Greetings From Santa Monica

Última atualização: 31/12/2022

Capítulo Único

Festas na noite de sexta-feira fazem as pessoas perderem a humilde paciência. Heather até gostou, porque imaginou passar um tempo livre fora de casa e fora da faculdade, ligando o foda-se para seus professores e parentes egocêntricos em meio a pressões psicológicas diárias para garantir uns pontos acima da média. Mas sentiu-se aliviada quando isso acabou em certa liberdade. Ela não era mais uma adolescente, precisava aproveitar seus vinte e dois anos igual no clipe da Taylor Swift.

Heather Buckley era uma mulher solta e extrovertida, amada por muitas pessoas, exceto por alguns parentes da família — algo que a magoava inconscientemente.

Suas oportunidades foram privilegiadas cedo demais. Não pôde crer que estava finalmente de férias, pisando os pés na areia fofa da Califórnia e paquerando de longe alguns gatos. Todavia, sonhava alto com relacionamentos falsos ou platônicos criados por ela mesma.

A texana e estudante de jornalismo, nativa de Highland, tinha azar no amor, a única do grupo de melhores amigas solteira e encalhada. Uma de suas melhores amigas — Yoko, embora tímida e inteligente — vivia a ganhar na base da sorte belos rapazes e futuros maridos.

O trio era formado por Heather, Yoko e Deborah. Eram demasiado irritantes, tão femininas, frescurentas, narcisistas. Ela mal se identificava, entretanto nada seria sem a companhia das duas. Heather se sentia desajeitada e atrapalhada perto delas, enquanto, ao seu redor, outras mulheres tinham um auge de fama absurdo.

Nada de atraente encontrara ao deparar o reflexo do espelho mostrando a madeixa dourada e seus olhos azuis cansados, o rosto pálido salpicado por pintas e bochechas rosadas.

Heather viu-se trajada com sua clássica camiseta amarela do Bart Simpson e short jeans rosa rasgado na região dos joelhos, após se despertar da cama e saindo do quarto rapidamente para a espreguiçadeira.

Heather lutava contra a juventude tardia e pedia constantemente para não ficar sem par nas pistas de danças, exceto uma pessoa. Alan Sanderson o típico rapaz imponente e descolado de todo o campus, mas Heather conhecia aquele tal loiro bem antes de sua fama universitária.

Alan e Heather criaram um laço fraternal composto por almas gêmeas distintas, a mulher antigamente desprezava-o ou o chamava pelo apelido: Alan loser Wonka; porque Alan tinha um penteado levemente chanel e repicado (mesmo que o boné cobrisse a juba dourada) e costumava ser muito atrasado para processar qualquer tipo de informação.

Atualmente, até o zoaria e chamaria sua atenção, se não fosse um famosinho.

Buckley não andaria só de biquíni nem morta perto dele ou vestidos tubinhos chamativos. Alan, no seu ponto de vista, tinha apreço por esse arquétipo feminino, ela preferia agir mais leve e solta, andar de chinelos e camisetão largo. Entretanto, mal sabia o quanto ele amava o laço de fita cor-de-rosa enfeitando a cabeça dela.

O pôr do sol radiante de Santa Mônica animava o lar dos hóspedes, praias e piscinas foram os principais destaques da pousada rústica. As moças sensualizaram na pista de dança diante a bebedeira, os homens só aproveitavam e chamavam as parceiras para os quartos. Ninguém ia estar solteiro tão cedo ou seria pego após ter comido quieto a gata comprometida.

Esquecendo um pouco os mulherengos da festa, Heather, através das lentes escuras do Ray Ban vermelho, pôde observar os colegas de sua turma zoarem uns com os outros ao som de Californication. Alan foi o mais bonito para ela, com seus cabelos loiros e longos molhados, mexendo a cabeça conforme o vento. Paralisada ficava a loira ao vê-lo maravilhoso naquele estado.

Quando de repente alguém lhe chamou pelo nome, atrapalhando totalmente seu devaneio:

— Aí, menina, vai ficar moscando mesmo? — Deborah, com escárnio e afrontosa, puxou a loira pelo seu antebraço. — Levanta daí! Temos que nos preparar para a festa!

— O quê? — indagou com um semblante levemente confuso. — Mas eu não vou para festa nenhuma!

— Ah, você vai sim! — disse a afro-americana de modo autoritário. — Vamos, vamos!

— Beleza — suspirou, acompanhando a garota negra de volta para o quarto.

Heather e Deborah encontraram o quarto totalmente desorganizado. Sua outra amiga assistia a um filme aleatório da Netflix e pintava as unhas, mas, ao ouvir o estrondo da porta, a asiática percebeu as amigas lado a lado.

— Uau, ela apareceu — comentou a asiática com um sorriso ladino. — Chega aí, deixa eu aprimorar a obra de arte! — batia a mão direita no colchão, pedindo indiretamente para que a loira se aproximasse.

— Juro que vou me arrepender — Heather retrucou. — Espero que eu não seja enganada e segure vela igual à última vez.

— Relaxa — Deborah a confrontou.

Yoko desligou a televisão, tirando de dentro da gaveta uma paleta mista por sombras claras e prancha para cabelos. Heather sentou de costas na cama e a amiga atrás de si começou a ajeitar a juba armada. A universitária riu, nervosa, devido ao objeto passando por cada mecha.

Deborah iniciou na maquiagem, afastando um pouco a franja comprida da amiga. O lápis de sobrancelha e olhos trabalharam em conjunto.

— Vocês têm certeza disso? Me parece uma perda de tempo — afirmou Heather, evitando mexer muito a cabeça.

— E o que vai ficar fazendo aqui dentro? Babar na tela do celular enquanto vê fotos do Evan Peters sem camisa? — Deborah conhecia Heather desde o ensino médio. Ela sabia da paixão platônica que a loira tinha pelo ator famoso. Algo que constrangia Heather em tamanha nostalgia.

— Pô, eu gosto do Evan! — retrucou, não mexendo os cílios. — Mas isso é pessoal.

— Sei, sei — debochou a garota negra, fechando o rímel e finalizando sua obra artística com uma sombra rosa pastel e gloss labial. — É por causa do Alan, esse ator te faz lembrar dele, ? — sorriu, maliciosa.

Yoko não deixou de rir.

— Quê? Nada a ver! O Peters é muito mais gostoso — balbuciou, assustada. — O que o Alan tem a ver com as calças?

— As calças dele vão cair na sua mão. — A garota negra recebeu um soco leve no ombro e riu das bochechas rubras da texana.

— Safada!

— Você está reclamando de barriga cheia — a japonesa, quando acabou de cuidar dos cabelos loiros de Heather, pegou a máquina fotográfica, tirando fotos das duas amigas e depois de si mesma. — Estamos lindas, sexys, poderosas! A noite é nossa! E vai ser um pecado perder cada detalhe.

Heather pediu para não tirar mais fotos dela, mas foi pega de surpresa.

Yoko voltava a ajeitar o penteado na menina dos cabelos dourados enquanto a outra amiga dava apoio, lixando e cuidando de suas unhas. Estourava “All Night” de BTS no aparelho de som via bluetooth; todavia, Heather tinha demorado para se divertir até acostumar-se com todo o momento de diversão. Ela fechava os olhos e pensava na sua primeira noite, quando foi chamada por um amigo distante até o píer. Os dois foram ao parque, cruzando na roda gigante, e comeram tacos mexicanos, mas a loira não queria que fosse ele ao lado dela.

Sentia um incômodo no peito só de lembrar daquele loirinho incessante.

Yoko era a dona da câmera, continuava a registrar tudo no quarto.

A Buckley procurou a melhor roupa para a ocasião após terminar de cuidar da sua beleza — uma camiseta rosa guess, saia jeans azul, sapatilhas puma com a mesma cor da blusa — e sua autoestima entrou nos eixos.

A dupla pusera as mãos na cintura, impressionada pela amiga finalmente vestir-se adequadamente e agir como uma boa e independente mulher adulta. Ela arrasaria corações, parecia um arquétipo de Regina George mesclada à cantoras pop dos anos 2000.

Deborah vestiu roupas urbanas e foi inevitável não encarar seu conjunto verde neon e a bandana de caveiras mexicanas cobrindo as tranças africanas.

Yoko vestiu um vestido de cetim preto, meias pretas finas, boina vermelha. Seus cabelos amarrados em duas marias chiquinhas, argolas enfeitando suas orelhas, coturnos nos pés, finalizando com uma maquiagem escura.

— Perfeito! Vocês já se preparam psicologicamente, ? — perguntou Deborah.

— O que quer dizer com isso? — Heather a questionou, inocentemente.

— Ora, Heather, não se banque a inocente — a japonesa cruzou os braços, franzindo uma das sobrancelhas.

— Espera… — ela pensou e finalmente entendeu do que estavam se referindo. — Eca, nem morta! Não vim para esse passeio em busca de uma transa — balançou a cabeça enojada, dando de ombros.

— Conta outra garota! Chove de gatinhos querendo você — Deborah falou o óbvio. — Segue o lema: se for comprometido, você come quieto, se for solteiro, cai dentro.

— Não sou essas vadias do Ômega Alpha — fez um biquinho com os lábios, se sentindo inferior. — Tenho cuidados com o meu corpo.

— Vamos ver se terá quando a bebida estiver na sua frente. — Yoko virou para Heather, segurando a risada.

— Droga, Yoko! Até você? — Heather não se contentou com a asiática gargalhando constantemente.

— Heather tem machofobia — as duas disseram em uníssono em um tom jocoso.

— Ah, vão se ferrar! — Buckley mostrou o dedo médio, depois a língua.

Suas amigas mais e mais queriam lazer e diversão, puxando a texana para dançar a música que tocava na caixa de som. Ela sorria sem graça, fingindo curtir a música que tinha uma vibe relaxante e excitante.

Entretanto, para Heather, estar presa em uma pousada com direito a visitar ilhas e mares não seria nada ruim — bom, se ela fosse sozinha.

•••


Alan permaneceu tranquilo e sereno, olhando o sol desaparecer no horizonte, deitado naquela boia em cima da água. O homem estava apenas com os braços por volta da cabeça, admirando as nuvens alaranjadas do céu, tomando o restante do ponche de frutas. Umas estudantes iam pará-lo e chamar sua atenção, contudo, era sempre algo casual, sequer importando ou sabendo que Sanderson também tinha sentimentos.

A frase que seguia era composta pela simples filosofia: "vocês realmente não se importam, mas tudo bem". Afinal, garotas de uma noite não passam de um tédio.

— Ei, Alan? Alan! — Um moreno conhecido tirou o boné da cabeça loira, o acordando. — ‘Tava viajando, cara?

Pego de supetão, Alan quase se desequilibrou. Se fosse menos esperto, cairia novamente na água.

— Johnny! — chacoalhou a cabeça. — Mas o que aconteceu? Está me chamando há muito tempo?

— Você não faz ideia — o mais alto ironizou. — Por pouco não penso em uma maldade. — Estendeu a mão de dedos longos para o loiro. — Vem cá, vem.

Johnny era capitão do time de baseball local. Quem olhava para o rapaz ficava admirado, pois tinha um físico atlético visivelmente atraente. Porto riquenho de olhos azuis, cabelos encaracolados. Um homem estiloso, um digno modelo para uma capa de revista.

— Puxa… Eu estou um caos! — verificou seu estado deplorável. — Preciso tomar um banho urgente antes que a noite termine sem mim. Seria um pecado.

— Percebi que você tem cheiro de peixe — Johnny zombou. — As sereias acham bem fora de moda essa lábia de pescador.

— Engraçadinho… — Alan riu sem graça.


•••



A festa estava para começar, enquanto isso, Alan saía da suíte de seu quarto, perfumando-se todo. Depois de secar os cabelos úmidos com o auxílio do secador, Alan pôs seu boné Quiksilver azul na cabeça, bagunçando a franja comprida para os lados, tirando do armário sua melhor camiseta preta em conjunto com uma jaqueta azul clara, tentando ser estiloso o suficiente. Finalizou seu look com correntes de prata por volta do pescoço e um jeans rasgado no joelhos só para garantir.

Alan adorava ser estiloso. Isso impressionava as pessoas e o fazia se sentir mais atraente. Porém, sabia que as garotas eram fissuradas por seu sorriso e por seu cabelo. Exceto a aparência.

A pista se enchia com muita dança, cantoria, exaltação. O loiro notou várias mulheres acenando para ele, mas preferiu se isolar, sentando em uma cadeira dos fundos e, surpreendendo-se, avistou mais alguém ao seu lado na mesma situação.

(Nossa é a Heather Buckley mesmo?)

Um sorriso ladino saiu de sua boca ao perceber a beleza da texana. Sequer se virava para os lados, os cotovelos sob a mesa.

Heather deixou suas amigas de lado, dando a desculpa que precisava ficar sozinha por um tempo. Pega por um impulso, quase teve um espasmo após saber que o “Loser Wonka” também não parecia feliz.

Os olhos claros brilharam quando uma mão esquerda de dedos e anel prateado quase alcançou a mão direita de Buckley.

Ambos ficaram silenciados por um momento. No entanto, Sanderson decidiu seguir em frente, quebrando o silêncio ensurdecedor.

— Aí, você quer dançar? — perguntou, a encarando de relance. — Já que estamos sozinhos.

(Será que eu estou sonhando?)

Trincava os dentes, balançando as pernas, extremamente nervosa.

— Pff, nem morta! — disfarçou seu interesse. — Por que eu dançaria com você? Capaz de pisar no meu pé!

— Sou tão ruim assim?

— Claro. Isso aconteceu no fundamental, lembra? — Heather e Alan apresentaram uma peça da Cinderela no terceiro ano. Quando dançaram pela primeira vez, Alan acabou se atrapalhando nos passos. — Para um príncipe encantado, não tem jeito, ?

Alan riu com a lembrança.

— Nossa! A única coisa que me lembro foi o tanto de gel grudado no meu cabelo — comentou, tirando um riso da colega. — E quando a coroa caiu na minha cabeça?

— Puta merda, isso foi hilário — riram em uníssono. — Como pode ser tão lesado.

— Me acha lesado por quê? — Encostou as mãos na testa.

— Duh, talvez porque nunca mudou? — debochou em um ar irônico. — Continua rindo igual um bobão.

— E você continua a mesma pirralha impaciente — rebateu. — Faltou o lacinho rosa na cabeça.

— A época da Helga Pataki, passou — revirou os olhos. — Já deixei de ir atrás do Arnold e ele não era você. — Era ele sim.

— Pois é — assentiu com a cabeça. — Mas… Voltando ao assunto: você não dançaria comigo nem se fosse por educação? Tipo, como amigos?

— Aonde quer chegar, Sanderson?

— Lugar nenhum — foi sincero. — Te dou minha palavra. E provarei o quanto melhorei na dança.

— Ok, ok — Heather se convenceu. — Vamos dançar antes que eu me arrependa.

— Uau, que mudança rápida!

A mulher não pensou duas vezes, ambos seguraram as mãos enquanto a música “Summertime Hightime” do Cuco ressoava na caixa de som. Parando no meio da pista, os amigos se impressionaram.

Deborah deu uma piscadela ao longe e seu namorado, Daniel, fez o mesmo. Yoko, ao lado de Johnny, balançava a cabeça para os lados.

Uma combinação de luzes coloridas em meio ao clima escuro permaneceu ligada na festa. Animado com a canção, Alan começou a cantar alguns trechos.

Summer time is the time, I like to get high with you, it 's true (o verão é o tempo que eu gosto de ficar chapado com você, é verdade). — A voz doce e mínima foi um coro de anjos para sua companheira, submersa na vastidão oceânica. — Vibe with me, trip with me, let me spend my days with you (entre na vibe comigo, viaje comigo, deixe-me passar meus dias contigo). — Se aproximaram ainda mais.

Heather deu de ombros. Alan estendeu a mão novamente e, dessa vez, a loira aceitou, sendo levada pelo outro, cantando, em uma dança lenta. Alan abraçou sua cintura e, com a outra mão, entrelaçou a mão de Heather.

Os dois se encararam durante a dança inteira. Alan gravava cada detalhe de seu rosto, sem acreditar que estava com a moça mais linda e carismática ali em seus braços.

Heather — atrapalhada como sempre —, acabou descendo sua destra, agarrando a cintura do rapaz sem perceber.

— Não — riu. — Eu seguro sua cintura e você só fica no meu ombro. — Heather viu o loiro voltar agarrar sua cintura, sentindo seu rosto queimar. Ficando ruborizada, riu sem graça, apoiando seus braços no ombro de Alan, curtindo o final da música.

Heather o olhava com um pouco de medo. Nunca havia visto seu colega de infância dançar e cantar tão bem e não caiu a ficha saber que estavam interessados em se conhecerem.

— Relaxa, não vou te morder — o moreno falava um pouco impaciente.

— Mas parece.

— Não vou.

A Buckley com certeza queria sair ou ir embora ou fingir dor de cabeça. Mas ela apenas o deixou ensiná-la a se envolver.

— Você é maluquinha até calada. — O homem, então, quis brincar e deixou Heather cair de costas e a pegou a tempo, ficando próximo de seu rosto, rindo de seu susto. — Opa, desculpa.

Heather o olhou com certo desdém, não se divertindo nem um pouco.

— Babaca!

A garota desistiu de aproveitar e saiu de perto do seu corpo, virando as costas para o rapaz, que estava ainda curioso pela atenção dela.

— Ué? Aonde você vai? — perguntou sem entender nada.

— Vou beber alguma coisa no bar, acho melhor.

— Vai ficar esperando um cara qualquer te paquerar? — Alan cruzou os braços, rindo em um tom jocoso e provocante. — Diria que tem muita sorte, hein?

— A segunda opção sempre funciona.

Alan deu de ombros, se distanciando das pessoas, saindo da pousada, decidindo ir em direção à praia, tirando de um dos bolsos seu narguilé eletrônico enquanto caminhava para a saída. Mas Heather estava confusa, foi uma das coisas mais bobas acontecidas em toda sua vida.

Bebendo uma caipirinha com vodka no balcão, Yoko se aproximou ao seu lado com um semblante preocupado.

— Vocês dois se desentenderam? — quis saber. — Por que não se enturma conosco? Os amigos do Johnny estão planejando pegar uma balsa até a praia deserta.

— Não suporto o Alan — suspirou. — Ele é tão criança.

— O nome disso é: paixão insaciável.

— Jura? — Largou a taça de lado.

— Poxa, dê uma chance para ele — a japonesa incentivou. — Deu para ver o quanto se gostam.

— Obrigada pelo convite, amiga, mas eu acho que preciso ver as estrelas, quem sabe até entrar no mar.

— Essa hora da noite? — indagou.

— Sim.

— Tudo bem.

Caminhando por volta dos outros, se divertindo, Heather sentia-se estranha e enojada naquele espaço calorento em pleno anoitecer. Desistiu do álcool após a dor de cabeça lhe pegar desprevenida. Heather saiu da pousada, atravessando a rua silenciosa no meio da madrugada.

Ao ir para mais perto do mar, ouviu e viu as gaivotas sobrevoarem as palmeiras, a imagem escura do céu combinava com seu estado de humor. Infelizmente, a roda gigante do píer havia parado, pois tinha horário para o parque fechar. Lá estava Heather, aproveitando seus minutos de paz. Quando sentou-se na areia, Alan acenou para ela enquanto observava as estrelas. A loira virou os olhos, soprando um fio de cabelo. O rapaz a chamou para perto da areia. Como não queria sujar seus sapatos, ficou descalça, afundando seus pés na areia da Califórnia, odiando a praia naquele momento.

— Tinha que ser — Heather anunciou sem nenhum entusiasmo, chegando ao lado dele, contemplando aquele peitoral definido, pois ele estava sem camisa.

— Deixe-me adivinhar, ninguém além de mim quis dançar contigo? — Cruzou as pernas, erguendo a cabeça para cima, soprando a fumaça de seus pulmões.

Heather concordou em anuência.

— Eu disse!

— Valeu por estar certo — agradeceu Heather. — Realmente essa não é, e nunca será, a minha noite.

— Nem precisa agradecer — riu para ela. — A festa começou legal, vai? Se eu te conheço bem… Ficou tirando onda com suas amigas. — Um dos defeitos de Alan era enxergar o bom lado das coisas.

— Poxa, mas quem me dera se eu conseguisse fazer alguém se interessar por mim, não adianta insistir, porque a vida infelizmente é assim. — Deitou-se ao lado dele.

— Entendo — franziu o cenho virando para frente. — Difícil viver um amor no século da putaria. Já dizia meu grande amigo Johnny.

— Realmente — concordou com o loiro. — O mundo está cheio de contradições.

Foi quando o loiro viu um jet-ski largado na areia, tendo uma ideia. Poderia até dar certo e ser confiável, mas passaria a noite com Heather em uma ilha, e era nesta ilha onde tudo mudaria entre eles.

— Vamos para um lugar legal? Eu sei que tem uma ilha aqui perto. Com casa e tudo — perguntou, indo até o que encontrou.

— Como é? — Heather se levantou, o seguindo.

Alan apontou para um jet-ski e, tirando as cordas, subiu, apertando os freios, verificando se o motor tinha gasolina para dirigir-se até o mar em alta velocidade.

— Por acaso sabe pilotar essa coisa? — Heather mostrou dúvida com os braços cruzados.

— Eu aprendo — girou a chave de ignição para os lados. Um barulho estridente incomodou seus ouvidos. — Vem, sobe!

Heather sentou atrás de Alan, agarrando sua cintura, correndo até a ilha no alto mar. As ondas estavam agitadas e a correnteza os puxava, forte. Aquela velocidade fez a texana se assustar em meio ao balanço, mas Alan não desistia estar no comando e foi apressando mais. Heather sorria, ao mesmo que ficava boquiaberta pelo medo.

Quando uma onda bateu de frente, ela deu um grito, sentindo o corpo molhado tremer pela água gelada. Tampouco, não se desiquilibraram e caíram.

— Eita! Se molhou, foi? — Alan virou a cabeça rapidamente para rir dos cabelos encharcados e a camiseta molhada quase mostrando a cor do sutiã que ela usava. — Daqui a pouco vai precisar encontrar uma folha de bananeira para usar como toalha.

— Aff, cala a boca — falou, ríspida, quase caindo no veículo. Por sorte, agarrou a jaqueta do rapaz. — Merda!

— Você não vai fugir de mim, Buckley — enfatizou com um tom sarcástico. — Eu te salvo, caso se afogar. Antes que os tubarões cumpram o serviço.

— A única coisa na qual quero saber no momento é se estamos chegando.

— Relaxa. Nós já estamos chegando.

(Não acredito que ainda gosto de você!)

Heather pôs o cabelo atrás das orelhas, fechando os olhos tranquilamente. Era uma sortuda e aquela oportunidade a fez pensar em só viver uma vez.

•••


Chegando à ilha, esbarraram em uma casa de praia desocupada. As palmeiras acima dos lados e a suave brisa noturna tomaram conta de suas coxas. Heather se chateou com o estado de suas roupas, molhadas por conta da água. Alan parecia ter mais liberdade consigo mesmo, ela o viu abandonar sua jaqueta amarrada pela cintura. O corpo dele era esbelto e com as costas de leves pintinhas. Os braços tão largos e robustos, quanto tempo fazia que Sanderson começou a frequentar a academia?

Pedindo para o rapaz virar para trás, a texana não pensou duas vezes e tirou sua camiseta encharcada, jogando-a para um canto, descalça e apenas com a saia. O sutiã de bojo cobria pouco a região dos seios.

No momento que permitiu o rapaz olhar, ele analisou Heather de cima a baixo com um semblante acanhado. Ela era mesmo bonita demais para o bobão de cabelos loiros.

— Isso é uma casa normal ao meu ver — Heather falou enquanto andava pelo lugar, observando móveis velhos atrás de uma entrada composta por portas abertas. — Aposto que invade esse lugar quando os hóspedes saem, ?

— Por incrível que pareça, eles nunca mais vieram aqui — afirmou. — Vamos entrando — sinalizou com a mão direita para a moça entrar na residência. — Você vai gostar daqui!

— Talvez — respondeu, seca.

O espaço tinha um rádio, televisão de 20 polegadas, sofá branco — espaçoso e confortável — e dois pufes lado a lado. Alan sentou-se, fixado na vista, mas sua concentração foi parada quando novamente fitou Heather de cima a baixo e, não ironicamente, reconheceu o cordão banhado a ouro com a foto de ambos, crianças.

— Ainda tem essa foto? — apontou com o dedo indicador próximo ao peito dela.

Heather usava aquele pingente como o seu tesouro. A foto na qual o rapaz havia duvidado era do dia fatídico em meados de quatro de julho, no qual os pais dela e os pais dele se reuniram e como também se conheceram.

Incomodada, a texana decretou:

— Quem deu autorização para encostar em mim? — Afastou-se, sem saber o que dizer.

— Eu sabia que ainda gostava de mim. Atualmente me recordo dos momentos em que éramos duas crianças idiotas e não te suportava ouvir me xingar, discutindo e chamando minha atenção toda hora. — Alan se referiu ao passado com um riso cordial. — Agora olha para você: universitária, solteira, chata. E a única coisa que não mudou foi sua voz fina enquanto ficava com muita raiva.

— Nada justifica meus sentimentos — afirmou Heather. — Já que tocou nesse assunto… Sim, gosto ainda de você. Bom, acho que nenhum homem me faz crescer um desejo ou algo a mais, sabe? Mas sei que lá no fundo isso não importa e sua cabeça está em outro lugar, vive perdida e bagunçada no seu mundo e ele não me inclui — desabafou o que escondia em seu coração.

— As coisas não acontecem como queremos.

— E poderão acontecer agora?

Alan também sentia o mesmo que a loira e nos tempos de outrora o garoto sabia que nunca daria certo, todavia, esconder sem lidar e descobrir suas intenções amorosas não foi um desafio.

(Seria possível beijar seus lábios agora?)

Cortando o assunto, Alan caminhou até a direção da texana, puxando-a mais para perto de si, capaz de vê-la deitar a cabeça pelos seus ombros, dando um longo suspiro. Não disse nada, apenas pôde ouvir as batidas de seu coração, usufruindo dela cada vez mais. O de cabelos curtos afagou os cabelos da moça, vendo-a abrir e fechar as íris azuis em uma fração de segundos.

Ela tranquilizou-se por finalmente respirar o mesmo ar de quem tanto considerava o seu par ideal.

Ergueu o pescoço, encarando a testa do rapaz, confuso, até que, de repente, foram unindo seus lábios em um beijo amoroso. Contudo, Heather impediu, junto a mais outro semblante triste e cabisbaixo.

Alan se desculpou, mas foi ignorado.

— Isso está se desenrolando tão rápido — balbuciou, trêmula. — Parece errado.

— Você me quer? — Os calcanhares apoiados em seu pé tinham uma conexão maior. — Diga que me quer! Senão, vamos embora e fingir nada ter acontecido.

— Quero muito — disse com dificuldade. — Beijá-lo, ter uma noite, viver cada segundo. Mas o mundo me fez odiá-lo.

— Foda-se o ódio — Alan resmungou. — Isso não servirá de nada por enquanto.

— Isso é tudo para querer me pegar, Sanderson? — Cruzou os braços, impaciente.

— Talvez isso responda você.

Alan ajeitou o boné azul e alcançou o rádio eletrônico da prateleira. Por sorte, o seu celular não estragou devido aquela pressa no mar — desbloqueando o aparelho, logo conectando via bluetooth.

Bullet proof… I wish I Was. A canção favorita de Heather da banda Radiohead.

— Lembra dessa música? — Um selinho rápido fez Heather se soltar. — Eu e você na feira de atrações lá em Highland. No dia que fui embora?

— Sim — sorriu com a lembrança. — Foi uma merda.

— Também acho — comentou. — Só não lembrava o quanto estava linda usando aquele vestido azul — outro beijo rápido —, os cabelos amarrados — mais outro. — Tudo em você me deixou maluco.

— Alan… — Suas bochechas criaram um rubor. — Obrigada pelos elogios, estou até sem graça. — Estática, sem dizer mais nada, agarrou o queixo do garoto, dando um beijo amoroso e lento.

Dançando em volta da sala com a melodia monótona, ela guiou o amado, descendo a destra no rosto do loiro em uma lentidão, os dedos delgados tocavam os fios dourados. Alan permitiu que suas línguas entrassem e dançassem conforme a canção que os estimulava a continuar.

O homem invadiu todos os sentidos da texana que foi se entregando ao longo amasso. Apertando sua cintura, tirando dos lábios melados um gemido sôfrego e rouco, as mãos dela deslizaram mais para baixo da virilha, fazendo um passeio com as unhas. Ele parou de beijá-la e arfou ao se arrepiar. Heather, com a mão esquerda, puxou seu pescoço, trilhando beijos por toda a região, e, com a mão direita, foi mais atrevida, desabotoando o cós do jeans.

Alan jogou a cabeça para trás pelo susto e acidentalmente o boné havia caído em algum lugar da sala. A loira fez com que o loiro perdesse suas calças — bela piada Deborah —, completamente seminu.

Sanderson esperou que a texana não fosse tão longe, mas foi enganado quando aquela mulher se livrou do sutiã, revelando belos seios de bicos rosados e eriçados. Tinha só a saia jeans para explorar.

Ficando excitado com a situação, Alan a puxou para seu colo, subindo as escadas da casa até o quarto mais próximo, não parando de beijar seus lábios, tendo seu gosto no dele. Heather percebeu o estrago que isso deu, eles transariam… A tensão sexual estava nítida e ninguém podia os atrapalhar.

Estavam loucos de prazer, o loiro mordeu seus lábios inferiores, levando a parceira para deitar na cama. Ela deitou, encarando o teto, e, enquanto isso, Alan gentilmente foi pegando a destra da texana, descendo-a até o seu íntimo pulsante, apertando na cueca preta. Heather não pensou duas vezes e, então, começou a masturbá-lo junto a um ritmo lento, sentindo a glande dele melada de pré-gozo.

Alan gemeu alto, implorando que a loira não parasse. Aquela foi a melhor punheta já recebida por ele, Buckley tinha o poder de vê-lo estremecer. Empurrando a cueca para um lado, deixando o pênis dele livre, foi abrindo a boca, chupando-o sem pudor e acariciando seus testículos no mesmo ritmo que Alan puxava seus cabelos com uma mão.

— Caralho… — Sanderson soltou um xingamento girando o pescoço para os lados. — Heather, por favor, não para!

Como não era nada boazinha, Heather desistiu de chupá-lo e o puxou contra ela na cama. O loiro caiu desengonçado, ambos riram. Era a vez de Alan estar no comando. O homem alcançou seus dois seios, depois os abocanhando enquanto ela implorava para ser tocada lá embaixo. Vingativo por não ter continuado o oral, Alan esfregou o quadril no da garota, criando uma fricção gostosa entre eles. Algo que fez a mulher estar à flor da pele, dobrando a saia e arrancando-a de vez, Alan percebeu a calcinha rosa encharcada. Depois, vendo Heather necessitada, um aceno permitiu o começo dos toques. Em contrapartida, Alan disse:

— Será que merece mesmo ser tocada por mim? — Uma voz pervertida tomou conta de seu ser. — Apesar de eu ser um bobo e infantil?

— Acaba com isso — falou, desesperada.

— Seu desejo é uma ordem.

Os dois, mais uma vez, se viram colando seus corpos e se beijando, sentindo os corpos quentes.

Heather fechava os olhos enquanto a língua ferina circulava por toda a região de seu corpo. O loiro foi descendo de joelhos até a intimidade melada da texana e foi puxando sua calcinha para baixo, tendo a área íntima livre para si, revelando a penugem loira fina. Alan introduziu o indicador no ponto sensível de Heather, que a fez arquear as costas para frente e dar um gemido alto e manhoso.

Alan massageou o clitóris com cuidado e foi metendo mais fundo em sua entrada, a vendo quase se contorcer para os lados.

— Que droga você está fazendo, Loser Wonka?! — Heather sem querer o chamou pelo seu apelido, não parando de gemer e ficar disposta a acabar com a graça dele, pois estava amando.

Loser Wonka? — parou os movimentos por um instante. — Hum, olha o espírito de infância querendo bancar a inocente. — Deferiu um tapa de leve em suas costas, o fazendo dar um “ai”.

— Cala a boca e não para!

— Você realmente quer isso? — Alan perguntou novamente.

— Eu te amo, idiota! — ela insistia e pedia para continuar.

E, assim, ambos não pararam com o ato.

•••


— Bem que as meninas me disseram que isso rolaria, mas nunca pensei que fosse logo contigo! Por que me escolheu? — Heather abraçava Alan.

— Apenas me cansei de ser um tipo de mulherengo. Nenhuma garota que saía me amava de verdade, elas apenas queriam um proveito e iam embora quando tudo acabava.

Ela murmurou.

— Então só eu te amo de verdade? — riu.

— Sim! Porém, faça-me um favor? Não conte isso para ninguém quando voltarmos — sorriu ele e Heather faz o mesmo.

— Prometo! Segredo nosso.

Novamente, se vestiram, indo de volta para onde estavam seus amigos e Heather sentiu seu coração palpitar sem parar.

Aquele verão tinha um segredo cauteloso e só podia tocá-lo naquele dia, suas mãos quentes e ao mesmo tempo frias e geladas. Para o azar dos dois, aquela praia se manteve cheia com todos registrando momentos na polaroid de Yoko, gravando vídeos antigos em uma filmadora VHS. A câmera ia em direção ao jet-ski que corria rápido para longe.

— Até outra vida, Heather — Alan deu seu último beijo, tocando em seu corpo.

— Até — Foi se distanciando.

Se disfarçou, indo para a praia, encontrando suas amigas que não paravam de tirar fotos, mais uma vez, tirando fotos dela logo de manhã na bebedeira.

— Passou a noite onde, garota? — Deborah perguntou, desconfiada.

— Ah, dormi na praia mesmo, ali perto das palmeiras — mentiu, apontando para as palmeiras mais próximas.

— Estranho o Alan não ter aparecido. Você o viu por aí Heather? — Perguntou Johnny

— Vi não — segurou o riso, indo até as amigas que estavam dançando.

“Midsummer Madness” tocava e muitos se exaltavam naquela cantoria, em uma euforia.

Heather dançava através do ritmo da música, ouvindo os garotos cantarem no fundo da praia.

Alan pusera seu braço nos ombros de uma garota aleatória que dançava com ele, chegando até as mãos da moça. Ela fez cara de brava como um disfarce. As flores coloridas cobriam o mar, até aquele dia acabar novamente.

Todas as garotas se deitaram no quarto, muitas fotos em estilo retrô e verão vintage espalhadas no chão.

Já a loira prometeu a si mesma nunca esquecer daquele dia e ter certeza de não se enganar mais de uma coisa. Heather sabia que nunca sairia de sua memória.


FIM.



Nota da autora: Sem nota.

Nota da beta: Férias boas foram a da Heather, que se divertiu com os amigos e ainda viveu um romance hahahaha parabéns pela fic ❤️


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.

COMENTÁRIOS:

Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.


comments powered by Disqus