Finalizada em: 03/09/2023

Sit back and relax, everybody

Slow It Down

(POV )


Mais um dia, mais um expediente.
Estava amarrando o cabelo no coque baixo de costume, precisava sair logo. Ainda tinha que passar na sede da empresa antes de me apresentar para serviço no K-Hot Chilli Peppers, um dos bares mais famosos da cidade de São Paulo. Passei um lip tint apenas para ter uma cara de saúde, peguei o capacete e o soltei no mesmo instante. Iria encontrar com e mais tarde. Não podia pilotar depois de beber. Peguei a mochila e pedi um Uber. Não queria andar de ônibus naquele dia. Na verdade, sequer queria ir trabalhar. Mas o aluguel precisava ser pago e não poderia fazer aquilo sozinha.
Foi sugestão minha dividir o aluguel depois de brigar com meu pai por ter escolhido ser segurança particular depois de cursar educação física. Era melhor aguentar alguns bêbados me cantando do que correr entre várias escolas ouvindo crianças gritarem para ter um salário minimamente decente.
E ainda havia os honorários de que precisavam ser pagos. Maldito rico que tentou me beijar. Ele ter levado um soco foi consequência. Eu só não esperava o processo por agressão. Mas eu confiava em alegando que tinha sido legítima defesa após tentativa de assédio, e esperávamos arrancar um bom dinheiro daquele sem noção.
Assim que passei pela porta da empresa, Yunho, meu colega de trabalho, me parou.
— Você vai pro K-Hot hoje? — ele quis saber.
— Vou. Só preciso falar com o Siqueira antes. Você tá de moto? — perguntei e ele confirmou com a cabeça.
— Vai, eu te dou uma carona. — me dispensou com a mão. Corri até a sala do chefe e dei duas batidas na porta antes de entrar.
— A maior. — Siqueira riu assim que me viu.
— A única, você quis dizer. — rebati. Fora eu, a empresa só tinha mais uma segurança particular fixa, as outras eram sempre contratações rotativas. — O que você queria falar?
— Você pode sair mais cedo do serviço para encontrar suas amigas. Seu banco de horas tá bem positivo. — ele me lançou uma expressão de admiração.
— Você salvou um rolê, Siqueira. Obrigada. Agora eu já vou. Yunho vai me dar uma carona. — falei apressada.
— Só uma carona? — ele riu.
— Você parece um shipper maluco, chefe. Deixa eu ir. Falou. — fechei a porta e corri de volta para a saída onde Yunho já me esperava com a moto ligada. Coloquei o capacete e me agarrei à cintura fina, não vendo nada mais que ombros largos à minha frente. Ele pilotou com cuidado até a porta do bar e fomos recebidos pelo senhor Lee, dono do lugar.
— Achei que não vinham. — ele reclamou.
— Nem estamos atrasados, senhor Lee. — chequei o relógio no pulso. — Na verdade, chegamos antes. Registra aí, Yun.
— Você e seu banco de horas. — ele riu, mas pegou o celular e tirou uma foto do relógio bem em frente ao letreiro do bar.
— É meu banco que salva meus rolês. — pisquei.
— Siqueira me avisou que você vai sair mais cedo e disse que uma moça vai te cobrir. — o senhor Lee cruzou os braços sobre o peito.
— Eu vou gastar dinheiro no seu bar, senhor Lee. — o lembrei. Se tinha uma coisa que ele gostava mais que organização era dinheiro.
— Você vai ficar na área externa hoje, mas, por favor, não arrume confusão. — ele pediu.
— É só nenhum dos seus clientes tentar me beijar. — sorri sem mostrar os dentes.
— Ela vai se comportar, não é, ? — Yunho colocou as mãos nos meus ombros. — Ela não pode responder outro processo agora. Siqueira a demitiria.
— O Siqueira me adora e vocês nem sabem. — me afastei um passo em direção à porta, me livrando das mãos de Yunho em mim. Entrei e fui direto para os fundos para terminar de me arrumar. O bar abriria em alguns minutos e eu precisava estar pronta. Daqui a pouco a fila se formaria lá fora. Arrumei os fios que se soltaram do coque e o coldre no corpo. Eu tinha porte de arma, mas nunca precisei utilizá-la de fato. Passei pela cozinha, cumprimentando as pessoas e encontrei Yunho perto do bar.
— O senhor Lee me quer aqui dentro. Tenta não arrumar confusão lá fora. — ele sorriu.
— Você me conhece. Eu não posso prometer. — apertei sua bochecha.
— Colocou seu ponto? — ele quis saber. Como éramos da mesma empresa, sempre que o senhor Lee nos colocava separados, nos comunicávamos via rádio. Um ponto bem discreto no ouvido.
— Coloquei. Mas se eu arrumar confusão, você vai ouvir. Pode deixar. — pisquei.
— Ei, casal. Vamos trabalhar. Vai abrir. — Bravo, um dos seguranças externos, brincou. Não sabíamos seu nome de verdade. Bravo sempre foi Bravo.
— Siqueira tá nessa pilha aí, hein? — avisei a Yunho. Ele apenas sorriu. Bati a mão fechada em seu peito com força.
— Para de me agredir, . — ele riu.
— Você presta atenção, Yunho. — estreitei os olhos para ele. — Se precisar, estou na porta.
— Eu já sei. Agora vai antes que o Bravo venha te buscar. — ele me girou pelos ombros e me empurrou em direção à porta.
— Vocês são bonitinhos juntos, mas eu tenho pena do coreaninho, . — Bravo riu assim que me viu. — O pobre coitado deve sofrer na sua mão.
Apenas o olhei e deixei ele pensar o que quisesse. Não adiantava explicar nada pra homem mesmo.
O K-Hot abriu e nos concentramos no nosso trabalho, que era bem simples: revistar as pessoas para que elas não entrassem no lugar portando armas ou qualquer objeto perfurocortante. Comecei a revistar as poucas mulheres que apareciam ali até que e , minhas amigas, apareceram na fila.
— Essa farda não te valoriza. — comentou enquanto eu a revistava.
— Eu tenho uma arma. Ela me valoriza. — eu ri.
— Duas horas, . — lembrou.
— Chego daqui a pouco na mesa. — garanti e coloquei as duas para dentro. A fila começou a aumentar consideravelmente e, para a surpresa de todos, tínhamos mais homens que mulheres naquela noite. Logo, eu estava mais livre que Bravo e o outro cara.
— Ih, lá vem o VIP. — Bravo aprontou com o queixo para um asiático que vestia calça e jaqueta marrons e uma camiseta preta. De longe, ele parecia alto. — Revista ele aí, . Ele odeia esperar na fila.
— Ele não vai reclamar? — perguntei. Eu nunca revistava os caras, não queria ser processada por assédio também.
— Tá brincando? Ele vai amar. — Bravo riu. — Aperta bem porque uma vez eu peguei ele com um canivete suíço.
— Tá de brincadeira, Bravo?
— Você tem uma arma, . E é só uma revista. Vamos, seja profissional. — ele ralhou. — Pode vir, senhor. — ele chamou o cara, que se aproximou com um sorriso que eu só pude julgar como canalha. — Não se importa que a faça a revista, não é?
— Nem um pouco. — o cara sorriu para mim. — . Nome bonito.
— Abra os braços, por favor. — pedi. Ele abriu o maior par de braços que eu vi nos últimos dois anos. Eram compridos e pareciam fortes. Passei as mãos na cintura dele e me abracei ao seu tronco para tentar pegar em suas costas, meu peito consequentemente batendo nele.
— Por que você nunca me revistou antes, ? — ele perguntou com a voz grave e baixa bem perto de mim.
— Não é minha função, senhor. — segui fazendo a revista.
— Seu cabelo cheira bem. — ele comentou quando senti seu nariz no topo da minha cabeça.
— Tá liberado, Bravo. — respondi ríspida e me afastei imediatamente.
— Posso te pagar um drink? — o VIP insistiu.
— Eu estou no meu horário de trabalho. — respondi olhando em seus olhos rasgados.
— E que horas você sai? — ele sorriu de lado enquanto me analisava por completo.
— Não tão cedo. — cortei o assunto. Ele aproximou o rosto do meu, a boca na altura do meu ouvido, e eu segurei a respiração por um momento. Não arrumar confusão era a regra de hoje.
— Eu tenho a noite toda, . — ele sussurrou. Senti meu braço arrepiar, mas a manga comprida do uniforme não deixou isso transparecer. Eu não estava de fato gostando de toda aquela proximidade, era só meu corpo reclamando por um contato que já não tinha há algum tempo. Lhe lancei um olhar ladino e ele sorriu antes de entrar no K-Hot.
— Eu achei que você fosse socar a cara dele. — Bravo riu.
— Tá achando engraçado, né? — respirei fundo. — me mataria se eu conseguisse outro processo.
— Se seu namoradinho souber... — ele cutucou meu ombro.
— Eu brigo com você se ele brigar comigo. — entrei na brincadeira. Então meu relógio apitou me dizendo que minha hora tinha chegado. E em um timing perfeito, a outra moça se aproximou de nós com a farda da empresa. — Não deixa ninguém mexer com ela, Bravo. Eu tô saindo. — então me virei para a moça. — Se precisar de ajuda, é só gritar. Eu vou tá aqui dentro, tá?
— Sim, senhorita Campos. — ela sorriu.
— Fica bem. E ignora o Bravo, sério. — sorri de volta. Dei a volta no bar e entrei pelo acesso de funcionários, indo direto atrás da minha mochila no armário que eu tinha insistido para o senhor Lee instalar ali. Me livrei da farda e vesti a roupa que eu tinha separado para usar naquela noite. Calcei os coturnos de volta e fui me ocupar de arrumar rapidamente o cabelo e fazer uma maquiagem para parecer decente.
Arrumei a saia no corpo, passei meu batom marsala favorito e um pouco de perfume e saí do banheiro de funcionários, parando na porta da cozinha onde San lavava os pratos. Ele era recém-contratado, então fazia de tudo um pouco. E mesmo com o pouquíssimo tempo, nós tínhamos nos dado bem. Ele fez sinal de OK com os dedos e murmurou um “muito bom” que eu só consegui entender porque era boa em leitura labial. Respirei fundo e saí para o bar, sendo recebida pela música alta e pelo bartender que me ofereceu uma cerveja. Peguei a garrafa e fui em direção a , que ria alto com (ou da ).
— Onde foram parar suas calças largas? — me analisou.
— O turno acabou, .
— Então está permitido te cantar? — uma voz grave perguntou atrás de mim. Nem precisei virar para saber que era o engraçadinho da revista de mais cedo.
— Não. — o olhei enquanto me sentava ao lado de . Ele apoiou a mão no assento atrás de mim e a outra na mesa, quase me prendendo ali.
— Eu não sou sua advogada agora. — me sussurrou.
— Mas vai ser. — sussurrei de volta e me virei para o asiático à minha frente. — O que você quer?
— Eu queria um drink servido direto da sua boca. — ele sorriu.
— Dois anos atrás, se você me pagasse, eu faria o que você quisesse, mas eu já deixei de ser garota de programa. — beberiquei a cerveja.
— Mas você nunca foi garota de programa, . — riu do outro lado de . Pelo visto, o álcool estava soltando a língua dela.
— Está tentando me afastar, ? — meu nome escorregou pela língua dele de uma forma perigosa. Ele tentou colocar uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha, mas eu interceptei sua mão, a virando para trás em um golpe que eu tinha aprendido há muito tempo nas aulas de luta.
— Achei que tinha percebido lá na entrada. — sorri e pressionei mais sua mão. O engraçadinho, porém, revirou os olhos e sorriu largo.
— Algum problema aqui? — Yunho apareceu atrás de mim e colocou a mão grande sobre meu ombro. apertou minha coxa e eu me obriguei a soltar a mão do homem. Cruzei as pernas e o olhar pesado dele seguiu o movimento. Vi quando ele passou a língua sobre os lábios.
— Esse cara é seu namorado? — o abusado perguntou.
— Eu... — Yunho começou, mas eu coloquei a mão sobre a dele e ele se calou.
— Não. Ele é um amigo. Eu não namoro, só não quero ficar com você. — sorri.
— Então eu não vou mais insistir. Por hoje. — ele se afastou um passo. — De qualquer forma, foi um prazer, . E, a propósito, meu nome é Mingi. Mas você pode me chamar do que você quiser. — ele piscou.
— Ótimo. — sorri. — Cai fora, palhaço.
Mingi, agora eu sabia, sorriu de lado e saiu sem dizer mais nada.
— Se você quiser, eu posso colocar ele pra fora, . — Yunho ofereceu.
— Tá tudo bem, Yunho. — sorri para o mais alto.
— Se precisar de mim... — ele começou a oferecer ajuda, um sorriso quadrado se instalando no rosto bonito.
— Eu sei onde te achar. — sorri para ele. Yunho concordou com a cabeça e saiu para as sombras da pista de dança.
— Eu acho que ele tá muito na sua. — comentou.
— Quem? O Mingi? — perguntei. Foram muitos homens bonitos em sequência. Minha cabeça travou.
— O Yunho, . — apontou. Parecia genuinamente convencida.
— Ele só é muito amigável. — rebati.
— Com a única segurança da casa. Que coincidência. — debochou.
— Isso é coisa da sua cabeça de noiva. — bebi um longo gole da cerveja que segurava.
— Mas ele é um partidão. — reforçou.
— É sim, mas trabalhamos juntos. Não quero bagunçar isso. — suspirei. Olhei ao redor, me sentindo incomodada com o local, e peguei Mingi no bar, me encarando fixamente. — Eita que encarnou.
— Tá me incomodando e o alvo nem sou eu. — riu.
Passei a língua no gargalo da garrafa e bebi um gole bem devagar, vendo Mingi do outro lado entrando em leve desespero, passando as mãos grandes no rosto.
— Você está torturando ele. — riu.
— Uma abordagem diferente e teríamos saído juntos hoje. — disfarcei o sorriso com a garrafa.
— Não para a nossa casa, né? Eu não vim preparada pra dormir na . — reclamou.
— Nem eu tô preparada pra te receber. Meu noivo tá me esperando. — sorriu e eu e automaticamente reviramos os olhos. Não era segredo para ninguém que ele não gostava de nós e nós muito menos gostávamos dele.
— É sério, . Uma palavra e ele saí. — Yunho se aproximou. — Ele tá te comendo com os olhos.
— É o máximo que ele vai conseguir hoje, Yun. — sorri.
— Você vai demorar? Eu te levo em casa. — ele ofereceu.
— Yunho, namora comigo? — pediu com um bico. Yunho apenas sorriu.
— Como você pode ver, a já tá alta e a tem que voltar pro noivo. Então daqui a pouco vamos pra casa. Mas obrigada pela oferta. — sorri para ele.
— Sem confusão. — ele piscou.
— Com licença. — o bartender se aproximou com um drink chique numa bandeja. — Aquele senhor mandou. — ele apontou para o bar e todos nós seguimos com o olhar a direção que ele indicou. Claro que Mingi estava lá, com o maior sorriso de satisfação.
— Leve de volta e diga que eu não quero. E faça isso antes que eu mesma vá lá devolver. — sorri para ele. O garçom voltou e vi quando o VIP levantou o copo de whisky para mim. Ele tinha aceitado a derrota naquela noite. — Finalmente teremos um pouco de paz. Agora vamos beber porque amar tá difícil.
🍻
Era sábado, o pior dia no K-Hot. As pessoas bebiam naquele dia tudo o que não tinham bebido na semana. E elas sempre causavam confusão. E sempre sobrava para mim. Tinha dias que minha única vontade era dar um tiro para cima e mandar todo mundo calar a boca. Foi em um sábado que eu consegui ganhar meu atual processo.
, hoje eu quero você aqui dentro. Seu chefe já mandou uma moça para a porta. — o senhor Lee anunciou. Então se virou para Yunho. — Você não. Você vai para fora, ou vai ficar paquerando a a noite toda e não vai trabalhar.
— Ei! — Yunho protestou.
— Ele leva o trabalho a sério, senhor Lee. — tentei defender Yunho.
— Eu sei. Mas hoje temos uma "reserva" de gente chique e eu quero você mais... casual. — o senhor Lee gesticulou ao meu redor. — Então vá trocar essa farda. Fique bonita.
— Eu sou bonita, senhor Lee. — ri.
— Mais bonita. Vá. — ele me expulsou e eu não tive opção a não ser seguir para o banheiro dos funcionários. Troquei a calça de sempre pela calça de couro (eu a odiava às vezes, mas era necessária), arrumei a blusa escura e o coldre da melhor forma possível, ajustei os coturnos, o ponto no ouvido e saí para a área comum.
— Serviço interno? — San perguntou.
— Gente rica hoje. — revirei os olhos e ele me acompanhou. — E você, quando sai da cozinha?
— Num dia que não tenha gente rica aqui fora, eu espero. — ele riu. — Yunho está odiando. — ele apontou para onde meu amigo estava ouvindo um sermão do senhor Lee e revirando os olhos a cada palavra.
— Eles que são coreanos que se entendam. — dei de ombros.
— Vamos abrir em cinco minutos. — o senhor Lee berrou. — Já temos fila, hoje é casa cheia.
— Sem nenhum problema, eu espero. — murmurei.
Assumi meu posto quase no fundo do lugar, vendo todos que entravam. A casa foi ficando cheia demais para eu conseguir acompanhar todos os rostos, e então eu o vi. Mingi entrou no K-Hot com um olhar atento de caçador, esquadrinhando o local. Ele viu uma presa aqui e ali, lançou alguns sorrisos, mas parecia procurar alguém específico. Então seus olhos rasgados encontraram os meus e ele abriu um sorriso largo. Ele fez menção de se aproximar e eu levantei a mão para que ele parasse imediatamente. Ele ainda avançou alguns passos na minha direção antes de parar, os olhos parecendo me despir enquanto me analisava.
, aquele cara entrou. — a voz de Yunho soprou no meu ouvido. De onde eu estava, conseguia ver suas costas largas na porta.
— Tô olhando pra ele. Tá tudo bem, Yunho. É só ele não tentar me beijar. — garanti.
— Está trabalhando? — Mingi perguntou.
— Tô e não quero ser incomodada. — rebati.
— Se o seu turno acabar mais cedo, eu vou estar bem ali te esperando para um drink. — ele apontou para o bar.
— Obrigada pela oferta, mas eu passo. — cruzei os braços. Mingi arriscou se aproximar um passo e sorriu. Não me mexi.
— Você está belíssima, . — elogiou e se foi, procurando lugar no bar lotado.
E lá ficou a noite toda, me olhando fixamente. Precisei sair do lugar para olhar aqui e ali, vendo se estava tudo bem, mas sempre que voltava ao meu posto, lá estavam os olhos de Mingi me analisando. Quando o K-Hot começou a esvaziar, a sensação de ser observada só ficou pior.
, o Mingi mandou pra você. — San, que estava dando uma força no bar, se aproximou com uma taça. — É gin. Eu disse que você tava trabalhando, mas ele insistiu.
— E de onde vocês se conhecem, San? — perguntei e cruzei os braços.
— Os pais dele têm uma construtora. Foram eles que reformaram a primeira loja dos meus pais e tão mexendo na segunda. — ele sorriu, os olhos ficando pequenos no rosto de traços fortes. — Eu falei que meus pais têm uma loja, né?
— Eu ouvi algo sobre isso. — respondi San, ainda olhando para Mingi, que parecia esperar uma reação minha.
— Eu levo a taça de volta? — ele quis saber.
— Pode deixar que eu levo. — peguei a taça das mãos dele e caminhei em passos duros até Mingi, que abriu um sorriso largo ao ver que eu me aproximava.
. — a voz de Yunho soprou em tom de aviso no meu ouvido, mas eu o ignorei e só parei quando cheguei em frente a Mingi.
— Eu já falei que eu tô no meu horário de trabalho, Mingi. Não adianta tentar me comprar com drink. Eu levo meu trabalho a sério e você devia levar meu tom de desdém e ameaça a sério também. — respirei fundo depois de falar quase sem pausa. — Então para de encher meu saco. — e em um ato totalmente impulsivo, derramei toda a taça de gin no cabelo tingido dele.
— Tá bom. — Yunho me agarrou pelos ombros e começou a me afastar dali enquanto San tomava a taça vazia da minha mão. Ainda pude ver Mingi rindo alto e ouvi um "essa mulher vai ser minha, San" que ele dirigiu ao meu amigo. — , você vai ser demitida! Acabou de jogar bebida em um cara chamado de VIP pelos seguranças!
— Ele tava rindo, Yunho. Ele gostou. Eu não espero um processo. Espero que ele me deixe em paz. — respirei fundo.
— Ainda bem que foi rápido e ninguém filmou. — ele passou as mãos sobre o rosto. — Mas se...
— Se alguém reclamar, eu aceito. Aceito a demissão. Aceito o que vier. — suspirei. — Vou procurar emprego em uma escola. Bom que com as crianças eu me entendo.
— Você odeia crianças. — rindo, ele me puxou para um abraço. O aceitei de bom grado.
— Mas pelo menos elas não dão em cima de mim. — eu ri.
— Mingi disse... — San entrou falando e parou. — Desculpa, eu não queria atrapalhar.
— Pode falar, San. — soltei o abraço. — O Mingi disse...
— Que não vai reclamar. Ele tava até rindo. — ele falou nos olhando com as sobrancelhas franzidas. — Vocês namoram?
— Eita, mais um. É culpa sua, Yunho.
— A me odeia, você pode ver. — Yunho respondeu a San. — Somos amigos. E só.
— Bom, que bom que tudo acabou bem. — San mudou de assunto. — Eu já limpei o chão, o Mingi já foi e o senhor Lee não vai ficar sabendo. Acho melhor você ir, .
— Eu já tô indo mesmo. Vejo vocês amanhã. Espero que seja um dia normal. — desejei.
🍸
E o domingo não foi normal. Nem a quinta, que foi o dia que o bar voltou a abrir. Nem as dez vezes seguintes em que Mingi tornou a aparecer no K-Hot.
Ele sempre me mandava uma garrafa d’água e um bilhete escrito às pressas com uma letra arrastada: “fique hidratada”. Seria fofo se não fosse irritante.
Era domingo, o K-Hot estava mais que tranquilo e mais uma vez Mingi estava no bar, conversando com San e me olhando de canto. Assim que ele levantou, provavelmente indo ao banheiro, San me chamou com a mão.
— Pelo amor de Deus, dê uma chance a ele, . Eu não aguento mais ele falando sobre você aqui. — ele riu, mas parecia nervoso.
— Isso já virou perseguição, San. Ele vem aqui todos os dias e sempre me manda uma garrafa d’água. — suspirei. — Eu gosto que eles sejam obcecados por mim, mas não desse jeito.
— Eu só queria uma noite, . — Mingi soprou atrás de mim.
— Para aumentar sua lista de conquistas, Mingi? Não, obrigada. Não estou interessada. — dispensei.
— Alguma coisa me diz que você seria uma excelente conquista. Uma noite. Eu prometo que você não vai se arrepender. — ele sorriu.
— E então você vai me deixar em paz para sempre? — perguntei. Se aquela era a condição, eu estava cogitando aceitar.
— Juro. — ele me estendeu o mindinho.
— Eu não saio agora. — ignorei sua mão. San me olhou com as sobrancelhas arqueadas de surpresa.
— Eu posso te esperar lá fora e...
— Eu tenho uma moto e sei pilotar. Deixe seu endereço e vá para sua casa tentar ficar sóbrio e limpo. Eu não boto coisas sujas na boca. — o interrompi.
— Acho melhor eu ir na cozinha. — San riu.
— Não precisa, San. O Mingi tá indo embora. — sorri. Mingi pegou um guardanapo e tirou a caneta do bolso, escrevendo o endereço com a mesma letra apressada dos recados.
— Aqui. Vou deixar o porteiro avisado. — ele piscou. — Tchau, San. Até mais, .
E se foi sem reclamações, parando apenas para pagar a conta quilométrica de hoje.
— Você realmente vai? — San quis saber.
— Foi você que me disse pra dar uma chance a ele. E passar uma noite com ele em troca de paz no resto dos meus dias parece uma proposta tentadora demais para ignorar, San. — suspirei.
— E Yunho? — San perguntou. Era mais um dos que achavam que nós namorávamos.
— Vai para a casa dele tomar um banho quentinho e dormir. — sorri.
— Isso foi uma piada que rola entre vocês, né? — San perguntou risonho.
— É a cara dele falar em banhos quentinhos. Você só não ouve. — rebati. — Agora deixa eu voltar pro meu posto. O turno só acaba em quarenta minutos. — suspirei derrotada e voltei para o meu lugar. Podia ver Yunho do lado de fora, rindo e conversando com Bravo, vez ou outra olhando para dentro.
Onde você foi? — ele perguntou no ponto.
— E desde quando você me vigia, Yunho? — perguntei.
Desculpa. — ele pediu baixinho e eu mordi o lábio inferior para não sorrir.
— Vá se aprontar, daqui a pouco vamos embora. — quase ordenei e tirei o ponto do ouvido. Os quarenta minutos passaram voando e logo os clientes estavam indo embora. Corri para meu armário e comecei a arrumar minhas coisas.
— Quer que eu te acompanhe? Tá bem tarde. — Yunho surgiu ao meu lado.
— Eu preciso passar na . Ele disse que eu tenho que assinar um documento pra levar pro fórum amanhã. — menti.
— Bom, então bom descanso. Nos vemos quinta. — ele sorriu.
— Nesse mesmo local, nesse mesmo horário. — eu ri. Com uma piscadela, ele se foi. Terminei de enfiar as coisas na mochila, coloquei o endereço de Mingi no GPS e montei na moto. Não estava acreditando que eu ia mesmo dar uma chance àquele canalha. Pilotei dentro dos limites de velocidade e logo cheguei a um prédio alto nas imediações do Bom Retiro.
— Boa noite. — o porteiro me cumprimentou quando eu tirei o capacete.
— Oi, eu me chamo . O Mingi deve tá me esperando. — disse envergonhada. Eu nem sabia o sobrenome dele.
— O garoto Song. — o porteiro riu. Eu provavelmente não era a primeira que chegava lá apenas com uma informação: o nome do cara. — Pode parar sua moto ali. — ele apontou para o outro lado da rua. — Ele já ligou duas vezes.
Revirei os olhos e estacionei. Atravessei a rua até a portaria levando o capacete e a mochila.
— Oitavo andar. Apartamento 801, senhorita. — o porteiro me informou. — Tenha uma boa noite.
— Eu espero que seja mesmo boa. — murmurei. Subi pelo elevador já achando que aquilo tinha sido uma ideia ruim. Mingi era bonito e tal, mas será que valia o risco? Eu estava na casa dele. E eu nunca aceitei ir para a casa de um cara de primeira. Eu sequer consegui tocar a campainha. Quando as portas do elevador se abriram, Mingi já estava me esperando na porta do apartamento, vestindo nada além de um short moletom.
— Eu achei que você tinha desistido. — ele avançou em minha direção, mas eu desviei, evitando o beijo que viria.
— Eu quase desisti. Mas eu vim armada, então tô tranquila. — dei de ombros. Passei por ele e tirei os coturnos. Pelo pouco que via nas novelas da Netflix, aquele era o costume.
— Você precisa relaxar, . — ele tirou a mochila das minhas costas e apertou meus ombros com as mãos grandes. — Quer beber alguma coisa?
Juro que tive que morder a língua para não responder. Pelo volume no short dele que já batia na minha bunda, eu... deixa pra lá.
— Álcool. Uma dose de qualquer coisa. — respondi.
— Eu tava bebendo whisky. — ele se afastou rapidamente para pegar um copo que estava largado em cima do balcão, logo me oferecendo. Virei o conteúdo de uma vez e senti minha garganta queimar. Senti também as mãos de Mingi na minha cintura. — , você... tem alguma restrição?
— Se você bater na minha cara ou me chamar de qualquer coisa ofensiva, eu te apago e você só acorda amanhã à tarde. — avisei e descansei as mãos no peito nu dele. Fechei os olhos e respirei fundo. Já tinha me metido naquela loucura, só me restava aproveitar. Quando abri os olhos, Mingi estava muito perto. — Sem beijo na boca. Depois você se acostuma e que se ferra sou eu.
— Mas eu posso beijar aqui, né? — ele beijou meu pescoço e eu me arrepiei. — E aqui. — ele beijou atrás de minha orelha e eu não segurei um sorriso. — Aqui. — seus lábios escorregaram para o meu colo e eu apertei os braços dele em resposta.
— Você pode beijar onde quiser desde que não seja minha boca, Song. — repeti o sobrenome que tinha escutado lá na portaria.
— Descobri que meu sobrenome fica lindo na sua boca. — ele raspou os dentes no meu maxilar em provocação, passando a língua no local logo depois. Eu reclamaria, mas as mãos grandes desceram pelo meu corpo e apertaram minha bunda, me empurrando mais contra ele.
— Você quer muito isso, não é, Mingi? — sussurrei quase na orelha dele. Mingi era muito mais alto que eu, mas desde que ele estava quase curvado sobre mim, não foi tão difícil.
— Você não sabe o quanto, . — ele respondeu. Suas mãos me deram um impulso e eu enrolei as pernas em sua cintura. — A gente pode ir direto, já que você não quer beijar, né?
— Estou esperando por isso. — arqueei as sobrancelhas. Com um sorriso sacana, ele começou a andar pelo apartamento e só parou quando viu a cama, me colocando deitada bem devagar. A atitude não combinava em nada com o olhar de luxúria. Sentei na cama apenas para tirar a blusa e a joguei para o lado. Assim que deitei, Mingi se ocupou de puxar minha calça por minhas pernas, tomando um tempo para me olhar por completo.
— Eu sabia que você era bonita, mas assim... — ele mordeu o lábio.
— Não acho que bonita seja a palavra que você queria dizer, Mingi.
— Gostosa. — ele piscou.
E sem esperar mais, procurou o fecho do meu sutiã e se livrou dele em seguida. Suas mãos apertaram meus seios e eu fechei os olhos com força para não gemer alto demais. Malditos hormônios sem controle. Maldito corpo que ansiava por atenção. Senti as mãos deslizarem pela minha barriga e se agarrarem à barra da calcinha, que foi puxada para baixo rapidamente. Mingi separou minhas pernas e senti sua respiração quente em meu íntimo.
— Eu posso beijar aqui, né? — ele perguntou. Em resposta, pressionei sua cabeça contra mim e senti sua língua me atingir em cheio, como uma chicotada, levando o restinho da minha sanidade embora e me fazendo gemer alto. Mingi continuou investindo com força até que não consegui mais segurar e me desfiz em sua língua.
— Merda. — resmunguei baixinho e passei as mãos no rosto. Esse era o resultado de estar sem ninguém desde... Enfim.
— Você precisa de um minuto? — ele beijou meu maxilar.
— Eu preciso de você. Logo. — confessei.
— O que você quiser, . — ele riu. Então se afastou momentaneamente e vi quando ele voltou com um preservativo na mão. Ele era cafajeste, mas pelo menos era prevenido. Mingi se desfez da bermuda e constatou o que eu imaginava: ele não estava usando uma cueca.
— Você é do tipo que anda nu em casa, não é? — perguntei.
— Eu ia te esperar assim, mas não queria te assustar. — ele riu.
— Precisa de muito mais que isso pra me assustar. — sentei na cama e tomei o preservativo das mãos dele, rasguei a embalagem e o vesti, movendo a mão para cima e para baixo bem devagar.
— Eu queria sentir sua boquinha, mas podemos deixar pra depois. — ele segurou meu queixo e deixou um selar perigosamente perto da minha boca. Deitei na cama e esperei seu próximo passo. Mingi me virou pelo quadril e me deitou de bruços. Ri incrédula da facilidade com que ele fez aquilo e o olhei por cima do ombro. — O quê? Você não colocou isso nas restrições.
— Porque não é uma restrição. — empinei a bunda para ele. — Eu só tô surpresa.
— Eu posso beijar aqui, né? — ele segurou minha bunda com força e mordeu uma banda, dando um beijinho em seguida.
— Mingi... — meio chamei, meio gemi.
— Já sei. Já vou. — ele riu baixinho. Então deixou uma série de beijinhos na minha bunda antes de beijar meu íntimo de novo. Me senti contrair de nervoso. Decidi não olhar e apenas senti Mingi forçar o membro e ganhar espaço conforme avançava. Eu ainda estava sensível, então fechei os olhos com força e aproveitei. Aproveitei o ritmo lento que ele me ofereceu no começo; o aumento da força, as mãos que buscaram meus seios, me puxando mais contra ele até que eu me vi de joelhos na cama, com Mingi estocando sem piedade. Aproveitei os gemidos graves dele no meu ouvido e meu segundo orgasmo, que chegou com força, arrebatador, me deixando mole instantaneamente. Caí com as mãos apoiadas no colchão e Mingi não parou até que chegou ao limite, finalmente saindo de mim e me liberando. Então caí de vez, exausta e satisfeita. Ele caiu ao meu lado e, sem que eu pudesse pará-lo, me beijou forte, uma mão segurando meu rosto e a outra na minha cintura, sem me deixar fugir. Aceitei o beijo que foi diminuindo o ritmo até que acabou em selinhos.
— Eu disse sem beijo. — reclamei quando me vi com a boca livre.
— O que a gente fez foi intenso demais pra eu não ganhar um beijo dessa sua boca doce. — ele me roubou um selar.
— E você segue me beijando. — virei de costas para ele. Não estava irritada, só não queria continuar olhando ou era capaz de eu lhe roubar outro beijo. Mingi encaixou o corpo atrás do meu, ainda quente, e beijou meu ombro.
— Não finja que não gostou, . — ele riu.
— Não tô nem tentando. — rebati. Meus olhos pesaram pelo cansaço da semana e do que tínhamos acabado de fazer. — Eu preciso de um tempo.
— Todo o tempo que você quiser. — ele beijou meu ombro de novo e saiu da cama. Provavelmente foi se livrar do preservativo. E eu não vi mais nada até que abri os olhos de repente, assustada pela escuridão no quarto. Senti o corpo de Mingi contra o meu, ambos nus, e me desvencilhei dele.
— Aonde você vai? — ele perguntou assim que eu sentei na cama.
— Embora. Você me pediu uma noite. Eu já fiquei aqui tempo demais. — comecei a juntar minhas roupas que estavam ao pé da cama.
— Você me deixou viciado, . — ele se sentou na cama e me abraçou por trás. — Como eu vou lidar com isso?
— Se vira, Mingi. Você me pediu uma noite. Eu te dei.
— Eu acabei de descobrir que quero mais noites. — ele beijou meu ombro nu.
— Você é um cafajeste, Mingi. Cafajestes não mantêm relacionamentos sérios. — suspirei.
— E se eu quiser tentar? — ele beijou meu pescoço.
— Você vai ter que achar outra pessoa pra isso. Eu não preciso te lembrar que eu sei lutar e tenho porte de arma, né? — o olhei por cima do ombro. — Se você meter um chifre na minha cabeça, eu meto uma bala na sua e faço parecer que foi um acidente.
Mingi riu.
De todas as reações possíveis, ele riu.
— Eu não tô brincando, Mingi. — reforcei e comecei a vestir o sutiã. Precisava sair dali logo.
— Eu sei que não, . E é isso que me encanta. — ele se prontificou a abotoar o sutiã que eu vestia. — Você acabou de me fazer um desafio.
— Não era bem a minha intenção. — levantei da cama.
— Vamos em um encontro, . Como aqueles casais de filmes. Eu vou te mostrar que posso ser um bom namorado. — ele propôs. Namorado? Parei de vestir a calcinha e o encarei com desconfiança.
— Você tá se ouvindo?
— Eu vou no K-Hot hoje. — ele levantou decidido.
— Eu tô de folga hoje. O K-Hot só abre na quinta. — avisei.
— Então eu te pego na sua casa. — ele se revirou na cama enquanto eu continuava a me vestir. Precisava dar o fora.
— Você nem sabe onde eu moro. — o lembrei.
— Seu chefe vai me dizer. — ele deu de ombros.
— Pelo amor de Deus, homem. Vai, sei lá, trabalhar. Terminar um projeto. É segunda.
— Tarde demais. Tô fazendo uma reserva. — ele pegou o celular. — Você tem algum problema com italiano?
— Só quando não os pego. — murmurei.
— Eu tô falando sério, . — ele fechou a cara.
— Quantas mulheres mais você levou nesse restaurante, Mingi? — cruzei os braços sobre o peito.
— Minha mãe. — ele piscou devagar.
— E fora ela?
— Não, eu realmente só levei minha mãe lá. — ele disse com certeza.
— E aí agora você quer me levar nesse lugar especial? — perguntei e comecei a procurar minha calça e blusa.
— Você é especial, . — ele levantou da cama e me entregou minha blusa. Vesti as peças e parei para encarar os olhos rasgados que me encaravam de volta. E então meus olhos caíram no corpo que ainda estava nu.
— Pelo amor de Deus, Mingi, veste uma roupa. Eu não tô conseguindo pensar. — pedi. Com uma risada, ele vestiu o short moletom de antes.
— Hoje às oito. Facilite minha vida e me diga seu endereço. — ele colocou as mãos na minha cintura.
— Eu não vou sair com você, Mingi.
— Reserva para dois. Eu não posso ir sozinho. — ele beijou meu rosto e eu fechei os olhos.
— Nosso trato era uma noite. E aí você me deixava em paz. — o lembrei.
— Já que você chegou aqui no fim domingo, quase na segunda, eu meio que ainda tenho direito. — ele beijou perto da minha boca e minhas mãos foram para nuca dele, puxando os fios sem força.
— Você tem o direito de me deixar em paz. — sorri.
— Você não quer ficar em paz, . Você me quer. — ele resvalou os lábios nos meus e eu abri a boca, esperando o beijo que não veio. — Quem se acostumou a beijar?
— Você é um ridículo. — me separei dele. — Peça meu número ao San. Eu tenho até às oito pra decidir se vou jantar com você. — saí do quarto em direção à sala, calcei os sapatos e peguei minha mochila. — Tchau, Song.
Saí pela porta com apenas um pensamento: eu estava ferrada.
🏍️

, meus peitos não tão muito em cima? — perguntei olhando o reflexo no espelho. O vestido no meu corpo tinha um decote quadrado e mangas fofinhas que eu não gostava, mas que insistiu que eram bonitas.
— E o que você vai fazer? Cortar eles fora? Cala a boca, . — ela riu. — Você para de surto.
— Tudo isso tá sendo um grande surto, . — suspirei.
Mingi realmente tinha arrumado meu número com San e tinha me mandando um milhão de mensagens insistindo na história do jantar. Aceitei para que ele parasse de encher meu saco. Agora lá estava eu em um vestido com uma fenda que ia até o meio da minha coxa e me maquiando para sair com Mingi.
— Você não queria um ficante? Tá aí. — ela me entregou um colar delicado.
— Ficantes não saem pra jantar, . — rebati.
— Ótimo, então você arrumou um namorado. — ela sorriu satisfeita.
— Eu... — então uma buzina me interrompeu. — Pelo visto, eu tenho que ir.
Comecei a juntar minhas coisas, colocando o que importava dentro de uma bolsinha. Peguei minha jaqueta, calcei meu coturno de passeio (coturno era o único calçado possível) e me virei para minha amiga.
— Boa sorte. — ela desejou antes que eu pedisse. — Se não for voltar, avisa.
— Eu vou voltar. É jantar e fim. — avisei. Peguei as chaves e desci. Não esperei que Mingi abrisse a porta para mim. Não estava com paciência para aquilo. Assim que entrei no carro, seus olhos caíram direto na minha coxa descoberta pela fenda. — Boa noite?
— Oi. — ele me olhou nos olhos e avançou na minha direção, me roubando um selar.
— Você se acostumou. — pontuei enquanto colocava o cinto.
— Eu me acostumo fácil com coisas boas. — ele sorriu.
E dirigiu até o restaurante querendo saber mais sobre mim. Qual minha cor favorita; por que eu tinha escolhido ser segurança; se eu já tinha baleado alguém (e ficou aliviado de saber que não). E a conversa engatou no restaurante, regada a vinho (apenas para mim, ele estava dirigindo), e mãos se tocando aqui e ali. No caminho de volta, eu preferi ficar em silêncio. Tinha muita coisa na minha cabeça e eu não queria falar demais.
— Obrigado por hoje. Foi ótimo. — ele apertou minha coxa. — , eu quero fazer isso. Pense com carinho a respeito.
— Não posso prometer. — suspirei.
— Mas vai tentar. Somos bons juntos, você sabe. — ele sorriu.
— Você precisa de uma boa noite de sono. — brinquei.
— Eu preciso que você me diga sim. — ele se aproximou e me beijou lento, provocante, a mão ainda apertando minha coxa. — Boa noite.
— Tchau, Mingi. — desci do carro e fiquei na calçada, vendo as luzes traseiras do veículo se afastarem.
Na minha cabeça tinha apenas um pensamento: talvez a resposta fosse realmente sim.

Make It Bouncy

(POV )

“Jesus chegará em 3 minutos.”
— Misericórdia. — murmurei para a notificação do Uber no meu celular, enfiando um batom na bolsa que mal comportava minha carteira e as chaves. Até porque as chaves eu vivia perdendo. Sorte que Dulce, minha amiga e colega de apartamento, tinha mandado fazer várias cópias por prevenção desde o primeiro incidente (que teve como desfecho impressionante o fato de eu tê-las esquecido na geladeira.)
Meu constante estado de distração era motivo de piada entre meu grupo mais íntimo de amigas, que contava praticamente só com Dulce e Mandy. A doutora Mandy, como eu a conheci anos atrás, era a advogada que cuidava de Dulce quando ela se metia em confusão, mas naquela noite, ela era também a grande estrela: Mandy estava prestes a se casar e eu já estava absurdamente atrasada para a despedida de solteira dela no nosso bom e velho ponto de encontro, o K-Hot.
Era bem verdade que nem eu nem Dulce ficamos muito felizes com a notícia do casamento de Mandy, o noivo não gostava muito de nós e o sentimento era recíproco, mas minha impontualidade no rolê onde as duas já me esperavam tinha sido motivada por um infortúnio de força maior: Luquinhas, meu aluno apocalíptico de quatro anos, achou de bom tom exercitar sua criatividade usando um tubo de cola colorida azul. No meu cabelo.
E foram a lavagem e a secagem não planejadas que me colocaram correndo dentro do carro do seu Jesus com um salto na mão e outro no pé, enquanto lutava para afivelar o cinto de segurança e puxar meu vestido embalado a vácuo que subia e se enrolava cada vez mais nas minhas coxas. Uma olhada rápida pelo banco me trouxe uma constatação infeliz do meu esquecimento: 12 graus lá fora e nenhum casaco. Ao menos era quentinho dentro do bar e eu estava usando meia 7/8.
Assim que desci do carro, o frio impiedoso de São Paulo atravessou as mangas longas do meu tubinho, me obrigando a esfregar as mãos e a dar pulinhos no lugar. A fila para entrar no K-Hot estava, como sempre, quase dobrando o quarteirão, e eu resolvi tentar a sorte de um rosto conhecido na recepção para me salvar daquele vento cortante que me arranhava a barriga semiexposta pelo recorte da roupa. Eu tinha dois ou três modelos no estilo “pedaço de pano” no meu guarda-roupa, esquecidos entre as calças pantalona largas e camisas de cores terracota que eu usava para trabalhar, e elegi um deles para a ocasião. De vez em quando era bom me lembrar de que eu tinha pernas e cintura e que não fazia mal exibi-las. A não ser, é claro, por aquela maldita friagem.
Por sorte, Yunho estava na segurança externa e me achou rapidamente na multidão, sorrindo pequeno, num aceno discreto que eu teria devolvido se conseguisse mover meus dedos normalmente. Era um convite para avançar. Caminhei mais rápido, escondendo o rosto e com um leve remorso por estar furando fila, vítima de uma vigilância besta que eu mesma me impus quando resolvi ser educadora. Aquilo ia contra o cartaz das regras de convivência que eu confeccionei há algumas horas com a turma do Infantil IV da Wonderland, escola construtivista em que eu lecionava. “Respeitar a vez do colega” era a regra número cinco e eu ri dentro da minha cabeça pela minha pequena infração. Eu era assim. Certinha demais. Protocolada demais. Moderada demais. Professora de criança demais. Procurei ignorar os olhares de soslaio que eu recebia conforme eu avançava na linha de pessoas e alcancei Yunho batendo os dentes.
— Yunhoooo... — choraminguei. — Eu vou virar um picolé.
— Posso te deixar entrar, mas não tem ninguém pra te revistar, . — ele olhou ao redor procurando uma segurança feminina. — Você não tá com nenhuma arma ou objeto perfurocortante aí, né?
— A professora Helena do Carrossel? — debochei de mim mesma. — A coisa mais perfurocortante que eu vi hoje foi uma cartolina.
— Bom, uma cartolina não pode causar ferimentos. — ele removeu o gancho que bloqueava a entrada e alguns clientes iniciaram um coro de reclamação.
— Fala isso pros meus alunos de quatro anos. — aproveitei a passagem concedida por Yunho e baguncei o cabelo dele. — Você é meu herói. Obrigada!
— Divirta-se, tia ! — ele me aconselhou e estalou a língua em seguida, lembrando-se de algo. — Ah, me faz um favor? Pede pra algum dos meninos do bar vir aqui trazer o café dos seguranças?
Bati continência, confirmando a ordem recebida e adentrando o local. Agradeci em silêncio pelo abafado, cortesia do revestimento térmico do bar, que mantinha uma agradável temperatura ambiente, a única que aquela minha malha ordinária suportava. O vestidinho de 20 reais com meus pontos de check-in na Shein saiu caro, afinal, e ao passar pelos espelhos da entrada, a luz quente do K-Hot denunciou outro agravante, a transparência nas partes em que o tecido esticou mais: seios e bunda. Dei de ombros para o meu reflexo, lembrando que pelo menos eu estava com “a minha lingerie bonita” e que, se algum abusadinho viesse tentar alguma gracinha, Dulce estava ali para me defender. E Mandy para defender a Dulce.
O bar dinâmico com suas coqueteleiras incansáveis mixando pedras de gelo não parava de receber pedidos e todos os atendentes estavam incrivelmente ocupados. Busquei entre os belos rapazes (o K-Hot nunca errava na hora de contratar bartenders) o que me pareceu menos atarefado e encontrei um par de ombros largos, definidos, metidos numa regata preta que delineava costas enormes e muito malhadas. Eu não tinha uma trena, mas arriscaria afirmar que havia pelo menos uns 60 centímetros ali.
— Se de costas já tá bom assim, imagina de frente... — deixei escapar em voz alta, mas fui encoberta pelo barulho dos liquidificadores.
O monumento de homem estava um pouco mais distante da agitação dos drinks, enxugando copos com uma flanela laranja que de quando em quando ia parar nos tais ombros quilométricos. A visão do braço imprimindo força para limpar os vidros teve um efeito hipnótico sobre mim, eu esqueci que eu estava fazendo e comecei a divagar sobre o que eu queria fazer. Aquela dedicação toda dos músculos poderia ser muito melhor empregada em outro contexto. Um contexto que não acontecia para mim há pelo menos uns seis meses.
Raspei a garganta e encostei no balcão, ensaiando chamar o dono dos ombros. E chamei. De “moço”, de “amigo” e até de “com licença”, mas não obtive nenhuma resposta porque o ruído do funcionamento do bar cortava a minha voz tímida. Minha única alternativa foi me debruçar sobre a bancada e, na ponta dos pés, cutucar o espetáculo imenso de costas para mim.
— Opa! — ele se virou e eu prendi a respiração sem querer. — Boa noite, tudo bem? — um sorriso solícito se formou numa boca rosa e carnuda, crescendo enquanto os olhos diminuíam. — O que você vai beber hoje?
Podia ser você. De canudinho, até a última gota.
— Por enquanto, nada. — respondi no lugar. — Mas o pessoal da segurança lá fora está querendo café e Yunho disse que eu poderia pedir a um de vocês para levar.
— Ah, claro, o café! — ele levou os braços (o poço de perturbação que eram os braços) à cabeça, arrumando os fios do cabelo raspado dos lados e penteado para trás. — Com essa movimentação toda, eu acabei esquecendo de passar. — ele se justificou, não sem antes me olhar demorado, umedecendo os lábios.
E eu estremeci.
— Bom, eu me apressaria se fosse você. — procurei me recompor da encarada. — A galera lá fora não está muito feliz e o Yunho descafeinado não é nada paciente. — dei uma piscadela tosca, querendo parecer descontraída.
— Não se preocupe, eu sei como amolecer o Yunho. — para a minha surpresa, ele retribuiu a piscadela, que ao contrário da minha, foi charmosa e galanteadora. — É só eu chamar a Dulce.
Soltei uma risada meio ressentida ao lembrar que minha dita amiga trabalhava no mesmo lugar que aquela beldade coreana e não tinha me falado nada sobre o semideus de olhos faiscantes que estava bem na minha frente. Ele deveria ser novo no quadro de funcionários, já que batíamos o ponto ali no mínimo uma vez por semana e aquela era a primeira vez que eu o via. Ou Dulce simplesmente achou redundante me contar que o bar que tinha uma proposta asiática e um K no nome tinha contratado mais um belíssimo coreano, já que o único k-boy que ela vinha achando belíssimo ultimamente era o namorado, Mingi.
— É melhor ter um plano B. — avisei. — Hoje a Dulce não está disponível pra ninguém além das amigas.
. — ele me surpreendeu mais uma vez, pronunciando meu nome num tom confiante e um tanto quanto sensual. — Você conhece a Dulce, então deve ser a .
— Não sei se eu devo ser, mas eu sou. — soprei outra risada.
— Eu preciso te avisar, ela está xingando você há alguns minutos. Tanto que até decorei seu nome. — mais uma vez o braço me roubou o foco, flexionando-se lindamente quando ele se inclinou no balcão, sugestivamente mais perto de mim.
— Então é melhor eu ir ou ela vem me apagar com o taser. — girei o corpo na bancada, colocando os cotovelos para trás para me apoiar no mesmo balcão que ele e ter uma visão mais panorâmica de onde Mandy e Dulce poderiam estar sentadas. Senti quando as pontas do meu cabelo enroscaram levemente no antebraço alheio e arrancaram dele um leve arrepio. — Foi mal. — me virei outra vez e passei as mechas para frente, que caíram em cascata apontando o buraco no vestido.
— Mal nenhum. — o sorriso foi ladino dessa vez. — Se você precisar de qualquer coisa, eu me chamo San. — ele franziu o cenho rapidamente. — Bom, se você não precisar de nada, eu me chamo San também. — riu derrotado.
— Na verdade, San... — uma estranha satisfação com o nome na minha boca. — Se importa se eu fizer uma pergunta? — ele balançou a cabeça, me autorizando.
Segurei o bonito diante de mim pelos ombros, tentando entender a distância absurda entre as duas extremidades. A regata preta atrás do avental exibia uma pele gostosa e lisinha, e o torpor do toque me fez deslizar pelos bíceps enormes, movimento totalmente inapropriado, mas, de cara, viciante. Ele congelou na posição e arregalou os olhos, que continuaram pequenos, e travou um maxilar mais afiado que um cutelo.
— Qual a metragem disso tudo? — quis saber, genuinamente curiosa.
— Perdão? — San perguntou, paralisado, e a tensão enrijeceu os músculos sob meus dedos.
— Isso aqui, ó. — cravei um pouco mais as unhas nos braços dele e o sacudi, mas ele mal se moveu. — Aposto que tem um metro de uma ponta a outra. — tracei uma linha horizontal no peito dele, ilustrando o percurso. — Você tem que passar de lado em todas as portas, né?
— Só na da cozinha, é bem estreita. — uma covinha marcou o rosto e eu intuitivamente quis encaixar o mindinho ali, mas, em vez disso, achei prudente soltá-lo.
— Sendo assim, boa sorte quando passar por ela para fazer o café. — desejei com uma batucada no balcão, começando a me afastar.
— Boa sorte com a Dulce. — San retribuiu. — Até mais, .
Localizar as meninas não foi difícil, elas estavam bem perto do bar. Difícil mesmo foi conter meu impulso de dar uma espiadinha para trás e verificar se San estava me acompanhando com os olhos. Era claro que estava, eu sentia me queimar a nuca — além disso, uma calcinha enfiada na bunda e marcada por um tecido transparente era uma coisa que nenhum homem hétero ignoraria. Céus. Ele era hétero, não era? Tinha que ser. Não que eu fosse tentar qualquer coisa, mas confirmaria com a Dulce por precaução. E aí eu viveria um belo romance que só existiria na minha imaginação ou numa fanfic, coisa que ninguém sabia que eu escrevia. Continuei andando, seguindo o som caótico típico das minhas amigas, e achei rapidamente uma cabeça com um adereço fálico se destacando no amontoado de gente. A despedida de solteira mal tinha começado e Mandy já estava usando uma tiara com um pênis de borracha.
— Eu demorei quarenta minutos e a coisa já ficou explícita? — apontei Mandy ao me aproximar da mesa.
! É a ! A chegou! — Mandy me recebeu com um abraço, já um tanto alterada.
— Antes tarde do que nunca. — Dulce pulou uma cadeira para que eu sentasse. — Luquinhas?
— Luquinhas. — confirmei o motivo do atraso. — Vocês acreditam que ele...
— Ah-ah-ah! — Mandy interrompeu, balançando o indicador. — Sem peripécias das suas preguinhas hoje. Sem papo de plano de aula, de tarefinha, de “tia ”!
— Tá. — concordei, vencida. — Então o papo pode ser o homem mais gostoso do mundo? Porque eu acabei de vê-lo ali no bar.
— Qual deles? — Mandy arqueou as sobrancelhas, analisando o grupo de bartenders não muito longe de nós.
— O que parece um guarda-roupa de oito portas. — fiz um gesto na altura dos ombros, mensurando o comprimento.
— Choi San. — Dulce reconheceu na hora. — Peitudo e com energia de filhotinho. É bem seu número.
— Bonito demais, dá muito trabalho. — suspirei. — Falando em trabalho, a tia tem reunião amanhã cedo e precisa estar de pijama às 23h, OK?
— Ninguém merece essas suas reuniões dia de sábado. Esquece o pijama, a reunião e começa beber. — Dulce empurrou um dos shots no centro da mesa na minha direção. — Estamos brincando de “Eu Nunca”, vira logo esse aqui pra igualar com a gente.
Obedeci fazendo careta para o amargo da tequila e procurando a cesta das batatas fritas para amenizar o gosto ácido. As meninas continuaram o jogo, que contava também com a participação de outras amigas da noiva, sugerindo situações cada vez mais picantes. A primeira rodada envolvia lugares públicos, posições, brinquedos, mas a segunda abordava lances meio one night only e foram justamente esses os que me levaram a uma epifania moral deprimente. “Eu nunca dei no primeiro encontro.” “Eu nunca transei sem compromisso.” “Eu nunca menti meu nome porque queria apenas sexo.”
Eu não. Eu nunca.
Com 24 anos e dois namoros duradouros e sérios, eu não tinha muitas aventuras meramente casuais para contar. Desgostosa, me entupi com os punhados de carboidrato, contemplando minha pacata vida sexual que só existia quando eu estava dentro de um relacionamento. Meu copinho seguia cheio, o sal úmido grudava no vidro e eu não conseguia dizer o que estava mais murcho e triste: o limão ou eu.
— A minha vida é ridícula. — disparei enfim para o copo intacto, entediada de mim mesma. — Vocês já viraram uns oito shots e eu só tomei três. — direcionei a fala para Mandy e Dulce.
— Não seja tão dura, . Você só precisa de um pouco mais de aventura. — Mandy falou sério demais apesar do pinto na cabeça. — Faz uma loucura hoje, você vai se sentir melhor.
— Ela tem razão, professora Helena. — Dulce tocou minha testa. — Para de pensar com a cabeça e começa a pensar com a perseguida.
— Ninguém persegue a perseguida tem um tempão... — lamentei. E pensei no San por uma fração de segundo.
— Então está decidido. Você vai quebrar esse jejum hoje. — Mandy bateu o copo e se pôs de pé. — Atenção, meninas, o jogo agora é “Verdade ou Desafio”!
Houve um burburinho de gritinhos femininos, tal qual lobas uivando numa alcateia. Mandy lutava contra a dormência do álcool e reuniu toda a sua concentração para formular uma frase, o que era, no mínimo, atípico para uma advogada tão eloquente. Troquei um olhar rápido com Dulce, sabendo ali que ela também estava estranhando o comportamento excessivo da amiga, e minha intuição me sugeriu que, talvez, lá no fundo, Mandy estivesse bebendo tanto porque tinha reservas quanto àquele casamento. Espantei a nuvem negra, culpando minha indisposição prévia ao noivo por ela, e palitei uma bolinha de queijo que ficou parada no ar quando Mandy anunciou alto demais:
Carvalho, verdade ou desafio?
Os gritos aumentaram e alguém começou a repetir “desafio, desafio!” enquanto batia palmas. A torcida cresceu num instante e eu apressei minha resposta para conter as lobas indomáveis.
— Desafio! — usei a voz de professora para me sobrepor à bagunça generalizada. — Eu escolho desafio!
Mandy comemorou com uma risada maléfica e esfregando as mãos igual a um vilão de desenho animado. Um breve silêncio de expectativa tomou conta da mesa, sendo imediatamente interrompido pela proposta que veio audível demais:
— Te desafio a pegar o primeiro cara que aparecer e sair daqui direto pra cama dele. — Mandy lançou bem alto, com o mesmo tom autoritário que usava para expor seus casos no fórum.
Vozes indiscerníveis bradaram e a bagunça recomeçou. Meu estômago se retorceu numa queimação esquisita e, de repente, o barulho foi ficando cada vez mais distante, até virar um eco e se perder entre as paredes do K-Hot. Tudo o que havia no meu campo de visão se fechou num único ponto, convergindo para o líquido estúpido de todos os “eu nunca” que eu não bebi. De todas as decisões que eu não tomei. De todas as loucuras que eu não cometi. A tequila tépida, decantando, nem quente, nem fria.
Eu me recusava a ser tão sem graça.
... — Dulce puxou Mandy pela mão, censurando-a. — Não precisa fazer isso.
— Claro. — Mandy frisou com o pouco de sobriedade que restava. — Nada que você não queira, amiga.
— A questão é exatamente essa. Eu quero. — irrompi num lapso de coragem súbita. — Eu preciso. — corrigi. — Eu tô farta dessa minha vida amorosa risível. Parada igual água de mosquito-da-dengue! — levantei também num rompante. — Mandy Guttenberg, desafio aceito! Eu vou cometer uma loucura com o primeiro que aparecer!
O anúncio foi celebrado feito gol em jogo decisivo da Copa do Mundo. Dulce meneou a cabeça, gargalhando, e Mandy me deu um beijo estalado na bochecha, orgulhosa da pupila prestes a iniciar uma vida de concupiscência. Ter uma grande noite sem qualquer vínculo era inédito para mim, mas, precisava admitir, também era empolgante e estranhamente libertador. Só o prazer sem cobranças, sem troca de telefones, sem ansiedade do contato no dia seguinte. Só um momento, um peito gostoso para me amassar em algum canto escuro e, se tudo desse certo, uma transa que me mostrasse as estrelinhas que há muito eu não via.
— Foi daqui que pediram uma caipirinha?
Um braço destro e nu surgiu, barrando meu monólogo interno e contornando minha cintura ao estender o destilado numa bandeja na minha frente. Recuei um passo, esbarrando sutilmente num tronco morno, e uma mão esquerda tão morna quanto se espalhou na base das minhas costas, me freando e evitando um desastre. Segui o caminho das veias saltadas, mais aparentes pelo esforço de equilibrar a bebida, e quanto mais eu subia, mais eu gostava do que estava vendo. Depois do braço, veio uma clavícula alta e marcada, um pescoço levemente avermelhado e suado e uma garganta que respirava ofegante. A trilha de maravilhas apontava ainda um queixo quadrado e uma boca beijável demais. Com uma covinha “cutucável” demais. E uns olhos rasgados demais.
— Oi, . — San sussurrou muito perto do meu ouvido, o suficiente para o ar que saiu da boca dele me esquentar de cima a baixo.
Foda-se, professora Helena. O primeiro que aparecer, certo?
— Oi, San. — meus seios roçaram na regata dele quando eu me virei. — Eu não pedi nenhuma caipirinha, mas se for por conta da casa, eu aceito.
— Desculpe, eu devo ter me confundido de mesa. — San manteve o contato dos nossos corpos e o encaixe, ainda que acidental, era confortável e instigante. — Mas se você quiser, eu posso te oferecer outra bebida.
— E qual seria? — sustentei a distância mínima.
— Você vai ter que esperar até o fim do meu expediente. É em quinze minutos. — os olhos delirantes pousaram na minha boca e logo voltaram a ficar espremidos num sorriso. — Me faz companhia?
Procurei Mandy e Dulce de canto de olho antes de aceitar o convite e as duas observavam a cena trocando risadinhas e cochichos. Não demorou muito para que elas soltassem uma brincadeirinha infame que só eu entendi:
— “Embarque nesse carrossel...” — elas cantarolaram baixinho.
As palavras “loucura” e “San” já rondavam minha mente numa dança arriscada e o fato de o perfume dele ter inebriado minhas narinas adicionou novos graus de perigo à situação. Estudei o rosto ansioso por resposta e prendi um lábio com os dentes ao ser assaltada por um pensamento tortuoso de fazer um absurdo com aquela cara angelical. Se eu ia deixar que alguém me usasse e abusasse por uma noite inconsequente, esse alguém seria ele.
— Tudo bem. — assenti enfim. — Te encontro lá fora em quinze minutos.
— Promete? — San escorregou pela minha cintura para me soltar e ergueu o mindinho.
Enganchei o meu no dele, selando a promessa. Dulce não mentiu quando falou que ele tinha energia de filhotinho, mas àquela altura, quem estava quase latindo era eu.
— Ok, eu preciso acordar na cama desse homem. — confessei para as meninas quando San se afastou.
— Escolheu o final de semana certo. — Dulce garantiu. — Ouvi ele dizendo que os pais e a irmã estão viajando.
— Mas olha só que virada! — Mandy fez a clássica cara que antecedia seus trocadilhos ruins. — Parece que em vez de cometer uma loucura, você vai cometer uma SANdice...
— Não deixa ela beber mais, Dulce. — ignorei o comentário e tomei a tequila da mão dela.
— Até parece que ela precisa beber pra mandar essas piadas ridículas. — Dulce observou com tédio. — Agora vai retocar esse batom pra tirar tudo na boquinha do Golden Retriever que você acabou de ganhar, vai.
Procurei me ocupar nos quinze minutos mais demorados da minha existência. Mesmo a ida ao banheiro para checar a maquiagem e dar uma geral no visual não pareceu diminuir mais que dez míseros minutos da minha espera angustiante. Depois que Dulce ativou minha localização no celular dela e Mandy me recomendou cuidados tal qual uma mãe orientando a primeira vez da filha, eu fui até a área de descanso do K-Hot, um espaço ao ar livre que eu já conhecia por causa de Dulce e Yunho.
— Ah, não. — reclamei comigo quando abri a porta que dava acesso à rua interna e ao local de repouso dos funcionários. Além de um banco de praça e das árvores adornadas de luzes, o frio para o qual eu não tinha me preparado também estava lá fora.
Soprei três vezes seguidas na concha que fiz com as mãos, colando-as nas bochechas para aquecê-las. Minhas pernas nervosas balançavam tanto para gerar algum calor por movimento quanto para conter a onda de excitação causada pelo encontro iminente.
— Pelo visto, eu acertei na bebida. — San apareceu numa jaqueta de couro e com dois copos térmicos descartáveis para viagem num suporte de papelão, sentando-se ao meu lado.
— Diz que tem uma coisa bem quentinha aí dentro. — supliquei com um beicinho.
— Quentinha e doce. — ele colocou um dos copos na minha mão e o outro no braço do banco, vendo-se livre para tirar de si a jaqueta e colocá-la sobre os meus ombros.
A peça cheirava a jasmim amadeirado, um floral marcante, mas não ao ponto de ser enjoativo, e eu podia jurar que era o Giovanna Baby da tampinha azul. Tinha graça. San era uma amostra grátis de pecado ambulante e usava perfume “de bebê menino”. Composição perfeita, convenhamos, para a controvérsia que ele era, a mistura tentadora do corpo escultural com a carinha quase ingênua e um toque de provocação na correntinha prata pendurada no pescoço, se perdendo dentro da regata decotada e sumindo entre os peitorais, que mais pareciam duas placas tectônicas.
— Você não vai ficar com frio? — arrisquei o primeiro gole no copo de isopor, descobrindo um delicioso chocolate quente.
— Não se a gente ficar bem coladinho.
San juntou minhas pernas inquietas, colocando-as por cima do seu colo, passou um braço atrás de mim e me envolveu o quadril com o outro, nos unindo num puxão firme, no entanto, gentil. Era muito perto, muito íntimo para alguém que eu acabei de conhecer, mas a aproximação repentina não me causava incômodo algum. Do contrário, eu estava mais que à vontade. Propensa. Suscetível. Molinha pelos encantos do riso fácil e dos tracinhos negros que ele tinha no lugar dos olhos.
Beberiquei um pouco mais do chocolate e o creme na borda do copo me carimbou o arco do cupido, me presenteando com um bigode de chantilly. Ri sem jeito. Claro que Carvalho não poderia passar uma noite sem dar seu atestado de distraída, mas como não me distrair com aquela atmosfera entorpecente que San exalava? Como não me distrair com a palma que ele encaixou no meu queixo e com o polegar que ele usou para empurrar meu lábio inferior para baixo?
— Deixa que eu limpo isso pra você. — ele se adiantou e, sem mais avisos, a boca dele encontrou a minha.
O beijo demorado me despertou sentidos adormecidos. Um gosto de açúcar, de cacau e de San competindo na minha boca lentamente explorada pela língua ávida, pacientemente desbravada e apreciada, sem pressa de partir. Tateei pelo peito, contornando a correntinha, e sorri no meio do beijo ao visualizar a joia batendo no meu rosto. Amanhã eu me arrependeria. Mas só amanhã. Hoje não.
— Acho que o chocolate não vai ser suficiente. — San suspirou mais uma risadinha curta e provocante na minha boca. — Você precisa de um banho quente e uma coberta bem fofa.
— Isso é um convite? — perguntei, sugestiva.
— Pode ser. — San me mordiscou o lábio duas vezes seguidas. — O plano é você fazer uma loucura e ir pra cama com o primeiro que aparecer, certo?
Congelei novamente com a lembrança. Nossa mesa era perto do bar e Mandy era uma tremenda gasguita.
— Você ouviu essa parte, né? — voltei a brincar com a correntinha.
— O K-Hot inteiro ouviu. — ele beijava meus dedos conforme falava. — Por isso eu tive que improvisar.
Estreitei os olhos, pedindo uma explicação. San tomou meu copo, guardando-o no suporte, e levou minha mão ao ombro, apertando nosso abraço e enroscando nossos perfis.
Bartenders não servem mesas, . — ele sorriu quase tímido, desenhando linhas por cima da minha meia 7/8. — Mas eu apareci correndo com um drink que ninguém pediu só pra você me ver primeiro. — ele emendou um selinho no meio da história. — Foi a caipirinha mais rápida que eu já fiz na vida, quase derrubei tudo lá no bar.
— Oh, oh. — acompanhei a risada que ele deu e roçamos os narizes. — Espero que você não inclua os copos que quebrou na nossa comanda.
— Eu quebraria o K-Hot inteiro se precisasse. — outro selar delicioso. — Eu não podia perder a chance de te abordar primeiro.
— Por quê?
San levantou a vista, transfigurando o rosto num semblante incitante e tentador. Os olhos de filhotinho foram parar Deus (ou o diabo) sabem onde, dando lugar a uma neblina opaca, anúncio de uma insanidade que, em vez de me assustar, me acendeu uma vontade lasciva e fatalmente carnal.
Porque eu quero ser a sua loucura, .
A confissão veio acompanhada de um apagão no meu cérebro, resultado daquela transição alucinante do cara fofo que eu conheci no bar para qualquer que fosse o demônio que se apossou do corpo dele quando me propôs delírio. A cadência na voz de San ao se ofertar como minha loucura soou como a serpente no paraíso oferecendo um fruto proibido. Um fruto que eu queria provar, morder, comer e me lambuzar.
— Me tira daqui e me coloca na sua cama, San. — pedi com todas as letras.
Recebi um beijo febril em resposta e minhas pernas foram suspensas no ar quando San me pegou nos braços e me carregou com facilidade pela rua interna até o estacionamento, me depositando no chão ao alcançar um carro que não deu tempo de ver a marca, não sem antes me esmagar contra a porta e me arrancar o fôlego sugando meu lábio com desespero. A mão voraz pressionando minha cintura ousou descer até a minha bunda, me apertando macio, e no que dependesse de mim, poderia acontecer ali mesmo, mas o som do alarme destravando foi meu sinal para me conter.
San abriu a porta e entrou pelo lado oposto depois que eu me acomodei no banco, sem se preocupar em esconder o volume aparente na calça cargo quando ele se sentou ao volante. Cruzei as pernas, formigando em antecipação, e o trajeto virou um borrão escapando rápido demais pelos vidros embaçados das nossas respirações excitadas. Dali a pouco, um portão de alumínio abrindo automaticamente indicou nossa chegada numa bela casa, nem modesta, nem imponente, apenas condizente com a realidade econômica de um jovem que trabalhava e morava com os pais.
Não esperei que San abrisse a porta para mim e desci na garagem espaçosa, que normalmente deveria guardar outro carro além do dele. Na certa, o carro em que a família viajou, deixando, sem saber, a casa disponível para que uma professora em busca de uma aventura fácil se esbaldasse com o filho esforçado e trabalhador. San me guiou pela mão até a entrada, girando a chave com destreza, e mal destrancou a porta, me imprensou também contra ela ao fechá-la atrás de mim, sem me dar chance de reparar em mais nada além do comprimento endurecendo na altura do meu ventre baixo.
— O quanto você gosta desse vestido, hein, ? — os olhos infernais me tragaram junto com a pergunta.
— O quanto você quiser que eu goste.
— Ótimo.
O tecido foi rasgado violentamente, queimando minha pele sob o tule da meia, a essa hora também já desfiando. As fendas abertas à fina força me concederam mais mobilidade e eu aproveitei a liberdade dos elásticos rompidos para enganchar as pernas ao redor da cintura dele, deixando que ele nos conduzisse ao destino final e perdendo os sapatos por aí. O beijo que estava me devorando pelo caminho me obrigou a soltar um gemido e a resvalar desesperadamente até o lóbulo da orelha dele, mordendo-o. San bateu as costas numa maçaneta e revirou os olhos, entreabrindo a boca e deixando, aos poucos, o demônio assumir ao ter entregue o seu ponto fraco.
Uma cama. Rápido. Eu precisava de uma cama.
— Porta errada. — ele segurou minha mão quando tentei alcançar o trinco. — Meu quarto fica no final do corredor.
Andamos embolados, uma confusão de tapas ardidos e puxadas de ar entre os dentes, até a porta certa, que San abriu com um chute que me fez quicar no colo dele. Ele saiu da chave de perna e me colocou de pé, bamba, apenas para me empurrar impetuosamente no colchão de lençóis chumbo. Caí sentada no meio da cama e assisti San remover o cinto da calça, dobrando a tira de couro nas duas pontas e causando um estalo semelhante ao de um chicote ao esticá-las. O som, aliado à expressão impassível, dominante e quase diabólica, me fez bater os cílios e molhar a renda da calcinha.
San atirou o acessório para longe sem tirar os olhos de mim e o objeto voador atingiu uma das paredes, fazendo a fivela tilintar contra o piso de madeira. Ele abriu a gaveta de um móvel projetado em frente à cama e tirou de lá um preservativo, que foi também jogado no meu peito, dispensando quaisquer explicações. A regata foi a próxima, confirmando minhas suspeitas de que o que havia ali embaixo era uma verdadeira perdição, e até o vestido em pedaços começou a pesar na minha pele urgente da dele. Levantei a bunda o suficiente para subir a barra destruída e me desfiz da peça, revelando meus seios a ponto de escapar do meu sutiã bonito, e no breve intervalo desse feito, a calça de San não estava mais nele, apenas uma boxer preta lutando para comportar o membro desperto.
O peito dele inflou pesadamente e ele exalou um ar denso. A neblina voltou mais intensa e o demônio foi tomando de conta à medida que ele engatinhava na cama, avançando sobre mim como se eu fosse uma presa.
— Quem mandou você tirar o vestido, hein? — ele agarrou meu pescoço para me dar um beijo torturante de tão lento, que eu confundiria com uma punição se não fosse tão gostoso. — Eu queria tirar ele de você.
— Ainda sobrou muita coisa pra você tirar. — fiz a conta rapidamente: sutiã, calcinha e meias.
Ajoelhado, San iniciou sua jornada com determinação, prendendo os dedos no começo da meia e eriçando toda a extensão que ele despiu. Repetiu o movimento na outra perna, agora sem tanta paciência, e em dado momento simplesmente decidiu rasgá-la também. Eu já latejava da espera agonizante, embriagada daquela dualidade incrível que ora me tratava com carinho, ora transformava minhas roupas em trapos, e San puxou minha calcinha para baixo, esfregando o tecido úmido no rosto. As íris pretas rolaram nas órbitas, acusando que ele estava satisfeito em me saber pronta e tomada de tesão, e ele finalmente abriu o fecho do sutiã para me deixar completamente nua.
— Puta que pariu, . — ele lambeu os lábios borrados e me comeu os olhos.
Abri as pernas, esperando que ele entendesse que eu queria que ele saísse daquela boxer e me comesse com outra coisa, mas San escolheu me atormentar com uma preliminar perigosa, dedilhando pelo meu sexo e me enfraquecendo com o estímulo. Ele me beijou até me deitar na cama, e os dedos dele começaram a invadir freneticamente a minha intimidade. Enquanto eu desfalecia já ao primeiro toque, San sorria ensandecido ao me ter sob seu poder, me contorcendo do prazer ditado por ele.
— Eu tô duro só de te ver assim, . — ele saiu de mim sem aviso e eu gritei de frustração, tomada por uma ausência terrível. — Já decidi onde você vai gozar.
San levantou para liberar o membro apertado na cueca, vestindo a proteção que ele lançou no meu decote e foi parar na beira da cama. O corpo imenso dele cobriu o meu com facilidade, amassando meus seios, e a rigidez pulsante logo encontrou a minha entrada inchada, que pedia passagem numa fricção deliciosa. Mas eu já havia sido passiva demais e o orgasmo negado me deixou em fúria.
— Não, Choi San. — afundei as unhas no trapézio dele e abri arranhões pelas costas suadas, ganhando com isso um gemido sôfrego e outro rolar de olhos. — Eu decido onde eu vou gozar e você só aceita, entendeu?
Consegui inverter nossas posições unicamente pelo fato de San se deixar ser empurrado, ainda ébrio da ardência das linhas que rasguei nele, e sentei no abdômen definido que eu planejava lamber mais tarde, escorregando um pouco da minha própria excitação. Agarrei a correntinha espalhada pelo peito dele e enrolei uma parte do cordão prateado nos dedos, diminuindo o comprimento e apertando delicadamente o pescoço de San, arrancando dele uma risada desmedida de tão canalha.
— Ah, ... — ele me fitou, possesso, enchendo as mãos dos meus seios. — Goza na minha cara. — pediu.
Minhas estruturas internas vibraram e foi a minha vez de rir. Era exatamente isso que eu tinha em mente.
Como se meu pensamento fosse legível, San deslizou pela minha cintura, fechando as duas mãos ali e me impulsionando para cima. Me apoiei nos meus joelhos e fui para frente, segurando na grade retorcida do encosto da cama, enquanto ele mergulhava abaixo de mim, encaixando a cabeça no meio das minhas pernas. Sedento, San me ajudou a sentar, dosando a força do tal absurdo que eu queria fazer desde o K-Hot. Fui recebida com um beijo íntimo dedicado, investido, sem qualquer pudor. Agarrada ao metal gélido da cabeceira, lá estava eu montando na cara de Choi San.
A língua dançante me sugou e me bebeu até me lançar no limiar do céu e do inferno, movendo-me nervosamente na antessala de ambos. Subi e desci com a ajuda dele, respirando o ar rarefeito da recompensa chegando, e San ainda achava espaço para rir abafado na minha libido escorrendo. Olhei por cima do ombro e vi que ele estava a ponto de explodir na camisinha, com as veias grossas clamando por atrito, e joguei um braço para trás para agarrar o membro, massageando-o. O incentivo fez San se esforçar ainda mais no trabalho e eu me desfiz na boca dele.
Ao me perceber saciada, San deixou seu posto e colocou-se atrás de mim, agarrando minhas coxas ainda trêmulas e puxando-as vigorosamente, manobra que me colocou de quatro.
— Eu decidi onde eu vou gozar e você só aceita, entendeu? — San repetiu meu aviso. — E tem mais, só abre essa boquinha se for pra gemer meu nome.
***

O banho quente que San me sugeriu para vencer o frio era completamente desnecessário depois que ele me fodeu até me fazer implorar por clemência, mas nós o tomamos mesmo assim. Saí do chuveiro dolorida, com uma marca de mão na bunda e um sorriso idiota que eu não conseguia apagar. San terminou o banho antes de mim, afinal de contas, ele sozinho já mal cabia no box. Vasculhei a bancada da pia em busca de um pente e descobri num frasco transparente de tampa azul que meu palpite estava certo.
— Giovanna Baby de menino. — ri. Choi San era mesmo uma loucura.
Enrolada numa toalha branca e felpuda, saí do banheiro e encontrei San numa calça de moletom, vermelho das minhas unhas e dentes, trocando os lençóis da cama. Ele caminhou na minha direção (agora com o modo filhotinho ativado) e me entregou uma camiseta larga e um beijo na testa.
— Veste isso e vem deitar aqui comigo. — ele pediu, manhoso, trilhando beijos que começaram na boca e terminaram no meu pescoço. — Eu transo violento, mas gosto de dormir fofinho. — foi o segredo no meu ouvido.
Deixei que ele se acomodasse na própria cama, achando que ele tinha um lado eleito para dormir, e me enfiei na camiseta dele, aspirando um perfume bom de roupa limpinha, contrastante com o cheiro de sexo que impregnou o quarto.
— Psiu. — San me chamou com os dedos. — Vem.
— Depois da safadeza toda que a gente fez, você quer dormir agarradinho? — me aninhei no abraço descamisado, descobrindo ali um lugar aconchegante difícil de superar.
— Quero. — ele me ajeitou no peito grande, enrolando as pontas dos meus cabelos e passeando pelas minhas costas com um carinho do qual eu seria facilmente dependente. — A gente dorme assim um pouquinho e depois troca. — ele me envolveu com a coberta. — Não sou o único que tem um peito gostoso por aqui.
***

Os primeiros raios de Sol da manhã chegaram junto com a desolação da vergonha. Vinha acompanhada de uma culpa besta, um pudor sem cabimento, uma sensação de ter tido uma experiência extracorpórea. Aquela pessoa que estava ali dormindo abraçadinha na minha cintura, com a mão por dentro da minha blusa emprestada e uma gracinha de bico nos lábios não era a mesma que me virou de ponta-cabeça e que por pouco não me amarrou com o cinto. Não podia ser. O demônio devia ficar entrando e saindo dele. Tal qual ele entrou e saiu de mim há algumas horas.
Troquei cuidadosamente o meu corpo por um travesseiro, fazendo a substituição furtiva sem acordar o San. Saí da camisa, a inconstância climática de São Paulo já acusava calor, e me meti de volta no vestido em pedaços, preocupada com a mensagem que aquilo poderia passar ao Uber que aceitasse a minha corrida para casa. Para meu alívio, Edilene estava a cinco minutos.
— Ufa. Mulher. — cochichei para o celular e apanhei minhas coisas, já fazendo o caminho inverso ao de ontem, torcendo para que o portão de visitas não precisasse de chave e que eu pudesse fugir sem ter que olhar na cara que eu sentei.
Meu Deus. O que foi que eu fiz?
Deus fechou os olhos para a minha libertinagem e atendeu minha prece de um portão fechado apenas pela maçaneta de dentro. Empurrei o trinco da trava para fechar e entrei no carro de Edilene, que me olhou pelo retrovisor julgando internamente o meu estado duvidoso com uma expressão engraçada. Sem prolongar a conversa, seguimos viagem e eu passei pelo porteiro do nosso prédio feito uma foragida da polícia, dando um “bom-dia” apressado.
No nosso apartamento, encostei o nariz na porta logo após trancá-la atrás de mim. Respirei fundo, tonta das lembranças daquelas últimas horas piscando feito flashes na minha cabeça dolorida dos puxões de cabelo. Bati a testa na madeira algumas vezes, numa tentativa tola de retomar minha dignidade, mas lá pela terceira pancada a voz de Dulce atravessou meus ouvidos.
— Bom dia, né?
Virei de frente, ainda me apoiando na porta, porque do contrário eu era capaz de cair. Minhas pernas de geleia ainda tinham espasmos, reflexos do efeito Choi San sobre meu corpo moído de satisfação. Dulce me olhou de cima a baixo, reparando no vestido repartido e na meia 7/8 que foi e não voltou. A calcinha escapando da minha bolsa minúscula e meu cabelo úmido eram outros dois inegáveis indícios da sandice (eu entendia agora, Mandy) que eu havia cometido.
— Ora, ora. — Dulce disfarçou o sorriso colocando uma xícara de café na frente do rosto. — Parece que a professora Helena do Carrossel virou a Tiazinha.
— Eu sentei na cara de um estranho, Dulce. — confessei e fui deslizando de costas na porta até cair de bunda no chão, abraçando meus joelhos e me escondendo ali.
— Não tão estranho assim, eu trabalho com ele. — Dulce me lembrou. — E ele já me mandou umas 20 mensagens perguntando por você.
— Quê? — levantei a cabeça rápido demais. — Não responde, Dulce!
— E como é que eu não vou responder? — Dulce sacudiu o celular na mão. — O coitado foi dormir no bem bom e acordou sozinho, ele tomou o maior susto! Além disso, quando eu botar o pé no K-Hot, o San vai brotar na minha frente com aqueles olhinhos pretos brilhando e perguntando por você. O que eu digo?
— Que você não me viu hoje. — a bolsa escorregou do meu colo e a minha calcinha caiu no chão. — Por favor, Dulce! — juntei a renda numa das mãos. — Eu não posso lidar com isso agora!
— Lidar com o quê? — Dulce abriu os braços.
— Como assim com o quê? — repeti, ultrajada. — Eu não te contei onde a cara dele estava?
— Ah, Carvalho, para de ser tão quadrada! Vocês dois são solteiros e maiores de idade, ninguém fez nada de errado! — o celular dela acusou mais uma notificação. — E o San tá mesmo querendo saber de você.
— Tá. — inspirei longo para conter minha agitação interna. — Diz pra ele que eu cheguei bem e que não conversamos muito porque eu tô de saída.
... eu não quero mentir pro San.
— Não é de todo mentira. São seis horas agora, eu tenho reunião de professores às oito. — chequei o relógio de ponteiros na parede acima da cabeça da Dulce. — Faz isso por mim, amiga! Eu prometo que vou falar com ele, eu só... Só preciso de um tempo pra assimilar o que eu fiz.
— O que você fez? — Mingi surgiu enlaçando a cintura de Dulce. Os olhos foram direto para o pedaço de pano abarrotado entre os meus dedos. — Mentira que tu deu pro Santo!
— Ah, meu Deus! — tapei o rosto com as mãos, esquecendo que estava segurando a calcinha, que foi parar na minha bochecha. — Dulce, o Mingi tava aí? Por que você não me avis- Espera! Você disse que eu dei pra quem?
— Choi Santo. — Mingi respondeu alheio ao fato de eu estar derretendo de timidez. — É um apelido que inventamos pro San porque ele é todo bom moço, começou a faculdade, cuida da irmã enquanto os pais trabalham fora, trabalha de noite... É um santo.
“Choi Santo? Tá mais pra Choi inSano”, cogitei e imediatamente o som indecente das nossas carnes batendo uma contra a outra voltou a ecoar no meu pensamento. O santo tinha me colocado de quatro e me mandado gemer o nome dele. Não tinha nada de santo naquilo.
— Esse falso santo quase me fez invocar uma entidade. — lembrei, mortificada, mas com saudade. — Acho que eu nunca mais vou conseguir olhar na cara dele.
— Só sentar, né? — Dulce insinuou e Mingi disfarçou a risada.
— Eu odeio vocês. E pra variar, estou atrasada.
Tomei um café da manhã sem nem sentir o gosto e coloquei duas maçãs e uma tangerina na minha bolsa térmica. Seria meu almoço na longa reunião que me esperava, a não ser que Gia, minha supervisora e amiga, se compadecesse e acelerasse os tópicos. Dei uma última olhada no espelho para conferir se era seguro suspender meu cabelo naquele rabo de cavalo alto, procurando por algum resquício arroxeado da boca voraz de San, e concluí que todos eles estavam bem escondidos pela minha camiseta comportada. Quem me visse maquiada e refeita, articulando diretrizes do MEC ao meu planejamento letivo na sala de professores da Wonderland School, nem imaginaria que eu tinha sido possuída pelo demônio Choi San.
— Então você me envia uma cópia desse boletim, por favor, eu quero acompanhar de perto o relatório do Luquinhas. — Gia me solicitou. — E por falar em acompanhar de perto, titia ...
— Lá vem. — fechei o notebook, pressentindo o golpe. — Quando você me chama de “titia ” é porque vai me dar uma missão impossível. Foi assim que eu ganhei o Luquinhas.
— Eu só posso contar com você. — ela tirou uma pasta com o brasão da escola de dentro do arquivo provisório. — É a minha melhor professora, você sabe.
— Corta a bajulação e joga logo o abacaxi no meu colo. — peguei a pasta da mão dela. — Qual Pokèmon você quer que eu adestre?
Gia deu risada, sacudindo a garrafa de café quase vazia. Apesar de ser minha chefe, nós tínhamos liberdade para brincadeiras como aquela. E ela sabia que todas as minhas “reclamações” sobre aturar o Luquinhas eram da boca para fora. Eu amava ensinar aquele atentado.
— Esse Pokèmon já veio adestrado e com bastante conhecimento prévio. — Gia explicou e eu comecei a folhear as informações na pasta. — Como você pode ver aí, a criança já identifica cores, algumas até em inglês, reconhece números e as vogais.
— Sarang. — li o documento e analisei a 3x4. Uma coreaninha linda, com duas maria-chiquinhas e carinha de sapeca sorria na foto. Me apaixonei por ela na hora. — E o sobrenome?
— A secretária que fez a matrícula esqueceu de registrar. — Gia negou com a cabeça. — Se embananou toda com a história de sobrenome na frente.
— Funcionária nova? — suspeitei e Gia confirmou. Havia muitos alunos asiáticos na Wonderland, tanto por ela estar localizada num bairro majoritariamente habitado por sul-coreanos quanto pelos elevados padrões de ensino. A história do sobrenome na frente não era novidade para nós. — Se o Diretor Jongho fica sabendo que deram um vacilo desse com pai de aluno...
— Menos mal que quem trouxe a menina pro teste diagnóstico foi o irmão. — Gia ergueu as mãos para o céu. — E aí quando ela vier pra aula na turma da tia segunda-feira, ela pode, como quem não quer nada, confirmar o sobrenome e atualizar o cadastro da Sarang, certo?
— Certo. — desconfiei dos sorrisinhos de Gia. — Mas eu tenho certeza que não era só isso que você queria me pedir.
— Sarang tem quatro anos e foi escolarizada em casa. — Gia desenvolveu o pedido. — Ela chorou pelo irmão várias vezes enquanto fazia o teste, a estagiária teve que deixar ele entrar. O desafio da Sarang vai ser a socialização. Ela vai precisar de muita atenção individual.
— Agora sim parece um pedido seu. — entendi tudo. — Pode deixar. A titia aqui vai cuidar bem da Sarinha. — adaptei um apelido carinhoso.
Fui para casa estudar o relatório da minha nova aluna e, depois disso, fiquei enclausurada na minha caverna no resto do final de semana, me isolando no meu quarto num esforço para evitar Dulce e o seu insistente “o San perguntou de você”. Sim, ele era um bom moço (pegação libidinosa à parte) como Mingi alegou, e sim, eu sabia que estava errada em fugir dele, mas as memórias vívidas da minha aventura sexual ainda estavam desconexas. Eu me reconhecia e me desconhecia naquela mulher que San descobriu em mim e a nossa transa avassaladora bagunçou a minha cabeça. E, pra ser sincera, eu não sabia como falar naturalmente com alguém cuja cara eu fiz de pula-pula.
A segunda-feira chegou rápido e eu estava pronta para me dedicar a minha novata em especial. Alertei as auxiliares de sala de que estaria um pouco mais imersa na inserção da Sarang ao grupo e uma delas me lembrou de perguntar sobre o nome completo. Porém, e era um larguíssimo porém, quando eu vi o dono dos ombros nos quais a cabecinha dela estava deitada, eu soube qual era o sobrenome. Eu soube bem mais do que eu deveria. E eu quase precisei vomitar no fraldário quando constatei que o irmão da Sarinha era ninguém menos que a entidade Choi San.
San arregalou os olhos de filhote, meio incerto, mas sorriu. Ele veio andando com o pacotinho fardado nos braços e parou na porta da Sala Arco-Íris, espaço reservado ao Infantil IV, desorganizando tudo dentro de mim apenas com a sua presença. A sua imponente presença, que provocou um discreto alvoroço entre as minhas auxiliares de sala. E eu não podia nem culpá-las. Uma camisa branca e um jeans no tipo certo de homem eram o suficiente para desestabilizar qualquer uma. E San era o tipo certo de homem.
— Oi, ! — senti meu rosto ferver. — Eu não acredito que você trabalha aqui!
Nem eu. Nem eu acredito que eu trabalho aqui.
— Oi, San. — devolvi, sem jeito, ajustando a personalidade para a configuração profissional. A recepção da bonequinha assustada, segurando o irmão mais velho como uma boia de salvação, era mais importante que o meu constrangimento. — Quem é que está aí com você?
— Essa bolinha aqui? — San sacudiu Sarang e ela ensaiou uma gargalhada, o riso cúmplice dos irmãos. — Essa aqui é minha irmã caçula, que é pesada demais. — ele fez cócegas na pequena e a colocou no chão, agachando-se junto, mas ela continuava escondendo-se nele. — O nome dela é Dona Bolota.
— Não é não! — Sarang protestou, caindo na armadilha de San para fazê-la falar.
— Ah, não? — San riu, vitorioso. — Então fala você qual que é seu nome, a tia tá perguntando.
Sarang se mexeu acanhada, esfregando os olhos. Me abaixei, sentando sobre as pernas dobradas e espalmando as mãos nas coxas, uma linguagem corporal que as crianças entendiam como acolhedora, mas não invasiva. Ela deu uma espiada dentro da sala e outra no laço do meu cabelo, animada com a cor, e me deu o voto de confiança do primeiro contato:
— Sa-ang. — ela soluçou e engoliu o “r”.
— Oi, Sarang. — cumprimentei. — Eu sou a . O seu nome é muito bonito, sabia?
— Ele... — Sarang começou a se soltar do San. — Ele é assim, ó. — o dedo gordinho desenhou o “S” todo torto no ar. — Com a cobinha.
— Com a cobrinha? — repeti a associação dela para a letra. — Que legal! O meu é assim: vai láááá em cima e volta. — ilustrei um “A” que ela acompanhou encantada.
— Assim? — ela espelhou o movimento, que saiu apenas como uma linha reta, e se desequilibrou. Eu fiquei com vontade de amassar aquela coisinha com a coordenação motora tão adorável.
— Isso! — estendi uma mão. — O que você acha da gente fazer um desenho bem colorido, hein? Você desenha a cobrinha do seu nome pra eu ver?
— O San também tem uma cobinha. — Sarang disparou inocentemente e meu espírito quase deixou meu corpo com o sorriso cretino que San falhou em segurar.
— O San vai ficar aqui fora te esperando pra você desenhar com a tia , pode ser? — ele sugeriu para a irmã, mas olhando para mim.
— Vai ser bem divertido, Sarang. — encorajei. — Eu desenho a letrinha do meu nome pra você. Você quer?
Sarang concordou com entusiasmo e recebeu a mão que eu estendi. No tempo dela, foi aceitando minha ajuda, meu colo e até o meu “Sarinha”, tocando no nome do irmão aqui e ali e acendendo uma pequena faísca dentro de mim todas as vezes em que eu precisava apontar o belo rapaz sentado na frente da sala. Dizer “o San está bem ali” reverberava completamente distinto em nós duas: para a criança, era um porto-seguro, e para mim, era uma salada de sentimentos salpicada com muita pimenta. Ao final da aula, devolvi a Dona Bolota ao responsável e fiz as recomendações de costume:
— Você pode vir de novo amanhã, mas tente não ficar no campo de visão dela. Se ela ficar tranquila, você pode ir embora. Mas não sem avisá-la.
— Entendi. — San pegou Sarinha nos braços, entretida com o desenho coberto de glitter. — Eu detestaria que fossem embora sem me avisar. — San alfinetou. Mas eu mereci.
— Eu peço desculpas por isso. — encarei meus pés vestidos por meias de unicórnio. Cômico. Eu toda no figurino de tia de criança me desculpando por dar e sumir. — Mas aqui não é hora nem lugar pra...
— Eu sei. — San sorriu, compreensivo, e ver a covinha me confortou bastante. — Só não... Não foge de mim, .
— San! — Sarang gritou e me salvou de elaborar uma resposta. — Minha baiguinha quer bolinho de auôz.
— É verdade, ela não comeu tudo. — pendurei a lancheira dela no ombro de San quando nos despedimos. Espaço não faltava.
***

Levou exatos três dias para a Sarinha se habituar à rotina da Wonderland e esquecer do irmão. Ela estava indo melhor do que eu nisso, aliás. Sempre que San aparecia para deixar ou buscar Sarang, eu tentava empurrar uma das auxiliares assanhadinhas para lidar com ele, mas era a própria Sarinha quem arruinava meu plano. “Quero ir com a tia ”, era a exigência dela todas as manhãs. E eu não era capaz de negar absolutamente nada para aquela coisa fofa.
As crianças estavam na dinâmica da unidade 4, que trabalhava as noções do eu e do outro, seguindo a atividade que consistia em fazer um desenho da família dentro da casa de palitos de picolé e compartilhar na roda de conversa. Aproveitei para recolher os canhotos de confirmação da Reunião de Pais de Alunos do Infantil IV e quase caí da cadeira ao verificar o da Sarinha. Os campos “pai” e “mãe” estavam vazios, havia apenas um X bem grande entre os parênteses onde estava escrito “responsável”, seguido pela assinatura.
Choi San.
Anexei o canhoto aos dos outros alunos e voltei a monitorar a produção deles. Sentei no chão na posição da borboletinha ao lado de duas maria-chiquinhas que começavam a despencar. Arrumei o penteado de Sarang, que me presenteou com um sorriso banguela, e iniciei minha investigação.
— Por que é que a sua mãe não vem na reunião, Sarinha? — cheirei o cabelinho dela. — Ou o seu pai?
— O San não deissou, tia. — Sarang balançou o indicador gordinho negativamente. — Ele disse que queia ver a tia .
— Ele disse isso, foi? — peguei a linguaruda no colo, ignorando expressamente a ordem da coordenação pedagógica de “evitar o colo para incentivar a independência.” Ninguém me impediria de espremer meus aluninhos.
— Uhum. — ela levantou o desenho na minha frente. — Olha, tia!
— Que desenho lindão! — elogiei, contando cinco “pessoas” na imagem. — Quem que tá na casinha da Sarang?
Omma, appa, Saang... — ela enumerou a si mesma e os pais em coreano. — San e tia .
— Eu? — observei que o rabisco que representava o San estava ligado ao meu, como se estivessem de mãos dadas. — O que é que eu tô fazendo na sua casa, Sarinha? — perguntei risonha. Afinal de contas, eu estive na casa dela.
— O San gosta da tia .
Estremeci. A tia também gostava do San e ela estava potencialmente estragando tudo sendo uma idiota envergonhada de uma coisa em que não havia vergonha alguma.
— E você, hein, Sarang? — espantei o devaneio. — Gosta da tia ?
— Gosta! — ela confirmou e me deu um beijo melado na bochecha.
A dinâmica foi bastante proveitosa e até mesmo o Luquinhas, que andava meio enciumado do meu grude com a novata, participou bem da roda. Depois de anotar os boletins diários nas agendas, eu continuei pensando na revelação de Sarang até o fim da aula. Até o fim do dia. Até o fim da semana, no sábado, quando a reunião aconteceria e eu teria que falar com o San.
Ele chegou pontualmente na hora agendada, com uma camisa de botão que ganhava um ar despojado por causa da tal correntinha prata na qual eu não parava de pensar. As reuniões de pais da Wonderland eram marcadas pelo portal digital da escola, que disponibilizava horários prévios em intervalos de trinta minutos, a fim de atender todos individualmente. Terminei o feedback sobre a Sarang com alguma dificuldade, me perdendo a todo segundo no rosto afilado e lindo, interessado na educação da irmã e preocupado com a última colocação que eu pontuei:
— Você acha que devemos procurar um fonoaudiólogo? — ele perguntou, um tanto aflito. — Eu achava bonitinho ela falar “auôz” em vez de “arroz”, mas agora eu tô com medo de que isso vire um problema.
— É comum na idade dela, as sílabas vibrantes são difíceis. — o acalmei. — Continuem preferindo a pronúncia correta na hora de falar, ela vai assimilar à medida que ouvir vocês.
— Obrigado, . — ele agradeceu, sincero. — Você é mesmo inquível, como a Sarang diz.
— A Sarang é um biscoitinho fino. — baixei a guarda da formalidade docente. — E é muito apegada a você.
— Ela meio que não tem escolha. Meus pais têm uma rede de lojas na Liberdade, com eles trabalhando em horário comercial, sobrou pra mim ficar com a pestinha. — San explicou, transbordando de amor pela irmã apesar da implicância. — Mas agora que ela já pode frequentar a escola, das sete às onze ela é problema seu!
San riu anasalado e cruzou os braços sobre o peito, trazendo as veias para o foco, mais um insulto à minha concentração de centavos. Caímos num silêncio desconcertante, que eu queria preencher com um “e agora que a Sarang não é mais problema seu, o que você vai fazer das sete às onze?”, mas não achei adequado.
— Ainda temos cinco minutos. — ele ajeitou-se na cadeira e inclinou-se sobre o birô que nos separava, apoiando o queixo no punho cerrado. — Posso falar com a um pouquinho?
— Você está falando com ela.
— Não. — o tempo adensou no olhar dele. — Eu falei com a “tia ” da Sarang. Eu quero falar com a minha .
A palavra de posse desenrolou diferente naquela boca macia que eu lembrava tão bem. Tive medo, mas eu tive medo a vida inteira e ele nunca me levou a lugar nenhum. Choi San era a minha loucura, minha dose medicinal de adrenalina, e se eu não parasse de ser tão tonta, eu ia acabar perdendo um cara... inquível.
— Tudo bem, San. A sua está ouvindo. — me desarmei.
— Por que você continua fugindo de mim? — ele perguntou sem rodeios, com notas agudas de pesar. — Eu... machuquei você?
— Não! — estalei a língua no céu da boca. — De jeito nenhum. — inspirei pesadamente. — É que sou uma boba assustada, San. Eu fugi de você porque o nosso encontro me virou do avesso.
... Você me virou do avesso. E eu não tô falando do... — ele modulou a voz, diminuindo o volume. — ...do sexo maravilhoso que fizemos. Eu tô falando que eu tô maluquinho por você e só quero te conhecer melhor. Eu tô disposto a começar isso pelo começo, e não pelo meio. Você quer, sei lá... — os dentes apareceram, pedintes. — Tomar um café comigo qualquer hora?
Soprei o ar pelo nariz, rindo abobalhada pelo turbilhão de sensações que San me provocava. Ele era, na mesma pessoa, o anjo e o demônio, e eu experimentei o melhor sentido dos dois atributos. Era apropriado que a palavra “avesso” tivesse surgido, porque era essa a impressão que eu tinha, de que, como San havia dito, começamos pelo avesso. Mas ainda assim, era um começo, e um começo era tudo o que eu precisava.
— Você vai ter que esperar até o fim do meu expediente. É em quinze minutos. — relembrei a fala dele quando me convidou para uma bebida pela primeira vez.
— Eu espero o tempo que for preciso. — o rosto dele iluminou-se em toda a sua ambiguidade magnífica.
— Promete? — levantei o mindinho.
— Prometo. — ele selou a promessa.

I Can Show You Right Now

(POV )


Respirei fundo uma última vez, levantando da cadeira ao checar a hora em meu smart watch e acabar por ver a mensagem de Débora avisando que estava presa a três semáforos do Fórum Trabalhista. Para a sorte dela estava tudo um caos, então nossa audiência havia sofrido um grande nada leve atraso. Infeliz para mim, neste caso, que sofria com o calor absurdo porque o prédio passou por uma queda estranha de energia e a mais de trinta minutos o bom e velho, e melhor criação humana, ar condicionado não havia voltado a funcionar. Estava quente na cidade, muito quente.
Caminhei para fora, parando na escadaria para aceitar a chamada de .
Está ocupada? — ela perguntou antes mesmo de eu dizer “alô”.
— Eu não te atenderia se estivesse. — respondi desanimada. — Você me ligou cinco vezes, de qual delegacia devo ir te tirar? — chequei a hora novamente. — Só posso depois das duas. Essa audiência de hoje vai demorar, eu vou perder e depois daqui vou me afogar no almoço comendo um belo prato no Paris 6.
Deixa seu drama de corna rica para a noite. Você vai vir no K-Hot hoje, não vai? — a voz dela permaneceu serena, como se meu desânimo não fosse nada para ela. — Preciso saber para colocar seu nome na lista.
— Ir na armadilha que você e estão tramando pra mim? Já disse que não. — bocejei e olhei para a rua, impaciente com a demora de Débora, enquanto desceu toda uma reza sobre os motivos pelos quais eu deveria sair naquela noite com ela, , os respectivos namorados e um amigo deles. Um tipo de encontro duplo em que fariam eu e o outro convidado de vela. A santa humilhação dos solteiros, pois e Mingi tinham uma química surreal com o tesão equivalente a 100 Anitta e 100 Luísa Sonza, enquanto e San eram sutilmente dominados um pelo outro.
Neste instante, meus olhos capturaram a visão maravilhosa de um querido engravatado, passando tão mal quanto eu pelo calor, saindo desesperado do prédio com a ansiedade de tirar algo de sua maleta. E esse algo era surpreendentemente inesperado: um leque preto com tecido vermelho todo desenhado em formas orientais, coisa bem chique. Acessório a parte, ele também parecia ser bem elegante, refinado, como os CEOs que papai sempre recebeu em casa nos eventos formais, mas esse, por outro lado, parecia ser mais novo que os grisalhos que preenchiam nossa cobertura.
Ele se abanava com o leque usando muita força e motivação, me hipnotizando por inúmeros fatores. Me senti uma completa invejosa, ora por ele ter um leque enquanto eu só tinha uma folha fina toda amassada, ora pelo leque estar entre os dedos dele enquanto eu seguia o movimento com pensamentos embolados de uma mulher traída que não via a luz de um toque há meses, ora pela beleza absurda dele que me causou toda a hipnose.
— Ele podia é tacar esse leque na minha cara... — resmunguei me esquecendo de do outro lado da chamada.
Que? — ela disse, cortando o que dizia. — Ele? Leque? Você está onde, Amanda?
— Meu nome não é Amanda. — reclamei, recompondo minha postura assim que notei o engravatado do leque vermelho sorrir contido.
Enquanto não houver sentido para você se chamar “”, eu vou te chamar de Amanda. Sua mãe concordou comigo, inclusive.
sempre brincava comigo sobre meu nome. E às vezes até eu mesma me questionava sobre isso, mas minha mãe me dizia que foi a vontade dela, já que a ideia era eu nascer em Miami como todo o planejamento que ela e meu pai tiveram, que foi por água abaixo quando eu decidi sair mais cedo do casulo e nascer no meio de uma viagem deles para o interior.
Continua sem sentido, mas não muda o fato. O pior ficou na escola, quando me chamavam de tudo, menos pelo nome correto e eu tinha que ficar corrigindo a todo momento, até simplesmente desistir e deixar aí, como quiserem.
— Eu vou precisar desligar. — disse ao ver Débora saindo do carro na frente do prédio. — Preciso ir lá perder mais um processo.
Seja menos perfeccionista. Vai dar certo. Te espero à noite no K-Hot. Não me faça ir te buscar!
— Não prometo. Tchau. — desliguei, guardando o celular e já cumprimentando Débora. — Eu acho melhor já entrarmos, daqui a pouco será a nossa audiência.
— Que bom que atrasou... Está um caos esse trânsito...
— São Paulo, querida... — dei de ombros e ri fraco, seguindo com ela para a escada. Débora, porém, dentre todo o espaço que tinha, resolveu esbarrar no rapaz bonito do leque chique e presença elegante.
— Ah, me desculpe! — ela pediu e ele apenas se afastou. — Eu não te vi, mesmo com esse... — olhou estranho para o leque dele. Eu entendo a dúvida. — Leque enorme.
— Você foi a única. — ele riu e me encarou com o mesmo sorriso discreto.
— Desculpa, é o calor, acho que minha pressão deve estar baixa. — Débora sorriu junto e eu subi mais outro degrau, um pouco incomodada.
— Sem problemas.
— Vamos? — acenei para ela.
Então em um segundo chegou outra pessoa, o ex empregador de Débora, o qual ela estava processando e que, eu imediatamente pude entender, estava sendo representado pelo querido simpático de bom senso de humor e de beleza hipnotizante, pra não falar de cheiro inebriante.
— Nossa, me desculpa pelo atraso, Doutor Kim. São Paulo é um caos de sexta-feira. — eles se cumprimentaram e eu soube o sobrenome do advogado que seria meu “concorrente”.
Para o meu azar, era o homem que eu estava "paquerando" minutos antes.
— Não se preocupe. — Kim disse.
Tanto o acusado quanto Débora se encararam estranho. O ressentimento palpável entre os dois.
— Podíamos ter chegado a um acordo se você tivesse atendido o telefone, Débora. Assim eu não ia precisar sair da loja pra essa perda de tempo.
— Epa, isso são modos? — tentei me colocar no meio, mas Débora foi mais rápida dando um passo à frente.
— O meu telefone não tocou e muito menos o da minha advogada. — ela olhou para mim. — Espero que seu advogado seja tão bom quanto bonito, Kléber.
Eu quis rir da falta de argumentos dela, mas lembrei do meu pai me dizendo que eu tinha um prazo para me estabelecer dentro da profissão depois de toda a reviravolta em minha vida nos últimos meses.
— Débora, vamos deixar isso para a audiência, OK? — toquei o ombro dela. — E o senhor, doutor Kim, contenha seu cliente se não quiser mais um processo por impelir a minha sobre os direitos dela.
Ainda com o sorriso sutil nos lábios, o advogado de Kléber apenas assentiu e empurrou o cliente dele pelo ombro para trás, com o leque, guardando o objeto em seguida na maleta.
Mordi as bochechas por dentro, me sentindo um pouco desnorteada pela reação tranquila e nada explosiva dele, diferente dos advogados dos quais já estava acostumada a lidar desde que comecei a frequentar o fórum por causas trabalhistas. Ele era bem diferente. Fosse outro teria tentado me diminuir por qualquer motivo, principalmente por ser mulher.
Em silêncio, com apenas um leque e um sorrisinho escondido, o advogado do Kléber conseguiu foi me quebrar, congelar tal qual o Chaves.
🪭
Apertei o botão do elevador assim que me despedi de Débora e aguardei, ela optou pela escada, mas eu estava cansada demais para essa atividade e queria, também, ficar sozinha. Havia acabado de perder mais um processo e tinha algumas coisas que eu queria repensar principalmente sobre minha vida. Para ela estava tudo bem, de qualquer forma era esposa de um homem rico que não se importaria com o dinheiro gasto em meus honorários — eu fui muito específica e direta quando pontuei as chances mínimas do processo ser ganho, ela quis arriscar mesmo assim.
O problema para mim era essa falta de vontade de conseguir seguir em frente, a mais ou menos quatro meses atrás eu não estava precisando mais trabalhar, organizava um casamento dos sonhos, dos meus sonhos, com o homem que eu achava ser o amor da minha vida. E tudo isso se tornou parte apenas do passado porque ele me traiu, escolheu viver um romance novo com uma nova mulher mais jovem que eu (um tipo de DiCaprio de Itaim Bibi).
Eu escolhi a dedo o que queria fazer da minha vida e mesmo tendo um caso ali e outro aqui depois da faculdade e o exame da ordem, meu foco estava totalmente voltado a ser uma noiva e futura esposa exemplar para o CEO que ele havia se tornado. Boba eu, claro. Isso acabou por levar um tempo precioso da minha vida, da minha essência, que eu só conseguia notar agora.
— Segura o elevador, por favor! — escutei uma voz rasgada logo que as portas do cubículo foram se fechando pouco depois de eu entrar. Fiz o que foi pedido, claro, mas pelo desespero quebrei uma unha.
— Aí! — reclamei puxando a mão. Ao erguer o rosto vi a feição bonita do tal advogado Kim. Endireitei o corpo. O cheiro dele entrou por minhas narinas mais uma vez, me aterrorizando completamente pela forma como eu automaticamente me senti vulnerável. Existem pessoas que só o fato da presença delas ao lado da sua já conseguem simplesmente te impactar e esse era o caso dele.
— Me desculpa, você se machucou? — educadamente ele se dirigiu a mim, olhando minha mão.
— Não. Apenas lascou um pouco. — ergui a unha, não me dando conta de que estava mostrando o dedo do meio para ele. Antes do meu DiCaprio do Jardins eu não havia tido experiências com flerte ou algo sobre como se comportar diante de pessoas que eu tivesse qualquer interesse (e qual é a minha de ficar cogitando isso com um advogado no fórum trabalhista, na grande São Paulo, havendo uma chance quase inexistente de vê-lo novamente?).
— Menos mal. Já quebrei uma unha, é bem dolorido. — casualmente, advogado Kim se virou de frente para a porta fechada, agindo normalmente, como se ele não fosse uma concorrência e não tivéssemos entrado num embate a pouco tempo.
— Pois é. — disse parecendo uma bocó. Tal qual uma adolescente falando com o garoto popular do colégio. Eu fui essa pessoa, aliás.
— Você é nova por aqui, não é? — ele se virou para mim outra vez. Fiquei sem entender. — Nunca te vi por esses corredores malucos.
Ele reparou, então. Evitei sorrir feito bocó.
— Eu comecei agora com as causas trabalhistas, mas prefiro mais as tributárias. — raspei a garganta. A porta se abriu e ele gesticulou para eu ir a frente.
— Deu para perceber. — riu fraco e eu arqueei a sobrancelha, virando o rosto para ele. Continuamos caminhando lado a lado. — Um caso como o do Kléber e da Débora, nenhum advogado aceitaria defendê-la... Bem, nenhum advogado já acostumado com essa área.
— Você parece estar bem habituado com isso.
— Na verdade, eu estou bem habituado com o Kléber. Ele faz as besteiras e depois sobra para mim e o setor da contabilidade. — deu de ombros. — Mas eu também não gosto muito da área trabalhista. Prefiro a criminal.
Franzi o nariz.
— Porta de cadeia, então? — fingi julgamento. Ele sorriu quase mostrando os dentes, agora estávamos no início da escadaria.
— Agora você me pegou. — riu e levou a mão ao peito. — Mas na verdade, eu acho que é sobre o desafio. Eu gosto de um bom desafio, doutora Guttenberg.
Pisquei algumas vezes rápido demais para não me perder tanto no brilho dos olhos dele, no penteado bem moldado com a franja repartida ao meio, ou na ponta do nariz que me deu uma vontade estranha de querer tocar. Tentei focar em ter um foco.
Quis responder sendo bem taxativa, "prazer, me chamo Desafio", mas me faltou coragem na mesma medida que a vontade.
— Acho que gostar de desafios é o ingrediente principal nessa profissão. — agora foi eu quem riu fraco. — E embora eu tenha fracassado hoje, sabendo que seria assim, vezes ou outra um dinheiro fácil é bom.
— Não te julgo. Eu também tenho os meus meios.
— Clientes como o Kléber? — inverti e ele assentiu mordendo as bochechas por dentro.
— Sim. Clientes como ele.
Ficamos em silêncio por um tempo e eu comecei a sentir o calor derreter o resto de neurônio que eu ainda estava mantendo. Me abanei com minha própria mão e tentei forçar a despedida.
— Algum conselho para uma novata neste prédio de corredores malucos? — pedi.
— Ah, sim. — ele sorriu maior do que havia feito até então e o calor se intensificou mais. — Sempre tenha uma carta na manga. — disse, ergueu a maleta e tirou de dentro dela o leque, estendendo para mim.
Demorei um pouco a entender, mas aceitei o objeto, rindo fraco e nervosa.
— Bem lembrado. — peguei o leque, abrindo-o para ventilar meu nervoso.
— O prédio é lindo, mas tem muitos problemas com o ar condicionado ainda. Sempre tenha mais do que uma folha amassada.
— Anotado. — assenti, tendo a atenção tomada pelo meu smart watch vibrando. Olhei o lembrete do horário de almoço e suspirei. — Preciso ir.
— Fique à vontade, dou-
. Meu nome é . Guttenberg. — estendi a mão livre para ele, recebendo o cumprimento. Os dedos dele eram macios e eu não queria soltar.
— Muito prazer... — antes que pudesse completar, uma pessoa estranha parou ao lado dele, completamente ofegante.
— Doutor Kim, me perdoe o atraso. O trânsito de São Paulo é péssimo! Ainda estamos em tempo?
Soltamos um a mão do outro e eu desci um degrau, sorrindo uma última vez para ele e recebi seu aceno. Enfim, me direcionei para a saída, sem olhar para trás, em um banho de suspiros pela falta de coragem.
Se eu fosse perder mais um processo trabalhista naquele mesmo prédio, contra aquele mesmo advogado de defesa, pois eu não reclamaria.
🪭

— Obrigada, Roger! — agradeci ao motorista assim que saí do carro. — Não precisa se preocupar, eu peço um Uber para ir embora ou vou de carona com as meninas.
— Sim, senhorita Guttenberg. — ele assentiu com um meio sorriso e logo deu a passagem para eu seguir o meu caminho da tortura. Assim que me viu, Bravo sorriu cordialmente e abriu a faixa da entrada VIP.
— Boa noite, ! — como já me conhecia de outras ocasiões, ele me cumprimentou normalmente e eu acenei, sorrindo o máximo que podia. — Está sumida.
— Muito trabalho, Bravo. Sabe como é, né... — dei de ombros, passando sob as reclamações de quem estava na fila.
— Se divirtam! — ouvi a última dele e caminhei para dentro.
O K-Hot Chilli Peppers era um dos bares mais famosos com o tema oriental na grande São Paulo, no bairro do Bom Retiro. Tinha certa tradicionalidade no cardápio, mas além disso, vezes ou outra se tornava um bar mais próximo de um pub, fugindo do lado careta, ainda que mantivesse sua tradição com as músicas, comidas, bebidas e toda a atmosfera asiática.
, que começou como uma das minhas primeiras clientes e hoje era minha melhor amiga, trabalhava no K-Hot como segurança, ao lado de Bravo, e como hoje seria o dia de “libertinagem” (como ela chamava os dias que o bar se tornava um pub), ela e decidiram por bem que iriam me arrastar para esse grande acontecimento, acompanhando elas e os respectivos namorados, além de um terceiro convidado — nas palavras de “seria muito bom conhecer alguém que valesse a pena”.
Não fazia tanto tempo que eu tinha acabado um noivado por traição, ainda estava tentando me acostumar novamente com a nova rotina fora do que eu vivi por anos ao lado de Rafael. Meus pais sequer me deram um tempo para refletir e, mesmo com a educação totalmente mimada deles, exigiam que eu corresse atrás do “prejuízo agora que o conto de fadas tinha acabado”; não preciso mencionar que nem o senhor e nem a senhora Gutenberg foram grandes fãs do meu ex, na verdade, só eu gostava dele. Me acostumar com essa rotina de estar solteira novamente estava sendo difícil, por uma questão de sorte, eu tinha e para me acompanharem, mesmo que fossem comprometidas, sempre dando o que podiam de si para estarem comigo. Eu estava feliz com isso.
Exceto pela parte que as duas queriam me apresentar o tal do “Joong”, amigo do Mingi e do San, também coreano e que havia retornado ao Brasil há pouco tempo — o motivo de eu nunca tê-lo visto com os meninos ou pelo K-Hot, já que o citavam como uma grande presença na vida deles. Segundo as duas, ele era advogado também e um doce de pessoa, com bom senso de humor, roupas compradas na Faria Lima (assim como eu e minha exigência de berço), só não era muito alto — mas isso para mim tanto faz, qualquer pessoa é mais alta que eu e meus 1,57 cm.
Eu até pedi uma foto dele, porém nem elas e nem os namorados (um mais pau mandado que o outro) me deram, com a desculpa de que era para valer a pena na hora da conquista. Nem mesmo no Instagram eu encontrei qualquer informação, eles foram meticulosos me escondendo tudo.
Fui direcionada qual a mesa era a nossa, já completa e faltando apenas eu, haja visto o tanto de mensagem que meu celular recebia por minuto. Assim que me aproximei, e fizeram festa, levantando-se para me receber e mal me deixando notar o resto. Quando foi possível eu cumprimentar os demais presentes ali, meus olhos cruzaram diretamente com um par rasgado e muito marcantes, capaz de me tirar o fôlego novamente naquele mesmo dia.
, você está bem? — passou a mão na frente do meu rosto.
— Ela congelou. — riu fraco e tocou minha testa. — Temperatura normal de Polly Pocket.
— Bem pocket... — escutei o comentário baixo dele de fundo e respirei profundamente para me recuperar.
— Por que ele está na nossa mesa, ? — movimentei a cabeça para a direção do advogado Kim.
— O Joong? — ela arqueou a sobrancelha, estranhando, e repetiu baixo o nome como uma forma de se auto corrigir. — Ele é amigo dos meninos.
— Embora eu tenha é medo de até onde chegue essa amizade. — comentou aleatório.
— Amigo? Dos meninos? — raspei a garganta. — De toda a grande São Paulo. Todas as comunidades coreanas aqui. Do Brasil inteiro. Do mundo. Dentre todas as constelações... Ele é amigo dos meninos? — resmunguei.
— Vocês já se conhecem? — constatou e estalou a língua no céu da boca com um riso contido; muito provavelmente ela ligou uma coisa à outra. Mais cedo, depois de todo o lance do Fórum, eu contei para elas o que tinha acontecido e todo o meu encantamento com o querido que, até então, eu acreditava jamais ter a chance de ver outra vez.
— O leque. — ela disse para .
— Hein? — certamente não entendeu de primeira, mas logo compreendeu. Ou não. — Ah... O leque. Que leque?
— O que ela queria que eu jogasse na cara dela. — e ele se intrometeu não só na conversa, mas se colocando entre as duas logo na minha frente. — Olá, doutora Guttenberg. — estendeu a mão para mim com o sorriso besta no rosto (lindo, claro). — Eu sou o Hongjoong, mas você pode me chamar de Joong ou como quiser.
Desta vez eu só não congelei porque agora eu estava sentindo meu rosto quente demais para isso. Estendi a mão para o cumprimentar e ele beijou o dorso dela, me fazendo franzir o cenho e as meninas olharem mais estranho, abaixo dos sussurros.
Hongjoong não estava usando um terno de corte fino, moldando seu corpo, ele usava uma roupa casual: jeans, camiseta e jaqueta jeans (também) preta. Mas o sorriso, aquele mesmo formato escondido, camuflado, que parecia guardar muita informação, muitos pensamentos, era o que mais chamava a minha atenção e tinha me perturbado o dia todo em memórias que iam e voltavam.
Mais marcante que um leque.
— Você escutou totalmente fora de contexto. Eu queria sim, mas porque estava muito quente. — tentei me justificar quase atropelando as palavras e ele apenas fingiu acreditar, recolhendo a mão e colocando dentro do bolso da calça. — Que coincidência, sim? — emendei.
e me encararam estranho e eu fiz uma careta somente para as duas verem. Poderíamos conversar sobre isso depois.
— Temos uma recém-chegada! — a voz de Janaína, a garçonete, rompeu nosso meio, trazendo uma nova distração. — Oi, !
— Oi, Jana! — sorri mais simpática. — Manda pra mim o de sempre, por favor!
— Sim, senhorita! — ela anotou o pedido no aparelho digital e logo achou um novo rumo.
Quando eu fui puxar a cadeira para me sentar, uma vez que e já voltavam para seus lugares e eu cumprimentei Mingi e San de forma geral, Hongjoong se prontificou, puxando para mim. Encarei as duas tentando não ser tão expressiva e me sentei, agradecendo em silêncio, também acompanhei o caminho dele em volta da mesa até o lugar que ocupava do outro lado, me esforçando para mover somente o olhar.
Na minha cabeça ainda não existia uma explicação plausível para o que estava acontecendo. Não sou tão boa em matemática, por isso não escolhi engenharia ou qualquer área com incidência de números (embora goste de trabalhar com tributos), mas sei que numa conta prática os números seriam curtos na quantidade de chances de algo parecido acontecer; estávamos na grande São Paulo, a maior cidade de um país com dimensões continentais.
De alguma forma, o fato “ e : Operação Cupido” não me parecia mais tão absurdo.
— Então, como estávamos falando... — Mingi raspou a garganta e eu fingi que não vi a cutucar ele.
— Ah, sim! — se empolgou, me olhando com os olhos brilhantes. — Estamos pensando em alugar uma quadra para jogar tênis, !
— Assim, do nada? — estranhei, tentando ficar à vontade. Era possível sentir o olhar de Hongjoong direcionado a mim. — Eu sempre chamei vocês e fui ignorada na mesma proporção.
— Eu fiz uma aposta com o Mingi que não vem ao caso agora e envolve jogar tênis. — sorriu.
— E o Joong também joga. — San entrou no meio.
— Podemos fazer duplas, temos um número par agora. Você não está feliz com isso, ? Isso não acaricia seu TOC?
Encarei piscando sem pausa e num ritmo mais acelerado. Exatamente nesse ponto, Janaína deixou minha água e o copo com gelo e limão espremido em cima da mesa.
— Certo, então vamos jogar tênis... — respirei fundo, ainda na mesma força de vontade de me controlar. Mas eu tinha algum mecanismo de defesa de mim mesma, que em situações das quais eu me encontrasse completamente vulnerável e, ou, sem reação, a minha ação era tentar sair pela tangente como uma comediante ruim. Tentar fingir casualidade nunca foi meu forte.
— Vai ser legal. — Mingi comentou e algo dentro de mim quis responder “sim, eu sei que para VOCÊ isso será legal de alguma forma”.
— Realmente. — mais uma vez eu inspirei o ar profundamente, a fim de fazer meu cérebro funcionar corretamente. — Agora que somos um número par, tem muitas coisas que podemos fazer além de jogar tênis.
— Boliche! — lembrou.
— Uma pena não existir mais o Playcenter. — murchei os ombros e o meu instinto rápido da vulnerabilidade, de querer fazer o assunto ser mais tranquilo e sair do modo “em nervos” que eu ainda me encontrava, falou mais alto. — Mas tem o Maeda em Itu, lá tem muitas coisas para fazer, inclusive pescar! Agora que vocês estão querendo acompanhar a amiga esportista de vocês, seria uma boa.
— Não fala assim. — pareceu não entender muito bem a minha tática (adoravelmente como sempre) e fez um bico de culpa. — É que você escolhe ir pescar em Itu numa quarta-feira em horário comercial. Tenho minhas limitações com bate e volta...
— É só pegar um chalé pro final de semana! — rebati.
— Eu não acredito que estamos falando sobre isso...
— Mas pescar é gostoso, ! — revirei os olhos; eu tinha certeza que ela já havia compreendido aquele rumo aleatório. — Vocês é que não têm paciência.
— Você realmente gosta de pescar? — ainda parecendo não acreditar no assunto, Hongjoong perguntou ao cruzar os braços em cima da mesa, me encarando com a mesma feição de sorriso escondido (era a única coisa nele que ainda não tinha mudado em nada).
— Ah não... — levou as mãos ao rosto, finalmente entendendo e arrancando o riso fraco e apaixonado de San, que recebeu um olhar de Mingi e para que ficasse quieto. Eles já me conheciam, neste caso era como dar uma corda para o meu eu vulnerável pelo nervosismo, não tinha mais volta.
— Sim. Mas eu prefiro sempre no horário de meio-dia, mais ou menos... Por isso elas nunca podem. — dei de ombros, fingindo casualidade.
— Abaixo do Sol do meio-dia? Pra torrar? Existe uma técnica?
— Não, porque uma hora o peixe vem. — respondi, levando o assunto com seriedade.
bateu com a testa na mesa, se escondeu no pescoço de San que, junto de Mingi, viraram um longo gole de suas respectivas cervejas. Hongjoong piscou algumas vezes para mim, parecendo refletir, e eu me senti patética, embora ainda acreditasse ser uma piada muito boa. Todo mundo sempre caia nela, não tinha como ser ruim.
Demorou, mas ele riu quase mostrando todos os dentes, uma risada melódica, parecendo música para os meus ouvidos, e movimentou o indicador na minha direção, também virando sua bebida, a água igual a minha.
— Você realmente é um desafio, Guttenberg. — comentou, atraindo a atenção dos nossos amigos. — Quando te vi entrando naquele carro, de motorista, achei que sua pescaria fosse na Faria Lima toda sexta-feira.
— Também gosto, mas prefiro o fim do horário comercial, assim não esbarro em muita gente, aparecem muitos turistas por lá.
— Ele riu... — escutei o sussurro baixinho de no ouvido de San. Ela estava incrédula.
E eu também.
Será que eu era aquela pessoa que a internet tanto fala? O tipo charmoso que te faz rir e quando você vê já está dividindo a cama totalmente sem roupa.
🪭
O bom do K-Hot sempre foi a versatilidade dele. Em dado momento até uma pista de dança se abria e, geralmente, , eu e éramos as primeiras a se enfiar no meio de todo mundo para dançar. E assim estávamos nos divertindo, rindo e fazendo os três coreanos repetirem os passos de músicas do Furacão 2000 quando meus olhos bateram direto na entrada e encontraram a presença irritante do meu ex, seu irmão e a loira universitária que ele havia escolhido para ocupar meu lugar.
Dentre todos os bares em São Paulo. Dentre todos os dias da semana. Dentre todas as chances do universo, tínhamos que estar no mesmo lugar exatamente no mesmo dia, e principalmente quando eu aceitei o projeto “casamenteiro” (por falta de palavra melhor) das minhas amigas.
Escutei os comentários de e , talvez contando a Hongjoong o motivo do meu brilho ir sumindo assim de repente, logo quando ele e os outros dois estavam acertando o ritmo indo “na boquinha da garrafa”.
— Deixa ela... — aconselhou quando eu me afastei deles. Como a música havia acabado, foi possível eu escutar.
— Ela é assim. Daqui a pouco volta. — completou.
Assim que cheguei ao bar, Janaína, que havia sido mandada para lá, me deu uma careta. Todo mundo ali no K-Hot, do quadro de funcionários, sabia do meu histórico, afinal, eu tinha escolhido o bar para fazer a minha despedida de solteira tão marcante. Não demorou e ela me deu água com um copo cheio de gelo e meio limão espremido.
Um flash passou pela minha cabeça, como vinha sendo há algum tempo. Se alguém me dissesse naquela época que, no dia seguinte à minha despedida de solteira, eu iria descobrir a traição da forma mais absurda possível, eu jamais acreditaria. Estava tão cega pelos planos feitos, tão imersa numa realidade projetada somente para o bem estar dele que, mesmo tendo sinais e acreditando neles, eu só realmente me dei conta quando vi. E foi como ter um banho de água fria não só pelo fato, mas com a causa gerando consequências ainda irreparáveis.
Sentimentos são fáceis de serem construídos, as perspectivas que não são nenhum pouco frágeis assim. Elas demandam muita construção; e eu tive todas as minhas jogadas ao chão quando tudo foi exposto como uma mentira. Da eloquência ao refutável com apenas uma cena.
— Te mandaram aqui, foi? — resmunguei ao notar a presença de Hongjoong. A acidez da minha dualidade acabou por não deixar passar a adorável sensação da forma como ele chegou tão tático.
— Acho que foi mais cômodo, por que não culpar o novato que não te conhece, não é? — ele respondeu com um bom senso de humor.
— Bem pensado. Mas eu conheço a e a o suficiente para saber que elas só fariam isso se quisessem o seu fim.
— Ai! — levou a mão ao peito. — O que será que eu fiz a elas?
Acabei rindo da encenação dele e fui acompanhada pela melodia gostosa que ele emitia, chamado de “riso”. Hongjoong pediu uma água também e se sentou no banco ao meu lado.
— Então, o grisalho ali era seu noivo... — virei apenas o rosto para ele, encarando seus olhos arregalados. Ele ficou nervoso com a minha reação. — Se não quiser falar sobre isso...
— Tudo bem. — dei de ombros. Muito provavelmente ele já tinha escutado essa história. — Sim, ele foi meu noivo. E aquela do lado dele é a universitária que ele vai largar quando fizer 26 anos. — ri amarga, bebendo a água.
— Conheço uma história parecida. — outra vez o tom de humor. — Ou melhor, várias.
— Pois é. Talvez seja o ídolo dele. — me virei sutilmente para ele. — Se eu soubesse, teria encarnado a Rose antes e ocupado a porta inteira.
Mais uma vez ele riu de algo que eu disse sem graça nenhuma. Talvez seja porque ele tinha o bom senso de humor que me foi panfletado antes de nos conhecermos. Ou porque a referência foi mesmo muito boa. Eu não saberia definir.
Saberia apenas dizer que era gostoso ouvir a reação dele aos meus comentários e isso me encantava, principalmente se eu seguisse o movimento, mesmo que sutil, dos seus lábios.
— Escuta, se tem um Titanic naufragado, pode ter certeza que não é o seu. — ele ergueu o copo em minha direção, imitando o brinde famoso de Gatsby.
— Tarde demais para o discurso motivacional. — fiz o mesmo e brindamos as nossas bebidas. — Mas o chifre já está aqui para ser encerado.
— Eu enxergaria o chifre como o iceberg e você ter descoberto isso antes do casamento como o bote salva vidas. E se fosse mais pra frente, com filhos, vivendo uma vida de mãe de família? — percebi o tom trágico dele.
— Credo. Não chegaria a tanto. Rafael não quer filhos, eu também não. Por isso éramos o casal perfeito. — revirei os olhos com a lembrança e olhei brevemente para a direção da área VIP onde ele estava.
— Ainda bem que eram.
— Oi? — voltei a encará-lo depois de ouvir sua voz bem baixa em uma fala rápida.
— Não disse nada. — ele negou e eu não insisti, voltando a olhar para a mesma direção perturbadora. Eu não tinha raiva ou qualquer sentimento por ele, era apenas curiosidade de expectadora. — Você quer dar o troco nele, não quer?
A voz de Hongjoong estava muito próxima, exatamente porque ele estava com o rosto mais perto quando me virei em resposta à sua pergunta. Demorei um pouco para raciocinar, tentando buscar alguma ajuda interna para não parecer uma réplica perfeita da Tazmania dos Looney Tunes, porque ele estava começando a me fazer notá-lo como um tipo de hype, confundindo a química do meu cérebro.
— Eu queria. — consegui, afinal. — Queria muito uma vingança, cortar as roupas dele, quebrar todo o apartamento, riscar o carro dele, tudo o que me faria sair como a louca. Mas agora nada disso faz sentido, eu só quero me redescobrir. Na verdade, eu devo isso a mim.
— É um bom discurso. Se tratar bem é o primeiro passo. — outra vez ele ergueu o copo.
— Sabe o que é pior? Ele nunca me tratou mal... Mas como eu vou saber o que é ser tratada bem, não é mesmo? — ri amarga e virei o resto da água. — Se me trair era a forma de ele demonstrar o meu valor... — deixei a frase morrer enquanto contornei a borda do copo que voltou para o balcão.
Houve um silêncio, entre nós, no caso, porque a música continuou no mesmo volume e as pessoas continuaram a cantoria fora de ritmo. Senti o calor do corpo de Hongjoong mais perto e a respiração dele começou a ricochetear em minha orelha conforme ele colocou uma mecha grossa do meu cabelo para trás.
— Eu posso te mostrar. — disse sussurrando, com a pausa dele eu fechei os olhos, apertando as pálpebras. — Eu posso te mostrar o seu valor, se quiser. Aposto que se ele me ver saindo com você daqui e agora, você vai ver ele reagir.
— Mas eu não quero a reação dele. — rebati sem conseguir filtrar, virando o rosto rápido demais.
Nossos rostos ficaram perto. A ponta do nariz dele estava batendo no meu.
— E o que você quer, ? — Hongjoong perguntou e a voz neutra dele me desestabilizou.
— A sua reação. Não é você quem gosta de desafios? — tomei coragem.
Em resposta, Hongjoong apenas sorriu mostrando os dentes sutilmente antes de morder o lábio inferior enquanto levou uma das mãos até minha nuca, entrelaçando os dedos entre os fios do meu cabelo, sendo firme. Me perdi entre olhar para seus olhos e sua boca, acordando deste vácuo somente quando nossos lábios se chocaram e o beijo tomou uma intensidade pouco proporcional ao ambiente.
Ao se afastar, lento como um cafajeste camuflado de bom moço, Hongjoong foi soltando meu lábio devagar, finalizando todo o seu jogo indecente com beijinhos que saíram da minha boca trilhando um caminho até o pé do meu ouvido.
— Você quer ir embora daqui? — ele perguntou novamente na zona de perigo.
Eu apenas confirmei com um aceno positivo, mantendo o olhar preso ao dele.
— Vou pagar a nossa conta. — Hongjoong pegou o meu cartão de consumo em cima do balcão e estendeu a mão para me ajudar a descer do banco.
— E eu vou avisar eles que estamos indo, então. — disse no mesmo instante que me virei, saindo do espaço entre os bancos e ajeitando minha roupa. Infelizmente fui afobada demais e acabei esbarrando em alguém. — Me desculpe! — terminei de girar o corpo, ficando de frente com a pessoa, já me desculpando.
— Porra meu, você não presta atenção, não? — era o irmão mais novo do Rafael. Com o acidente eu acabei derrubando toda a bebida dele no chão e na roupa que ele usava. Dentre todo mundo naquele lugar... — Mas o que esperar de você, não é, ? — ele revirou os olhos ao reparar que era eu.
— Me desculpa, Ricardo. Não foi por querer-
— Ah, claro que não. Você não tinha outra forma de chamar a atenção do meu irmão, não é? — outra vez ele revirou os olhos e pelo seu jeito grosseiro, com a voz alta e chamando atenção, eu me encolhi no lugar.
Antes que eu pudesse tentar me defender novamente, já me sentindo ferver de raiva, Hongjoong se colocou na minha frente, como se estivesse me protegendo.
— Quem está chamando atenção é você. — escutei dizer firme, com a voz mais séria, e senti seu corpo todo retesado quando coloquei as mãos em sua cintura.
Ricardo o encarou de cima para baixo.
— Não cai na dela, não, parceiro... Essa aí é doida por uma vida fácil. — riu com deboche tentando me diminuir e eu fiquei nas pontas dos pés para responder ele, com Hongjoong tentando me segurar com os seus braços, quando Bravo surgiu ao lado de , dizendo antes de qualquer ação seguinte:
— Eu vou pedir para o senhor se retirar ou então serei obrigado a usar a força. — Bravo estava com a feição completamente fechada e também estava do mesmo jeito, de braços cruzados (Mingi estava junto dela, tentando passar qualquer credibilidade em seriedade, imitando a pose).
— Essa louca que me molha, quase me corta com o vidro, e eu que tenho que sair?
— Não vejo nenhuma louca aqui. O que eu vejo é um playboy da zona sul que tomou um banho de vodca barata e está dando um show histérico. — Hongjoong deu um passo à frente. — E ainda tentou intimidar uma mulher por uma coisa banal.
— Se você não me acompanhar agora, vou ser obrigado a tirá-lo à força. — Bravo repetiu, agora soando mais assustador como era.
Ricardo olhou para mim com os olhos estreitos e eu mostrei a língua para ele com uma careta (sim, completamente uma adulta muito bem protegida naquele momento). Ele olhou para Bravo e se virou, seguindo o segurança. Foi rápida a troca de olhares com Rafael, de onde estava, e seu irmão logo foi atrás para resolver mais um show que ele estava dando.
Somente quando eles já estavam sumindo das nossas vistas Hongjoong se afastou de mim, voltando a ficar de frente comigo. , porém, se adiantou:
— Você devia era ter metido o chute nesse infeliz. — ela me checou por inteira. — Está intacta por enquanto, não é?
! — arregalei os olhos e ela piscou para mim. — Sim... Tá tudo bem comigo. — disse baixo, parecendo uma criança. — Nós estamos indo, tá bom?
— Me avise quando estiver na sua casa. E você — se direcionou a Hongjoong, também apontando o dedo e sua feição intimidadora. —, se alguma coisa acontecer com a minha Polly Pocket, eu assumo um B.O de assassinato.
Neguei com a cabeça, achando um pouco de graça a forma que os olhos de Mingi se arregalaram — e a ameaça nem era com ele. Hongjoong moveu a cabeça em afirmação e uma breve reverência, colocando a mão na base da minha coluna antes de começarmos a caminhar para fora. Olhei uma última vez para trás, vendo minha amiga ser abraçada pela sua espécime de namorado, parecendo uma mãe orgulhosa da filha em seu primeiro dia de aula.
Me deixei ir, mal me dando conta de qualquer coisa, nem mesmo no infortúnio da área VIP ser no caminho do caixa. Obriguei minha mente diabólica a se concentrar nos sentimentos antecipados do que aconteceria comigo quando estivesse a sós com o querido que me levava embora naquele instante, numa espécie de “deixa a vida me levar”. E que vida, não é mesmo?
Foi quando ele terminou o pagamento da conta que apareceu afobada para me entregar minha bolsa. Não nos estendemos em conversa, ela apenas me deu um abraço e desejou que eu tivesse uma boa noite, que eu me permitisse ter, aliás. À porta, já prontos para sair, Hongjoong pegou em minha mão de uma forma serena, como se isso fosse o esperado e natural do momento; fiquei surpresa e ergui o rosto para ele, recebendo seu sorriso de lábios fechados, e antes de voltar a olhar para frente, vi pelo canto de olho que Rafael nos encarava de onde estava.
É, eu podia me permitir.
— O carro está no estacionamento. — Hongjoong disse para me dar uma direção e então caminhamos em silêncio.
Logo que entramos no estacionamento lateral ao K-Hot eu vi a Mercedes única de Rafael, com a placa que ele mesmo havia dado um jeito de montar para seguir seu nome e sobrenome — bem brega, sim —, e me deu uma inquietação conforme Hongjoong seguiu na direção do carro dele.
Dentre todos ali, estava ao lado da Mercedes azul de edição limitada.
Ri fraco comigo mesma e ele parou, já estávamos diante do veículo, me direcionando para o lado do passageiro. Hongjoong veio por trás de mim, a fim de abrir a porta de seu Audi sedan, e eu entrei, já afivelando o cinto de segurança. Antes de fechar a porta e dar a volta para o lado dele, recebi seu olhar genuinamente sereno, típico de alguém confiante que passava a mesma sensação. Depois de se colocar em seu lugar de motorista, ele deu a partida no motor e, olhando para o carro do nosso lado, com a mesma inquietação, eu tirei meu cinto.
— Espera um pouco! — pedi, já abrindo a porta.
Minha bolsa pequena estava em minhas mãos, tirei de dentro dela minha carteira de formato anatômico, tirando de dali uma moeda europeia, sobra da última viagem que fiz ao lado de Rafael. Impulsivamente e sem culpa, forcei a moeda contra a lataria da Mercedes desde o farol até a parte de trás, no lado do motorista. Depois disso, tirei da mesma carteira o meu cartão de visitas, deixando no vidro da porta, encaixado no vão.
Entrei novamente no carro de Hongjoong e ele me esperava com um dos muitos sorrisos daquela noite, apoiado no apoio de braço entre nossos dois bancos. Coloquei meu cinto, sendo observada por ele, e então lhe encarei, sendo eu a sorrir agora.
— Agora sim. — disse.
— Como se sente? — ele perguntou ainda me olhando com brilho nos olhos, o que me deixou com o coração acelerado, o corpo ansioso e toda desconcertada.
Olhei para frente, tomando o tempo para pensar em sua pergunta e me banhar das minhas emoções com um ato rebelde como o qual acabei fazendo pelo impulso — e pouco me importava se era algo infantil para a minha idade, eu podia ter feito muito pior quando o encontrei na casa de praia com a nova felizarda, porém escolhi me reter e apenas fingir que conseguiria lidar com a informação conforme o passar do tempo.
Acho que essa fase da revolta já passou. Agora eu realmente estava apenas precisando me reencontrar.
— Me sinto bem. — virei o rosto para ele, não contendo em sorrir e mostrar os dentes. Hongjoong sustentou meu olhar ainda com a mesma feição, o que me levou a sentir um bem tão grande, a ponto de cair em gargalhada com ele.
— Parabéns. — ele disse quando já começamos a cessar o riso, levando a mão para meu rosto e afastando o cabelo. — Podemos ir agora?
Apenas assenti, sem me desprender de seu olhar. Em contrapartida, Hongjoong ainda deixou um beijo rápido em meus lábios, fazendo minha mente trabalhar na sensação gostosa que estava sendo ter sua boca na minha.
E novamente as antecipações se expressaram em meu corpo fazendo com que meus pelos se arrepiassem e eu me colocasse mais certa ainda da decisão daquela noite.
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— Seja bem-vinda.
A porta foi aberta com a digital dele e eu tive a passagem para entrar primeiro. O prédio que Hongjoong morava na Vila Mariana, parte da zona sul, já era lindo por fora e causava um impacto por sua arquitetura de onipresença, por dentro era uma extensão em beleza. E parecia ser confortável, acima de tudo. Me peguei em questionamentos de como ele, sendo apenas um advogado, tinha todo aquele luxo se não fosse algo vindo de berço; ele não devia ser muito mais velho que eu, aliás, portanto, não tinha tanto tempo assim de carreira.
— Com licença. — entrei e, assim que botei meus pés para dentro, luzes se acenderam pela minha presença. Não era falta de costume, afinal, meus pais também tinham e me deram acesso a todo tipo de luxo, a diferença era que vindo de Hongjoong qualquer coisa estava me deixando maravilhada desta forma, como se eu estivesse descobrindo um novo mundo, uma nova Terra do Nunca com Peter.
— Eu disse que gosto da área criminalista, não pelos casos em si. — me virei para trás, Hongjoong colocava a chave em cima de um recipiente próprio no aparador ao lado da porta. Me lembrei da nossa conversa mais cedo no Fórum.
— Ah... — foi tudo o que consegui dizer, sem saber como julgar aquilo ou me dar conta de que pareceu que ele estava dentro da minha mente, lendo meus pensamentos.
— Estou brincando. — ele veio até mim rindo. — Trabalhei muito para chegar aqui.
— No quinto andar? — comentei com humor, mencionando o número em que ficava seu apartamento. Ele riu comigo.
— É. — franziu o nariz, tirando a jaqueta que usava para colocar também no aparador. — Posso? — se referiu à minha bolsa.
— Sim. — entreguei para ele e girei nos meus próprios calcanhares, decidida a quebrar o nervosismo indo ver os detalhes do ambiente mais de perto.
À parede lateral esquerda da entrada já estava a cozinha, feita no estilo americana, com um balcão enorme dividindo o ambiente da sala. O ponto máximo era a parede inteira de vidro do teto ao chão, dando uma visão ampla da grande São Paulo a noite. Toda a decoração do apartamento era sutil e me parecia ser uma harmonia perfeita com o dono.
— Você quer beber alguma coisa? — senti sua voz tão perto quanto seu corpo e ao me virar esbarrei as mãos em seu peito, espalmando elas por cima da camiseta. Olhei dali para seu rosto, demorando mais na boca tão perto.
Tive uma breve sensação de saudade daquela parte em específico.
— O que você tem a me oferecer? — dedilhei alguns dígitos por cima do tecido que ele vestia. Não tive nenhuma resposta corporal dele, como se estivesse blindado contra mim, e isso me deixou intrigada.
— Aceita um vinho?
— Se for branco seco, eu aceito sim. Não quero uma dor de cabeça amanhã. — recolhi minhas mãos sorrindo sem mostrar os dentes.
Hongjoong manteve a mesma expressão e se dirigiu para onde estava uma pequena adega no local que se fazia a sala de jantar, dividida em dois ambientes com a sala de estar. Caminhei direto para perto de sua estante, curiando suas fotos expostas. Não tinha muita coisa, apenas algumas imagens bem pessoais de pessoas que compreendi serem familiares ou amigos bem próximos — afinal, ninguém iria expor pessoas desconhecidas em quadros numa estante —, mas teve um em específico que me chamou muito a atenção e eu não pude evitar o ímpeto de pegar com as mãos.
Era um quadro pequeno, mas não tinha uma foto, dentro dele havia um pedaço de papel rasgado à mão com um desenho específico: uma peça inteira de um macacão. Parecia um croqui. Com um Q mais infantil, porém.
— É da Sarang. — levei um susto ao colocar o quadro de volta em seu lugar, Hongjoong estava do meu lado com duas taças em mãos. — A irmãzinha do San... — me ofereceu uma.
— Ah...
— Ela fez quando descobriu que eu tenho um projeto de uma linha de roupas. — completou.
Agora tudo pareceu fazer mais sentido. Talvez ele não fosse um daqueles advogados que somente uma consultoria seria paga com o preenchimento de muitos zeros depois de um número entre um e nove. Hongjoong apenas era um homem de muitos negócios.
Não que isso fosse da minha conta, claro, mas é que às vezes a curiosidade em uma conta matemática que não fecha bate mais alto. E eu realmente fiquei preocupada de que ele fosse um advogadozinho criminalista que o carro e a casa tivessem sido troca de trabalho para algum traficante muito do “poderoso”.
Com essa nova descoberta ele se tornou muito mais interessante, atraente, sexy...
— E você enquadrou o desenho... — achei fofo, bebericando o vinho.
— Ela é o mais próximo que eu vou ter de uma criança. — ele deu de ombros, parecendo desconcertado por ter sido descoberto.
— É uma boa justificativa. — indiquei usando o meu indicador também. — fala bastante dela. Já deu para notar que vocês todos são rendidos pela irmãzinha do San.
— No meu caso, eu sou rendido por quem tem valor. — a resposta dele me atravessou como um alerta e eu não contive o choque, arregalando os olhos e bebendo mais do vinho para disfarçar.
— Você realmente está empenhado. — levei a taça para a estante, colocando as mãos para trás do corpo. Com dois goles eu já estava sentindo uma quentura, uma necessidade de contato. Mas estava com vergonha de pedir. — Até parece estar à vontade com o fato da estranha que ouviu pedir que jogasse o leque na cara dela hoje no Fórum acabou sendo a mesma que seus amigos queriam te arrumar fora do Tinder.
— Eu gostei do fato, da surpresa. Você não? — Hongjoong colocou a taça dele ao lado da minha, chegando perto de mim, finalmente cortando a distância inconveniente. Ele inclinou minha cabeça para trás segurando meu queixo. — Se não fosse essa trama toda, eu ia ficar morrendo de vontade que o Kléber fizesse uma nova besteira para eu te encontrar naquele Fórum.
— Ainda bem que aconteceu, então. Porque eu não tenho a menor pretensão de voltar para aquele lugar novamente. — ri nasalado.
Hongjoong olhou dos meus olhos para a minha boca, demorando de um para o outro nesse trajeto curto.
Eu acabei entreabrindo os lábios para soltar o ar que se prendeu em meu peito.
— Eu daria meu jeito de te encontrar, Guttenberg. — ele disse em sussurro.
— Estou valendo tanto assim? — soprei outro riso nasalado.
Pela primeira vez desde o nosso primeiro encontro, Hongjoong escondeu o sorriso e não foi sutil, não foi pela forma serena dele de camuflá-lo, ele “fechou a cara”, recolhendo a mão.
Algo nessa reação dele me causou um fervor a mais, uma falta de ar diferente.
Hongjoong bebeu todo o resto de seu vinho e, sem qualquer previsão ou preparo, me puxou no curto espaço que tínhamos nos distanciando. Sua destra preencheu a lateral do meu pescoço e a outra mão livre me segurou pela cintura. Seus olhos assumiram uma opacidade nova e ficaram tão escuros quanto o céu do lado de fora, sem considerar as estrelas. No caso da cidade de São Paulo, elas se escondiam atrás das nuvens de poluição, no olhar dele as estrelas haviam sido varridas numa nebulosidade antecedente a uma tempestade.
E o trovão ecoou entre nós dois no momento seguinte que ele me beijou, o reflexo do choque entre nossas bocas.
Sem fôlego quando ele nos afastou minimamente, escutei Hongjoong proferir contra meus lábios:
— Você quer saber o quanto está valendo, ?
Senti meu corpo todo corresponder em afirmação, soltando um gemido sôfrego e arrastado pelos lábios entreabertos.
— Você pode começar pedindo, então, . — a mão que estava em meu pescoço se fechou mais e eu ousei abrir os olhos que estavam fechados, sentindo que isso não foi uma boa ideia (na verdade foi ótima, vista por outro ângulo). Algo havia possuído o estado de espírito dele.
E não foi só o jeito que ele estava me segurando contra seu corpo, afunilando qualquer chance de eu me safar e eu sequer queria. O cheiro dele por baixo do perfume me chamou muito mais, me inebriando com uma hipnose olfativa. Isso me fez encarar certa dificuldade para respondê-lo e para isso, sem filtro, eu busquei a força direto do fogo que se alastrava pelos extremos do meu corpo.
No mesmo momento que eu tinha aberto os olhos e visto sua nova face, na atmosfera que nos abraçava, eu fechei. Abri as pálpebras uma segunda vez, agora sendo mais decidida, embora fosse difícil. Cerrei os olhos e travei a mandíbula, endireitando o rosto e erguendo somente o olhar para enxergar o dele.
Se era uma submissa que ele queria, uma submissa eu poderia ser.
— Por favor. — disse em um sopro quase tão fraco quanto minhas pernas, espalmando uma mão em seu peito.
Ele riu melodicamente, um riso curto que já havia me entorpecido mais cedo e mesmo assim não falhou em repetir o efeito sobre mim. Me beijar novamente foi algo que eu já esperava receber dele, mas fiquei sem fôlego durante esse processo quando Hongjoong soltou de mim e causou um frio na minha barriga, frio esse que foi exteriorizado em outro gemido no momento que ele voltou a segurar firme em minha cintura e puxou minha perna para a lateral de seu corpo, forçando-me a subir em seu colo.
Levei minhas duas mãos para o rosto dele, mesmo ofegante não parti nosso beijo, meu desejo era maior do que qualquer outra coisa e estar com as nossas bocas coladas no ritmo que ia se tornando frenético passou a ser uma necessidade como a tão simples de respirar. Ao me ter firme presa com as pernas enlaçadas no seu tronco, Hongjoong se movimentou, conhecendo tanto sua casa como devia conhecer, vi que estávamos cruzando um corredor não muito extenso quando nosso beijo teve uma pausa e ele passou a carimbar seus lábios em meu pescoço e colo.
A porta do quarto estava aberta e logo que entramos as luzes da sanca se acenderam, não era uma iluminação forte, deixando o ambiente ainda mais estético para nosso momento. A decoração do quarto, pelo o pouco que eu pude focar, seguia o mesmo conceito minimalista de todo o apartamento, e eu me peguei pensando como seria engraçado o meu body de lingerie rosa colorindo o ambiente decorado em preto e mogno. E assim como a sala, o quarto tinha toda uma parede em vidro. O que eu achei extremamente sexy para alimentar ainda mais os meus sentidos eróticos.
Fui jogada contra a cama, tendo-o em cima de mim e ainda o prendendo com as minhas pernas. Hongjoong levou as duas mãos no colchão na altura da minha cabeça, sendo uma de cada lado, e tomou uma certa distância. A feição não voltou ao brilho antigo, ele continuava denso, mas sorria levianamente.
— Pra te mostrar todo o seu valor, , eu preciso me aprofundar mais em você. Fazer um estudo de caso. — iniciou. — Hoje nós vamos fazer algo mais raso, eu vou te mostrar o azar do Rafael em ter trocado uma gostosa como você. Essa noite você vai saber exatamente o que ele perdeu. E o que eu ganhei.
Senti meus extremos se eriçarem com a forma a qual ele proferiu as palavras, cuspindo uma a uma em alimento ao meu tesão.
Depois de outro beijo avassalador, Hongjoong se afastou mais, erguendo o tronco e me olhando por alguns segundos em silêncio antes de tirar sua camiseta, jogando-a para qualquer canto. Voltou a me cobrir com seu corpo e eu me vi atrasada na imagem de sua tatuagem na parte interna do antebraço — deixando-o anos luz mais gostoso — quando as mãos voltaram para o colchão servindo de sustento para seu corpo. Por eu ter virado o rosto para enxergar o desenho em sua pele, Hongjoong voltou com os lábios para perto, fazendo minha mandíbula e orelha de alvos.
Minha orelha, a parte mais sensível do meu corpo.
Certamente eu soltaria um gemido sôfrego. O que me fez perceber que isso seria algo a se tornar repetitivo naquele processo de me entregar ao estranho gostoso do leque vermelho que o destino deu um jeito de fazer eu reencontrar no fim do dia.
— Você com certeza não sabe o quão deliciosa é, . — sussurrou contra meu ouvido, levando uma mão na minha silhueta e apertando minha cintura. Com esse ato nada sutil, eu, que mantinha meus olhos mais fechados do que abertos, usei de uma concentração desconhecida para focar minha visão no rosto dele, fechando mais ainda as minhas pernas em seu tronco.
— Estou ansiosa pela sua demonstração, doutor Kim. — ousei levar meus lábios em seu queixo, conseguindo movimentar meus braços para cima e segurar seu rosto com as duas mãos.
— Espero que fique atenta aos detalhes.
Rapidamente, outra vez me pegando de surpresa, Hongjoong nos inverteu de posição, me puxando para seu colo conforme ele se sentou na beirada da cama. Dobrei meus joelhos e mantive as mãos em seu rosto, ao passo que nossos olhares se encontraram e ele me manteve vidrada em suas orbes, apenas sentindo seus dedos ágeis puxarem de dentro do cós do jeans a barra da minha camiseta e se adentrarem ali, encontrando a renda do meu body.
Satisfeita com a reação dos lábios dele se fechando em um bico, eu ri, puxando seu rosto para nossas bocas se encaixarem em repetição. A sensação da língua de Hongjoong se unindo com a minha causava uma comoção cada vez maior, sendo refletida no meu íntimo.
Ele passeou as mãos por cima do meu body, não demorando a desistir e puxar minha camiseta para cima. Não reparei se o rumo dela foi o mesmo da dele. Os olhos de Hongjoong se fixaram em meus seios, que basicamente não tinham cobertura alguma devido ao modelo da renda. Sua língua, antes preenchendo os espaços dentro da minha boca, passou por seus lábios, que então foram levados para o meu pescoço.
Não me contive, segurando o cabelo dele com toda a minha força. O choque elétrico que meu corpo gerou aos chupões recebidos fez com que eu nem me importasse nas manchas que surgiram depois, seria uma preocupação para a do futuro lidar com muita maquiagem. No momento eu estava mais preocupada em ser sugada por ele, adorada por seus toques e preenchida pelos seus beijos, com uma cura carnal aos meus desejos, do que qualquer outra coisa mais banal.
Sentindo que meu estado de espírito já estava totalmente entregue ao nosso ato libertino, não segurei por muito tempo o controle do meu corpo e forcei mais o aperto de minhas pernas, aumentando a profundidade do encontro das nossas partes íntimas. Eu já conseguia sentir Hongjoong se excitando e mesmo com a distância de duas calças jeans, a sensação já podia ser muito palpável. E da mesma forma que eu rebolei em seu colo com a intenção mais impura possível, segurando em minha cintura ele me forçou para baixo, alimentando a mesma ideia.
As mãos que eu tinha em seu rosto foram para o meu cinto e eu mesma comecei a tirar, sendo surpreendida outra vez pela rapidez dele em me devolver de costas à cama.
— Você não vai se esforçar hoje, senhorita. — disse sério ao se colocar por cima de mim com as duas pernas colocadas uma de cada lado do meu corpo, me fechando quase que em uma chave de pernas (muito bom, inclusive). — O seu único esforço vai ser me implorar. E eu espero que implore por mais.
Engoli a seco com a promessa.
Hongjoong abriu o meu cinto, depois abriu meu zíper e antes de tirar minha calça se livrou do meu par de botas de cano curto e salto. A minha calça e meias foram parar em algum canto por aí, talvez eu até fosse as encontrar em meu closet, não iria procurar agora. Então eu fiquei mais exposta, vestindo apenas o body íntimo de renda rosa e a minha vontade de ser fodida pelo querido advogado que havia ganhado de mim em um processo mais cedo.
Sorrindo de uma forma sacana, Hongjoong se distanciou mais do que das outras vezes, agora eu estava livre se quisesse fugir, inclusive. Mas suas promessas foram tão tentadoras e a prova vinha sendo tão satisfatória, que eu não daria esse gosto a qualquer que fosse o desejo contrário. Ele se despiu de sapatos, meias e calça; eu estava deitada em sua cama e fui puxada pelas pernas mais para baixo no instante que intencionei me tocar. Hongjoong se apoiou com o joelho na cama e, me beijando com a mesma sagacidade e habilidade do flautista de Hamelin, rasgou todo o meu body para tirá-lo do meu corpo.
Acabei mordendo seu lábio e o puxando quando foi se afastar ao partir nosso beijo.
— Me desculpa, meu bem, mas é que você sem ele fica muito melhor. — disse rindo.
Arfei não pelo item, mas pela minha humilde sobra de sanidade.
Não parecia ser nem o início da minha jornada e pareceu que eu sairia dali direto para um manicômio quando Hongjoong me deu um selinho e desceu para meus seios, preenchendo sua boca com um e apertando o bico do outro. Foi meu primeiro grito ensandecido, minha primeira reação histérica que não pude manter interna. Apertei sua nuca, mas não por muito tempo, pois ele se deu conta da minha liberdade e usou o mesmo tecido rasgado da minha lingerie para prender meus braços acima da minha cabeça, apertando o nó em meus punhos.
— Você só tem que sentir e pra isso não precisa tocar. — me advertiu grosso antes de voltar a me beijar e me ludibriar com esse joguinho para retornar aos meus seios.
A submissão sempre foi fácil para mim, mas com ele estava sendo praticamente algo comum, algo sem qualquer esforço. Hongjoong poderia me virar do avesso que eu não ia reclamar, pelo contrário, e ele assim o fez. Não literalmente.
Em dado momento fui virada de costas e os beijos dele saíram da minha orelha, “caminhando” por minha nuca — que ele expôs ao afastar meus cabelos —, passando por minha coluna e indo até me puxar pelos joelhos, forçando-me a empinar a bunda, assim ele poderia me fazer transcender em sensações que eu estava descobrindo serem novas com um oral do qual eu correspondia com gemidos e grunhidos.
Tentei abafar o som histérico ficando com o rosto afundado no colchão, mas ele não gostou e foi reativo ao me puxar pelo cabelo para virar o rosto para “fora” do que estava lhe cobrindo.
— Eu quero ouvir, ... Você merece se ouvir assim, sabia? — a voz dele estava em um tom aveludado quando sua língua não se ocupava mais em mim, sendo contrastante com a forma nada carinhosa que segurava em meu rosto com apenas uma mão, enquanto a outra brincava dentro de mim com dedos nada simbólicos. — É tão gostoso te ouvir gemendo, talvez eu queira fazer isso por mais tempo.
Nem pensar!
Reclamei em gemido, porque era a única coisa que saía de mim. Seria tortuoso demais esperar.
— Você está com pressa? Qualquer coisa é só pedir, querida...
A voz melódica como o riso me arrepiou lugares que eu nem imaginava mais existir.
Então os dedos saíram de mim em sopetão, a mão que segurava meu rosto sumiu e ele não me cobria mais com o calor de seu corpo. Levou um tempo entre seu afastamento e o barulho do pacote da camisinha sendo aberto, pude ter uma visão bem parcial do tecido preto da sua boxer ser jogado por aí. Contudo, não demorou muito para suas mãos estarem sobre mim novamente, me puxando pelo quadril e deixando meu corpo mais ou menos de lado. Nossos olhares se cruzaram e eu arfei somente com esse encontro.
— Algum pedido, senhorita? — ele sorriu totalmente cafajeste para mim.
Considerando todo o perfil dele até aqui, raciocinei rápido:
— Com força, por favor.
O brilho nos olhos de Hongjoong se acendeu como luzes de natal. Ele não sorria mais mostrando os dentes, mas o que tinha em seu rosto claramente me transportou para uma outra fase, um outro hall de lubrificações e anseios.
Uma forma bem lúdica de dizer que eu estava transbordando em tesão.
— Como quiser. — ele disse, se posicionando a entrar em mim devagar, tortuoso e impiedoso. — Mas vamos com calma, sim?
— Por favor... — tentei implorar. Não tinha nada de calma naquele momento.
Ainda lento, com o riso frouxo e o olhar novamente denso, Hongjoong deslizou seu membro por inteiro em minha entrada, me deixando desestabilizada com esse primeiro contato. Insuficiente, porém. Acredito que meu gemido foi suficiente para que ele tivesse o mínimo de piedade e aumentasse um pouco mais de sua velocidade, ainda sendo intenso. Intensidade que foi dando espaço para a força que eu pedi conforme ele ia mais rápido.
A terapia de ser fodida com as mãos atadas foi algo inédito e extremamente afrodisíaco, ainda que eu estivesse altamente tentada a me soltar e cravar as mãos em qualquer centímetro de pele possível. Contudo, eu quis que ele fizesse de mim o que quisesse.
Depois de algumas — várias — estocadas levianas, Hongjoong já estava impondo a força que eu solicitei. Em uma olhada rápida para a parede de vidro, eu consegui enxergar, mesmo que pouco, do nosso reflexo. E foi lindo, foi absurdamente gostoso ter tal cena sob meus olhos enquanto ele me chamava de gostosa e me fazia uma vadia. Dali por diante eu não aceitaria menos, não me enxergaria em nada abaixo disso.
De uma vadia gostosa.
Uma vadia gostosa que estava recebendo tapas deliciosos e gastava a voz gemendo o novo nome.
Eu fui virada de frente, pedi por tapas no rosto e gemi de satisfação. E o momento ápice foi quando Hongjoong se sentou e me trouxe para seu colo, momento em que eu jamais diria que viveria. Ainda com os punhos amarrados em minha renda passei os braços por cima dos ombros dele e tive a ajuda de suas mãos em minha cintura para nos encaixarmos novamente; desta vez eu fui lenta, mesmo que as mãos dele servissem para ditar os meus próprios movimentos, eu fui como quis e ele me recebeu como pôde. De bom agrado, na real.
Tombando a cabeça para trás, me senti como deveria naquele instante, num prazer talvez até então não alcançado. Toda a atmosfera de novidade estava me levando a um estado de espírito novo, renovando minhas energias e confiança. Hongjoong me insultava, me acariciava com palavras, as mãos e a boca, e eu diria que com certeza teria marcas pelos próximos dias, principalmente em meus seios que mal se viam livres dele.
Eu já estava me desfazendo em um orgasmo delicioso quando ouvi meu nome ser gritado pela voz dele, que ficou rouca por tanto que chamamos um ao outro, e suas mãos se cravaram mais firmes em minha cintura e pescoço, uma em cada espaço para me ter por todas as partes. A camisinha foi preenchida por ele assim como minha boca recebeu a sua língua e nós dois gememos um contra o outro no momento final, no último suspiro e na minha última boa rebolada em seu colo.
Lentamente finalizei o beijo, tendo meu lábio sugado por ele; consegui dobrar os cotovelos e segurei em seus cabelos com as duas mãos, um tanto sem jeito, mas ainda assim sendo possível. Abri meus olhos com certa preguiça e sorri fraquinho, pela falta de forças mesmo, quando encarei as orbes dele. Hongjoong tinha um bico gostoso em seus lábios, o qual eu selei.
— Uau. — ele disse primeiro e baixo. — Você está bem? — perguntou e eu assenti, me agraciando com as carícias em minha cintura.
— Como não estar? — ri nasalado.
Completamente o oposto de como estávamos a pouco, Hongjoong me deitou na cama cuidadosamente, selando meus lábios algumas vezes antes de desatar o nó na renda que me prendia. Beijou meus punhos e jogou o pedaço de tecido para longe. Em um ato de reflexo, eu acaricei o rosto dele, tendo a palma da minha mão beijada. Ele se afastou novamente e eu rolei na cama puxando o lençol e o enrolando em meu corpo, senti que algo em mim havia mudado.
— Por que está se escondendo? — logo ele retornou e eu me assustei. Atrás de si, a porta que antes estava fechada agora estava aberta e a luz acesa, uma claridade maior. — Você não vai fugir de mim, .
— Mas eu estou bem aqui. — arqueei as sobrancelhas.
Hongjoong veio até a cama, tirando o lençol de mim e me pegando em seu colo.
— É assim que eu quero você hoje. — disse beijando minha bochecha.
Entramos no banheiro e eu tive outra grande surpresa, a banheira ficava diante de uma parede de vidro. E ela já estava basicamente cheia — salientando para mim que me perdi demais em mim quando ele saiu do ambiente minutos antes. Ele me colocou na beirada da hidromassagem e entramos juntos, eu sendo puxada para sentar entre suas pernas.
— Eu quero te levar para jantar, . — Hongjoong disse em minha orelha e eu fechei os olhos com o arrepio gostoso.
— Geralmente é o jantar primeiro e o sexo depois. — ri fazendo uma careta.
— Mas quem disse que não saímos para jantar hoje? — ele entrou na rede de humor. — Agora vem a sobremesa.
Ri com ele e, depois dele afastar meu cabelo, deixando um lado da minha nuca mais exposta, deitei a cabeça em seu ombro, sentindo minhas costas estarem completamente apoiadas em seu peitoral.
— Eu aceito sair para jantar com você. — recebi um beijinho na têmpora como resposta. — Mas com uma condição. — mordi o lábio, encarando a vista lá fora e agradecendo à santa tecnologia que permitia que não fôssemos vistos, considerando também a altura.
— Você quer barganhar um jantar comigo depois de perder a voz chamando meu nome?
— Não é bem assim... — fiz uma careta. — A minha condição é simples. — poupei o riso sapeca pela lembrança que me acometeu.
— Qual é? — ele apoiou o queixo em meu ombro.
— Você precisa me contar que caralhos de história é a do leque vermelho.
Demorou um tempo, mas Hongjoong explodiu em gargalhada, deixando beijos na parte exposta do meu pescoço e ombro antes de se aproximar da minha orelha para dizer:
— Você vai saber um dia.




FIM.



Nota da Daphne: Olha, sinceramente, esse foi o maior surto deste trio de autoras até agora. Tudo culpa do show do Ateez (e da Ilane). Então se você chegou até aqui, obrigada por ler!
Nota da Ilane: Eu sou inocente.
Nota da M-Hobi: Eu geralmente não sei o que dizer no fim das minhas histórias, mas nessa aqui eu quero deixar uma breve mensagem.
FOI TUDO CULPA DA ILANE. E DO ATEEZ.
FOI TUDO CULPA DA ILANE NO SHOW DO ATEEZ.
É isso, fim. Beijos.



Nota da beta: Bem, o Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

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