Fanfic finalizada.

Capítulo Único

Eu não entendia como alguém gostava tanto de uma festa, mas gostava. Tudo para ele era motivo para festejar. Tudo mesmo. Vizinho novo. Festa. Time favorito ganhou. Festa. Notas boas no final do bimestre. Festa. O tempo está bom. Festa! O cara simplesmente pegava o dinheiro dele, comprava bebida e chamava geral. Não que eu estivesse reclamando. Adorava ir às festas que ele dava, até porque se não gostasse eu estaria muito ferrado, pois minha presença era indispensável quando nós éramos melhores amigos e porque morávamos juntos. De qualquer forma, lá estava eu, em mais um festa do . Celebrando o quê? O solstício de verão. Isso mesmo. Louco, mas também tinha sido o final das aulas e estávamos oficialmente de férias. Não tinha nada com que nos preocuparmos a não ser se no dia seguinte faria sol ou não. É, realmente o dia estava bom para uma festa. O ar quente estava demais para ficarmos dentro de casa apenas tomando cerveja enquanto víamos alguma série na Netflix.
Passei a mão em meu cabelo, sentindo que estava começando a ficar com calor com aquele tanto de gente. O ar e ventiladores espalhados por todos os lados não estava dando vazão, então caminhei até o lado de fora da cama, a fim de entrar na piscina já que tinha várias pessoas já lá dentro. Senti um braço passando em volta de meu pescoço e olhei para o lado, vendo ali com um baita sorrisão. Ele me estendeu uma garrafa de cerveja que peguei logo e dei um belo gole, pelo menos estava gelado.
deve estar chegando. Ele teve que ir buscar a irmã dele no aeroporto, acho que ela vai passar o verão aqui. — comentou, comigo, como se eu estivesse procurando , nosso amigo.
— Não sabia que a irmã dele viria para os EUA. Ele sempre vai para a França passar o verão com ela. — falei, achando aquilo estranho.
Não conhecia a garota, só tinha ouvido rumores ou o pouco que contava sobre ela. dizia que pais mandaram ela morar com a avó alegando que a velha precisava de cuidados especiais. Só que o que diziam era algo totalmente diferente, as pessoas alegaram que eles tiveram que ser separados porque chegaram a se pegar freneticamente e os pais tinham descoberto. Eu duvidava bastante que fosse fazer isso com sua irmã gêmea, eu o conhecia o suficiente para saber que nunca faria isso, além de ser nojento e loucura demais. Outros falavam que o problema em si era que eles faziam tanta merda quando se juntavam que os pais não aguentaram ter que pagar para os outros ficarem de bico fechado. Escutava também que ela tinha traficado um tempo e teve que fugir quando acabou devendo aos caras com quem comprava as drogas. As pessoas ousavam até mesmo falar que ela era uma sugar baby e tinha achado um velho que a bancasse na Europa. Mas o que assombrava o nome dela e o que todos falavam além de todas as histórias, era que ela tinha matado o babaca do ex namorado, golpe único na cabeça com um martelo, então havia a ajudado a esconder o corpo. Este nunca foi encontrado, nem a arma do crime, mas ela teve que ir embora depois. De qualquer forma, seu nome era , ela estava de volta e eu não fazia ideia de quem era a garota, porque quando cheguei à cidade, ela já tinha ido embora. a conheceu, cresceu junto deles e nem ele ousava falar nada, mantinha a versão de . Para ser sincero, não a queria conhecer, porque, independente do que tinha feito, ela carregava encrenca nas costas e eu detestava esses tipos de pessoas.
— É, mas parece que ela está vindo e trazendo a velha junto. Saudades da família, qualquer coisa assim. — pegou a garrafa e bebeu um pouco. — A é foda, sinto saudades a maior parte do tempo. Você vai gostar dela.
— Ih, era afim dela? — tirei a cerveja da sua mão, dando um sorriso e dando um gole na bebida. — Mas duvido muito que eu vá gostar.
— Uma época eu queria beijá-la, mas depois passou. — deu de ombros. — Hoje em dia, meu foco é outro. — ergueu o queixo em direção a , minha prima, que estava dentro da piscina com , minha melhor amiga. Dei uma cotovelada de leve em sua costela para ficar atento. — Do que você está falando? Nem a conhece.
— Tira o olho da . — apenas riu e isso me fez revirar os olhos totalmente. Ele podia ser meu melhor amigo, mas sabia o que fazia com as garotas, por isso que não queria ele perto da minha prima. — Você sabe do que estou falando. — ouvi ele estalando a língua no céu da boca.
— Não tenho culpa se sua prima é a garota mais interessante da cidade. — dei o dedo do meio para e o ridículo apenas gargalhou. — Não, não sei do que você está falando, . — agora meu amigo me olhava levemente irritado, então fingi não notar.
— Rumores.
— Você é um babaca por achar que qualquer uma dessas palhaçadas é real. — me soltou com certa brutalidade.
— Ah, tanto faz, . Só não acho que vou gostar de uma garota a qual nem a família a quer por perto. — rebati, o que era verdade.
Independente dos rumores serem verdadeiros ou não, não voltava para casa tinha anos, isso queria dizer que não a queriam ali, era algo bem óbvio, então logo não era alguém que deveria prestar. Certo como dois mais dois eram quatro. me encarava irritado e eu apenas me lixei para isso. Ele podia ficar com a cara que quisesse, mas sabia que eu não estava mentindo. Então me virei e saí andando, passando pelo meio da galera e indo para a cozinha pegar algo para beber.
Quando cheguei, abri a geladeira e vi umas garrafas com uns drinks já prontos. Peguei uma rosa, pela cor parecia bom. Coloquei em um copo e dei uma golada enorme, mas cuspi em seguida dentro da pia, sentindo o gosto amargo na boca. Não sabia que bosta era aquela, mas tinha um gosto amargo e parecia remédio, do tipo de xarope de morango que te davam para beber à força quando criança. Tomei uma cerveja que estava ali do lado, na esperança de tirar o gosto horrível da boca, mas não adiantou. Eu precisava escovar os dentes e ficar com o enxaguante bucal durante uma meia hora na boca para ver se aquele gosto horrível saía de minha língua.
Subi as escadas e entrei no banheiro, peguei minha escova e enchi de pasta. Comecei a escovar meus dentes e a esfregar minha língua, até que alguém abriu a porta em um rompante, me fazendo arregalar os olhos e me virar. Uma garota com um kimono preto com estampas de girassol entrou, já levantando sua saia jeans preta e abaixando a calcinha, correndo em direção ao vaso e se sentando nele, até que me olhou.
— Foi mal. Eu não sabia que estava ocupado, a porta estava aberta e eu estava muito apertada. — disse, enquanto nós dois ouvíamos ela fazendo xixi. Aquilo era sério? — Já estou acabando. — avisou, como se estivesse comendo um pedaço de bolo.
Continuei olhando para ela, vendo seus olhos pintados com uns riscos amarelos em cima dos riscos pretos, eu não sabia o nome daquilo, mas era aqueles rabinhos que iam do meio do olho até no canto exterior que todas as meninas faziam. Sentia que conhecia aqueles olhos castanhos de algum lugar, mas não fazia ideia de onde. Seu cabelo escuro estava preso em um coque em cima de sua cabeça e tinha fios soltos para todos os lados, não sabia se era proposital, mas tinha ficado bonito, lhe dava um charme, assim como seu batom azul metálico bem escuro. Era diferente. Assim como o chinelo da vans que estava em seus pés, com suas unhas pintadas de amarelo, quando a maioria das garotas estavam de salto alto lá fora.
— Terra chamando menino da escova de dentes com pasta babando no canto da boca. — ela sacudiu os braços, me fazendo piscar algumas vezes, percebendo que estava falando comigo. — Opa, voltou. — ela sorriu, e achei bonito. — Não que eu me importe muito, mas você está olhando demais e eu preciso me secar para sair daqui e te deixar acabar de escovar os dentes, então vira para lá rapidinho, por favor. — abanou a mão no ar, indicando que eu deveria olhar para o outro lado.
Me virei, encarando meu reflexo no espelho e vi que a pasta tinha pingado em minha camisa. Ótimo, agora teria que trocar. Cuspi na pia e enxaguei minha boca, sentindo que estava queimando por conta do tempo que fiquei com aquela porcaria na boca, mas pelo menos o gosto tinha ido embora. Ainda assim, usei um enxaguante bucal e peguei a toalha para secar meu rosto.
— Ih, sujou de pasta. Deixa eu limpar antes que manche. — a garota apontou para meu peito e pegou a toalha de rosto que estava em minha mão, então a molhou um pouco e começou a esfregar onde estava sujo. — Licença aí. — então enfiou a mão por debaixo de minha camisa e colocou sua palma onde estava o sujo.
Fiquei olhando com atenção o que fazia, parecia que já tinha feito aquilo muitas vezes, o que era engraçado em pensar. Ela esfregava com mais força e molhava um pouco mais a toalha, até que saiu tudo. Tirou a mão dali e senti o tecido gelado se colar contra meu peito. A garota pegou o secador que estava pendurado na lateral do armário e colocou a toalha por debaixo da minha blusa, então começou a secar com o jato quente. Pensei em falar que não precisava, mas deixei porque eu tinha gostado e achado fofo como estava se preocupando em me ajudar, certamente não tinha ideia que eu era dono da casa e que meu armário estava lotado de camisas bem do outro lado do corredor. Ela tinha um sorrisinho bonitinho enquanto fazia aquilo tudo. Suas unhas longas estavam pintadas de preto com perfeição e ela não se importava de que seu esforço fosse estragá-las, o que dizia que estava apenas ligando em me ajudar, independente de qualquer coisa. Porque se tem uma coisa que aprendi com as garotas que já fiquei, é que quanto maior a unha e mais bem pintada, menos coisas elas faziam para estragar o esmalte ou quebrar a unha. Também reparei nos anéis que estava sem seus dedos, eram vários e todos muito bonitos, assim como suas pulseiras e colares, algo diferente do que eu costumava ver e lidar. Por baixo do kimono, ela só vestia uma top preto, simples, sem nada a mais. Uni as sobrancelhas em questionamento de quem era aquela garota. Não era nenhuma das meninas que costumava chamar, ou alguma das amigas de ou . Ela tinha um estilo diferente das garotas que eu conhecia.
Alguém bateu à porta do banheiro, fazendo nós dois levarmos um susto, ela certamente por estar concentrada em secar minha camisa e eu por estar focado olhando seus detalhes. Encaramos juntos a porta, que já foi se abrindo e uma cabeça apareceu para olhar o que estava acontecendo. Era e ele uniu as sobrancelhas como se estivesse tentando entender o que estava havendo ali.
— Por um momento, pensei mesmo que você tinha lavado o cabelo na pia e estava secando agora. — ele falou com a garota, que riu e virou o secador de cabelo em sua direção. — Não faz. — escondeu o rosto e nos olhou de novo depois. — Já conheceu minha irmã, ?
— Sua… — encarei a garota à minha frente, que agora desligava o secador e passava a mão em meu peito. — Irmã?
— Está seco. — ela sorriu para mim com seus olhos se fechando quando fez aquilo.
— Ih, pronto. Se apaixonou por uma alisada no peito. Está de parabéns, . Esse é seu novo recorde. — eles depois riram e eu ainda a encarava tentando achar a assassina de ex namorados.
— Não seja idiota, . Ele não se apaixonou por isso e sim quando mijei na frente dele. — ela fez uma careta, rindo em seguida.
— Você é nojenta. Certamente, o traumatizou. , já tinha visto uma garota mijando? — perguntou, me fazendo encará-lo no mesmo instante com as sobrancelhas unidas.
— Como se ela tivesse me dado muita escolha. — respondi, tentando voltar ao normal.
— Mas você tinha e ainda ficou me olhando com cara de pateta. A porta estava aberta, meu amor. Era só sair. — ela deu de ombros e saiu andando, pegando a mão de seu irmão e o puxando. — Seu amigo é estranho. — ainda consegui ouvir mesmo que tivessem saído do banheiro.
Agora eu quem era o estranho ali. A garota entrou no banheiro sem bater, já levantando a saia e abaixando a calcinha, fez xixi na minha frente como se eu nem estivesse ali e depois eu quem sou o estranho da história. Ah, francamente. Precisava ter paciência, isso sim. Talvez ela fosse mesmo a louca que dava marteladas na cabeça dos outros, sua aparência não queria dizer nada. De qualquer forma, era melhor manter distância. Não queria me envolver em problemas. Até mesmo pensei em não descer de novo para a festa, mas eu seria um idiota enorme se fizesse isso. iria ficar furioso comigo se eu sumisse, ainda mais se depois descobrisse o motivo real. Eu precisava descer.
Me olhei no espelho e passei a mão em meu cabelo, o ajeitando, depois encarei minha camisa, que agora estava seca e limpa, e eu não quis pensar que tinha sido que havia feito aquilo por mim sem nem ao menos me conhecer. Não queria dizer nada, não queria dizer quem ela era ou deixava de ser. Por que eu ainda estava pensando nessa menina mesmo?
Me virei e saí do banheiro. Desci, voltando para a festa e indo pegar uma cerveja, nada mais de bebidas coloridas aquela noite. Peguei uma garrafa e fui para o lado de fora, vendo dentro da piscina junto com , e . Já sentada na borda, com os pés na água, estava , conversando bem animada com eles, rindo e tudo mais. Aquilo me incomodou, porque não quis meus amigos perto dela, mas precisava entender que era irmã do , então não podia fazer muita coisa, mas eu não precisava me juntar a eles. Eu estava sendo chato e bem imbecil, me xingaria por isso mais tarde. Até que pareceram notar minha presença.
— Entra aí, . A água está ótima. — chamou, todo empolgado.
— Dessa vez, eu passo. — fiz uma pequena careta, tomando um pouco da minha cerveja.
— Larga de frescura, entra na água. Se eu pudesse, estaria dentro da piscina. — falou, dando um sorriso e me jogou um pouco de água, o que me fez dar um pequeno passo para trás.
— Já falei que não quero. — rebati, e o sorriso dela sumiu, certamente sem graça.
— Deixa ele pra lá. — já me lançou um olhar recriminador e virou de costas para mim.
— Ih, tem alguém com o humor alterado. — comentou, olhando tanto em minha direção e depois na de .
— Eu que sangro e os outros que ficam raivosos. — ouvi o comentário de e eu quase a respondi, mas sabia que isso iria comprar uma briga feia com .
— Liga não, ele é hostil às vezes. — falou, rindo um pouco.
— Problema é dele, quem está perdendo não sou eu. — ela deu de ombros e bebeu um pouco de sua coca-cola.
O que achava engraçado é que eles continuavam falando de mim como se eu não estivesse nem ali. Revirei meus olhos e saí andando para qualquer lugar que fosse, menos perto deles. Me sentei no sofá do jardim e fiquei ali olhando eles de longe, como se a garota fosse afogar qualquer um dos meus amigos a qualquer instante. Até que apareceram uns amigos meus com umas outras meninas e eles acabaram me distraindo, conversando comigo sobre coisas aleatórias enquanto bebíamos um bocado.
Então não sei como e quando aconteceu, mas, de repente, estava beijando uma das meninas que estava conversando com a gente enquanto dançávamos na sala junto às outras pessoas. Já estava meio bêbado, ou mais do que isso. Só sei que as luzes piscavam de um jeito que me deixava tonto e enjoado. Soltei a garota e fui para o banheiro, acabei vomitando e resolvi tomar um banho para ver se aquela merda passava. Fiquei sentado na banheira, sentindo a água fresca bater em meu corpo. Mandei mensagem para o perguntando onde ele estava, mas não tive resposta, enviei outra dizendo que estava no banheiro colocando meu fígado para fora e mais uma vez nada. Permaneci ali por um tempo. Ninguém apareceu, tinha sumido assim como , e . Certamente, estavam se divertindo com aquela garota. Eu já a detestava antes de conhecê-la. Queria que fosse embora logo. Tinha levado meus amigos, feito eles ficarem com raiva de mim, era culpa dela que eu estava sozinho agora. não teria me deixado beber tanto, e provavelmente estariam aqui comigo, tentaria ajudar também se tivesse condições de ficar de pé, porque geralmente ele ficava pior do que eu. Ouvi alguém bater na porta e isso me fez erguer a cabeça.
— Está ocupado. — falei, com a língua enrolada, não sabendo se tinha realmente colocado as palavras na ordem certa. Tanto faz.
— Era só para ver se você estava aqui dentro. — abriu a porta com um sorriso. — Meu Deus, você está de roupa embaixo do chuveiro. — aquilo não pareceu uma pergunta.
— Vai embora. — mandei, e me encarei, vendo que ela tinha razão, eu realmente tinha esquecido de tirar a roupa.
— Você precisa de ajuda, eu não vou embora. — rebateu, e se aproximou, desligando a água.
— Eu não gosto de você. Sai daqui. — bati com a mão no registro, fazendo a água ligar novamente.
— Tudo bem. Não me importo, mas meu irmão gosta de você e não vou te deixar aí nesse estado. — respondeu, fechando a água novamente e me pegando pelos pulsos. — , você é pesado, preciso que me ajude a te ajudar.
— Não pedi sua ajuda. — puxei meus pulsos com força, fazendo ela perder o equilíbrio e quase cair em cima de mim, mas ela se segurou na parede que eu estava encostado. — Some daqui, garota. — mandei, sentindo meu estômago embrulhar novamente.
— Você está pálido, molhado e claramente bêbado. Você pode, por favor, sair da banheira, . — pediu, com educação e isso me fez olhá-la de baixo.
— Foda-se.
— Você já pode parar, , não tem ninguém olhando. — falou, como se eu fizesse aquilo para chamar atenção dos outros.
Não queria chamar atenção de ninguém, queria que aquela maldita garota sumisse! Mas ela ainda estava na mesma posição, se segurando na parede e me olhando de cima, com seu cabelo preso, alguns fios soltos em sua nuca caindo agora por cima de seus ombros, lhe dando um ar largado. Seu kimono fazia uma sombra em mim, deixando seu rosto no escuro, mas eu ainda conseguia ver seus olhos, seu olhar era diferente, parecia que tinha estrelas neles, um brilho que vinha de dentro para fora, lembrava os fogos de 4 de julho. Eu gostava deles, eram bonitos e iluminavam o céu escuro, faziam aparecer sorrisos nos rostos das pessoas de um jeito solto, feliz, inocente, totalmente em admiração, a forma mais pura que um sorriso poderia ter. Meu sorriso poderia ter vindo se eu gostasse daquela garota, se não quisesse que fosse para o mais longe possível de mim naquele momento, não queria olhar para seu rosto, mas ela estava ali e não parecia que iria embora mesmo que eu berrasse mandando sumir dali, do meu banheiro, da minha casa, da minha cidade, da vida dos meus amigos. Continuei olhando para , pensando em como poderia fazer com que fosse embora, mas tudo o que fiz foi virar o rosto e vomitar.
— Ótimo. Sai daí de dentro, . — ela segurou meu braço com força e me puxou para fora da banheira, meu corpo estava mole e eu acabei caindo nos seus pés.
— Me deixa.
— Cala a boca. — mandou, parecendo irritada agora, me puxando até o vaso. — Vomita mais, você precisa colocar para fora. — senti suas pernas se encaixando nas laterais do meu corpo e sua mão segurou minha testa.
— Não quero vomitar mais. — reclamei, querendo que me soltasse.
— Não me faça enfiar o dedo na sua garganta. — apenas avisou, em um tom que me fez realmente acreditar que faria isso. — Anda, vomita. — sua outra mão apertou meu estômago com força, me fazendo realmente vomitar.
Fechei meus olhos, me sentindo tonto, mas estava se segurando com força, me impedindo de cair deitado. Ela reclamava de algo sobre não atender o celular e depois colocou seu aparelho no banco que tinha do lado do vaso. Sua mão em meu estômago me apertou novamente, fazendo com que eu ficasse enjoado, acabei vomitando mais uma vez enquanto ela segurava minha testa. Dessa vez, me senti melhor, até mesmo recobrei um poucos os sentidos. Parece que ela notou, então me ajudou a sentar em cima do vaso com a tampa fechada e me entregou a escova, falando algo sobre escovar os dentes. Fiz o que pediu e cuspi na pia, já que era do lado. tirou minha camisa molhada e passou a toalha pelo meu rosto, cabelo, peito e barriga, me secando. Eu não entendia porque ela estava fazendo isso comigo, mas não tinha forças para discutir ou fazer qualquer discurso que declarasse que não gostava dela nem um pouco. Suas mãos pequenas me puxaram para cima e me jogaram na parede oposta, eu ainda estava um pouco tonto, mas a vi tirar minha bermuda, me deixando só de cueca. A garota então me puxou para frente e tive que me segurar nela para não cair e isso a fez dar um passo para trás. Pensei que iríamos cair, mas ela não deixou que isso acontecesse. Saímos do banheiro e passamos pelo corredor, entrando no primeiro quarto que ela achou, que por acaso era o meu. Andamos até minha cama, onde ela me ajudou a deitar, se sentando do meu lado porque acabou caindo por causa do meu peso. Fiquei olhando para ela, que agora passava a mão em meu cabelo, o colocando para trás já que estava caído em meu rosto. Segurei seu pulso para que parasse com aquilo, então vi seus dedos se fechando e seu olhar se encontrado com o meu. Tinha algo naqueles olhos que parecia estar recuando agora e isso foi claramente entendido quando puxou seu pulso com força de minha mão. Então se levantou e me cobriu com delicadeza.
— Tira essa cueca molhada. — apenas falou, antes de sair, fechando a porta e me deixando no escuro.
Tirei minha cueca, que realmente estava molhada, sentindo que estava mesmo me incomodando e fiquei sem nada mesmo. Uni as sobrancelhas, olhando as luzes do lado de fora batendo no teto, percebendo que não estava mais rolando música lá embaixo, acho que as festa tinha acabado. Então comecei a pensar em . Quem era aquela garota? Por que ela não tinha ido embora quando eu havia sido grosso com ela? Ainda mais quando disse que não gostava dela? Por que ela tinha ficado e me ajudado? Era mesmo por causa do ? Só poderia ser, pois não tinha outro motivo para isso. Aí, que saco. Essa gente esquisita entrando nos lugares sem permissão, fazendo as coisas que eu não queria, se metendo onde não era chamada. Eu a detestava! Me virei para o lado e abracei meu travesseiro, enfiando meu rosto nele, não querendo pensar mais naquela garota.
Não tinha visto quando peguei no sono, mas sabia que tinha acordado sentindo a boca seca e minha cabeça doendo. Abri meus olhos, tentando entender como tinha ido parar em minha cama sem nada e com ninguém ao meu lado. Tá, tanto faz. Levantei e peguei uma samba canção minha que estava na poltrona. Olhei a hora e não chegava a ser seis da manhã. Ouvi uma música baixa vindo da área da piscina, então caminhei até a janela para ver se a festa ainda estava rolando e tudo o que vi foi com um saco de lixo, pegando a sujeira que o pessoal tinha deixado para trás enquanto dava uns passinhos de dança engraçados ao som de How Do You Sleep?, ela também cantava umas partes. Acabei rindo, vendo que tentava imaginar o Sam Smith dançando, mas falhou totalmente, só que ela não pareceu nem ligar para isso e continuou lá toda empolgada. Cruzei meus braços e me encostei no batente, olhando a irmã de no meu quintal como se estivesse se divertindo muito catando o lixo. provavelmente tinha caído bêbado em algum canto junto a e e com toda certeza não tinha conseguido ficar acordadas até aquela hora, então a garota estava ali totalmente sozinha, com sua música e dancinha. Era até mesmo bonitinho.
Até que um cara apareceu no portão do quintal e ficou lá parado, olhando , que estava de costas para ele, super distraída. Achei aquilo estranho, mas não falei nada, fiquei esperando para ver o que iria acontecer. Então ela finalmente se virou e levou um susto quando viu o sujeito, soltando o saco de lixo e ficando totalmente parada onde estava. Vi suas mãos se fechando com força, ela parecia nervosa.
— Se veio para a festa, ela já acabou. — falou, gesticulando para que ele olhasse ao redor.
— Eu não vim para a festa. Falaram que você tinha voltado, precisei ver com meus próprios olhos para acreditar. — o cara a olhava de um jeito estranho.
— Vai embora, Calvin. — mandou, com um tom de voz irritado, quase como um rosnado.
— Eu não vou a lugar nenhum.
— Eu vou gritar se você não sair daqui agora! — já começou a aumentar seu tom de voz.
— Vai, grita, pode começar. Todos devem estar bêbados demais para te ouvir. — então ele avançou para cima dela, que já se virou e saiu correndo.
Merda. Me virei e corri para a parte debaixo da casa, descendo as escadas o mais rápido que consegui, me esquivando das garrafas de vidro que estavam espalhadas pelo caminho. Peguei o meu taco de beisebol atrás da porta da cozinha e comecei a andar lentamente, sem fazer barulho. Sem sinal da e muito menos do tal de Calvin. Será que ele a pegou antes que eu conseguisse chegar? Minha cabeça legendava, mas isso não estava me importando no momento. Segui para a sala, vendo deitado no sofá enorme junto a , e , os quatro amontoados um em cima do outro. Eles nem sequer se mexiam, estavam ferrados no sono. Ouvi um barulho de garrafa caindo, vindo da sala de jantar, então fui até lá. A garrafa não tinha quebrado, mas rolava pelo chão agora em minha direção. A parei com o pé e continuei andando, olhando para os lados. Passei pelo corredor e quando cheguei ao hall, uma mão me puxou para trás, me fazendo entrar no armário que tinha ali onde guardávamos nossos casacos de frio mais pesados. Uma mão gelada e pequena tampou minha boca e isso me fez arregalar os olhos, vendo com o indicador em seus lábios, pedindo silêncio. Olhei uma alça de couro pendurada em seu ombro e notei que era da espingarda do . A garota me empurrou para trás, ficando na minha frente, então se posicionou e apontou para a porta. Eu podia ouvir sua respiração pesada, seus fios de cabelo mexendo no ar por causa daquilo, seu corpo todo estava rígido e ela segurava a arma com tanta força que os nós de seus dedos estavam brancos. Não demorou até que ouvíssemos passos e a porta foi aberta.
— Fala qualquer merda que eu juro que atiro na sua cabeça. — ela rosnou para Calvin, que apenas ergueu as mãos, se afastando enquanto andava em sua direção. Eu realmente acreditei que ela fosse atirar. — Vai embora. — disse, com calma, e o cara foi andando de costas até a porta da frente, a abriu e saiu.
caiu de joelhos na minha frente, soltando a arma, e começou a chorar enquanto todo seu corpo tremia. Larguei o taco e fui até ela rapidamente, me abaixando à sua frente, então a peguei, tirando do chão. Seus braços envolveram meu pescoço e seu rosto se escondeu em meu peito enquanto sentia suas lágrimas molhando minha pele. Não falei nada, apenas a levei para a cozinha e a coloquei sentada sobre o balcão. Me virei e peguei um copo, o enchendo de água gelada, voltando e pegando uma de suas mãos, colocando o copo em sua palma. Ela bebeu a água toda e me devolveu o copo como uma criança triste. Eu só via as lágrimas rolando de forma silenciosa pelo seu rosto, não emitia nenhum som e isso estava apertando demais meu coração. Era como se ela não quisesse que ninguém a ouvisse. Sua pele estava sem cor, suas mãos geladas e seus olhos estavam fechados, seus lábios comprimidos como se estivesse tentando engolir o choro. Passei a mão em seu rosto, colocando alguns fios soltos para trás de sua orelha, sua maquiagem estava derretendo com suas lágrimas manchando toda sua pele pálida. Queria que parasse de chorar, mas não sabia o que fazer para que isso acontecesse. Então apenas a abracei. Suas mãos tatearam a pele de minhas costas e a seguraram com força. Ela apoiou sua testa em meu peito, abaixando sua cabeça. Seu corpo dava pequenos pulos, indicando que estava reprimindo o choro, e eu afaguei suas costas, indicando que não precisava fazer isso. Respirei fundo, fechando meus olhos. Talvez só estivesse cansada da viagem. Segundo , ela tinha vindo direto da França e o garoto a assustou, isso pode ter feito o estresse aumentar e agora não conseguia parar de chorar. Minhas mãos desceram e seguraram suas coxas, a puxando para perto, a pegando em meu colo novamente. Seus braços subiram e envolveram meu pescoço e ela mesma se puxou para cima, deitando seu rosto em meu ombro. A tirei de cima do balcão e andei pela casa até chegar em meu quarto. Deitei com nós dois na minha cama e se encolheu em meu peito. Apesar de estar calor, a abracei, encostando meu queixo em sua cabeça.
It's just another downpour, don't let it get the best of you — cantei baixinho para ela a letra de Burn Out, do Imagine Dragons porque ela simplesmente veio em minha mente naquele momento e achei que poderia se encaixar para ela. — It's only up from the floor, light everything inside of you.
Senti seus ombros se encolherem mais e eu acariciei suas costas, indicando que estava tudo bem. Não sabia porque estava fazendo aquilo, eu nem gostava dela, mas vê-la daquele jeito acabou comigo. Chorando, tremendo, apavorada e totalmente perdida. Não podia deixá-la no chão daquele jeito, seria desumano. Então cheguei à conclusão de que não importava quem ela era, precisava ajudar e foi isso que eu fiz, não mudava as coisas em nada, eu continuava não gostando daquela garota. Não estava errado em achar que ela atraía confusão. Mal tinha chegado e a peguei com uma arma na mão, pronta para atirar em um cara. Ok, podia ser só para fazer com que ele fosse embora, mas também podia não ser. Achava realmente que ela iria atirar pelo seu tom de voz, ainda mais pelo jeito que segurava aquela arma, e o sujeito a conhecendo melhor do que eu também acreditou nisso. Então pronto, era perigosa e claramente um problema. Será que era o traficante que ela tinha ficado devendo? Bem, tinha jeito de ser. Isso fazia uma das versões serem verdade, mas ainda tinha a parte de ter matado seu ex. tinha mesmo a ajudado a esconder o corpo? Ele não parecia que concordaria, mas era o irmão gêmeo dela, faria qualquer coisa para protegê-la. Minha cabeça doía e quanto mais eu pensava naquilo, mais latejava.
Respirei fundo, percebendo que tinha se acalmado por conta da sua respiração estar leve demais. Me mexi minimamente, chegando para trás e vi que ela havia dormido, seu rosto todo sujo de preto indicando que tinha chorado até apagar. Um sorriso triste veio em meus lábios. A olhando daquele jeito, parecia tão inocente, segurando seu pulso onde certamente antes estava usando mais força, com seus lábios minimamente entreabertos, com alguns fios de cabelo colados em seu rosto. Deixei meus dedos passarem pelo seu cabelo em um carinho leve e parece que isso a acordou, mas apenas se virou para o outro lado, enfiando um dos seus braços embaixo do travesseiro e o deixando esticado. Percebi que a parte de dentro do seu pulso tinha uma tatuagem de girassol, mas embaixo dela havia uma cicatriz de um corte profundo atravessado, era onde ela estava segurando antes. Isso me fez franzir os lábios. tinha tentado se matar? Aquilo não se encaixava no resto das histórias. Certamente, deve ter sido depois que tinha ido embora. Ver aquela marca fez tudo dentro de mim se revirar, sentindo uma tristeza ainda maior por saber que ela tinha tentado tirar sua própria vida. Engoli o bolo em minha garganta quando meu peito começou a parecer ficar sufocado. Não queria saber mais nada daquela garota, porque sentia que ela estava me afundando só por estar ao seu lado.
Então me levantei e me deitei no chão, levando apenas meu travesseiro. O abracei e me obriguei a fechar os olhos, mas mesmo que eu quisesse muito, não consegui pegar no sono tão facilmente. Fiquei me virando de um lado para o outro, procurando uma posição confortável com todas as cenas daquela noite se revirando em minha mente. Sabia a causa daquilo, era e não o chão onde eu estava deitado.

Quando acordei, percebi que estava deitado no chão. Minha cabeça doía e minha boca estava seca. A ressaca tinha me pegado de jeito. Então desci, vendo a casa já toda arrumada e deitado em uma boia dentro da piscina. Ele me olhou por cima de seus óculos escuros e voltou a fingir que não me via. Revirei os olhos e fui para a cozinha tentar me lembrar o que aconteceu na noite anterior. Vinham alguns flashbacks em minha mente depois que me sentei no sofá do jardim. Então me lembrei que passei mal e acabei no banheiro. Qualquer coisa veio à minha mente com a irmã do sentada atrás de mim, segurando minha testa, eu falando que não gostava dela. Depois a vi limpando a área da piscina, até que um cara apareceu. chorando, a marca em seu pulso, ela deitada em minha cama. Entendi porque eu tinha dormido no chão. Segurei no balcão e respirei fundo. Deveria parar de beber, porque não era possível fazer tanta merda assim. Não estava acreditando que tinha falado que não gostava dela. Eu era um imbecil mesmo. Mesmo que fosse verdade, ela não precisava ficar sabendo. Agora já tinha ido, dane-se.
Me virei, peguei uma garrafa de água e voltei para a piscina, poderia arrancar alguma coisa de , ele geralmente era língua solta. Me sentei em uma cadeira na sombra, como quem não queria nada, e fiquei ali por um tempo, tomando minha água.
— Que horas o pessoal foi embora? — comecei, perguntando, apenas puxando assunto.
— Deve ter mais ou menos uma hora. — informou, com sua boia indo de um lado para o outro na piscina. — Você viu a indo embora? — adorei ter perguntado, porque me daria margem para continuar no assunto com ela.
— Não. Eu vi só ela de manhã limpando aqui fora quando me levantei para ir ao banheiro. Por quê? — quis saber, enquanto o olhava, esperando qualquer coisa.
— Ela foi embora sem avisar. tentou ligar, mas o celular estava desligado. — uni levemente as sobrancelhas, achando estranho, não sabia se deveria comentar algo do que aconteceu.
— Entendi. — foi o que falei, me remexendo na cadeira como se fosse desconfortável. — Você conhece algum Calvin? — a pergunta fez me encarar na mesma hora.
— Tive a infelicidade de conhecer um. Por quê? — ele tinha aquele olhar de que sabia que eu estava escondendo algo.
— Quem é?
— O ex namorado babaca da . Mas por que você quer saber? — ele insistia, e fiquei surpreso por saber aquilo. Será que era a mesma pessoa? Precisava só de mais um pouco de informação para lhe contar.
— Aquele que ela matou com o martelo? — me olhou como se eu tivesse falado o maior absurdo do mundo.
não mata nem uma formiga. Aquele babaca sumiu, não está morto, mas bem que eu queria que estivesse. Não acredito que você realmente levou a sério os boatos! — meu amigo estava bem puto e eu apenas dei de ombros, era o que todo mundo falava, então tinha que ter algum fundo de verdade. — Vai se foder, . — ele jogou água em mim.
— Ué, você queria que eu não acreditasse? É a única história que todo mundo conta igual. — rebati, um pouco nervoso também.
— Mas não quer dizer que seja verdade! — achava engraçado como defendia sua amiga e isso me irritava um pouco. — Por que você está perguntando desse merda?
— Ele esteve aqui pela manhã.
— Ele o quê? — pulou da boia, afundando na piscina. — Seu idiota, você só me fala isso agora? — submergiu, já me xingando e saindo da água. — Que inferno, . — saiu correndo para dentro de casa, escorregando. — Cadê a merda do celular? — me levantei, indo atrás dele, porque queria saber de fato o que estava acontecendo.
— O que está acontecendo? — quis saber, e me olhou apenas puto, já achando seu celular.
— Não importa. Você nem gosta dela mesmo. — respondeu, e saiu andando, mas fui atrás.
— Importa, sim. Me conta. — pedi, só que a resposta de foi seu dedo do meio.
! — disse, ao telefone. — O Calvin esteve aqui atrás da . — avisou, e ficou em silêncio por um momento. — É. O quem falou, ele não sabia quem era. — me lançou um breve olhar. — Ela ainda não apareceu? — isso me fez unir as sobrancelhas, realmente ficando preocupado com a situação. — Não quero saber. Eu estou indo me vestir agora. Vamos virar essa cidade de cabeça para baixo até achá-la! — prendi meus lábios em linha reta, me sentindo mal por não ter visto a hora que tinha ido embora. — Ok, nos encontramos no posto de gasolina no centro. — logo depois, encerrou a ligação.
— Eu vou ajudar, posso ir de moto. — falei. ficou me olhando por alguns segundos.
— Ok, tanto faz. — se virou e subiu para o quarto.
Fiquei parado alguns segundos olhando para o nada. estava puto comigo por não ter falado antes que o ex namorado morto/desaparecido da tinha aparecido aqui? Era isso mesmo? Eu só podia estar ficando louco ou qualquer coisa parecida! Porque não fazia sentido algum! E eu lá ia saber quem ele era? Não tinha como saber quando ninguém me contava porra nenhuma! Aquilo me deixou puto. Qual era a dificuldade de abrir a boca e contar a bosta da verdade? De qualquer forma, ela tinha sumido e a gente precisava encontrá-la.
Subi para meu quarto, troquei de roupa e peguei a chave da minha moto. Desci e já tinha ido. Aquilo me deixou um pouco mais puto com a bosta da situação, porque não tinha necessidade nenhuma dele agir daquele jeito. Peguei meu capacete e saí de casa, indo o mais rápido possível até o posto para encontrar com e . Quando cheguei, os dois ainda estavam no posto, abastecendo os carros. Desci da moto e fui até eles. me deu um abraço apertado, agradecendo por ter avisado sobre o tal de Calvin, mas o apenas entrou na loja de conveniência. Resolvi abastecer minha moto também.
— O que está pegando? Por que está tão puto com esse cara? — perguntei, para , porque ele tinha mais paciência e parecia estar disposto a me contar.
— Minha irmã não foi embora para fazer companhia para a nossa avó na França quando nosso avô morreu. Ele morreu desde quando nascemos. — cruzou os braços e se encostou na lateral do carro. Sabia que aquilo era mentira! — foi embora porque aqui não era seguro para ela ficar. O Calvin é surtado, acha que minha irmã é obrigada a ficar com ele de qualquer forma. — fiz uma careta com aquilo.
— Todo mundo achava que ele estava morto. — falei, causando uma risada em .
— Ele fugiu e a família dele deu como desaparecido. — deu de ombros e negou com a cabeça, a abaixando. — Em uma festa de halloween, o pessoal estava me enchendo o saco para falar o que tinha acontecido de verdade. Era um jogo de verdade ou consequência e eu escolhi verdade. Então me perguntaram por que tinha ido embora. — tinha aquele olhar de garoto travesso e eu esperava que falasse logo. — Aproveitei que era dia das bruxas e quis assustar o pessoal. Inventei a história de que ela tinha o matado com uma martelada na cabeça e tivemos que esconder o corpo. — eu fiquei olhando para ele, não acreditando que tinha feito isso. — Não tinha corpo, nem martelo, eu tinha 17 anos, logo os adultos e nem a polícia acreditaram. — acabou rindo daquilo. — Mas a galera realmente achou que era verdade, mesmo conhecendo minha irmã e sabendo que ela nunca faria isso.
— Pessoal quer sempre a pior parte das pessoas. — comentei, me sentindo pior ainda por ter acreditado realmente naquilo. — E o que aconteceu de verdade? Tá, ele é maluco e quer ficar com ela a todo custo. Mas por que ele fugiu?
— Isso você vai ter que perguntar para , ela não gosta que a gente fale sobre e me fez prometer que não contaria a ninguém. — ergui uma sobrancelha. Eu não era ninguém, era um dos melhores amigos dele!
Olhei por cima de meu ombro, ouvindo um barulho e vi chegando em um carro e em outro. As duas de óculos escuros, certamente escondendo as olheiras. Olhei para meu amigo de volta, estreitando meus olhos. Algo me dizia que sua felicidade não era à toa. As meninas desceram do carro e vieram até nós, mas parou do lado de e ficou. Apenas observei enquanto minha prima perguntava de . O que estava acontecendo ali? Eu não fiquei perto uma noite e as coisas tinham mudado? Pensei em falar algo, mas o clima estava estranho demais para qualquer um dos meus comentários.
voltou com um pack de coca-cola na mão e alguns doces. Açúcar era tudo que precisávamos mesmo. Então saí dali para pagar a gasolina e comprar qualquer coisa para comer antes de sair por aí, embaixo do sol, procurando . Não queria pensar que eu era um babaca e burro por ter acreditado no que os outros falavam, mas também não queria gostar da garota que estava fazendo minha cabeça virar do avesso em menos de vinte e quatro horas. Aquilo era loucura, ela tinha chegado roubando toda a atenção e invadindo minha mente de forma que me deixava desconfortável. Inferno. Eu pensava em seus olhos, via exatamente ela me olhando de cima, segurando a parede para não cair, os riscos amarelos em cima dele, o brilho dentro do tom castanho. Quem era ela? Aquela pergunta ecoava de forma incansável.
Estava no caixa pagando as coisas, até que vi um Jeep preto parando do lado de fora. De repente, saiu dele, com a mesma roupa de ontem, mesmo cabelo e… Meus óculos escuros? Deixei as coisas em cima do balcão e já saí da loja, empurrando a porta de vidro com certa brutalidade, fazendo que fosse até o canto e voltasse. Aquilo só podia ser sacanagem. Como assim ela estava ali no posto como se nada tivesse acontecido? a abraçava agora, de forma como se estivesse checando que estava tudo bem.
— O que o Calvin fez? — quis saber, e nisso me olhou.
— Ele não fez nada, só quis me irritar. — aquilo era mentira, ele queria assustá-la, ou levá-la para qualquer lugar.
— Onde você estava? — cheguei perguntando mesmo, porque não era possível uma pessoa ser tão descarada daquele jeito.
— Desculpa, quem é você mesmo? — ela simplesmente virou e soltou aquilo como se nunca tivesse me visto. Aquela garota era louca! — Ah sim, ninguém. Dá licença. — pisquei, tentando entender o motivo daquilo.
— Você é bem maluca, sabia? O ninguém quer os óculos de sol dele de volta. — falei, eu não era obrigado a nada. Tinha ajudado ela para estar me tratando daquele jeito.
— Hm, é seu? Achei jogado pela casa. Depois te devolvo. — nem sequer me olhou e pareceu também não ter se importado em tê-la chamado de maluca.
— Eu quero agora. — cruzei os braços, esperando que me devolvesse. As meninas apenas viravam o rosto de um lado para o outro, esperando a resposta que daríamos, seria engraçado se eu não estivesse tão puto naquele momento.
, dá um tempo. — se meteu, e o olhei já puto, mas ele me ignorou. — , onde você foi quando saiu lá de casa? Seu celular não estava recebendo ligação, ficamos preocupados.
— Fui embora andando para casa. — deu de ombros, como se nada demais tivesse acontecido. — É, meu celular descarregou e não achei a porcaria do carregador na hora que cheguei e logo depois minha avó me chamou para ir ao mercado com ela, estamos voltando agora, parei para abastecer. — explicou, tranquilamente, apontando para o carro com o polegar. Olhei para ele e vi uma senhora sentada no banco do carona. — Não me preocupei, porque o celular da vó estava com carga, achei que qualquer coisa poderiam ligar para ela. — pensando por esse lado, fazia sentido.
— Nem lembrei de ligar para a vó. — falou, deixando seus ombros caírem. — De qualquer forma, você está bem, isso que importa. — ele deu um sorriso e abraçou sua irmã novamente.
— Se o Calvin aparecer de novo, avisa a gente. — pediu, e apenas concordou com a cabeça. — Aparece lá em casa mais tarde, vamos fazer uma noite de jogos.
— Vamos? — questionei, quando a ideia não tinha sido compartilhada comigo antes.
— Vamos. Se quiser, não precisa participar. — meu amigo rebateu, e eu lhe dei o dedo do meio, já me virando.
Entrei na loja, paguei só pela gasolina mesmo e saí de lá do mesmo jeito que antes, quase derrubando a porta. Passei por todo mundo sem falar nada, porque eu estava puto da vida com o e , que estavam dando show sem a menor porra da necessidade, e subi na minha moto. Coloquei meu capacete e me mandei daquele posto, mas não fui para casa porque não estava com vontade de cruzar com por algumas horas.

Estava em meu quarto vendo filme, quando chegou, entrando sem bater e se deitando ao meu lado, pegando um pouco da minha pipoca. A olhei, esperando para ver o que falaria, mas ela só ficou calada, olhando o que passava na TV. Então fiquei na minha. Não ia perguntar o motivo de estar ali para não parecer grosso e só achar que minha amiga tinha ido atrás de mim para pedir algo.
Logo os créditos começaram a subir e me estiquei na cama para levantar e pegar alguma coisa para fazer. Estava entediado e tinha passado o dia no quarto.
— Me conta. O que está pegando entre você, e ? — foi bem direta, o que indicava que ela não estava com paciência para enrolação.
Olhei para minha amiga alguns segundos. Então era isso que queria, saber o que estava acontecendo. Ótimo. De qualquer forma, não custava nada contar também.
— Eu falei merda sem pensar, aí está puto comigo agora, e pelo que parece, até ir embora. — dei de ombros, como se não ligasse para isso.
— Então você quer que ela vá embora para as coisas ficarem bem novamente. — não tinha pensado ainda por esse lado, mas podia ser. — O que você disse para o ? — ela me olhava de forma calma.
— É, porque desde que essa garota chegou as coisas ficaram estranhas. Ela está acabando com as nossas férias de verão. — falei, exasperado e vi minha melhor amiga revirando os olhos. — Disse que não iria gostar de uma garota que nem a própria família quer. — dei de ombros, porque não era para fazer tanto alarde com aquilo, eu tinha meu direito de gostar de quem quisesse. — Mas ele está com essa superproteção para cima dela e ficou puto com isso. Só porque ele gosta dela, acha que todo mundo tem que gostar também.
, você está se ouvindo? — questionou, me olhando com atenção, então encarei seus olhos, tentando achar o problema. — Ok, tudo bem não querer gostar dela, mas não precisava ter falado isso para o . Você não sabe nada sobre a vida da . — olhei para o lado. tinha razão, mas não falaria isso a ela. — Não pode tomar conclusões com base no que esse bando de fofoqueiros fala. Você sabe como é essa cidade, eles amam uma desgraça. — levantei meus ombros, como se não ligasse. — é o melhor amigo da , ou era, não importa. Ele só está preocupado e duvido que ache que você é obrigado a gostar dela.
— E por acaso você sabe a verdade? Porque parece que todos vocês sabem, menos eu. — rebati, levemente irritado, me sentindo excluído.
— O que aconteceu no passado dela não é problema nosso. Você não está pensando com clareza, está com raiva por causa do . Meu melhor amigo não julga as pessoas assim. — jogou em minha cara, me fazendo ficar calado. — Você deveria estar gastando seu tempo tentando conhecê-la e não querendo saber a verdade do que aconteceu há sete anos.
— Só porque te convém. — rebati, cruzando meus braços, olhando para a TV.
— O que isso me convém, ? — ela perguntou, um pouco irritada.
— Você está afim do , logo convém ficar de boas com a irmã dele. — e, naquele momento, só pela forma que bufou, pensei que fosse pegar qualquer objeto que estivesse em seu alcance e jogar na minha direção.
— Você está ficando maluco! Depois é a a maluca da história. Pensando melhor, você mereceu o fora mesmo. — então se levantou e saiu, me deixando ali sozinho.
Ótimo, além de ter brigado com o , agora tinha feito a ficar puta comigo, certamente também estava com raiva por ter chamado sua irmã de maluca, só faltava a virar a cara para mim. Aí sim seria a cereja do bolo. Perfeito! Aquela garota tinha conseguido acabar com as minhas férias em apenas um dia. Ela podia voltar de onde veio e ficar lá para sempre! Inferno.
Dei um tapa no balde vazio de pipoca, fazendo ele voar longe. Quer saber, foda-se todos eles. Eu tenho mais o que fazer também.
Levantei-me, fui ao banheiro, me arrumei e saí sem dar satisfação, vendo todos na sala jogando um jogo qualquer de tabuleiro. Por mim, eles podiam comer as pecinhas.

Os dias foram passando e eu quase não parava em casa, especialmente quando o pessoal estava lá. Só que às vezes era complicado e eu acabava esbarrando com alguém chegando ou saindo. Até precisei comer antes de dormir, porque o idiota tinha esquecido de parar em qualquer lugar e comprar algo pronto. Além de estar tarde para pedir qualquer coisa, só tinha pizzaria aberta e eu não estava afim de pizza.
Desci sem falar com ninguém, porque logo quando cheguei também não fiz isso e fui para a cozinha, encostando a porta para não ouvir as risadas deles e muito menos a conversa. Joguei meu celular em cima no balcão, tocando minha playlist favorita e abri a geladeira, vendo o que tinha lá. Peguei ovos, maionese, queijo, bacon, carne de hambúrguer e, claro, uma cerveja gelada, porque estava um calor insuportável. Tocava Feel You Now, do The Driver Era. A música me fazia balançar a cabeça e cantar junto enquanto pegava a frigideira e enchia de manteiga.
Can you put me down? — joguei a carne dentro da frigideira e me virei para pegar o pão.
Então vi entrando, trancando a porta e olhando bem séria para a minha cara. Peguei uma fatia de queijo que estava no pote sobre o balcão e enfiei na boca, encarando a garota estranha, esperando que fizesse qualquer coisa a não ser ficar me olhando com um olhar matador. Talvez estivesse planejando minha morte e eu não ligava para isso. A música continuava tocando, certamente agora a trilha sonora do meu assassinato, e eu até que gostava dela, era uma boa música. Vendo que certamente ainda estava pensando o que faria com meu corpo, aproveitei e a olhei melhor, percebendo que estava de vestido de botões, um preto um pouco folgado, com alças, que ia até o meio de sua canela e marcava levemente sua cintura. A garota estava descalça e suas unhas eram amarelas.
— Você é a um babaca escroto do caralho. — soltou aquilo de um jeito agressivo que me fez erguer as sobrancelhas, então olhei por cima de meu ombro. Ela estava mesmo usando aquele tom comigo? — Não se faça de idiota! — a encarei e vi que estava vindo na minha direção. — Qual é a porcaria do seu problema? — me empurrou pelos ombros com força, me fazendo bater contra a parede.
— Claramente, você pirou de vez! — rebati, ficando irritado com aquilo tudo. — E se quer saber, a porcaria do meu problema é precisar olhar para a sua cara o verão inteiro. — respondi logo, se ela queria tanto saber. E tudo o que fez foi rir. — Agora é engraçado?
— Eu vou resolver a porcaria do seu problema. — disse, e se aproximou rápido.
A doida segurou minha nuca, me puxando para baixo e se impulsionou para cima, juntando seus lábios nos meus. Arregalei meus olhos, achando aquilo a coisa mais absurda do mundo, então segurei sua cintura para afastá-la de mim e no segundo que abri a boca para reclamar por causa daquela merda toda, sua língua tomou a minha com voracidade. O que ela achava que estava fazendo? Suas mãos me seguraram com mais força, fazendo a minha apertar sua cintura, e a afastei. Ouvi sua risada e isso me fazia encará-la querendo achar a piada, que claramente era eu.
— Você pega muita pilha fácil, . — disse, me olhando e dando uns passos para trás, passando o polegar pelo seu lábio inferior. — Baby, come on, come on cantou aquela parte da música, olhando dentro dos meus olhos enquanto dava um sorrisinho.
Aquilo me provocou e ela sabia muito bem disso, dava para ver em seus olhos e ainda gostava. Aquilo não iria ficar assim, não mesmo.
— Vai se foder. Por que você tem que ser louca assim? — soltei, indo em sua direção.
— Porque esse é meu jeitinho. — falou, quando a peguei pela coxas, a erguendo e colocando sentada sobre o balcão. — Que mexe com a sua cabeça. — sussurrou, se inclinando para frente e passando sua língua pelo meu lábio inferior enquanto me olhava nos olhos. — Te fazendo odiar pensar em mim o tempo inteiro. — estreitei meus olhos com aquilo, ela fazia de propósito.
— Então é só para me irritar? — mesmo que já soubesse a resposta, queria ouvir. — É só isso que você quer?
Minhas mãos foram subindo pelas suas coxas enquanto entrava no meio de suas pernas, deixando nossos corpos mais próximos. Se ela podia me provocar, eu podia fazer isso de volta. Senti sua respiração bater contra a minha, deixando meus lábios bem próximos dos dela, esperando por sua resposta enquanto olhava dentro de seus olhos, tentando descobrir onde queria chegar com aquilo tudo. Senti seu pé subindo pelo jeans da minha calça e depois descendo, deixando um sorrisinho surgir em seu rosto.
— Não. Já consegui o que eu quero. — respondeu, deixando seu olhar cair para meus lábios e suas mãos foram subindo pelos meus braços até chegarem em meus ombros, os apertando. — Você relaxado para me ouvir. — então jogou seu corpo para trás, se apoiando com as duas mãos na superfície do balcão. Ela me deixava confuso demais, não dava para entender. — Confesso que foi melhor que o esperado. — seu sorrisinho me fez ir para trás, mas suas pernas me impediram, pois subiram rapidamente, envolvendo minha cintura. Respirei, levemente irritado, já cansado daquilo. — Ainda não. — disse, voltando a ficar perto e minhas mãos apenas a soltaram, se apoiando no balcão, esperando acabar com seu teatrinho. — Eu vou te soltar, só preciso que você me ouça, ok? — seu pedido me fez prender meus lábios em uma linha reta.
— Ok. — disse, de má vontade, mas suas pernas me soltaram mesmo assim.
— Seu hambúrguer vai queimar. — avisou, apontando para a frigideira.
— Culpa sua. — corri até lá, virando-o e vendo que tinha queimado um pouco.
— Sempre mais fácil me culpar do que assumir que o único problema aqui é você não aceitar nada quando eu estou envolvida. — aquilo me fez olhá-la. — Tudo bem, eu posso aceitar a culpa se você me der apenas uma chance de mostrar que não sou a bruxa má do Oeste. — estava sorrindo, olhando para mim. — É sério, . Eu só quero que você fique conosco. — aquilo tinha me pegado desprevenido. — Eles estão sentindo sua falta. Não param de falar do e como ele é foda e o melhor amigo deles. Pelo amor de Deus, eu não aguento mais ouvir histórias sobre você! — na última parte ela fechou os olhos com força. — Eu quero conhecer o das histórias e não ficar ouvindo falar dele o tempo todo. — soltou um suspiro, deixando seus ombros caírem e finalmente desviou o olhar. — Então, por favor, volta a falar com o , eu não aguento mais ele chorando no meu ouvido por sua causa. — riu um pouco, me fazendo rir junto.
— Ele está chorando muito? — perguntei, tirando o hambúrguer do fogo e pegando um prato.
— O tempo inteiro. — olhei por cima de meu ombro, vendo revirando os olhos. — Mimimi, o não fala comigo. Mimimi, o não gosta mais de mim. Mimimi, mimimi, mimimi. — ela fez uma careta, me tirando outro riso. — Vamos, não aguento mais, cara. — sorriu, dando um riso depois. — Ninguém aguenta. Estamos em tempo de enfiar um sapato na boca dele, você não faz ideia! — acabei gargalhando imaginando a cena, eu sabia bem como era irritante às vezes.
— Vou pensar no caso. — comentei, e se jogou para trás no balcão como se estivesse chorando. — Ok, eu volto a falar com ele. — então a garota se levantou, pulando do balcão de uma só vez.
— Nunca duvidei de você, . — falou, de um jeito brincalhão. — Então… — veio andando em minha direção e passou a mão em minhas costas. — Você, como um bom amigo, vai fritar hambúrguer para todo mundo. — a olhei no mesmo instante. — Eu ajudo. — fez um bico, erguendo as sobrancelhas. — Estamos com fome? — sugeriu, rindo depois. — Vai, eu te dou um beijinho depois. — estreitei meus olhos para ela. — Ok, sem beijinho.
— Pega a carne no freezer. — a empurrei com minha bunda para que fosse logo antes que eu desistisse. — Ovos e bacon também.
— Sim, senhor. — respondeu, de um jeito engraçado.
Neguei com a cabeça, rindo daquilo tudo. não existia, sério. Logo ela já estava colocando tudo no balcão e começou a fritar os ovos enquanto eu fazia o hambúrguer. Ela ficava dançando de um lado para o outro enquanto fazia as coisas, cantando as letras de algumas músicas que conhecia e às vezes fazia alguma palhaçada, me causando risadas. Até que ela não era tão péssima assim. Mas o que não me saía da cabeça era o lance dela ter me beijado. Qual era a verdadeira intenção? E se eu tivesse retribuído em vez de afastá-la? Por que ela tinha feito aquilo? Sentia que aquelas perguntas iriam fazer minha mente fritar que nem aqueles hambúrgueres. Uma coisa aquela garota tinha razão, ela estava mexendo com a minha cabeça.
colocou seis pratos sobre o balcão e cada hambúrguer montado perfeitamente dentro de cada um. Depois colocou seis cervejas ali e então se virou com as mãos na cintura e um sorriso enorme.
— Eu te daria uma estrelinha se tivesse uma aqui. — brincou, chegando mais perto, parando na minha frente. — Mas posso te dar isso. — ficou na ponta dos pés e deu um beijo na minha bochecha, que me fez virar o rosto de leve para o mesmo lado que o dela. me olhou e a gente estava bem perto ainda. — Você pode me beijar, se quiser. — disse, com calma, baixo e me encarando com atenção, até respirou fundo como se tivesse prendendo o ar.
— Por que você faz isso? — perguntei, tocando de leve em sua cintura. — Fica mexendo com a minha cabeça.
— Real não é a minha intenção. — seus olhos estavam fixos no meu e pude ver o brilho neles igual ao dia que nos conhecemos. Era como se ela usasse uma máscara e escondesse aquilo. Não deveria quando parecia que tinha algo intenso nele. — Só falei aquilo para te provocar. — confessou, levantando um pouco o ombro, então colocou a mão em meu braço. — Eu precisava chamar a sua atenção de algum jeito, sabia que não iria me ouvir se chegasse pacificamente, só iria me atacar e pronto. Tinha que ter certeza se eu era a causa do problema. — deu um pequeno sorriso fechado, como se estivesse chateada com aquele fato, e sua mão foi se soltando aos poucos, isso me fez segurar sua cintura com mais firmeza, indicando que não era para se afastar, não agora. — Eu quero te conhecer. — podia ver que estava sendo sincera.
, está viva? — a voz da minha prima vinda da porta da cozinha fez nós dois pularmos, nos afastando. — , você não matou a menina, né? — então tentou abrir a porta. — Gente, o negócio está estranho. Ninguém responde e a porta está trancada.
Aquilo fez nós dois rirmos e correu até a porta, a destrancando. olhou para a garota como se a analisasse vendo se estava tudo bem, depois me encarou, vendo se eu estava bem, em seguida intercalou, olhando um pouco para cada um, só então que se deu conta do que estava sobre o balcão e começou a gritar, chamando os outros. apareceu na cozinha apavorado, achando que realmente tinha acontecido algo, tirando mais risadas nossas.
, não me mata do coração. — falou, com a mão no peito.
— Apesar de querer, ainda não matei sua irmã, relaxa. — falei com ele, dando uma risada e me deu o dedo do meio. — Ih, voltou a ficar raivosa?
— Só para não perder o costume. — disse, dando uma pequena risada. — Viu, eu disse que conseguia. — estalou os dedos e apontou para seu irmão.
— Você apostou com eles que conseguia conversar comigo? — perguntei, achando graça.
— É, mais ou menos. — fez um sinal com a mão. — Mais complexo que isso. Basicamente, era fazer você me engolir mesmo, por bem ou por mal. — comentou, rindo mais e acabei fazendo o mesmo.
— E o que você ganharia com isso? — quis saber.
— O parando de encher o saco de todo mundo! — acusou, apontando para meu amigo, fazendo todo mundo rir. — Eu te disse que ele estava perturbando a gente.
— Eu não acredito que você falou para ele! Sua linguaruda! — rebateu, irritadinho, fazendo todo mundo rir. — Ow, X9 morre cedo, hein. — fez um gesto que indicava que estava de olho nela.
, shiu. — falou, com um sorriso no rosto, causando risada em todos nós.

Voltei a falar com como tinha pedido, não que tivesse sido um sacrifício, porque no fim das contas nós apenas esquecemos o que houve e nem ao menos tocamos no assunto. E conforme os dias iam se passando, meus olhos não queriam sair daquela garota por mais que tentasse e me esforçasse para não falar com ela, ou simplesmente não puxar assunto, era difícil. Algo nela fazia algo dentro de mim se aquecer lentamente, o que me fazia ir direto em sua direção e querer olhar dentro de seus olhos, procurando por aquele brilho que só eles tinham. Eu até podia me enganar e dizer que não pensava em quase sempre, mas ela se mantinha doce em minha memória todas as noites quando ia dormir. Queria ignorar aquilo, os pensamentos, o jeito que me sentia quando ouvia sua voz do andar debaixo falando que tinha chegado toda vez que passava pela porta da frente de minha casa e todas as vezes eu falhava. Era como lutar uma guerra que não poderia ser vencida. De uma forma misteriosa, aquela garota cheia de segredos, a qual disse que não iria gostar, tinha entrado embaixo da minha pele e me feito morder a língua com força. Ela tinha me pegado nas entrelinhas e agora não sabia como fugir.
Depois de um mês, estávamos descendo a rua em direção ao centro, para uma festa que teria em um prédio antigo. Todos conversando, rindo um bocado e ansiosos. Meus olhos vagavam as vezes por , que andava na frente com e . Não entendia como ela tinha um sorriso tão bonito.
Voltando à festa, os organizadores tinham ficado reformando por meses e prometeram cinco andares diferentes de festa. Cada andar seria uma coisa. No térreo, o tema era de América do Norte, tocariam só músicas de cantores daqui e Canadá. No primeiro, era Europa, logo era customizado com a cultura de lá. No segundo, era América do Sul e seguia o estilo dos outros, música latina e tudo mais. O terceiro tinha ficado com África. O quarto era da Ásia. E o último andar era a área onde eles prometeram colocar até mesmo exposições e comidas típicas, também chamaram os melhores tatuadores da região para ficarem a noite toda tatuando a galera, além de ser área de fumante, a parte externa. Para cada andar, tinha um ingresso, mas compramos o vip, que nos dava direito a circular por todo o prédio. Seria uma puta festa quando os DJ mais famosos tinham sido chamados para tocar. Pessoas de outras cidades e estados tinham vindo para ela. Por isso, decidimos vir a pé, porque sabíamos que não teria lugar para estacionar e também porque iríamos beber até passar mal, teríamos sorte se conseguíssemos achar o caminho de volta para casa quando amanhecesse.
Assim que paramos na frente do prédio, a fila estava enorme, mas por sorte a vip era a menor. Logo conseguimos entrar. Seguimos para o bar do térreo e já pegamos algo para beber. Estava começando a encher ainda, então tocava uma música eletrônica qualquer. Nós ficamos dançando um pouco ali e logo o lugar estava lotado, mas dava para se mexer.
— Eu vou dar uma volta. Vou lá na Ásia. — avisou a gente, por cima da música.
— Vai fazer o que na Ásia? — perguntou, fazendo uma careta.
— A mesma coisa que estou fazendo aqui. — disse, rindo, girando e jogando o cabelo na cara do meu amigo.
— Quer companhia? — ofereci, mordendo minha língua por aquilo.
— Não precisa, pode ficar com eles. Qualquer coisa eu mando mensagem. — me dispensou, e saiu andando.
Fiquei ali com os outros, até que decidimos subir para a Europa para ver como era. A música estava boa, o ambiente tinha ficado bem foda, tinha pessoas de todos os estilos e algumas que me agradavam bastante, mas eu simplesmente não conseguia ficar ali. Minha mente não estava naquele lugar e eu não conseguia parar de pensar em . Aquilo estava me deixando louco, então apenas me virei e saí andando sem falar nada com ninguém. Ouvi me chamando, mas apenas fiz um sinal com a mão indicando que era para me deixar.
Deslizei meus dedos por entre os fios de meu cabelo, o tirando de meu rosto enquanto passava pelos outros e me desviava de algumas garotas que até mesmo ficavam paradas no meu caminho me olhando. Peguei o elevador e me encostei na parede, me olhando no espelho mesmo que a luz neon ali dentro não ajudasse muito. Desci quando chegou a Ásia e respirei fundo, olhando para os lados. Como os outros pisos, ali também estava cheio. A música ali era diferente, apesar de ser eletrônica também. Sua batida tinha uns toques que nunca imaginava ouvir em uma festa.
Comecei a circular por entre as pessoas, sabendo muito bem o que eu estava procurando. Meus olhos passavam de forma minuciosa pelo lugar em busca de uma única garota, aquela dos olhos brilhantes, do sorriso que fazia as minhas covinhas quererem aparecer, a que tinha amarelo como cor favorita e que adorava girassóis. Não sabia ao certo porque estava fazendo aquilo, não existia nenhuma explicação e para ser sincero não queria uma.
As luzes piscavam, todos pulavam, cantavam, dançavam e eu continuava buscando de forma incansável. Até que parei em um canto e me encostei na parede, foi aí que a vi. O tecido de seu vestido saltando conforme seu corpo se movia no ritmo da batida que fazia compasso com tudo dentro de mim. O cabelo batendo contra a pele exposta de suas costas em uma dança perfeita, suas mãos deslizando pelos fios, os jogando de um lado para o outro, se divertindo com isso sem medo de se perderem no meio da bagunça que sua dona fazia. Seus olhos, embora fechados, ainda tinham brilho por cima deles, era glitter prateado, ela sabia fazer com que brilhassem mesmo que não estivessem abertos, nunca perdia o encanto. Os lábios estavam moldados em um sorriso largo, aquele que fazia o meu querer fazer companhia para o dela. Podia ver pelo decote do vestido sua pele, que mudava de cor conforme a iluminação, estava suada ou poderia ser apenas mais glitter. De qualquer forma, reluzia a luz que batia contra ela, fazendo meus dedos coçarem querendo tocá-la.
fazia passos aleatórios que casavam exatamente com a música que tocava, como se tivesse ensaiado aquilo a sua vida toda. Suas botas chelsea batiam contra o piso liso de forma sincronizada, um depois o outro, então os dois juntos, então mudavam, giravam, pulavam. E tudo o que eu fiz foi sorrir enquanto a olhava dançando de longe, admirando sua leveza, sua confiança e principalmente como era auto suficiente. Ela não precisava de ninguém para estar naquele andar, naquela festa, naquela dança, ela estava feliz por estar ali consigo mesma e eu nunca estragaria seu momento. Algumas pessoas achavam aquilo solitário, estar no meio de tantas pessoas e estar sozinha, mas eu via de outro jeito, o mesmo jeito que aquela garota via. Ela parecia um pássaro voando, lindo e livre, totalmente liberta de todas as amarras que a prendiam ao chão, que a levaram direto para o abismo. estava sendo apenas ela mesma, sem medo.
— Bonita, né? — surgiu do meu lado, como se estivesse ali o tempo inteiro.
— Linda. — respondi, e não era realmente à sua beleza que me referi.
— Por que não vai lá dançar com ela? — quis saber, me fazendo sorrir ainda mais.
— Porque estou admirando. E não quero estragar o momento dela. — não conseguia tirar os olhos de nem por um segundo.
— Bonita a forma como gosta dela. É intenso. — aquilo me fez piscar como se tivesse voltado para a realidade.
— Não gosto dela. — falei, logo, olhando para a minha prima dessa vez.
— Não sei porque ainda perde seu tempo em mentir para mim quando crescemos juntos. — rebateu, olhando para a pista de dança. — Não tem nada demais em falar que gosta dela, .
— Isso iria me contradizer.
— Está tudo bem, nós fazemos isso o tempo inteiro. — deu dois tapinhas em meu braço e saiu andando. — Estamos indo lá em cima comer algo. — informou, alto, antes de sumir no meio da multidão.
Fiquei ali com cara de idiota, vendo minha prima indo embora, até que olhei para de volta e agora ela estava parada na pista, me encarando um pouco séria. Então veio andando em minha direção, me encarando fixamente enquanto tentava se desviar das pessoas, algumas até a esbarravam, fazendo recuar um passo, mas nada a fazia parar. Quando chegou mais perto, pude ter o vislumbre de seus olhos que me faziam nunca querer desviar. Sua mão pegou a minha sem que nenhuma palavra fosse dita e ela se virou, me fazendo acompanhá-la de volta até a pista.
Paramos e olhou para cima, encarando o teto, então fiz o mesmo, vendo que tinha vários fios vermelhos cruzando por todos os lados, mas todos estavam se encontrando bem acima de nós. Isso me fez sorrir, eu conhecia aquela lenda. Diziam que quando nascemos tem uma linha vermelha presa no nosso dedo e ele te leva até outra pessoa que está destinada a você. O fio poderia se embolar as vezes, ficar preso em nós que parecem que nunca seriam desatados, mas não importava, com o tempo você encontraria a outra pessoa que estava no final do seu fio e ali você saberia que nasceram para ficarem juntos. Nós éramos um nó ou o final do fio? Não tinha como saber.
Desci meu olhar e consegui ver o rosto de erguido, olhando para o teto com um sorriso lindo, tal qual parecia que estava encarando as estrelas e conversando com elas, totalmente maravilhada, parecendo estar dentro de seu próprio universo. O que ela deveria estar pensando? A mesma coisa que eu? Mas, sinceramente, aquilo perdeu totalmente o sentido quando seu rosto desceu e seus olhos se encontraram com os meus. Naquele momento em que meu ar ficou preso dentro de meus pulmões e o tempo começou a ficar mais lento, eu soube que não importava se ela era apenas um nó ou a ponta do meu fio, porque tudo o que precisava fazer era chegar mais perto daquela garota e tocar em sua pele para saber que tudo aquilo era real.
Cheguei mais perto dela e deixei minha mão tocar seu rosto enquanto olhava dentro de seus olhos, vendo as estrelas que existiam dentro deles. Eram tão lindos. Sua pele estava quente e por onde meus dedos passavam o glitter rebatia a luz, parecendo que estavam acendendo, como se brilhasse com meu toque. Então seu sorriso foi diminuindo aos poucos, se transformando em um pequeno e doce, fazendo o meu vir e tomar conta de meu rosto. Não importava o que eu falasse, ou não falasse, poderia fugir, correr para o lugar mais distante do mundo e ainda assim… Continuaria gostando daquela garota, que agora me olhava de uma forma que não tinha como me fazer mentir, ela queria que fosse apenas eu, sabia disso.
Até que minha outra mão pegou sua cintura suavemente e a puxou para perto de mim, fazendo que desse um pequeno passo, sua mão direita segurou seu ombro e a esquerda subiu lentamente pelo meu braço, até que seus dedos seguraram meu pulso, depois desceram, fazendo um carinho leve em minha pele com o polegar. Seus olhos estavam fixos nos meus, não se desviavam nem por um segundo. Cheguei mais perto, deixando minha testa encostar na sua e a ponta dos nossos narizes se intercalaram.
Respirei fundo e deixei meus olhos se fecharem enquanto juntava meus lábios nos de . Senti ela se levantar um pouco e sua mão se fechou no tecido de minha camisa, assim como a outra segurou meu pulso com certa pressão. Então toquei sua língua com a minha sem a menor pressa, porque eu queria sentir cada segundo daquele beijo. Minha mão apertou sua cintura e a puxei um pouco mais para cima, a trazendo para perto de mim, enquanto passava meus lábios por cima dos dela, sentindo que queria mais, gostando daquele beijo de um jeito perigoso, porque era simplesmente bom. Não tinha nenhuma pretensão ali que não fosse apenas aquilo, apenas um beijo, como se fosse a primeira vez. Meu coração estava acelerado, minha respiração querendo ficar pesada por não estar puxando muito ar e eu tinha me esquecido como era se sentir daquele jeito. tinha me levado a sentir os sentimentos mais crus que poderíamos ter e isso me fazia ficar eufórico.
Ela se afastou um pouco, me dando um selinho, e voltou para sua altura, soltando meu ombro e pulso, então apenas abraçou minha cintura e deitou seu rosto em meu peito. Tudo o que fiz foi abraçá-la de volta, encostando meu queixo ao lado de sua cabeça, e fechei meus olhos, tentando fazer tudo dentro de mim voltar a se acalmar.
— Talvez a gente… — comecei a falar, mas me interrompeu.
— Não. — ela disse, e seus braços me apertaram de leve, se afrouxando em seguida. — Não me acorde. — pediu, fazendo um sorriso vir em meus lábios. — Vamos continuar sonhando.
— Eu deveria perguntar se você é real. — estava afirmando, porque tinha momentos que ela apenas parecia que não existia.
— Você quer que eu seja real? — seu rosto se desencostou de meu peito e ela ergueu a cabeça para poder me olhar.
— Quero. — respondi, olhando dentro de seus olhos. — Você quer que eu seja?
— Eu sei que você é real. — uma de suas mãos vieram e pararam em cima do meu peito. — Eu ouvi. — então nasceu um pequeno sorriso em seus lábios. — E é lindo.
Era meio difícil acreditar que aquelas palavras tinham mesmo saído de sua boca, mas era real. Era sendo ela mesma e sendo alguém que nunca imaginava que seria. Aquela garota tinha conseguido me surpreender de formas inimagináveis, ela ia de um extremo ao outro, era uma bagunça, mas uma bagunça perfeita que a transformava em única. Eu me amaldiçoava por ter pensado tanta merda sobre ela, por ter acreditado no que os outros falavam, e principalmente por não ter me permitido conhecê-la de verdade antes.


FIM



Nota da autora: Sem nota.



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