Estigma

Finalizada em: 30/08/2019

Capítulo Único.

O celular chamava pela segunda vez naquela noite. Taeyong abriu malmente os olhos buscando pelo aparelho que apitava debaixo do travesseiro. Assim que o pegou, notou as horas; 4:56h da manhã.
Suspirou fundo, antes de atendê-lo.
O que você quer? — resmungou de olhos fechados, esperando a garota lhe devolver uma resposta. No entanto, só se tinha em retorno um respirar profundo do outro lado da linha. O rapaz franziu o cenho, incomodando-se com a demora. — , já chega. Deixe de suas brincadeiras.
Afastou o celular do ouvido para finalizar àquela chamada, e estava prestes a fazê-lo quando se deteve ao ouvir seu nome ser pronunciado por alguém. Estranhando, Taeyong olhou a tela do celular. "Perseguidora" era como estava salvo o número da garota.
Retomou o celular ao ouvido.
— O quê?
— Taeyong-ssi — aquela voz não era a mesma voz da garota que há tempos o vinha lhe perseguindo. E isso causou um calafrio imediato no Lee, que sentiu o corpo inteiro se tensionar. Sua respiração falhou um segundo, sem ao menos ele notar. — A ... Ela está morrendo.
A partir daquela frase dita, o mundo se tornou silencioso para Taeyong. Ele nada mais ouvia, senão a aceleração reproduzida em seu peito; sentiu ali, algo se comprimir, remoer, retroceder à sensações antigas, doer em amargura. Sentia-se, enfim, num estado de estupor, sem reação momentânea. A sensação térmica, nesse momento, parecia ter caído uns bons graus abaixo de zero para o rapaz, que teve a pele arrepiada e os sentidos desnorteados.
Isto seria uma consequência da sua culpa? Talvez arrependimento ou medo? Ele não sabia a resposta.
O celular caiu da sua mão, ainda em chamada. Num impulso só, jogou o lençol fino para o lado e passou a vasculhar como um louco por qualquer roupa que encontrasse primeiro, não se importando se com isso iria ou não acordar a mulher seminua que lhe fazia companhia na cama.
— MERDA! — gritou alto, fechando a gaveta da cômoda ao mesmo tempo. Ele não estava conseguindo raciocinar direito. Uma nuvem cinzenta parecia nublar sua mente.
Com o barulho a mulher despertou do sono, fazendo-a se sentar no colchão da cama e observar o rapaz se comportar de maneira inquieta. Ele a notou desperta depois de alguns segundos.
— Taeyong... O que está acontecendo? — acompanhou o rapaz vestir o sobretudo preto por cima da roupa que estava usando quando chegaram ao hotel na noite passada. Por algum motivo, ela sentiu medo de ser deixada ali. Então, receosa, perguntou: — Vai sair à algum lugar a essa hora?
E fora perceptível esse receio no tom da sua voz.
— Não ferra comigo, Na Eun — Taeyong foi rude, não dando a mínima para os sentimentos da mulher. O que no fundo, não surpreendia a ninguém, afinal, ele era mais do que experiente em "ser indiferente com os outros". Ou era isso o que ele achava também. Pegou a carteira de cima do criado-mudo e finalmente a encarou nos olhos. — Fique aqui até amanhecer e, se quiser, depois peça para algum staff te levar até em casa. Eu preciso ir agora.
Os olhos castanhos da garota marejaram ao ouvi-lo.
— Você não pode fazer isso comigo, Taeyong! — o coreano já estava alcançando a porta quando ela gritou as palavras. Por um momento ele parou, deixando a porta do quarto do hotel entreaberta. — Não pode me deixar desse jeito...
Os ombros do rapaz despencaram, exausto daquilo tudo.
— Na Eun, você nem deveria estar aqui. Sabe disso.
E sem dizer nada mais, ele saiu.
Seu coração disparava cada vez mais forte contra o peito, conduzindo indiretamente o ritmo de seus passos duros e apressados sobre o chão. Taeyong estava cego de temor, rumando no único sentido de chegar até onde a garota se encontrava. Algo o sufocava, ele sentia que a qualquer momento perderia completamente o ar de seus pulmões. "Taeyong-ssi" lembrou-se, sua cabeça parecia dar voltas "Ela está morrendo". Quando estava próximo de chegar ao elevador, ele sentiu seu ombro ser segurado e puxado para trás, o fazendo se virar com tudo.
Dois rostos o encararam com preocupação.
— Não estava nos ouvindo te chamar? — Taeil perguntou, analisando a fisionomia quase apática do outro. Entretanto, o rapaz não soube lhe responder. Estava sendo difícil para o Lee. Sua cabeça continuava girando e girando em círculos.
— Hyung — focou em Doyoung, que permanecia parado um pouco atrás do moreno —, aconteceu alguma coisa? Nós ouvimos os gritos vindos do seu quarto.
Taeyong retirou a mão de Taeil do seu ombro e deu um passo para trás, não deixando de os encarar. Os dois outros rapazes estranharam o comportamento do líder, lançando olhares estreitos um para o outro.
— A-a Perseguidora, ela... — "está morrendo". Sua consciência o relembrou, como se o acusasse por isso. O rapaz de cabelos acastanhados não podia continuar parado ali, perdendo seu tempo. Ele precisava chegar até a garota antes que fosse tarde demais. Iria voltar para o caminho que prosseguia, ameaçando dar os seguintes passos, quando Doyoung o impediu ao segurar firme a manga do seu sobretudo.
? O que tem ela? — de imediato a expressão do garoto se tornou mais séria. Seus olhos negros transluziam algo ou um sentimento oculto, cujo qual Taeyong não soube identificar de imediato. Então ele desviou seus olhos para a manga da própria vestimenta, vendo o punho do garoto tremer ao apertá-la com toda força. Ele estava se contendo. — O que a tem a ver com isso, hyung?!
Ao ver Doyoung mais exaltado naquele momento, um furtivo sorriso lateral surgiu nos lábios finos de Taeyong. Visto de fora, todos poderiam levar aquele sorriso como uma forma de provocação, mas, não, definitivamente não, essa nunca fora a intenção de Taeyong. Aquele sorriso, na verdade, insinuava que o líder havia compreendido muito mais dos sentimentos do garoto à sua frente.
— Você vai querer ir atrás dela, não é mesmo? — impassível, Taeyong o questionou. Doyoung ajustou a postura, mantendo ainda a troca de olhares.
— O quê?! Não, não, não. Ninguém vai atrás da -ssi a uma hora dessas! — Taeil interviu, se pondo no meio dos dois mais novos e os afastando para lados opostos. — Não podemos sair do hotel, são ordens do Manager.
O moreno olhou para o mais novo quando este ignorou por completo a sua objeção, dando um passo à frente e o puxando um pouco para trás, desobstruindo o curto espaço que o distanciava de Taeyong.
— Você não respondeu a minha pergunta, hyung. O que aconteceu com a ? — Doyoung inquiriu novamente. Por dentro, ele sentia todo seu corpo entrar em combustão, ferver em pura ansiedade... ou talvez, medo do que poderia ouvir.
— Você não deveria se envolver com os problemas daquela estrangeira, Doyoung-ah. O fardo é pesado demais pra você aguentar suportá-lo.
Taeyong se virou de costas. Ele iria partir.
— Taeyong, o que anda acontecendo com você nesses últimos dias?! — Taeil finalmente explodiu. Já não estava suportando mais aguentar o jeito frio do Lee com os membros. — Que droga, você não é assim!
A discussão no meio do corredor do hotel acabou atraindo a atenção de mais algumas pessoas que se hospedavam nos quartos — todos faziam parte da equipe de staffs, por sorte —, e isso incluía o restante dos membros da sub-unit 127 que apareceram meio sonolentos e sem entenderem nada do que estava acontecendo ali, vestidos com o pijama e apenas o robe do hotel por cima da roupa.
— Você é nosso líder, Taeyong-ah... — prosseguiu Taeil. — Não porque algum produtor te intitulou como líder, mas porque você o conquistou e sabe como nos liderar. Acredito que não há alguém melhor do que você pra isso, porém, suas atitudes estão desmerecendo todo o nosso respeito por você.
Depois de ouvi-lo, Taeyong trincou o maxilar, observando todos ali.
Nada poderia ser feito por ele, Taeil tinha razão, no fim.
Me perdoem.
Fora tudo o que disse antes de sair de lá, ignorando por completo cada chamada do seu nome. Decidiu pegar as escadas ao invés do elevador que demorava a chegar. Ele não poderia perder mais tempo.
O lobby do hotel estava praticamente vazio, com exceção de alguns poucos funcionários que faziam expediente naquele horário. O rapaz nem se deu ao trabalho de reparar em alguma coisa, apenas passou como uma flecha e logo alcançou a saída do prédio. O amanhecer gélido da cidade não obteve muito efeito sobre o cantor que, devido a euforia, não esperou nenhum segundo sequer ali parado e simplesmente correu atrás do primeiro táxi que por ele passasse.
— Para onde deseja ir, meu jovem? — o taxista perguntou para Taeyong assim que ele entrara no veículo, observando o rapaz através do retrovisor. O senhor não precisou de muito para notar a fadiga do seu passageiro.
— Ah... — com a respiração ainda falha, Taeyong saiu apalpando todos os bolsos da sua roupa, só então se atentando para o detalhe de que havia deixado seu celular no quarto do hotel, e ele não sabia onde estava. "Mas que droga". Ele fez uma careta.
O motorista continuou quieto, somente observando a fisionomia do rapaz.
— Vá para o hospital Haneul, por favor.
Taeyong disse por fim, e no mesmo instante o carro saiu pela avenida. O Lee não tinha certeza se lá era o lugar certo, mas, se fosse preciso, ele rodaria toda a Seoul para encontrá-la.

•xXx•
As portas automáticas se abriram quando o rapaz atravessou correndo por elas. Parou no meio do lobby da Emergência, olhando para todos os lados daquele imenso hospital se perguntando onde poderia estar.
Havia diversos rostos naquele espaço mas nenhum compatível com o da garota por quem ele estava ali.
Agitados, uma equipe médica passou correndo por seu lado com um paciente ensanguentado sobre a maca branca. Taeyong observou a fisionomia sôfrega de dor do homem acidentado, tendo o ritmo em seu peito acelerado só por imaginar que poderia estar sentindo aquela mesma dor.

•••

"Eu amo você, Taeyong — a garota falou com total convicção em suas palavras, não deixando qualquer brecha de dúvidas sobre seus sentimentos. Seus olhos, prendidos em expectativa nos olhos felinos do rapaz, aguardavam por uma reação sob o efeito de sua frase outrora dita. Ela desejava, mais do que tudo, que suas palavras tivessem surtido alguma, qualquer, sensação nele. Mas Taeyong não esboçava absolutamente nada. Ele apenas retribuía a troca de olhares, mas os seus olhos transmitiam outros significados, contrários aos dela. Foi então que a garota sentiu novamente os indícios de que sua vida estava se esvaindo. Seu coração apertou forte, enquanto ela segurava as lágrimas de dor. — Não vai dizer nada?
Os dois estavam debaixo do guarda-chuva amarelo da garota, sendo protegidos da chuva que caia e castigava a cidade já havia alguns dias. A tarde estava cinzenta e fria. O mundo parecia ter entrado em modo silencioso naquele momento, onde somente o ressonar que as partículas de água faziam ao eclodirem sobre a superfície amarelada, preenchesse o vazio existente ao redor deles dois. Exausto, Taeyong suspirou.
— Você deve estar confusa, .
Ela negou.
— Essa é a verdade mais sensata que tenho sobre mim... — respirou fundo, sorrindo débil para ele. A garota sempre se manteve forte diante de qualquer situação, e não seria agora que ela fraquejaria, não na frente dele. A sua dor poderia ser insuportável, enlouquecedora, mas não cederia. — Passei a minha vida inteira vivendo sob incertezas, Taeyong. Mas, eu te juro que, a partir do instante em que você surgiu, eu senti que havia finalmente chagado a minha única certeza... e ela sempre foi você.
Aproximou um passo, sentindo mais intensamente o cheiro amadeirado que ele exalava. Tão inebriante. Poderia facilmente se perder no seu cheiro por horas, ou até mesmo
morrer intoxicada por ele. Com a distância de apenas quase um palmo que os separavam, Taeyong contemplou de perto a sua beleza, admirou seus olhos e desejou os seus lábios. Ah, sim, ele a quis. Porém, tudo não passava de uma mera momentaneidade.
— Você não deveria me amar, , porque eu não posso te retribuir esse sentimento. Me desculpe.
A voz mais gélida do que a friagem da tarde reverberou repetidas vezes na mente da garota, que somente soube observar estática a figura masculina lhe dar as costas e sair para a chuva. Quanto mais Taeyong se distanciava, mais frágil ela se sentia.
A garota logo sentiu os joelhos cederam contra o chão, permitindo que suas lágrimas quentes se misturassem com a chuva que tocava grosseiramente o seu rosto delicado.
Taeyong não ousou olhar para trás e, com isso, não pode presenciar a garota que pela primeira vez vomitava um buquê inteiro de margaridas ensanguentadas."


•••


Seu coração voltou a disparar tão rapidamente que era capaz de ouvi-lo, apesar dos barulhos externos. "Então... todo esse tempo eu estava a matando aos poucos?" questionou-se internamente, apavorado com tal conclusão. Com a mente deturpada, Taeyong entrou em completo desespero. Pôs as mãos por entre seus fios castanhos e os puxou sem pudor, olhando novamente ao seu redor e buscando encontrar respostas; tanto para suas dúvidas quanto para aliviar sua consciência.
Ele precisava se livrar daquele pesado fardo que o afundava aos poucos.
Caminhou apressadamente até a recepção e, ainda ofegante, perguntou sobre a estrangeira à uma das atendentes. Era nítido que Taeyong estava meio alterado, via-se através de seu comportamento. A instabilidade emocional do rapaz trouxe certo receio à mulher, que não pode fazer muito por ele a não ser tentar acalmá-lo.
— Eu preciso saber se ela está internada nesse hospital, agora mesmo! — ele havia se inclinado sobre o balcão, desesperado por uma resposta imediata.
— Por favor, senhor, você precisa se acalmar antes — a moça disse, tentando soar tranquila. — Qual é o seu tipo de relação com a paciente?
Sob sentença àquela pergunta sua mente recodificou, outra vez.

•••

"— Hyung — Taeyong desviou sua atenção da tela luminosa do notebook ao notar que estava sendo chamado. Donghyuck havia parado ao seu lado com uma expressão mista de curiosidade e dúvida, o que fez o rapaz retirar o headphone azul da orelha e inclinar a cadeira para o lado.
— Aconteceu alguma coisa? — ele perguntou como de costume, mas na esperança do outro lhe responder que não era nada demais. Porém, Donghyuck destruiu até a sua última esperança quando o mesmo assentiu em concordância.
— Hm — coçou a nuca, balançando a cabeça. — Tem uma garota lá fora querendo falar contigo — apontou para a entrada do apartamento, sinalizando a localização da referida garota. — Ela pediu que você se apressasse porque era algo urgente... e que você saberia quem ela é.
O Lee sabia, sim, quem era a tal garota. O problema era que ele não queria poder admitir isso. O rapaz pôs as mãos sobre a cabeça e suspirou fundo, como se estivesse cansado, enquanto pensava na forma que iria explicar aquilo para os garotos depois.
— Eu vou acabar enlouquecendo desse jeito — murmurou baixo, voltando a encarar Donghyuck. — Ela está sozinha?
O garoto aquiesceu.
O mais velho se levantou da cadeira giratória e pegou um dos casacos mais próximo que estava jogado por lá, tendo cada um dos seus movimentos acompanhados com a mesma curiosidade do início.
— Por acaso ela é sua namorada, hyung? — Donghyuck o pergunta de repente, quase fazendo Taeyong tropeçar nos próprios pés que rumavam à saída do apartamento.
Ele se voltou ao garoto, espantado.
— O quê?! É claro que não!
— Ah, qual é, hyung... — riu, abanando as mãos em frente ao corpo. — Não precisa esconder isso da gente. Sabe, é normal sentir atração por alguém, se apaixonar e querer ficar perto... como algo além da amizade, entende? Só não esperava muito isso de você. Pra mim, Ten-hyung ou Jaehyun-hyung seriam os primeiros a trazerem alguma garota aqui.
Taeyong deu uma leve revirada de olhos, mordendo internamente a bochecha para evitar moldar o sorriso que ousou querer lhe escapar. Em parte por desacreditar que Ten e Jaehyun fossem mesmo os primeiros a realizar isso, e na parte restante por Donghyuck ser um cabeça-dura romântico.
— Não estou dizendo que você não pode ser o primeiro, mas só é estranho imaginar...
— Donghyuck-ah — o líder o cortou, sabendo que se o desse mais espaço não terminaria de ouvir aquele falatório por mais alguns minutos. E assim o mais novo se calou, contraindo os lábios numa linha reta ao notar que estava passando dos limites. — Eu entendi o que você quis dizer, certo? Mas, primeiro, eu não a trouxe até aqui. E, segundo, ela não é a minha namorada.
O garoto assentiu por educação, mesmo não acreditando totalmente no que Taeyong dizia sobre aquela relação. No meio segundo que se teve silêncio entre os dois, Mark, Doyoung e Johnny chegaram à sala compartilhada por dois cômodos, ousadamente se intrometendo no assunto que por alto bisbilhotaram.
— Espera, espera. Nós ouvimos isso certo? Tem uma garota lá fora esperando para se encontrar com o Taeyong-hyung?! — Mark praticamente gritou, esbaforido com a novidade. Não era de se esperar uma reação diferente vinda do Lee mais novo, o que causou um efeito de riso em todos, menos em Taeyong, obviamente, que se perguntava onde havia se metido.
— Não é nada disso que vocês estão pensando — ele rebateu na defensiva. — Ela é só uma garota que eu conheci por acaso.
Haechan vendo a oportunidade de colocar mais lenha no fogo, complementou:
Uma garota bem bonita, por sinal.
Os demais rapazes soltaram algumas exclamações na intenção de provocar Taeyong. O que definitivamente funcionou.
— Bonita em qual nível?
Taeyong terminou de colocar o casaco e abriu a porta.
— Vem cá, vocês não têm nada melhor pra fazer além de me encherem a paciência?
— No momento encher a sua paciência está sendo mais divertido — Johnny comentou, não se aguentando ao ver que o Lee Taeyong que ele conhecia há anos estava se abalando com aquelas provocaçõezinhas infantis.
— Ótimo. Então continuem se divertindo sozinhos — falou por fim, não dando tanta importância e saindo para o corredor e os deixando para trás.
— Ah, hyung! — ouviu Doyoung exclamar antes de fechar a porta do apartamento e seguir em direção ao elevador do prédio.
A friagem noturna lhe recepcionou assim que alcançou a faixada da residência. Não havia ninguém na rua àquela hora. O bairro estava tranquilo.
— Pensei ter dito que era para você se apressar.
A voz feminina soou vindo da direção leste, conduzindo o rapaz a procurá-la na mesma direção. Taeyong então a viu, sentada numa pequena elevação do canteiro de flores com as pernas esticadas, onde seus pés se chocavam um contra o outro, como um tique nervoso. Ela sorriu para ele assim que seus olhares se encontraram, fazendo-a se levantar de onde estava.
— Está fazendo muito frio aqui fora, sabia? — abraçou o próprio corpo pequeno, que estava praticamente todo coberto pelo enorme casaco marrom e se aproximava do rapaz.
Ele acompanhou cada movimento de proximidade dela com o olhar, mantendo-se imóvel no mesmo canto.
parou de frente a Taeyong, sentindo seu coração se agitar freneticamente sob o peito. Seu coração descompassava algumas batidas enquanto observava o rosto angulado do rapaz. Vendo-o daquele ângulo, a luz fraca da lâmpada fluorescente acima de suas cabeças dava-o uma exuberância maior. Lee Taeyong conseguia ser o mais belo para ela.

Uausim, ela não conseguia se acostumar com a beleza dele. Muito menos escondia o efeito que ele causava em si. — Você é inacreditável...
Taeyong nunca admitiria isso em voz alta, por razão, mas, todas as vezes que a garota fazia comentários a respeito da sua beleza e qualidades, ele verdadeiramente se sentia intimidado. Ele se questionava em como ela conseguia ser tão direta consigo. O Lee limpou a garganta na intenção de quebrar o clima constrangedor — somente para si — que pairava no ar. Piscou algumas vezes, desconcertado, perguntando-a de uma vez:
— O que veio fazer aqui? — encarou os olhos espertos da ocidental, como se a desafiasse a lhe responder. — Não, não. Na verdade eu quero saber como você encontrou esse lugar.
Ela deu de ombros.
— Saber sobre isso é realmente importante para você?
inclinou o corpo para o lado, para ver a porta de vidro logo atrás do corpo do maior. Espremeu os olhos a fim de conseguir enxergar além da película escura, curiosa, dispersando um pouco da sua atenção.
— Sim, é muito importante. Eu preciso saber quando a minha privacidade e a dos meus amigos está em risco — ele a respondeu, meio sarcástico, vendo a garota ainda na tentativa de descobrir o que quer que ela queira descobrir atrás de si.
— Ah... — não fez muito caso para a resposta do outro, desistindo de tentar ver o que era os dois vultos que lhe chamou atenção, minutos antes. Ajeitou a postura, franzindo o cenho. — Eu juro ter visto duas pessoas tentando se escondendo atrás daquele extintor...
Apontou para dentro do prédio, no lobby. Taeyong se virou mais por instinto, já tendo em mente o que poderia ser. Ou
quem, na verdade.
— Aish... — praguejou, descendo as escadinhas da entrada e erguendo o rosto em direção à janela do apartamento que dividia com o grupo. Coincidentemente, a janela tinha ampla vista para onde Taeyong e estavam, e não fora nenhuma surpresa para ele quando viu, dali debaixo, o reflexo de cerca de cinco cabeças que se dispersaram rapidamente ao notarem o líder os observando com uma postura séria. — Aish... esses moleques...
— Hã?
Taeyong se voltou para , vendo-a já próxima de si. Ela parecia não estar entendendo nada, e o rapaz escolheu manter aquilo só para si.
— Vamos para outro lugar. Será incômodo se outras pessoas nos verem juntos aqui.
E partiu pela rua tranquila do bairro, sendo seguido ao encalço pela garota. Caminharam alguns metros, em silêncio, até chegarem a um parquinho antigo. Alguns brinquedos estavam quebrados, a casinha desgastada e a areia branca pisada indicava que muitas crianças haviam passado por ali, horas antes. A iluminação pública no lugar estava precária, mas suficiente para que Taeyong visse as expressões de contentamento da garota. Ela parecia encantada com o pouco que via ali, talvez se recobrando da própria infância.
respirou fundo o ar noturno, sentando-se no balanço meio enferrujado. Sem dizer alguma coisa, Taeyong a imitou, sentando no outro balanço vazio que havia ao lado do dela.
— Sabe, eu ainda não consigo acreditar que você é um ídolo mundialmente conhecido — ela sorriu, encarando o chão enquanto se embalava levemente. Suas mãos agarravam com firmeza a corrente do brinquedo, seus pés impulsionando seu corpo para frente e para trás. — E ver o seu rosto estampando as faixadas de lojas por toda Seoul me deixou um pouco... hm, como eu poso te dizer isso sem parecer egoísta...?
Taeyong a encarava com certa curiosidade, aguardando pelo o que ela tinha a lhe dizer.
— Desamparada... eu diria? — fez uma careta, não totalmente contente com a escolha da palavra. — Talvez perceber que você está mais distante da minha posição tenha contribuído para que essa sensação me invadisse. Ou, sei lá, eu tivesse achado que nos daríamos bem quando nos conhecemos. Aish... Pareço uma boba falando isso, não é mesmo? — olhou para o rapaz que parecia pensativo naquele instante. — Bom, mas isso não importa mais.
Por quê? Ele quis a questionar imediatamente, mas algo dentro de si, talvez seu próprio ego, o impedia de fazê-lo. O Lee segurou por um longo tempo as palavras, porém, elas vieram tão repentina e livremente que não teve condições de as frearem depois. Ao se dar conta, já estava a perguntando com interesse visível.
— Por quê? Por que não importa mais?
Ela continuava o encarando, sorridente. Sustentou seu olhar por mais uns poucos segundos, analisando a fisionomia detalhada do cantor.
— Taeyong — o chamou, mesmo ele já lhe prestando atenção. Taeyong não se sentia desconfortável quando ela o chamava pelo nome, de maneira atrevidamente informal. — O que você mais ama no mundo?
O canto da boca do rapaz esticou, num sorriso contido. Ele notara a investida da garota com a intensão de que mudassem o assunto. E ficou tudo bem por ele. Não iria insistir.
— Sem dúvida é o que eu sei fazer de melhor. É o que eu faço e tenho prazer — não precisou explicitar que estava se referindo a sua carreira no NCT, afinal, ela sempre o compreendia nas entrelinhas. Ele passou a se embalar também. — E não posso esquecer dos meus fãs. Eu os amo, sem dúvida.
Os olhos espertos da garota adquiriram um brilho mais intenso depois de ouvi-lo.
— Então se eu me tornar sua fã, você me amará também, não é? — poderia soar ingênua aquela frase, contudo, sabia onde queria chegar com sua proposta e escolha de palavras. E, sem dúvidas, aquela pergunta abalou o líder que ficou sem esboçar reação. — A partir de agora eu serei sua fã número um, Taeyong-ah. Me dedicarei a isso.
Taeyong abriu e fechou a boca algumas vezes na intenção de falar algo, mas nada lhe vinha. Ao notar tal estado que havia deixado o rapaz, se pôs a mudar o clima tenso.
— Ah! Só um minutinho — vasculhou dentro da bolsa que carregava consigo e depois de alguns segundos procurando, retirou um pequeno embrulho da farmácia, estendendo-o para Taeyong. — Isso é pra você.
Ele pegou, duvidoso, abrindo a embalagem e checando o que havia dentro.
— Remédio para gripe? — riu, lembrando-se que até ontem estava meio abatido devido um resfriado que pegou durante as gravações de um dos CF agendados.
A brasileira aquiesceu, inclinando a cabeça para o céu em seguida, para observar as poucas estrelas que eram capazes de se ver.
— Vim aqui só para te entregar isso."


•••

— Senhor... você está bem? — a mulher se preocupou com a fisionomia pálida que tomou a expressão do rapaz. Agora, ele estava totalmente petrificado.
Taeyong-ssi?
O chamado um tanto incerto provindo detrás do coreano o fez se virar de imediato. Ele tinha reconhecido aquela voz, mesmo não sendo a que gostaria de ouvir. Os olhos sempre analíticos do rapaz encontraram — e reconheceram — a postura estagnada de uma garota ocidental que ostentava em seu rosto bem acentuado uma fisionomia pálida e abatida. Mesmo de longe, podia-se notar o cansaço e os olhos inchados e levemente irritados devido tanto chorar. Taeyong não quis ter reparado, porém, fora como algo repentino e automático, ele simplesmente notou o sofrimento daquela garota. Ela tinha os cabelos presos em um rabo de cavalo mal feito, roupas simples e sapatos com pares trocados. Isso revelava ao rapaz que tudo havia acontecido rápido demais, ao ponto de desesperá-la.
Ele começou a andar até a estrangeira, não desviando seu olhar por nenhum segundo sequer. Afinal, ele tinha medo dela desaparecer dali e deixá-lo novamente sem respostas. Sem lhe mostrar o caminho que o levaria até ela.
Parou a poucos metros um do outro, de certa forma receoso com o que estaria por vir.
— Foi você quem me ligou... Certo? — sua pergunta soou mais semelhante a uma afirmativa que, de todo modo, foi confirmado pela garota.
— Você veio pela ? — a voz feminina possuía um timbre duro na fala, de rebeldia. Além de julgá-lo descaradamente, sentia certa repulsa ao dirigir-lhe a fala. Naquele momento, ela amaldiçoava a existência de Lee Taeyong.
— Onde ela está? — Taeyong estava tão absorto no próprio desespero de encontrar que mal apercebia o olhar enojado que recebia da melhor amiga da brasileira. — Eu preciso vê-la.
nada mais disse e prosseguiu adentrando o interior do hospital. O rapaz a acompanhou de perto e ambos pegaram o elevador que, por milagre, estava vazio. A garota pressionou o botão do quinto andar, dando dois passos para trás e aguardando as portas metálicas se fecharem.
O clima sob o cubículo de metal era de uma tensão palpável, que chegava a se tornar sufocante. Taeyong sentia que precisava dizer algo, mesmo não sabendo o que deveria ser. Ele enrolou uns segundos, pensando em algo, até se virar em direção à .
— Olha, eu...
O suspiro ríspido da americana o cortou imediatamente. Os punhos cerrados era a forma que ela tinha encontrado para se manter calma, sem ainda ter tentado algo contra a vida fútil do rapaz.
— Por favor, não tente falar comigo. Eu só estou fazendo isso porque a implorou que eu fizesse. Por mim, você sumiria completamente da vida dela.

•xXx•
Assim que as portas do elevador se projetaram para os lados, Taeyong sentiu um cheiro incômodo de éter invadir suas vias respiratórias. Seus primeiros passos se deram por incertos, rumando em linha reta pelo corredor dos quartos. Apesar de tudo, ali havia um silêncio torturador de desesperança.
Suas mãos suavam frias, seu corpo todo tremia outra vez.
— Este é o quarto.
parou em frente à porta 512, dando abertura para que o rapaz entrasse. Taeyong aquiesceu, hesitante, pondo primeiramente a mão trêmula sobre a maçaneta de alumínio gélido. Inspirou profundamente até sentir seu pulmão se expandir, soltando o ar pela boca mais demoradamente.
— Taeyong-ssi — ele mirrou . Ela tinha os olhos lustrosos. — Ao menos dê à ela... — o choro preso na garganta a fez cortar as próprias palavras, embargando-se. — Dê à ela uma última alegria. Por favor...
A última frase saiu sussurrada, entretanto, Taeyong a compreendeu bem. Os olhos do rapaz finalmente davam indícios de enchente, tornando-os marejados pelas lágrimas salgadas. Ele movimentou positivamente com a cabeça, transmitindo com sinceridade a sua promessa.
— Farei o possível.
E sem delongas ele arrastou a porta sobre os trilhos, deparando-se, primeiramente, com o pequeno corpo repousado sobre a cama. Seu coração bombeou de maneira irregular, doloroso sob o peito, e definitivamente ele sentiu todo o ar esvair dos seus pulmões. Ver todos aqueles fios serpenteando a pele apática de , conectados à tubos e monitores, o fazia definhar de vez. A culpa era sua. Ela estava praticamente morta.
— ele gaguejou ao pronunciar o nome da garota. — , por favor...
Os aparelhos acompanhavam os sinais vitais da paciente, monitorando cada batimento mais falho que seu coração enraizado de galhos era capaz de produzir.
A passos lentos, ele se aproximou do corpo delimitado. Esquadrinhou cada centímetro do corpo alheio, fraquejando ao parar ao seu lado. Um ruído áspero saía cada vez que respirava através do aparelho. A mão estirada ao lado do próprio corpo fora segurada com delicadeza por Taeyong, que sentiu seu toque frio. Acariciou a tez mais pálida que o normal, amaldiçoando-se por fazê-la estar em tal situação.
Por fim Taeyong chorou. Seu rosto molhado pelas lágrimas que raramente eram expelidas. Sentia uma tristeza profunda. Avassaladora.
— Taeyong... É você? — a voz fraca o chamou, fazendo-o imediatamente erguer o rosto corado para vê-la.
malmente conseguia manter os olhos abertos, mas deu tudo de si para segurar a mão alheia que aquecia a sua. Ela sorriu em meio à dor.
— Sim. Sou eu, — aproximou mais seu rosto, usando a mão livre para afagar os fios macios do cabelo dela. — Estou aqui agora, você pode falar comigo.
Ela assentiu com dificuldade.
— Eu esperei tanto por isso.
Uma nova onda de lágrimas transbordou o rapaz.

•••

"Taeyong soltou um riso debochado, fitando-a.
— O que você acabou de me dizer?
Petulante, a garota o entregou uma única flor com pétalas brancas, manchadas de sangue; as delicadas margaridas que Taeyong adorava admirar.
— Que você está me matando..."


•••

— Me perdoa, . Por favor. Me perdoa por não acreditar em você. Por desmerecer o seu amor. Eu realmente sinto muito. Sinto muito. Sinto muito — soluçou. — Eu nunca desejaria te ver assim, . Me desculpe, por favor!
Taeyong fungou, limpando o rosto que viria a ser molhado novamente.
— Quando eu partir você se sentirá culpado, não é? — ela esperava por uma resposta, esta que não veio. A brasileira já tinha aceitado seu destino, mas antes de partir gostaria de realizar um último desejo. — Taeyong-ah...
— Eu nunca quis acreditar em suas palavras — ele não esperou que ela prosseguisse. — Era surreal demais para acreditar. Como alguém é capaz de amar tanto outra pessoa ao ponto de adoecer e morrer? Eu não compreendia, . Eu ainda não vivenciei esse sentimento.
A garota respirou deliberadamente ao fechar os olhos. Uma lágrima solitária escapou e rolou por sua bochecha.
— Por que você deixou chegar a esse nível, huh? Por que não fez a cirurgia enquanto havia tempo? — Taeyong a enchia de perguntas, mas todas eram feitas para ele mesmo. Por que ele não acreditou antes? Por que não fez nada para impedi-la? Por que foi covarde?! — Por que, ?
Porque viver sem poder sentir é o mesmo que morrer, Tae. Você sabe, não é, quais as consequências da cirurgia? — ela ainda mantinha os olhos fechados, contendo o grito interno pela dor provocada dentro de si. — Eu prefiro perder a vida do que ser uma pessoa vazia de alma. Além disso, eu esqueceria tudo. Principalmente você.
A mente do coreano girou mais de uma vez, o desnorteou. A brasileira o encarou por falta de ouvi-lo e, quando viu o belo rosto masculino se tornar perigosamente próximo do seu, ela segurou a respiração, ansiosa.
fechou os olhos quando sentiu os lábios úmidos e deliciosamente macios de Taeyong encontrarem os seus. Era um toque sublime, de delicadeza pura, capaz de fazê-la sonhar. O gosto salgado das lágrimas do rapaz se misturaram ao beijo, tornando aquele momento ainda mais inesquecível.
A boca despudoradamente avermelhada de Taeyong seguiu até a testa febril da garota, deixando um selar ali.
— Então tente resistir... Por mim — sussurrou, o hálito quente indo contra a região sensível do ouvido da brasileira. — Você pode fazer isso?
Um soluço mudo rasgou a garganta de , ao passo que ela negava com a cabeça. As suas lágrimas também caiam, molhando o travesseiro atrás de si.
— Não me peça para ficar por pena, Taeyong. Se não for para me amar com sinceridade, não me impeça de ir.
Desestabilizado, Lee Taeyong não teve palavras para confortá-la. Pois de fato, por mais que ele quisesse vê-la bem outra vez, ele ainda não conseguiria amá-la o suficiente. Afinal, talvez ninguém encontrasse no mundo amor mais verdadeiro que nutriu e preservou pelo rapaz.
E com isto ela partiu, deixando o apito contínuo do aparelho soar pelo quarto, indicando que as margaridas tinham finalmente parado seu coração. Em seu suspiro de morte, deixou que suas últimas palavras se desprendessem de si e ricocheteassem no peito do rapaz.
Eu amo você, Lee Taeyong.
Então ele chorou, chorou até perder o fôlego. Permaneceu segurando a mão inerte da garota, ignorando completamente quando a porta do quarto foi forçada a abrir com brutalidade. Taeyong não olhou para os lados, somente para ela. Um corpo esguio caiu de joelhos ao lado do seu, totalmente inerte, em puro estado de choque. E a mão alheia também tocou a pele frágil da garota.
Doyoung provou do sentimento de perda, quando Taeyong sentia culpa.


FIM


Nota da autora: Não desejem igualmente a minha morte por causa desse final, ok? Pois é quase impossível usar Hanahaki como tema e se ter um final feliz. E apesar de ser uma lenda melancólica, hanahaki sempre desperta em mim um sentimento de pureza. Você morre por amor; ama tanto alguém ao ponto de sacrificar a própria vida para preservar esse sentimento até o fim. É a maior demonstração de amor (ou loucura, rs) que uma pessoa pode oferecer a outra. Por isso os finais sempre serão trágicos e inevitáveis.
Ah, sei lá, eu amo essa história e espero que vocês também tenham aproveitado bem ao lê-la.





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