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Prólogo


- Quase nunca saio de casa mesmo! Então esse temporal não interfere em nada! – dei de ombros enquanto observava as gotas d’água escorrendo pela janela fechada do meu quarto.
Somente a luz do abajur estava ligada e eu conseguia enxergar as gotas caindo graças às luzes dos postes na rua.
Meu nome é , eu tenho 17 anos (quase dezoito) e estou cursando o ensino médio. Bom, minha família é brasileira mas nós nos mudamos para cá quando eu ainda tinha quatro anos. Meu pai e minha mãe eram hippies e mudavam de cidade e de país de cinco em cinco meses. Mas eu nasci e eles disseram que não haveria lugar melhor para me criar do que o Canadá. Sabe por quê? Bom, como eu já decorei a explicação do meu pai, eu digo a vocês... Ah! Só um detalhe, ele tirou isso do Wikipédia, eu já pesquisei e é igualzinho!

“O Canadá é um país bilíngüe e multicultural, com o inglês e o francês como línguas oficiais. Um dos países mais desenvolvidos do mundo, o Canadá tem uma economia diversificada, dependentes dos seus abundantes recursos naturais e do comércio, particularmente com os Estados Unidos, país com que o Canadá tem um relacionamento longo e complexo. É um membro do G8, do G20, da OTAN, da OCDE, da OMC, da Comunidade das Nações, da Francofonia, da OEA, da APEC e das Nações Unidas.”

Exatamente! Vá até a Wikipédia para você ver, é exatamente igual! Mas enfim, eu moro em Toronto. Sim a capital de Ontário e sim, é a maior cidade do Canadá e blá blá blá! Hoje meus pais não são mais hippies e somos uma família normal. Não quiseram mais ter filhos, meus avós não moram aqui, meus tios não moram aqui, ou seja, somos só nós. Meus pais tem amigos, mas nenhum deles tem filhos.
Vocês devem estar se perguntando onde eu quero chegar, não é mesmo? Pois bem, eu sou sozinha. É ai que quero chegar. Não tenho amigos, não tenho primos, não tenho namorado, não tenho ninguém! Vocês devem estar achando que sou a típica loser, nerd que usa uns óculos enormes no rosto e sofre bullying o dia todo na escola, correto?
Bom, em partes. Sim, eu sou a loser da escola; sim, eu uso um par de óculos enorme na cara, mas não, não sou nerd! Muito menos a mais inteligente da escola, quem me dera! E não eu não sofro bullying o dia todo, porque o pessoal prefere ignorar minha existência mesmo. É como se eu fosse um fantasma. Os alunos não me veem e não se importam se eu vou ou não às aulas, minha existência naquele colégio é totalmente indiferente. Na verdade, eu só tenho a companhia de Stuart, que faz aula de biologia comigo e, dentre todos os alunos do colégio, é o único que sabe que eu existo. Mas nós nem passamos o intervalo juntos ou coisas desse tipo, ele já tem a turma dele, que não vai muito com a minha cara, sei lá por quê. Vocês já perceberam que eu não sou muito boa em fazer amizades. O que me resta todos os dias é uma mesa no cantinho do refeitório ao lado da mesa dos nerds, que me cumprimentam sempre (eu havia me esquecido deles também, sorry!), onde me ponho a observar a mesa dos populares da escola, como as líderes de torcida, os jogadores de basquete, os descolados, as bitchs... (nem todas as líderes de torcida entram nessa categoria)...
Como eu queria fazer parte daquela mesa! Como eu queria me encaixar em qualquer categoria citada acima. Até na categoria dos jogares de basquete. Eu queria poder me sentar lá e rir com eles. Queria poder ser notada, ser elogiada, ser falada. Qualquer coisa naquela mesa é melhor que a minha vida.
Balancei a cabeça ainda observando as gotas escorrerem pela janela e me sentei na cama fechando a cortina, já pronta para dormir e sonhar com a vida que eu não tinha.



Capítulo 1


“My problem: I never was a model, I never was a scholar...”

- Querida, precisamos conversar!
Eu terminava de descer as escadas ouvindo minha mãe e revirei os olhos. O que seria dessa vez?
- Sobre? – Sentei-me frente à ela.
- Sobre seu aniversário.
- Não quero festa. Não tenho quem chamar. Esqueceu-se que sua filha é uma loser que não tem amigos?
Agora minha mãe revirava os olhos, ela não gosta de ouvir verdades.
- Não é isso. Eu e seu pai não vamos poder ficar aqui, temos uma viagem a trabalho no dia. Vai querer ir conosco?
Remexi o cereal na vasilha de louça e bufei delicadamente, pensando no que fazer: ir com eles ou ficar sozinha e dormir meu aniversário todo? Pensei mais alguns minutos e ela me fitou ansiosa, esperando alguma resposta. Eu sei que ela queria muito que eu fosse, assim como meu pai ficaria muito feliz se pelo menos uma vez na vida eu pudesse ir. Mas sinceramente? Eu não estava nem um pouco afim. Eu ia ficar sozinha em um quarto de hotel e ainda ia ter que aturar a falação dos dois me mandando descer e explorar a cidade.
- Vou ficar – falei antes de levar a colher com cereal à boca.
- Eu já sabia. – Ela balançou a cabeça decepcionada e eu fechei meus olhos com força. – Vamos ficar hoje, sábado e domingo, voltamos segunda à noite, ok? Consegue ficar sozinha esses quatro dias?
Assenti que sim com a cabeça, eu já era basicamente sozinha. Quatro dias sem eles não ia ser tão ruim assim, já que eu só os via a noite mesmo.
- Consigo sim. – Assenti com a cabeça enquanto comia mais. Assim que terminei de comer, meu pai terminou de descer as escadas arrumando o terno.
- Já falaram sobre a viagem? – Ele ergueu uma sobrancelha.
- Sim e eu não vou.
Ele soltou uma bufada típica de quem já sabia, mas mesmo assim estava decepcionado e eu sorri de canto quando nossos olhares se cruzaram.
- Estamos atrasados ou coisa do tipo?
Minha mãe deu uma olhadela no relógio antes de responder:
- Não. Temos tempo, por quê?
- Vamos passar na Starbucks para tomarmos café, hum, que tal? A gente aproveita e comemora o aniversário da nossa pequena com ela.
O sorriso dele poderia iluminar a casa toda e eu acabei sorrindo junto. Amava meus pais, mesmo que quase não passássemos muito tempo juntos, e principalmente meu pai, ele era meu herói.
O caminho até lá havia sido tranquilo e a Starbucks nem estava muito cheia naquela quinta-feira. Procuramos uma mesa e, ao meu pedido, nos sentamos numa mais afastada da entrada, eu não gosto de todos os olhares sobre mim. Sentia como se, a cada novo olhar, uma parte do meu rosto estivesse derretendo e isso me deixava ainda mais desastrada do que eu já era.
Assim que nos sentamos, um rapaz veio nos atender com uma cara nada amigável.
- Bom dia, bem vindos à Starbucks, já conhecem o nosso cardápio? – ele disse mecanicamente, nos entregando o cardápio.
Rolei os olhos, detestava gente mal educada, mal amada e, principalmente, gente de cara feia.
- Eu não preciso olhar o cardápio. Mãe? Pai?
- Eu vou dar uma olhadinha! – Meu pai estendeu a mão pegando o cardápio.
- E qual o seu pedido? – Ele me fitou entediado.
- Um frapuccino de morango.
O garoto assentiu, desanimado, e anotou calmamente meu pedido enquanto minha mãe e meu pai decidiam.
Resolvi observá-lo por um tempo e ele era bonito. Olhos azuis, barba meio que por fazer, o rosto magro com traços fortes. Um dos braços com tatuagens e me pus a observá-las: um pássaro e alguns outros rabiscos, como um jogo da velha, uma câmera e algumas outras coisas que eu não enxergava direito. Eu tentei forçar a vista para conseguir distinguí-las, mas meu olhar cruzou o dele e ele parecia não ter gostado nada de me pegar o observando.
- Mais alguma coisa? – ele perguntou olhando diretamente para mim.
- Qual o seu nome? – eu perguntei distraída.
Nem eu sabia por que queria saber aquilo. Saiu tão espontâneo! Ele deve ter me achado louca, pela cara que fez.
- Louis. Hã... – Ele coçou a nuca. – Já volto com os pedidos de vocês!
Ele se retirou, caminhando até o balcão e eu o observei mais uma vez.
- Hum! Ficou interessada no atendente bonitinho né? – minha mãe falava enquanto me dava uma cotovelada de leve nas costelas.
- Claro que não, mãe! Mas é sempre bom saber quem foi que nos atendeu ué. Não perceberam que ele não está feliz de trabalhar aqui? Caso o atendimento dele seja ruim, podemos reclamar, já que agora sabemos o nome dele. – Dei de ombros, mentindo.
- Credo filha! Que maldade com o rapaz! – Minha mãe bagunçou de leve os meus cabelos. – Ele é bonitinho! – ela concluiu, observando o mesmo atender outra mesa mais à frente.
Sim, ele era bonito. Mas não parecia feliz.
Assim que ele voltou com os nossos pedidos, minha mãe pediu que ele esperasse um minutinho e ele assim o fez. Minha mãe remexeu na bolsa até encontrar o que queria: uma vela. Não, espera! Uma vela?!
- Mãe, o que é isso?
- Ué, uma vela. Vamos cantar parabéns para você. – Ela deu de ombros sorrindo.
- Não mesmo! Por favor, mãe! Não precisa! Vocês já me deram parabéns antes de virmos para cá! Já está ótimo!
- Não, . Não está. Você pode tirar uma foto nossa, Louis?
MENTIRA! Não, ela não estava fazendo isso comigo. Definitivamente não estava! Isso só podia ser algum tipo de pesadelo.
- Sim – ele respondeu educado e pegou o celular das mãos de minha mãe.
Acho que eu já estava roxa de vergonha. Minha mãe passou as mãos pelos meus ombros e colou nossos rosto, e meu pai se juntou a ela, já sorrindo.
- Sorria bebê! – Bebê? O que ela queria? Envergonhar-me pro resto da vida?
Olhei na direção da câmera e Louis sorria divertido. Ele era bipolar ou coisa do tipo? Ou só estava se divertindo por me ver passar vergonha?
Sorri sem mostrar os dentes e ele bateu a maldita foto. Nos olhamos de novo antes de ele entregar novamente o celular para minha mãe.
- Ah! Ficou uma gracinha essa foto!
- Realmente. – Louis concordou sorrindo, fitando-me nos olhos.
Meu Deus. Que vontade de estapear a cara dele até desfigurá-lo.
- Vocês precisam de mais alguma coisa?
- Não, querido. Muito obrigada.
- Não vão cantar os parabéns? – ele perguntou fingindo interesse.
Qual era a desse Louis? Ele tinha algum problema comigo? Não estou entendo o motivo da implicância.
- Ah sim! Vamos agora.
E eu fechei meus olhos ouvindo os coros de “parabéns para você” ecoarem em meus ouvidos, quando a músiquinha infernal já estava acabando, eu abri os olhos e Louis batia palmas, enquanto mexia os quadris de um lado para o outro, como se ele mesmo tivesse inventado um ritmo para a música, e eu nunca senti tanta raiva de alguém na minha vida.
Depois que eles finalmente acabaram, minha mãe encheu minhas bochechas de beijos molhados, me matando ainda mais de raiva e vergonha.
- Mais alguma coisa? – o tal Louis perguntou, cínico.
- Não! – eu respondi rapidamente. – Já pode sair.
Minha mãe me repreendeu com o olhar e eu dei de ombros. Ele se despediu dizendo algo como “se precisarem é só chamar” e eu bufei.
Comemos e tomamos o nosso café, daí quando nós estávamos chegando à porta, eu ouvi meu pai chamar por Louis e senti meu estômago queimar. Dá para acreditar que até gorjeta o meu pai deu para ele? O idiota ainda abriu a porta pra gente...
- Tchau ! Até mais ver! – o ouvi gritar e me virei.
Ele acenava, sorrindo, e eu o observei alguns segundos antes de lhe dar as costas e entrar no carro.
Belo começo de aniversário.
Pelo visto meu dia não seria tão diferente dos outros: seria um saco.



Capítulo 2


“When you’re on my road, walking me home...”

- O quê?! Já são oito horas da noite? – Dei um pulo na cama ficando sentada e analisando as horas no visor do celular.
Já que não tínhamos aula naquela sexta, porque era algum tipo de reunião entre os professores, cheguei em casa por volta do meio dia e meio, almocei, vi TV, tentei estudar um pouco e me deitei em minha cama eram três e meia da tarde, e acordei só agora? Uau!
Olhei em volta e me dei conta que estava sozinha em casa. Nada que fugisse muito do normal, mas dessa vez era diferente. Era meu aniversário de dezoito anos e eu não tinha ninguém ali. Meus pais haviam viajado e eu não tinha amigos. Senti meus olhos se encherem d’água e um vazio que eu jamais senti em toda a minha vida, que fazia meu peito doer.
Deixei que as lágrimas teimosas enfim descessem pelo meu rosto e me afundei novamente em minha cama, me cobrindo até parte do nariz, e comecei a respirar com dificuldade, mas eu não me importava, eu precisava chorar. Deixei que meu corpo tremesse enquanto eu despejava tudo que eu sentia naquele choro e fui me acalmando aos poucos.
Depois de alguns segundos encarando o teto, eu me lembrei de minha mãe, mas especificamente do que ela havia me dito quando eles me trouxeram em casa: “Hoje é seu aniversário meu amor! Porque não sai um pouco à noite? Mesmo que sozinha. Vá aproveitar sua noite!”.
Sentei em minha cama e encarei meu guarda-roupa, depois de algum tempo pensando no que mamãe me dissera, eu resolvi me levantar. Dei alguns passos e parei em frente a ele e o abri, observando minhas roupas.
Não estava muito frio lá fora, então eu resolvi pegar uma calça preta skinny e uma blusa também preta de mangas compridas e gola V, e peguei também uma jaqueta de couro branca que mamãe havia me dado ano passado e que eu não havia usado ainda porque, bom, eu não sou uma garota que sai muito como vocês podem ver.
Mas poxa! Hoje era meu aniversário e por que não dar uma volta pela cidade? Eu não iria muito longe. E nem demoraria muito tempo.
Corri para o banheiro e tomei um banho demorado, tentando afastar uma voz que me dizia que eu deveria ficar em casa. Depois me arrumei e me olhei no grande espelho do quarto, fitei meus olhos castanhos e minha pele branca e pálida. Quando foi a última vez que eu me maquiei mesmo? Balancei a cabeça negativamente e tapei meus olhos com as mãos.
Não quero soar depressiva demais, sabe? Mas a verdade é que eu me sentia um lixo às vezes. Sentia como se eu fosse um pacote vazio de qualquer coisa que ninguém sequer se interessou pelo conteúdo, apenas descartou. Observei as gavetas da cômoda e meus olhos pararam sobre a última delas. Abaixei-me lentamente até abri-la e observar meus estojos de maquiagem intactos, peguei o primeiro, levantei-me e coloquei o mesmo sobre a cômoda, depois me abaixei novamente e peguei um delineador e alguns lápis de olho, e um batom qualquer que eu nem observei a cor.
Obviamente eu não tinha toda a experiência do mundo com maquiagens, mas eu sabia me virar. Olhei-me no espelho mais uma vez e era como se houvesse outra pessoa ali diante de mim e eu me permiti sorrir com aquela pequena visão que tive de mim mesma.
Certifiquei-me de que estava tudo dentro da minha pequenina bolsa: documentos, dinheiro e meu celular. Ok, agora eu estava pronta! Dei uma última olhada em mim mesma antes de fechar a porta do quarto e desci as escadas apagando a luz do corredor logo em seguida, verifiquei se estava tudo trancado como deveria estar, saí de casa trancando o portão principal e antes de seguir meu caminho – que eu não sabia exatamente qual era -, eu dei uma última olhada na casa.
Virei-me frente à rua e observei a minha direita e a minha esquerda: para que lado eu deveria ir? Aliás, aonde eu iria? Cocei minha cabeça ainda confusa e optei por seguir a minha direita.

***


Eu não fazia ideia de que rua era aquela até ler o nome na placa, depois de mais ou menos uma hora de ter saído de casa, eu estava em Finch Avenue.
Andava distraída ainda observando as casas da rua, que eram tão pequenininhas que me deu vontade de morar lá. Eu andava de costas, mas olhava para trás hora ou outra para não esbarrar em ninguém, mas como o destino definitivamente me ama, é claro que eu esbarrei em alguém.
Virei-me rapidamente e meus olhos se encontraram com os de um rapaz, alto – bem alto – e ele segurava meus ombros devido ao baque, e foi isso que me impediu de ir ao chão. Senti minha boca ficar seca e passei a língua sobre meus lábios para umedecê-los, e ele acompanhou o movimento com os olhos. E se ele fosse um psicopata?
- Desculpe-me. Desculpe-me. Estava distraída. Foi sem querer. Eu, hã – eu pausei sentindo meu cérebro travar. – Preciso ir para casa.
Soltei-me bruscamente dos braços dele e recomecei minha caminhada, mas ele gritou:
- Hey! Calma! Não sou nenhum bandido!
Eu sabia que ele estava atrás de mim então eu acelerava mais e mais os meus passos, mas não parecia adiantar muito. No auge do meu desespero, eu fui atravessar para o outro lado da rua, mas eu sequer olhei antes de atravessar.
Foi quando eu senti os braços dele me envolverem novamente e meu corpo bateu contra o dele, enquanto eu ouvia a buzina de um carro soar e o mesmo parar.
- ESTÃO MALUCOS? TEM QUE OLHAR ANTES DE ATRAVESSAR, CASAL!
Meu coração batia rápido demais e eu podia sentir o sangue pulsar em cada veia do meu corpo, não conseguia processar direito as coisas. Estava confusa e com medo.
- Foi mal! Já pode seguir seu caminho. Não nos machucamos. – O garoto, até então desconhecido, respondeu, já que eu não conseguia tirar meus olhos dele.
Minha respiração estava descompassada e eu alternava meu olhar entre a boca e os olhos do garoto, e meu Deus! Como ele era bonito! A pele branca, a boca extremamente rosada, os lábios carnudos, o rosto com formato assimétrico, os cabelos na altura dos ombros ou talvez até um pouco maiores que isso, com alguns cachos, e os olhos de um verde tão intenso que eu jurava que podia me perder lá dentro.
- Te salvei pela segunda vez em menos de vinte minutos. Acho que mereço um obrigado pelo menos.
Sai do meu transe com a voz dele e percebi que nossos corpos ainda estavam perto, perto demais. O alarme de perigo soou em minha cabeça, de novo.
- Qual seu nome? – ele perguntou, mais rápido que eu.
- Eu preciso ir!
- Para onde? Você não mora por aqui, não é? Parecia perdida, absorta nos próprios pensamentos. Estava perdida, não estava?
- Estava. Aliás, estou. Não faço a menor ideia de como vou voltar para casa e, justamente por isso, eu preciso ir! – eu falava rápido demais e ele me olhava com um sorriso no canto dos lábios.
Eu o conhecia. Tinha quase certeza disso.
- Qual o seu nome? – Ele ergueu a sobrancelha. – Não vou lhe fazer mal, eu juro. Só fiquei curioso. Você me parece interessante. Qual sua história?
Ele me soltou e nós nos encaramos por um tempo.
- Por que quer saber? – Eu voltei a caminhar e o senti no meu encalço.
- Sou Harry Styles.
- Filho de Des Styles? O Ministro da Educação? – Eu parei de andar.
Eu estava ao lado do filho do Ministro da Educação? Se havia alguma palavra que me definia agora era: perplexa!
Ele soltou uma gargalhada alta, com a cabeça jogada para trás, feito uma criança, e deu mais alguns passos até ficar frente à mim, me encarando:
- Exatamente! Agora você pode me falar o seu nome?
- Sou . – Assenti enquanto falava.
Ele ergueu a mão e encarei a mesma antes de segurá-la.
- Eu sabia que você teria aquela reação. E eu sabia que você falaria o seu nome se eu te dissesse que sou filho do grande Des.
Harry rolou os olhos ao finalizar e eu percebi que aquele parecia ser um assunto delicado.
- O que você ta fazendo aqui sozinha? Numa rua que não conhece. É maluca? Você sabe que está na rua mais perigosa de Toronto? Sabe que está em Finch Avenue?
Na verdade eu sabia que estava em Finch Avenue, mas não sabia que lá era a rua mais perigosa da cidade. Meu alarme de perigo soou mais uma vez.
- Mais um motivo para eu ir embora. – Dei de ombros.
- O que aconteceu com você? Brigou com o namorado?
Eu soltei um risinho nasalado. Mal sabia ele que eu era a loser da escola, da rua, do bairro, da cidade.
- Não! – Dei de ombros mais uma vez. – É meu aniversário e meus pais tiveram que viajar, fiquei sozinha. Resolvi sair para espairecer um poucoe acabei aqui em Finch Avenue.
- E onde estão seus amigos?
- Eu não tenho. – Mordi o lábio e o fitei.
O semblante dele mudou e ele se aproximou de mim, fazendo com que eu recuasse um pouco, mas seus braços ágeis me impediram e ele me envolveu num abraço, totalmente inesperado por mim.
As mãos dele estavam sobre as minhas costas, o cheiro dele fez com que eu afundasse meu rosto em seu peito e inspirasse um pouco, trazendo mais daquele cheiro para dentro de mim. Minhas mãos que até então estavam pendidas e paradas ao lado do meu corpo, subiram, e eu o abracei pela cintura, sentindo que ele me aconchegava em seu peito e fazia algumas carícias circulares pelas minhas costas.
Senti como se ali naquele abraço fosse o meu lugar. É como se eu esperasse por aquilo há anos. O coração dele batia devagar e compassado, enquanto o meu parecia uma escola de samba, e ele havia percebido isso, já que acariciava minhas costas com carinho.
Nos separamos e os olhos dele novamente foram de encontro aos meus e eu abaixei a cabeça quando percebi que estava começando a corar.
- To indo para uma festa no quarteirão de cima. Não quer me acompanhar? Eu te deixo em casa depois. Sã e salva, mais uma vez, já que já te salvei duas vezes. – Ele mandou uma piscadela enquanto abria um sorriso divertido. – Bom, deixe-me ver: não tenho amigos, estou numa rua que não conheço, é a rua mais perigosa da cidade, não sei como voltar para casa, estou com o filho de Des Styles me chamando para uma festa e é meu aniversário de dezoito anos. É, porque não?
- Não vamos demorar? – Eu ergui uma sobrancelha.
- Não vamos, eu prometo. Quando quiser ir embora, eu te levo.
- E onde está seu carro? – Cruzei meus braços.
Ele gargalhou mais uma vez e depois me fitou:
- Está ali atrás. Aquela Range Rover branca ali. – Ele apontou para trás de mim.
- Eu topo!




Capítulo 3


“Yeah, we're happy, free, confused and lonely at the same time, it's miserable and magical oh yeah, tonight's the night when we forget about the deadlines, it's time...”

O caminho até a tal casa onde estava sendo a festa foi um tanto quando constrangedor e bem silencioso. Eu observava Harry pelo retrovisor enquanto ele encarava sempre a direção, concentrado. Quando nós estacionamos o carro, eu já podia ouvir um som não muito alto na casa à nossa frente, tocava I’m a Slave 4 u da Britney Spears, e quando eu consegui afastar o cinto do meu corpo, ouvi o celular de Harry tocar ao meu lado e nós nos olhamos. Logo depois ele enfiou a mão no bolso da calça jeans para tirar o celular de lá. Deu uma olhada na tela e simplesmente desligou a chamada. Desviei meu olhar do dele, antes que ele pudesse reparar que eu o observava.
Descemos do carro e eu esperei Harry me alcançar.
- Você conhece quem está dando a festa?
- Sim. É uma amiga minha. – Ele deu de ombros. – Ela vive dando festas aqui e nem vê direito quem entra ou quem sai.
Meu estômago revirou e eu senti minhas pernas vacilarem quando entramos na casa lotada de adolescentes. Bêbados, se agarrando, usando algumas drogas, dançando. Eu nunca havia ido a uma festa mas é claro que eu mais ou menos sabia como funcionava uma. O cheiro de maconha era o que predominava na casa. Como eu sabia sobre o cheiro? Tinha vizinhos usuários e sempre que eu passava lá na porta o bendito cheiro exalava pelas janelas, me fazendo tapar o nariz.
Eu olhava para todos os lados enquanto sentia as pessoas esbarrarem vez ou outra em mim, até que senti os dedos gelados dele tocarem a minha mão, agarrando-a logo em seguida, a fim de me guiar para que eu não ficasse perdida pela casa ou coisas do tipo. Percebi que ele caminhava rumo ao quintal da casa, na parte dos fundos, e eu claro o seguia fielmente. Quando finalmente chegamos – preciso dizer que a sala da casa da garota é maior do que a minha casa toda – ele parou frente a mim e me olhou, sorrindo:
- Vou te apresentar meus amigos – disse.
Eu assenti que sim. Na verdade, eu fiquei nervosa com essa afirmação. As pessoas costumavam não gostar muito de mim e sinceramente eu não era a melhor em ser social, eu na verdade não sabia direito como ser social.
Nós caminhamos até um pequeno grupo de quatro garotos e ele tocou o ombro de um deles, que se virou imediatamente e eu mal podia acreditar no que meus olhos viam.
Instantaneamente senti minhas bochechas arderem, mas não, eu não estava com vergonha, eu estava com raiva!
- ?
- Ué, vocês se conhecem? – Harry me fitou com o olhar espantado e Louis respondeu mais rápido do que eu.
- Eu deveria te fazer essa pergunta dude! De onde você a conhece? – Ele ergueu a sobrancelha.
Meus olhos só podem estar imaginando coisas. Era ele mesmo? O atendente abusadinho da Starbucks? Belo aniversário, belíssimo! Duas vezes, no mesmo dia? Que tipo de karma eu tinha?
- Eu a encontrei perdida por aqui e hoje é o aniversário dela. Os pais viajaram, ela tava sozinha.
Meu olhar encontrou o de Harry e eu abaixei a cabeça envergonhada pelo que havia dito, agora sim o tal Louis ia implicar comigo.
- Trouxe uma estranha com você para a festa? – Um outro garoto de xadrez perguntou com uma cara nada amigável.
- Por que não? – Harry sorriu e direcionou o olhar do garoto para mim e eu sorri de canto sem mostrar os dentes.
- Deixa eu te apresentar aqui, . – Louis passou um dos braços pelos meus ombros e caminhou comigo até mais a frente. – Esse loirão aqui se chama Niall Horan. É o capitão do time de Handball da Toronto District School Board.
- Vocês todos estudam lá? – perguntei, surpresa.
- Por quê? – O tal garoto mal encarado perguntou.
- Também estudo lá – respondi educada.
- Nunca te vi lá – ele retrucou, tirando uma caixa de cigarros do bolso.
- Ninguém nunca vê – murmurei.
- Anyway. - Louis interrompeu nosso momento. – Esse aqui é Zayn Malik, não se envolva com ele, ele é encrenca .
O tal Zayn balançou a cabeça em reprovação ao que o amigo dissera e estendeu a mão em minha direção.
- Muito prazer! – Eu segurei a mão dele e ele sorriu.
- Eu não pude te cumprimentar, alguém nos interrompeu, não foi Liam?
O loirinho sorridente me cumprimentou com um beijo rápido no rosto e eu corei. Ah, qual é? Eu não sabia como reagir a esse tipo de coisa! Estavam sendo educados comigo, me cumprimentando. Será que eu estava sonhando?
- E como o Niall disse, esse é Liam Payne! No fundo, bem no fundo ele é legal!
O mesmo acendeu o cigarro e assentiu com a cabeça para mim, como forma de cumprimento, e eu fiz o mesmo.
O toque do celular de Zayn ecoou por nossos ouvidos e ele tirou o mesmo de dentro do bolso da calça, olhou o visor e olhou os amigos:
- Preciso resolver uma parada. Qualquer coisa me liguem.
Liam o segurou pelo braço e os dois se olharam.
- Por que não deixa isso para lá? Sei lá, resolve isso amanhã.
- Eu não posso, Payno. Precisa ser agora. Minha cabeça está em jogo!
- Aonde você foi se meter, hein? – Harry perguntou.
Eu o analisei mais uma vez durante aquela noite e os olhos dele pareciam transbordar decepção. Fiquei curiosa, é claro. Zayn havia dito algo sobre sua cabeça estar em jogo e eu senti um arrepio percorrer minha espinha.
- Eu me viro dessa vez. Prometo! Não se preocupem.
- Como? Como não nos preocupar? – Liam perguntou me parecendo um tanto quanto alterado.
- Olha , feliz aniversário ok? Para o caso de a gente não se ver mais durante a noite.
Ele se aproximou de mim e me abraçou tão forte que me elevou do chão, sorri passando os braços em volta dele. Eu gostei dele, não me perguntem o porquê! E fiquei preocupada quando ele me soltou e me olhou.
Depois se virou e deu um breve aceno para os amigos e eu gritei o nome dele que se virou para trás.
- Não tenho nada a ver com isso, mas toma cuidado!
Ele sorriu por um breve momento e assentiu.
Quando ele deu as costas, Liam me encarou com a mesma cara de antes e eu senti por um momento que não era bem-vinda ali por ele.
- Vamos lá , vamos pegar uma bebida para você.
Harry estendeu a mão e eu gentilmente a aceitei e nós caminhamos para dentro da casa de novo.
A música alta preencheu nossos ouvidos e algumas garotas se aproximavam para cumprimentá-lo com beijinhos no rosto e, claro, passavam por mim como se eu simplesmente não estivesse ali. Nada que eu não esteja acostumada. Mas Harry me via. E eu estava com ele, então eu não me importava se os outros me viam ou não. Não ali com ele.
- Quantos anos está fazendo mesmo? – ele me perguntou parado em um balcão.
- Dezoito – respondi enquanto vislumbrava as bebidas atrás do balcão.
- O que vão querer?
Um garoto da nossa idade mais ou menos nos questionou e eu fitei Harry.
- Merece um drink especial então! – Ele piscou, me fazendo corar.
- Algo leve, por favor. Eu nunca bebi antes.
Os olhos dele se arregalaram de uma forma engraçada e eu ri.
- O quê?
- Tem dezoito anos e nunca bebeu nada alcoólico? Menina, você é uma raridade! – Ele assentiu com a cabeça.
- Posso sugerir algo? – o garoto do bar questionou e Harry assentiu. – Dezoito anos, correto? Posso fazer uma batida de sonho de valsa, que tal?
Aquilo me pareceu legal.
- Muito forte? – Ergui uma sobrancelha.
- Não importa! Pode ser. Faça dois, por favor. – Ele sorriu.
Eu não sei por que o sorriso dele me deixa com vontade de sorrir também! Por que ele estava fazendo aquilo? Se importando? Querendo fazer com que eu me sentisse especial?
Coisas assim não acontecem comigo, podem acreditar.




Capítulo 4


“All this time I was finding myself and I didn't know I was lost...”

Já devia ser o quinto ou sexto copo de bebida que eu tomava e Harry não parava de chegar com mais e mais bebidas e eu simplesmente estava amando aquela sensação. Meu pés pareciam flutuar do chão e minha cabeça trabalhava hora rápida demais, hora lenta demais, e eu ria de tudo que os meninos falavam mesmo não entendendo uma palavra sequer do que havia sido dito. Mas eu estava nas nuvens e era isso o que importava no momento.
Tocava uma música eletrônica qualquer na festa e todos dançavam, menos Louis e eu, e ele parecia vidrado em algo, ou melhor, em alguém, e eu direcionei o olhar até onde os olhos azuis de Louis estavam vidrados.
Ele olhava na direção da minha vizinha, . Ela havia se mudado para a casa em frente a minha há mais ou menos duas semanas e meus pais haviam ido até lá – me arrastado com eles, é claro - para dar as boas vindas. Mas só sei o nome dela, e sei também que ela estuda no mesmo colégio que eu e os garotos. Ela era linda. Os cabelos num preto tão intenso que eram quase azuis. Os olhos bonitos, a boca! Enfim, era uma garota que provavelmente chamava atenção aonde quer que estivesse, e, bom, tinha chamado a de Louis. Ele simplesmente não conseguia disfarçar e Liam, como se lesse meus pensamentos, se aproximou botando uma das mãos nos ombros de Louis, chamando sua atenção.
- Daqui a pouco você vai precisar de um guardanapo ou coisa do tipo. Não consegue disfarçar?
Louis balançou a cabeça indignado e eu gargalhei.
- Ela é minha vizinha! – Dei de ombros antes de dar o último gole na bebida.
- COMO É? – Ele berrou no meu ouvido e Liam gargalhou.
- É. Mora na casa em frente à minha.
- Isso é interessante, .
Dei de ombros e voltei a observar Louis, que às vezes mandava um sorriso para , que correspondia, mas muito raro.
Fiz uma nota mental de me aprofundar mais no assunto quando nos víssemos de novo. Espera aí. Quando nos víssemos de novo? Eu os veria de novo? Minha mente alcoolizada já estava começando a mudar de humor: e se eles simplesmente só me quisessem por perto nessa noite?
Meus olhos se encheram d’água e eu peguei mais um copo dos que Harry havia trazido.
- A realmente é uma menina linda, não é? – Eu vislumbrei ela de relance mais uma vez. – Sabem de uma coisa? É horrível se olhar no espelho todos os dias e odiar o que o reflexo dele mostra. É como se com o tempo o espelho já não mostrasse mais nada. – Eu balancei a cabeça.
- Hey! Hoje é seu aniversário baixinha. Não pode lembrar dessas coisas.
- E sabem? É horrível não ter amigos, é horrível ter uma família que mais viaja e trabalha do que fica em casa. E na escola então? As pessoas passam por mim e nem sabem que eu existo. O Liam mesmo disse agorinha que nunca havia me visto lá! – Senti as lágrimas começarem a descer. – Eu só queria não ser invisível para o resto do mundo.
- Acha que só você tem problemas no mundo?
Eu encarei Liam, ainda com as lágrimas descendo pelo meu rosto, e as limpei.
- Não acha isso, não é mesmo? E sinceramente? Sua autoestima é um problema seu. Não culpe ninguém por não a notar, se você se esconde porque quer. Você tem pai e mãe, mesmo ausentes. Tem saúde. Tem uma casa para morar. Seus pais provavelmente tem carro e um emprego maravilhoso e podem lhe dar o que você quiser, e você aí se lamentando sobre popularidade. – Ele fez um barulho incompreensível com a boca e se aproximou de mim.
Estávamos face a face e ele rosnou com a boca próxima a minha.
- Não seja mais uma patricinha mimada que só quer chamar atenção.
As palavras dele me atingiram como um tapa no rosto e eu voltei a chorar desesperadamente, tapando meus olhos com as mãos e me afastando dele. Eu respirava rápido e chorava como uma recém-nascida quando está com fome. Liam havia me ofendido e nem ao menos me conhecia.
Eu não ouvia mais nada ao meu redor e as lágrimas desciam e desciam enquanto a minha garganta ardia. Senti duas mãos me segurarem pela cintura.
Destapei meus olhos achando que pudesse ser Harry ou Louis, mas não.
- Por favor, me desculpa! – Liam envolveu minha cintura com as mãos e puxou rapidamente meu corpo pro seu, me envolvendo num abraço.
Me deixei levar e o abracei de volta, passando meus braços pelo seu pescoço, voltando a soluçar.
- Shiu! Hey! Me perdoa, de verdade. Eu... – ele pausou. – Eu não sei onde estava com a cabeça. Não tenho direito de te falar essas coisas. Por favor, não chora.
Nos afastamos lentamente do abraço, mas eu ainda sentia a respiração dele próxima a minha e engoli seco quando o olhar dele desceu dos meus olhos para a minha boca.
Meu coração se acelerou e eu senti vontade de beijá-lo, mas deveria ser efeito do álcool no meu sangue, só podia.
Tão rapidamente quanto ele me abraçou, se afastou, me dando as costas, e eu terminei de limpar minhas lágrimas sozinha.
Até que senti Harry segurar meu queixo fazendo-me erguer o olhar até encará-lo:
- Liam é meio bruto assim mesmo. Mas eu prometo que com o tempo você se acostuma morena.
Dei um meio sorriso sem mostrar os dentes e me surpreendi primeiro pela parte da frase que dizia “com o tempo você se acostuma”. Com o tempo? Isso queria dizer que eu fazia parte da turma agora? E segundo: ele havia me chamado de morena e aquilo havia sido incrivelmente sedutor.
- Vamos te levar para casa, que tal? – ouvi a voz do loirinho atrás de mim.
Eu assenti que sim e vi Zayn voltar de encontro ao grupo.
- Vamos levar a para casa, quer ir com a gente?
- O que houve ? Por que quer ir embora?
- Ah, eu perdi o clima para festejar, Zayn!
- Tudo culpa do Liam! – Louis bufou e Harry o repreendeu. – Falei alguma mentira?
- Eu já estou bêbada Louis, falei besteira e o Liam só quis me dar um choque.
- Choque? – Zayn balançou a cabeça. – Liam não gosta muito de fazer novos amigos. Eu vou com vocês.
Passávamos pela multidão de pessoas, eu ia à frente, até que esbarrei sem querer em alguém.
Novamente meus olhos se encontraram com os de Liam e eu abaixei a cabeça.
- Nós vamos levar para casa. Vai com a gente? – Harry perguntou botando a mão sobre o ombro dele.
Liam assentiu com a cabeça e depositou a garrafa de cerveja sobre o balcão. Quando saímos da casa, Liam e Harry estavam parados um de cada lado do meu corpo e eu direcionei o olhar de um para o outro e senti um arrepio percorrer meu corpo, como se fosse uma espécie de pressentimento, de deja vú...


Capítulo 5


“You're metaphorical gin and juice...”


Eu nunca ri tanto em toda a minha vida quanto naquela volta para casa! Os garotos eram as pessoas mais engraçadas do mundo! Especialmente Louis! Liam também era engraçado apesar a casca grossa e apesar de realmente me evitar quase o caminho todo!
Após alguns minutos tentando convencê-los de que eu já não estava mais tão bêbada – ok eu ainda estava bem bêbada – e tentando convencê-los também que eu ficaria bem sozinha, eles seguiram o caminho de volta, a pé para pegar seus carros no local da festa, e naquele momento eu soube que eles eram diferentes!
O caminho da minha casa até a Finch Avenue era longo e mesmo assim eles me levaram até em casa! Senti meu coração apertar de vê-los voltarem a pé para lá, aquela altura da madrugada a cidade já estava fria, muito fria! Sorri enquanto observava os cinco andarem já longe de casa, e quando ousei olhar sem intenção alguma para a casa da frente, me deparei com , que os observava também enquanto o portão de sua garagem se fechava.
Trocamos um rápido olhar, e eu pude vê-la manear a cabeça para mim como uma forma de cumprimento, que eu retribui...
Dei uma ultima olha nos garotos e vi os mesmos já quase desaparecendo do meu campo de visão, e sorri com a cabeça escorada ao vão da porta. Eu nem consegui acreditar que aquela noite havia acontecido!

***


O maldito som do despertador ecoava pelo meu celular e eu deixei que ele tocasse até parar sozinho! Eu não conseguia me levantar, simples assim! Não conseguia se quer mover minha cabeça para o outro lado do travesseiro.
Remexi-me na cama algumas vezes, sentindo como se minha pobre cabeça fosse explodir em milhões de pedacinhos, e gemi quando me lembrei de que estava sozinha em casa!
O bendito toque ecoou novamente e eu me ergui na cama, desativando o infeliz! Alguns móveis pareciam flutuar pelo quarto e a minha cabeça latejava como nunca antes em toda a minha vida!
Levantei-me com certa dificuldade e caminhei – na verdade me arrastei – até a porta do quarto abrindo-a e quase me joguei banheiro adentro... Ah um banho bem quente! Naquele frio era impossível que eu tomasse um banho gelado, por mais que eu soubesse que nada melhor que uma água bem gelada para curar a tal da ressaca!
Durante o banho alguns flashs da festa vieram em minha cabeça e eu sorri lembrando-me de eu Harry dançando desajeitados em meio aos garotos que riam da nossa cara, exceto por Liam...
Abri meus olhos e fitei a parede branca do meu banheiro lembrando-me de nossa “discussão” ele realmente parecia não ter gostado nada de mim!
Encarei a cozinha da minha casa completamente vazia sem o barulho da voz dos meus pais e o som matinal tocando Beatles que todo sábado era sagrado! Meu pai não ficava um sábado sequer sem ouvi-los! Sorri e abaixei a cabeça, sentindo a saudade me atingir em cheio.
Como eu era extremamente prendada, - só que não porque na verdade sou um desastre na cozinha, aliás, em qualquer coisa, whatever – eu resolvi tomar meu café na Starbucks, assim veria Louis!
Adentrei uma Starbucks lotada de adolescentes em grupinhos, adultos mexendo em seus celulares, e gente andando para lá e para cá. Procurei Louis com os olhos, mas não estava conseguindo achá-lo em lugar algum!
Até que meus olhos avistaram um rapaz que me pareceu familiar, mas não era Louis, eu tinha certeza! Aproximei-me até perceber que na verdade tratava-se de nada mais, nada menos que Liam Payne...
Engoli seco quando ele me encarou com seus glóbulos castanhos, raivosos – sim raivosos – e eu acenei para ele, que maneou a cabeça e caminhou em minha direção.
- O que quer aqui?
Abri a boca algumas vezes, mas eu parecia petrificada! Estúpido! Foi a primeira coisa que pensei em dizer, mas eu arrumaria confusão!
- Você também trabalha aqui? Cadê o Louis? – Questionei arrumando o cabelo enquanto retirava a touca da cabeça.
- Louis está de folga! Vai querer pedir alguma coisa, ou só veio procurar por ele?
Liam coçou a cabeça, visivelmente incomodado, e eu rangi os dentes. Mas que diabos ele tinha contra mim?
- Vou querer um frappuccino de morango, por favor!
- E aonde vai se sentar? – Ele anotou o meu pedido num caderninho.
- Vou ficar naquela mesa ali! – Apontei para a mesma mesa onde havia me sentado com meus pais quando conhecemos Louis.
- Eu já levo seu pedido!
Olhamos-nos durante alguns segundos, e eu me lembrei da noite passada quando ele me abraçou se desculpando e automaticamente meus olhos desceram para sua boca, e eu senti minhas pernas começarem a vacilar, mas ele saiu da minha frente mais rápido que um raio.
Sentei-me sozinha a mesa e depositei minha bolsa sobre a mesma enquanto aguardava meu pedido, e pensava em Liam, na verdade em porque ele era daquele jeito? Rude, meio ignorante, e porque ontem a noite depois de todas as coisas ruins que me disse ele se comoveu tanto com o meu choro? Despertei dos meus pensamentos, quando ouvi o barulho de um prato chocando-se a mesa e eu me assustei, dando de cara com o meu frappuccino, o tal prato com dois croissants, um café expresso e Liam tirando o avental e o boné, sentando-se ao meu lado.
- Mas eu pedi só o frappuccino! – Dei de ombros.
- Os croissants são por conta da casa! É o meu café da manhã, então é de graça! Coma um! E o café expresso também faz parte do meu café!
- Gosta de trabalhar aqui? – Dei um gole do meu frappuccino.
Liam deu de ombros em silêncio, e mordeu um dos croissants, e nós ficamos em silêncio.
- Dormiu bem?
Assustei-me com a pergunta e assenti que sim, mexendo no canudo do frappuccino.
- Acordou bem? Sentiu muitas dores de cabeça?
- Muitas! Achei que minha cabeça fosse explodir!
- Mas acha que agora aprendeu a beber? Acha que agora já sabe seu limite? Tipo se bebesse hoje saberia a hora de parar para não passar mal? Isso é importante de se observar no primeiro porre!
Eu gargalhei achando-o fofo e interessante, ele sorriu sem mostrar os dentes, o que me foz abrir um mega sorriso! Liam estava s-o-r-r-i-n-d-o para mim! Não dava para acreditar!
- Não sei! Acho que eu ainda não saberia meu limite! Você soube o seu logo no primeiro porre?
Ele negou com a cabeça, voltando a mudar o semblante, e eu me senti frustrada... O que eu havia dito?
Terminamos o café da manhã em silêncio outra vez, ele se levantou colocando o uniforme, - o avental – e o boné.
- Deseja algo mais?
- Sim! – Balancei a cabeça e ele revirou os olhos.
- O que?
- O telefone do Louis por gentileza!
- Desista, Louis é completamente louco, alucinado pela sua vizinha! Você não tem a menor chance!
Balancei a cabeça em negativa enquanto o analisava com os olhos, eu não estava interessada no Louis dessa forma!
- Para isso mesmo quero o telefone dele Liam! Eu vou ajudá-lo com !
Ele gargalhou alto, e eu revirei os olhos.
- Você vai ajudá-lo? Você mal consegue resolver os seus problemas !
- Minha vida não lhe interessa Liam, você já deixou isso muito claro! Assim como a sua também não me interessa em nada! Só estou lhe pedindo educadamente o telefone de Louis, poderia ser educado pelo menos uma vez na sua vida, ou poderia fingir educação pelo menos hoje e me passar o telefone do seu amigo, porque na vida dele sim eu tenho interesse!
Se olhares matassem eu estaria estirada no chão agora mesmo com os olhos de Liam sobre os meus, mas eu não me arrependi, ele mereceu.
O vi anotar algo em seu caderninho e logo em seguida me entregar uma folha com o número de Louis.
Levantei-me abri minha bolsa e retirei algumas notas de lá, jogando as mesmas sobre a mesa:
- Obrigada!
- Eu lhe acompanho até a porta!
- Não precisa Liam!
- Não que eu queira é claro, mas são normas da loja e eu tenho que as cumpris !
Bufei e dei as costas a ele, sentindo sua presença atrás de mim, quando chegamos enfim a rua, pude ouvi-lo dizer:
- Você não me conhece !
- Você também não me conhecia e mesmo assim me disse um monte de desaforos ontem! Estamos quites agora querido! Bom trabalho!
Comecei minha romaria de volta para casa enquanto eu escutava-o chamar meu nome. Eu não voltaria, ele que dormisse com a consciência pesada e pronto!
Liam era metafórico, bipolar, estranho... e eu também, o que me assutou!


Capítulo 6


“The world can be a nasty place you know it, I know it, yeah! We don't have to fall from grace, put down the weapons you fight with...”

Jogou-se no sofá e com o celular nas mãos, digitou: “Olá Louis, aqui! O Liam me deu seu número, na verdade fui até a Starbucks atrás de você, mas era ele quem estava lá! Enfim, salve o meu número!”
Depositou o celular sobre a mesinha de centro e levantou-se, indo até a geladeira e pensando o que será que comeria no almoço? Abriu a geladeira e foi direto ao congelador da mesma encontrando alguns congelados e decidiu-se: mais tarde comeria lasanha, era só descongelar um pouco e colocar no micro-ondas.
Se ela sabia cozinhar? Claro que não! Na cozinha ela era como em qualquer outra área de sua vida, um desastre! Ouviu o celular apitar, e correu para a sala novamente, sentando-se no tapete e desbloqueando o celular, era Louis!
“Oi ! Pois é, Liam é meu colega de trabalho também haha! Mas aposto que atendo muito melhor que ele!” concordou com a cabeça e soltou uma gargalhada – “Vai ter uma festinha hoje á noite, às 20 horas para ser mais exato, na mesma casa da de ontem! Tá a fim de ir?”
mordeu o lábio inferior, mas não de incerteza e sim de felicidade! Estava entrando para a turminha dos populares da escola? Louis estava a convidando para uma festa? Primeiro Harry Styles, e agora Louis Tomlinson? Não pensou duas vezes e digitou que sim, que gostaria de ir!
Ficou combinado que Louis passaria em sua casa as 19h00min já que iriam de carro e uma hora de antecedência era suficiente! Ela logo foi escolher sua roupa.
E parece que o tempo voou, quando se deu conta já eram 18:15 então correu para o banheiro, tomou um banho rápido, e logo ficou pronta
A campainha tocou, e ela desceu as escadas correndo, quase tropeçando nos próprios pés parando na ponta da escada enquanto arrumava os cabelos, se olhou no reflexo da TV, e respirou fundo.
Abriu a porta dando de cara com Louis sorridente. Os dois se cumprimentaram com um abraço rápido e ela trancou a casa.
Assim que desceram as escadas que davam á garagem, Louis segurou o braço de com certa força, e ela o fitou:
- Que houve? Esqueceu alguma coisa na sua casa?
Viu Louis umedecer os lábios, e sorrir logo em seguida então olhou na direção de onde ia o sorriso do garoto.
Era , saindo de casa, e balançou a cabeça sorrindo! Louis ficava bobo quando aparecia, e ela achava isso bonitinho.
- Boa Noite !
Ela virou lentamente a cabeça rumo á Louis, e pareceu pensar um pouco em algo, logo em seguida ela ergueu a mão em forma de cumprimento e Louis abaixou a cabeça levantando-a logo em seguida.
- Vai à festa?
- Hoje não vai dar! – sorriu sem mostrar os dentes.
Logo em seguida um mustang parava em sua porta, o rapaz que estava dentro os mirou, e adentrou o carro.
O semblante de Louis mudou como se ele houvesse levado uma surra e eu o abracei de lado, tentando confortá-lo.
- O que você sabe sobre ela?
- Pouco, quase nada na verdade! – Dei de ombros assim que o soltei de meu abraço.
Louis suspirou e eu senti meu coração quebrar. queria ajudá-lo, mas como?
Chegaram até o carro de Louis, e ela adentrou o banco do passageiro e Louis ligou o som, tocava Oasis.
- We the people fight for our existence, we don't claim to be perfect but we're free. We dream our dreams alone with no resistance, fadin' like the stars we wish to be! – cantarolaram juntos e sorriu fitando seu reflexo no retrovisor do carro.
Que sentimento era esse? Até quando ia durar toda essa felicidade? Toda essa segurança? Quando tudo iria desmoronar novamente? Balançou a cabeça tentando afastar esses pensamentos, queria curtir, independentemente de quanto tempo aquilo tudo durasse!
Ouviu a voz de Louis:
- 'Cause little by little we gave you everything you ever dreamed of, little by little. The wheels of your life have slowly fallen off, little by little. You have to give it all in all your life and all the time I just asked myself why, are you really here?
Os dois se olharam e sorriram.
- Você canta bem! – Louis sorriu – É sério!
Ele gargalhou.
- Obrigada ! Eu acredito que é sério! Você também não é nada mal!
- Ah fala sério! – os dois gargalharam e lhe deu um tapinha de leve no ombro – Eu sei que canto mal Louis!
- Ainda bem que não acreditou em mim!

***


A casa estava lotada assim como da ultima vez, e Louis falava (tentava) com algum dos meninos pelo telefone, para descobrir onde estavam no meio daquela gente toda.
- Vem , já sei onde estão!
Deram as mãos e caminharam até entre os adolescentes que cumprimentavam apenas Louis e agiam como se fosse invisível ou algo do tipo, mas doeu bem menos só pelo fato de estar com Louis alem de isso já ter acontecido várias vezes. Subiram uma escada, até então desconhecida por , - ela nem havia reparado que haviam escadas por lá na noite anterior – e assim chegaram á uma parte externa, na verdade uma sacada.
Os olhos dela se encontraram com os de Harry, que sorriu abertamente enquanto caminhava com os braços abertos.
Os dois se abraçaram e pode novamente sentir aquele cheiro! A paz que sentia junto á Styles era inexplicável, e aquilo a assustava demais! Quando se soltaram os olhares voltaram a se cruzar.
- Como se sente agora oficialmente com dezoito anos?
gargalhou com a pergunta, e então Niall se aproximou dando-lhe um beijo na bochecha, e ela corou.
- Hey ! – ele cumprimentou com uma cerveja em mãos.
Fitou Liam no canto, sentando em um puf, e ele apenas assentiu com a cabeça, emburrado como sempre e revirou os olhos. Faltava um...
- Onde está Zayn?
Os outros quatro se entreolharam e entendeu que havia alguma coisa errada.
- Vocês vão me contar ou não?
- Olha , é uma história complicada! – Harry suspirou.
- Zayn é um cara complicado! Eu nem gosto muito de falar sobre isso, me deia bem bolado!
Louis acendeu um cigarro.
- Nós somos muito diferentes, ! Zayn tem seu próprio caminho! – Liam se pronunciou lá do seu canto.
- Mas já faz quase uma hora que ele não dá noticia! – Harry caminhou de encontro aos outros.
- Isso tudo? Caramba, eu não sabia! – Louis coçou a cabeça – Acho que a gente devia procurar por ele!
Niall assentiu com a cabeça enquanto caminhava até a lata de lixo para jogar a cerveja fora, Liam se levantou e fitou que desviou o olhar.
- Acho que a deve ficar!
- Por quê? Ah não, eu quero ir com vocês!
se agarrou a Harry como uma criança birrenta e ele fitou Liam e os rapazes.
- Liam tem razão! Você fica aqui nos esperando, é melhor !
Os dois se encararam e assentiu abaixando a cabeça.
- Te ligo quando estivermos no meu carro e você vai ok?
Louis depositou um beijo sobre a cabeça dela, e os outros dois fizeram o mesmo.
- Voltaremos o mais rápido o possível, não se preocupe!
Liam passou as mãos pelos cabelos de bagunçando-os levemente e ela sorriu sem mostrar os dentes.
Sentou-se em dos pufs, e pôs-se a pensar em Zayn: que tipo de encrencas ele estaria metido? Onde estaria naquele exato momento? Porque Louis tinha tanta mágoa do amigo?


Continua...



Nota da autora: (18/10/2016) - Oi lindonaaaaaaas! Mais uma vez eu aqui com as minh fanfics né? (Sim, eu tenho uma pá de fanfics, to sempre aqui no ffobs) essa história é muito especial e eu espero que ela toque o coração de vocês tá? Quem quiser saber mais sobre as minhas fanfic, fica aqui meu tt (@narryjonas) e o link do grupo no facebook: https://www.facebook.com/groups/879543608771186/ Beijo <3




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