Prólogo
Dois dias depois meu celular voltou a tocar.
— Oi. Este telefone ainda é da ? – A voz falou inteiramente em inglês. Graças ao esforço absurdo de minha mãe, e não graças ao meu pai americano ausente, meu inglês era ótimo, obrigada.
— Sim, este telefone ainda é meu. Quem deseja falar? – Minha voz saiu especialmente rude, e eu sabia exatamente quem estava falando do outro lado.
— Oi, , aqui é o Tobey, você se lembra de mim? Seu meio-irmão? – Perguntou a voz dele, não consegui decifrar se era algum tipo de preocupação encubada ou apenas uma atuação boba para me fazer amolecer.
— Lembro-me sim. Meu irmão riquinho e famoso que nunca deu a mínima para mim, ou para a minha família aqui no Brasil. Estava muito ocupado filmando seu milésimo filme do Homem-Aranha que não conseguiu ligar para ver se eu havia morrido de Covid? – Soltei tudo sem dar um puxão de ar, que no fim da frase a voz foi perdendo a força.
— Uau. – Ele apenas disse, provavelmente se arrependendo de ter ligado.
— O que você quer? – Perguntei, arrumando minhas coisas pois eu tinha um encontro marcado com minhas amigas. Abri o guarda-roupa enquanto ele gaguejada sem saber por onde começar.
— Bom, eu... Primeiramente, eu gostaria de me desculpar por todos estes anos que fui absolutamente negligente quanto à nossa família. Sei principalmente que nosso pai não foi um homem que honrou sua palavra, e muito menos deu qualquer tipo de garantia para a sua família. Não consigo nem imaginar como deve ter sido difícil a sua vida, com um pai ausente. E, novamente, peço desculpas por não ter feito o papel de irmão mais velho. – Ele disse, tão rápido quanto eu. Mas não tão despreparado. Ele provavelmente esperava que eu, no mínimo, fosse pedir uma explicação plausível.
— Maguire, eu não espero nada de vocês há anos. Minha vida seguiu, sim, sem meu irmão mais velho e meu pai de sangue. Mas, não graças a vocês, não cresci sem um pai. Cresci com uma mãe independente que faria tudo por mim, que, depois de arrumar a bagunça que vocês fizeram, casou-se novamente com o homem que hoje é o meu pai. – Expliquei-me, sem querer ser bruta ou ignorante. Apenas falei a verdade.
— , eu... – Ele tentou falar. Interrompi:
— Não me chame de . – Agora sim eu estava sendo bruta e ignorante. Ele pigarreou e continuou:
— , eu sinto muito por isso. Do fundo do meu coração. Eu sou um cara idiota e mesquinho, que a fama subiu à cabeça e acabei esquecendo de onde eu vim. Não posso me desculpar pelo meu pai, ele faleceu faz alguns anos, e se ele tivesse algo para falar com você, creio que o teria feito, como estou fazendo agora. – Ele suspirou. Parecia cansado, talvez perdido. Minha cabeça foi longe, enquanto minha mão passava pelas roupas do guarda-roupa penduradas no cabide. Passei poucos anos da minha vida com Tobey. Quando nasci, ele tinha 19 anos, já tinha uma carreira consolidada em Hollywood, mas era um adolescente reservado e gostou de passar um tempo com a irmãzinha. Seu pai e minha mãe se conheceram no Brasil, ela era garçonete e ele um dono de empresa de construção civil que estava estudando as possibilidades de abrir uma empresa no país do carnaval. Apaixonaram-se e me tiveram, minha mãe, a inocente garçonete, não se casou com ele no papel, então o homem acabou abandonando-nos quando eu tinha quatro anos. Tobey enviava algumas cartinhas no natal até fazer uns vinte e três anos, e, depois disso, nunca mais manteve contato.
Minha mão sofreu muito com aquela perda, e custou a se curar daquela ferida aberta. Fiz ela me levar ao cinema para assistir todos os filmes do “maninho”, mesmo que ninguém acreditasse de verdade em mim.
— Tobey, eu tenho 28 anos. Não tenho mais idade para ficar brincando de família com você. Sei que você sente muito, e no fundo isso mexe comigo, mas você não acha que é muito tarde? Você está com o quê? Quarenta anos? Está casado e com filhos? Olha quanta parte de nós que perdemos. – Respondi depois do meu devaneio. Ouvi um suspiro do outro lado da linha. – Me responde de verdade, para que você ligou?
— Eu quero reaver nossa amizade. Quero ter você na minha vida de novo. Tenho dois filhos lindos que eu gostaria que você conhecesse. – Ele mal me deixou terminar a frase. A urgência na voz dele me mostrava um desespero quase palpável.
— Não sei se consigo fazer isso, minha vida está muito bem estruturada agora. Tenho uma casa, um bom emprego, minha família me ama e me apoia em qualquer decisão. Você não pode me ligar depois de vinte e cinto anos e fingir que sempre fez parte disso. — Eu sei que não posso mudar o que foi feito, mas me dá uma chance de mudar o futuro. Me dá quinze dias. Me dá uma oportunidade de te mostrar que ainda sou seu irmão. – A voz dele suplicava. Meus olhos se encheram de água. Minha mãe era a única coisa que passava na minha cabeça, se ela ficasse magoada com isto, eu nunca iria me perdoar.
Fiquei em silêncio e perdi a noção do tempo, enquanto minha cabeça martelava com a sensação de que ele realmente sentia muito. Por que ele iria puxar assunto depois de todo esse tempo?
— Por favor, , me deixa fazer a coisa certa, para variar.
— Preciso falar com a minha mãe primeiro. Se ela achar uma péssima ideia, pode esquecer.
— Porra, obrigado! Isso! Você está me fazendo muito feliz. Obrigado! Obrigado! – Ele disse a segunda palavra em português e meu coração de pedra amoleceu por um momento.
— Não se anime tanto. Ainda estou brava com você. – Desliguei o telefone e joguei-me na cama, completamente absorta em pensamentos.
Capítulo 1
Desci do avião com certa urgência. Depois da primeira conversa, eu e Tobey acabamos nos aproximando bastante, fizemos ligações de vídeo e conversamos por horas, colocando todas as fofocas em dia.
Na realidade, acabei o conhecendo de verdade agora, o que eu lembrava era algo distorcido e infantil da minha cabeça de quatro anos de idade. Porém, tenho muito mais lembranças dele do que de meu verdadeiro pai. Isto é, provavelmente proveniente de minha mãe, que basicamente excluiu aquele homem de minha vida.
Minha mãe ficou chocada num primeiro momento, depois amoleceu o coração assim como eu. Acho que puxei esse coração mole dela, pois na primeira chamada de vídeo que fiz com eles, minha mãe desatou a chorar e agradecer por ele ter vindo atrás de nós depois de todo este tempo. Tobey foi muito simpático com ela e extremamente empolgado para falar português, mas creio que ele não andou praticando nesse tempo em que tivemos afastados e tudo acabou sendo um grande fiasco. Fui a intérprete. Essa ligação foi extremamente dramática, e muito importante para a minha decisão de ir até ele no fim das contas.
Desci do avião com meu coração saindo pela boca. Engoli a seco quando vi várias pessoas esperando seus respectivos colegas com plaquinhas e sorrisos com olhos sinceros, e a plaquinha que segurava “ ” não era diferente. Ele usava um boné azul escuro na cabeça, uma máscara descartável no rosto, um casaco de moletom marrom e calça jeans, um cara comum na multidão. Não corri ao seu encontro para não chamar a atenção, mas o abracei forte quando cheguei ao seu alcance. Nunca em toda minha vida eu achei que um abraço pudesse transmitir tantos sentimentos, até o dia em que dei esse abraço. O ato durou pelo menos dois minutos inteiros e não foi de maneira alguma constrangedor, não falamos absolutamente nada e aquilo me tranquilizava. Tobey fungou e só assim percebi que ele chorava feito um bebê. Cortei o abraço e sorri, passando a mão no seu ombro em um ato de carinho sem proximidade.
— Eu tenho tanta coisa para dizer, que nem sei por onde começar. – Falou, fungando. Os olhos marejados de uma felicidade implícita em sua fala. Nesse momento, percebi que fiz a coisa certa. Meu irmão estava solitário de um recém divórcio, a casa vazia, as crianças indo apenas nos fins de semana marcados, meu coração aqueceu dentro do meu peito, e doeu de saber que eu poderia ter feito alguma coisa antes dele vir falar comigo. Não o fiz por orgulho.
— Não pensa nisso agora, vamos atrás da minha mala e vamos sair daqui antes que te reconheçam. – Eu disse, indicando a direção oposta de onde eu havia acabado de vir.
— Você é muito ingênua. Já me reconheceram desde que saí de casa. Estão em todos os lugares, olha. – Apontou para um homem que estava à nossa esquerda com uma câmera nas mãos e deu um tchauzinho. – Piorou bastante depois dos boatos do novo filme do Homem-Aranha, estão atrás de algum encontro que eu tenha com o Tom Holland ou o Andrew Garfield, mas ainda estamos mantendo a discrição, o filme lançou aqui há apenas duas semanas.
— Que absurdo! – Exclamei indignada. Ele deu de ombros e seguimos para pegar minha mala e irmos para a sua casa.
Eu havia visto o filme, infelizmente não consegui mais comprar os ingressos na pré-estreia quando finalmente decidi que era o certo ir. Chorei feito um bebê quando ele apareceu, e gritei com todos dentro da sala do cinema. Até falei para a pessoa desconhecida ao meu lado que ele era meu irmão, mas o cara não acreditou.
— Então... - Disse ele, quando chegamos à sua casa. – Seja bem-vinda à minha humilde residência. Deixa-me já te levar pro seu quarto para você já deixar as suas coisas lá. Depois podemos pedir uma pizza, o que acha? Está muito cansada? Se não, podemos sair para jantar também, posso te mostrar a cidade. Los Angeles não é tão famosa quanto Nova Iorque, mas tem o seu charme.
— Estou meio cansada da viagem, sim, podemos fazer algo mais caseiro, se você não se importar. – Falei, enquanto subíamos as escadas.
— Pizza então. – Ele disse, seguimos até o quarto que deveria ser meu e ele abriu a porta. As paredes eram todas azuis marinho, e os detalhes eram feitos em gesso branco. Havia uma enorme cama de casal, e uma escrivaninha de madeira. De frente para nós, do outro lado do quarto, havia um espelho, e só assim consegui ver nós dois ao mesmo tempo. Ele notou que eu sorri para nossos reflexos e acabou sorrindo também.
Lá estava eu, do outro lado do mundo, com um parcialmente desconhecido sorrindo para mim através de um espelho. Nossas feições não eram tão parecidas, exceto talvez pelo nariz e os olhos, eu não tinha olhos azuis como os dele, mas o formato era muito parecido e em meu olho esquerdo, eu tinha algo chamado heterocromia, onde um quarto do meu olho era azul, e o resto era castanho claro como o de minha mãe, o olho direito era castanho claro também. Tobey estava de cabelos cortados, diferente da última vez que eu o havia visto na vídeo-chamada, seus olhos estavam ligeiramente inchados da choradeira, e ombros caídos. Mesmo assim, o sorriso permaneceu, fazendo o meu se alargar ainda mais.
— Obrigada por me convencer a vir, estou muito feliz, Tob. – Falei sincera, ainda olhando para o nosso reflexo no espelho.
— Eu também estou. Você não faz ideia. Inclusive... – Ele colocou minha mala de qualquer jeito ao lado da escrivaninha e pegou a mala pequena que eu trazia no ombro, colocando-a em cima da cama. – Deixa eu te mostrar algo.
Ele me puxou pela mão, me guiou até o que eu supus ser seu quarto, que tinha as paredes pintadas em um tom de verde militar lindo, abriu o closet e em uma gaveta mais afastada das outras ele retirou uma caixa.
Sentou-se na cama com a caixa e me chamou com a mão.
Dentro havia todos os tipos de recordações possíveis sobre sua pequena vida no Brasil. Havia uma foto dele muito mais jovem, com uma criancinha no colo que reconheci muito bem, meus cabelos eram muito mais claros do que são hoje. Em outra foto ele está sorrindo e segurando nas minhas mãozinhas enquanto estou tentando dar meus passos atrapalhada. Havia pelo menos umas dez fotos daquele mesmo dia. Ele havia guardado também, meus poucos cartões de natal e alguns dos presentes que eu mandei: uma pulseira escrito Tob & com várias miçangas coloridas, uma correntinha prateada com um pingente da bandeira do Brasil, e uma caixinha de paçocas vazia. O único presente que eu realmente lembro era a pulseira de miçanga, lembro de fazê-la com a minha mãe.
— Eu amava isso aqui. Devia ter pedido para você trazer. – Falou ele balançando o pote vazio.
— Podemos fazer qualquer dia, deve ter a receita na internet. – Dei de ombros e vi seus olhos brilharem.
— Você acha?
— É claro. – Respondi rindo da sua cara. E voltamos a atenção para a caixa. Ele me mostrou os cartões postais que minha mãe havia feito em meu nome e até alguns exemplares dos gibis da turma da Mônica, verdadeiras relíquias com direito à almanaques e tudo.
Fiquei realmente sentida por todo aquele carinho que emanava dele, enquanto me mostrava a caixa. Era visível que ele tinha um sentimento forte com tudo aquilo e simplesmente o abracei novamente.
— Me desculpa, , de verdade, eu fui um completo idiota por te abandonar, eu era jovem, estúpido e sem noção. Não me deixa fazer isso nunca mais.
— Eu te desculpo, Tob, peço desculpas por ter sido tão rígida com você no início, mas eu não te conheço mais, tive que me proteger. – Respondi.
— Você não tem que se preocupar em me pedir desculpas, eu sou o único errado da situação, você era uma criança quando tudo aconteceu. – Ele soltou do abraço e me olhou nos olhos. Aqueles olhos azuis profundos e encantadores.
O nosso momento foi quebrado pelo meu telefone, era minha mãe fazendo uma ligação de vídeo.
— Oi, mãe. – Atendi.
— Oi, Dona Miranda. – Tobey disse totalmente em português, abanando a mão logo atrás de mim.
— Oi, meus queridos. – Ela ficou visivelmente afetada, por nos ver finalmente juntos. – Como foi a viagem, ? Pedro está perguntando como você está. – Pedro era o meu pai não oficial, o homem que me assumiu e que eu amava como se fosse o verdadeiro pai da minha vida.
— Estou bem, a viagem foi boa. Estávamos aqui vendo algumas lembrancinhas que o Tob guardou durante todos estes anos. – A conversa foi demorada e divertida. Mostrei a ela as fotos e prometi que iria fazer cópias para levar para ela. Comentei sobre a paçoca e ela me passou uma receita de família que, segundo ela, era moleza.
A noite seguiu sem mais surpresas, comemos pizza, conversamos sobre muitas coisas e segui para minha cama, me despedindo de um irmão feliz e sonolento que me levou até o quarto antes de seguir para o seu. Dormi feito uma criancinha.
Acordei sentindo cheiro de café da manhã.
— Espero que goste de panquecas e ovos mexidos, pois são as únicas coisas que sei fazer para café da manhã.
— Você nem precisava se preocupar com isso. – Puxei uma cadeira para me sentar, enquanto ele finalizava as panquecas. – Na próxima, deixa que eu faço, quero te mostrar algumas coisas que sei fazer. – Falei, sou formada em gastronomia há cinco anos e hoje trabalho como sous chef em um restaurante bem badalado de Florianópolis. Continuei: – Então, ontem você mencionou o Tom Holland e o Andrew Garfield... O que você pode me dizer sobre isto?
Ele virou para mim, cerrando os olhos e eu sorri travessa, sabendo que ele não podia falar muita coisa ainda.
— O que você quer realmente saber? – Notei que não era o que ele queria fazer, mas eu estava com um vale intitulado: sou a irmã mais nova e você está me devendo muita coisa, faça o que eu pedir ou posso ficar magoada. E eu não vou negar que estava usando isto a meu favor. Dei meu melhor sorriso encorajador e vi que ele cedeu. - Você tem que me prometer que não vai falar isso a ninguém, ou eu posso levar uma multa milionária. – Ele disse, apontando a espátula de virar panqueca para mim.
— Ok, eu prometo. Quero saber como você se sentiu, como foi a experiência? Você fez apenas pelo dinheiro, ou sentiu uma pontinha de nostalgia?
— Primeiro você tem que entender que todo ator só faz filmes pelo dinheiro. É o nosso trabalho. Segundo, eu fiz porque gostei da nostalgia, gosto de como o universo Marvel está se solidificando nessa nova fase, e gostei de contracenar com outros homens-aranha. No fim de tudo, foi muito divertido. Fiz uma boa amizade com Tom e Andrew, coisa que eu não achei que fosse acontecer.
Dei um gritinho afetado e ele sorriu.
— Falando nisso, você está oficialmente convidada para me acompanhar no tapete vermelho que irão fazer no fim de semana, já que o filme já estreou faz um mês e a minha presença e a do Drew não é mais uma novidade bombástica. – Ele disse, dando atenção à frigideira.
— Nossa, é sério? – Perguntei pasma.
— Claro, alugo uma limusine, e podemos ir escolher um vestido qualquer dia desses. Se você quiser ir, é claro.
— É claro que eu quero ir! – Falei mais rápido do que deveria, mas quem em sã consciência não iria? Conhecer gente famosa, conhecer Zendaya, Marissa Tomei e quem sabe (se Deus quiser) Robert Downey Jr. Meu coração palpitou só de pensar.
— Ai que bom! Eu estava guardando este ingresso só para ti. – Disse ele, feliz da vida.
Tomamos café conversando sobre o filme e diversos outros que ele havia feito. Comentei que alguns eu havia deixado de assistir por estar na fase de distanciamento dele. Conversamos também sobre a sua amizade com Leonardo DiCaprio, que sempre foi uma fonte de curiosidade minha, e sobre o seu namoro com Kirsten Dunst.
— O meu namoro com Kirsten foi absolutamente marketing. Isso existe mais do que você imagina, e, tudo o que acontece, a imprensa usa como o estopim de algo. É bem triste saber como as coisas realmente acontecem por trás da câmera... – Tob foi interrompido por uma batida de porta esquisita, não era da porta da frente, e pensei que pudesse ser da sua ex-mulher entrando pela garagem.
Tobey levantou fazendo sinal de “um minuto” para mim, e seguiu até a porta misteriosa. Voltou alguns minutos depois, com o olhar meio perdido e um pedido de desculpas implícito em seu rosto.
— Cara, eu tive que dar três voltas no quarteirão para despistar os... – Uma voz desconhecida com um sotaque expressivamente inglês adentrou a cozinha e parou no ar, provavelmente quando notou que Tobey não estava sozinho. Soltei minha xícara de café e travei um instante quando vi Tom Holland parado logo à minha frente.
— Meu Deus, cara, por que você não falou que estava acompanhado? Eu sou idiota, mas tenho o mínimo de noção. Desculpa moça, ele normalmente está sozinho quando eu faço esse tipo de visita.
— Ele pegou esse costume quando estávamos lendo o script, e acabou que virou uma tradição ele vir aqui de vez em quando. – Tob explicou.
— Isso se chama amizade, acho que ele não conhece esse conceito ainda. – Tom falou esticando o braço até mim. – Eu sou Tom, é um prazer.
— Tom, essa é minha irmã. – Tobey disse, ainda achando estranho essa intromissão, provavelmente pensando que eu poderia me assustar ou me arrepender. A questão é que eu estava adorando.
— A famosa . – Ele disse enquanto eu apertava sua mão. Famosa? Então Tobey falava de mim para os colegas de trabalho?!
— É um prazer, Tom, eu sou . – Apertei sua mão e chacoalhei por um instante.
— Tom era um dos poucos que sabia sobre a sua vinda, ficou realmente feliz que você aceitou vir. Acho que foi um dos poucos que viu a maré de merda que eu estava durante as gravações. – Tobey disse dando de ombros e peando sua caneca de café de volta da mesa. – Quer um café?
— Não, não, já estou de partida, não quero incomodar vocês. – Ele disse aparentemente sem graça.
— Que isso, você não está incomodando. – Eu disse, não vou negar que meu coração estava ligeiramente descompassado no momento. Eu sempre soube que meu irmão era famoso, mas eu não estava preparada para aquilo. Eu estava de pijamas! Tentei me manter calma por fora, mas eu tinha, sim, uma parte de mim que era uma tiete assumida.
— Na verdade, estou sentindo que sou eu que estou incomodando. Vou dar um pouco de privacidade para vocês e vou lá em cima tomar um banho, ok? – Virei minha xícara de café com tudo, apertei levemente a mão de Tobey em despedida, e passei com certa urgência pela porta da cozinha. Durante o trajeto, ainda consegui ouvir naquele sotaque maravilhoso:
— Uau, ela é adorável.
Desci as escadas esperando que Tom não estivesse mais ali, mas ele estava. Tentei dar meia volta sem ser percebida, mas Tobey me chamou.
Entrei na cozinha e vi um Tom Holland com os olhos vermelhos e as mãos cruzadas em cima da mesa.
— Oi? – Perguntei sem saber muito bem o que fazer.
— Dentro do congelador, tem um pote de sorvete... – Ele não precisou dizer mais nada. Peguei o mesmo, e três bowls que estavam em uma prateleira ao lado da geladeira. E colheres na gaveta.
— O que houve? – Perguntei ainda perdida. Sentando-me com eles à mesa.
— Lembra da conversa que estávamos tendo antes dele chegar? Que Hollywood tem seus casais...?
— Ah não! Não, não, não me diz que você e a Zendaya são apenas marketing? – Perguntei horrorizada, Tobey abriu o pote de sorvete e deu a colher à Tom.
— Sim. Você não faz ideia de como é difícil às vezes. Eu gosto dela, gosto demais. Mas como amigo. Foi como nossa relação começou. Ela teve que terminar outra relação que tinha para começar a me namorar. Tem muita coisa envolvida. Estamos apenas esperando a première terminar, e a poeira do filme baixar para podermos ter nossas vidas de volta. Algumas coisas são um saco. – Ele disse pegando uma colherada de sorvete. – Eu e o seu irmão tivemos uma conexão instantânea no set, e, depois, conversando um pouco melhor, vimos que tínhamos bastante em comum.
— É, nós dois estávamos passando por fases ruins e acabamos nos dando bem por isso. – Tob comentou, também pegando um pouco de sorvete. Peguei um pouquinho só para não ficar deslocada, mas estava achando absurdo o fato de tomar sorvete essas horas da manhã.
— Nem sei o que dizer. – Admiti. – Estou arrasada. Não sabia que a vida de vocês era assim, não sei se conseguiria viver dessa maneira.
— Meu deus, vamos trocar de assunto, não quero deixar sua irmã com baixo astral no segundo dia dela aqui. – Tom riu um pouco e pegou mais um pouco de sorvete. Tentou trocar de assunto: - Você é muito bonita, tem certeza de que tem algum parentesco com esse cara aqui?
Caí na gargalhada enquanto Tobey o olhava com certa indignação.
— Cara! – Disse ele.
— O que? Só estou dizendo que ela é bonita, não é mentira. – Voltou a dizer, e então eu notei que ele era exatamente aquela pessoa bondosa e carismática que se vê na internet, até certo ponto ingênua. Tobey continuava sem palavras.
— Obrigada, Tom, você deixou meu dia mais feliz. – Eu olhei em seus olhos e ele sorriu de volta, com a colher de sorvete entre os dentes.
— Uaaaau! Seus olhos... – Ele disse aproximando o rosto do meu para ver melhor. Seu cheiro era maravilhoso, assim como sua pele. Deixei-o examinar meus olhos por alguns segundos. – Incrível! – Seu hálito de sorvete bateu no meu rosto, e, por um micro segundo, minha guarda de mulher independente, livre e coração de pedra amoleceu.
Tobey pigarreou e ele se afastou de mim. Fiz meu maior olhar de sonsa para ele, que repreendeu Tom apenas com o olhar e o menino se endireitou na cadeira.
Olha, eu não me importaria se Tom Holland, o queridinho da América no momento, me achasse bonita e meus olhos incríveis, já que, sendo brasileira, os homens não faziam muito o meu tipo... Quem sabe um inglês mais novo que eu, com um sorriso encantador e com um cheiro que podia me desmontar em pedaços, podia me dar uma chance.
Capítulo 2
Escolhemos meu vestido em uma loja que eu não sabia nem pronunciar o nome, era um vestido vermelho, que teve um caimento perfeito no meu corpo com padrões brasileiros de bunda (confesso que peito não era meu forte). O decote do vestido vinha até minha barriga, as alças eram bem finas e, nas costas, a tira fina das alças fazia alguns cruzamentos antes de fechar com um laço, deixando à mostra minhas tatuagens esquisitas que eu amava. O zíper invisível vinha do meio das minhas costas até minha bunda. Quando saí do provador, o vendedor deu um gritinho fino e correu para amarrar as tiras nas minhas costas.
Tobey tapou a boca caída (mesmo com a máscara) com a mão e, confirmou com a cabeça.
— É esse. – Falou com os olhos sorrindo. – Você gostou?
— Gostei, mas tem certeza? Não é muito revelador? – Olhando-me no espelho, percebi que ele tinha uma fenda na perna direita. Na fenda, dava para notar um detalhe em branco, como se fosse o forro do vestido, mas não era.
— Claro que não, menina. Você está feroz. Consigo sentir meu sangue latino pulsando de longe. – O vendedor disse, estalando os dedos. Empurrou meu ombro para eu dar uma voltinha.
— Eu também gostei bastante. – Falei sem graça, olhando todos os detalhes no espelho gigantesco.
— Vocês conseguem fazer alguma alteração no vestido? – Tobey perguntou, colocando a mão no queixo.
— Nós não costumamos fazer quando muda o design do vestido, senhor. Mas qual seria a sua sugestão? Posso passar aos meus superiores... – O vendedor falou simpático.
— Teria como trocar aquele tecido branco na fenda por um azul? As cores do Homem-Aranha, sabe como é... – Ele tentou ser o mais charmoso que pôde. E eu vi a guarda do vendedor baixar.
— Vou ver o que posso fazer pelo senhor. Creio que seja possível, pois não muda o design, apenas a cor do tecido. - Ele anotou o detalhe em uma prancheta, e chamou uma moça para fazer os retoques de altura do vestido enquanto falava com o gerente.
Nem dois minutos depois ele voltou com uma caixa de tecidos para Tobey escolher o tom de azul que ele queria, e eu dei risada vendo como tudo era fácil quando se tinha dinheiro e um nome.
Eu estava realmente bonita naquele vestido. Com o penteado perfeito e a sandália que havíamos escolhido na loja anterior, eu estaria pronta para acompanhar alguém à altura de Tobey Maguire, o Parker preferido de uma geração.
O sábado chegou, e com ele, o meu nervosismo absoluto quanto ao tapete vermelho. Levantei-me antes de Tobey, algo que me acostumei a fazer desde o segundo dia. Eu já estava me sentindo em casa. Nossa relação se fortaleceu muito depois de alguns dias de conversa intensa, contei a ele sobre meus relacionamentos fracassados e a minha promessa boba de que não iria mais me apaixonar por qualquer um, e muito menos baixar a guarda com facilidade. Contei sobre meu gato, Jacquin, e expliquei a ele sobre a origem do nome (Master Chef Brasil), e informei que minha mãe estava com ele no momento. Contei sobre minhas amigas e meus colegas de trabalho.
Enquanto pensava em como minha vida havia mudado da água para o vinho, fiz um pequeno café da manhã para nós dois:
Omelete francês, com torradas, avocado e tomates.
— Vou acabar ficando mal-acostumado. – Ouvi a voz de Tobey dizer enquanto ele puxava um jornal que já havia sido deixado acima do seu lugar na bancada de café, por sua governanta, Beth.
— Bom, você está fazendo tanta coisa por mim, estou ficando sem graça. – Brinquei.
— Eu não estou fazendo nada, nada comparado ao que devia ter feito desde o início. – Ele disse em um tom sério. – Você sabe disso.
Coloquei a omelete no prato, derramei um fio de azeite em cima, acomodei as torradas ao lado e o servi, meu prato já estava posto no meu novo lugar na bancada.
— Preciso estar no cabelereiro às 13:00 horas, você consegue me levar? – Perguntei mudando de assunto. Ele soltou o jornal, admirou o prato a sua frente, bateu uma foto e concordou com a cabeça.
Conversamos um pouco sobre nossos horários, e deixamos tudo pré-agendado para não nos perdermos.
Meu cabelo parecia ter sido desenhado pelos deuses, eu nunca havia sentido ele tão cheiroso e tão sedoso na vida. Estava preso por uma trança lateral que saía de cima da minha orelha direita e ia até a nuca, onde iniciava um coque desfiado, cada mecha estava em sintonia e nada saía do lugar se não fosse programado. A maquiagem era outro show à parte: eu nunca tinha utilizado tanta maquiagem, e ao mesmo me sentido tão natural. A maquiadora disse que eu tinha uma pele ótima e uma cor linda. Elogiou minhas sobrancelhas grossas, e minha boca carnuda (obrigada, mãe). Ela desenhou um delineado perfeito em cima de uma sombra quase sem cor aparente, mas com um brilho nude que parecia o próprio carnaval quando eu piscava. Explicou que como meu vestido já era bem colorido, o rosto não precisava ser tanto. E que um delineado bem-feito valia por mil sombras. Nos lábios, colocou um nude escuro, quase marrom. Disse que minha paleta de cores combinava muito com cores terrosas e eu nem sabia o que isso queria dizer direito, mas acreditei quando vi meu rosto esculpido no reflexo do espelho, e meus olhos marejaram.
— Você não é LOUCA de chorar! – Brigou comigo e veio correndo com um cotonete para enxugar meus olhos.
Dei uma risada gostosa.
Quando todo o trabalho estava feito já passava das 17 horas e 30 minutis, meu irmão havia me informado que sairíamos de casa às 18 horas, para chegarmos no local às 18 horas 45 minutos. A maquiadora e o cabelereiro me abraçaram calorosamente, ela explicou que a maquiagem só sairia com demaquilante, que eu poderia ficar tranquila quanto a isto, e o homem me disse que meu cabelo só desmancharia se um furacão passasse por nós. Respirei tranquila quando saí do lugar, indo direto ao carro de Tobey, que já estava perfeitamente alinhado em seu terno caro, cheiroso como apenas um ricaço como ele poderia estar. O cabelo penteado perfeitamente para trás, a gravata azul escuro, exatamente do mesmo tom do tecido interno do meu vestido.
Minhas mãos suavam quando chegamos no local.
Ele olhou para mim sorrindo carinhosamente:
— Fica tranquila, são só algumas pessoas famosas. Nenhuma delas é mais bonita do que você. Então não tem por que ter medo. A única coisa que diferencia delas para você é a quantidade de dinheiro, o talento você tem de sobra. Então não deixa eles pisarem em ti. Brilha como a estrela que você é. Fica sempre ao meu lado e segura minha mão se você achar que precisa. – Ele beijou meu rosto. Foi a primeira vez que ele me beijou, e eu imediatamente me senti confiante. O motorista já tinha saído do carro para abrir porta para nós.
A multidão lá fora era absurda, ensandecida e completamente barulhenta. Estavam lá para ver Tobey, eu podia sentir. Andrew Garfield havia entrado um carro antes de nós, e o barulho foi ensurdecedor.
— Mais uma coisa, não se abale com os flashes, ou você vai sair fazendo careta em todas as fotos. Finge que é só mais um dia. Que você está fazendo um prato que você faz todos os dias. Aquela omelete maravilhosa que você fez para mim hoje de manhã. – Disse ele, e eu respirei fundo antes do motorista abrir a porta.
Tobey saiu e a multidão ovacionou. Durante minutos que me pareceram intermináveis, ele deu alguns acenos para os flashes e esticou a mão para mim, que ainda estava dentro carro.
Saí de lá e os flashes continuaram, a multidão continuou gritando seu nome. Os seguranças passaram trabalho, e eu fiquei encantada em ver como Tobey tinha um talento natural com aquilo, com certeza saí fazendo careta nas primeiras fotos, até meus olhos se acostumarem com tudo aquilo. Ele estava gracioso, o peito estufado, um sorriso no rosto, e foi ele quem pegou a minha mão. Talvez estivesse querendo um apoio moral, talvez estivesse querendo me dar apoio moral, ou talvez, só talvez, ele estivesse emocionado de me ter ao seu lado. Eu gostava imensamente desta ideia.
O caminho era reto até onde o resto dos atores estavam. Todos sabiam que Tobey havia chegado, apenas pelo barulho. Batemos algumas fotos sozinhos, Tobey fez questão de me abraçar pelo ombro em algumas, sorrindo como se o mundo precisasse daquilo. E eu realmente precisava, eu via em seus olhos o quão orgulhoso ele estava.
Tom veio diretamente até nós e abraçou Tobey com força.
Ele estava absolutamente lindo em um terno preto e gravata borboleta, no rosto usava um óculo de grau que eu já havia visto em algumas outras entrevistas no Instagram. A plateia e as câmeras pareciam ter tudo que eles queriam naquele abraço, até o momento que Andrew chegou por trás de Tom e deu um tapa em sua bunda e entrou no abraço. O público pirou. Os flashes pareciam ser apenas um holofote ligado no nosso rosto, não parava em nenhum milésimo de segundo. Fiquei ao lado deles, ligeiramente afastada rindo feito uma boba. A química deles eram tão palpável quanto no filme, e mais incrível do que isso era como Andrew Garfield era bonito pessoalmente.
Ele estava com os cabelos ligeiramente mais compridos do que no filme e muito bem penteados. O terno era cinza, eu podia ver por dentro um colete bem acinturado e uma gravata preta.
Os três juntos renderam pelo menos dez minutos de risadas e fotos completamente espontâneas. Eu me divertia ouvindo as palavras deles, e logo Tobey me puxou para perto. Tom logo veio me cumprimentar (Deus do céu, não me faça virar meme enquanto beijo esses dois deuses gregos que são colegas de trabalho do meu irmão mais velho), beijou minha mão num ato exagerado de cumprimento e Andrew, que nem me conhecia até o momento, pegou minha outra mão e beijou também, me fazendo ficar tão vermelha que dei uma risada alta, os flashes não paravam um segundo. Tom me abraçou e disse que estava muito feliz de me ver ali, o agradeci e disse que também estava feliz de estar ali. Andrew me puxou para um abraço também para não ficar para trás em frente às câmeras.
— É um prazer finalmente te conhecer, irmã Maguire. – Ele praticamente gritou no meu ouvido para que eu pudesse ouvir. Não quis corrigir meu sobrenome na frente de todas aquelas câmeras, então apenas sorri e respondi:
— É um prazer te conhecer também, espetacular Andrew Garfield. – O ato de eu me aproximar da sua orelha em frente às câmeras certamente foi um erro, pois o cheiro daquele homem me arrebatou com toda a força possível. Juro que tonteei e dei um passo para trás.
Ele entendeu a brincadeira que fiz e sorriu, batemos algumas fotos os quatro e seguimos em frente onde se encontravam os demais atores do filme. Para a minha grande decepção, Robert Downey Jr. não se fez presente (não existia motivo algum para ele estar ali, porém meu coração de tiete tinha uma esperança), mas Benedict Cumberbatch fez o papel de galã mais velho e eu babei nele como qualquer mulher normal faria. Que homem elegante, meu Deus... Foi tão simpático comigo quanto os demais, a mulher dele o acompanhava.
Encontrei Jamie Foxx, Jason Batalon, Marisa Tomei e a maravilhosa, esplêndida e majestosa Zendaya. Meu coração foi a mil quando a vi, que mulher, meus amigos.
A noite passou como um borrão de flashes, encontrei diretores, produtores e mais tanta gente que não lembrava o nome nem da metade. Tobey veio me avisar, em algum momento que iríamos ter um afterparty quando tudo acabasse.
O evento inteiro durou muito mais do que uma hora. Uma hora de fotos e mais fotos, pequenas entrevistas com revistas e sites de entretenimento. Alguns cartões, bonecos e sabe-se lá mais o que que os fãs pediam, com os braços esticadíssimos para que um deles pegasse. Era nítido que meu irmão era o preferido: quando ele se aproximava da multidão, eles queriam quebrar as grades, os gritos eram ensandecidos, e os flashes aumentavam. Em quase todas as entrevistas que ele deu, ele me apresentou como sua irmã, antes que os tabloides falassem algo errado e doentio sobre nós. O que não seria difícil levando em conta que eu era claramente latina, ao seu lado. Minha pele se bronzeava com facilidade, estávamos no verão do Brasil, e eu não perdia a chance de ir para o sol.
O afterparty seria na casa de Jamie Foxx, homem este que era conhecido por suas festas de parar um quarteirão. Ele também era um homem de respeito dentro do seu terno azul, simpático e divertido como aparentava ser, me arrancou boas risadas enquanto apresentava sua inacreditável mansão.
— , caso você esteja desconfortável e queira ir embora, por favor, me avise. – Tobey me chamou para um canto quando foi cada um para o seu lado. – E não quero bancar o pai neurótico, mas não beba nada do copo de ninguém. O pessoal aqui pega pesado de verdade. – Falou ele, colocando o dedo indicador sobre uma narina disfarçadamente.
— Ok. Obrigada por avisar. – Eu já imaginava esse tipo de coisa, mas foi bom ele me relembrar para que eu não parecesse uma idiota caipira no meio do tanque de tubarões.
Ele me levou até a sala central, onde havia uma mesa cheia de bebidas de todos os tipos possíveis, frutas que eu nem conhecia, e potes chiques de vidro, com açúcar, sal e sabe-se lá mais o quê.
— Quer que eu te ajude? – Perguntou ele apreensivo. Eu sorri, pegando a coqueteleira.
Num movimento rápido, cortei rodelas de laranja, toranja e limão. Fiz um drink simples, parecido com caipirinha, mas sem a tradicional cachaça. Dei um gole para ele experimentar e seus olhos brilharam.
Dividi a coqueteleira em dois copos grandes, coloquei duas folhinhas de hortelã em cima, e quando terminei, Andrew fucking Garfield aplaudiu do outro lado da mesa.
Ele se aproximou, visivelmente admirado. Cumprimentou Tobey mais uma vez e falou algo em seu ouvido, meu irmão deu uma risada alta e respondeu ele, que ele veio sorrindo até mim.
— Seu talento com essas facas me deixou apreensivo. – Brincou, seu hálito batendo em minha orelha.
— Você não viu nada. – Respondi no mesmo tom brincalhão que ele, e ele riu mais ainda.
— Foi exatamente o que seu irmão disse a mim. – Ele disse e eu ri. – Posso experimentar? – Perguntou ele, apontando para o meu drink. Entreguei meu copo a ele, sem piscar um segundo, lembrando do aviso que meu irmão havia dito antes.
Tobey veio até mim rindo.
— Não precisa ficar olhando fixamente, pode dar uma disfarçada. Não fica tão tensa, ok? Vou dar só uma voltinha, fique aqui com o Drew, confio nele. – Tobey disse, dando-me mais um beijinho no rosto e falou algo no ouvido de Andrew antes de sair.
— Ele disse que se eu não cuidasse de você, ele cortaria minhas bolas e daria para você cozinhar com feijão. – Ele terminou a frase dando uma alta risada, devolvendo-me meu copo. – Está uma delícia, consegue fazer um para mim depois? – Indicou o próprio copo, que estava com outra bebida no momento.
— Claro. – Dei de ombros, a música finalmente começou a tocar e consegui relaxar um pouco os ombros.
— Você não é muito de falar, né? – Ele disse, me empurrando pelos ombros para fora da casa, onde a música estava menos alta e as pessoas estavam mais espalhadas.
— Cara, eu falo, falo até demais. É só que é muita coisa rolando ao mesmo tempo, estou com uma maquiagem de pelo menos 3 milímetros de espessura, um salto mais alto do que jamais usei, um vestido que deve valer milhões da cor do Homem-Aranha! Conheci tanta gente famosa na última hora que não consigo contar nos dedos, e estou aqui agora, falando com Andrew Garfield e ele está prestando a atenção no que eu estou falando, mesmo com esse sotaque esquisito e meu inglês feio. – Soltei tudo de uma vez e ele deu uma risada jogando a cabeça para trás.
— Você tem que entender que pessoas famosas são pessoas normais, a gente trabalha, anda de carro, estuda, come e vai ao banheiro, assim como todo mundo. – Ele disse, tomando um gole da sua bebida enquanto a voz da Cardi B preenchia o ambiente. – Você não é diferente de nós, e melhor ainda, você é da família. O que deixa tudo mais interessante.
Eu pude jurar que a última parte da frase teve um “quê” de malícia, mas achei sexy demais para achar estranho.
— Aliás, seu sotaque não tem nada de esquisito, e seu inglês é ótimo. – Ele disse, tirando o paletó, e colocando no encosto de um mini sofá que havia ali perto, nos sentamos. Se Andrew Garfield ficava bem de terno, ele ficava muito melhor de colete, com a manga da camisa dobrada até o antebraço e aquele cabelo perfeitamente arrumado e propositalmente bagunçado até certo ponto.
— Obrigada, é muito gentil da sua parte. – Tomei mais um gole de minha bebida. – Você pretende ficar de babá a noite toda? – Perguntei rindo. – Não quero ser a sua empata foda, sei me virar. – Quis parecer mais durona do que realmente era.
— Babá? Meu Deus, quantos anos você tem? Acho que você sabe se virar muito melhor que eu com aquelas facas, na verdade estou aqui porque sei que você pode me proteger melhor que meus seguranças. – Ele disse divertido. Dei uma risada, ele era muito bom, tenho que admitir.
— Você entendeu o que eu quis dizer. – Dei um empurrão leve no seu ombro.
— Não sei à que você está se referindo quando disse empata foda. – Tomou mais um gole da sua bebida, olhando as pessoas se divertindo à nossa frente. – Estou conversando com a mulher mais bonita da festa. – Olhou de canto para ver a minha reação.
Mantive a compostura, uni as sobrancelhas e respondi:
— Você está completamente errado, Marisa Tomei e Zendaya estão nessa festa. – Tomei mais um gole da minha bebida, o rosto completamente sério.
— Bom, você está certa. Uma delas é 19 anos mais velha do que eu, e a outra é 13 anos mais nova, uma delas já namorou Robert Downey Jr. e a oura namora o mais novo queridinho da América. Acho que você está certa, eu devia mesmo ir até elas. – Ele terminou de falar, em um tom tão irônico que dei uma risada alta. – Você tem uma risada ótima.
— Meu Deus Garfield, você não para nunca? – Perguntei entre um riso e outro, e ele bebeu mais de sua bebida.
— Depende, está funcionando ou não? – Perguntou ele, levantando as sobrancelhas em curiosidade.
— Não decidi ainda. – Falei séria e me levantei para fazer outro drink. Virei-me para perguntar se ele queria um também e acabei pegando-o no flagra, analisando minha bunda com a boca entreaberta.
Aquilo podia ter deixado meu lado feminista furioso em outra época, mas empoderei a majestosa gostosa que havia dentro de mim, e Andrew querido, se você queria um pouco desse suco, você teria que merecer.
No timing perfeito, quando cheguei à mesa das bebidas “No scrubs” começou a tocar.
Desta vez peguei morangos e mirtilos para fazer a mistura da bebida, ficou tão boa quanto a primeira, e enquanto eu a fazia, Tobey se aproximou de mim.
— Como estão as coisas por aqui? – Falou pegando meu copo, e tomando um gole, virando os olhos para cima em êxtase. – Caralho, está muito bom.
— Obrigada. As coisas estão bem, tirando o fato de que Andrew fucking Garfield está dando em cima de mim. – Falei séria, para ver qual seria a sua reação.
— , você é adulta. Se achar que está ruim, dá um fora e pronto, ok? Se achar que precisa de ajuda, me fale agora. Você é dona da sua vida, não quero ser o cara que vai te privar da sua própria vida. – Falou ele, em um tom realmente sério. Porém virando meu copo mais uma vez.
— Ok, Tob, obrigada pelo apoio. Estou bem, só queria saber o quão bem você está com isso. – Falei sorrindo.
— Se você tivesse 18 anos a conversa seria diferente. Você tem 28, é um mulherão da porra, dona da própria vida. Mas se achar que precisa de ajuda, estou aqui. Tá bem? – Ele me devolveu meu celular que estava com ele desde o tapete vermelho. - Estou no andar de cima, conversando com Jamie e mais um pessoal, não hesite em me chamar.
— Obrigada. – Beijei seu rosto, e notei que ele ficou surpreso. Sorriu adoravelmente em retribuição.
Virei-me em direção ao jardim que era onde eu estava anteriormente, levando dois copos, e lá estava ele, conversando com Tom e Zendaya. Meu coração deu um pulo, quando eu me acostumaria com isso?
— Hey, Maguire! – Tom falou abrindo os braços em minha direção.
Abracei-o com as mãos ocupadas. Ele estava mais animado do que deveria, provavelmente estava bebendo algo mais forte do que meus drinks.
— Hey! – Falei animada também. Zendaya se aproximou para me dar um beijo no rosto. Beijei-a. – Ok, aproveitando que vocês estão aqui, preciso corrigir antes que isso vire uma febre: Eu não sou Maguire. Meu sobrenome é .
— Não!! – Tom disse desapontadíssimo. – Mas você é a caçula Maguire! Você pode sair do Maguire, mas o Maguire não pode sair de você.
Todos riram, entreguei meu copo à Andrew.
— Caralho, que coisa boa. – Andrew ofereceu seu copo a Tom. E eu fiquei “sozinha” com Zendaya por um segundo.
— Você está linda. – Ela disse sorrindo. – É bom ter alguma mulher da minha idade para conversar.
— EU estou linda? Olha só você! – Falei pegando sua mão e fazendo-a dar uma volta. – Você está maravilhosa, gata.
Ela pareceu relaxar um pouco, vendo que comigo não havia rivalidade feminina. Entramos em uma conversa longa sobre isto, em como ainda existia rivalidade feminina no mundo, onde as pessoas e a imprensa viviam colocando mulheres umas contra as outras, sendo que as mesmas deviam se apoiar a todo custo. Nossa epifania durou pelo menos uns dez minutos. Nosso santo bateu quase que imediatamente.
Houve um momento em que percebemos que os homens haviam parado de falar, e notamos que eles estavam nos olhando conversar, com as cabecinhas encostadas uma na outra.
— Vocês são muito fodas! – Tom falou com entusiasmo. Eu e Zendaya, eu nunca me acostumaria com isto, demos risada.
— Vamos lá, Tom? – Zendaya falou mexendo a sobrancelha, indicando que era para nos deixar sozinhos.
Naquele momento me caiu a real de que eles eram um casal falso, e me senti mal ao ver como eles tinham que engolir tudo aquilo praticamente 24 horas por dia. Pareceu-me o próprio inferno.
Eles saíram, deixando-me sozinha com Andrew.
— Você tem muito talento, sabia? – Falou ele, indicando a bebida em suas mãos, porém me olhando nos olhos. – Meu Deus, seus olhos são lindos.
Dei uma risada, estava acostumada com aquele tipo de reação, mas nem sempre era para falar que são lindos, às vezes um “esquisito” também fazia parte do elogio.
— É o meu ¼ Maguire. – Brinquei e ele se divertiu.
— Bom, pelo menos você pode dizer que tem olhos azuis. – Ele deu de ombros. Tomei um gole da minha bebida.
— Olhos azuis são superestimados. Você sabia que pessoas de olhos azuis têm mais problemas de visão do que pessoas de olhos castanhos? – Ergui as sobrancelhas, e ele sorriu sabendo que ganhou pelo menos essa.
— Bom, não sei se você notou, mas tenho olhos castanhos. – Falou ele, piscando freneticamente perto do meu rosto, fazendo-me rir.
— Notei sim, Andrew. – Aquele cheiro tão perto de mim assim, poderia ser perigoso.
Até então Andrew estava sendo um cara legal e divertido, como ele aparentava ser. Ficamos batendo papo e flertando por um bom tempo e ele não parecia estar abalado pela minha guarda ligeiramente alta para ele. Pensei que ele fosse mudar o rumo quando se levantasse para ir ao banheiro, ou que não estaria mais no “nosso sofá” quando eu voltasse do banheiro, mas ele sempre estava lá. Sinal de que estava disposto a me aturar. Fiz alguns drinks até estarmos bêbados. Meu irmão aparecia vez ou outra para ver como estávamos e me admitiu que estava trocando saliva com uma mulher no andar de cima. Dei um high-five com ele e caímos na risada. O álcool já estava bem mais alto em nossas veias.
Em um certo momento, iniciou-se uma sequência de funks brasileiros, e não pude segurar meu corpo, dancei sentada como uma mocinha comportada “No chão novinha”, mas a minha vontade era levantar a bunda pra cima e dançar feito a Anitta, mesmo que não tivesse a metade da desenvoltura que ela tinha para dançar, depois desta música, tocou “Ela me falou que quer rave” e não me aguentei, levantei-me e chamei Andrew para dançar comigo enquanto absolutamente todos pulavam e dançavam. Explodi de felicidade de ouvir uma música tão besta, mas que me lembravam meus amigos e meu país. Andrew não estava entendendo nada, mas me acompanhou até o meio das pessoas e até se embalou no ritmo da música, que na verdade era uma música conhecida apenas remixada. Dancei feito uma doida, cantando a todos os pulmões. A verdade é que eu não gostava muito de funk, mas quando você está em uma festa americana, cercado só por pessoas que não falam uma singela palavra em português, aquilo era o paraíso. A música acabou e eu já estava sem fôlego, voltamos ao “nosso” sofá dando gargalhadas sobre a minha loucura repentina e expliquei que era apenas pela alegria de ouvir português. Iniciamos uma conversa sobre a tradução de ambas as músicas e eu tentei explicar que não era sobre o que eles diziam e sim sobre a batida envolvente que fazia a gente querer dançar. Ele não comprou muito a minha ideia, então acabei empurrando seu ombro, alegando que ele não compreendia o Brasil.
A festa estava ficando cada vez mais pesada, pessoas jogavam-se na piscina, mesmo estando frio, a música tocava frenética, e tinha gente caindo pelo gramado ao nosso lado. Parecia coisa de vídeo clipe.
— Essa festa foi de 0 a 100 muito rápido, ou nós estamos muito velhos para isso? – Ele perguntou próximo do meu pescoço, pois eu estava olhando na direção contrária da dele. Os pelinhos do meu braço se arrepiaram, e ele notou.
— Acho que um pouco dos dois, talvez. – Falei rindo. Para falar a verdade, estava começando a ficar com sono. Senti algo ser colocado sobre meus ombros e vi Andrew fazendo o maior cliché de todos: colocou seu paletó sobre meus ombros. Um doce de menino, achando que me arrepiei de frio, quando na verdade foi sua voz ao pé do meu ouvido.
— Você está a fim de ir embora? Posso falar com seu irmão, se quiser... – Ele acariciou meu ombro sobre o terno.
— Claro que não, estou de boa. – Falei dando de ombros.
— Você está morta de sono. Como você mesma me listou no começo da festa, você fez mil coisas hoje das quais não está acostumada. Deve estar morta de cansada. Vamos. - Ele se levantou e me puxou pelos dois braços. Me fingi de mole, fazendo-o rir. – Vamos até o seu irmão.
Ele me guiou pelas pessoas, segurando minha mão. Subimos para o segundo andar, onde encontrei Tobey conversando com uma mulher muito bonita que eu não conhecia. Andrew falou algo no seu ouvido, e seus olhos azuis encontraram os meus, como se o ponto da conversa fosse eu e era, é claro. Me adiantei e fui até o outro ouvido de Tobey.
— Pode ficar aí, Tob, vou chamar um Uber. – Falei sorrindo, não querendo incomodar de maneira alguma.
— Deixa de ser boba, , o Drew te leva. – Ele disse piscando. Só então entendi que Andrew na verdade estava avisando que me levaria para casa, e não pedindo para que Tobey me levasse. Tobey me deu as chaves de casa e eu agarrei com força.
Andrew me levou em casa, na verdade, seu motorista nos levou, durante o trajeto ele explicou que não gostava de dirigir nos Estados Unidos. Quando o carro parou, na frente do portão da casa de Tobey, virei-me para lhe dar um beijo no rosto, mas ele já estava abrindo a porta do carro para me levar até a porta.
— Entenda. – Ele disse, notando minha cara surpresa. – Se eu não te entregar sã e salva em casa, amanhã terei o próprio Homem-aranha vindo arrancar minhas bolas.
Dei uma risada, enquanto ele me acompanhava até a porta. Minha sandália já estava em minhas mãos.
— Obrigada por ficar ao meu lado hoje. – Falei quando finalmente chegamos, e eu abri a porta. Subi um degrau e ainda assim fiquei mais baixa do que ele.
— Não foi nenhum esforço, sua presença é muito agradável. E convenhamos que seu irmão estava precisando de uma festa daquelas.
— Estava sim. Fiquei feliz por ele. – Admiti, colocando as mãos no bolso do paletó que eu ainda vestia, lembrei-me de devolvê-lo. E Andrew, cheio de clichés que eu já havia notado, me veio com essa:
— Pode ficar, outro dia eu tenho uma desculpa para passar aqui. – Piscou e sorriu, aquele sorriso maldito com os dentes bonitos. Eu adorava homens com dentes bonitos, era algo que me chamava muito a atenção. Ele deu um passo em minha direção, o sorriso parou de repente e seus olhos se fixaram apenas em uma coisa: minha boca, e eu, sendo esperta como sou, lambi os lábios, para ver a reação que ele teria. Meu pai amado, me ajuda nesse momento, porque faz tanto tempo que não beijo que estou com medo de fazer fiasco. Consegui ver um meio sorriso antes de nossas bocas colarem. Não foi o beijo suave que eu achei que seria, Andrew me empurrou para dentro de casa e prensou-me contra a parede, nossas línguas se misturaram e minha mão seguiu para a sua nuca, a outra agarrando o tecido do seu colete em sua cintura. Seu cheiro me deixou desnorteada por alguns segundos e acabei esquecendo como se respira, suas mãos geladas estavam por dentro do seu paletó, tocando minha pele quente. Uma delas apertava minhas costas, me puxando mais para perto e a outra estava na barra inferior do meu vestido, sobre a minha bunda, mas sem ultrapassar o limite permitido que eu havia criado na minha cabeça. Sua língua era ágil e habilidosa, e seus lábios eram macios, tão macios que tive vontade de morder e foi exatamente o que fiz, parti nosso beijo, o fazendo suspirar enquanto dava um leve puxão em seu lábio inferior. Ao invés de voltar a beijar a minha boca, ele desceu os beijos pelo meu queixo, mandíbula e pescoço, onde puxou o ar dramaticamente e falou:
— Caralho, esse cheiro está me deixando louco a noite inteira. – Não posso fingir que eu estava bem, com aquele sotaque sussurrado no meu ouvido. Minhas pernas já estavam bambas e o meu semblante de mulher brava já estava dando tchauzinho lá da esquina. Eu queria aquele homem, com aquela pegada e aquele pau roçando na minha virilha, no meu quarto agora, me dando o tapa que a minha bunda merecia. Segurei seu cabelo pela nuca e guiei sua boca novamente na minha, sua mão que estava em minha bunda, desceu e me deu um impulso para que eu enrolasse minhas pernas em sua cintura e foi o que eu fiz. Suas mãos automaticamente pousaram em minha bunda e seu tronco ficou colado no meu, e assim pude sentir sua ereção com toda a força possível. Eu sorri entre o beijo, ainda demorando um pouco para aceitar que aquilo estava mesmo acontecendo: Eu estava mesmo beijando Andrew Garfield, beijos estes que estavam deixando-o de pau duro e me fazendo implorar por mais.
E então, tão rápido quanto o beijo se iniciou, o mesmo terminou. Andrew me deu um selinho molhado, cheirou mais uma vez o meu pescoço, como se quisesse guardar o cheiro para si e se afastou devagar da parede para eu conseguir encostar meus pés no chão com calma. Um medo repentino de que eu não conseguisse me manter em pé tomou conta de mim, mas senti minhas pernas firmes. Não falei nada, mas uni as sobrancelhas quando voltamos à porta e ele riu:
— Não me entenda mal, Maguire. Eu quero, só queria ter certeza de que você também quer. – Ele lambeu os lábios ligeiramente rosados. – E sei que você está cansada. Podemos continuar isto em algum momento em que você não esteja assim.
— Você é bem convencido, sabia disso? – Perguntei, juntando a sandália que eu nem sei como foi parar no chão, a sua ereção ainda era visível pela calça sob medida.
— Sei sim, eu sou convencido e você beija muito bem. Então acho que estamos quites. – Falou ele, afastando-se e abanando para mim quando estava entrando no carro.
— E quem disse que vamos continuar isso em algum momento? – Tentei me fazer de durona, mesmo que instantes atrás estivesse completamente perdida.
— Qual é, Maguire, nós dois sabemos que isso não vai acabar aqui. – Piscou e fechou a porta do carro.
Capítulo 3
Acordei e dei uma olhada no meu celular, que até então estava abandonado e sentei-me na cama de supetão. Mais de 50 mil pessoas haviam me seguido àquela noite. Pessoas respondendo meu stories e me enviando directs. No Reels só dava vídeos meus, trechos em que Tobey e eu nos olhávamos e sorríamos cumplices, com frases dizendo:
“Amor de irmãos”
“só quem tem irmão entende esse olhar”
“eu amo os irmãos Maguire”.
Havia um artigo inteiro no Buzzfeed falando sobre minha vida, e como minha atitude havia salvado Tobey do terrível divórcio.
Havia vídeos e mais vídeos de Tom Holland e Andrew à minha frente beijando minha mão com os dizeres:
“eu só queria ter a sorte da irmã do Tobey”
“é errado shippar?”
“quero uma fanfic na minha mesa para ontem”
“Zendaya, cuidado!”
Havia um artigo completo na E! sobre o meu vestido e minha postura na première.
Fiquei zonza. Num geral as pessoas gostaram de mim, não que eu precisasse de aprovação, mas era terrivelmente assustador ter seu nome divulgado em toda a internet.
Tobey não tinha redes sociais, o que deixava as coisas mais difíceis. Respondi aos direct que eram dos meus amigos e resolvi bloquear a opção de responder stories.
Desci as escadas e Tobey já estava lá.
— Bom dia, como foi a noite? – Perguntei querendo saber se ele trouxe a mulher para casa ou não.
— Na verdade, foi ótima, seu irmão não saiu de forma durante esse tempo de casado. – Gabou-se brincalhão e dei um tapa no braço dele rindo.
— E como foi com o Andrew?
— Você quer mesmo saber? – Perguntei unindo as sobrancelhas. Estava com preguiça de fazer algo para comer, então apenas acompanhei ele nas frutas que estavam no centro da bancada, e uma boa xícara de café que Beth já havia passado.
— Sim... Não sei... Talvez? – Perguntou ele arqueando as sobrancelhas sugestivo.
— Ele foi muito gentil comigo a noite inteira, flertamos bastante... E vou te poupar de qualquer outro detalhe, porque tem coisas que os irmãos não precisam saber. – Tomei um gole rápido de café. E ele riu concordando.
— E hoje, o que faremos? – Perguntei para mudar de assunto.
— Hoje você vai conhecer os meus filhos. – Ele disse sorridente, e eu comemorei, pois já havia perguntado tanto deles que Tobey estava ficando chateado de não conseguir os mostrar a mim pessoalmente até então. Não é que ele não pudesse, ele podia, mas não queria forçar a ex-mulher dele há nada que pudesse interferir na divisão de guarda que o juiz ainda estava decidindo. Por enquanto a divisão estava duas semanas com cada, o que era a melhor opção para os dois, mas ela poderia entrar com algum recurso dizendo que ele era muito ocupado e que as crianças passariam mais tempo com babás do que com ele, e isso poderia baixar o tempo de guarda dele consideravelmente se ela conseguisse provar. Ela podia? Não sei, mas ele não queria mexer em time que está ganhando.
Quando as crianças estavam com ela, os domingos eram dele, e vice-versa.
Ele preferiu ir buscar as crianças sozinho, e não julguei ele por isso.
Enquanto esperava ele voltar com meus sobrinhos... “Sobrinhos”... Era estranho dizer isso.
Enfim, enquanto eu o esperava voltar, tomei um bom banho para tirar qualquer resquício de maquiagem que eu não tivesse conseguido tirar ontem, pois estava meio bêbada. Fiz todo meu skin care e fui para a sala esperá-los.
Um minuto depois que me sentei na sala para assistir um episódio qualquer de The Office, a campainha toca.
Ouvi os passos de Beth se aproximando para abrir, mas avisei que eu atendia.
— Finalmente posso tocar a sua campainha e entrar pela porta da frente! – Tom Holland em pessoa falou, assim que eu abri a porta, e depois ficou quieto quando me viu. – Desculpe, ainda não estou acostumado com você aqui. – E já abriu os braços para um abraço que retribuí. Peguei-me pensando em como eles tinham essa ligação estranha, se só haviam feito um filme juntos. Será que era o poder do Homem-Aranha unindo esses caras? Porra, ele era o Tom Holland, não tinha amigos não? Parei um segundo, pensando que ele podia se sentir tão confortável, pois ninguém mais entendia o que ele estava passando. E que, finalmente, eu não devia me meter na vida dos outros.
— Tudo bem. – Apenas falei sorrindo. – O Tob não está, ele foi buscar os filhos para eu conhecer. Quer entrar? Ele já deve estar chegando.
Ele pareceu pensar durante um instante.
— Acho melhor não, não quero me intrometer no lance de família de vocês. – Eu podia dormir com ele lendo um livro com esse sotaque maravilhoso. Harry Potter, talvez? Eu amava como eles falavam Poh-Er.
— Você sabe que não vai intrometer, certo? – Perguntei sabendo que Tobey não se incomodaria.
— Eu vou, sim, eu tenho esse problema, sabe? Que eu não consigo saber o quanto eu estou incomodando. Mais tarde eu volto, ou outro dia. É só que estou com uma ótima notícia e quero contar a ele em primeira mão. – Tom pareceu empolgado, e até ligeiramente ansioso.
— Tem certeza? – Perguntei levantando uma sobrancelha.
— Tenho, sim, pequena Maguire. Até outro dia. – Falou ele, me dando um beijo no rosto e saindo tranquilamente até seu carro.
— Vou avisar Tobey que esteve aqui. – Falei um pouco mais alto para ele ouvir, e ele fez um joinha com a mão antes de entrar no carro.
Aquela cena me fez lembrar de ontem, e me fez pensar em como duas pessoas podiam ser tão diferentes.
Devo admitir que eu não pesquisei muito sobre a vida dos meus sobrinhos antes de encontrá-los pessoalmente, porém eu estava esperando crianças. Crianças de até 10 anos no máximo. Meu irmão trouxe uma adolescente de 15 anos e um pré-adolescente de 12 anos de idade, eu não fazia ideia do que eles gostavam e o que eles não gostavam. Por sorte, depois que Tom foi embora, ao invés de assistir televisão, eu resolvi ir fazer um bolo para recepcioná-los e isso acabou quebrando um pouco o gelo.
— Por que você não me contou que eram dois adolescentes? – Cochichei para Tobey enquanto nós dois olhávamos, encostados na pia, aqueles dois lindos espécimes de grandes olhos azuis e cabelos loiros que caíram em cachos largos.
— Eu achei que você sabia! – Ele se defendeu, porém, falando no mesmo tom que eu.
— Eu não sei lidar com adolescentes, principalmente com adolescentes que não criei. Do que eles gostam?
Otis havia adorado o bolo, pois estava na terceira fatia. Ruby comeu apenas uma, e agora olhava no seu celular, entediada. Senti o desespero subir minha cabeça em menos de um segundo: Eu seria a tia chata!
— Otis, vai devagar no bolo. Não quero você tendo outra indigestão. – Tobey falou rindo, e Ruby também riu.
— A última vez, Otis cagou na calça. – Ruby disse olhando para mim e caindo na gargalhada. Dei uma risada também, mas me segurei para que Otis não achasse ruim.
Ele virou-se de frente para mim e disse:
— É que eu adoro bolo. – A boca estava toda lambuzada da cobertura de ganache que eu havia feito. – Foi você que fez?
Concordei com a cabeça.
— Uau, você pode fazer outro de tarde? Para eu levar para comer na mãe. – Ele disse encantado.
— Só se você me ajudar. – Fiz essa tentativa e ele gostou da ideia.
Tobey olhou para mim com orgulho, como quem diz “Viu só? Você tem jeito”.
— Nossa! Essa daqui é você? – Ruby disse, virando o celular para nós, na tela do celular, a foto que aparecia era Tom me abraçando, ela deslizou o dedo sobre a tela e depois apareceu a foto em que os dois estavam beijando minhas mãos.
— Ruby tem um crush no Tom. – Tobey me informou cochichando. Apenas assenti disfarçadamente.
— Essa sou eu, sim. – Falei, colocando cabelo para trás da orelha, meio sem graça.
— Que sortuda! Eu queria ir em uma première assim, mas o papai nunca nos leva! – Ela bufou, largando-se sobre a mesa.
— O pai de vocês não leva, porque a mãe de vocês não deixa. – Tobey falou simplesmente, dando de ombros.
— Bom, talvez ela esteja certa e este não seja o melhor lugar para vocês irem. É muita invasão de privacidade. – Falei dando de ombros também. – Eu fui, e hoje na internet só aparece essas fotos, pessoas misturando meu sobrenome com o deles, e criando teorias de que eu deveria namorar com eles. Talvez, só talvez, eu acho que vocês estão muito novos para esse tipo de relação com a internet. – Expliquei, e Ruby deu de ombros, como quem diz “Whatever”. — Então você conheceu o Tom? Como ele é pessoalmente? Papai só diz que ele é um banana. – Falou ela e Tobey caiu na risada.
— Não fale isso para os outros, querida. – Advertiu ainda rindo.
— Ele é um amor de pessoa. Falando nisso, esteve aqui meia hora antes de vocês chegarem. Disse que tinha uma novidade para te contar, e que talvez voltasse aqui hoje mesmo. – Falei mais para Tobey do que para Ruby.
— Ah, papai, chama ele para vir aqui! Antes que ele vá embora para Inglaterra. Vai que ele se apaixona por mim! Por favor, por favor! – Ruby suplicou, enquanto o irmão ainda se empanturrava de bolo.
— Ele é dez anos mais velho que você, querida, e ele está namorando, lembra? – Explicou Tobey, enquanto tirava o resto de bolo da mesa e colocava na geladeira.
Ela voltou a ficar emburrada, como uma adolescente normal. Otis, que até então não havia dito nada além de elogiar o bolo e pedir mais, levantou o moletom que usava e mostrou a todos o tamanho da barriga espichada dele. Caímos na gargalhada.
Por fim, seria mais fácil do que eu estava realmente preocupada. Era só entender o que era BTS, Tiktok, Harry Styles (em carreira solo, pois fiquei sabendo que One Direction já estava ultrapassado) e, por algum motivo que eu não havia entendido, o novo desenho da Disney chamado Encanto estava bombando no Tiktok, então, como pai e tia obedientes, assistimos ao filme enquanto Otis e Ruby fizeram as dancinhas que estavam em alta no aplicativo. Passamos o dia inteiro com eles, ensinei-os a falar algumas palavras em português, Tobey e eu contamos da nossa história e, no fim da tarde, eu e Otis fomos fazer o bolo, enquanto Tobey e Ruby conversavam sobre qualquer aleatoriedade.
Otis ficou absolutamente encantado com minha habilidade na cozinha e me admitiu que adorava tudo relacionado à cozinha, que ele gostaria muito de fazer um curso, mas que a mãe dele não o incentivava, pois não era uma “boa profissão”. Frustrei-me por um segundo, corri para o segundo andar, peguei meu dólmã e meu toche blanche que estavam na minha mala e levei a ele.
Fiz ele vestir a roupa, e por um momento achei que fosse a criança mais feliz do mundo, correu na sala para mostrar ao pai e à irmã, fez pose para as fotos e disse que queria um igualzinho quando crescesse. Meu ego e minha felicidade foram às alturas. Tobey olhou para mim do outro lado da sala com os olhos marejados.
Fizemos o bolo juntos, ensinei ele a usar uma batedeira planetária e o dosador, fiz ele me prometer que não ia contar à mãe dele que eu o deixei usar uma faca de verdade, e o ensinei a cortar o chocolate para ficar em lascas. Ele deu a sugestão de usarmos morango no recheio e foi isso que fizemos. No final, virou um naked cake de chocolate com morango. O bolo ficou tão lindo que Ruby fez um Tiktok exclusivamente para apresentar o bolo que o irmão e a tia dele fizeram, onde ela deixou bem explícito que eu era a tia que fez o Tom Holland e o Andrew Garfield se curvar diante de mim. Não neguei e não pedi para ela excluir essa parte, ela queria engajamento com os seguidores, eu queria engajamento com meus sobrinhos.
Já eram 20:00 h quando Tobey saiu para levá-los, fiquei limpando a bagunça que fizemos na cozinha.
— Sra. Maguire, pode deixar que eu limpo a bagunça. – Beth veio até mim, tentando me enxotar da cozinha. Dei uma risada.
— Beth, de onde eu venho, quem faz a sujeira faz a limpeza. Não se preocupe comigo, pode ir. – Falei querendo ser simpática e ela aceitou de bom grado. Quando ela estava saindo da cozinha, a porta da frente tocou.
— Pode deixar que pelo menos isso eu faço. – Ela disse sem graça e seguiu até a porta. Um minuto depois ouvi aquele sotaque que já me soava familiar.
— Ouvi dizer que você fez um bolo e tanto.
Virei-me apenas para mostrar minhas mãos sujas de sabão como desculpas para não o cumprimentar corretamente.
— Dá até para escolher, tem de chocolate e chocolate com morango, aceita um pedaço? – Perguntei de costas para ele. Eu usava um short “mom” jeans de cintura bem alta e uma blusa com estampa de melancias por dentro do short.
— Olha, se não for muito trabalho, vou aceitar um pedaço do de chocolate com morango. – Ele disse, com as mãos dentro do bolso da calça encostado no batente da porta da cozinha. — Pelo amor de Deus, Tom, entre e fique à vontade. A casa não é minha, mas você a conhece melhor do que eu. Tob já deve estar vindo. – Eu disse, agoniada com toda aquela formalidade dele. Ele ficou em silêncio, mas sorriu enquanto puxava uma banqueta para se sentar.
Sequei as mãos, eu não gostava de servir as coisas mal-feitas, sou uma cozinheira sous chef de um restaurante renomado e ganhador de uma estrela Michelin, ainda mais para uma pessoa como Tom Holland. Por este motivo, peguei um morango na fruteira, uma faca no meu estojo e fatiei o morango em menos de um minuto, de modo que ele ficou parecendo um leque. Peguei um prato branco, cortei uma fatia generosa do bolo, acomodei o morango ao lado e peguei dentro da geladeira, uma bisnaga com o restinho da geleia de morando que havia sobrado do bolo e fiz um risco certeiro no lado da fatia, de modo que o prato ficou parecendo um quadro contemporâneo.
Tom estava boquiaberto.
— Como você fez isso em menos de um minuto? – Perguntou, enquanto eu apenas dava de ombros, depois de me gabar na frente dele daquele jeito. A verdade era que eu amava cozinhar, então qualquer oportunidade que eu tinha de fazer algo bem-feito, eu fazia.
— É prática, não precisa ficar achando que é algo fora do normal. – Falei, indo pegar um garfo para ele na gaveta de talheres.
— Foi muito bom! Confesso que fiquei com um pouco de medo desse kit de facas. – Ele disse, pegando um pedaço do bolo. Fechou os olhos e mexeu a cabeça para os lados como se estivesse curtindo a vibe. – Meu Deus, que bolo... – Nem terminou a frase pois já enfiou outro pedaço na boca.
Eu sorri vitoriosa enquanto ele terminava o pedaço.
Terminei a louça rapidamente enquanto ele comia o bolo, e durante o momento em que eu passava um paninho na pia, ouvi a sua voz tão perto de mim, que acabei dando um pulo:
— Esse bolo foi a segunda melhor coisa que me aconteceu hoje. – Ele disse enquanto colocava o prato na pia, sem maldade. Fiz a desentendida e não lavei o prato, pois a pia já estava impecável.
— Sério? E qual foi a primeira? – Perguntei cruzando os braços, vendo-o voltar ao seu lugar à bancada.
— Estou esperando seu irmão chegar para contar. – Ele fechando os olhos como quem diz “espera, e verás”.
Sentei-me junto para lhe fazer companhia.
Eu não tinha assuntos para puxar com ele, ficamos em um silêncio constrangedor por volta de um minuto até ele quebrar:
— Você viu as fotos de ontem? Ficaram ótimas, você estava linda. – Ele disse sem graça, olhando a própria mão enquanto dizia.
— Ah, obrigada. Você também estava. – Falei tão sem graça quanto ele. – Você fica ótimo de óculos, devia usar mais vezes. – Não o deixei responder. – Eu vi algumas fotos, sim, alguns vídeos também, na verdade fiquei meio assustada em como a internet é rápida nesse quesito.
— Você se acostuma logo. Eles gostaram de você, você é exótica, é completamente diferente do seu irmão, então é carne fresca para comentarem. Ontem a novidade era Tobey e Andrew, então foi normal que eles focassem em você também. – Ele disse, dessa vez olhando para mim. – E o seu vestido, com as cores do Homem-Aranha só fez tudo ficar ainda mais divertido.
— O vestido foi ideia do Tobey. – Admiti. – Você toma alguma coisa? Quer uma cerveja? Acho que tem aqui em algum lugar... – Falei enquanto me levantava para pegar na geladeira.
— Vou aceitar, preciso comemorar.
— Você está deixando muito suspense no ar, estou ficando com medo dessa notícia. – Peguei duas long neck que havia na geladeira, abri com o auxílio de um pano e entreguei uma a ele que logo levou a mesma à boca para tomar um gole.
— NÃO! – Gritei mais alto do que deveria e ele paralisou com a garrafa encostada na boca. – Bebeu sem brindar, dez anos sem transar!
— O quê?
— É algo que só faz sentido no Brasil, pois tem rima, mas é algo muito sério. – Falei levantando minha garrafa até ele que, ainda meio assustado, brindou comigo.
— Você me assusta, sabia? – Ele bebeu um gole da cerveja, me olhando com as sobrancelhas unidas. – Dez anos sem transar... Isso não faz sentido nenhum.
— Bom, e que dá azar se beber sem brindar. Você não sabia? Nesse caso, o azar é ficar dez anos sem transar.
— Dez anos sem transar é um absurdo! – Ele disse indignado.
— Quem ficou dez anos sem transar? Você? – Tobey entrou na cozinha de supetão, dando um susto em nós dois.
— Sua irmã está lançando uma praga brasileira em mim. Disse que vou ficar dez anos sem transar. – Tom resmungou, bebendo mais um gole.
— Bom, você já passou 25 anos da sua vida sem transar, o que são mais dez? – Tobey brincou, me fazendo rir e Tom arremessou a tampinha da garrafa nele.
— Vão se foder vocês dois, estão tirando sarro com a minha cara!
Tobey nos acompanhou na cerveja, e colocou um pacote de amendoim no nosso meio para beliscarmos. Tom estava completamente ansioso, mas aguardava Tobey sentar conosco para iniciar a conversa, por um momento me senti uma intrusa:
— Tom, você prefere que eu saia? Estou sendo completamente invasiva.
— Claro que não, mas será que você não poderia colocar uma musiquinha para animar? – Comentou ele, sorrindo.
Fui até a Alexa mais próxima e pedi para ela tocar “No scrubs” na casa inteira, esta música vagava pela minha mente desde ontem à noite e nada fazia ela sair, talvez escutá-la fizesse com que saísse. Voltei até a cozinha e ele me aguardava para dar a notícia. Tobey arqueou as sobrancelhas e levantou os ombros como quem diz “Tô entendendo nada”.
— Então... – Ele esfregou as mãos. – Minha assessora me ligou hoje de manhã e disse que eu e Zendaya estamos livres para terminarmos o namoro. Que temos apenas que dar uma entrevista para algum meio de comunicação famoso, ela deu uma lista, para nos explicarmos melhor, dizer que não havia química, ou algo assim e pronto! Eu estou livre!
Tobey e eu aplaudimos. Tobey inclusive levantou e eles se abraçaram, um abraço longo que encheu os olhos de Tom de lágrimas.
— Você não sabe como é difícil. – Tobey disse para mim. – Só quem já esteve em uma relação dessas sabe como é, você estar preso por um contrato milionário, fazer aparições e entrevistas falsas, não poder se envolver com ninguém enquanto o contrato não for revogado, por medo de que a imprensa veja algo de estranho.
— Eu amo a Zen, amo de verdade do fundo do meu coração. – Tom complementou. – Ela é sensacional, uma mulher excepcional, mas quando a gente se beijava, eu sentia como se estivesse beijando um irmão meu. Não uma irmã, um irmão mesmo, de tão forte que a nossa ligação como amigos era. Ela sente exatamente o mesmo, por sorte a gente ainda se gosta. Seu irmão não pode dizer o mesmo.
Olhei para Tobey com pena nos olhos e ele os baixou imediatamente.
— Eu nem se quer gostava de Kirsten, ela era uma colega de trabalho e nada mais. Foi bem difícil manter as aparências... Por sorte a internet não era como é hoje, se não com certeza teria sido mil vezes pior. – Ele tomou um gole da cerveja. – Me lembro perfeitamente do dia em que me falaram que podíamos terminar, foi um alívio absurdo.
— Eu nem consigo imaginar, é pior do que um relacionamento abusivo. – Falei por fim.
— O relacionamento abusivo está nas entrelinhas dos contratos. São preços a se pagar pelo sucesso. Infelizmente, os tabloides ainda mandam bastante. – Tobey disse intercalando com a cerveja. – Filmes que têm público adolescente é muito normal de acontecer. Lembra de Crepúsculo? Da Stewart e o Pattinson? Mesma coisa.
— E o Andrew e a Emma? – Finalizei minha cerveja e levantei-me para despistar minha curiosidade.
— Ah, não. – Tom falou, como se eu tivesse ofendido. – Eles foram de verdade. Andrew sente até hoje.
Peguei uma cerveja para cada.
— O deles foi real. Teve contrato, mas não teve mentira. – Tobey explicou melhor.
— Pessoa certa, momento errado. – Tom disse, aceitando a cerveja que ofereci.
— Como assim momento errado? – Perguntei.
— Você nunca ficou com uma pessoa, que depois pensou “Se eu tivesse conhecido essa pessoa com uns 35 anos, eu me casaria com ela, hoje ainda não estou pronta para me casar”? – Tobey me perguntou, terminando a cerveja que tinha nas mãos.
— Não. Acho que ainda não encontrei essa pessoa. – Falei sincera, dando de ombros.
— Bom, um dia você vai conhecer. E você pode ter certeza de que Drew ainda pensa nisso quando deita a cabeça no travesseiro algumas noites. Emma era a sua alma gêmea. – Tom disse, dando um suspiro longo e romântico. – É por isso que ele não está aqui hoje. Ele não tem a mesma história que nós, não se conectou como nós.
— Bom, se for parar pra pensar, quem mais deve ter sofrido foi ele. O de vocês, teve mentira e sofrimento. O dele teve verdade e sofrimento. Vocês sabiam que o de vocês acabaria em algum momento, ele não queria que acabasse e acabou. – Falei levantando uma das sobrancelhas, enquanto eles se entreolharam.
— Nunca pensei por esse lado. – Tom falou, sem graça.
— Pensem bem, são situações opostas. Vocês estavam infelizes durante o relacionamento, ele estava extremamente feliz. No término, vocês explodiram de felicidade, já ele... – Deixei a frase no ar. Andrew parecia muito bem, no tempo em que passamos juntos, afinal já faz alguns bons anos que o relacionamento dele com Emma acabou, porém nunca se sabe o que se passa dentro da cabeça de cada um. Espero realmente que ele esteja bem.
Por pelo menos um minuto, todos ficamos em silêncio apreciando nossas cervejas e a música, que já havia mudado para “Tongue Tied”.
— Essa música me deixa feliz, vamos fazer uma festa para comemorar? Chamamos só os mais chegados. Preciso extravasar essa alegria sem fim que está dentro de mim! Vai ser a primeira festa em que vou estar solteiro em um bom tempo. – Tom disse, entornando a cerveja que eu havia dado de uma só vez.
Tobey, o recém divorciado que parecia ter voltado aos 20 anos, fez exatamente a mesma coisa, batendo a cerveja com força sobre a mesa:
— Vamos! Eu preciso de festa. Sou um recém divorciado, porra!
— Vocês parecem duas crianças. – Falei fingindo que não adoraria uma festa com aqueles dois.
— Você pode ficar feliz, nós vamos convidar o Andrew... – Tobey disse e levantou-se rápido para se esconder. Levantei a mão para lhe dar um tapa, mas ele escapou. Dei uma olhadela para Tom, que sorria sem qualquer tipo de manifestação de ciúmes. O que era óbvio. – Brincadeira, maninha. – Beijou o topo da minha cabeça.
— É claro que vamos convidar ele, estou com peso na consciência depois do discurso que você nos deu sobre ele estar na pior, sem superar a Emma.– Tom riu e Tobey o acompanhou.
— Eu não disse que ele estava na pior, só disse... Ah, vocês entenderam! – Eles caíram na gargalhada.
Ficou decidido: Na quarta-feira teríamos uma festa na casa de Tobey, e até o fim de semana teríamos mais uma festa que não ficou decidida onde.
— Temos mais uma festa para organizar, mas essa tem que ser com tempo. – Olhei sugestiva para Tobey e ele pareceu pensar por tempo demais.
— Seu aniversário? – Tom sugeriu, e Tobey arregalou os olhos, envergonhado.
— Claro. Dia 14 de fevereiro. – Tobey fez questão de falar a data para me mostrar que sabia.
— No Dia dos Namorados? – Tom perguntou intrigado.
— No Brasil não é Dia dos Namorados, então para mim é só mais um dia. – Expliquei e ele ficou animado.
— Vamos fazer uma festa temática! Não necessariamente do Dia dos Namorados, mas você tem que fazer. – Tom disse mais empolgado do que eu esperava. Ou ele era muito empolgado com festas, ou estava muito empolgado para passar o Dia dos Namorados solteiro. Mas, pelo que eu me lembre, o Dia dos Namorados nos Estados Unidos é uma festa meio triste para os solteiros, porém isso podia muito bem ser apenas uma versão boba de filmes de romance que eu havia criado em minha cabeça depois de muitas comédias românticas assistidas.
— Só se você vier vestido de cupido. – Falei sorrindo persuasiva, piscando um dos olhos e mordendo levemente a ponta da língua. Tom mordeu o lábio inferior, unindo as sobrancelhas. — E trabalhar como pombo correio a festa inteira levando cartinhas de uma pessoa a outra sem contar quem foi. – Tobey disse, no mesmo tom que eu, desafiando-o com uma sobrancelha levantada.
— Ela já tinha me convencido, cara. Você não precisava ter tentado ser sexy para cima de mim.
Conversamos mais um pouco e acabamos decidindo que minha festa seria, sim, temática do Dia dos Namorados, com corações vermelhos e rosas por todos os cantos, haveria um stand onde as pessoas escreveriam bilhetes e um cupido que não precisaria ser necessariamente Tom que faria as entregas. Haveria também, exigências de Tobey, um stand onde alguém faria todos os tipos de drinks que eu quisesse, para que ninguém mais me pedisse este tipo de coisas durante minha própria festa. Tobey deixou à vontade para eu pedir o que quisesse, então solicitei que houvesse docinhos brasileiros do modo mais tradicional possível, brigadeiros, beijinhos, cajuzinhos, casadinhos, e leite ninho com Nutella e, é claro, a playlist devia ter algumas músicas brasileiras para que eu pudesse cantar quando estivesse bêbada.
Os dois gostaram das ideias e Tobey anotou tudo em um aplicativo no seu celular, para que lembrássemos de tudo depois, criou um lembrete com a Alexa para não esquecermos da festa, como se fosse possível depois de tantos planos.
Meu coração ficou quentinho depois de todo esse planejamento, seria a última semana que eu passaria aqui e seria muito bom passar no aniversário com Tobey depois de tantos anos.
Eu sentia que nosso laço estava mais forte do que nunca, e seria eternamente grata por aquela ligação que ele fez e mudou completamente a minha vida.
Capítulo 4
“Veja 10 motivos para amar os irmãos Maguire;”
“ Maguire e as suas tatuagens descoladas;”
“ Maguire, tudo o que você precisa saber sobre a meia-irmã de Tobey Maguire;”
Cliquei nesta última opção por curiosidade e acabei vendo bobagens das quais eu já esperava:
" , 28 anos, é a mais nova queridinha do momento depois de aparecer de surpresa no Met Gala acompanhando seu recém-divorciado irmão Tobey Maguire. A brasileira arrancou suspiros de toda a plateia, mostrando toda a sua simpatia ao lado de todo o elenco do filme Homem-Aranha: Sem volta para casa. Além da beleza exótica, a moça mostrou um bom gosto e requinte, utilizando um vestido modificado especialmente para a première do filme, com maquiagem e cabelos que disputavam frente a frente com ninguém mais do que Zendaya.
Continue lendo abaixo para saber todos os detalhes da vida dessa mulher que arrasou com o coração de todos os fãs que foram à première para ver Tobey Maguire e se surpreenderam com a agradável surpresa."
O artigo seguia com detalhes inexplicáveis sobre a minha vida, pois eu não sabia como haviam desenterrado tantas coisas sobre mim. Não costumo utilizar muito as redes sociais, com exceção do Instagram, então acabei me preocupando com os meios de investigação. De qualquer maneira, não me importei muito com aquilo, mesmo sabendo que era por estes motivos que meu irmão abominava os paparazzi.
— Sei que você não se preocupa muito com isso, mas me desculpe por todo esse incômodo que estão te dando na mídia. Você sabe que não suporto isso, certo? Mas, infelizmente, não tem como lutar, eles são invencíveis — Tob disse, colocando a cabeça para dentro do meu quarto, depois de dar uma batidinha à porta.
— Não se preocupe com isso, não vou dizer que é a vida que eu pedi, mas não me arrependo de ter vindo — respondi e ele sorriu amigavelmente.
— À noite, vou te levar para comer sushi, o que acha? — perguntou ele, ainda apenas com a cabeça à porta.
— Acho ótimo, você sabia que eu amo culinária japonesa? — perguntei, pois não lembrava de ter dito.
— Não, aprendi lendo o artigo sobre 10 curiosidades sobre ti — ele disse, dando risada, enquanto eu arremessava uma almofada.
Tomei banho e me arrumei para irmos ao restaurante, escolhi uma calça jeans rasgada e um cardigã listrado com cores pastéis. Amarrei meu cabelo em uma cola* bem alta e soltei alguns fios próximos da orelha. Nada de maquiagem.
Desci as escadas ao encontro de Tobey e percebi que o mesmo não estava sozinho. Meu coração deu um pulo forte em meio aos batimentos normais quando avistei aquele sorrisinho travesso novamente: Andrew. Beijei seu rosto enquanto ele me analisava dos pés à cabeça com aqueles olhos bondosos, mas ardilosos, que tinha. Seu cheiro estava maravilhoso, o que eu supus ser algo recorrente.
— Drew apareceu de surpresa, quer te perguntar algo — Tobey sorriu, sacana, para mim. Eu uni as sobrancelhas e cruzei os braços, dando minha atenção a Andrew.
— Bom, eu gostaria de saber se você se interessaria em ir à première de Tick, Tick, Boom... como minha acompanhante. Não se sinta pressionada, é que eu tenho direito à acompanhante, mas não tenho necessidade disto. Só achei que você fosse gostar, já que acompanhou seu irmão nesse fim de semana e… — Sua voz foi sumindo aos poucos.
— O que você acha, Tob? — perguntei, dando atenção a Tobey, eu não sabia o que pensar. Não sabia se era bom ou ruim. A opinião sincera de Tobey seria uma grande ajuda. — Seja sincero.
— , não vejo por que não. Vocês dois se deram bem desde o primeiro momento que se encontraram. A não ser que você ache que seja um problema, não tenho motivos para você não ir — Tob disse, dando de ombros e coçando a cabeça. Eu via sinceridade no seu olhar e, na verdade, via também um olhar brilhante que, talvez, dissesse "seja você mesma".
— Quando é? — perguntei, unindo as sobrancelhas e olhando no fundo dos olhos castanhos daquele estranho que havia me prensado contra a parede alguns dias atrás. Os pelinhos do meu braço se arrepiaram, por sorte não estavam à vista.
— Quinta-feira. Na verdade, é na sexta, mas teríamos que sair daqui na quinta — ele respondeu, colocando as mãos na cintura. — Ei, está tudo bem se você não quiser ir, de verdade. É só que gostei da sua companhia no fim de semana e achei interessante repetir a dose. Eu via sinceridade no seu olhar, não sei como essa minha leitura de personalidades funciona, mas não costuma falhar. Bom, vamos aos fatos, primeiro de tudo: não sou comprometida; segundo: ele, aparentemente, também não; terceiro: se ele está chamando, não é só por educação, pois ele podia simplesmente nem mencionar nada disto e eu provavelmente nem ficaria sabendo; quarto: ele era um cara lindo, cheiroso, charmoso, famoso e absolutamente tentador e quinto: eu não conseguia encontrar motivos para não ir.
— Claro, por que não? — falei, levantando as mãos e sorrindo. Andrew soltou o ar pela boca e sorriu tão abertamente que guardei aquela imagem em uma caixinha separada em meu cérebro. Tobey sorriu também e o convidou para ir conosco comer sushi. Andrew negou fervorosamente, dizendo que tinha compromissos, e agradeceu-me.
Passei o jantar inteiro avoada, com minha cabeça nas nuvens, enquanto Tobey fazia os pedidos.
— Você está bem? — perguntou ele, unindo as sobrancelhas, enquanto passava um pouco de wasabi sobre o seu salmão.
— Estou sim, só estou... — perdi as palavras — avoada? Minha cabeça ainda não digeriu o convite de Andrew. Está tudo indo tão rápido.
— Se você não está confortável com isso, posso ligar para ele ou passar o número dele para você. Ele é estranho assim mesmo, você se acostuma. Ele é um cara do bem. Só gostou de você. Ele e Tom, para falar a verdade.
O encarei, virando a cabeça ligeiramente para a esquerda, mostrando minha confusão.
— Ah, , qual é — riu da minha cara. — Os dois estão caidinhos por ti, por que você acha que Tom aceitou se vestir de cupido no seu aniversário? Por que você acha que Andrew veio pessoalmente te chamar para acompanhá-lo?
— Por que eles estão sem opção? — sugeri, pegando um pouco de gengibre, colocando sobre meu sushi e o colocando na boca.
— Na verdade, é o oposto, opção eles têm de monte. Agora, uma opção bonita, conhecida, que não é famosa a ponto de causar um escândalo, porém confiável o suficiente para saberem que não vai sair correndo para o jornal local contando o que vocês fizeram e onde... — ele disse e suspirou no final. — Você não sabe como é difícil encontrar alguém assim. Por isso entendo o fato de eles estarem encantados por você.
— Eles não estão encantados, Tob, para com isso. Que besteira. Eu estar encantada por eles é algo entendível. O contrário é, no mínimo, absurdo. Eu sou a , lembra? A garota caipira do sul do Brasil que nunca havia andado de metrô até os 20 anos de idade.
— ... — ele iniciou a fala.
— Pode me chamar de — o interrompi. Desde a primeira ligação que ele me fez, no ano passado, ele não me chamava mais pelo apelido, mas achei que já estava na hora de devolver esse crédito. Juro que pude ver seus olhos brilharem, Tob segurou minhas duas mãos sobre a mesa e baixou a cabeça, sorrindo, porém, quando levantou, as lágrimas corriam teimosas por suas bochechas.
— Ei — chamei-o e fiz carinho em suas mãos. — Não é grande coisa.
— É sim, . Quando você falou aquilo para mim, foi um chamado. Meu coração se despedaçou, sabe? Obrigado por estar dando essa oportunidade de me montar de volta. Isso é muito importante para mim.
— Você é importante para mim também — olhei em seus olhos e tudo que pude ver foi orgulho e admiração. Meu sentimento era recíproco.
— Você é uma das mulheres mais incríveis e talentosas que eu já tive o prazer de conhecer. Não se subestime. Se empodera e faz aqueles dois paspalhos comerem areia por você.
Terminamos de comer e continuamos falando aleatoriedades até o restaurante quase fechar.
No dia seguinte, Tob adiou a festa que havia combinado com Tom para o fim de semana, já que nem e eu nem Andrew estaríamos presentes, e Tom pareceu aceitar tranquilamente. Fomos também atrás de um vestido para eu usar e contratamos os serviços do mesmo cabelereiro e da mesma maquiadora, eles viajariam até o hotel que ficaríamos para me prepararem.
À tarde, Tobey iria em uma entrevista/podcast para falar oficialmente pela primeira vez sobre o filme, resolvi ficar em casa. Não queria parecer a pessoa intrometida que ia a todos os lugares para procurar holofotes. Fiz uma ligação para minha mãe para matar as saudades e depois liguei para meus amigos também; para eles, contei os babados mais fortes.
A semana seguiu sem muitas novidades, com exceção da internet completamente devastada pelo iminente término de Tom e Zendaya, que foi meticulosamente medido pela internet, cada palavra que eles falaram no anúncio. Alguns diziam que eles estavam apenas fazendo aquilo para chamar mais atenção para o filme, outros diziam que não era verdade e, sim, apenas uma piada de mau gosto, e outros até citaram meu nome maldosamente como o motivo de tudo. Tive que puxar todo o ar do mundo para engolir esse comentário desnecessário. Por sorte, nem eu seguia Tom nas redes sociais e nem ele me seguia, o que acabou acalmando os nervos dos internautas investigadores.
Quinta-feira chegou e, com ela, uma ansiosidade dentro de mim que eu não sabia como tirar. Depois do meio-dia, minhas malas estavam feitas e meu vestido devidamente embalado estava deitado sobre o sofá. Tobey me abraçou, sorrindo, dizendo coisas bobas como “minha menininha está crescendo” e “estarei contando os dias para ver minha abobrinha de volta”. Andrew passou por ali à tarde, me ajudou a colocar as coisas dentro do carro junto com o seu motorista. Me despedi de Tobey e entrei no carro, o coração à mil. Na minha cabeça, eu só ouvia a voz de Tobey dizendo “se empodera e faz aqueles dois paspalhos comerem areia por você”, será que eu tinha capacidade para isto?
— Parabéns pelo Globo de Ouro, foi muito merecido — falei, assim que entramos no carro. Ele sorriu, singelo.
— Obrigado, não dei muita bola, pois o boicote é real e tem que ser ouvido. Mas obrigado mesmo, fico lisonjeado de saber que você assistiu ao filme — ele disse, expressando-se com as mãos. Ele tinha esse costume. Mais uma nota mental: seu sotaque era tão gostoso quanto o de Tom, não era tão carregado, mas era maravilhoso.
— Nossa, fico muito feliz em saber que o boicote foi algo geral, obrigada por fazer parte disso — eu sorri, realmente agradecida, e ele sorriu sem mostrar os dentes, virando o rostinho para o lado. Meu coração derreteu.
— Qual a cor do vestido? — Andrew trocou de assunto. Seu cabelo estava bagunçado e ele usava óculos escuros. Eu usava um casaco fininho sobre uma regata básica preta com um decote quadrado, calça jeans e chinelos amarelos. No rosto eu usava meus óculos escuros em forma de coração que comprei com Tobey alguns dias antes, era como um Ray-ban aviador, só que em forma de coração, um charme.
— Roxo escuro, vinho — falei, o olhando pelas janelas. Iríamos para o aeroporto. Seria minha primeira aparição com um deles sem a presença do meu irmão. Ele pareceu notar que eu estava nervosa e apertou minha mão.
— Relaxa, viu? Não estamos fazendo nada de errado e você não deve satisfação a ninguém. — Apertei de volta sua mão e... ah, Jesus, aquele cheiro. Eu teria que aturar aquele perfume dentro de um avião durante uma hora e meia. Eu podia, certo? No aeroporto, não tiramos os óculos, por sugestão dele, e seguimos discretamente ao check-in.
Na fila para passar no detector de metais, uma criança o reconheceu e um pequeno falatório se iniciou até ele ir cumprimentar a criança com um soquinho. Estávamos de máscara e óculos e, ainda assim, ele era reconhecido! Eu nunca reconheceria nem o Roberto Carlos em pessoa, se ele aparecesse assim em minha frente. Antes de embarcarmos, batemos uma foto com uma das aeromoças (ela quis que eu participasse da foto) e aquilo foi absolutamente surreal para mim.
— Como está se sentindo? — perguntou ele, caridoso, quando nos sentamos em nossas poltronas.
— Parece que estou vendo minha vida em terceira pessoa. É surreal — suspirei fundo.
— Você se acostuma. Eu juro. Até com o que não é bom — ele disse, no momento com o óculo sob a cabeça, puxando seus cabelos para trás.
— E o que você consideraria ruim? — perguntei, apenas para puxar assunto. Ele suspirou como se falasse “a lista é longa”.
— Acho que o principal é o assédio. Eu poderia ter uma vida normal, sabe? As pessoas não entendem que é um trabalho. Com a internet em alta do jeito que está, fica bem difícil ter uma vida próxima do normal. ‘Tá bem distante disso, no momento — admitiu ele e eu vi como isso afetava a vida deles, queria poder tirar isso tudo dos ombros de todos. Seria como um presente pessoal meu. Infelizmente, a única coisa que podia fazer era não piorar a situação.
Conversamos o voo inteiro sobre o assédio moral que a internet faz hoje, alienando tudo e todos com informação passada de maneira errada e distorcida. A conversa entre nós simplesmente fluía sem força. Chegamos em São Francisco em praticamente uma hora em um voo tranquilo e sem turbulências. No hotel, fomos dirigidos aos nossos próprios quartos, que ficavam lado a lado, e combinamos de nos encontrar em duas horas para jantarmos. O jantar foi tranquilo, no próprio hotel, que servia pratos incríveis. Andrew me deixou escolher o seu prato, com um quê de “me surpreenda” e acabei pedindo um menu mais mediterrâneo para mim e, para ele, mais francês. Então, de entrada, recebi tiras de peixe em um molho de limão siciliano e tomates confitados e, ele, raviólis de camarão com molho branco. Experimentamos o prato um do outro como um casal de namoradinhos em início de namoro. Para o prato principal, recebi legumes grelhados, alhos assados e frango com muito manjericão fresco. Ele recebeu carré de cordeiro com um purê de batatas impecável e molho de laranja. Ele amou o prato que escolhi e disse que eu poderia escolher tudo que ele fosse comer a partir daquele momento. De sobremesa, ele recebeu um mil folhas clássico e, eu, um sorvete de nata com uma calda de figos divina. Andrew adorou tudo e fomos rindo para o quarto depois de tomarmos uma garrafa de vinho inteira.
Me despedi dele à porta, sem dar a chance de que ele me agarrasse novamente como havia feito na última despedida, que ainda não havia saído da minha cabeça. Apenas beijei seu rosto rapidamente e fechei a porta, sorrindo, com a agilidade que só uma pessoa que teve muitos dates ruins no Tinder podia ter, e essa pessoa era eu. Não consegui ver a sua expressão antes de fechar a porta, mas, cinco minutos depois, recebi uma mensagem no celular.
“Tenho medo do trauma que devo ter causado em você para que tenha fechado a porta com tanta habilidade e velocidade. Andou treinando em casa?”
Dei uma risada alta quando li a mensagem.
“Causou trauma nenhum, pode ficar tranquilo! Corri, pois tenho que dormir cedo para amanhã não estar com olheiras.”
Enviei logo em seguida.
“Ok! Você está certa. Só não precisa fugir da próxima vez. Minha bochecha está formigando, agora não sei se é da força que você colocou ou se é trabalho das borboletas”. Meu coração palpitou, borboletas? Sério, Andrew? É assim que você quer jogar, o bonzinho apaixonado?
“Borboletas nunca são um bom sinal, tome cuidado.”
Assim, encerrei a conversa.
No dia seguinte, acordei mais tarde do que deveria. Dei um pulo da cama e corri para o salão principal para tomar café. Andrew já estava lá, com seus óculos escuros. Ele usava um moletom preto e bermudas, como se o friozinho que fazia não o afetasse da cintura para baixo. O lugar era aberto e uma luz solar maravilhosa tomava conta do ambiente.
— Nossa, dormi feito uma pedra. Perdi completamente a hora — falei, sem graça, quando cheguei à mesa.
Ele fez um gesto dramático para olhar o relógio e disse: — Eu quase não notei, mas confesso que seu cabelo e seus olhos denunciam. Mas, não se preocupe, você está radiante. — Eu não sabia o que era ironia e o que não era. Apenas ri, enquanto o garçom trazia o expresso que eu havia pedido. Tomei um gole e a bebida quente pareceu me preencher por inteiro. Eu nunca fui muito do café, realmente não gosto. Mas existem dias e momentos que só um café pode salvar.
— Puta merda, que café bom — falei, completamente em português, e Andrew uniu as sobrancelhas, me encarando.
— Você está elogiando o café em português? — perguntou, segurando o riso, e apenas dei de ombros, tomando o resto da xícara em um só gole. — Fala mais alguma coisa em português, eu gostei.
— Agora que você falou que gostou, não consigo, fico com vergonha — respondi e ele deu uma risada gostosa.
— Ok, então fale aleatoriamente sem eu estar esperando, foi muito bom de ouvir — ele disse, dando atenção ao seu celular, enquanto eu buscava algumas frutas para beliscar.
Às onze da manhã, Carlos e Genevieve chegaram para começar a me arrumar, eu os aguardava de banho tomado. Duas pessoas vieram para ajudar Andrew também e nos despedimos na porta dos quartos.
Meu vestido era completamente de veludo, era bem colado ao corpo e a parte de cima era estilo ciganinha, onde meus ombros ficavam completamente de fora e as mangas eram compridas. O comprimento do vestido era pouco abaixo do joelho e com uma pequena fenda apenas para ajudar no movimento, o decote era em formato de coração, sem ser, de maneira alguma, vulgar. Carlos colou unhas postiças compridas em mim, as pintou da mesma cor do vestido e passou uma base fosca que daria toda a diferença no final. Nos meus cabelos, ele fez uma trança espinha de peixe embutida que tinha tantas camadas, que ele levou horas para deixar tudo perfeito. Como da outra vez, alguns fios soltos propositalmente e a trança frouxinha deixavam o look menos sério. No meu rosto, Genevieve fez um novo delineado que, na ponta, puxava outro delineado em direção ao meu côncavo. Eu nunca teria a capacidade de fazer aquilo no meu rosto, sozinha, e, depois de algumas horas, eu estava novamente impecável. Gen e Carlos deram as mãos e me aplaudiram, emocionados, quando dei uma voltinha; nos dávamos muito bem e eu sentia que nos veríamos em breve novamente. Quando eles foram embora, já estava na hora de irmos, já que ficamos matando tempo conversando um pouco. Descobri que eles trabalhavam com várias celebridades e que trabalhavam com Tobey há mais de dez anos. Quando eu estava saindo do quarto, Carlos cochichou no meu ouvido:
— Vai lá e mata aquele gostoso do coração, depois me conta como foi o babado — piscou enquanto a porta do elevador fechava.
Bati à porta do quarto de Andrew, mas, aparentemente, ele já havia saído. Desci até o hall de entrada e ele me aguardava sentado em uma poltrona, distraído com o celular. Pigarrei ao seu lado e, só então, ele subiu os olhos dos meus pés à cabeça, com a boca abrindo à cada milímetro que ele subia.
— Meu Deus — ele apenas soltou. Pigarreou e continuou: — Você está maravilhosa.
Agradeci educadamente.
— Você também não está tão mal — brinquei. Ele estava lindo, com um blazer preto e uma camisa branca por baixo, o colarinho estava desabotoado e não usava gravata. Por um momento, vi aquele colarinho todo sujo com meu batom. Mas apaguei essa imagem da cabeça antes que fosse tarde.
Ele me guiou até o carro e seguimos até o local, que eu não fazia ideia de onde era. No caso daquele filme, eu conhecia apenas a Vanessa Hudgens, havia um ou outro rosto familiar que devo ter visto em outros filmes, mas eu não sabia o nome de todos, assim como sabia dos filmes da Marvel. Andrew com certeza era, neste caso, a estrela mais esperada, principalmente depois do Globo de Ouro. Na verdade, aquela não era uma première, era meio que uma turnê bancada pela Netflix para que o filme fosse mais bem divulgado, afinal, agora era um vencedor de estatueta. Chegamos ao local e ele não estava tão cheio como o da semana anterior. Havia bastante fãs e muitos fotógrafos, mas não chegava aos pés da majestosidade que havia sido o trio de Homens-Aranha.
— Está tudo bem? — Andrew me perguntou, antes da nossa vez de sair do carro. Segurou minha mão mais uma vez.
— Está sim — respondi, respirando fundo, seu perfume estava especialmente forte e delicioso.
— Obrigado por fazer isso. Vou colocar a mão na sua cintura para bater fotos, tudo bem para você? — coçou a sobrancelha, sem graça. Eu gostava do fato de ele ser tão confiante em alguns momentos e, em outros, ser extremamente envergonhado. Era óbvio que não íamos bater fotos afastados e completamente longe um do outro, também não bateríamos fotos de mãos dadas, pois significara algo mais sério. Então, o abraço pela cintura era a melhor opção de “estamos juntos, sim, mas pode não significar nada”.
Chegou a nossa vez de sair do carro e o motorista abriu a porta enquanto os flashes iniciavam com fervor. Andrew saiu do carro e a chuva de luz se intensificou, os gritos da plateia também ficaram mais altos e podiam-se ouvir palmas de todos os cantos. Ele esticou o braço até mim e, quando fiquei ao seu lado, alguns gritos pareceram se intensificar. Os flashes não paravam um segundo. Seguimos para o tapete vermelho e as logos da Netflix faziam um caminho que não parecia ter fim. Andrew sorria, abanava a mão e mandava beijos para a plateia e fotógrafos. Alguns jornalistas já berravam algumas coisas incompreensíveis e ele sorriu mais ainda quando passou a mão pela minha cintura. Fizemos algumas poses e ele ainda me fez dar uma voltinha antes de seguirmos em frente. Logo atrás de nós, surgiu Vanessa Hudgens, que também arrancou ótimos gritos e flashes da imprensa. Vanessa e ele se cumprimentaram com um longo abraço e dei espaço para serem fotografados juntos. Ela me cumprimentou também, sorrindo, simpática, e me deu um beijo no rosto; trocamos algumas palavras e seguimos.
Andrew foi entrevistado um milhão de vezes e muito elogiado por sua performance e pelo Globo de Ouro, ele sempre me incluía na entrevista, brincando comigo, mexendo no meu cabelo ou me abraçando pela cintura. Eu apenas sorria e respondia curtas respostas quando alguma pergunta era direcionada a mim. Várias vezes fomos perguntados se éramos o mais novo casal de Hollywood e negávamos em todas, dizendo que éramos apenas amigos se apoiando. A resposta com certeza não seria convincente para a internet, mas eles não teriam prova nenhuma de qualquer coisa que passasse de amizade ou, no máximo, uma pegação. Continuaríamos firmes com as respostas.
A noite passou tranquila, vez ou outra Andrew cochichava em meu ouvido. Ouvi coisas do tipo:
“Se essa entrevista durar mais um segundo, vou mijar nas calças.”
“Eu adorei as suas unhas.”
“Meu rosto está sujo de batom?”
“Essa cor fica muito bem em você.”
“Aquele cara ali é o ser mais chato que já tive que contracenar na vida.”
“Você está muito cheirosa”
Este comentário veio seguido de um beijo em meu ombro, que acabou tendo muitos flashes envolvidos.
“Esta mulher estava muito interessada em você.”
Depois de algumas horas e nenhum after-party, seguimos para o hotel. Antes, passamos no McDonald’s e pedimos tanta coisa, que foi cansativo de pegar tudo do drive-thru e colocar no carro. Nos enfiamos em seu quarto de hotel e solicitamos duas garrafas de champanhe caríssimos pelo serviço de quarto. Andrew atendeu com um Big Mac na mão e trouxe a bandeja até nós. Abriu a garrafa e me serviu, jogando-se no sofá em seguida.
— Quatro horas se arrumando para ficar me aturando e aturando outras pessoas chatas durante duas horas e voltar para o hotel impecável para comer Big Mac... O que você acha disso? — perguntou, brindando comigo, e bebendo a taça de uma só vez.
— Acho muito aceitável — respondi, bebendo, e, em seguida, terminando meu Big Mac.
Com exceção das sandálias, eu ainda estava impecável, de vestido, com o cabelo perfeito e a maquiagem também. Nem o batom havia saído depois de algumas mordidas.
— Você não deve bater bem das ideias, o que vão falar lá no Brasil quando seu chef descobrir que você está comendo McDonald’s?
— Eu possivelmente poderia perder meu cargo, mas ele nunca irá saber disso. — Quando terminei a frase, Andrew pegou seu celular e apontou para mim. Eu sorri, com uma caixinha de batata-frita em uma das mãos e a taça de champanhe em outra. Click.
— Agora você está em minhas mãos — brincou, mexendo no mesmo e colocando uma estação de rádio.
— Nem em seus sonhos — respondi, mostrando a língua.
— Ah, nos meus sonhos você está em minhas mãos, sim. — Ele, de repente, ficou com o semblante sério. — E minhas mãos estão em ti.
— Vai se fuder — sussurrei em português, mordendo os lábios, e ele fechou os olhos sorrindo.
— Porra, , assim você me mata. — Meu apelido em seu sotaque era a melhor coisa que eu podia ouvir naquele momento.
Por sorte, estávamos afastados. Por esse motivo, larguei a batatinha pela metade, enchi minha taça de champanhe e segui para a grande janela de vidro que ficava no final do quarto. Era uma sacada infinita, já que eram proibidas sacadas tradicionais em hotéis daquela região. O ouvi se aproximando devagar, seu cheiro chegou antes de sua presença física. Sem salto, meu rosto ficava na altura do seu peito; ele parou ao meu lado, também apenas segurando a champanhe.
— Obrigado por me acompanhar hoje, foi muito gentil da sua parte. — Ele foi sincero. Tomei um gole da minha taça. A paisagem da cidade à noite era linda.
— Não foi esforço nenhum, você é uma boa companhia, Garfield — o olhei de canto de olho, ele sorria e me encarava.
— Você está se tornando minha companhia preferida dos últimos meses. Como você fez isso? É algum tipo de feitiço brasileiro? — perguntou, se aproximando, sua mão encostou em minhas costas levemente, sem qualquer tipo de pressão, apenas encostada.
— É, sim. Fiz um ritual no fim de ano, consegui um pouco de cabelo seu pela internet e, aparentemente, deu certo — falei, calma e baixinho, o fazendo rir pelas narinas.
— Deu muito certo, agora preciso aprender para fazer contigo... Você me ensina? — perguntou, baixinho como eu, e, tão calmo quanto a sua voz, ele foi aproximando seu rosto do meu, mesmo que eu ainda olhasse apenas para a frente.
Minha respiração falhou e ele percebeu, a tensão sexual era palpável. Seu nariz roçou em minha bochecha e ele desceu ao meu pescoço onde depositou um beijo suave, continuei tomando meu champanhe enquanto ele desceu o rosto para minha clavícula. Fechei os olhos, suspirando descompassada, ele já havia notado como meu corpo reagia ao seu toque e tive a impressão de que se divertia com isso. Ele deu um último beijo em meu ombro e subiu seu rosto pelo mesmo lugar de onde tinha descido. Quando seu nariz estava de volta ao lado de minha bochecha, ele virou meu rosto suavemente e eu colei nossas bocas com a urgência que eu já sentia entre minhas pernas. Suas mãos seguiram diretamente para minhas costas, uma delas na altura das minhas costas e a outra na curva onde iniciava minha bunda. Como da primeira vez, uma de minhas mãos segurava seu rosto, enquanto a outra ainda estava com aquela taça idiota, e nossas línguas já se enroscavam como as conhecidas que eram. Tive que separar o beijo.
— Espera, eu preciso... — falei, balançando a taça. Ele virou os olhos para cima, mostrando a dele, que estava no reforço inferior da janela que, por mais que não abrisse, tinha um reforço de metal de uma largura que cabia nossas taças.
— Achei que você fosse mais esperta — brincou, já escondendo o rosto no meu pescoço, pois minha mão mal largou a taça e já foi direto em sua orelha dar-lhe um tapa.
— Deu? Posso te beijar à vontade, sem intromissões? — ergueu a sobrancelha. Seu rosto estava tão perto que eu podia contar as pintinhas próximas do seu nariz. Suas mãos estavam passeando devagar por minhas costas, meus braços em volta do seu pescoço.
Não precisei responder, pois nossos lábios colaram-se novamente sem qualquer dificuldade. Dessa vez, eu não quis ser a bobinha, nossas línguas se misturaram e eu coloquei minha mão em sua nuca para intensificar o beijo. Andrew estava indo devagar, provavelmente com medo de me assustar, já que ontem eu acabei fugindo dele sem muita explicação. Hoje, eu não pretendia fugir. Espalmei minha mão livre em seu peito e deslizei-a até seu ombro, fazendo seu blazer deslizar ligeiramente para trás. Ele entendeu que era para tirar e retirou as mãos das minhas costas para o fazer. Sem partir o beijo, Andrew passou um braço por baixo da minha bunda, me dando impulso para pendurar minhas pernas em sua cintura, porém, com isso, meu vestido acabou subindo por minha cintura, já que era muito colado e bem elástico. Ele pareceu gostar da minha nudez parcial, já que espalmou uma das suas mãos na minha coxa, sem deslizar até minha bunda. A outra mão me segurava pelas costas. Ele tinha uma força que eu desconhecia, pois foi nos guiando sem partir o beijo que parecia ficar cada vez melhor a cada passo que ele dava. O gosto da sua boca se misturava com a minha de uma maneira que simplesmente parecia certo. Encostamos em algo que eu reconheci como o sofá e parti o beijo para me acomodar. Andrew tinha os olhos sedentos correndo por todo meu corpo, o vestido estava todo enrugado na minha cintura e tapava um pouco da minha virilha, mas minha calcinha preta aparecia parcialmente. Ele notou a tatuagem gigante que eu tinha na coxa esquerda e a analisou por alguns segundos, passando os dedos sobre ela; eu tinha outras tatuagens, mas não era o momento para falar sobre elas. Sorri, o puxando pelo colarinho da camisa. Colamos nossas bocas novamente e o Andrew da outra vez pareceu vir à tona, prensando meu corpo contra o sofá, porém não deixei isso acontecer. Ainda agarrada em seu colarinho, o empurrei para que ele sentasse e passei minha perna por sua cintura, sentando em seu colo. Ele pareceu gostar daquilo e suas mãos começaram a procurar o zíper do meu vestido enquanto as minhas mãos desabotoavam sua camisa. Parti o beijo para descer por seu pescoço, arrancando suspiros seus. Beijei seu pescoço, dei uma mordida leve no lóbulo da sua orelha e em seu queixo.
— Achei que você fosse mais esperto — devolvi seu comentário e ele deu uma gostosa risada enquanto eu guiava suas mãos ao encontro do zíper do meu vestido.
Ergui os braços quando ele trouxe o vestido para cima. Seu pênis já me dava bons sinais há bastante tempo, mas, quando ele tirou meu vestido, sua empolgação contra minha virilha me vez virar os olhos. Eu usava um sutiã tomara que caia que era amarrado pela frente como um pequeno espartilho, Andrew beijou toda a extensão do meu colo enquanto suas mãos passeavam livremente pela minha bunda. Tiramos sua camisa e a regata básica que ele usava por baixo, eu não esperava que ele fosse tão definido, e sorri enquanto ele subia os beijos do meu colo pelo meu pescoço, mas, antes de colarmos nossas bocas novamente, meu celular tocou. Bufei, realmente brava, e Andrew o alcançou para mim. No visor dizia “Mãe” e, no fundo, aparecia uma foto minha com ela, abraçadas.
— É sua mãe? — perguntou ele. Concordei com a cabeça. — Por favor, atende.
Roubei sua regata e vesti de qualquer jeito. Era uma chamada de vídeo. Minha mãe adorava chamadas de vídeo.
— Oi, mãe — falei, saindo do seu colo e indo para mais longe. Eu não sabia como devia estar, mas, com certeza, não estava em estado apresentável para falar com minha mãe.
— Oi, filha! Nossa, que maquiagem linda, aonde você vai? — perguntou, sorrindo, enquanto colocava alguma comida na boca.
— Eu já fui, estava em uma première de um filme, acredita?
— Nossa, mas você ‘tá muito chique mesmo. Olha só, Pedro, como ela está bonita. — Eu amava aquela inocência que minha mãe tinha intrínseca. Ela moveu a câmera e Pedro me olhou, sorrindo, e dando tchauzinho. Acenei de volta. Tomei o cuidado de ficar de frente para Andrew, de modo que ele não aparecesse no fundo da ligação.
— Como vocês estão? — perguntei, notando que estavam bebendo cerveja e comendo amendoins, era algo que faziam às sextas-feiras.
— Estamos bem, estamos tomando nossa cervejinha de sexta e lembramos de vocês. Tobey está por aí? — Notei que Andrew entendeu o nome do colega e me olhou, interessado.
— Na verdade, estou em um hotel em outra cidade, eu vim em uma première com um amigo dele. — Não havia motivos para eu mentir para a minha mãe.
— Nossa, querida, tome cuidado com esses estranhos, gente famosa é doida — ela disse e eu dei uma risada.
— É verdade, mãe, mas Tobey disse que eu podia confiar nele e foi o que eu fiz. Se eu amanhecer morta, coloquem a culpa nele — brinquei e Pedro deu uma risada.
— Para com isso, sua tola, ele é gatinho, pelo menos? — perguntou minha mãe e eu vi a mão de Pedro empurrando seu ombro. Dei uma risada.
— É gatérrimo, mãe. E, aparentemente, está a fim de mim.
— Não me admira, você está linda! Imagina quando estava com o vestido... Que cor era?
— Vinho.
— Uh lalá — ela disse, se abanando e rindo. — Mas então ‘tá bom, linda, só queríamos ver como vocês estavam. Outra hora a gente se fala, ‘tá bom? Qual é o nome do gatão? Quero pesquisar fotos dele no Google — ela disse, na cara dura, e eu dei uma risada alta.
— Andrew Garfield — eu disse e Andrew arregalou os olhos em minha frente. — Mas não fica achando besteira e contando fofoca para as suas amigas.
— ‘Tá bom. É o nosso segredinho — ela fez sinal de “Shh”. Nos despedimos e joguei-me no sofá ao seu lado.
— Você estava falando de mim para a sua mãe? — perguntou, convencido.
— Ela perguntou do Tobey e eu disse que havia ido à uma estreia com um colega dele... — expliquei. — Ela perguntou seu nome, pois queria pesquisar você no Google — falei, dando uma risada, ele me acompanhou.
— Eu amei o jeito como você falou meu nome a ela, com um sotaque bem brasileiro — ele disse, fazendo um carinho sem segundas intenções na minha coxa.
— É, se eu falasse muito americanizado, talvez ela não fosse conseguir digitar corretamente — expliquei e ele pareceu entender.
Ele me fez mais algumas perguntas sobre minha mãe e notei que o clima havia ido embora. Então, apenas continuamos conversando, ele sem camisa, eu com a sua blusa. Comemos mais McDonald’s e acabamos dormindo por ali mesmo.
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*cola: rabo-de-cavalo
Capítulo 5
Chegamos em L.A. e Tobey nos aguardava no aeroporto.
— Hey, — falou ele, me dando um abraço aconchegante. Cumprimentou Andrew com um aperto de mãos e um abraço cheio de risos. — Você cuidou dela? — perguntou, em um tom brincalhão, e Andrew deu uma risada gostosa.
— Cuidei sim. Não foi, ? — perguntou ele, lambendo os lábios e levantando uma das sobrancelhas. Meu coração ainda descompassava com meu apelido saindo pela sua boca.
Tobey deu um empurrão em seu ombro, rindo.
— Assim não, cara!
— Eu já te disse para não perguntar detalhes dos quais você não quer saber — entrei na brincadeira, levantando os ombros. Andrew deu mais uma risada gostosa, eu poderia ficar ouvindo aquela risada o dia inteiro. Seguimos para fora do aeroporto, fingindo não notar os fotógrafos.
— Como foi lá? — perguntou Tob quando entramos no carro. Achei incrivelmente fofo o fato de ele ter ido nos buscar no aeroporto e ainda dar carona para Andrew. Acho que eu subestimava a amizade deles, já que quem vivia na casa de Tob era Tom.
— Foi bom, ainda bem que quis ir comigo, senão seria bem menos interessante. Teria ido ao aeroporto sozinho, viajado sozinho, ficado no hotel sozinho. É bom ter companhia — Andrew respondeu tranquilamente.
— Fico feliz em ter ajudado — falei, bagunçando seu cabelo, já que eu estava no banco de trás do carro, igual uma criança.
— E o vestido, ? O pessoal da maquiagem e do cabelo foram direitinho? — Tob perguntou, me olhando pelo retrovisor.
— Tudo perfeito, eles são muito bons.
— Fico feliz que tenha dado tudo certo, então — suspirou ele, feliz. — Queria aproveitar, , para te convidar para ir conosco no programa do Jimmy Fallon semana que vem. Minha agente acabou de me lembrar, já está marcado a algum tempo.
— Meu deus, vocês acham uma boa ideia eu ir junto? — perguntei, sem saber o que dizer. Jimmy Fallon! Quando eu me acostumaria com esse tipo de situação em que meu irmão mais velho me colocava?
— Claro, por que seria uma ideia ruim? — Andrew respondeu minha pergunta com outra pergunta.
— Não sei, só fico com medo. Esse mundo de vocês, famosos, é um mundo novo para mim.
— Deixa de ser boba. Vai dar tudo certo — Tobey disse, sorrindo com os olhos pelo retrovisor.
Deixamos Andrew na casa que ele normalmente ficava quando tinha que passar tempo na América, já que a sua casa era na Inglaterra. Tob nos guiou até sua casa, explicando que a festa estava de pé e que Tom estava muito animado para tudo. Não parava de mandar mensagens dizendo que convidou não sei quantas pessoas, ele queria mesmo comemorar.
— Então, é bom você se preparar para ter bastante gente famosa aqui mais tarde. Mas, não sei, acho que você já se acostumou com isso, certo? — Tobey disse, me olhando de canto de olho para ver minha reação.
— Tob, você é famoso. Tipo, muito famoso. Se eu não me acostumar com isso, vou me acostumar com o quê? Já me acostumei com Andrew e Tom, já bati papo com a Zendaya e com a Vanessa Hudgens. Conheci Jamie Foxx e Benedict Cumberbatch... Se isso não for o suficiente para eu me acostumar, não sei o que é.
— Bom, fica mais fácil de se acostumar quando você está pegando um deles — ele disse, rindo, e levou um tapão no ombro.
— Não estou pegando ninguém. Foi você que disse que era para deixá-los comendo na minha mão — expliquei.
— Eu sei, mas não precisava deixá-lo babando por você. É maldade — ele disse, estacionando o carro na garagem.
— Eu... Ele não está babando. Deixe de ser babaca — falei, saindo do carro.
— Só estou falando o que estou vendo — ele disse, dando de ombros.
— Para de colocar coisa na minha cabeça — falei, unindo as sobrancelhas.
— , de verdade, você é gata. Você é até gata demais para eles. Não estou colocando coisas na sua cabeça, você só precisa aceitar isso — Tob disse, abrindo a porta e entrando em casa.
A sala já estava diferente. O sofá estava encostado na parede, dando mais espaço no centro, tinha um aparelho de karaokê conectado à TV e a mesinha, que normalmente tinha fotos da família, tinha tantas bebidas que dava para fazer uma foto conceitual no Tumblr.
— Você está maluco, Tob. Eles são Tom Holland e Andrew Garfield, sabe? Atores famosos, bonitos e muito bem-sucedidos. Um deles namorou a Zendaya e o outro namorou a Emma Stone.
— E você não perde nem um pouco para elas. Então, para de se rebaixar. Eu realmente precisava ir ao mesmo psicólogo que Tobey ia, eu gostava de como ele lidava com a autoestima e de como ele me tratava sem ser a irmãzinha indefesa. Eu gostava do adulto que ele havia se tornado, um homem empoderado e feminista, me deixava cheia de orgulho.
Passamos o dia sem grandes novidades, assistimos ao novo filme da Netflix (Não olhe para cima) no seu quarto e, depois disso, começamos a nos arrumar para a festa. Escolhi um vestido frente única de seda que eu só usava em ocasiões especiais no Brasil, o comprimento batia no meio das minhas coxas, a cor dele era um rosa bem clarinho, como champanhe, e nas costas ele tinha tiras fininhas, como o primeiro vestido que usei no tapete vermelho do Homem-Aranha. Pedi para Tobey amarrar para mim e ele perdeu alguns bons minutos tentando dar o laço perfeito. Deixei meus cabelos soltos e naturais, ondulados, provenientes da mistura do lindo cacheado da minha mãe com os cabelos lisos de meu pai. Fiz uma maquiagem simples e, até certo ponto, leve, pois eu não sabia me maquiar sozinha a ponto de considerar uma maquiagem pesada; caprichei no delineado até onde minha capacidade conseguia, passei bastante iluminador e um batom vermelho fosco que deixava minha boca no maior estilo Angelina Jolie (obrigada, mãe, por estes lábios maravilhosos). Nos pés, optei por um tênis branco de couro, que não condizia com o vestido que eu usava, mas me deixava com uma vibe mais caseira, do jeito que eu gostava.
Batemos fotos um do outro com a Polaroid e batemos selfies juntos que ficariam eternizadas na nova caixinha de madeira que Tobey havia escolhido para as novas recordações.
— Você está linda, maninha — Tobey disse, me fazendo dar uma voltinha. Ele também estava, com uma camisa preta com o colarinho desabotoado e as mangas dobradas até o antebraço, calças jeans, que pareciam ter sido desenhadas para ele, e sapatos pretos.
— Você também está gato.
Descemos até a sala, fiz uma caipirinha de vodca para mim e Tob pegou uma cerveja. Escolhi uma música aleatória para tocar e começamos a jogar truco enquanto esperávamos os convidados. Minha mãe havia ensinado truco a Tobey e ele realmente adorava, dizia que era muito melhor e mais empolgante do que Poker.
Durante uma música de SZA, a campainha tocou e Tobey foi atender. Tom o abraçou, animado, trazendo em suas mãos uma garrafa de vodca e uma de champanhe. Ele deixou as garrafas na mesa com o restante das bebidas e veio em minha direção, sorrindo. Ele estava lindo, usava um blazer preto e uma blusa de botões com desenhos de folhas de palmeiras e flores coloridas. Atrás de Tom, entrou Jacob Batalon e mais dois rapazes que eu não conhecia. Abracei Tom e ele beijou meu rosto. Cumprimentei todos. Tobey voltou com taças de champanhe da cozinha, animado. Jacob pegou o champanhe que Tom trouxe e não sabia nem como retirar o plástico que envolvia o arame. Dei uma risada e tomei a garrafa dele com educação. Peguei um saca-rolhas que havia em cima da mesa, que normalmente vinha com uma faquinha de serra para este tipo de embalagem. Menos de um minuto depois, eu já estava fazendo festa antes de tirar a rolha com facilidade, sem fazer sujeira no chão. Enchi todos os copos presentes.
— À amizade — Jacob disse, levantando a sua taça.
— À liberdade — Tom disse, levantando a sua também.
— À maturidade — Tobey disse, rindo, fazendo o mesmo.
— À felicidade — falei, acompanhando Tobey na risada.
— Aeeee! — Os dois que restaram só gritaram e brindamos.
Pude jurar que, durante todo o momento do brinde, Tom não tirou os olhos de mim, mas creio que era coisa da minha cabeça. Virei a taça. Aos poucos, foram chegando mais e mais pessoas, pessoas conhecidas e desconhecidas, que pareciam se conhecer há anos. Eu estava acompanhando Tom e Jacob, que descobri ser um amor de pessoa, me afeiçoei a ele imediatamente. Batemos fotos juntos para postar nos stories do Instagram e, com certeza, viraríamos notícia. Jacob fez vídeos meus com Tobey, boomerangues e filtros bobos. Demos boas risadas. Fiquei famosa por minhas caipirinhas e a todo minuto pessoas vinham me pedir para fazê-las; eu sempre fazia, sorrindo, e os enchendo de álcool. Tom bebeu três e já estava vendo estrelinhas.
— O que você colocou aqui dentro? Drogas?! Logo você, irmã Maguire? — perguntou ele, balançando o copo, derramando bebida no chão.
— Com certeza não, vem cá. Vamos tomar uma água — falei, puxando-o pela mão, levando-o até a cozinha. Peguei uma garrafa de água na geladeira. Ele bebeu quase inteira.
— Porra, eu estava precisando disso — falou, suspirando, tirou o blazer e passou as mãos no cabelo.
— Claro que estava. Caipirinha é forte e você, aparentemente, não está acostumado com bebida alcoólica — falei no maior estilo mãe protetora.
— ‘Tá bom, mãe — ele disse, empurrando meu ombro. Ouvimos um barulho que parecia ser do karaokê e os olhos de Tom brilharam. — Vamos, eu adoro karaokê.
Quem gosta de karaokê na vida real? Achei que era coisa de filme de adolescente bobo. Me enganei completamente, pois Tom fucking Holland aparentemente adorava. Seguimos para a sala, o lugar estava cheio, grupinhos de pessoas estavam espalhados pelo ambiente inteiro e, em frente à TV, algumas pessoas se afastaram para dar espaço para a pessoa que iria cantar. E lá estava Jacob, ele acenou quando viu Tom e o chamou. A música já havia sido escolhida e era “Leave The Door Open” do Silk Sonic. Dei risada vendo os dois cantarem a música que visivelmente havia sido ensaiada. Os dois arrancaram risadas e aplausos de todos e logo outras pessoas começaram a cantar também. Peguei minha bebida e dei uma volta, procurando Tobey. Ele estava do lado de fora, ao lado da piscina, conversando com pessoas que eu não conhecia. Ele me chamou e me apresentou a todos, que foram muito simpáticos e me cumprimentaram. Fiquei ali por um tempo e acabei avistando Andrew do outro lado da piscina, conversando com algumas pessoas. Ele me viu e piscou, sorrindo. Assim como todos os Homens-aranha daquela festa, ele também estava lindo, usava uma calça social clara, uma camisa branca e, por cima, um colete de lã, que poderia ter ficado péssimo em qualquer pessoa, mas combinava perfeitamente com ele e com a ocasião. Ele se aproximou e me abraçou.
— E aí, Maguire, como você está linda — disse. — Gostei disso — ele simplesmente falou, se referindo aos meus cabelos soltos, naturais.
— Obrigada. Gostei disso — falei, me referindo ao colete, e ele sorriu de lado, fofo como sempre.
— Como você está? — perguntou ele, bebendo.
— Estou bem, ligeiramente bêbada — admiti, rindo frouxo. — E você?
— Estou bem também, mas não cheguei no seu patamar ainda... Não tenho um certo alguém me fazendo drinks — falou ele, arqueando as sobrancelhas e esperando minha reação.
— Não tem porque não quis. Era só ter pedido — expliquei, fazendo cara de convencida.
— MAGUIRE! — Tom gritou da porta dos fundos. Eu olhei e vi que Tobey também olhou. — Vem cantar no karaokê — ele disse, dessa vez nitidamente para mim. Tobey deu risada no fundo e eu dei de ombros, indo em sua direção.
Virei minha caipirinha e deixei em uma mesa quando entrei em casa. Notei que Andrew veio atrás de mim, ele não iria querer perder aquele grande show.
— Não sei que música cantar — admiti no ouvido de Tom e ele virou os olhos.
— Sabe sim. Todo mundo sabe que música cantar no karaokê, só não tem coragem de dizer — ele disse, me olhando sério. E eu realmente tinha uma música para cantar. Sussurrei em seu ouvido e ele sorriu, gritando um “Yeah”. Me deu o microfone e, bom, eu já estava com o álcool gritando em minhas veias. A música de Elton John começou a tocar e fiz o possível para manter o sotaque inglês como o dele. Minha voz não era nem um pouco parecida com a daquele muso, mas tentei ficar séria, mesmo querendo dar gargalhadas.
It's lonely out in space
On such a timeless flight
And I think it's gonna be a long, long time
'Til touchdown brings me 'round again to find
I'm not the man they think I am at home
Oh, no, no, no
I'm a rocket man
Rocket man, burning out his fuse up here alone
Cantei esta parte e pude jurar que os olhos de Andrew queimavam minha pele. Tom e Jacob dançavam juntos, batendo palmas, assim como alguns outros convidados, todos com a nostalgia à flor da pele, todo mundo amava Rocket Man.
I don't understand
It's just my job five days a week
A rocket man
A rocket man
And I think it's gonna be a long, long time
'Til touchdown brings me 'round again to find
I'm not the man they think I am at home
Oh, no, no, no
I'm a rocket man
Rocket man, burning out his fuse up here alone
Eu já estava me achando o próprio Elton John, jogando meus cabelos, fingindo tocar um piano invisível e fazendo passinhos bobos, já que eu não era uma exímia dançarina e, neste caso, muito menos cantora. Mas o pessoal parecia estar se divertindo, então cantei a música inteira neste mesmo estilo, fingindo um sotaque e dando risadas. A música terminou e os aplausos vieram com tudo, Tom pulou em meus ombros, animado, e seguimos para fora da casa, rindo. Andrew nos acompanhou.
— Tom está afim de você — Andrew sussurrou no meu ouvido e eu serrei os olhos, o examinando. Eu, com certeza, precisava de água. — Está tudo bem, não sou ciumento — ele completou, brincando, e eu o empurrei de leve.
— Você é idiota, sabia disso? — A bebida com certeza falava mais alto.
— Infelizmente, estou ciente deste fato — ele disse, sorrindo, completamente convencido. Virei os olhos.
— Que bom, pois é irritante. Tem horas que você é um amor e tem horas que é um babaca. Como consegue fazer para manter as duas personalidades tão bem misturadas? — Conversávamos baixo ou, pelo menos, eu achava que sim.
— Ah, são muitos anos de treino. Uma hora você se acostuma — ele piscou para mim e seguiu seu caminho até o grupo de pessoas que ele estava inicialmente.
— Maguire, você é incrível. Tem algo que você não saiba fazer? — perguntou Tom, sentando-se em uma cadeira junto de uma mesa livre no meio do jardim.
— Olha quem fala, Tom — virei os olhos, sentando ao lado dele com cuidado, pois meu vestido era meio curto.
— Você sabe cozinhar, fazer drinks perfeitos, sabe abrir champanhe feito uma donzela, canta e dança... ‘Tá bem difícil de competir — disse ele, brincando, seu sorrisinho fofo me encantando.
— E quem disse que isso é uma competição? — perguntei, unindo as sobrancelhas.
— ‘Tá vendo? Além de tudo, você é sensata — Tom disse, sorrindo. Passamos um tempo ali sentados no jardim, conversando.
Logo mais, Tobey nos acompanhou e Andrew também veio. Eles brincaram e trocaram carícias, vendo que eram o centro das atenções mesmo sem querer. Fiquei apenas admirando aqueles três homens maravilhosos em minha frente, rindo feito uma boba, pensando o que, em nome de Deus, eu havia feito para ter aquela vista privilegiada que eu estava tendo. Conversamos sobre besteiras de bêbados, com Tobey pegando no meu pé enquanto os dois falavam sobre quem havia cantado melhor, em que Andrew defendia a performance de Tom e Tom defendia a minha performance. Era óbvio que Andrew estava zoando Tom, mas ele não parecia notar, o que deixava tudo muito mais engraçado.
— Você faz outro drink para mim? — perguntou Tom, sorrindo bobo, passando a mão sobre os cabelos.
— Claro. — Creio que eu nunca conseguiria dizer não a este pedido, feito com tanta fofura envolvida.
Levantamo-nos sem chamar muita atenção, deixando Tob e Andrew conversando sobre um grupo de mulheres que estava mais à frente. Tobey sempre me olhando de soslaio para ver minha reação. Fomos até a cozinha, onde já tinha uma tábua com algumas coisas ali que eu havia usado, misturei algumas frutas e fiz uma caipirinha com duas doses de vodca e uma de água para ele. Ele estava ao meu lado, olhando cada passo e cada coisa que eu fazia, como se quisesse aprender. Entreguei a ele o copo, com uma fatia de morango na beirada e ele sorriu em agradecimento. Deu um grande gole na bebida e a colocou de volta na pia.
— Eu vou fazer algo que estou querendo fazer desde a primeira vez que te vi, ok? — ele disse. Aquele sotaque me deixava zonza. Colocou uma das mãos no meu rosto e fechou os olhos, fechei os olhos também, sabendo o que viria em seguida, porém, antes de qualquer coisa, ouvimos um barulho alto da porta de correr se abrindo e nos afastamos rapidamente.
— Ah, sim, eu nem consigo imaginar o que vocês estavam prestes a fazer — Tobey disse, dando uma risada alta. Olhei para Tom e ele estava completamente sem graça, passando a mão sob a nuca. Dei uma risada também. Limpei o canto da sua boca com o dedão, brincando. Tom não sabia se sorria ou se saía correndo.
— Cara, relaxa. Não sou dono de ninguém, minha irmã é bem grandinha. Inclusive, é mais velha que você, então pode muito bem te dar uma surra — falou Tob, colocando a mão no ombro dele, o deixando ligeiramente menos tenso. Tobey pegou uma garrafa d’água e saiu da cozinha, ainda rindo. Tom me olhou, mordendo o lábio inferior.
— Você vai me dar uma surra?
— Se você der motivos para isso... — respondi, rindo, empurrando-o. Ele pegou o copinho dosador que eu estava usando para fazer os drinks, encheu de tequila e tomou um shot, encheu novamente e me ofereceu. O que poderia dar errado? Tomei.
— Vamos cantar mais uma música no karaokê, quero ver o que mais você sabe fazer — ele disse, me puxando pela mão. Aquela tequila desceu queimando. Senti meu corpo ligeiramente mais mole do que de costume. Tom pegou o microfone, o pessoal já o ovacionando enquanto ele procurava a música para cantar. O começo conhecido de Blinding Lights tocou e todo mundo voltou a berrar.
I've been on my own for long enough
Maybe you can show me how to love, maybe
I'm going through withdrawals
You don't even have to do too much
You can turn me on with just a touch, baby
Tom cantou, dando pequenas olhadelas para mim, mas, a maior parte do tempo, estava de olhos fechados. Eu sentia aquela tequila fervilhar dentro de mim e sorri enquanto ele cantava desajeitado aquela música cheia de significados. Jacob aplaudia no ritmo da música no sofá e até vi Andrew no meio da multidão dando risada e aplaudindo o colega. Quando ele terminou a música e todos começaram a aplaudir fervorosamente, corri ao banheiro para ver como eu estava antes de cantar novamente. Meus olhos estavam nitidamente bêbados. Não havia mais batom na minha boca e meus cabelos estavam mais revoltados do que no início da noite. Tirando isso, aparentemente estava tudo certo. Saí do banheiro e Jacob já veio me buscar para que eu fosse a próxima a cantar.
— Gente, eu estou mais bêbada do que deveria, então ignorem as idiotices que eu fizer durante a performance — eu falei ao microfone e todos deram risadas, se divertindo. O início de Kiss Me More de Doja Cat começou a tocar e notei as pessoas animadas com aquilo. Dei uma risada alta ao microfone, sabendo que aquilo seria divertido. Tom me olhava com olhos admirados, mas, no fundo da sala, eu via outro par de olhos tão admirado quanto.
And always just say "Goodnight"
And we cuddle, sure, I do love it
But I need your lips on mine
Na minha cabeça, eu soava exatamente como Doja Cat, mas eu sabia que minha voz estava horrível. A plateia aplaudia no ritmo da música e eu estava animada para continuar aquele absurdo de música que eu tive a coragem de iniciar. Fiz o mesmo de antes e cantei fazendo pequenos passos bobos, apenas para dizer que estava dançando. Às vezes, dava giros e rebolava a bunda, apenas para dar o toque latino que eu sabia que tinha fervendo em meu sangue.
We're so young, boy
We ain't got nothin' to lose, oh, oh
It's just principle
Baby, hold me
'Cause I like the way you groove, oh, oh
Eu jurava que Tom estava mais animado do que deveria com a música. Pensando bem, não era mais do que deveria, a música era simples e a letra era bem direta. Cada pessoa que estivesse ouvindo saberia o que eu queria dizer com aquilo. Não havia outro jeito de esperar que ele estivesse.
Ooh, I love the taste, oh-la-la-la-la
All on my tongue, I want it
Boy, you write your name, I can do the same
Ooh, I love the taste, oh-la-la-la-la-la
All on my tongue, I want it
Terminei a música e literalmente todo mundo gritou junto com Tom, alguns assoviaram e eu fiz uma reverência exagerada, tropeçando.
— Porra, — Tom exclamou mais uma vez, apenas rindo, divertido. — Assim você vai me matar do coração. Meu pobre coraçãozinho não aguenta. Saímos da sala rindo enquanto as pessoas ainda aplaudiam e comemoravam. Tom me puxou para o quarto mais próximo que, na verdade, era um escritório onde Tobey guardava suas estatuetas, prêmios, scripts e esses tipos de coisa. Ele parou em minha frente, me encarando despretensiosamente, e fez algo que deixou meu coração feliz. Segurou meu rosto com as duas mãos e me perguntou:
— Você está bem? — disse, me olhando profundamente nos olhos, tão perto, que eu via suas sobrancelhas bagunçadas fio a fio. Eu estava bêbada, sim, mas não estava alucinando ou a ponto de vomitar e não ter ciência de meus atos. Mesmo assim, achei melhor prevenir.
— Estou, mas, por mais que eu tenha cantado aquela música, não estou bem o bastante para fazer qualquer coisa — expliquei, fazendo sinal, e ele deu uma gargalhada, jogando a cabeça para trás.
— Maguire, você é hilária.
Uni as sobrancelhas, esperando-o se recompor para explicar.
— Como você sabe, faz alguns meses que eu não faço esse tipo de coisa, sabe, por conta da Zen, não podia simplesmente correr o risco de que descobrissem e tivesse uma recepção negativa do filme.
— Ok — respondi, sabendo que vinha mais coisa.
— Então, , quando eu tiver essa chance, quero estar sóbrio, para lembrar de cada momento, sabe?
— Isso é muito sensato — concordei, séria, afinal, em nenhum momento, ele disse que seria comigo. Apenas que queria estar sóbrio. Olha, não seria um esforço tremendo ter que transar com Tom Holland, isso eu posso assegurar. —O álcool dá muitas sensações boas e, infelizmente, perda de memória e arrependimento normalmente também vêm junto — acrescentei e ele riu, colocando as mãos em minha cintura. Pus meus braços em volta do seu pescoço.
— Exatamente por este motivo, transar sóbrio sempre vai ser a melhor opção ou, no máximo, com uma taça de vinho ou duas — explicou e eu concordei.
— Ok, então a minha apresentação anterior não tem nada a ver com o fato de você ter, por acaso, me levado diretamente a um quarto?
— Maguire, o que eu mais quero agora é te levar a um quarto — ele disse, olhando em meus olhos novamente, com as sobrancelhas unidas e um sorrisinho nos lábios. — Eu só preciso saber se você também quer isso enquanto está sóbria. Pois, não sei você, mas eu fico muito mais corajoso quando estou bêbado e tenho medo de que você só esteja afim de mim por causa da bebida. Aquilo era uma pontada de insegurança que eu estava vendo sob aquela linda casca de Tom Holland?
— Em algum momento a gente descobre — pisquei e segui meus lábios ao encontro dos dele, mas, antes que isso acontecesse, Tom se desvencilhou de meus braços e vomitou sobre meus pés.
Capítulo 6
Com certeza, o pior deles era o fato de eu ter cantado uma péssima música, em um péssimo momento, e Tom fucking Holland, tão bêbado quanto eu, ter vomitado restos de comida misturado com bile sobre meu par de tênis preferidos.
— Bom dia, Maguire — ouvi aquele sotaque que eu já amava e meu coração deu um pulo. Abri os olhos, desta vez por completo, procurando de onde a voz vinha, e o vi me olhando pelo espelho do banheiro que dava diretamente de frente para a cama.
— Tom? — perguntei, sentando-me. A pontada na cabeça deu um grito em minha mente. — O que você está fazendo aqui?
Olhei para baixo por instinto: eu estava com o vestido da noite anterior. Mais torto do que deveria, mas menos do que poderia estar.
— Você me pediu para ficar, lembra? — ele riu, com a boca cheia de espuma. — Peguei uma escova de dentes nova que estava na gaveta, tudo bem?
— Na verdade, não lembro — admiti e ele virou o rostinho, sorrindo sem mostrar os dentes, um amor.
— Você ficou preocupada comigo, insistiu para eu dormir aqui e ficar de olho em mim — ele disse, rindo divertidamente.
— Tom, nós... fizemos algo do qual eu possa me arrepender?
— É claro que não, bobinha — ele disse, enxaguando a boca. — Nós tivemos uma conversa sobre isso ontem à noite...
— Disso eu lembro — falei, colocando as mãos nas têmporas.
— Então, sou um homem de palavra — ele estufou o peito, aparentemente orgulhoso por fazer o mínimo, mas não entrei neste mérito, pois ele era realmente legal. Eu podia ser bem rabugenta de manhã, principalmente de ressaca.
Ouvi alguém bater levemente à porta.
— ? — Era a voz de Tobey. — Posso entrar?
— Claro — falei, vendo Tom arregalar os olhos no banheiro e trancar a respiração, como se isso fosse o fazer ficar invisível.
Ele abriu a porta, os olhos tão vermelhos quanto os meus provavelmente estavam.
— Ei, estou indo buscar Ruby e Otis, ‘tá bem? Você conhece algum segredo de café-da-manhã para matar ressaca?
— Posso pensar em algo, também estou precisando — admiti.
— Hey, Holland — Tobey o cumprimentou, rindo, e Tom saiu do banheiro com as mãos entrelaçadas em frente ao corpo e com os ombros caídos, a postura de quem pede desculpas. Tobey fingiu não notar isto.
— Fica para o café, cara, meus filhos estarão aqui logo. Minha filha vai gostar de te ver aqui — disse, completamente de boa. — , vou lá. Beijo.
Tom me aguardou tomar banho e saí do banheiro renovada, apenas com uma dorzinha de leve de cabeça, nada que um litro de água com limão e algum doce não curasse.
Ele me acompanhou também durante a minha preparação de café-da-manhã, em que conversamos animadamente sobre a festa de ontem. Tom era amor, inocência e simpatia, assim como ele aparentava ser nas entrevistas que normalmente aparecia, eu gostava da sua companhia. E ele, aparentemente, gostava da minha.
Fiz limonada suíça, waffles e uma cobertura de brigadeiro mole (minha tentativa de ganhar de vez o coração de Otis), omeletes estilo brasileiro com presunto, queijo e tomates, e cortei algumas frutas que haviam sobrado do dia anterior, fazendo uma salada de frutas.
Quando as crianças chegaram, eu estava terminando de colocar as coisas na mesa, Tobey me ajudou enquanto Ruby não sabia se morria ali mesmo e caía dura no chão ou se corria para abraçar Tom com todas as forças.
— Papai! Você podia ter me avisado! Estou parecendo uma bruxa! — ela disse, visivelmente indignada. Ela usava um vestido preto com alças regata com uma blusa de lã branca por baixo e, nos pés, um tênis colorido lindo. Estava muito estilosa e Tom gargalhou, abrindo os braços para recepcioná-la. Vi que Tobey agradeceu com os olhos enquanto ela o abraçava com força, ele com certeza ganharia pontos com ela por Tom estar ali.
Otis, por outro lado, estava mais admirado com os pratos que eu havia feito, me abraçou, me beijou e perguntou tudo o que eu havia feito. E já começou a se servir sem dar muita moral a Tom. Achei engraçado o fato de ele e Ruby serem tão parecidos e tão diferentes ao mesmo tempo, era nítido o fato de que Otis gostava muito mais de mim do que ela, mas eu culpava as suas idades mais do que tudo.
Todos comeram com avidez, o que me deixava sempre muito feliz. Minha dor de cabeça foi embora com os waffles com calda de brigadeiro e a limonada, sendo assim, nem precisei tomar um remédio para ficar 100 % bem.
Conversamos um pouco sobre como foi a semana dos dois, Ruby sempre puxando assunto com Tom e perguntando a opinião dele, que foi extremamente amável em todas as respostas. Ele sabia lidar com crianças e, principalmente, com fãs.
Otis contou da sua semana, intercalando assuntos sobre os novos jogos do PlayStation 5, coisa que eu não conhecia muito, mas fingi interesse em tudo que ambos falavam, Tobey fazia o mesmo, assim como Tom, que hora ou outra eu pegava olhando de soslaio em minha direção. Porém, depois de meia hora, ele levantou-se, avisando que ia embora. Tobey me cutucou para levá-lo até a porta.
— Então, irmã Maguire, obrigado por me aturar bêbado ontem à noite — disse ele quando chegávamos à porta. — E, Deus, me desculpe pelo vômito, prometo que vou te recompensar por isso e vou te dar um par de tênis novos.
— Eu quem agradeço. Eu não estava muito diferente de você — admiti e ele sorriu de lado, fazendo meu coração se derreter.
— Você está afim de jantar hoje? Uma coisa mais calminha e possivelmente menos carregada de álcool? — Estalou os dedos da mão, de maneira ligeiramente nervosa. Eu achava realmente fofo o fato de ele ficar nervoso com esses pequenos gestos, me faziam lembrar que eles também são tão humanos quanto eu.
— Claro. Desde que você me prometa que não terá um karaokê — brinquei e ele sorriu novamente, como ele estava com o sorriso frouxo hoje.
— Prometo — disse, fazendo uma cruz sobre o coração. — Te pego às sete? — perguntou, mordendo o lábio inferior e arqueando as sobrancelhas.
— Perfeito — falei, sorrindo. Notei que ele queria ir embora, mas estava se segurando para sair. Será que Tom Holland, o cara mais amável da América no momento, estava envergonhado a ponto de não saber me beijar em uma despedida? Os sinais estavam ali, o sorriso sem graça, os olhos mirando o chão, os pés inquietos e alguns olhares furtivos aos meus lábios. Eu sabia que era uma mulher que podia fazer aquilo. Por esse motivo, dei um passo em sua direção, segurei seu rosto delicadamente, fazendo-o olhar para mim e colei nossas bocas.
Foi um selinho, apenas. Separei nossas bocas e ele sorriu, soltei seu rosto.
— Até mais tarde — ele disse, ainda sem perder o sorriso completo que mostrava todos os seus dentes, ele estava radiante. Abriu a porta e saiu, dando uma olhadela para trás e abanando a mão. Eu sorri e devolvi o aceno.
Meu Deus. Nesse momento, a ficha caiu. Encostei minhas costas na porta e deslizei até o chão: eu estava há duas semanas nos Estados Unidos e já havia beijado Andrew Garfield e Tom Holland. Eu estava começando a acreditar no que Tobey vivia me dizendo e meu coração disparou, quase saindo pela boca. Não era humanamente possível que eu, , uma mulher adulta, de classe média, que vive com um gato chamado Jacquin, tem um carro popular financiado e uma casa simplória no sul do Brasil estava realmente encantando os dois homens mais populares do momento, certo? Uma pessoa absolutamente normal... Ok, eu não me considero feia, estou com tudo em cima, vou para a academia periodicamente, cuido da minha alimentação e faço todos os self-cares possíveis com meu rosto, meu cabelo e minha pele, mas, ainda assim, me considero uma pessoa normal. Tobey deixou claro que o fato de eu ser uma pessoa que eles podiam confiar, que não ia pular em cima deles por serem famosos, e que, provavelmente, não faria escândalos como bater uma foto nossa transando para lançar na internet podia muito bem ter influenciado o fato de eles terem gostado mais de mim do que de qualquer outra garota. Talvez, meu charme brasileiro possa ter ajudado, porém gosto de pensar que foi única e exclusivamente por conta de eu ser irmã de quem sou e tenho um passe de credibilidade embutido.
— Tia ! Você saiu com OS DOIS? — Ruby praticamente gritou da cozinha, me fazendo pular de onde eu estava, saindo do meu devaneio.
Voltei para a cozinha e vi Tob segurando o riso, enquanto Otis ainda comia, sem dar muita bola para o fato de eu ter saído com os dois. Tecnicamente, eu não havia saído com Tom, mas não entrei nesse mérito.
— Oi? — Me fiz de desentendida. Ruby me espreitou com seus olhos azuis sagazes.
— Você já ficou com Tom E Andrew? Isso é tão injusto! — ela disse, cruzando os braços com um beiço que eu poderia tropeçar.
— Quem te disse isso? — perguntei, tentando, de maneira alguma, transparecer minha indignação que poderia ser confundida com culpa no cartório.
— Papai.
— Ei! Não me meta nisso, só te falei que Tio Drew e Tio Tom estavam apaixonados pela sua Tia — ele disse, levantando as mãos, se defendendo.
— Meu Deus, Tobey! — falei rindo. — Agora estão apaixonados? Cada dia que passa você inventa uma coisa nova. Eles me conhecem há duas semanas, não estão apaixonados por ninguém. Tom terminou o namoro dele faz dois dias! — Respirei fundo. — Querida, não escute essas besteiras do seu pai.
Ela pareceu aliviada e, na verdade, eu não sabia muito bem o motivo de todo aquele auê, mas eu não a culpo, pois, na sua idade, eu queria me casar com Danny Jones. Na verdade, com qualquer um dos integrantes do McFly, mas Danny sempre foi meu preferido. E eu também ficaria indignada se minha tia simplesmente estivesse saindo com Danny e Dougie ao mesmo tempo, sem motivo aparente.
Aguardei meus sobrinhos irem para a sala para contar a Tobey que Tom havia me convidado para jantar.
— Como você se sente com tudo isso? — perguntou, juntando os pratos na mesa, me ajudando a colocar tudo no lugar.
— Honestamente, não sei — suspirei, olhando em seus olhos azuis.
— Eu quero que, no mínimo, você esteja confortável. Não quero você aceitando ir jantar com ele por ele ser o Tom Holland, sabe? Se você não quiser, não se sinta pressionada a aceitar — ele disse, levando os pratos até a lava louças.
— Sim, eu entendo. Creio que estou confortável com isso. Só estou com medo de estragar alguma coisa, para você ou para ele — expliquei e ele pareceu entender.
— Você diz estragar nossa imagem ou algo assim? — Ele cruzou os braços, encostando-se na bancada.
— Sim. Tenho medo de fazer algo que possa prejudicar vocês.
— — Tobey disse, rindo —, eu tenho vídeos e mais vídeos na internet falando palavrões absurdos aos paparazzis, fumando maconha e mais alto que uma pipa. Gente famosa só faz merda, já caí em cada roubada com o Leo, que nem quero entrar em detalhes. É sério, relaxa, não vai ser minha irmã mais nova com uma carreira de cozinheira famosa em ascensão que vai prejudicar minha carreira ou a de Tom.
— Leo DiCaprio? — perguntei, sorrindo, e mordendo os lábios.
— Sim... — ele disse, distraído, e depois arregalou os olhos. — NÃO! Ele está fora de cogitação.
— Ah, Tob, eu largava o Tom e o Andrew para ficar com o Leonardo DiCaprio — brinquei, mostrando a língua, e ele empurrou meus ombros.
— Você é louca! Louca E insaciável — Tobey disse, unindo as sobrancelhas, dando uma gargalhada.
— Não posso fazer nada se todos os seus colegas de trabalho e amigos são lindos e famosos — dei de ombros.
— E são caidinhos por ti... — continuou ele. — Leo com certeza estaria caidinho por você também, você é o exato tipo dele: jovem, linda e ingênua.
— Olha só, mais um motivo para você me apresentar a ele — adicionei e ele deixou escapar mais uma risada.
— Você está impossível hoje — disse ele. E mudou de assunto: — O que acha de um almoço piquenique?
— Acho uma ótima ideia, o dia está lindo. — Não estava frio como eu achei que estaria em toda a minha estadia ali.
Avisamos as crianças que faríamos um piquenique e nenhum dos dois mostrou muita empolgação, mas isto não abalou nossa vontade. Pedi a ajuda de Otis para preparar uma cesta com comida enquanto Tob pediu a ajuda de Ruby para escolher alguns jogos para levarmos. Meia hora depois, estávamos com tudo pronto para irmos. Usei meu novo óculos em forma de coração e Tobey também, enquanto as crianças nos olhavam estranho. Quando chegamos ao parque Griffith, as crianças pareceram ficar mais animadas por conta do telescópio que havia dentro do prédio principal que eu, obviamente, não sabia da existência.
Esticamos no chão uma grande toalha xadrez que eu não tinha ideia do por que Tobey tinha em sua casa. Ruby sentou-se ao meu lado, observando Tobey e Otis jogarem bola, e logo pediu meus óculos emprestado para fazer selfies.
Bati uma foto dos dois brincando no meu celular e fiz um storie no meu Instagram, em seguida, bati uma foto da cesta, aberta, mostrando as frutas que estavam dentro e boa parte da toalha xadrez. Ficou uma foto conceitual linda que mais tarde eu postaria.
Perguntei o que Ruby fazia no celular e ela me mostrou um pouco do Tiktok, coisa que eu não tinha, pois achava que não tinha mais idade para tal. Demos risadas de algumas coisas bobas e Ruby entrou em seu próprio Instagram para batermos selfies com filtros bobos também, ela me seguiu e a segui de volta. Eu sentia que a tecnologia e redes sociais estavam me ajudando a entrar naquele coraçãozinho mais difícil de penetrar. Ruby olhou todo o meu perfil e perguntou de algumas fotos no Brasil. Entramos em uma conversa legal sobre hábitos brasileiros e lugares que ela poderia conhecer no futuro, então aproveitei a deixa para convidá-la a ir para lá, Ruby adorou a ideia e disse que ia convencer a sua mãe a deixá-la passar as férias lá.
Notei que outra pessoa havia me seguido naquele momento e mostrei à Ruby que Tom Holland tinha me seguido no Instagram. Ela deu um mini ataque.
— Ele meio que me convidou para jantar com ele hoje, você acha que devo ir? — perguntei, querendo saber da sua reação. Ela abriu a boca e empurrou meu ombro.
— Oi? Que tipo de pergunta é essa, tia ? É o Tom Holland! É claro que deve ir, eu iria, se fosse comigo. — Foi honesta. Não consegui decifrar se estava, de algum modo, decepcionada ou com ciúmes.
— Você me ajuda a escolher a roupa que devo ir? — perguntei novamente, vendo que ela ficou feliz em ter essa opção.
— Claro, você tem que estar maravilhosa! Meu deus, eu estou surtando, sabia? Achei que fosse ficar com ciúmes, mas, no fundo, eu sei que sou muito nova para ele... — disse ela, rindo e tampando o rosto.
— Olha... Hoje, com certeza, você é muito nova, mas tenho que te dizer que Andrew Garfield é uns dez anos mais velho do que eu — arqueei as sobrancelhas e ela abriu a boca.
— Tia, o papai estava dizendo a verdade? Você realmente saiu com os dois?
— Shhhh. Podem ter paparazzis aqui com o dom da leitura labial — falei, tapando sua boca com a mão. Ela riu, se divertindo, vi que sua risada chamou a atenção de Tobey e Otis, que se uniram a nós. Comemos sanduíches de frango com maionese que eu e Otis preparamos e de sobremesa tinha morangos com suspiro. Ensinei-os a jogar pife (cacheta), depois brincamos com um jogo que era algo muito parecido com Imagem & Ação. Foi um momento genuíno em família e eu quis bater algumas fotos com a nova polaroid, pois sei que minha mão adoraria ver aquele momento, então batemos várias fotos, fazendo poses, caretas e rindo como um bando de idiotas. Foi um dia gostoso.
No final da tarde, Ruby cobrou nossa ida para casa, já que tinha um trabalho a fazer: me ajudar a escolher uma roupa para o meu jantar com Tom. Juntamos nossas coisas e seguimos para a casa de Tobey.
Em casa, deixei Ruby analisando minhas roupas, enquanto fui tomar banho novamente. Saí do quarto de roupão e vi que tinham seis combinações diferentes de roupas espalhadas pela cama. Ruby se ofereceu para fazer um penteado no meu cabelo para fazermos um Tiktok com todas as combinações de roupas e deixar que seus seguidores decidissem qual roupa eu deveria usar. Aceitei. Não podia perder aquela oportunidade de me vincular com minha sobrinha adolescente, por este motivo, sentei-me no chão enquanto ela sentava sob a cama, atrás de mim, com pentes, escovas e prendedores de cabelo. Ela mexia em meu cabelo enquanto eu me maquiava como sempre: estilo amador; fiz um delineado estilo gatinho que só pegava no finalzinho dos olhos, passei uma dose moderada de blush e, nos lábios, um gloss com muito glitter furta cor. Ruby fazia dois coques na parte de cima da minha cabeça e deixava metade dos cabelos soltos na parte de trás.
As roupas que ela havia separado variavam de vestidos floridos com sandálias altas, até calça jeans com cropped de lã. Filmamos todas as roupas, fiz dancinhas e demos tantas risadas que Otis e Tobey vieram até o quarto para ver qual era o motivo da risada. Como levava tempo para editar o vídeo, deixamos os meninos escolherem o look que foi unânime: um macacão de um tecido molinho, com cortes estratégicos abaixo dos seios e na mesma região das costas, onde a parte de baixo do macacão se mantinha presa apenas pelas laterais do meu corpo, e, nos pés, uma sandália de salto médio com tiras grossas e coloridas. Eu fiquei ótima com a escolha, já que era chique o bastante para um lugar mais fino e despojado o suficiente para ir em um lugar mais simples. Elogiei Ruby e lhe avisei que tinha bons olhos para aquilo, que deveria investir mais em moda, e ela ficou lisonjeada.
Tobey pediu uma pizza para eles enquanto eu aguardava a chegada de Tom. Meu coração palpitava descompassado enquanto eu fingia estar calma, dei uma olhada nas redes sociais e vi que muita coisa rolava entre a fanbase do novo filme do Homem-Aranha, havia muitas colagens com músicas apaixonadas e fotos minhas com Andrew na première de Tick, Tick, Boom... Uma delas era a foto dele beijando meu ombro, vídeos de nós dois rindo e cochichando um no ouvido do outro, em outra, nós estávamos negando uma pergunta sobre sermos namorados e depois nos olhando nos olhos. Ainda era esquisito me ver assim, em terceira pessoa. Não consigo entender como eles acham isso normal, às vezes minha memória confundia a realidade com as montagens e acabava ficando impossível não “shippar” Magarfield.
Outras eram colagens com fotos de hoje à tarde, que já tinham caído na internet: Tobey, seus filhos e eu, nos divertindo como pessoas comuns. Não consigo entender a fissura que as pessoas tinham de fotografar este tipo de coisa. Vi alguns vídeos de entrevistas de Tom e Zendaya, ainda desacreditada que era um amor falso.
Ouvi quando um carro estacionou e logo havia alguém batendo à porta. Abri-a com um sorriso e encontrei um Tom absolutamente encantador, com um suéter de gola alta e os óculos que usou no dia da première, estava lindo e sorriu assim que me viu.
— Só um minuto, vou avisar que estou indo — falei, apontando o dedo na direção da cozinha. Ele acenou com a cabeça.
Dei um beijinho na cabeça de cada um. Mas Tob me chamou antes de eu sair e cochichou no meu ouvido:
— Não faça nada que eu não faria ou que você não faria no Brasil, ou que decepcione a sua mãe. — E beijou meu rosto carinhosamente, como meu padrasto faria.
— Pode deixar.
Tom abriu a porta do carro para mim e deu a volta para entrar do outro lado, informou o local ao motorista e seguimos.
— Você está linda — disse de forma absolutamente carinhosa.
— Obrigada, foi a Ruby que escolheu a roupa e fez meu penteado — falei e sorri de boca fechada, tentando ser tão fofa quanto ele.
— Eu tenho certeza de que qualquer coisa que você vestir ficaria ótimo, mas ela escolheu muito bem. — Ele mexeu nos cabelos, algo que eu já havia notado que ele fazia quando estava ligeiramente nervoso.
— Chega de me deixar sem graça, Tom — falei, rindo, lambendo os lábios, e ele riu.
— Ok, desculpa — disse. — Você sabe dirigir? — Mudou de assunto para não ficar o silêncio constrangedor.
— Sim, mas só carros manuais. Nunca tentei dirigir carros automáticos — expliquei e ele ficou maravilhado.
— Nossa, então você deve andar igual o Toreto! — A animação nos seus olhos era contagiante.
— Não — dei risada. — Eu dirijo normalmente, no Brasil é muito mais comum carros manuais do que automáticos, então não é como se eu soubesse algo a mais que os outros — expliquei. — Mas acho que consigo me virar com um carro automático em uma emergência.
— Entendi. Eu só sei dirigir carro automático e do outro lado da estrada. Não consigo andar na América. No Brasil é igual aqui, certo?
— Sim, isso é algo que não estranhei quando vim para cá. Mas tem bastante coisa cultural que é diferente. Não sei se conseguiria ficar aqui por muito tempo — admiti. — Estou com saudades de casa, principalmente de falar português. É muito difícil ficar traduzindo tudo na sua cabeça, buscando palavras para conseguir se expressar — desabafei e ele concordou com a cabeça.
— Eu já faço um esforço fodido para conseguir fazer meu sotaque americano, fico pensando em falar em outra língua. Deve ser absurdo — ele disse e eu sorri pela sua compaixão.
O carro estacionou em uma rua completamente escura, o encarei com as sobrancelhas unidas.
— Você me trouxe aqui para me matar, Tom? Logo você? — brinquei e ele riu, jogando a cabeça para trás.
— Não, pode ficar tranquila. Prometo que você vai ficar bem — disse, abrindo a porta do carro e saindo para abrir a minha. Desci do carro. De salto, eu ficava pouca coisa mais alta do que ele, Tom parecia não se importar com isso, não depois de namorar Zendaya por meses.
Ele me levou até uma porta branca grande, empurrou-a, pois não haviam trincos, e já reconheci o lugar como sendo o depósito de uma cozinha. Estávamos entrando na cozinha de algum restaurante, sinal de que ele queria privacidade e, provavelmente, conhecia o proprietário do lugar. Ele me guiava ao meu lado, com sua mão tocando a parte descoberta de minhas costas. Passamos por mais duas portas de empurrar antes de chegarmos à cozinha do local. O lugar era majestoso, uma cozinha digna de um restaurante magnífico. Tudo muito bem cuidado, o chão impecável, as bancadas limpíssimas e todos os cozinheiros muito bem organizados, o cheiro encheu minha boca d’água.
Tom parou ao meu lado, vendo que eu estava maravilhada com o local, e me deu um segundo para admirar, tinha um cozinheiro fazendo alligot em uma panela, que dava vontade de mergulhar dentro de tão sedoso. Em outro canto, uma cozinheira cortando medalhões de mignon e, em outra bancada, um garoto cortando talos perfeitos de aspargos. Tudo estava em ordem e em uma coordenação que enchia meu peito de admiração. Havia mais outros três cozinheiros que não consegui analisar o que faziam, mas, no momento, ninguém estava fazendo nenhum prato, apenas preparavam as coisas para iniciar os chamados dos garçons.
Tom seguiu até o chef e o cumprimentou, sorrindo.
— , esse é Tomás, o chef desse restaurante. Ele é um grande conhecido dos famosos aqui e já tem um cantinho reservado aqui na cozinha para quem não quer a intromissão de paparazzis — disse e piscou para o chef que me cumprimentou, apertei sua mão com força. — É mais comum do que você pensa.
— É um prazer imenso — falei, encantada com o homem. Ele não parecia ser muito mais velho do que eu, mas, com certeza, tinha uma bagagem absurda para comandar um lugar como aquele.
— Tomás, essa é , ela é uma cozinheira lá no Brasil — Tom me apresentou e o homem charmoso sorriu para mim.
— Eu pude notar que seus olhos entendem o que está acontecendo aqui — ele disse, com um sotaque que não consegui desvendar de primeira, eu não era muito boa com sotaques.
— Entendem muito bem. Sou sous chef em um restaurante no sul do Brasil — eu expliquei e ele ergueu as sobrancelhas, sorrindo.
— Que elegante, sous chef — ele disse, não notei maldade em seu elogio. — Quer dar uma voltinha na cozinha, então? — ofereceu com simpatia.
— Claro! — eu disse, absolutamente animada, e Tom riu da minha reação.
Tomás nos ofereceu lencinhos no estilo bandana e Tom não sabia o que fazer com eles. Passei o meu por baixo do meu cabelo solto e dei um nozinho atrás nos meus coques frontais, ele entendeu que era para amarrar na cabeça para não cair cabelo na comida. Fez o mesmo, mas com o nó virado para a nuca.
Seguimos Tomás pelas bancadas, cada uma mais organizada do que a outra, explicou que o restaurante tinha acabado de abrir e seus cozinheiros estavam atrasados com o mise en place, por conta do pedido de última hora de Tom, mas que eles não o deixariam na mão. Enquanto os garçons faziam os pedidos, eles estavam colocando tudo em ordem. A bancada das saladas já estava em perfeita harmonia, as proteínas já estavam cortadas e variavam entre medalhão de mignon, cogumelos, carré de cordeiro, lagosta e magret de pato e foie gras. Os acompanhamentos eram outro show à parte, lindos caldos, purês sedosos, risotos cremosos e uma sopa de ervilha que brilhava em um tom de verde perfeito. Tudo era lindo, parecia uma sinfonia, meus olhos brilhavam, minhas mãos coçavam e minha boca salivava. A organização da cozinha, a coordenação dos cozinheiros, tudo era maravilhoso de se ver. Era incrível. Terminamos o tour e eu e Tomás estávamos animados em uma conversa sobre as diferenças de cultura entre os restaurantes, não em limpeza, mas na disposição dos lugares e pratos, Tom apenas nos observava, curioso. Terminamos nossa conversa animados um com o outro e Tom nos guiou para nossa mesa reservada no canto da cozinha, onde a iluminação era mais fraca e aconchegante.
— Uau, você entende mesmo de cozinha — ele disse, sorrindo, enquanto tirava a bandana da cabeça. Fiz o mesmo.
— É o meu trabalho Tom, é a mesma coisa que eu ficar admirada com você enquanto contracena com alguém — respondi e ele concordou.
— Ok, é só que dá para ver que você ama isto. Está nos teus olhos o tempo inteiro. Confesso que fiquei com medo de te trazer aqui, porque talvez você ficasse tipo “meu deus, já não basta todos os dias de trabalho, no lazer tenho que vir aqui também”... — ele imitou meu sotaque com maestria e eu caí na gargalhada.
— Você me imitou muito bem! — expliquei e ele riu também. — Mas, então, eu ficaria assim se você estivesse me levando ao restaurante que eu trabalho, sabe?
— Entendi, entendi. Fico feliz que você tenha gostado — ele sorriu, sincero, e eu o acompanhei.
Um garçom apareceu com uma garrafa de vinho, informou que era o melhor da sua coleção e nos serviu. Brindamos e tomamos um gole cada.
— Então, , me conte mais sobre você — falou, virando um pouco o rosto, estreitando os olhos como se estivesse desvendando um enigma.
— O que você quer saber? — perguntei, tomando mais um gole daquele vinho maravilhoso e lambendo os lábios em seguida, ele me seguiu com os olhos.
— Sobre a sua vida, eu só sei que você é brasileira, cozinheira e irmã de Tobey Maguire — explicou ele, arqueando as sobrancelhas.
— Bom, por onde eu começo? — Fiquei perdida. — Eu moro no sul do Brasil, minha mãe era garçonete quando conheceu o pai de Tob, eles ficaram lá até eu fazer quatro anos de idade, tive uma infância bem humilde e fiz o possível para recompensar minha mãe quando cresci, trabalhei como garçonete, assim como ela, para conseguir pagar minha faculdade e consegui uma boa oportunidade como trainee durante um estágio. Depois disso, as coisas melhoraram bastante... — falei, tomando mais um gole de vinho. Tom prestava atenção nas minhas palavras. Ele tinha os braços cruzados sobre a mesa e seu rosto estava levemente inclinado para a direita, mania esta que notei que ele tinha o hábito de fazer.
— Sua mãe permaneceu solteira depois do pai de Tob? — perguntou ele, também tomando um gole do vinho.
— Não, ela se casou com Pedro alguns anos depois e, bom, eu o considero meu pai. Ele esteve presente em muitos momentos da minha vida inteira e sou eternamente grata por minha mãe o ter encontrado para compartilhar a sua vida. Eles são feitos um para o outro — falei, sorrindo. Peguei meu celular e mostrei uma foto dos dois para ele, que os achou adoráveis. — Você mora sozinha lá?
— Moro. Na verdade, não, moro com meu gato Jacquin — falei, dando uma risadinha pelo nariz e ele sorriu.
— Você tem um gato? Eu adoro gatos, prefiro cachorros, mas gatos são demais! — Ele pegou o seu celular e mostrou sua foto de proteção de tela: ele abraçado com um cão lindo todo cinza com o peito branco.
— Meu Deus, que coisa mais linda! — falei, pegando seu celular para analisar melhor a foto.
— O nome dela é Tessa — ele disse, orgulhoso.
— Ela é linda. Adoro cães, mas não gosto de tê-los, prefiro o dos outros — falei, devolvendo seu celular e tomando mais um gole de vinho.
— Nossa, isso é maldoso — ele disse, escondendo o celular como se estivesse ofendido.
— Não é maldoso, é a verdade. Gosto de pensar que tenho uma identidade que se identifica mais com gatos. Você é, sem sombra de dúvidas, uma personalidade de cão — falei simplesmente, ele abriu a boca para contestar, mas deu de ombros.
— Você está certa, eu sou uma pessoa-cão.
O garçom se aproximou, pedindo licença, e nos entregou o menu, Tom correu os olhos pelo menu e pediu a Opção 1 do cardápio, que seguia uma linha mais contemporânea. Desta vez, pedi a opção mais clássica e confesso que foi apenas porque a sobremesa era Petit Gâteau e eu estava precisando desesperadamente de um chocolate.
Continuamos conversando sobre nossas vidas pessoais, ensinei algumas palavras em português a ele: vinho, taça, cachorro, gato e croissant (que ele me explicou ser uma sina com seus fãs) e até o convenci a adotar um gato de rua quando voltasse à Londres, coisa que ele só aceitou com a condição de que eu fosse um dia lá conhecê-lo.
Ele me perguntou meus livros preferidos, meus músicos preferidos, minhas cores preferidas e comidas. Eu descobri que ele era disléxico, morava perto da sua mãe, que dançava desde os 5 anos e que seu pai era um comediante famoso na Inglaterra.
A entrada chegou e ele decidiu bater uma foto para postar nos stories do Instagram, informando que gostava de deixar os fãs curiosos.
A comida daquele restaurante era a melhor coisa que eu havia comido desde que cheguei aos Estados Unidos e deixei isto bem claro a Tom e Tomás quando estávamos de partida. Tom não parava de sorrir desde que dividimos o Petit Gâteau e eu realmente estava começando a achar que era apenas a felicidade de poder sair com quem ele quisesse e onde ele quisesse, era uma felicidade genuína que me divertia. O garçom nem sequer trouxe a conta, Tom apenas levantou-se da mesa quando terminamos e estendeu a mão até mim, para que eu o acompanhasse.
Tomás despediu-se de nós com apertos de mão calorosos e uma promessa de que iria me chamar para cozinhar um dia com ele. Eu apenas aceitei, sabendo que não iria acontecer, pois aquele tipo de coisa não acontecia com garotas como eu.
Seguimos até o carro, com Tom falando sobre como ele estava com a barriga cheia, me fazendo gargalhar.
O motorista guiou-nos pela cidade que estava linda, admirei as palmeiras na avenida principal de Beverly Hills enquanto o rádio tocava alguma música do Shawn Mendes.
— Como você está se sentindo? — perguntei, depois de um momento em silêncio entre nós.
— Feliz, satisfeito, livre. — Ele escolhia uma palavra e acabava mudando de opção logo em seguida. Dei uma risada. — É bom sair com uma pessoa que você não está saindo só por conta de um contrato.
— Fico lisonjeada de saber que fui a escolhida para tal momento — brinquei e ele riu, fechando os olhos e fazendo sinal de negativo com a cabeça.
— É aí que você se engana, você não entendeu nada, — respondeu ele e uni as sobrancelhas, o encarando. — Foi você que me escolheu, você só não sabe disso ainda.
Eu não sabia como responder aquilo, na verdade, eu nem sequer tinha entendido muito bem o que ele quis dizer, porque, quando ele o disse, seus olhos estavam completamente colados em minha boca e a única coisa decente que consegui pensar foi que minha boca ainda tinha gosto de chocolate, o que poderia ser uma boa opção para um beijo com Tom Holland.
Por este motivo, aproximei-me dele, seus olhos castanhos queimavam minha pele, de tamanha intensidade; lambi meus lábios e ele sorriu mais uma vez. Uma de suas mãos acariciou meu rosto e eu acompanhei seu sorriso enquanto seu rosto vinha de encontro ao meu. Nossas respirações se misturaram quando ele falou:
— Seus olhos são incríveis. — E colou nossas bocas de maneira calma. Tenho quase certeza de que minha língua o assustou por um milésimo de segundo, eu sempre esquecia que o beijo de língua não é natural em todo o mundo. De qualquer maneira, ele me acompanhou, sua mão desimpedida seguiu até minha cintura, tocando minha pele exposta pela abertura da minha roupa. Coloquei uma de minhas mãos em sua nuca e puxei seu cabelo de leve, ele suspirou alto:
— Porra, , não faz isso comigo. ‘Tô na seca tem um tempão — admitiu, rindo, e dei uma risada alta antes de voltarmos a nos beijar. Desta vez o beijo ganhou intensidade, sua língua se misturou com a minha com muito mais facilidade e sua mão pressionava minha cintura enquanto a outra seguia para minha nuca, onde a pressão exercida ali me fazia virar os olhos nas órbitas. Seus lábios se encaixavam perfeitamente nos meus e, hora ou outra, Tom mordiscava os meus, me fazendo delirar. Seu cheiro já podia ser anotado em minha mente como motivo de perigo e seus braços fortes pareciam um imã para as minhas mãos, que adoraram passear por ali e em seu peitoral bem definido. O beijo ganhou cada vez mais intensidade e eu podia jurar que até os vidros estavam embaçando por conta do calor que fazia ali dentro. Suas mãos já se sentiam livres para passear da minha cintura para minhas pernas, as minhas mãos bagunçavam tanto seu cabelo que qualquer um saberia o que estávamos fazendo ali, inclusive, achariam que foi mais do que o que realmente fizemos. Separávamos o beijo sem fôlego, porém já juntávamos nossas bocas novamente, como um casal de adolescentes que não tinha muito tempo para perder, pois, a qualquer momento, o carro iria parar. Foi o que aconteceu logo depois.
Sentimos o carro parar, no que supus ser a frente da casa de Tobey, e Tom acariciou meu queixo antes de me dar um selinho de despedida.
— Obrigada pela noite, Tom, me diverti muito — falei, com sinceridade, e ele sorriu abertamente.
— Eu também me diverti muito, obrigado por me fazer companhia — disse, sem tirar o sorriso do rosto, o que eu achei extremamente adorável.
Saí do carro e entrei no portão, sentindo seu olhar em minhas costas, e acenei da porta quando meus olhos se encontraram com os dele a última vez naquela noite.
Capítulo 7
Meus pensamentos varreram os acontecimentos da noite anterior e eu sorri antes de responder:
— Foi ótimo, me diverti bastante. — Ele pareceu analisar meu sorriso antes de sentar-se.
— Hmm, e você já tem um preferido? — perguntou maliciosamente, eu podia sentir o seu tom de deboche.
— Do que você está falando? — Me fiz de desentendida, mesmo sabendo que aquilo não iria funcionar.
— Ah, você sabe, se ambos te convidassem para sair hoje, com qual deles você iria? — perguntou, levando sua xícara de café fumegante até a boca, com seu sorrisinho cínico ainda nos lábios.
— Não vou te dar esse gostinho, Tob, nem comece. Você sabe que estou apenas aceitando as oportunidades que a vida está me dando — o respondi e ele concordou com a cabeça. — E você sabe também que a minha preferência, em primeiro lugar, é sempre você.
Tobey riu, mas pude ver em seus olhos que ele gostou da resposta e seu ego inflou um pouco antes de continuar:
— Mudando de assunto, você vai querer ir ao programa do Jimmy Fallon esta semana? Lembra que comentei contigo no dia da festa?
Eu não era a maior fã de programas de auditório e entrevistas, pelo menos não daquele estilo que não tinha um conteúdo realmente relevante e era mais para matar o tempo, mas realmente gostei do convite. Eu nunca havia ido a um programa de TV, muito menos com plateia e menos ainda acompanhando pessoas famosas, então com certeza seria algo que eu teria a possibilidade de riscar da minha lista de coisas a fazer.
— Claro que sim! Meu Deus, que pergunta besta. Quando será?
— A gravação é amanhã, não lembro quando o programa vai ao ar. Mas minha agente me avisou, eu só esqueci mesmo — ele disse, dando de ombros.
— AMANHÃ?! — perguntei, quase me engasgando com a uva que havia colocado na boca.
— Sim, aparentemente Kendall e Kylie Jenner cancelaram a presença em cima da hora e eles anteciparam a nossa ida, que convém muito com a agenda dos dois britânicos que teriam que ir e voltar do Reino Unido para cá por causa desse talk-show. E acabou que você ainda está aqui, então deu tudo certo — ele disse tranquilamente, como se aquilo fizesse parte do seu dia-a-dia: essas mudanças de calendário em cima da hora. E realmente fazia, ele apenas ia seguindo o fluxo que sua agente planejava.
— Mas o que devo vestir? Não faço ideia do que usar em um evento assim, nunca tive o hábito de assistir muitos talk-shows para saber o que usar. Muito menos um do Jimmy…
— , relaxa. Hoje a gente vai atrás de algo para você usar, não se preocupa com isso — ele disse, rindo do meu desespero.
A verdade era que não era só aquilo que estava me preocupando e, sim, o fato de ter que lidar com Tom e Andrew ao mesmo tempo e, desta vez, eu já havia me envolvido com os dois. Ok, foi só um beijo de ambas as partes, mas porra! Minha vida ainda estava de cabeça para baixo e aquilo ali não ajudava em nada. Eu sei que não devo nada a ninguém e é só tratar os dois igualmente sem problema algum, mas eu nunca fiquei com dois caras ao mesmo tempo, não sei como isso funciona. E se Tom decidisse me cumprimentar com um selinho?! Eu não sei o que se passa na cabeça dele e obviamente ele não faria isso, mas… e se o fizesse? Meus pensamentos foram longe enquanto eu comia o mix de frutas vermelhas que estava em minha frente, tão longe que Tobey teve que me puxar de volta.
— Não me diz que você está pensando em como vai lidar com os dois ao mesmo tempo? — ele disse, rolando os olhos dramaticamente. Soltei um risinho nervoso pelo nariz.
— Eu não… — tentei me defender, mas ele me interrompeu novamente.
— , respira. — Sua voz era calma e leve. — Você não deve nada a nenhum dos dois. Eu não sei até que ponto vocês foram, mas isso não torna vocês propriedades uns dos outros. Se foi só beijo, aí mesmo é que você não tem que se preocupar. Os dois sabem que você não vai ficar aqui para sempre e só querem aproveitar os momentos de vocês juntos e eu imagino que você pense o mesmo — ele disse de forma que pareceu aguardar a minha confirmação e eu concordei com a cabeça. — É sobre isso, você não é uma propriedade e você não tem que se preocupar em como eles vão reagir, já que vocês são todos adultos. Tenho minhas dúvidas se já posso considerar Tom um adulto, mas, se você não tem um problema com isso, não sou eu que terei — ele disse por fim.
— Ok, Tob, obrigada por me acalmar. Você sempre me dá esses sermões que me deixam com a consciência menos pesada — admiti, rindo, e ele riu junto.
— É o meu papel de irmão mais velho e, convenhamos, sou eu que estou te colocando nessa emboscada, então nada mais justo do que eu tentar te ajudar a sair disso. — Deu de ombros. Terminamos de comer e continuei contando a ele mais detalhes sobre a noite anterior.
À tarde, Tobey me levou à uma loja para escolher uma roupa para o programa, segundo ele, o entrevistado devia ir com uma roupa mais produzida, mas que o pessoal da plateia podia ir com uma roupa simples. Como havia a possibilidade de que Jimmy viesse a trocar uma ideia comigo, já que houve tanta comoção na internet quanto a mim, ele disse que eu podia ir um pouco mais elegante do que o resto da plateia e era isso que estávamos procurando. Uma roupa simples para eu não me destoar, mas elegante o suficiente para que eu não fosse qualquer uma. Foi exatamente isto que Tobey falou à vendedora quando fomos atendidos. A loja era linda, eu me sentia a própria Julia Roberts em “Uma Linda Mulher” enquanto passava por araras com roupas de mil e uma cores. A vendedora me trouxe um conjunto de calça e blazer de alfaiataria na cor rosa bebê, era lindo e fui ao provador. A calça tinha um caimento perfeito e acabava acentuando as curvas da minha cintura fina e da minha bunda, o comprimento dela ia até meus tornozelos. Por baixo do blazer, uma camisa mais despojada, branca, com algumas manchas de glitter, como se fosse um tie dye, além disso, ela tinha um nó no comprimento, que a deixava com um ar de cropped, mas, como a calça tinha a cintura bem alta, minha pele nem chegava a aparecer, era o comprimento perfeito. O blazer por cima era liso, básico e lindo. Me olhando no espelho, eu sentia como se aquela roupa fosse minha, combinava muito comigo. Saí do provador e Tobey me analisou.
— Você está linda — disse, sorrindo, os olhos cheios de sentimento. — Você gostou?
— Gostei. Mas tenho medo de que seja demais, sabe? — expliquei, dando uma voltinha na frente do espelho. Eu estava ótima mesmo, a vendedora tinha um olho bom para este tipo de coisa.
— Não é demais. Não se preocupe com isso — Tobey disse, gentil, e a vendedora concordou:
— Se me permite — disse ela, simpática —, caso você esteja com medo de que seja algo muito sério por causa do blazer, use com um tênis e vai quebrar um pouco junto com a blusa. Você tem pés pequenos, então, com o tênis certo, vai continuar lindo sem ser tão sério.
— Está vendo? Vamos atrás de um tênis, então — disse Tob, divertido.
Voltamos para casa com mais sacolas do que a própria Jenna Rink em “De Repente 30”, roupas, sapatos, acessórios e mais acessórios. Tobey escolheu uma roupa para si também, uma camisa rosa de botões e um blazer azul escuro, os sapatos e a calça seriam garimpados em casa.
À noite, fomos jantar em uma pizzaria realmente italiana, com massa caseira feita com fermentação natural. Minha boca salivava só de pensar nisso e fizemos uma ligação de vídeo com minha mãe durante a janta, conversamos um pouco e pude notar como o português de Tobey estava melhorando. Ele estava fazendo aulas com uma professora particular brasileira quase todos os dias em que eu estava ali. Me ofereci para ensiná-lo, mas ele já havia fechado o pacote com a moça quando eu cheguei aos Estados Unidos. Minha mãe, por outro lado, chorava feito uma bebezinha vendo-o falar tão bem em português. Eu sabia que havia feito a coisa certa quando via aquele tipo de cena em minha frente, minha mãe estava orgulhosa de mim, estava feliz e agradecida por estarmos unidos novamente. Como ela mesma havia dito: “Tobey, seu pai foi um idiota, mas fico feliz que a idiotice não continuou na linhagem.”
Ela o considerava o filho que nunca teve e eu ficava muito feliz de vê-los daquele jeito. Comemos duas pizzas antes de irmos embora, uma mais maravilhosa do que a outra. Conversamos sobre nossas famílias e como o tempo estava passando rápido naqueles dias em que eu estava ali. Minhas férias estavam acabando e a realidade da minha vida no Brasil estava voltando à tona, logo, eu estaria em Florianópolis de novo, mas não posso negar que estava com saudades das praias geladas e de falar minha língua natal. Família e amigos eu nem levo em consideração, pois a saudade é inexplicável, mas a minha praia e meu português estavam me fazendo mais falta do que eu realmente esperava.
No dia seguinte, acordei empolgada e fiz um Croque Mounseir para mim e um para Tobey. Ele comeu com tantos elogios que fiquei com o ego inflado. Conversamos um pouco em como seria a nossa agenda e seguimos o cronograma. O programa era gravado no fim da tarde, então precisávamos pegar um voo para NY, almoçar algo simples lá e depois Genevieve e Carlos fariam a sua mágica.
O voo foi calmo, viajamos de primeira classe, assim como quando viajei com Andrew. Eu estava começando a me acostumar com os voos, que sempre foi algo que eu tive bastante medo, porém dizem que chega um determinado número de voos que você se acostuma e não era mentira, eu estava me acostumando. Quando chegamos, fomos direto ao hotel, colocamos nossos pertences nos devidos quartos e descemos para o lobby para almoçar. Em menos de meia hora, Gen e Carlos estavam chegando para nos arrumar.
Eu estava esbaforida! Não estava acostumada com tanta correria assim, apenas dentro de uma cozinha e não no dia-a-dia. Quatro horas dentro de um avião, mais meia hora para almoçar, depois ir correndo tomar um banho para fazer cabelo e maquiagem... Eu, com certeza, não funcionava assim. Mas tive que engolir tudo e aceitar que minha vida seria assim por enquanto, não sei se aguentaria. Elogiei Tobey por isso e ele deu de ombros, afinal era apenas mais um dia para ele. Normal.
Depois do meu banho, Gen veio fazer minha maquiagem primeiro, enquanto Carlos arrumava Tobey. Dessa vez, ela fez uma maquiagem genuinamente leve, com um marrom claro em minhas pálpebras, um coraçãozinho rosa com delineador no canto de cada olho e um batom nude com bastante gloss nos lábios. Depois, Carlos escovou meus cabelos, e os deixou propositalmente ondulados e esvoaçantes, com a desculpa de que, se fizesse um penteado, o look poderia voltar a ficar muito sério. Colou unhas postiças em meus dedos novamente, desta vez em um degradê que saía do branco na raiz e nas pontas era de um rosa claro que combinava perfeitamente com meu blazer. E, assim, eu estava pronta novamente para um novo desafio: TV show.
Encontrei Tobey no lobby do hotel, absolutamente lindo, com uma calça de alfaiataria azul escura como o blazer e a camisa rosa por baixo com os botões do colarinho abertos. Seus cabelos estavam perfeitamente penteados para o lado. Ele sorriu quando me viu e me abraçou, orgulhoso.
— Você está linda, — disse, segurando minha mão e me guiando ao carro. Estávamos exatamente no horário. Se pegássemos qualquer trânsito, iríamos nos atrasar.
Chegamos ao prédio onde eram feitas as gravações do programa, o lugar era lindo e enorme, havia tantas portas e corredores que eu me perderia com facilidade, se uma moça não estivesse nos guiando lá dentro. O lugar era uma bagunça organizada: pessoas correndo para todos os lados, câmeras, fios, pranchetas, crachás e tickets. Me deram um crachá que dizia “acompanhante” e depois colocaram outro por cima que dizia “plateia”. Eles nos levaram a um camarim e Tobey logo fechou a porta e me olhou, rindo:
— Você está apavorada — deu uma gargalhada, levando a cabeça para trás.
— Estou! — admiti, rindo também. Me abanei com a mão, sentindo um calor de nervosismo subindo pelo meu tronco. — Acho que prefiro a cozinha quando vem um crítico, a emoção é diferente, você sabe o que tem que fazer. Aqui eu ‘tô simplesmente perdida.
— Relaxa, , você está indo bem. Só quero que você se sinta à vontade, então, qualquer problema, me avisa. Não passa perrengue. Ok? — Tob disse, sorrindo em compaixão.
Respirei fundo e devolvi o sorriso. Tirei meu blazer e dei uma volta pelo camarim, tentando recuperar minha respiração de volta.
Uma batida leve à porta me fez voltar à realidade.
— Hey, man! — Ouvi a voz de Tobey e eu já sabia que só podia ser um dos dois. Virei-me e descobri que não estava preparada para aquilo: Andrew estava absolutamente maravilhoso. Os dois se abraçaram e trocaram palavras que não ouvi, pois estava completamente hipnotizada. Ele usava calças pretas e um suéter preto de gola alta, seu cabelo estava penteado para trás e a barba por fazer. Juro que meu coração descompassou com tamanha beleza e tive que me controlar para não ficar com a boca escancarada enquanto ele vinha até mim, sorrindo, aquele sorriso cheio de malícias que ele sabia fazer muito bem.
— Como você está, pequena Maguire? — perguntou a mim, beijou meu rosto e me abraçou calorosamente. Seu cheiro me abraçou junto, me deixando boba.
— Estou bem e você, Garfield? — perguntei enquanto ainda estávamos abraçados e pude ver Tobey fazendo um coraçãozinho com as mãos, rindo da minha cara. Rolei os olhos para ele. — Ótimo — ele apenas disse, simpático. — O que está rolando aqui?
Ele se referiu a mim, porém, perguntando a Tobey.
— está nervosa, nunca participou de um programa de televisão antes — explicou, e eu continuei me abanando, andando de um lado para o outro no camarim. Já não sabia mais se o abano era por conta do programa ou por conta do homem que acabou de me abraçar. Só sei que minhas mãos suavam e tive que ligar o ar-condicionado para me deixar mais tranquila. Tobey e Andrew continuaram conversando feito dois cavalheiros, os cabelos e as roupas impecáveis, e eu parecendo uma bruxa, suando, nervosa e besta. Só eu mesma para aceitar um convite desses.
Menos de cinco minutos depois, a porta do camarim tocou de novo, dessa vez a batida era esquisita e sem ritmo, a mesma que Tom fazia lá na casa de Tobey. Meu coração descompassou novamente e Tobey abriu a porta. Tom, como usualmente, já estava falando:
— Eu sabia que você só podia estar aqui, bati à porta do Andy e estava vazio, era claro que aqui seria o esconderijo secreto. Meu Deus, que quarto gela... — Tobey o puxou para um abraço para que ele se calasse.
Tom também não ficava para trás, estava tão maravilhoso quanto os dois homens que o cumprimentavam. Usava uma calça cinza que parecia ter sido desenhada para ele, uma camisa branca com o colarinho desabotoado e as mangas perfeitamente dobradas até o antebraço. Ele cumprimentou os dois que estavam próximos da porta e veio até mim, sorrindo, aquele sorriso que mostrava todos os dentes, e me abraçou calorosamente, seu cheiro era completamente diferente dos demais e também me deixou de pernas bambas. Ele soltou o abraço, segurou meus ombros e deu um beijo na minha bochecha, sem tirar o sorriso do rosto.
— Tudo certo, irmã Maguire? — perguntou ele, seus cabelos estavam naturais e ligeiramente puxados para trás, estavam crescendo bem, alguns cachinhos já se formavam sob sua testa.
— Tudo sim — apenas disse, ainda mais nervosa do que antes. Tinha como eu não estar nervosa, sabendo que: primeiro, logo eu estaria conhecendo Jimmy Fallon; segundo, que eu estaria participando de um programa dele, e existia uma possibilidade, mesmo que mínima, de ele querer conversar comigo; terceiro, eu estava na presença de dois homens particularmente formidáveis, lindos, charmosos e encantadores; e quarto, mas não menos importante, eu havia beijado os dois e me apavorava o fato de que em algum momento isso viesse à tona.
— Ela está fingindo! — Andrew disse, rindo. — Está nervosa por conta do programa.
Dei um sorriso amarelo e os três riram da minha cara. Tobey estava amando tudo aquilo, seus olhinhos maliciosos rodavam todo o ambiente para que nada passasse despercebido. Miserável.
— Não tem por que ficar nervosa, — Tom disse, ficando por trás de mim e apertando duas mãos em meus ombros, fazendo uma massagem.
— Ah, sim, é muito fácil para vocês três falarem isso. Os três bonitões de Hollywood que já tiveram um zilhão de entrevistas na vida — falei, unindo as sobrancelhas. — ‘Bora cozinhar um ovo poche para ver se vocês não vão ficar nervosos — bufei e eles caíram na gargalhada, Tom continuava fazendo massagem em meus ombros.
— Você fica engraçada quando está irritada, — Tob disse, me fazendo virar os olhos.
— Irritada e nervosa — Andrew fez questão de acrescentar.
— Relaxa, Maguire, não é nada demais — Tom disse e saiu de trás de mim, piscando um olho quando foi ao encontro dos outros. Eu apenas bufei mais uma vez com o ar-condicionado deixando minhas mãos geladas.
Depois de alguns minutos, uma moça veio até o quarto e pediu para que eu fosse com ela até a plateia. Tobey segurou minhas mãos e me desejou boa sorte, dizendo que tudo ficaria bem. Segui com ela pelo emaranhado de corredores e chegamos ao local onde eram feitas as entrevistas, o palco era gigantesco e ainda estava vazio, pela TV parecia ser algo pequeno e aconchegante, mas, na realidade, eram apenas jogos de câmera muito bem executados. As pessoas na plateia estavam espalhadas com pelo menos duas cadeiras de distância e, alguns minutos depois, a banda começou a subir no palco, algumas pessoas aplaudiram sem muito entusiasmo. Aos poucos, as pessoas foram chegando, os operadores de câmeras, algumas pessoas com headphones e sabe-se lá o que mais. Por fim, cerca de 20 minutos depois, tudo parecia estar pronto para iniciar. Um letreiro luminoso entre a plateia e o palco tinha instruções de como seria a experiência, de onde e quando fosse para aplaudir, quando fosse para ficar em silêncio, ou de pé, e assim por diante. Fizeram um teste e todos acompanharam as instruções obedientes, inclusive eu. O nervosismo acabou dando uma acalmada quando me afastei dos causadores dos meus problemas e só fiquei ligeiramente ansiosa para ver a entrada de Tobey. Depois de mais alguns minutos que me pareceram eternos, Jimmy Fallon entrou, aplausos. Ele fez um monólogo didático e engraçado sobre como ele já era adulto quando o primeiro filme do Tobey havia sido lançado, então ele não entendia muito bem este estado eufórico do resto do país, mas que, como as contas dele deviam ser pagas, ali estava ele.
A banda tocou a música tema e ele chamou Tom primeiro, eles se cumprimentaram, trocaram algumas palavras e Tom ficou de pé enquanto ele chamava os demais. Em segundo lugar, ele chamou Andrew, que cumprimentou Tom e Jimmy e colocou-se ao lado de Tom, também em pé. A cada chamada, a plateia aplaudia exatamente como estava no letreiro. O próximo, obviamente, foi meu irmão, que entrou com energia no palco e cumprimentou os colegas e também Jimmy. Os três deram tchauzinho para a plateia, que estava mais animada com todos os três juntos, e sentaram-se.
A entrevista iniciou com Jimmy perguntando como foi a experiência e todos eles responderam entusiasmados sobre como foi e em como eles criaram um vínculo de amizade forte durante as gravações. Eles brincavam um com o outro, com respostas divertidas e leves, Tom era nitidamente o mais carismático, Andrew era o mais divertido e Tobey era o mais sério, era gostoso ver como as personalidades refletiam nos seus personagens e em como eles se complementavam. Jimmy perguntou a eles como foi esse processo de guardar segredo por dois anos e todos falaram que foi algo realmente difícil, Tom fez piada, dizendo que evitava toda entrevista que podia, por motivos óbvios, e Tobey e Andrew deram risada dele enquanto apenas disseram que mentiam e pronto.
A entrevista continuou durante, pelo menos, meia hora, tranquila e leve, como o programa de Jimmy Fallon normalmente era (por menos que eu visse, eu sabia que ele era um comediante leve), e, em um momento “após os comerciais”, Jimmy disse que tinha uma brincadeira para eles, mas que antes ele tinha uma pergunta especial para nos fazer.
— Eu tenho uma pergunta, na verdade, não é bem uma pergunta, mas... os fãs estão curiosos, a plateia está curiosa e, bom, a internet está pirando. Então, não posso deixar de falar isso — ele fez uma pausa dramática e um músico sagaz fez uma batidinha na bateria. O silêncio se instalou no ambiente e ele disse:
— , falem.
A plateia caiu na risada, já que um olhou para o outro sem saber o que falar. Meu coração parou. Deu um baque surdo e eu senti minhas mãos molhadas.
— Bom, posso falar primeiro? — Tobey perguntou, levantando as mãos.
— Claro. Deve — Jimmy disse, rindo. Era a primeira vez que Tobey ia falar de mim abertamente, sem segredos ou paparazzis batendo fotos nossas, escondidos.
— é minha irmã apenas por parte de pai, meu pai se apaixonou pela sua mãe em uma viagem a negócios no Brasil. Nós nos afastamos quando eu tinha 19 anos e ela tinha 4. Ficamos 25 anos sem nos falarmos e, agora, depois de ser convencido por estes dois — Tobey apontou para Tom e Andrew —, eu a convenci de que devíamos nos reaproximar. E é isto que estamos fazendo desde então — Tob disse, abanando a mão para mim, e eu devolvi o aceno enquanto a plateia fazia “Awn”.
— Nossa, que história maravilhosa! Que bom que vocês estão tendo essa oportunidade de se reencontrar. Ah, oi, , não sabia que você estava aqui! — Jimmy disse, abanando a mão para mim também, a simpatia em pessoa. — Depois eu te dou mais atenção, primeiro, quero ouvir algumas palavras desses dois aqui. — A plateia estourou em risadas novamente.
Jimmy ficou encarando Tom e Andrew para ver qual deles iria falar primeiro. Meu coração parecia uma escola de samba. Os dois ficaram sem saber o que dizer, Tom arriscou algumas palavras e apenas gaguejou. Jimmy estava ADORANDO tudo aquilo, ele sabia que tinha acertado em perguntar sobre mim. Tobey ria abertamente também.
— Bom, creio que posso ajudar vocês um pouquinho — Jimmy disse, movendo-se sobre a cadeira e retirando um envelope debaixo do seu balcão. — Tenho algumas fotos aqui que estão deixando a internet em surto coletivo.
Surto coletivo era o que estava acontecendo em meu peito. E eu não podia esboçar muita reação, pois havia uma câmera mirando apenas em mim.
A primeira foto que ele mostrou foi a foto da première do filme do Homem-Aranha, onde os dois estavam beijando minhas mãos. A plateia ovacionou. Ufa, soltei um pouco de ar.
A segunda foto era Andrew beijando meu ombro, com os olhos completamente vidrados em mim. A plateia ovacionou novamente, desta vez com um pouco mais de entusiasmo.
A terceira foto era uma foto nitidamente tirada escondida, e era eu e Tom jantando no restaurante anteontem. Era nítido que era um jantar particular e, na foto, Tom ria abertamente enquanto eu tomava um gole na taça de vinho. A plateia foi à loucura, bateram palmas e gritaram, era exatamente o tipo de reação que Jimmy queria. Ele sorriu, vitorioso.
Quando a plateia calou-se, Andrew foi o primeiro a falar:
— Bom, é uma ótima pessoa. Uma mulher incrivelmente divertida e uma companhia excepcionalmente agradável. — Seu sotaque deixava aquelas palavras ainda mais bonitas. — Eu a conheci na primeira foto, como vocês podem ver, e a convidei para ser minha companhia na segunda foto. Eu... acabei deixando esse beijo no ombro escapar pois ela estava extraordinariamente cheirosa naquele dia e eu, inclusive, disse isto a ela antes do ato. Um beijo no ombro amigável e sem segundas intenções. — Ele mal terminou a frase e a plateia gritou novamente, aplaudindo. Por fim, ele concluiu, galanteador demais para o meu gosto:
— Somos grandes amigos — disse, sorrindo, e mandando um beijo para mim com as duas mãos. Eu só conseguia rir e nada mais, minhas bochechas estavam ardendo.
Tobey se divertia como nunca.
Todos os olhos correram para Tom, ele respirou fundo.
— Acho que Andrew descreveu corretamente, é maravilhosa e uma ótima companhia. Não sei se vocês sabem, mas ela é uma cozinheira profissional e, bom, eu tinha o contato desse cara no restaurante e quis levá-la para conhecer o ambiente... — Jimmy interrompeu Tom, fazendo todos rirem.
— Você está me dizendo que esta foto representa o fato de que você estava a levando para conhecer um restaurante?
— Absolutamente — Tom disse, sorrindo.
A plateia aplaudiu, rindo.
— , minha querida, você quer ter a opção de ajudar seu amigo Tom? — Jimmy falou, me encarando, segurando o riso. Em menos de meio segundo, já havia alguém ao meu lado com um microfone ligado.
Dei uma risada nervosa ao microfone, arrancando mais risadas de todos. Levantei-me.
— Primeiramente, boa noite a todos. Jimmy, é um prazer imenso estar aqui, obrigada pelo convite. E, sobre as fotos, sinto lhe informar que todos foram verdadeiros em suas respostas. Eu realmente sou irmã de Tobey — falei e todos riram novamente. — Andrew realmente elogiou meu perfume no momento daquela foto e o beijo no ombro foi algo tão simples e bobo que nenhum de nós pensou que fosse causar todo esse alvoroço. E sobre Tom, é verdade, eu sou uma cozinheira profissional no Brasil e ele me levou lá com a melhor das intenções, na verdade, eu fiquei muito mais tempo vendo os cozinheiros trabalharem e conversando com o chef, do que jantando. De qualquer maneira, creio que a foto de nós dois jantando era muito mais interessante.
Quando terminei de falar, todos aplaudiram, inclusive os entrevistados, que sorriam para mim, um mais adorável do que o outro.
— Ok — Jimmy disse quando os aplausos cessaram. — Vamos todos fingir que acreditamos nisso e vamos fingir que a internet também acreditou.
Depois de algumas piadas e muitas risadas, Jimmy finalmente mudou de assunto.
Bom, a internet que pegue leve comigo! Estou aqui há poucos dias e também há poucos dias o término entre Tom e Zendaya aconteceu, sei que não tem absolutamente nada a ver com a minha vinda, mas o timing não foi o melhor possível a meu favor.
O programa seguiu com uma brincadeira na qual vários famosos usavam a máscara do Homem-Aranha e eles tinham que adivinhar quem eram, eles ficaram atrás de balcões com um botão vermelho no meio e, quem tivesse mais pontos, ganhava. O programa foi muito divertido e agradável. Quem ganhou a brincadeira no final foi Tom, que acertou onze das vinte celebridades, sendo que, na verdade, ele só era mais rápido do que os outros ao apertar o botão.
Após as gravações se encerrarem, Jimmy Fallon em pessoa veio até mim se apresentar e pediu desculpas por me envolver em tudo e por não me avisar anteriormente, mas ele queria uma reação genuína de todos, inclusive minha. Falei que não tinha problemas (e realmente não tinha) e só o informei que ele quase me matou do coração. Tobey se aproximou de nós, envolveu meu pescoço com o braço e deu um beijo em minha têmpora. Trocamos mais algumas palavras e batemos algumas selfies todos juntos para Jimmy postar nas redes sociais. O programa iria ao ar dentro de uma semana.
No carro, Tobey me pediu desculpas por aquilo tudo e disse que não fazia ideia de que iriam me expor daquele jeito, expliquei que não ligava, desde que não os prejudicasse, afinal, as fotos não mostravam nada demais, eu só precisava ter o psicológico preparado para o tipo de coisas que poderiam falar na internet. Como Tobey já me disse uma vez, tem que levar com leveza, pois, se for tudo a ferro e fogo, você acaba pirando.
Seguimos para o hotel, onde Tom e Andrew também estavam hospedados (hotel das celebridades) e fomos direto ao bar, jogar conversa fora.
— Então, , o nervosismo foi necessário? — Tobey me perguntou, bebendo um gole do seu whisky que havia pedido. Estávamos todos no balcão do bar, havia muitas mesas livres, mas acabamos ficando por ali mesmo.
— Você ainda me faz essa pergunta? — empurrei seu ombro, rindo. Ele riu também, assim como os demais.
— No momento em que ele falou em fotos, eu já sabia que seria alguma coisa relacionada a ela — Andrew admitiu, rindo, ele havia pedido um whisky também.
— Minhas mãos estavam pingando suor, achei que ia ter um treco no coração — eu disse, arrancando mais risadas deles.
— Acho que você está exagerando, . Não foi nada demais — Tobey disse, dando seu sorriso malicioso. Tom, que até então não havia se pronunciado, disse:
— Acho que conseguimos contornar bem a situação, não tem por que se preocupar, . Todos caímos na risada.
— Tom, você é tão ingênuo — falei, passando a mão no seu ombro. Tobey e Andrew concordaram, Tom ficou visivelmente desconfiado.
— Vocês acharam que a desculpa não foi convincente?
— O problema não foi a desculpa, Holland — Andrew explicou, se divertindo com tudo aquilo. — Foi a sua reação, a sua gagueira.
— Mesmo que seja verdade, as pessoas não vão comprar a ideia — Tobey terminou.
— Porra, eu não tinha pensado nisso. Desculpa, — ele disse, sincero, com as sobrancelhas unidas.
— Que isso, Tom, já foi. A sua reação foi honesta, você ficou nervoso. É bom saber que não sou a única que fica nervosa — arqueei as sobrancelhas e peguei minha vodca com suco de laranja que o barman acabava de me entregar. Levantei o copo.
— Às reações humanas — falei a primeira coisa que apareceu na minha cabeça.
— À honestidade — Tom disse, me acompanhando.
— À ingenuidade — Andrew disse também.
— Ao amor — Tobey disse, caindo na risada. Brindamos. E eu olhei para Tobey com cara feia, ele apenas deu de ombros. Ele pegou o celular, digitou algo e logo o meu celular vibrou. Tom e Andrew estavam conversando sobre qualquer coisa e não notaram.
online
Quer apostar que um deles vai bater à porta do seu quarto hoje?
Você está louco! Nenhum deles vai bater em porta alguma
😂😂😂
Acho que vai ser o Drew, o Tom é muito devagar
Vamos fazer assim: se nenhum deles bater, eu te devo um presente. Se um deles bater, você me deve um presente
Mas, se o Andrew bater, você vai ficar me devendo uma hospedagem na sua casa, quando eu for ao Brasil
Feito!
Não é possível que Tobey vai acertar sempre, ele está se divertindo muito com esse meu caso peculiar e isso está me irritando profundamente. Em poucas semanas, Tobey já havia tomado de volta o seu lugar de irmão mais velho irritante que eu nunca tive. Sou melhor amiga de irmãos gêmeos e eles são exatamente assim, um pegando no pé do outro a todo segundo. No fundo, bem no fundo, eu gosto do fato de que estamos entrando neste nível de amizade, mas, ao mesmo tempo, aquilo me irritava de um jeito inegável.
— , quantas tatuagens você tem? — perguntou Andrew absolutamente do nada, me tirando de meu pequeno devaneio.
— Como diabos vocês chegaram nesse assunto? — perguntei, unindo as sobrancelhas, e Tobey me olhou de soslaio, com aquele sorrisinho malicioso que dizia “viu? Estavam falando de você”.
— Tom estava falando que quer fazer uma tatuagem em homenagem ao Homem-Aranha e uma coisa foi levando à outra — Andrew explicou como se fosse óbvio, dando de ombros e terminando seu copo de Whisky. Balançou o copo para o barman, que já entendeu o recado.
— Tenho oito tatuagens — falei simplesmente, tomando um gole da minha bebida.
— E elas têm significado? — Tom perguntou, curioso.
— Algumas sim, outras eu apenas gostei do desenho e o tatuador estava com horário livre — dei de ombros, os três sorriram com a minha simplicidade na fala.
— E tem alguma da qual você se arrepende? — Desta vez, era Tobey que estava curioso.
— Até o momento, não. Gosto das minhas tatuagens, mostram diferentes momentos da minha personalidade — expliquei.
— ‘Tá vendo? — Andrew levantou as sobrancelhas para Tom.
— Tom, você tem dinheiro para um caralho. Faz logo essa tatuagem, só pensa bem no lugar em que você vai fazer e, se você se arrepender, é só apagar. Hoje em dia já tem tecnologia para isso.
— Mas não apaga perfeitamente — Tom justificou.
— Então, faça algo pequeno, de modo que você possa cobrir com outra coisa — ergui os ombros.
— Pare de persuadir assim o menino, . Ele é muito influenciável e você está sendo uma má influência para ele — Andrew disse, tapando as orelhas de Tom dramaticamente. Todos demos risadas.
— Bom, eu sou uma pessoa suspeita a falar mesmo. Eu adoro gente tatuada. Acho que todo mundo tinha que se tatuar uma vez na vida — expliquei, fazendo cara de esnobe.
— Você faria uma tatuagem comigo? — Tobey perguntou de repente, aparentemente motivado pelo meu discurso.
— Mas é claro que sim — falei, sorrindo, acariciando sua mão.
— Então ‘tá, vai pensando em algo que podíamos fazer em dupla.
Eu sorri, emocionada, aquilo representava muito para mim: Tobey querendo fazer uma tatuagem comigo aos 46 anos de idade. Aquilo com certeza significava algo e, assim, minha irritação de irmã mais nova havia passado. Fiquei sorrindo o resto da noite enquanto falávamos sobre aleatoriedades até a hora de dormir. Fui a primeira a subir.
Tomei um banho, tirei a maquiagem, fiz todo o meu tratamento de skincare e coloquei meu pijama, que era uma regata branca com letras rosas escrito “Ma milkshake brings all da boys to the yard!” e uma calça com manchas pretas como uma estampa de vaquinha.
Liguei a TV e entrei no Youtube, coloquei uma música d’O Terno para matar a saudade do meu país e me deitei na cama. Mexi no celular, respondendo as mensagens de meus amigos e família, e, alguns minutos depois disso, ouvi uma batida à porta.
Meu coração deu um pulo.
Continuei deitada, fingindo não ter ouvido a batida. Porém, seja quem fosse, estava determinado a me esperar. Levantei-me com calma. Passei um perfuminho, pois não sou completamente idiota. Abri a porta e lá estava ele.
O sorriso completamente convencido e uma das sobrancelhas abaixada.
— Não consigo parar de pensar nas suas oito tatuagens e em como eu quero procurá-las uma por uma — Andrew disse, lambendo os lábios sem pressa nenhuma.
Capítulo 8
— Andrew, eu não... — falei, antes de sentir suas mãos em minha cintura; ele estava atrás de mim. Encostei a porta, perdendo completamente a fala enquanto uma de suas mãos afastava meu cabelo bagunçado para o lado.
— , eu prometo que não vou fazer nada que você não queira. — Seu sotaque e seu hálito de dentes recém escovados me deixaram de pernas bambas. Eu definitivamente não estava preparada para aquilo. Estava com tanta “raiva” de Tobey que realmente estava com esperanças de que nenhum deles batesse à minha porta. — Você só precisa me dizer e eu vou embora, sem mágoas ou sem ressentimentos.
A mão dele que estava em minha cintura acariciou o local e a blusa subiu alguns centímetros, fazendo sua pele tocar na minha.
Eu sou um ser humano. Um ser humano que gostava de Andrew me acariciando, a quem eu estava querendo enganar? Ele era um puta gostoso e estava a fim de mim: ele já tinha deixado isso bem claro. A vinda dele ao meu quarto só confirmava isso! Segui meus instintos e deixei aquilo acontecer, não precisei falar nada para ele saber que eu havia cedido, apenas fechei meus olhos. Seus lábios beijaram a curva entre meu pescoço e meu ombro, fazendo os pelinhos do meu braço se arrepiarem. Sua mão que estava em minha cintura se enfiou por baixo da minha blusinha e passeou pela minha barriga, me arrancando arrepios e um suspiro que o fez sorrir. Eu sabia que ele sorrira, pois soltou ar pela boca antes de voltar a beijar meu pescoço. Jesus. Eu estava com uma mão ainda apoiada na porta recém-fechada e a outra ele mesmo segurou, usando para me dar um puxão que me fez virar de frente para ele.
Pude, finalmente, olhá-lo corretamente, seus cabelos estavam ligeiramente molhados e bagunçados. No corpo, ele usava uma calça verde militar de moletom e uma camiseta branca básica, estava descalço, o que me indicava que o quarto dele não era tão longe.
— O que você fez comigo? — perguntou ele, segurando meu rosto com as duas mãos, olhando fixamente para a minha boca.
— Acredite, Garfield, não fiz nada. — Fui sincera em minha resposta, vendo que ele uniu as sobrancelhas antes de colar nossas bocas. Como eu já esperava, sua boca tinha gosto de pasta de dente, nossas línguas se misturaram com facilidade e minhas mãos procuraram suas costas por baixo da sua camiseta. Ele separou o beijo e sugou ar pelos dentes, provavelmente pelo fato de minhas mãos estarem congelando.
— Porra — reclamou antes de voltar a me beijar. Suas mãos se separaram, uma foi para a minha nuca e a outra para o meu quadril, onde ele colocou-a por baixo da blusa novamente. O beijo era surreal, nossas línguas se misturavam com uma facilidade surpreendente e Andrew me pressionou contra a parede novamente – coisa que eu já sabia que ele gostava de fazer, e eu adorava que ele fizesse –, dando um puxão em meu cabelo, me fazendo arquear as costas. Sua pele era quente, quase febril, e o seu cheiro... eu nem queria chegar nesse assunto, era algo que me deixava anestesiada.
Quando ele separou nossas bocas para poder respirar direito enquanto descia os mesmos para minha mandíbula, eu sabia que ali não estava confortável o bastante. Por este motivo, afastei seu rosto com delicadeza, segurei uma de suas mãos e nos guiei até o quarto. Quando chegamos, empurrei-o na cama, a voz de Tim Bernardes ainda embalava o ambiente. Andrew mordeu os lábios vendo que eu havia tomado as rédeas do momento: brinquei com o elástico da sua calça enquanto subia na cama e, ao mesmo tempo, em cima dele, já que estava de joelhos, com uma perna em cada lado seu. Quando o meu rosto chegou na altura do seu, eu apenas disse:
— Oi — dei o sorriso mais safado que consegui naquele momento e vi seus olhos brilhando de verdade antes de colar nossos lábios novamente. Suas mãos seguiram diretamente até minha bunda, onde ele depositou um tapa que me fez gemer durante o beijo. Senti seu pênis saltar em minha intimidade, me fazendo perder o ar por um instante.
Ambas as mãos dele subiram da minha bunda para o meu quadril, cintura e costelas, trazendo junto minha blusa. Antes de tirá-la por completo, Andrew sentou-se na cama, sem separar nossas bocas, fazendo com que eu ficasse sentada em seu colo. Beijou meu queixo, minha mandíbula e meu pescoço, deixando um rastro de saliva por ali, fazendo-me arrepiar novamente. Fiz o mesmo com ele, puxei seu cabelo, fazendo sua cabeça ficar levemente arqueada para trás e beijei seu queixo com a barba por fazer, desci por sua mandíbula e depois seu pescoço, mordisquei o lóbulo da sua orelha, quando notei que seus pelinhos também ficaram arrepiados, e sorri, vitoriosa.
— Você fez isso só para ver se eu me arrepiava? — perguntou ele, com a voz baixinha e suave. Eu ri e concordei com a cabeça, sem falar nada. — Você é má — ele disse, sorrindo, e voltando a beijar meu pescoço. Suas mãos voltaram a subir minha blusa, era óbvio que eu estava sem sutiã, já que nenhuma mulher normal dormia de sutiã, então o fato dele tirar a minha blusa era um sinal de que não teria volta, eu iria transar com Andrew Garfield. Sendo assim, quando senti seus dedos próximos de minhas axilas, levantei os braços e separamos o beijo para que ele conseguisse tirar a blusa por completo. Seu pênis deu mais um salto absurdo enquanto suas mãos seguiam para minhas costas descobertas e sua boca descia para meu colo. Soltei um gemido que não consegui segurar quando sua língua tocou meu mamilo e arqueei minhas costas, sentindo seus dedos pressionarem minha pele. Minhas mãos se perderam em seu cabelo, dando puxões de acordo com as lambidas e sugadas que ele investia em meus seios. Em certo momento, Andrew decidiu que devia ficar por cima e segurou-me no colo, trocando nossos lugares, jogando-me na cama. Ele tirou a camiseta e seguiu para cima de mim, colou nossos lábios mais uma vez, forçando sua ereção contra a minha vulva, me fazendo virar os olhos nas órbitas. Enrolei minhas pernas em sua cintura, fazendo com que nossas virilhas se roçassem a todo momento, nos levando ao delírio. Andrew estava completamente ardente, me beijava com avidez, mordia meus lábios, apertava meus seios da maneira certa e eu já estava completamente molhada, basicamente implorando por mais. Por este motivo, levei minha mão até seu pau e o massageei por cima a calça, o fazendo separar nosso beijo para dar um suspiro alto seguido de um gemido baixo.
— Porra — exclamou novamente com seu sotaque delicioso. Eu sorri, mordendo os lábios, e ele sorriu comigo. Passei meus dedos para dentro do elástico da sua calça, indicando que queria que ele tirasse e ele entendeu o recado, levantando-se rapidamente e abaixando a calça, deixando à mostra apenas sua cueca box preta que lhe vestia muito bem e delineava seu membro com a maestria que ele aparentava ter. Lambi os lábios, o admirando, e ele sorriu, levando suas mãos até a barra da minha calça; ergui minha bunda para ajudá-lo a retirar a mesma.
— Puta merda. — Foi o que ele disse quando me viu deitada na cama, apenas de calcinha azul bebê, sorrindo feito uma idiota.
Andrew beijou meu pé, subiu seus lábios por minha panturrilha, minha coxa e parou em minha virilha, sorrindo, aquele sorriso malicioso. Começou a puxar minha calcinha para baixo quando ouvimos a batida completamente descompassada na porta.
Nos olhamos ao mesmo tempo, sem saber o que fazer.
— Deixa bater, seja quem for, vai desistir — falei bem baixinho.
Eu sabia quem era apenas pela batida esquisita.
— Se for o Tom, não vai desistir, ele deve ter ficado esse tempo todo pensando em vir, agora que criou coragem, não vai voltar tão cedo — Andrew disse tão baixinho quanto eu. A porta voltou a bater.
— O que eu faço? — perguntei, ligeiramente desesperada, não queria que o clima fugisse como da última vez. Eu estava em Nova Iorque, tive um dia estressante e só queria tirar todo esse estresse com o homem absolutamente maravilhoso que estava prestes a me fazer um oral. Andrew ficou em silêncio, pensando, enquanto estava ajoelhado ao pé da minha cama, com uma de minhas pernas sob seu ombro, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Seus ombros eram cheios de pintinhas.
— Acho que a melhor opção é ir lá ver o que ele quer — ele sussurrou, seu hálito quente batendo no interior da minha coxa.
— E se ele quiser o mesmo que você quis? — sussurrei de volta, o fazendo rir.
— É óbvio que ele quer isso, . Olha só para você — ele disse ainda sorrindo. Empurrei seu ombro com o pé, o fazendo cair sentado no chão. Levantei-me da cama, juntei sua camisa que estava no chão, com minha bunda virada para ele de propósito, o fazendo grunhir e passar a mão antes de eu sair andando vestindo sua camiseta que batia bem na altura da minha papada. Me olhei em um espelho grande que tinha no corredor: os cabelos bagunçados e a camiseta amarrotada podiam passar um ar de quem acabou de acordar.
A porta bateu mais uma vez.
Abri a porta, o suficiente para ele ver que eu vestia uma roupa de dormir, mas não o suficiente para que ele se sentisse convidado a entrar.
— , oi — Tom disse, visivelmente nervoso. — Nossa, eu te acordei? Desculpa!
— Tom? — Baixei minhas pálpebras antes de abrir a porta, então devia estar com a cara de sono que eu queria que ele acreditasse que eu estava.
— Eu não devia ter vindo, me perdoe por isso. Não sei onde eu estava com a cabeça — ele disse, baixando o olhar e finalmente percebendo que eu estava apenas de camiseta. — Porra — sussurrou mais para ele do que para mim, mas consegui ouvir.
— Relaxa, Tom, desculpa não te dar muita atenção, mas é que eu estava literalmente na cama agora. — Não era tecnicamente uma mentira, mas eu não me sentia bem em fazer aquilo com ele.
— Não, , sou eu quem peço desculpas. Eu sou completamente sem noção! Tenha uma boa-noite — ele disse, sorrindo, e se afastando de costas, ainda me olhando.
— Boa noite, Tom — eu apenas disse, fechando a porta devagar.
Voltei ao quarto e vi Andrew de pé, apenas de cueca, com meu frasco de perfume na mão.
— Então é daqui que vem o seu feitiço — ele disse, divertido. Espirrou um pouco em seu pulso, balançou-o e cheirou.
— Não é a mesma coisa. — Pareceu decepcionado.
— O perfume reage diferente em cada pele, você sabe disso, não sabe? — falei, sentando-me na cama.
— Na sua pele fica mil vezes melhor. — Ele esticou o pulso para eu sentir o cheiro. Era o cheiro do meu perfume normal da loja O Boticário, absolutamente nada demais. Andrew sentou-se ao meu lado. — Você está bem?
— Estou sim, só estou... com a consciência pesada por ter mentido para Tom — eu admiti e ele riu baixinho.
— , era a melhor coisa a se fazer. O que você ia dizer? Que eu estava aqui? Olha, até onde eu sei, você é solteira e faz o que bem entender. Mas o que você fez foi a melhor opção, pelo menos, a melhor que conseguimos pensar nesse meio tempo — Andrew disse, colocando uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha e me dando um selinho suave.
— Eu sei, eu sei... Só não me sinto bem, não sou uma mentirosa, sabe? — Olhei em seus olhos e ele concordou com a cabeça.
— Eu sei, você sabe e ele sabe. Não se preocupe com isso, . Vem, vamos deitar. Não precisamos fazer nada que você não queira, lembra? — Andrew me puxou pelos ombros, me fazendo deitar a força. E lá tinha ido o clima novamente, dando tchauzinho pela janela.
Mesmo assim, Andrew pediu permissão para fazer o que tinha vindo fazer: procurou cada uma de minhas tatuagens e analisou com cautela, me fazendo rir muito. Perguntou o significado de cada uma, mesmo que fosse um desenho óbvio e sem motivo aparente de eu ter tatuado. Fomos dormir altas horas da noite e, inclusive, ele foi o primeiro a cair no sono.
Acordei primeiro, vendo Andrew de costas para mim, dormindo de barriga para baixo. Suas costas tinham tantas pintinhas que eu teria que ficar ali a manhã inteira para contar todas. Levantei-me, tomei um banho e saí do quarto na maior quietude que consegui e segui para o salão principal para tomar café.
Uma música do Ed Sheeran tocava nos autofalantes escondidos pelo local e encontrei uma mesa vazia para me sentar, me servi de algumas frutas e uma xícara grande de expresso. Não demorou muito para que Tobey me acompanhasse.
— Bom dia, maninha, dormiu bem? — Beijou o topo da minha cabeça antes de sentar-se.
— Dormi sim e você? — perguntei.
Ele apenas concordou com a cabeça, roubando um mirtilo meu e pondo na boca.
— Alguma novidade que eu deva saber? Estou te devendo um presente? — Seu sorriso já era malicioso, eu não conseguia entender como ele conseguia acordar e já estar com aquele pique de quem queria me incomodar.
— Não, EU estou devendo um presente e, aparentemente, uma vaga em minha casa na sua viagem para o Brasil — falei, emburrada, e ele deu uma risada alta no meio do local, chamando a atenção de todos.
— Não acredito! Sério?? — Ele tapou a boca com as mãos, rindo abertamente, me deixando com o semblante mais bravo ainda. — Meu Deus, , eu te subestimei.
— Cala a boca, Tob — falei, unindo as sobrancelhas, com cara de poucos amigos. Odiava o fato de ele estar certo, pois aquela verdade era simplesmente absurda. Estamos falando aqui de dois galãs absolutos do momento, caras que namoraram com verdadeiras beldades de Hollywood, vindo atrás de mim no meio da noite. Não que eu esteja me colocando para baixo, mas, convenhamos, isto não era o tipo de coisa que acontecia com pessoas normais, pessoas normais que usam perfumes comprados de um catálogo vendido pela faxineira do local de trabalho. Me irritava o fato de dois homens como eles estarem “caidinhos”, como Tobey já tinha dito, por uma pessoa como eu. Sou, sim, uma mulher bonita, poderosa e confiante, tenho ciência do carisma, corpo e da personalidade que tenho, porém eu não era uma Zendaya que esbanjava confiança e sabia desfilar com um salto de 25 centímetros ou usar uma calça e uma camiseta quatro vezes maiores do que ela, parecer que usou quatro carreiras de cocaína e continuar maravilhosa, como na série Euphoria.
— Você pode ficar brava o quanto quiser, mas a verdade está aí, literalmente batendo à sua porta. Você pode negar e pode emburrar, mas nada vai mudar o fato de que Tom e Andrew gostam de ti. Pode ser que eles queiram apenas transar contigo e nunca mais olhar nos seus olhos de novo, pode ser que eles só te achem interessante por você ser minha irmã, pode ser que estejam se apaixonando... Seja qual for a opção, você tem que aceitar que enfeitiçou os dois. E se, por acaso, você gostar de um deles ou dos dois, não vejo qual é o problema — Tobey disse, dessa vez com um semblante mais sério. — Não consigo entender qual é esse seu estado de negação tão grande.
— Eu simplesmente não consigo aceitar — admiti, comendo um morango. — Não sei, minha cabeça ainda pensa como a mulher caipira que veio do Brasil. Não estou nesse mundo dos famosos há 35 anos como você, são apenas duas semanas... Minha cabeça ainda está se acostumando. Estou conhecendo e lidando com pessoas que eu era fã, apenas. É difícil, ok?
— O que é difícil? — Tom chegou de supetão, me dando um susto que até me engasguei.
— aceitar que a vida dela iria mudar drasticamente quando aceitou vir passar este tempo comigo — Tobey disse na maior cara de pau e, ainda assim, mantendo o assunto de maneira secundária enquanto Tom sentava-se conosco. Deus do céu, eu não teria um segundo de paz sem um desses dois me deixando louca?
— Ah, isso era bem óbvio que ia acontecer, talvez o timing do filme sendo lançado agora e fazendo tanto sucesso não tenha sido a melhor ideia do mundo, mas foi o que aconteceu — Tom disse, dando de ombros. Simplesmente se intrometendo na conversa. Tobey concordou com a cabeça.
— Está vendo, ? É natural que você vá chamar um pouco mais de atenção no momento por conta do filme. Logo isso passa. É apenas questão de tempo — disse Tob, bebendo um pouco do seu café. — E logo você volta para o Brasil, então creio que poderá ter uma vida normal novamente.
— Quando você volta ao Brasil? — perguntou Tom, interessado, arqueando as sobrancelhas enquanto me olhava. Coloquei uma cereja na boca antes de responder.
— Semana que vem, logo depois do meu aniversário. Eu gostaria de ficar mais, mas meu trabalho não é exatamente o trabalho mais compreensível do mundo, existe, inclusive, a chance de eu chegar lá e ter perdido o meu cargo. Cozinha é um ramo muito movimentado, se tiver necessidade, eu serei substituída sem pensar duas vezes — expliquei e Tom arqueou as sobrancelhas ainda mais.
— Uau, eu não sabia disso.
— É, cozinha profissional não é lugar para amadores. Eu sabia do risco quando aceitei vir para cá, agora tenho que arcar com as consequências quando eu voltar — expliquei, sem graça, eu não havia admitido esta verdade nem mesmo para Tobey, não achava que seria justo com ele.
— Nossa, , por que você não me contou isso? Você tem tanto orgulho desse trabalho! — Tobey disse, tão incrédulo quanto Tom.
— Tobey, eu fiz a minha escolha. Coloquei minha família acima do meu trabalho e faria isso de novo, se fosse necessário. Eu amo meu trabalho e tenho certeza de que vou conseguir algo tão bom quanto isso, caso eu tenha perdido meu cargo atual — expliquei com simplicidade e notei os olhos de Tobey enchendo-se de lágrimas.
— Oh, merda, cheguei em uma hora ruim? — Ouvi a voz de Andrew atrás de mim.
— Sim, e acho que os dois precisam de um tempo a sós — Tom disse, levantando-se depressa, pegando apenas sua xícara de café e puxando Andrew consigo.
— Você não pode dar as costas para a sua vida por minha causa, , eu não sabia que estava causando isso a ti, além de tudo que eu já causei. Eu... você ama esse trabalho, já se gabou dele algumas vezes e até fez meu filho usar o seu chapéu de cozinheira. Simplesmente não é justo — ele disse, sério, com uma lágrima teimosa correndo por sua bochecha.
— Olha, Tobey, eu pensei bastante antes de vir. Conversei muito com minha família e decidi que era o certo. Eu decidi isso. Restaurantes não param em nenhum feriado, nenhuma data importante e eu não passo nem o Dia das Mães com a minha mãe, eu precisava disso, ‘tá bem? Se meu chefe não entender isto, paciência, tenho certeza de que a minha família estará para me apoiar se tudo der errado. Minha família inteira — falei, apertando sua mão que estava em cima da mesa. Ele sorriu por um momento breve.
— Eu com certeza estarei ao seu lado para qualquer coisa, só não concordo com o fato de você dar as costas ao seu sonho de ser uma sous chef para vir ver seu irmão que não conversou contigo durante praticamente vinte anos da sua vida — ele disse, segurando minha mão de volta.
— Tobey, esta é a minha vida e eu estou vivendo do jeito que eu acho certo. Posso vir a me arrepender? Com certeza, mas estou aqui e quero viver isto. O amanhã é outro momento. Ok?
— Ok — ele disse baixinho.
— Eu nem sei se realmente vou perder o cargo, é algo que está em risco, mas não recebi nenhuma mensagem de meus colegas de trabalho. Então, estou bem tranquila. — Soltei sua mão, enxuguei sua lágrima teimosa com o dedão e ele sorriu. — Eu não me arrependo, Tob, isso aqui é importante — falei, apontando para nós dois.
— Eu sei que é importante, eu sinto isso, mas... — ele disse, porém o interrompi:
— Tobey, me escuta. Eu prefiro me arrepender de algo que fiz do que de algo que não fiz — expliquei com calma. — Eu quero olhar para trás daqui há 20 anos e pensar que eu vim e fiz tudo o que podia para aproveitar ao máximo, do que pensar que nem tentei me reconectar com você.
— Eu te amo, — ele disse simplesmente, como se estivesse comprando um pão no supermercado. — Eu nunca deixei de te amar.
Levantei-me e fui ao seu encontro, ele também levantou e demos um abraço que deve ter durado, pelo menos, uns cinco minutos, com meus braços envoltos em sua cintura e os dele envolvendo meu pescoço. Ele depositou um beijo em minha cabeça.
— Eu também te amo, Tobey.
— Obrigado por estar me tirando do fundo do poço, por me divertir, me ouvir e retribuir o amor que eu sinto por ti. Me sinto completo, de uma maneira que não sentia há muito tempo — ele admitiu, ainda abraçado a mim. Sua respiração era calma e tranquilizante.
— Você sabe que eu não fiz absolutamente nada, certo? Você fez sozinho, Tob, eu só estava junto para te acompanhar nessa jornada. E eu ainda estou aqui. Sempre estarei — admiti, sorrindo, e ele me apertou mais forte.
Ficamos ali, curtindo a presença um do outro, sem a pressa de soltar do abraço, Tobey tinha cheiro de amaciante de roupas e eu adorava isto nele.
Senti alguém nos abraçando do lado direito e alguém do lado esquerdo e já sabia quem eram.
— Vocês são lindos e nós ficamos com ciúmes. — A voz de Tom surgiu, completamente inconveniente, mas não consegui conter uma risada.
— Tob, seus amigos estão estragando nosso momento — falei com a voz abafada.
— Não, estamos melhorando o momento. — A voz de Andrew preencheu o abraço.
Soltamos o abraço, rindo, Tobey enxugou as lágrimas com a manga da camiseta e todos voltamos a tomar café como se aquele momento nem tivesse acontecido.
Notei que Andrew tomou o cuidado de não usar a mesma camisa de ontem à noite, mas a calça de moletom era a mesma. Um calafrio correu por meu corpo, lembrando de momentos específicos, e ele notou que eu o olhava de soslaio.
Deus do céu, me ajuda.
Após a noite conturbada e o café da manhã dramático, eu e Tobey voltamos ao aeroporto. Nos despedimos de Tom e Andrew logo após o café e seguimos para sua casa, onde conversamos bastante sobre minha festa de aniversário, que logo teríamos que decidir algumas coisas: Eu viajaria de volta ao Brasil no dia 16 de fevereiro. Meu aniversário era dia 14, uma segunda-feira. A festa deveria ser feita no sábado, dia 12. Para isso, tínhamos basicamente 3 dias para programar tudo, desde decoração, comidas, bebidas, som e Tobey queria que eu usasse uma roupa especial para a data.
Corremos a cidade inteira durante a tarde, encontramos uma padaria brasileira no Google que era do outro lado da cidade, fizemos a encomenda de docinhos tradicionais e de um bolo de cenoura recheado e coberto com brigadeiro.
Fomos em uma loja de decoração e compramos tudo que havia de relacionado com o Dia dos Namorados, e isto incluía banners, balões em forma de coração, flores falsas, balinhas de coração e cartões personalizados; teríamos trabalho para deixar tudo pronto.
Tobey ligou para um conhecido que conhecia um restaurante que alugava um stand de bebidas, fomos até lá para escolhermos a lista de bebidas que deveriam ser distribuídas na festa:
- Caipirinhas de cachaça, vodca e vinho;
- Sex on the beach;
- Manhattan;
- Cosmopolitan;
- Margaritas;
- Piña colada;
- Mojitos;
Quando voltamos à sua casa, já era noite, e fiz uma macarronada com almôndegas tradicional para jantarmos.
— , obrigada por aceitar todas as minhas maluquices, as minhas correrias e problemas do meu mundo. Eu sei que não é fácil — Tobey disse, depois de repetir o prato de macarronada pela segunda vez.
— Tob, esquece isso. Eu estou adorando tudo. Estou saindo da minha zona de conforto todos os dias. Eu gosto dessa sensação, na hora parece que vou morrer, mas depois eu consigo lidar com uma certa segurança — respondi com sinceridade. É claro que eu não estava acostumada com tamanha exposição e tamanha atenção que eu estava recebendo. E, com certeza, eu iria demorar a me acostumar com isso. Porém, eu poderia aceitar aquilo para manter o vínculo que eu estava criando com Tobey. Um vínculo que eu não sabia que me faltava e que agora eu tinha plena certeza de que me completava.
— Eu não consigo simplesmente aceitar que tudo está bem. Você se faz de durona por fora, mas eu sei que você se derrete tanto quanto eu. Eu sou ator, . Eu sou um chorão nato, principalmente com coisas que se relacionam a ti e sua mãe. Isso me atinge de maneira inexplicável. Mas você não precisa fingir que está tudo bem só para me agradar, ok?
— Não estou fingindo, Tobey, está tudo bem mesmo. Sobre as fotos na internet e paparazzis: é uma pena que aconteça mais do que deveria, mas não é algo que me incomoda, pois sei que não tem saída, você é a prova vida disso. Sobre estes encontros com famosos em estreias e programas de TV: ainda estou me acostumando, ainda é um pouco surreal para mim, mas de maneira alguma é algo ruim. Sobre a exposição na internet: não é algo que eu fico confortável, mas é o mesmo caso dos paparazzis, não tenho muito para onde correr, eu sou uma pessoa do bem e sei disso, o que falam ou não de mim lá está fora do meu controle. Sobre o meu emprego no Brasil: não adianta se desesperar antes de qualquer coisa acontecer, não quero ficar com ansiedade enquanto estou aqui. Quero primeiro viver o que estou vivendo e depois ver o que aconteceu lá. E sobre o meu caso com Tom e Andrew: estou tentando levar numa boa, não estou fazendo nada que eu não queira — expliquei com cuidado, o vendo comer e me olhar com calma.
— Entendi. Estou realmente feliz de você estar levando tudo assim na boa. Você sabe, eu pego no seu pé para te encher o saco, mas, caso qualquer coisa esteja te incomodando além do que eu sei que estou incomodando de propósito, por favor, me fale.
— ‘Tá bem, Tob, obrigada por toda essa abertura. Isso se chama relacionamento saudável — falei, brincando, e ele sorriu.
Capítulo 9
Tobey estava grudado em mim feito chiclete, queria fazer tudo comigo, aprender receitas e falar em português para treinar (ele estava muito bom, por sinal) e passear para colecionarmos memórias.
A casa estava pronta, havia balões de gás hélio vermelhos e dourados em todos os cantos; na parede da sala, meu nome estava colado com letras gigantes, também feitas de balões dourados; haviam rosas vermelhas e trufas de chocolate sob todos os móveis e muitas pétalas falsas sobre o chão, deixando aquela sensação de Valentine’s Day bem acentuada. Eu estava muito feliz com o resultado, não havia imaginado nada comparado àquilo. A cozinha seria o local dos coquetéis, tudo já estava preparado para a chegada do homem que iria fazer todos os drinks. E na sala, na parede onde estava colocado o meu nome, havia uma mesa com o enorme bolo de cenoura e todos os docinhos brasileiros que eu mais amava.
Tobey tinha chamado Carlos e Genevieve para me arrumarem, usando a desculpa de que eles eram convidados para a festa, mas, no fundo, eu sabia que ele queria que eu estivesse mais que perfeita para o meu dia. Ele havia se esforçado bastante para isso, eu me sentia uma rainha.
Escolhi um vestido tubinho colado, as alças eram de correntes douradas que se cruzavam em minhas costas e o decote era drapeado. Simples e eficiente.
Por ser meu aniversário e meu vestido ser versátil, Genevieve me perguntou se eu queria algo específico no rosto e eu simplesmente falei sem nem pensar:
— Maddy de Euphoria. — Ela e Carlos deram um high-five, animados.
— É isso aí, garota! — Carlos disse, mexendo em meus cabelos, enquanto eu estava sentada em uma cadeira que deitava ligeiramente as costas. Os dois trabalharam em mim ao mesmo tempo e me confirmaram que realmente ficariam para a festa.
Carlos deixou meu cabelo liso, reto e dividido no meio. Na raiz, onde aparecia meu couro cabeludo, ele colou uma sequência de strass. Gen fez um delineado especialmente elaborado em meus olhos, com detalhes em dourado para combinar com o vestido. Na boca, um batom nude lindo e, assim, acabei virando Maddy Perez sem nem mesmo ser uma festa à fantasia.
Era o “boom” de autoconfiança que eu precisava.
Desci as escadas depois que fiquei pronta e já estava tudo ok. Ao pé da mesma, estavam Tobey, o moço que foi contratado para fazer os drinks, o DJ, Gen e Carlos, e todos me acompanharam descer os degraus de boca aberta. Carlos bateu palmas quando cheguei ao último degrau e esticou a mão para me fazer dar uma voltinha.
— Eu posso sentir o calor daqui. A testosterona — cochichou em meu ouvido e demos uma risada cúmplice.
— Meu Deus, , hoje você avacalhou — Tobey disse, me abraçando. Ele também estava lindo com uma camisa preta com os primeiros botões desabotoados, cheiroso como só ele poderia estar.
— Você também não está nada mal — brinquei.
Ele tratou de me apresentar aos dois pedaços de mal caminho que estavam ali. O homem dos drinks era um belíssimo mexicano que usava uma blusa colorida com estampa de costelas-de-Adão e o DJ era um sueco loiro de dois metros de altura que tinha um sotaque estranho, mas inexplicavelmente elegante. Gen gostou dele de cara e eu sabia que o cupido teria um trabalhinho hoje.
— , tenho um presente adiantado para te dar. Por favor, não fique brava comigo — Tobey disse, coçando a nuca, como se estivesse escondendo algo. Uni as sobrancelhas quando ele esticou a mão para que eu o acompanhasse.
Ele me levou até a porta do seu escritório, aquele fatídico quarto que Tom havia vomitado em meus pés. Tob fez um drama ao abrir a porta e nem preciso dizer que meu coração já estava quase saltando pela boca quando vi meus melhores amigos tão arrumados quanto eu dentro daquele quarto: Baby e Johnson, os gêmeos que eu tanto amava.
Dei um grito afetado e corri ao abraço deles. Johnson me tirou do chão, girando-me, enquanto Baby gritava tanto quanto eu.
— O que vocês dois estão fazendo aqui?! Como deixaram a ralé entrar? — perguntei em português, rindo, fazendo os dois rolarem os olhos para cima ao mesmo tempo.
— A ralé já estava aqui, amore — Johnson respondeu, rápido. Abracei Baby pelo pescoço.
— Você vai estragar meu cabelo, sua vaca — disse ela, me largando, ainda ríamos.
— Foi você que fez isso? — perguntei a Tobey e ele se aproximou, sorrindo.
— Foi, espero que tenha gostado, foi bem trabalhoso falar com a sua mãe sem ajuda — ele admitiu, sem graça.
— ‘Tá brincando? — perguntei. Ele deu de ombros. — Eu amei, Tobey, são meus melhores amigos, é claro que eu ia amar! Obrigada por isso. — Abracei-o com sinceridade.
— Ok, vou deixar vocês sozinhos por um tempo — ele disse, sorrindo, saindo do quarto.
— Meu Deeeeeeus, , seu irmão é um gato! — Johnson disse, colocando o cabelo para trás da orelha, como se fingisse estar encabulado, coisa que eu sabia que ele não estava.
— Verdade! — Baby disse, afastando os cabelos da nuca e se abanando com as mãos.
— Está solteiro, hein. Aproveitem que hoje é o dia do flerte sem compromisso com o nosso cupido — pisquei e eles deram uma risada malvada. Johnson e Baby eram meus melhores amigos desde que me lembro, obviamente o nome deles não era estes e sim Gabriel e Gabriela, porém eles viraram Johnson e Baby depois de um vídeo deles fazendo uma propaganda da Johnson’s Baby quando ainda estávamos na época do Orkut. Foi o suficiente para o apelido pegar e até hoje são conhecidos assim na cidade onde moramos.
Conversamos sobre como tudo aconteceu, Tobey entrou em contato com eles depois de falar com a minha mãe, que avisou a eles que meu irmão entraria em contato. O inglês deles estava enferrujado, mas serviria para durar a noite inteira. Contei a eles sobre minha situação com Andrew e Tom e cada um tomou um partido: Johnson era a favor de Andrew, já que ele já havia estabelecido o tipo de relação que queria e, obviamente, era o que eu estava precisando no momento e Baby tomou o partido de Tom, já que ela claramente preferia um cavalheiro que dava passos devagar e com cautela.
Traduzindo: Não me ajudaram em nada, apenas me deixaram com mais dúvidas.
Voltamos ao encontro de todos, apresentei cada um e pedi para que o DJ começasse a tocar algo enquanto os convidados não chegavam e solicitei ao barman que me fizesse algumas piñas coladas para aquecer com classe.
Não demorou muito para que a sala já estivesse cheia de pessoas, alguns rostos eram conhecidos e outros não, mas eu não ligava. Estava feliz de estar perto das pessoas que eu gostava e de a festa estar do jeito que eu queria.
Notei quase que imediatamente que Carlos e Johnson se deram muito bem, assim como Baby e Tobey, eu precisava apenas de um jeito de fazer o DJ e Gen darem certo e a Operação Cupido da noite estaria completa.
Tom foi o primeiro a chegar, acompanhado de Jason e os dois colegas que vieram na outra festa. Depois de todas as apresentações feitas, ele veio ao meu lado me perguntar como eu queria que funcionasse o “negócio do cupido”.
— Bom, você sabe que não precisa fazer, certo? — perguntei, levantando a sobrancelha e ele levantou a dele também.
— Eu me comprometi com você. Comprei esta blusa especialmente para isto — explicou, sério, segurando o tecido da camisa. Ele usava uma camisa de botões branca com desenhos de corações vermelhos. E ficava adorável com ela.
— Tudo bem, tudo bem — levantei as mãos, me defendendo. — Só não quero que você perca a festa inteira por causa de uma besteira.
— Está brincando? Vou saber os babados mais fortes com essa coisa — explicou ele, animado. Tom colocou uma pochete pelo pescoço, cruzando seu peito, conferiu a quantidade de canetas e a quantidade de bilhetinhos cortados em formato de coração. — Estou pronto. Quer mandar bilhetinho para alguém?
Pensei por um segundo. Eu não estava bêbada ainda, então, não.
— Bom, eu tenho um para você — falou ele, colocando o cabelo para trás da orelha, e tirou o pequeno coração do bolso de trás da calça jeans que usava.
Peguei o bilhete e li:
“Você está linda. Posso não tirar os olhos de você esta noite?”
A letra era miúda e juntinha, a escrita era forte, deixando marcas fundas no papel. Minhas pernas fraquejaram por um segundo e minha pose de Maddy gostosona se desmanchou. Quando levantei os olhos, ele já estava tão perto que acabei de perder o último resquício de ar que tinha em minha garganta. Sua mão pousou em minha cintura e ele juntou nossas bocas. Nossas línguas se misturaram com naturalidade, minha mão seguiu até sua nuca, mesmo segurando o bilhete, e sua mão livre correu minhas costas e parou no meio. Sua boca tinha gosto de cereja e o seu cheiro era tão bom que me fez tremer na base enquanto seus lábios me deixavam tonta. Para encerrar o beijo, Tom puxou meu lábio inferior com uma leveza que só ele podia ter em um momento como aqueles e me deu um selinho antes de dizer:
— Só para garantir, enquanto estamos sóbrios. — Deu seu melhor sorriso, aquele que ele parecia saber que detonava meu senso de direção, e saiu antes que eu falasse qualquer coisa. Saí do quarto e Johnson veio ao meu encontro.
— Já, sua piranha? — perguntou, me fazendo dar uma gargalhada. Minha cara entregava tanto assim?
— Ele me pegou de surpresa — expliquei e ele riu. Chamei Baby para o quarto em que estávamos.
— Gente do céu, o que eu faço? Tom já me beijou. Os dois vão estar aqui hoje! — falei, arregalando os olhos e colocando as duas mãos no rosto.
— Ok, respira — Baby disse, calma. — Você já passou por situações parecidas, certo? Como foi?
— Já. Na primeira festa, fiquei com Andrew, já que Tom ainda namorava Zendaya. Na segunda, Andrew ficou afastado, apenas me falou que não tinha ciúmes. Naquele dia, não fiquei com nenhum deles. A outra vez foi no hotel, na gravação do programa, nenhum dos dois fez nada na presença um do outro, mas Andrew veio até o meu quarto primeiro. Tom veio depois e tive que pedir para ele ir embora.
— Safada! Adoro. — Johnson me abraçou pelo pescoço. — Miga, dá mole para os dois. O que te levar para o quarto primeiro, ganha. É simples. Andrew já sabe que Tom está afim. Já o Tom, não temos certeza de que ele sabe que o Andrew está no jogo. Às vezes ele sabe e, por isso, veio primeiro te beijar para te deixar abalada...
— Verdade — Baby concordou. — Ele pode estar jogando também. Faz a sonsa, miga. Você possivelmente não vai mais os ver depois que for embora, pensa nisso e aproveita o momento.
Ok. Eles estavam certos. Se não tivessem, pelo menos estavam do meu lado o suficiente para que eu não me sentisse sozinha se alguma merda acontecesse.
— Ok. Vocês estão certos. Agora vão lá e mandem cartões. Você para o meu irmão — falei, apontando para Baby. — E você para o Carlos — apontei para Johnson.
— Cara, eu preciso admitir que ainda não me acostumei com o fato de o TOBEY MAGUIRE ser seu irmão e ter chamado a gente para vir para cá. É surreal — Baby disse, tendo um pequeno surto.
— Pois pode se acostumar, porque, além de ele ter te chamado para vir para cá, ele ainda vai te convidar para conhecer o quarto dele — pisquei, maliciosa, para ela, que deu uma risada gostosa.
Conversamos mais um pouco antes de voltarmos para a festa que a cada segundo enchia mais.
Eu já devia estar na minha terceira caipirinha de vinho quando Andrew chegou, com um blazer de veludo rosa, uma camisa branca por baixo e calças de alfaiataria da mesma cor do blazer.
— Irmã Maguire, como você está? — perguntou ele, dando-me um abraço caloroso.
— Estou muito bem, Garfield, e você? — eu disse, mantendo o abraço por um segundo. Ele estava lindo.
— Estou desnorteado com a sua beleza — disse ele, passando a mão na corrente do meu vestido. Apenas empurrei seu ombro, sorrindo sem graça. — Vai me enviar bilhetinhos hoje à noite? — perguntou, malicioso, e eu o acompanhei, piscando. Não respondi nada. O presentei aos meus amigos e Johnson obviamente pirou, o abraçou tanto que acabei ficando com vergonha.
— A beleza de milhões que esse homem tem, meu Deus! — ele disse para mim, em português, e Andrew nos observou com as sobrancelhas unidas. — Acho que estou apaixonado.
— Ele disse que está apaixonado por você — expliquei a Andrew e ele deu uma risada divertida, jogando a cabeça para trás.
— Hoje eu só aceito flerte por bilhetinho, Johnson — Andrew respondeu, carismático, e Johnson fingiu estar desmaiando, amolecendo as pernas. Foi até o ouvido de Andrew e cochichou algo.
Os dois riram e apertaram as mãos, me deixando com cara de panaca.
Andrew se afastou, provavelmente atrás de uma bebida, e eu fui atrás de Tom, pois queria um bilhetinho em branco para iniciar minha Operação Cupido com o DJ e Gen.
— Estou com um bilhetinho da sua amiga para o seu irmão — Tom simplesmente dedurou Baby, me fazendo cair na gargalhada. — Eu estou amando isso!
“Não consigo tirar os olhos de você.”
Escrevi no bilhete e pedi para Tom fazer a ponte entre Gen e o DJ, ele piscou para mim.
Peguei outro bilhete e escrevi:
“Por favor, não vá vomitar em mim de novo.”
Entreguei-o a Tom e sumi antes de ele me perguntar para quem era. Essa festa seria uma correria só, passei pela mesa e enfiei um brigadeiro na boca. A sala e as escadas já estavam cheias de pessoas que eu nunca havia visto, o DJ tocava músicas para todos os gostos, variando entre POP, eletrônica e alguns remixes. Fui até ele e pedi algumas músicas brasileiras e ele respondeu que já estavam prontas, estava só esperando a festa tomar forma para iniciar; o agradeci.
Procurei meus amigos que, aparentemente, estavam muito bem enturmados e acabei pegando Tobey e Baby se agarrando na cozinha. Baby não fez nem cara de quem estava assustada ou arrependida; passei por eles e os abracei, apertando a bunda de Baby, que me deu um tapa no ombro.
— Depois quero ter uma conversinha com o senhor — brinquei, falando com Tobey, e ele riu, mordendo os lábios e dando de ombros.
Johnson me puxou da cozinha, mostrando o dedo do meio para Baby, me fazendo cair na risada, e me entregou um bilhetinho.
“Can you kiss me more? We're so young, baby, we ain't got nothin' to lose”
(Você poderia me beijar mais? Nós somos jovens, baby, e não temos nada a perder)
Era Andrew, a letra era bonita e com uma escrita suave. Dei uma risada enquanto Johnson ria abertamente da minha cara também. A letra era da música da Doja Cat que eu havia cantado no karaokê, na última festa.
— Miga, dá para ele logo. ‘Tá estampado na sua cara que você está a fim dele — ele disse no meu ouvido.
Fechei os olhos e respirei fundo, já que Johnson estava fazendo o papel do diabinho no meu ombro. Em contrapartida, eu conseguia ouvir o anjinho do outro lado falando “mas você acabou de beijar o Tom e flertar com ele”. Minha cabeça estava a um milhão por hora.
— Lavou ‘tá nova, amore — ele disse, piscando, e me entregando um bilhetinho em branco.
“Então você prestou atenção na música aquele dia?”
Respondi e Johnson pegou o bilhetinho satisfeito, saiu sorrindo com a maior cara de safado do mundo.
A noite continuou recheada de docinhos, bilhetes secretos e beijo na boca. Sim. Todo mundo beijou, menos eu. Se não fosse pela caridade de Tom no início da noite, eu seria a única pessoa naquela festa que, aparentemente, não havia trocado saliva com alguém.
Tom voltou a me encontrar e entregou-me um bilhete, virando-se logo em seguida.
“Um dos motivos de aquilo acontecer foi como você me olhava naquela noite.”
Dei uma risada sozinha e fui atrás de um bilhetinho para devolvê-lo, acabei encontrando um bloquinho de notas no escritório de Tobey e coloquei-o em um lugar estratégico da sala para eu poder escrever meus bilhetinhos secretos.
“Ah, então a culpa é minha? Você acha que é o único que fica nervoso com tudo isso?”
Quando encontrei Tom, coloquei o bilhete em sua mão e passei reto, fazendo-o sorrir de canto. O DJ começou a tocar algumas músicas latinas, com aquele ritmo que quando você está leve da bebida, o seu quadril simplesmente não consegue se segurar. Em menos de um minuto depois, Baby e Johnson estavam comigo, dançando nossas coreografias ensaiadas de quando íamos à festas e fazíamos aulas de fitdance, que eram completamente influenciadas por Johnson.
“Não foi só na música e não foi apenas aquele dia.”
Johnson me entregou o bilhete, sorrindo sacana como sempre. Lambi os lábios, sorrindo, quando li o conteúdo do bilhete.
— Acho que não é só você que está apaixonada pelo Andrew — ele brincou, falando ao meu ouvido, se abanando e indicando Andrew com a cabeça. Tentei disfarçar, mas notei que Andrew nos observava de longe, uma das mãos no bolso da calça e a outra segurando uma bebida que ele levou à boca bem quando nossos olhos se encontraram. Ele sorriu e deu as costas.
— Puta merda, , que homem. — Johnson me fez cair na risada. Graças a Deus ele e Baby estavam ali para aliviar minha tensão.
Baby veio cochichar em meu ouvido também.
— Se você não ficar com Tom, eu vou, desgraça — disse e indicou Tom com a sobrancelha. Ele estava logo atrás de mim. Tocou minhas costas com a mão, beijou meu rosto e seguiu até Baby, cochichando em sua orelha. Os dois riram como se fossem velhos conhecidos e Tom entregou um bilhetinho, provavelmente de Tobey, para Baby.
Puta merda. Puta merda. Puta merda. O que eu vou fazer?
Eu me sentia em uma comédia romântica boba, em “Crepúsculo”, “Jogos Vorazes” ou em “Eu Nunca...”, ou qualquer outro filme com um triângulo amoroso. Eu não servia para aquilo e, muito menos, para escolher um dos dois. Eu gostava dos dois. Gostava de sua companhia e de como cada um me fazia sentir individualmente.
Mas, ok, como meus melhores amigos estavam falando: eu não estava exatamente escolhendo um marido para casar, certo? Em nenhum momento foi falado nada sobre exclusividade ou relacionamentos. Então, eu ia apenas deixar fluir. Respira, , você pode fazer isso.
Antes de sair do nosso círculo, Tom entregou-me mais um bilhete e deu as costas.
“Você não tem noção do que faz com as pessoas, isso é maldade.”
Uni as sobrancelhas e fui até o meu bloquinho particular.
Para Tom, escrevi:
“Maldade é você fazer este tipo de coisa com meras mortais como eu.”
Para Andrew escrevi:
“Devo ficar com medo?”
Entreguei cada um para meus entregadores particulares, Baby e Johnson sorriram, satisfeitos.
Quando deu meia-noite, todos se reuniram na sala para cantar “parabéns para você”, com direito à velinhas e assovios extremamente altos vindos dos meus melhores amigos espalhafatosos. Todo mundo comeu bolo, docinhos e bombons, o moço dos coquetéis estava suado e cansado de tanto fazer bebida, e acabei pedindo uma água para ele. Enquanto eu bebia, Johnson e Baby me puxaram para dançar, já que o DJ finalmente havia começado a tocar músicas brasileiras. Dançamos feito doidos, rebolando a bunda e rindo, completamente descompassados pela bebida. Em um certo momento, Johnson entregou um bilhetinho disfarçadamente em minha mão, ainda rindo com aquela cara sacana do diabinho no meu ombro.
“Medo de mim? Eu é que tenho medo do que você está fazendo comigo!”
Dei uma risada alta e meus olhos procuraram por ele, e acabei encontrando, do outro lado da sala, conversando animadamente com Tom e Tobey, aquelas três beldades esculpidas à mão. Sorri, sozinha, e Johnson berrou no meu ouvido:
— Você pare agora com esse sorrisinho besta apaixonado. Você é uma gata ou uma rata? — Johnson falou para mim, pondo as mãos na cintura. — Deu desses olhinhos bobos e suspiros longos. Empodera a majestosa, gata, e vai à luta.
— Johnson, cadê o Carlos? — perguntei, querendo que ele mudasse de assunto.
— Já peguei e já ‘tô em outra. Aprende comigo, não dá bola para a minha irmã que já está lá babando pelo seu irmão. A Baby adora casar nas festas. Beija um e já está apaixonada. Você é das minhas — ele disse, dando de ombros. Johnson era assim. Simples e objetivo. Eu o amava por ser essa pessoa espontânea que eu não sabia ser. E amava sua irmã por ser o completo oposto, o amor e drama em pessoa. Eu gostava de dizer que era a mistura perfeita deles, o yin-yang dos gêmeos.
— Você sabe que eu só me faço de Maddie, mas no fundo sou mais Lexy, certo?
— É, você não é Maddie, mas eu te amo do mesmo jeito. Mesmo sendo chata — ele disse, rindo e me abraçando. Outra música da Anitta começou a tocar e, em meio segundo, Baby já estava conosco dançando novamente.
“Não é a primeira vez que te digo que não estou fazendo nada. Acredite, é você que deve estar muito tempo sem sexo.”
Respondi para Andrew, dando risada enquanto escrevia.
Baby me entregou um bilhetinho e eu já sabia que devia ser de Tom:
“Mero mortal sou eu, comparado ao quanto você está linda hoje.”
Jesus amado. O que vai ser de mim?
Fui ao banheiro, respirei fundo enquanto me olhava no espelho. A maquiagem ainda estava impecável, assim como o cabelo. Encarando meu reflexo no espelho, falei sozinha:
— , o que você está fazendo?
Ri, sozinha, depois de ouvir minha voz ecoar no banheiro vazio, e notei que a bebida podia estar ligeiramente acima do nível considerado aceitável. Por este motivo, me dirigi ao bar e pedi mais uma água.
Bati um papo com Carlos e Gen, que estavam próximos do bar e ao lado da mesa do DJ, que fazia gracinhas para Gen enquanto conversávamos, e dei um high-five com ela, que também estava alegre por conta da bebida.
Johnson me encontrou, mas deu atenção a Carlos primeiro, falando gracinhas em seu ouvido e brincando com seu cabelo, fazendo eu e Gen nos afastarmos ligeiramente para deixá-los mais à vontade. Porém, ele esticou a mão com um bilhetinho antes que eu me afastasse o suficiente.
“Não vou negar que talvez você esteja certa, mas podemos acabar com esse problema rapidinho.”
Puta merda. Puta merda. Puta merda.
Gen me olhou, curiosa, e entreguei o bilhetinho para que entendesse o motivo do surto, expliquei que meu último bilhete se referia ao fato de ele sentir falta de sexo. Ela deu um gritinho afetado e demos risada. Mesmo assim, ela perguntou:
— Tom ou Andrew?
— Quem você acha? — perguntei, querendo testar sua destreza em ler as pessoas.
— Andrew. O Tom tem cara de ser meio lerdinho — admitiu ela, dando uma risadinha. — Ele é mesmo. Você acertou.
Ficamos alguns minutos ali, dando risada, e ela me contou como aconteceu com o DJ e eu admiti que fui a causadora de tudo.
— Eu sabia! Imaginei que só podia ser você ou o Carlos, mas ele jurou por tudo que não havia sido ele.
Demos risada, vendo Carlos e Johnson se pegando ao nosso lado. Johnson havia acabado de me dar sermão sobre não “casar” em festas e estava ali se agarrando com Carlos de novo. Parece que o mundo virou, não é mesmo?
Me perdi em meus pensamentos por um segundo e Gen me puxou de volta.
— E o que você vai fazer?
— Sobre o quê?
— Sobre esse bilhete que está na sua mão — disse ela, virando os olhos e rindo da minha cara.
— Eu não sei — admiti.
— Você sabe sim. Só está com medo do que pode acontecer depois — ela disse, erguendo as sobrancelhas. — Deixa de ser boba, menina. Vai aproveitar as oportunidades que a vida está te dando.
Respirei fundo, segurei o bilhete que havia acabado de escrever e fui atrás de Baby, encontrando-a novamente agarrada com meu irmão.
— Vocês são péssimos — brinquei, virando os olhos para cima. Tobey sorriu com a boca cheia de batom borrado. Cochichei minhas intenções com Baby e ela sorriu com malícia enquanto piscava disfarçadamente.
— Vou falar com Johnson, pode ficar tranquila. — Beijou minha bochecha e me abraçou, como se estivéssemos nos despedindo. Demos uma risada cúmplice antes de eu sair.
Segui minha intuição e encontrei Johnson. Entreguei a ele meu último bilhete para Andrew e continuei indo em direção ao meu quarto. Encontrei Jason Batalon na escada e beijei seu rosto, abraçando-o, ele me desejou feliz aniversário novamente e disse que a festa estava ótima.
Entrei em meu mais novo quarto, fechei a porta e respirei fundo antes de notar que não estava sozinha. Johnson ia ficar a noite inteira procurando Andrew e não o encontraria, já que ele estava em meu quarto.
— Hey, Maguire — disse, sorrindo abertamente.
Capítulo 10
Ouvi a porta do quarto se abrir, cruzei os dedos em minhas costas, torcendo para que não fosse Tom. Se fosse, teríamos que nos explicar ou cada um daria uma risada sem graça e sairíamos do quarto fingindo ter coisa melhor para fazer?
A luz do lado de fora iluminou a silhueta perfeita de e pude descruzar os dedos, vendo-a fechar a porta, ainda sem me ver. Ela encostou as costas na porta e suspirou alto, finalmente abrindo os olhos e notando que eu estava logo ali do outro lado da cama. Dei um sorriso aberto, vendo sua mistura de satisfação e confusão no rosto.
— Hey, Maguire — falei, vendo-a dar um pequeno sorriso, aquele que eu adorava e que me deixava em completo êxtase.
Deixei meu copo na escrivaninha que tinha ali perto e não perdi tempo, algo simplesmente me dizia que ela havia vindo ali por mim, talvez seus olhos ou a sua linguagem corporal. Não sei, mas não posso negar que ela vibrava, seu corpo inteiro parecia pulsar quando me aproximei, completamente absorto em seu corpo, e puxei seu rosto para um beijo. Seus lábios eram provavelmente os mais macios que eu já havia beijado a minha vida inteira e o fato de a sua boca ter gosto de morango com álcool não me ajudava em nada. Pressionei seu corpo com o meu, coloquei minha perna no meio da sua, deixando o espaço entre nós quase nulo, e senti suas mãozinhas entrando por baixo do meu blazer. Separei nossas bocas, pois eu precisava alimentar meu vício em seu cheiro, por isso desci minha boca para seu pescoço enquanto ela deixou escapar um suspiro suave próximo da minha orelha. Tudo naquela mulher me deixava com um tesão dos infernos e ela simplesmente não fazia ideia de como era incrível. Seu cheiro despertou meu amigo no andar de baixo e tenho certeza que ela notou pela nossa proximidade. Minhas mãos desceram para a sua cintura enquanto meus lábios subiam para a sua boca novamente. Encostamos nossas testas antes de colarmos nossas bocas e ela disse:
— Por favor, Garfield, vamos até o fim desta vez. — A sua voz quase inaudível, junto com aquele sotaque delicioso, fez meu membro pulsar mais uma vez e ela deixou escapar um sorriso malicioso.
— Eu prometo — falei, lambendo os lábios antes de voltar a beijá-la. Dessa vez, suas mãos estavam agarradas em meu pescoço e o beijo foi mais intenso do que o anterior. Dei um impulso com as mãos em suas costelas, fazendo-a sair do chão, e ela prontamente enrolou as pernas em minha cintura. Nossa química era inegável e seu cheiro me abraçava, separou nossas bocas e beijou meu queixo e mandíbula, fazendo com que minha pele se arrepiasse completamente. Seguiu os lábios até meu pescoço e beijou ali com voracidade enquanto minhas mãos seguiam da sua cintura para as coxas e das coxas para a bunda. Seus dedos enlaçaram-se em meus cabelos, puxando e guiando minha boca até a sua novamente. Peguei-a no colo e sentei-me calmamente na cama, fazendo com que ficasse sentada em minhas pernas. pareceu gostar e, em seguida, sugou meu lábio inferior, me deixando completamente a mercê de seu toque, e puxou levemente meu blazer para trás, indicando que eu deveria tirá-lo; obviamente o fiz. Minhas mãos continuavam em sua bunda ainda por cima do vestido preto que a vestia tão bem.
Seus dedos ágeis começaram a desabotoar minha camisa e, enquanto ela se concentrava nisto, desci meus beijos mais uma vez, beijando seu pescoço, clavícula e ombros, onde deixei uma mordida leve, deixando-a escapar um gemido que me deixou entorpecido.
Tirei minha camisa e ela pareceu me admirar por alguns segundos antes de me beijar novamente, seu gosto era viciante e eu tinha plena certeza de que podia ficar beijando sua boca por horas. Suas mãos passeavam por todo o meu tronco, às vezes arranhando-me com suas unhas curtas, arrancando suspiros de minha boca e tremores de meu pênis.
Minhas mãos nada bobas iniciaram o movimento de levantar seu vestido devagar, sem malícia ou pressa, apenas subindo pouco a pouco enquanto ela agarrava meu cabelo como se dependesse daquilo. Poucos milímetros de subida do vestido e notei que ela usava uma calcinha vermelha de renda, porra, eu não estava preparado para aquilo.
— Porra, , calcinha de renda vermelha?
— É para combinar com o tema da festa — ela deu um sorriso nada inocente.
Dei uma risada alta, levantei-me com ela no colo e coloquei-a sentada na escrivaninha. Colei meus lábios em seu pescoço enquanto ela desafivelava meu cinto. Procurei o zíper do seu vestido nas costas, o vestido ficou mais frouxo e, antes de puxá-lo para cima, olhei em seus olhos:
— Tem certeza disso?
— Sim — ela disse, erguendo um pouco o quadril para facilitar a retirada do vestido. Tirei o mesmo por sua cabeça e reencontrei seus seios firmes mais uma vez. Meu pau já me incomodava dentro da cueca e da calça, mas logo chegaria a vez de ele ganhar atenção. Enquanto isso, beijei todo o seu colo, apertando um de seus seios com a mão esquerda enquanto o outro eu sugava, lambia e beijava com toda a ferocidade que havia em mim. Seus gemidos leves e roucos ecoavam em minha mente, me deixando mais duro, se é que isso era possível.
Durante meu processo de lamber e beijar todo o seu colo, deu um jeito de abrir o zíper da minha calça, que era mais soltinha e acabou caindo até meus pés, e eu apenas movi minhas pernas para me livrar dela. Peguei-a de novo no colo, colando nossas bocas e a guiei novamente até a cama, onde a coloquei deitada e a admirei por alguns segundos assim como ela havia feito comigo. Não havia mais batom em sua boca, seus cabelos estavam bagunçados, o peito subia e descia com velocidade e o seu corpo, ah, o seu corpo, as tatuagens nos lugares certos, a cintura fina e a bunda perfeita, aquela calcinha parecia ter sido desenhada para seu corpo e ela sorriu, maliciosa, vendo-me aproximar dela. Beijei seus pés, pensando em continuar o que eu havia parado na última vez. Subi para as panturrilhas, o interior de suas coxas e notei os pelinhos do seu braço arrepiados quando toquei em sua vagina com o dedão por cima da calcinha ensopada. agarrou seus seios por instinto e fechou os olhos enquanto eu baixava sua calcinha. Retirei-a com sua ajuda e admirei a majestosidade que estava em minha frente antes de tocar minha língua em seu clitóris, fazendo-a estremecer dos pés à cabeça. Lambi toda a extensão da sua vagina e deixou escapar um gemido completamente delicioso. Continuei minhas investidas no local enquanto uma de suas mãos veio de encontro aos meus cabelos. O gosto ligeiramente salgado e ácido da sua intimidade me deixava insano e seus suspiros contínuos não estavam me ajudando a manter a sanidade. Não me dei ao luxo de fechar os olhos um segundo sequer, pois não queria perder um milésimo do espetáculo que estava em minha frente: se encontrava com os olhos fechados com força, a boca entreaberta, as pernas abertas e ambas as mãos agarradas em meu cabelo. Os gemidos variavam de acordo com o que eu fazia e o ápice veio quando coloquei dois dedos dentro dela e vi suas pernas perdendo completo controle sobre si e tremendo com tanta força que tive que me concentrar muito para não gozar apenas de vê-la gozando. Que mulher!
arfava e sorria completamente safada quando abriu os olhos para me encarar após seu primeiro orgasmo e me chamou com o dedo, fazendo com que eu rastejasse até nossas bocas se encontrarem novamente. O beijo ardia, nossas peles inflamaram de tanto desejo que havia envolvido, cada toque seu me fazia desejá-la mais, e tive que me concentrar muito mais quando ela tocou meu pênis, enfiando sua mão por dentro de minha cueca. Reprimi um gemido durante o beijo e pude notar que ela sorriu.
Eu sabia que precisava ir atrás da minha calça para pegar uma camisinha na carteira, mas me desvencilhar de seu corpo era uma tarefa quase impossível de exercer naquele momento. Como se lesse a minha mente, começou a tatear a mesinha que havia ao lado da cama e abriu a gaveta, partindo o beijo como quem dizia: “só um minutinho”, e retirou a mão de lá segurando uma camisinha.
— Você leu a minha mente — eu disse, sorrindo, vendo-a abrir o pacote preto com os dentes. Retirei minha cueca e vi seus olhos me admirando novamente e lambendo os lábios com malícia antes de colocar a camisinha para mim, sua mão me masturbando com habilidade antes de colocá-la até o fim.
Nos beijamos mais uma vez antes de cruzarmos esta linha que não teria volta, dei um selinho molhado em sua boca e ela sorriu quando fiquei de joelhos na cama. Passei a ponta do meu pênis por toda sua vulva, fazendo-a revirar os olhos na órbita, brinquei um pouco na entrada da sua vagina antes de penetrá-la completamente, momento este que foi registrado por um gemido sincronizado de ambas as partes. Deus do céu. Como eu precisava disso.
— Porra — ela sussurrou em português e meu tesão, que já estava nas alturas, pareceu explodir.
Movi meu quadril, retirando completamente meu membro de dentro dela e enfiando novamente, seguindo o vai-e-vem delicioso que aquela mulher estava me proporcionando. Continuei assim por alguns minutos, soltando suspiros profundos e ouvindo gemidos dela que me faziam acelerar cada vez mais. Seu corpo respondia a cada toque que eu fazia, suas unhas me arranhavam, seus lábios me beijavam, sua pele me esquentava e seus olhos me enlouqueciam, nosso movimento era sincronizado e muito bem executado. A cada estocada que eu dava, uma sensação diferente me dominava, nossos corpos suavam e a atmosfera ficou mais densa dentro daquele quarto. Em um determinado momento, decidi puxar suas pernas para cima, pois precisava de apoio, então coloquei cada uma delas em meus ombros e abracei-as. Com apoio, consegui aumentar a velocidade das estocadas e os gemidos dela acabaram ganhando mais força, nada absurdo de filme pornô que nos ouviriam de fora do quarto, mas o suficiente para fazer os pelos do meu braço se arrepiarem e uma onda de êxtase correr pelo meu corpo.
— Continua assim, Andy, eu vou... eu vou gozar. — Ouvi sua voz dizer em um sussurro leve, simples e suave.
Andy, aquilo entrou em meus ouvidos como música, era a primeira vez que ela me chamava por qualquer apelido e meu corpo reagiu àquilo como um estopim para fazê-la gozar. Estoquei-a com mais força e com um pouco menos de velocidade e notei que foi certeiro. Ela fechou os olhos com força novamente, abriu a boca, mas nenhum som saiu. Suas pernas, que eu abraçava com tanto gosto, acabaram tremendo em meus braços. Senti seus espasmos internos contra meu pênis e foi o suficiente para que eu mesmo gozasse quase em sincronia com ela.
Deitei meu corpo sobre o dela, segurando meu peso para que eu não a sufocasse, e respiramos fundo, apenas processando o que havia acabado de acontecer. Ambos os corações completamente descompassados e batendo forte.
Acordei assustado com o barulho ensurdecedor do celular de tocando na cômoda ao lado dela na cama. Abri os olhos com dificuldade e notei que ela estava no banheiro. O tempo que levei para conseguir conectar minha mente ao corpo e alcançar o seu celular foi o suficiente para que ela saísse do banheiro de roupão azul escuro e cabelos molhados e alcançasse o mesmo.
Sussurrou um “me desculpe” e seguiu para fora do quarto, porém a impedi, segurando seu pulso. Movi meus lábios em um “fica” enquanto me levantava nu em direção ao banheiro e ela sentava-se na cama, atendendo a ligação que percebi ser de vídeo.
Fiz minha higiene pessoal e tomei uma ducha enquanto minha mente vagava por meus momentos preferidos da noite anterior.
era uma mulher que acabou superando qualquer expectativa que minha cabeça doentia colocava sobre ela. Transamos três vezes naquela noite, uma para cada vez perdida ou desperdiçada que havíamos passado. Seu corpo nu não saía da minha cabeça, seus gemidos ecoavam pelos meus ouvidos e a sensação de estar dentro dela me deixava excitado só de lembrar.
Saí do banheiro com uma toalha enrolada na cintura com receio de que ela estivesse de costas para mim e eu acabasse saindo no fundo da ligação de vídeo. Por sorte, vi que ela estava sentada na cama com as costas apoiadas na cabeceira, conversando animadamente em português com uma mulher que eu supus ser sua mãe novamente.
Juntei minha cueca do chão, vesti-a e deitei na cama ao seu lado, com cuidado o suficiente para que não aparecesse em sua chamada de vídeo.
Fiquei prestando atenção, confiante de que entenderia pelo menos algumas palavras perdidas, mas nada. Nem uma mísera palavrinha conseguiu entrar em minha cabeça traduzida, nem meus poucos anos estudando espanhol ajudaram (já haviam me dito que português e espanhol eram bem parecidos, mas confesso que não acreditei até então).
A conversa delas parecia estar tomando fim quando vi mandando beijo e dando gostosas risadas à mulher negra que estava na tela do seu celular.
— Era sua mãe? — perguntei, curioso, quando a ligação se encerrou. Ela sorriu para mim, com seus olhos doces encantados, como se aquela conversa tivesse lhe enchido de alegria renovada.
— Sim. Ela te mandou um beijo — disse, deitando-se na cama, de frente para mim.
— Você falou de mim para ela de novo? — Minhas sobrancelhas subiram.
— Na verdade, não, mas ela deduziu, imagino que tenha te visto ou ouvido — explicou ela, olhando disfarçadamente para meu corpo coberto apenas com minha cueca. Eu sorri com isso e ela notou que eu notei, fazendo suas maçãs do rosto ficarem ligeiramente rosadas. Eu gostava do fato de que a nossa atração física não vinha apenas de minha parte.
— Puts, desculpa por isso — falei e ela deu de ombros. — Como é a relação de vocês?
— Ah, minha mãe é tudo para mim. Ela é a minha guia, meu mundo. Não consigo imaginar minha vida sem ela, sabe? — explicou com um ar levemente sonhador. — Ela é minha melhor amiga, sem sombra de dúvidas.
Aquela resposta me deu uma alegria inexplicável.
— Que legal, , e como é a sua relação com o atual marido dela?
— Bom, ela casou-se com ele quando eu ainda era pequena. Devia ter uns seis ou sete anos. Pedro é meu pai. Não consigo imaginar outra pessoa sendo meu pai a não ser ele — respondeu. Eu realmente estava interessado nesta conversa, como a relação com minha mãe sempre foi algo muito sério, eu gostava de saber como era a relação dos outros com suas mães. — Eu agradeço imensamente que ele tenha entrado em nossas vidas, foi um divisor de águas.
— Fico feliz de saber que você teve uma vida “normal” mesmo com o abandono do seu pai e do Tob, sei que não deve ter sido fácil na época, principalmente para a sua mãe, mas é bom saber que, no fim das contas, deu tudo certo... — respondi e ela pareceu surpresa por eu falar aquilo.
— Sim, minha mãe foi uma guerreira. Eu era muito pequena, ela cuidava de mim, me levava para o seu trabalho, me ajudava com os deveres enquanto atendias as mesas. Saía de casa às cinco da manhã e voltava às onze da noite. E foi assim até eu ter idade para pegar o ônibus sozinha — explicou, suspirando fundo. — Não sei o que seria de mim se minha mãe não tivesse a força de vontade que ela tinha. Devo tudo o que tenho a ela.
— Mães são seres que deviam ser eternos, não é? — eu disse, com a voz ligeiramente afetada. Ela pareceu perceber, apenas pelo meu tom, o que eu havia passado.
— Com certeza. A sua mãe já se foi? — perguntou, com delicadeza, passando a mão em meu braço. Eu sorri sem mostrar os dentes.
— Sim. Fazem três anos. E eu posso te dizer com toda a certeza do mundo que você nunca irá passar tempo o suficiente com a sua mãe. É um vazio dentro de nós mesmos que nunca vai deixar de existir — respondi, sentindo meus olhos ficarem marejados. Seus olhos me encaravam com ternura.
— Eu não consigo nem imaginar a dor — admitiu ela e eu retribuí o carinho em sua perna. Continuei:
— Você simplesmente aceita. Não têm muito o que se fazer quanto a este sentimento, é amor, apenas. Um amor de luto, que vai estar contigo até o fim. Nada nunca vai preencher e, até certo ponto, não é um problema, se você souber lidar com isso. Tive alguns colapsos até aprender. Hoje vejo como algo bom, participei da sua vida, passei natais e feriados com ela e disse todos os “eu te amo” que pude.
— E nunca vai ser o suficiente — completou minha frase, colocando sua mão sobre a minha. Uma lágrima teimosa correu por meu rosto e limpei com a mão livre. Como eu já havia percebido, a conversa com ela simplesmente fluía, eu gostava de conversar com , era algo que eu sentiria falta.
— Não, nunca será. Mas já aprendi que a vida é sobre isso. Trinta e oito anos de vida, uma hora eu tinha que aprender — dei uma risada e ela sorriu junto. me puxou para um abraço, provavelmente porque percebeu que eu precisava daquilo. Correspondi.
— Não importa onde ela esteja ou no que você acredite, pode ter certeza que o orgulho que ela tinha por você só cresce.
— Obrigado, — respondi, terminando o abraço que não parecia constrangedor, parecia certo.
Fomos interrompidos com o barulho da porta, em uma tentativa de ser aberta, mas estava trancada. desceu da cama e abriu a mesma.
Na porta, encontrava-se meu cúmplice da noite passada, Johnson, com uma cara tão amassada que eu podia jurar que ele havia saído da cama e ido direto à nossa porta. Conversaram meias palavras em português e Johnson acenou para mim, ainda com cara de poucos amigos. Provavelmente, seu corpo ainda estava fazendo download da alma, assim como eu também ficava quando acordava, principalmente de ressaca.
fechou a porta com eles dando um sorrisinho cúmplice e imaginei que eu era o assunto, mesmo assim ela não se abalou e apenas disse:
— Johnson quer café. Em uma hora eles têm que estar no aeroporto. Disse que não precisamos nos incomodar, eles vão de Uber, pois sabem que ainda nem acordamos direito — explicou ela, parecendo ligeiramente tristonha. Passei a mão em seu ombro, onde o roupão caía ombro abaixo por estar frouxo demais. Sua pele era linda, bronzeada e dourada.
Na cozinha, ninguém parecia realmente acordado ainda. Aparentemente, a bebedeira foi geral, os mais bem acordados ali eram eu e , que éramos os únicos que tinham motivo para estar com sono, sendo que, provavelmente, fomos os que menos dormimos à noite.
Ok, isto soou presunçoso, mas era a verdade.
se prontificou a fazer panquecas à moda brasileira e salada de frutas com as frutas que haviam sobrado da noite anterior. O bolo de cenoura gigante do seu aniversário também havia sobrado e estava à mesa junto com as coisas que ela estava fazendo.
O café preto foi a opção de todos.
Notei que Tobey e a amiga de estavam se dando muito bem, Johnson estava mais rabugento do que ontem à noite e eu apenas supus que ele tivesse dormido sozinho, pois parecia a única opção plausível, vendo que eu e sorríamos feito dois idiotas e Tobey e Baby também.
— Oh, merda, todo mundo transou essa noite, menos eu?! — disse Johnson, com um sotaque brasileiro forte. O mesmo de ontem à noite. — Chega desses sorrisinhos bobos. Estou de mau humor.
— Nossa, ninguém havia notado seu mau humor, querido — Baby alfinetou e todos riram.
— E o Carlos? — perguntou, tomando um grande gole de café e gemendo exageradamente como se precisasse daquilo. — Que delícia de café.
— O Carlos cansou do vai e vem de Johnson. Foi embora sozinho logo depois de você subir — Baby respondeu com seu sotaque brasileiro não tão forte quanto o de Johnson.
— Na verdade, a festa não durou muito depois que vocês subiram, já era tarde para caramba — Tobey disse, unindo as sobrancelhas, como se estivesse pensando. — Um dos amigos de Tom caiu da escada e meio que um monte de gente foi levá-lo ao hospital.
— Meu deus, alguém caiu da escada? — perguntou , se afogando com o café.
— Sim, mas está tudo certo. Não se preocupe.
Notei Baby sussurrando algo no ouvido de , mas fingi não notar enquanto me servia com duas panquecas.
Comemos dando risada sobre os assuntos da festa, em que eu percebia um certo cuidado com palavras quando falavam de Tom, provavelmente com medo que eu fosse ficar magoado ou triste, mas, na verdade, eu achava tudo muito divertido, afinal, aquilo não era um jogo de “quem pegou a garota” ou “qual famoso a garota escolheu”. E eu sabia que provavelmente também pensava assim.
Meia hora depois, estávamos todos aos pés da escada, nos despedindo de Baby e Johnson que tinham um voo de volta ao Brasil para fazer.
Abracei Baby primeiro, beijei seu rosto e ela agradeceu por eu ser tão querido e pediu para que eu cuidasse da sua amiga.
Johnson foi mais caloroso, me abraçou a ponto de me tirar do chão, beijou meu rosto, bagunçou meus cabelos e brincou comigo, dizendo que eu era o seu preferido. Disse para eu tratar como a safada que ela era e que eu era um homem de sorte de tê-la, mas que seria mais sorte ainda se eu quisesse tê-lo. Dei uma alta risada, fazendo todos olharem para nós e brincamos como se tivéssemos um segredo só nosso.
Eu estava me prontificando a sair com eles e Tobey estava se arrumando para levá-los ao aeroporto quando disse que queria ir sozinha com eles, já que tinham muita fofoca para colocar em dia. Me deu um olhar furtivo e sorriu abertamente, Deus, eu adorava aquele sorriso.
— Você tem certeza? — Tobey se referiu ao fato de ela ter que voltar sozinha do aeroporto depois.
— Claro. Venho de Uber — explicou ela.
No momento em que Johnson notou que ia ficar sozinho enquanto dois casais se despediam, iniciou uma longa e reclamona jornada com suas malas até a porta da frente, dizendo palavras em português que eu não fazia ideia do que se referiam, mas, o conhecendo o suficiente, era de se imaginar que não eram coisas boas.
— Então — disse, sorrindo em minha frente, com as mãos envergonhadas unidas nas costas.
— Olha, eu... eu adorei a noite. De verdade. Acho que nós dois estávamos precisando daquilo. — eu brinquei, enrolando uma mecha do seu cabelo enquanto falava.
— Sim. Talvez mais você do que eu, mas está valendo — ela disse, divertida, mostrando a língua e eu a puxei para um abraço. Sem salto, o topo da sua cabeça encostava em meu queixo. Depositei ali um beijo e espiei de soslaio a despedida de Tobey e Baby, que estava muito mais fervorosa do que a nossa.
levantou o rosto, sorrindo com os olhos, e colou nossas bocas. O beijo foi diferente de todos que já tivemos, foi lento, delicioso e curto demais segundo meu instinto primitivo que ainda queria retirar todas as suas peças de roupa ali mesmo. Encerramos com um selinho rápido e outro abraço, desta vez seus braços contornaram meu pescoço.
— Obrigada pela noite, Andy — ela sussurrou em meu ouvido, fazendo meus pelinhos do braço se arrepiarem. Então ela havia notado o efeito de meu apelido em seus lábios? Percebi, pelo sorriso ladino dela quando se afastou, que sim.
pegou Baby pela mão e puxou-a para fora, já que os dois pombinhos aparentemente não queriam se largar. Piscou quando passou por mim e seguiram até a porta.
Tobey e eu ficamos sozinhos.
— Você consegue ficar mais um pouco? Eu gostaria de conversar contigo — Tobey disse para mim, em um tom sério, porém com olhos divertidos.
— Claro, cara, consigo sim — respondi e ele me guiou até a cozinha novamente. Sua governanta limpava a bagunça na sala.
Sentamo-nos à mesa, um climão se instalou ali. Eu não queria ser o cara que levou um sufoco do irmão mais velho da garota que estava saindo, mas, aparentemente, era isto que ia acontecer.
— Drew — ele sabia que eu odiava aquele apelido, mas simplesmente pegou. Ele não conseguia mais me chamar de outro nome. — Eu não quero bancar o pai preocupado ou algo do tipo. Por favor, não pense que é isto — ele disse, olhando com aqueles olhos azuis intensos sobre mim. — Mas eu preciso perguntar para ficar com a consciência tranquila: o que você pretende com a minha irmã?
Confesso que segurei o riso quando notei que ele não estava brincando. Aquela conversa realmente estava acontecendo! Parecia surreal.
— Olha, Tobey, estamos apenas passando um tempo juntos. Gosto da companhia dela mais do que tudo. Mas tenho noção de que logo ela estará voltando ao Brasil e que, provavelmente, nunca mais iremos nos ver. Então, estou aproveitando cada momento que tenho com ela — respondi honestamente, pois sabia que esta seria uma resposta que ela daria, se a pergunta fosse direcionada a ela.
— Você não está se apaixonando, certo? — Ele cruzou os braços e apoiou as costas no apoio da cadeira, dando um ar de pai preocupado ao seu semblante. — é diferente, tenho medo de que você ou Tom acabem machucando-a. Eu finjo e brinco com ela quando estamos sozinhos, mas a verdade é que estou morrendo de medo do que vocês dois possam fazer para ela.
— Tob, eu prometo que não vou machucá-la. Estamos indo até onde ela quiser. Podíamos ter ficado só na conversa ou só nos beijos... Eu sempre fui apenas até onde eu via que era o limite dela — expliquei sem muita burocracia, afinal, Tobey já sabia que havíamos transado na noite anterior.
— é especial para mim. Você sabe disso, não posso me dar ao luxo de ela ser traumatizada mais uma vez e que não queira aparecer aqui nunca mais. Isso vai me destruir! Estamos finalmente chegando no estágio de irmãos que têm brincadeiras próprias e intimidade. Por favor, não me faça perder isso novamente. Estou dando um passo de cada vez com ela!
Eu podia ver o cansaço nos olhos dele, mas, acima disso, eu via a súplica e o desespero.
— Eu sei disso e respeito totalmente. Se você achar que está sendo demais, eu me afasto hoje mesmo. A última coisa que eu quero é destruir algo que você levou tanto tempo para construir.
— Não, se afastar abruptamente pode ser algo ruim. Não quero que você se afaste dela, só não quero que a machuque. Quero que você seja claro sobre o que quer e o que não quer. E quero, principalmente, que você saiba o que sente por ela, já que assim fica mais fácil medir as palavras e atitudes perto dela.
Aquilo caiu na minha cabeça como o badalo de um sino:
BUM, o que eu sentia por ela?
BUM, eu devia me preocupar com este sentimento?
BUM, até que ponto eu devia falar isto para Tobey?
BUM, o que ela sentia por mim?
BUM, eu gostava daquele sentimento?
— Eu não sei o que sinto pela sua irmã. Eu gosto dela, com certeza, gostei desde o momento em que ela me chamou de “Espetacular Andrew Garfield” quando nos conhecemos no tapete vermelho. — Soltei um risinho pelo nariz. — Eu gosto do jeito dela, sempre com medo de fazer algo que possa prejudicar nossa imagem, gosto do seu sorriso e dos seus olhos de felino, gosto de como ela não se parece nem um pouco contigo, gosto de vê-la pensando e procurando a palavra certa quando vai conversar conosco. Eu gosto do cheiro dela e das nossas conversas, são sempre fluidas e interessantes, hoje de manhã tivemos uma conversa sobre as nossas mães que me fez gostar ainda mais dela — terminei de falar e Tobey estava boquiaberto, ele se arrumou na cadeira e perguntou:
— Garfield, você está falando sério? — Tob disse, descruzando os braços, e pondo-os sobre a mesa.
— Estou — falei, unindo as sobrancelhas sem entender direito.
— Você está se apaixonando pela ?
— Não! É claro que não — respondi imediatamente.
Tobey riu. Na verdade, ele não riu, ele gargalhou. Aguardei calmamente ele se recompor e esperei alguma explicação plausível:
— Cara, você está brincando comigo, certo?
— O quê? Por que eu estaria brincando com você? — perguntei, começando a me irritar.
— Você acabou de descrever tudo o que gosta na , com um brilho nos olhos e uma ternura na voz que eu poderia jurar que você está se apaixonando por ela. Mas, ok. Se você diz que não, eu acredito. Só achei engraçado.
— Eu gosto da sua irmã, de verdade, Tobey. Fazia tempo que eu não conhecia alguém assim. Mas não se preocupe, eu não estou me apaixonando por ela — expliquei, todavia não com tanta confiança quanto da primeira vez.
Fim do ponto de vista do Andrew
Capítulo 11
Eu ainda estava em meu quarto quando ele abriu a porta com um Cupcake de red velvet e uma velinha no topo e o celular ligado em uma ligação de vídeo com minha mãe, meu pai e meu gato usando chapéus de festa de aniversário. Tobey cantou “Parabéns para você” em português.
— Feliz aniversário, minha princesa, aproveita o seu dia de todas as maneiras possíveis. Um beijão do teu pai que ‘tá cheio de saudades de tomar uma brejinha contigo — Pedro disse, mandando beijo com as duas mãos. Eu sorri feito uma boba.
— Obrigada, pai, logo eu ‘tô aí, e a gente mata essa saudade.
— Miau, miau, miau, miau — minha mãe imitou um gato, colocando Jacquin com o rosto colado na câmera do celular, me fazendo soltar gargalhadas e ele acabou realmente miando. Todos riram.
— Mamãe também está com saudades, meu gatinho — respondi, rindo com a voz fina que normalmente faço para conversar com o bichano, e enxugando uma lágrima teimosa que acabou escorrendo por meu rosto.
— Feliz aniversário, anjo da minha vida, saiba que estamos todos morrendo de saudades de você, saiba que és muito amada e que eu tenho muito orgulho da mulher que você se tornou — minha mãe disse, fazendo meus olhos se encherem de lágrimas novamente.
— Me inspirei em ti — respondi com a voz chorosa e Tobey me abraçou de modo que aparecemos os dois na câmera frontal do celular.
— Vocês dois são... maravilhosa. E eu prometo que vai cuidar bem da , ok? — Tobey disse em português e eu o abracei de volta enquanto minha mãe e Pedro comemoravam do outro lado, dando os parabéns pelo esforço e dedicação dele.
Conversamos mais um pouco sentados em minha cama, soprei a velinha do cupcake e dividi com Tobey durante o bate-papo. Era incrível a evolução de Tobey com o português e era nítido que ele sabia e só estava sem prática, não demoraria para ficar completamente fluente e com as conjugações corretas.
— Hoje é o seu dia — Tobey iniciou, quando fomos à cozinha. — Tenho um presente para você, espero que goste.
Dito isso, ele esticou o braço até mim, com um envelope nas mãos. O envelope era pequeno, azul marinho e estava fechado apenas por um clipe de papel dourado.
O que havia dentro era um cartão de visita de um tatuador e atrás, de caneta azul, estava escrito “Vale uma tatuagem com seu irmão”.
Dei um gritinho afetado e pulei em seu pescoço, agradecendo mil vezes enquanto ele ria. — Você tem certeza disso? — perguntei com um sorriso no rosto que não conseguia tirar.
— Claro. Você já tem alguma ideia em mente? — perguntou com um sorriso travesso.
— Na verdade, não, mas posso pensar em algo. E você?
— Tenho — ele disse, satisfeito em me ver curiosa, mas não manteve segredo por mais que alguns segundos de suspense. — Eu gostaria de tatuar uma daquelas fotos nossa, em um estilo minimalista. Talvez aquela em que você é bebê e eu estou segurando suas mãos.
— Você tem certeza? — perguntei, com meu coração explodindo de felicidade. Eu amaria fazer uma tatuagem daquelas em mim. Adorei a ideia.
— Claro. Você gostou da ideia? — perguntou, seus olhos cheios de expectativa.
— Sim! Eu amei! Vamos quando?
— Por mim, pode ser agora mesmo. Não podemos perder tempo pensando muito, hoje é o seu dia e você tem que aproveitar! — ele disse, ansioso. Tobey estava se mostrando ser o cara que eu realmente queria que ele fosse: o meu irmão mais velho babão que eu nunca tive.
Subi as escadas correndo, coloquei meu vestido vermelho florido que ia até a altura dos joelhos e tinha um decote ciganinha, uma jaqueta jeans e nos pés usei um Nike de tons pastéis que eu raramente usava; fiz duas tranças estilo boxeadora nos cabelos e peguei meus óculos em formato de coração. Nos encontramos ao pé da escada em menos de meia hora e saímos felizes da vida.
Tobey estava muito simples, utilizando uma camiseta branca com o símbolo do Metallica na frente, calça jeans preta, um par de chinelos nos pés e seu habitual boné na cabeça.
O estúdio de tatuagem não ficava muito longe dali, tinha uma entrada bonita de tijolinhos a vista e uma porta de vidro fumê. Na parte de dentro, havia poltronas e sofás de espera na cor azul petróleo e paredes de cimento queimado, plantas penduradas nas paredes e nos cantos que davam um ar bem moderno ao local. Uma recepcionista com lindas tatuagens old school por toda a parte visível de seus braços nos atendeu e foi muito educada ao falar com Tobey. Foi até a parte de trás do estúdio e chamou os dois tatuadores da casa.
Um deles era Brendon, um homem careca e grandão que me lembrou o The Rock, tinha um sorriso simpático e um bigode de respeito. Ele cumprimentou Tob com certa intimidade de quem já se conhece e apertou minha mão com força quando Tobey se dirigiu a mim.
— , esse é o Brendon. Ele faz tatuagens de todos os gostos, mas a sua especialidade é o realismo. Não será ele que fará a nossa tatuagem de irmãos, mas ele se pôs à disposição, caso você queira fazer algo extra.
— Entendi. É um prazer te conhecer, Brendon. — Sacudi sua mão e ele sorriu.
— É todo meu. Maguire comentou que você já tem algumas tattoos, não está afim de complementar mais um pouco? Estou vendo que seus braços estão com bastante espaço livre. Meus braços realmente estavam com bastante espaço livre.
— Vou pensar em algo — pisquei, sorrindo, e ele levantou a mão aguardando um high-five. Correspondi.
A outra tatuadora era uma mulher com o cabelo tão vermelho quanto o de Hayley Williams no clipe de Decode. Tinha um delineado lindo nos olhos e tatuagens coloridas tampando toda a sua pele nas partes visíveis.
Tobey a apresentou a mim também e explicou que seria ela que faria nossa tatuagem. Como não estávamos com tempo a perder, nos cumprimentamos desajeitadamente e Catrina já se prontificou a pegar a foto original com Tobey e foi para a sua sala fazer o desenho. Voltei minha atenção a Brendon.
— Você consegue me mostrar alguns desenhos seus ou alguns trabalhos prontos? Quero um pouco de inspiração — falei e ele pulou do braço da poltrona onde estava sentado para pegar uma pasta de arquivos bonita, feita de couro sintético marrom.
Folheei algumas páginas, havia desenhos e, ao lado, fotos da tatuagem feita. As que ainda não haviam sido feitas tinham um espaço em branco ao lado para uma futura foto.
Ele desenhava tudo, rostos de famosos, passarinhos e belas plantas. A grande maioria em preto e cinza, e todas eram especialmente realistas e bonitas. Gostei bastante do estilo dele e meu cérebro deu um estalo quando vi um desenho perfeito do Deadpool inalando a fumaça do cano da pistola (cena do primeiro filme, senão me engano).
É isso.
Vou fazer uma tatuagem do Homem-aranha.
— Já sei o que eu quero — admiti e chamei-o em um canto, deixando um Tobey extremamente curioso na sala de espera sozinho.
Expliquei exatamente como eu queria o desenho: eu queria os olhos dos Homens-Aranha, não os olhos dos atores, mas sim das máscaras, evidenciando a diferença de um para o outro. Brendon ficou inexplicavelmente animado e fez um esboço ali mesmo em uma A4.
— Algo tipo assim? — Ele fez o visor do Homem-aranha do Tobey, que era mais fino e imponente. Concordei com a cabeça, sorrindo.
— Ok, e vai querer fazer onde? — Eu não havia pensado nisso.
Brendon provavelmente viu que eu não estava preparada para aquela pergunta, entendam, no Brasil, tatuagens são feitas com horário agendado e às vezes com até meses de antecedência, dependendo da agenda do tatuador. Eu nunca havia ido a um tatuador que estivesse à minha disposição e simplesmente fizesse o esboço em minha frente.
Enquanto eu pensava, ele fez o esboço do visor do Homem-aranha de Andrew, um visor mais arredondado e com um delineado mais marcante.
— Que tal aqui? — ele sugeriu, levando o papel até meu antebraço.
— Talvez na parte de trás — indiquei a área abaixo do meu cotovelo.
— Perfeito — ele disse. — Umas 6 polegadas?
— Não faço ideia de quanto seria isso.
— Mais um menos isso aqui — ele fez o tamanho com as mãos, dava mais ou menos uns 15 centímetros.
— É isso — concordei, sorrindo. Ele me deu mais um high-five e seguiu para a sua sala, provavelmente para fazer o desenho. Antes de fechar a porta, combinamos que ele me chamaria enquanto Tobey estivesse fazendo a tatuagem.
Catrina nos chamou para mostrar o seu desenho e Tobey já estava visivelmente nervoso. Para falar a verdade, eu não sabia se ele tinha alguma tatuagem, porém, pelo nervosismo estampado em seus olhos, concluí que ele não. Ela nos mostrou o desenho lindo, minimalista, com apenas as linhas de contorno do nosso corpo. Estava perfeita, do jeito que eu imaginei. Encarei Tob, sorrindo. Ele pegou o desenho e encarou durante alguns segundos.
— É isso? — perguntei. — É isso que você pensou?
— Por favor, Tobey, caso você não goste, agora é a hora de falar. Depois fica mais difícil voltar atrás — Catrina explicou, passando a mão sob seu ombro esquerdo.
— É isso, está perfeito. — Ele levantou o rosto, com os olhos marejados e me abraçou. — Não acredito que você está aqui comigo. É loucura.
— Estou e não pretendo sair. — Correspondi o abraço. Catrina lidou com aquele momento de afeto como uma profissional e fingiu estar arrumando as coisas para iniciar seu trabalho.
— ‘Tá bom. Chega de moleza — Tob disse, me soltando do abraço. — Você faz primeiro?! Caí na gargalhada.
— Faço sim, medroso.
Decidi que aquela tatuagem seria feita na parte de frente do antebraço esquerdo, era algo que estava orgulhosa e queria que o mundo visse. Guardei meus braços durante muitos anos de tatuagem, pois sabia que um dia eu veria algo que iria querer tatuar ali. Nunca passou pela minha cabeça que eu teria que vir aos Estados Unidos para que essa decisão fosse tomada e meu peito enchia-se de orgulho de saber o real motivo de eu estar naquele estúdio de tatuagem: o amor real e inegável que eu sentia por aquele ser que estava arregalado ao meu lado enquanto Catrina furava minha pele.
— Dói? — perguntou ele, quando ela já estava dando os últimos retoques.
— Não. Pode sentar tranquilo que vai dar tudo certo.
A tatuagem não durou mais do que meia hora. Catrina era uma excelente profissional e muito rápida no “gatilho”. Ela passou gel sobre o desenho, fez alguns vídeos no celular e colou o curativo transparente.
— Se descolar, pode lavar normalmente e passe alguma pomada cicatrizante durante uma semana. Sem sol, praia ou piscina por um mês e mantenha hidratada. Se o curativo se manter firme, pode ficar com ele durante até três dias.
— Ok — eu disse, descendo da maca. — É sua vez bonitão — falei, rindo.
Meu coração apertou-se, lembrando que eu não poderia ir à praia quando voltasse para o Brasil, mas era por uma boa causa.
Tobey admirou minha tatuagem enquanto Catrina arrumava a maca para iniciar a tatuagem dele. Ele escolheu o interior do braço, próximo da axila, para fazer a sua tatuagem. Era óbvio que doeria muito mais do que a minha, mas fiquei calada, ele não precisava de palavras desencorajadoras naquele momento.
Catrina colou o decalque e deixou Tobey analisar em frente ao espelho antes de iniciar; ele sentou-se na maca e esticou a mão para mim. Um homem de 46 anos, pai de duas crianças, ator famoso, rico e bem-sucedido, o herói de uma geração: me dando a mão na hora de fazer uma tatuagem por medo de sentir muita dor.
Depois de alguns minutos que Catrina havia começado a tatuar (e algumas caretas de Tobey), Brendon me chamou na porta para mostrar seu desenho pronto que havia ficado a maior perfeição. Ele fez em um tom mais cartunesco e menos realista, o toque perfeito que estava faltando. Estavam ali, do jeito que eu havia explicado: os três visores do Homem-Aranha, um abaixo do outro, com um centímetro separando um do outro, com um sombreado sutil, linhas grossas e bem definidas.
— Ficou perfeito!— exclamei alto, fazendo Tobey me olhar, desconfiado.
— Este tamanho está bom?
— Sim.
— Ok, vou fazer o decalque. Depois te chamo.
Meia hora depois, Tobey entrou na sala de Brendon, onde eu me encontrava de bruços, pois era muito desconfortável ficar com o braço virado durante tanto tempo.
— Não acredito, , você é completamente louca — Tobey disse, dando uma risada gostosa, quando se aproximou de mim e viu a tatuagem que eu estava fazendo.
— Eu sou, acho que você já devia ter aprendido isso — respondi, mostrando a língua, e ele sorriu.
— Está ficando muito foda. Você é foda.
Na volta para casa, Tob passou no mercado e compramos algumas coisas para o almoço, decidi que queria fazer um verdadeiro churrasco brasileiro com direito à farofa com bacon, maionese de batata e pão de alho.
Quando chegamos em casa, um carro estava parado à porta de entrada e Tob parecia saber quem era pelo seu sorrisinho bobo no rosto. Não foi grande surpresa quando vimos Tom sentado no sofá da sala, distraído com seu celular.
— Hey, Holland — Tobey disse, indo ao seu encontro e o abraçando. Tom usava uma camiseta básica azul clara e uma calça jeans rasgada nos joelhos. Assim que soltou do abraço de Tobey, virou-se para pegar o buquê de flores que, até então, eu não havia notado, já que meu coração estava pulando pela boca apenas pela presença dele ali.
O buquê era de lindas tulipas vermelhas, intercaladas com as próprias folhas da flor que eram tão lindas quando a mesma. Meus olhos brilharam e um Tom sorridente veio até mim.
— Feliz aniversário, irmã Maguire. — Me abraçou com força. Seu cheiro cítrico e doce entrou em minhas narinas junto com o cheiro das flores.
— Muito obrigada, Holland, como você sabia que eu amo tulipas?
— Ah, fiz meu dever de casa — falou ele, piscando um dos olhos.
— Quanto mistério — Tobey ironizou, levando as compras até a cozinha, nos deixando sozinhos um instante.
— Tenho outro presente para você — ele disse, ficando com as bochechas coradas. Pegou uma sacola de papel que estava ao lado do sofá.
— Meu deus, Thomas, não precisava disso — admiti, sem graça, quando ele me entregou a sacola. Eu não conhecia a loja.
— Do que você me chamou?
— Thomas — falei, rindo, e ele deu um sorrisinho de lado.
— Gostei — disse, levantando os ombros e aguardando eu abrir o presente.
Dentro da sacola havia uma caixa que parecia ser de sapato, tirei a embalagem prateada e consegui ver a caixa de um tênis branco de couro exatamente do mesmo modelo do qual ele havia vomitado alguns dias antes.
Dei uma risada alta e ele riu comigo.
— Você sabe que não precisava, certo? — perguntei, mordendo meu lábio inferior, e ele sorriu novamente, ele estava cheio de sorrisos.
— Eu sei, mas eu queria. Estava incomodado com esse assunto não encerrado. Acho que agora posso dormir em paz à noite — ele brincou, colocando uma mecha do cabelo para trás da orelha. — Você pode provar? Tenho medo de que não caiba, pois o número que me passaram era bem diferente da numeração aqui da América.
— Claro. — Segui para o sofá, retirei meu tênis, revelando minha meia preta com óculos e o raio do Harry Potter estampados. Era uma meia velha e gasta, mas tinha o cano curto e era ótima para usar quando eu não queria que a meia aparecesse no look.
— Você gosta de Harry Potter? — perguntou ele, com aquele sotaque delicioso.
— Sim, eu amo, sou completamente obcecada — falei, levantando-me, e mostrando minha tatuagem na coxa: uma Belatrix Lestrange com a maior cara de doida possível, cabelos por toda parte e a varinha apontada para a frente.
— Meu deus, que perfeição! — falou ele, animado, analisando a tatuagem. — Posso? — Ele se referia a tocar. Concordei com a cabeça.
Tom tocou minha perna com a mão completamente gelada, fazendo minha pele se arrepiar. Ele notou, mas fingiu que não.
— Absolutamente amável — ele disse por fim, depois de perder alguns bons segundos analisando os detalhes da minha perna. — Qual é a sua casa? Sou Lufa-lufa, obviamente.
— É obvio que você é Lufa-lufa, é muito fácil de perceber isto — falei, pegando o tênis que estava em cima do sofá, o calçando.
— Sou Corvinal — falei, erguendo as sobrancelhas com certo ar de superioridade, desfilando com o tênis. Coube perfeitamente.
— Corvinal combina com você. Ficou bom? — referiu-se ao tênis. Dei alguns passos pela sala, sentindo-o em meu pé.
— Ficou sim — falei, sentando-me no sofá e colocando meu pé sob seu colo para ele sentir. Tom apertou meu pé de todas as maneiras possíveis, me fazendo gargalhar.
— Será que os bobões podem vir me ajudar com as compras? — Tobey chegou na sala e nos pegou dando risada enquanto Tom já havia tirado meu tênis e ainda fazia cócegas em meus pés.
— Tob é Sonserina, com certeza — sussurrei para Tom e ele caiu na gargalhada novamente enquanto acompanhávamos Tobey até a cozinha.
Já aceitamos o fato de que Tom iria almoçar conosco. Coloquei os dois para trabalhar. Tobey tinha que fazer o fogo na churrasqueira e Tom devia descascar e cortas as batatas para a maionese. Fiz a farofa de bacon, coloquei duas cabeças de alho para assar com tomilho e azeite, fiz um aioli com mostarda e limão para o molho das batatas e uma salada de tomates, alface e rúcula.
Quando Tobey voltou da parte de trás da casa, com as mãos sujas de carvão, a porta tocou novamente; fui atender para que ele pudesse se limpar.
— Hey, pequena Maguire! — Um Andrew com um sorriso esplêndido me recebeu na porta. — Andrew! — falei, animada, e ele abriu os braços para me abraçar.
— Feliz aniversário, você merece o mundo — disse, levantando-me levemente do chão, beijando o topo da minha cabeça.
— Muito obrigada. Meu deus, não precisava! — falei, de olhos arregalados, quando ele me estendeu um pacote pequeno. Dentro, havia uma caixinha com um frasco de perfume.
— Sempre me lembro deste perfume quando estou contigo. É como se eles pegassem sua essência e colocassem dentro desse frasquinho — explicou ele, e confesso que estava com medo de sentir o cheiro.
É dentro dos menores frascos que estão os melhores perfumes: eu conseguia ouvir minha mãe recitando este provérbio enquanto borrifava o mesmo em meu pulso. O cheiro era maravilhoso, frutado e doce na medida certa, era suave como os perfumes caros devem ser.
— É maravilhoso, eu amei! — O abracei novamente e ele sorriu, vitorioso.
O convidei para se unir à nós no almoço e, assim como Tom, ele não se opôs nem por um segundo. Era como se, na verdade, eles já tivessem sido convidados por Tobey anteriormente. Coloquei Andrew para cortar os pães e Tobey aproveitou nossa união para mostrar a sua primeira tatuagem, que foi aplaudida com entusiasmo pelos dois e por mim. Ele fez eu tirar minha jaqueta para mostrar as duas lado a lado.
— — me chamou com as sobrancelhas levantadas, como se eu estivesse devendo algo a ele.
— Oi? — fiz a sonsa.
— Mostra para eles a sua outra tatuagem.
— Ah, Tob, assim eu fico sem graça — empurrei seu ombro. Seu sorriso ia de orelha a orelha. — Vamos, eles precisam ver — suplicou ele, fazendo beicinho.
Virei-me de costas, fazendo com que a tatuagem ficasse visível, já que eu estava sem jaqueta. — Wooow. — Ouvi Tom dizer. — Que foda!
— Isso está incrível — Andrew exclamou, um deles se aproximou e tocou meu braço. Senti que eles precisavam de uma explicação.
— Foi este filme que fez eu me reconectar com meu irmão. E, bom, pelo que eu sei, foram vocês que o convenceram a falar comigo. Então, acho que vou ser eternamente grata a vocês. — eu disse, virando-me. Os três pares de olhos estavam colados em mim. — Esse é o meu jeito de dizer obrigada. Coisas marcantes merecem ser marcadas.
— Isso foi lindo, . — Foi Tom que quebrou o silêncio.
— Estou lisonjeado de saber que faço parte disso — Andrew disse, a sinceridade implícita em seus olhos castanhos.
— Eu te amo, . — Tob veio ao meu encontro de braços abertos e logo Tom e Andrew entraram no meio.
— Deus do céu, isso está maravilhoso — Andrew disse, depois de comer um pedaço de carne que eu havia acabado de retirar da churrasqueira.
Estávamos almoçando no ambiente de fora da casa, próximo da piscina que havia ali, mas que tinha sido ignorada por conta do frio.
Na churrasqueira, havia mais algumas fatias de pão de alho e um suculento T-bone e, no momento, eu havia acabado de tirar um pedaço de alcatra para servi-los.
— Bom, este é o verdadeiro churrasco brasileiro. Quando forem para lá, é bem comum ter esse tipo de comida em churrascarias. Pelo menos no Sul, onde eu moro, tem uma em cada esquina — expliquei, lembrando-me de que o Brasil era muito grande e o churrasco apresentado ali não era conhecido em todos os cantos.
O clima entre eu e Andrew estava leve, nada de olhares estranhos ou alguma tensão no ar, Tobey se comportou e não ficou me dando olhares furtivos.
— Quando formos para lá, você vai ter que nos levar em um lugar que faça esse tipo de comida — Tobey disse, molhando um pedaço da carne no molho chimichurri que eu havia feito e colocando-o na boca. Fechou os olhos em êxtase.
Conversamos sobre a cultura do Brasil e as coisas que eu estava achando estranho de ver por ali. Eles fizeram muitas perguntas interessantes, como o fato de que as nossas férias de verão fossem no fim de ano e o ano letivo fosse, na verdade, iniciado e encerrado no mesmo ano. Era incrível como o simples para nós era absurdo para eles: um exemplo disso era o chuveiro elétrico, que era basicamente um suicídio diário que nós passávamos ilesos.
Depois do almoço, comemos docinhos ainda remanescentes da festa de aniversário enquanto eu mostrava a eles algumas músicas brasileiras que mereciam ser apreciadas, todas da minha época, nada de funk e sertanejo atual.
Apresentei coisas como Charlie Brown Jr., CPM 22, Pitty, Tim Maia, Cássia Eller e muitas outras coisas boas. Tobey pediu para eu colocar Raimundos e Mamonas Assassinas, pois era algo que ele gostava na época em que morava lá. Mostrei um pouco de samba, reagge e rap também, pois a gata aqui é eclética; de música atual, mostrei Liniker, Jão, O Terno e Supercombo. Por fim, já estava perdida do meio do Youtube e pedi para que eles escolhessem dois artistas que gostaram mais e a lista final foi:
Tom: O Rappa e Jão.
Andrew: Liniker e Raul Seixas.
Tobey: Martinho da Vila e Tim Maia.
Próximo das três da tarde, Tom se despediu de mim, alegando ter um compromisso que desencadeou uma grande chacota por parte de Tobey e Andrew, já que era oficialmente dia dos namorados e aquilo podia representar algo comprometedor. Demos muitas risadas e pude, inclusive, notar um certo desconforto dele, que me olhava de soslaio até notar que eu estava dando risada de tudo aquilo, finalmente aliviada de eu não ser o centro de piadinhas de Tobey.
Tom beijou minha bochecha e saiu fazendo a promessa de vir se despedir de mim na quarta-feira, o dia do meu voo de volta ao Brasil.
— Ok, não sou idiota — Tobey disse, levantando-se do sofá. — Vou dar um tempo a vocês. Se comportem.
Simples assim, ele saiu pela porta da frente, deixando-me sozinha com Andrew. A governanta já havia ido embora a algumas horas.
Eu não sabia em que pé estava o meu relacionamento com Andrew, eu não queria ser alguém que ele se sentisse obrigado a beijar, não queria aquele fardo. Na última vez que nos vimos, havíamos transado a noite inteira e no dia seguinte tivemos uma despedida fofa. Um beijo lento e carinhoso que eu não esperava ter vindo dele. Não do cara que me prensava atrás de portas e arrancava tremores das minhas pernas.
— . — Ouvi sua voz me chamar, tão próxima, que me assustei por um milésimo de segundos. — Olhe para mim.
Virei meu rosto em sua direção e o vi sorrindo de boca fechada, como tinha o costume de fazer. Eu podia facilmente considerar seu rosto como uma obra de arte feita com toda a calma e precisão do mundo. Andrew era lindo. As sobrancelhas grossas, os olhos castanho-claro que lembravam os de minha mãe, o nariz ligeiramente avantajado e a boca bem desenhada, boca esta que ele já havia me admitido que não gostava muito. Achava grande demais para o seu rosto. Pois eu a achava perfeita em todos os aspectos, principalmente o fato de ela fazer coisas que me deixavam molhada só de lembrar.
O encarei, enquanto ele me encarava também. Seus olhos correndo por todo meu rosto. — Tu não tens noção do que faz com os outros. Não tem a mínima noção — ele disse, lambendo o lábio inferior e pegando um brigadeiro que estava na mesinha de centro. Meus olhos acompanharam todo este processo.
— Como assim? — Uni as sobrancelhas e peguei um cajuzinho, o encarando.
— Esse não, por favor — disse ele, a voz tão suave e calma que larguei o docinho sem pestanejar. Peguei um brigadeiro também.
— Por quê? — perguntei, dando uma mordida. Seus olhos me acompanharam.
— Eu sou alérgico a amendoim — explicou, amassando o papel do docinho e jogando sob a mesa de centro. — Se você comesse, eu não poderia... Você sabe... — Andrew disse, aproximando-se devagar. — Te beijar agora.
— Entendi... — falei, terminando meu docinho. — E o que você quis dizer com “eu não tenho noção do que faço com os outros”?
Ele sorriu. Um sorriso lindo que mostrava seus dentes. Ele estava perto o suficiente para alcançar uma mecha do meu cabelo.
— Tudo o que você faz é a porra de um tesão, — admitiu ele e meu coração deu uma batida descompassada. Eu não sabia o que responder. A melhor opção seria ficar calada?
— Tudo? — Não consegui conter minha língua teimosa.
— Tudo. — Ele brincava com a ponta do meu cabelo amarrado pela trança, mas seus olhos encaravam os meus. — O fato de você não fazer ideia só deixa tudo mais delicioso. Você desfila por aí com esse vestido, com esse cabelo e esse sorriso... Porra, , isso machuca — ele disse em um tom brincalhão, mas meu coração pulsava frenético.
— Andrew, eu não...
— Eu sei disso. Sei que você não faz por mal. Mas saiba que é foda, é muito difícil estar ao seu lado e não poder fazer nada. — Sua mão tocou meu rosto levemente. — Então, por favor, me avise caso não queira nada comigo, pois estar ao seu lado me deixa completamente à mercê do seu toque.
Meu coração palpitava sob meu peito e eu achei que podia sair pela boca. Pensei que meu nervosismo quanto à presença de Andrew ou de Tom já havia sido devidamente extinguido, mas nenhuma mulher está física ou psicologicamente preparada para ouvir aquilo, seja de quem fosse. Era algo íntimo e intimidador e, novamente, eu estava sem palavras.
— Andrew, eu não sei o que te dizer — respondi com sinceridade, meus olhos ainda colados em seu rosto, não querendo perder qualquer reação que fosse.
— Você não precisa dizer nada. Só seja sincera e me diga se eu posso te beijar agora. Eu sorri e ele sorriu junto. Concordei com a cabeça e ele se aproximou, puxando minha cabeça levemente, já que sua mão escorregou para a minha nuca.
Colamos nossas bocas com a suavidade que nenhum de nós sabíamos que tínhamos, minhas mãos seguiram para seus cabelos como se atraídas por um imã, sua boca tinha gosto de brigadeiro e eu nunca imaginei que podia ficar melhor, mas, cada vez que colávamos nossos lábios, era uma nova sensação. Uma de suas mãos deslizou para meu ombro, indicando que eu devia tirar minha jaqueta, que retirei sem reclamar ou descolar nossas bocas, sua língua misturava-se com a minha em uma brincadeira gostosa para ver quem estava no controle. Dessa vez eu queria estar.
Por este motivo, puxei seus cabelos na região da nuca e separei nossas bocas, Andrew deu um sorriso malicioso enquanto me via sentar em seu colo.
— Assim você me mata — falou ele, referindo-se ao meu decote em seu rosto. Ele depositou beijos por ali enquanto eu retirava meus tênis, fazendo-me rir.
— Matar? Eu quero você mais vivo do que nunca — falei, olhando em seus olhos antes de colar nossas bocas novamente. Eu sabia ser bem piegas quando queria.
Dessa vez, o beijou ganhou a intensidade que estava faltando. Suas mãos foram diretamente para a minha bunda, e eu segurava seu rosto, comandando completamente o nosso beijo, que já havia deixado seu membro com sinais de que estava bem acordado.
Desci meus lábios para seu queixo, arrancando um leve suspiro de sua garganta enquanto suas mãos apertavam minha bunda com força. Porra. Era nítido que o tesão entre nós estava mais alto do que o normal, como se ambos já soubessem que aquela seria, provavelmente, nossa última transa. Beijei seu pescoço com avidez, mas tomando o cuidado necessário para não deixar marcas. Suas mãos subiram por minhas costas e encontraram o zíper do vestido com facilidade, fazendo com que o mesmo afrouxasse e as alças caíssem por meus ombros, local este que ele depositou beijos e não se preocupou tanto em deixar marcas. Deixei um gemido contido escapar de minha boca quando a sua tocou meu pescoço, fazendo-me arrepiar.
Puxei sua blusa para cima enquanto ele estava ocupado com meu colo, deixando rastros de saliva pelo local. Retirei sua blusa, iniciei uma sequência de beijos por todo o seu tronco, meu vestido já estava abaixo de meus seios e só não caía ao chão porque eu estava sentada em seu colo. Desci meu corpo de acordo com os beijos que fui descendo, até perceber que precisava descer do sofá se quisesse continuar em linha reta. Eu não tinha feito um oral em Andrew na noite em que passamos juntos e, bom, eu gostava da ideia de fazê-lo, gostava da ideia de tê-lo em minhas mãos. À mercê de meu toque, como ele mesmo havia admitido.
Por este motivo, desci do sofá, retirei o resto de meu vestido, vendo-o me acompanhar de boca aberta. Me ajoelhei na sua frente e iniciei uma lenta abertura do botão e zíper da sua calça enquanto a ficha de Andrew finalmente caía. Seus olhos brilharam de tesão.
Ele ergueu o quadril para me ajudar a abaixar sua calça e cueca, segurei na base do seu pênis com uma das mãos e com a outra iniciei uma leve masturbação, vendo Andrew fechar os olhos em uma resposta involuntária. Assim que ele abriu novamente os olhos, lambi meus lábios e em seguida lambi toda a extensão do seu membro, da base à cabeça, fazendo-o soltar um gemido delicioso que soou como música aos meus ouvidos. Iniciei um sobe e desce com a minha cabeça, inserindo e retirando seu pênis da minha boca, utilizando a dose que eu supus ser a certa de sucção. Levando em conta os gemidos vindos da boca do homem em minha frente, eu podia dizer que estava na dose certa. Com uma das mãos, massageei seus testículos, enquanto com a outra eu o masturbava enquanto chupava seu pênis.
Andrew suspirava fundo, gemia e verbalizava palavrões tão sensualmente que, só aquela cena, já me fazia ficar completamente molhada. Sua mão estava em minha cabeça, apenas acompanhando meu movimento, sem qualquer vestígio de força envolvido. Voltei a masturbá-lo apenas com a mão e dei uma certa atenção aos seus testículos, lambendo-os e sugando-os com a delicadeza que eu sabia que aquela área devia ter, seus gemidos aumentaram de frequência. Voltei a minha atenção ao seu membro rijo, inseri-o quase inteiramente em minha boca, continuei massageando seus testículos enquanto minha mão livre segurava seu membro pela base, fiz meus movimentos de sobe e desce, intensificando a velocidade, vendo que isso estava dando o resultado que eu esperava.
Andrew, que tentava acompanhar a maioria do tempo de olhos abertos, sem querer perder nenhum segundo do meu espetáculo particular, estava com os olhos fechados com força e a boca entreaberta sem emitir som algum. Continuei meus movimentos, vendo seu abdome se retrair com a força que ele possivelmente fazia para se segurar.
— , eu vou... — ele sussurrou, tentando me avisar, caso eu tivesse algum problema com aquilo. Pelo contrário, continuei e intensifiquei meus movimentos, vendo-o morder os lábios com força. — Porra. Porra. Porra.
Senti o calor de seu esperma em minha garganta, o sabor ligeiramente salgado e intenso tomou conta da minha boca e engoli sem muita dificuldade.
Andrew, pelo contrário, respirava com dificuldade, seu peito subindo e descendo com força, eu sorri, vitoriosa, enquanto ele se recompunha. Puxou meus braços, fazendo com que eu voltasse a sentar em seu colo e colou nossas bocas com voracidade, mostrando zero preconceitos quanto a beijar minha boca com gosto do seu próprio gozo. Deus, como eu amava homem sem frescurite.
Nossas línguas se misturaram novamente, uma de suas mãos em minha nuca e a outra nas minhas costas, mais precisamente no fecho do meu sutiã tomara-que-caia. Minhas mãos estavam perdidas e não sabiam onde ficar, eu sentia-me completamente entorpecida pelo seu beijo, sua língua parecia mais convidativa do que nunca e meu corpo precisava de mais do seu toque. Andrew conseguiu abrir meu sutiã e quebrou nosso beijo para dar a devida atenção aos meus seios.
Sufoquei um gemido quando senti sua língua tocando meu mamilo, ele sugou, lambeu e apertou meus seios, arrancando gemidos de minha garganta que eu nem sabia que podia dar. Notei, inclusive, que seu pênis já estava pronto para outro round enquanto eu arqueava as costas para trás, meus dedos perdidos em seus cabelos cheirosos.
— Você tem camisinha? — perguntei, suspirando, enquanto ele beijava meu colo.
— Na carteira — ele disse, soltando um muxoxo quando saí de seu colo para procurar em sua calça no chão. Peguei a mesma e retirei minha calcinha, fazendo-o lamber os lábios uma última vez com seu sorriso cafajeste.
Eu mesma coloquei a camisinha nele, que sorriu de braços abertos quando voltei ao seu colo. Ele queria que eu ficasse por cima, pois não fez objeção nenhuma quanto à posição em que estávamos. Posicionei minhas pernas uma em cada lado seu e coloquei seu pênis na entrada da minha vagina. Olhei para ele, sorrindo com a cara mais indecente que pude fazer, enquanto descia meu quadril sob seu pênis, fazendo-o entrar completamente em mim.
— Porra.
— Fuck — falamos ao mesmo tempo, fechei meus olhos por um instante, sentindo-o me completar.
Andrew posicionou suas mãos em minha cintura e eu iniciei o movimento de sobe e desce, desta vez com meu corpo, eu já não segurava mais meus gemidos como deveria e Andrew parecia não se importar, já que ele estava realmente focado em olhar meu corpo movendo-se sobre o seu. Eu alternava as quicadas, mudando a velocidade e a frequência, fazendo-o suspirar de tesão enquanto minhas pernas me davam indícios de que meu orgasmo estava se aproximando. Mesmo assim, continuei o movimento com intensidade, sentindo seus dedos pressionarem minha pele de acordo com a força que ele fechava os olhos.
Senti o formigamento conhecido subir pelos meus dedos do pé e a sensação de pré-orgasmo tomar conta do meu corpo.
— Andy — falei o apelido que notei que ele gostava. Ele abriu os olhos. — Eu vou... gozar — avisei-o em um suspiro desesperado. Eu tinha este costume de avisar, mania esta que peguei depois de assistir um documentário sobre como os homens são inseguros em ter relações sexuais com mulheres que costumam fingir orgasmos. Eu não tinha este costume, mas gostava de avisar, pois o homem sempre dava tudo de si depois deste aviso e aquela era, com certeza, a melhor parte.
Andrew segurou minha cintura com uma mão, me auxiliando perfeitamente nas quicadas e com a mão livre desceu até a minha vulva, massageando meu clitóris melado com o dedão. Aquilo foi demais para mim. Senti o calor do orgasmo me abraçando e os tremores involuntários me arrebataram com força. Andrew gemeu junto comigo e senti seu abdome contraído sob minhas mãos enquanto seus dedos me apertavam com força.
Só então percebi que havíamos chegado ao clímax juntos.
Continuamos na mesma posição, respirando ofegantes, Andrew depositou um beijo em meu queixo e sorriu enquanto eu ainda me recuperava.
— Eu só queria que você ficasse um pouco mais. Agora que a gente se encontrou — admitiu ele, com a voz ainda tomando ar.
— Confesso que estou um pouco triste por isso também — respondi, ainda sentada em seu colo, passando os dedos por seus cabelos. Suas mãos estavam repousando em minhas coxas. Eu gostava da companhia de Andrew, ele era divertido e doce na medida certa, gostava de rir e não media esforços para conversar sobre intimidades, seus medos, suas inseguranças e seu amor.
— Acho que você devia ficar, vai fazer muito bem ao Tobey e, bom, seria muito mais fácil eu encontrar você por aqui do que no Brasil. — Ele estava mesmo sugerindo a possibilidade de eu morar nos Estados Unidos apenas para que ele pudesse me ver mais? Sua voz soava como uma brincadeirinha inocente, mas era um fundinho de verdade que eu via através daquela brincadeira boba?
— Infelizmente, minha vida está lá no Brasil, preciso arrumar minha bagunça lá antes de querer fazer algo por aqui — expliquei, sorrindo, e ele sorriu junto, sem muita vontade.
— É realmente uma pena, Maguire. Gosto de você — disse ele, seus olhos castanhos me deixando em transe. Tenho certeza de que minhas bochechas coraram.
— Não faça isso comigo, Andrew. É maldade. — Consegui juntar forças para responder.
— Foi você quem fez.
Capítulo 12
Tobey e eu estávamos na mesma frequência, cada sorriso e cada palavra pareciam se sincronizar. Nunca me passou pela cabeça que eu teria aquele homem de volta na minha vida e eu jamais achei que a presença dele fosse tão necessária para os meus próximos passos. Eu queria Tobey perto de mim, para sempre.
Dizem que cães, mesmo quando são separados na ninhada, conseguem se reconhecer como irmãos, ainda que depois de uma vida longe um do outro. Era este o sentimento que eu tinha com ele: mesmo depois de vinte e cinco anos nos afastando, ele ainda era o irmão que eu sempre tive, o mesmo cara protetor que eu via nas fotos de infância, mais maduro, mais amoroso e mais íntimo. Exatamente como irmãos mais velhos devem ser.
Vê-lo com seus filhos era como uma cena de comédia romântica, quando a mocinha está se redimindo de todos os problemas e dando a volta por cima. Eu conseguia até ouvir a música “Semi-charmed Life” tocando no fundo enquanto meus sobrinhos me ajudavam a arrumar minha mala, com Otis vestindo minhas roupas, pulando em cima da cama, e Ruby olhando debaixo da cama e no banheiro para garantir que eu não esqueceria nada. Tobey observava da porta, de braços cruzados, sorrindo bobo.
A clássica comédia romântica de fim de semana.
— E seus namorados, tia ? Como vão ficar? — Ruby perguntou, sonhadora, deitando-se de bruços na cama e apoiando o rosto nas mãos e balançando as pernas.
— Não tenho nenhum namorado, Ruby — falei, dando uma olhadela significativa a ela, que deu uma risadinha.
— Posso voltar a amar o Tom, então? — perguntou.
— Acho que você pode amar quem quiser, mas eu preferiria que fosse alguém da sua idade, querida — Tobey respondeu da porta, em um tom brincalhão, para não a deixar na defensiva.
— Papai não gosta que eu goste do Tom — informou ela, rolando os olhos.
— Ele só fica preocupado, já que Tom é muito mais velho do que você — expliquei.
— E o que vão falar sobre Jay-Z e a Beyoncé? Ryan Reynolds e a Blake Lively? — ela retrucou, havia feito o dever de casa. Dei uma risada, vendo Tobey unir as sobrancelhas, indignado.
— Ruby, quando você tiver idade o suficiente para que Tom não seja preso, você pensa sobre isso, ‘tá bem? — perguntei calmamente, vendo que Tobey estava indignado o suficiente para falar besteira. — No momento, você pode sair com pessoas da sua idade.
— Você está certa, tenho que aproveitar um pouco primeiro. Com quantos anos você está mesmo? — perguntou ela. — Otis! Para de pular, estou ficando tonta! — reclamou com o irmão que ainda pulava na cama, feliz da vida com uma echarpe minha enrolada no pescoço e uma saia enrolada na cintura.
— Estou com 29 — respondi, vendo que não ia dar jeito de colocar todas as minhas roupas de volta na mala. Tobey notou isso e foi até seu quarto pegar uma mala dele.
— Nossa, que velha! Você não tem medo de acabar sozinha? Eu quero me casar com 25, mas quero ficar noiva com 23. Assim tenho tempo de planejar o casamento perfeito — explicou ela, como se fosse a coisa mais simples do mundo. Puf, em um estalar de dedos estou noiva, e puf, estou casada.
— Pois é, estou velha mesmo — dei uma risada. — Ouviu isso, Tobey? Eu estou velha e Ruby quer se casar com 25 anos.
Tobey voltou com a mala, rindo.
— Ruby, meu amor, se você quer se casar com 25, saiba que Tom estará com 35 quando este dia chegar — Tobey disse, divertido, retirando Otis de cima da cama, colocando-o no chão e depositando a sua mala reserva sobre a cama.
— É, talvez 29 não seja tão velha assim — pensou ela enquanto eu e Tobey ríamos. Ah, os adolescentes... Seres tão incompreendidos.
Depois que deixei minhas malas prontas, fomos à cozinha e ensinei Otis a fazer paçoca enquanto Ruby e Tobey apenas olhavam.
Eu havia feito a promessa para Tobey de que faria paçoca para ele no meu primeiro dia aqui e achei que seria legal deixar Otis com a receita de família que minha mãe havia me passado. Na verdade, não era uma receita de família, já que eu nunca havia ouvido falar da “famosa receita de paçoca da vovó”, mas aparentemente alguém sabia fazer e passou a receita para minha mãe.
Trituramos o amendoim torrado, adicionamos os ingredientes e prensamos a paçoca com as mãos cortando-as com forminhas de biscoitos em formato de estrelas. Otis, Ruby e Tobey amaram a receita, alegando que parecia pasta de amendoim seca.
O dia passou sem minhas surpresas, um verdadeiro dia em família com os Maguire. Assistimos filme, ouvimos Otis contar piadas péssimas (tão ruins que no final estávamos rindo até a barriga doer), brincamos de Twister (coisa que eu só via em filmes, mas nunca tinha visto como era de perto) e ensinamos Ruby e Otis a jogar truco.
À noite, me despedi de meus sobrinhos como se a minha vida dependesse daqueles abraços, ambos me abraçaram juntos e beijaram meu rosto, fazendo meus olhos lacrimejarem quando se afastaram. Tobey, a manteiga derretida, já tinha lágrimas correndo por suas bochechas apenas olhando a cena.
— Puxa vida, amanhã você se vai — Tob disse quando chegamos em sua casa. É, agora a casa voltava a ser apenas dele e não nossa casa. — O que vai ser de mim?
— O mesmo que será de mim. Vamos nos falar sempre. Você já está até usando o WhatsApp! Ensinei Tobey, Andrew e Tom a usar o WhatsApp quando quisessem falar comigo, já que mensagem de texto no Brasil é apenas para spam. Eu tinha medo de que alguma mensagem deles caísse em esquecimento no meio das mensagens da operadora de telefone e falsos links clicáveis.
Tobey aproveitou para salvar o número de minha mãe, meu pai e de Baby, este último foi anotado com uma certa energia a mais.
— É, você está certa — suspirou ele, de cabeça baixa.
Passei a mão por seus ombros.
Me doía o coração vê-lo daquele jeito, eu sabia que ele iria sobreviver, já que ele já tinha sobrevivido todo aquele tempo sem minha intervenção em sua vida, porém nossa aproximação dava um passo nessa relação, já que agora nós tínhamos um ao outro para sentir saudade.
— Mas vou sentir a sua falta no dia a dia. É muito fácil de se acostumar com as coisas boas, agora que você vai embora... eu só consigo ver como eu fui um idiota. Deus, , como você conseguiu me aceitar de volta? Não sei se eu conseguiria.
— Você conseguiria sim. Você é mais mole que gelatina. Você conseguiria com muito mais facilidade — expliquei, sentando-me ao seu lado no sofá.
Ele deu uma risadinha pelo nariz.
— Você é demais. Porra, você não faz ideia do bem que me fez. Tenho tanto orgulho de ser teu irmão. Queria poder falar para o mundo inteiro! — disse ele, sorrindo com sinceridade.
— Você já disse, você me levou ao tapete vermelho do Homem-Aranha, me apresentou à tantas pessoas maravilhosas, falou da nossa relação na televisão e me apresentou sua família. Tob, se isso é fazer nada, eu não sei o que é fazer tudo. Você mudou minha vida.
— Você é a melhor coisa que já me aconteceu depois dos meus filhos. Obrigada por ser incrível.
E, com essa declaração, a noite acabou para mim. Qualquer coisa podia acontecer e nada tiraria meu sorriso do rosto.
No dia seguinte, meu voo estava agendado para as treze horas.
Acordei antes de Tobey, fiz pela última vez sua omelete francesa, acompanhada de tomates cereja e avocados. Não demorou muito para ele descer, feito um desenho do Pica-Pau, apenas pelo cheiro da comida.
— Bom dia , como vamos nos organizar hoje?
— Bom, meu voo é às 13:00 horas. Acho que dá para almoçarmos algo legal e irmos para o aeroporto, certo?
— Sim, acho que é isso. Será que seus namorados vão vir se despedir? — brincou ele, me examinando de soslaio.
Virei meus olhos dramaticamente, vendo-o se divertir com isso.
— Ambos prometeram que viriam. Mas não vou ficar magoada se não vierem, são duas pessoas ocupadas, certo? — expliquei, vendo-o me olhar com aqueles olhos debochados.
— Qual é, , você sabe que os dois vão vir, não sabe? , eles GOSTAM de ti, eles estão encantados e eu sei porque vejo o que você não vê, eu vejo o jeito que eles olham para ti e o modo como eles te tratam. Deixa de ser besta e aceita isso de uma vez.
— Eu nunca vou aceitar isso. Peço desculpas, mas não tem como. É impossível — respondi e ele virou os olhos, bufando.
— , deixa de ser teimosa. Meu Deus, que difícil colocar uma coisa na sua cabeça! — ele disse, dando um soquinho na mesa, porém rindo. — Você é irritante, Jesus! Parece que estou falando com a Ruby.
— Teimoso é você, que fica colocando essas ideias na cabeça e acha que todo mundo tem que entrar nessas suas loucuras! Tenho os pés no chão — respondi, indignada, unindo as sobrancelhas.
— Você tem que tirar essa paranoia de inferioridade de dentro da sua cabeça. Você colocou os dois em um pedestal e ainda não percebeu que você também está lá.
— Eu estou no meu lugar. Você que não… — Fui interrompida por uma batida na porta. Eram 10:30 da manhã.
— É para você. Quer apostar? — disse Tobey, me desafiando.
Mostrei a língua para ele e fui até a porta, fazendo sinal para a governanta de que eu atenderia a porta.
Atrás da porta estava Andrew e, assim que nossos olhares se cruzaram, ouvi a batida de Wildest Dreams tocando na Alexa que ficava ao lado da TV. Aquilo só podia ser coisa do Tobey.
Andrew usava uma camisa de botões verde musgo e uma calça escura, nos pés uma alpargata clara, ele apenas sorriu sem mostrar os dentes.
— Bom dia, pequena Maguire. — Deu um passo para dentro de casa e seus olhos cravaram em minha boca. Sem muito tempo a perder, ele deu dois passos em minha direção e colou nossos lábios, prensou-me contra a parede onde tivemos nosso primeiro beijo. Sua língua pediu passagem pela minha boca, suas pernas intercalavam com a minha, mantendo nossa distância mínima. Suas mãos seguravam meu rosto como se tudo ali dependesse disso, minhas mãos estavam perdidas e simplesmente ficaram paradas ao lado do meu corpo enquanto aquele homem absolutamente cheiroso me beijava ao som de Taylor Swift. Eu me sentia em um filme adolescente e, se houvesse alguns foguetes ou uma serenata com uma banda marcial me esperando do lado de fora da casa, eu possivelmente não acharia estranho.
Perdi a noção do tempo sentindo o gosto da sua boca na minha, suas mãos passeavam pelo meu corpo enquanto eu me perdia em todos os sentidos, finalmente conseguindo colocar minhas mãos em seus cabelos, sentindo o tempo passando em câmera lenta. Sua mão deslizou para a minha nuca e Andrew sugou meu lábio inferior antes de separar nossas bocas, tão ofegante quanto eu.
A última frase da música saiu dos alto-falantes da Alexa e ele riu.
— Isso foi coisa do Tobey, certo? — disse, rindo, nossas testas encostadas, seus olhos encarando minha alma.
— É óbvio. — Virei os olhos para cima, fazendo-o rir.
— , eu sei que o que eu vou te pedir é uma absoluta loucura, mas não vou conseguir dormir direito se eu não te falar isso — ele disse, seus olhos eram de outro mundo. Seu hálito de menta batia em meu rosto e eu nem queria imaginar o hálito de café que eu provavelmente tinha. — Fica. Sei que é loucura e completamente egoísta, mas não quero viver com a possibilidade de nunca mais te ver e pensar que nunca nem tentei te pedir para ficar. Sinto que se você for ao Brasil, eu vou te perder. É uma sensação que não passa.
Andrew ainda segurava meu rosto, seus olhos brilhavam como eu nunca tinha visto e seus lábios estavam rosados por conta do beijo. Por um momento, acreditei em Tobey, vendo aquela cena em que Andrew me admirava, visivelmente de guarda baixa, pouco se importando se Tobey ouvia nossa conversa ou não. Apenas a súplica feita sem muito planejamento. Ele sabia que eu nunca diria que ficaria, seus olhos sabiam disso, mas ele não queria deixar de tentar.
Respirei fundo.
— Andy, você sabe que não posso, certo? Não vou mentir para você e dizer que isso não vagou pela minha cabeça em alguns momentos, mas eu tenho uma vida que precisa ser tocada nesse momento no Brasil. Eu não tenho autonomia, dinheiro ou estabilidade para largar tudo lá e vir morar aqui. — Notei que minhas mãos estavam agarradas em seus cabelos, como se fosse o apoio que eu necessitava naquele momento.
— Eu sei, eu sei. Eu sei que fui completamente egoísta e tóxico nesse momento, mas, se eu não fizesse isso, ia viver minha vida no "e se?". Eu gosto da tua resposta, era a resposta que eu sabia que você daria com o pouco que te conheço.
O barulho da ficha caindo ecoou pela minha cabeça: Andrew realmente gostava de mim. Amor com certeza era uma palavra muito forte, até porque não havíamos nos conhecido e passado tempo o suficiente juntos para que isso acontecesse, mas foi o suficiente para que ele viesse até mim, no meu último dia nesse país para me pedir para ficar, com dizeres de uma pessoa apaixonada que podia se arrepender se não me pedisse para ficar.
Fechei meus olhos, dando um sorriso completamente besta.
— Andrew, eu estou feliz por você ter vindo até mim e tenha se aberto o suficiente para me fazer essa proposta. Eu gosto muito de você. E gosto do que a gente criou aqui. Mas você sabe que é loucura. Por favor, não me entenda mal.
— Eu entendo perfeitamente, . E eu espero que você me entenda também. Entenda que fazia muito tempo que eu não conhecia alguém que me fizesse sentir as coisas que estou sentindo com você.
Meu coração gelou. Era claro que eu adorava Andrew, gostava da sua personalidade marcante, da sua presença sempre notável, das suas conversas fáceis e sinceridade. Mas era minha cabeça ou ele parecia sentir mais do que um singelo "gosto de você"? É claro que era minha cabeça, já não bastava Tobey insistindo nessas besteiras, agora minha cabeça também viria me deixar completamente louca?
Ele notou que fiquei calada depois do que disse e apenas colou nossos lábios mais uma vez. Dessa vez sem língua ou amassos contra a parede, apenas nossos lábios colados, sentindo a respiração um do outro. Mantive meus olhos abertos, e o vi com os olhos apertados com força, novamente como se sua vida dependesse daquilo.
— Boa viagem, . Esteja preparada para alguns convites para tapetes vermelhos e premiações, você sabe que gosto da sua companhia, certo? — sorriu com todos os dentes. — Não esqueça de mim. Ok?
— Obrigada, Andy, eu nunca vou esquecer de você — prometi enquanto ele pegava minha mão e a beijava, como fez da primeira vez que nos conhecemos.
E, assim, tão rápido quanto a minha estadia aqui, Andrew se despediu de mim.
(Você me verá em retrospectiva, enroscada em você a noite inteira, ardendo em chamas).
Sua visita não durou mais do que trinta minutos, mas foi tão avassaladora que fiquei durante algum tempo ainda encostada na parede, olhando para o nada e pensando em tudo. Fiquei tempo o suficiente para que Tobey me chamasse de volta à Terra.
— Agora seja sincera e me diz que eu estou exagerando. Que eu estou sendo besta e tentando colocar você nas minhas paranoias.
Seu olhar era sincero e divertido, assim como eu sabia que ele era durante a maior parte do tempo.
— Meu cérebro não consegue assimilar. Eu tento, juro que tento, mas não consigo ver o que ele vê em mim — admiti, com as mãos sobre o peito, o coração ainda a milhão.
— O que ELES veem — Tobey corrigiu.
— Tob, eu sei que você me fala e insiste, mas na minha cabeça é impossível. Existem tantas e tantas mulheres aí disponíveis e à altura deles, sabe? Zendaya, Kylie Jenner, Taylor Swift… Meu Deus, posso ficar até amanhã aqui listando as beldades famosas e solteiras que existem por aí. Por que eles escolheriam a mim?
— Porque, assim como eu, eles não querem mulheres artificiais, com problemas irreais, amizades falsas e um namoro para ganhar influência. Acho que eles estão atrás de amor. Amor de verdade, sabe? Você não tem noção de como isso é difícil na nossa pele — Tobey disse, me guiando até a cozinha, atrás de mim, me empurrando pelos ombros.
— Assim você me dá a impressão de que é por conveniência — admiti, vendo-o colocar as louças do café na pia.
— Bom, não deixa de ser, mas pense em uma pessoa como eu. Eu tenho meus 40 e poucos, estou solteiro e já passei pelo meu auge da carreira, eu só quero sossegar, fazer alguns filmes legais e ficar tranquilo. Você acha que eu vou procurar o amor da minha vida em uma pessoa famosa? Uma pessoa que só vai me trazer dor de cabeça e estresse? Uma pessoa com a agenda lotada que nunca vai ter tempo para mim? Não. Eu quero uma pessoa que esteja comigo, que aceite a vida que eu tenho e que me apoie. Eu sei que soa egoísta, mas é a verdade.
— Entendi — concordei, por mais que Tobey já tivesse conversado aquilo comigo, ele nunca tinha sido tão claro como agora. Resolvi pegar um pouco no seu pé também. — E a Baby entra nessa categoria?
— Baby é a brisa de ar fresco que eu estava precisando. Ela é divertida e apaixonada, confesso que fez coisas na cama comigo que fazia muito tempo que eu não fazia. — Tob me pegou desprevenida. Não achei que ele fosse falar tão abertamente assim.
— Baby é exatamente isso. Frescor, carinho e paixão. Fico feliz que vocês dois tenham se dado tão bem. Tu não pensas em ir ao Brasil e quem sabe aproveitar um pouco essa brisa de ar fresco novamente? — brinquei e ele riu.
— Na verdade, sim. Assim que você decidiu vir para cá, já me programei para ir até o Brasil passar um tempo contigo e com a tua família. Agora tenho mais um motivo — respondeu ele, erguendo os ombros.
— Você não sabe o quanto eu fico feliz em saber disso — falei, sorrindo com sinceridade, e ele correspondeu o sorriso.
Seguimos nosso cronograma, tomei um banho e coloquei a roupa que já estava separada para o avião: uma calça jeans skinny clara, uma blusa do Greta Van Fleet que era de Tobey e uma jaqueta de couro sintético que eu não havia usado em toda a minha estadia ali.
— Essa blusa ficou ótima em você! — ele exclamou quando desci as escadas, com minha mala de ombros.
— Ficou, não é? Acho que você pode me providenciar mais umas blusas suas como souvenires. Pelo menos uma para eu dar à Baby — brinquei e ele pareceu pensar por um segundo.
— Você está tirando com a minha cara.
— Sim!
Caímos na risada enquanto íamos na direção do carro. Ambos com seus corações na mão, rindo como se fôssemos nos ver amanhã novamente.
Tobey me levou até um brunch, já que eu não queria comer nada muito pesado para não ficar enjoada durante o voo.
Comi torradas com purê de batata e frango grelhado, Tob pediu o mesmo, apenas trocando o frango por ovos mexidos. Conversamos sobre qualquer coisa, sentindo olhares de paparazzis em um canto ou outro, eu já havia aprendido a fingir que não estavam ali.
— Hey — Tob atendeu o telefone e eu já sabia que era Tom. Ele sorriu e piscou para mim. — Estamos no brunch perto do LAX. Ok, você está atrasado.
Era meio-dia e meia quando terminamos nosso almoço e seguimos para o aeroporto. Normalmente, eu ficaria preocupada com a possibilidade de perder o voo, mas, acompanhada por Tobey, eu sabia que tinha uma chance de eu ainda chegar antes pelos privilégios que gente famosa não deveria ter, mas tem.
Fiz check-in em uma fila VIP e Tobey me acompanhou, mesmo sem ter uma passagem. Já tinha aceitado o fato de que Tom não conseguiria chegar a tempo de se despedir e apenas dei de ombros mentalmente enquanto Tob olhava por cima dos ombros a cada um minuto, como se estivesse mais ansioso pela chegada de Tom do que eu mesma.
Quando liberaram os portões para a entrada no avião, me levantei e Tob abraçou-me com força.
— Acho que já falamos tudo o que tínhamos para falar, não é? Já gastei todas as minhas fichas de frases bonitas com você — Tob disse, os braços em volta do meu pescoço, o rosto enfiado em meus cabelos.
— Sim, já estou enjoada de falar frases melosas para você — brinquei, minha cabeça encostada em seu ombro. Demos uma risada sincronizada e ele afastou o abraço, me olhando nos olhos.
— A gente se vê logo, ok? Obrigado por me fazer tão feliz nesse curto período. Eu te amo, , não se esqueça disso.
— Obrigada você por me dar essa oportunidade de conhecer a tua vida de perto. Foi uma experiência e tanto. Obrigada por me aturar e me incentivar. Eu também te amo, Maguire. — Seus olhos já estavam cheios de lágrimas e, desta vez, os meus também estavam. Sorrimos parceiros e nos abraçamos rapidamente mais uma vez. Beijei seu rosto e segui com minha mala de bordo para a fila de entrada no avião.
— Maguire! — Uma voz tão distante e tão baixinha berrou, que eu pude jurar que era um dos paparazzis querendo uma última foto minha antes de entrar no avião. — Maguire, espera!
— — Tobey me chamou segundos antes de eu entregar minha passagem à moça que estava no embarque.
Virei-me e notei as pessoas abrindo passagem para a criatura que vinha correndo pelo aeroporto, gritando a todos pulmões, com os sapatos nas mãos, tropeçando e esbarrando em tudo que havia em sua frente. Esta criatura era Tom Holland.
Dei uma risada alta vendo-o dar seu sangue para nos alcançar, Tobey ria abertamente e Tom parecia estar filmando seu próximo filme de aventura, desviando de velhinhos, pulando por cima de cães e deslizando no meio de pessoas conversando.
Ele fez tanto alvoroço que as pessoas já estavam torcendo e o ajudando a chegar até mim, tamanho era o carisma que aquele ser tinha. Quando estava perto o suficiente de mim, ele notou que não tinha mais espaço para frear e apenas me abraçou com toda a potência da sua corrida, me erguendo do chão e me rodando tontamente para não cairmos no chão. Deu três voltas antes de colocar meus pés no chão.
Eu conseguia sentir seu coração pulsando forte, seus braços me apertaram com tanta força que fiquei sem ar por um instante. As pessoas em nossa volta batiam palmas e comemoravam.
— Se era uma entrada triunfal digna de final de comédia romântica que você queria, você conseguiu — falei em seu ouvido quando as palmas cessaram.
— Eu só não queria deixar de me despedir de você, Maguire — ele disse ainda sem ar.
— Bom, aqui estou eu — eu disse, erguendo os ombros. Ainda estávamos abraçados. Aquilo com certeza faria parte de algum site de fofoca nas próximas horas.
Tom me soltou do abraço e olhou em meus olhos, era o terceiro par de olhos que olhavam em minha alma hoje, tenho certeza de que se tivesse mais algum, meu corpo não aguentaria, eu morreria feito uma vítima do Motoqueiro Fantasma.
— , você foi a pessoa que me fez sair de um transe que eu estava vivendo durante alguns meses. Eu só fui liberado do contrato com a Zendaya porque praticamente implorei ao meu agente quando te vi pela primeira vez. Eu teria que pagar uma multa bem alta, mas, como Zen estava do mesmo lado que eu, acabamos conseguindo entrar em um acordo. Mas, se não fosse por você, acho que eu ainda estaria vivendo minha vida de mentira.
— Tom, eu não fiz nada. — Senti minhas bochechas esquentarem.
— Você fez. Só não sabe, mas fez. Você tem alguma coisa. Você muda as pessoas. E temos três pessoas aqui que podem comprovar isso — ele disse, sua respiração finalmente voltando ao normal. Deus do céu, mais um para colocar caraminholas na minha cabeça?
Ele continuou:
— Muito obrigado por tudo o que você fez comigo nesses poucos dias que nos encontramos. Você me deu muito mais do que imagina, você me deu esperança.
— Sou eu quem agradeço, Tom, você foi um cavalheiro comigo. Foi gentil, educado e divertido. O tipo de pessoa que é raro de se encontrar hoje em dia. Obrigada por ter me abraçado junto com Tobey e por me fazer sentir parte da família — eu disse, sorrindo, alisando seus cabelos enquanto suas mãos estavam em minhas costas.
— Você sempre vai fazer parte da família, você é uma Maguire. E me desculpa por tudo, pelo tênis, pelo vômito e pelo meu amigo que caiu da escada e estragou sua festa de aniversário. E, principalmente, me desculpe por isso.
Tom colou nossas bocas, fazendo as pessoas ao nosso redor ovacionarem. Seus lábios tinham gosto de bala de melancia e sua língua tocou a minha com a avidez que eu desconfiava que ele havia aprendido comigo. Suas mãos apertaram minha cintura e ele me tirou do chão mais uma vez sem muito esforço, como se meu corpo fosse um par de halteres de um quilo na academia. Minhas mãos em sua nuca guiavam o beijo e ele sorria bobo entre um selinho ou outro, como se aquela mentira de fingir que não tínhamos nada saísse das suas costas e ele pudesse ser feliz novamente. Ele me pôs no chão, me deu um último selinho e juntou nossas testas enquanto ria bobo.
— Obrigado por tirar esse peso das minhas costas, . E obrigado principalmente por ser essa pessoa leve e maravilhosa que você é. Não mude isso, por favor.
— Só se você prometer que não vai deixar de ser esse cara atrapalhado e simples que você é — eu disse, sorrindo.
— Ok. Prometido. Agora vai, antes que você perca o voo por minha causa. — Me deu mais um selinho. — Boa viagem, .
— Obrigada, Thomas. — Ele sorriu abertamente quando ouviu seu nome completo.
Segui minha fila novamente para entrar no avião e mandei um beijinho para os dois homens que estavam acenando para mim.
Sentada na poltrona do avião, enquanto não pediam para desligar os objetos eletrônicos, mandei algumas mensagens para meus pais e meus amigos. Entrei uma última vez no Instagram e acabei me surpreendendo com uma postagem de @tomholland2013:
Hoje me despeço de uma pessoa que fez a vida de três Peter Parkers muito feliz. Pequena Maguire, que você tenha o mundo em sua mão, do mesmo jeito que você nos tem na sua. Seremos eternamente gratos pela sua alegria, seus sorrisos sinceros, seu humor brasileiro e suas caipirinhas. ❤️🍸🎂
Cordialmente,
Peter 1, Peter 2 e Peter 3.
A postagem era a legenda de um carrossel de fotos no Instagram:
A primeira foto era do tapete vermelho do filme do Homem-aranha, onde nós quatro sorríamos para a câmera.
A segunda era a famosa foto em que Tom e Andrew estavam beijando minhas mãos.
A terceira era uma selfie entre Tom, Jason e eu na noite do karaokê.
A quarta era uma foto de um drink meu, uma linda taça de gin com um belíssimo exemplar de caipirinha de maracujá dentro.
A quinta foto era uma selfie minha com Tom, ambos fazendo careta com filtro de cachorrinho.
A sexta era a outra famosa foto de Andrew beijando meu ombro.
A sétima era uma selfie minha com Tobey com nossos óculos em formato de coração.
A oitava e última era uma foto minha sozinha, soprando a vela do meu bolo de aniversário.
Funguei sozinha, lendo e relendo a publicação, pensando no que eu poderia responder. Escrevi e apaguei minha resposta durante todo o percurso em que meu celular estava em modo avião e o avião pegava altitude.
@tomholland2013 está querendo me matar do coração? Assim eu não aguento! Muito obrigada por toda a hospitalidade, carisma e carinho que todos tiveram comigo. NWH = tudo pra mim. ❤️🕸️
Capítulo 13
Matei um tempo passeando pelas lojinhas do aeroporto, pois estava completamente sem sono, já que dormi o voo quase inteiro.
Descansei nas cadeiras confortáveis da área VIP e resolvi enviar uma mensagem a Tobey.
online
já estou no Brasil e ele está me perguntando quando você vem para cá! 🤭
eu já ia te enviar uma mensagem, estava aqui fazendo as contas do fuso horário...
são quatro horas para frente, isso não exige uma grande concentração matemática hahahah
matemática nunca foi o meu forte 😬
e como você está? como foi o voo?
tudo certo, só tenho que matar mais umas duas horas aqui no aeroporto para pegar o avião para Florianópolis, e como estão as coisas por aí? 😊
vazias
Aquilo me pegou desprevenida, eu sabia que era drama, acima de tudo. Mas eu sabia como a vida de meu irmão estava: o profissional subindo feito um foguete, graças ao novo Homem-Aranha, porém o pessoal estava meio abalado, e eu sabia que a solidão dele podia ser um gatilho.
online
vazias
logo você vem para cá e vamos te deixar cheio de novo
minha mãe te dará amor e comida, eu te darei alegria e companhia, e baby te dará coisas que só vocês precisam saber hahahahah 🤭🤭
hahahahahah você é impossível
Conversamos por mais alguns minutos e ele se despediu, já que lá era tão tarde quanto aqui.
Dei mais uma olhada nas redes sociais, meu Instagram havia dobrado de seguidores desde quando respondi a postagem de Tom. Meu comentário tinha milhares de curtidas e muitas respostas. Tanto em inglês quanto em português.
Alguns influencers que eu conhecia aqui do Brasil agora me seguiam, minhas fotos mais antigas ganharam várias curtidas e comentários, e as fotos que Tom havia postado ontem, junto da foto do nosso beijo de despedida, vagavam por todo os meios de mídia conhecidos pelo homem moderno.
Agora eu era conhecida como a namorada de Tom Holland. E confesso que não me importava muito com este rótulo, meus 15 minutinhos de fama logo acabariam e eu ficaria livre para voltar a ser invisível.
Minha chegada à Ilha da Magia foi recheada de abraços e lágrimas. Minha incrível mãe me aguardava junto de meu pai, que estava mais abalado com a minha volta do que a própria. — Que saudade que eu estava de você, minha filha — Pedro disse enquanto seus braços me amassavam. Seu cheiro era de nicotina e perfume, e eu simplesmente amava.
— Eu também estava com saudades — exclamei, sorrindo, espiando minha mãe, que secava as lágrimas ao nosso lado. — Estava nada, você só queria saber do seu irmão — brincou ele, separando nosso abraço. — Isso é ciúmes que eu estou presenciando? — perguntei no mesmo tom brincalhão e ele riu fungando.
— É sim. Não tem por que negar — deu de ombros.
— Deixa de ser besta, Pedro — minha mãe interveio. Quantos homens dramáticos em minha vida!
— Como foi lá, ? — minha mãe perguntou enquanto Pedro me ajudava com as malas. — Foi perfeito, mãe. Eu nunca achei que ia conseguir me conciliar com Tobey do jeito que foi. Eu não sabia que precisava tanto disso até finalmente acontecer. Estou muito feliz de ter ido — respondi com sinceridade. Ambos sorriram para mim.
— Você não sabe como isso me deixa feliz, querida. E o Tobey pretende vir para cá?
— Sim, creio que logo ele vem. Está ansioso para isto, na verdade — expliquei e ela concordou com a cabeça.
Seguimos do aeroporto para casa, o caminho inteiro contei detalhes da viagem, contei sobre o programa de televisão e meus sobrinhos, contei partes das festas e sobre o tapete vermelho, eles ouviam com atenção, fazendo comentários ou perguntas nos momentos pertinentes. Obviamente, não contei tudo, pois havia coisas que eles não precisavam saber, mas, em um geral, contei basicamente o que eles pareciam querer saber.
Em casa, amassei Jacquin até ele me arranhar para que o soltasse, suspirei fundo quando senti meu lar me recebendo de volta, pequeno e aconchegante como sempre quis que fosse. Combinei com meus pais que faríamos algo no fim de semana, pois teria que pôr meu sono em dia e eu estava exausta. Eles entenderam perfeitamente e seguiram para sua casa.
Minha volta teve alguns plot twists interessantes.
Alguns deles não foram tão agradáveis quanto outros. No dia seguinte à minha chegada, fui ao Patrício, o restaurante no qual eu trabalhava, e acabei encontrando o que eu temia: a substituição escrachada do meu posto. Eu não era mais sous chef e aquela notícia caiu em meus ombros como um balde de água fria.
— Não me entenda mal, . Você é uma incrível cozinheira e nós amamos a sua presença no Patrício, mas sua ausência fez a diferença e Edu tomou o cargo de mãos abertas quando notamos o seu desempenho durante sua saída. Não posso rebaixá-lo agora que você voltou, mas estou disposto a lhe dar o cargo que era dele — Manuel, o dono e chef do restaurante, me informou pessoalmente em sua sala. Meus olhos encheram-se de lágrimas.
O ramo da cozinha podia ser algo traiçoeiro e, sim, machista. Todo mundo sabe disso e eu sabia que isto estava em jogo quando aceitei a oferta de Tobey. Mesmo assim, a notícia me pegou desprevenida, pensei que meus colegas de trabalho fossem me alertar.
— Não pode ou não quer rebaixá-lo? — perguntei, engolindo o choro como a mulher forte que eu tinha que ser. Agora não era momento para mostrar fraqueza.
— Não quero — ele foi sincero e tive que dar um ponto a ele por isso. — Gosto de Edu e ele está mostrando uma disposição muito maior do que era minha expectativa. Não estou dizendo que ele é melhor do que você, não pense isso. Mas eu precisava desde cargo preenchido e só percebi isso quando você saiu. Achei que conseguiria segurar as pontas sozinho, mas a perda da estrela Michelin entrou em jogo e precisei me mexer — admitiu ele e eu simplesmente aceitei. Ele precisava de apoio e eu não estava presente. Edu era sim uma pessoa responsável e decente, pessoa esta que eu imaginava que não estava tentando me sabotar, apenas estava na hora certa e no momento certo. Eu podia ver uma pontinha de machismo ali? Possivelmente, mas tenho que admitir que a culpa foi minha, a escolha foi minha. Eu decidi sair na alta temporada e era completamente aceitável que eu não fosse recebida com flores. — Eu entendo, Manuel, de verdade — respondi, engolindo meu ego.
— Então você aceita voltar no antigo cargo do Edu?
— Infelizmente, não. Sinto muito em te abandonar desse jeito, sei que ainda é alta temporada e você ainda precisa de mim, mas penso que preciso de um momento para mim, sabe?
— Eu entendo também, , e te peço desculpas em te dar esta notícia dessa maneira, você é uma profissional incrível, mas minha vida, a vida dos meus funcionários e, principalmente, a vida dos meus clientes não podia parar porque você precisava de férias.
— Você está certo. Fiz a minha escolha e confesso que não pensei muito nas consequências. Mas não me arrependo da escolha que fiz. Obrigada por me entender, me aceitar de braços abertos e, principalmente, por me ensinar tanta coisa — falei, enxugando uma pequena lágrima teimosa que desceu por minha bochecha. Manuel sorriu e levantou-se para me abraçar.
— Saiba que as portas do Patrício estarão sempre abertas a você.
Fui até a cozinha, onde a maioria do pessoal estava limpando o ambiente para iniciar um novo expediente. Marianne e Jean vieram até mim, correndo, e me abraçaram com o carinho que eu sabia que eles tinham por mim.
— O negócio aqui está feio, amiga — Marianne cochichou para mim, puxando meu braço para um canto onde pudéssemos falar mais escondidos. — O sucesso subiu à cabeça do Edu, estamos apavorados!
— Ele nos proibiu de contar qualquer coisa a você, com medo de que você pegasse o primeiro voo para cá e tirasse ele do seu lugar. Disse que nos demitiria — Jean concordou. — Nos desculpe por não ter contado nada, mas você sabe como a gente depende daqui, não é?
— Claro, gente, deixem de ser bobos. — De alguma maneira, aquilo me deixava aliviada, o fato de eles não terem me contado nada tinha me deixado um pouco abalada, porém saber a verdade fazia sentido e, conhecendo Marianne e Jean como eu conhecia, eu sabia que não podiam colocar seus empregos em risco por mim. Ambos tinham bolsa na faculdade e moravam de aluguel, precisavam da grana.
— O Patrício não é o mesmo sem você, o serviço era muito mais organizado com você cantando os pedidos e a disposição das bancadas era mais livre quando você arrumava — Marianne continuou sua lealdade, dando uma risadinha maldosa.
— Ou seja, nós odiamos o Edu! — Jean disse, dando uma risada gostosa. — Quando você volta?
— Não vou voltar — admiti, vendo os dois pares de olhos arregalados em minha direção, eles eram as primeiras pessoas para quem eu contava aquela novidade. Eu não sabia qual era o sentimento que habitava em meu peito ainda.
— Como assim “não vai voltar”? — foi Jean quem perguntou, unindo as sobrancelhas.
— Ué, não voltando. Miguel perguntou se eu queria voltar para o antigo cargo do Edu e eu disse não — dei de ombros, fazendo os dois se olharem, chocados.
— Você não vai deixar a gente aqui com esse chernoboy, vai? — Marianne perguntou, colocando as mãos sobre a boca, chocada. Dei uma risada.
— Infelizmente, vou, não tenho mais clima para voltar para cá, sabe? Não agora que fui substituída na cara dura — admiti, a pontinha de inveja me dando olá, fazendo-me engolir meu orgulho. — Não acredito ! A nossa esperança era você voltar e colocar o Edu no lugar dele... Agora quem poderá nos defender? — Marianne imitou Chapolin Colorado e demos uma risada mútua de parceria.
— Vim só me despedir de vocês, espero que a gente se encontre em algum lugar por aí. Gosto muito de vocês, a cozinha era mais fácil com a nossa leveza — falei, sorrindo com sinceridade, e ambos me abraçaram forte ao mesmo tempo, fazendo nossos braços se enlaçarem como um só. Me despedi de todos, inclusive de Edu, que mantinham um sorrisinho sem dentes nos lábios.
Fizemos um acordo em que Miguel me demitiria para que eu recebesse os benefícios necessários para não sair perdendo completamente.
Saí de lá com o peito estufado de preocupações e com a consciência pesada, liguei para minha mãe, nervosa, e mandei mensagem para o grupo intitulado “Fofoquinhas e algo mais”, que pertencia a mim, Baby e Johnson, em que a foto de capa eram as Meninas Superpoderosas: obviamente Johnson era a Docinho, Baby era Lindinha e eu, Florzinha. Evitei mandar mensagem para Tobey, pois não queria deixá-lo tenso com a notícia, achando que minha demissão tinha algo a ver com ele.
Combinamos de nos encontrarmos em meia hora no nosso bar preferido, os gêmeos saindo mais cedo dos seus respectivos empregos para me dar apoio moral.
Expliquei toda a situação quando chegaram.
— Mas que vagabundo! — Johnson exclamou, indignado, e eu apenas ri do seu jeito exagerado enquanto Baby me olhava, apreensiva.
— E o que você pretende fazer? — perguntou, mordendo o lábio inferior. Eu sabia que os dois estavam preocupados com o meu futuro, somos próximos o suficiente para isto.
Babi um gole do meu chope, olhando as pessoas que passavam por nós na rua, perdidas em seu próprio mundo, suspirando, dramática, como se estivesse em um clipe da Avril Lavigne.
— Está meio cedo, não pensei nisto ainda — expliquei, levantando os ombros, meus pensamentos ainda em um turbilhão de emoções confusas. Eu precisava de um planejamento urgente!
— Você sabe que agora está com o passe livre para ir morar nos Estados Unidos com o Tobey, certo? — perguntou ela, os olhos meigos como a pessoa que ela era.
— Eu acabei de voltar de lá, Baby, não tenho motivos para voltar tão cedo, Tob tem a vida dele. — Tomei mais um gole de chope.
— Mas também não tem motivos para ficar — Johnson levantou as sobrancelhas, convencido.
— Claro que tenho, tenho minha vida aqui, minha família, meus amigos... — listei nos dedos.
— , seus pais querem o melhor para ti, assim como nós. — Baby segurou minha mão, suas unhas compridas e bem pintadas acariciando meu pulso. — E você pode ter certeza de que Tobey iria te receber de braços abertos até você encontrar seu caminho lá — continuou ela.
— Miga, você tem meio milhões de seguidores no Instagram e no Twitter, o que você está fazendo que ainda não começou a virar influencer e receber dinheiro por isto? É o que está em alta! — Johnson estralou os dedos, como se falasse “se atualiza, menina!”.
Eu realmente estava com meu Instagram voando alto, sem saber exatamente o que fazer com isto. O post que Tom fez me marcando realmente me impulsionou de maneira completamente absurda, eu nem sabia o que fazer com tantas pessoas esperando tanto de mim. O mundo achava que eu era a sua namorada, quando, na verdade, eu havia transado com Andrew Garfield. O que aconteceria se isto viesse a público? Os famigerados haters? Não tenho paciência, competência ou autoestima para isto! O mais sensato seria excluir tudo e viver como Tobey, na surdina, e metendo o louco com os paparazzis.
— Não gosto nem de pensar nesta possibilidade — respondi sem pensar muito sobre o assunto.
— Qual delas? Ir morar fora ou virar influencer? — perguntou Johnson, bebendo seu drink.
— Ambas. Acho as duas completamente absurdas! — Mordi o lábio inferior. — Gente, sou eu, a ! Cresci com vocês, vocês sabem que eu não tenho simpatia suficiente para ser uma influencer, quando tenho que falar em público já fico meio abatida uma semana antes.
— , meu Deus, para de ser burra — Johnson disse, me arrancando risadas. — Você tem que aceitar que você pode as duas coisas, , pessoas matariam para ter uma passagem só de ida para lá e matariam mais ainda para ter meio milhão de seguidores!
— Pessoas matam por muito menos — Baby concluiu o pensamento do irmão.
— Vocês estão mesmo querendo me convencer a ir morar nos Estados Unidos com esse tema? Que pessoas morrem por isto?
— SIM! — os dois falaram juntos.
— , pensa bem. Você pode virar uma influencer do bem, que faz pratos no Youtube e dicas no Tiktok, você pode se beneficiar dos teus conhecimentos e tentar ser uma influencer que realmente tem conteúdo — Baby disse, apoiando a ideia do irmão.
— E você pode fazer isso aqui ou lá, mas pode ter certeza de que um vídeo ou outro com Tobey Maguire, Andrew Garfield ou Tom Holland iam te trazer muito mais prestígio do que com o seu gato obeso — Johnson disse, dando de ombros.
— Ei! — dei um tapa em seu braço, defendendo Jacquin.
— Ele está certo, , pensa nisso antes de tomar qualquer decisão. Nós vamos estar aqui para te apoiar em qualquer escolha — Baby disse, a própria Lindinha em pessoa. — Mas agora vai, conta tudo. Tudo mesmo. Detalhes sórdidos, detalhes sujos e detalhes devassos.
Então eu contei, contei a história toda, desde que Tobey ligou para mim até quando entrei no avião.
Avistei o rosto de Tobey pela tela do monitor de meu notebook e imediatamente sorri enquanto ele fazia o mesmo. Meu peito se encheu de uma felicidade imensurável e continuei alegre quando sua voz verberou um "oi!" animado.
— Como você está? — perguntou, o sorriso ainda presente. — Estou com tantas saudades!
— Eu estou bem e também estou com saudades! Quem diria, não é? Você consegue se lembrar de como foi a nossa primeira ligação por telefone? — perguntei, travessa, o fazendo suspirar dramaticamente.
— Claro que lembro, você foi má comigo — abaixou as sobrancelhas e fez um bico triste com o lábio inferior.
Dei uma gargalhada alta, Tobey estava na frente de uma parede clara, usava uma blusa azul marinho e seu cabelo estava mais curto. Meu palpite era que estava na sala de estar, com o notebook apoiado na mesinha de centro, já que a sua tela estava vindo de baixo.
— Não fui má com você! Fui realista — expliquei, fechando os olhos lentamente, fazendo cara de quem tinha razão. — Mas você já me perdoou, certo?
— É, eu perdoei, mas só porque você me ganhou pelo estômago — brincou e eu dei risada de novo. — Mas agora é sério, como você está? Como foram essas duas semanas longe de mim?
Suspirei, sabendo que não conseguiria esconder a novidade por mais tempo do que eu realmente queria. Durante essas duas semanas que se passaram desde que voltei ao Brasil, trocamos mensagens quase diariamente, falando coisas bobas, enviando memes e fotos do dia a dia um para o outro. Porém, em nenhum momento, eu toquei no assunto do meu trabalho e o destino que eu teria depois da demissão. Tobey não sabia que fui demitida, e eu gostaria muito que continuasse não sabendo, mas uma coisa é esconder os sentimentos por mensagens, outra bem diferente era esconder sentimentos por vídeo, não sou uma excelente atriz, então só me restava falar a verdade para ele, sabendo que ele não iria fugir desse assunto em uma videochamada.
— Eu estou bem, como já disse, mas preciso te dizer algo que tenho certeza que você não vai gostar muito. E, primeiramente, acho válido deixar bem claro que a escolha foi minha e não pense que você teve algo a ver com isso — lhe expliquei de antemão, vendo que seu semblante ficou sério e ele cruzou as mãos, colocando-as na frente da boca em um ato de aguardo. Continuei:
— Eu me desliguei do restaurante em que trabalhava. Meu antigo cargo teve que ser substituído enquanto eu estava fora e agora não posso voltar para onde estava. Desta maneira, não vi outra opção que não fosse me demitir.
— Nossa, , eu… eu nem sei o que falar. Sinto muito. Sinto muito saber que você perdeu o emprego dos seus sonhos por minha causa — ele disse com a voz afetada. Segurei as minhas lágrimas como já havia aprendido a fazer há muitos anos.
— Não precisa falar nada, Tob, eu sabia as consequências quando decidi ir e sabia que o ramo da cozinha era um ramo perigoso, principalmente para mulheres. Está tudo bem, logo eu encontro algum lugar para trabalhar, não é como se eu tivesse retirado a informação de que fui sous chef em um restaurante com uma estrela Michelin do currículo — dei de ombros, dando um pequeno sorriso. Seus olhos estavam marejados, meu Deus, meu irmão é um banana!
— Eu sinto que preciso te compensar por isso — disse com os ombros baixos, toda a sua áurea estava cabisbaixa.
— Tob, você não precisa fazer nada. Você precisa me dar apoio moral e me visitar aqui no Brasil, o resto é resto — falei, dando uma risadinha tentando amenizar a situação. Tobey ficou olhando para o nada por alguns segundos, a única coisa que eu ouvia era a sua respiração alta e insatisfeita. Não vi as lágrimas correndo pelo seu rosto devido a qualidade do vídeo, mas o vi secando-as com as mãos.
— Olha só, e se você viesse para cá por um tempo? Podemos correr atrás do seu visto e…
— Tob, não — o cortei. — Eu não quero mais ser o fardo da sua vida. Você já fez tudo o que podia para me ajudar, a partir de agora somos parceiros e independentes. Eu fico muito feliz de termos reavido nossa amizade, mas não posso viver a minha vida atrás da tua sombra como se você tivesse me devendo um favor que nunca acaba. Nenhum débito é impagável e eterno — falei, sentindo minha voz mais dura do que eu queria soar, porém mantive minha opinião firme, já que não podia ser coração mole com Tobey cada vez que ele chorasse e me pedisse algo que para ele era fácil. É muito fácil para pessoas ricas simplesmente supor que é só jogar tudo para o alto e pensar que está tudo resolvido, sendo que sempre tem alguém atrás para juntar os cacos para eles.
— Não quero fazer isso por achar que temos um débito, quero fazer isso porque é minha irmã e eu quero fazer tudo o que está ao meu alcance para ver minha família feliz. Se para isso eu preciso que você venha morar comigo até conseguir um emprego e uma vida estável, que assim seja — explicou ele, não estava nervoso ou exasperado. Apenas disse aquilo com a entonação de um pai preocupado.
— Eu agradeço de coração, Tob, sei que tudo que você está falando é para o meu bem. Mas eu estou feliz aqui — tentei me convencer mais do que o necessário, sabendo que meu coração palpitava sim de saudades dele. Eu sabia que não estaria o incomodando indo morar com ele, e, talvez, só talvez, uma psicóloga poderia dizer que eu poderia ser um pilar importante para a revitalização do coração partido de Tobey. Porém, uma bandeira vermelha gritava em meu peito: não é uma boa ideia, não é uma boa ideia, e eu tinha certeza de que esta bandeira vermelha era em partes por conta de minha mãe, que eu teria que “largar” aqui no Brasil.
Ok, talvez uma psicóloga poderia me dizer que eu tinha um apego muito grande e não muito saudável com minha mãe, e que estava sendo superprotetora com ela junto de algum prognóstico de filha perfeita para sanar minha visão deturpada de que ela teve uma vida ruim por minha causa e eu precisava compensá-la de alguma forma. Mas que tipo de filha eu seria, se não levasse isto em consideração? Do mesmo modo que Tobey queria me ajudar e me proteger de qualquer forma, eu queria ajudar e proteger minha mãe de tudo que nos cerca e isso inclui eu mesma.
Ok, talvez eu devesse marcar uma sessão com minha psicóloga, pois faz tempo que não dou as caras e estou começando a criar teorias caóticas em minha cabeça. Fiz a nota mental para marcar um horário assim que desligasse a ligação com Tobey.
— Eu nunca disse que você não estava feliz, só disse que seria bom mudar um pouco os ares, principalmente quando não tem mais o apego do trabalho. Você pode trazer o Jacquin — falou ele, sorrindo, tentando me persuadir.
— Eu sei disso, mas eu tenho a minha família — falei como se fosse óbvio, ele virou os olhos para cima.
— Deus do céu, que teimosa! — exclamou, falsamente irritado, e eu dei uma risada alta, me divertindo. — Sua família quer o melhor para você, . Não importa o que você decida — ele disse o que Baby disse para mim há algumas semanas e eu adorei o fato de eles pensarem igual.
— Tudo bem, vou pensar melhor no caso. Primeiro, quero saber quando você vem para cá! — brinquei, jogando um verde para mudarmos de assunto e ele fez a cara de quem se lembrou de algo.
— Ahhh! Falando nisso, tenho um presente para você, espera um pouquinho, vou ali pegar — falou ele, levantando-se e me deixando ali sozinha. Minha cabeça mergulhou em curiosidade, meu primeiro palpite foi algo relacionado à cozinha, um jogo de facas ou algo assim. Depois pensei melhor nas palhaçadas que ele fazia e acabei pensando que talvez ele estivesse com meus sobrinhos ali e faríamos uma chamada de vídeo em família, dei um sorriso imaginando a cena.
Tobey voltou para meu campo de visão com um envelope em mãos. Abriu-o cuidadosamente e retirou duas folhas do tamanho de cheques. Meu coração deu um baque surdo quando entendi o que se tratava.
— Não acredito, Tobey! Quando? Quando você vem para cá?! — gritei, vendo Jacquin abrir os olhos preguiçosos, me encarando com a amargura de quem foi acordado sem sua permissão.
Tobey apenas sorriu, ladino, colocando a passagem mais perto da câmera, e aguardei-a ajustar o foco e vi a data marcada para dali a duas semanas.
— Não acredito, Tob! — Pulei da cama, dançando na frente do computador, vendo-o gargalhar. — Por que não me contou antes?! — Sentei-me novamente, recuperando o fôlego.
— Porque era surpresa!
— Estou tão feliz! — Bati palmas, animada, enquanto ele sorria genuinamente para mim.
— Fico lisonjeado de saber que você está feliz assim por minha causa — disse com o sorriso ainda estampado no rosto. Eu amava Tobey, não tinha outra explicação para eu ter tanta alegria emanada de meu corpo por uma simples visita! A felicidade fluía por minhas veias, me alertando de toda a serotonina que me invadia.
— Eu estou! Estou muito feliz de saber que posso contar os dias para te ver, não achei que você viria com tanta facilidade — expliquei.
— Então, eu não ia com essa facilidade toda, mas tive um pequeno empurrãozinho. E, pelo visto, acho que valeu a pena — disse ele, em um tom risonho e misterioso.
— Que empurrãozinho? — perguntei, unindo as sobrancelhas.
Notei que o tronco de Tobey saiu do meu campo de visão por um segundo, como se ele buscasse algo que estava mais afastado. E então ele voltou com mais um envelope, retirou os mesmos papéis de dentro e colocou a linha importante próxima da câmera.
Pude ler ali, sem muita dificuldade, um "Thomas Stanley Holland".
Senti meu rosto esquentar, arder em brasa. Como eu responderia a isso? Tobey estava ali, me olhando com aquele olhar sacana, enquanto ainda segurava as passagens nas mãos.
— Sabe de uma coisa? — ele disse, fingindo não ver meu rosto parecendo um pimentão. — Acho que isso responde todas as tuas dúvidas, não preciso mais tentar enfiar isso na sua cabeça dura e teimosa, esse pedaço de papel aqui nas minhas mãos diz tudo que você não quis ouvir, .
Seu sorriso era verdadeiro e com uma pitadinha de maldade incrustada, era o sorriso de Tobey que eu mais vi durante minha viagem e, posso admitir? Fez falta.
— Confesso que não esperava por essa e nem sei o que dizer — admiti, cabisbaixa, e ele apenas gargalhou alto.
— Eu sei o que dizer: Tom gosta de você, tanto que ele me sugeriu essa viagem surpresa e ele comprou as passagens, vindo apenas me trazer aqui pessoalmente antes de voltar para Londres. Foi meio que um pedido de "você aceita que eu me apaixone pela sua irmã durante essa viagem?" e eu disse sim enquanto pegava as passagens bem rápido antes que ele caísse na real que não dependia de mim e sim de você.
Sabe quando alguém te conta uma história que você supõe ser uma grande mentira e pode jurar que aquela pessoa tem tudo para te enganar, mas quando ouve a história pensa "ok, isso foi bem plausível". Era isso que estava acontecendo agora, meu peito acelerado me deixava ligeiramente sem ar, porém não quis dar o braço a torcer para Tobey. Então, apenas disse:
— Você é um besta de achar que vou acreditar nisso.
— Não, , você não vai fazer isso comigo de novo! — ele ria, desesperado, sabendo que eu seria, sim, teimosa com ele.
— Fazer o quê?!
— Isso! Fingir que não sabe do que eu estou falando, mesmo quando dois homens adultos e absolutamente caras de pau se apaixonavam por ti em frente aos meus olhos e você simplesmente fingia que não via acontecer!
— Você está exageran…
— Não estou, Drew praticamente admitiu para mim que estava se apaixonando por você um dia depois do seu aniversário. E Tom, bom, ele te beijou na frente de todos depois de fazer um baita show no meio de um aeroporto, mesmo tendo jurado de pé junto que não havia nada entre vocês em um programa de televisão que nem tinha ido ao ar ainda!
Suspirei, derrotada. Tobey gargalhou novamente.
— , aceita. Você é linda, amável, simpática, inteligente e audaciosa. O que você esperava?
— Eu esperava que fosse achar um carinha legal aí, um cara normal, talvez um entregador ou até quem sabe um garçom adorável de algum lugar que fossemos jantar, e não… eles — admiti finalmente, fazendo Tobey comemorar, batendo palmas.
— Até que enfim você admite! Você fisgou os dois! E está tudo bem, você não deve nada a ninguém e um deles está indo para o Brasil te visitar, que mal há nisso?
Avaliei minhas opções de resposta, nenhuma delas iria tirar aquele sorriso sacana do rosto de meu irmão. Suspirei dramaticamente e apenas ergui as mãos em um acordo de paz:
— ‘Tá bem, ‘tá bem, você venceu. Agora podemos mudar de assunto?
— É claro que sim, maninha. Onde você pretende nos levar durante a nossa estadia no Sul brasileiro? — Seu sorrisinho ainda estava ali marotamente contornado em seus lábios finos.
— Não faço ideia! Vou ter que pesquisar alguma coisa, ainda bem que estou com tempo de sobra — brinquei.
Na verdade, eu não estava com tanto tempo livre assim, passava as manhãs fazendo cálculos e planilhas. Tenho uma planilha de metas a serem conquistadas, tenho outra de alguns investimentos que fiz durante minha vida, fiz uma recente de possibilidades de trabalho x lucros imediatos e agora estou cogitando fazer uma sobre uma possível vida no exterior. Ninguém poderia ficar sabendo disso, é claro, todavia, minha vida sempre foi moldada em planilhas bobas, e pensar nessa possibilidade deixava meus cabelinhos da nuca em pé. Durante toda minha vida adulta, em que eu trabalhava para me sustentar, eu sempre fui a doida das planilhas, tinha uma para meus dias e treinos na academia, tinha outra para controlar minha alimentação junto da nutricionista e tinha até uma para controlar os picos de estresse do Jacquin, que eram muito bem acalmados com sachês gourmet.
Minha vida sempre foi muito bem pensada e saber que essa viagem para a casa de Tobey foi completamente fora das minhas meticulosidades já me deixava com um ar meio rebelde que eu sabia muito bem que tinha, provavelmente, provenientes de uma infância sem pai.
Tobey não fazia ideia desse meu lado meticuloso e mal sabe ele que toda essa minha insegurança quanto aos dois homens que conheci enquanto estava fora parcialmente vinha desta incerteza não calculada.
Baby e Johnson sempre disseram que eu era a união perfeita dos dois, era como se Baby fosse a Amy Santiago e Johnson fosse Jake Peralta, e eu estava ali no meio dos dois, dando sermões quando necessário, mas me divertindo bastante quando tinha a oportunidade.
Falando em Baby…
— Falando em você vir ao Brasil — pus o dedo indicador no queixo, fingindo estar pensativa. — A Baby sabe que você está vindo?
— Ainda não, mas temos nos falado bastante ultimamente, creio que logo saberá — disse ele abertamente. Eu adoro o fato de Tob não cair na pilha do jeito que eu caio e aceitar que gosta de Baby e ponto final. Não tenho como julgá-lo, Baby é perfeita!
— E esse relacionamento esquisito tem um nome? — perguntei, ladina, e ele sorriu fraco.
— Eu gostaria que tivesse, por enquanto estamos nos conhecendo melhor. — Tobey era um cara amável e nada mais do que isso, um romântico incurável? Talvez, ainda não o conheço o suficiente para isso, porém sei que ele é esse tipo de cara que se apaixona com facilidade e gosto disso nele, principalmente quando sei que a mulher que ele está visando no momento é minha melhor amiga e sei que ela nunca faria nada que pudesse magoá-lo.
— Bom, tenho certeza de que vocês vão conseguir se entender muito bem na sua estadia aqui.
Continuamos conversando durante, pelo menos, uma hora. Contei as novidades, o que eu fazia durante meu dia inteiro, sendo que à tarde eu ajudava minha mãe com seus afazeres e, principalmente, eu estava realmente cogitando a possibilidade de abrir um negócio para mim, porém este era um assunto do qual eu não havia falado abertamente com ninguém e precisava amadurecê-lo muito melhor antes de abrir minha boca grande para alguém.
Terminamos a ligação com promessas de mais conversas por vídeo, pois parecia mais a nossa cara, e outra promessa por parte dele de fazer uma videochamada no domingo com seus filhos presentes.
Capítulo 14
Desembarquei no Brasil acompanhado de Tobey pouco mais de um mês depois que havia partido e ainda estava desacreditado que ele realmente havia aceitado meu convite para lhe acompanhar na sua visita ao sul daquele país. Respirei fundo, procurando minha bagagem na esteira rotatória, meu coração saindo pela boca enquanto o rosto de Tobey girava pelo aeroporto procurando por sua irmã. Ele usava óculos escuros e boné, assim como eu, e, mesmo que fosse noite, as pessoas sonolentas ao nosso redor não pareciam dar muita importância. Eu não sabia exatamente que horas eram naquele lugar.
Encontrei minha mala e aguardei Tobey, que parecia tão aéreo quanto eu, pensando se realmente tinha feito a escolha certa em acompanhá-lo em um momento tão íntimo quanto este: o reencontro com a família de .
Eu seria o intruso, o cara que não sabe falar uma palavra em português, e eu nem sabia que gostaria de me ver ali, já que toda a conversa foi feita apenas entre Tobey e a irmã.
Fiz o dever de casa, estudei um pouco sobre a cultura do Brasil e sobre a cidade em que pousaríamos, corri meus olhos por todo o local e esperei meu companheiro se dar conta de que estava olhando a esteira de malas a, pelo menos, cinco minutos inteiros. Tobey estava nervoso. Eu conseguia sentir.
— Cara, vai dar tudo certo — afirmei, apertando seu ombro enquanto ele me olhava, dando um sorrisinho amarelo.
— E se a família dela não gostar de mim? Tenho tanto medo da rejeição, não sei se iria aguentar isto. A aprovação do seu pai é algo que me deixa sem chão. Agora eu finalmente entendo o nervosismo dela para conhecer meus filhos. E se a sua mãe ainda guardar algum sentimento de rancor de mim?
— Maguire, deixe de ser idiota. Você só está nervoso — dei uma risadinha, sabendo que estava tão nervoso quanto ele. Mas precisava passar um semblante normal, já que eu sabia que a sua posição era muito mais impactante do que a minha. — A família dela já te aceitou, você só vai conhecê-los pessoalmente.
— É, você está certo. Estou entrando em parafuso aqui — admitiu ele. — Obrigado por ter vindo, eu precisava de uma companhia nesse momento, sabe? Dividir os holofotes vai me fazer bem.
— Isso se chama amizade, cara. Já te ensinei isso várias vezes! — respondi, fazendo-o rir.
— Não, isso se chama “você está apaixonado pela minha irmã e está me acompanhando nesta viagem para vê-la” — Tobey soltou e meu sorriso morreu na hora, ele deu uma risada alta e empurrou meu ombro. — Brincadeira, cara! — Dei uma risada para disfarçar enquanto Tobey pegava sua mala que já havia dado umas oito voltas inteiras na esteira.
Eu não havia parado para pensar em quais sentimentos eu sentia pela irmã mais nova do meu amigo e gostava de pensar que ela também não tinha parado para pensar nisso e que tudo estaria ok entre nós. Mesmo depois que eu dei um beijo nela em público e que todas as mídias do mundo falavam que estávamos namorando, isso não significava nada, certo?
— TOB! — Ouvi a sua inconfundível voz e instantaneamente sorri. Tobey levantou o rosto na direção da voz e juro que pude ver seus olhos brilharem mesmo com as lentes dos seus óculos escuros na frente.
veio correndo ao encontro do irmão, o abraçou com tanta força que pensei que cairiam no chão. Ela usava um short preto rasgado e uma regata preta, o clima estava realmente quente e propício para aquele tipo de vestimenta.
Eles murmuraram em seus ouvidos algumas coisas que fiz questão de não ouvir, e vi os olhos de seguirem até mim, seus cabelos estavam espalhados por todo o abraço e eu podia contar os segundos para sentir o cheiro que eles tinham.
— Oi, Thomas — deu um sorriso travesso e seguiu em minha direção de braços abertos enquanto eu via Tobey de soslaio, enxugando as lágrimas.
— Vem cá — falei, abrindo os braços, enquanto ela preenchia nossos corpos em um abraço aconchegante. Fazia mais ou menos um mês que não nos víamos e era como se nada tivesse mudado, seu calor era o mesmo. Sua pele estava mais bronzeada e seu cheiro tinha um misto de perfume com protetor solar, era delicioso. Seus cabelos eram um show à parte, com o mesmo cheiro que me lembrava maçã verde. Puxei o ar com gosto, querendo guardar tudo para mim.
— Senti sua falta, sabia? — perguntou, próximo ao meu ouvido, me fazendo sorrir mais.
— Fico feliz em saber disso, pensei que tinha sido só eu — brinquei, ouvindo uma risadinha. Soltamo-nos e ela nos guiou até a saída do aeroporto, as pessoas não pareciam perceber que éramos famosos.
estava radiante, seu semblante brilhava mais do que nunca enquanto conversava animadamente com Tobey e eu apenas acompanhava os dois, sem querer me intrometer muito nas suas conversas particulares.
No estacionamento, ela nos apresentou seu carro e se desculpou por ser tão pequeno, já que nossas malas não couberam juntas no porta-malas e tive que me apertar no banco de trás com a minha.
— Não tem problema, , Tom é compacto — Tobey admitiu, entre risadas, enquanto eu me colocava atrás dele no banco traseiro para poder observar sua irmã com mais atenção.
— E como foi a viagem? Tudo tranquilo? — perguntou ela, ligando o carro e dirigindo para fora do estacionamento do aeroporto.
— Ah, sim, foi tudo ótimo. Dormimos quase noventa por cento do tempo — Tobey respondeu, dando de ombros. Eu estava encantado com a vista da cidade, mesmo que estivéssemos em uma avenida longa de contínua. Vez ou outra eu me pegava tirando os olhos da vista e correndo para outra coisa que me chamava muito mais a atenção.
Tirei os óculos e o boné, chacoalhando o cabelo para ficar mais à vontade. — Tom, você quer ficar lá em casa também? — perguntou a garota, me olhando pelo retrovisor.
— Não, , estou com uma diária reservada no hotel... — peguei meu celular para confirmar o nome. — No LK, certo? — confirmou ela. — Tobey me disse, mas, se você quiser uma aventura completa, dormindo em uma cama de solteiro, ter um café da manhã básico e tomar banho em um chuveiro elétrico, minha casa está à disposição, sabe?
Confesso que dormir na casa dela era uma tentação, já que, assim, eu poderia conhecer de verdade quem era , conhecer sua vida particular, seus gostos e seu íntimo.
— Ah... Acho melhor não. Tenho certeza de que vocês terão muitos assuntos particulares para conversar e não quero ser o estraga prazeres — expliquei, dando uma olhada no relógio do painel do carro: eram 02:00 da madrugada.
— Você não vai atrapalhar nada — ela disse, pegando uma avenida mais iluminada. — Você sabe disso, mas não vou ficar insistindo também. Mas não desfaça a mala, tenho um plano para o final de semana.
— E o que vai ser? — Tobey perguntou, animado.
— É uma surpresa, o que posso dizer é que Baby e Johnson estarão presentes — falou ela, piscando para o irmão, que aparentemente ficou sem graça.
Fizemos todo o trajeto rindo de Tobey, do nervosismo dele em reencontrar a família de , do nervosismo dele quanto a rever Baby e de como ele ficava bobo em falar dela. Aquela mulher com certeza havia virado o mundo dele de cabeça para baixo em apenas uma noite, não sei como eles conseguiram ter essa conexão instantânea.
Depois de mais ou menos uma meia hora, me deixou no hotel. O combinado ficou de ela me buscar às 10:00 horas da manhã do dia seguinte, para que eu e Tobey pudéssemos ter uma noite mais descansada.
No dia seguinte, acordei com meu despertador tocando. O visual do quarto era surreal de lindo e a vista era mais maravilhosa ainda. Fiz um stories no Instagram sem marcar o local que estava e guardei as poucas coisas que havia tirado da mala para logo fazer check-out.
Tomei meu café-da-manhã com calma, sabendo que estava adiantado, e tomei um banho quando voltei ao quarto.
online
hey, está pronto?
estou sim, só preciso fazer check out :)
beleza, em dez minutos estou aí 😘
ok, serei o gringo com boné e malas
hahahahaha
tá bem, acho que dou conta de te encontrar 😉
Aguardei-a enquanto mexia no celular para não chamar tanto a atenção. Vi seu carro estacionar e ela acenar para mim, não consegui conter um sorriso enquanto ia na sua direção.
Sentei-me no banco da frente, pois Tobey não estava com ela.
— Bom dia, sunshine! — ela disse alegremente, o carro tinha o seu cheiro misturado com bala de menta.
— Bom dia, , como você está? — beijei seu rosto quando entrei no carro e retribuí seu sorriso.
— Estou bem e você? Como foi dormir no hotel? Tudo certo? Gostou da vista? — perguntou tudo de uma vez enquanto se enfiava no trânsito caótico.
— Ah, deu tudo certo. O hotel é lindo e a vista é surreal. Eu estou realmente sem palavras para descrever o quão bonito este lugar é — respondi e ela sorriu.
— É, aqui é lindo mesmo. Eu adoro demais essa cidade. Mas confesso que esse trânsito não é a minha escolha mais feliz de vida — respondeu, rindo, enquanto entrava em uma rua menos movimentada, provavelmente pegando um atalho.
Ela me contou que levou Tobey na casa de seus pais antes de vir me buscar, pois não queria que eu me sentisse deslocado na primeira visita deles. Achei aquilo incrivelmente acolhedor e sincero da sua parte e acabei suspirando aliviado por não ser o intrometido. Pelo seu cronograma, passaríamos lá para pegá-lo e seguiríamos para a casa dos gêmeos e, com eles, tomaríamos a estrada para o nosso destino.
Ela estacionou o carro na frente de uma casa simples, amarela, com um muro gradeado assim como todas as casas daquele bairro, desceu do carro e puxou minha mão para entrarmos na casa e, Deus, eu estava nervoso?
Nervoso de conhecer a família daquela mulher que estava deixando meu mundo de cabeça para baixo ou nervoso por ela ter simplesmente aceitado que eu faria parte de todos os dias que ela fosse aproveitar com seu irmão sem escolha de poder me deixar no hotel?
Não sei o que deixava meu peito tão confuso, mas todos estes sentimentos foram embora quando uma mulher absolutamente simpática, com um sorriso largo e uma pele negra invejável vinha em minha direção e me abraçava como se eu já fosse seu amigo de longa data.
Tobey sorria, enxugando as lágrimas que desciam por seu rosto, e todos falavam português, o que era para me deixar constrangido, mas me deixava apenas desperto.
— É um prazer conhecer a senhora — falei enquanto seu abraço ainda me apertava, não era de maneira alguma desagradável, ela tinha cheiro de baunilha.
traduziu e ela me soltou do abraço, beijando meu rosto em seguida.
— Senhora é a minha mãe, garoto — ela disse e obviamente olhei para , que riu abertamente e traduziu, me fazendo rir também. — Mas Dona Miranda eu aceito.
Conheci seu pai de consideração, que era um pouco mais envergonhado e ainda estava se adaptando à situação, assim como eu.
Dona Miranda nos serviu “pão de queijo” e era a melhor coisa que eu tinha comido até então. Conversamos durante alguns bons minutos, sempre com ao meu lado, traduzindo tudo para mim. Tobey estava de peito estufado, conversando quase tudo em português, mas vez ou outra ficava sem entender, por conta do sotaque forte sulista que disse que seus pais tinham (N/A: Para quem ficou curioso com o sotaque, favor pesquisar no Youtube “Dezarranjo Ilhéu”).
— Ok, chega de fofocar — disse, batendo palma e levantando-se ao mesmo tempo. — Temos que ir para conseguir aproveitar a tarde ainda! — piscou para sua mãe, que sorriu cúmplice para a filha. Eu conseguia ver de onde havia puxado tanta simpatia e beleza. Sua mãe era absolutamente linda e consigo entender também como o pai de Tobey havia se apaixonado perdidamente por ela quando veio para cá, a mulher era um vendaval.
Quem era eu para julgar o pai de Tobey, sendo que cá estava eu, do outro lado do mundo, em um país em que eu não sabia nem pedir água, apenas para ver a mulher que havia virado meu mundo de cabeça para baixo em menos de um mês? Eu podia fingir que estava ali por Tobey, quando os outros me perguntavam, mas, no fundo do meu consciente, eu sabia que o motivo de eu estar ali era apenas e a merda do seu sorriso contagiante. Sua mãe era um vendaval e ela era um furacão tropical.
Eu era um dia nublado insosso.
Nos despedimos de seus pais, entramos no carro, e seguimos para a casa dos gêmeos.
Confesso que fiquei com um pouco de inveja da recepção calorosa que Baby e Tobey tiveram, aqueles dois eram puro fogo e não de um jeito estranho. Quando Tobey desceu do carro, pude ver de longe Baby correndo com toda a sua vontade para alcançá-lo. O portão automático abria lentamente enquanto ela corria ao seu encontro, enrolando suas pernas em torno da sua cintura em um beijo digno de prêmios do MTV Choice Awards.
Johnson veio logo atrás, com uma mochila nas costas, virando os olhos para cima enquanto o vento carregava seus longos cabelos para a frente do seu rosto.
Ele me cumprimentou com um abraço risonho e piadinhas sobre sua irmã e meu amigo.
— Vão para um quarto! — Empurrou a bunda de Baby enquanto a garota ainda estava agarrada em Tobey.
— Como estão as coisas, Tom? Conseguiu matar a sua saudade da minha ? — perguntou ele, brincando, enquanto abraçava por trás, apoiando sua cabeça no topo da cabeça dela.
— As coisas estão bem, obrigado por perguntar, mas ainda não consegui matar a saudade do jeito que eu queria — brinquei, piscando para ele, que mordeu os lábios sedutoramente, me fazendo dar uma risada.
— Não matou porque não quis, eu te convidei para dormir lá em casa — soltou, divertida, empurrando meu ombro, fazendo eu me desequilibrar.
Puta merda.
Dei uma risada nervosa. Eu havia passado tanto tempo com Zendaya que havia desaprendido a flertar, era isto mesmo?
— Vou ter tempo para matar esta saudade com calma, estou certo? — perguntei no mesmo tom despretensioso que ela e Johnson concordou com a cabeça sem que ela visse.
— Ok, pombinhos, vamos lá? — Johnson disse, estalando os dedos como quem diz “sem tempo para melação”.
— Baby, você leva? Ou Johnson? — disse, balançando a chave do seu carro.
— Eu levo! A última coisa que eu quero é este carro batendo por conta de uma distração sexual — Johnson disse, pegando a chave da mão da amiga, dando uma olhada brava para o casal que ainda estava abraçado de lado.
— Ok, vou lá dentro pegar a Matilda e nós já vamos — disse, e eu a olhei, unindo as sobrancelhas enquanto ela seguia para dentro do terreno da casa dos gêmeos.
— vai de moto — Tobey explicou, provavelmente notando minha confusão. — Não cabe nós cinco no carro com todas as nossas bagagens.
saiu de lá, meio minuto depois, montando uma Harley Davidson.
Porra.
Será que ela conseguia ficar ainda mais... interessante?
— ‘Bora? — perguntou, levantando a viseira do seu capacete preto. Todos entraram no carro, com o som suave e poderoso do motor da sua moto ligado. Eu não conseguia tirar os olhos dela.
— Pode fechar a boca, lindinho — Johnson disse, passando a mão no meu queixo quando entrei no carro, Tobey e Baby riram. Fui sentado na frente enquanto Tobey e Baby foram atrás, apertados com as nossas malas e mochilas, mas felizes por ter a pouca privacidade que tinham.
deu partida primeiro, indo na frente, deixando-me novamente com a boca aberta enquanto admirava seus cabelos esvoaçantes ao vento. Ela usava um coturno preto, uma calça jeans preta colada e uma blusa branca larga que as mangas pareciam ter sido cortadas em casa, deixando um grande furo na lateral, que mostrava boa parte da pele da sua cintura, por baixo ela usava o que parecia ser uma parte de cima de biquíni.
Suspirei, encantado, fazendo Johnson rir.
— Ela também gosta de você, seu bobão. Você devia aproveitar esta viagem.
— É mesmo, Tom, acho que agora é a hora de você dar um passo. Lembre-se de que talvez você nunca mais a veja — Baby disse, colocando o rosto entre os dois bancos da frente.
Fiquei em silêncio. Não queria dar a minha opinião com o irmão mais velho dela atrás de mim, pronto para me dar um mata-leão, se precisasse.
Porém, ouvi Baby cutucando-o e logo ele pigarreou e disse:
— Tom, você não precisa fingir que não gosta dela para nós. Todos sabemos que você está aqui pelo menos oitenta por cento por causa dela. E está tudo bem, cara — Tobey disse, colocando a mão sobre meu ombro.
— Eu... Não sei o que dizer — admiti, fazendo os três rirem. Andávamos por uma rua bonita com árvores de ambos os lados. Sempre com em frente, como se nos mostrasse o caminho.
— Apenas admita que tem sentimentos pela minha irmã e nós encerramos o assunto — Tobey disse, o seu tom era leve e não durão.
— E-eu não parei para p-pensar o que sinto por ela — expliquei, a gagueira obviamente foi involuntária, o que fez todos rirem novamente.
— Bom, e quanto àquele beijo de despedida no aeroporto, com absolutamente todos olhando e com tanto sentimento que eu parecia estar dentro de um filme brega de romance? — Johnson perguntou, sem tirar os olhos da estrada.
— Aquilo foi espontaneidade pura, foi sem querer! Eu não tinha pensado naquilo ou planejado algo assim... Só aconteceu! — me defendi, sentindo que aquele ambiente não era o tipo de conversa que eu queria ter no momento.
— É exatamente disso que estamos falando — Baby disse, ainda com seu rostinho adorável no meio dos dois bancos. — Você tem que ser mais espontâneo e as coisas vão surgir naturalmente.
— Isso. Ela já gosta de você, Tom, só vai deixar o clima mais leve — Johnson relembrou.
— Ela disse alguma coisa sobre gostar de mim? — perguntei, tentando parecer despretensioso.
— É claro que ela disse, meu Deus! Você é Tom Holland, bicha! Para de se fazer de besta — Johnson falou, impaciente, fazendo Tobey e Baby rirem.
— Tom... Só para e pensa um pouco, ok? A gosta de ti, mas você é o cara famoso aqui. Ela não vai tomar nenhuma iniciativa com você com medo de que possa pegar mal para você — Tobey disse. — Nós tivemos várias conversas sobre isso quando ela estava lá em casa. é maravilhosa e sabe que é, mas ela tem um problema sério em aceitar que você ou o Andrew pudessem estar interessados nela. Então, não esconde isso ou vocês dois vão ficar chupando dedo até irmos embora.
Parei um pouco, pensando no fato de que, sim, foi a que teve a maioria das iniciativas no início e, talvez, se não fosse por isso, eu nem a teria beijado em nenhuma das outras ocasiões. Não é como se eu fosse lento para entender os sinais, era só que eu tinha um pouco de medo do que ela podia vir a achar daquilo tudo, eu respeitava o fato de ela ter entrado naquele mundo de paraquedas e, com certeza, não queria ser o cara que a deixaria apavorada.
— Ok, eu... Eu gosto dela, vou tentar ser um pouco mais espontâneo nesses dias. Obrigado, pessoal.
— Só seja você mesmo — Baby disse, voltando o corpo para trás, recostando-se.
— Não fique nervoso, o famoso aqui é você — Johnson completou.
— E trate minha irmã com respeito — Tobey finalizou e, aproximando-se do meu ouvido, sussurrou: — Ou eu te mato.
— Bom, você pode tratar minha irmã com respeito também. Sou muito bom em Mauy Thai — Johnson disse, rindo, Baby deu um tapa no seu ombro.
— Ah, sim, eu prometo que trato — Tobey disse, sério, fazendo Johnson cair na risada.
A viagem continuou, conversamos sobre várias adversidades e acabei conhecendo um pouco mais sobre os amigos de : Baby se chama Gabriela e Johnson chama-se Gabriel. Eles conheceram no jardim de infância e não se desgrudaram desde então. Baby tem um consultório de dentista e Johnson tem um estúdio de fotografia aparentemente muito conceituado.
Depois de um tempo de conversa, vimos que Baby e Tobey não participariam mais, pois estavam muito ocupados no banco traseiro, então éramos só eu e ele. Pegamos uma rodovia interestadual identificada como BR-101 e Johnson continuou contando-me um pouco mais sobre si, disse que se assumiu homossexual com 15 anos para a família e não foi muito bem aceito no começo, pois sua família era muito religiosa e, durante os dois anos seguintes do ensino médio, ele morou com e sua família, que foram seu apoio em todo o percurso. Baby ficou na casa dos pais para tentar amenizar a situação e informar Johnson como estava tudo.
— Eu devo a minha vida à e à família dela. Meus pais não me expulsaram de casa, mas decidi sair, porque me parecia ser o melhor a fazer. Eles não me chamaram de volta. Quando passei na universidade para fotografia, logo consegui um bico como fotógrafo de festas e consegui me bancar até conseguir sair da casa de — explicou ele, com seu inglês carregado de sotaque latino, mas entendi tudo o que queria dizer.
— Puxa, nem consigo imaginar a barra que deve ter sido, Johnson.
— Foi bem difícil, não vou negar, mas não consigo imaginar a minha vida se eu não tivesse saído do armário naquele momento. Era o certo. E acho que nunca vou conseguir agradecer à família de o suficiente — respondeu ele com um sorriso contido no rosto.
— Mas hoje você já conseguiu se reconectar com a sua família? — perguntei, genuinamente interessado, não queria forçar a barra, porém ele parecia bem à vontade falando sobre aquilo.
— Ah, sim, foi um momento duro que acabou com mais tranquilidade do que deveria: meus pais se divorciaram e minha mãe acabou me chamando de volta.
— Que bom! Quero dizer, não deve ter sido exatamente bom, já que teve o lance do divórcio, mas é bom saber que a sua mãe teve a iniciativa de te chamar de volta — falei e ele concordou com a cabeça.
— É, foi legal da parte dela, sim. Bom, isso tudo foi antes dos meus 23 anos. Hoje estou com 29 e já voltei a morar sozinho — ele abanou a mão, indicando que devíamos parar de falar de assuntos tristes. Mudou de assunto: — E sobre o seu lance com Zendaya? Não deu certo? Vocês eram bem fofos juntos...
Eu não sabia se ele sabia que meu lance com Zendaya era falso. Conhecendo o pouco que eu conhecia, eu esperava que ela não tivesse contado sobre este adendo multimilionário com seus amigos.
— É... Não deu, no começo parecia certo, mas depois de um tempo eu sentia como se estivesse namorando um irmão — expliquei e ele assentiu.
— Tem coisa que simplesmente não funciona, não é? — ele perguntou sem esperar uma resposta.
— Sim. Zendaya é uma mulher incrível, linda, inteligente, criativa, poderosa... Posso ficar até amanhã listando todas as qualidades dela, só que não era para ser. Nós dois sentimos isso, o sentimento foi completamente recíproco. Era como se fôssemos duas peças de quebra-cabeça que não tem encaixe.
— A vida tem dessas coisas — ele finalizou o assunto e deu seta para sair da rodovia, pegando uma marginal que entrava em (provavelmente) outra cidade.
— Estamos chegando? — perguntei e ele sorriu.
— Sim, mais uns quinze minutos, se não pegarmos trânsito.
A casa em que iríamos ficar, descobri depois de um tempo, era um aluguel do AirBnB. Era uma casa de praia cinza com uma arquitetura bem moderna e muros de vidro.
O lugar era gigantesco e ficava literalmente de frente para a praia. A praia era outro show à parte, tinha areia branca fofa com pedras dos dois lados, formando uma baía praticamente exclusiva, coisa que Baby me explicou depois que realmente era um terreno particular onde apenas eles tinham acesso. Então, tínhamos a casa e a praia só para nós pelo tempo que quiséssemos.
— Uau , isto é incrível! Obrigada por nos presentear com isso — Tobey disse, abraçando a irmã e a rodando no ar.
Os gêmeos nos apresentaram a casa inteira, que tinha, inclusive, uma piscina na parte de trás e uma área grande com churrasqueira. Eu estava empolgado com tudo aquilo e fiquei realmente grato por ter aceitado o convite de Tobey, mesmo sem saber o que acharia. Fiz uma anotação mental para perguntá-la mais tarde o que ela havia achado.
Depois de todos escolherem um quarto para si, combinamos de nos encontrar na cozinha para irmos à praia. Coloquei um calção de banho azul escuro, um chinelo, óculos de sol, peguei uma toalha, jogando-a sob o ombro e fui ao nosso ponto de encontro.
— Puta merda — ouvi Johnson dizer em português, abanando o pescoço quando me viu e soltei uma risada. — Você vai ser a porra da minha dose diária de tortura desse jeito, Tom — admitiu ele, fazendo e eu gargalharmos.
usava um biquíni amarelo estilo cortininha e um short jeans claro de cintura alta, nos pés um chinelo preto e seus cabelos estavam presos em um coque alto.
Confesso que eu não estava preparado para vê-la seminua e, só de pensar no assunto, meu corpo palpitava de maneira diferente. Mas gostei de ver como ela analisou minuciosamente meu corpo enquanto eu brincava com Johnson.
Tobey chegou com Baby agarrada em suas costas, eu simplesmente amava o jeito que Tobey ficava ao seu lado, como se não tivessem mais de 15 anos de diferença de idade. Eu queria ter aquilo com alguém, aquela paixão instantânea incandescente que não ligava para cor, idade ou religião, era apenas paixão pura, densa e ardente, que faz com que a gente fique cego e bobo. Era isso que os dois eram: cegos e bobos um pelo outro.
Seguimos para a praia, já havia um guarda-sol montado lá com três espreguiçadeiras de madeira. Não tinha muito vento e o sol era forte, quase dolorido.
— Eu não trouxe protetor solar, alguém tem para me emprestar? — perguntei, coçando a cabeça.
— Eu tenho, gato — Johnson praticamente saltou da espreguiçadeira que tinha recém sentado e veio ao meu encontro.
— O que significa “gato”? — reconheci a palavra enquanto fechava os olhos, deixando-o passar o produto no meu rosto. Johnson provavelmente fazia caras e bocas enquanto passava o produto em meu corpo, pois eu ouvia risadas dos três espectadores do momento.
— No literal, significa “cat”, mas aqui usamos também para “hot” ou “hottie” — ouvi a voz de e abri os olhos quando ele começou a passar em meus ombros. Ela estava sem o short e havia colocado um óculos escuro. Seu corpo era algo que eu definitivamente não estava pronto para ver e agradeci mentalmente por estar utilizando óculos escuros, pois não queria ninguém rindo novamente de mim por estar simplesmente babando por aquela mulher.
Deus, me ajuda. Serão dias difíceis para um mero gringo.
Eu vou precisar de muita ajuda para sobreviver a este tempo que vou estar no Brasil.
Suspirei fundo e lembrei do que Tobey, Baby e Johnson falaram no carro: ela gostava de mim e eu devia deixar as coisas fluírem naturalmente.
Eu podia fazer isso, só não podia dormir no ponto e, bom, aqui eu estava literalmente sem concorrência.
Tobey e Baby foram para a água enquanto eu, Johnson e ficamos conversando sobre qualquer aleatoriedade com os dois pegando sol enquanto eu fugia, movendo a cadeira de praia à medida que o sol ia mudando.
— Vocês têm praia assim lá? — Johnson me perguntou, já que eu havia elogiado o local em que estávamos.
— Temos bastante praias, algumas muito boas, mas nada se compara a isto — indiquei o monumento que estava à nossa frente. — A areia daqui é deliciosa e essa baía de pedras é surreal. Lá, a água é muito gelada, não importa quão forte o sol esteja.
— Aqui a água é gelada também, os turistas que estão acostumados com o nosso Nordeste acabam estranhando — confirmou, fazendo Johnson confirmar com a cabeça.
Conversamos mais um pouco sobre as praias do Brasil e Inglaterra, observando Tobey e Baby grudados na água, eles brincavam e se beijavam como se fossem um casal de namorados de longa data.
— Vocês acham que esse relacionamento tem futuro? — Johnson mudou de assunto.
— Acho que eles têm bastante potencial para um bom relacionamento — dei minha opinião, observando de soslaio, sua pele dourada brilhava mais do que o normal, provavelmente proveniente de algum produto. Ela estava sentada na espreguiçadeira que estava na posição mais alta e suspirou, dando um sorrisinho sem dentes.
— Eu espero do fundo do meu coração que sim, gosto dos dois juntos, eles combinam muito bem — disse por fim.
— Eu também gosto, mas não podemos fingir que ele não tem quase vinte anos a mais do que ela. Nossa mãe vai pirar quando descobrir.
— Você acha? — perguntei, curioso.
— A possibilidade existe, minha mãe pode ser bem cabeça dura às vezes — admitiu ele, dando de ombros.
— Acho que vai ser só o susto inicial, logo ela aceita. E, se não aceitar, azar o dela, Baby é adulta e vacinada — disse, levantando-se da espreguiçadeira. — Por mim, eles podem se casar logo! Eu seria a madrinha mais feliz da vida! Já imaginou? Meu irmão e minha melhor amiga! — disse, animada, batendo palminhas.
— Será que vou ser convidado? — perguntei, seguindo com os olhos. Ela sorriu para mim. Aquele sorriso adorável que me fazia arrepiar.
— É claro que vai, você acompanhou este romance desde o início — disse ela, esticando os braços para mim, para me levantar. — ‘Bora? — indicou o mar com as sobrancelhas.
— Achei que nunca fosse convidar — brinquei e ela riu.
Seguimos para a água, a areia branquíssima queimando nossos pés, o olhar de Johnson queimando nossas costas e o olhar de Tobey queimando nossos rostos.
Respira, Tom, está tudo bem, você só está com a mulher mais linda que você já viu na vida, do outro lado do mundo, e nem um pouco de tesão reprimido. Você consegue.
Fim do ponto de vista do Tom
Capítulo 15
— Quer alguma ajuda? — Ouvi o sotaque de Tom e olhei para trás, vendo-o com aquele corpo absolutamente gostoso, apoiando seu ombro no batente da porta.
— Claro — falei e ele se aproximou, fazendo meu coração palpitar. Eu havia desbloqueado sentimentos que nem sabia que tinha quando vi aquele homem sem camisa. Entreguei a ele uma de minhas facas e um maço de salsinha e um de cebolinha.
— Consegue picar para mim? — perguntei e ele assentiu, indo até a tábua de cortar que estava sobre a bancada.
Ele baixou a cabeça, concentrado no que fazia, e pude analisar suas costas largas sem muita vergonha. Vi uma gotinha de água escorrer do seu cabelo, passando pela nuca e correndo por suas costas e parando na base do seu short, e segui aquela gotinha, sentindo minha boca salivar, vendo que ele não notou o quão perversa minha mente estava sendo naquele momento.
Suspirei, fechando os olhos, e dei sequência à maionese, batendo com o fouet. Quando ficou na quantidade que achei suficiente, adicionei os temperos necessários e provei, mergulhando a pontinha do mindinho e levando à minha boca. Meu cérebro deu um estalo: por que eu não provocava Tom?
Mergulhei meu dedo no molho e levei até perto do seu rosto, vendo seus olhos seguirem da ponta do meu dedo, correr meu braço e seguir até meu rosto, onde lambi meus lábios com uma lentidão proposital. Tom abriu a boca e abocanhou meu dedo sem que eu precisasse explicar o que estava acontecendo, com uma leveza que só ele podia ter naquele momento. Sua língua rodopiou meu dedo e ele o sugou antes de puxar sua cabeça de volta ao lugar que estava, arrancando-me um suspiro que não consegui conter. Ele percebeu minha situação e sorriu sem mostrar os dentes antes de dizer:
— Está ótimo, . — Mordi o lábio, vendo que o feitiço virou contra o feiticeiro, e dei uma risada logo depois.
A tensão no ar era palpável e tenho certeza de que meus mamilos salientes podiam ser vistos por cima do tecido do biquíni que eu usava. Só restava torcer para que ele não visse.
Segui com o resto da preparação e, 20 minutos depois, estávamos com uma bandeja de metal cheia de sanduíches de frango com maionese para comermos na praia.
— O que faremos esta noite? — Johnson perguntou para mim e Baby. Tobey e Tom haviam saído para caminhar.
— Acho que podemos fazer algo mais caseiro, Tob e Tom ainda não se recuperaram da viagem direito — Baby disse, erguendo-se da espreguiçadeira, apoiando-se sobre os cotovelos. Eu estava de bruços, pegando um pouco de sol nas costas.
— Podemos fazer a noite de verdade ou desafio — Johnson disse com um sorriso maldoso no rosto.
— Meu Deus, Johnson, não temos 17 anos! — a mulher reclamou, o fazendo gargalhar.
— Para de ser rabugenta! Vamos nos divertir, estamos entre amigos, bebemos um pouquinho e vamos para a cama — ele deu de ombros, ajeitando os óculos de sol.
— Acho que pode ser uma boa ideia — respondi. — Uma coisinha simples, pedimos pizza, tomamos alguma coisa...
— Vocês duas vão para o quarto dos seus respectivos namoradinhos e eu fico sozinho... Como diria minha rainha Pabllo: triste e com tesão — Johnson disse, arrancando risadas nossas.
— Ninguém aqui está namorando — me defendi e Baby concordou.
— Baby, para de ser sonsa! Você está apaixonada pelo Tobey desde o aniversário da ! — Johnson ralhou, indignado.
— Só porque ele me faz sentir coisas estranhas no estômago, não quer dizer que estou apaixonada e muito menos namorando — respondeu ela com as sobrancelhas unidas por baixo do óculos escuro.
— Quem sente “coisas estranhas” no estômago é um intolerante à lactose depois de comer um bolo quatro leites! Você está caidinha por ele.
— também está caidinha pelo Tom e não vejo tanto julgamento vindo de você! — Baby retrucou.
— admite que está caidinha pelo Tom. Você fica fingindo que não é nada, sendo que eu te conheço melhor do que você mesma e sabe que estou certo. — Johnson baixou os óculos escuros e piscou para a irmã, provocando-a. Não é como se eu realmente estivesse caidinha pelo Tom, mas não tenho como negar que ele me fazia sentir “coisas estranhas no estômago”, como Baby havia definido.
— Johnson, pega leve — falei, defendendo Baby, que estava de boca aberta, indignada.
— Pego leve sim, se essa sonsa deixar de ser sonsa. Admite, maninha, admite que, se o Tobey te pedisse em casamento hoje, você aceitaria.
Baby ficou sem graça, mostrou a língua ao irmão e fechou a cara.
— Ok, Baby, eu já contei tudo da minha pseudo vida amorosa, agora chegou a sua vez — falei encarando-a, a fazendo rir e colocar as mãos sobre o rosto, envergonhada.
— Bom, vocês viram como começou, foi na festa... — disse ela, as bochechas corando imediatamente.
— ‘Tá, ‘tá, ‘tá, queremos detalhes! — Johnson estalou os dedos, fazendo-me rir, e ela suspirou alto.
— Ele me mandou um bilhetinho primeiro, guardei todos, na verdade, é muito brega?! — confessou, rindo, nervosa. Neguei com a cabeça para deixá-la mais tranquila. — No bilhete dizia algo como “qual é, melhor amiga da minha irmã”, eu respondi da mesma maneira “qual é, irmão da minha melhor amiga” e ele enviou outro bilhete dizendo algo como “será que todas as brasileiras são assim tão hipnotizantes?” e eu respondi “não são as brasileiras, é a bebida que você está bebendo”. E continuamos isso por mais uns dois bilhetinhos cada, até ele vir falar comigo, com aquele sorriso espertinho que ele tem.
— E ele não estranhou as teias de aranha na sua boca? — Johnson perguntou, ácido, e nós duas rimos.
— Não, idiota! Mas, realmente, fazia tempo que eu não beijava assim, as festas aqui do Brasil não têm mais aquele negócio de beijar um só a festa inteira. É um troca-troca de boca que eu não acompanho mais — Baby admitiu, rindo.
— Assim que é bom, amore, você aproveita melhor os boy tudo! — Johnson disse, esfregando as mãos.
— Vocês sabem que não gosto disso, sou dentista, pelo amor de Deus! Enfim... — Baby suspirou. — Nós transamos para valer naquela noite, dei um chá nele que ele está gamado em mim até hoje — ela deu de ombros, rindo alto. — Não sei explicar essa conexão que a gente teve, mas parece que ele é igual a mim nesse quesito, ele gosta de comodidade, de ficar com uma pessoa só e eu também.
— O famoso chá. Aquele que todo homem gosta, mas nem todas sabem fazer. — Johnson piscou para a irmã. — Mandou bem, maninha, dá para ver que ele gosta de ti.
— Ele me disse que você era a brisa de ar fresco que faltava na vida dele — fofoquei e Baby sorriu feito uma menininha apaixonada.
— Mulher, se agarra nesse, antes que ele descubra que você é doida — Johnson falou, nos fazendo rir.
— Então, depois que voltei ao Brasil, continuamos o contato por telefone, trocamos mensagens todos os dias, o conheci melhor e ele me conheceu também, mas não é a mesma coisa do que pessoalmente... Mas foi o suficiente para eu ter intimidade com ele quando nos vimos hoje. É como se eu o conhecesse há pelo menos alguns bons meses.
— Eu gosto de vocês juntos, de verdade, e eu quero que isso continue, você faz bem para ele e, pelo jeito, ele está fazendo bem para ti também — falei, colocando a mão sobre o peito e ela fez um coraçãozinho para mim.
Os meninos voltaram logo depois e levantamos acampamento para dentro de casa, pois o tempo estava fechando e aparentemente viria uma chuva de verão pela frente.
Eu estava realmente satisfeita de Baby finalmente se abrir conosco sobre Tobey, fiquei duplamente feliz de saber que o que os dois sentiam era mútuo e que provavelmente não iriam se machucar propositalmente. Talvez a distância o fizesse, talvez o tempo e talvez nada disso atrapalhasse. Espero que a última opção seja a correta.
Tomei um banho para tirar o sal, hidratei meus cabelos e fui até sala com uma regata preta e o mesmo short que usei antes da praia.
Tom estava em frente da geladeira aberta, pegando uma garrafinha de água, seus cabelos estavam molhados e algumas ondulações caíam pela sua testa. Ele usava seu óculos de grau e seu rosto mostrava sinais rosados sob o nariz e abaixo dos olhos, nada preocupante, apenas adorável.
— Como foi o banho no chuveiro elétrico? — perguntei, apoiando-me sob a bancada da ilha.
Ele sorriu antes de abrir a garrafa e tomar um gole de água.
— Foi bom, mais prático e funcional do que eu esperava.
— Sim, a ideia é muito boa e nunca conheci ninguém que morreu eletrocutado em um chuveiro, então pode ficar tranquilo — eu sorri para ele, que retribuiu.
— É muito bom saber.
— Quer passar um pouco de pós-sol? — perguntei, referindo-me ao seu rosto.
— Eu nem sei o que é isso. — Ele estava tão adorável que eu podia simplesmente ficar admirando seu rosto queimado o resto da semana.
— É um produto que ajuda a refrescar a pele que foi queimada pelo sol — expliquei, retribuindo seu sorriso.
— Então eu quero — deu de ombros e eu fui até o banheiro pegar o produto que tinha deixado lá para uso coletivo.
Ele estava sentado no braço do sofá quando voltei, olhando a TV distraidamente. Pigarreei para chamar a sua atenção e ele prontamente fechou os olhos e inclinou o rosto na minha direção, como quem diz "estou pronto".
Apliquei o produto em minha mão, tinha textura de gel de cabelo e a coloração verde. Passei no seu rosto com a ponta do dedo, deixando uma camada fininha, mas sem espalhar o produto por completo. O suspiro de satisfação foi imediato.
— Nossa, isso é muito bom — gemeu entredentes, arrancando-me uma risada.
— Sim, é de aloe vera, é ótimo para a pele e vai refrescar bastante — expliquei e ele concordou com a cabeça, ainda de olhos fechados, enquanto eu terminava de passar o produto. Terminei com ele em silêncio e assoprei um pouco em seu rosto, fazendo-o sorrir com os dentes à mostra, já que o meu sopro, junto com o produto, fez o rosto dele ficar geladinho.
— Estou interrompendo algo? — Ouvi a voz de Tob invadir a sala e uma risadinha boba de Baby preencheu o ambiente.
Não havia nada de mais ali, apenas Tom, com os olhos fechados e o rosto inclinado para cima, sorrindo feito um bobão enquanto eu passava pós-sol em seu rosto, com um sorriso mais bobão ainda.
— Não — falamos em uníssono e demos uma risada sincronizada.
Estávamos todos sentados em volta da mesinha de centro, uma mesa de pernas curtas e em formato retangular com pontas arredondadas, com o tapete felpudo sendo nossos assentos.
As caixas de pizza estavam em cima do sofá e todos estavam com a barriga estufada de tanto comer, sobraria para o café da manhã.
Eu estava no meio dos gêmeos, Baby do meu lado esquerdo e Johnson do meu lado direito, Tobey estava ao lado de Baby e Tom ao seu lado, fechando o círculo.
— Ok, as regras são simples. Verdade ou desafio: a boca da garrafa indica quem vai ser o sofredor e cada um gira a garrafa de uma vez. Não pode pedir verdade mais do que duas vezes seguidas e nem desafio, sempre alternando — Johnson falou alto, segurando a garrafa na mão, agitando-a. — Caso não queira responder a verdade, por conta de contratos multimilionários… tem que beber um shot — disse ele, piscando para Tom, pegando o copinho de shot que havíamos separado mais cedo. — A verdade vai sair de qualquer jeito — sussurrou no meu ouvido, fazendo-me rir.
— Se o participante disser a verdade, os outros bebem, só não o shot e sim um gole da sua bebida de preferência. Todos de acordo? — Baby perguntou, concluindo o recado do irmão. Concordamos juntos: YEAH.
Sem dar a chance de ninguém opinar, Johnson foi ladino e girou a garrafa no centro da mesa, fazendo algumas gotículas de água voarem em meu rosto durante o ato. A boca da garrafa parou em Tobey.
— Verdade ou desafio, meu cunhado preferido? — Johnson perguntou, fazendo Tobey sorrir, nervoso.
— Verdade.
— É verdade que você já pensou nesse relacionamento com minha irmã além desses dias que vocês vão passar aqui juntos? — Cirúrgico. Quem achava que Johnson ia ficar pedindo para um beijar o outro ou fazer perguntinhas sobre sexo não conhecia aquele ser maldoso do jeito que eu conhecia. Vi o rosto de Tobey enrubescer antes de ele responder:
— Sim, é verdade. — Depois de engolir a seco.
Baby fingiu que não ouviu, mas eu conhecia aquela Maria mole também e sabia que ela estava fazendo a dancinha da vitória por dentro. Todos tomamos um gole da própria bebida que estava em mãos. Eu estava com cerveja, assim como Tobey e Tom. Johnson e Baby bebiam whisky com energético.
Pela ordem de sentido horário, era a minha vez de girar a garrafa. Girei-a e caiu em Baby, Johnson imediatamente me cutucou disfarçadamente com o cotovelo para que eu fizesse a mesma pergunta.
— Verdade ou desafio?
— Verdade — ela disse rapidamente. — Ah, não… — entendeu meu sorriso cúmplice com Johnson.
— É verdade que você já pensou no relacionamento com Tobey a longo prazo? — perguntei, sorrindo, fazendo-a rolar os olhos para cima.
— Sim — disse, brava, enquanto eu dava um high-five com Johnson. Tom, até o momento calado, sorriu e piscou para mim, feliz em saber que os dois estavam na mesma linha de pensamento.
Todos bebemos.
Baby girou a garrafa e a boca caiu em Tom, que esfregou as mãos, fingindo estar nervoso.
— Não estou pronto para um desafio ainda, então, verdade.
— É verdade que foi você quem deu a ideia de vir para o Brasil agora? — Baby perguntou com a voz delicada, como se aquela pergunta não estivesse cheia de más intenções.
— Sim, fui eu. — As bochechas dele coraram enquanto seus olhos corriam das suas mãos para mim. — Mas, em minha defesa, Tobey ia vir mês que vem de qualquer jeito, eu só adiantei as coisas por conta da agenda.
— Tom, amigo, não piore as coisas — Tobey disse, rindo, e bebendo um gole da sua cerveja. Todos bebemos.
Algumas verdades e poucos desafios depois, todos já estavam ligeiramente mais alegres do que deviam — Baby e Johnson um pouco mais do que o resto, já que estavam bebendo algo mais forte. Johnson estava com uma camisa preta enrolada na cabeça, batom vermelho, um delineado exagerado e uma pintinha acima da boca, um cosplay sofrível de Amy Winehouse. Tom tinha marcas de rolha queimada espalhadas pela testa, nariz e bochechas. Baby tinha dois dentes da frente pintados de preto e eu estava com meu próprio sutiã enrolado na cabeça. As risadas já corriam fluidas.
— Verdade ou desafio, Tob? — Tom perguntou, mesmo sabendo que a opção que restava para Tobey era consequência.
— Desafio — respondeu ele, esfregando os olhos, sabendo que viria bomba a seguir.
— Eu quero que você fique paradinho enquanto o Johnson faz uma maquiagem maravilhosa em você. Enquanto isso, podemos continuar jogando — Tom disse, rindo, e Johnson gritou, animado, pulando como um gato e correndo para o seu quarto pegar o kit de maquiagem.
Johnson voltou em menos de meio segundo e girou a garrafa enquanto ia para o lado de Tobey, rindo, animadíssimo. Aquilo estava com cara de que foi combinado.
A boca da garrafa caiu em Tom.
— Desafio — ele simplesmente disse enquanto Johnson espalhava seus produtos pelo chão.
— Eu quero que você tome tequila no corpo da . Está na hora de a baixaria começar nesse lugar!
Meu corpo gelou por um segundo e depois esquentou como brasa ardente, o coração subindo pela garganta com o baque. Olhei para Tom e ele estava exatamente do mesmo jeito.
— Ei! Eu estou aqui ainda — Tobey disse, indignado, levando um tapa no ombro de Johnson.
— Seu desafio era ficar quietinho. Então shhh, mas, já que eu sou uma pessoa respeitosa, vamos mudar um pouco. passa sal no pescoço. Tom toma a tequila e pega o limão dessa boquinha linda dela. Anda, anda. Jesus amado. Aquilo ia mesmo acontecer?
Eu teria Tom Holland lambendo meu pescoço e pegando um limão da minha boca? Baby se prontificou a pegar a garrafa de tequila enquanto Tobey estava de olhos fechados e sobrancelhas franzidas enquanto Johnson ria, esfumando um pincel com a cor rosa em sua pálpebra. Tom e eu nos entreolhamos, o suspense entre nós muito alto para conseguirmos sequer ter uma reação, mas eu podia jurar que havia um sorrisinho minúsculo em seus lábios.
E confesso que eu não estava tão triste assim.
Baby trouxe a tequila, o sal e um oitavo de um limão Taiti, tão feliz que seu sorriso pintado irritava.
— Ok, passa um pouco de tequila no pescoço da , só para o sal grudar bem — Johnson ordenava, concentradíssimo no côncavo de Tobey.
Ela abriu a garrafa e espirrou o líquido em meu pescoço feito uma doida.
— Baby, pelo amor de Deus! — arfei, gargalhando, o cheiro de álcool subindo em minhas narinas. Meu coração parecia uma escola de samba e o olhar de Tom era divertido. O único que parecia não estar gostando muito da brincadeira era Tob, mas todos sabiam que era implicância acima de tudo. O álcool em meu sangue também já estava dando as caras.
— Calma, amiga, ‘tá tudo sob controle — ela respondeu, segurando um pouco de sal e salpicando em meu pescoço como se fosse o próprio Salt Bae, se divertindo como se não houvesse amanhã. Aquilo tudo parecia estranhamente combinado.
— Ok. Tom, vem cá — Baby o chamou e ele veio de joelhos, já que estávamos todos no chão. Eu não tinha nem coragem de olhar nos olhos dele naquele momento. — Gente, é uma brincadeira de verdade ou consequência, sejam profissionais e pronto. Sal, tequila, limão — ela disse, apontando cada coisa e logo em seguida pegando o pedacinho de limão e levando em direção à minha boca. Mordisquei-o levemente para não perder o suco, ficando com a boca meio aberta, fazendo Baby rir da minha cara.
Eu devia estar linda com meu sutiã amarrado na cabeça, os olhos pequenos denunciando um certo grau de alcoolismo e a boca entreaberta, segurando um pedaço de limão entre os dentes, junto de minha dignidade. Tom aproximou-se de mim, segurando o riso, afastou meu cabelo de meu pescoço, levando-o para trás de meu ombro, e aproximou-se devagar de meu pescoço. Meus pulmões não sabiam como respirar e meu corpo não me obedecia como eu esperava.
— Me desculpe por isso, foi ideia do Johnson — ele disse ao pé do meu ouvido, seu hálito batendo em minha orelha, o sotaque estremecendo cada centímetro do meu corpo.
Não pensei em mais nada quando senti sua língua quente percorrer toda a extensão do lado esquerdo do meu pescoço, causando-me arrepios que subiram minha espinha com força. Meu único instinto foi fechar os olhos e sentir as sensações de meu corpo, a mão dele estava em minha nuca e eu nem tinha visto como ela foi parar lá. O ato inteiro não durou um segundo, mas pareceu em câmera lenta, e, quando senti sua língua molhada afastar-se de meu corpo, senti minha pele clamar por mais. Abri os olhos, extasiada, quando ouvi Johnson bater palmas, animado, e vi Tom virando o shot de tequila com maestria e seguindo sua boca na direção da minha com o calor que aquele momento pedia. Sua mão na minha nuca guiou minha cabeça na direção da sua e ele roçou nossos lábios levemente enquanto roubava o limão da minha boca. Pude sentir um leve ar de decepção em meu interior enquanto ele sugava o limão, fazendo uma leve careta (levando em consideração que eu esperava um pouco mais de contato) e, em meio segundo depois, o tirou de sua boca para colar nossos lábios. O gosto peculiar da mistura de tequila e limão adentrou minha boca com intensidade e nem consegui ouvir o alvoroço que aquele ato causou nos integrantes restantes da brincadeira, pois a única coisa que eu conseguia me concentrar era na sua língua invadindo minha boca com a urgência que aquele momento exigia, já que não podia durar muito tempo, se quiséssemos que a brincadeira continuasse. Para mim, aquela brincadeira podia acabar agora mesmo.
Segui minhas mãos para a sua nuca também, puxando levemente seus cabelos que estavam entre meus dedos, enquanto nossas línguas misturavam-se, matando a saudade que estavam uma da outra.
— Acho que já está bom, não é? — Tobey cortou o clima, fazendo com que rompêssemos o beijo, dando risada. O beijo foi tão leve e bom que não houve constrangimento quando finalmente abrimos os olhos. Simplesmente parecia certo.
— Meu Deus, Tobey, para quê estragar o clima desse jeito? — Johnson ralhou com ele, e pude notar que estava dando os toques finais no delineado. Os olhos de Tobey estavam lindos, um esfumado rosa pink com preto e um pouco de brilho no meio. Definitivamente uma make que podia ser considerada profissional. — Eu ainda estou aqui e ainda é minha irmã mais nova.
— Está tudo bem — Tom disse, se afastando de mim com um sorriso de orelha a orelha e as mãos levantadas em sinal de rendição. — Consequência cumprida.
A única coisa que consegui fazer foi rir, sendo que ainda estava com a respiração descompassada.
A brincadeira continuou.
Girei a garrafa com um sorriso besta nos lábios e ela parou em Baby.
— Desafio — ela disse sem pestanejar.
— Pelo amor de Deus, beija a boca do Tobey e deixa ele feliz para não incomodar mais a gente — falei, brincando, e vi o olhar torto de reprovação dele. Mostrei a língua enquanto Baby seguia até ele tão feliz e boba quanto eu e Tom um minuto atrás. Ela ia lhe dar apenas um selinho, foi nítido pelo biquinho fofo que ela fez quando se aproximou dele, porém Tobey foi mais rápido e puxou-a para seu colo, beijando-a de modo que deixou todos os restantes sem graça.
— Eita, porra, acho que é a nossa deixa — Johnson fez uma cara assustada hilária e começou a guardar suas maquiagens, saindo de perto dos dois, como se estivessem com alguma doença. — Meu Deus, eu odeio gente apaixonada — gritou, correndo para seu quarto. Tom e eu gargalhávamos da cena. Levantei-me com dificuldade por conta da bebida que me deixava ligeiramente zonza e estiquei os braços para ajudar Tom a se levantar. Tobey e Baby não pareciam estar abalados por terem terminado a brincadeira.
Tom me acompanhou até a porta do meu quarto.
— Me desculpe por aquilo, Johnson falou que faria aquilo caso eu pedisse “desafio” para ele, mas não levei muito a sério na hora — explicou-se, rindo sem graça.
— Está tudo bem, Thomas, foi... divertido. — Procurei a palavra que melhor descrevia, mas falhei, sabendo que “delicioso” podia ser mal visto.
— Divertido? — perguntou, tentando segurar um sorriso.
— Você não achou divertido? — perguntei com um tom de inocência, levantando as sobrancelhas.
— Com certeza achei muitas coisas, divertido é uma delas, mas infelizmente não está no Top 3 da lista — ele disse, lambendo os lábios devagar.
— Ah, é? E quais seriam? — apoiei as mãos em minha cintura, vendo-o sorrir, divertido.
— Delicioso, sensacional e caloroso são os que vêm em minha mente agora, mas acho que posso pensar em algo melhor. — Tom estava diferente, como se a sua confiança estivesse a mil por hora. — Pensando bem, acho que eu teria que repetir a dose para ter certeza — falou, aproximando-se de mim, um sorriso ladino nos lábios e levando suas mãos em minha cintura. Pousei minhas mãos em seus ombros, seus olhos fixos em minha boca.
— Ah, não! — Johnson quebrou nosso clima, indignado. — A gay não tem um segundo de paz nesse ambiente heteronormativo tóxico.
Tom e eu demos uma risada sincronizada.
— ‘Tá bom, ‘tá bom, Johnson. Eu estou indo dormir agora mesmo — Tom disse, levantando as mãos em redenção pela segunda vez na noite. Piscou para mim e afastou-se, dando um sorrisinho maroto.
— , pelo amor de Deus, dorme com esse homem ou eu vou dormir. Eu sou completamente team Andy, mas não tem como não ficar com as pernas moles com esse garoto! — disse ele, em português, fazendo-me rir, nervosa.
— Ele tem alguma coisa, não sou só eu que sinto, não é? — perguntei, mordendo o lábio inferior, fazendo meu melhor amigo bagunçar meu cabelo.
— Tem sim, um calor britânico, um tanquinho maravilhoso e uma pele... Gente, preciso do número do dermatologista dele — disse, rindo, e dando um tapinha no meu ombro.
— Verdade — suspirei. — Você acha que eu devo ir com tudo?
— Claro, mulher! Ele está caidinho por você, deixa de ser boba.
— Eu tenho um pouco de medo do que possa vir depois — admiti, sem graça, ainda falávamos em português.
— Depois? Tipo um pedido de casamento? — Johnson deu uma risada.
— Não necessariamente isso, mas tenho medo de que vire um relacionamento, sabe?
— , você só precisa ser clara com ele. Se você não quer um relacionamento, deixe isso bem claro. Tenho certeza de que ele vai entender e vocês vão aproveitar um ao outro do mesmo jeito — Johnson disse, acariciando meu ombro.
— É, você está certo.
— É claro que eu estou, meu bem. — Ele me abraçou e deu um beijinho em minha têmpora. — Agora vai dormir, apaga esse fogo que amanhã tem mais.
Nos despedimos e entrei em meu quarto, escolhi um pijaminha leve, um short de malha e um cropped do mesmo conjunto, azul com estampa de conchas do mar. Segui para o banheiro e tomei um banho morno, tirando os resquícios de tequila, sal e saliva do meu pescoço. Escovei os dentes, penteei os cabelos e segui para a cama.
Antes de cair no sono, dei uma olhada no celular, as notícias não foram muito difíceis de encontrar:
Tom Holland é visto no aeroporto de São Paulo acompanhado de Tobey Maguire.
Tom Holland faz postagem no Instagram e fãs reconhecem o local: Sul do Brasil.
Saiba tudo o que você precisa saber sobre o novo casal de Hollywood: Tom Holland e a irmã de Tobey Maguire.
Capítulo 16
Fui até a sala, percebendo que a casa ainda permanecia adormecida. Juntei nossos lixos, levei as caixas de pizza para a bancada da cozinha e analisei o que tinha em cada uma delas. Dava para substituir o café da manhã. Passei um cafezinho forte do jeito que eu gostava e fui até a varanda.
O dia estava lindo como eu esperava que estivesse, a praia estava calma e a brisa que batia ali na varanda era como um abraço refrescante. Sentei-me na cadeira que havia ali, perdida em pensamentos. Ainda me parecia surreal que Tobey e Tom estivessem mesmo ali, minha vida já parecia o suficiente com uma fanfic apenas pelo fato de eu ser meia-irmã de Tobey Maguire, ter Tom ali só deixava tudo mais inacreditável ainda.
Bati uma foto da paisagem e postei no meu Instagram, sem pretensão alguma, e finalizei meu café ainda movida por meus pensamentos automáticos.
Fui ao meu quarto escovar novamente os dentes para deixar minha melhor amiga dentista orgulhosa e roubei uma toalha de banho na volta.
Ao invés de ir para a praia sozinha, decidi dar um mergulho na piscina. Coloquei uma música qualquer em meu celular e entrei na água sem ver a sua temperatura antes, sentindo o arrependimento invadir minhas células quando emergi.
— Porra! — exclamei com a voz trêmula, rindo sozinha.
— Muito gelada? — Ouvi a voz de Tom atrás de mim. Virei, me deparando com ele desnudo, usando apenas um calção de banho preto, óculos escuros e uma toalha no ombro. Nas mãos, ele tinha uma xícara de café e uma fatia de pizza pela metade.
Ai, Tom, com esse jeitinho brasileiro esquisito de tomar café, eu me apaixono fácil.
— Para uma brasileira, sim. Para um londrino, talvez não — brinquei, o fazendo sorrir com a boca fechada.
— Já venho aqui — ele disse, voltando a entrar em casa, e estando de volta praticamente dois minutos depois.
— Dormiu bem? — perguntei enquanto ele colocava a sua toalha em uma espreguiçadeira de madeira que havia ali.
— Sim! A cama é surpreendente boa e a cerveja ajudou a pegar no sono com mais facilidade do que eu esperava. Você sabe, foi um dia movimentado — ele disse, tirando o óculo escuro, deixando-o em cima da sua toalha e vindo na direção da piscina. Mergulhou com maestria, fazendo ondas que me moveram dentro d’água. Emergiu, chacoalhando a cabeça logo em seguida.
— Foi mesmo. Aconteceu muita coisa. Fico imaginando como a cabeça de Tobey está — admiti, pensando alto. — Voltou ao Brasil depois de muitos anos, reencontrou minha família, reencontrou Baby.
— Te reencontrou — Tom adicionou à lista. — E, não conta para ninguém que eu te disse isso, mas acho que você era o foco principal.
Dei uma risada.
— É sério, , acho que posso confirmar com muita certeza de que Tobey nunca esteve tão feliz. Conheço ele há pouco mais de um ano, mas dá para notar. Tenho certeza de que os filhos dele podem te confirmar isso. Você deu uma vida para Tobey, uma vida que ele nem sabia mais que tinha — Tom disse, encostando as costas na beira da piscina, fugindo do sol que começava a banhar o ambiente.
— Ele também me deu uma nova perspectiva de vida. Tenho certeza absoluta de que nunca mais vou ser a mesma — admiti e ele sorriu de lado.
— Você vai ser a mesma. Só vai ter uma bagagem maior. E, acredite, na vida, bagagem demais nunca é ruim. Aliás, é muito importante que você continue sendo a mesma.
— Ah, é? E por que você diz isso? — perguntei, brincando com a água, lhe encarando.
— Porque você é adorável e seria uma pena que mudasse isso — Tom disse, com um sorriso de boca fechada encantador, desviando o olhar do meu para cima, onde vimos Tobey e Baby se aproximando.
— , podemos conversar um instante? — Tobey veio até nós, depois de tomar seu café e estar com o rosto lavado por um possível demaquilante de Baby.
— Claro! — pulei para fora da piscina, dando uma espiada em Tom, vendo-o fitar minha bunda descaradamente. Soltei um risinho pelo nariz e segui para dentro de casa, enxugando-me com a toalha.
— Podemos dar uma volta na praia? — perguntou Tob, coçando a nuca e finalmente percebi que o assunto a ser conversado era sério.
Coloquei meu short de crochê de volta e o acompanhei até a praia. Sentamos embaixo do guarda sol fixo que ficava ali, sentei de lado na espreguiçadeira, enterrando meus pés na areia nervosamente, e ele sentou-se no chão, de frente para mim.
— , preciso falar sobre um assunto sério contigo, na verdade, eu já devia ter falado isso há muito tempo, mas, com o nosso afastamento, eu sabia que você nunca iria me ouvir e, depois que voltamos a conversar, eu não queria te assustar... então, fiquei nesse impasse por algum tempo, agora cheguei em um momento em que minha psicóloga, minha advogada e minha consciência estão em um consenso.
Fiquei em silêncio, apenas prestando atenção nos seus trejeitos, tentando ler o que ele poderia me falar antes mesmo de dizer, como se eu fosse conseguir me proteger melhor de alguma bomba que ele pudesse vir a soltar em minhas mãos. Senti meu coração palpitar de ansiedade, meus pais e sobrinhos rondando minha cabeça a todo momento.
— Você sabe o que o nosso pai fazia? Tipo, com o que ele trabalhava?
— Sim, ele trabalhava em uma construtora, certo?
— Isso, na verdade ele era o dono de uma construtora, uma construtora bem grande, que existe até hoje e que foi vendida por uma quantia bem exorbitante enquanto ele ainda era vivo e queria se aposentar…
— Ok...
— Nosso pai faleceu há mais de dez anos e, como eu era o seu único filho registrado no país, e minha mãe faleceu quando eu ainda era um garoto, eu acabei herdando todo o seu dinheiro...
Oh, merda, eu já sabia onde isso ia dar. E, pelo olhar de Tobey, ele já sabia que eu havia entendido aquela conversa.
— , não faz essa cara! — alertou ele, apontando o dedo.
— Que cara?! — perguntei, arqueando as sobrancelhas, surpresa.
Eu não sabia que tinha uma cara específica para esse tipo de situação.
— A cara de quem não vai concordar com o que eu estou dizendo — ele respondeu, girando os olhos.
— Não fiz cara nenhuma, deixa de ser doido — respondi, fazendo-o rir e relaxar os ombros.
— , você tem direito a metade desse dinheiro.
— Tobey, eu não quero o seu dinheiro — me defendi sem nem pensar direito, apenas reagi na defensiva.
— Não é o meu dinheiro, — Tobey impôs sua voz de maneira que eu nunca havia visto, as sobrancelhas duras denunciavam que ele esperava essa reação. — É o dinheiro do nosso pai e não importa o quanto você o odeie, vai continuar sendo seu dinheiro também. Eu tenho o meu dinheiro e tenho o meu trabalho, são coisas diferentes. Não encostei em um centavo do dinheiro de meu pai até o momento.
— Mas eu... — tentei falar.
— Chega, , é sério. Essa sua teimosia tem que ter um limite. Eu não vou aceitar que você negue esse dinheiro por orgulho. Você pode mudar a vida da sua família com ele. Por favor. Não faça isso comigo — ele disse, pondo os dedos nas têmporas, massageando-as.
Fiquei sem palavras. Respirei fundo por um segundo.
Será que foi assim que a Mia Thermopolis se sentiu quando descobriu que era uma princesa?
Tobey estava sendo completamente sensato, ele estava certo em todos os sentidos e ainda teve a decência de vir conversar comigo sobre isso. Ele podia simplesmente ignorar tudo e ficar com o dinheiro, e eu nunca pensaria em perguntar sobre isto, pois para mim já era um tópico morto e enterrado, literalmente. Meu pai nunca quis manter contato comigo ou saber como eu estava. Então, era plausível o fato de que eu não queria saber de nada que viesse dele.
Mas... Era meu por direito, Tobey sabia disso. E agora já me conhecia o suficiente para usar uma voz mais dura em cima da minha teimosia enraizada.
Ele aguardou pacientemente meus pensamentos invasivos.
— Tobey, eu estou confusa. Eu realmente não esperava esse tipo de conversa. Na minha cabeça, eu sempre seria a irmã mais nova do Tobey Maguire. E apenas isso, sabe? Eu tenho uma planilha com os gastos do meu cartão de crédito no meu notebook! Se existe uma pessoa que não esperava ter esta conversa, sou eu!
— Eu sei disso, , eu te conheço o suficiente para saber que você não esperava isto — ele disse, dando uma pequena risada com o nariz.
— O que eu faço? — A pergunta saiu por meus lábios mais rápido do que pude controlar.
— Aceite esse dinheiro. Ajude sua família. Faça o que bem entender — Tobey disse, enumerando com os dedos, um sorriso ladino surgia em seus lábios.
— Tob, eu não sei lidar com dinheiro. De quanto estamos falando?
— Bom, eu não sei ao certo, teria que falar com o meu contador para te dar a quantia exata, mas chuto que seja uns trinta.
— Trinta mil dólares?! — perguntei, boquiaberta. Com o dólar a cinco e alguma coisa... Dá o quê? Uns cento e cinquenta mil reais? Poxa, já dava para colocar minha vida nos eixos!
— Trinta milhões, .
Puta merda.
Meu coração deu um baque surdo, no maior estilo “fim de episódio de novela”.
Pode subir os créditos.
A mulher que vos fala está morta.
— Trinta milhões de dólares?! Você diz quinze milhões para cada? — Minha voz saiu esganiçada.
— Não, , trinta milhões para cada. Isso sem contar os juros que devem ter rendido durante esses dez anos no banco. Mas nem vamos contar com isto.
Caralho.
— Tobey, você está brincando comigo, certo? É uma brincadeira e Johnson vai sair de trás de algum arbusto com a câmera, rindo da minha cara.
— Não. Não é uma brincadeira — respondeu ele, girando os olhos.
— Tobey, isso é muito sério — o adverti, sentindo minha boca secar.
— Eu sei que é sério, ! — ele deu uma risada alta desta vez. Se divertindo às minhas custas.
— Eu não estou preparada para isto, Tobey. — Minha respiração estava desregulada, meu coração parecia sair pela boca e senti um suor frio em minha testa.
— Eu sei, mas estou aqui contigo e vou te ajudar em tudo o que for preciso. — Tobey segurou minhas mãos, sorrindo. — , suas mãos estão geladas.
— Eu não estou bem — consegui falar, olhando nos mares azuis que eram os olhos de Tobey e sentindo minha cabeça leve.
— ? ! — O ouvir dizer antes de sentir meu corpo amolecer.
Acordei no colo de Tobey, ele estava me levando de volta para casa, correndo.
Baby, Johnson e Tom já me aguardavam na porta, Johnson já estava com o celular na orelha.
— Johnson, desliga esse celular, eu estou bem — falei com a voz vaga e calma, leve, como se estivesse acordando de uma soneca.
— O que aconteceu? — Baby perguntou enquanto Tobey me levava até o sofá.
— Minha pressão caiu. Pega um biscoitinho de água e sal para mim? Não comi nada de manhã, deve ter sido isto — falei, sentindo a náusea passar, sentando-me quando Tobey me soltou e sentou ao meu lado. Do meu outro lado, Tom se ajeitou com o semblante preocupado.
— ‘Cê tem certeza que está bem, amiga? — Johnson me perguntou em português, abaixando-se em minha frente, acariciando meus joelhos.
— Claro. Juro — respondi enquanto Baby me trazia um pacote fechado de bolachinhas salgadas. Comi três até todos ficarem convencidos de que eu estava realmente bem.
— A pauta dessa conversa deve ter sido bem cabeluda, hein? — Johnson sussurrou para mim, querendo saber a fofoca completa. Dei uma risada fraca.
— Você nem imagina. Depois eu conto — o instiguei e ele sorriu maliciosamente, levantando-se e indo para a cozinha.
— Você já está bem, chega de drama — reclamou ele durante o caminho, dando uma risadinha.
— Acho que tenho um isotônico na minha mala — Tom disse de repente, levantando-se em um pulo e correndo para o seu quarto. Eu já me sentia bem apenas com as bolachinhas crocantes, mas ele voltou com tanta empolgação, com sua garrafa fechada de Gatorade de limão, que não pude negar um presente daqueles.
Bebi uma quantidade aceitável enquanto ele me olhava com uma expectativa adorável, Tobey levantou-se para falar com Baby e ficamos sozinhos na sala.
— E então? — perguntou ele, olhando as mãos. — Foi por causa daquela conversa?
Eu não sabia que ele sabia daquela conversa.
— Sim... Tom, eu não estou preparada para isto — virei de frente para ele, de modo que nossos joelhos se tocaram.
— É difícil, não posso negar. Mas pensa nisso como algo que você sempre mereceu, sua família, sua mãe, seu pai. Quando isso entra na nossa cabeça, fica mais fácil de engolir — ele disse, levantando os olhos até os meus. — , você merece. Das pessoas que conheci no último ano, tenho certeza de que você é a que mais merece isso.
Amei o fato de ele se referir ao meu pai vivo, ao meu pai que me criou. Levei minha mão até sua perna e acariciei de maneira amigável e ele acariciou minha mão.
— Obrigada, Thomas, eu precisava disso.
— É claro que, bom, você é dona da sua vida e pode muito bem renunciar este dinheiro... mas eu só quero que você saiba que vai estar partindo o coração de Tobey. Ele levou muito tempo para te contar isso, sabe? Ele quis dar o seu tempo, quis te conhecer, te amar e ser amado antes de falar, com medo que, se o fizesse sem isso, você fosse negar sem nem pensar — Tom incluiu e aquela informação entrou em minha cabeça como uma peça faltante de um quebra-cabeças. É claro que eu já sabia dessa informação, afinal, o próprio Tobey havia me falado que esteve esperando o momento certo, porém ouvir a voz de Tom dizer aquilo me fez pensar mais do que devia. Além de todos os motivos, eu ainda deixaria Tobey magoado: ele guardou aquele dinheiro até o momento em que percebeu que podia me acolher em sua vida de novo. É claro que, para aquilo, eu tinha que aceitar que ele fosse incluso em minha vida e só Deus sabe o quanto eu sou grata por isso ter acontecido. Aquilo era o certo. Aceitar o dinheiro. Ajudar minha família. E acolher Tobey em meu coração.
— Você está certo — admiti e ele sorriu, um sorriso lindo e aberto, com todos os seus belos dentes a mostra.
— Estou? — ergueu as sobrancelhas. A esta altura, sua mão já passeava pela minha, fazendo uma trilha com os dedos e desenhos imaginários.
— Não posso desfazer quem eu sou.
— Você é incrível, . — E, em um passe de mágica, o rosto dele estava a centímetros do meu. — E, porra, você me matou de susto minutos atrás. — Seu hálito de bala de cereja bateu em meu rosto, me fazendo perder a compostura por um segundo. Deus, meu hálito devia cheirar a Cream Cracker e tenho certeza absoluta de que não deveria ser, de maneira alguma, sexy.
— Desculpe, eu havia acabado de ser informada que ganhei na loteria genética. Foi um momento de fraqueza — eu disse enquanto suas mãos faziam carinho em meus cotovelos pela proximidade em que estávamos. Ele deu uma risadinha pelo nariz e umedeceu os lábios. Não consegui conter meus olhos, que seguiram para sua boca fina e rosada, Tom não quis perder a deixa e aproximou nossos rostos devagar. Eu queria beijá-lo, sentir sua língua na minha mais uma vez. Minha boca ansiava por isto e tinha certeza de que ele percebia, suspirei baixinho quando nossos narizes se tocaram e vi os seus olhos fecharem.
— , você está se sentindo melh... — A voz de Baby perdeu a força quando notou o que estava atrapalhando e ela tentou voltar de ré, como se nada tivesse acontecido, mas foi interrompida por um esbarrão que deu em Tobey, que acabou caindo de bunda no chão.
Eu e Tom estouramos em uma gargalhada sincronizada enquanto Baby ajudava Tobey a levantar, rindo também.
Johnson veio ver o que estava acontecendo e notou a minha proximidade com Tom. Mesmo que tivéssemos com os rostos separados pelo susto, nossos joelhos estavam encaixados.
— Aaaah, mas é claro que ela está bem! Já está se assanhando com o garoto de novo — disse, jogando o pano de prato em meu rosto.
Passamos a manhã na praia, comi frutas e terminei a garrafa de isotônico que Tom me deu e já estava nova em folha. Brincamos de briga de galo, eu e Tom ganhamos todas as rodadas, mesmo quando Johnson levantou Baby em seu ombro, alegando que Tobey não tinha o molejo certo.
— Vocês não são páreos para nós! — Tom berrou, rindo, quando derrubei Baby na água pela terceira vez seguida.
— É a Baby, ela é uma TONGA! — ele disse, irritado, soltando o xingamento em português. — Tonga? — Tom perguntou-me, levantando o rosto para me olhar, já que eu ainda estava em seus ombros. Ele abraçava minhas panturrilhas sob seu peito.
— É um xingamento bobo sulista, acho que nem no resto do Brasil se utiliza esse xingamento — falei, rindo, vendo os dois brigando na água.
Tom me guiou até a areia, comigo ainda em seus ombros como se eu não pesasse nada. Minha mente perversa acabou migrando para um lugar onde Tom utilizava esta força para outra coisa e balancei a cabeça, rindo sozinha enquanto ele erguia suas mãos e me tirava do seu ombro com facilidade. Me pôs de pé em sua frente, nossos corpos molhados e gelados da água roçando por conta da posição em que ele me tirou, suas mãos em minha cintura segurando com uma força ligeiramente acima do necessário. Se eu empinasse minha bunda, tenho certeza que encostaria em seu calção de banho.
Tom notou a tensão, assim como eu.
Sua mão deslizou da cintura para minha barriga e senti um arrepio descer por minha espinha.
— — sua voz soprou em meu ombro.
— Hm? — apenas murmurei.
— ‘Tá ficando difícil de me controlar perto de você — ele admitiu, a voz tão séria que meu corpo não teve outra reação a não ser tremer.
— Não se controle — respondi com medo de que meu cérebro não conseguisse assimilar uma frase mais comprida do que essa. O ouvi soltar o ar com força.
— Ei, seus tarados! Putaria é só dentro de casa! — Ouvimos a voz de Johnson de longe e Tom encostou a testa em meu ombro, rindo.
— Fuck — ele reclamou e soltou minha cintura, sentou-se na espreguiçadeira, fechou os olhos e respirou fundo três vezes. Só então percebi sua ereção. — Acho que vou... lá para dentro — disse, nervoso, ainda rindo meio sem graça.
Concordei com ele, sorrindo, tentando transparecer uma compaixão compartida e deitei-me na canga de Baby, pegando um pouco de sol apenas para me secar.
— O que vamos fazer à noite? — Tom perguntou quando já estávamos dentro de casa, comendo uma macarronada improvisada que fiz com a comida que trouxemos na viagem. A partir de agora, teríamos que ir ao mercado comprar mais comida.
Explicamos que tínhamos uma festa para ir, a festa anual mais aguardada por Johnson: um tributo à Britney Spears. Todo ano ele ia com uma fantasia diferente da Britney e sempre ia como fotógrafo oficial da festa, o que fazia com que conseguíssemos camarote e entradas VIP por todo o backstage. Neste ano, ele convenceu a mim e Baby de irmos com fantasias também.
Johnson iria de Toxic, o look de aeromoça clássico perfeitamente condizente com sua personalidade malvada de Regina George.
Baby iria de Baby One More Time e a explicação foi a seguinte:
— É um trocadilho, pois quero pedir algo a vocês. — Tomou um gole da limonada que havíamos feito para tomar coragem. — Eu preciso me desfazer desse apelido, estou na casa dos 30, não posso mais ser chamada e conhecida como Baby, na verdade, nunca gostei.
A revelação pegou todos nós de surpresa, sempre a chamamos de Baby pois combinava com sua personalidade fofa e leve, como um verdadeiro bebê inocente.
— Eu não sabia que te incomodava tanto, amiga — admiti, esticando a mão para ela, que apertou suavemente.
— Não me incomoda, de verdade, mas sempre achei... não sei explicar. Só não quero mais. Acho que está na hora de virar essa página. Por isso “Baby One More Time”. Mais uma vez e pronto — respondeu ela, satisfeita com o próprio pensamento.
— Estou orgulhoso de você, maninha, só demorou 25 anos para você finalmente dizer “chega” — Johnson brincou, apertando a bochecha da irmã.
— É, eu não sou desbocada igual você. Precisei de um tempo para criar coragem.
— E como você prefere que te chamemos? — Tobey perguntou, as sobrancelhas unidas com uma preocupação sentimental.
— Bom, meu nome é Gabriela — ela deu de ombros.
— Gabriela — Tobey e Tom falaram ao mesmo tempo, tentando reproduzir o sotaque brasileiro que ela utilizou ao falar seu verdadeiro nome.
— Acho que podemos utilizar Gaby por enquanto. Tudo bem? — perguntei a ela, que concordou com a cabeça.
— Perfeito — ela disse, sorrindo, satisfeita. Mas hoje à noite eu ainda sou Baby — piscou, ladina.
— E você, Johnson? Quer aproveitar o momento?
— ‘Tá doida, é?! Johnson é meu nome drag agora. Eu amo. Sou Johnson até o fim — disse ele, quase cuspindo a comida da boca, fazendo-nos rir.
Eu iria com a fantasia de “I’m a slave 4 you”. Short jeans mais comprido do que o que ela usou na apresentação do VMA’s de 2001 e o top azul com tiras de tecido correndo soltos por entre os seios. Johnson até havia encontrado uma cobra enorme de pelúcia para eu usar entre os braços.
Nos arrumamos em nosso quarto como três adolescentes bobas, com Britney de trilha sonora, e risadinhas secretas como se estivéssemos fazendo algo proibido.
— O Tom vai pirar quando te ver assim — Gaby, eu precisava me acostumar com esse novo apelido, disse quando saí do banheiro utilizando o short jeans com penas verdes nas laterais. A fantasia era, sim, reveladora e sexy, e eu me sentia exatamente assim quando me vi no espelho, maquiada e com os cabelos propositalmente molhados e laqueados soltos em meus ombros.
— Amiga, você está um tesão. – Johnson bateu palmas, alegre, quando me viu.
— Vocês não estão atrás — olhei meus melhores amigos, Gaby com os cabelos repartidos no meio, amarrados com os pompons rosa claros exatamente como a cantora utilizava no vídeo clipe. O uniforme sexy de colegial que sabia o que queria provavelmente também deixaria meu irmão boquiaberto.
Johnson era outro espetáculo à parte. Seu cabelo comprido estava amarrado em um coque e o chapéu de comissária de bordo já estava posto. O vestido servia perfeitamente em seu corpo esbelto e o salto nos pés deixava suas pernas bronzeadas tão belas que dava inveja.
— Então, , como estão as coisas com Tom? — Gaby perguntou, me olhando pelo reflexo do espelho enquanto passava gloss em sua boca. Eu estava sentada na cama, colocando minhas botas de camurça marrom.
— Estão boas — tentei desconversar.
— Já rolou algo? — ela insistiu, rindo.
— Não.
— Ainda não — Johnson corrigiu. — Nós vimos vocês na praia hoje quase se comendo com roupa.
— Que exagero, Johnson! — dei uma gargalhada, jogando um travesseiro nele.
— É sério, mulher! — devolveu o travesseiro, que bateu em minhas costas. — A tensão... dava pra ver a quilômetros. E não era só a tensão que deu para ver — falou ele, rindo alto, Gaby e eu caímos na gargalhada.
— Johnson! — Minha voz chegou a falhar de tanto que fiquei sem graça.
— Acho que você nem precisa levar a cobra de pelúcia! — ele soltou em seguida e as gargalhadas foram garantidas até a hora de irmos para a festa. Vez ou outra nos recuperávamos, mas um olhar de lado de qualquer um deles me fazia explodir em gargalhadas de novo.
Era isso.
Eu não precisava de mais nada quando estava com aqueles dois, com a gente não havia filtros, vergonha ou segredos. Apenas a amizade verdadeira, nua e crua. O meu Yin e Yang.
Capítulo 17
O local que Johnson havia nos levado era bonito, era um salão grande onde muita gente dançava no centro; nas laterais, haviam mezaninos rodeando o local e em cada escada havia um segurança. Estávamos em um desses, com poucas pessoas lá dentro, mulheres bonitas, vestidos curtos e homens com coquetéis em mãos. O público era majoritariamente LGBTQIAPN+, eu nunca tinha visto tanta gente bonita por metro quadrado. Era uma fama do Brasil que realmente se concretizou: todo mundo era muito bonito e simpático.
estava... como eu poderia dizer? Perfeita? Meu corpo nunca desejou tanto o seu e a mistura de álcool com sua roupa sensual e seu sorriso encantado em minha direção faziam minha cabeça ficar zonza. A música que tocava era sempre um POP alegre e, quando tocava Britney Spears, o pessoal lá de baixo parecia enlouquecer e a gritaria começava. Johnson às vezes nos deixava ali e ia lá embaixo com seus amigos, reclamava que ali estávamos de “casalzinho” e ele queria aproveitar. E não tinha como negar aquilo, já que dançava comigo e Tobey e Gaby não se soltavam por nada no mundo.
Provavelmente, algumas fotos daquele momento iriam rolar na internet, então eu e conversamos antes de irmos sobre não fazer nada que pudesse estragar sua recém imagem na internet ou causar um alvoroço desnecessário entre os fãs de Zendaya que ainda não aceitavam nosso término. Então, nossa dança era no estilo dois amigos se divertindo, sem muito contato de nossos corpos, o que era realmente uma pena, pois o que eu queria era levá-la a um canto mais reservado e beijá-la até que ela dissesse para irmos para casa terminar o que iniciamos.
A noite continuou tranquila, em um certo momento fomos lá embaixo nos divertir com alguns amigos de Johnson, batemos algumas fotos com quem nos reconheceu e, em um certo momento da noite, vi chamando Gaby para ir com ela ao banheiro e as duas se afastaram. Eu e Tobey subimos para o camarote novamente e ficamos olhando todos lá embaixo e comentando sobre as fantasias mais legais. Eu e ele não fomos fantasiados, já que não estávamos com roupas nas malas para este tipo de evento e o local onde estávamos hospedados não tinha uma loja de aluguel de fantasias.
Gaby voltou sozinha, em seu rosto uma expressão que não consegui decifrar, mas a urgência em seus movimentos ao falar no ouvido de Tobey me fez ficar alerta.
— Vem — Tobey apenas me disse de cara fechada e segui os dois sem entender muito bem o que houve.
— O que houve? Cadê a ? — perguntei e não recebi respostas.
A cena que eu vi em minha frente me assustou um pouco: havia um homem no chão, segurando a testa com força, gritando coisas na direção de que não entendi, seu supercílio sangrava e estava respondendo ele à altura, berrando palavras rápidas e astutas.
Um segurança chegou logo depois, segurando pelo braço e levando-a para longe do homem caído.
Gaby conversava com ele, explicando a situação, e outro segurança pegou o homem e o levou para longe dali, assim conseguimos nos aproximar dela. Corri junto com Tobey e ambas ainda conversavam em português com o segurança. parecia estar bem e mesmo assim meu coração parecia querer sair pela boca.
— Você está bem? — consegui perguntar, acariciando seu ombro, próximo de seu ouvido. Ela apenas acenou com a cabeça enquanto ainda explicava algumas coisas ao segurança.
Alguns minutos de conversa foram o suficiente para o segurança liberá-la, algumas mulheres ao redor de nós aplaudiram e ela riu, acenando para todos e comemorando.
Tobey a abraçou e perguntou se ela estava realmente bem.
Todo o ocorrido não durou mais do que dez minutos.
— O que diabos aconteceu?! Eu deixo vocês sozinhos por dez minutos e a nocauteia um macho? — Johnson se aproximou de nós, a fofoca já havia corrido pelo local.
— Cadu — Gaby falou sem realmente explicar muita coisa.
— Não acredito que aquele stalker te seguiu até aqui! Ele é DOIDO! — Johnson disse, pondo as mãos sobre a boca.
— Desculpe, quem é Cadu? — Tobey perguntou o que eu estava prestes a perguntar.
— É o ex tóxico da , o cara é doidão real — Gaby disse, girando o dedo sobre a orelha.
— Você está bem? — voltei a perguntar a ela, dessa vez deixando claro que estava realmente preocupado com a situação.
— Estou sim. Fiz aulas de defesa pessoal. A cabeça só vai doer um pouco amanhã — ela brincou, esfregando o topo da testa, onde provavelmente atingiu a cabeça dele.
— Merda , você quer ir embora? — perguntei mais baixinho para que apenas ela ouvisse, meu coração ainda palpitava de modo diferente pelo susto.
— Na verdade, eu quero, vou falar com eles... Você vai comigo? Não quero ir sozinha.
— É claro. — Mal sabia ela que eu estava literalmente do outro lado do mundo apenas por sua causa. Eu iria aonde ela quisesse que eu fosse.
Algo naquele momento me dizia que estava feliz em estar sozinha comigo, os sinais estavam todos ali. Voltamos no Uber rindo de todo o acontecido, eu a apelidei de Tyson, suas mãos não paravam quietas, me tocando a todo momento, minhas mãos, meu ombro, meu rosto... cada toque seu fazia a porra do meu peito incendiar e, como se isso não fosse o suficiente, e eu estávamos levemente embriagados. Eu sabia que era levemente, pois tomamos exatamente as mesmas bebidas na festa e, bom, eu era nitidamente mais fraco para bebidas do que ela, então, se eu estava levemente bêbado, ela tinha que estar levemente menos bêbada do que eu.
E eu gostava de estar levemente bêbado com ela.
Chegamos à casa em que estávamos hospedados e eu simplesmente não podia aguentar mais, tinha que tomar aquela iniciativa. Ela abriu a porta para entrarmos e puxei sua mão quando ela adentrou o ambiente, puxando-a contra mim, fazendo nossos troncos se chocarem com a força que fiz para puxá-la.
Aquele momento não precisava de palavras, eu já estava suficientemente nervoso e, se arriscasse soltar algumas palavras, podia ser a deixa para ela fugir de mim. Eu não a queria fugindo de mim e, por um momento, meu coração dizia que ela não fugiria, mesmo que eu falasse algo completamente fora de contexto.
Ela me encarava, aquela porra de olhos absolutamente estonteantes, seu hálito alcoólico batia em meu rosto e eu sabia que aquela era a deixa para beijá-la. Assim o fiz, colei nossas bocas com a urgência que meu corpo pedia, minhas mãos apertando sua cintura nua enquanto suas mãos embrenhavam-se em meus cabelos perfeitamente penteados com gel (penteado feito por Johnson).
O beijo foi denso como jamais tinha sido, eu podia sentir a sua intensidade pairando no ar, sua língua misturando-se com a minha com um encaixe que eu diria ser muito próximo da perfeição. Empurrei-a cegamente pelo cômodo de entrada, nossos corpos tão sincronizados que eu simplesmente sabia que em algum momento encostaríamos em algo que daria para apoiar.
As mãos dela estavam inquietas, entre meus cabelos, meu pescoço e ombros, nossas bocas ainda estavam emaranhadas em uma merda de beijo delicioso, minhas mãos estavam presas em sua cintura com força, meus dedos afundando em sua pele macia, puxando-a o máximo que eu podia para perto de mim. Seu corpo trombou com algo sólido, partiu o beijo para ver o que era, senti meus lábios pulsarem em uma reclamação contida de renúncia, a bunda de havia batido na mesa de jantar. Ergui-a pela cintura com facilidade, sentando-a, e ela não perdeu tempo, puxando-me com as pernas, fazendo nossas virilhas se chocarem. Porra. Eu estava explodindo de tesão com aquela amostra sexy de Britney Spears que me olhava com desejo.
— . — Consegui reunir em meu cérebro, um pouco de sanidade para finalizar uma sentença. — Se eu ultrapassar esse limite, não sei se consigo parar — avisei-a sem delongas e a garota em minha frente sorriu, os belos dentes moldados com seus lábios borrados. Aquilo significava algo importante: estava ciente do que aconteceria e queria aquilo tanto quanto eu.
Ao contrário do que eu esperava, desceu da mesa, e guiou-me pela sala, chegando à porta de vidro que arrastou para o lado e, quando estávamos na beira da piscina, a garota me empurrou. Emergi com velocidade o suficiente para vê-la retirar as botas, descer o short, deixando uma calcinha preta de algodão à mostra e não perdi tempo desabotoando minha camisa. era a porra de uma gostosa de carteirinha. Ela desceu na beirada da piscina, sentindo a temperatura com os pés antes de mergulhar, a água estava morna, tão deliciosa quanto a mulher que se aproximava de mim com um olhar malicioso nos olhos.
Seus braços contornaram meu pescoço e ela uniu nossas bocas novamente, o gosto de cloro adentrou minha boca com suavidade junto com sua língua e minhas mãos foram parar em sua bunda como a porra de um imã, ela não contestou, e por esse motivo dei um apertão forte, puxando-a para mais perto de mim. Seus lábios desceram para meu pescoço, causando-me arrepios em minha espinha enquanto minhas mãos passeavam por seu corpo, chegando ao fecho de seu top, que parecia ser igual o fecho de sutiã normal, só que com mais ganchinhos. Iniciei a abertura de cada um, em uma concentração falha, enquanto sentia sua língua passeando pelo meu pescoço. Soltei o top e minhas mãos seguiram para seus seios magneticamente assim como antes, eram lindos e cabiam na palma da minha mão com perfeição como se tivessem sido desenhados para estarem ali. Ouvi suspirar em meu ouvido quando desci meus lábios para seu pescoço com o intuito de descer até seus mamilos e foi o que eu fiz. Suguei-os com voracidade, ouvindo seus gemidos leves em meu ouvido me fazendo ficar mais duro ainda.
Ela agarrava meus cabelos com força, enquanto a empurrei para a borda da piscina ainda com minha boca em seu colo. Levei minhas mãos até minha calça e desafivelei o cinto enquanto subia meus lábios por seu pescoço, buscando sua boca novamente.
segurou meu rosto com as duas mãos, seus dedos firmes em minha nuca.
— Tom, eu preciso de você dentro de mim agora. — Sua voz era autoritária e fez meu pau pulsar com intensidade.
— Fuck — gemi, fazendo-a rir. Retirei minha calça com a agilidade que consegui dentro da água, não retirei minha cueca ou sua calcinha, fiz exatamente o que ela pediu: segurei meu membro enquanto afastava sua calcinha para o lado e a penetrei com força. Juro que vi estrelas.
Seu gemido ressoou em meu ouvido e ela colou nossas bocas quando movi meu quadril, e enrolou as pernas em minha cintura, ajudando-me com o movimento. Misturei nossas línguas novamente enquanto meu corpo entrava e saía do seu, minhas estocadas fazendo meu interior se torcer de prazer enquanto eu ouvia alguns gemidos fugindo de sua boca.
desceu seus beijos para meu pescoço e levei minhas mãos até seu quadril, mantendo o ritmo das estocadas adequado, ela apoiou sua teta em meu ombro, puxando o ar com dificuldade.
— Porra. — Ouvi a palavra em português fugir de seus lábios e levei uma de minhas mãos até sua vulva, porém percebi que seu clitóris estava coberto por sua calcinha, não me veio outra ideia a não ser simplesmente rasgar a peça mínima de roupa que estava nos incomodando. me olhou assustada por um segundo e depois sorriu sacana, mordendo o lábio inferior.
Fechei os olhos por um segundo, respirando fundo para não estragar a festa antes da hora. Merda.
Respira, Tom. Você quer isso há muito tempo para estar querendo gozar cedo demais.
Abri os olhos e voltei a fazer o que estava querendo, pus meu dedão em seu clitóris e fiz movimentos circulares com leveza. fechou os olhos com força, abrindo a boca sem fazer som algum, aquilo me dava um tesão dos infernos.
Mantive as estocadas firmes e fortes, já que a água prejudicava minha velocidade, gemia abertamente agora, cada um de seus gemidos entrando em meu ouvido como um mini orgasmo, fazendo com que eu mesmo segurasse alguns gemidos. Confesso que o fato de sermos pegos a qualquer momento deixava tudo mais delicioso e meu ápice veio quando disse as seguintes palavras:
— Continua assim que eu vou gozar. — Sua voz era leve e dengosa, os olhos fechados com força e as mãos firmes apertando minha nuca.
Aquilo foi como música aos meus ouvidos e continuei pondo força em meu quadril, guiando meu dedo em seu clitóris e socando fundo, sentindo minhas bochechas esquentarem quando ouvi seus gemidos alterados e suas unhas fincando em meus ombros. Aquela cena de gozando, as pernas tremendo em volta de minha cintura e seu tronco arqueando-se para trás fez meu pau vibrar, soltando todo meu tesão acumulado de semanas dentro daquela garota perfeita.
Respiramos fundo por alguns segundos. sorriu abertamente, acariciando a lateral do meu rosto.
— Vamos para o meu quarto? — perguntou, depois que recuperamos o fôlego.
— Não precisa me pedir duas vezes.
Mais tarde, transamos mais uma vez durante o banho para tirar o cloro da piscina e, pela primeira vez nesta viagem, finalmente tive uma noite de sono tranquila e confortável sentindo o cheiro dos cabelos molhados de salpicando meu rosto enquanto minha mão pousava suavemente em sua cintura e ela dormia, serena, de costas para mim.
Acordei, assustado, ouvindo um grito que supus ser de Johnson. Vi que também pulou ao meu lado.
— O que foi isso? — ela perguntou, zonza. Seu rosto amassado de sono era adorável.
Ouvimos o grito novamente.
Levantei em um pulo, nem perdi tempo buscando minha camisa, apenas meu short de banho com desenhos de pêssegos me pareceu decente no momento. levantou-se comigo, usando minha camisa preta que eu poderia ter perdido tempo procurando, saiu do quarto tão assustada quanto eu e corremos até onde parecia ter vindo o grito.
— Amiga, graças a Deus você apareceu! — Johnson disse rápido e nos guiou até a área da piscina.
Tobey e Gaby apareceram tão amassados e sonolentos quanto nós.
— O que será que aconteceu aqui???!
Johnson perguntou, dessa vez falsamente preocupado, e engatou em uma risada maldosa e histérica. Juntou do chão o top encharcado de , o short amontoado e fez questão de se ajoelhar ao lado da piscina para alcançar minha calça que estava dentro da água, porém próxima da superfície. Minhas bochechas queimaram e dei as costas para todos, sentindo o calor subir pelo meu pescoço.
— Johnson, você é uma vadia — exclamou com a voz esganiçada e arrancou a minha calça ensopada da mão de Johnson que ria com tanta vontade que lágrimas corriam por seu rosto. Não tive coragem de encarar Tobey, apenas segurei pelo ombro e guiei-a para dentro de casa.
— Ahhh, não, é brincadeira, gente! — Johnson berrou, ainda em meio aos risos.
— Johnson, você não vale um centavo — Gaby disse com a voz trêmula, segurando o riso. Quando eu e voltamos para o seu quarto, caímos na gargalhada. Ambos nervosos e com as bochechas coradas, não demos a moral de rir na frente de Johnson, mas assim que entramos em um ambiente seguro, rimos feito dois idiotas, as gargalhadas altas fazendo nossos corpos perderem força.
Depois de nos recuperarmos das risadas, decidimos que era hora de sair e encarar as consequências de transar na piscina e simplesmente largar nossas roupas lá.
— Bom dia. — A voz foi de Tobey e ecoou pela cozinha com um tom ligeiramente mais sério do que estávamos acostumados... ou seria coisa da minha cabeça?
Percebi que todos já estavam sentados à mesa e que havia um homem negro bem-apessoado ao lado de Johnson.
— Bom dia — eu e dissemos juntos.
Johnson conversou em português com o homem e em algum momento eu ouvi meu nome, sorri e acenei para ele que retribuiu, animado.
O café foi leve e, antes de eu me levantar da mesa para escapar daquele momento ligeiramente constrangedor (pelo menos em minha cabeça parecia ser), Tobey levantou-se junto comigo e me chamou para conversarmos.
— Tobey, pega leve com o garoto, a última vez que você foi conversar com alguém na praia, a pessoa voltou desmaiada — Gaby disse, ainda sentada, com um sorriso doce no rosto. Vi o semblante de Tobey amolecer um pouco e suspirei, aliviado, vendo piscar para mim enquanto eu saía pela porta da frente.
— Cara, relaxa — Tobey disse assim que chegamos à praia. Aquele lugar ainda me parecia surreal, admirei a paisagem, respirando fundo. — Não estou aqui para brigar contigo, eu sou adulto, você é adulto e é adulta. Eu só... estou preocupado.
— Preocupado? — perguntei sem saber exatamente o que dizer.
— É, preocupado com você.
— Comigo? — Por que ele estaria preocupado comigo?
— Sim, Tom, estou preocupado contigo. Preocupado com o fato de que você é uma criança e está se apaixonando pela minha irmã.
— Você acabou de me chamar de adulto. Agora sou criança? Tob, não estou entendendo muito bem o que você quer dizer. — Uni as sobrancelhas e o acompanhei, já que ele havia começado a caminhar.
— Tom, eu quero dizer que talvez você esteja se apaixonando pela e não sei se ela está preparada para isso.
— Eu não estou... — Minha voz foi perdendo a intensidade, porque sim, eu sabia que estava me apaixonando por ela. — Merda. Está tão evidente assim?
— Está. Mas está tudo bem, sabe? Eu só estou preocupado que talvez vocês não estejam na mesma sintonia. Você já conversou algo sobre isso com ela?
— Tobey, eu mal tinha conseguido beijá-la de verdade até ontem.
— Ah, cara, então você está, com certeza, com problemas — Tobey disse, pondo a mão em meu ombro.
— É, tipo, a gente já tinha se beijado, mas não tinha sido algo realmente sério.
— Eu sei, é só que... Eu gosto de você, Tom, e acho que você possa estar entrando de cabeça em um território preocupante.
— Você sabe que esse território é a sua irmã, não é?
— Sim, e eu a amo demais. É só que é bem crescidinha, sabe? Muito bem decidida. E eu não quero que você se machuque com isso. Não acho que você vá machucá-la, nesse caso acho que você possa acabar se machucando.
— Você acha que ela não quer nada comigo?
— É, acho que essa pode ser uma opção da qual você possa estudar um pouco.
— Entendi. Então você não está bravo por eu...?
— Ter dormido com minha irmã? Deus, não. Ela é dona da vida dela. Não fiquei bravo com Andrew, por que ficaria com você?
— Com Andrew?! — Merda, eu tinha minhas desconfianças de que isso pudesse ter acontecido, mas nunca tive uma confirmação realmente oficial. Johnson nunca me contou.
— Oh, merda — Tobey disse, virando o rosto para não olhar para mim.
— Está tudo bem, eu já... — perdi a fala por um instante e isso não me ajudou em nada. — Eu já imaginava, só fui pego de surpresa.
A insegurança deu as caras, apertando meu peito por um segundo. E se estivesse nesse momento comparando minha transa com a de Andrew? E se ele fosse melhor? E se ela tivesse finalmente decidido que eu não valho nada? Que eu era a porra de uma criança e que Andrew era um cara muito mais maduro e completo do que eu jamais seria?
Meus passos acabaram ficando mais lentos e Tobey parou de andar, olhando para trás.
— Tom, não entra em paranoia — disse, pondo a mão em meu ombro novamente, me encarando com os olhos azuis preocupados.
— E se... E se ela perceber... E se ela ver que Andrew é muito melhor do que eu?
— Não cara, tira isso da cabeça. Você está aqui, você veio! Esquece o Drew. Você é a pessoa que ela está agora. Hoje. Pensa no hoje.
Respirei fundo enquanto Tobey ainda falava algo que eu não estava mais ouvindo.
Merda.
Ela não ficaria comigo caso estivesse em algum tipo de relacionamento ou com algum tipo de sentimento pelo Andrew, certo? Não me parece o tipo de coisa que ela faria. Mas o que eu conheço sobre ela? Foi apenas uma paixonite besta pela irmã do meu amigo. Eu não estou me apaixonando por ela, eu mal a conheço!
É isso. Eu posso lidar com isso. Não estou apaixonado pela .
Não estou. Não estou. Não estou. Quantas vezes tenho que repetir para começar a acreditar?
— Está tudo bem Tobey, relaxa. Eu só me desliguei por um momento.
Tobey parecia preocupado comigo, então tentei dar meu melhor sorriso.
— É sério. Está tudo bem. Eu vou conversar com ela, está bem? Vou ver a que pé estamos e vai dar tudo certo. Não se preocupe comigo e obrigado pelo toque. Acho que eu estava mesmo precisando de um “empurrãozinho”.
Ele sorriu.
— Você é meu amigo, Tom, eu só quero o teu bem e o da minha irmã.
— Você teve alguma conversa assim com Andrew?
— Tive algo parecido — Tobey apenas disse, rindo como se lembrasse da conversa. Vi que ele não falaria mais nada sobre aquilo e preferi mudar de assunto.
Continuamos conversando e caminhando até chegarmos ao fim da praia e voltarmos; não era muito longe, já que a vegetação fechava o caminho.
Na casa, Gaby e haviam ido ao mercado comprar os ingredientes para o almoço e Johnson havia se despedido de seu ficante. Enquanto Tobey ia para dentro trocar de roupa para irmos até a praia, Johnson me chamou em um canto, ainda risonho, e me parabenizou pela calcinha rasgada, alegando que havia escondido para que Tobey não visse e me dizendo que estava feliz por finalmente ter encontrado um cara que ela merecia na cama. Demos boas risadas até que as meninas chegassem e ajudamos a fazer o almoço.
Durante nossa ida vespertina à praia, engatamos em uma conversa sobre o acontecido na noite anterior e explicou para mim e para Tobey sobre Cadu, seu ex-namorado: eles se conheceram em uma academia e engataram um relacionamento casual, depois de seis meses de um homem completamente dedicado, educado e carinhoso, ele a pediu em namoro e aceitou. Namoraram durante mais seis meses até ela perceber que ele era possessivo, agressivo e assustador. Ela tinha medo dele a todo momento e manteve o relacionamento, preocupada com o que ele poderia vir a fazer se ela pedisse para terminar.
Foram Johnson e Gaby que a convenceram a finalizar aquele namoro fadado ao fracasso, já que ele era ciumento e fazia chantagem emocional para que não visse mais seus amigos.
Eu e Tobey ouvimos cada detalhe, assustados e atentos.
— Quando eu terminei com ele, foi a primeira vez que ele me machucou psicologicamente. Ele sempre me proibia de usar algumas roupas ou até mesmo batons chamativos, mas nada foi tão impactante quanto as palavras dele dizendo que ia me matar e se suicidar se eu não continuasse o namorando — disse, catando conchinhas do mar do chão e colocando sobre sua coxa em linha reta. — Saí de lá correndo para a delegacia da mulher, fiz um boletim de ocorrência contra ele, e mais tarde recebi uma ordem de restrição depois que consegui provar que ele me perseguia. Por muita sorte, o irmão do meu padrasto é policial e me passou seu número pessoal para que eu ligasse para ele sempre que eu me sentisse ameaçada. Foi muito gentil da parte dele.
— A ordem de restrição ainda está valendo? — perguntei, preocupado.
— Sim, foi isso que estávamos tentando explicar ao segurança ontem à noite — ela suspirou.
— É, mas agora a luta mais que o Bruce Lee e nocauteou o palhaço — Johnson disse, empurrando pelo ombro, fazendo-a sorrir.
— Eu fiz vários cursos de autodefesa, consigo imobilizar um homem com até duas vezes o meu peso — disse, suas bochechas corando violentamente.
— Isso, sem contar a habilidade com as facas, né? — Gaby disse, rindo. — Vocês tinham que ter visto ontem, ele deu um puxão no braço dela e quando viu que era ele, ela só apertou a mão dele de um jeito que ele simplesmente ficou de JOELHOS e deu uma puta cabeçada nele. Foi incrível, , todas as mulheres ao redor vibraram!
— Minha melhor amiga é a porra da Mulher Maravilha! Ícone aclamada! — Johnson abraçou o pescoço de e o clima da conversa ficou mais ameno. Mesmo com o tom de brincadeira de todos, notei que Tobey estava incomodado com aquilo e eu não poderia fingir que não estava também.
era a porra de uma mulher incrível, me incomodava demais saber que algum babaca havia a machucado daquele jeito, era óbvio que ela estava bem, dava para ver em seus olhos que sim, mas aquilo não apagava a bagagem que ela carregava: mais uma mulher que agora fazia parte da porcentagem de mulheres que já sofreram violência dos parceiros.
Me levantei de supetão e estendi minhas mãos para , ela segurou-as e a puxei para cima, seguimos para a água em silêncio.
— Você está realmente bem? — perguntei quando a água morna, porém agitada, batia em meu peito. ficava linda com o cabelo molhado puxado para trás.
— Estou sim, Tom. Se isso tivesse acontecido há um ano, eu teria ficado apavorada. Mas fiz bastante terapia e fiz o que era possível para me defender.
— Você é incrível, , porra, cada vez que eu conheço um pouquinho mais sobre você, eu acabo ficando mais encantado.
Ela sorriu, um sorriso adorável que me derreteu inteiro, e acariciou a lateral do meu rosto antes de aproximar nossos corpos e colar nossas bocas.
Existia alguma remota possibilidade de eu não me apaixonar por ela?
— Tom — ela me chamou, interrompendo o beijo que nem chegou a se aprofundar. Ela estava com as pernas ao redor da minha cintura, minhas mãos repousavam em suas coxas, não era de maneira alguma uma posição sexual, mas eu gostava do contato que estávamos tendo. — Acho que preciso conversar algo com você.
Aquele timing perfeito com a conversa de Tobey me fez repensar se ele havia conversado com ela também.
— Claro. — Afastei meu tronco do dela e ela fez o mesmo, ficamos assim, na mesma posição com certa distância um do outro para que pudéssemos nos encarar.
— Eu não sei exatamente como dizer isso, Tom, não quero de maneira alguma que você me entenda errado, mas... eu preciso que você saiba que eu não estou pronta para um compromisso mais sério.
— Você diz... Tipo um namoro?
— É, eu sei que o que nós estamos vivendo agora não tem um rótulo definido, nem estou supondo que você esteja pensando nisso. Eu só quero deixar claro que realmente não é o momento — ela disse, os olhos de cores diferentes penetrando minha alma, queimando meu interior com seu calor.
Confesso que este assunto já havia rondado minha mente uma vez ou outra, porém eu sabia que era apenas uma criação de minha cabeça. Agora, com ela falando aquilo, meus pés firmavam-se no chão, descendo das nuvens das quais minha mente havia me colocado.
— Eu entendo, , não se preocupe. Vamos só... curtir o momento — afirmei, dando um sorriso de boca fechada e ela assentiu.
— Me desculpa puxar esse assunto do nada... É só que eu acabei me fechando bastante para relacionamentos desde o ocorrido com Cadu, é um mecanismo de defesa perfeito para não sair mais machucada. Sempre que eu vejo que algum relacionamento meu está ficando um pouquinho que seja mais sério, alguma sirene já toca em meu cérebro.
Era completamente compreensível e saber que ela estava sendo madura o suficiente para me falar aquilo sem qualquer tipo de enrolação só me mostrava o quando era especial.
— Está tudo bem, ok? Você tem todo o direito de sentir o que quiser, sou a última pessoa que vai te forçar a algo. E obrigado por compartilhar isso comigo.
— Obrigada por entender, Tom — ela disse, suspirando e sorrindo em seguida. Eu sorri com ela e percebi que o assunto havia acabado ali.
— Você sabia que Johnson me chamou hoje para me parabenizar pela calcinha rasgada? — mudei de assunto, fazendo-a gargalhar alto.
— Alguém precisa parar o Johnson!
Continuamos conversando na água até nossos dedos ficarem murchos, nossos amigos logo se uniram a nós e as risadas foram garantidas até o entardecer.
O assunto do ex de não foi mais citado e à noite fomos levados a um restaurante que servia pizza à vontade, todos os sabores possíveis e imagináveis foram oferecidos e eu comi até minha barriga começar a doer.
me chamou para dormir em seu quarto.
É, seria bem mais difícil do que eu esperava manter minhas expectativas baixas.
Continua...
E, FINALMENTE VEIO! Pra quem acompanhou por mais de um ano o rolê desses dois, fico feliz que o Tom finalmente conseguiu mostrar que também sabe fazer uma farinha, espero que tenha atendido às expectativas, e se não atendeu a culpa é do Tom que é um baby HAHAHAHAHAHAHAHA
Pra quem leu até aqui, o meu muito obrigada e deixa aquele comentário gostoso! ❤️
Nota da beta: Depois desse capítulo, quem agora não vai mais ter paz é o Tom hahahaha