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Finalizada em: 13/09/2017




Capítulo 1



Eu gostaria de matar a pessoa responsável por inventar os sapatos de salto alto. Assim que ouço a porta da frente bater e percebo que Jimin finalmente chegou em casa, ainda estou encostada no corredor da sala, travando uma batalha sem fim com o sapato que não se ajusta ao meu pé. Meu colega de apartamento aparece alguns segundos depois, carregando livros embaixo do braço e com os cabelos pretos em uma desordem que denuncia que seu dia foi uma completa bagunça.
— Precisa de ajuda? — Ele pergunta assim que se aproxima o suficiente e percebe o porque de eu estar apoiada na parede, usando apenas um dos saltos, enquanto continuo segurando o outro pé.
Antes que eu possa responder, ele já está se agachando em minha frente e colocando seus livros no chão, tomando o sapato de minhas mãos e me ajudando a calçá-lo. A armação redonda de seus óculos escorrega levemente em seu nariz, e percebo que o nó de sua gravata preta está ligeiramente frouxo, como se ele tivesse tentado se livrar da peça. As sexta-feiras são sempre assim. Ele chega em casa mais cansado do que o normal, como se tivesse esquecido sua alma na empresa de advocacia na qual está fazendo um estágio.
— Pronto — Ele diz quando finalmente consigo ficar sobre os dois saltos. Me abaixo para ajudá-lo a recolher os livros, mas ele recolhe tudo primeiro, ficando de pé e exibindo um sorriso gentil que não combina em nada com o desânimo presente em seu rosto levemente corado.
— Você não parece muito bem hoje — Digo e sinto vontade de me socar assim que termino a frase, porque é óbvio que ele não parece bem — Algum problema no estágio?
— O estágio inteiro é um problema — Ele suspira derrotado, e sinto vontade de o puxar para um abraço, na esperança de poder confortá-lo de algum jeito. Mas não somos tão íntimos assim, e apesar de dividirmos um apartamento por quase três meses, nossa rotina se resume a conversas curtas e pouco profundas.
A única coisa que sei é que para conseguir seu diploma, ele precisa completar horas de estágio, e a única empresa na qual conseguiu uma vaga parecer ser a grande responsável por suas noites mal dormidas. Fora isso, só sei que Park Jimin é o cara mais simpático e gentil que já encontrei, que é seis meses mais novo que eu, e que se não estivesse morando comigo, provavelmente estaria vivendo em uma das repúblicas e passando fome.
— Sinto muito — Respondo desanimada, porque é a única coisa que posso dizer, por mais inútil que essas palavras sejam — Eu fiz lamén e deixei um pouco pra você. Vou sair com umas amigas então o apartamento é todo seu até amanhã — Ele exibe um sorriso breve, e vejo seus olhos sumirem por um segundo, e isso é o que também sei sobre Park Jimin: ele é o dono do eye-smile mais bonito que já vi.
— Isso é ótimo, mas também vou ter que sair hoje — Ele suspira outra vez, deixando transparecer todo seu cansaço — Mas obrigado pela comida, noona… Se não fosse por você eu estaria passando fome — Sim, eu sei.
Escuto o interfone tocando e me despeço de Jimin depressa, dando as costas para ele e correndo pelo apartamento, ignorando os saltos e o fato de minha saia insistir em ficar subindo por minhas coxas.
Assim que salto para dentro do carro estacionado em minha porta, Yoona e Taeyon me recebem com sorrisos exagerados e risadinhas baixas, e tenho certeza de que as duas estão escondendo alguma coisa de mim.
— Eu conheço esses sorrisos, e eu não gosto do significado por trás deles — Digo, considerando a ideia de descer do carro até que elas me expliquem o que estão tramando, mas Yoona já trancou todas as portas, como se fosse capaz de prever minhas reações — O que vocês estão planejando?
— Já que você finalmente se livrou daquele maldito trabalho de sociologia, que te fez ficar presa em casa por quase dois meses, achamos que você merecia uma noite especial — Yoona fala com a voz baixa e cheia de uma inocência falsa. Felizmente, os quatro anos de amizade serviram para que eu soubesse exatamente quando ela está sendo tudo, menos inocente.
— Bom, é por isso que combinamos de sair para comer e ver um filme, não? — Relembro o plano original, mas já tenho certeza de que as duas resolveram mudar nosso roteiro sem me perguntar se eu estava de acordo.
— Você só precisa relaxar e aproveitar, ok? — Taeyon afirma, ligando o rádio e deixando claro que essa conversa precisa terminar por aqui — Nós temos tudo sob controle.
E é isso que me assusta.

***


É claro que não.
Elas não tem nada sob controle.
— Vocês só podem estar brincando comigo! — Exclamo, tentando me impedir de gritar e fazer uma cena, por mais que essa seja minha vontade. As duas continuam a me empurrar para dentro do clube noturno, ignorando minhas palavras e minhas tentativas fracassadas de fugir — Meninas, é sério! Essa é uma péssima ideia… Será que a gente não pode só ir jantar e ver um filme? — Nessa altura do campeonato já estou implorando, mas nem mesmo meus inúmeros pedidos de por favor são capazes de fazer com que elas desistam, e em um piscar de olhos estamos dentro do lugar, com mais uma dezena de outras garotas.
— Vai ser divertido! — Yoona parece ter roubado toda empolgação do mundo para ela, e por mais que eu queira acreditar em suas palavras, meu cérebro continua repetindo que não, não vai ser divertido.
— É sério, qual foi a última vez que você chegou perto de um homem? — Taeyon me pergunta enquanto continua tentando abrir caminho em direção ao bar. O que isso importa? Eu sou uma garota ocupada, e a falta de um homem na minha vida realmente não é um problema. E daí se não beijo ninguém há quase dois anos?! Sério, não é como se eu estivesse desesperada ou algo assim… Além disso, eu divido apartamento com um cara, e isso é mais do que suficiente!
Não é como se elas tivessem que me arrastar para um clube de striptease. Definitivamente não.
— Não é como se eu fosse beijar ou chegar perto de um dos dançarinos…
— Não, mas pelo menos você vai poder admirá-los e lembrar do que está perdendo — Yoona responde, e vejo Taeyon pedir três doses de soju a um barman — Talvez você coloque sua cabeça no lugar e esqueça um pouco dos livros, né?
E me pergunto porque ainda sou amiga dessas duas, ugh.

***


Depois de quase meia hora, e pelo menos quatro doses de soju e mais uma mistura de drinks coloridos, minha ansiedade finalmente começa a ceder e sou obrigada a assumir que, tudo bem, o lugar não é tão ruim assim. Na verdade, preciso admitir que até agora tudo está correndo perfeitamente bem, e que o fato de não ter homens babacas tentando a todo custo se aproximarem é um bônus interessante. As garotas ao nosso redor parecem tão animadas quanto Yoona e Tayeon, e assim que o primeiro dançarino da noite pisa no palco, tenho certeza de que vou acabar ficando surda até o final da noite.
Não sei porque, mas a primeira reação que tenho é a de rir. O garoto, que aparentemente atende pelo nome de Hoseok e tem os cabelos alaranjados, está sorrindo e rebolando ao som de uma música agitada, e enquanto uma gritaria insana engole o local, só consigo rir. Yoona e Taeyon me olham e começam a rir junto, e tenho certeza de que tudo isso é culpa das doses de soju viradas de uma só vez.
A minha risada, porém, se transforma em um riso de nervoso no mesmo segundo em que Hoseok começa a mover os quadris em uma série de movimentos explicitamente obscenos. Sinto Yoona cravar suas unhas em meu braço, e escuto Taeyon gritar que precisa de mais álcool e desaparecer em direção ao bar. A situação se torna mil vezes pior quando ele se desfaz da camisa branca e exibe uma série de tatuagens que contornam suas costelas do lado direito. Bom, talvez eu também precise de mais álcool.
— Acho que a gente devia ir embora agora mesmo — Grito no ouvido de Yoona, que se apressa em balançar a cabeça em um sinal negativo.
— A gente só saí daqui depois de ver os cinco dançarinos da noite! — Ela grita de volta, e puta merda, cinco dançarinos?! Nós realmente tivemos que pagar pra passar por uma tortura dessas? Isso é ridículo.
A primeira apresentação chega ao fim e o segundo dançarino logo surge no palco, e me pergunto como as pessoas ainda tem voz depois de gritarem tanto durante a primeira apresentação. Taeyon volta com mais bebidas para nós três, e passo o tempo inteiro concentrada em meu copo de bebida, porque tenho certeza de que o garoto dançando é mais novo do que eu, e me recuso a me sentir atraída por ele. De vez e quando me atrevo a olhar para frente e me arrependo amargamente, porque ele é novo demais pra estar se mexendo daquele jeito.
Há um pequeno intervalo entre a segunda e a terceira apresentação, mas assim que o dançarino de cabelos roxos surge no palco, as garotas vão a loucura novamente. Ele resolve interagir com a plateia que o assiste com olhos vidrados e o timbre rouco de sua voz parece ter ainda mais efeito do que seus passos de dança. Escuto uma garota ao meu lado choramingar e dizer que a existência dela depende de ter uma noite com um cara com esse, e fico ainda mais surpresa ao perceber que Taeyon está concordando fervorosamente com isso.
— Bom, sua existência está bem ameaçada então, porque ele não parece muito acessível e você tem um namorado — Taeyon faz uma careta, me dando um empurrão de leve antes de terminar sua bebida.
— Bom, eu não estou fazendo nada de errado, e meu namorado sabe que estamos aqui porque trouxemos você! — Ela se defende, fazendo um biquinho que faz com que Yoona e eu caiamos no riso.
Já são quase duas da manhã quando o quarto dançarino aparece, e Yoona e Taeyon estão tão bêbadas que dão um jeito se irem ainda mais para perto de palco, fazendo questão de me arrastar junto. O garoto de cabelo castanhos parece inocente demais com os óculos redondos, mas então, em um piscar de olhos, sua expressão muda da água para o vinho e, em uma simples virada de cabeça, o óculos vai parar longe, e é isso: tenho certeza de que já vi demais por uma noite, e de que preciso ir embora agora mesmo.
— Eu realmente acho que é melhor a gente ir embora.
— Só falta mais um — Taeyon diz manhosa, e Yoona se apressa em concordar — E ainda tem o sorteio!
Não faço a menor ideia de que sorteio elas estão falando, mas sei que preciso de mais bebida se quiser aguentar mais uma apresentação. Enquanto as duas continuam gritando enlouquecidas para o moreno, resolvo ir até o bar e peço outro drink que tem muito gosto de frutas e pouco gosto de álcool, o que é um perigo. Considero a ideia tentadora de ficar por ali até o final da noite, e esperar até que as duas resolvam vir me encontrar, mas mesmo de longe consigo avistar minhas amigas olhando para trás e me chamando com as mãos. E tudo bem, eu posso fazer isso.
Falta só mais um.
Começo a abrir caminho entre a multidão novamente, tentando não derramar minha bebida, e assim que chego até as duas a música agitada desaparece e dá lugar a uma batida lenta e sensual. As luzes da casa noturna cessam quase que por completo, e minha vista demora para se ajustar a escuridão. Assim que isso acontece, percebo que o último dançarino da noite já está no centro do palco, virado de costas para nós. Um jogo de luzes fracas reflete sobre seu corpo, fazendo com que ele seja o único ponto iluminado em todo ambiente, e tenho certeza de que todos os olhares estão voltados em sua direção.
Suas roupas parecem bem mais elaboradas que as dos demais, o que chama minha atenção. Complementando a calça preta de couro, que se ajusta perfeitamente as suas coxas musculosas e bem delineadas, ele veste um casaco de tom vermelho escuro, coberto por uma série de detalhes brilhantes em prata. Seu corpo começa a se movimentar aos poucos, seguindo a melodia da música, e pela primeira vez na noite as pessoas parecem mais ocupadas em observar a apresentação do que em tentar explodir os próprios pulmões com gritos.
Porém, isso muda no mesmo minuto em que o dançarino finalmente se vira, ficando de frente para nós. Meu coração dá um pulo no peito ao perceber que ele está vendado, e que o decote da regata cinzenta que ele usa por baixo do casaco é extremamente revelador. Mesmo na escuridão, alguma coisa em seu rosto chama minha atenção, e me sinto incapaz de desviar o olhar. Suas mãos se movem na frente de seu rosto vendado, e uma delas segue na direção dos cabelos negros, jogando-os para trás ao mesmo tempo em que seus lábios se partem e ele parece soltar sua respiração em um sopro. Sinto minhas mãos se tornarem suadas, e mordo meu lábio inferior com força, me sentindo estranhamente atraída pelo moreno em minha frente.
A canção vai se tornando mais agitada aos poucos, mas o fato de ele estar se movendo sobre o palco vendado faz com que meu cérebro esqueça completamente de prestar atenção na música, ou nos gritos. É como se meu ponto de equilíbrio estivesse naquele cara desconhecido, e eu fosse obrigada a seguir cada um de seus passos, como se estivesse sendo hipnotizada pelo modo natural como seu corpo se ajusta a cada nova nota musical. Seus movimentos são leves e fluidos, e a sensação que começa a se alastrar por meu corpo não se combina em nada com seus passos organizados e harmônicos.
— Eles sabem mesmo como deixar o melhor pro final — Yoona diz alto o suficiente para que eu possa escutá-la, e é só assim que o efeito que o moreno desperta em mim parece se quebrar um pouco. Aproveito a deixa para voltar a beber meu drink, e com o canto dos olhos percebo que ele está de costas novamente, se livrando do casaco e deixando seus braços a mostra. Minha boca está cheia de líquido e ainda assim sinto como se eu estivesse caminhando a horas em pleno deserto do Saara.
Em uma questão de segundos, vejo o dançarino se abaixar e mexer nos cabelos antes ficar de pé novamente, girando lentamente e ficando de frente para nós. E não existe mais venda alguma. E então tenho certeza de que meu coração esqueceu qual sua função, e que o sangue parou de circular por minhas veias. A bebida que estava em minha boca voa para longe, e Yoona bate em minhas costas, e só então percebo que acabei engasgando. Taeyon está ocupada demais olhando para a apresentação, e não se dá conta de que estou a um passo de ter um colapso nervoso. Quero sair correndo dali, e tentar fingir que os últimos minutos não aconteceram, mas minhas pernas estão travadas. As várias doses de soju parecem ter se transformado em água, porque de repente estou sóbria de novo, e consciente demais de tudo que está acontecendo em minha frente.
Mas não... Não pode ser verdade.
Não faz sentido...
O que Park Jimin está fazendo aqui?




Capítulo 2



Vejo Jimin jogar a cabeça para trás e deslizar os dedos pelo próprio pescoço, em direção a seu rosto, e quero fechar os olhos. Preciso urgentemente fechar os olhos e me impedir de assistir a todas essas cenas. Mas meu cérebro não parece capaz de obedecer e meus comandos, e continuo imóvel. Vejo suas mãos seguirem até a barra de sua regata, e tenho certeza de que ele vai se livrar dela, mas ele apenas levanta o tecido o suficiente para que a multidão exploda em gritos repletos de desespero, mas ainda assim minha voz permanece presa no fundo de minha garganta.
O volume dos gritos o faz curvar o canto dos lábios em um sorriso torto e tenho certeza de que estou errada. Não é o Jimin. Não pode ser o Jimin. Porque meu colega de apartamento estaria trabalhando como dançarino de uma boate de striptease? Isso não faz o menor sentido… Ele está quase se formando em direito, e e… E não pode ser ele. Park Jimin não seria capaz de dançar desse jeito, seria? E nem de fazer essas caras, e gestos e… E por que ele continua passando as mãos pelo próprio corpo?! Ele sabe o quão errado isso é?!
E, meu Deus, porque não consigo desviar o olhar? Quero engolir toda bebida de uma só vez, mas só percebo que derramei todo o líquido em minhas próprias pernas quando levo o copo até a boca e percebo que ele está vazio. Tento engolir a saliva, em uma tentativa fracassada de matar a sede que sinto, mas meus lábios permanecem ridiculamente secos, e meu coração continua e maltratar minhas costelas. Absolutamente tudo parece fora do lugar.
Meus olhos continuam presos em Jimin, e nem mesmo quando ele caí de joelhos no chão e começa a balançar os quadris e o tronco para frente e para trás, com uma lentidão que chega a ser uma tortura, sou capaz de olhar para longe. Minha respiração só parece escapar de meus pulmões quando a apresentação chega ao final, e todos os outros dançarinos se juntam a Jimin no palco, para agradecerem a presença de todas presentes. Não consigo prestar atenção em nada do que os outros garotos estão dizendo, porque toda minha atenção continua fixa em meu colega de apartamento, e no modo como o suor escorre por sua mandíbula, contornando seu pescoço e deslizando até suas clavículas expostas pelo decote da regata.
Por mais que tente lembrar, não consigo pensar em nada que faça o fato dele estar em minha frente, desse jeito, fazer sentido. Todas imagens que tenho dele se resumem a ele carregando livros ou usando suas camisas sociais e gravatas nos dias de estágio. O sorriso charmoso e que continua estampado em seu rosto corado em razão do calor não é nada semelhante ao sorriso gentil que ele exibe pelas manhãs, quando me dá tchau antes de ir para faculdade. O modo como suas roupas se ajustam perfeitamente a cada músculo de seu corpo também é uma novidade, e acabo me perguntando se ele realmente conseguiu esconder tudo isso de mim, ou se fui cega demais para não prestar atenção em seu corpo.
Estou ocupada demais tentando entender o porque dele, justo ele, estar parado em minha frente, parecendo uma verdadeira personificação de um filme pornô, quando ouço Yoona e Taeyon gritarem meu nome.
— É ela! Ela é o número 27! — Yoona grita, apontando para mim de modo incansável.
Pisco algumas vezes, voltando para realidade, e só então percebo que há uma luz sobre minha cabeça, e que as garotas ao meu redor estão gritando e batendo palmas, mas continuo sem entender o que está acontecendo. Por que todo mundo está olhando pra mim?
— Parece que já temos todas as sorteadas da noite! — Ouço o dançarino de cabelos roxos dizer, e assim que meu olhar retorna para o palco, vejo que ele está ao lado de Jimin.
Não demora para que nossos olhares se encontrem, e assim que as íris escuras de Jimin repousam sobre as minhas, seu sorriso relaxado desaparece de imediato e tenho certeza de que vejo seu rosto se tornar pálido. Ele dá um passo curto para trás, e vejo-o abrir a boca como se estivesse prestes a dizer algo, mas então a voz do dançarino de cabelos roxos, que parece se chamar Namjoon, volta a tomar conta do lugar.
— As garotas que foram sorteadas podem se dirigir para aquela porta para ganharem seu prêmio — Vejo ele apontar para uma porta localizada ao lado do palco, com um sinal de saída de emergência brilhando em letras em neon logo acima — E as demais podem aproveitar o restante da noite de vocês! Obrigado!
Os dançarinos começam a descer do palco, e meu corpo só volta a funcionar assim que Jimin desaparece de minha vista e sinto Yoona e Taeyon começarem a me empurrar, obrigando minhas pernas a se movimentarem contra minha vontade.
— O que aconteceu?
— Aconteceu que você continua sendo a mais sortuda de nós três! — Yoona grita em meu ouvido, e percebo que as duas estão me guiando na direção da porta, onde mais quatro garotas estão paradas.
— Não, é sério! — Tento gritar de volta, mas minha voz parece sair arranhada e baixa demais — Pra onde vocês estão me levando? A gente precisa ir embora! — Tento travar meus pés no chão, mas sou bem mais fraca que as duas juntas, e logo estamos parando na frente da porta indicada.
— A gente vai, assim que você receber o seu presente — Taeyon diz e sinto meu estômago se agitar sem permissão. A palavra presente faz meu coração dar uma série de cambalhotas desajeitadas dentro do peito, e tenho certeza de que preciso ir embora urgentemente, antes que a noite se torne ainda mais estranha.
— Eu não posso ficar… Vocês não tão entendendo, um dos dançarinos é o meu… — Mas a frase morre pela metade, porque não consigo pronunciar a palavra colega de apartamento em voz alta. Estou tentando pensar em outro jeito de escapar do que quer que esteja próximo de acontecer, mas meus planos são interrompidos quando vejo o primeiro dançarino aparecer na porta e puxar umas das garotas para dentro.
Uma a uma elas desaparecem, e a antecipação que sinto parece um monstro prestes a me engolir e me partir em mil pedaços. Só percebo que Taeyon e Yoona já estão longe quando olho para trás e vejo as duas seguindo na direção do bar, me mandando acenos e beijos no ar, em meio a risos. Não era pra noite ser assim. Era pra irmos jantar em algum lugar calmo e tranquilo, e assistirmos a um filme qualquer. Não era pra eu acabar em um clube das mulheres, e muito menos descobrir que o cara que dorme no quarto ao lado do meu leva uma vida dupla. Eu não precisava disso. Eu definitivamente não precisava disso.
Suspiro frustrada e volto a olhar para frente, me arrependendo na mesma hora. Jimin está parado na porta, e para meu alívio o casaco vermelho está de volta em seu devido lugar, o que faz com que se torne um pouco mais suportável olhar para ele. Assim que nossos olhares se encontram, vejo que ele abre a boca para falar novamente, mas nenhuma palavra escapa.
Só uma cratera se abrindo abaixo dos meus pés poderia me salvar dessa situação absurdamente desconfortável e bizarra, mas infelizmente sei que o chão não vai se abrir e que preciso eu mesma dar um jeito de melhor as coisas.
— Acho que eu preciso ir embora — Falo ao mesmo tempo em que começo a dar passos desgovernados para trás, mas estou a apenas alguns metros de distância quando umas das mãos de Jimin se fecha em torno de meu pulso, me fazendo parar de andar.
Seu toque quente faz com que uma corrente elétrica percorra toda minha pele, e puxo o braço para trás de modo completamente involuntário, vendo-o afastar a mão e desviar o olhar para baixo, parecendo envergonhado.
Quero dizer que está tudo bem, mas tenho medo de abrir a boca e acabar dizendo outra coisa, então fico em silêncio.
— Eu preciso te levar lá pra dentro — Ele diz, coçando a nuca e encolhendo os ombros. Tenho certeza de que nunca o vi tão desconfortável assim nesses três meses em que moramos juntos, e a sensação faz com que eu me sinta ainda mais culpada por ter descoberto seu segredo. Quero matar Yoona e Taeyon por terem me arrastado até aqui, mas também quero me matar por não ter dado o fora no segundo em que percebi que ele era um dos dançarinos. No que eu estava pensando?!
— Não, tudo bem… Você não precisa mesmo fazer isso — Quero que ele concorde e me deixe ir embora, mas seu rosto continua sério demais, e ele ainda parece incapaz de me olhar nos olhos. Minha atenção se desvia por um segundo para os fios negros de seu cabelo que estão cobertos de suor, e me obrigo a afastar o olhar. O lugar parece mais quente do que o normal.
— Eu meio que preciso… — E então ele ergue o rosto e seu olhar busca pelo meu, e sinto minha boca ficar seca novamente, porque seu olhar parece carregado de algo que não sei identificar, mas que faz com que meus nervos se comportem de maneira alarmada — Você foi sorteada, e faz parte do meu trabalho… Se eles não verem você lá dentro, vão descontar do meu salário — Ele me explica, e percebo que o tom de sua voz diminui cada vez mais, até que suas últimas palavras não passem de um sussurro.
Ele precisa do dinheiro… Acho que isso explica parte do motivo dele ter um trabalho extra.
Não faço a menor ideia do que vou encontrar atrás da porta, e começo a me arrepender de não ter perguntado sobre o sorteio para Yoona e Taeyon. Tudo que quero é virar as costas e ir embora, mas a culpa que sinto faz com que eu permaneça estática, incapaz de me mover. Jimin continua me encarando em silêncio, e eu faço o mesmo, e parece que vamos ficar nisso pelo restante da noite se nenhum dos dois tomar alguma atitude.
Como se pudesse ler meus pensamentos, meu colega de apartamento solta um suspiro baixo pelos lábios avermelhados e carnudos - e por que estou reparando nos lábios dele, meu deus - e então estende a mão para mim. Eu hesito pelo que parece ser uma eternidade, mas finalmente aceito sua mão, e preciso controlar a urgência de acabar com o contato no mesmo segundo em que ele tem início. Seus dedos envolvem os meus e minha pele parece queimar, e tento me lembrar se já senti isso antes. Jimin já me tocou uma centena de vezes, e isso nunca aconteceu. Por que minha pele parece formigar agora?
Preciso respirar fundo e me acalmar. Não posso deixar que isso mude as coisas entre nós.
Droga. A quem estou tentando enganar?
Tudo já parece ter mudado.
Ele começa a me guiar por um corredor longo e estreito, iluminado apenas por uma luz azulada e fraca. Não sei porque, mas por mais que eu tente me convencer de que não preciso ficar nervosa, e de que conheço Jimin há mais de três meses, nada disso me acalma. Na verdade, cada vez que adentramos mais no corredor, mais meu coração parece acelerar dentro do peito e sinto que o homem em minha frente é um completo desconhecido.
O fato de entrarmos em uma espécie de provador pequeno demais, e que contém apenas uma cadeira, não colabora em nada com minha tentativa de manter a calma. E o fato de Jimin fechar a porta atrás de nós torna essa minha tentativa inútil, e sou obrigada a desistir dela. É impossível manter a calma. Vejo ele encostar na porta e me observar, e quero implorar para que ele me diga o que fazer, porque nunca em toda minha vida me senti tão perdida e exposta. O brilho azulado da cabine faz com que o espaço ao meu redor se pareça com uma realidade paralela, saída de dentro de algum sonho esquecido. Uma música baixa e ambiente ecoa pelo quadrado pequeno, e sinto minhas pernas ficarem fracas, o que faz com que eu me obrigue a sentar na cadeira, porque tenho certeza de que não sou capaz de sustentar meu peso por muito mais tempo.
— Eu fui sorteada pra ter um show particular? — Digo brincando e forçando uma risada, e me sinto ridícula ao perceber que minha tentativa de quebrar a tensão é um fracasso.
— Algo assim — Jimin responde, e antes que eu perceba o que ele está fazendo, ele já está em minha frente, apoiando ambas as mãos no encosto da cadeira e me prendendo entre seu corpo. O cheiro de seu perfume invade meu olfato sem aviso algum e de repente sinto os efeitos do álcool implorando para fazerem efeito, mas a proximidade inesperada de Jimin me mantém sóbria demais.
Tenho certeza de que esqueço de respirar, e de que meus olhos estão arregalados e surpresos. A situação se torna ainda pior quando Jimin se inclina para frente e vejo seu rosto se aproximar cada vez do meu, e tenho absoluta certeza de que ele vai ser o responsável pelo problema cardíaco que estou definitivamente desenvolvendo por causa da sensação da sua respiração quente contra minha boca. Quando acho que ele vai cometer alguma loucura que vai me arruinar para sempre, ele afasta sua boca da minha e leva seus lábios até meu ouvido direito, e não sei se devo agradecer ou não por isso.
E droga, por que estou pensando nessas coisas?! Ele é meu colega de apartamento…
— Eu não queria ter que fazer isso com você... — O som baixo e rouco da sua voz me pega de surpresa, e fecho meus olhos involuntariamente, me agarrando ao timbre arranhando de suas palavras — Mas tem uma câmera atrás de você… E por mais que eu queira sentar e explicar tudo, isso não vai convencer eles de que estou fazendo meu trabalho — Ele se justifica, e apesar do tom de voz ridiculamente provocante, pela primeira vez na noite consigo perceber que o cara em minha frente é realmente meu colega de apartamento.
A ideia de estar sendo observada sabe-se lá por quem faz com que eu me remexa de maneira inconfortável na cadeira, e odeio admitir que isso me deixa ridiculamente excitada. Qual meu problema?! Além disso, o fato de eu estar ridiculamente sóbria, apesar de todo álcool que ingeri, me irrita profundamente. Prometo para mim mesma que assim que sair daqui vou ser obrigada a matar Yoona e Taeyon, mas antes disso preciso dar um jeito de escapar dessa situação, e parece que existe apenas uma solução.
- Tudo bem — As palavras escapam e fico orgulhosa por perceber que sou capaz de esconder meu nervosismo — Acho que é melhor você fazer o seu trabalho, então.




Capítulo 3



Tenho certeza de que vejo seus ombros se tornarem tensos com minhas palavras, mas assim que ele se afasta e seu olhar recaí sobre o meu, tudo nele parece perfeitamente em ordem, e o pensamento me assusta. Basta alguns segundos para que o garoto nervoso e envergonhado seja substituído pelo dançarino de antes, e sua presença parece dominar toda atmosfera do lugar. Assim que Jimin começa a se mover ao som da música ambiente, tenho certeza de que o garoto com quem divido apartamento está enterrado em algum lugar esquecido dentro de seu corpo, porque esse definitivamente não é o Jimin que conheço.
O Jimin que conheço não exala segurança e sexo.
E também não tem o olhar penetrante e feroz que me fita agora, como se estivesse tentando enxergar através de mim, e me deixando desconcertada.
Suas mãos deslizam por seus cabelos negros e mordo o interior de minha bochecha com força, tentando controlar o que quer que seja que estou sentindo, e que está acabando com minha sanidade. É melhor pensar nele usando uma camisa social e os óculos redondos de sempre… Acho que isso vai ajudar. Fechos os olhos por um segundo e mentalizo a imagem de um Jimin comportado e preparado para seu estágio, e quero me socar assim que percebo que a imagem que formo está longe de ser saudável. A lembrança da camisa branca levemente aberta na altura do pescoço, e da gravata frouxa, só tornam minha respiração mais instável, e volto a abrir os olhos depressa, porque tenho certeza de que estou arruinando todas as lembranças que tenho de Jimin, e sou ridícula por isso.
É evidente que a imagem que encontro não é muito melhor. O casaco de veludo vermelho escorrega por seus ombros e deixa parte de seus braços exposta, e ele continua movimentando os quadris de um jeito absurdamente lento. Assisto em silêncio ele se movimentar até estar cada vez mais próximo do chão, e então sinto minha boca seca novamente. Desvio meu olhar para baixo porque sou incapaz de olhá-lo nos olhos, mas basta um segundo e um novo movimento de quadril para eu ter certeza de que aquela não é a visão mais segura, pelo contrário. O jeito como o couro se agarra em cada centímetro de sua pele, e deixa pouco para a imaginação, é quase que um castigo. Ergo o olhar novamente e percebo que Jimin está de olhos fechados, com a cabeça levemente tombada para trás, e estou convencida de que vou precisar tomar um banho de água benta assim que colocar os pés em casa.
Park Jimin parece um pecado em carne viva, e nunca em minha vida eu quis tanto ser uma pecadora. Esse pensamento faz com que a culpa que eu sinto por estar pensando isso sobre meu colega de apartamento se torne ainda mais esmagadora, e me pego cravando as unhas em minhas próprias coxas, desesperada por alguma forma de alívio. O modo como a luz azulada da cabine reflete em sua pele e faz com que ele pareça ter saído de dentro de algum sonho proibido meu me faz esfregar as pernas uma contra a outra.
Quero implorar para que Jimin termine logo com isso, mas, assim que ele se aproxima novamente de mim, as palavras são todas roubadas de minha boca, e o único som que sou capaz de reproduzir é o de um suspiro que escapa sem permissão. Agradeço mentalmente por ele continuar mantendo seu olhar distante do meu, mas todos meus agradecimentos se transformam em um mar de palavrões quando o vejo retirar a venda de tecido do bolso de trás de sua calça.
Mil pensamentos proibidos tentam surgir em minha mente e continuo empurrando-os para longe, em uma batalha sem fim para me manter sob controle.
Mas a verdade é que quero soltar um grande foda-se para o meu auto-controle.
Engulo a seco e mordo o lábio inferior com força, certa de que vou acabar deixando um machucado na região. Aguardo ansiosamente para ver Jimin vendar os próprios olhos. A antecipação corrói minhas entranhas, e minha vontade de esticar a mão e tocá-lo é quase que enlouquecedora, e por alguns segundos sou incapaz de me reconhecer. Todas minhas fantasias, porém, são destruídas assim que ele contorna a cadeira e para atrás de mim e, sem aviso algum, vejo minha vista ser bloqueada pela faixa de tecido.
— Ji-Jimin… O que você tá fazendo? — Ergo minhas mãos tentando impedi-lo de amarrar a venda, mas ele ignora meu protesto e logo estou mergulhando na escuridão, e cada fibra do meu corpo parece enviar um recado para meu cérebro que grita que estou em perigo, mas por algum motivo a sensação faz meu corpo arder ainda mais, e minha excitação aumenta. Assim que ele termina de amarrar a venda, seus dedos deslizam quase que de maneira superficial por meu pescoço, e odeio admitir que preciso de mais. Que preciso sentir suas mãos em mim... E isso é tão absurdo e errado.
— Tentando tornar as coisas mais fáceis — Sua voz sopra próxima de meu ouvido, e é óbvio que nossas definições de fácil são completamente diferentes — Você precisa relaxar um pouco.
Dou um pulo na cadeira quando sinto as mãos dele deslizarem por meus ombros, dessa vez com a intensidade certa, e logo seus dedos estão apertando minha pele e fazendo uma massagem gostosa, que faz com que meu corpo relaxe automaticamente sob seu toque febril. A situação parece relativamente sob controle até que sinto suas mãos deslizarem por meus braços e refazerem o caminho até minha nuca. Seus dedos envolvem meu pescoço e seguem para minha clavícula, aproveitando o acesso fornecido graças ao meu decote. Minha pele parece prestes a entrar em combustão, e sou obrigada a continuar prendendo o lábio inferior entre meus dentes para me impedir de emitir uma série de sons incoerentes.
A sensação das mãos quentes e macias de Jimin em minha pele é tão boa que sinto meu corpo amolecer na cadeira, e mesmo com a venda impedindo minha visão, acabando fechando os olhos e me permitindo vivenciar o momento. Suas mãos voltam a correr por meus braços e dessa vez sinto sua respiração quente em minha nuca, e o som que escapa de minha boca me faz corar de vergonha.
Seus dedos continuam a pressionar meus ombros e braços, e sinto a ponta de seu nariz deslizar por minha nuca levemente, até que sua respiração está próxima de meu ouvido. Não consigo decidir se Jimin fez isso de propósito ou sem querer, mas nenhuma das opções justifica o rastro de fagulhas que percorre minha coluna e incendeia meu interior.
— Por que você está tão tensa? — Suas palavras fazem cócegas em meu ouvido, e quero perguntar porque ele continua fazendo questão de sussurrar e tornar minha vida mais difícil — Fui eu quem te deixei assim?
Ao invés de responder, me pego pensando em como é possível que Jimin faça uma pergunta tão inocente parecer tão suja. A vibração da sua voz em minha pele faz com que eu afunde ainda mais as unhas em minhas coxas, e pressione as pernas uma contra a outra, precisando urgentemente me livrar da sensação incômoda que domina meu corpo.
— Eu devo entender que seu silêncio significa sim? — Ele volta a sussurrar, enrolando meu cabelo solto em torno de uma de suas mãos e puxando os fios, me obrigando a inclinar a cabeça ainda mais para trás. Outro som engasgado escapa de minha boca e sinto sua mão livre envolver a frente de meu pescoço, apertando-o de leve — Ou não?
— S-sim... — Minha voz sai trêmula e baixa, mas tenho certeza de que ele entendeu.
— Você quer que eu diga que sinto muito? — Ele pergunta, afastando a mão de meu pescoço e envolvendo meus fios de cabelo entre seus dedos com mais força.
— Você sente?
Dessa vez, é ele quem não responde. Penso em repetir sua pergunta para descobrir se seu silêncio também significa que sim, mas assim que seus dedos finalmente se afastam de meu cabelo, desisto de prolongar a conversa. Volto a erguer o rosto e respiro fundo, certa de que nosso tempo juntos chegou ao final.
Eu não poderia estar mais enganada.
Sinto as mãos de Jimin voltarem a pressionar as laterais de meu pescoço e deslizarem para minha garganta lentamente, e sem perceber estou inclinando a cabeça para trás novamente e deixando minha pele exposta para que ele possa explorá-la a vontade. Assim que seus dedos voltam a circular por minhas clavículas, e sinto eles traçarem o contorno de meu decote, deslizando devagar para dentro de minha blusa, uma onda de realidade me atinge e faz com que eu me dê conta do que está acontecendo.
Preciso urgentemente me livrar dessa maldita venda e acabar logo com isso.
— Isso não é justo — Digo sem pensar.
— O quê? — A voz de Jimin toca a pele sensível de meu pescoço e quero dizer que é ele. Ele não é justo, e o fato dele estar ali atrás de mim não é justo, e nada disso é justo. Mas as palavras que escapam são completamente diferentes.
— Eu quero te ver.
E juro que quero gritar que é mentira assim que termino a frase, mas fico muda, em choque com as quatro palavras que digo sem nem saber o por quê. Jimin finalmente afasta as mãos de meus ombros, e a falta de contato faz minha pele doer, e me pego quase implorando por mais. Seus dedos retiram a venda de meus olhos, e a verdade é que não tenho certeza se tenho coragem de olhar para ele novamente, mas assim que ele fica em minha frente percebo que não é uma questão de coragem, e sim de necessidade.
Tudo em mim grita por Park Jimin, e me sinto envergonhada por perceber que meus sentimentos estão em total desordem. Quero poder culpar o álcool, mas nunca em minha vida me senti tão sóbria e ciente de tudo ao meu redor.
Meu olhar busca pelo dele com a mesma urgência com a qual minha boca implora por um pouco de água, e por mais que eu teime em umedecer os lábios com a língua, a sensação não é o suficiente. Minha sede se torna ainda pior quando, sem aviso algum, vejo Jimin se inclinar para frente e suas mãos alcançarem meus joelhos. Minhas mãos se fecham em torno de seus pulsos de maneira puramente instintiva, tentando impedi-lo de fazer o que quer que ele tenha em mente.
— Ji-jimin… — Eu gaguejo, me sentindo uma criança medrosa.
Ele ignora o aperto em volta de seus pulsos e se abaixa em minha frente, e então seu olhar está passeando por meu corpo e parando na altura de minhas coxas, e vejo ele inclinar a cabeça levemente para o lado, parecendo ter sua atenção roubada por alguma coisa. Sigo seu olhar e percebo que uma parte de minha coxa parece coberta por uma porção de gotículas de algo, e antes que eu consiga lembrar que acabei derrubando bebida em mim mesma, Jimin está se livrando de minhas mãos e deslizando seus dedos por minhas pernas.
Seus dedos se arrastam por minha pele e fazem com que minha respiração fique presa no fundo da garganta. Estou tão embriagada com a sensação de suas mãos deslizando por minhas pernas que mal percebo quando seus dedos estão sobre a região na qual os resquícios de bebida derramada ainda são visíveis. Minha atenção, porém, retorna com força total no segundo seguinte, quando vejo que seu polegar está encontrando seus lábios, e tenho certeza de que minha boca está seca porque toda umidade de meu corpo está concentrada em uma região localizada um pouco mais abaixo.
Vejo sua língua envolver seu polegar e seus lábios se fecharem em torno dele, sugando-o. E isso não é o pior. O pior é que seu olhar continua fixo sobre o meu durante todo o tempo, me mantendo presa e completamente entregue à ele.
E é essa fração de segundos que rouba todo o ar de meus pulmões que me faz ter certeza de que vou ser obrigada a me mudar. É oficial.
Vou precisar fazer minhas malas e me mudar para o outro lado do planeta, porque minha relação com Jimin acaba de ser arruinada e vou ser incapaz de conviver com ele sem lembrar do quão ridiculamente obsceno ele consegue ser, e de como essa imagem me deixa fraca. E desesperada. E querendo que seu polegar seja substituído por cada mísero pedaço do meu corpo.
Ele afasta o polegar da boca e vejo sua língua contornar seu lábio superior, de lado a lado, e meus pulmões imploram por mais oxigênio. Sem dizer nada ele volta a apoiar as mãos no encosto da cadeira e se inclina novamente sobre mim, deixando sua boca a centímetros da minha. Seu olhar permanece fixo um pouco abaixo do meu, e então sua voz volta a acariciar meu rosto.
— Já te falaram que você tem gosto de morango? — Ele pergunta, e pela primeira vez na noite consigo perceber um rastro de diversão em sua voz, e isso me quebra em mil pedaços, porque tenho certeza de que ele está se divertindo com a situação. Abro a boca uma centena de vezes pra responder, mas não consigo formar nenhuma frase — Preciso que você me faça um favor…
E quero dizer que ele poderia me pedir para subir naquele palco e fazer um show eu mesma, e eu o faria com um sorriso no rosto, mas apenas concordo com a cabeça, esperando que ele volte a falar.
— Eu preciso mesmo fazer o meu trabalho… — Suas palavras me pegam desprevenida, porque tenho certeza de que ele já estava fazendo seu trabalho e de que isso tudo já era mais do que o suficiente — Preciso você fique parada, e não tire os olhos de mim, tudo bem? — Ele diz calmamente, mas o olhar em seu rosto não combina com suas palavras tranquilas, e não tenho certeza se ele realmente está tão controlado assim. Continuo sem entender o que ele está tentando me dizer, até que tudo se torna ridiculamente claro.
Assim que a batida da música se torna mais acelerada, Jimin acaba com qualquer possibilidade de espaço entre nós e cola seu corpo no meu, envolvendo minhas pernas entre as suas e praticamente se sentando em meu colo. Ele se movimenta lentamente para frente, até que seu quadril está quase encontrando o meu e fazendo com que a barra de minha saia suba mais do que o necessário. Em um impulso involuntário, ergo as mãos e as levo até meu rosto, me escondendo e tentando acalmar minha respiração. Ele começa a mover os quadris contra o minhas coxas, deixando sempre um espaço pequeno demais entre nossos corpos, e todo meu interior parece prestes a se partir em mil pedaços a qualquer segundo.
O atrito do tecido de couro de sua calça contra as laterais expostas de minha coxa faz minha pele arder em chamas, e quando acho que a situação não pode ficar ainda pior, sinto as mãos dele se fecharem em torno de meus pulsos, me obrigando a afastar as mãos do rosto. Me sinto a garota mais infantil do mundo por fechar os olhos no mesmo segundo, continuando sem enxergar Jimin, até que sinto seu polegar traçando o contorno de minha mandíbula e parando logo abaixo de meu queixo, me fazendo erguer levemente o rosto.
— Achei que você tivesse dito que queria me ver — Suas palavras são sopradas contra minha boca e me obrigo a engolir o choro engasgado em minha garganta e abrir os olhos.
Ele sorri vitorioso e, ainda segurando minhas mãos, começa a guia-las na direção de seus ombros, me fazendo segurar neles. Engulo a seco assim que sinto o contorno de seus músculos abaixo de meus dedos e tento pensar em mil maneiras diferentes de resistir a urgência de cravar minhas unhas em sua pele suada e deixar uma série de vergões avermelhados nela.
Jimin continua sustentando o peso de seu corpo nas próprias pernas, mantendo seu quadril a uma distância segura do meu, e o esforço que faço para não implorar para que ele chegue mais perto faz com que uma gota de suor deslize por meu pescoço. Sinto a gota deslizar devagar por minha pele, traçando seu caminho até desaparecer em meu decote, e vejo o olhar de Jimin seguir todo seu caminho atentamente, e então ele engole em seco, parando de se mover por alguns segundos.
Ergo umas de minhas pernas quase sem perceber, em uma tentativa inocente de me ajeitar na cadeira, mas logo sinto minha coxa alcançar e tocar o meio das pernas de Jimin de modo quase que superficial. O toque acaba pegando-o desprevenido, e o gemido abafado que escapa de sua boca faz com que meu coração tropece no peito. Puta merda, puta merda, puta merda. Levo uma de minhas mãos até sua nuca e enrosco meus dedos nos fios cobertos de suor de seu cabelo, porque preciso desesperadamente me agarrar a algo.
— Eu disse pra você ficar parada — Ele relembra e sua voz é uma zona de suspiros roucos e arrastados que se misturam com as palavras sussurradas.
— Des-desculpa — Gaguejo, ignorando o fato de minhas saia estar completamente fora do lugar, e repetindo mentalmente que preciso ficar parada.
Meus dedos envolvem seu cabelo com mais força, puxando os fios, e sinto ele voltar a se mover conforme o ritmo da música. Me atrevo a afastar meus olhos de sua boca e olhar em seus olhos por um momento, e me arrependo na mesma hora. Suas íris parecem um tom mais escuras, e suas pupilas estão completamente dilatadas, deixando transparecer a intensidade em seu olhar, e toda necessidade que ele sente.
Ele está fazendo o trabalho dele, ele está fazendo o trabalho dele, ele está fazendo o trabalho. Ele deve fazer isso com várias outras garotas. É só o trabalho dele, não é nada demais. Você precisa se acalmar.
Me obrigo a olhar para baixo, e assisto seu quadril chegar cada vez mais perto do meu, mas o contato nunca é completo e ele sempre se afasta antes que nossos corpos se encontrem. O calor que emana entre nós dois é sufocante e sinto os cabelos de minha nuca grudarem em minha pele e nunca em minha vida inteira senti tanta vontade de algo como sinto agora, e a certeza de que não vou conseguir aliviar nem 5% de tudo que sinto do jeito que gostaria faz meu corpo inteiro doer.
— Eu acho que… — Começo a falar mas as palavras somem assim que vejo ele afastar umas das mãos do encosto da cadeira e segurar minha cintura. De repente não faço mais a menor ideia do que acho, ou de quem sou, ou do que estou fazendo com a minha vida.
— Que devemos parar? — Ele pergunta, e a palavra parar faz com que meu cérebro forme uma série de protestos diferentes. Mas sim, devemos parar. Precisamos parar.
Me sinto incapaz de dizer que sim, então me contento com um simples concordar de cabeça. Ele imita meu gesto e respira fundo, parando novamente de rebolar contra meu corpo, e se inclinando um pouco para trás. Sem pensar, me pego deslizando a mão que até então permanecia em seu ombro por seu peito, e sinto todo seu corpo se retesar abaixo do meu toque. O que estou fazendo? Tento afastar a mão depressa mas os dedos fortes de Jimin envolvem me pulso, fazendo com que minha mão fique parada em seu lugar. Consigo sentir seu coração batendo acelerado abaixo de minha mão, e todos meus pensamentos se tornam uma bagunça assim que ele começa a deslizar minha mão para baixo, e meus dedos começam a percorrer seu abdômen por cima do tecido leve da sua regata.
Tenho total consciência de que no segundo em que minha mão finalmente alcança a barra de sua regata, e fica ridiculamente próxima de sua calça, nenhum de nós dois está respirando. Ele parece lutar contra a vontade de continuar guiando minha mão por seu corpo, e finalmente a afasta da minha, voltado a segurar o encosto da cadeira. Meu olhar continua fitando minha mão, e tento me impedir de olhar para o volume evidente que a calça escura de Jimin não é capaz de esconder. E sei que preciso colocar um fim nisso e ir embora, porque minha saúde mental realmente depende disso.
Mas tudo que consigo sentir é o calor de sua pele abaixo do tecido, e não é o suficiente. Quero culpar a bebida mas a verdade é que estou sóbria demais e que sou a única responsável por erguer a barra da regata de Jimin e finalmente deslizar a mão por baixo do tecido, sentindo sua pele suada e quente. No mesmo segundo em que meus dedos encontram seu abdômen definido, ele afunda o rosto na curva do meu pescoço, e seus dedos envolvem minha cintura com mais força. Quero fingir que não estamos arruinando nossa relação, mas nem mesmo a certeza disso me faz parar.
Seu corpo inteiro parece tenso e sua respiração ofegante e pesada acaricia a pele sensível de meu pescoço, me encorajando a continuar explorando seu corpo. Curvo meus dedos e deslizo as unhas de leve na região acima do cós de sua calça, e a reação que isso provoca em Jimin me obriga a tentar cruzar minhas pernas desesperadamente, mas não encontro espaço nenhum para isso e meus movimentos são todos desgovernados.
Sem querer estou encostando novamente em Jimin e ele está deixando que outro gemido abafado escape do fundo de sua garganta, e o som vibra contra a pele de meu pescoço me deixando extasiada. E, de verdade, foda-se. Eu preciso ouvir todos os sons que ele continua tentando silenciar sem sucesso, e assim que ele percebe que estou erguendo a perna novamente, tentando urgentemente acabar com o pouco de auto-controle que me resta, ele se antecipa e pressiona seu corpo contra o meu, finalmente empurrando seu quadril contra o meu e arruinando por completo minha tentativa de impedir que minha saia suba ainda mais.
— Noona… — A palavra sai na forma de um gemido contra meu pescoço e ele movimenta seu quadril contra o meu novamente, e o atrito entre nossos corpos é tão ridiculamente bom que tenho certeza que não vou durar nem mais um minuto.
Cada vez que ele se afasta me pego erguendo meu corpo involuntariamente e tentando desesperadamente encontrar seu quadril novamente, até que as mãos de Jimin estão envolvendo minha cintura e me empurrando com força contra o assento da cadeira, me mantendo parada. Quero resmungar uma série de protestos mas assim que seu corpo se movimenta contra o meu novamente, todas minhas palavras são substituídas pelo som abafado de meus gemidos.
— Você disse… — Ele começa a falar no pé de meu ouvido, mas sua respiração fora de ritmo o atrapalha, e o tecido de couro de sua calça deslizando por minhas coxas faz minha pele queimar — Que ia ficar parada… — E então ele joga seus quadris contra os meus novamente, e é tudo tão obsceno, e quente, e cada lufada de ar que inspiro tem o cheiro intoxicante de Jimin, o que só me deixa ainda pior. Sua boca desliza por minha mandíbula e ele apoia sua testa contra a minha. Nosso narizes se tocam e é impossível distinguir nossas respirações bagunçadas — Noona… — Ele suspira a palavra novamente, dessa vez contra minha boca, e o tom sofrido e urgente de sua voz me faz pensar em um milhão de palavrões diferentes.
Estou a um passo de mandar tudo para o inferno e avançar em direção a sua boca quando o som agudo de uma campainha nos pega de surpresa. Não faço a menor ideia do que isso significa, mas me convenço de que é um sinal enviando pelos céus e de que preciso dar ouvidos a isso e sair dali o mais depressa possível, antes que a situação fuja ainda mais do controle.
Ficamos em silêncio por algum tempo, e o único som que preenche a cabine é o volume alto de nossas respirações, que parecem longe de voltarem ao normal. Jimin se afasta devagar e a ausência de seu corpo pressionado contra o meu faz cada célula minha protestar, implorando silenciosamente para que ele se aproxime novamente.
Assim que ele se levanta e se afasta, passando as mãos pelos cabelos e tentando afastá-los de seu rosto suado, vejo que toda sua confiança anterior parece sumir, e tudo que resta é um misto de desconforto e vergonha. Mas seu olhar continua vários tons mais escuro, e seu peito continua se movendo depressa em razão de sua respiração acelerada, e tudo nele me atraí de um jeito que chega a provocar dor. Vejo seus olhos avançarem na direção de minhas pernas e ele prende o lábio inferior entre os dentes, tornando a passar uma das mãos pelos cabelos escuros.
Demoro tempo demais para lembrar que minha saia está completamente fora do lugar, deixando praticamente tudo a mostra, e demoro ainda mais tempo para conseguir arrumá-la. Me levanto depressa, determinada a dar um jeito na minha situação e a sair dali correndo, mas assim que meus pés tocam o chão sinto o mundo ao meu redor girar e minhas pernas ficarem fracas.
Em um piscar de olhos os braços de Jimin estão envolvendo minha cintura e me ajudando a ficar em pé, e minhas mãos estão encontrando apoio em seus ombros. Meu olhar busca por sua boca sem que eu perceba, e me pego umedecendo meus lábios novamente. Sinto os dedos de Jimin apertarem minha cintura com mais força, e preciso lutar contra a vontade que sinto de chegar mais perto.
Ele é meu colega de apartamento, e isso não pode acontecer. Na verdade, isso nunca passou por minha cabeça, e não faz sentido passar agora. Só estou abalada porque descobri algo que não deveria. E porque ele parece tão bem todo suado, e sem aquelas roupas todas certinhas e sua pose de estagiário… E porque o atrito entre nossos corpos é tão viciante e… não.
Jimin é só meu colega de apartamento, só isso.
E posso lidar com isso.
— Acho que precisamos conversar em casa… — Ele diz, e percebo que sua boca está a apenas uma respiração da minha, e que nossos corpos continuam próximos demais.
E.
Não.
Temos.
Intimidade.
Pra.
Isso.
— Certo — Respondo, concordando com a cabeça e me dando conta de que essa é a uma péssima ideia, porque sinto nossos narizes se tocarem novamente, e a ideia de me afastar parece errada demais.
Mas Jimin parece disposto a me ajudar, e suas mãos finalmente se afastam de meu corpo, e logo ele está abrindo a porta e deixado a passagem livre. Demoro alguns segundos para me lembrar de como caminhar, e assim que o faço saio depressa em direção ao corredor, tentando ignorar a vontade estranha que sinto que voltar para perto de Jimin e dar início a uma conversa sem palavras mas cheia de línguas e bocas ali mesmo. Tenho certeza de que assim que começo a me afastar posso ouvi-lo dizer algo, mas suas palavras não fazem sentido algum e me obrigo a seguir em frente, deixando-o para trás.
Quando encontro Yoona e Taeyon sentadas no bar, as duas já estão preparadas para irem embora e agradeço por isso, porque tudo que preciso é de um banho e do silêncio do meu quarto para organizar meus pensamentos. Elas me fazem uma centena de perguntas durante o caminho até minha casa, mas desistem de obter alguma resposta assim que percebem que não estou nada a fim de conversar.
A sensação de paz que sinto ao colocar os pés dentro do apartamento dura muito menos do que desejo. De repente o ambiente todo parece contaminado pelo perfume de Jimin, e a ideia de que logo a presença dele vai estar preenchendo cada cômodo me deixa desesperada.
Droga…
Como é que as coisas vão voltar ao normal?




Capítulo 4



Um, dois, três, quatro.
Gostaria de poder dizer que a culpa de passarmos quatro dias inteiros sem nos cruzarmos dentro de casa é exclusivamente de Jimin, mas a verdade é que a grande responsável por isso é a minha covardia. Minha rotina se resume a tomar mais banhos do que pode ser considerado normal por dia, e a ficar trancada em meu quarto o tempo inteiro. Só sinto que posso respirar em paz quando ouço a porta da frente batendo, anunciando que Jimin finalmente saiu.
Nossos dias continuam correndo da mesma maneira. Ele passa o dia inteiro fora, revezando entre a faculdade e seu estágio, e eu continuo tentando concluir a maioria dos meus trabalhos de matérias atrasadas que acabei deixando para cursar no final do semestre. Quando ele saí pela manhã, ainda estou trancada em meu quarto, fingindo dormir… E quando ele chega pela noite, também já estou de novo em meu quarto, tentando com todas as forças ignorar minha vontade de vê-lo.
Tento me convencer de que não sinto falta de nossas refeições juntos, esparramados no sofá da sala, enquanto discutimos os programas de TV. Quanto mais tento esquecer, mas me lembro de nós dois sentados na mesa da cozinha, enquanto ele tenta me ajudar com as coisas de minha faculdade, e eu tento entender os problemas de seu estágio. Agora que não posso mais me dar ao luxo de viver esses pequenos momentos, eles parecem ter adquirido uma importância completamente diferente. Quando paro para pensar, percebo que o tempo que passei com Jimin durante os últimos meses não era tão dispensável assim.
Minha saudade se mistura ao meu desejo, e tenho certeza de que estou sendo castiga por algum pecado.
É quarta-feira de tarde quando seu nome aparece na tela do meu celular e sinto uma onda de nervosismo se espalhar por todo meu corpo, atrapalhando minha respiração. Hesito antes de abrir a mensagem de texto e suspiro aliviada assim que vejo que seu conteúdo não tem nada a ver com o que aconteceu na última sexta-feira. Sim, eu sinto sua falta, mas não, eu não estou preparada para encarar o que aconteceu.
“Vou precisar passar a noite fora, então o apartamento é todo seu.”
Não é a primeira vez que ele me diz isso, mas é definitivamente a primeira vez que me pego sentindo um gosto amargo no céu da boca.
Sei que uma hora ou outra vamos ter que encarar a realidade e conversar sobre tudo que aconteceu, ou pelo menos vamos ter que aceitar que moramos sob o mesmo teto, e que vamos sim acabar nos encontrando pelo apartamento. Mas esse pensamento me assusta, e continuo convencida de que não tenho forças pra isso. Cada vez que o nome de Jimin aparece em minha mente é a imagem dele suado e completamente fora de controle que surge sem permissão, e a simples lembrança disso faz com que minha garganta fique seca.
E eu sinceramente me odeio por isso.
Como eu pude deixar isso acontecer?
Continuo tentando convencer meu cérebro de que ele continua sendo o mesmo garoto arrumadinho e quieto que sempre tenta me ajudar quando estou com problemas, mas não adianta. De repente todas minhas memórias parecem contaminadas pelo desejo doentio que sinto, e que sinceramente não sei de onde surgiu. Não tenho certeza se ele sempre esteve ali, sendo ignorado e reprimido, ou se tudo isso é culpa do modo como ele resolveu esfregar seu corpo contra o meu na sexta-feira. A única coisa que sei é que parece que estou doente, e não faço a menor ideia de como posso me livrar dessa sensação que corrói cada centímetro de meu corpo. A ideia de que cedo ou tarde vou acabar perdendo a cabeça já é quase um fato consumido, e dia após dia me pego pensando: será que é hoje que vou enlouquecer?
A verdade é que enlouqueço um pouco mais todos os dias.
Yoona e Taeyon acabaram descobrindo o motivo de eu fazer com que elas jurassem nunca mais mudar nossos planos sem me avisar, e depois disso recebo pelo menos cinco telefones diários. “Vocês já se viram?!” “Ele já foi conversar com você?” “O que você vai fazer?” “Você gostou?” “Você acha que gosta dele?” “Por que você não aceita logo que quer ele e resolve isso?” As perguntas são infinitas, mas sou incapaz de encontrar as respostas para elas.
Tenho certeza de que se não me livrar desses sentimentos logo vou acabar sendo obrigada a me mudar para o outro lado do planeta, e como meu orçamento só permite que eu vá até o outro lado da cidade, resolvo que preciso esclarecer a situação e colocar um ponto final isso. É a melhor coisa a se fazer, não é? Somos dois adultos, então tudo que precisamos fazer é sentar e conversarmos sobre o que aconteceu, e então tudo vai voltar ao normal. Não vou mais ser obrigada a tomar quatro banhos por dia, em uma tentativa desesperada de me livrar da sensação do seu toque em minha pele, e vou poder caminhar pelo apartamento sem ter medo de encontrar com ele.
E, definitivamente, não vou mais me sentir culpada por todas as vezes em que sou obrigada a me tocar pensando nele, em uma tentativa fracassada de aliviar parte do desejo que sinto.
Pela primeira vez em quatro dias me sinto verdadeiramente decidida, e aproveito meu momento de inspiração e coragem para tomar um banho longo e aproveitar minha noite livre para preparar alguma besteira para jantar e assistir algum filme na tv. Me ocupar com outras coisas vai me impedir de mudar de ideia.
Não sei a quanto tempo estou jogada no sofá da sala, vestindo apenas uma camiseta larga e velha e segurando uma panela de brigadeiro recém feito em meu colo, mas sei que minha calma é completamente interrompida no segundo em que escuto a porta da frente se abrindo. Assim que o olhar de Jimin se encontra com o meu, ele paralisa em seu lugar e a colher de brigadeiro que seguro fica parada no ar, próxima de minha boca. Uma gota do doce escorrega e respinga sobre minha coxa, e a sensação quente me faz voltar para a realidade. Deslizo o indicar sobre minha pele e o levo até a boca, lambendo o doce em um gesto infantil, mas que desperta uma lembrança não tão infantil assim.
Quando volto a olhar para Jimin, seu olhar ainda permanece congelado em mim.
Ele está vestido como de costume… A camisa social branca de sempre, e a calça preta e justa. Não demoro para perceber que os primeiros botões de sua camisa estão abertos, deixando parte de seu peito a mostra, e que as mangas longas estão dobradas até a altura de seus cotovelos, mas não há sinal nenhum da gravata. Pisco algumas vezes e volto a colocar a colher na panela, e é nessa fração de segundos em que meus olhos se afastam dos seus que percebo que sua gravata preta está enrolada em torno de sua mão, e a lembrança da venda de tecido me atinge em cheio, me deixando tonta.
Jimin fecha a porta atrás de si e ajeita os óculos redondos em seu rosto, e apesar de eu já ter visto essa cena um centena de vezes, tudo parece novo e diferente agora. Vejo seu olhar voltar para meu corpo e tento puxar a barra da camisa branca para baixo, em uma tentativa inútil de cobrir minhas pernas, mas o estrago já está feito e toda confiança que eu sentia cinco minutos atrás se transformou em um misto de ansiedade e saudade.
O modo como ele me olha me deixa nervosa.
O modo como sua respiração parece se tornar mais pesada a cada segundo me deixa nervosa.
O modo como ele aperta a gravata em torno de seus dedos me deixa nervosa.
O modo como eu o desejo me deixa nervosa.
Puta merda, por que estou sentindo saudades da sensação do toque dele? Isso é absurdo.
— Achei que você fosse passar a noite fora — Minhas palavras escapam sem permissão, em uma tentativa de quebrar o silêncio, e o som parece o trazer de novo para realidade, e ele volta a erguer o olhar, engolindo em seco.
— Precisava resolver algumas coisas, mas acabei mais cedo do que imaginei — Ele responde e o vejo apertar a gravata com ainda mais força, até que os nós de seus dedos se tornem esbranquiçados.
Ele precisava resolver algumas coisas no estágio, ou em outro lugar? Ele também trabalha as quartas-feiras? Será que ele tinha clientes agendadas? Não, não, não. Isso não me interessa. Isso não muda nada. Estou imersa em pensamentos quando escuto um som estranho de gemidos escapar da tv e desvio meu olhar para a tela para perceber que o casal do filme resolveu que essa seria uma hora interessante para resolverem descontar toda frustração sexual um no outro. Droga.
Busco pelo controle depressa e mudo de canal, e quando volto a olhar para Jimin tenho certeza que suas bochechas estão mais coradas do que o normal.
— Eu achei que você não viesse, então não fiz nada… Mas sobrou um pouco de brigadeiro — Falo indicando a panela que agora repousa sobre a mesa de centro, mas tenho certeza de que seu olhar traça outra direção, indo parar em minhas coxas.
O gesto dura apenas uma fração de segundos, mas é o suficiente para que uma imagem dele se ajoelhando entre minhas pernas e limpando os rastros do doce de minha pele com sua língua se forme em minha mente. Eu preciso urgentemente parar com isso.
O momento passa e o vejo respirar fundo, como se estivesse tentando se acalmar, e então o canto de seus lábios se curva um sorriso gentil e que já conheço de cor. Pela primeira vez na noite tenho a esperança de que as coisas voltem ao normal, mas a sensação logo é arruinada.
— Obrigado, noona… — Assim que a palavra inocente e tão usada por ele escapa de sua boca, sinto um rastro de fagulhas percorrer minha espinha, e vejo Jimin prender a respiração, como se tivesse sido atingido pelas mesmas lembranças que eu.
A sensação de sua boca em meu pescoço, gemendo essa mesma palavra de forma tão suja e urgente, faz meu coração saltar dentro do peito e tenho certeza de que se eu continuar parada ali vou acabar fazendo alguma loucura. Salto do sofá depressa e começo a caminhar em direção aos quartos, odiando ter que passar ao lado de Jimin. Foda-se meu planos de resolver as coisas. Eu só preciso de outro banho pra resolver um problema mais urgente.
— Acho que vou dormir, boa noi… — A frase engasga no fundo da minha garganta assim que passo por ele e sinto seus dedos se fecharem em torno de meu pulso, me obrigando a parar e fazendo com que meu corpo gire em sua direção, até que estou parada em sua frente.
— Eu quero conversar sobre o que aconteceu — Sua voz está uma oitava mais baixa, e a sensação de formigamento que seus dedos causam em minha pele atrapalha minha racionalidade — O que aconteceu na sexta-feira…
— Não significou nada — Eu o interrompo, e tenho certeza de que alguma coisa em seu rosto parece se partir, mas não consigo decifrar sua expressar. Ele mantém os lábios pressionados em uma linha fina, e me olha com o mesmo olhar intenso e misterioso de dias atrás — Você só estava fazendo o seu trabalho, não é?
E me odeio por esperar que sua resposta seja que não. Que aquilo não tinha nada a ver com trabalho, e que todas suas noites de sono também estão sendo arruinadas por causa da lembrança de nossos corpos se movendo juntos. A culpa que sinto por ter descoberto seu segredo se mistura com a culpa que sinto por desejar que as coisas entre nós mudem para melhor, e não sei se devo confessar de uma vez que sou uma péssima pessoa por fantasiar com ele vinte e quatro horas por dia, ou se devo apenas calar a boca e me obrigar a voltar ao normal.
— É, você tem razão — Me sinto ridícula ao perceber que suas palavras me deixam arrasada, e fico ainda pior quando seus dedos finalmente se afastam de meu pulso, acabando com a única ligação entre nossos corpos — Sinto muito por ter estragado as coisas — E a voz de Jimin parece distante e fria, e a seriedade em seu rosto me atormenta.
— Não foi culpa sua — Tento soar o mais sincera possível, porque a culpa realmente não é dele — Acho melhor ignorarmos aquilo e voltarmos ao normal… — Vejo Jimin concordar e exibir um sorriso forçado, que não combina nada com ele.
E então ele se afasta e ouço a porta de seu quarto bater.
Tomo dois banhos depois disso, mas meu corpo inteiro ainda parece intoxicado por seu toque.

***


Na manhã seguinte nos encontramos na cozinha, durante o café da manhã. Tento soar o mais tranquila o possível quando digo bom dia, mas minhas palavras parecem erradas e forçadas.
— Como vai o trabalho? — Pergunto entre um gole de café e outro e vejo Jimin erguer o olhar de sua caneca para me fitar.
— Qual deles? — Ele pergunta sério e demoro para entender o que ele quer dizer. Sinto meu rosto esquentar e preciso desviar o olhar depressa, porque olhar para ele, sabendo que não posso tocá-lo, se tornou insuportável.
— O estágio… — Respondo.
— Chato como sempre — Jimin responde depressa, e sinto vontade de me esganar assim que as próximas palavras escapam sem permissão de minha boca.
— E o outro? — Dessa vez ele hesita, e tenho certeza que vejo seus dedos apertarem a caneca por um segundo, antes de se afrouxarem novamente.
— Já esteve melhor — Sua resposta faz meus nervos se contorcerem e tento encher minha boca de café para não falar mais nada — Preciso ir.
E então ele saí depressa, deixado o restante de seu café da manhã intocado sobre a mesa.

***


Ele não volta para casa essa noite, e não manda mensagem nenhuma. Desisto de esperar pelo som da porta da frente se abrindo, e acabo adormecendo quando já são quase três da manhã.
Eu sonho com seu cheiro, com seu toque, com seu corpo sendo pressionado conta o meu. Sua voz em meu ouvido me falando uma série de frases incoerentes e sujas me faz acordar com a respiração acelerada, e com lençóis revirados.
Não consigo voltar a dormir depois disso e, dessa vez, sonho acordada.

***


Na sexta-feira chego da faculdade e o encontro na cozinha, lavando a louça acumulada. Ele veste um jeas claro e rasgato, e uma regata preta larga e com as laterais abertas, o que deixa praticamente todos seus músculos a mostra. A imagem é um tormento. Assim que percebe minha aproximação, ele me cumprimenta com um sorriso curto e volta a dar atenção para os pratos sujos, e suspiro derrotada.
Tomo um banho rápido e estou saindo do quarto quando ouço a porta da frente sendo fechada.
Não preciso pensar demais para lembrar como suas noites de sexta-feiras são ocupadas.
Volto para dentro do quarto e me afundo entre meus cobertores, implorando para que o sono chegue logo.
E ele chega... Mas traz uma série de sonhos de novo.

***


É quase uma da tarde quando ele aparece no sábado, vestindo a mesma roupa do dia anterior, e com os cabelos em total desordem. Seus olhos estão cansados e seus lábios parecem mais avermelhados do que o normal. Não demora para que eu repare nas marcas vermelhas de arranhões em seu pescoço.
O que ele faz ou deixa de fazer não tem nada a ver comigo. Repito como se fosse um mantra, e tento me convencer dessas palavras, mas continuo cravando as unhas em minhas próprias mãos. O gosto do ciúme se parece com veneno.
— Bom dia — Ele diz assim que percebe minha presença na sala. Sua voz embargada e arrastada deixa claro que ele está enfrentando uma ressaca.
— Tarde — Respondo com a voz baixa, e percebo seu olhar confuso recair sobre o meu. Ele se senta sobre o braço do sofá e continua me encarando com o cenho franzido e o pescoço levemente inclinado para o lado. Isso é o mais próximo que ficamos desde o dia em que conversamos sobre o que aconteceu, e o pensamento me deixa inquieta — Já é de tarde, Jimin.
— Você ficou me esperando? — A pergunta me pega de surpresa e vejo ele endireitar a postura, como se estivesse tentando prestar atenção em minha resposta.
— Não… — Respondo da boca pra fora, me forçando a olhar para longe das marcas vermelhas em seu pescoço.
— Então você não vai se importar se eu não voltar pra casa hoje também? — E a maneira como ele me olha me faz querer responder que sim, que vou me importar. Mas isso não faz parte da nossa relação, e me pego balançando a cabeça negativamente. Ouço um suspiro baixo escapar de sua boca e ele se levanta do sofá preguiçosamente, dando as costas para mim e seguindo na direção de seu quarto.

***


Três dias se passam sem novos encontros.
Só sei dizer quando ele está em casa porque ele parece ter adquirido meu péssimo hábito de tomar vários banhos por dia.
Durante a noite, tenho certeza que consigo ouvir seus gemidos abafados e roucos invadirem meu quarto, e chego a conclusão de que minha imaginação passou dos limites.
E é isso, estou realmente ficando louca.

***


Na segunda-feira, um amigo da faculdade aparece em casa para terminarmos um trabalho juntos, e resolve ficar para assistir um filme depois. Estamos sentados no sofá, dividindo uma bacia de pipoca e tentando, sem sucesso, controlar um ataque de riso. Estou com o rosto afundado na curva do pescoço de Yoongi enquanto ele insiste em fazer cócegas em minha barriga, tentando provar seu ponto de que sou a pessoa mais sensível que ele já conheceu.
Meus pulmões imploram por um descanso para poderem respirar direito, mas nem mesmo meus protestos o fazem parar, e logo estou sendo obrigada a deitar no sofá para me afastar de suas mãos. Não demora para que ele esteja avançando em minha direção novamente, voltando a me fazer soltar uma série de gritinhos agudos e desesperados. Suas mãos só param de se mover sobre meu corpo quando o som da porta da frente chama nossa atenção, e meu riso morre por completo assim que vejo Jimin paralisar ao abrir a porta e dar de frente com nós dois.
Yoongi se afasta depressa de mim, e tenho certeza de que isso só faz com que a cena pareça ainda mais errada.
Jimin finalmente fecha a porta atrás de si e, sem dizer nada, desaparece para dentro de seu quarto, e tenho certeza de que escuto o som de alguma coisa sendo quebrada.

***


Quase uma semana inteira se passa e Jimin permanece me ignorando. Agora nossos bom-dias e boa-noites se resumem a breves acenos, e a situação toda é completamente fodida e sinto que não vou suportar nem mesmo mais um segundo dessa maldita tensão. Passo a madrugada inteira de sábado rolando de um lado para o outro na cama, repassando mentalmente tudo que preciso falar para ele, mas todo meu esforço se esvai assim que ouço o som da porta denunciar sua chegada.
Penso em saltar da cama e ir atrás dele no mesmo segundo, mas respiro fundo e tento reunir toda minha coragem. Os segundos se arrastam e me engolem, e luto contra a vontade de deixar tudo como está.
Mas estou cansada demais de tudo, e preciso arruma as coisas.
Escuto o barulho do chuveiro sendo ligado e espero pacientemente até que o barulho da água cesse por completo e, antes que tenha tempo de pensar demais e me arrepender, saio do quarto ao mesmo tempo em que Jimin resolve sair do banheiro.
A imagem que encontro é o bastante para que eu tenha certeza de que o universo está tentando arruinar todos meus planos.
Droga.




Capítulo 5



Só percebo que estou encarando Jimin a mais tempo do que poderia ser considerado normal quando ele limpa a garganta e o som arranhado me faz voltar para realidade. Engulo a seco e tento manter meus olhos na altura de seu rosto, mas falho miseravelmente. Meu olhar percorre todo seu corpo, se demorando em sua calça de moletom cinza, velha e desbotada, que deixa todo o restante de seu corpo exposto. O elástico desgastado faz com que o moletom repouse abaixo dos ossos de seu quadril, e me obrigo a erguer o olhar antes que meu coração se perca ainda mais em seu próprio ritmo. A toalha branca que ele antes segurava na altura de sua cabeça, para secar os fios molhados de seu cabelo, agora está jogada sobre um de seus ombros. Algumas gotas de água ainda escorrem por sua pele, deslizando por seu abdômen definido e desaparecendo no cós de sua calça, e minha vontade é de secar elas usando minha língua, e isso é tão, tão errado.
Cogito a ideia e voltar para dentro do quarto e continuar trancada ali pelo resto do mês, porque esse é o único jeito de ficar segura. Tudo que envolve Jimin indica perigo, e qualquer chance de contato com ele parece impossível de ser feita sem que todo meu corpo resolva trabalhar por conta própria, contra mim, e me deixando inquieta. Mas é evidente que perdi todo o controle sobre minhas pernas, e não consigo me mover, e a atmosfera que se forma em torno de nós parece me engolir por inteira, tomando conta de mim. Sua presença me sufoca e deixa minha boca seca, e cada vez mais a ideia de que Jimin é o único capaz de matar minha sede se parece verdadeira.
Sem dizer nada, o vejo soltar um suspiro longo e arrastado antes de se virar em direção a seu quarto e começar a caminhar devagar pelo corredor, e sinto uma onda de desespero percorrer meu corpo. Não quero que ele se afaste. Não quero passar nem mesmo mais um segundo com toda essa situação estranha atrapalhando minhas noites de sono e minha sanidade. Quero gritar e implorar para que voltemos ao normal, mas também quero cair de joelhos aos seus pés e pedir, por favor, pra que ele me foda de uma vez e acabe com o meu tormento.
Precisamos colocar um ponto final nisso, e precisamos fazer isso hoje.
Chamo por seu nome e não consigo nem mesmo me importar com o tanto de desespero que deixo transparecer em meu timbre trêmulo. Jimin hesita, mas finalmente assisto em silêncio enquanto ele para e olhar para trás, com o maxilar pressionado e tenso. Sua expressão vazia me faz cravar as unhas nas palmas de minhas mãos suadas.
— Você precisa de algo? — Ele pergunta, e por um segundo tenho certeza de que a única resposta que posso dar é me jogar em seus braços e deixar claro que preciso dele. Mas minha covardia parece centenas de vezes maior que minha coragem, e continuo em meu lugar.
— A gente precisa conversar — Digo depois de algum tempo, e o vejo assentir… É agora. Tenho certeza de que é agora que vamos finalmente conversar sobre tudo que aconteceu, e vou conseguir me livrar de tudo que mantive engasgado durante semanas. Quero agradecer por isso estar acontecendo, mas a voz de Jimin interrompe meu fluxo de pensamento, e suas palavras me atingem em cheio, provocando uma dor excruciante em meu peito.
— Eu vou me mudar.
Eu vou me mudar.
Eu vou me mudar.
Eu vou me mudar.
As palavras continuam ecoando dentro de minha cabeça e não fazem sentido algum. O som é apenas uma misturas de notas sem começo, meio e fim. Como assim ele vai se mudar? Não, ele não pode se mudar. Nós vivemos juntos já fazem quatro meses, e nunca nada deu errado. Ok, talvez algo tenha dado errado durante aquela maldita noite, mas isso não quer dizer que ele tenha que se mudar… Que droga, como ele pode pensar em fazer isso?! Isso não faz parte do plano!
Por algum motivo, a ideia do apartamento vazio faz com que um aperto intenso e doloroso se espalhe por meu peito e preciso me apoiar contra o batente da porta para tentar me manter estável. Quero me enganar e fingir que está tudo bem, mas a verdade é que tudo parece estar desmoronando sobre mim. É culpa minha ter descoberto algo que não era para eu saber, então sou eu quem deveria procurar um lugar novo pra morar, não é? Fui eu quem estraguei tudo deixando meu desejo ridículo por Jimin tornar as coisas entre nós estranhas e desconfortáveis. Eu deveria ter ido embora no segundo em que o reconheci em cima daquele palco.
Eu deveria ter feito tantas coisas.
Ainda estou imersa em meus próprios pensamentos quando vejo Jimin baixar o olhar, parecendo derrotado, e voltar a caminhar pelo corredor. Me deixando para trás. Não demora para que ele desapareça para dentro de seu quarto, fechando a porta atrás de si e me deixando sozinha. O universo parece estar rindo de minha cara, me fazendo perceber que demorei demais para fazer algo, e que agora talvez seja tarde demais.
O caminho mais fácil seria voltar para dentro do meu quarto e me esconder embaixo das cobertas de novo, até que a situação se resolva sozinha. Porque é nisso que sou boa, e é com isso que estou acostumada… Fugir de tudo se tornou a resposta para todos os problemas em minha vida, e por um segundo tenho certeza de que essa é a única saída possível. Mas a ideia de ver Jimin ir embora, sem tentar impedi-lo, parece esmagar todos meus medos e, sem perceber, estou avançando em direção a seu quarto e abrindo a porta sem bater.
Não temos toda essa intimidade.
Eu nunca entrei no quarto dele.
Não assim.
E, mesmo com isso em mente, não consigo me importar. Meus pés me guiam para dentro e bato a porta atrás de mim, me encostando contra a madeira escura e vendo o olhar surpreso de Jimin pairar sobre o meu. Não demora para que eu perceba a mala aberta ao lado da cama, com algumas roupas jogadas dentro dela. Sem saber o que estou fazendo, caminho até a mala e começo a pegar suas camisas, caminhando até seu armário aberto e jogando-as lá dentro.
A verdade é que me sinto ridícula, mas a ideia de continuar parada e em silêncio parece assustadora demais. Volto para perto da mala e tento pegar o restante de suas roupas, mas os braços de Jimin se fecham em torno de minha cintura e e ele me puxa para longe da mala, de maneira brusca, fazendo com que eu perca meu equilíbrio e seja obrigada a me segurar em seus braços.
O contato entre nossos corpos, depois de semanas, é o suficiente para que eu sinta o ar sendo roubado de meus pulmões, e o desejo que sinto por ele começa a borbulhar em minhas veias, contaminando minha corrente sanguínea e meus pensamentos.
— O que você tá fazendo? — Ele pergunta sério, suas palavras escapando por seus dentes cerrados. Sua boca parece tão próxima da minha, e a imagem é tão dolorosa que preciso manter meus olhos na altura de seu pescoço. Seus dedos apertam minha cintura com força, e tenho certeza de que ele vai acabar deixando marcas em minha pele.
— Você não precisa se mudar, Jimin… — Limpo a garganta, me obrigando a pronunciar as palavras seguintes com clareza — A culpa não é sua, é toda minha… — Digo depressa, incapaz de erguer o olhar para fitar seus olhos — Fui eu quem estraguei tudo! Eu disse que a gente devia voltar ao normal e continuei te ignorando e deixando as coisas ficarem estranhas entre nós…
Quero falar muito mais, mas a sensação de que vou acabar estragando ainda mais as coisas me invade e resolvo me calar. Tenho certeza de que ouço um riso baixo e triste escapar pelos lábios de Jimin e ergo o olhar para fitar seu rosto, mas ele continua sério. A expressão que encontro é indecifrável, mas tenho certeza de que nunca o vi tão abatido antes. Uma de suas mãos se afasta de minha cintura e vai parar em meu braço, e posso sentir seu polegar acariciar minha pele, me provocando um arrepio.
— Você acha mesmo que a culpa é sua? — Sua voz é baixa e calma, mas o olhar em seu rosto é completamente diferente. Nada em seu corpo exala calma ou tranquilidade. A verdade é que parecemos duas bombas relógio, tentando descobrir quem aguentará mais tempo antes de explodir e estragar tudo que está ao redor. Volto a me concentrar em suas palavras e afirmo que sim, balançando a cabeça, e ele finalmente afasta suas mãos de mim, dando alguns passos em cego para trás e se sentando na beirada de sua cama de solteiro, coberta por uma dezena de roupas. A falta de contato me machuca e preciso controlar a vontade de caminhar até ele. Antes de voltar a falar, ele desliza os dedos pelos fios molhados de cabelo e suspira novamente — A culpa não é sua… Eu não devia ter escondido nada de você, e não devia ter feito você passar por aquilo… Você tem todos os motivos do mundo pra não querer olhar mais na minha cara, e eu entendo isso.
Se ele soubesse que minha vontade é de poder olhar em sua cara vinte e quatro horas por dias…
Suas palavras firmes e seguras parecem ter sido ensaiadas, e apesar de toda certeza por trás delas, a expressão em seu rosto parece dizer outra coisa. A intensidade de seu olhar sobre o meu me faz duvidar de que ele realmente entende algo, porque eu mesma me sinto incapaz de entender tudo o que aquele encontro provocou. Por mais que eu procure, não consigo encontrar as palavras que possam explicar como a sensação de tê-lo tão perto, de modo tão íntimo, fez com que todo meu mundo virasse de cabeça para baixo. Mas ele parece tão arrasado, e tento pensar em alguma forma de tornar as coisas mais leves.
— Você só fez o seu trabalho… — Falo novamente, porque, na verdade, não tenho ideia do que dizer para tornar as coisas mais fáceis. Jimin me encara seriamente e inclina o pescoço levemente para o lado, parecendo me analisar mais profundamente.
— Você acredita mesmo nisso? — Sinto um rastro de fogo se alastrar por meu corpo novamente, e tenho certeza de que esse não é o rumo que nossa conversa deveria tomar — Você acha mesmo que ficar duro daquele jeito, e gozar gemendo seu nome, faz parte do meu trabalho?
Suas palavras me pegam de surpresa, me atingindo em cheio, e sinto todo meu sangue ir parar minhas bochechas, me fazendo corar. Minhas pernas parecem se transformar em geleia e dou um passo curto para trás, agradecendo por logo encontrar a porta e poder me apoiar contra algo. Ele inclina o tronco para frente e apoia os antebraços nas coxas, ainda me fitando, como se eu fosse alguma espécie de ímã o atraindo. O brilho feroz por trás de suas íris me faz prender a respiração de modo involuntário.
— Você sabe como eu me senti sujo quando você foi embora? Como eu precisei foder a primeira garota que encontrei pra tentar me livrar da vontade doentia de voltar pra casa e fazer isso com você? — As palavras continuam a escapar por sua boca e, pela primeira vez, ele parece ter deixado parte de seu controle de lado — Você acha mesmo que faz parte do meu trabalho ter que me tocar toda noite, desejando que fosse a sua boca no lugar da minha mão? — Um grunhido abafado escapa de sua garganta ao final da frase, e o som envia um rastro de calor diretamente para o meio de minhas pernas, me fazendo reprimir um choramingo.
O pensamento de Jimin se masturbando, a menos de dez passos de meu quarto, enquanto pensa em mim, me enfraquece por completo. A recordação do som de gemidos no meio da noite surge em minha mente e a certeza de que eu não estava enlouquecendo faz meu estômago se agitar. Tenho certeza de que a única coisa que me impede de avançar em sua direção e cair de joelhos em sua frente, para transformar seu desejo em realidade, é o choque que sinto e que me mantém paralisada.
Porra…
Quero implorar para que ele não fale mais nada, mas a minha racionalidade, já não tão racional assim, se parece com uma brisa leve de fim de tarde se comparada ao meu desejo, que me atinge com a fúria de uma tempestade.
— Se você soubesse como eu precisava… Como eu preciso — Ele se corrige, baixando o olhar para as próprias mãos por um momento — Me trancar toda noite pra não acabar fazendo uma loucura — Ele acrescenta, em tom de confissão. Sua voz parece conter um misto de vergonha e desespero, mas o desejo é tão, tão evidente.
Meus pensamentos são uma desordem total, e não consigo focar em nada que não sejam as confissões que Jimin deixa escapar em um tom de voz rouco e arrastado. Fico indecisa entre acabar com a distância que separa nossos corpos ou dizer que entendo tudo que ele está dizendo, porque me sinto da mesma forma. Mas a surpresa que sinto ao ouvir cada palavra sua me mantém imóvel, e meu silêncio parece um incentivo para que Jimin continue falando.
— Meu trabalho era te levar até aquela sala e te dar uma dança privada… Você sabe que não foi isso que eu fiz… — Ele parece frustrado consigo mesmo, e o vejo esconder o rosto atrás das mãos. Não preciso prestar muita atenção para perceber que sua calça de moletom parece ter se tornado mais apertada.
— Isso não significa que você precisa se mudar — Finalmente consigo dizer e Jimin volta a me encarar, com o rosto tão tenso quanto antes. Suas mãos se fecham em torno do tecido de sua calça cinzenta e ele endireita sua postura na cama, e por um segundo penso que ele vai se levantar e avançar em minha direção, mas ele permanece sentado.
— Você não consegue entender? Eu não posso ficar perto de você, noona… — De novo, uma corrente de lembranças invade minha mente sem permissão e tenho certeza de que o mesmo acontece com Jimin, a julgar pelo modo como ele prende o lábio inferior entre os dentes, mordiscando-o com força. Quando volta a falar, suas palavras saem atropeladas — Se eu continuar aqui mais um dia, sem poder te tocar, eu acho que vou enlouquecer…
A frustração em sua voz é evidente e chega a ser doentio o quanto suas palavras conseguem expressar tudo que sinto. Já fazem semanas desde que estivemos tão perto, e não faço ideia de que como aguentei me manter longe dele por tanto tempo. Cada pedaço de meu corpo parece gritar implorando pelo toque quente de Jimin e estou cansada demais para pensar em tudo que pode dar errado se eu deixar o pouco que me resta de sanidade de lado, e dar ouvidos ao que sinto. Engulo a seco pelo que parece ser a centésima vez desde que entrei em seu quarto, e finalmente consigo reencontrar minha voz.
- E quem disse que você não pode?




Capítulo 6



Minhas palavras parecem pegá-lo de surpresa e tenho certeza de que o vejo prender a respiração por alguns segundos. Quando ele deixa o ar escapar por sua boca, de uma só vez, aproveita para correr os dedos pelos fios ainda úmidos de seu cabelo negro, como sempre faz quando está nervoso. Percebo que talvez eu saiba mais sobre Jimin do que imagino. Quando foi que acabei decorando todos seus pequenos gestos e o significado por trás deles?
A ideia de que minha presença também o deixa ansioso e apreensivo faz com que eu sinta minha autoestima e segurança aumentarem, e saber que tenho alguma espécie de poder sobre Jimin me deixa embriagada. Me convenço de que é isso que faz com que eu encontre a coragem necessária para caminhar em sua direção.
No segundo em que meus pés começam a se mover, sei que não vou ser mais capaz de impedir o que está prestes a acontecer, e a verdade é que não quero parar. Tento manter meus passos firmes e calmos, apesar de meu nervosismo, e fico orgulhosa ao perceber que consigo me manter inteira até parar em sua frente, no meio de suas pernas abertas. Ele tomba a cabeça para trás para poder me olhar, e o vejo cravar as unhas nas próprias pernas, como se estivesse lutando contra sua vontade de me tocar, quando tudo que quero é que ele faça exatamente isso. Preciso que ele faça isso.
— O que você está fazendo? — Sua voz trêmula desencadeia outra série de fagulhas que deslizam por todo meu corpo, e quero engolir cada palavra engasgada que escapa de sua boca com a minha própria. Tudo em Jimin é convidativo, e quero me perder em cada detalhe seu.
— Você nunca chegou a responder… — Digo, ignorando sua pergunta e me controlando para manter minhas mãos afastadas de seu corpo, porque tenho total consciência de que no segundo em que eu acabar com a pouca distância que nos separa, vou ser incapaz de produzir frases coerentes. Vejo uma sombra de confusão cruzar seu rosto, e ele desvia seu olhar para baixo, acabando com o contato visual antes de voltar a falar.
— Qual era a pergunta?
— Você me perguntou se eu queria que você dissesse que sente muito… — Relembro, me aproveitando de sua aparente distração para apoiar um dos joelhos no espaço vago do colchão entre suas pernas. O movimento, que chama sua atenção, faz com que o tecido leve de minha camisola de algodão suba minimamente, e logo vejo o olhar escuro de Jimin explorando minha pele exposta. Levo umas de minhas mãos até seu rosto, obrigando-o a olhar para mim — Você sente? — Pergunto abaixando o volume de minha voz, percebendo que ele arrasta os dedos para perto de minha perna, mas para de movê-los quando eles estão a apenas centímetros de me tocar.
Uma tortura.
— Você quer saber se sinto muito pelo que aconteceu naquela sexta feira? — Seu timbre baixo me faz reprimir um gemido, e me contento em mover a cabeça em um sinal afirmativo — Não… — Ele responde de imediato, sem nem precisar pensar a respeito da pergunta — Você quer saber se sinto muito por não ter vindo atrás de você naquela mesma noite? Sim.
— Então, por que é que você não está me tocando ainda, Jimin? — Questiono com impaciência, e juro ouvir um palavrão baixo escorregar por seus lábios partidos. Ele hesita, como se estivesse tentando se convencer de que estou realmente falando sério, e resolvo que talvez ele precise de um incentivo a mais.
Ergo a perna que permanece apoiada no chão e me sento em uma das coxas de Jimin, sentindo seus músculos enrijecerem de imediato. O calor de seu corpo irradia para o meio de minhas pernas e sinto vergonha de como minha calcinha já está completamente arruinada, sem ele nem mesmo ter me tocado ainda. Envolvo seu pescoço com minhas mãos e inclino meu corpo para frente, resistindo ao impulso quase que primitivo que implora para que eu me esfregue em sua coxa, em busca de alguma forma de satisfação. Deslizo a ponta de meu nariz pela lateral de seu pescoço, inspirando o cheiro suave de sabonete que se desprende de sua pele, e levo minha boca até seu ouvido.
— Você acha mesmo que foi o único que precisou tentar se satisfazer sozinho? — Confesso, sentindo minha vergonha fazer com que meu rosto esquente, e minhas bochechas devem estar tão vermelhas quanto o esmalte de minhas unhas. O calor, porém, nem se compara ao que sinto na região onde meu corpo e o de Jimin permanecem grudados. Um grunhido abafado escapa da boca dele e sinto o músculo de sua coxa se contrair, e sem pensar me movo devagar para frente, segurando em seus ombros em busca de apoio. Sua pele é tão quente quanto brasa, e no instante em que suas mãos finalmente alcançam minha cintura, com urgência e possessividade, tenho certeza de que eu não me importaria em me desfazer em cinzas com seus toques.
— Você está tentando me dizer que enquanto eu estava aqui, me masturbando pra tentar te tirar da cabeça — Ele interrompe a frase por um segundo quando cravo minhas unhas em seus ombros, afetada com sua fala, e só parece reencontrar suas palavras quando afasto o rosto da curva de seu pescoço e volto a olhá-lo nos olhos — Você estava no quarto do lado, fazendo a mesma coisa?
— E pensando em você — Completo, e dessa vez é ele quem afunda no rosto no espaço entre meu pescoço e meu ombro. Sua respiração acelerada e pesada acaricia minha pele, e suas mãos permanecem firmes em minha cintura. Não sei se ele está me ajudando a me mover sobre sua perna de maneira consciente ou não, mas o atrito entre a barreira de roupas existente entre nossos corpos é uma tortura que começa a provocar um misto de sensações conhecidas. Dor, prazer, alívio, desespero. Não consigo encontrar palavras que descrevam o que a proximidade com Jimin me faz sentir. Sinto que todo o restante de meu corpo se torna cada vez mais tenso, e o fato de Jimin ficar contraindo e relaxando o músculo de sua coxa, de maneira descaradamente proposital, não está ajudando.
— Isso é bom demais pra ser verdade — Suas palavras não passam de um sussurro contra meu pescoço, e seus lábios reverberam em minha pele febril quando ele fala, me provocando um arrepio gostoso. Ele continua me ajudando a me movimentar contra sua coxa, mas nosso ritmo é exageradamente lento e preciso de mais.
— O que você quer que eu faça pra você acreditar em mim? — Pergunto, afastando as mãos de seus ombros e puxando seu rosto para que eu possa voltar a fitá-lo. Seus olhos escuros de desejo me fazem lembrar do Jimin dançarino, destemido e seguro de si mesmo. Mas, o rubor quente de suas bochechas e o lábio inferior preso entre os dentes, me fazem ter certeza de que é meu colega de apartamento reservado e gentil quem está aqui. Ou, na verdade, um misto dos dois. Ele afasta uma de suas mãos de minha cintura e a sobe por minhas costas, até que seus dedos estão deslizando por minha nuca e se enroscando em meus fios de cabelo.
Seu olhar se afasta do meu e paira sobre minha boca, e não preciso que Jimin coloque sua resposta em palavras. Não demoro para acabar com a distância e com todas as inseguranças e medos que nos mantém afastados, e logo minha boca está se chocando contra a dele e engolindo o gemido baixo e surpreso que ele deixa escapar. No segundo em que seus lábios se movem contra os meus, todos meus pensamentos desaparecem e não consigo pensar em nada que não seja o sabor doce da boca de Jimin. A língua dele desliza por meu lábio inferior e logo está encontrando a minha, e travamos uma batalha silenciosa em busca de controle. Seu beijo é quente, intenso, e nosso desespero por mais parece se completar de maneira perfeita.
Meus dentes mordiscam seu lábio inferior e sinto os dedos dele se fecharem com mais força em torno de meu cabelo, forçando minha boca contra a sua. Me movo sobre sua coxa novamente, grudando nossos corpos, e Jimin ergue a perna apenas o suficiente para que a pressão de sua coxa contra minha intimidade seja intensificada, me obrigando a soltar um gemido abafado contra seus lábios. Sinto sua língua tocar o céu de minha boca e tenho certeza de que ele está sorrindo no meio do beijo, o que só faz com que eu fique ainda mais entregue.
Ele volta a erguer sua perna uma segunda vez,, como se estivesse tentando arrancar mais gemidos meus, mas dessa vez apoio minhas mãos em seus ombros e o empurro sobre o colchão, permanecendo sentada em seu colo. Sua respiração pesada e entrecortada escapa por seus lábios entreabertos e castigados por meus dentes, e seus olhos continuam fixos sobre os meus. Deslizo minhas mãos por seus ombros, subindo e descendo elas por seu peito, e ele permanece imóvel sob meu toque, enquanto uma de suas mãos repousa sobre a lateral de minha coxa, e a outra está afastando os fios molhados de cabelo de seu rosto. Minhas unhas escorregam por seu tórax, deixando faixas avermelhadas ao longo de seu peito, e o vejo morder o lábio com força para reprimir um gemido que tenta escapar.
Sinto sua mão passear por minha coxa até que seus dedos encontram a barra de minha camisola e se enrolam no tecido, brincando com ele. Ele se apoia sobre a mão livre e se inclina levemente para a frente, testando erguer o tecido de minha camisola e parecendo estudar minha reação enquanto faz isso. Ele continua a puxar o material de algodão para cima e a se aproximar cada vez mais, ficando praticamente sentado novamente, sua boca próxima da minha outra vez. Sua mão só para de se mover quando o tecido está enrolado na altura de meu quadril, deixando minha calcinha a mostra. Jimin ignora o tecido e desliza a ponta dos dedos pelo elástico de minha lingerie, desde a lateral até o centro, e o contato de seus dedos contra minha pele faz com que seja minha vez de morder o lábio para reprimir os gemidos teimosos que se formam no fundo de minha garganta.
Ele abre a mão e sinto sua palma quente pressionar levemente a região abaixo de meu umbigo, por baixo do tecido da camisola, enquanto seu polegar se arrasta para dentro de minha calcinha, finalmente me tocando. Jogo a cabeça para trás e fecho os olhos quando sinto seu dedo se mover sobre minha intimidade, de maneira lenta e superficial. Volto a apoiar as mãos em seus ombros, sentindo minhas pernas virarem geleia em razão de seu toque preciso e quente.
— Eu ainda não fiz nada e você já está uma bagunça… — Sua voz arranhada me faz pressionar o corpo de modo involuntário contra o dele, implorando por mais, mas todos meus pedidos silenciosos são negados quando ele afasta sua mão e volta a agarrar o tecido de minha camisola, me puxado contra si e fazendo com que voltemos a nos deitar na cama, sobre as roupas esquecidas ali — Era assim que você ficava enquanto se tocava pensando em mim? — Ele pergunta contra minha boca, e a única resposta que consigo dar é voltar a beijá-lo, enterrando meus dedos em seus cabelos negros e úmidos.
Seus dentes agarram meu lábio com força e choramingo contra sua boca, empurrando meu quadril contra o seu em uma tentativa desesperada de tentar saciar a vontade que sinto de ter Jimin dentro de mim. Suas mãos agarram a parte de trás de minhas coxas, e suas unhas curtas arranham minha pele. Sou obrigada a interromper nosso beijo buscando por ar e afundo o rosto na curva de seu pescoço. A sensação do calor do seu corpo contra minha boca me faz gritar por dentro.
Aproveito para beijar seu ombro e passar a língua pela região abaixo de sua orelha, ouvindo-o resmungar algo que não entendo enquanto uma de suas mãos volta a agarrar meus cabelos, puxando-os com vontade. Minha língua deixa um rastro molhado à medida que vou beijado sua clavícula e voltando a subir meus beijos por sua mandíbula até seu queixo. Sua pele tem um gosto viciante e só paro de decorar seu corpo usando minha boca quando ele, se aproveitando de minha distração, inverte nossas posições e deixa o peso de seu corpo ceder contra o meu, arrancando um som abafado de minha boca. Me vejo preso entre o corpo de Jimin e a cama, e o modo como ele me olha faz com que minha boca fique seca, e com que uma dose extra se adrenalina se espalhe por minha corrente sanguínea.
— Você tem noção de tudo que quero fazer com você? — Dessa vez é ele quem empurra seu quadril contra o meu, me fazendo amaldiçoar sua calça de moletom que ainda continua entre nós. Sua boca se perde em meu pescoço e suas palavras se alternam com seus beijos demorados e molhados, e chupões que marcam minha pele — De todas as coisas sujas e imundas que quero falar no seu ouvido? — Seus dentes arranham meu pescoço, prendendo minha pele entre eles, e tenho certeza de que Jimin está tentando me deixar cheia de resquícios seus, para eu ter certeza de que tudo isso foi real — De todos os sons que quero arrancar da sua boca?
— Jimin… — Seu nome escapa na forma de um gemido arrastado e tenho certeza de que meu corpo obedece ao seu pedido sem que eu me dê conta.
— É isso que você quer ouvir? O quanto a lembrança dos seus gemidos não me deixa dormir de noite? — Ele pergunta contra a pele sensível abaixo de meu ouvido, e me remexo de maneira involuntária abaixo de seu corpo, mas meu movimento logo é reprimido quando ele volta a empurrar o quadril contra o meu, desta vez com força, me prendendo contra a cama — Ou como eu não consigo tirar você da minha cabeça, noona? — Ele gira os quadris contra os meus, e consigo sentir sua excitação através do moletom, e tenho certeza de que vou acabar gozando antes mesmo de nos livrarmos de nossas roupas.
Cada confissão sua aumenta meu desejo, e minha vontade é poder tocar cada centímetro de seu corpo. Cada pedaço, cada curva, cada ângulo. Mas minhas mãos continuam sem saber para que dar atenção, e me pego arranhando suas costas, seus braços, agarrando seus cabelos, em uma desordem total. Seu corpo se afasta do meu por um segundo e envolvo seu quadril com minhas pernas, o puxando para perto novamente enquanto ele pressiona sua boca contra a minha, engolindo meus suspiros pesados e todos os gemidos que escapam na forma de seu nome. Suas mãos, tão inquietas quanto as minhas, passeiam pelas laterais de meu corpo e lutam contra o tecido da camisola, erguendo-o da melhor maneira possível para poder explorar minha pele.
Parece levar uma eternidade até que nossas roupas finalmente começam a sair do caminho.
Assim que ele finalmente consegue se livrar de minha camisola, jogando-a para o lado, seu olhar faminto se demora em meu corpo, observando cada detalhe de pele exposta com uma lentidão que me faz pensar que temos todo o tempo do mundo. E talvez tenhamos. Suas mãos deslizam por meu pescoço, ombros, seios, barriga, em uma infinidade de carícias que me fazem tremer de antecipação, esperando por algo mais. Ele afunda os dedos em minha cintura, chegando a me causar dor, e logo sua boca está deixando uma porção de beijos úmidos e demorados em meu ventre. Luto contra a vontade de fechar os olhos e continuo apoiada em meus antebraços, observando todos os detalhes de Jimin. O modo como sua língua se move contra minha pele, e como os fios escuros de seu cabelo insistem em cair sobre seu rosto e acabam roçando em minha barriga, fazendo cócegas. Suas bochechas estão avermelhadas e acho que nunca o achei tão lindo como acho agora.
Merda... Acho que nunca vou o achar tão bonito quanto o acho quando ele está tão concentrando em conhecer meu corpo.
Enquanto sua boca continua a explorar a região de meu ventre, seus dedos escorregam para as laterais de minha calcinha, e ele ergue seu olhar para me fitar, como se estivesse pedindo permissão para fazer algo. Sem pensar, e quase que de modo involuntário, ergo os quadris da cama e deixo que ele puxe a peça de roupa para baixo, me deixando completamente exposta. Vejo sua língua contornar seus lábios antes dele avançar novamente em minha direção, desta vez dando atenção para minhas coxas. Ignoro a vergonha que sinto e afasto minhas pernas, deixando que ele fique entre elas, e ele curva os lábios em um sorrisinho inclinado, que só consigo enxergar porque continuo hipnotizada demais para conseguir desviar o olhar.
— Jimin… — O nome dele escapa sem permissão, em um pedido indecifrável, e que eu mesma desconheço, e me surpreendo com o tom desesperado de minha voz entrecortada.
Ele ignora meu chamado, seus dentes mordiscando a parte interna de minha coxa e castigando minha pele, deixado marcas. E eu estaria mentindo se dissesse que não gosto da ideia de encontrar todo meu corpo com rastros dele, e de toda sua intensidade. Sua respiração quente e pesada atinge minha pele em lufadas longas, provocando arrepios por todo meu corpo. Sua boca quente e molhada continua passeando por minha pele, em uma provocação sem fim, até que finalmente sinto sua língua me tocando onde mais preciso, me fazendo soltar um gemido surpreso que parece servir de incentivo para que ele continue.
A sensação que seu toque provoca é tão paradisíaca que me pego tentando mover os quadris contra sua boca, implorando por mais, mas suas mãos firmes agarram minhas coxas e ele me segura com força, me obrigando a ficar parada. Seu olhar permanece fixo sobre o meu, e tenho certeza de que apesar de eu estar completamente nua, é a minha alma que parece estar sendo exposta e invadida por Jimin.
Ele me fita como se estivesse disposto a tomar tudo de mim, e eu o encaro de volta, disposta a lhe entregar tudo, sem hesitar.
Sinto sua língua se movendo para cima e para baixo, alternando com movimentos circulares, e ele faz questão de mudar o ritmo, diminuindo a velocidade cada vez que percebe que estou próxima de meu ápice. Afundo os dedos de uma de minhas mãos em seus cabelos quando sinto sua língua sendo pressionada contra minha intimidade, me obrigando a ceder contra o colchão, porque não tenho mais forças para continuar sustentando o peso de meu corpo.
Assim que Jimin percebe a falta de contato visual, uma de suas mãos se afasta de minha perna e busca pela minha, entrelaçando nossos dedos. O contato é tão íntimo que ouço um choramingo escapar do fundo de minha garganta, e os músculos de meu estômago se contraem outra vez, a necessidade de finalmente encontrar alguma forma de alívio cada vez maior e mais urgente.
— Você não faz ideia de como é gostosa, noona — Sinto seus lábios se movendo contra meu sexo quando ele fala, e o som abafado de sua voz me faz arquear as costas de prazer. Ele diminui o ritmo de seus movimentos outra vez, sua língua explorando minha entrada e me deixando ofegante, implorando por oxigênio — Você gosta disso? Era isso que você imaginava? — Suas perguntas saem juntas e atropeladas, e tenho certeza de que apesar da lentidão com a qual ele me provoca, seu interior está tão bagunçado quanto o meu.
Puta merda. Sua voz continua me fazendo engasgar em meus próprios gemidos, e quero gritar e dizer que isso é mil vezes melhor do que qualquer uma de minhas fantasias, mas não tenho certeza se consigo encontrar minha voz, então apenas faço que sim com a cabeça, apertando seus dedos entre os meus. A mistura de sensações que nublam minha visão me deixam desnorteada. A textura de seus cabelos em volta de meus dedos, a aspereza e umidade de sua língua contra meu sexo, o timbre rouco de sua voz.
— É disso que você precisa? — Sua língua massagear meu clitóris, e então sua boca o envolvendo e sugando-o devagar, e juro ver estrelas se formando em minhas retinas e fazendo uma explosão branca tomar conta de minha mente.
Mas então ele para.
E sinto que meu coração esta prestes a parar também.
E toda adrenalina que sinto congela e me faz abrir os olhos desesperada para implorar para que ele não faça isso comigo agora.
Assim que meu olhar encontra Jimin, reparo no sorriso lascivo que toma conta de seus lábios avermelhados e cheios. Tento entender o que o fez parar, e ele parece estar esperando por algo, e então sua última pergunta ressurge no meio de todos meus pensamentos, chamando minha atenção e brilhando em tons de neon. Ele realmente precisa que eu responda? Tento mover meus quadris para me aproximar de sua boca, mas ele se afasta ainda mais, estreitando o olhar em minha direção. Porra... Engulo meu orgulho e forço minha voz para fora.
— Eu preciso de mais — Confesso, vendo-o morder o lábio inferior com brutalidade com minha resposta — Por favor, Jimin — Acrescento, e o sorriso em seu rosto cresce. Como consegui conviver com um homem como esse durante quatro meses, sem tentar agarrá-lo?! Deus…
— Sempre tão educada, noona — Uma risadinha baixa escapa por sua boca antes que seus lábios estejam encontrando novamente meu sexo. Volto a apoiar a cabeça no travesseiro, quando a sensação de seus dedos me invadindo sem aviso algum, e de uma só vez, me faz arquear o quadril involuntariamente, apertando sua mão. Uma nova onda de prazer se alastra por meu corpo, e o vai e vem torturante de seus dedos dentro de mim me faz arfar.
— Mais rápido? — Ele pergunta e então intensifica seus movimentos, e consigo sentir meus músculos internos se contraindo ao redor de seus dedos — Ou devagar? — E então a velocidade com a qual ele me tortura se reduz a quase nada, e ele curva as pontas dos dedos dentro de mim, arrancando um grunhido de minha garganta.
— Ra-rápido... — Imploro, tendo meu pedido atendido. Seus dedos voltam a deslizar para dentro e fora de mim depressa, e Jimin combina seus movimentos com o de sua língua, que volta a correr por minha intimidade. Volto a sentir meu interior apertando os dedos dele e consigo sentir seus gemidos baixos escapando contra minha pele febril.
Ele sabe o que esta fazendo, e parece ridiculamente concentrado em empurrar os dedos para dentro de mim enquanto continua a lamber, chupar, beijar cada centímetro que sua boca e língua são capazes de alcançar. Jimin parece ser capaz de desvendar meu corpo sem dificuldades, e seus movimentos se tornam precisos e me estimulam de maneira perfeita, me fazendo perder todos os resquícios de racionalidade.
— Posso pedir um favor, noona? — Sua boca se afasta de mim por um segundo, para que suas palavras cheguem até mim. Agito a cabeça em um sinal positivo, disposta a conceder qualquer um de seus desejos — Goza pra mim.
Seu pedido é na verdade uma ordem, e seu tom autoritário envia fagulhas por todo meu corpo, me fazendo me despedaçar contra seu toque. Sua boca faminta e molhada volta a sugar meu clitóris e vejo uma explosão de pontos brilhantes dançarem atrás de minhas pálpebras fortemente cerradas.
Um espasmo toma conta de meu corpo e o orgasmo me faz afastar as costas do colchão, sentindo uma camada de suor se formar em minha coluna. Sinto minhas coxas tremerem com violência e tentarem se fechar, mas Jimin as segura com força, mantendo-as abertas enquanto gozo em sua boca.
Depois de algum tempo ele afasta sua boca de mim mas permanece movimentando seus dedos, assistindo minhas reações com a respiração tão desregulada quanto a minha. Ele só retira seus dedos de dentro de mim quando puxo o ar com força para dentro dos pulmões, tentando me acalmar. Vejo ele levar o indicador e o dedo médio até a boca, chupando-os e correndo a língua por seus dedos, sem afastar os olhos dos meus.
A imagem é tão ridiculamente obscena que por um segundo chego a pensar que Jimin conseguiria me fazer gozar sem nem mesmo precisar me tocar. Ele fecha seus olhos por uma fração de segundos, e um som arranhado escapa de sua boca, sendo abafado por seus dedos. E porra, eu tenho certeza de que ele não precisa me tocar pra que vire uma bagunça de novo.
Assim que ele termina de limpar seus dedos, lambendo os lábios após isso, sua boca busca pela minha e ele volta a me beijar de forma intensa, sua língua explorando cada canto de minha boca, me fazendo sentir meu próprio gosto. É tudo tão quente e intenso que mal tenho tempo de raciocinar quando suas mãos voltam a desvendar meu corpo, e sua calça de moletom desaparece.
Enquanto sua boca permanece se ocupando com a minha, consigo ouvir o som do criado mudo ao lado de sua cama sendo revirado.
— Merda — Ele resmunga contra minha boca e parece desistir de sua busca cega depois de alguns segundos, se afastando de mim e dando atenção para a gaveta aberta. Seus dedos finalmente conseguem encontrar um preservativo e, enquanto ele se distraí tentando abrir a embalagem, uso o resto de força que possuo e inverto nossas posições, ficando por cima e me deliciando seu olhar surpreso.
Volto a deixar uma trilha de beijos úmidos por seu pescoço, mas meus pensamentos continuam apontando mais para baixo, e começo a correr meus lábios por seu peito. Sinto sua pele levemente salgada pela camada fina de suor que repousa em seu abdômen, mas não consigo me importar, porque tudo nele é ridiculamente delicioso. Minha boca está explorando sua pele macia na altura dos ossos do quadril quando seus dedos envolvem meus cabelos novamente, e ele tenta me puxar para cima.
Ergo o olhar para ver sua expressão e o desespero por trás de suas íris escuras é cristalino, impossível de não ser reconhecido. Ele aperta meus fios entre seus dedos com mais força quando ameaço voltar a beijar seu corpo, e deixo um chiado baixo escapar por meus lábios, protestando. Jimin respira fundo, parecendo tentar se acalmar, e o enlace em torno do meu cabelo cede minimamente aos poucos, como se ele estivesse me dando autorização para continuar.
Resolvo acelerar as coisas antes que ele pense em hesitar novamente e, ao invés de voltar a região de seu quadril, escorrego para baixo entre suas pernas em um movimento rápido. Antes que ele consiga pensar em algo, levo minha boca até seu membro, correndo a língua por toda sua extensão e ouvindo-o gemer algo que se parece com meu nome enquanto meu cabelo é puxado outra vez.
— Porra, n-noona — Sua voz arrastada me chama, e o vejo tentando controlar sua respiração sem muito sucesso.
— Era assim que você ficava enquanto se tocava pensando em mim, Jimin? — Refaço a sua pergunta, incapaz de descobrir de onde surgiu a necessidade de provocá-lo ainda mais, mas a imagem que vejo só me faz querer levar Jimin até o limite. Ele não responde, mas a risadinha baixa e quase envergonhada que ecoa pelo quarto é mais do que o suficiente.
Ele fecha os olhos com força e é só quando resolve voltar a abri-los, guiando seu olhar em minha direção, que envolvo sua excitação com minha boca, ouvindo-o gemer algo que agora é definitivamente o meu nome. A pressão de meus lábios contra seu membro só é interrompida quando me afasto buscando por ar. A ideia de que os sons urgentes que escapam da boca de Jimin são por minha causa me obriga a continuar. Minha língua explora o máximo de pele que alcança, lambendo, chupando, deixando rastros de saliva que se misturam com seu pré-gozo, e estou prestes a tomá-lo em minha boca novamente quando ele resmunga algo e seus dedos em meu cabelo voltam a tentar me puxar para longe.
— Eu não consigo... — Ele para, engasgando em suas palavras apressadas — Eu não consigo mais esperar, eu quero você agora... — Ele consegue dizer e pela centésima vez suas palavras acabam com a minha racionalidade. Cedo a seus pedidos e me aproximo novamente de sua boca, sua língua buscando pela minha enquanto ele se aproveita para me empurrar para o lado e se deita sobre mim novamente.
O mundo ao meu redor parece desaparecer por completo quando ele se ajeita entre minhas pernas e finalmente acaba com nossa espera. Nossos gemidos se misturam e nossas respirações entrecortadas se completam em uma bagunça de sons. Ele fica imóvel por alguns segundos, enquanto tento me acostumar com a sensação de o ter dentro de mim, tão quente e parecendo ser capaz de preencher cada mísero centímetro meu, me deixando completa.
Jimin aparenta recuperar parte de seu controle e finalmente começa a se mover, de maneira lenta e paciente, como se ele estivesse testando o encaixe entre nossos corpos. Ele apoia sua testa contra a minha, mas seu olhar permanece fixo na região onde nossos corpos se encontram, e aos poucos seus movimentos vão se tornando mais confiantes, espalhando ondas de calor por todo meu corpo. Cravo minhas unhas em seus costas quando ele se afasta quase que inteiramente, e então volta a me penetrar de uma só vez, fazendo seu nome escorregar de meus lábios.
Seu toque, seu cheiro, seu calor.
Seus gemidos abafados...
Eu tento me agarrar a tudo, desesperada em memorizar cada parte sua, cada sensação nova que ele provoca em meu corpo quando desliza para dentro de mim incansavelmente, como se toda sua vida dependesse disso.
— Você não sabe... — Ele se interrompe, se concentrando em mover o quadril contra o meu — quantas vezes eu imaginei isso nas últimas semanas...
— Você parecia ocupado com outras pessoas nas últimas semanas — Digo sem pensar, os vestígios de ciúmes presentes em cada palavra. Ele se afasta novamente e para de se mover, desgrudando sua testa da minha para poder me olhar.
— Você disse que não se importava — Ele relembra, arqueando uma sobrancelha em minha direção. Tento desfazer o erro de ter tocado no assunto envolvendo sua cintura com minhas pernas e o forçando para dentro de mim novamente, e ao invés de tentar lutar contra meu pedido, ele faz ao contrário. Seu membro me invade com força e o som de nossos corpos se chocando e de meu gemido surpreso toma conta de meus ouvidos. Mas ele fica imóvel outra vez, me torturando.
— Jimin... — Seu nome sai na forma de um pedido.
— O que você quer? — Ele pergunta, sem me dar muito tempo para conseguir responder — Você quer saber o quão ocupado eu estava fodendo outras garotas e desejando que elas fossem você?
Sua voz repleta de provocações é substituída pelo movimento de seu quadril contra o meu, em uma nova estocada tão forte quanto a anterior.
— Você quer saber como eu precisava ficar com a boca fechada pra não acabar gemendo o seu nome quando elas me tocavam? — Seus dentes se afundam em meu pescoço, e ele desliza sua língua quente por cima da região machucada por sua mordida. Seu corpo se choca contra o meu outra vez, arrancando um choramingo de minha garganta — Ou como eu tinha que pensar em você, no seu cheiro — Seu nariz desliza por meu pescoço e ele respira fundo, ao mesmo tempo em que sinto ele empurrar o corpo contra o meu outra vez — E na sua voz chamando meu nome pra conseguir gozar?
— O que você está tentando fazer comigo, Jimin... — Pergunto desesperada, porque tenho certeza de que ele pretende me enlouquecer, acabado com toda minha sanidade. Em resposta, sinto ele aumentar a velocidade de seus movimentos, me fazendo arranhar suas costas com mais urgência.
— Tudo... — Ele responde prontamente, e a certeza presente em seu tom de voz me faz tremer — Eu quero fazer tudo com você, noona — Suas últimas palavras morrem dentro de minha boca, quando ele volta a me beijar, silenciando meus gemidos.
Seu quadril se move conta o meu com mais força, o ritmo de suas investidas cada vez mais intensas, fazendo todo meu corpo vibrar abaixo do seu, dominado pelo desejo. Tudo que consigo reconhecer é seu cheiro, e seu gosto, e calor provocado pelo atrito entre nossos corpos. Tudo ao me redor se resume a Jimin.
Não sei quanto tempo ele passa explorando minha pele, e também não faço ideia da quantidade absurda de vezes que me pego gemendo seu nome e implorando para que ele não pare. Perco a noção dos dias e das horas cada vez que ele deixa uma série de frases desconexas e sujas escapar de sua boca, e continua a me provocar. Não sei quantas horas passamos em sua cama, e nem por quanto tempo tentamos ignorar o cansaço e a necessidade de parar. A única coisa que sei é que, no instante em que seu corpo desaba exausto acima do meu, e sua boca deixa um beijo demorado em minha testa suada, tenho certeza de que jamais vou ser capaz de me livrar da sensação de ter Jimin dentro de mim, me pedindo para gozar pra ele. Me implorando para gozar só pra ele, e pra mais ninguém.
O cansaço parece obrigá-lo a se afastar de mim, e depois de alguns minutos ele rola seu corpo para o lado e, por mais que possa parece absurdo, meu corpo já sente falta do seu. Como se pudesse ler meus pensamentos, ou se, talvez, se sentisse da mesma forma, Jimin me puxa para mais perto e espera até que eu me ajeite em seus braços, apoiando minha cabeça em seu peito quente. O cheiro de sexo se mistura com o cheiro fresco de sabonete de sua pele, e fecho os olhos me entregando por completo a sensação de ter os braços de Jimin em torno de mim, em um abraço aconchegante e protetor.
O silêncio que nos envolve e toma conta do quarto perdura por um longo tempo, até que nossas respirações agitadas finalmente estejam de volta ao normal, e sinto seu peito se movendo calmamente abaixo de minha cabeça. Seus dedos quentes traçam desenhos imaginários em minhas costas, em uma carícia leve e gostosa, mas depois de alguns minutos o sinto parar. Tenho certeza de que ele acabou pegando no sono, e me encontro travando uma batalha interna, tentando decidir entre me permitir pegar no sono em seus braços, ou fugir para meu quarto… Não tínhamos intimidade pra isso antes, mas agora… Agora acho que temos. Continuo pensando sobre o assunto quando a voz suave de Jimin ecoa pelo quarto, me pegando de surpresa.
— E agora? — Ele pergunta, e não preciso que ele explique melhor para saber sobre o que ele está falando. E agora, como é que as coisas vão ficar entre nós? Enquanto espera pela resposta, seus braços me envolvem com mais força, me apertando com mais urgência e firmeza. Por um segundo parece que ele está tentando ter certeza de que sua pergunta não vai me fazer fugir, e pensar nisso faz com que meu coração se aqueça.
Vasculho minha mente em busca de algo que possa servir como resposta para sua pergunta, mas nada parece certo. A verdade é que não faço a menor ideia do que acontece agora. Não sei se acabamos de destruir tudo, ou se estamos começando algo novo e bom. Não sei se nossa entrega foi um momento de fraqueza, ou se foi finalmente uma oportunidade de encarar o que sentimos um pelo outro. Não sei se ele, assim como eu, também quer que isso que começamos agora ainda dure por mais dias, semanas, meses e anos. Minhas certezas são quase todas incertas, mas mesmo no meio de tantas perguntas e dúvidas, parece haver algo que se parece bastante com uma verdade absoluta, e imutável apesar de qualquer circunstância.
Eu quero Park Jimin.
— Acho que podemos começar desfazendo suas malas.



Fim.





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