Finalizada em: 20/12/2021

Prólogo

15 de abril de 2000
- Tudo bem, vocês têm 10 minutos para me colocar a par da situação, e me dar soluções. - disse rígida.
- Senhora, nossos agentes estão sendo descobertos com muita facilidade, vão acabar nos achando. Precisamos sair da Inglaterra o mais rápido possível.
- Sair? Não, não podemos sair. - disse indignada.
- Senhora, nós entendemos que é uma mudança radical, mas é necessário. Não são apenas nossas vidas em risco, as nossas famílias também estão em jogo. Não faça isso por você, faça pelo pequeno , proteja-o enquanto há tempo.
- Tudo bem. - suspirou. - Então, nos mudaremos em duas semanas. Escolham um país seguro para estabelecermos nossa base. Mandem os agentes e funcionários, que ainda não foram expostos, embora, e deem uma boa contribuição, como forma de gratidão pelo serviço. Começaremos tudo do zero garotas, então, mãos à obra!


Capítulo 1

10 de março de 2008
- !
Estava passando pelo corredor para ir ao banheiro, quando Hugo, um dos meus melhores amigos, me gritou. A gente estudava na mesma escola, mas não na mesma sala, esse ano resolveram misturar os alunos.
- Para de gritar, garoto! - disse rindo e fui em sua direção. - O que você está fazendo fora da sala?
- A professora de geografia faltou, graças a Deus! - ele disse levando as mãos ao céu. - Mas e você? Achei que você não matasse aula.
- Eu não estou matando aula, eu pedi para ir no banheiro.
- Exatamente, pediu para ir no banheiro e está aqui conversando comigo. - disse e eu revirei os olhos.
- Garoto, tu não prestas! Agora deixa eu ir, que se me virem aqui contigo, vai dar ruim pra mim. – disse, indo em direção ao banheiro.

No recreio
- Gente, alguém viu a ? Já procurei pela escola toda e não acho ela. - Hugo disse após se juntar a mais dois amigos, e Camila.
- Não, eu achei que ela estivesse com você. - disse .
- Ai, gente, vamos comer primeiro, depois a gente procura ela. - Camila disse dando de ombros.
- Eu não estou com fome, vou procurar por ela. - disse levantando-se da mesa.
- Me espera que eu vou também! - Hugo disse e já estava se levantando, quando interviu.
- Não, faz companhia pra Camila, você sempre reclama que está com fome! - disse e Hugo revirou os olhos.
- Está bem, mas ache ela logo, acho que só não fui na sala dela. - Hugo disse sentando-se novamente.
- Está bem, já volto!
foi até a sala em que estudava. Assim que chegou na porta da sala, ele pôde ver que estava sentada ao lado de outra menina e aparentemente essa menina estava chorando.
- ? - ele chamou por ela com um tom de voz baixo e suave. Ela olhou para ele e fez um sinal para se aproximar. - O que houve? Ela está bem?
- Uns babacas implicaram com ela.
- Não, ... - a menina respirou fundo e limpou as lágrimas. - Eles não implicaram comigo, eles falaram a verdade. Eu sou uma gorda ridícula que nunca vai ser amada por ninguém. Eu vou ser feia e gorda para sempre.
- Kelly, não! Por favor, para com isso. E daí que você é gorda? Eu também sou. E não é porque somos gordas que somos feias. Nós também merecemos o amor, e mais do que isso, merecemos respeito. Ninguém tem o direito de diminuir outra pessoa porque ela é diferente. - disse tentando manter a calma.
- Ela tem razão, Kelly! Você não deveria ligar para o que esses otários dizem, eles só tentam se sentirem superiores porque, no fundo, sabem que não são nada além de idiotas. - ele disse e se agachou ao lado da menina. - Eu não te conheço, mas sei que deve ser uma garota incrível, aliás você é muito bonita. - ele disse e o rosto da garota corou.
- Vocês estão certos, obrigada, gente, de verdade! - ela fungou o nariz e agradeceu sorrindo.
- , o Hugo está esperando a gente lá no refeitório. - disse ficando de pé.
- Está bem, vamos lá. - ela sorriu e também se levantou. Quando ambos já estavam na porta, perceberam que Kelly ainda estava sentada.
- Hey! - chamou a atenção da menina. - Vem também! - ele sorriu.
- Hum... Eu... Eu não sei, acho melhor não. - disse tímida.
- Vem, Kelly, vai ser legal, você vai gostar do Hugo! - disse gentil.
- Tá, então... Então eu acho que vou! – disse, se levando da cadeira.
Os três estavam a caminho do refeitório quando passaram pelo grupinho de garotos que implicaram com a Kelly, e infelizmente os conhecia.
- Aí, , vai montar um zoológico? Porque já tem uma hipopótamo e uma elefante. - um dos garotos disse e os outros riram. - Não, mas é sério, vê se controla elas, o resto da escola também precisa se alimentar. - mais uma vez o garoto e seu grupinho começaram a gargalhar.
- Qual o seu problema, hein? - perguntou irritada.
- Sai da frente que a hipopótamo está com raiva! - disse rindo.
- Escuta aqui, seu verme...
- Vem, meninas, não vale a pena. E vocês... Depois teremos uma longa conversa. - disse ríspido para os meninos e saiu puxando e Kelly para longe dali.
- Você devia ter me deixado terminar. - disse com raiva.
- E ia adiantar? Tudo que você falasse ia entrar por um ouvido e sair pelo outro. - ele disse calmo.
- E daí? Pelo menos eles iriam ver que nem todo mundo escuta desaforo e aceita isso numa boa. - disse ainda alterada.
- Você os conhece? - Kelly perguntou baixinho e assentiu.
Após chegarem no refeitório e se encontrarem com Hugo e Camila, apresentou Kelly para ambos e se juntaram à mesa. Durante o tempo que ficaram ali, não falou uma palavra sequer. Quando o sinal tocou, o grupo se separou e voltaram para suas respectivas salas.

20 de dezembro de 2010
Formatura
Hoje era um dia importante, hoje um ciclo seria encerrado e um novo ciclo começaria, era para ser um dia feliz para os alunos e suas famílias, mas isso não aconteceu. Durante a formatura, um homem entrou no salão e iniciou um tiroteio, foi tudo bem rápido e ninguém conseguiu reagir a tempo, o cara fugiu deixando um total de 67 feridos e 4 mortos e, dentre eles, estava Hugo.
estava distante do amigo quando o tiroteio começou, mas quando viu o atirador indo para cima dele, ela tentou impedir, mas não conseguiu, havia muitas pessoas atrapalhando sua passagem. E então, ela viu seu melhor amigo levar cinco tiros no peito enquanto o assassino sorria enquanto atirava. Ela jamais seria capaz de esquecer aquela cena. Quando ela conseguiu se aproximar, o atirador já havia fugido. Olhar para Hugo ali no chão, com seu terno branco manchado de vermelho, fez ela desejar trocar de lugar com ele, ela nunca sentira uma dor tão cortante no peito. Quando percebeu, já estava ajoelhada sobre o corpo e se desmanchava em lágrimas.
Em alguns minutos, ela ouviu um grito e quando olhou, era Wade, o pai de Hugo, e, em questão de segundos, ele também estava chorando sobre o corpo do filho. não estava preparada para deixar Hugo, mas precisava procurar pela mãe e a irmã. Depois de muito procurar, ela conseguiu achá-las, elas estavam bem, apesar de sua irmã ter sido atingida no braço. Após um determinado tempo, ambulâncias chegaram no local, muitas famílias choravam; algumas por sentirem a dor da perda e outras por sentirem alívio ao saber que seus parentes estavam bem. não perdeu apenas seu amigo, ele também perdeu seu pai. O que já era difícil de lidar, se tornou insuportável.
já não sabia mais lidar com tudo aquilo, ela perdeu o Hugo e sabia que não havia sido só ela que sofrera com a perda e por isso tentava dar forças ao pai e ao namorado do amigo, além de também ter o que sofreu a perda do pai. tentava, mas nem ela tinha força suficiente para lidar com tudo isso e, por isso ter Kelly ao seu lado foi tão importante nesse momento, afinal, felizmente a família de Kelly estava bem.
Mas como tudo aquilo que está ruim, pode piorar... Como se já não bastasse a dor do luto, todos que estavam na formatura viraram testemunhas e tiveram que lembrar e relembrar várias vezes aquele dia horrível, para depois de alguns meses, a polícia encerrar o caso sem ao menos dar satisfações, e essa foi a gota d'água que faltava para tudo sair do controle.


Capítulo 2

02 de março de 2017
Londres, Inglaterra.
Acordei com uma dor de cabeça horrível, e não fazia ideia de onde estava. Me sentei na cama e fiquei tentando me lembrar do que havia acontecido na noite passada, mas foi em vão. Ouvi passos pelo corredor, então abri a porta do quarto e acabei dando de cara com Derek, um dos meus amigos.
- Você também está aqui? - ele disse surpreso.
- Estou, mas onde exatamente é aqui? – perguntei, olhando em volta.
- Eu não sei. - ele respondeu passando a mão na cabeça.
- O que? Como assim não sabe? - perguntei indignado.
- Por que a surpresa? Você também não sabe.
- É, mais um de nós deveria saber.
- Essa conversa não vai nos ajudar em nada, pega suas coisas e vamos sair daqui.
Peguei minhas coisas e já estávamos saindo da casa, quando uma voz conhecida nos chamou.
- Hey! - ele chamou baixinho enquanto descia as escadas.
- Andrew?
- Ah, tinha que ser. – disse, já sabendo que a culpa de estarmos ali era dele.
- Sem tempo pra explicações, vamos embora!
Andrew chamou um táxi e nos levou pra casa dele, assim que chegamos, Derek foi tomar um banho porque ele estava fedendo a vômito. Andrew foi preparar o café e eu fui colocar meu celular para carregar, me jogando no sofá em seguida, estava me sentindo completamente destruído, só queria dormir, mas não antes de saber o que aconteceu na noite passada. Quando Derek voltou e ambos já haviam tomado uma boa xícara de café, Andrew nos contou tudo.
Tínhamos saído para beber, eu estava irritado porque briguei com minha namorada, Derek estava triste porque tinha perdido o emprego, e Andrew, bom, ele só queria farrear mesmo. Derek e eu bebemos todas, e Andrew ficou com uma mulher que estava atrás de diversão com mais de uma pessoa e, segundo ele, nós concordamos com a ideia e aceitamos ir para casa dessa mulher, mas quando chegamos lá, eu desmaiei e então me levaram pra um outro quarto, já Derek, acabou dormindo no banheiro, Andrew falou que ele passou horas vomitando, isso explica por que ele estava fedendo tanto. Bom, após sabermos o que aconteceu, eu também tomei um banho e, depois disso, eu apaguei.
Cheguei em casa às 21 horas e encontrei meu pai no sofá, mexendo freneticamente no controle da TV com uma tigela de pipoca ao lado.
- Desse jeito vai quebrar o controle. - disse trancando a porta.
- Ah, ainda bem que você chegou! Me ajuda a achar o canal em que vai passar o jogo! - disse me entregando o controle remoto.
Após colocar no canal do jogo, me sentei ao seu lado para assistir a partida. Eu tenho uma boa relação com meu pai desde sempre, na verdade, ele é meu padrasto, mas, foi ele quem me criou, e sempre me tratou com muito amor e carinho. Aliás, mesmo com a minha mãe nos abandonando, ele não desistiu de mim, e eu sempre serei grato por isso.
Quando o jogo terminou, dei boa noite ao meu pai e fui para o quarto, abri a gaveta do meu criado mudo e peguei uma caixinha vermelha que já estava ali há alguns meses, e dentro da caixinha estava o anel de noivado que eu comprei para pedir a mão de Olívia. Eu confesso, gosto muito dela, mas será que amo? O Andrew disse que aceitei participar de uma "orgia", eu sei que estava alcoolizado, mas isso não justifica. A Olívia é uma garota incrível e não merece que eu vacile com ela. Quer saber? Acho que já sei o que fazer! Guardei a caixinha no bolso da calça, saí de casa e peguei meu carro, fui dirigindo para casa da Olívia, e depois que parei em frente a casa, liguei para ela.
- ? - disse com a voz sonolenta.
- Oi, amor, desculpa, te acordei?
- Sim, mas não tem problema, aconteceu alguma coisa?
- Não, só queria ouvir tua voz, e dizer que desde que você entrou na minha vida, eu me sinto o homem mais completo do mundo, e eu sei que não sou perfeito, e cometo muitos erros, mas eu quero que você me dê uma chance para te fazer feliz do jeito certo.
- , o que... O que quer dizer com tudo isso?
- Eu estou em frente à sua casa, você pode vir aqui fora um instante?
- Hum... Tá, já vou.
Alguns minutos se passaram e ela apareceu, estava usando um pijama amarelo e estava simplesmente linda, provavelmente tomei a melhor decisão da minha vida neste momento. Eu fui até ela e acariciei seu rosto, ela fechou os olhos e sorriu.
- Você atravessou a cidade só para me ver? - ela perguntou meiga e eu sorri. -
- Quer casar comigo? - perguntei e ela ficou sem reação. -
- Amor, eu...Eu não sei o que dizer!
- Diz que sim! - ela sorriu.
- Sim, sim e SIM! - ela disse animada e pulou no meu colo, distribuindo vários beijos pelo meu rosto. - MIL VEZES SIM! - ela gritou e eu ri levantando-a do chão, em seguida, dando um beijo nela.
- Ah, eu já ia me esquecendo! - coloquei ela no chão e peguei o anel de noivado.
- É lindo! Ai, meu amor, eu te amo! - ela colocou o anel e me beijou.


Capítulo 3

02 de abril de 2017
Auckland, Nova Zelândia.
Essa é a primeira noite de folga em meses que eu e minha equipe recebemos e, com equipe, quero dizer, minhas melhores amigas, o destino as vezes acerta no que faz.
Já estava quase tudo pronto para minha noite de descanso, só o que faltava era um banho super gostoso. Estava indo para o banheiro, quando meu celular tocou.
- Alô? - atendi.
- Oi, , é a Julie!
- Ah! Oi, Ju, aconteceu alguma coisa?
- Na verdade, sim! Anne quer uma reunião com você e as meninas.
- Ok! Será que você, por favor, poderia mandar a hora e o lugar da reunião por mensagem? Eu estou super exausta quero tomar um banho e relaxar um pouco.
- Desculpa, , mas a reunião é hoje.
- O que? - perguntei confusa.
- É isso mesmo, a situação é bem séria, a Anne está super nervosa.
- Não tem outra equipe disponível? A gente chegou hoje de viagem.
- Eu sei, e até tem equipe disponível, mas ela exigiu a melhor equipe, ou seja, sobrou para vocês!
- Tudo bem, então... - pausei e respirei fundo. - Onde vai ser?
- Na casa da chefe!
- Está brincando, né?
- Ela quer ter o máximo de privacidade com vocês!
- Hum, ok! Então... Você pode mandar um carro me buscar?
- Já fiz isso, deve chegar aí em 30 minutos no máximo!
- Obrigada, você é um anjo!
- De nada e eu sei disso! - riu. - Eu preciso ir agora, beijinhos e se cuida!
- Pode deixar, beijo! - terminei a ligação.
A Julie é cadeirante, mas isso não impede ela de ser super alto astral e alegre. Quando eu entrei na agência, ela já estava lá. Na verdade, as meninas e eu fomos recrutadas por ela. Ela é a mestre dos disfarces e trabalha procurando por novas agentes, além de ser o braço esquerdo e direito da chefe.
Após finalizar a ligação, eu tomei o banho gostoso e relaxante que eu tanto queria e precisava, infelizmente eu não teria a noite de descanso, mas a vida é assim, não se pode ganhar todas!
Vesti um conjunto de moletom cinza, prendi meu cabelo, calcei meu tênis, passei um perfume e tcharam estava pronta. Saí de casa e o carro que a Ju pediu, já estava a minha espera.
- Oi, Christian, boa noite! - disse dando um sorriso.
- Boa noite, senhorita! - sorriu e abriu a porta do carro.
- Cavalheiro como sempre! - sorri e entrei no carro. - Obrigada! - disse assim que ele fechou a porta.
Depois de duas horas de estrada, chegamos em uma ponte e o Christian parou o carro.
- Por que paramos? - perguntei.
- É o procedimento padrão! - ele respondeu.
- Não entendi. - disse confusa.
Antes que ele pudesse me responder, uma senhora um tanto quanto elegante, apareceu vindo ao nosso encontro.
- Senhor Christian, é um prazer revê-lo! - disse sorrindo.
- O prazer é todo meu, Adeline! - ele sorriu e segurou a mão da senhora, deixando um beijo no local. - O encontro da quarta ainda está confirmado?
- Com certeza!
- Uhum! - pigarreei. - Me desculpem por interromper, mas será que alguém pode, por favor, me explicar o que está acontecendo? - perguntei completamente perplexa.
- Perdoe-nos pela indelicadeza, senhorita! - a senhora disse e sorriu gentilmente. - Meu nome é Adeline, e eu vou te acompanhar até o local da reunião! - disse e abriu a porta do carro para que eu saísse.
O caminho depois da ponte, era como uma trilha, e a Adeline iluminava o caminho com uma lanterna. Caminhamos durante 30 minutos até chegar na casa (que parecia mais um castelo) que aconteceria a reunião. Bem na frente da casa, havia uma escadaria, e nela estavam sentadas, cinco garotas incrivelmente saturadas, e como eu sabia disso? Eu também estava!
- Oi de novo, gente!
- Oi! - responderam juntas em um tom desanimado.
A porta da casa abriu e podemos ter a visão da nossa chefe, vestida de poder em um macacão azul marinho, e totalmente plena, ao contrário das seis otárias aqui que estavam um caos total.
- Que bom que chegaram minhas queridas! - sorriu. - Entrem, fiquem à vontade! - ela nos cumprimentou, nos levou até a sala e nos acomodamos. - Me perdoem por trazê-las até aqui. Eu sei que chegaram hoje de uma missão, mas acreditem, se não fosse importante, eu não teria os convocado! - disse parecendo estar nervosa.
- Está tudo bem, não se preocupe! - Nadia disse calma. - Mas o que aconteceu? O que é tão importante, afinal? - indagou e Anne suspirou.
- Minha história não é tão simples como vocês pensam, garotas. Antes de me tornar a toda poderosa, eu era como vocês, trabalhava em campo, e isso me rendeu muitos inimigos, ainda mais porque... - pausou um breve momento e sorriu. - Bom, naquela época a gente tinha que finalizar o serviço. - ela disse e se levantou. - E aí, eu fui fazendo minha carreira e, quando vi, já estava disputando com as melhores e maiores agências desse ramo. - ela andava pela sala enquanto falava. - No início, eu vivia uma vida dupla. Eu dava aula em algumas escolas da Inglaterra e acabei me apaixonando por um de meus colegas. Começamos a namorar, nos casamos e então eu engravidei, após o nascimento do nosso filho, percebemos que o casamento não daria certo, e nos divorciamos. Ele sumiu no mundo, e por um tempo fomos só eu e o .
- é o nome do seu filho? - perguntou Kelly e a mulher assentiu.
- Quando o tinha apenas três anos, eu conheci Daniel, um homem maravilhoso que entrou nas nossas vidas para mudá-la da melhor maneira possível! Ele amava o , e esse amor era recíproco, Daniel foi o melhor pai e o melhor companheiro do mundo e eu queria ser a melhor mãe e a melhor companheira do mundo, então eu tinha decidido acabar com a agência e viver normalmente com minha família. - ela dizia com um sorriso no rosto. - Mas nada é tão simples assim. - seu sorriso foi sumindo aos poucos. - Como eu disse, tinha colecionado inimigos, e se eu saísse do negócio, eles viriam atrás de mim e, pior, iriam atrás da minha família. Eu tinha chegado em um ponto que não conseguia mais lidar com isso tudo sozinha, então contei para o Daniel e ele não me julgou ou se irritou, ele ficou alguns segundos em silêncio e depois me abraçou apertado, disse que íamos dar um jeito juntos e que daria tudo certo. - uma lágrima escorreu pelo seu rosto. - Nos mudamos para outro bairro e coloquei seguranças disfarçados, por toda parte, a Julie me ajudou nisso, inclusive. As coisas pareciam ter melhorado, mas meus agentes começaram a ser descobertos, aliás na época eu não recrutava só mulheres e eu confesso que seguia um padrão, ou seja, só facilitou a busca deles. E foi aí que tomei a decisão mais difícil da minha vida, eu iria abandonar meu filho e o amor da minha vida, porque, se eu não estivesse por perto, eles não correriam perigo. - ela disse e abaixou a cabeça.
- Que idade seu filho tinha na época? - perguntei.
- Seis anos e estava o rapazinho mais lindo do mundo! - sorriu. - Acontece que eu não poderia abandoná-los sem nenhuma explicação, então eu falei para o Daniel sobre minha decisão, ele não concordou, mas entendeu, e sugeriu que continuássemos mantendo contato, para que eu não perdesse a infância do , e permanecêssemos perto um do outro mesmo longe. Por incrível que pareça, deu certo.
- Então, você ainda mantém contato com sua família? - perguntei.
- Isso mesmo!
- E o seu filho aceitou essa história numa boa? - Kelly perguntou.
- Ele não sabe, acha que o abandonei. Daniel sempre que consegue me manda fotos, meu menino cresceu e se tornou um lindo homem! - seus olhos brilhavam enquanto falava do filho. - Ele é advogado, e vai se casar daqui a um mês! - disse sentando - se novamente.
- Parabéns para ele! - Valerie disse e deu um breve sorriso. - Mas sem querer ser grossa... Onde a gente entra nessa história?
- Há uma semana mais ou menos, Daniel disse ter visto um carro seguir ele, então ele tentou despistar o carro, e achou ter conseguido, mas hoje ele viu esse mesmo carro estacionado próximo a casa dele. Se acharam ele, vão achar o e isso não pode acontecer. Por isso eu quero a ajuda de vocês, eu preciso que tragam eles para cá em segurança! Eu sei que não vai ser uma missão fácil, não sabemos com o que vocês vão lidar, e também sei que estão cansadas, por isso não precisam me dar uma resposta agora. - ela disse e as meninas concordaram.
- Bom, então já que está tudo resolvido, como vamos embora? - Tess perguntou.
- Vocês não precisam ir, meninas! Estão cansadas, então pedi para Adeline arrumar o quarto de hóspedes, por favor, me acompanhem! - sorriu e levantou-se.
Ela nos conduziu até o andar de cima e abriu a segunda porta do corredor, nos revelando um lindo quarto. Ela entrou no quarto e nele havia duas portas. Ela abriu a primeira porta e mostrou o banheiro, quando abriu a segunda porta, para nossa surpresa era outro quarto. Eu sabia que a casa era grande, mas isso é surpreendente!
- Fiquem à vontade, meninas, eu pedirei para Adeline providenciar um lanche para vocês! - sorriu. - Tenham uma boa noite! - disse e se retirou do quarto.
- E aí, meninas, o que acharam disso tudo? - Tess perguntou jogando-se na cama.
- Eu gostei, achei tudo muito chique! - Stella disse olhando ao redor do quarto.
- Hum, eu acho que não era do quarto que ela estava falando! - Valerie disse e prosseguiu. - Sabe o que eu acho? Que deveríamos recusar o trabalho, e eu estou falando sério.
- Sua chefe diz que precisa de nós, e você quer chutar a bunda dela? - perguntou Nadia.
- E daí que ela é a chefe? Se ela nos deu a opção de pensar no assunto, é porque não vai fazer nada se recusarmos! - Valerie respondeu convicta. - Gente, qual é? A gente não tira férias faz tempo, todo trabalho que jogam para cima da gente, a gente aceita e eu, sinceramente, nem sei por quê. - disse um pouco alterada.
- Espero que você não esteja dizendo que a gente te força a fazer as coisas, porque se eu me lembro bem, você nunca se opôs. - Kelly disse também alterada.
- Gente, vamos acalmar os ânimos, ok? Todas nós estamos exaustas, e não faz o menor sentido discutir essas coisas agora! - Tess disse tentando manter a situação sobre controle.
- ? - Nadia chamou minha atenção. - Não vai falar nada?
- Me respondam uma coisa... - disse após alguns segundos em silêncio. - Vocês estão felizes com a vida de vocês?
- Por essa eu não esperava! - disse Stella. - Mas, já que perguntou... - deu uma pequena pausa e prosseguiu. - Qual é a graça de ganhar dinheiro e não poder gastar? Fala sério, gente, estamos montadas na grana, mas nem tempo de curtir isso a gente tem! Quer saber? Eu não estou nada feliz. Eu queria viajar o mundo, mas não para dar um fim na bagunça dos outros, eu queria viajar o mundo para curtir! - disse vomitando as palavras, e por fim respirou fundo. - Nossa, estou me sentindo até mais leve! - disse rindo, fazendo as outras meninas rirem também.
- Desculpa o estresse, gente! - Valerie disse e abaixou a cabeça. - A real é que eu também estou cheia de tudo isso! Eu sou formada em psiquiatria e psicologia, mas sei lá, as vezes não sei lidar com tudo que acontece. E também não estou nada feliz. Essa vida louca que a gente tem, foi boa, mas eu já cansei disso! Eu quero me redescobrir, entendem? - Valerie disse e todas concordaram e Nadia pigarreou.
- Bom, vocês devem saber que sou professora de matemática! - disse e recebeu careta das meninas, fazendo - a rir. - A vida de um professor não é nada fácil, mas não vou mentir, eu sinto falta! Eu amo ensinar, eu amo motivar as crianças, eu amo toda aquela bagunça! - Nadia disse com um brilho no olhar. - Dá um aperto no coração só de lembrar! - disse com a voz falhada, e Stella abraçou a amiga de lado.
- Tá, então, antes que alguém comece a chorar, eu vou continuar! Bom... Quando eu tinha 18 anos, eu entrei para a escola de ballet, e o primeiro dia de aula, foi o último... Pelo menos para mim! - abaixou a cabeça. - A professora disse que eu nunca seria uma bailarina, que para isso acontecer ou eu teria que nascer de novo, ou teria que virar astronauta para no mínimo "ficar mais leve”. - disse fazendo aspas no ar. – Mas, algum tempo depois, eu provei que ela estava errada, e me tornei não só uma bailarina, como também me tornei uma professora de ballet! - disse orgulhosa. - O meu sonho é abrir uma escola de ballet para pessoas gordas! - disse sorrindo e as amigas olhavam para ela com orgulho. - Sua vez, Kelly! - disse animada.
- Ah, sei lá! - disse e sorriu fraco. - Eu só quero ser uma pessoa melhor e viver sem arrependimentos. - Kelly disse meio aérea.
- Só está faltando você, ! - disse Stella.
- Eu quero voltar para o Brasil, ficar com minha família, e depois sumir para uma cidade do interior, ou sumir para um país que nunca fui, e levar minha família! Aliás, posso até aproveitar e virar escritora, afinal, história para contar é o que não falta! - disse e as meninas concordaram rindo. - Já que não tem ninguém feliz, o que acham de aceitarmos essa missão, e fazermos dela a última? - perguntei.
- Você está sugerindo deixarmos a agência? - Kelly perguntou e eu assenti.
- Salvar o filho e o marido da chefe seria a forma perfeita de dar adeus a agência! - Valerie disse animada.
- Então... Todas estão de acordo? - perguntei.
- Sim! - responderam em uníssono e me abraçaram. Ouvimos uma batida na porta e era Adeline com os lanches.
Após comermos, nos dividimos e cada trio dormiu em um quarto. Pela manhã, fomos acordadas pelo barulho do despertador da Valerie, então nos ajeitamos e quando já estávamos saindo do quarto, demos de cara com Adeline.
- Bom dia, senhoritas! - disse sorrindo e respondemos a senhora. - Espero que tenham tido uma boa noite de sono! - disse simpática. - Venham, eu vos acompanharei até a mesa! - disse caminhando na nossa frente. Logo de cara, tinha um café da manhã incrível esperando por nós, e junto é claro, tinha a nossa querida Anne.
- Bom dia, meninas! - sorriu e levantou-se da cadeira. - Sentem-se, por favor! - pediu e foi o que fizemos. - Eu não queria ser tão deselegante, mas eu estou desesperada, então, por favor... Vocês pensaram no assunto? - perguntou aflita. Olhei para as meninas e todas fizeram um sinal positivo.
- Sim, nós pensamos! - disse calma.
- E o que me dizem? - perguntou ansiosa.
- Nós aceitamos. - disse e ela comemorou. - Mas esse será nosso último trabalho.
- Claro, claro, vocês poderão tirar férias por quanto tempo quiser! - disse animada. - Obrigada, muito obrigada!
- Desculpa, mas a senhora não entendeu! - disse e ela me olhou confusa. - Depois que seu marido e seu filho se juntarem a senhora, nós sairemos da agência! Pensamos muito e estamos decididas quanto a isso!
- Bom, tudo bem, então... - suspirou. - Fico feliz que tenham tomado essa decisão antes de fazerem algo que se arrependessem.! - disse e me olhou. - Já que está tudo resolvido, vamos comer!
Saímos da casa de Anne às 8:00 horas e fomos para a agência. Quando chegamos lá, fomos direto para a sala de reuniões, precisávamos de um plano para pôr em prática, então começamos a estudar a vida do e do padrasto. Aonde iam, o que faziam, o que comiam, o que gostavam e por aí vai. Acontece que lidar com o padrasto seria muito mais fácil, porque, além de saber de tudo, ele sabia que sua vida estava em risco, ao contrário do , que não sabia de nada e ia se casar dentro de um mês. Então, decidimos trabalhar com sutileza.
Passamos o dia e a noite na agência resolvendo tudo e, em três dias estaria tudo pronto para viajarmos para a Inglaterra. Como o tem um escritório de advocacia, usaríamos isso ao nosso favor, mas após entrarmos em contato com seu escritório, a secretária disse que sua agenda estava lotada e que, por hora, ele não aceitaria mais nenhum cliente. Então, só nos restou fazer uma coisa, entrar com contato com Daniel, e após explicarmos quem éramos, ele prometeu colaborar conosco, ou seja, ele convenceria de que nosso caso era de extrema importância.
- Gente, vocês estão esquecendo do principal! - Nadia disse chamando nossa atenção. - Se o aceitar nos receber, ele vai querer saber por que queremos ele como advogado. - disse abrindo uma barra de cereal.
- Simples, porque ele é o melhor advogado da Inglaterra! - disse Kelly.
- E Sullivan Smith é o melhor da Nova Zelândia, ou seja, seu argumento é falho! - disse Nadia.
- Tá, então escolhemos ele para ser nosso advogado, pelo motivo de que nenhum outro conseguiu nos ajudar. - foi a vez de Valerie falar.
- Ok, e que problema é esse que ninguém consegue resolver? - Nadia perguntou novamente.
- O assassinato do Hugo. - disse e as meninas me olharam. - Fecharam as investigações de repente, e não falaram mais nada. Se ele for o tipo de advogado, que eu penso que ele é, ele vai no mínimo ficar curioso com o caso. - disse e as meninas ficaram em silêncio. Elas sabiam da história do Hugo, e sabiam também que só entrei na agência para poder desvendar esse "mistério", mas não foi tão fácil quanto imaginei, e esse é mais um motivo que tenho para largar a agência.
- Você acha que ele pode acabar descobrindo algo importante? - Stella perguntou com cautela.
- Eu duvido muito. - respondi dando um sorriso fraco.
- Que ótimo que você já superou essa história! Já se passaram seis anos, não tem motivo para ficar choramingando por isso. - Kelly disse desdenhando e todas olharam incrédulas para ela.

04 de abril de 2017
Londres, Inglaterra
- Elas saíram da Nova Zelândia, só para terem a oportunidade de falar com você, por favor, filho, pelo menos escuta o que elas têm para te dizer! - disse implorando pela milionésima vez na semana.
- Pai, eu já disse que estou com trabalho até o pescoço, e ainda tem os detalhes do casamento...
- Isso não é tão importante! - disse me interrompendo.
- Meu casamento não é importante? - perguntei arqueando as sobrancelhas.
- Não foi isso que quis dizer! - disse bufando. - Quer saber? Faz o que quiser! Espere por essas garotas desesperadas por uma solução, e diga a elas que você é só mais um advogado, que vai recusar ajudá-las. - disse irritado e saiu da sala.
- Pai, espera! - disse indo atrás dele. - Pai! - chamei e ele continuou andando. - Daniel! - disse e ele parou.
- Daniel? - perguntou olhando para mim.
- Você teria parado se eu continuasse te chamando de pai? - perguntei ajeitando o terno e ele negou. - Por que está insistindo tanto nessas garotas? - perguntei e ele suspirou.
- Porque você é a última esperança delas. - pausou e prosseguiu. - Escuta o que elas têm para te dizer, e aí você decide se vai ajudá-las ou não! - disse dando um toque no meu ombro. - Tchau! - deu um sorriso fraco e entrou no elevador.
Nunca vi o Daniel tão insistente assim. Talvez eu deva dar uma chance para essas garotas, só espero não me arrepender. Voltei para minha sala para terminar algumas papeladas, mas não conseguia me concentrar. Após uma hora, minha secretária avisou que as garotas da Nova Zelândia haviam chegado, então pedi para que as trouxessem a mim. Janette abriu a porta, e as garotas entraram na sala, cumprimentei elas, e pedi que se sentassem.
- Para vocês terem enfrentado 22 horas de voo, o assunto deve ser sério. - disse após me sentar.
- Bom, eu me chamo , essas são Kelly e Valerie. - disse apontando para as garotas ao seu lado. - E sim, o assunto é sério, por isso vou ser direta, queremos que reabra este caso aqui! - disse colocando uma pasta preta em cima da mesa.
Peguei a pasta e, após olhar algumas folhas, peguei o telefone e chamei minha secretária.
- Com licença! - disse após entrar na sala.
- Janette, eu quero que você cancele qualquer compromisso que tenha marcado para hoje e, por favor, não deixe que ninguém nos interrompa! - disse e ela assentiu saindo da sala. - As três estavam no dia do atentado? - perguntei.
- Não, somente nós duas! - a Kelly respondeu e apontou para a .
- Então, por que você está aqui? - perguntei para a Valerie.
- Eu sou a psicóloga delas! - disse apresentando seu registro. - Essas garotas, assim como as outras famílias que estavam presentes naquele local, passaram por um trauma, e nada nem ninguém vai desfazer isso, mas negar justiça a essas pessoas é no mínimo desumano. - disse ríspida.
- Tudo bem, eu vou ajudar vocês! – disse, me ajeitando na cadeira e elas se abraçaram. - Eu sei que pode ser doloroso, mas preciso saber sobre cada detalhe do que aconteceu no dia do atentado! - e elas concordaram.
Após algumas horas de perguntas e respostas, a porta da minha sala abriu com tudo, era Olívia e ela estava superexaltada, e atrás dela estava Janette, super assustada.
- Olívia? O que você está fazendo aqui? - perguntei me levantando.
- Desculpa, Sr., eu tentei impedir...
- Está tudo bem, Janette! - disse interrompendo-a.
- Você prometeu que seria presente na organização do casamento, e aí na primeira oportunidade você desmarca para ficar dentro do escritório com três mulheres? - Olívia perguntou irritada.
- Nós vamos deixar vocês a vontade! Com licença! - Kelly disse gentil e todas saíram da sala deixando-me só com Olívia.


Capítulo 4

Saímos da sala de e demos o endereço do hotel em que estávamos para Janette, pois com certeza iria nos procurar. Assim que entramos no elevador, o celular de Valerie começou a vibrar.
- É a Tess! – disse, desbloqueando o celular. - Ela e a Stella já estão com Daniel, é para ficarmos de olho, porque eles estão sendo seguidos por um carro cinza.
- Diz para irem para um motel, fazer uma troca de carro e depois irem direto para o aeroporto.
- , eu sei que você nunca foi em um motel, mas achar que lá faz troca de carro... - Kelly disse e pausou. - Ah, agora eu entendi! - disse dando uma risadinha.
- Feito! - Valerie disse, bloqueando o celular e colocando no bolso.
- Acho que alguém tem que ficar por perto para ter certeza de que ficará bem! - disse Kelly.
- Eu fico! Do outro lado da rua tem uma cafeteria ótima! - disse Valerie.
O elevador abriu e saímos do local. Valerie foi para a cafeteria e Kelly e eu fomos andando para o hotel. Quando entramos no quarto, havia malas, cabos, fios, notebooks, celulares, tudo espalhado pelas camas. De repente, Nadia saiu de baixo da cama nos assustando.
- Se assustaram? - disse rindo.
- Que porra você está fazendo, Nadia? - Kelly perguntou irritada.
- Calma aí, estressadinha! - disse sentando-se na cama e pegando alguns cabos. - Esses são os equipamentos que vão ajudar a gente, aliás são mais eficientes montados, por isso, é melhor vocês ajudarem!
- Tá, mas por que você estava embaixo da cama? - perguntei.
- Deem uma olhada aí embaixo! - disse animada, e Kelly eu nos entreolhamos.
- Porra! - Kelly soltou um palavrão.
- Legal, né? - Nadia perguntou ainda animada.
- Como você colocou um arsenal embaixo da cama? - perguntei.
- Segredo! - Nadia disse. - Agora, mãos à obra!
Ficamos um bom tempo montando todo equipamento e arrumando um jeito de torná-los móveis. Depois que terminamos tudo, ligamos os aparelhos e agora tínhamos como monitorar todos os lugares em que fosse. Enquanto fui tomar um banho, as meninas foram buscar comida. Saí do banho e quando estava terminando de me vestir, bateram na porta.
- Já vai! - gritei.
- Oi! - disse com um sorriso tímido no rosto. - Posso entrar? - perguntou passando a mão na nuca.
- Sua noiva não vai aparecer aqui, não é? - disse dando espaço para ele entrar.
- Não! - disse rindo. - Vim para me desculpar pela cena que ela fez, ela não costuma ser assim! - disse sem graça.
- Tudo bem, imagino que deve ser estressante cuidar de um casamento! - disse me encostando na parede.
- Você não faz ideia! - disse e sorriu fraco.
- Quer beber alguma coisa? - perguntei.
- Não, obrigado! Eu... - antes que pudesse continuar, a porta foi aberta com toda força, e Kelly e Nadia entraram rindo no quarto.
- Amiga, você não tem noção do que acabou de acontecer! - Nadia disse rindo, mas parou ao ver que eu não estava sozinha.
- Eu sou o , advogado das suas amigas! - disse estendendo a mão.
- Ah, sim, sim! Elas chegaram a comentar! - disse pegando na mão do rapaz. - Meu nome é Nadia! - ela disse e ele sorriu.
- Bom, já estava de saída, com licença! - sorriu e foi em direção a porta.
- Eu te acompanho!
- Não, não precisa, eu não quero atrapalhar vocês! - disse simpático.
- Não vai atrapalhar, eu também já estava de saída! - disse pegando minha bolsa.
- Tudo bem, então! - disse e acenou para as meninas.
- Já sabem o que fazer! - sussurrei para as meninas, e segui até o elevador.
Após alguns segundos em silêncio, eu decidi falar.
- Você parece incomodado. - ele me olhou e respirou fundo. - Não precisa falar se não quiser, mas as vezes é bom receber um conselho de alguém que não conhece! - disse dando de ombros.
- E por que acha isso? - ele perguntou me olhando.
- Porque é mais fácil de ser imparcial! - respondi e ele voltou a olhar para a frente. O elevador se abriu e caminhamos pelo hall, saindo do hotel. - Eu estou indo para um bar que vi aqui perto, se mudar de ideia e quiser conversar... Estarei lá! - disse e saí andando.
- Hey! - ele me chamou e olhei para atrás. - Eu conheço um bar melhor! - disse e eu levantei a sobrancelha em sinal de dúvida. - Eu posso te levar, se quiser! - ele disse tímido e eu sorri.
Entrei no carro do e, durante o caminho, não conversamos. Quando chegamos no bar, pedi duas doses de tequila, mas o relutou.
- Eu não posso beber, preciso dirigir!
- Tudo bem, então... Eu dirijo! - disse e ele me olhou como se eu fosse louca.
- Você não pode beber e dirigir! - disse óbvio.
- Eu sei, e é por isso que não vou beber! - disse e ele me olhou confuso. - Acho que você está precisando disso, mais do que eu!
- Tudo bem, mas só vou tomar as doses que você pediu!
- Você quem sabe! - disse dando um sorriso. O barman trouxe as doses e virou as duas. - E então, já tem a coragem que precisa para desabafar? - perguntei e ele sorriu.
- Você já esteve em uma situação, onde tomou uma decisão achando ser a melhor, mas depois viu que só piorou tudo? - perguntou.
- Sim, mas sempre podemos tentar de novo!
- Mesmo que isso signifique magoar as pessoas que você gosta? - perguntou.
- Pode parecer egoísta, mas sim! - disse dando um sorriso fraco. - Não tem como acertarmos sempre, e essa é a beleza da vida, ela nos permitiu errar e aprender com nossos erros! - disse e ele chamou o barman.
- Mais duas doses de tequila, por favor! - pediu e assim que o barman trouxe, ele bebeu. - Eu acho que não deveria ter pedido a Olívia em casamento. - disse abaixando a cabeça.
- Você não gosta dela? - perguntei.
- Gosto, mas não amo. - disse suspirando. - Eu a pedi em casamento porque estava me sentindo culpado, por quase ter feito uma coisa idiota, mas toda vez que ela diz que me ama, eu não consigo responder.
- Tudo bem, escuta, se você não a ama, tem que deixá-la ir, para encontrar alguém que ame-a. Talvez ela fique chateada no começo, mas é assim em todo fim de relacionamento, acredite em mim, ela vai superar! - disse colocando a mão em seu ombro, e ele segurou minha mão.
tomou mais alguns shots e me arrastou até o karaokê que tinha ali no bar, cantamos algumas músicas e depois levei ele para casa, afinal, eu precisava garantir a segurança dele. O ajudei a entrar em casa, e ele deitou no sofá, em seguida se sentou e pegou um papel que estava em cima da mesa de centro.
- Você pode ler para mim? - perguntou estendendo o papel.
- Claro! - disse pegando o papel e sentando-me ao seu lado. - "Filho, fui visitar sua tia, ela está doente e precisa de ajuda, nos vemos em breve, se cuide! Com carinho, D."
- Eu vou para o meu quarto! - disse se levantando.
- Você quer ajuda? - perguntei e ele negou. - Bom, então eu vou embora! - disse me levantando também.
- Está tarde, você não pode ir embora sozinha! Dorme aqui essa noite! - disse e antes que eu pudesse responder, ele saiu cambaleando.
Fui atrás dele e, como o previsto, ele estava vomitando. Depois que ele saiu do banheiro, o acompanhei até seu quarto, e depois voltei para a sala e liguei para as meninas.
- Oi! - disseram em uníssono.
- Oi! Meninas, vocês viram algo suspeito nas câmeras de segurança? - perguntei.
- Suspeito como? - perguntou Nadia.
- Quando saí com o do hotel, vi uma Mitsubishi preta estacionada, e até aí tudo bem, mas o mais estranho é que quando chegamos no bar, achei ter visto a mesma moto, porém, não fomos seguidos, eu fiquei de olho quanto a isso. - disse andando pela sala.
- Talvez seja um modelo de moto comum! - disse Kelly.
- Talvez, mas é melhor verificar! - disse Nadia. - Estou voltando as imagens, e você tem razão , parece ser a mesma moto. - disse Nadia.
- Então seguiram a gente? - perguntei enquanto olhava para a rua, pela persiana da janela.
- Sim, e a pessoa foi mais esperta que nós. - Nadia respondeu.
- Como assim? - perguntou Kelly. -
- Assim que o saiu com o carro, o dono da moto apareceu e foi atrás, porém vocês seguiram a rodovia, e ele foi por uma rua deserta. - explicou Nadia.
- Mas como ele sabia para onde estávamos indo? - perguntei.
- Talvez tenham colocado um rastreador no carro. - disse Kelly.
- Tudo bem, irei conferir! Mas me respondam uma coisa, cadê a Valerie? - perguntei e a Nadia deu uma risada.
- Saiu com uma garota que conheceu na cafeteria. - Kelly disse desdenhando.
- E você está bem com isso, Kelly? – perguntei, já sabendo qual seria sua resposta.
- Por que você está perguntando isso? - perguntou nervosa. - Quer saber? Vai procurar o rastreador! - disse e antes que ela desligasse, pude ouvir as risadas da Nadia.
Fui até o carro do , e no veículo não havia nenhum rastreador, mas uma lâmpada acendeu na minha cabeça (não literalmente, é claro). Voltei para a casa e fui até o quarto do , ao seu lado na cama, estava seu celular, peguei o mesmo, e como previ, era ali que estava o rastreador, levei o celular para o banheiro retirei o rastreador e joguei dentro da privada. Depois que coloquei o celular no mesmo lugar, voltei para a sala, me deitando no sofá, em alguns minutos adormeci.
Acordei às 5:48 da manhã e fui no banheiro, coloquei um pouco de pasta no dedo e "escovei" os dentes, depois que saí do banheiro, fui na cozinha e mexi no armário, peguei um bule e coloquei um pouco de água para ferver. Achei dois pães, e como eles já estavam um pouco "velhos", cortei em pedaços, passei manteiga e coloquei no forno. Peguei duas xícaras e coloquei sachês de chá, e depois despejei a água quente nas xícaras. Depois de um tempo, desliguei o forno, retirei as torradas de lá, quando me virei para colocar o tabuleiro em cima da mesa, estava encostado no portal da porta, com os braços cruzados.
- Oi, eu... Eu mexi em algumas coisas, espero que não se incomode. - disse envergonhada.
- Não tem problema! - disse dando um sorriso leve. - Obrigado. - disse se aproximando.
- Ah, de nada! Eu já estou acostumada a fazer o café da manhã das meninas! - disse com um sorriso no rosto e ele riu.
- Não, obrigado por ontem! Eu estava perdido e você me ajudou, obrigado! - disse dando um sorriso.
- Já sabe qual decisão tomar? - perguntei e ele deu um longo suspiro.
- Acho que preciso de um pouco mais de tempo! - disse bebendo o chá.
- O que você acha de tirar uns dias de folga? Pode te ajudar a espairecer! - disse e ele ficou um tempo me encarando. - Foi uma péssima ideia, não é?
- Na verdade, você pode ter razão. Eu tenho estado muito sobrecarregado, tirar uns dias de folga, pode ser a melhor solução! - disse e eu dei um sorriso.
- As meninas e eu vamos viajar por uns dias, se quiser vir conosco, será muito bem-vindo!
- Eu vou pensar! - disse sorrindo. - Bom, eu vou tomar um banho, preciso ir ao escritório, ainda tenho algumas coisas para resolver! Se você não se importar de esperar, eu posso te dar uma carona! - disse gentil.
- Tudo bem, eu espero! - sorri e ele saiu da cozinha.
Organizei as coisas na cozinha e fiquei esperando por , após alguns longos minutos ele apareceu e fomos para o carro. Durante o caminho, conversamos sobre várias coisas, parecia que já nos conhecíamos há anos! estacionou bem na frente da cafeteria, que ficava perto do seu escritório, dali eu iria andando para o hotel.
- Obrigada, pela carona! - disse depois que saímos do carro.
- Obrigado pela companhia! - disse e sorri. - Bom, até breve! - disse colocando a mão em meu ombro.
O estava atravessando a rua, quando avistei a Mitsubishi preta vindo a toda velocidade, para cima dele. Corri na direção do , e empurrei ele com meu corpo, fazendo com que nós dois caíssemos no chão e, por muito pouco, um acidente grave não aconteceu.
- Você está bem? - perguntei ainda no chão com o .
- Eu... Eu podia ter morrido. - disse me olhando assustado.
- É, eu sei. - disse me levantando e ajudando-o a se levantar. - Vem, vamos sair daqui!
Levei ele até o carro e dirigi até o hotel em que estava hospedada. Quando entramos no quarto, ele se sentou na cama, e Nadia deu água com açúcar para ele beber, ele estava pálido e tremendo, e com razão, não é mesmo?
Me sentei ao lado do na cama e em um gesto inesperado ele me abraçou.
- Obrigado! - ele disse me abraçando forte.
- Como está se sentindo? - perguntei depois que nos separamos.
- Vivo! - disse num tom descontraído fazendo as meninas darem uma leve risada. - Mas falando sério, eu estou legal, só acho que prefiro não ir para o escritório hoje! - disse e as meninas concordaram. O celular de começou a vibrar e, após olhar o visor, ela se levantou da cama.
- Desculpa, eu preciso atender! - disse saindo do quarto.
- Eu acho que já vou embora! - disse se levantando.
- Tudo bem, eu te levo! - Nadia disse gentil.
- Não precisa, eu posso ir sozinho!
- Tenho certeza de que pode, mas prevenido vale por dois, então... Vamos? - perguntou abrindo a porta.
- Está bem! - ele respondeu se dando por vencido. – Tchau, meninas! - disse acenando para Valerie e Kelly.
- Tchau! - responderam em uníssono.
Nadia e eu conversamos muito pelo caminho, é estranho, mas parecia que ela já me conhecia. Bom, quando chegamos na minha casa, eu a convidei para entrar, mas quando fui abrir a porta, percebi que já estava destrancada, será que deixei aberta quando saí de casa hoje? Não, não pode ser. Eu tenho certeza de que tranquei assim que saí.
- Tá tudo bem? - Nadia perguntou. - Está fazendo uma cara estranha. - explicou.
- É que a porta está aberta, mas tenho quase certeza que tranquei ao sair. - disse intrigado e ela me olhou preocupada.
- Tudo bem, deixa eu entrar na sua frente! - ela disse e a olhei incrédulo. - Fiz aula de defesa pessoal, se tiver alguém aí, eu posso resolver isso facilmente! - disse convicta passando na minha frente.
- Cuidado! – disse, sussurrando atrás dela, enquanto ela entrava na casa.
Passamos cômodo por cômodo, mas não havia ninguém na casa. Na verdade, faltava ir no meu quarto e, para nossa surpresa, quando abrimos a porta tinha um cara amarrado ao lado da minha cama, espera... Eu o conheço.
- Andrew? - disse assustado.
Depois disso lembro de sentir um baita de um impacto na cabeça e BOOM, nada além de um apagão.
Assim que acordei, percebi que hoje a vida estava querendo me castigar por alguma coisa. Meus pés e minhas mãos estavam amarrados, e minha cabeça não parava de latejar, olhei para o lado e vi que realmente era o Andrew que estava ali, aliás, Nadia também estava amarrada.
- Acho que hoje não é o meu dia de sorte! – disse, fazendo os dois olharem para mim.
- Que bom que acordou, já estávamos preocupados, você ficou um bom tempo desacordado. - Nadia disse e Andrew concordou com a cabeça.
- Obrigado pela preocupação, mas... Andrew, o que você estava fazendo aqui? - perguntei. - Quer dizer, você já estava aqui quando chegamos, o que aconteceu?
- Eu vim até sua casa para falar com você. Bati na porta, mas ela já estava aberta, então decidi entrar, mas quando entrei dei de cara com três brutamontes, eu tentei correr, mas eles foram mais rápidos. - explicou Andrew.
- Está bem, mas você sabe que nesse horário eu sempre estou no escritório, então... Por que veio para cá? - perguntei e quando o Andrew abriu a boca para falar, escutamos um estrondo vindo do andar de baixo.
- O que será que está acontecendo? - Andrew sussurrou assustado.
- Eu não sei, mas também acho que não quero saber. - sussurrei olhando para a porta do quarto e ficamos em silêncio absoluto.
- Tem alguém vindo. - Nadia sussurrou após poucos minutos.
Dava para ouvir o som dos passos pela escada, mas de repente o barulho cessou, e então dava para ver a sombra da pessoa por baixo da porta, quando a maçaneta rodou, ninguém sabia o que esperar, mas ficamos no mínimo aliviados quando a porta se abriu por completo.
- Valerie? - perguntei surpreso.
- Quem é ela? - perguntou Andrew.
- Eu sou a pessoa que vai desamarrar vocês! - ela disse dando uma piscadinha. - Não acredito que você também está amarrada! - ela disse desamarrando Nadia.
- Não seria a primeira vez! - Nadia disse e eu e Andrew nos olhamos. - Não levem isso para o lado pervertido! - ela disse e se levantou para desamarrar o Andrew.
- Não que eu não esteja agradecido, mas o que você veio fazer aqui? - perguntei enquanto ela me desamarrava.
- E cadê os caras que amarraram a gente? - Andrew perguntou.
- Primeiro: eu vim por causa da Nadia, ela não respondeu minhas mensagens, então vim conferir o que aconteceu. Segundo: quando nós chegamos, eles fugiram. - ela explicou.
- O que? Simples assim? - Andrew perguntou incrédulo.
- Algumas pessoas têm sorte! - ela disse dando de ombros.
- Bom, já que está tudo resolvido... Vamos, né, Valerie? - Nadia disse empurrando a amiga. - O teve um longo dia hoje.
- Esperem aí! Para onde vocês pensam que vão? Precisamos falar com a polícia, isso não pode ficar assim. - disse e eles ficaram me encarando.
- Desculpa, , mas eu não posso ser testemunha. - disse Andrew.
- O que? Por que não?
- Era sobre isso que eu queria falar com você, eu vou embora.
- O que? Por quê? Para onde você vai? - perguntei nervoso.
- , calma, por favor!
- Me acalmar? Quase fui atropelado por uma moto, invadiram minha casa para sabe se lá o que, agora o meu melhor amigo está dizendo que vai embora. Desculpa, mas não tem como ficar calmo. - disse vomitando as palavras. Nessa hora as meninas já haviam saído do quarto.
- Hey, senta um pouco e respira fundo. - ele disse e eu o fiz. - Eu vou me mudar pra Espanha, eu amo o país e recebi uma ótima proposta de emprego por lá.
- Mas assim? De repente? - perguntei.
- De repente não, eu já planejava isso há algum tempo, mas você está sempre tão ocupado e cheio de coisas para resolver, que eu não quis te sobrecarregar ainda mais. - disse se sentando ao meu lado e virando de frente para mim.
- Eu tenho sido um péssimo amigo, não é?
- Um pouquinho! - disse fazendo gesto com a mão.
- Eu quero que você seja muito feliz nesse novo recomeço, você é o melhor amigo que alguém poderia ter! - disse e o Andrew me abraçou. - Não é uma despedida, é?
- Nunca é! - ele respondeu e nos separamos. - O que acha se eu ficar aqui hoje?
- Está falando sério? - ele assentiu. - Seria demais! - disse e ouvimos uns toques leves na porta.
- Licença! Só queria saber se você está bem.
- Entra, ! Eu estou bem, só estou cansado, o dia foi bem difícil hoje!
- Eu imagino, mas pelo menos você está inteiro! - disse dando um sorriso tímido. - Bom, eu já vou indo, não quero atrapalhar!
- Não, pode ficar! Esse é o Andrew, meu amigo! - disse e o Andrew se virou para falar com .
- ? - ela disse trêmula.
- Na verdade é Andrew. - disse corrigindo-a.
- Oi. - ele disse e deu um sorriso fraco. - Posso te abraçar? - ele perguntou se levantando e ela assentiu mesmo parecendo estar em choque.
- , eu preciso ir. Tenho um compromisso urgente, mas fico feliz que esteja bem! - disse dando um sorriso. - Foi um prazer te conhecer... Andrew. - disse dando um sorriso forçado e saiu do quarto praticamente correndo.
- É impressão minha ou ela ficou estranha de repente? - perguntei ao Andrew.
- É impressão. - ele respondeu rápido. - Eu vou fazer um chá para a gente, por que você não toma um banho? O dia foi estressante! - ele disse já saindo do quarto.
- Boa ideia!
- Hey, espera aí! - disse indo atrás de .
- Me desculpa, mas estou com pressa. - ela disse abrindo a porta, mas o rapaz entrou na sua frente e fechou a porta novamente.
- Vamos conversar! - ele disse calmo.
- Conversar sobre o que? Sua troca de nome? - ela perguntou irritada.
- Se você quiser... - ele disse e ela revirou os olhos. - Me dá uma chance de te explicar o que aconteceu!
- Não precisa, porque eu sei o que aconteceu, você foi embora, , simplesmente isso. - ela disse alterada.
- Shhhhh! Não fala alto! Me dá essa chance, o Hugo iria querer que a gente se entendesse.
- Tarde demais para isso, não acha?
- Por favor, ! - ele disse implorando.
- Amanhã, às 9:00 no Franx. Não se atrase. - ela disse e ele sorriu. - Agora sai da frente! - ela o empurrou de leve e abriu a porta saindo da casa.


Capítulo 5

Eu estava cansada e estressada. Hoje cedo recebi uma ligação da minha mãe, ela me deu a notícia de que meu primeiro sobrinho havia nascido, eu fiquei muito feliz com a notícia, mas em seguida fiquei de coração partido por não estar por perto. Em seguida, eu reencontro o , mas por algum motivo ele está sendo chamado de Andrew e eu não poderia estar mais confusa. Mas o dia não foi de todo ruim, sabe os bandidos que invadiram a casa do ? Valerie, Kelly e eu os pegamos.

Flashback
Voltei para o quarto, depois de ter atendido a ligação da minha mãe, e vi que e Nadia já não estavam mais lá.
- Tem alguma coisa errada. - Valerie disse olhando o notebook.
- O que foi? - perguntei me sentando ao seu lado.
- Alguém além do Daniel, está morando com o ? - perguntou.
- Por que está perguntando isso? - perguntei e ela voltou um pouco nas imagens, onde mostrou um homem grande e careca no jardim da casa. - Está acontecendo alguma coisa, precisamos ir para lá. - disse me levantando. - Cadê a Kelly?
- No banheiro. - respondeu pegando uma mala embaixo da cama. - Toma! - disse me dando um estojo com três seringas dentro. - Para apagarmos aquele cara vamos precisar injetar esse líquido direto em uma veia. Eu me garanto na luta, mas confesso que um soco desse cara deve fazer um estrago.
- Então precisamos fazer o possível para ficarmos longe desses socos. - disse e Valerie concordou. - A gente precisa sair agora, não podemos esperar a Kelly. - disse e Valerie guardou a mala novamente. - Kelly? - chamei por ela batendo na porta do banheiro.
- Que é? - ela respondeu grossa.
- Você está bem?
- Estou, . Agora fala o que você quer.
- Tem alguma coisa acontecendo na casa do e estamos indo para lá. Nós precisamos que você se arrume e encontre a gente lá.
Depois de falar com a Kelly, Valerie e eu nos apressamos e saímos do hotel, por sorte tinha um táxi disponível. Chegamos na casa de e o carro dele estava na garagem, mas nem sinal dele ou de Nadia. Valerie e eu decidimos nos separar, ela ficou com a lateral esquerda da casa e eu com a direita. Fui andando para a lateral da casa, mas me agachei um pouco quando cheguei perto das janelas. Infelizmente as janelas estavam fechadas e com cortinas, então eu teria que dar outro jeito. Voltei para a frente da casa e apertei a campainha algumas vezes. A porta se abriu, mas foi deixada apenas uma brechinha e o careca que vimos pela câmera de segurança estava me encarando bem ali.
- Oi! Hã... Eu sou a nova moradora da casa ao lado. - disse apontando. - Me mudei para cá ontem e ainda estou meio perdida tentando organizar tudo... - enquanto eu falava ele deu um longo suspiro. - Está, eu vou direto ao ponto. Meu gatinho está em cima da sua árvore, será que pode me ajudar com isso? - perguntei meiga e ele ficou alguns segundos me encarando.
- É claro. - disse abrindo um sorriso e pude notar um sotaque carregado.
Ele abriu um pouco mais a porta para sair da casa e pelo que deu para me ver, tinha mais um cara no sofá. Quando nosso grandalhão saiu da casa e fechou a porta, eu o deixei passar na minha frente e com cuidado peguei a seringa no estojo que estava no meu bolso.
- Não estou vendo nenhum gatinho. - o homem disse olhando para o alto da árvore.
- Está bem ali, ó! - apontei me aproximando do homem.
- Onde? - perguntou.
- Ali. - apontei.
Quando ele se aproximou ainda mais de mim, eu inseri a seringa na veia do seu pescoço e, antes que ele pudesse reagir, eu injetei o líquido. Ele murmurou alguma coisa e foi amolecendo, segurei ele e o arrastei para debaixo da árvore.
- Caramba, isso foi rápido!
Voltei para a entrada da casa e Valerie estava lá.
- Encontrei um atrás da casa, estava montando armadilhas, e o equipamento é avançado. - Valerie disse sussurrando.
- Pelo sotaque carregado esses caras são russos.
- Por que será que estão atrás do ? - Valerie perguntou.
- Eu não sei, mas algo me diz que vamos saber em breve! – disse, pegando a segunda seringa do estojo. - Pelo que deu para me ver, só deve ter mais um cara na casa, porém ele parece ser bem grande.
- Então qual é o plano? - Valerie perguntou e nesse mesmo instante a porta foi aberta com brutalidade. O homem ficou nos olhando com cara de quem ia nos partir ao meio, então Valerie e eu nos olhamos e acertamos um chute no peito do homem, fazendo ele cair e antes que ele pudesse reagir, injetamos o líquido da seringa nele. - Mandamos bem! - Valerie disse batendo na minha mão. - Mas e agora? O que vamos fazer com eles? - perguntou me olhando e, no mesmo instante, escutamos um barulho de carro.
Para nossa sorte, era Kelly quem havia chegado. Imediatamente Valerie e eu começamos a mover o corpo para fora da casa com cuidado para que ninguém visse, e as câmeras de segurança não seriam um problema já que antes de sairmos, bloqueamos o sinal. Kelly abriu a porta-malas e colocamos um dos nossos belos adormecidos ali dentro, e depois colocamos os outros no banco de trás do carro. Amarramos suas mãos e seus pés e colocamos uma fita em suas bocas, como Kelly iria levá-los para uma de nossas bases, também colocamos vendas neles. Enquanto Kelly e eu estávamos terminando tudo, Valerie foi ver onde estava e Nadia.
A partir daí, você já sabe o que aconteceu, então já podemos dar um fim ao nosso flashback e continuarmos de onde paramos!

Bom, agora eu e as meninas estamos em uma das bases afiliadas da nossa agência. Este lugar é bem menor e com menos recursos, porém ainda sim é confortável e elegante. Nossos amiguinhos russos estavam em uma sala de confissões ou sala de tortura, depende de quem está no comando. Os homens estavam sentados em banquinhos e ainda estavam amarrados e vendados. As meninas e eu entramos na sala, elas se posicionaram atrás dos homens e eu fiquei escorada na porta, após o meu sinal, elas retiraram a venda dos homens e eles demoraram um tempo para se acostumar com a claridade.
- Olá rapazes, fico feliz de vê-los bem! - disse dando um sorriso.
- 'Idi na hui' [Иди на хуй].** - um deles diz num tom agressivo.
- Espero que não tenha me xingado mocinho, isso seria muito rude da sua parte! - disse sarcástica.
- Quem são vocês e o que queriam naquela casa? - perguntei.
- Como se fôssemos responder! - o homem que a Valerie apagou, respondeu.
- Eu imaginei que vocês diriam isso, por isso trouxe alguns incentivos! - disse me retirando da sala. Voltei carregando um carrinho e fechei a porta.
- O que é isso? - perguntou.
- Nada demais, só alguns acessórios! – disse, retirando o pano de cima do carrinho revelando algumas ferramentas como alicate, lâminas e seringas. Peguei o alicate e entreguei pra Nadia que estava atrás do homem que provavelmente me xingou. Peguei uma seringa e entreguei pra Kelly que estava atrás do homem que caiu na história do gatinho em cima da árvore e, por fim, peguei um bisturi e entreguei na mão de Valerie que estava atrás do homem que ela apagou.
- O que elas vão fazer com isso? - ele perguntou.
- O que elas quiserem! Mas se bem as conheço, irão usar o alicate para arrancar todos os seus dentes, depois usarão a seringa para injetar uma boa quantidade de drogas em suas veias e, por fim, usarão o bisturi para finalizar o serviço do jeito mais agonizante possível e é óbvio que um de vocês será o último a passar por essa experiência porque teria que ter alguém para assistir seus amigos sofrerem. - quando terminei de falar, eles se olharam assustados.
- Não precisa de tudo isso, nós te contamos o que quer saber.
- Já começamos muito bem, não acham? - disse sorrindo. – Leve-o para a outra sala. - disse olhando para Valerie e ela assentiu vendando os olhos dele novamente, e desamarrando as pernas do homem. - É melhor não tentar nada, ou as consequências serão bem sérias. - disse rígida.
- Para onde vão me levar? - perguntou.
- Fica tranquilo, já vai saber. - respondi quando ele e Valerie passaram ao meu lado. - E quanto a vocês, as garotas irão ficar aqui caso pensem em tomar alguma atitude errada. - disse saindo da sala. Assim que fechei a porta respirei fundo e andei pelo corredor indo para a outra sala. Valerie já estava na sala com nosso "refém", ele estava sem a venda, mas ainda estava amarrado. - Muito bem, para começarmos esta conversa da forma correta, eu preciso saber seu nome. - disse após me sentar na cadeira em sua frente.
- Nikolai.
- É um nome bonito. - disse sorrindo. - Nikolai, nós não somos inimigos está bem? Eu só preciso saber de algumas coisas e depois vocês vão poder voltar para casa, ok? - perguntei e ele assentiu. - Eu vou te desamarrar e vamos conversar. - disse pegando a mão dele e desamarrando-a. - Agora me diz o que vocês estavam fazendo naquela casa.
- Fomos fazer um trabalho. - ele disse de cabeça baixa e Valerie e eu nos olhamos.
- Nikolai, você está com medo? - perguntei e percebi que ele estava chorando. - Está tudo bem, nós não iremos te machucar. - disse colocando a mão em seu ombro.
- Não são vocês. - ele respondeu com a voz chorosa. - Estão ameaçando todos da nossa agência e se descobrirem que estou falando sobre isso, vão matar a mim e meus irmãos. - disse nervoso. Suas mãos estavam tremendo então segurei elas.
- Escuta, eu posso te ajudar. - disse e ele olhou para mim. - Se você me contar tudo que está acontecendo, eu prometo que nós iremos fazer o possível e o impossível para proteger vocês. - disse apertando suas mãos e ele assentiu se acalmando.
- Estávamos em dia de reunião, e nosso chefe saiu da sala para atender uma ligação, mas quando voltou, parecia que ele tinha visto um fantasma. Perguntamos se estava tudo bem, e ele disse que teríamos que fazer uma viagem para os Estados Unidos e lá ficaríamos sabendo de tudo. Viajamos no dia seguinte e nos levaram para o local da reunião em uma van, quando chegamos lá, nos levaram para um tipo de cassino e pediram para que esperássemos, em seguida chegaram mais algumas pessoas e se apresentaram como a máfia italiana, mas o que mais preocupava era ninguém saber o que estava acontecendo. Mas finalmente, depois de um tempo, apareceu um homem por volta dos 60 anos, ele era alto e muito elegante. Lembro que ele deu um sorriso que me fez estremecer, mas enfim... Ele se apresentou como Wade Stone.
- Desculpa, o que? - perguntei confusa.
- É, ele disse que se chamava Wade Stone e queria propor negócios. Ele queria a qualquer custo ir atrás da Anne Cox, ele ofereceu uma grande bolada pela cabeça dela. - ele disse e eu olhei pra Valerie. - Mas ninguém aceitou a proposta, a Anne é querida por todos os lados, seja por ter ajudado alguém a fugir ou por ter entregado alguém, ela sozinha consegue movimentar vários negócios. Mas ninguém nunca aceita somente um "não", então o homem surtou, ele começou a quebrar tudo que via pela frente, mas depois parou e sorriu. Ele disse que era um homem de negócios e entendia que ninguém tiraria a peça de mais valor do jogo, então ele fez outra proposta. - Nikolai disse fazendo uma pausa. - Ele queria que pegássemos o filho de Anne e levasse para ele, e faríamos isso de graça ou ele nos mataria ali mesmo e depois iria atrás das nossas famílias e isso é tudo. - disse respirando fundo.
- Você sabe se ele fez isso só com os russos e os italianos? - Valerie perguntou.
- Sinto muito, mas não sei responder.
- Tudo bem, escuta o que vai acontecer... Vou trazer os seus amigos para cá, você vai conversar com eles e a gente vai falar com o chefe de vocês, vamos levar todos para um lugar seguro e não se preocupem suas famílias também ficarão a salvos. Só precisamos de um tempo. - disse me levantando.
- Tudo bem, mas como vão fazer isso? - ele perguntou.
- Com a ajuda de alguém muito importante! - disse dando um sorriso. - Até mais! - disse e Valerie e eu saímos da sala, fechando a porta.
Andamos pelo corredor em silêncio, e voltamos para onde estavam as outras meninas.
- Levem-nos para a outra sala e depois me encontrem. - disse séria e me retirei da sala.
Fui ao banheiro e lavei o rosto, me olhei no espelho por um tempo e depois fui até o refeitório pegar água e as meninas já estavam lá sentadas em uma das mesas.
- O que aconteceu? - Kelly perguntou quando cheguei perto.
- Valerie, conta para elas, por favor, eu preciso fazer uma ligação. - disse me distanciando e Nadia veio atrás de mim.
- Você está legal? - perguntou preocupada.
- Não, mas vou ficar. - disse dando um sorriso fraco.
- Tem certeza? Você sabe que pode contar com a gente para qualquer coisa, né? - Nadia disse segurando minhas mãos.
- Até para um abraço? - perguntei e ela sorriu me abraçando forte. - Não precisa se preocupar está bom? Vamos focar na missão. - disse e ela assentiu voltando para a mesa com as meninas. Peguei meu celular e disquei o número da Julie.
- Alô?
- Oi, eu estou te ligando para pedir que viaje ainda hoje pra Londres.
- Aconteceu alguma coisa? - perguntou preocupada.
- Aconteceu. - disse suspirando. - Estamos lidando com algo maior do que esperávamos e precisamos de ajuda. Você e sua equipe serão de extrema importância agora.
- Tudo bem, nós viajaremos ainda hoje.
- Mais uma coisa... Será que você pode achar as outras meninas? Tentamos contato, mas só dá fora de área.
- Isso não será um problema!
- Ok, obrigada. Tchau. - desliguei a ligação e voltei para a mesa das meninas. -Vamos embora? - perguntei.
- Vamos deixar os russos aqui? - Kelly perguntou.
- Sim, não temos o que fazer. Além disso, aqui é simples, mas a segurança é reforçada. - respondi.
- E com quem você estava falando? - Kelly perguntou novamente.
- Julie, pedi ajuda para ela. - disse e Kelly fez uma expressão estranha.
- Bom, então vamos embora. - disse Valerie.

**’Idi na hui' [Иди на хуй] é equivalente a "go fuck yourself" que no português claro quer dizer "vá se foder". ;)


Capítulo 6

Eram 5:20 da manhã e eu ainda não havia conseguido dormir, eu não conseguia parar de pensar em tudo que Nikolai havia dito, especificadamente no nome em que ele havia dito, eu tenho certeza de que já ouvi aquele nome em algum lugar. Resolvi me levantar e tomei um longo banho, normalmente me importo com questões ambientais, mas eu realmente estava precisando disso. Depois do banho, escovei os dentes, coloquei uma calcinha e um sutiã e coloquei um roupão. Eu estou dividindo quarto com a Nadia, era de costume ficar Kelly e eu no quarto, mas ultimamente não estamos nos entendendo.
Peguei meu celular, coloquei o fone de ouvido e instalei um joguinho qualquer para passar o tempo. Enquanto eu jogava, recebi uma mensagem da Julie dizendo que só conseguiria viajar hoje à noite, mas que não era para nos preocuparmos, porque de hoje não passava. Eu sabia que se a Julie não estava disponível era porque estavam fazendo alguma mudança, já que a Anne nunca fica em um único lugar. Quando ela acha que precisa mudar, ela muda, e isso pode variar entre dias, meses ou até horas. A agência tem um lugar oficial, mas só sabe desse lugar quem a Anne permite que saiba. É de praxe a Anne se comunicar com a gente por vídeo chamada, mas na maioria das vezes ela pede pra Julie nos encontrar em algum restaurante para dar as ordens, quase nunca vamos para as filiadas da agência e, quando vamos, eles trocam de endereço em um piscar de olhos. Eu li a mensagem da Ju e mandei um "OK", depois continuei jogando meu joguinho e senti como se estivesse sendo vigiada, então olhei para o lado e Nadia estava me olhando.
- Te acordei?
- Impossível! - ela disse dando um sorriso e em seguida bocejando. - Por que acordou tão cedo? - perguntou.
- Eu nem dormi! - respondi e ela me olhou indignada. - Relaxa ok? É o que acontece quando fico muito sobrecarregada. - disse deixando o celular de lado.
- Sabe o que mais admiro em você? - ela perguntou e eu arqueei a sobrancelha. - A maneira que você lida com tudo. Você é forte em todos os sentidos e sabemos disso, mas você também é frágil e não tem medo de demonstrar isso. - ela disse e eu levantei da cama indo abraçá-la.
- Você se lembra de quando eu falei do ? - perguntei mudando de assunto e ela assentiu.
- Lembra do rapaz que ficou de refém com você e o ? - perguntei e ela assentiu.
- Andrew, né?
- Sim, quer dizer... Não. - disse e ela me olhou confusa. - Ele é o . - disse e Nadia me olhou como se estivesse tentando resolver algum enigma supercomplicado.
- Como assim? - perguntou perplexa.
- Eu fui falar com o , e ele estava no quarto, quando o foi nos apresentar, eu pude ver o rosto dele, foi... - pausei suspirando. - Estranho. Era como se eu tivesse voltado no tempo.
- Mas como você pode ter certeza de que era ele? - ela perguntou. -
- Eu o reconheceria em qualquer lugar. - disse e Nadia sorriu. - Mas a confirmação veio quando ele foi atrás de mim. Ele disse que sentia muito e que precisávamos conversar. - disse mordendo o lábio.
- E...?
- Vamos nos encontrar hoje no Franx. - disse e ela deu um pulo da cama.
- O QUE? - deu um gritinho fino e colocou a mão na boca. - Eu não acredito, você está falando sério? - perguntou se sentando novamente e eu balancei a cabeça concordando. - Amiga, que maravilhoso! Depois de tanto tempo vocês finalmente se reencontraram! - ela disse animada. - Mas... Por que você não parece estar muito animada?
- Eu não sei. - disse dando de ombros. - Na verdade, eu nem sei se quero me encontrar com ele. - disse suspirando.
- , não faz isso. Eu sei que você deve estar confusa, assim como seus sentimentos, mas você não pode simplesmente ignorar isso. Se encontra com ele e resolve tudo o que tem para resolver, se tiver que jogar umas verdades na cara dele, joga! Se sentir vontade de chorar? Chora! Se sentir raiva? Fique com raiva! Só o que você não pode fazer é fugir dessa situação e dos seus sentimentos. - Nadia disse em um tom calmo e doce.
- Você é ótima com as palavras. - disse dando um sorriso com os meus olhos marejados.
- Vem cá! - Nadia sorriu abrindo os braços e abracei-a. - Agora que tal a gente montar um look de tirar o fôlego para mostrar a mulher poderosa que você é? - perguntou animada e eu concordei com a ideia. - Tá, mas primeiro, eu preciso ir no banheiro! - disse se levantando correndo.
Depois de Nadia ter feito sua higiene matinal, ela escolheu a roupa que eu vestiria para o encontro com . Ela escolheu uma calça jeans cinza escuro com alguns rasgados, uma camiseta branca justa e um cardigã longo na cor rosa.
- Isso aqui vai ser a cereja do bolo! - Nadia disse me estendendo um sapato fechado de salto alto na cor de um cinza bem clarinho.
- Pronto! - disse após terminar de me arrumar.
- Você está maravilhosa! - Nadia disse sorrindo orgulhosa e me entregou minha mini mochila.
- Obrigada! - agradeci sorrindo. - Olha, eu não pretendo demorar, mas se isso acontecer, explica a situação pra Julie e ela vai saber o que fazer. - disse e Nadia assentiu. - Mas não podemos esquecer do , os italianos podem vir atrás dele a qualquer momento.
- Tudo bem, eu vou pedir para a Valerie e a Kelly ajudarem a Julie e eu vou me arrumar para ir atrás do . Se acontecer algo, é melhor que uma de nós esteja por perto. - Nadia disse e eu concordei.
Depois de sair do hotel, peguei um táxi e, após 40 minutos, cheguei no Franx. Quando entrei no local, olhei ao redor e o não estava lá. Já estava saindo quando uma garçonete veio até mim.
- Oi! - disse dando um sorriso. - A senhorita está procurando por alguém? - perguntou gentil. -
- Um amigo, mas acho que ele não vem.
- O nome do seu amigo é ?
- É sim.
- Ele teve que sair, mas pediu para que a senhorita esperasse, pois ele não pretende demorar! - ela disse simpática.
- Hã... Ok. - disse dando um sorriso fraco e ela me conduziu até uma mesa.
- A senhorita quer pedir alguma coisa?
- Um café latte, por favor!
- Dois, por favor! - disse gentil e a garçonete sorriu nos deixando a sós. - Trouxe para você! - ele disse me dando uma rosa branca e sentou na minha frente.
- Obrigada. - disse após colocar a rosa em cima da mesa.
- Eu senti sua falta. - ele disse olhando em meus olhos.
- Então por que não entrou em contato? - perguntei mexendo na rosa.
- Eu não sabia como fazer isso, achei que você nunca mais iria querer me ver depois que fui embora.
- Você ter ido embora não foi o problema, eu entendo que você precisava de um tempo, mas você podia ter no mínimo se despedido, não é? Sabe como eu descobri que você foi embora? - perguntei e ele me olhou. - Dentro do ônibus, com a sua vizinha. - disse e ele mordeu o lábio. - Pois é! Ela disse que você ter viajado foi a melhor coisa que poderia ter feito, que aquilo te ajudaria a lidar com a dor da perda. Eu confesso que não entendi muito bem sobre o que ela estava falando, então fui na sua casa e uma nova família estava morando lá. Eu me senti tão mal naquele dia, porque foi ali que eu percebi que não havia perdido só o Hugo, eu tinha perdido você também. - disse e ele engoliu seco. - Eu queria poder te ajudar da mesma forma que você fez comigo milhares de vezes. Eu queria... - pausei e respirei fundo. - Eu queria te lembrar, que você não estava sozinho e que eu nunca sairia do seu lado. - terminei de falar e os olhos dele estavam marejados. Ele ficou um tempo em silêncio e quando finalmente abriu a boca para se pronunciar, a garçonete chegou com o pedido.
- Aqui está! - disse colocando a refeição na mesa. - Bom apetite! - disse sorrindo e após agradecermos ela se retirou da mesa.
- , você era a única pessoa que eu queria e precisava durante aquele ano. - ele disse suspirando. - Mas eu não seria nem de longe a pessoa que você iria querer ao seu lado. - ele disse e eu neguei abaixando a cabeça. - Todas as vezes que você tentava se aproximar, eu te tratava mal e te afastava. Eu estava passando por uma fase em que estava imerso em um mar de ódio e tristeza e esqueci que você também havia perdido alguém. - ele disse e segurou na minha mão. - Eu não posso voltar no passado e consertar as coisas, tudo o que eu posso fazer é te pedir perdão. - ele disse apertando a minha mão.
- Para onde você foi? - perguntei mudando de assunto.
- Amsterdam. - ele disse dando um sorriso e olhei surpresa para ele.
- Você fez a viagem dos sonhos do Hugo. - disse sentido um nó na garganta.
- Era o sonho do Hugo conhecer Amsterdam, e era o lugar favorito do meu pai. Eu queria me sentir mais perto deles, e essa foi a forma que eu encontrei. - ele disse abaixando a cabeça. - Dizem que o tempo é o melhor remédio, mas eu só sinto a dor aumentar. - ele deixou uma lágrima escapar, e então acariciei sua mão. - Você me perdoa? - ele perguntou olhando em meus olhos.
- Não tenho motivos para continuar guardando essa mágoa, então, sim eu te perdoo. - respondi e ele sorriu. - Mas eu quero saber o porquê de estar mentindo para o .
- Vamos dar uma volta, aí a gente conversa sobre isso. - ele propôs e eu concordei.
Depois de sairmos do Franx, fomos andar na pracinha. Estávamos em silêncio, até que começou a falar.
- O que você e sua amiga foram fazer na casa do ? - ele perguntou, me fazendo arquear a sobrancelha.
- Fomos ver como ele estava já que mais cedo ele quase sofreu um acidente. - respondi dando de ombros.
- Não foi isso que sua amiga falou.
- E o que ela falou? - perguntei.
- Ela falou que foi por causa da outra garota, porque ela não respondia as mensagens. - explicou. -
- Bom, ninguém nunca sabe as verdadeiras intenções de alguém, até tudo vir à tona. - respondi e ele deu um sorriso de lado.
- Sabe o que é mais engraçado nisso tudo? - ele perguntou ainda sorrindo e fiz um sinal para que ele prosseguisse. - Seria impossível a Nadia estar com celular. - ele disse e o olhei confusa. - Ela estava usando uma camiseta e uma legging e, em nenhuma dessas peças havia bolsos, ou seja, não teria como ela estar com celular, aliás, ela teria dado uma surra em um dos caras, foi uma pena ela ter se segurado tanto. - disse me encarando.
- Para quem estava amarrado e com um amigo desmaiado ao lado, você prestou atenção em bastante detalhes. - provoquei.
- Sou um bom observador. - ele disse piscando para mim. - Eu preciso saber de uma coisa... Como conheceram o ?
- Estava precisando de um advogado, ouvi dizer que ele era o melhor e decidi testar. - disse e ele mordeu o lábio. - Agora que você já fez o seu questionário, me diz você, como conheceu o e por que ele acha que seu nome é Andrew?
- Conheci o em uma das minhas viagens pelo mundo, ele é uma pessoa incrível e muito gentil, não demorou muito para ficarmos próximos.
- Tudo bem, mas isso não explica o porquê de mentir seu nome. - disse e ele passou a mão na cabeça, ficando em silêncio. - ! - chamei sua atenção e parei de andar.
- Eu te conto, mas antes quero te levar em um lugar. Vamos? - ele perguntou e eu assenti.
Ele me levou para um tipo de estacionamento e eu sinceramente não estava entendendo nada.
- Onde a gente está? - perguntei olhando em volta e o permaneceu quieto. - por que me trouxe aqui? - perguntei aumentando o tom de voz.
- Para quem você trabalha? - ele perguntou.
- O que?
- Não adianta fingir, . Eu sei que você e suas amigas também estão em alguma agência, então me diz qual e eu decido o que vou fazer com você. - ele respondeu em um tom ameaçador e eu dei uma gargalhada.
- Você acha mesmo que eu tenho medo de você? – perguntei, me aproximando dele. - Tenta qualquer coisa e eu faço você se arrepender do nosso reencontro. - sussurrei próximo ao seu ouvido e vi ele tencionar o maxilar. Ele parecia receoso, talvez estivesse pensando se valia a pena arriscar. -
- O acha que me chamo Andrew, porque há alguns anos eu entrei para uma agência. - ele disse dando um suspiro longo. - Estávamos investigando aquele atentado na escola, e tudo apontava para Anne, a mãe do . Então, eu pensei que o poderia ajudar com alguma pista, mas ele não sabe de nada e ontem quando fui na casa dele, era para me despedir, eu vou viajar para procurar por novas evidências.
- Para quem você trabalha? - perguntei.
- Wade Stone.
- Porra, ! - disse exaltada.
- O que foi? - perguntou confuso.
- Pelo visto você não sabe para quem trabalha.
- Do que você está falando? - perguntou.
- Esse tal de Wade colocou a galera da máfia italiana e da máfia russa atrás do , porque quer vingança contra a Anne. - disse nervosa.
- O que? Você está brincando? De onde você tirou isso?
- Os caras que fizeram vocês de refém ontem, eles são russos e contaram o porquê de ter ido atrás do .
- Então eles estão mentindo, eu posso te garantir que o Wade não faria isso. - disse confiante.
- E eu posso te garantir que a Anne não tem nada a ver com o atentado. - disse firme.
- Você trabalha para ela? - perguntou e eu assenti. - Tudo bem, então se eu tenho certeza de que o Wade não tem nada a ver com essa história das máfias, e você tem certeza de que a Anne não tem nada a ver com as mortes na escola... Tem alguém fazendo a gente de idiota. - disse sério.
- Então vamos descobrir quem é.


Capítulo 7

- Como você começou a trabalhar para Anne? - perguntou enquanto deixávamos o estacionamento.
- Minha mãe achou que depois de tudo o que aconteceu, seria bom se eu começasse a ir em um psicólogo. Ela achou que assim as coisas iriam melhorar, então eu fui. Após algumas sessões de terapia, o psicólogo disse que poderia me ajudar de outra forma.
- Como assim? - perguntou e então, um flashback passou pela minha cabeça.

- Faixa marrom? Impressionante, . Parabéns!
- Obrigada. O jiu-jitsu tem me ajudado muito.
- Aposto que a dança, a yoga e o muay thai também estão.
- E não podemos nos esquecer da terapia. - sorri e ele retribuiu.
- , você tem um potencial incrível, mas todo o ocorrido com os seus amigos te impede de ver isso. Eu posso te ajudar a recomeçar, na verdade, melhor que isso, posso te dar um rumo novo, mas antes eu preciso saber, você confia em mim?

- Eu queria uma direção para seguir, e foi isso que ele me deu.
- Comigo aconteceu algo parecido. - ele disse após um breve silêncio. - Mas, enquanto você estava confusa e desorientada, eu estava possesso e sabia bem o que queria. Queria vingança. É claro que isso era só na teoria, mas em Amsterdam encontrei alguém que queria tanto quanto eu, pôr isso em prática.
- Se você pudesse voltar atrás, faria diferente? - antes que ele pudesse responder, meu celular tocou.

- Alô?
- Sou eu. - era Julie. - O bunker foi invadido, não sabemos por quem. A Valerie está sozinha. Dispensei as meninas. Elas já devem estar perto da sua localização.
- Ok. Entendido.

- Problemas?
- Sempre.
- Precisa de ajuda? - desta vez foi o celular dele que tocou.

- Alô? Ei, ei, ei… Calma! O que houve? Fala devagar, não estou conseguindo te entender… Ok, já estou indo.

- O que foi?
- Era o . Parece que a noiva dele o viu com a Nadia e está surtando. - suspirou. - Ele precisa de mim para acalmar a fera. Mas, se você quiser...
- Nem pense nisso! Não precisa se preocupar, eu dou conta!
- Não tenho dúvidas disso, mas de qualquer forma… Caso precise de alguma coisa, me liga!
- Pode deixar.
- Tchau! - se despediu deixando um beijo em minha bochecha.

Não demorou muito para Tess e Stella chegarem, entrei no carro e fomos para o bunker.

- Aqui estão algumas coisinhas que você vai precisar. - Stella disse, me entregando uma maleta.

Abri a maleta e nela estava o meu traje.
Na agência, somos separados por equipes. Cada equipe tem sua própria identificação.
Após algumas missões, nossa equipe foi nomeada como "Inalcançáveis".
Como trabalhamos para todo tipo de gente, seria mais do que apropriado preservar nossa identidade, e é por isso que temos um traje, e nele contém máscaras com modificadores de voz, macacão com capuz e luvas.
Cada uma de nós escolheu uma cor para o macacão e as máscaras, e os nossos codinomes são joias que representam as devidas cores: Branco; Cristal. Vermelho; Rubi. Amarelo; Âmbar. Azul; Safira. Roxo; Ametista. Verde; Jade.

Retirei o cardigã, o jeans e o salto, e coloquei o macacão. Desfiz o coque que tinha feito no cabelo, e ajeitei de forma discreta no capuz.

- Ah! Já estava me esquecendo, também tem isso aqui! - desta vez me entregou uma caixa.
- Um par de tênis?
- Vai ser mais confortável do que os saltos! - respondeu olhando para os meus pés.
- Mas como sabiam que…
- Não sabíamos! - confessou rindo. - Na verdade, não é um tênis comum, ele tem um dispositivo que libera uma lâmina na parte de trás.
- E como eu aciono esse dispositivo? - perguntei enquanto amarrava os cadarços.
- É simples! Você só precisa bater com o tênis em algo sólido. - ela explicou. - Ah, também ganhamos outras coisas.
- Entrega tudo de uma vez, Stella. - Tess disse, revirando os olhos.
- Xi! Quietinha! Bom, continuando… Esses são os seus novos brinquedos. Essa aqui… - mostrou uma pistola prata. - É uma pistola que atira dardos paralisantes, o efeito só dura alguns minutos e só contém quatro dardos, então use com sabedoria. - me entregou. - E para encerrarmos com chave de ouro, temos essa adaga! - mostrou um bracelete.
- Isso não parece uma adaga.
- É porque ela está oculta! Para desembainhar ela, você só precisa fazer um movimento rápido.
- Ok. - peguei o bracelete e coloquei no braço.

Não demorou muito para chegarmos no bunker.

Entramos no local e aparentemente não havia ninguém, pelo menos não que pudéssemos ver.

Fomos direto para o pavilhão onde os russos estavam sendo mantidos. Havia cinco homens armados, parados no corredor.
Nos agachamos atrás de uma pilastra e a Tess fez um sinal. Stella concordou com a cabeça, e tirou do bolso uma esfera metálica. Ela contou até três nos dedos, e jogou a esfera próximo aos homens. Antes que eles pudessem reagir, a esfera começou a soltar uma fumaça e, em alguns segundos, todos os cinco homens caíram no chão.
Esperamos a fumaça desaparecer por completo e revistamos os homens, procurando por algum tipo de identificação.

- É o pessoal do Adam. - falei após ver o desenho de uma tartaruga, costurado por dentro da jaqueta de um deles.
- Aquele espanhol safado! - bufou Stella. - Tínhamos um trato.
- Bom, parece que ele se esqueceu disso. - Tess disse enquanto arrastava um dos corpos para o canto da parede.
- Se ele esqueceu, então vamos fazê-lo lembrar. - olhei na janelinha da porta do alojamento dos russos, e eles estavam lá, incrivelmente calmos. Muito provavelmente não sabiam o que estava acontecendo, os alojamentos são a prova de som.

- Stella, você fica aqui com os russos. Não podemos deixá-los desprotegidos. Tess, procure pela Valerie, eu vou procurar pelo Adam e tentar descobrir algo que possa nos ajudar.

Tess foi para um lado e eu fui para o outro. Andei agachada entre os pavilhões e, após alguns minutos caminhando, finalmente ouvi uma movimentação.

- Merda!
- O que foi?
- Não estou conseguindo me comunicar com os outros. Vá avisar ao Adam.
- Eu tenho uma ideia melhor. – disse, saindo de trás da parede, apontando um revólver para cabeça de cada um.
- Quem é você?
- A fada madrinha. E eu vou transformar vocês em abóboras, se não me levarem até o Adam.
- Mostra para ela quem é que manda. - ordenou e o colega sacou a arma.
- Péssima ideia! - em um movimento rápido, mirei o revólver na virilha do que deu a ordem, e apertei o gatilho. Ele caiu no chão e começou a se contorcer, quase que no mesmo instante, se formou uma poça amarela no chão. Felizmente para ele, minha arma não faz nada além de dar choque. O cara que estava com a arma, ficou imóvel, talvez não estivesse acreditando no que estava vendo. - Você pode me levar até o Adam, ou pode ser o próximo. O que você escolhe?
- Eu… Eu te levo. - disse trêmulo.
- Ótimo. Vai na frente.

Ele me conduziu até o primeiro pavilhão, e paramos em frente a uma porta azul. Ele deu três toques na porta, e alguns segundos depois ela foi aberta.

- Entra. - ele foi na frente e, depois entrei, fechando a porta.
- O que foi agora, Jhonny? - Adam perguntou parecendo estar irritado. Ele estava de costas para nós, por isso não percebeu minha presença.
- Ora, cadê os modos? Não é assim que se trata um cara tão legal como o Jhonny.
- Mas que… - ele se virou com os olhos arregalados, e tropeçou na cadeira que estava a sua frente.
-Saudades, Adam?
- ? Escuta, eu…
- Me poupe dessa conversa mole e senta a droga dessa bunda na cadeira, vamos conversar. - sem hesitar, ele me obedeceu. - E quanto a você, Johnny. - olhei para ele. - Vai vigiar a porta. Ninguém entra. Ou coisas ruins vão acontecer, entendeu? - perguntei e ele assentiu saindo da sala. - Ótimo, agora somos só nós dois. - peguei o revólver e pressionei contra a genitália dele.
- Não… Não… Por favor, não…
- Xi! Vai ficar tudo bem, sempre fica. Agora, refresque minha memória, o que aconteceu da última vez que nos vimos?
- Fizemos… Um acordo.
- E qual era o acordo?
- Deixar de ser um mercenário.
- E por que você está aqui?
- Eu vim por causa dos russos. - pressionei o revólver com mais força e ele soltou um gemido baixo. - Eu não queria estar aqui… Mas ameaçaram me matar se eu não aceitasse o trabalho… Eu fiquei com medo, e no desespero acabei aceitando.
- Quem te contratou?
- Eu não sei. - disse abaixando o olhar.
- Está mentindo. Está com tanto medo deles, que resolveu tentar a sorte comigo? Estou decepcionada. Não se preocupe, vou mandar flores para a sua "abuela''. - me levantei e engatilhei o revólver…
- Foi um homem… Quer dizer, uma mulher… - arqueei as sobrancelhas e ele engoliu seco. - Um senhor, foi ele quem me procurou e fez a ameaça, mas antes de ir embora, eu o escutei falando com alguém no telefone. Ele se referiu a ela como Angel. Acho que ele só estava obedecendo ordens dela.
- E como esse senhor se apresentou? - perguntei e ele fez uma pausa.
- Wade. Wade Stone.
- Tem certeza?
- Tenho, mas lembro de ter saído de lá intrigado, porque uma das garotas que estava com ele, o chamou de Bob.
- Ok. E quanto a essa moto? Você reconhece? – perguntei, pegando o celular e mostrando a foto da moto que não estávamos conseguindo rastrear.
- Nossa, eles realmente fizeram um bom trabalho aqui, se não fosse pelo logotipo...
- Do que está falando?
- Ah, é que a Mitsubishi não fabrica motos, só carros.
- Isso significa que…
- Significa que é uma pista falsa. Mas eu posso te ajudar com isso. Sem dúvidas nenhuma o cara que fez esse trabalho foi o Mark Stanford.
- Como eu o acho?
- Não acha. Ele sumiu do mapa há alguns meses.
- Tudo bem. Agora… Me explica uma coisa: por que vocês simplesmente não levaram os russos assim que chegaram?
- Não era para levar os russos.
- O quê?
- A ordem era encontrá-los e esperar.
- Esperar?
- Sim. Eu também estranhei, mas ele me deu um relógio de bolso e disse algo sobre o tempo ser um fator importante.
- Posso ver o relógio?
- Pode. - disse colocando a mão no bolso. - Toma. - Ele ia me entregar, mas acabou deixando cair. Me agachei e o objeto havia se quebrado. Juntei as duas partes que haviam se formado e olhei para o Adam.
- O que foi?
- Isso não é um relógio.
- O que? - perguntou levantando-se.
- É um cronômetro. Restam dez minutos.
- Eu… Eu não sabia disso, eu juro.
- Eu sei. - disse indo até a porta.
- O que...

Antes que ele continuasse, fui até a porta, mas ela não abriu. Tentei de novo, mas nada aconteceu, a porta estava trancada.

- Merda! Estamos presos aqui.
- O que? Não é possível! - ele foi até a porta e tentou abri-la, mas foi em vão. - Já sei! - ele começou a esmurrar a porta. - SOCORRO! ALGUÉM? SOCORRO! POR FAVOR, AJUDA!
- Jura? Pedindo socorro para quem nos fechou aqui? Ótima ideia! - disse enquanto andava pela sala.
- Tem razão, isso é idiotice! É mais fácil arrombar a porta! - ele chutou a porta, mas falhou miseravelmente.
- Cara, desiste! As portas são reforçadas, além disso, são automáticas, isso significa que a menos que a energia seja cortada, estamos presos aqui.
- Por que você está tão calma?
- Porque não adianta surtar. Eu tenho um plano, nós… - antes que eu pudesse terminar a fala, um som grave foi emitido. A porta havia sido aberta. Jhonny estava ali parado, com o rosto vermelho e com uma das mãos na cintura, na outra mão, ele segurava um cartão de crédito. - Ok, isso foi… Inesperado.
- Vamos logo, esse lugar vai explodir em poucos minutos. - disse Jhonny.
- Então… O cronômetro era para isso! - Adam disse me olhando e eu concordei. - Você já imaginava, não é? Está bem, esquece! Como acha que iremos conseguir sair daqui, em… - olhou no cronômetro. - Quatro minutos?
- As outras, como ela... - apontou na minha direção. - Elas deram um jeito.

Antes que Adam pudesse fazer mais alguma pergunta, saí da sala e Jhonny me acompanhou.
Corremos pelo corredor e descemos dois pavilhões, até vermos duas motos à nossa espera.
Adam e Jhonny ficaram com uma, e eu fiquei com a outra. Demos partida e aceleramos o máximo. Fui a primeira a sair pelo portão, e depois escutei vários estrondos, um seguido do outro, era um barulho ensurdecedor. Parei a moto, quando percebi que Adam e Jhonny ainda não haviam saído do bunker, eles estavam bem atrás de mim, será que… Não concluí o pensamento. Adam apareceu atravessando o portão, com o amigo apoiado nos braços. Fui até eles e apoiei o outro braço do Jhonny em volta do meu pescoço, ao nos afastarmos poucos metros, o bunker inteiro explodiu, nos jogando no chão com o impacto.
Por alguns segundos, escutei apenas alguns zumbidos, mas aos poucos, minha audição normalizou.

- Vocês estão bem? - perguntei me levantando do chão.
- Estamos, não é, amigão? - Adam perguntou colocando a mão nos ombros de Jhonny e ele resmungou. - É, estamos bem!


Capítulo 8

Após me certificar que Adam e Jhonny estariam em segurança, liguei para Julie para saber como estavam as coisas. Ela disse que as meninas estavam bem e que haviam voltado para o hotel, mas antes, deixaram os russos com ela, e eles já estavam seguros. Disse também que eu deveria caminhar por duas quadras e, então, encontraria um veículo pronto para o meu uso.
Entrei em um beco e tirei a máscara e o capuz. Por dentro do macacão, tinha um zíper e ao abri-lo, a parte de cima se solta da parte de baixo, se tornando apenas uma jaqueta. Virei ela ao contrário, agora ela se tornara branca.
Vesti a jaqueta, arrumei o cabelo e saí caminhando pelas ruas, apesar de saber para onde ir, estava me sentindo perdida. Irônico, não é? Entrei nessa porque estava sem rumo, e hoje estou na mesma situação, a diferença é que agora não tenho minha mãe e minha irmã do meu lado. Isso me lembrou que preciso ligar para a minha mãe, da última vez, mal nos falamos.

- Alô? - uma voz grave ecoou do outro lado.
- Quem está falando?
- Eric. E você, quem é?
- A filha da dona do celular. Posso falar com ela?
- ? É você? Nossa, estou muito feliz em finalmente conhecê-la! Sim, amor, é a !
- Amor?
- Filha? Ainda está aí?
- Oi, mãe!
- Como é bom ouvir sua voz! Como você está? Está bem? Está se cuidando? E no seu trabalho, como estão as coisas? A Kelly ainda está com você? Ela está bem? Ai, como eu sinto sua falta!
- Calma, mãe! - pedi rindo. - Eu estou bem, a Kelly também. Sobre o trabalho...
- Eu sei, você não pode falar muito. - ela suspirou. - Preciso te contar uma coisa. Está com tempo?
- Estou sim, pode falar. - disse parando em um ponto de ônibus.
- Há alguns meses, eu conheci uma pessoa e nos envolvemos.
- Hum… E por caso é o cara que atendeu seu celular?
- Sim, o Eric. Filha, finalmente reencontrei o amor! Não tenho dúvidas de que Eric é o homem certo para mim, e é por isso que iremos nos casar!
- Casar? Tem certeza? Mãe, não acha que é muito cedo?
- Nunca é cedo para se entregar ao amor, minha filha. Eu… Sei que você está sempre muito ocupada com as coisas do trabalho, mas seria muito importante para mim, ter as minhas filhas me apoiando em um dia tão importante.
- Mãe, estando perto ou longe, sempre vai ter o meu apoio.
- Eu sei! E sei também que essa resposta significa que você não sabe se vai conseguir vir para o casamento! - ela disse deixando escapar um riso fraco. - Tudo bem filha, eu entendo! Eu preciso ir agora, Eric e eu vamos visitar sua irmã e o seu sobrinho.
- Diz que eu mandei um beijo!
- Pode deixar! Se cuida, filha!

Eu sei que ela ficou chateada por eu não ter dito que estarei no casamento, mas ela ficaria ainda mais triste se eu confirmasse a minha presença e não fosse.

Quando aceitei essa missão, pensava em sumir do mapa e finalmente poder relaxar com a minha família, mas acho que os planos mudaram já que minha mãe vai se casar e minha irmã tem um filho.
Quer dizer, é claro que vamos passar algum tempo juntas, mas as circunstâncias mudaram, elas não pararam no tempo, simplesmente seguiram e agora estão escrevendo novos capítulos de suas histórias, e honestamente? Espero poder fazer o mesmo quando isso tudo acabar!

Andei por mais uns minutos, e então, quando atravessei a rua, avistei Christian.

- Senhorita. - cumprimentou abrindo a porta do carro.
- Olá, Christian! Como está Adeline? - perguntei e ele corou, me fazendo rir. - Só estou brincando, não precisa se envergonhar. Além disso, não há nada de errado em se apaixonar! - sorri.
- Irei sentir sua falta!! - disse me entregando a chave do carro. - Cuide-se, senhorita! - sorriu.
- Quando tudo se organizar, vou convidar o senhor e Adeline para tomar um café, o que acha?
- O convite já está aceito! - sorriu e o abracei.
- Até logo! - disse entrando no carro.

Esse reencontro com Christian me fez relembrar do dia em que conheci Julie.

Entrei no consultório do meu psicólogo, Charles, e ele não estava sozinho.
- , essa é Julie. Eu te falei sobre ela, lembra? - perguntou e concordei com a cabeça. - Venha, sente-se! - disse enquanto afastava a cadeira. - Vou deixá-las à vontade! - sorriu e deixou a sala.
- Artes marciais, dança, yoga… Diga-me , do que está tentando se livrar? - perguntou Julie.
- O que?
- Vamos, você me entendeu. Passa tanto tempo tentando se manter ocupada… Por quê? - perguntou novamente e abaixei a cabeça sentindo meus olhos marejarem.
- Para, por favor… - pedi em um sussurro.
- O que está tentando esconder, ? Do que é que você tem med… - bati com raiva na mesa e empurrei meu corpo para atrás, fazendo assim, com que a cadeira de movimentasse.
- Sou eu, ok? - expliquei me levantando da cadeira. - Desde que toda aquela merda aconteceu, não me reconheço mais. Tenho tanto ódio aqui dentro, que… Não sei do que sou capaz. - disse ofegante.
- Você e as famílias das vítimas, só queriam justiça, e até isso tiraram de vocês. Eu posso ajudá-la a dar um fim nessa história. Eu sei que você viu o atirador, posso te ajudar a achá-lo.
- O que eu preciso fazer para isso acontecer? - perguntei e ela sorriu.

Julie foi comigo até a minha casa e conversou com a minha mãe, falou sobre uma oportunidade de curso e emprego em outro país, eu sabia que era mentira, mas era a melhor maneira de não envolver minha mãe nessa história.
Na mesma semana, viajei com a Julie. Ela me deixou em uma espécie de alojamento e me apresentou a Christian. Ele seria o motorista que me levaria todos os dias ao local de treinamento. A partir daquele dia, Christian se tornou um amigo.

Despertei de minhas lembranças, ao sentir meu celular vibrar. Era Kelly. Atendi e coloquei no viva-voz.

- Precisamos conversar.
- Aconteceu alguma coisa?
- Ainda não. Vou te esperar na praça que fica perto do hotel, mas não comenta nada com as meninas, ok?
- Está bem.

Não demorei para achar a Kelly. Ela estava sentada em um banquinho verde, seu olhar estava fixo no chão, sequer notou minha presença quando me aproximei.

- O assunto é sério, não é? - disse sentando-me ao seu lado.
- Você não sabe o quanto.

(...)


- Então, é aqui que nos despedimos. - disse levantando e ela fez o mesmo.
- Não é um adeus.
- Não, não é. - suspirei. - Se cuida.
- Você também! - disse me abraçando.


Capítulo 9

Após sair da praça, notei que uma van preta saiu de uma esquina e começou a seguir devagar atrás de mim. Para ter certeza de que não era só coisa da minha cabeça, mudei um pouco meu trajeto e a van continuou me seguindo.
Antes de entrar em um viaduto, avistei um carro parecido com o meu. Acelerei um pouco para acompanhar o carro e entrarmos juntos no viaduto. Depois de entrarmos, consegui passar na frente e então, segui por um atalho para chegar antes dos perseguidores no hotel.
Apesar de essa não ser uma solução eficiente, vai me conceder alguns minutos.
Parei o carro um pouco depois do hotel. E liguei para Valerie.

- Onde você está? A explosão do bunker já está em todos os noticiários.
- Vocês têm no máximo oito minutos para arrumar tudo e saírem do hotel.
- Como assim? Achei que ficaríamos mais um tempo.
- Mudança de planos. Descobriram que estamos aqui. Sejam rápidas.

Quando todas já estavam no carro, vi o veículo dos perseguidores e acelerei.
Na maior parte do tempo, conseguimos nos manter distantes, mas quando já estávamos saindo da cidade, Stella gritou e, no mesmo instante, o vidro de trás do carro se estilhaçou por toda parte, me fazendo perder a direção por um segundo.
Quando recobrei minha atenção, a van dos perseguidores estava do nosso lado. Eles jogaram a van em cima da gente, mas tirei o carro a tempo, fazendo com que eles batessem no barranco.
Agora os perseguidores estavam à nossa frente e faziam de tudo para bloquear nossa passagem.
As portas de trás da van se abriram com um baque e revelou a imagem de uma mulher apontando o revólver para nós.
Acelerei e consegui passar a van, antes que nos fechassem novamente.

- Acho que tive uma ideia. - Valerie disse abrindo a maleta que estava em seu colo. - , mais a frente tem um lago, ao lado, uma estrada de terra. Precisamos ir por ali, mas antes deixe que a van se aproxime, depois pode ir com tudo. - explicou. - Nadia, segure isso. - disse entregando uma espécie de zarabatana a ela. A munição era uma flecha, mas na ponta havia um ímã. - Quando a van se aproximar, acerte no capô. Estão prontas? - perguntou e concordamos.

Diminuí a velocidade quando a estrada de terra já estava visível. Não demorou muito para os perseguidores nos acompanharem. Nadia se posicionou por cima do vidro quebrado e acertou a flecha bem no alvo.
Acelerei novamente e virei a curva, entrando na estrada de terra. Olhei para Valerie e ela estava mexendo freneticamente em um pequeno notebook. Escutamos um barulho, então, olhei pelo retrovisor e o capô da van havia ido para os ares bem na hora que estavam virando a curva, isso fez com que ao invés de seguirem pela estrada, descessem direto para o lago. A última coisa que deu para ver daquela cena, foram três pessoas saindo do lago.
Voltei o meu olhar para Valerie e ela estava sorrindo.

- É assim que se livra de uma presença indesejável! - disse orgulhosa e comemoramos.
- Nadia? - chamei depois de alguns minutos em silêncio. - Como ficaram as coisas com o ?
- Nada bem. A noiva dele foi fazer uma surpresa, mas quando me viu saindo do banheiro, surtou totalmente falando que eu era a amante dele. Ela só se acalmou quando chegou e a conteve. O pediu para deixarmos os dois a sós, então decidi ir embora, já que seu amigo está com ele. - explicou.
- Será mesmo que é só amigo? - Tess perguntou rindo.
- Pelo o que Nadia falou, eu duvido! - comentou Valerie.
- Não comecem, por favor. - supliquei.
- Tarde demais, pode contar tudo! - exigiu Stella.
- Vocês são insuportáveis. - disse suspirando. - Nos conhecemos um pouco antes de entrarmos para o ensino médio e, desde então, nos tornamos muito amigos. Hugo e eu vivíamos grudados, mas no dia em que e eu nos falamos pela primeira vez, ele não estava por perto.
- Onde ele estava? - perguntou Valerie.
- No hospital. Ele quebrou o braço enquanto se exibia em um brinquedo do parquinho. - sorri ao lembrar. - Bom, a nossa escola fazia campeonatos esportivos entre as turmas. Naquele dia, seriam os jogos de futsal. O time de futsal masculino da minha sala, estava jogando. Não sei em que momento isso aconteceu, mas acabei me afastando das meninas da minha turma. Ao invés de procurar por elas, eu fiquei no mesmo lugar e torci como se estivesse em uma copa do mundo. estava do meu lado, mas ele não torcia, estava sorrindo, mas ainda assim, parecia triste. Me sentei e comecei a conversar com ele, perguntei se o time da turma dele estava jogando, mas ele confessou estar matando aula. - sorri. - Depois da confissão, ele perguntou de qual turma eu era, para que ele pudesse torcer para o time certo. Gritamos, pulamos e rimos muito, fiquei feliz em compartilhar aquele momento com ele, mesmo que não soubesse seu nome ou em que turma estudava. Quando o jogo acabou, saí da quadra e não o vi novamente pelo resto do ano.
- Você está falando sério? - perguntou Nadia.
- Seríssimo. - respondi.
- Ele mudou de escola? - indagou Stella.
- Não. - ri. - Um novo ano escolar começou e podem chamar de destino ou coincidência, mas começamos a estudar na mesma turma. Hugo também estudava com a gente. No começo, ele ficou cheio de ciúmes, mas depois ele e se deram super bem. Éramos nós três até o ensino médio, depois, ficamos em turmas separadas. Logo no primeiro ano, Hugo fez uma nova colega, Camila, ela me odiava, achava que Hugo e eu namorávamos escondidos. Quando Hugo disse que era gay, ela ficou indignada, e se afastou. , além de bonito, havia nascido em outro país, ou seja, era bem popular na escola. Eu sabia me virar bem, mas a primeira amizade que fiz foi com Kelly. - disse a última parte com um pesar, que não deveria ter deixado transparecer.
- Sem querer interromper, mas já interrompendo… Onde a Kelly se enfiou? - perguntou Valerie.
- Alguém mais reparou que ela tem andado bem estranha nos últimos dias? - questionou Tess.
- . - Nadia me chamou como se já imaginasse que eu soubesse de algo. Suspirei.
- Vamos falar sobre isso, mas não agora, está bem? - elas murmuraram, mas aceitaram a situação.
- Continue com a história do , então. - propôs Stella.
- Hugo, , Kelly e eu, nos tornamos um grupo inseparável. O único momento em que não estávamos todos juntos, era nas férias. Hugo sempre viajava com o pai. Kelly visitava a avó que morava no interior de outro estado, e visitava os tios. Eu costumava passar as férias em casa, mas não era de todo ruim. Um dia anterior às férias de julho, me disse que não iria visitar os tios, que ficaria na cidade, mas que esse era um segredo nosso. Quando as férias começaram, ele foi até a minha casa e me mostrou uma lista de coisas que ele havia programado para nós. A primeira delas era ir ao cinema. Apesar de não gostar muito de sair de casa, fiz esse sacrifício por ele. Quando soube que iríamos ver um filme de romance, quase voltei para casa. - dei um riso fraco. - Na época, detestava esse tipo de filme, mas ele me convenceu, como fazia sempre. No meio do filme, aconteceu uma cena de declaração, seguida por beijos apaixonados. Era uma cena clichê, mas de alguma forma, aquilo me encantou. se aproximou do meu ouvido e sussurrou a fala do personagem. Quando me virei para olhar para ele, ele colocou a mão no meu rosto e confessou ter passado a noite em claro, porque não sabia como contar que gostava de mim. Travei. Não sabia se ele estava me zoando ou não. Ele falou que eu não precisava corresponder a esse sentimento, mas como não? Se toda vez que o olhava, meu coração acelerava? Sussurrei que também gostava dele, ele sorriu e pediu permissão para me beijar, mesmo nervosa, dei a permissão. Durante todo o restante das férias, ficamos juntos, mas não rotulamos o que tínhamos, éramos apenas duas pessoas que se gostavam. Não contamos para ninguém sobre isso, íamos contar depois da formatura, mas… - suspirei. - Enfim, a história que vem depois, vocês já conhecem.
- Eu… Estou sem palavras. Ao mesmo tempo que é uma linda história, também é bem trágica. - Stella disse emotiva.
- Como foi o reencontro de vocês? - perguntou Nadia.
- Nos acertamos. - disse dando um meio sorriso. - Enfim, está ficando tarde, vamos parar em um motel. Amanhã seguimos em frente.

Dirigi por mais duas horas, até finalmente achar um motel na beira da estrada.
Tess foi pedir os quartos, enquanto Stella foi retirar dinheiro do caixa eletrônico que havia no local.
Tess voltou com a notícia de que só havia um quarto disponível, mas que no cômodo havia duas camas. Não que isso ajudasse muito.

- Eu vou tomar um banho, enquanto vocês tentam se organizar. - Nadia disse levando uma mala para o banheiro.
- É melhor a Stella passar em uma daquelas máquinas de venda automática, antes de vir para o quarto. Estou faminta! - Tess disse se jogando na cama.
- Vamos, levanta! - Valerie pediu dando um tapinha na coxa de Tess. - Me ajuda a unir as camas.
- Ai, tudo eu! Por que não pede pra ? - resmungou enquanto se levantava.
- Até ajudaria, mas preciso ligar para a agência.
- Por quê? - perguntou Valerie.
- Agora que nos descobriram, precisamos levar o para a Nova Zelândia, imediatamente.
- Então vai pedir para o Daniel abrir o jogo?
- Isso mesmo.

Saí do quarto e liguei para a agência. Quem atendeu foi Anne.

- O que aconteceu? Como estão as coisas? está bem?
- Se acalme. Ele está bem. Mas vamos ter que mudar nossos planos. Queríamos agir com cautela, para não assustar o , mas não podemos mais esperar. As coisas se complicaram. Nos descobriram e tivemos que sair às pressas do hotel. Precisamos levar o imediatamente, mas antes, o Daniel vai ter que conversar com ele.
- Eu… Não achei que seria necessário contar a verdade para o , antes que ele chegasse aqui. - disse com a voz falha.
- Eu sei, e lamento, mas não há uma alternativa.
- Tudo bem. Vou pedir para que Daniel converse com , logo pela manhã.
- Obrigada.

Voltei para o quarto e as meninas estavam com uma feição preocupada.

- O que foi? - perguntei fechando a porta atrás de mim.
- Kelly. Ela não atende as nossas ligações, não responde as nossas mensagens, será que aconteceu alguma coisa? - Valerie perguntou apreensiva.
- Calma! Não aconteceu nada. - disse me encostando na parede.
- Você falou com ela? - perguntou e assenti.
- Um pouco antes de toda aquela perseguição. - suspirei. - Ela… Abandonou a missão. Disse que já havia atingido o limite dela faz tempo, e que não podia mais continuar.
- Que brincadeira de mau gosto, é essa? , isso não tem graça. - Valerie disse exaltada. - Ela não iria embora sem se despedir da gente, sem… Sem se despedir de mim. - disse com a voz falha.
- Eu sinto muito. - disse fitando o chão. - Olha, ela só… Não sabia mais como lidar com isso. Vocês mesmas disseram que ela estava estranha. Se ela continuasse, aos poucos isso ia destruir ela e a nossa amizade. Essa separação iria acontecer uma hora ou outra, e não é como se nunca mais fôssemos nos ver, ela só precisa de um tempo. - Valerie estava em prantos. Ela e Kelly tiveram um caso no passado. O relacionamento só não foi para frente por causa da vida insana que a gente vive, mas era nítido que elas se amavam. Me ajoelhei diante dela e a envolvi em um abraço. As meninas fizeram o mesmo.

Quando Valerie se acalmou, peguei uma muda de roupa e fui para o banho.
Comemos algumas das besteiras que Stella comprou nas máquinas de venda automática e nos deitamos. Valerie e Tess haviam unido as duas camas, e colocado lençóis no vão que havia ficado no meio.
Stella ficou na ponta esquerda e Nadia no meio, Tess estava entre as duas. Eu fiquei na outra ponta e Valerie ficou entre Nadia e eu.
Aposto que, pela manhã, alguém vai acordar no chão.

Quando meus olhos já estavam pesando, vi a tela do meu celular acender.
Peguei o aparelho e havia mensagens de .

Ei!
Você está bem?
Deu na TV que um depósito abandonado explodiu...
Estou preocupado.

Oi! Estou bem. Acabada, mas bem!

Está bem, mesmo?
Droga, eu tive um mini ataque em pensar que você poderia estar naquele lugar.
Caramba…
Se aquele atentado não tivesse acontecido, nossas vidas seriam tão menos… Dramáticas.
Aposto que ainda estaríamos juntos.
Chegaríamos dos nossos trabalhos normais, em uma sexta-feira normal, e aí pediríamos pizza, faríamos pipoca, e encerraríamos a noite assistindo alguma comédia do Adam Sandler.
Seria perfeito!

Não vou mentir, havia um sorriso bobo em meus lábios e meu coração estava levemente acelerado, mas acredito ser uma reação normal, não tem como ler essas coisas e ficar indiferente.

Engraçado, lembro que mais cedo você me ameaçou!
Acho que deixaríamos de assistir Gente Grande, para assistir Sr. e Sra. Smith.

Respondi ainda sorrindo.

Emoji rindo
Não, por favor, não!
Você quase me matou com um olhar, não quero nem saber o faria com uma arma!
Ah, preciso te contar uma coisa.
terminou o noivado. Está bem pra baixo, mas de qualquer forma, acho que foi melhor assim, aquela garota é péssima.

Sério? Que porcaria!
Quer dizer, eu sei que ele não estava tão certo em relação ao casamento, mas não achei que teria coragem de terminar o noivado.

Pois é! Eu também não…
Enfim, seu dia foi cheio, você precisa descansar!
Nos falamos amanhã, ok?
Emoji mandando beijo


Capítulo 10

Acordei no meio da noite com Valerie passando por cima de mim para ir ao banheiro.
Estava tão cansada que não vi ela voltar, simplesmente adormeci.
Quando acordei novamente, já passava das dez da manhã. Olhei para o lado e apenas Valerie e Nadia estavam na cama. Levantei com cuidado e, quando dei a volta na cama para pegar minha mala, vi Stella e Tess no chão, dormindo abraçadinhas. Peguei meu celular e tirei uma foto.
Tenho várias fotos assim. Na maior parte do tempo, vivemos sob pressão, e isso é realmente estressante, mas gosto de me apegar a esses pequenos momentos de serenidade, é como se fosse uma luz de esperança em um túnel escuro.

A primeira vez que nos vimos, foi no dia da nossa primeira missão.
Viajei com um instrutor para Nassau, a capital das Bahamas. Quando chegamos, ele mandou que eu fosse sozinha para a Cabbage Beach, como é uma praia bem movimentada, disse que eu deveria ir para a parte leste, pois essa área é praticamente deserta. Quando chegasse, deveria esperar por outras duas garotas, e então, esperar por mais instruções.
Me sentei na areia e depois de alguns longos minutos, vi uma silhueta se aproximar.

- Está aqui há muito tempo? - perguntou tirando os óculos escuros.
- Uns 20 minutos. - respondi colocando a mão à frente do rosto, para enxergá-la melhor. Sua pele clara dá ainda mais destaque para as muitas tatuagens que ela tem nos braços e nas pernas. Seus cabelos longos e ruivos, acentuam suas bochechas rosadas e dão um contraste único a seus olhos castanhos.
- Que saco, pelo menos a vista é bonita! - comentou sentando ao meu lado. - Tess! - disse estendendo a mão.
- ! - segurei em sua mão.
- Já fez algo parecido ou é a primeira vez?
- Primeira vez!
- A minha também! Nossa, estou aliviada, achei que seria a novata que estragaria tudo! - disse me dando um tapinha no braço e eu ri. - E então, como veio parar aqui?
- Eu… Olha! - apontei para a direção oposta a que ela veio e levantei.
- Acho que não vamos precisar esperar tanto. - disse ao se levantar.
- Olá!
- Oi! - respondemos em uníssono.
- Meu nome é Valerie! - disse nos cumprimentando.
- O meu é Tess, e essa é !
- É um prazer, gente! - sorriu. - Caramba, esse lugar é incrível! - disse olhando admirada para a praia. O biquíni branco, acentua suas curvas e combina perfeitamente com a sua pele negra. O cabelo é escuro e bem curto, a boca é carnuda e traz um batom vinho. Seu rosto transpassa doçura, mas a cor escura de seus olhos é selvagem.
- O que a gente faz agora? - Tess perguntou e no mesmo instante, o celular que o instrutor me deu, apitou.
- Aqui está a resposta. - disse virando o celular para elas verem.
- Atlantis Resort? Eu posso me acostumar com isso! - Valerie comentou fazendo uma pose extravagante nos tirando uma gargalhada.

Caminhamos até o resort e puta que pariu, as expectativas eram altas, mas aquilo ultrapassou todos os limites. Ficamos paradas em frente ao lugar, apenas observando, boquiabertas.

- Se gostam do que estão vendo aqui fora, vão amar o vão ver lá dentro! - uma garota disse se aproximando. Sua pele negra, reluz um brilho dourado e o maiô amarelo alaranjado que ela está usando, deixa um contraste mágico em sua pele. O cabelo castanho claro, enaltece a beleza de seus olhos verdes. - Oi, eu sou a Stella! Venham comigo! Estávamos esperando por vocês! - disse sorrindo.

Ela nos conduziu até o resort e nos levou até a área da piscina.

- Uh! Time girl power? Adorei! - a garota disse enquanto levantava da espreguiçadeira. A pele é clara, mas tem um leve bronzeado, o cabelo é loiro, na altura do ombro. O corte suaviza seu rosto e destaca os olhos castanhos, que entram em harmonia com a raiz escura do cabelo. O batom vermelho realça os lábios perfeitamente desenhados, e o seu sorriso é confiante. - Meu nome é Nadia, e vocês são…
- Valerie!
- !
- Tess!
- Lindos nomes! - sorriu. - De onde vocês são? - perguntou deitando-se novamente. - Eu sou da Itália.
- E eu sou do México! - Stella disse sentando-se à beira da piscina.
- Austrália. - Tess respondeu pegando uma bebida.
- França. - respondeu Valerie.
- Brasil. – respondi, me sentando em uma das espreguiçadeiras.
- Você também é do Brasil? Que legal! - Stella disse animada.
- Também? - perguntei.
- Sim, tem outra brasileira. Ela foi dar uma volta na praia, mas já deve estar voltando. - explicou. - Ei, somos um time de mulheres gordas, isso não é incrível? Se estivéssemos em um filme, aposto que seria; Gordas e Gloriosas: O Início. - ela disse nos arrancando uma gargalhada.
- Eu nunca assistiria um filme com esse nome! - Tess disse ainda rindo.
- Por quê? - Stella perguntou indignada.
- Porque é péssimo! - Tess explicou e concordamos rindo.
- Como assim péssimo? Gente, é só ir pela lógica. Somos gordas? Sim. Somos gloriosas? Com certeza. Estamos começando agora na agência? Claro. Não, espera! Não tenho certeza dessa última, vocês são novas nisso certo? - perguntou e assentimos. - Viu? Está tudo conectado.
- Tudo bem, você tem razão! - Nadia disse dando-se por vencida e Stella comemorou.
- Por que vocês entraram nessa? - Valerie perguntou e um silêncio ensurdecedor se instalou. - Isso vai ser importante para nos conectarmos. - o silêncio permaneceu. - Tudo bem, eu começo! Eu fazia duas faculdades ao mesmo tempo, a de psicologia e a de psiquiatria, então obviamente estava sempre muito ocupada, mas em algum momento dessa minha vida corrida, acabei me envolvendo com um cara. Ele era ótimo, até o apresentei para minha família. - disse dando um sorriso triste. - No dia do nosso aniversário de um ano de namoro, ele falou que devíamos dar um passo maior no nosso relacionamento, então, ele se mudou para minha casa. Eu só não esperava que ele ia fazer da minha casa, um ponto de vendas de drogas. Ele aproveitava a minha constante ausência, para vender aquelas porcarias. Um dia, cheguei em casa e vi a polícia levando-o. Disse que eles estavam enganados, e até tentei defender o canalha, e ele, ao invés de dar o último golpe de dignidade e confessar tudo, preferiu jogar a culpa em mim, disse que eu era a chefe do esquema. Sequer hesitaram, me levaram presa junto com ele. No interrogatório, disse que só falaria na presença de um advogado. Estava desesperada. Sou uma mulher negra, que possuía dez quilos de pura cocaína, em casa. Não demorou muito, apareceu uma mulher, Julie. Ela disse que seria minha advogada e que acabaria logo com tudo aquilo. Fiquei uma hora na cadeia e depois fui liberada, como se nada tivesse acontecido. Julie me levou para a casa dos meus pais e disse que assim como ela me ajudou, eu poderia ajudar outras pessoas. Perguntei como, e ela me falou sobre a agência, mas disse que eu ainda não estava pronta, e que voltaria quando fosse a hora. Me formei na faculdade de psicologia, abri um consultório, conquistei clientes, dois anos depois, terminei a faculdade de psiquiatria e segui com a minha vida. Faz um ano que ela me procurou, e… Aqui estou eu! - disse erguendo um coquetel de frutas e erguemos nossas taças, em um gesto de cumplicidade. - E então, quem será a próxima?
- Vamos acabar logo com isso! - Nadia disse dando um sorriso nervoso. - Eu dava aula de matemática no programa de reforço em uma escola. Não ganhava muito, mas era o suficiente para me manter. Minha família não morava na mesma cidade que eu, então, esperava os feriados para nos ver. Mas, no dia do meu aniversário, meu pai apareceu na minha casa, e junto com o "parabéns", levou uma dívida absurda. O aluguel estava atrasado, assim como a conta de luz. Ele estava usando o dinheiro dele e da minha mãe, para fazer apostas e, obviamente, perdeu tudo. Fui ao banco, retirei até o último centavo da minha conta, e dei a ele. Depois disso, as coisas ficaram difíceis para mim. O programa de reforço foi encerrado e eu fiquei sem emprego. As contas começaram a acumular, então, recorri à minha mãe. Perguntei se as coisas haviam melhorado por lá, sabem o que ela me respondeu? - deu um sorriso amargo. - Que el hijo de puta de mi padre, havia limpado a conta conjunta que eles tinham, deixando-a na pior. Ela teve que ir morar com uma amiga. - disse passando a mão no rosto. - Não contei a ela sobre a minha situação, não queria deixá-la ainda mais frustrada. Conversei com uma colega que também havia sido prejudicada pelo término do programa de reforço, e ela disse que se eu tivesse a mente aberta, poderia me ajudar. Ela se prostituía, e eu acabei entrando nessa também. Era isso ou morar na rua. Depois de alguns meses fazendo programa, recebi um cliente muito violento. Fugi dele, mas ele conseguiu me acompanhar, ele me batia e gritava sem parar, mas então, os socos e chutes cessaram e o único som era do meu choro. Quando tirei a mão do rosto e finalmente criei coragem para olhar ao meu redor, vi duas mulheres de pé à minha frente, e o agressor estava caído no chão. Elas me ajudaram a levantar e me levaram para um carro que estava estacionado na esquina. Entrei no carro e Julie estava lá. Ela disse que eu não precisava estar naquela vida e passar por aquele tipo de situação, disse que ajudaria a ajeitar a vida da minha mãe e a minha. Em uma semana, minha mãe voltou para a casa dela e conseguiu um emprego, o mesmo ocorreu comigo. Julie foi me visitar na nova escola que eu estava dando aula graças a ela, e comentou sobre a agência, alegando que eu poderia ajudar outras pessoas, assim como ela fez comigo. Aceitei, e ela disse que quando fosse a hora, voltaria. E ela voltou mesmo! - deu uma risadinha. - Ok, próxima?
- Minha vez. - Tess disse dando um longo suspiro. - Eu tenho um irmão, ele é trans. É um menino de ouro, mas… Cara, esse mundo é uma merda! Um mês antes dele fazer a cirurgia de transição de gênero, ele foi espancado há poucos metros da escola, ele quase… - ela deu uma pausa e respirou fundo. - O estado dele era crítico. Houve uma investigação para descobrir quem havia feito aquilo com ele, mas ninguém viu nada. Meu irmão quase morreu e ninguém estava fazendo nada para ajudar. Fiz a minha própria investigação, levou algum tempo, mas achei um dos agressores. Segui ele durante um dia inteiro. Estava cega de ódio, teria o atropelado se meu celular não tivesse tocado. Achei que poderia ser do hospital, então atendi. Era uma voz desconhecida, se apresentou como Julie. Ela falou que se eu fizesse aquilo, passaria um bom tempo na cadeia e não teria ninguém para cuidar do meu irmão. Em prantos, respondi que era injusto aquele saco de bosta e os outros merdinhas, estarem livres depois do que fizeram. Ela disse que também achava injusto e que poderia me ajudar a colocá-los na prisão. Depois do julgamento deles, ela perguntou como meu irmão estava se recuperando, e disse que se eu me juntasse à agência, poderia continuar evitando que pessoas ruins escapassem da justiça. Como podem ver, ela me ganhou no discurso. - sorriu com os olhos marejados.
- Você fez a melhor escolha que poderia ter feito naquele momento, aliás, todas vocês! - Stella disse dando um sorriso acolhedor.
- E qual é a sua história, querida? - perguntou Valerie.
- Bom, eu vim de uma família humilde, e durante a escola, descobri ser uma boa atleta. A professora de educação física viu meu potencial, e me inscreveu para participar de um programa onde dava bolsas de estudos para jovens atletas, e auxiliava a família com pouco mais de dois salários, por mês. Passei no teste e entrei para o programa. No final do ano, o programa me levaria para os Estados Unidos e lá, eu estudaria e me tornaria uma atleta profissional. Na teoria, isso era incrível, mas na prática, foi diferente. Fui levada para os Estados Unidos, me deixaram em uma espelunca onde não havia o básico para se viver. Acabei ouvindo uma conversa estranha entre meus supostos mentores, algo sobre remover órgãos. Na mesma hora me toquei que não havia programa para jovens atletas, se tratava de tráfico de pessoas. Infelizmente meus documentos e o meu celular já não estavam mais comigo. Quando anoiteceu, fugi. Apesar de estar em um país que não conhecia, com pessoas que não conhecia e sem saber me comunicar, parecia uma ideia melhor do que ficar e perder os órgãos. Andei sem rumo pelas ruas escuras, e rezei para que estivesse longe o bastante. Quando amanheceu, me sentei na calçada, para descansar. Foi quando um carro parou perto de mim. O vidro foi abaixado, e a imagem de uma mulher apareceu. Ela conversou comigo no meu idioma, disse que sabia quem eu era e do que estava fugindo, então disse que me ajudaria. Entrei no carro e ela me levou para um hotel, Julie estava à minha espera. Eles tinham um plano para dar um fim àquele esquema de tráfico de pessoas, e prometeram devolver a minha vida. Em dois dias, os atletas que estavam em cativeiros, foram resgatados e os responsáveis foram presos. Quando voltamos para o México, Julie disse que eu poderia fazer a diferença se me juntasse à agência que ela trabalha e, assim como vocês, eu aceitei a proposta.

Depois da Stella, foi a minha vez de contar o porquê de estar ali. Quando expliquei tudo, senti um olhar em cima de mim, quando olhei para o lado, lá estava Kelly, parada, me olhando boquiaberta. Levantei de súbito.

- Você chegou! - disse Stella. - Meninas, essa é a…
- Kelly?
- ? O que… O que está fazendo aqui?
- Ia perguntar a mesma coisa.
- Que tenso. - Tess disse baixinho.
- Deixa que eu resumo. Ela… - Nadia apontou para mim. - Está aqui para achar o responsável que… Assassinou o amigo dela. - explicou. - E você?
- Estou aqui pelo menos motivo. - Kelly disse suspirando. - Aquele foi o pior dia da vida de muitas pessoas, e a justiça precisa ser feita, aquele assassino desgraçado não pode sair impune.
- Então… Vocês passaram pelo mesmo lance? - Stella perguntou e concordamos. - Caramba.
- Acho que vocês precisam de um momento a sós, não é? Esperamos vocês no bar! - Valerie sorriu. - Vamos, meninas.
- Eu… Não sabia que tinha ficado tão abalada. - disse quando as outras meninas se foram.
- Nem eu. - confessou abaixando a cabeça. - A minha ficha demorou muito tempo para cair e, quando caiu, o havia ido embora, e você já não sorria mais. Decidi fazer como você e procurei por ajuda psicológica. Em alguns meses, Julie apareceu falando da agência. - explicou.
- Fico feliz que vamos fazer isso juntas. - sorri e ela sorriu de volta.

Algumas horas depois, recebemos o alvo da missão. Um político que desviava verba do dinheiro que seria para a educação e saúde pública. O objetivo era conseguir provas concretas, ou uma confissão.
A missão levou um mês, mas foi concluída com êxito.

Um ou dois anos depois, as coisas mudaram. As missões não eram mais sobre entregar corruptos ou agressores para as autoridades, as missões começaram a ser sobre esconder ou achar pessoas de outras agências. E quando falávamos sobre desistir, nos mandavam uma missão que nos fazia acreditar em todo aquele discurso sobre justiça novamente.

Confesso que quis desistir, mas Kelly sempre falava que não podíamos perder as esperanças, mas com o passar do tempo, ela começou a agir como se já não fizesse mais diferença, talvez tivesse perdido a esperança.

Saí do meu transe e fui ao banheiro. O banheiro não é grande coisa, mas pelo menos é limpo. A temperatura do chuveiro está na morna, mas a água não esquenta. Após o banho, me vesti e saí com o carro.
Dirigi por alguns quilômetros e fui até a farmácia comprar alguns remédios, depois aproveitei e fui até uma cafeteria, comprar comida de verdade, para comermos antes de nos encontrarmos com .

- Nossa, vocês estão com uma cara péssima! - comentei ao entrar no quarto.
- Passei a noite no banheiro. - resmungou Valerie. - Culpa daqueles chips horríveis que a Stella trouxe.
- Não reclame comigo, reclame com as máquinas e, para falar a verdade, o banheiro parece mais confortável que esse chão frio, aposto que vou pegar um resfriado. - reclamou Stella.
- Estou toda dolorida, dormir no chão não é para amadores. - murmurou Tess.
- Não sei do que estão reclamando, não são vocês que estão sentindo uma cólica infernal. - Nadia comentou deitando-se em posição fetal.
- Vocês reclamam demais! - disse mexendo nas sacolas. - Valerie, isso é para você, vai te ajudar com a dor de barriga. - disse entregando uma caixinha de remédio e uma garrafinha de água mineral. - Nadia, para você eu trouxe absorvente, remédios e o seu chocolate favorito. - disse entregando a ela junto com uma garrafinha de água. - Tess, esse remédio vai te ajudar com sua dor muscular. - entreguei a ela o remédio e uma garrafinha de água. - E Stella, para te ajudar a não se gripar, acredito que esse chá te ajude. - sorri e lhe entreguei o chá.
- Caramba, você pensou em tudo! - Nadia disse com a voz chorosa.
- É claro! Não aguento ouvir vocês reclamando nem por um minuto, imagine o dia inteiro!
- Ah, para! Você ama a gente, e a gente te ama, por isso sempre cuidamos umas das outras! Droga, como eu amo vocês! - Nadia levantou em prantos e me abraçou, puxando todas para um abraço em grupo.
- Tudo bem, se recomponham e vamos comer, antes que a comida esfrie. Hoje o dia vai ser longo!

Deixamos o motel ao entardecer. Pouco antes de chegarmos a cidade, abandonamos e incendiamos o carro.
Caminhamos um pouco, e nos dividimos. Tess, Stella e Valerie pegaram um táxi, para ir a uma loja de aluguel de carros, e depois nos encontrariam. Nadia e eu pegamos um táxi para a casa de .

- Acha que já deu tempo de ele absorver tudo? - indagou Nadia.
- Espero que sim. - respondi tocando a campainha. Foi quem abriu a porta.
- Ainda tem um carro preto no final da rua? - perguntou sorrindo.
- Tem, sim. - respondi também sorrindo.
- Vamos, entrem.
- Ele sabe? - Nadia perguntou depois que entramos.
- Sabe, e também é um agente. - expliquei.
- Por que não contou isso antes?
- Não achei relevante. - respondi dando de ombros.
- Aquele carro está ali desde ontem à noite. - comentou . - Com certeza é por causa do , eu só não sei por que ainda não tentaram nada.
- Estavam nos esperando. - concluí.
- O que? Não faz sentido. - disse Nadia.
- É claro que faz. Eles sabem que somos da agência da Anne, e sabem que o é da agência do Wade.
- Mas como? - indagou .
- Quem é Wade?
- Nada disso importa agora. Eles vão tentar algo, e vão fazer isso em breve.
- O que vamos fazer? - perguntou Nadia.
- Você e fiquem aqui e estejam atentos. Vou falar com .

Dei algumas batidas na porta do quarto e ela só estava encostada. Entrei no cômodo e ele estava sentado na cama, com uma fotografia em mãos. Ele olhou para mim e deu um leve sorriso, mostrando a fotografia. Anne estava pintando o rosto de uma criança. Provavelmente ele.

- Por anos, deixei essa foto no fundo da gaveta. Odiava vê-la, porque essa foto transborda amor, e até onde sabia, minha mãe havia me abandonado, então, parecia não ser real. - explicou olhando para a foto. - Mas tudo o que ela fez foi para me proteger, tudo o que ela fez, foi por amor. - disse com os olhos marejados. - Me sinto um idiota, por um dia, ter desejado odiá-la.
- E você conseguiu odiá-la? - perguntei sentando-me ao seu lado e ele negou. - Então, não deve se sentir mal. Sei que deve estar tudo confuso agora, mas as coisas irão melhorar assim que você estiver seguro e com a sua família. - sorri colocando a mão por cima da sua mão e ele sorriu de volta. Mas… Talvez demore um pouco para isso acontecer.
- Por quê? - perguntou.
- A casa está sendo vigiada, e é só questão de tempo até invadirem. - expliquei. - Eles querem você, e vão conseguir.
- O que? - perguntou levantando-se assustado.
- Não sabemos quantos são, ou se estão armados. Mesmo que a gente tente impedir, vai ser em vão, então eu preciso que me ouça. - me levantei ficando cara a cara com ele. - Não importa o que aconteça, você não pode irritar esses caras, está bem? Obedeça-os. Não dê motivos para que eles te machuquem.
- Eu… Eu não sei se…
- , eu prometo que vai ficar tudo bem, mas você precisa confiar em mim.
- Tudo bem.
- Aqui, use isto.
- Um relógio? - questionou pegando o objeto da minha mão.
- Não é um relógio qualquer, ele também é um rastreador, vou te encontrar onde quer que esteja. Agora, coloque e não tire em hipótese alguma, ok? - ele assentiu colocando o relógio no pulso.
- Vai ficar tudo bem… Não é? - perguntou receoso.
- Eu prometo. - assegurei tentando dar o meu sorriso mais reconfortante e ele me abraçou forte.
- O que estão fazendo? Se despedindo? Porque… Uma despedida nesse momento, seria muito apropriado. - um homem de voz estridente disse entrando no quarto, com uma metralhadora em mãos. - Mãos onde eu possa ver, e não tentem nenhuma gracinha, estou doido para usar essa belezinha. - disse ajeitando a arma. - Você é o ? - perguntou e assentiu devagar. - Ótimo. - disse indo até ele colocando algemas em suas mãos. estava com a respiração ofegante, e olhava para um ponto qualquer no chão. - Vamos. - disse puxando . - Ah! Diz para a sua chefe, que se ela quiser ver o filho dela de novo, é melhor atender. - disse jogando um celular na cama. me olhou e acenou com a cabeça. - Mais uma coisa! - ele sorriu e senti uma pressão na cabeça, minha visão ficou turva e então, nada além de escuridão.

- ? Ei! Acorda!

Fui despertando devagar, e quando abri os olhos vi e as meninas.

- Como está se sentindo? - perguntou Stella.
- Tonta. - respondi colocando a mão na nuca. - Vocês estão bem? - perguntei a Nadia e e eles assentiram.
- Levaram o . - comentou Nadia.
- É, eu sei. - disse pegando o celular que o homem da metralhadora jogou na cama. - Vocês chegaram há muito tempo? - perguntei e Valerie negou com a cabeça.
- Há uns cinco minutos. - respondeu.
- Ele também te deu um celular? - perguntou .
- Pois é. Como eu havia dito, eles já sabiam sobre nós.
- Agora que foi levado, o que faremos? - indagou Tess.
- , imagino que você vá de encontro ao Wade, então peço que converse com ele, sobre nos unirmos. De alguma forma, ele e Anne estão conectados. - disse e ele assentiu. - Quanto a nós, iremos para a agência, precisamos de todo o suporte possível.

prometeu dar notícias assim que desse, e então nos separamos. As meninas e eu fomos direto para o aeroporto, havia um jatinho particular à nossa espera.


Capítulo 11

Parte um.

Toronto, Canadá.

A minha vida virou de cabeça para baixo de uma hora para outra. Em um dia, sou um advogado talentoso, que está prestes a se casar e, então, umas garotas aparecem, e eu me torno um alvo humano.
Não, não estou colocando a culpa nelas, afinal, eu não queria casar, e elas foram enviadas para me proteger. Pelo menos foi isso que Daniel me disse, que minha mãe havia as mandado, para que me protegessem. Ah! Também tem isso, minha mãe. Todo esse tempo achei que ela tivesse me abandonado, mas, na verdade, apenas se afastou para nos manter fora do perigo. Bom, apesar de seus esforços, não funcionou muito, não é? Afinal, estou dentro de um carro, com uma venda nos olhos, sendo levado para não sei onde, para fazerem sei lá o que, comigo.

Parece que estou levando tudo isso de forma muito natural, mas acho que é só porque ainda não tive de fato, um tempo para assimilar tudo.
Depois que conversei com Daniel, fiquei totalmente anestesiado, era como se qualquer coisa pudesse acontecer, porque eu, simplesmente não iria sentir o impacto.
E então, quando achei que essa sensação de anestesia iria passar, entrou no meu quarto para avisar que estava de mãos atadas quanto a me ajudar. Eu deveria ter entrado em desespero, e gritado ou xingado, talvez deveria ter tentado fugir, mas eu não fiz nada disso. Eu confio nela.
Eu sei, não tem muito tempo que nos conhecemos, e isso é estranho, mas eu realmente confio nela. E se ela disse que vai ficar tudo bem, eu acredito. Embora não tenha muita certeza agora que o carro parou.
Retiraram a minha venda e havia cerca de seis homens armados olhando para mim, mas então, uma mulher surgiu em meio a eles.

- Não se preocupe, querido. Você está em boas mãos! - a mulher disse sorrindo.

Parte dois.

Avisamos a Julie sobre o ocorrido e pedimos para que desse a notícia a Anne.
Fretamos um jatinho e em algumas horas estávamos na Nova Zelândia. Após chegarmos ao aeroporto, fomos levadas para uma reunião de urgência com a Anne.

- Como isso aconteceu? - perguntou ao entrar na sala. - Como deixaram o meu filho ser levado? - sua voz era pura ira. - Se não se sentiam capacitadas para o serviço, por que aceitaram? Essa missão está um caos, por pura incompetência de vocês. Foi um erro tê-las recrutado, por isso acho justo retirá-las da missão. Vou colocar outra equipe, e… - antes que ela terminasse, bati forte na mesa fazendo as pessoas na sala se assustarem e levantei. -
- Já chega! Quando nos convenceram a fazer parte desse circo, prometeram que faríamos algo maior e depois nos usaram para seus próprios interesses, então acho que, se alguém errou aqui, foram as pessoas que se deixaram enganar por seus discursos superficiais. E se o está no meio de toda essa merda, não foi por incompetência nossa, foi porque a mãe dele fez merda e achou que não teriam consequências. - esbravejei e Anne ficou parada, me olhando sem expressão.
- … - Julie chamou baixinho.
- Já terminei. - disse levantando e indo até a porta, as meninas vieram também. - Não. Quer saber? - disse voltando. - Ninguém vai substituir a gente. Qualquer um pode aceitar essa missão, mas só nós podemos conclui-la. Então, vocês queiram ou não, agora iremos até o fim. - disse me sentando novamente. - Podemos prosseguir com a reunião? - perguntei arqueando a sobrancelha e depois de uma longa troca de olhar entre Julie e Anne, Julie concordou com a cabeça. - Wade Stone. Reconhece esse nome? - perguntei e Anne negou. - De alguma forma vocês estão ligados. Um amigo está cuidando dos assuntos com o Wade. Quando ele der notícias, é melhor que se unam. Sobre os sequestradores, deixaram um celular, e irão entrar em contato, quando isso acontecer, nos avisem. Reunião encerrada. - coloquei o dispositivo na mesa e saí da sala.

Antes que eu pudesse atravessar a porta de saída, fui puxada pelo braço. Me virei e era Stella.

- Aonde você vai?
- Eu não sei, eu só… - suspirei cansada. - Não sei. - ela assentiu devagar e me abraçou. Sentir Stella me abraçar, foi quase que terapêutico. Ela tem o melhor abraço do mundo.
- Prepararam um lanche para gente, no refeitório. As meninas já foram para lá! - disse se afastando.
- Tudo bem, eu… Vou depois, está bem? Preciso de um pouco de ar.
- Ok. - sorriu. - Só quero que saiba que, estamos orgulhosas de você. - sorriu e sorri de volta. - Agora, vai! Nos encontramos depois. - disse deixando um beijo na minha testa.

Saí da agência e atravessei a grama indo até o pequeno lago que havia ali. Me sentei no chão, peguei uma pedrinha e joguei no lago. Meu celular vibrou, era .

Passando para avisar que está tudo certo por aqui.
Wade vai entrar em contato com Anne, em breve.

Mandei um ok e bloqueei o celular novamente. Me deitei na grama, e por alguns minutos fiquei apenas admirando o céu, sem pensar em mais nada. Depois de algum tempo, ouvi passos de alguém se aproximando. Fechei os olhos, respirei fundo e disse a mim mesma que tudo ficaria bem.

- Oi! - era Tess.
- Oi.
- Anne estava em uma reunião com o tal do Wade. Ele deve chegar amanhã à noite.
- Bom. Então, podemos ir embora?
- Não. Querem que a gente fique, para ''poupar tempo ". - explicou fazendo aspas no ar. - Palhaçada. - resmungou e eu concordei. - De qualquer forma, eles irão liberar alguns quartos para a gente ficar.
- Pelo menos isso.
- É. - finalizou deitando-se ao meu lado. - Eu falei com meu irmão hoje. Avisei que assim que finalizar esse "projeto", eu volto para casa. - comentou. - Estou animada para voltar, faz tanto tempo que sonho com isso, mas… Não sei, de repente tudo se tornou tão incerto. - disse apertando os lábios.
- É, eu sei bem como é isso. - disse e ela deitou de lado, para olhar diretamente para mim.
- Como assim?
- Ah, eu achei que voltaria para casa e as coisas estariam… - fiz uma pausa à procura da palavra ideal.
- Iguais? - sugeriu Tess.
- Isso mesmo! Mas porra! Em alguns dias, as coisas mudaram, e muito! Obviamente me senti super frustrada, mas percebi que planos não são imutáveis, sempre podemos recomeçar. - disse e ela respirou fundo concordando.
- Eu vou sentir falta desses momentos! Das conversas, das risadas...- confessou.
- Esses momentos não vão acabar, Tess. Não sei se você sabe, mas inventaram uma coisa chamada celular. - zombei.
- Mas não é a mesma coisa.
- E é por isso que nos reuniremos pelo menos uma vez por ano! - Stella comunicou ao sentar ao nosso lado.
- O quê? Há quanto tempo está ouvindo a conversa alheia? - Tess perguntou fingindo estar indignada.
- Você nunca irá saber. Muá rá rá! - Stella disse forçando uma risada maléfica e gargalhamos.
- Você seria uma péssima vilã! - comentei.
- Ah, cala essa boca! - disse rindo.
- Está vendo, Nadia? Já estão nos excluindo. - Valerie comentou cruzando os braços.
- Estou desapontada! - disse Nadia.
- Sentem logo! - pediu Tess.
- Uhum. - Stella pigarreou. - Como eu estava dizendo, a gente não pode perder o contato, então, vamos fazer a promessa de nos encontrarmos pelo menos uma vez por ano! Mas depois de um hiato, claro. Porque não aguento mais vocês! - disse rindo e empurramos ela.
- Como se a gente aguentasse você! - Tess disse revirando os olhos.
- Só… Prometam, ok?
- Nós prometemos! - respondemos em uníssono.
- Bom, bom. Escutem, estamos todas cansadas e não podemos voltar para casa, mas ninguém falou que não poderíamos ir ao shopping, então o que acham de saímos para relaxar um pouco? - sugeriu Stella.
- Essa é uma péssima ideia. - disse Tess. - Mas eu gosto de péssimas ideias! - completou.
- Eu topo! - Valerie disse levantando.
- Eu também! - Nadia disse e elas me olharam.
- Como se vocês já não soubessem a resposta! - disse também me levantando.
- Vão para o portão de entrada, e me esperem lá! - Stella disse correndo para o lado oposto ao nosso.

Esperamos alguns minutos em frente ao portão e então, um Porsche branco, parou próximo a gente, e o vidro foi abaixando devagar, revelando Stella no volante.

- Entrem no carro otárias. Nós vamos fazer compras! - Stella disse enquanto saía do carro.
- Não, Regina George de novo, não! - Valerie disse manhosa.
- Stella, se você acha que vai nos forçar a vestir somente roupas rosas, de novo…
- Calma, gente! - ela me interrompeu. - Hoje nem é quarta-feira! - riu.
- Se é para a gente entrar no carro, por que você saiu? - perguntou Nadia.
- Haha. Otária! - Tess debochou.
- Eu só saí para dar um drama! - explicou. - Além disso, essa belezura não é um carro qualquer! - disse se encostando no carro. - É um Porsche Macan! Tem cinco lugares e… - deixamos ela falando sozinha e entramos no carro. - Ei, eu estava falando!
- Exatamente! - disse Tess. - Agora, vamos logo, não temos o dia todo!

Chegamos ao shopping e entramos e saímos de várias lojas, as meninas se encheram de coisas, mas eu não me interessei por nada.
Fomos para a praça de alimentação e, enquanto comíamos, meu celular vibrou, era um vídeo da minha irmã. Dei play.

- Vídeo de atualização número… Hum, eu não faço ideia! - riu se jogando na cama com um envelope em mãos. - Eu sei que já faz um ano que parei de te enviar essas atualizações, mas foi só porque eu achei que nos veríamos em breve, e como isso não aconteceu, aqui estou eu! Está vendo esse envelope? É o convite de casamento da mamãe! - disse enquanto mostrava o envelope. - Vou abrir, para vermos juntas! Quer dizer, mais ou menos! - disse fazendo careta e colocando o celular para que eu a visse abrindo o convite. - Letras douradas? Que original! - revirou os olhos e mostrou o papel. Ele tem um tom claro de rosa e as letras são douradas, como ela disse. - Faltam duas semanas e eu não tenho ideia do que vestir, o que piora a minha situação é que a mamãe quer ser levada ao altar pelas filhas, quer dizer, filha. Desculpe, não estou tentando jogar isso na sua cara. Do mesmo jeito que a gente sente sua falta, você também sente a nossa, eu sei disso. É difícil para ambos os lados. - suspirou. - Enfim...Deixa eu te mostrar uma coisa. - disse levantando da cama e pegando o celular. - Comprei com uma parte do dinheiro que você mandou! - disse mudando a câmera do celular e então, mostrou um berço. - Sempre que o Arthur fica chatinho, eu o coloco aqui e ele se acalma. - pelo som da voz, ela estava sorrindo. - Ah, isso me faz lembrar que você ainda não conhece seu sobrinho! - ela levantou um pouco o celular e revelou o bebê dormindo no berço. - Talvez vocês se conheçam nas suas férias, se nada der errado! - disse mudando a câmera novamente. - A campainha está tocando, eu preciso ir! Te amo, mana!

Sorri e bloqueei o celular novamente.
Quando saí de casa, minha irmã começou a me mandar vídeos com atualizações do que estava acontecendo por lá, foi o jeito que ela encontrou para me manter perto. Ela só parou de enviar esses vídeos, no ano passado, quando eu falei que estava de férias e que iria voltar ao Brasil, mas infelizmente isso não aconteceu. A agência nos convocou para uma missão em Milão. Minha mãe e minha irmã ficaram bem decepcionadas, e é claro que eu também, mas não havia o que fazer, pelo menos, eu achava que não.

É a primeira vez que vejo meu sobrinho. O pequeno Arthur é tão fofo e bochechudo, queria estar perto dele, ou melhor, queria estar perto deles.

Terminamos de comer e Stella foi a uma loja, as meninas e eu ficamos conversando na mesa.
Me levantei para ir ao banheiro e enquanto andava, olhava as vitrines. Parei ao ver uma loja de bebê. Entrei e ao olhar a loja inteira, comprei um macacão de pelúcia do Stitch e um boneco de pelúcia do Mike Wazowski.
Fui ao banheiro, e quando estava voltando para a praça de alimentação, acabei tropeçando no cadarço do tênis. Me sentei para amarrar e quando levantei o olhar novamente, vi um vestido lindo, pela vitrine de uma loja de vestidos de festa. É um vestido azul Tiffany, longo, com alça ombro a ombro, e possui uma fenda do lado esquerdo.
Entrei novamente no vídeo que minha irmã enviou e coloquei na parte em que ela mostrou o convite de casamento. Pensei por um momento e quando ia guardar o celular, recebi uma mensagem de Stella.

Cadê você? Vem logo, é urgente!

Dei mais uma olhada no vestido, e então fui me encontrar com as meninas. Elas ainda estavam na praça de alimentação, menos Stella.

- O que é tão urgente? - perguntei me sentando.
- Acho que nada, é só a Stella fazendo drama! - disse Tess.
- E cadê ela? - perguntei.
- Boa pergunta! - respondeu Nadia.
- Ei! O que estão fazendo, aí? - Stella apareceu ofegante. - Venham logo, não temos o dia todo! - disse e voltou a andar na direção em que havia vindo. Pegamos nossas coisas e seguimos ela.
- Para onde estamos indo? - perguntou Valerie.
- Vocês já vão descobrir! - respondeu. - Voilá! - disse apontando para uma placa neon. Estávamos em frente a um estúdio de tatuagem. - Eu já pedi para a tatuadora fazer a arte que vamos tatuar, e confiem em mim, está incrível!
- Não, não, não! Eu não vou fazer nenhuma tatuagem. Não, mesmo! - Nadia disse dando meia volta e Stella segurou ela pelo ombro.
- Para com isso, Nadia! Precisamos eternizar tudo isso que vivemos juntas, encerrar esse capítulo da história com chave de ouro!
- Não precisamos de agulhas entrando em nossa pele para eternizar algo. Esses momentos já estão eternizados na nossa memória. - Nadia contrapôs e Stella suspirou.
- Tudo bem, eu não vou obrigar ninguém a fazer o que não quer, só achei que seria uma maneira legal de fechar esse ciclo. - explicou. - Bom, eu vou entrar, vejo vocês depois, então! - disse dando um sorriso e então, entrou no estúdio.
- Eu não sei vocês, mas eu quero fazer isso!
- Eu também! Vai ser legal ter uma tatuagem em conjunto! - Tess disse animada.
- Não vejo por que não! - disse Valerie.
- Então, vamos? - perguntei e elas assentiram.
- E eu? - perguntou Nadia.
- Você pode voltar para a agência se quiser. - propôs Tess. - Pode ser que isso demore.
- Hum, tá… Ok. - acenou e saiu andando.
- Será que ela ficou chateada? - perguntou Valerie.
- Por que ficaria? Foi ela quem decidiu não fazer. - respondeu Tess.
- Vamos, então!

Entramos no estúdio e Stella estava sentada em um sofá de couro, quando nos viu, abriu um enorme sorriso. Logo depois Nadia apareceu, disse que havia mudado de ideia e que queria fazer parte daquele momento, mesmo não gostando muito de agulhas.
Esperamos um pouco e fomos sendo chamadas uma a uma. Não fazíamos ideia do que estávamos tatuando, mas sabíamos que Stella não nos decepcionaria.
Quando o procedimento terminou e eu pude ver o resultado, sorri. Não havia o que falar. Agora, na minha costela, estava eternizada a tatuagem de seis máscaras, uma ao lado da outra, mas apenas uma estava colorida, a minha. E abaixo, estava escrito em letras pequenas: "Tenha esperança".

- O que está escrito? - perguntou Tess.
- Como assim?
- Na sua tatuagem. - explicou.
- "Tenha esperança". Mas porque está perguntando isso? Não é o que está escrito na sua também? - perguntei e ela negou.
- A minha, está escrito: Acredite. - respondeu Tess.
- E a minha está escrito: Ame. - respondeu Valerie.
- A minha está escrito: Tenha coragem. - respondeu Nadia. - E a da Stella, está escrito: Viva. Perguntamos o que significa, e ela disse que a gente já sabe, só falta a ficha cair. - explicou.
- E onde está a Stella?
- Foi ao banheiro. Ela vai nos encontrar no estacionamento.
- Tudo bem, então, vamos!

Quando saímos do shopping, já era tarde. Chegamos na agência e fomos direto para os quartos que haviam sido liberados para nós. Tomei banho e fui direto para a cama.

No dia seguinte, acordei com algumas batidas na porta, era Julie. Ela pediu para que eu me arrumasse e fosse para a sala de reuniões, pois o Wade havia chegado.
Fui ao banheiro, escovei os dentes, troquei de roupa e as meninas já estavam em frente a sala de reuniões. Dei umas batidinhas na porta, e abri a porta, mas não entramos. Anne estava falando algo com o tal do Wade que estava de costas para a porta. Além deles, estavam na sala, Julie e outras duas pessoas.

- Uhum. - pigarreei. - Com licença. - pedi e entramos.
- Wade, essas são as agentes que estão no controle dessa missão. - Anne comunicou e quando o homem se virou, pude finalmente ver o seu rosto.
- Meu Deus. - ele disse se aproximando.
- Não pode ser… - sussurrei com os olhos marejados. Agora eu sei por que Wade Stone parecia ser um nome tão familiar.
- É você? - perguntou com a voz falhada e assenti com a cabeça. Ele sorriu deixando as lágrimas caírem e me abraçou forte. Retribuí o abraço e era como se tivesse voltado no tempo. De repente, me veio uma enorme vontade de chorar.

Wade Stone, na verdade, se chama Wade Rodriguez. Wade Stone, foi o nome que Hugo deu a um super-herói que ele inventou na infância, em homenagem ao pai.
Wade e Hugo eram muito diferentes, mas se davam muito bem, e estar na presença deles era sempre maravilhoso.
Lembro da vez em que Hugo inventou de acampar do lado de fora da casa dele, e Wade nos deu o maior susto. Ele ficou rindo por horas da gente, e enquanto ele ria, Hugo jurava que ia se vingar.

- Eu sinto muito. - disse enquanto as lágrimas caiam sem parar. - Eu queria ter impedido, mas não estava perto o suficiente. - disse em prantos. - Eu… Eu sinto muito, por favor, me perdoa. - supliquei com a voz embargada e ele me abraçou ainda mais forte.
- Você não tem culpa. - disse se desvencilhando e erguendo minha cabeça para que eu pudesse olhar em seus olhos. - Se eu soubesse que você estava carregando esse fardo, teria ficado. Eu sinto muito. - ele disse voltando a me abraçar.
- Uhum. - Anne pigarreou e nos separamos. - Eu não sei o que está acontecendo, mas acho que vocês precisam de um momento a sós. Vamos deixá-los à vontade. - ela disse saindo da sala, e em segundos, estávamos a sós.
- Como você se envolveu nisso? - ele perguntou após nos sentarmos.
- Achei que poderia encontrar quem havia feito aquilo com o Hugo, mas… - suspirei.
- Eu entendo.
- E como foi que você se envolveu nisso? - perguntei.
- Meu pai. Ele me convenceu a fazer parte disso. - respondeu e arqueei a sobrancelha. - A agência a qual estou no comando agora é dele. Quando eu fiz 16 anos, ele me contou sobre a agência, mas disse que eu poderia escolher se me envolveria nesse mundo, ou não. Escolhi a segunda opção, claro, mas depois do que aconteceu com o Hugo, ele me fez acreditar que essa era a única maneira de encontrar o culpado, mas assim como você, não tive resultados. - explicou.
- Por que envolveu o nisso? Não estou te julgando, eu só quero entender.
- Não, tudo bem. Bom, eu encontrei com o em Amsterdam, ele estava cego de ódio. Fiquei com medo de que ele fizesse algo estúpido, então chamei ele para fazer parte disso comigo, achei que seria uma opção mais viável. - concluiu. - Posso te fazer uma pergunta?
- Claro.
- Você tem alguma ideia de quem está por trás de tudo isso? - perguntou e eu neguei.
- Mas, seja lá quem for, quer ferrar com você e a Anne. Vocês dois já se conheciam?
- Não, vi ela pela primeira vez, hoje. E mesmo se já tivesse visto ela em algum lugar, eu saberia, sou um bom fisionomista.

Quando abri minha boca para falar, meu celular tocou. Número desconhecido.

- Desculpa, eu preciso atender. - disse me levantando e saindo da sala. Passei pelas meninas no corredor, e fui atender o celular do lado de fora da agência.
Quando terminei a ligação, voltei para a sala de reuniões e entrei em silêncio. Todos já estavam lá, inclusive .

Na reunião, ficou decidido que Wade ficaria na agência de Anne, até que resolvessem entrar em contato com eles, por meio dos telefones que o homem da metralhadora entregou.
Fomos dispensados e eu fui para o meu quarto. Alguns momentos depois, ouvi batidas na porta, e eram as meninas, ninguém emitiu nenhuma palavra, apenas nos abraçamos.

Uma semana se passou, e absolutamente nada aconteceu. Mas então, na noite de sábado, os celulares tocaram.
Anne foi para o escritório e Wade foi levado para uma sala ao lado, cada um, com suas respectivas equipes por perto.

- Onde está o meu filho, seu desgraçado? - Anne disse com ódio, assim que atendeu a ligação.
- Antes que faça papel de idiota, esta é apenas uma gravação, então escute com atenção. Creio que esteja preocupada com seu filho, mas não se preocupe, estamos nos divertindo muito. Querida, você fez algumas decisões ruins no passado, e está na hora de enfrentar as consequências. Nos vemos daqui a dois dias. Ah, e por favor, não levem armas, não é elegante.
- Caralho! - ela disse esmurrando a parede, e então o celular vibrou. Julie pegou o celular e suspirou.
- É um endereço. Vou pedir para localizarem o local. - Julie disse, e quando estava prestes a sair, Wade entrou na sala.
- Wade, você também recebeu uma mensagem com um endereço? - perguntei e ele assentiu me entregando o celular. - Julie, pede para verificarem os dois endereços, por favor. - disse entregando o aparelho para ela. - Nos avise quando encontrar algo.

Algumas horas depois, Julie finalmente descobriu o local dos endereços. Era uma espécie de ginásio abandonado, em Pequim.

- O que faremos agora? É claramente uma armadilha. - disse Anne.
- Eu sei o que fazer. - disse e todos na sala, olharam para mim. - Preciso fazer uma ligação antes, mas fiquem aqui, eu já volto.

(...)


- Então, é uma missão suicida? - um dos homens do Wade perguntou.
- Vai depender do ponto de vista. - respondi.
- Ok, ok. Vai ser divertido! - sorriu.

Parte três.

Antes de embarcarmos no voo para Pequim, fizemos uma última reunião com a minha equipe e a equipe de , para revisarmos nosso plano.
Como Anne e Wade disponibilizaram mais agentes, nossas equipes estão maiores.

- Iremos ser revistados ao entrarmos no ginásio, então, não poderemos arriscar levando armamento. Por isso, Valerie e Nadia, irão escalar duas pessoas de cada equipe, para que, sem que sejam notados, levem nosso equipamento para dentro do ginásio. Depois, elas seguirão à procura do . Antes que ele fosse levado, dei a ele um rastreador a curta distância, então, se ele estiver por perto, será fácil de achar. Stella, Tess e eu, iremos recrutar um grupo, para que juntos, a gente escolte a Anne até o ginásio. irá fazer o mesmo, para escoltar o Wade. O restante de vocês, irão se posicionar no telhado e se as coisas saírem do controle, será dever de vocês, neutralizar a situação. Boa sorte a todos. Estão dispensados. - disse e aos poucos as pessoas foram se dispersando. - O que foi? - perguntei ao perceber que estava recostado na parede, me observando.

- Lembra de quando uns garotos da escola, mexeram com você e a Kelly, e você, sem hesitar, ia enfrentar eles? - ele perguntou se aproximando.
- Lembro. E lembro também que você me impediu de falar com eles.
- É, mas depois, quando fui falar com eles para deixarem vocês em paz, eles falaram que nunca mais iam chegar nem perto de vocês, porque você era doida. Eu pensei em perguntar o porquê, mas a bolsa de gelo que o Lucas estava segurando no saco, já era autoexplicativo. - ele disse se aproximando e eu gargalhei.
- Bons tempos! - comentei e ele riu negando.
- Tenho certeza de que eles discordam disso. - ele disse e rimos juntos.
- Como acha que vai ser quando tudo isso acabar? - perguntei.
- Não sei, mas espero que possamos descobrir isso juntos. - ele disse ficando bem à minha frente e entrelaçando nossos dedos.
- Uau! Como você gosta de um drama! - debochei e ele riu.
- , eu... - antes que ele completasse, bateram na porta. Era um rapaz, da equipe do .
- Desculpe. Hum, eu só vim avisar que já estamos indo. - disse e saiu no mesmo instante.
- É claro que isso ia acontecer. - ele disse bufando e eu ri me afastando.
- Vamos logo, não queremos ficar para trás.

Quase 13 horas depois, chegamos em Pequim.
Fomos para o ginásio e, como havia previsto, houve uma revista, para verificar se havíamos levado armas. Quando entramos, o Wade já estava lá.
Olhei ao redor e havia pessoas armadas em todos os cantos.

- E agora, o que a gente faz? - Tess perguntou em um sussurro.
- A gente espera. - respondi.

De repente, luzes se acenderam e iluminaram um senhor, saindo das sombras, na parte alta do ginásio. Ele estava usando um terno preto e estava sendo escoltado por alguns capangas, mas apenas dois deles estavam usando máscara.

- Ora, vocês realmente vieram sem armas? Ou são muito inteligentes, ou muito burros! - sorriu. - Não importa, de qualquer forma, vocês não irão sair daqui vivos!
- Quem é você? - gritou Anne.
- Oh, perdoe os meus maus modos. Me chamo Angel. Na verdade, Lyonel Angel. Vocês não me conhecem, mas eu os conheço bem.

Angel. Então foi ele quem o Adam ouviu conversando com o homem que estava tentando se passar pelo Wade.

- No ano de 94, você querida Anne, foi enviada a Moscou para interromper os negócios da máfia russa, lembra? - Angel perguntou.
- Atrapalhei seus negócios, é isso? - Anne perguntou entediada.
- Infelizmente você fez mais do que isso. Você tirou a vida da minha filha. Na época, ela tinha a idade que seu filho tem hoje, seria justo que eu fizesse o mesmo. - disse Angel.
- Foi um acidente, eu tentei ajudar, mas…
- CALA ESSA BOCA! - Angel gritou, assustando Anne. - Eu não quero ouvir suas mentiras. E quanto a você, Sr. Stone… Como era mesmo o nome do seu filho? - perguntou.
- Hugo.
- Não, esse não, o outro.
- Eu não tenho outro filho.
- Ah, é verdade. A Lisa o perdeu, assim que você a deixou para ficar com sua amante.
- O que? - Wade perguntou confuso. - Do que você está falando?
- Desculpe, esqueci de mencionar que Lisa também é minha filha. - disse e Wade tinha um olhar perdido. - Quer saber algo curioso? Seu filho com a outra, morreu no mesmo dia em que a Lisa sofreu o aborto. Você pode achar que é karma, ou má sorte. Eu chamo de… Vingança. - no mesmo instante, Wade caiu de joelhos gritando.
- Seu desgraçado! Você não tinha esse direito! - ele gritava deixando as lágrimas caírem.
- É claro que eu tinha! - Angel gritou. - Você acabou com a vida da minha filha, eu só retribuí o favor. - disse frio.

As coisas não estavam nada boas. Wade estava ajoelhado no chão e não parava de chorar. Anne estava petrificada e os outros claramente não sabiam o que fazer, nem o , ele parecia estar completamente perdido.

- Tragam o garoto! - ordenou Angel.
- Não! - Anne gritou e saiu correndo na direção das escadas.

Fomos atrás dela e os capangas de Angel tentaram atirar, mas estavam sem munição, então começaram a vir para cima de nós.
Não importava o quanto lutássemos, aquilo parecia não ter fim. Após deixar mais um cara desmaiado no chão, olhei em volta e vi Stella caída. Corri até ela, mas senti um baque no rosto, tentei me estabilizar, mas quando dei conta, estava no chão, sendo acertada por chutes e socos.

- Basta! - gritou Angel. O rosto dele estava vermelho. - Levantem elas e tragam as outras. - ordenou.

Anne e Wade haviam subido as escadas, com certeza foram eles quem acertaram Angel. Mas agora eles estão de joelhos, sendo segurados pelos capangas de máscara.
Fui forçada a levantar, e então minha ficha caiu. Outras? Droga, Nadia e Valerie.
Quando as trouxeram, elas também estavam machucadas, mas não tanto quanto os capangas que as trouxeram.

- Acharam mesmo que eu não esperava por isso? - riu limpando o sangue que escorria pela testa. - O garoto pode ter fugido, mas vocês não irão sair daqui vivos. Não é mesmo, querida? - disse olhando para o mascarado que estava segurando Anne. Ele tirou a máscara e…

- Kelly? - Anne disse confusa.
- Que porra é essa? - disse Tess.
- Por isso ela estava tão estranha? - disse Stella.
- Não pode ser! Kelly, o que você está fazendo? - Valerie perguntou exaltada.
- Estou cuidando da minha família, Valerie. - respondeu. - Lisa é a minha mãe. - suspirou. - Eu passei anos naquela droga de agência, apenas esperando pelo dia em que finalmente a justiça seria feita. Eu não espero que compreendam, apenas saibam que tudo o que fiz foi para o bem da minha família. - ela disse indo até Angel. - A minha verdadeira família. - ela completou e, com rapidez, injetou um líquido no pescoço de Angel.
- Peguem… - Angel não conseguiu terminar, ele simplesmente desmontou nos braços de Kelly.

O homem mascarado ia avançar para cima dela, mas Wade foi mais rápido e com um chute, o empurrou da escada.
Em segundos, o caos estava instaurado. Os capangas de Wade começaram a atacar e, dessa vez, eles haviam recarregado as armas.

- Joguem as bolsas e peçam reforços. - gritei e Valerie assentiu. Ela fez um sinal para alguém acima de nós, e, em instantes, as bolsas com o armamento começaram a cair.

Antes que eu pudesse chegar em uma das bolsas, fui agarrada por trás e me aplicaram uma gravata. Estava quase apagando, quando lembrei do tênis que Stella me deu. Joguei o pé com tudo para trás, e então, o alívio na garganta veio junto com um grito de dor, mas o grito não havia sido meu. Olhei para baixo e a lâmina do tênis ainda estava cravada na perna do homem. Puxei o meu pé para a frente, retirando a lâmina da perna dele e o puxei pela camisa, jogando-o sentado à minha frente. Me abaixei um pouco e apliquei um mata-leão nele, até que estivesse inconsciente.
Olhei para as escadas e o mascarado, que Kelly havia empurrado, estava se levantando, quando a máscara foi retirada, reconheci aquele rosto de imediato.
Foi ele quem apertou o gatilho, foi ele quem atirou no Hugo, foi ele quem tirou a vida do pai do .
Corri e, ao pegar impulso, dei um salto e acertei um chute na parte superior do tronco do assassino, fazendo com que ele caísse de costas na escada. Quando me aproximei, ele deu um salto, me pegando de surpresa. Acabamos caindo no chão.

- Eu vou fazer com você o que eu fiz com aquele garoto da escola. - disse rindo, enquanto me pressionava contra o chão. Tentei sair debaixo dele de todas as formas, mas já estava ficando sem forças para resistir. Ele ficou segurando o meu pescoço com uma das mãos, enquanto pegava o revólver que estava na cintura. Quando ele apontou e engatilhou a arma, seu corpo foi jogado para o lado de forma abrupta. Era Wade. Ele foi até o assassino e, sem o menor esforço, quebrou a sua mão. Um grito de dor foi emitido, mas parou assim que Wade começou a desferir socos no rosto dele. Quando ele parou de socar, o homem já estava inconsciente.
Me levantei e fui até Wade. Sua respiração estava ofegante e seus olhos marejados.

- Está tudo bem. - disse, ajudando-o a levantar. - Acabou. Finalmente acabou. - disse e nos abraçamos. Olhei por cima do ombro dele, e os agentes que estavam no telhado, já haviam descido e estavam ajudando a carregar os capangas de Angel.

Procurei por , e ele e Kelly estavam nos observando a uma certa distância. Fiz um sinal para eles, e eles se uniram ao abraço.
Assim que nos separamos, Anne e as meninas apareceram.

- Quem quer começar? - Stella perguntou.
- Faça as honras. - disse e Kelly concordou.
- Eu desconfiei que o meu avô, quer dizer, o Angel, estava envolvido na morte do Hugo, quando ouvi uma conversa dele com o delegado que estava cuidando do caso do atentado. Mas eu só tive certeza, quando, de repente, fecharam o caso. Então, me aproximei mais dele, comecei a perguntar sobre a história da minha família, e ele contou sobre o ocorrido com a minha mãe. Era nítido todo o ódio que ele sentia, disse que compartilhava do mesmo ódio que ele e, então, ele confessou ter mandado matar o Hugo. Aquilo me destruiu. Por causa do atentado, minha mãe havia me colocado para ter consultas com uma terapeuta, depois de algum tempo, ela fez a proposta de entrar na agência da Anne, e eu vi como uma oportunidade para acabar com aquele doente. Após anos de espera, ele finalmente decidiu agir, e a Anne ter nos convocado para proteger o , me deixou louca, porque o Angel não sabia que eu trabalhava para ela, então eu resolvi abrir o jogo para ele, mas disse que só estava na agência para me vingar de Anne. Ele engoliu essa história, e a partir dali, me fez ser o braço direito dele. Por isso, comecei a agir de forma estranha e saí da agência antes do previsto, mas antes, conversei com a . Contei tudo a ela, e ela me ajudou a armar tudo isso, mas eu pedi para que ela não contasse a vocês, quanto menos pessoas soubessem, melhor seria. Bom, então, deixei os capangas do Angel sem munição para ganharmos tempo e pedi a minha mãe para levar o embora daqui, mas precisávamos de uma distração, e acabou sobrando para a Valerie e a Nadia.
- Mas e o rastreador que deu ao ? - perguntou Nadia.
- Não era um rastreador. - respondi. - Na verdade, dentro do relógio, estavam as instruções que eles deveriam seguir, para sair do ginásio em segurança.
- Mas como? Havia o sinal de um rastreador lá em cima. - disse Valerie.
- Fui eu quem colocou um rastreador lá, para que vocês seguissem o sinal. Como eu disse, distração. - explicou Kelly.
- E para onde o foi levado? - perguntou Anne.
- Ele já deve estar a caminho da Nova Zelândia. - respondi.
- Tudo bem! Bom trabalho, meninas! Vou dar um jeito nessa bagunça. - Anne disse olhando em volta.
- Eu vou com você! - Wade disse a Anne e os dois saíram andando.
- Sabia que você não me decepcionaria! - Valerie disse se jogando nos braços de Kelly.
- Eu não sei o que vocês irão fazer, mas eu vou procurar pelo bar mais próximo. - Tess disse andando.
- Eu vou com você! - disse Stella.
- Esperem por mim. - Nadia disse dando uma corridinha. Coloquei a mão no ombro de Kelly, dando uma apertadinha e sorri para ela, deixando-as a sós. me acompanhou.
- Acho que depois de tanto tempo, os fantasmas do passado vão finalmente parar de nos assombrar. - ele disse e concordei.
- Como você está se sentindo? - perguntei.
- Honestamente? - perguntou e assenti. - Eu não sei. Sempre quis encontrar esses desgraçados, mas eu já tinha perdido a esperança quanto a isso. Acho que vai demorar um tempo para conseguir assimilar tudo. - disse passando a mão no cabelo. Abracei ele pela cintura e apoiei minha cabeça em seu ombro.
- Para onde pretende ir, agora que essa bagunça chegou ao fim? - perguntei.
- Na verdade eu não sei, e você?
- O que acha de ir comigo a uma festa de casamento? - perguntei e ele sorriu.
- Eu adoraria.

Fomos para o bar e à noite decidimos partir.

- Tudo bem, então, voltamos a nos ver em um ano! - Stella disse assim que chegamos ao aeroporto.
- Ah! Eu tenho algo para mostrar! - Kelly disse levantando a camisa e mostrando a tatuagem na costela. Era a mesma que a nossa, mas a dela estava escrito: Ouse.
- O que? Como? - perguntou Valerie.
- A Stella me enviou uma mensagem falando da tatuagem em grupo, e eu, obviamente, não ficaria de fora!
- Ai! Como vou sentir saudades de vocês! - Stella disse chorosa.
- Abraço em grupo! - Valerie disse e nos abraçamos.

Em meio a muitos abraços e declarações, nos despedimos e cada uma foi por uma direção.

e eu pegamos o voo com destino para o Brasil.
Chegamos algumas horas antes da cerimônia de casamento, então, conseguimos nos arrumar com calma. Eu fiz uma boa escolha comprando aquele vestido que vi no shopping da Nova Zelândia, mas acertei mais ainda na escolha do meu par. estava maravilhoso.

Antes de irmos para a cerimônia, recebi uma ligação. Era . Ele ligou para agradecer pelo que fizemos a ele e contou que deu tudo certo no reencontro com a mãe. Ele parecia estar muito feliz.

Fomos para a cerimônia e, quando chegamos, fui de encontro a minha mãe e minha irmã, que estavam em frente à porta da igreja, aguardando o momento de entrar. Minha mãe estava deslumbrante.

- É melhor esse cara não pisar na bola! - comentei me posicionando ao lado da minha mãe e quando elas me olharam, ficaram em choque. - O que foi? Viram um fantasma? - perguntei rindo e elas me abraçaram.
- Eu não acredito que você veio. - minha mãe disse emocionada. - Está tão linda!
- Não tanto quanto a senhora! - disse sorrindo.
- Fico feliz que tenha voltado! - minha irmã disse sorrindo.
- Estou feliz por estar de volta!


Epílogo

Hoje, quatro anos depois de toda aquela loucura, muita coisa mudou.
e eu moramos juntos e temos uma cadelinha chamada Afrodite. Eu descobri o meu amor pela fotografia e se tornou professor de artes marciais.
está muito bem com a família e deixou a advocacia para começar uma carreira na música.
Kelly e Valerie se casaram e moram em Paris, elas estão tentando aumentar a família. Tess fez faculdade de moda e é uma estilista muito conhecida, principalmente no meio plus size. Nadia descobriu o seu amor por gastronomia e se tornou dona de um dos restaurantes mais bem frequentados do México. Stella se tornou uma produtora e roteirista muito renomada.
Por falar nisso, estou atrasada para a première do novo filme dela. Mas, caso sua ficha ainda não tenha caído… Ame, viva, ouse, acredite, tenha coragem e esperança, porque não importa o que aconteça, dias melhores virão! E não esqueça nunca: não importa o seu tamanho, você é e sempre vai ser gloriosa!




Fim.



Nota da autora: Olá, meus amores! Nossa jornada chegou ao fim, mas eu quero agradecer muito a todos que viveram isso comigo.
Muito obrigada a todos vocês que dedicaram um pouco do seu tempo, para ler e comentar a minha história. Isso foi muito importante para mim!
Agradeço também a Nick Snows, a scripter que começou nesse projeto comigo, e a Flávia Coelho, a beta-reader que entrou no meio desse projeto, mas que também foi muito essencial.
Obrigada a todos! E eu espero vê-los em breve, em uma nova história! ❤️

Com amor, Felix.

Ei, leitoras, vem cá! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso para você deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.


Nota da beta: Feliz por fazer parte dessa história, Felix! Espero te ver em breve novamente!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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