Flames of Heart

Última atualização: 02/02/2023 (finalizada)

Capítulo Único

- Eu gosto de você. - diz, Sonic, meu colega de trabalho.

Estamos no café próximo à escola primária de heróis em que damos aula. Quando ele me convidou para tomar um café, imaginei que seria para falar das gincanas do verão. Sonic me recebeu muito bem quando comecei a trabalhar no colégio, logo nos tornamos amigos. Mas para mim sempre foi apenas isso. Amizade. A revelação me pegou mesmo de surpresa.

- Sony, eu...
- Eu sei. - me interrompe. - Você não pode retribuir a esses sentimentos. - sorri amarelo. - Você gosta daquele cara. - diz, e confirmo. - Eu só contei porque não podia continuar guardando esse sentimento aqui dentro. - coloca a mão no peito. - Mas só pra ter certeza, você sabe que ele é um idiota, não é?
- Eu sei. - rio. - Mas aquele idiota é o amor da minha vida. - confesso.
- Certo, eu não precisava ouvir isso depois de me declarar, mas como é você, eu vou relevar. - brinca.
- Ainda amigos, não é? - estico o mindinho para ele que cruza o mindinho dele com o meu.
- Isso e nada mais! - sorri.

Chego em casa sentindo cheiro de queimado. Corro até a cozinha, mas não há nada no fogo ou forno. Procuro por fumaça pela sala e no banheiro, mas não há sinal de incêndio em lugar nenhum. Me apresso até o quarto, e fico aliviada ao ver que não é nenhum curto circuito, mas sim, Bakugo. Ele parece irritado. Mais que o normal.

- Amor? - ele me olha de relance enquanto joga algumas peças de roupa na mochila. - Está tudo bem? - ele não responde. - Kacchan? - mais uma vez sem resposta. - Estou falando com você, Bakugo.
- Não me chame assim!
- Então fala comigo.
- O que quer que eu diga? - ele para de socar as roupas na mochila e me encara. - Se quer que eu fale que irei te deixar livre pra viver uma vida de merda, com aquele seu amigo maldito, então você vai morrer esperando. - diz, e volta a empurrar as roupas na mochila.
- Me deixar livre? Amigo maldito? Do que você está falando? - pergunto confusa.
- Para com essa porra! Não precisa mais fingir. Só o que não entendo é que se você não estava feliz, então por que não veio falar comigo? - a cada palavra sua voz fica mais cheia de ódio. E a cada palavra entendo menos o que está acontecendo. Toco em seu braço para fazê-lo parar com as roupas e olhar para mim, mas tiro a mão rapidamente. Ele está fervendo.
- Não fica falando as coisas pela metade, diz logo o que está acontecendo. - digo nervosa, esfregando as mãos.
- Sonic. - diz, finalmente. - Esse nome te diz alguma coisa?
- Sim. Trabalhamos juntos. Ele é meu amigo.
- Amigo? - ri. - Não. Kirishima e eu somos amigos. Você e aquele desgraçado são amantes. Ele me contou, . Contou tudo. - diz, entre os dentes.
- Amantes? Nem nesta vida e nem em nenhuma outra. Não sei o que ele disse, mas foi tudo mentira. Ele se declarou hoje para mim, mas eu disse que não era recíproco. Aliás, ele sabe bem que é você quem eu amo. - digo, e ele me olha sem reação. É a primeira vez na nossa relação que o sentimento "amor" é falado. Ele fecha a mochila e tira um potinho do bolso da calça.
- Toma. Passa nas mãos. Vai melhorar a sensação de ardência. - ele me entrega o potinho e coloca a mochila nas costas.

Não pergunto para onde ele vai. Nem mesmo tento impedi-lo de ir. Lágrimas descem sem hesitação pelo meu rosto. Estou triste, e com muita raiva. Sonic foi um completo filho da puta. Não. A culpa é minha. Eu que fui tola de achar que ele ainda seria meu amigo. Que inocente. Mas o que me deixa mais brava é o Kacchan ter acreditado nas mentiras daquele infeliz. Ele sequer me deu o benefício da dúvida. Em uma coisa Sonic estava certo. Bakugo é mesmo um idiota.
A raiva que estou sentindo se sobressai pela tristeza. Enxugo as lágrimas e decido não ficar me lamentando. Que se dane, Sonic. Que se dane, Kacchan. Não quero mais ver esses dois nem em pensamento. Estou determinada a cumprir esse desejo, mas ao entrar debaixo do chuveiro e sentir a água escorrer pelo meu corpo, volto a chorar. Os momentos que passamos juntos começam a surgir na minha cabeça.

Janeiro de 2039

Assim que ele abre a porta meu queixo cai.

- O que é isso, Kacchan? - pergunto desacreditada.
- Que pergunta idiota é essa? Não está vendo que é um cobertor?
- E o que você está fazendo de cobertor, seu mala sem alça? Esqueceu que vamos ao cinema?
- Você que é a mala sem alça aqui! - retruca. - E eu não vou.
- Por que não?
- Porque meu desempenho é uma merda no frio.
- E daí? Vamos ao cinema, não vamos assaltar um banco. Vamos logo. Você prometeu que iria comigo. - insisto.
- Que merda! Vou trocar de roupa. - diz, e o sigo para dentro do cômodo.

Ele vai para o quarto, e fica à sua espera na sala. Ele volta minutos depois ainda com o cobertor, mas desta vez, traz um travesseiro.

- Não me olha com essa cara de cachorro perdido, eu avisei que não iria.
- E por que me fez esperar? - pergunto irritada e me levanto. - Tanto faz, eu vou embora. - ele me empurra pelo ombro me fazendo sentar de novo.
- Não vai, não. Eu disse que veria um filme com você, e é isso que vamos fazer. - diz, jogando o travesseiro em mim. - Toma. - ele me entrega uma sacola com um potinho dentro.
- O que é isso?
- Doce. Eu sei que você gosta, e comprei porque sabia que você ia ficar com essa cara de bocó. - diz, indiferente.
- Obrigada.
- Retribua fazendo a pipoca. Eu vou escolher um filme. Você só assiste porcaria. - reclama.
- Eu vou fingir que não escutei. - me levanto, e eu vou até a cozinha.

Ele escolheu um filme de terror para vermos, apesar de eu ter dito mil vezes que não queria assistir aquilo. No final, eu vi pouquíssimas cenas. Na maior parte do tempo, fiquei de olhos fechados. Acabei dormindo.
Abro os olhos, sonolenta, e percebo que não estou mais na sala. É um sonho? Um pesadelo? Me mexo, e sinto um peso atrás de mim. Piedade, meu Deus, eu não quero morrer.

- O que foi? - uma voz rouca raivosa surge junto a um vulto atrás de mim.
- Por favor, não me mate! - imploro chorosa.
- Hã? - uma luz laranja ilumina o quarto.
- Kacchan?
- E quem mais seria?
- Onde estamos?
- No meu quarto, caramba.
- E por quê?
- Porque você estava toda torta no sofá. Ia acordar dolorida. - explica impaciente, e a luz laranja que brilha em suas mãos se apaga. - Agora deita e dorme. - ele se ajeita puxando a coberta.
- Eu não posso. - digo, e ele solta um gemido insatisfeito.
- Por quê?
- Preciso ir pra casa. Não avisei que passaria a noite fora.
- Eu liguei pra sua mãe e avisei. Agora cala a boca e dorme. - diz, e volto a me deitar. Me mexo de um lado para o outro, sem conseguir dormir.
- Ai, meu Deus! O que foi agora? - ele se senta irritado.
- Estou com medo. Não pode acender a luz?
- Não tem que ter medo do escuro. Tem que ter medo de mim, se não me deixar dormir. - diz, e se deita com brutalidade, virando de costas para mim.
- A culpa é sua por ter colocado aquela droga de filme. - reclamo. Ele bufa, e entrelaça nossos dedos.
- Não vou acender a porcaria da luz, então se contente com isso.
- Obrigada. - sussurro.

Junho de 2039

Estamos na sala da casa dele. Uma vez por ano, o pessoal da antiga turma dele sorteia uma casa para que seja o ponto de encontro deles. Esse ano foi a casa do Bakugo. Quando ele me chamou, eu não sabia disso. Só descobri depois que dei de cara com várias pessoas esparramadas no chão da sala.

- Ei, você é a menina que caiu do palco durante o festival da escola! - um garoto ruivo comenta. Sinto meu rosto esquentar na hora. - Foi um tombo bem feio.
- É. Foi. - digo sem graça.
- Você era da turma da última sala do corredor, não era? Você e o Kacchan são amigos? - uma garota de cabelo rosa pergunta e assinto. - Como se conheceram?
- Essa tonta caiu em cima de mim e me jogou na lama. - Bakugo aparece segurando dois copos.
- Você cai bastante, hein? - comenta a garota de cabelo rosa.
- Chega desse papo furado. Você não é nenhuma estrela do rock pra me fazer ficar esperando, sabia? - diz, e estende um dos copos para mim.
- Por que me chamou?
- Estamos fazendo um torneio de Mortal Kombat. Você vai ser minha dupla.
- E por que eu?
- Porque meu parceiro é ruim e eu não gosto de perder.
- Mas... - um garoto loiro tenta argumentar mas logo é interrompido.
- E quem protestar vai se ver comigo! - o garoto se cala ofendido, e mais ninguém mostra resistência.
- Acho que não tenho escolha.

No começo eu estava muito envergonhada por ser uma estranha em um grande grupo de amigos. Mas cada um deles fez eu me sentir acolhida e a vontade. Aos poucos, o apartamento foi ficando vazio, até sobrar apenas Kacchan e eu.
Estou sentada atrás de Kacchan com as pernas cruzadas no sofá. Ele está sentado no chão, quase quebrando o controle do videogame. Mexo em seu cabelo e ele pausa o jogo. Droga. Por que eu fiz isso?

- D-desculpa. Eu não devia... - ele coloca a cabeça para atrás e a repousa em minhas pernas.
- Faz de novo.
- O que disse?
- Faz de novo, e eu penso se te perdôo. - diz, de olhos fechados. Sorrio.

Outubro de 2040

5 Chamadas de vídeo perdida(s)

Por que não me atende? Quero falar com você!!!!

Por que tem que ser por ligação? Não aprendeu a escrever?

É importante!!! Por favor, atende

Chamada de vídeo perdida

Não vai mesmo atender?

Não. E para de mandar mensagem. Eu vou dormir.

Visualizo a mensagem, e saio de casa. Dou três batidas na porta e uma mulher loira atende.

- , querida! Meu Deus, quanto tempo! É ótimo te ver. Está cada vez mais bonita. Vem, entra! - ela me puxa para dentro e fecha a porta. - Veio ver o Kacchan? Aí, ele tem amigos incríveis, mesmo sendo um chato de galochas. - mesmo sem fazer esforço, sua voz sai alta.
- MÃE, QUEM ESTÁ AÍ? SE FOR VISITA PRA MIM, MANDA IR EMBORA!
- VOCÊ É MESMO UM IDIOTA, HEIN, KATSUKI? - ela grita e me arrasta com ela pela casa. - Como ela vai aceitar ser sua namorada se você não demonstrar bons modos? - diz, ao entrar no quarto dele.
- NAMORADA? DO QUE A VELHOTA ESTÁ... - entro no quarto, e ele para de falar. Ele está deitado. Sem camisa, mas com o tronco enfaixado.
- Kacchan... - ele vira o rosto para a parede, e a mãe dele coloca as mãos em meus ombros.
- Ele já está bem. Não se preocupe. - olho para ela que dá um sorriso acolhedor. - Eu tenho algumas coisas para terminar. Mas fique à vontade. E se ele se comportar mal, pode bater nele. Aproveita que ele não está em condições de se mexer. - sorri. - Katsuki, diga logo a ela. - diz, e nos deixa a sós.
- Não preciso que se preocupe comigo.
- Por isso não quis me atender? - ele permanece sem me fitar. Me aproximo e me sento aos pés de sua cama. - Kacchan...
- Por que veio aqui?
- Amanhã eu vou viajar para o meu intercâmbio. Serão seis meses longe, por isso, queria te ver antes de ir.
- Que drama.
- É. Mas... O que você tem pra me dizer? - pergunto e ele me olha com a sobrancelha arqueada. - Sua mãe...
- Ela não sabe o que fala.
- Certo. - digo sem jeito. - Então é isso. Nos vemos daqui a seis meses. - sorrio com um nó na garganta. Me levanto da cama sob os olhos dele para me observar.
- Você está sem celular? - indaga e o olho confusa.
- Não. Por quê?
- Então não serão seis meses. Você pode me ligar por vídeo. Eu prometo atender na próxima vez.
- Está bem. - sorrio. - Tchau.
- . Será que você poderia não se apaixonar por nenhum parisiense durante esses meses? - pergunta quando estou prestes a passar pela porta. Paro.
- Isso é muito egoísta.
- Eu sei.
- Você acha que pode esperar até que eu volte?
- Não sei. Mas se eu não puder esperar, então não vou hesitar em ir até você.

Presente

Afasto os pensamentos e desligo o chuveiro. Coloco meu pijama e deito na cama. Abraço o travesseiro dele, e seu cheiro me inebria. Aos poucos sinto o sono chegar.

Acordo com o som de batidas na porta. Olho a hora. São duas da manhã.

- É bom que o mundo esteja acabando, pra me acordar uma hora dessa. - resmungo levantando da cama. Abro a porta e sinto meu corpo estremecer.
- Posso entrar?
- Não. - tento fechar a porta, mas ele me impede.
- Eu vou entrar mesmo assim. - diz, e entra.
- Isso é invasão de domicílio. Eu posso chamar a polícia, sabia?
- Pode chamar. Eu não ligo. - ele se encosta nas costas dos sofá e cruza os braços.
- O que você quer, Bakugo? - pergunto impaciente.
- Você parou de me chamar assim há muito tempo.
- É melhor se acostumar.
- Quando percebeu que me amava?
- Eu não te amo. Falei isso no calor do momento. Então se veio aqui por esse motivo, pode ir embora. - digo, e abro a porta. Ele vem na minha direção e fecha a porta lentamente ficando bem próximo de mim.
- Diz de novo que não me ama, e eu vou.
- Eu não te amo.
- E pode dizer isso olhando nos meus olhos? - ele está mais próximo agora. Se é que é possível.
- Posso. - digo trêmula. - Mas não quero.
- Não fode comigo. Está mentindo na cara dura.
- Você não foi tão incrédulo quando acreditou em um desconhecido. - me esquivo dele e vou até a cozinha pegar água. Bebo a água e ao colocar a garrafa de volta na geladeira, vejo o doce que ele trouxe para mim ontem. Tento resistir, mas não consigo. - Você ainda está aqui? - pergunto de boca cheia, ao me virar e ver ele encostado no batente da porta.
- Eu gritei com ele. Eu empurrei ele. Quis quebrar a cara dele. Mas nem mesmo por um segundo acreditei nele. - diz, e o olho com dúvida.
- Você bateu nele?
- Porra, e isso importa?
- É claro que importa, idiota. Você é um herói, não pode sair batendo nas pessoas sem mais nem menos. - digo brava e ele sorri.
- Está preocupada comigo?
- Quê? Não! - protesto. - Sai logo daqui.
- Eu percebi que te amava quando fui atrás de você em Paris. - diz, quando passo por ele. Me viro para vê-lo, mas ele continua de costas. - Meu estágio na agência que o Best Jeanist abriu por lá foi só uma desculpa para ir te ver, você sabe. Mas, o cabelo cheio de gel, a blusa de gola alta... Aaaa - ele bufa. - Aquela merda foi ideia minha. Eu queria te impressionar. Estava com medo de você estar tão encantada com os franceses que me veria como um palhaço quando nos encontrássemos.
- Mas quando eu te vi, eu só sabia rir. Você estava ridículo. - digo. Ele assente passando a mão no rosto e se vira para mim.
- Eu tava puto por ser feito de chacota, mas também tava puto porque eu queria continuar a te ver sorrir. E saber que o motivo do seu sorriso naquele momento era eu... Porra, foi bom demais! Foi aí, . Foi nesse exato momento que percebi que te amava com cada pequena célula do meu corpo.
- Disse que não acreditou nele. Então por quê? - pergunto me referindo as acusações que ele fez mais cedo. Ele desvia o olhar passando a mão no cabelo.
- Eu tive medo.
- Medo? De quê?
- Do que ele falou ser verdade. - confessa.
- Eu nunca...
- Não estou falando de traição. - me olha. - Só de pensar que você poderia estar infeliz ao meu lado... - ele balança a cabeça negativamente. - Eu posso aguentar uma traição. Mas não suportaria ser o motivo da sua infelicidade, . - sua voz está rouca e seus olhos marejados. Meu coração bate forte e meu peito está apertado. Deixo o doce de lado e me aproximo dele.
- Você é irritante. Chato. E me faz constantemente querer te matar. Mas nada disso faz de mim uma pessoa infeliz. Aliás, já estou tão acostumada com a sua personalidade terrível, que quando você está longe eu até sinto falta. - rio secando as lágrimas que ele deixou cair.
- Me perdoa, . - pede, olhando em meus olhos.
- Por ser um babaca? - ele semicerra os olhos, mas um sorriso aparece em seu rosto. - É. Por ser um babaca. - diz, me envolvendo em um abraço.
- Eu juro que corto seu pau fora se você agir assim de novo.
- Pelo bem dos nossos futuros filhos, não vai ter uma segunda vez.
- É bom mesmo.




FIM



Nota da autora: Sem nota.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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