Última atualização: 05/12/2021

Parte I

Um “acordo” ou uma “aposta”, foi como tudo começou algumas semanas atrás, assim que meu semestre se iniciou na faculdade, eu chegando atrasada para a iniciação, o que não era novidade nenhuma para o meu currículo.
Eu juro que peguei as primeiras roupas que vi em meu armário, mas nunca prestei atenção no quão chamativo poderia ser um all star amarelo no primeiro dia, além da camisa do Panic! at the Disco que eu havia roubado de antes de mudar – que Deus tenha piedade de minha alma e ela não descubra tão cedo.
Ambos denunciariam completamente a minha chegada, se não fosse pelo motivo de ser desastrada, o que completava meu estilo.
Talvez, se a atenção que eu recebesse fosse pelo motivo de ser uma pessoa atrativa a ponto de fazer com que todos parassem e olhassem, estaria tudo bem. Mas sabe, a vida não é como aquelas cenas que vemos em dramas ou filmes, onde a protagonista faz uma entrada triunfal no local, nunca perdendo a pose e tudo mais.
– Tá tudo bem? – Consegui ouvir uma voz tranquila perguntar com um riso fraco de brinde.
Eu gostaria de alertar que... Se você tem pressa, não use um all star! Eles podem fazer com que você escorregue e caia na frente de muitos alunos que estão na área de convivência. E quando eu digo muitos, quis dizer toda a universidade.
– Você não vai levantar? – A mesma voz perguntou, dessa vez um pouco mais próximo. – Ninguém ta olhando. – Ele sussurrou de forma que pudesse ser escutado.
– Estou com vergonha demais para sair desse chão no momento, benditos tênis. – Eu disse, ainda de cara voltada para o chão, pode-se dizer eu não reagia muito bem quando chamava atenção de muitas pessoas.
– Pelo menos, são amarelos. – Ele riu baixo. – É uma cor interessante, pode te trazer sorte.
Respirei fundo olhei para cima, vendo-o ali, o garoto cujos cabelos eram castanhos mas, na primeira vez em que eu o vi, anos atrás, não tinham uma cor definida. Ele estendeu a mão em minha direção e eu aceitei sua ajuda, levantei limpando minha roupa que, por sorte, não havia sujado ou rasgado – e olha que, nisso, eu era boa. A piedade funcionou, Deus não queria encontrar comigo ainda porque, se soubesse que eu caí com a blusa favorita dela na grama verdinha do campus, com certeza, eu e Ele nos encontraríamos logo, logo.
– Viu, ninguém está olhando. – Ele disse sorrindo, fazendo com que ele desprendesse sua mão da minha rapidamente, sem sucesso, já que ele a segurou mais uma vez. – !
Ele se apresentou sorrindo e segurando minha mão com leveza, porém sem deixar que eu me soltasse, esperando pela minha resposta.
– Prazer…
Tudo bem por aí, senhorita ? Você se machucou? – Sendo interrompida, escutei meu nome vindo em alto e bom tom do microfone no palco, do diretor que antes dava instruções a todos.
Não preciso dizer que centenas de cabeças – que, antes, não prestavam atenção no que havia acontecido – me olhavam com curiosidade, eu só não sabia dizer se era porque continuava segurando minha mão enquanto todos me olhavam ou se era porque o diretor interrompeu sua fala para perguntar se eu estava bem.
Ele era definitivamente uma das pessoas mais conhecidas no campus – mesmo entrando naquele semestre assim como eu – e também fora dele. Estudamos juntos por alguns anos em salas diferentes, porém com algumas aulas juntas como artes avançadas, música e idiomas.
– Tudo certo! – Puxei minha mão de rapidamente e disse para o diretor que esperava pela minha resposta estreitando seu olhar em minha direção na tentativa de enxergar melhor.
O motivo de ele me reconhecer em meio a todos era porque minha mãe e ele eram amigos de infância, reencontraram-se por acaso depois de 10 anos quando fui fazer minha aplicação para bolsa de estudos e, desde então, ele não soltava o meu pé, dizendo que “ele me conheceu quando eu ainda estava na barriga de minha mãe.”
Espero que a senhorita esteja prestando atenção. – Ele disse, rindo e fazendo-me acompanhar sua risada mas, em vez de uma risada divertida como a dele, uma sem graça brotou no lugar, eu deveria estar da cor de uma pimenta vermelha naquele momento e só piorou quando uma risada abafada veio de trás de mim.
– Parece que você é famosa por aqui também, ! – A voz fina surgiu bem ao meu lado, chamando a minha atenção. – Eu achei que não ia te encontrar tão cedo, tem te procurado desde de manhã pelo campus.
– Graças a Deus, – Disse aliviada ao ver se aproximar. – eu me atrasei.
– Isso é novidade desde quando, exatamente? – Ela disse, rindo. – , você passou todos os seus anos de escola chegando no segundo tempo. Você acha mesmo que eu, e já não sabíamos?
– Pelo menos, dessa vez, não foi porque eu dormi demais. – Tentei defender-me.
– Me deixa adivinhar... – A garota arrumou seus cachos e olhou para mim, rindo irônica. – Você foi outra vez na loja de discos procurar o vinil daquele artista que seu avô gostava, não foi?
A risada abafada de anteriormente soou mais uma vez, deixando meus músculos da nuca tensos novamente, afinal, eu havia me esquecido de que ele estava ali e não tinha visto-o ainda.
? – Ela falou alto o suficiente, reconhecendo o garoto, que olhou-a de sobrancelhas arqueadas.
? – Ele respondeu, abrindo um sorriso em seguida.
– Samantha? – Disse , surgindo do nada e rindo enquanto colocava as mãos sobre o ombro de .
Eu e também não éramos próximos. Aliás, de quem eu era próxima? Porque, analisando de longe, , , , e estavam sempre juntos em dias de escola e eu, sem dúvida alguma, estava por lá. Fazendo o quê exatamente? Porque até mesmo , uma amiga em comum de todos nós, era mais próxima deles do que eu.
– Qual é, vocês nunca viram Frozen não? – quebrou meus pensamentos, vendo que e o encaravam sem entender. – Olaf? Quer saber, esquece! Nenhum de vocês merece minhas referências.
– Podemos voltar a ignorar esse cara como fizemos no ano passado? – disse para , que sacudiu a cabeça positivamente, rindo.
– Essa é…– apontou para mim, que encarava a situação um pouco perdida.
Não me entenda mal, eu não era tímida ou metida, eu simplesmente ficava perdida com facilidade. Além do mais, ter me ajudando a levantar de um tombo horroroso não era lá a melhor forma de “apresentar-me”.
! – Eu disse, cortando a fala de , atendendo a ligação que milagrosamente soou naquele momento. – Sim, eu encontrei a . – Respondi sua pergunta. – Ok, te vejo mais tarde.
Àquele ponto, o pronunciamento do diretor já tomava seus pontos finais. Ele se despedia, fazendo-me olhar o horário marcado em meu relógio. Eu não havia pegado meu horário de aula, então precisava fazer isso o mais rápido possível.
– Eu preciso ir! – Disse para e, eventualmente, para os dois ali. – Foi bom te ver, . – Fiz uma pausa pensativa, pesando o olhar sobre , que sorriu simpático, esperando por sua despedida – Foi um prazer, obrigado pela ajuda mais cedo.
estava pronto para dizer algo mas não deixou.
– Foi um prazer? Mas vocês já…– Ela só não continuou o que ia falar porque olhou para minha blusa, vendo-a ainda um pouco suja. – Como você sujou a blusa? Espera, você sujou a blusa que a ia usar para ir naquele show hoje? Ela vai te matar.
– Eu não tive culpa. – Eu me defendi. – Não conta para ela, por favor! Até lá, eu dou um jeito.
– Minha boca é um túmulo! – Ela disse – Com uma condição.
– Um mês usando a minha cafeteira, serve? – Eu a cortei recebendo risadinhas dos garotos, que prestavam a atenção na conversa.
– Nunca ouvi nada. – Ela disse, rindo. – Se você fizer o almoço no meu lugar, por duas semanas.
– Feito! – Eu disse, arrumando a bolsa.
Sem muita despedida, saí dali o mais rápido possível e sim, não sei se foi possível notar, mas mesmo depois de alguns anos no mesmo ambiente escolar, não sabia quem eu era, ou talvez apenas não se lembrava de mim. E eu nem estava surpresa com isso, afinal, cair na frente da pessoa por quem você teve um crush por anos não era um bom começo.


Parte II

– Me diz que você tem literatura agora, por favor. – chegou, agarrando-se em meus braços assim que eu pisei os pés no refeitório.
O local não estava cheio, mas havia mais pessoas do que o esperado. Meu objetivo antes de aparecer era sentar e ler, coisa que, com a presença dele, seria impossível.
– História da Arte! – Eu disse, rindo da cara desolada que ele fez assim que respondi. – Eu tenho um pequeno pressentimento de que não vamos ter tantas aulas juntos nesse semestre.
– Se o meu semestre começa assim, então eu não quero mais continuar. – Ele disse, sentando de frente para mim com a cara emburrada.
– Por favor, sem atuação! – Eu disse, rindo. – Aliás, você melhorou muito, me surpreende a cada dia mais, eu quase acreditei nessa. – Ele riu. – Como se o motivo da sua decepção não fosse pelo motivo de você não ter quem te dê comida escondido nas aulas, te passe algumas anotações ou te arranje alguns números de celular. – Sua cara falsa de ofendido surgiu exatamente nesse momento. – É, , eu te conheço melhor do que ninguém e desde que eu me entendo por gente, você ainda acha que pode me enganar?
Era fácil fazer com que ele desse risada, éramos melhores amigos desde sempre e eu sabia que ele realmente sentia-se inseguro com ficar sozinho. Não que ele não fosse arranjar amigos em um estalar de dedos – que era o que normalmente acontecia – mas ele, como bom amigo apegado e cômodo, se sentia solitário.
Um dos raros momentos de sendo gente como a gente.
– Bom, para não dizer que é mentira, eu assumo uma coisa. – Ele disse, apoiado sobre a mesa. – Eu definitivamente não vou sentir falta de você me acordando nas aulas.
– Nunca entendi como você tirava a nota mais alta, principalmente nessas aulas em que você dormia feito pedra. – Comentei.
– Isso se chama inteligência e estudo em casa. – Ele respondeu, rindo. – Você é um pouco lerdinha, compreensível que tenha que prestar atenção nas aulas.
E voltamos à programação normal, esse era o de costume.
– Do que estamos falando? – apareceu, sentando ao lado de .
– De como a é meio lerdinha, desde criança. – ele disse, deitando sobre um de seus braços, jogando a cabeça para o lado de para que a mesma fizesse carinho.
– Na realidade, estamos falando de como você era um péssimo aluno. – Eu disse, dando uma mordida em meu sanduíche.
– Mas ele era e sempre foi o melhor aluno da nossa escola. – defendeu e ele abriu um sorrisinho, mostrando vitória naquela conversa.
Suspirei cansada, voltando para meu sanduíche que parecia mais apetitoso do que ver defender .
– Por que você ainda tenta? – me disse assim que aproximou-se da mesa, com o celular pendurado na orelha e voltando a falar nele no mesmo momento. – , eu já disse que não quero refrigerante, me traz a droga do suco de laranja. – Ela disse, sentando e encarando-me por alguns segundos. – Aproveita e pede para o trazer um smoothie de lemon yogurt a mais, obrigada!
e já saíram? – perguntou, animado.
, e eram melhores amigos antes mesmo que eu e todos daquele grupo. Por mais tivéssemos encontrado uns aos outros no mesmo ano, eu havia chegado um pouco depois.
– Eles estão na cafeteria. – Ela disse, sorrindo. – É o primeiro dia de vocês aqui e eu passei literalmente toda a aula de Jornalismo Investigativo recebendo e respondendo bilhetinhos de veteranas e novatas perguntando pelo número do , e choquem, do também, eu não aguentava mais. – Exclamou, cansada. – Foi exatamente a mesma coisa no caminho até aqui, perdi a conta de quantas meninas passaram vergonha.
– Não existe vergonha nenhuma em chamar o cara de quem você é afim para sair. – disse e eu pude sentir o olhar dela pesar sobre mim. – Acho mesmo é que algumas pessoas deveriam arriscar mais nesse quesito. – A esse ponto, todos me olhavam.
Eu não olhei para nenhum deles até ver que havia entendido a indireta direcionada a mim e olhar de volta com seu sorriso sarcástico impossível de ignorar.
– Antes que você diga alguma coisa... – Disse, apontando para . – Foi naquela época, elas insistem nisso até hoje.
, – Ele disse, rindo e levantando. – você pensa mesmo que eu não te conheço? Como você disse uns minutos atrás, – Ele riu. – eu conheço você melhor do que ninguém e, desde que me entendo por gente, – Sentou outra vez e encarou-me, rindo. – você é, e continua sendo, a única do grupo que não se aproximou dele e sempre se esconde quando ele está por perto.
– Exatamente por isso que ele não te reconheceu mais cedo. – explicou. – Ele se sentiu mal, sabia? Ele sabe que você e são melhores amigos e todos vocês se conheceram na mesma época. Antes, ele achava que você não suportava a presença dele, – Ela massageou sua testa. – mas eu consegui explicar que você é... Tímida?
– O que é uma grande mentira. – A voz de soou atrás de mim, assustando a todos que antes mantinham a atenção no assunto. – é uma das pessoas menos tímidas que eu já conheci em toda minha vida.
– Cala a boca, . – Disse, rindo.
– E desde quando vocês nutrem esse tipo de boa relação? Vocês estão sempre brigando. – comentou.
– Exatamente por isso. – Eu e dissemos juntos.
– Aliás, bom trabalho mais cedo. – Ele disse, rindo. – “Foi um prazer”. – Ele repetiu minha frase de antes, afinando a voz – Eu tenho certeza de que você ficou magoada por ele não te reconhecer.
Eu sei que, antes, eu comentei que a minha relação com não era tão próxima e, realmente, não era. , em toda minha vida, foi de times adversários, equipes adversárias, classes adversárias, entre outras coisas que nos faziam ter esse tipo de relacionamento, mas principalmente, ele era meu rival de amizade, já que era seu melhor amigo.
No final, brigávamos mas, quando era necessário, nós nos juntávamos também.
Quando todos nós passamos na mesma universidade – incluindo , que teimou com os pais para não ir para o país onde eles passaram a morar antes mesmo que ele se formasse –, nós procuramos deixar claro que, daquele ponto em diante, seria uma amizade levada pelo resto da vida.
Clichê, e adivinhem o culpado? Isso mesmo, essas palavras vieram da boca de .
– Espera, o que aconteceu mais cedo? – perguntou, curiosa.
– Nada! – Respondi rapidamente, lembrando que continuava com a blusa dela.
O que, graças a Deus, ela não notou.
– Ela ca…– começou, pronto para contar tudo, pronto para dedurar, já que ele sabia da história toda, inclusive sobre a blusa.
! – disse alto, interrompendo o que dizia, o que permitiu-me dar um tapa em seu braço. – Esse desnaturado deixou você trazendo as coisas sozinho? Me deixa te ajudar.
se levantou, pegando algumas coisas da mão dele.
– Seu suco de laranja! – Ele disse, entregando. – Se não fosse pelo seu grito na ligação, eu teria pedido um refrigerante, porque ele... – Apontou para , que soltou uma risada sem vergonha. – Jurou que foi o que você pediu.
– Você ia tomar o refrigerante todo e na marra se ele tivesse trazido. – disse para .
, – falou do nada, fazendo-me desviar a atenção da conversa anterior ou de se sentando ao meu lado. – que blusa é…
– Você está com frio? – perguntou do nada, cortando . – aqui, coloca isso e me entrega depois. – ele me entregou o moletom azul e branco que carregava em mãos e piscou, deixando visível que estava ajudando.
Seria muito inapropriado comentar, nesse momento, sobre o cheiro de perfume que aquela blusa tinha?
– Acredito que isso também seja seu. – Ele disse, entregando o smoothie.
– Mas eu não…– Comecei a falar confusa.
pediu. – Ele sorriu. – Deduzi que era seu. – Ele fez uma cara engraçada, parecia que havia acabado de contar um segredo. – Eu já fui com comprar um desses uma vez, era para você. – Contou, tomando um pouco da sua própria bebida em seguida. – E curiosamente, também é o meu preferido.


Parte III

– Vocês estão dispensados por hoje! – A voz do professor baixinho e de cara fechada soava cansada. – Não se esqueçam de checar a lista com seus respectivos parceiros da classe III de Artes Avançadas e V de Literatura para o projeto cultural deste mês.
– Sim, senhor! – Todos respondemos juntos.
Aquele período era o mais cansativo e tudo que eu queria era poder dormir, mas ainda tinha duas aulas para enfrentar além de ter que correr atrás de quem seria parte do meu grupo para o projeto do mês.
! – Escutei meu nome ecoando pelo corredor, procurei de onde vinha e pude ver a figura de correndo do fim corredor até mim, mais animado do que deveria depois de uma aula de Literatura Ocidental. – !
A criatura me chamou mais uma vez, quase gritando, o que quase fez com que eu o deixasse ali mesmo, sozinho, de tanta vergonha.
– Para de gritar! – Eu disse baixo enquanto fazia gestos para que ele parasse de chamar tão alto.
Ele riu. Isso mesmo, ele riu, já que fazia de propósito.
– Nós estamos no mesmo grupo do projeto. – Ele disse meio ofegante assim que aproximou-se. – Isso não é incrível?
, eu já vivo praticamente mais do que quinze horas do meu dia com você. – Eu disse, fingindo seriedade. – Você acha que a notícia de passar mais tempo com você falando sobre “como queria comer um pedaço de melancia” de cinco em cinco minutos seria algo que me animaria? – Perguntei, tentando não rir.
– Não só acho como tenho certeza. – Ele disse rindo, o que fez com que eu risse também.
– Pois você tem razão, eu fiquei cansada só de pensar em ter que lidar com pessoas novas. – Minha personalidade antissocial sempre aparecia com mais força em momentos assim.
– Eu sabia, – Ele disse, rindo. – mas ainda precisamos saber quem será responsável pela parte de artes.
– Vamos resolver isso de uma vez! – Eu disse, empurrando-o de leve. – Espera, você leu o papel e não viu o nome da outra pessoa?
– Eu fiquei tão animado quando procurei pelo número do meu grupo na lista e vi que o seu era o mesmo que... – Ele coçou a nuca, nervoso. – Eu esqueci de olhar a outra lista.
– Tudo bem, eu não te culpo! – Eu ri e escorei um de meus braços em seu ombro. – Se eu fosse você, também ficaria feliz de saber que a minha pessoa estaria no mesmo grupo.
– Você é muito convencida às vezes. – Ele riu. – O que eu espero mesmo é que a outra pessoa seja uma das deusas do departamento de Artes. – Ele tirou meu braço de seu ombro e apoiou uma de suas mãos no meu. – , sinto muito mas eu não suporto mais ver a sua cara amarrada por todo canto. Eu preciso de novos ares, sabe?
– Isso era para ser uma ofensa? – Perguntei. – Não era você que, cinco minutos atrás, correu por esse mesmo corredor, gritando meu nome de felicidade por estarmos no mesmo grupo? – Disse olhando-o e desconfiada. – Não tem problema, eu peço para me mudarem de grupo em dois segundos. – Ameacei ir até a sala do professor.
– Ah! – Ele exclamou, rindo. – É brincadeira! Só uma brincadeira.

P.O.V.

– Você finalmente vai ter uma chance! – disse, massageando meus ombros em demonstração de ânimo. – Sabe, você poderia ter tentado desde aquele dia, ela teria te dado atenção.
Eu olhava para o papel pregado no mural ao lado da sala onde meu nome mostrava o número três que, igualmente nas outras listas, encontrava-se ao lado dos nomes de da classe IV de Fotografia e em Literatura Ocidental.
– Eu não sei do que você está falando, ! – Disse, desvinculando-me de suas mãos em meus ombros, voltando a andar pelo corredor.
– Eu estou falando dessa sua paixonite pela desde que você a viu chorando no parquinho por causa do quando tínhamos dez anos. – Ele disse em alto e claro tom.
– Será que você pode baixar essa voz, por favor? – Disse, tapando a boca dele com medo de que alguém pudesse escutar.
Não era por vergonha mas sim por precaução, não gostaria de que meus planos de estar em bons termos com ela fossem por água abaixo.
– Eu já te disse diversas vezes que eu apenas quero que ela se sinta confortável comigo por perto também, eu já tentei o método de ignorar que ela esteve em aulas comigo no ensino médio. – Eu o soltei, imediatamente arrumando seu cabelo.
– Cuidado com o cabelo, cara, eu demorei para deixar assim hoje. – Arrumou as mechas caídas em sua testa. – Além disso, quantas vezes eu já te disse que ela nunca teve problema com você? Ela gosta de você, confia em mim.
– Por que eu deveria? – Eu o olhei, desconfiado. – Você já aprontou o suficiente com ela, .
– Viu só, quando eu tento ser bom para alguma coisa, – Ele suspirou. – ninguém acredita!
– Ah, me pergunto, por que será que isso acontece? – Respondi de forma sarcástica.
– Vamos fazer uma aposta então! – Ele resolveu dizer, parando no meio do corredor. – Mas para isso, precisamos de . Vem!


Parte IV

– Você é simplesmente a pessoa mais medrosa que eu já conheci. – disse, jogando-se sobre a cama. – Eu achei que, conforme fôssemos crescendo, isso mudaria.
– Eu não sou medrosa! – Disse, jogando-me na cama oposta. – Eu apenas não me arrisco, é diferente.
– Totalmente diferente. – Ela disse, levantando e sentando de frente para mim. – “Você deveria se arriscar mais” era o que eu ia falar, mas com essa sua resposta... – Ela riu e sua risada foi a mais irônica do mundo.
Senhoras e senhores, minha melhor amiga era exatamente essa pessoa, não tinha como descrevê-la de forma melhor, irônica e sincera.
– Eu realmente já coloquei na minha cabeça que você é medrosa e será a amiga solteira com trinta gatos no futuro.
– Me respeita, ! – Eu disse, levantando da cama e já irritada com aquele assunto. – Qual é o problema de eu não querer tomar iniciativa em relação a uma pessoa que nem se lembrou de mim no primeiro dia de aula?
, você passou praticamente três meses fora antes das aulas começarem, você não participou da formatura e apenas foi na festa por dez minutos. Até eu não te reconheceria. – Ela disse, rindo. – Ainda mais que você vive fugindo dele desde que descobriu esse amor platônico, ele viu seu rosto por aí poucas vezes além das fotos.
– E o que você sugere? – Perguntei, rindo de forma irônica.
– Na realidade, eu tenho uma proposta! – Ela disse, aproximando-se e puxando minha mão, sentando em minha cama e fazendo com que eu me sentasse com ela.
Lá vamos nós outra vez.
– Você só precisa respirar fundo e aproveitar, ser você mesma, porém menos medrosa. – Ela disse, rindo.

P.O.V.

– O que? – Eu ria descrente daquela cena e principalmente das palavras que acabei de escutar.
e , ambos sentados de frente para mim na mesa da cafeteria como se estivessem me interrogando. Uma cena que, com certeza, vista de longe, deveria ser literalmente tão engraçada quanto estava sendo para mim.
– Vocês enlouqueceram de vez! – Eu disse, ainda rindo.
– Eu disse que ele não toparia. – falou, rindo também. – Ele é inocente demais para tentar algo assim, eu sabia que não teria coragem.
, você tem certeza de que a é sua melhor amiga?
olhou para , surpreso quando ele riu, balançando a cabeça e afirmando. Eu fiz o mesmo.
– Eu aceitei a proposta dessa aposta porque eu sabia que você não seria capaz de fazer. – Ele havia acabado de me desafiar?
– Você tem que se apressar com uma resposta. – disse, interrompendo. – Ou talvez outra pessoa roube a sua oportunidade.
Ele apontou com a cabeça para algum ponto atrás de mim, o que fez com que eu virasse imediatamente, deparando-me com a cena dela, , entrando com um garoto que eu nunca havia visto em toda minha vida, sorrindo e conversando de forma animada.
– Ele está na minha classe de Idiomas. – me despertou da cena que, antes, eu observava com atenção. – Ele se chama Johnny e eles se conheceram no clube de teatro, o professor dela de “arte da atuação'' pediu para que ela o ajudasse com as entrevistas e lá estava ele, todo esforçado e dando o melhor de si. – Vi rir como se gostasse de ver a cara de desgosto que fiz por alguns segundos, voltando a observar os dois na fila da cafeteria interna. – Ela ficou visivelmente animada com a amizade dele, me falou dele por dias.
Seu tom era tão provocante que chegava a ser insuportável ao ponto de cogitar realmente aceitar aquela aposta. Três encontros para fazer com que ela se apaixonasse não era algo errado se eu tinha boas intenções, ou era? Eu estava mesmo considerando isso?
– Três encontros para fazer com que ela se apaixone por mim, foi o que vocês disseram, certo? – Eu disse, fazendo com que ambos arregalassem os olhos de forma exagerada.
– Você... – estreitou os olhos. – Você está mesmo considerando aceitar?
– O que acontece... – Respirei fundo antes de perguntar. – O que acontece se eu não conseguir isso em três encontros?
– Até lá, nós descobrimos. – deixou um sorriso mais maligno do que eu gostaria de ter interpretado escapar dos lábios.
Bro, até eu fiquei assustado agora. – disse, rindo.
Eu me debrucei na mesa, arrependendo-me imediatamente daquele momento impulsivo.
– Não adianta se arrepender agora. – disse, rindo provavelmente da minha cara de desolado naquele instante. – Então lembre-se: você, ela, três encontros de sucesso e você ganha, escolhe o que quiser e, caso contrário, sofre uma punição.
– Ei! – protestou. – O amor da já não é suficiente para ele ganhar?
– Como eu vou saber se ela realmente está ou não afim de mim no terceiro encontro? – Perguntei, ignorando o que dizia, deixando um longo suspiro soar no final da frase.
– Hm, ótima pergunta, não pensei nessa parte. – O mais novo disse, rindo. – , essa é com você, você conhece a melhor do que ninguém, deve ter algo em particular que possa ajudar.
– Cara, se ela descobre sobre isso, eu tenho certeza de que eu apareço sem vida no dia seguinte. – Ele disse, rindo nervoso enquanto coçava sua nuca. – Bom, na realidade, é bem particular. Ela evita contato físico na maioria das vezes mas, se ela te considera o suficiente, ela vai demonstrar isso então, se ela te abraçar por vontade própria ou tiver algum tipo de reação quando você se aproximar que não seja te afastar, óbvio, você realmente chegou em algum lugar. Acho que podemos considerar isso.
– Feito! Essa garota é esquisita. Eu não acredito que, por alguns minutos, havia esquecido disso. – comentou. – Você! – Ele apontou para mim. – Você deve ganhar não só um abraço ou um beijo, quem sabe... – Ele riu, sabendo muito bem que eu me sentiria bem mais estressado com aquele pensamento. – Mas também uma declaração formal de que ela gosta de você e sim, isso implica as palavras “eu gosto de você” ou até mesmo “eu amo você” porque, sinceramente, hoje em dia, nós esperamos de tudo.
– Boa sorte! – disse, rindo. – As únicas pessoas com quem eu já ouvi ela falando de forma sincera foi a mãe, as cachorras, eu, , e um caranguejo que nós encontramos na praia quando tínhamos seis anos.
Eu arqueei as sobrancelhas, tentando entender o que ele havia acabado de dizer.
– Longa curta história... Ela queria levar o caranguejo para a casa, ele acabou pinçando o dedo dela e ela ficou bem magoada dizendo “eu gosto de você, vamos embora comigo, vou cuidar bem de você” enquanto chorava. – o olhava descrente com a história enquanto eu ria, tentando imaginar chorando por causa de um caranguejo.
– Ainda dá tempo de trocar essa paixão irracional para uma melhor. – apontou com a cabeça para uma mesa de veteranas do curso de artes que olhavam em direção à nossa mesa havia um tempo.
– Eu não quero trocar ela por ninguém! – Eu disse um pouco mais baixo. – Ok, eu aceito a “aposta”.
Eu, e três encontros para que ela se apaixonasse por mim.

Parte V

Pov .

— Ok! - arrumava a bolsa atravessada em seu torso enquanto olhava para todos os lados, me deixando mais nervoso ainda. - Você lembra o que tem que fazer, certo?
— Não? - a resposta foi simples e direta, porque era a verdade, o nervosismo não deixava com que minha mente funcionasse bem, era muito como dizem nos filmes que eu costumo assistir. A minha cabeça, nesse momento, definitivamente gritava para que eu dissesse que estava doente e fosse embora. - Sabe, acho que não estou me sentindo muito bem, você pode avisar que não vou poder me juntar a vocês hoje?
— Covarde! - chegou dizendo, como se apenas esperasse por aquele momento para dar as caras. - Viu, , eu disse que ele não conseguiria.
era definitivamente uma das pessoas mais irritantes que eu já havia conhecido e não me admira não suporta-lo 99.9% do tempo.
— Qual é, cara? - se pronunciou. - Você só vai acompanhar ela até em casa, nem conta como parte do nosso trato, fica frio.
Digamos que ter ou como amigos em situações como essa, onde o nervosismo poderia ser algo sério, não ajudava tanto assim. Essa situação é muito parecida como a vez em que nos mandou para diretoria por tentar colar em uma das provas do colégio, longa história porque sequer fomos parar lá por sermos pegos, mas sim porque ele fingiu passar mal depois de não conseguir disfarçar que não tinha de quem colar.
Ou seja, não era uma boa amizade em situações de estresse.
— Você só precisa andar do lado dela, qual é o problema com isso? — perguntou, rindo da minha cara de atormentado. — O problema é que é da que estamos falando — eu respondi enquanto tomava meu suco de laranja que, por alguma razão, nesse momento, estava amargo, ou melhor, salgado.
— Realmente, é um problema desde que apareceu na minha vida, aliás, na de todos nós — disse, rindo da cara de bravo que direcionou a ele. — O que foi? Não tô mentindo, você sempre fica do lado dela.
— Provavelmente porque você não é muito racional na maioria das vezes, diferente dela — eu respondi, rindo. — Porq ue esse suco tem um gosto estranho, amargo? Salgado? — Falta amor — disse, zombando. — E açúcar, na verdade, eu esqueci de avisar que o açúcar tinha acabado.
— Mas eu vi você colocando… — eu tentei dizer, mas , como sempre, não me deixava terminar uma frase.
— Olha a hora — ele disse, olhando para o pulso que, por sinal, não trazia relógio algum.
então soltou uma risada absurda, me assustando.
— Você colocou sal no suco dele outra vez? — perguntou para o moreno que fingia ler algo muito importante em seu celular.
Ele abaixou no mesmo instante, olhando com cuidado para a minha expressão de indignação.
— Em minha defesa — ele disse, levantando as mãos —, eu realmente pensei que fosse açúcar dessa vez e foi apenas um pacote — me olhou, rindo fraco. — Você tomou quase tudo, não significa que não estava tão ruim assim?
desatou a correr pelos gramados do campus, sabendo que se ficasse por perto teria que enfrentar as consequências.
Felizmente ele tinha amor o suficiente pela vida dele.
— Se você não voltar aqui, vou ser obrigado a desconectar todos os cabos do seu computador quando chegarmos no dormitório — eu disse, indo atrás dele que seguia em direção ao prédio principal. — E você, vai levar boas três horas ligando ele outra vez.
parou seus passos e se virou, fazendo com que eu parasse bruscamente também.
— Tem certeza disso? — ele disse, sorrindo de forma perturbada.
Quem conhece, sabe que aquele não era um bom sinal. — O que você vai fazer? — eu perguntei, receoso.
— Vou te dar um empurrãozinho — ele sorriu.
Seus cabelos escuros voavam conforme ele vinha na direção em que eu e estávamos. Sua expressão era tão estranha que e eu nos entreolhamos sem entender. No meio do caminho ele pegou uma das bolas de futebol americano que um dos garotos do time principal trazia e sorriu mais uma vez em nossa direção.
— Ei, nerd! — ele gritou de repente para alguém atrás de mim e eu soube no mesmo momento o que ele faria. — Pega!
E lá estava ela, saindo de sua aula com uma cara de sono que era inevitável não achar fofo. Seus olhos pequenos pelo sono, seu copo de café em mãos juntos de seus livros e sua cara de desentendida vendo lançar a bola.
— Droga! — eu disse, me aproximando dela para tentar impedir a bolada que ela levaria parada daquela maneira na porta da sala.
Ao invés de deixar com que a bola pegasse nela com força, consegui evitar, agarrando a mesma com as mãos.
— Você realmente não tem amor a sua vida — disse, vindo em nossa direção. — Está tudo bem?
— Nós temos um herói entre nós — disse com a mão em seu peito fingindo demonstrar sentimentalismo. — Eu achei que ela pegaria — ele disse de forma cínica.
— Você está mesmo querendo sair desse mundo, ? — ela disse, olhando para ele com raiva. — Segura isso aqui, por favor — ela disse, jogando os livros em minhas mãos e entregando seu copo e sua mochila para . — É bom você se preparar para correr, , porque se eu te pego, faço você voltar para o… — Minha deixa! — ele disse, saindo correndo pelo campus. — Suas pernas são curtas demais, você não vai conseguir me alcançar.
Às vezes era vergonhoso ter ele como amigo, mas desde que éramos crianças, a satisfação que eu e tínhamos era ver ela dando uma surra nele, coisa que nunca mudou.
— E ele vai dar a volta no pilar — disse, tomando um gole do café que ela tinha entregado.
— E ele como um ser nada racional, vai fingir que vai para um lado quando vai para o outro — disse, se aproximando.
— É óbvio que ela sabe disso — Eu comentei, rindo da cena onde deu de frente com o e o segurou pelo colarinho.
Ela definitivamente era algo a mais.
Todos assistiam a cena e riam de como fingia não ter medo dela e isso a irritava, apesar de sua altura, ela poderia ser assustadora.
— Isso me lembra de quando aquele cara mais velho queria bater no na oitava série e ela ameaçou até a terceira geração dele — comentou, rindo para mim. — Ela sabia onde a avó dele morava.
— Ele ficou morrendo de medo da avó ficar sabendo — comentou, rindo. — E a lá, em pleno domingo de manhã voltando da feira com ela apenas para assustá-lo.
— Eu teria medo dela — comentou.
— Eu também! — concordou, me fazendo rir.
— Ele só não tem esse medo todo porque eles já…— foi cortada com uma cotovelada vinda de e um olhar mortal vindo de , junto de um levemente assustado vindo de .
— Do que vocês…— Eu tentei dizer algo mas um ofegante não deixou com que eu terminasse.
— Droga, eu já fiz meu exercício do dia — Ela respondeu, se aproximando. — Pode me dar isso agora, obrigado por segurar isso para mim enquanto eu quebrava o na porrada — ela pediu, tímida, fazendo com que todos nós déssemos risada.
— Posso levá-los para você, nunca se sabe quando você precisará fazer isso outra vez — eu comentei, rindo.
— Um ponto para o disse, rindo.
Era aquilo, eu sabia que aquela havia sido a melhor maneira de eu poder me aproximar dela como quis todos esses anos.
— Nós, hm, precisamos fazer algumas coisas hoje — disse, lançando um olhar compreensivo para e que balançaram a cabeça positivamente. — e ainda têm aula, por que o não te leva para a casa hoje? — E o nosso projeto? — ela perguntou com a expressão confusa em seu rosto, ela provavelmente sabia dos horários de e por isso achou estranho, assim como eu.
Afinal, aquilo não estava no nosso “script interno”, então, o que eles estavam fazendo?
— Tivemos uma aula marcada de última hora por um teste que vamos ter daqui alguns dias — inventou qualquer desculpa, era possível ver na cara dele o quanto ele estava se sentindo mal por mentir para a . — Mas já que eu não posso estar presente, nós marcamos para outro dia e você não tem mais aulas hoje, por que não vai embora acompanhada dele mesmo? Melhor do que ir sozinha.
— Eu não quero incomodar ele — eu pude ouvi-la responder e talvez, o tom nervoso em sua voz me desse esperanças do que deveria.
— Por mim tudo bem — eu disse, sem graça, não queria parecer desesperado também.
— Certo, então sua companhia é mais do que bem-vinda — seu sorriso era claramente o mais bonito que eu já havia visto.
Eu odiava admitir isso mas, droga, essa garota ainda me deixaria louco.
— Primeiro passo dado — sussurrou para mim antes que saísse junto com os outros. — Não se esqueça, você precisa de algum resultado vindo daí para dar os outros dois — porque aquilo, vindo daquela maneira e dele, parecia tão errado? Realmente bateu em minha mente como um martelo em minha consciência. — Compre um chocolate quente para ela no caminho, faça chuva, faça sol, faça calor ou frio, sempre vai ser a bebida favorita dela.
Pior ainda, por que ele saber tanto dela me incomodava?
Éramos todos amigos, sabíamos tudo uns dos outros, era só por isso que ele sabia de detalhes sobre ela, certo?
— Você tem certeza que não vai te tirar do caminho? — ela perguntou, me tirando de meus pensamentos. — Eu não quero incomodar, posso ir sozinha e… — Eu quero ir até a sua casa — eu disse de forma impulsiva, não querendo perder essa oportunidade.
— Huh? — ela perguntou, rindo, confusa.
— Eu quero te acompanhar até a sua casa — eu reformulei a minha frase, me xingando internamente sobre como a anterior tinha saído. — Desculpa, às vezes eu... — eu nem sabia mais o que falar a esse ponto.
O que eu diria? “Na verdade eu quero ir te levar até em casa, ou melhor eu preciso, porque eu fiz uma aposta estúpida com meus amigos que por acaso são seus amigos, para ver se eu conseguia me aproximar de você, a garota que eu gosto há tanto tempo mas que evitei pela mesma quantidade de tempo por suar de nervoso toda vez que eu te via”?
— Tudo bem — ela disse, rindo, provavelmente porque minha frase morreu ali e mais nada saiu da minha boca. — Eles te contaram sobre o esconderijo de doces, né? Traidores, eles vivem espalhando para as pessoas, mas se foi para você tudo bem, eu te dou alguns, recompensa por ter me levado em casa, você merece mais do que eles de qualquer forma.
Meu coração acelerou tão forte com aquela frase que eu me perguntei várias vezes o quão emocionado eu era e a resposta foi: muito.
Eu realmente não conseguia me controlar quando o assunto era ela e isso era vergonhoso, afinal, eu nem sabia se ela realmente retribuía aquele sentimento.
— Festa na sexta à noite — nós ouvimos alguém gritar de longe no meio do campus enquanto caminhávamos já até à saída da faculdade. — No antigo galpão do Stivens, é bom vocês trazerem mais bebidas, é o único requisito de entrada.
— Fique quieto, senhor Jun! — a bibliotecária saiu nervosa, já que ele havia gritado a alguns metros da biblioteca.
Ver rir da cena onde Jun, nosso sênior, fugia da bibliotecária pelo campus era estranhamente satisfatório, ações assim faziam com eu tirasse atitudes do fundo do baú enterrado em minha mente: Atitudes impulsivas era o nome do baú. E nunca era uma boa coisa quando eu resolvia usá-lo, afinal, cenas como a próxima aconteciam sem que eu ao menos me desse conta.
— Você quer ir à festa? Comigo? — eu perguntei do nada — Jun me convidou antes de anunciar mas disse que eu precisava trazer alguém comigo, não sei se você lembra dele quando estudávamos juntos, mas somos amigos e… — eu dizia nervoso, tentando não parecer esquisito naquele momento. — Droga, espero que isso não esteja sendo estranho — eu ri e ela fez o mesmo, o que aliviou a tensão. — Nós podemos convidar os outros e irmos todos juntos. A primeira festa do ano é sempre a melhor — ela me olhou com as sobrancelhas erguidas e eu sabia que era por conta de eu também estar no meu primeiro ano de faculdade, como ela. — Palavras dele — eu ergui as mãos. — Mas não significa que eu nunca tenha ido em alguma delas.
— Aceito! — ela respondeu, rindo. — Eu preciso fingir que sou uma pessoa sociável no começo do ano letivo para poder dar a desculpa do meio para o final de que ando muito ocupada para sair da minha cama nos finais de semana de qualquer forma.
Ela havia aceitado e mais uma vez eu tirei a conclusão de que, sim, eu era emocionado.


Continua...



Nota da autora: eu demorei para atualizar mas eu prometo deixar uma notinha a cada atualização! Me perdoem pela demora, espero que vocês tenham gostado desse capítulo, eu precisava colocar um pouco de contexto em algumas ideias que eu tive e por isso ele foi curto, prometo que o próximo vem maior e mais emocionante. Não te matem 💗
Xoxo, Caleonis.

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