Eternidad

Finalizada em: 13/11/2021

Capítulo Único

13 de Novembro de 2041 - Cidade do México, México.


Os pés, cobertos por uma bota, afundavam no gramado úmido perfeitamente cortado e bem cuidado, ia naquele lugar ao menos uma vez por mês, isso desde que nasceu, ao contrário do pai que se pudesse todos os dias estaria ali junto à lápide.


1983 – 2011


— Oi mãe. – tirou o excesso de umidade da foto e se sentou em cima de seu casaco, cruzou as pernas e encarou a pedra. – Faz um tempo que eu não venho aqui, eu sei, mas é que as coisas têm sido difíceis nos últimos dias. – Suspirou e tocou a foto. – Você era tão linda. – Sorriu. – Esses dias, enquanto eu fazia o jantar, o pai começou a contar para o , as histórias de vocês, ele elevou os padrões. – Riu. – Eu fiquei tão feliz de ouvir sobre as histórias de vocês, desde o começo.
"Ele me disse que vocês se conheceram em um museu, você acompanhava uma amiga que era artista plástica e parecia estar bastante entediada olhando todas aquelas obras, foi quando ele se aproximou."

— ‎Sandro Botticelli te deixa entediada? – questionou com um sorriso nos lábios, mantinha as mãos atrás de suas costas.
— O que? – ela o encarou confusa.
— ‎Sandro Botticelli. – Apontou à pintura – Na verdade, esse é o nome do pintor, o nome do quadro se chama o Nascimento de Vênus, arte renascentista.
— Você trabalha aqui? – Riu nasalado. – Ou apenas gosta de se exibir?
— Nem um e nem outro, apenas gosto de conversar com mulheres bonitas. – sorriu olhando para ela enquanto cruzava os braços. – Qual a sua graça?
, , e você? – desviou o olhar do quadro para ele.
. – Sorriu olhando para os olhos . – Belos olhos, .


- Mãe, você precisava ver o jeito que ele falava, os olhos dele brilhavam e ele sorria, sempre que ele fala de você, ele sorri, por mais que a sua falta aqui seja dolorosa para ele, lembrar de você ainda é reconfortante. – Sorriu e mordeu o lábio. – Ele também contou sobre o primeiro beijo de vocês, antigamente eu achava nojento quando ele me contava, mas, hoje, eu acho a coisa mais linda do mundo. – Riu fraco. – Disse que, se ele fechasse os olhos por um momento, ainda conseguiria sentir o gosto do brilho labial de morango que você usava.
"Vocês estavam passeando em uma praça, acho que tinham saído do cinema, vocês viram As Quatro Estações do Ano. É, ele se lembra do filme. – Riu – Graças a Deus, nunca me fez assistir, mas acho que ele ainda assiste quando está sozinho."

— Eu prometo que na próxima vez veremos um filme de sua escolha. – disse, enquanto caminhava lentamente pelo chão de pedra da praça, ela encolheu os braços sentindo o vento arrepiar seus pelos.
— Então teremos uma próxima vez? – Passou o casaco de lã que ele usava por volta dela, ela sorriu em agradecimento.
— Se você quiser. – Olhou-o nos olhos e manteve um sorriso fechado nos lábios.
— Eu adoraria. – Sorriu, parando na frente dela. – Com licença, – colocou o dedo perto do nariz dela fazendo um cílio grudar – faz um pedido. – Pegou a mão delicada e encostou o dedo no dela, fazendo o cílio ficar preso.
— O que? – Riu, achando aquilo uma piada.
— Fecha os olhos e faz um pedido. – Falou ainda mantendo os dedos grudados. – Anda. – Apressou e se rendeu, fechando os olhos. – Agora, faz o pedido.
— Você vai fazer também? – Questionou e abriu um olho.
— Fecha esse olho. – Riu – Pediu?
— Pedi. – Confirmou, com os olhos fechados.
— Agora, abre os olhos e assopra. – Disse, e desencostou o dedo, deixando o cílio no dedo dela. – O que pediu? – continuou segurando a mão de .
— Tenho medo de falar e não se realizar. – Deitou a cabeça no próprio ombro olhando dentro dos olhos .
— Prometo fazer o possível para que se realize. – Tirou os fios de cabelo que insistiam em cair no rosto dela.
— Um beijo. – Disse, baixo. – Um beijo seu. – Mordeu de leve o lábio vendo a expressão surpresa e em seguida suave de .
— Seu pedido para mim é uma ordem. – Sorriu, aproximando o rosto do dela. – Eu pedi a mesma coisa. – Sussurrou antes de selar os lábios, sentindo um gostinho doce neles.

— Acredita que o e ele até competiram sobre qual pedido de casamento foi mais bonito? – Riu e balançou a cabeça olhando para cima enquanto brincava com uma folha de grama em seus dedos. – Foi ridículo e engraçado ao mesmo tempo, de um lado, o contando sobre o pedido dele, que ele preparou toda uma viagem para me pedir em casamento, e, do outro lado, o papai dizendo que te pediu no meio de um parque lotado de gente.
"Você quis o matar de tanta vergonha, que, depois que estavam sozinhos no carro dele, você bateu nele. – Riu. – Tadinho mãe, ele só queria fazer algo legal para você."

— Ei, meu algodão doce. – deu um tapa na mão de enquanto comia o pedaço que havia pegado.
— Você é muito agressiva, vou te denunciar. – Encolheu a mão.
— Deus mandou dividir o pão, , e não o algodão doce. – Deu de ombros e voltou a comer aquela nuvem doce.
— Hum, eu tinha algo para você, mas, agora, nem sei se vou te dar, imagina só se casar com alguém que não vai dividir a comida com você. – Balançou a cabeça, contendo um sorriso.
— Como é que é? – seguiu rindo com os dedos melados de açúcar, olhou para o lado e não viu o namorado. – ? – o chamou e olhou para trás, ela o viu ajoelhado no meio das pedrinhas do terreno. – O que...
— Casa comigo? – Abriu a caixinha revelando um anel e uma aliança, que seria a dele.
, eu... – o encarou sem reação, uma pequena multidão se formava ao redor deles, não conseguia desgrudar os olhos dele, já nem se importava mais com o algodão doce.
— Se você puder me responder logo, essas pedrinhas est.... – foi interrompido.
— Sim! – ela gritou e avançou nele o abraçando pelo pescoço. riu e se sentiu aliviado enquanto a afastava um pouco. – Isso é sério? Está mesmo me pedindo em casamento?
— Acho que esse anel e essa aliança dizem que, sim, é bem sério. – Sorriu, olhando. – Então, falando sério, aceita casar comigo? – perguntou mais uma vez.
— Sim, sim, sim, mil vezes sim! – disse enquanto o anel era posto em seu dedo. – É tão lindo. – sorriu emocionada colocando a aliança nele. – Eu te amo.
— Eu te amo. – Sorriu, abraçando-a, e a tirando do chão enquanto a beijava.

— Mas os olhos dele se enchem de lágrimas, mesmo, quando lembra de quando você contou que estava me esperando. – Sentiu uma lágrima cair e a secou rápido. – Você me deu boas ideias, mãe, mesmo não sabendo. – Riu fraco. – Droga, vai chover. – Olhou para o céu e soltou um longo suspiro. – Engraçado, - riu novamente – papai me disse que começou a chover quando você disse que estava grávida, que deu um trovão muito alto e ele não conseguiu te ouvir, então você repetiu.

, vai chover, é melhor voltarmos para casa. – disse, olhando as nuvens carregadas.
— Eu sei, mas eu quero te contar uma coisa rapidinho, por favor, e eu quero que seja aqui. – Parou em frente ao banco da praça onde o primeiro beijo havia acontecido. – Na verdade, queria te contar dentro do museu onde tudo começou, mas decidiram reformar. – Rolou os olhos.
— Contar o que? – perguntou um pouco apreensivo. – Amor, você está me assustando.
— Calma. – Riu – É algo bom, muito bom na verdade.
— Foi promovida? – Arregalou os olhos e balançou a cabeça.
— Eu estou grávida. – Disse ao mesmo tempo em que um trovão forte ecoou.
— O que? Não entendi.
— Eu...estou... grávida. – Disse mais alto, e pausadamente, enquanto guiava a mão dele até sua barriga. – Nós seremos pais.
Naquele momento, pingos de chuva começaram a cair e soltou um grito ao girar com a esposa em seus braços. soltou um gritinho surpreso e segurou a nuca dele, ela riu enquanto ele gritava que seria pai.
— Você está falando sério? – Colocou-a no chão e continuou com os braços ao seu redor.
— Estou com 5 semanas. – Afirmou com a cabeça, enquanto sorria.
— Eu nunca vou conseguir agradecer o suficiente por ter você. – Sorriu para ela, sentindo as gotas de chuva caindo de seu cabelo. – Eu te amo cada vez e cada dia mais. – Fez um carinho no rosto dela e a beijou.
— Eu te amo. – Ela disse, antes de lhe dar mais um selinho. – Mas, agora, vamos para casa. – Riu – Mulheres grávidas não podem pegar chuva.


— Vocês tinham tudo para serem felizes né, mãe? – Mordeu o lábio. – Às vezes, eu me sinto culpada pela sua morte, se você não tivesse engravidado de mim, se você não lutasse pela minha vida, você ainda estaria aqui, ainda estaria com o papai. – Começou a chorar – Vocês ainda seriam felizes. –fungou e limpou as lágrimas. – Me perdoa mãe, me perdoa. – Engoliu em seco tentando se acalmar.

, você tem um mioma no útero. – A médica disse. – Você não pode mais esperar, temos que tirar ela.
— Ela não está pronta. – gritava, sentindo mais uma contração. – , a nossa menina não pode morrer, ela não pode morrer. – Ela dizia, em lágrimas, segurando a mão dele.
— Amor, nenhuma de vocês duas vai morrer. – Ele limpou as lágrimas que caiam. – Mas você precisa deixar a médica salvar vocês.
— Você não tem mais escolha, . – disse, vendo o lençol tomado de sangue.
— Eu amo você, cuida dela, , cuida dela. – disse desesperada, enquanto soltava mais um grito.
— Eu te amo. – disse, enquanto via a mulher sumir pelas portas.
já não tinha mais nem forças para chorar, enquanto aguardava na sala de espera, ele andava, sentava-se na poltrona, voltava a andar, as famílias de ambos estavam ali junto com ele, mas ninguém ousava dizer algo.
— Como elas estão? – se apressou assim que a médica apareceu.
, eu sinto muito. – Engoliu em seco – A não resistiu, ela teve uma hemorragia... – ela explicou, mas não ouviu mais nada, sentiu seu mundo desabar.
— Cadê ela? – Gritou.
, eu...
— Cadê a minha esposa?! Você está mentindo! Ela não morreu. – Ele gritava, desesperado.
, meu filho. – A mãe dele o segurava, tentando o consolar.
— Ela não pode ter morrido, mãe, ela não pode. – Ele chorava. – Como eu vou viver sem ela? O que vai ser da sem a mãe dela? Eu não consigo. – Soluçava.
, meu filho, a precisa de você.


— Ele me contou que te fez uma promessa. – Fungou e limpou o nariz em um lenço que levava consigo. – Quero que você saiba que ele a cumpriu, ele foi o melhor pai que eu poderia ter tido, ele te manteve viva em cada momento da minha vida, em momento algum ele tentou te substituir, se você quer saber, eu é quem sempre quis que ele arranjasse outra pessoa, mas, entre ser obrigado a te esquecer de vez e ficar sozinho, ele sempre escolheu ficar sozinho. Para ser honesta, eu sempre o chamei de louco quando ele dizia "eu não estou e nunca estarei sozinho, , sua mãe sempre estará comigo, ela foi e ainda é a mulher e o amor da minha vida".

se aproximou da cama onde sua esposa estava, a pele estava já mais clara do que o normal, seus lábios prontos para ficarem arroxeados, a dor que ele sentiu ao vê-la naquele estado era tão forte que preferia ter mil facas e mil balas adentrando seu corpo. Sentou-se ao lado dela, em uma cadeira, passou a mão pelos cabelos loiros, sentiu seu lábio tremer e os olhos arderem.
— Eu te prometo, , eu te prometo que eu serei o melhor pai que nossa filha poderia ter, eu vou criá-la exatamente da maneira que você sempre quis que criássemos nossos filhos, todos os anos iremos fazer viagens diferentes, vamos acampar na mata ou na praia, na sala ou no jardim, ela será livre para ser o que quiser e eu vou apoiá-la. - Passou a mão pelo rosto frio. – Eu te manterei viva em cada segundo da vida da nossa menina, ela sempre saberá quem foi a mãe dela, quem é a mãe dela, seu lugar nunca será substituído. Você é, e sempre será, a mulher e o amor da minha vida, cuida da gente aí de cima, por favor. – Disse, chorando, e beijou os lábios dela uma última vez.

— Nós ainda acampamos, com certeza é algo que eu continuarei fazendo com a minha família. – Sorriu, e manteve a cabeça baixa por alguns instantes. – Mas tudo isso você já sabe, não é mais novidade, né? – Riu fraco. – Mãe, eu sei que eu já te pedi algumas coisas e hoje eu queria te pedir mais uma. – Soltou um longo suspiro – E você pode ter certeza, isso dói mais em mim do que em qualquer outra pessoa.
"O papai está doente, muito doente mãe, ele sofreu um infarto no ano passado, ele vem sentindo muita dor desde então, e eu sei que ele está lutando e sendo forte, não por ele, mas por mim, ele não quer me deixar sozinha, ele tem medo de que algum dia o , ou eu, peça o divórcio e eu acabe ficando sozinha, o que agora eu acho que seria impossível. – Passou a mão pela barriga. – É, mãe, eu estou grávida. – Riu. – Eu não contei para ninguém ainda, então você é a primeira a saber."
"A questão aqui, mãe, é que eu não quero mais ver o papai sofrer e não há lugar no mundo, ou nos mundos, que ele gostaria de estar mais, senão ao seu lado, é o que ele quer e o que ele sempre quis. Me dói tanto, mas tanto dizer isso, mas acho que estou pronta. – Fungou. – Acho que estou pronta para deixar o papai ir, pronta para te pedir para que venha buscar ele e acabar de vez com o sofrimento dele. – As lágrimas desciam descontroladamente de seu rosto – Eu preciso ir. – Fungou, limpando o nariz e as lágrimas. – Eu te amo, mãe."

— Eu conheço esse cheiro. – disse, sentindo um cheiro familiar no quarto, ele estava sentado em uma poltrona no canto do quarto com o álbum de fotos em mãos. – , querida, você está aqui?
— Oi, meu amor. – A voz doce soou e a mão delicada tocou a dele, a segurando.
— Você está tão linda. – olhou para o lado vendo a amada agachada ao seu lado, o rosto perfeitamente desenhado, os olhos mais que uma safira, os cabelos loiros ondulados e curtos. – Eu senti tanto a sua falta.
— Não mais do que eu senti a sua. – Ela sorriu, tocando o rosto conservado, apesar da idade dele. – Você está tão bonito.
— O que está fazendo aqui?
— Vim te buscar. – Sorriu e se levantou. – Vim te buscar para que a gente tenha o nosso “felizes para sempre”.
— Mas e a ? Eu não posso deixar a nossa menina. – Pegou o retrato ao lado da cama.
— A nossa menina já é uma mulher que terá uma linda menina. – sorriu – E nós cuidaremos dela como sempre fizemos. – Parou de pé em frente a ele e esticou a mão.
— Vai ser rápido? – segurou a mão dela.
— Eu estarei aqui com você como sempre estive, não precisa ter medo. – sorriu apertando mais a mão dele.
se recostou na poltrona mantendo uma das mãos esticadas, enquanto a outra apertava forte a foto dele com , nos últimos meses da gravidez, contra o peito. Uma dor forte e insuportável atingiu seu peito e sua respiração falhou. A mão estendida amoleceu e encarou o rosto descansado, nos lábios um leve sorriso.
— Então, como foi? – disse sentindo uma mão em seu ombro.
— Tão rápido como a forma que me apaixonei por você. – Ele sussurrou e ela se virou encarando o rosto jovem de .
— Pronto para vivermos a nossa eternidade? – Abraçou ele pela cintura sorrindo.
— Não sabe o quanto eu esperei por isso. – Sorriu, encostando a testa na dela, com seus braços ao redor do corpo da mulher que ele tanto sentia falta.
Uma luz forte e branca iluminou todo o local e os dois desapareceram com destino à eternidade.

It's not goodbye
Cause I will remember you
And I will see you again
When I rise
Cause I know and I believe
I will see you in eternity.




FIM



Nota da autora: Sem nota.

Nota da beta: Eu já disse tudo o que eu gostaria na sessão de comentários, mas só preciso ressaltar que ESSA HISTÓRIA É LINDA! Eu amei, aguardando ansiosamente por mais fanfics de sua autoria, Ana!! Obrigada por me escolher para betar essa história incrível, e, você, leitore, não esquece de comentar dizendo o que achou!
Beijos,
Giu.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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