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Última atualização: 19/09/2017

I'll go Wherever You Will Go


Estar naquele estádio era surreal. Não parecia que estava de fato vivendo aqueles dias. Brasil, olimpíadas, meu namorado convocado e óbvio que tiraria o mês de férias para acompanha-lo.
Sven Bender era o tipo de cara que a princípio você não dava importância. Nos conhecemos em uma boate. Era aniversário de um colega de trabalho, e resolveram ir para a principal casa de festas de Dortmund. Nunca fui ligada com futebol, então quando me contaram que o time do Borussia Dortmund estaria no mesmo local que a gente, fui completamente indiferente.
Pedi uma bebida e fiquei olhando ao redor enquanto meus amigos se embebedavam e pediam para tirar fotos com os jogadores que lhe davam atenção. Algumas das mulheres davam em cima dos mais famosos, até mesmo aqueles que estavam claramente acompanhados.
Jamais iria entender esse fascínio das pessoas por outras conhecidas da mídia. Como se uma foto com elas fosse transformar você em uma outra pessoa no dia seguinte. Novidade galera: não transforma.
Enquanto me divertia observando aquela cena, reparei em um rapaz ao fundo. Ele estava escorado na parede com uma garrafa de cerveja na mão, e me assustei que ele olhava diretamente para mim.
Ele era alto, cabelos loiros e olhos claros. Boa parte dos homens ali eram assim, mas tinha algo nele que eu não sabia explicar. Ele se destacava dos demais. Pelo menos para mim.
Passamos boa parte da noite nos olhando de longe. Às vezes ele conversava com alguém, às vezes eu pedia uma bebida. Sempre fui forte para bebida, e nunca achei que fosse agradecer a essa qualidade até aquela noite.
Quando eu já estava entediada e querendo ir embora, ele se sentou ao meu lado do bar. Até aquele momento, eu não tinha ideia que ele era um jogador de futebol.
- Será que podemos trocar algumas palavras além de alguns olhares?
Olhei para ele assustada e sorri.
- Posso pensar no seu caso.
- Sven. - Ele me ofereceu a mão e eu aceitei, o cumprimentando.
- .
- Vai parecer a coisa mais clichê do mundo, mas, você vem sempre aqui?
Não tive como não rir da cara dele.
- Na verdade não. Hoje é aniversário de um babaca que eu chamo de amigo e ele resolveu escolher essa boate por causa de um boato que haveriam jogadores do BVB aqui.
- Ah é?
- É. Não sei nada de futebol, e até agora só achei uns dois jogadores, e só porque vi a galera pagando pau.
- Você não reconhece nenhum mesmo?
- Não. - Dei de ombros.
Ele sorriu e naquele momento eu sabia que estava ferrada. Aquele sorriso tinha mais do que mexido comigo.
Passamos o resto da noite conversando sobre assuntos aleatórios. Cinema, música, Alemanha, Zona do Euro e qualquer outro assunto que se lia no jornal, menos futebol.
Quando era umas 5 da manhã, uma loura se aproximou da gente para se despedir dele.
- Bender 1, a gente está indo embora. O Reus não quis vir aqui dizendo que ia atrapalhar. - ela acenou com a cabeça para mim, e eu sorri sem graça. - Até a próxima.
- A gente se vê no próximo jogo Lou.
Ela deu um abraço nele e deu meia volta para encontrar com um rapaz loiro que acenava de longe. E ele eu reconheci. Até porque, quem não reconheceria Marco Reus?
Eu congelei. Não sabia onde enfiar a cara. Esse cara ao meu lado era Sven Bender, um dos irmãos Bender. Fiquei encarando meu copo ser ter coragem de dizer nada a ele. Como assim eu não tinha reconhecido um jogador de futebol? E pior, passado a noite conversando com ele como se fosse um cara qualquer.
- Mas eu sou um cara qualquer . É só um acaso que minha profissão envolve correr atrás de uma bola.
E eu tinha falado em voz alta.
- Me desculpe. Isso não está certo.
Comecei a me levantar, mas ele segurou meu pulso. O toque dele tinha uma coisa diferente. Não era a famosa corrente elétrica que se lia por aí. Seu toque era quente, agradável e me fazia querer descobrir mais coisa sobre ele.
- Por favor, fique. Não vá embora só porque eu sou jogador de futebol. Até porque, a mídia nunca se importa quando se compete com Marco Reus e Pierre Aubameyang no elenco.
Eu ri. De fato, a noite tinha sido agradável. E ele não era nada como eu imaginava famosos jogadores, muito pelo contrário, corria o risco de dizer que ele era mais do que eu jamais teria idealizado na minha vida.
Depois daquele dia nós havíamos saído outras vezes. Conversado outras tantas. E as coisas foram evoluindo de uma forma natural. Um dia rolou um beijo. Um dia ele dormiu na minha casa. Um dia estávamos namorando.
Ia para os jogos do Borussia Dortmund com ele, vestida com uma camisa com seu nome nas costas. E mesmo quando ele não jogava, eu estava ali no estádio.
Acabei fazendo amizade com algumas das outras namoradas e até mesmo com algumas jornalistas, como foi o caso da britânica Blue Chase. Uma garota com cabelos pretos e uma pele branca que se destacava das demais jornalistas do local. Ela trabalhava para um jornal inglês cobrindo principalmente os jogos do Chelsea.
Começamos a conversar em um jogo no qual ela substituía um colega, e logo ficamos amigas.
Eu era designer de moda, então sempre ia para Londres a trabalho. Com o tempo, ela acabou se tornando uma das minhas melhores amigas.
E era exatamente com ela que eu estava naquele jogo. De volta ao palco do 7 a 1, mas dessa vez com a seleção Olímpica. Eu sempre quis conhecer o Brasil, e quando Sven e Lars foram convocados, a família inteira resolveu vir. Era claro que não ia ficar de fora.
O jogo era contra a seleção de Fiji. E eu sabia que os meninos iam golear. E principalmente porque eles estavam precisando de quantos gols eles pudessem fazer se não quisessem voltar para casa ainda na primeira fase do campeonato.
Não tinham feito bons primeiros jogos e estavam com muita dificuldade de em fazer passes. Sven havia reclamado comigo várias noites após treinos que os garotos estavam com dificuldade de passar a bola, o que dificultava o trabalho dele.
Ele, Lars e Nils Petersen era os únicos acima de 23 anos, e pela experiência precisavam segurar a seleção. E, se antes já estava complicado, com a lesão do Leon Goretzka, capitão do time, meu namorado teria que dar conta dos mais novos.
Blue não conhecia os demais jogadores além dos gêmeos. Ela estava no Brasil cobrindo os jogos de futebol feminino, mas conseguiu uma folga para assistir um dia de competição do masculino. Como já estava em Belo Horizonte, me esperou para que assistíssemos juntas.
O hino começou a tocar e meu coração foi a mil. Sempre me emocionava com esse hino, e escutá-lo ao vivo antes de ver o meu namorado em campo era emocionante.
Após dois anos de namoro eu acabei aprendendo bastante sobre futebol. Se me perguntassem, eu defenderia o Borussia Dortmund com todas as minhas forças. Havia aprendido a amar o esporte. A amar o time pelo qual o meu namorado defendia. E se antes já era nacionalista em relação a Alemanha, ver a seleção jogar agora era um motivo de orgulho.
O jogo começou e de onde estávamos era possível ver o meu namorado de perto. Eu o acompanhava de um lado para o outro, mas sempre concentrada aonde a bola estava indo.
Blue estava tão emocionada quanto eu de estar ali. Ela era apaixonada por futebol desde criança, torcedora do Chelsea, não tinha sido atoa que ela era uma excelente jornalista esportiva. Porém, seu trabalho na Premier League não a deixava ter tempo de acompanhar outros campeonatos. E por esse motivo, ela não conhecia boa parte dos jogadores da seleção olímpica.
Após do quarto gol a goleada já estava confirmada. E principalmente, a seleção alemã já estava classificada para a próxima fase. Então começamos a simplesmente observar a beleza dos jogadores alemães.
- Então Blue, quem você quer?
- Olha El, estou aceitando qualquer um desses viu?
Eu comecei a rir da minha amiga. Sabia que ela estava levando na brincadeira, porém eu estava falando muito sério.
Haveria uma pequena recepção no hotel após o jogo. Nada grande afinal os meninos ainda tinham uma competição inteira pela frente, porém uma classificação era uma classificação. E uma goleada era uma goleada.
Quando Sven viu que jogariam no Mineirão ele se sentiu uma criança de tão ansioso para o jogo. Mesmo sendo contra Fiji, o que significava que não seria uma partida difícil, ali era um palco diferenciado para eles.
Havia sido naquele exato estádio que, na Copa do Mundo de 2014, a seleção principal da Alemanha havia feito o famoso 7 a 1 contra o Brasil. E se o ritmo do jogo continuasse igual, faríamos outro 7. Mas dessa vez sem o 1.
- Olha, eu gosto do seu cunhado. Mas esse número 18 me conquistou. Mas olha, o capitão também não é nada mal.
Rimos e enquanto isso saiu mais um gol.
- Estou amando esse jogo com tantos gols e homens bonitos.
- Não fala. Sven fica lindo correndo atrás de uma bola.
Blue começou a rir sem parar da minha cara.
- Só você mesma para falar isso .
Dei de ombros,
- Acontece né?
E então tivemos mais um gol e o intervalo. Estava 6 a zero para o nosso lado, e tínhamos certeza que ainda sairiam muitos gols.
- Então Blue, escolhe um. Você tem mais 45 minutos para resolver. Depois do jogo teremos uma pequena recepção no hotel, e se você me prometer que vai deixar seu lado jornalístico do lado de fora, posso te levar.
- Espera aí, você está me convidando para conhecer os jogadores?
- Claro! Contanto que seja como minha amiga e não como jornalista. - Sabia que estava sendo repetitiva, mas precisava deixar isso claro.
Ela pensou por um tempo até que resolveu.
- Me apresenta o número 18 que está tudo certo.
- Pode deixar, te apresentarei Nils Petersen.
E ao começar o segundo tempo, minha amiga começou a elogiar o Petersen sem parar. E com razão! O moço havia feito só 5 dos 10 gols.
- Ele é tão alto, musculoso. Quero. Ele já pode pedir música.
- Só música?
E a única coisa que eu sabia fazer em seus comentários era rir.
O jogo acabou e tudo que eu queria era invadir o campo e abraçar o Sven, mas infelizmente eles não deixaram a torcida entrar no campo.
Fomos pelos bastidores até a porta do vestiário. Eu sabia que meu namorado estaria me esperando porque era nossa rotina pós jogo, perdendo ou ganhando, jogando ou não. Sempre dávamos um jeito de nos abraçar.
Eu nunca me importei com o cheiro do seu suor, e para falar a verdade, ele ficava maravilhoso saindo do campo. Era uma coisa estranha nossa, todo casal tinha sua coisa estranha. Eu amava aquele homem, e ninguém tinha nada a ver com o que tínhamos.
Ele olhou nos meus olhos e me deu um selinho.
- 10 é um bom número?
- 10 é um ótimo número. O que vocês acham de tornar o Mineirão como sede da dfb.
- Podia né?
E tão rápido como nos encontramos, ele precisou entrar no vestiário. O técnico queria repassar algumas orientações para o próximo jogo.
Encontrei com a Blue e fomos até a van que levaria as famílias para o hotel.
E eu só era sorrisos pelo dia que tínhamos vivido ali.

Eu estava amando o Brasil. O calor do país, apenar de estarmos no inverno. A torcida que nem sempre escolhia um lado, mas eram sempre tão receptivos. Agora eu entendia a ansiedade de Sven para jogar no país.
A festa daquele pós jogo havia me deixado mais animada ainda. O próximo jogo seria na capital do país, contra Portugal. Mas ninguém queria pensar no sábado, até porque, uma vitória era sempre uma vitória. Mesmo que fosse um jogo fácil.
E que o Sven não me escutasse falando que tinha sido um jogo fácil, ele tinha a ideologia que não existia jogo fácil, apenas subjugávamos nossos oponentes. E quem era eu para falar que ele estava errado. Conquanto que continuasse ganhando, estava tudo certo.
Assim que meu namorado chegou no salão eu o abracei. Estar perto dele me dava uma sensação de paz na qual eu era um pouco viciada. Não, nada de dependência, apenas gostava do seu toque na minha pele, e de como tínhamos uma dinâmica só nossa. Lars costumava encher o saco dizendo que eu quem deveria ser gêmea de Sven, porque quando estávamos juntos o mundo parecia estar em equilíbrio.
Eu sempre dizia que graças a Deus que não era. Gostava de transar com meu namorado sem me sentir em Game of Thrones.
Mas apesar de ser inconveniente as vezes, eu gostava do meu cunhado. Ele sabia ser divertido e levar as coisas a sério ao mesmo tempo. Bem mais extrovertido que o irmão, tinha uma facilidade enorme para fazer amizades. Talvez fosse por isso que ele sempre tinha uma amiga do lado. Amizade colorida, claro.
- Liebe, vamos apresentar a Blue para o Nils?
Sven me olhou com um olhar curioso, já interpretando todas as minhas intenções. Era outra coisa que sempre fazíamos: ler a mente um do outro.
E justamente como se o destino estivesse dando um jeito das coisas darem certo, Petersen chegou para me cumprimentar.
- Fala ai menina Bender. O que você achou dos meus gols? - Ele sorriu se exibindo. Tão Nils ser modesto...
- Parabéns por ter defendido nosso país. - Levantei uma sobrancelha sorrindo de volta.
Eu sabia colocar ele no lugar dele, mesmo que ele odiasse admitir isso.
Chamei Blue e a apresentei a ele.
Os dois começaram com uma discussão sobre jornalismo esportivo. Sven aproveitou para me afastar dos demais presentes.
Para falar a verdade, eu queria rapta-lo para o quarto, porém sabia que agora não era o momento. Principalmente porque não tínhamos exatamente um quarto nosso. Mas isso não nos impediu de ir para uma área mais afastada do hotel.
Estávamos na cobertura, e a vista da cidade era linda. Havia pesquisado o significado do nome daquela cidade, e podia dizer que fazia todo sentido ela se chamar Belo Horizonte.
Nos sentamos em uma cadeira de praia que estava ali justamente para se permitir observar a vista.
- Obrigado por estar aqui comigo.
Olhei para Sven. Eu estava sentada entre suas pernas e ele me abraçava, e forma que estava recostada em seu peitoral firme.
Sorri para meu namorado.
- Eu não poderia estar em nenhum outro lugar do mundo.
Ele começou a fazer carinhos na minha nuca. Aproximei meus lábios dos dele sem de fato tocá-lo, apenas misturando nossos hálitos.
- Ainda assim, obrigado por atravessar um oceano só para me ver jogar. Você me dá forças . Me faz querer ser cada dia melhor apenas para ver esse seu sorriso no rosto.
Ele olhou para mim do jeito carinho que só ele sabia fazer. E então, não esperei mais nem um segundo para colar nossos lábios.


Birthday Girl


Birthday Girl
Era o aniversário dela. E se tinha uma coisa que gostava era seu aniversário. Ela tinha passado o último mês só falando na data, nas coisas que gostaria de fazer nesse dia, e apesar de saber que metade eram apenas sonhos, jamais tinha deixado de me esforçar o suficiente para deixa-la feliz.
E é claro que eu não poderia deixar de preparar uma festa só nossa. Nossa rotina de trabalho era corrida e não eram muitos fins de semanas que podíamos passar juntos. Sempre tinha algum jogo em outra cidade, ou ela tinha um projeto para a segunda feira. Mas aquele dia eu não a deixaria
Seu aniversário era no dia 25 de Maio. Um sábado. Sabia que ela não iria trabalhar, então estava tudo certo para o nosso dia juntos, mesmo que ela não fizesse ideia.
O dia amanheceu com um sol entrando na janela. Ela estava adormecida de forma que sua respiração era música para meus ouvidos. Fiquei um tempo observando sua pele bronzeada naturalmente contrastar com seu cabelo castanho claro. Ela havia feito algumas mexas loiras que eu particularmente amava, a deixava com um ar mais jovial.
Sua pele exposta me dava vontade de acariciar, porém não queria acorda-la. A conhecia o suficiente para saber que qualquer toque ou movimento iria despertá-la. Fiquei por um bom tempo apenas observando minha namorada, e em como seu corpo era maravilhoso. Tinha dias que eu não acreditava por ter conseguido uma garota tão fantástica.
Aos poucos percebi sua respiração ficar desregulada. Ela estava despertando.
Pensei em disfarçar que a observava, mas já tínhamos tempo de relacionamento para isso não ser mais considerado estranho. Ela sorriu para mim, o sorriso mais doce que eu já tinha visto na vida.
-Bom dia aniversariante. - Dei um beijo no seu nariz, o que fez com que ela risse mais ainda.
- Bom dia.
Aproveitei a nossa proximidade e a beijei. Suas mãos foram diretamente para a minha nuca, aprofundando o contato. Desci a minha mão esquerda pela lateral do seu corpo, sentindo sua pele arrepiar com meu toque.
Passei a beijar o seu pescoço e senti a sua risada abafada no meu. Ela sempre sentia muitas cócegas, e eu achava isso impressionante. Em respostas às minhas carícias, ela passou as unhas nas minhas costas, e eu sabia que deixaria marcas. Sem treino sem camisa para mim nos próximos dias.
Brincamos de explorar o corpo um do outro por mais alguns minutos. E por mais que eu quisesse passar o dia na cama com ela, tinha uma programação especial da qual eu estava louco para ver a sua reação a ela.

E logo começou no café da manhã.
Na noite anterior já tinha deixado algumas coisas preparadas na geladeira, como morangos cortados e uma torta de chocolate. Era sua combinação favorita: chocolate e morangos. Se dependesse da , ela só comeria doce. Ainda bem que, em contrapartida, também era viciada em academia.
Ela se sentou na mesa enquanto eu terminava de fazer um café.
- Estou amando essa história de ser servida. Cuidado para eu não me acostumar Sven Bender.
Sorri de lado para ela que me observava com um olhar sonhador.
- O que foi?
- Às vezes fico me perguntando o que eu fiz para ter tanta sorte.
Coloquei o leite na mesa já posta, e me sentei ao seu lado segurando o seu rosto.
- Eu que tenho sorte. Tenha a certeza disso.
- Eu te amo tanto Sven Bender,
- Eu também te amo .
Encostei nossos narizes enquanto ficávamos sorrindo um para o outro.
- Agora eu to morrendo de fome.
- Quando você não está com fome?
Apenas ri de seu comentário.

Depois de quebrarmos o jejum, era hora de começar o que havia programado.
Sentei na cama enquanto a via arrumando suas coisas espalhadas pelo quarto de um lado para o outro, tentando reunir todo em sua pequena gaveta no meu apartamento. Ela odiava deixar as coisas bagunçadas enquanto eu não me importava de deixar para depois o que não era urgente. Mas era apenas porque ela estava agitada e eu estava nervoso. Tínhamos essa diferença de comportamento. Ela era explosiva, eu era introvertido. E talvez fosse por isso que nossa dinâmica funcionava tão bem.
-El - olhei para ela sorrindo, que parou no meio do quarto com uma pilha de roupa suja nos braços - Você pode fazer isso amanhã. O que você acha de fazermos um passeio hoje.
- Sven, eu realmente não tenho tempo para fazer isso depois.
Me levantei e fui até ela pegando as roupas e jogando-as no chão.
- Então eu faço, porque agora, você vai colocar sua roupa favorita e nós vamos sair.
Ela ficou me olhando de uma forma que eu tinha certeza que ia apanhar. Mas, mais uma vez, ela podia ser imprevisível. Seu sorriso me fez ter certeza que tinha feito a escolha certa.
Poucos minutos depois ela apareceu com um vestido branco solto em seu corpo magro, que a deixava com uma aparência adorável. Para mim, ela estava perfeita.
E eu sempre sorria como um bobo ao olhar para ela, mesmo depois de dois anos de namoro.
Peguei a chave do carro. Ela pegou na minha mão enquanto íamos para o calor da rua em direção à Mercedes preta que estava estacionada no meio fio,
- Odeio quanto você faz isso.
- O que? - Olhei para ela enquanto dava partida no carro.
- Fica calado. Mais do que o normal. Significa que você está apreensivo com alguma coisa, e como hoje não é dia de jogo, estou aqui querendo saber o que é.
Sorri sem jeito. Se a olhasse ela iria estragar toda a surpresa. Apenas liguei o som que começou a tocar uma música do Bastille. Esse cd já estava no meu carro há alguns meses e eu já havia decorado as músicas, mas Pompeii era sempre uma boa ideia.
Senti o olhar de em mim. Ela sabia que eu estava escondendo algo, e precisaria com urgência pensar em algo para distraí-la, ou então ela acabaria com toda a minha surpresa.
Para a minha sorte, logo chegamos no parque de diversões. Ela sempre gostou de montanhas russas enquanto eu preferia os carrinhos de bate-bate. Mais uma vez, ela era o furacão, eu era a calmaria.
Furacão . Combinava com ela.
- Era essa a grande surpresa?
Sorri enigmático. Ela não iria tirar isso de mim.
- Sven! - Ela não se aguentou e finalmente senti um soco fraco no braço direito.
- Outch, essa foi golpe baixo.
- Ah é? E vai ser pior ainda se você não me falar o que está acontecendo?
Me virei para ficar de frente para ela e segurei seu rosto entre minhas mãos. Ela estava com os braços cruzados e uma cara de brava que a deixava mais interessante do que já era.
- , você confia em mim? - Ela assentiu devagar, lutando contra sua própria teimosia - Então vamos entrar, ir em todos os brinquedos que você quiser. Depois, vamos aproveitar um jantar em um restaurante italiano que eu sei que você vai amar. Para de pensar demais. Pelo menos hoje. Por favor.
Aos poucos ela foi relaxando e abriu um sorriso. Levantou o rosto e me deu um beijo. Ela era alta do jeito certo, apenas 6 cm mais baixa do que eu. Achava isso maravilhoso pois era a diferença exata para que nossos corpos se encaixassem perfeitamente.
A puxei para meus braços a abraçando e apoiando a cabeça na sua.
- Calma amor, está tudo certo. Eu estou aqui, e não tem nada de errado.
- Promete? - Seus olhos brilhavam como se tivessem cheios de lágrimas.
- Prometo. - Beijei a sua testa antes de soltá-la.
Peguei a sua mão e fomos andando em direção à montanha russa.
Ela sabia que eu tinha muito medo de ir nesse brinquedo, e exatamente por isso ela iria me desafiar. amava me desafiar a fazer as coisas que me faziam sair da zona de conforto.
- Te desafio a levantar os braços na descida. - Ela disse me olhando com uma cara de moleca.
- Nem inventa .
O carrinho começou a andar e a adrenalina começou a subir pelo meu corpo.
A descida do brinquedo chegou e só escutei minha namorada gritar.
- Agora seu covarde!
Com o susto apenas levantei os braços.
E valeu a pena a sensação de estar caindo e todo o medo que senti apenas para escutar a risada dela. A risada dela era o som mais gostoso que eu conhecia. Era o melhor som que eu já havia escutado, superando inclusive os gritos da muralha amarela.
Sai do brinquedo com as pernas tremendo e ela me puxando pelo braço.
- Sven, você é muito medroso. - Ela estava claramente dando gargalhadas da minha cara.
- As coisas que não faço por você, . As coisas que não faço por você.
Fomos em mais alguns brinquedos dos quais quase morri de tanto medo, mas aquela garota sabia se divertir. Ela estava feliz, e fazê-la feliz era um dos meus objetivos de vida.
Saímos do parque quando já estava anoitecendo. Ela agarrada no meu braço emanando uma energia tão leve que me deixou com um sorriso no rosto.
...
Sven estava me escondendo alguma coisa. Desde a hora em que havíamos levantado eu tive a certeza que tinha algo que ele não estava me contando. Mas durante o dia tudo tinha sido tão perfeito, que simplesmente resolvi entrar na dele e não discutir.
Ele estava certo. Era meu aniversário e eu tinha o direito que não precisar me preocupar com nada, até porque meu namorado parecia ter tudo planejado.
Ele tinha se superado no parque e ido comigo a todos os brinquedos. Sabia do seu medo de altura, e aquilo era muito para ele. Seus olhos azuis não negavam o quanto ele estava se esforçando. E vê-lo ali do meu lado dando o seu melhor me fazia sorrir a cada vez mais. Minhas bochechas já estavam doendo de tanto sorrir, porém era impossível parar.
Agora estávamos a caminho do tal restaurante italiano. Era uma coisa rara irmos jantar fora, primeiro porque tínhamos um horário completamente fora dos padrões, então o delivery era a nossa solução. Segundo porque tínhamos pouco tempo juntos e se era aquele momento que poderíamos passar na companhia um do outro, passaríamos.
Minha rotina de trabalho não era fácil. Sempre tinha algum projeto para ser aprovado, algo para se pensar e era normal eu virar noites na agencia. E tinha dias que mesmo o Sven de folga, nós não conseguíamos nos ver. Saia da agencia tão tarde que ia direto para meu apartamento, já sabendo que ele estava dormindo há muitas horas.
Sven Bender dormia cedo. Nunca saberemos se é pelo fato dele ser um jogador de futebol e precisar de todas as horas de sono que conseguir, ou se era apenas uma característica dele. Mas o fato era que às dez da noite ele já estava morrendo de sono, e se não fosse dormir, começaria a fazer besteiras. Ele não precisava de álcool para ter atos como me ligar para dizer que estava com saudades, ele só precisava ficar com sono.
Mas apesar do nosso dia agitado, ele estava animado com a noite.
Eu amava o observar. Principalmente quando ele estava concentrado em algo, seja dirigindo ou jogando futebol. Tinha me apaixonado com ele após uma noite nos observando, e mesmo depois de tanto tempo de namoro, ainda era uma coisa que eu adorava fazer. Acho que ele nem se quer tinha ideia disso.
Chegamos no restaurante, e como ele havia feito reservas, fomos logo sentar na nossa mesa.
O lugar não estava lotado, porém tinha uma boa quantidade de pessoas. A iluminação deixava o espaço com um ar mais intimista, assim como a música ambiente ao fundo.
Ele puxou a cadeira para que eu pudesse me sentar e se dirigiu para o seu lugar na minha frente.
- Então, o que você vai querer pedir?
- Acho que estou com vontade de um macarrão a carbonada.
- Para beber?
- Vinho!
Ele me olhou como se questionasse a minha decisão. Eu não gostava de álcool, mas em ocasiões especiais caiam bem.
- Sven, não é todo dia que se faz 25 anos.
- Você está certa. - Ele deu de ombros chamando o garçom.
- A moça quer um espaguete a carbonara e eu vou querer um risoto aos quatro queijos. E também o melhor vinho que você tiver.
O rapaz anotou nossos pedidos e se retirou.
...
Peguei a mão dela por cima da mesa.
- E aí aniversariante, o que está achando do seu dia?
Ela sorriu apertando minha mão de volta.
- Até agora está indo muito bem.
- Bom saber disso.
Começamos a conversar de trivialidades enquanto esperávamos nossa comida, até porque se tinha uma coisa que nós éramos bons, essa era conversar.
Após jantarmos, pedimos a sobremesa. Estava chegando a hora que tinha me deixado apreensivo o dia inteiro, mas agora eu não poderia voltar atrás. Eu não queria voltar atrás.
Sua fatia da torta de chocolate chegou junto com uma vela. Ela olhou para aquilo como se fosse a melhor surpresa que ela já tinha recebido, mas ela não tinha ideia de como aquilo era apenas um início.
- Não se esqueça de fazer um pedido.
Ela olhou para mim com um olhar cúmplice e sorriu, como se eu soubesse o que ela estava pedindo. Porém, eu não fazia ideia.
Ela soprou a vela.
- Agora, o seu presente de aniversário. - Peguei a caixinha que estava no meu bolso desde aquela manhã e coloquei na sua frente.
- Sven, o que é isso?
Sua expressão fechou. Eu sabia que ela era contra toda essa coisa de casamento.
...
"Faça um pedido". Sempre que me diziam isso no aniversário, eu pedia a mesma coisa: que eu fosse feliz. E pela primeira vez em 25 anos, eu tomei a consciência que aquele pedido tinha se realizado. Eu era feliz. E não saberia se havia como ser mais feliz do que isso. Então, eu apenas pedi para que essa felicidade permanecesse por toda a minha vida, e principalmente o motivo dela: Sven Bender.
Ele colocou uma caixinha azul na minha frente e eu gelei. Primeiro porque achei que ele tivesse lido a minha mente, apesar de ser bobagem. Segundo porque eu nunca quis me casar.
Meu problema não era a história de se casar com uma pessoa, dividir uma vida. Eu simplesmente odiava cerimonias de casamento e o que elas representavam. Duas pessoas que se amavam e que sempre ficariam juntas, que eram perfeitas juntas, tinham nascido uma para a outra. Isso não era real e eu jamais acreditaria nisso.
Nunca quis me casar em uma igreja. Aquilo não era demonstração de amor. Demonstração de amor era o que Sven tinha feito hoje, enfrentando seus medos para estar ao meu lado. Era ir a um jogo de futebol e ver meu namorado defender uma bola e gritar como se tivesse feito gol, mesmo que o time estivesse perdendo por uma enorme diferença no placar.
Isso era amor, não colocar uma aliança no dedo.
E Sven sabia disso.
Ainda com medo, abri a pequena caixa. Ali estava uma chave prateada com um chaveiro com a letra E.
- Vem morar comigo? - Ele me olhou com sua expressão de cachorro pidão, que apesar de parecer uma coisa ruim, para Sven Bender era uma coisa adorável - Eu sei que nossa rotina é maluca, sei que você gosta do seu cantinho. E sei que você é contra as festas de casamento, mas veja, estou pedindo para você vir me fazer companhia no meu apartamento. Dividir comigo um espaço que já é nosso. Passamos boa parte do nosso tempo ali, e não faz sentido termos duas casas quando já vivemos em uma casa só. E , - ele fez uma pausa voltando a segurar as minhas mãos sobre a mesa - eu te amo. Nunca me senti assim com nenhuma outra pessoa no mundo. Nada e nem ninguém me deixou tão feliz. Vamos construir nosso lugarzinho?
Por um tempo eu não saberia o que responder. Achei que deveria pensar sobre o assunto. Mas sentir as suas mãos nas minhas, e como o calor do corpo dele no meu me ajudava a pensar melhor, e a forma como já fazíamos tudo juntos. Como dávamos certo, a nossa dinâmica. Aquele não era um pedido de casamento oficial, mas era um pedido para começarmos a nossa família juntos. Era um passo enorme na vida.
E eu poderia não estar preparada para ele, mas não era qualquer pessoa na minha frente. Ali, era Sven Bender. O cara que me fazia querer ser feliz como nunca antes tinha tido vontade. O cara que me fazia ser feliz.
Então, eu respondi a única coisa que eu poderia responder.
- Sim. Vamos juntar nossas coisas.
Ele passou por cima da mesa me dando um beijo demorado.
- Eu te amo tanto.
Eu não tinha folego para responder mais nada. Naquele momento, eu só queria pagar a conta e ir para a nossa casa. Porque sim, agora era nossa casa. Nosso lar. O lugar onde começaríamos nossa vida juntos.
E eu só conseguia pensar que eu amava aquele homem.
With Me


Finalmente tinha chegado o dia da mudança. se mudaria para o não tão pequeno apartamento de Sven Bender, e, a partir daquele dia passaria a dividir o seu tão precioso espaço com outra pessoa.
Ela sempre teve certeza que o amava. Sven era o único capaz de trazer toda a paz do mundo para ela, mesmo que nem sempre parecesse. Ela fechou pela última vez o agora vazio flat que havia sido sua casa durante todos esses anos.
Ela havia saído da casa dos seus pais logo que entrara na faculdade. Muitos diziam que ela havia sido louca. Abdicar do conforto e da companhia da família mesmo ainda morando na mesma cidade. Mas sempre foi uma mulher decidida, e ter seu próprio apartamento era mais do que conseguir sua independência.
Ela não acreditava em amor eterno, casamento ou qualquer coisa que significasse que sua felicidade só seria possível se tivesse um homem em sua vida. Muito pelo contrário, ela sempre quis ser livre, casar jamais era uma possibilidade e só de pensar na ideia de ter filhos ela se arrepiava toda.
E sua vida ia muito tranquila, até que um belo dia, em uma dessas boates da vida ela havia conhecido Sven. Ele era o oposto de tudo que ela já havia desejado para sua vida. A tratava como se ela fosse a dona do mundo, cuidava dela como se fosse a joia mais cara do universo. Sempre que ela precisava, ele estava lá, mesmo que fosse apenas uma TPM mais forte do que o normal ou até mesmo uma discussão com seu chefe.
Sven Bender havia transformado sua vida. agora não era apenas uma garota que ia contra as regras da sociedade, ela agora tinha alguém que amava cada pedacinho rebelde dela. Aos poucos, ele havia transformado em uma pessoa mais doce, mais aberta as adversidades da vida, assim como começaram a sonhar em construir uma família.
Tinha dias que Sven chegava cansado do treino e entrava no seu apartamento vazio e conseguia visualizar trabalhando na mesa da sala enquanto o seu pequeno time de futebol corria pela casa atrapalhando a mulher se concentrar. Sorria sempre que pensava nessa hipótese, mesmo sabendo que levaria um tempo para convencer que era possível sim uma vida a dois, para então enfim provar a ela que uma família não era algo tão desesperador quando ela achava.
Sven foi até a ajudando com a última caixa de livros. O último resquício que alguém tinha habitado o flat 403. Agora ela moraria com ele. O apartamento de número 914 em um dos maiores prédios da cidade teria mais do que apenas um solitário jogador de futebol o habitando.
- Lars falou que está esperando a gente no prédio.
- Até agora não entendi o porquê seu irmão veio até Dortmund só para fazer essa mudança.
- Te dou duas hipóteses: ou ele ainda não acreditou que estamos mesmo fazendo isso ou ele está atrás de alguma garota dessa região.
- Acho mais possível a primeira opção.
- Lars jamais ia perder a oportunidade de zoar da minha cara. Falar que enfim estou sendo o mais velho e responsável entre nós dois.
sorriu. Sven era mesmo o mais responsável entre os gêmeos Bender, apesar de ser alguns minutos mais novo. Não que ela fosse falar isso em voz alta perto de Lars.
No som do carro tocava Everything has Changed da Taylor Swift. Incrível como que as vezes uma música fazia mais sentido que um milhão de palavras. sabia que daquele dia em diante não tinha volta: Sven Bender era sua família. A família que havia escolhido, e ela sabia que não podia ter feito escolha melhor.
- Finalmente vocês chegaram! Fiquei com medo de você desistir cunhadinha. - Lars Bender se aproximou do carro e abraçou a menina. Ela jamais se acostumaria com a forma calorosa dele tratar as pessoas, completamente o oposto esperado por qualquer pessoa naquele país.
- Me solta Lars. Tem algumas caixas para subir. Já que você quis vir, agora ajuda.
Lars deu de ombro e, após cumprimentar o irmão, abriu o porta malas. Pegou uma das caixas e subiu o elevador que levava ao 914.
foi a última a entrar no apartamento. Ela olhou ao redor. O sofá amarelo no meio da sala continuava igual. A bancada que dividia a sala de estar da cozinha continuava com os mesmos enfeites. Os quadros e fotos penduradas nas paredes ainda eram os mesmos. Tudo ali tinha cara e cheiro de Sven. Ela havia passado muito tempo nos últimos anos ali, até mais tempo do que no seu próprio apartamento.
No seu antigo apartamento. Agora aquele lugar também era dela.
Os gêmeos olhavam para ainda parada na entrada. Muita gente poderia confundir os dois, mas ela sabia muito bem quem era quem desde que os conhecera. Sven era um pouco mais sério do que Lars. Este sempre mantinha um sorriso bobo no rosto, enquanto o gêmeo mais novo parecia estar sempre observando as coisas ao seu redor.
E essa era justamente uma das características que ela mais amava em Sven, sua capacidade de entender o que estava acontecendo antes que ela precisasse falar uma só palavra.
Ela respirou fundo e fechou a porta atrás de si. Estava oficialmente entrando na sua nova casa.

Os três começaram a desempacotar milhares de livros, roupas, objetos de decoração e fotografias. era louca por fotografias. Sempre pensou que por trás de casa imagem continha uma história, e seus álbuns estavam ali para provar.
- , onde você tirou essa foto? - Lars mexia em um dos álbuns da infância da garota. Ele apontava para uma foto na qual ela estava em um parque. Com certeza não tinha mais do que três anos de idade, e sorria para a câmera como a criança sapeca que ela havia sido.
Seus cabelos loiros eram cortados curtos, logo acima dos seus pequenos ombros, e ela vestia um vestido rosa de um tom não muito certo devido ao estado gasto da foto com os anos.
- Acho que eu tinha uns 4 anos nessa foto, Lars. Se não me engano foi em um parque em Berlin. Meu avô ainda era vivo, deveríamos ter ido visita-lo.
- Espera. Lars, me empresta a foto. - Sven pegou o pedaço de papel da mão do irmão.
Ele analisou cada detalhe da imagem e xingou mentalmente por não ser possível dar zoom em fotografias analógicas.
Ao fundo havia um parque com diversos brinquedos e dois garotos de mais ou menos seis anos brincavam em uma gangorra. Um deles vestia uma camisa azul e o outro uma verde. Sven começou a sorrir deixando os outros dois incomodados.
- E se eu contar para vocês que acho que somos eu e Lars no fundo dessa foto?
Lars olhou para o irmão como se ele estivesse delirando. Como era possível eles aparecerem no fundo de uma foto de de anos atrás?
Sven foi até o seu próprio armário de fotografias buscando um dos álbuns da idade próxima a dos garotos na foto. O lado bom de ter um irmão gêmeo era que eles tinham muitas fotos de infância. Todo mundo adorava tirar fotos deles quando crianças, era um dos motivos pelos quais ele não se importava tanto com o assédio dos fãs.
Depois de algum tempo foleando ele enfim encontrou o que procurava.
Na foto, Lars segurava uma bola de futebol enquanto Sven aparecia bravo porque o irmão mais uma vez tinha conseguido vencer dele no confronto mano a mano.
Sven vestia uma camisa azul. Lars uma camiseta verde. Havia encontrado a prova para os dois de que ele não havia enlouquecido, só tinha um memoria melhor do que a média.
- Sabia que conhecia aquelas camisetas. Agora tenho certeza, éramos nós naquela foto.
não conseguia acreditar. Aquele bar não havia sido a primeira vez que vira seu namorado. Pensava quantas vezes ela já deveria ter passado por ele sem que pudesse se conhecer. De fato, as coisas apenas acontecem quando elas têm que acontecer, se não, a probabilidade de dar errado era infinita.
Ela só conheceu Sven quando já estava realizada profissionalmente, quando enfim pode se permitir abrir para um relacionamento, dividir a vida com outra pessoa. Uma vez ela tinha lido que uma pessoa passa pelo amor da sua vida sete vezes antes que eles pudessem de fato se conhecer e ficarem juntos. Sorriu ao pensar que ela tinha tido a sorte do timming perfeito.

Depois que todas as coisas finalmente estavam guardadas, Lars resolveu ir embora. Ele ainda pegaria estrada para Leverkusen, mas Sven havia agradecido a presença do irmão ali.
Morarem em cidades diferentes, e, principalmente, defenderem times diferentes havia sido a forma que eles encontraram de cada um desenvolver sua própria personalidade sem comparações. E após muitas críticas dos pais, os dois finalmente estavam se encontrando, cada um em seu cantinho.
- O que você quer jantar? - Sven perguntou para enquanto caminhava para a cozinha.
- Vamos pedir alguma coisa. Para que sujar paneja?
- , é nossa primeira noite morando juntos. Nós não vamos comer comida chinesa sem gosto.
deu o braço a torcer, principalmente porque Sven era um excelente cozinheiro.
Jantaram um salmão aos quatro queijos e, exaustos, foram se deitar.
se aconchegou no peito de Sven e sorriu.
- O que foi?
- Estou pensando em como sou a pessoa mais sortuda desse mundo.
- Te dou certeza que não é.
- Sven!
- Você não é a pessoa mais sortuda do mundo porque eu sou a pessoa mais sortuda do mundo. Eu tenho você comigo e isso é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida.
- Melhor do que jogar pela seleção?
- Futebol me faz feliz, mas jamais me fez sentir que eu pudesse voar.
Sven abraçou a namorada lhe dando um beijo demorado e delicado. Aquele toque que apenas fazia sentido porque era um com o outro.
Sven Bender não morava mais sozinho. Agora ele tinha com quem dividir a cama, a televisão e principalmente, a vida. E não havia nenhuma outra pessoa com quem ele gostaria de ter ao seu lado por todos os dias que ainda estariam por vir.


Crossover Home


Esse capitulo faz crossover com a minha outra fanfic chamada Home. Não é necessário ter lido ela para entender esse conto, mas para quem leu Home, aqui está a explicação de um fato nos últimos capítulos. Quem quiser conferir mais novidades, entrem no grupo do facebook e me sigam lá no twitter @criativoativo.
Era a estreia do Borussia Dortmund na Budesliga. O jogo seria contra o Mainz 05. Sven Bender não iria jogar, havia chegado dos jogos olímpicos há menos de uma semana. Mario Götze também não jogaria. Estava com problemas musculares e Tuchel, técnico do BVB, o havia deixado de fora. Mas nenhum dos dois perderia o jogo de estreia, e era por isso que agora estávamos indo para o Westfalenstadion.
Babi havia me mandado uma mensagem. Ela estava nervosa com a estreia na Bundesliga. Louise não iria neste jogo, e Marco estava no pior humor que ele poderia ter pela falta da namorada. Já não bastava perder vários jogos da Bundesliga, mas Lou teria que passar esse mês em Berlim por causa do trabalho. Nem se quer a volta de Mario o estava animando, e Babi não queria ficar perto de um Reus mal humorado.
Götze, por outro lado, não ficava tão feliz há muito tempo. Estava sorrindo o tempo inteiro, e ele e a Babi eram o casal mais dinâmico que eu já conhecera. Ela estava trabalhando na área de mídia do Dortmund, e fora assim que nós havíamos nos reencontrado.
Sven estava igual criança para esse jogo. Combinamos de almoçarmos com o casal antes de ir para o estádio. Meu namorado estava nervoso e não sabia falar de outra coisa.
- Você acha que eu deveria ter voltado? Maldita hora para me machucar.
- Sven, você acabou de chegar da maior competição esportiva da humanidade. Com uma medalha! Merece esse descanso! E principalmente, você precisa se cuidar!
E esse diálogo havia sido repetido desde o momento em que chegamos do Brasil. Ele sabia que era a decisão mais sábia, mas não o impedia de querer jogar. Querer fazer algo pelo time.
- Devo ir com o uniforme do BVB?
Olhei para ele, que segurava uma blusa da temporada anterior em uma mão e uma camisa cinza na outra.
-Sven, você vai ser chamado para receber homenagem no estádio. Não vai com camisa de futebol. Mesmo sendo do clube.
Fazia calor em Dortmund. Era o dia mais quente do ano segundo os jornais. Por esse motivo, ele já vestia uma bermuda cinza, e sem camisa, olhava para mim com um olhar curioso.
- Como assim homenageado ?
Só então percebi que tinha feito besteira. Dei um tapa na minha própria testa.
-Não briga comigo. Por favor! Tuchel me ligou contando que iriam fazer uma pequena cerimonia de agradecimento pela medalha. - Ele sentou na cama com uma cara fechada. Desde o final do jogo ele ainda não tinha aceitado isso como grandes coisas.
- Eu não quero receber nada por aquela merda.
Caminhei até ele e levantei seu queixo para que ele olhasse para mim.
-Sven, quantas vezes eu vou ter que lhe dizer que vocês merecem sim essa medalha? Vocês perderam um jogo. E por azar! E outra, perderam para os donos da casa. Essa medalha é importante sim, e se o clube quer te dar as boas vindas por isso, você vai ir até o campo, dar o seu melhor sorriso e receber a homenagem.
Ele desviou o olhar, e eu o deixei com seus pensamentos enquanto ia até o closet pegar um vestido branco.
Babi: aa, com que roupa você vai?? Estou querendo ir com um short mas estou com medo do local. No Brasil não é muito indicado ir de short para um estádio...
: Babi, você já está com o Mario há uns 6 meses e até hoje não entendeu que aqui na Alemanha as coisas são bem diferentes do Brasil?
Babi: Ainda assim! Vê se essa roupa ficou legal.

Ela me mandou a foto de um short de cintura alta e uma regata branca. Os meses convivendo com a Louise a havia feito aprender o gosto por moda e por se arrumar. Quem conhecesse a Babi agora não acreditaria que era apenas uma menina perdida ao chegar na Alemanha meses atrás.
: Babi, eu vou com um vestido. Fica tranquila. E aliás, Mario e Sven vão estar com a gente. Eles vão receber toda a atenção. Só temos que ir lá e torcer para o time.
Babi: Por algum motivo estou mais nervosa com esse jogo do que o da Supercopa. Isso não faz nenhum sentido!
: Respira menina. Estaremos todos juntos. Vamos só nos divertir.
Babi: Vou tentar. A gente se encontra no Fernandis às 13 horas né?
: Combinado!

Fernandis era o melhor restaurante italiano em Dortmund. E também um dos nossos lugares preferidos de ir quando estava quente, pois as mesas ficavam em um pátio ao ar livre. E além de ser simplesmente maravilhoso, a comida era excelente.
Minha amizade com a Babi havia começado na final da Pokal. Mario ainda incerto sobre seu futuro e ela com as malas quase prontas para Dortmund. Acabei os ajudando com a mudança e eles estavam morando em meu antigo apartamento até a casa que estavam construindo ficar pronta.
Entendia que ela estava ansiosa pela nova situação. Era a primeira vez que ela iria ver o time jogar estando do lado certo da torcida. Iria ao jogo apenas para se divertir. Eu também estaria nervosa se não estivesse fazendo isso por alguns anos já.

Chegamos no restaurante e Sven passou o braço nos meus ombros. Eu amava como ele fazia isso quando estava preocupado. Era como se eu fosse seu porto seguro, e adorava saber que ele sentia por mim o mesmo que eu sentia por ele.
Mario e Babi já estavam sentados em uma mesa mais afastada. Ele bebia um suco de morango e ela uma cerveja. Esses dois conseguiam ser extremamente trocados as vezes.
- Vocês chegaram! - Ela se levantou para me abraçar, e então parou.
- Para com isso Babi. - A abracei pegando de surpresa. Sabia que ela estava acostumada a abraçar as pessoas. Era uma das coisas que gostava nela, o quanto era espontânea.
- E ai? - Sven e Mario se cumprimentaram.
- Homens...
O almoço foi tranquilo e divertido. Eles contaram como estava a construção da casa nova. Nunca vi um casal tão feliz e animado como aqueles dois.
- A casa vai ficar maravilhosa. Estamos construindo uma área para festas.
- Gostei dessa ideia de área. Estávamos mesmo precisando de um lugar para as festas não oficiais do clube. - Sven ficou animado.
- Desde quando você é animado para festas?
- Contanto que elas acontecem longe dos olharem da mídia, eu adoro.
- É, concordo. Festas particulares e secretas são sensacionais.
Babi sorriu e cutucou Mario.
- O que? Você quem teve a ideia, você que divulga.
- O que Babi? - Olhei para minha amiga extremamente curiosa.
- Nossa casa deve ficar pronta em meados de outubro. O que vocês acham de uma festa de Halloween? - Ela sorria parecendo uma criança.
Sem perceber arregalei os olhos.
- Adorei a ideia.
- Ótimo. Então vamos planejar.
Saímos do restaurante conversando sobre a possível festa, enquanto Mario e Sven discutiam sobre o jogo. Quem seria a possível escalação, um placar e principalmente, como estava Marco Reus.
...

As olimpíadas não tinham acabado como eu imaginara. Voltara para casa com uma medalha de prata e uma lesão. Era o jogo de estreia do Borussia Dortmund pela Bundesliga, porém eu não tinha ideia de quando voltaria a jogar. Quando propôs que saíssemos com Mario e Babi eu fiquei com um pé atrás.
Havia conhecido a garota durante uma sessão de fotos, ela era legal, mas nunca pensei que fosse ser um casal com quem teríamos um relacionamento de amizade, principalmente porque nunca havia sido próximo do Mario. Mas minha namorada sabia se socializar e sempre fazia amizade com as "novatas". E se íamos assistir ao jogo da arquibancada, porque não irmos juntos?
O Signal Iduna Park estava lotado como sempre. A expectativa era grande. O clube havia feito muitas boas contratações na janela e todos queriam ver o resultado desse novo time, apesar de Thomas Tuchel afirmar que esse resultado demoraria a chegar.
Eu particularmente acreditava que, quando todos os jogadores estivessem em forma, haveria alguma chance. Mas seria necessário tempo. E nem sempre tínhamos esse tempo disponível.
A atmosfera do estádio estava maravilhosa, como sempre. As músicas cantadas pela torcida, a iluminação e a grama verde. Havíamos chamado Marco para se sentar com a gente, mas ele preferiu a solidão junto a bancada. Desde que havia ficado de fora da Eurocopa ele estava estranho. Preferindo ficar sozinho a se relacionar. Louise havia ido a trabalho para Berlim, mas eu sabia que na verdade ela estava se dando um tempo da nuvem negativa que havia se tornado Marco Reus.
Não via a hora de ver meu amigo de volta. Nunca havíamos sido muito próximos, mas eu o considerava um amigo, principalmente quando as coisas ficavam apertadas.
- Eu senti falta disso. - Mario parou ao meu lado, apenas observando o ambiente.
- Fico feliz que você esteja de volta.
- Eu também. Aqui é minha casa. - Sorri para ele.
- Seja bem vindo de volta Mario Götze.
Nos sentamos ao lado das meninas que já estavam conversando sobre alguma coisa que não consegui entender. Harriet, esposa de Bürki, também havia se juntado a elas.
- Babi, você vai ver que é muito mais divertido assistir jogo do Borussia.
- Te dou certeza que emoção não vai faltar. - alertou a amiga. E ela tinha razão, emoção não faltava quando se tratava de BVB.
- Meninas, vocês estão assustando a Babi.
- Fica tranquilo Sven, já estou acostumada. Minha melhor amiga é torcedora do BVB.
Elas voltaram a conversar e Mario puxou assunto.
- Cara, eu estou com tanta raiva dessa lesão. Estava louco para voltar aos campos.
- Pensa que pelo menos daqui a alguns dias você volta... É só um musculo estirado. Não é nada complicado.
- O que você arrumou falando nisso...
- Torci o tornozelo. Porém não foi uma torção simples. Na hora não senti nada, mas depois começou a incomodar muito e quando retornei ao clube e fomos fazer os exames, torção de grau alto. Fisioterapia e sem previsão de voltar a jogar.
Meu amigo ficou calado. Ele sabia que estava reclamando por pouco. Quando recebi a notícia que estava fora por tempo indeterminado, fiquei assustado. Essa palavra era uma coisa complexa. "Indeterminado".
fez de tudo para que eu não me sentisse mal. Saímos para jantar, assistimos a um filme na Netflix, ficamos juntos a noite inteira. Aquele dia eu tinha tido certeza que tinha escolhido a melhor pessoa do mundo para ter ao meu lado, porque ela era mais do que a minha namorada, ela era a minha melhor amiga.
Peguei sua mão enquanto escutávamos o apito inicial do jogo. Ela olhou para mim surpresa.
- Eu te amo sabia?
Ela sorriu sem graça. Não éramos de fazer declarações em público.
- De onde surgiu isso Sven?
- Acabei de perceber que eu sou o cara mais sortudo do mundo.
- A é? Como você chegou a essa brilhante conclusão?
- Porque eu me casei com a minha melhor amiga.
Ela sorriu e me puxou para um beijo.
- Eu também te amo seu bobo.
Estávamos em casa. Estávamos com nossos amigos. A vida tinha dos seus problemas, mas ninguém nunca disse que ela ia ser perfeita. E enquanto eu tivesse , as coisas seguiriam dando certo.
Ao final do jogo foi anunciado no alto falante que iriamos receber homenagens. já havia me avisado, mas eu estava nervoso. Era tímido demais para ficar de frente a tantas pessoas. É, eu jogava futebol frente a todas elas mas para receber uma homenagem eu ficava tímido.
Desci ao campo ao lado de Ginter, meu companheiro vice campeão olímpico. A comissão técnica e a diretoria do clube estavam todos lá, com flores e uma medalha. Nada grandioso mas algo simbólico.
O diretor do clube pegou o microfone e fez um pequeno discurso.
- Esses homens representaram o nosso país nos jogos olímpicos. Lutaram bravamente como um corajoso atleta grego na antiguidade fazia. Vocês são vencedores, não me importa a cor da medalha. Parabéns por terem representado o país e ao clube.
Se fosse qualquer outro clube eu diria que estavam sendo politicamente corretos, mas conhecia o Borussia para saber mais. Eles estavam fazendo o que sempre faziam, valorizando os seus jogadores.
Ainda tínhamos um longo percurso para trilhar. Essa temporada não seria fácil, mas tínhamos tudo para conquistar algum título. E eu estava ansioso para voltar a correr em campo com a camisa amarela e preta.


What if?


Lembra quando eu disse que Meine não teria uma sequência e que às vezes ia para frente e voltava na linha do tempo. Pois é. Esse é um dos contos que não tem especificamente um espaço na linha do tempo, apenas acasos da vida dos personagens. Quem quiser saber mais novidades, entra lá no grupo do facebook e me segue la no twitter @criativoativo.
- , você está bem? - Sven bateu na porta do banheiro preocupado. Já era o segundo dia que eu acordava vomitando. E no resto do dia, se não estava no banheiro, estava enjoada. Nem se quer havia conseguido ir trabalhar. - Você deveria ir no médico, liebe.
Eu odiava médico. Tinha pavor só de pensar em entrar em um consultório gelado. Sentir as mãos de um completo estranho me examinando. E se tivesse que fazer algum exame de sangue, piorava. Era apenas uma virose, eu tinha certeza.
Sai do banheiro após escovar dente. Ainda estava meio verde, mas os olhos azuis de Sven sempre me acalmava.
- Tem certeza que você está bem?
Aquela não era uma pergunta sobre meu estado de saúde. Ele teria que viajar para um jogo fora de Dortmund em algumas horas. Passaria os próximos dois dias com o time, e apesar de nos falarmos pelo celular, nunca era a mesma coisa.
- Tenho. Qualquer coisa eu ligo para alguma das meninas. Vou ficar bem.
O que era verdade. Já tinha combinado com Harriet que ela dormiria aqui em casa enquanto eles estivessem longe. Não queria preocupar Sven, mas ao mesmo tempo que eu odiava ir ao médico, eu também odiava passar mal sozinha.
Ele me olhou preocupado e me beijou, antes de voltar para o quarto e buscar sua mala.
- Qualquer coisa você me liga que eu volto correndo. Não me importo de perder o jogo.
- Vai logo se não você vai se atrasar.
Ele já estava quase na porta, mas voltou.
- Eu te amo.
- Também te amo, mas eu gosto mais de você vivo e se não for logo, Thomas Tuchel não vai me devolver você inteiro.
Voltei para o quarto e, confortavelmente na minha cama, liguei a Netflix.
Eu tinha pegado no sono. Acordei com meu celular tocando sem parar. Sai correndo pelo apartamento a fora até achar o aparelho em cima da bancada da cozinha.
- Alô?
-? Finalmente! Abre a porta porque estamos há meia hora tocando a campainha e você não atende.
Estamos? Quem mais ela tinha trazido?
Abri a porta da frente com medo de quem esperar. Estava com as minhas calças surradas e uma camiseta da Warner Bros. Minha roupa oficial de ficar em casa. Harriet Bürki sorriu ao finalmente me ver. Ela trazia uma sacola de papel e uma Amelie Kozlowski, namorada de Lukasz Piszczek, timidamente atrás.
- Convenci a Amelie a vir comigo. Espero que não tenha problema!
- Claro que não.
Dei espaço para as duas entrarem no apartamento. Não poderia chamar Amelie de amiga, mas éramos mais que conhecidas. Já havíamos sentado juntas algumas vezes da área vip do Signal Iduna park.
Harriet, como sempre, foi se sentindo em casa, mexendo na minha cozinha e começando a arrumar o que quer que seja que ela tinha trazido naquela sacola. Provavelmente alguma coisa de comer da qual manteria distância. Eu me sentei no sofá e Amelie me seguiu.
- Desculpa invadir o seu apartamento desse jeito. Eu não queria passar a noite sozinha.
- Sem problemas. Sei como são essas noites pré-jogos. Nunca sei se estou nervosa pela viagem ou pelo jogo do dia seguinte.
- Com certeza pelo jogo! A viagem tem toda semana, mas confesso que ainda vou ter um ataque cardíaco assistindo o Borussia Dortmund jogar.
Sorri. É claro que eu ficava nervosa pelos jogos, mas sem dúvidas as viagens me incomodavam mais. Nem sempre podia conversar com Sven pelo celular, e eu odiava dormir sem o ouvir desejando boa noite.
Mais uma vez senti meu estômago revirando e corri para o banheiro. Bati a porta e quase não deu tempo até colocar o nada que havia comido para fora.
- , me deixa entrar.
- Harriet, por favor, não.
Mesmo com os meus protestos, minha amiga abriu a porta e segurou meus cabelos.
- Respira.
Com o tempo meu estômago acalmou de novo. Sentei no chão do banheiro ainda sem forças.
- , se eu te fizer uma pergunta muito delicada, você promete não brigar comigo? - Olhei assustada para ela mas fiz para que prosseguisse. - Quais são as chances de você estar grávida?
Um filme passou na minha cabeça. Comecei a fazer contas. Eu ainda não estava atrasada, porém isso não significava nada. Não era algo que estávamos planejando por agora, mas sabíamos que em algum momento isso iria acontecer.
Queria falar com Sven. Precisava falar com ele. Lavei meu rosto e sai do banheiro correndo atrás do celular.
Harriet e Amelie tentaram me fazer desistir de ligar para ele. Esperar ele voltar. Fazer um exame para ter certeza. Mas eu estava muito nervosa, e quando estava assim, apenas uma pessoa no mundo seria capaz de me acalmar: Sven Bender.
Por sorte, essa viagem seria de ônibus. Eles provavelmente já tinham saído da cidade. Só não esperava acordar muita gente com o telefonema desesperado.
No terceiro toque ele atendeu.
- , está tudo bem?
Nem se quer respondi a sua pergunta.
- O que você faria se eu estivesse grávida? - O outro lado da linha ficou silencioso. Esperei que ele fizesse algum comentário, mas nada saiu. Única coisa que consegui identificar era o barulho do ônibus. - Sven, fala alguma coisa, por favor.
- Você tem certeza?
- Não. É apenas uma dúvida que Harriet resolveu plantar na minha cabeça. E se esse for o motivo de eu ter passados os últimos dias no banheiro?
Escutei ele respirando fundo. Sabia que esse era um dos temas delicados no nosso relacionamento. Ele era louco para ter filhos, enquanto eu tinha outras prioridades. Mas agora as coisas estavam diferentes. Minha carreira estava muito bem, Sven estava jogando sem lesões há alguns meses. Ainda não era uma certeza, mas uma criança agora não seria uma má ideia.
...
desligou o telefone, e se antes eu não conseguia dormir preocupado com ela, agora mesmo que poderia esquecer qualquer mísera hora de sono. Sempre tive o sonho de ser pai. Ver um molequinho correndo pela casa atrás de uma bola, ou então uma princesinha vestida com a camisa do Borussia Dortmund. Mas sabia o ponto de vista de .
Ela tinha medo de nossas vidas corridas e as constantes viagens atrapalharem no desenvolvimento da criança. E ainda tinha seu famoso medo de hospital. Seria algo que teríamos que trabalhar nos próximos nove meses.
E se antes eu já não estava com a cabeça no jogo preocupado com a minha namorada, agora mesmo que não conseguiria me concentrar.
Tudo que queria era voltar para casa e estar ao lado dela. Descobrir se teríamos um mini Bender em casa dentro de alguns meses.
Por sorte, o tempo passou rápido. Logo já estava de volta a Dortmund. Antes de ir para casa passei em uma loja e comprei um daqueles ursinhos que tinham escritos na barriga "I Love You".
Queria estar ao lado de o mais rápido possível. Aquele não seria um momento fácil para nenhum de nós dois, seja qual fosse o resultado daquele teste que me aguardava em casa.
Ela havia comprado um teste de gravidez, mas combinamos que esperaria que eu chegasse para fazê-lo. A tensão da dúvida dos últimos dias não estava me fazendo bem e eu só queria descobrir aquele resultado.
Abri a porta de casa e ela estava sentada no sofá olhando para o nada.
Sentei ao seu lado e ela logo se aconchegou em meus braços.
- Trouxe para você. - Lhe entreguei o ursinho e beijei o topo da sua cabeça.
- Senti sua falta. - Ela se aninhou ainda mais nos meus braços.
Nenhum de nós dois queríamos levantar dali. E a ansiedade que eu havia sentido nos últimos dias agora se tornava uma mistura de nervosismo e medo. Um medo de saber o que aquele pequeno pedaço de plástico sinalizaria sobre o resto de nossas vidas.
Depois de uma meia hora sem que nenhum dos dois tivesse coragem de falar ou fazer algo, levantou com a caixinha em mãos e foi até o banheiro.
Antes que eu me desse conta, ela voltou para o meu lado.
- Agora é só esperar alguns minutos.
O teste estava em cima da mesa e encarávamos ele como se isso fizesse os minutos passarem mais rápido.
Quando a contagem finalmente chegou ao fim, nenhum dos dois queria olhar o resultado. Olhar aqueles tracinhos que teriam um significado muito mais do que pareciam ter.
Ela se levantou e começou a andar de um lado para o outro.
Daria de tudo para saber o que estava passando na sua mente naquele momento.
Por impulso, ela pegou o teste e olhou. O encarou por alguns instantes enquanto eu a olhava do sofá, quase implorando para que ela falasse logo qual era o resultado.
- Negativo.
Por um tempo ninguém falou nada. Não olhamos para nenhum lugar a não ser o vazio.
Ela voltou ao meu lado e começou a chorar.
- Eu podia jurar que estava grávida. Você sabe que nunca foi algo que almejei, mas já estava imaginando o pequeno rostinho em meu colo. - Ela finalmente teve coragem de olhar nos meus olhos. - Eu sei que foi só um susto, mas Sven, eu queria tanto que fosse verdade que nem se quer me reconheci nos últimos dias.
- - olhei sério para ela enquanto acariciava a sua face, - Você quer fazer um filho comigo?
Ela começou a rir. Talvez da forma idiota como havia falado ou simplesmente pelo fato de eu ter perguntado.
- Claro que eu quero ter um filho com você Sven. Nenhuma outra pessoa no mundo me convenceria do contrário.
E sorrindo, ela me beijou.
- Ótimo, então podemos começar a praticar.
It's Halloween Time Babe


O Borussia Dortmund não era muito de promover grandes festas, mas sempre existiam algumas. Conquistas de títulos e algumas datas comemorativas. E por isso, os jogadores sempre inventavam algum motivo apenas para festejar.
Dortmund não era uma cidade grande. Tinha um clima aconchegante e perfeito para uma das tradicionais festas comemoradas ao redor do mundo: a festa de Halloween.
Eu particularmente amava essa data. Ter a liberdade de se fantasias e ser quem sempre quis ser nem que seja apenas por um dia. Durante muitos anos eu optei para a tradicional fantasia de bruxa, mas neste ano resolvi inovar.
E quem melhor para me ajudar nessa difícil decisão do que minhas amigas?
Faltavam duas semanas para a festa quando convidei Babi, Louise e Harriet para comprarem suas fantasias. Seria a primeira festa tradicional de Halloween que Babi ia. Confesso que me surpreendi um pouco ao saber que no Brasil não se comemorava o Halloween.
- Vocês sabiam que é nesta noite que todos os monstros e fantasmas estão a solta? Por isso que a gente tem que se fantasiar, para que ninguém saiba quem são os monstros e quem são os bonzinhos. - Harriet andava a frente delas contando as mais diversas histórias sobre Halloween para Babi, deixando a garota visivelmente com medo.
- Harriet, eu não acredito nessas bobagens. - A racional Louise interrompeu.
- Por que não? Quem nunca quis ter superpoderes?
- Querer ter superpoderes é uma coisa, acreditar que eles existem é outra. - Interrompi a discussão antes que mais alguém resolvesse aumentar histórias fictícias. - Então Babi, já sabe o qual fantasia vai escolher?
- Sinceramente, não. Sempre me vesti de bruxa até que arrumei uma fantasia do Harry Potter. Amo a minha capa da Grifinória, mas acho que está na hora de mudar.
- Concordo. Por isso mesmo eu pensei, e se cada uma de nós fosse vestida como uma super-heroína?
- Tinha que ser você a dar essa ideia não é ? - Harriet reclamou. - Não quero essa coisa de heroína, vou me vestir de Alerquina.
- Espera, você reclamou da escolhendo uma personagem dos quadrinhos mas sua escolha também vem de lá? - Babi questionou claramente indignada.
Ela não era tão próxima a Harriet quanto eu. Harriet e eu nos conhecemos assim que ela chegou a Dortmund. Veio da Suíça acompanhando seu marido, o goleiro Roman Bürki. Foi justo na época que eu tinha começado a sair com o Sven. As duas novatas no meio do grupo. Fez sentido que a gente se unisse.
Com o tempo ela passou a frequentar minha casa e eu a deles. Nos tornamos grandes amigas.
- Não questiona Babi. É melhor. - Ela deu de ombros e continuamos andando até que finalmente chegássemos na pequena loja de fantasia de Dortmund.
Por algum motivo, a loja estava vazia. Uma senhora com uma aparência estranha se encontrava mexendo com alguns papeis atrás do balcão. A loja tinha um clima sombrio. Não se via as paredes por causa das diversas fantasias penduradas umas por cima das outras. Era possível encontrar os mais diversos tipos de fantasia.
Louise já foi logo procurando uma fantasia de abóbora. Quando ela disse que escolheria um clássico, logo imaginei uma cabeça de abobora, mas na verdade a roupa era muito fofa. Um vestido laranja que ia até metade da coxa com detalhes pretos e uma pequena capa também laranja. Lou era alta, ficaria linda com certeza.
- Eu gostei da ideia de ir de super-heroína.
- Eba! Alguém para me acompanhar. O que você vai escolher Babi?
Ela andou até o fundo da loja onde tinham vários uniformes de heróis da DC.
- Vou de Supergirl. Estou meio viciada na série, acho justo representar. E o Mario tinha me dito que iria de Flash. Será uma boa escolha.
A Babi tinha traços delicados, e seu cabelo acobreado iria dar um ar diferente à fantasia.
- Vai ficar linda.
- Você falou, falou e não contou com o que vai se vestir . - Louise reclamou do fundo da loja.
Queria mesmo manter suspense sobre minha fantasia, afinal, nem para o Sven tinha contado.
- Neste Halloween eu quero fazer algo diferente. E então pensei: porque nós não podemos vestir roupas de super-heróis? E é por isso que eu adaptei uma fantasia do homem aranha.
Já tinha ido àquela loja algumas semanas antes, escolhido uma fantasia e mandado ajustar. No final, tínhamos colocado uma saia e as pernas da fantasia original seriam como uma legging. Estava apaixonada com o que tinha criado.
Cada uma com sua fantasia na mão, saímos andando pelas ruas de Dortmund aproveitando um dia apenas para nós meninas enquanto os moços estavam no treino e demais preparações para a festa no dia seguinte.
...


Eu, particularmente, estava animado para essa festa. Quando Mario propôs que fizéssemos uma festa fantasia para inaugurar a sua casa, na hora pensei "por que não uma festa de Halloween"?
Ele e Babi estavam morando em um apartamento alugado até que a casa ficasse pronta. A obra agora estava quase concluída. E o lugar era enorme. Uma área gigantesca com piscina, churrasqueira e o principal, ficava longe do centro de Dortmund. Um lugar onde não atrairíamos jornalistas, fotógrafos ou curiosos. Um espaço privado para nos divertirmos.
A única coisa que a Babi disse é que ela não seria responsável pela arrumação da festa. Antes ou depois. e Louise tomavam voz dela e propuseram que os homens ficassem responsáveis por toda a bagunça e arrumação.
E era por isso que eu havia passado os últimos dois dias pendurando panos pretos e decoração de Halloween. Mario pelo menos havia sido esperto o suficiente de encomendar a comida, enquanto Marco ficou responsável pela bebida.
havia escolhido uma fantasia completamente diferente do que eu imaginaria que ela usaria. Estava vestida com uma adaptação da roupa do Homem Aranha, curiosamente o meu super-herói favorito. E ela estava maravilhosa. Eu nunca fui muito criativo para essas coisas, então também optei pelo clichê: iria de Conde Drácula.
Fomos para casa nos arrumar antes da festa. Boa parte do time tinha sido convidado. Era isso que acontecia quando resolvíamos dar uma festa: nunca era algo pequeno.
A área externa da casa de Mario estava decorada com panos pretos e símbolos que lembrava a festa, incluindo doces, e algumas travessuras que eu sabia que o anfitrião não iria deixar passar em branco.
Por ser outono, já estava escuro às 7 da noite. Uma musica pop tocava baixo. Sabia que a playlist tinha sido toda culpa da Babi, então podia esperar diversos estilos e inclusive algumas músicas em português.
- Sven, vocês fizeram um excelente trabalho. - olhou para mim sorrindo.
- Obrigado.
Aproveitei que ainda não tínhamos sido abordados e a puxei para um beijo. Mas é claro que seriamos interrompidos.
- Vão com calma porque se não daqui a pouco vou ter que mandar vocês arrumarem um quarto. Têm crianças aqui! - Aubameyang, ou eu deveria dizer Batmeyang pulou em cima da gente.
- Ei, cuidado!
- Para, vocês mereceram.
E da mesma forma como ele apareceu, também foi embora.
pegou na minha mão e me puxou para o salão onde haviam montado uma rodinha de cadeiras. Bürki havia sugerido que deixamos mesinhas separadas, mas eu sabia que sempre se formaria uma grande roda. Ninguém gostava de ficar isolado.

Tudo estava indo como o planejado. Havíamos jantado pela insistência da Babi e cerveja não faltava. ao meu lado discutia com Harriet sobre alguma pesquisa cientifica que havia saído durante a semana. Pessoas de exatas falando sobre números e coisas que eu jamais iria entender.
Como sempre, eu fiquei observando o redor. Alguns casais estavam aproveitando o tempo juntos, enquanto a maioria das pessoas conversavam sobre futebol, política e eu podia jurar ter escutado dois jogadores discutindo se leão era ou não inferno astral de virgem.
Aubameyang se aproximou devagar de Marco Reus, este vestido de Robin o que com certeza tinha sido combinado com o amigo. Marco deu um selinho em Louise, que revirou os olhos. Esses dois claramente estavam aprontando.
Babi arrumava os chopes no bar, completamente alheia do que acontecia na festa e nem se quer percebeu a movimentação estranha do Batman e Robin.
Segurei a mão de .
- Está tudo bem? - Ela se virou para mim, estranhando a minha reação. Apenas sorri. Não fazia ideia do que aqueles dois estavam tramando e seja lá o que fosse, não queria que minha namorada saísse do meu lado.
Voltei a prestar atenção no que as meninas conversavam.
- Não sei se a Juno vai de fato trazer algum resultado.
- Como não ? É a primeira vez que o homem chega até Júpiter.
Elas realmente estavam discutindo sobre operações espaciais em uma festa de Halloween. Com vocês, e Harriet Bürki. Mas confesso que adorava quando entendia as coisas que essas duas conversavam.
E então as luzes se apagaram.
A princípio ninguém falou nada. E então eu escutei um grito vindo de Amelie Kozlowski, namorada de Lucasz.
Puxei para mais perto de mim. O céu estava nublado, e por esse motivo, não tinha nenhuma iluminação.
- A luz acabou? - Mario perguntou e percebi um movimento indo em direção ao interruptor.
Procurei o celular no bolso para ligar a lanterna, porém ele não estava lá, apesar de eu ter certeza que tinha colocado ele no bolso ao sair do carro.
Ninguém acionou a lanterna do celular, me dando certeza que Auba tinha dado um jeito de esconder todos os celulares.
- O que está acontecendo? - Alguém perguntou.
Aos poucos um burburinho se iniciou. Algumas pessoas reclamavam da falta do celular, outras de estar escuto.
Mario ainda não tinha voltado de dentro da casa, o que me levava a concluir que ou ele sabia de tudo, ou os dois engraçadinhos tinham dado um jeito de prendê-lo para que a surpresa não fosse estragada.
Uma luz vermelha piscou em um canto do salão, e eu tinha certeza que só eu tinha visto. Falei baixinho para que já estava abraçada a minha cintura.
- Você viu isso?
- Vi.
Ela me apertou mais ainda e eu segurei seus ombros.
De repente uma luz branca muito forte se acendeu. Luz essa que piscava como se estivéssemos em uma rave, nos cegando completamente.
Um jato gelado começou a sair de todos os lugares, deixando uma nevoa sobre o salão que dificultava mais ainda a enxergar qualquer coisa a um palmo de distância.
escondeu o resto no meu peito e eu a protegi com um abraço, tentando, sem sucesso, usar seu cabelo para proteger meus olhos.
Algumas pessoas começaram a gritar, mas logo os gritos foram silenciados por uma sirene aguda.
Eu tinha certeza que alguém sairia daqui machucado.
O barulho foi substituído pela música "This is Halloween" do Marilyn Manson e as luzes voltaram a se apagar.
Fiquei esperando alguma coisa acontecer, o que não demorou. As luzes voltaram a piscar, mas dessa vez com cenas de diversos filmes de terror, como "O massacre da serra elétrica", "Psicose" e "O Iluminado".
Harriet apontou para uma área longe da gente.
- Vocês estão vendo aquilo ou sou só eu?
Olhei para a direção que ela apontava, e vi um volto passando. Era um volto de uma pessoa baixa demais para ser qualquer um de nós.
Em seguida, as luzes voltaram a se acender e Pierre Aubameyang, Marco Reus e Mario Götze apareceram com sorrisos no rosto e cara de quem tinha aprontado.
- Seus ... - Amelie xingou diversos palavrões em polonês. Tinha certeza que até o final da noite eles ainda iriam apanhar.
- Feliz Halloween pessoal! - Auba falou com a maior cara de pau.
Os três saíram distribuindo doces, agora explicado o famoso "gostosuras ou travessuras".
Quando eles chegaram perto, Harriet perguntou.
- Quem era aquele vulto ali fora?
Os três olharam como uma cara de quem não estava entendendo nada.
- Que vulto? - Mario perguntou.
- Uma sombra que passou ali fora justo na hora que começou a tocar a música. - Entrei no meio para mostrar que não havia sido só Harriet que tinha visto.
- Mas não tinha ninguém lá fora. - Auba agora olhou assustado para a mesma direção que tínhamos olhado mais cedo.
Todo mundo começou a olhar para o lado de fora. Ninguém teve a coragem de ir checar se estávamos sozinhos ou se tinha alguém ali.
Babi correu para acender todas as luzes possíveis da área, e não vimos nada suspeito. Nenhuma sombra, nenhum vulto, nenhuma pessoa.
Aquilo não fazia parte de nenhuma pegadinha.
- E vocês zoaram da minha cara quando eu disse que em noite de Halloween os fantasmas apareciam.
Todo mundo começou a rir do comentário da Harriet enquanto voltava ao ritmo normal da festa. Mas aquele sentimento de medo que apenas noites de Halloween causavam ainda estava ali.
O vulto que ninguém descobriu o que era.
Little Things


Little Things
Sven ainda estava machucado. A pancada das Olimpíadas havia sido tão forte que nem ao treino ele estava indo. Porém conhecia meu namorado, e ele já estava enlouquecendo ficando em casa sem poder se exercitar.
Eu nunca fui a melhor pessoa do mundo para praticar esportes. Ou se quer qualquer tipo de exercício físico. E ultimamente, a única maratona que eu estava praticando, eram as das series da Netflix.
Todos os dias eu chegava do trabalho, tomava um banho enquanto Sven preparava algo para comermos. Então íamos madrugada a dentro vendo series e mais series.
Em alguns fins de semana íamos para a casa dos pais dele, onde sempre era a maior bagunça, principalmente quando Lars também ia. Eu adorava ir para lá, mas sentia que fazia um tempo que nós dois não fazíamos um programa só nosso. Apenas Sven e .
Pensei em propor uma viagem, nem que fosse para algum lugar aqui perto. Pegar o carro e sair dirigindo. Mas naquela manhã de sábado ele acordou sentindo dor. Não que ele reclamasse, mas se tinha alguém que eu sabia ler da cabeça aos pés, esse era Sven Bender.
Descartei todos os planos. Sair de Dortmund não seria uma opção.
Mas então lembrei de uma coisa que fazíamos quando começamos a sair. Algo tão simples e banal que me perguntei porque havíamos parado.
Sven estava sentado na mesa de café da manhã. Comia uma torrada enquanto eu aproveitei que ele estava distraído e busquei a nossa velha cesta no armário.
Rapidamente coloquei tudo que precisaríamos ali. Fui até ele e o abracei pelos ombros.
- Liebling, o que você está fazendo.
- Estou com saudades de você. Não posso mais abraçar meu namorado quando tenho vontade?
Senti ele rindo, e o som da sua risada em meu ouvido me fizeram ter certeza de que estávamos precisando.
Ele olhou para mim, mesmo que a posição não fosse a ideal.
- Também te amo.
O beijei respondendo àquela declaração.
Sentei ao seu lado da mesa e preparei o meu café. Sempre puro e sem açúcar. Ele fazia cara feia toda vez. Sorri ao perceber a nossa rotina e em como eu poderia viver daquele jeito pelo resto da minha vida.
- O que você acha um piquenique?
Ele arqueou as sobrancelhas.
- Como aqueles que fazíamos?
- Exatamente com aqueles que fazíamos. Deu saudade.
Ele pegou a minha mão por cima da mesa, acariciando minha pele com o polegar.
- Contanto que a gente vá de carro, está tudo certo.
E esse era o momento que ele admitia que estava sentindo dor. Sven Bender, você é tão previsível.

Uma hora depois estávamos no carro em direção ao parque que conhecíamos tão bem.
Eu dirigia com ele ao meu lado. Falava sobre o jogo do fim de semana anterior, no qual o Borussia Dortmund finalmente tinha voltado a ganhar na Bundesliga. O time tinha ficado quase um mês sem uma vitória, e Sven já estava se culpando por não poder fazer nada a respeito.
Foi um mês de muita paciência. Para mim, para ele e para o time.
- Se o Auba vai fazer tantos gols assim toda vez que ele for punido, o Tuchel deveria suspender ele jogo sim jogo não. Mas se ele fizer isso ficaremos metade dos jogos sem o Auba.
Comecei a rir das teorias que ele criava.
- Logo você está de volta.
- O Marco está para voltar e eu ainda nem voltei a treinar . Juro que não sei o que está acontecendo.
Era para ser uma lesão rápida, mas estava demorando muito mais tempo do que o normal para ele se recuperar. Mas já havíamos conversando muito sobre isso nos últimos meses, era hora de mudarmos de assunto.
Liguei o som do carro e uma música do The Frey começou a tocar. Era a banda favorita dele. "You found Me" encheu o carro com uma melodia suave.
Começamos a cantar junto à musica, degustando aquele álbum até entrarmos no parque.
...

Aquela música sempre me deixava feliz. Principalmente porque me lembrava do dia que conheci .
Era a música que estava tocando na boate quando a vi. Ela estava sentada no bar, claramente desconfortável por estar ali. Tinha ido para um aniversário e não fazia ideia que todo o time estava ali.
Eu não era muito de sair. Mas era uma data especial, que era tão importante que nem me lembro o motivo de ter ido. É claro que hoje agradecia a insistência dos rapazes.
Me lembro que ela estava de costas no bar. Por algum motivo tinha me chamado atenção, e então passei a noite inteira lhe observando, sem ter coragem de ir falar com ela.
Em determinado momento ela me notou. Respirei fundo e sentei ao seu lado. Ela não fazia ideia de quem eu era, e, pela primeira vez em muitos anos, tinha conseguido conhecer uma pessoa sem influência do futebol.
Naquele dia eu já sabia que não poderia deixar ela sair da minha vida. Ela tinha chegado para ficar. Ela tinha me achado.
Chegamos no parque e senti como se tivesse voltado alguns anos na minha vida. Voltado aos nossos primeiros encontros.
E por incrível que pareça, eu não queria voltar no tempo. era parte de quem eu era. A conhecer me fez uma pessoa melhor, saber todas as suas manias e defeitos me fazia saber exatamente quem ela era, e não queria outra pessoa comigo.
- Nosso lugar?
- Nosso lugar.
Não fazia ideia do porque ela estava com vontade de reviver aqueles momentos, ou se sequer era essa sua intenção.
Estacionamos o carro perto da árvore que costumávamos nos sentar.
Era outono e o chão estava coberto de folhas alaranjadas. Ela colocou uma toalha amarela. A mesma toalha amarela de tantos anos atrás.
- Não acredito que você guardou isso.
- Eu tenho tudo guardado Sven. Faz parte da nossa história.
- Eu sou apaixonado com a nossa história.
A puxei pela cintura e ela olhou para mim. Aqueles olhos verdes sempre me faziam perder o sentido do mundo, a passagem do tempo.
- É?
- Só tem uma coisa pela qual eu sou mais apaixonado do que a nossa história.
- E isso seria...
- Você.
Ela passou os braços pelo meu pescoço. Segurei seu rosto com uma mão, mantendo a outra em sua cintura. Quando nossos lábios se encontraram foi como na primeira vez. Foi como sentir todos os planetas se alinhando.
Eu era o cara mais sortudo porque tinha aquela mulher comigo.
Aproveitamos o piquenique como não fazíamos há muito tempo. Conversamos sobre o tempo, observamos as nuvens. Parecíamos um casal ainda se conhecendo, apesar de saber de cor todas as sardas do seu corpo.
Aos poucos, meu tornozelo foi diminuindo a dor. As frustrações foram indo embora.
Aproveitando aquele momento com ela e mais ninguém.
Era o tipo de coisas que relacionamentos antigos tinham o risco de acontecer. A gente se acostumava tanto com a rotina, que as pequenas coisas ficavam de lado.
Mas não . Ela sempre faria questão de prezar pelas pequenas coisas.
E essa era apenas uma das infinitas coisas que eu amava naquela mulher.
Dream


Eu sabia que esse era um dos sonhos da .
Quando criança, seus pais haviam colocado diversos limites que a impossibilitava de ir atrás de alguns desejos. E era uma mulher de desejos.
Ela estava com alguns problemas no trabalho. Muita sobrecarga para o posicionamento de chefia que ela havia conquistado.
Todos os dias via a minha mulher chegar em casa cansada, tomar um banho e dormir no sofá enquanto eu terminava de preparar o jantar.
Veja bem, fazia quatro meses que eu estava longe dos treinos, longe dos campos. Não fazia sentido que eu deixasse tudo para ela, uma vez que passava boa parte do dia em casa.
Maldita pancada no tornozelo na final das Olimpíadas.
Em um desses dias dos quais a rotina se repetia, ela me mostrou um vídeo de um labrador. sempre foi apaixonada por cachorros, apear de nunca ter tido um.
- Schatz, olha que coisa mais fofa!
Me aproximei ainda com a colher de pau na mão. Ela se debruçou sobre a bancada que separava a cozinha da copa, e eu pude ver um vídeo no qual uma garotinha de uns 5 nos ganhava um filhote de labrador.
Ele era uma bolinha de pelos amarelos, e a menina chorava e ria ao mesmo tempo. Aquele tipo de felicidade que apenas uma criança poderia sentir. Algo inocente, genuíno, sem medo algum.
Os olhos de se encheram de lágrimas, e um leve sorriso surgiu no seus lábios.
Naquele momento que tive certeza do que deveria fazer, mesmo que isso fosse mudar toda a nossa rotina.
Na terça de manhã saiu de casa seguindo a rotina de todos os dias. Tomou seu banho, o yogourt, pegou as chaves do carro e foi trabalhar.
Mas ela não percebeu que, diferente dos outros dias, eu já havia acordado. Fiquei deitado na cama rezando para que ela não percebesse que estava acordado.
Quando sabia que já era seguro me levantar, fui até a cozinha fazer o meu café. O típico café amargo para acordar e dar energias para o dia.
Iria pegar estrada sozinho, e apesar de já estar acostumado com os 62 quilômetros entre Dortmund e Leverkusen, dirigir não era uma coisa que me agradava.
Coloquei um CD do Boys Avenue no som do carro e fui me distraindo com as músicas.
Havia ligado para o Lars alguns dias antes e pedido para ele conferir se o lugar ainda existia.
Existia.
E estava sem saber se seria uma nostalgia ou a decisão sobre um futuro. Talvez as duas coisas.
Busquei meu irmão em sua casa, afinal ele quem tinha o contato do rapaz que havia assumido o lugar da mãe no estabelecimento.
- Você tem certeza que vai fazer isso Sven? - Era a milésima vez que ele me perguntava isso. - A realmente não sabe? Cara, isso não é uma decisão para você tomar sozinho.
- Te dou certeza que ela vai adorar.
- Espero que você esteja certo.
O lugar era exatamente como eu me lembrava. O portão de grades vermelhas, a campainha quebrada e o cheiro de várias substâncias misturadas.
Lars olhou para mim ainda questionando a minha decisão. E eu o entendia. Se fosse qualquer outra pessoa eu também estaria questionando. Mas éramos eu e . Aquele era um passo que nós deveríamos tomar.
Voltei para o carro com a caixinha no colo. Estava ansioso para chegar em casa e ver a reação de .
Deixei Lars de volta em sua casa e dirigi pacientemente até Dortmund.
Vi o carro de estacionado na porta do prédio. Tinha alguma coisa errada, ainda não era hora dela chegar.
Peguei o meu celular no console do carro. Três chamadas não atendidas e dezessete mensagens, todas elas perguntando onde eu estava. A primeira havia sido enviada as 15:45, e já eram quase 17 horas.
A caixinha ao meu lado tremia. Fechei os olhos e respirei fundo. Não era assim que tinha imaginado fazer essa surpresa.
Não me preocupei em responder as mensagens. Desci do carro com a caixa marrom tomando o maior cuidado com o que estava ali dentro.
Ao abrir a porta do apartamento pude perceber sentada no sofá. Ela se levantou e veio correndo em minha direção.
- Onde você estava? Por que não atendeu as minhas ligações?
- Eu estava dirigindo, só agora que vi suas mensagens.
- Dirigindo? Onde você estava Sven? - Ela repetiu a pergunta, mas dessa vez com um tom de acusação.
Cruzou os braços esperando uma resposta. Nem se quer havia notado o objeto em meus braços.
Definitivamente não tinha sido assim que havia planejado.
- Fui até Leverkusen resolver umas coisas.
- Sua família está bem? - Ela já mudou o tom, deixando sua expressão mais aberta.
- Estão sim. Na verdade, eu fui buscar uma coisa para você.
- Para mim?
Só então ela percebeu a caixa em meus braços.
Rapidamente coloquei no chão e deixei que ela se aproximasse.
- Sei que estamos em um momento complicado em nossas vidas, e simplesmente senti que precisávamos de mais alguém. Eu sei que é uma responsabilidade a mais, mas às vezes...
Não pude terminar minha fala pois ela abriu a caixa e uma cabeça cheia de pelos marrons pulou para fora.
- Ai meu Deus Sven! Você comprou um cachorro?
- Adotei. Lembrei de um canil onde buscamos um filhote quando éramos crianças. Liguei para lá e eles ainda estavam abertos. E uma ninhada de labrador chocolate tinha acabado de ser colocada para doação.
pegou a pequena bola de pelos e o acariciou.
- Ei rapaz! Como você está? Vai gostar da sua nova casa?
Seus olhos brilhavam como os da criança no vídeo. Ela brincava com o cachorro parecendo que ela própria tinha voltado a ser criança.
Me juntei a ela e o filhote deitou no meu colo para que eu acariciasse as suas orelhas.
- Eu acho que ele gosta de você.
- A é? E você? Ainda gosta de mim por ter trazido mais uma encrenca para nossas vidas?
- Eu amo você. - Ela me deu um selinho. - Mas quem vai limpar toda a sujeira que ele fizer vai ser você.
- Se isso te fizer feliz, sem problemas.
Começamos a rir e ficamos ali, perdendo a noção do tempo e brincando com a adorável bolinha de pelos que parecia querer explorar todos os pedacinhos do apartamento.
- Precisamos de um nome. - Olhei em seus olhos já sabendo que ela tinha alguma ideia saindo daquela cabecinha maravilhosa.
- Braun.
- Você vai mesmo chamar um cachorro marrom de marrom?
- Podemos chamar ele de cão também se isso te deixa melhor.
Comecei a rir.
- Não. Braun está perfeito.
E ali voltávamos mais uma vez para a bolha Sven e de felicidade. Bem, agora Sven, e o pequeno Braun.
Certanty


abriu a porta do apartamento estranhando a música que já era possível escutar no corredor. Eram raras as vezes que Sven colocava algum cd para tocar em casa, apesar de ter feito questão de adquirir um aparelho de som completo com direito a caixas externas e sistema de som surround.
Estavam tão acostumados em escutar música apenas no carro ou no celular que nem se lembravam mais de ligar o som. Ou sequer de ir buscar um cd físico agora que tudo estava no Spotify.
Sven voltara a treinar naquele dia. Finalmente pisando na grama e junto com seus colegas depois de quatro meses. Era um alívio que não sabia descrever.
Ao chegar em casa sentiu a necessidade de fazer algo diferente. Algo que não fazia a muito tempo.
Ele sempre foi apaixonado por o bom e clássico rock n roll. Alguns diriam até que ele vivia em outra década quando tratava de seu gosto musical, mas ele sabia que já havia sido pior. o havia mudado.
Quando a música preencheu o apartamento, o pequeno Braun se escondeu debaixo do sofá, olhando para Sven com uma cara de reprovação. Se o jogador tivesse reparado na expressão do labrador a teria interpretado como "esses humanos são todos malucos".
entrou no apartamento ao som de Highway to Hell do AC/DC. Ela começou a rir da cena no qual Sven estava na sala dançando sozinho como se tivesse tocando uma guitarra imaginária.
- O que você está fazendo Schatz?
Ele se assustou com a namorada.
- Você chegou! - Sorriu e a puxou pela mão até o centro da sala. - Estou comemorando.
Braun saiu de debaixo do sofá ao notar a presença de , e rapidamente pulou em suas pernas como se pedisse socorro.
O labrador chocolate havia crescido bastante durante o mês que estava com o casal. E apesar de terem que sair com ele todos os dias se não quisesse que destruísse o apartamento e a perda de alguns chinelos, o cachorro viera de fato acrescentar na vida dos dois.
Sven continuou dançando enquanto se sentou no chão, deixando Braun deitar em seu colo.
- Seu pai está querendo te matar Braun?
-Fala sério! Estou mostrando para ele músicas de qualidade.
-Ele não entende isso Schatz. Para ele é um monte de barulho sem noção.
riu do próprio comentário. O cachorro olhou para Sven como se dissesse "É exatamente isso que ela falou. Ela é mais inteligente que você".
Ele abaixou um pouco o som, mas não desligou.
No segundo seguinte começou a tocar uma música que nunca entendeu o porquê estava nesse cd, com certeza alguma brincadeira de Lars por ter pedido um cd de músicas dos anos 80.
Mas é claro que quando começa a tocar A-ha não tinha como não dançar.
Puxou do chão iniciando os tradicionais passos de danças de filmes da década de 80. Nem um pouco bem executados, claro. Take on Me era aquele tipo de música contagiante que não deixava ninguém parado.
se rendou às brincadeiras de Sven, cantando e dançando com ele. Até convenceu um Braun um tanto quanto medroso a entrar na brincadeira, e o cachorro começou a rodear os dois no meio da sala.
Ela se sentiu viva como há muito tempo não sentia.
Ali, no meio do seu apartamento que dividia com Sven, ela se sentiu completa. Talvez ele estivesse certo e músicas da década de 80 de fato tinha esse efeito nas pessoas.

Depois de uma meia hora de brincadeira eles estavam exaustos.
foi até a cozinha buscar um copo com água, enquanto Sven ficou sentado no sofá brincando com Braun, reafirmando que eles haviam feito as pazes.
Every Breath You Take começou a tocar. A última música daquela coletânea.
ficou observando Sven de longe. Em como ele era carinho com o pequeno filhote que haviam adotado.
Pensou em tudo que eles já haviam passado juntos. Na forma tão clichê como haviam se conhecido. No primeiro beijo completamente desajeitado. Em como ela se sentia segura com as mãos dele ao redor do seu corpo.
Lembrou das vezes que ele havia secado suas lágrimas, e das vezes que também haviam sido causa delas, boa parte envolvendo lesões e jogos importantes.
Ele era o amor da vida dela. E ela nem se quer acreditava que isso existisse.
Sempre foi racional e odiava romantizar qualquer relacionamento. Pelo contrário, acreditava que as pessoas ficavam juntas porque elas tinham que ficar.
É claro que acreditava no amor. Aquele sentimento que fazia as coisas terem sentido. O que a movia todos os dias para sair da cama pela manhã, mesmo sabendo que não seria fácil o que encontraria na empresa.
Estava tão distraída que não o viu se aproximando.
Sven a abraçou pela cintura e beijou seu pescoço.
O apartamento no completo silêncio, até mesmo estranho considerando a última hora com a coletânea dos melhores clássicos da década de 80.
Ela mordeu o lábio. Sven Bender era mesmo uma pessoa curiosa.
A cada dia ela descobria uma nova mania dele, mesmo após quase três anos de relacionamento e mais de um ano morando juntos.
Parecia que a cada dia eles se conheciam mais, e, ao mesmo tempo, sabiam cada mínimo detalhe sobre o outro.
Talvez fosse a hora de finalmente deixar todas as ideologias e preconceitos de lado.
Talvez fosse finalmente a hora de ter a coragem que ainda não havia tido.
Ela virou para ele, que a olhou preocupado.
- O que foi?
Ela olhou para os tão profundos olhos azuis. Os mesmos que sempre pareciam mais atentos do que realmente estavam.
observou a ruga de preocupação formar em cima da sua sobrancelha esquerda. A tão adorável ruga de preocupação.
Sorriu da forma mais tranquila que poderia, e Sven se acalmou um pouco. Se ela estava sorrindo então não era um problema.
- A gente podia se casar.
Sven arregalou os olhos surpreso com aquelas palavras. Justo falando sobre casamento, algo que ele tinha certeza que nunca fosse ouvir.
Ela mordeu o lábio esperando alguma reação dele, que demorou alguns segundos para finalmente acontecer.
- Você está falando sério?
- Estou. - Apesar de ter respondido baixo demais, ele conseguiu ouvir.
- Eu não estou acreditando.
Ela sorriu envergonhada.
- Sei lá. Talvez finalmente tenha chegado o momento em que amadureci o suficiente para aceitar a ideia de casamento.
- Fico feliz que tenha sido eu a estar ao seu lado nesse momento. - Ele a soltou, com medo de que, se desse as costas, ela iria mudar de ideia. - Fica aqui que eu já volto.
Foi correndo até o quarto. Finalmente iria dar uma função para aquela joia guardada no fundo da gaveta de pijamas. Aquela que ele havia comprado a mais de um ano atrás, mas ainda não tinha tido a coragem de usar por saber como se sentia a respeito da palavra casamento.
Voltou para cozinha e ela o esperava, sem fazer ideia do que ele estava planejando.
Sven escondeu a mão direita, e, ao se aproximar, agachou. Braun achou que ele estava brincando e pulou no seu joelho, incomodado com a falta de atenção que o casal dava a ele.
Ele olhou nos olhos de , que havia aberto a boca. Ela sabia muito bem o que ele estava fazendo, só não acreditou que ele tinha de fato uma aliança guardada em algum lugar do apartamento e ela nunca tinha reparado.
Sven então falou as palavras que estavam implícitas no seu gesto.
- , você aceita quebrar todos os paradigmas e clichês que circundam o casamento e, por favor, casar comigo?
riu de como ele conseguia usar palavras tão difíceis e diferentes nas situações mais comuns. Mais um dos motivos pelos quais ela era apaixonada por Sven Bender.
- Aceito ir contra todas as minhas certezas por você Sven Bender, até porque, você me já me fez questionar cada uma delas.
Ele colocou o anel com uma pequena pedra no anelar direito de . Ali estava uma promessa que ele nunca achou que fosse ter. A promessa de que eles iriam se casar. Se tornariam o tal documento em papel que não tinha nenhum valor para , mas que na verdade, era muito mais do que um papel timbrado.
Sven se levantou e segurou o rosto de .
Ela fez a pergunta que a estava incomodando desde que ele entrara no quarto.
- Desde quando você tem esse anel guardado? - Ela brincou com a joia no dedo.
- Desde o dia que eu tinha certeza que era com você que eu queria passar o resto da minha vida.
Aquilo não era uma resposta, mas ela não se importava. Mais uma vez ele havia provado que a conhecia mais do que ela mesma.
Ela juntou seus lábios, reafirmando a escolha que havia feito.
A escolha de ir contra tudo que havia acreditado até aquele dia. E a mais nova certeza que estava se formando em sua mente: Ela não poderia ter escolhido pessoa melhor do que Sven Bender para fazer com que sua vida virasse de cabeça para baixo.
Porque ela havia virado, e não havia mais nada que deixasse mais feliz.
The Comeback


Era a volta de Sven Bender aos campos depois de quatro meses parado por causa de uma lesão na final das Olimpíadas. Ele já estava incomodado em não poder jogar, e estrear em um jogo fora de casa não era o ideal.
Antes de pegar o ônibus que o levaria até Hoffenheim, ele segurou minhas mãos.
- Me promete que você estará lá.
- Estou saindo atrás de vocês.
O puxei para um beijo um pouco mais demorado do que deveria ter sido. Estava mais nervosa do que ele para seu retorno aos gramados. Principalmente quando, mais uma vez na temporada, o Borussia Dortmund estava com metade dos jogadores no departamento médico.
Ele entrou no ônibus e eu segui de carro. No som tocava a discografia do The Neighbourhood, a banda que eu sempre escolhia quando precisava dirigir longas distâncias sozinha.
Tentei que alguma das meninas viesse comigo, mas Louise estava fora da cidade, Babi estava ocupada e Harriet não queria deixar Roman Bürki sozinho. Não tinha intimidade o suficiente com as outras wags para pedir que alguma fosse de carro comigo, apesar de saber que não ficaria sozinha na área vip.
Ao chegar na cidade, fui direto para o estádio. Ficaria num hotel e voltaria na manhã seguinte para Dortmund. O plano era Sven ficar comigo, mas não tínhamos certeza se Thomas Tuchel iria liberar.
Entrei no estádio com o coração na mão. A blusa preta e amarela com o número 6 nas costas me diferenciava das demais pessoas daquele lugar. Claro que vestia um casaco para proteger do frio, assim como havia trazido uma pequena manta alaranjada.
O jogo começou e eu não tirava os olhos dele. A cada passo, cada defesa, cada bola mandada de um lado para o outro.
Era um jogo dramático, poucos espaços, muitas faltas. Inclusive ele havia sofrido uma falta no lance que resultou no segundo gol do Hoffenheim que não havia sido marcado.
Minhas unhas já haviam ido embora.
Depois de 94 minutos finalmente o apito final. Um empate havia sido a melhor coisa possível depois de um jogo roubado e bagunçado. Arbitragem ridícula, fazendo de tudo para prejudicar aos aurinegros.
Mas estava feliz pelo meu namorado. Ou deveria dizer noivo? Ele havia realizados defesas espetaculares. Meu orgulho não poderia ser maior.
Saiu do campo e veio em minha direção.
- O que você achou dessa volta?
- Pessoalmente? Não poderia ter sido melhor.
Juntei nossos lábios. Queria poder abraçar ele ali, porém sabia que não era a melhor opção.
Teríamos todo o tempo do mundo assim que chegássemos no hotel.
Deixei que ele seguisse para o vestiário e voltei para o carro. Liguei o som e começou a tocar "You and Me" do Life house. Comecei a cantarolar.
Eu deveria ser uma pessoa muito sortuda por ter encontrado esse homem na minha vida.
Algum tempo depois ele entrou no carro, colocando a mochila no banco de trás.
- Quais foram os comentários?
- Do jogo? Só reclamações da arbitragem e criticas à defesa em geral. Mas pelo menos Tuchel me chamou depois do sermão geral.
- O que ele disse?
Estava tirando o carro do estacionamento que naquele momento estava praticamente vazio.
- Disse que apesar das falhas, minha atuação havia sido fundamental para não sofrermos um derrota. Eu não sei.
- Sven, você foi muito bem! Voltou melhor do que qualquer um poderia imaginar. Estava com saudades de te ver jogar.
Aproveitei que um sinal estava fechado e acariciei seus cabelos.
Seus olhos azuis me trazia paz, e às vezes eu só queria ficar presa a eles por todo o tempo que eu pudesse.
- Eu te amo .
- Eu também te amo Sven Bender.
...
Voltar aos campos era uma sensação diferenciada. Eu não era nenhuma estrela ou peça fundamental, mas amava jogar futebol. Não insistiria tanto se não amasse.
A zaga do Borussia Dortmund estava com alguns problemas já havia alguns jogos. Alguma coisa parecia não se encaixar, mesmo mudando os nomes e as posições. Esperava que agora, com a minha volta, conseguisse contribuir para acertar.
Perdíamos jogos importantes na competição, e apesar de ser claro a preferência de Thomas Tuchel pela Champions League, se não nos mantivéssemos bem na Bundesliga, podíamos esquecer a Champions do próximo ano.
Mas após o jogo, a última coisa que eu queria pensar era sobre futebol. Tinha coisas mais importantes para fazer.
Chegamos no hotel e fomos direto para nosso quarto.
- O que você quer fazer pelo resto da noite?
- Você está mesmo me perguntando isso Schatz?
Antes que ela pudesse responder, a puxei pela cintura. Se ela achava que ficaria algum centímetro longe de mim naquela noite, ela estava muito enganada.

O dia amanheceu nublado e a preguiça de sair de debaixo dos lençóis só crescia.
- A gente tem mesmo que voltar para Dortmund?
- Você quem precisa trabalhar Schatz.
- Droga. Estou amando tanto ter essa cama aqui apenas para gente.
Comecei a rir. Nosso filhote labrador não-tão-pequeno havia resolvido que metade da nossa cama era dele, o que nos restava a nos espremer num espaço minúsculo.
Não que eu reclamasse de dormir abraçado com todos os dias.
Já havíamos tentado diversas medidas educativas, mas ele apenas começava a chorar e não nos deixava dormir de jeito nenhum.
- Estou preocupada com ele.
- Por que?
- É a primeira vez que a gente sai e deixa ele sozinho no apartamento. Quero nem ver as coisas que estarão estragadas quando voltarmos.
- Ele vai esta bem. Tenho certeza.
A puxei contra meu tronco, entrelaçando nossos dedos.
- Já pensou como vai ser quando tivermos um pequeno -Bender rodando pela casa.
- Sven! Por favor, não vamos nem começar a pensar nisso agora.
- Eu achei que era o que você queria...
- Eu quero. Mas sei lá, por enquanto estou feliz que tenhamos apenas o Braun. Ele já dá trabalho o suficiente.
Nos enroscamos novamente, ignorando qualquer coisa que acontecesse do lado de fora daquele quarto.
Uma hora teríamos que sair e pegar estrada, mas por enquanto, aquela cama quentinha seria nosso lar.
Merry Christmas


Natal para eles sempre era algo importante. Era a época de reunir a família, relembrar o ano, presentear aqueles entes queridos e é claro, muita comida.
Neste ano, em especial, toda a família Bender tinha combinado de se reunir em Rosenheim. Geralmente passaria o natal com sua família em Dusseldorf, afinal, era filha única e seus pais gostavam de casa cheia. Mas convencera eles a irem para o sul.
Lars Bender iria encontrar com eles no aeroporto. Sven estava nervoso com toda a família se reunindo. Eles ainda não haviam contado sobre a possibilidade de um casamento no próximo ano, e apesar de não estar usando a aliança, tinha certeza que essa pergunta surgiria em algum momento da noite.
Alfred e Hanna estavam receosos com a viagem. Preferiam ter ido dirigindo mas a filha lhes convencera que seria mais rápido irem de avião. Apesar de já conhecerem os sogros de , eles nunca haviam visitado a família Bender. Assim como também não conheciam Lars.
Sven estava andando de um lado para o outro na sala de embarque. Já estava quase na hora do voo e nada do seu irmão gêmeo aparecer. Os atrasos de Lars sempre o deixara irritado, mas quando este atraso poderia atrapalhar muito mais do que apenas eles, Sven ficava furioso.
conversava calmamente com a sua mãe, querendo saber como estava a cidade e se seu pai ainda não havia desistido da ideia de adiar a aposentadoria. Alfred havia trabalhado por muitos anos em uma fábrica de eletrodomésticos. Havia se esforçado muito para formar a filha única, e achava que já era hora dele começar a trabalhar em algo mais tranquilo, talvez ajudando Hanna na padaria que ela herdara do avô.
Alfred fingia ignorar a conversa que acontecia ao seu lado, lendo seu jornal e fugindo da área de esportes. Segundo ele, um genro jogador de futebol já era o máximo de contato com esportistas que ele queria ter.
O Voo deles foi anunciado e Sven já ia ligar mais uma vez para o irmão, quando o viu caminhando na maior calma do mundo trazendo uma mala na mão esquerda e uma garota ruiva na direita.
trocou olhares com Sven. Era tão a cara do Lars levar uma garota que ninguém conhecia justo no Natal em família...
- Hallo! Tudo pronto?
- Claro. Que bom que chegaram, achei que fosse precisar arrumar uma desculpa para mamãe e papai pelo seu atraso.
se levantou e foi conversar com a garota. Ela já estava visivelmente desconfortável o suficiente.
- Hallo. Eu sou a .
A garota olhou com ela com uma expressão estranha. Qual era o problema dela?
- Essa é Millei Koch. - Lars a apresentou. Sem nenhum rotulo. Amiga? Namorada?
Aparentemente nenhum dos dois iria rotular. Quem era Sven para questionar.
A viagem demorou alguns minutos, e logo já estavam na sala de estar dos Bender. O ambiente estava decorado com diversos itens em vermelho, assim como uma enorme árvore de Natal ao lado da lareira.
O frio não era tão intenso naquela região, mas a lareira com certeza seria acessa na noite de Natal.
Bertra e Klaus Bender cumprimentaram o casal com a maior naturalidade, dando impressão que eles já eram amigos há bastante tempo, estando por dentro inclusive do carro que eles haviam acabado de adquirir. , esperta como só ela, rapidamente questionou.
- Vocês andam conversando?
- Claro filha! Desde que você nos deu aqueles aparelhos que mudam a imagem de acordo com o toque. - Hanna continuava fingindo que não sabia que o nome daquele aparelho era celular, apesar de provavelmente utilizar funções que a filha desconhecia.
- Inclusive temos nosso próprio grupo no aplicativo verdinho.
- Aplicativo verdinho pai? - Sven franziu a testa.
- Sim. Esse que tem um telefone.
- Espera aí! Vocês têm um grupo de Whatsapp?
Bertra, que estava na cozinha, apareceu na sala justamente naquele momento.
- É claro! Vocês acham que só vocês podem ficar com essas modernidades?
e Sven trocaram um olhar surpresos. Eles jamais imaginariam que seus pais conversavam frequentemente, muito menos que tivessem um grupo de Whatsapp só deles. Provavelmente discutiam qual seria a forma mais fácil de esconder o remédio de e deixar que a natureza fizesse seu próprio trabalho. Uma coisa que os quatro sem dúvidas tinham em comum, era a vontade de ter um netinho.
Os quatro ficaram conversando na sala até pouco antes do almoço, quando as mulheres se reuniram na cozinha para ajudar a anfitriã.
Lars havia passado em casa apenas para deixar as bagagens e já tinha saído com Millie. Sven nunca concordou com a forma que o irmão lidava com os relacionamentos, e achava uma afronta como ele às vezes tratava os pais.
Bertra e Klaus já estavam acostumados com as artimanhas do filho mais velho. Sempre o mais arteiro, o mais pra frente. Aquele que tinha milhares de amigos.
Sven sempre foi o mais quietinho. O que ajudava com a casa sem que tivessem que pedir. O que passava os dias no vídeo game enquanto o irmão ia de casa em casa atrás de todas as suas namoradas.
Mas dessa vez, Lars não fizera por mal. Tinha algo planejado para a noite de Natal, e se não fosse à rua, seus planos não iriam dar certo.

Era tradição na casa da família Bender sempre entregar os presentes primeiros.
Quando os jogadores eram crianças, eles sempre achavam os presentes escondidos e a surpresa que Bertra tentava fazer era inútil. Com o tempo, ela entendeu que os meninos sempre descobririam o mistério e desistiu de prolongar o momento tão desejado.
Às 8 horas da noite, os oito adultos estavam sentados no sofá da sala. A árvore de Natal piscava luzinhas amarelas e o calor que saia da lareira era acolhedor.
estava sentada com as pernas encolhidas no sofá branco, recostada em Sven que a abraçava pelos ombros. Millie estava em uma cadeira sozinha enquanto Lars se jogava na poltrona.
- Quem vai começar? - Bertra questionou.
- Vai você mãe. - Lars incentivou. Ele queria ficar por último. O que tinha planejado era especial demais.
Millie o olhou de forma interrogativa. Ela estava claramente desconfortável.
Havia conhecido Lars em uma festa, onde a estudante de direito havia se dado o trabalho de cumprimentar o jogador pela medalha de prata nas olimpíadas. Ela nunca fora ligada a nenhum esporte, mas quando acontecia as grandes competições e atletas de seu país estava no pódio, era claro que ela ficava sabendo.
E Lars era um rapaz bonito. Cobiçado por muitas mulheres em diversas redes sociais. Millie quis ser educada, nunca imaginaria que ele olharia para ela de outra forma. Muito menos que a convidaria a passar o natal com ele quando sua família resolveu simplesmente viajar sem lhe convidar. E mesmo que tivessem, ela não teria como ir, uma vez que suas provas na faculdade acabaram dias antes das festas.
Ir para Rosenheim não havia sido uma ideia tão ruim assim.
Bertra deu para cada um dos filhos um suéter. Sven ganhara um amarelo e Lars um vermelho.
- Sei que é bastante clichê, mas escolhi as cores de acordo com o time que vocês defenderam esse ano. Uma forma de continuarem bem no ano que vem.
Seu olhar focou em Sven, que havia sido a grande preocupação no ano, tendo sua estreia na Bundesliga apenas no penúltimo jogo do ano.
se levantou e foi até a árvore de Natal. Fizera questão de guardar os presentes ali assim que chegara. Nada mais característico do Natal do que um presente em baixo da árvore.
Sentou no chão e começou a mexer nas embalagens.
- Esse aqui é do Lars. - Entregou para o Sven passar ao irmão.
Era um tênis da Adidas de última geração que ela sabia que o rapaz iria gostar.
- Obrigado . - Lars calçou o sapato apenas para ter certeza do número. - Ficou perfeito.
Deu um beijo no rosto da cunhada que continuou a entregar os presentes, incluindo uma pequena lembrancinha para Millie.
Faltava apenas Lars para distribuir os presentes.
Começou pelos pais, afinal havia comprado uma roupa de cama para eles. Claro que não era das simples, era de seda e toda detalhada. Bertra havia adorado, e Klaus achara que ele havia exagerado, mas também já tinha cansado de discutir com seu filho.
Para Millie, ele entregou uma caixinha pequena com um par de brincos de outro com uma pedrinha de diamantes. Ela começou a dizer que não precisava mas ele a calou com um beijo.
Olhou para a caixa maior em baixo da árvore. Havia chegado o momento final. Sabia que e ra algo que o casal queria há um tempo mas ainda não haviam tido coragem de adquirir. E também sabia do segredo sobre o casamento.
Sven poderia brigar com ele depois, mas naquele momento era o certo a se fazer.
- Para o meu casal favorito, eu quis fazer algo especial. Sei que algum dia vocês vão tomar coragem e dar um passo a mais no relacionamento, afinal, vocês são Svena. Sven e . E qualquer um sabe que vocês nasceram um para o outro. Meus sobrinhos podem demorar a vir ainda, mas sei que isso é algo que vocês aproveitarão bastante antes dele chegar.
Ele colocou a caixa no colo de Sven, que foi abrindo devagar.
Uma caixa com filtro solar, dois chapeis de praia, uma mini-sombrinha, assim como um biquíni para e um calção de banho para Sven. Junto com todos esses itens estava um envelope.
rapidamente abriu, já suspeitando o que tinha dentro.
- Uma passagem para Cancúm?
- Vocês merecem umas férias só vocês em um lugar paradisíaco. Tenho certeza que vocês vão amar.
- Mas Lars, as passagens estão marcadas para depois de amanhã. Não temos como sair de viagem depois de amanha.
- Como não? Estamos no recesso de ano novo. O futebol está parado, a empresa de fechada. Se vocês olharem bem, a viagem é justamente durante os seus dias de folga. Vão. Se deem o direito. E quem sabe não voltam com um sobrinho encomendado ein?
Ao escutar a palavra "sobrinho" os mais velhos também resolveram ajudar. Bertra e Hanna falando que adorariam ser avós e já planejando o enxoval, enquanto Klaus já pensava se poderia ser gêmeos e Alfred sugeria nomes.
e Sven poderiam fugir por mais um tempo da ideia de serem pais, mesmo que isso já estava sendo discutido desde a última suspeita de gravidez. E Lars tinha razão, o que tinha de mais em ir para uma praia por uns dias?
Com uma viagem marcada e a família reunida, o restante da noite de natal ocorreu tranquilamente. Millie não era tão fechada como imaginara, aos poucos a garota foi se soltando e demonstrou ser bastante inteligente.
No dia seguinte, já quis logo arrumar as malas, e saiu com os pais para fazer compras enquanto Sven ficou com seu pai fazendo alguns concertos na casa.
E, sem querer, em algum momento do dia, ambos deixaram escapulir os planos do casamento para o ano seguinte. Na hora do almoço, a única coisa que se falara eram sobre os preparativos, e enquanto seus pais discutiam se o casamento seria em Dortmund ou Rosenheim, o casal fugiu para o quarto.
Finalmente teriam um pouco de paz, um pouco de amor, e quem sabe, em algum momento acontecia o pequeno -Bender?
Frohe Weihnachten


Natal para eles sempre era algo importante. Era a época de reunir a família, relembrar o ano, presentear aqueles entes queridos e é claro, muita comida.
Neste ano, em especial, toda a família Bender tinha combinado de se reunir em Rosenheim. Geralmente passaria o natal com sua família em Dusseldorf, afinal, era filha única e seus pais gostavam de casa cheia. Mas convencera eles a irem para o sul.
Lars Bender iria encontrar com eles no aeroporto. Sven estava nervoso com toda a família se reunindo. Eles ainda não haviam contado sobre a possibilidade de um casamento no próximo ano, e apesar de não estar usando a aliança, tinha certeza que essa pergunta surgiria em algum momento da noite.
Alfred e Hanna estavam receosos com a viagem. Preferiam ter ido dirigindo mas a filha lhes convencera que seria mais rápido irem de avião. Apesar de já conhecerem os sogros de , eles nunca haviam visitado a família Bender. Assim como também não conheciam Lars.
Sven estava andando de um lado para o outro na sala de embarque. Já estava quase na hora do voo e nada do seu irmão gêmeo aparecer. Os atrasos de Lars sempre o deixara irritado, mas quando este atraso poderia atrapalhar muito mais do que apenas eles, Sven ficava furioso.
conversava calmamente com a sua mãe, querendo saber como estava a cidade e se seu pai ainda não havia desistido da ideia de adiar a aposentadoria. Alfred havia trabalhado por muitos anos em uma fábrica de eletrodomésticos. Havia se esforçado muito para formar a filha única, e achava que já era hora dele começar a trabalhar em algo mais tranquilo, talvez ajudando Hanna na padaria que ela herdara do avô.
Alfred fingia ignorar a conversa que acontecia ao seu lado, lendo seu jornal e fugindo da área de esportes. Segundo ele, um genro jogador de futebol já era o máximo de contato com esportistas que ele queria ter.
O Voo deles foi anunciado e Sven já ia ligar mais uma vez para o irmão, quando o viu caminhando na maior calma do mundo trazendo uma mala na mão esquerda e uma garota ruiva na direita.
trocou olhares com Sven. Era tão a cara do Lars levar uma garota que ninguém conhecia justo no Natal em família...
- Hallo! Tudo pronto?
- Claro. Que bom que chegaram, achei que fosse precisar arrumar uma desculpa para mamãe e papai pelo seu atraso.
se levantou e foi conversar com a garota. Ela já estava visivelmente desconfortável o suficiente.
- Hallo. Eu sou a .
A garota olhou com ela com uma expressão estranha. Qual era o problema dela?
- Essa é Millei Koch. - Lars a apresentou. Sem nenhum rotulo. Amiga? Namorada?
Aparentemente nenhum dos dois iria rotular. Quem era Sven para questionar.
A viagem demorou alguns minutos, e logo já estavam na sala de estar dos Bender. O ambiente estava decorado com diversos itens em vermelho, assim como uma enorme árvore de Natal ao lado da lareira.
O frio não era tão intenso naquela região, mas a lareira com certeza seria acessa na noite de Natal.
Bertra e Klaus Bender cumprimentaram o casal com a maior naturalidade, dando impressão que eles já eram amigos há bastante tempo, estando por dentro inclusive do carro que eles haviam acabado de adquirir. , esperta como só ela, rapidamente questionou.
- Vocês andam conversando?
- Claro filha! Desde que você nos deu aqueles aparelhos que mudam a imagem de acordo com o toque. - Hanna continuava fingindo que não sabia que o nome daquele aparelho era celular, apesar de provavelmente utilizar funções que a filha desconhecia.
- Inclusive temos nosso próprio grupo no aplicativo verdinho.
- Aplicativo verdinho pai? - Sven franziu a testa.
- Sim. Esse que tem um telefone.
- Espera aí! Vocês têm um grupo de Whatsapp?
Bertra, que estava na cozinha, apareceu na sala justamente naquele momento.
- É claro! Vocês acham que só vocês podem ficar com essas modernidades?
e Sven trocaram um olhar surpresos. Eles jamais imaginariam que seus pais conversavam frequentemente, muito menos que tivessem um grupo de Whatsapp só deles. Provavelmente discutiam qual seria a forma mais fácil de esconder o remédio de e deixar que a natureza fizesse seu próprio trabalho. Uma coisa que os quatro sem dúvidas tinham em comum, era a vontade de ter um netinho.
Os quatro ficaram conversando na sala até pouco antes do almoço, quando as mulheres se reuniram na cozinha para ajudar a anfitriã.
Lars havia passado em casa apenas para deixar as bagagens e já tinha saído com Millie. Sven nunca concordou com a forma que o irmão lidava com os relacionamentos, e achava uma afronta como ele às vezes tratava os pais.
Bertra e Klaus já estavam acostumados com as artimanhas do filho mais velho. Sempre o mais arteiro, o mais pra frente. Aquele que tinha milhares de amigos.
Sven sempre foi o mais quietinho. O que ajudava com a casa sem que tivessem que pedir. O que passava os dias no vídeo game enquanto o irmão ia de casa em casa atrás de todas as suas namoradas.
Mas dessa vez, Lars não fizera por mal. Tinha algo planejado para a noite de Natal, e se não fosse à rua, seus planos não iriam dar certo.

Era tradição na casa da família Bender sempre entregar os presentes primeiros.
Quando os jogadores eram crianças, eles sempre achavam os presentes escondidos e a surpresa que Bertra tentava fazer era inútil. Com o tempo, ela entendeu que os meninos sempre descobririam o mistério e desistiu de prolongar o momento tão desejado.
Às 8 horas da noite, os oito adultos estavam sentados no sofá da sala. A árvore de Natal piscava luzinhas amarelas e o calor que saia da lareira era acolhedor.
estava sentada com as pernas encolhidas no sofá branco, recostada em Sven que a abraçava pelos ombros. Millie estava em uma cadeira sozinha enquanto Lars se jogava na poltrona.
- Quem vai começar? - Bertra questionou.
- Vai você mãe. - Lars incentivou. Ele queria ficar por último. O que tinha planejado era especial demais.
Millie o olhou de forma interrogativa. Ela estava claramente desconfortável.
Havia conhecido Lars em uma festa, onde a estudante de direito havia se dado o trabalho de cumprimentar o jogador pela medalha de prata nas olimpíadas. Ela nunca fora ligada a nenhum esporte, mas quando acontecia as grandes competições e atletas de seu país estava no pódio, era claro que ela ficava sabendo.
E Lars era um rapaz bonito. Cobiçado por muitas mulheres em diversas redes sociais. Millie quis ser educada, nunca imaginaria que ele olharia para ela de outra forma. Muito menos que a convidaria a passar o natal com ele quando sua família resolveu simplesmente viajar sem lhe convidar. E mesmo que tivessem, ela não teria como ir, uma vez que suas provas na faculdade acabaram dias antes das festas.
Ir para Rosenheim não havia sido uma ideia tão ruim assim.
Bertra deu para cada um dos filhos um suéter. Sven ganhara um amarelo e Lars um vermelho.
- Sei que é bastante clichê, mas escolhi as cores de acordo com o time que vocês defenderam esse ano. Uma forma de continuarem bem no ano que vem.
Seu olhar focou em Sven, que havia sido a grande preocupação no ano, tendo sua estreia na Bundesliga apenas no penúltimo jogo do ano.
se levantou e foi até a árvore de Natal. Fizera questão de guardar os presentes ali assim que chegara. Nada mais característico do Natal do que um presente em baixo da árvore.
Sentou no chão e começou a mexer nas embalagens.
- Esse aqui é do Lars. - Entregou para o Sven passar ao irmão.
Era um tênis da Adidas de última geração que ela sabia que o rapaz iria gostar.
- Obrigado . - Lars calçou o sapato apenas para ter certeza do número. - Ficou perfeito.
Deu um beijo no rosto da cunhada que continuou a entregar os presentes, incluindo uma pequena lembrancinha para Millie.
Faltava apenas Lars para distribuir os presentes.
Começou pelos pais, afinal havia comprado uma roupa de cama para eles. Claro que não era das simples, era de seda e toda detalhada. Bertra havia adorado, e Klaus achara que ele havia exagerado, mas também já tinha cansado de discutir com seu filho.
Para Millie, ele entregou uma caixinha pequena com um par de brincos de outro com uma pedrinha de diamantes. Ela começou a dizer que não precisava mas ele a calou com um beijo.
Olhou para a caixa maior em baixo da árvore. Havia chegado o momento final. Sabia que era algo que o casal queria há um tempo mas ainda não haviam tido coragem de adquirir. E também sabia do segredo sobre o casamento.
Sven poderia brigar com ele depois, mas naquele momento era o certo a se fazer.
- Para o meu casal favorito, eu quis fazer algo especial. Sei que algum dia vocês vão tomar coragem e dar um passo a mais no relacionamento, afinal, vocês são Svena. Sven e . E qualquer um sabe que vocês nasceram um para o outro. Meus sobrinhos podem demorar a vir ainda, mas sei que isso é algo que vocês aproveitarão bastante antes dele chegar.
Ele colocou a caixa no colo de Sven, que foi abrindo devagar.
Uma caixa com filtro solar, dois chapeis de praia, uma mini-sombrinha, assim como um biquíni para e um calção de banho para Sven. Junto com todos esses itens estava um envelope.
rapidamente abriu, já suspeitando o que tinha dentro.
- Uma passagem para Cancúm?
- Vocês merecem umas férias só vocês em um lugar paradisíaco. Tenho certeza que vocês vão amar.
- Mas Lars, as passagens estão marcadas para depois de amanhã. Não temos como sair de viagem depois de amanha.
- Como não? Estamos no recesso de ano novo. O futebol está parado, a empresa de fechada. Se vocês olharem bem, a viagem é justamente durante os seus dias de folga. Vão. Se deem o direito. E quem sabe não voltam com um sobrinho encomendado ein?
Ao escutar a palavra "sobrinho" os mais velhos também resolveram ajudar. Bertra e Hanna falando que adorariam ser avós e já planejando o enxoval, enquanto Klaus já pensava se poderia ser gêmeos e Alfred sugeria nomes.
e Sven poderiam fugir por mais um tempo da ideia de serem pais, mesmo que isso já estava sendo discutido desde a última suspeita de gravidez. E Lars tinha razão, o que tinha de mais em ir para uma praia por uns dias?
Com uma viagem marcada e a família reunida, o restante da noite de natal ocorreu tranquilamente. Millie não era tão fechada como imaginara, aos poucos a garota foi se soltando e demonstrou ser bastante inteligente.
No dia seguinte, já quis logo arrumar as malas, e saiu com os pais para fazer compras enquanto Sven ficou com seu pai fazendo alguns concertos na casa.
E, sem querer, em algum momento do dia, ambos deixaram escapulir os planos do casamento para o ano seguinte. Na hora do almoço, a única coisa que se falara eram sobre os preparativos, e enquanto seus pais discutiam se o casamento seria em Dortmund ou Rosenheim, o casal fugiu para o quarto.
Finalmente teriam um pouco de paz, um pouco de amor, e quem sabe, em algum momento acontecia o pequeno -Bender?
Not Again


estava concentrada no jogo. Feliz que Sven estava jogando, sendo elogiado pela torcida. Ela sentia orgulho quando via seu namorado tão bem em campo.
Eles haviam acabado de passar uma semana maravilhosa em uma ilha em Fiji. riu ao se lembrar das promessas noite adentro, das carícias da madrugada e de como o mundo parecia não existir além deles dois.
Sven olhou para a namorada na arquibancada. Era apenas um jogo amistoso. Tuchel estava aproveitando para fazer alguns testes.
A Bundesliga voltaria no sábado e tudo estava certo para a segunda parte do campeonato fluir como deveria ter sido desde o início se não tivesse sido a pancada no tornozelo no final das Olimpíadas.
ainda se lembrava das palavras do médico. “Sem previsão”.
Ela estava distraída quando Sven recebeu o empurrão. Ao perceber o namorado no chão, ela abriu a boca, sem acreditar que estava vivendo tudo de novo.
Ao ver Bender saindo do campo carregado, ela simplesmente largou tudo com Harriet e Burki e foi atrás do namorado.
Sven estava com os olhos cheios de lágrimas. Ele não precisava de médio nenhum lhe dizer que havia machucado. A dor estava ali. Toda a precaução de demorar a voltar aos campos não havia servido para nada.
Ao avistar o namorado, apenas correu para abraça-lo.
- Está tudo bem Schazi
- Não me diga que está tudo bem agora Sven Bender. Não podemos nos precipitar.
Ainda no intervalo os médicos do Borussia Dortmund examinaram o tornozelo do jogador. Não quiseram tirar nenhuma conclusão precipitada, uma vez que seu histórico de lesões já era extenso.
- Vamos te levar para o hospital Manni.
- Mas é sério? - se adiantou. Ela se sentia em um filme repetido. A mesma cena, os mesmos atores, tempos diferentes.
- Pode não ser. Só vamos saber melhor com os exames.
Sven se levantou apoiando no enfermeiro da equipe médica. Margot se aproximou de e a puxou pelo braço, dando espaço para que o médico do BVB pudesse auxiliar Manni.
O tornozelo de Sven estava inchado. Todos olhavam preocupados já esperando o pior. Ele foi levado para um carro do time e iria no dela. A fisioterapeuta não deixou a amiga ir sozinha.
- Vou com você El.
- Mas Margot…
- Sem mais! Até porque qualquer coisa que ele tiver eu vou ter que cuidar do mesmo jeito.
Margort Fellman pegou a bolsa de que levava a bolsa de treino de Sven nas costas. A garota se sentiu um pouco enjoada, talvez pelo estresse daquele dia. A fisioterapeuta estava muito próxima das outras wags agora que ela mesma havia se assumido uma. Seu recém relacionamento com Sebastian Rode ainda era segredo na mídia, mas dentro do clube todo mundo sabia que os dois eram muito mais do que apenas amigos.

Margot não deixou dirigir. Esta por sua vez mexia no celular o tempo inteiro, hora no dela e hora no do namorado, respondendo todos que queriam notícias dele.
Não era fácil ver o jogador sair machucado de campo, principalmente quando ele tinha acabado de voltar de lesão.
O enjoo de piorou e ela tinha certeza que iria vomitar. Abriu a janela apesar do frio cortante. Seus olhos se encheram de lágrimas, talvez pelo vento, por estar passando mal ou pela noite que tinha tudo para ser perfeita, ter dado tudo errado.
O hospital finalmente chegou e foi correndo para a área de emergências. Um dos médicos da equipe médica do BVB já estava aguardando o jogador sair da sala de exames.
- Alguma novidade? - ela questionou, recebendo uma resposta negativa.
Mas ele estava preocupado. Isso era nítido. E isso não poderia ser nada bom.
Margot apareceu carregando todas as bolsas e as chaves de .
- Será que vai demorar muito?
- Calma . Vai ficar tudo bem, sempre fica.
Ela não esconderia que estava com muita raiva. E se ela estava querendo brigar com o universo, só poderia pensar em como Sven estaria.
Ele finalmente saiu da sala de exames, sentado em uma cadeira de rodas. O médico rapidamente entrou na sala de resultados, seguido por Margot deixando o casal finalmente sozinho.
sentou na cadeira a frente de Sven, ambos olhando nos olhos um dos outros. Ela começou a chorar de nervoso. Ele segurou suas mãos a acolhendo no calor de seu corpo.
- Ei, está tudo bem.
- Não está não.
Ele levantou o queixo dela fazendo com que ela olhasse em seus olhos.
- Está sim. Não sei o resultado daquele exame, mas sei que não quebrei nada.
- Mas Sven, você estava tão bem. Voltando a jogar desde as olimpíadas.
- Eu sei. Mas não será eu quem vou discutir com o que a vida quer dizer para mim no momento. Se é mais uma lesão, vamos lá. Eu não vou desistir. Só espero que você também não desista de mim.
- Eu jamais desistiria de você Schazi.
Ele a beijou delicadamente, um lembrete eterno de “estou aqui, estamos juntos”.
e Sven eram assim. Sempre juntos não importando a situação.

Alguns dias se passaram e o diagnóstico veio. Torção no tornozelo. Seis semanas fora. A princípio, porque Sven sabia muito bem que aquela previsão nunca era a correta.
O enjoo de não havia melhorado, e, com o jogador em casa o tempo inteiro, ela não conseguira esconder.
sentiu um deja vu ao comprar o teste de farmácia e ir para o banheiro.
Mas dessa vez ela não estava sozinha.
Sven Bender estava sentado em uma cadeira do lado de fora da porta. Ele usava uma botinha no tornozelo que, segundo Margot, iria ajudar a cicatrizar a lesão mais cedo. O único remédio era muito repouso e uma sessão de fisioterapia diária.
seguiu os passos da caixa. Esperou os poucos minutos que deveria, sem ter coragem de olhar o resultado.
Abriu a porta mostrando o teste ao namorado. Nenhum dos dois tinha coragem de olhar.
- Independentemente do resultado, nós estamos juntos.
Era tudo que ela precisava ouvir para finalmente ter coragem de olhar.
E então ela viu. Aqueles dois tracinhos que ela sabia que mudaria completamente a vida dos dois.
começou a sorrir e entregou o teste para Sven.
- Positivo?
- Sim. Nós vamos ser pais.
Sven levantou com dificuldades da cadeira, se apoiando na parede.
- Nós vamos ter um filho.
- Ou filha! Não vamos apressar as coisas.
- Tanto faz. Eu te amo . Eu te amo tanto!
- Ich liebe dich Sven Bender.
Ela ficou na ponta dos pés para beijá-lo entre sorrisos e lágrimas de felicidade.
Braun, o pequeno não tão pequeno labrador marrom começou a rodear os dois. Ele poderia não entender o que estava sendo dito, mas sem dúvidas sabia que era algo feliz.
E era. A familia Bender estava aumentando. Agora só faltava colocar um anel definitivo no anelar direito.



Lovers


chegou no trabalho exausta. Ela poderia culpar a gravidez mas sabia que não tinha nada a ver com isso. Fora os enjoos matinais, ela não sentia mais nada, nenhum outro sintoma. Seu cansaço era tudo do estresse do trabalho.
A empresa havia começado uma fusão com outra menor, e todo o trabalho burocrático havia caído em cima de . Parecia que eles não se importavam que ela já tivesse que dividir as energias com dois seres humanos. Não que ela estivesse usando eles como desculpa, muito pelo contrário.
Haviam perguntado se ela queria dividir o trabalho, e consequentemente o salário. É claro que dinheiro não era problema. Sven ganhava o suficiente para manter uma vida de luxo para os quatro. Mas valorizava seu próprio dinheiro. Sua independência.
Sua barriga já começava a crescer, e ela sabia que em poucos meses aquilo ficaria enorme. Ela teria dois mini-benders para crescer ali e só esperava que os dois fossem saudáveis.
O cheiro do jantar recém saído do forno chegou ao seu nariz assim que abriu a porta de casa.
Era um cheiro maravilhoso, com certeza algo que ela adoraria comer. Mas o cansaço e a gravidez fez com que seu estômago se embrulhasse e ela saísse correndo para o banheiro.
- , você está bem?
Sven chegou apenas a tempo de segurar os cabelos dela, e todo o almoço ir embora descarga abaixo.
- Acho que o cheiro da carne me enjoou.
lavou o rosto na pia do banheiro enquanto Sven ficou parado na porta sem saber o que fazer.
- Era a minha surpresa.
- Surpresa? - olhou para o namorado sem entender de onde viria aquela surpresa. Não era aniversário de namoro, nem dela.
- Hoje é Valentines Day.
Só então ela se deu conta do porque as pessoas estavam exageradamente românticas na rua.
Da sua secretária que havia recebido um buquê de flores no meio de expediente, do senhor distribuindo flores a todos que passavam na rua, da cafeteria onde havia comprado o seu chá matinal (afinal café havia sido proibido) toda decorada de rosa e vermelho.
Como ela poderia esquecer de um dos dias mais importantes do ano?
É claro, porque para ela, aquele era apenas mais um dia do ano. O dia de São Valentim. O dia de relembrar da importância do amor. Um sentimento tão vivo que existe por si só. O dia para comemorar ter pessoas por quem amar, seja um namorado, marido, irmão, melhor amigo.
era contra a forma comercial que ele dia havia tomado forma, mas ela ainda acreditava na importância de se comemorar o amor. Principalmente um no qual estava gerando dois frutos muito queridos.
- Eu esqueci completamente!
- Não tem problema, schazi. Imaginei que você fosse se esquecer.
- Sven, me desculpa. Eu nem providenciei nada.
- Schazi. - Sven puxou pela cintura, fazendo com que ela olhasse para ele. - Eu sei. Não tem problema. Eu preparei uma comemoração para nós dois.
- E eu pelo jeito estraguei tudo ficando enjoada com o jantar. Mas é sério. Isso não está me fazendo bem.
- Sem problemas. Vou desligar e pegar a chave do carro. A gente pode ir para outro lugar.
- Pode ser. Só me deixa tomar um banho.
- Claro.
Sven deu um selinho na namorada e deixou que ela fosse para o banheiro da suíte. Ele recolheu a bolsa que ela havia deixado no chão, jogou um bom ar no banheiro e foi até a cozinha recolher o jantar que havia preparado.
É claro que ele estava chateado. Havia passado toda a tarde cozinhando a carne favorita de e um risoto para acompanhar. Sven se orgulhava das suas habilidades culinárias, que, por ventura, não havia nenhuma.
Mas ele seria um idiota se também não entendesse. Poxa, ela estava carregando os dois filhos dele. Este tipo de coisa era normal.
Ele colocou tudo em vasilhas plásticas e guardou na geladeira. Do jeito que estava o apetite de , para ela acordar as 3 da manhã querendo aquela comida não seria novidade.

- Pode vir Schazi, já está tudo guardado.
- Eu ainda estou sentindo um pouco do cheiro Sven.
- Ficou no seu nariz, não tem mais nada aqui. Juro.
finalmente saiu do quarto. Seu cabelo ainda estava molhado e ela usava um vestido de grávida que lhe dava um aspecto de inocente. Ela poderia falar que odiava dar essa impressão mas a verdade era que estava se sentindo muito bem.
Quem diria que fosse se sentir bem durante uma gravidez.
- Eu já te falei hoje que você está linda?
Ela enrubesceu. Como que mesmo depois de anos de relacionamento ele ainda conseguia a deixar envergonhada.
- Obrigada.
- Então, onde esses dois moleques estão querendo ir hoje? - Sven perguntou acariciando a barriga de .
- Seria ridículo demais pedir McDonnalds?
Sven começou a gargalhar. Isso era tão a cara de que ele não se surpreendia.
- Um Big Mac e um refrigerante grande?
- Por favor!
- Seu desejo é uma ordem Schazi.
Já no carro, mexia com as músicas sem parar.
- O que foi?
- Parece que você não tem uma música boa aqui.
- , este é o mesmo CD que você fez para mim há dois meses atrás.
- Ta explicado. Já cansou.
Ela ficou olhando para a janela por um tempo. Sven virou na rua que daria no McDonalds e então resolveu mudar os planos.
- Vamos para o Shopping!
- Sério? Eu já estou em direção ao drive thru.
- Por favor Schazi.
Ele respirou fundo mas virou na outra esquina para o shopping. Por sorte não estavam longe.
- Me espera no carro. Já volto.
Sven claramente não estava entendendo nada. Esta não era a que ele tanto conhecia, e também não poderia culpar a gravidez. Era um dia estranha para outros diversos muito bem. Tinha alguma coisa por trás.

Deveria ter se passado pelo menos uma hora. Sven mandou diversas mensagens para , mas ela simplesmente havia ignorado o celular.
Ou ao menos as mensagens dele já que ele conseguia vê-la online por boa parte do tempo que ela esteve longe.
Foi então que ele viu a garota andar em direção ao carro. Ele ficou boquiaberto, tentando entender o que estava acontecendo.
estava vestida de noiva.
Por que ela faria isso?
entrou no carro, colocando um cd para tocar. Together do Animal Island encheu o carro com aquela doce melodia, e Sven apenas esperava alguma orientação que não demorou a vir.
- A gente precisa fazer isso hoje Sven.
- Mas…
- Sem mas. Você sabe que nunca foi meu sonho casar em uma grande festa, e o que melhor do que oficializar isso que claramente é pra valer se não um casamento.
- , nossos pais vão nos matar. - Ele fingiu estar preocupado, mas a verdade era que estava adorado a ideia.
- E daí? A gente já vai dar dois netos para eles. Deveriam mais é ficar satisfeitos.
Sven começou a rir dando partida no carro.
- Eu já falei que sou completamente apaixonado por você?
- Ainda bem porque se não eu estaria me sentindo idiota no momento.
Ele buscou a mão dela mantendo a outra no volante. Aquele pequeno gesto de segurar as mãos que significava muito mais do que parecia. Ali, os dois faziam uma promessa silenciosa que na verdade já estava feita há muito tempo. Um tinha o outro, e isso era o suficiente.
- Onde você pensou em ir? Está começando a ficar tarde.
- Eu pesquisei e tem um cartório aberto. Eles só atendem emergências a essa hora, mas acho que se usarmos o famoso “jogador do Borussia Dortmund” talvez eles abram a exceção.
- Você é louca mulher.
- E você é louco por se casar comigo.

Eles acharam o tala cartório depois de vinte minutos rodando pela cidade.
- Você tem certeza que quer fazer isso? - Sven beijou os dedos da namorada buscando qualquer traço de dúvida em seus olhos.
- Tenho. Mais do que nunca.
- E a data que tínhamos estabelecido antes?
- Fazemos uma festa para ninguém falar que somos esgoístas de não convidar.
- Gostei da ideia.
- Então, vamos fazer isso?
- Vamos.
Juntos eles sairam do carro de mãos dadas.
Todos que passavam na rua encaravam. Eles estavam acostumados com os olhares, mas dessa vez não era porque Sven era um jogador de futebol e sim porque estava com um vestido de noiva.
Os funcionários do cartório quiseram rir, mas viram que o casal estava falando sério. Era Valentines Day afinal, e o que mais justo para fazer uma loucura que não em nome do amor?
A cerimonia foi curta. Apenas o necessário para que papeis fossem assinados e algumas palavras proferidas.
Sven e estavam se sentindo dois adolescentes recém formados no Ensino Médio. com uma barriga de grávida, os dois em um cartório sozinhos assinando uma certidão de casamento.
Seria cômico se não fossem eles.
Era a coisa mais normal esperar isso de e Sven. Nada deles havia sido da forma tradicional, porque o casamento seria?

- Como você está se sentindo -Bender?
- Melhor impossivel Sven Bender.
Os dois estavam no carro apenas olhando um para a cara do outro, ainda sem acreditar no que tinham feito.
- Eu te amo tanto. Mas tanto . Não tem logica esse sentimento.
- O amor não precisa ter lógica Sven.
Ela o beijou. Estava louca para dar um beijo de verdade nele desde que colocara a aliança na mão direita.
- Schazi.
- Hm.
- Será que agora a gente pode ir pro McDonalds?
começou a rir e logo Sven se juntou a ela.

Uma noite de Valetines Day. Pela manhã, não imaginou que iria terminar o dia sentada no drive thru de um McDonnalds comendo o máximo de fastfood que ela poderia. Normalmente eles evitavam aquela dieta, mas era um dia especial.
também não acreditaria se lhe contasse que ela havia casado. Porque ela havia. Não que houvesse qualquer dúvida de que Sven Bender era o homem da sua vida, porque ele era.
Ali, ela percebeu que ela não era a mesma de meses atrás. Ela era uma nova mulher. Completa. Finalmente pronta para viver todos os desafios da vida.
Mesmo que às vezes parecesse que ela fosse uma adolescente de 18 anos.
Ela não sabia dizer em que ponto aquilo havia mudado, apenas que havia.
E agora o seu novo nome parecia encaixar perfeitamente a nova personalidade. -Bender. Ela fez questão de colocar o hífen.
Porque e Sven estavam juntos, Eles se amavam. E aquele havia sido o melhor Valentines Day que eles poderiam ter.
Um pouco maluco, mas enfim, quem havia dito que a vida precisa ser normal?


Double


Há algumas semanas eu havia descoberto que seria pai. É claro que logo fomos atrás de fazer todos os exames. vinha tendo enjoos matinais e cuidar dela estava sendo a minha distração.
Era incrível como a vida tinha tendência de balancear e as coisas sempre aconteciam ao mesmo tempo. Primeiro uma lesão que me deixaria fora por quase toda a temporada, e logo depois a minha namorada grávida.
Ter tempo de poder levá-la a todos os exames e ainda planejar o casamento que, se antes pensávamos que teríamos tempo, agora tudo seria feito o mais rápido possível.
Naquele dia seria o primeiro ultra som de nosso bebê e eu estava ansioso. Não havia dormido a noite só pensando se ele estaria bem. Ou ela, apesar de preferir um menininho para jogar futebol comigo, também poderia levar uma garotinha com o número 6 nas costas para o Signal Iduna Park.
Quando contamos para nossos pais eles começaram a agradecer o Lars. Segundo eles, havia sido a bendita viagem para Fiji que havia resultado nessa gravidez. Bem, sabemos muito bem o que aconteceu naquele chalé, quem seria eu para dizer que não.
Mas a surpresa maior foi descobrir que não teríamos apenas um bebê. A manhã do início de março já mostrava sinais da primavera que se aproximava. O sol batia na janela do carro aquecendo o suficiente para não precisar de ligar o aquecedor. Fomos de carro até a clínica onde faria o exame. Eu estava sem jogar a mais de um mês e provavelmente ficaria mais um de molho, o que me dava muito tempo para acompanhar o início da gravidez
já estava nervosa com a expectativa de cuidar de uma criança e quando fomos fazer o ultrassom e o médico soltou que seriam dois, fiquei com medo dela passar mal.
z.
Preenchemos as fichas com todos os dados e percebi olhares de alguns pacientes que aguardavam para serem atendidos. Felizmente, ninguém veio nos incomodar.
A sala parecia exatamente igual ao do dia que descobrimos que teríamos gêmeos. Naquela consulta poderíamos descobrir o sexo dos bebês.
Quando era mais novo eu dizia que quando fosse ter filhos, esperaria que eles nascessem para descobrir o sexo. Porém estava ansiosa para descobrir.
Depois de alguns dias de discussões sobre o assunto, chegamos à conclusão que pediríamos para Lars anotar em uma folha de papel e não contaria para nenhum de nós. Se por um acaso descobríssemos, estava certo. Se não, deixaríamos para o dia do nascimento.
E era por isso que o chato do meu irmão estava sentado ao meu lado na sala de espera.
- Demora assim mesmo?
- Nós somos os próximos Lars.
- Quero logo saber se vou ter dois sobrinhos, duas sobrinhas, ou um de cada. E eu ainda não acredito que vocês não querem saber.
- Vocês é muita gente! Essas criaturas estão crescendo dentro de mim e esse idiota não me deixa saber nem se vão ser meninos ou meninas. - disse cutucando meu braço. Comecei a pensar se de fato havia sido uma boa ideia convidar o Lars de todas as pessoas que poderiam guardar esse segredo.
Estava vendo a hora que meu irmão iria convencer a pedir para o médico contar para ela. Ou ele mesmo iria sorrateiramente passar o papel para minha mulher.
Estes dois ficavam impossíveis juntos. Sempre gostei como eles se davam bem, mas quando resolviam se juntar contra mim eu precisava me cuidar.
- Está bem crianças, dentro de alguns meses todo mundo vai saber. Ok?
- Nada ok. Quero saber com qual cores devo pintar o quarto.
- Achei que já tínhamos definido que seria amarelo. É uma cor neutra e tem tudo a ver com a gente.
- Vocês deveriam pintar o quarto de vermelho. Só acho.
- Cala a boca. - Eu e falamos juntos. Podíamos discordar de muitas coisas, mas amarelo ainda era nossa cor. Ainda era a cor do Borussia Dortmund.
Quando revelamos aos meus colegas de times que teríamos gêmeos alguns rapidamente providenciaram diversos brinquedos, macacões e mamadeiras com as cores e estampas do BVB.
Se dependesse dos meus amigos, meus filhos seriam abelhinhas desde a barriga. O problema era que se dependesse da mãe, também.
era a maior torcedora do Borussia que eu já conhecera. E era estranho uma vez que sua paixão pelo time só começou depois que nos conhecemos. Ela não era ligada com futebol mas se apaixonara perfeitamente pelo time aurinegro quando entrou pela primeira vez no Signal Iduna Park.
O médico nos chamou e fomos os três para o consultório. Explicamos para ele nosso plano de apenas Lars saber e ele pediu para meu irmão esperar do lado de fora que, quando acabasse o exame, ele mesmo escreveria em um papel e entregaria.
Lars não gostou muito de voltar sozinho para a recepção e ficar mais meia hora tomando chá de cadeira. Ele ainda precisaria de pegar estrada de volta para Leverkusen ainda hoje, mas pelos sobrinhos ele esperaria.
...
Senti o gel frio sendo colocado na minha barriga. O médio mostrou os batimentos cardíacos e eu fiz de tudo para entender as imagens que eram reproduzidas na televisão. Mas infelizmente eu não conseguia entender nada daquilo, nem mesmo onde terminava um bebê e começava o outro.
- Vocês têm certeza que não querem saber o sexo agora?
- Sim. - Sven respondeu antes que eu pudesse falar qualquer coisa. Mais tarde eu teria que implorar para o Lars me contar.
Sabia como era importante para o meu marido que os sexos ficassem em segredo. Mas ele também precisaria entender o meu lado. Estava ansiosa demais para descobrir.
Fora que queria comprar o enxoval e precisava saber se iria precisar de mais coisas azuis ou rosas. Não que eu achasse que cor definia o que era menino e menina, mas poxa, eu tinha o direito de ser um pouco clichê.
- Os dois bebês estão saudáveis. Vou escrever em um papel o sexo e entregar para o seu cunhado. E boa sorte . Sei muito bem que você vai tentar descobrir antes da hora.
Iria mesmo. Sven que esperasse sentado se ele achava que eu realmente não daria um jeito de descobrir.
Queria pensar nos nomes. Eu já tinha dificuldades com um, imagina dois. Nome é uma coisa muito importante. Aquela criança é um ser humano que vai carregar o nome pelo resto da vida. Não pode ser uma decisão tomada às pressas em uma enfermaria porque temos que registrá-los.
- Está aqui o envelope. Tenha a responsabilidade porque é o único papel que fala o sexo das crianças. - O médico entregou para Lars um envelope branco com um papel dentro. Para mim, uma cópia do exame e o laudo sem o sexo dos bebês.
Fomos para casa e a única coisa que eu conseguia pensar era naquele pedaço de papel que mataria toda a minha curiosidade. Passei a mão na minha barriga como se pudesse acariciar meus filhos. Era idiota, mas reconfortante.
- O que você acha que é Sven? - Lars perguntou do banco traseiro olhando para o papel em suas mãos.
- São duas meninas.
- Não. É um menino e uma menina. - Eu tinha certeza que era um casal. Já tinha inclusive pensado em alguns nomes apesar de não ter certeza deles.
- Vocês vão ter que chegar em um consenso.
- Lars, esconde logo essa droga de envelope.
- Ta bom. Não está mais aqui quem tem a resposta.


Já havia se passado uma semana da consulta. Saber que meu cunhado tinha a resposta e não iria passar por cima do irmão para me contar estava pesado.
Eu já havia tentado de tudo. Oferecido comida, bebida, presente, amigas. Nada convencia Lars Bender a me contar se teria filhos ou filhas.
Já havia desistido.
Sven finalmente voltara aos treinos no Borussia Dortmund e eu tinha a casa para mim mesma. A primeira coisa que eu fiz foi ir até a nossa pequena não tão pequena biblioteca e escolher um livro policial.
Era um domingo e apenas queria relaxar.
Sentei no sofá e me distraí com a leitura.
Escutei Sven chegando em casa e Braun, nosso labrador chocolate, se levantou para recebê-lo.
- , o que é esse papel colado na coleira do Braun.
Não fazia ideia do que ele estava falando. Não tinha papel nenhum ali mais cedo.
Braun deitou no meu colo como se estivesse me entregando o papel. Estava amassado e rasgado, mas, ao abrir, reconheci a logomarca da clínica.
Lars havia escondido o papel no lugar mais óbvio para que eu pudesse encontrar e só agora havia feito isso.
Ponderei sobre contar para Sven do que se tratava o papel, mas ele logo estava atrás de mim lendo sobre o ombro. Duas palavras.
- Dois meninos.
- Nós vamos ter dois menininhos correndo pela casa.
Olhei para meu marido e vi seus olhos lacrimejando. Nunca tinha visto ele tão emocionado.
- , nós vamos ter dois menininhos para levar ao estádio, jogar futebol, brincar de soldado.
- E também iremos ensiná-los a cozinhar, lavar. Não vamos viver no século passado Schazi.
- Nós vamos criar dois menininhos lindos da melhor forma possível. Até porque, com uma mãe dessas eles não tem como não ser excelente garotos.
Ele me beijou de uma forma apaixonada como há muito tempo não fazia. Talvez nunca havia o feito. Ali, nós dois deixávamos de ser apenas nós dois. Ali, nós éramos uma família.
Eu soube que tudo mudaria naquele momento. E eu estava ansiosa para viver essa nova aventura ao lado de Sven Bender.
Frohe Ostern


O sábado de Aleluia era um dia importante para a minha família. Passado de geração para geração, tínhamos a cultura de colorir os ovos de galinha para as crianças procurarem no dia seguinte. E naquele ano, esse dia estava sendo especial.
Meus pais estavam animados com a chegada dos netos e resolveram aproveitar a data para fazer um pequeno chá de bebê antecipado. Hanna convidara algumas das minhas amigas me pegando totalmente de surpresa quando Blue Aaron abriu a porta da casa dos meus pais.
- Como vai a minha grávida favorita?
- O que você está fazendo aqui Blue?
Minha mãe apareceu atrás da minha amiga com um balão na mão direita e uma
caixinha na esquerda.
O balão era amarelo e estava escrito “boy” em preto.
- Vocês chegaram cedo demais. - Minha mãe me abraçou me entregando a caixinha. As duas mulheres bloqueavam a entrada. - Filha, você precisa usar isso aqui antes de entrar.
Dona Hanna me entregou uma venda. Elas claramente estavam aprontando algo. Olhei desconfiada para Sven.
- Você sabia disso?
Ele começou a rir. Claro que sabia!
- Só coloca a vente schatzi. Logo você descobre.
Obedeci e entrei na casa dos meus pais sendo carregada por Blue e mamãe.
Conhecia aquela casa como a palma da minha mão. Havia crescido no lugar e brincado diversas vezes de andar de olhos fechados pelos cômodos. Por ser filha única, eu sempre inventava brincadeiras sozinha. Principalmente quando meus pais não estavam em casa.
- Vocês estão me deixando nervosa.
- , fica quieta que você já descobre.
Não era novidade Blue ter vindo para a Alemanha. Ela estava viajando bastante para ver o namorado. Às vezes me surpreendia que havia sido uma brincadeira minha que juntara os dois. Mas Blue Aaron e Nils Petersen combinavam. Só esperava que eles ficassem juntos. Eles mereciam ser felizes.
Escutei algumas risadas ao redor. Apenas meus pais e Sven não fariam todo aquele barulho. Com certeza minha mãe havia convidado mais gente.
- Senta aqui . É a poltrona favorita de seu pai. - Mamãe me guiou e enfim eu estava confortável na melhor poltrona da casa.
Meu pai ainda não havia aparecido e isso estava me deixando inquieta.
- Cadê o papai?
- Estou aqui filha. Logo você vai entender tudo.
- Está pronta ? - Blue perguntou.
- Anda logo!
Eles estavam me deixando curiosa demais com o que estavam aprontando. Achei que fosse apenas pintar alguns ovos com a minha mãe, não aquela bagunça toda.
Mas a venda finalmente saiu dos meus olhos e eu tive que segurar o choro. Havia um mural enorme com fotos de família e amigos, e no final um quadro em branco. Ao redor, mais balões amarelos como o que estava nas mão da minha mãe.
De um lado era possível ler Erik e do outro Gregor. Um bolo com uma pasta americana amarela enfeitava uma mesa com uma toalha branca, e diversos docinhos tão delicados quando o bolo.
Ao redor percebi porque estava escutando mais risadas possíveis. Todas as minhas amigas estavam ali. Harriet, Louise, Babi, Carol, Amelie e até a nova namorada de Lars, Sofie.
Era o meu chá de bebê. Na Páscoa. Durante o dia mais especial do feriado.
Comecei a chorar. A ficha finalmente havia caído. Tinha dois seres humanos crescendo dentro de mim. E, apesar de todo o medo que estava disso, eu tinha pessoas ao meu lado para me apoiar. As melhores amigas que eu poderia pedir.
E o melhor marido que poderia ter escolhido.
Sven estava parado na porta da sala, sorrindo ao ver a minha reação. Papai estava ao lado dele com uma cara de bobo. Alfred nunca soube esconder o quanto estava animado com essa gravidez.
- Você vai falar alguma coisa ou vai ficar apenas encarando a gente? - Babi foi a primeira a se manifestar. - Eu fiz brigadeiro pra gente!
- Brigadeiro? Eu estava com desejo disso esses dias.
- E por qual motivo você não falou? Ninguém quer os gêmeos nascendo com cara de brigadeiro.
Então eu finalmente sei do choque e levantei para abraçar minhas amigas.
- Eu não acredito que vocês estão aqui. Mamãe você foi louca de tirá-las de perto da família para vir pra cá. Tenho certeza que elas tinham planos.
- Para com isso . A gente não perderia essa surpresa por nada. - Foi a vez de Harriet me abraçar.
- Fora que, os rapazes também vieram. Mas sua mãe expulsou todos eles da casa até que a nossa festa chegasse ao fim. Só estou com medo porque foi Lars que ficou responsável pelo grupo.
- Você tem total razão de estar com medo Sofie. Babi, cadê aqueles brigadeiros? Aliás, como está o Mario?
- Lidando. O tratamento não é simples, mas estamos otimistas. Ele resolveu brincar de blogueirinho e agora passa o dia inteiro tirando foto do nosso cachorro.
- Eu vi mesmo o Instagram! O Simba é muito adorável.
Fomos todas juntas até a mesa. Os brigadeiros da Babi estavam maravilhosos, mamãe cortou o bolo e papai apareceu com refrigerantes e sucos.
- Cadê Sven? - Perguntei pro meu pai. Queria muito dar um beijo nele por ter conseguido manter essa surpresa.
- Ele foi encontrar com os rapazes. Mais tarde ele estará de volta. Aproveite as suas amigas.
Ascenti. Ele tinha razão. Não era todos os dias que eu tinha aquelas meninas ao meu redor. Cada uma de nós tínhamos uma rotina de trabalho apertada e até mesmo as que também moravam em Dortmund era difícil encontrar. Ainda mais agora que não estava viajando com o time.

Sentamos na sala de estar de mamãe. As meninas começaram a conversar sobre o dia a dia, me perguntaram da gravidez, principalmente a Babi. Ela compartilhava o mesmo medo que eu, estava nítido em seus olhos.
- O que vocês acham de entregarmos os presentes? - Blue sempre assumindo a liderança.
- Presentes?
- Claro! Afinal, este é um chá de bebê.
- Ai meu Deus. Mas e os ovos?
- Calma filha, dá tempo de tudo. Inclusive, acho que poderíamos deixar os ovos para quando os homens chegarem. Fazer uma brincadeira.
Meus olhos encheram de lágrimas. Eu tinha amado essa ideia de todos os nossos amigos participarem.
- Espera, que ovos? Vocês vão fazer a cerimônia de pintar ovos?
- Sim Babi. É tradição e eu não abro mão.
- Ai Meu Deus, eu estava louca pra fazer isso! Mario me disse que não sabia fazer e não pareceu animado. Eu sempre pintei ovos com a minha avó no Brasil.
- Serio?
- Pitar ovos? O que é isso? - Blue interrompeu.
- Você vai descobrir. É muito divertido.

Os presentinhos, em sua maioria, havia sido roupas e sapatinhos para os bebês. Louise havia me dado um conjuntinho de uniformes do Borussia Dortmund com o nominho deles nas costas. Era a coisa mais adorável que eu ja tinha visto. Não via a hora de vesti-los com elas.
- Já podemos entrar ou vocês ainda estão discutindo quem é melhor de cama.
- Lars! - todas gritamos ao mesmo tempo e Sofie ficou vermelha.
- Desculpa, mas eu não acredito que vocês não falem sobre isso quando estão sozinhas.
Sven deu um tapa no ombro do irmão. A sala de repente ficou lotada.
Vi quando Mario foi até a Babi e ela o abraçou. Sempre admirei o relacionamento deles, e depois do diagnóstico do jogador eles pareciam ainda mais unidos. Sempre que estavam em um mesmo cômodo, davam um jeito de ficar juntos. Não deveria estar sendo fácil.
- Agora que estamos todos aqui, vamos para a cozinha?
Todo mundo estava animado para conhecer como Hanna coloria os famosos ovos alemães, principalmente aqueles que eram de outro país. Babi se ofereceu para ajudar e fez Mario se animar. Blue rapidamente também estava com a mão na massa.
As meninas quase não me deixaram fazer nada por causa da gravidez. Eu poderia reclamar, mas estava gostando da atenção. Ter todos eles ali era o melhor presente que minha mãe poderia me dar.
- E ai filha, o que você está achando? - Papai chegou ao meu lado e me abraçou. As cadeiras da cozinha haviam sido retiradas senão não caberia 16 pessoas na cozinha dos Bender.
- Este é o melhor presente de Páscoa que vocês poderiam ter me dado. Obrigada. - Dei um beijo em sua bochecha.
Levantei com a desculpa de ir no banheiro e puxei Sven comigo. Desde que haviam dito “surpresa” estava querendo um momento sozinha com ele.
O levei estava acima até o meu antigo quarto e fechei a porta. Antes que ele pudesse falar qualquer coisa, o beijei. Não era um beijo curto, era um daqueles beijos nos quais eu não sabia onde terminava e onde ele começava. Ele sabia que eram raros. E que ficariam mais raros ainda quando os gêmeos chegasse.
- O que foi isso? - Ele perguntou ainda com as mãos na minha cintura.
- Estava com saudade de você.
Ele franziu a testa.
- Só ficamos algumas horas separados.
- Eu sei. Não me peça lógica. Eu só estava com saudade de você. Acho que estávamos com saudade de você.
Apoiei uma mão na minha barriga que já tinha um tamanho considerável. Ele sorriu e colocou sua mão em cima da minha.
- Eu estou aqui. Para vocês três. E não pretendo ir a lugar nenhum. Não sem vocês.
O beijei novamente. E ficaríamos ali até que Lars ou Blue viesse perguntar se a gente ainda conseguia transar apesar da barriga porque eu tinha certeza que um dos dois ainda ia soltar essa pergunta.
Aquele era o melhor véspera de Páscoa que tinha em anos. E sabia que na manhã seguinte teria um café da manhã fantástico e vários ovos coloridos para procurar. Eu estava em paz. Em paz rodeada das pessoas que amava. Gregor e Erik seriam crianças sortudas. E saber que eles nasceriam em um ambiente tão acolhedor me dava segurança. E o amor? Ele só aumentava.

Birthday boy


Se tinha uma coisa que Sven Bender valorizava, esta era aniversários. Ele fazia questão de comemorar todos que podia. E aquele, em especial, merecia toda a comemoração do mundo.
estava grávida. Eles finalmente haviam se casado. E, no dia anterior, o Borussia Dortmund eliminara o Bayern de Munique na semifinal da Pokal.
O BVB estava na final. E, um dos nomes que se destacaram era do, como chamado pela torcida, Iron Manni. Sven tinha sim muita coisa para comemorar.
Por isso que, ao acordar naquela quinta-feira, ele resolveu que não deixaria dormir a meia hora a mais. E nem se quer iria preparar o café de sempre. Eles iriam tomar café da manhã na rua.
Na hora do almoço, estaria trabalhando. No jantar, não faria sentido ir para nenhum restaurante. Ele queria algo simples.
remexeu na cama encontrando um Sven ainda deitado.
- Você não pulou da cama hoje.
- Achei que fosse justo fazer companhia para você no dia de hoje. Fora que, o que você acha que começar o dia de uma forma diferente?
- Ei, isto não é justo. Eu que deveria fazer uma surpresa para você.
- Você já foi capaz de me dar a maior surpresa que eu poderia desejar na vida.
- É?
- Sim. - Ele colocou a mão na barriga dela, fazendo carinho.
- Ei. Eu amo você.
- Ich liebe dich.
Ele juntou os lábios deles. Um beijo carinhoso e lento. Um apenas curtindo o outro.

Sven levou até uma padaria. Na fachada não tinha muita coisa, mas o fundo era uma varanda com diversas mesinhas cobertas por toalhas brancas.
- O que você vai querer. - Era automático. Ele sempre deixava que ela escolhesse. A comida, a decoração da casa, o filme no fim de semana, o nome dos filhos.
Mas aquele era o dia de Sven Bender, e iria querer que fosse um dia especial.
- Você escolhe.
- Crepes, morangos e chocolate?
- Por mim está perfeito.
Sven gostava de morangos, mas ele sabia que era viciada em chocolate. Uma mistura completa dos dois.
Enquanto os pedidos não chegavam, buscou a mão de Sven por cima da mesa. A aliança de casamento brilhava em sua mão. Ela ainda se assustava que eles realmente haviam se casado.
- Você não escolheu seu presente de aniversário.
- Não tem nada que eu queria de verdade .
- Mas isso não é justo! Você precisa escolher algo.
- Eu já escolhi você.
- Espera aí que eu vou vomitar.
Ele olhou assustado.
-Sério?
- Não! Tô te zoando.
Eles começaram a rir. Os enjoos de haviam sido péssimos nos primeiros meses de gravidez, mas agora já estavam equilibrados. Isso não impedia Sven de sempre ficar preocupado que a esposa pudesse passar mal.
Eles tomaram café da manhã e Sven deixou na empresa que ela trabalhava. Agora ele teria que procurar algo para fazer de seu dia.
Para começar, ligou para seu irmão. O estranho de ter um irmão gêmeo era que ele não tinha um dia para si mesmo. Ele dividia o dia com outra pessoa muito parecido com ele. Pelo menos fisicamente.
- Fala ai Manni!
- Lars! Feliz aniversário.
- Feliz aniversário Sven.
Eles conversaram um pouco. Lars como sempre brincalhão. Sven como sempre sério, preocupado demais para se permitir brincar.
Ia ser o primeiro ano que não passariam o aniversário juntos. Lars tinha planos com a namorada. Sven estava feliz que o irmão finalmente encontrara alguém. Sofie parecia ser uma garota legal.

Já havia passado da hora do almoço. Em breve ele buscaria no trabalho, quando ele recebeu uma ligação.
Roman Bürki ligava. Ele estranhou. Nenhum dos colegas de time fizeram grandes comemorações. Todos ainda estavam anestesiados com a vitória do dia anterior, mas havia recebido “feliz aniversário” em algumas línguas diferentes no grupo do time.
- Alô.
- Manni. Eu estou precisando de uma ajuda sua. Rose, irmã da Harriet, está passando pela cidade e quer que a gente saia com ela hoje. Só que ela trouxe o filho. Será que você e poderiam olhar ele pra gente?
- Claro! Vai ser um prazer. Como ele se chama?
- Adam. Vocês vão adorá-lo.

Sven só não pensou o que acharia disso.

A noite chegou e o casal esperava que Harriet e Roman trouxesse o pequeno Adam. tinha ficado um pouco chateada com os amigos de pedirem para eles serem babás justo no aniversário de Sven, mas se o marido havia aceitado e ele estava tudo bem com isso, ela também estaria.
A campainha tocou e Sven se levantou do sofá para atender. Eles haviam preparado uma mesa de guloseimas para Adam, além de uma série de filmes. O garoto tinha 7 anos e não estava esperando que fosse tão simples assim.
Harriet estava com Adam na porta.
- Eles estão nos esperando no carro. Vocês realmente estão tudo bem com isso?
- Claro. Hallo Adam! Como você está.
- Oi Onkel Sven.
O menino entrou no apartamento do casal e foi logo para a televisão.
estava sentada no sofá e perguntou para o garoto o que ele queria assistir, já abrindo a Netflix. Ele escolheu algum filme de herói e rapidamente ficou entretido com o enredo que provavelmente já tinha visto diversas vezes.
Ao longe, e Sven observavam o garoto de cabelos claros e olhos verdes.
- Já pensou que não demora e vão ser os nossos ali.
- Penso nisso todos os dias schatzi. Fico me perguntando com quem eles vão parecer e rezo todos os dias para ser com você.
- Eu acho que eles vão ser uma mistura de nós dois.
Adam começou a cochilar no sofá e o casal arrumou travesseiros e coberta para que ele ficasse confortável.
puxou Sven pela mão.
- Venha, você ainda não recebeu seu presente.
Sven seguiu a esposa até a cozinha. Na mesa tinha um bolo de morango com cobertura de chantilly. O favorito de Sven Bender. Em cima, um conjunto de velas.
- Sei que não é muita coisa, mas sei que você sente falta de um bolo de aniversário. Alles Gute zum Geburtstag Sven. Faça um pedido.
Sven olhou para ao seu lado. Desceu os olhos para a barriga dela. Se lembrou da defesa que havia dado no jogo do dia anterior que, com certeza, havia sido fundamental para a classificação do Borussia Dortmund.
- Não preciso fazer nenhum pedido. Já tenho tudo que eu sempre quis. Agora, é o momento da vida no qual a gente simplesmente aproveita. Agora, é a hora que eu só tenho a agradecer. Agradecer por ter você aqui, por ter nossos filhos. Por ter um time unido que não desiste. E principalmente, agradecer por mais um ano de vida.
Hockey?


Hockey nunca foi algo que eu admirei. É claro que conhecia o esporte, mas não era algo que gastava meu tempo assistindo. Porém, como parte de parceria, o BVB convidou o jogador de Hockey Christian Ehrhoff para uma sessão de fotos pelo Campeonato Mundial de Hockey que aconteceria em Colônia e em Paris.
Quando me chamaram para fotografar achei estranho. Jamais pensaria que meu nome seria um dos primeiros a aparecerem. É claro que Marco também foi chamado, mas se ele não fosse, aí seria estranho.
brigou comigo a semana inteira dizendo que eu só sabia falar desse encontro. Tínhamos que resolver as coisas para o quarto dos bebês e meu pensamento estava em um dia de mídia diferente que iria ter.
- Sven, eu vou te proibir de ir. Sério, me ajuda a escolher a posição dos berços.
Sua barriga estava crescendo mais a cada dia. Estava ansioso para que meus filhos nascessem. Eu sempre quis ser pai. Ter um molequinho correndo dentro de casa jogando bola. Mas sabia que não tinha em sua lista de prioridades ter filhos.
Já sabia disso desde o início no nosso relacionamento. não queria filhos. Estranho era pensar que depois de quatro anos juntos, tinha acontecido sem que nenhum de nós dois pudesse planejar.
No início pensei que ela fosse surtar. Ter alguma ação louca que a fizesse querer desistir da gravidez. Mas desde que descobrimos, tudo que ela fez foi ficar animada.
Quando descobrimos que seriam gêmeos, mais uma vez esperei que ela fosse fazer algo. Porém tudo que ela disse foi “não sabia que esse tipo de coisa era genético”.
Mentira. Sabia sim porque já havíamos pesquisado isso outras vezes.
A convidei para ir comigo até o clube, mas ela preferiu continuar brincando com as diversas amostras de tintas. Certeza que alguma das meninas viriam para cá. As nossas amigas estavam participando de cada pedacinho da gravidez da . Seríamos os primeiros no nosso grupo de amigos a ter filhos.
Se tinha uma coisa que essas crianças seriam eram amadas. E muito, mas muito paparicadas.
Cheguei no clube e logo foi recebido por uma Babi um pouco brava.
- Você está atrasado.
Ela vestia uma camisa preta com o símbolo do BVB. Uniforme da equipe de comunicação, além de um fone de ouvido que provavelmente estava ligado a um rádio. O alemão dela ainda saia com sotaque, mas para quem estava a apenas um ano morando no país. Babi até que conseguia passar despercebida.
- Desculpa. me segurou.
- E como ela está?
- Os bebês estão bem.
Ela me olhou estranho.
- O que foi?
- Eu perguntei dela, não dos bebês.
Entramos no clube a dentro rodando diversos corredores e salas.
- Todo mundo que faz essa pergunta na verdade só quer saber dos bebês.
- Verdade. - Ela deu de ombros. - Marco já está com o tal jogador de Hockey na sala de fisioterapia.
Entrei na sala e escutei meu colega de time discutindo com Ehrhoff sobre puck, patins e não sei mais o que. Desde quando Marco Reus se interessava por Hockey?
- Eu vi aquele jogo do Hawks. Fiquei impressionado como… Ah, oi Bender! Chris, este é Sven Bender. Nosso zagueiro.
- Hallo. Prazer.
Apertei a mão do jogador de Hockey que me cumprimentou de volta.
Logo ele foi chamado por Babi. Ela tinha que fazer uma pequena entrevista com ele antes da sessão de fotos.
- Desde quando você gosta de hockey Marco?
- Desde ontem a noite.
- Que?
- Não pergunta. Louise ficou enchendo o saco que eu ia conhecer esse cara. Não fazia ideia que ela assistia hockey, mas aparentemente ela tem uma quedinha por alguns jogadores. Mais uma vez, não pergunta.
Louise, namorada de Marco, era uma das mulheres mais liberais que eu conhecia. Era ela quem sempre ajudava nas decisões mais complicadas. Havia sido dela a ideia da despedida de solteiro pós casamento.
Os homens ficaram em casa jogando Fifa e ela arrastou as mulheres para um bar. tentou me contar como tinha sido, mas parei de ouvir quando ela disse que só tinha mulheres no salão e ela estranhou até ver um palco no meio. Não precisava de muito para entender que tipo de clube elas tinham ido.
- Vocês já jogaram hockey? - Christian Ehrhoff voltou trazendo três sticks.
Olhei para Marco esperando que ele fosse colocar um sorriso no rosto e dizer que já. Por sorte, ele foi sincero.
- Nunca. E não acho que seria recomendado eu ou Sven subirmos em cima de patins de gelo. Nós temos um pequeno histórico com lesões no tornozelo.
Christian começou a rir.
- Ninguém vai se machucar. Vamos usar bolinhas de tênis ao invés de pucks. O chão é listo mas não desliza.
-Certo. Meninos, quero que vocês simulem um jogo. Pode ser todos contra todos, afinal não temos um gol. Vou tirar algumas fotos. Não se importem comigo. - Babi deu as orientações.
Confesso que me senti um pouco autista. Pegar em um taco de hockey era diferente e até achei divertido ter que tacar a bolinha na parede com ele.
Reus obviamente conseguiu prender a bolinha de tênis entre uns colchonetes e a parede e passou boa parte do tempo tentando tirá-la de lá. Não entendi porque ele simplesmente não abaixou e pegou a bolinha. Bem, eu não iria perguntar.
No final tiramos uma foto e Christian nos presenteou com uma jersey de hockey da seleção alemã com nossos nomes e números nas costas.
Até que hockey era divertido.
Ou pelo menos foi o que pensei quando cheguei em casa vestido com a jersey e encontrei sentada no chão da sala com uma bacia de pipoca assistindo pela milésima vez uma reprise de Prision Break. Ou talvez fosse a temporada nova que estava saindo.
- Que camisa é essa?
- É uma Jersey de hockey da seleção alemã.
Ela entortou o pescoço e ficou me encarando.
- Acho bom você guardá-la. Talvez tenha alguns planos com ela.
- !
- Você que interpretou Sven. Eu apenas disse que tinha planos.
Fui até ela e sentei ao seu lado pegando uma porção de pipoca.
- Vou guardar a camiseta ansiosamente.
- Nossos filhos nem nasceram ainda e a gente está realmente enrolando com sexo?
Olhei para ela e ela me olhou de volta. Ficamos nos encarando sérios por um tempo quando não aguentamos. Começamos a gargalhar sem parar.
Não fazia ideia de porque estávamos mudando. Mas algo na nossa dinâmica como casal estava diferente. Estávamos mais próximos, mais compreensíveis e mais atraídos um pelo outro.
Tudo que eu sabia era que estava amando essa nova dinâmica. E, a cada dia que passava, eu amava mais essa mulher.


Nightmare


Eram 3 da manhã quando Elena deu um chute na costela de Sven. Ele acordou assustado tentando entender o que estava acontecendo e então viu a esposa de debulhando em lágrimas.
- Tem algo errado com os meninos.
Sven não pensou muito e, se perguntassem para ele mais tarde como chegou no hospital, ele não fazia ideia. Mas ele havia feito uma mochila para Elena e os bebês, somente o necessário e nada que demorasse demais. Provavelmente alguns pares de roupa não estariam combinando, mas nada disso tinha importância naquele momento.
Por sorte, ao chegar no hospital, quem estava de plantão era a própria médica de Elena. Ela sabia de todos os problemas que haviam acontecido nos sete meses de meio de gestação e não havia tido necessidade de encher Sven de perguntas enquanto ele estava mais preocupado com a esposa se contorcendo de dor e a falta de informações sobre os filhos.
- Sven, nós vamos precisar fazer uma cesariana de emergência. É uma cirurgia de risco e peço que você espere na recepção.
Ele apenas assentiu. Não teve coragem de contestar a doutora de cabelos escuros e olhos claros que tentava lhe ajudar. Não tinha importância que iria perder o nascimento dos filhos, ele estava mais preocupado em ter a mulher e as crianças vivas ao seu lado. E esperava que os médicos fizessem tudo que fosse necessário.
Sven sentou em uma das cadeiras de plástico da recepção e deixou que as lágrimas saíssem sem nenhum controle. Ainda era de madrugada e não tinha mais ninguém ali. Ele estava sozinho em uma sala vazia de hospital. Uma das funcionárias veio ligar a televisão. A moça com o uniforme azul claro não fazia ideia do porquê ele estava ali, mas achou que um pouco de barulho fosse ajudar.
Sven começou a ligar para Lars. Como sempre, o irmão era a primeira pessoa a quem ele iria procurar quando estava em apuros. Era seu porto seguro e sempre quem tinha a piada pronta para o fazer sorrir.
Lars não atendeu na primeira ligação. Eram apenas 4:30 da manhã e o irmão deveria estar dormindo. Às 5 ele ligou mais duas vezes, sem sucesso. Sven estava ficando desolado sem nenhuma notícia. Tinha algo de errado, Elena já estava na sala de cirurgia há horas.
Na quarta vez que Sven apertou o botão de chamar, já eram 6 da manhã. O sol começava a nascer em Dortmund. Daquela vez, Lars Bender atendeu. Os dois não trocaram mais que algumas palavras.
Sven sabia que demoraria algum tempo até que Lars dirigisse que Leverkusen a Dortmund. Mas valeria a pena esperar. Ele não estava sozinho.
Na televisão à sua frente uma moça ensinava como fazer uma receita diferente. Sven não fazia ideia do que era aquilo ou sequer se a mulher falava em alemão.
Ele se levantou da cadeira incapaz de ficar sentado por muito mais tempo. Rodou pelo menos umas dez vezes a pequena sala de espera. Tentou olhar pela janela da porta que dava para o corredor das salas de cirurgia. Em alguma daquelas salas estava a Elena Wolf-Bender. E Sven só podia rezar para que a esposa ficasse bem.
O que lhe consolava na falta de notícias, era saber que era melhor não ter notícias do que saber que algo de errado estava acontecendo.
Ele voltou a se sentar quando o jornal da manhã começou. Mas mais uma vez, prestar atenção não era uma opção.
Lars chegou e Sven só se deu conta da presença do irmão quando o abraçou. Ele não estava sozinho. Ele nunca esteve. Se tinha algo que Sven Bender tinha era uma família que sempre o apoiou.
Ele e Elena nunca estiveram sozinhos em nenhum momento de toda a difícil caminhada que foi esta gravidez. E eles sempre souberam que de uma hora para outra poderia complicar ainda mais. Mas isso não significava que eles estavam preparados para isso.
- Você falou com papai e mamãe? E os pais da Elena?
- Não. Eu não sei nem como tive forças para ligar para você.
- Tudo bem. Eu vou ligar pra eles.
Lars saiu de perto de Sven e então ele viu que Sofie também estava ali. Ficou feliz ao ver que o irmão não estava sozinho. Era bom que Lars finalmente tinha alguém com quem dividir a vida, as escolhas e as conquistas.

Os pais de Elena chegaram. Hanna Wolf era uma das pessoas mais seguras de si que Sven conhecia. A sogra o havia feito comer um pouco do que Sofie e Lars tinham providenciado, ela estava fazendo de tudo para animar o marido e o genro que estavam um pouco aéreos.
Alfred Wolf era extremamente ligado à única filha. Ele não conseguia imaginar uma vida sem Elena. Isso não era possível. Ele estava encostado em uma parede próximo à porta por onde a médica sairia com qualquer notícia. Alfred tentava se manter neutro, mas Hanna sabia o que se passava na cabeça do marido. Se Elena não sobrevivesse, nada mais seria como antes.
Elena era a razão da felicidade deles. Era a luz quando tudo parecia dar errado. Era horrível pensar que algo pudesse tirar ela dele. Isso não era justo.
Um momento que deveria ser de alegria com a chegada dos netos ser transformado em um pesadelo de todo tamanho.
Não fazia nenhuma lógica.
Sven queria que seus pais também estivessem ali. Ele queria toda a sua família por perto. Mas Rosenheim era longe. Ele teria que ter paciência para que o voo deles chegasse e Sofie já havia ido para o aeroporto buscá-los.
Mas uma vez Sven agradeceu à presença da garota na vida do irmão. A arquiteta poderia ser namorada de Lars há apenas poucas semanas, mas ela já era da família. Aquele sete de agosto estaria marcado para sempre na memória de todos eles.

Os pais Bender finalmente chegaram no hospital. Bertra saiu correndo para abraçar Sven enquanto Klaus perguntava para Lars se já tinha tido alguma notícia de Elena e dos bebês. Nada até aquele momento.
Meia hora depois que Klaus e Bertra chegaram, a médica finalmente voltou à recepção. Havia sido seis horas de cirurgia. Ninguém fazia ideia se isso estava certo ou o que havia acontecido de verdade lá dentro. Mas as palavras ditas pela médica foram significativas para a família que ali estava. A pequena família de Erik e Gregor Bender.
- Os bebês nasceram. Eles estão na incubadora, precisarão de cuidados, mas vão ficar bem. Elena ainda está sedada, mas logo mais ela vai ser encaminhada para o quarto. Apesar do susto, todos estão bem.
Sven perguntou quando poderia ver os filhos e todos rapidamente se prontificaram para ir ver os bebês no berçário. Ninguém poderia segurá-los por alguns dias, mas não os impedia de ficarem grudados no vidro que os separavam das crianças.
Quando Elena finalmente acordou, Sven deixou todos na sala que dava visão para o berçário e foi até o quarto.
Elena estava pálida, seu cabelo loiro estava preso em um coque bagunçado. Em seu braço, uma veia estava puncionada. Sven quis chorar mais uma vez. Dessa vez, de alívio ao ver os olhos azuis da mulher mais uma vez.
Ele não saberia dizer quantas vezes pensou que a havia perdido. Quantos cenários ele se imaginou sem ela. Com quem iria discutir onde deveriam ir jantar após o jogo, com quem iria conversar sobre as séries da Netflix. Sven Bender era ninguém sem Elena Wolf.
Mas ali ela estava. Respirando. Viva.
Sven correu até ela e a beijou. Elena retribuiu o carinho de uma forma mais lenta do que era o usual. Ela ainda precisaria de um tempo para se recuperar. Ainda não tinha visto os filhos, mas sabia que eles estavam bem. Havia sido a primeira pergunta que tinha feito ao acordar ainda na sala pós cirúrgica. A enfermeira havia falado que os meninos estavam bem.
- Como eles são? - Elena perguntou assim que cortou o beijo.
- Erik tem uma pintinha em cima do lábio. Exatamente igual a sua. Gregor tem uma marca de nascença no pezinho esquerdo.
- Você pegou eles no colo?
- Ainda não podemos, mas tirei fotos do berçário para você vê-los.
Sven pegou o celular e mostrou a fotografia dos dois bebês. Eles tinham mil fios conectados onde eram monitoradas todas as suas pequenas funções vitais como batimentos cardíacos, respiração e outros fatores.
Os olhos de Elena encheram de lágrimas. Eles estavam vivos. E isso que importava. De agora em diante, ela tinha certeza que os dois seriam muito bem cuidados por ela e Sven.
Elena sempre tinha tido medo de engravidar. E todos os seus medos haviam se concretizado. Mas agora os bebês estavam ali. Eles eram prematuros mas tinham tudo para crescer bem e saudáveis. Era tudo que ela queria saber.
Elena puxou Sven para outro beijo.
- Nós fizemos isso.
- Sim. Cada um deles é exatamente um conjunto de nós dois.
- Eu te amo.
- Eu amo você também.

Dois dias depois Elena havia ido pra casa. Fora recebida com uma pequena festa com seus pais, sogros e o cunhado. Era uma família pequena, mas era a família deles. Ela sentia um pequeno vazio por ter deixado os filhos no hospital. Eles ficariam pelo menos um mês na incubadora, mas Elena e Sven já haviam conseguido pegar eles no colo.
Os pequenos corpinhos que mal cabiam em suas mãos. Ali estava sua família. Ela nunca tinha planejado isso. Mas Elena sabia que nem tudo nessa vida era planejado. Na verdade, as melhores coisas geralmente aconteciam sem planejamento nenhum. E ela era completamente apaixonada por essa imprevisibilidade.

Happily ever after


Elena não conseguia sair do quarto dos bebês. Ela sabia que tudo estava bem, que quando um dos bebês chorassem era pelo simples fato de que eles estavam com fome, com cólica, com a fralda cheia ou qualquer outra coisa que bebês tinham. Tudo que Elena fazia era ser forte. Ela precisava deixar tudo que havia acontecido há dois meses para trás.
Erik e Gregor estavam bem. Eles foram submetidos à todos os tipos possíveis de exames e tudo indicava que eles eram crianças 100% saudáveis. Elena não tinha o que se preocupar.
Mas ainda assim, quando as coisas estavam quietas demais em casa, ela ia para o quarto dos gêmeos apenas apreciar o sono tranquilo deles e convencer a si mesma que tudo estava bem.
Geralmente ela ficava com eles até algum deles chorar e ela ter que repetir algumas das providências para que o bebê voltasse a dormir. Então ela voltava para o seu quarto e só então Sven dava falta dela.
Sven não gostava quando Elena acordava sozinha para cuidar dos gêmeos. Geralmente ele levantava junto dela e cada um cuidava de um. Eram uma dupla e pretendiam cuidar deles assim.
Mas Sven estava sentindo que Elena estava se distanciando dele aos poucos. Já tinha algum tempo que eles não transavam, mal conversavam durante o jantar e quando Sven propunha algum passeio a dois já tendo combinado com Lars e Sofie para ficar de babá dos pequenos, Elena inventava alguma desculpa.
Ele achava que quando os filhos nascessem os dois ficariam ainda mais próximos. Porém isso não estava acontecendo e ele não fazia a mínima ideia de como mudar isso.
Se lembrava do sorriso daquela Elena que havia conhecido no bar quatro anos antes. Lembrava de todas as coisas que ela havia aprontado com ele, sempre o tirando da sua zona de conforto. Mas aquela Elena que estava ali ao seu lado não parecia a mesma mulher.
Todo mundo dizia que ele precisava ter paciência. Que o que ela havia passado durante a gravidez e o parto realmente mudava uma mulher. Mas Sven conhecia Elena melhor do que todas essas pessoas estranhas que gostavam de opinar sobre a vida alheia. E ele sabia que o que tinha de errado não era a respeito da gravidez, ou a chamada depressão pós-parto. Elena precisava se reencontrar.
Filhos nunca esteve em seu planejamento de vida. Elena era o tipo de mulher que planejava ter uma profissão, chegar ao topo com essa profissão e ser feliz assim. Claro que amigos e família também era importante para ela, e Sven havia sido um dos pontos principais da vida de Elena quando ela nem sequer imaginava que ele iria chegar.
Durante quatro anos havia sido apenas os dois. Um equilíbrio entre a paz e o furacão. Dois lados e uma mesma moeda que se completavam. Isso era Elena e Sven. Mas, de repente, mais dois elementos fora adicionados à vida dos dois.
Por todos os 7 meses e meio da gravidez, Elena repetia que eles dariam conta disso. Havia chegado a hora de formar uma família. E no fundo, ela sabia que também sonhava com isso. Era fácil para ela dizer que não queria filhos. Com apenas a sua profissão, Elena tinha controle. Ela sabia quais números precisava colocar em qual equação para que tudo funcionasse.
Mas não é possível programar um ser humano. A imprevisibilidade era tão grande que Elena havia vivido ela. Pela ciência, uma gravidez dura 9 meses. Então porque a dela havia durado sete? Por que ela não havia sido capaz de segurar os filhos por mais dois meses?
Ela não queria se sentir culpada. Dizia a si mesma todos os dias que os dois estavam bem. Ela estava bem. No final, apenas isso se importava. Mas Elena não conseguia perceber que estava expulsando Sven de sua vida. A única pessoa que havia sido capaz de fazê-la querer mudar todo um planejamento de anos. O cara que sempre estivera ao seu lado, não importando qual era a dificuldade.
Ela estava esquecendo daquele que era sua família. Do homem que sempre fora importante para ela. Elena não tinha mais vontade de fazer Sven sair da sua zona de conforto. Ela não queria mais para parques de diversões e rir dele indo em montanhas russas. Não queria mais fazer com que ele experimentasse a comida tailandesa de procedência duvidosa que ficava na esquina da casa deles.
E Sven sentia falta de todas as coisas que Elena o obrigava a fazer. Talvez fosse hora dele começar a fazê-la se soltar. Não era possível mudar o passado mas o futuro sempre estava pronto para ser escrito. E cada decisão era importante para que este futuro fosse reconstruído.
Em uma dessas noites que Elena passava observando os gêmeos dormir, Sven resolver parar de fingir que não sabia que a mulher não ia para cama na hora que dizia.
Ele olhou para o lado e, ao não ver Elena ali, se levantou e foi andando em direção ao quanto dos gêmeos.
Elena vestia um robe cor de rosa por cima do pijama de seda. Ela estava em pé entre o berço dos meninos. Olhava para Gregor como se tentasse adivinhar o que ele sonhava.
Sven chegou de mansinho e a abraçou por trás.
- O que você está fazendo aqui. - Ele perguntou dando um beijo na bochecha dele.
- Estou tentando descobrir qual é a diferença deles. E se eles parecem mais comigo, com você ou com o Lars.
Sven riu contra a pele da esposa.
- Lars?
- Vocês dois são gêmeos idênticos. Erik e Gregor também são. Então sim, estou procurando traço do Lars neles também. Vai ver que ali estará a diferença entre eles.
- Você sempre foi muito detalhista schazi, mas acho que por agora vamos apenas pensar neles como Erik e Gregor. Um dia descobriremos a diferença, além da clara pintinha que Erik tem em cima do lábio. Exatamente como essa aqui.
Sven virou Elena para ele e deixou um beijo no lábio dela. Apenas seus lábios se tocando de leve no lugar onde a pintinha idêntica à do filho estava localizada. Elena se permitiu sorrir com a brincadeira. Ela andava sorrindo muito pouco, mas quando acontecia, era por causa de Sven.
O jogador havia observado esses pequenos comportamentos de Elena. Eram eles que mostrava que ela ainda o amava. Elena não deixaria de amar Sven nem se tentasse. Aquelas eram pequenas provas de que a vida deles estava apenas começando e que Elena apenas precisava de um tempo.
- Vem, vamos para o quarto.
Elena aceitou a mão de Sven e se permitiu deixar os bebês para trás. Elena se sentia perdida. Ela não sabia o que fazer e odiava esse sentimento de indecisão. A pior parte era que ela não havia contado para Sven. Estava guardando isso como se fosse o maior segredo de sua vida. Ela sabia que era idiota e que o marido estava ali justamente para ajudá-la com isso.
Sven havia prometido que estaria ao seu lado na saúde e na doença, na felicidade e na tristeza, e todas essas baboseiras de casamento no momento em que disse “sim” frente a um cara esquisito em um cartório no meio da estrada.
Haviam escutado diversas broncas pela forma como haviam se casado, mas Elena nunca importou. Aquele havia sido o casamento dela e de Sven. Exatamente como tudo que sempre foi o somatório deles: informal, correto e inesperado.
Talvez até mesmo Erik e Gregor fossem um pouco disso. Informais pela gravidez ter começado antes do casamento, inesperado pela forma como eles haviam vindo ao mundo, e totalmente correto para a família Wolf-Bender.
Elena deitou ao lado de Sven na cama. Seu olhar estava preso ao dele como há muitos dias não acontecia. Aquela troca de olhar cheia de sentimentos e significados que era único a eles. A conexão presente desde o dia que se conheceram em um bar lotado após um jogo do Borussia Dortmund.
Engraçado que naquela época Elena nem sequer fazia ideia de quem eram os jogadores do time. Ela nunca havia ouvido falar de Sven Bender. E agora estava ali, com ele ao seu lado.
- O que eu posso fazer para ser merecedor dos seus pensamentos. - Sven sussurrou com medo de que qualquer mínimo barulho pudesse acordar os bebês.
Elena sorriu. Sven sempre sabia quando ela estava pensando demais, não sabia porque ainda se dava o trabalho de tentar esconder.
- Como a vida é engraçada. E como eu faria de tudo para voltar àquele dia no bar e viver tudo de novo. Escutar seu nome pela primeira vez, caminhas pelas ruas geladas de Dortmund conversando sobre trivialidades. Apenas nos reconectando. Sei que é minha culpa, mas ando sentindo a gente tão distante schatz.
Sven colocou uma das mechas loiras do cabelo de Elena atrás da orelha. Os olhos da mulher estavam enchendo de lágrimas, mas ela estava finalmente colocando as coisas para fora, ele não iria interrompê-la.
- Eu quero ser capaz de viver a vida arriscando novamente. Quero ter certeza de que estou feliz. Que não vou cometer nenhum erro que coloque você ou nossos filhos em risco. Eu não sei dizer o que senti naquele bloco cirúrgico, porque, apesar da sedação, eu estava me sentindo desesperada. De repente eu e você não seríamos só nós dois de novo. E eu sinto falta de nós dois.
Elena deitou no peito de Sven e aos poucos foi relaxando enquanto ele acariciava seus cabelos. Ela queria que aquele sentimento de estar segura ao lado do marido não fosse embora nunca.
- A gente ainda está aqui. E não vamos a lugar nenhum. Só temos que aprender a dividir nosso espaço com mais dois seres humanos. Duas metades perfeitas de nós dois. - Sven puxou o rosto de Elena para que ela olhasse em seus olhos. - Nós dois estaremos sempre juntos. Um dia, Erik e Gregor vão sair de casa, ir para a faculdade, casar, viajar pelo mundo, mas eu ainda estarei aqui. Você ainda estará aqui. Nós não vamos a lugar nenhum.
- Eu me sinto uma péssima mãe não sabendo encaixar vocês três em minha vida.
- Pois isso está apenas nessa sua cabecinha maluca. Você está se saindo muito bem como eu sempre soube que sairia. Você tem a capacidade de cuidar dos outros de uma forma nata Elena, e este foi um dos motivos pelos quais eu me apaixonei por você.
- Você promete que vai ficar tudo bem?
- É claro que vai! Os dois já estão em casa, são saudáveis, dão trabalho como todo bebês, mas nós dois damos conta disso. Eu e você. Juntos. Este é apenas mais um dos desafios que vamos enfrentar juntos.
- Eu te amo sabia?
- Ich libe dich auch.
Foi a vez de Elena puxar Sven para um beijo. Mas não um beijo qualquer. Aquele era um beijo apaixonado de um casal que estava junto há quatro anos e ainda estava apaixonado. Era um beijo que levaria a algo a mais porque os filhos estavam dormindo no quarto ao lado e eles tinham pouco tempo entre trabalho e as crianças. Era um beijo que provava para Elena que ela não precisava afastar Sven, ou deixá-lo ter mais folga por causa da sua profissão. Eles estavam juntos nesse próximo desafio que a vida havia lhe dado.
E estariam juntos para escrever qualquer página que o futuro lhes reservava. Porque Elena amava Sven e Sven amava Elena. Eles eram Svena. E Svena poderia superar qualquer coisa.
Elena nunca foi de acreditar no “Felizes para sempre”, a vida tinha desafios demais para usar a terminologia “para sempre”, mas ela acreditava que eles poderiam ser felizes. E era isso que eles seriam. Felizes. A pequena família Wolf-Bender. Uma pequena parte de cada um deles.
Epílogo - Familie


Ele não sabia como contar para Elena. Sven sabia que não era uma decisão que ele poderia tomar sozinho. Eles tinham os gêmeos agora e não era mais apenas os dois contra o mundo.
Elena estava focada nos bebês. Pedira para sair da empresa por um tempo, mesmo que ela amasse o trabalho e não quisesse ficar sem, depois de tudo que havia passado, ela precisava de um tempo.
Talvez essa fosse a oportunidade de Svena recomeçar em um lugar novo. E ainda assim, um lugar que ainda significava casa. Mas não cabia a Sven simplesmente assinar um contrato e não conversar com a esposa sobre isso.
Elena estava com Erik no colo dando mama para o bebê enquanto Gregor dormia no bercinho ao lado. A TV estava ligada em um volume baixo e Elena não estava de fato prestando atenção na comédia romântica que passava.
Com os dias, ela havia melhorado e agora já estava sorrindo de novo. A conversa que tinham tido a respeito dos dois na noite anterior havia mudado algo dentro de Elena. Ela sempre soube que não estava sozinha quando se tratava de Sven, só que às vezes precisava se lembrar disso.
Sven colocou a bolsa de treino no chão e ficou por alguns minutos apenas admirando sua família. Era incrível como que eles estivessem ali. Ele às vezes se perguntava o que tinha feito para ser tão sortudo.
Erik também dormiu e Elena o colocou no berço junto a Gregor. Sabia que Sven estava ali mas nenhum dos dois queria falar algo para que pudesse acordar as crianças. Momentos de silêncio eram raros e eles estavam aprendendo a apreciá-los.
- Elena, a gente precisa conversar.
Elena odiava quando as pessoas falavam essas palavras. Elas sempre vinham seguidas de alguma notícia ruim. Ou algo que ela sabia que mudaria toda a sua vida, mas era impossível fugir do que viria em seguida.
Eles se sentaram na mesa da sala, Sven com segurou as mãos de Elena e olhou no fundo de seus olhos azuis. Elena adorava a expressão preocupada de Sven. Ele tinha uma ruguinha na testa que provava para ela que ele não estava mentido.
- Eu recebi uma proposta de transferência. E estou pensando em aceitar.
- Para onde? - Elena se perguntou em mil lugares para qual Sven poderia ir. Nada fazia sentido em sua mente uma vez que o jogador estava em Dortmund desde o início da sua carreira.
- Leverkusen. A proposta é boa e terei mais chances em campo uma vez que eles estão com um zagueiro a menos e agora estamos com quatro.
- Vamos.
- Lars falou que consegue um apartamento bacana pra gente e até mesmo uma casa… Pera, o que?
- Vamos! Vai ser bom para você. Eu vou ter companhia para cuidar dos gêmeos e tenho certeza que seus pais vão adorar poder acompanhar e torcer para um time só. E Leverkusen é uma boa cidade. Acho que devemos ir.
- Eu achei que você fosse ficar mais chateada. Cresceu em Dortmund, ama o Borussia.
Elena colocou um sorriso no rosto. Um sorriso genuíno que Sven não vai há algum tempo.
- Eu aprendi a amar o BVB por sua causa. Posso aprender a amar o Leverkusen também. Meus amigos estão aqui mas não vamos nos mudar para muito longe, sempre podemos vir visitá-los. É nossa chance de começar de novo.
- Então você está feliz com isso?
- Por mim tudo bem. Você quem vai chocar um bando de torcedor fanático se mudando do nada.
Sven começou a rir porque a esposa tinha razão. Era uma história da qual ele estava deixando para trás e a verdade era que nunca se imaginou saindo de Dortmund. Mas o conjunto de últimos acontecimentos o fez refletir: o atentado ao ônibus em abril, a gravidez complicada de Elena, e deixá-la sozinha em grande parte do tempo.
Sofie tinha se mudado para Leverkusen com uma proposta maluca de trabalho em sair do seu escritório pequeno e ir para uma grande empresa. A garota já estava planejando a mudança a meses e no final simplesmente tinha ido sem falar com ninguém.
Era bom ter família por perto. E se tinha algo que eles precisavam nesse momento, era de família.

Era uma quinta-feira de manhã quando o Bayer Leverkusen anunciou o contrato de Sven Bender por 4 anos. Ninguém esperava essa notícia. Foi uma coisa tão secreta que apenas a família Bender e os dois clubes envolvidos sabiam.
A mudança de Dortmund para Leverkusen não havia levado mais do que uma semana. Lars e Sven empacotaram as coisas, contrataram um serviço de mudança e quando Elena se deu conta, ela já estava morando em outra cidade. Era outra vida, outra rotina.
Elena nunca se deu bem com mudanças, mas ela também sabia admitir quando uma era necessária.
Depois que todos foram embora e apenas ela e Sven ficaram no apartamento, Elena se deu o direito de relaxar. E isso significava chorar sem saber o porquê estava chorando.
- Ei, o que houve schtzi?
- Não sei. Acho que foi o baque de todas essas mudanças ao mesmo tempo. Parece que a Elena de dois meses atrás nem existe mais.
Sven abraçou Elena de forma a encaixar a corpo dela no seu. Elena se sentia segura dentro desse abraço, e era tudo que ela precisava sentir.
- Sim, a nossa vida mudou radicalmente em pouco tempo. Nós vamos demorar um pouco para nos ajustarmos, mas eu te amo. E nós vamos ficar bem.
Sven deixou um beijo na testa de Elena. Eles iriam ficar bem.
Eles acabaram escolhendo mudar do apartamento para uma casa. Braun agora tinha seu cantinho no quintal e ele teria que acostumar em ficar sozinho por mais tempo.
O quarto dos gêmeos por enquanto ainda era o mesmo. Era mais prático para os pais cuidarem dos dois em um mesmo espaço. Mas, quando eles já tivessem idade o suficiente de terem sua autonomia, Erik e Gregor teriam quartos separados.
Sven sabia da importância de gêmeos em ter sua individualidade e ele não abriria mão que os filhos aprendessem isso o mais cedo possível.

À noite, Lars e Sofie apareceram na nova casa do casal Wolf-Bender com um jantar de boas vindas quase pronto. Sven buscou na geladeira algumas cervejas e um suco de amora para Elena.
Erik e Gregor dormiam no quarto, mas quando Gregor acordou Sofie perguntou se não poderia ir cuidar do menino. Ela voltou para sala com o bebê no colo e Lars perguntou se eles não poderiam roubar um deles, o que fez com que Elena desse uma das suas famosas respostas atravessadas.
Sven apenas observou todos a sua volta. Ele se questionava se havia feito a escolha certa, afinal, era uma história que estava deixando para trás. Sua história com o Borussia Dortmund era enorme e ele precisava admitir para si mesmo que estava triste em sair.
Mas era a hora. O sonho que ele e Lars tinham de jogar juntos em um mesmo clube no profissional. Eles estavam juntos. A sua família estava reunida. E essa era a coisa mais importante que ele tinha em sua vida.


Fim.



Nota da autora: Meine foi uma experiência que jamais achei que fosse ter fim, mas depois de meses sem ter ideia, resolvi finalizar. Sven me deu um baita susto ter ido para o Leverkusen mas já estou fazendo as pazes. Muito obrigada a todos que acompanharam essa história e sintam-se livres par vir conversar comigo no twitter e na ask!
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