Italy

Finalizada em: 30/12/2021

Capítulo Único

Finalmente, férias! Um tempo só para mim longe daquele escritório, do meu chefe estressado e das pessoas chatas dali.
Daquela vez, as minhas férias deram certo de coincidir na mesma época das férias da minha amiga ; então, para celebrar esse feito, tentávamos pensar no que poderíamos fazer além de ficar somente em casa ou visitar lugares da cidade em que já havíamos visitado. Nessas férias, queríamos aventura.
Mas a questão era: para onde poderíamos viajar?
– É ISSO! – deu um grito que fez eu me assustar e derrubar um pouco de água em minhas pernas e no tapete da sua sala de estar.
, pelo amor de Deus, não precisa me dar um susto desses! – bufei, revirando os olhos, e voltando meu olhar para a televisão.
– Tive uma ótima ideia de viagem para nossas férias! – sua empolgação era muito evidente.
– E qual é a ideia?
– Amamos aventura, certo?
– Certo.
– Amamos comer, certo?
– Certo.
– Gostamos de conhecer lugares e pessoas novas, certo?
– É, pode-se dizer que sim.
– Então, que tal passarmos esse um mês de nossas férias viajando pela Itália?
– O mês inteiro?
– Podemos tentar tirar a última semana só para descansar.
– Não sei... Do que iríamos?
– De carro, oras. Quer uma aventura melhor que essa, ? É verão, temos o dever de aproveitar esse sol e esse calor do cão, e conhecermos melhor a nossa amada Itália.
– É. Acho que não vai ser tão ruim assim. Vai ter praia, comida...
– Histórias interessantes sobre os lugares em que formos passar...
– Promete que vamos tomar bastante vinho? – perguntei com aquela minha carinha fofa que fazia ceder a quase tudo que eu pedia.
– Tá legal, poderá ter vinho. – Ela não era tão chegada, mas em minha casa sempre tinha vinho.
– Isso! – sorri como uma criança. – Eu topo.
– Isso! Te amo, amiga! – bateu palminha e foi até mim, me abraçando.
– Tudo bem, . Agora me deixa terminar esse episódio.
– Ok, vou terminar de montar um roteiro.
Com tudo já planejado e o roteiro todo montado, Sicília seria nosso ponto de partida e obviamente nosso ponto de chegada, até porque moramos na cidade de Sicília.

***
O dia da viagem havia chegado e eu mal havia conseguido dormir de noite.
O combinado foi que iríamos revezar o volante e, quando ambas estivéssemos cansadas, iríamos parar em um hotel.
Acordamos mais cedo que o esperado e terminamos de arrumar as malas que faltavam poucas coisas a serem colocadas ali dentro. Tomamos café tranquilamente, mas por dentro estávamos a milhão por conta da viagem.
Com as malas todas no carro e tudo certo, era a hora de partir.

Nossa primeira parada seria em Augusta, a uma hora e quarenta minutos de nossa localização atual.
Nesse tempo, ficamos conversando, tirando fotos de partes da estrada e cantando algumas músicas que tocavam na rádio.
Foi bem tranquilo para dirigir.

***
Ao chegarmos a Augusta, vibramos, felizes.
Passamos a tarde toda andando pelas ruas, conhecendo lojas novas e fazendo algumas comprinhas. Já de noite, decidimos que ao invés de pegarmos a estrada, iríamos pegar um hotel para descansar.
Dessa vez, eu era quem estava no volante percorrendo as ruas atrás de um lugar para dormirmos, até que um hotel pequeno me chamou a atenção. Era um prédio pequeno, mas que parecia ser bem aconchegante por dentro. A pintura de fora do predinho era bem cuidada e havia alguns ramos de flores decorando.
, o que acha deste hotel? – ela observou por um momento o prédio.
– Eu gostei, parece ser ótimo.
– Vamos parar aqui mesmo?
– Vamos sim.
– Ok. – Estacionei o veículo em frente ao prédio.
Desci do carro, pegando minha bolsa, enquanto pegava as coisas dela. Ao adentrarmos o hotel, notamos que sua decoração interna era impecável – em tons de salmão, dando um ar confortável e de bem-estar. Me apaixonei por aquele lugar naquele mesmo instante.
– Olá, sejam bem–vindas!
– Olá, obrigada! Gostaríamos de um quarto.
– Com duas camas ou apenas uma de casal?
era muito imperativa durante o sono – acabei aprendendo na prática quando dividimos a mesma cama. Eu saía roxa ou machucada por levar tapas dela, pois ela roubava muito a coberta ou até mesmo me derrubava da cama.
– Duas camas, por favor.
– Acho que será melhor assim. – minha amiga concordou comigo.
– O quarto de vocês é o vinte e três. Aqui está a chave. – peguei a chave. – Sintam-se em casa, o café será servido a partir das sete da manhã.
– Certo. Muito obrigada.
Ao entrarmos no quarto, colocamos as malas no chão e ficamos um tempo olhando para tudo. Defronte as camas, havia um pequeno rack com uma televisão moderna, mas não muito grande. E as paredes eram também da cor salmão.
Também havia um pequeno banheiro dentro do quarto, no qual foi quem entrou primeiro para tomar um banho.
, acorda! Anda! – senti alguém me chacoalhando, mas a vontade de abrir os olhos era mínima. – Meu Deus, você morreu?
tentava me acordar a todo custo, então abri meus olhos, esfreguei eles e olhei para à minha frente, sentada em cima de mim.
– Acho que agora dá para você sair de cima de mim.
– Estou com fome, . Já estão servindo o café da manhã.
– Certo, então vamos comer.
saiu de cima de mim e eu me levantei, me espreguicei, e fiquei um tempo sentada na cama, olhando a parede. Sabe aquele momento que te bate uma preguiça grande e você não tem vontade de levantar da cama? Aconteceu comigo naquele momento.
Quando enfim criei coragem e me levantei da cama, fui ao banheiro fazer o que precisava fazer, e assim sai com para tomarmos café.
Após o café da manhã, retornamos ao quarto e arrumamos nossas malas para retornarmos à estrada. Dessa vez, quem dirigia era .

***
Após vinte e seis minutos e trinta e cinco quilômetros percorridos, chegamos a Siracusa. – Chegamos. Qual ponto turístico iremos visitar agora?
– Espera um pouco. – pedi, pegando no banco de trás o caderno onde tudo estava planejado. – De acordo com os planos, iremos à Fonte Aretusa. O nome do local invoca a ninfa Aretusa, convertida em fonte pela deusa Ártemis.
– Então vamos lá!

***
É uma fonte de água doce próxima ao mar, situada na ilha de Ortigia.
A origem da fonte foi através do desenvolvimento de uma das muitas saídas do lençol freático localizadas na região de Siracusa, o aquífero que também alimenta o rio Ciane no lado oposto do porto. Tem uma forma circular dupla, com uma estrutura circular no interior, que é um círculo duplo concêntrico.
– Segundo a lenda, para fugir do amor de Alfeu, um deus mitológico aquático, Aretusa pede à deusa que a transforme em fonte, e Ártemis assim a atende. – contei ao pesquisar a lenda no Google.
– Esse lugar é incrível!
– Tenho que concordar. Eu poderia ficar aqui para sempre.
– Mas precisamos seguir viagem. – entrelaçou seu braço ao meu me puxando dali, seguindo nosso caminho.

***
Marzamemi foi nossa próxima parada, onde eu quase pulei de felicidade ao saber que , minha linda e amada melhor amiga, havia marcado horário em uma vinícola famosa naquela região, a Feudo Ranaddini. Era uma vinícola pequena, mas com bons vinhos, segundo .
Ao chegarmos à vinícola, eu fiquei boquiaberta ao ver aquele local. Eu não conseguia acreditar que estava ali.
Descemos do carro e entramos na casa. foi quem conversou com uma das pessoas responsáveis por aquele lugar, pois eu estava meio que no mundo da lua observando tudo ao meu redor.
– Olá, eu marquei horário para a degustação de vinhos.
– Qual o nome da senhorita?
. – a moça mexeu no computador por um tempinho.
– La Rose dei Venti? – a moça perguntou à minha amiga, enquanto eu me perguntava o que ela tinha falado.
– Sim, isso mesmo.
– Por favor, acompanhem-me.
Fomos acompanhando a moça até uma grande sala onde havia inúmeras garrafas de vinhos nas prateleiras. No centro da mesa, onde nos indicaram para sentarmos, havia um prato com pedaços de queijos, de variados tipos. Eu só podia estar no paraíso!
– La Rose dei Venti, o que é isso?
– Nos permite experimentar cinco taças de vinho por vinte euros.
– Você é demais, amiga. Eu te amo tanto! – sorrio para ela, meiga.
– Eu sei que sou a melhor.
– E muito pretensiosa também.
Eu poderia passar minha vida toda ali, provando aqueles vinhos maravilhosos, mas tínhamos que seguir viagem, pois nós ainda tínhamos muito a descobrir e saborear.

***
Após mais quarenta e dois quilômetros, chegamos à cidade de Módica, uma comuna italiana da região da Sicília, província de Ragusa. Uma cidade inteira de casas barrocas.
Já era bem noite ao chegarmos, por termos demorado além do esperado na vinícola, então era o momento de irmos atrás de um hotel para descansarmos.
Com a curiosidade batendo forte, pesquisei mais sobre a cidade de Módica e descobri que ali era a terra do chocolate. Anualmente, no mês de dezembro, a cidade era palco de um festival que celebra a tradição doceira e arquitetura barroca da cidade, o ChocoModica. Modica conta até com um Museu do Chocolate, localizado no Palácio da Cultura.
Passamos a noite em um maravilhoso hotel, no qual, ao entrarmos no quarto, nos deparamos com chocolate no travesseiro. Fiquei encantada com aquele mimo!
No dia seguinte, ao fazermos o check-out no hotel, assumi o volante do carro e já até imaginou para onde iríamos primeiro.
Caffé dell’arte, ali eles vendem chocolates de sabores bem variados, desde os típicos canela e baunilha, até sabores como pimenta e sal de mar.
Em seguida, visitamos a doceria Antica Bonajutos e a doceria Rizza.
E, ainda falando sobre chocolate, passamos no Museo del Cioccolato, onde as esculturas de chocolate me deixaram de boca aberta e com água na boca. Comprei várias barras de chocolates de sabores diferentes.
– Sério, se esse gato passar por aqui novamente me olhando com aquele sorriso de canto, eu não respondo pelos meus atos. – falou quanto estávamos sentadas na área da praia. Ela secava os italianos sarados de sunga que passavam em sua frente e eles a paqueravam de volta.
– Bom, ele é um gato mesmo. Mas deixo para você.
– Agradeço. – disse, abaixando uns centímetros os óculos de sol no nariz para secar outro garanhão que passava à nossa frente. – Esse estava olhando para você.
– Sério? Nem reparei.
– Você precisa ficar mais atenta, .
– Não estou interessada.
– Como não? Olha esses caras, são uns gatos!
– São sim, mas estou tranquila.
– Se você diz. – lá vai ela olhar mais um.

***
Com pesquisas sobre a cidade Piazza Armerina, descobri a Sicili Arte Gusto uma loja de vinhos com muitas outras especiarias, que, além dos vinhos locais do deserto, tinha biscoitos e spreads de pistache.
O lojista era acolhedor e prestativo para nos explicar sobre os produtos locais e degustamos alguns vinhos.
– Sério, quero ficar aqui para sempre tomando esses vinhos e apreciando mais coisas da cidade.
, você falou a mesma coisa do último lugar em que degustamos vinhos.
– Não posso fazer nada. Esses lugares são incríveis.
Depois que terminamos de degustar os vinhos, me tirou da loja praticamente arrastada, já que eu queria ficar ali, morar ali e tomar todos os vinhos dali.
– Vamos logo, ! Eu quero passar na La Yogurteria.
– Eu quero vinho.
– Chega de vinho, ! Tem muitas outras lojas e vinícolas pelo caminho.
– Promete então me levar a todas?
– Prometo. – revirou os olhos, mas o importante é que ela havia prometido.
Assim que chegamos à loja de iogurte, acabei me apaixonando, sério! Eu saí meio prejudicada com aquela viagem por conta dos quilinhos a mais que ganhei e as muitas horas que tive que passar na academia, mas a viagem foi inesquecível.
– Sério, eu estou amando esse lugar! – falou com a boca cheia de iogurte.
, cadê os modos?!
– Deixei em casa e está muito longe para ir buscar. – revirei os olhos ao ouvir isso.
Ali, eles davam várias opções de cremes para colocar em cima do iogurte. Eu estava simplesmente apaixonada.
– Quero levar essa loja para casa! – falei com a boca cheia de iogurte, mas eu precisava falar aquilo.
, cadê os modos?!
– Deixei na gaveta de calcinha. – olhamos uma para a outra e caímos na risada.

***
Ainda na estrada, enquanto dirigia para a próxima cidade em que iríamos parar, eu lia o breve resumo de sobre a cidade e fazia mais umas pesquisas sobre ela no Google, que com sua lenda tornava a cidade ainda mais interessante.
– Mussomeli.
– E quais as lendas da cidade? – perguntou minha amiga, me olhando por um segundo e logo voltando sua atenção para a estrada.
– Uma lenda envolvendo um castelo, e vamos comer azeitonas, queijos e...
– E?
– Adivinhe. – falei, olhando com os olhos brilhando para ela.
– Vinho.
– ISSO.
– Sério, por que não toma tequila para variar?
– Porque tequila tem na nossa cidade.
– Vinho também tem.
– Sim, mas quero explorar as vinícolas, saber mais como é feito. Vinho é uma especiaria do sul da Itália.
– Certo, não vou discutir isso com você, mas se você virar alcoólatra, eu não penso duas vezes antes de te internar.
– Tudo bem. – revirei os olhos, colocando meus pés em cima do painel do carro e desbloqueando meu celular, entrando no nosso querido Google. – Voltando a Mussomeli, assim que chegarmos, vamos a um centro de informações turísticas e fazer um tour pelo castelo com um guia turístico. Ele será melhor para nos explicar sobre a lenda e tudo mais.
– Tudo bem.

***
Chegando ao castelo fiquei de boca aberta com o local.
– É realmente muito bonito aqui.
– A lenda desse castelo é que, na época de 1391, em uma das salas da fortaleza, viveram trancadas três jovens mulheres que pertenciam a um ciumento barão siciliano. E muitos dos moradores aqui de Mussomeli dizem que de noite essas mulheres ainda viajam pelas ruínas do castelo, de luto por seus problemas.
– Uau!
, é melhor irmos embora. Imagina se elas não ficarem felizes em estarmos no espaço delas?
, não seja boba. É só uma lenda.
– Exatamente. Elas apenas aparecem de noite, se é que aparecem realmente. – Luca, o guia, sorriu e seguiu um pouco mais a frente de nós duas.
– Mas prefiro não pagar para ver. – resmungou, dando uns passos à nossa frente.
– Quando a noite cai sobre Mussomeli, ninguém se atreve a visitar o castelo.
– Que tal fazer uma visita ao castelo à noite, ?
– Não, muito obrigada. Fique à vontade para vir sozinha. – ri de seu medo.

***
Com a recomendação de Luca, nos hospedamos em um hotel pequeno, mas muito aconchegante. O ruim foi que o quarto tinha apenas uma cama, eu não queria dividir uma cama com , mas, de qualquer forma, aceitamos.
– Pelo amor de Deus, . Se controle durante o sono. Tente não me espancar ou me derrubar da cama. – disse, sentada no pé da cama, tirando minhas botas, enquanto ela ligava a televisão.
– Vou tentar, amiga. Prometo que vou tentar. – ela disse, sorrindo e se sentando ao meu lado e me abraçando de lado.
– Certo. Quem vai tomar banho primeiro?
– Pode ir, ainda vou mandar mensagem para meus pais, faz um tempo que não envio e eles vão ficar malucos se demorar ainda mais.
– Tudo bem.
Logo após meu banho, entrou no banheiro. Não demorou muito; saiu já vestida com seu pijama e se sentou ao meu lado na cama. Assistimos um pouco de televisão, mas o cansaço do longo dia que havíamos tido nos fez adormecer em pouco tempo.

***
Estávamos na estrada, e dessa vez quem estava na maior folga no banco do passageiro e com as pernas para cima era .
– Como eu sou uma amiga muito boazinha e muito legal, pesquisei sobre vinícolas em Trapani. Não descobri uma em específico, mas descobri que existem muitos na estrada a poucos minutos da cidade.
– Já disse que te amo hoje?
– Não.
– Eu te amo, amiga.
– Repete de novo que eu não ouvi. – colocou as mãos na orelha como para escutar melhor.
– Eu te amo, .
– É sempre bom ouvir isso.
– Boba. – falei, rindo, e ela colocou novamente seus óculos escuros e ficou com a cabeça mais para cima, curtindo o vento que batia em seus cabelos, bagunçando-os todos.

***
Converti o carro para a direita e entrei numa pequena estradinha de terra, entrando em uma porta de cerca da cor branca. Estacionei um pouco mais a frente em uma árvore que fazia uma sombra maravilhosa que, por ser verão, o sol era quente e o ar mais seco.
Descemos e vi um pomar um pouco mais a frente. E, mais ao lado bem mais perto de nós, vi parreiras de uvas. Havia muitas e muitas uvas bem roxinhas, deu até água na boca.
E, no meio daquela parreira, vi uma pessoa colhendo uva que prendeu totalmente a minha atenção. Ele era lindo, mesmo que de longe.
, está me ouvindo?
– Estou sim. – Na verdade, eu não estava ouvindo o que ela dizia. Respondi, mas continuei olhando para o mesmo lugar de antes e sorri meio de lado.
Ele estava tão distraído colhendo as uvas que nem notou nossa presença ali. , ao perceber que eu estava distraída demais, seguiu meu olhar.
– Ah, sua da, por isso que nunca duvidei dos seus gostos. Menina, ele é um gato.
– Ahn? – perguntei, olhando meio atordoada para ela de volta.
– Boa escolha. – seu sorriso era de total aprovação.
– Nada a ver.
Parecendo perceber que falávamos dele, e que havia sentido nosso olhar nele, ele se virou em nossa direção e sorriu largamente. Em seguida, deixando a cesta com as uvas em um canto ali, começou a se aproximar de nós duas. Eu fiquei meio tensa, nunca soube lidar muito bem com homens bonitos, eu só sabia gaguejar e suar.
Ele sorria largamente quando se aproximou mais de nós duas e... Meu Deus! Que sorriso era aquele?
– Olá. Sejam bem–vindas à nossa humilde fazenda.
– Olá. Sua fazenda é linda, por sinal.
– Obrigado. A propósito, me chamo . – ele deu dois beijos na bochecha de , que sorria simpática.
– Me chamo , e essa é minha amiga . – disse, apontando para mim, que não falava nada praticamente. Apenas apreciava a beleza de .
me deu uma cotovelada disfarçadamente, me trazendo de volta à realidade, vendo ele me encarando com um lindo sorriso no rosto.
– Oi. – dei uma pigarreada e disse, tentando manter a voz mais firme que pude, sorrindo em seguida.
Ele se aproximou e, como fez com , fez comigo, me deu um beijo em cada bochecha. Os italianos eram bons exemplos em recepção calorosa e acolhedora, ou pelo menos a maioria deles.
– Já até sei por que estão aqui.
– Vinhos. – disse, sorrindo, e com certeza com um brilho no olhar.
– Minha amiga aqui é louca por vinhos.
– Certa ela, não há nada melhor do que pedaços de queijos com a companhia de um belo vinho.
– Com certeza.
– Venham comigo, vou lhes mostrar uma de nossas especiarias em vinhos.
– Se você falar que quer ficar aqui para sempre, vou concordar prontamente. Mas por causa do , não dos vinhos.
Ele nos guiou até a casa, que era bem confortável e grande. Eu olhava a casa toda, atenta à decoração. Mais um lugar para a lista "lugares que mais amei".
Chegamos a uma parte da casa que eu identifiquei logo como sendo a adega. Ele nos conduziu até uma mesa de tamanho médio, feita de madeira. Pegou duas taças e ficou rodeando a adega até que exclamou um “aqui” e, sorrindo do mesmo modo de quando nos viu, ele se aproximou de nós duas, com a garrafa em mãos.
– Esse aqui é um dos nossos vinhos mais especiais, ele é tinto e tem mais de trinta anos. É como dizem: "nada melhor do que um bom vinho velho". – serviu assim em nossas taças.
Sentou-se em nossa frente e nos observava apreciar o vinho. Gente, vocês não têm noção do quão bom aquele vinho era! Eu até cheguei a fechar os olhos para apreciar melhor o sabor.
– Meu Deus, que vinho maravilhoso! O que dizem é super verdade.
– Pode-se sentir aquele tipo de suavidade que somente o tempo traz aos vinhos.
– Olha, eu não sou muito chegado em vinho, mas esse aqui eu tomaria para sempre. – ao ouvir falar aquilo, seu sorriso se alargou ainda mais, com certeza por orgulho de ouvi-la falar daquela forma de seu vinho. Eu me sentia da mesma forma.
– Há sensações, cheiros e sabores, que só são proporcionadas por um vinho velho. Esse espectro aromático vai dos frutos secos, passando por tons defumados até notas de trufas, que só é revelado quando a bebida evolui em garrafa. Eles são chamados de aromas terciários, e só são formados durante a lenta oxidação pela qual o líquido passa com os anos.
– Quando penso que sei muitas coisas sobre vinho, descubro que tem ainda mais para descobrir. – falei, olhando atenta para ele e atenta para cada explicação dele.
– Principalmente para diferenciar os tipos de vinhos.
– Como assim? – perguntou, também atenta a cada coisa que ele falava.
– Tanino, frutado, amadeirado, mentolado, terrier, Cabernet Sauvignon, Bordeaux. Aposto que conhecem. Principalmente você, .
– Sim, conheço alguns desses.
– Para começar, quando se for comprar uma garrafa de vinho, deve-se observar no rótulo da garrafa o nome da vinícola, data da safra e o nome da uva.
– A classe eu conheço umas duas apenas. – eu disse.
– Quais você conhece?
– A de mesa e a composta.
– Poderia me explicar sobre a de mesa e a composta? – ele sorriu de lado, era tão bom ouvir ele falar, pois sua atenção em nos fazer aprender era realmente fofo.
– A de mesa são classificados como nobres, vinhos especiais, vinhos comuns e frisantes ou gaseificados. Já o composto é obtido pela adição ao vinho de macerados e/ou concentrados de plantas amargas ou aromáticas, substâncias de origem animal ou mineral, álcool etílico potável e açúcares.
– Muito bem, . Há outros como o leve, champanhe e o licoroso. – só sabia olhar dele para mim. – O vinho leve é com graduação alcoólica de 7° a 9,9° G.L. O champanhe é o vinho espumante, resultante de uma segunda fermentação alcoólica de vinho. E o licoroso é o vinho doce ou seco, adicionado ou não de álcool potável, mosto concentrado, caramelo e sacarose.
– Acho que estou começando a gostar de vinhos.
– Tem muitas coisas como a cor e o vocabulário do vinho. Mas vou deixar essas explicações para amanhã, que vou lhes mostrar e explicar os processos em que a uva passa para se tornar vinho. Vocês devem estar cansadas. Tenho um quarto disponível aqui, se quiserem, fiquem à vontade.
Aceitamos de bom grado o quarto disponível ali da fazenda de e passamos a noite. Ao descermos para tomarmos café e logo retornar para a estrada, conhecemos Pietro, outra pessoa que trabalhava ali na fazenda, enquanto nos esperava para o café.
Sentei-me na mesa de frente para . Por um momento, ficamos somente em silêncio, apreciando as delícias postas na mesa.
– Vocês são daqui da Itália mesmo? – Pietro, então, puxou assunto.
– Somos sim, da Sicília. – então respondeu. – Como estamos de férias, decidimos rodar algumas cidades da Itália, buscando saber mais sobre gastronomia, lendas e pontos turísticos.
– Muito legal. E já sabem sobre Trapani?
– Na verdade, acabamos nem pesquisando ainda. – respondi a pergunta de .
– Trapani, devido à curva do porto, os gregos chamavam a cidade de Dreponon que significa “foice”, pois, segundo as lendas gregas, Trapani teria surgido depois que a foice caiu das mãos de Deméter, a deusa das colheitas e da abundância, enquanto ela procurava por sua filha Perséfone. – Pietro nos explicou.
– Outra lenda diz que foi a foice usada para castrar Kronos que teria caído no mar. – então completou as palavras de Pietro.
Assim que tomamos café, nos guiou até a parreira de uva. Para cada uma de nós duas, ele entregou um alicate próprio para retirar a uva e uma cesta onde as colocaríamos.

***
Passou-se mais ou menos uma hora e continuávamos ali, colhendo as uvas, cada um em seu mundo de pensamentos, distraídos, sem nos preocupar com as horas que passavam tão depressa.
– Vamos para onde fazemos o vinho, vou lhes mostrar como o vinho é feito.
– Vamos. – falei, pegando minha cesta do chão e acompanhando e que estavam mais a frente.
Logo chegamos ao local onde era feito o vinho, com muitas máquinas.
– Bom, aqui é onde a mágica acontece. Para essas uvas virarem vinho, passam por processos como o esmagamento, a fermentação... E na fermentação há várias etapas como a fermentação tumultuosa e a fermentação lenta. Depois vem o processo de filtragem, o envelhecimento e o corte.
Acompanhamos alguns dos processos com ele a todo o momento nos explicando cada passo. Eu não me cansava de ouvir sua voz. Eu ficava encantada com a atenção que ele nos dava a cada pergunta nossa, sempre tentando responder de uma forma mais fácil para que conseguíssemos entender e não ficássemos tão perdidas. A tour por ali foi muito divertida, passou longe de ser chata ou entediante, e isso me encantou de uma forma nele que me impressionou.

***
ficou quieta todo esse tempo até a hora do jantar, só falava algumas coisas quando era citada ou perguntada sobre algo, mas a todo tempo ela parecia pensar em algo que eu estava louca para descobrir sobre o que era. Eu conhecia minha amiga muito bem para saber que ela estava aprontando algo, e analisando se aquilo ia ou não dar certo, se eu ia ou não aprovar.
Após terminarmos de comer, estávamos todos sentados à mesa, conversando, pois eles tinham conseguido nos convencer de passarmos mais uma noite ali na fazenda e acabamos aceitando. Quer dizer, a aceitou antes mesmo que eu dissesse um “a”.
Pietro nos deu boa noite e se retirou da mesa, alegando estar muito cansado e que teria que acordar mais cedo que o habitual no dia seguinte por conta de serviços acumulados.
Não demorou muito, foi a vez de se levantar alegando estar cansada, eu até iria com ela, mas ela me lançou um olhar que eu se eu fosse ela poderia me matar. Restou, então, naquela sala de jantar, somente eu e . Olhei para ele e sorri.
– Vem, quero te mostrar uma coisa. – se levantou da mesa, estendendo sua mão para que eu a segurasse e me levantasse. E foi exatamente o que eu fiz.
Ele abriu a porta dos fundos da sala – porta que eu nem havia reparado - e eu fiquei com raiva de mim mesma por não ter percebido aquela porta antes e ter ido até ali. Eu fiquei tão encantada ao ver aquilo que fiquei boquiaberta.
Nos fundos da casa, havia um grande (deduzi, pois estava de noite e não dava para ver muito) campo de flores e a lua cheia com as estrelas brilhando deixava aquele cenário ainda mais encantador e romântico.
Conseguia ver as flores, só não conseguia distinguir suas cores exatamente por já ser de noite.
– Isso é maravilhoso! Como não reparei nessa porta antes? – falei com um grande sorriso no rosto e suspirando em seguida.
– Sabia que iria gostar. Mas esperei o momento certo para te mostrar.
– Eu estou encantada! Se eu já era apaixonada por esse lugar, eu estou mais ainda! – olhei para ele, um sorriso leve dançava em seus lábios, enquanto ele me olhava de uma forma na qual não sabia explicar.
Ele se sentou no degrau que dava da casa para o campo de flores e me puxou devagar para que me sentasse ao seu lado. E no que ele retirou sua mão da minha, eu ainda podia sentir seu calor em minha pele e a necessidade de tocá-lo um pouco mais.
Mas teria de afastar de minha mente qualquer coisinha que tendesse a crescer mais por .
Mas estar ali ao seu lado, olhando aquela paisagem, mesmo que em silêncio, me trazia algo gostoso no peito. Não precisávamos estar conversando, o silêncio não era incômodo e constrangedor; muito pelo contrário, estávamos aproveitando cada segundo.


Pietro estava fazendo umas anotações no balcão quando me aproximei dele, me encostando no balcão em sua frente.
– Por que essa cara? – perguntei a ele, que tirou sua atenção do papel para mim.
– Temos um problema.
– Qual problema? – perguntei, com receio de sua resposta.
– As peças que estão faltando para conseguir arrumar a caminhonete só têm em outra cidade. E longe daqui.
– Isso não é problema, mande eles enviarem para cá.
– Aí é que está, eles estão com um problema e não estão podendo enviar as peças. – passei as mãos pelo meu rosto, sem saber o que fazer. – Alguém terá que ir buscar, e essa pessoa é você.
A caminhonete precisava estar pronta logo, ela estava fazendo muita falta nas tarefas do dia-a-dia. Na fazenda, tínhamos duas na qual sempre estavam em uso, e com uma quebrada, a que sobrou era ainda mais utilizada.
– Terei que ir buscar e trazer de avião? Não estou acreditando.
– Pensa pelo lado positivo, pelos menos conseguimos encontrar essas peças aqui na Itália.
– Pelo menos isso.


Ao acordarmos no dia seguinte, descemos para o andar seguinte e no balcão encontramos Pietro e com caras não muito boas.
– Bom dia. – eu e falamos quase ao mesmo tempo, tirando eles um pouco do transe.
– Bom dia. – responderam quase juntos.
– Está tudo bem? – perguntou.
– Na verdade, já acordamos com notícias não muito boas. – Pietro respondeu enquanto parecia pensar em algo.
– O que aconteceu?
Eles, então, nos explicaram o ocorrido.
– Em que cidade você terá que ir?
– Para Enna.
, essa será a última cidade do nosso roteiro de viagem.
– É verdade.
– Você não quer uma carona até Enna? – ofereceu e meu coração acelerou com a possibilidade de seguir viagem com a gente.
– Eu não quero incomodá–la. Posso pegar um avião.
– Imagina! O que iria gastar com avião, pode economizar indo com a gente.
– Essa é uma boa ideia, . – Pietro concordou com .
Não iríamos chegar tão rápido como ele pegando um avião, mas também não demoraria para chegarmos em Enna. Sem contar a economia que ele teria.
– Então, se não for incomodar, eu aceito a carona.
bateu palminhas, empolgada, e me olhando em seguida. Eu só sabia sorrir sem conseguir decifrar o que poderia acontecer no decorrer dessa viagem.
Após isso, então, todos fomos para a mesa tomar café da manhã. Eu ainda estava tentando processar o fato de que ele iria continuar a viagem com a gente. Quão maluco o destino poderia ser.
Ao terminarmos o café, subimos para o quarto para terminarmos de arrumar nossas malas.
– Ele vai com a gente. Ele vai, sim! – cantarolava.
, você é maluca.
– Ele gosta de você, ele gosta sim!
– Não viaja.– falei, pegando minhas coisas e colocando na mala.
– Viajo, sim! – ela parecia uma criança que havia acabado de ganhar um brinquedo que há muito tempo desejava.

***
Ajeitamos as malas no carro e, assim que estava tudo pronto, nos despedimos do pessoal ali da fazenda, agradecendo muito pela hospedagem e pedindo desculpas por qualquer coisa que tenhamos feito, mesmo que sem perceber. também se despedia e dava instruções como ligar para ele quando eles precisarem, alegando não demorar a retornar, arrumar o carro e assim desafogar o único que ainda podiam usar na fazenda.
E, enfim, pegamos a estrada.
– Quando vocês estiverem cansadas, me avisem que eu dirijo. – dirigia, eu estava ao seu lado e nos bancos de trás.
– Imagina, ! Fique tranquilo.
– Eu falo sério, eu amo dirigir.

***
Gangi era a nossa próxima parada – duzentos e vinte e três quilômetros percorridos. Até sabíamos o que faríamos, onde comeríamos e onde dormiríamos, graças ao nosso querido Google e ao que sabia praticamente tudo sobre o sul da Itália.
Ao chegarmos em Gangi, fomos ao Corso Umberto, principal centro histórico. Ali se encontram restaurantes, pousadas, lojinhas de souvenir e pontos de informações turísticas (que nem precisamos, pois era o nosso guia turístico).
E, de costas para Torre dei Ventiniglia, pudemos ter uma visão maravilhosa de Gangi e dos campos do interior da Sicília.
– Meu Deus, eu não sabia que eu podia encontrar lugares tão lindos. – eu disse, olhando para aquele lugar.
– Pois é.Eessa é a nossa maravilhosa Itália. Sempre nos surpreendendo.
– Sim, eu também fiquei mais em Sicília.
– Você precisa viajar mais, . Expandir mais seus horizontes.
– Eu gostaria, mas nem sempre eu e tiramos férias na mesma época e viajar sozinha nem sempre é legal.
– Isso é verdade.

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– Segundo a lenda da cidade de Catânia, elefantes de pedras eram colocados nas portas da cidade para assustar os invasores e o único que teria restado seria aquele colocado na “Fontana dell’ Elefante” defronte ao “Palazzo dei Chierici”.
– Essas cidades da Itália têm cada lenda que eu fico boquiaberta!
Estávamos eu, e sentados em um restaurante, saboreando um delicioso macarrão espaguete à bolonhesa. Eu mal falava, pois estava saboreando aquela comida maravilhosa.

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Deixamos nossas malas no hotel, tomamos um banho, nos trocamos e fomos para uma balada movimentada de Catânia, pois a cidade tinha uma vida noturna bem movimentada, com muita gente bonita nas ruas.
Eu estava com um vestido azul que ia a um palmo acima da coxa e um salto alto. Deixei meus cabelos soltos mesmo e passei uma maquiagem mais leve.
estava com um vestido preto tubinho, um salto alto vermelho, uma trança embutida nos cabelos e maquiagem também mais leve.
– Nossa! Vocês estão lindas. – falou quando abri a porta. Ele nos elogiou, olhando somente para mim.
estava com uma calça jeans e uma camisa social branca com uns botões abertos, quase me fazendo babar.
– Obrigada.
– Vamos, pessoal. – nos apressou.
Chegando à casa noturna, demoramos um pouco para entrar por conta da fila que tinha, e antes de entrarmos houve toda a preocupação dos seguranças com a segurança de todos ali dentro.
Quando finalmente entramos, fomos direto para o bar. pediu um shot de vodca, um copo de uísque e eu um shot de tequila. Naquela noite eu queria extravasar, pois faltava muito pouco para retornarmos de volta à nossa cidade natal. Eu queria mesmo era curtir o máximo que eu podia.
Meu foco logo após foi a pista de dança, na qual lá estava eu me balançando conforme a música.
Percebi alguém se aproximando de mim na pista de dança e percebi que se tratava de . Ele tentou ficar o mais colado possível comigo e dançávamos juntinhos, com nossos rostos muito próximos um do outro.
Desviei meu olhar de seus olhos para sua boca e naquele momento a boca de nunca pareceu tão chamativa e deliciosa. Uma enorme vontade de beijá-lo se apoderou de mim e eu apenas obedeci minhas vontades, beijando-o. No começo, peguei-o meio de surpresa, mas logo uma de suas mãos foi parar em meu cabelo e a outra apertava minha cintura com certa força.
Ao beijar , senti-me como se estivesse entrando em um mundo completamente diferente. Parecia que os braços de haviam sido feitos para mim, para envolver meu corpo ali.
Paramos o beijo por conta do ar que já faltava em nossos pulmões, mas não queríamos nos separar daquele beijo de forma alguma.
Nossos olhares se conectaram e ficamos assim por um tempo. E sim, eu sentia alguma coisa por .
Eu estava ferrada.

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Acordei com a cabeça pesada. Qualquer barulhinho que fosse se tornava um enorme barulho, dando muitas pontadas em minha cabeça. Eu só queria ficar na cama e dormir para sempre, mas insistiu muito, alegando que antes de eu tomar remédio para aliviar a dor de cabeça, eu precisava estar com o estômago cheio.
Demorei mais do que o normal para me aprontar, pois eu fazia tudo bem devagar para que minha cabeça não doesse ainda mais. Mas eu queria entender o porquê parecia estar tão bem, livre de qualquer ressaca. Estou falando que essa menina é estranha!
, me conte seu segredo? – perguntei enquanto calçava meus tênis.
– Que segredo? – me olhou de forma confusa.
– O segredo de ter bebido todas na noite passada e não estar de ressaca agora.
– É que eu acabei levantando mais cedo, comprei umas coisas em uma cafeteria que já estava aberta e logo após tomei remédio. Estou bem melhor agora.
– E você vai tomar café da manhã novamente?
– Sim, estou com fome. Eu comi muito cedo.
– Certo.

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Descemos, e ao chegarmos onde estavam servindo o café da manhã, encontramos sentado à mesa. Ele parecia desanimado e estava de óculos escuros.
– Está tudo bem, ? – perguntou, meio rindo.
– Tirando a ressaca maldita, tudo ótimo.
– Nem me fale, acho que minha cabeça vai explodir a qualquer momento.
Durante o café da manhã eu olhava para e me sentia de uma forma estranha, mas essa forma que eu me sentia era boa, algo gostoso se apossando de meu interior.
E foi então que uns pequenos flashes invadiram minha mente. Eu estava dançando, alguém se aproximou e eu dancei mais um pouco com essa pessoa. Logo depois, eu estava beijando ele. Concentrei-me em tentar lembrar o rosto de quem era. Depois do beijo, nossos rostos se separaram, até que consegui lembrar. Era ! Eu havia beijado o !
Acabei engasgando e só deu batendo em minhas costas para me ajudar a desengasgar. me olhou, confuso.
– Que isso, ?! Deu para engasgar do nada agora?
– Desculpe, é que eu me lembrei de uma coisa.
– Que coisa? – perguntou, e ele parecia saber de algo como o que tinha acontecido noite passada e tinha certa esperança no olhar.
– Não era nada.
Ele então somente acenou com a cabeça, desistindo de perguntar algo mais.

***
Terminamos o café da manhã e arrumamos todas as malas de volta no carro. e eu ainda não tínhamos nos recuperado cem por cento da ressaca, então quem se ofereceu para dirigir foi .
Eu fui com ela na frente e foi no banco de trás todo esparramado.
Uma coisa ficou rondando minha cabeça - se eu havia beijado , o que mais eu tinha feito na noite passada?
Será que eu tinha dado muito vexame?
Só de pensar eu me tremia toda.

***
Estávamos a caminho da cidade de Enna. Dessa vez, quem dirigia era e quem estava na frente com ele era . Eu tinha insistido muito para que ela me deixasse ir atrás, eu ainda estava tentando me lembrar de tudo o que havia acontecido naquela noite.
Comprei tudo que haviam pedido na lojinha de conveniência do posto de gasolina.
– Vamos pegar estrada novamente? – parei na frente dos dois.
– Pensei que você não ia mais sair de lá. – falou, rindo.
– É que fiquei na dúvida sobre o que realmente comprar.
– Certo, então vamos.
Entramos no carro e voltamos para a estrada.

***
Enna, nossa última parada, possuía uma mistura de influências dos diversos povos que habitavam a Sicília.
Andar pelas ruas estreitas do centro histórico significa descobrir histórias dos povos que ali viveram e também suas lendas e monumentos que faziam referência à mitologia greco-romana.
Assim que saímos de uma lojinha onde compramos muitas coisas gostosas, paramos em frente à fonte “Rapto de Proserpina” que fazia uma homenagem à filha de Deméter ou Ceres. Peguei meu celular e entrei no Google sobre a lenda da cidade. Diziam as lendas gregas que Deméter vivia em harmonia com sua filha Koré ou Perséfone que gostava de passear a beira de um lago colhendo flores. Mas um dia sua filha saiu e não retornou.
Anos depois de buscas, Deméter descobriu que Hades, o senhor das trevas, havia raptado e levado sua filha para o mundo subterrâneo. Enfurecida, Deméter ordenou que a terra secasse e recusou a devolver a abundância, mesmo sua filha tendo sido coroada como Proserpina, a rainha das trevas. Deméter não se conformava e queria sua filha de volta. Durante nove meses do ano, Perséfone/Proserpina viveria com a mãe, mas durante três meses ela deveria retornar para o marido. Porém, Deméter não se conformava, então quando ela chorava, a terra se tornava fria e nada produzia - o que deu origem ao inverno. Logo quando a filha retornava, Deméter fazia florescer nos campos anunciando a primavera.

***
Era de noite quando sentamos em um restaurante para jantar. Comemos as especiarias da cidade e estava tão bom que nem conversamos direito durante o jantar.
Depois que terminamos, ficamos ainda ali sentados à mesa, tomando vinho e conversando.
– Bom, eu preciso ir ao banheiro, com licença. – se retirou. Acabei por não ir com ela, pois estava com preguiça de me levantar dali e ela também nem pediu que eu a acompanhasse.
Restando apenas e eu ali, sozinhos, ele me olhava sem tentar disfarçar. Eu o olhei por um momento e então descobri que era hora de falarmos sobre o que tinha acontecido naquela noite na cidade de Catânia, pois não poderíamos ficar daquela forma para sempre.
, precisamos conversar. – tomei, por fim, a iniciativa.
– Tudo bem. – se aproximou mais, colocando os braços cruzados na mesa.
– Eu me lembro do que aconteceu naquela noite, em Catânia.
– Se lembra? – Ele ficou mais atento a mim, em esperança.
– Sim, me lembro. E eu vou entender se você me disser que foi um erro.
– Eu não disse isso em momento algum, e não teria um porquê de eu falar isso. Teria?
– Por que não teria?
– Porque foi bom para mim e espero muito que tenha sido para você também.
– Para mim foi.
– Então não tem por que fingir que não aconteceu.
– Certo.
Acabamos a conversa justamente na hora em que retornava do banheiro. Não que ela não pudesse escutar sobre o que falávamos, até porque eu iria contar tudo a ela depois.

***
Assim que se deitou, logo pegou no sono, enquanto eu rolava de um lado para o outro na cama, relembrando o beijo e a conversa que e eu tivemos há umas horas atrás.
Fui interrompida de meus devaneios com alguém batendo na porta do quarto, e mesmo assim não acordou.
Levantei-me, abri a porta e me deparei com parado na porta do quarto.
, algum problema? – me escorei na porta.
– Na verdade, não exatamente. Vim te fazer um convite.
– Para o quê?
– Só diz que sim, que eu te mostrarei logo. – fiquei meio incerta, pois a cama estava gostosa apesar de não ter conseguido pegar no sono, mas acabei topando.
– Tudo bem. Espera um minuto, vou trocar de roupa.

***
– Mas nós podemos entrar aqui? – Estávamos no telhado do hotel onde estávamos hospedados.
– Podemos sim, pedi permissão para o pessoal do hotel. No começo eles ficaram meio relutantes, mas acabaram cedendo.
– Aqui é lindo.
Nós sentamos em uma muretinha ali e ficamos observando a lua minguante, as estrelas, e a cidade toda iluminada.
Ficamos um tempo observando a paisagem, quando finalmente se pronunciou:
– Essa é a última cidade em que paramos. Amanhã cada um voltará para sua cidade. Como ficaremos daqui para frente, nós dois?
Aquela era uma ótima pergunta. Eu não fazia ideia de como seria dali para frente.
– Eu não sei. Mas, o que for para acontecer, o destino se encarregará de fazer acontecer.
Todas as sensações que eu havia sentido naquela noite na casa noturna vieram à tona com aquele beijo, e continuava sendo difícil decifrar todas aquelas coisas boas dentro de mim. Olhei para ele, sorrindo; ele retribuiu o sorriso, beijando meus lábios em seguida.

Aconteça o que acontecer amanhã, ou para o resto da minha vida, agora estou feliz porque te tenho.





Fim



Nota da autora: Sem nota.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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