Última atualização: 22/08/2023

Capítulo Um

Tem coisas que acontecem em nossas vidas por um motivo. Coisas que não somos capazes de explicar e nos pegamos pensando o porquê de aquilo ter que acontecer justamente conosco. Nunca fui o tipo de garota que fica se lamentando pelos cantos, fui criada para ser uma pessoa forte.
Fui criada sem meus pais. Mamãe morreu quando eu nasci, não cheguei a conhece-la. Tudo o que eu sei sobre ela, são as coisas que vovó me conta. E mesmo não tendo a conhecido, não existe um só dia em que eu não sinta a falta dela.
Já meu pai, é um grande tabu, ninguém quer falar sobre ele. Tudo o que eu sei é que ninguém entende como mamãe foi capaz de se envolver com ele, já que ela era boa demais para isso. Eu apenas acho que ela era boa o suficiente para ver amor onde talvez ninguém viu. Mesmo nele.
Fui criada longe do mundo bruxo, vovó tinha medo de que me fizessem mal depois das coisas que meu pai havia feito. Segundo ela, eu não tinha culpa de ser filha de quem era, mesmo que meu pai fosse um monstro, eu não era. E as pessoas ainda não estavam preparadas para aquilo.
Todos sabiam da minha existência, mas muitos achavam que eu estava morta. Que, provavelmente, meu próprio pai havia feito aquilo antes de ser derrotado. Que na noite em que ele invadiu a casa dos Potter, foi a noite em que ele me matou também.
Vovó prefere manter assim, ela acha que as pessoas não estão prontas para lidar comigo. Com a filha de Você-Sabe-Quem. Tanto que quando minha carta para Hogwarts chegou no meu aniversario de 11 anos, ela não deixou que eu fosse.
Lembro de chorar por dias e odiar o meu pai. Por culpa dele eu não poderia ter uma vida normal como qualquer outra garota bruxa. Não podia ter amigos ou sair de casa. Tinha que fingir que aquilo não me afetava, quando tudo o que eu desejava era ser livre.
Passei a estudar em casa, recebia os livros e provas, e tinha um prazo para entregar todas as lições. Não era o que eu queria, mas aquilo era tudo o que eu conhecia. Pelo menos até aquele dia.
Estava deitada na minha cama depois de despachar a coruja da família com as atividades da semana. Quando minha avó entrou desesperada no quarto segurando uma carta nas mãos. Seus cabelos sempre bem penteados e alinhados, estava com vários fios fora do lugar, seus olhos estavam cheios de lagrimas e suas mãos tremiam.
... – Disse em um sussurro com a voz emaranhada pela emoção. – Ele voltou.
Lembro-me de pular da cama e correr em direção a minha avó que me puxou para seus braços e começou a chorar. Mas tudo o que se passava na minha mente era: Ele voltou? Voldemort, voltou? Como?
Eram tantas perguntas, nada parecia se encaixar. E, por um instante, eu senti medo. Porque eu sabia, ele viria atrás de mim. Ele não descansaria até me encontrar, e provavelmente não existia nenhum lugar no mundo em que eu poderia me esconder dele.
Minha avó me apertou um pouco mais em seus braços antes de me soltar. Passou as mãos nos olhos limpando as lagrimas e respirou fundo.
— Você vai para Hogwarts.
— O quê? – Perguntei lívida. Eu havia ouvido direito? Eu iria para Hogwarts? – Como assim? Por que agora? Depois de tantos anos.
— Conversei com Dumbledore e nesse momento ele acredita que Hogwarts é o único lugar seguro no momento. Você começa no próximo ano letivo, no quinto ano. – Ela suspirou. – Um aluno morreu, , ele ressurgiu e agora você não está mais segura comigo. Eu queria muito manter você perto de mim, mas nesse momento a melhor escolha é te mandar para Hogwarts.
Apenas assenti e voltei a abraçá-la. Tinha muito medo por minha avó, porque eu estaria segura em Hogwarts, mas e ela? Quem cuidaria dela? Quando ele viesse, quem a protegeria? Eu só pedia a Merlim que mantivesse a minha avó segura.
Os meses antes das aulas começarem passaram voando e antes que eu percebesse, já estava na plataforma pronta para embarcar, com minha avó me abraçando apertado enquanto chorava.
— Prometa que vai me escrever toda semana. – Ela disse segurando meu rosto com as duas mãos.
— Eu prometo.
— Não ligue para o que as pessoas vão falar de você. Lembre-se, você é muito mais do que elas pensam, você é muito mais do que só a filha dele. Não deixem que te rotulem, mostre a eles que você pode carregar o sangue dele, mas não é ele.
— Eu vou tentar, vovó. – Sussurrei, abraçando-a pela última vez, ouvindo o apito do trem anunciando que logo partiria.
Separamo-nos, e ela me deu um último beijo na bochecha antes de me empurrar em direção ao trem. Suspirei e caminhei em direção a entrada segurando o meu malão. Entrei no trem sem olhar para traz, seria difícil demais dizer adeus. Por anos fomos só nós duas.
Caminhei pelos corredores procurando uma cabine vazia, ainda não estava preparada para falar para as pessoas quem eu era. Sabia muito bem qual seria a reação delas e não estava pronta para o que estava por vir. Então preferia ficar sozinha naquele momento.
Achei uma cabine vazia mais ao fundo e me acomodei nela, respirei fundo e tentei acalmar meus batimentos cardíacos, e a ficha foi caindo aos poucos.
EU ESTAVA INDO PARA HOGWARTS!
Calma, , pensei para mim mesma enquanto respirava fundo. Apesar das circunstâncias, aquele sempre foi o meu sonho e finalmente estava se realizando. Sentia que estava surtando naquele momento. E logo me lembrei de quem eu era e comecei a surtar por outros motivos. Afinal, eu era uma Riddle. Eu era filha de Voldemort. Como as pessoas reagiriam aquilo?
Por um momento quis descer do trem e voltar para a casa com minha avó, dizer a ela que poderíamos nos esconder melhor e que eu não precisaria ir para a escola. Mas o trem já havia partido e não havia nada que eu podia fazer para desistir daquilo.
Passei o caminho todo remoendo aquilo, minhas mãos tremiam e minha boca estava seca, sentia que estava entrando em pânico e tive que me acalmar várias vezes.
Agradeci a Merlim por ninguém ter tentado entrar na cabine, porque, sinceramente, eu não sabia o que faria ou diria.
Logo percebi que começou a escurecer e lembrei das palavras da minha avó antes de sair de casa sobre colocar meu uniforme. Tranquei a cabine e me vesti, olhando para meu uniforme todo preto, sem cores, por um momento pensei: Será que eu iria para Sonserina, como ele foi?
Tirei aquelas ideias da cabeça e senti que o trem tinha parado, finalmente tínhamos chegado. Peguei meu malão e fui me dirigindo para a porta de saída, tendo cuidado para não esbarrar em ninguém. Quando consegui finalmente sair, respirei fundo em alívio.
— ALUNOS DO PRIMEIRO ANO, COMIGO! – Ouvi um homem muito grande dizer, ele tinha um cabelo enorme e uma barba comprida também, era o maior homem que eu já tinha visto em toda minha vida. Quando ele me viu olhando, seus olhos se arregalaram e veio caminhando em minha direção meio hesitante. – V-você deve ser .
— Sim. – Eu disse reparando que ele olhava para todos os cantos menos para mim.
— Dumbledore disse que viria. – Ele disse. E apontou para o lago onde havia vários barcos. – Deve me acompanhar, pode deixar sua mala aí, ela será direcionada para seu quarto depois da seleção.
Apenas assenti e fui em direção aos barcos, reparando que várias pessoas me olhavam com curiosidade, afinal, eu era velha demais para estar no primeiro ano. Acomodei-me em um barco e esperei que todos os novos alunos estivessem em seus lugares antes de partimos, recebendo ainda mais olhares curiosos, mas ninguém realmente teve coragem de falar comigo.
Logo os barcos deram partida e Hogwarts entrou no meu campo de visão. Era simplesmente lindo. O castelo era muito mais do que nos meus sonhos. E por um momento fechei os olhos, rezando para que tudo desse certo e aquele ano passasse rápido.
Quando chegamos na margem, todos desembarcamos e Hagrid nos levou para dentro do castelo onde uma senhora nos esperava.
— Boa noite, eu sou a professora Minerva McGonagall e vou assumir a partir de agora, me sigam para a seleção de suas casas. – Os alunos formaram uma fila atrás dela enquanto ela abria uma enorme porta que revelava um salão de jantar.
Era simplesmente maravilhoso, nunca tinha visto nada parecido em toda a minha vida, me mantive atrás de todas as crianças mais novas e podia sentir o olhar de todos queimando em mim. Afinal, eu era velha demais para estar no primeiro ano. Eu já estava chamando atenção, e eles ainda nem sabiam quem eu realmente era.
— Quando eu chamar os seus nomes, sente-se e coloquem o chapéu sobre sua cabeça. – Professora McGonagall disse e começou a chamar pelos alunos.
Por todo o tempo da seleção, mantive minha cabeça abaixada, evitando olhar para as pessoas ao meu redor, ouvindo a comemoração das casas quando os alunos eram selecionados para elas. Estava quieta, perdida em meus pensamentos, até que chegou o momento.
Riddle. – E o salão que estava em festa ficou em silencio, por um momento parecia que ninguém era capaz de respirar devido ao choque. E no momento seguinte, parece que todos estavam falando ao mesmo tempo.
— Riddle?
— Como assim?
— Parente de Você-Sabe-Quem?
— Filha dele? Ela não tinha morrido?
— Como Dumbledore permitiu isso?
— Deve ser tão má e louca como ele.

Fechei meus olhos, respirei fundo e tentei bloquear todas aquelas palavras enquanto caminhava em direção ao banco e me sentava.
— Seleção para quê? Todos sabem que ela é da Sonserina.
— Deviam mandar ela embora! Estão todos loucos. Ela vai matar todo mundo!

Senti o chapéu repousando sobre minha cabeça e não me atrevi a olhar para frente. Não queria ver as expressões de horror que estavam dirigindo a mim naquele momento.
Interessante. Uma voz soou em minha mente fazendo com que eu me sobressaltasse. Sou apenas eu, um velho chapéu. Assustei-me ainda mais, ele estava falando dentro da minha cabeça? Sim, estou sim. E, vejamos, não tem uma mente má, o que me deixa surpreso é essa coragem, essa vontade de provar que é diferente. Tem muita determinação, vejamos...
GRIFINORIA! O chapéu gritou para todos ouvirem e diferentemente do que aconteceu nas outras vezes, ninguém aplaudiu, ninguém se levantou para me receber.
Olhei para as pessoas pela primeira vez e todos estavam me encarando chocados, como se não esperassem aquilo. Professora McGonagall me indicou a mesa ainda com a testa franzida e me olhando com certa curiosidade.
Dirigi-me para a mesa que ela me indicou, sentando-me, olhando pelos cantos dos olhos, pude ver as pessoas se afastando de mim, suspirei e encarei o prato vazio na minha frente.
Logo a seleção acabou e o jantar foi servido, belisquei algumas coisas, mas não estava com fome realmente, ainda podia sentir os olhos das pessoas em mim e podia ouvir os sussurros indignados dos meus colegas de casa. Eles não me queriam ali e não faziam cerimônia em comentar isso com seus amigos, sem medo de que eu pudesse ouvi-los.
Quando todos os alunos terminaram de comer e o nível de barulho no salão recomeçou a aumentar, Dumbledore tornou a se levantar. As conversas morreram imediatamente e todos se viraram para o diretor.
— Bem, agora que estamos todos digerindo mais um magnífico banquete, peço alguns minutos de sua atenção para os habituais avisos de início de trimestre — Anunciou Dumbledore. — Os alunos do primeiro ano precisam saber que o acesso à floresta em nossa propriedade é proibido aos estudantes... e a esta altura alguns dos nossos antigos estudantes já devem ter aprendido isso também. O Sr. Filch, o zelador, me pediu, segundo ele pela quadricentésima, sexagésima segunda vez, para lembrar a todos que não é permitido praticar magia nos corredores durante os intervalos das aulas, nem fazer outras tantas coisas, que podem ser lidas na extensa lista afixada à porta da sala dele. Houve duas mudanças em nosso corpo docente este ano. Temos o grande prazer de dar as boas-vindas à Professora Grubbly-Plank, que retomará a direção das aulas de Trato das Criaturas Mágicas; estamos também encantados em apresentar a Professora Umbridge, nossa nova responsável pela Defesa Contra as Artes das Trevas.
Houve uma rodada de aplausos educados, mas pouco entusiásticos, eu apenas me concentrava em manter minha atenção em Dumbledore, ainda conseguia sentir os olhares de horror dos alunos em mim.
O diretor continuou:
— Os testes para entrar para os times de quadribol das casas serão realizados...
Ele interrompeu o que ia dizendo, com um olhar indagador à Professora Umbridge. Como ela não era muito mais alta em pé do que sentada, por um momento ninguém entendeu por que Dumbledore parará de falar, mas então a professora pigarreou:
— Hem, hem — e ficou claro que se levantara e pretendia falar. Dumbledore pareceu surpreso apenas por um instante, então, sentou-se com elegância e olhou atento para a Professora Umbridge, como se ouvi-la fosse a coisa que mais desejasse na vida. Os outros membros do corpo docente não foram tão competentes em esconder sua surpresa.
— Obrigada, diretor... — Disse a professora, sorrindo afetadamente. — Pelas bondosas palavras de boas-vindas. — Bem, devo dizer que é um prazer voltar a Hogwarts! — Ela sorriu, revelando dentes muito pontiagudos. — E ver rostinhos tão felizes voltados para mim! Estou muito ansiosa para conhecer todos vocês, e tenho certeza de que seremos bons amigos! O ministro da Magia sempre considerou a educação dos jovens bruxos de vital importância. Os dons raros com que vocês nasceram talvez não frutifiquem se não forem nutridos e aprimorados por cuidadosa instrução. As habilidades antigas, um privilégio da comunidade bruxa, devem ser transmitidas às novas gerações ou se perderão para sempre. O tesouro oculto de conhecimentos mágicos acumula dos pelos nossos antepassados deve ser preservado, suplementado e polido por aqueles que foram chamados à nobre missão de ensinar. – A Professora Umbridge fez uma pausa e uma reverência aos seus colegas, mas nenhum deles lhe retribuiu o cumprimento. — Todo diretor e diretora de Hogwarts trouxe algo novo à pesada tarefa de dirigir esta escola histórica, e assim deve ser, pois sem progresso haverá estagnação e decadência. Por outro lado, o progresso pelo progresso não deve ser estimulado, pois as nossas tradições como provadas raramente exigem remendos. Então um equilíbrio entre o velho e o novo, entre a permanência e a mudança, entre a tradição e a inovação...
Notei algumas alunas olhando para mim e cochichando entre si, quando perceberam que eu estava olhando apara elas, desviaram o olhar rapidamente, suspirei sabendo que aquilo aconteceria várias vezes naquele ano e provavelmente em todos os anos que viessem.
—... Porque algumas mudanças serão para melhor, enquanto outras virão, na plenitude do tempo, a ser reconhecidas como erros de julgamento. Entrementes, alguns velhos hábitos serão conservados, e muito acertadamente, enquanto outros, antigos e desgastados, precisarão ser abandonados. Vamos caminhar para a frente, então, para uma nova era de abertura, eficiência e responsabilidade, visando a preservar o que deve ser preservado, aperfeiçoando o que precisa ser aperfeiçoado e cortando, sempre que encontrarmos, práticas que devem ser proibidas. – Professora Umbridge terminou e se sentou.
Dumbledore aplaudiu. O corpo docente acompanhou a sua deixa. Alguns alunos secundaram os aplausos, mas a maioria foi apanhada de surpresa pelo fim do discurso, porque não ouvira mais do que umas poucas palavras do todo, e antes que eles pudessem começar a aplaudir devidamente, Dumbledore tornou a se erguer.
— Muito obrigado, Professora Umbridge, foi um discurso muito esclarecedor. — Disse, curvando-se para a bruxa. — Agora, como eu ia dizendo, os testes de quadribol serão realizados...
Suspirei parando de prestar atenção, tudo o que eu queria era me deitar e tentar raciocinar tudo o que havia acontecido naquele dia. Logo o diretor terminou de dar os avisos e liberou para que todos pudessem ir para seus dormitórios.
— Alunos do primeiro ano, me sigam. – Uma garota, com cabelos cacheados e volumosos ao lado de um garoto ruivo alto, disse, logo percebi que devia ser os monitores e resolvi segui-los um pouco mais distantes. E mesmo assim todos ainda olhavam para mim. Respirei fundo, pensando em quanto tempo ainda teria que aguentar aquilo.
Segui-os pelos amontoados de escadas e quadros que se mexiam, apesar de toda a situação, estava encantada com tudo. Hogwarts era maravilhosa.
Logo paramos em frente a um retrato de uma mulher.
— Essa é a Mulher Gorda, ela guarda a entrada do nosso salão comunal e para entrar precisamos falar uma senha. – O menino ruivo disse. – Mimbulus mimbletonia!
— Certo. — Disse a Mulher Gorda, e seu retrato girou para o lado como se fosse uma porta, deixando à mostra um buraco redondo na parede, pelo qual os alunos novos começaram a entrar.
A sala comunal da Grifinória tinha a aparência hospitaleira, uma sala aconchegante e circular na torre da Casa, repleta de poltronas fofas e velhas mesas desconjuntadas. Um fogo muito vivo crepitava na lareira e uns poucos alunos aqueciam nele as mãos, antes de subir para os dormitórios.
— Os dormitórios das meninas ficam para esse lado. – A menina que era monitora disse, e várias meninas passaram a segui-la. Continuei a acompanhá-las. – Seus nomes vão estar escritos nas portas dos seus dormitórios. E suas coisas já vão estar esperando ao lado de suas camas.
Caminhei entre as novatas procurando meu nome e logo encontrei, entrei no meu dormitório, que dividiria com mais 4 garotas, e logo localizei a minha cama, caminhei rapidamente para lá e abri meu malão. Por um momento admirei as cores dourada e vermelha das minhas coisas e o brasão do leão. Por um momento aquilo parecia certo, parecia que era ali que eu realmente deveria estar.
Aproveitei que nenhuma das meninas que dividia o quarto comigo estava ali e me troquei, colocando o meu pijama, me deitei na cama e puxei as cobertas, fechando os olhos com força. Enquanto adormecia, apenas rezava que o outro dia fosse melhor, mesmo sabendo que seria mil vezes pior.


Capítulo Dois

Se eu disser que consegui dormir, estaria mentindo. Não consegui pregar os olhos por nenhum momento naquela noite. Ainda mais depois de ter ouvido a conversa de duas meninas que compartilhavam o dormitório comigo.
Depois que eu já estava deitada e acomodada em minha cama, a porta se abriu, puxei a coberta rapidamente e fechei os olhos com força. Não queria que elas soubessem que eu estava acordada.
— Eu não acredito! Vamos dividir o dormitório com ela?!
— Shhhhhh, Lilá, não queremos que ela nos ouça. – A outra disse. – Deve ser tão pirada e má quanto o pai dela, vai que depois quer matar a gente?
— O chapéu seletor só pode estar louco, alguém como ela deveria estar na sonserina. – A garota, Lilá, disse. – Vou enviar uma carta para mamãe amanhã mesmo contando sobre isso.
— Eu também vou, não deveríamos estar perto dela.
Fechei os olhos com mais força e senti minha garganta se fechando. Não chore!, ordenei a mim mesma. Não choraria por aquilo e nem por nada, eu já esperava que seria assim. Tinha que ser forte, tinha muitos outros problemas na minha vida no momento para me preocupar com o que as pessoas achavam de mim.
Mesmo que tudo o que eu mais desejava era que as pessoas me vissem apenas por quem eu era, até isso ele conseguiu estragar.
Aquela foi uma das noites mais difíceis da minha vida. Rolei na cama durante horas, e logo já era possível ver a luz do sol entrando pela janela. Suspirei me levantando, eu sabia que não conseguiria dormir, então, não havia motivos para continuar na cama por mais tempo.
Abri meu malão pegando meu uniforme, que agora tinha o brasão do leão e as cores douradas e vermelhas. Peguei minhas coisas e fui rapidamente para o banheiro, onde pude tomar um longo banho, preparando-me mentalmente para os olhares que viriam já no café da manhã.
Quando já estava com o uniforme posto e estava apenas penteando os meus cabelos negros em frente ao espelho do banheiro, a porta se abriu, revelando a menina monitora que tinha guiado os alunos na noite passada.
Assim que ela viu que não estava sozinha no banheiro, seus olhos se arregalaram e deu um passo hesitante para dentro, como se pensasse se realmente deveria entrar comigo ali.
— Eu já estou terminando. Pode ficar à vontade. – Eu disse rapidamente, não queria que ela fosse embora, apenas porque eu estava no banheiro, e se eu quisesse que as pessoas gostassem de mim, se eu quisesse que elas vissem quem eu realmente era, teria que começar a mostrar aquilo para elas. – À propósito, sou . — Hermione Granger. – Ela disse ainda meio hesitante, mas tomando coragem e adentrando de vez no banheiro. Comemorei aquilo internamente. – Seja bem-vinda a Hogwarts, teve uma boa noite?
— Na medida do possível, acho que sim. – Respondi e vi que ela queria perguntar, mas se segurou e começou a pentear os seus cabelos. – Acho que as pessoas não estavam preparadas para a minha vinda, então está sendo complicado.
— Você é mesmo filha de...? – Ela começou meio sem jeito.
— Sou sim, e não, não o conheço, nunca vi, não tenho nenhum contato. Quem me criou foi a minha avó, mãe da minha mãe.
— E onde você estudava antes de vir para Hogwarts?
— Em casa, vovó nunca deixou que eu saísse muito, tinha medo do que as pessoas fariam comigo se soubessem quem era meu pai. – Eu disse, guardando minhas coisas dentro da minha bolsinha. – As pessoas estão tão fixadas nas maldades que ele fez, que esquecem de ver que eu não sou ele, que tive uma criação diferente e não tenho nenhuma intenção de me tornar igual a ele.
Terminei de guardar as minhas coisas e saí do banheiro. Quando entrei no dormitório, as duas outras garotas já estavam acordadas e arregalam os olhos quando adentrei, saindo, em seguida, rapidamente do quarto. Suspirei, guardando minhas coisas e pegando minha bolsa com os materiais que eu achava necessário, já havia recebido minha grade de aulas antes de entrar na escola, então estava tranquila quanto a isso.
Peguei um pequeno mapa que minha avó havia me dado e logo localizei o salão principal. E rumei para lá. Dei graças a Merlim pelo salão comunal se encontrar vazio, as pessoas ainda estavam acordando, então provavelmente os corredores estariam igualmente vazios.
E realmente estavam. No caminho até o salão principal, encontrei apenas algumas pessoas. E todas elas estavam com muito sono para repararem em mim. Sentei-me na mesa da minha casa e peguei um copo de leite puro e algumas panquecas. Como quase não havia conseguido jantar na noite anterior, estava com muita fome, portanto, aproveitei que ninguém parecia notar que eu estava ali e comi.
Mas minha alegria não durou muito. Logo o salão começou a encher e eu já era capaz de sentir os olhos das pessoas em mim. Suspirei e levantei a cabeça e foi quando olhos cinzas encontraram os meus. Ele estava nitidamente olhando para mim, mas diferente das outras pessoas, ele me olhava com curiosidade.
Arqueei minha sobrancelha esperando intimidá-lo, mas tudo o que eu recebi foi um sorriso antes dele desviar os olhos e começar a conversar com seu colega de casa.
Por um momento, fiquei intrigada com aquela atitude e fiquei pensando em quem seria ele. Quem era aquele garoto que, dentre tantas pessoas, não demonstrou ter medo de mim? E aquilo me animou. Será que finalmente eu faria um amigo?
Comi um pouco mais animada e procurei a sala de história da magia no meu mapa. Logo localizando e traçando o caminho até lá. Peguei minhas coisas, terminei o meu leite em um único gole e me coloquei a andar pelos corredores. Tive que parar algumas vezes para me certificar que estava no caminho certo, já que a vez em que parei para perguntar a um aluno onde ficava a sala, ele havia saído correndo.
Dessa vez os corredores já se encontravam cheios de alunos, e tentei ao máximo não encarar de volta as pessoas que estavam olhando para mim. Tentaria ao máximo não as assustar ainda mais.
Por onde eu passava, as pessoas saíam no meu caminho, o que de certa forma foi bom, fez-me chegar mais rápido na sala de aula. Aproveitando que ainda não havia ninguém na sala, escolhi um lugar mais ao fundi, onde as pessoas teriam que olhar para trás, se quisessem ficar me encarando. Logo os alunos começaram a entrar e pareciam ter senso o suficiente para não me encararem. E foi quando ele entrou.
O menino que sobreviveu.
Eu sabia que o encontraria aqui, tinha até estranhado de não ter notado a presença dele antes. Mas, naquele momento, foi impossível meus olhos não encontrarem os dele, fazendo com que ele hesitasse na porta. Ele franziu a testa e desviou o olhar, indo se sentar com seus amigos, o garoto ruivo e Hermione, do outro lado da sala.
A História da Magia era, por consenso, a disciplina mais chata que a bruxidade inventara. Binns era um professor fantasma, tinha uma voz asmática e monótona que era quase uma garantia de provocar grave sonolência em dez minutos. Ele falava sem fazer uma única pausa, enquanto a turma anotava suas palavras, ou melhor, mirava sonolentamente o vazio. Pelo menos eu tentava me manter acordada, ainda mais depois daquela noite mal dormida, aquilo estava sendo um desafio.
Tentei me concentrar no que o professor estava falando e anotava de vez em quando algumas coisas em meu pergaminho. Ouvi risadinhas e me deparei com duas meninas me olhando sobre o ombro, assim que perceberam que eu as estava olhando, viraram rapidamente para frente, fazendo com que eu rolasse meus olhos.
Tive que aguentar mais alguns olhares e algumas horas sobre a guerra dos gigantes, assunto que eu já estava mais do que familiarizada, já que vovó era muito rigorosa sobe meus estudos, e quase não me deixava ter tempo ocioso, segundo ela, deveria manter sempre a mente ocupada. Naquele momento meu peito se apertou de saudades da minha avó.
As horas demoraram a passar e me peguei cochilando algumas vezes. Quando o sinal finalmente tocou anunciando o fim da aula, pude perceber várias pessoas se assustando e outras saindo correndo dali. Minha próxima aula seria poções, então abri meu mapa novamente para me localizar antes de sair da sala de aula.
Caía uma chuvinha fina e nevoenta, que fazia os contornos das pessoas paradas em grupos ao redor do pátio parecerem esfumados. Virei para cima as golas das vestes para me proteger do ar gelado de setembro. Odiava o frio, por isso, me apressei em andar até as masmorras, sendo mais uma vez a primeira a chegar na sala de aula, escolhendo novamente um lugar mais a fundo na sala.
Estava distraída pegando minhas coisas que nem percebi quando alguém se sentou ao meu lado. Levei um susto e olhei apreensiva me deparando com os olhos cinzas do garoto do café da manhã.
— Olá... – Ele disse entendendo sua mão. – Sou Draco Malfoy.
Olhei para sua mão por um momento antes de apertá-la. Eu conhecia seu sobrenome, minha avó havia me feito aprender o sobrenome de todos os bruxos que eu deveria manter distância e Malfoy estava entre eles.
— Sou . – Eu disse simplesmente, tornando a pegar meu livro de poções e me fixando no quadro negro a frente, vendo mais alunos entrarem na sala.
— Eu sei... Quer dizer, todos sabemos quem você é. – Ele disse casualmente. – Só tem uma coisa que eu não consigo entender.
— O quê? – Perguntei voltando a olhá-lo. Ele tinha a testa franzida e me olhava com curiosidade.
— Grifinória?
— O que tem a grifinória? – Perguntei confusa, sem entender aonde ele queria chegar com aquela conversa.
— De todas as casas, logo a grifinória? O pessoal está todo abismado que você não foi para a sonserina. O que seria bem mais lógico. – Ele disse ainda me analisando.
— Claro, nesse momento eu deveria estar matando todos os nascidos trouxas também. – Rolei meus olhos. – Talvez até começando a terceira guerra bruxa.
Malfoy abriu a boca para falar, mas naquele momento o Professor Snape entrou na sala de aula.
— Quietos. — disse Snape friamente, fechando a porta ao passar. Não havia real necessidade de dar essa ordem, e, quando a turma ouviu a porta fechar, o silêncio se instalou e todo o bulício terminou.
A mera presença de Snape parecia que era o suficiente para garantir o silêncio da classe.
— Antes de começarmos a aula de hoje... — Disse o professor, caminhando imponente até a escrivaninha e correndo os olhos pelos alunos. — Acho oportuno lembrar a todos que em junho próximo prestarão um importante exame, no qual provarão o quanto aprenderam sobre a composição e o uso das poções mágicas. Por mais debilóides que sejam alguns alunos desta turma, eu espero que obtenham no mínimo um “Aceitável” no seu N.O.M., ou terão de enfrentar o meu... Desagrado. Quando terminar este ano, naturalmente, muitos de vocês deixarão de estudar comigo. Só aceito os melhores na minha turma de Poções preparatória para o N.I.E.M., o que significa que a alguns de nós, certamente, vamos dizer adeus. Mas ainda teremos um ano antes do feliz momento das despedidas, portanto, pretendam ou não tentar os exames dos N.I.E.M.s, aconselho a todos que se concentrem em obter a nota alta que sempre espero dos meus alunos de N.O.M.
“Hoje vamos aprender a misturar uma poção que sempre é pedida no exame dos Níveis Ordinários em Magia: a Poção da Paz, uma beberagem para acalmar a ansiedade e abrandar a agitação. Mas fiquem avisados: se pesarem muito a mão nos ingredientes, vão mergulhar quem a beber em um sono pesado e por vezes irreversível, por isso prestem muita atenção no que vão fazer.” Os ingredientes e o método — Snape fez um gesto rápido com a varinha — estão no quadro-negro — (eles apareceram ali) —, encontrarão tudo de que precisam. — Ele tornou a agitar a varinha. — No armário do estoque — (a porta do armário mencionado se abriu) — E vocês têm uma hora e meia... podem começar.
Snape não poderia ter passado para os alunos uma poção mais difícil e demorada. Os ingredientes tinham de ser acrescentados ao caldeirão na ordem e quantidade precisas; a mistura tinha de ser mexida o número exato de vezes, primeiro no sentido horário, depois no anti-horário; o calor e as chamas em que a poção cozinharia tinham de ser reduzidos a um nível exato, por um número específico de minutos antes do último ingrediente ser adicionado.
— Um vapor claro e prateado deve se desprender da poção. — Avisou Snape. — Dez minutos antes de ficar pronta.
Esperei um pouco os alunos saírem de perto do armário antes de me levantar e pegar os ingredientes para a poção. Graças a Merlim era muito boa em poções, logo não tive nenhuma dificuldade em começar o preparo daquela.
— Então... – Malfoy começou.
— Não, eu não torturo pessoas no meu tempo livre. – Murmurei o vendo sorrir pelo canto dos olhos e quase não consegui segurar o meu próprio sorriso.
— Uma pena eu diria, pensei que poderíamos fazer isso juntos. – Disse fazendo com que eu me virasse em sua direção e deixasse a poção de lado por alguns minutos.
— O que você quer, Malfoy? – Fui direta, fazendo com que ele levantasse as sobrancelhas.
— Apenas te conhecer, tem algum problema nisso?
— Isso tem a ver com meu sobrenome?
— E por que não teria? – Ele disse dando de ombros e voltando sua atenção para a sua poção. – Temos que ser bem relacionados, você não vai gostar de fazer amizade com as pessoas erradas. Algumas famílias de bruxas são melhores do que outras e logo você vai descobrir isso.
Abri minha boca, mas logo fui interrompida pelo professor Snape que parou em frente à minha bancada, e me olhou como se eu fosse a pior das espécies do mundo.
— Vejo que vocês parecem ter coisas melhores para fazer do que realizar o que foi solicitado.
— O Malfoy...
— Realmente não quero saber. – Disse ríspido não deixando com que eu falasse. – Sugiro que retorne para sua poção, sem conversas, ou tirarei 10 pontos da grifinória.
Voltei rapidamente para minha poção e olhei feio para Malfoy, afinal, quem tinha começado com aquela conversa era ele. Conforme o tempo passava, pude reparar que Snape parecia odiar os alunos da grifinória, já que sempre os criticava. Então não tornei mais a falar com Malfoy.
Logo uma fumaça prateada saia da minha poção, o que fez com que eu desse um sorriso de satisfação, estava quase acabando.
— Potter, que é que você acha que isto é? – Snape disse fazendo com que eu olhasse. Os alunos da Sonserina sentados na frente da sala ergueram a cabeça, pressurosos.
— A Poção da Paz. — Respondeu o garoto, nitidamente tenso.
— Diga-me, Potter. — Perguntou Snape baixinho. — Você sabe ler?
Draco Malfoy deu uma risada ao meu lado, fazendo com que eu o olhasse feio, o que fez com que seu sorriso só aumentasse. Garoto idiota, pensei.
— Sei, sim, senhor. — Disse Harry.
— Leia a terceira linha das instruções para mim, Potter.
De onde eu estava, pude ver Harry apertando os olhos para ver o quadro-negro; não era fácil ler as instruções através da névoa de vapor multicolorido que agora enchia a masmorra.
— Acrescente a pedra da lua moída, mexa três vezes no sentido anti-horário, deixe cozinhar durante sete minutos, depois junte duas gotas de xarope de heléboro... – Sua voz foi sumindo aos poucos.
— Você fez tudo que estava na terceira linha, Potter?
— Não, senhor. — Respondeu Harry baixinho.
— Como disse?
— Não. — Repetiu o garoto mais alto. — Esqueci o heléboro.
— Eu sei que esqueceu, Potter, o que significa que essa porcaria não serve para nada. Evanesco! – O conteúdo do caldeirão de Harry desapareceu; ele ficou parado como um tolo ao lado do caldeirão vazio. — Os alunos, que conseguiram ler as instruções, encham um frasco com uma amostra de sua poção, colem uma etiqueta com o seu nome escrito com clareza e tragam-no à minha escrivaninha para verificação. — Disse Snape. — Dever de casa: trinta centímetros de pergaminho sobre as propriedades da pedra da lua e seus usos no preparo de poções, a ser entregue na terça-feira.
Caminhei até o armário e peguei um frasco, pensei por um momento e peguei mais um. Já no meu caldeirão, enchi o meu frasco, escrevi o meu nome e fiquei olhando para o outro frasco pensando se eu deveria fazer aquilo mesmo. Acabei decidindo que sim, então raspei o conteúdo que ficou no meu caldeirão e acrescentei mais algumas coisas para conseguir encher mais um frasco, não ficou perfeito que nem o meu, mas serviria.
Assim que o sinal tocou, anunciando o final da aula, os alunos começaram a sair deixando seus frascos em cima da mesa do professor Snape. Respirei fundo e antes que perdesse a coragem, fui de encontro a Harry.
— Hey, Potter... – Chamei, fazendo com que ele se virasse confuso em minha direção. – Pega.
Joguei o segundo frasco em sua direção, ele o agarrou rapidamente e me olhou confuso. Não dando a chance de ele falar nada, me virei, indo em direção à mesa de Snape, coloquei meu frasco junto com os outros e sai da sala.

Capítulo Três

Caminhei em direção ao salão principal, era hora do almoço, os alunos naquele horário já pareciam estar acostumados com a minha presença, ou estavam com muita fome, já que ninguém me encarava ou parecia dar a mínima para a minha presença.
Sentei-me na mesa e logo já pequei um pastelão e um pouco de suco de abobora. Apesar de não estar tendo uma boa experiencia em Hogwarts ainda, eu não podia negar que a comida era maravilhosa, uma das melhores que já provei. Enquanto terminava de comer, avistei Penny, a minha coruja. Ela pousou em meu ombro, peguei o pergaminho que estava em sua pata direita e lhe dei um pedaço de coxa de frango, o que fez com que ela voasse feliz para longe dali.
Limpei minhas mãos e desenrolei o pergaminho, sorrindo ao ver a letra de vovó.

Querida neta,
Estou com muitas saudades de você, confesso que estar longe de você nesse momento tem partido meu coração, mas tento colocar em minha cabeça de que isso é o melhor para você nesse momento e que logo vamos estar juntas novamente.
Mas não é fácil, nesses 15 anos, tudo o que eu fiz foi cuidar de você e sem você aqui, acho que não tenho mais propósito. Mesmo tendo coisas para fazer nesse momento.
Mas não foi para falar de mim que estou escrevendo. Como foi sua primeira noite? Ocorreu tudo bem? Pra que casa foi? Eu sei que independente de que casa estiver, vai ser fantástica, não tem um único dia que você não me encha de orgulho.
Nós vemos nas férias de Natal, o que eu não vejo a hora. E Lembre-se, você é mais do que os outros pensam de você, só precisa mostrar isso a eles.
Com amor, vovó.


Meus olhos se encheram de lágrimas e meu peito se apertou com a saudade que eu estava. Nunca em toda a minha vida, havia passado nem um dia sequer longe da minha avó. Ela me criou, me ensinou e me tornou a pessoa que sou hoje, devo tudo a ela.
Terminei de comer a sobremesa rapidamente e sai em busca de um lugar par responde a carta de vovó. Acabei me sentando em uma mureta de frente a um grande campo que dava para um lago. Queria ter me sentado na grama, mas a leve garoa não me permitiu isso. Então peguei o meu tinteiro e um pergaminho.

Oi vovó, também sinto muitas saudades, esse dia longe de você foi um dos mais difíceis da minha vida, não ter a senhora gritando as 6h da manhã foi no mínimo muito estranho.
As pessoas não têm sido muito receptivas, mas era o que já esperávamos, não é? Não vim pra cá esperando ser aceita, mas as vezes dói imaginar que não vou ter amigos. Porém tem um garoto, Draco Malfoy, eu sei que não deveria falar com ele, mas ele parece não ter medo de mim, e as vezes me pego pensando se não deveria ir falar com ele. Mas não se preocupe, isso é só um pensamento.
Estou na grifinória, e parece que cometi um pecado, todos me olham como se eu fosse a pior das aberrações por não ter ido para a sonserina. Mas realmente agradeço por não estar lá.
Não vejo a hora do recesso de natal, quero vê-la logo. Fique bem.


Olhei para o meu relógio e vi que daria tempo de ir ao corujal entregar aquela carta antes de ir para a aula de Adivinhação. Então mais do que depressa localizei o lugar no meu mapa e corri em sua direção, queria entregar a resposta ainda hoje. Na minha pressa não reparei quando trombei em alguém. Fazendo com que nós dois fossemos ao chão.
- Me desculpe, não estava olhando... – Potter começou, até ver que era eu quem ele havia derrubado. – Ahh, você...
- Sim, eu. – Rolei os olhos me levantando, peguei as minhas coisas no chão. – Também não estava prestando atenção, então me desculpe também.
Comecei a contorna-lo, realmente tinha pressa em levar aquela carta a minha avó, se não conseguisse naquele horário, só conseguiria a noite, após o jantar e eu não estava afim de encarar o friozinho que estava fazendo.
- Heey, Riddle... – Harry chamou quando eu já estava a uns cinco passos de distância.
- Sim? – Me virei meio impaciente.
- Por que me ajudou hoje na aula de Snape? Eu podia ter dado um jeito.
- Só quis ajudar um colega de casa, não foi certo o que ele fez. – Dei de ombros, batendo o pé meio ansiosa.
- Eu não preciso da sua ajuda. – Ele disse meio arrogante. – Posso me virar sozinho, não preciso de uma Riddle fazendo as coisas para mim.
Fiquei atônita por um momento e encarei seus olhos que me olhavam com certa raiva. Podia ser até compreensivo, dado o que meu pai fez aos pais dele, mas naquele momento eu não quis pensar naquilo. Tudo o que eu tinha feito era ajudar e ele falava daquele jeito comigo!
- Ótimo Potter, da próxima vez, deixo você tirar 0 em poções.
- Ótimo. – Ele disse se virando e andando para longe.
- Idiota. – Murmurei enquanto virava as costas e ia para o corujal.

***


Professora Trelawney, uma mulher magra, envolta em pesados xales e refulgente de colares, cujos óculos ampliavam enormemente seus olhos. Estava atarefada, colocando exemplares de livros encadernados em couro, mas muito usados, sobre cada uma das mesinhas instáveis que atravancavam sua sala, quando entrei. Porém, a luz refletida pelos abajures cobertos por lenços de seda e pelo fogo baixo e nauseante da lareira era tão fraca que a professora pareceu não ter notado minha presença quando me sentei nas sombras. Os demais alunos foram chegando nos cinco minutos seguintes.
— Bom dia. — Saudou a Professora Trelawney, com a voz difusa e sonhadora. — E bom retorno à Adivinhação. Eu estive naturalmente acompanhando o destino de vocês com a maior atenção durante as férias, e estou felicíssima que todos tenham voltado a Hogwarts sãos e salvos, como, aliás, eu sabia que aconteceria. Vocês vão encontrar nas mesas à sua frente exemplares do Oráculo dos sonhos. A interpretação dos sonhos é um meio dos mais importantes para adivinhar o futuro, e que por isso pode muito provavelmente ser exigido no seu N.O.M. Não que eu acredite, é claro, que ser aprovado ou não em um exame tenha a mais remota importância, quando tratamos da arte sagrada da adivinhação. Se a pessoa tem o Olho que vê, os certificados e as séries concluídas não vêm ao caso. Contudo, o diretor gosta que vocês prestem exames, portanto... – A voz da professora foi baixando delicadamente, não deixando aos alunos a menor dúvida de que ela considerava a sua disciplina acima de detalhes sórdidos como exames. — Abram, por favor, na Introdução, e leiam o que Imago tem a dizer sobre a interpretação de sonhos. Depois, quero que se dividam em pares e usem o Oráculo dos sonhos para interpretar os sonhos mais recentes um do outro. Comecem.
Peguei tudo o que eu precisava e comecei a fazer o meu trabalho, sozinha. Sabia que ninguém ia querer fazer comigo e aquilo não importava no momento. Fiz tudo o que consegui e a aula de Adivinhação passou voando, e com ela veio mais dever de casa.
Me animei um pouco quando vi que a próxima aula Defesa Contra as Artes das Trevas, minha matéria favorita então peguei minhas coisas e fui para a sala de aula. Quando entrei na sala de aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, encontrei a Professora Umbridge já sentada à escrivaninha, usando o casaquinho peludo cor-de-rosa da noite anterior e o laço de veludo preto na cabeça.
A turma entrou na sala em silêncio; a Professora Umbridge era, até aquele momento, uma incógnita, e ninguém sabia se seria ou não adepta da disciplina rigorosa.
— Bom, boa-tarde! — Disse ela finalmente, quando a turma inteira acabou de sentar. Alguns alunos murmuraram “boa-tarde” em resposta. — Tss-tss — Muxoxou a professora. — Assim não vai dar, concordam? Eu gostaria que os senhores, por favor, respondessem: “Boa tarde, Professora Umbridge.” Mais uma vez, por favor. Boa tarde, classe!
— Boa-tarde, Professora Umbridge. — Entoaram os alunos monotonamente.
— Agora sim. — Disse a professora com meiguice. — Não foi muito difícil, foi? Guardem as varinhas e apanhem as penas.
Muitos alunos trocaram olhares sombrios; então percebi que nunca antes à ordem “guardem as varinhas” se seguira numa aula que eles achassem interessante. Guardei a varinha de volta na mochila e apanhei pena, tinta e pergaminho. A Professora Umbridge abriu a bolsa e tirou a própria varinha, que era excepcionalmente curta, e com ela deu uma pancada forte no quadro-negro; imediatamente apareceu ali escrito: Defesa Contra as Artes das Trevas Um Retomo aos Princípios Básicos.
— Bom, o ensino que receberam desta disciplina foi um tanto interrompido e fragmentário, não é mesmo? – Afirmou a Professora Umbridge, virando-se para encarar a turma, com as mãos perfeita mente cruzadas diante do corpo. – A mudança constante de professores, muitos dos quais não parecem ter seguido nenhum currículo aprovado pelo Ministério, infelizmente teve como consequência os senhores estarem muito abaixo dos padrões que esperaríamos ver no ano dos N.O.M.s. Os senhores ficarão satisfeitos de saber, porém, que tais problemas agora serão corrigidos Este ano iremos seguir um curso de magia defensiva, aprovado pelo Ministério e cuidadosamente estruturado em torno da teoria. Copiem o seguinte, por favor.
Ela tornou a bater no quadro; a primeira mensagem desapareceu e foi substituída por “Objetivos do Curso”.

1. Compreender os princípios que fundamentam a magia defensiva.

2. Aprender a reconhecer as situações em que a magia defensiva pode legalmente ser usada.

3. Inserir o uso da magia defensiva em contexto de uso.


Por alguns minutos o som de penas arranhando pergaminhos encheu a sala. Depois que todos copiaram os três objetivos do curso da Professora Umbridge, ela perguntou:
— Todos têm um exemplar de Teoria da magia defensiva de Wilbert Slinkhard?
Ouviu-se um murmúrio baixo de concordância por toda a sala.
— Acho que vou tentar outra vez. — Disse ela. — Quando eu fizer uma pergunta, gostaria que os senhores respondessem: “Sim, senhora. Professora Umbridge” ou “Não, senhora, Professora Umbridge”. Então: todos têm um exemplar de Teoria da magia defensiva de Wilbert Slinkhard?
— Sim, senhora, Professora Umbridge. — Ecoou a resposta pela sala.
— Ótimo. Eu gostaria que os senhores abrissem na página cinco e lessem o Capítulo Um, “Elementos Básicos para Principiantes”. Não precisarão falar.
A Professora Umbridge deu as costas ao quadro e se acomodou na cadeira, à escrivaninha, observando todos os alunos, com aqueles olhos empapuçados de sapo. Abri à página cinco do meu exemplar de Teoria da magia defensiva e começei a ler. Era desesperadamente monótono, tão ruim quanto escutar o Prof. Binns. Senti minha concentração ir fugindo; logo tinha lido a mesma linha meia dúzia de vezes, sem absorver nada além das primeiras palavras. Vários minutos se passaram em silêncio.
Olhei para a direita e tive uma surpresa que sacudiu o meu torpor. Hermione sequer abrira seu exemplar de Teoria da magia defensiva. Olhava fixamente a Professora Umbridge com a mão levantada... Depois de se passarem vários minutos, porém. Eu já não era a única que olhava para Hermione. O capítulo que a professora nos mandara ler era tão tedioso que o número cada vez maior de alunos estava preferindo observar a muda tentativa de Hermione de ser notada pela professora a continuar penando para ler os “Elementos Básicos para Principiantes”
Quando mais da metade da classe estava olhando para Hermione e não para os livros, a professora pareceu decidir que não podia continuar a ignorar a situação.
— Queria me perguntar alguma coisa sobre o capítulo, querida? — Perguntou ela a Hermione, como se tivesse acabado de reparar nela.
— Não, não é sobre o capítulo. — Respondeu Hermione.
— Bem, é o que estamos lendo agora. — Disse a professora, mostrando seus dentinhos pontiagudos. – Se a senhorita tem outras perguntas, podemos tratar delas no final da aula.
— Tenho uma pergunta sobre os objetivos do curso. — Disse Hermione.
A Professora Umbridge ergueu as sobrancelhas
— E como é o seu nome?
— Hermione Granger.
— Muito bem. Srta. Granger, acho que os objetivos do curso são perfeitamente claros se lidos com atenção. — Respondeu em um tom de intencional meiguice.
— Bem, eu não acho que estejam. — Concluiu Hermione secamente. — Não há nada escrito no quadro sobre o uso de feitiços defensivos.
Houve um breve silêncio em que muitos alunos da turma viraram a cabeça para reler, de testa franzida, os três objetivos do curso ainda escritos no quadro-negro.
— O uso de feitiços defensivos? — Repetiu a Professora Umbridge, dando uma risadinha. — Ora, não consigo imaginar nenhuma situação que possa surgir nesta sala de aula que exija o uso de um feitiço defensivo, Srta. Granger. Com certeza não está esperando ser atacada durante a aula, está?
— Não vamos usar magia? — exclamou o garoto ruivo que estava sentado ao lado de Potter, em voz alta, chamando minha atenção para ele.
— Os alunos levantam a mão quando querem falar na minha aula, Sr... ?
— Weasley — respondeu o menino, erguendo a mão no ar.
A Professora Umbridge, ampliando o seu sorriso, virou as costas para ele. Potter e Hermione imediatamente ergueram as mãos também. Os olhos empapuçados da professora se detiveram por um momento em Potter, antes de se dirigir a Hermione.
— Sim, Srta. Granger? Quer me perguntar mais alguma coisa?
— Quero. Certamente a questão central na Defesa Contra as Artes das Trevas é a prática de feitiços defensivos.
— A senhorita é uma especialista educacional do Ministério da Magia, Srta. Granger?
— Não, mas...
— Bem, então, receio que não esteja qualificada para decidir qual é a “questão central” em nenhuma disciplina. Bruxos mais velhos e mais inteligentes que a senhorita prepararam o nosso novo programa de estudos. A senhorita irá aprender a respeito dos feitiços defensivos de um modo seguro e livre de riscos...
— Para que servirá isso? — Perguntou Potter, em voz alta. — Se formos atacados, não será em um...
— Mão, Sr. Potter! — Entoou a Professora Umbridge. Potter empunhou o dedo no ar. Mais uma vez, a professora prontamente lhe deu as costas, mas agora vários outros alunos tinham erguido as mãos.
— E o seu nome é? — Perguntou a professora a um dos alunos.
— Dino Thomas.
— Diga, Sr. Thomas.
— Bem, é como disse o Harry, não é? Se vamos ser atacados, então não será livre de riscos.
— Repito. — Disse a professora, sorrindo para Dino de modo muito irritante. — O senhor espera ser atacado durante as minhas aulas?
— Não, mas...
A Professora Umbridge interrompeu-o.
— Não quero criticar o modo como as coisas têm sido conduzidas nesta escola. — Disse ela, um sorriso pouco convincente distendendo sua boca rasgada. — Mas os senhores foram expostos a alguns bruxos muito irresponsáveis nesta disciplina, de fato muito irresponsáveis, isto para não falar. — Ela deu uma risadinha desagradável. — Em mestiços extremamente perigosos.
— Se a senhora está se referindo ao Prof. Lupin — Disse Dino, zangado, esganiçando a voz. — Ele foi o melhor que já...
— Mão, Sr. Thomas! Como eu ia dizendo: os senhores foram apresentados a feitiços muito complexos, impróprios para a sua faixa etária e potencialmente letais. Alguém os amedrontou, fazendo-os acreditar na probabilidade de depararem com ataques das trevas com frequência...
— Não, isto não aconteceu. — Protestou Hermione — Só que...
— Sua mão não está erguida, Srta. Granger!
Hermione ergueu a mão. A Professora Umbridge virou-lhe as costas. já estava ficando irritada com aquela mulher.
— Pelo que entendi, o meu antecessor não somente realizou maldições ilegais em sua presença, como chegou a aplicá-las nos senhores.
— Ora, no fim ficou provado que ele era um maníaco, não foi? — Respondeu Dino, acalorado. — E veja bem, ainda assim aprendemos um bocado.
— Sua mão não está erguida, Sr. Thomas! — Gorjeou a professora. — Agora o Ministério acredita que um estudo teórico será mais do que suficiente para prepará-los para enfrentar os exames, que, afinal, é para o que existe a escola. E o seu nome é? — Acrescentou ela, fixando o olhar em uma menina, que acabara de erguer a mão.
— Parvati Patil, e não tem uma pequena parte prática no nosso N.O.M. de Defesa Contra as Artes das Trevas? Não temos de demonstrar que somos capazes de realizar contrafeitiços e coisas assim?
— Desde que tenham estudado a teoria com muita atenção, não há razão para não serem capazes de realizar feitiços sob condições de exame cuidadosamente controladas. — Respondeu a professora, encerrando o assunto.
— Sem nunca ter praticado os feitiços antes? — Perguntou Parvati, incrédula. — A senhora está nos dizendo que a primeira vez que poderemos realizar feitiços será durante o exame?
— Repito, desde que tenham estudado a teoria com muita atenção...
— E para que vai servir a teoria no mundo real? — Perguntou Harry em voz alta, seu punho mais uma vez no ar. A Professora Umbridge ergueu a cabeça.
— Isto é uma escola, Sr. Potter, não é o mundo real. — Disse mansamente.
— Então não devemos nos preparar para o que estará nos aguardando lá fora?
— Não há nada aguardando lá fora, Sr. Potter.
— Ah, é? — Disse Potter com a voz emanando raiva.
— Quem é que o senhor imagina que queira atacar crianças de sua idade? — Perguntou a professora, num tom horrivelmente meloso.
— Humm, vejamos... — Disse Harry numa voz fingidamente pensativa. — Talvez... Lord Voldemort?
Fechei meus olhos. Alguma garota soltou um gritinho. A Professora Umbridge, porém, sequer piscou. Estava encarando Potter com uma expressão de sinistra satisfação no rosto.
— Dez pontos perdidos para a Grifinória, Sr. Potter.
A sala ficou parada e em silêncio. Todos olhavam para Umbridge ou para Harry.
— Agora gostaria de deixar algumas coisas muito claras. – A Professora Umbridge ficou em pé e se curvou para a turma, suas mãos de dedos grossos e curtos abertas sobre a escrivaninha. — Os senhores foram informados de que um certo bruxo das trevas retornou do além...
— Ele não estava morto. — Protestou Harry zangado. — Mas, sim senhora, ele retornou!
— Sr. Potter-o-senhor-já-fez-sua-casa-perder-dezpontos-não-piore-as-coisas-para-si-mesmo — disse a professora sem parar para respirar e sem olhar para ele. — Como eu ia dizendo, os senhores foram informados de que um certo bruxo das trevas está novamente solto. Isto é mentira.
— NÃO é mentira! — Disse Harry. — Eu o vi, lutei com ele.
— Detenção, Sr. Potter! — Disse a Professora Umbridge, em tom de triunfo. — Amanhã à tarde. Cinco horas. Na minha sala. Repito, isto é uma mentira. O Ministério da Magia garante que não estamos ameaçados por nenhum bruxo das trevas. Se os senhores continuam preocupados, não se acanhem, venham me ver quando estiverem livres. Se alguém está alarmando os senhores com lorotas sobre bruxos das trevas renascidos, eu gostaria de ser informada. Estou aqui para ajudar. Sou sua amiga. E agora, por favor, continuem sua leitura. Página cinco. “Elementos Básicos para Principiantes”.
A Professora Umbridge sentou-se à escrivaninha. Harry, no entanto, ficou em pé. Todos o olhavam; Simas parecia meio apavorado, meio fascinado.
— Harry, não! — Hermione, em tom de alerta, puxando-o pela manga, mas ele desvencilhou o braço da mão da amiga.
— Então, segundo a senhora, Cedrico Diggory caiu morto porque quis, foi? — Perguntou Harry, com a voz tremendo.
A turma prendeu coletivamente a respiração. Todos olhavam avidamente de Harry para a professora, que erguera os olhos e encarava o garoto sem o menor vestígio de falso sorriso no rosto.
— A morte de Cedrico Diggory foi um trágico acidente. — Disse ela, com frieza.
— Foi assassinato — disse Harry. — Voldemort o matou, e a senhora sabe disso.
O rosto da Professora Umbridge estava inexpressivo. Então antes que eu me controlasse, falei:
- Potter tem razão.
- A senhorita é?
- Riddle. – Sorri quando os olhos dela se arregalaram levemente. – Ele voltou, e só uma pessoa muito burra diria que não. E acho que eu deva ter autonomia o suficiente pra falar isso, dado o nosso parentesco.
— Venha cá, Sr. Potter, querido. E você também, senhorita Riddle. – Disse a professora.
Potter chutou sua cadeira para o lado, contornou os amigos e foi à escrivaninha da professora. Suspirei me levantando, já imaginando que seria expulsa da sala, logo no meu primeiro dia, já guardei minhas coisas na minha bolsa e segui pelo caminho de Potter. Podia sentir o resto da classe prendendo a respiração. Potter parecia estar tão furioso que não se importava com o que fosse acontecer. A Professora Umbridge puxou um pequeno rolo de pergaminho cor-de-rosa da bolsa, esticou-o sobre a escrivaninha, molhou a pena no tinteiro e começou a escrever, curvada sobre o pergaminho para que eu não pudesse ver o que estava escrevendo.
Ninguém falava. Passado um minuto e pouco, ela enrolou o pergaminho e lhe deu um toque com a varinha; ele se selou, sem emendas, de modo que se eu quisesse não poderia abrir. Então ela fez isso mais uma vez.
— Levem isto à Professora McGonagall. — Disse estendendo a eles o bilhete. Harry apanhou-o sem dizer palavra e saiu da sala.
Peguei o meu e sai em passos apressados também, ficando a poucos passos de distância, mas assim que ele percebeu que eu estava atrás dele se virou bruscamente.
- Achei que tinha dito que não precisava da sua ajuda. – Abri minha boca para dizer que não estava o ajudando, mas não tive oportunidade de falar nada. – Vê se me deixa em paz, quero distancia de você!
Por um momento estaquei, vendo o garoto me dar as costas e sair andando furioso pelo corredor.
Então era isso, cheguei a uma conclusão.
Harry Potter era um idiota.


Capítulo Quatro

Fique alguns minutos olhando pelo caminho onde Harry havia ido, e suspirei meio resignada. Tudo bem que ele poderia muito bem ter todos os motivos para odiá-la. Mas aquilo não justificava, eu não tinha culpa de ser filha de quem era.
Comecei a andar pelo mesmo caminho que Harry e torci para que ele já tivesse deixado a sala da Professora McGonagall. Eu não precisava dele me acusando de o estar seguindo, quando eu tinha que apresentar uma detenção também. Aquilo estava sendo uma porcaria.
Naquele momento gemi, lembrando da detenção que havia levado.
Belo primeiro dia. Suspirei resignada, mas sabendo que nada poderia fazer a respeito.
Cheguei rapidamente na sala da professora McGonagall, hesitei antes de bater, mas tomei coragem. Harry teria que lidar com aquilo, afinal, éramos da mesma casa e ele me veria com frequência. Ele gostando ou não.
- Entre. – A professora disse assim que eu bati e suspirou quando me viu. – Detenção também, Senhorita Riddle?
- Sim, senhora.
- Dolores imagino? – Apenas concordei e evitei olhar na direção de Harry que estava sentado em uma cadeira. – Vou falar isso para os dois e espero que me ouçam com atenção. Ela é sua professora e tem todo o direito de lhes dar detenções. Vocês se apresentaram na sala dela amanhã às cinco horas para a primeira. Lembre-se, pisem mansinho perto de Dolores Umbridge.
— Mas eu estava dizendo a verdade! — disse Harry, indignado. Se levantado, fazendo com que eu desse um passo para trás. — Voldemort voltou, a senhora sabe que sim, o Prof. Dumbledore sabe que sim. Até ela sabe e é filha dele!
— Pelo amor de Deus, Potter! — Exclamou a Professora McGonagall, acertando os óculos, me olhando meio desconcertada e lançou um olhar muito zangado para Harry, contraíra horrivelmente o rosto quando ele usara o nome de Voldemort. — Você acha realmente que o que está em jogo são verdades ou mentiras? O que está em jogo é manter a sua cabeça baixa e a sua irritação sob controle!
Ela se levantou, as narinas abertas e a boca muito fina, e Harry fez uma careta.
— Coma outro biscoito. Você também Senhorita. — Disse, irritada, empurrando a lata para o garoto.
— Não, muito obrigado. — Disse Harry, com frieza.
— Não seja ridículo. — Ralhou McGonagall. Ele tirou mais um. Estendeu a lata para mim sem me olhar, dei alguns passos para frente lentamente, pegando um biscoito.
— Obrigada. — Agradeci, mas fui totalmente ignorada pelo garoto. Suspirei, teria que dar um jeito de mudar aquilo, ainda não sabia como, mas tentaria.
— Você não escutou com atenção o discurso de Dolores Umbridge no banquete de abertura do ano letivo, Potter?
— Escutei, sim. Eu a escutei... dizer... o progresso será proibido ou... bem, queria dizer que... Hermione disse que o Ministério da Magia está tentando interferir em Hogwarts.
A Professora McGonagall mirou-o por um momento, depois fungou, contornou a escrivaninha e segurou a porta aberta para ele.
— Bem, fico contente que pelo menos você escute a Hermione Granger — Disse, mandando-o sair com um gesto. – Você fica Senhorita Riddle.
Assisti Harry a olhar indignado, antes de sair, quase batendo seu ombro no meu. Olhei abismada para o garoto, já estava perdendo a paciência com ele. Suspirei, teria que controlar meu temperamento ou logo estaria socando a cara de Potter.
- Então, Senhorita Riddle... – Professora McGonagall disse voltando para atrás de sua mesa e se sentando, indicando para que eu me sentasse na cadeira a frente. – Como está sendo a adaptação?
- Como o esperado. – Fiz uma careta, que aumentou ao ver o olhar de pena da professora dirigido para mim. – Mas nada do que eu me importe realmente.
- De tempo a eles, é difícil de assimilar. – Ela disse e eu apenas dei de ombros. – Mas não foi para isso que eu quis falar com a senhorita. Eu queria pedir que não de ideias a Potter, por mais que ele esteja certo, suas palavras podem dar mais convicção e ele já tem muitos problemas no ministério para ter que lidar com mais, tudo bem?
- Eu não pude evitar, aquela mulher estava fazendo ele se passar por mentiroso quando ele tinha razão.
- Eu sei, senhorita Riddle, mas Dolores não é uma pessoa confiável certo? O ministério ainda não está pronto para aceitar que ele retornou e não faz bem para vocês baterem de frente com o ministério de magia nesse momento. Então apenas tente ignorar as coisas que ela fala em sala de aula, é para o bem de vocês.
- Ok...
- Fico feliz que tenha entendido, agora pode retornar para o resto de suas aulas.
Apenas assenti e sai da sua sala, olhei para os lados do corredor, pensando no que faria a seguir, e decidi que iria para o jardim, o tempo ainda não estava bom, mas eu precisava de ar fresco. Aquele dia estava sendo uma merda e o ano letivo estava apenas começando.
Andei apressadamente pelos corredores, me perdendo milhares de vezes, tendo que parar várias vezes para consultar meu mapa, quando trombei em uma pessoa, e quase fui ao chão se ele não tivesse me segurado.
Teria que começar a tomar mais cuidado, pensei, já era a segunda vez no dia que esbarrava com alguém.
- Ora, ora... – Um garoto ruivo disse sorrindo. – Olha o que temos aqui.
- Estou olhando. – Disse outro garoto exatamente igual ao que estava me segurando, aparecendo no meu campo de visão, fazendo eu pensar que de alguma maneira eu tinha batido a cabeça e estava vendo tudo dobrado.
- Me desculpe, não estava prestando atenção. – Murmurei ainda meio confusa me afastando e ajeitando minha bolsa que estava em meu ombro, graças à Merlim ela não havia ido para o chão e espalhado minhas coisas.
- E é educada ainda, estou surpreso... – O garoto que me segurou disse. – A propósito, sou Fred.
- Não, eu sou o Fred. – Disse o outro sorrindo e naquele momento entendi que eram gêmeos. – Ele sempre quer se passar por mim, afinal, eu sou o mais bonito.
- Ele sabe que o mais bonito sou eu, mas as vezes o deixo ter essa ilusão. – Disse o que me segurou e pegou na minha mão levando aos seus lábios, dando um beijo, fazendo com que eu corasse. – Sou George.
- Riddle... – Murmurei meio encabulada, enquanto ele soltava a minha mão e esperei que eles me olhassem torto e fossem embora, mas isso não aconteceu.
- Eu sei. – George deu de ombros. – A escola toda está comentando.
- Conseguiu roubar o lugar de celebridade de Harry. Já não se fala em outra coisa na escola. – Fred disse passando o braço pelos ombros do irmão e sorrindo para mim. – A mais nova traidora de sangue.
- Como? – Perguntei chocada, ele tinha me chamado de que?
- Ahhh todos esperávamos que você fosse para a Sonserina, ninguém esperou que fosse para a Grifinória, foi realmente uma surpresa. – Fred disse ainda sorrindo.
- Sim, já faz muito tempo que um bruxo não vai para a casa de seus pais e deu maior rebuliço. – George assentiu concordando com o irmão. – Mas se o chapéu seletor disse que você é da Grifinória, tudo bem.
- Tudo bem? – Continuei repetindo que nem uma idiota, estava realmente muito surpresa com aquela aceitação do nada.
- Sim, está tudo bem, o chapéu sabe o que faz e você não deve ser tão má, afinal, não foi para a sonserina. – George deu de ombros.
- Eu ainda poderia ser má e estar enganando todos vocês. – Falei levantando as sobrancelhas e no mesmo momento me arrependi, o que eu estava fazendo? Tinha finalmente encontrado alguém que podia me aceitar e estava tentando afasta-los.
- Duvido muito. – Fred riu.
- Também duvido irmão – George concordou. – Vou pagar pra ver isso.
- Pode se arrepender então. – Sorri finalmente relaxando, vendo que eles não estavam assustados comigo.
- Talvez, mas acho que vou gostar. – George piscou para mim, fazendo com que eu corasse novamente.
Por Merlim! O que estava acontecendo comigo?
- Bom, nós vemos por aí. – Eu falei me virando, antes que eu me envergonhasse mais ainda.
Dei apenas alguns passos, e assim que virei o corredor, eles me alcançaram, cada um de um lado meu. E naquele momento percebi que eles não me deixariam ir tão fácil.
- Não devia estar em aula? – O do meu lado direito disse e o olhei analisando bem e pelo seu sorriso, percebi que era Fred.
- Deveria, mas fui expulsa.
- Ahh, já mostrando quem é, não é, Riddle? – Geroge disse, fazendo com que eu rolasse os olhos. – Acho que devemos tomar cuidado Fred, ou logo nossa fama vai ser substituída pela a de Riddle se ela continuar sendo expulsa das aulas assim. O que você fez? Lançou um crucio em algum professor?
- Não. – Exclamei indignada.
- Que pena então, Snape merecia, acho que você deve pensar nisso na próxima vez. – Fred disse passando o braço pelos meus ombros me fazendo parar chocada e o encarar, para apenas o encontrar sorrindo para mim. – Para onde estamos indo?
Sai debaixo do seu braço e dei alguns passos para trás os olhando meio chocada. Eles eram realmente loucos.
- Vocês eu não sei, mas eu estou indo para o jardim. – Falei voltando a andar rapidamente deixando eles para trás.
- Está tentando se livrar da gente, Riddle? – Suspirei quando me alcançaram.
- E se eu estiver?
- Não vai funcionar. – Fred disse sorrindo, ou pelo menos eu acho que era o Fred. – E a propósito, o jardim fica para aquele lado.
Olhei para onde sua mão estava apontando e segui por aquele caminho, tendo eles me seguindo mais uma vez. Não que eu não estivesse gostando de ter finalmente alguém falando comigo, mas eu queria um tempo sozinha. Havia passado tanto tempo sozinha, apenas minha avó e eu que aquilo naquele momento estava sendo muito estranho para mim.
- Vocês não deviam estar em aula? – Perguntei.
- Tempo livre. – Os dois falaram ao mesmo tempo.
- Estávamos indo ver se pirraça queria ajudar pregar uma peça no Filch e te vimos...
- Então pensamos em falar com você, e aqui estamos agora.
- Filch? – Murmurei.
- Sim, aquele velho que parece que comeu algo que não gostou que vive com aquela gata maligna. – George disse.
- Ah, o zelador. – Falei vendo que tínhamos chegado no jardim. Procurei um banco e me sentei, vendo que eles me acompanharam, fazendo com que eu rolasse os olhos.
- Ele mesmo. – Fred concordou. – Quer ajudar?
- Ajudar no que?
- A pregar uma peça em Filch. – Ele disse como se fosse obvio.
- Desenvolvemos uma coisa e queremos saber se funciona. – George disse.
- E porque eu deveria me envolver nisso? – Perguntei arqueando a sobrancelha, fazendo com que os dois sorrissem para mim.
- Você não está fazendo nada e um pouco de diversão sempre é bom. – George disse pegando uma mecha do meu cabelo que havia caído para o meu rosto e olhando para ela antes de colocá-la atrás da minha orelha.
Naquele momento meu coração acelerou e pensei que eu devia estar ficando louca, aquelas sensações eram tão confusas.
- E se formos pegos? – Sussurrei olhando para baixo porque estava muito envergonhada para olhar para eles.
- Você só pode estar brincando. – Ele riu. – Sermos pegos? Logo a gente?
- Relaxa gatinha, nada vai acontecer com você – Fred Sorriu. – E aí? Vamos?
Parei para pensar por alguns segundos e já sabia que ia me arrepender. Mas olhando os dois sorrindo para mim, não tive outra alternativa. Só esperava não me colocar em mais confusões, pelo menos não naquele dia.
- Vamos.
George abriu um sorriso tão grande, que fez com que eu me arrependesse naquele mesmo momento. E só fez com que eu tivesse uma certeza. Todos de Hogwarts eram loucos, eu não tinha dúvida nenhuma daquilo mais.
E eu era mais louca ainda por estar topando aquilo.
À medida que Fred e Jorge me guiavam pelos corredores, um sentimento de arrependimento começou a surgir dentro de mim. Eu começava a questionar minha decisão de ter concordado em participar de qualquer coisa louca que eles tinham inventado.
Enquanto andávamos pelos corredores movimentados, meu coração batia mais rápido. Eu podia sentir os olhares curiosos das pessoas que passavam por nós, e a ansiedade aumentava a cada passo. Fred e Jorge pareciam completamente despreocupados, como se estivessem acostumados com esse tipo de situação. E Eu não duvidava que estivessem.
À medida que avançávamos, a loucura da situação começava a ficar mais evidente. Eu me perguntava o que exatamente eu havia me metido.
Enquanto eu tentava seguir o ritmo deles, meu senso de responsabilidade começava a me atormentar. Eu não era do tipo aventureira, e agora me encontrava no meio de algo que parecia sair completamente dos limites da normalidade. A ideia de desistir começava a tomar conta dos meus pensamentos, mas algo me impedia de fazê-lo. Talvez fosse a curiosidade ou o medo de ser rotulada como covarde.
Conforme continuávamos a nossa jornada, percebi que não tinha controle algum sobre o que estava acontecendo. Era como se estivesse sendo levada por uma correnteza furiosa, sem saber para onde ela me levaria. O arrependimento se misturava com a excitação e o medo, criando uma mistura confusa de emoções.
No fundo, eu sabia que aquela experiência seria uma história para contar no futuro, algo que renderia risadas e memórias compartilhadas. Porém, no momento, a incerteza e o desconforto eram mais fortes.
À medida que adentrávamos um último corredor, senti um alívio misturado com uma pitada de alucinação. Fred e Jorge finalmente pararam em frente a uma porta e se viraram para mim com sorrisos maliciosos.
– Preparada para a maior pegadinha de todos os tempos? – Disseram em uníssono.
Então percebi que não havia mais volta. Eu estava completamente envolvida naquela loucura, e só me restava enfrentar as consequências com coragem e esperança de que tudo acabasse bem.

Capítulo Cinco

Fred colocou um saquinho suspeito atrás da porta, e uma sensação de apreensão percorreu meu corpo. Eu me perguntava o que exatamente ele havia colocado ali e o que estava prestes a acontecer.
Enquanto eu me escondia atrás do pilar, Jorge segurou minha mão firmemente, transmitindo uma mistura de excitação e nervosismo. Sua expressão indicava que algo grande estava prestes a acontecer. O coração batia descontroladamente, enquanto eu me preparava para presenciar o que Fred tinha planejado.
Fred, com um sorriso travesso no rosto, começou a recitar um feitiço. Eu não entendia completamente o que ele estava dizendo, mas podia sentir a energia mágica no ar. O corredor parecia vibrar com a expectativa.
De repente, uma explosão ensurdecedora ecoou pelo corredor. A força da explosão fez com que o chão tremesse, e uma nuvem de fumaça e faíscas se espalhou pelo ar. A adrenalina percorreu meu corpo, e a surpresa misturou-se com um toque de medo.
Quando a porta se abriu abruptamente, revelando um Filch furioso em busca da origem do barulho, meu coração acelerou novamente. Eu segurei a respiração, tentando me manter o mais quieta possível, enquanto observava a cena se desenrolar.
Filch olhou para os dois lados do corredor, sua expressão carregada de raiva e determinação. Seus olhos se fixaram no saquinho que Fred havia deixado para trás e ele se aproximou cautelosamente. Ele o pegou e o examinou com suspeita, provavelmente tentando descobrir quem estava por trás daquela brincadeira.
Enquanto Filch estudava o saquinho, meu coração disparava. Eu sentia um misto de culpa e medo por estar envolvida naquela confusão. Fred e Jorge mantinham-se em silêncio, compartilhando olhares divertidos.
Após o momento de alívio pela escapada, fiquei curiosa para descobrir o conteúdo do saquinho misterioso. Num sussurro, perguntei a Fred e Jorge o que havia dentro dele, temendo que Filch pudesse nos escutar.
Jorge sorriu e respondeu em voz baixa:
- Estamos elaborando um kit para matar aulas, e aquilo ali é o nosso principal produto. Queremos saber se funciona.
Mal ele terminou de falar, Filch saiu da sala em um estado de desespero, parecendo muito mal, com o rosto pálido e correndo enquanto vomitava. A cena era um tanto desagradável, e eu encarei tudo com uma expressão de nojo. Enquanto isso, os gêmeos vibravam, batendo as mãos animados.
- Funciona! – Comemoraram, enquanto saíam do nosso esconderijo.
Curiosa sobre o que aconteceria em seguida, Jorge me guiou até a porta pela qual Filch havia saído, enquanto Fred fazia um feitiço para limpar a sujeira deixada para trás. Ao atravessar a porta, a visão que se revelou diante de mim foi absolutamente impressionante e deixou-me sem fôlego.
A sala de troféus era um verdadeiro tesouro de relíquias e conquistas. Paredes adornadas com prateleiras repletas de troféus reluzentes, placas de reconhecimento e distintivos de honra. Um brilho dourado iluminava o ambiente, realçando a grandiosidade dos feitos ali celebrados ao longo dos anos.
Eu me aproximei das vitrines e maravilhei-me com os objetos expostos. Havia troféus de quadribol, conquistas acadêmicas, prêmios de duelos e outros itens fascinantes. Cada um contava uma história de talento, coragem e determinação.
Fred e Jorge, com a empolgação estampada no rosto, compartilhavam comigo algumas das histórias por trás dos troféus. Eles conheciam cada detalhe, desde as vitórias épicas até as derrotas memoráveis. Era como se a sala de troféus guardasse a alma de Hogwarts.
Enquanto continuávamos explorando a sala de troféus, percebi que o arrependimento inicial havia desaparecido completamente. As travessuras dos gêmeos Weasley haviam me levado a uma experiência verdadeiramente inesquecível e única.
Passado algum tempo, ainda maravilhada com a sala de troféus, Fred, com um sorriso no rosto, perguntou entusiasmado:
- E aí? O que achou?
Eu olhei ao redor, absorvendo a grandiosidade do local, e respondi com empolgação:
- É incrível! Eu nunca imaginei que seria assim.
Os gêmeos Weasley trocaram um olhar divertido e Fred acrescentou:
- Há tantas coisas que você nem imagina.
Jorge, em seguida, piscou para mim, o que fez meu rosto corar novamente. As sensações estranhas que sentia na presença deles retornaram, deixando-me um tanto envergonhada. Para mudar de assunto, murmurei:
- Tenho dever de casa. Preciso passar na biblioteca. E, depois do jantar, ainda tenho uma detenção com a professora Umbridge.
Fred riu e comentou:
- Detenção logo no primeiro dia, hein?
Jorge gargalhou e acrescentou:
- Eu te disse que ela ia roubar nossa reputação!
Eles pareciam se divertir com a situação, mas, antes que eu pudesse continuar a falar, Jorge interrompeu:
- Venha, nós te levamos à biblioteca.
Eu tentei argumentar que não precisava, mas eles insistiram que seria melhor do que eu ficar andando perdida pelos corredores. Acabei concordando, pois reconhecia que ainda não estava familiarizada com a escola e me perdia facilmente.
Assim, seguimos juntos em direção à biblioteca, com Fred e Jorge ao meu lado. Era um pouco estranho ter os dois me acompanhando de cada lado, como se estivessem me escoltando, e percebi que todos no corredor nos olhavam incrédulos. Fiz uma careta, não gostando muito daquela atenção constante, mas sabia que teria que me acostumar com isso em Hogwarts.
Jorge chamou minha atenção ao começar a falar:
- Então, ... Estávamos pensando, por que você veio para Hogwarts só agora?
Eu pausei por um momento, pensando em como responder, e então disse:
- Minha avó achou que era a hora certa, com tudo o que tem acontecido. Ela achou que seria mais seguro se eu viesse estudar aqui.
Jorge continuou:
- Você acha que ele realmente voltou?
Eu murmurei em resposta:
- Vocês têm alguma dúvida de que não?
Os dois assentiram e continuamos a caminhar em silêncio, cada um preso em seus próprios pensamentos. Por um momento, uma tristeza me invadiu ao pensar que poderia ter perdido as únicas pessoas que se importaram em ser legais comigo, tudo por causa dele.
Riddle. Esse sobrenome já havia tirado tantas coisas de mim.
Chegamos à biblioteca e Fred sorriu para mim, dando-me um pouco de esperança de que as coisas ainda não estavam acabadas e de que ainda tínhamos a chance de sermos amigos.
- Está entregue, senhorita - Disse Jorge, pegando minha mão e dando um beijo, o que fez várias borboletas dançarem no meu estômago, deixando-me ainda mais tímida. - Agora precisamos ir.
- Nos vemos no jantar! - Disse Fred, acenando para mim enquanto se afastava com seu irmão.
Assisti os dois se afastarem com um misto de gratidão e incerteza. Estava ansiosa para reencontrá-los no jantar e torcia para que nossa amizade pudesse se fortalecer cada vez mais.
Na biblioteca, escolhi uma mesa mais afastada e decidi me concentrar em começar meu dever de casa. Talvez aquilo ajudasse a acalmar minha mente e me distraísse um pouco dos pensamentos sobre a detenção iminente.
Enquanto pegava os livros necessários, questionei a mim mesma sobre o que eu estava pensando ao concordar com Potter. Por que tomei aquela decisão impulsiva? Potter não parecia gostar de mim, o que era compreensível. Eu sabia que precisava mudar essa percepção, mas não sabia como. No entanto, duvidava que Potter algum dia confiasse em mim, dadas as circunstâncias. Afinal, eu era uma Riddle.
Com mais um suspiro resignado, retornei à minha mesa e comecei a preencher o pergaminho, tentando esvaziar minha mente dos pensamentos complicados. Focar nas tarefas escolares parecia uma maneira de me manter ocupada e afastar as preocupações por um tempo.
À medida que mergulhava nos estudos, encontrei um pouco de paz e concentração. Os conhecimentos adquiridos nos livros começaram a preencher meu mundo, proporcionando um refúgio temporário da confusão emocional que estava enfrentando.
Enquanto escrevia, senti-me um pouco mais calma e esperançosa de que, com o tempo, poderia encontrar uma maneira de superar as barreiras entre mim e os outros estudantes de Hogwarts, incluindo Harry Potter. Ainda havia muito a ser descoberto e muitas oportunidades para construir relacionamentos significativos.
Decidida a enfrentar os desafios que estavam por vir, continuei me concentrando no meu trabalho, com a determinação de fazer o meu melhor. O tempo passou que eu nem vi, logo olhei no relógio e me assustei, faltava pouco tempo para a detenção e eu ainda não havia jantado.
Peguei minhas coisas e corri para o meu salão comunal. Não me perdendo pela primeira vez. Deixei alguns livros e me encaminhei para o grande salão para jantar.
Chegando ao salão, percebi que a maioria dos estudantes já havia jantado, o que me deixou um pouco aliviada. O salão estava praticamente vazio, o que significava menos olhares curiosos sobre mim enquanto eu comia apressadamente. O tempo estava se esgotando, e eu tinha menos de 15 minutos para me preparar para a detenção.
Assim que terminei de comer, consultei meu mapa e tracei o caminho mais rápido para a sala da Professora Umbridge. Apressei-me em direção ao local e, para minha surpresa, cheguei lá em tempo recorde. Respirei fundo para acalmar meus nervos enquanto batia na porta e ouvia um "entre" vindo de dentro.
A sala da Professora Umbridge era peculiar, com seu aroma doce que fez meu estômago revirar ainda mais de ansiedade. Olhei ao redor e tudo era absurdamente rosa, com vários retratos de gatos nas paredes. A professora Umbridge me encarou com um sorriso sinistro e disse:
- Chegou bem na hora, Srta. Riddle. Sente-se.
Segui suas instruções e me sentei na mesa que ela indicou, pronta para tirar meu tinteiro da bolsa. No entanto, a professora Umbridge interrompeu:
- Oh, não. Você vai escrever com esta caneta.
Ela me entregou uma caneta especial e um pergaminho novo, explicando que não precisaria de um tinteiro. Eu apenas dei de ombros e aguardei suas instruções sobre o que precisava fazer.
- Sabe Senhorita Riddle, a senhorita não devia ficar apoiando as alucinações do Senhor Potter, ainda mais sendo quem a senhorita é.
- Ele não estava tendo nenhuma alucinação! É tudo verdade.
- Ah Ah – Ela disse balançando a cabeça. – Nada do que o Senhor Potter falou é verdade e o ministério sabe bem disso, Potter está perturbado desde o torneiro tribruxo, mas a senhorita não estava aqui então não tem como saber.
- Eu não precisava estar aqui pra saber disso, afinal, eu sou quem sou não é? Então posso ter alguma autonomia no assunto .
Umbridge, visivelmente irritada, virou as costas para mim.
- Escreva “Eu não devo apoiar mentiras” – Ela disse.
- Quantas vezes? – Perguntei com desdém.
- Até a palavra penetrar. – Ela riu e foi se sentar na sua mesa.
Dei de ombro e comecei a escrever, assim que escrevi a primeira palavra, uma sensação estranha se apossou da minha mão e uma dor aguda me atingiu, logo as palavras apareceram na minha pele e eu olhei para minha mão.
- Algum problema, querida? – Umbridge perguntou cinicamente.
Ela estava me fazendo escrever no pergaminho com o meu próprio sangue! Que tipo de detenção era aquela?
- Não – Murmurei ainda encarando as palavras em minha mão.
- Então volte a escrever.
Aquelas foram umas das piores horas da minha vida. Minha mão parecia estar em chamas enquanto era marcada pelas palavras, e a dor era intensa. Após uma hora, a Professora Umbridge se levantou e se aproximou de mim.
- A mão, querida - ela disse.
Entreguei-lhe a mão machucada, e ela a examinou com um sorriso perverso no rosto.
- Espero que tenha aprendido a lição – Ela disse. – Está dispensada.
Peguei minhas coisas e saí da sala, batendo a porta atrás de mim. Minha mão doía intensamente, e eu mal podia acreditar que havia passado por aquilo.
Caminhei em direção ao salão comunal da Grifinória, rezando para que estivesse vazio. Não sabia se conseguiria lidar com os olhares curiosos e questionadores dos meus colegas depois de passar por uma experiência tão humilhante. Chegando ao salão, respirei aliviada ao constatar que estava praticamente deserto.
Encontrei um lugar tranquilo no salão comunal e me sentei, deixando meus pensamentos vagarem. Minha mão latejava de dor, e eu sentia uma mistura de raiva e tristeza pela injustiça que havia sofrido. Aos poucos, tentei acalmar minha mente e encontrar forças para seguir em frente.
Enquanto pensava em tudo o que havia acontecido, percebi que precisava encontrar uma maneira de enfrentar os desafios que estavam por vir. Não podia deixar que as ações de Umbridge e o estigma de ser uma Riddle me definissem. Eu tinha minha própria identidade e a capacidade de fazer a diferença.
Decidi que, apesar de tudo, não me deixaria abater. Levantei-me e dirigi-me ao dormitório, determinada a superar os obstáculos que surgiriam no meu caminho. Sabia que seria difícil, mas estava disposta a lutar pelos meus ideais e pelos meus valores.
Ainda com a mão machucada, entrei no dormitório vazio e me deitei na cama, tentando descansar um pouco antes de enfrentar o próximo dia. Sentia-me cansada, tanto fisicamente quanto emocionalmente, mas também sentia uma chama de determinação dentro de mim.
Apesar de todas as dificuldades e dos desafios que ainda estavam por vir, eu estava determinada a provar meu valor e encontrar meu lugar em Hogwarts. A dor em minha mão era um lembrete constante de tudo o que havia passado, mas também era uma lembrança de que eu era mais forte do que imaginava.
Enquanto fechava os olhos e me preparava para descansar, prometi a mim mesma que não desistiria. Eu lutaria contra a injustiça, encontraria aliados verdadeiros e, eventualmente, talvez até mesmo conquistaria a confiança de Harry Potter. Eu tinha muito a provar, e estava pronta para enfrentar qualquer desafio que viesse pela frente.

Capítulo Seis

O dia seguinte amanheceu sombrio e chuvoso, refletindo o meu estado de espírito. Minha mão doía intensamente, tornando difícil até mesmo levantar da cama. Com esforço, procurei em meu malão pela minha bolsinha de primeiros socorros e, quando a encontrei, segui em direção ao banheiro.
Felizmente, minhas colegas de quarto não estavam presentes, o que significava que eu não teria que explicar minha condição. Liguei a torneira da pia e deixei a água fria escorrer sobre minha mão, causando um arrepio de dor. Eu sabia que precisava fazer algo sobre aquilo, precisava falar com alguém, mas tinha receio de que não acreditassem em mim.
Com cuidado, sequei minha mão e apliquei uma pomada, enrolando-a em uma bandagem para protegê-la. Depois de me arrumar, guardei minhas coisas e peguei meus livros, me preparando para ir ao grande salão tomar o café da manhã.
Ao entrar no salão, percebi que estava relativamente vazio. As mesas estavam ocupadas por alguns estudantes, mas encontrei um lugar vago e me sentei, tentando ignorar a dor persistente em minha mão. Servi-me de um pouco de comida e tentei comer, mas minha mente estava dispersa e minha fome diminuída pelo desconforto.
Enquanto observava os alunos ao meu redor, pensei sobre quem eu poderia confiar para compartilhar o que havia acontecido comigo. Sabia que a Professora Umbridge era influente e que minhas palavras poderiam ser questionadas ou ignoradas. Talvez fosse melhor procurar ajuda em outro lugar.
Meus olhos percorreram o salão em busca de rostos familiares. Meus pensamentos voltaram a Fred e Jorge Weasley, os únicos que pareciam genuinamente amigáveis comigo até o momento. Talvez eles pudessem me ajudar ou pelo menos me orientar sobre como lidar com a situação.
Após terminar meu café da manhã quase sem apetite, levantei-me da mesa e decidi procurar os gêmeos Weasley. Talvez eles estivessem na sala comunal da Grifinória ou em algum lugar conhecido por eles. Eu precisava conversar com alguém e contar sobre o que havia acontecido.
Determinada, segui em direção à saída do grande salão, pronta para enfrentar os desafios que viriam pela frente. A dor em minha mão servia como um lembrete constante do que havia passado, mas também como uma motivação para encontrar justiça e apoio naqueles que estavam dispostos a me ouvir.
Após não encontrar os gêmeos no salão comunal, decidi me concentrar nas minhas aulas e deixar os problemas de lado por um momento. Sabia que ainda tinha um dia cheio pela frente e não poderia me deixar abater por conta daquilo.
Os primeiros dois períodos foram de Feitiços, com o Professor Flitwick, seguidos por outros dois de Transfiguração, com a Professora McGonagall. Ambos os professores aproveitaram os primeiros minutos das aulas para enfatizar a importância dos N.O.M.s e como esses exames poderiam influenciar nosso futuro.
O Professor Flitwick, com sua voz caracteristicamente aguda, ressaltou a necessidade de nos prepararmos para as carreiras que desejávamos seguir. Ele nos alertou sobre a importância dos Feitiços Convocatórios, que certamente seriam abordados nos exames. A aula se estendeu por mais de uma hora, relembrando os feitiços e praticando com diversos objetos, o que me deixou um pouco frustrada.
Na aula de Transfiguração, a Professora McGonagall foi ainda mais séria e direta. Ela ressaltou que não havia motivo para ninguém na turma não passar no N.O.M. de Transfiguração, desde que nos aplicássemos devidamente. Fomos introduzidos aos Feitiços de Desaparição, que, embora fossem mais fáceis do que os Conjuratórios, ainda eram considerados difíceis e seriam cobrados nos exames.
Conforme a Professora McGonagall falava sobre a importância do estudo e da prática, senti uma onda de pânico com a quantidade de deveres que precisava realizar. Decidi que dedicaria a hora do almoço à pesquisa na biblioteca, especificamente sobre os usos das pedras da lua no preparo de poções. Focar em algo diferente dos meus problemas momentaneamente me ajudaria a aliviar o estresse.
Com esses pensamentos em mente, segui para a biblioteca após as aulas da manhã. O ambiente silencioso e repleto de livros era reconfortante, e comecei a mergulhar nos estudos, buscando informações relevantes sobre as pedras da lua. Por um breve momento, consegui me esquecer das dificuldades que enfrentava e me concentrar nas tarefas acadêmicas diante de mim.
A biblioteca se encontrava cheia, e havia apenas um lugar vago ao meu lado. Então logo ouvi um bufo, e olhei para frente, vendo Harry me encarando com desdém. E entendi que ele estava irritado porque o único lugar vago era ao meu lado. Era evidente que ele estava irritado porque não tinha outra opção a não ser se sentar ao meu lado.
Não pude deixar de sorrir diante da situação, o que só fez com que ele ficasse ainda mais sério.
— Sabe, Harry, eu não mordo. Pode se sentar aqui — Comentei, tentando quebrar o clima tenso.
Ele me ignorou completamente e se sentou ao meu lado, mantendo o máximo de distância possível entre nós. Eu observei aquela cena meio divertida, percebendo que ele realmente parecia querer evitar qualquer associação comigo.
— Eu até diria que você tem medo de mim. — Provoquei, soltando uma risadinha.
Harry cerrou os dentes e respondeu com veemência:
— Medo de você? Nem pensar. Só não quero ser visto com você.
Eu continuei a encará-lo, sem me abalar.
— Bem, você está sentado ao meu lado agora. Todo mundo está vendo. Então, supere isso! — Comentei, deixando claro que a opinião dos outros não deveria ser uma preocupação para ele.
Enquanto a biblioteca permanecia silenciosa ao nosso redor, era evidente que a tensão entre nós ainda estava presente. Porém, eu estava determinada a não deixar que isso me afetasse e continuei a me concentrar nos meus estudos, esperando que Harry eventualmente se acostumasse com a minha presença.
Ao tentar me aproximar de Harry na biblioteca, percebi que ele continuava a me ignorar, focado em seus estudos. Minha mão machucada começou a doer novamente, servindo como um lembrete de algo importante: Harry teria uma detenção com Umbridge, e ele não fazia ideia do que ela poderia fazer com ele.
- Harry – O chamei meio urgente e fui totalmente ignorada por ele.
- Você tem detenção com a Umbridge, não é? – Eu tentei mais uma vez e fui ignorada, bufei de raiva e o chamei – Potter!
- O que você quer? – Ele sussurrou raivoso.
- Preciso te alertar...
- Eu já disse que não preciso da sua ajuda, que não quero falar com você. – Ele sibilou com raiva, fazendo com que eu recuasse. – Dá pra fazer o favor de me deixar em paz?
- Mas eu...
- Eu não quero saber! – Ele disse se voltando para mim e me olhando com uma raiva que me fez recuar. – Eu não sei se você sacou, mas eu te odeio.
Eu já sabia disso, mas ouvir aquelas palavras diretas foi como um soco no estômago. Uma sensação estranha se alojou em meu peito, mas me recusei a chorar por causa daquilo.
Em um impulso, peguei minhas coisas rapidamente e saí da biblioteca, sentindo meus olhos arderem com as lágrimas que eu lutava para conter. Era doloroso ser rejeitada e odiada por alguém que eu queria ajudar, mas decidi que era hora de seguir em frente e focar em mim mesma.
Ao continuar caminhando apressadamente, lutando contra as lágrimas, acabei trombando com alguém sem perceber. Felizmente, mãos familiares me seguraram, evitando que eu caísse.
- Calma aí, gatinha. - Uma voz conhecida disse.
Era Jorge! Justo agora que eu estava chorando! Que péssima hora!
Tentei controlar meu choro e limpar o rosto rapidamente, sem querer mostrar minha vulnerabilidade. Olhei para Jorge com uma expressão mista de gratidão e constrangimento.
- Oi, Jorge. Desculpe por isso... - Murmurei, tentando parecer mais forte do que realmente me sentia.
Ele me olhou com preocupação e franziu a testa.
- O que houve? Você está bem? - Perguntou ele, sincero.
Balancei a cabeça, tentando afastar qualquer traço de tristeza de meu semblante.
- Estou bem. Apenas... coisas aconteceram - Respondi vagamente, sem querer entrar em detalhes.
Jorge parecia desconfiado, mas decidiu não pressionar o assunto.
- Se você precisar conversar, estou aqui, ok? - Ofereceu ele, com um sorriso reconfortante.
Agradeci com um aceno de cabeça e tentei retribuir o sorriso, apesar de tudo.
- Obrigada, Jorge. Eu realmente aprecio isso.
Ele me deu um leve tapinha no ombro e se despediu, seguindo seu caminho. Enquanto o observava se afastar, senti uma mistura de gratidão por sua amizade e tristeza por tudo o que havia acontecido com Harry.
Decidi que era hora de me recompor e seguir em frente. Então caminhei mais cedo para a aula de Trato de Criaturas magicas.
O dia se tornara frio e ventoso, e quando descia o gramado em direção a orla da Floresta Proibida, sentiram pingos de chuva no rosto, o vento frio era reconfortante então procurei uma arvore próxima para me contar enquanto sentava. E resolvi escrever para minha avó.
Peguei minha pena e um pergaminho novo.

Querida avó,
Eu sinto sua falta absurdamente. As coisas não estão do jeito que eu achei que seriam, estão muito piores. E eu realmente não sei o que fazer a respeito disso. Queria que a senhora estivesse aqui para me dizer o que fazer...


- Hey, Riddle!
Ao ouvir alguém me chamar, levantei os olhos do pergaminho e me deparei com os olhos prateados de Draco Malfoy. Fiquei momentaneamente surpresa, pois não esperava encontrá-lo ali.
- Oi, Malfoy - Respondi, tentando parecer indiferente, mesmo que por dentro eu estivesse um pouco perturbada.
Ele se aproximou e se apoiou na árvore ao meu lado, olhando para mim com uma expressão curiosa.
- O que você está fazendo aqui sozinha? - Perguntou ele, com um tom de voz mais suave do que o usual.
Coloquei a pena e o pergaminho de lado, fechando-os com cuidado, e encarei Draco por um momento antes de responder.
- Estava apenas escrevendo uma carta para minha avó. Precisava desabafar um pouco, sabe? - Expliquei, sentindo-me um pouco desconfortável em compartilhar aquilo com ele.
Draco franziu a testa levemente, parecendo refletir sobre minhas palavras.
- Sinto muito se as coisas não estão indo bem para você - Disse ele, sua expressão se suavizando um pouco. - Acho que... talvez eu também saiba como é se sentir perdido aqui em Hogwarts.
Fiquei surpresa com a sua resposta e com a aparente vulnerabilidade em suas palavras. Parecia que havia algo mais acontecendo com ele do que eu imaginava.
- Obrigada, Draco. É estranho ouvir isso vindo de você - Admiti, com sinceridade.
Ele sorriu de leve, um sorriso quase imperceptível.
- Talvez eu não seja tão terrível como você pensa - Disse ele, com um tom de brincadeira.
Percebi que havia uma certa mudança na dinâmica entre nós naquele momento. Talvez houvesse mais em Draco do que apenas o garoto arrogante que ele costumava mostrar.
- Mas o que você precisava desabafar com sua avó? – Draco perguntou se sentando ao meu lado. – Sou um bom ouvinte.
Fiquei um pouco surpresa com a oferta de Draco em me ouvir. No entanto, algo nele parecia genuíno naquele momento, e decidi arriscar.
- É uma longa história, Draco. - Respondi, suspirando. - Mas, resumindo, as coisas não estão indo como eu esperava aqui em Hogwarts. Sinto-me um pouco perdida, confusa em relação ao meu lugar neste mundo mágico, às amizades e às expectativas que são colocadas sobre mim.
Draco me ouviu atentamente, sem interromper, o que era surpreendente vindo dele. Senti-me um pouco mais à vontade em compartilhar meus pensamentos com ele.
- Eu cresci ouvindo histórias sobre Hogwarts e esperava que minha experiência aqui fosse mágica e maravilhosa. - Continuei. - Mas, às vezes, sinto-me isolada, como se não pertencesse a lugar algum. E agora, lidando com desafios acadêmicos e relacionamentos complicados, fica ainda mais difícil.
Draco assentiu compreensivamente, mostrando uma empatia inesperada.
- Eu entendo, Riddle. - Disse ele, olhando para o chão. - Também tive minhas próprias lutas e expectativas frustradas aqui em Hogwarts. Nem tudo é o que parece, e nem sempre é fácil encontrar o nosso lugar.
Ficamos em silêncio por um momento, compartilhando essa conexão inesperada. Parecia que ambos carregávamos nossas próprias bagagens emocionais e lutas internas.
- Obrigada, Draco. - Murmurei, com sinceridade. - É bom ter alguém com quem falar sobre tudo isso. Eu não esperava encontrar isso em você.
Ele deu de ombros, oferecendo um pequeno sorriso.
- Talvez todos tenhamos mais camadas do que mostramos ao mundo. - Disse ele. - E, às vezes, é bom ter alguém para nos lembrar disso.
Aquele momento, foi algo que eu jamais esperava vivenciar com Draco Malfoy. Talvez, apesar das diferenças, pudéssemos realmente nos dar bem.



Continua...



Nota da autora: Sem nota.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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