansasse após um longo e difícil dia, que soubesse acalentar seu coração nos dias em enfrentasse o pior lado do ser humano. Havia visto todas as faces de , seus defeitos e qualidades, suas manias e esquisitices, sabia de cor seus pratos favoritos e o que ele detestava. O aniversário era dele, mas eu me sentia como se houvesse sido a pessoa presenteada.
— Eu te amo, seu velho ranzinza, feliz aniversário — me afastei para olhá-lo nós olhos, depositando um beijo em sua fronte, em seguida sobre suas pálpebras, sobre a ponta de seu nariz, ambas as bochechas, o queixo e, por fim, os lábios.
— Obrigada, minha inestimável melhor amiga e futura esposa — ele sussurrou antes de corresponder ao beijo.
Eu sorri sobre os lábios dele. O que havia planejado seria atrasado, mas quem estava contando o tempo?! Nada mais importava do que aquele momento, muitas coisas poderiam mudar, mas a nossa amizade, não. Não éramos somente amigos, agora éramos um casal.




Fim



Nota da autora: Olha eu aqui de novo, esse tema, entre todos os desafios de clichês, foi o mais difícil de se escrever. Eu não tenho muita familiaridade com o tema friends to lovers, meninas que escrevem sobre isso, vocês são demais! Tive que dar uma pesquisada para poder desenvolver essa Shortfic; cinco páginas não é brincadeira! Espero que tenham gostado! Até o próximo? Quem sabe!



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