Postada em: 31/12/2017

Capítulo Único

‘Cause, baby, I’ve been bad, but the heavens forgave me. You don’t need to ask ‘cause I’m already there.


já estava na janela quando o carro de seus vizinhos estacionou na calçada. Ele os observou descer do veículo, um a um, com algumas malas, seus olhos focando principalmente na garota que o ignorava com todas as suas forças, mesmo que sentisse seus olhos sobre ela. Desejou que olhasse, que deixasse seu orgulho de lado e o encarasse na janela, assim veria todo o arrependimento, dor e amor que ele sentia. Mas o olhar dela não chegou nem perto de vacilar. Não depois de tudo que ele a fez passar há uma semana.
Quando ela pisou na varanda, o privando de sua visão, se sentiu vazio. Da mesma maneira que se sentira durante todos aqueles dias em que estivera longe. Não gostava de admitir, mas havia realmente passado dos limites dessa vez. Tinha vergonha de si mesmo. Eles namoravam há um ano e oito meses, eram melhores amigos há mais de dez, e, ainda assim, não achava que conseguiria olhá-la nos olhos.
30 minutos depois, cada um se encontrava em seu quarto, repassando a memória que mais os atormentava naquele momento. Poucos metros os separavam, mas fez questão de manter qualquer janela fechada naquele dia e também faria nos próximos a vir. Havia acabado de voltar de uma viagem que antes lhe prometia descanso, mas nunca se sentira tão exausta. Mesmo que fechasse os olhos para tentar dormir, seu vizinho invadia seus pensamentos, a machucava e a confortava ao mesmo tempo até que seu cérebro decidisse lhe dar um pouco de paz por algumas horas.
Durante as outras 19 horas, talvez 18 se tivesse sorte, ele estava de volta. Ela tentava lembrar de algum momento de sua vida em que ele não estivesse lá, na tentativa de se acostumar com a ideia, mas não achava nenhum. Seu primeiro crush, as quedas de bicicleta, primeira menstruação, escola nova, as brigas e as pazes, tudo tinha a cara de ao canto. Quando estavam bem, aquilo lhe parecia a coisa mais adorável do mundo. Já em momentos como aquele, desejava nunca ter se mudado para aquele bairro doze anos atrás. E houvera momentos como aquele. Talvez não causados por situações tão graves, mas a dor em seu peito era praticamente a mesma. Não era a primeira e tinha medo de não ser a última vez, por isso sentia tanto cansaço. Tinha medo de deixar que aquele ciclo voltasse a se repetir novamente.
E enquanto ela pensava em alternativas para não deixar aquilo acontecer, tentava bolar algo para conquista-la de volta. Faltavam cinco dias para o ano novo e esse era o tempo que tinha. Uma de suas promessas para os novos 365 dias por vir era parar de agir daquela maneira descontrolada e impulsiva, pensar antes de tomar alguma decisão, confiar – e confiar de verdade! – naquilo que tinha ao seu lado. Em momento algum pensou ser tarde demais. Eles eram bons demais juntos para terminar por conta de uma crise de ciúmes. Eles eram para a vida inteira.
Com aquilo em mente, ele correu para o banho. Vestiu algumas de suas melhores roupas, incluindo uma camisa social que duvidava ter usado mais de duas vezes. Seu cabelo foi cuidadosamente arrumado para parecer despojado e sexy, como sabia que ela gostava, e seu corpo foi banhado pelo perfume que ganhara de presente mais cedo naquele ano. Levaria para jantar, mesmo que tivesse que insistir por horas, mesmo que fosse o único a falar, precisava apenas de sua presença. Com um pouco de esforço, ela finalmente cederia ao encanto daquela noite e o perdoaria. faria valer aquele perdão. Dessa vez, ele realmente o faria.
Mas, para isso, teria que conseguir chegar até ela em primeiro lugar, ação que se mostrou um pouco difícil.
— Eu só preciso conversar um pouco com ela, Johnatan, por favor! — implorou para o seu sogro (pois se recusava a colocar um ex antes), já considerando a ideia de se ajoelhar aos seus pés.
— Ela não quer te ver, , o que eu posso fazer?
— Me deixar entrar seria um começo...
— Eu recebi ordens diretas para não deixar isso acontecer. O que você fez foi bem sério, rapaz. Você envergonhou toda a nossa família. Dê um tempo a , tá bom? — Johnatan sugeriu, com pena do rapaz a sua frente, mas com mais pena ainda da filha trancada em seu quarto no andar de cima.
— Eu dei um tempo! Nós não nos falamos há três dias. Ela não atende minhas ligações, não responde as minhas mensagens, me bloqueou em toda rede social existente.
— Isso não é dar um tempo, é infernizar a vida dela. Como espera que ela esfrie a cabeça se não a deixa te esquecer por um momento sequer? Vá para casa, . Vocês podem conversar outro dia. — finalizou, já fechando a porta que foi parada pelo pé do garoto.
Por favor. — implorou uma última vez, em seus olhos o desespero de não conseguir vê-la.
— Volte outra hora, .
E então a porta se fechou, deixando o rapaz desolado e frustrado do lado de fora. descontou sua raiva no simples buquê de flores em sua mão, jogando o presente com força contra o chão apenas para recolher sua bagunça alguns segundos depois, torcendo que ninguém tivesse visto aquilo.
Motivado a conversar com a namorada ainda naquele dia, ele desceu pela varanda e deu a volta pelo jardim até chegar ao lado da casa. Olhou rapidamente para a casa da árvore que havia sido quase que completamente tomada pelas crianças do bairro, mas focou na janela que sabia ser do quarto dela. Em todos aqueles anos de amizade, já a havia atravessado um bom número de vezes. Recolheu algumas pedrinhas do gramado e se dedicou a jogá-las no vidro fechado. Parando para pensar, percebeu que aquela situação era ainda melhor, consideravelmente mais romântica. Ela só precisava afastar as cortinas e ela o faria, é claro que sim.
Porém, um punhado de pedrinhas depois, nenhum sinal de vida foi detectado, nem um pequeno balançar de cortinas sequer.
Ele só desistiu cerca de 40 minutos depois, quando seu braço já doía e as esperanças se esvaneceram completamente. Se sentindo estúpido, finalmente voltou para a sua casa e se trancou em seu quarto. Tinha planos para fazer.

— Então... O que aconteceu? — perguntou, sentando confortavelmente na cama da amiga.
Estava visitando que acabara de chegar de uma semana de viagem para São Francisco, onde passara o natal com a família. Ambas haviam acabado de terminar uma deliciosa refeição e agora a primeira tentava arrancar as últimas fofocas. Depois de ouvir reclamar durante dias que a namorada estava evitando qualquer contato com ele, estava subindo pelas paredes de curiosidade, especialmente depois do próprio se recusar a contar o que houve.
— Só mais uma das crises do , dessa vez multiplicada por dez. — respondeu, se jogando ao seu lado e agarrando um travesseiro para abraçar.
— Parece sério, o que ele fez? — voltou a perguntar, mas a hesitação da garota ao seu lado lhe deu o spoiler de que talvez não ficasse sabendo de nada naquela noite.
— Eu acho melhor deixar isso apenas entre eu e ele, . Não é a minha história para contar, apesar de eu estar muito mais envolvida nela do que gostaria.
bufou, revirando os olhos.
— Ah, qual é! Todo mundo já cansou de assistir as brigas e pazes constantes de vocês dois, não pode ser tão ruim assim. Eu preciso saber!
— Não dessa vez, meu amor. — concluiu com um sorriso que a amiga interpretou como maldoso.
— Tudo bem, tudo bem. — ergueu os ombros, tentando dar a volta por cima. — Logo vocês vão voltar e eventualmente alguém vai deixar escapar o que rolou.
— Não tenho tanta certeza sobre isso...
— Ah, , por favor, né? — disse rindo. Ficou realmente preocupada quando uma segunda risada não seguiu a sua. — Você não tá falando sério.
Não podia estar. Não em sua cabeça, pelo menos. Eram a e o , eles brigavam, terminavam um par de vezes por ano, mas sempre acabavam juntos novamente, cada vez mais conectados. Podia dizer que estava até acostumada com conversas daquele tipo, com exceção de que geralmente sabia o que um dos lados havia feito, as vezes tinha até presenciado. No entanto, olhando para a sua melhor amiga naquele momento, pôde ver de que dessa vez era diferente.
— Eu não sei, , eu tô tão confusa! — exclamou, afundando sua face no travesseiro por alguns segundos. — E o pior é que ele não me deixa esfriar a cabeça para pensar com clareza. Ele me liga o tempo todo, envia mensagens e quando eu não respondo, liga para os meus pais. Hoje mais cedo apareceu aqui na porta de casa, meu pai não deixou ele entrar e quer saber o que ele fez? Decidiu ser uma boa ideia passar uma hora jogando pedras na minha janela.
— Caraca... E você não deu as caras nenhuma vez?
negou.
— Eu me recuso a correr de volta para os braços dele na primeira oportunidade como já fiz tantas vezes. Simplesmente não posso.
suspirou, levando sua mão até o cabelo da amiga em um cafuné.
— Por que você não conversa com ele? Coloca todas as cartas na mesa. Não é melhor do que ficar se escondendo?
— Não por enquanto. Eu não quero ver ele, . Tenho medo de enfraquecer no momento que olhar nos seus olhos, de esquecer a gravidade do que ele fez, como em tantas outras vezes. — disse, encolhendo os ombros. Não gostava de admitir suas fraquezas assim, mas seus sentimentos estavam tão à flor da pele que não conseguia se conter.
Ainda nos cabelos de , a mão da parou de se movimentar abruptamente.
— Espera... , você não está planejando não ir ao meu aniversário amanhã, está?! — questionou, sofrendo só com a ideia de não ter cada um de seus amigos presentes em seu dia especial.
— Não! Tá louca? Você sabe como aniversários são importantes para mim. Nunca perderia o seu.
— Mas o vai estar lá. Eu não posso desconvida-lo assim, especialmente sem saber o que é que ele fez de errado.
— Eu sei. Vou me manter longe dele e espero que você me ajude nisso. Você e todos os outros. Tenho que ligar para todos hoje.
— Por que não ligou ainda?
— E aguentar as notificações constantes das ligações e mensagens dele? Não, obrigada. Quanto mais eu puder adiar ligar o meu celular, mais eu vou. — disse, cruzando os braços em teimosia.
— Tudo bem. Desde que esteja lá...

podia ter muitos defeitos, mas todo o colégio concordava que não saber organizar uma festa não era um deles. Seus pais haviam liberado a casa para o evento naquela sexta-feira com a condição de que não passariam dos limites, então ela se esforçava para manter tudo e todos em controle e se certificar de que passassem só um pouquinho.
Porque a amiga estava energética demais para ser seguida para todo lado, se aconchegou em um banco na cozinha, cômodo frequentado por uma minoria passageira, enquanto comia um pedaço de bolo que servira para si mesma. Queria estar ali, mas não se sentia no clima da festa que estava apenas começando. Ficaria durante uma, talvez uma hora e meia, e então iria embora. Sabia que entenderia.
Estava na metade da sua fatia quando viu entrar pela porta. Ele sorriu animado ao vê-la e se aproximou para um abraço.
— Aí está você!
— Aqui estou eu, comendo meu bolo. — ele deu uma olhada no prato a frente dela e pegou o talher da sua mão, dando uma boa garfada no chocolate. — Ei!
— O que tá fazendo aqui? — perguntou com a boca ainda cheia de bolo, fazendo-a torcer os lábios de nojo.
— Como eu disse, estava comendo um pedaço de bolo e gostaria do meu garfo de volta.
— Nossa, isso aqui tá bom.
— Pegue um para você! — disse, arrancando o talher da mão do amigo a força e mantendo-o seguro e firme entre seus dedos.
Ele riu e foi até a geladeira, seguindo seu conselho. ficou em silêncio, encarando e mexendo em seu bolo, agora não tão apetitoso quanto antes. Queria tanto perguntar, mas sabia que não devia. Perguntar significava se mostrar fraca e ansiosa, significava deixar todo o seu orgulho de lado por causa de uma informação que poderia nem mesmo gostar de receber. Ergueu os ombros, decidida. Manteria sua boca muito bem fechada.
— Sim, o já chegou, . Nós viemos juntos. — informou, se sentando ao lado da garota que deu de ombros, tentando mostrar indiferença. — Eu me livrei dele na primeira oportunidade. Sabe que eu te amo, mas se eu ouvisse ele falar sobre você mais uma vez, ia me matar.
— Ele te contou o que aconteceu? — questionou, curiosa.
— Ele disse que fez merda e você terminou com ele. Não foi muito específico, mas eu já imagino o que pode ter acontecido. Nós todos conhecemos o bem demais. — ela assentiu e ficaram em silêncio por poucos segundos, até se virar para questioná-la. — Escuta: se você realmente quer ficar longe dele, eu entendo e vou garantir que haja uma boa distância entre vocês, mas você não acha que deveriam conversar?
teve que conter o impulso de revirar os olhos, já imaginando que teria a mesma conversa que tivera com a na noite anterior.
— Não acho, não.
suspirou.
— Desculpa, mas é que... Nós já sabemos onde isso vai acabar. Isso tem se repetido há quase dois anos. Por que não evitar ou encurtar a parte ruim?
Ela engoliu em seco, tentando disfarçar o quanto comentários daquele tipo a incomodavam. Já haviam passado por aquilo milhares de vezes, mas custava colocar um pouco de fé na amiga dessa vez? Ela acreditava que não.
— Porque não é a mesma coisa, . Agora, a minha família foi envolvida na imaginação fértil dele. Foi horrível, você não estava lá... — disse, agora com a cabeça cheia das lembranças do pior momento do seu relacionamento. E eles tinham muitos momentos ruins.
— O que aconteceu? — ele perguntou, apoiando um dos cotovelos no balcão e entortando a cabeça para a direita em curiosidade.
— Pergunta para o , quem armou a cena toda foi ele.
suspirou novamente e balançou a cabeça, voltando a sua atenção para o delicioso bolo de aniversário a sua frente.
— Vocês, crianças, ainda vão me dar muitos cabelos brancos.
deu um tapa leve no braço do amigo ao mesmo tempo em que carregava um largo sorriso nos lábios. escolheu esse momento para entrar na cozinha, finalizando o que gostava de chamar de sua patrulha a procura da namorada. Concentrado no bolo, não o viu imediatamente.
, , , ... — sussurrou no mesmo momento em que o viu, dando cotoveladas no rapaz ao seu lado.
! Finalmente! Nós precisamos conversar.
Com uma agilidade impressionante, se levantou e pulou em como se estivesse no meio de uma de suas partidas de futebol americano, protegendo o bem do seu time.
— EI, TOMMY! Você por aqui! Eu tenho uma coisa para te falar. — disse, já o puxando para fora mesmo com a luta do garoto para ficar.
abaixou os olhos para o seu prato mais uma vez, sem coragem de encará-lo.
— Espera, ! Amor, vamos conversar. Por favor.
Então fechou brutamente a porta, o largando no gramado do fundo da casa e lhe dando um tapa estalado na nuca.
— Não te falei para ficar longe dela?!
— Eu só queria conversar! — se defendeu, andando de um lado para o outro no verde.
Faziam exatos quatro dias que estava sendo ignorado por ela e aquilo estava o matando. Não aguentava toda aquela distância e achava que se aparecesse na porta da casa dela mais uma vez, seus próprios sogro e sogra o matariam.
— Ela não quer conversar com você, , respeita!
chutou um pedaço de grama aos seus pés, frustrado. Lá estava ela, do outro lado da porta, sorrindo como se tudo estivesse perfeitamente bem enquanto ele vivia o seu inferno pessoal. Não era possível que aquela briga não a afetasse tanto quanto afetava a ele. Ele a conhecia bem demais para acreditar naquilo, apesar de estar indo contra todos os seus conhecimentos nos últimos dias. Sabia que o certo era deixa-la ter o tempo que tanto queria, mas simplesmente não conseguia tirar de sua cabeça o pensamento de que se não conquistasse seu perdão logo, tudo iria por água abaixo.
— Isso, destrói o gramado. Esqueceu de como a tem neura com tudo?
Sim, ele havia esquecido, então deu um passo para trás, arrependido. Respirou fundo, encostando costas e cabeça na parede ao lado da porta pela qual fora carregado.
— Você viu como ela estava linda? — perguntou, sorrindo e de olhos fechados, assim podia lembrar com perfeição a maneira como seus cabelos recém cortados caíam pouco abaixo do queixo. Gostaria de poder tocá-los mais uma vez para confirmar a maciez deles.
— Vi... — respondeu, observando o sorriso besta no rosto do amigo. Sabia apreciar a beleza de uma mulher, mas temia que nunca com a paixão de .
— Eu amo aquele vestido.
Amava-o porque achava adorável o movimento que a saia rodada fazia quando ela dançava, mas achava mais adorável ainda como ela se irritava o tempo todo com as alcinhas que insistiam em lhe cair pelos ombros. Ainda assim, não perdia uma oportunidade de usá-lo.
— Ok, sua cara tá um pouco estranha demais. Não tá se imaginando tirando ele, tá?
abriu os olhos, inspirado, sem ideia alguma do que acabara de dizer. Precisava tê-la de volta e faria qualquer coisa para conseguir. Se humilharia na frente de todos os convidados daquela festa se fosse necessário. Havia tentado fazer daquilo algo pessoal e discreto como ela gostaria, mas claramente não estava funcionando. Lhe restava tentar o completo oposto e rezar para que o romantismo dela falasse mais alto que qualquer outra coisa, especialmente a vontade de mata-lo.
— Eu tenho que ir. — afirmou.
— O que? Para onde?
— Vocês me proibiram de chegar perto dela, então eu tenho que arrumar uma alternativa para conquistar a minha namorada, não é?
Dada a explicação que manteve tão confuso quanto estava antes, deu os primeiros passos em direção a porta. Um corpo grande e forte o interrompeu antes que chegasse até ela.
— Aqui não. Dá a volta.
Podia teimar e brigar com o amigo pelo exagero, mas estava com muita pressa para aquilo. Deu meia volta e saiu correndo. Tinha que chegar na sua casa o mais rápido possível e não tinha a sua moto consigo. Pensou o tempo todo em como seria impossível que recusasse voltar com ele depois do que tinha preparado.

We got it all: the love, the passion, but most of all
We mess up, but run from the scene. [...]
I know that you miss me when I’m gone.
We make a great team. With you, I’m better than I’ve ever been.


Cerca de trinta minutos depois, Mark estava entrevistando a amiga com as exatas mesmas perguntas que ela já havia respondido para e . Considerando que ele não estava nos dois momentos anteriores, tentou responde-las com a maior educação possível, ainda que estivesse extremamente entediada em um ambiente que normalmente ama. Queria ir para casa, mas a animação da amiga todas as vezes que passava ali rapidamente a obrigava a ficar pelo menos mais uma hora. Felizmente, parecia estar fazendo um bom trabalho ao manter afastado. Tão bom que ela quase começava a sentir falta dele.
— Em momentos como esses, eu realmente odeio vocês dois, sabia? — Mark disse, apoiando o queixo nas mãos, nem um pouco impressionado que estivessem no meio de mais uma briga.
— Eu também. — admitiu, encolhendo os ombros.
A música parou de repente, dando um alívio gostoso aos seus ouvidos, mas desagradando completamente as outras pessoas. Logo depois, veio o barulho alto e estridente do mal contato em aparelhos eletrônicos que fez a festa inteira tampar os ouvidos.
— A contratou uma banda? Uau, ela realmente se dedicou esse ano! — exclamou, agora sim impressionado.
— Será? — ela questionou. Uma banda em sua festa de aniversário parecia uma informação que não conseguiria guardar para si mesma.
— Vem, vamos ver! — ele lhe estendeu a mão, mas hesitou. Não sabia se queria arriscar mais uma visão do ex-namorado quando ainda se sentia tão mal. — , você não vai começar a se esconder pelos cantos por causa do , eu não vou deixar!
Ela revirou os olhos. É claro que não faria aquilo, ia completamente contra a sua natureza.
— Só vou pegar um pouco de refrigerante, vai indo.
Mark a olhou desconfiado, mas decidiu confiar na sua palavra e saiu andando. Se fosse para encarar , que tivesse um copo da sua bebida preferida na mão. Além do mais, achava que faria bem tomar algo depois de todos os assaltos feitos a geladeira da durante o tempo que estivera ali.
Estava devolvendo a garrafa para a geladeira quando ouviu a voz que a fez congelar.
Testando... Oi. Desculpa desligar a música de vocês, eu prometo ligar novamente daqui a pouco, isso aqui vai valer a pena. dizia com a voz eletrônica e falha de seu microfone velho. arregalou os olhos, rezando para aquilo ser tudo menos o que ela tinha na cabeça. — O problema é que eu preciso falar com a minha namorada, a , vocês a conhecem, mas me proibiram de chegar perto dela, então aqui estou eu.
Ele suspirou, causando um barulho desconfortável. Enquanto isso, ela já não encontrava palavras para descrever como se sentia naquele momento: com raiva, em pânico, disposta a matar, com um desejo de sair correndo... Sua mente a dizia que ele só poderia estar muito bêbado para achar uma boa ideia fazer aquilo, mas a voz do garoto não mostrava o mínimo sinal de embriaguez.
Em passos lentos e nunca certeiros, ela fez seu caminho até o cômodo ao lado.
Eu acho que muitos aqui concordam que eu tenho um dom natural para ferrar as coisas. Alguns já presenciaram ao vivo e todos com certeza já ouviram falar. No entanto, eu espero que todos vocês também saibam o quanto eu amo a , como eu faria qualquer coisa para vê-la sorrir... — ele a viu chegar no fundo da sala, parecendo assustada, e cercada de olhares curiosos. Seria possível que estivesse funcionando? O fato dela ainda estar parada e não correndo atrás dele com uma faca o dizia que sim. Então ignorou seus amigos preocupados e continuou seu discurso. — Eu... Eu sei que você já está cansada de ouvir isso, mas... Me desculpe. Você é uma constante tão grande na minha vida que às vezes eu piro por medo de te perder. Eu não sei o que é, eu não sei como estar sem você, acredito que os últimos dias tenham deixado isso claro. Eu não sei nem se existe um sem uma ao lado para aconselhar, dar alguns empurrões, conversar, refletir sobre cada pequeno aspecto nesse mundo que te fascina. Você é uma parte gigantesca de tudo o que eu sou hoje, do homem que ainda vou me tornar, e eu não quero abrir mão disso. Não queiro deixar de lado a nossa cumplicidade, a nossa ligação e o nosso amor. Por favor, volta para mim. Vai ser diferente dessa vez, eu te prometo. Me ajuda a fazer o nosso relacionamento crescer e se fortificar cada vez mais. Você é o meu mundo, . Fica comigo.
tampava o rosto para poupar sua visão das cenas de horror que imaginava vir a seguir. Mark cobria a boca, assim ninguém poderia vê-lo rir da estupidez do amigo. jogava seu olhar para lá e para cá entre o casal, preocupada, mas encantada com o pequeno discurso. Discurso esse que pareceu agradar um bom número de pessoas que esqueceram completamente da falta de música no auge de uma festa. apertava com força o microfone tão velho que quase cedia em suas mãos, agora a poucos passos de distância de , ambos em um pequeno corredor improvisado por seu público.
O silêncio era tão poderoso que até os grilos do lado de fora pareceram dar um tempo, todos ansiosos para ouvir quais palavras sairiam dos lábios dela. Pelo histórico do casal, a maioria ali acreditava que uma cena de final de filme estava prestes a acontecer diante de seus próprios olhos. Conforme os segundos foram passando e nenhuma reação da parte dela foi notada, soube. E desejou nunca ter feito aquilo.
— Para alguém que se diz me conhecer tão bem, você errou feio na dose, .
Não precisava dizer mais nada, só precisava sair correndo dali. Se sentia mais envergonhada que nunca e surpresa por ele ser justamente a pessoa que causou aquilo.
Saiu em passos rápidos pela porta, trombando no caminho com pessoas tão surpresas quanto ela por sua reação. O silêncio que se instalou depois da cena foi perturbador. se mexeu para ir atrás da amiga, mas a parou antes que pudesse dar um passo. Ele falaria com ela, apenas ele.
! — correndo para alcança-la, ele gritou para a rua quase vazia se não fosse pela silhueta da garota enfurecida alguns metros à frente. — , por favor! — voltou a dizer quando foi ignorado.
— Você tem razão, eu tô cansada disso, ! — ela exclamou ao se virar bruscamente para trás, obrigando-o a frear para que não trombassem. — Cansada de você não me deixar respirar um segundo sequer!
— Eu só tô tentando me redimir... Por que você não pode parar e me escutar um pouco?
— Porque eu não quero! Eu não estou pronta, eu preciso do meu tempo e você não me dá, nunca me deu! Se não fosse por você e suas obsessões constantes, nós nem mesmo estaríamos aqui agora, você sabe disso!
Ele não gostava de admitir, mas sabia que ela tinha razão. Vivia metendo os pés pelas mãos, ao ponto de agora nem mesmo ser levado a sério quando prometia melhorar.
— Eu só preciso que me escute... — repetiu, a olhando nos olhos.
— Eu te escutei lá dentro e ainda assim saí andando, . O que mais você poderia ter a dizer?
Ele hesitou e ficou tentada a simplesmente deixa-lo ali sozinho. Uma parte dela, a mais rancorosa e má, dizia que aquele era o caminho certo a ser seguido. No entanto, aquela que amava o garoto a sua frente acima de tudo a obrigou a ficar. Em apenas dois dias, havia conseguido levar seu nível de paciência ao zero. Sua raiva por toda a situação e pela cena anterior a cegavam de maneira que ela nem se importava se os sentimentos dele estavam sendo machucados.
— Eu não disse que estar sem você não me deixa dormir. Que tudo que se passa na minha cabeça 24 horas por dia são maneiras de te conquistar de volta e lembranças do quão idiota eu fui. Não disse que também me preocupo com como vamos contar sobre os nossos tempos de namorados para os nossos filhos escondendo todas essas pausas no caminho.
Ela tampou o rosto, balançando a cabeça para os lados. Por isso não queria ouvi-lo. Quando se tratava de , seu coração era fraco. Algumas palavras e seus sentimentos já pareciam mudar da água para o vinho. Não queria deixar tudo se repetir novamente, mas sentia seus sentimentos irem naquela direção, a que a colocava de volta no ciclo de um relacionamento complicado demais para uma garota de 16 anos.
— Você acha que tem sido fácil para mim? Acha que meus pensamentos sobre você não me atormentam o dia inteiro? — disse, tentando respirar regularmente. Precisava se acalmar e controlar a bagunça da sua mente.
Surpreso com as suas palavras, ele não pôde conter o passo que deu a frente, aproximando seus corpos. não se mexeu. Acima de tudo, gostava da familiaridade que sentia ao tê-lo por perto.
— Então por que não me dá uma chance? Você me conhece, , sabe que eu não faço promessas que não pretendo cumprir. — disse baixinho, seus olhos colados aos dela.
se encolheu. Definitivamente não estava pronta para aquilo. Não gostava de se sentir pressionada daquela maneira.
— Eu já te dei tantas chances... Eu não sei se você merece outra. Mais do que isso, não sei se eu quero te dar outra. Sabe que eu confio em você mais do que qualquer pessoa nesse universo, mas eu sei que você perde completamente a sua razão em certas situações. Não quero continuar vivendo nessa repetição, . Machuca, a nós dois.
abaixou os ombros, cabisbaixo. Podia afirmar com certeza de que não estava sendo como em nenhuma das outras vezes que viveram algo parecido, pois das outras era como se o destino os quisesse juntos e os jogasse um para o outro em questão de dias, até horas. Não queria perder suas esperanças, mas sabia que não poderia insistir para sempre. Era a sua frente, eventualmente ela lhe daria um bom soco para que acordasse para a vida.
— Então me diz o que você espera de mim. — ele pediu por fim. — Qualquer coisa. Me peça e eu farei.
Os olhos da garota se arregalaram levemente em surpresa. Depois, a desconfiança assumiu seu lugar. Estava blefando. Ele realmente cederia fácil assim depois do inferno que havia feito de sua vida nos últimos dias?
— Se você estiver zoando com a minha cara, é bom começar a correr. — ela ameaçou, fazendo-o abrir um sorriso.
— Não estou. Se fazer o que quer que você queira vai te trazer de volta para mim, nem que seja só para a nossa amizade, é nesse caminho que eu vou.
suspirou, ainda em descrença. No entanto, concluiu que, de qualquer maneira, não custava tentar.
— Isso vai soar repetitivo, mas eu preciso que você me dê um tempo. Eu tô sofrendo tanto quanto você aqui e minha cabeça tá uma bagunça que eu não consigo lidar. Eu preciso respirar, , só isso. E quando eu tiver tudo organizado, quando eu estiver pronta para realmente conversar, eu vou até você. Prometo. Você acha que pode fazer isso? — ela perguntou e ele encolheu os ombros, assentindo lentamente.
— Posso... — apesar de não querer, ele quis completar.
Enquanto isso, ela sentiu uma leve vontade de esganá-lo. Se podia, então por que não fez o que ela pediu desde o começo? Teria evitado cenas vergonhosas como a anterior. Mas respirou fundo. Não deixaria o ódio subir para a sua cabeça mais uma vez. Aquele era um avanço, ainda que mínimo.
— Certo. Eu vou para casa, então.
— Não quer voltar para a festa? — ele perguntou, pois esperava que ainda tivesse algumas horas para observá-la, mesmo que de longe.
— Depois do que você fez lá dentro? Não, obrigada. — respondeu com um sorriso nervoso. fez uma careta, envergonhado.
— Me desculpe. Eu não devia ter feito aquilo. Sabia que era uma ideia estúpida.
— Ah, agora já foi. Te vejo outra hora. — disse, já se virando para descer a rua e andar os quarteirões até a sua casa.
— Não quer que eu te acompanhe? Tá tarde.
suspirou, sentindo como se estivesse tendo que lidar com uma criança. E não era nem um pouco boa com crianças.
, o que acabamos de combinar?
— Ah, é. Foi mal. — fingiu inocência.
Não podiam culpa-lo por não tentar.

achava engraçado – para não dizer frustrante – que mesmo que tivesse lhe dado o tempo que tanto pedira, de cerca de 14 horas até aquele momento, sua presença ainda era constante. Talvez fosse sua consciência pregando uma peça, a lembrando a todo momento de que ele estava na casa ao lado, a poucos metros de distância, pronto para recebe-la com todo o carinho do mundo. Ela só precisava tomar uma decisão e isso estava se mostrando difícil mesmo sem todo o incômodo do garoto.
Por um lado, queria estar com ele mais do que qualquer coisa. Queria conversar sobre tudo e qualquer coisa, beijá-lo, simplesmente ficar em silêncio e abraçados enquanto assistiam a algum seriado... Não acreditava em baboseiras como “sua meta da laranja” ou que era “incompleta” sem ele, mas quando estava em sua companhia, sentia que nada mais era necessário. Apenas os dois, fazendo nada, ao mesmo tempo em que faziam tudo.
Por outro, eles tinham seus momentos ruins. As brigas constantes por coisas que depois pareciam tão pequenas e idiotas, o ciúme, a necessidade nada saudável de um pelo outro. Era fácil simplesmente fingir que aquilo não existiam quando estavam bem, porém, quando tudo desandava, o peso em suas costas parecia dobrar.
Voltar ou não voltar, mudar ou deixar tudo como está, somos felizes ou não somos, fazemos bem um para o outro ou não fazemos... Sentia estar ficando louca.
O barulho de vidro se quebrando a jogou para fora de seus pensamentos.
— Meu Deus, ! Tome cuidado, olha essa bagunça!
Olhou para baixo e viu um pouco de sangue deslizar pela palma de sua mão, agarrada as extremidades de um corpo partido ao meio.
— Vem aqui, vamos fazer um curativo nisso. — seu pai disse, a puxando pelos pulsos até a mesa.
— Nós assumimos a louça pelas próximas semanas, tá legal? Não tô pronta para ter que substituir meus vidros e porcelanas. — Claire, sua mãe, continuou.
suspirou, se sentindo cansada. Não havia tido exatamente a melhor noite de sono de sua vida.
— Desculpa. — disse.
Todos ficaram em silêncio enquanto Johnatan limpava o corte. Depois, colocou o curativo e enfaixou um pouco para mantê-lo ali de forma mais confortável para a filha. Quando estava finalizando, Claire veio se sentar à mesa junto com eles, olhando-a preocupada.
, tá tudo bem?
Ela quis dizer: não, estou cansada, com sono, com dor de cabeça. Tudo está uma bagunça, não sei para que lado ir, como me sentir, o que fazer. Mas se contentou com um dar de ombros.
— O parece ter te deixado em paz... — continuou.
— É, nós conversamos ontem. — disse simplesmente. Seus pais trocaram um olhar rápido de surpresa.
— Ah, é? E decidiram alguma coisa? — Johnatan questionou.
— Não muito, ele só finalmente decidiu respeitar a minha vontade. Mas... Sei lá, acho que eu subestimei esse tempo sozinha.
— Não diga isso. Você precisa se afastar um pouco de todas as emoções que o te traz. — sua mãe disse, mal sabendo que a distância parecia estar duplicando a intensidade de todas elas.
Assentiu, puxando sua mão para si e apertando de leve o lugar agora enfaixado. Não doía tanto. Então suspirou, apoiando um cotovelo na mesa e seu queixo na palma livre de cortes.
— O ano novo tá chegando. — se deu conta de repente. Já as duas pessoas ao seu lado pareciam já ter percebido e até conversado sobre aquilo.
— Nós podemos passar o ano novo aqui tranquilamente, com as outras famílias do bairro, todas aquelas crianças...
riu com a tentativa de seu pai de melhorar aquela ideia. Costumavam passar seus réveillons na casa de praia de sua avó, em Santa Mônica. As famílias dos cinco amigos criaram uma amizade tão forte graças as crianças que, há sete anos, todos iam juntos. A casa não era tão grande assim, o que tornava tudo uma baita bagunça, mas era uma de suas bagunças preferidas de cada ano.
— Não se preocupem, eu vou tomar uma decisão antes. Ainda é dia 28, eu tenho 48 horas sobrando.
No entanto, ela não usou nem metade de todo esse tempo.

se sentia torturado. Seu corpo estava jogado sobre a cama há pelo menos uma hora, mas era como se tivesse passado todo aquele dia amarrado a uma cadeira, tendo informações lentamente arrancadas dele com instrumentos dolorosos e cruéis usados na Idade Média. Também se sentia extremamente dramático desde que acordara.
Em certos momentos, acreditava com todas as suas forças que nunca terminaria oficialmente com eles porque... Bem, eram o e a , haviam nascido um para o outro. E então, mais rápido do que gostaria, todo o pânico das coisas nunca terem sido daquele jeito voltavam a atormenta-lo. Para piorar, sentia pena de ter que cancelar tudo o que tinha planejado para ela nos dias seguintes. Passou meses planejando um réveillon inesquecível apenas para destruir tudo aos 45 do segundo tempo. Era realmente um imbecil.
Sentiu seu celular vibrar em sua mão e seu corpo inteiro congelou. Eram duas da manhã e se fosse ou qualquer outra pessoa, iria pessoalmente matar o indivíduo que fazia-o passar por aquilo.
Lentamente, ele ergueu o aparelho até que estivesse acima de seu rosto. Faria aquilo com calma, pois já havia passado o dia inteiro aterrorizado e afobado com cada sinal de vida que o smartphone dava. Ligou a tela e o ícone do whats app estava ali, então deslizou o dedo para baixo a fim de visualizar as conversar. Por último, com uma única mensagem, viu o apelido da namorada seguido de um coração e o seu próprio deu um salto no peito. Era ela, finalmente.
Na mesma hora deixou a calma de lado e se apressou para abrir, chegando a se levantar da cama, tamanha sua euforia.

Em quando tempo você acha que consegue chegar aqui com algo muito gorduroso e nem um pouco saudável para a gente comer?


Ele saiu correndo.
Sentada no chão do seu quarto com as costas apoiada, sorriu quando ouviu o barulho de uma moto sendo ligada na casa ao lado. Sentiu como se um peso gigantesco tivesse acabado de ser tirado de seu peito e agora, finalmente, conseguia respirar com leveza.
Naquele momento, achava ter sido boba o tempo todo. Aquela decisão era simples, quase que óbvia. Mas pensava que talvez precisassem passar por aquilo para dar um passo à frente na busca do melhor que poderiam ser. Juntos.
Lá no fundo, em um lugar que ela preferia não entrar, sabia ter feito aquela decisão apenas para se livrar das dores que não tomá-la a causavam.
Menos de 20 minutos depois, ela ouviu a moto novamente. Não precisou esperar muito para ouvir o som baixo dos dedos dele contra o vidro da janela. A primeira coisa que ele colocou para dentro foi a sacolinha marrom de onde exalava um dos seus cheiros preferidos do mundo: fast food. Por mais mal que estivesse, sabia que pular o jantar seria uma péssima ideia.
— Obrigada. — ela disse, sorrindo, e voltando a se sentar no chão. a acompanhou.
— De na... — se interrompeu quando a faixa ao redor da palma da mão da garota chamou sua atenção. — O que aconteceu?! — questionou, preocupado.
— Não é nada, só um corte com vidro. — respondeu tranquilamente, procurando pelo seu lanche.
— Você tá cuidando bem? Porque isso pode virar uma... Uma... Eu não sei, mas algo sério. Você precisa ter mais cuidado!
— Deus, ! Tá parecendo a minha mãe. Relaxa.
— É porque eu e sua mãe sabemos o quão descuidada você é. — ele explicou, a fazendo revirar os olhos.
— Vai ficar me dando sermão ou vai comer o seu lanche? — questionou, estendendo-o o pequeno embrulho.
Queria teimar mais um pouco, mas pegou o lanche e ficou quieto. Estava com fome. Era um cara grande e havia comido pela última vez há mais de cinco horas. Além do mais, pensou que manter sua boca ocupada o ajudaria a ficar em silêncio. Cada pequeno pedacinho dele queria segurá-la pelos ombros e perguntar: “Qual foi a sua decisão?!”, mas tinha que se contentar com a ideia de que pelo menos estava ali, frente a frente com a garota mais bonita e incrível do seu mundo. Continuaria a respeitar o seu tempo. Bem... Tentaria.
Entretanto, não estava a fim de colaborar com a sua ansiedade. O lanche de desapareceu com não mais que cinco mordidas, enquanto isso, ela parecia saborear com muito prazer cada minuto extra do desespero do rapaz, mastigando com toda a calma que ela nunca teve. Agora, sim, ele realmente se sentia torturado. A cada batata que ela optava por comer uma a uma, a cada gole em seu refrigerante e a cada leve sorriso que ela lançava a ele de vez em quando, tornando impossível o nascimento de algum tipo de ódio naquele espaço.
Faltava apenas uma mordida para dar fim ao lanche quando ela decidiu falar. Até o coração de pareceu parar para ouvi-la.
— Eu pensei muito sobre nós dois nos últimos dias. Sobre tudo que já passamos juntos, tudo que não podemos passar, tentei colocar numa balança os momentos bons e ruins, fazer prós e contras e milhares de outras coisas para tentar chegar a uma solução do que fazer. Tudo de forma muito bagunçada, é claro. E então, mais cedo, eu percebi que eu estava infinitamente mais feliz com você, mesmo com todos os momentos ruins, do que fazendo todos esses esquemas. — ela fez uma pausa e ele quis gritar, abraça-la, beijá-la e nunca mais deixar seu lado, mas forçou seu corpo a ficar exageradamente parado, esperando pelo resto. — Se pararmos para pensar, nós somos como isso aqui. — disse, colocando na frente de seus olhos o último pedaço do sanduíche. — Não é a refeição mais saudável do mundo, sabe? Em quantidades muito grandes, pode fazer mal. Ainda assim, cada segundo vale a pena. — com um sorriso nos lábios, abaixou novamente o pedaço e seus olhares se encontraram. — Eu não sei como as coisas vão ser daqui para frente, mas confio em você... Sei que vai tentar ao máximo cumprir com a sua palavra e melhorar. Eu vou também. Nós não somos o casal mais estável do mundo... E daí? Pelo menos estamos juntos e ninguém pode dizer que não somos incríveis assim. — finalizou, enfiando na boca o resto do lanche, realmente orgulhosa de sua fala.
O sorriso de mal cabia em sua boca. Ele puxou a mão machucada da garota para si e a beijou por um longo tempo, se sentindo o cara mais sortudo do mundo por ter a encontrado 12 atrás. Faria diferente dessa vez, tinha certeza que sim. Ela tê-lo perdoado só dava mais gás para que ele tentasse seu máximo para ser tão bom para ela quanto ela era para ele, mesmo com todos os seus defeitos.
— Eu te amo tanto. — ele falou ainda com o rosto colado à mão da namorada.
Ela virou a palma pra cima, acariciando sua bochecha e puxando seu rosto para cima. Ficando sob seus joelhos e a mão livre, ela se inclinou para beijá-lo. Não fazia aquilo a algum tempo. Ainda que apenas uma semana tivesse se passado desde a última vez, ela não queria ter que esperar mais para ter seus lábios junto aos dele. Com ele, as coisas nunca deixavam de ser quentes, excitantes, quase que como uma novidade, e não achava que qualquer outro cara pudesse fazê-la sentir assim.
a puxou para cima para que pudesse ter seu corpo mais perto, em uma tentativa de compensar pelo tempo precioso que perdera. Toda sua atenção estava na garota a sua frente, ao ponto de nenhum dos dois se importarem quando o refrigerante que caiu ao chão molhou seus joelhos. Teriam um mundo de preocupações mais para frente, podiam deixar aquilo para outra hora.
— Me desculpa por te ignorar por todos esses dias. — disse com a respiração entrecortada, afastando suas bocas por um momento. — Foram importantes para mim, mas eu não tinha o direito de te manter por fora daquela maneira.
— Tá tudo bem, eu mereci.
Ela concordava, porém já havia torturado o garoto o suficiente. E aquele beijo estava crescendo demais para que o interrompesse por muito tempo. Não conseguia formar muitos pensamentos completos, mas tinha plena noção do caminho que poderiam estar indo naquele momento, um caminho ainda inexplorado e definitivamente desejado.
Suas expectativas pela visita ao desconhecido foram levadas ao chão quando três fortes batidas na porta do quarto o fizeram se afastar rapidamente.
, VOCÊ TEM DEZ SEGUNDOS PARA SAIR DESSE QUARTO PELA JANELA POR ONDE ENTROU. EU NÃO VOU FALAR DUAS VEZES!
— Droga! — exclamou enquanto seu namorado já corria janela afora.

Let’s be bad together, baby, you and I.
Let’s be bad together, if only for a while.
Let’s be bad together, make the devil smile.
Let’s be bad together.


, vamos logo! — Claire gritou já de dentro do seu carro para a filha que continuava agarrada ao namorado pelo que lhe parecia séculos.
— Eu vou de moto com o , mãe. — avisou, se aproximando do vidro aberto.
— Por que não me avisou logo, menina? Vamos, John!
A garota mal teve tempo de se afastar e ela já saía, sendo seguida pelos pais de . Todos tinham grandes expectativas para o réveillon naquela família.
— Tomem cuidado! — Elizabeth, a mãe do rapaz, gritou, acenando rapidamente.
riu antes de voltar para os braços daquele considerado o homem de sua vida. Uma das vantagens de suas brigas é que sempre voltavam melhores do que nunca. Aos olhos dos de fora, as vezes até demais.
— Quer saber de uma coisa? Eu estou oficialmente com nojo de nós dois. — ela afirmou, sem mover um músculo sequer que poderia mudar aquilo.
— Você sabe que ama, .
E amaria mais ainda daqui cerca de meia-hora, quando visse a surpresa que ele tinha preparado. Todos já sabiam – apesar de ter sido especialmente difícil de convencer seus sogros a concordar com a ideia –, menos a vítima. Ele só precisava guardar o segredo mais um pouco.
Ansioso, ele fez seu máximo para convencê-la a ir o mais rápido possível, mesmo com todas as sugestões de coisas que eles poderiam fazer agora que tinham duas casas vazias para eles. Algum tempo depois, já postos em cima da moto, os braços de colados ao redor da cintura do rapaz, ele deu partida, indo para aquele que esperava ser o melhor ano novo de sua vida. Pelo menos, até o próximo ano, quando prepararia uma surpresa nova e infinitamente melhor.
Fizeram o caminho em silêncio, cada um ocupado com seus pensamentos e expectativas, aproveitando o vento delicioso que a velocidade os oferecia. Depois dos dias de distância, só o toque acalorado um do outro era o suficiente para deixá-los tranquilos, como se nada no universo pudesse arruinar o que tinham.
só notou que algo estava errado quando percebeu que já não estavam mais fazendo o caminho para a casa da sua avó.
— Ei! Você pegou a rua errada! — disse alto o suficiente para que ele conseguisse ouvir.
— Tô fazendo um caminho diferente. — explicou.
Estranhou um pouco, mas deixou aquilo quieto. Se ele queria dar uma volta, por que não?
A volta não durou tanto quanto ela imaginou que duraria. Poucos minutos depois, ele estacionou na frente de um dos maiores e mais extravagantes hotéis de Santa Mônica, o mesmo que eles ficavam admirando todos os anos anteriores, desejando ter dinheiro o suficiente para se hospedar, nem que fosse apenas por algumas horas. Ela soube nesse momento que ele tinha planos diferentes para o réveillon.
— O que estamos fazendo aqui? — perguntou, mal conseguindo conter um sorriso maravilhado ao imaginar a resposta.
não respondeu, apenas piscou e pegou sua mão, a puxando para dentro. olhou cada pedacinho da estrutura daquele lugar, deslumbrada com toda a classe presente no salão. Vasos de flores tão perfeitamente cuidadas que quase pareciam falsas estavam espalhados para todos os lados, assim como alguns sofás e poltronas que provavelmente custavam mais ou menos o preço da sua sala de estar inteira.
— Boa tarde. Eu tenho uma reserva no nome de . — ele disse para a recepcionista atrás do balcão. Enquanto isso, admirava o cesto com maçãs vermelhinhas, se perguntando se poderia pegar alguma.
... — a moça repetiu, mexendo em seu computador. — Quarto para dois, vista para o mar? — ele assentiu. — Certo. Suas malas já estão lá em cima, o Carlos aqui vai te acompanhar.
— Vamos lá?
Carlos apareceu de repente com um sorriso simpático no rosto. Sua aparência e leve sotaque indicavam que era mexicano, já a postura o colocava como um americano chique qualquer.
Ele os guiou até o oitavo andar, quarto número 813, antes de desejar uma boa estadia e se retirar para atender as outras dezenas de pessoas chegando aos montes no lugar.
— Pronta? — perguntou depois de destrancar a porta com seu cartão, segurando a maçaneta. A garota assentiu rapidamente, tendo que fazer certo esforço para se conter e não voar quarto adentro.
Ela o fez quando ele empurrou seu obstáculo, entrando no cômodo perfeitamente arrumado. A cama ficava logo ao meio, com criados mudos em ambos os lados. Perto da porta havia uma outra que imaginou ser o closet. Não usaria, mas era incrível. Bem em frente a cama ficava uma TV de plasma parecida com a que tinha em casa, talvez maior. Mais ao lado, uma terceira porta que provavelmente daria para um banheiro limpo e cheiroso. O vento que entrava pela sacada aberta balançava as cortinas como se a convidassem para ir dar uma olhada na vista, mas deixou aquilo para mais tarde. Precisava focar no fato de não ver nem uma pétala de rosa sequer jogada por canto algum daquele quarto.
— Aw, você não encheu o quarto de rosas! — disse sorrindo, voltando para abraça-lo.
— Eu guardo as estupidezes para serem feitas quando estou desesperado, você sabe. — brincou, a acolhendo em seus braços.
— Isso aqui é tão incrível! Como?! Quer dizer, uma diária nesse lugar custa um salário mínimo inteiro.
— Eu venho economizando há um tempo e esse quarto não é exatamente um dos mais caros. Na próxima vez que estivermos aqui, você não vai ter nada menos que a suíte presidencial.
riu, se afastando, mas puxando-o até a cama consigo.
— Vamos experimentar juntos? — sugeriu, alegre.
— Não sei, não. Você tem me puxado para a cama com você muitas vezes nos últimos dias. — disse, ganhando um tapa brincalhão no peito.
— Vem logo!
E então eles caíram na cama, sentindo seus corpos afundarem no colchão fofo e extremamente confortável. Com certeza poderiam viver naquele quarto sem dificuldade alguma. rapidamente ficou de joelhos para que pudesse pular e testar a real qualidade daquela superfície.
— Tente não quebrar a cama nova nos nossos primeiros dez minutos aqui. Imagina o que vão pensar que estamos fazendo. — disse, achando graça da animação dela, que parou e deu de ombros.
— E se nós realmente estivéssemos fazendo o que talvez pensem que estávamos fazendo? — questionou, fitando-o. se apoiou sob os cotovelos e franziu o cenho, perdido com o comportamento da namorada desde o dia em que voltaram.
— O que há com você, em?
Ela revirou os olhos para a lerdeza dele.
— Você já foi melhor com sinais, . — ela disse, colocando uma mão em seu peito e o empurrando de volta para baixo. Passou a perna ao redor do corpo do rapaz, sentando em suas coxas e desceu o tronco de encontro ao dele, dando um sorriso levado antes de beijá-lo.
O desejo de pela resposta à sua pergunta desapareceu em algum canto do seu cérebro quando a língua dela tocou a sua, deslizando sobre a dele lenta e sensualmente. Suas mãos se apressaram até o quadril dela e em poucos segundos, não era mais em suas coxas que ela estava sentada. Puxou seu lábio inferior em uma mordida leve enquanto sentia um par de mãos adentrar sua camiseta, fazendo seu caminho pelo abdômen e levando o tecido junto.
O contato foi interrompido apenas tempo o suficiente para que o ajudasse a se livrar da camisa e então voltaram a colar seus lábios em um beijo calmo e intenso, como ele sabia que ela gostava. Completamente levado pelo momento, os virou para que ficasse por cima, puxando uma de suas pernas para si e pressionando levemente sua virilha contra a dela. soltou um gemido abafado, seguido de uma risada que o pegou de surpresa.
— Você tem muitos talentos, mas acho que vibrar não é um deles. — explicou, apontando para o bolso dele que só então se deu conta do celular tocando. Bufou, frustrado, mas atendeu de qualquer maneira.
— Oi, mãe.
Banho, jantar, 30 minutos!
Ele nem teve a chance de argumentar contra, pois ela desligou na mesma hora. Enquanto isso, o observava com uma expressão carinhosa, já certa de que o que quer que a mãe dele tenha falado os faria ter que interromper completamente seus planos.
— Você acha que eles sentem algo quando estamos ocupados? — ele questionou, realmente considerando a ideia.
Ela riu, balançando a cabeça, e então se levantou, tirou sua blusa com rapidez e jogou nos braços dele.
— Você sabe onde eu estou. — disse, entrando no banheiro. Nem mesmo surtou ao ver o luxo que era aquele espaço para que não estragasse totalmente o efeito de sua última fala.

Um dos principais motivos para amar tanto seus anos novos era as pessoas que marcavam presença. Sua família, seus amigos e as famílias de seus amigos todos juntos em um único cômodo formava uma grande bagunça, mas ela se divertia com o caos. Se divertia com as reações para as piadas sem graça, a impressionante rapidez em que um segundo de silêncio era preenchido e toda aquela energia gostosa de saber que mais um ano havia se passado e ela não poderia pedir por nada melhor do que aquilo.
Ainda assim, depois de tantas vozes entrando pelos seus ouvidos durante duas horas seguidas, tudo que queria era relaxar sem tantas pessoas falando. Por esse motivo apreciava tanto o passeio que dava com o pelo píer, aproveitando a brisa fresquinha do mar, o barulho das ondas se quebrando e as musiquinhas de jogos do pequeno parque que havia ali. Mesmo assim, odiava ter que andar na característica roda gigante do lugar simplesmente porque ela e o namorado haviam feito aquilo há muitos anos e ele simplesmente adorava uma boa tradição. Todo ano eles enfrentavam uma fila gigantesca para andar em um brinquedo que, na sua opinião, era pequeno e vacilava demais. Mas o fazia, apenas porque não existia nada mais adorável do que ver seu namorado olhar o horizonte maravilhado quando chegavam ao topo. Aquele pequeno e simples momento fazia tudo valer a pena, só não a impedia de reclamar milhares de vezes até finalmente chegarem lá.
— Viu? Estamos aqui. Custa esperar um pouco? — disse quando entraram em sua cabine.
— 40 minutos, . Foram 40 minutos.
Ele deu de ombros, sem se importar com aquele detalhe. Acreditava que 40 minutos era pouco quando comparado com a vista que teriam lá de cima. Vista muito parecida, talvez pior, com a que tinham da sacada do hotel em que estavam hospedados. Tentou não pensar nisso.
O brinquedo começou a funcionar pouco tempo depois. achava que podia afirmar com toda certeza do universo que eram os únicos ali com mais de 12 anos que não estavam acompanhados por uma criança. Quando chegaram ao topo, ela estava pronta para a cena de costume que presenciava todo ano, mas algo chamou sua atenção. Sua e de todas as outras pessoas naquele parque. As músicas, antes animadas e misturadas, pararam de tocar, e foram substituídas por nada menos que The Way You Look Tonight. Ela riu, imaginando quem era a “sortuda” sendo pedida em casamento ou algo do tipo até perceber o olhar de expectativa de para cima dela.
— Ah, não... — murmurou, sentindo seus próprios olhos se arregalaram. — Por favor, me diz que você não vai me pedir em casamento.
— Não vou. — ele negou, no entanto, ainda assim se virou para ela e segurou ambas suas mãos com uma expressão apaixonada no rosto. — Esse é mais um presente meu para você.
— Tá legal, nós realmente precisamos conversar melhor sobre as suas ideias de presentes bons!
riu, puxando o rosto da namorada rapidamente para um selinho simples. Ela ainda estava tão assustada com a situação que se sentiu beijando uma placa de gelo: dura e fria.
— Depois de tudo que eu fiz, achei que seria uma boa ideia aumentar a sua surpresa como compensação. Olha só, eu sou um daqueles caras românticos demais que você odeia! Não é divertido? — ela semicerrou os olhos, procurando a diversão. — Bom, vai ficar assim que você entender tudo direito. Metade do parque tá de olho na gente, você poderia fingir me dar um tapa, fazer uma cena sobre traição, ou apenas observar eu me sentir humilhado por ter armado uma situação desse tipo. Legal, ahn? Eu meio que mereço depois da vergonha que te fiz passar na casa da também. Na verdade, ainda tô decidindo quem é que foi que passou mais vergonha naquele dia.
— É fofo que você acredite nisso. — ela disse, olhando ao redor, nervosa. Realmente tinham uns bons pares de olhos em cima deles. — Quando acaba? — sussurrou próxima a ele.
— Com o fim da música.
— Tudo bem. Podemos sobreviver até lá... Depois daquele tapa. Está pronto? — perguntou, já se posicionando na posição para o falso tapa perfeito. A ideia de fazer uma cena falsa depois de tantos reais era realmente interessante.
— Mas é claro!
Então fez o movimento perfeito, se certificando de que tudo que ele sentisse fosse o ar do movimento contra o seu rosto. Muito bem treinado, jogou a cabeça para o lado, fazendo com que todos seus observadores se sentissem constrangidos por presenciar aquela situação.
— Eu já disse que não! Ei, eu quero descer! — ela gritou logo depois, se divertindo. Era uma excelente atriz, o rapaz ao lado ficou orgulho.
Dez minutos depois, ambos ainda riam, se sentindo as duas pessoas mais bestas do mundo. Ou, pelo menos, de Santa Mônica. Ainda assim, acreditavam ter valido a pena só pelos olhares que receberam ao descer da roda gigante. também conseguiu sair mais cedo da cabine, o que era sempre ótimo.
Andavam pela praia já quase vazia àquela hora da noite, um verdadeiro milagre ao considerar que estavam em uma das praias mais famosas da Califórnia em pleno réveillon. A água ia e voltava pela areia, molhando seus pés no caminho. Com o fim das risadas, veio o silêncio confortável, cada um viajando pelo mar de seus pensamentos. Ambos concordavam ao desejar que todos os dias fossem como aquele, cheio de momentos bons, um pouco de adrenalina e muitos amassos. Não podiam negar que aquela parte era especialmente divertida e seria mais ainda se não fosse constantemente interrompida por alguém.
Com isso em mente, eles se pegaram indo em direção a mesma rocha sem nem comunicarem um ao outro. se sentou primeiro, deixando suas pernas abertas para que ela se encaixasse entre elas, e passou os braços ao redor de sua cintura, entrelaçando seus dedos. Eles continuaram em silêncio durante longos minutos, apenas apreciando aquele momento, o estar juntos.
?
— Uhn?
— Você gostou da surpresa? Do quarto de hotel e tudo mais...
Ela sorriu com a insegurança na voz dele e se aconchegou mais ao seu corpo.
— Muito! Com tudo que aconteceu, esse tempo sozinhos, mesmo que limitado, é maravilhoso. Você acertou em cheio.
— Que bom. — ele disse, apoiando seu queixo na cabeça da namorada. Não por muito tempo, pois ela logo se virou, apoiando as costas em uma perna dele e passando as suas por cima da outra.
— Não tive a chance de te agradecer ainda... Obrigada, você é incrível!
sorriu, se aproximando para um beijo. Nunca se cansava daquilo. Sentiu a mão dela em sua nuca, aprofundando o que pensou ser apenas um leve tocar de lábios, e se afastou com cuidado. Aquilo era ótimo, mas sentia uma necessidade muito grande de falar.
— Por que os nossos beijos estão ficando cada vez mais obscenos?
— Você tá reclamando? — ela questionou, erguendo uma sobrancelha.
— Não! — se apressou para responder. — , não, pelo amor de Deus! Não pense que eu não amo cada beijo desses que você me dá, eu amo muito! E os simples também, eu amo todos, amo você e...
— Eu vou precisar que você fique quieto agora. — disse, segurando-o pelas laterais do rosto.
— Certo, quieto. Eu não vou falar mais nada, eu vou...
o beijou, com medo de que ele nunca mais parasse de falar nada com nada. Conhecia ele o suficiente para acreditar que era possível.
Aquela também era a sua maneira de dizer que não, não era coincidência que estivesse investindo um pouco mais em seus beijos e em todo o resto. Se sentia pronta para dar o próximo passo, mais do que nunca. Por isso, permitiu que as coisas esquentassem ali mesmo, sobre a areia úmida, querendo mostrar com cada um de seus atos o que aconteceria aquela noite.
Quando tudo ficou confuso em sua cabeça ao ponto da ideia de terminarem tudo ali mesmo parecer interessante, ela sugeriu que voltassem para o hotel. Entre beijos no elevador, mãos mais do que bobas no corredor e corpos sendo pressionados contra portas, eles sobreviveram o caminho até o quarto.
Era tudo tão bom, tão envolvente, tão natural, que só percebeu o que estava prestes a acontecer quando a última peça de roupa foi retirada e eles ficaram completamente em contato um com o outro. Bom... 99%, ele pensou. Não precisavam de muito mais estímulo para atingir o 100.
— Ei, ei... O que estamos fazendo? — ele se forçou a perguntar, sendo obrigado a ouvir de um lado de seu cérebro o quão imbecil era por causa daquilo.
deslizou a mão pelo seu ombro em um toque leve. Quase não sentiria se não fossem os arrepios que lhe causavam.
— Você realmente não sabe?
Ele riu, nervoso, e arrumou seu corpo para que ambos estivessem deitados frente a frente um com o outro, ainda colados. Sua mão nunca deixou a cintura dela.
— O que eu quero dizer é: você tem certeza que quer fazer isso?
Ela respondeu na mesma hora:
— Tenho... Muita!
sorriu, satisfeito com a resposta.
— Tem certeza que não está apenas se deixando levar pelo momento? Não quero que se arrependa depois. — voltou a perguntar. Sabia que não era o tipo de garota que voltava atrás em suas decisões, mas precisava ter toda a certeza do mundo antes de dar um passo tão grande em seu relacionamento.
— Eu não tenho arrependimentos quando se trata de você.
Um silêncio rápido se instalou. balançou a cabeça, admirado.
— Garota, você realmente sabe como levar um cara para a cama! — exclamou, rindo. Achando graça, ela deu um leve empurrão nele antes de voltar a falar.
— Escuta: qual o problema de me deixar levar pelo momento? É um ótimo momento e eu quero torná-lo ainda mais especial, mas vou precisar da sua ajuda para isso... — ela disse suavemente. Não precisava, ele já havia tomado uma decisão, mas ainda assim adorou ouvi-la. — E não é como se nunca tivéssemos feito nada, quer dizer, acho que fizemos tudo menos o ato em si. Teve aquela vez em que...
Dessa vez, foi ele quem a interrompeu com um beijo, temendo que ela se colocasse a fazer uma lista e perdessem o foco, e ela se deixou ser interrompida. Havia esperado e desejado muito aquele momento, estava feliz por poder contar com para não deixar seu nervosismo estragar tudo. Acreditava que, independentemente de nunca terem transado, já havia entregado seu corpo e alma para aquele garoto. No entanto, nada a impediria de tirar tudo o que tinha de melhor daquilo. Estava pronta para saber do que diabos o mundo inteiro estava falando.

Na noite anterior, dormir com as cortinas abertas, apreciando um pouco a visão do céu do lado de fora, parecera uma boa ideia. Quando a manhã chegou e o sol os obrigou a esconder seus rostos de baixo do lençol, que não fazia um trabalho muito bom parando a luz, eles quase se arrependeram. O que impediu que isso acontecesse foi a tranquilidade que sentiam naquela manhã. A união, ainda que já não estivessem mais colados um ao outro, a conexão e as lembranças gostosas do que tinham feito.
Não que tudo tivesse ido perfeitamente bem. que o diga, pois ainda se sentia levemente dolorida. Mas era sua primeira vez, não esperava explosões cósmicas nem balões. Tinha consciência de que ficaria melhor e ansiava por saber o quanto.
Ela sentiu um beijo na parte de trás de sua cabeça e logo depois a mão de em sua cintura, a puxando para perto. Se virou na mesma hora, o encarando com um sorriso. Ele ainda tinha os olhos fechados.
— Bom dia. — disse.
— Muito bom dia. — ele falou, também abrindo um sorriso. Suas pálpebras continuaram intactas.
— Estamos atrasados para o café da manhã.
Na verdade, ela não tinha certeza. No entanto, pelo histórico dos dois, nem mesmo precisava olhar em um relógio para saber. Aquela não era a primeira noite que passavam juntos, só a primeira em que poderiam dizer que realmente haviam transado, e tinham o péssimo hábito de se atrasarem para lugares que não queriam realmente ir, ou até mesmo para aqueles que queriam.
— Vamos ficar por aqui então. Ninguém vai sentir a nossa falta. — sugeriu.
— Fala isso para o meu pai que deve estar se esforçando ao máximo nesse momento para não vir aqui pessoalmente e acabar com a nossa festa.
Ele grunhiu, frustrado. Talvez pedi-la em casamento na noite anterior não fosse uma ideia tão ruim assim, afinal de contas. Pelo menos teriam a liberdade de ir e vir, transar ou não transar, jantar ou não jantar, quando bem entendessem, sem quase uma dúzia de pais e mães para vigiá-los, pois já não bastavam os seus, também eram obrigados a lidar com os dos amigos.
abriu os olhos pronto para continuar suas reclamações em voz alta, mas a visão da namorada com o rosto ainda um pouco inchado de sono o calou. Seus fios de cabelo se cruzavam pelo travesseiro sem ordem alguma e a pouca maquiagem que usara na noite anterior estava levemente borrada sob os olhos. Ela parecia encantadora. Diria que até radiante.
— Você fica mais bonita a cada dia que passa, . — disse, deslizando um dedo pela sua bochecha.
— Você não fica para trás, . — ela respondeu, o fazendo sorrir.
— Tá tudo bem? — perguntou. E não porque ela não parecia bem, era só parte dos seus planos se certificar de que nada fosse errado naqueles dois dias.
— Você quer saber se eu estou bem desde algumas horas atrás quando você me perguntou isso pela sexta vez? É, eu acho que sim.
— Só tô tentando cuidar de você.
— Você tem cuidado bem o suficiente de mim, amor. Eu já sou grandinha, sabe? Muito independente, alguns diriam. Não precisa ficar se matando para me agradar só por causa do que aconteceu. Eu já te perdoei. Nós não estaríamos aqui se eu não tivesse perdoado. — disse suavemente, encaixando seu rosto no vão do pescoço dele e fechando os olhos novamente.
Havia colocado tudo o que tinham passado nos últimos dias em uma caixinha, junto com todas as outras partes ruins daquele relacionamento. Dessa maneira, não precisaria lidar com aquelas coisas e teria tempo para focar apenas em momentos como aqueles da noite passada e aquele ali mesmo.
— Não é por causa do que aconteceu. Eu gosto de te agradar.
— E eu gosto de ser agradada, desde que pelos motivos certos.
assentiu (da melhor maneira que pôde, considerando a posição em que estavam), fazendo carinho nas costas nuas da namorada. No fundo de sua mente, pensou estar esquecendo alguma coisa, mas logo a respiração calma dela contra a sua pele lhe chamou a atenção. Hipnotizado pelo som, ele nem viu quando os seus próprios olhos se fecharam e a inspiração e expiração dela sumiram.

e se sentiam como duas pessoas completamente diferentes naquele dia. E, por algum motivo, esperaram que as pessoas notassem o quão diferente tudo estava. Isso não aconteceu. Não recebeu nada além dos constantes olhares desconfiados de Johnatan, mas esses vinham desde a tarde do dia anterior.
— A atmosfera naquele quarto é incrível! — ela disse para logo depois do jantar.
— A cama é tão confortável! E firme na medida certa, sabe? — ele contou para no caminho para a praia.
— Às vezes, nós nos sentimos como se estivéssemos hospedados em um motel. — disseram, por fim, para Mark.
Nada. Nenhum comentário engraçadinho ou pergunta interessante que desse a abertura que precisavam para contar o que aconteceu. Decidiram, então, deixar a novidade para o ano que vem, que prometia muito para aqueles dois.
Era durona demais para admitir, mas sentia seu corpo quase explodir de tanto amor direcionado a . Enquanto todos ao seu redor tinham os olhos no céu, ela só os tinha para ele e ele só para ela. Em momentos como aquele, achavam difícil acreditar na sorte que tinham de ter se encontrado. Em momentos como aquele, também era impossível lembrar de todos os ruins que haviam passado para chegar até ali. Entretanto, era ano novo, e com ele vinha todas as promessas de um relacionamento melhor, mais saudável e estável, promessas de melhoras como seres humanos e namorados. Era um clichê, mas eles eram jovens e se permitiram acreditar em cada uma delas e em todas as outras que vieram depois do beijo da meia-noite. De testas coladas e olhares conectados, o mundo exterior pareceu deixar de existir.
— Eu te amo tanto. Vou ser melhor, eu prometo. Eu vou te fazer a garota mais feliz do mundo esse ano, custe o que custar. — falou, mais disposto do que nunca a colocar cada uma daquelas palavras em prática.
— Você já me faz a garota mais feliz do mundo, . Mesmo com todos os nossos defeitos, eu não consigo imaginar sentir algo melhor do que isso.
Não quando ele estava ali, tão próximo, tão perfeito e tão seu.
Foram obrigados a se separar com todos os desejos de feliz ano novo, mas, como em todos aqueles anos juntos, seja como melhores amigos ou namorados, eventualmente eles encontraram seus caminhos de volta um para o outro.

No, you won’t go breaking my heart.
You’ve seen that we got the same pain, same scar,
Felt that when we got closer in the dark. Baby, I’m okay.






Fim!



Nota da autora: FELIZ ANO NOVO!!!! Eu amo o ano novo e todo o recomeço que representa + vocês fizeram o meu último tão incrível que achei que mereciam um presentinho. Obrigada por serem tão maravilhosas e agraciarem minha vida com a sua presença! O textão tá no grupo do facebook, então não vou me prolongar muito aqui.
Para as que chegaram por aqui, é bom sempre lembrar que essa short é um spin-off de VERSUS, história em que o relacionamento desses dois está sendo constantemente problematizado. Aqui a gente não romantiza relacionamento tóxico não, a gente esfrega a verdade na cara.
Também quero deixar o meu enorme agradecimento a Gabi e a Ema (Emanuelle Mafra), que me ajudaram muito na hora de aperfeiçoar essa história. Vocês são uns anjos! <3
É isso! Espero que tenham gostado!




Outras Fanfics:
VERSUS | 14. Freak | 14. Angel on Fire


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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