Capítulo 1
Taylor Swift, London Boy.
Londres, 18 de abril de 2020.
Há um tempo, li em um livro que dizia que quem está cansado de Londres, está cansado da vida, porque em Londres existe absolutamente tudo o que a vida pode proporcionar. Pelo que sei, essas palavras são do escritor e pensador inglês Samuel Johnson e, para mim, é quase impossível não concordar.
Se não me engano, desde os meus dezesseis anos eu sonho com Londres. Me lembro perfeitamente do dia em que ouvi o sotaque penetrante na voz de Alex Turner e, logo em seguida, me encantei pela literatura de Arthur Conan Doyle. Foi amor a primeira vista.
A partir desse instante, declarei lealdade eterna à terra da nossa queridíssima rainha, e uma pesquisa rápida no Google imagens foi o suficiente para que eu tomasse a decisão de que - um dia - Londres seria minha casa. Eu moraria na Inglaterra.
Obviamente, as coisas não seriam tão simples quanto pareciam ser na imaginação de uma adolescente sonhadora. Ainda mais se essa adolescente fosse a pessoa que vos fala, Oliveira, sobrinha neta de um dos primeiros arcebispos da arquidiocese de Mariana.
Desde muito nova eu fui ensinada sobre a importância de se ter conhecimento e respeito pela religião. Minha família é cristã, frequentadora da igreja católica, e o fato de um dos tios do meu pai possuir um cargo tão elevado na hierarquia catolicista, tornou tudo ainda mais severo para mim. Durante a minha vida inteira frequentei escolas religiosas, não desenvolvi o costume de ir à festas - já que meus fins de semana eram reservados para as missas e atividades da paróquia -, e a maioria dos meus amigos eu conheci na igreja, incluindo o meu namorado - ou noivo, ainda não sei como devo me referir ao Arthur.
Basicamente, por conta da criação metódica que recebi dos meus pais, eu acabei me tornando uma garota excessivamente certinha, que nunca faz algo minimamente fora da curva e tem vida social negativa. Até que, quando atingi a maioridade, agarrei, com todas as forças, a única oportunidade que tive para mudar isso.
Na noite do meu aniversário de dezoito anos, meu pai me surpreendeu com o melhor presente de todos. Segundo ele, eu poderia escolher qualquer país do mundo - desde que fosse falante da lingua inglesa - para passar um ano da minha vida em um programa de intercâmbio, a fim de aperfeiçoar a minha afinidade com o idioma, para que, mais tarde, eu pudesse usar isso à favor de uma viagem como missionária. Obviamente viajar como missionária nunca esteve nos meus planos, mas eu aceitaria qualquer coisa que me fizesse ir além das paredes da igreja.
Não me leve a mal, por favor. Eu acredito em Deus, e tenho muita devoção à ele. Faço minhas orações diárias, recorro à Ele sempre que preciso e agradeço diariamente, mesmo que sem “necessidade”. A minha relação com o cara lá de cima é, eu diria, excelente.
Tão excelente, que Ele ouviu todas as minhas preces, e hoje - cinco anos depois da minha festa de dezoito anos -, eu posso finalmente acordar com a vista magnífica de um dos bairros mais aconchegantes da cidade de Londres. Só Ele sabe durante quantos anos eu imaginei como seria acordar nesse país. Só Deus sabe por quanto tempo eu sonhei com o momento em que eu levantaria da cama, abriria a cortina do quarto, e debruçaria sobre o parapeito da janela. Exatamente como estou fazendo agora.
É indescritível a sensação que o vento da primavera londrina causa ao cortar a pele do meu rosto, enquanto observo as pessoas caminharem pelas calçadas, prontas para darem início a mais um dia de suas vidas.
Me sinto em casa. Finalmente.
Chego a ficar tão entretida tentando decifrar cada um dos meus mais novos vizinhos, que nem sequer me dou conta do barulho em minha porta.
- ? - ouço um tom de voz feminino, ao qual meus ouvidos ainda estão tentando se acostumar, e, em um ato irreflexo, viro meu corpo em direção ao som. Parada no batente da porta de entrada do meu quarto, encontro a figura elegantérrima de Victória, minha host mom. - Me desculpe. Eu bati algumas vezes, mas você não respondeu e… - ela profere, com um sorriso nervoso no rosto, provavelmente receosa com o semblante bobo no meu. - Aconteceu alguma coisa? - questiona, olhando confusa para mim e, em seguida, para a vista na janela. - Algum problema com o seu quarto? - insiste em saber, franzindo as sobrancelhas, e eu deixo um sorriso divertido escapar pelos meus lábios.
- Problema algum. É perfeito. - dou de ombros, passando as mãos pelos meus braços, com os pelos arrepiados por conta do frio. É quando eu me lembro que ainda estou vestindo meus pijamas, e isso faz com que eu me sinta um tanto quanto envergonhada. - Eu só estava admirando a rua e acabei me distraindo. - assumo, sentindo minhas bochechas queimarem.
- Admirando a rua? - a mulher arqueia as sobrancelhas, visivelmente surpresa, e eu dou de ombros, soltando um longo suspiro. - E o que tem demais aqui? - Victoria insiste em saber, dando passos largos em direção à janela.
- Nada demais, eu que… - sou uma idiota fissurada por esse país e, mesmo depois de um mês morando aqui, cada mínimo detalhe continua parecendo interessante demais para os meus olhos. Respiro fundo e chacoalho a cabeça de um lado para o outro, tentando afastar meus pensamentos. - Enfim, você precisa de alguma coisa? - pressiono um dos meus olhos, tentando desviar o assunto, e Victoria solta um suspiro longo.
- Preciso. - ela morde seus beiços e me olha com certa piedade, como se já quisesse me pedir desculpas. - Eu sei que você não deveria trabalhar no dia de hoje, mas surgiu um imprevisto, e tanto eu, quanto Erick, vamos precisar ir até o escritório. - dá de ombros.
E essa é exatamente a parte mais desafiadora da minha vida no Reino Unido. Quando pesquisei sobre todas as possibilidades de intercâmbio em Londres, procurei me afastar do óbvio, e acabei optando por aquela que seria mais interessante e me traria as melhores experiências: AuPair.
Basicamente, há trinta dias eu trabalho para essa família, sendo responsável por todas as tarefas relacionadas às crianças, que, no meu caso, são três. Dois meninos e uma menina. O único problema é que, em dias como hoje, sábado, a última coisa que eu pretendo fazer é cuidar das crianças, por mais adoráveis que elas sejam.
- Eu preciso que você cuide das crianças. - Victória profere, desviando o foco dos meus pensamentos.
- Tudo bem. - Rebato, depois de cruzar os braços e respirar fundo. Não é como se eu tivesse escolha.
- Nós não devemos demorar. Eu só preciso que você leve os gêmeos à natação, e o Cory ao futebol. Coisa de uma hora ou duas, no máximo. - um sorriso terno escapa pelos seus lábios e eu balanço a cabeça na afirmativa. Victória, então, respira fundo, e dá um passo à frente, afagando um dos meus braços em um gesto inesperado. - Me desculpe, . Sei que esses não eram o seus planos para um sábado à tarde.
- Não se preocupe, Tori. Eu ainda não tinha planos para hoje. - minto, forçando o meu melhor sorriso, e a mulher me agradece com o olhar, sem proferir nenhuma palavra sequer.
Ela entorta seus lábios uma vez e se afasta, desaparecendo do meu campo de visão logo em seguida. Frustrada, passo a mão pelo meu rosto e me jogo em cima da cama, soltando um longo suspiro. Encaro a marca no gesso do teto e demoro alguns minutos até decidir erguer o meu corpo e estender meu braço até a bancada, onde encontro meu celular.
Cegamente busco pelo contato da única amiga que tenho nessa cidade, Maria Luiza. Assim como eu, Malu também é brasileira, e nós fazemos parte do mesmo programa de Aupairs.
- Hmm? - ela murmura do outro lado da linha e eu solto um riso.
- Bom dia, princesa. - rebato, voltando a jogar meu corpo sobre a cama.
- O que você quer, ? - Maria Luiza questiona, meio grosseira, e eu franzo a testo.
- Ouch! Esse é o seu humor matinal? - insisto em saber, e minha amiga respira fundo, demorando alguns instantes para me responder.
- , são oito da manhã. Eu não esperava ouvir a sua voz antes das duas da tarde, então… Sim, o que você quer? - pergunta mais uma vez, e eu reviro os olhos, deixando um riso escapar.
- Eu só queria que a primeira coisa que você ouvisse ao acordar fosse um bom dia meu, meu anjo. - profiro, pressionando meus beiços.
- Vai se fuder, . - ela rebate irritada, e eu solto uma gargalhada. - Eu vou desligar, nos vemos às duas em Brixton. Não se atrase.
- Não, espera! - aumento um pouco o tom da minha voz e respiro fundo, antes de continuar. - Sobre isso… - mordo meus lábios hesitante e, do outro lado da linha, ouço Maria Luiza resmungar.
- Ah não… você não vai furar comigo, vai? - Ela questiona e eu solto um longo suspiro. - ! Nós estamos falando disso há dias!
- Eu sei, mas eu não tenho culpa! - esbravejo em minha defesa, voltando a erguer meu corpo sobre a cama. - Victória me pediu para tomar conta das crianças, não é como se eu tivesse escolha. - dou de ombros, mordiscando meus lábios, e Maria Luiza murmura.
- A sua patroa consegue ser um pé no meu saco às vezes, sabia? - Malu profere, depois de alguns segundos em silêncio. Eu acho graça e, então, ela respira fundo antes de prosseguir. - Tudo bem, deixa Brixton para outro dia. - diz e, pelo tom de sua voz, consigo ouvir sua frustração. - Faz o que você tiver de fazer, cuida dos seus pestinhas e, mais tarde, a gente se encontra no Soho… - Maria Luiza profere por fim, e eu hesito. Como eu disse, não sou acostumada a ter uma vida noturna então, naturalmente, essa possibilidade me assusta. - … E sem desculpas, ! - Maria Luiza esbraveja, como se pudesse ler os meus pensamentos, e eu acho graça. - Nós já estamos nessa cidade há trinta dias, e ainda não fomos a nenhum pub, no auge dos nossos vinte e três anos! Isso é um absurdo! - diz e, estranhamente, consigo visualizar suas feições. É engraçado pensar que conheço Maria Luiza há um mês, mas tenho a sensação de que somos amigas há anos. - Por favor, amiga. Eu não vejo a hora de descobrir tudo o que a vida noturna de Londres têm para me oferecer, e isso inclui um inglês alto, gostoso e de olhos claros que vai me causar um orgasmo toda vez que abrir a boca e me obrigar a escutar esse sotaque insuportável. – profere, e eu solto uma gargalhada.
- Você é maluca, Maria Luiza. - digo, balançando minha cabeça de um lado para o outro, enquanto esfrego minha têmpora.
- Ah, sem hipocrisia ! - Malu esbraveja e, entediada, eu reviro os olhos. - Vai me dizer que não é isso que você quer.
- Não exatamente. - dou de ombros e, imediatamente, me lembro de Arthur. - Me envolver com um inglês nunca esteve nos meus planos, até porquê eu tenho o…
- O seu noivo, certo. Eu me esqueço desse detalhe. - ela me interrompe e, involuntariamente, eu olho para o anel preso ao meu dedo anelar, soltando um suspiro longo em seguida.
- É. Eu não sei se diria noivo exatamente, mas acho que pode ser. - digo com certa indiferença, coçando o topo da minha cabeça e desviando a atenção do metal em volta do meu dedo.
- De qualquer forma, isso não te impede de ir ao Soho hoje… Por favor? Tenho certeza de que vai te fazer bem. - ela profere, e eu consigo perceber a súplica no seu tom de voz, o que me faz entortar os lábios levemente ao me dar por vencida.
- Tudo bem, você tem razão. - dou de ombros, por fim. - Já passou da hora de descobrirmos o que os ingleses reservam para gente. - puxo todo o ar que consigo para dentro dos meus pulmões, e do outro lado da linha, Maria Luiza comemora.
- , você viu o gol que eu fiz? - Cory, a minha criança mais velha, questiona e eu balanço a cabeça na afirmativa, enquanto luto para segurar todas aquelas mochilas, e ao mesmo tempo, abrir a porta de entrada da casa.
- Eu vi! Você jogou muito bem hoje, Cory! - profiro com um sorriso largo no rosto, e o pequeno suspire, chamando a minha atenção. - O que houve? - pergunto preocupada, enquanto guio os outros pequenos para dentro da casa.
- Eu queria que meu pai tivesse visto. - o menino dá de ombros, e de certa forma, aquilo me corta o coração. Involuntariamente, meus lábios se curvam em um sorriso sem humor e eu afago os braços da criança.
- Tenho certeza de que seu pai teria ficado muito orgulhoso… - digo, acariciando as bochechas do pequeno. - E não se preocupe, na próxima ele estará la. - garanto mesmo sem ter certeza alguma do que estou dizendo, e um sorriso envergonhado surge nos lábios de Cory. - Mas, enquanto isso não acontece… Quem quer bolo? - aprumo a minha postura e arqueio as sobrancelhas.
- De chocolate? - Helena, a única menina, questiona, com os olhos arregalados e os bracinhos levantados.
- Não sei… O que vocês acham? - questiono, fingindo estar desconfiada, e dou um pequeno salto quando um estrondoso e agudo “sim” invade os meus ouvidos, e involuntariamente, me faz gargalhar. - Tudo bem. Então, vocês vão para o banho, e enquanto isso, eu vou para a cozinha. - dou de ombros. Ao mesmo tempo que Helena apressa seus passinhos em direção ao banheiro, os dois meninos resmungam, me fazendo rir.
Assim que termino de bater os ingredientes para o bolo, coloco a massa direto no forno, e pelas minhas contas, tenho aproximadamente quarenta e cinco minutos até que ele asse e fique pronto. Por isso, decido aproveitar o tempo que tenho, para adiantar minha arrumação para mais tarde.
Subo em direção ao último andar, onde fica a suíte em que estou dormindo, e começo a pensar em coisas desconexas, enquanto tiro a blusa que estou vestindo e a jogo no chão, sem me preocupar com a bagunça. Abro o guarda-roupa, saco um par de lingeries qualquer da primeira gaveta, e quando começo a procurar por uma outra blusa, me surpreendo ao ver, pelo reflexo do espelho, alguém deitado na minha cama.
Com o susto, dou um salto para trás e um grito involuntário escapa pela meus lábios. Rapidamente cubro minha boca com as mãos, tentando não fazer barulho. e em seguida, viro o meu corpo de frente para a cama, onde um rapaz dormia com toda a tranquilidade do mundo.
Um rapaz desconhecido dormindo na minha cama.
Imediatamente começo a pensar que meu trabalho está em jogo. Se Victória ou Erick descobrissem que tinha um homem dormindo na minha cama, só Deus sabe o que eles poderiam pensar, e eu poderia facilmente ser demitida. Arrumar uma nova família à essa altura do Campeonato seria difícil demais, e essa possibilidade estava fora de cogitação. Então, decido fazer algo.
Rapidamente, varro o ambiente com os meus olhos e noto um copo de água pela metade, ao lado do livro que estou lendo. Em um movimento rápido, me abaixo para pegar minha blusa do chão, prendo o tecido em meus braços, na frente do meu corpo e dou passos lentos e leves em direção à bancada ao lado da cama. De lá, agarro tanto o copo quanto o livro com as minhas mãos tremulas, e antes de qualquer coisa, lanço mais um olhar para o rapaz de cabelos que ainda dormia sereno.
“Que tipo de ladrão você é?” , meus pensamentos gritam e eu chacoalho minha cabeça de um lado para o outro, derramando todo conteúdo do recipiente em cima do .
No instante em que sente o liquido gelado entrar em contato com a sua pele, o garoto se debate, ainda de olhos fechados, até que salta, se sentando na cama, e vira o rosto na minha direção, arregalando os olhos para mim. Involuntariamente, dou dois passos para trás.
- Mas que porra? - ele questiona, notavelmente confuso, passando as mãos pelo rosto molhado. - Você é maluca?
- Quem é você, e o que você está fazendo no meu quarto? - pergunto, ignorando o seu questionamento e demonstrando todo o meu nervosismo através da minha voz trêmula. O rapaz então, volta a sua atenção para mim e me observa dos pés a cabeça, soltando um sorriso torto em seguida. Constrangida, umedeço a minha garganta enquanto pressiono ainda mais o tecido cinza contra o meu corpo.
- Você disse seu quarto? - o questiona, unindo as sobrancelhas, aparentemente confuse. Eu respiro fundo, apertando o livro em minhas mãos.
- Quem é você? - insisto em saber, com a voz mais firme do que antes, e ele revira os olhos, virando seu corpo de frente para mim.
- Quem é você, e por que disse que o meu quarto é seu? - ele pergunta, se levantando meio entediado e indiferente, enquanto dá um passo para frente, diminuindo a distância entre nossos corpos. Eu, por outro lado, me surpreendo e deixo que meu queixo caia alguns centímetros, afastando os meus lábios um do outro, até que uma gargalhada curta escapa.
- Seu quarto? - questiono com as sobrancelhas arqueadas, e ele olha para os lados, notavelmente desconfiado, como se estivesse no meio de um daqueles quadros de pegadinha dos programas de auditório. É nesse momento que, sem perceber, o analiso da cabeça aos pés. Cabelos , não muito compridos, mas cheios o suficiente para que eu notasse alguns cachos crescendo. Blusa branca, bermuda mostarda e algumas tatuagens espalhadas pelos braços, mas não me atento a elas. - Me fala logo quem você é, e o que você está fazendo aqui, ou eu…
- Ou você o quê, bonitinha? - o se interessa em saber, erguendo suas sobrancelhas. Sinto um arrepio percorrer a minha espinha no instante que ouço aquele sotaque invejável proferir o adjetivo “bonitinha”. - Vai me bater com um romance de duzentas páginas? - pergunta, desviando o olhar do meu rosto para o livro nas minhas mãos. Involuntariamente, direciono meu olhar para o objeto e dou de ombros. Ele, então, revira os olhos e deixa um sorriso debochado escapar pelos seus lábios, antes de voltar a se jogar sobre a cama, com o peito virado para cima e as mãos entrelaçadas uma na outra, embaixo de sua cabeça.
Sua atitude faz com que o meu medo desapareça, e um tanto quanto irritada, eu resmungo. Antes que ele tenha tempo para pensar em se defender, ou até mesmo reagir, uso toda a força que me é concedida no momento, para acertar o abdômen dele algumas vezes. Ele, por sua vez, grita.
- Ei! - esbraveja, visivelmente furioso, enquanto tenta se levanter. – Para, porra! - ele salta da cama novamente, e segura firmemente meu pulso, me imobilizando.
Minha respiração está acelerada, e eu não sei exatamento como reagir. Seus dedos em volta do meu pulso me causam uma sensação desconhecida, e eu nem ao menos tento me soltar. Através do verde em seus olhos, tento decifrar o que aquele garoto estava escondendo, e porquê ele está aqui, no entanto, fico visivelmente desconcertada ao sentir o calor de um corpo avulso tão próximo ao meu.
- Me solta. - peço, entredentes.
- Não. - ele rebate, e sem perceber, me pego assistindo o movimento involuntário de sua língua ao umedecer seus lábios.
Mas que… merda?
Confusa, balanço minha cabeça de um lado para o outro, e então começo a me debater para que ele me solte. No entanto, isso parece causar nenhuma reação nele, além do prazer por estar em domínio na situação.
- O que está acontecendo aqui? - ouço um tom de voz feminine, e em um ato irreflexo, arregalo meus olhos. No mesmo instante, o garoto me solta e eu dou alguns passos para trás, me distanciando dele e virando meu corpo em direção à porta do quarto, onde encontro Victória. - Nós ouvimos gritos lá de baixo, e… Por que você está assim? - questiona, com os olhos arregalados e fixados na área abaixo do meu rosto. Só então me lembro de que não estou exatamente vestida.
“Ótimo, lá se vai o meu emprego.”, penso, sentindo minhas bochechas queimarem.
- Porque eu estava indo tomar banho e encontrei ele deitado na minha cama… Eu não sei quem é ele! - esbravejo, batendo meus pés no chão com certa infantilidade, e então, ouço o rapaz respirar fundo.
De repente, a atenção de Victória desvia para o ao meu lado, e eu acompanho seus movimentos enquanto ele ergue seu rosto, sustentando seu olhar contra o da minha patroa com um sorriso torto nos lábios.
- ? - atônita, ela arqueia as sobrancelhas.
- Oi, mamãe. - o profere, arrancando um sorriso largo dos lábios de Victória, e eu engasgo com a minha própria saliva.
- Mamãe? - atônita, eu questiono, mais para mim mesma do que para qualquer outra pessoa naquele cômodo. Vejo então, Tori passar por mim de braços abertos, em direção ao rapaz que a recepciona em um abraço aconchegante.
Envergonhada, eu desvio o meu olhar para o chão e esfrego a minha têmpora.
- Por que você não me avisou que vinha? - Victória questiona.
- Eu quis fazer surpresa – o rebate, arrancando um sorriso dos lábios da mais velha. Os segundos seguintes são marcados por um silêncio ensurdecedor, e por motivos que não sei explicar, sinto seus olhares sobre mim. - Será que eu posso saber quem é ela, e por que ela insiste em dizer que o meu quarto é dela? - ele questiona, com os olhos cerrados, e eu umedeço a minha garganta.
- Essa é , nossa Au Pair. - Tori explica, apontando para mim. Involuntariamente, entorto meus lábios em um sorriso sem graça.
- Só… Só está bom. - dou de ombros e o arqueia as sobrancelhas. Imediatamente me sinto uma completa idiota e volto a desviar minha atenção para o chão, fechando meus olhos com força e implorando a Deus para que um buraco surgisse e me tirasse desse país o mais rápido possivel.
- Nós não esperavámos te ver antes de junho, meu filho. Eu e Erick pretendíamos reformar o quarto de visitas para que você pudesse ficar mais confortável.
- Não precisa. Eu me sinto bem confortável aqui. - o profere, e involuntariamente, ergo meu rosto na direção do seu. me encara, com os olhos cerrados, e eu solto um longo suspiro. Nesse instante, percebo que ele não fazia questão alguma do quarto, mas, por conta do que acabou de acontecer, aquele rapaz faria o que fosse necessário para acabar com a minha paz.
Perfeito.
- Ah, então… , você se importa em se mudar para o quarto de visitas? - Tori questiona, puxando a minha atenção para si, e eu levo alguns segundos para respondê-la.
- Não, de forma alguma. - rebato, balançando minha cabeça de um lado para o outro, e os beiços de Victória se entortam em um sorriso agradecido. - Em um minuto eu arrumo tudo. - garanto, forçando o meu melhor sorriso. De soslaio, vejo sorrir como se tivesse acabado de ganhar uma batalha.
A partir desse momento, percebo que a convivência na casa dos Carter seria muito mais difícil do que a que eu já estava começando a me acostumar.
Narrador Avulso.
Por conta do que tinha acontecido mais cedo, as pernas de tremem ao descer as escadas em direção à sala de estar. Pronta para seu compromisso com Maria Luiza, a menina vestia um conjunto de blusa e calça na cor preta, e uma sandália de tiras, também preta. Os longos cabelos pretos presos em um rabo de cavalo no topo de sua cabeça, e a maquiagem resumida a rímel nos olhos e um batom vermelho nos lábios.
No entanto, antes de sair precisava dar uma breve satisfação aos seus patrões, só para que eles tivessem ciência de que ela não estaria em casa pelas próximas horas. O único problema é que, por conta do mal entendido de mais cedo, tinha se trancado no quarto e desde então não tinha visto nem Victória, nem Erick, e muito menos o tal .
Na sala, a encontra os três reunidos assistindo a um programa tradicional da televisão britânica. No sofá da lateral, Tori estava aconchegada nos braços do marido, enquanto no outro, de costas para , estava , com um dos braços esticados sobre o encosto do sofá.
- Errm… Tori? - A menina a chama, apertando seus dedos e mordendo seus beiços, notavelmente nervosa. No mesmo instante, a atenção do casal se volta para e Victória ergue sua postura, encarando a garota. - Eu vou encontrar uma amiga no Soho, tudo bem? - questiona, ansiosa pela resposta da mulher.
- Claro, ! Se divirta! - A mais velha rebate, e suspira aliviada.
- O Soho é um bairro incrível, você vai adorar - Erick se manifesta, voltando a envolver sua esposa com seus braços.
- E você está linda, por sinal - Tori profere, arrancando um sorriso agradecido, no entanto, envergonhado, dos lábios de .
Instintivamente, se vira e olha para a garota por cima de seu ombro. Sua vista passeia pela da cabeça aos pés e um sorriso maroto e involuntário surge em seu rosto. No entanto, no instante em que os olhos negros de cruzam repentinamente com os seus, o volta sua atenção para a televisão e chacoalha a cabeça de um lado para o outro, afastando o que quer que seja que tenha passado pela sua cabeça naquele momento.
Londres, 20 de Abril de 2020.
Na segunda-feira, acorda por volta das dez e meia da manhã, e por uma questão de costume, desce até o primeiro andar da casa em busca de algo que pudesse encher seu estômago àquela hora da manhã.
No entanto, o hesita no instante em que encontra na área externa da casa, totalmente desajeitada, tentando carregar mais sacolas do que o peso que o seu corpo conseguia suportar, e isso acaba fazendo com que um sorriso torto surja nos beiços dele.
Aquela era a primeira vez que via depois do desentendimento que tiveram no quarto. A jovem não tinha passado a noite de sábado nos Carter, e quando retornou no dia seguinte, era quem não estava em casa. Por esse motivo, o utiliza a distração de a seu favor e a observa por alguns segundos.
era bonita de um jeito incomum para os olhos de . Apresentava traços que o rapaz não costumava ver pelas ruas de Londres, ou por qualquer outro país que já tenha visitado. As curvas mais acentuadas e o busto cem por cento natural evidenciavam que , de fato, não era britânica, nem natural de qualquer outro lugar próximo.
O , então, atravessa a sala, passa pela cozinha e caminha em direção ao quintal. Involuntariamente, ergue o rosto de encontro ao dele e um sorriso simpático surge nos lábios de . Ela, por outro lado, umedece sua garganta e volta seu olhar para o chão, ainda notavelmente envergonhada pelo que tinha acontecido naquele dia.
- Aqui. Me deixa te ajudar. - profere, puxando algumas sacolas da mão da garota.
- Não precisa. - murmura, mas revira os olhos impaciente e insiste, tomando algumas sacolas em suas mãos.
- Você sabe que pode olhar para mim, não sabe? - depois de alguns segundos em silêncio, o questiona, com um sorriso brincalhão no rosto. solta um longo suspiro, erguendo sua cabeça no instante em que coloca as compras sobre o balcão de mármore da varanda.
- Obrigada e… E me desculpa pelo que aconteceu no sábado - diz, entortando seus lábios em um sorriso acanhado.
- Pelo que, exatamente? Por ter jogado água em mim, ou por ter me agredido com um livro da Jojo Moyes? - O questiona, com as sobrancelhas arqueadas. ri, começando a desempacotar as compras.
- Você meio que mereceu. - ela rebate repleta de indiferença, e gargalha, atraindo a atenção da para o seu rosto.
- Tudo bem, tudo bem. - dá de ombros, apoiando suas costas contra o mármore do balcão e escondendo suas mãos dentro dos bolsos da bermuda branca que usava. o observa. - Me desculpe também, por ter te chamando de maluca… - ele faz uma breve pausa, estreita seus olhos e aguarda a reação da garota. No momento em que lança um sorriso doce na sua direção, entorta seus lábios em mais um de seus sorrisos sacanas e respira fundo antes de continuar. -… Você meio que mereceu. - ele dá de ombros novamente e a revira os imensos olhos negros, entediada com o seu comentário. Novamente, solta uma gargalhada aguda, arrancando um riso involuntário de . - . - ele profere, estendendo cordialmente uma de suas mãos na direção da garota.
- … ou . - a dá de ombros, apertando a mão de .
- De onde você é, ? - questiona, ansioso para descobrir de onde podia ter saído alguém com os traços físicos como os de .
- Eu sou… do Brasil. – rebate, com certa indiferença, devolvendo sua atenção para as sacolas sobre o balcão.
- Brasil? Wow! - esbraveja, arqueando suas sobrancelhas surpreso. - Você está meio longe de casa, menina.
- Talvez seja por isso que eu estou aqui - profere, meio distante, com um sorriso sem humor nos lábios, e estreita seus olhos, desconfiado. - Mas você… você disse ? - a questiona, lançando um olhar curioso para o que, por sua vez, franze o cenho, balançando a cabeça na afirmativa. - Que estranho, eu pensei que seu sobrenome fosse Carter. - ela estreita os olhos, balançando a cabeça de um lado para o outro, e respira fundo.
- Érick não é o meu pai. - o jovem despeja a verdade sobre , e sem conseguir evitar, a arregala seus olhos surpresa. - Por isso eu não uso o Carter, e sim , que é o sobrenome da família da minha mãe.
- Me desculpa, eu não… Não sabia. - profere, visivelmente nervosa, e ri.
- Tá tudo bem, você não precisa se desculpar. Não é como se eu tivesse dito que meu pai biológico está morto ou algo do tipo, eu só… Não sei quem ele é. - o dá de ombros, e mais uma vez, é pega de surpresa e se culpa por ter tocado no assunto.
- Me desc… - arqueia as sobrancelhas e revira o olhar, se interrompendo. A menina solta um riso, e logo em seguida, leva uma das mãos ao rosto, tentando cobrir seu sorriso.
Nesse momento, um pequeno e delicado objeto chama a atenção do rapaz. Preso ao dedo anelar da mão esquerda de , consegue ver uma aliança que ele supõe ser de ouro branco. O , então, fixa seu olhar sobre o objeto e nota algo que atiça ainda mais a sua curiosidade, ao mesmo tempo que usa aquela mesma mão para prender uma mecha de seu cabelo por trás de sua orelha.
Cravejado no aro do anel com pequenas pedras vermelhas, repara o desenho de uma cruz - um dos principais símbolos do catolicismo. De repente, os olhos do começam a passear por , enquanto ela profere palavras que ele não conseguia ouvir.
No dedo, o anel, o detalhe de um crucifixo; no pescoço, um escapulário, também em ouro branco, e por fim, na lateral do pulso, o desenho de mais uma cruz feito em traços extremamente finos.
já tinha visto algo parecido com aquilo antes, e sabia que aquela aliança ao redor do dedo de , definitivamente não era um anel de compromisso.
- Qual o problema com o Brasil? - sem entender, se interrompe mais uma vez e devolve sua atenção para que, por sua vez, dá de ombros e estreita seu olhar contra o dela. - Deve existir algum problema com o seu país para você ficar tão aliviada em estar longe de casa. - ele dá de ombros e a menina volta a desviar o olhar do dele, soltando um longo suspiro.
- Digamos que a minha família é um pouco tradicional demais. - A rebate, com um sorriso sem humor nos lábios e os olhos presos às compras sobre o balcão.
- Em que sentido? - insiste em saber e dá de ombros.
- Religião. - ela dá de ombros e o garoto arqueia as sobrancelhas.
Bingo.
- Igreja católica, certo? - o questiona, e sem entender como ele podia saber, estreita seu olhar contra o dele. - A sua tatuagem… É igual a minha, por sinal. - profere, apontando para a lateral do pulso da garota, e, em seguida, para a pequena cruz tatuada no dorso de sua própria mão. Surpresa, ergue suas sobrancelhas. - Acho que temos algo em comum, . - dá de ombros e um sorriso involuntário escapa pelos lábios da .
Existia algo diferente na forma com que falava que fazia com que um arrepio desconhecido percorresse a espinha de todas as vezes que ele proferia seu nome.
Deve ser o sotaque - ela pensou, balançando sua cabeça na negativa.
- A tatuagem pode ser, mas eu duvido que sua criação tenha sido tão metódica quanto a minha. - dá de ombros, carregando alguns itens da compra em direção à cozinha da casa. , por sua vez, a acompanha.
- Seus pais são tão severos assim? - o insiste em saber, e a menina balança a cabeça na afirmativa, sem hesitar.
- Essa é a primeira vez que eu estou vendo o mundo por trás das paredes da minha igreja. - solta um suspiro intenso e se surpreende. - Meu pai é extremamente ortodoxo e nunca permitiu que eu fosse uma adolescente como qualquer outra, sabe? Meus amigos e meu noivo também frequentam a minha igreja, então eu nunca… Tive contato com o mundo externo, vamos dizer assim.
- Noivo? - o arqueia as sobrancelhas e franze o cenho, antes de balançar a cabeça na afirmativa. - Quantos anos você tem? - ele questiona, visivelmente curioso, e acha graça.
- Vinte e três.
- Wow… Deve ter sido difícil esperar por todos esses anos. - serra seus olhos, desviando-os momentaneamente para o anel preso ao dedo de .
- Nem tanto. Eu amo a minha religião e frequentar a igreja não é nenhum sacrifício para mim, eu só… Odeio a forma como o meu pai enxerga isso tudo. - ela umedece a garganta e entorta seus beiços em um sorriso singelo. suspira, por fim.
- De qualquer forma, fico feliz que você tenha conseguido dar um tempo dessa vida e vir para cá. Não existe lugar melhor para se conhecer o mundo do que Londres. - o dá de ombros, e pela primeira vez, nota as covinhas que surgiam em suas bochechas no instante em que ele sorri. - Talvez eu possa te mostrar algumas coisas, e se você quiser, também posso te levar à igreja… - profere, surpreendendo a garota. - … Imagino que não deva ser fácil romper essa barreira de uma hora para outra.
- Você não precisa fazer isso, eu não quero incomodar. - rebate, balançando a cabeça de um lado para o outro.
- Não é incômodo algum, até porquê, não existem muitas diferenças entre a minha religião1 e a sua, e além do mais, eu acho que estou em dívida com o cara lá em cima… - aponta para cima e o semblante em seu rosto faz com que solte uma gargalhada infantil, causando certa admiração em . - … Então, acredito que uma ou duas visitinhas à Igreja não vão me fazer mal. - ele dá de ombros, passando por e pegando uma das xícaras de porcelana dentro do armário. Involuntariamente, a menina o acompanha com o olhar e respira fundo antes de agradecê-lo.
- Obrigada. - profere enquanto assiste o rapaz servir um pouco de café no recipiente em suas mãos. Ele, por outro lado, entorta os lábios e reage com indiferença. - Eu… Posso te fazer uma pergunta? - hesitante, a morde seus beiços, e curioso, o garoto dá de ombros, balançando a cabeça na afirmativa - Faz um mês que eu estou aqui, mas só agora você apareceu. Por quê? - observa atentamente a postura de , com seus olhos fixos a ela, ao mesmo tempo que umedece seus lábios com o líquido quente do café. Ele, então, respira fundo, limpa os resquícios da bebida com a ponta de sua língua, e solta todo ar que consegue de seus pulmões antes de respondê-la.
- Eu gosto de acreditar que sou um artista. - profere com certa modéstia, e arqueia as sobrancelhas, um tanto quanto surpresa. - Daqueles que fazem de tudo um pouco, sabe? Eu filmo, fotografo, escrevo, componho… E gosto de fazer isso em lugares diferentes, por isso você não me encontrou quando chegou aqui.
- É engraçado, porque, parando para pensar, você tem mesmo cara de artista. - dá de ombros, e sem entender, franze o cenho. O silêncio do rapaz atrai a atenção da para o seu rosto e ela solta um suspiro. - Os anéis, as tatuagens… Essas coisas.
- Você andou me observando, bonitinha? - questiona, com os olhos cerrados. , por outro lado, revira o olhar e balança a cabeça de um lado para o outro.
- Eu só… Tenho mania de reparar nos detalhes. - a sente suas bochechas queimarem e pressiona os beiços, tentando conter o riso. Imediatamente, o olhar do rapaz desce de encontro ao anel preso no dedo anelar da garota.
- Então essa é mais uma das coisas que temos em comum, . - ele profere por fim, umedecendo seus lábios e os entortando em um sorriso sacana. , por sua vez, franze o cenho confusa e direciona sua atenção para , que dá de ombros antes de passar pela garota e sair da cozinha, a deixando sozinha com seus pensamentos.
1. A grande diferença entre o anglicanismo e o catolicismo está no fato de que o primeiro não tem o papa como líder supremo, mas sim o monarca reinante na Inglaterra. Atualmente, a rainha Elizabeth II.
Capítulo 2
Camila Cabello, My Oh My.
Londres, 18 de maio de 2020.
Às segundas feiras as aulas das crianças acabavam mais cedo, então, às quinze em ponto, eu atravesso a calçada que liga o jardim da frente à porta de entrada. Enquanto as crianças se adiantam para entrar em casa, eu paro em frente à caixa do correio para retirar as correspondências, como devo fazer em todo primeiro dia útil da semana. Distraída, sigo os pequenos ao mesmo tempo que checo os destinatários em cada um daqueles envelopes, antecipando o meu trabalho de separar aqueles que eram de Victória, daqueles que era de Erick.
- ! - Helena esbraveja e, involuntáriamente, ergo o meu olhar a tempo suficiente de ver os pequenos correrem de braços abertos em direção ao irmão mais velho. se abaixa e recebe a única menina em seus braços, a erguendo do chão logo em seguida. Um sorriso despercebido surge em meus lábios por conta da graciosidade da cena.
- Como vai, bonitinha? - ele pergunta com os olhos cravados em mim, e eu reviro meus olhos, entediada.
- Você não vai superar esse apelido, vai? - questiono, caminhando em direção ao balcão de mármore claro que dividia a sala de estar da sala de jantar. , por sua vez, dá de ombros.
- Por enquanto, não.
Dois meses tinham se passado desde que me mudei temporariamente para Londres, e preciso confessar que, de certa forma, as coisas começaram a ficar mais fáceis depois que apareceu nessa casa. Não sei explicar ao certo o que aconteceu nos últimos dias, mas a convivência diária com alguém que tem quase a mesma idade que eu, acabou deixando tudo mais leve, e pouco a pouco as minhas inseguranças começaram a desaparecer.
- Vamos andar de bicicleta hoje? Por favor! - Cory profere em tom de súplica e eu solto um riso ao ver o pequeno puxar a barra da camisa do mais velho.
- Vamos. - rebate e as crianças comemoram. - Talvez possa ir com a gente dessa vez. - ele diz, com os olhos estreitos na minha direção, e eu arqueio as sobrancelhas, balançando a cabeça de um lado para o outro.
- Eu não sei andar de bicicleta. - dou de ombros, meio envergonhada, e um envelope azul no meio de todos os outros acaba chamando a minha atenção.
- O quê? Você não sabe andar de bicicleta? - devolvo meu olhar para e o semblante em seu rosto me faz rir.
- É tão chocante assim? - insisto em saber, e imediatamente o relaxa sua expressão facial.
- Pensando bem, vindo de você… Não. - dá de ombros e eu estreito meu olhar sem entender. No entanto, decido ignorar seu comentário e balanço a minha cabeça de um lado para o outro enquanto caminho até ele com o tal envelope azul em minhas mãos.
- Chegou isso para você. - confuso, franze o cenho e seu olhar varia do meu rosto até o objeto que eu segurava. Ele coloca Helena no chão e se aproxima ainda mais de mim, tomando o envelope em suas mãos.
- Que estranho, eu não costumo receber cartas. - ele solta um riso atônito e eu suspiro, desviando a minha atenção.
- ! - ouço a voz inconfundível de Victória e, imediatamente, viro meu rosto em direção ao som, a encontrando a poucos metros de distância - Você pode fazer o jantar hoje? Eu vou precisar resolver algumas coisas em Brighton e não acho que… - de repente, minha host mom se cala e eu a vejo estreitar os olhos na direção do filho mais velho. - O que é isso? - ela questiona e ergue o olhar para a mãe, dando de ombros logo em seguida.
- Um convite de aniversário. Eu só… Não faço ideia de quem seja.
- Deve ser engano. – a mulher se apressa e tenta arrancar o objeto das mãos do rapaz, mas é mais rápido e consegue se afastar.
- Não acho que seja engano, quantos você conhece? - ele pergunta com um sorriso engraçado no rosto, e Victória respira fundo. - Você conhece alguma Sophia Van Di… Dijk? Não sei se é assim que se pronuncia. - o dá de ombros e franze o cenho, fixando seu olhar sobre Victória.
O semblante no rosto da minha host mom muda drasticamente, e eu posso jurar que a coloração de sua pele fica cada vez mais pálida. Ela umedece sua garganta e passa por mim, se sentando em um dos sofás da sala, enquanto eu e assistimos a cena em silêncio.
- Mãe? - o a chama, lançando um olhar preocupado para mim enquanto caminha em direção à mulher.
- Tá tudo bem, Tori? - questiono assustada. Decido, então, caminhar até a cozinha, em busca de um pouco de água.
- Onde você encontrou isso? - a mulher se interessa em saber, direcionando seu olhar para , que, involuntariamente, lança um olhar na minha direção.
- Estava junto das outras correspondências. - ele dá de ombros, e dessa vez, é Tori quem crava os olhos em mim. Sinto, imediatamente, minha garganta ressecar e acabo dando um gole na água que tem no copo em minhas mãos, esquecendo completamente que aquilo era para Victória e não para mim.
- Quem é essa mulher, mãe? - questiona, puxando a atenção da mais velha de volta para si. Victória, por sua vez, balança a cabeça de um lado para o outro e apoia seu rosto sobre as mãos, prendendo os dedos em alguns fios de cabelo. - Mãe…
- Eu não sei quem é essa mulher, . - Tori dá de ombros e franze o cenho, desconfiado.
Não sei exatamente o que devo fazer, então sigo assistindo a cena em silêncio, até que percebo que as crianças ainda estavam na sala, e assim como eu, também presenciavam tudo com um olhar assustado e ao mesmo tempo curioso no rosto.
- Ei, crianças! - decido me manifestar e acabo atraindo a atenção de todos para mim. Umedeço a minha garganta e forço o meu melhor sorriso enquanto caminho em direção aos três pequenos. - Por que vocês não trocam de roupa para gente passear no parque? - questiono com as sobrancelhas arqueadas, mas Cory desvia o olhar para o irmão mais velho.
- Mas o disse que ia andar de bicicleta com a gente. – profere, visivelmente decepcionado, e eu mordo meus beiços, desesperada por uma solução.
- Acho que podemos deixar isso para amanhã, não é, campeão? - se manifesta, e em um movimento irreflexo, desvio meu olhar em direção ao dele. - Vá passear no parque com a . Ela, definitivamente, é uma companhia melhor que eu. - ele entorta seus lábios em um sorriso sem humor, e eu faço o mesmo, enquanto ele afaga os cabelos loiros de Cory.
Cegamente, guio as crianças em direção ao quarto. Enquanto os três sobem as escadas em disparada, minha curiosidade fala mais alto e - por mais errado que seja - acabo parando no meio do caminho, em um lugar onde e Victória não podem notar a minha presença, voltando minha atenção para o que acontecia na sala.
- Me fala o que tá acontecendo. - o tom de voz de sai aveludado, e bem mais baixo do que o normal, enquanto ele acaricia as costas da mãe e tenta transmitir um pouco de conforto à mulher. Victória, por outro lado, ergue sua cabeça na direção do filho, e mesmo de longe, consigo ver seu rosto avermelhado por conta do choro.
- Eu tenho medo de que você me odeie se souber a verdade. - a mulher confessa, e de certa forma, suas palavras comprimem meu peito.
- O quê? Mãe! - esbraveja, tomando o rosto de Victória em suas mãos. - Isso nunca aconteceria, e você sabe disso. Fomos só nós dois por muito tempo… - nesse instante, vejo Victória pressionar ainda mais seus olhos, enquanto o filho acaricia seu rosto molhado com os polegares. -... E eu acho que não preciso te lembrar que você é a pessoa mais importante da minha vida, dona Victória. - ele profere, inclinando seu corpo para frente, para depositar um beijo carinhoso na testa de Tori. A cena aquece o meu peito, e involuntariamente, um sorriso bobo surge em meus lábios.
Victória, por sua vez, respira fundo e arregala os olhos na direção dos de . Ela então segura a mão do que menino que acariciava a sua bochecha e a beija, deixando que um sorriso escape pelos seus lábios, ao mesmo tempo, ela afaga os cabelos dele e observa calmamente cada detalhe esculpido no rosto do seu filho.
- Eu preciso te mostrar uma coisa - suspira, por fim, antes de se levantar e deixar um confuso para trás enquanto caminha em direção à área externa da casa.
Por mais curiosa que eu esteja, percebo que aquele momento é pessoal demais, então me apresso para subir as escadas e ir de encontro às crianças, deixando os dois sozinhos e à vontade para que tenham aquela conversa.
Narrador Avulso
- Então, essa Sophia é… A minha avó? - o questiona, visivelmente estarrecido, com os olhos fixos em uma foto antiga onde ele consegue ver uma mulher - até então desconhecida -, e duas crianças que, nos dias de hoje, devem ter quase a mesma idade que . - E ela passou todos esses anos tentando entrar em contato comigo? - ele pergunta, desviando seu olhar para a grande quantidade de cartas espalhadas em cima da mesinha de centro da sala de estar. - Por que você nunca me mostrou isso? - insiste em saber, agora com os olhos cravados em Victória que, por sua vez, solta um longo suspiro.
- Porque eu tive medo. - a mais velha dá de ombros, simplesmente.
- Medo do quê, mãe? - o se exalta, aprumando a sua postura.
- De perder você! - Victória esbraveja, sentindo seus olhos marejarem mais uma vez. , então, devolve, momentaneamente, a sua atenção para a foto em suas mãos, mas logo em seguida joga a imagem sobre a bagunça de todas aquelas cartas e apoia a cabeça sobre as mãos, balançando-a de um lado para o outro. - Você é o meu menino, … - a mulher tenta afagar os cabelos do garoto, mas ele hesita e se afasta. Tori, então, respira fundo, e antes de continuar, busca controlar a vontade de chorar. - Seu pai me abandonou no instante em que descobriu que eu estava grávida de você. - ela dá de ombros, com um sorriso triste nos lábios, e fecha os olhos com força, sentindo seu sangue ferver e seu coração palpitar. - Eu era só uma menina de dezesseis anos, meu filho. Seus avós já não estavam mais aqui, e sua tia Vivian me ajudava sempre que podia, mas por três anos eu criei você sozinha e o único dinheiro que eu tinha era o que eu recebia trabalhando como garçonete em um restaurante no subúrbio de Londres.
- E o que aconteceu depois? - questiona, erguendo o olhar para mãe. Seus olhos estavam avermelhados e Victória tinha certeza de que, naquele momento, o filho estava lutando contra forças maiores para não chorar. Ela, no entanto, franze o cenho, confusa com a sua pergunta. - O que aconteceu depois desses três anos, mãe? - o rapaz insiste em saber e Tori respira fundo, desviando sua atenção para as cartas espalhadas sobre a mesa.
- Eu recebi a primeira carta da Sophia. - ela dá de ombros, soltando um longo suspiro. - Eu não sabia quem ela era até ler o nome do John, e…
- John é… O meu pai? - o a interrompe, e mesmo hesitante, Victória balança a cabeça na afirmativa. então sente sua cabeça girar e umedece a garganta antes de continuar. - É por isso que a senhora nunca quis que eu fosse à Amsterdã? Você tinha medo de que eu o encontrasse? - ele questiona, entrelaçando os dedos de uma das mãos aos da outra, e mais uma vez, a mais velha concorda com a cabeça. , por sua vez, joga seu corpo contra o encosto do sofá e passa as mãos pelos cabelos, deixando um riso irônico escapar pela sua boca. - Quer dizer que eu passei quase cinco anos viajando por todos aqueles lugares, tentando descobrir algo sobre quem eu realmente sou, quando, na verdade, a resposta estava embaixo do meu próprio nariz? Você sabe quantas noites de sono eu perdi por causa disso, mãe? Sabe o quão fodida ficou a minha cabeça por causa disso? - se exalta e Victória fecha os olhos com força.
- Me desculpa, . Por favor. - A mulher pede, com a voz falha e o peito comprimido ao mínimo.
- Você não tinha o direito de fazer isso. - ele profere, balançando a cabeça de um lado para o outro, visivelmente decepcionado. - Eu entendo os seus motivos e tudo mais, mas essas pessoas… Elas fazem parte do que eu sou. - dá de ombros, com os olhos cravados na foto de Sophia, e Tori entorta seus lábios em um sorriso singelo, enquanto acaricia as costas do filho.
- Eu sei, e é exatamente por isso que eu acho que você deveria ir à essa festa. - Victória profere, puxando o choro pelo nariz, e imediatamente devia o seu olhar para ela.
- O quê?
- Você não quer conhecer as suas origens? Essa é a oportunidade perfeita. - a mulher dá de ombros.
- Isso não significa que eu quero conhecer o meu pai. - se apressa em dizer, e Tori franze o cenho. - Ele ainda é o idiota que engravidou uma menina de dezesseis anos e depois sumiu.
- …
- Eu fico aliviado em saber que alguém tentou entrar em contato comigo, mas isso não muda absolutamente nada, até porque, se algum deles realmente tivesse interesse em me conhecer, teria vindo até aqui, e não se limitado a alguns pedaços de papel. Eu não vou nesse aniversário. - profere, soltando um longo suspiro e se levantando do sofá em seguida.
- Tudo bem, você quem sabe. - Tori dá de ombros, acompanhando os movimentos de com o olhar. - Mas, se por ventura, você mudar de ideia… Saiba que tem todo o meu apoio. - um sorriso sincero surge no rosto de Victória, e um riso irônico salta dos lábios de .
- Você demonstrou todo o seu apoio por mim no instante em que resolveu esconder essas cartas. - o profere, cheio de indiferença, desviando por alguns segundos sua atenção para os envelopes encardidos sobre a mesa. - Muito obrigado. - diz, por fim, e Tori consegue perceber a amargura no tom de sua voz, o que a faz respirar fundo e apoiar seu corpo contra o encosto do sofá. , por outro lado, volta a dar as costas à mãe e em questão de segundos desaparece do seu campo de visão.
Londres, 23 de maio de 2020.
Por conta de um evento em uma cidade vizinha à Londres, meus patrões - mais uma vez -, pediram para que eu abdicasse do meu dia de folga para tomar conta das crianças. Para ser sincera, dessa vez eu não me importei. O que aconteceu entre e Victória na segunda passada mexeu comigo, e a saudade da minha família acabou apertando durante esses dias. Pensei bastante nos meus pais, no meu irmão mais novo, nos meus amigos da igreja e, claro, no Arthur - com quem eu não falo há alguns dias.
São quase dez da noite quando consigo convencer Cory a ir para cama, e como os gêmeos já estão em seus respectivos quartos desde cedo, aproveito a minha insônia para me jogar no imenso sofá da sala e assistir - ou pelo menos tentar - uma série qualquer no catálogo da Netflix. No entanto, aproximadamente dez minutos depois do início do primeiro episódio de Modern Family, os gritos e gargalhadas vindos da área da piscina começam a me incomodar e a atrapalhar a minha capacidade de concentração.
Alguns amigos de tinham aproveitado a ausência de Victória e Érick para visitar o amigo, e nem eles, nem muito menos o próprio , pareciam se preocupar com a possibilidade da festinha estar ou não incomodando alguém, e isso já estava - de certa forma - começando a me irritar. O único problema é que eu não me encontro em posição alguma para fazer qualquer tipo de reclamação àquele que, na ausência dos Carter, é o dono da casa. E além do mais, depois do que aconteceu, tinha mudado drasticamente o seu comportamento com todos, inclusive comigo. Então, tentar me distrair e me conformar com os barulhos era o melhor que eu podia fazer.
Decido, então, ligar para Arthur. Como eu disse, faz alguns dias desde a última vez que conversamos, e com sorte, alguns minutos em ligação com ele, seriam o suficiente para aliviar a saudade que eu vinha sentindo de casa.
Antes de buscar pelo seu contato, checo as horas no visor do celular e percebo que no Brasil são cinco da tarde. Ele deve estar na igreja. - É o que eu penso.
- Alô? - ele atende depois de alguns toques.
- Ei… - meu tom de voz é aveludado, e um sorriso bobo escapa pelos meus lábios enquanto enrolo uma mecha do meu cabelo em meu dedo indicador.
- Alô? ? - Arthur questiona como se não pudesse me ouvir, e então percebo a falha na ligação.
- É, sou eu. Você não consegue me ouvir?
- ? Eu não consigo te ouvir. - ele profere e eu franzo o cenho, um tanto quanto intrigada. Começo a ouvir, através do telefone, o som de vozes e gargalhadas, além da batida incômoda de uma música eletrônica. - Eu te ligo mais tarde, tudo bem?
- Tud…
- Arthur! - sou interrompida por uma voz masculina - que não consigo reconhecer -, chamando o nome do meu noivo. Em seguida, Arthur desliga a ligação sem nem ao menos se despedir, e eu solto um longo suspiro, largando o celular de lado por alguns segundos.
Tento não dar muita atenção para o que acabou de acontecer, e, por isso, decido ligar para Rafaela, minha melhor amiga no Brasil. No entanto, no instante em que pego novamente o aparelho em minhas mãos, sou surpreendida por uma das minhas crianças surgindo no meu campo de visão.
- Helena? Tá tudo bem? - questiono preocupada, e a pequena esfrega os olhos com o dorso de uma de suas mãos. Imediatamente volto a soltar o celular e empurro meu corpo para a borda do sofá, me aproximando da menina.
- Eu não consigo dormir. - ela rebate manhosa e eu solto um suspiro, desviando momentaneamente minha atenção em direção ao caminho que levaria à área externa, onde e seus amigos estavam.
- É por causa do barulho, não é? - pergunto, franzindo o meu nariz, e a criança balança a cabeça na afirmativa, com um semblante de pré-choro no rosto, o que faz meu coração apertar. Respiro fundo e puxo os bracinhos dela, trazendo Helena para perto de mim. - Certo. Vamos fazer o seguinte, você volta para o seu quarto, e eu… Vou dar um jeito nisso, tudo bem? - questiono com as sobrancelhas arqueadas, e a menina faz que sim com a cabeça, mordiscando a ponta de seus dedos. Em um gesto involuntário, puxo seu braço e forço sua mão para fora da boca. - Agora vai, mocinha. Daqui a pouco eu subo para ver se você dormiu. - digo por fim, apertando a região de sua cintura, onde sei que a pequena sente cócegas. Ela, por sua vez, solta uma gargalhada encantadora antes de correr em direção as escadas que a levaria ao segundo andar.
No instante em que Helena desaparece do meu campo de visão, volto o meu olhar para o lado externo da casa dos Carter. Puxo todo ar que consigo para dentro dos meus pulmões, e, mentalmente, conto até dez, criando coragem para ir até lá. Então, me levanto.
Caminho em passos lentos até a cozinha, e pela imensa porta de vidro que separava um cômodo do outro, vejo três pessoas sentadas sobre as cadeiras de madeira em frente da churrasqueira, enquanto e uma menina de cabelos loiros estão dentro da piscina. Os cinco gargalham de algo que o de costas para mim havia dito e a loira joga um de seus braços em volta do pescoço de , roçando seu nariz na bochecha dele. Esse gesto íntimo entre os dois acaba me causando uma sensação estranha qual, prontamente, ignoro.
“Deve ser saudade do Arthur”, penso, balançando a minha cabeça na negativa enquanto abro a porta que me levaria até a outra área da casa.
De início ninguém parece notar minha presença, e em um gesto comum de nervosismo, umedeço a minha garganta e puxo ainda mais as mangas do moletom, cobrindo inteiramente meus braços. Involuntariamente começo a me questionar como e aquela menina conseguiam estar dentro da piscina mesmo com o vento gelado que esfriava a noite londrina.
É quando estou presa aos meus pensamentos que a amiga de nota a minha presença. Ele afasta o seu rosto do , estica o pescoço, e estreita seu olhar em direção ao meu. Em um gesto irreflexo, entorto o canto dos meus lábios em um sorriso tímido.
- Quem é ela? - a ouço perguntar. , por sua vez, desvia a sua atenção dos outros amigos e olha para a menina ao seu lado. Com a própria cabeça, a loira indica a direção onde estou, e sem hesitar, vira o rosto de encontro ao meu.
Mais uma vez, uma sensação incômoda e desconhecida atinge o meu peito no instante em que assisto os olhos dele revirarem em um gesto de total desdém à minha presença. Involuntariamente, o sorriso desaparece do meu rosto.
- É a aupair dos meus irmãos. - ele profere, com os olhos cravados em mim. - O que você quer, ? - questiona com certa arrogância, e eu respiro fundo, umedecendo meus lábios antes de respondê-lo.
- Helena não consegue dormir. - dou de ombros, esfregando a têmpora com a ponta de meus dedos.
- Ela está doente? - pergunta, com as sobrancelhas arqueadas. Seus braços estão cruzados um no outro e apoiados sobre o azulejo gelado do chão, enquanto a loira ao seu lado se mantém pendurada em seu pescoço.
- Não. - rebato depois de alguns segundos em silêncio, analisando a cena.
- Então…?
- Vocês estão fazendo muito barulho. - profiro de uma vez, escondendo minhas mãos no bolso traseiro da minha calça. Vejo arquear as sobrancelhas, aparentemente surpreso.
- É por isso que Helena não consegue dormir? Por causa do barulho? - ele questiona, franzindo o cenho. Sem hesitar, balanço a cabeça na afirmativa.
então lança um olhar rápido para a menina ao seu lado e um sorriso sacana escapa de seus lábios. Meus olhos ficam atentos aos seus movimentos a partir do instante em que ele se desvencilha do abraço da loira e se aproxima da escada que o tiraria de dentro da piscina. Nesse momento, os segundos viram horas e tudo parece transcorrer em câmera lenta, como se eu estivesse assistindo a uma cena de Baywatch.
O sai da piscina e balança a cabeça de um lado para o outro, na intenção de se livrar do excesso de água preso aos seus cachos. A bermuda amarela que ele usava estava encharcada, com o tecido preso às suas coxas, e as tatuagens espalhadas pelo seu tronco desnudo acabam atraindo minha atenção.
caminha na minha direção enquanto eu me mantenho - constrangidamente - hipnotizada pela borboleta desenhada na região bem abaixo de seu peito. Por motivos até então desconhecidos por mim, sinto vontade de percorrer cada traço daquele desenho com a ponta dos meus dedos.
De repente, ouço a gargalhada de uma das meninas e isso faz com que eu acorde do transe. Pisco os olhos algumas vezes e noto que já está a uma distância mínima de mim. Ele, então, inclina o corpo para frente e estica o braço, tentando alcançar uma das toalhas sobre o balcão de mármore atrás de mim. Involuntariamente meus músculos enrijecem no instante em que - por conta da proximidade - inalo o aroma adocicado de baunilha em seu perfume, misturado com o cheiro do cloro preso em sua pele.
- E o que você sugere que a gente faça? - ele questiona, com um tom de voz mais aveludado, e eu me sinto intimidada pela forma com que seus olhos observam cada um dos traços no meu rosto.
- Bom, vocês podem… - umedeço meus lábios e encolho meus ombros, desviando o olhar para o chão, em busca de uma resposta qualquer. - Vocês podem abaixar a música, ou ir lá para dentro. A janela do quarto de Helena fica bem aqui em cima, então… - nesse instante sou interrompida pelo som da gargalhada estridente que escapa pelos lábios de . Sem entender, franzo o meu cenho no momento em que vejo ele lançar um olhar rápido para os amigos.
- Você não acha que eu vou seguir o seu conselho, acha? - seu tom de voz está carregado de deboche, e isso acaba me irritando. Repentinamente, todo o receio e timidez de minutos atrás desaparecem e eu finalmente consigo sustentar meu olhar contra o seu, aprumando a minha postura e cruzando os braços na frente do meu peito. - Por favor, … - revira os olhos , voltando sua atenção para mim, e desconfiada, estreito meus olhos enquanto tento analisar suas expressões faciais.
Ele estava diferente.
Definitivamente o que aconteceu na segunda feira passada trouxe consequências, e - de certa forma -, não era mais o mesmo. Sei que não conheço ele há tempo suficiente para apontar suas mudanças, mas, nesse caso, era perceptível para qualquer um.
- Se a minha irmã não consegue dormir, isso é um problema seu. - o dá de ombros e eu arqueio minhas sobrancelhas. - Você que vá até lá e faça com que ela durma, independente das circunstâncias. Afinal, esse é o seu trabalho, não é? - questiona, e involuntariamente, balanço minha cabeça de um lado para o outro, um tanto quanto confusa.
- Por que você está agindo como um idiota? - pergunto, ignorando seu comentário. Meu tom de voz é baixo e sereno, e , por sua vez, parece se surpreender, relaxando momentaneamente a expressão em seu rosto.
- Eu não estou agindo como um idiota. Eu sou assim, bonitinha. - ele dá de ombros depois de alguns segundos em silêncio.
“Não, você não é.” meus pensamentos gritam, mas eu permaneço em silêncio, enquanto meus olhos estão fixos aos dele tentado descobrir o real motivo para aquela mudança repentina de comportamento.
- Irmão, tudo bem. Não precisa disso. - um dos amigos dele profere, atraindo a atenção de para si.
- Mitch está certo, e de qualquer forma, nós exageramos. - meu olhar vai de encontro a menina sentada sobre as pernas do rapaz que tinha acabado de se manifestar. Ela, por sua vez, dá de ombros, e eu vejo revirar os olhos de um jeito um tanto quanto infantil. - Não se preocupe, nós vamos abaixar o volume da música. - a garota sorri, cheia de simpatia, e eu agradeço sem proferir uma palavra sequer.
Decido então que é hora de sair dali e voltar a deixá-los à vontade. Lanço mais um olhar rápido para , que, dessa vez, parece me evitar e mantém seus olhos cravados no chão, enquanto usa as mãos para chacoalhar seus cachos molhados. Involuntariamente um sorriso minucioso escapa pelos meus lábios, e eu finalmente viro o meu corpo em direção à porta que me levaria de volta à parte interna da casa dos Carter.
- Ei, espera! Por que você não fica aqui com a gente? - ouço um tom de voz masculino questionar, e em um movimento irreflexo, giro meu corpo de encontro a eles mais uma vez. Confusa, olho para os lados para ter certeza de que ele estava falando comigo.
- É verdade! Nós compramos muita bebida, e eu imagino que você tenha muita história para contar para gente. - a mesma garota de antes se manifesta, e eu arqueio as minhas sobrancelhas.
- Eu não teria tanta certeza. - murmura em um tom de voz alto o suficiente para que eu escute, e volte minha atenção para ele, que continua com o rosto virado para baixo e os braços presos atrás de seu corpo.
- Eu não sei se é uma boa ideia… - dou de ombros, devolvendo meu olhar para a amiga de , que entorta seus lábios em um sorriso decepcionado. - Amanhã eu preciso acordar cedo para cuidar das crianças, e…
- Ah, qual é? Eles têm razão. - a loira, que antes estava ao lado de , atrai a minha atenção para a piscina, e eu a vejo dar de ombros. - Nós poderíamos brincar de alguma coisa como… Never Have I Ever, o que acham? - ela questiona com as sobrancelhas arqueadas, e os outros comemoram a ideia. Eu, por outro lado, puxo o ar para dentro dos meus pulmões e me preparo para negar aquela proposta, no entanto, sou rapidamente interrompida pela gargalhada estridente que escapa da boca de no instante seguinte.
- Você está de brincadeira, Paige? - o questiona, tentando recuperar seu fôlego. - Não teria graça brincar disso com a . - ele profere, e sem entender, franzo meu cenho enquanto o olho.
- E por que não? - a outra garota questiona curiosa, e involuntariamente, devolve seu olhar para mim. Ele me analisa dos pés à cabeça, e um sorriso sacana percorre seus lábios antes de responder a amiga.
- Porque ela é virgem. - dá de ombros, com os olhos cravados nos meus. De repente, me sinto trancada em uma caverna e as vozes dos outros parecem ecos bem distantes de mim. A única coisa que consigo fazer é encarar , com um semblante atônito em meu rosto. - Que tipo de coisas extraordinárias vocês acham que ela já fez? - ele pergunta, com a voz carregada de deboche, desviando momentaneamente o olhar para os amigos.
- Isso é sério? - ao longe ouço uma das garotas questionar.
“Como ele sabe?”, é o único questionamento que se passa pela minha cabeça enquanto mantenho meus olhos cravados em . Completamente estarrecida.
Ele, por sua vez, volta sua atenção para mim, e como se pudesse ouvir o que se passava dentro da minha cabeça, dá de ombros antes de proferir o seguinte:
- Eu reconheço um anel de castidade quando vejo um - profere, como se pudesse ouvir os meus pensamentos, e lança um olhar rápido para a minha mão esquerda. Involuntariamente toco o anel no meu anelar com a ponta do meu polegar.
Não sei exatamente como reagir. É a primeira vez que me encontro em uma posição de tamanha exposição, e nunca imaginei que alguém pudesse vir a descobrir sobre isso por conta do meu anel. Permaneço boquiaberta, sem proferir uma palavra sequer, enquanto os olhos de queimam a minha pele.
- , já chega irmão. - um dos garotos volta a se manifestar, mas não desvia o olhar do meu.
- Você está bem? - ouço uma voz feminina questionar, e de repente pareço voltar para realidade. Noto, então, que a garota de cabelos escuros tinha se aproximado de nós e agora estava ao lado do amigo, consequentemente, em minha frente. - Por favor, tenta ignorar o comentário desse imbecil, e… - ela lança um olhar de reprovação para o amigo, que revira os olhos, entediado. - Fica aqui com a gente. Nós podemos só conversar, “eu nunca” sempre foi um jogo meio idiota mesmo. - a garota dá de ombros e eu vejo cerrar seus olhos sobre mim então.
- Não, eu acho melhor não. - profiro, aprumando minha postura, e um sorriso torto surge nos lábios da menina. - Como eu disse, amanhã preciso acordar cedo, e de qualquer forma, prometi à Helena que passaria no quarto dela antes de ir dormir. - dou de ombros, escondendo minhas mãos nos bolsos traseiros do meu short.
- Tudo bem, fica para a próxima então. - a garota sorri simpática, e eu me esforço para retribuir.
Em seguida, devolvo meu olhar para , e antes de seguir meu caminho para o interior da casa, decido dar alguns passos em frente, diminuindo a distância entre nossos corpos. Ele, que até então estava de cabeça baixa, ergue o seu rosto de encontro ao meu e eu noto um semblante totalmente diferente do de segundos atrás.
- Só quero que você saiba que o que você acabou de dizer, não é vergonha alguma para mim. -digo com meu rosto rente ao dele e meus punhos cerrados, então percebo que seu olhar está atado a uma determinada região do meu rosto, que não é a dos meus olhos. - Então, se você tinha a intenção de me ridicularizar por isso, sinto em te informar que você falhou nessa missão. - dou de ombros e assisto seus lábios se afastarem um do outro algumas vezes. Imagino que ele está prestes a dizer algo, então me apresso para interrompê-lo. Eu não aceitaria um pedido de desculpas. Não agora. - Tenham uma boa noite, eu não vou mais atrapalhar vocês. - profiro, desviando o olhar de para seus amigos que entortam seus lábios em sorrisos envergonhados e permanecem em silêncio até que me viro e apresso meus passos, saindo de uma vez daquele lugar.
Narrador Avulso.
Assim que se certifica de que Helena tinha conseguido dormir, corre para o seu quarto e bate a porta atrás de seu corpo. Nervosa, ela esfrega seu rosto com as mãos, sentindo suas bochechas queimarem.
- Não teria graça de brincar disso com a , porque ela é virgem, blá, blá, blá. - a revira os olhos e força o seu melhor sotaque britânico, ridicularizando as palavras usadas por há minutos atrás. - Quem ele pensa que é para falar sobre isso? - ela questiona, apertando seus olhos com o dedo indicador.
Sem pensar, caminha em direção a janela que a proporcionaria uma visão privilegiada da área externa da casa. No instante em que afasta as cortinas, os olhos de encontram Paige, agora fora da piscina, novamente pendurada no pescoço de , e ele, por sua vez, estava com um dos braços em volta da cintura da loira, enquanto um sorriso largo marcava o semblante em seu rosto. Isso faz com que sinta ainda mais raiva.
- Você é um idiota, . - a profere, notavelmente irritada, com os dedos cravados no tecido cinza da cortina. - Com esse sobrenome brega, esse sotaque insuportável, e esse sorriso inconveniente. Parabéns, um completo idiota! - bate os pés com força no chão de madeira e fecha a cortina, bufando.
Nesse mesmo instante, sente seu celular vibrar no bolso traseiro de seu short. Desnorteada, a garota saca o aparelho em suas mãos e nem ao menos se preocupa em checar de quem era a ligação.
- Alô! - Ela atende, um tanto quanto rude, e a pessoa do outro lado da linha se surpreende.
- , tudo bem? - a reconhece a voz de sua melhor amiga e respira fundo, tentando se acalmar.
- Oi Rafa… Me desculpa, eu estou um pouco irritada. - confessa, liberando um sorriso envergonhado pelos seus lábios e esfregando a têmpora com a ponta dos dedos de sua mão livre.
- O que aconteceu? - o tom de voz de Rafaela é um pouco hesitante, mas não parece perceber.
- Nada demais, é besteira. - rebate, balançando a cabeça de um lado para o outro, tentando afastar os pensamentos sobre o que tinha acabado de acontecer. - Para ser sincera, fico feliz que você tenha ligado. Eu estava mesmo precisando conversar com alguém do Brasil. - profere, se sentando sobre a cama. Como resposta, a recebe o silêncio da melhor amiga e isso a intriga. - Tá tudo bem? – questiona, e do outro lado da linha, ouve Rafaela suspirar pesado.
- Tudo, eu só… - a garota faz uma pausa, em busca das melhores palavras, e franze o cenho, aprumando sua postura. - Eu precisava te contar uma coisa, mas não acho que é o melhor momento. - profere. Imediatamente sente seu coração acelerar, e as piores possibilidades começam a passar pela sua cabeça.
- O que aconteceu, Rafa? – a insiste em saber, e novamente, Rafaela respira fundo. - Aconteceu alguma coisa com os meus pais?
- Não! - Rafaela se apressa em dizer, e volta a respirar aliviada. - É sobre o Arthur… E a Renata. – profere, e, sem entender, franze o cenho.
- O que tem eles? - pergunta, um tanto quanto intrigada, e mais uma vez ouve a amiga suspirar do outro lado da linha. – Fala, Rafaela! O que aconteceu?
- Eu acho que é melhor você ver com os seus próprios olhos. - a garota rebate, deixando desconfiada. - Vou te enviar um vídeo para você entender do que estou falando, e se quiser me ligar depois para conversar… Eu vou estar à sua disposição.
- Certo… - profere, bastante confusa, e em seguida, a amiga desliga a ligação.
então joga suas costas sobre o colchão e espera até que a mensagem de Rafaela chegue. No instante em que isso acontece e a ouve seu celular apitando, ela não hesita em pegar o aparelho para entender do que se tratava.
O vídeo em questão pode parecer inofensivo, se olhado uma só vez. Por esse motivo, decide repeti-lo, e quando isso acontece, reconhece - imediatamente - o vestindo uma blusa laranja no canto do fundo esquerdo da tela. Com dois dedos, ela estica a imagem, dando zoom naquilo que a interessava, e finalmente entende o que Rafaela queria dizer.
Com um dos braços envolvendo o tórax de Arthur, e as pernas sobre o colo dele, consegue ver Renata, outra amiga da igreja. Boquiaberta, a nota que uma das mãos de seu noivo estavam entre as coxas da garota, enquanto a mesma dizia algo em seu ouvido que o fazia rir.
precisou dar o play na mídia pelo menos mais três vezes até decidir jogar o celular de lado, no momento em que sente seu crânio comprimir, e constata que Arthur estava se envolvendo com quem ela considerava uma de suas melhores amigas.
“Traição dupla”, que ótimo - ela pensa, cobrindo seus olhos com uma de suas mãos.
- Filho da puta. - murmura depois de alguns segundos em silêncio, socando o colchão com a sua mão livre.
São quase duas e meia da manhã quando checa o horário em seu telefone pela milésima vez. Não tinha conseguido dormir até agora, e estava com a sensação de que sua cabeça poderia explodir a qualquer momento, já que a única coisa em que conseguia pensar era em como podia ter sido tão idiota e confiado em Arthur.
A verdade é que nunca soube se estava - de fato - apaixonada por ele. Os dois se conheceram durante a infância, quando os pais de Arthur se mudaram para a cidade de e começaram a frequentar a mesma igreja que a família da garota. Assim como ela, o garoto também tinha uma vida muito centrada na religião, e seus pais eram tão severos quanto os de . Foi justamente isso que acabou resultando no relacionamento dos dois.
Eles começaram como amigos que frequentavam o grupo de jovens, e assistiam à todas as missas juntos. No entanto, conforme foram amadurecendo e suas necessidades aparecendo, os dois acharam que seria uma boa ideia engatar um namoro. O problema é que, no instante em que seus pais souberam desse relacionamento, levaram a situação a outro patamar, e o que era para ser um namoro inofensivo entre dois adolescentes, acabou se transformando em um noivado forçado.
No início, não se importou, até porquê cresceu ouvindo os pensamentos ortodoxos de sua família em relação ao sexo, e por isso, imaginou que quanto mais cedo dissesse sim a um homem, mais cedo perderia a sua virgindade. Sendo bem sincera, essa era uma das coisas que mais importavam para naquele momento, e foi em Arthur que ela encontrou a maneira perfeita de se libertar de uma das regras que ela mais discordava em relação a criação dada por seus pais.
Por que o sexo entre um casal só pode ser aceito se ocorrer depois do casamento?
Quem disse isso? Deus?
Depois que começou a estudar e entender que as coisas não precisavam ser tão severas, não conseguia entender como, em pleno século XXI, o sexo ainda era visto como tabu para muitas pessoas, quando na verdade devia ser considerado como uma das coisas mais naturais do mundo, e ela não via a hora de passar por essa experiência. Por esse motivo, não viu problema em aceitar o relacionamento com Arthur e as imposições de suas famílias.
Por mais que soubesse que essa atitude era errada, chegou de fato a acreditar que um dia poderia amar Arthur de verdade, mas isso não aconteceu, e descobrir agora que tinha sido a única fiel a essa mentira, era absurdamente frustrante.
A sente sua garganta seca implorar por água, e mentalmente ela se culpa por não ter deixado um copo cheio na bancada como de costume. Como já não conseguia ouvir barulho algum vindo da área externa da casa, supõe que os amigos de já tivessem ido embora, e por isso decide se levantar e ir até a cozinha em busca de algo que pudesse matar sua sede.
desce as escadas até o primeiro andar e cegamente percorre os cômodos, coçando o topo de sua cabeça enquanto seus pensamentos estão a mil por hora. Porém, se surpreende no momento em que ergue seu rosto e encontra - vestindo uma calça de moletom cinza e uma blusa preta, enquanto uma parte de seus cabelos úmidos estava presa com uma pequena piranha, também preta – , com o corpo apoiado no mármore gelado da pia da cozinha.
- Problemas para dormir? - ele questiona, entortando a ponta dos lábios, e dá de ombros, indo em direção à geladeira.
- Você também? - pergunta, desviando o olhar para ele no momento em que pega uma garrafa de água em suas mãos. , por sua vez, balança a cabeça na afirmativa e acompanha os movimentos da garota enquanto ela serve um pouco de água em uma xícara branca.
- Eu acho que te devo um pedido de desculpas, . - o profere, mordendo os beiços, e a menina suspira pesado, balançando a cabeça de um lado para o outro. Depois que soube como estava sendo feita de idiota no Brasil, a atitude infantil de perdeu importância para a garota.
- Não precisa. Como eu disse, o que você falou não é motivo de vergonha para mim. - ela rebate com certa indiferença, umedecendo seus lábios com o líquido gelado pela primeira vez.
- Mesmo assim, esse é um assunto pessoal seu, e eu não tinha o direito de sair contando para as pessoas. Eu fui um idiota, então, me desculpa. - consegue perceber sinceridade pelo tom de voz do rapaz, e então balança a cabeça na afirmativa, entortando o canto de seus lábios em um sorriso singelo. , por sua vez, solta um suspiro aliviado e volta a apoiar seu corpo contra o balcão, desviando seu olhar para o chão.
- O que aconteceu? - questiona, deixando sua curiosidade falar mais alto. Sem entender, lança um olhar confuso na direção da menina. - Eu não te conheço há muito tempo, mas sei que você não é assim, então… - ela morde os beiços meio envergonhada, e assiste enquanto respira fundo e ergue seu rosto de encontro ao teto da cozinha. - O que aconteceu?
- Você se lembra daquele convite que eu recebi segunda-feira? - o questiona depois de alguns segundos em silêncio, e balança a cabeça na afirmativa, virando seu corpo de frente para ele. - Aparentemente, é para o aniversário da minha avô paterna. - ele dá de ombros, fazendo uma pequena pausa entre as palavras, e a arqueia as sobrancelhas, notavelmente surpresa, o que faz soltar um riso leve. - Além disso, acabei descobrindo que durante todos esses anos, a família do meu pai tentou entrar em contato comigo através de cartas, mas minha mãe escondeu todas antes que elas pudessem chegar em mim. - profere por fim, e o encara boquiaberta, tentando processar as informações.
- Bom, agora tudo faz sentido. - a arregala os olhos, e solta uma gargalhada ao notar o semblante engraçado em seu rosto.
- Eu estava mesmo agindo como um babaca, não é? - ele questiona, e, envergonhada, franze o nariz, balançando a cabeça na afirmativa. - Me desculpa, eu não sou assim, e fico feliz que você tenha notado. - entorta o canto de seus lábios em um sorriso singelo, e involuntariamente, faz o mesmo.
- Você vai? - pergunta, curiosa, e franze o cenho sem entender. - Para o aniversário da sua avó.
- Não sei se é uma boa ideia. - o rebate, balançando a cabeça na negativa e cruzando os braços na frente do seu próprio peito. - Ela mora em Amsterdã, e, bom… Eu não acho que quero conhecer meu pai. - dá de ombros, meio envergonhado, e suspira.
- Eu acho que você deveria pensar na possibilidade. - dá de ombros, atraindo o olhar de para si mais uma vez. - E também acho que isso vai além do seu pai, . É a sua família, e se ela te mandou um convite, é porquê quer ver você lá. Você não sente vontade de conhecê-la? De saber como eles são? De saber de onde veio esses olhos no seu rosto? – a garota questiona, arrancando um riso dos lábios de .
- Você repara muito em mim, . - ele profere, e automaticamente revira os olhos.
- Ah, por favor! Eu estou falando sério!
- Eu não sei. - rebate, encolhendo os ombros. - Eu preciso pensar bem antes de tomar qualquer decisão. – profere por fim, e um sorriso torto escapa pelo rosto de . A garota então se vira de frente para o balcão, e o rapaz aproveita os minutos de silêncio que se seguem para observá-la. É quando a curiosidade fala mais alto e cerra seus olhos desconfiado. - E com você, o que aconteceu? - questiona, puxando a garrafa com água para perto de si e servindo um pouco no copo vazio sobre o balcão. , sem entender, desvia seu olhar para ele, franzindo sua testa. - Qual o motivo da sua insônia, ? - insiste em saber, e a respira fundo no momento em que se lembra do que tinha visto no vídeo enviado por Rafaela.
- Eu descobri que o meu noivo está me traindo. - ela rebate com certa indiferença, e engasga com o líquido em sua boca. - Com uma das minhas melhores amigas. - dá de ombros, e boquiaberto, a encara em silêncio.
- E-eu sinto muito. - profere, um tanto quanto estarrecido, e a sorri, balançando a cabeça de um lado para o outro.
- Não sinta. Não é como se eu fosse apaixonada por ele. - ela revira os olhos entediada, e franze o cenho, limpando os cantos molhados de sua boca com o dorso de sua mão. - Só é frustrante pensar que passei todo esse tempo me prendendo a uma pessoa que não estava sendo tão fiel quanto eu.
- Se você não amava esse cara, por que ficou com ele por tanto tempo? - o jovem se interessa em saber, e respira fundo antes de respondê-lo.
- Porque eu sou uma idiota e achei que ficaria livre das regras da minha família no momento em que me casasse com o Arthur. - suspira por fim, e involuntariamente, os olhos de percorrem por toda extensão do braço da garota, em busca do anel em seu dedo anelar. Olívia, por sua vez, nota o olhar nada discreto do e solta um riso leve antes de questioná-lo. - Como você soube? - imediatamente, os olhos de voltam de encontro aos de , e, confuso, o garoto franze o cenho. - Sobre o meu anel, . Como você soube sobre o meu anel?
- Eu passei alguns meses em uma cidade perto de Lisboa, e lá as pessoas são bastante religiosas, então o voto de castidade é algo bem comum. – o dá de ombros, e em um ato irreflexo, arqueia as sobrancelhas. - Naquela nossa primeira conversa aqui na cozinha eu reparei o anel, e… Bom, não foi difícil ligar os pontos com a tatuagem e o escapulário no seu pescoço.
- Uau! Você é mesmo do tipo observador. - a profere, um tanto quanto surpresa, e um sorriso maroto surge nos lábios de .
- Eu disse que tínhamos isso em comum, . - Mais uma vez o rapaz dá de ombros e revira os olhos enojada, levando a xícara com água até seus lábios. - Eu posso te fazer uma pergunta? - depois de poucos minutos em silêncio, questiona, mordendo os beiços em seguida, e, sem hesitar, balança a cabeça na afirmativa. - Você nunca… - envergonhado, o abaixa a cabeça e coça os poucos cabelos em sua nuca, o que faz rir.
- Você pode perguntar, . Eu já disse que não tenho vergonha disso. - a pisca um de seus olhos e o semblante sereno em seu rosto faz relaxar.
- Você nunca teve curiosidade? - ele questiona, visivelmente curioso.
- Em relação ao sexo? - a menina pergunta, e imediatamente balança a cabeça na afirmativa, aprumando sua postura. suspira. - Claro que sim - confessa, revirando seus olhos em seguida. - É até patético pensar que várias vezes eu tentei quebrar esse voto com o Arthur, mas ele sempre me pareceu muito firme e decidido, sabe? Hoje eu já não tenho tanta certeza em relação a essa força de vontade dele. - solta um longo suspiro, e um sorriso sem humor escapa pelos seus lábios. - Acho que, na verdade, ele não se sentia atraído por mim.
- Então ele é cego. - deixa que seus pensamentos escapem pela sua boca, e imediatamente arqueia as sobrancelhas ao ver os olhos estreitos de sobre os seus. Envergonhado, ele revira os olhos e sorri de um jeito nervoso. - Me desculpa, , mas para um homem não querer quebrar o voto de castidade com você, ele tem que ser, no mínimo, cego… - dá de ombros, e o encara boquiaberta. - … Ou gay. Você tem certeza de que esse Arthur não é gay? - o questiona, cerrando os olhos , e um riso escapa pelos lábios de . Involuntariamente um sorriso surge no rosto de .
- Ele não me pareceu muito gay no vídeo que me mandaram. - a garota rebate com certa indiferença, e revira os olhos, encostando seu corpo contra o balcão novamente.
- Então ele é idiota… - cruza os braços na frente de seu peito, atraindo a atenção de para si mais uma vez. - E burro, porque no lugar dele, eu não pensaria duas vezes. - ele dá de ombros, devolvendo seu olhar para a garota, que imediatamente sente suas bochechas ruborizarem.
Os segundos seguintes vêm acompanhados por um silêncio ensurdecedor. Enquanto acaba com o líquido dentro do copo em suas mãos, encara o chão e alguns questionamentos surgem em sua cabeça.
- Eu posso te fazer uma pergunta? - dessa vez é a quem questiona, erguendo seu rosto para , que, por sua vez, dá de ombros. - Você me acha bonita? - envergonhada, morde seu lábio inferior, e a olha de soslaio. Em seguida, o vira seu corpo de frente para o dela, encostando apenas sua cintura na pedra gelada de mármore.
- Eu não tenho problema algum em dizer que sim, - ele dá de ombros, com os olhos cravados aos dela. sente um arrepio desconhecido percorrer toda extensão de sua espinha no instante em que ouve proferir seu nome.
“Maldito sotaque.”, seu pensamento esbraveja, e involuntariamente, a garota balança a cabeça de um lado para o outro, umedecendo sua garganta e mordendo o canto de seus beiços.
- Então é uma pena que não tenha sido você no lugar dele. - o tom de voz de é baixo, quase inaudível, mas alto o suficiente para que escute. Surpreso, ele arregala os olhos, mas logo em seguida relaxa, liberando um sorriso maroto por seus lábios.
- É, eu acho que sim. - dá de ombros momentaneamente, franzindo seu cenho. Ele então lança um olhar curioso para a garota, que mantém seu rosto virado para baixo, a estudando de cima à baixo, antes de balançar a cabeça na negativa, afastando boa parte de seus pensamentos, então inclina o corpo para frente e apoia o copo sobre a pia molhada. Novamente sente seus músculos entrarem em sinal de alerta por conta da proximidade com o rapaz. - Boa noite, . - profere, com a voz aveludada, puxando a atenção da garota para seus olhos , e umedece a garganta, fechando os olhos em seguida.
Saber que alguém como a achava bonita era uma situação totalmente nova para . Nossa menina passou boa parte de sua adolescência, e o início de sua vida adulta, presa a um cara que evitava ao máximo tocá-la. O que, para qualquer outra garota, poderia ser comum e até mesmo excitante, para era um tanto quanto curioso.
Talvez por estar com raiva do que Arthur tinha feito, ou talvez por querer desesperadamente se livrar das amarras ortodoxas de sua criação, uma possibilidade específica começa a rondar seus pensamentos.
Como foi dito, aquele era um mundo novo para , mas um rapaz como a achava bonita, então… e se?
É quando ela se lembra de ter visto em um filme que as palavras “e”, e “se”, por si só não representam nenhuma ameaça, mas se colocadas juntas, tem o poder de nos assombrar a vida inteira. E se… E se… E se… Aquele era sim um mundo novo, e estava ansiosa para conhecê-lo.
- ! - ela o chama assim que o rapaz passa pela divisão entre a cozinha e a sala de jantar. Involuntariamente vira de encontro a , e ela respira fundo, antes de questionar. - Você tem experiência com isso, não tem? - sem entender, o une suas sobrancelhas e suspira, esfregando os olhos. - Com o sexo. Você tem experiência com o sexo, não tem? - ela morde os beiços um pouco constrangida, e leva alguns segundos para processar sua pergunta e relaxar o semblante em seu rosto.
- Se por experiência você quer saber se eu já fiz isso, então… Sim. - profere, dando alguns passos de volta em direção à . - Eu tive alguns relacionamentos, e me envolvi com…
- Por que você não me ensina? - aproveita a sua dose súbita de coragem e se apressa em interromper , que imediatamente se cala para olhá-la. A menina então morde o lábio inferior com um pouco mais de força, e crava os dedos no mármore gelado, enquanto mantém o ritmo de seus passos até ela.
- O que você disse? - questiona para garantir que não estava sendo vítima de sua própria audição. Ele para a poucos metros de distância de , e, acanhada, ela procura olhar para qualquer coisa que não fossem os olhos de .
- Por que você não me ensina? - a repete sua pergunta, dessa vez em um tom de voz mais baixo do que antes.
- Sobre sexo? - pergunta, com as sobrancelhas parcialmente arqueadas, e sente um frio gelado percorrer seu peito. - Você quer que eu te ensine sobre sexo, é isso? - o insiste em saber, movendo seu rosto em busca dos olhos de . Por mais que seus pensamentos estivessem uma bagunça, e o anjinho sentado em seu ombro esquerdo condenasse sua última decisão, ela não tinha como voltar atrás.
Ela não podia voltar atrás.
então inspira todo o ar que consegue para dentro de seus pulmões e encontra coragem para erguer seu rosto de encontro ao de . No instante em que seus olhos cruzam com os dele, a garota perde um pouco da sua habilidade de raciocínio. estava muito perto, e só agora tinha percebido o quão atraente ele era.
- Eu quero que você me mostre tudo o que eu poderia ter feito enquanto me guardava para o idiota do meu ex. - a profere, ignorando sua racionalidade, e um sorriso sacana surge no rosto de . Ele, por sua vez, apoia cada uma de suas mãos em um lado da pia, encurralando o corpo de contra a pedra de mármore.
- Você sabe que o jeito mais fácil de fazer isso seria tocando em você, não sabe? - questiona e sente a respiração do garoto cortar seu rosto. Ela umedece os lábios, e prontamente balança a cabeça na afirmativa. - E você também sabe que eu não vou fazer isso se você não quiser, não é?
- Por Deus, . - um riso leve escapa pelos lábios de e ela revira seus olhos, desviando momentaneamente sua atenção do rosto do rapaz. - Eu juro pela minha vida que durante todos esses anos eu fui uma boa menina. - faz uma pausa entre as palavras, voltando seu olhar de encontro ao dele. Fascinado, observa enquanto a garota passeia a ponta da língua pelo lábio inferior, tentando umedecê-lo. - Mas eu cansei. - a dá de ombros, chamando os olhos de para os seus. - Então, por favor, faça o que você precisar fazer. - morde os beiços e seu coração acelera. O rosto de está rente ao seu e seus músculos arqueiam, se preparando para os próximos passos do rapaz.
No entanto, outro sorriso sacana surge nos lábios de e ele solta um longo suspiro, dando alguns passos para trás, se distanciando de .
- Tudo bem. - ele profere por fim, antes de dar as costas à e caminhar em direção a saída da cozinha. Atônita, acompanha os movimentos de com os olhos e pode jurar que consegue ouvir o anjinho em seu ombro dizer: eu avisei.
O que isso significa?
Ele está de brincadeira comigo?
Os pensamentos da garota se embaralham dentro da sua cabeça e não sabe como reagir, até que para de andar e, novamente, se vira de encontro à ela.
- Você vem, bonitinha? - ele questiona.
Capítulo 3
Chase Atlantic, Swim
A palavra “paraíso” é usada para se referir ao primeiro lar da humanidade: o jardim do Éden. A Bíblia diz que esse jardim era um lugar real, onde o primeiro casal humano vivia livre de doenças e da morte, no entanto, Adão e Eva perderam seu lar paradisíaco no momento em que desobedeceram a Deus.
Em passos lentos e receosos, percorre toda extensão do corredor que a levaria até os quartos. segue na sua frente, sem olhar para trás, a guiando pelo caminho conhecido daquele que costumava ser seu quarto antes do rapaz chegar. Nervosa, as mãos da começam a tremer e ela estala os dedos, enquanto seu coração palpita e um vento gélido percorre seu peito.
Ela estava mesmo prestes a fazer isso. Sem nenhum tipo de preparação. Agora. Já!
Não parecia certo.
Mas não parecia errado.
Em determinado momento, está tão imersa em seus pensamentos que nem sequer percebe que desapareceu do seu campo de visão. Receosa, a jovem para em frente a porta do quarto do garoto e olha de um lado para o outro em busca de algum sinal. dá dois passos para frente, entrando de vez no cômodo, mas, como mágica, não estava ali. Pelo menos não em algum lugar onde os olhos da garota pudessem alcançá-lo.
De repente, os músculos de relaxam e ela respira calmamente, soltando um sorriso abobalhado por seus lábios. Com isso a conclui que tinha desistido da ideia prematura, e por conseguinte, ela tinha ganhado mais tempo para se preparar.
No entanto, assim que gira seu corpo em direção à saída do quarto, sente uma leve pressão em seu punho esquerdo, e em seguida é puxada para o lado e prensada contra a parede. Com o susto, a acelera o ritmo de sua respiração e demora algum tempo para que seus olhos focalizem a imagem de bem em sua frente.
Enquanto o encara estarrecida, um sorriso torto e vitorioso surge no rosto de . Ele então agarra firmemente os pulsos de e roça a ponta de seu nariz no dela, arqueando os pelos do corpo da garota com seu toque.
- Regra número um, bonitinha... - faz uma breve pausa entre as palavras e umedece seus beiços com a ponta da língua, enquanto observa os da garota. Atônita, franze o cenho sem entender. - Não crie expectativa. - antes mesmo que consiga protestar ou formular alguma pergunta, se apressa e avança sobre ela, pressionando seus lábios em um beijo urgente.
De início, não reage. Com as mãos imobilizadas no topo de sua cabeça, a garota leva alguns minutos para voltar à órbita e ter noção do que estava acontecendo. No entanto, no instante em que solta seus pulsos e desce as mãos por toda extensão de seus braços, cravando seus dedos na cintura de , a sente a força em suas pernas falharem e se entrega de vez ao rapaz.
O embola seus dedos na parte de baixo do cabelo de e força seu rosto para cima. Ela, por sua vez, solta um grunhido e aperta os ombros de com toda força que lhe é concedida. então começa a adular os lábios de com a ponta de sua língua, até que, involuntariamente, eles se afastam um do outro e o garoto aproveita a oportunidade para invadir a boca da menina com sua língua.
No instante em que suas línguas se tocam, os pensamentos de falam mais alto e ela percebe que aquele era o seu primeiro beijo de verdade. Em todos esses anos de relacionamento, os beijos de Arthur eram sempre mornos e sem graça, muito diferente do que estava fazendo agora. O beijo de tinha um gosto adocicado com um toque de amargura, devido ao resquício de álcool preso aos seus lábios por conta de toda bebida ingerida mais cedo, e a forma com que a mão dele pressionava firmemente a curva da cintura de já era o suficiente para que ela enlouquecesse.
envolve seu braço no corpo de e a afasta da parede, colando ainda mais seus corpos. Cegamente, ele a guia pelo quarto com destreza, enquanto a acaricia a região de sua nuca com a ponta dos dedos. Não demora muito para que sinta suas pernas colidirem em um dos móveis e impulsiona seu corpo para trás, fazendo com que ela se deite na cama e ele fique por cima, com um joelho de cada lado de sua cintura.
Uma das mãos do garoto volta a segurar um dos pulsos de , e como antes, o imobiliza sobre a cabeça da menina, soltando seus lábios e afastando seu rosto do dela em seguida.
- Preciso confessar que há um tempo venho querendo te beijar, bonitinha. - dá de ombros e um sorriso sacana escapa por seus lábios no momento em que, rapidamente, seus olhos percorrem o corpo de imobilizado sob o seu.
- Então não pare. - com a respiração ofegante, tenta erguer seu corpo, na intenção de unir a seus lábios aos de mais uma vez. No entanto, é mais rápido e agarra o pulso livre da garota, juntando-o ao outro sobre sua cabeça. Contrariada, ela resmunga.
- Posso te fazer duas perguntas? - sem entender, franze o cenho. debruça seu corpo sobre o dela. - O que é paraíso, ? - ele questiona, com os lábios rentes à orelha da garota, e os pelos de arqueiam no instante em que a menina sente sua respiração quente bater contra a sua pele. - Segundo a Bíblia, o que é paraíso? - ratifica sua pergunta, e em seguida começa a distribuir beijos leves e tentadores por toda extensão do pescoço de . Ela, por sua vez, fecha os olhos com força e respira fundo antes de respondê-lo.
- É o jardim do Éden, algo sobre... - sua voz falha e perde o raciocínio no momento em que sente sugar uma região delicada de sua pele. - Algo sobre Adão e Eva, e... Eu não consigo me concentrar enquanto você faz isso. - confessa, pressionando um lábio contra o outro, e um riso divertido escapa pelos lábios de . Por conseguinte, ele libera os braços da garota e apruma sua postura, mantendo a cintura dela presa entre seus joelhos.
- Tudo bem, então vou te fazer outra pergunta. - o dá de ombros e umedece os lábios, estranhamente embriagada pela energia dominadora que exalava pelo simples fato de seu corpo estar sobre o dela. - Você já se tocou, bonitinha? - por mais provocativo que seu sotaque possa soar, aquele questionamento faz acordar do universo em que estava imersa, e, envergonhada, sente suas bochechas queimarem.
- Algumas vezes. - profere, tentando evitar todo e qualquer contato visual com os olhos de . - Mas eu não sei se... Não sei se fiz direito. - dá de ombros, levando suas mãos à têmpora. , por sua vez, se apressa e puxa a mão da garota, deixando seu rosto a mostra mais uma vez. Com o polegar e o indicador, o toca a ponta do queixo de e traz o olhar da de encontro ao seu mais uma vez.
- E se eu te disser que... - faz uma breve pausa entre as palavras, e, novamente, apruma a sua postura sobre o corpo de . - E se eu te disser que posso te levar ao paraíso, e ao mesmo tempo, te mostrar a razão pela qual Adão e Eva foram expulsos de lá? - ele questiona, e os olhos de se fixam aos dele enquanto os dedos de percorrem um caminho que iria do ombro da garota, passaria por toda extensão de seu braço, atravessaria a curva da sua cintura e pararia na parte mais baixa de sua barriga. Por consequência, sente seus músculos enrijecerem.
“O quê?” , os pensamentos de gritam, mas a menina se mantém calada e se limita a franzir o cenho, visivelmente confusa com o questionamento de .
- Mas, para isso, eu vou precisar tocar ainda mais em você. - dá de ombros, com um tom de voz baixo e aveludado. Nervosa, sente seu peito comprimir e seu coração acelerar só de pensar no que estava prestes a acontecer. nunca tinha tido contato algum com sexo - a não ser pelas madrugadas solitárias nas quais tentou, inutilmente, se satisfazer sozinha - e, de repente, todos aqueles “e se...” voltam a rondar sua mente. - Você quer conhecer o paraíso, ? - atrai a atenção da de volta para si, e leva alguns segundos para processar seu questionamento.
- Sim. - a morde os beiços e um sorriso torto surge nos lábios de . Em silêncio, ele debruça seu corpo sobre o dela e, novamente, une seus lábios aos de .
Ao contrário do que aconteceu antes, o beijo agora era calmo e sereno. adulava os lábios de com a ponta da sua língua, pedindo passagem para intensificar seus movimentos, e assim que obteve, aproveitou a distração da garota para deslizar sua mão esquerda por dentro do tecido da blusa que ele usava, não indo além de sua cintura. Surpresa com o toque do garoto em sua pele, a menina solta um grunhido e sente ele sugar levemente seu beiço, enquanto sai de cima de seu corpo e se deita ao lado dela.
Lentamente, os dedos de descem pelo corpo de e param rente a barra de elástico da calça do pijama que ela usava na ocasião. Instintivamente, interrompe o beijo e afasta seu rosto do dele, desviando o olhar para a mão dele.
- Você quer que eu pare? - o garoto roça seu nariz na pele do rosto da garota e deposita um beijo em sua bochecha, que faz os pelos de arquearem. Ela, por sua vez, morde o lábio inferior com força e fecha os olhos, puxando todo ar que consegue para dentro de seus pulmões, antes de balançar a cabeça na negativa.
- Eu disse para você fazer o que fosse preciso... Então, por favor, faça. - profere, devolvendo sua atenção para , que faz que sim com a cabeça.
O logo volta a beijá-la e - por mais que tente relaxar e aproveitar cada segundo daquilo - centenas de pensamentos começam a atormentar a cabeça de naquele instante. No entanto, boa parte deles desaparece no momento em que enfia sua mão dentro não só do pijama, como também da calcinha que usava, e a garota sente seus dedos gelados tocarem a sua parte mais íntima. Involuntariamente ela solta um grunhido entre o beijo, e seus músculos se colocam em posição de alerta.
não se sentia exatamente desconfortável ao toque de , muito pelo contrário. Era até estranho pensar que ela se sentia mais à vontade com alguém que ela mal conhecia, do que quando estava com seu - agora – ex-noivo. Porém, era inevitável não encarar toda aquela situação como algo assustador para a garota. Afinal, um desconhecido estava com a mão dentro de sua roupa íntima e, obviamente, isso não era nada comum para , por mais desconstruído que o sexo fosse dentro da sua cabeça.
No entanto, assim como a situação em si era algo novo, a sensação que ela lhe causava também era, e não queria que parasse.
Os dedos do garoto se movimentavam em pequenos círculos, com uma velocidade moderada, e sentia pequenos espasmos que mais pareciam pequenas doses de cargas elétricas cruzando seu corpo de ponta a ponta. Vez ou outra ela sentia sua pele áspera deslizar sobre seu clitóris, e isso duplicava a sensação torturante, no entanto, prazerosa.
Aos poucos, aumenta a velocidade de seus movimentos e começa a reagir ao seu toque com mais intensidade. A fica cada vez mais úmida, e a carga elétrica é cada vez maior e menos suportável. então afasta o rosto do de e volta a olhar para a mão do garoto que, dessa vez, se movia sem intenção alguma de parar.
Involuntariamente, alarga suas pernas, colocando uma sobre as de e dando um maior espaço para que ele continue o que estava fazendo com um pouco mais de conforto. Com o polegar e o indicador, o aperta levemente o clitóris de , deslizando um dedo sobre o outro. Como consequência, ela geme.
- Mais baixo, bonitinha. Não esquece que meus irmãos estão dormindo no quarto ao lado. - ele sussurra bem ao pé do ouvido de , e a menina fecha os olhos com força, tentando se controlar. Já era difícil lidar com o sotaque de em situações corriqueiras, mas em ocasiões como essa, era praticamente impossível.
Os movimentos de estão cada vez mais rápido e a respiração de acelera ainda mais, enquanto seus músculos arqueiam e ela sente uma vontade desesperadora de gritar no instante em que uma onda de choque se espalha pelo seu corpo. Suas pernas estremecem e, então, ela agarra o pulso de , em um grito silencioso para que ele pare.
Sem pressa, o diminui a velocidade de sua atividade até que seus dedos param de se mover e ele retira a mão de dentro da calça de . Estarrecida, a garota encara o teto do quarto com os olhos arregalados, e a observa em silêncio, até que decide erguer a sua postura e se sentar sobre a cama.
- O que foi isso? - ela questiona, notavelmente deslocada, e a olha de soslaio, sem responder sua pergunta. então respira fundo e finalmente consegue forças para erguer e apoiar seu tronco sobre o antebraço. - Essa sensação, , isso foi um...
- Um orgasmo? - questiona, se levantando da cama e virando seu corpo de frente para . Envergonhada, a garota morde o lábio inferior e balança a cabeça na afirmativa. acha graça. - Foi, mas eu prefiro o termo viagem ao paraíso. - ele dá de ombros, com um semblante brincalhão no rosto, e revira os olhos teatralmente.
Em um movimento rápido, retira a blusa preta que usava e a joga no chão. Surpresa, apruma a sua postura e se senta na beirada da cama.
Aquilo ainda não tinha acabado, tinha?
- O que você vai fazer? - ela questiona, e novamente se pega hipnotizada pelos rabiscos no corpo de . Diferente de antes, agora são as folhas de samambaia - uma em cada lado da região mais baixa de sua barriga - que chamam a sua atenção.
- Vou tomar banho, e sugiro que você faça o mesmo. - dá de ombros, atraindo a atenção de para si. Confusa, a garota acompanha os movimentos de com os olhos enquanto o garoto abre o guarda roupa e tira de lá uma blusa limpa.
- Banho? - a questiona, sem entender. - Nós não vamos...
- Transar? - mais uma vez a interrompe, e um sorriso surge em seus lábios no instante em que desvia o olhar do dele e balança a cabeça na afirmativa. - Nós vamos transar, . Só não hoje. - dá de ombros, e pelo suspiro pesado da garota, consegue perceber a sua frustração. Ele então caminha até ela e pousa a mão sobre sua bochecha esquerda, puxando o rosto dela para cima. leva seu olhar de encontro ao dele e sente o polegar de adular seus lábios, afastando-os um do outro. - Eu quero comer você, bonitinha. - confessa, surpreendendo com o uso de palavras vulgares. - Mas você nunca fez isso, então eu preciso que você se acostume com a ideia do sexo. Não se preocupe, isso foi só o começo. Eu vou te ensinar absolutamente tudo o que sei. – o garante, entortando os cantos de seus lábios, e faz o mesmo, em um agradecimento silencioso.
Londres, 24 de Maio de 2020
“E se eu te disser que posso te levar ao paraíso, e ao mesmo tempo, te mostrar a razão pela qual Adão e Eva foram expulsos de lá?” Enquanto ajudo Victória a tirar a mesa do café e ela me conta sobre tudo o que aconteceu no evento que tinha ido com Erick na noite anterior, a única frase que eu conseguia ouvir na minha cabeça era essa.
Por conta de tudo o que aconteceu de ontem para hoje, eu mal consegui dormir. Minha mente continuou a mil por hora, e a carga elétrica do meu corpo tão elevada, que relaxar tinha se tornado a tarefa mais árdua do mundo. Tudo o que eu conseguia pensar girava em torno do beijo de , do seu toque, da sensação que ele me causara, e de como eu estava ansiosa para que ele fizesse tudo isso de novo.
- ? - de longe, ouço a voz de Tori chamar meu nome. Involuntariamente ergo meu rosto em busca do seu e a encontro com o cenho franzido na minha direção. - Você ouviu o que eu falei? - ela questiona, visivelmente desconfiada, e eu suspiro pesado, esfregando meus olhos com o dorso das minhas mãos enquanto balanço a cabeça na afirmativa.
- Não, me desculpa. - um sorriso envergonhado escapa pelos meus lábios e Tori acha graça.
- Você está aérea. Aconteceu alguma coisa? - A mulher questiona e eu engulo seco.
- Não. – minto, e Victória estreita seus olhos como se não acreditasse em mim. Imediatamente desvio o olhar do dela e, mentalmente, imploro para que ela mude de assunto.
- Enfim... Eu perguntei se você pode ir ao mercado comprar algumas coisas que faltam para o almoço. - ela profere e um sorriso aliviado escapa pelos meus lábios.
- Claro. Faço isso assim que terminar de lavar a louça.
Começo a me entreter com a bagunça na cozinha e me esforço para evitar qualquer pensamento sobre a noite de ontem. Pela janela vejo Erick brincar com as crianças, e um sorriso nostálgico surge no meu rosto. Ao longe ouço o telefone fixo tocar, mas não interrompo o que estou fazendo, pois sei que Victória se encarregaria de atendê-lo.
- ! - pouco tempo depois ela me chama, e involuntariamente giro meu corpo na direção do som. - É para você. - Tori profere, me mostrando o aparelho em suas mãos, e eu franzo meu cenho um tanto quanto confusa.
Sem entender, largo as vasilhas sobre a pia molhada, seco minhas mãos e - antes de seguir em direção à minha host mom - tiro o celular do bolso traseiro do meu short, me certificando de que não deixei de atender nenhuma ligação.
- Alô?
- Bom dia, vida. - o tom de voz no outro lado da linha me causa refluxo, e imediatamente reviro meus olhos enojada.
- O que você quer? - questiono, notavelmente irritada, apoiando minha mão livre sobre a curva da minha cintura. Arthur, por sua vez, suspira pesado.
- Conversar com você, .
- E para isso você precisa ligar para a casa dos meus patrões?
- Não acho que você me atenderia se eu ligasse para o seu celular.
- E eu deveria? - sem perceber, aumento o tom da minha voz, e imediatamente me repreendo. Ergo o meu rosto em busca de Victória e suspiro aliviada quando a encontro sentada no balcão da cozinha, distraída com seu computador. Levo então minha mão livre à têmpora e tento me acalmar. - Arthur, por Deus. São cinco da manhã no Brasil, você não devia estar, sei lá... Dormindo para curar a ressaca? - dou de ombros, sendo o mais indiferente que consigo.
- Eu não vou conseguir dormir sem ter certeza de que está tudo bem entre a gente. - ele profere, arrancando um riso irônico dos meus lábios. - A Rafa me contou sobre o tal vídeo, e , sinceramente, eu não acho que um momento de fraqueza deva prejudicar o nosso relacionamento.
- Um momento de fraqueza? - questiono com as sobrancelhas arqueadas, e em seguida, solto uma gargalhada leve. - Francamente, Arthur... - digo, balançando a minha cabeça de um lado para o outro.
- E você esperava o quê? - ele pergunta, na defensiva, e eu respiro fundo. - Há dois meses eu não vejo a minha noiva, e... - enojada, eu reviro meus olhos.
- Ah não, você não vai me culpar pela sua falta de caráter.
- Não é falta de caráter, . É...
- Você tem razão, não é falta de caráter. - novamente o interrompo, e um sorriso franco surge no meu rosto. - É falta de desejo, mas isso não é surpresa. - dou de ombros.
- Como assim? - Arthur questiona, confuso, e eu acho graça.
- Você nunca sentiu desejo por mim, Arthur. - profiro, com a minha voz carregada de indiferença. - Fala sério. Quantas vezes eu tentei fazer as coisas esquentarem entre a gente e você simplesmente... Ignorou?
- Eu não ignorei, . Eu fiz um voto, você sabe. - ele rebate, e, mais uma vez, solto um riso pelos meus lábios.
- Certo. Então, imagino que seu voto continue intacto depois do vídeo que me mandaram. Certo? - questiono, cerrando meus olhos, e Arthur murmura, mas não me responde. Seu silêncio e sua respiração pesada falam mais do que qualquer palavra, e encontro nisso a confirmação que eu precisava. - Tudo bem, Arthur. Eu acho que também nunca senti desejo de verdade por você. - dou de ombros.
Nesse momento, vejo descer as escadas vestindo uma blusa vermelha com listras no tom azul marinho, e um pequeno bordado do rosto do principal personagem dos estúdios da Disney sobre seu peito esquerdo. Sua calça de alfaiataria era marrom, com finas linhas pretas que se cruzavam e formavam uma estampa quadriculada. Seus cabelos estavam parcialmente úmidos, me dando a certeza de que ele tinha acabado de sair do banho.
Mentalmente me questiono como ele conseguia ficar tão atraente vestindo aquele tipo de composição, e isso é o suficiente para que eu desligue a minha atenção do telefonema com Arthur. , por sua vez, lança um olhar para mim, e em seguida, me dá as costas, caminhando em direção à cozinha.
Involuntariamente, me lembro do que aconteceu na noite anterior e posso jurar que ainda consigo sentir o toque de suas mãos sobre a minha pele.
- ? - a voz distante do meu ex me resgata do transe, e imediatamente balanço a cabeça de um lado para o outro, afastando meu pensamento. - Você ainda está aí?
- Estou, mas... - fecho os olhos com força e umedeço minha garganta, procurando pelas palavras na minha cabeça. - Eu preciso desligar. Meus chefes estão precisando de mim. – minto, e de longe vejo Tori sorrir ao receber um beijo do filho mais velho sobre o topo de sua cabeça.
- Não. , espera! - do outro lado da linha, Arthur esbraveja, mas eu ignoro e desligo a ligação em seguida.
Estranhamente nervosa, passo a mão pela minha têmpora e decido caminhar de volta à cozinha. Com o olhar voltado para o chão, passo por Victória e em silêncio, na esperança de que eles ignorem a minha presença.
- Tá tudo bem na sua casa? - Tori questiona e eu umedeço meus lábios, cerrando meus olhos antes de virar o meu rosto na sua direção. Sem dizer uma palavra sequer, balanço a cabeça na afirmativa, e a mulher entorta seus lábios em um sorriso gracioso.
- Você dormiu bem, bonitinha? - questiona, atraindo minha atenção para si, e eu sinto meus pelos arquearem no instante em que ouço o seu sotaque proferir aquele bendito apelido. - Você me parece meio... Estranha. - ele dá de ombros e eu respiro fundo, enquanto o vejo debruçar seu corpo sobre a mesa para tirar uma banana de dentro da fruteira.
- Eu também notei, até comentei que ela estava aérea. Tá tudo bem, ? - Victória se manifesta, mas eu mantenho meus olhos colados em enquanto ele dá a primeira mordida na fruta e pressiona ainda mais seus lábios, tentando conter o riso.
Filho da puta.
- Eu estou bem. Não se preocupem. - garanto, forçando o meu melhor sorriso, e dá de ombros, girando seu corpo em direção à Victória.
Respiro aliviada quando percebo que as atenções não estão mais voltadas para mim. Decido então servir um pouco de água em um dos copos limpos sobre a pia, para umedecer a minha garganta.
- Eu preciso te contar uma coisa. - diz, limpando os cantos da boca com o dorso da mão e jogando a casca da banana sobre a madeira da mesa. Curiosa, Tori desvia a atenção de seu computador e ergue o rosto de encontro ao do filho. - Eu decidi que vou para Amsterdã. - ele dá de ombros, um tanto quanto indiferente, e um sorriso animado surge no rosto de Victória. Involuntariamente faço o mesmo ao lembrar da conversa que tivemos minutos antes do que aconteceu. Começo a pensar que, mesmo indiretamente, tive alguma influência naquela decisão.
- Sério? - a mais velha pergunta, com um sorriso largo no rosto, e balança a cabeça na afirmativa. - Meu filho, isso é ótimo! Fico feliz que você tenha decidido dar uma chance a essa parte da sua história. - ela profere animada, saltando da cadeira onde está sentada e envolvendo o pescoço do em um abraço carinhoso.
- É, vamos ver. - ele rebate, impassível. - Eu só preciso que você me faça um favor. - diz, afastando o corpo de Victória do seu.
- Claro. O que você quiser.
- Eu preciso que você dê folga para . - profere e, confusa, franzo o meu cenho enquanto levo o copo de encontro aos meus lábios. - Quero que ela vá comigo para Holanda. - dá de ombros e eu me engasgo com o líquido em minha boca.
Ele quer o quê?
- A ? Por quê? - sem entender, Tori questiona, e me olha de soslaio enquanto limpo o canto molhado de meus lábios com a ponta dos meus dedos.
- Porque eu não quero ir sozinho, mas também não quero submeter um de vocês a isso. E além do mais, os meus amigos não sabem sobre o meu pai biológico, então prefiro que continuem sem saber. - ele rebate, indiferente, e eu fecho meus olhos, esfregando a têmpora. - é imparcial, e eu tenho a impressão de que ela vai ser uma excelente companhia. - vira seu corpo de encontro ao meu, e eu abro meus olhos, notando um sorriso torto em seus lábios.
- Bom, se estiver tudo bem para a ... Eu não vejo problema. - a mulher dá de ombros, e assim como o filho, vira seu corpo de frente para o meu. - O que você acha, ? - ela questiona, atraindo meu olhar de encontro ao seu. Estarrecida, levo alguns segundos para processar o que estava acontecendo.
- Eu... Eu preciso ir ao mercado. - digo, ignorando a pergunta de Victória. Enquanto passo pelos dois, seus olhos me acompanham um tanto quanto confusos.
- Eu levo você. - se manifesta, e imediatamente paro de andar para voltar a olhá-lo.
- Não precisa.
- Eu faço questão. - ele dá de ombros e eu engulo seco, sentindo um frio gélido percorrer toda a extensão da minha espinha assim que percebo que ficaria sozinha com ele mais uma vez.
Narrador Avulso
O caminho até o mercado é marcado por um silêncio quase que ensurdecedor. A única coisa que eles conseguiam escutar era a música que vinha do rádio e o barulho de suas respirações.
estava retraída, com o olhar cravado na rua, as pernas coladas umas nas outras e suas mãos postas sobre suas coxas. , por outro lado, não podia negar que estava adorando aquela situação. Vez ou outra ele lançava um olhar rápido para a garota e um sorriso torto surgia em seus lábios sempre que percebia e se mostrava envergonhada em relação a isso.
A música que tocava se encerra, e Miss Jackson do clássico Panic! at the Disco começa a tocar. Novamente olha de soslaio para , e dessa vez repara que - em um movimento involuntário -, seus dedos começam a bater sobre suas coxas conforme o ritmo da música.
- Você gosta dessa música? - o questiona, quebrando o silêncio no momento em que ambos adentram ao estacionamento do mercado. , por sua vez, umedece a garganta e desvia o olhar para a janela ao seu lado. revira os olhos entediado.
- Todo mundo gosta. - a menina rebate, surpreendendo-o, mas ainda sem olhá-lo. , no entanto, não consegue conter o riso. - É Panic! - ela dá de ombros, lançando um olhar rápido para , que arqueia as sobrancelhas, estacionando o carro na primeira vaga que encontra.
- Eu sei. - dessa vez é quem dá de ombros, e franze o cenho sem entender. - Eu só queria ter certeza de que você não tinha perdido a sua capacidade de fala. - profere, liberando um sorriso brincalhão, e revira os olhos, desatando o cinto de segurança.
No entanto, no instante em que a mão da garota toca a maçaneta e a porta se abre alguns centímetros, debruça seu corpo sobre o dela e puxa a porta de volta para si, a fechando.
Assustada, desvia sua atenção para ele com os olhos arregalados.
- Por que você não está falando comigo? - se interessa em saber, e a respira fundo, desviando o olhar do dele.
- Eu estou falando com você. - ela dá de ombros, tentando parecer o mais indiferente possível.
- Não, não está. - rebate, e revira os olhos, impaciente. - Ainda é por causa do que eu falei ontem ou... Pelo que aconteceu depois? - ele questiona, curioso, e um riso leve escapa pelos lábios de enquanto ela balança a cabeça de um lado para o outro.
- Não é nada disso. - diz, esfregando a têmpora com uma de suas mãos.
- Então o que...
- Eu não quero ir para a Holanda, . Você ficou maluco? - ela esbraveja, se virando de frente para o que, surpreso, arqueia as sobrancelhas. recua, afastando o corpo de , e então cerra seus olhos, pressionando um lábio contra o outro.
- Você está assim porque eu disse que quero que você vá comigo para Amsterdã? - o pergunta, tentando segurar o riso, e balança a cabeça na afirmativa. - Tudo bem, você não precisa ir se não quiser.
- Você disse isso para a sua mãe. A minha patroa! - de repente, a que ele conheceu nos últimos meses estava de volta, e precisa desviar o olhar do dela para conseguir se manter o mais sério possível. - E se ela pensar alguma coisa... Ou, pior! E se ela desconfiar de alguma coisa? - confuso, volta a olhá-la com a testa franzida.
- A minha mãe não vai pensar nada, , eu já disse a ela porquê quero que você vá, e... Do que ela poderia desconfiar? Da sua pequena viagem ao paraíso ontem? - ele questiona, e, envergonhada, cobre seu rosto com as mãos, sentindo suas bochechas corarem.
- Oh, por favor, não diga isso em voz alta. - pede, balançando a cabeça de um lado para o outro, e acha graça. Ele, por sua vez, agarra seus pulsos e os força para baixo, deixando seu rosto a mostra mais uma vez.
- Você se arrependeu? - seu tom de voz é ameno, e o semblante em seu rosto, mais sério do que antes. suspira, e segundos depois balança a cabeça na negativa. - Então não tem porquê ter vergonha. - dá de ombros, voltando a olhar para sua frente, e um sorriso tímido escapa pelos beiços de . - E, como eu disse, você não precisa ir para Amsterdã se não quiser. Eu só achei que seria melhor se você tivesse as suas aulas longe da presença dos seus chefes. - ele dá de ombros, devolvendo sua atenção para . Novamente os olhos da garota se prendem ao movimento da língua de no instante em que ele umedece seus lábios.
- Isso vai me enlouquecer. - deixa um de seus pensamentos escapar em voz alta enquanto balança a cabeça na negativa e joga suas costas contra o encosto do assento. , por outro lado, aproveita a oportunidade para inclinar seu corpo mais uma vez e se aproximar da menina.
- O que, exatamente? - rle questiona, com o volume de sua voz reduzido, e os músculos de se arqueiam no momento em que ela sente a respiração quente de cortar a sua pele. - A convivência comigo, ou essa vontade que você tá sentindo de me beijar? - ele murmura, e involuntariamente vira seu rosto de encontro ao dele mais uma vez.
No instante em que os olhos de encontram os de , a menina perde completamente a noção do que estava sendo conversado. Seu nariz inala o perfume doce que ele usava, e seus lábios secam assim que os flashbacks da noite passada começam a passear pela sua cabeça.
- Eu posso parar se você quiser. - profere, rente ao rosto de , e a pisca os olhos algumas vezes, se esforçando para voltar à órbita.
- Eu não quero. - é o que ela diz antes de juntar seus lábios aos de em um beijo urgente.
libera um sorriso entre o beijo e - quando impulsiona seu corpo para frente -, envolve a cintura dela com um de seus braços, trazendo-a para mais perto de si. O prende seus dedos na parte de baixo do cabelo de , enroscando alguns fios nos anéis que usava, e dessa vez é quem adula os lábios de , pedindo passagem e permissão para explorar sua boca com certa maestria.
estava muito mais entregue e desinibida do que na noite anterior, tornando o beijo ainda mais quente, e podia facilmente notar a diferença enquanto saboreava o gosto adocicado de melancia preso aos lábios da garota por conta do protetor labial que ela passara segundos antes de sair de casa.
A menina leva uma de suas mãos até a nuca de e - depois de acariciá-la com a ponta dos dedos, causando arrepios no rapaz - o surpreende, quando, em um gesto inconsciente, puxa os poucos cabelos que ele tem ali. solta um grunhido entre o beijo e sorri, sugando seu lábio inferior. É quando ela se questiona se seu toque também traria algum efeito à , como o dele trouxe a ela na noite anterior.
nunca tinha sido tocada por homem algum até masturbá-la no escuro de seu quarto na noite anterior, então era esperável que o toque de tivesse algum efeito sobre o corpo da nossa menina, mas... E o contrário?
Disposta a descobrir a resposta para essa pergunta, a mão de sai da nuca de e percorre um caminho que passa por toda extensão de seu abdômen até atingir o ponto mais baixo de sua barriga. Inerte, demora alguns segundos para notar as intenções da garota, até que sente seus dedos pousarem sobre o fecho da calça que ele vestia. Por conseguinte, afasta o seu rosto do dela, interrompendo o beijo bruscamente.
- O que você...? - atônito, o questiona, desviando seu olhar para baixo. Um sorriso malicioso surge no rosto de .
- Regra número dois: - profere, atraindo o olhar de de volta para o seu. Embriagado, acompanha o movimento que faz com a ponta de sua língua para umedecer seus beiços ainda mais avermelhados e inchados por conta do beijo. - Tenha iniciativa. - ela dá de ombros, mordendo seu lábio inferior, e em um movimento rápido, desliza o zíper da calça dele para baixo.
- Você não faz as regras, bonitinha. - a detém, agarrando o seu pulso no instante em que os dedos dela atingem o elástico da cueca que ele usava. Aturdida, leva seus olhos ao encontro dos de , e em questão de segundos, entorta seus lábios em um sorriso sacana, mudando completamente o semblante em seu rosto.
- Você tem razão, , eu não faço as regras. Eu quebro elas.
Um arrepio percorre a espinha do garoto no instante em que ele ouve chamá-lo pelo sobrenome, e, estarrecido, ele arqueia as sobrancelhas. A garota, por conseguinte, solta um riso e - sem hesitar - desliza sua mão para dentro da cueca de , encontrando imediatamente seu membro, parcialmente ereto. Ao sentir o toque gelado dos dedos de o abraçarem, solta um grunhido.
Inábil, a não sabe exatamente o que deve fazer, mas nota que a coloração no rosto de muda assim que sua mão começa a se movimentar para cima e para baixo. Ela então desvia sua atenção para o colo do garoto e aumenta a velocidade de seus movimentos.
- ... - ele a chama com a voz trêmula, e imediatamente volta a olhá-lo. , por sua vez, leva uma de suas mãos de encontro a dela, e a envolve ainda mais em seu pênis. - Você pode apertar mais um pouco. - puxa sua mão de volta, a deixando no controle, e aumenta a pressão de seus dedos.
- Assim? - o tom de voz da garota é aveludado, e ela morde seu lábio inferior. fecha os olhos com força e leva uma de suas mãos à têmpora, balançando a cabeça na afirmativa.
Sem interromper seus movimentos, aproxima seu rosto do de , roça o nariz na bochecha dele e começa a distribuir beijos ternos que iam da linha de sua mandíbula até a curva entre o seu pescoço e o seu ombro, onde ela suga com certa pretensão, e sente seus músculos arquearem.
- Por Deus, . - o profere, sentindo os dentes da garota mordiscarem a pele sensível de seu pescoço. então segura o rosto de com suas mãos, e volta a agarrar os cabelos de sua nuca, os puxando para trás para que ela o olhasse. Surpresa, a menina solta um gemido baixo. - Para quem nunca fez isso, você não parece tão inexperiente. - ele diz, passeando seus olhos por cada detalhe do rosto dela, e , por sua vez, dá de ombros com um semblante inocente no rosto.
então erradica a distância entre seus rostos e volta a unir seus lábios em um beijo ainda mais fervoroso do que o anterior. Os movimentos de são precisos e volta a gemer com os lábios rentes aos dela, deixando a impressionada com o efeito que estava causando nele.
- ... - ele afasta sua boca da dela, mas mantém suas testas coladas e profere seu nome quase que em uma súplica. A aumente ainda mais a velocidade de sua mão e volta a provocá-lo com beijos em seu pescoço. - , eu vou... - contrai os quadris, e logo em seguida, sente a umidade se espalhar por dentro da cueca. Involuntariamente ela tira a mão de lá, e relaxa sua postura sobre o banco do carro.
O respira fundo, umedecendo seus lábios, e então ergue seu rosto em busca do de . Ele pressiona um lábio contra o outro, tentando conter um riso, e a garota, por outro lado, olha de para o resquício do orgasmo do garoto preso ao seus dedos. Sem ter certeza do que deve fazer, começa a erguer sua mão na altura de seu rosto e - surpreso - arregala os olhos, segurando seu pulso para impedi-la.
- Não. Você não vai fazer isso. - ele profere, balançando a cabeça de um lado para o outro. Cansada de sempre ouvir dos outros o que ela deve ou não fazer, revira os olhos entediada, puxando seu braço com força para que a solte.
Os segundos seguintes parecem correr em câmera lenta e, extasiado, acompanha os movimentos de no momento em que ela leva seus dedos sujos aos lábios, e os limpa com a ponta da língua em um gesto um tanto quanto obsceno, mas bastante sensual na perspectiva do garoto.
- Meu Deus, eu vou me apaixonar por você. - surpresa, arqueia as sobrancelhas, mas antes que consiga se manifestar, inclina seu corpo para frente e junta seus lábios em mais um de seus beijos apressados.
- Você não me parece ser do tipo que se apaixona. - ofegante, a morde o lábio inferior, e sorri, com a testa ainda colada na dela.
- E não sou. - garante, acariciando sua bochecha com o polegar. - Mas se você continuar fazendo esse tipo de coisa, eu vou precisar abrir uma exceção. - ele dá de ombros e revira os olhos, impaciente. Um riso frouxo escapa pelos lábios de e a garota espalma sua mão esquerda sobre o peito dele, o empurrando para longe de si.
Capítulo 4
Harry Styles, Medicine.
Narrador Avulso
Londres, 19 de junho de 2020.
Ansioso, mal conseguiu dormir nos últimos cinco dias. O voo para Amsterdã sairia em algumas horas, mas suas coisas já estavam prontas e ele estava preparado para acabar de vez com aquele assunto. A caminho do andar de baixo, o passa pelo quarto de , pela fresta da porta, vê a menina parcialmente arrumada, sentada em sua cama ao lado de uma mala de mão rosa. Involuntariamente entorta o canto de seus lábios.
Era bom saber que, pelo menos, ele não estava sozinho nessa.
Sem pensar, dá alguns toques na porta, atraindo a atenção de para si.
- Posso entrar? - ele questiona cordialmente, e a garota balança a cabeça na afirmativa.
- Claro. - um sorriso simpático surge, e observa enquanto ela termina de guardar algo dentro de uma pequena bolsa preta e a joga sobre as outras coisas na mala. - Eu já estou quase pronta, só faltam… - a faz uma pausa, finalmente levantando seu rosto de encontro a . Sem entender, o rapaz franze a testa quando vê um sorriso bobo saltar pelos lábios de , e a mesma balançar a cabeça de um lado para o outro.
- O que foi? - ele questiona, confuso. , por sua vez, dá de ombros.
- Nada, eu só… Gostei da sua roupa. - a rebate, e involuntariamente olha para baixo, analisando a composição que tinha escolhido para a viagem. Uma blusa branca listrada, uma calça marrom, e, por cima de tudo, um casaco verde. Além, é claro, do colar de pérolas em seu pescoço, e os óculos escuros prendendo o seu cabelo no topo da cabeça. - Você parece um senhorzinho de vinte e seis anos. - morde a língua com um semblante engraçado no rosto, e revira os olhos.
- É o meu charme. - dá de ombros, com as mãos escondidas dentro dos bolsos do casaco. Dessa vez, é quem revira o olhar por conta da modéstia de .
- Eu percebi. - um riso frouxo escapa pelos seus lábios e a observa, deixando o silêncio tomar conta do ambiente. Desconfiada, cerra os olhos em busca dos do rapaz. - Desembucha, - profere, soltando um longo suspiro e fechando - de uma vez - sua mala. Confuso, une as sobrancelhas. - Você quer me falar alguma coisa, não é? - a volta a sua atenção para ele, que relaxa a expressão em seu rosto.
- Não, na verdade eu… - o olha em volta e para sua atenção na mala de . Sem pedir permissão, volta a abri-la, e a garota acompanha seus movimentos sem entender. - Eu fiquei curioso para saber quais pares de lingerie você escolheu levar para a viagem. - dá de ombros e revira os olhos entediada, usando o seu braço para empurrá-lo para longe. ri.
- Muito engraçado, . Muito engraçado. - pressiona um lábio contra o outro, tentando conter o riso, enquanto fecha o zíper da mala, e involuntariamente um sorriso torto surge no rosto do rapaz.
- Eu gosto quando você me chama de , sabia? - ele questiona, puxando a atenção da garota para si mais uma vez. Sem entender, franze a testa.
- É o seu nome, não é? - a pergunta, soltando um riso leve, e dá de ombros.
- Normalmente você usa , o que, por sinal, é muito sexy. - profere. Envergonhada, revira os olhos, e em seguida joga uma das almofadas sobre a sua cama, na direção do garoto. - Mas é diferente, não sei. Faz parecer que temos alguma intimidade, e eu gosto disso.
- E de certa forma temos, não temos? - arqueia as sobrancelhas e encolhe os ombros com um sorriso maroto nos lábios. ri. - Inclusive, já que tocou nesse assunto… Acho que você deveria dar uma chance a , ou , e esquecer de vez aquele apelido insuportável. - a garota dá de ombros e gargalha, jogando a cabeça para trás como uma criança. Por milésimos de segundo, o observa com certo fascínio.
Logo em seguida, apruma a sua postura, busca recuperar o fôlego, e então inclina seu corpo para frente, deixando seus olhos fixos aos de e o rosto rente ao dela. A menina consegue sentir não só o perfume inconfundível da marca Tom Ford, como também a respiração de cortando sua pele.
- Não vai acontecer, bonitinha. - o pisca um de seus olhos, e com a intenção de provocá-la, roça a ponta do seu nariz no dela. , no entanto, não se deixa abalar e revira os olhos, impaciente, espalmando uma de suas mãos sobre a bochecha de , virando o rosto do rapaz para longe do seu. Ele ri, enquanto puxa a mala pela alça e a coloca no chão, em pé sobre as rodinhas.
- Bom, Amsterdã, aí vamos nós! - a esbraveja, com um sorriso animado nos beiços. O semblante no rosto de muda drasticamente no instante em que ele se lembra da viagem. , por sua vez, nota a mudança na postura de e solta um rápido suspiro antes de dar alguns passos na sua direção, e em um gesto amigável, afagar seus ombros. - Como você está se sentindo? - ela questiona, mordiscando seu lábio inferior, e o olhar de - que até então parecia vago - se fixa ao dela.
- Sinceramente, eu não sei se foi uma boa ideia. - ele coça os cabelos de sua nuca, em um gesto claro de nervosismo, e entorta levemente um dos cantos de seus lábios. então abaixa a cabeça por alguns minutos, respira fundo, e esfrega a têmpora com a ponta dos dedos, antes de devolver seu olhar para a garota. - Você sabe quem você é, ? - questiona. Sem entender, une as sobrancelhas. O semblante gracioso em seu rosto faz liberar um riso leve. - Se te perguntassem agora, quem é a , você saberia responder?
- Eu acho que sim. - estreita seus olhos, visivelmente confusa, e ri. Ele, por sua vez, passa por ela, senta na beirada de sua cama, apoia os braços sobre as pernas e entrelaça os dedos de uma mão nos da outra. Em silêncio, assiste enquanto respira fundo e leva alguns segundos até erguer seu rosto mais uma vez.
- Eu não. - confessa, com um sorriso triste nos lábios. Comovida, a garota franze a testa e se aproxima de , sentando ao seu lado na cama. - Há vinte e seis anos eu tento responder essa pergunta, e durante os últimos cinco, eu conheci lugares magníficos por causa disso, mas… Eu não sei. É como se todas as luzes não conseguissem apagar a escuridão, sabe? - questiona, lançando um olhar rápido para . Imediatamente a garota balança a cabeça na afirmativa, concordando. - Eu nunca soube dizer quem, de fato, é , porque sempre faltou alguma coisa, algum detalhe, e…
- E esse detalhe está em Amsterdã. - o interrompe, com um sorriso singelo no rosto, e suspira, brincando com o aro do anel ao redor do seu dedo indicador.
- É. Eu acho que sim. - um riso sem humor salta dos lábios de , e em um gesto inconsciente, segura as mãos do rapaz, usando seu polegar para acariciá-las.
- Você vai encontrar essa resposta lá. - profere, notavelmente confiante, e sorri. Ele, por sua vez, entrelaça os dedos na mão dela e a leva até seus lábios, fazendo os pelos de arquearem involuntariamente.
- Eu acho que nós dois vamos encontrar as respostas que estamos procurando nessa viagem, bonitinha. - diz por fim, selando o dorso da mão de , com os olhos fixos aos dela.
Uma viagem de avião de Londres até a capital da Holanda, não costuma demorar mais de uma hora e meia. Para - que está bastante acostumado -, noventa minutos no ar não são nada além de prazeroso e um tanto quanto relaxante. Já , não podia se considerar uma grande fã de aviões. E tudo - absolutamente tudo - piora, quando, meia hora depois da decolagem, a cabine de controle precisa acionar o aviso de atar os cintos por conta de uma área de instabilidade.
O que para muitas pessoas seria considerado uma turbulência corriqueira, para era um de seus maiores pesadelos. Seu nervosismo atingia o ponto máximo, e a cada movimento “anormal” da aeronave, seu corpo saltava levemente da poltrona.
De soslaio, desviou sua atenção do livro que lia e olhou para a garota. Com a postura rígida e uma das mãos agarradas firmemente no escapulário em volta do seu pescoço enquanto a outra segura o apoio da cadeira, tinha seus olhos bem fechados e seus lábios se mexiam, sem emitir som algum.
- , você está... - preocupado, pensa em perguntar, mas é rapidamente interrompido. Em um movimento inconsciente, a envolve a mão de sobre o encosto da poltrona e a aperta, aplicando toda força que lhe é concedida no momento. A inquietação faz a mão de transpirar, e o garoto acha graça. - Outch! Você vai quebrar a minha mão, bonitinha. - um riso frouxo escapa pelos lábios de e o repreende, levando o dedo indicador de sua outra mão até os lábios, pedindo para que ele ficasse em silêncio. Por conseguinte, se cala e se estica sobre a poltrona da primeira classe, enquanto mantém sua mão sob a de e aguarda pelo fim da turbulência.
Aproximadamente sete minutos depois - com o avião completamente estável -, o aviso de atar os cintos é finalmente desligado e consegue respirar, aliviada. Em seguida, ela abre os olhos e vira seu rosto na direção de , encontrando suas mãos juntas. Ele a olha pelo canto dos olhos, e, envergonhada, recolhe sua mão.
- Me desculpa. - profere, limpando a mão molhada sobre o algodão de sua calça, e apruma a postura sobre a poltrona.
- Eu não sabia que você tinha tanto medo de avião. - diz, apoiando seu braço em cima do encosto da poltrona e dá de ombros.
- Às vezes eu sinto medo das coisas que não consigo entender, e eu nunca entendi como um avião desse tamanho consegue voar. - confessa, prendendo uma mecha de seu cabelo atrás da orelha e coçando a têmpora com a ponta dos dedos logo em seguida.
- Quantas horas da sua cidade até Londres? - questiona, curioso, e solta um longo suspiro.
- Doze. - ela rebate, e o garoto arqueia as sobrancelhas surpreso. - Mas eu tomei um remédio e consegui dormir. Como essa viagem era curta, eu não achei que fosse precisar, e, bom… - dá de ombros, e acha graça.
Em seguida, checa as horas no visor de seu celular e lança mais um olhar rápido para que, distraída, admira a vista pela janela. Involuntariamente, um sorriso sacana surge nos lábios de e ele respira fundo, arrumando ainda mais sua postura.
- Olha, eu não acho que vamos ter outra turbulência até o fim da viagem. - ele dá de ombros e vira seu rosto de encontro ao dele, deixando um sorriso aliviado surgir em seu rosto. - Por que você não vai ao banheiro? Joga uma água no rosto… Eu não sei, você ainda me parece meio pálida. - profere, tentando parece o mais indiferente possível. suspira e demora alguns segundos para desatar o cinto que a prendia sobre a poltrona.
- É. Pode ser uma boa ideia. - diz, por fim, antes de se levantar e seguir em direção ao banheiro. , por sua vez, acompanha os passos da com o olhar e solta um riso, chacoalhando a cabeça de um lado para o outro.
No banheiro, encara seu reflexo no espelho e respira fundo, com as mãos apoiadas sobre a pia. Em seguida, abre a torneira liberando o fluxo de água e usa suas mãos para transportar o líquido gelado até seu rosto. repete a ação pelo menos três vezes seguidas, até que se dá por satisfeita, e, visivelmente mais calma, usa um papel para limpar os resquícios de água espalhados pela sua pele.
O processo todo demora menos de cinco minutos e logo a está com a mão sobre a maçaneta, decidida a voltar para o seu lugar. No entanto, no instante em que abre uma fresta na porta, sente alguém duplamente mais forte empurrá-la de volta para o banheiro.
- Que porr… - resmunga, erguendo seu rosto e encontrando a figura de dividindo o pequeno espaço do banheiro com ela.
- Regra número três, bonitinha. - ele sorri, sacana, e agarra a cintura de , a puxando para perto de si. – Surpreenda. - diz por fim, com os olhos fixos nos lábios da garota, e então aproxima seu rosto do dela. , no entanto, hesita e espalma a mão sobre o tórax de , tentando afastá-lo.
- Você ficou maluco? - ela questiona, e resmunga, frustrado. - Nós estamos no banheiro de um avião, isso não é… Sei lá, proibido? - franze o nariz, e o semblante gracioso em seu rosto faz o garoto rir. , por sua vez, leva sua mão livre até o pescoço da garota e segura com firmeza o seu rosto, acariciando sua bochecha com o polegar.
- E você não acha que isso deixa tudo ainda mais excitante? - o umedece os lábios com a ponta da língua e o corpo de estremece com seu toque. Em seguida, inclina seu tronco para frente e distribui beijos aveludados por toda região entre a nuca e o pescoço da menina, fazendo seus pelos arquearem.
- Eu tenho quase certeza de que isso é crime,. - umedece sua garganta e morde os lábios no momento em que sente sugar a pele sensível na curva de seu pescoço.
- Existem riscos que valem à pena, bonitinha. - sussurra, mordendo o lóbulo da orelha de . Ela, por sua vez, revira os olhos ao sentir a respiração quente do garoto contra a sua pele, e involuntariamente leva uma de suas mãos até a coluna do rapaz, usando a ponta de seus dedos para acariciar a pele dele por baixo do tecido da blusa.
sorri com a certeza de que ela não aguentaria por muito tempo.
- … - murmura com os olhos fechados, e apruma a sua postura, apoiando a testa contra a dela.
- Você sabe o que fazer se quiser que eu pare, . - afasta seu rosto do dele e busca pelos olhos de , enquanto ele sente sua boca secar, encarando os lábios avermelhados da menina e implorando mentalmente para que ela não pedisse para ele parar.
- Esse é o problema, . - ela profere, mordendo seu lábio inferior e afagando os poucos cabelos na nuca de . Sem entender, o ergue seu olhar confuso de encontro ao dela. - Eu não acho que algum dia vou querer que você pare. – envergonhada, dá de ombros, e um sorriso sacana surge no rosto de segundos antes dele levar o rosto da garota de encontro ao seu e juntar seus lábios em um beijo quente.
puxa o ar pela boca no momento em que embaraça os dedos em seus cabelos. Ele então suga o lábio inferior da e ela solta um grunhido, pressionando ainda mais a nuca do garoto. Com pressa e sem interromper o beijo, enfia os dedos indicadores dentro do elástico da calça de moletom de , e em um movimento brusco, empurra o tecido para baixo, levando junto consigo a calcinha vinho que a menina usava na ocasião. O , por conseguinte, afasta o rosto do de e observa seus lábios avermelhados e inchados por conta do beijo.
- Você se lembra da sensação que meus dedos te causam, ? - questiona com a voz rouca e a respiração ofegante. Embriagada, franze o cenho sem entender, no entanto, balança a cabeça na afirmativa, concordando com . O , por sua vez, pousa suas mãos sobre as curvas da cintura de , e antes de voltar a beijá-la, profere com os lábios rentes aos dela. - Eu prometo que o que estamos prestes a fazer, vai ser três vezes melhor.
Surpresa, arqueia as sobrancelhas e seus pensamentos entram em pane antes de sentir os beiços de pressionarem os seus e os dedos dele cravarem a pele de sua cintura. Mais uma vez ela solta um grunhido, e impulsiona seu corpo para cima, apoiando seu quadril no pequeno espaço da bancada onde ficava a pia do banheiro. cruza as suas pernas ao redor da cintura de , mas ele logo usa as mãos para afastá-las novamente, interrompendo o beijo mais uma vez.
- Pronta? - ele questiona, levando uma mão ao rosto de e acariciando sua bochecha com cuidado. Nervosa, a morde seu lábio inferior e lança um olhar inocente para , antes de balançar a cabeça na afirmativa.
“Será que ele vai…”, os pensamentos de são rapidamente interrompidos pelos lábios do garoto selados aos seus mais uma vez. Em seguida, traça um caminho de beijos leves que iam do canto dos lábios de , passavam pela bochecha, alcançavam a têmpora e desciam para o pescoço, arqueando os pelos da garota.
Mais uma vez, ergue sua postura - cravando os olhos nos dela - e se abaixa, deixando seu rosto entre as pernas da menina. De repente, a mente de começa a girar por causa de todas as ideias sobre o que poderia fazer com ela a partir daquele momento.
Curiosa, morde os beiços, e ao mesmo tempo observa roçar seus lábios na parte interna de uma de suas coxas. Um arrepio desconhecido percorre toda extensão da sua espinha, e a não consegue conter o gemido no instante em que sente a pele áspera da língua de tocar a região mais sensível de seu corpo.
Os movimentos iniciais de são leves e cautelosos. Ele queria que se acostumasse com o toque de seus lábios ali, e, além disso, queria aproveitar a oportunidade para saborear o gosto doce da intimidade da garota. Gosto esse que poderia facilmente comparar ao dos morangos em uma noite de verão.
Aflita, morde o próprio punho na tentativa de conter os gemidos que ameaçam saltar pelos seus lábios assim que pressiona a região mais baixa de sua barriga com uma de suas mãos, e começa a movimentar a língua em círculos, aumentando a velocidade com o passar do tempo, e acionando cada ponto elétrico espalhado pelo corpo da garota. Involuntariamente contrai o quadril e agarra os cabelos do garoto, apoiando cada uma de suas coxas sobre seus ombros.
decide restringir o diâmetro entre seus lábios, e suga a área mais sensível da , que deixa um grito escapar e perde as forças em seus músculos, jogando suas costas contra a parede do banheiro. Imediatamente se repreende, cobre a boca com as mãos e arregala os olhos assustados na direção de . Ele ri.
Em seguida, ele se levanta do chão e envolve a cintura de , a puxando para a beirada da pia. A consegue sentir o volume em suas calças bater contra a sua umidade, e isso faz seu corpo enrijecer.
- Eu quero tentar uma coisa. - profere, tirando de seus pensamentos. - Mas preciso que me diga caso não se sinta confortável, tudo bem? - ele questiona, e mesmo confusa, a garota faz que sim com a cabeça. então leva dois de seus dedos até a boca e os chupa, em um gesto que deixa hipnotizada. Logo depois, ele leva esses mesmos dedos até a intimidade de e começa a massagear seu clitóris. A menina fecha os olhos, deixando um grunhido escapar, e roça o nariz no dela antes de beijá-la.
adula os lábios de , e, inerte, a envolve o corpo do rapaz, acariciando sua nuca com a ponta de seus dedos. sente que seu corpo está prestes a entrar em combustão espontânea quando sente a língua de deslizar para dentro de sua boca.
O leva sua mão livre até a nuca da garota e a segura firmemente, intensificando mais o beijo no mesmo momento em que decide surpreender e penetrar um de seus dedos na intimidade da garota. Com o susto, a pula sobre a bancada e libera um gemido, espaçando seus beiços. , por sua vez, chupa o lábio inferior de , antes de interromper o beijo e distanciar seu rosto do dela.
- Tá tudo bem? - ele questiona, com a voz rouca e o olhar embriagado sobre a expressão de prazer no rosto de . Com os olhos fechados e sem proferir uma palavra sequer, ela respira fundo e balança a cabeça na afirmativa. então aumenta a velocidade do movimento de seu braço, penetrando-a ainda mais fundo com seu dedo. Os músculos de arqueiam enquanto o distribuí carícias leves e provocantes por toda extensão de seu pescoço.
- … - a voz quase inaudível da garota sai em tom de súplica, e seus dedos cravam sobre a coluna do garoto. afasta o rosto do dela e sente sua respiração acelerada cortando sua a pele. não tinha tido muitos orgasmos, e ainda não sabia identificar os primeiros sinais dessa sensação, mas o semblante em seu rosto era o suficiente para ter certeza de que ela estava prestes a perder o controle.
Mais uma vez, se abaixa entre as pernas de , e sem interromper o movimento de seus braços, roça a lingua sobre o clitóris da garota com destreza. A combinação entre as duas coisas faz um choque elétrico percorrer toda extensão do corpo de , e ela deixa um gemido alto escapar, deixando de lado a falta de privacidade do lugar onde estavam. Suas pernas estremecem e ela enfia os dedos nos cachos de , afastando seu rosto para longe da sua intimidade.
Um sorriso sacana salta pelo rosto de , e com os olhos presos aos de , passa a língua pelos próprios lábios, limpando cada gota restante da umidade da garota ainda presa ali. Nesse momento, se desprende de toda sua sanidade, e, enlouquecida, salta da pia, envolvendo seus baços em e avançando sobre seus beiços em um beijo urgente. Sua determinação faz rir, e ele passa as mãos por seu rosto, afastando todos os fios de cabelo presos em sua pele pelo suor.
No instante em que contorna seus lábios com a ponta da língua e pede passagem para dentro de sua boca, as mãos de percorrem toda extensão do tórax dele e pousam sobre a barra de sua calça. Cegamente, seus dedos tentam desabotoar seus botões e deixa um gemido escapar assim que sente a mão de acariciar sua ereção.
- Quero fazer o mesmo por você. - ela murmura com os lábios rentes aos dele, e afasta seu rosto do dela, em busca de seus olhos. Envergonhada, morde os beiços e umedece a garganta, balançando a cabeça na afirmativa.
Nem se quisesse, conseguiria resistir àquilo. Até porque, a sensação que tinha acabado de proporcionar à deixara seu órgão a beira de uma explosão dentro de suas calças. Ele então inclina seu corpo para frente e sela os lábios da garota, acariciando sua bochecha com ternura. Outro gemido escapa pela sua boca no momento em que os dedos de abraçam o seu pênis, ainda por dentro da cueca.
- Mas preciso que me ensine a fazer de um jeito que seja incrível. - sussurra e sente um arrepio percorrer toda extensão de sua espinha, balançando a cabeça na afirmativa logo em seguida.
Em seguida, o garoto se senta sobre o vaso do banheiro e empurra sua cueca para baixo, expondo de vez sua ereção. , por sua vez, enrola os seus cabelos e se ajoelha entre as pernas de , com os olhos grudados aos dele, esperando pelo seu comando. O garoto toma a mão de e a guia até seu pênis.
solta um grunhido quando sente os dedos de abraçarem a sua ereção, e seus olhos pesados acompanham os movimentos da menina no momento em que ela apruma a sua postura e se aproxima ainda mais dele, beijando a ponta de seu pênis. Os músculos de estremecem e ele agarra a base de seu membro.
- Quero ver você lambendo da base até a ponta. Não precisa de pressa. - seu tom de voz é rouco, e seu pedido faz o peito de explodir. Por conseguinte, ela umedece a sua garganta e se debruça sobre ele, passando a língua por toda extensão até atingir o topo, sugando sua extremidade e se surpreendendo com o gosto doce que invade sua boca. fecha os olhos e geme, sem se preocupar com o que as pessoas poderiam ouvir atrás das paredes daquele banheiro. - De novo, . - ele suplica, relaxando suas costas contra a parede, e repete seus movimentos, soltando um riso no momento em que vê esfregar a têmpora em um sinal claro de nervosismo. Era bom saber que, entre os dois, ela não era a única vulnerável ao seu toque.
- Assim? - ela questiona, atraindo a atenção de para si, e no instante em que seus olhos cruzam com os do rapaz, volta a passar a língua por toda extensão de seu pênis, fazendo os músculos de enrijecerem.
- Puta merda, . - ele profere, exasperado. então apruma a sua postura e inclina seu corpo para frente, tocando o queixo da garota. - Me chupa, por favor. – pede, e o tom aveludado de sua voz faz o corpo de estremecer, enquanto o polegar dele acaricia levemente a pele de sua bochecha. A garota, por conseguinte, balança a cabeça na afirmativa e, sem pensar no que estava prestes a fazer, envolve a ereção de com seus lábios, sentindo-o latejar em sua boca. Ele solta um grunhido e volta a relaxar sua postura contra a parede.
Insegura com seus movimentos, fecha os olhos e aumenta a pressão de sucção entre seus lábios, raspando a ponta de seus dentes pelo tecido sensível do garoto.
- Cuidado com os dentes, bonitinha. - um sorriso torto surge no rosto de , e imediatamente abre os olhos e ergue seu rosto na direção do dele. Envergonhada, ela se afasta e mantém seus dedos em volta da ereção do garoto.
- Me desculpa. - pede, visivelmente sem graça, limpando o canto de seus lábios com os dedos de sua mão livre. Apesar da circunstância, acha a cena graciosa e volta a inclinar seu corpo para frente, buscando seu rosto com uma de suas mãos.
- Por Deus, . - ele solta um risinho divertido, e a menina sente suas bochechas queimarem. - Não precisa pedir desculpas, você está se saindo muito bem. - garante, arregalando os olhos no momento em que profere o adjetivo de intensidade. , no entanto, pressiona um lábio contra o outro, tentando conter um sorriso. - Só… Continue o que estava fazendo, tudo bem? - o questiona, e a garota respira fundo antes de balançar sua cabeça na afirmativa e debruçar seu corpo entre as pernas dele mais uma vez.
gira a língua pela ponta, e mais uma vez enfia tudo dentro da boca, movimentando sua cabeça para frente e para trás enquanto chupa a ereção do garoto, e ele solta um grunhido, mordendo seu punho e sentindo sua pele enrijecer. flexiona os quadris e embaraça os cabelos da garota em seus dedos, sustentando sua cabeça enquanto estocava em sua boca.
não sabia ao certo, mas, naquele instante, começou a se questionar se era possível ter um orgasmo só de ouvir os gemidos e a respiração entrecortada de . Porque, se sim, ela podia jurar que estava quase lá.
A mão e a boca da garota começam a trabalhar no mesmo ritmo que o quadril do garoto, e leva seus olhos de encontro ao rosto do rapaz. As bochechas de estavam avermelhadas, e, pela pouca experiência que tem, imagina que ele estava se esforçando para fazer com que aquela sensação durasse ao máximo.
Os músculos de tensionam e ele solta o ar pela boca, puxando os cabelos de para trás.
- , para. - a respiração de é ofegante, e a o olha sem entender, sentindo seu membro latejar entre seus dedos.
- Mas você não…
- Eu sei. - a interrompe com um sorriso frouxo nos lábios, se levantando do lugar onde estava sentado e puxando os braços da garota para cima. - Mas…
“Senhoras e senhores passageiros, estamos iniciando o nosso procedimento de pouso. Peço a todos que retomem o encosto de suas poltronas para a vertical, e se certifiquem que…”
- Eu também esqueci que estamos em um avião. - dá de ombros, com um semblante infantil em seu rosto no momento em que os dois são interrompidos pelo aviso vindo da cabine de comando. Constrangida, ri, cobrindo seu rosto com as mãos.
Encantado, o aproveita os últimos minutos que eles têm ali e envolve a cintura de , puxando o corpo dela de encontro ao seu.
- Você foi ótima. - diz, antes de roubar um selinho da garota.
A , por sua vez, sorri e afaga os cabelos de , enquanto umedece seus lábios com a ponta de sua língua. Hipnotizado, acompanha os movimentos da garota e admira cada detalhe em seu rosto, como se tentasse guardá-los em sua memória.
- E você não imagina o quanto eu quero foder você. - profere, deixando seus pensamentos saltarem pela sua boca. Surpresa, arqueia as sobrancelhas e percebe que a ereção do garoto ainda latejava contra sua barriga.
- E por que não faz? - questiona, mordiscando seu lábio inferior. então suspira pesado e acaricia o rosto da garota com uma de suas mãos.
- Porque é a sua primeira vez, , e eu acho que você merece algo muito mais especial do que o banheiro de um avião. - diz, por fim.
Capítulo 5
Kacey Musgraves, Butterflies.
Amsterdã, 19 de junho de 2020.
Casa dos Van Dijk
A Holanda é considerada o país das surpresas, das tulipas, das bicicletas, dos moinhos de ventos, da tolerância, e da beleza. Sua arquitetura típica é algo que sempre chamou a atenção de , por conta fachadas estreitas de seus prédios com todos aqueles janelões que podem ser contemplados da margem dos canais que percorrem a cidade, ou refletidas na água. se lembra, inclusive, da viagem que fez com a família para a serra gaúcha, e lá, durante um de seus passeios turísticos, lhe foi dito que as casas holandesas comumente eram tortas.
Ela não acreditou.
E, de fato, como poderia? Casas inclinadas para frente pareciam algo absurdo. Até agora.
Parada na calçada, em frente a um conjunto de casas tipicamente holandesas, coladas umas às outras, pode constatar que tudo o que ela via em filmes/livros, e tudo o que lhe foi dito durante aquele passeio turístico, era verdade. As casas na Holanda eram realmente tortas, em ângulos absurdos e facilmente perceptíveis.
Maravilhada, a sorri e lança um olhar de soslaio para . Totalmente diferente de , o semblante no rosto de era sério e seus olhos estavam fixados no papel em suas mãos, que, por sinal, tremiam além do esperado. inclina seu corpo para o lado e compara a numeração no papel com a do prédio à sua frente.
- É aqui. - ela profere, mordendo seus beiços, e puxa o ar pela boca, balançando a cabeça na afirmativa. Ele dobra o papel, esconde no bolso de seu casaco e vira o seu rosto em direção ao de .
- É. Vamos acabar logo com isso. - sorri, balançando a cabeça na afirmativa, e abaixa seu corpo para pegar sua mala do chão, antes de subir as escadas que o levariam até a casa da família de seu pai.
Enquanto o observa ainda parada na calçada da rua, sente seu coração palpitar e hesita com a mão trêmula sobre o botão da campainha.
- Merda. - ele murmura, balançando a cabeça de um lado para o outro. puxa todo ar que consegue pela boca e aperta o dispositivo, ouvindo o som ecoar pelo ambiente logo em seguida.
Os batimentos cardíacos do parecem perder o ritmo e ele arregala os olhos, descendo um dos degraus. gira o seu corpo em direção à , que aguardava ansiosa pelo encontro que estava prestes a acontecer.
No entanto, poucos segundos depois, desce todos os degraus e - em passos largos e firmes - passa por com a cabeça baixa. Sem entender, a franze o cenho e acompanha seus movimentos com os olhos.
- ! - ela o chama, quando já está a alguns passos de distância. para de andar, virando seu corpo de frente para a menina.
- Isso foi uma péssima ideia. - ele dá de ombros e um sorriso nervoso salta de seus lábios.
- Não, não foi. - rebate, balançando sua cabeça na negativa, e o garoto ri, limpando a região mais interna de seus olhos com a ponta de seus dedos.
- Vamos embora, . - profere, erguendo o seu rosto de encontro ao da menina.
- Não.
então respira fundo e dá alguns passos em direção à , diminuindo a distância entre seus corpos.
- Vamos embora, . - ele insiste, entredentes, e envolve seus dedos no pulso da garota, a puxando consigo na direção oposta da que estavam. Irredutível, no entanto, crava seus pés no chão e puxa seu braço de volta, tentando ser mais forte que .
- Não. - irritado, bufa.
- Você quem sabe. - ele profere, exausto. Teimosa, cruza os braços na frente de seu corpo. - Eu estou indo para o hotel. – completa, com certa indiferença, e a revira os olhos, impaciente, quando o vê dar as costas e começar a caminhar no sentido oposto.
- Tudo bem. - ela dá de ombros, acompanhando os movimentos de . - Enquanto isso, eu vou conhecer a sua família. - profere, por fim.
Em um movimento irreflexo, gira seu corpo de encontro ao de mais uma vez e ela sorri sapeca, antes de correr em disparada até a entrada da casa e tocar a campainha.
- ! - ele grita. A menina se vira de frente para ele e aperta novamente o dispositivo, acionando o som. Exasperado, sobe as escadas com passos firmes e, novamente, agarra o braço de , dessa vez, aplicando uma força ainda maior. - Vamos embora, agora. - ele range os dentes, visivelmente furioso.
- Você está me machucando. - sustentando seu olhar contra o dele, profere com o tom de voz calmo e ameno. Em questão de segundos, o semblante de muda e ele solta a menina, dando um passo para trás. Envergonhado, ele esfrega a têmpora e mentalmente se pune por ter atravessado determinados limites.
- Me desculpa, eu… - sua voz falha, enquanto ele balança a cabeça na afirmativa e sente seu peito estremecer. A , por conseguinte, dá um passo a frente, erradicando a distância entre seus corpos. Ela pousa uma de suas mãos sobre a bochecha de , trazendo o olhar dele de encontro ao seu.
- Tá tudo bem. - ela garante, com um sorriso singelo no rosto, e balança a cabeça na negativa. - Eu não vim até a Holanda para deixar você desistir de saber quem você é. - surpreso, os olhos de fitam os de como se nunca tivesse visto aquela menina antes. Seus lábios ressecam e uma vontade absurda de beijá-la surge. , por sua vez, sente o coração disparar no peito e leva suas mãos até as dele, entrelaçando seus dedos.
Sem nem pensar que aquela não era mais uma de suas “aulas”, umedece os lábios com a ponta da língua e se prepara para recebê-lo no instante em que vê o inclinar seu tronco sobre ela.
- Eu posso ajudá-los? - os dois são interrompidos por um tom de voz feminino. Involuntariamente solta as mãos de e se afasta, dando alguns passos para trás. Envergonhado, o garoto passa a ponta do indicador pela marca da lágrima de seu olho e puxa o ar pela boca, enquanto direciona sua atenção para a pessoa em sua frente. A sua frente, ela encontra uma moça de vinte e poucos anos, cabelos alaranjados e olhos claros, que sorria um tanto quanto confusa.
Sem saber o que fazer, lança um olhar para e esfrega a têmpora quando o vê desviar o olhar para o chão.
- Oi, eu me chamo . - simpática, a se apresenta, estendendo sua mão para a outra, que prontamente a cumprimenta, com um olhar desconfiado no rosto.
- Charlotte.
- Como vai, Charlotte? - questiona, com um sorriso leve em seu rosto, e novamente direciona sua atenção para , que mantinha seus olhos fixos ao chão.
“Merda, ” , a resmunga em seus pensamentos e se aproxima de , envolvendo seu braço no dele.
- E esse aqui é o...
- Desculpe. - interrompe , e com a atenção das duas voltadas para si, umedece a garganta. - Deve ter acontecido algum engano. - ele dá de ombros, e quando pensa em se virar em direção à rua, faz força para que ele fique. A outra, no entanto, observa a cena em silêncio.
- ! - murmura entredentes, a repreende com o olhar e Charlotte arregala os olhos surpresa.
- Espera aí, você disse...
- ? - mais uma vez eles são interrompidos por uma voz feminina desconhecida aos seus ouvidos. Em um movimento irreflexo, o vira seu corpo de frente para a entrada da casa, e, atrás de Charlotte, encontra uma mulher bem mais velha, com cabelos grisalhos na altura de seus ombros.
Ele não pode dizer com certeza, mas pelos traços que consegue notar em seu rosto, imagina que aquela mulher é Sophia Van Dijk. Sua avó paterna.
- É você mesmo? - ela questiona, retirando os óculos presos ao seu busto e os colocando em seu rosto. sente seu coração acelerar e lança um olhar desesperado para que, novamente, se afasta e o incentiva com um sorriso. Ele então respira fundo e volta a sua atenção para a mulher.
- Sim, sou eu. – diz, por fim. Um sorriso largo nasce no rosto de Sophia e ela caminha em direção ao neto com os braços abertos para recebê-lo em um abraço.
- Quer dizer que somos primos? - Charlotte questiona, dividindo o pequeno espaço de uma poltrona azul marinho com seu namorado, um rapaz alto de cabelos claros e olhos azuis. Notavelmente constrangido, sorri, balançando a cabeça na afirmativa.
- É, eu acho que sim. - ele dá de ombros, com os olhos fitando o chão.
- Quando Victória me ligou e disse que existia a possibilidade de você vir ao meu aniversário, eu senti que esse seria o melhor presente que eu poderia receber, mesmo que você não viesse. - Sophia surge na sala, carregando uma bandeja com dois copos de vidro preenchidos com suco de laranja. Involuntariamente ergue seu rosto em direção ao som e a mulher caminha até ele, apoiando a bandeja sobre a mesa de centro na frente do rapaz. - Mas você veio, e eu não tenho palavras para descrever o tamanho da minha felicidade em ter o meu neto mais velho perto de mim. - Sophia entrega um dos copos com suco para e ele sorri agradecido, sentindo a mulher aconchegar sua bochecha. Ela, em seguida, desvia o olhar para e solta o ar de seus pulmões. - Sua mãe só esqueceu de me contar que você viria acompanhado. - profere, estendendo o outro copo para , que assim como , sorri em agradecimento - A sua namorada é muito bonita, por sinal. - a engasga com o líquido em sua boca e arregala os olhos, desviando-os de para Sophia algumas vezes.
- Ah não, nós não...
- Não somos namorados. - interrompe a garota, que, envergonhada, desvia seu olhar para o chão e limpa o canto dos lábios com a ponta de seus dedos. Desconfiada, Charlotte estreita seus olhos de um para o outro. - Somos amigos. - garante, levando o copo até seus lábios, e concorda, balançando a cabeça na afirmativa. Sophia, por sua vez, dá de ombros, soltando um suspiro pesado.
- Bom, nesse caso... É você quem perde, meu rapaz. - ela devolve seu olhar para , e ele direciona sua atenção para , que, envergonhada, sente suas bochechas ruborizarem.
Enquanto fita da cabeça aos pés e pensamentos diversos atravessam a sua mente, Sophia reconhece no neto os traços marcantes presentes na fisionomia de seu próprio filho.
- Você se parece tanto com o seu pai, . - profere, resgatando o rapaz de seus pensamentos e atraindo sua atenção para si. No momento em que os olhos do garoto cruzam com os seus, a mais velha sorri encantada. - É como se eu estivesse vendo a versão mais nova de John bem na minha frente.
Desconfortável, o garoto engole seco e se remexe sobre o sofá. Estava na casa de Sophia há pouco mais de vinte minutos, e por mais estranhas que fossem as semelhanças, e por mais simpáticas que todas aquelas pessoas fossem, por um tempo simplesmente esqueceu que aquela ali era - além de outras coisas - a família do seu pai biológico. O cara que, por escolha própria, abandonou a namorada grávida aos dezesseis anos e nunca nem sequer fez questão de conhecer o próprio filho.
Esse cara, não fazia a menor questão de conhecer, e pensar que esse encontro poderia estar mais próximo do que ele imaginava, fazia o coração de palpitar de ansiedade e nervosismo ao mesmo tempo.
- Eu posso ir ao banheiro? - questiona, chacoalhando a cabeça de um lado para o outro.
- Claro. Naquele corredor, a terceira porta à esquerda. - Sophia profere, direcionando o caminho. Nervoso, umedece a garganta e seca as mãos suadas no tecido de sua calça antes de se levantar. Preocupada, acompanha os movimentos do amigo em silêncio.
- Cheguei! - mais uma voz feminina ecoa pela sala, chamando a atenção de todos. Involuntariamente, para de andar e desvia seu olhar em direção ao som.
Caminhando desatenta pelo estreito corredor que liga a entrada da casa ao ambiente em que todos estavam reunidos, encontra uma garota. Vestindo um vestido vermelho de poá branco, um tênis também branco, e os cabelos presos com uma piranha de maneira desordenada enquanto os fios de sua franja caiam sobre sua testa.
Absorta, a garota checa alguma coisa na tela de seu telefone e nem sequer nota a presença das outras pessoas.
- Vovó, o buffet acabou de me mandar mensagem. Eu preciso que a senhora me passe a lista com o nome de... - a garota se cala no momento em que ergue o seu rosto e encontra a figura de parado a sua frente.
Os traços marcantes e característicos da jovem eram exatamente iguais aos de .
O formato do seu rosto, o tamanho dos seus olhos, a espessura de seus lábios, o tom de sua pele... Tudo, absolutamente tudo, lembrava o garoto. Com exceção dos olhos, os dela eram .
As semelhanças eram tantas que ambos podiam jurar que estavam de frente à um espelho capaz de refletir a sua própria versão no sexo oposto.
Atordoados e em silêncio, os dois se encaram como se estivessem sozinhos ali.
- Geórgia... - a voz de Sophia os resgata do transe, e tanto a garota, quanto , buscam pela figura da avó. Ela, por conseguinte, se aproxima da menina e aconchega seus ombros. - Esse é o seu irmão, . - diz, apontando para o rapaz com um sorriso largo. Geórgia, por sua vez, volta sua atenção para o garoto e franze o cenho, atônita.
- Meu irmão? - sua voz sai embargada, e umedece a garganta, sentindo um arrepio percorrer sua espinha. - Meu irmão! - ela esbraveja mais animada e notavelmente emocionada. Antes que pudesse protestar, Geógia avança sobre ele e envolve seus ombros em um abraço carinhoso.
De início, enrijece seus músculos e não reage ao abraço. No entanto, no instante em que sua irmã afunda o rosto na curva de seu pescoço, e os olhos marejados dela respingam sobre sua roupa, sente seu coração estremecer. O perfume doce da garota atravessa o seu nariz, e o peito do rapaz aquece no instante em que ele, lentamente, aconchega o corpo dela em seus braços.
fecha os olhos e se entrega ao abraço. A sensação era estranha, mas ele estava em casa. De alguma forma, aquela menina era a sua casa.
- Então vocês se conheceram porque você é aupair dos irmãos dele? - Geórgia me questiona, roubando um biscoito do pote sobre a mesa de centro. Imediatamente balanço a cabeça na afirmativa e lanço um olhar rápido para .
- Sim. Eu diria que a nossa amizade começou com um copo de água gelada e um livro da Jojo Moyes. - pressiono meus beiços e vejo entortar seus lábios, deixando um riso nostálgico escapar. As covinhas surgem em seu rosto e meu coração estremece.
- Parece interessante uma experiência como aupair. Deve ser bem divertido. - Charlotte se manifesta e eu desvio meu olhar de encontro ao dela.
- E é. - dou de ombros, e involuntariamente bocejo, cobrindo a minha boca em seguida. O dia tinha sido longo e o cansaço já estava começando a dar os seus primeiros sinais.
- Acho melhor irmos. - o tom rouco da voz de chama a minha atenção, e meus olhos emaranhados cruzam com os dele, então balanço a cabeça na afirmativa concordando.
- O quê? Vocês não vão ficar aqui com a gente? - Geórgia questiona com os olhos arregalados passeando por mim e pelo irmão algumas vezes. Me calo e espero que responda.
- Eu já disse que temos quartos suficientes para os dois, mas eles insistem em ir para um hotel. - Sophia dá de ombros, visivelmente desapontada com a decisão do neto, e sorri nervoso, se levantando do sofá. Eu, por conseguinte, faço o mesmo.
- Nós não queremos incomodar. - ele dá de ombros e Geórgia espaça seus lábios prestes a rebatê-lo, mas se apressa. - E eu me sinto mais confortável assim. - diz, com um sorriso tímido no rosto, e a menina se cala.
- Tudo bem, então... - ela se levanta da poltrona onde está sentada e olha em volta, como se estivesse pensando em algo. - Amanhã eu preciso passar no centro da cidade para buscar o meu vestido para o aniversário. Vocês podem ir comigo, e de lá podemos visitar alguns pontos turísticos, o que acham? Vocês gostam de museu?
- Eu adoraria! - digo animada, e ela lança um sorriso grandioso na minha direção.
- Eu acho que já conheci todos os cantos dessa cidade. - dá de ombros e eu o repreendo com o olhar. Ele então coça os cabelos de sua nuca e Geórgia estreita os olhos para o irmão.
- Há sempre algo novo para se conhecer em Amsterdã, . - ela rebate em tom de desafio, e eu prendo meus lábios tentando conter o riso.
Eles eram realmente iguais.
, por conseguinte, ergue seu rosto e solta um longo suspiro antes de proferir o seguinte:
- Acho que podemos ir ao Red Light District.
- Por mim, pode ser. - me apresso em dizer, sem ter ideia do que ele estava falando. Logo em seguida ouço a gargalhada contagiosa do namorado de Charlotte, e libera um riso brincalhão. Sem entender, cruzo os braços e olho confusa para eles enquanto me surpreende quando puxa o meu corpo para perto do seu e deposita um beijo carinhoso no topo da minha cabeça.
- Eles estão brincando, . - Geógia profere, revirando os olhos entediada. - Red Light District é uma área da cidade famosa pela prostituição, nós não vamos lá. - ela balança a cabeça de um lado para o outro e eu me surpreendo, empurrando o corpo de para longe do meu e estapeando levemente seu braço. Ele ri.
- Vocês podem ir onde quiserem, mas estejam em casa para o almoço. - Sophia se manifesta com certa autoridade, atraindo nossas atenções para si. Involuntariamente balanço a minha cabeça na afirmativa.
- Certo, me empresta o seu celular. - Geógia diz com os olhos fixos aos de , e, sem entender, ele franze o cenho. - Vou anotar o meu telefone, e assim combinamos melhor como vamos fazer amanhã. - ela dá de ombros, com a mão estendida na direção do irmão, que entrega o celular para ela sem maiores delongas.
Nesse momento, somos interrompidos pelo som da campainha, e, enquanto resolvemos nosso passeio do dia seguinte, Charlotte salta do sofá e corre em disparada para atender a porta.
- Eles ainda estão aqui? - ouço uma voz masculina, e por curiosidade, desvio a minha atenção de Geórgia. A alguns metros de distância, vejo um homem alto que aparenta ter a mesma idade que Victória e Erick. - ? - o rapaz ao meu lado arqueia as sobrancelhas em direção ao som e o semblante leve em seu rosto muda drasticamente, dando lugar a uma expressão impassível, então, finalmente percebo quem é homem.
John Van Dijk, pai biológico de .
- Eu sou o seu...
- Como vai? Eu sou a , amiga do . - preocupada com a reação de , decido interrompê-lo, e forço o meu melhor sorriso. Confuso, John demora alguns segundos para notar o clima pesado no ambiente, e quando isso finalmente acontece, ele sorri nervoso, balançando a cabeça de um lado para o outro e estendendo sua mão para mim. Sem hesitar, o cumprimento.
- John Van Dijk. – diz, apertando firmemente a minha mão, e eu arqueio minhas sobrancelhas, esforçando a minha simpatia ao máximo.
Os segundos seguintes são banhados por um silêncio constrangedor. John crava seus olhos em , que fixa o seu olhar no chão. Eu umedeço a minha garganta um tanto quanto desconfortável com a situação.
Em um gesto amigável afago as costas de , e meu toque parece resgatá-lo do transe. , então ergue seu rosto, e com os olhos vagos, dirige sua atenção à mim.
- Vamos embora, . - diz, me puxando pela mão antes mesmo que eu - ou qualquer outro ali - tenha tempo de protestar sua decisão.
Amsterdã, 20 de junho de 2020.
North Holland Hotel
- Por Deus, ! - resmunga, esfregando o cenho, apoiado contra o batente da porta do quarto onde estava hospedada. - Nós vamos nos atrasar. - profere, batendo repetidas vezes na porta. Segundos depois, ouve o barulho da fechadura e se afasta, soltando um longo suspiro.
- Estou pronta, estou pronta! - a menina rebate ainda dentro do quarto, e, impaciente, revira os olhos até que a porta se abre e ele encontra . Ela estava vestindo um vestido solto com decote de ombro a ombro, os cabelos presos pela metade, e um tênis branco nos pés, a garota sorri, dobrando seus joelhos e reverenciando o rapaz. - E então...? - questiona, balançando o vestido quando nota o olhar crítico e surpreso de sobre sua roupa.
- Você está... - ele pisca os olhos algumas vezes e franze a testa meio confuso, levando sua atenção de volta ao rosto da garota. - Laranja? – pergunta, notando que a cor do vestido e a cor do laço que prendia os seus cabelos eram exatamente a mesma. , por sua vez, ri.
- E você nunca esteve tão sem graça. - a dá de ombros, analisando criteriosamente a composição escolhida pelo rapaz: uma blusa preta simples, e uma calça branca quadriculada. Por fim, suspira. - Esperava mais de você, . - entorta os lábios em um sorriso, desapontada, brincando com a boina jeans na cabeça do garoto. Ele, revira os olhos, afastando levemente seu corpo do dela.
- Se importa em me explicar o motivo dessa combinação monocromática? - o questiona, enquanto tranca a porta de seu quarto.
- Ué, porque estamos na Holanda. - dá de ombros, com um semblante engraçado no rosto, e guarda a chave dentro de sua bolsa. Os dois começam a caminhar lado a lado pelo corredor dos quartos e solta um riso bobo.
- Me Deus, você não existe. - ele balança a cabeça de um lado para o outro e esfrega os olhos com a ponta dos dedos, enquanto mostra a língua e franze o nariz.
Nesse instante, sente seu celular vibrar no bolso lateral de sua calça, e sem hesitar saca o aparelho em suas mãos e confere a mensagem que piscava no visor.
- Vamos. Geórgia já me mandou várias mensagens.
- Não vamos comer? - pergunta, desviando o olhar do aparelho nas mãos de para o rosto do rapaz.
- Tomamos café no caminho. - ele dá de ombros, guardando o celular em seu bolso mais uma vez.
- Certo... - a estreita seu olhar, e antes de questioná-lo, pressiona um lábio contra o outro, tentando evitar um sorriso. - Você gostou dela, não é? - sem entender, a olha com a testa franzida. - Da Geórgia. - ela dá de ombros e respira fundo, voltando sua atenção para o caminho na sua frente.
- Ela me pareceu uma boa pessoa. – rebate, com certa indiferença.
- Sophia e Charlotte também. - observa e o balança a cabeça concordando. - Mas você e Geórgia são iguais, . É impressionante. - profere. Um sorriso torto e involuntário surge nos lábios de e ele lança um olhar rápido para a , balançando sua cabeça de um lado para o outro logo em seguida. - Já mudou de ideia? - volta a questioná-lo, e mais uma vez, sem entender a sua pergunta, franze o cenho. - Em relação a essa viagem. Você ainda acha que é um erro? - a menina morde os beiços hesitante, e o garoto suspira, levando alguns segundos para respondê-la.
- Eu não diria um erro, mas ainda não estou convencido de que foi uma boa ideia. - diz, pensando em John, e suspira.
- Tudo bem, ainda temos três dias pela frente. - ela dá de ombros e encerra o assunto.
Amsterdã, 20 de junho de 2020
Leidse Square
- Não consigo decidir se quero ir ao museu Van Gogh ou à casa de Anne Frank. - entorta os beiços, olhando para o panfleto em uma de suas mãos, enquanto com a outra segura o copo com o resto de suco de laranja que tinha acabado de comprar.
Assim que tomaram café em um restaurante próximo ao hotel, resolveram esperar pelas próximas mensagens de Geórgia enquanto passeavam por uma das praças mais famosas da capital holandesa. O dia estava ensolarado - o que pode não parecer muito comum nessa época do ano - e as ruas movimentadas.
- Dadas as circunstâncias, eu acho que deveríamos ir ao museu do sexo, mas você nunca aceitaria essa sugestão. - profere com certa indiferença, arrumando os óculos escuros em seu rosto, e para de andar. Ela ergue o rosto em direção ao do e usa o panfleto para proteger seus olhos do sol.
- Existe um museu do sexo? - o semblante inocente em seu rosto faz rir.
- Amsterdã é a cidade das provocações, bonitinha. Eu diria que é até um pouco irônico estarmos aqui. - ele dá de ombros e revira os olhos, voltando a andar.
- Van Gogh ou Anne Frank, ? - questiona, ignorando completamente o comentário do garoto.
- Você não vai nem sequer considerar a possibilidade? - ele arqueia as sobrancelhas, prendendo um lábio contra o outro, e o repreende com o olhar. – Certo. Anne Frank. - dá de ombros e a sorri, levando o canudo verde do copo até seus lábios. Mais uma vez o celular de vibra em seu bolso e ele checa a mensagem de sua irmã. - Geórgia acabou de mandar mensagem perguntando se você quer comprar algum vestido para o aniversário da Sophia. - profere, olhando para .
- Vai ser algo tão chique assim? Eu pretendia ir de calça jeans e All Star... - a morde os beiços, e acha graça.
- Acho que você vai precisar rever suas escolhas, bonitinha. - ele dá de ombros, respondendo a mensagem de Geórgia, e suspira. - Ela pediu para encontrarmos com ela no Rijksmuseum. - diz, bloqueando o aparelho e guardando-o no bolso de sua calça.
- Onde? - ela questiona, unindo as sobrancelhas, e quando espaça seus lábios prestes a respondê-la, balança a cabeça de um lado para o outro. - Deixa, eu nunca vou conseguir pronunciar isso. Fica longe daqui?
- Não muito, mas precisamos pegar um táxi. Ou podemos ir de bicicleta, já que você parece gostar de uma breguice turística. - profere com a voz carregada de deboche, e mais uma vez, revira os olhos.
- E eu amo mesmo, mas quanto à bicicleta...
- Você não sabe andar, eu me esqueci desse detalhe. - diz, tentando conter o riso. - Então vamos de táxi.
- Nós conseguimos ir de barco? - a questiona, mordendo os lábios meio envergonhada. - Eu vi no google que alguns deles funcionam como táxi...
- Passeio de barco, sério? - franze o cenho e a interrompe seus passos novamente.
- Qual é, ? Você já veio aqui várias vezes, essa é a minha primeira, e provavelmente única. - profere com um tom de voz mais agudo que o normal, batendo os pés no chão como uma criança mimada. - Por favor? - pede, com um bico em seus lábios, e se dá por vencido.
- Tudo bem, eu acho que podemos pegar um daqueles cruzeiros turísticos e saltar no Rijksmuseum. - ele dá de ombros e a garota saltita animada.
No barco, os dois sentam lado a lado na ponta mais extrema, e enquanto o condutor da embarcação conta detalhes históricos e nada relevantes sobre a Holanda, admira a paisagem com certo fascínio. As construções típicas com todos aqueles prédios coloridos e flores espalhadas pelas ruas faziam de Amsterdã - sem dúvida - a cidade mais linda que ela já tinha visitado.
Quando a embarcação se aproxima de uma das pontes que cortam os canais, vê a menina se levantar e abrir os braços na intenção de sentir a madeira molhada tocar as pontas de seus dedos. Os cabelos da garota voam por conta do vento, e um sorriso involuntário surge nos lábios de . Sem pensar, o saca a sua Canon 1014 XL-S - que comumente levava durante suas viagens -, e aponta a lente na direção da garota.
- , olha para mim. - seu tom de voz é aveludado, e imediatamente atende ao seu pedido. No momento em que vê a câmera nas mãos do garoto, a menina franze o cenho.
- O que você está fazendo?
- Registrando o momento. - dá de ombros e a menina revira os olhos com um semblante bobo em seu rosto. Em seguida, ela encolhe os ombros e volta sua atenção para a paisagem.
Hipnotizado, abaixa a filmadora e passa a fitar a figura da menina pelos seus olhos. O sol que iluminava a cidade de Amsterdã agora dourava a pele de , e o garoto sente um calafrio desconhecido percorrer seu peito.
Animada, vira o seu rosto em busca do de e sorri. Inerte em seus pensamentos, o garoto arqueia as sobrancelhas e pensa que, se Bruno Mars a conhecesse, ele poderia afirmar com toda certeza do mundo que tinha sido a musa inspiradora escondida atrás da letra de Just The Way You Are. Porque ela era, sem dúvida alguma, uma das meninas mais lindas que já tinham passado pela vida de .
Exatamente do jeito que ela era.
Amsterdã, 20 de junho de 2020
Museumplein
A Praça dos Museus, ou Museumplein, em holandês, é um dos principais lugares a ser acrescentado em uma lista de pontos turísticos de Amsterdã. Três dos maiores museus da cidade ficam localizados nesse pedaço, sendo eles: Van Gogh, Rijksmuseum e StedeIijk.
O Rijksmuseum é conhecido pelas pinturas dos grandes artistas da Idade do Ouro Holandesa, como Vermeer, por exemplo. E, além disso, também apresenta obras bem diferentes, como casas de bonecas que replicam as mansões espalhadas pelos canais; O museu Van Gogh - como o próprio nome sugere -, permite que seus visitantes mergulhem no mundo de Vincent van Gogh, expondo suas obras de maneira cronológica, pelos lugares onde foram feitas: Holanda, Paris, Arles, Saint-Remy e Auvers-sur-Oise; Já o Stedlijk,, dos três, é o menos famoso entre turistas. Trata-se de um museu de arte contemporânea conhecido por ser muito inovativo, e apresenta, entre outras, coleções de Malevich e Picasso.
A pouco mais de quarenta minutos, e tinham encontrado Geógia e seu noivo na praça dos museus. Durante todo esse tempo, as meninas desapareceram em busca de seus vestidos, e se juntou à Léo em um dos bancos espalhados pelo local. Enquanto seu - recém conhecido - contava sobre a sua última experiência na Inglaterra, os olhos de fitavam o imenso letreiro I Amsterdam bem na frente do Rijiksmuseum.
- Ah, finalmente! - Léo esbraveja, atraindo a atenção de para si. O vê o outro de braços abertos, e, curioso, acompanha o seu olhar. A alguns metros de distância, encontra Geórgia e caminhando lado a lado, enquanto conversam sobre algo e carregam uma sacola cada. As duas sorriem no momento em que seus olhos cruzam com os dos rapazes. - Encontraram? – questiona, e Geórgia anda até ele, balançando a cabeça na afirmativa e envolvendo seu ombros em um abraço, antes de selar seus lábios com certa ternura.
, por sua vez, para ao lado de , e, curioso, o garoto tenta puxar a sacola de suas mãos para ver o conteúdo, mas é rapidamente interrompido pela própria, que o repreende, estapeando levemente sua mão.
- Vocês têm planos para hoje à noite? - Geórgia pergunta, chamando a atenção dos dois. Ambos balançam a cabeça na negativa. - Charlotte conseguiu ingressos para o show da Kacey Musgraves. Vocês querem ir com a gente? - e se entreolham e ele percebe, pelo olhar no rosto de , que ela nunca negaria um convite como aqueles. Por isso, dá de ombros e faz que sim com a cabeça, alegrando a garota.
- Tudo bem. Antes de enfrentarmos a fila quilométrica na casa de Anne Frank, alguma coisa que vocês queiram fazer? - Léo questiona, se levantando do banco. Novamente lança um olhar para e ela entorta os lábios.
- Esse calor está me matando. Você podia me pagar um sorvete, . - resmunga, batendo na perna do garoto com a sacola em suas mãos. Ele revira os olhos, entediado, e assim como Léo, se levanta do banco.
- Estamos em Amsterdã, bonitinha. Eu vou te pagar uma cerveja. – profere, e os outros acham graça. Em um gesto involuntário de cavalheirismo, puxa a sacola da mão de e surpreende a menina ao entrelaçar seus dedos nos dela.
Amsterdã, 20 de junho de 2020.
Casa dos Van Dijk
recebe uma ligação de seus pais e se afasta para atendê-los, me deixando sozinho. Normalmente não tenho problemas em me enturmar com as pessoas e fazer tudo o que estiver ao meu alcance para ser simpático e tratar todos com gentileza. Mas, nesse caso, algo estava me prendendo.
Eu não conheço essas pessoas, mas no fundo sei que pertenço a elas. Charlotte, Sophia, Geórgia, e os outros primos e tios que acabei de conhecer, fazem parte de quem eu sou, e de alguma forma, me sinto ligado a eles.
Da varanda onde estou sentado, observo minha irmã. Ela tem a mesma mania que eu, de levar o indicador ao nariz enquanto solta um riso silencioso e as covinhas se formam em sua bochecha. estava certa, nós somos iguais.
E é uma pena que eu só tenha descoberto isso hoje, vinte e quatro anos mais tarde.
Me pergunto o que teria acontecido caso eu e Geórgia tivéssemos sido criado juntos, por mais que a distância entre Londres e Amsterdã nos separasse. Eu teria ido ao seu aniversário de quinze anos, teria implicado com seu primeiro namorado, e teria feito da vida de Léo um inferno até ele se mostrar merecedor do coração da minha irmã. Eu teria sido para Geórgia o irmão mais velho que tento ser para Helena todos os dias.
Estou tão inerte em meus pensamentos que nem sequer percebo a aproximação de uma pessoa específica no pequeno ambiente onde estou isolado, até escutar uma voz rouca que - imediatamente - faz meu peito comprimir ao mínimo.
- ? - ergo o meu rosto e encontro a figura de John parada a alguns metros de distância de mim. Com as mãos atadas atrás de seu corpo, consigo notar a ansiedade em seus olhos, então umedeço a minha garganta e me levanto de onde estou sentado. - Nós podemos… - nesse momento, percebo que não adianta tentar adiar algo que é notavelmente inadiável. Então, solto um longo suspiro e o interrompo.
- Não. - encolho os meus ombros e limpo minhas mãos suadas sobre o tecido da minha calça, enquanto ele me olha sem entender. Momentaneamente desvio meu rosto para o chão e pressiono meus olhos com a ponta dos meus dedos, tentando me acalmar. Um riso nervoso escapa pelos meus lábios. - Olha, eu não sei por que estou aqui, mas tenho certeza de que não é por você. - dou de ombros, ergo o meu rosto, e focalizo minha visão em Geógia e Sophia conversando na outra ponta da casa. - Então, não, nós não podemos ter essa conversa, porque eu não quero.
O olhar no rosto do meu pai biológico é vago, e ele não parece muito surpreso com o que acabei de dizer. Confuso, franzo o meu cenho e o vejo soltar um longo suspiro.
- Eu sei que não. - ele dá de ombros, entortando levemente os cantos de seus lábios. - Eu sei que você veio por eles, e, francamente, no seu lugar eu também não daria uma chance para essa conversa. Nós somos muito parecidos, garoto. - um riso irônico e debochado salta dos meus lábios enquanto balanço a cabeça na negativa.
- Eu e você não somos…
- Mas eu queria te entregar um presente. – profere, e em um ato irreflexo, volto a olhá-lo. Em suas mãos ele segura algo que me parece um disco de vinil, então estende na minha direção.
Quando tomo o objeto em minhas mãos, confirmo a minha suspeita e me surpreendo ao ver um autógrafo conhecido marcando a capa do insuperável Rumours, décimo primeiro álbum de estúdio do Fleetwood Mac - uma das minhas maiores inspirações no mundo da música.
- Como? - estarrecido, questiono, passando meu indicador sobre a marca de caneta do autógrafo. John sorri.
- Um conhecido meu trabalhou como segurança da Stephanie por muitos anos, e mesmo depois de se mudar para a Holanda, eles não chegaram a perder contato. Não foi difícil conseguir o autógrafo de uma das maiores lendas da música. - John dá de ombros, orgulhoso pelo presente, e eu balanço a cabeça de um lado para o outro.
- Não. Como você soube? Sobre a Stevie, o Fleetwood Mac… Como você soube que eu gosto deles? - pergunto, erguendo o meu rosto em direção ao seu. John suspira.
- A sua mãe me disse. - ele rebate, e, surpreso, deixo meu queixo cair alguns centímetros. A partir desse momento, não consigo ouvir mais nenhuma palavra que sai da boca daquele homem.
- Você falou com a minha mãe? - questiono, cerrando meus olhos, e John balança a cabeça na afirmativa. - Quando?
- Há algumas semanas, quando ela ligou para dizer que você viria ao aniversário. - ele dá de ombros e eu respiro fundo. Sinto meu peito arder no instante em que percebo que, mesmo sem querer, posso ter colocado minha mãe em uma situação desconfortável como essa. - Eu sabia que você não aceitaria conversar comigo, mas quis te dar esse presente para…
- Para apagar a sua ausência? - o interrompo com certa ironia, e ele se cala, umedecendo os lábios. - Você acha que um disco autografado vai te livrar da culpa de ter abandonado uma menina de dezesseis anos grávida, e um filho que você nunca quis conhecer?
- Mas eu quero conhecer. - profere sem hesitar, e um riso debochado escorre pelos meus lábios, ao mesmo tempo que reviro meus olhos, impaciente. - , eu sei que estou atrasado, mas…
- Tem razão, você está atrasado. - novamente corto suas palavras, e John franze o cenho na minha direção. - Vinte e seis anos atrasado, para ser mais exato. - dou de ombros, desviando de seu corpo para seguir em direção à área interna da casa. Estarrecido, meu pai biológico acompanha os meus movimentos em silêncio, até que decido voltar a encará-lo uma última vez. - Só mais uma coisa: eu não preciso de você, mas a Geórgia sim, e ela me parece uma pessoa incrível. Então, por favor, não erre com ela como errou comigo. - digo por fim, antes de dar as costas a ele novamente.
Assim que finaliza a ligação com seus pais, nota uma movimentação estranha, e seus olhos acompanham os movimentos de com certa preocupação, à medida que o garoto acelera os passos em sua direção.
Sem dizer nada, passa por e a garota vira o seu corpo em direção ao dele. Apreensiva decide ir atrás do amigo, que para na área da cozinha e varre o ambiente em busca de algo forte o suficiente para fazê-lo esquecer os últimos cinco minutos.
- O que aconteceu? - questiona, quebrando o silêncio. , no entanto, balança a cabeça na negativa e tira de dentro do cooler branco uma garrafa de Heineken. - … - preocupada, morde os beiços e se aproxima do garoto em passos lentos e cautelosos. Ele, por outro lado, abre a garrafa, dá um primeiro gole, e enquanto o líquido desce queimando pelo seu peito, lança o disco sobre a mesa da cozinha. - O que é isso? - pergunta, confusa, tomando o objeto em suas mãos.
- Aparentemente alguém achou que isso seria suficiente para conseguir o título de pai do ano em 2020. - ele profere, limpando os lábios molhados com a ponta da língua. então apoia uma das mãos sobre sua cintura e os olhos de acompanham os dele, focalizando na figura de John a uma distância considerável de onde estavam. A , por sua vez, respira fundo e vira seu corpo de frente para mais uma vez.
- Essa aqui não é aquela banda que você gosta? O Fleet… - ela cerra os olhos e ergue seu rosto em busca do dele.
- Fleetwood Mac, sim. Mas não importa, eu não vou ficar com isso. - dá de ombros, ainda preso à figura de seu pai biológico.
- E por que não? - ela questiona, pressionando seus lábios. Imediatamente os olhos de buscam os seus.
- Isso é sério, ? Você realmente acha que um disco autografado é o suficiente para apagar tudo o que esse homem fez?
- Não, eu não acho. Mas acho que John está se esforçando para ser uma boa pessoa, e não te custa nada aceitar esse presente. - ela dá de ombros. - Você não vai poder fugir dessa história para sempre, . - diz por fim, e leva alguns segundos para processar suas palavras, até que um riso debochado escapa por seus lábios.
- Eu não acredito que estou ouvindo isso de você. - ele sustenta seu olhar contra o dela, e nota que o brilho corriqueiro tinha desaparecido de seus olhos. Sem entender, a franze o cenho. - Você se enfiou em um programa de aupair só para fugir do seu pai e das regras que ele impôs na sua vida, . - revira os olhos, notavelmente entediado, e suspira, cruzando os braços na frente de seu corpo e balançando a cabeça de um lado para o outro.
- Isso não significa que eu não ame o meu pai. - rebate em sua defesa, e ri.
- Claro que não, mas eu imagino o que ele diria quando soubesse que a filhinha beata que ele tem, não pensou duas vezes antes de abrir as pernas para mim.
Surpresa, deixa seu queixo cair alguns centímetros e encara boquiaberta. O garoto, no entanto, não demora muito para se arrepender das suas palavras e respira fundo, dando um passo à frente para diminuir a distância entre seus corpos.
- Me desculpa, não foi o que eu quis dizer. - tenta tocar os braços da garota, mas ela é mais rápida e se afasta, dando um passo para trás.
- Você me pareceu muito certo das suas palavras, . - a voz da menina sai entrecortada, e a observa caminhar para longe de seu alcance enquanto um frio gélido e cheio de culpa percorre toda extensão do seu peito.
Amsterdã, 20 de junho de 2020.
North Holland Hotel
Pela milésima vez, estudo meu reflexo no espelho. Uma saia de couro preta bem acima dos meus joelhos, uma blusa de botão também preta, com pequenas cerejas espalhadas por todos os cantos, e um coturno também preto compunham o meu look escolhido para o show da Kacey. Imediatamente me lembro de Maria Luiza, e do dia em que ela me convenceu a comprar essa saia para quando finalmente fossemos a um pub em Brixton.
“Você precisa deixar a velha para trás”, ela disse enquanto me mostrava, ansiosa, a peça de roupa em suas mãos.
A noitada em Brixton ainda não acontecera, mas eu já tinha certeza de que a velha estava ficando para trás. O que, por sinal, é uma sensação inexplicável de liberdade. Aquela , com todas aquelas roupas sem graça, não era eu. Nunca foi.
No entanto, no momento em que levo minhas mãos até o mix de colares no meu pescoço, e vejo o anel atado ao meu dedo anelar, é inevitável pensar que essa nova poderia ser o motivo da maior decepção para a minha família.
Involuntariamente fecho os meus olhos e converso com Deus. Imploro para que Ele alivie a angústia em meu peito e mostre que as vozes na minha cabeça estão erradas.
Ouço o meu celular vibrar sobre o aparador de madeira, e instantaneamente volto à órbita. Abro meus olhos marejados e respiro fundo, tentando afastar o choro. No telefone, vejo o nome de Geórgia brilhar sobre a tela, então pego a minha bolsa e me apresso para encontrá-la.
Desço os poucos degraus que me levariam até o hall do hotel e abro um sorriso no momento em que encontro a irmã de e Léo, parados a alguns passos da recepção.
- Eu adorei a sua roupa! - ela diz, me recebendo com um abraço, e eu agradeço em silêncio. - Você sabe do ? Ele não responde as minhas mensagens. - espaço os meus lábios e arqueio as sobrancelhas, sem saber o que responder.
Por um momento, me esforcei para esquecer de .
Depois do nosso desentendimento, eu inventei a minha melhor desculpa e consegui me enfiar em um táxi de volta para o hotel. Não o vi desde então.
Entendo que tenha os seus motivos para agir daquela forma, eu mesma já estive em um lugar parecido e me comportei igual, mas eu não tinha autonomia suficiente a ponto de passar uma borracha sobre as palavras que foram ditas e agora estavam latejando dentro da minha cabeça.
- Eu não… - no momento em que começo a falar, noto que os olhos de Géorgia já não fitam mais o meu rosto. Ao invés disso, eles parecem concentrados em algo atrás de mim, então, involuntariamente, me viro.
Descendo os mesmos degraus que desci há pouco, vejo vestindo uma calça skinny preta, um suéter amarelo com detalhes pretos nas mangas, e um par marrom de botas Chelsea em seus pés. Seus cabelos estavam úmidos, então presumo que ele tinha acabado de sair do banho.
Assim que seus olhos nos encontram no meio do hall, ele guarda o celular no bolso traseiro e sorri, caminhando na direção em que estamos. Estremeço no instante em que ele - sem proferir uma palavra sequer - passa por mim, e eu inalo o perfume de baunilha que há dias se tornou tão familiar para o meu olfato.
Ele cumprimenta Geórgia com um abraço carinhoso e um beijo singelo no rosto, estende a mão para Léo e solta o ar dos pulmões, voltando sua atenção para a irmã.
- Vamos? - ele questiona, acariciando o braço de Geórgia, e ela balança a cabeça, arrumando a alça de sua bolsa sobre seu corpo. Os três começam a caminhar em direção à saída e eu me pego ridiculamente hipnotizada, com os pés cravados no chão. então gira seu tronco de frente para o meu e arqueia as sobrancelhas antes de questionar o seguinte: - Você vem, bonitinha?
Nesse instante - nesse mísero instante -, percebo que não estou chateada. Suas palavras foram duras e chacoalharam a minha zona de conforto, mas bastou ouvir a combinação entre aquele apelido miserável e o sotaque insuportável, para eu entender que - de um jeito ou de outro - eu sempre quebraria as minhas regras por causa de .
Amsterdã, 20 de junho de 2020
Ziggo Dome
O show já estava quase na metade, e enquanto se divertia junto de Charlotte, se pegava vez ou outra admirando os movimentos da garota. Os dois não tinham trocado muitas palavras desde o que aconteceu na casa de Sophia, nem mesmo quando sentaram lado a lado no taxi, a caminho da arena.
Envergonhado, não sabia o que fazer para derrubar a barreira que ele mesmo construiu entre os dois naquela tarde de sábado. Queria se juntar a ela e encenar cada uma das letras cantadas por Kacey, mas não podia fazer isso enquanto não se desculpasse verdadeiramente pelo comentário maldoso de mais cedo.
- Você gosta dela, não é? - uma voz feminina tira de seus pensamentos, e, atônito, ele pisca os olhos algumas vezes e vira o seu rosto em direção ao som. Parada ao seu lado, ele encontra Geórgia com um sorriso sugestivo, e involuntariamente, acompanha o olhar da garota, parando ocasionalmente em . Sem jeito, balança a cabeça de um lado para o outro e leva o copo vermelho aos lábios.
- Nós somos amigos. - ele dá de ombros, limpando os beiços molhados com a ponta da língua, e a menina revira os olhos, entediada.
- , eu sei que não nos conhecemos há anos, mas nós somos irmãos! – esbraveja, e a alegria em seu sorriso faz rir. - Fisicamente, somos iguais, e eu sinto que psicologicamente, temos a mesma cabeça dura. - Geógia cerra os olhos contra os do irmão e o garoto solta uma leve gargalhada. - Então, eu sei que esse brilho nos seus olhos não é amizade. - ela dá de ombros. suspira, lança um olhar rápido para , e desvia seu rosto para o chão em seguida. - O que aconteceu? Vocês brigaram? - Geórgia se interessa em saber, mordendo seus beiços com certa força.
- Eu falei merda. - dá de ombros, visivelmente arrependido, e um sorriso torto surge nos lábios da garota. Geórgia então dá um passo à frente e pousa sua mão esquerda sobre a bochecha do garoto.
- Você quer um conselho? - ela questiona, e imediatamente balança a cabeça na afirmativa. - Olhe em volta, nós estamos no show da Kacey Musgraves! Não consigo pensar em nada mais romântico do que isso. Reconquiste essa mulher! - Geórgia esbraveja, dando leves tapas no rosto do irmão, e acha graça, o que a faz rir.
- Reconquiste? - ele pergunta, passando o indicador pelo nariz, e a menina suspira, afastando seu corpo do dele.
- O mesmo brilho que eu vejo nos seus olhos, eu vejo nos dela. Pare de perder tempo. - Geórgia diz por fim, e sente seu peito estremecer. A garota dá as costas ao irmão e ele volta sua atenção para , que sorri largamente por causa de alguma brincadeira de Charlotte.
O ritmo das músicas desacelera ainda mais, e cada uma das meninas vai em busca do seu respectivo acompanhante. Sozinha, cruza os braços na frente do próprio corpo e usa suas mãos para afastar o calafrio que atinge seu corpo no instante em que ela reconhece os primeiros acordes de Space Cowboy.
Quando soube que finalmente se mudaria do Brasil para a Inglaterra, essa foi uma das músicas que mais tocou no seu Spotify. Por mais que Kacey Musgraves cante através da perspectiva de alguém que abriu mão do parceiro depois de perceber que ele ou ela não estava mais cem por cento envolvido no relacionamento que tinham, era praticamente impossível para não se comparar ao outro lado da moeda, àquele que a cantora se refere como “cowboy”.
Involuntariamente a fecha os olhos e se emociona enquanto canta cada uma das palavras junto de Kacey. A alguns passos de distância, observa a cena em silêncio e estranhamente hipnotizado.
Como se soubesse que estava sendo observada, puxa o choro pelo nariz e lança um olhar de soslaio para o rapaz. O sorriso no rosto de intriga a garota, e, depois de repetir seus olhares por pelo menos três vezes, ela vira o seu corpo de frente para o dele.
- O que você tanto olha? - sem descruzar os braços, ela questiona, arqueando as sobrancelhas. dá de ombros.
- Você.
- E por que você está olhando para mim com esse sorriso estranho no rosto? - franze o cenho.
- Porque você é bonita. - visivelmente encantado, rebate sem hesitar e sem desviar o olhar do de . Ela, por outro lado, ergue as sobrancelhas e deixa os lábios espaçados por todo tempo que leva até processar o que tinha acabado de dizer. Por fim, o semblante em seu rosto muda, e ela revira os olhos teatralmente.
- Você já disse isso algumas vezes, . – profere, e respira fundo, diminuindo a distância entre seus corpos. O peito de comprimia um pouco mais a cada passo que o dava na sua direção.
- Você tem razão, . A única diferença, é que agora eu não tenho pretensão alguma em te levar para cama. - ele dá de ombros, e mais uma vez, se surpreende.
Sem saber como reagir àquilo, agradece mentalmente quando o refrão da música puxa sua atenção de volta para o palco. O resquício de seu - quase - choro de minutos atrás, volta a lhe incomodar, e, receoso, morde os beiços antes de tocar seu braço.
- Me desculpe pelo que eu disse mais cedo, eu realmente…
- , tudo bem. - ela o interrompe, devolvendo seu olhar para o garoto. Involuntariamente, passa a mão pelo rosto, secando a única lágrima que conseguiu escapar pelos seus olhos. - Eu já me acostumei com essa sua postura de inglês, arrogante, e filho da puta. - dá de ombros e arqueia as sobrancelhas, surpreso, deixando um riso escapar logo em seguida. A garota faz o mesmo. - Eu não estou assim pelo que você disse. É só que… Essa música me lembra a minha família. - um sorriso entristecido escapa pelos lábios de , e entorta os seus em um riso singelo.
Novamente a dá de ombros e volta a fitar Kacey a uns bons metros de distância do camarote onde estavam. , por sua vez, continua com seus olhos atados à menina, e instantaneamente se lembra das palavras ditas por Geórgia mais cedo.
Ele não tinha certeza alguma, mas e se sua irmã estivesse certa? E se a sensação estranha que ele sentia no pé de seu estômago toda vez que sorria, fosse algo além da amizade?
- , vem cá. – diz, e sem nem ao menos dar chance para ela protestar, puxa sua mão e envolve seu corpo por trás. Em silêncio, não reage, apenas deixa que a aconchegue em seus braços. - Me desculpa mesmo pelo que eu disse. - pede mais uma vez, e sem hesitar, a garota balança a cabeça na afirmativa, entrelaçando seus braços aos dele sobre sua cintura.
então começa a sussurrar pedaços da música no ouvido de , e ela acaba deixando uma quantidade maior de lágrimas escorrer pelas suas bochechas, até que toma a decisão de apoiar as mãos na cintura da garota e girar o corpo dela de frente para o seu.
Envergonhada pelo choro, não consegue encará-lo, mas os dedos gelados do rapaz tocam as suas bochechas, trazendo seu rosto de encontro ao dele. Seus olhos se fitam e os dois ficam alguns segundos assim. Tão perto que um podiam sentir a respiração quente do outro bater contra a pele do seu rosto, e nenhum deles sabia dizer se o coração que batia acelerado sobre o seu peito era o dele, ou o dela.
Não demora muito para que sinta a mesma sensação incômoda - no entanto prazerosa - bater asas contra a parede do seu estômago. Com o polegar, ele acaricia as bochechas de e inclina seu corpo para frente, encostando sua testa na dela enquanto ela envolve a sua cintura em um abraço.
Geórgia estava certa, aquilo não era amizade.
- Essa não é uma das nossas aulas… - o sussurra, e umedece os lábios. A força em suas pernas desaparece como mágica, e a garota tem certeza de que, se não fosse a mantendo de pé, já teria caído no meio de todas aquelas pessoas.
- Eu sei.
- Mas, eu vou te beijar mesmo assim. - diz por fim, antes de puxar o queixo da menina para cima e juntar seus lábios aos dela. aperta ainda mais seus braços em volta do tronco de e se entrega ao beijo que - diferente daqueles que os dois estavam acostumados - era leve, paciente, cheio de ternura, e carregava algo muito maior do que desejo carnal.
Não demora muito para que interrompa o beijo com um sorriso no momento em que ouve Geógia gritar animada e os outros comemorarem a cena. , por sua vez, entorta os lábios levemente e acaricia as mãos do garoto ainda sobre seu rosto, antes de roubar um selinho e envolver seu corpo em um abraço aconchegante.
Capítulo 6
Camila Cabello, Never Be The Same.
Amsterdã, 21 de junho de 2020.
Casa dos Van Dijk
Já eram mais de seis da tarde e o sol ainda iluminava a capital holandesa como se fossem dez da manhã. Subo os degraus que me levariam direto à casa de Sophia, encontrando a porta aberta e uma movimentação de pessoas diferente da qual eu estava começando a me acostumar por conta dos últimos três dias.
Geórgia convidara para acompanhá-la em uma tarde no salão de beleza, então acabo chegando à casa dos Van Dijk desacompanhado, o que, há uns meses - para mim - poderia parecer impossível de acontecer, mas hoje me traz uma sensação de conforto quase que inexplicável.
Ou nem tão inexplicável assim, afinal, de um jeito ou de outro, sei que estou chegando em casa.
Encontro a porta aberta e logo vejo Sophia a alguns metros de distância, com um sorriso largo nos lábios, enquanto recepciona um de seus convidados. Decido não interromper sua conversa, e, em silêncio, aguardo até que ela note a minha presença. O que, por sinal, não demora muito a acontecer.
Minutos depois, os olhos da minha avó paterna cruzam com os meus e é quase impossível conter o sorriso em meus lábios quando ela começa a caminhar na minha direção com os braços abertos. Em um movimento rápido, solto o botão que prende uma ponta à outra do paletó rosa que estou vestindo, e a recebo em um abraço aconchegante.
- Você não imagina como eu estou feliz em ter você aqui. – diz com os lábios rentes ao meu ouvido, e eu sinto meu coração estremecer. Involuntariamente fecho meus olhos ao sentir o aroma floral de seu perfume invadir o meu olfato.
- Feliz aniversário. - assim que nos afastamos, estendo em sua direção o presente que eu segurava em minhas mãos: um porta retrato vermelho com uma foto que tiramos juntos durante o primeiro almoço que participei aqui, nos Van Dijk. Encantada, Sophia toma o objeto em suas mãos e acaricia a imagem com a ponta de seus dedos. - Eu não sabia o que comprar para a senhora, mas não queria deixar o dia de hoje passar em branco, então…
- Não passaria em branco de qualquer maneira, . Já disse que o meu maior presente é a sua presença. - ela ergue os olhos em direção aos meus, e eu entorto meus lábios em um sorriso singelo. Momentaneamente minha avó volta a fitar a foto em suas mãos, e então retorna seu olhar de encontro ao meu. - Eu adorei. Muito obrigada, meu filho. - profere, acariciando levemente minha bochecha com a palma de sua mão. - É bom saber que agora terei uma foto com cada um dos meus netos para expor naquela estante. - Sophia solta um riso, apontando para o móvel a alguns metros de distância de onde estamos, e eu arqueio as sobrancelhas.
- É, percebeu esse detalhe. A foto foi ideia dela, na verdade. - dou de ombros, coçando os meus cabelos, e Sophia volta sua atenção para mim. De repente, seus olhos fitam algo atrás do meu corpo e um sorriso surge em seus lábios.
- E por falar em … - ela arqueia as sobrancelhas e giro o meu tronco em direção ao que Sophia olhava.
Primeiro vejo minha irmã. Geórgia vestia um conjunto de calça e blazer com listras preto e branco, enquanto seus cabelos estavam presos em um coque na lateral de sua cabeça. Um riso involuntário surge em meus lábios, assim como todas as outras vezes em que notei algo parecido entre nós dois.
E então, meus olhos encontram os dela. É quase impossível manter meu queixo no lugar quando vejo usando um vestido midi branco acinturado de saia em tule rendado, com um cropped de alça fina e em transparência, cobrindo apenas o necessário. Sua franja estava presa na lateral, e um sorriso surge em seus lábios no instante em que volto a erguer meu olhar de encontro ao dela.
Involuntariamente, faço o mesmo.
Géorgia passa por mim e me resgata do transe, me puxando para um abraço. Dou um beijo carinhoso em sua bochecha e ela faz algum elogio em relação à minha roupa, mas eu estou inerte o suficiente para não conseguir ouvir suas palavras. , por sua vez, desvia o olhar do meu e pressiona um lábio contra o outro, tentando segurar o riso.
Sem proferir uma palavra sequer, ela para ao meu lado e aguarda a sua vez de cumprimentar Sophia. Estou hipnotizado e nem sequer consigo encontrar palavras para elogiar a sua aparência, ao invés disso, desço os meus olhos até sua cintura perfeitamente marcada pela roupa, e, sem perceber, puxo o meu lábio inferior usando meu polegar e meu indicador.
Linda não me parece um adjetivo suficiente para descrevê-la.
Sinto seu olhar pousar sobre mim por mais alguns instantes e volto a fitar seu rosto. Um sorriso brincalhão surge em seus lábios e ela revira os olhos, enquanto eu suspiro e balanço minha cabeça de um lado para o outro.
Droga, bonitinha.
Por alguns minutos, me afasto dos outros para atender uma ligação da minha mãe. Enquanto a maioria dos convidados estão reunidos na cozinha ou na área externa, me sento no sofá azul da sala, e pelo tom de voz de Vitória, consigo ouvir sua felicidade e seu alívio em saber que estou com a família do meu pai biológico, e que, apesar dos pesares, tudo estava bem. Maravilhosamente bem, na verdade.
Um sorriso surge no meu rosto quando encerro a ligação e recebo a foto que ela prometera me enviar no momento em que desligasse. As crianças tiveram uma festa a fantasia na escola durante o fim de semana, e na imagem vejo Helena fantasiada de Bela, enquanto Cory está de Fera. Os dois estão sentados lado a lado no balanço que temos no quintal de casa e quebram a distância entre um e outro atando suas mãos.
De repente me lembro que a diferença de idade entre eles é a mesma que entre eu e Geórgia, e isso me sufoca. Então balanço minha cabeça de um lado para o outro e tento não pensar em como minha infância teria sido diferente se eu tivesse tido a oportunidade de crescer com a minha irmã. No entanto, é quase que impossível conter esses pensamentos no momento em que meus olhos encontram a figura paterna de John, rindo de orelha a orelha, como se nunca tivesse cometido um erro sequer, enquanto conversava abertamente com o pai de Charlotte.
- Tudo bem? - ouço a voz doce de , e involuntariamente ergo o meu rosto em direção ao som. Em suas mãos vejo duas garrafas de cerveja, e seus olhos percorrem o mesmo caminho que os meus, segundos antes dela chegar. Respiro fundo me preparando para o seu discurso e puxo uma das garrafas de sua mão.
- Eu sei que você acha que eu devo ir lá, mas…
- Não. Eu não acho que você deve fazer isso. - me interrompe, balançando a cabeça de um lado para o outro. Surpreso, franzo o meu cenho em busca de seus olhos, e ela suspira, arrumando o vestido antes de se sentar ao meu lado no sofá. Em um gesto carinhoso, envolve os meus ombros com um de seus braços. - Eu acho que você deve fazer o que o seu coração manda, e se ele está tranquilo com essa decisão… - ela arqueia as sobrancelhas como se aguardasse pela minha resposta, e, sem hesitar, balanço a cabeça na afirmativa. sorri, fazendo meu peito estremecer. - Então, sem problemas. - dá de ombros, e, com a sua mão livre, segura o meu braço, apoiando seu queixo sobre o meu ombro logo em seguida.
Por impulso diminuo a distância entre os nossos rostos, e fecha os olhos, sentindo a minha respiração cortar a sua pele. Roço meu nariz no dela e a pele macia de seus lábios raspa nos meus. solta um riso gracioso.
“O que nós somos, ?”, mentalmente me questiono, enquanto tento gravar na memória cada um dos detalhes em seu rosto.
- Ei, casal! - somos interrompidos pela voz de Geórgia, e involuntariamente viro e afasto o meu rosto, em busca da figura a minha irmã. Notavelmente frustrada, umedece a garganta e seus olhos acompanham os meus. - Me desculpa. Eu não queria atrapalhar o momento de vocês, mas… - Geógia morde o seu lábio inferior e sorri sem humor, balançando a cabeça de um lado para o outro. Sem hesitar, envolvo uma de suas mãos e a levo até meus lábios, depositando um beijo singelo em seu dorso, tentando garantir que esse beijo viria a acontecer mais cedo ou mais tarde. Ela, por sua vez, sorri, como se entendesse o recado. - Nós vamos brincar de mímica. Van Dijk contra agregados, ou meninos contra meninas. O que acham?
- Tanto faz. - dá de ombros, e tanto eu, quanto Geórgia a encaramos, sem entender. - O meu time vai vencer de qualquer jeito. - profere com certa modéstia, e eu solto um riso, ao vê-la se levantar do sofá.
- Quando foi que você se tornou uma pessoa convencida? - questiono, franzindo o meu cenho, e ela revira os olhos, entediada.
- Há dois meses. Quando comecei a conviver com você, bonitinho. - ela pisca um de seus olhos e morde a língua em um semblante infantil, enquanto eu arqueio as minhas sobrancelhas, surpreso, e Geórgia solta uma gargalhada.
Amsterdã, 22 de junho de 2020.
North Holland Hotel – 00:19.
- Eu não acredito que perdi. - resmunga, atraindo o olhar de para si. Um sorriso torto surge nos lábios do rapaz enquanto os dois caminham lado a lado pelo corredor dos quartos do hotel, e usa uma de suas mãos para prender uma ponta a outra do paletó rosa de que agora a protegia do frio.
- Eu não acredito que você não acertou Ratatouille.
- É um filme complexo, tudo bem? - dá de ombros e arregala os olhos, parando de andar.
- Complexo?! - o esbraveja e a garota libera um riso contido. - , é um rato que cozinha.
- Eu sei, mas a mímica do Léo não me ajudou muito. - profere em sua defesa, e revira os olhos, voltando a andar. - E, além do mais, não foi um jogo justo. - a dá de ombros mais uma vez, e, sem entender, lhe lança um olhar confuso - Eu estava jogando contra dois . Não basta serem fisicamente iguais e terem as mesmas manias, você e Geórgia ainda têm o mesmo espírito competitivo. Eu não tinha chance. - suspira e acha graça.
- Foi você quem não quis jogar no mesmo time que eu, bonitinha. - ele rebate e a menina revira os olhos, encolhendo seus ombros.
Um silêncio toma conta do ambiente e lança um olhar de soslaio para . Ele ainda sorria e balançava a cabeça de um lado para o outro, como se estivesse se lembrando de algo.
Em frente à porta do quarto da garota, os dois param, e respira fundo antes de fazer o seguinte questionamento.
- Você mudou de ideia, não foi? - ela cerra os olhos e franze o cenho, sem entender. - Em relação à essa viagem. - então desvia o olhar do dela e puxa todo ar que consegue para dentro dos seus pulmões. - A sua família é incrível, . Não é atoa que você é assim. - dá de ombros, buscando os olhos do garoto, e imediatamente ele vira o rosto de encontro ao dela.
- Você acabou de dizer que eu sou incrível, bonitinha? - ele questiona com as sobrancelhas arqueadas, e a revira os olhos, impaciente.
- Por Deus, ! - ela esbraveja, cobrindo os olhos com uma de suas mãos enquanto balança a cabeça de um lado para o outro e um riso infantil salta pelos seus lábios.
Estarrecido, se pega admirando a cena com um sorriso bobo no rosto. Então, em um movimento quase que irreflexo, entrelaça seus dedos nos da mão livre de e em seguida dá um passo à frente, diminuindo a distância entre seus corpos. Involuntariamente, a volta a erguer seu olhar de encontro ao dele.
- Obrigado por não ter deixado eu desistir disso. - ele pressiona ainda mais os seus dedos em volta dos dela, e respira fundo.
- Você sabe quem você é, ? - questiona, cerrando seus olhos contra os de , que suspira e solta um riso leve antes de respondê-la.
- Agora eu sei. - garante, fazendo sorrir.
- Então não precisa agradecer. - dá de ombros antes de envolver o corpo do garoto em um abraço carinhoso. descansa a cabeça sobre os ombros de e ele demora alguns segundos para se render ao abraço. - Você teria que me mandar de volta para o Brasil se quisesse que eu deixasse você desistir de descobrir isso. - sua voz aveludada faz o peito do garoto comprimir lentamente só de pensar naquela possibilidade.
- Isso nunca aconteceria. - ele garante, pressionando sua nuca. solta um riso e arqueia seu rosto, aproximando os lábios do ouvido de .
- Eu sei. - sussurra, pousando um beijo singelo sobre a linha da mandíbula do rapaz. Os músculos de enrijecem ao sentir o contato entre suas peles, e ele umedece os beiços. A garota, por outro lado, dá dois passos para trás, se afastando.
entorta levemente os lábios, e os dois se calam por alguns instantes. admira cada um dos detalhes no rosto da menina, enquanto se questiona que sensação estranha e corriqueira é essa afligindo o ponto mais baixo do seu estômago, e ela - com os olhos arregalados - aguarda ansiosa pelos próximos movimentos do rapaz.
Não demora muito até que decida levar sua mão livre ao rosto de e acariciar sutilmente a pele aveludada de sua bochecha. Com isso, fecha os olhos e uma sensação gostosa atravessa o seu peito.
- Você ficou ainda mais bonita com esse vestido, sabia? - o questiona, fazendo a menina abrir os olhos. Dessa vez, é o coração de que acelera, e a menina morde os beiços, insegura, antes de tirar a mão de do seu rosto.
- Você acha? - ela rebate com outra pergunta, e, totalmente absorto, balança a cabeça na afirmativa. , por conseguinte, respira fundo e umedece os lábios antes de dar um passo à frente. Ela usa a ponta de seus dedos para segurar a tira de botões na camisa preta que o garoto usava. - E se eu te disser que... - faz uma pequena pausa entre as palavras e balança a cabeça de um lado para o outro enquanto busca seus olhos, sem entender. - E se eu te disser que só comprei esse vestido porque queria ver você tirando ele? - a respira fundo e encontra toda coragem necessária para voltar a fitar os olhos dele.
Surpreso, demora alguns segundos para processar o que tinha acabado de ser dito por . Até que sua racionalidade fala mais alto e ele envolve o pulso da garota, a distanciando minimamente de si.
- Fica difícil me controlar ouvindo você falar essas coisas, sabia? - balança a cabeça de um lado para o outro, e um sorriso nervoso salta pelos seus lábios.
- Eu não quero que você se controle, . Você sabe disso. - apruma a sua postura, e dessa vez é ela quem busca pelos olhos de .
- Mas, …
- Eu sei, . Eu sei. - ela suspira, e um sorriso frustrado surge no seu rosto. No mesmo momento, começa a procurar a chave do quarto dentro de sua bolsa. - Você quer esperar o momento perfeito, isso já entendi. - dá de ombros, sacando o cartão magnético em suas mãos e o apoiando contra a maçaneta logo em seguida. A porta se abre e acompanha os movimentos da menina em silêncio absoluto. - Eu só queria entender o que pode ser mais especial do que isso que já estamos vivendo. Velas e pétalas de rosa? - questiona, com as sobrancelhas arqueadas e um semblante engraçado no rosto. O rapaz, por sua vez, precisa segurar um lábio contra o outro para não rir. - , eu quero você, e quero agora, então, se você também me quiser, eu estou preparada para ser sua. - atarantado, arqueia as sobrancelhas. , por sua vez, solta um longo suspiro, seguido de um riso sem humor, e dá alguns passos para dentro do quarto, vistoriando dá cabeça aos pés. - Caso contrário, nosso voo é amanhã de manhã e eu preciso dormir, então, boa noite. - diz por fim, encolhendo seus ombros, visivelmente desiludida.
Por conseguinte, se prepara para fechar a porta e excluir a figura de da sua frente. No entanto, o é mais rápido e usa uma de suas mãos para impedi-la, enquanto a outra puxa pela cintura e cola seu corpo ao dela.
- Regra número quatro, bonitinha. - dá de ombros e a força nas pernas de desaparece por completo. - Perca o controle. - ele murmura com o rosto rente ao dela, e o calor de sua respiração traz de volta à realidade.
- Honestamente, quem ainda está contando as regras? - ela questiona, estranhamente embriagada, e o libera um sorriso antes de sentir puxar sua nuca para frente e alcançar seus lábios em um beijo urgente.
O paletó do rapaz que cobria os ombros de cai no chão e o casal tropeça no tecido ao entrar no quarto. usa um de seus pés para fechar a porta, enquanto luta cegamente para desabotoar cada um dos botões da camisa preta dele. Os dedos gelados de voltam a apertar sua cintura, e a garota solta um grunhido, levando uma de suas mãos aos poucos cabelos na nuca de .
imobiliza a nuca de , e a menina suga seu lábio inferior, fazendo-o revirar os olhos. Ela solta um riso sapeca e se afasta, balançando a cabeça de um lado para o outro.
- Quem te ensinou essas coisas, bonitinha?
- Eu tive um bom professor. - ela dá de ombros e ri, roçando o nariz no dela antes de retomar o beijo.
embaraça seus dedos nos cabelos da nuca de e os puxa, erguendo o rosto da menina. Ela, por sua vez, envolve a cintura dele por dentro da blusa usando um de seus braços, enquanto sua mão livre desliza até o volume na calça do garoto, o adulando levemente. Mais uma vez, solta um grunhido, mordiscando o lábio inferior de .
- Quero continuar de onde paramos. - murmura com os beiços rentes ao dele, e, embriagado, não protesta. rouba mais um selinho do rapaz, e em seguida distribui carícias quentes por toda extensão entre o pescoço e o ombro do rapaz.
Estarrecido, aperta ainda mais a cintura de , e a única coisa impedindo a ereção do garoto de bater contra a parte mais baixa do estômago dela era justamente a mão da garota, que ainda massageava o pênis do rapaz por cima da roupa. Através dos gemidos que escapavam vez ou outra dos lábios de , pôde descobrir que também era possível sentir prazer enquanto causava prazer no outro.
- ... Por... Favor… - a voz entrecortada do sai num tom de súplica, e a menina para o que está fazendo para ir em busca dos olhos do garoto.
- O que você quer? - sua voz aveludada, repleta de inocência, faz soltar um longo suspiro, balançando a cabeça de um lado para o outro.
- Não me olha assim, por favor. - profere, firmando seus dedos em volta do pescoço de . Ela, por conseguinte, fecha os olhos, sentindo o toque do garoto sobre seus lábios. - E você sabe muito bem o que eu quero. - a mão de desliza de encontro à de e ele a aperta, forçando-a ainda mais contra sua ereção. Um riso cínico escapa pela boca da garota.
Nos segundos seguintes, se ajoelha na frente do rapaz e - com os olhos colados nos dele -, enquanto se livra de uma vez por todas do tecido de sua blusa, ela desabotoa o fecho da calça rosa de alfaiataria que ele usava.
Isso foi uma das coisas que notou durante as “aulas” de . Ele nunca desviava o olhar do dela, nem mesmo quando ela estava perdida em outro planeta no meio de um orgasmo.
Com as calças presas aos tornozelos de , usa a ponta de seus dedos para segurar o cós da cueca preta que ele vestia na ocasião, e apruma sua postura. Seus lábios contornam suavemente os ramos de samambaia tatuados nas laterais da parte mais baixa da barriga de , e ele sente as gotas de suor escorrerem pelo seu rosto.
logo leva a mão à têmpora e pressiona suas pálpebras, no instante em que sente o toque gelado do tato de envolver a sua ereção. Mais uma vez, a garota se afasta o mínimo necessário para conseguir empurrar o tecido para baixo com uma de suas mãos, enquanto a outra mantém o movimento de vai e vêm em volta do pênis do .
O olhar suplicante de volta a grudar no de assim que seus dedos tocam o queixo da garota e forçam o seu rosto para cima. Com um pedido silencioso, entende que tudo o que ele queria era sentir a maciez dos lábios avermelhados dela ao redor de seu membro.
A então inclina seu tronco para frente e - sem hesitar - passa a língua por toda extensão do pênis do garoto até alcançar a ponta, onde gira a língua e suga levemente. fecha os olhos e um gemido ecoa pelas paredes do quarto. , por conseguinte, aproveita seus segundos de distração para enfiar até onde consegue dentro da boca, e chupá-lo com destreza.
Uma corrente elétrica percorre cada canto do corpo de e ele tem a sensação de que pode entrar em combustão espontânea a qualquer momento. Então, em uma atitude quase que irracional, embola seus dedos nos cabelos de e movimenta seu quadril para frente e para traz, fazendo com que a garota sinta sua ereção latejar entre os seus lábios.
solta um ruído rouco e feroz, e então se afasta, deixando confusa.
Com uma das mãos, segura sua ereção, enquanto os dedos da outra vão em busca do rosto de . Ele toca gentilmente seu queixo, passando o polegar pelo contorno de seus lábios inchados.
- Levanta, . - pede, umedecendo seus beiços com a ponta da língua, e um nervosismo toma conta do corpo de . Ela se ergue do chão e fica frente a frente com , que - a essa altura - já estava completamente nu.
O pressiona firmemente a região das costelas da garota, e, com um impulso singular, gira seu corpo a colocando de costas para ele. Com o susto, solta um grito abafado.
Todos os músculos de enrijecem no instante em que ela sente os lábios de beijarem seu ombro e sua barba rasa raspar contra a sua pele. Ela fecha os olhos, respira fundo, e umedece a garganta, enquanto os dedos dele abaixam o zíper que mantinha o seu vestido preso.
“Isso vai mesmo acontecer.”, era a única frase que passava pela cabeça de enquanto os olhos de observavam atentamente cada uma de suas reações. As mãos dele afastam cada uma das alças do vestido da garota e a peça desliza pelo corpo dela, pousando no chão. As costas nuas garantem a que a única coisa cobrindo era o fino tecido de renda da calcinha que ela vestia.
Um calafrio sobe pelas extremidades da espinha de , e, envergonhada, ela cobre seus seios com os braços no momento em que gira o seu corpo de encontro ao dele mais uma vez. Ele, por conseguinte, solta um suspiro e toca os pulsos da , forçando-os levemente para baixo.
- Você não precisa ter vergonha de mim por absolutamente nada. - garante, entortando os lábios levemente e erradicando cada vez mais a distância entre os dois. - É só um corpo, . - diz por fim, antes de afastar os braços de e fundir suas peles em uma só, no mesmo instante em que une seus lábios em um beijo sereno e terno.
A garota sente a ereção dele bater contra sua barriga e finca suas unhas nas costas de no momento em que ele envolve seu corpo com um de seus braços. Os dois começam a caminhar cegamente pelo quarto, até que sente a madeira fria da cama bater contra suas canelas. Hipnotizada pelo beijo adocicado, ela observa empurrar levemente seu corpo para baixo, fazendo com que se sente sobre a cama.
Estarrecida, se acomoda mais para cima e tenta controlar seu ritmo respiratório enquanto encara a lâmpada no teto. , por sua vez, crava seus olhos na garota e inclina levemente seu tronco em busca do envelope metálico da camisinha que comumente carregava em sua carteira. Ele então prende o pequeno pacote entre seus dedos e engatinha sobre o colchão da cama.
Com os olhos ainda grudados no teto, umedece a garganta quando sente os dedos de penderem a barra de sua calcinha e puxar a peça para baixo em um movimento brusco. O se afasta por alguns instantes, levando o tempo necessário para se proteger, e, então, volta a debruçar seu corpo sobre o dela.
Lentamente, começa a distribuir beijos suaves pela barriga de , e a sensação eletrizante faz a garota agarrar o lençol da cama com seus dedos. No entanto, nos segundos seguintes, a mão do rapaz puxa a dela, soltando-a da cama, e entrelaça seus dedos uns nos outros, implorando que, através daquele gesto simples, ela entendesse que aquilo não era só sexo.
Conforme os beijos de sobem pelo seu corpo, aperta ainda mais seus dedos ao redor dos dele, até que o encontra seus seios e uma corrente elétrica atravessa de uma ponta até a outra no instante em que a pele áspera da língua de rodeia um de seus mamilos e ele o chupa levemente, roçando a ponta de seus dentes naquela área sensível. A fecha os olhos, sentindo seu coração disparar enquanto acomoda o seu corpo mais para cima e apoia o tronco sobre o dela, usando a força de um braço.
- Oi. - ele murmura, roçando o nariz no dela, e abre os olhos.
- Oi. - um sorriso leve escapa por seus lábios, e , mais uma vez, analisa calmamente cada um dos detalhes em seu rosto, então suspira.
- , você… - antes mesmo que ele consiga completar sua pergunta, enrola seu indicador no cordão com crucifixo que vivia comumente ao redor do pescoço de e puxa o rosto dele de encontro ao seu, selando seus lábios em um beijo doce.
- Eu tenho certeza, . - garante, com os lábios rentes aos dele, e balança a cabeça na afirmativa. De um jeito estranho, parecia estar tão nervoso quanto .
O segura sua ereção e a esfrega levemente contra a pele úmida da garota, que solta um grunhido causado pelo atrito entre os dois. então se esforça para atrair a atenção de de volta para o seu rosto, e quando consegue, a beija mais uma vez.
Por alguns breves segundos se entrega ao beijo e se perde no toque da língua de contra seus beiços, até que sente algo muito parecido com um beliscão incomodá-la na região entre suas pernas. Um grito abafado tenta saltar pelos seus lábios, e - com o susto -, afasta seu rosto do de e retrai seu corpo.
É doloroso, isso não podia negar, e piorava cada vez mais a medida que se aprofundava. Seus olhos fecham e a fica tensa, mas não espera que ele pare.
, por sua vez, volta a erguer seu tronco sobre o dela, e como se pudesse sentir o calor dos olhos do garoto sobre sua pele, balança a cabeça na afirmativa, garantindo o seu bem estar.
- Eu vou me mover um pouco, tudo bem? - ele questiona, visivelmente preocupado, e a leva alguns segundos antes de fazer que sim com a cabeça.
então esconde seu rosto na curva entre o pescoço e a nuca de , e ela sente sua respiração quente e pesada bater contra a sua pele. À medida com que se move, sente as lágrimas provocadas pela dor se acumularem no canto de seus olhos, mas se esforça para concentrar sua atenção em outras coisas, então aperta os braços de quando sente o atrito da pele áspera da língua dele em seu pescoço.
O geme, movimentando seu quadril, e a garota percebe, pela destreza de seus movimentos, que estava se segurando ao máximo para conseguir manter o seu bem estar e conforto perante à situação. Para , esse nível de importância era superior a qualquer outra coisa, então beija levemente o ombro dele, tentando retribuir o seu afeto.
Em seguida, a mão de desliza pelo corpo de , e, enquanto a penetra, seus dedos massageiam levemente o seu clitóris. Um grunhido escapa pelos lábios da garota e acelera o movimento, bem como a penetração. , por conseguinte, envolve suas pernas na cintura do garoto e mantém seus corpos ainda mais perto.
De repente, a dor desaparece, e a única coisa que consegue sentir é a sensação eletrizante no pé de sua barriga, misturado com um pouco de desconforto causado pela sua inexperiência.
- … - murmura com a voz entrecortada e os lábios rentes ao ouvido dela. Ela morde levemente o ombro do garoto no instante em que perde a força, e suas pernas estremecem. então contrai o quadril e deixa o peso de seu corpo cair sobre o de por alguns instantes.
Atônita, a garota volta a fitar o teto, e força seu corpo para o lado vazio da cama. Ainda desnorteado com um resquício do orgasmo em seu organismo, lança um olhar para e se preocupa com o semblante indecifrável em seu rosto.
- ? - a chama, aprumando levemente sua postura à medida que tenta desacelerar sua respiração, e rapidamente a garota desperta de seus pensamentos, virando seu rosto de encontro ao dele. - Você tá bem? - questiona, notavelmente preocupado, e, de repente, um sorriso largo salta pelos lábios de .
Confuso, assiste a menina liberar um riso antes de girar seu corpo para o dele e avançar sobre seus lábios para mais um de seus beijos doces.
- Obrigada. - morde os beiços, com a testa colada a de , e um sorriso aliviado escapa pelos lábios do rapaz. Ele aperta ainda mais a cintura da garota contra o seu peito antes de voltar a beijá-la.
Nesse momento - com o seu corpo sobre o de , e suas peles em total atrito - percebe que tudo isso nunca foi só sobre o desejo de perder a sua virgindade, mas também sobre a necessidade de ser livre e fazer o que quiser, quando quiser, sem se culpar, ou se preocupar com os julgamentos dos outros.
Amsterdã, 22 de junho de 2020.
North Holland Hotel – 07:36.
Os raios de sol que iluminam a manhã na capital da Holanda atravessam o tecido bege da cortina e clareiam também o quarto onde e tinham passado a noite juntos. O ambiente estava silencioso e, sem pressa alguma, abre os olhos.
Confortável em meio a todos aqueles lençóis, o leva um certo tempo para conseguir - de fato – acordar, e, quando isso acontece, não encontra nada além de um traço de inocência deixado sobre a fronha do travesseiro usado por na noite passada. Confuso e estranhamente preocupado, movimenta seu corpo sobre a cama e busca pela imagem da menina, até que a encontra na extremidade oposta a que ele estava.
Vestindo a blusa que o garoto usou na noite anterior e os cabelos emaranhados em um coque, concentra toda a sua atenção em arrumar sua mala para que eles pudessem voltar para Londres em algumas horas. O garoto, por outro lado, se aconchega ainda mais sobre o colchão e entorta levemente seus lábios, assistindo em silêncio cada movimento da menina.
- Você vai falar alguma coisa ou só vai ficar me olhando mesmo? - ela questiona, surpreendendo , e então sorri, lançando um olhar em direção ao garoto por cima dos ombros.
- Eu estava aproveitando a vista. - o dá de ombros, e franze o cenho, enquanto dobra uma de suas blusas.
- Que vista?
- A de uma mulher bonita usando nada além da minha blusa. - dá de ombros, e um sorriso envergonhado escapa pelos lábios de . Ela desvia o rosto para o chão, balança a cabeça de um lado para o outro, e caminha até a penteadeira ao lado da cama. , por conseguinte, se espreguiça e ergue seu corpo, sentando de frente para . - Você não sabe que é bonita, sabe, ? - ele questiona depois de alguns segundos em silêncio, e, em seguida, relaxa a sua postura. , sem entender, une as sobrancelhas e desvia rapidamente seu olhar para o rapaz.
- Do que você está falando?
- Você reage assim todas as vezes que eu digo isso. Você balança a cabeça na negativa e sorri para o chão, por quê? - o se interessa em saber, e a garota suspira.
- Eu… Não estou acostumada a ouvir esse tipo de elogio, . Me desculpa. - ela dá de ombros com um sorriso entristecido nos lábios, enquanto prende uma mecha de seus cabelos por trás da orelha. , por sua vez, solta todo ar de dentro dos seus pulmões e inclina seu corpo para frente, alcançando uma das mãos de .
Para ele, era inacreditável alguém como ela não conseguir ver com os próprios olhos o que ele via com os dele. Fora que, passou cinco anos em um relacionamento, como aquele cara podia não fazer questão de elogiá-la e lembrá-la disso todos os dias em que estiveram juntos?
- Vem cá. - a voz de sai aveludada e quase inaudível, enquanto ele puxa a garota pela mão. Ela prontamente solta os objetos em sua mão e se aproxima do rapaz, encaixando seu corpo entre as pernas dele e entrelaçando seus dedos nos cachos emaranhados de seu cabelo. O coração de palpita, e a sensação no pé da barriga de surge mais uma vez enquanto os dois se olham.
O então apruma a sua postura, e acaricia levemente o nariz da menina, antes de selar seus lábios em um beijo doce e terno.
- Bom dia. - murmura, com a testa colada na dela, e acha graça.
- Bom dia, . - o franze o nariz e envolve a cintura da garota, puxando o corpo dela para perto do seu. Ela, por conseguinte, apoia cada joelho de um lado do corpo de e se senta sobre seu colo. , em seguida, gira o seu tronco, impulsionando para o lado, e ela se deita sobre o colchão enquanto ele ergue seu corpo sobre o dela usando a força de seus braços.
- Como você está se sentindo? - ele pergunta, notavelmente preocupado, e um sorriso leve salta pelos lábios de .
- Muito bem. Você foi um príncipe. - rebate, afastando os cabelos de sua testa. Ele franze o nariz mais uma vez e deixa um riso escapar. - Acho que essa é a minha parte favorita em você. - murmura, encaixando as pontas de seus dedos nas covinhas das bochechas de , e ele suspira, sentindo a delicadeza das mãos dela acariciarem a sua pele.
Sem pensar, o vira levemente seu rosto e deposita um beijo sobre a palma da mão de . Nesse momento, ela vê o anel preso ao seu dedo anelar, e imediatamente se lembra do seu significado.
- Eu acho que preciso tirar isso. - um sorriso envergonhado surge em seu rosto, e acompanha enquanto ela brinca com o anel em seu dedo.
- Você não precisa tirar se não quiser.
- Não, eu quero. - balança a cabeça na afirmativa e retira o anel de seu dedo, encarando a marca sobre sua pele. - É uma sensação estranha.
suspira e apoia os joelhos no colchão da cama. Com o corpo de entre suas pernas, ele apruma a sua postura e a garota acompanha curiosa seus movimentos. Em silêncio, ele leva suas mãos atrás de sua nuca, desata o fecho que prendia seu cordão, retira o pingente de crucifixo - o deixando de lado por uns instantes -, e, sem pedir, toma o anel das mãos de , o prendendo no cordão em seguida.
- Isso é uma parte de você, . - inclina seu corpo para frente e prende o cordão em volta do pescoço da garota. - Você não precisa apagar isso agora. - profere por fim, tocando o anel sobre o busto dela, e uma felicidade inexplicável invade o peito de . Um sorriso largo escapa por seus lábios e ela balança a cabeça de um lado para o outro.
- Você não existe, . – diz, e ele dá de ombros, aprumando sua postura mais uma vez.
- Eu posso te fazer uma pergunta? - o morde os beiços, meio hesitante, e dá de ombros, com os olhos cravados no anel preso ao cordão em seu pescoço.
- Acho que já temos intimidade suficiente para qualquer coisa. - ele suspira.
- É sobre o sexo… - ele profere, atraindo a atenção de para si. - O que você achou?
- Você está esperando uma nota ou algo do tipo? - ela questiona, franzindo a testa com um semblante engraçado no rosto, e revira os olhos.
- Não, . Não é isso, eu só…
- Olha, eu acho que vamos precisar fazer de novo para eu poder te responder. - a dá de ombros, e, surpreso, arqueia as sobrancelhas. - Umas duas, ou três vezes… - ela mordisca sua língua, e mais uma vez revira os olhos, inclinando seu corpo sobre o dela.
- Eu já entendi, já entendi. Você gostou. - ele profere com modéstia, cravando seus dedos na cintura da menina, que franze o nariz. - E nós vamos fazer outras vezes. Uma delas pode ser agora mesmo, se você quiser. - dá de ombros, aproximando seu rosto do dela, e umedece os lábios com a ponta da língua, envolvendo suas pernas no corpo do garoto, agarrando os poucos cabelos em sua nuca.
- E o que você está esperando, ? - ela questiona, com os lábios fixos nos de , e ele libera um sorriso sacana antes de avançar sobre os beiços de em um beijo quente.
No entanto, antes mesmo que consigam se aprofundar no beijo, os dois são interrompidos pelo barulho incessante do despertador do quarto, e, por mais que tentem ignorar, ele não pararia a menos que um deles o fizesse parar. então afasta seu rosto do de e resmunga frustrado.
- Acho que isso significa que precisamos ir embora. - ele bufa, erguendo seu corpo enquanto os olhos de o acompanham.
- E agora? - apreensiva, a menina morde seus beiços, e consegue notar a preocupação no tom baixo de sua voz.
- Agora? - ele pergunta, com as sobrancelhas arqueadas, e balança a cabeça na afirmativa. - Agora a gente continua isso em Londres, bonitinha. - profere, estendendo uma de suas mãos para a garota, e ela sorri, envolvendo seus dedos nos dele e permitindo que a puxasse para perto de si - Ah não ser, é claro, que você queira dar mais uma chance para o banheiro do avião. - ele dá de ombros, sapeca, e gargalha, espalmando sua mão sobre o peito do garoto e o distanciando de si.
Epílogo
Harry Styles, Woman.
Londres, 05 de agosto de 2020.
- Meu Deus, olha essa foto! - esbraveja, olhando para a fotografia em suas mãos, e, curioso, inclina seu corpo para o lado e alcança a imagem com seus olhos. Lá ele se vê aos quatro anos de idade, com óculos escuros no rosto e um sorriso forçado nos lábios, fazendo o sinal de positivo para a câmera.
- Nossa… - ele arqueia as sobrancelhas, balançando a cabeça de um lado para o outro, e ri.
- Você era uma gracinha, . – profere, e o dá de ombros. - O que aconteceu? - a garota prende um lábio contra o outro e tenta conter o riso no momento em que lhe lança um olhar entediado. Victória - que acompanhava a cena junto de Érick e das crianças - acha graça.
- Essa é uma das minhas favoritas. - ela diz, estendendo a imagem em suas mãos para .
O aniversário de casamento de Victória e Érick aconteceria em algumas semanas. Por isso, ela pediu ajuda de todos para buscar as melhores fotos da família. Algo que contasse perfeitamente a história de todos ali. Então, agora, estavam os sete reunidos na sala, em meio a vários álbuns com milhares de fotos.
toma a fotografia em suas mãos e um sorriso bobo surge em seus lábios antes de passar a imagem para as mãos de .
- Eu tinha feito um show nesse dia. - conta enquanto a menina vê a foto. estava ajoelhado entre Helena e Cory, com um sorriso grandioso nos lábios. Involuntariamente, entorta seus beiços e dirige sua atenção a ele. - Não foi nada demais, era aniversário da Sarah e ela me convidou para cantar. Eu aceitei e, bom… - um riso frouxo salta pelos lábios de e Victória sorri orgulhosa. Era perceptível o quanto ela ficava feliz em falar sobre aquilo.
- A música é a sua maior paixão, não é? - questiona, notavelmente fascinada, e a olha. Ele leva, no entanto, alguns segundos para balançar a cabeça na afirmativa.
- A arte como um todo, na verdade. - ele encolhe seus ombros e então suspira. - Mas é na música que eu encontro o meu lugar. - profere por fim, e sente uma vontade quase que incontrolável de abraça-lo, mas é impedida pela presença dos outros.
- Eu tenho certeza de que você ainda vai ter sucesso com isso, meu filho. - Victória se manifesta, afagando as mãos de antes de se levantar do chão, seguida por Érick. , no entanto, balança a cabeça envergonhado.
- Eu também. - profere, atraindo a atenção do garoto de volta para si. Ele, por consequência, sorri agradecido.
- Bom, eu acho que já está na hora de criança ir para cama. - Érick profere e os pequenos resmungam, fazendo rir. - Continuamos isso amanhã, pode ser? - ele questiona, envolvendo levemente o corpo de Victória com um de seus braços e os outros balançam a cabeça na afirmativa. , então, se prepara para se levantar do sofá e colocar as crianças na cama, mas é prontamente impedida pelo casal.
- Não, . Pode deixar que fazemos isso hoje. - Victória sorri, esticando sua mão para Helena, que boceja, esfregando os olhinhos com o dorso de sua mão.
- Cadê meu beijo, Helena? - questiona enquanto Érick e os garotos já estão próximo à escada que os levariam ao segundo andar. A pequena, por sua vez, se aproxima do irmão mais velho e coloca todo o peso de seu corpo sobre a ponta de seus pés, tentando alcançar a bochecha de .
- Érick pediu pizza, deve chegar a qualquer momento. - Victória diz, pegando Helena em seu colo. A pequena se aconchega nos braços da mãe e balança a cabeça na afirmativa. - Por que vocês não escolhem algo para vermos, enquanto isso? - ela arqueia as sobrancelhas, olhando de para , e o dá de ombros.
então inclina seu corpo para frente e tenta alcançar o controle da televisão com uma de suas mãos, e, no instante em que Victória desaparece do seu campo de visão, puxa a mão da garota e a recebe em seus braços. Involuntariamente sorri e se aninha sobre o peito do rapaz.
Já fazia mais de um mês desde que voltaram de Amsterdã, e - escondido dos olhares de Victória e Érick -, os dois continuaram se envolvendo. Só não sabiam ao certo o que tinham, e nem ao menos pensaram em conversar sobre.
- O que você quer assistir? - ela questiona com os olhos fixos na televisão.
- Nada, na verdade. - dá de ombros, e sem entender, ergue seu olhar em busca do dele. Propositalmente, a mão do garoto desliza pelo corpo da menina e ela respira fundo, sentindo seus pelos arquearem ao toque dele. - Você sabe muito bem que eu prefiro que você vá para o seu quarto e aí eu te encontro lá em dez minutos. - ele sussurra, próximo ao ouvido da garota, e então enfia a mão dentro do elástico da calça de moletom que usava, ela solta um grunhido. ri, mordiscando a orelha de , e ela respira fundo, puxando seu pulso.
- O que você quer assistir, ? - insiste, afastando a mão dele da sua virilha, e, frustrado, revira os olhos, soltando um longo suspiro.
- Por que você não procura por comédias românticas na Netflix e vê o que encontra? – sugere, e dá de ombros, apontando o controle para a TV. Nesse momento, no entanto, os dois são surpreendidos pelo barulho ensurdecedor da campainha e se entreolham.
- Deve ser a pizza. - profere e respira fundo, empurrando levemente o corpo da menina.
- Pode deixar que eu atendo. - diz, com certa indiferença, e se levanta do sofá.
Sem nem se dar ao trabalho de checar pelo olho mágico, destranca a porta e a abre logo em seguida. Seus olhos, no entanto, encontram a figura de um rapaz alto, de cabelos claros, e uma roupa bem longe de ser o uniforme de uma pizzaria.
- Posso ajudar? - questiona, um tanto quanto confuso, e o outro trás suas mãos para frente do corpo, segurando um pequeno arranjo de flores em uma delas. Sem entender, franze a testa.
- A está? - o rapaz questiona, mordendo seu lábio inferior.
- Quem é você? - insiste em saber e um sorriso nervoso salta pelos lábios do outro. Ele, por conseguinte, respira fundo e limpa sua mão livre sobre o tecido de sua roupa antes de estendê-la na direção de .
- Eu sou o…
- , o que… - surge atrás de e se surpreende ao encontrar uma figura bastante conhecida parada na entrada da casa dos Carter. Involuntariamente a arqueia as sobrancelhas, e lança um olhar rápido na sua direção. - Arthur? - ela esbraveja.
- O noivo dela. - Arthur profere por fim, puxando a atenção de de volta para si.
Fim!
Nota da autora: Olá! Essa é a minha primeira fanfic no ffobs e eu confesso que é uma realização pessoal. Foi aqui que eu conheci a arte da fanfic interativa, e é aqui que eu encontro todas as minhas histórias favoritas. Fico extremamente feliz pela oportunidade.
Agora, sobre No Control... E agora gente, o que será do nosso casal? Será que a nossa bonitinha vai perdoar o Arthur e deixar o nosso british boy de lado? Essas perguntas eu vou segurar comigo e responder na continuação (sim, teremos continuação!) que já está sendo planejada, e logo mais será lançada aqui para vocês, então... Apenas aguardem hahaha.
No mais, se você leu até aqui, muito, muito obrigada! Espero que tenha gostado da história ❤
05/03/2021: A continuação da fanfic já está disponível aqui: We Are Perfect
Nota da beta: Meu Deus do céu! Eu estou SURTADA com essa história, sem mais! Eu me apaixonei pelo jeito descarado dele no início, mas ver ele se tornando essa coisa mais fofa no meio de todas as regras e brincadeiras, me fez surtar. Eu fui me apaixonando a cada segundo pelo jeito desse pp, e eu AMEI a forma como essa pp mudou, mas ainda sinto que ela não perdeu a essência. E amei MAIS AINDA a forma como ele não deixou ela perder a essência, eu vou morrer me lembrando da cena do anel que ele colocou com o crucifixo, nossa. Meu coração derreteu 100% nesse momento, não sei nem como descrever. Parabéns por essa história INCRÍVEL, de verdade! Obrigada por me deixar feliz como estou depois de ler ela <3 E VEM PARTE DOIS, POR FAVOR, QUERO SABER O QUE ESSE FDP TÁ FAZENDO EM LONDRES PARA ENCHER O SACO! <3
Qualquer erro nessa atualização ou reclamações somente no e-mail.
Agora, sobre No Control... E agora gente, o que será do nosso casal? Será que a nossa bonitinha vai perdoar o Arthur e deixar o nosso british boy de lado? Essas perguntas eu vou segurar comigo e responder na continuação (sim, teremos continuação!) que já está sendo planejada, e logo mais será lançada aqui para vocês, então... Apenas aguardem hahaha.
No mais, se você leu até aqui, muito, muito obrigada! Espero que tenha gostado da história ❤
05/03/2021: A continuação da fanfic já está disponível aqui: We Are Perfect
Nota da beta: Meu Deus do céu! Eu estou SURTADA com essa história, sem mais! Eu me apaixonei pelo jeito descarado dele no início, mas ver ele se tornando essa coisa mais fofa no meio de todas as regras e brincadeiras, me fez surtar. Eu fui me apaixonando a cada segundo pelo jeito desse pp, e eu AMEI a forma como essa pp mudou, mas ainda sinto que ela não perdeu a essência. E amei MAIS AINDA a forma como ele não deixou ela perder a essência, eu vou morrer me lembrando da cena do anel que ele colocou com o crucifixo, nossa. Meu coração derreteu 100% nesse momento, não sei nem como descrever. Parabéns por essa história INCRÍVEL, de verdade! Obrigada por me deixar feliz como estou depois de ler ela <3 E VEM PARTE DOIS, POR FAVOR, QUERO SABER O QUE ESSE FDP TÁ FAZENDO EM LONDRES PARA ENCHER O SACO! <3