CAPÍTULOS: [1]





Me Encontre à Meia-Noite






I - Ela


Apertei meu casaco grosso de lã contra meu corpo ao sentir o vento congelante invadir o ambulatório toda vez que alguém adentrava o local.
A pequena sala já estava ficando lotada. Devido ao frio que fazia na pequena cidade, as pestes e os resfriados iam aparecendo.
Eu deveria me considerar muito sortuda, afinal, eu havia me tornado médica, uma coisa rara de se acontecer entre as mulheres.
Tudo ocorreu muito rápido. Um dia eu estava fazendo curativos em garotinhos, sempre gostei de fazer boas ações, ainda mais quando se tratava de crianças, e no outro eu já estava sendo chamada para trabalhar no ambulatório. Acabei aceitando o pedido sem nem sequer pensar duas vezes, pois só assim eu teria um pouco de liberdade, além do mais, era muito melhor estar "salvando" vidas do que estar cuidando da casa.
Mas no mesmo tempo em a liberdade me foi dada, parte dela me foi tirada.
Aos 19 anos, eu me tornei noiva de , um homem alguns anos mais velho do que eu e filho de uma família muito rica.
Eu já esperava por isso, nenhuma garota continuava solteira depois dos 19 anos, ainda mais eu, filha de camponeses.
Já fazia mais de um mês que eu havia recebido a notícia de que iria me casar em breve, mas ainda não havia conhecido meu futuro marido, até hoje.
Na noite de hoje acontecerá um jantar entre as duas famílias, onde eu conhecerei meu futuro marido.
As mulheres comentavam na cidade que eu era muito sortuda em ter arranjado um casamento com um dos homens mais ricos e bonitos da cidade. Mas eu não pensava assim.
Tudo o que eu sentia era nojo, repulsa e agonia, teria que me entregar a um homem que eu nem sequer conhecia. Teria que me submeter a esse homem, teria que virar uma dona de casa e ter vários filhos para cuidar, não que eu não quisesse ter filhos.
Acontece que eu sou uma pessoa muito sonhadora. Eu sonho em um dia ter liberdade, sonho em um dia me tornar uma grande artista e sonho em um dia encontrar o grande amor da minha vida, um homem que também me ame e me respeite. Eu nem sequer sei o que é o amor, o que é estar apaixonada, eu nem sequer sei beijar.
Mas eu sabia que isso tudo eram apenas sonhos, afinal, o meu destino já havia sido traçado antes mesmo de eu nascer, assim como o de todas as outras jovens.
Para os meus pais, foi uma felicidade imensa saber que sua filha mais velha se casaria com um filho de um senhor feudal, já que eram camponeses e ganhavam muito pouco dinheiro.
Meu pai sempre fora um homem arrogante e sem coração. Quanto a minha mãe, bem, ela não era muito diferente. Desde pequenas, eu e minha irmã sempre recebemos uma educação rigorosa e quando fazíamos qualquer coisa errada ou proibida, recebíamos uma série de castigos.
- ? - Escutei alguém me chamar, interrompendo meus pensamentos aleatórios.
- Sim?
- Você já pode ir querida, sei que você precisa comparecer à um compromisso muito importante hoje.
- Muito obrigada, doutor Martin.
Segui, desanimadamente, o caminho até a minha casa.
Ao chegar, encontrei minha mãe e minha irmã sentadas no sofá já devidamente vestidas para o jantar.
- , isso é hora de chegar? Você, por acaso, se esqueceu que tem um jantar com o seu futuro marido hoje? - Ela disse grosseiramente.
- Não mamãe, eu não esqueci, e ainda faltam três horas para o jantar.
- Suba agora, não podemos nos atrasar.
Por mais que eu não quisesse, eu era obrigada a subir as escadas e me arrumar para o jantar, me arrumar para o jantar que declararia oficialmente o fim de minha vida.
Sim, minha vida acabaria, de certo modo, afinal eu passaria a viver trancada em uma casa, provavelmente teria que parar de atender pacientes no ambulatório, não poderia mais sair à noite, escondida, para pintar e logo teria que gerar um filho. Eu pretendia ter filhos só depois dos trinta.
Tomei um banho demorado, já que hoje eu podia. Depois vesti meu vestido. Era um vestido lindo e luxuoso, que a família do meu noivo havia pagado, obviamente.
Arrumei meu cabelo e passei uma leve maquiagem e um pouco de perfume.
Minha vontade era de ir vestindo meu trapos diários, com o cabelo desarrumado e sem maquiagem nenhuma, quem sabe assim ele me rejeitaria e não aconteceria mais casamento nenhum. Mas se eu fizesse isso, provavelmente eu seria morta.
Desci as escadas já devidamente arrumada e então seguimos até a casa dos .
O caminho não foi muito longo, logo estávamos parados em frente a uma belíssima casa.
Um dos criados abriu a porta e então fomos recebidos pelos pais do meu noivo.
- Oh Christian, veja como ela é bela. - A senhora disse ao senhor .
- Nosso filho tem muita sorte.
- Muito obrigada. - Eu disse cumprimentando-os e sorrindo forçadamente. - É um prazer conhecê-los.
- O prazer é todo nosso, querida. - O senhor disse. - Entrem, vamos para a sala conhecer .
Senti meu corpo formigar, era hora de eu finalmente conhecer meu futuro marido.
Adentramos a sala e lá eu pude ver um homem, que deveria ter uns 25 anos, muito bonito, eu não podia negar.
- , conheça , sua futura esposa.
O moço se virou e então nossos olhares se encontram. Pensei que sentiria alguma coisa, aquele tipo de coisa que todas as garotas me falaram que sentiram quando conheceram seus pretendentes, mas eu não senti nada.
Eu não deveria me preocupar, certo? Afinal, teríamos muito tempo para nos conhecermos e então eu poderia me interessar e me apaixonar por ele.
Era o que eu esperava.
Nos cumprimentamos devidamente, não podíamos manter muito contato antes do casamento, e depois fomos levados até a mesa do jantar.
Fiquei calada o tempo inteiro. Apenas abria minha boca para falar alguma coisa quando as perguntas eram direcionadas à mim.
também não parecia muito empolgado. Ele parecia ser um homem frio, arrogante e autoritário.
Meus pais e os pais de pareciam se conhecer há tempos, passei a noite inteira escutando eles jogarem conversa fora sobre assuntos nada interessantes.
Eu não via a hora de sair dali.
Depois de um certo tempo jogando conversa fora, eles resolveram incluir eu e na conversa.
- Então, , você é médica, certo? - A senhora me perguntou.
- Sim. - Respondi secamente.
- Você sabe que terá que parar de atender seus pacientes depois do casamento, certo? - Dessa vez foi o senhor quem me fez a pergunta.
- Na verdade, eu gostaria...
- Sim, ela sabe. - Minha mãe terminou de responder por mim e me lançou um olhar de fúria.
- Teremos dinheiro o suficiente. - falou pela primeira vez na noite. - E além do mais, não quero ver minha mulher circulando pela cidade para os outros homens ficarem observando.
Apesar da minha enorme vontade de lhe bater, permaneci sentada ouvindo todas aquelas baboseiras.
Ao longo do jantar tive que responder várias perguntas sobre a minha vida, até se eu ainda era virgem a senhora fez questão de saber.
Agradeci mentalmente quando meu pai declarou que era hora de irmos embora.
Tive que ouvir o caminho inteiro meus pais reclamando da minha atitude diante aos .
Assim que eu cheguei em casa, tirei aquele vestido pesado e me deitei na minha cama nada confortável. Agora uma única coisa martelava em minha cabeça: Eu estava oficialmente noiva, não tinha mais como voltar atrás.
- Você tem sorte , seu noivo é muito bonito. - Savanah disse para mim ao sair do banheiro.
- Sim Sav, eu tenho.
Para piorar minha situação, eu ainda precisava fingir para todos que eu estava feliz da vida em casar com um homem arrogante como .
Assim que Savanah saiu do meu quarto, procurei minha capa e a vesti. Esperei um certo tempo e sai silenciosamente do quarto. Chequei o quarto dos meus pais e o de Savanah, todos estavam dormindo. Tomei muito cuidado para não fazer nenhum barulho e então segui para o bosque.
- Eles estão chegando, amanhã provavelmente eles irão invadir o país.
- Oh meu Deus, então as coisas ficaram graves. O que iremos fazer?
- Eu não sei, provavelmente todos morreremos.
Escutei alguns senhores conversando, eles só poderiam estar falando sobre a invasão da Inglaterra.
Já fazia um tempinho que nosso país estava em conflito com a Inglaterra, mas ninguém imaginava que as coisas fossem ficar tão graves. Provavelmente nenhum acordo teria dado certo e agora a Inglaterra viria em busca de guerra.
Estávamos muito encrencados.
Continuei seguindo meu caminho até a casa abandonada, a casa que era meu refúgio, um lugar que eu frequentava para poder pintar e ter um pouco de liberdade. Ninguém sabia que eu fugia a noite para a casa abandonada no bosque, tomava o máximo de cuidado possível sempre.
Mas dessa vez eu fiz o caminho um pouco mais amedrontada, uma guerra estava por vir, eu sabia disso, acho que todos os franceses sabiam.

Continua...



Nota da autora: (10/11/2015) Contatos: Ask e Facebook




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