Miss Nothing

Finalizada em: 14/12/2019

Prólogo

A casa imponente ecoava o silêncio que preenchia o local.
Móveis caros, tapeçarias e obras de arte históricas. Todos observando a dupla que dançava na sala.
Não tinha música. Não tinha nada.
Uma das figuras dançava em fuga. A outra a perseguia.
Os olhares de predador e presa não se desviavam. A conexão entre eles era quase palpável.
O silêncio foi quebrado. Dois pares de olhos arregalados.
O sangue, de um vermelho furioso e dramático, pintou o chão branco, escorreu pelo caminho até o tapete persa. Ali deixou-se espalhar.
Uma das figuras retirava-se, apressada, enquanto a outra permanecia imóvel, eternamente uma estátua sólida. E sem vida.


Capítulo Único

I —


Os passos que a garota dava soavam mais altos do que realmente eram. Os corredores vazios ecoavam qualquer mínimo som.
O homem à sua frente, guiando o caminho, andava em modo automático. Suas pernas longas andavam rápido demais para que ela acompanhasse.
— Ali. — foi tudo o que ele disse.
Stacey olhou para trás e respirou fundo antes de entrar.
Sua missão ali era demasiadamente importante.
A garota deitada, imóvel, sob a maca prateada, provavelmente fria, era irreconhecível quando vista de tão longe.
Fosse quem fosse, nunca mais seria a mesma.
Stacey se aproximou. Não muito. Apenas o suficiente para ver o rosto.
O rosto...
Mesmo àquela distância, ela não conseguia vê-lo.
Deu mais alguns passos.
Seu coração bateu mais rápido.
Não podia ser...

II —


— O que queremos saber é quem matou a sua filha e o porquê. — o policial disse, com as mãos cruzadas sobre a mesa de centro dos . — Aparentemente era uma boa moça, mas sem muitos amigos, e ninguém sabia muito sobre ela.
— E o senhor acha que nós sabíamos? — o pai da garota morta perguntou. Seu tom de voz se elevando repentinamente. — saiu de casa para viver sozinha aos dezesseis anos. Nós nunca soubemos nada sobre ela. Nunca soubemos quem era a nossa própria filha.
— Jon...
— É verdade! Achávamos que ela era uma pessoa, mas ela... Ela sempre nos surpreendia. E raramente eram surpresas boas.
— O senhor não é o pai biológico dela, certo?
— Não, não sou. O pai biológico da morreu quando ela era bem pequena. Mas eu a criei como filha.
O policial assentiu.
— É tudo. Por hoje. Voltamos a entrar em contato com os senhores.
O homem levantou-se. A mãe da garota falecida fechou a porta atrás dele e suspirou.


III —


O homem deitado no chão, rolando sobre um tapete de brincar com a filha pequena, só conseguia rir.
Sua esposa, sentada no sofá, ria da cena e filmava tudo de perto, com uma mão. Com a outra ela acariciava a barriga. Seu segundo filho estava para chegar...
— Tina, por que não vamos tomar um banho para poder sair e almoçar? — a mãe sugeriu. — Podemos ir àquele restaurante que tem um parquinho.
A criancinha loira sorriu, levantou-se de boa vontade e correu direto para o banheiro.
— Vamos, mamãe!
— Espere aí, querida, a mamãe já vai! — a mulher respondeu. — , precisamos conversar sobre aquela garota.
— Julia, eu já te disse que...
— Ela está morta, . E precisamos conversar sobre isso.

IV —


O som da guitarra nada mais era do que barulho para a senhora que tentava se concentrar em cortar tomates em rodelas.
O filho, , de 23 anos, nada fazia além de beber e tocar guitarra o dia inteiro.
Ele vivia da fortuna de um pai que mal conhecera.
Um pai que nunca fora marido de Jessie. Um pai que a tinha deixado grávida e sozinha.
Mas, por ter morrido sem deixar nenhum herdeiro além de , todo o dinheiro era do filho único de Jessie.
O rapaz achava que a fortuna nunca acabaria. Desde que o pai morrera, tinha abandonado o emprego, comprado um amplificador para a guitarra e começado a frequentar festas noturnas (mais do que nunca).
, hora de jantar. Os vizinhos já vão começar a reclamar do barulho. — ela disse, parando na porta do quarto.
O rapaz nada disse. Apenas assentiu.
Não conseguia largar a guitarra. Não conseguia parar de tocar a música da menina de cabelos azuis.

V —


não conseguia prestar atenção no próprio trabalho.
Tinha em mãos um caso importantíssimo para advogar, mas não conseguia fazer com que seu cérebro desse sentido às palavras que lia.
Nas últimas semanas, tudo que fazia era inútil. Era assim que ele se sentia também.
Mas ele ainda tinha o sorriso dela.


VI —


fingia ouvir o que a namorada falava enquanto brincava com a comida no prato.
Sentia-se um moleque. Um moleque rebelde testando publicamente os pais e a namorada. E aqueles três eram pessoas a quem não se devia provocar.
Por sorte, Mandy não ligava muito por ele não estar falando nada.
Mal sabia ela que, enquanto ele olhava para ela, só conseguia pensar em , a garota com cabelos azuis.


VII —

Três meses antes...

Os lábios dos dois não se separavam. Falavam em silêncio, conversavam.
Os dois não ouviam, mas sabiam interpretar.
Não precisavam de mais nada, não precisavam de nada no mundo, só um do outro.
sorriu quando se afastou do rapaz.
Sentia-se plena. Talvez completa pela primeira vez em 21 anos de existência num mundo que não parecia fácil de ler.
gostava mesmo de ler. E ele, o rapaz à sua frente, era a melhor leitura de sua vida.
Sorriu para ele quando o empurrou para fora do apartamento.
— Não volte amanhã. — disse a ele.
— Por quê?
— Não volte amanhã. — repetiu, fechando a porta.
Suspirou enquanto passava as mãos pelos cabelos tingidos de azul e um pouco ressecados pelo castigo da química e dos cuidados escassos que recebiam.
— Estou fazendo merda.


VIII —


— Ela era prostituta. — Stacey afirmou. — Era como uma irmã para mim, mas não posso mentir para a polícia. Não sei porque ela fazia isso, mas fazia. Eu disse a ela... Disse a ela tantas vezes! Falei que não estava certo, que não terminaria bem...
— Ela estava envolvida com alguém em especial? Alguém de nome?
— Ela não falava dos clientes... não falava dos homens. Preferia não falar do trabalho... Não era certo para ela também, ela sabia... Mas continuava. Eu não sei o que fazia com que ela continuasse, mas lá estava ela.
Senhorita Stacey, é realmente importante que a senhorita se esforce para se lembrar de tudo. Tudo o que conseguir lembrar sobre os últimos meses com a senhorita é muito importante para nós.
Ela assentiu.
— A senhorita não sabe mesmo o endereço onde ela vivia?
— Ela se mudou um pouco antes de sumir. E eu nunca cheguei a descobrir onde era.
— Está certo. É o suficiente por hoje. Nós agradecemos.


IX —


— Senhora Carpenter? — o policial perguntou.
A senhora que regava as plantas na calçada virou-se com curiosidade.
— Sou eu, sim senhor. Em que posso ajudar?
— A senhorita morou num apartamento da senhora, não morou?
— A menina do cabelo azul, sim? Ah, ela morou nesse apartamento aqui de cima. Morou sim, mas não mora mais. O senhor está procurando por ela?
— Não, senhora. está morta.
A senhora Carpenter franziu o cenho, estranhando.
— O que aconteceu com a menina?
— Foi assassinada. Ainda não sabemos por quem. É por isso que estamos aqui. Gostaríamos de ouvir a senhora falar sobre a garota. O que sabe sobre ela... Essas coisas.
— Ah, sim. Mas temo não poder ajudar muito. Não costumo saber muito sobre meus inquilinos. É um bairro movimentado em uma cidade muito ativa, eles se mudam rápido demais para que nos tornemos próximos. O senhor quer subir e tomar uma xícara de chá?
O policial concordou.
Aconchegados em poltronas no apartamento minúsculo de Fern Carpenter, a senhora viúva que vivia de aposentadoria e alguns aluguéis, os dois podiam falar melhor sobre .
— Ela não tinha horário para chegar... Às vezes chegava muito tarde, mas às vezes nem saía de casa, passava o dia inteiro no apartamento. Tinha dias que ia ao mercado... Não trazia muita coisa, mas também nunca a vi pedir comida.
— Ela levava pessoas até sua casa? — o policial quis saber.
— Ah, isso não. Nunca trouxe ninguém, só uma menina loira, muito bonita, que só veio aqui umas duas vezes e foi embora rápido. Mas era uma boa inquilina, a senhorita . Me pesa o coração saber que morreu assim... Pelas mãos de outra pessoa, o senhor sabe, não é? Morrer naturalmente já é algo a se sofrer, mas morrer pelas mãos de alguém... Como é que não estão os pais dessa menina? — ela levou a mão à testa.
— A senhora não se lembra mesmo de ter visto a senhorita com algum rapaz?
— Isso nunca vi. Não mesmo. Além da garota loira que esteve aqui com ela umas duas vezes, nunca a vi acompanhada. E estava sempre quieta, se o senhor quer saber. Ela me dava bom dia quando me via do lado de fora, mas era só isso. E uma vez me perguntou onde podia levar as roupas para lavar. Indiquei a ela uma lavanderia no final da rua. Não sei se ela aprovou o serviço, porque nunca voltamos a falar, ela se mudou logo em seguida...
— A senhora sabe onde ela trabalhava?
— Se bem me lembro... Era numa lanchonete. Ela era uma daquelas meninas bonitas que trabalhava de garçonete, o dia inteirinho servindo mesas... e era mesmo bonita, a senhorita . Aquele cabelo azul era um pouco esquisito, devo admitir para o senhor, mas ela era bonita de verdade... não consigo saber como não andava com rapazes.
— Não andava com rapazes?
— Não que eu tenha visto, não é? Não sei muito sobre a vida dos meus inquilinos, como já lhe disse.
— Agradeço a sua ajuda, senhora Carpenter. Posso voltar a contatá-la caso seja necessário?
— Mas é claro que sim. Estou sempre à disposição.
O policial deixou o apartamento. A senhora Carpenter ficou parada em frente à porta por algum tempo.
Depois viu o homem entrando no carro e indo embora.
Fechou a janela e a cortina, sentou-se novamente em sua poltrona e cruzou as pernas.


X —


— Ela estava grávida, não estava? — Julia perguntou, os braços cruzados sobre a barriga.
— Não sei... Não sei! Já te disse isso tantas vezes! Se ela estava grávida ou não, eu não sei!
Julia balançou a cabeça, incrédula.
, você sabe que, se estiver escondendo algo de mim, é o fim do nosso casamento, não sabe? Mesmo com a Tina e esse bebê que está chegando, é o fim do nosso casamento.


XI —


— Eu não sabia... — disse, as mãos presas aos cabelos, a boca entreaberta. — Quando foi que isso aconteceu?
— Uma amiga dela reconheceu o corpo há umas duas semanas. Foi assassinato, mas ninguém sabe quem a matou e muito menos o porquê.
— Cindy, você... Você pode desmarcar as minhas reuniões de hoje? Acho que não consigo... Não consigo trabalhar depois dessa.
A secretária assentiu, preocupada.
— Sim, senhor .
A mulher sabia, desde o começo, que a garota dos cabelos azuis não traria boas coisas ao patrão.


XII —


— Se descobrirmos onde ela morava... Tenho quase certeza de que esse lugar pode nos dar muitas pistas. — a investigadora disse, as mãos unidas sobre a mesa. Tudo que tinham ali eram fotos do corpo da garota morta e dados pessoais. Não tinham nenhum suspeito.
— Aquela amiga dela... Stacey Watson... Acham que ela está falando a verdade quando diz que não sabe onde a amiga morava?
Todos os olhares se voltaram à psicóloga.
— Não me pareceu mentira.
— Não temos por onde começar!
Uma batida foi ouvida à porta.
— Entre. — a investigadora disse, desanimada.
— Tem uma senhora querendo falar sobre o caso .
— E como é o nome dela?
— Disse que se chama Fern Carpenter.
Os investigadores se entreolharam.
— Diga a ela para esperar na minha sala. — a investigadora Bert disse.
Os policiais trocaram olhares em silêncio.
— O que será que a velha lembrou?


XIII —


Tinha em sua frente um copo vazio de café, com um restinho do líquido grudado no fundo do recipiente.
Não queria dormir... Estava tão cansado, cansado dos pesadelos que tinha toda noite...
A menina do cabelo azul, morta. Não conseguia imaginar o rosto de boneca sem nenhuma cor, com a pele seca por causa da falta de vida.
Aquela não era ela, não era .
era cheia de vida... Colorida, bonita, brilhante.
era um espetáculo. Mas não fazia o menor sentido que acabasse daquele jeito.


XIV —


— Não tem nada sobre gravidez nos relatórios. — o homem repetiu. — Fica tranquilo, ela não estava grávida.
suspirou, aliviado.
— Se aquela garota estivesse grávida... Era meu fim. Sabe disse, não sabe, Ed?
O homem assentiu.
— Mas vou sentir tanta saudade dela... Às vezes me arrependo. — disse, com a tela do celular ocupada por uma foto de .


XV —


O policial abriu a agenda, quase vazia, na página de contatos. A vítima não tinha muitos, por sinal.
Stacey Watson, , , , , os pais, a senhora Carpenter e o dono do último apartamento em que vivera.
— Precisamos ir atrás desses caras. — a investigadora disse. — Deviam ser todos clientes dela.
— Ou amigos. — o policial sugeriu.
— Uma prostituta tem amigos?
A pergunta ficou no ar, sem respostas.

— Agora que o senhor está falando... As coisas estão fazendo sentido sim. Ela falou mesmo esses quatro nomes... , , e . Só pode ser eles. — Stacey confirmou. — Ela gostava desses quatro, eram seus clientes favoritos. Pagavam bem e eram gentis com ela. Ela conseguia fazer qualquer um cair de amores por ela, mas tinha a mesma capacidade de atrair olhares tortos e comentários maldosos.
Os policiais se entreolharam.
— Ela tinha algum inimigo? Alguma desavença?
— Não, não. Nada sério, nada que fizesse alguém matá-la. Ela não se dava muito bem com uma colega da lanchonete em que trabalhava, mas elas se respeitavam.
— Sabe o nome dessa tal garçonete?
— Mariah. Ela teve um bebê ano passado, parou de trabalhar na lanchonete.
— E a senhorita era próxima dessa Mariah?
— Não, não. me contou, me disse que Mariah se despediu dela e tudo. Então... morreu sem inimigos. Pelo menos eu não sabia de nenhum.
— Se ela não tinha inimigos, quem fez isso com ela era amigo.


XVI —


via no televisor as primeiras imagens de seu segundo filho. Era um menino.
Ainda não tinham escolhido o nome, só fariam quando o bebê nascesse.
Julia estava feliz, mas não conseguia viver a fase plenamente.
Estava o tempo todo preocupada com e a possibilidade de que a menina esperasse um filho de seu marido.
Julia fora capaz de perdoar a traição, mas não perdoaria um bebê.


XVII —


— Chega, . Já basta. — Jessie abriu a porta com tudo.
Desligou o amplificador, deixando o filho boquiaberto.
Ele nada disse. Não dizia nada havia semanas.
— Estou cansada disso, cansada dessa música.... Cansada! Não aguento mais, , não aguento. Pare com isso, pelo amor de Deus. Você vai acabar morrendo e me matando junto! Você mal come, , só bebe. Você não pode viver de café e álcool. Eu me importo com você, eu amo você, filho. Não posso ver você assim sem motivo. Fale para mim, , fale para mim. O que é que está havendo?
começou a chorar. Chorou como nunca antes.
— Ela morreu, mãe. Ela morreu.


XVIII —


A menininha assistia, ajoelhada na escada, em desespero, a cena mais assustadora de sua vida.
Não teve barulho algum. E isso talvez a tenha deixado mais assustada.
Não teve nenhum barulho. Mas o que a garotinha via dizia muito mais do que qualquer som poderia.
Guardaria aquelas imagens em sua mente para sempre.


XIX —


As duas mãos entrelaçadas simbolizam a união em que o casal se encontrava.
Podiam ficar uma eternidade da maneira que estavam. Não precisavam dizer nada.
Tudo era tão mais calmo, tão mais claro, quando estavam juntos. Todos os problemas que tinham... nada existia.
Queriam poder parar o tempo quando estavam juntos, mas não podiam... não podiam sentir a felicidade como ela deveria ser.


XX —


raramente chorava.
Mas esses acontecimentos estavam se tornando cada vez mais comuns.
Sentia saudades. Sentia saudades daquela garota.
Enxugou os olhos pela segunda vez no dia e guardou a foto na gaveta de sua sala na agência.
Mandy estaria ali mais tarde, mas ele não sentia vontade de vê-la.
O telefone sobre a mesa tocou, e ele se obrigou a atender.
— Senhor , tem uns policiais aqui embaixo querendo falar com o senhor. É sobre a morte de .

— Encontramos seus dados na agenda pessoal de . — o policial justificou. — O senhor era próximo?
— Na verdade não muito... e eu nos conhecíamos há alguns anos, mas nunca fomos realmente amigos. Ela fez um comercial aqui com a minha agência, mas foi só uma vez.
— A senhorita não tinha muitos contatos. Além da família, a amiga e os donos dos apartamentos onde viveu, somente o senhor e mais três rapazes.
A menção de outros homens afetou um pouco mais do que o desejado.
— Eu não sei. Não sei quem seria capaz de matar .
— Ela era uma garota... Parecia uma garota boa.
— Podemos pedir que, caso o senhor se lembre de algo, entre em contato conosco?
assentiu.
— Claro. Com todo o prazer.


XXI —


— Olha, o não está. — Jessie disse. — É a primeira vez que ele sai de casa em tantas semanas... Nem ousei perguntar aonde ia.
— Ele ficou em casa durante semanas? Mais ou menos quanto tempo?
— Uns dois meses... Não saía do quarto para nada. — Jessie respondeu. — Meu filho fez alguma coisa errada?
— Uma garota que ele conhecia foi assassinada. Queremos saber se ele tem alguma informação.
A cabeça de Jessie pareceu girar.
Então era isso.
A garota cuja morte fizera chorar copiosamente tinha sido assassinada.
— Senhora May? — o policial chamou. — Está tudo bem?
— Está, sim. Só fiquei preocupada...
— Seu filho era amigo dessa garota? — o homem perguntou, mostrando uma foto para Jessie. A garota na foto tinha cabelos azuis que gritavam. Tinha um sorrisinho discreto no rosto e bochechas rosadas.
Jessie só a tinha visto uma vez.
— Eu não conheço todos os amigos do , então não posso afirmar. Ela podia sim ser amiga dele, mas não que eu a tenha conhecido.
O policial assentiu.
— Voltaremos a procurar seu filho, sim?
Jessie concordou, seguindo os homens para fora de sua casa.
Fechou a porta quando eles saíram e soltou um suspiro.
O que andava fazendo de sua vida? O que ela teria que fazer para protegê-lo?


XXII —


— A mudança de comportamento do senhor quando mencionamos o fato de que a senhorita não tinha muitos contatos foi muito nítida.
— Não. Ele não mudou de comportamento por isso. Mudou de comportamento porque falamos sobre a senhorita ter mais três rapazes em sua lista de contatos. — o outro policial observou. — Isso não deixa claro que eles tinham algum envolvimento?
— Talvez não tivessem. Não seria um bom motivo para o senhor matá-la? Ele era interessado nela e a menina o rejeitava? Talvez ela gostasse de um dos outros três?
O silêncio tomou a sala.
— Cedo demais para especular coisas assim. Mas vamos descobrir a verdade.


XXIII —


ficou boquiaberto quando a polícia chegou.
? Eu a conhecia, sim. — confirmou. — Éramos quase amigos, eu sempre comia na lanchonete em que ela trabalhava.
O policial assentiu.
— Vocês tiveram algum envolvimento mais íntimo? Uma testemunha alega que era prostituta.
Os olhos de se arregalaram.
— P-prostituta?


XXIV —


Quando viu o homem que entrava no café, sentiu as coisas ao seu redor ficando mais lentas, mas, ao mesmo tempo, rápidas demais...
segurava a mão da esposa e da filha. Tinha mais um bebê a caminho.
O homem também fitou com incredulidade e desespero.
A esposa dele percebeu que algo estava errado. Olhou o marido e o rapaz que trocava olhares estranhos com ele.
ouviu a mulher perguntar:
— Quem é esse, ?
E, por algum motivo que não sabia explicar, quis levantar-se dali e socar no meio da cara.


XXV —



Investigação sobre assassinato de prostituta segue sem respostas para o crime.

Garota de programa assassinada pode ter tido envolvimento com empresários.

Assassinato da prostituta do cabelo azul: ainda sem suspeitos.

— Eles não deviam falar dela assim. — fechou o laptop com força.




XXVI —


— EU NÃO SOU IDIOTA! — a mulher gritava. — EU NÃO SOU IDIOTA! Você acha que eu sou idiota, David. Você me traiu! Você teve um filho com outra mulher! E você já estava comigo!
A mulher não parava de gritar. O homem sentado perto dela já não aguentava mais.



XXVII —


A garota bateu a porta com força. Estava exausta.
Cansada de ficar tão sozinha, cansada de tentar viver uma vida em que não se sentia bem. Tinha deixado para trás tudo que conseguira na vida. Tudo o que tinha... Já não era mais nada.
Guardava só para si um segredo que a matava por dentro.
Conseguia sentir a verdade corroendo a si mesma.
Jogou o jornal na lata de lixo e chorou.


XXVIII —


Não sabia exatamente o que estava fazendo, nem o porquê de fazer aquilo.
Ligava sempre para o número dela, mesmo sabendo que não seria atendido.
Mas sempre esperava. Sempre esperava que não caísse na caixa postal. Sempre esperava ouvir a voz dela.



XXIX —


chorou quando falou da senhorita . — a policial relembrou. — pareceu estressado e ficou um tanto quanto alterado.
— Quanto ao senhor ...?
— Pareceu nervoso. A esposa pareceu furiosa. Talvez ele tenha tido algo com a garota e a esposa soubesse...
— O que acham de convidarmos a senhora Julia para um depoimento?

— Não vou mentir para a senhora. — Julia disse. Tinha as mãos cruzadas sobre a enorme barriga de grávida. — Meu marido teve um caso com essa garota. Um caso. Ela não era prostituta, ele não a contratou. Era só uma garota atraente e carente, e meu marido se aproveitou dela.
— Sendo sincera, senhora , a senhora acha que seu marido teria motivos para matar essa garota?
— Ele não. Eu teria. E, se eu não o fiz, por que o faria?


XXX —


Estava decidida. Não tinha mais coragem para ser covarde, se é que isso fazia sentido.
Tinha uma porção de jornais amassados numa lata de lixo cheia, uma casa que cheirava a mofo, uma muda de roupas e muita saudade.
Ia voltar a correr perigo, ia voltar a apanhar da vida e das pessoas, mas tinha que voltar.
Antes dele, não tinha motivo para lutar.
Mas, antes dele, não tinha muito com quem se preocupar.


XXXI —


A menina levou o celular à orelha. As mãos trêmulas ameaçavam derrubar o aparelho.
Estava arriscando tudo que tinha, simplesmente porque não conseguia viver sem eles.
O rapaz do outro lado da linha telefônica atendeu. A voz sonolenta, afetada por um nariz congestionado, soava disforme.
? Sou eu. Eu preciso da sua ajuda.


XXXII —


conseguia ver no espelho os resultados da noite passada em claro.
Mesmo cansado como estava, não conseguira dormir.
Devia estar no trabalho. Tinha tanta coisa acumulada que, quando se sentasse para resolver tudo, estaria perdido.
Uma garota dormia encolhida na cama dele. Suas roupas estavam amassadas e ela parecia péssima.
Mas estava feliz por tê-la consigo.
? – a garota chamou, tirando do rosto uma porção de cabelos.
Uma porção de cabelos azuis.



XXXIII —


A menininha segurava timidamente na mão do pai. À sua frente, um menino de uns oito anos parecia muito animado com a chegada dos dois.
? Esse é o . — o pai dela disse.
— Oi, . — cumprimentou.
— Querida, o papai precisa te contar uma coisa importante, mas você precisa guardar segredo sobre isso, está bem?
Ela assentiu.
é seu irmãozinho. Seu irmão mais velho.


XXXIV —


era minha irmã. Essa é a verdade. — o rapaz disse, descruzando os braços. — Ela era filha do meu pai. Eu sou fruto de uma traição. Sou quatro anos mais velho que ela, mas os pais dela já estavam casados quanto minha mãe engravidou. Ela não sabia que meu pai era casado, não sabia que ele tinha uma esposa.
— E o senhor tinha uma boa relação com a sua irmã?
— É claro que sim. Eu a amava, ainda a amo. Não está sendo fácil, mas eu não posso desmoronar.
— Por que o senhor mentiu sobre sua relação com a senhorita no primeiro depoimento?
— A mãe dela... A mãe dela não sabia que eu e nos conhecíamos. A mãe dela ainda não sabe. não queria que a mãe soubesse.
— E por que não?
— Não era algo que o nosso pai queria que acontecesse. Tivemos que nos encontrar às escondidas a vida toda... E eu nem sei o porquê.



XXXV —


— Como assim desapareceu? – a mulher perguntou, apertando os dedos com mais força no telefone. — Você é idiota? Ela não pode ter desaparecido. Procure no supermercado ou... Não sei, mas encontre! Ela não faria isso, está me ouvindo? Ela não colocaria a vida deles em jogo.


XXXVI —


— Obrigada, . — a garota disse, vestindo as roupas novas que o rapaz comprara para ela.
— É o que os irmãos fazem, não é? Mentem para a polícia pelas irmãs, mesmo sem saber o porquê.
...
— Você levou essa mentira por meses! Eu acreditei que você estava morta, !
, eu sei! Eu sinto muito, não era o que eu queria, está bem? Eu nunca quis fazer isso!
— Então por que diabos fez?
— Escuta... Eu preciso que você confie em mim!
— Eu menti para a polícia duas vezes por você, . E nem sei o porquê.
, se aquela mulher souber que...
— Por que ela não pode saber?
— Porque, se souber, vai matar você como fez com o papai.


XXXVII —


sumiu. — a mulher disse, apertando com força o braço da garota à sua frente. — Vocês são dois incompetentes. Eu devia matá-los junto com o irmão e o namoradinho dela!
O rapaz sentado perto das duas sentia medo. Sentia medo de uma mulher menor que ele. Sentia-se tão ridículo quanto amedrontado.


XXXIX —


? — seus olhos se arregalaram ao vê-la. Esfregou-os com força, como se não acreditasse no que via. — O quê...?
— Me desculpe. — ela sussurrou, os olhos cheios de lágrimas.
O que está acontecendo? Você está... Você...
— Escuta... Me desculpe por ter mentido e feito você sofrer esse tempo todo, mas eu juro que tenho um bom motivo para isso.
— Como você... Você está viva? O quê? Por quê?
— Você precisa confiar em mim, está bem? E me perdoar, se for possível.
— Achei que você estava morta. – ele murmurou.
— Não estou, não estou. Me perdoe, por favor. – disse, entre lágrimas. Tocou o rosto do rapaz com as mãos.
Ele fechou os olhos.
— Não acredito. — murmurou, começando a chorar e a puxando para um abraço apertado.
Se dependesse dos dois, nunca mais se soltariam.


XL —


estava sentado na poltrona do quarto do bebê, ouvindo Julia tagarelar enquanto fazia as malas para o hospital.
Se tudo desse certo, o bebê nasceria por parto normal e sairia do hospital em dois dias. Por que ela precisava levar tantas coisas?
Não conseguia prestar muita atenção ao que ela dizia, mas precisava esconder o que descobrira no dia anterior.


XLI —

— Aonde você vai, ? – a mãe quis saber. Limpou as mãos sujas de farinha no avental de cozinha e encarou o filho.
— Vou... Hum... olha, mãe, estou bem, ok? Volto logo.
saiu correndo de casa.


XLII —


Mandy entrou no quarto de e bateu a porta com força.
— Se você me disser que tinha um caso com a prostituta que morreu, eu faço você se juntar a ela.
não soube o que dizer. Todas as palavras que tinha aprendido na vida fugiram de sua mente.
— Me fala, . Você tinha um caso com ela ou não?
bufou.
— Não, eu não tinha. Mas sabe o porquê? Porque ela não quis. Só por isso.



XLIII —


— Tem certeza disso? — perguntou. — Se estamos os três correndo perigo... Isso é sensato?
, não tenho certeza de nada, mas não posso me esconder por mais tempo. Quando eu fugi... Já coloquei vocês em risco. Sinto muito.
— Olha, Ari. Vai dar tudo certo. A polícia vai pegar essa louca. – o namorado de disse, segurando sua mão.


XLIV —


A delegacia estava vazia quando cinco pessoas entraram, com intervalo de segundos entre as chegadas.
O primeiro grupo, de três pessoas, chegou todo junto. Uma garota de capuz e óculos escuros e dois rapazes bem conhecidos pela delegada.
Logo depois entraram os outros três.
Quando , e viram uns aos outros, a mulher teve que falar alguma coisa.
— O que está acontecendo?
A garota de óculos escuros tremeu, recuando um passo para trás de .
Em um ato que pareceu impulsivo, a garota puxou o capuz, revelando uma pequena cascata de cabelos azuis.
— O que está acontecendo? — perguntou.



XLV —



— E foi por isso que ela me obrigou a fingir... Fingir que estava morta. Eu não queria armar todo esse circo, mas precisava protegê-los... Proteger o meu irmão e o homem que eu amo. – disse. Sua voz soava disforme por causa das lágrimas, e ela tinha um par de olhos castanhos muito inchados.
— O que está me dizendo é que sua mãe matou seu pai na sua frente quando você tinha quatro anos e te ameaçou a vida inteira para que você não contasse? — a delegada perguntou, o cenho franzido.
— É o que eu estou dizendo, sim. E eu tinha provas... Mas ela descobriu tudo e ameaçou a vida deles... Eu não podia deixar...
— E por que agora você resolveu voltar e contar?
— Porque eu vivi todos esses anos com a cena do assassinato do meu pai na cabeça e nunca fiz nada por justiça. Isso faz de mim culpada, e eu não quero ser tão culpada quanto ela...



XLVI —


— Ela ficou maluca...
— Vanessa...
— Eu achava que ela tinha algum juízo, mas ela não tem! Ela ficou completamente louca!
— A polícia não vai encontrar provas, Vanessa. Fique tranquila. não vai ser levada a sério.
teve muita repercussão... Por ter morrido e por ter voltado. Ela vai ser levada à sério. E aí será nosso fim, você não consegue entender?
Jon suspirou.
— Mas não vai sair de graça. Se nós rodarmos, ela perde tudo que é importante para ela.


XLVII —


— Se ela não ganharia nada com isso... Por que mataria o marido? Quero dizer... Ela não ficou com o dinheiro, porque ele estava falido, não ficou com a casa... Não ficou com nada.
— Talvez ela não soubesse. — a investigadora Bert disse. — Talvez tenha planejado tudo sem saber que o marido estava falido.
Os policiais se entreolharam.
— Eu assisti às entrevistas que ela deu depois do enterro. — a psicóloga disse. — Ela parecia... Decepcionada, arrasada.
— Isso pode comprovar minha teoria, não pode? — Bert perguntou.
— Bert, não se empolgue tanto. Ainda não temos certeza sobre o que disse. Ela pode estar mentindo, ou... Delirando.
— Eu não acredito que ela esteja mentindo. — Bert disse, cruzando os braços. — O que você achou, Giselle?
A psicóloga deu de ombros.
— Eu não conversei com a menina, não tenho como saber.
— Então! Você precisa conversar com ela, Giselle! Se você achar que ela está lúcida e falando a verdade, podemos investigar de verdade!


XLVIII —


— Ela foi escondida pela polícia ou sei lá o quê...
— Que se dane, Stacey. Você vai dar um jeito de descobrir onde ela, o e aquele namoradinho dela estão. Ou você e o seu namoradinho vão se ferrar com eles!


XLIX —


— Então aquele cara com ela era o namorado oficial? — Julia perguntou.
— O namorado dela, sim. — respondeu. — Ouça, Julia... Não tem perdão para o que eu fiz. Eu traí você com aquela garota e... Vivemos por meses com a suspeita de que ela esperasse um filho meu, mas, se vamos contornar isso e ficar juntos, precisamos deixar isso para trás.
— Relaxe, . Eu já perdoei você, não já? Só fiquei curiosa sobre quantos caras ela conseguia pegar ao mesmo tempo. — Julia deu uma risadinha. — Ai, desfaz essa cara feia. Eu sempre quis saber como era ter um monte de namorados ao mesmo tempo, mas eu só tive você, não é?
tentou segurar o riso, mas não conseguiu.
— Você sempre vai jogar na minha cara?
— É melhor olhar para a merda com bom humor. Aprendi isso trocando as fraldas da Tina.



L —


— Não, não... A minha mãe não sabia que meu pai tinha perdido tudo. Ela ia ficar com o seguro e... Com toda a herança, mas ele já não tinha nada quando ela o matou.
, eu acredito em você, mas muita gente não. É errado eu te falar isso, mas, na delegacia, estão pensando em te tirar da proteção. Eles acham que você é louca.
suspirou.
— Eu já imaginava. Só que eu não posso arriscar a vida do meu irmão e do meu namorado. Acredite em mim, Bert. Ela vai matá-los



LI —


— Você não tinha um amigo policial? — Vanessa perguntou.
— Tenho, mas ele não conseguiu descobrir onde sua filha está.
— Por enquanto quero que ela se dane. A menos que os três estejam juntos.
— Se ela morrer agora...
— Ah, cala a boca. Não te perguntei merda nenhuma.



LII —


Bert pausou o vídeo e aproximou a imagem para ter certeza do que via.
— É ela.


LIII —

— É sério, droga. É ela nas imagens, eu tenho certeza. Se formos até a loja... Eles devem ter um registro. Vocês não podem desistir da investigação antes dela começar.
— Escuta, Bert... Hoje a Giselle vai conversar com a . Depois de uma conclusão dela, vamos ver o que vai ser feito, está bem?
Bert bufou.



LIV —


— Veja bem... Ea não é maluca. — Giselle disse. — E não me pareceu mentirosa.
Bert encarou a delegada.
— Então parece que temos um lugar para visitar.



LV —


— Não, senhora. Nenhuma Vanessa comprou armas conosco nesse dia. Nem nesse mês. A única mulher que comprou conosco foi essa tal de Natasha Rose.
— Natasha Rose? — Bert perguntou, fazendo uma careta. — O senhor tem o número do documento dessa mulher?
— Bert, isso não é necessário...
— É, sim. Acredite em mim, é necessário.
O homem do caixa anotou alguns números em um papel amarelo e entregou à policial.
— Aqui está.
— Muito obrigada. — Bert pegou o papel e deixou o lugar.



LVI —


— Número falso. Como alguém vende armas para uma pessoa sem se certificar de que o documento é original? — Bert perguntou, indignada.
O policial que a acompanhava deu de ombros.
— Quer saber... Vou descobrir quem falsificou esse documento e se Natasha Rose é mesmo Vanessa .


LVII —


— Você quer que eu te ajude a ajudar a polícia? — o rapaz perguntou, jogando o resto do cigarro que fumava no cinzeiro sobre a mesa.
— Eu já pensei em tudo, Bob. Vou dar um jeito de parecer que descobri sozinha. Ninguém vai chegar até você. Não por mim.
Bob rolou os olhos.
— Bert, você é minha irmã, mas eu estaria me arriscando a ser preso.
— Você é surdo ou o quê?
Bob nunca teria deixado ninguém vivo depois de falar daquela maneira com ele, mas Bert era sua irmã. A única família que tinha.
— Se eu for preso, você me paga.


LVIII —


— Como conseguiu isso? — a delegada quis saber.
— Um investigador particular.
— Pagou um cara para encontrar isso, Bert?
— Não, é um conhecido que me devia um favor.
— E que favor era esse? Posso saber?
— É pessoal. Posso ter assuntos pessoais?
A delegada deu de ombros.
— Só não faça merda, Bert. Você é uma das melhores. — e suspirou. — Agora vamos olhar todos esses arquivos de documentos falso.


LIX —


? Tenho algumas provas contra a sua mãe...
— É sério, Bert?
— Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas... As coisas estão mais claras agora.
De um terceiro lado da linha, uma terceira pessoa ouvia tudo enquanto rastreava um endereço.



LX —


acordou com o barulho da porta batendo.
? — chamou.
Esfregou os olhos para tentar enxergar no escuro, mas não conseguiu. Esticou o braço e ligou a luz do abajur.
Tinha um homem parado bem diante dela. Não era seu irmão, nem seu namorado.
E o homem segurava uma arma apontada para ela.
? — ouviu a voz de e a luz do quarto foi acesa.
Viu os olhos de se arregalarem quando o atirador virou-se para ele.
Quis gritar quando viu um segundo homem entrar, mas o grito não deixou a garganta.
O segundo homem agarrou por trás e encostou o revólver nele.
— Hoje é dia de morrer, .
Mas o namorado de apareceu atrás do homem, empurrou-o com força para o chão.
O revólver que ele segurava voou para o outro lado do quarto. conseguiu se libertar e tentou correr atrás do outro homem, mas o que estava caído no chão puxou-o pela perna e, instantaneamente, travaram uma luta corporal intensa.
não conseguia se mover. Estava apavorada.
— Não tenha medo. — ouviu o homem que amava dizer e viu o momento em que ele se jogou sobre o homem que permanecia com o revólver apontado para ela.
Ouviu o tiro.
Gritou.
Era ... O barulho tinha vindo dali.
Viu o homem de preto caído ao chão, com uma poça de sangue sob si.
ergueu-se, apavorado, suado, com os olhos cheios de lágrimas e as mãos manchadas de sangue, trêmulas, segurando o revólver.
O homem caído sob o homem que amava pegou o revólver e atirou.
Ela gritou outra vez. O grito foi mais alto.
Ela não podia perdê-lo.
Jogou-se no chão ainda gritando. Nunca soube como, mas pegou o revólver do chão e atirou no homem que atirara em seu namorado.
Também nunca soube como conseguiu, mas o tiro atingiu a cabeça do assassino.
Chorando, abraçou o namorado que sangrava no chão.
— Por favor, , não...



LXI —


— A bala perfurou o fígado. — o médico disse.
A sala em que se encontravam estava abarrotada de gente. Policiais, imprensa... E , acompanhada do irmão.
— Ele precisa de um transplante o mais rápido possível, mas... Está difícil encontrar.
chorava copiosamente. Apertava com força a mão do irmão.
Se morresse...



LXII —


— Eu sugiro que decretemos prisão preventiva contra a senhora Vanessa . Ela é nossa única suspeita, e as investigações sobre o assassinato de David estão apontando para apenas um lugar...
— Mas ainda não estão finalizadas, Bert.
— Vou me dedicar mais. Vou concluir essa investigação nas próximas setenta e duas horas. Eu prometo. Mas a gente tem que prender essa mulher. E encontrar os parceiros dela.
— Parceiros?
— Não posso garantir que o companheiro dela esteja envolvido nos crimes, mas tem alguém com ela. E eu tenho algumas suspeitas.



LXIII —


— Ele vai se recuperar bem da cirurgia. — disse, abraçando a irmã. — O médico disse, você não ouviu? Pare de chorar, . Ele vai ficar bem.
— É tudo culpa minha... – encarou a mãe de , sentada em outra poltrona na sala de espera.
A mulher nada tinha dito a ela, e não sabia se isso a confortava ou aumentava sua culpa. Seria pior ou melhor se a mãe de falasse com ela?


LXIV —


Vanessa e Stacey Watson choravam sem parar.
— E então atraiu seu marido dizendo que poderiam tentar uma reconciliação, pela sua filha... Atraiu-o de volta à casa onde moravam... Dançou música clássica com ele na sala e... De repente, tirou uma arma debaixo do vestido e atirou nele. — a investigadora Bert gesticulava, fazendo a própria representação da cena de morte de David . — Seu único erro foi não se certificar de que sua filhinha não estava dormindo... Foi não ver que ela estava bem ali... assistindo a tudo, sentadinha na escada, e que ela se lembraria de tudo... De toda a cena, exatamente como aconteceu.
— Eu não... Eu não queria matar o David!
— Ninguém nunca quer matar ninguém, não é?
— Eu queria ficar com o Jon! Queria ficar com ele... E o David... Ele nunca deixaria o Jon ser um bom pai para a minha filhinha...
Bert deu uma risada nervosa.
— Você tentou matar a sua filhinha.
— Isso nunca!
— Ah, senhora , assim você ofende minha inteligência! Tudo está claro, tudo está provado! — Bert bateu na mesa com força. — E você, senhorita Watson? Você é o quê? Retardada?
Stacey chorava sem parar.
— Como foi que você entrou nessa? Por dinheiro? Porque, financeiramente falando, a sua patroa aqui está na merda.
Stacey balançou a cabeça, negando.
— Acho que sim. — respondeu.
— Sim o quê?
— Sou retardada... Perdi tudo... Perdi meu namorado, minha dignidade...
— Perdeu seu namorado?
— O cara que o irmão da matou. Era meu namorado.
— Mas que merda, hein? Se ferrou.


LXV —


— Ele acordou. — disse, cutucando a irmã.
abriu os olhos e pulou da poltrona.
— Acordou?
assentiu.
— E está chamando por você.

entrou no quarto com os olhos cheios de lágrimas.
— Você fica estranha de cabelo preto. — murmurou.
riu e correu até ele.
Abraçou-o com força.
— Ai, ai, ! Vai me matar!
— Desculpa! — ela disse, se afastando rapidamente.
começou a rir.
— Eu estava brincando. Já estou bem, pronto para outra.
— Idiota. — resmungou, rolando os olhos.
segurou a mão dela.
— Você pode pintar seu cabelo de azul de novo?
Ela riu.
— Você só gostava do meu cabelo azul?
— Não, mas eu gostava muito dele.
— Vou pintar de novo, ok? Só fique bom logo e pare de falar besteira.
assentiu.
— Tenho uma pergunta importante. — disse, acariciando a mão da namorada com o polegar.
— E qual é?
— Você ainda vai me amar com essa cicatriz horrorosa?
fez uma expressão séria.
— Eu... Cicatriz? Acho que... Desculpa, . Não consigo. – e se afastou dele.
arregalou os olhos.
— Sério?
— Claro que não, . Caguei para a sua cicatriz. Eu só quero ficar com você. Com ou sem cicatriz.
Ele sorriu.
— Amo você, .
— Que bom.
E ela o beijou.




Fim.



Nota da autora: Sem nota.

Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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