Última atualização: 10/01/2019

Capítulo 1

Unnie, mamãe pediu para eu vir te acordar! – Ouvi minha irmã dizer ao abrir a porta do meu quarto.
Gemi e cobri meu rosto devido à claridade.
– Mas já? – retruquei. – Que horas são, Gracie?
Eu havia passado a noite em claro jogando Overwatch e sentia como se tivesse acabado de dormir quando minha irmã mais nova veio me chamar.
– Você está atrasada para a escola! – Grace respondeu, risonha.
Tirei o cobertor do rosto e notei que ela já estava pronta.
– ‎Aaaaaaaahhh! – Levantei, pulando da cama, e corri para o banheiro.
Arrumei-me na velocidade da luz e acabei saindo de casa sem comer nada, porque não dava tempo mesmo! Eu tinha exatamente 20 minutos para chegar na escola, e o percurso normalmente levava meia hora, sendo parte do caminho feito de ônibus. Felizmente, sempre tinha muitos ônibus nas ruas de Seul, e porque Deus deve me amar muito, eu entrei na sala de aula exatamente na hora que o sinal tocou.
Joguei-me na cadeira, suspirando aliviada. Nesse momento, meu professor de Inglês, Mr. Woo, entrou na sala.
Good Morning, class! – Ele cumprimentou, sempre alegre.
– ‎Good Morning, Mr. Woo. – Respondemos com um pouco menos de animação, afinal de contas era a primeira aula do dia numa segunda-feira.
Ninguém nunca está animado tão cedo, ainda mais numa segunda.
– ‎How was your weekend? Did you guys study hard? – Ele brincou ao colocar seu material na mesa, e houve algumas respostas e risadas.
Agora que a adrenalina estava baixando, meu sono voltou com tudo, e eu fiquei prestando atenção só em parte do que estava sendo dito na aula. Eu sabia que minha nota nessa matéria seria a máxima, porque inglês era meu primeiro idioma. Eu nasci nos Estados Unidos, minha mãe é americana descendente de coreanos, e meu pai é coreano. Eles se conheceram quando meu pai foi fazer mestrado em Los Angeles e se apaixonaram. Eles casaram, e dois anos depois eu nasci, e moramos lá os meus primeiros 12 anos de vida.
Foi um choque cultural e tanto quando nos mudamos para Seul, porque, apesar de me parecer com todos a minha volta, sinto-me de certa forma diferente – principalmente na maneira de pensar. A comunicação foi outro impedimento, já que meu coreano era quase inexistente na época. Tive bastante dificuldade para fazer amigos no começo, por isso minhas principais companhias foram videogames. Cinco anos se passaram e isso não mudou muito nos dias de hoje, já que continuo sendo uma pessoa de poucos amigos.
Tenho dois melhores amigos, o Jun e a So-mi. O Jun e eu nos aproximamos basicamente por sermos viciados em Overwatch, e a So-mi foi a primeira menina a conversar comigo quando entrei na escola aos 12 anos; ela é bastante dedicada, tanto nos estudos quanto com suas amizades. Além disso, sempre teve uma queda enorme pelo Jun, e o cabeça oca FINALMENTE percebeu isso e recentemente a chamou para um encontro. Eles formam um casal super fofo e eu os shippo muito.
Falando neles, podia ver que Jun estava caindo de sono assim como eu, e a Mimi nos olhava com cara de reprovação, porque já sabia que tínhamos jogado a noite toda. Eu fiz careta pra ela, e ela apenas balançou a cabeça, mas pude ver que estava sorrindo.
Mais uma vez me desliguei da aula e comecei a pensar na vitória de ontem. A última partida que joguei foi épica! Lembro de pensar que iríamos perder feio, porque meu time estava repleto de pessoas incompetentes, mas com ajuda da D.Va nós conseguimos carregar o time e ainda vencer lindamente.
Eu normalmente não utilizo microfone quando estou jogando, porque são pouquíssimas as garotas que jogam, e percebo que outros players são condescendentes quando descobrem que eu não sou um garoto. Pff, como se eu precisasse que eles "pegassem leve" comigo só por eu ser mulher. Isso quando não recebo propostas indecentes de garotos virjões pervertidos. Enfim, continuando, apesar de eu só passar instruções básicas pelo chat para o garoto que estava jogando de D.Va (ele claramente não tem o mesmo problema que eu e estava urrando no meu ouvido pelo microfone), nosso jogo fluiu muito bem. No final da partida, ele me agradeceu, disse good game e me adicionou. Eu sorri, porque realmente tinha sido um ótimo jogo.
As horas se arrastaram, mas finalmente as aulas terminaram, e o Jun me convidou para um café próximo da escola para jogarmos antes de ir para casa, claro.
Quando loguei na minha conta, vi que o cara que havia jogado comigo ontem estava online, e não demorou muito para uma janela saltar na minha tela.
TaeTae: Go Go?
Pegasus: Direto ao ponto lol
Pegasus: Vamos!
, vou mandar convite para minha partida... – começou Jun.
– ‎Não precisa, acabei de aceitar um aqui. – Falei, e Jun deu de ombros e voltou a atenção para a sua tela.
Foram três vitórias fáceis e seguidas. Nossa dupla de D.Va e Winston estava incomparável. Eu estava rindo muito do entusiasmo do TaeTae durante as partidas, mas tive que me desconectar, porque minha mãe ligou e me mandou voltar para casa. Ela sabia que, se me permitisse, eu ficaria tranquilamente no café.
TaeTae: Você tem mesmo que ir?
Pegasus: Minha mãe vem aqui e me leva de volta pela orelha se eu não for pra casa agora haha
TaeTae: Hahahaha tá certo. Amanhã no mesmo horário? Agora que sei como jogamos bem juntos, não quero perder essa oportunidade!
Pegasus: Combinado! Tchau, TaeTae!
TaeTae: Tchau :)

– Pff, você ficou o tempo todo jogando com esse cara. Não te convido mais pra jogar comigo também. – reclamou Jun, e eu ri, envergonhada.
– ‎Mi-an-hae, Jun. É sempre bom ter um ofensive foda jogando. Não vou esquecer de te convidar na próxima vez.
– ‎Humpf. Já vi que fui trocado.
‎Aigoo, você é insubstituível, Jun! Mas você sabe que não dá para competir com alguém que joga tank como eu.
Vi-o revirar o olhos, mas não questionou. Sabia que eu tinha um ponto.
– Bom, eu tenho que ir agora! – Continuei.
– ‎Vou com você. Meu pai já me encheu de mensagens também.
Saímos juntos do café, e, ao chegar em casa, jantei e fiz a lição de casa. Considerei jogar mais um pouco, mas já não tinha dormido direito no dia anterior e sabia que, se ligasse meu PC para jogar, seria mais uma noite de sono perdida, e até eu tenho meus limites. Prezo meu descanso quase tanto quanto meu jogo.
Adormeci pensando na risada do TaeTae.


Capítulo 2


No dia seguinte, acordei por conta própria. E – devo acrescentar – antes mesmo do despertador tocar, com um sorriso no rosto. Sentia-me descansada, leve e com um ótimo humor. Segui para a cozinha para tomar meu café da manhã, cantarolando uma música de uma banda inglesa que eu gostava bastante. Meus pais e minha irmã já estavam sentados, fazendo seus respectivos desjejuns.
Vi meu pai levantar a sobrancelha, questionando de forma silenciosa a minha animação. Já minha mãe, direta como sempre, exclamou:
– Nunca te vi tão animada logo pela manhã. Tem algo que você gostaria de nos contar? – e sem esperar minha resposta, ela indagou. – Filha, você está namorando finalmente?!
Meu pai se engasgou com o café que estava tomando e a Grace caiu na gargalhada. Senti minhas bochechas esquentando e rapidamente retruquei:
– Mãe! Não! Ommo, não posso acordar de bom humor? Preciso ter um motivo?
– ‎Calma, filha. Foi só uma perguntinha...
– ‎Ugh. – resmunguei.
– ‎Minhas meninas, acabamos de começar o dia. – meu pai, com seu melhor tom de voz diplomático, começou. – Por que não tomamos nosso café e conversarmos sobre assuntos mais confortáveis e que não envolvam a vida amorosa da minha filha adolescente?
Senti novamente o sangue concentrando-se em minhas bochechas com a escolha de palavras dele. Vida amorosa era uma coisa que eu não tinha. Provavelmente porque me sentia idiota quando o assunto era garotos. Sim, eu tinha até bastante coisa em comum com eles. Videogames, mangás e HQs, por exemplo. Mas quando se tratava do outro aspecto, o romântico... Eu não sabia de muita coisa, de verdade. Despertei-me dos meus pensamentos quando minha mãe perguntou:
– O que você sugere que conversemos nessa maravilhosa manhã de terça-feira, querido? – ela questionou, fazendo sua melhor imitação de uma lady inglesa do século XIX.
– ‎Escola, é claro. – respondeu papai, simplesmente.
Ao mesmo tempo, eu e Grace suspiramos.
Appa, passamos literalmente a semana inteira na escola, às vezes até alguns finais de semana. Queremos uma pausa disso pelo menos quando estamos no café da manhã. – Grace reclamou, fazendo bico.
– ‎É verdade, e o senhor sabe que temos boas notas. Sempre é o primeiro a ver nossos boletins. – revirei os olhos, concordando com minha irmãzinha.
Nossa mãe riu de nossa indignação e bagunçou o cabelo da minha irmã.
– Tudo bem, meninas, agora que estabelecemos quais tópicos não iremos conversar no café da manhã, por que não simplesmente comemos? Vocês duas têm aula logo mais e mal tocaram na comida.
Okay, mommy. – respondemos juntas.
Depois saímos juntas de casa, mas seguimos em direções diferentes. A escola de ensino fundamental que Gracie frequentava fica um pouco mais perto que a minha, mas minha irmãzinha era representante da turma e costumava chegar mais cedo para cumprir com seus deveres na escola. Sim, ela era meio nerd. Mas também era bastante popular. Apesar dos sete anos de diferença e personalidades distintas, éramos bastante próximas. E ao contrário da maioria dos meus colegas de classe que sempre reclamavam dos seus irmãos mais novos, eu sempre agradecia pela irmã que eu tinha.
Ao chegar à escola, cumprimentei Jun e Mimi. O professor ainda não havia entrado na sala, por isso me aproximei deles para conversar.
, hoje vamos jantar naquele restaurante novo que abriu no centro da cidade. Quer vir conosco? – convidou Mimi.
– ‎Ahh, não quero atrapalhar. Vocês quase nunca têm tempo para ficarem sozinhos. – repliquei.
– ‎Você é nossa amiga, . Sua presença é sempre bem-vinda! – Jun garantiu, passando o braço sobre meus ombros.
– ‎Exatamente! Não vamos nos tornar aquele tipo de casal que esquece os amigos. – falou Mimi, mas pude ver que estava vermelha com implicação de ficar sozinha com Jun.
Eu sorri ao vê-la sem jeito e disse:
– Vocês são namorados! Precisam namorar de vez em quando. – pisquei. – Além do mais, eu tenho um compromisso hoje... – dessa vez foi minha vez de ficar corada.
– ‎COMO ASSIM, ?! VOCÊ TEM UM ENCONTRO? – gritou So-mi.
Todos os alunos viraram e eu quis encontrar um buraco para me enfiar, porque todo mundo estava olhando para mim. Lancei um olhar mortal para ela, que ao perceber que havia falado alto demais, fez careta. Jun gargalhou.
Mi-an-hae, . – ela sussurrou.
Antes que eu pudesse falar algo, a professora de História entrou na sala e todos os alunos voltaram para seus lugares, porém pude ver que algumas garotas da minha turma estavam cochichando entre si, enquanto lançavam olhares furtivos em minha direção. Afundei-me na minha cadeira, morta de vergonha, e tentei ignorar tudo a minha volta, focando apenas na aula.
Quando o sinal tocou, indicando o final da última aula do dia, eu juntei meu material e praticamente corri para fora da sala. Sim, eu estava fugindo dos meus amigos e suas perguntas constrangedoras. Considerei ir jogar no café, mas sozinha não tinha muita graça, por isso, resolvi ir para casa mesmo. Havia marcado de jogar novamente com o TaeTae e estava ansiosa. Tentei não pensar demais nos motivos que implicavam essa ansiedade e só segui em direção à casa.
, chegou cedo. – cumprimentou mamãe.
– ‎Sim, estou indo para o meu quarto jogar um pouco antes do jantar. – respondi, distraída, enquanto tirava o tênis e calçava o chinelo para entrar em casa.
– ‎Tudo bem, filha. – ela sorriu e eu também.
Ao entrar no quarto, liguei meu computador e, enquanto o mesmo iniciava, tomei uma ducha rápida e vesti um pijama fofinho. Mal abri o jogo e uma mensagem piscou no chat.
TaeTae: Pegasus, cara! A gente tava te esperando!
Pegasus: Hey, sup. Foi mal, vim pra casa ao invés de ir pro café hoje.
Pegasus: Pera. Como assim, a gente??
TaeTae: Pois é, comentei com meu amigo sobre você e ele disse que queria jogar contigo também. Temos esse tempo livre do trabalho e estávamos te esperando.
Pegasus: Ah, poxa. MB pela demora. Manda convite pra partida.
TaeTae: Tudo bem, vamos jogar! \o/

TaeTae mandou convite de uma partida para você. Aceitar?

Cliquei em sim e reparei que TaeTae e mais um user já estavam na sala, presumi ser o amigo dele. Logo em seguida, recebi uma mensagem.
Seagull1: Hey, man! O TaeTae falou que você joga muito de Winston. Quero só ver!
Eu ri ao ler o que ele escreveu. TaeTae e seu amigo pensavam que eu era um garoto, e eu não pretendia corrigi-los.
Pegasus: Hey, Seagull1, hahaha beleza! Sempre aceito críticas construtivas.
Nós jogamos duas partidas, mas vencemos apenas a primeira. Seagull1, que jogava de McCree, ficou admirado com minhas jogadas, enquanto TaeTae apenas respondia "eu te disse, JK!". Presumi que fossem as iniciais do nome dele, mas não quis perguntar.
Apesar da derrota na segunda partida (que devo acrescentar, não foi por falta de tentativa de virar o jogo da nossa parte), os dois já queriam começar outra. Porém, tive que rejeitar.
Pegasus: Não posso agora, vou jantar e fazer meu dever de casa.
Ah, você ainda está na escola. – Seagull1 falou pelo microfone com certo desdém.
‎JK, você se formou esse ano. – rebateu TaeTae e eu ri, sentindo uma onda morna aquecendo todo meu corpo.
Ele tinha vindo em minha defesa mesmo?
Pegasus: Então vocês são meus Hyungs?? Têm quantos anos?
Eu tenho 21 e o TaeTae 23. – respondeu Seagull1.
Pegasus: Nossa, você terminou o ensino médio tarde mesmo hein.
Pude ouvir a gargalhada alta de TaeTae e os resmungos de Seagull1, algo a ver com "você sabe bem por que, Taehyung!", seguido por um "Shhh!".
Será que ouvi direito? TaeTae se chama Taehyung? Fiquei meio envergonhada, porque claramente ele não queria que eu soubesse o nome real dele, então decidi ignorar e fingir que não tinha percebido o deslize do Seagull1. E Taehyung é um nome lindo, pensei comigo mesma.
Pegasus: Bom, eu tenho 19. E vocês estão jogando do mesmo lugar?
Ah, sim. Moramos juntos. – respondeu TaeTae ao ouvir o bip da minha mensagem, estava distraído falando algo baixo e inteligível para Seagull1.
– ‎Pegasus, por que você não liga o microfone, cara? É melhor para a gente se comunicar. – questionou Seagull1.
– ‎Sim! Eu concordo. – disse TaeTae rapidamente.
Pegasus: Ahhh, eu prefiro falar por aqui. De qualquer forma, tenho que ir. Jantar e tudo mais. Até a próxima, caras.
Mas... – começou TaeTae.
Pegasus: Annyeong!
E, covardemente, desconectei do jogo. Meu Deus, foi por pouco!


Capítulo 3


O jantar estava delicioso! E foi obra do papai, claro, porque até hoje a mamãe não dominou a culinária coreana, algo que continua sendo alvo de alfinetadas por parte da minha avó sempre que elas se encontram nos feriados. Papai fez sua especialidade e meu prato favorito, japchae, e tivemos uma refeição em família. Quando terminamos, Grace e eu ficamos encarregadas da louça, enquanto nossos pais foram para a sala escolher um filme para assistirem juntos.
Sim, meus pais, mesmo após vinte anos juntos e duas filhas, ainda fazem programas em casal. Eu chamo isso de sucesso matrimonial. Espero um dia ter um relacionamento duradouro e feliz, assim como o deles.
Unnie, você lava, e eu seco e guardo? – minha irmãzinha sugeriu em tom de pergunta.
– ‎Perfeito, Gracie! – acenei, sorrindo, e me dirigi à pia para começar a lavar a louça.
– ‎Você se importa se eu colocar música? – questionou, fazendo uma carinha digna do Gato de Botas de Shrek.
Eu revirei os olhos, porque sabia BEM quais músicas ela iria colocar para tocar. Porém, não consigo dizer não para nada que ela pede, então apenas suspirei.
– ‎Claro, Grace. Põe aí seu BTS.
Ela soltou um gritinho empolgado e eu tentei esconder meu sorriso. Logo em seguida, o boy group favorito da minha irmã começou a tocar na cozinha. Eu conhecia as músicas de tanto ouvir "passivamente", assim como toda minha família. Era o mesmo tipo de situação que acontece quando você convive com fumantes e se torna um fumante passivo, sabe? Então, é basicamente isso. Acontece que eu não conheço as músicas e álbuns por nome, muito menos sei todas as coreografias e fanchants possíveis, diferente da Grace, que inclusive está no fanclube oficial do grupo. Sim, ela é louca por esses caras.
Devo admitir, as músicas são legais e eles são todos MUITO lindos. Mas ao mesmo tempo são tão inalcançáveis e fora da minha realidade, que eu, com todo o meu jeito prático, acabo não ligando muito para esse tipo de relacionamento entre fã e idol. Nada contra, apenas uma opinião pessoal. Eu sou tão desligada para essas coisas que boa parte do que ouço é graças a Grace, ela é quem sempre me apresenta as novidades no mundo musical. De outra forma, tudo que eu ouço é de pelo menos dez anos atrás.
Quatro músicas depois, tudo havia sido lavado e guardado. Sequei as mãos e olhei para o relógio. Ainda eram 22:40.
– O que você pretende fazer agora, sis? – questionei.
– Fiz meu dever bem cedo hoje, então vou praticar algumas coreografias ou ver vídeos no YouTube. – ela respondeu prontamente.
– ‎Ugh, dever. – resmunguei. – Eu queria poder dizer que o meu dever também já está feito, mas na verdade terei que fazê-lo agora. Divirta-se, Gracie!
– Não morra de tédio, unnie. – Grace respondeu de volta risonha.
– Ha ha, não prometo nada. – eu rebati, revirando os olhos. – Boa noite, little sis.
– Boa noite! – ela me deu um beijinho na bochecha e seguiu para seu quarto cantarolando o que provavelmente era alguma música de BTS.
Organizei algumas coisas que estavam fora do lugar na cozinha, e finalmente segui pesarosa para o destino que me aguardava.
A semana passou arrastando-se. No decorrer da semana, eu joguei toda a noite após a aula com o TaeTae, e às vezes o Seagull1 nos acompanhava, assim como o Jun. Nós realmente éramos bons jogando juntos, por isso combinamos de fazer viradão, já que hoje finalmente era sexta e eu e o Jun não teríamos aula no dia seguinte! Claro que meus pais não me deixaram ficar no PC bang durante a madrugada, então teria que jogar em casa.
– Nem se você falar que eu vou estar lá vai fazê-los mudarem de ideia? – Jun insistiu.
– Improvável, J... Você sabe como meus pais são! – respondi com um suspiro.
Aish. Vai dificultar demais a comunicação se você não estiver jogando do meu lado. Só funcionou tão bem essa semana porque estávamos sempre jogando juntos!
Revirei os olhos, porque ele veio com esse papo pela milionésima vez hoje.
– Jun, a gente se conhece há quanto tempo? Cinco anos, certo?
– Sim. Desde que você se mudou para a Coreia. – ele respondeu meio sem entender aonde eu queria chegar.
– Exatamente. Fazem cinco anos também que jogamos juntos! Você não acha que já nos conhecemos bem o suficiente para saber a forma de jogar um do outro? – eu continuei, arqueando uma sobrancelha.
– Ok, ok. Tenho que concordar. – agora foi a vez dele de suspirar.
– Obrigada! Além do mais, o chat está lá para isso. – eu disse, sorrindo.
– Ha há. – ele fingiu rir, mas acabou sorrindo depois também.
– Tudo certo, então. Até mais tarde, Jun! Eu vou tomar milk-shake com a sua namorada agora antes de ir para casa. – eu o informei, piscando.
– E VOCÊS NÃO ME CONVIDAM? – ele reclamou.
– Mimi disse que você estaria ocupado. Além do mais, já passamos tempo demais com você. Às vezes meninas querem conversar sem a presença de garotos, sabia?
– Humpf... – vi-o resmungar, mas continuei meu caminho até a biblioteca, onde So-mi disse que me esperaria.
– Então, você vai me contar quem é esse TaeTae que eu vejo você comentar o tempo inteiro com o Jun? – So-mi questionou, piscando sugestivamente.
– Mimi! Não! A gente só joga juntos. Sério. – eu respondi rapidamente, sentindo as minhas bochechas esquentando devido à insinuação da minha amiga.
– Como assim? Vocês não conversam nunca? – ela perguntou, surpresa.
– Não! Ele pensa que eu sou um garoto. E eu não o desmenti. – confessei, mordendo o lábio inferior.
– O QUEEEEEE? – ela exclamou e algumas pessoas viraram para olhar.
Meu Deus, ela precisa parar com essa mania de ser escandalosa!
Shhhhh. – pedi silêncio. – Pois é. – continuei, cochichando. – Eu não desmenti o garoto. Não quero que as coisas mudem, é legal jogar com ele. Tenho medo dele acabar sendo idiota que nem os outros garotos. Além do mais, é só jogo. Não é como se eu fosse ter algo com ele! Nunca nem o vi!
Mimi parecia um pouco decepcionada com a minha resposta. Desde que ela e o Jun começaram a namorar, baixou nela uma santa casamenteira e ela resolveu que eu também precisava arranjar um namorado. Vivo tentando tirar essa ideia da cabeça dela desde então. No momento, ela parece ter desistido.
Ficamos algumas horas conversando sobre séries da Netflix e ela me mostrou músicas novas da IU, a cantora favorita dela (e de toda a nação coreana, devo acrescentar). Quando dei por mim, já haviam se passado duas horas e já tinha passado da hora de eu ir para casa para jogar com os meninos. Despedi-me da So-mi com um abraço rápido e fui correndo para casa.
Ao chegar, cumprimentei meus pais e Grace, que estavam assistindo TV na sala, e segui para meu quarto.
– Filha, não vai jantar? – mamãe indagou ao me ver passar na direção oposta à cozinha.
Anio. Estava lanchando com a Mimi ainda há pouco. Obrigada!
– Tudo bem, então. – ela concedeu e voltou a atenção para o programa de variedades que estava assistindo.
Eram nove e meia da noite, e eu estava atrasada, mas mesmo assim tomei um banho e troquei de roupa antes de ligar o meu computador.
Assim que abri o jogo, três conversas diferentes pularam na minha tela.
IncredibleJun: !!!! Até que enfim!
Seagull1: Cara, olha a hora. A gente não tinha marcado 40 minutos atrás? Já era para estarmos startando a segunda partida...
TaeTae: Pensei que você não fosse aparecer.

Eu ignorei a mensagem do Jun e Seagull1 e respondi primeiro o TaeTae.
Pegasus: Mi-an-hae. Estava com uma amiga e acabei perdendo a hora.
TaeTae: Amiga, é? hmmm hahaha nesse caso tá perdoado

Eu fiz careta, porque ele obviamente pensou coisa indevida e, ugh, a So-mi é fofa e tudo mais, mas felizmente eu sinto atração por homens.
Pegasus: lol.
Pegasus: Vamos jogar?
TaeTae: Com certeza! Mas, você vai ligar o mic hoje?
Pegasus: Você não desiste, hein??
TaeTae: HAHAHA tudo bem, tudo bemmm.
TaeTae: Mas realmente deixaria as coisas mais simples...
Pegasus: Até o momento não tivemos nenhum problema, então acho que não é tão necessário assim ;)
TaeTae: Ta bommmmmm *sigh*

Aí ele se deu por vencido, convidou-me para uma partida e eu aceitei. Vi que Seagull1 já estava lá e pedi para que ele incluísse o Jun também. E aí finalmente começamos os trabalhos.
A melhor decisão que tivemos foi jogar os quatro juntos. TaeTae e Seagull1 estavam animadíssimos e, após ganharmos duas partidas seguidas, um amigo deles, usuário ChimChim, juntou-se ao time. Particularmente achei o nick dele bem fofo, e como ele logo ligou o microfone, rapidamente percebi que a voz dele também era fofa. Só que não tinha nada de fofo no jeito que ele destruía o time inimigo.
ChimChim jogava de Reaper, um herói ofensivo com uma ult simplesmente foda e exatamente o que estávamos precisando. A terceira partida foi moleza depois disso. Estávamos confiantes, talvez até demais, quando startamos a quarta partida.
As coisas começaram a dar errado porque entrou um troll no nosso time, que estava simplesmente acabando com nosso jogo. E como estávamos indo tão bem antes, o estresse devido à mudança brusca de vitória para perda eminente deixou todos nós irritados.
Os meninos xingavam e davam ordens ríspidas para tentar reverter a situação, enquanto eu tentava segurar o ofensive do time inimigo para evitar que eles conseguissem concluir suas missões, porém sem um suporte decente, eu e o TaeTae não demos conta de tankar.
– PORRA, ! FOCA NO OBJETIVO! – gritou Jun no microfone para todos ouvirem quando ele acabou morrendo também.
? Pegasus é mulher? – ouvimos ChimChim perguntar, confuso.
– ENTÃO É POR ISSO QUE VOCÊ NÃO QUERIA LIGAR O MIC! – Seagull1 gritou, acusatório.
– Pegasus? – ouvi o TaeTae me chamar, sua voz um misto de hesitação e surpresa.
Eu fico paralisada com o choque. Na minha cabeça, só consigo pensar uma coisa: ”Droga, fui descoberta”.


Capítulo 4


Eu olhava, imóvel, a tela do meu PC. O jogo completamente esquecido não só por mim, mas por todos os garotos. Na tela a palavra “DERROTA” parece zombar da minha cara, e no fone de ouvido ouço quatro vozes exclamando coisas que eu não consigo compreender agora. Respiro fundo, tentando controlar a vontade de chorar. Não cometi crime algum, só estava tentando evitar exatamente esse tipo de situação. E daí que eu sou uma menina? E daí que eu jogo bem? Meninas podem jogar bem, não é algo exclusivo para garotos. Irritada, eu pisco e acordo do transe.
– Foi mal, , desculpa mesmo... – ouço Jun dizer.
Rolei os olhos e bufei, e finalmente liguei o microfone.
– E é por isso que eu nunca digo que sou mulher! – falo, exasperada.
Silêncio. Os quatro enfim calaram a boca.
– Hmmm... Vocês ainda querem jogar mais uma? – ChimChim pergunta tentativamente.
– Fiquem à vontade. Eu vou estudar! – falei, e antes que pudessem me responder, eu fechei o jogo.
Enquanto recolhia meus materiais de estudo, escutei meu celular vibrando. Jun havia me mandado uma mensagem.
, sinto muito mesmo. Por favor, não me bate :(”
Eu apenas ignorei sua mensagem. Ele definitivamente levaria porrada quando o visse na escola, na segunda-feira.
Que droga! As coisas estavam indo tão bem, eu estava me divertindo e tive a oportunidade de conhecer pessoas legais para jogar. Mas agora sinto que tudo vai ser diferente, e eu não gosto disso. Eu não quero que mudem a forma de falar comigo ou quando eu estiver presente só porque agora sabem que eu sou uma garota. Não quero que pensem menos de mim por esse motivo também. Ou pior, que comecem a dar em cima de mim! Isso é tão repugnante! As coisas que garotos falam para garotas nos jogos são nojentas.
Continuar tendo esses pensamentos negativos não estava melhorando a situação, e então percebi que eu realmente precisava focar em outra coisa. Abri meu livro de física e comecei a estudar. Completei cerca de dez exercícios e estava prestes a começar mais um, quando dei conta que já era tarde e eu precisava dormir.
Acordo na manhã seguinte e, por pelo menos dois segundos, eu me sinto bem e despreocupada, até que eu lembro do acontecido na noite anterior. Solto um gemido frustrado e bato as pernas na minha cama raivosamente, canalizando a cara do Jun, enquanto eu desfiro golpes no colchão.
Uma notificação do meu celular desvia minha atenção e eu levanto para pegar meu celular que, no meio da confusão, acabei esquecendo em cima da mesa do meu computador. A notificação mais recente vinha de um contato não salvo no aplicativo de mensagens. Franzi as sobrancelhas e desbloqueei a tela para ler a mensagem.
“Oi, Pegasus, é o TaeTae. Você está se sentindo melhor?
Eu sinto muito que eu e os meus amigos tenhamos chateado você, não foi mesmo a nossa intenção.
Só ficamos surpresos. Não pense mal da gente. Somos caras legais.
E não briga com o Jun, eu insisti demais até ele finalmente ceder e me dar o seu contato.
Só queria que você soubesse que não queríamos mesmo que as coisas terminassem daquele jeito, e eu espero que você dê uma nova chance pra gente.
Podemos jogar juntos hoje?”

Um misto de emoções tomou conta de mim. Felicidade, alívio, gratidão, vergonha e um pouco de exasperação pelo Jun ter dado meu número para um semidesconhecido. No entanto, as emoções positivas ultrapassaram as negativas e eu sorri, sentindo minhas bochechas arderem. Olhei novamente para a tela e reli sua mensagem.
Sentindo-me um pouco nervosa por algum motivo, eu respondi:
“Oi, TaeTae. Obrigada por se importar.
Eu realmente fiquei chateada, porque não tive experiências legais no passado após descobrirem sobre mim.
Eu não queria mentir, só achei que seria mais fácil deixar todos vocês acreditarem que eu era um garoto.”

“Tá tudo bem, eu entendo o seu lado.
Mas não quero deixar de jogar com você...
Nós somos um time, lembra?”

“Hahahahaha claro que sim. Somos um ótimo time!”
“Então, você vai jogar comigo hoje? ;)”
“Simmmm, eu tenho o dia livre.
Então quando você tiver disponível é só chamar. Você tem meu número agora haha”

“Hahahaha tá certo. Eu tive que resolver umas coisas na empresa hoje e eu só vou ter tempo bem mais tarde, por volta das 23:00. Tudo bem pra você?”
Eu pensei comigo mesma “nossa, que tarde”, mas respondi:
“É claro. Por mim, tudo bem.
A propósito, você pode me chamar de .”

Eu mordi o lábio, insegura. Será que eu realmente deveria ter dado essa abertura para ele?
“Okay, . Meu nome é Taehyung. É um prazer te conhecer~”
“Igualmente, Taehyung-ssi.”
“Hahahaha você é fofa, .
Eu preciso ir agora, estava numa pausa do trabalho, mas estão me chamando de volta.”

“Oh. Tranquilo. Bom trabalho, TaeTae.”
“Obrigado. Bom dia pra você, <3”
Eu bloqueei a tela do celular após ler aquela mensagem. Eu estava sentindo um estranho frio na barriga e podia sentir o sorriso bobo no meu rosto. Ainda estava brava com o Jun por ter causado toda aquela confusão, mas talvez eu devesse agradecê-lo também?


Continua...



Nota da autora: VOCÊS TODAS DEVEM ESTAR QUERENDO ME MATAR ISADHUISAHDIUAHU Foram SEIS MESES sumida. Me desculpem mesmo. A vida tá uma correria e eu ainda sou preguiçosa e procrastinadora. Escrevi esse capítulo sob muita pressão, mas ainda bem que saiu! Yayyyy, finalmente! Eu quero agradecer a todas vocês que vieram me chamar no twitter querendo att hahaha e eu ainda por cima ganhei essa capa linda da Jupiter (muito obrigada de novo, anjo). Então, eu não vou prometer quando vai sair o próximo pq da última vez não consegui cumprir a promessa :/ mas vou me esforçar mais e tentar escrever um pouco pelo menos uma vez por semana, no entanto, a tendência é piorar pq agora além de trabalhar eu vou começar a faculdade kkkkkkkkkk cada k uma lágrima. Não desistam de mim, eu quero muito terminar essa fic. Quem quiser, pode me seguir/mandar mensagens no instagram ou twitter (eu fiz um twitter fan account também e se quiserem me ver surtando por bts diariamente, é só olhar o @noticemekim). Vamos interagir no grupo que eu criei no Facebook ! Vocês podem me cobrar por lá também ;) Espero ver vocês lá. Obrigada pelo apoio e até a próxima!

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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