Última atualização: 12/06/2018

Zero. Presente e Símbolo.

Começou de um jeito estranho.
Afinal, noivos trocam presentes no dia do casamento deles?
Se é que eu poderia considerar aquilo que me entregava como um presente. Primeiro, sem embrulhos. Durante toda a minha infância, embrulhar os presentes era a parte mais divertida. Segundo e principal, era um pen drive.
Quem em sã consciência dá algo do tipo para o amor de sua vida?
Mas ela afirmara que era um presente e me olhava animada, o sorriso estampado no rosto. Eu peguei o objeto minúsculo e sorri. Afinal, era ela ali. Era quem tinha dividido comigo os melhores e piores momentos, era quem eu queria para sempre ao meu lado. Seu sorriso me deixava feliz, simplesmente.
— Obrigada, amor. – dei-lhe um beijo na bochecha e, em seguida, guardei o pen drive no bolso da calça social. – Tenho certeza que terá espaço para todos os meus projetos do trabalho.
— Não tenho tanta certeza assim. – ela ajeitou uma mecha para trás da orelha e deu de ombros – Só dê para o DJ. E confie em mim. – deu-me um beijo no pescoço e se afastou.
Alguns minutos depois descobri que não era um simples pen drive, mas um símbolo do nosso amor sendo construído. Dentro dele, havia cinco músicas. Músicas que apareceram aleatoriamente em nossas vidas, mas que de alguma forma tornaram-se especiais. Antes de cada uma, falava algo dela, de mim, de nós dois. Do futuro, do passado, do presente.



Um. Início e Meio

“Porque uma parte de mim dizia que aquele dia seria revolucionário. Que, a partir dali, tudo seria diferente. Eu joguei essa parte de mim para escanteio. Até que eu o vi. A quem diga que não exista amor à primeira vista. Pois eu não tenho outra palavra para explicar o que aconteceu com nós dois naquele instante”.



Well, it's a big, big city and it's always the same
Can never be too pretty, tell me your name
Is it out of line if I were simply bold to say "would you be mine"?


Estávamos em meu antigo local de trabalho quando escutamos essa primeira música. Ela encheu o ambiente indie com sua batida. Batida essa que, se me esforçar, ainda consigo escutar. Parece ontem, mas já temos quatro anos juntos. De fato, hoje é nosso aniversário de um ano de casamento.
Desde meu presente surpresa um ano atrás, o pen drive com as músicas de nossa história, decidimos que, a cada ano, somente um de nós dois daria um presente ao outro. Seria uma forma de tornar o presente algo não particular, mas de casal. Afinal, é a nossa união que comemoramos esse dia.
Por meio de um sorteio, eu fui premiada a presentear . Por isso, cá estamos nós, escutando nosso pen drive e nos vestindo para ir onde tudo começou. Um bar-boate no centro da cidade, em que eu por muito tempo fui barwoman.
Aliás, esse fato tem muito a ver com o meu presente.
Cumprimentei os conhecidos e tomei o tão conhecido lugar atrás do balcão. Já estava combinado com o dono que eu traria meu marido no começo da noite e prepararia uma bebida para ele.
Eu trabalhei nela por quase três semanas. Mas, finalmente, eu tinha achado os ingredientes e quantidades perfeitos. Um pouco de vodca, corante, suco e alguns segredos, estava pronta. Azul, a cor preferida de . Estendi a ele e sorri:
— Uma bebida nova. Se chama .
? Ah, + . – ele soltou uma risada, pegando a piada. Eu era um tanto viciada em shipps e suas siglas. – É sua criação?
Somente assenti, nervosa. Ele inclinou o canudo e sugou o líquido, enquanto eu mordi meu lábio. Minhas pernas tremiam. Era engraçado as reações do meu corpo. É somente uma bebida, eu repetia mentalmente. E é , completava. Meu marido, o homem que amo, o homem que me ama. Uma bebida ruim não mudará isso.
Mas eu tremia. Era além de minhas forças controlar aquilo. Não sei se há uma explicação racional do porquê. Deve estar ligado a essa loucura que é o amor.
— É maravilhoso, enroscou sua mão em meus cabelos, puxando-me para mais perto dele. Um balcão nos separava, mas, dois segundos depois, nossos lábios estavam grudados em um beijo. Logo, sua boca beijou meu pescoço e eu tratei de arranhar o seu.
— Vamos sair daqui. – murmurei, decidida a acabar aquilo em um quarto e sem roupas.

Dois. Primeira e Vez



“Lembra quando viajamos pela primeira vez, marido? Era tudo tão novo. Você já imaginava, naquele final de semana, um dia estar aqui, nesse salão de festas, entre seus amigos, celebrando nosso casamento? Imaginou-se preso àquela mulher, quando estávamos presos fora de casa? Acho que posso falar que ali foi quando eu vi que tínhamos futuro. Que nossas primeiras vezes teriam segundas, terceiras, infinitas vezes. Agarrada a você naqueles quase três dias, eu percebi que podia ficar agarrada a você pelo resto da minha vida”.



If I could, then I would
I'll go wherever you will go
Way up high or down low
I'll go wherever you will go


Quando tínhamos quatro meses de namoro, resolvemos viajar. Bem, estávamos planejando a viagem de fim de semana desde o mês anterior. Não era uma simples viagem, era nossa primeira viagem. Nós passaríamos quase 70 horas grudados, sozinhos, pela primeira vez.
Estávamos nervosos. Tão nervosos que esquecemos a chave da casa de veraneio.
Hoje, tanto anos depois, me divirto em recordar os momentos de aflição e tensão que vivemos. Na primeira noite, dormimos na varanda, com medo de ursos invadirem nosso sono.
Depois, mortos de fome, invadimos a casa dos meus próprios pais. , a menor de nós dois, entrou pela janela da cozinha, que tinha um dos protetores quebrados. Alguns cortes foram sofridos, mas nada que uma comida caseira e o aquecedor do ambiente não tenham resolvido.
Todo o fim de semana foi estupendo. Nós rimos juntos e um do outro, nos enrolávamos em cada espaço da casa, aproveitando a solidão. Foi uma breve experiência de como seria morar junto. E casar.
Estamos no barco do casamento há exatos dois anos. E gosto de reconhecer que ainda lembro os detalhes de nós. De como as nossas mais diversas primeiras vezes não foram varridas para um cantinho da memória, depois de tantas outras vezes.
Por isso, como o sorteado, meu presente mostrará isso. Como os detalhes, em sua simplicidade, importam. E como as primeiras – e segundas, e terceiras, e infinitas – vezes nunca devem ser esquecidas.
— Tudo bem. Estou pronto para dar seu presente. – afirmei, assim que completei a tarefa em nosso quarto.
estava sentada na sala, mexendo no computador, mas logo o deixou de lado, os olhos esbugalhando por estar ansiosa.
— Tenho que fazer algo? Me vestir, não sei?
— Só vir até aqui. – ela praticamente pulou até mim, tão rápida que me fez rir. – Me dar um beijo. – ela despejou um selinho estalado em meus lábios. – Tirar sua roupa. – ela bufou.
!
— Desculpe, amor, brincadeira. – dei-lhe um beijo na testa e cruzei nossas mãos. – Só feche os olhos.
Nós andamos lentamente até nosso quarto, já que insistia em tropeçar nos obstáculos imaginários. A coloquei bem em frente ao relógio e a deixei observar o novo.
Eu estava nervoso, novamente, igualmente na nossa primeira viagem. Porque eu não descartara o relógio, afinal? Apesar de ter um significado especial, ainda sim era um relógio! Relógio e porta-retratos não são os presentes mais impessoais existentes em todo o mundo?
Mas então eu respirei fundo e deixei minha insegurança de lado. Relógios podiam, sim, ser impessoais. E, na maioria das vezes, eram. Mas não aquele amarelo, com ponteiros pratas que não funcionavam mais e com uma data que não era o dia de hoje.
— É um relógio. – minha mulher afirmou em sua voz cautelosa. Ela estava esperando mais e ela sabia que tinha mais. Só não tinha descoberto o que. Ainda.
Porque não é um relógio qualquer. A data marcava 20 de setembro de 2005. Um pouco mais de seis anos atrás. O horário não mudava. Estava fixo: 02:35. Podia ser também interpretado como 14:35, mas não para nós dois.
Naquela data, naquele exato instante, nós nos entregamos um ao outro.
— Nosso primeiro beijo! É a data e a hora do nosso confuso, louco, insano, perfeito primeiro beijo! – gritava, profundamente animada.
Ela pulou em meu colo, abraçando-me pelo pescoço e pela cintura. Deu-me vários beijos no pescoço, nos ombros, no rosto. Abraçou-me. Eu retribui, encostando meu rosto em sua pele descoberta e sentindo seu cheiro.
— Gostou, ? — minha pergunta saiu abafada, mas acredito que ela tenha escutado. Os pulos de excitação pareceram-me uma dica.
— Está brincando? É maravilhoso, , perfeito! Eu mal posso expressar o quanto estou emocionada. Obrigada, marido. – juntou nossos lábios rapidamente.
— Eu que agradeço. Por tomar a iniciativa do beijo e por tornar tudo isso possível. Eu te amo, , obrigada por aceitar ser minha mulher.
— Obrigada por me fazer a mulher mais feliz do mundo, meu amor.
Selamos nossas juras com um beijo. Talvez mais de um. Talvez um pouco mais do que alguns maravilhosos beijos.

Três. Morte e Vida

“Aquele tempo foi difícil. Lembro-me de ter minha cabeça estourando em pensamentos. Eu queria ajudar o cara que eu amava. Mas não sabia como. Ou se ao menos podia. Ele gritava para deixá-lo sozinho, para sumir da vida dele. Doeu, mas eu sabia que doía muito mais fundo nele. Eu sabia que aquela raiva não era pra mim, era pra injusta e cruel morte. Então eu fiquei do seu lado. Em silêncio, tentando confortá-lo. Um dia, eu deixei de levar foras e recebi um silencioso abraço de agradecimento."



Take me out tonight
Where there's music and there's people
Who are young and alive […]
Take me out tonight
Because I want to see people and I want to see life



Três anos.
Às vezes me pergunto como passou tão rápido. Em um minuto, nós estávamos trocando olhares mágicos, então casamos, então terceiro aniversário de casamento.
O tempo ruge. E a morte chega rápido.
Foi assim com o pai de . No ano novo de 2006 estava conosco, se empanturrando de comida e rindo de suas próprias piadas. No mês seguinte, um rápido ataque cardíaco tinha acabado com sua vida.
Ele tinha pouco mais de 50 e , nos seus vinte e poucos, ficou desnorteado. Briguento, solitário, quase depressivo. Seu pai era seu herói. O ensinou a amar arquitetura. Toda semana eles conversavam sobre garotas, beisebol e vida. De repente, ele estava sozinho.
Foi triste vê-lo naquela situação. Dói ver alguém que você ama sofrendo. E dói não poder fazer nada. Eu fiquei do seu lado. Minha teimosia me manteve lá, mesmo com tantos pedidos raivosos para eu deixá-lo em paz.
Hoje, estamos em paz. Juntos. A morte dói, o tempo cura, as lembranças ficam.
Por isso, esse ano a tradição se repete. Não completamente, entretanto. Não houve sorteio. Eu implorei para ter a possibilidade de presenteá-lo. Eu tinha o presente perfeito. E não podia ser deixado pro ano seguinte, como meu marido sugeriu. Definitivamente não.
Eu preparava um frango assado com arroz de aspargos. apareceu por volta das seis, voltando do trabalho. Me deu um rápido beijo na bochecha e avisou que ia tomar banho.
Gritei para ele para vestir algo para ficar em casa. Então, já pronto, ele veio me perguntar se eu queria ajuda:
— Arrume a mesa, por favor. Só deixe os pratos. Vou levá-los pronto.
Ele mexeu em algumas gavetas e armários, procurando os utensílios necessários. Eu corri para o quarto, trocando minha roupa suja por um vestido soltinho.
Avistei a mesa arrumada, repleta de flores e algumas velas. Sorri, maravilhada. Meu marido era um romântico.
— Que lindo, ! – o abracei pela cintura — Mas sou eu que dou o presente, lembra? — brinquei.
— Eu sei! E então, onde está?
— Ansioso! Você pode pegar um dos vinhos na despensa? Esqueci. – fiz uma careta, o fazendo rir.
Ele sumiu para executar a tarefa. E eu fui providenciar o meu presente. Peguei um dos pratos, mas, diferente do previsto, não enchi de comida. Só coloquei cobertura de sorvete sabor chocolate no prato vazio, formando algumas letras e deixando um recado.
Então corri para a mesa, deixei o tal prato no lugar dele e sentei. Respirei profundamente. Aquele presente é o mais importante de todos e, receio, será sempre. Não devia estar nervosa, mas estou. É marcante, é tudo, e quero saber como será para meu marido.
Ele volta com o vinho já aberto e senta a mesa, sorrindo para mim. Ele serve vinho para nós dois e mal repara no prato. Então, finalmente, ele vislumbra o marrom no prato branco e observa atentamente.
— Não posso tomar esse vinho. – afirmei, animada.
— Oh, ! – ele me olhou, meio vidrado. – É sério?
— Muito.
Ele levantou em um rompante e me pegou pela cintura, me girando no ar. Rimos juntos. Então ele me encheu de beijos. Testa, bochecha, colo, ombro, pescoço. Finalmente, boca.
— Estou tão feliz! – ele suspirou, assim que me colocou de volta no chão.
— Acho que nós três estamos muito felizes. – peguei sua mão e coloquei na minha barriga. Nós sorrimos um para o outro, genuinamente completos.
No prato, a mancha de chocolate formava a palavra PAI.

Quatro. Fim e Recomeço

“Até hoje, eu não entendo o porquê. Muito menos como chegamos aquele momento. Acho que nunca vou entender. Porque eu te amo demais e sei que você sente o mesmo. Mas, num momento insano de nossas vidas, em meio a brigas e impaciências, nós decidimos que era melhor viver longe um do outro. Não é idiota pensar nisso hoje, marido? Bobinhos, acreditávamos que conseguiríamos viver desse jeito. A distância não durou mais de uma semana. Porque assim como seres humanos não conseguem sobreviver sem água ou comida, também não conseguem sem amor. E meu amor é você”.

Have we enough to keep it together
Or do we just keep on pretending
And hope our luck is never ending, no



É difícil explicar nosso término, anos atrás, porque não faz sentido na minha cabeça. Eu era muito durão e estava estressado por conta de um grande projeto, mas nada disso justifica a ideia de viver longe de .
Nós já tínhamos quase dois anos de namoro. E a verdade é que discutíamos muito. Ela trabalhava de noite e nos fins de semana, eu no horário comercial. Mal nos víamos mais. E, quando fazíamos, brigávamos.
O estopim foi um show. Eu desmarquei porque estava atolado no trabalho, se chateou porque tinha tirado uma folga no bar para ir. E quando nos encontramos no dia seguinte, gritamos um com outro. Como eu disse, motivos fúteis levaram-no a uma breve separação.
Breve mesmo. Oito dias depois, a gente se declarou novamente e decidiu se adequar um pouco um ao outro, para evitar brigas bobas. Minha mulher deixou de trabalhar todos os dias no bar e começou a investir em seu próprio negócio. Há dois anos, ela tem um Coffee Shop, que vende qualquer bebida, e não só café.
Eu regulei melhor meu dia e, consequentemente, não precisei passar horas extras no trabalho. Deu certo. Estamos felizes até hoje.
Eu, e Sophie.
Sophie tem cinco meses e é uma graça. Tem os olhos e os cabelos da mãe. Meu nariz e minha boca. Seu sorriso é o mais bonito do mundo.
Sim, sou um pai bobão.
Mas também sou um marido maravilhoso, modéstia parte. Hoje fazemos quatro anos de casados e eu fiquei incumbido do presente. Algo que não é nada fácil, considerando que o presente passado foi Sophie. Jogada baixa de .
Para a surpresa, eu a mandei vestir-se casualmente. Saímos de casa em direção a sua loja. Ela animou-se só de ver o lugar. Ela amava aquilo. Saltamos do carro e a pedi para fechar os olhos.
Fomos até o balcão. Lá estava uma obra minha. Uma caneca grande, toda colorida, com um formato retangular. A revestindo por completo estava o nome que eu tinha dado a minha originalidade: .
abriu os olhos e logo reparou. Desviou seu olhar para mim e sorriu:
— É lindo. E é uma obra sua, arquiteto.
— É uma obra nossa. Tem nosso nome. – ela riu – E olhe a bebida de dentro.
Era a real e original bebida . De três anos atrás. O primeiro dos nossos presentes.
Ela observou e provou. Então, riu. Veio correndo até meus braços e pulou em meu colo, dando-me um beijo de abalar estruturas. Todos que estavam no Coffee Shop bateram palmas. Sorrimos um para o outro.
— Sempre quis fazer isso. – ela confessou.
Eu a grudei em mim, num misto de vergonha pela atenção e de paixão por aquela garota.

Quinto. Pedido e Futuro

“Era uma segunda. Marido, quem faz pedidos numa segunda? Pedidos exigem jantar, serenata e uma noite sem dormir! Brincadeira. O nosso não teve nada disso – ok, talvez a última parte – mas ainda sim foi especial e inesquecível. O anel não era de diamantes e a desculpa era que já estávamos economizando para essa festa aqui. Tudo bem. Mas sabe que nada disso fez diferença? Porque no fim o que importa são as juras apaixonadas, o olhar brilhante, as mãos suadas de nervosismo. E isso teve de sobra. Ainda tem. Toda vez que eu paro para olhar meu marido, eu me pego desse mesmo jeito”.



I'm here with my confession
Got nothing to hide no more
I don't know where to start
But to show you the shape of my heart



Era um anel muito bonito. Mais do que qualquer um de diamante, porque me viu nele. As pedrinhas juntas lembravam um pequeno copo. Eu o amei ainda mais por isso.
Estávamos assistindo um filme qualquer na televisão e eu estava praticamente dormindo. Então ele levantou, sumiu e logo estava na minha frente:
— Casa comigo, ?
Eu acordei na hora. Pulei do sofá e gritei de animação. O abracei, o beijei e experimentei o anel para nunca mais tirá-lo do dedo. Hoje, Sophie, com um pouco mais de um ano, nos lembra todo dia como é bom amar.
Eu achava que era completa com e ele acreditava no mesmo, mas Sophie chegou para mostrar que nós não poderíamos viver sem ela. Saber que ela é fruto de nosso amor é absurdamente bom. Saber que nosso amor criou outro ser que irá amar muito me transborda o coração.
Decidimos, portanto, que não devemos mais trocar presentes entre nós. Devemos criar os melhores presentes para a nossa filha. Porque ela é a representação, ela é o símbolo do nosso casamento e amor.
Carregamos juntos a caixa grande rosa. Ela tem um laçarote enorme lilás e é toda estampada com corações da mesma cor. Sentamos ao lado de Sophie, que brinca com a boneca no tapete de seu quarto.
— Aqui, Sophie, um presente.
— ‘Plesente’? — ela tenta falar. Ainda se enrola muito, com a pouca idade, mas já é muito inteligente.
— É, filha. Abra.
a ajuda com o laço e ela levanta a tampa, ansiosa. Mas não há nada lá dentro e ela logo se dá conta disso:
— Mamã, papa, tá ‘vaziu’. – nós sorrimos e assentimos.
Ela não entende o presente, afinal, não tem nem dois anos. Mas nós sabemos que ela, daqui a pouco, irá entender. Aquela caixa vazia representa a vida dela até agora. Pouco a pouco, enquanto vai crescendo, a caixa irá se encher de lembranças. E lembranças são tudo.
Nós damos beijos nela e brincamos todos juntos. Escodemos a caixa no armário dela, para que um dia ela descubra a felicidade de guardar cartas, fotos e qualquer coisa que simbolize algo para ela. Como ela simboliza algo para nós.
Vamos para a sala assim que a colocamos para dormir. Sentamos no sofá e eu deito sobre as coxas de . Ele mexe no controle, tentando achar algo interessante, mas eu só olho para ele.
Tenho sorte de tê-lo encontrado. Tenho um marido maravilhoso, uma filha linda, um trabalho sensacional, uma vida perfeita. E às vezes não damos valor a isso. Aos detalhes. As coisas boas.
— Eu te amo. – sussurro, do nada. Ele me encara, então faz carinho em meu rosto.
— Eu também te amo. – ele responde.
Somente a televisão fala. Até que meu marido resolve desligá-la.
— Você é a mulher da minha vida, . E caso eu não fale isso muito, obrigada pela felicidade que você me traz. Amo você, amo nossa filha, amo nossa vida.
As lágrimas invadem meus olhos. Eu sorrio muito em meio a elas.
— Você é o homem da minha vida. E eu me apaixono mais por você a cada dia, .
Não quero que Sophie faça muitas besteiras que eu fiz. acha o mesmo. Nós dois queremos somente o melhor para nossa princesa. Mas nós também desejamos que Sophie viva um amor exatamente como o nosso.
Que com as dificuldades, se reforça.
Que nas alegrias, se completa.
Que com todas as imperfeições, ainda é capaz de ser perfeito.
“Esta foi a última. Chegamos ao fim das músicas. Mas nosso futuro, bem, este está só no começo”.





FIM



Nota da autora: Com esse tanto de doce, vocês já estão diabéticas?
Brincadeiras a parte, essa fic foi escrita há uns três anos para uma amiga, na época que tínhamos tempo de trocar fics ao menos uma vez por ano. Nada como o especial dos Dias dos Namorados para me obrigar a postá-la! HAHAHAH
Espero que vocês tenham gostado! Até mais.

OBS: As frases no começo de cada capítulo são de minha autoria. As músicas são:
Capítulo 1. The Fratellis – Whistle For the Choir
Capítulo 2. The Calling – Wherever You Will Go
Capítulo 3. The Smiths – There Is A Light That Never Goes Out
Capítulo 4. The Libertines - Can’t Stand Me Now
Capítulo 5. Backstreet Boys - Shape Of My Heart






Outras Fanfics:
Em andamento:
* Barefoot (outros)

Finalizadas:
* Sexual Diary (Restrita);
* Factory Girl (Restrita);
* Two Sides Of The Law (Restrita)

Shorts:
* 02. Untouchable;
* 06. Mean;
* 12. Sweet Dreams
* 13. Lost and Found;
* 09. Countdown (continuação 13. Lost and Found);
* 14. Man in the Mirror;
* Mixtape: Gone Tonight;
* Immortal (Especial Mitologia)
* O Bêbado e A Equilibrista (Challenge#15);
* One Night, Two Years (Outros);
* Prazer, Primavera (Outros);
* Quebrando Os Meus Princípios (Restrita);
* Uma Linda Mulher (Outros);


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus