Capítulo 18
As férias de meu irmão e Tom passaram mais rápido do que eu queria realmente aceitar. Há uma semana, Johnson havia se despedido de nós, pois precisava voltar a trabalhar. Agora, estávamos todos a caminho do aeroporto.
Tobey e Gaby estavam tão consolidados quanto uma rocha, faziam tudo unidos como um casal fofo deve ser e a cada momento que passavam juntos eu percebia que aquele relacionamento seria duradouro, só não sabia exatamente como iria funcionar, porém estava na cara que eles dariam um jeito.
Eu e Tom não estávamos no mesmo patamar que eles, tínhamos a intimidade de um casal, mas no fundo sabíamos que não passava de um namoro de verão.
Na verdade, eu havia deixado aquilo bem claro para ele.
Ele não queria aceitar no começo, não forçou nada, não disse nada e não tentou nada... eu só percebia a decepção em seus olhos castanhos doces, não tinham mais aquele brilho fugaz de um garoto apaixonado, aquele brilho que havia no dia do aeroporto, quando ele me beijou de surpresa em nossa despedida. Era apenas o Tom normal que estava ali comigo, o Tom que segurava a minha mão quando íamos caminhar na praia, mas que não segurava quando íamos ao mercado comprar algo para comer. E aquilo me reconfortava, pois era exatamente o que eu precisava naquele momento, o aconchego de alguém por perto sem o sufoco que a palavra “relacionamento” me trazia.
Senti que sua ficha finalmente caiu quando eu o convidei para ir comigo até a farmácia para comprar uma pílula do dia seguinte.
Seu queixo caiu no chão quando percebeu que havíamos feito sexo sem proteção na piscina e caiu mais ainda por perceber que eu não queria correr o risco de engravidar dele, mesmo sendo famoso e rico, sorte que ele não teria com qualquer uma, mas não queria entrar naquele mérito. Aquela situação só me mostrava o quão despreparada eu e ele estávamos para o que aconteceu. E a verdade era que eu ainda não estava preparada para qualquer tipo de relacionamento, fosse ele com alguém que pudesse me bancar pelo resto da vida ou não.
, acorda. Você também é milionária agora. Não precisa ser bancada mesmo que quisesse.
Fiz uma nota mental para pesquisar quanto realmente eram trinta milhões de dólares.
Meu relacionamento com Cadu havia me marcado de maneiras tão absurdas que apenas pensar em estar “presa” com alguém me fazia ter vertigem, e, depois de algumas conversas que chegaram neste assunto, Tom foi um cavalheiro em me dar o tempo que eu precisava para respirar sem me sentir sufocada.
Toda esta minha bagagem com meu ex tóxico, esta situação financeira incerta, meu futuro completamente em crise e minhas sérias dúvidas em processar o fato de que Andrew Garfield e Tom Holland estavam realmente interessados em mim faziam minha cabeça não desligar à noite, minha psicóloga teria uma semana difícil quando eu finalmente colocasse esses dois estrangeiros dentro do avião. Eu não dormia bem há dias, meu coração palpitava estranho durante os momentos em que eu me pegava pensando em algumas dessas situações, principalmente o fato do meu futuro ser tão imprevisível. Não conseguia dizer se aquela ligação que eu atendi há tantos meses, que fez minha vida virar literalmente de cabeça para baixo, era uma ligação da qual eu atenderia novamente. Sabia que estava sendo dramática (quem, em sã consciência, não iria querer a vida que estou tendo no momento?), mas sair de dentro da concha, da zona de conforto, e encarar o desconhecido era muito difícil! Ter que reconfigurar a sua vida inteira no período de seis meses não era exatamente o que eu estava esperando encontrar quando atendi o telefonema de meu irmão naquele dia. Eu me sentia dormente. Como se não fosse realmente eu que estivesse no controle de minha vida, como se eu estivesse vendo alguém viver minha vida em terceira pessoa, como se eu fosse uma coadjuvante e o verdadeiro personagem principal fosse algum desconhecido.
— Acho que, dessa vez, é realmente um “até logo”, não é? — Tobey perguntou enquanto me abraçava no aeroporto. Havíamos combinado várias coisas, uma delas era que eu iria o quanto antes para os Estados Unidos com o intuito de arrumar meus documentos e legalizar todos os papéis para virar uma cidadã americana e receber minha herança.
— Sempre vai ser um até logo, Tob. Agora não tem mais como voltar atrás — brinquei e já ouvi seu fungar em meu ouvido.
— Obrigada por tudo, , você foi incrível, nossa estadia aqui foi incrível. Tão incrível que eu não quero voltar. — Ele segurou meus ombros e olhou em meus olhos, seus olhos já estavam marejados.
— Você não quer voltar por causa da sua namorada, não finge que é por minha causa — fingi estar indignada enquanto ele virava os olhos para cima.
— Você é impossível.
— Eu também te amo, Tob. Vou tentar arrumar as minhas coisas o mais rápido que eu puder, ‘tá bem? — beijei seu rosto e ele sorriu, me puxando para mais um abraço.
— Vou ficar te esperando.
Gaby e Tobey se despediram com promessas de um novo encontro, de uma nova viagem e de um relacionamento duradouro.
Eu e Tom nos despedimos como velhos amigos, eu havia feito uma conexão com ele na viagem, transamos como um casal de adolescentes prestes a serem separados pelos pais a qualquer momento, na piscina, na cozinha, na praia, em banheiros de bares e até no quarto de Johnson (como uma vingança pessoal pelo que ele fez no dia da piscina). Ele era incrível e eu realmente gostaria de manter essa conexão com ele quando eu voltasse à América, caso ele estivesse por lá.
— Você não vai esquecer de mim quando estiver milionária, não é? — ele me perguntou, sorrindo de lado, passando seus braços por minha cintura.
— Só se você quiser que eu me esqueça — brinquei, passando meus braços por seu pescoço.
— Nem fodendo.
Nosso beijo foi sem pressa, minhas mãos em sua nuca, suas mãos em minha cintura, não tínhamos mais medo de sermos fotografados, nem precisávamos explicar o que estava acontecendo entre nós.
E, assim, como em um passe de mágica, eu estava sozinha novamente.
Depois que os dois foram embora, pude finalmente começar a colocar as coisas em ordem. Fiz uma publicação fofa com algumas fotos tiradas durante aqueles dias no Instagram, um carrossel em que:
A primeira foto era eu e Tobey em minha casa na noite em que ele chegou e dormiu lá. Eu segurava Jacquin no colo e Tobey enquadrava a foto em uma selfie.
A segunda foto era eu e Tobey entre meus pais, todos sorrindo para a câmera, quem tirou a foto foi Tom.
A terceira era eu e Tom na praia, seu rosto tinha a marca vermelha característica sobre as maçãs do rosto e nariz, e eu estava com os cabelos molhados e revoltados, ambos encostando a cabeça uma na outra e sorrindo sem mostrar os dentes.
A quarta foto foi no dia da festa, eu, Gaby e Johnson vestidos de Britney Spears, com pose das Panteras.
E a quinta foto era uma das brigas de galo, onde eu estava sobre os ombros de Tom e Gaby estava sobre os ombros de Tobey, todos estávamos rindo muito.
Na legenda, eu apenas escrevi “melhor verão de todos”.
Aproveitando a onda de colocar as coisas em ordem, marquei um horário com minha psicóloga e informei minha mãe que gostaria de conversar com ela e Pedro no próximo fim de semana.
Eu sabia que tinha tudo sob controle, porém nunca me senti mais perdida na vida, o medo, a insegurança e a ansiedade dando as caras. Por mais que eu soubesse que tinha dinheiro para ser conerada uma milionária, no momento, o saldo da minha conta bancária era de R$ 112,00 (minha rescisão ainda não havia saído). Por mais que eu soubesse que logo eu iria para os Estados Unidos para mexer na minha papelada de imigração, o que eu faria até lá? Colocaria minha casa para vender? Alugaria? Como eu faria para levar um gato para os Estados Unidos? Como conseguiria ajudar meus pais estando lá? E o meu carro que nem foi pago completamente ainda? E, estando lá, iria morar com Tobey? Até quando? Devia comprar uma casa lá? Em Los Angeles? Não é um local muito tumultuado para uma pessoa normal como eu?
Deus, minha cabeça iria explodir daquele jeito!
***
— Então, eu preciso conversar uma coisa bem séria com vocês — falei enquanto Pedro me servia um copo de cerveja gelada.
— Você está me assustando, . — Minha mãe me olhou, desconfiada, com seus olhos castanhos.
— Não é algo para se assustar, só quero a ajuda de vocês — sorri amarelo com medo da reação que eles teriam.
Esperei que os dois estivessem confortáveis, sentados lado a lado, cada um com seu copo bem servido para iniciar. Dei um gole para umedecer a boca antes.
— Bom, vocês sabem que eu e o Tobey nos reconectamos completamente nesses últimos meses, não é?
Ambos concordaram com a cabeça.
— Nesses dias que ele passou aqui...
— Ele e o britânico gato — minha mãe fez o favor de me interromper, dando uma piscadinha marota.
— É, ele e o Tom, mas o foco é ele — falei, não conseguindo segurar uma risadinha. — Nesses dias que ele passou aqui, ele acabou me chamando para uma conversa bem inesperada.
Esperei um segundo para ver se eles iam fazer alguma observação e continuei:
— Tob me disse que o dinheiro do seu pai está guardado em um banco desde que ele morreu e que eu tenho direito à metade da quantia que está lá.
— Puta merda — Pedro deixou escapar.
— Filha, estamos falando do dinheiro sujo do homem que te abandonou aqui?
— Não é sujo, mãe. É dinheiro.
— Eu sei, eu sei, desculpa, é o hábito. Mas não deixa de ser um dinheiro que ele não queria que você tivesse acesso, não é?
— Provavelmente sim. Mas Tobey quer que eu tenha, é meu por direito — expliquei com calma, não queria que ela saísse correndo para fugir da conversa.
— Não sei não, ... Isso não me cheira bem. — Minha mãe tinha uma intuição que ela confiava com toda a sua força, às vezes era certeira, mas às vezes era só uma pulga atrás da orelha, ela tinha o mesmo trauma de confiança que eu tinha. O que era completamente justificável quando levávamos em coneração o que o pai de Tobey havia feito com ela. Mas agora era o momento de dar a volta por cima.
— Mãe, estamos falando de muito dinheiro. Coisa que mudaria nossas vidas para sempre. Um dinheiro que poderia aposentar Pedro e vocês poderiam aproveitar a vida de vocês do jeito que quisessem.
— De quanto dinheiro estamos falando, ? — Pedro perguntou, como qualquer pessoa normal perguntaria. Diferente de minha mãe, Pedro provavelmente pensava "vamos aproveitar a vida às custas desse filho da mãe que fez o amor da minha vida sofrer tanto”, e era exatamente o que eu queria que ele pensasse. — Tobey diz que está na faixa dos trinta milhões de dólares. Ambos ficaram boquiabertos.
— Eu sei. É difícil de digerir em um primeiro momento — bebi minha cerveja, me divertindo com a cara que eles faziam.
— Filha... é muito dinheiro — minha mãe disse, me acompanhando na cerveja.
— Você tem certeza disso? — Pedro perguntou, ainda boquiaberto.
— Sim. E eu quero aceitar o dinheiro, quero ajudar vocês.
Pedro era marido de aluguel, ganhava a vida fazendo bicos: elétrica, encanamentos, pequenas reformas, consertava eletrônicos, coisas assim. Era um trabalho honesto e ele gostava muito, mas sempre foi autônomo sem carteira assinada e, no ápice dos seus cinquenta e poucos anos, estava encurralado para conseguir a sua aposentadoria, pois nunca foi realmente regularizado no INSS.
Isso sempre me incomodou muito, mas sempre que eu tentava conversar com ele, ele mudava de assunto, dizendo que não queria incomodar.
Então, sim, agora que a ideia do dinheiro finalmente havia entrado em minha mente por completo, ignorando meu primeiro estágio de negação, eu tinha que ajudar meus pais.
— Olha só, poucas pessoas têm a chance de conseguir retribuir a ajuda e o apoio que seus pais deram durante a vida. Eu tenho essa chance.
— Você não precisa, — Pedro disse, girando o copo de cerveja em suas mãos.
— Mas eu quero. Mãe? — chamei-a, já que ela olhava fixamente um ponto na mesa sem dizer nada.
— Querida, como eu vou dizer para você não aceitar esse dinheiro? Eu lutei a minha vida inteira para que você fosse alguém. Você é incrível no que faz e tenho certeza que vai ser alguém mesmo sem esse dinheiro ou seu irmão, mas não posso te pedir para não aceitar esse dinheiro, sendo que tudo que eu faço na minha vida é pensando no melhor para ti — ela desabafou com os olhos marejados. — Vou estar lutando contra tudo que lutei até agora.
Eu entendia o que ela queria dizer: não quero que fique com esse dinheiro, mas como posso negar isso, se tudo que uma mãe quer é que o filho seja feliz?
— Mãe, é a reparação natural das coisas, essa é a verdade. Demorei para aceitar isso também, mas a vida é assim. Aquele homem fez da sua vida um inferno, agora é a hora de ele pagar por isso — falei com calma. — E ele vai pagar da maneira certa, estou dentro da lei e o filho legítimo dele está do meu lado. Ele quer isso também.
— Ela está certa, minha flor — Pedro disse, acariciando o braço de minha mãe. Acalmando a sua fera interior. — É o correto, é a justiça.
— Você sabe que vai ser um caos, né? Que esse dinheiro vai demorar a cair na sua conta, que vão duvidar de você, vão pedir exames de DNA, a mídia vai dizer que você está extorquindo Toby... — Minha mãe me lembrou de tudo o que eu estava tentando esquecer, mas respirei fundo.
— Eu sei, mãe. Eu e Tob já conversamos sobre isso. Isso me traz ao outro tópico dessa conversa: eu vou ter que me mudar para os Estados Unidos, pelo menos até tudo isso se resolver.
Novamente os dois foram pegos de surpresa, como se suas cabeças estivessem muito ocupadas com o assunto do dinheiro para conseguir assimilar duas possibilidades ao mesmo tempo.
— Não dá para resolver daqui? — perguntou minha mãe, engasgada de surpresa.
— Dá, provavelmente dá. Mas eu quero ir, quero ter uma ideia de como seria morar lá, e esse acabou sendo o melhor momento, estou desempregada, tem toda essa papelada para resolver, creio que seja a melhor opção.
Vi minha mãe engolindo seco e depois segurou minhas mãos com os olhos marejados novamente.
— Desculpa, filha, me desculpa por essa conversa não estar sendo do jeito que eu imagino que tu querias que fosse, mas eu sou uma mãe superprotetora.
— Está tudo bem.
— Não, é só que... você é a minha filhinha. E eu vou demorar a me acostumar com o fato de que você não vai estar debaixo da minha asa para sempre. — Ela fungou e eu acariciei suas mãos.
— Estamos felizes por você, . É só que estamos acostumados com você por perto, vai ser difícil para nós — Pedro complementou, com um sorriso meio triste no rosto.
— Eu sei disso. Vai ser difícil para mim também. Sou apegada demais, mas preciso fazer isso, é um desafio pessoal que eu preciso enfrentar.
Continuamos conversando, eu disse algumas ideias do que gostaria de fazer por eles, por exemplo: dar-lhes uma casa nova e um bom carro, dar-lhes dinheiro para que fizessem o que bem entendessem, comprassem roupas novas, eletrodomésticos e, principalmente, fazer o passaporte deles, para que pudessem me visitar nos Estados Unidos.
***
Um mês depois, eu estava saindo do avião e, pela segunda vez no ano, Tobey me aguardava sorrindo. Dessa vez, quem segurava uma plaquinha com meu nome escrito era Otis, ao seu lado, Ruby sorria tanto quanto seu pai.
Fui recebida por um abraço triplo de muito carinho.
— Oi, meus amores, como vocês estão? — perguntei com a voz abafada. Os braços de Tobey apertavam meu tronco, os de Ruby nos abraçava pela esquerda e Otis pela direita.
Soltei o abraço, beijei o rosto de Tobey e segui para Otis.
— Que placa linda, foi você que fez? — Beijei o topo de sua cabeça e baguncei seus cabelos. A placa tinha meu nome escrito com uma letra arredondada muito bonita e tinha desenhos de garfos, colheres e facas flutuantes, feitas por um canetão preto.
— É claro que não, Tia — Ruby respondeu rápido. — Otis não tem coordenação motora para isso tudo.
— Ei! — Otis bateu nela com a placa e a garota caiu na risada.
— Ruby, não fale assim do seu irmão — Tobey interferiu.
— Como você está, espertinha? — perguntei, beijando-a no rosto também.
— Tudo bem. É verdade que você está namorando o Tom? — perguntou sem regalias e dei uma risada gostosa.
— Ruby! — Tobey a repreendeu, segurando o riso.
— Ah, pai, eu preciso saber!
— Não, Ruby, eu não estou namorando com o Tom... Obrigada pela preocupação — falei, brincando, e ela me mostrou a língua.
— Como você está, ? Tudo certo na viagem? — perguntou Tobey, passando o braço pelo meu ombro e me guiando para fora daquele tumulto de pessoas encontrando pessoas.
— Tudo certo sim, só estou meio cansada — falei, jogando os ombros para a frente dramaticamente e todos riram. — O voo acabou atrasando um pouco na conexão em São Paulo, fiquei mais de duas horas sem fazer nada no aeroporto. Mas valeu a pena, pois consegui dar o calmante para o Jacquin com tranquilidade.
Jacquin era o terror de qualquer gateiro quando o assunto era tomar remédios, decidi dar o comprimido a ele em São Paulo, já que de Santa Catarina até lá o voô durava apenas 40 minutos. Com isso, o bichano conseguiu aturar as 12 horas e meia dentro da cabine aos meus pés sem miar feito uma gata no cio em cima do telhado.
Meus sobrinhos pareceram finalmente perceber que eu carregava uma caixa de transporte de animais.
— Esses atrasos são péssimos — Tobey concordou, nos guiando até a parte onde haviam as esteiras com as malas.
O gato dormia enrolado no próprio corpo, abri a portinha e mexi no seu pescoço peludo apenas para me certificar de que estava tudo bem. Meu veterinário havia me receitado o calmante. Por sorte, ele é um gato gordo e dorminhoco que não se incomoda com muita coisa.
— Meu Deus, que amor! — Ruby pirou quando viu o gato e entreguei a caixa transportadora em suas mãos, pois ainda precisava pegar minhas malas.
— Espera um segundo, vou pegar um carrinho de bagagem — Tobey se afastou de nós e voltou alguns minutos depois. Ele já sabia que, dessa vez, eu levaria mais do que apenas uma mala.
Com minhas malas organizadas, conseguimos sair de lá com tranquilidade.
— Noite da pizza? — perguntou Tobey para nós e concordamos em comemoração.
Entrando na casa de Tobey, percebi que eu sentia falta daquele lugar. Era uma nova sensação de “estar em casa”, me acostumei a estar ali tanto quanto estar em minha verdadeira casa. Sabe aquela sensação de ir na casa da sua melhor amiga e, por mais que você saiba que aquela não é a sua casa de verdade, você se sente como se fosse sempre bem-vinda? Pois é, essa era a sensação de voltar à casa de Tobey. Olhei o sofá e a minha transa com Andrew veio como um flash em minha mente. Sacudi a cabeça rapidamente, me livrando do pensamento intruso, e abri a caixa acolchoada de Jacquin, pegando-o no colo.
— ‘Tá na hora de acordar, meu bem. — Fiz carinho em seu pescoço, vendo o gato se espreguiçar, ainda meio grogue.
Otis e Ruby não desgrudaram os olhos dele, e coloquei-o no colo de Otis, que ficou feliz com a tarefa de cuidar do gato sonolento.
— E como estão as coisas? — Tobey perguntou, me ajudando a subir com as malas pela escada.
— Tudo certo — respondi sem saber exatamente o que dizer, já que não tinha certeza do que ele se referia.
— Está falando com Tom?
Finalmente entendi.
— Ah, não muito. Somos amigos, Tob, eu expliquei a ele que não queria algo sério enquanto minha vida não se resolvesse, sabe?
— Entendi. E Drew?
— Não falo com ele desde que voltei ao Brasil. Nunca conversamos sobre algo sério, então apenas presumi que fosse algo para aproveitar o momento — expliquei e ele concordou com a cabeça, abrindo a porta do meu quarto. As coisas lá dentro estavam do mesmo jeito que e eu havia deixado há alguns meses.
Tobey colocou minhas malas em um cantinho e voltou até mim me dando um abraço forte, deitei minha cabeça em seu peito.
— Eu estava com muita saudade, , estou muito feliz que você esteja aqui de novo.
— Eu também estava, Tob, obrigada por me receber de novo.
— Você sempre vai ser bem-vinda.
Ele continuava com cheiro de perfume com amaciante de roupas, uma mistura que me deixava confortável e nostálgica. Ele soltou o abraço e depositou um beijo em minha testa.
— E você? — perguntei, sorrindo.
— Eu o quê? — Ele sabia exatamente o que eu estava perguntando.
— Como estão as coisas com minha melhor amiga?
— Ah... — fingiu surpresa, como se não tivesse pensado naquilo fazia muito tempo. — Bom, eu ainda converso com ela, mas a distância é muito complicada.
Eu sabia que eles se falavam por vídeo chamada quase todos os dias, sabia também que Tobey havia a convidado para passar um tempo na América com ele, e que Gaby estava pensando no assunto, sabia que Gaby estava completamente apaixonada e que meu irmão tinha grandes chances de estar também. Mas fingi que não sabia de nada para saber o que ele pensava a respeito.
— E você está pensando em alguma opção para tentar resolver isso ou vai ser só um namoro de verão?
— É mais do que um namoro de verão, tenho certeza disso, só não sei como resolver ainda. Não quero fazê-la largar tudo que construiu por mim.
— Entendo, bom, vocês vão resolver isso logo. ‘Tá bem?
Ele concordou com a cabeça, ligeiramente cabisbaixo. Meu irmão estava de quatro pela minha melhor amiga e eu não podia estar mais feliz por isso.
— Vem cá, quero bater uma foto. — Ele me puxou pelo braço antes de sairmos do quarto. Batemos uma selfie fofa, ele sorrindo e eu mostrando a língua, com uma piscadinha ladina, meu rosto estava um trapo, meus cabelos arrepiados e cheios de frizz, porém nunca negaria uma foto com ele.
— Para que essa foto?
— Para eu guardar.
Achei estranho, já que normalmente era eu que pedia para bater as fotos, mas apenas dei de ombros.
Lá embaixo, Ruby e Otis brincavam com um Jacquin, mais desperto. Ruby fazia stories dele enquanto Otis chacoalhava o cadarço de seu tênis para o gato brincar.
Tobey ficou responsável por pedir as pizzas enquanto eu arrumava o cantinho de Jacquin com meus sobrinhos. Tobey havia comprado uma caminha acolchoada para ficar ao lado do sofá na sala e uma toca fofinha para ficar na lavanderia quando ele quisesse um pouco de sossego.
Otis encheu a caixinha de areia enquanto Ruby encheu os potinhos com comida e água.
Jacquin estava explorando a casa, subindo no sofá, cheirando as almofadas, espreguiçando-se sobre o tapete, escolhendo seus lugares favoritos. Seu humano favorito já era Otis e ele o seguia para todos os cantos, andando por entre suas pernas.
Senti meu peito se encher de alegria enquanto via aqueles três brincando com meu gato, sentados no tapete da sala com a mesinha de centro afastada. Parecia que Jacquin era o elo que mantinha minha cabeça sã de que aquilo não era coisa da minha imaginação, eu nunca teria criatividade o suficiente para conseguir imaginá-lo na casa de Tobey. Meus sobrinhos nunca estiveram tão tranquilos e confortáveis em minha presença, Tobey estava em seu habitat natural e eu não me sentia mais uma intrusa em sua vida, parecia que finalmente as coisas estavam caminhando para a mesma direção e eu me sentia livre.
Livre como não me sentia há muitos anos, livre sabendo que eu nunca encontraria meu passado quando virasse a esquina e livre de saber que minha vida estava tomando o caminho certo.
Comemos pizza, conversamos sobre várias coisas, colocando o assunto em dia. Ruby havia entrado no ensino médio e me admitiu estar namorando com um garoto chamado Garret, Tobey não gostava muito dessa conversa, mas o garoto parecia ser um amor e ainda estava cedo para apresentá-lo à família, segundo Ruby. Otis ainda estava no ensino fundamental e me contou que havia pedido para sua mãe se ele poderia fazer algum curso de culinária para crianças. Tobey me olhou com ternura nos olhos nesse momento e eu comemorei com Otis por sua coragem, o entusiasmando a continuar com esse pensamento.
Assistimos “De Repente 30”, pois as crianças nunca haviam assistido, e acabei cochilando no sofá, exausta. Acordei com Tobey acariciando meu braço, dizendo que era melhor eu ir dormir no quarto. Subi as escadas, sonolenta, com Jacquin me acompanhando e Tobey com sua mão em minhas costas para me guiar caso eu estivesse dormindo em pé.
— Boa noite, .
— Boa noite, Tob — falei, mandando um beijo para ele na porta, e rindo quando vi Jacquin subir na cama, deitando-se sobre minhas pernas.
Acordei no dia seguinte ouvindo meu celular vibrar, vi que era uma mensagem de texto:
“Hey, pequena Maguire.
Fiquei sabendo que você está de volta em Los Angeles.
Saiba que estou precisando de uma companhia na próxima semana, está interessada?
Andy,
xx”
Tobey e Gaby estavam tão consolidados quanto uma rocha, faziam tudo unidos como um casal fofo deve ser e a cada momento que passavam juntos eu percebia que aquele relacionamento seria duradouro, só não sabia exatamente como iria funcionar, porém estava na cara que eles dariam um jeito.
Eu e Tom não estávamos no mesmo patamar que eles, tínhamos a intimidade de um casal, mas no fundo sabíamos que não passava de um namoro de verão.
Na verdade, eu havia deixado aquilo bem claro para ele.
Ele não queria aceitar no começo, não forçou nada, não disse nada e não tentou nada... eu só percebia a decepção em seus olhos castanhos doces, não tinham mais aquele brilho fugaz de um garoto apaixonado, aquele brilho que havia no dia do aeroporto, quando ele me beijou de surpresa em nossa despedida. Era apenas o Tom normal que estava ali comigo, o Tom que segurava a minha mão quando íamos caminhar na praia, mas que não segurava quando íamos ao mercado comprar algo para comer. E aquilo me reconfortava, pois era exatamente o que eu precisava naquele momento, o aconchego de alguém por perto sem o sufoco que a palavra “relacionamento” me trazia.
Senti que sua ficha finalmente caiu quando eu o convidei para ir comigo até a farmácia para comprar uma pílula do dia seguinte.
Seu queixo caiu no chão quando percebeu que havíamos feito sexo sem proteção na piscina e caiu mais ainda por perceber que eu não queria correr o risco de engravidar dele, mesmo sendo famoso e rico, sorte que ele não teria com qualquer uma, mas não queria entrar naquele mérito. Aquela situação só me mostrava o quão despreparada eu e ele estávamos para o que aconteceu. E a verdade era que eu ainda não estava preparada para qualquer tipo de relacionamento, fosse ele com alguém que pudesse me bancar pelo resto da vida ou não.
, acorda. Você também é milionária agora. Não precisa ser bancada mesmo que quisesse.
Fiz uma nota mental para pesquisar quanto realmente eram trinta milhões de dólares.
Meu relacionamento com Cadu havia me marcado de maneiras tão absurdas que apenas pensar em estar “presa” com alguém me fazia ter vertigem, e, depois de algumas conversas que chegaram neste assunto, Tom foi um cavalheiro em me dar o tempo que eu precisava para respirar sem me sentir sufocada.
Toda esta minha bagagem com meu ex tóxico, esta situação financeira incerta, meu futuro completamente em crise e minhas sérias dúvidas em processar o fato de que Andrew Garfield e Tom Holland estavam realmente interessados em mim faziam minha cabeça não desligar à noite, minha psicóloga teria uma semana difícil quando eu finalmente colocasse esses dois estrangeiros dentro do avião. Eu não dormia bem há dias, meu coração palpitava estranho durante os momentos em que eu me pegava pensando em algumas dessas situações, principalmente o fato do meu futuro ser tão imprevisível. Não conseguia dizer se aquela ligação que eu atendi há tantos meses, que fez minha vida virar literalmente de cabeça para baixo, era uma ligação da qual eu atenderia novamente. Sabia que estava sendo dramática (quem, em sã consciência, não iria querer a vida que estou tendo no momento?), mas sair de dentro da concha, da zona de conforto, e encarar o desconhecido era muito difícil! Ter que reconfigurar a sua vida inteira no período de seis meses não era exatamente o que eu estava esperando encontrar quando atendi o telefonema de meu irmão naquele dia. Eu me sentia dormente. Como se não fosse realmente eu que estivesse no controle de minha vida, como se eu estivesse vendo alguém viver minha vida em terceira pessoa, como se eu fosse uma coadjuvante e o verdadeiro personagem principal fosse algum desconhecido.
— Acho que, dessa vez, é realmente um “até logo”, não é? — Tobey perguntou enquanto me abraçava no aeroporto. Havíamos combinado várias coisas, uma delas era que eu iria o quanto antes para os Estados Unidos com o intuito de arrumar meus documentos e legalizar todos os papéis para virar uma cidadã americana e receber minha herança.
— Sempre vai ser um até logo, Tob. Agora não tem mais como voltar atrás — brinquei e já ouvi seu fungar em meu ouvido.
— Obrigada por tudo, , você foi incrível, nossa estadia aqui foi incrível. Tão incrível que eu não quero voltar. — Ele segurou meus ombros e olhou em meus olhos, seus olhos já estavam marejados.
— Você não quer voltar por causa da sua namorada, não finge que é por minha causa — fingi estar indignada enquanto ele virava os olhos para cima.
— Você é impossível.
— Eu também te amo, Tob. Vou tentar arrumar as minhas coisas o mais rápido que eu puder, ‘tá bem? — beijei seu rosto e ele sorriu, me puxando para mais um abraço.
— Vou ficar te esperando.
Gaby e Tobey se despediram com promessas de um novo encontro, de uma nova viagem e de um relacionamento duradouro.
Eu e Tom nos despedimos como velhos amigos, eu havia feito uma conexão com ele na viagem, transamos como um casal de adolescentes prestes a serem separados pelos pais a qualquer momento, na piscina, na cozinha, na praia, em banheiros de bares e até no quarto de Johnson (como uma vingança pessoal pelo que ele fez no dia da piscina). Ele era incrível e eu realmente gostaria de manter essa conexão com ele quando eu voltasse à América, caso ele estivesse por lá.
— Você não vai esquecer de mim quando estiver milionária, não é? — ele me perguntou, sorrindo de lado, passando seus braços por minha cintura.
— Só se você quiser que eu me esqueça — brinquei, passando meus braços por seu pescoço.
— Nem fodendo.
Nosso beijo foi sem pressa, minhas mãos em sua nuca, suas mãos em minha cintura, não tínhamos mais medo de sermos fotografados, nem precisávamos explicar o que estava acontecendo entre nós.
E, assim, como em um passe de mágica, eu estava sozinha novamente.
Depois que os dois foram embora, pude finalmente começar a colocar as coisas em ordem. Fiz uma publicação fofa com algumas fotos tiradas durante aqueles dias no Instagram, um carrossel em que:
A primeira foto era eu e Tobey em minha casa na noite em que ele chegou e dormiu lá. Eu segurava Jacquin no colo e Tobey enquadrava a foto em uma selfie.
A segunda foto era eu e Tobey entre meus pais, todos sorrindo para a câmera, quem tirou a foto foi Tom.
A terceira era eu e Tom na praia, seu rosto tinha a marca vermelha característica sobre as maçãs do rosto e nariz, e eu estava com os cabelos molhados e revoltados, ambos encostando a cabeça uma na outra e sorrindo sem mostrar os dentes.
A quarta foto foi no dia da festa, eu, Gaby e Johnson vestidos de Britney Spears, com pose das Panteras.
E a quinta foto era uma das brigas de galo, onde eu estava sobre os ombros de Tom e Gaby estava sobre os ombros de Tobey, todos estávamos rindo muito.
Na legenda, eu apenas escrevi “melhor verão de todos”.
Aproveitando a onda de colocar as coisas em ordem, marquei um horário com minha psicóloga e informei minha mãe que gostaria de conversar com ela e Pedro no próximo fim de semana.
Eu sabia que tinha tudo sob controle, porém nunca me senti mais perdida na vida, o medo, a insegurança e a ansiedade dando as caras. Por mais que eu soubesse que tinha dinheiro para ser conerada uma milionária, no momento, o saldo da minha conta bancária era de R$ 112,00 (minha rescisão ainda não havia saído). Por mais que eu soubesse que logo eu iria para os Estados Unidos para mexer na minha papelada de imigração, o que eu faria até lá? Colocaria minha casa para vender? Alugaria? Como eu faria para levar um gato para os Estados Unidos? Como conseguiria ajudar meus pais estando lá? E o meu carro que nem foi pago completamente ainda? E, estando lá, iria morar com Tobey? Até quando? Devia comprar uma casa lá? Em Los Angeles? Não é um local muito tumultuado para uma pessoa normal como eu?
Deus, minha cabeça iria explodir daquele jeito!
— Então, eu preciso conversar uma coisa bem séria com vocês — falei enquanto Pedro me servia um copo de cerveja gelada.
— Você está me assustando, . — Minha mãe me olhou, desconfiada, com seus olhos castanhos.
— Não é algo para se assustar, só quero a ajuda de vocês — sorri amarelo com medo da reação que eles teriam.
Esperei que os dois estivessem confortáveis, sentados lado a lado, cada um com seu copo bem servido para iniciar. Dei um gole para umedecer a boca antes.
— Bom, vocês sabem que eu e o Tobey nos reconectamos completamente nesses últimos meses, não é?
Ambos concordaram com a cabeça.
— Nesses dias que ele passou aqui...
— Ele e o britânico gato — minha mãe fez o favor de me interromper, dando uma piscadinha marota.
— É, ele e o Tom, mas o foco é ele — falei, não conseguindo segurar uma risadinha. — Nesses dias que ele passou aqui, ele acabou me chamando para uma conversa bem inesperada.
Esperei um segundo para ver se eles iam fazer alguma observação e continuei:
— Tob me disse que o dinheiro do seu pai está guardado em um banco desde que ele morreu e que eu tenho direito à metade da quantia que está lá.
— Puta merda — Pedro deixou escapar.
— Filha, estamos falando do dinheiro sujo do homem que te abandonou aqui?
— Não é sujo, mãe. É dinheiro.
— Eu sei, eu sei, desculpa, é o hábito. Mas não deixa de ser um dinheiro que ele não queria que você tivesse acesso, não é?
— Provavelmente sim. Mas Tobey quer que eu tenha, é meu por direito — expliquei com calma, não queria que ela saísse correndo para fugir da conversa.
— Não sei não, ... Isso não me cheira bem. — Minha mãe tinha uma intuição que ela confiava com toda a sua força, às vezes era certeira, mas às vezes era só uma pulga atrás da orelha, ela tinha o mesmo trauma de confiança que eu tinha. O que era completamente justificável quando levávamos em coneração o que o pai de Tobey havia feito com ela. Mas agora era o momento de dar a volta por cima.
— Mãe, estamos falando de muito dinheiro. Coisa que mudaria nossas vidas para sempre. Um dinheiro que poderia aposentar Pedro e vocês poderiam aproveitar a vida de vocês do jeito que quisessem.
— De quanto dinheiro estamos falando, ? — Pedro perguntou, como qualquer pessoa normal perguntaria. Diferente de minha mãe, Pedro provavelmente pensava "vamos aproveitar a vida às custas desse filho da mãe que fez o amor da minha vida sofrer tanto”, e era exatamente o que eu queria que ele pensasse. — Tobey diz que está na faixa dos trinta milhões de dólares. Ambos ficaram boquiabertos.
— Eu sei. É difícil de digerir em um primeiro momento — bebi minha cerveja, me divertindo com a cara que eles faziam.
— Filha... é muito dinheiro — minha mãe disse, me acompanhando na cerveja.
— Você tem certeza disso? — Pedro perguntou, ainda boquiaberto.
— Sim. E eu quero aceitar o dinheiro, quero ajudar vocês.
Pedro era marido de aluguel, ganhava a vida fazendo bicos: elétrica, encanamentos, pequenas reformas, consertava eletrônicos, coisas assim. Era um trabalho honesto e ele gostava muito, mas sempre foi autônomo sem carteira assinada e, no ápice dos seus cinquenta e poucos anos, estava encurralado para conseguir a sua aposentadoria, pois nunca foi realmente regularizado no INSS.
Isso sempre me incomodou muito, mas sempre que eu tentava conversar com ele, ele mudava de assunto, dizendo que não queria incomodar.
Então, sim, agora que a ideia do dinheiro finalmente havia entrado em minha mente por completo, ignorando meu primeiro estágio de negação, eu tinha que ajudar meus pais.
— Olha só, poucas pessoas têm a chance de conseguir retribuir a ajuda e o apoio que seus pais deram durante a vida. Eu tenho essa chance.
— Você não precisa, — Pedro disse, girando o copo de cerveja em suas mãos.
— Mas eu quero. Mãe? — chamei-a, já que ela olhava fixamente um ponto na mesa sem dizer nada.
— Querida, como eu vou dizer para você não aceitar esse dinheiro? Eu lutei a minha vida inteira para que você fosse alguém. Você é incrível no que faz e tenho certeza que vai ser alguém mesmo sem esse dinheiro ou seu irmão, mas não posso te pedir para não aceitar esse dinheiro, sendo que tudo que eu faço na minha vida é pensando no melhor para ti — ela desabafou com os olhos marejados. — Vou estar lutando contra tudo que lutei até agora.
Eu entendia o que ela queria dizer: não quero que fique com esse dinheiro, mas como posso negar isso, se tudo que uma mãe quer é que o filho seja feliz?
— Mãe, é a reparação natural das coisas, essa é a verdade. Demorei para aceitar isso também, mas a vida é assim. Aquele homem fez da sua vida um inferno, agora é a hora de ele pagar por isso — falei com calma. — E ele vai pagar da maneira certa, estou dentro da lei e o filho legítimo dele está do meu lado. Ele quer isso também.
— Ela está certa, minha flor — Pedro disse, acariciando o braço de minha mãe. Acalmando a sua fera interior. — É o correto, é a justiça.
— Você sabe que vai ser um caos, né? Que esse dinheiro vai demorar a cair na sua conta, que vão duvidar de você, vão pedir exames de DNA, a mídia vai dizer que você está extorquindo Toby... — Minha mãe me lembrou de tudo o que eu estava tentando esquecer, mas respirei fundo.
— Eu sei, mãe. Eu e Tob já conversamos sobre isso. Isso me traz ao outro tópico dessa conversa: eu vou ter que me mudar para os Estados Unidos, pelo menos até tudo isso se resolver.
Novamente os dois foram pegos de surpresa, como se suas cabeças estivessem muito ocupadas com o assunto do dinheiro para conseguir assimilar duas possibilidades ao mesmo tempo.
— Não dá para resolver daqui? — perguntou minha mãe, engasgada de surpresa.
— Dá, provavelmente dá. Mas eu quero ir, quero ter uma ideia de como seria morar lá, e esse acabou sendo o melhor momento, estou desempregada, tem toda essa papelada para resolver, creio que seja a melhor opção.
Vi minha mãe engolindo seco e depois segurou minhas mãos com os olhos marejados novamente.
— Desculpa, filha, me desculpa por essa conversa não estar sendo do jeito que eu imagino que tu querias que fosse, mas eu sou uma mãe superprotetora.
— Está tudo bem.
— Não, é só que... você é a minha filhinha. E eu vou demorar a me acostumar com o fato de que você não vai estar debaixo da minha asa para sempre. — Ela fungou e eu acariciei suas mãos.
— Estamos felizes por você, . É só que estamos acostumados com você por perto, vai ser difícil para nós — Pedro complementou, com um sorriso meio triste no rosto.
— Eu sei disso. Vai ser difícil para mim também. Sou apegada demais, mas preciso fazer isso, é um desafio pessoal que eu preciso enfrentar.
Continuamos conversando, eu disse algumas ideias do que gostaria de fazer por eles, por exemplo: dar-lhes uma casa nova e um bom carro, dar-lhes dinheiro para que fizessem o que bem entendessem, comprassem roupas novas, eletrodomésticos e, principalmente, fazer o passaporte deles, para que pudessem me visitar nos Estados Unidos.
Um mês depois, eu estava saindo do avião e, pela segunda vez no ano, Tobey me aguardava sorrindo. Dessa vez, quem segurava uma plaquinha com meu nome escrito era Otis, ao seu lado, Ruby sorria tanto quanto seu pai.
Fui recebida por um abraço triplo de muito carinho.
— Oi, meus amores, como vocês estão? — perguntei com a voz abafada. Os braços de Tobey apertavam meu tronco, os de Ruby nos abraçava pela esquerda e Otis pela direita.
Soltei o abraço, beijei o rosto de Tobey e segui para Otis.
— Que placa linda, foi você que fez? — Beijei o topo de sua cabeça e baguncei seus cabelos. A placa tinha meu nome escrito com uma letra arredondada muito bonita e tinha desenhos de garfos, colheres e facas flutuantes, feitas por um canetão preto.
— É claro que não, Tia — Ruby respondeu rápido. — Otis não tem coordenação motora para isso tudo.
— Ei! — Otis bateu nela com a placa e a garota caiu na risada.
— Ruby, não fale assim do seu irmão — Tobey interferiu.
— Como você está, espertinha? — perguntei, beijando-a no rosto também.
— Tudo bem. É verdade que você está namorando o Tom? — perguntou sem regalias e dei uma risada gostosa.
— Ruby! — Tobey a repreendeu, segurando o riso.
— Ah, pai, eu preciso saber!
— Não, Ruby, eu não estou namorando com o Tom... Obrigada pela preocupação — falei, brincando, e ela me mostrou a língua.
— Como você está, ? Tudo certo na viagem? — perguntou Tobey, passando o braço pelo meu ombro e me guiando para fora daquele tumulto de pessoas encontrando pessoas.
— Tudo certo sim, só estou meio cansada — falei, jogando os ombros para a frente dramaticamente e todos riram. — O voo acabou atrasando um pouco na conexão em São Paulo, fiquei mais de duas horas sem fazer nada no aeroporto. Mas valeu a pena, pois consegui dar o calmante para o Jacquin com tranquilidade.
Jacquin era o terror de qualquer gateiro quando o assunto era tomar remédios, decidi dar o comprimido a ele em São Paulo, já que de Santa Catarina até lá o voô durava apenas 40 minutos. Com isso, o bichano conseguiu aturar as 12 horas e meia dentro da cabine aos meus pés sem miar feito uma gata no cio em cima do telhado.
Meus sobrinhos pareceram finalmente perceber que eu carregava uma caixa de transporte de animais.
— Esses atrasos são péssimos — Tobey concordou, nos guiando até a parte onde haviam as esteiras com as malas.
O gato dormia enrolado no próprio corpo, abri a portinha e mexi no seu pescoço peludo apenas para me certificar de que estava tudo bem. Meu veterinário havia me receitado o calmante. Por sorte, ele é um gato gordo e dorminhoco que não se incomoda com muita coisa.
— Meu Deus, que amor! — Ruby pirou quando viu o gato e entreguei a caixa transportadora em suas mãos, pois ainda precisava pegar minhas malas.
— Espera um segundo, vou pegar um carrinho de bagagem — Tobey se afastou de nós e voltou alguns minutos depois. Ele já sabia que, dessa vez, eu levaria mais do que apenas uma mala.
Com minhas malas organizadas, conseguimos sair de lá com tranquilidade.
— Noite da pizza? — perguntou Tobey para nós e concordamos em comemoração.
Entrando na casa de Tobey, percebi que eu sentia falta daquele lugar. Era uma nova sensação de “estar em casa”, me acostumei a estar ali tanto quanto estar em minha verdadeira casa. Sabe aquela sensação de ir na casa da sua melhor amiga e, por mais que você saiba que aquela não é a sua casa de verdade, você se sente como se fosse sempre bem-vinda? Pois é, essa era a sensação de voltar à casa de Tobey. Olhei o sofá e a minha transa com Andrew veio como um flash em minha mente. Sacudi a cabeça rapidamente, me livrando do pensamento intruso, e abri a caixa acolchoada de Jacquin, pegando-o no colo.
— ‘Tá na hora de acordar, meu bem. — Fiz carinho em seu pescoço, vendo o gato se espreguiçar, ainda meio grogue.
Otis e Ruby não desgrudaram os olhos dele, e coloquei-o no colo de Otis, que ficou feliz com a tarefa de cuidar do gato sonolento.
— E como estão as coisas? — Tobey perguntou, me ajudando a subir com as malas pela escada.
— Tudo certo — respondi sem saber exatamente o que dizer, já que não tinha certeza do que ele se referia.
— Está falando com Tom?
Finalmente entendi.
— Ah, não muito. Somos amigos, Tob, eu expliquei a ele que não queria algo sério enquanto minha vida não se resolvesse, sabe?
— Entendi. E Drew?
— Não falo com ele desde que voltei ao Brasil. Nunca conversamos sobre algo sério, então apenas presumi que fosse algo para aproveitar o momento — expliquei e ele concordou com a cabeça, abrindo a porta do meu quarto. As coisas lá dentro estavam do mesmo jeito que e eu havia deixado há alguns meses.
Tobey colocou minhas malas em um cantinho e voltou até mim me dando um abraço forte, deitei minha cabeça em seu peito.
— Eu estava com muita saudade, , estou muito feliz que você esteja aqui de novo.
— Eu também estava, Tob, obrigada por me receber de novo.
— Você sempre vai ser bem-vinda.
Ele continuava com cheiro de perfume com amaciante de roupas, uma mistura que me deixava confortável e nostálgica. Ele soltou o abraço e depositou um beijo em minha testa.
— E você? — perguntei, sorrindo.
— Eu o quê? — Ele sabia exatamente o que eu estava perguntando.
— Como estão as coisas com minha melhor amiga?
— Ah... — fingiu surpresa, como se não tivesse pensado naquilo fazia muito tempo. — Bom, eu ainda converso com ela, mas a distância é muito complicada.
Eu sabia que eles se falavam por vídeo chamada quase todos os dias, sabia também que Tobey havia a convidado para passar um tempo na América com ele, e que Gaby estava pensando no assunto, sabia que Gaby estava completamente apaixonada e que meu irmão tinha grandes chances de estar também. Mas fingi que não sabia de nada para saber o que ele pensava a respeito.
— E você está pensando em alguma opção para tentar resolver isso ou vai ser só um namoro de verão?
— É mais do que um namoro de verão, tenho certeza disso, só não sei como resolver ainda. Não quero fazê-la largar tudo que construiu por mim.
— Entendo, bom, vocês vão resolver isso logo. ‘Tá bem?
Ele concordou com a cabeça, ligeiramente cabisbaixo. Meu irmão estava de quatro pela minha melhor amiga e eu não podia estar mais feliz por isso.
— Vem cá, quero bater uma foto. — Ele me puxou pelo braço antes de sairmos do quarto. Batemos uma selfie fofa, ele sorrindo e eu mostrando a língua, com uma piscadinha ladina, meu rosto estava um trapo, meus cabelos arrepiados e cheios de frizz, porém nunca negaria uma foto com ele.
— Para que essa foto?
— Para eu guardar.
Achei estranho, já que normalmente era eu que pedia para bater as fotos, mas apenas dei de ombros.
Lá embaixo, Ruby e Otis brincavam com um Jacquin, mais desperto. Ruby fazia stories dele enquanto Otis chacoalhava o cadarço de seu tênis para o gato brincar.
Tobey ficou responsável por pedir as pizzas enquanto eu arrumava o cantinho de Jacquin com meus sobrinhos. Tobey havia comprado uma caminha acolchoada para ficar ao lado do sofá na sala e uma toca fofinha para ficar na lavanderia quando ele quisesse um pouco de sossego.
Otis encheu a caixinha de areia enquanto Ruby encheu os potinhos com comida e água.
Jacquin estava explorando a casa, subindo no sofá, cheirando as almofadas, espreguiçando-se sobre o tapete, escolhendo seus lugares favoritos. Seu humano favorito já era Otis e ele o seguia para todos os cantos, andando por entre suas pernas.
Senti meu peito se encher de alegria enquanto via aqueles três brincando com meu gato, sentados no tapete da sala com a mesinha de centro afastada. Parecia que Jacquin era o elo que mantinha minha cabeça sã de que aquilo não era coisa da minha imaginação, eu nunca teria criatividade o suficiente para conseguir imaginá-lo na casa de Tobey. Meus sobrinhos nunca estiveram tão tranquilos e confortáveis em minha presença, Tobey estava em seu habitat natural e eu não me sentia mais uma intrusa em sua vida, parecia que finalmente as coisas estavam caminhando para a mesma direção e eu me sentia livre.
Livre como não me sentia há muitos anos, livre sabendo que eu nunca encontraria meu passado quando virasse a esquina e livre de saber que minha vida estava tomando o caminho certo.
Comemos pizza, conversamos sobre várias coisas, colocando o assunto em dia. Ruby havia entrado no ensino médio e me admitiu estar namorando com um garoto chamado Garret, Tobey não gostava muito dessa conversa, mas o garoto parecia ser um amor e ainda estava cedo para apresentá-lo à família, segundo Ruby. Otis ainda estava no ensino fundamental e me contou que havia pedido para sua mãe se ele poderia fazer algum curso de culinária para crianças. Tobey me olhou com ternura nos olhos nesse momento e eu comemorei com Otis por sua coragem, o entusiasmando a continuar com esse pensamento.
Assistimos “De Repente 30”, pois as crianças nunca haviam assistido, e acabei cochilando no sofá, exausta. Acordei com Tobey acariciando meu braço, dizendo que era melhor eu ir dormir no quarto. Subi as escadas, sonolenta, com Jacquin me acompanhando e Tobey com sua mão em minhas costas para me guiar caso eu estivesse dormindo em pé.
— Boa noite, .
— Boa noite, Tob — falei, mandando um beijo para ele na porta, e rindo quando vi Jacquin subir na cama, deitando-se sobre minhas pernas.
Acordei no dia seguinte ouvindo meu celular vibrar, vi que era uma mensagem de texto:
“Hey, pequena Maguire.
Fiquei sabendo que você está de volta em Los Angeles.
Saiba que estou precisando de uma companhia na próxima semana, está interessada?
Andy,
xx”
Capítulo 19
Na semana seguinte, Tobey contratou os serviços de Gen e Carlos, minha maquiadora e meu cabeleireiro preferidos. Eu iria acompanhar Andrew em um evento para promover sua nova série, Em nome do céu. Tobey me incentivou a ir para me distrair de tudo que ainda rondava em minha cabeça, já que naquela semana havíamos ido a um cartório iniciar o movimento da papelada para meus documentos.
— Você está de volta! — Carlos me abraçou com vontade quando nos encontramos em meu quarto de hotel em Malibu.
— Estou sim, e dessa vez é para valer! — retribuí o abraço.
— Você está linda — Gen disse, sorrindo, sincera, quando me abraçou também. — Está bronzeada!
— Obrigada, você também está linda, está radiante, diferente... — falei, indicando suas mechas de cores diferentes da última vez que a vi.
— É o amor... — Carlos fofocou e levou um tapinha no ombro da colega.
— Lembra do DJ da sua festa? — Gen perguntou, envergonhada. — Estamos juntos até hoje!
Comemorei com eles e colocamos as fofocas em dia enquanto eles me aprontavam, Carlos puxando meu cabelo de um lado para o outro e Gen pincelando o meu rosto.
— Prontinho, gata — Gen disse, indicando que eu podia levantar a cabeça do encosto da cadeira.
Me olhei por inteiro no espelho grande que havia na minha suíte e meus olhos marejaram, Carlos e Gen tinham o dom de me fazer parecer a porra de uma deusa. Meus cabelos estavam presos em um “coque banana” despojado e cheio de fios propositadamente soltos e meticulosamente enroladinhos em cachos perfeitos que combinavam com as ondas naturais do meu cabelo ondulado. Meu rosto estava pintado para que eu parecesse uma atriz muito bem paga e poderosa, meus olhos estavam “leves” com tons de marrom claro e creme com um delineado que me deixava com o olhar de uma felina perigosa, na boca eu tinha um tom de vermelho escuro tão bonito que parecia veludo.
Meu vestido era da cor de meus lábios, liso simples, de caimento fluido, preso em meu pescoço por dois botões deixando meus ombros e minhas costas de fora.
— Você está linda.
— Está pronta para o comeback com o Andrew. Ele vai ficar mais de quatro ainda por você — Carlos brincou.
— Como se isso fosse possível — Gen adicionou, fazendo nós três cairmos em risada.
Nos despedimos e pedi para que marcássemos algum rolê juntos. Fiz questão de ensinar a palavra em português e eles ficaram empolgados, principalmente na parte em que eu disse que ia contar em detalhes como seria a noite.
A última vez que eu tinha visto Andrew fora na casa de Tobey há alguns bons meses, onde ele me pediu para ficar em Los Angeles, pois tinha a sensação de que “me perderia” caso eu voltasse ao Brasil, como se ele previsse que eu teria uma chance com outra pessoa lá.
E eu tive, ele não estava errado.
De qualquer maneira, combinamos de nos encontrar no hall do hotel às 17 horas em ponto. Não tive como vê-lo antes, pois o motorista que Tobey havia contratado para me levar não tinha horários diurnos, então tive que fazer a “viagem” de algumas horas durante a madrugada (Arthur era um senhor muito simpático). E Tobey não confiava em Uber para viagens longas.
Quando deu 16h55, desci o elevador com uma mulher muito elegante e uma garotinha que ficou me encarando de boca aberta. Dei um tchauzinho a ela, que sorriu para mim, e fiquei mexendo despretensiosamente no celular enquanto Andrew não descia.
As pessoas viviam diariamente me marcando em publicações relacionadas ao Tom e Andrew, fã clubes lotavam minha caixa de mensagens com perguntas absurdas e sites de fofoca sempre tinham algo para falar sobre mim, mesmo que eu fosse uma pseudo-celebridade. Já existia uma página no Instagram dedicada a mim, postando fotos antigas do meu facebook e revivendo tweets. Por sorte, sempre fui uma pessoa pouco ativa nas redes sociais, mas aquilo estava começando a me incomodar um pouco e agora eu entendia o motivo de tanto Tob, quanto Andy, não terem redes sociais.
É um lugar desprezível de se estar: falavam de minhas celulites e estrias, do meu cabelo e da cor dos meus olhos, duvidavam da minha legitimidade como irmã de Tobey e falavam do meu suposto namoro com Tom. Falavam da vida da minha mãe, do Brasil e até do meu gato. Me chamavam de gorda, de mal cuidada, de desempregada, oportunista e vagabunda.
É… é compreensível que tantas pessoas causem tantos danos a si mesmas depois de algum problema na internet. Os gatilhos são muitos.
Mesmo assim, eu me mantinha firme, mantendo o pouco conteúdo que sempre tive e tentando não dar bola aos comentários, afinal não havia absolutamente nenhum motivo plausível para me cancelarem. E com comentários sobre o meu corpo eu sabia lidar: mulheres sempre foram alvos fáceis de comentários, se Zendaya, Rihanna, Anitta, Scarlett Johansson e até a gostosíssima Paola Oliveira (a lista é interminável) eram constantemente insultadas pelo corpo delas, mesmo sendo mulheres absolutamente incríveis, quem era eu na fila do pão, certo?
— Puta merda, ... — Andrew estava no pé da escada, usava um terno creme com uma camisa off-white com a gola aberta, tão lindo quanto eu me lembrava. Eu sorri. E juro que ouvi ele sussurrar um “Fuck”.
Fui até ele e o abracei, sendo recepcionada por um beijo no rosto, uma mão na cintura e a outra na nuca.
— Você está ainda mais linda do que eu me lembrava — ele disse antes de me soltar do abraço. Eu conseguia ouvir o seu sorriso.
— Você também não está de todo mal.
Andrew sorria de orelha a orelha, como se me ver ali fosse algo que ele realmente estava ansioso que acontecesse. Seus olhos tinham um brilho diferente como se estivessem marejados, mas não estavam. Ele estava tão cheiroso que a minha vontade era de abraçá-lo novamente, enfiando meu nariz em seu pescoço com força.
— Como você está, pequena Maguire?
— Estou bem, meio preocupada com as proporções que a internet cria em minha cabeça, mas estou bem — respondi, dando de ombros, ele prestava atenção em mim, lendo meus lábios e olhando em meus olhos. — E você?
— Estou bem. Esqueça essa porcaria de internet, esse lugar só tem sanguessugas e desgraça. Vamos?
— Vamos... É, acho que vou ter que aposentar minhas redes sociais — brinquei.
Fomos conversando no caminho até lá, Andrew sempre dando a entender que eu devia ignorar tudo relacionado à internet, porém informei que uma de minhas opções, caso nenhuma oportunidade de trabalho surgisse, seria a de influencer gastronômica. Ele apoiou a ideia, só pareceu preocupado com o fato de eu ter que encontrar uma psicóloga para poder manter a sanidade mental.
— Posso posar para as fotos com a mão na sua cintura?
Eu sempre adorei o fato de que Andrew tinha a capacidade de me pegar pela cintura, me prensar contra a parede me fazendo tremer na base como uma garotinha do colegial, mas sabia ser o verdadeiro cavalheiro que a gente esperava que fosse na frente dos outros.
— É claro — respondi, sorrindo.
— Não vai pegar mal para o seu namorado? — ele zombou de mim, seu sorriso maligno denunciava a brincadeira.
— Está com ciúmes, Andy? Logo você?
— É claro que estou, você é o tipo de mulher que é bem difícil de esquecer, , saber que você esteve com outro cara, seja ele quem for, acaba me deixando preocupado.
É obvio que eu não esperava aquele tipo de resposta. Mesmo assim, não senti como uma bandeira vermelha.
— Preocupado?
— De que você pudesse não querer mais sair comigo. De que estivesse apaixonada. — Pôs as duas mãos sobre o peito, suspirou alto e piscou várias vezes, fingindo ser uma pessoa apaixonada.
Soltei uma gargalhada divertida, vendo o seu sorriso meigo de boca fechada.
— Não me apaixono assim fácil não, pode ficar tranquilo — brinquei, mordendo a pontinha na língua, e vi que ele perdeu tempo demais admirando minha boca.
O carro pegou uma fila para chegar à entrada do local.
— Ok, é que eu estou meio que pirando aqui — ele disse, movendo a cabeça como se tentasse se livrar de alguns pensamentos intrusivos.
— Como assim?
O motorista andava devagar, acompanhando o fluxo de carros que estavam na nossa frente, alguns paparazzis já batiam fotos pela janela do carro, por mais escuro que fosse o vidro.
— Ah, , não vem com essa! — ele disse, sorrindo sem jeito. Passou a mão pelos cabelos macios e desceu pela nuca.
— Eu não faço ideia do que você está falando, Andrew.
— Deus — ele suplicou antes de olhar em meus olhos. — Eu estou completamente louco por você, Maguire.
— Não, você não está. — A resposta saiu tão automática da minha boca que a primeira reação que ele teve foi dar uma gostosa gargalhada.
— Tudo bem, eu já estive nesse estágio de negação. Vou deixar você refletir um pouco, o que acha?
Nessas horas, meu coração não sabia muito bem como prosseguir.
— Garfield, não gosto desse tipo de brincadeira.
— Não é uma brincadeira — ele disse, sério, antes de abrir a porta e os flashes me cegarem por um instante e estender a mão para que eu saísse.
Daisy Edgar-Jones era estonteante pessoalmente e provavelmente a mulher mais adorável que já conheci entre os famosos que tive contato. Tive um mini ataque cardíaco quando vi Sam Worthington, um crush desde Avatar. E Wyatt Russell era um grande gostoso. Todos foram muito atenciosos comigo, me incluíam na conversa e nas fotos em todos os momentos. Mesmo assim, eu tentava sempre deixar espaço para que eles tivessem seu momento sozinhos diante das câmeras, afinal eu era uma mera convidada.
— Senti falta do seu cheiro. — Em certo momento, Andrew sussurrou em meu ouvido, me fazendo sentir meu estômago gelar.
Aquilo me fez lembrar da conversa esquisita que tivemos no carro.
Andrew estar louco por mim ainda não fazia sentido em minha cabeça. Ele já havia dormido comigo, isso é o que todo homem quer, certo? Ele já provou que consegue pegar a irmã do amigo, agora pode seguir em frente. Por que ele não seguia? Eu segui!
Eu era uma mera conquista efetivada em cima de algum tipo de aposta que ele havia feito com Tom. Essa era a única razão decente que vinha em minha mente.
Ok, eu sabia que ele gostava de mim, eu já havia conversado vezes o suficiente sobre isso com meu irmão e minha psicóloga para aceitar esta verdade, mas... estar louco por mim? Isso era novidade, o que significava? Que sua sanidade estava beirando o colapso e a única pessoa que ele conseguia se relacionar era eu por ser uma pessoa confiável no ramo da indústria de Hollywood?
Eu não tinha trejeitos atrativos o suficiente para sustentar uma tese de que Andrew gostava de mim pelo que eu era e só isto. Por Deus, nós saímos juntos algumas poucas vezes! Era maluquice pensar que ele estava louco por mim depois de duas transas. Duas transas deliciosas, posso afirmar com certeza, mas aquilo não era suficiente para que eu ficasse louca por alguém, por exemplo.
Senti a mão de Andrew apertar sutilmente a minha cintura, chamando a minha atenção.
— Perdão, o quê? — perguntei, voltando à realidade.
— Você está linda! Como se sente estando aqui no meio de tanta gente famosa e talentosa?
Eu senti a alfinetada da jornalista, querendo insinuar que eu era uma intrusa.
— Obrigada! É um Bottega Veneta — respondi, simpática, lembrando-me da cortesia de sempre dizer de quem era o design que usava em ocasiões como esta. — Nossa, estou nas nuvens, isso ainda é muito surreal para mim.
— E o que está rolando entre vocês dois? E o Tom Holland? — ela perguntou.
— Somos amigos — Andrew respondeu, ligeiramente irritado. — Por que todo mundo quer saber sobre a vida pessoal da ?
— Você não tem alguma pergunta sobre a série para fazer? — Daisy apareceu de surpresa, engatou o seu braço no meu, sorrindo tão simpática que a jornalista se envergonhou.
Agradeci com os olhos, deitando minha cabeça em seu ombro, fazendo o momento ser mais fofo do que realmente foi. A jornalista mudou de assunto e eu e Andrew nos afastamos um pouco da parte onde os jornalistas estavam amontoados.
— Você está bem? — perguntou, segurando meu queixo.
— É claro — respondi, sorrindo fraco.
— Não deixa esse tipo de coisa te abalar, você não está fazendo nada de errado.
— Eu sei, Garfield. Mas confesso que gostaria que todos soubessem disso e não ficassem me perguntando como se fosse algo realmente relevante — suspirei, indignada.
— Você é relevante. Vai ter que aceitar isso mais cedo ou mais tarde. — Ele enrolou uma mechinha do meu cabelo solto nos dedos.
— Isso é ridículo — falei, feito uma criança birrenta, e Andrew sorriu, me puxando para um abraço.
— Você é única, Maguire.
A noite passou mais tranquila depois disso, Andrew me incluía nas conversas, brincava comigo durante as entrevistas e nenhum jornalista chegou a tocar no assunto de novo, fosse sobre ele ou Tom. Fomos convidados para uma festa na casa de Rory Culkin, mas Andrew educadamente recusou, me usando como desculpa, dizendo que ele deveria me levar em segurança para Tobey.
No hotel, durante a subida do elevador que levava aos nossos quartos, diferente das vezes em que estivemos sozinhos, Andrew parecia ligeiramente nervoso. Mas isso não o impediu de pôr uma das mãos em minha cintura e a outra em minha nuca e me informar algo muito importante:
— Eu vou te beijar agora.
Tremi na base, sentindo seus lábios roçarem nos meus e, em menos de um segundo, nossas bocas estavam enroscadas como alguns meses atrás. Minhas mãos ansiosas normalmente iriam para sua nuca puxar seus cabelos, porém, dessa vez me peguei abrindo os botões de sua camisa. Minhas unhas encontraram seu tronco e ouvi um grunhido contido de Andrew, quando ele puxou minha cintura mais para perto, espalmando sua mão em minha bunda. O nível de intimidade entre nós já estava estabelecido e o desespero de uma transa também, já que senti seus lábios descerem por meu queixo fazendo o desenho de minha mandíbula e parando em meu pescoço. Soltei um suspiro leve exatamente ao mesmo tempo em que o elevador apitou abrindo as portas. Separamos nossas bocas, olhando para a porta, e notamos o corredor vazio. Andrew levou as duas mãos em minha cintura e me ergueu com facilidade. Enrosquei minhas pernas em sua cintura, sorrindo, passando as mãos por sua nuca, buscando apoio.
— Será que este soft porn vai estar na internet amanhã? — perguntou, divertido.
Soltei uma gargalhada sabendo que o hotel cinco estrelas que estávamos não teria este tipo de vazamento.
— Se for para vazar, melhor dar bons motivos para isso — respondi, rindo, enquanto ele me guiava para fora do elevador, olhando para os dois lados do corredor antes de dizer:
— Não precisa pedir duas vezes. — E colou nossas bocas novamente, nossas línguas sincronizadas misturando-se com urgência.
Levamos mais de dez minutos para chegar em um percurso de trinta segundos do elevador até o quarto mais perto, no caso, o de Andrew.
Quando ele fechou a porta atrás de si, prensou-me contra ela, gemendo deliciosamente.
— Porra, . — Senti o volume roçando em minha virilha e girei os olhos nas órbitas, sorrindo maliciosamente. Empurrei sua camisa para trás, indicando que ele devia se livrar das peças de roupa, ele estava quente e cheiroso. — Você não faz ideia do tempo que eu estou sonhando em tocar a sua pele de novo.
Aquilo me deixou incrivelmente molhada.
Ergui meus braços e desabotoei o botão em meu pescoço, fazendo a parte da frente do vestido cair, o fazendo ficar preso em meu corpo apenas pelo elástico em minha cintura e a pressão que Andrew fazia em mim contra a porta.
Suas mãos foram automaticamente para meus seios e eu prendi a respiração, sentindo a sensação de estar sendo derretida sob a pele. Prendi minhas pernas com mais força em volta de sua cintura quando Andrew voltou a me beijar e agarrei sua nuca quando percebi que ele queria me guiar para outro lugar.
Atravessamos a sala e ele apoiou minhas costas em uma superfície gelada: estávamos na borda infinita de vidro da fachada do quarto, as cortinas estavam abertas e dava para ver a cidade inteira lá de cima, estávamos no vigésimo andar. Era incrível.
Soltei minhas pernas e toquei o chão, seus lábios beijavam meu pescoço e desciam em direção aos meus seios enquanto suas mãos desciam a parte de baixo do meu vestido.
— Não acredito que estou com você sem calcinha ao meu lado a noite inteira — gemeu quando desceu o vestido até meus pés.
— Você não perguntou — dei de ombros, sorrindo.
— Isso é maldade — resmungou, levando a mão para o bolso de trás da sua calça. Pegou uma camisinha dentro da carteira, pôs entre os dentes e desabotoou a calça, ficando apenas de cueca.
— Cala a boca — falei, puxando seus cabelos, trazendo sua cabeça para mais perto, segurei a camisinha em uma das mãos e colei nossas bocas novamente. Dessa vez o beijo correspondia ao que a gente já sabia que aconteceria, as bocas quase se engolindo, mordidas provocativas, línguas se enroscando. Agora não havia nada que fosse nos impedir como das outras vezes, tínhamos tempo, tínhamos sintonia e tesão reprimido.
Andrew deslizou uma das mãos por entre minhas pernas, fazendo-me gemer alto, e percebi os pelinhos do seu braço se arrepiarem.
Me penetrou com um dedo, fazendo-me romper o beijo para gemer com mais vontade.
— Merda — escapou por meus lábios e o vi sorrir, estocou o dedo mais duas vezes antes de eu abrir o pacote de camisinha e balançar na frente do seu rosto para que ele entendesse que era a hora.
Retirou a cueca, pôs a camisinha, me ergueu pela cintura, me prensou contra o vidro, senti seu membro escorregar com facilidade para dentro de mim e um gemido de prazer rasgou minha garganta, ao mesmo tempo que ele soltou uma lufada de ar em êxtase. Respiramos olhando um nos olhos do outro, as testas molhadas coladas enquanto Andrew iniciou as estocadas que faziam seu pau entrar e sair de mim por completo, fazendo meu corpo pulsar de tesão e meus dedos do pé se contorcerem.
Suas mãos apertavam minha cintura com força, buscando o equilíbrio dos seus movimentos ali, minhas mãos arranhavam suas costas de acordo com os gemidos que eu dava, eu alternava entre morder seu ombro, beijar sua boca e lamber seu pescoço.
O vidro em minhas costas começava a escorregar quando comecei a sentir aquele calor que sempre vinha da ponta dos meus pés e vinha subindo com lentidão. As estocadas dele alternavam entre rápida e devagar, profundas e só até a metade, as vezes ele tirava-o de dentro e pincelava minha intimidade, fazendo-me ver estrelas. Quando senti esse calor subindo, apenas o informei:
— Continua assim, Andy, eu vou... — Não precisei terminar a frase, ele entendeu o recado e iniciou as estocadas profundas e lentas que me faziam gemer sem escrúpulos. Eu amava as suas estocadas fortes e lentas. — Caralho — xinguei em português, sem forças para pensar em nada quando o ápice me atingiu em cheio, fazendo minhas pernas tremerem em torno da sua cintura e notei que Andrew gozou junto, provavelmente incentivado pelas minhas contrações internas involuntárias.
Respiramos exaustos durante alguns minutos sem dizer nada, sua cabeça repousava baixa em meu ombro e meus braços moles estavam largados em seus ombros.
— Quer... tomar um banho? — perguntou ele, a voz rouca fez meus pelinhos se arrepiarem.
Eu concordei, sorrindo, e ele sorriu junto.
No dia seguinte, acordei antes de Andrew, corri para o banheiro para me higienizar, respondi uma mensagem de Tobey, dizendo que tudo estava bem, e voltei para a cama.
Andrew estava acordado.
— Hey. — Seu rosto estava amassado e os cabelos bagunçados. Adorável.
— Hey, dormiu bem? — perguntei, enfiando-me embaixo das cobertas.
— Demais. — Ele escapou da cama rapidinho e fez sua higiene pessoal, voltando para a cama em menos de dois minutos. Enfiou-se embaixo das cobertas e me puxou para perto pela cintura.
— Eu posso me acostumar com isso — disse com a voz abafada contra o meu pescoço.
— Isso o quê? — perguntei, me fazendo de boba, levando minhas mãos até seus cabelos macios.
— Acordar ao seu lado.
— Deus do céu, o que você fez com o antigo Andrew? — perguntei, rindo, e ele riu também.
— O que você fez com ele. — Ele afastou o rosto do meu pescoço e selou nossos lábios por um segundo.
Sua mão acariciava a lateral do meu corpo, das coxas até a altura das minhas costelas, ele pigarreou.
— Olha, , acho que eu preciso falar com você. — A atmosfera pesou um pouco e ele ficou visivelmente nervoso, virando-se de barriga para cima, analisando o teto.
Mantive minha posição, o olhando com curiosidade.
— Claro.
— Eu sei que isso vai soar meio assustador e completamente inconveniente, talvez até mesmo meio bobo, mas eu sinto que preciso te falar isso.
— Andrew, você está me assustando.
— Eu sei, desculpa — ele suspirou alto, ainda encarando o teto. — , eu nem sei exatamente como começar a falar isso, mas... desde que você entrou na minha vida, alguma coisa mudou... Não sei dizer o quê exatamente, eu só sinto que não era assim antes de te conhecer.
Ele suspirou alto, espiou minha expressão por um segundo e continuou:
— Fazia muito tempo que eu não me sentia assim, vivo, contando os dias para saber quando você voltaria e sentindo um aperto no coração quando via aquelas fotos suas com o Tom no Brasil... Seja o que fosse, eu tive alguma conexão contigo que não consigo explicar, eu só sei que continuo sentindo isso.
Senti meu estômago revirar de ansiedade enquanto ele fazia o seu discurso, minha boca secou e meu coração disparou. E ele continuou:
— Pensei que, quando você voltasse, talvez tudo aquilo que eu sentia na sua ausência fosse apenas algum tipo de ansiedade boba de saber se você voltaria ou não, mas que, quando eu visse você aqui de novo, tudo voltaria ao normal, do tipo “ok, agora que ela está aqui, vai ficar tudo bem”. Mas isso não aconteceu, eu precisava te ver, te sentir, saber que você estava aqui comigo.
Ele suspirou alto, eu podia sentir o seu nervosismo. Era palpável.
Andrew estava... se declarando para mim? A cena parecia um cenário de um sonho muito distante, algo que eu não acreditaria, se não estivesse vivenciando.
— O que eu estou querendo dizer é que... Eu acho que estou apaixonado por você, . Quando eu estou com você, quando eu sei que você está aqui comigo, as coisas mudam. A ansiedade vai embora e eu consigo respirar com tranquilidade.
— Andy... — Era óbvio que eu não sabia o que dizer. Meu coração estava tão disparado que pulsava alto em meu ouvido.
— Não, não... Deixa eu terminar para não perder a coragem — ele disse, rindo, nervoso, ainda encarando o teto. — Foi algo que me arrebatou de primeira, no momento que eu te vi lá na première do Homem-Aranha com aquele vestido vermelho e azul, nossa, a sua pele brilhava, o seu sorriso me desmontou e o beijo daquela noite... Deus, eu não consegui dormir, virei a noite pensando em você. E então eu percebi a sua insistência em pensar que eu era demais para você... — Ele virou-se de frente para mim, olhando em meus olhos. Uma mão em minha nuca. — , entenda de uma vez por todas: você é demais para mim. Você é inteligente, talentosa e engraçada, tem uma humildade acima da média e o seu apreço pela sua família só me faz gostar ainda mais de você. E, porra, você é linda, seu corpo é de outro mundo, os seus olhos... Fuck, eu acho que nunca vi nada igual.
Senti minhas bochechas queimarem.
Merda, merda, merda.
As paredes altas que custei tanto a construir estavam querendo se deteriorar.
— Eu pensei que podia te tirar da cabeça quando finalmente transamos, que talvez fosse alguma loucura da minha mente perturbada, algum tipo de aposta subconsciente que eu havia feito comigo mesmo, e que, quando acontecesse, minha mente voltaria ao normal. Não aconteceu, na verdade só piorou. Fiz sexo com outras mulheres e não teve o mesmo efeito entorpecente que houve quando eu estava com você... E agora eu estou aqui, olhando na porra desses olhos incríveis, depois de uma noite incrível com a única mulher incrível que eu quero estar no momento. Você entende o que eu estou querendo dizer? — suspirou de olhos fechados e voltou a abri-los. — Eu quero você, , e só você.
Ele finalizou puxando um lençol sobre o rosto e gemeu alto como se quisesse tirar algo de dentro de si, me fazendo rir, nervosa.
Ok.
Primeiro eu precisava me lembrar de como se respirava.
Um, dois. Um, dois. Cheira a flor e sopra a vela. Cheira a flor e sopra a vela.
— Andrew, eu... Eu não sei o que dizer. Eu realmente não estava preparada para isso.
— Eu sei, eu não queria falar isso tão cedo — ele respondeu com a voz abafada debaixo do lençol. — Eu juro que não tinha planejado nada disso, eu só acordei ao seu lado agora e percebi que tinha que te falar. Mas você não me deve uma resposta, não é justo com você.
— Eu só preciso de um segundo para organizar meus pensamentos — falei, nervosa.
— Você tem todo o tempo do mundo.
Me levantei e ouvi um suspiro longo dele, então lembrei que eu ainda estava nua. Só não sabia dizer se o suspiro foi pelo fato de eu não saber o que dizer ou pelo fato dele me ver nua.
Encarei meu reflexo no espelho do banheiro com um sorriso desacreditado no rosto.
Tudo pelo que eu havia teimado com Tobey caiu por terra, eu era sim o motivo do colapso de Andrew e não estava preparada para isso.
O que ele queria? Um relacionamento? Ou apenas esclarecer as coisas? Não havíamos conversado sobre absolutamente nada disso, apenas conversei sobre relacionamentos com Tom.
Suspirei, passando as mãos pelo cabelo, surtando um pouco, meu coração a mil por hora.
Ouvi uma batida na porta.
— , vou descer para tomar um café, está bem? — A voz de Andrew surgiu, abafada pela porta.
— Tudo bem, já estou indo também.
Fritei minha mente mais um pouco.
Ok, , você está apaixonada pelo Andrew?
Você tem algum sentimento que corresponda minimamente às expectativas do que ele havia acabado de te admitir?
Você se vê em um relacionamento com ele?
Você está preparada para um relacionamento?
Você não estava para o Tom, porque estaria para o Andrew?
Você teve muito mais tempo e momentos com Tom e mesmo assim não viu faísca alguma.
Havia faísca com Andrew? Ou apenas um sentimento de comodidade sexual?
Passei pelo lobby e segui para o restaurante. Andrew estava sentado em uma mesa para dois, bebendo algo que parecia ser café. Usava uma blusa branca lisa, uma calça jeans básica e chinelos de dedo.
— Hey — falei, sentando-me de frente para ele.
— Hey — ele sorriu, eu sorri.
— Andy, eu... — iniciei, mas fui interrompida por um garçom. — Um mocca, por favor.
Ele assentiu e saiu.
— Primeiro eu queria entender o que você quis dizer com tudo aquilo — fui direto ao ponto.
Ele enfiou uma garfada de panquecas na boca e uniu as sobrancelhas.
— Como assim?
— É... Você tem algum tipo de interesse em ter um relacionamento? Ou só quis me manter informada do que está havendo nessa sua cabecinha?
— Como eu te disse, não foi algo do qual eu me planejei para falar. Eu só... precisava tirar aquilo de dentro de mim.
O garçom trouxe meu pedido e eu beberiquei.
— É que eu não sou do tipo que se apaixona fácil, Andy, e eu não quero te magoar de maneira alguma, mas... não está no topo da minha lista namorar alguém, e, se acontecer de eu me apaixonar, é bastante provável que eu finja que não aconteceu — fui sincera. Andrew me observava com seus olhos castanhos brilhantes. — Nunca passou pela minha cabeça encontrar alguém aqui quando aceitei o convite de Tobey. Eu só queria me aproximar do meu irmão, sabe?
Ele concordou com a cabeça, era nítido em suas feições que ele não gostava do caminho que o meu monólogo estava indo.
— Bom, se apaixonar faz parte do processo. Você pode ter certeza também de que eu não estava com essa intenção quando me aproximei de você.
— Eu sei disso, eu tenho esse problema, me desculpa.
— Do que você está falando?
— Eu não sou boa com sentimentos, Andrew, eu sou a porra de uma pedra emocional, minha psicóloga sempre me diz que eu tenho que aprender a confiar nos outros, que meus traumas não vão se repetir, e ela inclusive ficou muito feliz de saber que eu estava confiando em Tobey... mas, quando se trata de relacionamentos, eu me fecho.
Ele me olhava com atenção, as sobrancelhas erguidas em tom de surpresa, a xícara de café parada em frente a boca suspensa pelas duas mãos, como se o que eu estivesse dizendo fosse mais importante do que bebê-lo.
— Não me entenda mal, eu sinto as coisas, eu fico feliz quando estou com você, eu gosto da sua companhia, eu...
— Oh, merda... — ele fechou os olhos, soltando o café. — Você vai me dispensar, não vai?
— Eu não sei o que fazer, Garfield, você jogou uma bomba em meu colo e eu não sei desarmá-la — expliquei, ligeiramente alterada.
— Ok, você está certa. Eu não tinha o direito de falar aquelas coisas para você.
— Não é isso, você tem todo o direito de me falar o que bem entender, você foi honesto comigo e eu estou tentando ser honesta com você também, então aqui vai: eu não estou pronta para um relacionamento, meu psicológico ainda não está pronto para algo sério, porque meu último relacionamento sério foi um lixo tóxico, e, assim como qualquer lixo tóxico, mesmo depois de anos, ainda dá para sentir a radiação.
Andrew ficou sem respostas.
— Eu gosto muito de você, de verdade mesmo. Mas eu juro que nunca fiz algo de propósito para que você se apaixonasse por mim, Andy.
— Eu sei disso, e acho que é um dos motivos de ter acontecido. Você nunca teve ideia do poder que tem sobre mim, é algo surreal. — Andrew mexeu nos cabelos, ele estava nervoso a ponto de não saber o que fazer com as mãos.
— Me desculpa, Andrew, me desculpa por não conseguir corresponder seus sentimentos à altura. — Levei minha mão até a dele sobre a mesa e apertei.
— Está tudo bem, , você não tem nenhuma obrigação de corresponder aos meus sentimentos... por favor, não fique se sentindo pressionada, mas não me arrependo de ter dito. — Ele correspondeu meu aperto, colocando sua outra mão sobre a minha. — Eu precisava tirar isso de dentro de mim.
— Fico feliz que tenha tirado e vou soar meio babaca agora — falei, dando um sorrisinho amarelo. — Mas eu gostaria que continuássemos amigos, eu realmente gosto muito da sua companhia.
— Isso depende.
— Do quê?
— Seremos o tipo de amigos com benefícios?
Soltei uma risada alta que chamou a atenção de algumas pessoas ao nosso redor.
— Não? — ele insistiu, com seu sorriso torto e as sobrancelhas arqueadas.
— Você é impossível.
— Está bem, então, quem sabe, podemos voltar para o quarto e resolvermos isso?
Dei mais uma risada alta, dando um tapa em seu braço.
— Qual é, . Agora que eu sei que não posso te ter, as coisas ficam mais difíceis ainda!
— Andrew, fala baixo! — Eu não conseguia parar de rir, minhas bochechas queimando.
— Não consigo, estou nervoso demais! — ele admitiu, rindo comigo.
— Você não presta.
— Não, eu nunca prestei e você sabia disso. — Seu maldito sorriso bonito me fez derreter de novo. Peguei-o pela mão e voltamos para o quarto.
Eu tinha certeza de que ele prestava sim. Andrew exalava o ar de potencial de namorado, porém eu ainda não podia senti-lo.
— Você está de volta! — Carlos me abraçou com vontade quando nos encontramos em meu quarto de hotel em Malibu.
— Estou sim, e dessa vez é para valer! — retribuí o abraço.
— Você está linda — Gen disse, sorrindo, sincera, quando me abraçou também. — Está bronzeada!
— Obrigada, você também está linda, está radiante, diferente... — falei, indicando suas mechas de cores diferentes da última vez que a vi.
— É o amor... — Carlos fofocou e levou um tapinha no ombro da colega.
— Lembra do DJ da sua festa? — Gen perguntou, envergonhada. — Estamos juntos até hoje!
Comemorei com eles e colocamos as fofocas em dia enquanto eles me aprontavam, Carlos puxando meu cabelo de um lado para o outro e Gen pincelando o meu rosto.
— Prontinho, gata — Gen disse, indicando que eu podia levantar a cabeça do encosto da cadeira.
Me olhei por inteiro no espelho grande que havia na minha suíte e meus olhos marejaram, Carlos e Gen tinham o dom de me fazer parecer a porra de uma deusa. Meus cabelos estavam presos em um “coque banana” despojado e cheio de fios propositadamente soltos e meticulosamente enroladinhos em cachos perfeitos que combinavam com as ondas naturais do meu cabelo ondulado. Meu rosto estava pintado para que eu parecesse uma atriz muito bem paga e poderosa, meus olhos estavam “leves” com tons de marrom claro e creme com um delineado que me deixava com o olhar de uma felina perigosa, na boca eu tinha um tom de vermelho escuro tão bonito que parecia veludo.
Meu vestido era da cor de meus lábios, liso simples, de caimento fluido, preso em meu pescoço por dois botões deixando meus ombros e minhas costas de fora.
— Você está linda.
— Está pronta para o comeback com o Andrew. Ele vai ficar mais de quatro ainda por você — Carlos brincou.
— Como se isso fosse possível — Gen adicionou, fazendo nós três cairmos em risada.
Nos despedimos e pedi para que marcássemos algum rolê juntos. Fiz questão de ensinar a palavra em português e eles ficaram empolgados, principalmente na parte em que eu disse que ia contar em detalhes como seria a noite.
A última vez que eu tinha visto Andrew fora na casa de Tobey há alguns bons meses, onde ele me pediu para ficar em Los Angeles, pois tinha a sensação de que “me perderia” caso eu voltasse ao Brasil, como se ele previsse que eu teria uma chance com outra pessoa lá.
E eu tive, ele não estava errado.
De qualquer maneira, combinamos de nos encontrar no hall do hotel às 17 horas em ponto. Não tive como vê-lo antes, pois o motorista que Tobey havia contratado para me levar não tinha horários diurnos, então tive que fazer a “viagem” de algumas horas durante a madrugada (Arthur era um senhor muito simpático). E Tobey não confiava em Uber para viagens longas.
Quando deu 16h55, desci o elevador com uma mulher muito elegante e uma garotinha que ficou me encarando de boca aberta. Dei um tchauzinho a ela, que sorriu para mim, e fiquei mexendo despretensiosamente no celular enquanto Andrew não descia.
As pessoas viviam diariamente me marcando em publicações relacionadas ao Tom e Andrew, fã clubes lotavam minha caixa de mensagens com perguntas absurdas e sites de fofoca sempre tinham algo para falar sobre mim, mesmo que eu fosse uma pseudo-celebridade. Já existia uma página no Instagram dedicada a mim, postando fotos antigas do meu facebook e revivendo tweets. Por sorte, sempre fui uma pessoa pouco ativa nas redes sociais, mas aquilo estava começando a me incomodar um pouco e agora eu entendia o motivo de tanto Tob, quanto Andy, não terem redes sociais.
É um lugar desprezível de se estar: falavam de minhas celulites e estrias, do meu cabelo e da cor dos meus olhos, duvidavam da minha legitimidade como irmã de Tobey e falavam do meu suposto namoro com Tom. Falavam da vida da minha mãe, do Brasil e até do meu gato. Me chamavam de gorda, de mal cuidada, de desempregada, oportunista e vagabunda.
É… é compreensível que tantas pessoas causem tantos danos a si mesmas depois de algum problema na internet. Os gatilhos são muitos.
Mesmo assim, eu me mantinha firme, mantendo o pouco conteúdo que sempre tive e tentando não dar bola aos comentários, afinal não havia absolutamente nenhum motivo plausível para me cancelarem. E com comentários sobre o meu corpo eu sabia lidar: mulheres sempre foram alvos fáceis de comentários, se Zendaya, Rihanna, Anitta, Scarlett Johansson e até a gostosíssima Paola Oliveira (a lista é interminável) eram constantemente insultadas pelo corpo delas, mesmo sendo mulheres absolutamente incríveis, quem era eu na fila do pão, certo?
— Puta merda, ... — Andrew estava no pé da escada, usava um terno creme com uma camisa off-white com a gola aberta, tão lindo quanto eu me lembrava. Eu sorri. E juro que ouvi ele sussurrar um “Fuck”.
Fui até ele e o abracei, sendo recepcionada por um beijo no rosto, uma mão na cintura e a outra na nuca.
— Você está ainda mais linda do que eu me lembrava — ele disse antes de me soltar do abraço. Eu conseguia ouvir o seu sorriso.
— Você também não está de todo mal.
Andrew sorria de orelha a orelha, como se me ver ali fosse algo que ele realmente estava ansioso que acontecesse. Seus olhos tinham um brilho diferente como se estivessem marejados, mas não estavam. Ele estava tão cheiroso que a minha vontade era de abraçá-lo novamente, enfiando meu nariz em seu pescoço com força.
— Como você está, pequena Maguire?
— Estou bem, meio preocupada com as proporções que a internet cria em minha cabeça, mas estou bem — respondi, dando de ombros, ele prestava atenção em mim, lendo meus lábios e olhando em meus olhos. — E você?
— Estou bem. Esqueça essa porcaria de internet, esse lugar só tem sanguessugas e desgraça. Vamos?
— Vamos... É, acho que vou ter que aposentar minhas redes sociais — brinquei.
Fomos conversando no caminho até lá, Andrew sempre dando a entender que eu devia ignorar tudo relacionado à internet, porém informei que uma de minhas opções, caso nenhuma oportunidade de trabalho surgisse, seria a de influencer gastronômica. Ele apoiou a ideia, só pareceu preocupado com o fato de eu ter que encontrar uma psicóloga para poder manter a sanidade mental.
— Posso posar para as fotos com a mão na sua cintura?
Eu sempre adorei o fato de que Andrew tinha a capacidade de me pegar pela cintura, me prensar contra a parede me fazendo tremer na base como uma garotinha do colegial, mas sabia ser o verdadeiro cavalheiro que a gente esperava que fosse na frente dos outros.
— É claro — respondi, sorrindo.
— Não vai pegar mal para o seu namorado? — ele zombou de mim, seu sorriso maligno denunciava a brincadeira.
— Está com ciúmes, Andy? Logo você?
— É claro que estou, você é o tipo de mulher que é bem difícil de esquecer, , saber que você esteve com outro cara, seja ele quem for, acaba me deixando preocupado.
É obvio que eu não esperava aquele tipo de resposta. Mesmo assim, não senti como uma bandeira vermelha.
— Preocupado?
— De que você pudesse não querer mais sair comigo. De que estivesse apaixonada. — Pôs as duas mãos sobre o peito, suspirou alto e piscou várias vezes, fingindo ser uma pessoa apaixonada.
Soltei uma gargalhada divertida, vendo o seu sorriso meigo de boca fechada.
— Não me apaixono assim fácil não, pode ficar tranquilo — brinquei, mordendo a pontinha na língua, e vi que ele perdeu tempo demais admirando minha boca.
O carro pegou uma fila para chegar à entrada do local.
— Ok, é que eu estou meio que pirando aqui — ele disse, movendo a cabeça como se tentasse se livrar de alguns pensamentos intrusivos.
— Como assim?
O motorista andava devagar, acompanhando o fluxo de carros que estavam na nossa frente, alguns paparazzis já batiam fotos pela janela do carro, por mais escuro que fosse o vidro.
— Ah, , não vem com essa! — ele disse, sorrindo sem jeito. Passou a mão pelos cabelos macios e desceu pela nuca.
— Eu não faço ideia do que você está falando, Andrew.
— Deus — ele suplicou antes de olhar em meus olhos. — Eu estou completamente louco por você, Maguire.
— Não, você não está. — A resposta saiu tão automática da minha boca que a primeira reação que ele teve foi dar uma gostosa gargalhada.
— Tudo bem, eu já estive nesse estágio de negação. Vou deixar você refletir um pouco, o que acha?
Nessas horas, meu coração não sabia muito bem como prosseguir.
— Garfield, não gosto desse tipo de brincadeira.
— Não é uma brincadeira — ele disse, sério, antes de abrir a porta e os flashes me cegarem por um instante e estender a mão para que eu saísse.
Daisy Edgar-Jones era estonteante pessoalmente e provavelmente a mulher mais adorável que já conheci entre os famosos que tive contato. Tive um mini ataque cardíaco quando vi Sam Worthington, um crush desde Avatar. E Wyatt Russell era um grande gostoso. Todos foram muito atenciosos comigo, me incluíam na conversa e nas fotos em todos os momentos. Mesmo assim, eu tentava sempre deixar espaço para que eles tivessem seu momento sozinhos diante das câmeras, afinal eu era uma mera convidada.
— Senti falta do seu cheiro. — Em certo momento, Andrew sussurrou em meu ouvido, me fazendo sentir meu estômago gelar.
Aquilo me fez lembrar da conversa esquisita que tivemos no carro.
Andrew estar louco por mim ainda não fazia sentido em minha cabeça. Ele já havia dormido comigo, isso é o que todo homem quer, certo? Ele já provou que consegue pegar a irmã do amigo, agora pode seguir em frente. Por que ele não seguia? Eu segui!
Eu era uma mera conquista efetivada em cima de algum tipo de aposta que ele havia feito com Tom. Essa era a única razão decente que vinha em minha mente.
Ok, eu sabia que ele gostava de mim, eu já havia conversado vezes o suficiente sobre isso com meu irmão e minha psicóloga para aceitar esta verdade, mas... estar louco por mim? Isso era novidade, o que significava? Que sua sanidade estava beirando o colapso e a única pessoa que ele conseguia se relacionar era eu por ser uma pessoa confiável no ramo da indústria de Hollywood?
Eu não tinha trejeitos atrativos o suficiente para sustentar uma tese de que Andrew gostava de mim pelo que eu era e só isto. Por Deus, nós saímos juntos algumas poucas vezes! Era maluquice pensar que ele estava louco por mim depois de duas transas. Duas transas deliciosas, posso afirmar com certeza, mas aquilo não era suficiente para que eu ficasse louca por alguém, por exemplo.
Senti a mão de Andrew apertar sutilmente a minha cintura, chamando a minha atenção.
— Perdão, o quê? — perguntei, voltando à realidade.
— Você está linda! Como se sente estando aqui no meio de tanta gente famosa e talentosa?
Eu senti a alfinetada da jornalista, querendo insinuar que eu era uma intrusa.
— Obrigada! É um Bottega Veneta — respondi, simpática, lembrando-me da cortesia de sempre dizer de quem era o design que usava em ocasiões como esta. — Nossa, estou nas nuvens, isso ainda é muito surreal para mim.
— E o que está rolando entre vocês dois? E o Tom Holland? — ela perguntou.
— Somos amigos — Andrew respondeu, ligeiramente irritado. — Por que todo mundo quer saber sobre a vida pessoal da ?
— Você não tem alguma pergunta sobre a série para fazer? — Daisy apareceu de surpresa, engatou o seu braço no meu, sorrindo tão simpática que a jornalista se envergonhou.
Agradeci com os olhos, deitando minha cabeça em seu ombro, fazendo o momento ser mais fofo do que realmente foi. A jornalista mudou de assunto e eu e Andrew nos afastamos um pouco da parte onde os jornalistas estavam amontoados.
— Você está bem? — perguntou, segurando meu queixo.
— É claro — respondi, sorrindo fraco.
— Não deixa esse tipo de coisa te abalar, você não está fazendo nada de errado.
— Eu sei, Garfield. Mas confesso que gostaria que todos soubessem disso e não ficassem me perguntando como se fosse algo realmente relevante — suspirei, indignada.
— Você é relevante. Vai ter que aceitar isso mais cedo ou mais tarde. — Ele enrolou uma mechinha do meu cabelo solto nos dedos.
— Isso é ridículo — falei, feito uma criança birrenta, e Andrew sorriu, me puxando para um abraço.
— Você é única, Maguire.
A noite passou mais tranquila depois disso, Andrew me incluía nas conversas, brincava comigo durante as entrevistas e nenhum jornalista chegou a tocar no assunto de novo, fosse sobre ele ou Tom. Fomos convidados para uma festa na casa de Rory Culkin, mas Andrew educadamente recusou, me usando como desculpa, dizendo que ele deveria me levar em segurança para Tobey.
No hotel, durante a subida do elevador que levava aos nossos quartos, diferente das vezes em que estivemos sozinhos, Andrew parecia ligeiramente nervoso. Mas isso não o impediu de pôr uma das mãos em minha cintura e a outra em minha nuca e me informar algo muito importante:
— Eu vou te beijar agora.
Tremi na base, sentindo seus lábios roçarem nos meus e, em menos de um segundo, nossas bocas estavam enroscadas como alguns meses atrás. Minhas mãos ansiosas normalmente iriam para sua nuca puxar seus cabelos, porém, dessa vez me peguei abrindo os botões de sua camisa. Minhas unhas encontraram seu tronco e ouvi um grunhido contido de Andrew, quando ele puxou minha cintura mais para perto, espalmando sua mão em minha bunda. O nível de intimidade entre nós já estava estabelecido e o desespero de uma transa também, já que senti seus lábios descerem por meu queixo fazendo o desenho de minha mandíbula e parando em meu pescoço. Soltei um suspiro leve exatamente ao mesmo tempo em que o elevador apitou abrindo as portas. Separamos nossas bocas, olhando para a porta, e notamos o corredor vazio. Andrew levou as duas mãos em minha cintura e me ergueu com facilidade. Enrosquei minhas pernas em sua cintura, sorrindo, passando as mãos por sua nuca, buscando apoio.
— Será que este soft porn vai estar na internet amanhã? — perguntou, divertido.
Soltei uma gargalhada sabendo que o hotel cinco estrelas que estávamos não teria este tipo de vazamento.
— Se for para vazar, melhor dar bons motivos para isso — respondi, rindo, enquanto ele me guiava para fora do elevador, olhando para os dois lados do corredor antes de dizer:
— Não precisa pedir duas vezes. — E colou nossas bocas novamente, nossas línguas sincronizadas misturando-se com urgência.
Levamos mais de dez minutos para chegar em um percurso de trinta segundos do elevador até o quarto mais perto, no caso, o de Andrew.
Quando ele fechou a porta atrás de si, prensou-me contra ela, gemendo deliciosamente.
— Porra, . — Senti o volume roçando em minha virilha e girei os olhos nas órbitas, sorrindo maliciosamente. Empurrei sua camisa para trás, indicando que ele devia se livrar das peças de roupa, ele estava quente e cheiroso. — Você não faz ideia do tempo que eu estou sonhando em tocar a sua pele de novo.
Aquilo me deixou incrivelmente molhada.
Ergui meus braços e desabotoei o botão em meu pescoço, fazendo a parte da frente do vestido cair, o fazendo ficar preso em meu corpo apenas pelo elástico em minha cintura e a pressão que Andrew fazia em mim contra a porta.
Suas mãos foram automaticamente para meus seios e eu prendi a respiração, sentindo a sensação de estar sendo derretida sob a pele. Prendi minhas pernas com mais força em volta de sua cintura quando Andrew voltou a me beijar e agarrei sua nuca quando percebi que ele queria me guiar para outro lugar.
Atravessamos a sala e ele apoiou minhas costas em uma superfície gelada: estávamos na borda infinita de vidro da fachada do quarto, as cortinas estavam abertas e dava para ver a cidade inteira lá de cima, estávamos no vigésimo andar. Era incrível.
Soltei minhas pernas e toquei o chão, seus lábios beijavam meu pescoço e desciam em direção aos meus seios enquanto suas mãos desciam a parte de baixo do meu vestido.
— Não acredito que estou com você sem calcinha ao meu lado a noite inteira — gemeu quando desceu o vestido até meus pés.
— Você não perguntou — dei de ombros, sorrindo.
— Isso é maldade — resmungou, levando a mão para o bolso de trás da sua calça. Pegou uma camisinha dentro da carteira, pôs entre os dentes e desabotoou a calça, ficando apenas de cueca.
— Cala a boca — falei, puxando seus cabelos, trazendo sua cabeça para mais perto, segurei a camisinha em uma das mãos e colei nossas bocas novamente. Dessa vez o beijo correspondia ao que a gente já sabia que aconteceria, as bocas quase se engolindo, mordidas provocativas, línguas se enroscando. Agora não havia nada que fosse nos impedir como das outras vezes, tínhamos tempo, tínhamos sintonia e tesão reprimido.
Andrew deslizou uma das mãos por entre minhas pernas, fazendo-me gemer alto, e percebi os pelinhos do seu braço se arrepiarem.
Me penetrou com um dedo, fazendo-me romper o beijo para gemer com mais vontade.
— Merda — escapou por meus lábios e o vi sorrir, estocou o dedo mais duas vezes antes de eu abrir o pacote de camisinha e balançar na frente do seu rosto para que ele entendesse que era a hora.
Retirou a cueca, pôs a camisinha, me ergueu pela cintura, me prensou contra o vidro, senti seu membro escorregar com facilidade para dentro de mim e um gemido de prazer rasgou minha garganta, ao mesmo tempo que ele soltou uma lufada de ar em êxtase. Respiramos olhando um nos olhos do outro, as testas molhadas coladas enquanto Andrew iniciou as estocadas que faziam seu pau entrar e sair de mim por completo, fazendo meu corpo pulsar de tesão e meus dedos do pé se contorcerem.
Suas mãos apertavam minha cintura com força, buscando o equilíbrio dos seus movimentos ali, minhas mãos arranhavam suas costas de acordo com os gemidos que eu dava, eu alternava entre morder seu ombro, beijar sua boca e lamber seu pescoço.
O vidro em minhas costas começava a escorregar quando comecei a sentir aquele calor que sempre vinha da ponta dos meus pés e vinha subindo com lentidão. As estocadas dele alternavam entre rápida e devagar, profundas e só até a metade, as vezes ele tirava-o de dentro e pincelava minha intimidade, fazendo-me ver estrelas. Quando senti esse calor subindo, apenas o informei:
— Continua assim, Andy, eu vou... — Não precisei terminar a frase, ele entendeu o recado e iniciou as estocadas profundas e lentas que me faziam gemer sem escrúpulos. Eu amava as suas estocadas fortes e lentas. — Caralho — xinguei em português, sem forças para pensar em nada quando o ápice me atingiu em cheio, fazendo minhas pernas tremerem em torno da sua cintura e notei que Andrew gozou junto, provavelmente incentivado pelas minhas contrações internas involuntárias.
Respiramos exaustos durante alguns minutos sem dizer nada, sua cabeça repousava baixa em meu ombro e meus braços moles estavam largados em seus ombros.
— Quer... tomar um banho? — perguntou ele, a voz rouca fez meus pelinhos se arrepiarem.
Eu concordei, sorrindo, e ele sorriu junto.
No dia seguinte, acordei antes de Andrew, corri para o banheiro para me higienizar, respondi uma mensagem de Tobey, dizendo que tudo estava bem, e voltei para a cama.
Andrew estava acordado.
— Hey. — Seu rosto estava amassado e os cabelos bagunçados. Adorável.
— Hey, dormiu bem? — perguntei, enfiando-me embaixo das cobertas.
— Demais. — Ele escapou da cama rapidinho e fez sua higiene pessoal, voltando para a cama em menos de dois minutos. Enfiou-se embaixo das cobertas e me puxou para perto pela cintura.
— Eu posso me acostumar com isso — disse com a voz abafada contra o meu pescoço.
— Isso o quê? — perguntei, me fazendo de boba, levando minhas mãos até seus cabelos macios.
— Acordar ao seu lado.
— Deus do céu, o que você fez com o antigo Andrew? — perguntei, rindo, e ele riu também.
— O que você fez com ele. — Ele afastou o rosto do meu pescoço e selou nossos lábios por um segundo.
Sua mão acariciava a lateral do meu corpo, das coxas até a altura das minhas costelas, ele pigarreou.
— Olha, , acho que eu preciso falar com você. — A atmosfera pesou um pouco e ele ficou visivelmente nervoso, virando-se de barriga para cima, analisando o teto.
Mantive minha posição, o olhando com curiosidade.
— Claro.
— Eu sei que isso vai soar meio assustador e completamente inconveniente, talvez até mesmo meio bobo, mas eu sinto que preciso te falar isso.
— Andrew, você está me assustando.
— Eu sei, desculpa — ele suspirou alto, ainda encarando o teto. — , eu nem sei exatamente como começar a falar isso, mas... desde que você entrou na minha vida, alguma coisa mudou... Não sei dizer o quê exatamente, eu só sinto que não era assim antes de te conhecer.
Ele suspirou alto, espiou minha expressão por um segundo e continuou:
— Fazia muito tempo que eu não me sentia assim, vivo, contando os dias para saber quando você voltaria e sentindo um aperto no coração quando via aquelas fotos suas com o Tom no Brasil... Seja o que fosse, eu tive alguma conexão contigo que não consigo explicar, eu só sei que continuo sentindo isso.
Senti meu estômago revirar de ansiedade enquanto ele fazia o seu discurso, minha boca secou e meu coração disparou. E ele continuou:
— Pensei que, quando você voltasse, talvez tudo aquilo que eu sentia na sua ausência fosse apenas algum tipo de ansiedade boba de saber se você voltaria ou não, mas que, quando eu visse você aqui de novo, tudo voltaria ao normal, do tipo “ok, agora que ela está aqui, vai ficar tudo bem”. Mas isso não aconteceu, eu precisava te ver, te sentir, saber que você estava aqui comigo.
Ele suspirou alto, eu podia sentir o seu nervosismo. Era palpável.
Andrew estava... se declarando para mim? A cena parecia um cenário de um sonho muito distante, algo que eu não acreditaria, se não estivesse vivenciando.
— O que eu estou querendo dizer é que... Eu acho que estou apaixonado por você, . Quando eu estou com você, quando eu sei que você está aqui comigo, as coisas mudam. A ansiedade vai embora e eu consigo respirar com tranquilidade.
— Andy... — Era óbvio que eu não sabia o que dizer. Meu coração estava tão disparado que pulsava alto em meu ouvido.
— Não, não... Deixa eu terminar para não perder a coragem — ele disse, rindo, nervoso, ainda encarando o teto. — Foi algo que me arrebatou de primeira, no momento que eu te vi lá na première do Homem-Aranha com aquele vestido vermelho e azul, nossa, a sua pele brilhava, o seu sorriso me desmontou e o beijo daquela noite... Deus, eu não consegui dormir, virei a noite pensando em você. E então eu percebi a sua insistência em pensar que eu era demais para você... — Ele virou-se de frente para mim, olhando em meus olhos. Uma mão em minha nuca. — , entenda de uma vez por todas: você é demais para mim. Você é inteligente, talentosa e engraçada, tem uma humildade acima da média e o seu apreço pela sua família só me faz gostar ainda mais de você. E, porra, você é linda, seu corpo é de outro mundo, os seus olhos... Fuck, eu acho que nunca vi nada igual.
Senti minhas bochechas queimarem.
Merda, merda, merda.
As paredes altas que custei tanto a construir estavam querendo se deteriorar.
— Eu pensei que podia te tirar da cabeça quando finalmente transamos, que talvez fosse alguma loucura da minha mente perturbada, algum tipo de aposta subconsciente que eu havia feito comigo mesmo, e que, quando acontecesse, minha mente voltaria ao normal. Não aconteceu, na verdade só piorou. Fiz sexo com outras mulheres e não teve o mesmo efeito entorpecente que houve quando eu estava com você... E agora eu estou aqui, olhando na porra desses olhos incríveis, depois de uma noite incrível com a única mulher incrível que eu quero estar no momento. Você entende o que eu estou querendo dizer? — suspirou de olhos fechados e voltou a abri-los. — Eu quero você, , e só você.
Ele finalizou puxando um lençol sobre o rosto e gemeu alto como se quisesse tirar algo de dentro de si, me fazendo rir, nervosa.
Ok.
Primeiro eu precisava me lembrar de como se respirava.
Um, dois. Um, dois. Cheira a flor e sopra a vela. Cheira a flor e sopra a vela.
— Andrew, eu... Eu não sei o que dizer. Eu realmente não estava preparada para isso.
— Eu sei, eu não queria falar isso tão cedo — ele respondeu com a voz abafada debaixo do lençol. — Eu juro que não tinha planejado nada disso, eu só acordei ao seu lado agora e percebi que tinha que te falar. Mas você não me deve uma resposta, não é justo com você.
— Eu só preciso de um segundo para organizar meus pensamentos — falei, nervosa.
— Você tem todo o tempo do mundo.
Me levantei e ouvi um suspiro longo dele, então lembrei que eu ainda estava nua. Só não sabia dizer se o suspiro foi pelo fato de eu não saber o que dizer ou pelo fato dele me ver nua.
Encarei meu reflexo no espelho do banheiro com um sorriso desacreditado no rosto.
Tudo pelo que eu havia teimado com Tobey caiu por terra, eu era sim o motivo do colapso de Andrew e não estava preparada para isso.
O que ele queria? Um relacionamento? Ou apenas esclarecer as coisas? Não havíamos conversado sobre absolutamente nada disso, apenas conversei sobre relacionamentos com Tom.
Suspirei, passando as mãos pelo cabelo, surtando um pouco, meu coração a mil por hora.
Ouvi uma batida na porta.
— , vou descer para tomar um café, está bem? — A voz de Andrew surgiu, abafada pela porta.
— Tudo bem, já estou indo também.
Fritei minha mente mais um pouco.
Ok, , você está apaixonada pelo Andrew?
Você tem algum sentimento que corresponda minimamente às expectativas do que ele havia acabado de te admitir?
Você se vê em um relacionamento com ele?
Você está preparada para um relacionamento?
Você não estava para o Tom, porque estaria para o Andrew?
Você teve muito mais tempo e momentos com Tom e mesmo assim não viu faísca alguma.
Havia faísca com Andrew? Ou apenas um sentimento de comodidade sexual?
Passei pelo lobby e segui para o restaurante. Andrew estava sentado em uma mesa para dois, bebendo algo que parecia ser café. Usava uma blusa branca lisa, uma calça jeans básica e chinelos de dedo.
— Hey — falei, sentando-me de frente para ele.
— Hey — ele sorriu, eu sorri.
— Andy, eu... — iniciei, mas fui interrompida por um garçom. — Um mocca, por favor.
Ele assentiu e saiu.
— Primeiro eu queria entender o que você quis dizer com tudo aquilo — fui direto ao ponto.
Ele enfiou uma garfada de panquecas na boca e uniu as sobrancelhas.
— Como assim?
— É... Você tem algum tipo de interesse em ter um relacionamento? Ou só quis me manter informada do que está havendo nessa sua cabecinha?
— Como eu te disse, não foi algo do qual eu me planejei para falar. Eu só... precisava tirar aquilo de dentro de mim.
O garçom trouxe meu pedido e eu beberiquei.
— É que eu não sou do tipo que se apaixona fácil, Andy, e eu não quero te magoar de maneira alguma, mas... não está no topo da minha lista namorar alguém, e, se acontecer de eu me apaixonar, é bastante provável que eu finja que não aconteceu — fui sincera. Andrew me observava com seus olhos castanhos brilhantes. — Nunca passou pela minha cabeça encontrar alguém aqui quando aceitei o convite de Tobey. Eu só queria me aproximar do meu irmão, sabe?
Ele concordou com a cabeça, era nítido em suas feições que ele não gostava do caminho que o meu monólogo estava indo.
— Bom, se apaixonar faz parte do processo. Você pode ter certeza também de que eu não estava com essa intenção quando me aproximei de você.
— Eu sei disso, eu tenho esse problema, me desculpa.
— Do que você está falando?
— Eu não sou boa com sentimentos, Andrew, eu sou a porra de uma pedra emocional, minha psicóloga sempre me diz que eu tenho que aprender a confiar nos outros, que meus traumas não vão se repetir, e ela inclusive ficou muito feliz de saber que eu estava confiando em Tobey... mas, quando se trata de relacionamentos, eu me fecho.
Ele me olhava com atenção, as sobrancelhas erguidas em tom de surpresa, a xícara de café parada em frente a boca suspensa pelas duas mãos, como se o que eu estivesse dizendo fosse mais importante do que bebê-lo.
— Não me entenda mal, eu sinto as coisas, eu fico feliz quando estou com você, eu gosto da sua companhia, eu...
— Oh, merda... — ele fechou os olhos, soltando o café. — Você vai me dispensar, não vai?
— Eu não sei o que fazer, Garfield, você jogou uma bomba em meu colo e eu não sei desarmá-la — expliquei, ligeiramente alterada.
— Ok, você está certa. Eu não tinha o direito de falar aquelas coisas para você.
— Não é isso, você tem todo o direito de me falar o que bem entender, você foi honesto comigo e eu estou tentando ser honesta com você também, então aqui vai: eu não estou pronta para um relacionamento, meu psicológico ainda não está pronto para algo sério, porque meu último relacionamento sério foi um lixo tóxico, e, assim como qualquer lixo tóxico, mesmo depois de anos, ainda dá para sentir a radiação.
Andrew ficou sem respostas.
— Eu gosto muito de você, de verdade mesmo. Mas eu juro que nunca fiz algo de propósito para que você se apaixonasse por mim, Andy.
— Eu sei disso, e acho que é um dos motivos de ter acontecido. Você nunca teve ideia do poder que tem sobre mim, é algo surreal. — Andrew mexeu nos cabelos, ele estava nervoso a ponto de não saber o que fazer com as mãos.
— Me desculpa, Andrew, me desculpa por não conseguir corresponder seus sentimentos à altura. — Levei minha mão até a dele sobre a mesa e apertei.
— Está tudo bem, , você não tem nenhuma obrigação de corresponder aos meus sentimentos... por favor, não fique se sentindo pressionada, mas não me arrependo de ter dito. — Ele correspondeu meu aperto, colocando sua outra mão sobre a minha. — Eu precisava tirar isso de dentro de mim.
— Fico feliz que tenha tirado e vou soar meio babaca agora — falei, dando um sorrisinho amarelo. — Mas eu gostaria que continuássemos amigos, eu realmente gosto muito da sua companhia.
— Isso depende.
— Do quê?
— Seremos o tipo de amigos com benefícios?
Soltei uma risada alta que chamou a atenção de algumas pessoas ao nosso redor.
— Não? — ele insistiu, com seu sorriso torto e as sobrancelhas arqueadas.
— Você é impossível.
— Está bem, então, quem sabe, podemos voltar para o quarto e resolvermos isso?
Dei mais uma risada alta, dando um tapa em seu braço.
— Qual é, . Agora que eu sei que não posso te ter, as coisas ficam mais difíceis ainda!
— Andrew, fala baixo! — Eu não conseguia parar de rir, minhas bochechas queimando.
— Não consigo, estou nervoso demais! — ele admitiu, rindo comigo.
— Você não presta.
— Não, eu nunca prestei e você sabia disso. — Seu maldito sorriso bonito me fez derreter de novo. Peguei-o pela mão e voltamos para o quarto.
Eu tinha certeza de que ele prestava sim. Andrew exalava o ar de potencial de namorado, porém eu ainda não podia senti-lo.
Capítulo 20
Alguns meses se passaram desde a última vez que falei com Andrew pessoalmente. Minha vida seguia rápido, eu mal conseguia acompanhar. Incontáveis vezes tive que ir ao cartório, fiz mais de três viagens de volta ao Brasil, assinando documentos, levando de volta, juntando assinaturas, atestando papéis... Recolheram minha saliva, meu sangue e minha urina, fizeram o mesmo com Tobey, que estava sendo um verdadeiro apoio ao meu lado. Estávamos tão sintonizados que acho que, se meu teste de DNA desse negativo, ele me adotaria ou me sequestraria, as duas opções estavam em seu radar.
O humor era nosso novo método de levar as coisas: tem mais uma viagem ao Brasil para fazer? Ele dizia: graças a Deus! Pega meu protetor solar e meu chapéu.
Mais uma coleta de amostras? Estou precisando perder uns quilinhos mesmo.
Mais um papel que tem que ser impresso e homologado? Ainda bem, achei que o papel estava ficando obsoleto!
Tudo era motivo para darmos risadas, os dois rodando como duas baratas tontas indo atrás de advogados e esperando mandarem fazermos outra coisa repetida.
Passei a virada de ano no Brasil com minha família e amigos. Tobey me acompanhou e, quando voltamos desta vez, ele me ajudou a escolher um apartamento em Los Angeles para comprar. Ele queria algo chique, bem localizado e grandioso, mas fiz questão de deixar claro que queria algo mais “caseiro”, um loft no estilo de “New Girl”, algo especial que me representasse. E foi isso que o corretor dele encontrou, obviamente fora do bairro de gente rica onde ele morava. Eu gostava da ideia de morar um pouco longe dele, pois me dava a falsa sensação de estar encarando tudo aquilo sozinha, e, às vezes, a gente precisa sim de um pouco de independência.
Desde que novos vídeos meus com Andrew no tapete vermelho da sua série circulavam na internet, decidi abandonar minhas redes sociais. Não sabia quanto tempo levaria até que eu voltasse, mas estava me sentindo bem com a nova liberdade temporária. Os comentários na internet estavam me deixando paranoica e, por mais que todos ao meu redor me pedissem para ignorar, era difícil engolir quando comentavam exatamente aquele ponto sensível que você sempre teve insegurança.
Em minhas viagens ao Brasil, eu gostava de ver como meus pais estavam lidando com o dinheiro, estavam reformando a casa, trocaram de carro e guardaram um pouco para emergências. Tudo fluía muito bem.
Tobey sempre me acompanhava em minhas vindas, de modo que seu relacionamento com Gaby estava tão firme quanto uma rocha. Na verdade, estava firme o suficiente para que minha melhor amiga aceitasse se mudar para os EUA conosco.
Sim, pode soltar a música de final de filme e subir os créditos!
Minha vida estava no caminho certo, tudo, absolutamente tudo estava caminhando para a melhor versão. Eu até tinha conseguido liberação para levar minha motocicleta, Matilda, na minha próxima viagem de volta a LA!
— Qual seria a música? — perguntei, erguendo uma caneca de chopp, querendo brindar com meus amigos a nossa última noite juntos.
— Acho que Unwritten combina com o momento, estamos escrevendo nossos novos passos — Gaby disse sonhadora, erguendo o copo junto.
— Eca! Essa música cheira a filme hétero sonso — Johnson disse dramaticamente. — Acho que pela podia ser Rich Girl da Gwen Stefani.
— Na na na na na na... — cantei, rindo, mexendo os ombros, e Johnson me acompanhou.
— Não! Eu me recuso a participar dos créditos de um filme onde a moral da história é que a mocinha ficou rica — Gaby baixou sua caneca.
— Falou a gata que vai casar com o ricaço — Johnson falou, virando os olhos para cima.
— Não estou com ele por conta do dinheiro — bufou.
— Nós sabemos, Gab, é brincadeira — falei, como sempre, apaziguando a situação.
— Que tal Love Song da Sara Bairelles?
— Muito batida, já tem em várias comédias românticas. Se for uma música que já foi usada, tem que ser icônica.
— JÁ SEI! Uma música de uma cantora que une todas as tribos, das patricinhas (disse dando um olhar significativo à sua gêmea), das gostosas (piscou para mim) e das gays patricinhas gostosas, eu mesmo. — Eu e Gaby já estávamos dando gargalhadas. — Uma música que fala sobre fazer o que bem entender, já que todo mundo dá pitaco mesmo sem pedir, que fala sobre a vida de uma mulher gostosa que não tem um minuto de paz... Shake It Off da nossa rainha Taylor Switf.
— PERFEITA! — Gaby berrou, atraindo os olhos de algumas pessoas ao nosso redor.
Erguemos nossas canecas e brindamos à minha música oficial de encerramento. Cantamos o refrão fazendo escândalo, até que o dono do bar colocou a música para tocar e cantamos a plenos pulmões. No fim da música, todos nos acompanhavam. Rimos como os três idiotas que éramos. Como eu sentiria falta daquilo!
— Você acha que estou tomando a decisão certa? — perguntou Gabriela para mim quando Tobey foi ao banheiro do aeroporto.
— Não acho que é questão de ser certo ou errado, é questão do que você quer. Lembra quando Tobey me ligou pela primeira vez? Para mim era muito errado ir até lá, parecia que eu estava traindo minha mãe... mas eu queria ir. Queria matar essa curiosidade.
Gaby mordeu o lábio, nervosa.
— Você quer ir? — perguntei, acariciando seu ombro. Fitei seus olhos brilhantes e ela sorriu.
— Quero, , teu irmão é maravilhoso. Estou muito feliz que vocês tenham feito as pazes e não falo isso porque estou com ele, falo por ti. Caramba, olha como você está feliz! Olha como a tua vida mudou!
— Sim, Tobey é incrível mesmo. É um capítulo da minha vida que eu tenho muito orgulho, estou muito feliz de o ter de volta na minha vida. Mas não estamos falando de mim aqui... — tentei voltar o assunto e ela riu, sem graça.
— Eu sei que é o certo... mas o coração dá aquela palpitada nervosa, sabe?
— Sei, mas vai dar tudo certo. Eu vou estar lá também, lembra? Se não der certo, é só voltar... Não tem crime nenhum nisso — tentei deixá-la mais tranquila.
— É, você está certa.
— Mas você sabe que não vai ter nada de errado, não é? Vocês dois são incríveis juntos. Nunca vi Tobey desse jeito. Sei que fiquei afastada dele por muito tempo, mas ele está genuinamente feliz. E eu te conheço a vida inteira, amiga. Você está completamente derretida.
Gaby apenas riu, encabulada, e vi em seus olhos o brilho quando ela avistou Tobey se aproximando de nós.
Eu gostaria de sentir esse brilho em meus olhos algum dia, mas ainda tinha a sensação de que esse dia estava muito longe. Como quando você inicia um livro de mil páginas: você quer chegar ao fim de todo jeito, no meio se pergunta se era aquilo mesmo que você precisava, pensa em desistir, fica folheando as folhas faltantes pensando que nunca vai acabar... mas no fim tudo se explica, tudo se encaixa, e você percebe que foi uma jornada incrível.
Assim que pousamos em LA, senti meu celular vibrar.
— Alô?
— Oi, . Aqui é o Tom. — Seu sotaque era reconhecível em qualquer lugar e eu tinha o seu número salvo em meu celular, então sabia que era ele mesmo antes de atender.
— Oi, Tom, como você está?
— Estou bem e você?
— Estou ótima.
— Então, , estou te ligando para perguntar se você não estaria afim de jantar comigo hoje, tenho algo para conversar com você, e adoraria fazer isso pessoalmente.
— Ahm, eu acabei de chegar em casa, Tom. Literalmente.
— Eu sei! Tobey me avisou isso, mas eu vou voltar para Londres amanhã e...
— Quer saber? Tudo bem. Vou tomar um banho demorado de banheira e fico renovada.
— Isso! Ótimo. Passo aí às… sete? Não, não, oito, assim você consegue descansar mais tempo. Pode ser?
— Claro!
Mal soltei a mala na entrada do meu loft e Jacquin veio se esfregar em minhas pernas. Jacquin era o verdadeiro herói dessa história, passou por tantas mudanças que não sei como ele ainda gostava de mim! O peguei no colo e cheirei seu pescoço quentinho, ele tinha uma babá que vinha cuidar dele e brincar com ele todos os dias em que eu estava fora. A garota me mandava áudios e vídeos de como ele estava diariamente, mas não era a mesma coisa de estar ao seu lado fisicamente e eu sabia que ele sentia muita falta. De qualquer maneira, minhas viagens estavam ficando menos frequentes e agora eu tinha tempo para ficar com ele. Ainda com ele no colo, segui para o banheiro, liguei a água e deixei a banheira enchendo enquanto procurava uma roupa legal para ir ao jantar com Tom.
Peguei uma taça de vinho e fui até a banheira, coloquei uma playlist calma e relaxei, deixando minha mente finalmente pensar naquele convite de jantar.
Tom já sabia o que se passava em minha cabeça quanto à “nós”, então eu não estava levando aquele convite como algo que pudesse ir para esse lado. Eu apenas iria jantar com um amigo, porque sim, eu o considerava um amigo, um cara divertido e descontraído com quem fiz sexo algumas boas vezes.
Minha mente me levou automaticamente para as vezes em que fizemos sexo, Tom era bom no que fazia e realmente me surpreendeu com uma agressividade deliciosa que eu não via no garoto que ele era quando não estávamos transando. Tínhamos uma sintonia gostosa e encerramos nossa aventura de maneira leve.
Me arrumei com uma nova sensação em meu corpo, um relaxamento proveniente do banho de banheira. Usei um camisão branco por cima de uma regata fininha e uma calça de alfaiataria cor de barro.
Meu interfone tocou as oito horas em ponto, eu estava terminando minha trança boxeadora.
— Oi, já estou descendo.
— Ok.
Passei um batom nos lábios, chequei meu reflexo uma última vez no espelho e saí.
— Irmã Maguire! — Como sempre, Tom estava lindo. Seus cabelos estavam bem mais compridos e ele usava uma camiseta de gola rolê preta, justa o suficiente para mostrar seus músculos bem definidos e uma calça jeans de caimento perfeito.
— Thomas! — imitei seu entusiasmo e segui até ele de braços abertos, encaixando um abraço caloroso. Tom me apertou com força, seu cheiro me abraçando junto.
— Como você está? — perguntou ele, soltando do abraço e sorrindo para mim.
— Estou bem, na verdade estou cansada da correria, mas estou muito bem.
— Ah, sim, a correria com a papelada, não é? Como está isso?
— Já está bem adiantada. Já estou com o dinheiro, mas ainda sou uma cidadã americana provisória.
— Provisória? — perguntou ele, abrindo a porta do carro para mim.
— É, se eu não matar ninguém nem for presa no período de cinco anos, serei oficialmente uma cidadã americana.
— E vai poder exercer sua profissão de assassina de aluguel em tempo integral?
— Exatamente, não vejo a hora.
Soltamos uma risada e o carro nos guiou pelas ruas movimentadas, como de costume. Não nos faltou assunto, ele me perguntou da minha família, de Johnson, de Gaby, de Tobey e até do meu gato.
Quando chegamos ao mesmo restaurante que ele me levara no nosso primeiro encontro, eu finalmente perguntei o que ele queria tanto falar comigo que só podia ser feito pessoalmente.
— Na verdade, , não quero que você me leve a mal, por favor. Mas você lembra do chef daqui? — perguntou ele, quando nos acomodamos na mesma mesa da outra vez. Um garçom nos serviu vinho.
— É claro, Tomás, certo?
— Isso. Da última vez que nós viemos aqui, você lembra que vazou uma foto nossa? Que foi a foto que o Jimmy Fallon usou no programa dele?
— Lembro.
— Bom, Tomás teve que demitir o funcionário que vazou a foto, pois aqui é um lugar muito profissional e utilizado por muitas celebridades... Ele não pode se dar ao luxo de ter alguém na equipe dele que não entenda o quão perigoso pode ser um vazamento de fotos desse. Ele se desculpou comigo algumas vezes.
Eu apenas o olhava, concordando com a cabeça.
— Enfim, Tomás me perguntou se você não estaria interessada em trabalhar com ele — ele disse em um tom sério. — Eu sei que você tem muito dinheiro e nem sei se você está interessada em trabalhar... Só quis falar isso para você, porque pode ser uma ótima porta de entrada para esse ramo aqui nos Estados Unidos. Não queria que você perdesse uma oportunidade dessas só porque eu supus que você não quisesse, sabe?
— Nossa, Tom! Isso é incrível.
— Você gostou? — Ele parecia incerto, como se estivesse esperando que eu achasse a ideia horrível.
— É claro. Eu ainda não tenho certeza do que eu quero, ainda não tenho dimensão do dinheiro que tenho, mas... uma oportunidade de conhecer uma cozinha americana? Pode ser que eu nunca mais tenha uma chance dessas! Posso trabalhar com ele enquanto decido o que faço, qualquer tipo de experiência é válida.
Tom finalmente sorriu de alívio, seu semblante deixou de ser sério e seus ombros descansaram um pouco.
— Eu ainda me surpreendo com você... — disse, dando um sorriso sincero.
Senti minhas bochechas esquentarem e bebi um gole de vinho.
— Não quero deixar de fazer o que eu amo só porque tenho dinheiro, eu realmente gosto muito desse ambiente, gosto da pressão, da correria e de saber que tem pessoas que vem nesse lugar apenas pelo que eu faço. Vai me dizer que você não ama o que faz? Mesmo já tendo dinheiro o suficiente?
— Sim, eu te entendo completamente. Então... podemos ficar aqui até Tomás ter um tempinho para conversar com você?
Olhei para a direita, onde estavam os cozinheiros, e vi Tomás entre eles, comandando a orquestra.
— É claro.
A noite fluiu, Tom estava encantador, exatamente do jeito que eu me lembrava. Bebemos vinho, jantamos, dividimos uma sobremesa e aguardamos os cozinheiros limparem as bancadas.
O clima de Tomás era agradável, ele não era um cara enigmático ou misterioso, era um chef descontraído e divertido, um latino espirituoso que me agradou de cara. Conforme nossa outra conversa, ele me disse como as coisas funcionavam no seu restaurante, disse que teríamos um período de experiência, mas que sabia que não teria problemas comigo e me perguntou se eu não me importava em fazer um pequeno teste para ver como eram minhas habilidades com a faca.
— Não tenho problemas com isso.
Ele me entregou um avental e uma bandana para prender o cabelo. Pediu para um auxiliar me trazer três cenouras descascadas.
— Você conseguiria me fazer cortes à julienne, brunoise e macédoine?
Aquilo chegava a ofender um pouco, mas era entendível vindo de um chef que estava querendo contratar uma pessoa que nem havia entrevistado direito.
Fiz os cortes com precisão e cuidado, do jeito que havia feito um milhão de vezes. Não cortei os dedos, não fiz sujeira e, quando terminei, Tom e Tomás me olhavam admirados.
Combinei mais alguns detalhes com Tomás e ele se despediu de mim com um sorriso sincero no rosto, alegando que não atrapalharia mais a minha noite com Tom. Vi as bochechas de Tom ruborizarem por um segundo.
A volta de carro foi tranquila. Tom elogiou minha performance em frente à Tomás e entramos no assunto de cozinha, que se resumia a eu explicar os tipos de cortes e facas enquanto ele reagia a cada um com o rosto realmente interessado e admirado.
Tom era um querido de carteirinha, eu realmente adorava a sua companhia, dava para sentir a sua bondade e ingenuidade pairando à sua volta, seus olhos eram carinhosos e doces... Era uma amizade que eu gostava de saber que havia se consolidado.
— Eu sempre fui muito desajeitado na cozinha, tentei me arriscar algumas vezes e acabei percebendo que não era algo para mim — ele disse, passando a mão por seus cabelos ondulados.
— Nem o básico? Uma panqueca, ovos mexidos? — perguntei, divertida, e ele riu.
— Eu sou meio desastrado — disse, erguendo os ombros.
— Você é preguiçoso, isso sim — brinquei e ele riu, empurrando meu ombro.
Rimos em sincronia e, quando os sorrisos foram se desfazendo, notei que ele tinha olhos diferentes para mim, fitou minha boca por um instante antes de falar:
— , eu preciso fazer uma coisa. — Sua mão deslizou para a minha nuca com uma sutileza tão grande que só percebi que estava lá quando ele puxou os cabelos com leveza.
Tom ia me beijar e eu não tinha motivos para negar aquilo, foi uma noite agradável e estávamos com nossa conversa em dia sobre relacionamentos, um beijinho amigável não faria mal a ninguém.
Tom umedeceu seus lábios finos e uniu nossas bocas. Seus dedos mergulharam em meus cabelos enquanto eu abria minha boca para aprofundar o beijo, sua língua e a minha se misturaram com naturalidade. Minha mão seguiu para seu ombro forte enquanto a sua mão livre me puxava para mais perto. O beijo era quente e lento, um beijo com algum significado por trás, pois eu sentia que Tom estava nervoso. Já havíamos passado dessa fase de nervosismo, mas, por algum motivo, eu sentia algo naquele beijo. Nossas bocas se separaram com calma, sem interrupção, só um beijo que chegou ao fim.
— Merda — Tom sussurrou mais para ele do que para mim.
— O que foi? — perguntei, baixinho também, o fazendo sorrir.
— Esse beijo, essa porcaria de beijo bom para cacete, — ele disse com uma irritação falsa, segurando mais um sorrisinho.
— Não entendi.
— Eu precisava te beijar de novo... Para tentar me convencer de que você não é a garota certa para mim. Mas é bem difícil nessas condições. — Era nítido que ele estava sem graça, eu sorri tentando amenizar a situação.
— Tom...
— Não, não precisa dizer nada, eu sei que não é o momento — suspirou. — É só que... Eu precisava fazer isso, sabe? Eu precisava ter certeza.
— Me desculpe, Tom, não queria ter que fazer você passar por isso, não quero que pareça que estou te...
— , relaxa. Está tudo bem. Você sempre foi muito clara quanto aos teus sentimentos, sou eu quem peço desculpas.
— Está tudo bem, Tom. — Acariciei seu rosto, sorrindo. — Você vai encontrar a pessoa certa para você, entendeu? Mas infelizmente não sou eu.
— Eu sei, eu sei... — ele disse, tristonho, mas ao mesmo tempo sorrindo fraco.
Colamos nossas bocas mais uma vez, com um certo saudosismo no ar, e o carro estacionou na frente do meu prédio.
— Até mais, Tom. Obrigada pelo jantar e... Puxa, obrigada por tudo! — O abracei com força, ele precisava daquilo.
Seus olhos doces me admiraram com um brilho extra.
— Até mais, .
O humor era nosso novo método de levar as coisas: tem mais uma viagem ao Brasil para fazer? Ele dizia: graças a Deus! Pega meu protetor solar e meu chapéu.
Mais uma coleta de amostras? Estou precisando perder uns quilinhos mesmo.
Mais um papel que tem que ser impresso e homologado? Ainda bem, achei que o papel estava ficando obsoleto!
Tudo era motivo para darmos risadas, os dois rodando como duas baratas tontas indo atrás de advogados e esperando mandarem fazermos outra coisa repetida.
Passei a virada de ano no Brasil com minha família e amigos. Tobey me acompanhou e, quando voltamos desta vez, ele me ajudou a escolher um apartamento em Los Angeles para comprar. Ele queria algo chique, bem localizado e grandioso, mas fiz questão de deixar claro que queria algo mais “caseiro”, um loft no estilo de “New Girl”, algo especial que me representasse. E foi isso que o corretor dele encontrou, obviamente fora do bairro de gente rica onde ele morava. Eu gostava da ideia de morar um pouco longe dele, pois me dava a falsa sensação de estar encarando tudo aquilo sozinha, e, às vezes, a gente precisa sim de um pouco de independência.
Desde que novos vídeos meus com Andrew no tapete vermelho da sua série circulavam na internet, decidi abandonar minhas redes sociais. Não sabia quanto tempo levaria até que eu voltasse, mas estava me sentindo bem com a nova liberdade temporária. Os comentários na internet estavam me deixando paranoica e, por mais que todos ao meu redor me pedissem para ignorar, era difícil engolir quando comentavam exatamente aquele ponto sensível que você sempre teve insegurança.
Em minhas viagens ao Brasil, eu gostava de ver como meus pais estavam lidando com o dinheiro, estavam reformando a casa, trocaram de carro e guardaram um pouco para emergências. Tudo fluía muito bem.
Tobey sempre me acompanhava em minhas vindas, de modo que seu relacionamento com Gaby estava tão firme quanto uma rocha. Na verdade, estava firme o suficiente para que minha melhor amiga aceitasse se mudar para os EUA conosco.
Sim, pode soltar a música de final de filme e subir os créditos!
Minha vida estava no caminho certo, tudo, absolutamente tudo estava caminhando para a melhor versão. Eu até tinha conseguido liberação para levar minha motocicleta, Matilda, na minha próxima viagem de volta a LA!
— Qual seria a música? — perguntei, erguendo uma caneca de chopp, querendo brindar com meus amigos a nossa última noite juntos.
— Acho que Unwritten combina com o momento, estamos escrevendo nossos novos passos — Gaby disse sonhadora, erguendo o copo junto.
— Eca! Essa música cheira a filme hétero sonso — Johnson disse dramaticamente. — Acho que pela podia ser Rich Girl da Gwen Stefani.
— Na na na na na na... — cantei, rindo, mexendo os ombros, e Johnson me acompanhou.
— Não! Eu me recuso a participar dos créditos de um filme onde a moral da história é que a mocinha ficou rica — Gaby baixou sua caneca.
— Falou a gata que vai casar com o ricaço — Johnson falou, virando os olhos para cima.
— Não estou com ele por conta do dinheiro — bufou.
— Nós sabemos, Gab, é brincadeira — falei, como sempre, apaziguando a situação.
— Que tal Love Song da Sara Bairelles?
— Muito batida, já tem em várias comédias românticas. Se for uma música que já foi usada, tem que ser icônica.
— JÁ SEI! Uma música de uma cantora que une todas as tribos, das patricinhas (disse dando um olhar significativo à sua gêmea), das gostosas (piscou para mim) e das gays patricinhas gostosas, eu mesmo. — Eu e Gaby já estávamos dando gargalhadas. — Uma música que fala sobre fazer o que bem entender, já que todo mundo dá pitaco mesmo sem pedir, que fala sobre a vida de uma mulher gostosa que não tem um minuto de paz... Shake It Off da nossa rainha Taylor Switf.
— PERFEITA! — Gaby berrou, atraindo os olhos de algumas pessoas ao nosso redor.
Erguemos nossas canecas e brindamos à minha música oficial de encerramento. Cantamos o refrão fazendo escândalo, até que o dono do bar colocou a música para tocar e cantamos a plenos pulmões. No fim da música, todos nos acompanhavam. Rimos como os três idiotas que éramos. Como eu sentiria falta daquilo!
— Você acha que estou tomando a decisão certa? — perguntou Gabriela para mim quando Tobey foi ao banheiro do aeroporto.
— Não acho que é questão de ser certo ou errado, é questão do que você quer. Lembra quando Tobey me ligou pela primeira vez? Para mim era muito errado ir até lá, parecia que eu estava traindo minha mãe... mas eu queria ir. Queria matar essa curiosidade.
Gaby mordeu o lábio, nervosa.
— Você quer ir? — perguntei, acariciando seu ombro. Fitei seus olhos brilhantes e ela sorriu.
— Quero, , teu irmão é maravilhoso. Estou muito feliz que vocês tenham feito as pazes e não falo isso porque estou com ele, falo por ti. Caramba, olha como você está feliz! Olha como a tua vida mudou!
— Sim, Tobey é incrível mesmo. É um capítulo da minha vida que eu tenho muito orgulho, estou muito feliz de o ter de volta na minha vida. Mas não estamos falando de mim aqui... — tentei voltar o assunto e ela riu, sem graça.
— Eu sei que é o certo... mas o coração dá aquela palpitada nervosa, sabe?
— Sei, mas vai dar tudo certo. Eu vou estar lá também, lembra? Se não der certo, é só voltar... Não tem crime nenhum nisso — tentei deixá-la mais tranquila.
— É, você está certa.
— Mas você sabe que não vai ter nada de errado, não é? Vocês dois são incríveis juntos. Nunca vi Tobey desse jeito. Sei que fiquei afastada dele por muito tempo, mas ele está genuinamente feliz. E eu te conheço a vida inteira, amiga. Você está completamente derretida.
Gaby apenas riu, encabulada, e vi em seus olhos o brilho quando ela avistou Tobey se aproximando de nós.
Eu gostaria de sentir esse brilho em meus olhos algum dia, mas ainda tinha a sensação de que esse dia estava muito longe. Como quando você inicia um livro de mil páginas: você quer chegar ao fim de todo jeito, no meio se pergunta se era aquilo mesmo que você precisava, pensa em desistir, fica folheando as folhas faltantes pensando que nunca vai acabar... mas no fim tudo se explica, tudo se encaixa, e você percebe que foi uma jornada incrível.
Assim que pousamos em LA, senti meu celular vibrar.
— Alô?
— Oi, . Aqui é o Tom. — Seu sotaque era reconhecível em qualquer lugar e eu tinha o seu número salvo em meu celular, então sabia que era ele mesmo antes de atender.
— Oi, Tom, como você está?
— Estou bem e você?
— Estou ótima.
— Então, , estou te ligando para perguntar se você não estaria afim de jantar comigo hoje, tenho algo para conversar com você, e adoraria fazer isso pessoalmente.
— Ahm, eu acabei de chegar em casa, Tom. Literalmente.
— Eu sei! Tobey me avisou isso, mas eu vou voltar para Londres amanhã e...
— Quer saber? Tudo bem. Vou tomar um banho demorado de banheira e fico renovada.
— Isso! Ótimo. Passo aí às… sete? Não, não, oito, assim você consegue descansar mais tempo. Pode ser?
— Claro!
Mal soltei a mala na entrada do meu loft e Jacquin veio se esfregar em minhas pernas. Jacquin era o verdadeiro herói dessa história, passou por tantas mudanças que não sei como ele ainda gostava de mim! O peguei no colo e cheirei seu pescoço quentinho, ele tinha uma babá que vinha cuidar dele e brincar com ele todos os dias em que eu estava fora. A garota me mandava áudios e vídeos de como ele estava diariamente, mas não era a mesma coisa de estar ao seu lado fisicamente e eu sabia que ele sentia muita falta. De qualquer maneira, minhas viagens estavam ficando menos frequentes e agora eu tinha tempo para ficar com ele. Ainda com ele no colo, segui para o banheiro, liguei a água e deixei a banheira enchendo enquanto procurava uma roupa legal para ir ao jantar com Tom.
Peguei uma taça de vinho e fui até a banheira, coloquei uma playlist calma e relaxei, deixando minha mente finalmente pensar naquele convite de jantar.
Tom já sabia o que se passava em minha cabeça quanto à “nós”, então eu não estava levando aquele convite como algo que pudesse ir para esse lado. Eu apenas iria jantar com um amigo, porque sim, eu o considerava um amigo, um cara divertido e descontraído com quem fiz sexo algumas boas vezes.
Minha mente me levou automaticamente para as vezes em que fizemos sexo, Tom era bom no que fazia e realmente me surpreendeu com uma agressividade deliciosa que eu não via no garoto que ele era quando não estávamos transando. Tínhamos uma sintonia gostosa e encerramos nossa aventura de maneira leve.
Me arrumei com uma nova sensação em meu corpo, um relaxamento proveniente do banho de banheira. Usei um camisão branco por cima de uma regata fininha e uma calça de alfaiataria cor de barro.
Meu interfone tocou as oito horas em ponto, eu estava terminando minha trança boxeadora.
— Oi, já estou descendo.
— Ok.
Passei um batom nos lábios, chequei meu reflexo uma última vez no espelho e saí.
— Irmã Maguire! — Como sempre, Tom estava lindo. Seus cabelos estavam bem mais compridos e ele usava uma camiseta de gola rolê preta, justa o suficiente para mostrar seus músculos bem definidos e uma calça jeans de caimento perfeito.
— Thomas! — imitei seu entusiasmo e segui até ele de braços abertos, encaixando um abraço caloroso. Tom me apertou com força, seu cheiro me abraçando junto.
— Como você está? — perguntou ele, soltando do abraço e sorrindo para mim.
— Estou bem, na verdade estou cansada da correria, mas estou muito bem.
— Ah, sim, a correria com a papelada, não é? Como está isso?
— Já está bem adiantada. Já estou com o dinheiro, mas ainda sou uma cidadã americana provisória.
— Provisória? — perguntou ele, abrindo a porta do carro para mim.
— É, se eu não matar ninguém nem for presa no período de cinco anos, serei oficialmente uma cidadã americana.
— E vai poder exercer sua profissão de assassina de aluguel em tempo integral?
— Exatamente, não vejo a hora.
Soltamos uma risada e o carro nos guiou pelas ruas movimentadas, como de costume. Não nos faltou assunto, ele me perguntou da minha família, de Johnson, de Gaby, de Tobey e até do meu gato.
Quando chegamos ao mesmo restaurante que ele me levara no nosso primeiro encontro, eu finalmente perguntei o que ele queria tanto falar comigo que só podia ser feito pessoalmente.
— Na verdade, , não quero que você me leve a mal, por favor. Mas você lembra do chef daqui? — perguntou ele, quando nos acomodamos na mesma mesa da outra vez. Um garçom nos serviu vinho.
— É claro, Tomás, certo?
— Isso. Da última vez que nós viemos aqui, você lembra que vazou uma foto nossa? Que foi a foto que o Jimmy Fallon usou no programa dele?
— Lembro.
— Bom, Tomás teve que demitir o funcionário que vazou a foto, pois aqui é um lugar muito profissional e utilizado por muitas celebridades... Ele não pode se dar ao luxo de ter alguém na equipe dele que não entenda o quão perigoso pode ser um vazamento de fotos desse. Ele se desculpou comigo algumas vezes.
Eu apenas o olhava, concordando com a cabeça.
— Enfim, Tomás me perguntou se você não estaria interessada em trabalhar com ele — ele disse em um tom sério. — Eu sei que você tem muito dinheiro e nem sei se você está interessada em trabalhar... Só quis falar isso para você, porque pode ser uma ótima porta de entrada para esse ramo aqui nos Estados Unidos. Não queria que você perdesse uma oportunidade dessas só porque eu supus que você não quisesse, sabe?
— Nossa, Tom! Isso é incrível.
— Você gostou? — Ele parecia incerto, como se estivesse esperando que eu achasse a ideia horrível.
— É claro. Eu ainda não tenho certeza do que eu quero, ainda não tenho dimensão do dinheiro que tenho, mas... uma oportunidade de conhecer uma cozinha americana? Pode ser que eu nunca mais tenha uma chance dessas! Posso trabalhar com ele enquanto decido o que faço, qualquer tipo de experiência é válida.
Tom finalmente sorriu de alívio, seu semblante deixou de ser sério e seus ombros descansaram um pouco.
— Eu ainda me surpreendo com você... — disse, dando um sorriso sincero.
Senti minhas bochechas esquentarem e bebi um gole de vinho.
— Não quero deixar de fazer o que eu amo só porque tenho dinheiro, eu realmente gosto muito desse ambiente, gosto da pressão, da correria e de saber que tem pessoas que vem nesse lugar apenas pelo que eu faço. Vai me dizer que você não ama o que faz? Mesmo já tendo dinheiro o suficiente?
— Sim, eu te entendo completamente. Então... podemos ficar aqui até Tomás ter um tempinho para conversar com você?
Olhei para a direita, onde estavam os cozinheiros, e vi Tomás entre eles, comandando a orquestra.
— É claro.
A noite fluiu, Tom estava encantador, exatamente do jeito que eu me lembrava. Bebemos vinho, jantamos, dividimos uma sobremesa e aguardamos os cozinheiros limparem as bancadas.
O clima de Tomás era agradável, ele não era um cara enigmático ou misterioso, era um chef descontraído e divertido, um latino espirituoso que me agradou de cara. Conforme nossa outra conversa, ele me disse como as coisas funcionavam no seu restaurante, disse que teríamos um período de experiência, mas que sabia que não teria problemas comigo e me perguntou se eu não me importava em fazer um pequeno teste para ver como eram minhas habilidades com a faca.
— Não tenho problemas com isso.
Ele me entregou um avental e uma bandana para prender o cabelo. Pediu para um auxiliar me trazer três cenouras descascadas.
— Você conseguiria me fazer cortes à julienne, brunoise e macédoine?
Aquilo chegava a ofender um pouco, mas era entendível vindo de um chef que estava querendo contratar uma pessoa que nem havia entrevistado direito.
Fiz os cortes com precisão e cuidado, do jeito que havia feito um milhão de vezes. Não cortei os dedos, não fiz sujeira e, quando terminei, Tom e Tomás me olhavam admirados.
Combinei mais alguns detalhes com Tomás e ele se despediu de mim com um sorriso sincero no rosto, alegando que não atrapalharia mais a minha noite com Tom. Vi as bochechas de Tom ruborizarem por um segundo.
A volta de carro foi tranquila. Tom elogiou minha performance em frente à Tomás e entramos no assunto de cozinha, que se resumia a eu explicar os tipos de cortes e facas enquanto ele reagia a cada um com o rosto realmente interessado e admirado.
Tom era um querido de carteirinha, eu realmente adorava a sua companhia, dava para sentir a sua bondade e ingenuidade pairando à sua volta, seus olhos eram carinhosos e doces... Era uma amizade que eu gostava de saber que havia se consolidado.
— Eu sempre fui muito desajeitado na cozinha, tentei me arriscar algumas vezes e acabei percebendo que não era algo para mim — ele disse, passando a mão por seus cabelos ondulados.
— Nem o básico? Uma panqueca, ovos mexidos? — perguntei, divertida, e ele riu.
— Eu sou meio desastrado — disse, erguendo os ombros.
— Você é preguiçoso, isso sim — brinquei e ele riu, empurrando meu ombro.
Rimos em sincronia e, quando os sorrisos foram se desfazendo, notei que ele tinha olhos diferentes para mim, fitou minha boca por um instante antes de falar:
— , eu preciso fazer uma coisa. — Sua mão deslizou para a minha nuca com uma sutileza tão grande que só percebi que estava lá quando ele puxou os cabelos com leveza.
Tom ia me beijar e eu não tinha motivos para negar aquilo, foi uma noite agradável e estávamos com nossa conversa em dia sobre relacionamentos, um beijinho amigável não faria mal a ninguém.
Tom umedeceu seus lábios finos e uniu nossas bocas. Seus dedos mergulharam em meus cabelos enquanto eu abria minha boca para aprofundar o beijo, sua língua e a minha se misturaram com naturalidade. Minha mão seguiu para seu ombro forte enquanto a sua mão livre me puxava para mais perto. O beijo era quente e lento, um beijo com algum significado por trás, pois eu sentia que Tom estava nervoso. Já havíamos passado dessa fase de nervosismo, mas, por algum motivo, eu sentia algo naquele beijo. Nossas bocas se separaram com calma, sem interrupção, só um beijo que chegou ao fim.
— Merda — Tom sussurrou mais para ele do que para mim.
— O que foi? — perguntei, baixinho também, o fazendo sorrir.
— Esse beijo, essa porcaria de beijo bom para cacete, — ele disse com uma irritação falsa, segurando mais um sorrisinho.
— Não entendi.
— Eu precisava te beijar de novo... Para tentar me convencer de que você não é a garota certa para mim. Mas é bem difícil nessas condições. — Era nítido que ele estava sem graça, eu sorri tentando amenizar a situação.
— Tom...
— Não, não precisa dizer nada, eu sei que não é o momento — suspirou. — É só que... Eu precisava fazer isso, sabe? Eu precisava ter certeza.
— Me desculpe, Tom, não queria ter que fazer você passar por isso, não quero que pareça que estou te...
— , relaxa. Está tudo bem. Você sempre foi muito clara quanto aos teus sentimentos, sou eu quem peço desculpas.
— Está tudo bem, Tom. — Acariciei seu rosto, sorrindo. — Você vai encontrar a pessoa certa para você, entendeu? Mas infelizmente não sou eu.
— Eu sei, eu sei... — ele disse, tristonho, mas ao mesmo tempo sorrindo fraco.
Colamos nossas bocas mais uma vez, com um certo saudosismo no ar, e o carro estacionou na frente do meu prédio.
— Até mais, Tom. Obrigada pelo jantar e... Puxa, obrigada por tudo! — O abracei com força, ele precisava daquilo.
Seus olhos doces me admiraram com um brilho extra.
— Até mais, .
Continua...
Nota da autora: 'Cause the players gonna play, play, play, play, play
And the haters gonna hate, hate, hate, hate, hate
Baby, I'm just gonna shake, shake, shake, shake, shake
I shake it off, I shake it off
Gente, Maguire tá chegando ao fim! Meu coração está completamente perdido sem saber exatamente no que pensar, foram dois anos e meio em cima desse surto e agora eu estou PERDIDA. Já quero começar agradecendo quem acompanhou esse surto desde o início. De verdade, essa fic só chegou até o fim por causa de vocês, que iam no meu instagram me pedir por mais capítulos, que responderam minhas enquetes, que reagiram aos stories e que comentaram muito! Obrigada ❤️
Nota da beta: Nada como um climinha de paz e felicidade para nos encaminharmos para o final da fic, não é mesmo? ❤️
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
And the haters gonna hate, hate, hate, hate, hate
Baby, I'm just gonna shake, shake, shake, shake, shake
I shake it off, I shake it off
Gente, Maguire tá chegando ao fim! Meu coração está completamente perdido sem saber exatamente no que pensar, foram dois anos e meio em cima desse surto e agora eu estou PERDIDA. Já quero começar agradecendo quem acompanhou esse surto desde o início. De verdade, essa fic só chegou até o fim por causa de vocês, que iam no meu instagram me pedir por mais capítulos, que responderam minhas enquetes, que reagiram aos stories e que comentaram muito! Obrigada ❤️
Nota da beta: Nada como um climinha de paz e felicidade para nos encaminharmos para o final da fic, não é mesmo? ❤️