Hippocampus

Última atualização: 30/03/2024

Capítulo 1

October, 31.

segurava desajeitadamente a bandeja de papelão que envolvia o bolo em formato de coração coberto por uma grossa camada de glacê parisiense de não tão boa qualidade, mas que chamava atenção pela coloração azul bebê, incrustado de pequenos detalhes de bico de confeiteiro. A encomenda ficou a critério de , o que resultou em um detalhamento impecável por parte da confeitaria, surpreendendo até mesmo, .
-
ESTÁ PRESTES A DERRUBAR! - se esquivou do mal jeito de , deixando que o mesmo depositasse por um triz o recipiente na mesa. se limitou a rir e comemorar quando finalmente pode ver as pequenas velinhas acesas espalhadas, como em um clássico cenário de aniversário, e amava clássicos. Não demorou muito até que as palmas fossem ouvidas e o parabéns ressonasse pelo apartamento, até que pode se inclinar para apagar as 23 velas. Uma por uma, fez um pedido mental: dentre saúde, um bom emprego, e quem sabe um amor, pediu para que aquele momento não se perdesse no tempo, junto das pessoas que nele se incluíam.

Ah, mas o tempo..o tempo não volta. Tudo no mundo se pode comprar, até mesmo vidas! mas o tempo…ele é indiferente, ignorante, e egoísta. E nós somos reféns dele.



One week later

À 30km do centro de Busan, Coreia do Sul, o voo desembarcava uma garota de cabelos lisos pelo ombro, acompanhada de um rapaz com feições semelhantes, se não fosse pelo porte alto e cabelo recém cortado. Os dois seguiram arrastando uma porção de malas pelos corredores, e entre tropeços e rodinhas emperradas, chegaram ao táxi. O rapaz se acomodou e desbloqueou o celular, encarando o aparelho por pelo menos 30 segundos até que conseguisse clicar no contato que imaginava. Do outro lado, a garota encostou a cabeça sobre o vidro e tentou cochilar os 30 quilômetros restantes até o destino.
-
Vai conseguir me ajudar com a mudança pro outro bloco?- murmurou, meio sonolenta pelo fuso horário maluco. -
Vou cobrar 10 mil wons por escada subida, esses mesquinhos não aceitam móveis no elevador - resmungou o irmão, suspirando. o deu uma cotovelada em resposta, recebendo um grunhido do mais velho - estou brincando, você vai ter sua mudança em paz - sorriu faceiro, voltando a digitar no visor do celular.

Do outro lado da cidade, nos corredores lotados do prédio de Engenharias e Urbanismo, caminhava tranquilamente comentando sobre o resultado inacreditável do último jogo entre turmas, e o quão mal havia jogado o time de Arquitetura. Yuno fez menção para vestir o moletom, e nesse meio segundo de pausa, sentiu o celular vibrar sobre o bolso da calça.

Queria saber se você ainda joga feito Michael Jordan, porque minha intenção é te destruir nessas quadras da BNU”

Desbloqueou o aparelho de imediato, observando a mensagem com o nome de “Sanny” estampado. Franziu a testa, demorando a processar o que havia lido. não mandava mensagens há pelo menos 2 meses, e embora tivesse certas dúvidas de tal comportamento, não o questionou, pois conhecia o histórico comportamental. Mas BNU? Eram as siglas da Busan National University, isto é, de onde o mesmo vinha passando os últimos 3 anos de sua vida; e estava falando sobre basquete. Os pontos não se ligavam, mas franziu ainda mais o cenho, como se aquilo fosse capaz de o fazer pensar melhor, e como um raio que caiu sobre sua cabeça, a lucidez o tomou naquele corredor de Arquitetura: estava de volta, e o melhor, parecia estar de volta pra valer, mais precisamente, estudando em sua universidade.
-
Nem fodendo - sibilou num sussurro sozinho - , olhe isso - apontou o visor com a mensagem para o amigo distraído. estreitou os olhos com dificuldade e logo em seguida abriu a boca em um sorriso surpreso -
Caralho, ! - tomou o aparelho de sua mão, observando a mensagem - isso é pra valer? quer dizer..ele está voltando mesmo? - lançou um olhar de dúvida para o rapaz -
Não acho que ele brincaria com isso, não é do feitio do cara - ponderou soltando uma risada duvidosa. -
Precisamos sair pra beber, isso é mais do que um motivo - bateu na porta do armário de metal em empolgação - é um marco! - bradou animado como um Hooligan em dia de final. -
Isso é o óbvio, meu amigo - empurrou as costas de em direção ao corredor, seguindo pelo caminho à sala - reserve sua sexta feira; vou confirmar o enigma de , e se tudo der certo, vamos quebrar o the republic - deu dois tapinhas nos ombros de , e assim entraram para a próxima aula de filosofia moderna, não esquecendo de dar início àquela bohemia que pretendiam para o final da semana.

“Só pode me destruir em um mano a mano, se aparecer no the republic sexta feira”

Ele só havia esquecido que o melhor amigo tinha companhia, e uma não tão esperada por sua parte.

---
-
Essa é a última? - questionou no pé da escada, enquanto jogava a caixa sobre a batente da porta. -
Pela graça divina - arfou, já suando pelas têmporas - eu até te pago um serviço de mudança da próxima vez, mas não me bota nessa fria de novo - escorregou pela parede, descendo até o chão -
Larga de reclamar, - bradou, tomando caixas nos braços e chutando outras pelo caminho do apartamento - vem ajudar, antes que desista de te ajudar com os seus - ordenou em um olhar atento -
Meu apartamento é mobiliado, irmãzinha - riu, cruzando os braços e a olhando em indignação. A mais nova rolou os olhos e seguiu suas tarefas pela casa como um furacão, e foi aí a deixa de para fugir ao bloco contrário.

O caminho era longo, dado o tamanho do condomínio. Felizmente havia juntado dinheiro suficiente durante seu tempo longe para que pudesse alugar até mesmo uma cobertura no coração de Hongdae, mas era contrário à ideia de engomadinhos e restaurantes granfinos por hora. Escolheu um duplex no 18º andar, com ótima vista para o Bosque Yeoseon, e espaço suficiente para uma eventual bebedeira na jacuzzi do deck de madeira. Jogou as chaves sobre a escrivaninha de madeira da sala de estar e seguiu até a cozinha, depositando o celular sobre o balcão e pegando a chaleira para ferver seu almoço - um teoppeoki spicy agridoce do mercadinho ao lado - e enquanto isso teve tempo suficiente para desencaixotar alguns pertences. O celular apitou em cima do mármore e nele apontou o nome de , denunciando o tom que já era conhecido por , fazendo com que sorrisse ladino, nostálgico pelas lembranças anteriores do grupo de amigos.

Flashback on -
! Eu disse para focar na droga da bola! - o técnico gritava no fundo na quadra, a jugular saltava em meio ao suor daquela tarde quente de julho. O adolescente de cabelo pingando seguiu em passos largos pela quadra, quicando a bola em direção a . se posicionou próximo a linha da cesta, e corria de um lado ao outro como um bobo da corte, mas proporcionando o humor necessário para aquela partida de interclasses do ensino médio. -
, passa pro - gritou ao outro lado da quadra, jogando a bola com um lance longo. O branquelo correu desajeitado pelo piso escorregadio, e com muita sorte desviou de todos os brutamontes do time adiversário, alcançando e o fazendo o passe. não dormiu em jogo, correu em passos rápidos enquanto quicava a bola, chegando a linha de lance e…PONTO! O placar explodiu, marcando a vitória do time da casa. Os três comemoraram juntos, recebendo e Mingi no encalço, embora estivessem de reserva no jogo.

Flashback off.

Acordou do devaneio de lembranças embaçadas depois que ouviu a chaleira gritar, correndo em direção ao fogão para desligá-la. Comeu no próprio balcão, enquanto passava algum conteúdo sobre Kanye West na timeline do twitter "o rapper reapareceu com Bianca ao lado de North West, e gerou polêmica nos paparazzi presentes em Beverly Hills". Que falta de ocupação, pensou alto. Não que não goste de Kanye, costumava cantar Stronger na segunda feira pós um dia daqueles, mas tinha preguiça de tablóides de fofoca. Oras, ele queria saber quando sairia o próximo álbum, não a rota do passeio em família. Balançou a cabeça em negativa e se apressou para tomar um banho, tinha muito a resolver pela frente como um recém voltado a Busan.

Sexta-feira, 12 PM.

O metrô daquela linha fazia tanto barulho que podia jurar que iria bater em alguma parede de pedra. se esquivava entre o amontoado do vagão e ansiava pela chegada no hospital modelo, ainda que um dia daqueles a esperasse. Ao ser cuspida do vagão como um inseto, checou o relógio no pulso e apertou o passo seguinte ao destino por mais 200 metros, enquanto passava ligeiramente as mensagens e notificações do celular. Em uma delas, o grupo de mensagens que incluía os amigos anunciava uma mensagem não lida.
“Infelizmente vamos ter que marcar nossa sexta-feira-da-vergonha pra outra sexta-feira. , eu, e temos compromisso; e como somos maioria, a democracia vence. Se cuidem, xx.”
. 12h02. - lida

Franziu o cenho intrigada, o que era isso? ninguém nunca cancelava a sexta feira da vergonha assim! A não ser por alguma mocréia nova no pedaço, e bom, era isso que tudo indicava. Soltou uma risada sem humor enquanto passava pela catraca, guardando o aparelho de volta no bolso. Subiu em passos rápidos pela escadaria e finalmente chegou ao andar pretendido, iniciando o plantão com um senhor viúvo que havia perfurado parte da mão direita com um grampeador, e ainda eram meio-dia.

As horas incontáveis e cansativas passaram como um furacão de escala 5, e finalmente o expediente havia acabado, levando Heva e suas tralhas até o vestiário se despir, achando um resquício de tempo para voltar sua atenção às redes sociais. Rolou o feed de stories no instagram, e nele chegou uma foto de em uma bela mesa de carvalho, segurando um conhecido copo de cerveja com a logo de um emoji feliz, junto à localização do the republic. Filha da puta! Onde estava o compromisso de sexta à noite? e o pior de tudo, o cretino estava no próprio lugar da sexta-feira-da-vergonha, postando como se não houvesse amanhã. Mentiroso medíocre…pensou internamente enquanto enfiava tudo dentro da mochila e vestia o casaco de couro, sabendo para onde seria certamente seu destino dali 20 minutos. O táxi não demorou a aceitar o aceno, e com isso seguiu até Busanjin-gu, liberando para o pegar no pulo.

The republic, 09h30PM.

Tudo estava em perfeita ordem, assim como a Terra girava em torno do sol, , , e se encontravam na mesa de madeira escura iniciando os trabalhos com uma rodada de Weiss bier, enquanto esperavam pelo amigo. Além de tudo, o acordo estava fundado: deu instruções expressivas sobre aquele momento de sexta-feira, sendo que aquilo não deveria chegar a terceiros, e imediatamente todos concordaram sem hesitação.
-
Aí está, lá vem ele! - exclamou animado, notando a silhueta de se aproximar, seguido de uma segunda. Encurtou a distância entre ambos e chegou ao amigo em um abraço caloroso, e era exatamente assim que o rapaz refletia sua essência: em carinhos sinceros, calorosos, e sem frescuras. Não tinha medo de demonstrar o quanto amava as pessoas a sua volta, e acaba por contaminar todos com seu carisma - parece que foram séculos, ! - bateu nas costas de , se afastando somente para visualizar melhor como os anos haviam corrido. -
Yun, os anos voaram, cara - riu de madeira sincera - mas foi tempo suficiente para começar a ter barba - respondeu em implicância, abraçando em seguida o outro amigo. -
Vá se foder, seu presunçoso metido - alfinetou entre risos, alcançando o melhor amigo e o apertando em um abraço dramático. o ameaçou em um soquinho, que se tornou uma mini briga entre os adolescentes de 25 anos.

Logo mais, todos da mesa haviam se comprimentado, e antes que pudessem sentar os traseiros nas banquetas que rangiam, uma silhueta esguia veio em direção à mesa em passos desesperados. foi o primeiro a virar a cabeça, honrando seu posto de mais atento do grupo, em seguida arregalando seu olhar ao observar Chunga, a irmã mais nova de , diga-se de passagem, a protegida.
-
Eu não acredito! - gritou, levantando-se da mesa e indo em direção à mulher, se agarrando em um abraço animado -
HONG! - Chunga grunhiu em meio ao aperto, chamando atenção dos outros presentes na mesa. finalmente voltou seu olhar para a cena que acontecia, mas pareceu demorar a assimilar, como sempre fazia com situações intensas demais para seu cérebro lento. Encarou os corpos se comprimentando por pelo menos meio minuto, e nem mesmo som do bar pode continuar a ouvir; a cena passava como um frame de filme mudo. -
! - ouviu o urro de , recebendo um tapa na nuca em atenção - ficou surdo temporário? comprimente ! - e foi o necessário para que o mais alto levantasse em um solavanco e balançasse a cabeça assimilando as coisas.

Era , a caçula dos , arqui-inimiga de infância de , e ex-insuportável adolescente. Parecia um clichê idiota, mas a cretina estava uma mulher por inteiro, desde a voz madura e bem posturada, até a aparência…chocante por então. Os cabelos haviam crescido, se disciplinado, e não haviam mais aparelhos cobrindo seus dentes. Havia crescido pelo menos 5 centímetros, e teria continuado uma análise mais detalhada se não fosse pelo constrangimento que estava sentimento em sua cabeça, e que jamais deixaria transparecer.
-
! - bradou em um sorriso incerto, se aproximando e abraçando o corpo esguio com certa hesitação - você decidiu crescer, sweet child? - é óbvio que uma piada foi a melhor das saídas para toda a surpresa que estava sentindo. A garota o devolveu uma ameaça de soco, rindo em seguida e o tocando o ombro em cumplicidade - cumplicidade essa que só ela estava confortável, até então -
Ahh..; vejo que você continua preso em 2010, é realmente uma pena - ironizou, tirando uma risada alta do restante do grupo - ao menos precisa fazer a barba agora, acho que deve ter te lembrado - alfinetou, recebendo uma negativa de cabeça por parte de . Ela estava afiada! como isso havia acontecido? Se dar por vencido era uma opção interessante no momento, visto o ambiente público e a volta do melhor amigo à cidade, e foi exatamente isso que pôs em prática.

Após os risos cessaram, fez questão de pedir uma rodada de cerveja por sua conta, e então os trabalhos haviam se iniciado, enquanto a mais nova fazia uma uma ida estratégica ao banheiro. se sentia mais aliviado ao saber que o álcool mitigaria aquela sensação de irritação em relação à , e isso lhe deu palco para relaxar os ombros e manter o foco na conversa de boas vindas à .
-
E então, como se sente estando de volta? - indagou, encarando -
Acho que todos deveriam ter um período de…- -
Sumiço? - cutucou, mas se limitou a franzir o nariz e rir sem humor, tentando levar com leveza as situações ácidas que viriam a tona mais cedo ou mais tarde - relaxe, estou brincando. Senti sua falta, - admitiu de modo melancólico, ainda que fosse orgulhoso o suficiente para não demonstrar afeto tão facilmente. -
Eu ia dizer que todos deveriam ter um período de criar vergonha na cara e terminar a faculdade no tempo certo - provocou entre um sorriso ladino, perturbando e os demais desperiodizados - vocês pretendem comemorar jubileu na BNU? -
Cale a boca, senhor formado - retrucou em mal humor -
Formado não, ele ainda tem a formatura - apontou, levantando o copo pela metade. -
Então estamos todos no mesmo barco, vai ter que pagar tanto quanto um calouro burro - ordenou, iniciando o brinde entre o grupo e juntando gritos por aquela zona do bar.

Do outro lado da rua, olhava ambas as faixas de passagem de carros e atravessava em passos rápidos, chegando à calçada do the republic. Pisou nos degraus desgastados de madeira e estreitou os olhos, visualizando, mesmo que contra sua vontade, os caloteiros de plantão. Seguiu em negação até a mesa e parou em uma distância que pudesse ser ouvida, mas não atrapalhasse a passagem.

- Vocês mentem muito mal - apontou com o indicador, semicerrando os olhos. E não só estava sobre a mesa como mostrava na foto, mas , e - custava me falar que não queriam a presença das damas na noite dos rapazes? - indagou fingindo certa ofensa - acabaria com a festa de vocês agorinha - gesticulou ameaçadora
- Como foi que você descobriu isso? - engoliu em seco, ainda que tivesse um sorriso duvidoso, estava inseguro até os pelos do nariz.
- - deu de ombros
- AH..- suspirou, batendo um tapa certeiro na madeira - É CLARO!
- O que você fez, idiota? - se virou contra o branquelo
- Eu não fiz nada, horas - sugou o líquido pelo canudinho do sex on the beach que havia pedido, encarando sem remorso os presentes na mesa.
- Postou que estava na droga do bar! - se meteu, apontando a publicação no visor no celular - pelo divino, …-

As farpas entre o grupo seguiram por pelo menos mais dois minutos, e foi tempo suficiente para se dar por vencida e pedir uma cerveja também. Embora soubesse que não havia sido convidada diretamente, pretendia se vingar da mentira mal contada de com sua presença pelos próximos 40 minutos.
-
Perdi alguma coisa?

Uma voz desconhecida foi ouvida por trás do campo de visão de , fazendo-a girar em imediata curiosidade, ainda que estivesse de costas ao público que circulava. Seus olhos encontraram um rapaz de estatura alta e leve bronzeado asiático sobre o rosto, com olhos tão específicos que sentiu que poderiam cortar somente com o formato afiado sobre o rosto. O olhar de espanto/confusão que recebeu foi quase tão grande quanto o seu próprio, tornando difícil o raciocínio fora daquela bolha. Com um pouco de esforço e voz alta de , pode ouvir que o dono da voz era intitulado ; e por conseguinte, tudo ao seu redor ficou estranhamente enigmático.










Continua...



Nota da autora: Sem nota.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


Caixinha de comentários: O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.


comments powered by Disqus