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Finalizada em: 30/12/2020

Prólogo

Eu sentia o vento batendo forte no meu corpo, fazendo meus pelos balançarem em sincronia. Mas eu ainda não me sentia livre. Eu corria o mais rápido possível e ainda o sentia atrás de mim, cada vez mais próximo.
"Me deixa em paz, Tate!" pensei, me comunicando com ele. Porque é assim que lobos se comunicam, além dos clássicos uivos e latidos. Pelo menos os transmorfos. E isso é o que eu sou.
Meu nome é , tenho 18 anos e sou uma loba transmorfa. Descobri com 15 anos quando tive minha primeira dolorosa e traumática transformação. Também descobri que Carlos, meu pai, também era um lobo, e ele me ensinou tudo o que eu sei até onde pode, antes de ser assassinado junto com minha mãe enquanto tentavam me defender há dois anos atrás. O assassino? Ele estava atrás de mim.
Ele era obcecado por mim, e fez de tudo para conseguir me aprisionar naquele muquifo que ele chamava de "casa". Eu morava em Clallam County e depois que meus pais morreram, ele me trouxe pra casa dele com a promessa de que cuidaria de mim, e eu acreditei antes de descobrir que ele atacara meus pais. Esse infeliz acabou com minha vida, me acorrentou e me impedia de virar loba, mas agora eu finalmente consegui fugir dele. E ele não ia desistir tão fácil.
"Você se acha tão forte, docinho, mas não é nada sem mim!" - ele rosnou, aumentando a velocidade. Quando eu arrisquei olhar pra trás, ele tinha sumido. Olhei pra todos os lados e não o encontrava. Isso não era bom, então aumentei minha velocidade para não dar chance de ele me atacar, mas era tarde de mais. Senti um empurrão na lateral do meu corpo e me vi sendo arremessada contra uma árvore grossa. Resmunguei de dor, tentando me levantar. Mas senti uma mordida na perna traseira e meu corpo sendo arrastado pela mata. Comecei a dar chutes e um deles acertou seu rosto em cheio, fazendo-o cair desacordado. Inconsciente, ele voltou a sua forma humana. Com muito esforço consegui me levantar e me aproximei dele, vendo que sua cabeça sangrava. Meu Deus, será que eu o matei?
De repente, ele abriu os olhos e agarrou meus pelos, me olhando com ódio. Mordi seu braço com força e o fiz me soltar, dando uma cabeçada nele e fazendo-o cair de novo. Sai mancando, ainda em forma de lobo, e me afastei o máximo possível dele pra ganhar vantagem antes que ele acordasse pra vir atrás de mim, e eu precisaria de distância já que não podia mais correr.
Eu andei por horas, beirando a estrada, deixando um rastro do sangue que saia em abundância do meu machucado. Minha perna doía e eu talvez tenha quebrado alguma costela. Uma vantagem de ser loba é que eu já podia sentir meu corpo se curando, mas não seria um processo rápido se eu não parasse pra descansar. Mas eu não podia parar, tinha que continuar andando.
Então andei mais, e mais, andei pelo que pareceram mais horas até perceber que estava escuro demais pra minha própria segurança. Eu não aguentava mais, já estava me arrastando ao invés de andar.
Foi quando eu ouvi um farfalhar de folhas e galhos quebrando, olhei em volta apavorada sabendo quem poderia ser. Foi quando ele apareceu, na sua forma humana, com um taco de baseball na mão, o mesmo taco que ele usava pra me bater quando eu o desobedecia.
- Achou mesmo que eu não ia te encontrar, né? - ele falou, dando uma risada que me deu um frio na espinha.
Esse era o meu fim, igual ao dos meus pais. Eu já não tinha mais força pra correr ou lutar. Comecei a chorar e uivar, sem esperança que alguém me socorresse a essa hora. Ele foi se aproximando, com o taco levantado, e só deu tempo de eu fechar os olhos antes de sentir a pancada. Esperei por outra, mas não veio. Quando abri os olhos com dificuldade, havia outro lobo ali, rosnando pra ele. Tate se transformou em lobo e tentou atacar, mas o outro lobo marrom e gigante foi mais rápido. Ele o jogou longe, e a última coisa que vi foi Tate sair correndo e o outro lobo se aproximando.
"Qual o seu nome?", o lobo questionou.
"...", respondi, tentando organizar meus pensamentos. Tudo girava, e eu já não conseguia manter os olhos abertos.
", confia em mim, vai ficar tudo bem" ele falou.
Minha visão começou a ficar embaçada e eu apaguei.


Capítulo 1

Acordei em um quarto completamente desconhecido, minha cabeça e meu corpo doíam muito e tudo girou quando tentei me levantar.
- Vai com calma, garota, você levou uma pancada e tanto. - ouvi uma voz feminina dizer, se aproximando. Ela acendeu a luz do quarto e tive que fechar os olhos na mesma hora.
- Trouxe um chá pra acelerar mais ainda a recuperação. - ela disse, sorrindo. Tentei observar seu rosto, e ele não era nada familiar. Ela tinha uma cicatriz enorme que atravessava sua face. Desviei os olhos, me sentindo desconfortável.
- Quem é você? Onde estou? - questionei com a voz rouca. Eu tentava buscar alguma informação na memória, mas era como um quadro em branco. Não tinha nada.
- Sou Emily, esposa do Sam, o lobo que te salvou ontem.
- Lobo? - questionei, me sentando com dificuldade.
- Sim, querida - ela me olhou confusa.
- Eu... Eu não me lembro de nada. - falei, me desesperando. - Eu não lembro nem do meu nome! E-eu preciso sair daqui!
Levantei-me depressa e logo me arrependi. Tudo girou e quase cai no chão se não fosse por um par de braços fortes me segurando.
- Opa, aonde você vai? - ele falou, rindo. Esse toque, essa risada... Tudo me fez surtar. Comecei a gritar, ignorando toda a dor que eu estava sentindo quando senti os braços dele me agarrarem.
- , eu não vou te machucar, confia em mim! - ele falava, me levando de volta pra cama.
- Sam, solta ela, isso só vai piorar as coisas! - a mulher falou.
Minha visão ficou embaçada de novo e eu apaguei.
Acordei com tudo escuro. Levantei e fui tateando tudo até encontra o interruptor. Dessa vez minha cabeça não doeu como antes, mas meu corpo ainda reclamava do simples esforço de andar. O que tinha acontecido pra eu estar desse jeito? Olhei no espelho que tinha no quarto e me assustei. Eu tinha cabelos pretos e compridos que chegavam à altura abaixo dos meus seios. Eu estava com uma camiseta enorme preta com desenhos de motocicletas e uma calça xadrez de moletom. Meus olhos eram castanhos assim como minha pele negra em um tom claro quase avermelhado. Eu não sabia que era assim, era como se nunca tinha me visto antes. Abri a porta do quarto com cuidado, caminhando até a sala na ponta dos pés. A televisão estava ligada em algum canal com programa de comédia, dava pra ouvir a risada da plateia. Essa era minha casa? Quem era aquela pessoa sentada no sofá?
- Quem é você? - questionei, assustando-o.
- Meu Deus, eu não te vi ai! - falou colocando a mão no peito. Ele se levantou, mas não se aproximou muito; levantou as mãos pra cima, em sinal de redenção.
- Não vou te machucar, ok?
- Quem é você? -  repeti a pergunta. - Onde estou? Quem sou eu?
- Calma, uma de cada vez! - ele respondeu, rindo. Logo parou de rir ao ver que eu não achei graça.
- Eu sou o Sam Uley, lobo alfa da alcateia de La Push. Você está na minha casa - ele falou, abrindo os braços como indicando o espaço - Que no caso fica em La Push. Você é a , uma loba que encontrei sendo atacada na floresta e isso é tudo o que sei sobre você.
Fiquei olhando pra ele, tentando absorver toda essa informação. Por que eu não conseguia me lembrar de nada?
- Eu... Eu sou daqui? - perguntei.
- Bom, eu acho que não porque eu certamente já teria te visto antes. Mas infelizmente não sei de onde você é. - ele respondeu, me olhando confuso. - Parece que você perdeu toda a sua memória... Vem, por que não se senta no sofá e a gente conversa direito?
O olhei desconfiada, e o vi virar os olhos.
- Eu vou sentar na poltrona, ok? A uma distância segura de você. Acredite em mim quando eu digo que não vou te machucar, eu te trouxe pra dentro da minha casa! Eu só quero ajudar, eu juro - ele disse, parecendo um tanto frustrado.
Me sentei no sofá, me sentindo ridícula por inconscientemente confiar em um homem que nunca vi antes. Como prometido, ele se sentou na poltrona e abaixou o volume da televisão. Pela luz da tv, consegui ver seus traços. Sam tinha o mesmo tom de pele castanho avermelhado, olhos pretos como jabuticaba e corpo musculoso e definido. No ombro direito ele tinha uma tatuagem parecendo ser um desenho indígena.
- Você... Você disse que sou uma loba? - questionei confusa.
- Sim... E eu sou um lobo. Foi assim que te encontramos, estávamos... Procurando por algo na floresta quando ouvi você uivar.
- Então tem outros?
- Por enquanto tem mais seis.
- E Emily? É uma loba? - questionei, e o vi sorrir, divertindo-se com minha confusão.
- Não, Emily é só humana.
Era estranho, mas toda essa história de lobo não me parecia absurda. Era como se eu soubesse de tudo isso antes, e provavelmente eu sabia.
- Que dia é hoje?
- Hoje é dia 20 de janeiro de 2012, segunda-feira, exatamente... Meia noite e meia. Você apagou por dois dias. - ele respondeu, consultando seu relógio de pulso. O olhei assustada, colocando a mão na cabeça.
- Você realmente não se lembra de nada? Dos seus pais, alguma família? Alguma matilha de lobos que você faça parte? - ele perguntou, e eu apenas neguei com a cabeça. - Eu tinha esperanças de que você soubesse quem foi o cara que te atacou.
- Desculpa, mas minha cabeça é como se fosse um papel em branco. - respondi frustrada. Uma angústia gigante se apoderou do meu coração quando ele perguntou dos meus pais.
- Está com fome? - ele perguntou, se levantando e indo em direção à cozinha. Me levantei e o acompanhei, observando tudo.
Sam fez dois sanduíches pra ele e dois pra mim. Eu nem questionei a quantidade, pois estava com muita fome e senti que precisava repor minhas energias. Ele me serviu suco de laranja e falou pra eu tomar o máximo possível de suco e água nos próximos dias pra me hidratar.
- Pelo menos seus machucados estão quase cem por cento. - ele falou, tomando um gole.
- Vantagens de ser loba... - soltei distraída, sentindo que já falara isso alguma vez antes. Sam me olhou surpreso, mas não questionou de onde eu tirei essa informação.
Ele começou a me falar tudo sobre La Push, desde a floresta até as incríveis praias locais. Falou-me sobre a tribo dos quileutes, os lobos e sobre os “frios” que habitavam Forks, sem se aprofundar nesse assunto. Quando acabamos, os dois pareciam cansados demais pra continuar a conversa. Eram três da manhã e por mais que tenha dormido por dois dias, eu poderia usar um pouco mais de descanso. Percebi que Sam também estava exausto, então cada um foi para o seu quarto.
No corredor, paramos um de frente pro outro para ele dar boa noite e eu disse:
- Obrigada por me salvar.
- Não há de que. - ele respondeu sorrindo, e me esperou entrar no quarto para entrar no dele.
Deitei na cama e fiquei olhando o teto, revisando as informações que Sam me passou, até pegar no sono de novo.


Capítulo 2

Eu tive um sonho assustador, onde eu corria de um homem com um taco de baseball na mão. Ele tinha olhos vermelhos famintos, e parecia que quanto mais eu corria pela floresta, mais perto ele chegava. Eu estava na minha forma humana, mas corria como um lobo. Toda noite nos últimos três dias eu acordava gritando, e hoje não foi diferente, dando início ao caos que seria essa manhã.
- Ei, tá tudo bem, eu estou aqui! - um garoto um pouco menor que Sam mas igualmente alto e forte falou ao me ouvir grita, vindo me abraçar. De início achei que era o dono da casa, mas após meus olhos se acostumarem com a escuridão do quarto, eu percebi que era um completo estranho. Quando ele me abraçou, porém, senti uma corrente elétrica passar por meu corpo, mas não gostei nada disso.
- Me solta! - gritei, empurrando-o com toda a minha força. Pra minha surpresa, ele foi arremessado no armário do quarto, quebrando a porta no meio.
- C-calma , sou eu! Jacob! - ele falou extremamente confuso. Eu o conhecia?
Ele tentou se aproximar e eu levantei, pegando uma tesoura em cima da escrivaninha que ficada do lado da cama e apontei pra ele.
- Se afasta! Socorro, Sam! - comecei a gritar, as lágrimas caindo soltas dos meus olhos. O garoto me olhava chateado, com dor estampada nos olhos.
- Eu não vou te machucar - ele sussurrou, levantando as mãos. Alguma coisa nele me era familiar, era como se eu o conhecesse a vida toda, mas eu não conseguia lembrar.
Sam e Emily chegaram ofegantes no quarto, ainda de pijamas.
- O que houve? - falou Sam, assustado.
- Quem é ele? Por que ele está aqui? – perguntei  desesperada, ainda apontando a tesoura na direção do estranho.
Emily caminhou em minha direção com cautela e tirou a tesoura da minha mão.
- , esse é o Jacob Black. Vocês... Bom, ele teve um imprinting com você na noite passada, quando te viu dormindo. - ela explicou, com calma. Eu a encarava sem entender.
- Impri... O que? E-eu não... Eu não sei do que você está falando, eu não o conheço. - falei confusa.
- Isso é impossível, eu sei o que eu senti! - exclamou o tal Jacob, claramente perturbado.
Eu agarrei Emily por instinto, assustada, e ela sussurrou que estava tudo bem e que ele não ia me machucar. Algo em mim dizia pra confiar nela porque eu sabia que era verdade, mas não sabia dizer o por quê.
- Espera lá fora, Jake... - Sam murmurou, acompanhando o garoto pra fora. Jacob parou na porta e me olhou com tristeza e raiva uma última vez antes de sair.
Comecei a chorar igual criança, ainda abraçando Emily. O que foi aquilo? Por que eu sentia que o conhecia, mas não conseguia me lembrar de nada? O que foi aquela corrente elétrica que passou por mim? Ainda estava sentindo arrepios quando Emily deixou o quarto para pegar uma troca de roupas pra mim.
Depois de tomar um banho dolorido e me vestir com um conjunto de moletom cinza que Emily me emprestou, me olhei no espelho enquanto tentava arrumar a bagunça que era o meu cabelo. Tinha pequenos arranhões por toda parte compartilhando espaço com alguns machucados mais graves. Porém, podia senti-los se curando sozinhos, com mais rapidez que uma pessoa normal se curaria. Olhei em volta e, tirando o armário recém-quebrado, tudo era limpo e organizado. Emily cuidava do local de forma impecável.

Senti meu estômago reclamar de fome, mas também de nervosismo ao ouvir muitas vozes do lado de fora do quarto. Quando sai do cômodo, todo o barulho cessou. Quatro pares de olhos me encararam, reconheci Sam e Emily, mas o outro era novo pra mim. Olhei pra única pessoa que mantinha a cabeça baixa, parecendo se concentrar somente no cereal, os ombros tensos pareciam estar usando toda sua força para não cair. Eu sabia quem era, e sabia que lhe devia desculpas.
- Sente-se, querida - disse Emily gentilmente, colocando um prato de panquecas quentinhas na mesa.
Elas não duraram um segundo, Sam e os outros garotos atacaram o prato, ouvindo uma reclamação de Emily por não terem guardado pra mim. Andei com cautela até a mesa e me sentei no único lugar vago, infelizmente ao lado do garoto que não queria olhar pra mim.
- Bom dia, . Como está hoje? - perguntou Sam depois de engolir mais uma panqueca. Dei de ombros em resposta, vendo a frustração passar por seus olhos com mais uma resposta vaga.
- Oi Paty, eu sou o Quill! - falou um dos garotos desconhecidos, ainda cheio de panquecas na boca. Dei um pulo quando ele estendeu sua mão na minha direção, e o mesmo recuou, parecendo imediatamente chateado e envergonhado.
Jacob finalmente me olhou, os olhos arregalados de terror. Depois desviou os olhos para o colega sentado ao seu lado na mesa redonda, fuzilando-o com raiva.
- Eu disse pra não fazer isso, Quill! - sussurrou o outro garoto em um tom alto que era piada chamar de sussurro. - Foi mal, , ele é muito emocionado. Meu nome é Embry. - completou, dando uma piscadela.
- Desculpa. - murmurei, sentindo minha voz falhar.
Todos me olharam apreensivos. Toda essa cautela estava me dando nos nervos, mas não podia culpa-los.  Estendi a mão para Quill, que aceitou satisfeito e sorridente. Ele era muito quente, então presumi que também era um lobo. Fiz o mesmo com Embry, que também sorria radiante.
- Também te devo desculpas - murmurei, olhando para um Jacob que voltara a encarar o cereal intocado. Ele não moveu um músculo, parecendo ficar ainda mais tenso.
- Ela está falando você, Jake - ouvi a voz grave de Sam ao meu lado.
Jacob me olhou com tristeza, os olhos sustentando os meus por longos segundos, como se implorassem por algo que eu não sabia dizer o quê. Toda vez que o olhava, um arrepio passava pela minha espinha.  Por fim, ele suspirou, parecendo exausto.
- Tanto faz. - respondeu, levantando da mesa e indo até a cozinha.
- Liga não, ... Quer dizer, ! - começou Embry, passando a mão pela nuca.
- é legal. - respondi, tentando sorrir.
Emily chegou com mais panquecas pra mim, batendo na mão de Quill quando o garoto tentou roubar uma. No mesmo instante, ouvimos a porta da frente bater, e todos viraram a cabeça na direção do som. Sam suspirou frustrado.
- Eu o machuquei muito? - perguntei.
- Não fisicamente. - respondeu Quill, recebendo um tapa na cabeça dado por Embry.
- Ele está... Frustrado. Mas não é sua culpa. Eu te explicarei tudo, , quando for a hora. Agora preciso que você coma algo e descanse bastante.
E assim fiz. Comi várias panquecas e um copo de suco de laranja. Eu não percebi o quão faminta estava até sentir o cheiro daquelas panquecas e do almoço que Emily já começava a preparar. Emily era uma cozinheira de mão cheia; ela e Sam eram ótimos anfitriões; Quill e Embry eram divertidos e me fizeram companhia, contando mais sobre La Push, o lugar que agora sabia estar.

Mesmo com toda a distração, eu não podia deixar de olhar de tempo em tempo pela janela, observando as árvores não tão distantes da floresta, procurando uma ameaça que eu sentia estar ali, mas não me sabia o que era.
Enquanto os meninos jogavam videogame, fui atrás de Sam na garagem nos fundos da casa. Ele estava mexendo em um carro azul velho, parecendo uma picape antiga. Sua regata branca e sua jeans rasgada estavam sujas de terra e graxa, parecendo um verdadeiro mecânico.
- Veio tomar um ar? - ele perguntou, sorrindo. Forcei um sorriso, dando uma olhada em volta. Sentei-me em um caixote de madeira perto do carro, e fiquei observando-o fuçar na roda dianteira.
- Encontrei essa lata-velha há algumas semanas atrás, ela tem me ajudado a... Distrair um pouco.
- Bem bonita. - respondi com sinceridade.
- Gosta de carros? - ele perguntou me olhando fundo nos olhos, esperando algum sinal de que eu recobrasse totalmente as lembranças. Não veio nada.
- Não sei... - dei de ombros, me sentindo frustrada. - Por que aquele garoto ficou tão chateado se eu já pedi desculpas pelo que fiz?
Sam suspirou, levantando e indo até um balcão de madeira para pegar um pano.
- Existe uma coisa, que te contarei com mais detalhes em breve... - ele fez uma pausa quando me viu rolar os olhos com impaciência.
- Tudo no seu tempo, - ele continuou, com calma. - Essa coisa é o sentimento mais forte que um lobo pode sentir por alguém.
- Ele sentiu por mim? - perguntei, e o garoto apenas assentiu.
- É um sentimento muito forte, como se finalmente sua vida tivesse um sentido novo; um propósito. É como se apaixonar, mas com a certeza de que você e aquela pessoa passarão o resto da vida juntos. No momento em que você sente essa coisa, você tem certeza de que aquela pessoa é seu passado, presente e futuro.
Não soube dizer se era o melhor momento pra dizer que eu sentira algo, mas não era nada parecido com a descrição que Sam acabara de dar. O arrepio toda vez que via Jacob, a corrente elétrica que percorria meu corpo quando nos tocamos. Era como se meu corpo reagisse ao seja lá o que fosse que ele está me contando.
- Ele não pode ficar bravo por não ter sido recíproco. - falei, enrugando a testa, incomodada com essa questão. Não era culpa minha.
- Essa é a questão... É sempre recíproco. - ele disse, me olhando preocupado.
- Mas...
- Você não sentiu, não é?
- Pelo menos não tão intenso como você contou, mas... - ponderei se deveria confessar ou não. Por fim, suspirei e decidi que Sam era a pessoa certa pra isso.
- Eu sinto algo, sinto que o conheço toda vez que o vejo, mas nem de longe é como você disse.
- Não queria falar agora, mas acredito que seja por causa da falta de memória. - ele riu ao ver a confusão em meu rosto, nunca fui boa em disfarçar meus sentimentos: eles ficavam estampados na minha cara.
- É como se nesse momento, sem suas memórias, você não fosse você mesma. Entende?
- Acho que sim... - respondi com sinceridade, porque eu realmente me sentia como se não fosse eu mesma.
- Sam, você acha que... Não sei, talvez isso seja permanente?
- Duvido muito e espero sinceramente que não. – ele respondeu e se aproximou, limpando as mãos em um trapo mais sujo que sua roupa. - De qualquer forma, estaremos aqui pra te ajudar. Seremos sua família enquanto não encontrar a sua.
A palavra família pareceu acender algo em mim, um click soou em meu cérebro e trouxe uma lembrança do que soube imediatamente ser minha família. Foi como se eu tivesse destrancado todas as lembranças que tinha deles. Meu pai e minha mãe, sorrindo pra mim, enquanto passeávamos no parque. Depois, outra lembrança mais forte, meu pai agora era um lobo grande e marrom escuro, rosnando alto, enquanto minha mãe me segurava forte nos braços. Logo a imagem mudou, e ambos estavam jogados no chão, mortos e ensanguentados.
- ? - ouvi uma voz distante chamar, e então voltei à realidade. Sam me olhava alarmado, uma de suas mãos em meu ombro, os olhos fixos em mim. Senti meu rosto úmido e percebi que estava chorando.
- O que houve? - Quill perguntou, correndo com Embry em nossa direção. Emily veio atrás, sua cicatriz de misturando com as linhas de preocupação que se formaram em seu rosto.
- Eu... Me lembrei dos meus pais... - consegui responder, olhando para Sam.
- Só deles? - Embry perguntou, parecendo aliviado, mas ainda preocupado ao mesmo tempo.
- Só. Eles... Eles estão mortos. Sam, acho que eu os matei. - choraminguei, deixando-me cair nos braços do alfa do grupo.


Capítulo 3

Voltamos para a sala e esperamos Sam tomar um banho e trocar de roupa enquanto Emily e os meninos tentavam me acalmar. Entre um gole e outro de água, ouvi a porta se abrir com um estrondo, sendo atravessada com pressa por um Jacob desesperado e mais três garotos de pele castanho avermelhado, o mesmo corte de cabelo dos outros e a mesma tatuagem, e logo julguei serem o resto da alcateia.
- Você está bem? - perguntou Jacob, se ajoelhando na minha frente e segurando minha mão livre. Aquela corrente elétrica de sempre percorreu meu corpo. Assenti rapidamente, apertando sua mão quando ele ameaçou tira-la. Isso pareceu maravilha-lo, e ele não a soltou. Quil se levantou e deixou Jake sentar do meu lado.
- , esses são Jared, Seth e Paul. - disse Emily, apontando para cada um deles que responderam com um aceno.
Nesse momento, Sam entrou na sala, secando o cabelo com a toalha. Acenou pra todos e deu um beijo demorado em Emily, que sorriu e pegou sua toalha. De longe dava pra ver a tal "coisa" que Sam falou, era quase palpável. Olhei pra minha mão entrelaçada com a de Jacob, e foi como se acendessem uma lareira no meu peito, meu coração se aqueceu de conforto e segurança que eu não sabia o por quê, mas tinha certeza que vinham dele.
- Bom, estava querendo fazer essa reunião desde a chegada da . - começou Sam após sentar em uma das poltronas de frente ao sofá da sala que agora parecia pequena estando abarrotada de gente.  – Eu ia esperar mais tempo, mas devido à acontecimentos recentes, decidi que era a melhor hora pra isso.
Jake permanecia fiel ao meu lado, pude senti-lo ficar tenso. Embry estava do outro lado, Quil sentara no braço do sofá ao lado de Jacob e Jared no outro braço ao lado de Embry. Paul sentou em uma cadeira do lado de Sam, e permanecia com a cara de poucos amigos e os braços cruzados. Seth foi o único que sentou no chão e Emily sentou na poltrona ao lado de Sam, segurando a mão dele, tão fiel quanto Jacob.
- Como vocês já sabem, eu a encontrei na floresta depois de ser atacada pelo que eu acredito ter sido outro lobo. perdeu as memórias e não lembra muito de quem ela era e de como veio parar em La Push. - continuou, observando os meninos para garantir que estavam prestando atenção. - Hoje ela se lembrou de seus pais, o que me leva a crer que, felizmente, não vai ser um dano permanente. Mas não é sobre isso que quero falar e sim sobre o fato de que... Bom, se todos concordarem, eu gostaria que fizesse parte da matilha enquanto não recupera a memória.
Todos permaneceram em silêncio. Olhei em volta para ver suas reações. Jacob obviamente estava com um sorriso no rosto, apesar de não querer demonstrar. Os outros meninos também pareciam estar contentes com isso. Menos um.
- Uma garota? Na nossa matilha? - reclamou Paul, olhando de mim para Sam.
- Por que não? - perguntou Quil. - Ela é legal, você vai ver quando passar um tempo com ela.
- Não acho boa ideia. Quero dizer, será que ela consegue nos acompanhar? – Paul continuou argumentando.
- Ela não precisa nos acompanhar, cada um de nós tem um ritmo e com o tempo ela pega o jeito. - protestou Jared, recebendo um sorriso de aprovação de Quil e Jacob.
- Ainda não acho boa ideia... Desculpa Sam, sou contra.
Seguiu-se uma avalanche de protestos dos meninos, com um Sam exausto tentando apaziguar os ânimos. Jake estava quieto, passando o polegar em círculos na minha mão e me olhando preocupado. Desde a hora que chegou e segurou minha mão, ele ficava me olhando de tempo em tempo, como se esperasse um surto por causa do contato ou algo assim, mas não me senti com vontade de largar sua mão tão cedo.
Todos ficaram imediatamente quietos quando Sam levantou a mão.
- , o que você acha? – ele falou, sua voz séria e grave.
- Não quero ser um incômodo, Sam. - respondi, e mais uma vez houve protestos dos meninos dizendo que eu deveria sim ser da matilha e que eu não iria atrapalhar em nada.
- Você não é nenhum incômodo. - Jacob sussurrou no meu ouvido, fazendo cada pelo do meu corpo se arrepiar. O olhei meio assustada com o poder que ele tinha sobre mim, e ele apenas sorria.
- É obvio que é por causa do imprinting! - ouvi alguém gritar no meio do falatório.
- Paul! - exclamou Emily, reprovando-o com o olhar.
- O quê? É verdade! Duvido que a manteriam aqui se não fosse pelo Imprin...
- Já chega, Lahote! - gritou Sam, se levantando com toda a autoridade que ele tinha. Encolhi-me assustada, sentindo Jacob soltar minha mão apenas para passar seu braço pelos meus ombros e me abraçar de lado. Ele estava quente e olhava com raiva na direção de Paul.
- Pra que esconder dela? - disse Paul, muitos tons mais baixo que antes. Ele estava de cabeça baixa, evitando olhar para Sam.
- O momento de contar tudo à ela vai chegar, isso quem vai decidir sou eu.
- Mas você sabe que estou certo...
- Está me desafiando, Paul? - Sam deu um passo na direção do garoto, que pareceu se encolher ainda mais. Senti pena do rapaz, então decidi levantar e intervir na situação. Jacob ficou surpreso com a movimentação repentina, mas me deixou ir.
- Está tudo bem, Sam. Eu posso encontrar outro lugar pra ficar. Não brigue com ninguém por minha causa, por favor. - disse, ficando entre ele e o pobre Sam.
- Você vai ficar e será muito bem vinda à matilha. Sou o Alfa e a decisão final é minha. - disse sério, mas com um leve sorriso de satisfação.
Paul se levantou e me olhou com raiva, depois pediu autorização à Sam para ir embora e o Alfa concedeu, vendo-o virar as costas e sair da casa, batendo a porta. Fiquei extremamente frustrada. Tentei defende-lo e o ingrato reage assim? Não pude evitar me sentir uma intrusa, mas eu realmente não queria ir embora. Fosse por Jacob ou por todos os presentes naquela sala, eu me sentia bem, protegida, segura e confortável, coisas que não sentia há muito tempo. Sentia que ali era meu lugar.
- Bem-vinda à matilha de lobos de La Push. - disse sorrindo, e todos exclamaram comemorações e ameaçaram se levantar, mas Sam os impediu com um aceno de mão.
- Ainda não acabou - continuou, e indicou o lugar vago ao lado de Jake para eu voltar a me sentar. Fui recebida com leves tapinhas nas costas e um abraço de Jacob, fazendo minhas pernas tremer.
- Como eu disse mais cedo, foi atacada por outro lobo, alguém que ela não se lembra. Eu o vi muito rápido, não pude ver muito seu corpo, me preocupei em resgata-la. A questão é: precisamos protegê-la e ficar atentos caso ele volte. - quando Sam disse isso, senti a mão de Jacob apertar a minha com mais força. Seu corpo todo ficou tenso e ele apenas assentia em concordância com o alfa.
- Faremos de tudo pra proteger nossa nova irmãzinha - animou-se Embry, apertando meu ombro de leve. Eu já estava me acostumando com todo aquele contato, pois percebi que não adiantava nada me esquivar, eles eram assim.
- Claro, sem deixar de lado suas obrigações. Lembrem-se que temos de ajudar os Cullen. - continuou Sam, olhando significativamente para Jake.
- Quem são os Cullen? - perguntei, logo senti Jacob se remexer ao meu lado.
- Eles são os frios de Forks... - disse Embry, afetando a voz para parecer que estava contando uma história de terror.
- Os chupa-sangue... - continuou Seth, com o mesmo tom.
- Eles fedem... - completou Quil, torcendo o nariz.
- Eles são vampiros. - concluiu Jared, sem brincadeiras. – Nós existimos porque eles existem.
Estremeci com aquela palavra. Era de se esperar que uma garota que se transforma em loba não se chocasse com o fato de vampiros existirem, mas eu me choquei sim. E saber que eles estavam por perto era um tanto assustador.
- Vampiros são meio que nossos inimigos naturais, mas temos um pacto há séculos com os que vivem aqui. - explicou Jacob. – Vivemos em harmonia, podemos dizer.
- Entendi. - respondi receosa, ainda um pouco assustada. Depois de alguns segundos, quebrei o silêncio. - Sam, o que é o tal insprit que Paul falou?
Jacob se enrijeceu de novo, ficando extremamente tenso ao meu lado. No mesmo instante ele se levantou e foi até a cozinha. Sam suspirou, parecendo incomodado.
- Acho que não tem como prolongar mais, Jake. - disse Sam. Jacob apenas deu de ombros e continuou a se servir de água, ficando de costas para nós. Franzi a testa ao perceber que ele não voltaria tão cedo.
- O nome correto é imprinting, querida. - explicou Emily com aquela paz que a voz dela transmitia. Ela olhou para o marido, incentivando-o a continuar.
- É aquele sentimento que te expliquei mais cedo, o sentimento mais forte que um lobo pode ter. Acontece no segundo em que você conhece a pessoa, independente de idade, raça, cor e credo.
- Independente de idade? – questionei chocada. Todos soltaram um riso, menos Jake que ainda estava tenso, se demorando para beber um simples copo de água.
- Sim, você pode sentir isso até por um recém-nascido, mas nesse caso não será nada relacionado à romance, você será um amigo, um protetor ou até como um irmão para a pessoa, será o que ela necessitar naquela determinada fase da vida.
Olhei novamente para Jake, que agora se apoiava na bancada da pia, nos observando à distancia.
- Jacob sentiu isso por mim, não é? - perguntei, sem tirar os olhos dele.
- Sim, senti. - ele respondeu, parecendo levemente irritado. - Mas aparentemente você não, e até então nós não sabíamos que existia imprinting unilateral.
- E não existe. - disse Sam com seriedade. - O que aconteceu, Jake, é que não está sendo ela mesma. Ela não tem todas as suas memórias, ela não sabia nada além de seu nome. Ela está incompleta e enquanto não recuperar tudo, não sentirá o imprinting.
Os meninos soltaram exclamações de surpresa, vendo que aquilo realmente fazia sentido. Jacob deixou seus ombros caírem e mordeu o lábio inferior, parecendo sentir dor.
- Bom, então temos que ajudar nossa maninha a melhorar o cabeção! - brincou Quil, recebendo um tapa meu que nem fez cócegas.
Depois disso, fiquei tirando algumas dúvidas sobre assuntos de lobos e vampiros, esperando Jacob voltar para o sofá, mas ele não o fez. Mesmo depois de Sam liberar os meninos, eles não quiseram ir embora. Depois de algumas partidas de videogame, deu a hora de eles irem fazer vigilância na floresta para tentarem encontrar a tal vampira Victoria que Sam explicou ser uma vampira ruim que estava perseguindo uma humana por quem um dos vampiros era apaixonado. Todos foram menos Jake. Emily foi tomar um banho, dando uma chance pra eu me aproximar dele.
- Vai morar aqui na cozinha? - brinquei, pegando um copo de água enquanto ele comia alguns poucos biscoitos de Emily que por milagre sobraram.
- Fico feliz de te ver assim, menos...
- Arisca? Agressiva? – questionei.
- Assustada e machucada. - ele completou, dando um meio sorriso.
- Me desculpa. - eu disse, me apoiando na bancada em que ele se apoiava e roubando um de seus biscoitos.
- Eu já disse que está tudo bem, o machucado já melhorou há horas...
- Não por isso, Jake, mas... Por não conseguir sentir o imprinting.
- Oh... Isso. - ele pareceu ligeiramente triste.  - Também não tem problema, não é sua culpa, sabe?
- Mesmo assim... Olha, eu... Eu sinto algo, toda vez que você me toca ou me olha... - disse ruborizando, tentando não olha-lo. - É como se uma corrente elétrica percorresse todo meu corpo. Meu coração se aquece quando estou com você e eu te conheço a o que, oito horas? Se isso não é imprinting, não sei o que é.
Jacob soltou uma risada tímida e disse:
- Te garanto que é muito mais que isso.
Ele então ficou de frente pra mim e se aproximou, segurando meu rosto com suas mãos quentes e macias. Era ridículo o quão rápido meu coração batia, meu corpo todo formigava com seu toque e seu perfume me deixava tonta de uma forma deliciosa. Senti como se eu pudesse passar minha vida inteira naqueles braços. Deixei o biscoito cair no chão de tão tremulas que ficaram minhas mãos.
- É como se nada mais existisse, como se tudo o que importasse no mundo fosse você e apenas você. Tudo o que eu vivi até o momento em que eu te vi perdeu todo o significado. - sussurrou, com sua boca a centímetros da minha. Ele ia me beijar, e eu ia deixar se não fosse pelo barulho da porta se abrindo.


Capítulo 4

A porta se abriu e um Embry apressado passou por ela, falando algo sobre precisar ir ao banheiro urgente. Ele passou correndo pela gente e por Emily, que deu risada ao entrar na sala. Jake me olhou divertido e tentou se aproximar de novo, mas eu me afastei, colocando uma mão em seu peito para não deixa-lo se aproximar. Com imprinting ou não, eu não estava pronta pra esse tanto de proximidade. Ele pareceu confuso e frustrado, e um tanto chateado.
- , eu...
- Desculpa, Jake. - sussurrei, e corri pro meu quarto. Ele não me seguiu.
Fiquei lá deitada no escuro, encarando o teto com minha cabeça a mil. Era insuportável tentar puxar algo da memória e não ter absolutamente nada. Eu sabia que estava lá, e isso era o que mais me frustrava. Quem foi o lobo que me atacou? Por que ele atacou? Onde ele estaria agora? Por que não conseguia corresponder o maldito imprinting com Jacob? Ele me faz bem, me sinto segura ao seu lado. Senti vontade de beija-lo naquela hora, por que não fiz isso?
Uma batida na porta interrompeu meus devaneios, levantei e corri para abrir na esperança de ser aquele dos meus pensamentos.
- Tá ocupada? - disse Embry.
- Não, entra. - falei, acendendo a luz do quarto. Embry olhou em volta e sorriu.
- Já morei aqui, sabia? Quando me transformei, decidi não voltar pra casa dos meus pais. Ainda falo com eles, claro, mas é bom ter nossa independência. – ele falou, sorrindo. - Essa foi minha cama por um bom tempo. 
- Muito confortável ela - falei, me sentando ao mesmo tempo que ele. A cama balançou e não pude evitar a risada. Sentamos em vertical, encostando na parede com as pernas esticadas. A minha mal alcançava a lateral da cama, já o garoto ao meu lado podia balança-las livremente.
- Que bom te ver rir. - ele disse, me deixando vermelha de vergonha.
- Não sou uma bruxa, sabe? - falei, fingindo chateação.
- Eu sei, você é uma loba. Esse é outro conto de fadas. - ele sorriu brincalhão. - Jake está todo chateado lá fora. O que você fez?
Dei de ombros em resposta.
- Ele ainda está ai? Achei que tivesse ido embora.
- Ele não vai sair do seu lado tão cedo. Ele... Ama muito você. Vai te proteger a todo custo, mesmo que esse custo seja a vida dele.
- Mas... Embry, ele me conhece há um dia!
- Isso é o imprinting, . Quando senti-lo, você vai entender tudo.
- E se eu não sentir nada?
Embry arregalou os olhos e coçou a cabeça, pensativo. Por fim, deu de ombros.
- Não acho que isso seja possível, sinceramente.
- Então não é o sentimento mais forte que o lobo pode sentir. – retruquei, cruzando os braços.
- , tem coisas na nossa história que ninguém consegue explicar. Nem mesmo o sabichão do Sam. - ele disse rindo. - Fica em paz, você vai ter suas memórias de volta e vai conseguir sentir tudo o que o nosso querido Jake está sentindo.
Ficamos alguns segundos em silêncio, apenas aproveitando a companhia um do outro. Senti um cutucão no braço, olhei pra Embry e ele sorria feito bobo.
- Com imprinting ou não, você já tá caidinha por ele. - acusou-me, dando risada.
- Não fala besteira, não estou não! - retruquei mais defensiva que o necessário. A essa altura eu já sabia que Embry estava certo, mas jamais ia assumir pra outra pessoa além de Sam. Além do mais, quem me garante que ele não sairia correndo para contar pro amigo?
- Relaxa! Seu segredo está guardado a sete chaves - respondeu ele, dando uma piscadela.
Revirei os olhos em resposta, fazendo-o gargalhar alto. Nesse momento, Jacob passou pela porta aberta e voltou dois passos, parou de frente pra porta e nos olhou confuso.
- Estou interrompendo algo? - disse, parecendo irritado.
- Não, bro, ela é todinha sua! - disse Embry, saltando da cama e dando um tapinha no ombro de Jacob antes de ir pra sala.
Em questão de segundos ouvimos um "Bolo! Eu te amo, Emily!" seguido de um "Só não conta pro Sam que eu disse isso". Jacob observava a cena, encostado no batente da porta. Depois me olhou, os olhos carregados de algo melancólico.
- Quer dar uma volta? - ele perguntou.
Ponderei por longos segundos antes de concordar com um aceno de cabeça. Saímos do quarto lado a lado, eu evitando toca-lo o máximo possível e ele respeitando essa minha vontade. Encontramos Emily sozinha na sala, comendo uma fatia do bolo e assistindo a um reality show sobre donas de casa.
- Tem mais bolo em cima da mesa, crianças. - ela disse, dando um sorriso leve, esbanjando calma.
- Vamos dar uma volta no quarteirão e já voltamos pra comer, ok? - disse Jacob, colocando uma jaqueta de couro marrom.
Invejei aquela cena por um segundo, observando como Emily, apesar da vida que levava, ainda era uma mulher comum, com gostos comuns, algo que eu nunca tive. Ela me lembrou de minha mãe, e uma pontada de dor atingiu meu coração. Por reflexo, botei a mão do peito e massageei de leve.
- Está tudo bem? - perguntou Jacob enquanto fechada a porta atrás de nós.
- Está sim, eu só... Senti saudades.
- De mim? - ele disse em tom de brincadeira, mas com esperança contida em cada letra. Fiz uma careta, sem querer responder a verdade.
- Sei que não. - completou claramente decepcionado. Minhas mãos estavam enfiadas no bolso do moletom cinza, mas as dele balançavam ao lado do corpo, esperando por um toque.
- Emily me lembrou da minha mãe. Ela era... Normal. Comum.
- Seu pai era o lobo? - perguntou Jacob, apenas assenti com a cabeça. - Sam contou que você se lembrou deles. Também contou que... Você acha que matou eles... Por que acha isso?
- Eu era a única outra pessoa na lembrança. Acho que foi um pouco depois da minha primeira transformação. Ainda não sabia... Me controlar.
Jake apenas concordou com a cabeça, olhando pra frente enquanto passávamos em frente às casas da rua. Do lado esquerdo estava a floresta escura e cheia de árvores velhas, enormes e majestosas. Olhei de relance a mão de Jacob, balançando distraída enquanto ele mesmo se perdia em pensamentos. Uma vontade absurda de segurar sua mão me atingiu, e logo estava sentindo o calor que emanava dele encostando na palma da minha mão. Ele parou por um segundo e me olhou surpreso, eu apenas fingi não ser comigo e continuei andando.
- Não acho que tenha sido você. - ele falou, quebrando o silêncio depois de um tempo. - Não acho que você seja capaz disso.
- Isso é o Jacob ou o imprinting falando? - respondi. Ele riu achando graça.
- É o Jacob. O imprinting não te deixa cego, não te muda por completo, ele só te acrescenta.
- Como está sendo pra você? - perguntei, sem ter certeza se queria saber a resposta.
- Bom... Complicado, confuso, doloroso...
- Doloroso? - perguntei assustada.
- Dói saber que você... Não sente o mesmo. Parece que a qualquer momento posso te perder e isso é insuportável.
- Se serve de consolo, eu me sinto péssima com isso. – respondi sincera.
- Serve sim - ele falou rindo. Acompanhei sua risada, curtindo o som que vinha dele.
- Uma coisa que eu não consigo entender é: como você me viu ontem a noite? Por que entrou no quarto?
Jake passou a mão pela nuca, envergonhado, antes de responder.
- Sam tinha me contado sobre você e ele não deixou que ninguém a visse por uns dias, mas... Eu estava muito curioso, então entrei lá e senti tudo na mesma hora.
Apenas assenti, sem ter muito o que responder.
Pra quebrar o silêncio, Jacob mudou de assunto começou a falar empolgado sobre quando ele se transformou em lobo pela primeira vez, sobre sua convivência com os meninos e sobre seu pai, Billy Black.
- Jacob... Você namorava antes de... Antes do imprinting? Você tem alguém?
O moreno limpou a garganta e mexeu no cabelo com a mão livre, visivelmente desconfortável.
- Bom, não exatamente. Eu não namorava ninguém, mas... - ele pausou, parecendo escolher cada palavra que ia falar.
- Gostava de alguém. - afirmei, observando Jake concordar com um movimento de cabeça. Isso me fez sentir algo estranho, um leve incômodo que nunca havia sentido antes. Não era bom.
- O nome dela é Bella. Bella Swan. Se lembra dos Cullen que a gente comentou hoje de tarde? - concordei de mau gosto. – Ela está com Edward.
- Mas se ela era alguma coisa sua...
- Nunca passou de amizade, apesar de eu ter sido muito apaixonado por ela. - confessou meio incomodado. - Tentei ficar com ela por muito tempo, mas ela e Edward... Por mais que não goste daquele cara pálida, eu não consigo mais negar que eles foram feitos um pro outro.
- Mas se você não teve o imprinting com ela, por que insistiu?
Nesse momento, encontramos um banco de pedra ao lado de um ponto de ônibus, de frente pra floresta. Sem soltar as mãos, nos sentamos na pedra fria e úmida como o tempo.
- Eu não acreditava muito nessa história de imprinting, não aceitava que ela não fosse o meu. Essa paixão me deixava meio cego, talvez seja a maior diferença entre paixão e o nosso imprinting. O segundo é natural, leve. O primeiro é...
- Sufocante. - conclui, e ele suspirou.
- Enfim, no momento em que te vi deitada na cama, desacordada, e senti tudo aquilo... Eu soube de vez que nunca foi ela.
Jake ficou me olhando, fazendo círculos na minha mão com o polegar. Eu sustentei o olhar, admirando o brilho naqueles olhos negros.
- Ela também é vampira? - perguntei, e ele soltou uma risada sem graça alguma.
- Se fosse por ela, Edward a teria transformado faz tempo. Mas ele foi ético e inteligente e não deixou isso acontecer. Odeio admitir que pelo menos ele cuida dela de forma impecável, chega a ser insuportável.
- Parece até que está com ciúmes. - eu disse um tanto, fingindo estar chateada.
- Não, juro que não estou! É só que ele ainda fede pra mim, literalmente e metaforicamente.
- Vampiros fedem? - perguntei, e Jake caiu na risada. - Ei, eu nunca cheguei perto de um, não que eu me lembre.
- Sim, eles fedem muito pra gente e a gente pra eles. É quase insuportável.
Enquanto Jacob continuava a contar sobre os vampiros de Forks serem tipo “vegetarianos” e não chuparem sangue humano, um arrepio forte atingiu meu corpo. Ele parou de falar quando ouvimos um farfalhar de folhas e barulho de galhos quebrando vindo na direção da floresta. Não havia vento algum.
- Deve ser um cervo, tem muitos por aqui. - falou Jacob, sem nenhuma convicção. - Acho melhor voltarmos pra casa, está ficando tarde.
Sem pestanejar, nos levantamos em um salto e começamos a refazer o caminho pra casa de Sam. Foi quando mais uma onda de arrepio passou por mim, me fazendo congelar no asfalto. Jacob parou de repente, parecendo sentir algo também.
- . - disse uma voz grave e arrastada atrás de nós. No mesmo instante nos viramos, Jacob se colocando na minha frente.
- Onde você pensa que vai? Querendo fugir de novo? – o homem falou, sua voz ecoando no vazio da estrada.
- Conhece ele? - Jacob murmurou pra mim.
O estranho é que eu sentia que conhecia esse homem loiro de meia idade. Ele me dava arrepios, fazia algo dentro de mim gritar que aquilo era muito perigoso.
- Não que eu lembre. – respondi em um sussurro.
- Como assim não se lembra de mim? - falou o homem, parecendo ter ouvido toda a conversa. - Logo eu, seu alfa favorito! Assim você me magoa, querida!
O homem ameaçou se aproximar, rindo, mas parou quando viu Jacob mostrar os dentes e rosnar, se colocando mais ainda na minha frente.
- Vai embora - o garoto disse, entre dentes.
- Achou mais um cãozinho pra maltratar, ? Já não basta o que fez comigo?
- Eu não te conheço! Por favor, vá embora! - falei, sentindo lágrimas caírem sem permissão.
- Não sem antes pegar o que é meu! - e ao falar isso, o homem se transformou em um lobo cinza queimado enorme, com dentes e olhos amarelados. No mesmo instante, Jacob se transformou também, soltando um uivo longo em seguida.
Foi tudo muito rápido. O lobo cinza correu na direção do lobo marrom, mas foi arremessado para longe por ele. Jacob latiu pra mim e eu entendi que ele queria que eu corresse. Minha vontade era me transformar e ficar para ajudar, mas eu sabia bem que ainda não estava 100% recuperada do meu último ataque e uma luta dessa poderia agravar a perda de memória. Então comecei a correr, mas parei quando ouvi um dos lobos gemer de dor. Quando virei, Jacob estava atirado no chão, com muito sangue embaixo dele.
- Jake! - gritei ao correr em sua direção. Agachei-me para ver se ele estava vivo e uma onda de alívio me atingiu ao ver que ele ainda respirava, mas com dificuldade.
Olhei pro lobo cinza, preparada pra me transformar, mas não precisei. Um lobo preto maior que os outros dois saiu de dentro da floresta e pulou no lobo cinza, o arremessando longe. Outro lobo um pouco menor e com pelos caramelos saiu da floresta e se colocou na nossa frente, dando uma olhada pra verificar se estava tudo bem. Ao ver seus olhos, tive certeza de que era Quil. Acenei com a cabeça para confirmar de que Jacob estava vivo e que estava tudo bem.
Após alguns segundos em que os dois lobos recém-chegados rosnaram pro outro lobo, o intruso deu meia volta e foi embora.
Quando voltei a olhar para Jacob, ele havia voltado pra forma humana. Peguei o casaco que ele havia tirado antes de se transformar e coloquei em cima dele, evitando olhar seu corpo nu a todo custo. Nesse meio tempo, Quil e Sam voltaram pra suas formas humanas e colocaram suas bermudas.
- Como ele está? - perguntou Sam, se agachando ao meu lado.
- Está perdendo muito sangue, Sam! Temos que leva-lo pro hospital! - exclamei.
- Não podemos levar para o hospital, iriam descobrir muita coisa, não é? Só está levando mais tempo que o normal para se curar porque foram machucados mais profundos. - respondeu Quil, pensativo.
- O que faremos? - perguntei, um tanto desesperada.
- Vamos leva-lo pra casa dele e esperar que se cure. – falo Sam, claramente preocupado.
Então Sam o pegou no colo e começou a caminhar na direção da casa dos Black. Enquanto caminhava, eu olhava pra trás, um medo enorme e insuportável crescendo dentro de mim. Naquele momento tive certeza de duas coisas, primeiro: eu conhecia aquele homem e algo me dizia que eu devia temê-lo. E segundo: eu poderia morrer caso perdesse Jacob.


Capítulo 5

Ao chegar à casa dos Black, o resto da matilha estava lá, incluindo Paul, que me olhava com certa raiva. Era claro que ele me culparia por isso, já que eu estava com Jacob e o cara estava atrás de mim, eu mesma estava me culpando. Embry correu pra saber se estava tudo bem comigo também, e só saiu do meu lado quando lhe garanti que estava tudo bem mesmo. Quil e Seth foram para a casa de Sam garantir a segurança de Emily enquanto o alfa não podia voltar pra lá, e fiquei aliviada ao ver que Paul se prontificou em ir junto. Agora além de Jacob só restavam Sam, Embry, Jared e Billy Black.
Billy Black era um homem de meia idade com cabelos negros lisos e compridos, preso a uma cadeira de rodas. A calma que emanava dele era impressionante, mesmo com seu filho no estado que estava. Sam colocou Jacob no sofá e após verificar os ferimentos, Billy foi para a cozinha, fez uma mistura com ervas e óleos e aplicou sobre os machucados. Jacob estava acordado, mas quase inconsciente, porém protestou ao sentir a dor quando seu pai aplicou a pomada caseira. Em questão de segundos, ele estava dormindo de novo, e Sam o carregou novamente até o quarto.
- Ele vai ficar bem. - disse Billy, sua voz grave ecoando pela sala de estar pequena e amadeirada. Eu estava sentada no sofá ao lado de Embry, enquanto Jared e Sam conversavam algo na mesa de jantar dos Black, as feições sérias e preocupadas me deixavam nervosa.
- Estava ansioso para te conhecer, minha jovem - falou Billy, me pegando de surpresa pois não o vi se aproximar. - Jacob me falou sobre você e bom, não temos uma menina no grupo há muito tempo. Seja muito bem-vinda.
- Obrigada, Sr. Black.
- Pode me chamar de Billy, querida. Agora me conta, o que aconteceu exatamente?
Nesse momento, Sam e Jared se aproximaram, sentando no sofá e na poltrona. Tentando puxar o máximo de detalhes que conseguia, contei como tudo aconteceu.
- Você o conhece? Se lembrou de algo? - perguntou Jared.
- Eu não me lembrei de nada. Pode parecer loucura, mas... Eu sinto que o conheço. Sei que o conheço. Ele faz parte do meu passado, mas não consigo me lembrar dele, não consigo lembrar de nada! - falei, minha voz aumentando o tom a cada palavra, a frustração explicita.
Coloquei a cabeça entre minhas mãos e deixei as lágrimas caírem livres, soluçando. Embry me envolveu com um abraço, dizendo que estava tudo bem.
- Não está tudo bem, por minha culpa Jake está machucado e vocês todos estão em perigo.
- Não se culpe, , sério. A gente passa por isso o tempo todo. - falou Jared.
- Realmente não é sua culpa, . E não se preocupe com Jacob, ele ficará bem. - garantiu Billy. Levantei a cabeça, enxugando as lágrimas.
- Quando estávamos na forma de lobo, o homem falou que você é dele. Ficou repetindo isso e pedindo pra te devolvermos pra ele. - disse Sam, pensativo.
- Não, por favor, não façam isso! - exclamei apavorada. - Eu não sei o por quê mas eu sinto que ele não foi bom pra mim, eu tenho medo dele. Não me entregue, por favor, eu imploro!
- Não faremos isso, , fica calma! - respondeu Sam, assustado com minha reação. - Você faz parte do nosso bando agora, nós iremos te proteger, não se preocupe.
- O que faremos agora? - perguntou Embry, se dirigindo a Sam.
- Não podemos deixar a desprotegida, nem Jake e nem Emily. Se ele estava tão perto assim de casa, ele provavelmente a farejou até lá. - respondeu Sam, pensativo.
- E provavelmente até aqui. - murmurei, sentindo uma pontada de culpa. - Me desculpem.
- Não é sua culpa, , é sério - respondeu Jared. - Bom, faremos essa proteção, mas não podemos deixar se ajudar os Cullen. Victoria ainda está por ai, invadindo as nossas terras e ameaçando os frios de Forks.
- Resolveremos isso amanhã. - disse Sam. - Por hora, vamos descansar e planejar melhor. Jared e Embry, se importam de dormir aqui essa noite?
Ambos falaram que tudo bem, eles dormiriam, e Billy Black se adiantou em pegar cobertas e travesseiros com a ajuda de Jared.
- , vamos. - disse Sam, já abrindo a porta.
- Sam, eu não vou deixar o Jacob. - falei séria. O homem deu um leve sorriso, tentando inutilmente conte-lo.
- Tem certeza? - perguntou, já com a porta aberta.
- Absoluta. Ele está assim por minha causa, eu não sairei daqui até ele melhorar.
Sam suspirou alto e deu de ombros. Ele se aproximou de mim e me abraçou, prometendo voltar cedo no dia seguinte. Assim que ele saiu, Embry sorriu sugestivamente pra mim.
- Então quer dizer que teve o imprinting com o Jake, é? Tá toda protetora...
- Não fala besteira, é só a culpa mesmo. - respondi, sabendo claramente que não era verdade. Imprinting ou não, eu não podia negar que tinha sentimentos fortes por Jacob Black. Mesmo se não estivesse machucado, seria um prazer passar a noite com ele.
Billy e os meninos prepararam o sofá cama pros dois dormirem. Eu perguntei pro Billy se poderia dormir no quarto com Jake, recebendo um sorriso enorme em resposta, seguido de um animado “Sim!”.
E assim fiz, dei boa noite a todos, ajudei Embry a colocar um colchão ao lado da cama de Jacob, peguei uma camiseta dele (a mais larga que pude achar) e me troquei no banheiro. Eu fiquei observando-o desacordado na cama, parecendo levemente mais pálido que o normal. Deixei algumas ultimas lágrimas caírem enquanto sentia meus olhos pesarem e logo estava dormindo.
 Dois dias inteiros se passaram e Jacob ainda não acordara. Eu fiquei encarregada de passar a tal pomada nos ferimentos que ainda não se curaram, mas estavam cada vez melhores. Eu dormi todas as noites na casa dos Black, esperando notícias trazidas por Sam, mas nada mudou. Ele me trouxe mais algumas roupas emprestadas por Emily e não protestou em me deixar ficar lá. Os meninos se dividiam entre dormir na casa dos Black e na casa de Sam, fazendo a proteção.
Na terceira manhã após o ataque, acordei sentindo que alguém me observava. Esse alguém era Jacob, sentado no chão entre sua cama e meu colchão.
- Bom dia! - ele falou sorridente.
- Bom dia... - murmurei com a voz falhando. - Como você está?
- Novinho em folha. E você?
- Aliviada. - respondi, me sentando no colchão e esfregando os olhos. - Você nos deu um baita susto.
- Valeu a pena pra te ver viva. - ele disse, dando uma piscadela. - E essa camiseta ficou perfeita em você.
- Foi mal, me senti um pouco sufocada com o moletom de Emily;
- Sem essa, agora ela é sua. - ele respondeu, sem tirar o sorriso do rosto.
Eu sorri em resposta, depois dando um bocejo.
- Obrigada, sério. Se não fosse por você...
- Se não fosse por mim, você não estaria na rua naquela hora. - ele interrompeu, parecendo ligeiramente chateado. - Eu te devo desculpas.
- Nem pensar, a culpa não foi sua, ele estava atrás de mim, a culpa foi minha! - protestei, vendo-o sentar no colchão na minha frente.
Enquanto nós dois discutíamos aos risos sobre quem era o culpado, Embry bateu na porta que já estava aberta.
- Bom dia, casal! - disse animado, me fazendo virar os olhos com a palavra "casal". - Como você está, Jake?
- Ótimo e morrendo de fome! - respondeu Jacob. - Tá com fome?
Minha barriga roncou em resposta, protestando os dias em que mal comi, pois não saia do lado de Jacob. Os dois seguiram pra fora do quarto enquanto eu tentava me arrumar e parecer descente. Coloquei uma calça jeans que Sam pegou de Emily, mas sem tirar a camisa de Jacob que eu peguei na noite passada, odiando admitir o quão bom era seu cheiro.
Porém, além do cheiro dele, meu nariz começou a arder com um cheiro muito forte, inexplicavelmente insuportável. Tampei o nariz e sai do quarto.
Chegando à sala, encontrei todo mundo, inclusive Emily, espalhados pela sala de jantar. Mas eles não estavam sozinhos. Na sala de estar, sentados com uma postura invejável, estavam os que julguei serem os frios, e eu estava certa. Haviam oito deles pelas minhas contas, espalhadas entre sofás, poltronas e alguns em pé. Todos brancos como as nuvens, bonitos ao extremo; a beleza deles chegava a incomodar meus olhos. Agora a casa dos Black parecia minúscula com o tanto de pessoas dentro.
- Bom dia - murmurei, sem graça, ouvindo um coro um tanto animado de"bom dia" vindo de quase todos. Emily correu na minha direção e me abraçou, dizendo o quão grata ela estava por eu estar bem e como sentiu minha falta nesses dias. A abracei de volta, absorvendo todo aquele calor maternal que ela me passava. Logo me arrependi de ter tirado a mão do nariz, o cheiro ardia de novo.
- , esses são os Cullen. - disse Sam, me levando até os impecáveis seres sentados no sofá. Todos se levantaram ao me aproximar, o que fez o cheiro piorar. Não pude evitar torcer o nariz, tirando uma risada de um dele.
- Adoro a reação nos novatos – disse o garoto q deu a risada; ele era alto, moreno e com o corpo definido na perfeição. Seu sorriso torto o deixava mais bonito ainda, era irritante.
- Muito prazer, , sou o Dr. Carlisle Cullen, mas pode me chamar só de Carlisle. - disse um dos homens, loiro, alto e desnecessariamente bonito.
- Doutor? Tipo médico? Como isso é possível? - questionei, apertando sua mão gelada como um iceberg. Ele deu risada, achando graça da minha confusão.
- Costume e força: é tudo o que posso dizer. - respondeu com seu sorriso simpático. - Essa é minha família.
E então ele apresentou um por um: sua esposa Esme Cullen, uma mulher simpática de cabelos loiros alaranjados, tão linda quando o marido; Emmett Cullen, o moreno brincalhão; Rosalie Hale, teoricamente seria sua irmã mas era sua esposa, uma mulher loira, séria, elegante e extremamente bonita como os demais; Alice Cullen, uma morena de cabelos curtos repicados, um sorriso lindo e muito simpática; Jasper, marido de Alice, muito loiro e parecendo sempre estar sentindo dor; Edward Cullen, com cabelos cor de ouro e a mão entrelaçada com uma garota tão pálida quanto eles, mas ela não cheirava mal. Ela era Bella Swan, ex paixão de Jacob.
- Fico feliz em conhecer sua namorada, Jacob. - ela comentou, sorrindo leve.
- Não somos namorados. - respondi rápido, um pouco ríspida. Ela me olhou envergonhada, e logo me arrependi de ter sido um tanto seca na resposta.
- Sam, tem como falar agora por que os caras-pálidas estão aqui? - disse Quil, virando uma cadeira e sentando nela ao contrário, apoiando os braços no encosto.
Ouvi Emmett e Alice rirem do "cara-pálidas". Logo todos se calaram para prestar atenção em Sam e Carlisle.
- Eles estão aqui para falar sobre a tal vampira que está atrás de Bella. - começou Sam. - Eles descobriram coisas importantes. Pode falar, Dr. Cullen.
- Obrigado, Sam. - começou Cullen, cruzando os braços. - Como todos sabem, Victoria está atrás de Bella por vingança ao que fizemos ao parceiro dela, James.
Arrisquei olhar para a tal Bella, que estava abraçando com força o braço de Edward, que não tirava os olhos dela. Nesse momento me perguntei se os vampiros também tinham o imprinting ou algo parecido, porque a conexão e o amor entre os dois era palpável.
- James era um perseguidor, um stalker incontrolável. Quando tinha um alvo, ele só parava quando conseguia o que queria e infelizmente tivemos que por um fim nele. Desde então, el tem atacado os moradores de Forks. - continuou o doutor. Nessa hora, senti Jacob passar os braços em volta dos meus ombros e eu o olhei assustada com o que acabara de ouvir. Eles mataram outro vampiro? Por causa da humana?
- Porém, desconfiamos de que ela não esteja mais sozinha. Ela encontrou outro stalker, talvez tão perigoso quanto James. Mas parece que ele tem um objetivo diferente do dela.
- Como vocês descobriram isso? - perguntou Billy.
- Alice viu Victoria com outro homem em suas visões. - respondeu Edward.
- E o que isso tem a ver com a gente? Muda algo? É só mais um pra matar, fácil. - disse Paul, cruzando os braços.
- Essa é a questão... - começou Alice, receosa. - Ele não é um vampiro. Ele é um lobo.
A tensão na sala aumentou consideravelmente. Todos os lobos se olharam alarmados. Um lobo matando no nosso território? Poderia ser um de nós? Eu olhei pra cada um dos meninos, todos pareciam desesperados. Menos Jacob, que tinha uma feição indecifrável. Parecia um misto de raiva e confusão.
- Você sabe dizer se... Bom, nem sei como perguntar isso! - começou Jared, se embolando com as palavras. - Alice, por acaso é um de nós?
Nesse momento, todos voltaram a atenção para Alice. Admirei a coragem de Jared de perguntar o que todo mundo estava pensando.
- Sinceramente, eu não sei. - ela disse, parecendo frustrada. - A visão era muito escura, e ele se transformou em lobo, mas eu nunca vi nenhum de vocês se transformando.
- Qual era a cor do pelo dele? - perguntou Jacob, extremamente sério. Dava para sentir seu corpo ficando cada vez mais tenso.
- Cinza. - respondeu Alice. - Cinza meio queimado.
Senti meu coração parar. Jacob respirava fundo, claramente com raiva.
- Ele era grande, o pelo tinha algumas falhas... - continuou Alice, parando ao ver o estado em que Jacob ficara. Ele se sentou em uma cadeira e eu permaneci imóvel em frente a lareira da sala de estar.
- Carlisle, Jacob e foram atacados por um lobo com essas características há algumas noites atrás. - começou Sam, alisando os cabelos nervosamente. - Ele afirmava que era dele e que ele viera busca-la.
- Então esse é o objetivo dele? Levar a ? - perguntou Embry, se aproximando de mim e do grupo.
- Por que ele se juntaria com Victoria? Isso não faz sentido. - completou Emmett.
- Na verdade, tem sim algum sentido - disse Edward, parecendo finalmente acordar dos seus pensamentos. - Stalkers tendem a ser minuciosos e planejadores. Victoria se juntou a ele para poder ter a quem culpar pelos ataques aos humanos. Talvez ele acredite que ajudando Victoria a pegar Bella, acabe fazendo com que Jacob se distraía por ele... se importar com ela. - concluiu. – Um está usando o outro.
Um silêncio constrangedor se estendeu pela sala, e todos sabiam que Edward estava certo e fazia mesmo sentido.
- É claro que me importo. - confessou Jacob, em tom baixo, mas que foi possível ouvir no silêncio que estava na sala. Meu coração doeu ao ouvir aquilo. Então ele ainda se importa com ela? Depois de todo esse tempo e tudo o que aconteceu na vida dos dois. E toda a história de imprinting? Eu me senti culpada atoa?
- Bella é minha melhor amiga, eu sempre vou me importar! - continuou quando viu que ninguém falaria nada. Então nossos olhares se cruzarem, os dele pareciam pedir perdão. O meu carregava dor. Eu não aguentei sustentar.
- O que faremos? - murmurou Rosalie, parecendo um tanto entediada.
- Caçamos os dois e os matamos. - disse Sam, sem enrolação.
- Matar outro lobo!? Você ficou maluco? Nós temos regras, não matamos lobos! - Paul argumentou, alterado.
- Olhe como fala comigo, Paul, e não, eu não fiquei louco. Você ouviu o que o Dr. Cullen disse, ele não vai parar enquanto não conseguir o que quer.
- Então entregue o que ele quer! - gritou Paul, me olhando com raiva. - Ela só causou problemas desde que chegou, Jacob poderia ter morrido naquela noite!
- Mas não morri! - exclamou Jacob, se levantando com raiva. - Ninguém vai tirar a ou a Bella daqui, sem discussão.
- Agora ela faz parte da matilha, Paul. Ela fica. Aceite isso de uma vez. - disse Sam, firme.
- Olha, não posso deixar de concordar com o lobinho ali - começou Rosalie, erguendo uma das mãos. – Deixe que a leve, assim Victoria ficará sozinha e nós a matamos mais fácil, simples! - concluiu, dando de ombros quando todos da sua família chamaram sua atenção.
Jake se levantou com raiva e rosnou pra ela, fazendo com que todos os vampiros se levantassem e ficassem na defensiva, mostrando seus lindos dentes cor de marfim. Menos Esme e Carlisle, que apenas pediam calma. E Bella, que o olhava assustada.
Os lobos não ficaram de fora, também se postando ao lado de Jacob e rosnando para os convidados, menos Billy, Sam e eu que não sabia como reagir.
Emily, sempre fiel ao lado de Sam, pedia calma aos meninos. Eu só conseguia pensar em como Paul e Rosalie estavam certos. Se o problema era eu, por que não me entregar? Isso facilitaria tudo.
- Eles têm razão. – exclamei, tentando falar mais alto que todos, fazendo todos ficarem em silêncio. Jacob voltou à posição normal, me olhando incrédulo.
- Não fala besteira... - ele começou, mas eu fiz um gesto com a mão para que ele me deixasse falar.
- Ele é a coisa mais próxima do meu passado, por mais medo que eu tenha dele. Se eu me entregar, ele não virá atrás de vocês e deixará Victoria sozinha, vocês lobos não vão precisar quebrar nenhuma promessa ou pacto e vocês vampiros matam ela e se livram de mais um problema. Os dois lados não brigam e todos saem ganhando. - falei, e um silêncio absurdo se instalou na sala. Quill quebrou o silêncio soltando uma gargalhada totalmente inapropriada.
- Todos saem ganhando? , como você acha que vamos ficar sem você? - disse o garoto, indignado.
- Ainda temos tanto o que fazer juntas! - disse Alice, logo parecendo se arrepender do que disse. – Ok, talvez eu tenha tido algumas visões da gente passeando no shopping e fazendo festa do pijama com a Bella.
- Quantos anos você tem, treze? - perguntou Rosalie, revirando os olhos.
- Cento e dezenove lindos anos - respondeu Jasper, olhando apaixonado para a morena ao seu lado, que sorriu toda boba.
- Nós vamos dar um jeito, mas você e a Bella continuarão com a gente a qualquer custo. - disse Edward, abraçando sua amada e lhe dando um beijo na testa.
No momento seguinte se desenvolveu uma conversa intensa sobre como iam resolver o problema. Jacob se sentou na cadeira e olhava um ponto do fixo para além da janela, totalmente focado em seus pensamentos. Olhei para Bella e a mesma apontou com a cabeça para a porta da casa e se levantou, caminhando naquela direção. Eu a segui com cuidado para que não chamasse muita atenção e sai com ela, me sentando ao seu lado na escada da varanda dos Black.
- Que confusão nós causamos, hein? - brincou ela, logo vendo que não tiraria uma risada de mim. - Olha, me desculpe por mais cedo. Como Jacob disse que vocês tiveram um imprinting, eu achei que estariam juntos.
- Não precisa se desculpar, é meio confuso mesmo - respondi, olhando pras minhas mãos. – Não senti o imprinting, Sam disse que por eu ter perdido a memória, é como se eu não estivesse completa, como se eu não fosse eu mesma. E é exatamente assim que eu me sinto.
Bella assentiu com a cabeça, olhando pra floresta no fim da rua de terra que se juntava com a estrada.
- Sabe, Jacob é um grande amigo. - começou Bella, ainda olhando reto. - Ele é uma das pessoas mais incríveis que conheço e me ajudou muito em um momento especifico que precisei. Eu vou fazer de tudo pra que você fique aqui com ele se isso o fizer feliz.
Sorri, agradecida. Eu não sabia dizer o porquê, mas eu gostei dela, e a tal visão de Alice fazia mais sentido agora.
- Eu sinto algo por ele. - confessei. - É como se tivesse alguma coisa dentro de mim tentando sair, mas falta algo.
- Falta você estar completa. - ela respondeu, e eu concordei.
- Mas eu não posso colocar ele em perigo, nem os outros meninos. Até mesmo Paul. Eles foram muito bons pra mim desde o dia que me encontraram, eu jamais vou me perdoar se algo acontecer com eles.
- Eu entendo perfeitamente o que está sentindo. Mas confesso que fiz a burrice de me entregar para James quando ele estava atrás de mim, quase morri quando ele me atacou. A ideia de algo acontecer com eles, com minha família e principalmente com Edward, era insuportável. Mas hoje em dia eu vejo que tenho que estar aqui, não consigo mais imaginar uma vida sem eles. - ela disse, dando uma olhada pra janela onde podia ver os cabelos dourados de Edward.
- Eu só queria minhas memórias de volta. - confessei depois de alguns segundos em silêncio, olhando para longe. – Talvez isso resolva as coisas.
Bella mudou de assunto ao ver que eu estava ficando chateada, e me contou tudo sobre sua vida com os vampiros desde o dia que se mudou para Forks, contou sobre sua amizade com Alice e de como Rosalie também não gostava dela no começo, assim como Paul.
Nesse momento, Sam e Billy saíram pra varanda acompanhando os Cullen. Eu e Bella nos levantamos e ela correu pros braços de Edward. Olhei pra porta esperando ver Jacob sair, mas ele não estava ali.
- O que resolveram? - perguntou Bella, abraçando Edward de lado.
- Decidimos caçar os dois e manter vocês duas em segurança. - respondeu Carlisle.
- Isso significa nada de sair de casa sozinhas. - disse Sam, olhando pras duas, mas demorando seu olhar em mim. Entortei a boca, descontente, mas obediente.
- Também significa tirar da sua cabeça a ideia de se entregar, - falou Billy, com a voz séria.
- Vou convencer ela - disse Bella, piscando um olho pra mim e vindo me abraçar.  - Pense em Jacob. – ela sussurrou no meu ouvido.
Todos começaram a se despedir, Alice me abraçou e colocou um papel dobrado no bolso da jaqueta de Jake que eu vestira antes de sair da casa. Rosalie nem olhou na minha cara, mas Emmett também me abraçou animado. Jasper apenas acenou sorrindo, sempre com uma cara assustada, mas simpática.
Quando entramos, os meninos também começaram a se despedir, e Emily falou pra eu pegar minhas coisas porque íamos voltar pra casa e não tinha mais necessidade de eu dormir lá. Olhei em volta, procurando por Jacob.
- Ele está na garagem - disse Embry, me pegando de surpresa. - Pode se despedir dele, eu enrolo o Sam.
Ele me deu um beijo na bochecha e saiu com os outros.
Passei no quarto de Jacob, dando uma boa olhada em tudo. Cada detalhe dizia algo sobre ele: os livros na estante, os sapatos sujos e gastos organizados em um canto; o armário organizado em contraste com a cama bagunçada; os pôsteres de motos e carros colados nas paredes e um quadro lindo com um desenho de uma matilha de lobos na floresta. Peguei uma mochila que Seth me emprestou, coloquei todas as roupas emprestadas por Emily e sai do quarto, indo em direção à garagem nos fundos da casa.
Ele estava ali, mexendo em uma moto, parecendo frustrado por não conseguir tirar uma peça presa. Ele atacou uma ferramenta longe e passou as mãos pelo cabelo, respirando fundo várias vezes antes de ver que eu estava ali.
- Estou indo pra casa com Sam e Emily. - falei, me aproximando. Apoiei minha mochila na bancada de madeira e comecei a tirar a jaqueta pra devolvê-la.
- Não, fica com ela - disse Jacob, colocando suas duas mãos nos meus braços, fazendo a já conhecida corrente elétrica passar pelo meu corpo. - Ficou linda em você.
- Desse jeito eu vou ficar com seu guarda-roupa inteiro... – falei sorrindo envergonhada, recolocando a jaqueta. Ele sorriu de volta, mas a tristeza estava estampada em seu rosto.
- Olha, sobre o que eu falei de me importar com a Bella... - começou, mas o interrompi colocando a mão em seu rosto. Ele me olhou um pouco chocado, desacostumado com essa aproximação toda.
- Eu até fiquei chateada, mas depois que conversei com ela, entendi tudo. E está tudo bem. Acho linda a pessoa que você é. Você é um amigo incrível. - falei, sem tirar minhas mãos do seu rosto.
- Fico aliviado. Em parte... - ele falou, fazendo uma careta. - Vou ter que passar um tempo em Forks então, por favor, não faça nenhuma besteira, ok?
- Tipo...? - perguntei, sorrindo.
- Tipo se entregar pro tal lobo stalker... - ele falou, mas parecia ter mais alguma coisa.
- O que mais? - perguntei, vendo-o desviar o olhar.
- Não se envolver com ninguém... Principalmente com Embry. - ele soltou, parecendo envergonhado em dizer isso. E com razão.
- Jake, isso é loucura... - comecei, e o vi rolar os olhos.
- Eu vejo o jeito que ele te olha, e você está sempre perto dele, você ainda não teve o maldito imprinting e-
- Jake, eu estou aqui agora, não estou? - falei, interrompendo-o. - Com imprinting ou não, eu estou aqui. Com você.
Pude ver os olhos dele se encherem de lágrimas. Jacob encostou sua testa na minha e fechou os olhos, eu fiz o mesmo. Toda essa situação era insuportável pra mim, mas nunca parei pra pensar em como era pra Jacob sentir tudo o que estava sentindo sozinho. Ficamos alguns segundos assim antes de ele se afastar o suficiente para me olhar, trocando a atenção entre meus olhos e minha boca. Ele segurou meu rosto com as duas mãos e meu corpo formigava inteiro querendo seu toque mais do que nunca. Ele se aproximou, e eu fechei os olhos. Mas ele não me beijou, porque Emily apareceu bem na hora.
- , nós temos que... Ah meu Deus, me desculpem! - ela disse, girando nos calcanhares e voltando pra dentro de casa. Jacob suspirou de frustração e eu lhe dei um beijo na bochecha antes de sair correndo atrás de Emily.


Capítulo 6

A primavera estava começando e nada de encontrarem Victoria ou o tal lobo que me perseguia. Fazia dois meses desde que eu fui encontrada por Sam na floresta. Em relação às minhas memórias, só consegui lembrar que eu sou de Clallam County, eu me choquei ao perceber que eu vi de muito longe. Isso fez Sam ir até lá com alguns dos meninos e dos vampiros para ver se achavam o cara, mas sem sucesso.
Em um dia relativamente quente, Emily e os meninos me levaram até Port Angeles para fazer compras para preencher o recém-arrumado armário que eu quebrei no dia que "ataquei" Jake. Os meninos se juntaram e compraram um celular pra mim, simples, mas eficaz. Prometi para todos eles que assim que possível eu arranjaria um emprego e pagaria tudo de volta, mas Emily e os meninos protestaram falando que eram presentes por todos os aniversários e natais que não passamos juntos antes de nos conhecermos, e aquilo aqueceu meu coração da forma mais gostosa possível.
Descobri que o papel que Alice colocou na minha jaqueta era o número do celular dela e de Bella, o que me deixou bem feliz. Porém, preferi não mandar mensagem por enquanto. Era melhor esperar as coisas se acalmarem antes de tentar fazer amizade com os teoricamente inimigos.
Jacob foi para Forks e eu não o vi durante todo o resto do inverno e as duas primeiras semanas da primavera. Ele continuava com Bella e os vampiros. Às vezes voltava para vigiar a floresta, mas nunca para me ver. Os únicos que iam me ver eram Quil, Seth e Embry, que se tornaram grandes amigos, ouso dizer os melhores. Jared ia às vezes, e Paul não vinha quase nunca e quando vinha, ignorava minha existência, e eu nem fazia questão que ele me notasse. Ele ainda me odiava, e eu deixei de me importar com isso.
- , você é horrível nesse jogo, fala sério. - disse Embry, rindo ao me ver morrer pela terceira vez em um jogo de matar zumbis que eles estavam viciados.
- Faz três semanas e você não aprendeu nada! - completou Seth, enchendo a boca de Cheetos.
- Qual é, meninos, eu perdi a memória... – respondi rindo, devolvendo o controle para Quil jogar a próxima rodada e me levantando pra pegar um copo de suco.
- Ah não, de novo usando a carta do "perdi minha memória". Isso não cola mais, maninha! - falou Quil, quase esmurrando o controle.
Sam chegou na mesma hora e entrou com duas sacolas de compras na mão, Emily entrava logo atrás com mais duas sacolas e eu corri pra ajuda-la. Comigo e os meninos sempre presentes, o estoque de comida acabava muito rápido.
- Boa notícia! - exclamou Sam, deixando suas sacolas na bancada da cozinha.
- Jacob está voltando? – perguntei, mas sem reais esperanças. Já fazia algumas semanas que eu deixara de perguntar isso a ele, mas não custava tentar.
- Melhor! Consegui te matricular na escola, você começa semana que vem com os meninos.
Seguiu-se um coro de "Legal!" e "Boa, Sam!" dos garotos, sem tirarem os olhos da televisão.
- Sam, eu tenho mesmo que ir pro colégio? - resmunguei, na esperança de que ele sentisse pena de mim e decidisse me deixar em casa. Não funcionou.
- Vai te fazer bem, . Vai poder sair um pouco, conhecer gente nova. E não se preocupe pois você vai estar segura. - ele respondeu, colocando as compras na geladeira.
Embry se aproximou enquanto eu rolava os olhos, bufando. Ele pegou uma maçã, colocou um dos braços em volta dos meus ombros e deu uma mordida, dando uma piscadela pra mim.
- É só o último ano, , vai passar rápido. - falou Emily, me encorajando. Algumas semanas atrás eu fiz uma prova pra testar meus conhecimentos e fiquei muito impressionada por saber responder quase tudo. As respostas simplesmente vinham e eu julguei que pelo menos eu ia à escola na minha "vida com memórias", era assim que eu chamava agora.
- Relaxa, maninha, eu e os meninos vamos cuidar de você. - disse Embry, sorrindo desdenhoso e com a boca cheia.  Eu ouvi os meninos xingarei os zumbis, e disse:
- Uau, agora me senti mais segura. – e ri da cada que Embry fez, fingindo se ofender.  - Quem mais frequenta a escola?
- Eu, Quil, Seth, Paul e...  Jake. - ele respondeu, dando outra mordida na maçã e me olhando receoso. Ele e as pessoas que ficaram esse tempo comigo sabem bem o quão chateada eu estava por Jacob ainda não ter voltado. Era pra serem duas semanas, se tornaram quatro, e agora fazem dois meses.
Eu ainda não sentira o imprinting e isso me frustrava, ele deve ter se cansado também, então talvez não seja assim tão poderoso. Sam odeia quando falo isso, ele diz que é desrespeito à nossa cultura. Ele tem me ensinado muito sobre a cultura dos lobos em geral, mas especialmente em La Push. Também temos treinado, mas ele ainda não deixava eu me transformar em lobo tanto quanto eu gostaria, ele tem medo que isso retarde o processo com a memória. Mas que processo?
Eu ainda tinha pesadelos, sempre o mesmo: o tal lobo correndo atrás de mim e da minha família, eu procurando por meus pais e não conseguindo encontra-los. Depois, eu os encontrava mortos, assim com na minha memória. Agora eles faziam sentido já que eu tinha visto o tal lobo. Eu ainda acordava gritando, mas dessa vez Jacob não estava lá.
A semana passou mais rápido do que eu gostaria, e chegou o meu primeiro dia de aula. Eu escolhi uma camiseta preta de manda longa sem estampa, uma calça jeans clara de cintura alta com cinto preto simples e um tênis branco novinho que dava dó de usar. Deixei meu cabelo solto e fiquei sem maquiagem nenhuma, eu nem sabia como usa-las. Fomos todos na van de Sam, mas quem dirigia era Emily. Eu esperei Jacob chegar de manhã, mas ele não foi com a gente, então era só eu, Seth, Quil e Embry, como sempre. Eles eram Os Três Mosqueteiros e eu, o D'artagnan. Paul foi com seu próprio carro, me evitando como sempre.
- Boa sorte, meus amores - ela disse. – Me liguem se precisarem de alguma coisa.
Todos nos despedimos e Emily ficou esperando a gente entrar antes de ir embora. Todos os alunos olhavam para mim, como se eu fosse um bicho estranho. De certo modo, eu era sim, mas eles não sabiam disso. Antes de passar pelas portas do colégio, senti um frio na espinha. Olhei pra trás e procurei o homem que infernizava e invadia meus sonhos, certa de que ele estava por ali.
- ? - Seth me chamou, preocupado. - Relaxa, estamos aqui.
- Eu sei - respondi, ainda olhando em volta. Me virei e segui os meninos pra dentro do prédio. Eles me acompanharam até uma sala com a placa "Secretaria" em letras garrafais pendurada na porta. Paul, que nos encontrou na frente da escada, apenas seguiu reto, sem nem olhar pra trás. Eu já estava acostumada com esse tratamento dele, como se eu não existisse.
- Aaah, o segundo ano... - disse Seth, suspirando feliz.
- Bom, maninha, vamos ter que te deixar aqui. - falou Quil, não prestando muita atenção em mim, mas sim nas líderes de torcida que passavam por eles e davam risadinhas. - Nos vemos mais tarde!
- Espera, vocês vão me deixar sozinha? – respondi meio desesperada. Mas os dois já foram se misturar com as meninas, nos deixando para trás.
- Relaxa, eu te espero aqui. - disse Embry, sorrindo e ajeitando a mochila.
Respirei fundo e entrei na sala, indo até um balcão onde havia duas moças de roupas beges e simples, pareciam simpáticas.
Uma delas me deu um papel com o horário das minhas aulas, me falou as regras da escola e me entregou um mapa explicando onde ficava tudo. A outra moça me deu a senha e o número do meu armário e me dispensou.
Quando me virei, Embry estava sentado em um dos bancos da sala e levantou um papelzinho azul. Quando cheguei perto, eu vi que era uma advertência.
- Me advertiram por estar fora da sala em horário de aula. - ele falou, dando um sorriso torto. - Vou ter que esperar o diretor.
- Mas você explicou que estava me esperando? - falei, chocada.
- Falei , mas... Bom, eu tenho certa fama por aqui - ele respondeu, rindo. Virei os olhos com a gracinha dele.  - Foi mal, mas você consegue ir sozinha pra primeira aula? Prometo que te encontro na porta da sua sala no segundo tempo, qual é a primeira aula?
- Biologia... - murmurei desanimada, olhando o papel.
- Desculpa mana - ele falou de novo, dando um dos seus sorrisos encantadores. Não resisti e sorri de volta, lhe dando um beijo na bochecha antes de sair da sala.
Fui até meu armário com ajuda do mapa e coloquei meus livros dentro. Prendi na parte de dentro do armário uma foto minha com Seth, Quil e Embry, me lembrando de tirar outra com o resto da matilha assim que possível pra decorar meu novo armário, além de deixar como fundo de tela do meu novo celular. Novo celular, novo armário, nova vida, novas memórias. Eu tinha que me acostumar com isso.
- Oi, gatinha! Como vai? - olhei pro lado e um loiro com uma daquelas blusas do time da escola da cor azul sorria pra mim, encostado no armário ao lado do meu.
- Oi. - respondi seca.
- Já vi que a gatinha morde - ele falou, mordendo o lábio inferior. - Meu nome é Christopher, mas pode me chamar de Chris, e você?
- Você não devia estar na sua aula? - retruquei, batendo o armário com força.
- Devia, mas fiquei sabendo que tinha uma gatinha linda andando sozinha pela escola, não pude deixar de conferir e olha... Que gatinha mais deliciosa essa, hein?
- Para de me chamar de gatinha ou vai se arrepender - respondi ríspida, dando as costas e caminhando até minha aula, me guiando pelo mapa.
- Vai mesmo me dar as costas? - ele falou, acelerando o passo até ficar do meu lado.
Não respondi e continuei andando, pensando que se eu ignora-lo, ele iria embora. Me enganei, pois o garoto entrou na minha frente e me segurou com força pelos braços, me fazendo soltar o livro e o caderno da minha aula.
- Onde você pensa que vai? - falou ríspido, me apertando mais forte.
- Me solta, seu idiota! - tentei me soltar, mas com cuidado para não machuca-lo apesar da vontade. Como iria explicar uma garota como eu com uma força extrema?
- Pra que tanta pressa? Não vou deixar você ir embora sem me dar um beijinho! - falou Christopher, aproximando a boca dele da minha.
- Me solta! - eu gritava, enquanto virava a cara para que ele não acertasse o beijo.
- Solta ela agora, Christopher - uma voz grossa ecoou pelo corredor, e eu a reconheci na hora.  Christopher soltou apenas um braço meu e se afastou um pouco.
Olhei para Jacob, sentindo um alívio e uma euforia instantânea. Ele vestia uma camiseta preta gola V que ficava justa em seu corpo, uma calça preta e um allstar branco e gasto. Ele estava lindo como sempre. Fiquei tão hipnotizada que nem reparei quando Christopher me soltou por completo e se aproximou do garoto recém-chegado.
- O que você quer aqui? - perguntou Christopher. - Sai daqui, seu otário.
- Eu quero que você deixe a em paz. - Jake falou com voz controlada, mas cruzando os braços na frente do peito.
- Jacob, deixa quieto, vamos - falei, indo pro seu lado e puxando o braço do garoto que não moveu um centímetro. Eu poderia ter a força de loba, mas Jacob Black era 10 vezes mais forte.
- Pelo que eu saiba, ela não tem dono, então eu posso brincar a vontade - Christopher começou a caminhar em minha direção e eu estava preparada pra fugir, mas Jake foi incrivelmente mais rápido que eu e se jogou em cima de Christopher, dando um soco em seu rosto e segurando ele com força no chão.
- Jacob, para! - falei, tentando tirar ele de cima do mauricinho caído no chão. Pude senti-lo tremer em minhas mãos e surgiu um desespero de que ele fosse se transformar ali, no meio do corredor.
- Vá pra sua sala! - ele exclamou pra mim. Continuei parada, pensando no que fazer: correr ou ajudar ele? Christopher se debatia no chão como um peixe fora d'água e Jacob segurava seu pescoço, parecia prestes a mata - lo. Embry chegou correndo, tentando separar a briga.
- Vai pra sua sala, , eu dou um jeito - ele falou, mas eu não queria ir.
- Vai logo! - Jake exclamou, entre os dentes. Relutante, peguei minhas coisas desajeitadamente e corri em direção à sala.


Capítulo 7

Cheguei à sala ofegante. Bati três vezes na porta enquanto recuperava o fôlego e em segundos uma mulher baixa, loira e óculos caídos no rosto abriu a porta com um sorriso.
- Ah, você deve ser a , a aluna nova. Você estava na secretaria, certo? - apenas assenti já sentindo o olhar de todos em mim. Entreguei um papel que o diretor pediu que entregasse para os professores assinarem e caminhei com ela até o meio da sala, parando na frente de todos. Pude ver que Paul estava ali. Ele me encarou e desviou os olhos. Achei que ele estava só sendo desagradável e me ignorando, mas acompanhei seu olhar até a cadeira vaga do lado dele.
- Seja bem - vinda, querida. - a professora murmurou me devolvendo o papel. Agradeci e fui para o fundo da sala, me sentando ao lado de Paul.
A professora retomou a aula sobre mamíferos, enquanto eu tentava acalmar meu coração que batia muito forte. Eu lançava olhares pra Paul, querendo poder contar o que acontecera. Ele me olhou e fez um gesto como se perguntasse o que tinha acontecido.
Depois de longos minutos, eu o olhei de novo e ele sibilou "Tá tudo bem?". Consegui ler seus lábios e respondi negando com a cabeça.
Ele passou a me observar, preocupado. Então ele pegou o celular e digitou, logo senti o meu vibrar. Peguei discretamente o celular, tomando cuidado pra professora não ver.
 "O que aconteceu? Ouvi vocês lá fora. " ele mandou.
"Um cara me assediou no corredor, Jake apareceu, surto e atacou ele. Embry foi ajudar a acalmar ele mas os dois me mandaram sair de lá."
Ele me olhou, assustado. Eu olhei pra frente e fingir anotar algo sobre a aula.
 "Atacou?? Ele se transformou? Porque você entrou na sala?" ele mandou, seguido de vários emojis com cara de raiva. Ele tem toda a razão, eu não deveria ter entrado, deveria ter ficado pra ajudar. Fui uma covarde.
 "Ele não se transformou... pelo menos não enquanto eu estava lá." respondi. Depois de alguns segundos que julguei que ele estava lendo a mensagem, ele levantou a mão e disse:
- Professora, estou me sentindo meio mal, posso ir à enfermaria?
- Claro, Paul, precisa de acompanhante? - ela perguntou com sua voz angelical. Esperei que ele falasse que sim para eu poder ir com ele, mas Paul apenas me olhou com cara de debochado antes de falar "não" e sair da sala.
Bufei, frustrada e agoniada por não saber o que estava acontecendo. Era inútil mandar mensagem pro Jacob, seria surpreendente se ele tivesse ao menos trazido o celular pra escola. Então mandei mensagem pro Paul, que parou de me responder depois de sair da sala. Tentei Embry, Quil e Seth, nenhuma resposta.
Quando o sinal tocou, sai correndo pra fora da sala e dei um encontrão em Jacob, que me segurou firme pra não cair pra trás.
- Meu Deus, Jake, o que foi aquilo? - falei, abraçando sua cintura com força. Ele me abraçou de volta, apoiando a cabeça em cima da minha e pareceu relaxar o corpo. Me separei dele para olha-lo por inteiro, procurando algum machucado ou algum roxo. Soltei o ar, aliviada por ver que ele estava bem.
- Vamos, não quer se atrasar pra mais uma aula - ele falou, segurando minha mão com firmeza. Se não fosse pela minha inabitual força, eu reclamaria. Ele ainda estava tenso, mas parecia não querer tocar no assunto.
- Jacob, o que você fez com ele? - questionei, e vi seu maxilar ficar tenso.
- Seus dois próximos tempos são história, né? - ele perguntou e eu apenas assenti com a cabeça - Seu horário é o mesmo que o meu, Embry vai nos encontrar lá. Paul e os meninos já foram pras salas deles e...
- Não foi isso que eu te perguntei, Jake - eu disse, parando de andar e ficando de frente pra ele e cruzando os braços. Ele suspirou, vendo que eu não ia desistir.
- Não vai nem dizer que sentiu minha falta? - ele falou, tentando descontrair.
- Ainda estou brava com você por causa disso, mas esse não é o assunto agora, Jake. Você... - olhei em volta para ver se era seguro falar. – Você se transformou?
- Na escola?  Tá maluca!? - ele falou rindo, voltando a andar e segurando de novo a minha mão.
- Do jeito que você se jogou em cima dele e deu aquele soco... Última vez que te vi assim foi quando fomos atacados. - falei, sussurrando a última parte.
- Relaxa, eu não fiz nada de mais, apenas dei um susto. Agora ele vai pensar duas vezes antes de mexer com você... - disse Jacob, ficando sério de repente.
Chegamos à sala e Jacob foi para o fundo guardando um lugar pra mim ao seu lado. Embry estava na outra fileira, fazendo com que eu ficasse no meio dos dois. Parei na mesa do professor e ele assinou o papel sem nenhum ânimo, me desejou boas vindas e eu me encaminhei pro meu lugar. Se dependesse dos meninos, eu só sentaria no fundo da sala em todas as aulas.
- Formem duplas para assistir ao filme e escrevam considerações sobre ele. - disse o professor com desanimo, e em um segundo Jacob estava colado em mim. Embry se juntou com uma loira e pareceu se esquecer da nossa existência.
O filme era sobre alguma guerra envolvendo a França que eu lembro já ter assistido antes e tentei puxar na memória onde eu tinha visto, mas parecia mais com um dejavu do que com uma memória.  Mais ninguém parecia estar prestando atenção depois que apagaram as luzes. O professor não aguentou e acabou caindo no sono, assim como muitos alunos. Olhei para Embry e fiquei chocada ao ver que ele e a tal loira estavam se beijando indiscretamente, mas ninguém parecia ligar. Eu abaixei a cabeça e a deitei nos meus braços, observando Jacob que parecia ser o único prestando atenção e fazendo anotações.
- Eu já vi esse filme - sussurrei pra Jake, tirando a atenção dele. - Depois eu faço as considerações.
- Você se lembra? - ele perguntou baixinho, encostando sua cabeça nos braços assim como eu fiz.
- Me lembro de frequentar a escola por um tempo... - falei, tendo alguns flashbacks meus em corredores e aulas, andando com amigos e almoçando em grupo. Eu tinha amigos, e meu coração doeu em pensar neles.
Concordei com a cabeça, chegando mais perto dele. Jacob descruzou os braços só pra passar um deles pelos meus ombros, ainda apoiando a cabeça no outro e chegando mais perto. Nossos rostos ficaram quase colados, eu conseguia sentir a respiração dele chegando em mim. Ele começou a fazer carinho no meu cabelo com a mão que estava no meu ombro, me deixando sonolenta.
- Obrigada por me salvar de novo - sussurrei.
- Eu sempre vou te salvar - ele respondeu, também sussurrando. – Ele te machucou.
- Não. – respondi, sentindo meus olhos pesados. - Me prometa que você nunca irá se machucar? Eu jamais me perdoaria caso algo acontecesse com você.
- Prometo - ele disse, chegando mais perto. O nariz dele roçava no meu, me dando arrepios.
- Ainda estou brava com você por não ter vindo me ver por tanto tempo - falei, fechando os olhos, me deliciando com o carinho que ele fazia.
- Eu vou te compensar - ele disse, beijando a ponta do meu nariz, e essa foi a última coisa que eu ouvi antes de cair no sono.
  Jacob me acordou segundos antes de o professor acender as luzes. Por sorte eu não tive nenhum sonho ou pesadelo que me fizesse acordar gritando e acho que isso se deve ao fato de Jacob estar ali, me abraçando.
O professor nos mandou fazer uma redação com a nossa dupla de 1.000 palavras sobre o filme. Seria um prazer fazer o trabalho com a minha dupla. Embry saiu abraçado com a loira que Jacob me contou ser uma “ficante” meio fixa de Embry, mas que ele não tivera nenhum imprinting com ela. Ele gostava muito dela, mas não queria namorar sério porque não quer magoa-la quando ele tiver o imprinting com outra pessoa. Isso me fez lembrar do que acontecera com Bella e Jacob e como devia ser triste saber que aquela pessoa que você gosta tanto não poderá ser sua.
Chegando à mesa do refeitório, Paul e Seth eram os únicos que já estavam lá; Paul estava de cara fechada como sempre. Nos sentamos na mesa redonda depois de pegarmos algumas coisas pra comer e reparei que Jacob o olhou bravo, dando um cutucão nele por baixo da mesa.
- , foi mal por te deixar sozinha na sala - ele murmurou meio a contra gosto.
- Sem problemas, o importante é vocês estarem bem - disse sorrindo, pois era a pura verdade. Ele abriu um sorriso meio relutante, mas logo o fechou.
Olhei pelo refeitório enquanto dava garfadas no purê de batatas que eles serviram hoje e meus olhos se cruzaram com os de Christopher. Ele desviou os olhos que eu percebi estarem roxos. Os dois. Logo Embry e Quil chegaram à mesa com a bandeja quase transbordando de comida.
- Vocês deixaram o menino com dois olhos roxos? – perguntei incrédula.
- Vocês vírgula, isso foi Jake e Paul. - disse Embry, sorrindo. – Eu e os meninos apenas separamos a briga.
- Paul? Você fez isso por mim? Meu Deus, pensei que você me odiasse...
- Não é pra tanto - ele respondeu, virando os olhos. - E você é nossa irmã agora, tenho que te defender. - concluiu fingindo indiferença. Me levantei e fui até ele, o abraçando por trás.
- Obrigada, mesmo - falei, apertando mais o abraço enquanto os meninos nos provocavam falando "awn" e "que fofo!".
- Tá, tá, não abusa - ele falou, tentando conter um sorriso.
- Olha, eu tenho certeza de que não foram só os olhos que ficaram roxos! - disse Quil, nos fazendo cair na risada.
Jacob teve as mesmas aulas que eu nos três últimos tempos. Quando estávamos saindo do colégio, eu o questionei se era coincidência ou se ele havia mudado o horário pro mesmo que o meu. Ele apenas piscou com um olho e sorriu, sem responder.
Emily veio buscar os meninos, mas eu fui com Jacob em sua picape Ford antiga mas funcional que ele mesmo montou. Mas ele só me deixou no Sam e teve que ir pra casa ver seu pai, tendo uma ótima desculpa pra adiarmos nossa conversa.
E o resto do dia foi tranquilo, com os meninos jogando videogame ao invés de fazer o dever de casa e eu e Embry fazendo nosso dever para não acumular, nenhum de nós tocamos no assunto sobre o que aconteceu no colégio, mas eu sabia que seria por pouco tempo pois nenhum deles conseguia guardar um segredo de Sam.


Capítulo 8

O dia seguinte foi o mais quente em meses. Para ir para o colégio eu vesti uma regata azul clara, um short preto, All star da mesma cor e rabo de cavalo alto pra aguentar o calor.
Quando sai do quarto pra tomar café da manhã, me surpreendi com Jacob sentado na mesa com Sam e Emily, que me saudaram com um bom dia caloroso. Observei Jake me olhar chocado, de cima a baixo, me deixando vermelha de vergonha.
— Uau - Jacob falou quando me sentei ao seu lado. — Você está... Você está muito...
— Toma Jake - falou Sam, entregando um guardanapo para o moreno ao meu lado, fazendo eu e Emily rir. — Limpa essa baba toda.
— Obrigada, Jake, agora para de olhar, está me deixando com vergonha - falei, sorrindo. Ele se inclinou e me deu um beijo na bochecha, sussurrando "você está linda" no meu ouvido, fazendo meu corpo todo se arrepiar.
Tomamos o café enquanto contávamos a Sam sobre o dia de ontem, deixando de lado a parte em que os meninos deram um jeitinho naquele assediador. Dessa vez, fui com Jacob em seu carro e Emily saiu pra buscar os meninos. Percebi que essa provavelmente seria a rotina de agora em diante, e isso era reconfortante. Mas então percebi que Jake não estava fazendo o caminho ao colégio — ele estava fazendo o caminho oposto.
— Jake... Eu acho que o colégio é pro outro lado, não? - questionei, olhando pela janela.
— Você está certa, mas o que acha de termos nosso primeiro encontro? - ele perguntou sorridente. — Uma oportunidade de finalmente termos um momento só pra nós dois.
— Jacob, por mais que eu até goste da ideia... - ele revirou os olhos ao ouvir o "até goste". — Eu não posso faltar no segundo dia de aula!
— Deixei Embry e Paul encarregados de prestarem atenção e pegar as matérias pra gente - ele disse, dando uma piscadela. Ótimo, nosso futuro acadêmico dependia dos dois. Bufei, derrotada.
— E aonde vamos? - perguntei, aceitando que não tinha fundamento discutir com Jacob Black.
— Vamos a um dos pontos turísticos mais famosos de La Push... - ele respondeu, fazendo suspense.
— Que seria...? - instiguei depois de ver que ele não ia completar a frase.
— A Second Beach, a praia mais bonita da região – respondeu sorridente.
— Jake, eu não tenho nenhum biquíni aqui comigo! - protestei, olhando minha roupa que eu definitivamente não queria molhar.
— Pedi pra Emily pegar um nas suas coisas – ele falou, ainda sorrindo e parecendo convencido.
— Espera... Ela sabe disso? - perguntei, chocada.
— Querida, a ideia da praia foi dela. E outra, eu não ia sumir com você sem avisar seus responsáveis - ele respondeu, divertindo-se com meu choque.
— Sam também sabe? - perguntei, ficando cada vez mais chocada. Ele apenas assentiu com a cabeça. — Não acredito, você é realmente muito persuasivo.
— Obrigada - ele respondeu, recebendo aquilo como um elogio.
Jake ligou o rádio em uma música calma e praiana, nos fazendo entrar no ritmo. Cada vez mais eu gostava da ideia desse encontro. Eu sorria toda vez que olhava para Jacob e o via cantarolando a música do rádio, sempre sorridente.
Quando chegamos à praia, fiquei sem fôlego com a beleza dela. Havia rochas altas onde as ondas se quebravam, galhos e troncos secos, parecendo esqueletos. Ventava um pouco, ficando em perfeito equilíbrio com o calor. Ela estava quase deserta, tirando dois surfistas distantes aproveitando as ondas altas.
— Caramba, Jake... Aqui é realmente lindo - falei, suspirando. Ele apenas sorriu em resposta.
Ele tirou uma sacola de pano de trás da caminhonete e uma cesta de piquenique de palha com um pano dobrado em cima. Ele remexeu na bolsa e tirou uma sacola de pano com um maiô azul marinho e uma canga branca de dentro.
— Onde você quer que eu me troque? - perguntei, colocando a mão na cintura.
Ele apenas desviou os olhos e apontou pra uma casinha de madeira que tinha há alguns metros. Eu entrei e ele ficou do lado de fora, ainda cantarolando a música que estávamos ouvindo no carro. Quando sai, observei seu queixo cair e ele ficou com a mesma cara de bobo que ele estava no café da manhã.
— Acho que nunca vou deixar de me surpreender com a sua beleza - ele disse, abraçando minha cintura com o braço livre e depositando um beijo no meu pescoço.
Minhas pernas ficaram bambas na mesma hora, e me demorei de propósito enquanto guardava as coisas na bolsa de pano para poder me acalmar. Ele então entrelaçou nossas mãos e começamos a caminhar pela areia da praia. Fechei os olhos enquanto ele me guiava, sentindo a brisa batendo no rosto e bagunçando meu cabelo agora solto. De repente o senti diminuir os passos até parar totalmente, me puxando de volta quando acabei dando dois passos pra frente.
— Vamos parar aqui para o piquenique - ele disse, esticando a toalha.
Eu o ajudei com a cesta, tirando algumas coisas de dentro. Tinha sanduíches, frutas, biscoitos e água de coco. Ele tinha feito o serviço completo.
— Confessa: foi Emily quem preparou, né? - eu perguntei, pegando um morango.
— Acha que não sou capaz? - ele respondeu, fingindo estar ofendido. Eu só consegui rir da cara dele. — Eu fiz os sanduíches e quebrei o coco pra tirar a água - ele confessou, dando uma piscadela.
— Uau, eu estou realmente impressionada! – falei com sinceridade. - Obrigada, Jake, está perfeito.
Recebi um sorriso em resposta, enquanto ele comia um cacho de uvas e olhava as ondas quebrarem. Também comecei a observar o mar, fechando os olhos e aproveitando o barulho das ondas, o único som que se fazia no momento.
— Desculpa pelo tempo que eu sumi - ele falou de repente, me fazendo abrir os olhos e olhar pra ele. Ele me olhava com certa dificuldade, os olhos quase fechados por causa da luz do Sol.
— Eu senti sua falta todos os segundos que passei em Forks - ele completou, chegando mais perto.
Percebi que ele queria me beijar, então peguei um morango e enfiei na minha boca, o fazendo rir. Não era momento pra beijo, apesar de algo dentro de mim gritar de vontade de beijá-lo. Precisávamos ter aquela conversa, e um beijo com certeza não facilitaria as coisas.
— Eu admito que também senti sua falta - confessei, fazendo-o sorrir largo. Revirei os olhos, sem conter o sorriso.
— Eu já sabia! - ele falou rindo e tomando um gole do suco.
— Você é muito convencido - falei.
— Eu sei - ele respondeu, dando de ombro.
— Quando você volta para Forks? - perguntei, sem querer realmente ouvir a resposta.
— Não tão cedo. Sam e Billy não querem que eu perca as aulas - ele respondeu e logo começou a rir quando levantei uma sobrancelha. – Um dia não tem problema, mas se eu voltar para Forks eu perderia muitos dias de aula, entendeu?
— Entendi. Mas então você vai deixar a Bella desprotegida? - falei, tentando não demonstrar o leve incômodo que eu sentia com a situação.
— Victoria e o tal lobo deram uma trégua e Edward vai ficar mais em casa, ela não precisa tanto assim de mim - ele falou dando de ombros e terminando seu cacho de uva. Roubei a última uva e o vi abrir a boca, fingindo estar chocado.
— Talvez eu possa ir com você pra Forks da próxima vez - falei, dando um gole no suco. Jacob me olhou como se eu fosse louca e eu apenas dei de ombros.
— O quê? Eu estava querendo mesmo ver Alice e Bella, conhecer um lugar novo... - falei, vendo-o suspirar de frustração, me deixando irritada. - Olha, vocês tem que parar de me tratar como se eu fosse de porcelana. Caramba, sou uma loba como vocês! Eu sei me defender sozinha!
— Eu sei , não duvido da sua capacidade! Mas se colocarmos vocês duas juntas, fica muito mais fácil de eles pegarem vocês. Mantendo cada uma em uma cidade, eles ficam mais vulneráveis. Faz sentido?
— Faz sim... – respondi pensativa.
— Agora vamos, por favor, mudar de assunto e aproveitar esse dia lindo que temos só pra gente? – ele falou, fazendo biquinho com a boca. Eu não resisti e sorri, concordando.
Ficamos mais um tempo conversando e comendo. Depois de algumas horas, fomos andar um pouco na beira do mar, o que acabou virando uma guerra de água, resultando em eu levando um tombo feio e Jake morrendo de rir da minha cara antes de me ajudar a levantar. Aproveitamos que o mar tinha acalmado e decidimos ficar nadando um pouco, mesmo que a água estivesse um pouco fria demais. Era incrível como Jacob fazia eu me sentir mais leve, mais calma. Os problemas pareciam sumir quando eu ficava ao seu lado, ao mesmo tempo que eu sentia que ele era a solução para todos eles. Eu não me sentia incompleta quando estava com ele, e essa era uma sensação maravilhosa..
Jacob e eu ficamos nos encarando por um tempo, mexendo lentamente os braços e pernas para ficarmos no mesmo lugar. Ele foi se aproximando aos poucos, com metade do rosto na água e a outra metade pra fora, sem quebrar o contato visual. Permiti que ele me abraçasse embaixo da água, passando seus braços pela minha cintura e afundando seu rosto no meu pescoço. Eu passei meus braços pelos seus ombros e enrosquei meus dedos no seu cabelo, fechando os olhos e aproveitando aquela sensação boa e o calor que emanava do corpo dele. Ele se afastou e me olhou da forma como ele sempre me olhava - com carinho e desejo.
— Você é lindo – falei, vendo-o abrir um sorriso enorme.
— Eu sei - ele respondeu, me fazendo virar os olhos.
— Meu Deus, convencido! - brinquei, fazendo-o rir.
Eu fiquei contornando o rosto dele com os dedos quando paramos de rir. Ele fechou os olhos, mas continuou sorrindo, dessa vez era ele quem se deliciava com meu toque. Olhei para ele e meu Deus, como alguém conseguia ser tão bonito?
As borboletas no meu estômago davam piruetas, o arrepio toda vez que a gente se tocava estava ali presente e eu sabia que não era o frio. Eu me aproximei mais, segurando seu rosto com as duas mãos para que ele não se movesse. Ele não sorria mais, mas continuava com os olhos fechados e a boca entreaberta.
Então finalmente juntei nossos lábios, fazendo meu corpo entrar em êxtase. Foi como se o tempo parasse e uma avalanche de sentimentos invadisse meu corpo. Todas as lembranças vieram de uma vez, sem pedir licença, fazendo minha cabeça girar. Meu passado, meus pais, Tate... E todos os meus momentos com Jacob passaram pela minha mente, momentos que nem mesmo tínhamos vividos ainda, como se fosse nosso futuro. Eu finalmente recuperei minhas lembranças. E finalmente tive meu imprinting com Jacob Black.


Capítulo 9

Me afastei o suficiente para recuperar o fôlego, sem acreditar no que tinha acabado de acontecer. Minhas memórias estavam ali, como se nunca tivessem fugido sem permissão da minha cabeça. Minha vida com meus pais; minha vida com os poucos amigos que eu tinha... Minha vida com Tate. As torturas, os trabalhos que ele me fazia fazer, como se eu fosse sua escrava. Ele me privou de ver meus amigos, me privou de ir ao colégio. Tate decidiu que eu seria apenas dele, como um troféu pelo que ele tinha feito com meus pais. Tudo estava ali, os momentos bons e ruins.
E então, tinha o imprinting, o sentimento mais estranho e perfeito e desesperador que eu já havia sentido. Era como se, com um "click", tudo começou a fazer sentido. Eu estar ali, com Jacob Black, fazia todo o sentido. Eu querer beijá-lo de novo, querer passar o resto da minha vida com ele; fazia todo o sentido do mundo! Eu o amava, e eu tinha certeza disso, pois isso era o imprinting, era ter certeza de tudo. E Jake era tudo, ele era minha vida agora, ele sou eu e por mais estranho que isso parecesse, para mim fazia todo o sentido. Por um segundo, senti pena por ele ter sentido tudo isso sozinho por tanto tempo. Eu tenho a certeza, ele não teve durante todos esses meses.
Jacob parecia radiante, mas logo me olhou preocupado, provavelmente pela expressão assustada em meu rosto.
— O que houve? O beijo foi tão ruim assim? - perguntou, confuso.
— N-Não, óbvio que não... Jake, eu lembrei de tudo. E-eu finalmente tive o imprinting. - respondi, passando a mão pelos cabelos molhados.
Eu ainda podia sentir meu corpo todo formigando, como se tivesse levado um choque e a corrente elétrica ainda passasse pelo meu corpo.
— É sério? - ele exclamou eufórico. Eu assenti e ele começou a pular na água e berrar de felicidade.
Eu estava igualmente feliz, mas não pude evitar ficar mal pelas lembranças que tive. Comecei a sair da água, deixando para trás um Jake que ainda comemorava, e fui em direção à nossa toalha. Jacob veio atrás, me alcançando rápido.
, espera! - ele exclamou, me parando no meio do caminho e vendo minhas lágrimas rolarem soltas pelo rosto já molhado. —  Por quê você está chorando? Isso é uma coisa boa, não é? Você está esperando por isso há meses!
— Eu sei, Jake, mas... Não fui eu que matei meus pais, foi Tate! Aquele filho da pu... - respondi.
— Espera, quem é Tate? - Jacob perguntou confuso, se sentando ao meu lado.
— O tal lobo que está me perseguindo, ele se chama Tate. Ele fazia coisas horríveis comigo, Jake, ele é um monstro! - falei, deixando o choro vir com força. Jacob me abraçou forte e ficou repetindo que ia ficar tudo bem, que íamos pegar ele logo e isso ia acabar.
— Jake, eu quero matar ele. Quero pegá-lo com minhas próprias mãos, eu juro que nunca senti tanto ódio por alguém como estou sentindo agora. - falei, tremendo de raiva ou frio, sinceramente não soube distinguir.
— Você não está sozinha nessa, o.k.? Faremos isso juntos. Por favor, , não tente fazer nenhuma besteira. Promete? - ele disse, estendendo o dedo mindinho pra mim.
Achei graça do gesto infantil contrastando com o rosto sério, e não pude evitar dar uma risada. Entrelacei nossos dedos e disse"prometo", tentando ser o mais sincera possível.
— Agora, onde estávamos mesmo? - ele perguntou, fingindo estar tentando lembrar de algo.
Ele sorriu enquanto me puxava pela cintura e começou a beijar meu pescoço, traçando um caminho até a minha boca. O imprinting estava ali, em cada detalhe do momento, com toda a sua força. O beijo de Jacob era coisa mais perfeita do mundo, sua boca parecia ter sido feita detalhadamente e especialmente pra mim, sobre medida.
Ele intensificou o beijo quando puxei de leve seus cabelos, e me faz deitar na areia. Ele deitou por cima, sem depositar seu peso em mim, e voltou a beijar meu pescoço. Eu não conseguia parar de sorrir, tentando deixar todas as preocupações e medos de lado.
— Eu podia ficar te beijando o dia inteiro - ele falou, entre um beijo e outro.
— Então fica, por favor - respondi, fazendo-o sorrir. Meu Deus, eu amava fazê-lo sorrir.
— Eu adoraria, mas prometi pra Sam que te levaria de volta às seis da tarde e agora são... - ele fez uma pausa para olhar seu relógio de pulso. — Droga, são sete horas.
Eu o olhei espantada enquanto nós dois voltávamos a nos sentar. Olhei para o céu e ele realmente estava escurecendo, como todo fim de tarde. E tinha começado a esfriar. Por sorte nós aguentamos bem o frio, mas Jacob se preveniu e trouxe dois de seus moletons fechados para a gente se vestir. Peguei meu celular na bolsa de pano e soltei um palavrão quando vi 20 ligações perdidas de Sam e Emily, mais uma avalanche de mensagens dos meninos perguntando onde estávamos.
— O quê foi? - Jake perguntou distraído, e eu apenas lhe entreguei o celular. - Merda. Foi mal, eu perdi a noção do tempo.
— Relaxa, estamos juntos nessa, querido - falei sorrindo enquanto ele dava a partida.
Sam nos esperava do lado de fora de sua casa quando chegamos, acompanhado por Emily, Quil, Seth, Paul e Embry, os dois últimos parecendo tão furiosos quanto o alfa.
— Você enlouqueceu, Black? - ele gritou assim que saltamos do carro. — Você disse seis horas! São sete e meia, já está quase escuro!
— Você são dois irresponsáveis - disse Paul, cruzando os braços. – E se acontecesse alguma coisa com vocês? Ou pior, com a ?
Tentei não sorrir largo com a reação de Paul. O coração de gelo dele estava tão derretido quanto o mar que estávamos nadando há alguns minutos atrás.
, devolve o celular já que você não usa ele! - exclamou Embry, eu apenas fiz uma careta pra provoca-lo.
Jacob revirou os olhos, esperando todos falarem o que quisessem antes de responder:
— Galera, nós estamos bem. Aliás, mais do que bem. - ele falou, sorrindo pra mim enquanto segurava minha mão. — recuperou as memórias. Ela finalmente teve o imprinting!
Todos nos olharam chocados, sem falar nada por longos segundos.
— Então... Você se lembrou de tudo? - perguntou Emily, a única que parecia não estar tão brava com a gente, mas ainda parecia preocupada.
— Sim... De tudo. - respondi. No mesmo momento, todos começaram a comemorar, esquecendo totalmente o motivo de estarem bravos com nós dois.
Emily veio me dar o seu já conhecido abraço maternal. Os meninos foram mexer com Jacob, provocando-o como sempre. Embry me abraçou forte, até me levantar do chão. Os outros meninos também; até mesmo, Paul que agora parecia gostar mais de mim. Toda essa energia era muito boa e agora eu sabia que fazia tempo que não me sentia tão feliz assim. A raiva e tristeza não tinham espaço nesse momento.
Entramos em casa e os meninos deram a ideia de pedir pizza. Seth correu para o telefone antes mesmo de Sam autorizar a compra. Uley me prometeu não tocar no assunto das lembranças agora e eu o agradeci por isso, pois não queria estragar o clima da noite. Depois da janta, todos foram embora, exceto Jacob que decidiu me esperar para tomar banho e aproveitou pra tomar um também. Ele pediu pra Sam se eu podia dormir na casa dele essa noite e com certa relutância, o alfa deixou. Durante o jantar, ele deu todo um sermão sobre o atraso, falando o quão perigoso era para nós dois ficarmos sozinhos por muito tempo, longe dos olhos dele. Nós pedimos várias desculpas, mas não estávamos tão arrependidos assim. Jake não tirava o sorriso do rosto, e era uma delícia vê-lo tão radiante.
Antes de ir embora, eu fui falar com Sam que lavava a louça sozinho na cozinha.
— Sam, eu sei que combinamos de falar sobre as lembranças amanhã, mas tem uma coisa importante que talvez seja bom antecipar, eu acho. - falei, e o vi secar as mãos em um pano de prato ao se virar na minha direção.
— Pode falar.
— O nome dele é Tate Miller. - falei. Sam levantou as sobrancelhas, surpreso.
— O cara que te atacou? – ele perguntou e eu assenti. – Se lembra de mais alguma coisa dele?
— Eu lembrei de tudo, Sam... – falei, estremecendo com as lembranças que não saiam da minha mente. — Ele era um amigo dos meus pais. Nós não tínhamos uma matilha, mas Tate era o mais próximo disso. Ele vivia na nossa casa, nós nunca…
Eu parei, pensando na cena dos meus pais mortos na sala de estar daquela casa horrorosa de Tate. Pisquei algumas vezes para as lágrimas não caírem e senti Sam apertar minha mão, me encorajando a continuar.
—  Nós nunca imaginamos que ele fosse uma má pessoa. Até que ele começou a mudar o comportamento dele alguns meses antes de ele... De ele matar meus pais. – continuei, ignorando o nó que se formou na minha garganta.
“Quando me transformei com dezesseis anos, Tate não saia da nossa casa e ficava muito grudado em mim. Ele se voluntariou para ajudar meu pai no meu treinamento, começou a me buscar na escola todos os dias e me levava para sair, pagava almoços, me dava presentes... Nós nunca questionamos de onde ele tirava todo aquele dinheiro, até ele começar a falar sobre usar nossa transformação para assaltar casas de pessoas muito ricas. O plano dele envolvia matar essas pessoas e pegar tudo o que eles tinham.
“Meus pais obviamente surtaram quando souberam que ele já tinha feito isso antes e que era assim que ele conseguia o dinheiro. Os dois expulsaram Tate de casa e pediram para que ele nunca mais chegasse perto da gente, e ele realmente respeitou o pedido e durante algumas semanas não tivemos nenhuma notícia dele, mas ouvimos sobre um novo serial killer que tinha como foco assassinar pessoas ricas para roubar tudo o que tinham.
“Meu pai se sentiu responsável por isso, pois Tate era como um irmão para ele. Então ele fez a burrice de ir atrás de Tate, na casa dele, e foi aí que tudo aconteceu.”
Quando finalizei, percebi que Jake se aproximou do balcão da cozinha, e prestava atenção na conversa. Meu rosto estava úmido por causa das lágrimas que caíram sem minha permissão.
— Eu sinto muito, – Jake falou, contornando o balcão e me abraçando forte.
— Isso é realmente útil, , obrigada por compartilhar. Saber mais detalhes sobre Tate vai nos ajudar e encontrá-lo. Eu vou falar com Dr. Cullen o mais rápido possível. - ele falou, sério. Depois sorriu leve pra mim e me abraçou tão forte quanto Jacob. — Não se preocupe, vamos cuidar de você, está bem?
Eu apenas assenti, retribuindo o abraço. Durante todas essas semanas, Sam se tornou o melhor amigo que eu poderia ter, mas eu podia sentir a energia paternal que vinha dele, e esse era o tipo de amor que eu tinha por Sam e por Emily. Eles eram os pais que eu perdi, eram as pessoas para quem eu entregaria todo aquele amor que sinto por meus pais e que não posso mais entregar à eles.
Eu daria minha vida por eles, como sempre achei que deveria ter dado por meus pais.
— Juízo vocês dois e cuidado! - falou Emily quando estávamos saindo de casa. Nós acenamos aos dois e partimos.
Mesmo a casa de Jacob sendo na mesma rua, decidimos ir de carro por segurança, já que tínhamos abusado um pouco da sorte hoje. Billy Black não estava em casa, ele ia passar alguns dias em Forks com o pai da Bella. Jacob me olhou receoso, mordendo o lábio inferior.
— Você está bem? Teve um dia e tanto... – ele perguntou. Suspirei alto, virando o rosto pra ele e sorrindo com sinceridade.
— Estou sim, por incrível que pareça... – respondi, esticando a mão para segurar a dele. Ele sorriu, sem tirar os olhos da rua, e levou minha mão até seus lábios para depositar um beijo nela.
Eu e Jacob fomos direto para o já conhecido quarto dele, e logo perguntei onde estava o colchão extra pra eu dormir. Ele riu e perguntou se eu estava falando sério, eu apenas dei de ombros.
— Você não quer dormir comigo? Na minha cama? - ele perguntou enquanto me abraçava pela cintura e me dava um beijo delicado. Como eu podia negar?
Nos deitamos juntos e nos enfiamos debaixo da coberta. Eu o abracei e já estava prestes a fechar os olhos quando ele me virou e ficou por cima, colando nossos lábios.
— Não vou te deixar dormir tão cedo. - e voltou a me beijar.
Abri minha boca e o deixei intensificar o beijo enquanto passava a mão por seus cabelos. Eu o fiz sentar e fiquei por cima dele, eu em seu colo e ele segurando minha cintura, brincando com a barra da minha camiseta e sem descolar nossos lábios. Passei a mão por seu peito definido e por sua barriga, por baixo da camiseta, sentindo-o se arrepiar com meu toque.
Jacob começou a levantar minha camiseta e a tirou por completo. Ele me olhou de cima a baixo, parecendo maravilhado.
— Eu já disse hoje o quão linda você é? - ele falou, começando a beijar meu pescoço, me deixando totalmente arrepiada.
— Só umas dez vezes - brinquei, rindo.
— Então vou falar onze: você é linda! - ele disse, me beijando de novo.
Sua mão começou a brincar com o feixe do meu sutiã, e eu a segurei por um segundo, impedindo-o de abrir.
— Jake... - murmurei, enquanto ele beijava meu pescoço.
— Hmm - ele gemeu, sem parar os beijos.
— Eu sou virgem. - falei de uma vez, e o senti parar na mesma hora. Ele me olhou assustado, parecendo ter esquecido completamente desse pequeno detalhe.
— Ah, nossa - ele falou, passando a mão pelos cabelos, meio sem fôlego. — A gente não precisa fazer nada se não quiser...
— Não, eu quero! Quero muito! - retruquei, dando um beijo demorado nele. — Só queria te avisar e pedir para ir com calma.
— Tem certeza? - ele perguntou, e eu assenti, mordendo o lábio inferior.
Eu o vi sorrir leve, acariciando minhas costas com uma mão e meu rosto com a outra.
— Eu jamais vou te machucar. - ele respondeu, me beijando com toda a delicadeza e finalmente o deixei soltar a peça de roupa que ele queria tanto tirar.
Naquela noite, Jake cumpriu o que prometera e foi o mais delicado possível, me tratando como se eu fosse o item mais precioso do mundo. Eu finalmente entendi o que era o imprinting, e não me importava em sentir isso para o resto da vida. Ah, eu o amava! E eu acho que sabia disso antes de todos esses sentimentos loucos aparecerem. Mas isso que eu estava sentindo era muito mais que amor, incapaz de nomear tal sentimento. Bom, agora eu sabia nomear; isso era o imprinting.


Capítulo 10

Na manhã seguinte, acordei com o Sol aquecendo deliciosamente o meu rosto. Abri meus olhos devagar, percebendo que não tive nenhum sonho ruim naquela noite. Olhei para a razão disso, lembrando-me da noite passada. Jacob dormia tranquila e profundamente; minha mão subia e descia em seu peito no ritmo lento da sua respiração. Ele parecia sorrir, tão tranquilo, tão alheio aos problemas que enfrentamos todo esse tempo. Era quase insuportável o amor que eu sentia pelo homem deitado ao meu lado.
Eu queria levantar, mas não queria que ele acordasse. Tentei me mover o mais devagar possível e logo me arrependi. Jake abriu os olhos lentamente, incomodado com a luz que vinha da janela. Ele me olhou e sorriu largo.
— Bom dia... — ele murmurou, esfregando os olhos.
— Bom dia. — falei, acariciando seu rosto. — Não queria te acordar, desculpa.
— Relaxa... Que horas são? — ele perguntou ainda sonolento.
Me estiquei por cima dele para pegar o celular e vi na tela de bloqueio que eram 9:30 da manhã. Virei a tela para ele, que respondeu com uma careta.
— Perdemos a aula... De novo. — reclamei, vendo ele rir da minha cara. — Não ri, Jake! Eu só fui pra aula um dia na minha primeira semana!
— Relaxa, gatinha. — ele falou, beijando meu pescoço. — Nós vamos conseguir recuperar, temos todo o semestre pela frente.
Eu entortei a boca e olhei pensativa pra tela do celular.
— Ainda dá tempo de assistir as últimas aulas... — sugeri, forçando um sorriso. Ele revirou os olhos e se sentou na cama.
— Temos que ir ao Sam, meu amor. — Jake respondeu. — Ele me pediu ontem à noite para irmos lá depois da aula, mas podemos ir agora.
Gemi em reprovação, com preguiça de levantar e pensando na conversa difícil que teria com Sam. Eu o vi dar risada.
— Que foi? — perguntei.
— Lembrei de você gemendo ontem à noite — ele respondeu, dando uma piscadela. Eu abri a boca chocada.
— Jacob Black, você é ridículo! — falei, dando um tapa em seu braço, fazendo-o gargalhar mais ainda.
Ele se levantou e se espreguiçou, e pude ver que ele estava só com a cueca box. Mordi o lábio, me perguntando se a noite passada realmente foi rea ou um sonho.
Jake foi tomar banho primeiro e nem ousamos tomar um banho juntos porque sabíamos que íamos demorar mais ainda.  Quando cheguei à cozinha depois do meu banho, ele já tinha preparado café e omeletes pra gente.
— Você me impressiona a cada dia — o provoquei, vendo-o sorrir e me mostrar a língua.
Nessa hora o celular dele tocou e o visor indicava que quem ligava era o Sam. Nos olhamos preocupados, achando estranho pois ele ou Emily só ligavam quando era uma emergência, mas o que poderia ser emergência às 10 horas da manhã de uma sexta-feira? Concluimos que eles iam nos dar uma bela bronca por termos faltado na aula de novo, com certeza.
— Bom dia, Sam — Jacob disse, tentando parecer animado. — Olha, acabamos perdendo a hora e não fomos para o colégio, mas prometo que semana que vem... — ele parou de falar, de repente ficando sério. Eu parei de comer e o encarei preocupada.
— Sam, calma... Ok, mas qual foi a última vez que a viram? – Jacob perguntou, passando a mão pelo cabelo curto. Parei de cortar a omelete quando vi a feição de ódio assumir seu rosto.
— Estamos indo ai. — ele falou e logo desligou o telefone. — Temos que ir, a Emily sumiu.
— O quê!? — exclamei, me levantando. — Como assim ela sumiu, Jacob? O que aconteceu?
— Ela saiu para buscar os meninos, mas não foi na casa de nenhum deles e não voltou mais. Quando Sam foi atrás dela, encontrou a van largada na estrada. Ele... — Jake suspirou e passou a mão pelo rosto antes de completar a frase. — Ele sentiu o cheiro do Tate dentro da van, o mesmo cheiro que sentiu quando te encontrou e quando Tate nos atacou.
Meu coração parou. O que eu mais temia tinha acontecido: um deles está em perigo por minha causa. Me apoiei na mesa, de repente sem conseguir respirar direito, me sentindo muito tonta. Se algo acontecesse com Emily, eu jamais iria me perdoar.
, nós temos que ir. — Jacob disse com firmeza, já perto da porta com nossos casacos na mão. — Você está bem?
Apenas assenti e fui em sua direção, forçando minhas pernas a reagirem. Hoje o dia estava mais frio apesar do Sol forte, parecendo adivinhar que nosso dia seria frio de qualquer jeito. Jacob disse que a polícia de Forks está procurando por ela também. O pai de Bella, o xerife Charlie, era um grande amigo de Billy mas era alheio a todas as coisas que sua filha estava envolvida: vampiros e lobos. Então ele não estava procurando com a mesma mentalidade que nós, ele estava procurando por um sequestrador ou estuprador comum, não um lobo assassino e stalker. Sinceramente, nenhuma opção era melhor que a outra.
Chegamos à casa dos Uley e meu coração partiu ao ver Sam chorando desesperado na escada da varanda. Saber que aquilo tudo era minha culpa me despedaçou por dentro. Nos aproximamos com receio, vendo-o tremer descontroladamente.
— Embry e Paul foram buscar os meninos — ele falou entre um soluço e outro, a voz falhando. Sentei ao seu lado e o abracei, deixando-o soluçar sob meu ombro.
— Eu sinto muito, Sam — falei, deixando minhas lágrimas caírem. — É tudo minha culpa.
Ele não respondeu, apenas continuou chorando enquanto víamos Embry e Paul chegarem com os outros meninos. Me levantei e me aproximei da van com Jacob e meu estômago embrulhou ao sentir o cheiro forte de Tate. A raiva me consumiu de tal forma que eu tive que me controlar para não me transformar ali mesmo. Me afastei o máximo possível, enquanto Jacob continuava olhando para dentro da van com a raiva estampando seu rosto — era insuportável ficar ali perto. Meu celular tocou, e meu coração parou ao ver o nome na tela.
— Emily, que bom! Onde você está? — falei desesperada.
— Olá, — falou uma voz rouca e muito familiar que me dava náuseas. — Me responda apenas com o que eu mandar ou sua querida Emily vai virar meu café da manhã. Entendeu? Responde sim ou não.
Meu corpo gelou. Eu engoli em seco antes de responder com a voz trêmula e fraca.
— Sim.
— Ótimo, agora você vai se afastar dos outros e se perguntarem, diga que é da sua escola, ok?
— Ok. – falei baixo, mas por dentro eu estava querendo gritar. Jake me olhou preocupado e ameaçou se aproximar. Eu levantei a mão e disse que era da escola, me afastando mais do grupo.
— Onde vocês estão? — perguntei, trincando os dentes com raiva.
— Se eu contar, você promete vir sozinha? — ele disse, rindo.
— Eu não estou brincando, Tate! Deixa ela em paz, você quer a mim! Emily não tem nada a ver com isso! — falei, tentando não levantar a voz.
— E que graça teria te ter tão fácil? Assim é mais divertido. - ele falou, gargalhando. Um silêncio frio e assustador se estendeu por alguns segundos. — Mas agora a graça acabou, querida. Estou cansado desses seus guarda-costas não saírem do seu lado.
— O que você quer que eu faça? — perguntei, vendo Jacob me olhar de longe, desconfiado. Levantei o polegar para indicar que estava tudo bem, mas ele não pareceu acreditar, ele me conhecia bem demais.
— Estou exatamente onde você me deixou, mas você tem que vir sozinha. Nada do seu namoradinho ou dos seus “irmãozinhos”, muito menos Sam, ou ela morre. — ele falou com seriedade, e desligou.
Segurei as lágrimas enquanto meu cérebro trabalhava a mil, tentando encontrar uma saída. Ele falou para não chamar os meninos da matilha de La Push, mas não falou nada sobre os vampiros de Forks. Voltei para onde os meninos estavam e os vi se prepararem para procurá-la pela floresta.
— Está tudo bem? — Jake perguntou, me olhando preocupado.
— Sim, a escola não estava achando a autorização de Sam e Billy sobre ontem e eles me questionaram porque eu faltei hoje... — menti, tentando disfarçar meu pavor.
— Estranho, eles não me ligaram... — ele questionou.
— Eles iam te ligar, mas encontraram as autorizações enquanto falavam comigo — menti de novo, pensando rápido em mais detalhes caso ele me questionasse de novo, mas ele apenas deu de ombros.
— Sam, vou avisar os Cullen, talvez eles possam ajudar. – falei para fugir do assunto, e ele concordou, desanimado.
Logo ele e os meninos foram entrando na floresta, e apenas Jacob e Embry ficaram comigo. Entrei em casa com a desculpa de que iria usar o telefone fixo e busquei na agenda o número de Alice, que atendeu no primeiro toque.
— Até que enfim, achei que não iria ligar nunca. — ela falou em seu tom animado de sempre.
— Alice, eu preciso muito da sua ajuda.
— Pode deixar que eu já sei de tudo — ela respondeu. — Tive uma visão com Emily e Tate.
— Avise Carlisle, acho que Victoria pode estar com ele.
— Acertou, lobinha. Eu os vi juntos em uma casa de madeira cinza, caindo aos pedaços, no meio de um bosque. — ela falou, e logo a imagem da casa onde passei os últimos anos apareceu na minha cabeça. — Iremos te buscar em alguns minutos, ok?
— Estou te esperando.

Fui para o jardim fazer companhia para Jacob e Embry depois de explicar para Alice o plano que eu tinha em mente, deixando de fora alguns detalhes que provavelmente ela não iria concordar.
— Avisei os Cullen, eles vão encontrar vocês na floresta. — falei com nervosismo tomando conta da minha voz. — Vocês deveriam ir.
— E te deixar sozinha? — Jacob falou, me olhando apavorado. — Está maluca?
— Alice e Edward estão vindo para ficar comigo, eu vou ficar bem. Não vou sair de casa. — menti, me sentindo mal no mesmo segundo por estar contando tantas mentiras para Jacob. Ele me olhou com descrença, nada feliz em me deixar nas mãos dos vampiros.
— Então ficaremos até eles chegarem. — Embry respondeu, cruzando os braços e me olhando desconfiado.
Em menos de dez minutos, Edward estacionou seu Volvo preto na rua de terra na frente da casa de Sam. Os dois saíram usando óculos de Sol, a pele exposta brilhando feito diamante era hipnotizante. Meu Deus, eu nunca ia me acostumar com a beleza deles. Nem com o cheiro forte ardendo no meu nariz.
— Podem ir, cachorrinhos, nós cuidaremos da sua garota. — disse Alice, piscando para os dois que continuavam de braços cruzados. Ela correu na minha direção e me deu um abraço apertado, mas muito gelado em contraste com minha pele sempre quente.
— Quem está cuidando de Bella? — perguntou Jacob, sua voz grave estava séria e seu rosto indicava que ele não gostou nada no apelido que Alice deu para eles.
— Rosalie, Jasper e Esme foram buscá-la na casa dela. Seu pai está com Charlie. Apenas Carlisle e Emmett foram ajudar vocês. — respondeu Edward, apertando a mão dos meninos e vindo me cumprimentar em seguida.
— Não temos tempo a perder, vão logo! — falei, fazendo um gesto para que eles seguissem pra floresta.
Jacob me olhou, ainda desconfiado, e se aproximou a passos largos. Ele segurou meu rosto com as duas mãos enquanto eu segurava firme a sua cintura, não querendo largá-lo nunca mais. Sabia que ele estaria longe de Tate e Victoria, logo não estaria em perigo. Mas o medo de ele ou os meninos se machucarem estava sempre presente, e agora me incomodava mais do que nunca. Então ele remexeu em seu bolso e puxou um cordão de prata com um pingente pequeno balançando. Jake fez a corrente parar de balançar e eu pude ver que o pingente era um pequeno lobo dentro de uma lua crescente, tudo em prata igual a corrente. Me virei de costas para ele poder prender o colar em meu pescoço, sentindo o objeto gelado contra minha pele. Eu me virei e o toquei com delicadeza, segurando as lágrimas que já queriam saltar dos meus olhos.
— Queria te dar em um momento mais adequado, mas estou sentindo que talvez seja a melhor hora.
— É lindo, Jake. Obrigada. — respondi, com a voz claramente embargada e os olhos cheios de lágrimas.
— Eu volto assim que possível, ok?  Me prometa que não vai fazer nenhuma besteira? — ele sussurrou, a preocupação presente em sua voz e em seus olhos. Eu o beijei em resposta, querendo que aquele beijo não acabasse nunca.
— Eu te amo. — falei pela primeira vez e aquelas palavras pareceram tão certas, tão perfeitas, como se tivessem sido feitas especialmente para serem ditas por mim para Jacob Black.
— Eu também te amo. — ele respondeu, me beijando de novo.
— Agora vai logo! — eu disse empurrando ele, que saiu correndo com Embry ao seu lado.
Consegui vê-los se transformar segundos antes de entrarem na floresta, e meu coração se apertou. Aquela poderia ser a última vez que eu os via. Não era exagero, eu conhecia Tate bem o bastante para saber o quão perigoso ele era quando estava com raiva. E ele estava sempre com raiva.
— Vamos, eu sei onde fica a casa — falei, mas de repente me toquei que se Victoria estivesse lá, ela sentiria o cheiro deles e isso colocaria Emily em perigo.
— Relaxa, vamos ficar em uma distância segura. Atacaremos apenas quando você avisar. — Edward disse, indo em direção ao carro, como se tivesse lido meus pensamentos. E ele realmente leu, conclui, me lembrando de quando Bella me contou que o infeliz lia mentes.
— Edward, sem ler meus pensamentos, por favor! — exclamei, me sentando no banco traseiro do carro.
— Às vezes é inevitável. — ele deu de ombros, rindo.
— Pois tente evitar. — falei séria. Alice me olhou e esticou a mão para trás para segurar a minha com um sorriso compreensivo.
— Vai dar tudo certo. Vocês todos vão voltar em segurança. — ela disse, e eu sorri levemente em resposta, tentando não pensar na parte do plano que eu escondera dela.
Seguimos o GPS e chegamos em um pouco mais de meia hora com a velocidade com que Edward dirigia. Ele parou há alguns quilômetros de onde ficava a casa de Tate, entre Clallam County e Forks. Eu me lembrava do bosque com perfeição, e ele me dava arrepios. Me lembrei do ataque, de Sam me socorrendo, da minha primeira caminhada com Jacob. Parece que fazia anos, mas foram apenas há alguns meses atrás. Era estranho pensar em como o tempo passou rápido e ao mesmo tempo sentir que minha vida mudou completamente nesses período, e realmente mudou. Aconteceram tantas coisas e agora eu sentia que era o fim. Era minha obrigação fazer com que o mínimo de pessoas saíssem machucadas dessa história, mesmo que pra isso, eu tenha que sair machucada, ou até mesmo sem vida.



Capítulo 11

— Lembre-se, - começou Edward — se Victoria estiver lá, pense em meu nome ou no nome de Alice que iremos na mesma hora.
— Certo. — respondi, sentindo o nervosismo bater na boca do estômago.
— chamou Alice, me fazendo girar nos calcanhares. — Nos chame, ok? Siga com o plano e lembre-se do que seu namorado te disse: não faça besteira.
Assenti com a cabeça, mordendo o lábio e torcendo para que a visão de Alice estivesse mesmo certa.
Caminhei pela rua com todas as memórias daquele lugar me atingindo com força. Eram audíveis e descontroladas as batidas do meu coração, estava cada vez mais difícil respirar. Eu não queria vê-lo novamente, havia um motivo pra eu ter fugido tantas vezes. Mas saber que Emily estava ali, correndo perigo, me motivava a dar cada passo. Cheguei em frente a casa, já sentindo o tão familiar cheiro podre que emanava dela e de seu dono. Caminhei determinada até a varanda destruída, cheia de folhas que eu era obrigada a limpar na época que morava aqui. O balanço, único detalhe que eu gostava na casa, agora estava caído no chão, quebrado. A porta já estava entreaberta, então apenas a empurrei, fazendo-a ranger alto. Torci o nariz, logo sabendo que Victoria também estava ali. Meu coração acelerou quando ouvi a voz dele pronunciar cada sílaba do meu nome.
! Seja bem-vinda de volta ao seu lar! — ele falou, sorrindo largo e abrindo os braços. Tive que me segurar para não vomitar.
— É um prazer te conhecer, querida. — ouvi uma voz de veludo falar. Victoria era uma mulher com uma pele tão branca e lisa que era confundível com porcelana; era alta e tinha cabelos vermelhos como fogo, os olhos da mesma cor fizeram meus pelos se arrepiarem. Odiava admitir, mas ela era tão linda quanto os Cullen. — Fico feliz de ter a família toda completa. Quero dizer, quase toda.
Percebi que eles estavam sozinhos naquele momento, nenhum sinal de Emily. A sala estava vazia, sem nenhum móvel, muito suja e escura como sempre foi. Ambos estavam de pé, de braços cruzados, há poucos metros de mim.
— Onde está Emily? — perguntei, sentindo meu sangue ferver. Todo o medo e nervosismo passaram e só restava a raiva.
— Ora, que falta de educação a minha! — falou Tate, dando um tapa na própria testa. — Victoria, traga nossas convidadas!
— Convidadas? — perguntei, vendo a ruiva ir até a cozinha, gargalhando.
Ela logo voltou com duas mulheres amordaçadas e amarradas com os braços para trás, e as jogou no chão sem cuidado algum. Eram Emily e Bella.
— SEU DESGRAÇADO! — gritei, correndo até as duas, mas sendo segurada e arremessada contra a parede por Victoria. Senti uma pontada na costela, torcendo pra que não tivesse quebrado nada.
, , você nunca aprende! — disse Tate, se agachando na minha frente. Cuspi na cara dele com todo ódio que eu estava sentindo. Ele limpou o rosto, balançando a cabeça.
— Já vi que vai ser do jeito difícil... — ele falou, agarrando meu pescoço apenas para me jogar novamente contra o chão. Gemi de dor, tentando levantar, e foquei em Bella e Emily amordaçadas se debatendo do outro lado da sala para me dar forças.
— Solta elas, Tate, eu estou aqui! Não era isso que você queria? — falei, me levantando com dificuldade.
— Não, não! Combinei de soltar a Emily, não a Bella. E apenas se você cooperar, o que por enquanto não está sendo o caso. — ele disse, se aproximando das duas. — Bella é da Victoria, ela torna toda a situação mais... Divertida.
Ele e sua companheira riram alto. Me controlei para não me transformar, pois sabia que não era o momento para isso. Todo o plano iria por água abaixo se eu os atacasse agora, podendo colocar a vida das duas humanas em risco.
— Tate, por favor… Se você me odeia tanto, me deixe em paz! Nos deixe ir! Eu juro que também te deixaremos em paz, nós vamos…
— Nós!? — ele exclamou, fingindo estar indignado. — Nós, nós, nós, blá, blá, blá… Não existe "nós", ! Você vai abandonar eles como fez comigo, eles irão ver o lixo que você é, exatamente como seus pais!
Agora Tate gritava com raiva, finalmente deixando o teatro de lado e mostrando quem realmente ele era. Vi todo seu corpo tremer, e isso me assustou. Precisava afastá-lo das meninas antes que ele fizesse algo, mesmo que sem querer.
— Está bem, Tate. Então eu faço o que você quiser. — falei, tentando não dar nenhum passo em falso. — Me diga o que quer que eu faço, eu sou toda sua.
— É isso que eu gosto de ouvir. — ele falou, sorrindo com satisfação.
Em seguida, ele pegou um canivete e segurou firme a perna de Emily. Me levantei na mesma hora, ameaçando me aproximar.
— Se você der um passo, ela morre.
— POR FAVOR, TATE! — eu gritei, me segurando para não correr. -— Por favor, solte elas!
Então Tate deu seu pior sorriso e enfiou o canivete na perna de Emily, que gritou de dor. Cai de joelhos, chorando. A sensação de impotência dominou meu corpo. Victoria lambeu os lábios, e pude ver seus olhos brilharem ao olhar o sangue de Emily escorrendo e pingando no chão.
Ouvi a voz de Edward na minha cabeça, dizendo que Bella não estava em casa e me implorando para falar algo. Eu fiz força para não pensar na situação, mas não sabia se aguentaria por muito tempo. Tate se aproximou de mim, rindo de forma sarcástica.
— Vou soltar sua amiguinha aqui com uma condição: você vai ficar aqui comigo, e vai dar adeus aos seus novos amigos. Se der um deslize, eu volto lá e mato um por um. Começando pelo seu namoradinho. Estamos entendidos?
Era exatamente isso que eu queria que ele falasse. Então o plano estava dando certo: eu não iria ficar, mas Tate tinha que pensar que ele me tinha de volta. Eu não ficaria aqui, com Tate, sendo a escrava que ele sempre me fez ser; eu daria um jeito de fugir assim que Emily e Bella estivessem a salvo, só então colocaria o meu plano em ação. Alice me pediu para deixar que eles o matassem, mas eu fiz uma promessa para mim mesma que eu mataria esse desgraçado com minhas próprias mãos, custe o que custar — contanto que não custasse a vida das pessoas que eu amo, eu não me importaria em morrer se ele fosse junto.
Concordei, ainda chorando. E então pensei no nome de Edward e Alice, pedindo socorro.
"Bella está aqui com Emily." pensei, e pude ouvi-lo rosnar na minha mente.
Enquanto Tate se distraía em soltar Emily e Victoria se distraía em me amarrar, os últimos três meses passaram como um filme na minha cabeça. Senti pontadas fortes no coração ao pensar que não veria mais Sam, Emily, Embry, Quil, Seth, Paul, Jared... E Jacob. Quando tudo parecia estar bem, quando finalmente me senti completa, vi meu mundo começar a desmoronar novamente.
Tate levantou Emily sem cuidado nenhum e pude ver a cara de dor que ela fez quando tentou ficar em pé, e aquilo partiu meu coração. Torci para que Edward e Alice fossem fortes o bastante para aguentar o cheiro de sangue que até mesmo eu não estava aguentando. Victoria ainda a olhava com o desejo explícito nos olhos, mas não fez nada. Era como se Tate tivesse algum poder sobre ela, o que era muito estranho. De repente, Tate parou no meio do caminho até a porta e olhou pela janela ao mesmo tempo que Victoria também olhou.

            — O que você fez? — ele rosnou, jogando Emily no chão.
Nesse momento, aproveitei para pegar o isqueiro no meu bolso que eu peguei antes de sair da casa de Sam, me certifiquei de que Bella e Emily estavam longe o suficiente, me arrastei poucos centímetros até alcançar a cortina e a incendiei. Me afastei o máximo que pude, ignorando a dor que ainda sentia quando me arrastei, quando vi os dois me olharem apavorados e com ódio.
Foi tudo muito rápido. Em questão de segundos Edward, Alice, Esme, Jasper e Rosalie estavam parados na porta enquanto o fogo tomava conta da cortina. Esme agarrou Emily e correu com ela para longe e ficou com ela lá fora; Edward correu para onde Bella estava e a soltou, levando-a para onde quer que Esme levou Emily. Alice e Rosalie agarraram Victoria enquanto Jasper esmurrava Tate caído no chão. Esme voltou, correu até mim e me soltou; não perdi tempo e corri para ajudar Jasper, segurando Tate contra o chão.
— Precisamos sair daqui — disse Edward. Meus pulmões reclamaram, e pude ver que o fogo e a fumaça tomavam conta da sala.
Rosalie e Esme haviam arrancado cada parte do corpo de Victoria, e as jogavam no fogo que se alastrava cada vez mais rápido. Jasper já havia saído de cima de Tate, que parecia prestes a desmaiar e sangrava muito. Mas ainda estava vivo.
— Vamos, ! — falou o vampiro, já indo para a porta. Olhei uma última vez para baixo, e vi Tate cuspir sangue no chão.
— Ainda não acabou, sua desgraçada — ele falou, tossindo e se levantando com dificuldade. — Você me paga.
— Desiste de uma vez por todas, Tate. — murmurei sem força, o ar parecia não conseguir entrar no meu corpo.

Senti tudo em volta girar, sem conseguir respirar direito. A fumaça estava tomando conta do meu pulmão quando cai no chão, vendo meu inimigo se levantar e subir as escadas correndo. Eu poderia estar morrendo, mas não ia desistir tão fácil.


Capítulo 12

Eu sentia meu pulmão reclamar de dor e o calor das chamas em volta me incomodava demais, mas ver Tate subindo as escadas era meu único foco — eu não podia perde-lo de vista. Era como se tudo estivesse passando em câmera lenta. Todo o meu corpo começou a tremer e se alongar. Sons altos de algo rasgando ressoou nos meus ouvidos e eu deixei a transformação acontecer. Eu já me sentia um pouco mais forte quando ouvi Edward gritar meu nome e ameaçar entrar na casa em chamas. Soltei um latido alto para que ele não entrasse e corri escada acima; ele sabia que aquilo não fazia parte do plano, nós tínhamos que sair e nos salvar, esse era o combinado, mas o meu combinado comigo mesma era não deixar Tate sair ileso e eu iria cumprir ir mesmo que tenha que dar a minha própria vida para tirar a dele.
O fogo estava começando a alcançar o segundo andar (que era tão podre quanto o primeiro) destruindo o quarto principal e chegando ao corredor. Eu o vi no quarto onde ele me mantinha presa a maior parte do tempo, tentando arrancar as tábuas na janela que ele mesmo pregou há alguns anos para que eu não fugisse. A janela dava para a parte de trás da casa, onde provavelmente não tinha ninguém para ajudar. Rosnei alto, fazendo-o se virar assustado. Era difícil enxergar com toda aquela fumaça preta, mas seus olhos apavorados faiscaram em minha direção.
— Eu tinha esquecido o quão bonita você fica quando se transforma em loba. — ele falou, o sorriso era tenso e vacilante.
Eu rosnei alto novamente, dando um passo para dentro do quarto enquanto ele tentava arrancar a última tábua de madeira. Lati o mais alto e forte possível, tentando chamar a atenção de quem quer que estivesse do lado de fora da casa ao mesmo tempo em que eu tentava assustá-lo de novo, sem sucesso. Ele apenas riu da minha cara.
— Você é patética, — ele falou antes de começar a se transformar em lobo.
"Boa sorte tentando me pegar, docinho", o ouvi dizer na minha cabeça.
Eu corri em sua direção e tentei morder sua perna antes de ele pular pela janela, mas apenas dei de frente com a parede. Olhei para trás e vi o fogo tomando conta do quarto. Botei a cabeça para fora da janela e pude ver Jasper olhando para mim, fazendo sinal para que eu pulasse. Dei alguns passos e pulei pelo quadrado, aterrissando na grama alta do quintal. Olhei para o vampiro, que me falava com urgência para irmos embora, mas eu o ignorei e corri para dentro do bosque fechado, tentando seguir o cheiro insuportável de Tate, mas eu o perdi. Olhei em todas as direções, a raiva tomando conta de mim. Não conseguia acreditar que o tinha deixado escapar!
Senti um cheiro forte, muito doce e quando me virei, encontrei Alice e Jasper parados me esperando com uma troca de roupas nas mãos.
— Por que você não saiu da casa antes? — ela perguntou com a voz aguda. Eu podia ver que ela me achava louca e que estava muito brava, mas não falaria isso em voz alta. — Você tinha que ter deixado ele lá, você não seguiu com o plano!
Me aproximei dos dois e Jasper deu as costas, voltando em direção à casa para que eu pudesse me transformar de volta em humana. Coloquei as roupas de Alice e senti algumas lágrimas caírem. Ela não me perguntou nada, apenas me abraçou de lado e voltamos juntas para a parte da frente da casa, encontrando os outros espalhados pelo jardim.
, você perdeu a cabeça!? — exclamou Edward assim que eu apareci com Alice. — Eu pedi para que nos chamasse! Por que demorou tanto? Tem noção do quão arriscado foi aquilo?
— Edward, agora não... — tentei falar, mas ele me olhava com tanta raiva que me assustou e eu apenas fiquei quieta, esperando a bronca vir. Ele apenas soltou um longo suspiro, parecendo frustrado.
— Aquilo não estava nos planos, você podia ter morrido ou matado as duas! — ele falou, passando as mãos pelos cabelos dourados.
— Me desculpe. — choraminguei, mas sem vontade de prolongar o assunto. — Onde está Emily?
Ele apontou para ela e Bella, sentadas no gramado com Esme e Rosalie por perto, ambas com o nariz tampado e a alguns passos de distância. Emily ainda sangrava e Bella tentava enrolar algum pano na perna dela na tentativa de controlar o sangue. Alice discou um número no celular e se afastou com o aparelho no ouvido, me olhando com preocupação. Jasper logo estava ao seu lado, olhando um ponto fixo bem longe, mas me lançando olhares preocupados, ficando há uma distância segura de Emily.
Caminhei quase me arrastando até as duas e as abracei, deixei todo o choro sair e comecei a pedir desculpas, as palavras saindo confusas da minha boca.
— Está tudo bem, querida, estamos bem agora — disse Emily, acariciando meus cabelos.
Olhei pelo ombro dela e vi as chamas engolindo a casa e tudo o que estivesse dentro, desejando com todas as minhas forças que Tate tivesse ficado ali, queimando com a madeira antes mesmo de chegar ao Inferno. Mas eu sabia que ele tinha fugido. Eu devia tê-lo matado quando tive a chance.
— Sam, Carlisle e os meninos vão chegar logo — disse Alice, se agachando ao meu lado, mas tampando o nariz na tentativa de não sentir o cheiro de sangue de Emily. Jasper continuava longe, mesmo que o sangue já estivesse controlado. — Você está bem?
— Sim — respondi com o máximo de firmeza que eu conseguia, meu olhar vazio encarava seu rosto pálido. — Mas preciso seguir com o plano B.
, ele está morto. Victoria também. — Alice disse, confusa.
— Ele fugiu, Alice. — falei sem animo algum na voz. — Por isso corri para a floresta, ele pulou pela janela e fugiu!
— Impossível, eu não... — de repente ela parou, olhando para o nada. Sua feição passou de confusa para preocupada e isso durou longos segundos. — Droga...
— O que houve? – perguntei com preocupação.
— Realmente temos que seguir com o plano — ela respondeu repetindo o que eu disse, e eu entendi tudo. Ela teve uma visão com Tate.
— Vamos antes que eles cheguem — falei, me levantando, sem questionar qual tinha sido a visão. Independente do que fosse, eu não precisava saber agora.
Alice olhou significativamente para Edward, que logo ajudou Bella a se levantar e falou "temos que ir".
— Aonde vocês vão? — disse Emily, ficando em pé com a ajuda de Esme.
Eu a olhei com o coração doendo tanto que era insuportável. Apenas a abracei forte, chorando descontroladamente, e a agradeci por tudo o que ela fez por mim durante os últimos meses.
— Diz para os meninos que eu sinto muito e que eu amo eles, eu vou sentir muita falta de vocês. Eu amo você, Emily — falei, entre soluços.
— Espera, por que você está falando em tom de despedida? — ela me olhou confusa. — Você não vai voltar com a gente?
Eu ouvi um som de motor e me virei para encontrar a van de Emily se aproximando, com Sam no volante e Jacob ao seu lado. Meu coração se despedaçou e tive vontade de esquecer tudo e ficar.
— Diz pro Jake que eu amo ele com todas as minhas forças. — finalizei antes de correr para o Volvo preto de Edward que já me esperava com Bella sentada no banco do passageiro e Alice atrás.
Meu choro aumentou quando vi Jacob pular da van ainda em movimento e o ouvi gritar meu nome. Olhei pela janela enquanto Edward dava a partida e o vi correr o máximo que pôde atrás do carro, mas o veículo era mais rápido, logo ele virou um ponto minúsculo e desapareceu. Meu corpo parecia que não ia aguentar a dor. Eu gritava enquanto chorava, Alice e Bella tentavam me controlar sem muito sucesso. Era injusto, eu queria poder ser egoísta e ficar, mas eu sabia que Tate não ia sossegar até me achar de novo. Edward dava várias voltas para despistar qualquer um que estivesse nos seguindo, até que entrou em uma estrada longa e reta e permaneceu nela, às vezes me lançando olhares preocupados, vendo meu desespero pelo retroviso
— Vai ficar tudo bem. — Alice murmurou, afagando meu ombro. — Cuidaremos deles.
Depois de me acalmar, eu permaneci em silêncio, as lágrimas caindo livres em meu rosto. Era injusto não poder ficar com eles, era injusto não poder ser feliz depois de finalmente encontrar uma família, pessoas que eu amava tanto. Mas eu conheço Tate, sei o que ele foi capaz de fazer com meus pais, comigo e com vários outros inocentes que se meteram no caminho; não vou deixar Sam, Emily e a matilha não serem os próximos. Jake não seria o próximo, não posso perder mais uma pessoa que eu amo.
Então o plano era ir para Haines, no Alaska, onde Edward disse ter um conhecido que me receberia com todo prazer. A viagem seria longa, mas necessária. Apenas nós quatro iríamos saber onde eu vou ficar, e conseguirei manter todos em segurança. Mesmo que isso esteja me despedaçando por dentro.



Fim.



Nota da autora:Oi, meus amores! Chegamos ao fim de Moon Child! Podem chorar comigo (ou me xingar com esse final! hahaha). Eu nem sei por onde começar a agradecer. Postar Moon Child (e mais pra frente as outras fics) mudou meu 2020 e com toda certeza, a minha vida. Cada capítulo postado, cada comentário de vocês ou interação no Instagram ou no Facebook faziam meu coração acelerar de tal forma que eu nem sei explicar! Eu nunca imaginei que tanta gente leria minhas histórias, elogiariam minha escrita, amariam meus personagens e isso é gratificante demais. Vocês fazem tudo isso valer MUITO a pena.
Quero primeiramente agradecer a Chris, minha scripter maravilhosa! Chris, você é TUDO, sempre muito atenciosa, carinhosa e surtava com a fic igual todo mundo! Hahahaha! Além de uma scripter maravilhosa, é uma autora melhor ainda. Você aguentou meus surtos e surtou junto comigo (lembra a primeira vez que Moon Child entrou pro mais lidas? Chorei, não vou negar!). MUITO OBRIGADA, CHRIS! Espero que nossa parceria continue em 2021!! ♥️
Quero agradecer à equipe do FFOBS! Vocês são incríveis, sempre muito atenciosas e maravilhosas. Obrigada por todo apoio e ajuda sempre!
Quero agradecer as meninas do grupo do Whatsapp “Fanfiqueiras da Pati”, VOCÊS SÃO TUDO! Sério, eu amo cada meme, figurinha, surto, troca de experiências, etc. Amo vocês, obrigada por tudo!
Por fim, mas não menos importante, quero agradecer a cada pessoa que leu e comentou em Moon Child. Vocês são importantes DEMAAAAIS para mim e para a história. Amo cada um de vocês, de verdade, OBRIGADA!
Espero que tenham gostado de Moon Child o mesmo tanto que eu gostei de escrever. E não se preocupem… Esse não é o fim dessa história! ;) Teremos sim mais dos lobinhos, acompanhem meu Instagram (@patiwrites) para saber quando teremos mais Moon Child. E leiam Moon Child - Our First Night!
Feliz Ano Novo, que o 2021 de vocês seja INCRÍVEL! Obrigada de novo e até a próxima! ♥️
Nota Scripter: A Pati sabe como fiquei com esse final, surtei mesmo com ela. E vocês façam o mesmo, é maldade terminar Moon Child dessa forma.
Pati eu que te agradeço por ter me escolhido como scripter dessa fic maravilhosa, amei cada detalhe, você é uma pessoa e autora incrivel, que nosso 2021 seja iluminado e com muitas fics.hahah xx


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Para saber se a história tem atualização pendente, clique aqui


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