Postada em: 15/08/2018

HOME

Hold on, to me as we go
As we roll down this unfamiliar road
And although this wave is stringing us along
Just know you're not alone
'Cause I'm going to make this place your home


(Home – Phillip Phillips)

— Sim, é da residência de Luka Modric... – a jovem tentou dizer, sendo interrompida de modo bastante deselegante por uma voz feminina um tanto alterada – Escuta só, eu não sou... – mais uma interrupção e viu-se obrigada a aguardar a histeria da outra – Eu sou só a... Ótimo, desligou na minha cara! – bufou, reprimindo a vontade de jogar longe o telefone – Eu sou só a droga da babá! – exclamou para o vazio, como a defender-se.
"Ócios do ofício", suspirou. Se alguém lhe dissesse que a parte mais difícil de cuidar de duas crianças pequenas seria lidar com os problemas que vinham do pai delas, ela não acreditaria, mas Luka Modric existia para provar que ela estava bastante enganada: telefonemas como aqueles eram rotina e paparazzis especulando qual sua função dentro daquela casa já haviam se tornado enfeites no jardim. Era confuso, sim. Não era habitual que o pai fosse aquele a ter a guarda das crianças, especialmente com a rotina de um futebolista. E era ali que ela entrava: a todos que diziam que ser casada com um jogador de futebol era dificílimo, ela gostaria de sugerir que tentassem ser babá dos filhos de um.
Se ao menos aquilo estivesse explícito no contrato...
! – o grito que a arrancou de seus devaneios veio da sala, e foi quase sonoro depois de tantos que ouvira ao telefone. Ao menos aquele era conhecido, partia de uma coisinha de 1 metro de altura e bochechas tão enormes que lhe despertavam uma vontade gigante de mordê-las – Onde você tá?
Só um segundo, gafanhota! – cantarolou, enquanto se dirigia até a garotinha, encontrando-a com um sorriso sapeca como sempre que a babá a chamava por aquele apelido.
! Olha o que eu fiz! – quem chamava agora era um garotinho loiro de olhos castanhos e espertos, correndo em sua direção antes de estender-lhe uma folha branca onde via-se o desenho de quatro pessoas – Esse é o papai - apontou para a figura central do desenho, maior que todas as outras, ostentando orgulhosamente a camisa do Real Madrid – Esse sou eu! – apontou, orgulhoso, para o boneco que chutava uma bola de futebol.
— E eu, Ivano? – Ema protestou, descendo do sofá e colocando-se nas pontas dos pés para tentar enxergar o desenho.
— Você é essa aqui... A menor. – Ivano apontou a figura pequenina de Ema no desenho. Tinha feito uma boa representação dos cabelos da irmã, bem como de seu inseparável Bunny, o coelho azul que arrastava consigo para todos os lugares – E aqui é você, ! Você gostou? – Ivano perguntou, os olhinhos brilhando de expectativa.
— Meu amor... – sentiu um sorriso enorme crescendo em seu rosto enquanto abraçava Ivano bem apertado, beijando o topo de sua cabeça. Quando recebia o afeto daqueles dois, de forma tão pura e inocente, ela sabia exatamente o porquê de ter aceitado aquele trabalho – Seu desenho ficou lindo, Ivano... Eu amei! Seu pai vai adorar! – completou, sabendo o quão importante aquilo era para o garotinho.
Naquele dia, Luka completava 30 anos. Ele estava em Sevilha, jogando contra o time local, mas havia prometido às crianças que chegaria a tempo de comemorar com elas. Ali, vendo a importância que aquilo teria para as crianças, desejou de todo o seu coração que o meio-campista cumprisse sua promessa. "Vamos lá, Luka, não os decepcione..."
— Seu pai vai ficar muito orgulhoso de você. – reforçou e então Ivano sorriu, satisfeito, mostrando-lhe todos os dentes e as janelinhas que os 6 anos haviam trazido consigo.
Naquele momento, se deu conta de que cláusula alguma no contrato teria feito com que desistisse daquele trabalho: assinou-o assim que seus olhos encontraram as bochechas de Ema e o sorriso banguela de Ivano.
— E o que eu vou dar pro papai? – Ema perguntou, parecendo magoada. Seu lábio inferior curvou-se de forma adorável e precisou conter a vontade que tinha de rir.
— Sabe o que você vai dar pro papai? – disse, pegando a pequena no colo e dando-lhe um beijo estalado na bochecha – O bolo mais delicioso do mundo, que nós vamos fazer agora mesmo!
A garotinha soltou um gritinho animado, enquanto Ivano passou correndo pelas duas, chegando à cozinha antes delas e já se colocando a postos para quebrar os ovos, sua parte favorita.
O que aconteceu a seguir foi uma bagunça sem precedentes: Ivano conseguiu roubar das mãos de o pote de farinha e agora os três encontravam-se absolutamente cobertos de pó branco, enquanto aguardavam o bolo sair do forno – já que os dois estavam ansiosos para ver sua obra-prima finalmente pronta. Olhando para o chão da cozinha repleto de farinha, queria morrer! Demoraria uma vida para finalmente terminar de limpar aquilo... A visão de Ema e Ivano deslizando sobre a farinha enquanto dançavam, no entanto, fez com que um sorriso surgisse em seu rosto. O que era um pouco de sujeira frente à alegria das crianças?
Listen, baby... - começou, tomando uma colher como microfone - Ain't no mountain high, ain't no valley low, ain't no river wide enough, baby...
Ao som melódico da voz da babá, Ivano e Ema se animaram ainda mais, dançando e cantando com ela. O mais velho rodopiava com a irmã e dividia-se entre a preocupação e a diversão por vê-los alegres. Ela sabia como gostavam de cantar, por vezes os três passavam o dia inteiro fazendo suas "apresentações" pela casa e eventualmente até mesmo Luka participava das brincadeiras, para delírio dos filhos.
— Com você, Ivano! - ela sorriu, passando seu "microfone" para o garoto, que assumiu imediatamente sua postura de "rockstar".
Oh baby there ain't no mountain high enough, ain't no valley low enough, ain't no river wide enough to keep me from getting to you, baby! - ele cantou, finalizando com uma piscadela que fez gargalhar. Havia realmente muito mais de Luka naquele pequeno do que era possível perceber à primeira vista.
Os três permaneceram na cozinha, embalados pela voz de – cujo repertório ia de Marvin Gaye a One Direction – e o cheiro irresistível do bolo que já preenchia o ambiente, até que o apito do forno anunciou que finalmente a espera terminara.
— Ivano, que tal ir tomando seu banho para adiantar? - perguntou, para total frustração do garoto.
— Mas ... – protestou, jogando os braços para cima em indignação, numa cópia perfeita do que era o pai em campo, e controlou-se para não rir.
— Sem "mas ", garotão! Como você quer esperar o seu pai desse jeito? - argumentou.
— Você sabe que ele não vai chegar, ... - Ele respondeu após um segundo, olhando para os próprios pezinhos cheios de farinha, e sentiu seu coração se apertar.
— É claro que vai, Ivano... – a garota disse, agachando-se para olhar nos olhos castanhos do garoto – Ele prometeu que chegaria, e tenho certeza de que mesmo que tivesse se perdido no caminho, o cheiro delicioso desse bolo o traria de volta. – completou, apertando a pontinha do nariz do garoto com carinho. Um sorriso mínimo se desenhou no canto dos lábios de Ivano e ele a abraçou apertado antes de correr para o próprio quarto, rumo ao chuveiro.
desenformou o bolo, enquanto Ema divertia-se brincando com potes de vários tamanhos no chão da cozinha. Ocupou-se, então, de cobrir a massa com ganache de chocolate – a preferida de Luka – e deixou a decoração final para as crianças, imaginando que elas adorariam encher o topo de confeitos.
— Quê isso, ? – Ema perguntou, assustada com o barulho da chuva que se intensificara do lado de fora.
— É só a chuva, meu amor... – tranquilizou a garota – Tá ventando muito hoje, é esse o barulho.
— Ventando igual aquele dia da sombrinha, ! – Ema soltou uma risadinha e riu junto, tanto pela lembrança da situação quanto pela memória da garota! Ela era mesmo uma coisinha surpreendente – Quando você virou a nossa ! – completou e sorriu. "Nossa ", aquecia-lhe o coração pensar assim.

Dois anos atrás

aguardava do lado de fora do café onde o tal sujeito havia marcado de se encontrar com ela, mas a demora era tanta que já começava a se questionar se ele realmente viria. Jogadores de futebol deveriam ser pontuais por excelência, não? Analisando as nuvens negras que se acumulavam no céu, ela esperava que chegasse logo... Aguardou por mais alguns minutos, relendo a mensagem de Sonia – a amiga que arrumara sua "entrevista" de emprego, por ser namorada de um companheiro de time do tal Luka – apenas para confirmar que estava no local e no dia corretos. Quando quase uma hora já havia se passado, finalmente desistiu.
Tomou o caminho de volta para casa com o vento fustigando seu rosto e as primeiras gotas espessas de chuva caindo. Agradeceu por usar suas galochas – amarelas e chamativas, e a referência que dera para que Luka a reconhecesse – e apertou o passo, querendo chegar em casa logo para se aquecer e começar mais uma vez a procura por um emprego. Já estava na esquina do café quando ouviu um assobio alto.
— Ei! Galochas amarelas!
Voltou-se para trás, deparando-se pela primeira vez com a figura de Luka Modric: ele tinha um sorriso caloroso, do tipo que tornava impossível aos outros não sorrir junto. O som de risadas fez tirar os olhos do pai, finalmente colocando-os sobre as crianças sob a marquise: Ivano usava uma touca de raposa e era provavelmente a criança mais fofa que ela já tinha visto. Ema, por sua vez, parecia uma pequena bolinha cor de rosa e queria apertá-la ali mesmo.
. – a garota voltou-se finalmente para o pai das crianças, esticando uma das mãos para ele – "Galochas amarelas" só para os mais íntimos. – completou, sorrindo.
— Luka. – ele correspondeu ao sorriso, tomando a mão de – Galochas amarelas, você realmente precisa me salvar... – disse, parecendo genuinamente esgotado. Pelo que Sonia dissera, andava a procura de uma babá há semanas.
— A touca de raposa foi golpe baixo... – ela apontou para Ivano, dando de ombros enquanto segurava um sorriso – Como eu posso dizer não pra isso?
Os dois dividiram uma risada e, naquele instante, já sabiam que o emprego seria dela. O que não tinham ideia era que aquela pequena família acabara de ganhar mais um componente, e um par de galochas de brinde.

olhava ansiosa para o relógio. Já passava das nove da noite, e Ema mal se mantinha de pé, tamanho o sono que sentia. Ivano, por sua vez, jogava qualquer coisa em seu tablet, e a garota já o conhecia o suficiente para saber que aquela ruga entre as sobrancelhas não se devia à concentração que o jogo exigia, e sim a algo que o perturbava. E sabia muito bem que aquele problema tinha nome.
— Ele já deve estar vindo, Ivano... – disse, tentando soar positiva, enquanto mandava a vigésima mensagem para o celular de Luka, ainda que as anteriores não houvessem nem mesmo chegado.
O garoto preparava-se para responder quando um som conhecido se fez audível na porta e as crianças se ergueram imediatamente, sorrisos idênticos e cúmplices no rosto: Luka estava em casa. suspirou, aliviada, correndo com os dois para a cozinha – já devidamente limpa – e apagando todas as luzes no processo. No instante em que o pai pisou na sala, as crianças correram para ele com gritos de "Feliz Aniversário, papai!", enquanto os seguia com o bolo decorado anarquicamente pelos dois, com jujubas de todas as cores.
Luka tomou os dois filhos no colo, beijando-os, um sorriso enorme no rosto. Por Deus, como era bom estar de volta para eles... Seus olhos então pararam em , que segurava o bolo com 26 velinhas no topo.
— Faça um pedido. – ela sorriu e Luka assoprou as velas, pedindo que em todos os dias a sensação que tivesse ao voltar para casa fosse exatamente aquela.
Com a presença do pai em casa, as crianças pareciam novamente ligadas no 220v, e foi só depois de assistirem a horas de desenho, comendo o bolo quase por completo, que Luka conseguiu colocá-los na cama.
— Deem boa noite à ... – instruiu os filhos, que abraçaram a babá pelas pernas, fazendo-a rir.
— Boa noite, crianças. – ela sorriu, beijando o topo daquelas cabecinhas loiras.
— Eu amo você, . – Ivano murmurou e sorriu.
— Eu também amo você, Ivano. E você, princesa. – completou, beijando a testa de Ema – Agora, cama!
Luka demorou alguns minutos no quarto das crianças, enquanto arrumava a bagunça que os quatro haviam feito na sala. A garota levava a ponta de um dos dedos à boca, para limpar um pouco de ganache, quando ele retornou à sala.
— Flagra! – Luka riu baixo, apoiando-se na soleira da porta com os braços cruzados – Você faz um trabalho incrível com eles, . Não via meus filhos tão felizes assim há muito tempo. – completou – Obrigado.
— Eles amam você, Luka. – disse, aproximando-se – Tanto! Ivano o idolatra e Ema fala seu nome milhares de vezes por dia... Hoje eu... Eu pensei que você não fosse chegar, e ver a decepção no rostinho deles acabou comigo.
— Eu nunca deixaria de voltar pra vocês. – ele respondeu, em voz baixa, e sentiu a respiração mais pesada ao som daquelas palavras e à presença de Luka, que agora ela sentia com mais intensidade, tão próximo.
O olhar de Luka recaiu sobre , e ele soube que as palavras que lhe escaparam dos lábios não passavam da mais absoluta verdade: ele sempre voltaria para sua família, e , com sua risada infantil, sua cantoria interminável, seu incrível talento culinário e péssimo gosto para galochas, era também sua família. De impulso, o homem encerrou a distância que os separava, cobrindo os lábios de com os seus. Num primeiro momento, ela estremeceu com a surpresa, mas logo suas mãos descobriram o caminho pelas costas de Luka e a garota deixou-se levar pelo aconchego que aqueles braços traziam.
— Luka... – murmurou, rompendo o beijo quando finalmente uma onda de realidade a invadiu. Aquilo estava muito errado, e ela acabara de colocar o trabalho que tanto amava a perder – Isso não deveria ter acontecido, eu... Eu preciso ir pra casa. – disse, passando as mãos pelos cabelos enquanto se afastava do calor do corpo dele.
, espera... – Luka pediu, segurando-a pelo braço – Eu sinto muito, só... – ele respirou fundo, dando um passo na direção dela. Queria de todo o coração perpetuar aquela sensação de plenitude que sentira naquela noite, e sabia que se saísse por aquela porta parte disso teria fim – Só fica aqui hoje. – completou, encarando-a com tanta sinceridade que os dedos de soltaram a bolsa que ela segurava, permitindo que ele a abraçasse mais uma vez.
Luka respirou fundo, sentindo o cheiro delicado que vinha dela. Sua . Tinha cheiro de casa.


Fim.



Nota da autora: Olá olá! Se essa é sua primeira vez lendo Galácticos, queria te contar que essa é uma série de contos com os jogadores do Real Madrid! Os links estarão aqui embaixo! <3
Ai, vocês vão perdoar essa autora que só sabe escrever com crianças? Mas Ivano e Ema são dois amorecos, não me aguento! Essa história é um xodó pra mim, e espero que essa pequena família também tenha conquistado seu coração!
Nos vemos no próximo conto!
Beijinhos!





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